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1 Profª. Janaina Daniel Varalli Obs: apenas material de auxilio. Este roteiro não dispensa o estudo da doutrina especializada já indicada aos alunos e não limita o conteúdo da prova. Roteiro – Culpabilidade e sua exclusão Culpabilidade: possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática da infração penal; juízo de reprovação exercido sobre o comportamento do agente. - elemento do crime (teoria tripartida)/ pressuposto de aplicação de pena (teoria bipartida) Teorias acerca da culpabilidade - Teoria normativa pura. É a teoria defendida pela escola finalista (adotada pela maioria da doutrina atualmente). De acordo com esta teoria, o dolo e a culpa migram da culpabilidade para a conduta (primeiro elemento do fato típico). O conteúdo da culpabilidade fica, portanto, esvaziado com a retirada do dolo e da culpa, passando a constituir mero juízo de reprovação ao autor da infração. A culpabilidade, que não é requisito do crime, mas simples pressuposto da aplicação da pena, possui os seguintes elementos: a) imputabilidade; b) potencial consciência da ilicitude; c) exigibilidade de conduta diversa. O raciocínio seria: o sujeito devia agir a favor da norma porque podia atuar de acordo com ela. - As pessoas são presumidamente culpáveis, portanto, só não o serão se presente alguma circunstância que exclua a culpabilidade (dirimentes). Exclusão da Culpabilidade: pela ausência de um de seus elementos: (Mirabete) 2 a) Pela ausência de imputabilidade : a.1) doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado (26, CP); a.2) menoridade (27, CP); a.3) embriaguez completa proveniente de caso fortuito (28, § 1°, CP) b) Ausência de possibilidade de conhecimento do injusto: b.1) erro do tipo b. 2) erro de proibição c) Ausência de exigibilidade de conduta adversa: c.1) coação irresistível e obediência hierárquica (22, CP)- para alguns, neste último caso, há ausência de potencial consciência do injusto a.1) Imputabilidade Penal - Capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de se autodeterminar de acordo com este entendimento. Segundo Mirabete, “é a aptidão para ser culpável”; Conjunto de condições pessoais do agente para que lhe seja juridicamente imputada a prática do fato criminoso (Damásio). - É inimputável aquele que não tem tal capacidade (é completamente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de se autodeterminar de acordo com este entendimento) - Sistemas de aferição: a) sistema biológico: adotado, como exceção, no caso dos menores de 18 anos – o desenvolvimento incompleto faz presumir a incapacidade de entendimento e vontade (CP, art. 27); b) sistema biopsicológico: foi adotado como regra, conforme se verifica pela leitura do art. 26, caput, do Código Penal. c) sistema psicológico: não adotado por nossa legislação como excludente de culpabilidade; emoção e paixão podem ser atenuantes, causas de diminuição de pena 3 O Código Penal só enumera as hipóteses de inimputabilidade. São elas: a.1) doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado (26, CP); Doença mental: perturbação mental ou psíquica capaz de afetar a capacidade de entendimento ou comando da vontade de acordo com este entendimento. Ex: psicopatias, neurose, demência senil, sífilis cerebral, esquizofrenia, dependência patológica de substância entorpecente. - A origem da doença pode ser orgânica, tóxica ou funcional; quanto à duração, pode ser crônica ou transitória. Desenvolvimento mental incompleto: não concluído em razão da idade cronológica do agente (menor de 18 anos) ou pela falta de convivência em sociedade (silvícolas sem contato com a sociedade; discussão quanto aos surdos - mudos (quando não tiverem qualquer instrução). Retardado: incompatível com a idade cronológica da pessoa. São casos: oligofrênicos, débil mental, imbecil. - Requisitos da inimputabilidade segundo o sistema biopsicológico: a) causal: existência de doença mental ou de desenvolvimento mental incompleto ou retardado, que são as causas previstas em lei; b) cronológico: atuação ao tempo da ação ou omissão delituosa; c) consequencial: perda da capacidade de entender e querer Obs. A inimputabilidade não se presume, prova-se com exame pericial. O agente é absolvido e aplica-se a Medida de Segurança Semi-imputabilidade. (Vide § único do art. 26) - “culpabilidade diminuída” - redução de pena. Alternativamente, substituição por medida de segurança (art. 98, CP) - sujeito não é inteiramente capaz a.2) menoridade (27, CP): se menor de idade comete infração penal, aplica- se Lei 8069/90 (ECA);diz-se que foi praticado um ato infracional análogo ao crime - aplicam-se medidas sócioeducativas (e protetivas, se o caso) aos adolescentes; protetivas às crianças. a.3) embriaguez completa proveniente de caso fortuito (28, § 1°, CP). Intoxicação aguda e passageira provocada pelo álcool ou por substância de efeitos análogos que apresenta uma fase inicial de euforia, passando pela depressão e sono, podendo levar até ao coma. (Macaco, Leão e Porco). 4 EMBRIAGUEZ Pode ser: a) Não- acidental: a1) Voluntária. O agente quer embriagar-se. Completa ou incompleta. a2) Culposa. Completa ou incompleta. O agente não quer embriagar-se, mas agindo imprudentemente, ingere doses excessivas e acaba embriagando-se. Obs. não há exclusão da imputabilidade. Adoção da tese da actio libera in causa; fala-se em hipótese de responsabilidade objetiva dentro do CP. Se no momento da ingestão da bebida não podia prever a ocorrência do delito; não incide b) Acidental, proveniente de caso fortuito ou força maior. Se completa, exclui a imputabilidade, desde que, em razão dela, o agente, ao tempo da ação ou omissão, tenha ficado inteiramente incapacitado de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (art. 28, §1º, CP). Obs. Diferenças entre o § 1º e § 2º do art. 28, do Código Penal c) Patológica (doentia) (vide art. 26 e seu § único). d) Preordenada. (agravante – “se embriaga para tomar coragem”). Vide art. 61, II, l, do Código Penal. b) Ausência da potencial consciência da ilicitude (vide art. 21,CP) Erro do tipo/ erro de proibição (outro roteiro) C) Ausência de exigibilidade de conduta diversa ou Inexigibilidade de conduta adversa - nosso sistema prevê expressamente casos de inexigibilidade adversa. Discute- se muito a aceitação de causas supralegais de inexigibilidade (Damásio - por mais que o legislador queira prever todas as situações, isto não é possível; defende a adoção das causas supralegais como medida de justiça.) Coação (moral) irresistível – Emprego da força moral para obrigar o sujeito a praticar o crime (vis compulsiva). - Grave ameaça é o anúncio de um mal ao próprio coagido ou à pessoa a ele ligada assim, tem liberdade de ação sob o aspecto físico, mas permanece 5 psiquicamente vinculado em face da ameaça recebida. O coator responde pelo crime - Se irresistível, o agente não pode ser considerado culpado. A vontade do coacto não é livre (mas como ainda tem certo campo de decisão, não se fala em antijuridicidade; há tipicidade do fato). Obediência hierárquica (art. 22, CP) – para alguns doutrinadores, é caso especial de erro de proibição. Para outros, caso de inexigibilidade de conduta adversa. Consiste na obediência à ordem não manifestamente ilegal de um superior hierárquico, o que vicia a vontade do subordinado. Um funcionário de categoria superior determina a um subordinado que faça ou deixe de fazer algo ilegal. São requisitos portanto: superior do qual emane a ordem e que seja competente; subordinado que a obedeça; inerenteà Administração Pública; legalidade da ordem ou sua aparente legalidade (putativa) Obs. Se a ordem é determinada por lei (estrito cumprimento de um dever legal). - Ordem manifestamente ilegal (facilmente perceptível): ambos responderão pelo crime. - Ordem não manifestamente ilegal (não perceptível, de acordo com o senso médio): exclui-se a culpabilidade do subordinado, respondendo pelo crime apenas o superior. - Se o subordinado se excede (em ordem legal), vindo a cometer um crime, apenas ele responde. Nem sempre a vinculação é funcional, podendo ser fática. Emoção e Paixão (art. 28, I, CP) - Não exclui a imputabilidade e a culpabilidade (a não ser que tenha cunho patológico) - são atenuantes genéricas (art. 65, III, CP - a violenta emoção engloba a paixão) ou como causas de diminuição de pena (art. 121, § 1º, CP, por exemplo), desde que acompanhadas de outros requisitos. 6 - Emoção: estado súbito e passageiro de instabilidade psíquica, uma perturbação momentânea da afetividade; produz perturbação do equilíbrio psíquico, violenta e repentina (ira, medo, vergonha, surpresa) - Paixão: emoção em estado crônico; sentimento monopolizante da mente do indivíduo, caracterizado por uma afetividade permanente (amor, ódio, vingança, fanatismo). a.1) Imputabilidade Penal