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35 DIREITO CIVIL – PFN 2012 Perguntas e respostas Sumário 1. Aplicação da lei no tempo e no espaço. Filipe Leonardo (creuzebeck@gmail.com) 2 2. Interpretação e integração da lei. Filipe Leonardo (creuzebeck@gmail.com) 4 3. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657, de 04/09/1942). Rubens (rubensqs@gmail.com) 6 4. Pessoas naturais e jurídicas: capacidade; começo da personalidade e da existência legal; extinção e domicílio (ildankastermuniz@yahoo.com.br) 9 5. Bens considerados em si mesmos; reciprocamente considerados; considerados em relação ao titular da propriedade (ildankastermuniz@yahoo.com.br) 12 6. Bens quanto a possibilidade de comercialização. Mariana Sena (mspgv27@gmail.com) 13 7. Bens de família legal e bem de família convencional. Mariana Sena (mspgv27@gmail.com) 13 8. Fato jurídico stricto sensu. Renato Grilo 14 9. Ato jurídico em sentido estrito. Renato Grilo 14 10. Negócio jurídico: elementos essenciais gerais e particulares; elementos acidentais; defeitos; forma e prova; nulidade e anulabilidade. Rodolfo Cursino (dolfobc@hotmail.com) 15 11. Ato Ilícito. Renato Saldunbides Jardim (resaldunbides@gmail.com) 18 12. Prescrição e Decadência. Maria Carolina (mcv.carol@hotmail.com) 19 13. Posse: conceito, classificação, aquisição, perda; efeitos e proteção. Pedro Schmidt (pedroschmidt2@gmail.com) 20 14. Aquisição e perda da propriedade móvel e imóvel. (thales78@yahoo.com.br) 26 15. Usucapião especial urbana e rural. Andréia (andreiaricas@gmail.com) 28 16. Modalidade de condomínio. Igor (irferreira@gmail.com) 30 17. Direitos reais sobre coisa alheia: de fruição, de garantia e de aquisição. Igor (irferreira@gmail.com) 31 18. Obrigações: modalidades; modos de extinção (pagamento direto e pagamento indireto); extinção da obrigação sem pagamento; execução forçada por intermédio do Poder Judiciário; conseqüências da inexecução da obrigação por fato imputável ao devedor (mora, perda e danos e cláusula penal); transmissão (cessão de crédito, cessão de débito e cessão do contrato). Vinícius Nardon 33 19. Contratos em geral: requisitos de validade, princípios, formação, classificação; efeitos em relação a terceiros; efeitos particulares (direito de retenção, exceptio nom adimpleti contractus, vícios redibitórios, evicção e arras; extinção da relação contratual. Karine(karineduarte18@hotmail.com) 36 20. Defeitos do negócio jurídico: erro ou ignorância, dolo, estado de perigo, lesão e fraude contra credores. Rodolfo Cursino (dofobc@gmail.com) 39 21. Compra e venda. Janaína (janaspinelli@gmail.com) 41 22. Troca. Ildankaster Muniz (ildankastermuniz@yahoo.com.br) 43 23. Doação Thiago Vale (thiagodovale@gmail.com) 43 24. Locação de coisa móvel e imóvel. Ildankaster Muniz (ildankastermuniz@yahoo.com.br) 44 25. Prestação de Serviços (felipefreind@gmail.com) 45 26. Empreitada. Carol Dorneles (coragemrs@yahoo.com.br) 46 27.Empréstimo: mútuo e comodato. Pedro Schmidt (pedroschmidt2@gmail.com) 47 28. Depósito Ildankaster Muniz (ildankastermuniz@yahoo.com.br) 49 29. Mandato. Ildankaster Muniz (ildankastermuniz@yahoo.com.br) 51 30. Seguro. Filipe Sarpa (gandilson@hotmail.com) 53 31. Fiança. Rubens (rubensqs@gmail.com) 55 32. Obrigação por declaração unilateral de vontade: promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento indevido e enriquecimento sem causa e títulos de crédito. (felipefreind@gmail.com) 56 33. Obrigações por ato ilícito. Edilvani - edilvani@gmail.com 58 34. Prescrição e decadência: causas de impedimento, suspensão e interrupção; prazos. Italo (italomarani@gmail.com) 59 35. Responsabilidade civil do fornecedor pelos produtos fabricados e pelos serviços prestados. Raissa (raissaqrios@gmail.com) 61 36. Responsabilidade civil do fornecedor pelos produtos fabricados e pelos serviços prestados. Verônica (veronicamed.adv@gmail.com) 64 37. Responsabilidade civil por dano causado ao meio ambiente e a bens diretos de valor artístico, estético, histórico e paisagístico. Rafael Mota (motarafael84@gmail.com) 66 38. Posse: classificação, aquisição, efeitos e perda. TEMA JÁ TRATADO NO ITEM 13. 67 39. Propriedade: classificação, aquisição, efeitos e perda. Igor (irferreira@gmail.com) 67 40. Direitos reais. Suellen (suellenvilanova@gmail.com) 68 41. Disposições finais e transitórias do Código Civil (Lei nº 10.406, de10/01/2002) Pedro Schmidt (pedroschmidt2@gmail.com) 71 42. REGISTRO PÚBLICO Janaína (janaspinelli@gmail.com) 74 1. Aplicação da lei no tempo e no espaço. Filipe Leonardo (creuzebeck@gmail.com) P: Qual o sistema (ou doutrina) adotada pelo Brasil quanto à aplicação da lei no espaço? R: Existem três sistemas quanto à aplicação da lei no espaço: a) a territorialidade, segundo a qual a lei se aplica ao território nacional, inclusive ficto, como embaixadas, consulados e navios de guerra, navios em águas territoriais nacionais, aeronaves no espaço aéreo do Estado; b) a extraterritorialidade, segundo a qual diplomas normativos de outros países tem aplicação no Estado, conforme princípios e convenções internacionais; c) a territorialidade limitada, segundo a qual são aplicadas as leis nacionais, mas é admitida a aplicação de leis estrangeiras em hipóteses específicas. O Brasil adota o sistema da territorialidade limitada. P: Quais os sistemas de duração da vacatio legis? R: A vacatio legis pode ser contada por prazo progressivo, no qual a lei entra em vigor em diferentes lapsos em cada unidade do territórios, ou por prazo único, hipótese em que a lei entra em vigor em todo o território nacional na mesma data. O sistema progressivo já foi adotado no Brasil. P: O que é o princípio da continuidade das leis? Há fundamento legal? Qual? R: É o princípio segundo o qual os diplomas normativos permanecem em vigência até que sejam revogadas por outra lei, a teor do art. 2º, caput, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. P: A lei de ordem pública pode atingir o ato jurídico perfeito, o direito adquirido ou a coisa julgada? R: Não. A jurisprudência do STJ e do STF são unânimes em não admitir que a lei, ainda que de ordem pública, retroaja para atingir o ato jurídico perfeito, o direito adquirido ou a coisa julgada (ADI 429, RE 188366-SP, AI 266236-AgR-SP e AgRg no AgRg nos EDcl no REsp 323519/MT). P: Quais são as correntes doutrinárias sobre a retroatividade das leis? Qual é a adotada pela Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro? R: São, resumidamente, duas as correntes doutrinárias sobre a retroatividade das leis: a subjetivista, liderada pelo jurista italiano C. F. Gabba e a objetivista, cujo expoente é o jurisconsulto francês Paul Roubier. A teoria subjetivista tem como pilar a ideia de direito adquirido, que, segundo Gabba, é “todo direito que - a) é consequência de um fato idôneo a produzi-lo, em virtude da lei do tempo no qual o fato foi consumado, embora a ocasião de fazê-lo valer não se tenha apresentado antes da autação de uma lei nova sobre o mesmo; e que - b) nos termos da lei cujo império se entabulou o fato do qual se origina, entrou imediatamente a fazer parte do patrimônio de quem o adquiriu”. A teoria objetivista se funda na distinção entre efeito retroativo e efeito imediato e na ideia de situação jurídica. O efeito retroativo ocorre quando a lei se aplicasse a fatos consumados (facta praeterita), enquanto o efeito imediato enseja a aplicação da lei a fatos em curso (facta pendentia). Situação jurídica alcança aquelas condições unilateriais ou bilaterais, oponíveis a qualquer pessoa, em qualquer ramo do direito (exemplo: filho, cônjuge, proprietário, preso). As situações jurídicas possuem duas fases: a dinâmica (momento de constituição e de extinção) e a estática (produção de efeitos). A nova lei alcança sempre a fase estática, mas somente rege a fase dinâmica quando ainda não constituída ou extinta totalmente a situação jurídica. A LINDB adota as duas teorias parcialmente. A redação original da LINDB adotava exclusivamente a teoria objetivista, mas a Lei afastando assim a alegação de ilicitude. P: É possível usucapião de área como em condomínio edilício? R: O art. 3 Lei 4591/64 proíbe usucapião de área comum. Porém, se o condômino exerce seus direitos em área comum, de forma exclusiva, por muitos anos, não poderá alegar usucapião, mas poderá alegar supressio (STJ Resp 356.821 – RJ) 12. Prescrição e Decadência. Maria Carolina (mcv.carol@hotmail.com) P: Conceitue prescrição e decadência. R: A prescrição é a perda de uma pretensão à reparação de um direito violado, em virtude do decurso de certo prazo estabelecido em lei e está relacionada às ações condenatórias. A decadência, por sua vez, consiste na perda de um direito potestativo (insuscetível de violação) pelo decurso de certo prazo estabelecido em lei ou por convenção das partes. Está relacionado às ações constitutivas. P: Discorra sobre a clássica teoria de prescrição e decadência do Prof. Agnelo Amorim Filho? R: A teoria do Prof. Agnelo Amorim Filho é a mais difundida no direito brasileiro, sendo adotado pelo CC/2002. Para construir a referida teoria, o professor paraibano associou a prescrição às ações condenatórias, ou seja, àquelas ações relacionadas com direitos subjetivos, próprio das pretensões pessoais. Assim, a prescrição mantém relação com deveres, obrigações e com a responsabilidade decorrente da inobservância das regras ditadas pelas partes ou pela ordem jurídica. Por outro lado, a decadência está associada a direitos potestativos e às ações constitutivas, sejam elas positivas ou negativas. As ações anulatórias de atos e negócios jurídicos, logicamente, têm essa última natureza. A decadência, portanto, tem relação com um estado de sujeição, próprio dos direitos potestativos. Didaticamente, é certo que o direito potestativo, por se contrapor a um estado de sujeição, é aquele que encurrala a outra parte, que não tem saída. Por fim, as ações meramente declaratórias, como aquelas que buscam a nulidade absoluta de um negócio, são imprescritíveis, ou melhor, não estão sujeitas à prescrição ou à decadência. A imprescritibilidade dessa ação específica está também justificada porque a nulidade absoluta envolve ordem pública. P: Existe alguma causa que impede a fluência de prescrição que não está previsto expressamente na lei, mas que decorre do princípio da equidade? R: Sim. Por questão de equidade, a prescrição não corre nos casos em que o titular da pretensão está materialmente impossibilitado de agir, como, por exemplo, é o caso de um comerciante que tem seu estabelecimento interditado e, sem poder acessá-lo, não pode acessar também documentos para propor uma ação atacando a interdição. P: O juiz pode decretar de ofício a prescrição e decadência? R: Tanto a prescrição quanto a decadência podem ser decretadas de ofício pelo juiz. No caso da decadência, no entanto, somente a decadência legal pode ser reconhecida de ofício. A convencional sempre dependerá de requerimento da parte. Como a prescrição pode ser renunciada pelo devedor após decorrido seu prazo, para compatibilizar tal possibilidade com a decretação de ofício pelo magistrado, é prudente que ele escute antes o devedor, para que a ele seja oportunizada a renúncia, caso assim queira. P: Há possibilidade de repetição de dívida prescrita? Explique. R: Não é cabível o pleito de devolução da quantia paga por dívida prescrita, pois, embora a pretensão (exigibilidade) de pagamento esteja prescrita, o próprio direito permanece incólume, só que sem proteção jurídica. P: Em que consiste a teoria da actio nata? R: A teoria da actio nata estabelece que a prescrição só começa a correr quando o titular do direito violado toma conhecimento do fato e da extensão de suas consequências. No campo da responsabilidade civil, de acordo com o princípio em exame, verifica-se que o termo inicial do prazo prescricional para a ação de indenização ou reparação de danos só se inicia quando o prejudicado tomar conhecimento do fato e/ou de suas consequências, já que não se pode reclamar de um fato desconhecido ou do qual não se tem ciência da extensão de seus efeitos. P: Diferencie interrupção e suspensão do prazo prescricional. R: A interrupção consiste na paralisação do prazo prescricional, cuja contagem deverá ser reiniciada, ao passo que a suspensão consiste na paralisação do prazo prescricional, cuja contagem deverá ser retomada de onde parou, levando em conta o prazo já escoado. 13. Posse: conceito, classificação, aquisição, perda; efeitos e proteção. Pedro Schmidt (pedroschmidt2@gmail.com) P.: Qual é o conceito de posse? R: Pode-se definir posse como uma situação de fato protegida pelo direito. Dito isso, diversas teorias buscam explicar o seu conceito. Dentre as mais importantes, podemos citar a Teoria Subjetiva de Savigny, de 1803, e a teoria Objetiva de Ihering. Para a Teoria Subjetiva, segundo Nelson Rosenvald, a posse seria o poder que a pessoa tem de dispor materialmente de uma coisa, com intenção de de tê-la para si e defendê-la contra a intervenção de outrem. Esta teoria apresenta dois elementos constitutivos da posse: I) o corpus que seria o elemento objetivo que consiste na detenção física da coisa e o ; II) animus que é o elemento subjetivo ou volitivo, este consiste na intenção do possuidor de exercer o direito como se proprietário fosse, de sentir-se o dono da coisa, mesmo não o sendo. Para esta teoria, nas situações em que alguém atue materialmente sobre a coisa sem o animus, cogitar-se-ia de mera detenção. Os detentores não fariam jus às tutelas possessórias, justamente pela ausência deste elemento volitivo. O animus inicialmente era considerado simples contato físico com a coisa, posteriormente, passou a consistir na mera possibilidade deste contato, tendo sempre a coisa à sua disposição. Lado outro, para a Teoria Objetiva, a posse é o mero exercício da propriedade. Assim, para Ihering, basta o elemento objetivo, corpus para caracterização da posse. Assim, para Ihering, não é necessário provar que houve corpus e animus. O comportamento do possuidor, exercendo poderes de proprietário já serve para chegarmos à noção objetiva de posse. A posse não deveria se decompor em dois elementos independentes. O animus estaria implícito no poder de fato exercido sobre a coisa. Assim, para ele, possuidor seria aquele que objetivamente se comportasse como um proprietário, imprimindo destinação econômica à coisa. Na teoria objetiva, como ensina Rosenvald, a posse não existe sem que exista a propriedade, a questão da dominçaõ material sobre o bem se torna secundária, pois é sabido que a propriedade sobrevive sem o contato com a coisa. Por fim, podemos afirmar que o Código Civil filiou-se à teroria objetiva, nos termos do art. 1.196: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.” P: Qual é a natureza jurídica da posse? Seria ela um direito real? R: Segundo o Min. Moreira Alves, em seu “Tratado dedicado à posse”, publicado pela Ed. Forense, haveria basicamente duas correntes: a) a primeira afirma que a posse seria um direito, um direito em si (direito subjetivo, direito real); Ihering defendia este pensamento; b) a segunda teoria afirma que a posse é uma situação de fato protegida pelo Ordenamento Jurídico. c) para SAVIGNY: teria natureza jurídica dúplice. Considerada isoladamente, a posse seria um fato, por independer de regras do direito. Mas em determinadas condições o atribuem a este fato os efeitos de um direito pessoal. Assim, para Savigny, posse seria fato + direito. A posse não pode ser considerada direito real, pois suas hipóteses estão previstas expressamente em lei (art. 1.225, CC) cujo rol é taxativo: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese. XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; XII - a concessão de direito real de uso. P: Como se pode definir o princípio da função social da posse? R: Conforme Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald, a função social da posse é uma abordagem diferenciada da função social da propriedade, na qual não apenas se sanciona a conduta ilegítima de um proprietário que não é solidário perante à coletividade, mas se estimula o direito à moradia como direito fundamental de índole existencial, à luz do princípio da disgnidade da pessoa humana. P: O que pode ser objeto da posse? R: De acordo com a doutrina e jurisprudência dominantes, podem ser objeto da posse as coisas corpóreas, que podem ser visualizadas e tocadas. A posse apenas alcança os bens que tenha materialidade, pois apenas sobre eles é possível exteriorizar um poder fático. Assim, se a posse só se exercita sobre coisas, a materialidade será imprescindível, não havendo visibilidade de atuação possessória sobre bens imateriais e intangíveis, meras abstrações concebidas pela inteligência humana(Ex.: direitos autorais). Se as criações do espírito não podem ser objeto de posse, é possível estender a posse aos bens perceptíveis por nossos sentidos, como a matéria em estado gasoso e a energia elétrica, gás e vapor, bens reputados como semi-incorpóreos. Não haverá posse sobre os bens ditos fora do comércio. P: O que é fâmulo da posse? R: Fâmulo da posse é o também chamado de servo ou gestor da posse, trata-se do mero detentor da coisa, aquele que conserva a posse em nome de outrem. Em outras palavras, É aquele que apreende a coisa por força de uma relação subordinativa para com terceiro, ou, em razão de uma dependência jurídica. É aquele que apreende a coisa em nome de outrem Ex. caseiro. Obs.: há no STJ entendimento no sentido de que ocupação de área pública é mera detenção (Resp. 489.732/DF). P: O que é o constituto possessório e a traditio brevi manu? R:Constituto possessório: Normalmente, ele vem corporificado na chamada “cláusula constituti”. Trata-se da operação jurídica que altera a titularidade da posse, de maneira que aquele que possuía em nome próprio passa a possuir em nome alheio. Ex. “A” vende casa a “B”, mas continua na casa como inquilino. - Traditio brevi manu: é o contrário do constituto possessório, ou seja, opera-se quando aquele que possuía em nome alheio passa a possuir em nome próprio. Ex. Inquilino que compra a casa alugada. OBS. Traditio longa manu é uma forma de tradição simbólica, sem contato direto com a coisa. Ex. venda de rebanho, sem haver entrega de cabeça por cabeça. P: O que é composse? R: A composse é uma situação excepcional consistente na posse comum e de mais de uma pessoa sobre a mesma coisa, que se encontra em estado de indivisão. Conforme Maria Helena Diniz, para a configuração da compossessão ou posse comum são necessários dois pressupostos: pluralidade de sujeitos e coisa indivisa ou em estado de indivisão. Podendo ser pro diviso ou pro indiviso. Ou seja, ela existe quando mais de uma pessoa titulariza a posse sobre a mesma coisa. Se os possuidores pretenderem dividir a posse entre eles, para melhor utilizar as áreas, a composse será pro diviso; se eles não fizerem esta divisão, de maneira que todos possuam indiferentemente toda a área, a composse será pro indiviso. “Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.” P: Como a doutrina classifica a posse quanto ao seu exercício? R: Quanto ao exercício, a posse pode ser direta ou indireta. “Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.” Decorre do desdobramento da posse em virtude da existência de uma relação jurídica negocial ou legal entre possuidor direto (imediato) e indireto (mediato). Posse direta é aquela em que o possuidor tem contato material com a coisa; já na indireta, o possuidor, embora materialmente afastado da coisa, exerce poderes de proprietário (ex.: o locatário é o possuidor direto, o locador é o possuidor indireto). Se não ocorrerem os fatos jurígenos que dão origem ao desdobramento da posse, não há que se falar em posse direta ou indireta (mediata ou imediata), mas simplesmente posse (plena). Como ensina Rosenvald, a posse direta é também caracterizada como subordinada ou derivada, já que a atuação do possuidor direto é limitada ao âmbito de poderes dominiais a ele transferidos pelo possuidor indireto, de acordo com a espécie de relação jurídica. P: E quanto à existência de vício? R: Nos termos do art. 1.200, CC(Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.) É injusta a posse que derivar de violência, clandestinidade ou precariedade. Violenta é a posse que adquire-se pelo uso da força (vis absoluta) ou pela ameaça (vis compulsiva). Não importa contra quem a violência foi perpetrada, o vício é objetivo, sendo bastante a aquisição ilícita da coisa. Ex: decorre de um esbulho ou roubo por exemplo. A posse que se exerce a partir do momento em que cessa a violência, continua sendo posse injusta. E, ainda que passado ano e dia, a posse continua sendo injusta. Esse prazo de ano e dia é apenas para se verificar se a posse é nova ou velha, para efeitos de direito à liminar na possessória, e não tem nada a ver com a posse ser justa. O tempo não transforma a posse injusta em posse justa. Passado o prazo de ano e dia, embora ainda exista direito à possessória, não caberá liminar, mas é possível antecipação dos efeitos da tutela(Pablo Stolze). Posse precária: é aquela que resulta do abuso de confiança do possuidor que indevidamente retém a coisa além do prazo avençado para o término da relação jurídica de direito real ou obrigacional que originou a posse. A concessão de uma posse precária, a título de favor é perfeitamente lícita, a exemplo do que se dá no comodato; no entanto, no momento em que, reclamada a devolução da coisa, o possuidor em quebra de confiança recusar-se a efetivá-la, atuando como se ele fosse o proprietário (interversão da posse), surge o vício da precariedade exercendo-se a partir dali posse injusta. Nos termos do enunciado 237 da Jornadas de direito civil: no momento em que o sujeito se recusar a devolver a coisa, passa a ter o direito de usucapir o bem. Posse clandestina: adquire-se às ocultas de quem exerce a posse atual, sem publicidade ou ostensividade, mesmo que a ocupação seja eventualmente constatada por outras pessoas. Como ensina Caio Mário da Silva Pereora: “oculta-se da pessoa que tem interesse em recuperar a coisa possuída, não obstante ostentar-se às escâncaras em relação aos demais”. Ex.: Posse decorrente do furto. Violência e clandestinidade são vícios que se dão a priori. Já a precariedade é um vício que se dá a posteriori. P: Esses vícios são sanáveis? R: Os vícios da violência e da clandestinidade são vícios sanáveis pela usucapião. Se há posse mansa e pacífica, será possível a usucapião. A maioria dos doutrinadores não admite que a precariedade seja sanada. Eles tiram isso de uma interpretação equivocada do art. 1208, CC: “Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição ao atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”. Este artigo não menciona a precariedade, pois a violência e a clandestinidade são vícios originários. E se eles são vícios que se dão no início, lá na frente eles podem desaparecer. A posse precária nasce sem animus domini. Por este motivo, a doutrina tradicional diz que a posse dele nunca é sanada pela usucapião, pois a posse nunca perderá o caráter pelo qual ela foi adquirida. Este endendimento se dá em razão do Art. 1203, CC: “Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida”. Para Rosenvald, esse “salvo prova em contrário” tem sido respondido na jurisprudência justamente para se admitir o fenômeno da interversão da posse. Interversão da posse significa alteração do caráter da posse. A interversão do caráter da posse se dará nos casos em que com o passar do tempo altera-se a conduta do possuidor perante a coisa. A interversão da posse não passa da emanação do princípio da função social da posse. Tem até precedente do STJ nesse sentido admitindo a interversão da posse. Olha o enunciado 237 do CJF: “É cabível a interversão da posse na hipótese em que o então possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto tendo por efeito a caracterização do animus domini.” P: como se classifica a posse quanto ao elemento subjetivo? R: A posse pode ser de boa ou de má-fé. A posse é de boa-fé quando o possuidor ignora o vício que macula a sua posse (haverá em seu favor presunção relativa de boa-fé caso detenha justo título); já o possuidor de má-fé tem ciência do vício que macula a sua posse. “Art. 1201: É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa”. P.:O que se entende por justo título? R: Tradicionalmente, a doutrina brasileira costumava apontar que justo título seria o título hábil à transferência da posse e da propriedade, embora portador de vício. Ex.: um formal de partilha viciado, uma escritura pública registrada viciada, etc. Em uma perspectiva social da posse, nos termos do En. 303, da 4ª JDC, não se deve dar intelecção formal ao conceito de justo título, reclamando a análise do caso concreto (até mesmo um recibo poderia caracterizar justo título), na perspectiva da função social. P: Toda posse injusta obrigatoriamente é de má-fé? Pode haver posse justa de má-fé? R: Em geral, a posse justa é também de boa-fé. Mas há casos em uma posse injusta é de boa-fé e em que a posse justa é de má-fé. Esses dois critérios partem de premissas diferenciadas. Uma análise é objetiva, outra é subjetiva, psicológica.“Art. 1203: Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida”. Ex.: (A) violentamente ocupou uma fazenda alheia e seu neto, de boa-fé, recebe por herança esta posse. A posse continua sendo injusta, mas o herdeiro está de boa-fé. Ex.: contrato de locação celebrado entre o locador e o inquilino locatário; é caso de posse justa (não violenta, não clandestina e não precária). Mas o inquilino está no imóvel com intenção de usucapi-lo. Esta posse é justa, mas é de má-fé. P: Qual é a diferença entre jus possidendi e jus possessionis? R: Jus possessionis é o juízo possessório. E o Jus possidendi é o juízo petitório. Jus possessionis é o direito de possuir com fundamento exclusivo nos fatos da posse. Jus possidendi é o direito à posse, com fundamento exclusivo no direito de propriedade Jus possessionis é o direito DE posse, ou seja, é o poder sobre a coisa e, a possibilidade de sua defesa por intermédio dos interditos (interdito proibitório, de manutenção da posse ou de reintegração de posse). Trata-se de conceito que se relaciona diretamente com a posse direta e indireta. Ao possuidor direto é conferido o direito DE posse. Já o jus possidendi é o direito À posse, decorrente do direito de propriedade, ou seja, é o próprio domínio. Em outras palavras, é o direito conferido ao titular de possuir o que é seu.. P.: Como se dá a aquisição da posse? R: A posse pode ser adquirida por: (a) apreensão da coisa ou exercício do direito; (b) disposição da coisa ou do direito; (c) modos de aquisição em geral. Apreensão da Coisa ou Exercício do Direito: A apreensão consciente da coisa importa em posse. Consiste na apropriação unilateral de coisa “sem dono”. A coisa é dita “sem dono” quando for abandonada (res derelicta) ou quando não for de ninguém (res nullius). Dá-se ainda a apreensão quando a coisa é retirada de alguém sem sua permissão. Adquirir-se-á também por exercício do direito. Exemplo clássico: servidão. Disposição da Coisa ou do Direito: Após o início do poder fático sobre a coisa, continua-se, permanece-se no mesmo estado, utilizando-se da coisa. Utilizar-se da coisa caracteriza conduta normal de titular de posse ou domínio. Modos de Aquisição da Posse em Geral: Entende-se que a posse pode ser obtida por qualquer forma lícita. Ex: abertura de herança, contrato, etc. P: O que se entende por transmissão da posse? R: Esta pode-se dar a título universal ou a título singular. Na primeira pode ser causa mortis, os herdeiros sucedem o autor da herança e, inter vivos, quando se transfere uma universalidade como, por exemplo, um estabelecimento comercial. Na segunda, título singular, ocorre quando se transfere um bem ou bens determinados e individualizados, ou ainda, causa mortis, quando no testamento institui-se um legatário. Enunciado 77 do CJF: “Art. 1205: A posse de coisas móveis e imóveis também pode ser transmitida pelo constituto possessório”. P: O que se entende por União das posses ou soma das posses? R: Sobre o tema é relevante destacar o instituto da união das posses, previstas no artigo 1207 do CC(Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.), traduzindo na continuação da posse pela soma do tempo do atual possuidor com o de seus antecessores. O gênero união de posses subdivide-se em 2 especies: Sucessio Possessionis - trata-se de modo derivado de titularização da posse, diante do principio da saisine Accecio possessionis – que se verifica sempre inter vivos e por meio de uma relação jurídica (e.g compra e venda) P: Como se perde a posse? R:Conserva-se na posse aquele que mantém o comportamento de exteriorização do domínio, que se dá por conduta do próprio agente ou de seus prepostos e representantes. O art. 1223 dispõe que “perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual ser refere o art. 1196”, isto é, quando desaparecem os poderes inerentes à propriedade com relação à coisa que eram exercidos pelo possuidor. Causas da perda da posse: (a) abandono: é a renúncia; (b) tradição; (c) destruição: perecimento do objeto; (d) colocação da coisa fora do comércio: tornou-se inalienável, ex. terras públicas; (e) posse de outrem; (f) constituto possessório. P: Qual(is) são os efeitos da posse? R: Direito à percepção dos frutos. Fruto é uma utilidade renovável que a coisa principal gera e cuja percepção não diminui a sua substância (frutas, vaca, bens manufaturados por uma fábrica, aluguel, juros, etc.). As regras no que tange aos frutos estão previstas explicitamente nos arts. 1.214 a1.216, CC: Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos .Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação. Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio. O tratamento dado aos produtos encontra divergência na doutrina: 1) partindo de uma interpretação literal do art. 1.232(Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem.), considerando que o produto esgota a coisa principal, conclui que o verdadeiro proprietário tem o direito de ser indenizado (independentemente de o possuidor ser de boa ou má-fé); 2) uma segunda corrente, captaneada por Beviláqua, homenageando a boa-fé, admite, por aplicação analógica dos arts. 1.214 e 1.216, que o possuidor de boa-fé tenha direito aos produtos extraídos até o dia em que toma conhecimento do vício da sua posse. Benfeitorias realizadas: Quanto às benfeitorias realizadas, regula a matéria os arts. 1.219 e 1.220, CC. Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. Na forma da art. 1.219, o possuidor de boa-fé tem direito de ser indenizado pelas benfeitorias úteis e necessárias, inclusive com direito de retenção. No que tange às voluptuárias, se não forem indenizadas ao possuidor de boa-fé, poderá ele exercer o direito de remoção (jus tollendi), desde que o faça sem prejuízo à coisa principal. O possuidor de má-fé, pelas benfeitorias necessárias, não tem direito, pois, de retenção. Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa: Regulam esta matéria os arts. 1.217 e 1.218, CC: Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa. Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. Nos termos do art. 1.217, o possuidor de boa-fé somente responderá pela perda ou deterioração da coisa quando houver atuado com culpa ou dolo (responsabilidade subjetiva). Dar causa significa atuar com culpa ou dolo. O possuidor de má-fé responde pela perda ou deterioração da coisa, quer tenha atuado com culpa, com dolo ou até mesmo com força maior, salvo se provar que de igual modo se teriam dado estando a coisa na posse do proprietário. No caso deste art. 1.218, há quem afirme, inclusive, que a responsabilidade do possuidor de má-fé é objetiva. Usucapião: modo originário de aquisição de propriedade ou outros direitos reais na coisa alheia, mediante o exercício da posse contínua e pacífica por determinado tempo legalmente previsto. Será visto com mais detalhes no próximo item. P: É possível ao possuidor defender sua posse inclusive utilizando a força? R: Sim. É o que se denomina de autotutela da posse: trata-se de meio legítimo de defesa, exercido segundo o princípio da proporcionalidade, em duas situações, previstas no §1º, do art. 1.210, CC – legítima defesa e desforço incontinenti: “O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse”. A legítima defesa ocorre quando a posse é ameaçada, já o desforço imediato quando a posse é perdida. P: O que se entende por esbulho possessório? R: Esbulho é a privação física da coisa. O possuidor que é esbulhado é aquele possuidor que perde o contato material com o bem. Ser esbulhado é ser posto para fora do bem. Toda vez que a aquisição da posse se deu pela forma injusta, o cara que entrou na posse é um esbulhador ou pela violência ou pela clandestinidade ou pela precariedade. P: E por turbação? R: Turbação é perturbação. O possuidor turbado é o possuidor perturbado, incomodado, molestado. Ou seja, possuidor turbado é o possuidor que sofre uma agressão, mas essa agressão à posse não chega ao ponto de excluí-lo do poder fático sobre a coisa. Essa agressão reduz os seus poderes sobre a coisa, mas não o exclui do poder fático sobre o bem. P: O que se entende por ameaça para fins de proteção possessória? R: É o ato que indique certeza de estar a posse na iminência de ser violada(turbada ou esbulhada). P: Em breves comentários, em que consiste a ação de interdito proibitório? R: Sua particularidade é o caráter preventivo. Busca-se evitar ofensa à posse. Conferido ao possuidor com justo receio de ser molestado (turbado) ou esbulhado de sua posse. Busca proteção contra violência iminente.. Não se admite o interdito proibitório com a finalidade de impedir que o réu ajuíze alguma ação. P: Em breves comentários, em que consite a ação de manutenção de posse? R: Requisitos: (a) TURBAÇÃO (molestamento sem privação da posse) atual; e (b) data do início da turbação e a continuação na posse. Pode haver concessão de medida liminar, ordenando que cesse a turbação. Após a citação e caso não tenha sido concedida medida liminar nem tenha sido convencido o juízo com justificação judicial, toma o feito o rito ordinário. É ação dúplice, podendo o demandado requerer sua reintegração, caso tenha sido esbulhado por posse violenta e não convalidada por ano e dia. P: Em breves comentários, em que consite a ação de reintegração de posse? R: É conferida ao possuidor que foi ESBULHADO, ou seja, privado de sua posse de forma injusta. Requisitos: que tenha havido esbulho e que o mesmo date de menos de ano e dia. Com prova pré-constituída ou extraída de justificação pode o juiz conceder medida liminar de reintegração. Caso contrário, ordenada a citação e contestado o feito, toma-se o rito ordinário. 14. Aquisição e perda da propriedade móvel e imóvel. (thales78@yahoo.com.br) P: Como o código civil disciplina a perda e a aquisição dos bens móveis e imóveis? R: A aquisição de bens imóveis é tratado no capítulo 2, a aquisição dos bens imóveis são tratados no capítulo 3. A perda da propriedade, tanto para móveis como para imóveis é tratada em um único capítulo. P:Quais são as hipóteses de aquisição da propriedade dos bens móveis? R: As hipóteses são: 1-tradição; 2- ocupação; 3- achado do tesouro; 4- especificação; 5 - confusão, comistão e adjunção: 6- usucapião de coisa móvel. P:Em que consiste cada uma delas? R: 1-Tradição: é a entrega efetiva da coisa móvel feita pelo proprietário-alienante ao adquirente, em virtude de um contrato, com a intenção de transferir o domínio. Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição. Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico. 2-ocupação: ocupar é se tornar proprietário de coisa sem dono (res nulius) ou de coisa abandonada (res derelictae). Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei. (res nulius). Ex. Peixe no mar Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade: III – por abandono. (res derelictae). Ex. móveis deixados na rua. Não se confunde com coisa perdida (res amissa). Coisas perdidas não podem ser apropriadas pela ocupação, A perda da coisa não implica perda da propriedade. 3- achado do tesouro: Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória, será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o tesouro casualmente. 4-especificação: constitui forma de aquisição da propriedade móvel, que ocorre mediante atividade de uma pessoa em determinada matéria prima, obtendo, por seu trabalho, espécie nova. Esta será do especificador, se matéria era sua, ainda que só em parte, e não se puder restituir à forma anterior. Assim dispõe o artigo 1269 do Código Civil:“Aquele que, trabalhando em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se puder restituir à forma anterior.” 5 -confusão, comistão e adjunção: Maria Helena Diniz, em sua obra “Curso de Direito Civil Brasileiro – Direito das Coisas”, discorre que “quando as coisas pertencentes a pessoas diversas se mesclarem de tal forma que seria impossível separá-las, tem-se: a confusão, se a mistura se der entre coisas liquidas (p.ex., gasolina e álcool, vinho e guaraná); a comistão, se der entre coisas secas ou sólidas (p.ex., mistura de grãos de café tipo A com os do tipo B ou de trigo com glúten). Quando, tão-somente, houver uma justaposição de uma coisas a outra (p.ex., vaso contendo decalque alheio; peça de roupa de um com estampa de outrem) que não mais se torne possível destacar a acessória da principal, sem deterioração, dá-se adjunção.” 6- Usucapião de bens móveis: A usucapião de móveis é mais rara e é menor o tempo previsto em lei para sua aquisição tendo em vista a maior importância econômica dos imóveis na nossa vida. Para os imóveis a usucapião se dá entre dois e quinze anos, já para os móveis se dá entre três e cinco anos. Ordinária: 3 anos- exige posse (não é possível a mera detenção); mansa, pacífica e pública; exige animus domini; também exige justo título e boa-fé. Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade. Extraordinária: 5 anos; dispensa justo título e boa-fé. Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião, independentemente de título ou boa-fé. P: Quais são os modos de aquisição da propriedade imobiliária? R: A propriedade imobiliária poderá ser adquirida de forma originária ou derivada. Será adquirida de forma originária a propriedade quando esta for desvinculada de relação com o antigo proprietário, sem a existência de relação jurídica de transmissão. Será adquirida de forma derivada a propriedade quando houver relação com o antigo proprietário. Esta transmissão poderá ser inter vivos (venda, por exemplo) ou causa mortis (transferência do patrimônio do falecido para seus herdeiros). P: Quais são as hipóteses de aquisição da propriedade dos bens imóveis? R: Registro; usucapião; acessão P: Em que consiste cada uma das hipóteses? R: 1-Registro: Elencada nos arts. 1245, 1246 e 1247 a aquisição da propriedade imóvel pelo registro do título é a transferência entre vivos da propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis competente. O registro está para os bens imóveis, assim como a tradição está para os bens móveis. (titulo ou causa + registro) Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. 2- ACESSÃO: A Acessão vem ser, por lei, o modo de aquisição da propriedade imóvel com a ocorrência de um aumento desta, podendo ter como causa um evento natural ou artificial. Assim, aquele que já é dono do bem principal adquire ainda o que aumentou como acessório como nos ensina Carlos Roberto Gonçalves: "tudo o que se incorpora a um bem, fica pertencendo ao seu proprietário" Exemplos: aluvião- acréscimo paulatino de terras que o rio deixa naturalmente nos terrenos ribeirinhos; avulsão – é o desprendimento, por força natural, violenta e abrupta, de uma porção de terra que se vai juntar ao terreno de outro proprietário, ocorrendo a consolidação de duas coisas em uma. 3- Usucapião: Usucapião é a forma originária de aquisição de uma posse por determinado lapso temporal, desde que cumpridos requisitos determinados legalmente. Para tanto, é necessário o cumprimento de dois requisitos para sua configuração, quais sejam: posse e tempo. Desde que aliados os dois elementos, é possível cogitar a aquisição de imóvel por intermédio da usucapião. Os elementos são: Posse mansa e pacifica; Animus domini;tempo, Boa-fé e justo título. Os tipos de usucapião são: Usucapião extraordinária (Cuja aquisição exige a posse contínua durante quinze anos, sem oposição judicial – posse mansa e pacífica-, e a intenção de ter a coisa como sua – animus-. Não sendo exigido justo título e boa- fé, nem a moradia do possuidor); Usucapião Ordinária (Esta se difere da extraordinária por exigir a presença de elementos como o justo título e boa-fé. Nesta modalidade o prazo exigido da posse contínua é de dez anos, podendo ser reduzido para cinco se estiverem presentes outros elementos como moradia do possuidor no imóvel e aquisição de forma onerosa.); Usucapião Especial Rural (Neste caso, o possuidor deve possuir imóvel em área rural não superior cinqüenta hectares, de forma mansa, pacífica e ininterrupta, pelo prazo de cinco anos, independentemente de justo título e boa-fé, não podendo o possuidor ser proprietário de outro imóvel, seja ele urbano ou rural.); Usucapião Especial Urbana (Nesta hipótese, o possuidor deve possuir imóvel urbano, com extensão de máxima de 250 metros quadrados, utilizado para fins de sua moradia ou de sua família, sendo a posse mansa e pacífica, por cinco anos ininterruptos. O mesmo não poderá ser proprietário de qualquer outro imóvel urbano ou rural). P: Como ocorre a perda da propriedade? R: A propriedade imóvel é um direito perpétuo na pessoa de seu titular ou de seus sucessores. Isso valerá, até que seja afastado legalmente, por algum motivo de seu patrimônio, art. 1.275.C/C , perde-se voluntariamente por alienação, abandono e renúncia e, involuntariamente, pelo perecimento e desapropriação. P:Quais são os tipos de perda da propriedade? R:ALIENAÇÃO — É contrato oneroso bilateral, mediante a transferência da coisa. RENÚNCIA — É ato unilateral. Não requer registro, salvo na herança que implica em abandono ou desistência que resulta em extinção de direitos. ABANDONO — É ato voluntário, sem qualquer formalidade. O arrependimento é elemento básico do abandono. PERECIMENTO DO IMÓVEL — É a extinção do direito de propriedade, pela perda da coisa que lhe servia de objeto. DESAPROPRIAÇÃO — É ato involuntário de perda da propriedade privada, por intervenção do império, facultado à União, Estados, Municípios e o Distrito Federal, bem como de cessionários aos serviços públicos, no interesse social ou utilidade pública, art. 184 e 185 CF 1988. PERDA INVOLUNTÁRIA: pela arrematação, adjudicação, implemento de condição resolutiva, usucapião, casamento pela comunhão universal e confisco. 15. Usucapião especial urbana e rural. Andréia (andreiaricas@gmail.com) Bibliografia consultada: TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil, v.4: Direito das coisas. 2. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Método, 2010. Resumos TRF1. Enunciados Jornadas de Direito Civil. P: Em que consiste a usucapião? R. Conforme Caio Mário da Silva Pereira (apud TARTUCE; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil, v.4: Direito das coisas. 2. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Método, 2010. p. 172), usucapião é “a aquisição da propriedade ou outro direito real pelo decurso do tempo estabelecido e com a observância dos requisitos instituídos em lei”. A doutrina geralmente a identifica com o instituto da prescrição aquisitiva, ou seja, a aquisição da propriedade pelo uso (em contraposição à prescrição extintiva, que é a perda pelo não uso). O termo em latim usucapio significa exatamente “tomar pelo uso”, “adquirir pelo uso”. Pode-se adquirir por usucapião a propriedade ou outro direito real (usufruto ou servidão). Trata-se de forma de aquisição originária da propriedade, ou seja, sem vícios. OBS.: tópico acrescentado para contextualização conceitual do tema. Como o ponto é específico em relação às modalidades de usucapião especial, demais questões ligadas à usucapião em geral são referentes ao tópico que trata das formas de aquisição da propriedade. P: Qual princípio norteia a existência das modalidades de usucapião especial? R. Tais modalidades de usucapião foram criadas em consonância com o princípio da função social da propriedade, afastando a visão privatista que existe nas modalidades extraordinária e ordinária regidas pelo Código Civil. P: Quais são os requisitos para a usucapião especial urbana? R. A usucapião especial urbana também é chamada de usucapião “pro misero” ou “pro moradia”. É inovação da CF/88, e seus requisitos estão previstos no art. 183 da Constituição, repetidos no 1.240 do CC/02. São eles: a) posse ad usucapionem (ininterrupta, mansa, pacífica e com animus domini); b) área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados; c) prazo de cinco anos; d) utilização para sua moradia ou de sua família (exige, portanto, que exista uma construção); e) não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Há ainda um requisito negativo: não ter tido anteriormente o reconhecimento ao direito de propriedade por usucapião especial urbana. P: É possível adquirir por usucapião especial imóvel urbano inserido em área maior, quando delimitada a posse ao limite de duzentos e cinquenta metros quadrados? R. O tema é controverso. Embora alguns defendam essa possibilidade (como consta no resumo TRF1), há doutrina em sentido contrário, que inclusive embasou o Enunciado 313 da IV Jornada de Direito Civil: “Arts. 1.239 e 1.240. Quando a posse ocorre sobre área superior aos limites legais, não é possível a aquisição pela via da usucapião especial, ainda que o pedido restrinja a dimensão do que se quer usucapir”. No sentido do Enunciado, decidindo pela impossibilidade de renúncia à área excedente: AC 200483000211200, Desembargador Federal Edílson Nobre, TRF5 - Quarta Turma, DJE - Data: 17/11/2011 - Página: 1084. Entretanto, excepciona-se, conforme o Enunciado 314 da mesma Jornada, que “para os efeitos do art. 1.240, não se deve computar, para fins de limite de metragem máxima, a extensão compreendida pela fração ideal correspondente à área comum”. P: Quais são os requisitos para a usucapião especial rural? R. A usucapião especial rural é também chamada de usucapião agrária ou “pro labore”. Funda-se na posse-trabalho, assim entendida como aquela caracterizada pela utilização econômica do bem possuído. Seus requisitos estão previstos no artigo 191 da CF/88 e 1.239 do CC/02. São eles: a) posse ad usucapionem (ininterrupta, mansa, pacífica e com animus domini); b) área em zona rural não superior a cinqüenta hectares; c) prazo de cinco anos; d) utilização produtiva por seu trabalho ou de sua família (é o pro labore, que pode ser na agricultura, pecuária, extrativismo etc.), bem como fixação de moradia; e) não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. P: É possível que a usucapião especial rural se dê em quaisquer áreas? R. Não. Primeiramente, os imóveis públicos não são usucapíveis. Ademais, conforme o art. 3º da Lei nº 6.969/81 (que ainda regulamenta a modalidade no aspecto processual – a ação de usucapião é objeto de tópico próprio), não é possível a usucapião especial rural nas áreas indispensáveis à segurança nacional, terras habitadas por indígenas e áreas de interesse ecológico declarado pelo Poder Executivo. P: Permite-se a acessio possessionis na usucapião especial? R. Não. Tanto na usucapião especial rural quanto na urbana não se autoriza a soma de posses tal como prevista no CC/02 (art. 1.207 e 1.243, do CC), por contrariar o caráter social objetivado. Nesse sentido, vide Enunciado 317 da IV Jornada de Direito Civil: “Art. 1.243. A accessio possessionis, de que trata o art. 1.243, primeira parte, do Código Civil, não encontra aplicabilidade relativamente aos arts. 1.239 e 1.240 do mesmo diploma legal, em face da normatividade do usucapião constitucional urbano e rural, arts. 183 e 191, respectivamente". Flávio Tartuce e José Fernando Simão (p. 183) defendem que, especificamente na usucapião especial urbana, deve ser aplicada a regra específica do artigo 9º, §3º, do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), segundo a qual é possível a soma de posses no caso de falecimento do possuidor, desde que o sucessor já residisse no imóvel quando da abertura da sucessão. Seria vedada, portanto, apenas a soma de posses inter vivos, mas não a mortis causa. P: É possível a usucapião especial de bens públicos? R. Não, conforme decorre da disciplina dos bens públicos (que têm como característica a imprescritibilidade) e expressamente dispõe a própria Constituição Federal, nos termos dos artigos 183, §3º, e 191, parágrafo único. P: Dentre as modalidades de usucapião de bens imóveis, pode-se dizer que as denominadas “usucapião especial urbana e rural” são as que se consumam em menor prazo? R. Atualmente, não. Foi recentemente incluído no Código Civil o art. 1.240-A, que reconhece o direito de propriedade (adquirido por usucapião) a quem exercer, “por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família (...) desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”. P: Em que consiste a denominada “usucapião especial urbana coletiva”? Esclarecimento inicial: como alguns autores usam essa denominação, resolvi incluir a questão como um adicional, embora ache que o edital se refira estritamente às modalidades trazidas na CF/88. R. A “usucapião especial urbana coletiva” ou apenas “usucapião coletiva” é a trazida no art. 10 do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), cujos requisitos são: a) área urbana de no mínimo 250 m²; b) ocupação por famílias de baixa renda, para moradia; c) posse ad usucapionem (ininterrupta, mansa, pacífica e com animus domini); d) prazo de cinco anos; e) ausência de possibilidade de identificação da área de cada possuidor; f) possuidores não serem proprietários de outro imóvel urbano ou rural. A usucapião é reconhecida coletivamente, e, salvo acordo escrito entre os possuidores em sentido contrário, é atribuída a cada possuidor uma fração ideal idêntica à dos demais. Os possuidores ajuízam a demanda em litisconsórcio ou por meio de associação. Na sentença constitui-se um condomínio entre os usucapientes, em regra indivisível. É possível a acessio possessionis. 16. Modalidade de condomínio. Igor (irferreira@gmail.com) Fontes: Curso de Direito Civil – Reais, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald; e pesquisa jurisprudencial no STJ. P: Discorra brevemente sobre condomínio. R. Condomínio é a situação jurídica em que duas ou mais pessoas, simultaneamente, detêm idênticos direitos e deveres de proprietários sobre o mesmo bem. Ou seja, é uma co-propriedade. Cada condômino deve concorrer com as despesas de conservação na proporção de sua parte (CC, art. 1.315). É de se destacar que cada condômino pode reivindicar o bem de terceiros, na sua integralidade, sem precisar da autorização dos demais co-proprietários (CC, art. 1.314). Os direitos de uso, gozo e disposição de cada proprietário abrangem o bem em sua totalidade; porém, tais direitos são limitados pelo exercício dos mesmos direitos pelos demais, em conformidade com a destinação da coisa. P: Quais são as espécies de condomínio previstas no Código Civil? R. O Código Civil prevê o condomínio geral (ordinário) e o condomínio edilício. No condomínio geral cada condômino é proprietário de uma fração ideal. Ele pode inclusive alienar ou gravar sua fração ideal sem precisar do consentimento dos outros, a não ser que se trate de coisa indivisível, caso em que deverá dar preferência aos demais condôminos (CC, art. 504). Já no condomínio edilício os condôminos são, ao mesmo tempo, titulares exclusivos das unidades autônomas e co-titulares das partes comuns (inclusive a fração ideal do solo). Há uma fusão entre a propriedade individual e a propriedade comum, que são juridicamente inseparáveis. Pode-se também mencionar a existência de comunhão legal (em oposição à comunhão voluntária), que ocorre nos casos previstos no art. 1.327 do Código Civil, referente a paredes, cercas, muros e valas. É também legal a comunhão entre os herdeiros por ocasião da abertura da sucessão até o encerramento da partilha. P: Diferencie o condomínio ordinário pro indiviso do condomínio ordinário pro diviso. R. No condomínio pro indiviso os proprietários não se localizaram individualmente no espaço físico. Isto é, não houve uma divisão fática dentro da propriedade que é juridicamente comum. Por exemplo, em um terreno que pertence a várias pessoas, nenhum dos condôminos tomou para si certa parte da propriedade. Nesses casos há uma comunhão de fato e de direito. No condomínio pro diviso a comunhão é apenas de direito, pois os condôminos já exercem seus atos de proprietário especificamente sobre uma parte da coisa. P: Em que casos o condômino tem direito de exigir a divisão da coisa? R. O condômino pode exigir a divisão a qualquer tempo. Caso seja a coisa indivisível ela deverá ser vendida, sendo repartido o valor apurado (há regras que regulam a preferência para os condôminos – CC, art. 1.322). Porém, pode ser convencionado que a coisa fique indivisa pelo prazo de até 5 anos (CC, art. 1.320), que pode ser posteriormente prorrogado. Também na doação e na transmissão causa mortis o prazo máximo de indivisão que pode ser estabelecido é de 5 anos. Ainda assim, se houver graves razões que justifiquem o juiz poderá determinar a divisão. Ressalta-se que, sendo a coisa divisível, um condômino não tem direito de exigir a alienação judicial para repartição do preço, devendo ocorrer, em regra, a divisão, conforme a jurisprudência do STJ (791.147/SP). P: A jurisprudência admite que ocorra usucapião por um dos condôminos sobre a propriedade comum? R. Sim, o STJ firmou entendimento no sentido de que é possível ao condômino usucapir caso exerça a posse exclusiva sobre o bem imóvel (AgRg no Ag 731.971/MS). No caso de condomínio edilício a jurisprudência não tem admitido usucapião sobre área comum; no entanto, atendendo a peculiaridades do caso concreto, por vezes admite a supressio, mantendo o condômino na posse da área comum que vinha sendo utilizado com exclusividade com boa-fé por longo tempo (STJ, REsp 325.870/RJ). Relembre-se que supressio é o desaparecimento de um direito não exercido por um lapso de tempo, gerando na outra parte a expectativa de que não será mais exercido. P: O condomínio tem personalidade jurídica para fins tributários? R. Sim, para fins tributários pode-se dizer que o condomínio tem personalidade jurídica, pois compõe um plexo de direitos e obrigações administrado pelo síndico. Deverá, por exemplo, inscrever-se no CNPJ e pagar contribuição previdenciária sobre a remuneração dos seus empregados e também do síndico (STJ, REsp 1.064.455/SP). A jurisprudência inclusive reconhece o direito do condomínio de aderir a programa de parcelamento especial (STJ, REsp. 1256.912/AL, em caso referente ao REFIS). P: Há solidariedade entre os condôminos no pagamento de tributos incidentes sobre o bem? R. Sim, todos os proprietários de um mesmo bem são solidariamente responsáveis pelo pagamento do tributo (IPVA ou IPTU, por exemplo), sendo que o condômino que vier a pagar poderá ressarcir-se com os demais, proporcionalmente. É o que se infere dos art. 124, I e 275 do CTN. Nesse sentido é a jurisprudência do STJ (REsp. 1.232.344/PA). Isso é o que ocorre no condomínio ordinário. No condomínio edilício não há solidariedade, sendo cobrado o tributo de cada proprietário na proporção de sua participação nas áreas comuns (STJ, REsp. 892.543 e REsp 783.414/SP). 17. Direitos reais sobre coisa alheia: de fruição, de garantia e de aquisição. Igor (irferreira@gmail.com) Fontes: Curso de Direito Civil – Reais, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald; e pesquisa jurisprudencial no STJ. P: Esclareça o que são direitos reais sobre coisa alheia. R. Tratam-se de direitos que integram o domínio (que é a relação de submissão da coisa ao poder de seu titular) e podem ser transmitidos a terceiros, mantendo-se a propriedade com o seu titular. Na propriedade plena o titular consolida o domínio em suas mãos; quando há direitos reais sobre coisa alheia a propriedade passa a ser limitada, pois certos poderes do domínio são transmitidos a outrem. Assim, cada um dos poderes do domínio pode constituir-se em um direito real autônomo. Os direitos reais sobre coisa alheia podem ser de fruição (servidão, usufruto, uso e habitação), de garantia (hipoteca, penhor e anticrese) ou de aquisição (que é a promessa de compra e venda). P: O que é direito real de fruição? R. O Código Civil prevê quatro espécies de direito real de fruição: (i) servidão, que é a vinculação de um imóvel para que preste certa utilidade a outro (isto é, impõe-se restrições a um imóvel em benefício de outro); (ii) usufruto, que é a concessão dos direitos de posse, uso, administração e percepção de frutos; (iii) direito real de uso, que é mais limitado que o usufruto, abarcando apenas o uso e a percepção de frutos estritamente para as necessidades familiares; e o (iv) direito de habitação, que é ainda mais restrito, pois limita a utilização do imóvel à habitação própria e de sua família (não pode alugar nem emprestar). Note-se que o Código Civil vigente suprimiu o instituto da enfiteuse (espécie de locação perpétua). P: Há servidões obrigatórias ou são sempre voluntárias? Qual é o prazo máximo que se pode instituir uma servidão? R. Não há servidões compulsórias; elas se constituem por negócio jurídico registrado no Cartório de Registro de Imóveis (CC, art. 1.378) ou por usucapião (art.1.379). O que por vezes se denomina de servidão legal são em verdade direitos de vizinhança, isto é, limitações ao direito de propriedade que se aplicam reciprocamente entre os imóveis (na servidão um dos imóveis é serviente e o outro dominante, sem reciprocidade). Esta distinção é, inclusive, reconhecida pelo STJ (REsp. 935.474/RJ). O direito real de servidão também não se confunde com as chamadas servidões administrativas, que são ônus impostos pela administração que não se relacionam, necessariamente, com outro imóvel (pode ser para permitir a passagem de cabos aéreos de energia elétrica ou dutos subterrâneos, por exemplo). Por fim, não há prazo máximo, as servidões são perpétuas (CC, art. 1.387). P: Fale sobre o usufruto no contexto de uma Execução Fiscal. R. O direito real de usufruto confere ao seu titular a posse, uso, administração e percepção de frutos. O titular do direito de propriedade passa a ser nu-proprietário, pois enquanto durar o usufruto terá apenas a posse indireta do bem e o direito de dele dispor (além de exigir que o usufrutuário não altere sua substância, mantendo a plenitude da coisa). É um direito real ligado à pessoa do usufrutuário, cuja duração será no máximo até sua morte; por isso é intransmissível, mas seu exercício pode ser cedido a título gratuito ou oneroso. No contexto de uma Execução o que pode haver é o usufruto judicial, previsto no Código de Processo Civil (art. 647, IV, art. 708 e 716). Nesse caso não haverá para o Exeqüente direito de usar e fruir, mas sim a percepção de frutos. Por exemplo, a depender do valor da dívida (se pequena), seria gravosa a alienação de um imóvel, sendo mais simples e rápida a utilização dos aluguéis como forma de pagamento. No mesmo sentido, o usufruto sobre as cotas do devedor em uma sociedade alcançará os dividendos a que faria jus para saldar a dívida (nesse caso, a vantagem reside na provável dificuldade de fazer a alienação judicial de tais cotas sociais). P: A instituição do usufruto pode dar ensejo à cobrança do ITCMD, considerando-se que não há transmissão da propriedade? R. A Constituição prevê (art. 155, I) a possibilidade de incidência do ITCMD (imposto sobre transmissão causa mortis e doação) sobre transmissão de quaisquer bens ou direitos. Tratando-se o usufruto de um direito, é possível a incidência do ITCMD na sua instituição, acaso previsto na legislação estadual pertinente. Nos termos do CTN (art. 38), a base de cálculo do imposto é o valor venal do bem ou direito transmitido. Nesse sentido, a legislação não poderá considerar como base o valor integral do bem sobre o qual foi constituído o usufruto, pois certamente esse direito tem valor inferior ao da propriedade plena; por isso que em geral as legislações estaduais prevêem como base de cálculo um percentual sobre o valor venal do bem (1/3, por exemplo). P: Qual é a situação do credor com garantia real no caso de falência? Seu crédito prefere ao crédito tributário? R. Dispõe o Código Civil (art. 1.422) que o credor hipotecário e pignoratício prefere aos demais credores no pagamento (até o valor da coisa dada em garantia), mas que se excetuam da regra dívidas com prioridade previstas em outras leis. Por sua vez, a Lei de Falências (Lei n.º 11.101/05) prioriza os créditos derivados da legislação do trabalho (até 150 salários-mínimos) e os decorrentes de acidente de trabalho (art. 83). Na seqüência a prioridade é do credor com garantia real, até o limite do bem gravado. Portanto, apenas após é que serão pagos os créditos tributários, o que é uma inovação da nova lei de falências, tendo o CTN sido adaptado à nova regulação pela LC n.º 118/05. P: O que caracteriza o direito real de aquisição? R. Nos termos do Código Civil (art. 1.417), haverá direito real de aquisição quando a promessa de compra e venda for objeto de registro no Cartório de Registro de Imóveis. Além disso, do contrato não poderá constar cláusula de arrependimento. 18. Obrigações: modalidades; modos de extinção (pagamento direto e pagamento indireto); extinção da obrigação sem pagamento; execução forçada por intermédio do Poder Judiciário; conseqüências da inexecução da obrigação por fato imputável ao devedor (mora, perda e danos e cláusula penal); transmissão (cessão de crédito, cessão de débito e cessão do contrato). Vinícius Nardon P: Em direito das obrigações qual é a diferença entre schuld e haftung? R. Schuld traduz a idéia de dever, de debitum. E a palavra haftung corresponde à palavra responsabilidade. O devedor, em primeiro plano, é aquele que tem o schuld e também o haftung que incidirá sobre o patrimônio deste devedor. Mas, pode ser que em determinada relação obrigacional o devedor terá o schuld, o dever, mas é um terceiro ficará com a responsabilidade de forma primária. Exemplo: na relação de fiança. O fiador é um terceiro que tem o haftung apesar de não possuir o schuld. P: O que se entende por obrigação com eficácia real? R. Trata-se de uma obrigação que, levada ao registro passa a ter eficácia erga omnes. Exemplo: art. 8º da lei do inquilinato (lei nº 8245/1991). P: Quais as modalidades de obrigações? R. A classificação básica das obrigações dentro do Código Civil Brasileiro, segundo Pablo Stolze, divide-se em obrigações de dar, fazer ou não fazer. A obrigação de dar tem por objeto a prestação de coisa, podendo ser de dar coisa certa ou incerta. A obrigação de dar coisa certa traduz a prestação de coisa determinada, individualizada, ao passo que a incerta, nos termos do art. 243, CC, é aquela indicada apenas pelo gênero e quantidade, faltando-lhe a qualidade da coisa. A obrigação de fazer impõe ao devedor a realização de determinado comportamento, consistente em praticar um ato ou realizar uma tarefa. Divide-se em obrigação de fazer fungível e infungível. A primeira, é aquela que admite ser cumprida não apenas pelo devedor, mas também por terceiro, sendo que a infungível é uma obrigação personalíssima, não admitindo que seja cumprida por terceiro. Por último, temos a obrigação de não fazer, uma obrigação negativa, ou seja, um comportamento omissivo do devedor. Há, ainda, as obrigações alternativas, divisíveis e indivisíveis, solidárias e as obrigações “propter rem”. A alternativa é aquela que possui objeto múltiplo, de maneira que o devedor se exonera cumprindo uma das prestações devidas, sendo que a escolha, em regra geral, cabe ao devedor. As obrigações divisíveis são aquelas que admitem o cumprimento fracionado e parcial da prestação. Já as indivisíveis, só podem ser cumpridas por inteiro (art. 257 e 258, CC). Já existe solidariedade quando, na mesma obrigação, concorre uma pluralidade de credores ou devedores, cada um com direito ou obrigado a toda a dívida. Por último, a obrigação propter rem trata-se de uma obrigação de natureza mista, real e pessoal. Este tipo de obrigação posto vincule pessoas (credor e devedor) adere a uma coisa acompanhando-a. Obrigação de pagar taxa de condomínio é uma obrigação típica propter rem. A taxa condominial acompanha o imóvel, quem quer que seja seu dono. A natureza propter rem da taxa condominial foi reconhecida pelo próprio STJ (REsp 846.187/SP). P: Qual é a diferença entre a remissão (perdão da dívida) e a renúncia da solidariedade passiva? R. Na forma dos artigos 277 e 282, ambos do Código Civil, à luz dos enunciados 349 a 351 da IV Jornada de Direito Civil, conclui a doutrina que, renunciando à solidariedade em face de um dos devedores, só poderá o credor deixar de cobrar solidariamente a parte remanescente à renunciada da dívida (pois não houve perdão); quanto aos outros devedores, ainda unidos em solidariedade, terá o credor o direito de cobrar o restante da dívida. Já no perdão da dívida (remissão/perdão da dívida de um dos devedores apenas), mandará o credor um dos devedores embora e remanescerá o valor da dívida para os demais devedores. P: Uma obrigação natural, embora juridicamente inexigível, gera alguma conseqüência jurídica? R. SIM, existe o efeito jurídico da SOLUTI RETENTIO. Significa que há a “retenção do pagamento”. Se o devedor natural pagar por sua obrigação natural, mesmo que ela não possa ser exigida judicialmente por ser inexigível, o devedor perderá o valor, e o credor reterá o que recebeu espontaneamente por quem lhe devia (expressa disposição nos artigos 882 e 814, CC). P: O que se entende por obrigação propter rem (ob rem ou in rem)? R. Trata-se de uma obrigação HÍBRIDA, de natureza mista, real e pessoal. Este tipo de obrigação posto vincule pessoas (credor e devedor) adere a uma coisa acompanhando-a. P: Diferencie o pagamento direto e pagamento indireto R. O pagamento é o principal modo de extinção das obrigações, já que a obrigação nasceu para ser satisfeita, e pode ser direto ou indireto. Entende-se por pagamento direto aquele em que há a satisfação exata da prestação que constitui o objeto da obrigação, ou seja, o devedor se exonerará da obrigação entregando efetivamente a coisa devida. Pagamento indireto, por sua vez, é aquele em que a extinção da obrigação se dá de forma diversa da originariamente convencionada, podendo ocorrer por: a) pagamento em consignação; b) pagamento com sub-rogação; c) imputação do pagamento; d) dação em pagamento; e) novação; f) compensação; g) transação; h) compromisso; i) confusão; j) remissão das dívidas. P: Em que situações há a extinção da obrigação sem pagamento? R. A extinção da obrigação sem pagamento se dá pela prescrição, caso fortuito e força maior, condição resolutiva ou de termo extintivo e execução forçada pelo Poder Judiciário. Como se sabe, a prescrição é uma pena para o negligente que deixa de exercer seu direito de ação dentro de certo prazo, diante de uma pretensão resistida. A força maior ou o caso fortuito caracterizam-se pela presença de 2 requisitos: a) o objetivo, que se configura na inevitabilidade do acontecimento, sendo impossível evitá-lo ou impedi-lo; b) subjetivo, que é a ausência de culpa na produção do evento. Já o implemento da condição resolutiva extinguirá, para todos os efeitos, o liame obrigacional, pois o advento desse evento futuro e incerto resolve a obrigação. De outro lado, o termo extintivo determina a data de cessação dos efeitos do negócio jurídico. P: A obrigação poderá ser forçada por intermédio do Poder Judiciário? R. Sim. A execução forçada por intermédio do Judiciário são as medidas aplicadas pelo Estado quando o devedor não cumprir voluntariamente a obrigação assumida, de modo que o credor poderá obter seu adimplemento, havendo a exeqüibilidade da prestação por meio de execução forçada; o crédito poderá ser satisfeito por meio de execução específica, se o credor tiver por escopo obter exatamente a prestação prometida, ou por execução genérica se o credor executar bens do devedor, para obter o valor da prestação não cumprida, por ser física ou juridicamente impossível. P: Conseqüências da inexecução da obrigação por fato imputável ao devedor: mora, perda e danos e cláusula penal. R. Ocorre a mora, espécie de inadimplemento relativo (parcial), quando o pagamento não é feito no tempo, lugar e forma, antes convencionados. É dizer, a mora traduz o retardamento culposo no cumprimento da obrigação por parte do devedor (mora solvendi). Para a mora estar caracterizada, a obrigação deverá ser certa, líquida, exigível, ocorrer culpa do devedor e a viabilidade do cumprimento tardio da obrigação. Quanto há o inadimplemento absoluto da obrigação, ou seja, quando a obrigação não pode ser mais cumprida pelo modo pactuado por culpa do devedor, a obrigação resolve-se em perdas e danos (danos emergentes e lucros cessantes – art. 402 do CC). Por fim, a cláusula penal, também denominada pena convencional, consiste em um pacto acessório por meio do qual as partes visam a antecipar a indenização devida em caso de inadimplemento absoluto ou relativo. Segundo o professor Cristiano Chaves, a cláusula penal teria uma função secundária intimidatória. Duas espécies: cláusula penal compensatória e cláusula penal moratória. A primeira, indeniza/ compensa o credor pelo inadimplemento absoluto da obrigação, ou seja, pelo descumprimento total da obrigação, enquanto a segunda compensa o credor pelo inadimplemento relativo da obrigação. Visa a indenizar o credor pelo atraso/mora (art. 411, CC) do devedor ou no caso do descumprimento de uma cláusula específica. P: O valor da cláusula penal poderá ultrapassar o valor da obrigação principal? R. O valor da cláusula penal não poderá ultrapassar, sob pena de haver a configuração do enriquecimento sem causa, o valor da obrigação principal (art. 412, CC), P: Se o prejuízo do credor ultrapassar o valor estipulado na cláusula penal, é possível a ele pedir indenização suplementar? R. O parágrafo único do art. 416, CC estabelece que a indenização suplementar será possível, se houver previsão contratual. P: A cláusula penal pode ser reduzida pelo Judiciário? E de ofício? R. A Professora Judith Martins Costa diz que o Juiz poderá reduzir a cláusula penal, a pena convencional, mas nunca poderá suprimi-la, retirá-la. (art. 413 do CC). A doutrina moderna, a exemplo de Flávio Tartuce, tem sustentado que, à luz do princípio da função social, o Juiz deve de ofício reduzir o valor excessivo da cláusula penal. P: O que é cessão de crédito? Confunde-se com a novação? R. Trata-se de uma forma de transmissão no pólo ativo da relação obrigacional, por meio da qual o credor (cedente) transmite total ou parcialmente o crédito ao cessionário, e mantida a mesma relação obrigacional com o devedor (cedido). Não se confunde com a novação porque o novo credor não estabelece uma relação obrigacional nova, mas sim, se junta à antiga relação obrigacional com o devedor, ocupando literalmente o lugar do credor originário. P: Deverá haver a autorização do devedor para a realização da cessão de crédito? R. O direito civil brasileiro não dá ao devedor o poder de autorizar ou não a cessão de crédito. P: O Cedente garante o adimplemento da obrigação? R. Interpretando sistematicamente os artigos 295 a 297, CC, a regra geral é a de que o cedente garantirá apenas a existência do crédito cedido (neste caso a cessão é pro soluto). Todavia, se por norma expressa, além de garantir a existência do crédito, também garantir a solvência do devedor, a cessão será pro solvendo. P: O que é cessão de débito ou assunção de dívida? Confunde-se com a novação subjetiva passiva? R. Na cessão de débito, o devedor, com expresso consentimento do credor, transmite o débito a terceiro, mantida a mesma relação obrigacional. Não se confunde com a novação subjetiva passiva. Com a assunção da dívida, a regra é de que o devedor primitivo está exonerado. No entanto, se o novo devedor era insolvente e o credor de nada sabia (por esta maneira assentiu a cessão de débito), a obrigação do antigo devedor se restabelece. Não se confunde com a novação subjetiva passiva Na cessão de débito, no momento em que ingressa o novo devedor, a relação é a mesma, os prazos são os mesmos, os termos são os mesmos. Esta é a diferença da novação subjetiva passiva. P: O novo devedor pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo? R. Não, conforme art. 302 do CC. P: O que é cessão de contrato? Quais as teorias explicativas sobre a cessão de contrato? R. Diferentemente do que ocorre na simples cessão de crédito ou de débito, na denominada cessão de contrato, o cedente, com a anuência da outra parte, transmite a sua própria posição no contrato a um terceiro que a aceita. Fundamentalmente duas correntes doutrinárias tentaram explicar a cessão de contrato: a) Teoria atomística ou da decomposição e b) Teoria Unitária. Esta primeira teoria não reconhecia a unidade da cessão, argumentando que, em verdade, haveria apenas várias cessões de crédito e débito reunidas. Não há uma cessão global e única, do contrato como um todo. A Teoria unitária, por sua vez, não decompõe a cessão de contrato, e é muito mais concisa e mais objetiva. Para a teoria unitária a cessão de contrato traduzir-se-ia em uma cessão única e global de toda posição contratual. É a teoria defendida pela doutrina majoritária. P: Quais os requisitos para a cessão de contrato? R. a) Celebração de um negócio jurídico entre cedente e cessionário. c) Unidade da cessão (teoria uniária). c) É preciso que haja anuência da outra parte P: O que seria um contrato de gaveta? R. Um contrato de gaveta traduziria uma transmissão da posição contratual por uma das partes a terceiro, sem a anuência da outra parte. Esta prática é muito comum na transferência de contratos de financiamento de imóvel feitos pela Caixa Econômica Federal. Para a CEF, o contrato continuará em nome do devedor originário, por exemplo. A regra geral, em nosso sistema, é no sentido de que, especialmente no âmbito do sistema financeiro, a instituição financeira deve anuir com a cessão de contrato (AgRg no REsp 934989/RJ). 19. Contratos em geral: requisitos de validade, princípios, formação, classificação; efeitos em relação a terceiros; efeitos particulares (direito de retenção, exceptio nom adimpleti contractus, vícios redibitórios, evicção e arras; extinção da relação contratual. Karine(karineduarte18@hotmail.com) P: Defina contratos unilaterais, bilaterais, plurilaterais, gratuitos e onerosos. R: Contratos unilaterais são aqueles que criam obrigação unicamente para uma das partes, como na doação pura e simples – ex uno latere. Contratos bilaterais são os que geram obrigação para ambos os contratantes, como compra e venda, locação etc. Essas obrigações são recíprocas, sendo por isso chamados de sinalagmáticos (reciprocidade de prestações). Vale ressaltar que á primeira vista parece estranho denominar-se um contrato unilateral porque todo contrato nasce da manifestação da vontade. Sob este aspecto todo contrato é realmente bilateral, pois se constitui mediante concurso de vontades. Entretanto, a classificação em unilateral e bilateral é feita não sob o prisma da formação dos contratos, mas sim, o dos efeitos que acarretam. Os que geram obrigações para ambas as partes são bilaterais e os que criam obrigações para uma só parte são unilaterais. Já os contratos plurilaterais são aqueles que contêm mais de duas partes, como ocorre no contrato de sociedade ou de consórcios. Uma das características dos contratos plurilaterais é a rotatividade de seus membros. Quanto ás vantagens patrimoniais os contratos podem ser gratuitos ou onerosos. Gratuitos são aqueles em que apenas uma parte aufere benefícios, para a outra parte só há obrigação, exemplo, comodato. Nessa modalidade, outorgam-se vantagens a uma das partes sem exigir contraprestação da outra. Nos contratos onerosos ambos os contratantes obtêm proveito, ao qual, porém, corresponde um sacrifício. É o que se passa com a compra e venda. Em geral, todo contrato oneroso é bilateral. E todo unilateral é, ao mesmo tempo gratuito. Não, porém, necessariamente. Os contratos onerosos subdividem-se em comutativos e aleatórios. Comutativos são os de prestação certas e determinadas. As partes podem antever as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem, decorrentes de sua celebração, porque não envolve nenhum risco. Já os contratos aleatórios são aqueles em que um dos contratantes não pode antever a vantagem que receberá, em troca da prestação fornecida. P: Exceção do contrato não cumprido aplica-se a todo e qualquer espécie de contrato? R: A exceção do contrato não cumprido – exceptio non adimpleti contractus - é a cláusula resolutiva tácita que somente se amoldam ao contrato bilateral, que querer prestações simultâneas, não podendo um dos contratantes, antes de cumprir sua obrigação, exigir o implemento da do outro. P: Diferencie contrato misto de contrato coligado. R: Contrato misto resulta da combinação de um contrato típico (regulado por lei) com cláusulas criadas pela vontade dos contratantes. Deixa de ser um contrato essencialmente típico, mas não se transforma em um contrato totalmente atípico. A nova combinação gera uma nova espécie contratual, não prevista ou regulada em lei. Constitui, pois, contrato único. Já o contrato coligado não se confunde com o misto, pois constitui uma pluralidade, em que vários contratos celebrados pelas partes apresentam-se coligados. Quando o elo entre eles consiste somente no fato de constarem do mesmo instrumento, não existe propriamente coligação de contratos, mas união de contratos. Aquela passa a existir quando a união é feita com dependência, isto é, com um contrato relacionado ao outro, por se referirem a um negócio complexo. Apesar disso, conservam sua individualidade própria, distinguindo-se, nesse ponto, do misto. P: Relacione o Princípio da Força obrigatória dos Contratos com a Teoria da Imprevisão. R: Por meio do Principio da Força Obrigatória dos Contratos (pacta sunt servanda), todo o contrato tem força obrigatória, que faz lei entre as partes. O fundamento histórico de seu surgimento é a liberdade e a igualdade entre as partes, a vontade entre os iguais faz lei entre as partes. Atualmente, esse princípio foi relativizado porque a igualdade é uma exceção. Essa relativização ocorreu especialmente em virtude da Teoria da Imprevisão. Tal teoria consiste no reconhecimento de que a ocorrência de acontecimento novo e imprevisível, com impacto na base econômica do contrato, justificaria a sua revisão ou resolução. A presente teoria somente interessa aos contratos de execução continuada ou de trato sucessivo, ou seja, de médio ou longo prazo, uma vez que se mostraria inútil nos de consumação instantânea. P: Quais os requisitos para que a Teoria da Imprevisão seja aplicada aos contratos? R: São requisitos para aplicar a Teoria da Imprevisão: superveniência de circunstância imprevisível – claro está, assim, que se a onerosidade excessiva imposta a uma das partes inserir-se na álea de previsão contratual, não se poderá, em tal caso, pretender-se mudar os termos da avença, eis que, na vida negocial, nada impede que uma das partes tenha feito um “mau negócio”; alteração da base econômica objetiva do contrato – a ocorrência da circunstância superveniente altera a balança econômica do contrato, impondo a uma ou ambas as partes onerosidade excessiva; onerosidade excessiva – consequentemente, uma ou até mesmo ambas as partes experimentam um aumento na gravidade econômica da prestação a que se obrigou. Com isso, podemos concluir, consoante anotamos linhas acima, que a teoria da imprevisão não pressupõe necessariamente, enriquecimento de uma parte em detrimento do empobrecimento da outra. Isso porque, a superveniência da circunstância não esperada poderá haver determinado onerosidade para ambas as partes, sem que, com isso, se afaste a aplicação da teoria, entretanto, parte da doutrina defende a necessidade desse requisito. O CC/02 exige o enriquecimento ilícito, nos termos do artigo 478, que afirma a necessidade de a onerosidade excessiva gerar uma vantagem exagerada para a outra parte.(arts. 478 a 480 CC). P: Diferencie a Lesão da Teoria da Imprevisão. R: A semelhança entre ambos está no desequilíbrio das prestações. Ocorre que na lesão a desproporção nasce com o próprio contrato, justificando sua invalidade. Já na Teoria da Imprevisão, o negócio nasce válido e se desequilibra depois, em virtude de acontecimento superveniente e imprevisível. A Teoria da Imprevisão não invalida o negócio, apenas autoriza a revisão ou resolução do negócio. P: O que é a boa-fé objetiva e qual é a conseqüência jurídica de sua quebra? R: Boa-fé objetiva é o dever de conduta de conteúdo ético e exigibilidade jurídica. É dever anexo do contrato e segundo doutrina, a violação de um dos deveres anexos, gera responsabilidade civil objetiva, ou seja, sem culpa. P: Fale sobre a Teoria dos Atos Próprios? R: A Teoria dos Atos Próprios compreende os seguintes institutos; “venire contra factum proprium” que é uma vedação decorrente do princípio da confiança. Trata-se de um tipo de ato abusivo de direito. Referida vedação assegura a manutenção da situação de confiança legitimamente criada nas relações jurídicas contratuais, onde não se admite a adoção de condutas contraditórias. Trata-se de “uma regra de coerência, por meio do qual se veda que se aja em determinado momento de uma certa maneira e, ulteriormente, adote-se um comportamento que frustra, vai contra aquela conduta tomada em primeiro lugar”. Portanto, o “venire contra factum proprium no potest” significa a proibição de ir contra fatos próprios já praticados. “Surrectio” e “Supressio” que são classificações dadas em Portugal às expressões “verwirkung” e “erwirkung”, originárias da Alemanha. A “supressio” refere-se ao fenômeno da supressão de determinadas relações jurídicas pelo decurso do tempo. A “surrectio”, por sua vez, consagra o fenômeno inverso, ou seja, o surgimento de uma prática de usos e costumes locais. Assim, tanto a “supressio” como a “surrectio” consagram formas de perda e de aquisição de direito pelo decurso do tempo. Por outro lado, essas aquisições e restrições, em nosso ordenamento jurídico, somente são admitidos mediante expressa disposição de lei, como se vê no art. 1.238 que trata da aquisição de propriedade pela usucapião extraordinária, bem como pelos arts. 205 e 206, do Código Civil, que tratam de prescrição extintiva, uma vez que a prescrição consiste na aquisição ou extinção de direitos, pelo decurso do tempo. É admitido, outrossim, a aquisição ou perda de direitos – “surrectio” ou “supressio”, respectivamente – pelo transcurso do tempo, em nosso ordenamento jurídico, desde de que a ele se relacionam uma situação de confiança, investida numa relação jurídica. Portanto, o transcurso de tempo, como forma de aquisição ou perda de um direito, afora das previsões legais, somente é possível mediante à conjugação do “venire contra factum proprium no potest”. “Tu quoque”, é esta expressão que, de fato, revela os deveres anexos de uma relação contratual, decorrentes da boa-fé. Essa locução é designativa de uma situação gerada de um abuso de direito, que se verifica quando uma das partes viola a norma jurídica e, após tenta aproveitar-se dessa conduta em benefício próprio, que conforme o brocardo “turpitudinem suam allegans non auditur” – o sujeito não pode valer-se da própria torpeza -, que é vedada pelo direito. Assim, quem viola as suas obrigações contratuais não pode se valer da sua própria falta para se favorecer diante da contra parte. Conforme o Enunciado nº 24 do Conselho Superior da Justiça Federal, a violação dos deveres anexos decorrentes da cláusula geral da boa-fé objetiva, constitui-se espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. P: Quais as condições de validade de um contrato? R: De acordo com o art.104 do CC, os requisitos de validade dos contratos são; agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável, forma prescrita ou não defesa em lei e consentimento recíproco entre as partes. P: Qual o momento da celebração do contrato levando-se em consideração o contrato entre presentes e o contrato entre ausentes? R: Se o contrato for celebrado entre presentes, a proposta poderá estipular ou não prazo para aceitação. Se o policitante não estabelecer nenhum nº 3.238/57 deu a atual redação do art. 6º da LINDB, que combina a ideia de efeito imediato da teoria objetivista e a de direito adquirido da teoria subjetivista. P: O que é imediatidade, retroatividade e pós-atividade ou ultra-atividade? R: a) imediatidade: cada norma deve estabelecer todas as consequências decorrentes de pressupostos que ocorrerem durante sua vigência, o que abrange até mesmo aqueles que se completarem no desenvolvimento de fatos ou situações jurídicas advindas de tempo anterior; b) retroatividade: é possível que a norma em vigor seja aplicável, ainda, a pressupostos completados anteriormente, o que implica a modificação de consequências jurídicas que a norma revogada já havia atribuído; c) pós-atividade ou ultra-atividade: é possível que a norma revogada permaneça aplicável a pressupostos que venham a se completar depois de sua substituição por uma nova norma. (voto do ministro Dias Toffoli, na ADC 29-DF). P: O que é a retroatividade autêntica e a retroatividade inautêntica? R: A retroatividade autêntica é a eficácia ex tunc da norma, gerando efeito sobre situações pretéritas, ou, a pretensa eficácia ex nunc, mas que atinge, na verdade, situações, direitos ou relações jurídicas estabelecidas no passado; e a retroatividade inautêntica (ou retrospectividade) é a atribuição à norma jurídica de efeitos futuros a situações ou relações jurídicas já existentes. P: Quais são os graus de retroatividade reconhecidos pelo STF? R: São três os graus de retroatividade reconhecidos como existentes pelo STF na ADI 492, mas todos são vedados, segundo a Suprema Corte: a) Retroatividade máxima (ou restitutória): é alcance pela nova lei de todos os fatos pretéritos, ainda que perfeitos e acabados, inclusive a coisa julgada e o ato jurídico perfeito. b) Retroatividade média: é o alcance pela nova lei dos efeitos pendentes de um ato jurídico anterior ao diploma normativo (exemplo: lei que proíbe a cobrança de juros em contratos inadimplidos, inclusive quando a avença é anterior à lei). c) Retroatividade mínima (temperada ou mitigada): é o respeito pela nova lei aos atos pretéritos, mas regendo os efeitos destes atos que ocorrerem após a sua vigência. P: Quais são as condições necessárias para a existência de antinomia? Quais são as classificações das antinomias? O que é antinomia aparente e antinomia real? Quais as formas de resolução de conflito de critérios para a solução de antinomias? R: As condições necessárias para a caracterização de uma antinomia são: a) as normas contrárias ou contraditórias devem pertencer ao mesmo ordenamento jurídico; b) as normas em conflito devem ter o mesmo âmbito de validade (tempo, espaço, pessoa e matéria) (fonte: Noberto Bobbio. Teoria Geral do Direito). As antinomias (lacunas de conflito) podem ser classificadas de acordo com os critérios de solução (aparente ou real), com o conteúdo (própria ou imprópria, esta subdividida em antinomia de princípios, antinomia de valores, antinomia teleológica e antinomia técnica), com a extensão (total-total, parcial-parcial e total-parcial) e com o âmbito (interno, internacional e interno-internacional) (fonte: Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro). Antinomia aparente é aquela que pode ser solucionada pelos critérios da cronologia, da hierarquia e da especialidade. Antinomia real, por sua vez, é aquela em que os critérios citados ora são insuficientes ora se encontram em conflito (fonte: Noberto Bobbio: Teoria Geral do Direito). Nas hipóteses de conflito entre critérios (antinomia de segundo grau), isto é, quando aplicável mais de um critério e a solução dada por cada um deles for diversa, haverá três possibilidades: cronológico vs. hierárquico: prevalece o critério hierárquico porque as normas superiores não podem ser ab-rogadas pelas normas inferiores; cronológico vs. especialidade: prevalece o critério da especialidade; hierárquico vs. especialidade: há divergência doutrinária: Maria Helena Diniz afirma, peremptoriamente, que prevalece o critério hierárquico; Noberto Bobbio considera que não há regra geral consolidada, pois reconhece que, teoricamente, deveria prevalecer o critério hierárquico, mas admite que o critério da especialidade prepondere em algumas circunstâncias. 2. Interpretação e integração da lei. Filipe Leonardo (creuzebeck@gmail.com) P: Dê um conceito breve de interpretação da lei. R: “Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica” (Maria Helena Diniz); “A operação que tem por objeto precisar o conteúdo exato de uma norma jurídica chama-se interpretação” (Sílvio Rodrigues); “Interpretar é explicar, esclarecer; dar o significado de vocábulo, atitude ou gesto; reproduzir por outras palavras um pensamento exteriorizado; mostrar o sentido verdadeiro de uma expressão; extrair, de frase, sentença ou norma, tudo que na mesma se contém” (Carlos Maximiliano). P: Qual a classificação da interpretação quanto à sua origem (ou quanto ao agente)? R: A interpretação pode ser classificada, pela maioria da doutrina, em três: a) autêntica ou pública: é aquela apresentada pela via legislativa, isto é, há a sanção de um novo diploma normativo com o intuito de esclarecer a vontade da lei anterior (v.g. art. 3º da Lei Complementar n.º 118/05); b) judicial: é aquela decorrente dos juízes e tribunais na atividade judicante, ao aplicar a lei na solução aos casos em julgamento. Enquanto a doutrina civilista compreende que a interpretação judicial não ostenta sentido normativo (Caio Mário), processualistas que adotam a constitucionalização do processo civil discordam desse entendimento e compreendem as decisões judiciais como normas jurídicas individualizadas e as razões de decidir passíveis de extensão a terceiros não-partes (Freddie Didier Jr.); c) doutrinária: é aquela proveniente das obras de juristas, a partir de trabalhos teóricos ou pareceres, explicações em sala de aula, discussões em mesas redondas, etc. Obs.: Há quem acrescente uma quarta origem da interpretação, a administrativa, manifestada pelos órgãos da administração pública e subdivida em regulamentar (expressada em textos normativos de caráter geral) ou casuística (exprimida em casos concretos e particulares). P: Quais as técnicas de interpretação (ou qual a classificação da interpretação quanto à sua natureza)? R: Embora não haja unanimidade na doutrina entre as técnicas de interpretação, cinco se destacam: a) literal ou gramatical ou filológica: é a extração do sentido da norma através das regras linguísticas, atentando-se para a pontuação, colocação dos vocábulos, origem etimológica e etc; b) lógica ou racional: é a compreensão da norma por meio de raciocínios lógicos, analisando os períodos das leis e comparando-os com outros trechos, de forma a alcançar a perfeita compatibilidade; c) sistemática: é a proveniente da consideração do sistema em que se encontra a norma, relacionando-a com outras concernentes ao mesmo objeto; d) histórica: é a decorrente da análise do processo histórico em que surgiu a lei, examinando o projeto de lei, as exposições de motivos, emendas, votos, as circunstâncias fáticas que levaram à elaboração do texto legal. Pode-se dizer que é analisado o occasio legis, as condições culturais ou psicológicas sob as quais o preceito normativo surgiu; e) teleológica objetiva ou sociológica: (Rudolf von Ihering) é a compreensão da norma com o intuito de adaptar a sua finalidade às novas exigências sociais. Possui substrato legal, o art. 5º da LINDB. P: Quais os tipos de interpretação (ou qual a classificação da interpretação quanto à sua extensão)? R: Destacam-se três tipos de interpretação: a) extensiva ou ampliativa: é a forma de interpretação que amplia o sentido da norma além do que indicam os seus termos; b) restritiva: é a redução da amplitude do preceito, com o objetivo de dar àquela norma aplicação razoável e justa; c) declarativa: é a extração do sentido da lei sem a necessidade de expansão ou retração do alcance do enunciado normativo. P: É possível a interpretação extensiva literal? R: Sim, prazo, esta deverá ser manifestada imediatamente, sob pena de a oferta perder a força vinculante. Se, no entanto, a policitação estipulou prazo, a aceitação deverá operar-se dentro dele, sob pena de desvincular-se o proponente. Assim, se o contrato por realizado entre presentes considera-se a celebração do contrato na mesma ocasião em que o oblato aceitar a proposta. Caso o contrato seja estipulado entre ausentes divergem os autores a respeito do momento em que a convenção se reputa concluída. Para a Teoria da Informação ou Cognição, é da chegada da resposta ao conhecimento do policitante, que se inteira do seu teor. Tem o inconveniente de deixar ao arbítrio do proponente abrir a correspondência e tomar conhecimento da resposta positiva. A segunda teoria, a da declaração ou agnição, subdivide-se em três: a) da declaração propriamente dita; b) da expedição e c) da recepção. Para a teoria da declaração propriamente dita, o instante da conclusão são coincidentes com a declaração da correspondência epistolar. Obviamente, tal entendimento não pode ser aceito, porque além da dificuldade de se comprovar esse momento, o consentimento ainda permanece restrito ao âmbito do aceitante, que pode destruir a mensagem em vez de remetê-la. Para a teoria da expedição, não basta a redação da resposta, sendo necessário que tenha sido expedida, isto é, saído do alcance e controle do oblato. É considerada a melhor, embora não seja perfeita, porque evita o arbítrio dos contratantes e afasta as dúvidas de natureza probatória. Por último, a teoria da recepção exige mais: que além de escrita e expedida a resposta tenha sido entregue ao destinatário. O art.434, CC acolheu expressamente a teoria da expedição, mas o diploma estabeleceu três exceções á regra. Na realidade, recusando efeito á expedição se tiver havido retratação oportuna, ou se a resposta não chegar ao conhecimento do proponente no prazo, desfigurou ele a teoria da expedição. Ora, se sempre é permitida a retratação e se, ainda, não se reputa concluído o contrato na hipótese de a resposta não chegar no prazo convencionado, na realidade o referido diploma filiou-se a teoria da recepção, e não da expedição. P: Diferencie resilição, resolução e rescisão contratual. Que nome se dá ao ato jurídico que concretiza uma resilição? R; A resilição opera-se quando há o desfazimento de um contrato por simples manifestação de vontade de uma ou de ambas as partes; a resolução opera-se quando houver inadimplemento, ou seja, quando uma das partes descumpre o contrato e a rescisão tem dois sentidos; segundo a Teoria Clássica (FRANCESCO MESSINEO) opera-se quando houver lesão ou estado de perigo - vício anterior ao contrato -, já para a Teoria Pragmática (JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA) tem mesmo sentido de resolução. O nome do ato jurídico que se concretiza a resilição pode ser Distrato ou Denúncia, o primeiro ocorre quando o desfazimento se da por vontade de ambas as partes contratantes e o segundo quando a vontade é de apenas uma das partes. P: O que é EXCEPTIO NOM ADIMPLENTI CONTRACTUS? R: Trata-se de uma defesa conferida à parte demandada, no sentido de apontar o descumprimento prévio da prestação cabível à parte adversa. É uma defesa de mérito contra aquela que exige a prestação. P: O que são ações edilícias? R: São ações referentes á resolução do contrato ou abatimento no preço da coisa quando a coisa recebida em virtude de contrato comutativo possui vício redibitório, que são defeitos ocultos na coisa que a torne imprópria para o uso ou diminua seu valor. São também chamadas de ação redibitória e ação quanti minoris. Na primeira pleiteia-se a devolução do preço, na segunda o abatimento do preço. P: O que é evicção? R: É a perda da coisa em virtude de sentença judicial ou decisão administrativa que atribui a outrem por causa jurídica preexistente ao contrato. Trata-se de cláusula de garantia que opera de pleno direito, não necessitando de estipulação expressa, sendo insíta onos contratos comutativos e onerosos. P: O evicto, que perdeu a coisa, responsabilizará quem no caso de aquisição em hasta pública? Contra o devedor executado ou contra o banco que se beneficiou com a arrematação? R: A doutrina não diverge: o arrematante propõe a ação contra o devedor de cujo patrimônio foi retirado o bem levado à hasta indevidamente, porque esse bem não lhe pertencia. Em primeiro plano, quem responde pelo risco da evicção é o devedor executado. Se esse devedor é solvente, entende a doutrina que responderá pela evicção o evicção o credor que recebeu o pagamento pela arrematação do bem pertencente a terceiro. P: O que são arras penitenciais e arras confirmatória? Ambas garantem o direito de arrependimento? R: Arras confirmatórias são aquelas que, quando pagas, marcam o início da execução do contrato, excluindo o direito de arrependimento. As arras penitenciais, reguladas no art. 420, posto tenham natureza indenizatória garantem o direito de arrependimento. Nas arras penitenciais, qualquer das duas partes pode se arrepender. Se foi a parte que deu o sinal, perde o valor. Se foi a parte que recebeu, devolverá o sinal, mas o equivalente. 20. Defeitos do negócio jurídico: erro ou ignorância, dolo, estado de perigo, lesão e fraude contra credores. Rodolfo Cursino (dofobc@gmail.com) P: Em que consiste a simulação? É causa de nulidade ou anulabilidade do negócio jurídico? R: A simulação recebeu novo tratamento pelo CC/02. Existe uma discussão se a simulação ainda constitui um vício social ou se é causa de nulidade absoluta. Alguns autores entendem que a simulação ainda constitui um vício social do negócio jurídico, mas que causa a sua nulidade. A característica fundamental do negócio simulado é a divergência intencional entre a vontade e a declaração. Há, na verdade, oposição entre o pretendido e o declarado. As partes desejam mera aparência do negócio e criar ilusão de existência. Os contraentes pretendem criar aparência de um ato, para assim surgir aos olhos de terceiros. Na simulação há um desacordo entre a vontade declarada ou manifestada e a vontade interna. Há uma divergência entre a vontade e a declaração. Na simulação as duas partes pactuantes estão combinadas e visam iludir terceiros. A simulação pode ser classificada em absoluta ou relativa: absoluta se dá quando na aparência se tem determinado negócio jurídico, mas na essência a parte não deseja celebrar negócio algum. Na simulação relativa se dá quando o negociante celebra um negócio jurídico na aparência, mas na essência visa um outro negócio jurídico, cujo efeito é proibido por lei. Contudo, essa classificação perdeu a sua importância prática, já que pelo sistema anterior considerava-se a simulação relativa anulável e a absoluta nula, e atualmente qualquer simulação é causa de nulidade. O juiz, diante do contrato simulado, se puder, aproveita-o, em decorrência do princípio da conservação. Negócio jurídico simulado é nulo, mas o negócio jurídico dissimulado pode ser válido, desde que preenchidos os requisitos. P: Quais são os defeitos do negócio jurídico? Quais são os tipos de vícios existentes? R: O erro ou ignorância é o resultado de uma falsa percepção, ou da falta de percepção sobre a pessoa, o objeto ou o próprio negócio que se pratica. É um vício de consentimento, é uma falsa noção da realidade, está no plano psicológico. Para invalidar o negócio jurídico, o erro deve ser substancial , de modo que sem o erro, o negócio jurídico não teria sido celebrado. O dolo é um vício de consentimento, por indução à percepção falsa da realidade, ou seja, é a indução ao erro por terceira pessoa, parte ou não do negócio jurídico. Há o induzimento malicioso do contraente a erro, ou seja, a pessoa está sendo induzida a ter uma falsa percepção da realidade. No erro, o agente percebeu sozinho mal os fatos; no dolo, a percepção errônea dos fatos foi induzida por outrem. A coação consiste em violência psicológica apta a influenciar a vítima a realizar negócio jurídico que lhe é prejudicial. É também um vício de consentimento, também é declarada uma vontade que não se queria declarar devido à fundado temor de ocorrência de mal injusto e grave. A lesão, vício relacionado ao abuso de poder econômico, traduz o prejuízo resultante da desproporção existente entre as prestações do negócio jurídico, em face do abuso, da necessidade econômica ou inexperiência de um dos contratantes. O estado de perigo, trata-se da aplicação do estado de necessidade no direito civil, configurando-se quando o agente, diante de uma situação de perigo, conhecida pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa, artigo 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. A fraude contra credores é vicio social, traduzível pela prática de um ato de disposição patrimonial pelo devedor, com o propósito de prejudicar seus credores , em razão da diminuição ou esvaziamento do patrimônio daquele. P: O que caracteriza a fraude contra credores? Quais os requisitos? R: A fraude contra credores é vicio social, que se configura com a prática de ato de disposição patrimonial pelo devedor, com o propósito de prejudicar seus credores , em razão da diminuição ou esvaziamento do patrimônio daquele. Segundo o artigo 158, os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários como lesivos dos seus direitos. Artigo 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. É vício social e não vício de consentimento. O sujeito declara exatamente a vontade que quer declarar, os seus efeitos jurídicos não estão ocultos, não há disfarce e não há mentira, mas os seus efeitos causam prejuízo a credor. São hipóteses legais de fraude contra credores: negócios de transmissão gratuita de bens (artigo 158): é a hipótese mais grave; negócios de remissão de dívidas; contratos onerosos do devedor insolvente, em duas hipóteses: 1) quando a insolvência for notória; 2) ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante; antecipação de pagamento feita a um dos credores quirografários, em detrimento dos demais (art. 162);outorga de garantia de dívida dada a um dos credores em detrimento dos demais (art. 163). Requisitos: é o eventus damni (o patrimônio do devedor alienante se torna insuficiente para satisfazer o crédito do credor), e o consilium fraudis que consiste somente na má-fé do terceiro adquirente, que tem ciência de que o negócio jurídico irá reduzir o patrimônio a ponto de não mais fazer frente ao crédito existente. Pode ser dispensado quando se tratar de ato de alienação gratuito (a má-fé do devedor é presumida, e a presunção do caput do art. 158 é absoluta), assim, nem se cogita da necessidade de ciência do terceiro adquirente, que não está despendendo nada para adquirir. A anulação de negócio jurídico praticado em fraude contra credores é realizada através da ação pauliana ou revocatória, A legitimidade ativa é do credor anterior à fraude , os credores posteriores não terão. A ação pauliana tem prazo decadencial de 04 anos, a contar da celebração do negócio fraudulento. P: Qual a natureza jurídica da sentença na ação pauliana? R: Segundo o novo cc/02, trata-se de sentença anulatória (artigo 165), ou seja, desconstitutiva, o bem retorna ao patrimônio do devedor. Contudo, existe uma parcela minoritária da doutrina, com base em Liebman, representada por Yussef Cahali, que entende que a sentença pauliana é apenas declaratória da ineficácia jurídica do negócio fraudulento em face do credor prejudicado, ou seja, o negócio é válido, mas é ineficaz em relação do credor. 21. Compra e venda. Janaína (janaspinelli@gmail.com) P: Qual o sistema adotado pelo Código Civil brasileiro no contrato de compra e venda quanto à transferência do domínio? R- Adotou-se o sistema alemão e romano, onde a transferência do domínio depende de outro ato além do contrato( que possui caráter obrigacional), qual seja a tradição se o bem for móvel ou registro se for imóvel. Assim se a coisa perecer antes da tradição, ela perecerá para o alienante; diferente é o sistema francês que atribui caráter real ao contrato: este por si, transfere o domínio da coisa ao comprador. No entanto, a alienação fiduciária( art.1361 CC) é exceção a essa regra porque transfere o domínio independente da tradição. P: Qual a natureza jurídica e características da compra e venda? R- Trata-se de um contrato com as seguintes características: bilateral, consensual(se aperfeiçoa com acordo de vontade, independente da entrega da coisa- art. 482 CC), oneroso, comutativo (salvo quando tem por objeto coisas futuras ou coisas existentes mas sujeitas a risco, tornando-se aleatório), não solene ( salvo quando se tratar de bem imóvel, que então será solene) P: Quais são os elementos da compra e venda? R- coisa, preço e consentimento. A forma só aparecerá com elemento obrigatório se for bem imóvel. P: O que é tradição simbólica? R- Ocorre quando a coisa está a disposição do comprador(para conatgem, marcação ou assinalamento), ainda que se encontre na propriedade do vendedor. Nessa hipótese, o comprador responderá pelos casos fortuitos quem venham a ocorrer (art. 492, §1º,CC). P: È possível a venda de ascendente a descendente? R- Sim, desde que se tenha o consentimento dos descendentes e cônjuge do ascendente( o cônjuge do descendente não precisa consentir), dispensando o consentimento deste se o regime de casamento for separação obrigatória. A exigência do consentimento se aplica se a venda se direcionar a todos os herdeiros e não apenas ao herdeiro imediato. P: Qual o prazo para anular a venda de ascendente a descendente que descumprir a exigência supra? R- Aplica-se a Súmula 494 do STF : a ação prescreve em 20 anos a contar da data do ato, no entanto, admiti-se a ratificação do descendente omisso. P: É possível a venda de parte indivisa do condomínio a estranho? R- sim, desde que outro consorte não tenha interesse, tendo em vista que este possui o direito de preferência tanto por tanto. Se mais de um condômino tiver interesse, preferirá o que tiver benfeitoria de maior valor, e na falta desta, o de maior quinhão. Se as partes forem iguais, todos que quiserem poderão adquirir a parte vendida, depositando o preço. Tal regra não se aplica ao condomínio edilício, que não precisa dar preferência aos demais proprietários. Se a coisa é divisível não há que falar em direito de preferência a condômino, podendo vender diretamente a estranho. P: É possível a compra e venda entre cônjuges? R- Sim, desde que referente a bens excluídos da comunhão. Mas, se o regime for o da comunhão universal a venda se tornará inócua. O que é inadmissível é a doação entre cônjuges casados no regime de separação legal ou obrigatória. P: O que é venda mediante amostra? R- É aquela que se realiza à vista de amostra ou modelo; o vendedor assegura que a coisa tenha as qualidades presentes na amostra e havendo contradição entre a coisa e a amostra prevalece esta. P: O que é venda ad mensuram? R- Trata-se da venda de bem imóvel em que o preço é estipulado com base nas dimensões do imóvel. Ex: preço por hectares. Caso a área vendida não corresponda a real, o comprador tem direito a complementação da área e não sendo possível esta poderá reclamar resolução do contrato ou abatimento proporcional do preço. P: O que é venda ad corpus? R- É aquela em que o bem imóvel é adquirido como um todo, sendo apenas enunciativa a referência às suas dimensões, que não tem influência no preço. Assim, não haverá complementação do preço se o imóvel foi vendido como coisa certa e determinada, visto que a referência as dimensões foi apenas enunciativa. P: O que é retrovenda? R-Pacto acessório, caracterizado como condição resolutiva expressa, em que o vendedor reserva-se o direito de reaver o imóvel que está sendo alienado em certo prazo, restituindo preço mais despesas. Só se aplica a bens imóveis. O prazo máximo para seu exercício são 3 anos, se as partes ajustarem prazo maior reputa-se como não escrito somente o excesso; se não estipularem prazo, prevalecerá o prazo máximo . P: Na retrovenda o direito de resgate pode ser cedido? R- Sim, ele pode ser cedido a terceiro, transmitido a herdeiro ou legatário e ser exercido contra terceiro adquirente, ainda que este não conhecesse a cláusula de retrato porque adquire a propriedade resolúvel (art. 1359 CC). P: É necessária averbação da cláusula de retrato no cartório de imóveis? R- Não, porque se trata de direito pessoal, e não de direito real. P: O que é venda a contento do comprador ? R- Trata-se de condição suspensiva que subordina a eficácia do contrato à condição de ficar desfeito se o comprador não se agradar da coisa; assim, o domínio continua com o vendedor até que o comprador manifeste seu gosto. Tal venda é exceção à regra do art. 122 do CC que proíbe condições puramente potestativas. O silêncio do vendedor equivale ao consentimento, além disso, trata-se de direito pessoal que se extingue com a morte do comprador, se esta ocorrer antes da escolha. P: O que é venda sobre documentos? R- É espécie de venda em que a tradição da coisa é substituída pela entrega de título representativo. Se a documentação estiver em ordem, não pode o comprador recusar o pagamento, a pretexto de defeito de qualidade ou estado da coisa vendida, salvo se o defeito estiver comprovado. P: O que é venda com reserva de domínio? R - È aquela em que o vendedor tem a própria coisa vendida como garantia do recebimento do preço; só a posse é transferida ao adquirente, ficando a propriedade com o alienante. Sua maior incidência é na venda de bens móveis infungíveis, no entanto, inexiste proibição para aplicação à venda de imóveis. Os riscos da coisa passam para o adquirente, assim há uma inversão da regra res perit domínio, aplicando-se o princípio res perit emptoris (a coisa perece para o comprador). Para valer perante terceiro é necessário o registro no cartório de Títulos e Documentos do domicílio do comprador. P: O que é direito de preferência ou preempção? R- É acordo de vontades, em que o comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender para que este possa comprá-la tanto por tanto. O vendedor poderá também exercer do direito de prelação intimando o comprador, quando lhe constar que este vai vender a coisa. P: Qual o prazo máximo que deve ser acordado para se exercer o direito de preferência? R- Coisa móvel= 180 dias e coisa imóvel= 2 anos. Inexistindo prazo acordado, o direito de preempção caducará se a coisa for móvel 3 dias e se for imóvel 60 dias, a contar da notificação ao vendedor. P: O que é direito de retrocessão? R- É o direito de preferência atribuído ao expropriado pelo preço atual da coisa, se não tiver o destino para qual se desapropriou. 22. Troca. Ildankaster Muniz (ildankastermuniz@yahoo.com.br) P: Qual a natureza jurídica do contrato de troca? R: A troca é um contrato bilateral ou sinalagmático, oneroso (pela presença de sacrifício de vontade para as partes), comutativo (em regra), translativo da propriedade (eis que serve como titulus adquirendi) e consensual, podendo, ainda, ser solene (formal) ou não. (Flávio Tartuce, Manual de Direito Civil, Método, 2011) P: Qual o objeto do contrato de troca? R: O objeto da troca hão de ser 2 bens. Eventualmente, se um dos contratantes der dinheiro ou prestar serviços, não haverá troca, mas compra e venda. Podem ser trocados todos os bens que puderem ser vendidos, ou seja, alienados. (Flávio Tartuce, Manual de Direito Civil, Método, 2011) P: O CC, em seu artigo 533, estabelece que “aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda”, impondo algumas exceções. Quais as exceções à aplicação das normas da compra e venda ao contrato de permuta/troca? R: Dispõe o artigo 533 do CC que aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com as seguintes modificações: I – salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca; II – é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante. De acordo com Flávio Tartuce, a necessidade de consentimento, prevista no inciso II, do art. 533, do CC, não se dá em relação a bens de valores iguais, nem na hipótese de união estável, já que o CC é específico em relação ao cônjuge, não fazendo ressalva em relação ao companheiro (a). (Flávio Tartuce, Manual de Direito Civil, Método, 2011) P: Diferencie o contrato de compra e venda do contrato de troca. R: Na troca, ambas as prestações são espécies (coisas são trocadas), enquanto na compra e venda a prestação de comprador é em dinheiro ou em dinheiro e outra coisa (entrega do dinheiro seria um complemento ao pagamento feito mediante a entrega de uma coisa em valor menor ao da prestação estipulada). Se não bastasse, na compra e venda, o vendedor, uma vez entregue a coisa vendida, não poderá pedir-lhe a devolução no caso de não ter recebido o preço, enquanto na troca o tradente terá o direito de repetir o que deu se a outra parte não lhe entregar o objeto permutado. (Flávio Tartuce, Manual de Direito Civil, Método, 2011) 23. Doação Thiago Vale (thiagodovale@gmail.com) P: Qual é o conceito de doação? R: Nos termos do art. 538 do Código Civil, Doação é “o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra”. P: Quais são as características da doação? R: A doação tem natureza contratual; requer o animus donandi, ou seja, a intenção de fazer uma liberalidade; implica na transferência de bens para o patrimônio do donatário; e, ainda, requer aceitação do donatário. Ademais, a doação é, em regra, gratuito, unilateral e formal (solene). Gratuito, porque constitui uma liberalidade, não sendo imposto qualquer ônus ou encargo ao beneficiário. Será, no entanto, oneroso, se houver tal imposição. Unilateral, porque cria obrigação para somente uma das partes. Contudo, será bilateral, quando modal ou com encargo. Formal, porque se aperfeiçoa com o acordo de vontades entre doador e donatário e a observância da forma escrita, independentemente da entrega da coisa. Mas a doação manual (de bens móveis de pequeno valor) é de natureza real, porque o seu aperfeiçoamento depende incontinenti da tradição destes (CC, art. 541, parágrafo único). P: É possível a doação de ascendente para os descendentes? R: Sim, mas o at. 544 do CC proclama que a doação “importa adiantamento do que lhes cabe por herança”. Os descendentes estão obrigados a conferir, no inventário do doador, por meio de colação, os bens recebidos, pelo valor que lhes atribuir o ato de liberalidade ou a estimativa feita naquela época (CC, art. 2004, §1º), para que sejam igualados os quinhões dos herdeiros necessários, salvo se o ascendente os dispensou dessa exigência, determinado que saiam de sua metade disponível, contanto que não a excedam, computado o seu valor ao tempo da doação (CC, arts. 2002 e 2005). P: Qual é o objeto da doação? R: O objeto da doação é a prestação de dar coisa ou vantagens. Pode ser objeto da doação todo bem que esteja in commercium, ou seja, qualquer coisa que tenha expressão econômica e possa ser alienada. Incluem-se os bens móveis e imóveis, corpóreos e incorpóreos, consumíveis e inconsumíveis. P: O que é “Doação Inoficiosa”? R: É a que excede o limite do doador, “no momento da liberalidade, poderia dispor”. O art. 549 do CC declara “nula” somente a parte que exceder tal limite, e não toda a doação. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade de seus bens, pois a outra “pertence de pleno direito” aos referidos herdeiros (CC, art. 1846). O art. 549 visa preservar, pois, a “legítima” dos herdeiros necessários. Só tem liberdade plena de testar e, portanto, de doar quem não tem herdeiros dessa espécie, a saber: descendentes, ascendentes e cônjuge. 24. Locação de coisa móvel e imóvel. Ildankaster Muniz (ildankastermuniz@yahoo.com.br) P: Defina contrato de locação, identificando sua natureza jurídica. R: A locação de coisas pode ser conceituada como sendo o contrato pelo qual uma das partes (locador ou senhorio) se obriga a ceder à outra (locatário ou inquilino), por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa fungível, mediante certa remuneração, denominada aluguel. A natureza jurídica do contrato de locação é de contrato bilateral, oneroso, comutativo, consensual, informal ou não solene (não há necessidade de escritura pública ou forma escrita, como regra geral), impessoal (não é intuito personae, sendo transmitido aos herdeiros) de execução continuada (ou trato sucessivo, uma vez que o cumprimento se protrai no tempo na maioria das hipóteses fáticas). (Flávio Tartuce, Manual de Direito Civil, Método, 2011) P: Na hipótese de um contrato de locação por tempo determinado, findo o prazo, quais as consequências existentes, no caso do locatário continuar na posse da coisa alugada, sem oposição do locador? R: Há presunção de prorrogação da avença sem prazo determinado, com o mesmo aluguel. Em circunstâncias tais, poderá o locador notificar o locatário para restituir a coisa (denúncia vazia) – resilição unilateral. Não sendo a coisa devolvida, pagará o locatário, enquanto estiver na sua posse, o aluguel que o locatário arbitrar em notificação, respondendo também por eventuais danos que a coisa venha a sofrer, mesmo que em decorrência de caso fortuito. Na hipótese do valor arbitrado pelo locador ser excessivo, o juiz poderá reduzi-lo, mas tendo como parâmetro o seu intuito de penalidade. (Flávio Tartuce, Manual de Direito Civil, Método, 2011) P: Sendo a coisa locada alienada, o novo proprietário é obrigado a respeitar o contrato? R: A rigor, sendo a coisa locada alienada, o novo proprietário não é obrigado a respeitar o contrato, salvo se o contrato estiver em vigência, por prazo determinado, e contenha cláusula de sua vigência no caso de alienação, a contar do Registro de Imóvel ou do Cartório de Títulos e Documentos. A Súmula 442 do STF estabelece que a inscrição do contrato de registro de imóveis, para a validade da cláusula de vigência contra o adquirente do imóvel, ou perante terceiros, dispensa a transcrição no registro de títulos e documentos. Para os casos envolvendo imóvel, e ainda no caso em que o locador não esteja obrigado a respeitar o contrato, não poderá ele despedir o locatário, senão observado o prazo de 90 dias, após a notificação, visando à desocupação do imóvel. (Flávio Tartuce, Manual de Direito Civil, Método, 2011) P: O locatário possui direito de retenção em relação às benfeitorias úteis e necessárias? O locatário possui direito de retenção às benfeitorias necessárias, sempre. Quanto às benfeitorias úteis, o locatário possui direito de retenção, se elas forem autorizadas. A Súmula 335 do STJ estabelece que, nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção. (Flávio Tartuce, Manual de Direito Civil, Método, 2011) P: Como se dá o regramento da locação de bens no CC? Este regramento se aplica a todas as hipóteses de locação de bens? R: Em relação à locação de bens móveis, o CC regue o mencionado contrato normalmente. Todavia, em relação à locação de bens imóveis, o CC regue a matéria de forma bem reduzida, eis que há diversos diplomas normativos regulando, de forma especial, a matéria. Neste particular, o Decreto-lei 9.760/1946 e a Lei 8.666/1993 regulam a locação de bens imóveis públicos que integram o patrimônio público; o arrendamento mercantil é regido pela Lei 6099/1974; a locação de imóveis urbanos é regida pela lei 8.245/1991. (Flávio Tartuce, Manual de Direito Civil, Método, 2011) 25. Prestação de Serviços (felipefreind@gmail.com) P. Qual a natureza jurídica do contrato de prestação de serviços? R. Trata-se de contrato bilateral ou sinalagmático, oneroso, consensual, comutativo, não solene e personalíssimo (intuiro personae), em regra. P. Qual o objeto do contrato de prestação de serviços? R. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição. Contudo, só se sujeitam às regras do Código Civil as relações que não estejam sujeitas às leis trabalhistas ou a lei especial (ex. CDC). No ponto, há doutrina que sustenta que o art. 593, CC, não é excludente, de sorte que se poderia, em prestígio à teoria do diálogo das fontes, utilizar-se das regras de prestação de serviços previstas no CC também nas hipóteses acima relacionadas, desde que não entrem em conflito com as normas especiais e princípios básicos da seara trabalhista e consumerista. P. Que princípios de direito civil podem ser extraídos do comando do art. 606, CC (“Se o serviço for prestado por quem não possua título de habilitação, ou não satisfaça requisitos outros estabelecidos em lei, não poderá quem os prestou cobrar a retribuição normalmente correspondente ao trabalho executado. Mas se deste resultar benefício para a outra parte, o juiz atribuirá a quem o prestou uma compensação razoável, desde que tenha agido com boa-fé”)? R. Da primeira parte do dispositivo, extrai-se o princípio da vedação ao enriquecimento sem causa, já que a pessoa que não tem a habilidade exigida não terá direito à remuneração que caberia a um perito. Da segunda parte do dispositivo extrai-se, além da vedação ao enriquecimento sem causa, o princípio da boa-fé objetiva, pois obriga a pessoa beneficiada pelo serviço a remunerar aquele que o prestou, se o fez a contento. Todavia, o parágrafo único veda a aplicação da segunda parte do caput se a proibição da prestação de serviço resultar de lei de ordem pública (como serviços médicos, por exemplo), pois no caso visa o desestímulo do exercício irregular de profissão. P. Quais as hipóteses de extinção do contrato de prestação de serviços? R. O contrato de prestação de serviço acaba com a morte de qualquer das partes (o que reitera sua natureza intuitu personae), pelo escoamento do prazo, pela conclusão da obra, pela rescisão do contrato mediante aviso prévio, por inadimplemento de qualquer das partes ou pela impossibilidade da continuação do contrato, motivada por força maior. P. Em que medida o art. 608, CC, que veda o aliciamento contratual, funciona como mecanismo de tutela externa do crédito? R. Pela tutela externa do crédito (conceito parcelar da função social do contrato), é possível responsabilizar um terceiro que desrespeita o contrato. O art. 608, CC, prefixa a indenização por danos materiais, devida pelo terceiro, no equivalente a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos. P. Que princípio contratual é mitigado pela disposição do art. 609, CC (A alienação do prédio agrícola, onde a prestação dos serviços se opera, não importa a rescisão do contrato, salvo ao prestador opção entre continuá-lo com o adquirente da propriedade ou com o primitivo contratante)? R. Trata-se de mitigação do princípio contratual da relatividade dos efeitos contratuais, pois gera uma obrigação com eficácia real para o adquirente do prédio agrícola caso o prestador de serviços rurais queira continuar executando a sua atividade o imóvel alienado. P. É possível responsabilizar subsidiariamente a Administração Pública tomadora de serviços por encargos trabalhistas, fiscais e comerciais, inadimplidos pelo prestador e resultantes da execução do contrato? R. O tema, que já suscitou amplo debate doutrinário e jurisprudencial, foi analisado pelo STF na ADC 16, na qual restou decidido que é constitucional a norma inscrita no art. 71, §1º, L8666/93, que veda a transferência consequente e automática dos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais, resultantes da execução do contrato, à administração. A partir dessa decisão, o TST reviu o Enunciado n° 331 da Súmula de sua Jurisprudência, passando a entender que o os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem subsidiariamente, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da L8666/93, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada. Em síntese, é possível a responsabilização, mas somente de forma subjetiva, com comprovação de culpa, sendo oportuno esclarecer que sob nenhuma hipótese será formado vínculo direto entre o ente público tomador e o trabalhador, em obediência ao princípio do concurso público. 26. Empreitada. Carol Dorneles (coragemrs@yahoo.com.br) P. É obrigatório o fornecimento de materiais pelo empreiteiro nos contratos de empreitada? R. Segunda reza o artigo 610 do Código Civil, o empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela só com seu trabalho ou com ele e os materiais, não sendo, portanto, obrigatório o fornecimento dos materiais neste tipo de contrato. Inclusive, deve-se destacar que a obrigação de fornecer os materiais não se presume, resultando da lei ou da vontade das partes. P. No que pertine a contrato de empreitada, há responsabilidade do dono da obra em relação às obrigações trabalhistas assumidas pelo empreiteiro? R. Não há qualquer responsabilidade trabalhista do dono da obra decorrente de contrato de empreitada diante da inexistência de previsão legal. Quanto ao tópico, vale destacar que o entendimento do TST segue neste sentido, na forma da OJ n. 191/SDI-I: “Diante da inexistência de previsão legal, o contrato de empreitada entre o dono da obra e o empreiteiro não enseja responsabilidade solidária ou subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídas pelo empreiteiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora ou incorporadora”. P. Qual é a responsabilidade do empreiteiro no caso de fornecimento de materiais? E quando apenas fornece mão de obra? R. Quando o empreiteiro fornece os materiais, correm por sua conta os riscos até o momento da entrega da obra, a contento de quem a encomendou, se este não tiver em mora de receber. Mas, se estiver, por sua conta correrão os riscos (artigo 611 CC). Por outro lado, se o empreiteiro só forneceu mão de obra, o dono suportará todos os riscos, salvo aqueles decorres de culpa daquele (artigo 612 CC). P. É possível a aplicação do CDC nos casos de contrato de empreitada celebrado diante de Programa de Arrendamento Residencial entre a CEF e a empresa responsável? R. Segundo o STJ, não é cabível a aplicação do CDC na hipótese de contrato de empreitada celebrado no âmbito do Programa de Arrendamento Residencial-PAR entre a CEF e a empresa responsável pela construção de empreendimento habitacional para pessoas de baixa renda, pois não se trata de uma típica relação de consumo, tendo em vista que, no caso, a CEF não é nem fornecedora nem consumidora, mas sim agente delegado do Poder Público, com responsabilidade de operacionalizar o referido programa (REsp n. 1073962/PR). P. Por qual prazo o empreiteiro fica responsável pela solidez e segurança da obra realizada? R. De acordo com o artigo 618 do CC, nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo. Todavia, na forma do parágrafo único do referido dispositivo, deve a vítima propor demanda em face do empreiteiro nos 180 dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito, sob pena de decair de seu direito. Quanto ao tópico, cumpre salientar a divergência doutrinária existente no que pertine a este prazo decadencial, se ele seria referente ao desfazimento do contrato em decorrência dos vícios redibitórios ou se relativo o prazo a que o dono da obra deveria pleitear ação de indenização de perdas e danos. Em análise do tema, e consolidando a questão, ficou consignado no Enunciado do CJF n. 181 que “o prazo referido no artigo 618, parágrafo único, do CC refere-se unicamente à garantia prevista no caput (vícios redibitórios e extinção do contrato), sem prejuízo de poder o dono da obra, com base no mau cumprimento do contrato de empreitada, demandar perdas e danos”. 27.Empréstimo: mútuo e comodato. Pedro Schmidt (pedroschmidt2@gmail.com) P: Quais são as espécies de contratos de empréstimo no direito brasileiro? R: O direito brasileiro fala em dois tipos de empréstimo, o de uso e o de consumo. O empréstimo de uso é o comodato, sendo o empréstimo de consumo é chamado de mútuo. O comodato é para uso da coisa e posterior devolução. Para o comodato exige-se a capacidade das partes, mas não exige propriedade ou titularidade do bem. P: Como você definiria o contrato de comodato? R: Como ensina Tartuce: O comodato é um contrato unilateral, benéfico e gratuito em que alguém entrega a outra uma coisa infungível, para ser utilizada por um determinado tempo e devolvida findo o contrato. Por razões óbvias, o contrato pode ter como objeto bens móveis ou imóveis, pois ambos podem ser infungíveis(insubstituíveis). P: Como você classificaria o contrato de comodato? R: O comodato é um contrato: a) Real: pois exige a tradição, a entrega efetiva da coisa. b) Unilateral: estabelece obrigações apenas para uma das partes. c) Gratuito. d) Não solene (não se exige forma escrita, bastando a entrega da coisa). Exceção: artigo 580 do CC: Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens confiados à sua guarda. Tutor e curador, bem como todos aqueles que administram bens de terceiros, não podem dar estes bens em comodato sem a autorização especial do juiz. Nesse caso, além da tradição o comodato exigirá formalidade especial que é a autorização do juiz. Quando o bem dado em comodato tiver o valor do décuplo do salário mínimo vigente, deverá ser formal, nos termos do art. 401, CPC. P: Dito isso, quais os elementos essenciais do contrato de comodato? R: Gratuidade: todo contrato de comodato é gratuito. A onerosidade classifica o comodato. A cobrança de uma contraprestação desqualifica o comodato, transformando-o em contrato de locação. Contudo, pode haver o comodato modal, ou seja, com encargo (modo), por exemplo pagar as taxas de condomínio do apartamento dado em comodato. Infungibilidade: Tradição: Em face do dever de devolver a coisa o bem tem que ser infungível. O bem deve ser não consumível. As partes podem, querendo, infungibilizar um bem que seria de ordinário fungível. Exceção: comodato de bens para ornamentação, sendo possível sobre bens fungíveis. É o denominado COMODATO AD POMPAM VEL OSTENTAIONEM. Por exemplo, quando se empresta garrafas de whisky para ornamentar a mesa de uma festa. Tradição: É a efetiva entrega da coisa. Enquanto não houver a tradição o contrato de comodato não se aperfeiçoa. Antes da tradição, mesmo que as parte tenha celebrado contrato escrito, não há comodato. P: Como o comodante pode retomar o bem? R: O comodatário não tem direito real é um mero possuidor precário da coisa. Assim, o comodante pode se valer da ação de REINTEGRAÇÃO DE POSSE. Para o STJ se o comodato for por prazo indeterminado é necessário notificar o comodatário antes para que devolva o bem. A notificação nesse caso é requisito essencial para a possessória. Por outro lado no comodato por prazo determinado, o comodante pode ingressar diretamente com a ação de reintegração de posse; a notificação nesse caso é despicienda. P: Quais são as obrigações do comodante? R: O comodante é quem tem o uso e gozo da coisa. Ele não precisa ser proprietário. Não pode embaraçar o uso da coisa; deve receber a coisa devolvida, pois senão entrará em mora. O STJ entende que, sendo do comodante a responsabilidade se ele estiver em mora. P: O contrato de comodato é personalíssimo? R: O contrato de comodato, regra geral, não é personalíssimo. Isso é dizer que de ordinário a morte das partes não gera a extinção. Isso porque o contrato de comodato não é intuito personae, salvo disposição contrária. P: Candidato: leia o art. 582. (O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatário constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante.) Caso o bem dado em comodato se deteriore em razão de fortuito ou força maior o comodatário poderá ser responsabilizado? Caso o comodatário fique em mora, pode o comodante estabelecer aluguel? R: Para Flávio Tartuce, as consequêcias da mora do devedor são aquelas previstas no art. 399 do CC (O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.). Assim, o comodatário responderá pelo fortuito ou força maior, salvo se provar a ausência de culpa ou que a perda do objeto do contrato ocorreria mesmo se não estivesse em atraso. Ademais, nos termos do art. 583, caso o bem dado em comodato esteja sob risco de se perder e o comodatário deixar de salvá-lo para salvar coisa própria, responderá pelo dano ocorrido ainda que em decorrência de caso fortuito e força maior. O Comodante pode estabelecer aluguel como forma de penalizar o comodatário pela mora. Normalmente, na própria notificação o comodante já estabelece o valor do aluguel, que possui caráter punitivo, não sendo o caso de se falar em conversão do comodato em locação. Em relação a esta fixação de aluguel-pena, o CJF em seu enunciado 180, dispõe que: “a regra do parágrafo único do art.575 do novo CC, que autoriza a limitação pelo juiz do aluguel arbitrado pelo locador, aplica-se também ao aluguel arbitrado pelo comodante, autorizado pelo art. 585, 2ª parte do novo CC”. Pelo teor do enunciado, será facultado ao juiz reduzir o aluguel arbitrado pelo comodante se ele for excessivo, a exemplo do que com a locação regida pelo Código Cvil. P: Qual o conceito do contrato de mútuo? R: O mútuo é o verso e reverso do comodato, é o contrato de empréstimo de bens fungíveis. Diferente do comodato, o mútuo transfere o domínio da coisa para alguém consumi-la, desse modo, o mutuante deve ser proprietário do bem. É evidente, assim, a inexistência do dever de restituir. O que deve ele devolver é a mesma gênero, qualidade e quantidade. Se o que for devolvido, for coisa diversa, será troca ou permuta e se for devolver dinheiro, será compra e venda. Mas se o empréstimo for de dinheiro, será mutuo. O que se pretende com o mútuo é a transferência da propriedade dos bens fungíveis. P: Como você classificaria o contrato de mútuo? R: O contrato de mútuo é: a) Real; b) Unilateral; c) Não solene (exceto o oneroso, que é de forma escrita); d) Gratuito: em regra, salvo no caso de empréstimo de dinheiro, que é chamado de mútuo feneratício, que é presumidamente oneroso, por conta da capitalização dos juros. O que determina a onerosidade no contrato de mútuo é a vontade das partes ou a finalidade econômica. P: O contrato de mútuo é sempre temporário? R: Sim! O contrato de mútuo é sempre temporário, pois senão seria doação. O art. 592 dispõe: Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será: I - até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o consumo, como para semeadura; II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro; III - do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível. A regra é que o prazo é estabelecido pelas partes. No caso dos outros bens fungíveis, se o mutuante estabelecer prazo que não permite o uso do bem, será ato ilícito. P: O contrato de mútuo presume juros, pode ser estabelecido em outra moeda? R: Se o mútuo é oneroso, presume-se embutidos os juros. Findo o prazo há o dever de restituir na mesma espécie e qualidade. O mútuo deve ser sempre celebrado em moeda nacional, sendo o princípio do nominalismo. P: Existe a possibilidade das partes convencionarem para fungibilizar um bem infungível? R: Para Pablo Stolze é perfeitamente possível, lado outro, Tepedino defende que o mútuo não poderá ter como objeto bens imóveis, apesar da possibilidade que as partes têm de caracterizar como fungíveis os lotes de um terreno. P: Pode o mutuante exigir garantia? R: O mutuante pode exigir garantia se houver uma notória modificação na situação do mutiário. O art. 590 do Código Civil assim determina: Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento o mutuário sofrer notória mudança em sua situação econômica. Esta exigência é denominada de exceção de inseguridade. P: Cabe alguma ação possessória para reaver o bem dado em mútuo? R: Não cabem, para a restituição do bem, ações possessórias, na medida em que o mutuante não tem sequer a posse indireta sobre o bem mutuado. Em virtude da transferência de propriedade, em caso de não restituição do bem mutuado, duas medidas judiciais poderão ser intentadas: cobrança da obrigação de dar ou fazer e o pagamento de perdas e danos pelo descumprimento de obrigação” [Tepedino] 28. Depósito Ildankaster Muniz (ildankastermuniz@yahoo.com.br) P. De acordo com a manifestação da vontade, e de acordo com o objeto, como se classifica o depósito? R. De acordo com a manifestação de vontade, o depósito pode ser classificado em voluntário (depende da vontade das partes) ou necessário (ou obrigatório), subdividindo-se este último em legal (resulta da lei; é o caso, por exemplo, do artigo 641 do CC, em caso de incapacidade superveniente) e miserável (resulta de calamidade pública). Quanto ao objeto, o depósito pode ser classificado como regular (quando se tratar de coisa infungível) ou irregular (quando se tratar de coisa fungível). (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. Diferencie o contrato de depósito do comodato. R. No depósito, o depositário apenas guarda a coisa, tendo uma obrigação de custódia, sem poder usá-la. No comodato, a coisa é utilizada pelo comodatário. Apesar de serem institutos diferentes, ambos os negócios têm características próprias. Não obstante isso, assim como ocorre com o comodato, o depósito tem como objeto coisas não fungíveis, em regra. Porém, repise-se que, quando o depósito tiver como objeto bens fungíveis, será denominado depósito irregular, aplicando-se as regras previstas para o mútuo. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. Nos contratos de depósito de joias e pedras preciosas em cofres de bancos, é válida a cláusula de não indenizar? R. O contrato de depósito é um contrato de guarda, sendo o depositário obrigado a ter na guarda a conservação da coisa depositada o cuidado e diligência que costuma ter com o que lhe pertence, bem como a restituí-la com todos os frutos e acrescidos, quando o exige o depositante. Justamente por essa natureza do contrato é que a jurisprudência entende que a cláusula de não indenizar não tem validade no contrato de depósito, particularmente no caso de depósito de joias e pedras preciosas em cofres de bancos, diante da citada aplicação do CDC. A respeito do conteúdo que estava dentro do cofre, como há, na grande maioria das vezes, uma relação de consumo, a jurisprudência tem entendido que esse ônus cabe à instituição depositária, o que é aplicação da inversão do ônus da prova constante no art 6º, VIII, da Lei 8.078/1990. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. Ainda que o contrato fixe prazo para a restituição do bem objeto de depósito, o depositário entregará a coisa depositada assim que a mesma seja exigida pelo depositante, exceto, em quais hipóteses? R. Ainda que o contrato fixe prazo para a restituição do bem objeto de depósito, o depositário entregará a coisa depositada ainda que a mesma seja exigida pelo depositante, exceto, nas seguintes hipóteses: a) se tiver o direito de retenção a que se refere o art. 644 do CC, em relação a despesas e prejuízos do depósito; b) se o objeto for judicialmente embargado; c) se sobre ele pender execução, notificada ao depositário; d) se houver motivo razoável de suspeitar que a coisa foi dolosamente obtida; havendo essa suspeita, desde que exposto o seu depósito, o depositário requererá que se recolha a coisa ao depósito público, mediante pedido judicial. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. Qual o efeito da incapacidade absoluta ou relativa do depositário, superveniente ao início do contrato de depósito? Nesta hipótese, a pessoa que lhe assumir a administração dos bens diligenciará imediatamente para restituir a coisa depositada. A hipótese é de rescisão do contrato por inexecução involuntária. Não querendo ou não podendo o depositante recebe-la, recolherá a coisa ao Depósito Público ou promoverá nomeação de outro depositário. Mais uma vez, o pedido de depósito é judicial, aplicando-se as regras da consignação em pagamento. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. O depósito voluntário enseja o pagamento ao depositário de despesas feitas com a coisa e prejuízo que do depósito provierem? R. Mesmo sendo o contrato gratuito, em regra, o depositante é obrigado a pagar ao depositário as despesas feitas com a coisa, e os prejuízos que do depósito provierem. Não ocorrendo esse pagamento, o depositário poderá reter o depósito (direito de retenção) até que se lhe pague a retribuição devida, o líquido valor das despesas ou de eventuais prejuízos, desde que devidamente comprovados. Se essas despesas ou prejuízos não forem provados suficientemente, ou forem ilíquidos, o depositário poderá exigir caução idônea do depositante ou, na falta desta, a remoção da coisa para o Depósito Público, até que se liquidem. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. O que é o depósito hospedeiro? R. Refere-se à bagagem dos viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde eles estiverem. Os hospedeiros responderão como depositários, assim como pelos furtos e roubos que perpetrarem as pessoas empregadas ou admitidas nos seus estabelecimentos, já que o contrato é de guarda. Cessa essa responsabilidade dos hospedeiros, se estes provarem que os fatos prejudiciais aos iajantes ou hóspedes não podiam ter sido evitados. Esse contrato é também regido pelos artigos 932, IV, 933 e 942 do CC, respondendo objetivamente o hospedeiro por ato culpado do seu hóspede, frente a terceiros. A responsabilidade de ambos é, ainda, solidária. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. A CF-88 autoriza a prisão civil por dívida em duas hipóteses: inadimplemento voluntário ou inescusável da obrigação alimentar e depositário infiel. O Pacto de São José da Costa Rica, por sua vez, ratificado pelo Brasil, prevê a prisão por dívida civil, apenas, no que se refere à débito decorrente de obrigação alimentar. Indaga-se: de acordo com o entendimento jurisprudencial dominante, é possível a prisão de depositário infiel? R. Não é possível a prisão do depositário infiel, nos termos da Súmula Vinculante 25 do STF (“É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.”), eis que o Pacto de São José da Costa Rica tem força supra legal, estando em uma posição hierárquica intermediária entre a CF e as leis ordinárias, a afastar a possibilidade de prisão civil por descumprimento contratual. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) 29. Mandato. Ildankaster Muniz (ildankastermuniz@yahoo.com.br) P. Há diferença entre mandato e procuração? R. Sim, há diferença. O mandato trata-se de um contrato pelo qual alguém transfere poderes a outrem para que este, em seu nome, pratique atos ou administre interesses. Não se confunde com a procuração, pois esta não é um contrato, mas sim o meio pelo qual o negócio se instrumentaliza. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. O mandato é um contrato gratuito? R. Não necessariamente o mandato será um contrato gratuito. Na verdade, o mandato presume-se gratuito, se não for estipulada remuneração. No entanto, caso seu objeto corresponda ao daqueles que o mandatário tratar por ofício ou profissão lucrativa, presumir-se-á oneroso. (MATERIAL DO TRF 1ª REGIÃO) P. Fale sobre as diversas classificações do mandato. I - Quanto à origem, o mandato pode ser: a) mandato legal – decorre de lei e dispensa a elaboração de qualquer instrumento. Ex: os existentes a favor dos pais, tutores e curadores para a administração dos bens dos filhos, tutelados ou curatelados; b) mandato judicial – conferido em virtude de uma ação judicial, com a nomeação do mandatário pela autoridade judicial. Ex: inventariante que representa o espólio e administrador judicial que representa a massa falida; c) mandato convencional – decorre de contratos firmados entre as partes, sendo manifestação da autonomia privada. Esse mandato pode ser ad judicia (para representação da pessoa no capo judicial) ou ad negotia ou extrajudicial (para a administração em geral na esfera extrajudicial). O mandato convencional judicial fica subordinado às normas que lhe dizem respeito, constante da legislação processual, e, supletivamente, àquelas estabelecidas no CC. O mandato ad judicia é privativa dos advogados inscritos na OAB. II – Quanto às relações entre mandante e mandatário: a) mandato oneroso – denominação dada ao contrato de mandato em que a atividade do mandatário é remunerada; b) mandato gratuito – expressão do mandato em que não há qualquer remuneração a ser paga ao mandatário, sendo a forma presumida pela lei. III – Quanto à pessoa do mandatário ou procurador: a) singular ou simples – existe apenas um mandatário; b) plural – existem vários procuradores ou mandatários, podendo assumir as seguintes formas: b.1. conjunto ou simultâneo – os poderes são outorgados aos mandatários para que estes atuem de forma conjunta. Ilustrando, se nomeados dois ou mais mandatários, nenhum deles poderá agir de forma separada sem a intervenção dos outros, salvo se houver ratificação destes, cuja eficácia retroagirá à data do ato; b.2. solidário – os diversos mandatários nomeados podem agir de forma isolada, independentemente da ordem de nomeação, cada um atuando como se fosse um único mandatário. Em regra, não havendo previsão no instrumento, presume-se que o mandato assumiu esta forma. b.3. fracionário – a ação de cada mandatário está delimitada no instrumento, devendo cada qual agir em seu setor; b.4. sucessivo ou substitutivo – um mandatário só poderá agir na falta do outro, sendo designado de acordo com a ordem prevista no contrato. IV – Quanto ao modo de manifestação de vontade a) expresso – existe a elaboração de um instrumento de procuração que estipula os poderes do mandatário; b) tácito – a aceitação do encargo decorre da prática de atos que a presumem; V – Quanto à forma de celebração: a) verbal – é permitido em todos os casos em que não se exige a forma escrita, podendo ser provado por testemunha; b) escrito – elaborado por meio de instrumento particular ou público. VI – Quanto aos poderes conferidos: a) geral – há outorga de todos os direitos que tem o mandante. Prevê o art. 661 do CC que o mandato em termos gerais só confere poderes para a prática de atos de administração; b) especial – engloba determinados direitos, estando, por isso, restrito aos atos ou negócios especificados expressamente no mandato. Para alienar, hipotecar, transigir ou praticar outros atos que exorbitem a administração ordinária, há necessidade de procuração com poderes especiais e expressos. Quanto ao poder de transigir, este não implica o poder de firmar compromisso de arbitragem. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. Quais os efeitos do contrato de mandato em relação aos atos praticados por quem não tenha mandato ou o tenha sem poderes suficientes. R. Os atos praticados por quem ano tenha mandato, ou o tenham sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar. Assim sendo, em regra, não terão eficácia os atos praticados sem que haja poderes para tanto, por parte do falsus procurator, sob pena de prestigiar o exercício arbitrário dos direitos não conferidos. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. Fale sobre efeitos da hipótese em que o mandatário exceder os poderes outorgados. R. O mandatário que exceder os poderes outorgados, ou proceder contra eles, será considerado mero gestor de negócios. Tal presunção perdurará enquanto o mandante não ratificar ou confirmar o ato. A ratificação pelo mandante a converter a gestão de negócio em mandato retroage ao dia do começo da gestão produzindo, portanto, efeitos ex tunc. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. O menor relativamente incapaz (maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado) pode ser mandante ou mandatário? Sim, Sendo mandante, no caso de mandato por procuração ad negocia ou ad judicia, os poderes deverão ser outorgados por meio de instrumento público, caso o negócio tenha por objeto a prática de atos da vida civil. Se a procuração tiver por objeto a atuação em juízo, o menor púbere poderá outorga-la, seja ad judicia ou ad negotia, por instrumento particular, desde que também esteja assistido por seu representante legal. Sendo o menor relativamente incapaz mandatário, em caso de mandato extrajudicial, o mandante não terá ação contra este, senão em conformidade com as regras gerais aplicáveis às obrigações contraídas por menores. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. Qual a natureza jurídica do substabelecimento? O substabelecimento constitui cessão parcial de contrato, em que o mandatário transmite os direitos que lhe foram conferidos pelo mandante a terceiro. O substabelecimento pode ser feito por instrumento particular, mesmo que o mandatário tenha recebido os poderes por procuração pública. NO entanto, se a lei exigir que a procuração seja outorgada por instrumento público, o substabelecimento não poderá ser feito por instrumento particular. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. Como se classifica o substabelecimento, quanto à extensão? R. O substabelecimento se classifica em “sem reserva de poderes” (transfere os poderes ao substabelecido de forma definitiva, renunciando ao mandato que lhe foi outorgado) e em “com reserva de poderes” (o substabelecente outorga poderes ao substabelecido, sem perde-lo.). (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) P. Quais as formas de extinção do contrato de mandato? R. O CC prevê as seguintes hipóteses de extinção do contrato de mandato: a) revogação por parte do mandante; ou pela renúncia do mandatário; b) pela morte ou interdição de uma das partes (eis que o contrato é personalíssimo); c) pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes ou o mandatário para exercê-los; d) pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio. Todavia, deve-se destacar que o CC autoriza a cláusula de irrevogabilidade, que afasta o direito potestativo do mandante resilir unilateralmente o contrato. Em havendo esta cláusula e tendo sido o contrato revogado, arcará o mandante com as pardas e danos que o caso concreto determinar. Porém, quando a cláusula de irrevogabilidade for condição de um negócio bilateral, ou tiver estipulada no exclusivo interesse do mandatário, a revogação do mandato será ineficaz (art. 684 CC). A parte final do dispositivo acaba por vedar a cláusula de irrevogabilidade no mandato em causa própria. No mandato em causa própria, o mandante outorga poderes para que o mandatário atue em seu próprio nome. A título de exemplo, é de se lembrar a hipótese em que o mandante outorga poderes para que o mandatário venda um imóvel, havendo autorização para que o último venda o imóvel para si mesmo. A vedação tanto da revogação quanto da cláusula de irrevogabilidade existe porque não há no contrato a confiança típica do contrato de mandato regular. No mandato em causa própria, o procurador também estará isento do dever de prestar contas, tendo em vista que o ato caracteriza uma cessão de direitos em proveito dele mesmo. Por outro lado, no caso de morte de uma das partes, são válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os atos com estes ajustados em nome do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a morte daquele ou a extinção do mandato, por qualquer outra causa. Porém, se falecer o mandatário, pendente o negócio e ele cometido, os herdeiros, tendo ciência do mandato, deverão avisar o mandante e tomarão as providências cabíveis para o resguardo dos interesses deste, de acordo com as circunstâncias do caso concreto. Em casos tais, os herdeiros também não poderão abusar do exercício desse dever, tendo de limitar-se às medidas conservatórias, ou a continuar os negócios pendentes que não possam demorar sem perito, regulando-se os seus serviços pelas mesmas normas a que o mandatário estiver sujeito. (FLÁVIO TARTUCE, Método, 2011) 30. Seguro. Filipe Sarpa (gandilson@hotmail.com) P: Qualquer pessoa jurídica pode ser parte no contrato de seguro como Seguradora? R: Não. Segundo o parágrafo único do art. 757, do Código Civil, Somente pode ser parte como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada. P. Por quais meios pode ser provado o contrato de seguro? R: de acordo com o artigo 758 do CC, o contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio. P: O contrato de seguro de danos pessoais abrange os danos morais? Isso ocorre sempre? Qual a opinião do STJ a respeito disso? R: Segundo a súmula 402 do STJ, em regra o contrato de danos pessoais compreende a responsabilidade da indenização por danos morais. Entretanto, isso não ocorre sempre. A própria súmula faz a ressalva de que é possível a exclusão da responsabilidade do segurador pela indenização dos danos morais, se houver cláusula expressa nesse sentido, no contrato de seguro. P: Se um contrato contiver previsão de responsabilidade da seguradora em indenizar o segurado por prejuízos decorrentes do crime de roubo, é possível estender essa proteção ao crime de extorsão? Qual a opinião da jurisprudência acerca disso? R: Segundo entendimento do STJ, em especial atenção aos princípios da boa-fé objetiva e da conservação dos contratos, é devido o pagamento de indenização por seguradora em razão dos prejuízos financeiros sofridos por vítima de crime de extorsão constrangida a entregar o veículo segurado a terceiro, ainda que a cláusula contratual delimitadora dos riscos cobertos somente preveja as hipóteses de colisão, incêndio, furto e roubo. A restrição legal do art. 757 do CC encerra vedação de interpretação extensiva somente quando a cláusula delimitadora de riscos cobertos estiver redigida de modo claro e insusceptível de dúvidas. Assim, é possível afastar terminologias empregadas na construção de cláusulas contratuais que redundem na total subtração de efeitos de determinada avença, desde que presente um sentido interpretativo que se revele apto a preservar a utilidade econômica e social do ajuste (REsp 1.106.827-SP). P: Qual o prazo prescricional aplicável à pretensão de receber complementação da indenização do seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres (DPVAT), quando paga a menor no âmbito administrativo? R: Segundo o STJ, o prazo de prescrição para o recebimento da complementação do DPVAT é trienal (art. 206, § 3º, IX, do CC) – porque trienal também é o prazo para o recebimento da totalidade do seguro – e se inicia com o pagamento administrativo a menor, marco interruptivo da prescrição iniciada para o recebimento da totalidade da indenização securitária (art. 202, VI, do CC) (REsp 1.220.068-MG / i-489). P: A omissão no cumprimento do dever de informação por parte do segurado gera algum efeito nos contratos de seguro? R: Sim. O artigo 766 prevê que se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido. Entretanto, se não houver má-fé na omissão, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio. P: É considerada abusiva cláusula de contrato de plano de saúde que prevê limite de valor para cobertura de tratamento médico-hospitalar? R: Segundo o STJ, deve ser considerada abusiva a cláusula contratual de seguro-saúde que crie limitação de valor para o custeio de tratamento de saúde ou de internação hospitalar de segurado ou beneficiário. Com efeito, em observância à função social dos contratos, à boa-fé objetiva e à proteção à dignidade humana, deve ser reconhecida a nulidade de tal cláusula (REsp 735.750-SP). P. O agravamento do risco, nos contratos de seguro, gera a perda do direito à garantia, em qualquer situação? Há dever à informação por parte do segurado? R: Não é qualquer hipótese de agravamento do risco que gera a perda do direito à garantia. Conforme o art. 768 do CC, o segurado perderá o direito à garantia se agravar, intencionalmente, o risco objeto do contrato. Portanto, o agravamento do risco deve ser intencional, para gerar a perda do direito à garantia. Entretanto, isso não elide o dever de informação do segurado ao segurador, pois, conforme previsão do art. 769 do CC, o segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se o segurador provar que houve má-fé do segurado. Em interessante julgado, o STJ decidiu que não consubstancia situação de agravamento de risco o ato do segurado que sobe em torre metálica elevada, mas de fácil acesso, para descortinar vista panorâmica, porquanto constitui comportamento aventureiro razoável e previsível na vida das pessoas, como também acontece com escalada de árvores, pedras, trilhas íngremes, e coisas semelhantes. (REsp 795027/RS / RT 899). P: A diminuição do risco acarreta o direito à diminuição do prêmio estipulado? R: Segundo o artigo 770 do CC, salvo disposição em contrário, a diminuição do risco no curso do contrato, não acarreta a redução do prêmio estipulado. Entretanto, se a redução do risco for considerável, o segurado poderá exigir a revisão do prêmio, ou a resolução do contrato. P. Nos seguros de dano, o segurado pode contratar dois seguros em relação ao mesmo risco? R: Sim, é possível a contratação de dois seguros em relação ao mesmo risco. Contudo, o segurado tem a obrigação de comunicar a sua intenção por escrito ao Segurador do primeiro seguro firmado, indicando a soma pela qual pretende segurar-se. Isso ocorre pois, nos contratos de seguro de dano, não é permitido que a garantia prometida supere o valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena de perda do direito à garantia, e sem prejuízo da ação penal cabível. P: É possível a transferência do contrato de seguro à terceiro? R: Sim, é possível a transferência do contrato de seguro à terceiro com a alienação ou a cessão do interesse segurado, salvo disposição ao contrário. Todavia, se o instrumento contratual é nominativo, a transferência só produz efeitos, em relação ao segurador, mediante aviso escrito assinado pelo cedente e pelo endossatário (art. 785 CC) Por fim, é importante ressaltar o posicionamento sumulado do STJ acerca do assunto. Súmula 465: Ressalvada a hipótese de efetivo agravamento do risco, a seguradora não se exime do dever de indenizar em razão da transferência do veículo sem a sua prévia comunicação. P. O segurador tem direito de ação contra o causador do dano, nos contratos de seguro de dano? Há exceção? Há esse direito nos contratos de seguro de pessoa? Nos contratos de seguro de dano, paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano. Há exceção quando o dano for causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou ascendentes, consanguíneos ou afins, salvo se houver dolo (786 CC). Já nos contratos de seguro de pessoa, o segurador não pode sub-rogar-se nos direitos e ações do segurado, ou do beneficiário, contra o causador do sinistro (art.800 CC). P: Nos contratos de seguro de pessoa, o suicídio é causa impeditiva de recebimento do capital estipulado pelo beneficiário? Em regra, o suicídio não é causa impeditiva de recebimento do capital estipulado pelo beneficiário, sendo nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do capital por suicídio do segurado. Todavia, se o segurado se suicidar nos dois primeiros anos de vigência inicial do contrato, o beneficiário não terá direito ao recebimento do capital estipulado, sendo obrigado ao segurador devolver o montante da reserva técnica já formada (art. 798 CC). Em que pese essa previsão esteja expressa no código civil, o STJ vem relativizando essa previsão legal, entendendo que não há possibilidade de a norma presumir, de forma absoluta, que houve fraude contra o Seguro. Segundo o STJ, o motivo da norma é a prevenção de fraude contra o seguro, mas daí admitir que aquele que comete suicídio dentro do prazo previsto no CC/2002 age de forma fraudulenta, contratando o seguro com a intenção de provocar o sinistro, a seu ver, seria injusto. Isso porque a boa-fé deve ser sempre presumida enquanto a má-fé, ao contrário, necessita de prova escorreita de sua existência. Dessa forma, o fato de o suicídio ter ocorrido no período de carência previsto pelo CC/2002, por si só, não acarreta a exclusão do dever de indenizar, já que o disposto no art. 798, caput, do referido código não afastou a necessidade da comprovação inequívoca da premeditação do suicídio (REsp 1.077.342-MG / i-440). 31. Fiança. Rubens (rubensqs@gmail.com) P: O que é a fiança? R. A fiança é o contrato acessório pelo qual se estabelece um tipo de garantia pessoal, em que alguém (fiador) se obriga ao cumprimento da obrigação de terceiro (afiançado), se este faltar à sua prestação. Seu fundamento está na fidúcia, ou seja, na confiança depositada no fiador. Nesta hipótese, o patrimônio do fiador constitui garantia geral para o cumprimento da obrigação do afiançado, por isso afirma-se que o fiador tem responsabilidade (do alemão haftung) sem dívida (do alemão schuld). É um contrato celebrado entre o credor e o fiador, sendo que o afiançado, devedor da obrigação principal, não é parte, isto é, não precisa concordar com sua celebração. Não existe solidariedade entre fiador e afiançado. Se o devedor não paga, o fiador será chamado para responder pelo débito, sub-rogando-se nos direitos do credor (sub-rogação legal – art. 831, CC). P: Qual a natureza jurídica da fiança? R. A fiança tem natureza jurídica de contrato unilateral, pois só traz deveres obrigacionais para o fiador; é ainda gratuito, posto que, em regra, o fiador não é remunerado; é consensual, porque se aperfeiçoa com a manifestação de vontade das partes; é comutativo, não havendo que se fala em álea ou risco, as parte já conhecem previamente suas obrigações; caracteriza-se como contrato pessoal ou intuito persona, de modo que não se transmite aos herdeiros (OBS.: o que passa aos herdeiros é a obrigação, até o limite do seu quinhão, mas não a condição de fiador); também é acessório, sempre havendo necessidade de um contrato principal sobre o qual a garantia incide, em regra refere-se à integralidade da dívida principal, sem embargo de sua contratação parcial (art. 822, CC); é, por fim, contrato formal, dar-se-á sempre por escrito, mas não solene, pois não exige uma forma específica. P: Quais os requisitos para ser fiador? R. Qualquer pessoa capaz pode assumir a posição de fiador. O art. 1.647, III, CC, exige que, sendo casado, o fiador ou fiadora obtenha a outorga conjugal para celebrar o contrato de fiança, salvo se casados no regime de separação total de bens, sob pena de anulabilidade do ato (art. 1.649, CC). A súmula 332/STJ afirma que a anulação da fiança, prestada sem outorga uxória, implica ineficácia total da garantia. Segundo o art. 825, CC, o credor não pode ser obrigado a aceitar como fiador pessoa que não seja idônea, domiciliada no município onde tenha de prestar a fiança e não possua bens suficientes para cumprir a obrigação. Pode-se, porém, estipular a fiança ainda que sem consentimento do devedor ou contra a sua vontade (art. 820, CC). Ademais, se o fiador se tornar insolvente ou incapaz, poderá o credor exigir que seja substituído (art. 826, CC). P: O que o Abonador? E retrofiança? R. Abonador é o fiador do fiador, presente quando existe o que se denomina subfiança, que é um contrato derivado, segundo o qual o abonador terá responsabilidade subsidiária, respondendo apenas se tornarem-se insolventes o devedor principal e o fiador. Já a retrofiança se verifica quando o fiador exige do devedor que apresente outro fiador, contra o qual o primeiro terá direito de regresso caso tenha que arcar com a dívida. Tanto a retrofiança quanto a subfiança são contratos atípicos (art. 428, CC), pois não encontram expressa previsão no CC. P: O que é o benefício de ordem? É possível sua renúncia? R. O contrato de fiança não gera solidariedade entre devedor e fiador, não impedindo que, na hipótese de impontualidade do devedor, o credor acione diretamente o fiador. Porém, segundo o art. 827, do CC, o fiador possui o benefício de ordem, ou seja, caso venha a ser demandado, poderá indicar primeiro bens do devedor principal. Pode ser convencionado que o devedor assuma responsabilidade solidária ou renuncie ao benefício de ordem (art. 828, CC). Contudo, nos termos do enunciado 364/CJF, da 4º jornada de direito civil, se a renúncia ao benefício de ordem constar de contrato de adesão, esta será considerada cláusula abusiva e, portanto, nula. P: Como se extingue a fiança? R. A fiança será extinta: a) com a extinção do contrato principal; b) com a expiração do prazo da fiança;c) na hipótese de exoneração unilateral; d) no caso de morte do fiador; e) se, sem o consentimento do fiador, o credor conceder moratória ao devedor (art. 838, I, CC); f) se, por fato do credor, tornar-se impossível a sub-rogação nos seus direitos e preferências; g) se o credor, em pagamento da dívida, aceitar amigavelmente do devedor objeto diverso do que este era obrigado a lhe dar, ainda que depois venha a perdê-lo por evicção (art. 838, III, CC). Vale dizer que tanto a novação quanto a dação em pagamento geram a extinção da fiança. Do mesmo modo, conforme jurisprudência do STJ, se o fiador não anuir com eventual renovação do contrato, também restará extinta a fiança. 32. Obrigação por declaração unilateral de vontade: promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento indevido e enriquecimento sem causa e títulos de crédito. (felipefreind@gmail.com) P. Como se pode diferenciar os atos unilaterais de vontade dos contratos, quanto à sua formação? R. Nos contratos, a obrigação nasce a partir do momento em que for verificado o encontro de vontade entre as partes negociantes, em regra. Nos atos unilaterais de vontade a obrigação nasce da simples declaração de uma única parte, formando-se no instante em que o agente manifesta a intenção de assumir um dever obrigacional. P. Quais as espécies de atos unilaterais de vontade previstos no Código Civil? R. O Código Civil consagra os seguintes atos unilaterais de vontade: (i) promessa de recompensa, (ii) gestão de negócios, (iii) pagamento indevido e (iv) enriquecimento sem causa. P. Em que hipótese é admitida a revogação da promessa de recompensa? R. Apenas é possível a revogação da promessa de recompensa antes de prestado o serviço ou preenchida a condição, e desde que seja feita com a mesma publicidade da declaração. Se for fixado um prazo para a execução da tarefa, não caberá revogação da promessa durante sua vigência. Ainda no caso de revogação da promessa, se algum candidato tiver feito despesas, terá direito a reembolso de tais valores. P. Qual a solução prevista pelo Código para o caso de execução plúrima (por mais de uma pessoa) da tarefa contemplada na promessa? R. A princípio, terá direito à recompensa quem primeiro executou a tarefa. Sendo simultânea a execução, cada um fará jus a quinhão equivalente da recompensa, se possível a divisão. Se o bem for indivisível, será realizado um sorteio, mas aquele que vencer deverá pagar ao outro valor equivalente ao seu quinhão. P. No caso de concursos públicos de obras (ex. monografias), a que pertence a propriedade sobre os trabalhos elaborados? R. Em regra, pertencem aos seus autores, salvo se na publicação da promessa ficar estipulado que pertencem ao promitente. P. Qual a natureza jurídica da gestão de negócios? R. A gestão de negócios é um ato unilateral de vontade, um quase-contrato, não podendo ser concebida como contrato, pois não há acordo prévio de vontades. O gestor, que age sem mandato, fica responsável diretamente perante o dono do negócio e terceiros com que contratou. P. O gestor de negócios faz jus à remuneração? R. Além de não ter direito à remuneração, o gestor de negócios deve agir de acordo com a vontade presumível do dono do negócio, sob pena de responsabilização. Inclusive, se a gestão for iniciada contra a vontade manifesta ou mesmo presumível do dono, responderá o gestor por caso fortuito e força maior. P. Quais os efeitos da ratificação da gestão pelo dono do negócio? R. A ratificação converte a gestão em mandato, com todos os efeitos decorrentes desse negócio jurídico. Dentre eles, deverá o dono ressarcir o gestor por todas as despesas necessárias e úteis à atuação, respondendo também por prejuízos que o administrador tenha sofrido em sua decorrência. A ratificação retroage ao dia do começo do negócio. Portanto, tem efeitos ex tunc. P. Qual distinção entre pagamento indevido e enriquecimento sem causa? R. Enriquecimento sem causa é gênero do qual o pagamento indevido é espécie, pois existem condutas que visam o enriquecimento sem causa, mas que não comportam pagamento (ex. invasão de imóvel com a finalidade de adquirir-lhe a propriedade). O pagamento indevido pode ser objetivo, quando a dívida paga não existe ou é paga a maior, ou subjetivo, quando realizado à pessoa errada. P. Em que hipóteses é cabível a repetição em dobro do valor pago? R. Em regra, não cabe repetição em dobro do que foi pago, cabendo ao prejudicado pleitear apenas o valor pago atualizado, acrescido de juros, custas e honorários advocatícios. Excepcionalmente, porém, caberá a repetição em dobro, quando a outra parte houver demandado por dívida já paga, no todo ou em parte, e, ainda, nos casos em que exigir além do que for devido. No CDC, porém, a repetição em dobro é regra geral (art. 42, par. ún.). P. Para que haja o enriquecimento sem causa, é necessário que exista o empobrecimento de outrem? R. Classicamente, o enriquecimento sem causa tinha como pressupostos: (i) o enriquecimento do accipiens, (ii) o empobrecimento do solvens, (iii) a relação de causalidade entre o enriquecimento e o empobrecimento, (iv) a inexistência de causa jurídica prevista por convenção das partes ou pela lei (v) a inexistência de ação específica. Atualmente, contudo, há doutrina que afasta a necessidade de empobrecimento alheio para configuração do enriquecimento sem causa (Enunciado 35, Jornada de Direito Civil, CJF/SJ). P. Qual a diferença entre enriquecimento sem causa e enriquecimento ilícito? R. Enriquecimento sem causa e enriquecimento ilícito não se confundem. Na primeira hipótese, falta uma causa jurídica para o enriquecimento. Na segunda, o enriquecimento está fundado em um ilícito. Assim, todo o enriquecimento ilícito é sem causa, mas nem todo o enriquecimento sem causa é ilícito (ex. contrato desproporcional). OBS: o ponto 32 de Direito Civil, repete parcialmente o ponto 12 de Empresarial (títulos de crédito). Assim, acresci apenas duas perguntas sobre esse assunto, que estão predominante relacionadas ao regramento do Código Civil. P. O nosso ordenamento admite aval parcial? R. Segundo o art. 897, par. ún., CC, não se admite aval parcial. é possível que o intérprete amplie o alcance de determinado termo se valendo da interpretação literal. Exemplo: o termo “cegueira” pode exprimir a ausência do sentido em um dos olhos ou em ambos. Por isso a visão monocular é abrangida pela isenção de imposto de renda, prevista no art. 6º, inciso XVI, da Lei nº 7.713/88, sem que haja violação ao art. 111, inciso II, do Código Tributário Nacional (STJ - REsp 1.196.500/MT). P: O que é lacuna ideológica e lacuna real? R: Lacuna ideológica ou imprópria é inexistência de norma justa para a resolução do caso e decorre de uma comparação entre o sistema existente e o sistema ideal; lacuna real ou própria é a inexistência de regra jurídica no direito como ele é, tendo em vista a ausência total de regramento ou a presença somente de norma bastante geral ou bastante específica. P: O que é lacuna subjetiva e lacuna objetiva? R: A lacuna subjetiva é a inexistência de norma por motivos imputáveis ao legislador e a lacuna objetiva é a falta de regramento legal em decorrência de fatores sociais ou temporais, como o advento de novas tecnologias, surgimento de novas relações sociais. A lacuna subjetiva pode ser classificada em involuntária ou voluntária: a involuntária é aquela que decorre da negligência ou desconhecimento do legislador, já a voluntária é aquela que objetiva conferir às pessoas ou ao juiz maior grau de intervenção na relação jurídica e, por isso, não é considerada uma lacuna propriamente dita. P: O que é lacuna praeter legem e lacuna intra legem? R: As lacunas praeter legem são aquelas decorrentes de leis excessivamente específicas e, por isso, não compreendem todos os casos possíveis; já as lacunas intra legem são aquelas originadas pela existência de normas demasiado genéricas e, por conseguinte, existem espaços vazios que caberá ao aplicador da lei preenchê-los. P: O que é heterointegração e autointegração? R: Heterointegração é o preenchimento das lacunas com normas externas do ordenamento jurídico (normas de direito estrangeiro, do direito natural) ou com fontes diferentes da dominante (a lei); autointegração é a busca da completude jurídica através do próprio ordenamento jurídico e com o mínimo de fontes diferentes da dominante. P: Quais são as formas de integração da lei? A equidade é uma delas? Caso seja afirmativa a resposta anterior, qual é o fundamento legal? R: De acordo com os arts. 4º da LINDB e 126 do CPC, são formas de integração da lei a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Importante ressaltar que a equidade não se encontra nestes artigos, mas alguns doutrinadores, como Maria Helena Diniz, a inclui nas formas de integração da lei, com fundamento legal no art. 127 do CPC. No Direito Tributário, é expressa a equidade como forma de integração da lei no art. 108, inciso IV, do CTN. P: O que é analogia legis e analogia iuris? R: A analogia legis é a integração da lei por meio de dispositivos específicos que regulam casos semelhantes ou matérias análogas, a analogia iuris também consiste em um método de integração da lei, mas através de todo o sistema ou de parte dele. P: Qual a diferença entre a analogia e a interpretação extensiva? R: A analogia é uma forma de integração da norma, cujo efeito é a criação de uma nova norma jurídica; a interpretação extensiva é um tipo de interpretação, cujo efeito é a extensão do alcance de uma nova norma já existente. Exemplo: o STJ já decidiu que a visão monocular está compreendida na isenção do imposto de renda (art. 6º, inciso XIV, da Lei nº 7.713/88) como extensão do termo “cegueira”, mas não a distonia cervical, porque seria a criação de uma nova regra de isenção, já que nenhuma das moléstias elencadas na norma abarcariam a patologia citada (REsp 1.196.500/MT e 1.116.620/BA). P: O que é costume secundum legis, praeter legis e contra legem? R: O costume secundum legis é aquele já previsto em lei, reconhecendo sua eficácia obrigatória (v.g. arts. 569, inciso II, 596, 597 e 615 do Código Civil). O costume praeter legis é aquele não previsto na lei, mas que possui caráter supletivo, suprindo os casos omissos da lei. Este é o costume previsto no art. 4º da LINDB (v.g. cheque “pré-datado”). O costume contra legem é aquele que se volta contra o texto legal e não possui força ab-rogatória. 3. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657, de 04/09/1942). Rubens (rubensqs@gmail.com) P: A Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-lei 4.657/1942) faz parte do Código Civil? Qual sua natureza jurídica? R. A LICC, atualmente mais conhecida como Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, não faz parte do Código Civil. Enquanto o CC normatiza dos direitos e obrigações de ordem privada, a LINDB disciplina o âmbito de aplicação das normas jurídicas. Ela tem natureza de norma de sobredireito ou de apoio, consistente no conjunto de regras cujo objetivo é disciplinar as próprias normas jurídicas, isto é, disciplina a emissão e aplicação de outras normas jurídicas. P: O que é lei? O que é lei formal ou singular? R. Lei é a norma jurídica escrita, emanado do poder constitucionalmente competente (o Legislativo), dotada de generalidade e obrigatoriedade. Lei formal ou singular é aquela destinada a uma pessoa, que não tem generalidade. P: O que são leis cogentes? R. São as leis de ordem pública, que não podem ser modificadas pela vontade das partes ou do juiz. P: O que são leis supletivas? R. São as que visam tutelar interesses particulares, portanto admite-se sua alteração pelas partes. P: Diferencie lei imperativa de lei proibitiva. R. A lei imperativa é aquela que ordena uma conduta (um fazer), ao passo que a lei proibitiva proíbe uma conduta (um não fazer). P: O que são leis perfeitas, mais que perfeitas, menos perfeitas e imperfeitas? R. Essas denominações correspondem à classificação das leis de acordo com a intensidade de suas sanções. Leis perfeitas são as que prevêem como sanção à sua violação a nulidade ou anulabilidade do ato ou negócio praticado. As mais que perfeitas ocasionam, pelo seu desrespeito, a nulidade ou anulabilidade do ato ou negócio, além de uma pena criminal (ex.: bigamia = nulidade do casamento + crime). Leis menos perfeitas estabelecem como sanção à sua violação uma consequência diversa da nulidade ou anulabilidade do ato ou negócio (ex.: divorciado que se casa sem realizar a partilha dos bens do casamento anterior, o novo casamento é válido, porém sofrerá como sanção a imposição do regime de separação dos bens). Por fim, as leis imperfeitas são aquelas cuja violação não acarreta qualquer sanção. P: O que são leis de efeito concreto? R. São aquelas que trazem em si um resultado específico pretendido, produzem efeitos imediatos. Aproximam-se dos atos administrativos. P: É cabível Mandado de Segurança contra lei? R. Regra geral, não, salvo se se tratar de lei de efeitos concretos. P: Diferencie Código, Consolidação, Compilação e Estatuto. R. Código é o conjunto de normas estabelecidas por lei. Consolidação é a regulamentação unitária de leis preexistentes, isto é, um conjunto de leis esparsas que são reunidas num corpo único. Compilação é m repertório de normas organizadas pela ordem cronológica ou matéria. Estatuto é a regulamentação unitária dos interesses de uma categoria específica de pessoas. P: O que é vacatio legis? É obrigatória? R. É o lapso temporal entre a publicação e a entrada em vigor de uma lei. De acordo com o art. 1º, da LINDB, no silêncio, a lei entra em vigor em todo o país 45 dias depois de sua publicação e 3 meses depois nos Estados Estrangeiros. Vale dizer, nosso ordenamento adotou o sistema de prazo de vigência único ou sincrônico, ou simultâneo, segundo o qual a lei entre em vigor de uma só vez em todo o país. Regra geral, seu respeito não é obrigatório, podendo a própria lei estabelecer, em seu corpo, a imediata entrada em vigor de suas determinações ou período diverso. Há, no ordenamento, duas exceções em que a vacatio é obrigatória: a) lei que cria ou aumenta contribuição social para a seguridade De outro lado, a LUG e a lei do cheque (L7.357/85) admitem o aval parcial. Assim, para os títulos típicos tratados por esses diplomas, é admitido o aval parcial, restando vedado para os demais títulos sem legislação específica e títulos atípicos. P. É possível a emissão de título ao portador? R. A princípio, a resposta é positiva, havendo inclusive capítulo do CC regulamentando a matéria (arts. 904 a 909). Contudo, é nulo o título emitido ao portador sem autorização de lei especial. Nessa linha, por exemplo, a nota promissória e a duplicata são sempre títulos nominativos, enquanto o cheque poderá ser emitido ao portador, desde que o valor nele consubstanciado não supere R$ 100,00. 33. Obrigações por ato ilícito. Edilvani - edilvani@gmail.com Material utilizado: Manual de Direito Civil, Flávio Tartuce, 2012. Programa de Responsabilidade Civil, Sergio Cavalieri Filho, 2008. Tratado de Responsabilidade Civil, Rui Stoco, 2007. P.: Qual a diferença entre obrigação, dever, ônus e direito potestativo? R.: Dever jurídico e obrigação são a situação passiva que se caracteriza pela necessidade do devedor observar um certo comportamento, compatível com o interesse do titular do direito subjetivo (Francisco Amaral). O dever jurídico engloba não apenas as relações obrigacionais (de direito pessoal), mas também as de natureza real, ou provenientes do Direito de Família, Sucessões, Empresa e personalidade. A obrigação, por sua vez, tem objeto mais restrito, relativo à relação jurídica creditória (pessoal, obrigacional), e o correspondente direito subjetivo à prestação. O dever jurídico está geralmente relacionado a prazos prescricionais e o seu desrespeito gera consequências para todas as partes envolvidas, surgindo daí a responsabilidade. Ônus jurídico é a necessidade de agir de certo modo para a tutela de interesses próprios (Orlando Gomes); o desrespeito ao ônus gera consequências apenas para quem o detém. Ex.: ônus de provar (art. 333, I, CPC), ônus de inscrever o contrato de locação no Registro de Imóveis. Já o direito potestativo é o poder que a pessoa tem de influir na esfera jurídica de outrem, sem que este possa fazer algo que não se sujeitar; opera na esfera de outrem, sem que este tenha algum dever a cumprir (Francisco Amaral). Ex.: impedimentos matrimoniais (art. 1.521 CC), exigência legal de outorga do cônjuge para certos atos (art. 1.649 CC). Está relacionado a prazos decadenciais, mas, às vezes, nem a este, como o direito potestativo de se divorciar. P.: Quais as fontes obrigacionais do direito brasileiro? R.: Segundo a melhor doutrina, são fontes das obrigações: a) Lei: fonte primária ou imediata. Alguns autores discordam, sendo necessária também a autonomia privada, que é o direito da pessoa de regulamentar os próprios interesses. b) Contratos: fonte principal do direito obrigacional, é o negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, modificação e extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial. c) Atos ilícitos e abuso de direito: previstos nos arts. 186 e 187 do CC, geram obrigação de indenizar. d) Atos unilaterais: declarações unilaterais de vontade (promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento indevido e enriquecimento sem causa). e) Títulos de crédito: trazem em seu bojo, com caráter autônomo, a existência de uma relação obrigacional de natureza privada. P.: Quais os pilares ou pilastras da responsabilidade civil extracontratual no Código Civil de 1916 e no atual Código Civil? R.: O CC de 1916 amparava a responsabilidade civil aquiliana apenas no ato ilícito. No CC de 2002, a responsabilidade extracontratual está amparada tanto no ato ilícito quanto no abuso de direito. Frise-se que tal modificação também atinge a responsabilidade contratual, pois o art. 187 do CC também é aplicado em sede de autonomia privada. P.: O que é ato ilícito e que obrigações decorrem do seu cometimento? No que difere do ato ilícito previsto no Código Civil de 1916? R.: O ato ilícito é o praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direitos e causando prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência, a norma jurídica cria o dever de reparar o dano, de indenizar, o que justifica o fato de ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional. Art. 186 CC/02: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito E causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Art. 159 CC/16: “Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, OU causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. (Vide Decreto do Poder Legislativo nº 3.725, de 1919). [...]”. Do art. 186 do CC vigente, percebe-se que o ato ilícito constitui uma soma entre lesão de direitos e dano causado, diferentemente do CC de 1916, no qual se admitia ato ilícito por mera lesão de direitos. Além disso, a atual codificação permite a reparação do dano moral puro, sem repercussão patrimonial (o que já era admitido desde a CF/88, art. 5º, V e X). P. Qual a natureza jurídica da obrigação de indenizar? R.: As obrigações podem ser voluntárias ou legais. As primeiras decorrem de negócios jurídicos (contratuais ou não), em face da autonomia privada. As segundas são obrigações impostas por lei, que lhes dá vida e com o conteúdo por ela definido. A obrigação de indenizar é legal, pois a própria lei determina quando a obrigação surge e a precisa conformação com que se reveste (Cavalieri Filho). P.: A obrigação decorrente de um ato ilícito será sempre de indenizar? R.: Nem sempre. César Fiuza observa que “praticado, pois, o ilícito, surge para o autor a responsabilidade de sujeitar-se às sanções impostas pela Lei. Essas sanções podem ser as mais variadas, como adimplir a obrigação contratual; pagar multa, fixada em cláusula contratual; indenizar danos; conceder à vítima o exercício de direito de resposta (no caso dos jornais, por exemplo); desmentir uma informação falsa etc. Fica claro, aqui, que a indenização por danos está longe de ser a única maneira de responder por um ato ilícito”. Acrescente-se, ainda, a possibilidade de declaração da nulidade do ato. 34. Prescrição e decadência: causas de impedimento, suspensão e interrupção; prazos. Italo (italomarani@gmail.com) P: Diferencie a prescrição da decadência: R: A doutrina clássica, desde Bevilácqua, sustentava que a prescrição atacaria o direito de ação, posição que não deve mais ser adotada, sobretudo após a entrada em vigor do NCC (artigo 189). O que prescreve, em verdade, é a PRETENSÃO DO CREDOR, entendida como o direito subjetivo que o ordenamento jurídico lhe confere de coercitivamente exigir o cumprimento da prestação violada. O direito de ação existirá sempre, ele não prescreve nunca. A decadência, também conhecida como caducidade, traduz o prazo para o exercício de um direito potestativo (direito de interferência na esfera jurídica alheia sem conteúdo prestacional, interfere na esfera jurídica de uma pessoa sem que ela possa fazer alguma coisa), podendo este prazo ser legal ou convencional. Portanto, enquanto a prescrição liga-se a ideia de pretensão, direito subjetivo que nasce para o credor, a decadência relaciona-se ao direito potestativo, aquele que pode ser exercido sem que a parte contrária possa opor-se. A decadência pode ter origem na lei ou na autonomia privada e o transcurso de seu termo extingue o direito propriamente dito e não a pretensão de exigi-lo. P: O STJ aplica o critério científico de AGNELO AMORIM FILHO para distinguir a prescrição da decadência, identifique-os. R: AGNELO AMORIM FILHO, em judicioso artigo científico (“CRITÉRIO CIENTÍFICO PARA DISTINGUIR A PRESCRIÇÃO DA DECADÊNCIA E PARA IDENTIFICAR AS AÇÕES IMPRESCRITÍVEIS” – artigo RT300 e 744), procura identificar os prazos da seguinte forma: · AÇÃO CONDENATÓRIA (cobrança e reparação de danos): PRESCRIÇÃO. · AÇÃO CONSTITUTIVA (faz ou desfaz o negocio): DECADENCIAL. AÇÃO CONSTITUTIVA. · AÇÃO DECLARATÓRIA: não sujeita prescrição ou decadência (ex. art. 169 do CC.02). P: Com as alterações do Código de Processo Civil, que autorizam ao juiz a conhecer de ofício da Prescrição, esta constitui matéria de ordem pública? R: existe relevante discussão doutrinária e neste particular há posições favoráveis e contrárias de que, com a possibilidade de reconhecimento da prescrição intercorrente de oficio pelo juiz, a matéria passou a ser de ordem pública. Como terceira via, mas seguindo a segunda corrente, Flávio Tartuce defende que a prescrição não é matéria de ordem pública, mas a celeridade processual (art. 5°, LXXVIII, CF/88) o é. A doutrina critica a alteração legislativa porquanto além de haver causas suspensivas e interruptivas da prescrição, ela pode ser renunciada por quem lhe beneficie. P: O que é prescrição intercorrente? Como ela se opera? R: Sustenta-se que, se o processo ficar paralisado, há uma contagem de prescrição dentro do processo, que é a prescrição intercorrente. No processo civil em geral não é aceito, porque a demora deriva do Judiciário. O tema é integrante da grade de processo civil e tributário, além do direito do trabalho, traduz o desaparecimento da pretensão após haver sido levada ao juízo, por paralisação do próprio processo. Em geral, no processo civil tal tese não é aceita, pois, não poderia o credor ser prejudicado pela mora do próprio Judiciário. O STJ tem entendimento sumulado de que “proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência” (Súmula 106 do STJ). P: Explique como se opera a prescrição intercorrente no direito tributário. Ela se aplica durante o processo administrativo? R: A prescrição intercorrente é aquela que ocorre no curso da execução fiscal ajuizada, conforme dispõe o art. 40, §4º, da Lei 6.830/1980, acrescentado pela Lei 11.051/2004. A jurisprudência sempre tendia a reconhecer a prescrição intercorrente no caso de arquivamento do executivo fiscal, quando não localizado o devedor, nem bens sobre os quais poderia recair a penhora, em prazo superior a 5 (cinco) anos sem que a Fazenda procedesse diligências no sentido de encontrar o devedor ou seus bens. O STJ inclusive editou a Súmula 314, cuja redação dispõe que “em execução fiscal, não localizado bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo prescricional quinquenal intercorrente”. Assim o legislador resolveu, através da Lei 11.051/2004, acrescentar o parágrafo 4º ao art. 40 da Lei 6.830 de 1980 e permitir a limitação do prazo em cinco anos. Não se admite a prescrição intercorrente durante o processo administrativo, pois a impugnação administrativa suspende a exigibilidade do crédito tributário e, por decorrência, a prescrição. P: A prescrição extingue a pretensão para exigência do direito, de certo que o direito permanece incólume. Assim, aquele que recebeu a dívida prescrita pode requerer a restituição? O que ocorre quando há o pagamento do crédito tributário prescrito? R: O Código Civil, na disciplina do pagamento indevido, dispõe que àquele que voluntariamente pagou o indevido incumbe prova de tê-lo feito por erro (art. 887 do CC.02), mas impede de se repetir o que se pagou para solver dívida prescrita (art. 882). Quanto ao crédito tributário, entretanto, prescinde demonstrar que o pagamento se deu por erro, porquanto a obrigação decorre da lei, de forma que é irrelevante a vontade dos sujeitos ativo e passivo para o nascimento do dever de restituição. Nesse iterim, o art. 165 do CNT dispõe que o sujeito passivo te direito, independentemente de protesto, à restituição do que pagou indevido. P: O art. 8º, §2°, da Lei 6.830/80 dispõe que interrompe o prazo prescricional o despacho do juiz que ordenar a citação. Somente com a Lei complementar 118 de 2005 solucionou a discussão acerca da aplicabilidade do dispositivo aos créditos de natureza tributária, porquanto o art. 146, III, “b”, da CF/88 reserva a matéria sobre prescrição tributária à Lei complementar. Como se aplica a regra em questão aos processos em curso antes da edição da Lei Complementar 118/2005? R: Conforme precedentes do STJ aplica-se a lei complementar 118/05 aos processos em curso, desde que o despacho que determina a citação seja posterior a novel legislação. Caso o despacho que determina a citação se dê antes da Lei Complementar 118/05, somente a citação terá o condão de interromper a citação. 35. Responsabilidade civil do fornecedor pelos produtos fabricados e pelos serviços prestados. Raissa (raissaqrios@gmail.com) P: Qual o conceito de responsabilidade civil? R: Responsabilidade civil é a sujeição do patrimônio de alguém em razáo do descumprimento de uma obrigação contratual ou legal que gere danos a outrem. P: Fale, de modo sucinto, sobre a evolução histórica da responsabilidade civil no Brasil. R: Falar da evolução histórica da responsabilidade civil no nosso país é falar da transição da responsabilidade subjetiva para a objetiva. A responsabilidade subjetiva sempre foi a regra no Direito Pátrio e continua sendo, mas, com a evolução da sociedade e a consequente vulnerabilidade do indivíduo em face dos agentes econômicos e do próprio Estado, surge a necessidade de uma nova concepção de responsabilidade civil, sem a necessidade da comprovação da culpa. Surge a responsabilidade civil objetiva. Foi prevista pela primeira vez no Decreto-Lei nº 2681/1912, o qual previa a culpa presumida no transporte ferroviário. Posteriormente, foi prevista no art. 15 do CC/16 (responsabilidade das PJ de Direito Público); na Lei nº 6.938/81 (princípio do poluidor pagador); no art. 37, § 6º, da CF/88 (responsabilidade do Estado); e no CDC. No CC/02, foi prevista por meio da cláusula geral inserta no art. 927, p. único, além da previsão em casos específicos em outros dispositivos. P: Quais são as espécies de responsabilidade civil? R: A responsabilidade civil objetiva e a responsabilidade civil subjetiva. P: A responsabilidade civil subjetiva é baseada em qual teoria? R: A responsabilidade civil subjetiva é baseada na Teoria da Culpa e pressupõe a culpa lato sensu (dolo ou culpa) como fundamento da responsabilidade civil. É a regra geral no Direito brasileiro. P: A responsabilidade civil objetiva é baseada em qual teoria? R: A responsabilidade civil objetiva é baseada na Teoria do Risco, independendo da existência de culpa. O dever de reparar o dano não é daquele que age culposamente, mas sim de quem cria o risco do dano se concretizar. P: Quais as espécies de responsabilidade civil objetiva? Fale sobre elas. R: A responsabilidade objetiva própria e a imprópria. A responsabilidade objetiva imprópria não prescinde da existência de culpa, porém ela é presumida, invertendo-se o ônus da prova. O agente não é condenado a indenizar se comprovar que não agiu culposamente. Já a responsabilidade objetiva própria prescinde da existência de culpa. Mesmo provando que não agiu com culpa, o agente não se exime do dever de indenizar. P: Quais os pressupostos da responsabilidade civil? R: A conduta humana. Seja ela comissiva ou omissiva. Em regra, a conduta deve ser ilícita. Excepcionalmente, também pode ser lícita (ex: dano a 3º em legítima defesa ou em estado de necessidade). A culpa em sentido amplo.O nexo de causalidade. Por fim, o dano. P: Qual o conceito de culpa em sentido amplo? R: É a conduta voluntária praticada sem o dever de cuidado objetivo e que gera um resultado involuntário, porém previsível. P: Qual a relação entre a culpa do agente e o valor da indenização? R: Em princípio, nos termos do artigo 944 do CC, a indenização mede-se pela extensão do dano e não pelo grau de culpa. Todavia, se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização, nos termos do artigo 944, parágrafo único, do CC. P: Qual o conceito de nexo de causalidade? R: É o elemento imaterial ou virtual da responsabilidade civil. Constitui a relação de causa e efeito entre a conduta culposa (responsabilidade subjetiva) ou risco criado (responsabilidade objetiva) e o dano suportado pela vítima. P: Quais as teorias do nexo causal? R: A teoria da equivalência das condições (sine qua non), que considera relevante toda e qualquer causa que tenha contribuído para produzir o resultado. A teoria da causalidade adequada, para a qual é causa do evento danoso apenas a que por si só foi apta a produzir o resultado. Parte da doutrina defende que foi a teoria adotada pelo CC/02. Por fim, a teoria da causalidade imediata, que requer a ocorrência de efeito direto e imediato entre a conduta do agente e dano. Segunda corrente doutrinária defende ter sido esta última a teoria adotada pelo CC, com esteio no art. 403 desse Diploma Legal. P: Quais são as excludentes do nexo causal? R: O caso fortuito ou força maior; a culpa exclusiva da vítima e o fato exclusivo de terceiro. P: Quais os atributos do caso fortuito e da força maior? R: O evento causador do dano deve ser externo e inevitável. A previsibilidade não é atributo. Se o evento, apesar de previsível, for externo e inevitável há exclusão do nexo causal. P: O que é fortuito externo? R: É o fato que não guarda relação com atividade típica do causador do dano. Ex: assalto em ônibus. Exclui nexo causal. Deve-se ressaltar que alguns Tribunais pátrios passaram a entender que assaltos reiterados no transporte de passageiros passariam a ser fortuito interno, porém esse não é o entendimento do STJ quanto a esse tipo de transporte. Já quanto ao transporte de cargas, o assalto é considerado fortuito interno pelo STJ (RESP 8999.429). P: O que é fortuito interno? R: É aquele fato que guarda relação com a atividade típica do causador do dano. Ex: acidente de ônibus causado por defeito no freio. Não exclui o nexo causal. P: Conceitue o pressuposto dano: R: É a lesão a qualquer bem jurídico, seja ele patrimonial ou extrapatrimonial. P: O que é dano material? R: É o prejuízo que atinge o patrimônio corpóreo de uma pessoa natural ou jurídica. A conduta lesiva tem repercussão imediata na integridade financeira, no patrimônio externo do ofendido. P: O que é dano emergente? R: É o decréscimo patrimonial que o ofendido experimenta com a lesão. O que efetivamente perdeu. A prova é simples. Basta comprovar o prejuízo efetivamente ocorrido. P: O que é lucro cessante? R: É tudo que o ofendido razoavelmente deixou de auferir em razão da lesão. O que razoavelmente deixou de ganhar. É necessário que seja lucro atual e certo. Não pode ser hipotético. Não se exige, porém, certeza absoluta do lucro e sim probabilidade objetiva de que, em circunstâncias normais, ele ocorreria. A prova é mais complexa. Em regra, é necessária perícia. P: O que é a indenização por perda de uma chance? R: É a indenização devida ao indivíduo que teve uma chance subtraída. A chance é incerta, ao contrário do lucro cessante, que deve ser certo. A chance indenizável, porém, é aquela que já pertencia ao patrimônio jurídico do lesado à época do dano, isto é, havia probabilidade de ela se materializar caso o dano não tivesse ocorrido e não mera expectativa. A prova é complexa, pois depende sempre de estatística e cálculos matemáticos. Parte da doutrina entende que é uma subespécie de dano emergente, a qual está incluída no art. 402 do CC. P: O que é dano moral? R: É a violação aos direitos da personalidade. Ocorre quando a pessoa é ofendida nos seus atributos essenciais. É uma lesão à própria dignidade da pessoa humana. P: O que é dano moral por ricochete? R: É o dano moral que atinge a pessoa de forma reflexa. Ex: morte de parente. P: No caso de dano moral reflexo há a figura da substituição processual? R: Não. As ações são ajuizadas em nome próprio, pois a lesão ofende o patrimônio moral deste terceiro. Não se confunde com a transmissão da reparação do dano. P: Quais são os critérios de fixação do dano moral? R: Existem três critérios. Pelo primeiro, a indenização deve ter caráter reparatório, buscando a compensação do dano. A fixação da indenização leva em consideração a extensão do dano e as condições pessoais da vítima (art. 944). Pelo segundo, a indenização deve ter caráter punitivo, buscando inibir a conduta do ofensor. É a chamada Teoria do Desestímulo. Prevalece nos EUA. Ela defende que para o condenado não voltar a punir o valor indenizatório inibitório deve ser proporcional à sua condição econômica. A fixação da indenização leva em consideração, portanto, a condição econômica do ofensor. Pelo terceiro critério, o caráter reparatório da indenização é o principal e o punitivo é o acessório. É também denominada de Teoria do Desestímulo Mitigada. É a que prevalece na jurisprudência pátria. P: O que é dano moral coletivo? R: É o dano que atinge, ao mesmo tempo, vários direitos da personalidade, de pessoas determinadas, determináveis ou indeterminadas. P: O que são danos sociais? R: São lesões à sociedade no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral, quanto por diminuição na qualidade de vida. Podem geram repercussões materiais ou morais. Nesse ponto se diferenciam do dano moral coletivo, pois é este é apenas extrapatrimonial. P: O que é dano estético? R: É a alteração morfológica da formação corporal que agride a visão, causando desagrado e repulsa. O STJ entende que o dano estético não se confunde com o dano moral. São, portanto, cumuláveis (Súmula 387). P: Quais são as pessoas obrigadas a reparar o dano? R: Na responsabilidade civil objetiva, o criador do risco. Na responsabilidade civil subjetiva, o causador do dano. Em regra geral, a responsabilidade civil é individual, mas existe a responsabilidade civil solidária no caso de coautoria e nos casos expressos em lei. Os herdeiros são responsáveis até o limite da herança (art. 943, CC). P: Como se dá a reparação do dano no caso de homicídio? R: O homicídio gera dano material e moral. O dano material engloba os danos emergentes, como, por exemplo, despesas hospitalares e os lucros cessantes, que são pagos em forma de pensão mensal para quem dependia economicamente da vítima. No caso de vítima maior, serão 2/3 do rendimento da vítima ou, se não possuía ganho fixo, 2/3 do salário mínimo. No caso de vítima menor, serão 2/3 do salário mínimo. O dano moral é o reflexo ou por ricochete. P: Existe prazo para o pagamento da pensão mensal no caso de vítima maior? R: Sim. São três prazos que devem ser levados em consideração. Ela será paga até a expectativa de vida da vítima, que hoje, pelo IBGE, são 70 anos ou por mais cinco anos se vítima morreu após essa idade. Será paga até os filhos completarem 25 anos ou se casarem. Será paga até o cônjuge/companheiro se casar novamente ou constituir nova união estável. Prevalecerá o prazo que ocorrer primeiro. P: Quem são os credores da pensão no caso de vítima maior? R: O cônjuge ou companheiro e os filhos até os 25 anos de idade, os quais têm dependência presumida. Outros parentes até o quarto grau, os quais têm que provar a dependência econômica. P: Existe prazo para o pagamento da pensão mensal no caso de vítima menor? R: Sim. O prazo da pensão é contabilizado a partir dos 14 anos e vai até os 25 anos. P: Quem são os credores da pensão no caso de vítima menor? R: Os pais e demais parentes até o 4º grau que residiam com o menor. P: Quem tem legitimidade para requerer o dano moral reflexo ou por ricochete no caso de morte? R: Os pais, filhos, cônjuges ou companheiros e os noivos, para os quais o dano moral é presumido. Parentes até quarto grau, os quais devem comprovar a afetividade com a vítima a ponto de gerar o dano moral. Parentes além do quarto grau; concubina(o); amigo(a) íntimo e namorado(a) não possuem direito à indenização por dano moral nesse caso. 36. Responsabilidade civil do fornecedor pelos produtos fabricados e pelos serviços prestados. Verônica (veronicamed.adv@gmail.com) P. Há alguma regra do Código Civil acerca de responsabilidade por produto ou serviços? R: O art. 931 do CC estabelece que, ressalvados os outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem INDEPENDENTEMENTE DE CULPA pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. Percebe-se, assim, que se trata de uma responsabilidade civil OBJETIVA, que só terá aplicação quando não caracterizada relação de consumo, ocasião em que se aplica o CDC. P. Quais as possibilidades de responsabilização pelos produtos fabricados e serviços prestados? R: Nos termos do Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor pode responder por defeito ou por vício do produto ou serviço. O Código Civil traz também regra relativa à responsabilidade dos empresários individuais e empresas pelos produtos postos em circulação. P: Como se classifica a figura do “fornecedor”? R: Segundo o Código do Consumidor em seu art. 3o, "Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, montagem, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços". P. O que seria defeito do produto ou serviço? R: Para o art. 12, § 1º, do CDC, o produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais sua apresentação, o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que foi colocado em circulação. Destaque-se que o § 2º do mesmo dispositivo afirma que o produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. Noutro giro, o serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais modo de seu fornecimento, o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que foi fornecido (art. 13, § 1º, do CDC). O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas (art. 13, § 2º, do CDC). Percebe-se, assim, que o defeito do produto/serviço é o “acidente de consumo”, problemas de índole de segurança. P. Qual a espécie de responsabilidade civil aplicada aos casos de defeito no produto ou serviço? R: A responsabilidade civil do fornecedor pelo defeito, mais conhecida como responsabilidade por fato do produto, é OBJETIVA, em virtude dos riscos assumidos, admitindo algumas excludentes. P. Quais as excludentes de responsabilidade por fato do produto ou serviço? R: O fornecedor não será responsabilidade por fato do produto, nos termos do art. art. 12, § 3º, do CDC, quando provar que não colocou o produto no mercado; que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Já no caso de serviços, haverá exclusão da responsabilidade se o fornecedor provar que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. P. O que é o vício do produto? R: O vício acarreta o não funcionamento adequado do produto, diminuem o seu valor, ou seja, apresenta-se de maneira ineficaz para a sua destinação. Os vícios podem ser aparentes ou ocultos. São aparentes quando de fácil constatação e percepção; revelam-se e demonstram-se no uso habitual do consumo. De modo diverso são vícios ocultos, posto que, estes, só se apresentam após o uso, e por serem, muitas vezes, inacessíveis ao consumidor, não podem ser percebidos apenas com o uso corriqueiro. O vício é característica inerente ou intrínseca ao próprio produto/serviço, considerado em si mesmo. Os vícios se dividem, também, em vício de qualidade e de quantidade. Vícios de qualidade são os que tornam os produtos impróprios ou inadequados para o consumo, lhes diminuemo valor ou se quando ocorre disparidade entre as indicações constantes no rótulo. Já o Vício de quantidade é o que o conteúdo líquido é inferior às indicações constantes do recipiente, embalagem, rotulagem, ou mensagem publicitária. P. Diante de um vício de qualidade do produto, quais direitos são conferidos ao consumidor? R: As regras a respeito do tema estão no art. 19. Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; ou o abatimento proporcional do preço. Contudo, poderão as partes convencionar a redução ou ampliação deste prazo de 30 dias, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas vista acima deste sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. Tendo o consumidor optado e não sendo possível a troca do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo. P. Diante de um vício de quantidade do produto, quais direitos são conferidos ao consumidor? R: O art. 19 do CDC traz as seguintes possibilidades: 1º. Abatimento proporcional do preço. 2º. Complementação do peso ou da medida. 3º. Substituição do produto por outro de mesma espécie, marca ou modelo. Se não existir outro da mesma espécie, marca ou modelo, segue-se a regra vista anteriormente. 4º. Restituição da quantia paga, sem prejuízo das perdas e danos. P. O que é vício do serviço e quais são os direitos conferidos ao consumidor? R: Vícios dos serviços, nos termos do art. 20 do CDC, são os vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir alternativamente, e a sua escolha: a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; ou o abatimento proporcional do preço. Destaque-se que a reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. P. Há excludentes de responsabilidade para vício do produto/defeito? R: Diante da omissão do texto legal, aplicam-se como excludentes de responsabilidade as mesmas hipóteses previstas no art. 12, § 3°, e no art. 14, § 3°, ambos do CDC, relativas ao fato do produto e do serviço. P. Qual a espécie de responsabilidade civil aplicada aos casos de vício no produto ou serviço? R: Assim como no caso do defeito, a responsabilidade civil do fornecedor pelo defeito, é OBJETIVA, em virtude dos riscos assumidos admitindo, nos termos do CDC, e dispensa a comprovação de dolo e culpa. Saliente-se, entretanto, que há possibilidade da presença de algumas excludentes de responsabilidade. P. Quais as excludentes de responsabilidade para vício do produto/defeito? R: Diante da omissão do texto legal, aplicam-se como excludentes de responsabilidade as mesmas hipóteses previstas no art. 12, § 3°, e no art. 14, § 3°, ambos do CDC, relativas ao fato do produto e do serviço. P. Fale acerca da “Teoria do Risco”. R: A teoria do Risco fundamenta a teoria da responsabilidade objetiva. Todo aquele que coloca um produto ou desempenha uma atividade no mercado cria um risco de dano a terceiro. Concretizado o dano surge o dever de indenização, independente de dolo ou culpa demonstrados. Aquele que aufere lucro com a atividade desenvolvida deverá arcar com os riscos desta atividade. P. Qual a diferença entre fortuito interno e fortuito externo e a sua relevância no tocante à responsabilidade civil. R: De acordo com o professor Pablo Stolze, a diferença entre caso fortuito interno e externo é aplicável, especialmente, nas relações de consumo. O caso fortuito interno incide durante o processo de elaboração do produto ou execução do serviço, não eximindo a responsabilidade civil do fornecedor. Isso porque seria inerente à atividade prestada por ele. Já o caso fortuito externo é alheio ao processo de elaboração do produto ou execução do serviço, é um evento estranho à atividade prestada, e, em razão disso, exclui a responsabilidade civil. O STJ tem seguido essa diferenciação em seus julgados em diversos casos. Como exemplo, podemos lembrar o entendimento de que o fato inteiramente estranho ao transporte em si (assalto à mão armada no interior de ônibus coletivo) constitui caso fortuito, excludente de responsabilidade da empresa transportadora. Noutro giro, já se defendeu que o assalto dentro de instituições financeiras é inerente enseja a responsabilidade, uma vez que a segurança deve ser inerente à atividade prestada. 37. Responsabilidade civil por dano causado ao meio ambiente e a bens diretos de valor artístico, estético, histórico e paisagístico. Rafael Mota (motarafael84@gmail.com) P. Qual é espécie e qual a teoria adotada na responsabilidade por danos ambientais? R. Em se tratando de responsabilidade civil por danos ambientais, a responsablidade será objetiva, fundada a mesma na teoria do risco. A teoria adotada é a do risco integral e não a do risco administrativo. Por tal teoria, o causador do dano responde por ele, ainda que tenha havido caso fortuito ou força maior. Importa ainda ressaltar que, se o dano for ocasionado por mais de uma pessoa, todos serão solidariamente responsáveis (STJ, RESp n. 880160/RJ, rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2a. Turma, j. em 04.05.2010. (informativo 433). Nesse sentido, Lei n. 6938/81: art. 14 [...] § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. 38. Posse: classificação, aquisição, efeitos e perda. TEMA JÁ TRATADO NO ITEM 13. 39. Propriedade: classificação, aquisição, efeitos e perda. Igor (irferreira@gmail.com) Obs.: o “Regime constitucional da propriedade” já foi tratado no item 23 de Constitucional e o tema “Aquisição e perda da propriedade móvel e imóvel” já foi tratado no item 14 de Civil. P.: O que é propriedade fiduciária? R: Ocorre a propriedade fiduciária quando o credor fiduciário adquire a propriedade resolúvel e a posse indireta do bem, em garantia de financiamento fornecido ao devedor alienante (que, no entanto, mantêm-se na posse direta da coisa). Com o adimplemento da dívida resolve-se a propriedade do credor fiduciário. Em resumo, como forma de garantia o credor passa a ser o proprietário da coisa. Nos termos do Código Civil (art. 1.361), o contrato deverá ser registrado no registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor ou, no caso de veículo, na repartição competente para o licenciamento (alguns aduzem que a oponibilidade a terceiros dependeria, no caso de veículos, do registro em ambos; o STF admitiu a repercussão geral da matéria no RE 611.639; para o STJ basta o registro no DETRAN [REsp. 686.932/PR]). Ao contrário da regulamentação anterior (Decreto-lei n.º 911/1969), pelo atual Código Civil não se exige que o credor seja instituição financeira. Note-se, por fim, que a garantia obtida pelo credor na alienação fiduciária é maior que nos direitos reais de garantia (hipoteca e penhor), pois adquire a propriedade do bem. Assim, na falência por exemplo, poderá pedir a restituição do bem, que não estará sujeito ao concurso (que, veja-se, tem créditos preferenciais em relação aos com garantia real, como os trabalhistas). P.: O bem alienado fiduciariamente pelo devedor de crédito tributário pode ser penhorado em Execução Fiscal? (considere que a alienação fiduciária é anterior à inscrição em dívida ativa) R: Conforme a jurisprudência do STJ (REsp. 910.207/MG), uma vez que o bem é de propriedade do credor fiduciário, não poderá ser feita a constrição para a execução de dívida fiscal do devedor alienante. Caso ocorra a penhora, o credor fiduciário poderá opor embargos de terceiro (STJ, REsp. 622.898/SC). Não há impedimento, porém, de penhora dos direitos do devedor alienante (também devedor do crédito tributário) no contrato (conforme art. 11, VIII da LEF); veja-se que quanto mais parcelas do financiamento tiverem sido pagas, maior será o valor dos direitos do devedor. P.: O que é propriedade superficiária? R: É um direito real imobiliário, temporário e autônomo, de fazer, ou de manter, construção ou plantação em solo alheio. O titular desse direito real tem a propriedade resolúvel da plantação ou construção (que fica, portanto, separada da propriedade do solo). É necessário o registro de escritura pública no registro imobiliário. Pode ser concedida a título gratuito ou oneroso. Salvo previsão contratual em contrário, com a extinção (pelo decurso do prazo ou descumprimento das obrigações) as acessões e benfeitorias vão para o proprietário do imóvel, independentemente de indenização. Foi instituída no direito brasileiro pelo Estatuto da Cidade (Lei n.º 10.257/01), especificamente para a propriedade urbana, e atualmente está regulada com objeto mais amplo no Código Civil. Conforme a doutrina, quando se tratar de propriedade rural deverá ser aplicado na integralidade o Código Civil; quando for propriedade urbana ocorrerá diálogo das fontes (a depender do caso, havendo preponderância da política de desenvolvimento urbano, haverá prevalência das disposições do Estatuto da Cidade). Aliás, o Enunciado 93 do CJF define que o Código Civil não revogou as normas do Estatuto da Cidade quanto ao direito de superfície. P: O direito de superfície pode ser objeto de hipoteca? R: Sim, há expressa previsão no Código Civil (art. 1.473, inciso X) de que a hipoteca pode recair sobre o direito de superfície. Conforme a doutrina, também podem ser constituídos outros direito reais sobre o direito de superfície, tais como habitação, usufruto, servidão e, inclusive, alienação fiduciária (nesse último caso há previsão legal expressa: art. 22, §1º, IV da Lei n.º 9.514/97). P: O art. 1.371 do Código Civil dispõe que o superficiário responde pelos tributos incidentes sobre o imóvel. Nesse sentido, é correto afirmar que o Município não poderá cobrar IPTU do proprietário? R: Não. A referida disposição do Código Civil regula a relação entre as partes (proprietário e superficiário), não se trata da definição do sujeito passivo da obrigação tributária. Aliás, por não se tratar de norma de ordem pública, podem as partes convencionar de modo diverso (isto é, para que fique a cargo do proprietário o pagamento do IPTU; nesse sentido é o Enunciado n.º 94 do CJF). Note-se que a legislação municipal poderá atribuir ao superficiário responsabilidade pelo pagamento do IPTU, em conformidade com o disposto no art. 128 do CTN. Até porque, o art. 34 do CTN prevê como contribuinte desse imposto o proprietário, o titular do domínio útil e o possuidor a qualquer título. P.: Mencione classificações doutrinárias do direito de propriedade. R: Uma das classificações apresentadas pela doutrina é a que diferencia a propriedade em plena ou limitada. Na plena o direito de propriedade não está limitado por direito real de terceiro (ou seja, não foi instituído direito real sobre coisa alheia). Na propriedade limitada (também chamada de restrita), foram constituídos direitos alheios sobre o bem; no caso de constituição de usufruto, tem-se a nua propriedade (pois o nu proprietário não poderá exercer as faculdades de posse, uso, administração e percepção de frutos enquanto durar o usufruto; poderá, no entanto, dispor e dar em garantia, por exemplo). Diferencia-se, também, a propriedade perpétua, que é a mais comum (um dos seus atributos é justamente a duração ilimitada), da propriedade resolúvel (que se resolve com o implemento de condição ou termo – art. 1.359 do CC), que ocorre nos casos de alienação fiduciária, pacto de retrovenda e a compra e venda com reserva de domínio, por exemplo. A propósito, ressalta-se que é cada vez maior a flexibilização da perpetuidade (sobretudo em vista da sua função social), com ampliação da possibilidade de usucapião e com a possibilidade, instituída pelo Código Civil vigente, de arrecadação pelo Poder Público de imóvel urbano abandonado (art. 1.276, §2º - quando cessados os atos de posse o proprietário deixar de satisfazer os ônus fiscais). P: Diferencie propriedade de domínio. R: Inicialmente é preciso ressaltar que muitos empregam os vocábulos propriedade e domínio como sinônimos. Entre os que diferenciam, pode-se citar duas correntes. Para uma parte da doutrina, propriedade é um conceito mais amplo, referindo-se a todos os direitos suscetíveis de apreciação pecuniária (ou seja, a propriedade compreende o domínio, que é um direito sobre coisas). Assim, além do domínio, pode-se falar de propriedade literária, científica, artística, industrial. Para outra corrente, a propriedade é um direito que se instrumentaliza pelo domínio (este vem a ser a substância econômica da propriedade: usar, gozar, dispor). Enquanto a propriedade refere-se à titularidade do bem (isto é, forma-se uma relação entre o proprietário e as demais pessoas, que devem respeitar esse direito), o domínio refere-se ao conteúdo interno da propriedade (ou seja, a submissão da coisa ao seu titular). 40. Direitos reais. Suellen (suellenvilanova@gmail.com) P: Defina direitos reais e diferencie dos direitos pessoais? R: Os direitos reais são um complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem. Sobre a questão, há duas teorias: a teoria clássica ou realista e a teoria moderna ou personalista. Para a teoria clássica ou realista, os direitos reais devem ser vistos como um poder direto e imediato sobre a coisa, enquanto os direitos pessoais traduzem uma relação entre pessoas, tendo por objeto uma prestação. Portanto, ainda que essa prestação seja mediatamente dirigida a um bem, como ocorre nas obrigações de dar, o objeto em si dos direitos pessoais é sempre o comportamento do devedor, diferentemente do que se tem nos direitos reais, pois estes incidem imediatamente sobre a coisa. Nessa visão, os direitos reais se caracterizam pela existência de apenas dois elementos: o titular e a coisa. Para que o titular possa desfrutar do bem não há necessidade de qualquer intervenção ou intermediação por parte de terceiros, ao contrário do que ocorre nos direitos pessoais, em que, ademais, existem três elementos: o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação. Sílvio de Salvo Venosa manifesta sua opção pela corrente clássica, asseverando que a idéia básica é que o direito pessoal une dois ou mais sujeitos, enquanto os direitos reais traduzem relação jurídica entre uma coisa, ou conjunto de coisas, e um ou mais sujeitos, pessoas naturais ou jurídicas. Por outro lado, os defensores da teoria moderna ou personalista sustentam que o direito real não reflete relação entre uma pessoa e uma coisa, mas, sim, relação entre uma pessoa e todas as demais. Assim, o direito real envolve, para essa corrente de pensamento, uma relação jurídica entre seu titular, do lado ativo, e todos os demais membros da sociedade, do lado passivo, adstritos a um dever geral de abstenção, ou seja, à obrigação de não perturbar ou prejudicar o titular do direito real. Portanto, os direitos reais são caracterizados pela existência de uma obrigação passiva universal, imposta a todos os membros da sociedade indistintamente, no sentido de que devem respeitar seu exercício por parte de seu titular ativo. Já nos direitos pessoais, a obrigação só existe para o sujeito passivo a ela vinculado, pessoa certa e determinada, sobre a qual recai não simplesmente o dever de respeitar o direito de crédito, mas sim a obrigação a uma prestação. Segundo Caio Mário da Silva Pereira, adepto de tal corrente, no direito real existe um sujeito ativo, titular do direito, e há uma relação jurídica, que não se estabelece com a coisa (eis que esta é o objeto do direito), em que o sujeito ativo é o titular do direito real, e sujeito passivo a sociedade. Dessa forma , é possível delinear três distinções: a) quanto à eficácia: erga omnes nos direitos reais e relativa nos direitos obrigacionais, mas ambas consistem em relações interpessoais; b) quanto ao objeto: a coisa nos direitos reais e a prestação nos direitos obrigacionais. c) quanto ao exercício: nos direitos reais, o titular age direta e imediatamente sobre o bem, satisfazendo as suas necessidades econômicas sem o auxílio ou intervenção de terceiros. Já nas obrigações, o titular necessariamente dependerá da colaboração do devedor para a sua satisfação. Os direitos reais são caracterizados pela imediatividade e os obrigacionais pela mediatividade. P: Quais são as características fundamentais dos direitos reais? R: As principais características são: a) Eficácia absoluta: a primeira nota distintiva dos direitos reais, da qual deriva a maior parte das outras, é a sua eficácia absoluta. Isso significa dizer que os direitos reais são oponíveis erga omnes, atribuindo a seu titular o poder de exercê-los em face de quem quer que seja e, em contrapartida, impondo a todas as pessoas, indistintamente consideradas, o dever de respeitar o seu exercício. Com efeito, os direitos reais são do gênero absoluto, não porque não sofram quaisquer restrições, mas porque infligem a toda a sociedade um dever de abstenção, qual seja, o dever de não perturbar o seu exercício por parte do sujeito ativo. b) Inerência ou aderência: a inerência é um corolário da eficácia absoluta dos direitos reais, representando a idéia de aderência do direito real à coisa que constitui seu objeto e justificando, em última análise, a oponibilidade erga omnes. Trata-se de elemento de grande relevo quando se tem em conta os direitos reais sobre coisa alheia, gênero a que se filia, por exemplo, o direito de superfície, eis que esses acompanham o direito de propriedade, nada obstante a mudança de seu titular. c) Seqüela: os direitos reais se aderem à coisa, sujeitando-a imediatamente ao poder de seu titular, com oponibilidade erga omnes. Justamente por se dirigir contra toda a coletividade e por aderir à coisa, seguindo-a onde quer que se encontre, o direito real se impõe em face de quem quer que seja. A importância dessa característica reside em que, mesmo que a coisa adentre a esfera jurídica de outrem, o titular do direito real ainda poderá exercer os poderes correspondentes à sua condição, sem que para isso tenha de impugnar qualquer ato jurídico de disposição praticado em relação à coisa. Em princípio a sequela inexiste nos direitos obrigacionais, pois a prestação só se dirige à pessoa do devedor, como sujeito passivo da relação jurídica. d) Preferência: Outra característica dos direitos reais, mais especificamente dos de garantia, é o direito de preferência. Traduz-se na idéia de que os direitos reais de garantia constituídos sobre uma coisa prevalecem sobre quaisquer direitos pessoais e sobre outros direitos reais formados posteriormente em relação ao mesmo bem. Em outras palavras, no confronto entre um direito real de garantia e um direito pessoal ou um outro direito real posterior, aplica-se uma conjugação do direito de preferência com a regra da prioridade temporal: prevalece o direito real de garantia constituído há mais tempo. Assim é que um crédito garantido por hipoteca inscrita anteriormente ao registro de um contrato de promessa de compra e venda do mesmo imóvel terá prevalência. A preferência dos direitos reais é consequência da sequela. Cumpre registrar que, embora essa seja a regra geral, nada impede que a lei prescreva de forma diferente, conferindo preferência a um direito pessoal em detrimento de um direito real, como, aliás, faz o artigo 186 do Código Tributário Nacional em relação aos créditos trabalhista, bem como a legislação que regula a falência. e) Taxatividade: Em nosso sistema, de acordo com o chamado princípio da tipicidade, os direitos reais estão previstos de forma exaustiva pela lei, só se configurando como tais as relações que se amoldarem aos tipos previamente definidos pelo legislador, seja no bojo do próprio Código Civil, seja na legislação esparsa. Vale destacar que os tipos de direito real são abertos, pois há um espaço no qual a autonomia privada pode se manifestar, desde que não sejam criadas figuras atípicas, que não sejam previstas em lei. f) Princípio da publicidade: para que se possa conferir segurança ao atributo da eficácia absoluta dos direitos reais, é necessária sua notoriedade, permitindo, ao menos, presumir que toda a sociedade tenha conhecimento de sua existência. Em nosso sistema, relativamente aos bens imóveis, em razão de usualmente terem valor maior, requerendo também maior necessidade de segurança, exige-se o registro no Cartório de Registro de Imóveis (artigo 1.227 do novo Código Civil) e, no tocante aos bens móveis, a publicidade é alcançada com a própria posse, daí porque os direitos reais a eles relativos só são adquiridos com a tradição (artigo 1.226 do Código). P: Como se classificam os direitos reais? R: Os direitos reais se dividem em jus in re propria (propriedade) e direitos na coisa alheia ou direitos limitados (jus in re aliena). A propriedade é a manifestação primária e fundamental dos direitos reais, detendo um caráter complexo em que os atributos de uso, gozo, disposição e reivindicação reúnem-se. Assim, a propriedade é uma soma de direitos elementares decomponíveis, a saber, os direitos de usar, gozar e dispor da coisa. Dentro dessa concepção, a propriedade é tida como uma reunião de faculdades, que podem ou não estar reunidas nas mãos do proprietário do bem. A partir do momento em que se destaca algum desses direitos elementares das mãos do proprietário e se o transfere a um terceiro, surge para este um direito real na coisa alheia ou jus in re aliena. Há, então, uma concorrência de direitos em relação a uma mesma coisa: o direito de propriedade e o direito real sobre coisa alheia. Tais direitos reais na coisa alheia são, por isso, também chamados de direitos reais limitados, na medida em que limitam, oneram o direito de propriedade e, ao mesmo tempo, são por ele limitados, restringindo-se a certas utilidades da coisa. Extinguindo-se o direito real limitado, pelo advento do termo ou por qualquer outra causa de extinção, consolidam-se novamente na pessoa do proprietário todos os poderes jurídicos ou faculdades inerentes a seu direito de propriedade, falando-se, assim, em propriedade plena. Esse fenômeno é denominado pela doutrina de princípio do desmembramento ou princípio da elasticidade, ou seja, consiste na possibilidade de múltiplas divisões do domínio em diversos direitos reais, os quais podem ser transferidos a terceiros, limitando a própria propriedade e sendo, ao mesmo tempo, por ela limitados. Esses direitos reais sobre coisa alheia, por sua vez, subdividem-se em três grupos. Distinguem-se os direitos de garantia, voltados a conferir a seu titular segurança para o cumprimento de uma obrigação, como a hipoteca, o penhor e a anticrese; os direitos reais de aquisição, caso do promitente comprador do imóvel, a quem assiste o direito real à aquisição da coisa; e os direitos de gozo ou fruição, que dão ao titular a possibilidade de participação efetiva sobre a coisa, que são todos os demais, inclusive o direito de superfície. P: O que são obrigações mistas ou ambulatórias? R: Trata-se de obrigações em que a pessoa do credor ou do devedor individualiza-se não em razão de um ato da autonomia privada, mas em função da titularidade de um direito real, ou seja, é uma obrigação imposta, em atenção a certa coisa, a quem for titular desta. Portanto, são aquelas que nascem independentemente da vontade das partes, pois o seu nascimento deriva da titularidade de um direito real. Assim, a transferência da titularidade acarreta na transferência da obrigação independente da vontade das partes. Ex.: obrigação de pagar IPTU. O sujeito passivo é titular do direito real de propriedade e é obrigado a pagar tal imposto. São denominadas também de obrigações propter rem, in rem, ob rem ou híbridas. P: Qual a diferença entre obrigação propter rem e ônus reais? R: Ônus reais são obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo gravames ou direitos oponíveis erga omnes, como, por exemplo, a renda constituída sobre imóvel. Aderem e acompanham a coisa. Apesar de controvertido, a doutrina aponta as seguintes distinções: a responsabilidade do ônus real é limitada ao bem onerado, não respondendo o proprietário além dos limites do respectivo valor e,na obrigação propter rem, responde o devedor com todos os seus bens ilimitadamente; os primeiros desaparecem com o perecimento o objeto, enquanto os efeitos da obrigação propter rem podem permanecer e, por fim, nos ônus reais a ação cabível é de natureza real e nas outras obrigações é de índole pessoal. Por sua vez, há um julgado do em que houve o entendimento de que as obrigações propter rem podem constituir ônus reais. O entendimento desta Corte foi no sentido de que os encargos de condomínio constituem ônus real, devendo o adquirente do imóvel responder por eventual débito existente. Trata-se de obrigação propter rem (AgRg no Ag 667222 / SP. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 2005/0045397-8. Relator(a) Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO). P: O que são obrigações com eficácia real? R: As obrigações terão eficácia real quando, sem perder seu caráter de direito a uma prestação, se transmitem e é oponível a terceiro que adquira o direito sobre determinado bem, pois certas obrigações resultantes de contratos alcançam, por força de lei, a dimensão de direito real. Estas obrigações não podem ser consideradas como de natureza real, pois, pelo princípio da tipicidade a eles inerentes, toda limitação ao direito de propriedade que não esteja prevista em lei como direito real tem natureza obrigacional. Como obrigação com eficácia real mencionamos: a obrigação estabelecida no art. 576 do CC, pelo qual a locação pode ser oposta ao adquirente da coisa locada, se constar do registro. Outro exemplo é o caso do compromisso do promitente comprador quando não efetua o registro do contrato no Cartório de Registro de Imóveis. 41. Disposições finais e transitórias do Código Civil (Lei nº 10.406, de10/01/2002) Pedro Schmidt (pedroschmidt2@gmail.com) P: Todos sabemos que o NCC alterou vários prazos legais. No que concerne aos prazos de prescrição e decadência, em sua maioria foram eles reduzidos. Como deve proceder o magistrado diante de uma situação em que o prazo prescricional começou a fluir na vigência do CC/1916? Aplica-se o prazo estabelecido em qual diploma? R: Nos termos do art. 2.028: serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada. Assim, se já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada, os prazos, por ocasião da entrada em vigor do novo Código, serão os desta, apesar de terem sido reduzidos pelo novo diploma legal. P: As enfiteuses foram extintas pelo NCC. O que acontecerá com aquelas criadas na vigência da lei anterior? R: Nesses casos, deve-se aguardar a extinção da enfiteuse, o disposto no art.2038 subordina as existentes ao regime legal do Código de 1916, neste particular, portanto, não revogado, enquanto existirem, na prática, as enfiteuses e toda legislação extravagante correlata. E mais, nos aforamentos a que se refere este artigo, é expressamente proibida a cobrança de laudémio ou prestação análoga nas transmissões de bem aforado, sobre o valor das construções ou plantações, bem como a constituição de subenfiteuse. Qualquer prática em sentido contrário será considerada inexistente, juridicamente, para todos os fins. P: Diferencie vacatio legis direta e indireta. R: A Vacatio legis direta é a forma tradicional de vacatio. É a vacatio da própria norma. Toda norma jurídica quando é publicada tem sua norma de vacatio. Lado outro, a Vacatio legis indireta é a hipótese em que o prazo de vacatio de uma norma é alterado por outra norma publicada posteriormente. Nada mais é que uma prorrogação da vacatio. Ex: lei do desarmamento, art. 2031 do CC. Art. 2031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 2007. Assim dispunha o caput alterado: "Art. 2031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem assim os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 2006. (NR) (Redação dada ao caput pela Medida Provisória nº 234, de 10.01.2005, DOU 11.01.2005)" P: Como se deu a alteração dos prazos de usucapião alterados pelo NCC em relação àquelas situações em que o prazo já estava em curso na vigência da lei anterior? Os novos prazos criados pelo NCC, para aquelas situações que se iniciaram após a a sua vigência, aplicam-se normalmente? R: Nos termos do art. 2029, os prazos de usucapião extraordinária (de dez anos se o possuidor estabeleceu no imóvel sua moradia habitual ou nele realizou obras ou serviços de caráter produtivo) e de usucapião ordinária (de cinco anos se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base em transcrição constante do registro próprio, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico) sofrerão, até dois anos após a entrada em vigor do novo Código, um acréscimo de dois anos, pouco importando o tempo transcorrido sob a égide do Código Civil de 1916. TJSC: AC 595311 SC 2010.059531-1 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA COM PRAZO REDUZIDO. POSSE MANSA E PACÍFICA POR MAIS DE 12 ANOS, COM ANIMUS DOMINI. DEMONSTRADA A FUNÇÃO SOCIAL DO IMÓVEL. CUMPRIDOS OS REQUISITOS AUTORIZADORES DA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. RECURSO PROVIDO. Preenchidos os requisitos legais, quais sejam, a demonstração da função social do imóvel, o exercício de posse mansa, pacífica, ininterrupta, e com animus domini, pelo prazo de 12 anos, procedente a usucapião extraordinária com prazo reduzido, nos termos do parágrafo único do art. 1.238 e regra de transição do art.2029, ambos do Código Civil de 2002 P: Qual o grau de retroatividade do Novo Código Civil em relação aos negócios e atos constituídos antes de sua vigência? R: Nos termos do art. 2035, admite-se a chamada retroatividade mínima, ao admitir que os efeitos de atos anteriores sejam submetidos à regência da lei posterior. Podemos classificar os graus de retroatividade da seguinte forma: 1) Retroatividade máxima ou restitutória: a lei ataca fatos consumados. Verifica-se quando a lei nova prejudica a coisa julgada (sentença irrecorrível) ou os fatos jurídicos já consumados. Como ex., lembramos o art. 96, P.U., da Carta de 1937 que permitia o Parlamento rever a decisão do STF que declara a inconstitucionalidade de uma lei; 2) Retroatividade média: a lei nova atinge os efeitos pendentes de atos jurídicos verificados antes dela. Ou seja, a lei nova atinge as prestações vencidas mas ainda não adimplidas. Como ex., fala-se em uma lei que diminuísse a taxa de juros e se aplicasse aos já vencidos mas não pagos (prestação vencida mas ainda não adimplida); 3) Retroatividade mínima, temperada ou mitigada: a lei nova atinge apenas os efeitos dos fatos anteriores, verificados após a data em que ela entra em vigor. Trata-se de prestações futuras de negócios firmados antes do advento da nova lei. P: Qual foi o prazo de vacatio legis do Código Civil? R: Nos termos do art. 2.044. Este Código entrará em vigor 1 (um) ano após a sua publicação. P: Como se dá a contagem do prazo de vacatio legis? R: A contagem do prazo de vacatio inicia na data da publicação e a lei entra em vigor no dia subseqüente ao último dia de prazo. No último dia da vacatio a lei ainda não está em vigor! P: Fale sobre a polêmica do prazo de vigência do Novo Código Civil. Qual a data de sua vigência? R: Há uma incoerência ilegalidade no art. 2.044 do Código Civil de 2002, por ter estabelecido o prazo de "vacatio legis" da nova norma civil utilizando o critério anual: "um ano", na forma: "Este Código entrará em vigor 1 (um) ano após a sua publicação". Pelo art, 132 § 3o do CC, “os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência.” Assim, aplicando a forma de contar o prazo na vacatio teremos que o NCC entrou em vigor no dia 12/01/2003. O TST em recente julgado adotou essa posição: Processo: RR 878408820065020444 87840-88.2006.5.02.0444 Relator(a):Augusto César Leite de Carvalho Julgamento:29/02/2012 Órgão Julgador: 6ª Turma AGRAVO DE INSTRUMENTO. ACIDENTE DO TRABALHO OCORRIDO ANTES DA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. DANO MORAL. PRESCRIÇÃO. Restou demonstrada aparente violação do art. 2.028 do Código Civil de 2002. Agravo de instrumento provido para determinar o processamento do recurso de revista . RECURSO DE REVISTA. ACIDENTE DO TRABALHO OCORRIDO ANTES DA VIGÊNCIA DO CÓDICO CIVIL DE 2002. DANO MORAL. PRESCRIÇÃO. A presente reclamatória foi ajuizada em 24/3/2006, ou seja, após a vigência do novo Código Civil (12/1/2003). Assim sendo, deve-se aplicar a regra de transição prevista no art. 2.028 do NCC, que assim dispõe: - serão da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais de metade do tempo estabelecido na lei revogada -. In casu , como ainda não havia transcorrido mais da metade do prazo prescricional de 20 anos estabelecido na lei revogada (art. 177 do Código Civil de 1916) para as ações versando sobre reparação civil, aplica-se o prazo prescricional de 3 anos, previsto no art. 206, § 3º, V, do novo Código Civil. Recurso de revista conhecido e provido. Entretanto o §2º do art. 8º da Lei Complementar Federal n. 95/98, alterada pela LC n. 107/2001, determina expressamente que as leis brasileiras (todas elas) devem estabelecer prazo de vacância em dias, somente em dias (e não em anos ou em meses), com a cláusula "esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação". O que interessa para a discussão é o fato de que a matéria em questão (elaboração de diplomas normativos) tem reserva de lei complementar por expressa disposição constitucional (art. 59, parágrafo único, da CF). Assim, deve-se ler o art. 2.044 do novo Código Civil, como se tivesse estabelecido o prazo da vacância do diploma em 365 dias. Contando-se esse prazo em dias na forma do §1º, do art. 8º, da LC 95/98 (com inclusão da data da publicação e do último dia do prazo), chegamos ao dia 11 de janeiro de 2003 como de início da vigência do novo Código Civil (Lei Federal n. 10.406/2002). São 21 dias em janeiro de 2002, 28 dias em fevereiro, 31 dias em março, 30 em abril, 31 em maio, 30 em junho, 31 em julho, 31 em agosto, 30 em setembro, 31 em outubro, 30 em novembro e 31 em dezembro, totalizando 355 dias. Para os 365 dias da "vacatio legis", contam-se mais dez dias em janeiro de 2003, até o dia 10, alcançando-se o marco legal ou dies ad quem, termo final de contagem. É fácil entender: o Código Civil de 2002 foi publicado no Diário Oficial da União de 11 de janeiro de 2002. Os 365 dias da vacância, começando-se a contagem pelo próprio dia 11/01/2002, inclusive, levam-nos ao dia 10 de janeiro de 2003, inclusive. Logo, aplicando-se conjuntamente os §§1º e 2º do art. 8º, da LC 95/98, tem-se que o dia subseqüente, 11 de janeiro de 2003, é o da entrada em vigor do novo Código Civil, independentemente do conceito de ano civil previsto pela Lei n. 810, de 1949. Para o STJ o NCC entrou em vigor no dia 11/01/2003. Resp (Recurso Especial) n° 1168336 EMENTA. CIVIL E PROCESSO CIVIL. DIREITO AUTORAL. PRESCRIÇÃO. DIES A QUO. PRAZO. NOVO CÓDIGO CIVIL. REGRA DE TRANSIÇÃO DO ART. 2.028. CONTAGEM. 1. O art. 189 do CC/02 consagrou o princípio da actio nata, fixando como dies a quo para contagem do prazo prescricional a data em que nasce o direito subjetivo de ação por violação de direito, independentemente da efetiva ciência da vítima. 2. O art. 131 da Lei nº 5.988/73 revogou o art. 178, § 10, VII, do CC/16, pois regulou inteiramente a matéria tratada neste. 3. Revogada a Lei nº 5.988/73 pela Lei nº 9.610/98 e como o art. 111 da lei revogadora (que dispunha sobre prazo prescricional) foi vetado, a matéria atinente à prescrição das ações relacionadas a direitos autorais patrimoniais passou a ser regida pelo art. 177 do CC/16, aplicando-se o prazo prescricional de 20 anos, visto que não houve previsão expressa de repristinação do art. 178, § 10, VII, do CC/16, conforme exige o art. 2º, § 3º, da LICC. 4. O CC/02 não prevê um prazo prescricional específico para a violação de direitos do autor, de sorte que, com o seu advento, a matéria passou a ser regulada pelo art. 206, § 3º, V, que fixa um prazo prescricional de 03 anos para a pretensão de reparação civil, dispositivo de caráter amplo, em que se inclui a reparação de danos patrimoniais suportados pelo autor de obra intelectual. 5. Se, pela regra de transição do art. 2.028 do CC/02, há de ser aplicado o novo prazo de prescrição, o marco inicial de contagem é o dia 11.01.2003, data de entrada em vigor do novo Código Civil, e não a data do fato gerador do direito. Precedentes. 6. Recurso especial provido. 42. REGISTRO PÚBLICO Janaína (janaspinelli@gmail.com) P. O que é Registro Público? R. Denominação genérica dada a todo serviço concernentes aos registros instituídos por lei. Tais registros tem como norma geral a Lei n.º 6.015, de 31/12/1973, conhecida como LRP(Lei dos Registros Públicos). P. Qual a finalidade do Registro Público? R. O registro público busca dar autenticidade, segurança, eficácia, validade e publicidade aos atos jurídicos e contratos, além de constituir formalidades, essenciais ou não para a validade do ato em si mesmo, ou apenas para sua eficácia perante terceiros ( erga omnes). P. Qual a diferença entre autenticidade e veracidade? R. A autenticidade é qualidade do que é confirmado por ato de autoridade. O registro cria presunção relativa de veracidade; é retificável, modificável e, por ser o oficial receptor da declaração de terceiro, que examina por critérios predominantes formais, ele não dá autenticidade ao negócio causal ou fato jurídico que se origina, mas só ao próprio registro. P. Quais são os efeitos jurídicos do Registro Público? R. São três: constitutivos( constitui o direito), comprobatório e publicidade. P. Quanto às formalidades, é possível uma classificação? R. Sim, a formalidade do registro pode ser: formalidade essencial (eficácia inter partes); formalidade para mera oponibilidade perante terceiros (eficácia erga omnes); formalidade cautelar (autenticidade, segurança). P. De quem é a competência para legislar sobre Registros Públicos? R. Compete privativamente à União legislar sobre a matéria. P.É possível a delegação do serviço de registro e notarial? R. Sim, a delegação do serviço de registro e notarial (Art. 236, CF/88) é um ato administrativo complexo, irrevogável desde o ato perfeito e acabado da outorga, só podendo ser cassado nas hipóteses legais, obedecido o devido processo legal. O registrador e o notário não são servidores da administração direta, mas ocupem cargos públicos, conforme definiu o Pleno do STF. P. Quais são as espécies de registro público? R. São os seguintes: registro civil de pessoa natural, registro civil de pessoa jurídica, registro de títulos e documentos e registro de imóveis. P. Quais atos devem ser registrados no registro civil? R. Os atos de nascimento, adoção, casamento, conversão da união estável em casamento, óbito e natimorto. P. È possível anotação ou averbação de ofício? R. sim, as anotações e averbações obrigatórias serão realizadas de ofício, ainda que não requeridas. P.Quais são os princípios que regem o registro de imóvel? R. Princípios que regem o Registro de Imóveis. Publicidade; força probante (fé pública) ou presunção; princípio da legalidade; princípio da territorialidade, princípio da continuidade (pelo qual somente se admite o registro de um título se a pessoa que nele aparece como alienante é a mesma que figura como o seu proprietário); princípio da prioridade (que protege quem primeiro registra seu título); princípio da especialidade, previsto no art. 225 da LRP, que exige a minuciosa individualização, no título, do bem a ser registrado, princípio da inscrição, cuja idéia central é a de que a constituição, transmissão e desconstituição dos direitos reais sobre imóveis por atos inter vivos só se operam com a publicidade no registro imobiliário, o princípio da instância, que não permite que o oficial proceda a registros de ofício, mas somente a requerimento do interessado, ainda que verbal (LRP, art. 13). P. O que é dúvida? R. É o pedido de natureza administrativa, suscitado pelo oficial, a requerimento do apresentante de título imobiliário, para que o juiz decida sobre a legitimidade de exigência feita como condição de registro pretendido P. Defina Matrícula, Registro e Averbação? R. Matrícula é o ato que objetiva melhor individualizar os imóveis; exigindo-se a sua realização antes do registro, quando o imóvel sofrer a primeira alteração na titularidade após a sua vigência (arts. 176, § 1º, e 228 da LRP). Já o registro sucede à matrícula e é o ato que efetivamente acarreta a transferência da propriedade. O número inicial da matrícula é mantido, mas os subsequentes registros receberão numerações diferentes, em ordem cronológica, vinculados ao número da matrícula-base. Por fim, averbação é qualquer anotação feita à margem de um registro, para indicar as alterações ocorridas no imóvel. P. É necessário demonstrar interesse para obter certidão de nascimento de terceiro? R. Não, o art. 17 da LRP estabelece que qualquer pessoa pode requerer a certidão, sem informar o motivo do pedido. social (CF, art. 195, §6º); e b) lei que cria ou aumenta tributo (CF, art. 150, III, c). Nesses dois casos a lei só poderá entrar em vigor 90 dias após sua publicação. Importante mencionar que na contagem do prazo da vacatio deve ser incluído o dia da publicação e o último dia, devendo a lei entrar em vigor no dia seguinte (LC 95/98, art. 8º, §1º). P: O que é repristinação? É possível sua ocorrência? R. Repristinação é a restauração da vigência de uma lei anteriormente revogada em virtude da revogação da lei revogadora. Segundo o art. 2º, §3º, da LICC, salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido sua vigência, ou seja, o efeito repristinatório não é automático, sendo admissível apenas mediante a existência de cláusula expressa. P: O que são “antinomias jurídicas”? Quais os critérios para sua solução? R. As antinomias jurídicas caracterizam-se como o choque de duas normas jurídicas emanadas de autoridade competente. São três os critérios para solução desses conflitos: a) cronológico: norma posterior prevalece sobre norma anterior; b) especialidade: norma especial prevalece sobre norma geral; c) hierárquico: norma superior prevalece sobre norma inferior. P: Como se classificam as “antinomias jurídicas”? R. Quanto aos critérios de colisão, as antinomias podem ser classificas em: a) de primeiro grau: o choque envolve apenas um dos critérios de solução de conflito; b) de segundo grau: o choque envolve dois critérios de solução de conflito. Já quanto à possibilidade ou não de solução do conflito, classificam-se em: a) aparente: quando, de acordo com os três critérios de solução, há possibilidade de resolução do conflito; b) real: não se consegue resolver o conflito. ________ OBS.: Vale destacar que havendo conflitos de segundo grau envolvendo os critérios cronológico e da especialidade, prevalecerá o da especialidade; envolvendo os critérios cronológico e hierárquico, prevalecerá o hierárquico; (nesses casos o conflito é aparente). Contudo, havendo conflito de segundo grau, envolvendo os critérios da especialidade e hierárquico, haverá conflito real, pois a doutrina tradicional (v.g. Bobbio) aponta o hierárquico como o critério mais forte e, ao seu turno, o critério da especialidade está na CF/88 (princípio da isonomia). No caso de conflito real Maria Helena aponta duas soluções: 1- Legislativa (a edição de uma terceira norma para estabelecer qual prevalecerá); 2- Judicial (o aplicador do direito escolherá uma das duas normas, tendo como base os art. 4º e 5º da LICC – analogia, princípios gerais do direito e função social da norma). P: O que é a revogação de uma lei? Explique. R. Revogação é a perda de vigência de uma lei em razão do surgimento de outra lei no ordenamento, incompatível com a primeira (princípio da continuidade). É nula cláusula legal que estabelece a irrevogabilidade da lei. A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). Pode ser expressa, tácita (quando a nova lei é absolutamente incompatível com a anterior) ou global (quando a nova lei disciplina totalmente a matéria disciplinada pela lei anterior). Uma lei revogada, em alguns casos, pode ter validade, na hipótese, por exemplo, de direito adquirido. P: É possível que a lei seja válida, porém ineficaz? Se sim, em que situações isso pode ocorrer? R. Sim, a ineficácia de uma lei válida ocorre quando ela mantém sua vigência, mas não é mais aplicada. Isso ocorre nas hipóteses de: - Caducidade: superveniência de situação cronológica ou factual que torna a norma inválida (ex.: lei orçamentária após encerrado o exercício a que se refere) - Desuso: é a cessação do pressuposto de aplicação da norma (ex.: lei sobre a caça de um determinado animal que venha a extinguir); - Costume negativo ou contra legem: é o costume que contraria a lei. O costume não pode revogar a lei, mas pode gerar ineficácia (ex.: cheque pré-datado); - Decisão do STF em ADIn que declara a inconstitucionalidade da lei; - Resolução do Senado que cancela a eficácia de lei declarada inconstitucional em controle difuso; - Princípio da anterioridade da lei tributária, pois, uma vez publicada, sua eficácia permanece suspensa até o exercício seguinte; - Lei que altera o processo eleitoral entra em vigor na data de sua publicação, mas não tem eficácia em relação à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. P: O que diz o princípio da conciliação ou convivência das esferas autônomas? R. É o princípio que estabelece que lei geral só é revogada por lei geral, do mesmo modo a especial só é revogada por especial. Vale dizer que ele não é absoluto, pois pode haver cláusula expressa de revogação ou a lei pode ser, ao mesmo tempo, geral e especial. P: O que diz o princípio da segurança ou estabilidade social? R. É princípio constitucional que estabelece que a lei não pode retroagir para violar direito adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Está expressamente insculpido no art. 5º, XXXVI, da CRFB/88. P: O que são e quais são os meios de integração admitidos em nosso ordenamento? R. Pelo princípio da indeclinabilidade da jurisdição, o juiz é obrigado a decidir, ainda que não haja lei disciplinando o caso concreto. Não existe lacuna NO DIREITO (complexo de normas jurídicas), o que pode existir é lacuna NA LEI. Sendo a lei omissa, o juiz decidirá por analogia, costumes e princípios gerais do direito. Esses são os três mecanismos de integração estabelecidos no art. 4º da LICC. A doutrina menciona ainda a Equidade como mecanismo. - Analogia: é a aplicação, ao caso não previsto, de lei reguladora de situação semelhante. Não é forma de interpretação, mas sim forma de integração. Pode ser legal (aplicação de lei que trata de situação semelhante) ou jurídica (utilização de princípio geral do direito aplicado a caso semelhante). Leis restritivas de direito, leis excepcionais e leis de direito administrativo não admitem analogia; - Costumes: repetição de uma conduta (elemento objetivo) em razão da convicção de sua obrigatoriedade (elemento subjetivo); - Princípios gerais do direito: são as premissas éticas que inspiram a elaboração das normas jurídicas, é o substractum comum às diversas normas jurídicas [norma diretiva, é a que apresenta um princípio geral]; - Equidade: varia conforme sua função – a) na elaboração da lei se confunde com a ideia de justiça; b) na aplicação do direito significa a norma elaborada pelo juiz para o caso concreto, como se fosse o legislador, quando todas as outras regras de integração não são eficazes; c) na interpretação das lei é amenizar o rigor excessivo da lei, adaptando-a ao caso concreto. P: O que é um standard jurídico? R. Standard jurídico é o critério básico de avaliação de certos preceitos jurídicos indefinidos, ex.: honra, castigo imoderado, etc. Trata-se de “...um termo ou uma locução inseridas numa regra de direito, em referência a um estado ou uma qualidade da qual a identificação exige uma avaliação ou uma apreciação. O standard jurídico é uma noção de conteúdo variável que é intencionalmente utilizada pelo legislador para formular uma regra de direito. Desta maneira, o conteúdo de uma norma voluntariamente indeterminada será precisado em função das circunstâncias próprias a cada situação, tendo em vista responder às exigências de uma dinâmica social” (Orianne, P. Dictionnaire encyclopédique de théorie et de sociologie du droit, Paris: L.G.D.J., 1993, p. 581) 4. Pessoas naturais e jurídicas: capacidade; começo da personalidade e da existência legal; extinção e domicílio (ildankastermuniz@yahoo.com.br) P: Diferencie capacidade de direito, capacidade de fato e capacidade civil plena. R: A capacidade de direito ou de gozo é aquela necessária para o indivíduo ser sujeito de direitos e deveres na ordem privada, Todas as pessoas têm esta capacidade, sem distinção. Em resumo, em havendo pessoa, está presente tal capacidade, não importando questões formais como ausência de certidão de nascimento ou de documentos. A capacidade de fato ou de exercício é a aptidão para pessoalmente praticar atos da vida civil. Faltando a capacidade de fato, tem-se a incapacidade civil. Nem todos têm esta capacidade (ex.: absoluta ou relativamente incapaz). A capacidade civil plena é a reunião das capacidades de direito e de fato em relação a uma pessoa. Assim, uma pessoa pode ter capacidade de direito, mas não a possuir de fato, sendo sua capacidade civil relativa, e não plena. P: Diferencie legitimação, legitimidade e personalidade. R: Legitimação é a capacidade especial para determinado ato ou negócio jurídico. Ex: necessidade de outorga conjugal para venda de imóvel, sob pena de anulabilidade do contrato. Legitimidade é a capacidade processual, uma das condições da ação (art. 3º do CPC). Personalidade é a soma de caracteres da pessoa, ou seja, aquilo que ela é para si e para a sociedade. P: Defina nascituro? Quais as teorias existentes acerca da personalidade civil do nascituro? Explique-as. Identifique qual a teoria adotada pelo Brasil. R: Limongi França define nascituro como sendo o ente com existência intra-uterina, concebido, mas ainda não nascido. O nascituro é um embrião com vida intra-uterina. Há, basicamente, 3 teorias para explicar a situação jurídica do nascituro, quais sejam, a Teoria Natalista (Silvio Venosa, dentre outros), a Teoria da Personalidade Condicional (Clóvis Beviláqua, Washington de Barros Monteiro, dentre outros) e Teoria Conceptualista (Pontes de Miranda, Pablo Stolze Gagliano, dentre outros). A Teoria Natalista não prevê personalidade jurídica ao nascituro, eis que, de acordo com mencionada teoria, a personalidade surge com o nascimento com vida. Há reconhecimento de que o nascituro teria, apenas, expectativa de direitos. A Teoria se distancia da proteção ampla de direitos da personalidade. A Teoria da personalidade condicional é aquela pela qual a personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas os direitos do nascituro estão sujeitos a uma condição suspensiva (nascimento com vida), ou seja, são direitos eventuais. Esta teoria é apegada a questões patrimoniais, não respondendo ao apelo de direitos pessoais ou da personalidade a favor do nascituro. A Teoria conceptualista é aquela que sustenta que o nascituro é pessoa humana, tendo direitos resguardados pela lei. Para esta teoria, o nascituro tem direitos reconhecidos desde a concepção. É adotada a teoria conceptualista no Brasil. P: Do ponto de vista do nascituro, diferencie personalidade jurídica formal de personalidade jurídica material. R: A personalidade jurídica formal é aquela relacionada com os direitos da personalidade, o que o nascituro já tem desde a concepção. Em contrapartida, a personalidade jurídica material mantém relação com os direitos patrimoniais, e o nascituro só a adquire com o nascimento com vida. P: O que é estatuto jurídico do patrimônio mínimo? R: Trata-se de uma tese desenvolvida por Luiz Edson Fachin, segundo a qual, em uma perspectiva constitucional de promoção da pessoa, as normas civis devem resguardar, para cada pessoa, um mínimo de patrimônio, para que tenha vida digna. Ele entende que o princípio da dignidade da pessoa humana é aplicado no momento em que as normas garantem um mínimo de patrimônio para que as pessoas tenham uma vida digna. R: Diferencie mínimo existencial de mínimo vital ou de subsistência. R: Mínimo existencial não pode ser confundido com o que se tem chamado de mínimo vital ou mínimo de sobrevivência, de vez que este último diz respeito com a garantia da vida humana, sem necessariamente abranger as condições para uma sobrevivência física em condições dignas, portanto, de uma vida com certa qualidade. Mínimo existencial estabelece que o princípio da dignidade da pessoa humana não reclama apenas a garantia da liberdade, mas, também, um mínimo de segurança social, já que, sem os recursos materiais para uma existência digna, a própria dignidade da pessoa humana ficaria sacrificada. Em outras palavras, o mínimo existencial se refere aos elementos mínimos para que a pessoa viva de forma digna, enquanto que mínimo vital se refere aos elementos necessários para que o indivíduo viva, ainda que sem dignidade plena. P: Defina emancipação. R: Emancipação pode ser conceituada como sendo o ato jurídico que antecipa os efeitos da aquisição da maioridade e da consequente capacidade civil plena, para data anterior àquela em que o menor atinge a idade de 18 anos, para fins civis. Com a emancipação, o menor deixa de ser incapaz e passa a ser capaz. Todavia, ele não deixa de ser menor. P: Defina os conceitos de moradia, residência e domicílio, diferenciando-os. R: Moradia é o lugar em que a pessoa física se estabelece temporariamente. Residência é mais do que morada. É o lugar onde a pessoa física se estabelece com habitualidade. Uma pessoa pode ter mais de uma residência. Domicílio é o lugar em que a pessoa física fixa residência com ânimo definitivo, transformando-o em centro de sua vida jurídica e social. O que diferencia domicílio de residência é o ânimo de permanência, a definitividade. P: Quais as formas de extinção da pessoa física ou natural. R: A extinção da pessoa física ou natural se dá com a morte, que pode ser real ou presumida (com ou sem decretação de ausência). P: Defina pessoa jurídica. Fale sobre as teorias que buscam justificar a existência da pessoas jurídicas e indique a teoria adotada no Brasil? R: Pessoa jurídica é o grupo humano criado na forma da lei, e dotado de personalidade jurídica própria, para a realização de fins comuns. Duas grandes teorias se apresentam para explicar a existência de pessoas jurídicas, quais sejam, a corrente negativista e a corrente afirmativista. A corrente negativista nega ser a pessoa jurídica sujeito de direito. Não aceita a tipologia. É uma corrente radical. Não vigorou. A corrente afirmativista (reconhece a pessoa jurídica como sujeito de direito) divide-se em outras 3 teorias (Teoria da Ficção, Teoria da Realidade Objetiva ou Organicista e Teoria Realista Técnica). A Teoria da Ficção (Savigny) sustentava que a pessoa jurídica seria um sujeito com existência ideal, ou seja, fruto de técnica jurídica. Pessoa jurídica não seria uma atuação social, sendo uma construção abstrata. A Teoria da Realidade Objetiva (Beviláqua) afirma que pessoa jurídica não seria fruto da técnica jurídica, mas sim, um organismo vivo. A Teoria da Realidade Técnica (Ferrara) aproveita elementos das duas correntes anteriores afirmativistas. Afirma que, posto a pessoa jurídica seja personificada pelo direito, tem atuação social, na condição de sujeito de direito. Esta é a teoria adotada no Brasil. P. O registro da pessoa jurídica é declaratório ou constitutivo? R: O CC brasileiro, em seu artigo 45, deixa claro que o registro da pessoa jurídica é constitutivo da pessoa jurídica, com eficácia ex nunc, pois a existência legal das PJ’s começa com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. P: Defina o que são entes despersonalizados. R: São meros conjuntos de pessoas e de bens que não possuem personalidade própria ou distinta, não constituindo pessoas jurídicas. P: Como diferenciar uma sociedade de uma associação? R: Sociedade não se confunde com associação. Quando não há fim lucrativo no conjunto de pessoas constituído, tem-se a associação. Ao contrário, as sociedades visam sempre a um fim econômico ou lucrativo, que deve ser repartido entre os sócios. P: Como diferenciar uma associação de uma fundação? R: Associação não se confunde com fundação. Enquanto as associações são formadas por um conjunto de pessoas (corporações), as fundações representam um conjunto de bens. P: Quais os elementos que pressupõem a existência de uma fundação. R: Uma fundação é formada pelos seguintes elementos: a) afetação de bens livres; b) especificação dos fins; c) previsão do modo de administrá-los; d) elaboração de estatutos com base em seus objetivos e submetidos à apreciação do MP que os fiscalizará. P: O artigo 66, §1º, do CC estabelece que o MPF velará pelas fundações que funcionarem no DF ou em Territórios. Há vício de constitucionalidade nesta previsão, disposta no CC? Explique. R: Sim, há vício de constitucionalidade. O STF, nos autos da ADI 2794 entendeu pela inconstitucionalidade do mencionado dispositivo legal, eis que cabe a cada MP zelar pelas fundações localizadas em sua localidade. No caso de fundações que funcionam no DF ou em Territórios, caberá ao respectivo MPDF e dos Territórios zelar pelas mencionadas fundações. P: Como se dá a extinção da personalidade jurídica das pessoas jurídicas? R: Há, basicamente, 5 formas de extinção da pessoa jurídica. Extinção convencional: especialmente aplicada para sociedades. Ocorre quando os sócios estipulam desfazer a pessoa jurídica pediante distrato. Extinção administrativa: quando resulta da cassação da autorização de constituição e funcionamento de determinadas pessoas jurídicas. Extinção judicial: opera-se por meio de processo. Há um procedimento e uma sentença. Extinção legal: opera-se quando determinada por lei. Extinção pelo decurso do prazo: quando expira o prazo de sua existência. 5. Bens considerados em si mesmos; reciprocamente considerados; considerados em relação ao titular da propriedade (ildankastermuniz@yahoo.com.br) P: Diferencie bem de coisa. R: Coisa pode ser definida como tudo que não é humano. Bem pode ser definido como todas as coisas com interesse econômico e/ou jurídico. P: O que é o princípio da gravitação jurídica? R: O princípio da gravitação jurídica representa um princípio geral do direito civil e estabelece que o bem acessório segue com o principal, salvo disposição especial em contrário. P: Quais são os bens acessórios previstos no ordenamento jurídico brasileiro? R: Os bens acessórios, previstos no ordenamento jurídico, são os seguintes: a) Frutos: São bens acessórios que têm sua origem no bem principal, mantendo a integridade desse último, sem a diminuição da sua substância ou quantidade. Podem ser classificados como: Quanto à origem: I.1. naturais: decorrentes da essência da coisa principal, como as frutas de uma árvore; I.2. industriais: decorrentes de uma atividade humana, caso de um material produzido por uma fábrica; I.3. civis: decorrentes de uma relação jurídica e econômica, de natureza privada, também chamados de rendimentos. Ex: aluguéis. Quanto ao estado: II.1. pendentes: são aqueles que estão ligados à coisa principal, e que não foram colhidos; II.2. percebidos: são os colhidos do principal e separados; II.3. estantes: são aqueles que foram colhidos e encontram-se armazenados; II.4.percipiendos: são os que deveriam ter sido colhidos, mas não foram; II.5. consumidos: são os que já foram colhidos e já não existem mais. b) Produtos: são os bens acessórios que saem da coisa principal, diminuindo a sua quantidade e substância. c) Pertenças: são bens destinados a servir um outro bem principal, por vontade ou trabalho intelectual do proprietário. São bens que se acrescem, como acessórios à coisa principal. Apesar de acessórios, conservam sua individualidade e autonomia, tendo apenas como principal uma subordinação econômico-jurídica, pois sem qualquer incorporação vinculam-se ao principal para que atinja suas finalidades. d) Partes integrantes; são bens acessórios que estão unidos ao bem principal, formando com este último um todo independente, mantendo cada um sua integridade. Ex: lâmpada em relação ao lustre. O que diferencia uma pertença de uma parte integrante é que a pertença tem uma certa individualidade. e) Benfeitorias. São acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel visando a sua conservação (necessárias), aumento ou facilidade do uso (úteis) ou mero deleite (voluptuárias). P: Como se classificam os bens públicos, considerando-se a destinação dos mesmos? R: Os bens públicos se classificam em bens de uso comum do povo, bens de uso especial e bens dominicais ou dominiais. Bens de uso comum são os destinados à utilização do público em geral, sem necessidade de permissão especial, caso das praças, estradas, etc. Bens de uso especial são os edifícios e terrenos utilizados pelo próprio Estado para a execução de serviço público especial, havendo uma destinação especial, denominada afetação. Bens dominicais ou dominiais são os que constituem o patrimônio disponível e alienável da pessoa jurídica de direito público. Não estão afetados a uma atividade pública. 6. Bens quanto a possibilidade de comercialização. Mariana Sena (mspgv27@gmail.com) P: O que significam bens fora do comércio? R: São aqueles considerados inalienáveis, que não podem ser transferidos de um acervo patrimonial a outro ou insuscetíveis de apropriação. P: Classifique os bens quanto à possibilidade de serem ou não comercializados R: Quanto à possibilidade de serem ou não comercializados, os bens podem ser a) naturalmente indisponíveis: insuscetíveis de apropriação pelo homem, como o ar atmosférico, a água do mar, etc.; b) legalmente indisponíveis: são os que, apesar de suscetíveis de apropriação pelo homem, têm sua comercialidade excluída pela lei, para atender aos interesses econômico-sociais, à defesa social e à proteção de determinadas pessoas; poderão ser alienados, por autorização legal apenas em certas circunstâncias e mediante determinadas formalidades. São os bens de uso comum e especiais, bens dotais, bens de incapazes, bens de família, móveis e imóveis tombados etc. São ainda legalmente inalienáveis, os valores e direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a moral, bem como os órgãos do corpo humano, que a Constituição proíbe a comercialização; c) indisponíveis pela vontade humana: são os que lhes impõe cláusula de inalienabilidade, temporária ou vitalícia, nos casos e formas previstos em lei, por ato inter vivos ou causa mortis. São os bens deixados em testamento ou doados com cláusula de inalienabilidade. 7. Bens de família legal e bem de família convencional. Mariana Sena (mspgv27@gmail.com) P: Faça uma distinção entre bem de família legal e bem de família convencional, mencionando as características de cada um dos institutos. R: O bem de família voluntário está previsto no CC-02 (a partir do art. 1711). É aquele instituído segundo o princípio da autonomia privada, por ato de vontade do casal, da entidade familiar ou de terceiro, mediante registro no cartório de imóveis. Constituído o bem de família voluntário, surgirão 2 efeitos fundamentais: a impenhorabilidade limitada (art. 1715) e a inalienabilidade relativa do imóvel residencial protegido (art. 1717). Podem ser constituídos como bem de família voluntário o prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, e os valores mobiliários (rendas). O valor do bem afetado não pode ultrapassar o teto de 1/3 do patrimônio líquido dos instituidores. Já o bem de família legal está previsto na lei 8009/90. Possui alcance social mais abrange do que o bem de família voluntário, uma vez que a referidada lei consagra a imediata impenhorabilidade legal do bem de família sem necessidade de inscrição voluntária em cartório e não exige a observância do teto de 1/3 do patrimônio líquido. Também não existe inalienabilidade do bem de família legal, mas tão somente a sua impenhorabilidade. Nos termos do art. 5º, parágrafo único, da lei 8009/90, havendo dois imóveis residenciais, a proteção automática do bem de família legal recairá no de menor valor, salvo se o outro imóvel houver sido inscrito como bem de família voluntário. A norma que consagra o bem de família legal é de ordem pública. Isso justifica a súmula 205 do STJ, a qual confere eficácia retroativa à lei 8009/90, permitindo que a proteção automática do bem de família legal atinja, inclusive, as penhoras constituídas antes da sua entrada em vigor. Trata-se da denominada retroatividade motivada ou justificada, em prol das normas de ordem pública. Por fim, o bem de família é irrenunciável, ou seja, o seu oferecimento à penhora, não torna o bem objeto de constrição. P: Qual a extensão da proteção legal do bem de família consagrado na lei 8009/90? R: Art. 1º e art. 2º da lei 8009/90. O STJ, em mais de uma oportunidade, julgou no sentido de permitir, em determinadas situações, o desmembramento do bem de família para efeito de penhora (Resp 207693/SC). Convém mencionar também que a Corte Superior tem admitido a impenhorabilidade da renda obtida pela locação de um imóvel considerado bem de família (Resp 439920/SP). É o exemplo do casal com dificuldades financeiras que se muda para casa da família, colocando o imóvel para alugar com o fim de viver com a renda do aluguel. P: Que tipos de bens móveis estão protegidos pela previsão da lei 8009/90? R: Segundo o STJ (Resp 218882/SP), televisão, máquina de lavar, antena parabólica, aparelho de ar condicionado, computador etc. Visa-se proteger o patrimônio mínimo da família. Quanto à vaga de garagem, o STJ possui entendimento no sentido de que a vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora (súmula 449). P: A impenhorabilidade legal do bem de família é absoluta? R: Não, pois o art. 3º da lei 8009/90 consagra exceções ao bem de família. Quanto ao inciso V do mencionado dispositivo de lei, é necessário ressaltar que o STJ assentou entendimento no sentido de que não se pode invocar a proteção do bem de família em face de execução de hipoteca constituída pelos próprios devedores (AgRg no Ag 1152734/SP). De modo diferente julgou a Corte Superior na situação em que o devedor, no curso de uma execução, apenas indicou o bem à penhora. Neste caso, poderá posteriormente invocar a proteção do bem de família (o bem de família é irrenunciável). Por fim, insta mencionar a súmula 364 do STJ, que consagra a proteção do bem de família para aqueles que vivem sozinhos. 8. Fato jurídico stricto sensu. Renato Grilo P: Qual o conceito de Fato Jurídico? R: Fato Jurídico é todo acontecimento, de origem natural ou humana, que desencadeia a extinção, modificação e conservação de direitos. P: Classifique em subcategorias os Fatos Jurídicos em sentido AMPLO. R: Os fatos jurídicos em sentido amplo compreendem as seguintes subcategorias: os fatos jurídicos em sentido estrito, o ato-fato jurídico, o ato ilícito e os atos lícitos. Estes últimos, por sua vez, se dividem em atos meramente lícitos e negócio jurídico. Segundo a doutrina de Stolze e Pamplona Filho, detalhando os conceitos: “parte-se dos fatos – ordinários e extraordinários – em que a intervenção humana é inexistente (fatos jurídicos em sentido estrito), passando por aquelas situações em que, embora a atuação do homem seja da substância do fato jurídico, não importa para a norma se houve ou não manifestação de vontade em praticá-lo (ato-fato jurídico) até chegar, finalmente, nas situações em que se destaca juridicamente a ação da pessoa, seja com consequências jurídicas impostas pela lei e não escolhidas pelas partes (ato jurídico em sentido estrito ou meramente lícito), seja pela regulamentação da autonomia privada (negócio jurídico).” P: Conceitue Fato Jurídico em sentido ESTRITO, diferenciando os acontecimentos ordinários e extraordinários que o compreendem. R: Todo acontecimento NATURAL que desencadeia efeitos jurídicos, extinguindo, conservando e modificando direitos, está abrangido no conceito de Fato Jurídico em sentido Estrito. Sempre que uma chuva cai ou uma ventania sopra, teremos apenas um efeito natural, exceto quando desses eventos decorrem danos ao patrimônio de alguém que, por exemplo, seja acobertado por uma apólice de seguros. Neste caso, os eventos naturais descritos passam a surtir efeitos jurígenos, nascendo a pretensão reparatória pelo beneficiário segurado. Todas as ocorrências de ordem extemporânea, como as tempestades, são consideradas fatos jurídicos em sentido estrito extraordinários sempre que deles decorram efeitos jurídicos. Por outro lado, fatos naturais como o tempo e a morte serão classificados como fatos jurídicos em sentido estrito ordinários. Trata-se, como se vê, de eventos corriqueiros dos quais se extrai consequências jurídicas. O tempo, v. g., tanto influencia na aquisição de direitos (usucapião – prescrição aquisitiva), como na extinção (prescrição extintiva). 9. Ato jurídico em sentido estrito. Renato Grilo P: O que vem a ser o Ato Jurídico em Sentido Estrito e quais os exemplos que podem ilustrá-lo? R: O ato jurídico em sentido estrito constitui simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos. Nesse tipo de ato não existe propriamente uma declaração de vontade manifestada com o propósito de atingir, dentro do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos pelo agente (como no negócio jurídico), mas sim um simples comportamento humano deflagrador de efeitos previamente estabelecidos por lei. Em suma: essa espécie de ato jurídico lícito apenas concretiza o pressuposto fático contido na norma jurídica. Podemos citar como exemplo dessa espécie jurídica o ato de fixação de domicílio ou quando alguém, numa pescaria, fisga um peixe, dele se tornando proprietário graças ao instituto da ocupação. 10. Negócio jurídico: elementos essenciais gerais e particulares; elementos acidentais; defeitos; forma e prova; nulidade e anulabilidade. Rodolfo Cursino (dolfobc@hotmail.com) P: Diferencie fato jurídico, ato jurídico, negócio jurídico e ato jurídico stricto sensu? R: O fato jurídico é uma ocorrência que interessa ao direito, que possui relevância jurídica, esse fato pode ser natural ou humano. O ato jurídico caracteriza-se como um fato jurídico com elemento volitivo e conteúdo lícito. O negócio jurídico é um ato jurídico em que há uma composição de interesse das partes com uma finalidade específica, “é toda emissão de vontade em harmonia com o ordenamento jurídico com o objetivo de criar, modificar ou extinguir relações ou situações jurídicas”. Ato jurídico stricto senso, quando houver objetivo de mera realização da vontade do titular de um determinado direito, não havendo a criação de instituto jurídico próprio para regular direitos e deveres. No ato jurídico stricto senso os efeitos da manifestação de vontade estão predeterminados pela lei. P: o que é um ato-fato jurídico? Exemplifique. R: Segundo a doutrina são atos ou comportamentos humanos em que não houve vontade, ou se houve, o direito não a considerou, é a lei que os faz jurídicos e lhe confere consequências ou efeitos, não importa se houve a intenção ou não de praticar o ato. Um exemplo é uma criança que compra um doce. P: em que consiste a escala ponteana? O cc/02 adotou tal estrutura? R: Segundo essa escala o negócio jurídico tem três planos, o da existência, validade e da eficácia. Nesse sentido, para que o negócio jurídico seja existente deveria possuir como pressupostos agente, vontade, objeto, forma. No plano da validade são necessários: capacidade do agente, liberdade da vontade ou consentimento, objeto lícito, possível e determinável, adequação das formas. No plano da existência, tem-se: condição, termo, consequências do inadimplemento negocial e outros elementos. Assim, de acordo com o entendimento de pontes de mirante para que se verifiquem os elementos de validade é necessário que o negócio seja existente e para o negócio ser eficaz deve ser existente e válido. Contudo, é possível que o negócio seja existente, inválido e eficaz, e que esteja gerando efeitos, como ocorre com um negócio jurídico anulável que esteja gerando efeitos. O cc/02 não adotou integralmente a escala ponteana, já que não adotou o plano da existência, para o cc o plano da existência está contido no da validade. P: quais os elementos principais e acidentais do negócio jurídicos, segundo o cc/02? R: No plano da validade tem-se, agentes capazes, vontade livre e consciente, objeto lícito, possível, determinado ou determinável, forma prescrita ou não defesa em lei. O negócio jurídico que não se enquadra nesses elementos de validade é, em regra, nulo. No plano da eficácia, encontram-se os elementos relacionados à suspensão e resolução de direitos e deveres das partes envolvidas, são elementos de eficácia, condição, termo, encargo, regras relativas ao inadimplemento do negócio jurídico, juros, cláusula penal, e perdas e danos, regime de bens do negócio jurídico. Os elementos acidentais são aqueles que podem ser adicionados pelas partes para modificar suas as consequências naturais do negócio jurídico, esses elementos estão no plano da eficácia. P: qual a norma aplicável aos negócios jurídicos constituídos antes da edição do cc/02 mas que ainda produzem efeitos? R: Tal problemática é solucionada pelo art. 2.035 do cc/02, uma vez que determina que em relação à validade dos negócios jurídicos deve ser aplicada a norma vigente no momento de sua celebração, ou seja, as regras relativas à capacidade das partes, legitimação, vontade livre, licitude do objeto, forma prescrita em lei. Quanto ao plano da eficácia, devem ser aplicadas as normas vigentes quando da produção de seus efeitos, assim no que concerne à condição, termo, encargo, juros, multas, devem ser aplicadas as normas vigentes atualmente. P: o que são condições? O que são condições potestativas? Diferencie as subespécies dessas condições. R: Condições são eventos futuros e incertos a que estão subordinados os efeitos dos negócios jurídicos. As condições potestativas são aquelas que dependem da vontade humana, podem ser subclassificadas em: condições meramente potestativas, o evento futuro e incerto depende puramente da vontade de uma das partes, não sendo arbitrária, porque essa vontade de uma das partes, por sua vez, depende de um fator ou de um elemento externo ,em um contrato de locação, prevista uma condição de que o contrato será prorrogado se o inquilino quiser; há o fator externo que consistirá no sucesso do negócio prestado por ele. dependem da vontade de duas pessoas, sendo lícitas. Por outro lado, as condições puramente potestativas dependem de uma vontade unilateral, sujeitando-se ao puro arbítrio de uma das partes. P: o que é a reserva mental? E quais as sua consequências? R: Parte da doutrina entende que é um vício do negócio jurídico (art. 110). É a divergência entre a vontade interna e a vontade declarada, assim, o indivíduo reserva mentalmente o que quer, a manifestação da vontade não coincide com a real vontade do sujeito. Ressalte-se que o cc fala que o negócio jurídico é válido. Está no plano da manifestação da vontade. Se a reserva mental não for conhecida do destinatário, ela não tem relevância. Somente terá relevância se for do conhecimento do destinatário. Se a outra parte aderir, poderá haver a simulação. O cc/02 tratou como um problema de manifestação em que pese a posição da doutrina como vício. A reserva mental pode ser dos seguintes tipos: 1) conhecida: o outro contratante sabe da reserva mental e adere a ela. Esse ato é equiparado à simulação. Existe doutrina minoritária (min. Moreira alves), a entender que enquanto a reserva estiver escondida, o negócio é mantido, mas quando a outra parte conhece, o negócio jurídico é inexistente. Pablo discorda dessa posição, porque não é vício que será verificado no plano da existência. 2) desconhecida: o outro contratante desconhece a reserva mental. O ato é existente e subsiste, ou seja, não é capaz de anular o negócio jurídico. P: quais as diferenças entre termo, encargo e condição? R: A condição é o acontecimento futuro e incerto, que subordina a produção dos efeitos de um negócio jurídico, suspende tanto o exercício como a aquisição do direito, contudo permite atos destinados à conservação do direito. O termo é elemento acidental do negócio jurídico, que subordina a sua eficácia a evento futuro e certo (ou seja, vai acontecer), o termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito o encargo é a imposição de uma obrigação ao beneficiário de uma liberalidade (testamento e doação), um ônus que limita a liberalidade. Exemplo: doar a casa com obrigação de cuidar de crianças. É elemento típico de negócios gratuitos. É um ônus que se atrela a uma liberalidade maior. O encargo não impede a aquisição do direito (artigo 136).o encargo pode ser uma obrigação de dar, fazer ou não-fazer. Ele também deve sempre ser lícito. E o encargo não suspende nem o exercício nem a aquisição de direitos. Note-se que o tratamento dispensado à condição ilícita é diferente do dispensado ao encargo, na medida em que, nela há a invalidação de todo o negócio, já no encargo, ele é afastado e será mantido o negócio jurídico. Ou seja, diferentemente da condição suspensiva, regra geral, o encargo ilícito ou impossível deve ser desconsiderado, mantendo-se o negócio jurídico. P: o motivo pode acarretar a nulidade do negócio jurídico? R: O motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito (se o motivo permanecer na esfera pessoal do agente, não é causa de nulidade do negócio jurídico). Há autores que diferenciam causa e motivo do negócio jurídico. A causa seria a finalidade declarada do negócio, e o motivo o conjunto de razões internas – pessoais – que levaram as partes à celebração do nj. Ou seja, o motivo, por ser interno, subjetivo, em princípio não anularia o nj se afeto à somente uma das partes. Caso seja ilícito e comum a ambas as partes, teria força para anulá-lo. A causa é comum a todos os negócios jurídicos da mesma espécie (ex.: causa de um contrato de locação seria a transferência da posse mediante recebimento do valor; causa de uma compra e venda é a transferência de propriedade mediante pagamento do preço). Ela não interferiria na validade do negócio jurídicoj. P: Quais são as hipóteses de nulidade do negócio jurídico? R: Agente absolutamente incapaz: incapacidade deve ser absoluta. For ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto, o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito. Não revestir a forma prescrita em lei. Exemplo: escritura pública de compra e venda de imóveis com valor superior a 30 sm. For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade (é hipótese muito próxima da prevista no item anterior). Tiver por objetivo fraudar lei imperativa, difere da simulação, porque aqui, o negócio é de verdade, mas viola lei imperativa. Essa fraude à lei é muito genérica, ampla, não há uma vítima específica, ocorre muito nos âmbitos do direito trabalhista e direito tributário. A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática sem cominar sanção. O art. 167 contempla outra hipótese específica de nulidade: a simulação, caracterizada pela manifesta desconformidade entre a vontade declarada pelas partes e a vontade concretamente pretendida por elas. Enfim, o desajuste entre vontade real e a vontade afirmada negocialmente. Ressalte que no código civil de 1916, ao contrário do cc/2002, a simulação era causa de anulabilidade. P: Quais são os efeitos da nulidade do negócio jurídico? Em que consiste a conversão do negócio jurídico? R: Em virtude da gravidade do vício infringido, violado, considera o ordenamento jurídico que o ato ou negócio nulo não produza qualquer efeito jurídico, podendo, inclusive, ser reconhecido como tal ex officio, pelo próprio juiz, ou a requerimento do interessado ou do ministério público, quando tenha de intervir. Como se trata de vício não convalidável, o negócio jurídico não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo (art. 169). Percebe-se, assim, em que pese as antigas divergências doutrinárias, que o ato nulo não prescreve. Ressalte-se que doutrina moderna sustenta que o ato, mesmo nulo, pode produzir efeitos, desde que não seja requerida sua invalidação, o que pode ser facilmente perceptível na prática (celebrado contrato nulo, mas que não se suscite sua nulidade, ele produzirá sim efeitos). O art. 170 do código civil trouxe o instituto da conversão substancial, admitindo uma verdadeira recategorização de determinado negócio para outro de diferente espécie, respeitadas determinadas circunstâncias e os requisitos de validade. Assim, se o negócio nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. (arts. 169 e 170 cc). A conversão substancial consiste na transformação do negócio jurídico nulo em outro negócio jurídico válido, desde que respeitados dois requisitos: a) Presença dos requisitos do negócio jurídico novo no negócio jurídico nulo (negócio jurídico de compra e venda de imóvel nulo porque feito por escritura particular) e b) As partes devem querer o negócio jurídico novo se soubessem da nulidade (pode ser aproveitada como promessa de compra e venda, desde que se possa concluir que as partes, se soubessem da necessidade de escritura pública o teriam feito) Esse instituto tem pertinência com o princípio da conservação. A conversão substancial é uma medida sanatória, por meio da qual se aproveitam os elementos materiais do negócio jurídico inválido, convertendo-o em outra categoria de negócio válido e de fins lícitos. A conversão substancial aplica-se, em regra, apenas aos negócios jurídicos nulos, uma vez que os anuláveis podem ser convalidados pela simples manifestação de vontade das partes interessadas, sendo desnecessária a aplicação da teoria do aproveitamento (excepcionalmente, aplica-se aos atos anuláveis que não sejam passiveis de ratificação). Tratando-se de aproveitamento de ato nulo, clama reconhecimento judicial, se presentes seus pressupostos. Somente o juiz, portanto, pode declarar o aproveitamento da vontade manifestada em negócio nulo. P: Quais são os efeitos das anulabilidades dos negócios jurídicos? R: No que pertine às anulabilidades, tem-se presente, basicamente, o interesse privado, não havendo, via de consequência, gravidade tão relevante quanto na hipótese de nulidade. Tratando-se de vícios de natureza privada, ato anulável admite a confirmação, que pode ser expressa ou tácita, resguardando-se, os direitos de terceiros. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo (art. 173, CC). Caso o devedor já tenha cumprido parte do negócio, ciente do vício que o maculava, a confirmação expressa será dispensada (art. 174, CC). (outra hipótese do princípio da conservação dos negócios jurídicos). O ato ou negócio jurídico anulável produzirá regulares efeitos até que lhe sobrevenha decisão, no sentido de impedir que continuem se produzindo. A anulabilidade, pois, é reconhecida por meio de ação anulatória, ajuizada pelo interessado exclusivamente, cuja natureza é constitutiva negativa (desconstitutiva), produzindo efeitos ex tunc (retroativos), uma vez que, o art. 182 do CC as partes deverão ser reconduzidas ao estado que antes dele se encontravam. Ademais, somente as partes e interessados poderão suscitá-la, não sendo possível ao juiz conhecê-la de ofício ou ao Parquet suscitá-la quando tiver de intervir no processo. Em regra, o prazo para pleitear a anulação de negócio jurídico, nos temos do art. 178, é de quatro anos. Entretanto, quando a lei dispuser que determinado ato é anulável sem estabelecer prazo para pleitear-lhe a anulação, considerar-se-á que o prazo será de dois anos, contados a partir da data da conclusão do ato ou do negócio jurídico (art. 179, CC). 11. Ato Ilícito. Renato Saldunbides Jardim (resaldunbides@gmail.com) P- Conceitue Ato Ilícito? R: Trata-se de um ato cujos potenciais efeitos são contrários à norma jurídica. Assim, é a norma que vai valorar determinado ato como ilícito e prever seus efeitos. Cumpre esclarecer que o CC 2002 promoveu um afastamento entre ato ilícito e responsabilidade civil, dando-lhe uma autonomia conceitual e independência de efeitos. Alias, em virtude dessa autonomia, temos que nem todo ato ilícito gera necessariamente responsabilidade. P: Cite os possíveis efeitos dos Atos Ilícitos? R: Para o CC 16, todo ato ilícito tinha por consequência o dever de indenizar (ou seja, responsabilidade civil). Já para o CC 02, a responsabilidade é apenas um dos possíveis efeitos dos atos ilícitos. Podemos citar também: a) Efeito indenizante – dever de reparar o dano; b) Efeito caducificante – perda ou restrição de um direito. Ex: destituição ou suspensão do poder familiar; c) Efeito invalidante – gera a nulidade ou anulabilidade de um negócio jurídico; d) Efeito autorizante – permite o exercício de direitos pela contraparte. Ex: atos de ingratidão pelo donatário ao doador. Este pode ajuizar ação de revogação da doação. P: Discorra sobre as espécies de Ato Ilícito? R: O NCC trabalhou com 2 (duas) espécies de ato ilícito: a) Subjetivo – art. 186 – traz conceito culposo e pressupõe: conduta, culpa (lato sensu = culpa em sentido estrito e dolo), dano e nexo causal; b) Objetivo – art. 187 – não é baseado na culpa, é, em verdade, ato ilícito comportamental. Ocorre quando alguém exerce um direito excedendo os seus limites. A diferença entre os dois é que no Subjetivo o ato nasce e morre ilícito. Já no Objetivo, o ato nasce lícito, mas torna-se ilícito pelo seu exercício anormal, irregular, abusivo. A doutrina apelidou este ato ilícito Objetivo como Abuso de direito. Essa doutrina Surgiu na França, no emblemático caso dos balões/dirigíveis. Quando o ato é ilícito pq abusivo, se seu efeito for indenizante, a responsabilidade civil será Objetiva. Ver Enunciado 37 CJF. P: Fale sobre as principais espécies de Abuso de Direito? R: a) “Venire contra factum proprium” – É modalidade de Abuso de Direito caracterizada pela prática de um comportamento (exercício de um direito – lícito) em afronta a uma expectativa criada de que aquele direito não seria exercido. Trata-se da proibição de comportamento contraditório, que decorre da boa fé objetiva. Ex: art 330 CC e o instituto da preclusão lógica do Processo Civil. STF/STJ têm admitido. b) “Supressio” e “surrectio” – São subtipos do “venire”. Na “supressio” ocorrerá a supressão da possibilidade do exercício de um direito pelo titular, por ter ele criado em alguém a legítima expectativa de poder exercer aquele direito em seu lugar. Justamente essa legítima expectativa criada é que consiste a “surrectio”. Assim, temos que a “supressio” e a “surrectio” são verso e reverso da mesma moeda. Percebe-se que a diferença para o “venire” decorre que neste o titular cria a expectativa de que não vai exercer determinado direito – nem ele, nem ninguém – mas surpreendentemente o exerce. Já na “supressio”, o titular cria a expectativa de que o direito não Sera exercido por ele, mas será por outra pessoa,, para quem ocorre a “surrectio”. c) “Tu quoque” ou “estoppel” – É a expressão do “venire” no campo das obrigações contratuais, pois proíbe o comportamento contraditório entre os contraentes. É a limitação do exercício de direitos contratuais para evitar que comportamentos inéditos de uma das partes surpreendam a outra. Ex: exceção do contrato não cumprido (art. 476 CC) d) “substancial performance” – É também conhecido como Adimplemento Substancial, inadimplemento mínimo ou inadimplemento irrisório. Consiste na vedação de que o credor utilize seu direito de rescindir o negócio (art. 389 e 395 CC) quando o inadimplemento do devedor for mínimo. Neste caso, o credor não pode requerer a rescisão, mas deverá promover a execução. Há precedentes no STJ. P: É possível alegar “venire contra factum proprium” no caso de oferecimento de bem de família à penhora em execução? R: Essa questão ocorre quando durante o processo de execução, o executado oferece voluntariamente o bem de família à penhora e depois diz que o bem oferecido é impenhorável. Fredie Didier entende que é caso típico de “venire”, pois para ele, o executado ao oferecer o bem, renuncia à impenhorabilidade. O STJ entende diferente dizendo que é possível ao executado invocar a impenhorabilidade mesmo após ter oferecido voluntariamente o bem. Fundamento: moradia é direito fundamental, portanto, irrenunciável,