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FORUM: Caso complexo - Danrley Anderson Danrley Anderson é um recém-nascido (RN) de 15 dias de vida que já saiu ictérico da maternidade e vem piorando, segundo a mãe. Diurese e evacuação presentes e de coloração normal. Há uma semana, a mãe introduziu leite artificial durante a noite. Segundo a enfermeira Rita, Danrley Anderson perdeu um pouco de peso e a icterícia dava para só observar. No caso em questão, Danrley Anderson já está com 15 dias e ainda continua ictérico, exigindo assim uma investigação etiológica. Quais as as causas de icterícia no neonato? Qual o papel do aspecto das fezes e urina para ajudar no diagnóstico? A icterícia neonatal pode ser causada por diversos fatores, que podem ser classificados em fisiológicos e patológicos. 1. Icterícia Fisiológica A icterícia fisiológica é a forma mais comum e, normalmente, ocorre nos primeiros dias de vida, principalmente entre o 2º e o 4º dia. Ela é geralmente benigna e se resolve espontaneamente até o 7º ou 14º dia, dependendo de o bebê ser a termo ou prematuro. Algumas das causas incluem: Imaturidade do fígado: O fígado do recém-nascido é imaturo e ainda não possui a capacidade total de metabolizar e excretar a bilirrubina de maneira eficiente. Degradação acelerada das hemácias: No período neonatal, as hemácias têm uma vida útil mais curta, o que resulta em maior produção de bilirrubina. No entanto, como Danrley Anderson apresenta icterícia com 15 dias de vida, o quadro já ultrapassa o período esperado para a icterícia fisiológica, indicando a necessidade de investigação de outras causas 2. Icterícia Patológica A icterícia patológica, como a de Danrley Anderson, ocorre por causas subjacentes que exigem investigação. As principais causas incluem: Doença Hemolítica Perinatal (Incompatibilidade sanguínea): A incompatibilidade entre os tipos sanguíneos da mãe e do bebê, como a incompatibilidade de grupo ABO ou Rh, pode causar a destruição das hemácias do bebê, resultando em aumento da bilirrubina. Deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD): A deficiência dessa enzima genética leva à hemólise de hemácias e à liberação excessiva de bilirrubina. Síndrome de Gilbert: É uma condição genética benigna em que o fígado tem uma capacidade reduzida de metabolizar a bilirrubina, podendo causar um aumento moderado. Síndrome de Crigler-Najjar: Deficiência enzimática grave da bilirrubina-uridina difosfato glicuronosiltransferase (UGT1A1), resultando em níveis elevados de bilirrubina indireta. Atresia Biliar: Obstrução das vias biliares que impede a excreção da bilirrubina e resulta em icterícia persistente. Infecções neonatais: Infecções como septicemia ou meningite podem afetar o metabolismo da bilirrubina. Hipotireoidismo congênito: Deficiência de hormônios tireoidianos, que pode interferir no processamento da bilirrubina. Além disso, a introdução de leite artificial, como mencionado no caso de Danrley Anderson, pode ser um fator agravante em casos de icterícia por amamentação. A insuficiência de leite materno pode levar à desidratação e à dificuldade na excreção da bilirrubina, o que pode resultar em níveis elevados da substância. O Papel das Fezes e Urina no Diagnóstico O aspecto das fezes e urina é fundamental para a avaliação diagnóstica da icterícia neonatal, pois essas características podem fornecer pistas sobre a causa subjacente da condição. 1. Fezes Fezes normais: Nos bebês que estão recebendo leite materno ou fórmula, as fezes geralmente têm uma coloração amarela ou dourada, o que indica a presença de bile e a excreção normal de bilirrubina. Fezes pálidas ou esbranquiçadas: Fezes de cor pálida ou esbranquiçada podem sugerir atresia biliar, uma condição grave em que as vias biliares do bebê estão obstruídas, dificultando a excreção da bilirrubina. Nesse caso, a bilirrubina não consegue ser excretada pelas fezes, acumulando-se no sangue, o que causa a icterícia. 2. Urina Urina normal: A urina do recém-nascido saudável deve ser de cor amarela clara, indicando que a bilirrubina está sendo excretada adequadamente pelo fígado e pelas vias biliares. Urina escura ou cor de chá: Urina de cor escura pode ser um sinal de que a bilirrubina não está sendo adequadamente eliminada pelo trato digestivo e está sendo excretada pela urina. Esse tipo de urina pode ser indicativo de icterícia obstrutiva, como ocorre na atresia biliar ou em outras condições hepáticas, onde há acúmulo de bilirrubina no organismo. Referências bibliográficas JÚNIOR, Dioclécio C.; QUEIMA, Dennis Alexander R.; LOPEZ, Fábio A. Tratado de pediatria. v.1. 5. ed. Barueri: Manole, 2021. E-book. p.Capa. ISBN 9786555767476. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786555767476/. Acesso em: 15 mar. 2025.