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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 2a EDIÇÃO/2022 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 4 2. CONTROLE DE LEGALIDADE E CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 4 3. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE 5 4. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO COMPARADO 5 4.1. QUAIS OS CRITÉRIOS EXISTENTES NO MUNDO? 6 5. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO BRASILEIRO 7 5.1. CONTROLE POLÍTICO 7 5.2. CONTROLE JUDICIAL 8 6. ELEMENTOS ESSENCIAIS AO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 9 6.1. ELEMENTO CONCEITUAL (“BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE”) 9 6.2. ELEMENTO TEMPORAL 10 7. CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 10 7.1 QUANTO AO MOMENTO EM QUE DEVERÁ OCORRER O CONTROLE 10 7.1.1. CONTROLE PREVENTIVO (OU A PRIORI) 10 7.1.2. CONTROLE REPRESSIVO 12 7.2. QUANTO AO ÓRGÃO 12 7.2.1. CONTROLE POLÍTICO 12 7.2.2. CONTROLE JURISDICIONAL 12 7.2.3. CONTROLE MISTO 13 7.3. QUANTO AO MODO 13 7.3.1. CONTROLE DIFUSO-CONCRETO 13 7.3.2. CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO 13 8. ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE 14 8.1 QUANTO À EXTENSÃO 14 8.1.1. TOTAL 14 8.1.2. PARCIAL 14 8.2. QUANTO AO MOMENTO 14 8.2.1. ORIGINÁRIA 14 8.2.2. SUPERVENIENTE 14 8.3. QUANTO AO PRISMA DE APURAÇÃO 16 8.3.1. DIRETA (OU ANTECEDENTE) 16 8.3.2. INDIRETA (REFLEXA, POR VIA OBLÍQUA OU POR ATO INTERPOSTO) 16 8.4. QUANTO AO TIPO DE CONDUTA DO PODER PÚBLICO 16 8.4.1. AÇÃO 16 8.4.2. OMISSÃO 17 8.4.2.1 ESPÉCIES 17 8.5. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL (NOMODINÂMICA OU EXTRÍNSECA) 18 8.5.1 SUBESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL 18 8.6. INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL (NOMOESTÁTICA, DE CONTEÚDO MATERIAL, SUBSTANCIAL, DOUTRINÁRIA OU INTRÍNSECA) 18 8.7. INCONSTITUCIONALIDADE EM RAZÃO DA OFENSA AO DECORO PARLAMENTAR (OU FINALÍSTICA) 19 8.8. INCONSTITUCIONALIDADE “CHAPADA”, “ENLOUQUECIDA”, “DESVAIRADA” (ADI 3.232) 20 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 1 9. FORMAS DE CONTROLE REPRESSIVO JURISDICIONAL 21 9.1. CONTROLE DIFUSO (OU ABERTO, MODELO AMERICANO, INCIDENTAL, INDIRETO, PELA VIA DA DEFESA OU EXCEÇÃO, INCIDENTER TANTUM) 21 9.2. CONTROLE CONCENTRADO (OU FECHADO, MODELO AUSTRÍACO ou EUROPEU-CONTINENTAL, DIRETO, PELA VIA DA AÇÃO) 21 10. FORMAS DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE 21 10.1. QUANTO AO ASPECTO SUBJETIVO 21 10.2. QUANTO AO ASPECTO OBJETIVO 22 10.3 QUANTO AO ASPECTO TEMPORAL 24 10.3.1 MODULAÇÃO DOS EFEITOS 24 10.4. QUANTO À EXTENSÃO DOS EFEITOS 25 10.4.1 DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO X PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME 25 10.4.2. LIMITES À APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME 26 10.5 PONTOS IMPORTANTES 26 11. LEI “AINDA CONSTITUCIONAL”, OU “INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA”, OU “DECLARAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DE NORMA EM TRÂNSITO PARA A INCONSTITUCIONALIDADE” 27 12. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM PRONÚNCIA DA NULIDADE (OU SEM EFEITO ABLATIVO) 27 13. INCONSTITUCIONALIDADE CIRCUNSTANCIAL 27 14. PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO “ATALHAMENTO CONSTITUCIONAL” OU DO “DESVIO DO PODER CONSTITUINTE” 28 15. CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE 28 15.1 PRONUNCIAMENTO EM ABSTRATO ACERCA DA VALIDADE DA NORMA 28 15.2. MOMENTO A PARTIR DO QUAL A DECISÃO SE TORNA OBRIGATÓRIA 29 15.3. TEORIA DA INCONSTITUCIONALIDADE POR “ARRASTAMENTO” OU “ATRAÇÃO”, OU “INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENTE DE PRECEITOS NÃO IMPUGNADOS”, OU INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENCIAL, OU INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENTE OU DERIVADA, OU “INCONSTITUCIONALIDADE POR REVERBERAÇÃO NORMATIVA”, OU INCONSTITUCIONALIDADE SECUNDÁRIA 29 15.3.1. INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO HORIZONTAL 30 15.3.2. INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO VERTICAL 30 15.4. PRINCÍPIO DA PARCELARIDADE 30 15.5. DESCABIMENTO DO CONTROLE ABSTRATO POR VIA DAS AÇÕES DIRETAS 30 16. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - ADI 31 16.1. LEGITIMAÇÃO 31 16.1.1. LEGITIMIDADE PASSIVA 31 16.1.2. LEGITIMIDADE ATIVA 32 16.2. OBJETO 33 16.3. PROCEDIMENTO - LEI 9.868/99 40 16.3.1. PETIÇÃO INICIAL - ART. 3º, LEI 9.868/99 40 16.3.2. AMICUS CURIAE - ART. 7º, § 2º, LEI 9.868/99 41 16.3.3. MEDIDA CAUTELAR 45 16.3.4. EFEITOS - art. 11, Lei 9.868/99 45 16.3.5. DECISÃO FINAL 47 16.3.6. LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA E EFEITOS OBJETIVOS DA DECISÃO 49 16.3.7. LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA E EFEITOS SUBJETIVOS DA DECISÃO 51 16.3.8. EFEITOS TEMPORAIS 56 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 2 16.4. COISA JULGADA “INCONSTITUCIONAL”. S. 343/STF. RESCISÓRIA (ART. 966, V, CPC/2015) 57 17. AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE - ADC 58 17.1. LEGITIMIDADE ATIVA 58 17.2. OBJETO 59 17.3. PETIÇÃO INICIAL 59 17.3. MEDIDA CAUTELAR 60 17.4. DECISÃO DEFINITIVA 60 18. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL - ADPF 61 18.1. LEGITIMIDADE ATIVA 61 18.2. ESPÉCIES 61 18.2.1. ARGUIÇÃO AUTÔNOMA - art. 1º, caput, Lei 9.882/99 61 18.2.1. ARGUIÇÃO INCIDENTAL (por equiparação ou equivalência) - art. 1º, parágrafo único, I c/c art. 6º, § 1º, Lei 9.882/99 62 18.3. PONTOS IMPORTANTES 62 18.4. PRESSUPOSTOS DE CABIMENTO 65 18.4.1. DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 65 18.4.2. INEXISTÊNCIA DE OUTRO MEIO IDÔNEO (SUBSIDIARIEDADE) - art. 4º, Lei 9.882/99 66 18.4.3. PRESSUPOSTO ESPECÍFICO DA ARGUIÇÃO FUNDAMENTAL 66 18.5. OBJETO - art. 1º, Lei 9.882/99 66 18.6 ATOS DO PODER PÚBLICO E DETERMINADOS ATOS PRIVADOS EQUIPARADOS AOS PRATICADOS POR AUTORIDADES PÚBLICAS 67 18.7. MEDIDA CAUTELAR - art. 5º, Lei 9.882/99 67 19. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO - ADO 69 19.1. INTRODUÇÃO 69 19.2. ESPÉCIES DE OMISSÃO 69 19.3. OBJETO 70 19.3.1. Se o sujeito passivo na ação for um dos Poderes 70 19.3.2. Se a omissão for imputável a um órgão administrativo 70 19.4. MEDIDA CAUTELAR 70 19.5. MANDADO DE INJUNÇÃO X ADI POR OMISSÃO 71 20. CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO NO ÂMBITO ESTADUAL 72 20.1. COMPETÊNCIA 72 20.2. LEGITIMIDADE ATIVA 72 20.3. PARÂMETRO 73 20.4. RECURSO CONTRA A DECISÃO DO TJ 75 20.5. SIMULTANEIDADE DE AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE (simultaneus processus) 75 21. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO ÂMBITO MUNICIPAL 78 22. CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE 78 22.1. LEGITIMIDADE ATIVA 78 22.2. COMPETÊNCIA 79 22.3. CISÃO FUNCIONAL DE COMPETÊNCIA 80 22.4. EXCEÇÕES À CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO 81 22.5. CONTROLE DIFUSO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA 82 22.6. OBJETO 82 22.7. EFEITOS 83 22.8. A TEORIA DA ABSTRATIVIZAÇÃO (OBJETIVAÇÃO, VERTICALIZAÇÃO OU CONCENTRAÇÃO) DO CONTROLE DIFUSO 84 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 3 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O Controle de Constitucionalidade é um mecanismo previsto na Constituição Federal, que tem como intuito, verificar a compatibilidade de atos infraconstitucionais com a CF. Pressupostos necessários para o Controle de Constitucionalidade: Existência de uma Constituição Rígida; Princípio da Supremacia Formal da Constituição; Para o exercício do Controle de Constitucionalidade são necessárias normas-parâmetro (ou bloco de constitucionalidade), ou seja, normas materialmente constitucionais que servem de parâmetro para confronto de aferição de constitucionalidade das demais normas que integram o Ordenamento Jurídico. NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO SÃO CONSIDERADAS NORMAS-PARÂMETRO ➔ As normas previstas na CF; ➔ As Emendas Constitucionais; ➔ Princípios implícitos; ➔ Os tratados internacionais de direitos humanos aprovados com força de Emenda Constitucional de acordo com o art. 5º § 3º, CF. 2. CONTROLE DE LEGALIDADE E CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE1 ⭕ CONTROLE DE LEGALIDADE: é imanente ao Direito Administrativo, pois é destinada a aferição da validade de norma infralegal em face da Legislação. ⭕ CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: é inerente ao Direito Constitucional, sendo dirigido ao deferimento da validade de norma infraconstitucional em face da Constituição. Trata-se de uma atividade por meio da qual o sujeito controlador verifica se existe ou não compatibilidade formal e material entre o objeto, o ato normativo (espécies do Art. 59 da CF), e o objeto paradigma, a Constituição. CF - ART. 59 Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - emendas à Constituição; II - leis complementares;III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; 1 https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/efeitos-do-controle-de-constitucionalidade-e-sua-importa ncia-para-garantir-a-seguranca-juridica/#:~:text=Como%20se%20depreende%20desses%20dois,o%20segundo%20%C3 %A9%20imanente%20ao CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 4 VI - decretos legislativos; VII - resoluções. Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis. 3. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE2 É a verificação da compatibilidade das leis e atos normativos com os tratados internacionais com força supralegal. A Emenda Constitucional no 45/04, que acrescentou o § 3o ao art. 5o da Constituição, trouxe a possibilidade de os tratados internacionais de direitos humanos serem aprovados com um quorum qualificado, a fim de passarem (desde que ratificados e em vigor no plano internacional) de um status materialmente constitucional para a condição (formal) de tratados “equivalentes às emendas constitucionais”. Tal acréscimo constitucional trouxe ao direito brasileiro um novo tipo de controle à produção normativa doméstica, até então desconhecido: o controle de convencionalidade das leis. Com isso, as leis internas estariam sujeitas a um DUPLO PROCESSO DE COMPATIBILIZAÇÃO VERTICAL, devendo obedecer aos comandos previstos na Carta Constitucional, bem como aos previstos em tratados internacionais de direitos humanos regularmente incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro. 4. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO COMPARADO 2 https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/46/181/ril_v46_n181_p113.pdf CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 5 A ideia de controle de constitucionalidade existe desde Aristóteles, em 420 a.C., passando pela Idade Média. Nesse contexto, cumpre ressaltar que não existe uma data precisa para a criação do controle de constitucionalidade. Contudo, pode-se afirmar que o controle difuso foi sistematizado nos Estados Unidos em 1803, com a decisão Marbury X Madison, ao passo que o controle concentrado foi sistematizado na Áustria, em 1920, por Hans Kelsen, na Constituição daquele país. SISTEMA AUSTRÍACO (KELSEN) SISTEMA NORTE-AMERICANO (MARSHALL)3 decisão tem eficácia constitutiva (caráter constitutivo-negativo) decisão tem eficácia declaratória de situação preexistente por regra, o vício de inconstitucionalidade é aferido no plano da eficácia por regra, o vício de inconstitucionalidade é aferido no plano da validade por regra, decisão que reconhece a inconstitucionalidade produz efeitos ex nunc (prospectivos) por regra, decisão que declara a inconstitucionalidade produz efeitos ex tunc (retroativos) a lei inconstitucional é ato anulável (a anulabilidade pode aparecer em vários graus) a lei inconstitucional é ato nulo (null and void), ineficaz (nulidade ab origine), írrito e, portanto, desprovido de força vinculativa lei provisoriamente válida, produzindo efeitos até a sua anulação invalidação ab initio dos atos praticados com base na lei inconstitucional, atingindo-a no berço o reconhecimento da ineficácia da lei produz efeitos a partir da decisão ou para o futuro (ex nunc ou pro futuro), sendo erga omnes, preservando-se, assim, os efeitos produzidos até então pela lei a lei, por ter nascido morta (natimorta), nunca chegou a produzir efeitos (não chegou a “viver”), ou seja, apesar de existir, não entrou no plano da eficácia 4.1. QUAIS OS CRITÉRIOS EXISTENTES NO MUNDO? Há dois critérios básicos: 🔴 NATUREZA DO ÓRGÃO ⭕ CONTROLE POLÍTICO: efetivado por um órgão não pertencente ao poder judiciário. Exemplo: modelo francês estabelecido na Constituição de 1958 e que fixou um Conselho Constitucional, composto de 9 3 Tabela retirada do livro LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 26º Ed, pg. 469. São Paulo: SaraivaJur, 2022. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 6 Conselheiros escolhidos pelo Presidente da República e pelo Parlamento, tendo como membros natos os ex-Presidentes da República. ⭕ CONTROLE JUDICIAL: Efetuado por órgão pertencente ao poder judiciário. Como exemplo, temos os Estados Unidos. 🔴 MOMENTO DO EXERCÍCIO ⭕ CONTROLE PREVENTIVO: É o controle efetuado sobre o AINDA PROJETO DE LEI OU PROPOSTA. Antes da norma adquirir vigência. ⭕ CONTROLE REPRESSIVO: É o efetuado após a norma legal adquirir vigência. Não se dá sobre projeto/proposta, mas sim sobre LEI ou EMENDA. 5. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO BRASILEIRO No Brasil, temos todos os controles apresentados, com base em duas regras: Em regra, o controle político é preventivo Em regra, o controle judicial é repressivo 5.1. CONTROLE POLÍTICO O controle político, como já mencionado, é o controle realizado por órgão que não integra o Poder Judiciário. No Brasil, pode-se falar em controle político no art. 66, §1º, CF/88 que dispõe: CF - Art. 66. § 1º: Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, INCONSTITUCIONAL ou contrário ao interesse público, VETA-LO-Á total ou parcialmente, no prazo de 15 dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de 48 horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. O artigo citado (art. 66, §1º, CF) traz expressamente a hipótese de um VETO JURÍDICO, sua fundamentação é uma suposta inconstitucionalidade do projeto recebido pelo Presidente da República. ATENÇÃO Em regra, o controle político é PREVENTIVO. Exceção: o controle político é REPRESSIVO na hipótese do art. 49, V da CF. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 7 Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: V - SUSTAR OS ATOS NORMATIVOS do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar (1ª parte) ou dos limites de delegação legislativa (2ª parte); A Constituição Federal estabelece limites, que sendo exorbitados pelo Executivo, faz com que o Legislativo atue para impedir a inconstitucionalidade. DECRETO (art. 84, IV, parte final): envolve o decreto expedido pelo Presidente da República para a fiel execução da lei. Quando o decreto exorbita o poder regulamentar será sustado pelo Congresso Nacional, mantendo-se o que não ultrapassar os limites do poder regulamentar. CF - Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV - Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como EXPEDIR DECRETOS E REGULAMENTOS PARA SUA FIEL EXECUÇÃO; LEI DELEGADA (art. 68): Lembre-se que o Presidente legisla em dois casos: Medida Provisória e Lei Delegada. A primeira é altamente informal, enquanto a lei delegada é altamente formal (obtendo delegação legislativa). Se não obtiver delegação legislativa para tratar de determinada matéria, será possível ao poder legislativo sustar o que exorbite a delegação. CF - Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. ATENÇÃO Alguns doutrinadores apontam que o art. 62 (Medidas Provisórias) como controle político repressivo. Todavia, Guilherme Peña assevera que esse exemplo não deve ser citado, pois nem sempre o controle da MP é de constitucionalidade (na verdade, na maioria é unicamente um controle político). Inclusive, uma das correntes sobre a natureza jurídica da Medida Provisória é a de que MP é projeto de lei que tem força cautelar de Lei (SAULO RAMOS). Para essa posição, o exemplo da MP não configura um controle repressivo. 5.2. CONTROLE JUDICIAL Nascido nos Estados Unidos da América, o controle judicial, como o próprio nome sugere, é realizado pelo Poder Judiciário. Ou seja, é a competência dos juízes e tribunais do Poder Judiciário para declarar a inconstitucionalidade das leis nos casos concretos que são submetidos à sua apreciação, como previsto no art. 102, I, a da CF: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 8 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação diretade inconstitucionalidade de LEI ou ATO NORMATIVO federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; ATENÇÃO Na ADI ou na ADC, o objeto é a lei ou o ato normativo, ou seja, a norma já vigente, sendo assim em regra, trata-se de um controle REPRESSIVO. Exceção: o controle judicial é PREVENTIVO no mandado de segurança impetrado por membro do Congresso Nacional. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 9 6. ELEMENTOS ESSENCIAIS AO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE4 6.1. ELEMENTO CONCEITUAL (“BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE”) Consiste na determinação da própria ideia de Constituição e na definição das premissas jurídicas, políticas e ideológicas que lhe dão consistência. A ideia é identificar o que deve ser entendido como parâmetro de constitucionalidade. Trata-se de nítido processo de aferição da compatibilidade vertical das normas inferiores em relação ao que foi considerado como “modelo constitucional” (vínculo de ordem jurídica, tendo em vista o princípio da supremacia da Constituição —paradigma de confronto). Predominava no Brasil uma posição restritiva em relação ao conceito de “bloco de constitucionalidade”, no qual os parâmetros seriam somente as normas e princípios expressos da Constituição escrita e positivada. Tal tendência estava fundada na ideia de supremacia formal, apoiada no conceito de rigidez constitucional e na consequente obediência aos princípios e preceitos decorrentes da Constituição (“bloco de constitucionalidade em sentido estrito”). Contudo, a EC 45/04 ampliou o “bloco de constitucionalidade”, na medida em que se passou a ter um novo parâmetro (norma formal e materialmente constitucional), qual seja, nos termos do art. 5º, § 3º, CF, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 4 Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.pág. 241 CF - ART. 5º, § 3º. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. ATENÇÃO Na ADI 595-ES, que teve como relator o Min. Celso De Mello, foi mencionado o professor J.J. Gomes Canotilho, que expõem sobre o parâmetro do controle de constitucionalidade incluindo também os princípios não escritos na Constituição. "Todos os atos normativos devem estar em conformidade com a Constituição (art. 3.º/3). Significa isto que os actos legislativos e restantes actos normativos devem estar subordinados, formal, procedimental e substancialmente, ao parâmetro constitucional. (...) (1) o parâmetro constitucional equivale à constituição escrita ou leis com valor constitucional formal, e daí que a conformidade dos actos normativos só possa ser aferida, sob o ponto de vista da sua constitucionalidade ou inconstitucionalidade, segundo as normas e princípios escritos da constituição (ou de outras leis formalmente constitucionais); (2) o parâmetro constitucional é a ordem constitucional global, e, por isso, o juízo de legitimidade constitucional dos actos normativos deve fazer-se não apenas segundo as normas e princípios escritos das leis CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 10 constitucionais, mas também tendo em conta princípios não escritos integrantes da ordem constitucional global." 6.2. ELEMENTO TEMPORAL É imprescindível constatar se o padrão de confronto, alegadamente desrespeitado, ainda vige, pois, sem a sua concomitante existência, descaracteriza-se o fator de contemporaneidade, necessário à verificação desse requisito. 7. CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 7.1 QUANTO AO MOMENTO EM QUE DEVERÁ OCORRER O CONTROLE 7.1.1. CONTROLE PREVENTIVO (OU A PRIORI) É uma espécie de controle que tem por finalidade evitar que um projeto de lei inconstitucional adentre no sistema jurídico. Esse controle é realizado durante a tramitação do projeto de lei ou proposta de emenda constitucional. Momentos em que é exercido: a) No Poder Legislativo: realizado na Comissão de Constituição e Justiça. É possível recurso ao Plenário quando o projeto de lei for rejeitado na CCJ (art. 58, CF). É realizado também quando da rejeição do veto do Presidente da República, pois se envolver fundamento constitucional será uma forma de controle, hipótese em que a posição do Poder Legislativo estará prevalecendo sobre o entendimento do Executivo. b) No Poder Executivo: realizado pelo Chefe do Poder Executivo, por meio de sanção ou veto jurídico. c) No Poder Judiciário: em regra, parlamentar tem o direito público subjetivo de questionar a regularidade do devido processo legislativo constitucional (impetração de mandado de segurança). Nesse sentido, cabe ao Poder Judiciário apenas verificar se foi garantido um procedimento em total conformidade com a CF, não lhe cabendo a extensão do controle sobre aspectos discricionários concernentes às questões políticas e aos atos interna corporis, vedando-se a interpretação de normas regimentais. ATENÇÃO A jurisprudência do STF consolidou-se no sentido de negar legitimidade ativa ad causam a terceiros não parlamentares, ainda que invoquem sua potencial condição de destinatário da futura lei ou emenda, pois somente o parlamentar tem direito líquido e certo à observância do processo legislativo. É possível que o STF, ao julgar MS impetrado por parlamentar, exerça controle de constitucionalidade de projeto que tramita no Congresso Nacional e o declare inconstitucional, determinando seu arquivamento? Em regra, não. Existem, contudo, duas exceções nas quais o STF pode determinar o arquivamento da propositura: a) proposta de emenda constitucional que viole cláusula pétrea; b) proposta de emenda constitucional ou projeto de lei cuja tramitação esteja ocorrendo com violação às regras constitucionais sobre o processo legislativo. STF. Plenário. MS 32033/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 20/6/2013 (Info 711) .5 5 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Mandado de segurança contra projeto de lei supostamente inconstitucional. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 11 Partidos políticos também podem impetrar mandado de segurança questionando projeto em tramitação e que seja, em tese, inconstitucional?6 NÃO. Segundo o STF (MS 24.642), somente o parlamentar tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de leis e emendas constitucionais que não se compatibilizam com o processo legislativo constitucional. O que acontece se houver perda superveniente do mandato parlamentar? Segundo Pedro Lenza, parece ter razão o Min. Celso de Mello ao afirmar que a perda superveniente de titularidade do mandato legislativo desqualifica a legitimação ativa do congressista, impondo-se a extinção do mandado de segurança (STF, MS 27.971). 7.1.2. CONTROLE REPRESSIVO Ao contrário do controle preventivo que não incide sobre uma lei já pronta, mas sim sobre um projeto de lei, o controle repressivo atua sobre uma lei ou emenda constitucional já existente. A finalidade do controle repressivo é retirar do ordenamento jurídico normas que violam o texto constitucional. Em regra, é realizado pelo Poder Judiciário (realizado por um órgão jurisdicional) EXCEÇÕES ⭕ É competência exclusiva do Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder 6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Mandado de segurança contra projeto de lei supostamente inconstitucional. Buscador Dizer o Direito,Manaus. Disponível em: Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa (art. 49, V, CF). ⭕ Análise dos requisitos de relevância e urgência, realizada pelo Congresso Nacional, quando da edição de medida provisória (art. 62, CF). ⭕ O Chefe do Poder Executivo pode realizar o controle de constitucionalidade pela negativa de cumprimento de lei considerada por ele inconstitucional. CNMP e CNJ podem realizar controle de constitucionalidade? Não. O STF (MS 27.744, Info 781; MS 32.582-MC, Info 744) entendeu que não é possível que o CNMP e o CNJ realizem controle de constitucionalidade, sob o fundamento de que tais órgãos exercem atos de caráter administrativo. O Conselho Nacional de Justiça, embora seja órgão do Poder Judiciário, nos termos do art. 103-B, § 4º, II, da Constituição Federal, possui, tão somente, atribuições de natureza administrativa e, nesse sentido, não lhe é permitido apreciar a constitucionalidade dos atos administrativos, mas somente sua legalidade. STF. Plenário. MS 28872 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/02/2011. 7 7.2. QUANTO AO ÓRGÃO 7.2.1. CONTROLE POLÍTICO Realizado por órgão que não pertence ao Judiciário. 7.2.2. CONTROLE JURISDICIONAL Realizados por órgão pertencentes ao judiciário, juízes ou tribunais. 7 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. CNJ não pode fazer controle de constitucionalidade. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 12 7.2.3. CONTROLE MISTO Neste as Constituições sujeitam cercos atos ao controle político (realizado por órgãos estranhos ao Poder Judiciário) e outros ao controle jurídico (realizado por órgãos componentes do Poder Judiciário). ATENÇÃO O STF, em entendimento sumulado, entendia que o TCU poderia deixar de aplicar o ato por considerá-lo inconstitucional, bem como sustar outros atos praticados com base em leis vulneradoras da CF, sempre de forma incidental, era denominado controle administrativo. A Súmula 347 do STF tratava do assunto: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público. Em recente decisão, o STF passou a entender que “Não cabe ao Tribunal de Contas, que não tem função jurisdicional, exercer o controle de constitucionalidade de leis ou atos normativos nos processos sob sua análise” (STF. Plenário. MS 35410, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/04/2021. 7.3. QUANTO AO MODO 7.3.1. CONTROLE DIFUSO-CONCRETO Segundo esse sistema, que teve sua origem no Caso Marbury vs Madison, qualquer juiz ou tribunal pode declarar a inconstitucionalidade de uma lei, pois conforme esse sistema o controle de constitucionalidade é algo intrínseco à própria jurisdição. A decisão será inter pars, ou seja, só produzirá efeito para o caso concreto e para as pessoas nele envolvidas. 7.3.2. CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO Esse modelo de controle surgiu na Constituição Austríaca no ano de 1920. Segundo esse modelo de controle, apenas um tribunal específico pode fazer o controle de constitucionalidade. O controle concentrado-abstrato não analisa o caso concreto, analisa a lei em si, numa decisão que será erga omnes, ou seja, uma decisão que valerá para todos e que por sua vez terá efeito vinculante. CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE QUANTO AO ÓRGÃO Controle político Controle jurisdicional QUANTO AO MOMENTO Preventivo Repressivo QUANTO AO MODO Controle difuso-concreto Controle concentrado-abstrato CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 13