Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

PSICOLOGIA SOCIAL - 2° BIMESTRE
PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA: CONCEPÇÕES
● Materialista;
● Histórica;
● Dialética;
● Política de identidade.
Materialismo e a Postura Epistemológica: A realidade passa a ser critério para análise
dos dados e a fidedignidade das pesquisas. Silvia entende o marxismo como postura
epistemológica. Uma proposta para superar a ideologização da nossa ciência. O
pensamento marxista para desenvolver uma nova psicologia social.
Fenômeno Psicológico: Superação da burguesia e das ideias liberais. É na relação com o
mundo real, que ocorre o desenvolvimento das possibilidades humanas. O indivíduo é
agente e sujeito. Não pertence à natureza humana, não é preexistente ao homem e reflete a
condição social, econômica e cultural em que vivem os homens.
Ideologia: Na psicologia sócio-histórica, o conceito de ideologia é fundamental para
entender como as ideias e crenças influenciam a percepção e a ação dos indivíduos dentro
de um contexto social e histórico. Essa abordagem vê a ideologia como um conjunto de
ideias que refletem e sustentam as relações de poder e as condições materiais de uma
sociedade.
A ideologia, nesse contexto, não é apenas um conjunto de crenças, mas um mecanismo
que pode ocultar as verdadeiras relações sociais e econômicas, promovendo uma "falsa
consciência" que impede os indivíduos de reconhecerem sua própria exploração e
opressão. Por exemplo, Martín-Baró, um importante teórico da psicologia social, argumenta
que a ideologia pode criar uma consciência alienada nas classes dominadas, dificultando a
compreensão de sua realidade e a luta por mudanças sociais.
Um exemplo notável é o trabalho de Martín-Baró, destacou duas acepções principais de
ideologia:
Visão de mundo: Uma perspectiva geral que as pessoas têm sobre a realidade.
Falsa consciência: Uma compreensão distorcida da realidade que serve para manter os
interesses da classe dominante, impedindo as classes dominadas de reconhecerem e
desafiarem sua situação.
Martín-Baró argumentou que a ideologia pode levar à alienação, onde as pessoas não
conseguem compreender plenamente sua realidade social e, portanto, não conseguem agir
para mudar suas condições de vida. Ele propôs a conscientização como uma forma de
combater essas barreiras psicossociais e promover a libertação das classes populares.
Essa perspectiva busca desvelar essas ideologias para promover uma conscientização
crítica, permitindo que os indivíduos compreendam melhor suas condições sociais e
históricas e, assim, possam agir para transformá-las.
Caminho a concepção materialista (o método):
• Busca superar a ideia e o hábito, de fazer da realidade um exemplo dos conceitos
teóricos.
• A realidade como referência para a produção da ciência e critério para análise. O
movimento de transformação constante, não são as ideias.
• Os sujeitos concretos, são ao mesmo tempo, constituídos social e historicamente.
Psicologias:
• Psicologia sócio-histórica – Vygotski (1896-1934) com base na histórica-cultural em busca
de uma psicologia dialética.
• Homem apriorístico com mecanismos prontos encontra um homem ativo, histórico e social.
Capitalismo:
• Livre-comércio;
• Livre-consumo;
• Livre-venda da força de trabalho;
Roda do Capitalismo:
• Trabalhar, vender a força de trabalho e consumir;
• Quanto custa a força de trabalho e o quanto a pessoa consome;
• Não existe trabalho para todas as pessoas;
VIOLÊNCIA
VÁSQUEZ (1978), que discorre sobre a violência do ponto de vista do Materialismo
Histórico Dialético, e a compreende como um instrumento desenvolvido a serviço do
processo de transformação da natureza, trazendo contribuições filosóficas sobre o
entendimento das raízes da violência no processo social e histórico, aponta que na práxis
produtiva, ou mesmo na práxis artística, no processo de objetivação, exige-se o uso da
violência (do latim vis = força), pois, na transformação de uma matéria, a atividade humana
encontra resistência ou limite da própria matéria; consequentemente, o homem na sua
relação com a natureza viola constantemente a ordem natural estabelecida, imprime-lhe
uma forma humana mediante a alteração da legalidade da matéria; impõe-lhe uma lei que
lhe é estranha, uma lei humana: Na medida em que a atividade prática humana se exerce
sobre um objeto físico, real, e exige a alteração ou destruição física de sua legalidade ou de
algumas de suas propriedades, pode-se dizer que a violência acompanha a práxis. A
violência se manifesta onde o natural ou o humano – como matéria ou como objeto de sua
ação – resiste ao homem.
Mas a violência não se destina apenas à destruição física e corpórea, mas também a seu
ser social, ou seja, à sua condição de sujeito de determinadas relações sociais,
econômicas, políticas, que se encarnam e cristalizam em certas instituições e relações que
não existem à margem dos indivíduos concretos.
No capitalismo atual, a violência se mostra tanto nas formas diretas e organizadas de uma
violência real ou possível, como na violência vinculada ao caráter alienante e explorador
das relações humanas. A violência da miséria, da fome, das enfermidades, etc. não são
respostas a uma forma de violência, mas a própria violência como modo de vida, porque
assim exige a própria essência do regime social. Não podemos ignorar que estamos nos
desenvolvendo num mundo governado pela violência; assim, não podemos negá-la, nem
encobri-la, mas compreendê-la nos próprios fins de uma determinada forma de organização
social, sob forma da exploração do homem pelo homem, quando se pode falar, então, de
uma violência estrutural.
O último elemento a ser considerado para orientar a verificação de ações de violência é o
fundo ideológico. Esse aspecto nos remete a uma realidade social configurada pelos
interesses de classe, na qual existem valores, regras, rotinas institucionalizadas e
racionalizações que determinam as justificações para a existência da violência. A
racionalidade da violência concreta, pessoal ou grupal tem que ser historicamente referida
na realidade social em que se produz, pois é à luz dessa realidade que os resultados
conseguidos com tal conduta mostram seu sentido e são legitimados por parte de quem
dispõe de poder para tal.
Para MARTÍN-BARÓ (1997) o ser humano é sujeito à violência e à agressão como
possibilidade nas suas relações sociais. Temos que atentar para o fato de que a violência
desumaniza a vítima, que é privada de sua liberdade e de sua dignidade, instrumentalizada
como objeto a serviço de interesses alheios ou eliminada como um obstáculo a esses
interesses. O agente se desumaniza porque ao tratar desse modo o outro se escraviza e
submete-se aos interesses que exigem a desumanização dos outros.
IDENTIDADE
Identidade é definida como uma categoria científica, ao lado de atividade e consciência,
central para a Psicologia Social. É considerada como um processo, ao qual se dá o nome
de metamorfose, que descreve a constituição de uma identidade, que representa a pessoa
e a engendra.
Cada indivíduo encarna as relações sociais, configurando uma identidade pessoal. Uma
história de vida. Um projeto de vida. Uma vida que nem sempre é vivida, no emaranhado
das relações sociais. Uma identidade concretiza uma política, dá corpo a uma ideologia. No
seu conjunto, as identidades constituem a sociedade, ao mesmo tempo que são
constituídas, cada uma por ela.
A identidade, que inicialmente assume a forma de um nome próprio, vai adotando outras
formas de predicações, como papeis, especialmente. Porém, a forma personagem expressa
melhor isso na sua generalidade. Um nome, efetivamente, nomeia uma personagem. A
identidade então assume a forma personagem, ainda que esta seja chamada pelo nome
próprio, por um apelido, por um papel, etc. O indivíduo não é mais algo: ele é o que faz.
Brandão (1986) explica que a identidade explica o sentimento pessoal e a consciência de
um “eu”, de uma realidade individual que torna cada um de nós um sujeito único diante de
outros “eus”; e ao mesmo tempo, o reconhecimento individual dessa exclusividadeé a
consciência de minha continuidade em mim mesmo.
O conceito de identidade agrupa várias ideias, como a noção de permanência, de
manutenção de pontos de referencia que não mudam com o passar do tempo, como o
nome de uma pessoa, suas relações de parentesco, sua nacionalidade etc. São aspectos
que, geralmente, o individuo carrega para a vida toda.
A identidade depende da sua diferenciação em relação ao outro. Várias correntes da
psicologia (incluindo a psicanálise) nos ensinam que o reconhecimento do eu se dá no
momento em que aprendemos a nos diferenciar do outro. Eu passo a ser alguém quando
descubro o outro e a falta de tal reconhecimento não me permitiria saber quem sou, pois
não teria elementos de comparação que permitissem ao meu destacar-se dos outros eus.
Como continuo vivendo e tendo novas experiencias com novas pessoas, posso alterar esse
modelo de identidade. Ao longo de todas essas mudanças, alguns elementos constitutivos
de identidade foram “abandonados”, embora ainda constituem a formação do sujeito porque
fizeram parte da sua história pessoal.
A realidade sempre é movimento, e movimento é transformação.
➡ Metamorfose: Ciampa (2005) enfatizou que a identidade tem o caráter de metamorfose,
ou seja; está em constante mudança. Para esclarecer esse modelo, o autor utiliza o
belíssimo poema Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Ao dar nome a
alguém, torno esse alguém determinado, substantivo. Para não ser confundido com outros
tantos Severinos, o retirando procura definir, de uma forma substantiva, quem ele é: um
determinado Severino, ao falar de sua identidade, ele também está retratando aspectos
culturais de uma realidade social.
A realidade social em que está inserido, as condições de vida no sertão do nordeste
brasileiro. Ele fala de como a família se estrutura, fala da religiosidade do nordestino e da
morte prematura das pessoas dessa região.
➡ Atividade: É a atividade que constroi a identidade. Trata-se da predição de uma
atividade anterior, que presentifica o ser. Entretanto, pelo fato de estarmos inseridos nas
organizações, a ação é fragmentada. Na escola sou reconhecido como um bom estudante
ou jogador de basquete; no meu emprego, sou um bom técnico de informática; e, junto aos
meus amigos, sou um bom conselheiro. O bom conselheiro não inclui o profissional de
informática, embora ambos se refiram a mim.
Tudo o que fomos e o que queremos ser (projetamos para o nosso futuro) fazem parte do
eu. Assim, a criança que fomos (levada ou tímida) mantém-se como parte da nossa
identidade. Ciampa está nos avisando que a identidade é um processo em movimento e
que guarda ou contém todos os nossos momentos e personagens.
➡ Personagem: A personagem, no entanto, pode “congelar” a atividade e nós perdemos a
dinâmica de nossa própria transformação. Isso pode acontecer quando a personagem é
tornada fetiche, ou seja, adorada e cultuada em exagero. Nós podemos ocupar um lugar
social e realizarmos uma atividade que é extremamente valorizada pelo coletivo social onde
estamos inseridos. Pode nos levar a querer permanecer com aquela identidade. Passamos,
então, a fazer o esforço cotidiano para repor aquela identidade que uma vez foi posta;
repetirmos nosso ser, ou como diz Ciampa, repetimos a mesmice de nós.
➡ Estigma: Goffman (1988) autor no campo da Sociologia e uma referência importante na
Psicologia Social, publicou um importante estudo sobre o tema. O estigma refere-se ás
marcas, aos atributos sociais que um individuo, grupo ou povo carrega e cujo valor é
negativo ou pejorativo. Esses são atributos facilmente reconhecíveis como carregados de
um valor negativo para a maioria das pessoas e determinam, para o individuo, um destino
de exclsão ou ou a perspectiva de reivindicação social pelo direito de ser bem tratado e ter
oportunidades iguais. O estigma revela que a sociedade tem dificuldade de lidar com o
diferente, essa dificuldade é perpetuada ao longo das gerações, através das escolas, pelos
meios de comunicação e por noś mesmos em nosso cotidiano.
SUBJETIVIDADE
A teoria da subjetividade de Fernando González Rey – uma Perspectiva Cultural-Histórica:
González Rey introduziu o conceito de "sentidos subjetivos" para descrever como as
experiências individuais são interpretadas e internalizadas. Esses sentidos são formados
através das interações sociais e refletem a maneira como os indivíduos atribuem significado
às suas vivências. Eles não são estáticos, mas sim dinâmicos e em constante
transformação.
As "configurações subjetivas" são estruturas mais amplas que englobam os sentidos
subjetivos. Elas representam a organização interna da subjetividade de uma pessoa,
incluindo suas emoções, pensamentos, valores e crenças. Essas configurações são
moldadas pelo contexto histórico e cultural em que o indivíduo está inserido, bem como
pelas suas experiências pessoais.
González Rey enfatiza que a subjetividade é construída através de um processo dialógico,
ou seja, um diálogo contínuo entre o indivíduo e o seu ambiente social. Esse processo é
mediado pela linguagem e pelas práticas culturais, que desempenham um papel crucial na
formação da subjetividade. Para González, é impossível entender a subjetividade sem
considerar o contexto histórico e cultural. Ele argumenta que a subjetividade é um produto
da história e da cultura, e que as experiências individuais são sempre influenciadas pelo
ambiente social mais amplo.
Rey (2005b) compreende a subjetividade como um sistema em desenvolvimento, que
integra o atual e o histórico, em cada momento de ação do sujeito nas diversas esferas de
sua vida. Destaca ainda o autor que a subjetividade é um sistema dinâmico, cuja unidade
central são as configurações de sentido, que integram o presente e o passado em cada
momento de ação do sujeito. Assim, em cada momento histórico, as configurações
subjetivas se apresentarão conforme se configurarem as relações sociais e as formas de
produção da vida a que os sujeitos derem significado.
SUBCIDADANIA
Conforme assinalado por Neri, a desigualdade social se constitui em níveis e distâncias
desiguais entre as pessoas, quer seja de um ponto de vista referido à totalidade da
população – desigualdade vertical – quer seja entre segmentos específicos dessa
população, a partir de gênero, escolaridade, etnia – desigualdade horizontal.
Destaca-se como um dos pioneiros o trabalho de Patto (1984), que, ao analisar a Psicologia
e as classes subalternas, produz uma importante reflexão crítica sobre a teoria da carência
cultural como modelo explicativo das dificuldades de inserção social das classes pobres.
Produções mais atuais evidenciam de forma mais específica os entrelaçamentos entre a
experiência de subalternidade e as implicações subjetivas de tal condição. Entre estes,
incluem-se os estudos sobre a dimensão subjetiva dos fenômenos sociais (Bock &
Gonçalves, 2009), a invisibilidade pública (Costa, 2004), o sofrimento ético político (Sawaia,
2001) e a humilhação social (Gonçalves Filho, 1998).
Convergentes, a leitura psicológica de Spink e Spink (2005) e a tomada sociológica de
Souza (2006a) sobre o tema apontou que há muitos mecanismos mantenedores da
desigualdade social no Brasil, com destaque para o processo de naturalização que a
envolve. Nessa perspectiva, a desigualdade social é percebida como uma construção
coletiva, consolidada cotidianamente nas relações estabelecidas pelos sujeitos a partir das
práticas sociais reiteradas pelas crenças e valores. Acrescenta-se ainda que, em países
periféricos como o Brasil, a desigualdade social toma contornos perversos, dada a condição
de miséria e de subcidadania vivenciada por amplas camadas da sociedade.
A noção de subcidadania implica uma hierarquia valorativa das pessoas – implícita e
enraizada institucionalmente de modo invisível – que determina quem é ou não gente,e, por
consequência, quem é ou não cidadão. Tal processo incide fundamentalmente nos acessos
diferenciados aos recursos materiais e simbólicos na vida social (Souza, 2003).
OS PROCESSOS PSICOSSOCIAISDA EXCLUSÃO
Com efeito, a exclusão induz sempre uma organização específica de relações interpessoais
ou intergrupais, de alguma forma material ou simbólica, através da qual ela se traduz: no
caso da segregação, através de um afastamento, da manutenção de uma distância
topológica; no caso da marginalização, através da manutenção do indivíduo à parte de um
grupo, de uma instituição ou do corpo social; no caso da discriminação, através do
fechamento do acesso a certos bens ou recursos, certos papéis ou status, ou através de um
fechamento diferencial ou negativo. Decorrendo de um estado estrutural ou conjuntural da
organização social, ela inaugura um tipo específico de relação social. Sendo o resultado de
procedimentos de tratamento social, ela se inscreveu em uma interação entre pessoas ou
entre grupos.
A interrogação dos psicólogos sociais sobre exclusão foi suscitada, desde o período entre
as duas guerras, pela ascensão do fascismo, e depois pelas execuções nazistas na Europa
e pela exacerbação das defesas contra a imigração e os conflitos raciais nos Estados
Unidos. Centralizada inicialmente, como a Sociologia, sobre as relações raciais, ela se
estendeu às relações estabelecidas no espaço social e político, em um continuo indo do
conflito à cooperação, entre grupos de toda espécie, diferenciados segundo critérios de
atividade ou de pertencimento social, nacional, cultural, etc.
Uma mesma questão abrange todas as pesquisas: o que é que faz com que em sociedades
que cultuam valores democráticos e igualitários, as pessoas sejam levadas a aceitar a
injustiça, a adotar ou tolerar frente àqueles que não são seus pares ou como eles, práticas
de discriminação que os excluem?
Desde antes da 2° Guerra Mundial, a teoria da frustração - agressão (Dollard et al, 1939),
inspirada na teoria freudiana, acentua a existência de motivações hostis que podem ser
ativadas por uma situação de frustração. O impedimento de atingir um objetivo, o entrave de
uma necessidade provocaria um estado de cólera que aumentaria a tendência agressiva.
A evolução das pesquisas inscreve as abordagens individuais da agressão em contextos
marcados pelo peso das relações de poder, das normas sociais, e mostra o jogo das
representações na avaliação depreciativa das pessoas que sofrem uma sorte contrária.
Uma evolução similar tem relação com uma outra corrente de pesquisa, também de
inspiração analítica, e que deu, nos anos cinquenta, um impulso decisivo para a exploração
dos preconceitos e dos estereótipos, instituindo a exclusão.
Um grupo de pesquisadores pertencentes à escola de Frankfurt (Adomo,
Frankel-Brunswick, Levinson e Sanford, 1950), com a teoria da personalidade autoritária,
associam a ideologia e a personalidade para dar conta das tomadas de posições racistas e
anti democráticas. Eles postulam que crenças que, à primeira vista, parecem sem relação,
são ligadas por uma relação psico-dinâmica. Assim, atitudes políticas e econômicas do tipo
conservador (respeito ao status quo e resistência à mudança), o etnocentrismo,
caracterizado por uma tendência rígida a aceitar aqueles que são culturalmente
semelhantes e a rejeitar aqueles que são diferentes, fazem parte do anti-semitismo e dos
fatores de personalidade que definem o autoritarismo. É o que mostram as correlações
entre uma série de escalas, que permitem medir os diferentes grupos de atitudes
ideológicas, etnocêntricas e anti-semitas, e uma escala de fascismo potencial ou de
tendência antidemocrática que corresponderia a uma estrutura de personalidade.
Esta última, modelada por uma educação familiar autoritária, determinaria uma disposição
de espírito geral: convencionalismo e desejo de punir aqueles que vão contra os valores
convencionais (agressão autoritária), respeito pela força, desprezo pela fraqueza,
intolerância à ambiguidade, recusa da introspecção e da imaginação, repressão e projeção
nos bodes expiatórios de sentimentos negativos, rejeição do diferente, etc. A educação
determinaria igualmente um estilo cognitivo que utiliza clichês e estereótipos, de maneira
rígida, generalizando-os a todas as pessoas de uma mesma categoria, sem levar em conta
as diferenças individuais, e não é capaz de mudá-los na presença de informações novas ou
contraditórias. Características que também especificam o funcionamento do preconceito.
O preconceito é um julgamento positivo ou negativo, formulado sem exame-prévio a
propósito de uma pessoa ou de uma coisa e que, assim, compreende vieses e esferas
específicas. Disposto na classe das atitudes, o preconceito comporta uma dimensão
cognitiva, especificada em seus conteúdos (asserções relativas ao alvo) e sua forma
(estereotipia), uma dimensão afetiva ligada às emoções e valores engajados na interação
com o alvo, uma dimensão conativa, a descrição positiva ou negativa.
O objeto de estudo dos estereótipos, fenômenos que foram identificados, nos anos vinte,
por um jornalista, Lipmann, que se ocupando da opinião pública fazia dela “imagens na
cabeça", representações do meio social que permitiam simplificar sua complexidade. É esta
concepção, relacionando estereótipo a uma economia cognitiva e a uma função do
conhecimento, que domina os modelos atuais (Hamilton, 1981). Na linguagem cognitivista
do tratamento da informação, os estereótipos são esquemas que concernem
especificamente os atributos pessoais que caracterizam os membros de um determinado
grupo ou de uma categoria social dada. Eles são considerados como resultantes de
processos de simplificação próprios ao pensamento do senso comum.
DESIGUALDADES SOCIAIS E POBREZA
O debate sobre o enfrentamento das desigualdades conduz a uma discussão mais
abrangente sobre políticas sociais e projetos de nação: no Brasil, coloca a necessidade de
analisar as condições em que as desigualdades surgem e se reproduzem historicamente,
levando a uma discussão sobre quais são as condições necessárias para que as
oportunidades sejam mais bem distribuídas.
Sabemos que a desigualdade não é um fato natural, mas sim uma construção social. Ela
depende de circunstâncias e é, em grande parte, o resultado das escolhas políticas feitas
ao longo da história de cada sociedade. Mas também sabemos que todas as sociedades
experimentam desigualdades e que estas se apresentam de diversas formas: como
prestígio, poder, renda, entre outras – e suas origens são tão variadas quanto suas
manifestações. O desafio não é apenas descrever os fatores e componentes das
desigualdades sociais, mas também explicar sua permanência, e em alguns casos seu
aprofundamento, apesar dos valores igualitários modernos.
Mas o problema seria devido a uma grande parte da pobreza ser ainda rural, localizada
sobretudo nos Estados do Nordeste e em zonas agrícolas deprimidas em Minas Gerais, e
urbana, concentrada na periferia das grandes cidades e constituída por pessoas em grande
parte originárias do campo, cuja integração ao mercado de consumo não tem
correspondência com o mercado de trabalho. Como no passado, esses altos níveis de
pobreza e exclusão continuariam sendo causados por uma combinação de heranças,
condições e escolhas de natureza econômica, política e cultural. Para esses autores, é
ingênuo supor que a pobreza e a desigualdade poderiam ser eliminadas pela simples
“vontade política”, ou somente por meio da redistribuição de recursos dos ricos para os
pobres. No Brasil é preciso enfrentar o que seria o maior correlato da desigualdade de
renda no país: a educação.
É relevante destacar, entretanto, que o conceito de pobreza não pode ser reduzido à noção
de precariedade de renda; mas deve ser entendido de forma mais complexa e abrangente.
A pobreza como privação de capacidades básicas que conduz à vulnerabilidade, exclusão,
carência de poder, de participação e voz, exposição ao medo e à violência – enfim, à
exclusão de direitos básicos e de bem‑estar.
Desse modo, o conceito de pobreza não pode ser reduzido à noção de precariedade de
renda; mas deve ser entendido de forma mais complexa e abrangente, como privação de
capacidadesbásicas que conduz à vulnerabilidade, exclusão, carência de poder, de
participação e voz, exposição ao medo e à violência; enfim, à exclusão de direitos básicos e
de bem‑estar. Portanto, a questão da desigualdade não deve se restringir a um debate
sobre desigualdade de renda, uma vez que está relacionada a vários tipos de
desigualdades como raça, gênero, classe e cidadania, entre outras inúmeras dimensões da
realidade social.
“Isso porque a estrutura de desigualdade é reproduzida e transformada em interação com o
código cultural da sociedade. Esse último, por sua vez, provê a linguagem para legitimar ou
deslegitimar igualdade e desigualdade.” (Munch apud Reis, 2004) Se reconhecermos que o
sentido dado à igualdade é socialmente construído e, portanto, existe um código
socialmente compartilhado que justifica ou condena a desigualdade, devemos também
reconhecer que políticas públicas que não levem em consideração os valores e os padrões
de comportamento da sociedade são políticas destinadas ao fracasso.
A sobreposição da elite em vários níveis: econômico, cultural, simbólico e político. Se refere
às características da mobilidade social. A conectividade das elites – considerando elite
econômica, elite política e elite intelectual – tem consequências importantes para a
concentração de poder e riqueza, bem como para a implementação e eficiência de políticas
públicas que busquem melhorar a distribuição de oportunidades e recompensas. No Brasil,
o capital econômico, o capital simbólico, o capital cultural e o capital social, entendidos
como capital relacional, se entrecruzam criando um cenário no qual a esfera pública tende a
ser mobilizada para atender interesses privados. Assim, não há como desconsiderar ou
minimizar a capacidade de mobilização, pela elite, dos recursos e meios, tanto privados
como públicos, para garantir a manutenção e a reprodução de classe. Este não é um
fenômeno exclusivo de nossa sociedade, mas seus efeitos são tão mais perversos quanto
maior for a distância entre as classes sociais que, no nosso caso, é bastante profunda.
🔹Preconceito Sútil: O preconceito sutil na psicologia social refere-se a formas de
discriminação que são menos óbvias e mais disfarçadas do que o preconceito explícito.
Enquanto o preconceito explícito é direto e facilmente identificável, o preconceito sutil se
manifesta de maneiras mais indiretas e frequentemente é racionalizado como algo aceitável
ou normal.
Alguns exemplos de preconceito sutil incluem: Brincadeiras ou piadas que perpetuam
estereótipos negativos. Omissões ou exclusões sociais que são justificadas por razões
aparentemente neutras. Comentários ambíguos que podem ser interpretados de várias
maneiras, mas que carregam um viés implícito.
Pesquisas mostram que o preconceito sutil pode ser tão prejudicial quanto o preconceito
explícito, pois contribui para a manutenção de desigualdades sociais e pode ser mais difícil
de identificar e combater. No Brasil, por exemplo, estudos indicam que o preconceito sutil é
uma forma persistente de racismo que se manifesta em interações cotidianas e pode
perpetuar a discriminação racial de maneira insidiosa.
🔹Bullying: O bullying, sob a ótica da psicologia social, é um fenômeno complexo que
envolve comportamentos agressivos e repetitivos, direcionados a uma ou mais vítimas, com
o objetivo de causar dano físico ou emocional. Esse comportamento é geralmente
observado em ambientes escolares, mas pode ocorrer em qualquer contexto social.
A psicologia social analisa o bullying considerando diversos fatores:
🏔 Hierarquias Sociais: Em ambientes como escolas, as hierarquias estabelecidas entre
os alunos podem facilitar o bullying. Alunos que ocupam posições de poder podem usar
essa vantagem para intimidar outros.
🚫 Autoritarismo e Preconceito: O bullying pode ser uma expressão de autoritarismo e
preconceito. Indivíduos com personalidades autoritárias tendem a impor sua vontade sobre
os outros, muitas vezes de maneira agressiva.
👥 Dinâmica de Grupo: A presença de observadores passivos pode reforçar o
comportamento do agressor.
🔹Bullying vs. Preconceito: Qual a diferença?
Bullying e preconceito são fenômenos sociais complexos que envolvem relações de poder e
desigualdade, mas apresentam características distintas. O bullying apresenta ações
repetidas de agressão física, verbal ou psicológica contra um indivíduo ou grupo, com o
objetivo de intimidar, humilhar ou controlar. O alvo é escolhido por características individuais
ou por se destacar do grupo. E o poder é exercido de forma direta e intencional.
Já o preconceito aprenderá julgamento prévio, geralmente negativo, sobre um indivíduo ou
grupo com base em características como raça, etnia, gênero, orientação sexual, religião,
etc. Atitudes negativas e estereótipos são generalizados para todos os membros do grupo.
E o poder é exercido de forma mais sutil, através da discriminação e da exclusão social.
Embora sejam conceitos distintos, bullying e preconceito muitas vezes se sobrepõem. O
preconceito pode ser um dos motivos que levam ao bullying, quando um grupo é alvo de
agressão por conta de suas características.
🔹Psicossocial: O termo “psicossocial” refere-se à inter-relação entre fatores psicológicos
e sociais que influenciam o comportamento humano.
🔹Jessé Souza: Jessé José Freire de Souza é um sociólogo, advogado, professor
universitário, escritor e pesquisador brasileiro. Suas obras ajudaram a compreender a
realidade brasileira e a luta contra as desigualdades sociais. É autor de livros como A Ralé
Brasileira, A Radiografia do Golpe, A Elite do Atraso e A Classe Média no Espelho. Seu
trabalho propõe uma nova abordagem para analisar os problemas sociais do país.

Mais conteúdos dessa disciplina