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A EXCLUSÃO DO CÔNJUGE NECESSÁRIO NA REFORMA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 ROGER SALEM AFIF RIACHI SÃO PAULO 2024 ( UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA ) A EXCLUSÃO DO CÔNJUGE NECESSÁRIO NA REFORMA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 Monografia apresentada à Unip- Universidade Paulista, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação do Professor: Dra: Priscila Zinczynszyn. SÃO PAULO 2024 ( ROGER SALEM AFIF RIACHI ) CIP - Catalogação na Publicação ( Riachi , Roger Salem Afif A exclusao do conjuge necessario na reforma do codigo civil de 2002 / Roger Salem Afif Riachi. - 2024. 32 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao Instituto de Ciência Jurídicas da Universidade Paulista, Sao Paulo, 2024. Área de Concentração: Direito Civil. Orientador: Prof. Dr. Priscila Zinczynszyn. 1. Direito Civil . 2. Processo Civil . I. Zinczynszyn, Priscila (orientador). II. Título. ) Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Universidade Paulista com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). A EXCLUSÃO DO CÔNJUGE NECESSÁRIO NA REFORMA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 Monografia apresentada à Unip- Universidade Paulista, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação do Professor: Dra: Priscila Zinczynszyn BANCA EXAMINADORA / / Prof. Dra: Priscila Zinczynszyn (Orientadora-Unip) Universidade Paulista -UNIP / / Prof. Universidade Paulista – UNIP / / Prof. Universidade Paulista – UNIP ( ROGER SALEM AFIF RIACHI ) Dedico este trabalho à minha família e, principalmente, à minha mãe, que lutou bravamente para conseguir me fazer chegar até aqui e realizar um dos meus maiores sonhos, me formar em direito. ( DEDICATÓRIA ) Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, que me deu força, energia e discernimento para chegar até aqui. Agradeço também à minha noiva, que me apoiou em todos os momentos e me deu suporte, compreensão, companheirismo e até mesmo me ajudou a estudar para incontáveis provas. Gostaria também de prestar agradecimentos ao meu falecido pai, que veio a falecer no decorrer do penúltimo ano que curso, mas que sempre acreditou em mim, no meu potencial e me dava forças quando eu mais precisava, espero que, lá de cima, ele esteja me vendo nesse exato momento e, conhecendo ele, sei que está torcendo por mim. Obrigado por tudo, meu herói. ( AGRADECIMENTOS ) RESUMO Este Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, aborda o tema: 'A EXCLUSÃO DO CÔNJUGE NECESSÁRIO NA REFORMA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002', é abordado as modalidades de sucessão conforme é estabelecido no nosso atual Código Civil de 2002, o conceito de herdeiro Necessário e herdeiro facultativo, os motivos pelo qual ocorreu a reforma do Código Civil de 2002, e por que os cônjuges deixam de ser herdeiros necessários para serem herdeiros facultativos, o objetivo da mudança não é prejudicar os cônjuges, e sim proteger o patrimônio dos ascendentes e descendentes. A metodologia utilizada neste Trabalho de Conclusão de Curso - TCC é a pesquisa bibliográfica, com base em todo tipo de documentação indireta, entre elas: livros, sites e artigos. Palavras-Chave: Exclusão. Cônjuge. Herança. ABSTRACT This Final Course Work - TCC, addresses the theme: 'THE EXCLUSION OF THE NECESSARY SPOUSE IN THE REFORM OF THE CIVIL CODE OF 2002', it addresses the modalities of succession as established in our current Civil Code of 2002, the concept of Necessary heir and optional heir, the reasons why the reform of the Civil Code of 2002 occurred, and why spouses cease to be necessary heirs and become optional heirs, the objective of the change is not to harm the spouses, but rather to protect the assets of ascendants and descendants. The methodology used in this Final Course Work - TCC is bibliographic research, based on all types of indirect documentation, including: books, websites and articles. Keywords: Exclusion. Spouse. Inheritance. SUMÁRIO INTRODUÇÃO. 10 1.0 MODALIDADES SUCESSÓRIAS 11 2.0 CÔNJUGE HERDEIRO NECESSÁRIO. 16 1.1 Conceito 16 CÔNJUGE HERDEIRO FACULTATIVO. 19 Conceito 19 REFORMA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 20 Herdeiros excluidos. 22 5.0 PORQUE OS CÔNJUGES DEVEM DEIXAR DE SER HERDEIROS NECESSÁRIOS? 23 6.0 CONCLUSÃO. 28 7.0 BIBLIOGRAFIA 29 INTRODUÇÃO Neste Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, é abordado o tema: ‘A EXCLUSÃO DO CÔNJUGE NECESSÁRIO NA REFORMA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002’, sendo um tema de altissíma relevância social pois, altera uma das figuras no direito das sucessões: O Cônjuge herdeiro necessário que é os descenedentes, ou seja filhos, netos e bisnetos e o cônjuge, este último na nossa atual reforma do Código Civil de 2002 deixará de ser herdeiro necessário No Capítulo 1, refere-se as modalidades sucessórias presentes no nosso atual Código Civil de 2002. No Capítulo 2, trata-se do conceito de Herdeiro Necessário no nosso Código Civil de 2002, com jurisprudência e opinião de doutrinadores. No Capítulo 3, aborda-se o conceito de Cônjuge herdeiro facultativo, quais são os herdeiros facultativos. No Capítulo 4, refere-se a reforma do Código Civil, por qual motivo está ocorrendo e porque é necessária. No Capítulo 5, aborda-se porque os cônjuges devem deixar de ser herdeiros necessários, conforme doutrinadores e profissionais em direitos reais. Por fim, a conclusão na qual é explanado todos os pontos importantes aprendidos com a presente pesquisa, e a bibliografia, de todos os livros, sites e artigos consultados. A Metodologia aplicada nesta monografia é Pesquisa bibliográfica, com base em livros, e todo tipo de documentação indireta. ( 10 ) 1.0 MODALIDADES SUCESSÓRIAS Neste Capítulo é abordado quais os tipos de modalidades sucessórias. A abertura da sucessão ocorre quando uma pessoa morre e deixa um legado. Dado que não se pode tolerar a perda do patrimônio, é imprescindível que os sucessores assumam a responsabilidade pelos bens, direitos e obrigações que pertenciam ao falecido. A herança é transmitida como uma universalidade e persiste até a divisão (DIAS, 2020, p. 153) Se houver um único herdeiro, e o de cujus deixar testamento com até metade dos seus bens, o sucessor receberá toda a herança, através da adjudicação. No entanto, se existirem mais herdeiros, estes receberão a parte ideal do patrimônio patrimonial, através da partilha. O titular do patrimônio não pode dispor livremente de todos os seus bens, nem durante sua vida, nem para depois de sua morte. Só pode doar o que pode dispor por testamento (CC 549). Assim, ainda que seja plenamente capaz, não é absoluta a liberdade de quem tem herdeiros necessários. A lei escolhe determinadas pessoas que necessariamente irão receber parte do patrimônio: descentes, ascendentes e cônjuge. São os chamados herdeiros necessários. A eles é destinada a metade da herança. A sucessão legítima impõe a transferência de metade do patrimônio a quem a lei elege como herdeiro. Somente a outra metade é disponível, tendo o seu titular a liberdade de destiná- la a seu bel-prazer. Pode doar enquanto for vivo ou, por meio de testamento, pode deixar a quem lhe aprouver toda a metade disponível, uma fração dela, ou bens determinados (CC 1.786). Os herdeiros testamentários recebem uma cota-parte da herança e os legatários, bens identificados1. Percebe-se que a liberdade do detentor da herança não é absoluta, mesmo que todo o seu patrimônio seja resultado de seu esforço, uma vez que, embora possua a posse dos bens, não pode desfrutar livremente de tudo. O legislador buscou assegurar uma proteção mais ampla aos herdeiros necessários, que ele considerava os mais próximos, destinando uma fração do patrimônio a eles. Além disso, há a garantia do mínimo de sobrevivência, uma limitação imposta por lei para evitar que o detentor de tudo em sua existênciafique desamparado, conforme estabelecido no artigo 548 do Código Civil. “Não é válida a doação de todos os bens sem reserva de parte ou de renda suficiente para a subsistência do doador”. A violação do artigo em questão é caso de nulidade e não de anulação, ou seja, não se convalida com o tempo. 1 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 7. ed. rev., atual. e ampl. Salvador: Editora JusPodivm, 2021. O artigo 549 do Código Civil diz que: “Nula é a doação em relação à parte que exceder a que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento”. Se o destinatário doar mais da metade de seu patrimônio em testamento, essa doação será cancelada. Quanto às modalidades de sucessão, ensinam Oliveira e Amorim que há duas modalidades: a título universal e a título singular. Diz-se sucessor a título universal o herdeiro com direito à totalidade da herança ou a uma parte ideal que permanece indivisa até a partilha. É o que se dá na sucessão legítima e também na testamentária, quando haja simples instituição de herdeiro. Sucessor a título singular é o que tem direito, por testamento, a parte certa dos bens, individualizada como legado; daí sua denominação de legatário2. Maria Berenice Dias apresenta a seguinte classificação: a) A Sucessão Universal consiste na transferência do patrimônio do falecido para os herdeiros legítimos ou testamentários a título universal. Em outras palavras, os bens são transmitidos como um todo unido a todos os herdeiros. Só com a divisão é que cada um terá a sua cota hereditária individualizada. b) Sucessão Singular é quando o testador deixa objetos determinados e individuais para alguém. O herdeiro recebe seu legado de acordo com o testamento, subtraindo apenas os bens que lhe foram destinados. Ou seja, só recebe o bem individual que o testador escolheu; não recebe bens, passivos, encargos ou dívidas relacionadas à herança. O autor da herança também pode contemplar o herdeiro legítimo como legatário, unindo as duas condições. O legado e a herança possuem natureza jurídica distintas, uma vez que são títulos sucessórios distintos, o que permite ao beneficiário aceitar um e renunciar ao outro. Não se trata de uma aceitação parcial, uma vez que são dois títulos sucessórios individuais, nos quais o sucessor pode aceitar um e recusar o outro3. Eis a disposição do artigo 1.808 do Código Civil (BRASIL, 2002) Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo. 2 OLIVEIRA, Euclides; Amorim, Sebastião. Inventário e Partilha: teoria e prática. 25. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 3 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 7. ed. rev., atual. e ampl. Salvador: Editora JusPodivm, 2021. § 1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los. § 2º O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia. c) Sucessão Legítima é aquela que surge da lei, prevista no artigo 1.829 do Código Civil. A herança é destinada aos herdeiros necessários e intangível; não pode ser reduzida pelo herdeiro e não está sujeita a encargos, encargos, gravames ou condições. A legislação protege metade do patrimônio do falecido e reserva o restante para os herdeiros necessários. De acordo com o Supremo Tribunal Federal, não há diferenciação entre o cônjuge e os companheiros. Assim sendo, este pertence aos herdeiros necessários, sendo inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre eles. Maria Berenice Dias ensina que, dentre os herdeiros legítimos, alguns são considerados essenciais, já que não podem ser excluídos da posição de herdeiro, a não ser que haja deserdação ou exclusão. Apesar de a herança legítima ser determinada pela lei, não significa que o herdeiro necessário seja obrigado a aceitá-la; ele pode renunciar à sua parte, que retornará ao patrimônio hereditário, ou ainda, cedê-la a quem quiser4. Os parentes mais distantes estão incluídos no grupo dos herdeiros facultativos, pois podem ser excluídos da herança. Esse é o critério utilizado para classificar a sucessão legítima em necessária e facultativa. Quando o herdeiro é casado, tem descendentes ou ascendentes, a metade de seu patrimônio é destinada a eles - logo, a sucessão necessária: decorre da existência de herdeiros necessários. Quando o falecido tinha apenas parentes colaterais de segundo, terceiro ou quarto graus: irmãos, sobrinhos, tios, sobrinhos-netos, tios-avós ou primos. Todos têm legitimidade para herdar, logo, a sucessão é legítima. Mas só recebem a herança se o falecido não tinha os herdeiros necessários, ou se não deu todo o patrimônio aos herdeiros testamentários. O testador pode afastar os herdeiros facultativos da sucessão de duas maneiras: excluindo-os imotivadamente, através de um testamento, ou dispondo de seus bens sem os contemplar. 4 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 7. ed. rev., atual. e ampl. Salvador: Editora JusPodivm, 2021. Conforme Izaura Fabíola Lins de Barros Lôbo Cavalcanti: Primeiramente cumpre registrar que a transmissão da herança acontece por meio de duas vertentes: a sucessão legítima (arts. 1.829 a 1.856 do CC) e a testamentária (arts. 1.857 a 1.990 do CC). Tanto uma como outra referem-se à capacidade passiva, pessoas que estão aptas para receber a herança (art. 1.801 do CC). Ademais, é com a morte que ocorre a sucessão automática, dando ensejo à abertura da sucessão. Assim, a herança é transmitida aos herdeiros legítimos e testamenteiros (art. 1.784 do CC). Observa-se que a sucessão legítima é estabelecida por determinação legal, não depende da vontade do testador. Logo, é a lei que dita a quem devem ser destinados os bens do de cujus. Nessa feita, se não houver testamento ou, na falta de um testamento válido, todo o patrimônio do morto pertencerá à legítima, sendo destinado aos herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge) e, só na falta destes, é que alcançará os facultativos (colaterais até o quarto grau) que serão convocados conforme a ordem de vocação hereditária, ou seja, os mais próximos excluem os mais remotos. Por fim, não havendo os mencionados acima, caberá o patrimônio à Fazenda Pública5. Sucessão Testamentária é aquela em que a transmissão é feita por meio de um testamento. Pode ser benéfico para terceiros ou para os próprios herdeiros, que além de herdeiro necessário, podem ser herdeiros testamentários, acumulando as duas categorias sucessórias. Nesta modalidade de sucessão, o beneficiário receberá sua parte após quitar todas as dívidas do espólio e separar a parte que é legítima. A sucessão testamentária é baseada no que sobrar. Se o que sobrou for menor do que o autor desejou disponibilizar em testamento, o que sobrou será transferido ao herdeiro testamentário, podendo este receber menos do que o testamento estipula. A parcela adicional é considerada legítima. Noutro prumo, temos a sucessão testamentária em que o testador irá dispor de até metade dos bens da herança a quem ele bem quiser (observado o art.1.801 do CC) ou até mesmo de sua totalidade, caso não tenha herdeiros necessários. Veja que, quanto a essa parte da herança, o testador tem livre disposição, ele declara em seu testamento o seu desejo de como deverá ser feita a sucessão de seus bens após a sua morte. A escolha é dele, logo, a divisão da parte disponível será feita conforme sua vontade; é o testador quem vai dizer quanto cada herdeiro irá receber, se as cotas serão distribuídas em partes iguais ou se algum herdeiro vai ficar com a maior parte. Pode o testador também deixar estabelecido qual patrimônio será destinado para cada um dos herdeiros. Nesse campo quem dita as regras é o próprio testador, podendo inclusive revogar o testamento a qualquer momento caso se arrependa ou mude de ideia6. 5 CAVALCANTI, Izaura Fabíola Lins de Barros Lôbo. Testamento, uma Forma de Proteção. Revista Âmbito Jurídico, nº 201 – Ano XXIII – Outubro/2020.ISSN – 1518-0360. Disponível em: .Acesso em: 31 out. 2024. 6 CAVALCANTI, Izaura Fabíola Lins de Barros Lôbo. Testamento, uma Forma de Proteção. Revista Âmbito Jurídico, nº 201 – Ano XXIII – Outubro/2020. ISSN – 1518-0360. Disponível em: .Acesso em: 31 out. 2024. O legislador infraconstitucional previu no Código Civil e no Código de Processo Civil procedimento específico – inventário ? a ser seguido com o intuito de transmitir esses bens aos sucessores do de cujus. Cabe destacar a hipótese de o ente público ser o eventual sucessor em inventário, mas apenas quando não houver sucessores legais ou testamentários, também conhecida como herança jacente e vacante7. Em outras palavras, se não houver sucessores legítimos ou testamentários, a herança é declarada inválida e os bens são transferidos para o governo. e) Legado se refere a bens que são atribuídos a certas pessoas. Os legatários são sucessores singulares; portanto, não são alcançados pelo princípio de saisine. A parte que está disponível para ser transmitida pelo legado não pode exceder a legítima. Se isso ocorrer, o legado será reduzido. Além disso, pode haver um herdeiro que seja legítimo, necessário ou testamento e também seja legatário. f) A Sucessão Mista resulta de duas formas simultâneas: a sucessão legítima (que se origina da lei) e a testamento (ato de disposição de vontade do testador) Conforme Dias (2020, p. 165), quando essas formas ocorrem simultaneamente, ocorre a sucessão mista. Neste contexto, disputam a herança herdeiros legítimos e testamentários. Sendo assim, o herdeiro não pode ter todos os seus bens, mas apenas a metade, uma vez que deve preservar a legítima diante da existência de herdeiros necessários. g) Pacto Sucessório é proibido por lei e tem divergência doutrinária. Parte da doutrina não menciona sua existência quando se trata das formas sucessórias. Segundo Dias (2020, p. 163), é expressamente proibido o pacto sucessório, conhecido como pacta corvina, conforme previsto no artigo 426 do Código Civil. A herança de pessoa falecida não pode ser objeto de contrato. Nosso ordenamento jurídico não permite a aplicação dessa modalidade sucessória. 7 STOLLENWERK, Marina Ludovico. Planejamento Sucessório Patrimonial: Análise de Casos Hipotéticos à Luz das Questões Controversas do Direito Sucessório. Monografia apresentada como exigência de conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 2017. Disponível em: Acesso em: 31 out. 2024. 2.0 CÔNJUGE HERDEIRO NECESSÁRIO Neste Capítulo é abordado o conceito de Cônjuge herdeiro necessário 2.1 Conceito Conforme Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald: O sistema jurídico nacional reconhecia como herdeiros necessários os filhos e os pais, assegurando- lhes a proteção ao direito de herança com a manutenção de 50% do valor líquido da herança. A inclusão do cônjuge como herdeiro necessário foi baseada na alteração do regime legal de bens da comunhão universal, estipulado no Código Civil de 1916, para o regime de comunhão parcial, que foi estabelecido pelo Código Civil de 2002, após a sua introdução no Brasil pela Lei nº 6.515/1977 (Lei do Divórcio)8. Coforme Dimas Messias de Carvalho: o Código Civil de 2002 foi incluir o cônjuge entre os descendentes e ascendentes como herdeiro necessário nos bens, e não apenas no direito a usufruto, como ocorria no Código Civil de 1916, não podendo o autor da herança dispor de mais da metade dos bens se for casado, ainda que não possua descendentes e ascendentes. É necessário, para exclusão do cônjuge, que exista justa causa que autorize deserdação ou atos de indignidade, não bastando apenas dispor dos bens sem contemplá-lo, como ocorre com os colaterais. O art. 1.845 do Código Civil dispõe que “são herdeiros necessários os descendentes, ascendentes e o cônjuge”, completando no art. 1.846 que “pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima9” Na mesma ordem de vocação hereditária do Código de 1916, o atual Código Civil mantém o cônjuge como herdeiro único, no art. 1838, conforme descrito abaixo ‘ in verbis’ art. 1.838: “Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente”. Então na ausência de descendentes e ascendentes, o cônjuge receberá por inteiro a herança, não importando o regime de bens, desde que não esteja separado judicialmente, posto que dissolvida a sociedade conjugal, ou de fato por mais de dois anos. Conforme Leciona Maria Helena Dinizx: “Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente”, qualquer que seja o regime matrimonial de bens, (CC, art. 1.838; STJ, 269:226), caso em que será o herdeiro necessário, único e universal, desde que preenchidos os requisitos legais10. 8 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito Civil.V6. 16 Ed. Juspovm. São Paulo.2024. . 9 CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das sucessões: inventário e partilha. 7 ed. Saraiva Jur. São Paulo. 2023. 10 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das sucessões. v.6.Saraiva Jur. São paulo. 2024 ( 16 ) Conforme o art. 1.830. Visa-se, com isso, a proteção do consorte supérstite, que, ao tempo da morte do outro, não estava separado extrajudicialmente (art. 733, §§ 1º e 2º, do CPC) ou judicialmente nem separado de fato há mais de dois anos, contados da abertura da sucessão, exceto prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente (CC, art. 1.830 — que pode perder, parcialmente, sua eficácia social ante o disposto na CF, art. 226, § 6º, com a redação da EC n. 66/2010). Tal prova será difícil de se obter, ante o fato de que um dos cônjuges já faleceu. Esse artigo é um retrocesso, afirma Rolf Madaleno, pois como seria possível comprovar culpa funerária ou culpa mortuária? Como perquirir a causa daquela separação, provando inocência do viúvo, se o autor da herança não mais está presente para defender•-se das acusações que lhe serão feitas? Será preciso demonstrar que a ruptura fática da convivência conjugal não foi provocada, culposamente, pelo viúvo, pois se, p. ex., veio a abandonar o lar imotivadamente, inibido estará de sucederx. O conjugê que é considerado herdeiro necessário até mesmo no regime de separação convencional de bens será feita a adjudicação de bens na vocação hereditáira, ou seja, na ordem correta, conforme o caso abaixo: AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.354.742 - MG (2012/0245381-9) RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO AGRAVANTE : LEILA FREIRE ARANTES MARTINS CARNEIRO E OUTRO ADVOGADOS : JOSÉ HELVÉCIO FERREIRA DA SILVA E OUTRO(S) - MG014651 JULIANA ANDRADE DOS SANTOS E OUTRO(S) - MG096302 AGRAVADO : JOSÉ EDÉSIO CLÍMACO FERREIRA - ESPÓLIO REPR. POR : MARIA DO CARMO MANSUR FERREIRA - INVENTARIANTE E OUTROS ADVOGADO : JONAS MODESTO DA CRUZ E OUTRO(S) - DF013743 EMENTA AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO ORDINÁRIA OBJETIVANDO ANULAR ADJUDICAÇÃO EM PROCESSO DE INVENTÁRIO. FALTA DE OBSERVÂNCIA DA ORDEM HEREDITÁRIA. PREJUÍZO DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE. NULIDADE VERIFICADA. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO11. Hipótese em que o cônjuge sobrevivente, casado sob o regime de separação convencional de bens, foi preterido no inventário dos bens deixados por sua esposa, o qual foi aberto pela irmã da falecida, tendo sido adjudicada a ela a totalidade dos bens deixados pela autora da herança, em prejuízo do viúvo e em desrespeito à ordem de vocação hereditária11. Segundo Paulo Luiz Netto Lôbo: O princípio da função social da herança ressalta a redistribuição do patrimôniodo falecido aos herdeiros e legatários, para garantir a subsistência, exercendo o papel de garantia da solidariedade familiar, como ocorre com a legítima dos herdeiros necessários, o art.1789 do nosso atual Código Civil de 2002, destaca o quanto o testador deverá dispor quando há herdeiros necessários12: 11 CORPUS 927. EREsp 1354742 ver inteiro teor06/03/2017, AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.354.742. Disponível em: https://corpus927.enfam.jus.br/legislacao/cc-02#art-1838. Acesso em: 25 de set de 2024. 12 Netto Lôbo, Paulo Luiz, "Entidades Familiares Constitucionalizadas: para além do numerus clausus", in Revista Brasileira de Direito de Família, nº 12, jan-fev-mar 2002, Editora Síntese. Art. 1789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança. Conforme Carlos Roberto Gonçalves: O Herdeiro necessário, também conhecido como legitimário ou reservatário, é o descendente que é o filho, neto, bisneto etc. ou ascendente (pai, avô, bisavô etc.) sucessível, é todo parente em linha reta não excluído da sucessão por indignidade ou deserdação, bem como o cônjuge (CC, art. 1.845). A ele a lei assegura o direito à legítima, que corresponde à metade dos bens do testador (art. 1.846). A outra, denominada porção ou quota disponível, pode ser deixada livremente. Se não existe descendente, ascendente ou cônjuge, o testador desfruta de plena liberdade, poden-do transmitir todo o seu patrimônio (que, neste caso, não se divide em legítima e porção disponível) a quem desejar, exceto às pessoas não legitimadas a adquirir por testamento (arts. 1.798 e 1.801)13. 13 GONÇALVES, Carlos Roberto. Sinopses Jurídicas V04, Direito Civil – Direito das Sucessões. Ed 21. Saraiva Jur. São Paulo. 2020. ( 18 ) 3.0 CôNJUGE HERDEIRO FACULTATIVO Neste Capítulo é abordado o conceito de Herdeiro Facultativo. 3.1 Conceito Há uma grande relevância para distinguir os herdeiros necessários os herdeiros facultativos. Os dois são espécies do gênero descendentes legítimos e não devem ser considerados sinônimos, porque não são. A principal diferença reside no fato de que o herdeiro facultativo pode ser excluído da herança sem precisar justificar o motivo; basta que o falecido detenha todos os seus bens em testamento e não os tenha mencionado. Ao contrário do que acontece com os herdeiros necessários, que têm a metade do patrimônio garantida por lei, sem a necessidade de manifestação do autor da herança. Os herdeiros Facultativos estão descritos nos arts.1838 e 1839, conforme abaixo: Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente. Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau. Os herdeiros facultativos são os herdeiros que recebem a herança em apenas dois períodos distintos: · Quando tem o seu nome incluído no testamento, como forma de última vontade (também considerados como herdeiros testamentários); ou · Devido à falta de herdeiros necessários, os herdeiros são chamados para receber a herança (artigos 1.838 e 1.839) Os inativos não possuem proteção legal para sua inclusão na herança, mas são requisitados a recebê-la em circunstâncias distintas. Podem ser considerados herdeiros facultativos os parentes colaterais até o quarto grau por exemplo: Irmãos, primos, tios, sobrinhos14. 14 Herdeiros necessários e facultativos: entenda cada termo. Disponível em: https://educamundo.com.br/blog/herdeiros-necessarios/. Acesso em: 31 out 2024. 20 4.0 REFORMA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 Neste Capítulo é abordado quais as razões jurídicas para ocorrer a nova reforma do Código Civil de 2002. O jurista Flávio Tartuce, relator-geral do anteprojeto de reforma do Código Civil, defende a atuação da Comissão. Ao lado da também jurista Rosa Maria Nery, Tartuce revisou o trabalho realizado por diversas subcomissões, cada uma dedicada a consolidar as mudanças propostas. A comissão esteve por pouco mais de seis meses, a partir de setembro do ano passado, por iniciativa do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG)15. Senadores e deputados receberão uma base sólida para discutir e melhorar o Código Civil (Lei 10.406, de 2002). Uma comissão de especialistas em direito, instaurada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, finalizou a atualização do texto vigente, buscando adequá-lo à atualidade. Este trabalho, liderado pelo ministro Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), levou oito meses para ser concluído. As alterações refletem determinações frequentes feitas por cortes em todo o Brasil. Dentre as novidades, destaca-se a adição de um capítulo voltado ao direito digital e a expansão da definição de família. O Código Civil abrange todos os aspectos da vida das pessoas, desde antes do nascimento até após a morte, incluindo temas como matrimônio, sucessão e herança, além de questões relacionadas ao convívio social, como a regulamentação de empresas e contratos. Pode ser visto como uma "cartilha para o cidadão comum". Conforme Flávio Tartuce: "é difícil ter segurança jurídica em um país que, a cada 20 anos, se reúne para alterar o Código Civil"16. Conforme Tartuce: Foram muitos artigos alterados para ajuste redacional. Tivemos o trabalho de um professor de português e o texto inteiro passou por uma revisão17. 15 AGENCIA SENADO. Código Civil: conheça as propostas de juristas para modernizar a legislação. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2024/04/codigo-civil- conheca-as-propostas-de-juristas-para-modernizar-a-legislacao. Acesso em: 11 de out de 2024. 16 DIAS, Maria Berenice. Migalhas Jurídicas. Reforma do Código Civil: Flávio Tartuce destaca principais mudanças. https://www.migalhas.com.br/quentes/405624/reforma-do-codigo-civil-flavio- tartuce-destaca-principais-mudancas. Acesso em: 31 out 2024. 17 RAMALHO, Renan. Gazeta do Povo. Senado. Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e- cidadania/flavio-tartuce-relator-defende-reforma-codigo-civil/. Acesso em: 31 out 2024. 21 Qual é o motivo para realizar uma nova reforma? O Código Civil de 2002 não tem vinte anos, uma vez que o projeto original foi elaborado antes dos anos 70. Ele já é velho em diversos aspectos. Foi alterado em 2003 e, praticamente todo ano, uma norma foi criada. Além disso, ele já não está atualizado devido a novas tecnologias. Um exemplo é o e-notoriado, que permite escritura pública por meio digital. Ele surgiu por meio de um provimento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), durante o estado de emergência da pandemia. Precisamos dar legalidade a isso dentro do Código Civil, e não em uma lei ordinária. Assim sendo, essa reforma é crucial para inserir o país na era digital. Um dos temas relevantes para nós foi a extrajudicialização, que é desafogar o Judiciário e levar as medidas que podem ser levadas para outros meios, sobretudo para os cartórios, dando diversas atribuições aos de registro civil, por exemplo. Há uma crítica de que outros países não mudaram. Mas o Brasil não tem que acompanhar esses outros países. A comissão pensa que o país tem que ser protagonista nesses temas. ‘Ah, o Brasil vai ter o primeiro código a tratar de direito digital’. Que seja! A gente precisa seguir sempre os países da Europa? A gente tem que ser exemplo para os outros também. Houve a idéia para a reforma do Código Civil nas jornadas de direito civil, que acontecem desde 2002 [organizadas pelo Conselho da Justiça Federal e Superior Tribunal de Justiça, e que reúnem juízes, advogados e estudiosos do tema], e que mostram os problemas do código, antes mesmo da sua aprovação, em mais de 600 enunciados doutrinários. E hoje em dia a gente tem uma confusão na aplicação das regras do Código Civil, com mudanças na jurisprudência, precedentes qualificados dos tribunais, enunciados da jornada. Com o objetivo de garantir segurançajurídica e estabilidade, o ministro Luís Felipe Salomão, do STJ, propôs uma reforma em conjunto com outros ministros do tribunal, com a colaboração de uma grande parte da doutrina e a vontade política do senador e presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que criou leis importantes no Brasil, como a lei da SAF [Sociedade Anônima do Futebol], e também atuou na lei da liberdade econômica, as quais foram muito importantes para nós. 4.1 Herdeiros Excluidos 22 Dentre as causas de exclusão do cônjuge, iremos explanar a exclusão por indignidade: Conforme Dimas Messias Carvalho: A indignidade é uma pena civil que impede que o herdeiro ou legatário extraia vantagem do patrimônio da pessoa a quem ofendeu, com atos criminosos contra a sua vida, honra ou liberdade de testar. O Código Civil inclui entre os ofendidos por tentativa ou por homicídio consumado, além do autor da herança, o cônjuge, companheiro, descendente ou ascendente do autor da herança e, nos crimes contra a honra, seu cônjuge ou companheiro, conforme o artigo abaixo, ‘in verbis’18: Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. Maria Berenice Dias esclarece que a deserdação, como a indignidade, é uma forma de penalizar o herdeiro que cometeu atos injustos e imorais contra o autor da herança, mas elas não se confundem, apesar da quase identidade de motivos e da mesma consequência de excluir o herdeiro da sucessão. Acrescenta que “a deserdação é restrita aos herdeiros necessários, e só pode ser imposta por testamento, com expressa declaração da causa que motivou o testador a querer privá-los da herança19.”O Código em vigor incluiu o cônjuge entre os herdeiros necessários, pode ocorrer a deserdação por o testador, que admite a exclusão pela simples omissão dos facultativos’. A deserdação do cônjuge, entretanto, tem demandado discussões, pois não está incluído no rol dos herdeiros nos arts. 1.962 e 1.963 do Código Civil, que estabelecem outras causas, além da indignidade, para a deserdação, conforme comentado acima. Considerando a excepcionalidade da deserdação, vedando interpretação extensiva por restringir direitos, aplicam-se na deserdação ao cônjuge apenas as hipóteses de indignidade, previstas no art. 1.818 do Código Civil, ou seja, tentativa de homicídio, acusação caluniosa e crimes contra a honra. 18 CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das sucessões: inventário e partilha. 7 ed. Saraiva Jur. São Paulo. 2023. 19 DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. São Paulo: RT, 2008 23 5.0 PORQUE OS CôNJUGES DEVEM DEIXAR DE SER HERDEIROS NECESSÁRIOS Neste Capítulo é abordado o motivo pelo qual os cônjuges deixaram de ser herdeiros necessários com a atual reforma do Código Civil de 2002. Conforme publicação do site: Consultor Jurídico, dentre as alterações sugeridas, uma das mais polêmicas é a exclusão dos cônjuges na figura de herdeiros necessários. O Código Civil de 2002 teve seu anteprojeto iniciado em 1969 e sua tramitação no Congresso em 1975, quando o divórcio ainda não era reconhecido legalmente no Brasil. A sanção do código ocorreu somente em 2002, ou seja, 33 anos após o início de sua elaboração. No longo período de discussão e elaboração resultou em um documento que já chegou desatualizado, incapaz de acompanhar as mudanças significativas na estrutura social e familiar do Brasil, que agora inclui novas formas, como famílias monoparentais, homoafetivas e recompostas. De acordo com o Código Civil de 2002, que sustenta a idéia de casamentos duradouros, o cônjuge foi elevado à posição de herdeiro principal, tendo direito a herdar os bens pessoais do falecido, ao lado de filhos ou pais, ou seja concorrendo com os filhos, netos, entre outros, mesmo quando o matrimônio for estabelecido sob o regime de separação convencional de bens. É garantido a esse cônjuge um quarto da herança nos casos em que a herança seja disputada com seus próprios filhos, conforme a jurisprudência citada abaixo: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da do Supremo Tribunal Federal, por seu Tribunal Pleno, sob a presidência da Ministra Cármen Lúcia, na conformidade da ata de julgamento, por maioria de votos, em, apreciando o Tema 498 da repercussão geral, por maioria e nos termos do voto do Ministro Roberto Barroso, que redigirá o acórdão, dar provimento ao recurso, para reconhecer de forma incidental a inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC/2002 e declarar o direito do recorrente de participar da herança de seu companheiro em conformidade com o regime jurídico estabelecido no art. 1.829 do Código Civil de 2002, vencidos os Ministros Marco Aurélio (Relator) e Ricardo Lewandowski. Em seguida, acordam, vencido o Ministro Marco Aurélio (Relator), em fixar a tese nos seguintes termos: “É inconstitucional a distinção de Regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002”. Ausentes, justificadamente, os Ministros Dias Toffoli e Celso de Mello, e, neste julgamento, o Ministro Gilmar Mendes. Brasília, 10 de maio de 201720. 20 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, RECURSO EXTRAORDINÁRIO 646.721 RIO GRANDE DO SUL. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13579050. Acesso em: 11 de out de 2024. Entendimento do STJ Em 2009, ao ser convocado para interpretar se a viúva, casada sob o regime da separação convencional de bens, teria direito à herança do marido, considerando que nem o meio jurídico compreendia plenamente essa extensão de direitos, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que não caberia ao cônjuge casado sob separação de bens o direito à meação, nem à concorrência sucessória, devendo-se respeitar o regime de bens acordado pelo casal, que vincularia as partes tanto em vida quanto após a morte. Nos dois casos, portanto, o cônjuge sobrevivente não seria considerado herdeiro necessário. EMENTA Direito civil. Família e Sucessões. Embargos de declaração no recurso especial. Inventário e partilha. Cônjuge sobrevivente casado pelo regime de separação convencional de bens, celebrado por meio de pacto antenupcial por escritura pública. Interpretação do art. 1.829, I, do CC/02. Direito de concorrência hereditária com descendentes do falecido. Não ocorrência. - Em suas ponderações, pretende a embargante tão-somente rediscutir matérias jurídicas já decididas, sob prisma diverso do que imprimido pelo acórdão embargado, sem concretizar alegações que se amoldem às particularidades de que devem se revestir as peças dos embargos declaratórios. - As questões trazidas à debate pelas partes não demarcam a fundamentação adotada pelo julgador, que pode se valer dos temas jurídicos que entender de Direito para alcançar o deslinde da controvérsia. - Ao STJ não é dado imiscuir-se na competência do STF, sequer para prequestionar matéria constitucional suscitada em sede de embargos de declaração, sob pena de violar a rígida distribuição de competência recursal disposta na Constituição Federal. Embargos de declaração rejeitados21. No caso julgado, a viúva postulou sua habilitação no processo de inventário, como herdeira necessária do falecido, mas os filhos dele alegaram que ela nada herdaria, já que o regime da separação total de bens foi lavrado em escritura pública de pacto antenupcial, com todas as cláusulas de incomunicabilidade, previstas em lei, assinalando os ministros que esse regime valeria não apena durante o casamento, mas também quando da sua dissolução, seja porseparação, divórcio ou falecimento de um dos cônjuges. Os filhos do falecido argumentaram que o pai foi casado, pela primeira vez com a mãe deles e que ela morreu tragicamente em um acidente de carro no Carnaval de 1999, casando-se posteriormente com a madrasta, 31 anos mais jovem, no regime de separação convencional de bens, inclusive dos aquestos (bem adquirido na vigência do matrimônio), tal como declarado na escritura do pacto antenupcial. 21 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 992.749 - MS (2007/0229597-9). Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=200702295979&dt_publicacao =06/04/2010. Acesso em: 11 de out de 2024. ( 24 ) Ao votar, a ministra Nancy Andrighi, relatora do recurso, destacou que o casal escolheu voluntariamente se casar pelo regime da separação convencional, optando, por meio de pacto antenupcial, pela incomunicabilidade de todos os bens adquiridos antes e depois do casamento, inclusive frutos e rendimentos, e tampouco foi deixado testamento ou legado para o cônjuge, quando poderia fazê-lo. Portanto, a viúva nada deveria herdar. Conforme Maria Julia Cardoso: Para a advogada essa retirada dos cônjuges na figura de herdeiro necessário é injusta, pois para ser justa seria necessário a retirada de todos os herdeiros necessários sendo os ascendestes e descendentes. Sabemos que nesta alteração os herdeiros necessários serão apenas os ascendetes e descendentes, essa mudança traz diversas consequências no âmbito do direito das sucessões, uma delas é o planejamento sucessório, além de outras implicações. Conforme no relatório do anteprojeto “Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes; II - aos ascendentes; III - ao cônjuge ou ao convivente sobrevivente; IV - aos colaterais até o quarto grau.x” Para a Dr.ª Angela Carla Zandoná Ubialli a retirada do conjuge na reforma do Código Civil de 2002: A legislação em vigor determina que, obrigatoriamente, os herdeiros necessários devem receber 50% dos bens deixados pelo falecido. Essa restrição ao direito de possuir todo o seu patrimônio é conhecida como legítima para fins de sucessão. Essa restrição não protege, contudo, os colaterais. Assim sendo, sempre que há descendentes, a lei determina que os pais deixem 50% de seu patrimônio para eles; caso não haja filhos, os pais são herdeiros necessários em concorrência com o cônjuge; e, se não houver ascendentes, o cônjuge é o herdeiro necessário da parte dita indisponível. 22 CONJUGE NAO SERÁ MAIS HERDEIRO NECESSARIO? REFOMA DO CODIGO CIVIL E EXCLUSAO DO CONJUGE. 2024. 1h12 min. Maria Julia Cardoso l Prática em Inventário. Maria Julia Cardoso.Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_npRdarLj0Q. Acesso em 11 de ou de 2024. 23 Relatório Final dos trabalhos da Comissão de Juristas responsável pela revisão e atualização do Código Civil. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/assessoria-de- imprensa/arquivos/anteprojeto-codigo-civil-comissao-de-juristas-2023_2024.pdf. Acesso em: 11 de out de 2024. O restante do patrimônio pode ser atribuído a qualquer pessoa que o falecido tenha interesse em receber, já que é parte de sua herança, e é possível fazer um testamento para estabelecer essa benesse. A proposta em discussão no Congresso Nacional, ao contrário do que vem sendo amplamente divulgado, não tem como objetivo retirar o direito do cônjuge de receber herança de seu companheiro ou companheiro. O objetivo é modificar a classificação atual atribuída aos cônjuges/companheiros, os quais deixarão de ser considerados herdeiros necessários para se tornarem herdeiros colaterais. De fato, o que se propõe é que os 50% reservados pela lei sejam exclusivamente para os filhos e pais do falecido; entretanto, não há impedimento para que o cônjuge/companheiro(a) receba uma parte do patrimônio do(a) falecido(a) através da parte disponível. É importante salientar que a proposta não tem como objetivo prejudicar o cônjuge ou companheiro sobrevivente, mas sim proteger os descendentes e ascendentes em tempos em que as famílias não são mais concebidas para durar para sempre. O número de famílias reconstituídas após o parto, somado às conquistas alcançadas pelas mulheres, como a sua inserção no mercado de trabalho e o direito ao divórcio, já não nos permite mais olhar as mulheres como dependentes econômicas de forma generalizada. Além disso, dos regimes patrimoniais existentes na legislação atual, apenas a comunhão obrigatória de bens impede a comunicação do patrimônio entre os cônjuges em caso de falecimento. Em outras palavras, a separação convencional, que é escolhida pelos próprios cônjuges/companheiros durante o casamento/união estável, não impede a comunicação do patrimônio por morte, exceto em casos de divórcio. Se comparada com a legislação atual do Brasil, a proposta pode causar um sério prejuízo ao cônjuge/companheiro caso seja aprovada. Isso ocorre porque o cônjuge/companheiro somente terá direito à parte do patrimônio do falecido pela herança se este se manifestar expressamente; ou se não houver descendentes ou ascendentes vivos. Ademais, é importante levar em conta que não temos o costume de considerar a morte e suas consequências. Veja-se como exemplo os inúmeros inventários judiciais onde os herdeiros litigam por anos buscando uma compensação pela suposta "preterição" que sentem, seja entre filhos, cônjuges, etc. Dessa forma, pode-se dizer, sem qualquer receio, que condicionar o recebimento de herança do cônjuge/companheiro(a) à realização de testamento, na prática, o torna não herdeiro24. 24 UBIALLI, Dr.ª Angela Carla Zandoná. Romano Advogados Associados. ANÁLISE DA PROPOSTA DE RETIRADA DO CÔNJUGE DO ROL DE HERDEIROS NECESSÁRIOS. Disponível em: https://romano.adv.br/analise-da-proposta-de-retirada-do-conjuge-do-rol-de-herdeiros- necessarios/. Acesso em: 31 out 2024. 6.0 CONCLUSÃO Concluo que o presente Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, aborda um tema de extrema relevância social pois é muito encessária uma nova reforma do código, pois como disse Fçávio Tartuce nesse país não há segurança jurídica, porque a cada 20 anos a nossa legislação Civil é alterada, então melhor efetuar uma reforma do Código Civil de 2002 por inteiro. A retirada do Cônjugedo polo de herdeiro necessário e passa a ser herdeiro facultativo ocorreu por uma série de julgados de casos em que o cônjuge sem nenhuma prole do ‘de cujus’ , concorre os filhos por os bens, então para a proteção jurídica e patrimonial ocorreu a remoção do cônjuge como herdeiro necessário no atual Código Civil de 2002, mas conforme outros profissionais pode ocorrer um prejuízo ao cônjuge ou companheiro, pois só terá direito ao patrimônio do falecido caso houver manifestação expressa, ou seja, testamento, e haverá a transmissão automática caso não tenha herdeiros descendentes ou ascendentes vivos. Lembrando que a lei determina que apenas 50% do patrimônio é destinado aos cônjuges necessários, agora os cônjuges necessários são apenas os ascendentes e descendentes, na falta destes poderá o cônjuge ser herdeiro. Os outros 50% do patrimônio vai para qualquer pessoa que o falecido queira beneficiar, esta outra parte é conhecida como parte disponível, por meio de testamento. Concluo que por conta de excesso de processos, a morosidade processual, a cultura do Brasil de não realizar testamentos, foram um dos motivos que impulsionou a exclusão do cônjuge do polo de herdeiro necessário para cônjuge facultativo. Infelizmente não há um entendimento pacífico na doutrina e na jurisprudência. 7.0 BIBLIOGRAFIA 29 AGENCIA SENADO. Código Civil: conheça as propostas de juristas para modernizar a legislação. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2024/04/codigo-civil-conheca-as- propostas-de-juristas-para-modernizar-a-legislacao. Acesso em: 11 de out de 2024. CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das sucessões: inventário e partilha. 7 ed. Saraiva Jur. São Paulo. 2023. CAVALCANTI, IzauraFabíola Lins de Barros Lôbo. Testamento, uma Forma de Proteção. 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