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O HOMEM 
E A BUSCA 
DE SENTI 
HELOÍSA REIS MARINO 
IVO STUDART PEREIRA 
LUIS ENRIQUE CARMELO (ORG.] 
MILENA CAROLINA DE CASTRO 
UM GUIA PARA ENTENDER 
VIKTOR 
FRANKL 
Neste livr o o leitor encontrará artigos 
sobre o tema central da obra de Viktor 
Frankl: o homem e a busca de sentido. 
Quatro especialistas da teoria frankliana 
descrevem a importância, a aplicação 
e as bases da Logoterapia e da Análise 
Existencial, além de uma introdução sobre 
sua vida e legado 
"O ser humano não é um ser que somente 
busca a satisfação das suas necessidades, 
que busca o prazer ou o poder; na reali-
dade, primariamente, ele busca preencher 
o máximo possível a sua vida de sentido. 
Ele busca sentido e é movido, então, essen-
cialmente, por uma vontade de sentido". 
"O fato de que o sentido reside no mundo 
e não em nós mesmos tem tal alcance que, 
na verdade, o homem não deveria pergun-
tar pelo sentido da existência, mas, inver-
samente, considerar a si mesmq como o 
interrogado, sua própria existência como 
o que deve ser interpretado e questionado. 
Ávida lhe faz uma pergunta, cabe-lhe res-
ponder e, assim fazendo, ser responsá-
vel. Deve, por conseguinte, buscar uma 
resposta para a vida, buscar o sentido da 
vida; esse, todavia, precisa ser achado, e 
não inventado. O homem não pode sim-
plesmente 'dar' um sentido à vida, tem de 
'experimentá-lo'". 
Jesus Rizzaldo
Destacar
O HOMEM 
E A BUSCA 
DE SENTIDO 
HELOÍSA REIS MARINO, IVO STUDART PEREIRA, 
LUIS ENRIQUE CARMELO (ORG.), MILENA CAROLINA DE CASTRO 
UM GUIA PARA ENTENDER 
VIKTOR 
FRANKL 
A U S T E R 
O HOMEM 
E A BUSCA 
DE SENTIDO 
HELOÍSA REIS MARINO 
IVO STUDART PEREIRA 
LUIS ENRIQUE CARMELO CORG.3 
MILENA CAROLINA DE CASTRO 
Wmm 
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UM GUIA PARA ENTENDER 
O h o m e m e a b u s c a d e s e n t i d o : U m g u i a p a r a e n t e n d e r V i k t o r F r a n k l 
L u í s E n r i q u e P a u l i n o C a r m e l o ( o r g . ) , H e l o í s a R e i s M a r i n o , I v o S t u d a r t P e r e i r a , M i l e n a 
C a r o l i n a B o c c h i d e C a s t r o 
I A e d i ç ã o — n o v e m b r o d e 2 0 2 4 — CEDET 
G r a f i a s e g u n d o o A c o r d o O r t o g r á f i c o d a L í n g u a P o r t u g u e s a d e 1 9 9 0 , a d o t a d o n o 
B r a s i l e m 2 0 0 9 . 
O s d i r e i t o s d e s t a e d i ç ã o p e r t e n c e m a o 
C EDET — C e n t r o d e D e s e n v o l v i m e n t o P r o f i s s i o n a l e T e c n o l ó g i c o 
A v . C o m e n d a d o r A l a d i n o S e l m i , 4 6 3 0 — C o n d o m í n i o C R 2 , g a l p ã o 8 
CEP: 1 3 0 6 9 - 0 9 6 — V i l a S a n M a r t i n , C a m p i n a s (SP) 
T e l e f o n e s : ( 1 9 ) 3 2 4 9 - 0 5 8 0 / 3 3 2 7 - 2 2 5 7 
E - m a i l : l i v r o s @ c e d e t . c o m . b r 
Editor: 
U l i s s e s T r e v i s a n P a l h a v a n 
Editor assistente: 
L u c a s G u r g e l 
Revisão: 
L u c a s F e r r e i r a L i m a 
Preparação de texto: 
L u c a s G u r g e l 
Capa: 
B r u n o O r t e g a 
Diagramação: 
V i r g í n i a M o r a i s 
Revisão de provas: 
N a t a l i a C o l o m b o 
T â m a r a F r a i s l e b e m 
T o m a z L e m o s A m a r a l 
Conselho editorial: 
A d e l i c e G o d o y 
C é s a r K y n d Á v i l a 
S i l v i o G r i m a l d o d e C a m a r g o 
F ICHA CATALOGRAFICA 
O h o m e m e a b u s c a de s e n t i d o : U m g u i a p a r a e n t e n d e r V i k t o r F r a n k l / L u í s 
E n r i q u e P a u l i n o C a r m e l o (org.) et a l . — C a m p i n a s , SP: E d i t o r a A u s t e r , 2 0 2 4 . 
ISBN : 9 7 8 - 6 5 - 8 0 1 3 6 - 4 6 - 9 
1 . P s i c a n a l i s t a s : b i o g r a f i a e obra 2 . L o g o t e r a p i a : p s i c o l o g i a a p l i c a d a 
i . F r a n k l , V i k t o r n . C a r m e l o , Luís E n r i q u e P a u l i n o m . M a r i n o , H e l o í s a R e i s 
i v . P e r e i r a , I v o S t u d a r t v . C a s t r o , M i l e n a C a r o l i n a B o c c h i de 
CDD 150.195092 / 158.1 
Í N D I C E PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO 
1 . P s i c a n a l i s t a s : b i o g r a f i a e o b r a — 1 5 0 . 1 9 5 0 9 2 2 
2 . L o g o t e r a p i a : p s i c o l o g i a a p l i c a d a — 158.1 
w w w . e d i t o r a a u s t e r . c o m . b r 
R e s e r v a d o s t o d o s o s d i r e i t o s d e s t a o b r a . P r o i b i d a t o d a e q u a l q u e r r e p r o d u ç ã o d e s t a 
e d i ç ã o p o r q u a l q u e r m e i o o u f o r m a , s e j a e l a e l e t r ô n i c a o u m e c â n i c a , f o t o c ó p i a , g r a v a ç ã o 
o u q u a l q u e r o u t r o m e i o d e r e p r o d u ç ã o , s e m p e r m i s s ã o e x p r e s s a d o e d i t o r . 
mailto:livros@cedet.com.br
http://www.editoraauster.com.br
Jesus Rizzaldo
Destacar
Sumár io 
U m homem em busca de sentido: vida e obra 
de Viktor Frankl 7 
Os pilares da Logoterapia e Análise Existencial 27 
D o vazio de sentido ao horizonte da responsabilidade 53 
Caminhos de sentido 83 
Logoterapia em poucas palavras 99 
A P Ê N D I C E 
Perguntas e respostas 121 
Bibliografia comentada de Viktor Frankl 131 
U m homem em busca de sentido: 
vida e obra de Vik tor Fran kl 
DescreverViktor Frankl apenas como autor de Em busca 
de sentido seria limitar sua importância. Embora esta seja, 
sem dúvida, sua obra mais importante e conhecida, sua 
contribuição foi muito além. Só para termos ideia da importância 
e reconhecimento de nosso personagem para a psicologia, em 
particular, e de seu nível de reconhecimento, em geral: recebeu 
ele 29 condecorações de doutor honoris causa de universidades 
do mundo todo, foi convidado por mais de 200 instituições para 
a ministração de cursos, congressos e palestras, e escreveu cerca 
de 40 livros, que foram traduzidos para 38 idiomas, incluindo o 
português, para o qual vêm sendo vertidas obras inéditas todos os 
anos, devido ao crescente interesse que o fundador da Logoterapia, 
considerada a Terceira Escola de Psicologia Vienense,1 suscita 
onde quer que se fale a seu respeito e se apresente sua teoria. 
Também vale mencionar que ninguém menos do que Madre 
Teresa de Calcutá, proclamada santa no Jubileu da Misericórdia 
pelo Papa Francisco e vencedora do Prémio Nobel da paz em 
1979, propôs que o psiquiatra austríaco Viktor Frankl pudesse ser 
reconhecido por seus trabalhos e receber semelhante honraria. 
1 Sendo a primeira escola de Freud e a segunda a de Adler. 
Jesus Rizzaldo
Máquina de escrever
01/19
Jesus Rizzaldo
Destacar
Jesus Rizzaldo
Destacar
Jesus Rizzaldo
Sublinhar
Jesus Rizzaldo
Sublinhado Rabiscado
Jesus Rizzaldo
Sublinhado Rabiscado
Jesus Rizzaldo
Destacar
Jesus Rizzaldo
Lápis
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
E por falar em paz, é ademais digno de nota o fato de que 
a então República Federal da Alemanha outorgou a Viktor 
Frankl a comenda da Grande C r u z com estrela de mereci­
mento, por seus muitos méritos com relação à reconciliação 
teuto-judaica. E até mesmo Hol lywood (EUA), com toda a 
sua pompa e promessas de fama e dinheiro à larga, chegou a 
sondá-lo com a intenção de transformar a história de sua vida 
em narrativa audiovisual, lançando nos cinemas u m filme no 
estilo de A lista de Schindler, dirigido por Steven Spielberg, o 
que, porém, nunca chegou a se concretizar. 
E r a u m sujeito simples, e manteve sua essência até os últi­
mos dias, permanecendo no mesmo apartamento em Viena, 
pequeno e sem grandes luxos — concessão esta que lhe fizeram 
após a Segunda Guerra Mundial , uma vez que a antiga casa 
não era de propriedade de sua família — , bem como dando 
continuidade a seus atendimentos clínicos e vivendo uma vida 
de entrega, doação e sacrifício. Dito tudo isto, você pode estar 
se perguntando: " Q u e m foi esse homem? Quais foram as suas 
contribuições para a humanidade? Quão grande podemos d i ­
zer que foi sua coragem?". E o que veremos a partir de agora. 
Primeiros anos: medicina, Freud e Adler 
Foi no famoso Café Siller, em Viena, que aos 26 de março de 
1905 Elsa Frankl começoumeio e apesar de todo bem-estar e 
opulência que nos rodeie (Frankl , 1984, p. 29). 
Como vimos na citação de Frankl , o ser humano, quando 
encontra sentido, é feliz e capaz de suportar o sofrimento. Essa 
busca de sentido, essa vontade de sentido, tem algumas conse­
quências — e a primeira é que, quando encontra sentido, ele é 
feliz. A felicidade não é uma coisa que se busca por si mesma. 
A felicidade brota espontaneamente pelo fato de se descobrir 
uma razão para viver, descobrir que a vida vale a pena. Espon­
taneamente se instala a felicidade, a alegria, o prazer de viver, 
a realização como pessoa. 
. FEL IC IDAD E 
SENTIDO 
Efei t o-conse q ué n c ia . CAPACIDADE DE 
ENFRENTAMENTO 
P E S S O A 
FORÇA 
MOTIVADOR A 
2 . FORÇA MOTIVADORA 
A segunda consequência da descoberta do sentido é a capaci­
dade de enfrentar o sofrimento. Quando uma pessoa descobre 
o sentido de algo a ser realizado, o valor de alguma situação, o 
para quê de uma ação ou uma atitude, como efeito desta desco­
berta, brota não apenas a felicidade, mas também a capacidade 
de enfrentar o sofrimento. Este vislumbre de que algo vale a 
pena ser realizado desperta na pessoa uma força motivadora, 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
uma força de realização, uma força de enfrentamento, a força 
para viver, para realizar, a força para superar as dificuldades 
e desafios, ou seja, a capacidade para enfrentar o sofrimento, 
a capacidade de sofrer por esta causa. A busca de sentido é a 
motivação própria, específica, da pessoa. E a dinâmica própria 
do ser humano. 
Só conseguimos viver porque acreditamos que pode haver 
algum sentido naquilo que fazemos. Nesta busca, em algum 
momento, podemos até nos equivocar, mas sempre agimos 
porque buscamos algum sentido; vislumbramos a possibilidade 
de um sentido na nossa ação, na conquista do nosso objetivo. Se 
há um sentido, então há também uma força de enfrentamento. 
3 . S ER E DEVER-SER 
O que mais ocorre quando se busca sentido? Quando buscamos 
sentido, nos encontramos num campo de tensão entre dois po­
ios,18 dois aspectos do ser: o que sou e o que devo chegar a ser. 
Cria-se como que um arco de tensão em nossa vida: caminha-se 
de uma situação atual para uma situação que pode ser transfor­
mada num sentido construtivo. Tendemos sempre para o que 
podemos vir a ser, para o nosso dever-ser. Caminhamos para ser 
melhores, para crescermos, para o nosso desenvolvimento, para 
o que somos chamados a ser. Esse arco de tensão é a própria 
dinâmica espiritual. Nos sentimos tensionados para a realização 
do nosso próprio desenvolvimento. È a vontade de sentido que 
move a nossa vida enquanto humana. 
18 Frankl, 2016a, p. 132. 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
Chegando a este ponto de nossa reflexão, podemos dizer 
que esses são aspectos essenciais do ser humano enquanto pes­
soa: a autotranscendência e a busca de sentido. Somos livres e 
capazes de ir além de nós mesmos para buscarmos o sentido 
da nossa vida, da nossa existência. Não buscamos somente a 
nossa satisfação, o prazer, ou um alívio de tensões. Quanto 
mais propósito de prazer alguém tenha, mais esquivo será. O 
princípio do prazer anula a si mesmo, diz Frankl . 1 9 O prazer 
nunca é a meta, antes é efeito colateral por termos alcançado 
uma meta. Se perseguimos a felicidade em si, perdemos de 
vista a razão para ser feliz e a felicidade desaparece. 
A tensão, ao contrário, vitaliza a busca e faz com que todo 
o nosso ser se empenhe quando vislumbramos algo a realizar, 
alguém a encontrar, uma atitude a tomar. 
O ser humano busca o sentido não para aliviar uma tensão 
ou para recuperar o equilíbrio. O ser humano não está i m ­
pulsionado para buscar o sentido, mas sim se orienta para o 
sentido e é atraído pelos valores. 
A autotranscendência é a dinâmica própria da vontade 
de sentido que move a pessoa para além de si mesma, que a 
ordena e a orienta para o mundo. O dinamismo espiritual da 
pessoa é um dos seus atributos humanos mais essenciais, uma 
vez que a arranca de uma vida meramente impulsiva e fecha­
da, em função de si mesma. Situa verdadeiramente a pessoa 
na sua existência — sempre original e aberta —, num campo 
de tensão entre o seu ser e o seu dever-ser. Frankl denomina 
esse movimento espiritual transcendente de "noodinâmica". 
A dinâmica do nous, do espírito. 
Nesta busca de sentido, participa sempre a liberdade do ser 
humano, pois a realização de sentido sempre implicará a toma­
da de uma decisão. E a Logoterapia trata de uma "vontade de 
19 2011,p.48. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
sentido" porque existe uma "diferença fundamental entre ser 
conduzido por um instinto e lutar pela realização de algo".20 
Sentido da vida: o aspecto objetivo da existência 
1 . O Q U E É O S E N T I D O 
A vida tem sentido. Tem-no sempre. E m todas as circunstân­
cias. " A vida nunca cessa de abrigar um sentido". Este é mais 
u m pilar da Logoterapia fundamentado na observação que se 
pode fazer no dia a dia da vida das pessoas. 
O ser humano está sempre orientado e ordenado para algo 
que não é ele mesmo; seja u m sentido que tem de cumprir, 
seja outro ser humano com quem ele se encontra. E m uma 
ou outra forma, o fato de ser pessoa aponta sempre para mais 
além de si mesmo, e esta transcendência constitui a essência 
da existência humana.2 1 O sentido é a meta última para a qual 
se dirige a vontade livre do ser humano. 
Sob o aspecto existencial, não podemos falar de um sentido 
universal para a vida, u m sentido único para todas as pessoas. 
Não podemos prescrever ou impor u m sentido para ninguém. 
Quando refletimos sobre o sentido, estamos analisando aquela 
experiência de descoberta que cada pessoa faz na sua vida, de 
que sua vida vale a pena, de que existe uma razão para viver. 
Trata-se, portanto, de uma experiência existencial pessoal. 
Assim, neste contexto, a questão não seria qual é o sentido da 
vida, mas o que é o sentido. 
O sentido não é uma mera categoria intelectual ou con­
ceituai; ou uma invenção pessoal ou atribuição subjetiva de 
significado, que corresponderia a uma criação de cada um. 
20 Frankl, 201 l , p . 59. 
21 Frankl, 2016a, p. 136. 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
O sentido é para ser encontrado e não para ser criado, insiste 
F r a n k l . 2 2 
Como realidade objetiva, que transcende o próprio sujeito, 
e facultativa, que envolve a liberdade humana, o sentido aponta 
não apenas para o "ser que é", mas também para um dever-ser 
ou u m "poder-ser"; desse modo, ele é captado por u m tipo de 
antecipação espiritual, pela intuição.23 
E m outras palavras, o sentido sempre se refere àquilo que 
a pessoa é "chamada a ser" na vida e também naquele instante 
que não se repete: "Realmente, a explicada existência humana, 
como algo de único e irrepetível, encerra uma vocação (Appell, 
apelo, chamada) para realizar as suas possibilidades únicas, que 
não se repetem". 
2 . DESCOBERTA DE SENTIDO 
Viktor Frankl, em um dos seus livros, refletindo sobre a questão 
do sentido da vida, afirma: " O sentido da vida é a própria vida" . 2 4 
Para que possamos compreender essa frase de forma concreta, 
pensemos num exemplo: quando alguém faz aniversário, quase 
sempre se realiza uma festa, ou seja, comemoramos a data. E 
"co-memorar" significa fazer memória juntos. Se comemora­
mos o aniversário de uma avó que completa 80 anos, fazemos 
memória juntos da vida dessa pessoa, dos bons momentos 
que ela experimentou e fez os outros experimentarem. C o ­
memoramos suas conquistas, suas realizações, tudo o que ela 
construiu: filhos, netos, bisnetos etc. O u seja, comemoramos 
a realização das possibilidades que a própria vida trouxe, que 
a vida lhe ofereceu. 
Mas e quando comemoramos o aniversário de uma crian­
ça de u m ano? O que comemoramos, se ela viveu muito 
pouco ainda? Celebramos, sem dúvida, seu nascimento,mas 
22 2011,p.87;2019,p.30. 
23 Frankl, 2017, p. 77. 
24 2019, p. 291. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
comemoramos, principalmente, o fato de que ela, tendo 
vida, traz no seu ser inúmeras possibilidades de realização. 
Manifestamos nosso desejo de que ela possa realizar, descobrir 
muitas coisas, superar as dificuldades, alcançar conquistas. 
O u seja, comemoramos o que ela pode " v i r a ser". Pois, pelo 
fato de ser, a criança é, potencialmente, mais do que ser: ela 
pode v i r a ser. E essa possibilidade também constitui a sua 
vida. Assim, sobre a afirmação acima, Frankl explica que 
nesta frase a palavra " v i d a " está colocada duas vezes, com 
significados diferentes. N o primeiro, trata-se da vida como 
nos é dada. Nossa dimensão psíquica, nosso temperamento, as 
características de nossa personalidade, nossas aptidões, nossas 
possibilidades físicas, tudo o que compõe o que recebemos 
geneticamente e na relação com o meio. Recebemos a vida 
como u m dom. Mas nossa vida não se restringe apenas ao que 
nos é dado, não somos apenas faticidade. N a segunda vez, a 
palavra vida significa a vida como tarefa, como missão, pois 
esta também faz parte de nós. Isso significa que, enquanto seres 
espirituais, também somos constituídos pelo que podemos v i r 
a ser; significa que carregamos potencialidades, possibilidades 
de realização que podem se tornar reais em cada circunstância 
da nossa vida. A vida tem sentido porque podemos fazer algo 
com o que nos foi dado como dom. Porque somos chamados 
a realizar algo. Portanto, o sentido da vida está na própria 
vida. Está na própria história, está nas possibilidades da nossa 
existência. O sentido da vida reside na descoberta de como 
posso dar minha resposta diante do meu próprio contexto, 
diante daquilo que é próprio da minha história, da minha 
existência, das minhas possibilidades. Reside na realização 
destas possibilidades. O sentido da vida reside, portanto, na 
própria vida. Mas não está somente naquilo que recebi: está 
naquilo que posso responder, naquilo que posso fazer com 
aquilo que recebi. E posso fazer algo porque sou um ser l ivre, 
autotranscendente, responsável. 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
F r a n k l 2 3 costumava citar em seus livros e conferências três 
perguntas fundamentais elaboradas pelo Rabino H i l l e l , que 
viveu 2 m i l anos atrás, e que nos ajudam a fazer essa reflexão 
a respeito do sentido da vida: "Se não sou eu que faço, quem 
o fará? Se não faço agora, quando o farei? E se fizer só para 
m i m , quem sou eu?". 
3 . O S E N T I D O É R E L A T I V O A C A D A P E S S O A 
"Se não sou eu que faço, quem o fará?", remete à nossa unicida­
de. Somos seres únicos, irrepetíveis. Nunca existiu, nem nunca 
existirá, outra pessoa como nós. Ninguém vai poder viver nossa 
vida por nós. Ninguém poderá escrever nossa história no nosso 
lugar. Somos chamados à vida e só nós podemos responder a 
esse chamado. Só eu posso viver minha vida de forma única 
e irrepetível, com tudo aquilo que recebi. Sou um ser único 
e irrepetível. Se não faço, se não respondo, se não dou minha 
resposta pessoal, essa página da minha vida fica em branco, 
ninguém vai poder dá-la por m i m . A medida que descubro 
minha unicidade — e também minha responsabilidade, pois 
descobrir minha unicidade significa descobrir que posso dar 
minha resposta — , também me dou conta de que a vida vale 
a pena. Vale a pena viver por aquilo que só eu posso e devo 
realizar, para deixar minha marca, minha assinatura, realizar 
a minha missão pessoal. Cada pessoa, entretanto, precisa fazer 
sua descoberta pessoal. Não podemos falar, neste contexto, de 
u m sentido universal, que sirva a todos. Só podemos falar do 
sentido pessoal, do sentido singular, que cabe a cada pessoa 
descobrir e realizar. O sentido é relativo a cada pessoa. 
Quando damos nossa resposta, em cada possibilidade, o que 
acontece? Estamos trazendo, do reino das possibilidades, uma 
delas para ser realidade na nossa vida. Quando o ser humano 
dá sua resposta, quando concretiza algo, diz sim para a possibi­
lidade, traz uma possibilidade para a realidade — realidade da 
25 2011,p.73. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
sua vida, da sua existência. E quando ele realiza algo, faz isso 
de uma vez para sempre. Nada pode ser apagado da sua vida, 
da sua história. E daí decorre sua responsabilidade por aquilo 
que constrói com sua vida. 
4 . O S E N T I D O É R E L A T I V O A C A D A SITUAÇÃO 
"Se não faço agora, quando o farei?" nos remete ao fato de que 
o sentido da vida, além de pessoal, também muda de momento 
a momento — remete-nos à unicidade de cada momento da 
vida. Precisamos, a cada momento, descobrir o sentido, fazer a 
descoberta de qual é a melhor resposta a dar em cada circunstân­
cia. U m a resposta que não pode ser qualquer uma. Precisamos 
descobrir o que a vida pede de nós em cada situação. Mas para 
descobrir isso, precisamos ir além de nós, nos abrir ao que nos 
rodeia. Se estivermos fechados em nós, não nos daremos conta 
de qual é o sentido da situação que estamos vivendo. O sentido 
se desvela em cada situação de nossa vida. Assim: 
Toda pessoa humana representa algo de único e cada u m a 
das situações da sua v ida , algo que não se repete. C a d a missão 
concreta de u m h o m e m depende relativamente deste 'cará­
ter de algo único ' , desta irrepetibilidade. E por isso que u m 
h o m e m só pode ter, e m cada momento , u m a missão única; e 
é assim, precisamente, que esta peculiaridade do que é único 
comunica a tal missão o caráter de absoluto.2 6 
5 . O S E N T I D O É O B J E T I V O E N O S T R A N S C E N D E 
E por f im, quando o Rabino H i l l e l pergunta: "Se fizer só 
para m i m , quem sou eu?", a pergunta nos remete à nossa 
autotranscendência: se viver somente em função de m i m , de 
forma egocêntrica, buscando somente a satisfação de minhas 
necessidades, os meus interesses, não estarei vivendo o que é 
próprio da minha humanidade, da minha essência. 
26 Frankl, 2016a, p. 105. 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
E por que o ser humano precisa ir além de si para descobrir 
o sentido? Porque o sentido é objetivo, é algo que nos trans­
cende. Está fora de nós. Está além da nossa subjetividade. O 
sentido não é uma ideia, não é só uma meta, u m propósito 
que posso definir. O sentido está relacionado com o que a vida 
espera de m i m . E precisamos ir além de nós para descobri-lo. 
Dizendo de outra forma, o sentido está além da mera satisfação 
das nossas necessidades, da nossa busca egocêntrica. O u seja, 
ele existe na concretude e nas situações objetivas da vida. Está 
além da dinâmica do nosso psiquismo, do nosso ego; enfim, 
o sentido nos transcende. 
6 . S E N T I D O DA VIDA, MISSÃO E IDENTIDADE PESSOAL 
Descobrir a própria vida como missão, em cada instante s in­
gular, possibilita o conhecimento do seu ser insubstituível e 
confere à vida o "valor de algo único". A descoberta do sentido 
desperta na pessoa o reconhecimento de sua identidade pessoal 
e de uma missão própria. A missão é o lugar por excelência do 
encontro e da realização do sentido. Somente no cumprimento 
das "missões pessoais", sempre concretas e específicas, se pode 
alcançar os valores e realizar o sentido vinculado a cada situação 
e, em última instância, o sentido da própria vida. 
E m vista disso, Frankl (2022) esclarece que existe u m duplo 
aspecto do caráter de missão da vida humana: 
A . U m aspecto de incumbência, de tarefa:27 somos chamados 
a responder à exigência objetiva e concreta de cada situação. 
Essas exigências ou tarefas são sempre objetivas, porque v i n ­
das do "mundo de fora"; são sempre singulares e irrepetíveis, 
porque sempre relativas a cada pessoa e situação; por f im, elas 
se apresentam mesmo à pessoa numa concretude e exatidão 
absoluta, como "uma missãoespecífica". 
27 Frankl, 2022, p. 57; 2016a, p. 104. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
Só na medida e m que nos entregamos, nos sacrificamos e nos 
abandonamos ao m u n d o e, a partir dele, às incumbências e 
exigências que se in t roduzem e m nossa v ida , só na medida 
e m que nos importa o m u n d o de fora e os objetos, mas não 
nós mesmos ou nossas próprias necessidades, só na medida e m 
que c u m p r i m o s as incumbências e exigências e realizamos 
sentido e valores, só nessa medida realizamos a nós mesmos . 2 8 
B . U m aspecto de dom: o encontro consigo mesmo, o co­
nhecimento das capacidades e valores, a atualização das próprias 
possibilidades, a descoberta e realização do que pode chegar 
a ser, também acompanham a descoberta de sentido na vida. 
O conhecimento e o cumprimento das próprias possibilidades 
são obtidos não diretamente, como f im da tarefa, mas como 
efeito da realização do sentido no cumprimento da missão. 
Se quero chegar a ser o que posso, tenho que fazer o que 
devo. Se quero chegar a ser eu mesmo, tenho que c u m p r i r 
c o m incumbências e exigências concretas e pessoais. Se o 
h o m e m quer chegar a seu eu, a seu si mesmo, o caminho 
passa pelo m u n d o . 2 9 
O conhecer-se e realizar-se a si mesmo exige, paradoxal­
mente, a saída de si mesmo — a autotranscendência — em 
direção a algo (ou alguém) além de si; exige o encontro com 
o sentido da vida, sempre único e irrepetível, que desemboca 
na descoberta da própria missão, da missão de cada instante e, 
em última instância, da missão da existência inteira. "Recebe­
mos a identidade como uma graça, se, esquecendo-nos de nós 
mesmos, nos entregamos a uma missão. Se perdemos de vista 
nossa missão, também perdemos nossa identidade".30 
Descobrir o caráter de missão da própria vida, nos orien­
tando para os sentidos a serem realizados nas incumbências 
28 Frankl, 2017, p. 105. 
29 Frankl, 2017, p. 105. 
30 Frankl, 2022, p. 22. 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
concretas e pessoais, se afigura ao ser humano como uma 
exigência irrenunciável para a autorrealização, para a saúde e 
a felicidade na vida. 
Algo nos espera na vida e precisamos despertar para isso. A 
vida espera algo de nós, e algo na vida, no futuro, nos espera. 
Somos pessoas únicas e irrepetíveis. Precisamos nos dar conta 
da unicidade que nos caracteriza como pessoas, pois esta: 
[...] dá sentido à nossa existência e i l u m i n a e m toda sua gran­
deza a "responsabilidade" pela nossa v ida e por tudo que 
podemos realizar. Saber o " p o r q u ê " de nossa existência nos 
ajudará a suportar quase todo " c o m o " . E a v ida está repleta 
de oportunidades para dotá-la de sentido.3 1 
HELOÍSA R E I S MARINO 3 5 
Referências 
FRANKL, V. E . La idea psicológica delhombre. Madrid: Ria lp , 1984. 
. A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da logoterapia. 
São Paulo: Paulus, 2011. 
. Psicoterapia e sentido da vida. São Paulo: Quadrante, 2016a. 
. Teoria e terapia das neuroses. São Paulo: E Realizações, 
2016b. 
. Logoterapia e análise existencial. R i o de Janeiro: Editora 
Forense, 2017. 
31 Frankl, 2022a, p. 46. 
32 Heloísa Reis Marino possui graduação em psicologia pela Universidade de 
Mogi das Cruzes. Atualmente é professora da pós-graduação em Logoterapia 
e Análise Existencial na Sobral (Associação Brasileira de Logoterapia e Análise 
Existencial Frankliana), Universidade Católica de Salvador, Faculdade Cató­
lica de Mato Grosso, Unilife Faculdade, Centro Universitário ítalo Brasileiro, 
Universidade Estadual da Paraíba, Núcleo Mineiro de Logoterapia, Instituto 
de Educação e Cultura Viktor Frankl. Tem experiência na área de psicologia, 
com ênfase em psicoterapia. 
O H O M E M E A BUSCA DE S EN T I D O 
. O sofrimento humano: fundamentos antropológicos da psi­
coterapia. São Paulo: E Realizações, 2019. 
. Sobre o sentido da vida. Petrópolis: Vozes, 2022a. 
. A vontade de sentido: conferências escolhidas sobre logoterapia. 
Campinas: Auster, 2022b. (Versão com referências) 
LERSCH, P. La estrutura de lapersonalidad. Barcelona: Scientia, 1971. 
LUKAS, E . Logoterapia: a força desafiadora do espírito. São Paulo: 
Loyola, 1986. 
PINTOS, C . G . Un hombre llamado Viktor. Buenos Aires: San 
Pablo, 2007. 
Do vazio de sentido ao hor izonte 
da responsabilidade 
Introdução 
O presente ensaio tem o objetivo de elaborar, a partir 
de três ênfases distintas, o aporte frankliano a respeito 
do vazio existencial. Nosso primeiro recorte temático 
será de natureza biográfica e buscará relacionar esse complexo 
fenómeno à trajetória pessoal de Viktor E m i l Frankl, numa 
perspectiva a partir da qual a própria génese da Logoterapia 
será evidenciada como parte de um processo mais amplo, que 
amadureceu em três fases fundamentais. Realizada essa contex­
tualização inicial, passaremos, no segundo momento de nosso 
trabalho, à análise da visão frankliana a respeito das causas do 
vazio existencial, discutindo seus condicionantes sociológicos 
e refletindo sobre seus respectivos impactos na cultura e saúde 
mental do século x x até a atualidade. Na terceira e última seção 
de nosso trabalho, avaliaremos os traços fundamentais de uma 
vida orientada ao sentido segundo a Logoterapia, buscando trazer 
ao leitor os pilares do "antídoto" frankliano contra o niilismo 
e o vazio de sentido. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
1 . O " I N F E R N O DO N I I L I S M O " E A " C A U S A DO 
S E N T I D O " 
É impossível, ou no mínimo inadequado, abordar a questão do 
sentido (e de sua aparente "falta") sem relacioná-la à biografia de 
Viktor Frankl , que viveu seus noventa e dois anos (1905-1997) 
inteiramente no século x x , um período de nossa história cujas 
duras lições ainda parecemos não ter assimilado por completo. 
Antes de tudo, devemos entender as razões pelas quais essa 
problemática se tornou historicamente relevante na vida do 
criador da Logoterapia. Ele costumava citar, nesse contexto, 
um pensamento bastante oportuno de Karljaspers: " O homem 
se torna o que é por força da causa que ele fez sua".1 
Se seu ilustre colega de medicina e filosofia estiver correto, 
por certo podemos assumir a ideia de que Frankl abraçou, 
desde muito cedo, a "causa" do sentido da vida, a partir de 
u m corajoso enfrentamento do niilismo latente na cultura, 
ciência e filosofia de seu tempo. Na conceituação própria da 
Logoterapia, o niilismo não seria uma postura ideológica de 
negação da realidade, mas do próprio sentido da vida. 2 Já a 
frustração (ou vazio)3 existencial seria a vivência pessoal desse 
niilismo,4 experimentado não como mero e distanciado objeto 
de reflexão filosófica, e sim como angustiante verdade pessoal. 
Na fascinante trajetória do pensador vienense, identifica­
mos três dimensões fundamentais desse precoce compromisso 
1 Jaspers apud Frankl, 2011, p. 53. 
2 Frankl, 1978, p. 187. 
3 Frankl se utiliza da expressão "vácuo existencial" como conceito propria­
mente logoterapêutico, isto é, como o vazio existencial compreendido à luz 
de sua abordagem: "Cada vez mais pacientes reclamam de uma experiência 
que eles mesmos, geralmente, chamam de 'vazio interior', e essa é a razão pela 
qual eu passei a utilizar a denominação 'vácuo existencial'. Numa distinção 
comparativa ao que Maslow tão bem descreveu como 'experiências de pico', 
poder-se-ia conceber o vácuo existencial nos termos de uma 'experiência de 
abismo'" (Frankl, 2011, p. 105). Para os propósitos deste ensaio, no entanto, 
utilizaremos "vácuo" e "vazio" indistintamente. 
4 Frankl, 1991, p. 73. 
D O V A Z I O D E S E N T I D O A O H O R I Z O N T E D A R E S P O N S A B I L I D A D E 
existencial, de modo que a questão do sentido e de sua ausência 
aparecem na vida de Frankl : 
1) Como drama pessoal; 
2) Como questão filosófica e; 
3) Como desafio clínico. 
Desse modo, em suas reflexões autobiográficas, o pai da 
Logoterapiarelembra que, pouco antes de adormecer em certa 
noite, aos quatro anos de idade, teve uma experiência visceral 
com a consciência de sua fmitude: perturbou-se com a ideia 
de que ele, também, teria que morrer algum dia. A questão, 
porém, não era apenas o medo da morte em si — Frankl afirma 
que nunca a temeu — mas, sim, se a transitoriedade da vida não 
anularia qualquer possibilidade de sentido.3 E m suma: como 
conciliar a ideia de fmitude com a de uma vida com sentido? 
Provavelmente, a partir desse insight "fundador", a Logoterapia 
dava seus primeiros passos, vindo a confundir-se com a própria 
vida do criador da Terceira Escola de Psicoterapia de Viena. 
Aqui , adentramos a primeira dimensão referida acima: a 
da falta de sentido como drama pessoal. Diante da pergunta 
sobre como chegou à questão do sentido e como descobriu a 
própria teoria, o psiquiatra vienense é bastante sincero e direto: 
C r e i o que se poderia dizer que, pr imeiro , descobri m i n h a 
teori a para m i m m e sm o. Costuma-se dizer que, quando 
alguém funda u m sistema psicoterapêutico, o que faz, resu­
midamente, é relatar seu próprio registro patológico, d e i -
x a n d o - o como registro escrito nesse sistema. Todos sabemos 
que S i g m u n d F r e u d sofreu de pequenas fobias e que Al f re d 
A d l e r não foi exatamente u m a criança forte e saudável. Dessa 
maneira , F r e u d chegou à sua teoria do complexo de Édipo, e 
Adler , à do complexo de inferioridade. D e v o dizer que não 
sou n e n h u m a exceção a essa regra. Tenho consciência de que, 
quando comecei a amadurecer, tive que lutar mui to contra o 
sentimento de que, ao fim e ao cabo, tudo era u m completo 
5 Frankl, 2010, p. 27. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
absurdo [sinsentido]. Aque la lut a acabou se conve rtendo 
em u ma d e t e r m i n a ç ão e, então, desenvolvi u m an t í d o t o 
con t ra o n i i l i smo . 6 
Logo se vê como a Logoterapia tem em sua génese a marca 
irrecusável do niilismo vivenciado pelo jovem Frankl : " E u 
preciso sabê-lo. Pois eu passei pela escola do psicologismo e 
pelo inferno do niilismo".7 Assim, o primeiro Homo Patiens a se 
beneficiar da Terceira Escola Vienense de Psicoterapia foi seu 
próprio fundador: um estudante de medicina judeu, intelec­
tualmente inquieto, de temperamento filosófico e vocação para 
o ativismo social, vivendo no berço histórico da psicoterapia, 
em pleno período entreguerras. O primeiro passo na sistemati­
zação dos fundamentos da Logoterapia foi, reconhecidamente, 
a necessidade de superar a vivência pessoal da falta de sentido: 
"Porém, interiormente, primeiro tinha que superar, de uma 
vez por todas, meu nii l ismo".8 
Ao mesmo tempo, a segunda dimensão mencionada aci­
ma envolveu a transposição conceituai dessa experiência de 
superação do próprio vazio interior. Abordar o problema sob 
uma perspectiva de distanciamento teórico auxiliou Frankl a 
compreender e elaborar os componentes de seu "antídoto". 
Essa vacina contra o desespero foi, então, sendo filosoficamente 
traduzida em um sistema teórico destinado a " imunizar" o 
maior número possível de pessoas, num contexto em que os 
desdobramentos da frustração existencial, na visão de Frankl , 
começavam a se tornar mais clinicamente prevalentes do que 
os relacionados às questões edípicas (Freud) ou de inferiori­
dade (Adler). 
Hoje acontece que o homem não se mostra capaz de dotar 
sua vida de um sentido. Ele não está mais, como na época de 
Freud, sexualmente frustrado, mas existencialmente frustrado. 
6 F r a n k l , 2 0 0 0 a , p p . 9 - 1 0 , g r i f o s n o s s o s . 
7 F r a n k l , 1 9 9 0 , p . 1 3 2 . 
8 Frankl, 2000a, p. 10. 
D O VAZIO D E SENTIDO AO H O RI Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
E sofre menos de um sentimento de inferioridade, como no 
tempo de Alfred Adler, do que de um sentimento de carência 
de sentido, de "vazio existencial", como o denominei. N o 
século passado, Schopenhauer ensinou que o homem oscila 
entre dois extremos, a necessidade e o tédio, e hoje o pêndulo 
está na segunda extremidade. N a sociedade afluente, há muito 
dinheiro, não há u m objetivo de vida. As pessoas têm de que 
viver, não para que viver? 
Nesse ponto, devemos frisar que, durante toda sua carreira, 
Frankl acreditou falar às necessidades do momento, denun­
ciando, mais especificamente, esse peculiar traço patogênico 
que foi exacerbado socialmente no século x x : o da negação do 
sentido da vida e seus impactos na saúde mental. Assim, numa 
obra originalmente lançada em 1978, afirmou: 
Basta considerar a emergência e a permanência e m todo o 
m u n d o do sentimento de falta de u m significado para a v ida . 
Se esta é a neurose de massa dos anos setenta, posso dizer c o m 
toda modéstia que seu advento e sua difusão foram preditos 
por m i m já nos anos cinquenta e, mais cedo ainda, nos anos 
tr inta, fornec i a sua terapia.1 0 
Contudo, no início de sua jornada com a questão do sentido, 
o jovem Frankl não conseguia enxergar um lugar adequado 
para o vazio existencial no quadro teórico das duas abordagens 
pioneiras com as quais aprendeu a técnica e a arte da psicoterapia. 
Na sua visão, nem Freud nem Adler pareciam ter uma resposta 
clínica que reconhecesse a autenticidade da busca humana por 
sentido. Ambos os métodos sofriam do mesmo mal: o vício 
do "psicologismo", que vislumbrava a totalidade do fenómeno 
humano a partir de um "monadologismo" subjetivista. Sob esse 
problemático olhar, toda a busca e todos os esforços humanos 
remontariam aos ditames de u m sistema psíquico fechado, 
9 Frankl, 1978, p. 57. 
10 Frankl, 2005, p. 11. 
O H O M E M E A B U S C A D E S E N T I D O 
regulado sob o princípio da homeostase e cego ao "mundo 
objetivo do sentido e dos valores".11 
Assim, o pai da Logoterapia via-se frustrado na tentativa 
de conciliar sua visão a respeito do vazio existencial com o 
"preceito psicologista que enxerga no homem, apenas, os 
esforços pelo apaziguamento de tensões internas, as quais 
transformariam o mundo e seus objetos em meros meios de 
regulação homeostática de conflitos subjetivos",12 seja no sentido 
psicanalítico (demandas pulsionais) ou adleriano (exigências de 
superioridade). Frankl precisava, então, acordar de seu "sono 
psicologista", e o responsável por isso foi, reconhecidamente, o 
filósofo alemão Max Ferdinand Scheler (1874—1928), cuja obra 
forneceu ao psiquiatra vienense os elementos estruturantes para 
uma visão de homem e de mundo digna dos desafios que ele 
buscou enfrentar: "Por esse tempo, enxerguei definitivamente 
meu próprio 'psicologismo'. Fu i totalmente sacudido por M a x 
Scheler, e carregava seu livro Formalismus in der Ethik [Formalismo 
na ética] como uma bíblia. Estava mais do que na hora de uma 
autocrítica de meu próprio psicologismo".13 
Pouco a pouco, a questão filosófica foi se transformando em 
desafio clínico — a terceira dimensão da "causa do sentido" 
na vida e obra de Frankl . Muito provavelmente, o pensador 
vienense concordaria com Albert Carnus ao menos na identi­
ficação do que talvez seria o único problema filosófico verda­
deiramente sério: o do suicídio, enquanto "fenómeno l imite" 
para o julgamento a respeito do valor e do sentido da vida. 
E profundamente indiferente saber qual dos dois, a T e r r a ou o 
So l , gira e m torno do outro. E m suma, é u m a futilidade. Mas 
vejo, e m contrapartida, que muitas pessoas m o r r e m porque 
consideram que a v ida não vale a pena ser v ivida .Ve jo outros 
que, paradoxalmente, deixam-se matar pelas ideias ou ilusões 
11 Frankl, 2014, p. 102. 
12 Pereira, 2021, p. 105. 
13 Frankl, 2010, p. 71. 
D O V A Z I O D E S E N T I D O A O H O R I Z O N T E D A R E S P O N S A B I L I D A D E 
que lhe dão u m a razão de v iver (o que se denomina razão de 
v iver é ao mesmo tempo u m a excelente razão de morrer ) . 
Julgo, então, que o sent ido da v ida é a mais pre me n tedas perguntas. '4 
Apesar de Frankl nunca ter reduzido a complexidade do 
suicídio, unicamente, à questão do sentido, para ele, a relação 
entre ambas essas dimensões era clara: " O que é o suicídio, 
porém, senão um não à questão acerca de um sentido da vida?".15 
Mesmo nos casos em que a frustração existencial não figura 
como principal "causa" da tentativa de tirar a própria vida, 
a orientação ao sentido sempre atua como fator de proteção: 
Pessoalmente não creio, de f o r m a alguma, que todo suicí­
dio, o u seja, que toda tentativa de suicídio, seja empreendida a 
partir da sensação de falta de sentido; mas m e parece certa­
mente pensável que ele não seria realizado se a pessoa referida 
tivesse visto u m sentido na v ida , ou talvez ainda até n u m 
sofrimento. C o m o diz C . G . J u n g : " O sentido faz muito , talvez 
tudo suportável". O u , para falar c o m Nietzsche: " Q u e m tem 
por que viver , suporta quase qualquer c o m o " . 1 6 
Isto explica seu envolvimento precoce com a questão do 
suicídio e de sua prevenção. Sempre digno de nota, por exemplo, 
foi seu envolvimento na organização dos chamados "centros 
de aconselhamento da juventude", u m serviço de atendimento 
psicológico gratuito que visava oferecer uma alternativa de 
enfrentamento ao considerável número de suicídios e fugas 
entre os jovens estudantes daquela Viena do final dos anos 1920. 
Eugénio Fizzotti, destacado logoterapeuta italiano, publicou 
uma coletânea com todos os artigos e ensaios publicados por 
Frankl entre 1923 e 1942,17 ano de sua deportação aos campos 
14 Carnus, 2004, p. 18, grifos nossos. 
15 Frankl, 2014, p. 301. 
16 Frankl, 1990, p. 26. 
17 Frankl, 2000b. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
de concentração nazistas. É curioso atestar que, dos quarenta e 
um textos compilados, vinte e um deles se refiram à experiência 
do aconselhamento juveni l . 
Assim, podemos ver como o jovem vienense orientou sua 
formação médica e filosófica para a questão do sentido e de 
sua frustração, buscando sempre atuar junto àqueles pacientes 
para os quais o vazio existencial representava um considerável 
desafio terapêutico. Desse modo, Frankl realizou sua residência 
médica em psiquiatria (1933—1937) no Hospital Steinhof onde, 
por quase quatro anos, dirigiu o pavilhão 3, conhecido infor­
malmente como "corredor das suicidas" (Selbstmõrderpavillorí). 
Nesse período, desenvolveu uma ampla visão diagnostica e 
terapêutica sobre o tema, por meio de uma casuística pessoal 
que chegou a 12 m i l pacientes.18 A expertise angariada tanto 
nos centros de aconselhamento da juventude quanto no Hospital 
Steinhof foi fundamental, também, para a atuação de Frankl 
no gueto de Theresiendstat, o campo em que passou a maior 
parte de seu período de cárcere.19 
Por último, mas não menos importante, tínhamos que nos 
ocupar da prevenção de suicídios. E u organizei u m serviço de 
informações, de m o d o que cada expressão de pensamentos ou 
intenções suicidas me era trazida rapidamente. O que deve­
r ia ser feito? T ínhamos que apelar para a vontade de viver , 
de seguir v ivendo, de sobreviver à prisão. Mas a coragem de 
v ida , ou o cansaço da v ida , acabou, e m cada caso, a depender 
somente do fato de a pessoa possuir o u não fé n u m sentido da 
v ida , da sua v i d a . 2 0 
Assim, após a libertação dos campos nazistas, ocorre, 
em 1946, a inauguração "editor ia l" da Logoterapia, com 
a publicação da obra Árztliche Seelsorge21, que apresenta — 
1 8 KiingbergJr., 2001, p. 73. 
1 9 Pereira, 2 0 2 1 . 
2 0 F r a n k l , 2 0 2 0 , p . 1 1 8 . 
21 A edição brasileira tem o título de Psicoterapia e sentido da vida (Frankl, 2003a). 
D O VAZIO D E S EN T I D O AO H O RI Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
como desdobramento das três fases analisadas aqui — a nova 
abordagem psicoterapêutica ao mundo. Dessa forma, após termos 
analisado o papel do vazio existencial tanto na trajetória de vida 
de Frankl como na génese de sua escola psicoterápica, temos 
condições de passar ao segundo momento do presente ensaio, 
que abordará a visão de nosso pensador a respeito das causas 
e desdobramentos desse fenómeno na contemporaneidade. 
2 . As RAÍZES E FORMAS DO VAZIO CONTEMPORÂNEO 
O que a ausência de sentido pode nos revelar sobre a natureza 
mais íntima e fundamental dos anseios humanos? Frankl per­
gunta a si mesmo, ao estilo kantiano, sobre as "condições de 
possibilidade" da frustração existencial e chega à conclusão de 
que, antes de tudo, o ser humano se revela ontologicamente 
estruturado para buscar e realizar sentido. 
Assim, a frustração existencial só pode ser compreendida 
a partir do esclarecimento de um princípio motivacional: " E 
a presença ubíqua do sentimento de falta de sentido pode nos 
servir de indicador quando se trata de encontrar a motivação 
primária, aquilo que no fundo o homem deseja".22 Estamos 
falando da chamada "vontade de sentido", cuja definição 
operacional seria: "nós chamamos de vontade de sentido sim­
plesmente aquilo que é frustrado no homem sempre que ele 
é tomado pelo sentimento de falta de sentido e de vazio" . 2 3 
Portanto, compreender o vazio é entender que a busca pelo 
sentido é um aspecto motivacional constitutivo do ser humano: 
"Chamamos de frustração existencial — de não realização 
da vontade de sentido — o sentimento de vazio existencial, 
o sentimento de uma existência sem objetivo e conteúdo".24 
Aceitando que a busca por sentido é inerente à condição 
humana, como explicar a intensificação do fenómeno do 
22 Frankl, 1991, p. 25. 
23 Idem. 
24 Frankl, 2016, p. 166. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
vazio existencial no século x x ? B e m , ao contrário dos demais 
animais, os seres humanos, em seu processo evolutivo, foram 
alcançando, cada vez mais, uma independência específica ante a 
própria programação instintiva. O animal, de certa forma, já é 
sempre idêntico aos seus instintos. E m outras palavras, sem esse 
nível de desprendimento frente à sua constituição pulsional, os 
animais serão apenas aquilo que a dinâmica instinto-ambiente 
comandar. Podemos dizer, então, que os animais e nossos an­
cestrais pré-humanos sempre "sabiam" o que fazer. 
Já no caso do homem, como pessoa espiritual, livre e respon­
sável, a construção do seu próprio ser já é, em si, problemática. 
Af inal , a partir de que critérios deve ele conduzir a própria 
liberdade? Durante séculos, o ser humano encontrou abrigo 
para essas questões ao abraçar a autoridade da tradição, que 
ao disseminar seus valores, conferia inteligibilidade ao dever 
e ao lugar de cada u m na vida e na sociedade. Contudo, con­
temporaneamente, temos assistido à derrocada da legitimidade 
dos valores tradicionais, que parecem ter perdido o poder de 
organizar a experiência humana em comunidade. Frankl, desse 
modo, sugere que o "desmoronamento das tradições seja o fator 
mais importante para explicar o vazio existencial", que tende, 
por essa razão, a ser mais penoso entre os jovens.2 5 
Ora, a sociedade industrial tem em vista diretamente sa­
tisfazer, se possível, a todas as necessidades humanas, e seu 
efeito colateral, a sociedade de consumo, busca até mesmo 
gerar necessidades, para poder, em seguida, satisfazê-las. A 
industrialização introduz-se justamente com uma urbanização 
e desenraíza o homem, na medida em que o aliena das tradi­
ções e dos valores mediados pelas tradições. Compreende-se 
por si mesmo que, sob tais circunstâncias, sobretudo a nova 
geração tenha de sofrer do sentimento de ausência de sentido, 
25 Frankl, 2005, p. 20. 
D O VAZIO D E SENTIDO AO H O R I Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
avaliação em favor da qual falam também os resultados de 
pesquisas empíricas.26 
A proliferação em massa do vazio existencial, que, para 
Frankl , remonta à primeira metade do século x x , também 
acarretaria consequências políticas em larga escala. 
Se eu devesse denunciar as causasdeterminantes do vazio 
existencial, diria que elas são redutíveis a u m a dupla reali­
dade: a perda da capacidade instintiva e a perda da tradição. 
Contrariamente ao que sucede c o m relação ao animal, n e n h u m 
instinto revela o que o h o m e m precisa (muss) fazer. E ao h o m e m 
de hoje nenhuma tradição diz o que deve (soll) fazer. E não raro 
parece desconhecer o que efetivamente quer ( twf l J .Em virtude 
disso, nele se manifesta c o m redobrado vigor a tendência de 
querer apenas aquilo que os outros fazem ou de fazer apenas 
aquilo que os outros querem. N o primeiro caso nos deparamos 
c o m o conformismo. N o segundo, c o m o totalitarismo.27 
O u seja, perdido na referência do seu dever-ser pessoal, o 
indivíduo pode tornar-se presa fácil da experiência totalitária, 
renunciando à sua liberdade e unicidade em favor de uma 
"causa" encarnada na figura do dirigente. No conformismo, 
também, o sujeito não se arrisca a honrar a própria consciência. 
O que o conformista deseja é diluir-se na massa, reproduzindo 
passivamente o que já vem sendo feito pelos demais. E m suma, 
no totalitarismo, faço o que os outros querem que eu faça. N o 
conformismo, faço o que os outros fazem. Ambas as posturas 
revelam uma fuga à própria liberdade e responsabilidade. 
Aqui , devemos atestar um particular alinhamento dessa 
leitura frankliana com o conceito sociológico de "anomia" 2 8 , 
26 Frankl, 2014, p. 283. 
27 Frankl, 1990, p. 15. 
28 A discussão a respeito dos condicionantes sociológicos do vazio existencial 
pode ser muito extensa. Para os propósitos deste ensaio, preferimos apenas 
mencionar o conceito de anomia, pelo fato de este ter sido introduzido por 
Durkheim num momento crítico para a compreensão de nosso tema — isto 
é, na virada do século x i x para o século x x , em especial, no seu clássico estu­
do sobre suicídio, de 1897. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
enquanto traço característico da modernidade. " A anomia 
implica o esvaziamento da referência das regras sociais que 
conferem os parâmetros para uma conduta socialmente desejável, 
tanto do indivíduo quanto das instituições".29 Relembrando 
os trabalhos seminais de Emi le Durkhe im (1858—1917), a so­
ciedade moderna se baseia bem mais numa interdependência 
funcional do que em consensos morais. Assim, chega-se ao 
dilema: "o poder tecnológico e a maior liberdade pessoal da 
sociedade moderna vêm ao custo do declínio da moralidade e 
a intensificação do risco de anomia".3 0 
E m resumo, pode-se notar que para D u r k h e i m 3 1 a anomia 
é uma condição endémica das sociedades modernas e é espe­
cialmente ativa no setor económico em que os valores morais e 
a ética estão determinados, em grande medida, pelas diretrizes 
do enriquecimento capitalista. "Esta condição dá às pessoas a 
sensação de u m vazio. Isto gera a percepção de perda de v a ­
lores, a própria vida é vista como sem sentido, e o resultado 
para muitos é anomia e a autodestruição".32 
Mas podemos afirmar que o vazio existencial é, em si, uma 
psicopatologia? O questionamento pessoal sobre o sentido seria um 
sintoma? Para Frankl, certamente, não. Trata-se, no mínimo, "de 
uma manifestação de maturidade intelectual"33 não mais aceitar 
passivamente os ditames da tradição como único guia possível 
para o esclarecimento do próprio dever-ser. Frankl reflete ainda 
que, se a frustração existencial "fosse" uma neurose, certamente 
seria uma neurose "sociogênica", isto é, que apontaria para uma 
etiologia sociológica, para uma sociedade "doente". Contudo, 
ainda que não tenha uma natureza necessariamente patológica, 
o vazio de sentido pode, sim, ser patogênico. 
29 Formiga, 2012, p. 37. 
30 Macionis et a!., 2010, p. 97. 
31 1928a, 1928b. 
32 Garcia, 2006, p. 194. 
33 Frankl, 2016, p. 18. 
D O V A Z I O D E S E N T I D O A O H O R I Z O N T E D A R E S P O N S A B I L I D A D E 
E m outras palavras, a frustração existencial pode integrar a 
etiologia de uma nova classe de neuroses proposta por Frankl : 
as chamadas "neuroses noogênicas", as quais v i r iam a apre­
sentar uma causa distinta das neuroses psicogênicas, visto que 
se originam na dimensão espiritual (noética), não na psíquica. 
Nos casos de neuroses noogênicas,34 "estamos lidando com 
enfermidades psicológicas que não têm, como ocorre com as 
( neuroses psicogênicas, suas raízes em conflitos entre diferentes 
impulsos ou entre componentes psíquicos, tais como os assim 
chamados id, ego e superego".35 
Nesses termos, o psiquiatra vienense defendeu que a primeira 
das cinco indicações da Logoterapia seria exatamente para os 
casos de neurose noogênica, como intervenção destinada a 
atacar a etiologia do transtorno: "Nessa sua primeira área de 
indicação, nós podemos, portanto, ver a logoterapia como uma 
terapia específica".36 Assim, cabe reforçar: 
Porém, apesar de não constituir efeito de u m a neurose, o 
vácuo existencial pode mui to b e m tornar-se sua causa. Nesse 
caso, teremos que falar, portanto, de u m a neurose noogênica, 
distinta, portanto, das psicogênicas e somatogênicas. Teremos 
logo que definir a neurose noogênica como aquela que é 
causada por u m conflito e m nível espiritual — u m c o n ­
flito ético o u mora l , como, por exemplo, o choque entre o 
mero superego e a autêntica consciência (esta, se necessário 
34 Nesse ponto, vale destacar o sufixo "gêníca", que aponta para uma etiologia a 
partir do espiritual (ou do noético). Enfatizamos não se tratar de uma neurose 
"noética" ou noológica, na medida em que, na teoria frankliana, a dimensão 
espiritual não é passível de adoecimento (Frankl, 2016, p. 65). E nesse sentido 
que ele esclarece: "Caso possamos falar efetivamente de neurose, precisa haver 
justamente uma afecção psicofisica. Sim, toda doença é, desde o princípio e 
já enquanto tal, uma doença psicofisica. Neste sentido, falamos de maneira 
consciente meramente de neuroses noogênicas — mas não de neuroses noé-
ticas: neuroses noogênicas são doenças 'surgidas do espírito' — , mas elas não 
são doenças 'no espírito'; não há nenhuma 'noose'; algo noético não pode 
ser em si e enquanto tal nada patológico e, assim, também não pode ser nada 
neurótico" (Frankl, 2014, p. 156). 
35 Frankl, 2020, p. 63. 
36 Frankl, 1991, p. 39. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
for, pode contradizer e opor-se àquele). Por último, mas não 
menos importante, a etiologia noogênica é formada pelo 
vácuo existencial , pela frustração existencial ou pela frustra­
ção da vontade de sentido ( F r a n k l , 2 0 1 1 , p. 112). 
Assim, a cronificação desse vazio, a partir do estabeleci­
mento de u m conflito de consciência, de u m dilema ético ou 
de uma crise existencial que não encontra meios de resolução, 
pode gerar o estabelecimento da neurose noogênica.37 F rankl 
chega a afirmar em várias de suas obras que cerca de 20% dos 
transtornos mentais38 recaem nessa nova classificação psico-
patológica. Contudo, o fato de a frustração existencial ser 
apenas "facultativamente patogênica" não quer dizer que ela 
não possa representar u m risco de morte ao indivíduo: "[. . .] 
ela pode levar ao suicídio, a u m suicídio não neurótico".39 Esta 
é a razão pela qual Frankl defendia que professores, filósofos, 
37 A esse respeito, indica-se o artigo " U m Estudo Experimental no Âmbito do 
Existencialismo: a Abordagem Psicométrica do Conceito Frankliano de N e u ­
rose Noogênica", de James Crumbaugh e colaboradores, publicado na obra Psi­
coterapia e Existencialismo: textos selecionados em logoterapia (Frankl, 2020). Como 
o próprio Frankl esclarece: " E é graças a James C . Crumbaugh, diretor de um 
laboratório de psicologia em Mississipi, que já dispomos de um teste (o PIL 
ou Purpose in Life-Test), elaborado pelo próprio Crumbaugh, com o objetivo 
específico de diferenciar o diagnóstico da neurose noogênica daquele da psi-
cogênica. Após avaliar os dados com a ajuda de um computador, ele chegou à 
conclusãode que a neurose noogênica constitui uma nova patologia, que su­
pera o âmbito da psicoterapia tradicional não só da perspectiva do diagnóstico, 
mas também da terapêutica" (Frankl, 2015, pp. 11-12). 
38 Curiosamente, numa conferência publicada no relatório do Congresso da 
Sociedade Alemã de Psicoterapia já em 1929, o célebre Carl Jung (1875-
1961) afirmara: "Aproximadamente um terço dos meus clientes nem chega 
a sofrer de neuroses clinicamente definidas. Estão doentes devido à falta de 
sentido e conteúdo de suas vidas. Não me oponho a que se chame essa doen­
ça de neurose contemporânea generalizada. N o mínimo, dois terços dos meus 
pacientes estão na segunda metade da vida" (Jung, 2022, p. 71). Como vemos, 
contemporaneamente a Jung, Frankl deu nome e estabeleceu tratamento para 
essa classe de neurose "clinicamente indefinida". 
39 Frankl, 2016, p. 228. 
D O VAZIO D E SENTIDO AO H O R I Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
teólogos e outras profissões também se ocupassem de prevenir 
e abordar esse vazio existencial ainda "benigno".4 0 
Esse posicionamento se torna ainda mais necessário diante 
da constatação frankliana de que o vácuo existencial também 
estaria por trás de u m processo de "neurotização" contem­
porânea da humanidade, marcada por três sintomas básicos: 
"depressão, agressão e adicção". Frankl , 4 1 numa obra lançada 
originalmente em 1974, põe-se a argumentar, com base em 
u m sólido corpo de pesquisa empírica do período, que o au­
mento, entre os jovens, das taxas de suicídio, criminalidade e 
dependência química tinham a marca da frustração da vontade 
de sentido. Mas o leitor pode se perguntar: será que essa leitura 
ainda se mantém relevante meio século após o "diagnóstico" 
frankliano? 
Há uma série de elementos para pensarmos que sim. T o ­
memos a situação específica dos Estados Unidos,4 2 onde, desde 
2014, pela primeira vez em cem anos, a expectativa de vida 
ao nascer começou a diminuir. E m particular, as taxas de 
mortalidade aumentaram 5,2% de 1999 a 2016 na população 
de homens e mulheres brancos "não hispânicos" entre 25 e 
64 anos, ao passo que, para outros grupos demográficos e 
etários, tais taxas têm diminuído. Esse relevante aumento na 
mortalidade para esse grupo tem sido associado ao aumento 
40 Seguindo a legislação de seu país à época, o pai da Logoterapia afirmava, no 
entanto, que o tratamento de neuroses — noogênicas, inclusive — deveria 
competir, privativamente, ao médico. 
41 2003b. 
42 U m a discussão mais aprofundada sobre a crise de sentido contemporânea e 
sua ressonância com o pensamento frankliano fugiria aos propósitos deste en­
saio. Contudo, caberia citar, brevemente, outro importante dado de contextu­
alização: " A pesquisa American Freshman rastreia os valores dos universitários 
desde meados dos anos 1960. N o final da década de 1960, a maior prioridade 
dos calouros era 'desenvolver uma filosofia de vida significativa'. Quase todos 
declararam que esse era um propósito de vida 'essencial' ou 'muito impor­
tante'. Já nos anos 2000, a grande prioridade passou a ser 'ser bem-sucedido 
financeiramente', enquanto apenas 40% afirmaram que o sentido era o obje­
tivo principal" (Smith, 2017, p. 15). 
O H O M E M E A BUSCA D E S EN T I D O 
das mortes por suicídio, abuso de drogas e doença hepática 
crónica associada ao álcool.43 Esses três fatores de mortalidade 
vêm se intensificando em paralelo desde 1999 e inspiraram a 
criação do conceito de "mortes por desespero".44 
Os economistas Case e Deaton introduziram o termo "mor­
tes por desespero" porque essas mortes podem compartilhar 
u m contexto de desesperança e indiferença em relação à vida. 
Como Deaton testemunhou perante o Senado dos E U A , suicí­
dio, uso indevido de drogas e o consumo excessivo de álcool 
são todos "resultados plausíveis de processos que vêm minando 
cumulativamente o sentido da v ida" . 4 5 
Como Frankl também previra, o avanço e a melhoria das 
condições materiais, em especial, dos países mais poderosos 
economicamente não seriam, por si só, capazes de resolver os 
desafios envolvidos no anseio humano por sentido. E m outras 
palavras, o estabelecimento do "Estado do bem-estar" e a 
consolidação da "sociedade afluente" não foram capazes de 
garantir, automaticamente, uma vida de sentido a seus membros. 
Raciocinando com Schopenhauer, como vimos, o pai da 
Logoterapia acreditava que esses países estariam na transição da 
"necessidade" para o "tédio". Aliás, tédio e indiferença seriam 
as duas formas, por excelência, de manifestação do vazio exis­
tencial: "Nesse contexto, enquanto o tédio significa uma perda 
de interesse — interesse pelo mundo — , a indiferença designa 
uma falta de iniciativa — a falta da iniciativa de transformar 
algo no mundo, de melhorar algo!".46 
" N a realidade das sociedades de abundância, as pessoas 
tendem a sofrer mais pela ausência de demandas do que pelo 
43 Chen et ai, 2020. 
44 Os criadores do conceito de "mortes por desespero" contextualizam, socio­
logicamente, essa tendência a partir do declínio da segurança económica, da 
falta de um sistema universal de saúde e da maior disponibilidade de acesso a 
opioides. 
45 Idem. 
46 Frankl, 2014, p. 282. 
D O VAZIO D E S EN T I D O AO H O RI Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
excesso delas".47 Os indivíduos, assim, veem-se cada vez mais 
poupados de um mínimo saudável de tensão, de desafios pes­
soais na construção da própria vida. 
Frankl argumenta que tanto a falta de tensão quanto aquela 
em excesso são, do ponto de vista logoterapêutico, igualmen­
te perigosas à saúde. A sociedade da fartura vai , aos poucos, 
convertendo-se em uma "sociedade do ócio". Há mais tempo 
livre, porém menos percepção de sentido para a vida. 
Dessa forma, diante da ausência de um tensionamento ade­
quado, surge a necessidade de criar tensões artificialmente. Isso 
pode ocorrer de modo saudável, como no caso do "ascetismo" 
da vida esportiva, ou de modo doentio, como na rebeldia au-
todestrutiva (e, frequentemente, criminosa) de certos grupos 
de jovens, como os mods, rockers e hooligans na Inglaterra dos 
anos 1960.48 
A tensão causada pelo sentido, por sua vez, é fonte de uma 
vida existencialmente realizada. 
Selye, o pai do conceito de estresse, admit iu recentemente 
que "estresse é o sal da v i d a " . E u dou u m passo adiante e 
declaro que o h o m e m tem necessidade de u m a tensão espe­
cífica, o u seja, daquele tipo de tensão que se estabelece entre 
o ser humano, de u m lado, e, do outro, o sentido que ele deve 
realizar. N a realidade, se o sujeito não é desafiado por u m a 
tarefa que exige o seu empenho, surge u m certo tipo de n e u ­
rose — a neurose noogênica . 4 9 
Dito isto, torna-se mais inteligível a conclusão a que chegou 
um relevante estudo de 2014,3(1 que entrevistou quase 140 m i l 
pessoas em 132 países a respeito de seus níveis de felicidade 
(compreendida como satisfação com a vida e afeto positivo) 
e de sentido. Os indivíduos dos países mais ricos revelaram 
47 Frankl, 2011, p. 62. 
48 Idem, p. 63. 
49 Frankl, 2005, p. 98. 
50 Apud Smith, 2017, p. 29. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
níveis de felicidade maiores do que os de regiões mais pobres. 
Todavia, os resultados envolvendo o sentido se mostraram 
bastante peculiares. 
Lugares ricos como França e Hong Kong tinham algumas 
das taxas mais baixas de sentido, enquanto as nações pobres 
Togo e Níger tinham índices dos mais altos, embora suas po­
pulações estivessem entre as mais infelizes do estudo. U m a das 
descobertas mais perturbadoras envolvia o número de suicídios. 
As nações mais ricas, ao que consta, têm taxas de suicídios 
bem mais altas do que as mais pobres. A taxa de suicídios no 
Japão, por exemplo, onde o P I B per capita era então de 34 m i l 
dólares, era mais que o dobro que o de Serra Leoa, onde o P I B 
per capita era de 400 dólares.51 
Verifica-se aí que os níveis de sentido constituem amelhor 
medida prognóstica para o suicídio, não os níveis de felicidade e 
conforto material, como se poderia supor. É bastante provável, 
assim, que a visão frankliana acerca do vazio das sociedades de 
abundância ainda seja muito relevante, instigando-nos à reflexão. 
Agora que elucidamos a relação biográfica de Frankl com o 
vazio existencial e analisamos as raízes e formas desse fenómeno 
à luz da Terceira Escola Vienense, convidamos o leitor a refletir 
conosco a respeito dos traços fundamentais da visão de homem 
e de mundo que sustentam o "antídoto" logoterapêutico contra 
a frustração existencial. 
3 . O A N T Í D O T O C O N T R A O D E S E S P E R O 
O primeiro passo para uma vida de sentido se dá a partir da 
compreensão do modo próprio de ser do homem no mundo. 
Essa forma tipicamente humana de ser tem o nome de "exis­
tência", o que implica que somos cercados, a cada situação de 
vida, por possibilidades concretas que conclamam de nós uma 
decisão. Esse "ser que decide" a todo momento se movimenta 
51 Idem, p. 29-30. 
D O VAZIO D E SENTIDO AO H O RI Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
na vida a partir da realização dessas possibilidades, que são 
"resgatadas" no reino do ser. 
Essas possibilidades são a matéria-prima da nossa liberdade: 
com elas, o indivíduo constrói não só o seu próprio ser, mas a 
parcela da realidade que só cabe a ele. Não se trata, contudo, 
de possibilidades "anónimas"! Elas só dizem respeito a você, 
como se fossem "encomendadas",52 não simplesmente "dadas" 
ou jogadas indiferentemente pela vida. Ninguém mais terá 
as mesmas possibilidades que chegarão a você, assim como 
ninguém ocupará sua mesma posição nesse reino do poder-ser. 
" E m última análise, o homem torna-se aquilo que fez de si. 
E m vez de ser totalmente condicionado por quaisquer condi­
cionamentos, ele constrói a si mesmo".53 
O fato de sermos livres, mas sempre no interior de uma 
situação com possibilidades específicas, implica que, obviamente, 
nem tudo está ao alcance do nosso querer. Nossa liberdade é, 
necessariamente, limitada pelo atravessamento do que Frankl 
chamou de "destino" (Schicksal). Este pode ser entendido como 
o conjunto de fatos e circunstâncias que, ocorrendo fora do 
poder de nossa decisão, condicionam nosso "ser-livre". 
Assim, todos nós somos marcados pelos destinos biológico, 
psíquico e sociológico. Não escolhemos nossos pais nem nossa 
carga genética repleta de forças e fraquezas. Tampouco esco­
lhemos diretamente nossa constituição psíquica, nosso coefi­
ciente intelectual, tipo de personalidade ou inclinação a certas 
psicopatologias. D a mesma forma, de saída, não escolhemos 
nossa classe social, nacionalidade ou grupo étnico. Todos esses 
condicionamentos atravessam e limitam, irrecusavelmente, tudo 
o que podemos realizar. Como afirmou Frankl : "Somente de 
maneira condicionada o homem é u m ser incondicionado".54 
52 Frankl, 2003a, p. 94. 
53 Frankl, 2020, p. 79. 
54 Frankl, 2014, p. 99. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
Porém nenhum condicionamento terá o poder de nos 
"pandeterminar", ou seja, de eliminar completamente nossa 
liberdade. Nesse sentido, não somos livres "dos" condiciona­
mentos, isto é, não podemos simplesmente eliminá-los a nosso 
bel-prazer. Nós somos livres, no entanto, "para uma tomada 
de posição diante de todas as condições".55 
Sendo assim, o destino não dá a última palavra sobre quem 
somos. E le , de forma alguma, nos exime de fazer o melhor uso 
possível de nossa liberdade. Mas, aqui, surge o questionamento: 
como saber qual é o critério para orientar nosso "ser-livre"? 
Será que ele ao menos existe? 
A mera autocompreensão como ser de liberdade não " i m u ­
niza" ninguém contra o vazio existencial. Posso me reconhecer 
livre, mas ao mesmo tempo me perder nesse horizonte de 
possibilidades. Af inal , são tantos os caminhos para minha au-
toconfiguração... Por que devo realizar uma possibilidade " x " 
e não a " y " ? Será que, no final das contas, tanto faz? Haveria, 
para além de m i m mesmo, algum critério que venha a nortear 
essa jornada de liberdade? 
Nessa perspectiva, "[...] os existencialistas chegam a essa 
dolorosa contradição de precisarem escolher sem qualquer 
princípio de escolha, sem nenhum padrão que lhes permita 
julgar se escolheram bem ou m a l " . 5 6 Essa aparente contradição 
seria o "fundamento da angústia existencialista".57 
Mas Frankl compreendia a situação de forma distinta. 
Para ele, esses possíveis, que captamos intuitivamente, não 
seriam, de forma alguma, indiferentes entre si. Na sua forma 
mais imediata de compreender a si próprio, o ser humano já 
entende que existe u m "critério" e que este não é fruto de suas 
maquinações subjetivas, como no caso de u m sonho ou de u m 
mecanismo de defesa. 
55 Frankl, 2003a, pp. 40-41. 
56 Foulquié, 1961, p. 50. 
57 Idem. 
D O VAZIO D E S EN T I D O AO H O RI Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
Na alegoria frequentemente utilizada pelo psiquiatra v ie ­
nense, cada situação concreta, definida pelas possibilidades 
que vêm ao meu encontro, encerra uma pergunta, algo como 
uma questão de múltipla escolha. Se eu acredito que não há 
u m "gabarito", ou ainda, que tenho que "inventar" a respos­
ta certa, provavelmente meu senso de dever será seriamente 
esvaziado: " O aumento da liberdade só será sentido como 
libertação se a pessoa libertada também souber o que quer. 
Af inal , ser livre sem saber 'para que' serve esta liberdade é uma 
liberdade acompanhada, a longo prazo, por uma sensação de 
vazio insuportável".58 
Sim, nossa liberdade está, a todo tempo, em busca de u m 
"para quê", de algo que a justifique para além de si mesma. Dessa 
maneira, Frankl se afasta daquilo que denominou "concepção 
existencialista comum", que compreenderia o ser humano como 
"meramente l ivre" . Para ele, todas as nossas possibilidades já 
são concomitantemente atravessadas pelo "mundo objetivo 
do sentido e dos valores",59 que confere uma ordem, uma 
estruturação axiológica a cada situação concreta: sabemos que 
há possíveis que são mais dignos de v i r a ser do que outros. 
Isso quer dizer que existe, sim, uma "resposta certa", que 
apresenta u m caráter de objetividade, exatamente na medida 
em que ela não se funda meramente nas minhas preferências 
ou condicionamentos pessoais. Essa "resposta certa" — isto é, 
a possibilidade mais axiologicamente elevada de cada situação 
— é o que Frankl entendeu como o sentido concreto de nossa 
existência. Esse sentido, ainda que objetivo, está sempre v i n c u ­
lado a um indivíduo absolutamente único e singular e à situação 
absolutamente única e irrepetível em que ele se encontra.60 
O sentido tem o poder de me convocar, de me atrair, de 
me tirar da apatia e da indiferença, exatamente porque eu me 
58 Lângle, 1992, p. 23. 
59 Frankl, 2014, p. 102. 
60 Frankl, 1985, p. 76. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
compreendo, de maneira personalíssima, como responsável 
diante dele. Assim, minha responsabilidade perante a vida se 
traduz numa responsabilidade para realizar o sentido único de 
cada situação: "responsabilidade significa sempre responsabili­
dade perante u m sentido".61 
Inaugura-se, aí, para além da dinâmica entre "ser e poder-ser", 
o domínio do dever-ser, no qual a vida se torna inteligível como 
missão absolutamente pessoal. Assim, somos a todo instante 
interrogados pela vida, e faz parte de nossa condição humana 
— dinamizada que é por uma "vontade de sentido"62 — a ne­
cessidade de responder a ela, de realizar a "resposta correta":63 
"A vida, gostaria de afirmar, é um período de perguntas e respostas 
que dura enquanto durar a vida".64 
Desse modo, não cabe a m i m o questionamento a respeito 
do que ainda posso esperar da vida. E u é que devo reconhecer 
que a vida, quando me questiona, espera algo de m i m . Eis a 
"guinada copernicana" de Frankl . 
O fato de que o sentido reside nomundo e não em nós 
mesmos tem tal alcance que, na verdade, o homem não deveria 
perguntar pelo sentido da existência, mas, inversamente, con­
siderar a si mesmo como o interrogado, sua própria existência 
como o que deve ser interpretado e questionado. A vida lhe 
faz uma pergunta, cabe-lhe responder e, assim fazendo, ser 
responsável. Você deve, por conseguinte, buscar uma resposta 
para a vida, buscar o sentido da vida; esse, todavia, precisa ser 
achado, e não inventado. O homem não pode simplesmente 
"dar" u m sentido à vida, tem de "experimentá-lo".65 
61 Frankl, 2003a, p. 55. 
62 "Mas como enfrentar a doença e o mal de nossa época, que têm como raiz 
uma frustração da vontade de sentido, se não adotarmos uma visão de ho­
mem que conceba a vontade de sentido como princípio motivacional?" 
(Frankl, 201 l , p . 201). 
63 Pereira, 2021. 
64 Frankl, 2005, p. 100, itálico original. 
65 Frankl, 1978, p. 34. 
D O VAZIO D E SENTIDO AO H O RI Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
O psiquiatra vienense compreende, então, o vazio existencial 
como um "paradoxo", na medida em que o indivíduo que o 
experimenta pode muito bem perceber-se, autenticamente, 
como u m ser de liberdade, mas ainda não possuir a devida 
consciência acerca de sua responsabilidade.66 Como vimos, 
"Liberdade é parte da história e metade da verdade. Ser livre 
é apenas o aspecto negativo do fenómeno completo, no qual 
o aspecto positivo é ser responsável".67 Nesses termos, Frankl 
"[...] vê na responsabilidade a essência propriamente dita da 
existência humana".6 8 
O papel do sentido na prevenção e promoção da saúde 
mental é assim resumido por ele: " N a minha opinião, estimular 
a vontade de sentido de u m homem, oferecendo-lhe possibi­
lidades de sentido, é o primeiro e mais importante objetivo 
da psico-higiene".69 
Nessa concepção, o que se mostra mais relevante, tanto para 
prevenir o vazio existencial quanto para tratar a neurose n o o ­
gênica, é o fortalecimento — ou a redescoberta — dessa 
consciência a respeito do próprio dever-ser, o que, inclusive, 
v e m , também, a " i m u n i z a r " o indivíduo contra o confor­
mismo e o totali tarismo.7 0 
C o m essa consciência desperta, a vida aparecerá "[...] não 
mais como uma realidade, mas antes como incumbência que 
nos é dada — é a cada momento uma tarefa".71 
Nestes termos, em princípio, o que em geral interessa à 
Análise Existencial é fazer com que o homem experimente 
vivencialmente a responsabilidade pelo cumprimento da sua 
66 Frankl, 2011, p. 124. 
67 Frankl, 2005, p. 54. 
68 Frankl, 1985, p. 98. 
69 Frankl, 2020, p. 137. 
70 Frankl, 1992, p. 70. 
71 Frankl, 1990, p. 78. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
missão; quanto mais o homem apreender o caráter de missão 
que a vida tem, tanto mais lhe parecerá carregada de sentido 
a sua vida. Ao passo que o homem sem consciência da sua 
responsabilidade encara a vida como algo simplesmente dado 
(Gegebenheit), a Análise Existencial ensina-o a vê-la como o 
caráter de algo que lhe é encomendado (Aufgegebenheii).72 
Quando nos reconectamos com nossa responsabilidade 
pela vida, vemo-nos diante do horizonte de nossa missão pes­
soal, que se apresenta, historicamente, sob a forma de tarefas 
concretas no "aqui e agora" de nossa existência. Nesse contexto, 
Lãngle assevera: "Viver com sentido significa, de maneira bem 
simples, realizar a tarefa que surge num dado momento"?2 Frankl 
faz equivaler as noções de "vida com sentido" e "vida com 
tarefas pessoais":74 "Então essa sua vida [com o fortalecimento 
da consciência] parecerá novamente ter sentido (e ter sentido 
significa ter tarefas [Aufgaben])".75 
Assim, ele acaba, então, por concordar com o célebre neu­
rocirurgião norte-americano Harvey Cushing (1869-1939), 
que teria dito que "o único modo de enfrentar a vida é ter 
sempre uma tarefa a cumprir" . 7 6 E nunca há de nos faltar 
uma tarefa: não há uma situação de vida que não encerre uma 
possibilidade de sentido. 
Cada dia, cada hora proporciona um novo sentido, e um 
sentido especial espera cada pessoa. O sentido é, portanto, 
sempre u m outro. Mas sempre há um, até o f im. Pois não há 
pessoa para a qual a vida não prepararia uma tarefa, e não há 
72 Frankl, 2003a, pp. 94-95. 
73 Lãngle, 1992, p. 39. 
74 " E m outros termos: o que interessa verdadeiramente é a entrega a uma tarefa, 
quero dizer, a uma tarefa pessoal e concreta que se torna clara no decorrer da 
respectiva Análise Existencial" (Frankl, 2015, p. 45). 
75 Frankl, 1992, p. 70. 
76 Frankl, 2020, p. 137. 
D O VAZIO D E SENTIDO AO H O RI Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
situação na qual a vida pararia de nos oferecer uma possibili­
dade de sentido.77 
Cada um de nós é o titular insubstituível da própria missão: 
ninguém pode nos representar nessa jornada, e isto confere à 
nossa vida o valor de "algo único". O conhecimento dessa missão 
tem um valor psicoterápico e "psico-higiênico" extraordinário: 
"Estamos certos em dizer que não há nada de mais apropriado 
para que um homem vença ou suporte dificuldades objetivas 
ou transtornos subjetivos, do que a consciência de ter na vida 
uma missão a cumprir" .7 8 
E m especial nas situações-limite, aquelas mais aparente­
mente desesperadoras, o sentido aparece como o para-quê-viver, 
quando u m querer-sobreviver se torna u m dever-sobreviver.79 Nesse 
contexto, o pai da Logoterapia fala de experiências "que con­
firmam até que ponto é correto e importante o que Friedrich 
Nietzsche disse: "só quem tem um 'porquê' para viver suporta 
quase qualquer 'como' v iver " . 8 0 Esse célebre aforismo implica 
que os "comos" da vida, isto é, suas circunstâncias de destino, 
por mais penosas e miseráveis que venham a ser, passam para 
o segundo plano "no momento e na medida em que para o 
primeiro plano passar o 'porquê'".81 
Por fim, o antídoto frankliano contra o vazio existencial 
se estabelece na convicção de que, enquanto houver para a 
pessoa humana u m ser-consciente, deverá haver, também, u m 
ser-responsável, de modo que a obrigação de realizar o sentido 
"[...] não deixa o homem em paz até o último instante de 
existência".8 2 F r a n k l , portanto, assume vislumbrar, nesse 
breve aforismo nietzscheano, u m "lema para a psicoterapia" 
(idem), entendendo que "dizer sim à vida" e tornar-se partidário 
77 Frankl, 1990, pp. 46-47. 
78 Frankl, 2003a, pp. 90-91. 
79 Pereira, 2021. 
80 Frankl, 1995, p. 123. 
81 Frankl, 2003a, pp. 90-91. 
82 Idem, p. 83. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
da responsabilidade seja uma tarefa árdua, mas altamente 
recompensadora.83 
Mas em média as pessoas são muito preguiçosas para assumir 
sua responsabilidade. E aqui a educação começa a preparação 
para a responsabilidade. Certo, a carga é pesada; é difícil não 
apenas reconhecer a responsabilidade, mas também declarar-se 
partidário dela. Dizer sim a ela — e à vida. Mas houve pessoas 
que apesar de toda dificuldade disseram sim. E se os prisioneiros 
do campo de concentração de Buchenwald cantaram em sua 
canção: "Nós queremos dizer sim à vida, apesar de tudo", então 
eles não apenas cantaram, mas também de múltiplas formas 
prestaram serviço; eles e muitos de nós da mesma forma em 
outros campos. E eles o fizeram em condições indescritíveis 
— sob condições exteriores e interiores das quais nós só 
hoje relatamos o bastante. Não deveríamos todos, hoje, sob 
condições incomparavelmente mais suaves, poder fazer algo? 
Dizer sim à vida não é apenas pleno de sentido sob qualquer 
circunstância — a própria vida o é — , mas também é possível 
sob qualquer circunstância. 
Ivo S T U D A R T P E R E I R A 8 4 
Referências 
C A M U S , A . O mito de Sísifo. Tradução de A r i Roitman e Paulina 
Watch. R i o de Janeiro: Record, 2004. 
83 Pereira, 2021. 
84 Ivo Studart Pereira é psicólogo, mestre e doutor em filosofia pela Universi­
dade Federal do Ceará. Autor dos livros A ética do sentido da vida (Ed. Ideiase 
Letras, 2012) e Tratado de Logoterapia e Análise Existencial (Ed. Sinodal, 2021). 
Como pesquisador da vida e obra de Viktor Frankl, integrou o conselho cien­
tífico da Associação Brasileira de Logoterapia e Análise Existencial (ABLAE) 
por duas gestões e traduziu duas obras fundamentais do pensador vienense: 
A vontade de sentido:fundamentos e aplicações da Logoterapia (Ed. Paulus, 2011) 
e Psicoterapia e existencialismo: textos selecionados em Logoterapia (É Realizações, 
2020). Atualmente, leciona em cursos de formação e pós-graduação em L o ­
goterapia e atua como psicólogo no Instituto Federal do Ceará (IFCE) 
D O VAZIO D E SENTIDO AO H O RI Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
C H E N , Y ; K O H , H . K . ; K A W A C H I , I ; B O T I C C E L I , M ; W A N D E -
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Care Professionals". JAMA Psychiatry, 2020. 
F O R M I G A , N . S. "Socialização ética, sentimento anômico e condu­
tas desviantes: verificação de um modelo teórico em jovens". 
Salud & Sociedad, Antofagasta, 3(1), pp. 32—48, 2012. Dispo­
nível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_art-
text&pid=S0718-74752012000100003&lng=pt&nrm=iso. 
Acessado em 06 fevereiro de 2024. 
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de Renato Bittencourt. R i o de Janeiro: Zahar Editores, 1978. 
. Em busca de sentido. Tradução de Walter Schlupp e 
Carlos Aveline. Petrópolis: Editora Vozes, 1985. 
. Psicoterapia para todos: uma psicoterapia coletiva para 
contrapor-se à neurose coletiva. Tradução de Antonio Allgayer. 
Petrópolis: Editora Vozes, 1990. 
. A psicoterapia na prática. Tradução de Cláudia M . Caon. 
Campinas: Editora Papirus, 1991. 
. A presença ignorada de Deus. Tradução de Walter Sch­
lupp e Helga Reinhold. Petrópolis: Editora Vozes, 1992. 
. Fogoterapia e análise existencial: textos de cinco décadas. 
Tradução de Jonas Pereira dos Santos. Campinas: Editorial 
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. £ M el principio era el sentido. Reflexiones en torno ai ser 
humano. Barcelona: Paidós Ibérica, 2000a. (Trechos neste 
trabalho traduzidos por Ivo Studart Pereira). 
. Las raíces de la Logoterapia. Buenos Aires: San Pablo, 
2000b. 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_art-
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
. Psicoterapia e sentido da vida. Tradução de Alípio Maia 
de Castro. São Paulo: Quadrante, 2003a. 
. Sede de sentido. Tradução de Henrique Elfes. São Paulo: 
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. Um sentido para a vida. Tradução de Victor Hugo L a -
penta. Aparecida: Ideias e Letras, 2005. 
. O que não está escrito nos meus livros — Memórias. Tradução 
de Cláudia Abeling. São Paulo: É Realizações Editora, 2010. 
. A vontade de sentido — Fundamentos e aplicações da Logo­
terapia. Tradução de Ivo Studart Pereira. São Paulo: Paulus 
Editora, 2011. 
. Logoterapia e análise existencial: Textos de seis décadas. 
Tradução Marco Antonio Casanova. R i o de Janeiro: Forense 
Universitária, 2014. 
. O sofrimento de uma vida sem sentido — Caminhos para 
encontrar a razão de viver. Tradução de Karleno Bocarro. São 
Paulo: E Realizações, 2015. 
. Teoria e terapia das neuroses — Introdução à Logoterapia e 
análise existencial. Tradução de Cláudia Abeling. São Paulo: 
É Realizações Editora, 2016. 
. Psicoterapia e existencialismo — Textos selecionados em 
Logoterapia. Tradução de Ivo Studart Pereira. São Paulo: É 
Realizações Editora, 2020. 
GARCÍA, J . M . R . "Análisis comparativo de confiabilidad 
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Porto Alegre, 40(2), pp. 193-204, 2006. Disponível em: 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
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sado em: 6 de fevereiro de 2024. 
J U N G , C . G . A prática da psicoterapia. Tradução de Maria Luiza 
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D O VAZIO DE SENTIDO AO H O RI Z O N T E DA RESPONSABILIDADE 
K L I N G B E R G Jr, H . When life calls out to us: The love and lifework of 
Viktor and Elly Frankl. Nova York: Doubleday, 2001. 
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ção de Helga Heinhold. Petrópolis: Editora Vozes, 1992. 
M A C I O N I S , J . J . ; G E R B E R , L . M . Sociology. Toronto: Pearson 
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S M I T H , E . S. O poder do sentido. Tradução de Débora Landsberg. 
R i o de Janeiro: Objetiva, 2017. 
Caminhos de sentido 
O ser humano é alguém que lança perguntas e se indaga 
sobre a vida e seu sentido, sobre o valor das coisas e 
sua missão neste mundo; mas é também um ser que 
tem, constantemente, a experiência de ser indagado, questionado 
pela própria vida. Fazer perguntas é, sem dúvida, uma marca 
constitutiva da pessoa humana; mas saber captar as indagações 
que a vida constantemente nos faz e respondê-las adequadamente 
é o que nos coloca em marcha na direção do sentido que tanto 
almejamos. 
A vida para Viktor F r a n k l é como u m interrogatório, 
no qual todos somos interpelados. Somos capazes de captar 
tais interpelações pela nossa consciência, devendo, portanto, 
respondê-las, e o fazemos sempre que agimos, tornando ato 
aquilo que antes era possibilidade. E m suas palavras, "[...] e nossa 
vida é, em última análise, u m interrogatório: constantemente 
a vida nos pergunta, e constantemente respondemos a ela. E m 
verdade, a vida é um 'perguntar e responder' muito sério".1 
A partir da visão de Viktor Frankl , quero conduzi-lo pelos 
caminhos que nos apontam para o sentido, ou, em termos mais 
franklianos, que favorecem a descoberta do sentido: quer seja 
1 F r a n k l , 2013, p . 54. 
O H O M E M E A BUSCA D E S EN T I D O 
o sentido das situações cotidianas, quer seja o sentido último 
da nossa vida. Se é fato que todos nós ansiamos por fazer uma 
experiência real e genuína com o sentido, podemos dizer que 
o início deste caminho consiste em tomar consciência de que 
a vida nos chama, de que algo nesta vida nos espera, e que isso 
é muito mais salutar — e propriamente humano — do que 
simplesmente esperar algo da vida, cobrando das situações, do 
governo, dos outros e do próprio Deus, que façam algo por nós. 
É inegável que todos nós, com uma certa frequência, 
venhamos a nos indagar sobre o sentido da vida. Esta é uma 
manifestação genuinamente humana e, por isso, constitui u m 
dos três pilares da Logoterapia. T a l pilar confere à sua criação 
uma concepção positiva do mundo, a partir de uma proposta 
filosófica profunda e de uma honestidade intelectual descon­
certante que irão afirmar categoricamente que a vida tem um 
sentido e que este sentido é incondicional. 
Contudo, a proposta deste capítulo é apresentar um caminho 
que torne possível tal descoberta de sentido, pois, não obstante 
ele ser possível, real, e até mesmo incondicional, não é uma 
imposição, não se apresenta como uma realidade factual, ou 
como uma espécie de destino, tal como postulado por Frankl . 
E m outras palavras, ninguém é obrigado a viver uma vida com 
sentido. Antes, isso se apresenta para nós como u m convite, 
uma possibilidade que se torna uma realidade benéfica e que 
promove o pleno desenvolvimento humano àqueles que estão 
dispostos a buscá-lo, àqueles que estão dispostos a viver uma 
vida valorosa, sem escapismos, sem conformismos, sem uma 
busca desenfreada e neurótica pelo prazer ou pelo poder, mas 
que, pelo contrário, desejam se pautar pelo sentido, caminhando 
com passos firmes e largos em sua direção,a sentir as primeiras contrações: 
Viktor Frankl estava prestes a nascer no f im daquela tarde 
de domingo primaveril. Sua mãe era judia e descendente de 
Salomão Ben Isaac, mais conhecido como Rashi , intérprete 
do Talmud, e de Maharal, rabino-chefe de renome. Seu pai, 
Gabriel Frankl , também de linhagem judaica, era um homem 
bastante duro e fiel aos seus princípios, vindo a ser, para o f i ­
lho, a personificação da própria justiça. Seu lema de vida era: 
"Como Deus quer, eu aceito". 
N a época da Primeira Guerra Mundial , eram precárias as 
condições da família Frankl , que necessitava de doações para 
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U M H O M E M E M BUSCA D E S E N T I D O : V I D A E OBRA D E V I KT O R FRANKL 
se manter. O próprio Viktor Frankl lembra de acordar antes 
de o sol nascer para tomar lugar na fila de distribuição do pão, 
e se até o início da manhã não chegasse sua vez, a mãe vir ia 
para substituí-lo, de forma que ele pudesse ir para a escola sem 
se atrasar. Desde o início enfrentou uma vida de privações e 
insegurança. 
Aos 4 anos de idade, Frankl tem um sonho bastante signifi­
cativo, descrito em algumas de suas obras. Ao acordar, diz para 
sua mãe que sonhou com.. . a morte. Naquele momento, pela 
primeira vez ele tem a clara percepção de que a sua vida é finita 
e de que algum dia morrerá. Começam a surgir em sua mente 
as primeiras questões filosóficas, as primeiras dúvidas quanto 
ao sentido da vida, e ele, como relata em O que não está escrito 
nos meus livros, acaba por chegar à conclusão de que somente a 
morte dá sentido à vida, pois somente ao percebermos a tem­
poralidade e a unicidade de nossa vida é que compreendemos 
a totalidade de nossa responsabilidade. 
Aos 16 anos, o jovem Viktor Frankl decide cursar medicina, 
altura em que conhece Sigmund Freud, de quem começa a se 
aproximar intelectualmente. E m uma das cartas trocadas entre 
os dois, Frankl enviou junto com ela u m manuscrito autoral 
em que apresentava reflexões acerca da origem da mimica, da 
afirmação e da negação, e que deixou o pai da psicanálise tão 
impressionado a ponto de propor que o trabalho fosse publicado 
na Revista Internacional de Psicanálise. 
Nessa mesma época, Frankl tem outro sonho muito sig­
nificativo: ele se vê na condição de médico, devidamente 
paramentado, dentro de uma sala de atendimento. N a sala 
anexa, há uma longa fila de pacientes aguardando para serem 
consultados. U m após o outro, ele os vai curando, sem usar 
nenhum tipo de medicamento, tão somente com o logos, isto 
é, a palavra — a essência da proposta da Logoterapia. 
Aos 19 anos Viktor Frankl entrou para o curso de medi­
cina da Universidade de Viena e, ao longo do seu percurso 
universitário, foi pouco a pouco percebendo as limitações 
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Logos, que significa palavra, linguagem, discurso, é de importância absoluta na comunicação.
Tanto que o Logos próprio, individual, se torna um processo sutil que vai interferir no interlocutor.
Ele passa a sabedoria (sophia) levando a mensagem pela qual se caracteriza o comunicador.
NO TELEGRAM LOGOTERAPIA
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Lógos reúne numa só palavra quatro sentidos principais: (1) linguagem; (2) pensamento ou razão; (3) norma ou regra; (4) ser ou realidade íntima de alguma coisa. – 
Logía, que é usado como segundo elemento de várias palavras compostas, indica: conhecimento de; explicação racional de; estudo de. 
O lógos dá a razão, o sentido, o valor, a causa, o fundamento de alguma coisa, o ser da coisa. É também a razão conhecendo as coisas, pensando os seres, a linguagem que diz ou profere as coisas, dizendo o sentido ou o significado delas.
NO TELEGRAM LOGOTERAPIA
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O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
da análise e obra freudianas, terminando por considerá-las 
reducionistas e niilistas. Para o jovem, a imagem que Freud 
tinha do ser humano era inadequada: fazia da parte o todo, 
apresentando-o somente a partir de seu funcionamento psí­
quico e de sua dinâmica intrapsíquica, sem considerar aquilo 
que é o próprio e especificamente humano. Segundo Frankl , 
a psicanálise procura fazer o homem aceitar e se adaptar ao 
que nele há de mais instintivo, pulsional e animal, sendo seu 
principal objetivo a homeostase, que, resumidamente, é uma 
forma de equilíbrio. Ao passo que, para Frankl , existe uma 
tensão que leva o homem do ser ao dever-ser. Cada homem não 
busca apenas aliviar tensões internas, satisfazendo-as; busca 
acima de tudo realizar valores e encontrar o sentido da vida. 
Isso é o que há de mais humano em todos nós. 
Foi então que, aos 21 anos, Frankl voltou os olhos para 
outro nome de peso da psicologia: Alfred Adler, o fundador da 
Psicologia Individual. E m resumo: para Adler, nascemos com 
uma vivência de inferioridade, um complexo, e passamos toda 
a vida em incessante busca pela superação desses sentimentos 
mediante ações, condutas e atitudes que sejam capazes de nos 
elevar, caminhando em direção a recompensas sociais e ao re­
conhecimento. Contudo, o problema é que Adler desconsidera 
quaisquer gestos genuinamente humanos e autotranscendentes 
(por exemplo, o amor), de modo que o ato de se dedicar a 
u m outro, fazendo disto a prioridade da própria vida e a ele 
entregando-se, não seria para o autor de A ciência da natureza 
humana senão uma tentativa de reconhecimento e uma busca pela 
superação do complexo de inferioridade. Se Freud se concentra 
na vontade de prazer, o foco de Adler é a vontade de poder. 
Por f im, Frankl chegará à conclusão de que este outro mestre 
também é um reducionista, pois não enxerga — ou ao menos 
não contempla em sua teoria — a possibilidade de o homem 
realizar valores, buscar u m sentido transcendente e sair de si 
mesmo, entregando-se a algo que esteja para além de si próprio. 
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U M H O M E M E M BUSCA D E S E N T I D O : V I D A E OBRA DE V I K T O R FRANKL 
Em busca do próprio caminho 
C o m o passar do tempo, os questionamentos e divergências 
entre os dois psicólogos foram crescendo, a ponto que Adler, 
numa sessão pública, expulsou Frankl de seu grupo de estudos. 
De personalidade forte, Adler não lidava bem com contradi­
tórios ou com colegas que em suas reuniões abrissem debates 
ou lançassem questionamentos. Frankl não foi o único a ser 
expulso do Café Siller, local em que se reuniam os adlerianos; 
meses antes dele, outros dois grandes pensadores haviam sido 
expulsos: R u d o l f Allers e Oswald Schwarz. A amizade com 
Allers era crescente e Frankl o considerava quase u m tutor, a 
ponto de, ao concluir seus livros, sempre enviar o manuscrito 
original para Allers avaliar antes de enviá-lo a editoras. 
E m 1927, aos 22 anos, Viktor Frankl promoveu a abertura 
de centros de aconselhamento especiais para jovens. Se sua 
decisão é fruto de uma alma atenta e delicada, sua preocu­
pação estava centrada na débil juventude austríaca que, cada 
vez mais, recorria ao suicídio como solução para os problemas 
sociais, políticos e institucionais, tão presentes neste momento 
entre guerras. O sucesso foi estrondoso: em quatro anos, foram 
atendidos milhares de casos de ideação e tentativas de suicídio 
nesses centros de aconselhamento. Resultado? O número de 
suicídios em Viena diminuiu drasticamente, e u m ano após o 
funcionamento desses centros o percentualdispostos a pagar o 
preço. "Obter sem pagar é u m desejo universal; mas é o desejo 
de corações covardes e de cérebros enfermos".2 
2 Sertillanges,2019,p.29. 
CAMINHOS D E SENTIDO 
Para bem compreendermos as contribuições de Frankl nesta 
busca que o homem faz pelo sentido, devemos realizar uma 
espécie de reviravolta, colocando-nos neste mundo não mais 
como aqueles que tão somente lançam questões e esperam por 
respostas, mas principalmente, e em primeiro lugar, como 
aqueles que se percebem indagados e assumem a responsabili­
dade, respondendo adequadamente a cada uma das perguntas 
que nos são lançadas. 
E aqui não está em jogo a percepção que temos acerca das 
interrogações da vida, o quanto somos negligentes ou atentos 
a estas perguntas, o conhecimento que temos ou deixamos de 
ter acerca disso; essas realidades em nada alteram o fato de que 
somos — queiramos ou não, saibamos ou não — indagados 
pela vida diariamente, a cada passo que damos, a cada hora 
que passa. Para Frankl , ainda que voluntariamente o homem 
se decida por suprimir interiormente a voz da própria cons­
ciência — consciência essa que capta o sentido presente em 
cada situação — , esta continua a atuar, pois jamais pode ser 
silenciada completamente. 
Neste interrogatório, portanto, o chamado é a garantia, nun­
ca está ausente, é sempre uma constante e uma certeza; minhas 
respostas, porém, nem sempre. Estas dependem de m i m . Sou 
livre tanto para enfrentar e superar os desafios da vida, como 
para me decidir por sucumbir e entregar os pontos. Sou livre 
para me posicionar diante do sofrimento inevitável da vida, de 
maneira a vivê-lo com coragem e dignidade, ou posso optar 
por me desesperar e agir de modo revoltoso, praguejando a vida 
e todos a minha volta. Sou livre para realizar meus trabalhos 
com dedicação, atenção e presteza, desejoso de entregar algo 
de valor ao mundo ou, por outro lado, posso fazê-los com u m 
profundo descaso, pensando tão somente no retorno que tal 
ação me trará. O u seja, neste interrogatório chamado vida, as 
perguntas nunca falham, tampouco tardam; e as respostas são 
sempre pessoais. Saber como respondê-las é a diferença entre 
viver uma vida autêntica ou inautêntica, com ou sem sentido. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
Precisamos aprender e também ensinar às pessoas em de­
sespero que, a rigor, nunca e jamais importa o que nós ainda 
temos a esperar da vida, mas sim, exclusivamente, o que a vida 
espera de nós. Falando em termos filosóficos, poder-se-ia dizer 
que se trata de fazer uma revolução copernicana. 
Não perguntamos mais pelo sentido da vida, mas experi­
mentamos a nós mesmos como os indagados, como aqueles 
aos quais a vida dirige perguntas diariamente e a cada hora — 
perguntas que precisamos responder, dando a resposta adequada 
não através de elucubrações ou discursos, mas apenas através 
da ação, através da conduta correta. E m última análise, viver 
não significa outra coisa senão arcar com a responsabilidade 
de responder adequadamente às perguntas da vida, pelo c u m ­
primento das tarefas colocadas por ela a cada indivíduo, pelo 
cumprimento da exigência do momento.3 
Esta afirmação de Frankl se encontra no seu livro Em busca 
de sentido,4 no qual ele relata de modo dramático sua experiência 
como prisioneiro nos campos de concentração nazista. E fato que 
praticamente toda a sua teoria já havia sido desenvolvida antes 
de ele ter se tornado prisioneiro nos campos de concentração; 
mas é neste cenário carregado de tragédias que encontramos 
muitos relatos de vivências triunfais que possibilitaram a Frankl 
e à posteridade ratificar o sentido incondicional da vida, com 
ainda mais convicção e força probatória. 
Frankl , o prisioneiro n° 119.104, nos diz em seus escritos 
que, muito embora compreendesse intelectual e teoricamente 
o sentido da vida, foram suas vivências ao longo de três anos 
como prisioneiro que o ensinaram a fazer cada vez menos 
perguntas e a responder cada vez mais à vida. 
Alguns meses após sua libertação, encontramos algumas 
cartas de Viktor Frankl , nas quais, de modo dramático e ex­
tremamente lúcido, ele fala sobre suas responsabilidades como 
3 Frankl, 2008, p. 99. 
4 FRANKL .Viktor E . Em busca do sentido: edição para jovens leitores. Campinas: Aus-
ter, 2023. 
CAMINHOS D E SENTIDO 
sobrevivente. Vale lembrar que Frankl , neste momento, já tem 
ciência de que seu pai, sua mãe, seu irmão, sua esposa e muitos 
dos seus amigos e tantos outros familiares haviam morrido nos 
campos de concentração. Para ele, a consciência de que ainda 
deve seguir respondendo aos chamados da vida e cumprindo 
fielmente seus deveres é de uma clareza desconcertante e se 
apresenta para nós com u m valor testemunhal belíssimo. E m 
meio ao caos, às dúvidas e ao luto, Frankl busca manter-se 
fiel aos seus deveres e encontra neles o ponto de apoio de que 
necessita para não sucumbir completamente: 
E compreensível que, de u m m o d o geral, eu me sinta como 
u m garoto que t e m de ficar detido na escola: os outros j á 
part i ram, e eu ainda estou lá, tenho de terminar m e u dever, e 
então poderei i r para casa.5 
E outra carta na qual ele diz: 
N ã o m e resta felicidade nesta v ida desde os martírios de 
m i n h a mãe e de m i n h a j o v e m esposa. N a d a m e restou — 
exceto a responsabilidade perante m e u trabalho intelectual, 
que tenho de realizar, ainda e apesar de tudo. 6 
Nesta citação percebemos uma forma específica de respon­
der ao chamado da vida, que se dá por meio de uma criação, 
de u m trabalho vivido como dever. E m sua teoria, Frankl nos 
apresentará u m itinerário mais amplo e que contempla todas 
as possibilidades humanas de realização de valor. Para ele, estes 
valores são realidades concretas e objetivas que se apresentam 
na vida de cada u m dos seres humanos; são realidades que nos 
convocam a sair de nós mesmos, a f im de que vivamos aquilo 
que é próprio da nossa essência; são oportunidades de descoberta 
de sentido que, uma vez captados pela consciência do homem, 
5 Frankl, 2021, p. 10. 
6 Frankl, 2021, p. 10. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
criam nele u m estado de tensão que possibilita caminhar em 
direção ao dever-ser. 
O homem, para Frankl , "nunca é, mas se torna". E u m ser 
que deve se fazer pelo caminho, deve se colocar neste inter­
rogatório que é a vida, comprometendo-se a afinar cada vez 
mais sua consciência a f im de captar de modo cada vez mais 
eficiente este chamado e desenvolver este hábito de sempre 
responder adequadamente, tornando-se, portanto, responsável. 
E nesta jornada existencial o que deve estar em jogo é: en­
curtar a distância entre os poios do "ser" e do dever-ser, entre 
aquele que hoje eu sou e aquele que eu devo me tornar. "Chega 
a ser o que só tu podes ser", este é u m imperativo frankliano, 
e segundo o autor é u m caminho possível e que deve ser bus­
cado por todos nós. Para tanto, se faz necessário a realização 
das possibilidades, destes valores tais como postulados pelo 
médico austríaco. 
O homem, efetivamente, assemelha-se a um escultor que 
trabalha com cinzel e martelo a pedra informe, de modo que 
a faz adquirir forma pouco a pouco. É como se o homem fosse 
modelando o material com que o destino o brinda: ora criando, 
ora experimentando vivências ou sofrendo, o homem procura 
"arrancar" valores da vida "a golpes", para transformá-los o 
quanto possível em valores criadores, vivenciais ou de atitude.7 
E m suma, para Viktor Frankl há três modos de caminhar­
mos para nosso dever-ser e para a descoberta do sentido da nossa 
vida; e cada um destes aponta para algo ou alguém que não o 
próprio indivíduo. Para ele: 
A o declarar que o ser h u m a n o é u m a criatura responsável e 
precisa realizar o sentido potencial de sua v ida , quero sal ien­
tar que o verdadeiro sentido da vida deve ser descoberto no 
m u n d o , e não dentro da pessoahumana ou de sua psique, 
como se fosse u m sistema fechado. C h a m e i essa característica 
constitutiva de " a autotranscendência da existência h u m a n a " . 
7 Frankl, 2010, p. 110. 
CAMINHOS D E SENTIDO 
E l a denota o fato de que o ser humano sempre aponta e se 
dirige para algo ou alguém diferente de si mesmo — seja u m 
sentido a realizar o u outro ser humano a encontrar. Quanto 
mais a pessoa esquecer de si mesma — dedicando-se a servir 
a u m a causa ou a amar outra pessoa — , mais humana será e 
mais se realizará.8 
Vejamos cada um destes valores. 
I . Valores criativos 
Cada ser humano é único e irrepetível e, como tal, traz 
características, capacidades e talentos de criação que são 
únicos. Deste modo, sempre que atua no mundo dando uma 
resposta ativa, pessoal e que se dá na concretude do dia a dia, 
o homem enriquece o mundo trazendo para este algo que 
antes não existia e que outrem jamais seria capaz de realizar. 
Não que outros não possam fazer coisas parecidas ou repro­
duzir ações aparentemente idênticas às nossas, entretanto, 
as nossas criações não são apenas realidades materiais, mas 
ações com intencionalidade, realizadas por uma pessoa, não 
apenas algo, mas algo feito por alguém. Aquilo que se faz é 
u m dado objetivo, mas quem o faz e o modo como o faz é o 
que confere valor à ação. Deste modo, cada ser humano traz 
esta capacidade de criar no mundo algo novo, e sempre que 
o faz deixa impressa a sua marca. 
Este valor de criação não se restringe apenas aos nossos 
trabalhos profissionais, mas envolve também nossos trabalhos 
habituais, nossas ações cotidianas, repetitivas, aparentemente 
simples e banais. Na medida em que o homem compreende o 
chamado que a vida está lhe fazendo naquela situação específica 
e responde — criando, atuando no mundo, dando algo de 
si — , ele caminha em direção ao sentido e à humanização. 
8 Frankl, 2008, p. 135. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
Certa vez, na cidade de Calcutá, na índia, um repórter 
observava o modo afetuoso e dedicado com que Madre Teresa 
cuidava das feridas purulentas de um leproso. Profundamente 
admirado, e ao mesmo tempo estarrecido, ele disse à Madre 
num tom de desabafo: 
— E u não faria isso nem por todo o dinheiro desse mundo. 
E de modo sereno a Madre lhe respondeu: 
— E u também não. 
A motivação da Madre estava em outro lugar; ela estava 
respondendo adequadamente ao chamado que a vida — de 
modo pessoalíssimo — lhe fazia. E l a foi capaz de encontrar no 
seu "ofício" de freira uma oportunidade concreta de realizar 
também diversos valores criativos. V i u naquele homem, naquela 
ferida, uma oportunidade de servir, de oferecer algo de si, de 
amar, de colocar-se à disposição, de consolar aquele que sofre 
e de amar ao seu Deus. Entendeu que poderia simplesmente 
lavar feridas, passar pomada, enrolar faixas, e assim encerrar 
mais um dia tendo vivido seu ofício e cumprido, de modo 
frio, mecânico e processual suas atividades habituais, ou que 
poderia realizar aquela ação colocando-se inteiramente naquele 
ofício, com atenção, carinho, compaixão e sem desejos egoístas. 
Estava lá para servir, e o que fazia não era por dinheiro ou 
fama, mas por amor. Para esta Madre, sua motivação religiosa 
lhe permitia tocar o extraordinário mesmo em meio às ações 
ordinárias. B e m se poderia aplicar ao seu ofício a frase de 
outro santo, contemporâneo seu: "Diante de Deus, nenhuma 
ocupação é em si mesma grande ou pequena. Tudo adquire o 
valor do Amor com que se realiza".9 
O valor dos nossos trabalhos, das nossas ações neste mundo, 
não se dá por conta daquilo que fazemos, mas antes pelo modo 
como fazemos e perante quem fazemos. U m a mesma ação pode 
ser vivida de modo egocêntrico ou autotranscendente. Posso 
9 Escrivã, 2016, p. 166. 
CAMINHOS D E SENTIDO 
realizar meus trabalhos por pura ambição ou, em meio a eles, 
encontrar uma oportunidade de realizar valores criativos, 
desejoso de enriquecer o mundo, de servir aos meus e de dar 
algo de m i m mesmo. 
[...] o que importa não é, de m o d o algum, a profissão e m que 
algo se cr ia , mas antes o m o d o c o m o se cr ia ; que não depende 
da profissão concreta c o m o tal, mas s i m de nós fazermos valer 
no trabalho aquilo que e m nós há de pessoal e específico, 
confer indo à nossa existência o seu "caráter de algo ú n i c o " , 
fazendo c o m que nossa ação adquira, assim, pleno sentido.1" 
Há um relato interessante no qual Frankl irá discorrer sobre 
o trabalho das enfermeiras. O que elas fazem neste trabalho? 
Fervem seringas, despejam e lavam os urinóis, ajudam doentes 
a levantar-se e a deitar-se e realizam muitas outras atividades 
protocolares, que podem ser vividas de modo bem mecânico 
e impessoal. Todavia, é no momento que uma enfermeira se 
decide a fazer algo para além de suas meras obrigações e passa 
a agir de modo pessoal — por exemplo, achando uma palavra 
de ânimo e consolo para u m paciente em estado grave — que 
consegue encontrar, naquele trabalho profissional, uma "opor­
tunidade para dar sentido à vida. Só que esta oportunidade, 
qualquer profissão a dá, desde que o trabalho respectivo seja 
retamente compreendido".11 
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és 
No mínimo que fazes. 
Assim em cada lago a lua toda 
Brilha, porque alta vive.12 
10 Frankl, 2010, p. 160. 
11 Frankl, 2010, p. 161. 
12 Fernando Pessoa, Poesia, Lisboa: Assírio & Alv im, 2000 [1933], p. 130. 
O H O M E M E A BUSCA DE SENTIDO 
2. Valores vivenciais 
Se antes falávamos sobre a importância das nossas ações, de uma 
resposta mais ativa da pessoa que é capaz de agir neste mundo, 
transformando-o e enriquecendo-o, agora somos convidados a 
olhar para outra capacidade que trazemos, que é a de acolher o 
mundo, receber aquilo que nele há de bom, belo e verdadeiro, 
como quem contempla e se enriquece mediante uma vivência 
passiva: "Onde tudo quanto o homem tem que conquistar, em 
geral, mediante u m agir, lhe cai do céu, por assim dizer".1 3 
Estes valores vivenciais nos recordam que nem tudo vem 
da força do nosso braço ou é fruto do nosso trabalho. Muitas 
realidades que nos enriquecem e nos promovem foram realizadas 
por outros, sem a minha participação, sem mérito algum da 
minha parte. Nesse sentido, a beleza, a arte e a natureza que 
me cercam são exemplos de transcendentais que me convocam 
à contemplação e que, quando valorados e apreendidos, tornam 
minha vida mais plena de significado. Observe que belíssimo 
e elucidador este exemplo de Frankl : 
Imagine-se que u m h o m e m , amante da música, está sen­
tado na sala de concertos e que, precisamente no instante 
e m que lhe soam aos ouvidos os compassos mais tocantes da 
sua sinfonia predileta, sente aquela forte c o m o ç ã o que só se 
exper imenta perante a beleza mais pura. Suponha-se agora 
que, nesse momento , alguém lhe pergunta se a sua vida t em 
u m sentido; a pessoa assim interrogada não poderá deixar de 
responder que valeria a pena viver , mesmo que fosse só para 
experimentar a vivência desse doce instante.1 4 
Nesta categoria de valor, o homem faz a experiência de ser 
amado. Ao abrir-se para o mundo, torna-se capaz de captar 
algo de realmente belo e genuíno que o toca, promove e ele­
va. O sorriso de uma criança, u m entardecer no campo, uma 
13 Frankl, 2010, p. 172. 
14 Frankl, 2010, p. 82. 
CAMINHOS DE SENTIDO 
música de harmonia inefável, uma pintura em tela que surge 
como u m portal e o conduz para um lugar distante e cheio de 
significados, u m momento de oração que lhe traz como que 
u m antegozo do céu, u m olhar amoroso que fita os olhos da 
pessoa amada e faz tremer — de alegria e assombro — cada 
fibra do seu corpo. Todas essas são situações diante das quais 
se torna possível realizar este tipo específico de valor. 
Esta nossa entrega aos valores e vivências faz-nos lembrar 
de quem nós somos e qual é nosso chamado neste mundo. Sãorealizações de valor que favorecem a tomada de consciência 
acerca do meu dever-ser. Segundo Frankl , alguém que porven­
tura estivesse sentado num f im de tarde num ônibus e tivesse 
diante dos seus olhos u m pôr do sol soberbo, ou ainda que 
tivesse próximo de si u m aroma agradabilíssimo e mui sutil de 
uma acácia em flor e, mesmo assim, decidisse por continuar 
lendo seu jornal ou entretido consigo mesmo — fechado para 
o mundo que o cerca — e não fizesse a real experiência de 
se entregar a esta possível vivência da natureza, poderia ser 
classificado como u m ser "esquecido do seu dever". 
Para que haja a realização destes valores se faz necessário que 
o homem saia de si mesmo, seja capaz de ir além de si próprio. 
O fato de estarmos diante de uma vivência mais passiva não 
faz com que estejamos fadados a receber estes impactos do 
mundo: sem uma abertura e uma resposta livre e pessoal, toda 
a realidade exterior não passa de meros estímulos sensoriais 
— cor, luz, brilho, sons, gestos —, que não encontram cor­
respondência em meu ser. Neste caminho de sentido, cabe ao 
homem apresentar-se à vida como alguém disposto a receber, 
a acolher e a acatar aquilo que de valor há no mundo. 
Eis um belíssimo relato de Frankl sobre o poder de arreba­
tamento que u m valor vivencial pode ter, ainda que a situação 
ao redor seja dificílima e que estejamos fisicamente abatidos: 
O u t r a vez, à noi t inha, estávamos estendidos no chão de terra 
do barracão, mortos de cansaço, o prato de sopa na mão, 
O H O M E M E A BUSCA D E S EN T I D O 
quando entrou u m companheiro correndo e mandou-nos 
depressa para a área de chamada da t u r m a , apesar de toda 
a nossa fadiga e do frio lá fora, só para não perdermos u m a 
visão magnífica do pôr do sol. V i m o s , então, o ocaso i n c a n ­
descente e tenebroso, c o m todo o hor izonte tomado de 
nuvens mult i formes e e m constante transfiguração, de f a n ­
tásticos perfis e cores sobrenaturais, desde o azul cobalto até 
o escarlate sangue, contrastando pouco mais abaixo c o m os 
desolados barracos cinzentos do campo de concentração e a 
lamacenta área onde é feita a chamada dos prisioneiros, e m 
cujas poças ainda se refletia o céu incandescente. E alguém 
e x c l a m o u , após alguns minutos de silêncio, arrebatado: " O 
m u n d o poderia ser tão be lo ! " . 1 5 
E m um de seus célebres textos, Lavelle nos apresenta, de 
modo belíssimo, uma experiência humana que está em pro­
fundo acordo com aquilo que nos fala Frankl ao apresentar tal 
categoria de valor. A leitura deste trecho pode ser, a depender 
do leitor, uma realização de valor vivencial, uma pequena ma­
nifestação epifânica de uma verdade que, em alguns momentos 
da nossa vida, conseguimos tocar, sentir, e que agora parece 
ser manifestada em palavras, pela pena deste douto homem: 
Há na vida momentos privilegiados e m que parece que o 
universo se i l u m i n a , que a nossa vida nos revela sua s ignif ica­
ção, que queremos o destino mesmo que nos coube c o m o se 
nós mesmos o tivéssemos escolhido; depois o universo volta 
a fechar-se, tornamo-nos novamente solitários e miseráveis, 
j á não caminhamos senão tateando n u m caminho obscuro 
onde tudo se torna obstáculo aos nossos passos. A sabedoria 
consiste e m salvaguardar a lembrança desses momentos f u g i ­
dios, e m saber fazê-los reviver e fazer deles a trama da nossa 
existência cotidiana e, por assim dizer, a morada habitual do 
nosso espírito (Louis Lavel le ) . 
15 Frankl, 2008, p. 58. 
CAMINHOS D E SENTIDO 
3. Valores atitudinais 
Há na vida, contudo, momentos em que parece que não nos 
restam muitas possibilidades, não estando ao nosso alcance re­
alizar valores criativos ou ainda vivenciais. O que restaria, por 
exemplo, a uma pessoa acamada que permanece por meses num 
leito de hospital, deitada, sem ver a luz do dia e sendo tomada 
por fortes dores? O u ainda a uma pessoa, terrivelmente injus­
tiçada e que agora não conta mais com "boa fama", dinheiro, 
carreira e amigos? O u a um homem enlutado que acabou de 
perder seus entes queridos num acidente? E não só estas situações 
extremas, mas aquelas mais pessoais e dolorosas que todos nós 
carregamos, aquelas contrariedades do dia a dia, aqueles limites 
físicos que possuímos, aquelas perdas irreparáveis que insistem 
em doer. Quando nada mais parece ser passível de mudança, 
o que nos resta? Para Frankl , resta-nos ainda mudarmos a nós 
mesmos! Estes são os valores que são realizados a partir de uma 
atitude adequada que a pessoa toma ante um destino imutável. 
Este mundo não é só marcado pelos belos pores do sol ou 
pelos talentos humanos vividos como criação, mas também 
pelo elemento da dor, da culpa e da morte; estas são realidades 
diante das quais devemos nos posicionar. Como diz Frankl , 
não há entre nós u m único ser humano que possa dizer que 
nunca falhou, que nunca sofreu e que não irá morrer. 
Pois bem, ensina-nos o psiquiatra austríaco que neste cami­
nho pelo sentido há sempre a possibilidade de nos depararmos 
com limites e sofrimentos, com destinos imutáveis e perdas 
irreparáveis. Entretanto, não têm essas realidades a última 
palavra; não precisam, portanto, ser vividas como obstáculos 
intransponíveis, pois diante de cada u m deles pode o homem 
tomar uma atitude. 
De cada uma dessas tragédias da vida (dor, culpa e morte) 
pode o homem extrair o melhor: a dor inevitável pode tornar-se 
uma conquista e ser vivida como uma realização humana; 
a culpa, por sua vez, pode ser vivida como uma tomada de 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
consciência dos meus erros que merecem reparo, como u m 
sinete que me lembre de minhas debilidades e falhas, bem 
como uma oportunidade para que eu mude para melhor; e a 
presença certa da morte pode se tornar u m incentivo para que 
eu viva uma vida mais atenta, intensa e valorosa. 
Ainda que não esteja sob o meu controle sofrer ou simples­
mente deixar de sofrer, está sob minha responsabilidade decidir 
de que modo sofrerei, podendo cair no desespero ou caminhar 
em direção ao sentido. Na clássica equação de Frankl temos: 
Desespero — sofrimento - sentido 
No entanto, esta mesma realidade trágica — o sofrimento 
— pode tornar-se uma vivência triunfal se, com as minhas 
atitudes, me decidir a fazer disto u m sacrifício; não mais so­
frendo como um desesperado, mas buscando fazer da minha 
dor uma entrega, uma oferta, certo de que posso sofrer por 
amor a algo ou alguém. 
Sacrifício = sofrimento + sentido 
Deste modo, chegamos à conclusão de que não é o sofrimento 
a causa de nossas "dores" existenciais, mas sim a dúvida acerca 
do seu significado: " O homem está preparado para arcar com 
qualquer sofrimento, desde que possa ver um sentido nisso".16 
A mesma dificuldade que pode se apresentar para nós como 
pedra de tropeço ou de perdição, pode também ser vista como 
u m meio de elevação, de grande crescimento pessoal e de uma 
experiência com o sentido da vida. 
O u a vida tem um sentido e este sentido é preservado até 
o f im e independe das situações ou já não é possível falar em 
sentido algum. Frankl relata que por vezes escutava alguns 
prisioneiros se indagarem sobre se ir iam sair ou não com vida 
16 Frankl, 2021 p. 188. 
CAMINHOS D E SENTIDO 
daquele campo de concentração, caso contrário — segundo 
eles — todo aquele sofrimento teria sido em vão. Frankl , ao 
contrário, irá dizer que a questão não pode ser formulada nes­
tes termos, mas sim da seguinte forma: será que tem sentido 
todo este sofrimento? Caso contrário, sair ou não com vida 
já não faz sentido algum. E conclui dizendo: " U m a vida cujo 
sentido depende exclusivamente de se escapar com ela ou não 
e, portanto, das boas graças de semelhante acaso, uma vida 
dessas nem valeria a pena ser v iv ida" . 1 7 
Esta categoria de valor lembra-nos que é possível que vivamos 
com dignidade nossos sofrimentos e com valentianossa ruína 
e que, deste modo, realizemos aquilo que há de mais humano, 
assumindo uma atitude positiva e de elevação mesmo em meio 
às maiores dificuldades e tragédias da vida. 
Frankl irá comparar o valor da atitude com a árvore que, 
no interior de uma floresta densa e não podendo se expandir 
na horizontalidade, pode ainda expandir-se verticalmente, 
crescendo para o alto. Assim acontece com o homem: ainda 
que a vida o aperte a tal ponto que ele não possa mais realizar 
valores criativos ou vivências — expandindo-se neste mundo 
com suas conquistas, trabalhos, amores etc. — , ele pode ain­
da crescer interiormente, aceitando o sofrimento inevitável e 
fazendo da aparente tragédia uma vivência triunfal. 
" H o m e m , atreva-te a sofrer". Esta é a convocação que o 
pai da Logoterapia nos faz. Af inal , como ele mesmo vai dizer: 
"a vida é paixão!". 
Diante do sofrimento, devemos evitar toda atitude de es-
capismo, covardia e vitimização. Porém, vale ressaltar que, ao 
se referir ao sofrimento, Frankl o faz sempre tendo em vista 
aquilo que é da ordem do inevitável; não há alusão alguma a 
um tipo de masoquismo, uma busca desnecessária pelo sofri­
mento. Nem escapismo, mas atrevimento. U m a atitude corajosa 
e propriamente humana de alguém que se sabe limitado e que 
17 Frankl, 2021 p. 188. 
O H O M E M E A BUSCA D E S EN T I D O 
está disposto a responder ao chamado da vida, mudando a si 
próprio quando já não pode mudar algumas situações. Não 
se trata, portanto, como vimos, de perguntar pelo sentido da 
vida, uma vez que somos nós os indagados. Neste caminho 
pelo sentido, o que devemos é, nas palavras de Frankl : "Dizer 
S I M à vida, apesar de tudo". 
Luís E N R I Q U E C A R M E L O P A U L I N O 
Referências 
E S C R I V Ã , J . Sulco. 4. ed. São Paulo: Quadrante, 2016. 
F R A N K L , V. E . Psicoterapia e sentido da vida. Fundamentos da logote­
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, Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 
31. ed. Petrópolis: E d . Vozes, 2008. 
. O que não está escrito nos meus livros. São Paulo. É re­
alizações, 2010. 
. A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da logoterapia. 
2. ed. São Paulo: Paulus, 2013. 
. A falta de sentido: um desafio para a psicoterapia e a filosofia. 
1. ed. Campinas: Auster, 2021. 
L A V E L L E , L . A intimidade espiritual. Campinas: Vide Editorial , 
2023. 
S E R T I L L A N G E S , A . D . A vida intelectual. Campinas: Kírion, 2019. 
Logoterapia em poucas palavras 
A Logoterapia fala às necessidades do momento! 
— Viktor Frankl' 
Aobra de Viktor Frankl pode ser considerada um verda­
deiro tratado de humanidade por retratar o ser humano 
naquilo que há de mais sublime em sua natureza e que 
o identifica enquanto ser vivente. Embora seja categorizado pela 
ciência como um ser que pertence a um reino, uma espécie, 
uma raça, isso não expressa a totalidade da sua existência, uma 
vez que lhe é própriauma tridimensionalidade, que o apresenta 
como um ser B I O P S I C O E S P I R I T U A L . 
Pensar o ser humano na sua essência exige uma compreensão 
da sua totalidade, que se apresenta em três dimensões, distintas 
no modo de ser, mas integradas e indivisíveis, que não podem 
ser apartadas e nem somadas a nada. A visão antropológica da 
Logoterapia apresenta um organismo biopsíquico, que integra 
corpo e alma (psique), mas essa unidade ainda não expressa a 
totalidade de seu ser, e Frankl é bem categórico em relação 
a isso ao dizer que: " A totalidade do homem pertence a u m 
1 Frankl, 201 l , p . 10. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
terceiro elemento — essencialmente, o espiritual".2 Sua visão 
de pessoa apresenta o ser humano completo, naquilo que o 
diferencia dos outros seres viventes, que é a espiritualidade. 
Dessa forma há uma unidade entre as dimensões biológica, 
psíquica e noética (ou espiritual). O u seja, u m organismo bio­
lógico que constitui o homem e revela órgãos e sistemas que: 
sustentam a vida humana em pleno funcionamento; trabalham 
em harmonia (bem sincronizados); regem os batimentos car­
díacos, a circulação, a respiração; capazes de metabolizar os 
alimentos; filtrar as impurezas; produzir energia para a nossa 
sobrevivência. Juntamente a esse organismo biológico, temos o 
cérebro, dotado de sua anatomia e "soberania" por ser o grande 
maestro, que rege os movimentos do corpo, os estímulos e as 
respostas do sistema nervoso, capaz de perceber o que acontece 
ao nosso redor, captar perigos e lutar ou fugir de situações de 
risco. E le também rege com maestria os sentidos: visão, fala, 
audição, vias olfativas e sensoriais — por meio deles experi­
mentamos o mundo. Além disso, o cérebro possui a capacidade 
de regeneração a partir da neuroplasticidade. 
Na dimensão psíquica, são desenvolvidas as capacidades de 
atenção, memória, linguagem, controle das emoções e senti­
mentos. A partir dela brotam as reações instintivas, os desejos, 
as necessidades de afeto, proteção e segurança. Muitas vezes o 
psiquismo se serve do biológico para se desenvolver, tendo em 
vista que para apreender a realidade, emitir uma opinião ou 
tomar uma decisão, precisa contar com as capacidades cerebrais 
ativas. Por esse "modo de funcionar" é possível perceber o que 
Frankl denomina de Paralelismo Psicofísico. Ao observar o 
funcionamento biopsíquico é possível notar claramente uma 
ação direta de uma dimensão sobre a outra, embora caminhem 
paralelamente e possuam funções que são próprias de cada uma. 
E m muitos momentos, elas se fundem, coexistindo ao ponto 
de ser impossível mensurar o que emana de uma ou da outra. 
2 Frankl, 2019, p. 112. 
LOGOTERAPIA EM POUCAS PALAVRAS 
Esse fenómeno não acontece na dimensão noética. E m 
contraposição ao paralelismo das dimensões biológica e psí­
quica, existe o que Viktor Frankl denominou de Antagonismo 
Psiconoético. E próprio da dimensão noética algumas reali­
dades ontológicas que vão na contramão do modo de ser do 
organismo biopsíquico. Não existe u m "lugar" onde possamos 
localizar aquilo que é próprio desse modo de ser: o modo de 
ser humano. Para Frankl , ser humano significa ser para "além 
de s i" . A existência aponta realizações que estão para além da 
satisfação das necessidades, para além da materialidade da vida. 
E o próprio nome adotado pelo criador da Logoterapia, nous 
(espírito), aponta para uma realidade transcendente. Se essa 
dimensão espiritual reúne o que é "propriamente humano", 
podemos concluir que o nosso modo próprio de ser pessoa é 
ser pessoa espiritual. Assim, nessa dimensão estão os recursos 
necessários para que a pessoa seja capaz de enfrentar as adver­
sidades, posicionar-se frente aos destinos biológicos, psíquicos 
e sociais, e se colocar acima das adversidades, das doenças, dos 
traços de temperamento e caráter, da herança genética, das 
vulnerabilidades do ambiente, das carências e das inclinações 
pessoais. Também encontra-se a liberdade para tomar decisões, 
fazer escolhas e contrariar-se quando necessário, pois ser livre 
não é somente decidir pelo que é mais agradável ou satisfatório, 
mas também ser capaz de se opor aos próprios desejos e neces­
sidades. A responsabilidade e a consciência também estão nessa 
dimensão espiritual, bem como as inquietações existenciais que 
nos colocam no caminho da busca pelo sentido. 
Aquilo que é especificamente humano, isto é, experienciado 
apenas pelo ser humano em sua existência, encontra-se nessa 
dimensão, que antagoniza com o nível biopsíquico. Frankl 
adotou essa expressão para exemplificar que há uma contra­
posição: de u m lado temos as dimensões biológica e psíquica, 
e do outro a dimensão noética, cada qual com seu modo de 
ser no mundo. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
-•• 
DIMENSÃO BIOPSIQUICADIMENSÃO NOÉTICA (ESPIRITUAL) 
Fa c t u a l = f at o , aqu i lo q ue nos fo i " dado" , seja 
por herança g enét i ca, seja pela ed ucação , 
pelo am b i en t e em q ue v i vem o s. 
Facu l t at i va = passa por d eci sõ es e esco lhas. 
Sem p r e p o d em o s esco lher e decid i r so b re as 
co isas e sob re nós m esm o s. 
Cap t a sen si v el m en t e/ at r avés dos sen t i d os Cap t a i n t u i t i vam en t e/ o n t o l o g i cam en t e 
Co n d i ci o n ad o / Fa da d o-a-ser l i v r e / Vi r - a- ser 
Im p u l si o nad o In t enci o nad o 
Fu n çõ es veg et at i vas e sensi t i vas In t el i g ênci a, Vo n t ad e e Resp o n sab i l i d ad e 
Im an en t e Tr an scen d en t e 
Existem realidades que revelam o que de fato é S E R H U ­
M A N O , que apontam para o que é transcendental, ou seja, para 
além das características físicas e das necessidades psíquicas. A 
espiritualidade constitui a existência e confere ao homem a pos­
sibilidade de agir com intencionalidade e ordenar sua vontade a 
algo mais elevado do que a própria imanência. É próprio desse 
"modo de ser" espiritual captar as possibilidades de realização 
de sentido, agir de forma livre, responsável, autotranscendente, 
consciente, se relacionar (ou não) com Deus, viver a fé, cultivar 
a esperança, expressar a criatividade, rir de si mesmo, suportar 
o sofrimento, renunciar, perdoar, ser capaz de amar e de dizer 
" s i m " à Vida em todas as circunstâncias. Isso é S E R H U M A N O ! 
Eis uma das maiores belezas da Logoterapia: essa compreensão 
elevada da pessoa humana, que brilhou aos olhos de Frankl , 
que de forma genial a apresentou ao mundo por meio da sua 
Análise Existencial. 
Vale ressaltar que a Logoterapia, embora deixe as portas aber­
tas para o diálogo com a transcendência, não é uma abordagem 
religiosa, mas humana e existencial, pois respeita a unicidade 
e os valores de cada pessoa, inclusive das que escolhem ter 
u m relacionamento com Deus ou praticar uma religião. Para 
Frankl , "a elevação do humano só pode ser alcançada se a 
LOGOTERAPIA E M POUCAS PALAVRAS 
transcendência da existência humana for evidenciada".3 Ao nos 
referirmos à espiritualidade descrita por Frankl , isto significa 
que essa abordagem nos insere na condição de humanos e não 
de divinos. Frankl reconhece o que é humano no homem e 
no-lo apresenta como uma antropologia, de forma que possamos 
não somente conhecer, mas também viver a nossa humanida­
de. Para vivê-la, precisamos nos apropriar de "quem somos" 
e adquirir certos "domínios" que podem ser alcançados por 
qualquer pessoa, de qualquer idade e em qualquer tempo, desde 
que se deixe guiar pela consciência a "bússola" que nos guia 
nessa busca. A Logoterapia é para o "homem comum". Essa 
afirmação comprova que não precisamos ser grandes estudiosos 
para compreender essa visão de pessoa e de mundo, uma vez 
que todo ser humano é capaz de captar de forma intuitiva as 
possibilidades de realização de sentido. A todo ser humano é 
dada a condição de perceber o "br i lho" do sentido e colocar-se 
a caminho da realização. 
Poderíamos, neste momento, nos demorar em muitos es­
tudos sobre Viktor Frankl e a Logoterapia, porém os capítulos 
anteriores já contemplam uma bela fundamentação teórica que 
nos leva a compreender os pilares sobre os quais Frankl esta­
beleceu sua obra e os caminhos para a descoberta do sentido, 
a partir da realização de valores, bem como as consequências 
de buscas niilistas e hedonistas, que fazem o homem experi­
mentar o vazio. 
Para concluir essa obra, apresentamos a L O G O T E R A P I A E M 
P O U C A S P A L A V R A S a f im de fazermos memória dos conceitos 
franklianos, de forma que sua compreensão sobre o ser h u ­
mano se amplie e consolide sua vida a partir dessa experiência 
com o sentido. Definir palavras e conceitos e saber explicá-los 
é importante, mas experimentar esses significados é o que 
nos possibilita, de fato, tornar real o chamado de sermos 
"logoviventes". 
3 F r a n k l , 2 0 1 9 , p . 3 3 3 . 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
Como podemos compreender a EXISTÊNCIA? 
U m a das maiores responsabilidades que temos enquanto pes­
soas humanas é realizar a nossa existência, e isso implica numa 
tarefa existencial de cuidar do nosso corpo, do psiquismo e 
da nossa espiritualidade, pois o corpo é o "instrumento de 
manifestação" da pessoa espiritual. É através do organismo 
biopsíquico que a existência se revela, conquista seu espaço 
e se apresenta ao mundo. Assim, temos u m modo próprio de 
"existir" no mundo: somos pessoas espirituais. Dessa forma, 
somos convidados constantemente pela vida a nos elevar da 
nossa condição biopsíquica e nos colocar acima das nossas l i ­
mitações, fraquezas e necessidades. A existência humana tem 
um movimento próprio que é "para fora", ou seja, existência 
deriva de "ek-sístere", sair de si, " i r além" de si mesmo. 
Considerando que "existimos no mundo" que repleto de 
sentido e de outros seres humanos, de acordo com Frankl 4 po­
demos nos encontrar e perceber as possibilidades (e realizá-las) 
— fazer a vida acontecer! 
A existência é a vida realizada, o que no tempo presente 
é vivido por nós e eternizado na história. São as vivências 
que, uma vez experienciadas, não há nada que as faça "desa-
contecer", pois passam a ser parte da nossa história, de quem 
somos, da nossa existência. Para reconhecer sua existência no 
mundo, basta olhar para trás, para seu passado. Faça o seguinte 
exercício: anote num papel o dia, mês, ano e horário exatos 
em que está lendo este capítulo. E m seguida, olhe para a sua 
vida, faça uma retrospectiva dos trabalhos realizados, dos livros 
estudados, dos relacionamentos amorosos, das amizades, dos 
locais em que residiu, das coisas que lhe trouxeram alegria, 
das experiências que lhe marcaram profundamente (boas ou 
ruins), dos brinquedos que você tinha, das férias, dos passeios, 
dos presentes e ausentes na sua história. Faça memória de quem 
você foi, uma retrospectiva de hoje até o dia da sua concepção 
4 Frankl, 201 l , p . 45. 
L O G O T E R A P I A E M P O U C A S P A L A V R A S 
— quando houve o milagre da vida. O útero da sua mãe foi 
sua primeira casa, e do seu nascimento até hoje você passou 
pela experiência de crescer e obter consciência do mundo a sua 
volta, mas talvez por alguns momentos tenha se esquecido de 
olhar para sua existência. A partir dessa experiência, espero que 
tenha se encontrado, e que sua vida " v i v i d a " lhe dê a certeza 
de quem você " é " ! 
Certa vez, Frankl afirmou que "a melhor forma de ser é ter 
sido",5 ou seja, conforme "somos", existimos! Podemos para­
frasear o filósofo René Descartes na sua famosa frase "penso, 
logo existo" afirmando de maneira frankliana: "Sou, logo 
existo!". Existimos, e quem existe " É " — e isso nos bastaria 
se não fôssemos seres "inacabados", que precisamos a todo 
instante nos fazer, (re)fazer e fazer o mundo acontecer a cada 
momento. Cabe a nós, que fomos feitos humanos, continuar 
a obra da criação e fazer crescer a humanidade por meio de 
vivências intrínsecas a nós. Para Frankl , 6 " O homem não tirou 
de si o possível, o máximo", e como Deus criou o homem e 
descansou no sétimo dia, desde então "compete ao homem 
fazer-se a si mesmo". E aqui estamos, tensionados pela vida, no 
caminho do ser ao dever-ser, para realizar a "missão-existencial" 
que nos foi dada: tornar real a vida! 
Conforme tornamos real o que existe como potência, a vida 
acontece e a cada nova possibilidade realizada, mais potências 
são atualizadas e mais a vida é concretizada! A realidade nos 
torna pessoas de verdade, pois deixamos de habitar u m mundo 
inexistente para existir de forma concreta, como seres livres, 
responsáveis e autotranscendentes, cujo "modo próprio de 
existir" é espiritual. 
5 Frankl, 2003, p. 124. 
6 Frankl, 2019, p. 148. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDOQual a relação entre EXISTÊNCIA e ESSÊNCIA? 
Podemos pensar a essência como algo que fundamenta todas as 
existências. Existimos para "algo" — a vida é uma tarefa, uma 
missão que nos é dada assim como a existência. Recebemos 
a incumbência de realizar, e passamos grande parte da vida 
buscando descobrir o que nos cabe única e exclusivamente 
entregar ao mundo. E m uma das obras de Amadeu Cencini , 
filósofo e u m grande estudioso da pessoa humana, ele diz que 
"a vida é u m bem recebido, que tende a se tornar u m bem 
doado", e essa frase pode nos ajudar a compreender a vida como 
missão. Recebemos uma "tarefa existencial" junto com a Vida! 
O que nos foi "dado" para que pudéssemos "nos doar"? Essa 
pergunta pode nos ajudar a compreender o sentido da nossa 
existência. Recebemos a vida como dom (um presente), mas 
não sem as incumbências: torná-la u m presente e "ser presen­
te" na vida das pessoas com as quais convivemos. É preciso 
reconhecer em nossa existência alguns dons e talentos que 
recebemos, pois além de serem "presentes", nos possibilitam 
realizar as "entregas" que a vida espera em cada momento. 
Quanto mais "entregamos", mais a nossa existência vai sendo 
revelada, não somente para o mundo, mas também para nós 
mesmos. A nossa identidade existencial se revela e descobrimos 
quem somos quando servimos àquilo para o qual fomos criados. 
Ao falar sobre a essência, Frankl 7 nos diz que "o que conta 
é o preenchimento do sentido e a efetivação do valor", ou seja, 
"a realização no plano existencial". Para que a existência se 
realize nesse mundo é preciso encurtar a distância entre o existir 
e a finalidade para a qual existimos. Quando descobrimos esse 
"para quê" da vida, há u m resplandecer de esperança que nos 
invade e promove aquela sensação de que estamos no caminho 
certo, na estrada que nos leva para perto daquilo que nascemos 
para ser e que pode nos conduzir à verdadeira felicidade. 
7 Frankl, 1978, p. 30. 
LOGOTERAPIA E M POUCAS PALAVRAS 
N Ã O E X I S T E F E L I C I D A D E L O N G E D A E S S Ê N C I A ! É necessário 
empreender esforços na intenção de aproximar a existência 
da essência, pois quanto menor essa distância, mais realização 
pessoal, mais força para dizer sim à vida, mais capacidade de 
suportar o sofrimento, mais plenitude. Sempre que caminha­
mos na direção do sentido, encurtamos distâncias. Quando a 
existência se dirige para a essência, surge a possibilidade de 
u m "encontro", o mais genuíno dos encontros, que conduz o 
homem ao ápice da realização e da felicidade, que é o encontro 
C O m O S E N T I D O D A V I D A . 
Como seria a experiência de encontrar o SENTIDO DA 
VIDA? 
A experiência de encontrar o Sentido da Vida transforma o 
coração do homem, faz com que encontremos a alegria ver­
dadeira e que tenhamos forças para suportar as dificuldades. 
A forma como respondemos aos chamados da vida pode nos 
direcionar (ou não) para o "encontro" com o sentido. Q u a n ­
do nossas respostas visam o bem do outro e somos movidos 
pelo amor, quando não deixamos o egoísmo dominar nossas 
atitudes ou quando o amor-próprio não se reveste de caridade 
nas nossas ações, podemos afirmar que temos uma motivação 
autotranscendente. Esse direcionamento nos proporciona rea­
lização e felicidade. Caso contrário, nosso fazer se torna vazio, 
tanto quanto o nosso coração, e resulta em sofrimento. Assim, 
é possível percebermos a intenção da ação no resultado em 
quem age. Se resultar em cansaço, desânimo ou esgotamento, 
precisamos rever nossas "motivações". 
O Sentido é uma experiência de " E N C O N T R O " ! Existe e se 
revela na própria vida, ou seja, para encontrá-lo precisamos 
olhar para nossa história, nossas realizações e as entregas que 
fazemos ao mundo. É quando a vida confirma que "nascemos" 
para realizar tal coisa, ou quando temos a sensação de estar 
no lugar certo (o "nosso lugar" no mundo), ou ainda quando 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
realizamos algo exigente, que nos consome, mas não somos 
consumidos pelas circunstâncias. Dessa forma, fazemos porque 
"deveríamos" fazer; encontramos sentido quando sabemos qual 
o nosso papel e nossa consciência grita: "Se não eu, quem?". 
Podemos pensar num "encontro" como o que está relatado na 
Bíblia quando após o nascimento de Jesus, sua mãe foi cumprir 
os preceitos da época e apresentar o seu bebé, recém-nascido, 
no Templo. Lá estava o velho Simeão, u m profeta, a quem 
Deus revelou que não morreria sem antes ver o Cristo. N o 
momento que Simeão tomou o menino nos braços, suspirou e 
disse: "Porque os meus olhos viram a vossa salvação".8 Por meio 
desse "encontro", Simeão viveu a experiência de "contemplar 
de perto" o Sentido, e no cumprimento do seu dever diário, 
experimentou uma grande realização existencial, a ponto de 
dizer que já estava pronto para morrer, pois A Q U E L A E X P E R I Ê N C I A 
L H E F E Z V A L E R A V I D A . 9 Alguns encontros são muito valiosos, 
e exigem certos "investimentos"... Custam tempo, renúncias, 
sacrifícios, custam a coragem de morrer para si mesmo, de 
sofrer, se arriscar, de esperar, de acreditar... Custam a coragem 
de amar! E podemos "pagar" o preço, pois na medida que nos 
"custam", também nos realizam, pois nos colocam diante da 
F E L I C I D A D E e do S E N T I D O D A V I D A ! 
Se a vida tem um Sentido, COMO PODEMOS 
ENCONTRÁ-LO? 
A vida possui u m sentido incondicional que não se perde em 
nenhuma circunstância. Cada pessoa, situação e sentido são 
únicos. O sentido existe, independentemente da nossa vontade, 
mas para ser "encontrado", depende dela, pois somos livres 
para intencionar nossa vontade na direção dessa busca. Não 
podemos criar sentido, mas descobri-lo e realizá-lo. 
8 L c 2 , 3 0 . 
9 Referência a L c 2 ,22-35. 
LOGOTERAPIA E M POUCAS PALAVRAS 
Para isso, contamos com a nossa consciência, que está para 
a busca de sentido, assim como o coração está para bombear 
o sangue do nosso corpo, ou como os rins estão para filtrar as 
impurezas do nosso organismo e eliminá-las. A questão é que 
como o encontro com o Sentido da Vida é uma experiência 
existencial, não existe u m órgão no corpo humano que seja 
biopsiquicamente responsável por nos ajudar nessa busca. 
Considerando essa realidade ontológica frente à busca de 
sentido, Frankl nomeou a consciência como o "ÓRGÃO DE 
SENTIDO", pois ela nos ajuda a captar de forma intuitiva as 
possibilidades de valor inerentes a cada situação. A consciência 
nos faz captar o sentido de cada momento e é definida pelo 
neuropsiquiatra vienense como "a capacidade de procurar e 
descobrir o sentido único e exclusivo, oculto em cada situa­
ção".10 E l a nos coloca diante das possibilidades de realização 
de valor que dirigem nossa existência ao Sentido, e que se 
realizam por meio do trabalho, quando oferecemos ao mundo 
algo que criamos com os talentos e habilidades que recebemos. 
Essa troca acontece por meio das experiências interpessoais e 
de amor, no cuidado com o outro ou quando enfrentamos os 
sofrimentos inevitáveis da vida mudando a nós mesmos, diante 
de situações que não mudam. 
E quando não se conhece o Sentido da Vida? 
Encontrar o sentido é descobrir "para quê" viemos ao mundo 
e o que "devemos" realizar com o que somos. Para Frankl : 
C a d a ser h u m a n o é único e m sua essência (sosein) quanto 
e m sua existência (dasein) [...] é u m indivíduo particular c o m 
suas características pessoais únicas, experimentado n u m c o n ­
texto histórico único, n u m m u n d o e m que há oportunidades 
e o b r i g a ç õ es especiais reservadas somente a ele ( F r a n k l , 
2020, p. 63 , gri fo nosso). 
10 Frankl, 1985, p. 68. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
Cada pessoa possui em sua própria vida o sentido da sua 
existência. A o considerarmos as chamadas "obrigações espe­
ciais" a que Frankl se refere, concluímos que para encontrar 
o sentido é precisocumprir com nossos deveres. O próprio 
Frankl orienta uma pessoa que desconhece o Sentido da Vida, 
ou ignora ou não percebe as possibilidades de realização de 
sentido a incumbir-se de sua "primeira e imediata missão", 
que é: "descobrir a própria missão e avançar resolutamente ao 
encontro com o Sentido da Vida" . 1 1 
Para encontrar o Sentido da Vida, é preciso passar pelo 
sofrimento? 
Não é necessário passar pelo sofrimento para encontrar o Sen­
tido da Vida, mas situações como essa podem nos colocar no 
caminho do Sentido. Sofrer é uma realidade humana, e em 
algum momento da vida todos passaremos por adversidades, 
por dores ou contrariedades. Não podemos fugir dessa verdade! 
Porém, o medo de enfrentar o sofrimento faz com que algumas 
pessoas tentem fugir dessas situações, e com isso, se enfraqueçam 
ainda mais, pois não adquirem a capacidade de sofrer. 
Diante das dificuldades, uma pessoa pode adquirir a ca­
pacidade de sofrer e se fortalecer para enfrentar a Vida. A 
antropologia frankliana apresenta o ser humano como alguém 
dotado de uma capacidade de suportar as situações mais adversas 
da vida, e que mesmo diante do sofrimento inevitável pode 
posicionar-se, ir além de si mesmo e realizar valores. O homem 
é o único ser capaz de sofrer e de transformar as experiências 
dolorosas em realizações, pois tem uma capacidade espiritual 
de confrontar as situações e tomar distância delas, pois é u m 
ser livre e responsável. 
Cada pessoa decide como enfrentar o sofrimento: ou 
vitimizar-se, culpando a tudo e a todos pelos desgostos, ou 
adotar uma postura digna diante das próprias dores e sofrer 
11 Frankl, 2003, p. 92. 
LOGOTERAPIA E M POUCAS PALAVRAS 
com dignidade e paciência, com a cabeça erguida, sem se en­
vergonhar, pois sofrer requer coragem! E a Vida nos convida 
a muitos atos de coragem: " A T R E V E - T E A S O F R E R ! " . Frankl 
completa dizendo: "Somente por esse caminho nos aproxi­
maremos da Verdade e não pelos caminhos da fuga e do medo 
ao sofrimento".12 
A pessoa que "carrega sua cruz", que busca o sentido e 
realiza valores, enfrenta as situações difíceis e amadurece com 
essas experiências. "Situações extremas levam o homem tanto a 
alcançar a liberdade interior, quanto a maturidade. Elas consti­
tuem uma prova de maturidade, um E X P E R I M E N T U M C R U C I S " , 1 3 
e conforme a postura que adotamos ("abraçar a cruz" ou "fugir 
da cruz") , poderemos (ou não) realizar sentido por meio do 
sofrimento. Assim, podemos enfrentar e sofrer com amor, ou 
nos desesperar diante das situações difíceis — é simplesmente 
uma questão de escolha. 
S + S = S = Sofrimento com Sentido = S A C R I F Í C I O . 
S - S = D = Sofrimento sem Sentido = D E S E S P E R O . 
F r a n k l 1 4 nos ensina que diante do sofrimento, devemos ser 
como as árvores em uma floresta: quando a floresta é muito 
densa, as árvores não conseguem crescer horizontalmente, 
então, crescem para o alto. Podemos aplicar esse conhecimento 
na vida: quando passamos por situações difíceis, dores e sofri­
mentos, quando nos sentimos limitados ou pressionados pelas 
adversidades, é preciso nos lançar para o A L T O ! Corações ao Alto! 
Como "ser livre" diante de tantas realidades que não 
escolhemos? 
Ao pensarmos na liberdade, é preciso considerar a afirma­
ção de Bernardo de Claraval, um grande filósofo, estudioso 
12 Frankl, 1978, p. 243. 
13 Frankl, 1978, p. 241, grifo nosso. 
14 Frankl, 1978, p. 239. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
do livre-arbítrio: "a escolha é um primeiro movimento da 
liberdade".15 Pela liberdade da vontade, o homem pode escolher 
entre "consentir voluntariamente" ou entregar-se ao "apetite 
natural", sendo esse último uma característica que o assemelha 
aos animais irracionais. 
A todo instante, do acordar ao adormecer, escolhemos o que 
vamos comer, vestir, estudar, com quem vamos nos relacionar, 
quem seremos e escolhemos até mesmo não escolher. A vida é 
feita e refeita por meio das escolhas que fazemos! " O homem é 
u m ser que sempre decide, e que traz consigo as possibilidades 
de descer ao nível do animal, ou se elevar à vida do santo".16 
Diante desse grande ensinamento de Frankl , surge outra re­
flexão: "Será que estamos sendo H U M A N O S ? " . 
A liberdade é uma E X P R E S S Ã O D A N O S S A H U M A N I D A D E , e 
coloca-nos existencialmente no lugar onde devemos estar: 
"ao nível do santo". Frankl usa desse exemplo para clarificar 
nossa compreensão, pois ao consentirmos com essas inclinações 
sub-humanas, deixando a impulsividade dominar nossos pensa­
mentos e decisões, o que expressamos são reações emocionais: 
deixamos de agir com a razão para (re)agir irracionalmente — 
"descemos ao nível do animal". Enquanto agirmos de modo 
especificamente humano, expressamos maturidade e nossa 
existência ganha altura e, consequentemente, nos colocamos 
na estatura de "homens" e não de homúnculos. 
A boa notícia é que sempre podemos escolher, mesmo 
diante das realidades que nos são dadas pela vida: temos u m 
nome que não escolhemos, viemos ao mundo em uma família 
que não escolhemos, herdamos traços genéticos e temos uma 
constituição biopsíquica que não escolhemos, assim como não 
escolhemos passar por uma doença ou perder pessoas queridas. 
São muitas as realidades que não passam pelo nosso crivo, das 
quais, segundo Frankl , não somos "livres de", mas sempre 
1 5 Claraval, 2 0 1 3 , p. 1 0 . 
16 Frankl, 2019, p. 317. 
LOGOTERAPIA E M POUCAS PALAVRAS 
somos "livres para", isto é, livres para escolhermos quais ati­
tudes tomar diante do que nos foi "dado" pela vida. Ainda 
conforme Frankl : 
Se quiséssemos definir o h o m e m , teríamos que caracterizá-lo 
como o ser que vai se libertando daquilo que o determina 
(enquanto tipo determinado biologicamente, psicologica­
mente e sociologicamente). N u n c a o h o m e m se confunde 
c o m a sua facticidade. E u m ser que decide, porque é s e r - l i ­
vre ( F r a n k l , 2003 , p. 1 2 1 , grifo nosso). 
E como "SER LIVRE" diante daquilo que escolhemos? 
Somos livres diante de quaisquer situações, sejam as que nos 
agradam, sejam as que não percebemos como boas. Agir de 
forma livre diante da vida vai exigir uma aceitação da realidade, 
tal como ela se apresenta, pois será necessário deixar de "brigar" 
com as circunstâncias e abandonar a mentalidade hedonista que 
nos domina e produz uma inculturaçâo de que "ser l ivre" é fazer 
tudo o que quero, como quero e na hora que quero. Essa falsa 
ideia de liberdade produz um enfraquecimento da vontade e 
faz com que as pessoas se acorrentem numa busca exagerada de 
satisfação de necessidades, que pode resultar em vazio existencial. 
No livre-arbítrio a liberdade se opõe à necessidade: "o 
necessário deve ser visto como oposto ao voluntário".17 Para 
Frankl , necessidade e liberdade também não estão no mesmo 
plano. Ao contrário, a liberdade ultrapassa e se sobrepõe à ne­
cessidade. Ainda para Frankl , só há o livre-arbítrio quando o 
homem "reage como pessoa espiritual a umfactum psicofísico".18 
Para que uma pessoa se mantenha fiel diante de uma decisão 
é preciso fortalecer a vontade. O consentimento é o coman­
do espontâneo da vontade, e onde há vontade, há liberdade. 
A vontade, por sua vez, é o movimento da razão, que coman-
17 Claraval, 2013, p. 34. 
18 Frankl, 2019, p. 208. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
da os sentidos e os apetites. Assim, em "livre-arbítrio" temos 
" l ivre" , que se refere à vontade, e "arbítrio", que se refere à 
razão. "Qualquer coisa que desejamos pela vontade vem acom­
panhada da razão." 1 9 
Segundo Bernardo de Claraval , 2 0 há uma grande diferença 
entre o "não poder fazer" e o "poder não fazer", pois nesse 
último está contida a liberdade da vontade, quando a pessoa 
escolhe livremente sua atitude diante das situações da vida. 
Quando conseguimos educar nossa vontade, surge uma força 
moral quenos ajuda a seguir firmes nos propósitos e escolhas 
que fazemos na Vida. Dessa forma, chegamos mais perto da­
quilo que podemos ser. 
É possível, ao homem, viver de maneira autotranscendente? 
É próprio da existência humana viver de maneira autotrans­
cendente. Conforme os ensinamentos do pai da Logoterapia, 
a existência não é somente intencional, mas também transcen­
dente. " A autotranscendência é a essência da nossa existência".21 
Para compreender melhor essa definição de Viktor Frankl , é 
preciso ter claro que aquilo que é "essencial" é imprescindível, 
é obrigatório, é fundamental. Assim sendo, pode-se presumir 
que não há possibilidade de u m existir propriamente humano 
sem a presença da autotranscendência. 
Quando falta ao homem a capacidade de sair de si mesmo 
e ele se fecha de maneira egoísta nas próprias necessidades, 
quando ele se coloca como o centro do universo ou até mesmo 
de sua própria existência, buscando apenas seus interesses, sem 
u m mínimo movimento de abertura, é possível afirmar que a 
existência está se declinando, assumindo u m lugar mais baixo 
no podium dos seres viventes. O egoísmo é u m movimento 
do psiquismo que invade impulsivamente a alma, solicitando 
19 Claraval, 2013, p. 27. 
20 Ibid.,p. 13. 
21 Frankl, 2011, p. 67. 
LOGOTERAPIA EM POUCAS PALAVRAS 
que ela se curve diante da busca de si mesma. Essas buscas de­
sordenadas de si afastam o ser humano daquilo que é essencial 
para uma vida saudável, sã e santa, rebaixando-o a u m nível 
sub-humano, assemelhando-se a um animal irracional. 
Agir de maneira autotranscendente nos coloca na direção 
de realizações e de pessoas a quem podemos dedicar cuidado, 
atenção, gestos de carinho e solidariedade. Existem movimentos 
existenciais que nos dirigem às necessidades dos outros, que nos 
impelem a entregar, através das nossas competências e habilida­
des, generosidade ao mundo. Tais "movimentos existenciais" 
são provenientes de uma noodinâmica, uma força que gera em 
nós a capacidade de renunciar (a nós mesmos) para nos dedicar 
a algo ou a alguém, para servir e abrir mão da necessidade de 
ser servido, para amar e abrir mão da necessidade de ser amado, 
para oferecer e oferecer-se sem esperar nada em troca. 
A vida humana tem por essência essa abertura, e tudo 
que provoca fechamento aumenta a desumanização. O 
contrário também é válido: tudo que eleva o ser humano e o 
coloca no lugar que nasceu para ocupar (de P E S S O A ) , devolve a 
humanidade ao homem. Joseph Ratzinger, um grande filósofo 
do nosso tempo e conhecedor da pessoa humana, identificou 
em seus estudos que "é a abertura para o todo e para o in f in i ­
to que faz com que o ser humano seja humano. O homem é 
homem porque se ultrapassa infinitamente a si mesmo, e por 
isso, é tanto mais homem, quanto menos fica fechado em s i " . 2 2 
Quanto mais autranscendente, mais livre, mais responsável, 
mais amável, mais elevado, M A I S H U M A N O ! 
Existe um caminho para encontrar o SENTIDO-ULTIMO 
DA EXISTÊNCIA? 
Enquanto pessoas humanas, somos dirigidos para algo que está 
fora de nós, e a grande força motivadora da nossa existência é 
22 Joseph Ratzinger, Introdução ao cristianismo: preleções sobre o símbolo apostólico. 
São Paulo: Herder, 1970, pp. 108-109. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
a vontade de sentido. Essa força nos coloca no caminho da 
busca por algo transcendente, que não se pode tocar, comprar 
ou guardar. Somos humanos e existe algo material em nossa 
constituição que podemos mensurar e sentir. A humanidade 
passa pela materialidade, temos um corpo que, embora seja u m 
"instrumento de expressão" da nossa pessoa espiritual, apresenta 
necessidades que são orgânicas, fisiológicas e basais. Há em nós 
u m psiquismo que também apresenta necessidades de afeto e 
segurança, que expressa desejos (por vezes inconcebíveis) que 
se convertem em sintomas e doenças pelo corpo. 
Assim como os instintos que nos impulsionam na busca pela 
satisfação de nossas necessidades, estas existem e nos constituem. 
A questão é que não estamos limitados a isso. Existe algo nos 
seres humanos que clama por realizações mais elevadas (e não 
me refiro a voar em balões ou subir em arranha-céus), que 
elevam nossa alma àquilo que nos aproxima da nossa essência. 
Ao tratar da essência da existência, F r a n k l 2 3 afirma que é pos­
sível viver essa abertura de maneira autêntica a partir de ideais 
e valores. O autor define valores como "situações universais 
de sentido". Ainda que o sentido seja único, assim como as 
pessoas, existem situações que são comuns, "que nos levam a 
afirmar a existência de sentidos que são partilhados entre os 
seres humanos".24 Trabalhar ou praticar uma religião são exem­
plos de situações universais de sentido, realidades através das 
quais as pessoas se unem para tornar real experiências humanas 
que lhes são valiosas, pois tanto o trabalho quanto a religião 
oferecem ao homem a possibilidade de se encontrar com o 
Sentido da Vida. Conforme Frankl , para trabalhar é preciso 
de algumas habilidades e competências pessoais e profissionais 
para executar determinadas tarefas, enquanto para viver uma 
religião é preciso ter fé. 
23 Frankl, 201 l , p . 69. 
24 Frankl,201 l , p . 7 3 . 
LOGOTERAPIA E M POUCAS PALAVRAS 
A Logoterapia não é uma abordagem religiosa, porém Frankl 
era u m homem religioso que mantinha u m relacionamento 
de intimidade com Deus. Embora médico neuropsiquiatra, 
a ciência não lhe cegou a ponto de fazê-lo desconsiderar a 
importância da fé na vida humana. Seu doutorado resultou na 
obra A presença ignorada de Deus, em que ele detalha estudos 
importantes sobre a experiência religiosa e a vivência da rel i ­
giosidade. Praticar uma religião não apagou a ética e o respeito 
à sua profissão, e não fez da sua abordagem uma prática teísta. 
Frankl elaborou orientações precisas sobre o tema, tendo em 
vista que a Logoterapia tem como finalidade a cura médica 
das almas e visa promover saúde mental, enquanto a religião 
busca a salvação das almas. Para ele "a logoterapia deve estar 
disponível para todo e qualquer paciente, e ser aplicável nas 
mãos de qualquer médico, não importando se sua visão de 
mundo é teísta ou agnóstica".25 
Somos pessoas que buscamos sentido, e o que nos dirige ao 
Sentido da Vida é a força que chamamos de vontade de sen­
tido. Entretanto Frankl diz que existe u m "Sent ido-Ult imo" 
da existência, u m sentido que só pode ser encontrado por 
quem acredita na transcendência. Dessa forma, se existe u m 
"Sentido-Ultimo", existe uma "vontade de sentido última", que 
nos dirige a esse sentido, que Frankl identificou como sendo 
a religião. "A religião é especificamente o mais humano de 
todos os fenómenos humanos, que é a vontade de sentido. A 
religião, de fato, pode ser definida como a realização de uma 
vontade de sentido últ ima". 2 6 
Para encontrar o Sent ido-Ult imo ou "Suprassentido", 
Frankl nos diz que é necessário a experiência da fé. Para ele, 
" A fé num sentido último é precedida pela crença em u m 
Ser-último: pela crença em Deus" . 2 7 Além disso, afirma que o 
25 Frankl, 2011, pp. 178-179. 
26 Frankl, 1992, p. 89. 
27 Frankl, 201 l,p. 181. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
homem religioso tem mais facilidade de encontrar o sentido 
da vida, pois não vivência a existência apenas como tarefa, 
mas com vistas à transcendência. Ele se relaciona pessoalmente 
com Aquele que o incumbiu da missão e vivência sua missão 
pessoal como uma incumbência divina. 
O Sentido-Ultimo escapa totalmente a uma mera compreen­
são intelectual; o conhecimento não pode levar o homem a tal 
resposta, pois, para isso, precisa da fé. "Podemos não conhecer 
esse suprassentido, mas é preciso acreditar nele".28 
Em poucas palavras... 
Somos capazes de compreender a existência e encontrar o Sen­
tido da Vida mesmo sem o conhecimento da teoria frankliana. 
Podemoschegar a ser quem devemos ser sem passar por processos 
terapêuticos infindáveis ou nos graduar para isso. Existe uma 
"sabedoria do coração" que nos ajuda a captar as possibilidades 
de realização de sentido e cumprir o que a vida espera de nós, 
seja por meio de u m trabalho que realizamos, seja através do 
amor que experimentamos quando nos permitimos encontrar 
com outras pessoas, ou ainda quando precisamos encontrar 
em nós forças para enfrentar as dificuldades e desafios da vida, 
pois viver é exigente!!! 
Certa vez, Frankl disse que a experiência de encontro com 
o Sentido da Vida pode acontecer até mesmo por meio da 
leitura de um livro — e aqui temos um livro. Temos, ainda, 
o legado de uma vida que enfrentou o sofrimento, que foi fiel 
aos chamados, que viveu, amou e cumpriu sua missão com 
responsabilidade, que cuidou das pessoas, e nos ensinou a 
cuidar também. Que se encontrou com o Sentido e nos ajuda 
a encontrar também! 
U m a das grandes riquezas da antropologia frankliana é que 
ela é uma abordagem de V I D A , acessível a todos que se deixam 
"encontrar" por ela e que se colocam em busca da felicidade 
28 Frankl, 2010, p. 63. 
LOGOTERAPIA E M POUCAS PALAVRAS 
verdadeira. A Logoterapia é uma abordagem otimista e realista, 
e seu criador foi u m homem que trabalhou incessantemente 
para que tivéssemos acesso a esses conhecimentos e pudéssemos 
dispor desse grande legado na realização da nossa missão. 
Que esse T R A T A D O D E H U M A N I D A D E , O legado que Viktor 
Frankl deixou ao mundo por meio da Logoterapia e da Análise 
Existencial, ajude a elevar sua compreensão sobre a P E S S O A 
H U M A N A . Mais que um mistério a ser desvendado, é uma obra 
a ser contemplada e que pode ser vista por todos, a partir da 
nossa existência, da nossa V I D A ! 
M I L E N A C A R O L I N A B O C C H I D E C A S T R O 2 9 
Referências 
C L A R A V A L , S. B . Opúsculo sobre o livre-arbítrio. Campinas: E c -
clesiae, 2013. 
F R A N K L , V. E . A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da 
logoterapia. São Paulo: Paulus, 2011. 
. A presença ignorada de Deus. São Leopoldo: Sinodal; 
Vozes: 1992. 
. O que não está escrito nos meus livros. São Paulo: E R e ­
alizações, 2010. 
. O sofrimento humano: fundamentos antropológicos da psi­
coterapia. São Paulo: E Realizações, 2019. 
. Psicoterapia e existencialismo: textos selecionados em logo­
terapia. São Paulo: E Realizações, 2020. 
29 Milena Carolina Bocchi Castro é psicóloga, especialista em Logoterapia e 
Análise Existencial frankliana, pela Universidade Católica D o m Bosco 
(UCDB/MS) e em psicologia hospitalar e da saúde, pelo Centro de Estudos 
e Pesquisa em Psicologia e Saúde (CEPPS/SP) . Trabalha com a Logoterapia 
aplicada à formação humana e académica, como professora em cursos de pós-
-graduação no Centro Universitário Católico Italo-Brasileiro (UNIÍTALO/SP) e 
Instituto EM ROTA, e com supervisão (individual e em grupos) em Logoterapia 
clínica e Análise Existencial. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
. Psicoterapia e sentido da vida. São Paulo: Quadrante, 2003. 
R A T Z I N G E R , J . Introdução ao cristianismo: preleções sobre o símbolo 
apostólico. São Paulo: Herder, 1970. 
I 20 
A P Ê N D I C E 
Perguntas e respostas1 
121 
Pergunta: C o m o o h o m e m trabalha para a autotrans­
cendência, em contraste c o m a autorrealização? 
Resposta: Não desejo rebaixar o conceito de autorrealização. 
Mantenho contato com Abraham Maslow e admiro-o muito. 
Ambos concordamos que a autorrealização é algo excelente. No 
entanto, a autorrealização só pode ser obtida na medida em que 
um homem cumpre o sentido de sua vida, realiza o sentido único 
de cada situação única da vida. Então, a autorrealização ocorre 
de modo automático e espontâneo, por assim dizer, enquanto 
seria destruída se tentássemos obtê-la diretamente, por meio da 
intenção direta. A autorrealização depende do cumprimento de 
um sentido, sendo um efeito deste, não um objetivo. 
Pergunta: O senhor diz que o sentido é inerente a u m a 
situação e, portanto, distinto dos valores? 
Resposta: E u diria que os valores são sentidos universais e, por 
serem sentidos gerais, aliviam a condição humana. Orientados 
por valores universais, não somos obrigados a tomar decisões 
1 Extraído de Frankl, A falta de sentido: Um desafio para a psicoterapia e a filosofia. 
Campinas, SP: Auster, 2021. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
existenciais o tempo todo. E m última análise, o homem está 
encontrando e cumprindo sentidos, guiado — e às vezes também 
desencaminhado — por sua consciência finita. A consciência é 
criativa, na medida em que um homem pode descobrir que o 
sentido revelado pela consciência contradiz quaisquer valores 
gerais ou universais. Então ele cria u m novo valor, porque o 
sentido descoberto por meio da consciência criativa de hoje 
torna-se o valor universal de amanhã. 
Pergunta: Seu conceito de sentido por meio do sofri­
mento não dá origem ao risco de masoquismo? 
Resposta: Não há risco de masoquismo, porque o senti­
do — o sentido potencial — só pode ser obtido mediante o 
sofrimento indispensável, inescapável e inevitável. Carregar 
desnecessariamente a cruz do sofrimento no caso de um câncer 
operável, quando o alívio da dor está disponível, não constitui 
u m sentido. Isso seria puro masoquismo, não heroísmo. A me­
lhor diferenciação que encontrei entre sofrimento inevitável 
e necessário — que pode ser transformado em uma conquista 
significativa — por um lado, e sofrimento evitável e desne­
cessário — que não produz nenhum sentido — , por outro, foi 
em u m anúncio de u m jornal de Nova York. O anúncio estava 
escrito em alemão, mas u m amigo americano o traduziu para o 
inglês. Redigido em forma de poema, o texto dizia o seguinte: 
Aguente, com calma, sem desatino, 
aquilo que à alma impôs o destino. 
O u seja, o sofrimento inevitável deve ser suportado com 
coragem e, portanto, transformado em uma conquista humana 
heróica: 
Aguente, com calma, sem desatino, 
aquilo que à alma impôs o destino, 
Mas nos percevejos dê uma lição: 
Peça ajuda ao Sr. Simão. 
PERGUNTAS E RESPOSTAS 
Pergunta: Sua visão da dimensão noológica não implica 
que o psiquiatra não seja competente para administrar 
a terapia existencial na dimensão noológica? 
Resposta: Não é verdade. A tarefa atribuída aos psiquiatras é 
tornar um sintoma clínico transparente em relação à dimensão 
superior, a dimensão intrinsecamente humana e, portanto, é 
tarefa do psiquiatra tratar a neurose noogênica. Particularmente, 
essa é a missão dele numa época como a nossa, em que, como 
diz o famoso psiquiatra católico alemão, Viktor von Gebsattel, 
os homens estão migrando do padre, pastor e do rabino para 
o psiquiatra. O psiquiatra de hoje tem a missão de substituir 
o sacerdócio, desempenhando o papel de "médico sacerdote". 
Ninguém pode dizer: "Essas pessoas estão com problemas 
existenciais, filosóficos ou espirituais; não queremos lidar com 
esse tipo de problema. Melhor elas procurarem um padre. Se 
não forem religiosas, não é problema meu". Essas pessoas vêm 
nos procurar e temos que dar tudo de nós. Não se trata de uma 
convicção pessoal. Há até um parágrafo na constituição da maior 
associação médica do mundo, a Associação Médica Americana, 
que afirma que um médico, quando não é capaz de curar u m 
paciente ou mesmo trazer alívio à sua dor, tem o direito e até 
a obrigação de tentar oferecer algum consolo. Portanto, essa 
área ainda pertence ao domínio da profissão médica. 
Pergunta: Duas pessoas perguntaram se eu tive contato 
c o m o rabino Leo Baeck. 
Resposta: Conheci o Rabino Leo Baeck em u m campo de 
concentração. Foi mais do que u m contato; foi um verdadeiro 
encontro. A partir daí, mantive contato próximo com ele. O 
rabino foi convidado a escrever um capítulo sobre os limites 
entre o judaísmo e a psicoterapia numa enciclopédia de teoriada 
neurose e psicoterapia, de cinco volumes, que editei com V. E . 
von Gebsattel e J . H . Schultz, de Ber l im. Enquanto trabalhava 
no manuscrito, o Rabino Baeck veio a falecer em Londres e, 
portanto, não pôde completar sua tarefa. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
Pergunta: Existe u m lugar para a religião em sua teoria? 
Resposta: Não pode haver lugar para a religião numa escola 
ou teoria psiquiátrica, precisamente por causa da diferença de 
dimensão. A única coisa que pode ser exigida de uma abordagem 
psiquiátrica é que ela seja deixada aberta para uma dimensão 
superior. A psiquiatria não é u m sistema fechado. A psiquiatria 
deve permanecer aberta, para que não seja feita uma injustiça 
com o paciente religioso, que deve ser compreendido em 
termos intrinsecamente humanos, em vez de se tornar vítima 
de uma abordagem reducionista da neurose e da psicoterapia. 
Se não por outro motivo, o Juramento de Hipócrates, que 
tive que fazer quando tirei o diploma de médico, obriga-me a 
disponibilizar a Logoterapia para todos os pacientes, incluindo 
o paciente agnóstico, e para todos os médicos, inclusive o mé­
dico ateu. A psicoterapia pertence à medicina, pelo menos de 
acordo com a legislação austríaca, de modo que o Juramento 
de Hipócrates é aplicável à psicoterapia, incluindo a Logote­
rapia. Portanto, devo estar disponível para todo e qualquer ser 
humano em sofrimento. 
Pergunta: O senhor acredita que o h o m e m pode su­
perar o desespero sem u m Deus ou u m a orientação 
religiosa pessoal? 
Resposta: Aquilo em que eu pessoalmente acredito não 
importa. E u falo em nome de uma escola chamada Logotera­
pia, a qual defendo. A Logoterapia busca saber, não acreditar. 
A decisão final, a decisão mais pessoal a favor ou contra uma 
Weltanschauung ou filosofia de vida religiosa, cabe ao paciente, 
não ao médico. A Logoterapia não tem as respostas, mas é uma 
educação para a responsabilidade, e, portanto, o logoterapeuta 
não corre o perigo — como em todas as escolas psiquiátricas 
— de tirar a responsabilidade dos ombros do paciente por tal 
decisão. Ele tentará fazer com que o paciente tome uma decisão 
por conta própria. 
PERGUNTAS E RESPOSTAS 
Pergunta: C o m o o senhor explica o conceito de Deus? 
Resposta: Evidentemente, como logoterapeuta, como psiquia­
tra, não posso explicar. E seria muito arriscado tentar explicá-lo. 
U m exemplo apropriado foi dado por Sigmund Freud em uma 
carta endereçada ao grande e famoso psiquiatra suíço, Ludwig 
Binswanger, criador da Daseinsanalyse. Freud disse que, durante 
toda a sua vida, restringiu sua visão ao porão e ao térreo do 
edifício, ou seja, a uma dimensão inferior. Essa imagem não tem 
nada de degradante, pois não implica nenhum julgamento de 
valor. Trata-se apenas de envolver e "humanizar" a dimensão 
menos inclusiva ao adicionar a dimensão intrinsecamente h u ­
mana. Portanto, Freud estava ciente da limitação de sua visão, 
e não foi reducionista ao dizê-lo. E le só se tornou vítima do 
reducionismo de sua época quando continuou sua primeira 
frase, dizendo: "Creio também que encontrei u m lugar para a 
religião nesse edifício, nesse porão, ao dispor dela em termos dé 
uma neurose coletiva da humanidade". Nesse único momento, 
mesmo um génio como Freud não pôde resistir totalmente à 
tentação do reducionismo. 
Pergunta: O senhor queria que seu últ imo símbolo 
fosse uma cruz? 
Resposta: Não sei se você sabe, mas não sou cristão. Este 
diagrama, por acaso, é em cruz, mas não me importo que seja 
uma cruz. E , além disso, visto em termos de ensinamentos 
ontológicos dimensionais, eu teria que dizer que, numa d i ­
mensão superior, esse "acaso" da cruz pode ter um sentido 
mais profundo ou superior. 
Pergunta: C o m o o senhor neutraliza o vazio existencial? 
C o m o o senhor dá u m sentido ao paciente? 
Resposta: Apesar de minha insistência em que não damos sen­
tido, devemos conduzir o paciente ao ponto em que ele encontre 
o sentido por si mesmo, porque o sentido deve ser encontrado, 
não dado. Não damos sentido, nem atribuímos sentido às coisas 
ou acontecimentos, como se a realidade fosse apenas u m teste 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
projetivo. A realidade não é uma tela neutra sobre a qual proje-
tamos nossos pensamentos baseados no desejo ou expressamos 
nossa constituição interior ao atribuir.sentidos. Não podemos 
dar sentidos de uma forma arbitrária. Dar sentidos é como dar 
respostas. E m última análise, existe apenas uma resposta para 
cada pergunta, apenas uma solução para cada problema e, da 
mesma forma, apenas u m sentido para cada situação, o sentido 
correto, o sentido verdadeiro. A realidade não é uma mancha 
de Rorschach, na qual projetamos nossos desejos como forma 
de expressão, mas sim uma figura oculta, cujo sentido deve­
mos descobrir. Af irmei que dar sentidos é como dar respostas. 
Gostaria de explicar essa ideia contando algo que aconteceu 
há alguns anos num campus teológico. Os presentes na plateia 
receberam cartões, onde deveriam escrever suas perguntas em 
letra grande de imprensa. U m teólogo recolheu os cartões e, 
ao passá-los para m i m , retirou u m deles do maço. Perguntei 
por quê. E le explicou: 
— É uma pergunta absurda. Veja: " D r . Frankl , como o 
senhor interpreta 600 em sua teoria da existência?". 
Olhei para ele e disse: 
— Desculpe-me, eu l i de uma maneira diferente: " D r . 
Frankl , como o senhor interpreta G O D [Deus] em sua teoria 
da existência?". 
Eis um teste projetivo não intencional, não concordam? 
Afinal , o teólogo leu "600" e o neurologista leu " G O D " . F iz u m 
slide com esse exemplo e utilizei-o como teste projetivo com 
meus alunos americanos na Universidade de Viena. Mostrei-lhes 
o slide e pedi-lhes que votassem no sentido correto. Por incrível 
que pareça, nove alunos disseram " G O D " , outros nove disseram 
"600" e quatro alunos oscilaram entre as duas interpretações. 
O que desejo transmitir a vocês? Que apenas uma interpre­
tação da pergunta era correta: a forma como eu a entendi. E 
o que isso significa? Que cada situação da vida envolve uma 
pergunta, u m chamado; e devemos tentar descobrir seu senti­
do. Agora vocês podem entender como chego à definição de 
PERGUNTAS E RESPOSTAS 
sentido. Sentido é aquilo que entendemos quer pelo homem que 
questiona, quer pela vida que levanta questões incessantemente: 
questões existenciais, a serem respondidas existencialmente 
por meio da tomada de decisões. Essas decisões, contudo, 
não podem ser tomadas de modo arbitrário, pois é necessário 
haver responsabilidade. O u seja, nossa resposta é u m chamado 
da vida ou daquela entidade suprapessoal chamada Deus, que 
está por trás da vida fazendo perguntas. Nossa resposta deve 
ser u m ato existencial responsável; nossa resposta é ação, não 
intelecto ou razão. 
Pergunta: Q u a l é a sua solução para acabar com o vazio 
existencial e como ela se relaciona c o m o sentimento 
religioso? 
Resposta: Falei de sentidos a serem encontrados e afirmei 
claramente que o sentido não é algo que pode ser dado à vida 
do paciente, muito menos por u m médico. Há pouco tempo, 
Redl ich e Friedman publicaram u m livro no qual, infelizmen­
te, eles rejeitam a Logoterapia, dizendo que se trata de uma 
tentativa de dar sentidos aos pacientes. Como vocês podem 
ver, ninguém está isento de ser mal interpretado, mesmo por 
pessoas que recebem cópias de seus escritos durante anos, nas 
quais se lê: " O sentido não pode ser dado; o sentido não deve 
ser dado por u m médico; o sentido deve ser encontrado pelo 
próprio paciente". Se vocês acham que foi u m logoterapeuta 
que afirmou ter as respostas prontas, estão enganados. Não 
foi u m logoterapeuta, mas uma serpente no Paraíso que disse: 
" E u digo às pessoas o que é errado e o que é certo, o que tem 
sentido e o que não tem sentido". 
E m suma: o que deve ser feito por u m jovem, por exemplo,de suicídio — que 
crescia assustadoramente — chegou a zero. 
A magnânima iniciativa deste jovem médico teve tão grande 
êxito, que outros lugares da Europa — os quais, assim como 
Viena, sofriam as consequências do vazio existencial e u m 
aumento da taxa de suicídios — adotaram o mesmo modo de 
intervenção terapêutica. Cidades como Praga, Zurique, Berl im, 
Frankfurt, e autoridades de países como Hungria, Polónia, 
Iugoslávia e Lituânia entraram em contato para que Frankl 
pudesse expandir seus centros de aconselhamento pela Europa. 
A quantidade de casos atendidos e a experiência acumulada 
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Conjunto de pensamentos recorrentes
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
nestes anos preparam o jovem psicólogo para as grandes missões 
que vir iam pela frente. 
Aos 25 anos, em 1930, Frankl terminou o curso de me­
dicina e, em 1936, recebeu sua dupla titulação, tornando-se 
especialista em neurologia e em psiquiatria pela Universidade 
de Medicina de Viena. 
Assumiu, em 1940, a direção da clínica neurológica do Hos­
pital Rotschild, instituição mantida pela comunidade judaica do 
país, na qual permaneceu por três anos, não poupando esforços 
para desenvolver sua metodologia de trabalho. Acompanhou 
de perto cada um dos 12 m i l pacientes que, ao longo destes 
três anos, deram entrada em seu departamento. Foram anos de 
uma altíssima dedicação ao trabalho, numa carga horária da 
ordem do incomensurável, tendo Frankl morado no hospital 
durante boa parte do tempo em que ali atuou. Nesta função, 
atendia mulheres com tendências suicidas ou que já haviam 
atentado contra suas próprias vidas. 
Vale destacar que, nesse mesmo período, Frankl conse­
guiu salvar a vida de muitos judeus, pacientes cujos diag­
nósticos ele alterava, fazendo-os deixar de ser considerados 
"incuráveis" e, assim, impedindo que fossem mandados a 
campos de concentração nos quais seriam exterminados. Ele 
e seu amigo Potzel desconsideravam as cláusulas processuais 
impostas no hospital pelas autoridades nazistas de tal modo 
que acabavam por sabotar a eutanásia dos doentes mentais, 
assinando atestados médicos em que classificavam de afasia,2 
por exemplo, a esquizofrenia e a melancolia. Deste modo, 
em vez de caminharem para a morte, estes pacientes eram 
direcionados para o asilo — local que havia sido destinado 
para estes tratamentos ambulatoriais. 
2 Afasia é uma disfunção que faz com que o paciente tenha dificuldade de se 
comunicar adequadamente. A capacidade de expressão do paciente é afetada, 
passando a ter dificuldades de ler, escrever, falar, compreender ou repetir a 
linguagem. 
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U M H O M E M E M BUSCA D E S E N T I D O : V I D A E OBRA D E VIKTOR FRANKL 
Entre o dever e o destino 
Apesar das perseguições e leis discriminatórias que, desde 1938, 
a comunidade judaica da Áustria vinha sofrendo duramente, 
Frankl casou-se em 1941 com a bela T i l l y Grosser, enfermeira 
que conquistou seu coração nos corredores do hospital em que 
trabalhavam. Tiveram, porém, de se casar às pressas pois o ca­
samento entre judeus logo seria definitivamente proibido em 
todo o território austríaco, então anexado ao Terceiro Re ich . 
É fato documental que T i l l y e Frankl foram os últimos judeus 
a se casarem num cartório em Viena. 
Ainda em 1941, a Frankl foi concedido um visto para sair 
de Viena e fugir para os EUA. Viu-se diante da oportunidade 
de abandonar a Áustria num momento de guerra, caos e per­
seguição a seu povo, e de inúmeros convites para ensinar em 
universidades estrangeiras. A possibilidade de fugir não fez 
senão pôr dúvidas morais em sua cabeça: aceitar a proposta 
corresponderia a abandonar seus pais, seu trabalho e os muitos 
pacientes que dele dependiam. No entanto, a escolha que, para 
a maioria, parecia óbvia, para Frankl se tornou um motivo de 
sofrimento a mais, colocando-o num impasse terrível. Af ina l , 
não podia ele simplesmente fugir, salvar a própria pele e deixar 
tudo aquilo para trás. 
Dois motivos, então, o convenceram de que o melhor a 
se fazer era permanecer em Viena. O primeiro foi u m sonho 
profético que tivera: v i u uma fila de pacientes psicóticos se 
encaminhando para uma câmara de gás. Visão esta que o fez 
sentir uma profunda compaixão, capaz de levá-lo a unir-se 
a elas para lhes oferecer todo o apoio mental necessário, algo 
incomparavelmente mais dotado de sentido, nas palavras de 
Frankl , do que ser apenas mais um psiquiatra em Manhattan. 
O segundo motivo está atrelado à seguinte dúvida: devia 
ele sacrificar a família pela causa à qual havia se dedicado toda 
a vida, ou devia sacrificar a causa em prol de seus pais? Diante 
desse impasse, entrou na catedral de Santo Estevão em busca 
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Segunda Guerra Mundial - 1 de set. de 1939 – 2 de set. de 1945
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Entre 11 e 13 de março de 1938, a Alemanha nazista anexou o país vizinho, a Áustria. Este evento ficou conhecido como a Anschluss.
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O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
de uma resposta divina. Ao sair, caminhou até a casa de seus 
pais, onde se deparou com u m pedaço de mármore sobre o 
aparelho de rádio. Pegou-o na mão, sentiu ligeira estranheza e 
perguntou o que era aquilo. O pai lhe respondeu que era parte 
da tábua que continha os Dez Mandamentos, recolhida por ele 
mesmo dentre os escombros da sinagoga de Viena, que havia 
acabado de ser posta abaixo pelos nazistas. Na pedra, havia 
uma letra gravada em hebraico, letra esta presente apenas no 
quarto mandamento: "Honra a teu pai e a tua mãe e tu estarás 
na terra prometida".3 Isto bastou para que Frankl decidisse ficar 
em sua terra natal, deixando caducar o passaporte americano. 
O discernimento havia chegado ao f im, pois em seu peito 
agora habitava uma certeza, que fora vivida até suas últimas 
consequências e coroada com as mais doces promessas divinas. 
Tragédia e esperança 
E m 1942, Viktor Frankl e seus familiares foram conduzidos 
como prisioneiros para o gueto de Theresiendt, na então Tche-
coslováquia. Neste primeiro campo de trabalho forçado, Frankl 
assistiria ao falecimento de Gabriel, seu pai, acompanhando-o 
em seus últimos momentos de vida e confortando-o em seu 
leito de morte. Gabriel morreu de pneumonia, agravada pela 
fome, aos 81 anos. C o m esse acontecimento, F r a n k l teve 
pela primeira vez aquela sensação que o psicólogo americano 
Abraham Maslow chamaria de "experiência culminante". Ele 
havia feito sua parte e ficado com o pai até o último momento. 
Cumpriu-se assim o quarto mandamento, em seu sentido mais 
profundo, pleno e perfeito. 
E m Theresienstadt, Frankl foi designado para a seção de 
cuidados ambulatoriais e, juntamente com Leo Baeck, u m fa­
moso rabino reformista alemão, iniciaram um ciclo de palestras 
e sermões com o intuito de levantar o ânimo e encorajar os 
prisioneiros. Podemos encontrar num dos cartões de anúncio das 
3 E x 20,12. 
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palestras de Frankl , preservado até os dias atuais, uma anotação 
com os seguintes dizeres:que não consegue ver nenhum sentido na vida, pelo menos 
não imediatamente? Ele deve estar ciente de que essa condição 
chamada vazio existencial não é um sintoma neurótico. E m 
vez de ser motivo de vergonha, é um motivo de orgulho, uma 
conquista humana. E , sobretudo, uma prerrogativa dos jovens 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
não admitir como natural a existência de u m sentido inerente à 
vida, mas antes esforçar-se, aventurar-se, questionar e desafiar 
o problema do sentido da existência. E uma conquista da qual 
devemos nos orgulhar, não uma neurose da qual devemos nos 
envergonhar. Se for uma neurose, é uma neurose coletiva, 
uma neurose da humanidade. Mas se o jovem tem a coragem 
de fazer tais perguntas, ele também deve ter a paciência para 
esperar o sentido aparecer. E até esse momento, se ele cair no 
vazio existencial, esse sentimento abismal — essa experiência 
de abismo, em alusão à experiência do penhasco, tão l inda­
mente elaborada por Abraham Maslow — , se necessário, ele 
deve dizer a si mesmo: "Esta terrível experiência é exatamente 
o que Jean-Paul Sartre descreve tão belamente em sua obra 
O ser e o nada". Dessa forma, ele consegue colocar distância 
entre essa terrível experiência e ele mesmo. Exis tem dois 
fatores principais que caracterizam e constituem a existência 
humana. O primeiro é a autotranscendência, o fato de que o 
homem está sempre indo para além de si mesmo, buscando u m 
sentido a cumprir, outros seres a encontrar. O segundo fator é 
o autodistanciamento, a capacidade intrinsecamente humana 
de elevar-se acima do nível dos dados somáticos e psíquicos, 
acima do plano em que u m animal se move e ao qual ele está 
ligado. O homem não é totalmente livre; o homem não está 
livre de condicionantes. A liberdade do homem é uma liberdade 
finita, não uma liberdade isenta de condições; sua liberdade 
reside na possibilidade de posicionar-se como quiser em relação 
a quaisquer condições que possam surgir. 
Quando o Prof. Huston C . Smith me entrevistou sobre essa 
questão da liberdade humana, eu disse: 
— O homem é determinado, mas não é pandeterminado. 
Então, o Prof. Smith disse: 
— D r . Frankl , o senhor, como professor de neurologia e 
psiquiatria, certamente está ciente de que existem fatores e 
condicionantes aos quais o homem está vinculado. 
Respondi: 
PERGUNTAS E RESPOSTAS 
— B e m , Dr . Smith, o senhor está certo. Sou neurologista e 
psiquiatra e, como tal, sei que o homem está, em grande parte, 
condicionado, sujeito a condições biológicas, psicológicas e 
sociológicas. Mas além de atuar em dois campos — neurologia 
e psiquiatria — , também sobrevivi a outros quatro campos 
— de concentração —, o que me permite testemunhar que o 
homem, por incrível que pareça, também é capaz de superar 
mesmo as piores condições, inclusive aquelas de um campo 
como o de Auschwitz. 
Palestra proferida em 30 de junho de 1966 no Auditório 
Horace Mann da Universidade de Columbia, patrocinada 
pelo Centro Internacional de Estudos Integrados. 
A P Ê N D I C E 
Bibliografia comentada de 
Vik to r Fran k l1 
í . Em busca de sentido 
Esse livro é essencial para conhecer a Logoterapia, uma vez 
que a abordagem frankliana não se desvincula da vida do au­
tor. Escrito logo após o f im da Segunda Guerra Mundial , Em 
busca de sentido retrata as experiências de Viktor Frankl como 
prisioneiro nos campos de concentração. O autor validou na sua 
própria vida as forças especificamente humanas provenientes 
da dimensão noética, dentre elas a liberdade interior, pois em 
uma realidade em que lhe tiraram tudo, só lhe restou a sua 
existência ("nua e crua") e a certeza de que a vida esperava algo 
dele no futuro. U m a verdadeira lição de liberdade e esperança 
diante do sofrimento, e uma certeza: é possível dizer " S I M À 
V I D A , A P E S A R D E T U D O " . 
1 Gentilmente elaborada pela Professora Milena Carolina Bocchi de Castro. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
2. O que não está escrito nos meus livros — Memórias 
Por meio desse livro, Viktor Frankl eternizou pontos impor­
tantes da sua história, experiências valorosas que não estão 
contidas em outras obras. Relata de forma madura detalhes da 
sua infância, a relação com sua família, com os amigos, com a fé 
e com a medicina. O livro foi escrito na comemoração dos seus 
90 anos — e nos faz caminhar pela vida desse homem que foi 
fiel aos seus valores e a sua missão. É uma leitura fluida e com 
capítulos curtos, que enfatizam as vivências do autor mais do 
que promovem fundamentação teórica e conceituações. U m a 
autobiografia narrada de forma madura, consciente e presente. 
No auge dos seus 90 anos, Frankl nos apresenta a beleza de se 
fazer história em todas as fases da vida. 
3. Sobre o sentido da vida 
O livro ressalta o sentido e o valor incondicional da vida e os 
muitos sofrimentos vivenciados por Frankl como prisioneiro 
nos campos de concentração. E le chamou essas vivências 
permeadas por dores físicas e psíquicas de experimentum crucis. 
E m uma época em que o mundo precisava de reconstrução 
material e espiritual e os homens precisavam se reconhecer 
livres novamente, Frankl propõe alguns recursos espirituais, 
como A L I B E R D A D E , A R E S P O N S A B I L I D A D E E A E S P E R A N Ç A , para 
resgatar a Humanidade dos homens. 
4. A vontade de sentido — Fundamentos e aplicações da 
logoterapia 
U m a das obras mais didáticas e bem fundamentadas da an­
tropologia frankliana! Apresenta com clareza os conceitos da 
Análise Existencial: liberdade da vontade, vontade de sentido, 
sentido da vida, autotrancendência, ontologia dimensional, 
consciência. Encontramos também explicações sobre as téc­
nicas da Logoterapia e suas aplicações, pois Frankl ilustra os 
BI BLI O G RA F I A COMENTADA D E V I KT O R FRANKL 
ensinamentos com vários casos dos seus pacientes. Traz uma 
compreensão importante sobre o lugar da Logoterapia entre as 
outras abordagens e o papel do logoterapeuta. U m livro prático, 
orientado à prática clínica da Logoterapia e aos atendimentos 
pela Análise Existencial. 
5 . O sofrimento humano — Fundamentos antropológicos 
da psicoterapia 
Nessa obra Viktor Frankl apresenta o ser humano a partir do 
que é mais especificamente humano: a liberdade, a responsa­
bilidade, a busca pelo sentido e a possibilidade de encontrar-se 
com o sentido último da existência. O livro é uma reedição 
do título Fundamentos antropológicos da psicoterapia e u m verda­
deiro compêndio de espiritualidade, em que Frankl define 
"quem é o homem", qual sua essência, sua potência e suas 
buscas existenciais. Nos últimos capítulos, encontram-se as 
mais belas compreensões sobre o sofrimento humano, além de 
aprendermos sobre a força de resistência do espírito humano e 
sobre ampliarmos nossos conhecimentos sobre as capacidades 
de sofrer e amar. Além disso, há um belíssimo encontro com 
o homo-paties e com a sua humanidade, a f im de ajudar muitas 
pessoas a enfrentarem as adversidades da vida. 
6. Psicoterapia e sentido da vida 
Esse livro é conhecido como a "Bíblia" da Logoterapia. E exce­
lente para que possamos compreender e contemplar de maneira 
geral a obra frankliana. O primeiro manuscrito se perdeu no 
campo de concentração, mas quando obteve sua liberdade, 
Frankl dedicou-se novamente a escrever essa riqueza que alcança 
tantas vidas, revelando a presença do sentido. Frankl apresenta 
de forma muito concisa o sentido do trabalho, o sentido do 
sofrimento e o sentido do amor. E um livro completo que 
descreve a Logoterapia desde as motivações iniciais do autor 
até as questões atuais que levam a humanidade a se afastar do 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
sentido e buscar o prazer, a se afastar da felicidade por pequenos 
momentos de satisfação. Apresenta a cura médica das almas e 
muitos outros pontos fundamentais para a formação teórica e 
prática do logoterapeuta.7. A vontade de sentido: Conferências escolhidas sobre 
Logoterapia 
Essa obra é necessária para a compreensão da visão antropológica 
de Frankl , pois nos contempla com o texto As dez teses sobre 
a pessoa humana, além de trazer outras conferências proferidas 
pelo autor na sua peregrinação pela expansão da Logoterapia. 
Trabalha a questão da temporalidade e da transitoriedade da 
vida, e oferece-nos uma excelente visão sobre os fundamen­
tos da Análise Existencial para a compreensão das questões 
especificamente humanas e sua relação com as patologias da 
nossa época. 
8. Um sentido para a vida — Psicoterapia e humanismo 
Nesta obra, Frankl trabalhou a aplicação da Logoterapia em 
diversas áreas do conhecimento, e trouxe uma novidade que 
é a aplicação da sua abordagem nos esportes. Trouxe também 
alguns relatos de atendimentos clínicos, uma compreensão do 
cenário atual (visão de mundo) e uma certeza: uma grande 
convocação à responsabilidade. 
9. Teoria e terapia das neuroses 
U m a leitura obrigatória para os profissionais que desejam tra­
balhar na área da saúde e que já tenham certo conhecimento 
da teoria frankliana. O autor entrega-nos, por meio desse livro, 
sua visão médica acerca das neuroses, psicoses e orienta muito 
a postura do profissional diante do seu paciente. A leitura é 
complexa, permeada de termos específicos da Medicina, e 
exige u m certo conhecimento dos funcionamentos biológicos 
BIBLIOGRAFIA COMENTADA D E V I K T O R FRANKL 
e psíquicos do corpo humano. Nele Frankl também vai nos 
apresentar seu "credo psiquiátrico", que professa u m olhar h u ­
manizado para o tratamento, e atesta que o valor da sua prática 
profissional, enquanto médico, não está em tratar doenças, mas 
sim em cuidar das pessoas que adoecem! 
10. A presença ignorada de Deus 
U m livro que nos coloca diante de realidades transcendentes, 
uma vez que para Frankl a verdadeira profundidade está nas 
alturas. Ele experimentou na vida a dimensão religiosa, i n ­
telectual, artística e trouxe a noção de transcendência. Além 
disso, nessa leitura você vai conhecer alguns valores de Viktor 
Frankl , que desde sempre elencou a dignidade da pessoa h u ­
mana em primeiro lugar, assim como a religiosidade, a fé e o 
encontro com o Sentido último da existência. Frankl diferen­
ciou de forma muito clara o papel da psicoterapia e o papel da 
religião, e mesmo que a pessoa não professe uma religião ou 
não acredite em Deus, ela pode se encontrar com o Sentido. 
O Sentido existe e está para ser encontrado! Deus existe, e se 
deixa encontrar, mesmo que ignorado. Essa leitura vai elevar 
sua compreensão sobre as realidades humanas transcendentes! 
11. A falta de sentido: Um desafio para a psicoterapia e a 
filosofa 
U m dos grandes sofrimentos enfrentados no nosso tempo é o 
vazio existencial que provém da falta de sentido. As pessoas 
passaram a buscar cada vez mais o prazer e se escravizaram 
nas pequenas satisfações da vida. Esse movimento de busca é 
divergente do movimento próprio da nossa existência, uma 
vez que que Frankl nos ensinou que devemos buscar o sentido, 
e como resultado dessa busca, encontramos a realização e a 
felicidade. Nessa obra, Frankl nos apresenta a realidade acerca 
das frustrações existenciais e dos sofrimentos que são provo­
cados pelo próprio homem quando ao invés de se dirigir ao 
O H O M E M E A BUSCA D E S EN T I D O 
sentido, busca a satisfação por si mesma. Além disso, apresenta 
as consequências dessas buscas ensimesmadas que culminam 
nas neuroses coletivas da atualidade. 
Obras sobre Viktor Frankl: 
1. O mínimo sobre Viktor Frankl (Luis Enrique Paulino Carmelo) 
A partir deste livro temos o olhar de u m especialista sobre 
a vida de Viktor Frankl . Interessante observar que no prefácio 
do livro O que não está escrito em meus livros podemos refletir 
sobre u m ensinamento do próprio Frankl , que nos convoca à 
responsabilidade quando diz que mais importante do que es­
crever u m livro, é "viver uma vida, a qual se possa contar num 
livro" . Eis aqui a missão do professor Luis Enrique: contar-nos 
um pouco dessa vida inenarrável que foi a vida do pai da L o ­
goterapia, uma vida digna de ser contada, lida e imitada! 
2. Tratado de logoterapia e análise existencial: Filosofia e sentido da 
vida na obra de Viktor Frankl (Ivo Studart Pereira) 
Eis uma leitura que apresenta muito bem o T R A T A D O D E 
H U M A N I D A D E de Viktor Frankl , e que, por contemplar com 
tamanha maestria os principais conceitos e fundamentos da 
obra, foi nomeada com o melhor título que poderia ter. Dr . 
Ivo Studart foi impecável ao reunir na sua obra ensinamentos 
contidos em diversos livros de Frankl . Isso ajuda o leitor a 
avançar no conhecimento e compreensão da Logoterapia de 
uma forma íntegra. Além da exímia fundamentação, o autor 
fez uma contextualização histórica importante, situando a L o ­
goterapia no universo das abordagens existentes. Dr . Ivo apre­
sentou, à luz da filosofia, a antropologia frankliana e elucidou 
as relações do homem consigo mesmo, com o mundo e com 
a transcendência. U m verdadeiro tesouro em forma de livro! 
"É in egável que todos n ós, com u ma cer ta 
frequên cia, ven h a m os a n os in d agar sobre 
o sen t ido da vid a. Es ta é u ma m an ifestação 
gen u in a m en te h u m a na e, p or isso, con s-
t i t u i um dos t r ês p i la r es da Logot e r a p ia ". 
" A b u sca de sen t ido é a m ot iva ção p r óp r ia, 
específica, da pessoa. É a d in âm ica p róp r ia 
do ser h u m a n o ". 
"Fa zer pergun tas é, sem dúvida, u ma m ar ca 
con s t i t u t iva da pessoa h u m a n a; m as saber 
ca p t ar as in d a ga ções que a vid a con s t a n-
t em en te n os faz e r esp on d ê- las a d eq u a d a-
m en te é o que n os coloca em m a r cha na 
d ir eção do sen t ido que t an to a lm e ja m os". 
"Cer ta vez, F r a n kl d isse que a exp er iên cia 
de en con t ro com o Sen t ido da Vi d a pode 
acon t ecer a té m e s mo p or m eio da le i t u ra 
de um l ivr o — e aqui t em os um l ivr o " . 
E m ú l t im a a n á l is e, o h o m em n ão d eve p e r gu n t ar 
q u al é o s e n t ido de s ua v i d a, m as r e co n h e cer q ue é 
a v ida q ue l h e es tá p e r gu n t a n do is s o. 
— Vik t o r Fr a nk l 
Ao ser q u es t ion a do sob re como n e u t r a l i zar o va zio e x is t e n-
c ia l, Vi k t o r F r a n kl r esp on d eu: "Ap esar de m i n ha in s is t ên cia 
em que n ão dam os sen t id o, d evem os conduzir o p a cien te ao 
p on to em que ele encontre o sen t ido p or si m e s m o, p or que o 
sen t ido deve ser en con t r a d o, n ão d a d o" ( F r a n k l, 2 0 2 1). E s se 
é o p a p el da Logo t e r a p ia, a b or d a gem p s ico t er a p êu t ica cr ia da 
p or F r a n kl q ue co m p r e e n de o s er h u m a no como u m t od o, 
d i fe r en t em en te d as p r op os t as r ed u cion is t as de F r e ud e Ad le r. 
P a ra tan to, faz-se n ecessár io p er cor r er os fu n d am en tos e 
ap licações da Logoter ap ia e da An á lises Exis t en cia l, abordagens 
que o p s iq u ia t ra a u s t r ía co e la b or ou a p a r t ir d as exp er iên cias 
v i ve n c ia d as como p r i s io n e i ro em ca m p os de con cen t r a ção 
n a zis t a s: desde s ua ext en sa e p r o fu n da t r a jetór ia a ca d ém ica, 
con so l id a da em seus m a is de 30 l i vr o s p u b l ica d os, p a ssa n do 
p e las ca u sas do va zio exis t en cial e os ca m in h os que a p o n t am 
p a ra o sen t ido a té a b u s ca e com p r een s ão p e la exis t ên cia e 
sen t ido da v id a. 
E s te l ivr o , u m gu ia d as p r in c ip a is id e ias e con ceitos que 
e m b a s am a ob ra de Vi k t o r F r a n k l, é t an to p a ra os que b u s cam 
a p r o fu n d a m en to q u a n to p a ra q u em p r o cu ra u ma in t r od u ção 
à t eor ia fr a n k l ia n a, oferecen do u ma visão acessível e p r o fu n da 
sobre o sen t ido da v id a."Não há nada no mundo que capacite 
tanto um ser humano a superar dificuldades externas ou inter­
nas quanto a consciência de que ele tem uma missão na vida". 
U m a vez mais encontramos Frankl colocando-se à disposição 
para trazer alívio, conforto e encorajar os de espírito abatido. 
Nos campos, como veremos, o suicídio entre os prisioneiros 
era algo corriqueiro e, neste momento, em Theresienstadt, por 
ações como esta de Frankl , crescem a esperança e a valentia. 
A noção de que há um sentido nesta vida, mesmo em meio às 
situações mais terríveis, e a de que todos nós possuímos uma 
missão neste mundo surgem como resposta e convocação 
àqueles prisioneiros fatigados. 
C o m a ajuda de Er ich M u n k , diretor de assistência médica, 
Frankl organizou em Theresienstadt estações móveis de acon­
selhamento psicológico. 
O chamado "Esquadrão de c h o q u e " era composto por médi ­
cos e ajudantes voluntários que, sempre que possível, ofere­
c i a m conforto, ajuda e cuidados aos presos acometidos de 
sofrimentos psíquicos. O Esquadrão de C h o q u e concentrava 
sua atenção, acima de tudo, nos fracos e desamparados de 
Theresienstadt: os idosos, os doentes, os psicologicamente 
enfermos e aqueles que, j á em meio às mais degradantes c i r ­
cunstâncias de v ida , estavam na base da hierarquia social do 
campo. O grupo de ajudantes voluntários também conside­
rava importante a tarefa de atenuar o choque dos r e c é m - c h e -
gados a Theresienstadt.4 
Entre 1942 e 1945, Viktor Frankl passou por quatro campos 
de concentração, entre eles o nefasto campo de Auschwitz. 
Levou a vida ordinária de u m prisioneiro. Foi o prisioneiro 
119.104, número este que levava tatuado em sua pele. Na maior 
parte do tempo trabalhou em escavações e na construção de 
ferrovias. Encontramos a síntese do que foram esses três anos 
4 Battyány,2021,p. 27. 
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para Frankl em seu livro Em busca de sentido, publicado oito 
meses após sua libertação, tendo sido vendidas, até o presente 
momento, mais de 12 milhões de cópias em todo o mundo. 
O livro foi ditado por Frankl num período de nove dias e de 
início publicado anonimamente, assim ficando claro que seu 
desejo era, antes de qualquer fama literária, de que prescin­
dia, prestar um serviço valioso e cumprir com o seu dever. O 
objetivo era transmitir ao leitor u m exemplo concreto de que 
a vida, mesmo nas piores circunstâncias, possui um sentido. 
Como ele mesmo diz: "Mesmo uma vítima desamparada, numa 
situação sem esperança, enfrentando um destino que não pode 
mudar, pode erguer-se acima de si mesma, crescer para além 
de si mesma e, assim, mudar-se a si mesma".5 
Nesta obra, as vivências dos prisioneiros nos campos de 
concentração são divididas em três fases distintas, três modos 
de reação psicológica. A primeira é o choque de recepção. E r a m os 
prisioneiros submetidos a uma brutalidade sem precedentes, a 
ponto de fazê-los nutrir o desejo de não mais fazer parte deste 
mundo. Eis como o próprio Frankl descreve esta fase: 
Imagine-se a situação: o transporte de 1.500 pessoas está a 
caminho há alguns dias e noites. E m cada vagão do trem esti­
r a m 80 pessoas sobre a sua bagagem (seus últimos haveres). A s 
mochilas, bolsas etc. empilhadas i m p e d e m quase toda visão 
pelas janelas, deixando l ivre apenas u m último vão na parte 
superior. Lá fora se divisa o pr imeiro clarão da aurora. Todos 
achávamos que o transporte se dir igia para alguma fábrica 
de armamento onde nos usariam para trabalhos forçados. 
Aparentemente, o t rem para e m algum lugar no meio da 
l inha ; ninguém sabe ao certo se ainda estamos na Silésia o u j á 
na Polónia. O apito estridente da locomotiva causa arrepios, 
ecoando como u m grito de socorro ante o pressentimento 
daquela massa de gente personificada pela máquina e por esta 
conduzida r u m o a u m a grande desgraça. O trem começa a 
manobrar e m frente a u m a grande estação. D e repente, do 
amontoado de gente esperando ansiosamente no vagão, surge 
5 Frankl, 2008, p. 168. 
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u m gri to : " O l h a a tabuleta: A u s c h w i t z ! " . Naquele m o m e n t o 
não houve coração que não se abalasse. Todos sabiam o que 
significava A u s c h w i t z . Esse n o m e suscitava imagens confusas, 
mas horripilantes, de câmaras de gás, fornos crematórios e 
execuções e m massa. O trem avança lentamente, como que 
hesitando, como se quisesse dar aos poucos a má notícia a sua 
desgraçada carga humana : " A u s c h w i t z " . 6 
Assim que saíam dos vagões, todos os prisioneiros eram 
colocados em fila para marchar até u m oficial alemão, que 
decidia seu destino, formando então duas filas diferentes, 
uma à esquerda e outra à direita. Os da esquerda marchavam 
diretamente para a câmara de gás; os da direita eram encami­
nhados aos barracões. Entre os que continuavam vivos, era 
normal a ideia de suicídio, coisa em que até Viktor Frankl 
chegou a pensar, mas que logo abandonou, fazendo u m firme 
e formal trato consigo mesmo: o de não " i r ao fio". Como os 
campos eram cercados por arames farpados eletrificados com 
alta tensão, muitos dos prisioneiros, desesperados, se dirigiam 
até esses fios e metiam-lhes as mãos, cometendo suicídio ao 
se eletrocutarem. O terror, o pânico e as brutalidades a que 
os prisioneiros eram submetidos faziam dos "fios" u m convite 
à fuga, e atenuavam até mesmo a imagem que os prisioneiros 
traziam das câmaras de gás, que de algum modo os poupava 
tanto da decisão de se lançarem ao " f io" quanto os desonerava 
das obrigações impostas no campo. 
E m seguida, vem a segunda fase, a da apatia, quando o p r i ­
sioneiro é tomado por intensos sentimentos de saudade de sua 
pátria, da vida cotidiana e dos familiares. Tamanha é a saudade, 
que resta apenas se consumir num monótono calvário, com os 
dias sucedendo uns aos outros, sempre iguais em sua carga de 
sofrimentos. A reação psicológica acaba por ter de ser a indi ­
ferença pura e simples, com a apatia sendo fundamental para a 
sobrevivência. Prisioneiros sorviam em desespero as suas sopas 
6 Frankl, 2008, p. 22. 
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ralas, enquanto ao seu lado cadáveres de olhos esbugalhados 
olhavam diretamente para eles. Por exemplo, Frankl nos re­
lata o caso de u m menino de doze anos que, no ambulatório, 
já estava com os dedos dos pés necrosados por causa das muitas 
horas que teve de caminhar descalço na neve. Esse menino foi 
submetido a uma cirurgia na qual o médico arrancou com uma 
pinça os tocos necróticos e enegrecidos de suas articulações. 
Ao redor dele, encontravam-se alguns prisioneiros que obser­
varam indiferentes tal cena, sem demonstrar qualquer tipo de 
compadecimento, revolta ou horror. A morte e o sofrimento 
eram agora coisas corriqueiras. 
No entanto, Viktor Frankl observou que os prisioneiros 
não estavam destinados a apenas se perderem naquela massa 
disforme e impessoal, ao contrário do que poderia pensar 
Freud, para quem o resultado de experiências desse tipo não 
seria outro senão uma uniformidade de desejos e ações, com 
a necessidade imperativa da fome eliminando por completo 
todas as diferenças individuais. Naquele cenário desumano, 
Frankl constataria que, enquanto alguns se rebaixavam à mais 
rasteira animalidade,outros alcançavam admiráveis progressos 
interiores e se tornavam personalidades maduras, ascendendo à 
verdadeira grandeza humana. Uns se tornavam como porcos, 
outros como santos. 
É essa a diferenciação que vai tomando lugar na segunda 
fase. Enquanto alguns se aferram ao seu mundo interior, à fé 
e aos amores genuínos, alimentando assim a esperança, outros 
definham e vivem cada vez mais desesperados e desiludidos, 
muitas vezes dispostos a entrar neste jogo sujo e traiçoeiro. 
Mesmo diante de u m sofrimento inevitável é possível que cada 
u m extraia o seu melhor, caso queira. 
Frankl escutava com certa frequência conversas de prisio­
neiros que diziam coisas como esta: "Será que sairemos com 
vida deste campo de concentração? Caso contrário todo esse 
sofrimento não tem sentido algum". Mas, para ele, a questão 
que deveria guiar uma vida nessa situação era outra: será que há 
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sentido nisso tudo? Neste sofrimento? Pois, se não houver, pouco 
importa sair ou não com vida. U m a vida que dependa dessas 
adversidades, que tenha sentido tão somente em decorrência 
dessas realidades que estão para além do nosso controle, tal 
vida não vale a pena ser vivida. 
Sair ou não com vida era algo que não estava sob controle 
dos prisioneiros, tampouco tantas outras realidades externas 
tais como marchar para o trabalho todas as manhãs, receber 
uma sopa rala ao f im do dia ou até mesmo ir para a câmara 
de gás; porém, fazer uma experiência de sentido em meio ao 
sofrimento, esta era uma possibilidade ao seu alcance. 
"Dizer sim a vida, apesar de tudo" 
A terceira fase é a fase pós-libertação, que infelizmente ocorreu 
para poucos prisioneiros. Quando o campo de concentração de 
Turkhe im, u m subcampo de Dachau, foi libertado em 27 de 
abril de 1945 pelas Forças Aliadas, em particular pelo exército 
norte-americano, Viktor Frankl pesava apenas 40 quilos, estava 
com 40 graus de febre, e por pouco não morreu alguns dias 
antes em decorrência da febre tifóide que contraíra. E le conta 
que diversas vezes esteve à beira de u m colapso fatal durante 
as noites, mas lutou com todas as suas forças para se manter 
vivo. Como médico, sabia que adormecer naquelas condições 
era u m grande perigo. Por este motivo, mantinha-se desperto 
e em vigília durante toda a noite. Para tanto, pegava no bolso 
do seu jaleco alguns poucos pedaços de papel roubado em 
uma das oficinas do campo e ia reescrevendo o manuscrito 
que as autoridades nazistas lhe haviam confiscado e destruído 
ao chegar ao campo de concentração. Magro, doente e vendo 
que a morte o espreitava, Frankl usava essa atividade para se 
manter ativo em meio às madrugadas. Deste modo, mantinha 
sua sanidade, seu estado de vigília e ainda retomava sua obra 
que meses depois seria enfim publicada. 
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Após a libertação, os prisioneiros tinham de aprender novas 
formas de se alegrar. E r a como se a tão desejada libertação 
não fosse assimilada de pronto pelas vítimas do Holocausto. 
A "libertação" de Frankl se deu de forma singular: u m dia, 
em meio aos campos e campinas floridas, num espaço amplo, 
ele se prostrou de joelhos e, absorto, colocou-se na presença de 
Deus. Foi então que ouviu as seguintes palavras: " N a angústia 
gritei para o Senhor, e ele me respondeu no espaço l ivre" . 
Frankl não sabe precisar por quanto tempo ficou ali ajoelhado, 
se foram horas ou minutos, mas afirma que naquele preciso 
momento começou uma nova vida. A vida de u m homem que 
teria de lidar com sua história, sofrer e se enlutar pelos entes 
queridos que perdera. Se antes Frankl havia tomado a decisão 
de "não ir ao fio", agora a sua decisão seria de recomeçar. E , 
para alguém como ele, nesta situação, com esse passado e essas 
vivências, era forte e clara a noção de que nada mais era preciso 
temer, senão a Deus. 
Para Frankl , somos uma geração privilegiada, pois com as 
barbáries do século x x pudemos conhecer a pessoa humana 
como nenhuma outra geração. "Mas quem é a pessoa humana?", 
pergunta-nos Frankl . E , de modo firme, responde: "É o ser 
que inventou as câmaras de gás; mas é também aquele ser que 
entrou nas câmaras de gás, ereto, com uma oração nos lábios".7 
E m 1945, ao deixar o campo de concentração e passar por 
essa experiência de libertação, Frankl foi aos poucos perceben­
do que todo o seu mundo havia sido destruído. Perdera a sua 
cátedra, seu trabalho, seu pai, sua mãe, seu irmão e também 
sua amada esposa T i l ly . Descobriu que a sua irmã era a única 
sobrevivente da família, pois havia conseguido migrar para a 
Austrália. 
E m 27 de abril de 1945, após a sua libertação, Frankl foi 
nomeado médico-chefe de campo no hospital militar para 
desalojados na Bavária. Trabalhou por dois meses e, na p r i -
7 Frankl, 2008, p. 113. 
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meira ocasião possível, abandonou o cargo e foi às pressas para 
sua cidade natal. Ansiava por ter notícias dos seus amigos e 
familiares, pois alimentava uma viva esperança de que p u ­
desse encontrar alguns, em especial sua amada esposa, T i l ly . 
Ao chegar, deparou-se com uma cidade em ruínas. Viena estava 
estilhaçada, terrivelmente destruída pela guerra. 
Também ele, por dentro, havia sido feito em pedaços e 
precisava se reerguer. Recordava-se vivamente que antes de ser 
levado aos campos de concentração havia feito uma promessa 
a sua primeira esposa T i l l y : caso sobrevivesse, iria retomar os 
seus escritos para publicar o seu livro Psicoterapia e sentido da vida. 
Os manuscritos desta que vir ia a ser sua primeira grande 
obra já estavam quase finalizados antes da guerra, e, no ato da 
deportação, ele corajosamente os escondeu em seu casaco e os 
levou consigo para a prisão. Todavia, evidentemente, estes lhe 
foram arrancados pelos guardas e descartados junto com seus 
outros haveres. Durante o tempo em que esteve no campo, 
principalmente nas noites de febre tifóide em que devia lutar 
para se manter vivo e lúcido — como vimos anteriormente 
— , tentou reescrever esses manuscritos a partir de taquigrafia. 
E , ao f im, levou consigo alguns desses fragmentos, escritos em 
pedaços de papel com reconstituições do manuscrito original 
que lhe haviam tirado. 
Deste modo, tão logo retornou a Viena, começou a trabalhar 
nesta obra com o f im de cumprir a promessa feita à sua esposa. 
No entanto, a promessa incluía uma contrapartida: a de que 
T i l l y pudesse ser a primeira a ler este livro. Apesar disso, com 
grande dor, mas diligentemente, ele se empenhou em c u m ­
prir a sua parte, certo de que T i l l y já não poderia cumprir a 
dela. No prefácio desta obra encontramos a dedicatória: " E m 
memória de T i l l y " . 
A consciência claríssima que Frankl tinha acerca do cum­
primento dos seus deveres foi algo que não só marcou de 
modo indelével sua biografia, como também — no momento 
pós-guerra — u m fator de proteção psicológica e de sobre-
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O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
vivência para ele. Quando Frankl se percebe desprovido de 
praticamente tudo o que lhe dava alegria, bem-estar e felicidade, 
volta-se parao cumprimento das suas obrigações. Sentia-se 
como uma criança que ficou detida na escola. O sinal tocou, 
todos saíram, mas aquela criança permaneceu ali. E se questio­
nava: por que motivo, afinal, uma criança permanece na escola 
mesmo depois de o sinal ter tocado e de todas as outras terem 
partido e voltado para casa? E conclui: muito provavelmente 
porque tal criança ainda precisa terminar a sua tarefa. 
C o m essa consciência, aos poucos retomou seus empreen­
dimentos, sua vida como médico, académico e escritor. Poucos 
meses depois de liberto, publicou seu primeiro livro Psicoterapia 
e sentido da vida. A l g u m tempo depois, foi convidado a conce­
der entrevistas em rádios. Retomou seus atendimentos como 
médico psiquiatra e, em fevereiro de 1946, foi nomeado chefe 
do departamento de neuropsiquiatria da Policlínica de Viena, 
cargo que ocupou por 25 anos, até se aposentar. 
Um homem muito maior do que seu século 
Alguns meses após assumir o departamento de neuropsiquiatria, 
Frankl conheceu uma funcionária da Policlínica de Viena. U m a 
jovem enfermeira, muito simpática e bela, que o fez voltar a 
sonhar com dias melhores. Despontava a primavera de 1946, 
e Frankl , como deixará registrado num poema escrito meses 
antes, temia que uma vez mais se aproximasse essa bela estação 
do ano sem que, contudo, ele pudesse desfrutar dela. Diz ia 
que muitas primaveras haviam se passado nos anos anteriores, 
sem que nenhuma florescesse para ele. Pois bem, aquela jovem 
chamada Eleonore Schwindt parecia v ir lhe comunicar um 
momento de florescimento. 
O primeiro encontro se deu de modo bastante inusitado. 
Ambos trabalhavam no mesmo prédio, em setores diferentes. 
E m u m dado momento, o departamento de odontologia ao 
qual pertencia Eleonore precisou de uma maca. Decidiram, 
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então, perguntar ao setor de neuropsiquiatria se havia a l ­
guma disponível para ser emprestada. Entretanto, o chefe 
do setor de neuropsiquiatria era u m homem muito temido. 
D i z i a m que ele era de poucas palavras, severo e exigente. 
U m sobrevivente do holocausto que, muito embora fosse u m 
exímio médico, não se encontrava em seus melhores dias. Este 
homem era o D r . Viktor E m i l Frankl . Sem ninguém que se 
aventurasse a pedir a maca a ele, Eleonore se prontificou. E 
lá foi ela. Mas, para sua surpresa, aquele médico se mostrou 
cortês e simpático. Cedeu ao seu pedido e emprestou o que 
ela desejava. Eleonore, ao voltar para o setor de odontologia, 
disse aos colegas que aquele médico era um homem amável, 
muito diferente do que lhe haviam dito. Enquanto o setor de 
odontologia celebrava o pequeno feito, no departamento da 
frente estava Frankl , tomado por u m sentimento de encanto 
e admiração. Foi amor à primeira vista. E a primavera estava 
prestes a florescer para Viktor . 
E m julho de 1947 eles se casaram, e, poucos meses depois, 
nasceu sua filha Gabriele. Nas palavras de Viktor Frank l , 
Eleonore foi aquela que conseguiu converter u m homem que 
sofria em u m homem que amava. 
Nos longos e frutíferos anos entre 1945 e 1997, Viktor 
Frankl teve uma vida extremamente ativa. Ministrou cursos 
em diversos países, realizou centenas de conferências, tendo 
ganhado notoriedade nos principais centros universitários 
do mundo. Nos Estados Unidos foram criadas cátedras de 
convidados nas universidades de Harvard, Boston, Dallas e 
Pittsburgh. Até o f im, Frankl trabalhou em sua clínica, exer­
cendo a medicina de forma séria e comprometida com seus 
pacientes. Vale destacar que muitos dos seus atendimentos 
eram realizados gratuitamente. 
Juntamente com Eleonore, que datilografava todas as suas 
obras enquanto ele as ditava, Frankl trouxe ao mundo uma 
extensa e significativa obra que totaliza 39 livros. 
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U m homem incansável, que nos deixou um grande legado de 
esperança e que surge como resposta a este nosso tempo confuso 
e sem grandes referências. U m a luz que brilhou e aqueceu em 
meio a uma noite escura e fria. U m autor comprometido com 
a verdade e profundamente apaixonado pela pessoa humana. 
U m homem de coração inquieto, que, desde muito cedo. se 
mostrou atento aos sinais do seu tempo e não poupou esforços 
para criar e difundir sua mensagem de esperança e otimismo, 
para fazer nascer e crescer a Logoterapia. U m homem que, não 
obstante ter sido submetido aos mais torturantes processos de 
desumanização nos campos de concentração, soube entregar ao 
mundo uma escola psicoterapêutica que contribuiu para a huma­
nização da psiquiatria e da psicologia em todo o mundo. Frankl 
é sem dúvida um destes homens magnânimos e inquietos que 
buscam fazer a diferença na vida das pessoas. Por volta de 1942 
ele colocou em um dos bolsos do seu uniforme de prisioneiro, 
para que se lembrasse todos os dias: "Fizeste-nos para T i , Senhor, 
e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em T i " . 8 
" F possível dizer sim à vida, apesar de tudo". Esta é a frase 
que resume a vida de Viktor Frankl . É possível fazer uma ex­
periência de sentido, de amor, mesmo padecendo dos maiores 
sofrimentos. E possível acreditar que o amor move o mundo. 
E possível nos colocarmos como protagonistas da nossa história 
mesmo quando forças contrárias nos tomam de assalto e nos 
levam para onde não queremos ir. 
Ao saber da morte de Viktor E m i l Frankl, em 1997, Olavo de 
Carvalho, importante pensador brasileiro, escreveu o seguinte: 
No dia 2 de setembro morreu, aos 92 anos, um dos homens 
realmente grandes deste século. Acabo de escrever isto e já 
tenho uma dúvida: não sei se o médico judeu austríaco Viktor 
Frankl pertenceu mesmo a este século. Pois ele só viveu para 
devolver aos homens o que o século xx lhes havia tomado — 
e não poderia fazê-lo se não fosse, numa época em que todos 
8 Santo Agostinho, Confissões, livro i , cap. 1 . 
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U M H O M E M EM BUSCA D E SENTIDOIVIDA E OBRA D E V I KT O R FRANKL 
se orgulham de ser "homens do seu t e m p o " , alguém muito 
maior do que o século. 
L u i s ENRIQUE PAULINO CARMELO 9 
Referências 
FRANKL, V. E . Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de 
concentração. Petrópolis: E d . Vozes, 2008. 
BATTHYÁNY, A . "Viktor Frankl e o desenvolvimento da logo­
terapia e da Análise Existencial" . I n : FRANKL, V. E . A falta 
de sentido: Um desafio para a psicoterapia e a filosofia. Campinas: 
Auster, 2021. 
9 Luis Enrique Paulino Carmelo é graduado em psicologia e filosofia e pós-
-graduado em Análise Existencial e Logoterapia Frankliana. Atua como psi­
cólogo clínico desde 2012 e é coordenador da pós-graduação em Logote­
rapia do Centro Universitário Católico Italo Brasileiro, em parceria com o 
Instituto E m Rota. E autor do livro O mínimo sobre Viktor Frankl ( O Mínimo, 
2024) e idealizador do documentário Além da liberdade — A vida de Viktor 
Frankl (Lumine, 2024). 
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pg7 - introdução
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26
Os pilares da Logoterapia e 
Análise Existencial 
Aobra de Viktor Frankl gira em torno da questão do 
sentido da vida, a respeito do qual ele passou toda a vida 
refletindo. Disso é derivado o nome de sua abordagem 
psicoterapêutica:Logoterapia. A palavra logos, aqui, é usada jus­
tamente com a acepção de "sentido". 
Quando, em 1926, propôs pela primeira vez uma Logotera­
pia, Frankl não pretendia com isso criar uma nova abordagem 
na psicologia. Ele ainda era, naquele momento, um estudante 
universitário. No entanto, percebia que as teorias em voga na 
época — a psicologia adleriana, com seu foco no contexto 
social, e a psicologia freudiana, que se propunha a explicar os 
indivíduos tendo em vista os seus impulsos inconscientes — não 
eram suficientes para se ter uma visão completa do ser humano. 
As abordagens psicoterapêuticas criadas por Freud e Adler, 
então, falhavam em encontrar respostas para questões exis­
tenciais, com as quais Viktor Frankl já se deparava, e percebia 
estar presentes naqueles que lhe chegavam com queixas. Tais 
abordagens interpretavam a vida de maneira reducionista, como 
se o ser humano fosse apenas seu próprio psiquismo e não fosse 
constituído também de uma dimensão espiritual, e assim elas 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
não contemplavam seus questionamentos existenciais, espe­
cialmente sobre o sentido da vida. A partir daí ele propõe uma 
terapia (tratamento, cuidado) que se dirige ao logos, ao sentido, 
e que conta com os recursos saudáveis da pessoa, recursos da 
dimensão propriamente humana, a dimensão dos fenómenos 
humanos, a dimensão espiritual, portanto uma "logoterapia". 
E m suas apresentações nos congressos, e nas suas aulas, V i k ­
tor Frankl costumava desenhar e explicar que a Logoterapia, e 
consequentemente sua visão de ser humano, como nos templos 
gregos, se sustenta sobre três pilares: a liberdade da vontade, a 
vontade de sentido, e o sentido da vida.1 Esses sãos conceitos 
principais que constituem os princípios fundamentais da L o ­
goterapia e da Análise Existencial de Viktor Frankl . 
1 Frankl, 2011, p. 26. 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
Liberdade da vontade: o caráter ontológico da liberdade 
O primeiro pilar da Logoterapia, a liberdade da vontade, sustenta 
que a vontade do ser humano é livre. Trata da constituição da 
natureza humana e da liberdade que emerge desta constituição 
e se opõe à visão de que tudo no ser humano é determinado. 
O ser humano não é u m "efeito, produto ou resultado"2 de 
impulsos psíquicos, ou de condicionamentos e influências do 
meio. Ele não é somente determinado por essas "forças", ape­
sar destas também fazerem parte da sua realidade, apesar de 
também ser impulsionado ou condicionado. Na realidade, a 
sua "vontade" — aquela que realmente faz com que ele realize 
uma coisa ou outra em sua vida — é livre! 
Podemos considerar quatro aspectos envolvidos nesta afir­
mação: 1. A liberdade em oposição ao pandeterminismo — 
liberdade versus destino; 2. O modo de ser espiritual do ser 
humano — como nossa natureza é constituída; 3. Liberdade 
e existência — o modo de existir do ser humano; 4. O sentido 
da liberdade — para quê somos livres. Vamos a eles: 
1 . A L I B E R D A D E E M OPOSIÇÃO A O P A N D E T E R M I N I S M O : 
L I B E R D A D E VERSUS D E S T I N O 
As teorias que tendem a considerar somente u m aspecto da 
realidade do ser humano, para explicar toda a sua realidade, 
acabam caindo em u m reducionismo, o que foi fortemente 
criticado por Frankl . 
Mas o que seria o reducionismo? A fábula dos sete sábios 
cegos e o elefante pode nos ajudar a compreendê-lo. A fábula diz 
que diante de um elefante com que nunca tinham se deparado, 
cada sábio, tocando apenas em uma parte dele, o definia de 
acordo com a parte que tocava: o que tocava a pata do elefante 
dizia que aquilo era uma árvore; o que tocava o rabo, dizia 
que era uma corda; o que tocava a orelha, que era u m leque 
2 Frankl, 2019, p. 242. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
etc. Cada um, a partir somente da sua perspectiva, concluía 
o que seria todo o elefante. O que caracterizaria a descrição 
de cada u m como reducionista? O fato de generalizar e dizer 
que o elefante não seria nada mais do que aquela pata, rabo ou 
orelha. O reducionismo faz exatamente isso: reduz toda uma 
realidade a só u m aspecto da realidade. 
Se pensarmos em termos de ser humano, o reducionismo, 
conforme diz Frankl , é "uma abordagem pseudocientífica 
que negligencia e ignora o caráter humano de determinados 
fenómenos, ao reduzi-los a meros epifenômenos".3 O u seja, 
um fenómeno derivado de outro. E , mais especificamente, 
reduzindo-o a um fenómeno sub-humano, abaixo do humano, 
no nível do animal. Portanto, ao partir apenas de um aspecto da 
realidade do ser humano, uma abordagem reducionista poderia 
considerá-lo somente naquilo que ele tem de semelhante ao 
animal. U m a teoria reducionista do ser humano expressa não 
somente uma visão reduzida, mas também ignora aquilo que 
de especificamente humano o ser humano tem. O problema 
não é olhar para cada u m dos aspectos da realidade, mas sim 
generalizar e elaborar uma teoria a respeito de toda a realidade 
partindo de u m só aspecto desta realidade. 
Encontramos reducionismo de tipo psicologista em algumas 
teorias que se enquadram no que chamamos de teorias psicodi-
nâmicas, aquelas teorias que buscam explicar toda a realidade 
do ser humano a partir somente da dinâmica psíquica, ou seja, 
somente a partir do aspecto psíquico. 
A dinâmica psíquica (de dínamo, o que gera força, energia) 
é a dinâmica da busca de satisfação das necessidades, sejam 
elas biológicas, psíquicas ou sociais, onde os impulsos surgem 
para obter satisfação.4 Os impulsos dessa forma nos movem, 
nos levam a agir. Também somos passíveis de ser condiciona­
dos pelos estímulos do meio em que vivemos, o que também 
3 Frankl, 2011, p . 29. 
4 Lersh, 1974, p. 15. 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
influencia nosso comportamento, por conta desta mesma busca 
de satisfação. 
Na medida em que essas teorias psicodinâmicas consideram 
que tudo o que acontece em nossa vida, nossos comportamentos, 
nossas escolhas, nossas realizações, são "mero efeito, produto, ou 
resultado" de impulsos inconscientes ou de condicionamentos 
do meio, elas deixam de lado a liberdade e a intencionalidade 
de todas as nossas ações. Essa é a visão do pandeterminismo. 
Não considera que o ser humano possa decidir, possa escolher 
agir por algum valor, por algum motivo, por alguma coisa que 
vá além dele, por algum sentido.3 
De certa forma, todas essas teorias, por mais que tenham 
alcançado grandes descobertas sobre a dinâmica do nosso 
psiquismo, chegaram à conclusão de que o ser humano vive 
somente em função de metas intrapsíquicas, metas do seu pró­
prio psiquismo, buscando u m equilíbrio interno para alívio de 
tensões, somente em função das suas próprias necessidades.6 
Essa antropologia da psicodinâmica desenha uma imagem de 
ser humano sem liberdade e totalmente egocêntrica, u m ser 
fechado em si, como se a pessoa buscasse sempre somente a si 
mesma: na psicologia profunda, buscando a máxima obtenção 
de prazer; na terapia da conduta, buscando recompensa ou 
aplausos sociais; na psicologia humanista, buscando a realização 
individual,7 portanto, tendo sua vontade determinada por estas 
forças psíquicas e sociais, não podendo escapar desta situação. 
Frankl , pessoalmente, nunca descartou as descobertas e 
propostas das demais teorias psicológicas. Tais escolas, como 
citava, poderiam ser re-humanizadas pela Logoterapia; esta seria 
uma complementação das demais, especialmente da visão de 
ser humano.8 Criticava somente a interpretação reducionista 
5 Frankl, 2019, p. 242. 
6 Frankl, 2019, p. 37. 
7 Lukas, 1986, p. 56. 
8 Frankl, 201 l , p . 38; 2016b, p. 175. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
que estava por trás de algumas destas abordagens, e afirmava: 
a vontade do ser humano é livre! 
2 . O M O D O D E S E R E S P I R I T U A L D O S E R H U M A N O : C O M O 
N O S S A N A T U RE Z A É C O N S T I T U Í D A 
Tentando superar o reducionismo presente nestas abordagens, 
Frankl 9 propõe, com sua Análise Existencial, u m novo olhar 
para a visão de ser humano, buscando uma visão na qual a 
humanidade do ser humano é preservada; na qual podemos 
enxergar para aquilo que é próprio do ser humano e que o 
diferencia dos outros seres. Assim, propõe o que chamou de 
uma ontologia dimensional, uma reflexão sobre as dimensões 
que constituem a natureza do ser humano fazendo uma ana­
logia com a geometria. 
Vamos supor que tomamos u m fenómeno tridimensional 
para ser analisado, por exemplo u m cilindro, como na figura 
acima. A o lançar uma luz em cima do cilindro, ela cria uma 
projeção, isto é, uma sombra deste fenómeno. O que resulta 
em u m círculo, que nos revela algo do cilindro, mas não toda 
a sua realidade. O mesmo ocorre se colocamos a luz em outra 
direção. A projeção será de u m retângulo, uma sombra que 
também revela algo do cilindro; podemos observar que o 
9 2011, p. 25. 
Dimensões do ser humano 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
retângulo está contido no cilindro. Mas o retângulo não revela 
toda a realidade do cilindro. O que isso quer dizer? Que se 
nos basearmos apenas nas projeções não compreenderemos o 
fenómeno na sua totalidade. O u seja, as projeções oferecem uma 
visão reduzida do fenómeno, de somente um de seus aspectos. 
Supondo que o fenómeno no lugar do cilindro fosse um ser 
humano, a conclusão é óbvia: podemos sempre projetar algo do 
ser humano que revelará uma dimensão inferior à dimensão da 
sua totalidade. Podemos estudar o ser humano, por exemplo, 
na sua dimensão biológica. Mas a biologia jamais revelará toda 
a realidade do ser humano. O mesmo ocorre com a psicologia 
e as escolas psicológicas. A psicologia, apesar das suas desco­
bertas, não revela toda a realidade do ser humano. Portanto, se 
quisermos conhecer quem é o ser humano (saber quem somos), 
precisamos procurar o ser humano não nos determinismos 
psíquicos ou sociais, nos mecanismos das dimensões biológica 
e psíquica, nos quais a liberdade não aparece. Mas precisamos 
buscá-lo no que ele tem de especificamente humano, no âmbito 
que lhe é próprio, no âmbito dos fenómenos humanos. Ele 
tem de ser observado onde os fenómenos humanos acontecem. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
3 . L I B E R D A D E E EXISTÊNCIA: 
O MODO DE EXISTIR DO SER HUMANO 
Aquilo que é específico do ser humano não é o seu modo de 
ser biológico, psíquico ou social, mas encontra-se justamente 
na sua capacidade de elevar-se — de existir, de eksistere — de 
ser para além de si, de elevar-se para além destes modos de 
ser que constituem sua faticidade, seu organismo psicofísico.10 
ÂMBITO DA EXISTÊNCIA 
DA PESSOA ESPIRITUAL 
O modo específico de ser do ser humano o capacita a ir 
além de si mesmo. E esta capacidade significa que o ser humano 
é livre, não sendo simplesmente resultado daquilo que o de­
termina biológica, psíquica, ou socialmente, que o determina 
enquanto faticidade, enquanto organismo psicofísico. E le é 
capaz de se elevar e assumir uma atitude diante de si mesmo, 
diante dos fenómenos biológicos, psíquicos ou sociais, enfim, 
diante de sua faticidade, da qual a liberdade não participa. 
Muitas vezes nos sentimos reféns de nossas próprias emoções 
e instintos, ou das influências das circunstâncias de nossa vida, 
porém precisamos nos dar conta de que, enquanto humanos, 
sempre podemos nos posicionar diante do que sentimos, 
diante das situações, e decidir como agir. Não decidimos, por 
exemplo, quando vamos sentir fome ou quando vamos morrer. 
Mas, a partir dessa realidade que está determinada, podemos 
nos elevar, e nos posicionarmos diante do nosso próprio eu. 
10 Frankl, 2017, p. 59. 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
Por exemplo: podemos sentir raiva quando alguém nos agride, 
essa emoção é u m fenómeno próprio da nossa faticidade, po­
rém não determina nossa ação. Podemos decidir como agir, se 
vamos agredir também ou agir de forma diferente, apesar do 
que estamos sentindo. Sentir fome também é u m determinis­
mo biopsíquico. Querendo ou não, sentiremos fome. Porém, 
quando sentimos fome, podemos decidir o que faremos com 
ela: podemos comer ou não, podemos deixar de comer para 
dar de comer a alguém que precisa mais do que nós. Viktor 
Frankl testemunhou isto no campo de concentração. Podemos 
escolher nossa atitude. E essa capacidade de escolher, de decidir, 
é a liberdade própria somente da pessoa. Essa decisão implica 
uma elevação para "além de s i " , e este é o modo específico de 
ser do ser humano. È o seu modo de existir. Identificamos essa 
capacidade de se elevar e se posicionar no que chamamos de 
"âmbito da existência", porque é isso que faz do ser humano 
uma pessoa — e esse modo de ser expressa sua constituição 
espiritual, é um modo de ser espiritual, no sentido de que não é 
material, pois a faticidade é o modo material de ser. Espiritual, 
neste caso, não tem conotação religiosa ou teológica. O âmbito 
da existência da pessoa espiritual é aquele em que podemos 
refletir a respeito da nossa própria vida, em que podemos ter 
consciência de nós mesmos, podemos criar, amar, nos elevar 
acima dos determinismos psíquicos ou biológicos, enfim, é o 
âmbito dos fenómenos propriamente humanos. 
3. 1 . U N I D A D E N A T O T A L I D A D E 
Voltando à imagem do cilindro, esta analogia também nos 
ajuda a compreender que, semelhantemente ao cilindro, o ser 
humano é uma unidade apesar dos modos de ser diferentes. Não 
é possível separar, no cilindro, a dimensão da circularidade ou 
da retangularidade. O mesmo ocorre no ser humano: a dimen­
são espiritual é a essência, é como u m "núcleo" (Max Scheler), 
mas esta é inseparável dos modos de ser biológico e psíquico. 
O H O M E M E A BUSCA D E S EN T I D O 
É justamente o fato de ser pessoa que promove essa unidade 
das dimensões biológica, psíquica, social e espiritual." O ser 
humano, portanto, não é apenas u m corpo e u m psiquismo, 
mas uma totalidade dos modos de ser bio-psico-sócio-espiritual. 
3.2. A U T O T R A N S C E N D Ê N C I A 
Ainda observando a imagem do cilindro, diferentemente do 
círculo ou do retângulo, ele, sendo u m fenómeno tridimen­
sional, permite uma abertura, como se fosse, por exemplo, u m 
copo. Essa abertura, no ser humano, representa exatamente o 
seu modo de ser espiritual, o que chamamos de autotranscen-
dência. O ser humano é capaz de transcender, de ir além de si, 
por conta dessa abertura. Não é u m ser fechado em si mesmo. 
Dessa forma, a autotranscendência se expressa nessa capacidade 
de elevar-se, de ir além de si, de sair de si. 
Tratando desse tema, Frankl 1 2 faz uma analogia do ser huma­
no com u m avião para nos ajudar a compreender esse modo de 
ser autotranscendente: a essência de u m avião se revela e ele se 
distingue de um simples automóvel justamente quando levanta 
voo, ainda que possa taxiar na pista como u m automóvel. D a 
mesma forma, a essência do ser humano se revela quando ele 
se eleva e vai além de si, ainda que traga em si elementos que 
são próprios também do animal. Autotranscender é próprio da 
essência do ser humano. Significa sempre dirigir-se para algo 
além de si, algo que não seja o próprio eu.1 3 O ser humano é 
capaz de ir além de si e se autotranscender para encontrar algo, 
uma tarefa para realizar, uma missão, uma causa que ele perceba 
que é importante; ou é capaz de ir além de si para encontrar 
alguém, uma pessoa para amar, que ele pode reconhecer como 
pessoa. E próprio do ser humano viver por algo ou alguém. 
1 1 Frankl, 2 0 1 9 , p. 1 6 8 . 
12 2011, p. 39; 1997, p. 72. 
13 Frankl,201 l . p . 67. 
OS F I L A R E S DA L O G O T E R A P IA E A N A L I S E E XI ST Ê N C I A! 
PARA ALGO 
E PARA ALGUÉM 
UM SENTIDO A REALIZAR 
UMA PESSOA PARA AMAR 
Essa autotranscendência,essa abertura, manifesta a ca­
pacidade que temos de nos relacionar. A pessoa é u m ser de 
relação, capaz de autorrelação, ou seja, capaz de conhecer a si 
mesma, de se dar conta de si mesma, de se relacionar consigo 
mesma e, ao mesmo tempo, de se relacionar com o outro, de 
conseguir compreender, captar e respeitar o outro como pessoa, 
e não somente como objeto de sua satisfação. Justamente por 
ser autotranscendente a pessoa é sempre capaz de se referir a 
algo que não seja ela mesma. 
3.3. L I B E R D A D E VERSUS D E S T I N O : L I B E R D A D E " D E " 
Não podemos entender liberdade como ausência de obstáculos 
ou de limites. A natureza humana, enquanto livre, pressupõe 
"vínculos".14 F r a n k l 1 5 chamou de destino tudo aquilo que faz 
parte da nossa realidade e que não depende de nossa liberdade, 
constituindo assim os determinismos e condicionamentos em 
nossa vida: nosso destino biológico e psíquico (hereditarieda­
de e disposições), nosso destino social (condições e meio). A 
liberdade se revela justamente pela nossa capacidade de nos 
posicionarmos, de escolhermos nossa atitude em cada mo­
mento, apesar dos determinismos e condicionamentos. Mesmo 
tendo impulsos, é a pessoa que decide se cederá a eles ou não. 
Assim, podemos compreender que, para o ser humano, não 
existe liberdade sem impulsos, como não existem impulsos 
sem liberdade. A liberdade humana se manifesta perante os 
impulsos, diante dos quais decide se dirá sim ou não. E diante 
dos condicionamentos que se posiciona e decide se agirá de 
acordo com eles ou de outra forma. 
14 Frankl, 2016a, p. 159. 
15 2016a, p. 162. 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
Como seres humanos, portanto, não somos livres "de" ser­
mos impulsionados ou condicionados. Mas, ao mesmo tempo, 
somos livres "para" nos posicionar, decidir, adotar uma atitude. 
E isso significa que não somos frutos dos condicionamentos, 
mas damos nossa resposta pessoal diante deles, somos livres 
para ser responsáveis. E ser responsável significa ser capaz de 
responder, de escolher qual resposta dar. O ser humano não é 
u m ser que só obedece a impulsos inconscientes, ou u m ser que 
só reage a estímulos externos. E u m ser que responde, que dá 
sua resposta pessoal diante de sentidos e valores que encontra na 
vida. Essa é a responsabilidade do ser humano: ser capaz de dar 
uma resposta pessoal e não só reagir a estímulos ou impulsos. 
Por isso, quando se fala de liberdade humana, é preciso 
darmos u m passo além e perguntar: para quê o ser humano 
é livre? Nossa liberdade, essa capacidade de decidir, tem u m 
"para quê". 
4 . O S E N T I D O D A L I B E R D A D E : P A R A Q U Ê S O M O S L I V R E S 
Esse "para quê" da liberdade humana é justamente a respon­
sabilidade que a leva para " u m mundo de objetivos" além de 
si mesma. 
Viktor Frankl , ainda quando tinha entre 15 e 16 anos,16 
intuiu algo que é central na Logoterapia: em cada situação 
singular de nossa vida nos sentimos interrogados; não somos 
nós que fazemos perguntas à vida. E a vida que nos pergunta. 
E só nós podemos dar a nossa resposta pessoal. 
O ser humano é livre para ser responsável. E ser responsá­
vel significa abrir-se para algo que o transcende: " u m mundo 
de objetivos", de realidades concretas, de situações que o 
convocam e questionam. A vida nos coloca diante de muitas 
circunstâncias, e a cada uma delas correspondem diversas 
possibilidades dentre as quais devemos decidir qual realizare­
mos para torná-la realidade. A vida nos apresenta perguntas 
16 Pintos, 2007, p. 37. 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
concretas e nós damos respostas a cada circunstância, sempre 
perante algo que consideramos importante, que percebemos ter 
valor, que percebemos ter sentido. Respondemos com ações, 
com atitudes. Cada circunstância implica em u m "de que" 
nos sentimos responsáveis: por uma tarefa, uma pessoa, pelo 
trabalho, pela própria vida. Algo que dá motivo para o nosso 
agir. Sentimo-nos responsáveis para fazer algo que tenha valor 
e sentido. Estamos sempre respondendo às possibilidades de 
sentido que a vida nos oferece, nas mais variadas circunstân­
cias. Somos livres para ser responsáveis. O sentido de ser livre 
é ser responsável. 
Vontade de sentido: a busca de sentido na vida 
O segundo pilar trata da teoria da motivação da Logoterapia. 
U m aspecto importante da autotranscendência é o que se chama 
em Logoterapia de "vontade de sentido". Frankl diz: 
D e fato, a existência humana sempre vai além de si mesma, 
sempre se refere a u m sentido que a ultrapassa. O que, neste 
aspecto, está e m questão para o h o m e m que v ive a sua ex i s ­
tência não é o prazer ou o poder; mas também não se trata da 
realização de si mesmo: trata-se antes da plenitude de sentido. 
Daí que, e m Logoterapia, falemos de u m a vontade de sentido 
( W i l l e n z u m Sinn) ( F r a n k l , 2016a, p. 312) . 
1 . BUSCA DE SENTIDO 
Se por u m lado uma antropologia psicodinâmica vê o ser 
humano como tendo impulsos por conta das necessidades que 
determinam sua busca de satisfação — e essa seria a busca de 
si mesmo, a busca do prazer — , podemos dizer que o ser h u ­
mano, pela sua abertura, autotranscendência e liberdade, pela 
sua capacidade de escolha e de resposta, na verdade se orienta 
na vida em busca de algo que tenha u m sentido para ele, que 
lhe dê uma razão para sua vida, para sua existência, e que lhe 
diga: vale a pena viver por isto! 
O H O M E M E A BUSCA D E SENTIDO 
Quando a pessoa se orienta para além de si mesma, quando 
se abre à realidade que a transcende e se orienta para o sentido, 
ela se dá conta das possibilidades de realização de valores que 
existem na vida. E os valores a atraem. 
O âmbito dos fenómenos humanos, o qual alcançamos e 
vivemos enquanto pessoas, é justamente o do sentido e dos 
valores, daquilo que pode dar uma razão para nossa vida, que 
pode ser u m motivo para nossa existência. E é também onde 
reside a nossa capacidade de descobrir a realidade e estes valo­
res que já existem por si mesmos, que são objetivos, e não são 
invenções da nossa cabeça, da nossa subjetividade. Os valores 
se referem às possibilidades concretas de sentido em nossa vida 
e podemos descobri-los, alcançá-los e realizá-los. Portanto, 
podemos concluir que a pessoa que é capaz de buscar algo além 
de si não vive só em busca de si mesma. E livre, capaz de ir além 
de si para buscar algo que a transcenda, e que possa preencher 
sua vida de sentido. É justamente essa a contribuição de Viktor 
Frankl : ele compreendeu esse modo de ser do ser humano e 
trouxe, para o desenvolvimento das teorias psicológicas e da 
sua Análise Existencial e Logoterapia, esse conceito novo: a 
vontade de sentido. O ser humano não é um ser que somente 
busca a satisfação das suas necessidades, que busca o prazer ou 
o poder; na realidade, primariamente, ele busca preencher o 
máximo possível a sua vida de sentido. Ele busca sentido e é 
movido, então, essencialmente, por uma vontade de sentido. 
A pessoa não é movida só pelos impulsos inconscientes, que 
são próprios da dinâmica psíquica. Mesmo sendo influenciado 
pela dinâmica psíquica, em última instância o que o move é 
a dinâmica especificamente humana: a do modo de ser espi­
ritual.1 7 Essa dinâmica é a da busca de sentido, a vontade de 
sentido. A dinâmica que o leva para além de si, constitutiva 
do ser humano, e presente desde o instante da concepção até 
o último suspiro. Assim: 
17 Frankl, 2017, p. 108. 
OS PILARES DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE E X I S T E N C I A L 
Se queremos encontrar e viver plenamente u m sentido em 
nossa vida, seremos felizes e ao mesmo tempo capazes de supe­
rar o sofrimento. Se podemos encontrar u m sentido, estamos 
preparados para dar a nossa vida por esse sentido. Por outro 
lado, se não podemos ver u m sentido, estamos inclinados a 
tirar-nos a vida, ainda em

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