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O DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Andrea Rapoport Gabriel de Andrade Junqueira Filho Gládis Elise Pereira da Silva Kaercher Maura Maria Sá de Mello Patrícia Brum Machado Susana Rangel Vieira da Cunha Editora MediaçãoCoordenação Editorial: Jussara Hoffmann Assistente Editorial: Luana Aquino Revisão: Franciane de Freitas Capa e Projeto Gráfico: Setor Editorial Mediação/ Júlia Teles Impressão: Pallotti São Leopoldo Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D536 O dia a dia na educação infantil / Andrea Rapoport ... [et al.]. - 2. ed. - Porto Alegre : Mediação, 2014. 176 p. ; 25 cm; Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7706-071-9 1. Educação. 2. Educação de crianças. 3. Crianças - Desenvolvimento. 4. Crianças - Adaptação escolar. 5. Merenda escolar. 6. Professores - Formação. I. Rapoport, Andrea. CDU 373.2 CDD 372.2 (Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo - CRB 10/1507) Edição: 2012 Todos os direitos desta edição reservados à Editora Mediação Distribuidora e Livraria Ltda. Av. Taquara, 386/908 Bairro Petrópolis Porto Alegre RS/ CEP 90460-210 Fone/Fax (51) 3330 8105 www.editoramediacao.com.br www.twitter.com/editoramediacao Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa do Editor. by autores, 2012 Printed in Brazil/Impresso no BrasilII Capítulo 2 A IMPORTÂNCIA DO PERÍODO DE ADAPTAÇÃO Andrea RapoportA temática "adaptação" ainda é muito pouco explorada pela literatura que versa em Educação Infantil, embora seja de fundamental importância. A experiência com profissionais que atuam tem revelado despreparo teórico nessa área e, inclusive, a não realização de um processo de adap- tação em muitas instituições. Por se constituir, muitas vezes, na primeira experiência de separação da mãe do seu filho, deve-se conhecer e valorizar esse processo, que poderá ter implicações por toda a vida da criança. Considerando contexto social das últimas décadas, com as mulhe- res entrando cada vez mais no mercado de trabalho, novas opções para cuidado das crianças são necessárias, que se denomina de cuidados não parentais, ou seja, cuidados não realizados pela mãe ou pelo pai. Esses podem se dar: a) em creches e pré-escolas; b) em creches familiares ou lares vicinais; c) por um parente; ou d) na casa da criança, dispensados por uma babá/empregada. Em qualquer um desses casos, a criança passa por um processo de adaptação até que esteja vivenciando a nova situação de forma que revele menor sofrimento pelo afastamento materno. No que se refere às creches, em nosso país, elas surgiram vincu- ladas ao atendimento de populações de baixa renda. O trabalho de- senvolvido era de cunho assistencial-custodial, voltado à alimentação, higiene e segurança física das crianças, conforme apontam os estudos de Oliveira et al. (1992). 51 Editora Mediação52 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Com passar dos anos, essa realidade modificou-se, verificando-se um aumento no número de instituições de Educação Infantil em todas as classes sociais. Mesmo as mães que não trabalhavam fora começaram a buscar espaços de socialização para suas crianças. Mais recentemente, mudaram as propostas para trabalho nessas instituições, principalmente para as que atendem os bebês, que vieram adquirindo um cunho cada vez mais educativo. A Constituição Brasileira de 1988 reconheceu a creche como uma instituição educativa, como um direito da criança, uma opção da família e um dever do Estado, tendo a LDB de 1996 implementado critérios para as mesmas. Apesar disso, a entrada de crianças na Educação Infantil, especial- mente durante primeiro ano de vida, é um tema que tem gerado con- trovérsias no meio científico e leigo, pois implica separações diárias da criança de sua mãe enquanto ela ainda é muito pequena. Embora existam vários estudos sobre as consequências para as crianças do seu ingresso, são poucas as pesquisas sobre processo de adaptação, principalmente em relação às menores de dois anos. O trabalho requer cuidados especiais, e planejamento do atendimento é diferente do realizado com as maiores. Não existem receitas sobre a melhor escolha de uma instituição ou sobre os melhores procedimentos para atendimento de crianças pequenas, pois isso depende sempre das características de cada uma delas, do seu contexto familiar e social e das opções que se têm no momento da escolha. Entretanto, é sempre possível avaliar uma série de aspectos que estão relacionados à qualidade desse atendimento, à relação das crian- ças com os educadores, bem como é importante observar reações e mudanças comportamentais que ocorrem após seu ingresso. É esse objetivo deste capítulo. Diante de eventuais sinais de sofrimento das crianças, nesse período de adaptação ao novo ambiente, pais e educadores devem reavaliar as condições de cuidado que as crianças têm recebido, procurando identi- ficar que pode ser feito para auxiliar na sua adaptação. Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 53 do-se Além disso, independentemente da instituição escolhida, é sempre as aconselhável aos pais, como irei relatar, acompanhar os filhos nos pri- am a meiros dias de adaptação a essa nova realidade, aos novos educadores, às novas formas de cuidados que irá receber, conforme meus estudos já apontaram anteriormente (RAPOPORT; PICCININI, 2004), uma vez que essas a adaptação é um processo complexo que envolve não só a criança mas eram seus familiares e principalmente a mãe. sileira um do a INGRESSO DA CRIANÇA NA INSTITUIÇÃO Por meio de estudos e observações em instituições que venho ecial- realizando há vários anos, percebo que é inegável a importância do "pe- con- ríodo de adaptação de crianças pequenas" nos seus primeiros dias nas as da instituições de Educação Infantil, comprovando-se a grande necessidade stam de os educadores organizarem atividades especiais nesse período inicial. esso, ente Para alguns autores, como Vitória e Rossetti-Ferreira (1993), a adap- ciais, tação tem início nos contatos iniciais da família com a instituição, pois as ores. primeiras impressões influenciam a forma como esses pais se relacionam com novo ambiente. ou enas, Segundo Bloom-Feshbach e Gaughram (1980), a adaptação ocorre seu desde momento do ingresso da criança até final do primeiro mês, di- ferentemente de Fein (1995), que considera que esse período se estende entre três e seis meses após ingresso no novo ambiente. Na verdade, que processo de adaptação tem seu tempo determinado por inúmeros fato- ian- res, podendo variar amplamente de caso para caso. Muitas vezes, depois e de adaptado, mesmo que por um longo período, fatores externos ou do sse próprio desenvolvimento infantil podem levar processo a recomeçar. Algumas instituições de Educação Infantil, desconhecendo a im- odo portância desse período, optam por não proporcionar essa vivência às ar as crianças e às suas famílias. É caso das instituições onde os pais não enti- podem passar da porta e, já no primeiro dia, entregam seus filhos aos educadores e vão embora, dessa forma ocorrendo uma separação brusca Editora Mediação54 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL na vida da criança, que passa a ter de se acostumar, forçosamente, com desse am um ambiente e com pessoas que nunca viu. com os e Em outras instituições, esse momento pode ser considerado, pela Ess equipe que lida com tal processo, um fato rotineiro que não exige pre- negativa paro dos educadores. Para essas, "criança não sente, logo se acostuma! criança O problema é a ansiedade da mãe". Nesses casos, tempo e ritmo da aceitar instituição é que determinam a duração do período de adaptação. que deve a perma Em algumas situações, a própria família não quer fazer processo proces de adaptação, dizendo que não tem tempo e/ou alegando razões ligadas ao trabalho. De fato, mães e pais enfrentam conflitos e emoções difíceis, desconfortáveis, ao se separarem de seus filhos, para os quais, normal- no prime mente, não estão preparados. ximo à sala dev Em outras instituições, ocorre fato que, mesmo dizendo realizar a ideia d processo de adaptação, retiram as crianças dos braços da mãe, deixando- a as ansiosas e chorando. Muitos dos educadores que fazem isso se revelam esse contrariados com fato, mas alegam que as instituições, seguidamente, os levam a tomar atitudes contra seus próprios princípios e bom-senso. em grup quando Buscando compreender a questão do ingresso na instituição, alguns estudos têm mostrado que tanto as mães como os educadores descrevem mãe. A as primeiras semanas como momentos de muita inquietação para crianças também pequenas. ambiente, as novas rotinas, as pessoas não familiares, as sepa- sentir vi rações diárias e a ausência da mãe colocam-lhes uma significativa exigência social e emocional, como mostram os estudos de Davies e Brember (1991). R a adota A adaptação é difícil não só para a criança, mas também para a do via i família e educador, pois implica reorganizações e transformações para os pais todos. A forma como esse processo é vivenciado pelas pessoas envol- por exe vidas influencia e é influenciada pelas reações da criança, como dizem no Rossetti-Ferreira, Amorim e Vitória (1994). normal Como Desse modo, é altamente desejável que, no período de adaptação, a das mãe, pai ou outro familiar fique junto à criança para auxiliar na exploração de os e Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 55 desse ambiente estranho e no estabelecimento de novos relacionamentos com os educadores e outras crianças. Essa permanência deve ser cuidadosa, pois pode ter implicações negativas se não for adequada. Ela pode ser tranquilizadora para a criança e sua mãe, mas causar dificuldades, se esta não conseguir aceitar seu papel de observadora participante e interferir na relação que deverá ser construída entre educador e seu filho. Ademais, se a permanência da mãe na instituição for prolongada, poderá dificultar processo de separação. O que se sugere é que a mãe ou pai permaneçam dentro da sala no primeiro dia, mas, assim que possível, se retirem para um local pró- ximo à sala e, se necessário, visível à criança. A permanência inicial na sala deve favorecer a aproximação com novo ambiente, transmitindo a ideia de que é um lugar seguro e confiável. Pode ajudar também a mãe a tranquilizar-se ao ver como seu filho está sendo cuidado. Entretanto, esse procedimento é fácil de ser seguido quando ocorre ingresso simultâneo de várias crianças no início do ano e essas são divididas em grupos pequenos durante período de adaptação. Por outro lado, quando uma criança ingressa ao longo do ano, a presença de uma única mãe na sala pode ser um fator de stress para os outros que estão sem a mãe. A permanência de um familiar na sala por um tempo prolongado também pode gerar desconforto para os educadores que podem se sentir vigiados. Recentemente, algumas instituições de Educação Infantil passaram a adotar um sistema de câmeras de vídeo nas salas que pode ser acessa- do via internet pelos pais. Esse é um procedimento que visa tranquilizar os pais, mas entendo que tem seus pontos negativos, como fato de, por exemplo, uma mãe acessar site da turma de seu filho exatamente no momento que ele está chorando ou que caiu em uma brincadeira normal, pois a mãe só verá essa ocorrência, sem o que a antecedeu. Como sabemos que a ansiedade dos pais pode interferir na adaptação das crianças, vejo esse avanço tecnológico com ressalvas, além do fato de os educadores sentirem-se espionados em seus atos. Editora Mediação56 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Aos poucos, os familiares irão se afastando até que sua permanência Alén não seja mais necessária. Outra sugestão é que nunca devem sair escondi- crianças S dos sem se despedirem, pois isso poderá gerar uma quebra de confiança relação na criança que se sentirá insegura. Além da permanência de um familiar important na instituição, planejamento deve envolver uma entrevista prévia com com um e os pais para obter informações sobre desenvolvimento da criança, suas instituição manias e hábitos, doenças, medicações utilizadas, etc. que conhe É importante, também, que os educadores participem das entrevis- Em r tas e tenham acesso aos arquivos com dados sobre as crianças. As entre- rentes vistas, entretanto, costumam ser realizadas pela diretora da instituição, indicadores pedagoga ou psicóloga, e as informações nem sempre são repassadas aos educadores. Esse procedimento não é adequado, pois quem vai interagir ch diretamente com a criança e com a família, rotineiramente, são os edu- a criança é cadores. Eles não devem ficar à parte desse contato inicial com os pais. pais retorn bação As entrevistas feitas pelas instituições, antes do ingresso das crian- reações de ças, também são consideradas bons momentos para fornecer informações passividad aos pais sobre como ocorrerá processo de adaptação, sobre as reações tamentos r possíveis por parte deles e das crianças e sobre como a instituição espera F contar com a ajuda dos familiares. Para os pais, é um excelente momento de esclarecimento de dúvidas. É também recomendável que os pais tra- A gam a criança para visitar a instituição antes do período de adaptação, a pode soma fim de mostrar para a criança novo ambiente e começar seu processo sintomas de familiarização com os educadores. Esses sinto mesmo (2000), HORÁRIOS REDUZIDOS NOS PRIMEIROS DIAS tação a tor É sempre recomendável que os educadores organizem um horário Além reduzido nos primeiros dias de ingresso da criança. Em geral, inicia-se com tância dos entusiasmo um período de duas horas, por alguns dias, que vai aumentando gradual- mente. Quando várias crianças ingressam simultaneamente, sugere-se que pais, freque os grupos sejam pequenos, organizando-se diferentes turnos de adap- mas os estu tação: um grupo das 8h às 10h, outro das 10h às 12h, e assim por diante. de interpretad Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 57 Além disso, os educadores podem se organizar para ter algumas crianças sob seus cuidados especiais no intuito de estabelecer uma relação mais próxima e individualizada com elas. Esse procedimento é importante para a criança, pois poderá formar um vínculo de confiança com um educador que se tornará uma pessoa de referência para ela na as instituição. Além disso, também facilita trabalho do próprio educador que conhecerá melhor a criança e conseguirá atendê-la mais facilmente. Em relação ao comportamento das crianças, essas manifestam dife- rentes reações, durante período de adaptação, que podem servir como indicadores em termos de estarem ou não bem-adaptadas ao novo ambiente. choro é comum durante esse período, tanto na chegada, quando a criança é deixada na instituição pelos pais, como na saída, quando os pais retornam para buscá-la. Mas choro não é a única reação de pertur- bação possível da criança. Existem inúmeras manifestações como gritos, reações de mau humor, bater nas pessoas, deitar-se no chão, reações de passividade, de apatia, de resistência à alimentação ou ao sono e compor- tamentos regressivos, como apontam vários estudos (BALABAN, 1988; ROSSETTI-FERREIRA, 1993; BRAZELTON, 1994). to A ocorrência de doenças também é bastante frequente. A criança a pode somatizar seus sentimentos em relação à separação, apresentando sintomas físicos, como febre, vômitos, diarreia, bronquite, alergias, etc. Esses sintomas devem alertar para possíveis problemas de adaptação, mesmo que a criança não chore na creche. É possível, segundo Rizzo (2000), que grande investimento emocional da criança durante a adap- tação a torne menos resistente a infecções. Além disso, diz Rodriguez (1981), aquela que se separa com relu- tância dos pais pela manhã pode recebê-los, no final do dia, com pouco entusiasmo. Essa criança, que parece indiferente no reencontro com os pais, frequentemente provoca sentimentos de preocupação e culpa neles, mas os estudos mostram que é uma reação normal dentro do seu processo de adaptação. Curiosamente, desejo de não ir embora na saída, que é interpretado por pais e educadores como um sinal de que a criança está Editora Mediação58 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL gostando de ficar na instituição, pode ser justamente contrário, uma são mom demonstração de sofrimento dela: "Eu me senti abandonada, agora não podem ap te quero". Alguns educadores relatam que os pais não acreditam que a estarem criança estava bem até sua chegada, mostrando-se preocupados e com sentimentos de culpa e pena do filho. À tende a a Durante processo de adaptação, algumas crianças mostram-se de, passa quietas e dóceis, sendo, por vezes, negligenciadas porque não causam fisicamen problemas. Entretanto, a maioria tende a ter reações significativas ao novo instituiçã ambiente, ainda que essa reação possa não ser compreendida por quem as observa (BALABAN, 1988; BLOOM-FESHBACH; cols., 1980). Ro mostrava Brazelton (1994) também alertou sobre crianças que se adaptam crianças bem de início e, logo depois, começam a dar sinais de regressão em instituição casa. Elas podem apresentar sintomas que, aparentemente, nada têm eles, reto a ver com a instituição, como problemas de sono, de alimentação e mente do acessos de raiva que já pareciam superados. Nesses casos, acom- podem panhamento a partir de entrevistas com os pais, durante processo grupo e à de adaptação, pode ajudar a esclarecer que está acontecendo, tran- quilizando-os e fornecendo informações para educador que poderá Em rever suas ações junto à criança. nhar pe esse é, d familiares QUANDO A CRIANÇA ESTÁ ADAPTADA? gresso d Para avaliar a adaptação de uma criança, é importante considerar separare tempo em que está na instituição. O processo de adaptação não se conform resume aos primeiros dias, pode durar meses. Faltas frequentes ou irre- doenças gularidades nos horários de entrada e saída dificultam a adaptação, que TON, 199 se estenderá por mais tempo ROSSETTI-FERREIRA, 1993). Os pais também devem ficar atentos para não se atrasarem no horário Not de saída, pois as crianças observam as outras crianças indo embora e crianças podem sentir-se abandonadas. Deve-se considerar, ainda, que as reações estudos a à separação nem sempre desaparecem quando a criança está satisfeita dades ini e adaptada à instituição. O período após as férias e nas segundas-feiras, quando as crianças deixam suas casas após fim de semana com os pais, Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 59 uma em que podem ocorrer retrocessos. De forma semelhante, a não podem apresentar dificuldades depois que ficam alguns dias em casa por que a estarem doentes. com À medida que a criança se adapta ao ambiente da instituição, ela tende a apresentar melhor desenvolvimento em termos de sua oralida- de, passa a interagir melhor com outras crianças, a tornar-se mais ativa usam fisicamente, menos agressiva e a relacionar-se melhor com os adultos da novo instituição segundo Fein et al. (1993). quem Rodriguez (1981) observou, por exemplo, que muitas crianças que mostravam comportamento de protesto ativo marcado pelo choro, e otam crianças pequenas, que ficavam grudadas aos pais nos primeiros dias na em instituição, apresentaram a seguir um período de indiferença em relação a têm eles, retornando a ter um comportamento normal dentro de aproximada- e mente dois meses. Essas mudanças, conforme Howes (1990) e Fein (1995), com- podem ser atribuídas à crescente familiaridade com as outras crianças do grupo e à maior familiaridade com os adultos, com as rotinas e ambiente. tran- Em meus estudos PICCININI, 2001), pude acompa- nhar período de adaptação de crianças em instituições. Verifiquei que esse é, de fato, um momento complexo que envolve as crianças e seus familiares, principalmente suas mães, e não importando a idade de in- gresso das crianças. Observei sofrimento das crianças, decorrente da separação da mãe, bem como as dificuldades das próprias mães de se derar separarem delas, revelando sentimentos de pena e culpa por deixá-las, se conforme se refere Balaban (1988). Acompanhei também situações de irre- doenças e retrocessos na adaptação já relatados na literatura (BRAZEL- que TON, 1994; RIZZO, 2000). rário Notei que choro foi uma das principais formas utilizadas pelas ora e crianças menores durante O processo de adaptação, tal como relatei em sfeita estudos anteriores (RAPOPORT; PICCININI, 2001). Mas, apesar das dificul- eiras, dades iniciais, tanto as crianças como suas mães acabaram se adaptando. pais, Editora Mediação60 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL As mães fizeram algumas queixas em relação ao trabalho da insti- tuição, como fato de a criança começar a ter assaduras, de darem muito colo e da dificuldade de comunicação com os educadores. É importante destacar a reclamação sobre dar colo para as crianças, pois seria de ima- ginar que as mães desejariam exatamente contrário. O que acontece, algumas vezes, é que os pais acabam se sentindo muito exigidos em casa quando as crianças recebem muito colo nas instituições e acabam por reclamar disso. Seus relatos indicaram, ainda, a importância do horário reduzido nos primeiros dias do período de adaptação e a permanência de um familiar na instituição. Sem deixar de apontar que tais exigências causaram, por vezes, transtornos para as mães que trabalhavam, que precisaram ser contornados pelo apoio de outras pessoas da família. FATORES QUE INTERFEREM NA ADAPTAÇÃO Existem muitos fatores que interferem nas reações e na adaptação de crianças aos cuidados não parentais. Na maioria das vezes, esses fa- tores relacionam-se entre si e influenciam-se mutuamente. A segurança dos pais Um fator importante é a forma como a família, principalmente a mãe, vê a entrada do filho na instituição. É comum os pais sentirem-se inseguros e desconfiados, ainda mais quando se trata do primeiro filho e, além disso, bebê. Às vezes, é mais difícil para os pais se separarem da criança do que para a criança se adaptar ao ambiente novo. As mães podem ter sentimentos ambivalentes, conscientes ou inconscientes, sobre deixar seu filho aos cuidados de outras pessoas como culpa, ciú- mes, medo de que aconteça algo à criança ou de deixar de ser amada por ela. Algumas mães, depois de se despedirem de seus filhos, ficam espiando pela janela ou pela porta. Esse comportamento pode ser ruim para a adaptação, pois, se for percebido pela criança, poderá transmitir Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 61 a insegurança da mãe e fazê-la pensar: "Se minha mãe não confia nesse lugar, eu também não vou confiar". Além disso, poderá levá-la a querer te ficar com a mãe, reiniciando processo de separação. No que se refere à configuração familiar e às expectativas em sa relação à criança, Castoldi (1997) verificou que os pais de crianças que or tinham boa adaptação nas instituições revelavam ter expectativas posi- tivas em relação aos seus filhos, vinham de famílias bem constituídas e mantinham vínculo de proximidade com a família de origem. Nos casos de adaptações difíceis, várias crianças eram de famílias uniparentais ar (apenas sob cuidados do pai ou da mãe), de famílias nas quais havia a or ausência da figura paterna. Em geral, as mães não davam apoio ade- quado aos filhos, bem como elas não tinham apoio de suas próprias famílias para cuidar deles. Da mesma forma, as expectativas das mães eram negativas em relação às possibilidades das crianças, bem como se evidenciaram, nesses casos, fatos estressantes nas famílias atuais e/ou histórias de perdas significativas. A escolha da instituição Os motivos que levam os pais a colocarem filho na Educação In- fantil e a escolha da instituição também podem influenciar na adaptação. Essa decisão pode ser a expressão de uma série de características familiares, como condições demográficas da família, nível socioeconômico, tipo de família (único pai/mãe ou casal) e idade da criança. A escolha da instituição a deve estar de acordo com que os pais esperam para desenvolvimento se global de seu filho. Lamentavelmente, nem sempre a melhor escolha é no possível devido ao fator financeiro e à falta de informações dos pais sobre a qualidade de atendimento nas instituições. número de educadores da im A razão adulto-criança influencia seriamente na qualidade do atendimento às crianças. Howes (1990), em seus estudos, encontrou Editora Mediação62 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL instituições com grande qualidade de atendimento às crianças que apre- A p sentavam a razão adulto-criança de 1:4, ou seja, um educador cuidando de quatro crianças, no caso de cuidados de crianças de até dois anos; e a razão adulto-criança de 1:6 e 1:7, ou seja, um educador para seis ou fato sete crianças, no caso de crianças de três a quatro anos. dos pres autor dá como indicador de mau atendimento a razão de 1:6 a dua 1:12, isto é, um educador para cuidar de seis a 12 crianças com menos de edu um ano; e a razão de 1:10 a 1:15 para crianças maiores, isto é, um educador soa para atender de dez a 15 crianças de mais de um ano. Da sied Além disso, conforme seus estudos apontam, as crianças, nessas mot instituições que apresentaram bons indicadores de qualidade, não tive- con ram mais do que dois educadores diferentes no primeiro ano, um a cada turno, enquanto a troca de educadores nas outras instituições variou de três para oito. mui dur Relatos de educadores têm revelado que, muitas vezes, eles têm hor que cuidar de mais crianças do que os padrões de qualidade propõem sica e do que a própria legislação brasileira postula. Um educador relatou, diss em um seminário, que é responsável por uma turma de zero a dois anos con e cuida de nove crianças sozinho, sem auxiliar. Para piorar a situação, est trocador fica na sala ao lado e ele precisa deixar as crianças sozinhas cias quando troca as fraldas de uma delas. Outro relato foi a respeito da ada rotatividade de educadores. Muitas instituições adotam como prática período de experiência de três dias e, quando não existe a contratação, educador é substituído por outro, e assim por diante, até que algum A i seja efetivado. Essa rotatividade se dá não apenas porque as instituições não ficam satisfeitas com trabalho do educador, mas, também, porque muitos educadores, depois de um tempo de trabalho em más condições, vol não aguentam e pedem para sair Chamo atenção para fato porque inst tal rotatividade é extremamente prejudicial para estabelecimento de por vínculo das crianças com os educadores que as atendem, principalmente bel no período de adaptação. des coi fre Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 63 A postura dos educadores A ação pedagógica dos educadores pode ser considerada um dos fatores mais relevantes em termos de adaptação das crianças. A qualidade dos cuidados depende, em grande parte, da habilidade de os profissionais prestarem atenção em cada uma e levarem em conta as reações indivi- a duais. Muitas vezes, entretanto, os baixos salários, a inexperiência dos de educadores, sua formação, acrescida à frequente troca de pes- or soal nas instituições, são fatores que interferem na melhoria do trabalho. Da mesma forma, alguns educadores parecem se proteger contra a an- siedade e sentimentos dolorosos ao terem de se separar das crianças por as motivo de dispensa das instituições, evitando intimidade e proximidade com elas. da de Trabalhar com crianças é difícil e complexo. É necessário, para isso, muito mais do que simplesmente gostar de criança. Significa permanecer durante uma jornada inteira de trabalho (que varia, em média, de seis a 12 horas) cuidando das crianças tanto em termos de suas necessidades bá- sicas e emocionais quanto desenvolvendo propostas pedagógicas. Além u, disso, é preciso paciência para as situações corriqueiras que ocorrem com bebês e crianças pequenas, como choro, a birra e outras reações, estabelecendo limites e demonstrando atenção e carinho. E tais exigên- as cias em relação aos educadores são ainda maiores durante período de da adaptação, quando as crianças estão mais sensíveis e vulneráveis. A idade das crianças es Segundo Zajdeman e Minnes (1991), determinadas etapas do desen- es volvimento são mais críticas do que outras para a entrada da criança em instituições. Os resultados de um estudo realizado por Rodriguez (1981), de por exemplo, revelaram que uma adaptação adicional era requerida por te bebês e crianças pequenas, especialmente, durante dois períodos do desenvolvimento primeiro seria entre os seis e os 12 meses de idade, coincidindo com a fase de ansiedade frente a estranhos. Essa ansiedade frente a estranhos ou medo de estranhos foram descritos por Bowlby Editora Mediação64 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL (1993) como sendo uma etapa natural do desenvolvimento infantil, decor- rente da sua capacidade de reter na memória pessoas, lugares e situações que são conhecidos e comparar com os desconhecidos. Algumas crianças demandaram mais atenção do educador, tor- naram-se relutantes em deixá-lo fora de vista e mais competitivas com outras crianças pela sua atenção. Apesar de muitos esforços, nessa fase, elas mostraram-se mais difíceis de serem confortadas. segundo período mais difícil foi entre 16 e 22 meses, coincidindo com a fase descrita por Mahler (1982) como da "crise de reaproximação": a criança já caminha e experimenta afastar-se da mãe, que, ao mesmo tempo, provoca-lhe prazer e ansiedade de separação, fazendo-a retornar a ela. período de crescente consciência da separação é acompanhado, muitas vezes, de uma conduta da criança de perseguição da sua mãe. Dessa forma, a presença e a disponibilidade materna são fundamentais nessa fase Conforme aponta Rodriguez (1981), houve casos de crianças bem- adaptadas na instituição, há muitos meses, que voltaram a protestar na hora da separação dos pais, chorando e se grudando neles como fizeram logo que entraram na instituição. Esses casos sugerem que processo de adaptação de bebês e crianças pequenas não é um processo simples e linear, podendo ocorrer retrocessos. temperamento das crianças temperamento das crianças é um fator que tem sido estudado quando se procura entender a adaptação das crianças à instituição. Desde a maternidade, já é possível observar diferenças no com- portamento delas, ou seja, elas já nascem com as características de seu temperamento. Entretanto, essas podem ser modificadas ou reforçadas, a partir da forma como os adultos lidam com as crianças. Por exemplo, pais e educadores podem entender choro intenso de uma criança e Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 65 tentar tranquilizá-la reagindo de forma calma ou, então, irritar-se com esse comportamento, reforçando-o e fazendo com que a criança chore mais ainda. Dentre as características apresentadas por Chess e Thomas, (1991) que definem temperamento da criança, estão: ritmo: regularidade nos horários de sono, alimentação e evacuação; nível de atividade: quanto as crianças se agitam ao dormir ou mesmo acordadas; - aproximação: como as crianças se aproximam de pessoas e objetos; - adaptabilidade: como as crianças se adaptam a novas pessoas, ali- mentos e mudanças na rotina; limite de reação: como as crianças reagem a estímulos como som, luz. Por exemplo, se acordam devido a qualquer ruído ou luz; - capacidade de se distrair: se as crianças se distraem facilmente; - persistência: se as crianças persistem fixadas num estímulo por algum tempo; - intensidade de reações: como são as reações das crianças em situ- ações de alegria e de choro, por exemplo, por dor, fome ou sono; humor: como se caracteriza o humor da criança ao longo do dia. Para Klein (1991), temperamento da criança pode influenciar, primeiro, comportamento dos pais e, depois, o dos educadores. Uma criança que tem sono tranquilo e regular nos primeiros meses, tenderá a ter uma mãe mais descansada, enquanto que uma criança que acorda frequentemente ou chora muito, provavelmente, terá uma mãe cansada e irritável. As mesmas reações poderão ter os educadores nas instituições em relação a essas crianças. Do mesmo modo, uma criança que é mais tímida e retraída, prin- cipalmente frente a novas situações, vai suscitar reações diferentes nos educadores das provocadas por uma criança risonha, sociável e que se adapta bem a novos ambientes. Fein (1995) observou que as mais comunicativas recebiam mais atenção nas instituições se comparadas às crianças mais retraídas. A importância desses estudos é salientar que, em qualquer grupo, pode Editora Mediação66 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL haver algumas de temperamentos difíceis, que exigem mais atenção, bem como as que são retraídas e que também necessitam de cuidados para não apresentarem mais tarde problemas sociais e emocionais. temperamento das crianças é um fator que não deve ser consi- derado senão em relação ao ambiente da família e da instituição, uma vez que temperamento sozinho tem valor explicativo limitado (SANSON et al., 1991). Sendo assim, uma criança com temperamento difícil, que chora muito, pode estar muito bem-adaptada a partir de um atendimento ade- quado, enquanto outra criança, risonha e sociável, pode ter dificuldades em responder de forma apropriada e adaptativa quando outros fatores estiverem interferindo para um trabalho de qualidade. A segurança emocional das crianças A segurança emocional das crianças é um dos fatores importantes em termos de sua adaptação. Segundo Bloom-Feshbach et al. (1980), há relação entre adaptação à instituição e segurança emocional da criança, pois consideram que a sua interação com as outras pessoas reflete tal segurança. Um boa relação afetiva da criança com seus pais é um re- quisito essencial para a boa experiência de separação, refletindo numa bem-sucedida adaptação à instituição. Os estudos realizados permitem perceber que a entrada na insti- tuição envolve um conjunto de situações potencialmente estressantes, especialmente para a criança. Pode-se concluir que a adaptação é um processo complexo e gradual, em que cada uma precisa de um período de tempo diferente para se adaptar. Situações estressantes entre a criança e ambiente podem ocorrer se os pais e os educadores não permitirem a ela se adaptar às novas situações em seu próprio ritmo. Além disso, o período de adaptação pode ser mais longo para as que receberem cui- dados de má qualidade e/ou oriundos de famílias com muitos problemas. Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 67 bem As suas reações, ao longo do processo de adaptação, podem ser para múltiplas e dependentes de inúmeros aspectos. Ajudar as crianças, os pais e os educadores nesse processo requer uma reflexão séria acerca dos fatores envolvidos. Estudos nesse sentido podem favorecer a relação onsi- com as famílias, a organização de rotinas, a melhoria do espaço físico, a vez planejamento pedagógico e a formação de todos os profissionais que SON trabalham nas instituições de Educação Infantil. COMO PAIS E EDUCADORES PODEM ade- ACOMPANHAR O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO? ades ores Uma das dificuldades das instituições e da própria família é saber se as crianças estão ou não se adaptando ao novo ambiente. A partir do estudo realizado, e com objetivo de contribuir para um olhar mais aten- to de pais e educadores sobre processo de adaptação, tão importante para seu desenvolvimento, apresento, a seguir, alguns indicadores que ntes servem de reflexão e análise em termos da melhoria da organização e há do planejamento do período de adaptação das crianças nas instituições de Educação Infantil. e tal re- Como esse processo depende das condições oferecidas pela pró- uma pria instituição, do contexto familiar e das características de cada criança, serão discutidos tais aspectos relacionados mutuamente. Quero dizer que, ao propor alguns indicadores para organizar e planejar processo de adaptação, espero que tal proposta seja um utilizada por instituições e famílias "a favor da criança e do educador odo como um instrumento auxiliar no seu trabalho", conforme sugere Godoi (2004, 20). Tais indicadores devem ser usados, como aponta essa em autora, para melhorar processo de planejamento nas instituições e para auxiliar na adaptação da criança e não simplesmente para avaliar cui- trabalho das instituições ou julgar a criança como meramente bem ou mal-adaptada. Editora Mediação68 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL INDICADORES DE QUALIDADE NO PLANEJAMENTO DO PERÍODO DE ADAPTAÇÃO ocorre Os indicadores abaixo referem-se à qualidade no planejamento e à organização do período de adaptação em creches e pré-escolas, conforme sugerem estudos realizados sobre tema. As instituições de Educação deve ( Infantil e as famílias podem se basear nesses indicadores para avaliar e discutir a sua proposta pedagógica. duran Horário reduzido nos primeiros dias Núme Bebês de 7 a 12 meses: por três a quatro dias, com tempo de permanência da criança de duas horas e depois aumento gradual. ideal: Crianças de 12 a 36 meses: por duas semanas, com tempo de ideal: permanência da criança de duas horas na primeira semana e aumento gradual na seguinte. Crianças de 36 a 54 meses: por três dias, com tempo de perma- cador; nência da criança de duas horas e depois aumento gradual. Brincadeiras e atividades pedagógicas Diversificadas e de acordo com interesse de cada criança (ideal). pre de Predeterminado (pode haver um planejamento, mas esse deve ser flexível, ajustando-se aos interesses das crianças). cuidad diálog Presença de um familiar dos Na recepção ou próximo à sala da instituição (ideal). Na sala com a criança (no início, para um primeiro contato, depois, Comu eventual, pois pode dificultar a adaptação em vez de auxiliar). Pais deixam a criança e vão embora desde os primeiros dias (não deve ocorrer). ças na Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 69 Preparação da adaptação - Entrevista com os pais antes do ingresso da criança (sempre deve ocorrer). Visita prévia da criança à instituição (ideal). Organização dos turnos com grupos menores de crianças (sempre deve ocorrer). - Reunião de equipe de educadores para planejamento antes e durante processo (sempre deve ocorrer). Número de crianças por educador - Crianças de até dois anos: máximo de oito crianças por educador; ideal: quatro por um. - Crianças de dois a três anos: máximo de 15 crianças por educador; ideal: 10 crianças por um. - Crianças de três a quatro anos: máximo de 20 crianças por edu- cador; ideal: 15 crianças por um. - Crianças de quatro a cinco anos: máximo de 20 crianças por edu- cador; ideal: 15 por um. Atitudes dos educadores - Manifestação de afeto e atenção individualizada às crianças (sem- pre deve ocorrer). - Favorecimento de uma continuidade com lar, em termos de cuidados e da adoção de uma linha de conduta comum (deve ocorrer diálogo entre pais e educadores para favorecer a continuidade de cuida- dos com a criança desde que sejam adequados). Comunicação com a família Contato diário dos pais com os educadores que cuidam das crian- na chegada ou na saída (sempre deve ocorrer). Editora Mediação70 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Entrevistas periódicas com os pais (sempre deve ocorrer). Horário disponível de atendimento aos pais (sempre deve ocorrer). Agenda para registro de informações diárias sobre a criança pelos educadores e pelos pais em casa (ideal) AVANÇOS E RETROCESSOS NA ADAPTAÇÃO DAS CRIANÇAS Apresento abaixo fatores que podem influenciar ou causar retroces- SOS à adaptação das crianças e que são importantes de serem considera- dos nas conversas com os pais e na observação de cada uma. A ocorrência de retrocessos é normal, mesmo depois de estarem bem-adaptadas, podendo-se auxiliar as crianças se forem melhor acompanhadas. Fatores que influenciam na adaptação das crianças Quais os fatores que podem estar interferindo na adaptação da criança? Em geral, a adaptação é um somatório de fatores que vão ca- racterizar cada caso. Por isso, devem-se considerar as particularidades da história de cada caso, tais como: Fatores da criança Experiência de convívio social Idade Temperamento Estado de saúde Tempo de permanência com a mãe em casa Período de amamentação Fatores familiares Ansiedade ou tranquilidade dos pais em relação ao seu ingresso na instituição Ambiente familiar, relação com os pais e irmãos, separação, divórcio dos pais Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 71 Fatores da instituição Planejamento e organização do período de adaptação Atitudes dos educadores Ambiente geral da instituição Ambiente da sala de adaptação É preciso observar também alguns fatores que podem provocar retrocessos na adaptação das crianças, tais como: Afastamento da criança da instituição Por doença Após final de semana Após férias Por outros motivos Fatores familiares Nascimento de irmão Separação, divórcio dos pais Morte de um familiar Desemprego dos pais Fatores da criança Fase do desenvolvimento/idades críticas: Etapa dos sete aos nove meses (medo de estranhos) Etapa dos 16 aos 22 meses (crise de reaproximação) Acidentes na instituição Indicadores de adaptação das crianças Os indicadores a seguir não pretendem dar conta da complexida- de dessa questão. São apenas alguns referenciais preliminares para se organizar planejamento e acompanhamento da adaptação de cada Editora Mediação72 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL criança. Individualmente, elas apresentarão vários desses indicadores, mas não todos, devendo-se estar atento à frequência e à intensidade das reações de cada uma. Além disso, esse acompanhamento deve ser contínuo e flexível em relação aos indicadores apontados para se analisar progressos nas suas diferentes reações. As crianças, mesmo quando já adaptadas, podem apresentar rea- ções que estão na coluna "crianças em adaptação". Isso porque, assim como os adultos, em alguns dias, não estão muito bem, mesmo acontece com bebês e crianças. Desse modo, deve-se ter cuidado ao dizer que eles retrocederam ou que não estão adaptados. CRIANÇAS EM ADAPTAÇÃO CRIANÇAS ADAPTADAS Reações da criança na chegada Reações da criança na chegada Chora ao ver educador Abre os braços para educador Agarra-se à mãe/ao pai educador Resmunga ou chora muito Despede-se da mãe/do pai Mantém-se apática na sala ao chegar Engatinha, anda, corre para dentro da sala Horário de adaptação Horário de adaptação Necessita a presença de um familiar Não necessita da presença Tempo de permanência menor que de um familiar previsto Tempo de permanência previsto Manifestações corporais da criança Manifestações corporais da criança Não se alimenta Alimenta-se bem Não dorme Dorme normalmente Adoece de forma repetida, mesmo com Apresenta boas condições de saúde boas condições prévias de saúde Evacua regularmente Não evacua Interação com o educador Interação com o educador Não aceita/estranha educador Interage com educador Rejeita educador Mostra-se feliz com educador Solicita colo em demasia Solicita colo normalmente Comportamento agressivo Comportamento afetivo com com os educadores os educadores Interação com o ambiente Interação com ambiente Permanece quieta, sem brincar Brinca e explora brinquedos Não se movimenta pelo ambiente Explora a sala Apresenta dificuldades com a rotina Acostuma-se à rotina da instituição Participa das brincadeiras Não participa das atividades Interação com outras crianças Interação com outras crianças Não brinca com outros Brinca ao lado ou com outras crianças Não aceita dividir atenção Aceita dividir atenção Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 73 Manifestações afetivas Manifestações afetivas Chora bastante, em intervalos, Mostra-se feliz, sorri, brinca ou dorme muito Demonstra preferência Ninguém consegue confortá-la por educadores Mostra-se indiferente ou irritada Apresenta-se calma Comportamento agressivo Reações na saída Reações na saída Evita olhar ou ir com pai e a mãe, Mostra-se feliz ao ver familiares, indo chora, agarra-se no educador espontaneamente com eles COLOCAR OU NÃO A CRIANÇA NA INSTITUIÇÃO: QUE CONSIDERAR? O nascimento de um filho é um evento que traz mudanças para a vida do casal, especialmente para a mãe. A resposta da mulher a essas mudanças é influenciada por fatores individuais, familiares, ambientais e socioeconômicos. Um dos fatores mais importantes que influencia bem-estar da mulher neste período é apoio que ela recebe daqueles que a rodeiam, principalmente do pai da criança (DUNKEL-SHETTER et al., 1996). Rossetti-Ferreira, Amorim e Vitória (1994) argumentam que tem aumentado a procura por contextos coletivos para educação e cuidado de crianças pequenas em creches e pré-escolas, tanto pela redução da rede de apoio social como pela oferta de oportunidades diferentes daquelas vivenciadas na família. Mesmo entre as mães que não trabalham fora, algumas têm esco- colocar a criança na instituição. Entre as possíveis explicações, é provável que essas se sintam, por vezes, sobrecarregadas com as tarefas domésticas e as relacionadas à maternidade, podendo ver na instituição uma oportunidade para satisfazer sua necessidade de dedicar um tem- po para si. Mas é também plausível que isso ocorra especialmente entre aquelas que acreditam que a escolha pela instituição se constitua em um bom ambiente para socialização e educação do seu filho. É comum os pais se sentirem inseguros e desconfiados, principal- mente quando se trata do primeiro filho, ainda bebê. Esses sentimentos podem ser devido à visão prevalente na sociedade de que a mãe tem Editora Mediação74 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL de cuidar de forma exclusiva dos pequenos, porque casal se preocupa com a competência de quem vai cuidar de seu filho ou até tem ciúmes deste AMORIM; 1994). Essas autoras, assim como Santos e Moura (2002), assinalaram ainda que os sentimentos dos pais também podem ser permeados por suas representações sociais sobre a instituição, pelos preconceitos que trazem de sua experiência de vida e que irão influenciar sua relação com a instituição, a forma como irão introduzi-la à criança e significado que lhe será dado. Além disso, muitos estudos, principalmente americanos e europeus, têm investigado as consequências dos cuidados alternativos sobre desenvolvimento infantil, em especial sobre apego mãe-bebê, mas eles têm relatado resultados muitas vezes inconsistentes (RAPOPORT; PICCININI, 2001; RAPOPORT, 2003). Como consequência das mudanças na sociedade, perfil das famílias que procuram a instituição de Educação Infantil, principalmente a creche, tem se alterado nas últimas décadas (ROSENBERG, 1995). Inicialmente, ela era utilizada principalmente por famílias operárias e de classe média cuja mãe precisava trabalhar, sendo que só mais tarde passou a ser pro- curada por famílias mais ricas que acabaram impondo-lhes novos padrões de qualidade. Segundo Rosemberg, aumento da oferta desses serviços e a melhoria da qualidade, por sua vez, favoreceram a entrada de mais mulheres no mercado de trabalho, já que dispunham de mais uma opção para cuidado do filho. Contudo, apesar das transformações sofridas pelas creches, elas continuam sendo encaradas por muitas famílias como ainda pouco con- fiáveis para a realização dos cuidados da criança pequena (AMORIM, 1997). Para Amorim, a sua estrutura básica de funcionamento pode, muitas vezes, entrar em conflito com valores socialmente incentivados como a busca de identidade e individualidade. espaço físico e os brin- quedos são comuns, as atividades são compartilhadas pelas crianças, e momentos considerados íntimos, como banho e a amamentação, tornam-se públicos. Um outro fato é que, tradicionalmente, a educação cabe ao adulto pela sua maior experiência. A proporção adulto-criança é pequena, e parceiro mais disponível para a interação são outras Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 75 crianças, levando os pais, muitas vezes, a acreditarem que faltam cui- dados apropriados a cada uma. Alguns pais consideram ainda a maior interação com parceiros pequenos "perigosa" tanto em termos de in- fluências sobre comportamento como em relação à integridade física dos filhos. Por fim, desempenho profissional dos educadores é muitas vezes questionável devido à longa jornada de trabalho associada a uma má remuneração e à baixa qualificação. Dentro desse contexto, para Amorim, existiria ainda uma indefinição sobre qual a principal função da creche: apenas atender as crianças en- quanto as mães trabalham ou ser um contexto educativo de desenvolvi- mento para a criança. Pode-se pensar que, com uma melhor qualificação das creches, essa dicotomia seja reduzida, e elas deixem de ser vistas como apenas dispensando cuidados básicos à criança e passem a ser vistas na sua função mais educativa. Na falta de uma política governamental e de um consenso da socie- dade sobre os cuidados alternativos, os pais têm que tomar uma decisão individual e complexa sobre o cuidado da criança pequena. Em geral, confiam na família extensa e na comunidade para se informar e legitimar suas decisões (HERTZ; FERGUSON, 1996), mas muitas vezes não ficam satisfeitos com as mesmas (LONG et al., 1996). Essa insatisfação pode estar associada a questões individuais, familiares, falta de informações adequadas para decidir, falta de preparo dos pais para fazerem essa escolha e também falta de opções dentro de suas condições socioeconô- micas. Existem casos ainda em que os pais dependem da disponibilidade de vagas na instituição mantida no local de trabalho ou na rede pública e devem aceitar a instituição que lhes é designada. Dentre os fatores associados à escolha da instituição, as diferenças culturais e sociais podem ser consideradas tanto isoladamente como também relacionadas a outros fatores considerados pelas famílias ao realizarem suas escolhas de cuidados para os filhos. Os estudos de Rossetti-Ferreira et al. (2002) e de Rosemberg (2002) discutem dife- renças nas políticas de Educação Infantil nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, que provavelmente também influencia nas escolhas dos pais. Chama a atenção, nesses estudos, baixo investimento dos Editora Mediação76 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL países subdesenvolvidos e a utilização de estratégias de menor custo e da própria exclusão no atendimento à população como um todo. No contexto brasileiro, uma pesquisa publicada na Revista Veja (1998), baseada em dados da Bemfam, revelou que, quando a mulher trabalhava fora, grande parte de crianças pequenas ficava aos cuidados de outros parentes (44%), da empregada/babá (15%), da instituição (14%), da filha mais velha (13%), do marido (5%), de amigos e vizinhos (4%) e do filho mais velho (2%). Em particular, em relação à Educação Infantil no Brasil, a Lei de Di- retrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996) define que a Educação Infantil deve ser oferecida em creches ou em entidades equivalentes, para crianças de zero a três anos de idade, e em pré-escolas, para crianças de quatro a cinco Um levantamento realizado no início do século mostrou que a Educação Infantil brasileira estava em expansão (MEC, 2001, referido em INEP). Apesar de ser definida como de responsabilidade dos municípios, os dados mostram que grande parte das famílias precisa recorrer a instituições particulares para que seus filhos pequenos sejam atendidos. custo financeiro dessa opção é, por vezes, tão alto que nem sempre compensa que a mãe saia de casa para trabalhar. salário que ela recebe, por vezes, não permite pagar a instituição do filho, que a leva a optar por cuidados menos qualificados. A escolha por colocar a criança pequena na instituição geralmente não é tarefa fácil para os pais e envolve considerações sobre vários fatores. Dentre os fatores que interferem nessa escolha destacam-se (FULLER et al., 1996): economia familiar: depende da participação da mulher no mercado de trabalho, do preço do cuidado alternativo e dos subsídios governa- mentais ou de empresas; estrutura social da família e apoio social para cuidado da criança: pai é principal substituto da mãe no cuidado da criança em algumas famílias, seguido por outro adulto que mora na casa e por irmãos; Com a mudança no Ensino Fundamental, a criança ingressa aos seis anos no primeiro ano. Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 77 sto e práticas e crenças parentais sobre cuidado das crianças: são as concepções dos pais sobre como educar a criança e suas expectati- vas em relação a ela, incluindo a importância de colocá-la em atividades Veja educacionais desde pequena; ulher grupo étnico: pode significar diferenças na estrutura social e eco- lados nômica relacionadas às oportunidades para obter cuidado para a criança; 4%), e do escolaridade dos pais: geralmente está associada a fatores como posição social, atitudes em relação à escolarização e desenvolvimento infantil, bem como aos recursos disponíveis; de Di- idade da criança: pode ser um determinante na escolha da cre- ação che, pois as crianças são mais prováveis de ingressarem em creches/ para pré-escolas à medida que se aproximam dos cinco anos. culo MEC, As razões que levam à escolha da instituição foram estudadas por dade Peyton et al. (2001), classificando-as em termos de qualidade, praticida- ecisa de ou preferência. As mães com nível socioeconômico mais elevado e ejam que trabalhavam menos horas tenderam a escolher cuidados baseadas nem em sua qualidade, mais do que devido às questões práticas como custo, que horário de funcionamento ou localização. Mães que relataram estresse relacionado à maternidade escolheram mais cuidados relacionados à ue a praticidade. Por fim, as mães que tinham uma preferência particular por determinado cuidado acabaram relatando maior qualidade naquele tipo não de cuidado do que os outros grupos. entre Em minhas pesquisas, verifiquei que os principais motivos para as mães optarem pela instituição estiveram relacionados, principalmente, ado aos benefícios para a criança e à restrição ou falta de provedores de apoio. Em relação à idade que as mães pretendiam colocar a criança, houve bastante variação, sendo algumas vezes condicionadas a fatores externos. Foi significativa a relação entre ingresso da criança na creche e emprego materno, no terceiro mês e no décimo segundo mês de vida nas da criança (RAPOPORT, 2003). ano. Editora Mediação78 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Vantagens e desvantagens SC Segundo Buffardi e Erdwins (1994), as mães das crianças que CC estavam em instituição de Educação Infantil apontaram benefícios pa educativos e de socialização da criança. Por outro lado, se mostraram lic menos contentes em relação à flexibilidade para levar e buscar a criança, bem como para cuidá-la quando ela estava doente, que exigia que qu arrumassem alguém para cuidá-la nessas ocasiões. As mães entrevista- Pc das mostraram-se pouco satisfeitas com a quantidade de atenção que a criança recebia na instituição. lic af Para Scarr (1998), os pais têm mais controle sobre a segurança da criança quando ela está numa instituição de boa qualidade do que quando escolhem outras formas de cuidado. Isso inclui a própria casa at onde elas nem sempre são supervisionadas, ficando, por exemplo, ex expostas a muitas horas frente à televisão. Além disso, em casa, ou- at tros familiares ou mesmo a babá podem não seguir as preferências de ca cuidado dos pais. en Os estudos e a própria experiência que tenho, nos últimos anos, revelam que a decisão de colocar ou não a criança na instituição de Educação Infantil não é tarefa fácil. Os pais geralmente são tomados at por dúvidas acerca da melhor forma de cuidado para filho e, quando lei precisam fazer essa escolha, se questionam sobre a melhor idade de in colocá-lo na instituição. Essa escolha é feita, muitas vezes, a partir de es conversas informais com parentes e amigos, pois não se encontra na literatura consenso sobre as vantagens e desvantagens de cada forma de cuidado, nem quanto às suas consequências para desenvolvimen- to infantil. Os achados são, muitas vezes, inconsistentes, seja quanto A às formas mais adequadas de cuidado seja com relação à satisfação pr dos pais pelas escolhas realizadas. Na verdade, há uma diversidade de fatores que afetam a escolha ou não da instituição, como questões et culturais, condições socioeconômicas e características da própria cr criança, dos pais e da família envolvendo, obviamente, a qualidade do tu atendimento dispensado. PI Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 79 É importante salientar que não existe "receita" sobre como decidir sobre colocar a criança na escola ou não. As características da criança, contexto familiar e social e as opções de cuidados devem ser analisados para escolher a melhor opção. Entretanto, deve-se sempre avaliar a qua- am lidade da instituição. É importante que a mulher possa planejar a volta ao trabalho para que processo de adaptação seja realizado de forma ade- que quada, evitando que haja uma separação abrupta da criança de sua mãe. sta- Por fim, uma escolha consciente e satisfatória contribuirá para evitar trocas que frequentes de cuidadores. As crianças pequenas necessitam de estabi- lidade nos cuidados recebidos para poderem estabelecer boas relações afetivas e vínculos de confiança e, nesse contexto, trocas de cuidadores não contribuem para seu É muito importante que os pais e a sociedade em geral deem muita asa atenção a esse momento de transição na vida da criança. Em função da extensão do papel da Educação Infantil como alternativa na sociedade ou- de atual, é fundamental que as autoridades passem a avaliar cuidadosamente cada uma dessas instituições para que se tenha parâmetros mais claros sobre as condições mínimas que cada uma deve oferecer. Como está em jogo a formação emocional, social e educacional das novas gerações, não se pode esperar que as forças de mercado criem um contexto de de competição entre as instituições, forçando-as a oferecerem um melhor atendimento, ou então que os pais, em sua grande maioria também do leigos sobre assunto atendimento infantil, possam, em uma visita à de instituição ou em um contato com a direção, avaliar adequadamente a de escolha que irão fazer. na Todas as instituições deveriam ter um padrão adequado de fun- cionamento e não se constituírem em meros "depósitos de crianças". A formação das novas gerações, cada vez mais, passa pelas creches e pré-escolas e essas precisam ter condições de oferecer cuidados básicos ade como alimentação e higiene e uma atenção diferenciada para cada faixa etária que facilite o desenvolvimento emocional, social e educacional da ria criança pequena. Qualquer atendimento que não atinja isso se consti- do tuirá em um desserviço à criança, aos pais e à sociedade (RAPOPORT; PICCININI, 2004). Editora Mediação80 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Importante A razão adulto/criança, ou seja, número de crianças por educa- dor: esse é um ponto essencial, pois um educador não consegue dar um atendimento individualizado quando está responsável por um grande número de crianças. A normatização prevê que se sigam os critérios de cada município, como estabelece a Resolução 246 de 1999, indicada an- teriormente. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), que também trazem indicações do que seria ideal, sugere-se, para as crianças de zero a 12 meses, seis crianças por adulto e não oito, como está na referida Re- solução, e aconselha-se, para crianças de 12 a 24 meses, não mais do que oito crianças por adulto. Dos 24 aos 36 meses, pode-se ter grupos de 12 a 15 crianças por adulto e, para os grupos de crianças de quatro a cinco anos, até 20 crianças por adulto. tamanho do grupo adequado a cada faixa etária: mesmo seguindo a razão adulto/criança indicada, deve-se cuidar para que não se formem grupos muito grandes. A segurança: dos acessos da instituição, da sala, dos berços, de ca- deirões, de trocadores, das escadas e janelas, dos móveis, dos brinquedos do pátio; cuidar do armazenamento de remédios e materiais de limpeza longe do acesso das crianças, inclusive tesouras utilizadas nas salas. Pla- nejar ações a tomar diante de situações de emergência e de acidentes com treinamento específico dos profissionais em prevenção de acidentes e primeiros socorros. espaço físico: tamanho do ambiente e a existência de espaço ade- quado para as crianças engatinharem e darem seus primeiros passos com segurança, ambientes arejados, a existência de um pátio com brinquedos adequados e caixa de areia, local e mobiliário adequados para o descanso e a alimentação de crianças pequenas. Os brinquedos e materiais disponíveis: devem estar em bom esta- do, adequados à idade e que visem ao desenvolvimento da criança e em Editora MediaçãoAndrea Rapoport et al. 81 locais acessíveis a ela. Por exemplo, espelhos, brinquedos diversos, livros, instrumentos musicais e sonoros, massa de modelar, argila, tintas, pincéis, ca blocos para construções, fantasias, entre outros, de acordo com a faixa um etária das crianças. de de A organização da rotina: é um fator organizador para a criança pe- an- quena que tem sua noção de tempo, por exemplo, associada aos fatos que em acontecem todos os dias. Ao falar em rotina, deve-se atentar para fato ero de que todos os momentos podem ser aproveitados para integrar atos de Re- cuidar e educar e devem ser permeados de afetividade e possibilidade de ue aproximação entre a criança e educador. Por exemplo, durante a troca de 12 fraldas, quando educador deve conversar com a criança, cantar músicas, fazer carinho, etc. planejamento das atividades: mesmo para os bebês, devem ser do planejadas atividades educativas, conforme proposto no capítulo 1 des- em te livro. À medida que crescem, aumentam essas possibilidades. Então, deve haver um planejamento sobre que será feito e por que será feito, além do conhecimento do que é esperado para desenvolvimento da ca- criança na faixa etária em que se encontra, buscando-se auxiliá-la nessas aquisições, bem como identificando O que pode estar causando eventuais eza atrasos no seu desenvolvimento. Todo planejamento deve privilegiar lúdico, ou seja, tempo e espaço para a criança brincar de forma livre e tes também orientada. tes As condições satisfatórias de trabalho dos educadores: a disponibili- dade e dedicação desses reduz os afastamentos por doenças, pedidos de de- demissão e rotatividade. os A interação dos educadores com os pais: oferta de horários para atendimento e acompanhamento individualizado da evolução da criança e de uma agenda que possibilite a troca de informações diárias. Observação da interação dos educadores e crianças pelos superviso- res: oferece indícios sobre como educadores lidam com as crianças. Editora Mediação82 DIA A DIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Os estudos aqui apresentados podem ser úteis também para edu- cadores e pais de crianças maiores, do Ensino Fundamental. Esse conhe- cimento poderá propiciar um repensar sobre a importância de tal período em seu desenvolvimento para valorizar e planejar adequadamente tal processo em escolas, auxiliando crianças de outras idades nesse momento tão importante de suas vidas quando precisam se afastar dos pais e in- gressar no ambiente de socialização, que representa a instituição escolar. Referências AMORIM, K. S. Processo de (re)construção de relações, papéis e concepções, a partir da inserção de bebês na creche. Ribeirão Preto, 1997. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Uni- versidade de São Paulo. BALABAN, N. início da vida escolar: da separação à independência. Porto Ale- gre: Artes Médicas, 1988. BLOOM-FESHBACH, S.; BLOOM-FESHBACH, J.; GAUGHRAN, J. 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