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Importante destacar a diferença fundamental entre a responsabilidade civil e
a responsabilidade criminal, onde a primeira visa à reparação do dano enquanto a
segunda implica a aplicação de uma pena ao infrator, conforme delineado em lei.
•
A principal distinção entre essas duas formas de responsabilidade, então, reside nas
suas consequências e objetivos.
•
responsabilidade civil busca a reparação do dano causado à vítima, •
a responsabilidade criminal visa punir e prevenir a prática de delitos, protegendo a
sociedade como um todo.
•
a responsabilidade civil é regida pelo princípio da reparação do dano•
a responsabilidade criminal é orientada pelo princípio da legalidade, onde ninguém
pode ser punido por um ato que não esteja previamente definido como crime em lei.
•
um mesmo ato pode gerar tanto responsabilidade civil quanto criminal, sem que
isso configure uma violação ao princípio do “non bis in idem”, que proíbe a punição
múltipla pelo mesmo fato.Isso ocorre porque cada tipo de responsabilidade atende
a objetivos distintos dentro do ordenamento jurídico.
•
responsabilidade” é o conhecido pelo senso comum. É utilizado para qualquer
situação que alguém deva responder pelas consequências de atos ou fatos lesivos.
No campo do Direito, verifica-se a existência de uma tríplice responsabilidade:
a administrativa, a penal e a civil,
•
O servidor público que deixa de obedecer à ordem lícita do chefe imediato incorre
em responsabilidade administrativa. E, em razão da insistência do chefe, o servidor, de
“cabeça quente”, joga o computador da repartição na parede, e, por isso, responde
civilmente. Não satisfeito, agride fisicamente o seu superior, causando-lhe graves lesões
corporais, acarretando sua responsabilidade penal. Neste caso, o servidor responderá
administrativa (insubordinação grave), civil (dano ao patrimônio público) e penalmente
(lesões corporais), de forma cumulativa.
✨Responsabilidade Civil
segunda-feira, 18 de novembro de 2024 10:25
Página 1 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
A sentença penal absolutória,
Regra geral: Uma sentença penal absolutória (que inocenta) não impede automaticamente que
o caso seja analisado no cível ou administrativo. Isso ocorre, por exemplo, se a absolvição for por
falta de provas ou se a decisão não for definitiva (sem trânsito em julgado).
1.
Exceção: O julgamento no cível será prejudicado apenas se a sentença penal absolver com base
na inexistência do fato (o fato nunca ocorreu) ou na negativa de autoria (o réu não foi o autor
do fato). Nesses casos, a decisão no penal vincula as outras esferas.
2.
Isso se baseia na ideia de que somente absolvições que afirmem claramente que o fato não aconteceu
ou que o réu não foi o autor têm força para impedir novas discussões.
responsabilização civil
responsabilidade extracontratual e contratual.
A responsabilidade extracontratual ou aquiliana é a que decorre da ação ou omissão,
lícita ou ilícita, que provoque dano a alguém.
responsabilidade contratual origina-se no descumprimento de cláusulas
contratuais entre as partes. É o exemplo da indenização decorrente da anulação do
contrato administrativo de prestação de serviços de limpeza, devido à culpa atribuível
ao Estado-administrador.
Teoria subjetiva e objetiva
A teoria subjetiva
fundamenta-se na ideia de “culpa em sentido amplo”; logo, para que o prejudicado tenha
direito à indenização, fazem-se necessários os seguintes elementos:
a) a ação ou omissão, dolosa ou culposa (ato ilícito);
b) o dano ou prejuízo; e
c) o nexo (liame) de causalidade entre a conduta e o dano sofrido. ( conduta do
"Sem trânsito em julgado"
significa que a decisão
judicial ainda não é
definitiva, pois cabe recurso.
Enquanto não houver o
trânsito em julgado, a
sentença pode ser
modificada por instâncias
superiores.
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c) o nexo (liame) de causalidade entre a conduta e o dano sofrido. ( conduta do
agente e o dano experimentado pela vítima. )
teoria objetiva
não há a necessidade de demonstração de dolo ou de culpa contra quem se pleiteia a
indenização. Quer dizer que a responsabilidade ocorre independentemente de o ato ser
lícito ou ilícito.
teoria subjetiva e objetiva está na necessidade ou não de se demonstrar a culpa em
sentido amplo
•
Esta, por sua vez, refere-se ao dolo e à culpa “em sentido estrito”. (limitada)
A culpa “em sentido estrito” divide-se nas seguintes vertentes:
Imprudência: fazer aquilo que não deveria ter feito•
Negligência: deixar de fazer o que deveria ter feito•
Imperícia: não saber o que deveria saber•
1ª situação- No final de semana, Tício, servidor público, decide passear no shopping com
seu “possante”. Ao subir a rampa de acesso ao estacionamento,Tício tem um ataque
cardíaco, e o carro desce descontroladamente, só parando ao bater na frente do veículo de
Mévio, que se deslocava para o curso preparatório de ingresso à carreira pública.
Tício está na condição de particular, (fora do trabalho) e, por não ter agido com dolo
ou culpa, Mévio não terá direito à indenização.
2ª situação – Hércules é motorista de concessionária de serviços públicos, e, durante o
trabalho, sofre um ataque cardíaco. O veículo perde o controle, sobe pela calçada, e atinge o
muro da casa do concursando Mévio, causando-lhes danos materiais.
Hércules está na condição de agente público, e, embora o dano decorra de ato não
ilícito, Mévio será indenizado pela concessionária.
Para haver indenização, é necessário que o dano cause lesão a um direito. Não é
imprescindível que o dano seja econômico, tendo sido consagrada, pela CF/1988, a
existência do dano moral.
O fundamental é que o dano seja jurídico. Neste contexto, não caberá indenização aos
proprietários de bares e restaurantes, pelo só fato de o Poder Público ter retirado teatro público
Página 3 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
proprietários de bares e restaurantes, pelo só fato de o Poder Público ter retirado teatro público
ou universidade das proximidades, subtraindo-lhes a clientela natural derivada dos usuários
daqueles estabelecimentos públicos transferidos.
O dano jurídico deve ser certo ou real, podendo ser atual ou futuro. Assim, a
indenização pela morte da vítima do dano, em todo caso, a reparação deve atender à
capacidade econômica do ofensor e do ofendido, a extensão do dano e o caráter
pedagógico da indenização.
DANOS MORAIS E ESTÉTICOS. VERBA INDENIZATÓRIA FIXADA COM RAZOABILIDADE. R$
90.000,00 A TÍTULO DE DANOS MORAIS E ESTÉTICOS PARA O AUTOR
. R$ 40.000,00 DE DANOS MORAIS PARA A AUTORA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A revisão do valor fixado a título de danos morais e estéticos para os autores em
razão de acidente de trânsito provocado por agente estatal, encontra óbice na Súmula
07/STJ
2. Somente é possível rever o valor a ser indenizado quando exorbitante ou irrisória
(algo muito pequeno, insignificante ) a importância arbitrada, em violação dos princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade, o que não se observa no presente caso.
Página 4 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
(algo muito pequeno, insignificante ) a importância arbitrada, em violação dos princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade, o que não se observa no presente caso.
Defensor Público – DP-DF – Cespe – 2013 - Caso um DP recorra de decisão judicial que
arbitre indenização de valor irrisório a ser paga pelo poder público, pleiteando revisão
do valor, o recurso interposto, segundo a jurisprudência consolidada do STJ, será
inviável, visto que a revisão do valor a ser indenizado somente é possível quando a
importância arbitrada é exorbitante.
Comentários:
Na visão do STJ, é possível rever o valor a ser indenizado também quando irrisória a
importância arbitrada, em violação dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade.
Gabarito: ERRADO
dano moral, além de jurídico e certo, deve ser especial e anormal.do risco administrativo (teoria objetiva), por outro lado,
no caso de omissão do Estado, a teoria utilizada é a da culpa
administrativa, ou seja, a teoria subjetiva.
Por isso, neste caso é necessário que o lesado comprove que deixou
de agir quando deveria agir. Portanto, para a responsabilização
derivar de uma omissão, o Estado deve ter obrigação de agir e se
omitiu.
Omissões genéricas e omissões específicas
Mas, deve-se considerar dois tipos de omissões: a genérica
(imprópria) e específica (própria).
No caso da omissão genérica, o Estado tem o dever genericamente
de realizar determinadas ações. Por exemplo, o Estado tem
obrigação de fiscalizar as vias de trânsito. Quando há uma batida de
carro, não necessariamente a omissão da fiscalização vai ser a causa
da batida. Nesse caso o dever de fiscalizar as vias é genérico.
Portanto, nas omissões genéricas, a responsabilização só ocorre com
a comprovação de culpa ou dolo (teoria subjetiva).
Já no caso de apresentação de certos documentos para se proceder
uma licença, em caso de não pedir certo documento, será uma
omissão em uma situação em que o agente público deveria agir.
Considera-se omissão específica e por isso deve-se utilizar a teoria
objetiva. Ou seja, havendo conduta (ou falta de conduta), dano e
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objetiva. Ou seja, havendo conduta (ou falta de conduta), dano e
nexo causal, o Estado deverá indenizar terceiro prejudicado.
Esse foi um resumo sobre a responsabilidade civil do Estado. Espero
que tenha ajudado nesse conteúdo de direito administrativo.
Mas, se após a leitura desse artigo, for necessário aprofundar e
aprender ainda mais sobre esses conteúdos, indica-se o curso
completo.
De
Página 30 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
https://www.estrategiaconcursos.com.br/pesquisa/?q=direito+administrativo
https://www.estrategiaconcursos.com.br/pesquisa/?q=direito+administrativo
https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/resumo-sobre-responsabilidade-civil-do-estado/?msockid=1b57cb29edc46484192bde12ec896598
https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/resumo-sobre-responsabilidade-civil-do-estado/?msockid=1b57cb29edc46484192bde12ec896598Especial ocorre quando o prejuízo afeta apenas uma pessoa ou um grupo específico,
diferentemente de um dano genérico, que impacta a coletividade de forma ampla.
Anormal é o dano que excede os agravos normais que às vezes incidem sobre o
patrimônio do administrado. A seguir, decisão do STJ em que não se reconheceu o
dano como sendo de natureza especial e anormal.
O dano pode ser dividido em duas categorias: o patrimonial e o moral,
O dano patrimonial ou material
refere-se a perdas econômicas, dividido em:
Emergente: prejuízo direto e imediato.•
Lucro cessante: ganho futuro que deixou de ocorrer•
O dano moral ou extra patrimonial
afeta direitos pessoais (honra, imagem, intimidade) e não exige comprovação direta, pois
decorre dos próprios fatos ("in re ipsa")(pela força dos próprios fatos)
Exemplo: inscrição indevida em cadastros de inadimplentes. Contudo, o STJ nem sempre
presume automaticamente o dano moral.
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Teoria da causalidade adequada
Não trata todos os antecedentes como equivalentes.•
Foca no antecedente com maior probabilidade, em abstrato, de causar o dano.•
Crítica: Dá margem à subjetividade do juiz na análise.•
Teoria da causalidade direta e imediata
Só considera como causa o evento diretamente ligado ao dano.•
Ignora causas indiretas ou remotas.•
Exemplo: O Código Civil de 2002 adota esta teoria, descartando responsabilidades em casos
como danos sofridos por “surfistas de trem” ou crimes em áreas de baixa criminalidade, onde o
nexo é interrompido.
•
Vencidas tais considerações, podem ser apontados os seguintes elementos necessários
para a responsabilidade civil do Estado:
I) O ato lesivo causado pelo agente público, que independe da comprovação de culpa
em sentido amplo (dolo e culpa “em sentido estrito”). Ou, ainda, o fato
lesivo decorrente da omissão do Estado, demonstrada a existência de culpa em
sentido amplo;
II) A ocorrência de um dano patrimonial ou moral;
III) O nexo de causalidade entre o dano havido e o comportamento do agente público;
IV) A alteridade, o prejuízo foi provocado por outra pessoa que não a própria vítima.
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Elementos da Responsabilidade Civil
A doutrina tradicionalmente identifica três elementos fundamentais para a configuração
da responsabilidade civil:
Conduta (Positiva ou Negativa): Refere-se à ação ou omissão do agente que causa dano a
outra pessoa. Esta conduta pode ser tanto a realização de algo (ato positivo) quanto a
abstenção de uma ação que deveria ser realizada (ato negativo).
1.
Dano: É o prejuízo sofrido pela vítima, que pode ser de natureza material (danos
patrimoniais) ou imaterial (danos morais, por exemplo). Para que haja a obrigação de
reparar, é essencial que o dano seja efetivamente comprovado.
2.
Nexo de Causalidade: Trata-se da relação de causalidade entre a conduta do agente e o
dano experimentado pela vítima. É necessário demonstrar que o dano sofrido é
consequência direta da conduta do agente.
3.
s.
Conduta Humana
Este conceito está fortemente ancorado na voluntariedade da conduta, ou seja, na ideia
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Este conceito está fortemente ancorado na voluntariedade da conduta, ou seja, na ideia
de que a ação ou omissão que causa dano a outra pessoa deve ser guiada pela vontade
do agente.
Por isso, aqui na conduta, é importante distinguir os fatos da natureza das ações
humanas.
Enquanto os primeiros, apesar de poderem causar danos, não são imputáveis ao homem
e, portanto, não geram responsabilidade civil, o seguindo, quando resultam em dano,
podem levar à necessidade de reparação.
Isso se deve ao fato de que apenas as ações ou omissões voluntárias podem ser
atribuídas a um indivíduo ou entidade legal, tornando-os responsáveis pelos prejuízos
causados.
A voluntariedade, que é a pedra angular da responsabilidade civil, implica uma escolha
consciente por parte do agente.
Isso significa que a pessoa tinha o discernimento necessário para entender as
consequências de seus atos.
Importante notar que a intenção de causar dano (dolo) não é um requisito para a
configuração da responsabilidade civil, que pode ocorrer mesmo em casos de culpa
(negligência, imprudência ou imperícia), onde não há a intenção de prejudicar.
Diversas formas de conduta humana podem gerar responsabilidade civil, sejam elas
ações positivas (como, por exemplo, causar dano ao arremessar um veículo contra o
muro do vizinho) ou omissões (como a falha em ministrar os medicamentos necessários
a um paciente).
O Código Civil aborda a responsabilidade civil tanto em termos de atos próprios quanto
em situações de responsabilidade por atos de terceiros ou por fatos de animais e coisas,
prevendo, nos artigos 932 a 938, diversas hipóteses em que a responsabilidade é
imputada.
Além disso, a ilicitude, ou seja, a contrariedade ao direito, é frequentemente citada como
uma característica necessária da ação ou omissão que gera responsabilidade civil.
No entanto, a responsabilidade pode decorrer mesmo de atos lícitos…
O art. 188, II, do Código Civil, por exemplo, esclarece que não constitui ato ilícito “a
deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo
iminente“.
Imagine, por exemplo, que um carro, para desviar de uma criança que ultrapassa
correndo a rua, atinge um muro de uma casa.
Segundo o art. 188, II, do Código Civil, a postura de destruir o muro da casa a fim de evitar
atingir a criança, ou seja, com o objetivo de remover perigo iminente, é considerada uma
conduta lícita, portanto, em harmonia com o ordenamento jurídico (e não contrária ao
ordenamento jurídico…).
Porém, o art. 929 do Código Civil esclarece que o motorista, nesse exemplo, mesmo
diante de uma conduta lícita, deve indenizar o proprietário da casa (aquele que sofreu
prejuízo):
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo,
assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.
Dano
O dano, definido como a lesão a um interesse jurídico tutelado, seja ele patrimonial ou
não, emerge como condição indispensável para a existência da obrigação de reparar.
Nessa linha, tanto na responsabilidade contratual quanto na extracontratual, objetiva ou
subjetiva, a ocorrência de um dano é indispensável para que se possa falar em
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subjetiva, a ocorrência de um dano é indispensável para que se possa falar em
indenização.
O dano, entendido em sua essência, pode manifestar-se de diversas formas, abarcando
tanto prejuízos de natureza patrimonial quanto aqueles que afetam direitos
personalíssimos, tais como os direitos da personalidade, destacando-se aqui o dano
moral.
A jurisprudência e a doutrina contemporâneas têm ampliado o escopo de compreensão
do dano, reconhecendo a importância de proteger não apenas o patrimônio
economicamente mensurável, mas também valores inerentes à dignidade humana.
A Constituição Federal de 1988 e o Código Civil, em seu artigo 186, sublinham a
possibilidade de reparação de danos morais, independentemente da existência de danos
patrimoniais.
Esse reconhecimento enfatiza a premissa de que o indivíduo, e não apenas seu
patrimônio, situa-se no cerne do ordenamento jurídico, demandando uma tutela ampla
que transcende o mero individualismo.
Para que um dano seja considerado indenizável, é necessário que cumpra com certos
requisitos mínimos, estabelecidos pela teoria da responsabilidade civil. Entre estes,
destacam-se:
Violação de um interesse jurídico: Todo dano indenizável pressupõe a agressão a um
bem juridicamente tutelado, seja ele de natureza patrimonial ou moral. O dano,
portanto, origina-se da violação de direitos que o ordenamento jurídico protege,
reforçando o entendimento deque a reparação visa restituir a vítima ao estado anterior à
lesão, na medida do possível.
1.
Certeza do dano: A indenizabilidade requer que o dano seja certo, ou seja, que haja uma
efetiva lesão ao bem jurídico protegido. Não são consideráveis para reparação danos
hipotéticos ou abstratos. A certeza do dano refere-se à sua existência concreta, podendo
abranger tanto prejuízos já materializados quanto aqueles cujos efeitos se projetam no
futuro.
2.
Subsistência do dano: Para que haja a obrigação de reparar, é imprescindível que o dano
subsista no momento de sua exigência judicial. Caso o dano já tenha sido reparado pelo
agente causador ou de outra forma não subsista, não se justifica a demanda por
indenização.
3.
Espécies de Dano
A classificação tradicional divide os danos em patrimoniais e morais, sendo o primeiro
referente a lesões a bens e direitos com valor econômico e o segundo vinculado a
prejuízos que afetam aspectos da personalidade ou da dignidade humana.
O dano patrimonial pode ser detalhado em dano emergente e lucros cessantes.
O dano emergente refere-se ao efetivo prejuízo sofrido pela vítima, enquanto os lucros
cessantes dizem respeito ao que ela razoavelmente deixou de ganhar em função do
dano.
Conforme estabelece o artigo 403 do Código Civil, a indenização por atos ilícitos deve
cobrir apenas os prejuízos diretos e imediatos decorrentes da conduta do agente
causador do dano, excluindo-se os danos remotos.
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e
danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito
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https://direitodesenhado.com.br/direitos-da-personalidade/
danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito
dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.
Além dos danos patrimonial e moral, a jurisprudência e a doutrina têm reconhecido
outras espécies de danos, ampliando o espectro da reparabilidade.
Entre essas, destaca-se o dano estético, reconhecido autonomamente pela Súmula 387
do Superior Tribunal de Justiça, que permite a cumulação das indenizações por dano
estético e moral.
O dano estético vincula-se à lesão ao direito de imagem, protegido constitucionalmente
pelo inciso V do art. 5º da Constituição Federal.
Recentemente, outras categorias têm ganhado reconhecimento, como o dano
existencial, relacionado à interferência prejudicial em um projeto de vida, causando um
“vazio existencial”, e o dano social, que repercute além do âmbito individual, afetando a
qualidade de vida em sociedade.
Ambos refletem a tendência do direito civil moderno de se despatrimonializar, dando
atenção a bens jurídicos personalíssimos e à sua proteção.
Sobre esse tema, eu recomendo vc assistir a nossa aula sobre Direito Civil
Constitucional (do curso de Direito Civil Desenhado) e sobre Neoconstitucionalismo (do
Curso de Direito Constitucional Desenhado).
Outra espécie de dano abordada pela doutrina é o dano reflexo (ou em ricochete).
Este tipo de dano caracteriza-se pelo prejuízo sofrido indiretamente por terceiros, que,
embora não sejam o alvo principal da ação ou omissão ilícita, acabam sendo afetados de
forma significativa por ela.
A aplicação do conceito de dano reflexo é vasta e pode abranger diversas situações,
como nos casos de morte ou incapacidade de um provedor familiar, acarretando
prejuízos aos dependentes econômicos. Outro exemplo seria o dano moral sofrido por
familiares próximos de uma vítima de difamação ou injúria grave.
A caracterização do dano reflexo exige a comprovação de alguns elementos essenciais,
conforme se depreende da doutrina e jurisprudência:
Existência de um dano direto: deve haver um evento danoso que afete diretamente uma
pessoa.
1.
Relação de proximidade com a vítima direta: o requerente da indenização deve ter uma
ligação estreita com a vítima direta, seja por laços familiares, afetivos ou econômicos.
2.
Reflexo do dano na esfera do requerente: é imprescindível que o dano sofrido pela vítima
direta reflita negativamente na vida do requerente, causando-lhe prejuízos materiais ou
imateriais.
3.
Dano comprovado e quantificável: o prejuízo sofrido pelo requerente deve ser certo, ou
seja, de existência comprovada e quantificável, quando aplicável.
4.
Nexo de Causalidade
Três principais teorias buscam explicar o nexo de causalidade:
Teoria da equivalência das condições;1.
Teoria da causalidade adequada;2.
Teoria da causalidade direta ou imediata.3.
Cada uma dessas teorias oferece uma perspectiva diferente sobre como determinar a
existência de uma relação causal entre a ação e o resultado.
Teoria da Equivalência das Condições
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https://direitodesenhado.com.br/direito-civil-constitucional/
https://direitodesenhado.com.br/direito-civil-constitucional/
https://direitodesenhado.com.br/neoconstitucionalismo/
https://direitodesenhado.com.br/morte-no-direito-civil/
Teoria da Equivalência das Condições
Esta teoria, originária do Direito Alemão, postula que são consideradas causas todos os
antecedentes que, de alguma forma, contribuíram para o resultado danoso, sem a
necessidade de hierarquizar ou diferenciar a importância de cada uma dessas condições.
A principal crítica a esta teoria é a possibilidade de uma ampliação desmedida das
causas, levando a uma responsabilização excessiva e, por vezes, injusta.
Teoria da Causalidade Adequada
Essa teoria propõe um critério mais seletivo, considerando causa somente o antecedente
que, segundo um juízo de probabilidade e adequação, seria capaz de produzir o
resultado danoso.
Este conceito se afasta da ideia de que qualquer condição contribuinte possa ser vista
como causa, limitando a responsabilização aos antecedentes que realisticamente teriam
a capacidade de levar ao resultado observado.
Teoria da Causalidade Direta ou Imediata
Esta teoria busca uma abordagem menos abstrata e mais concreta do nexo causal.
Na prática, essa teoria foca nos antecedentes que possuem uma ligação direta e
imediata com o resultado.
Apenas os eventos que, de forma necessária, conduziram ao resultado são considerados.
No Brasil, o art. 403 do Código Civil reflete essa concepção ao limitar as perdas e danos
às consequências que sejam efeito direto e imediato do ato, alinhando-se à teoria da
causalidade direta ou imediata.
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os
lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.
Causas Concorrentes
A concorrência de causas é um conceito jurídico importante no contexto da
responsabilidade civil, tratando-se de uma situação em que tanto a ação do agente
causador do dano quanto a atuação da vítima contribuem para a ocorrência do evento
danoso.
Este conceito é abordado no Código Civil brasileiro e tem implicações específicas
quando aplicado no âmbito do Direito do Consumidor, conforme regido pelo Código de
Defesa do Consumidor (CDC).
No cenário geral da responsabilidade civil, conforme delineado pelo artigo 945 do Código
Civil, quando a vítima contribui de alguma forma para o evento danoso, a quantificação
da indenização deve considerar a gravidade de sua culpa em comparação com a do
autor do dano.
Isso significa que a indenização pode ser reduzida proporcionalmente à contribuição
culposa da vítima no ocorrido.
Essa disposição introduz no ordenamento jurídico um mecanismo de equidade,
permitindo que a responsabilidade pelo dano seja distribuída de forma mais justa entre
as partes envolvidas, de acordo com a sua participação no prejuízo.
Por outro lado, no Direito do Consumidor, a teoria da concorrência de causas possui um
tratamento distinto.
De acordo com o artigo 12, § 3°, III, da Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor),
a responsabilidadedo fornecedor de produtos ou serviços só é excluída no caso de culpa
Página 12 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
a responsabilidade do fornecedor de produtos ou serviços só é excluída no caso de culpa
exclusiva do consumidor.
Dessa forma, mesmo havendo contribuição culposa do consumidor para o evento
danoso, tal fato não exime o fornecedor da obrigação de indenizar, a menos que se
configure a culpa exclusiva do consumidor.
Esse princípio visa reforçar a proteção ao consumidor, assegurando que a
responsabilidade pelos danos decorrentes de produtos ou serviços defeituosos seja
assumida pelos fornecedores, salvo nos casos em que a culpa da vítima é a única
causadora do dano.
Concausas
As concausas ocorrem quando duas situações coexistem para a existência de um
resultado
As concausas podem ser categorizadas com base em sua relação temporal e
independência em relação à conduta do agente:
Concausas Preexistentes: São aquelas que já existiam antes da ação ou omissão que
desencadeou o evento danoso. Geralmente, não eximem o agente da responsabilidade,
pois a sua ação ou omissão contribui para a materialização do dano, mesmo que haja
outros fatores preexistentes.
1.
Concausas Concomitantes: Acontecem ao mesmo tempo que a ação ou omissão do
agente. Assim como as preexistentes, normalmente não afastam o nexo causal, uma vez
que a conduta do agente é considerada um fator contribuinte para o dano.
2.
Concausas Supervenientes: Surgem após a ação ou omissão inicial do agente e podem
ou não interromper o nexo causal, dependendo de sua independência em relação à
conduta do agente. Se a concausa superveniente for totalmente independente e por si só
capaz de causar o dano, pode-se romper o nexo causal, excluindo ou atenuando a
responsabilidade do agente inicial.
3.
A distinção entre concausas superveniente absolutamente independentes e
relativamente independentes é crucial.
Imagine, por exemplo, que um motorista está conduzindo seu carro e, por imprudência,
acaba atropelando uma pessoa que quebra o braço. A pessoa é socorrida e levada de
ambulância para o hospital. No dia, chovia muito e, durante o percurso para o hospital,
um raio atinge uma arvore que despenca sobre a ambulância e, por esse motivo, a
pessoa com braço quebrado vem a óbito.
Neste cenário, o acidente com a ambulância constitui uma concausa absolutamente
independente, visto que é um evento completamente desvinculado da conduta do
motorista que causou o acidente de trânsito.
Por ser um acontecimento externo e imprevisível, que por si só determina o resultado
final (a morte da vítima), essa concausa pode romper o nexo causal em relação ao dano
final (morte), afetando a responsabilização do motorista, que poderia ser
responsabilizado apenas pelas lesões causadas pelo acidente, e não pela morte da
vítima.
A concausa absolutamente independente têm o potencial de romper o nexo causal, pois
não guardam relação com a conduta do agente, sendo capaz de produzir, por si só, o
resultado danoso.
Por outro lado, as concausas relativamente independentes, mesmo que surjam no curso
dos eventos, não rompem o nexo causal se não forem exclusivamente determinantes do
dano, mantendo a responsabilidade do agente pela sua contribuição ao resultado.
Página 13 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
dano, mantendo a responsabilidade do agente pela sua contribuição ao resultado.
Um exemplo de concausa relativamente independente pode ser ilustrado no contexto de
um acidente de trabalho. Imagine um trabalhador que sofre uma queda devido a uma
estrutura inadequada no local de trabalho, resultando em lesões graves. No momento do
acidente, descobre-se que o trabalhador tinha uma condição médica preexistente, como
uma doença óssea rara, que fez com que suas lesões fossem significativamente mais
graves do que seriam em uma pessoa sem essa condição.
Neste caso, a estrutura inadequada é a causa direta do acidente, enquanto a condição
médica preexistente do trabalhador atua como uma concausa relativamente
independente.
A condição médica preexistente não tem relação direta com as condições inseguras do
local de trabalho, mas contribui para a gravidade das lesões de forma independente.
Embora a condição médica por si só não causaria o dano (o trabalhador não teria se
lesionado se não tivesse caído), ela influencia o resultado final de maneira significativa.
Nesse contexto, a responsabilidade pelo acidente pode ainda recair sobre o empregador
por não fornecer um ambiente de trabalho seguro.
Espécies de Responsabilidade
Responsabilidade Civil Subjetiva
Na responsabilidade civil subjetiva, a culpa é o elemento central.
A necessidade de provar a culpa do agente causador do dano implica que a vítima deve
demonstrar não apenas o dano sofrido, mas também a ligação causal entre a conduta do
agente e o prejuízo experimentado.
Isso está consagrado no art. 186 do Código Civil, que estabelece a obrigação de reparar o
dano causado por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência.
Em certos casos, a lei ou a jurisprudência permite a presunção de culpa, invertendo o
ônus da prova e facilitando a tarefa da vítima em demonstrar a responsabilidade do
agente.
Ainda assim, o princípio básico da responsabilidade subjetiva é que cada um deve arcar
com as consequências de seus atos culposos.
O Direito subdivide a culpa nas seguintes espécies:
Culpa in vigilando;1.
Culpa in eligendo;2.
Culpa in custodiendo;3.
Culpa in Comittendo e Culpa in Omitting4.
A culpa in vigilando é caracterizada pela falta de vigilância ou supervisão sobre terceiros,
cujas ações resultam em danos.
Um exemplo clássico seria a responsabilidade dos pais pelos atos dos filhos menores.
No entanto, vale frisar, o Código Civil, em seu art. 932, inciso I, estabelece uma
responsabilidade objetiva dos pais, eliminando a necessidade de comprovação da culpa.
Em paralelo, a culpa in eligendo refere-se à má escolha de terceiros (empregados ou
prepostos), cujas ações causam prejuízos.
Embora tradicionalmente relevante, o art. 932, inciso III do Código Civil de 2002 adota a
responsabilidade objetiva também aqui, minimizando a importância prática da culpa in
eligendo.
A culpa in custodiendo é similar à culpa in vigilando, mas aplica-se à guarda de coisas ou
animais.
Página 14 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
animais.
Com a adoção da responsabilidade civil objetiva pelo Código Civil de 2002, essa
modalidade de culpa também perdeu destaque, mantendo-se mais como uma
construção teórica.
A culpa in comittendo (ou in faciendo), por sua vez, ocorre quando há uma ação positiva
que viola um dever jurídico, ao passo que a culpa in omitting (ou non faciendo)
manifesta-se pela omissão ou negligência em cumprir um dever de cuidado.
Responsabilidade Civil Objetiva
A responsabilidade civil objetiva, por outro lado, independe da análise de culpa.
O foco recai sobre a existência de um dano e a relação de causalidade entre o dano e a
atividade exercida pelo agente.
Esse tipo de responsabilidade é tipicamente aplicado em situações onde a atividade
desenvolvida pelo agente implica um risco inerente, justificando uma proteção ampliada
à vítima.
Um exemplo dessa aplicação é encontrado no parágrafo único do art. 927 do Código
Civil, que estipula a obrigatoriedade de reparação do dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei ou quando a atividade desenvolvida pelo autor do
dano, por sua natureza, acarreta risco para terceiros.
Observe o que aponta o dispositivo:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
Diferenciação entre ResponsabilidadeContratual
e Extracontratual (ou aquiliana)
A diferença entre a responsabilidade civil contratual e a responsabilidade civil
extracontratual (ou aquiliana) reside fundamentalmente na origem do dever jurídico
violado que conduz à obrigação de reparar o dano.
Enquanto a responsabilidade civil contratual emerge do descumprimento de obrigações
previamente estabelecidas em um contrato, a responsabilidade civil extracontratual
origina-se da violação de um dever geral imposto pela lei, que é o de não causar dano a
outrem.
Na responsabilidade civil contratual, o vínculo entre as partes surge da existência de um
contrato que estabelece obrigações específicas cujo descumprimento gera a
necessidade de reparação.
Conforme estipulado pelos artigos 389 e seguintes, e 395 e seguintes do Código Civil
brasileiro, neste tipo de responsabilidade, presume-se a culpa do devedor pelo simples
fato do descumprimento da obrigação, cabendo a ele provar que sua falha não se deu
por culpa sua ou que ocorreu alguma causa excludente de responsabilidade.
Essa presunção de culpa facilita a tarefa do credor na comprovação do dano e na
reivindicação de sua reparação.
Por outro lado, na responsabilidade civil extracontratual, também conhecida como
aquiliana, a relação jurídica não se origina de um contrato, mas sim do ato ilícito que
viola um dever legal de não prejudicar ninguém.
Baseada nos artigos 186 a 188 e 927 e seguintes do Código Civil, essa modalidade de
Página 15 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Baseada nos artigos 186 a 188 e 927 e seguintes do Código Civil, essa modalidade de
responsabilidade exige que a vítima comprove a culpa do agente causador do dano.
O ônus da prova, portanto, recai sobre a vítima, que deve demonstrar não apenas o dano
sofrido, mas também a negligência, imprudência ou imperícia do agente.
Três principais diferenças podem ser destacadas entre essas duas formas de
responsabilidade civil:
Origem do Dever Jurídico: Na responsabilidade contratual, o dever violado surge de um
contrato; na responsabilidade extracontratual, origina-se de um dever geral de não
causar dano, imposto pela lei.
1.
Presunção de Culpa: Na responsabilidade contratual, a culpa é presumida com o
descumprimento da obrigação contratual. Na responsabilidade extracontratual, a vítima
deve provar a culpa do agente causador do dano.
2.
Capacidade: As regras sobre capacidade para contratar são aplicáveis na
responsabilidade contratual, exigindo-se, por exemplo, que menores púbere sejam
assistidos ou representados por seus responsáveis legais, ao passo que, na
responsabilidade extracontratual, a capacidade é regida pelas normas gerais do direito
civil.
3.
Qual a Função da Responsabilidade Civil
A doutrina aponta que a responsabilidade civil possui, em síntese, 3 funções principais:
Função Compensatória;1.
Função Punitiva;2.
Função Educativa (ou preventiva).3.
Vou falar sobre cada uma delas nos próximos tópicos…
Função Compensatória
A principal função da responsabilidade civil é compensar a vítima pelos danos sofridos,
procurando restabelecer, tanto quanto possível, o status quo ante.
Esta função se materializa pela obrigação de reparar o dano, seja por meio da restituição
do bem perdido ou, quando isso não é possível, pelo pagamento de uma quantia em
dinheiro que equivalha ao prejuízo causado.
Este princípio está fundamentado no artigo 927 do Código Civil Brasileiro, que estabelece
que aquele que por ato ilícito (atos cometidos com negligência, imprudência ou
imperícia) causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Função Punitiva
Embora a finalidade primária da responsabilidade civil não seja punir o causador do
dano, a imposição de uma reparação financeira ou outra forma de compensação exerce,
indiretamente, um efeito punitivo.
Este efeito é justificado pela necessidade de desencorajar o comportamento negligente
ou imprudente, demonstrando que tais atitudes terão consequências.
Vale destacar que essa função punitiva não se confunde com as sanções do Direito Penal,
pois seu objetivo não é apenas punir, mas principalmente promover a reparação do
dano.
Função Educativa ou Preventiva
A terceira função da responsabilidade civil é educativa, visando prevenir a ocorrência de
novos danos por meio da conscientização sobre as consequências das ações individuais.
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novos danos por meio da conscientização sobre as consequências das ações individuais.
Ao tornar públicas as sanções impostas por comportamentos danosos, a
responsabilidade civil desencoraja não apenas o ofensor, mas também a sociedade em
geral, de cometer atos semelhantes.
Esse aspecto educativo contribui para o fortalecimento de uma cultura de respeito aos
direitos alheios e ao cumprimento das obrigações sociais.
Formas de Reparação do Dano
A reparação de danos pode se dar de duas formas principais: pela reposição
natural ou por compensação pecuniária.
A reposição natural, que visa restituir o bem ao estado em que se encontrava antes do
dano, é considerada a forma mais adequada de reparação.
Contudo, na prática, essa modalidade de reparação é rara, principalmente por conta da
dificuldade ou impossibilidade de retorno ao status quo ante.
Desse modo, a compensação pecuniária, que envolve o pagamento de uma quantia
monetária correspondente ao valor do dano, emerge como a forma mais comum de
indenização.
O Direito Civil, em seu esforço para adequar as formas de reparação às especificidades
dos danos, estabelece distinções relevantes entre danos patrimoniais e danos morais.
No caso de danos patrimoniais, onde há a aferição de prejuízos a bens de valor
monetário comensurável, a reparação pode ser realizada tanto pela reposição natural
quanto pela compensação pecuniária.
Já nos danos morais, que afetam bens de ordem pessoal e imaterial, como a honra e a
dignidade, a reposição natural mostra-se inviável.
Aqui, a compensação pecuniária assume um papel de relevância, não apenas como
forma de indenização, mas como um meio de proporcionar ao lesado uma satisfação
compensatória, atenuando as consequências do dano sofrido.
Causas Excludentes da Responsabilidade e
Cláusula de Não Indenizar
Há situações específicas nas quais a responsabilidade civil pode ser afastada, ou seja,
circunstâncias que impedem a imputação de responsabilidade ao agente causador do
dano. São elas:
Estado de Necessidade;1.
Legítima Defesa;2.
Exercício Regular de Direito e Estrito Cumprimento do Dever Legal3.
Caso Fortuito e Força Maior;4.
Culpa exclusiva da vítima;5.
Fato de terceiro.6.
Vou, a partir de agora, falar sobre cada um deles.
Estado de Necessidade
O conceito de estado de necessidade, como previsto no Código Civil brasileiro,
especificamente no inciso II do artigo 188, destaca-se como uma das excludentes de
ilicitude, reconhecendo situações em que a deterioração ou destruição de uma coisa
alheia, ou a lesão a pessoa, podem não constituir atos ilícitos quando realizadas com o
objetivo de remover um perigo iminente.
Página 17 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
objetivo de remover um perigo iminente.
A norma é clara ao estabelecer que tal ato será considerado legítimo apenas quando as
circunstâncias demonstrarem ser absolutamente necessário, e que não exceda os limites
indispensáveis para a remoção do perigo.
Essencialmente, o estado de necessidade surge como uma colisão de interesses
juridicamente protegidos, onde a ação tomada visa proteger um bem jurídico de igual ou
maior valor do que aquele que é sacrificado.
A doutrina e a jurisprudência têm enfatizado a importância da proporcionalidade e da
necessidade absoluta como critérios para a configuração do estado de necessidade,
reforçando que qualquer excesso cometido pelo agente pode acarretar em
responsabilização.
Diferenteda legítima defesa, que pressupõe uma reação a uma agressão injusta, o
estado de necessidade caracteriza-se pela ação preventiva ou de afastamento de um
perigo não causado pelo agente ou pela vítima do ato.
É oportuno mencionar que, ainda que agindo sob o manto do estado de necessidade, o
agente pode ser obrigado a reparar o dano causado, especialmente se o terceiro
prejudicado não tiver qualquer responsabilidade pela situação de perigo gerada.
O Código Civil, nos artigos 929 e 930, trata da possibilidade de indenização por parte do
agente que agiu em estado de necessidade e da subsequente ação regressiva contra o
verdadeiro causador do perigo.
Legítima Defesa
A legítima defesa constitui uma das excludentes de ilicitude mais relevantes no Direito
Civil, conforme estipulado no artigo 188, inciso I, do Código Civil.
Este dispositivo legal estabelece que não se consideram atos ilícitos aqueles praticados
em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido.
A distinção fundamental entre a legítima defesa e outras formas de excludentes de
ilicitude, como o estado de necessidade, reside na natureza da reação a uma agressão.
No caso da legítima defesa, esta reação é frente a uma agressão injusta, atual ou
iminente, seja contra o próprio indivíduo ou terceiro, justificando-se, assim, a defesa de
interesses juridicamente protegidos.
Para que a conduta seja considerada legítima defesa, é necessário que a reação seja
proporcional à agressão recebida, não excedendo os meios necessários para repelir tal
agressão. A moderação na defesa é crucial, pois o uso de meios desproporcionais ou
desnecessários caracteriza o excesso, o qual não é amparado pelo direito.
Além disso, a legislação civil brasileira reconhece a figura da legítima defesa putativa.
Trata-se de uma situação em que o agente, equivocadamente, acredita estar sob uma
agressão iminente e reage a essa suposta ameaça.
Mesmo que a agressão não seja real, a conduta em resposta a uma percepção
equivocada ainda é considerada, no âmbito penal, sob a ótica da exclusão
da culpabilidade.
Falamos bastante do tema quando estudamos a legítima defesa no curso e Direito Penal
Desenhado.
No entanto, no âmbito civil, o autor da legítima defesa putativa não é isentado da
responsabilidade de indenizar o dano causado, visto que a conduta, embora amparada
por uma percepção equivocada, não exclui o caráter ilícito do ato.
Exercício Regular de Direito e Estrito Cumprimento do Dever Legal
Página 18 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
https://direitodesenhado.com.br/culpabilidade-direito-penal/
https://direitodesenhado.com.br/legitima-defesa-direito-penal/
De acordo com o art. 188, inciso I, do Código Civil, não constitui ato ilícito o exercício
regular de um direito reconhecido.
Esse dispositivo legal estabelece que a atuação dentro dos limites impostos pelo
ordenamento jurídico, para o exercício de um direito, está protegida e não pode ser
considerada como violação legal.
Isso significa que, se alguém age amparado pela lei ou por autorização legítima — como
no caso da prática de atividades esportivas que, por sua natureza, possam acarretar
riscos físicos —, sua ação está justificada legalmente, desde que não ultrapasse os limites
do razoável.
Por outro lado, o conceito de abuso de direito, previsto no art. 187 do Código Civil, surge
como limitador ao exercício desses direitos.
Esse dispositivo pontua que a prática de um ato, mesmo que em teoria amparado por
um direito, pode ser considerada ilícita se exceder manifestamente os limites impostos
pela finalidade econômica ou social, pela boa fé ou pelos bons costumes.
Este conceito busca evitar que o exercício de um direito se converta em instrumento de
prejuízo a outrem sem justificativa plausível, focando na necessidade de que os direitos
sejam exercidos de maneira a não contrariar os interesses coletivos e a ordem social.
Em paralelo ao exercício regular de direito, temos o estrito cumprimento do dever legal…
Tal como o exercício regular de um direito, o estrito cumprimento do dever legal é uma
excludente de ilicitude.
Esta previsão legal implica que atos praticados por um indivíduo, sob a exigência de
cumprir uma determinação legal ou judicial, estão igualmente amparados e justificados,
não gerando responsabilidade civil.
É o que ocorre, por exemplo, em relação ao agente policial que, para cumprir uma ordem
judicial, necessita entrar em uma residência, mesmo sem o consentimento do
proprietário.
Caso Fortuito e Força Maior
Tanto o caso fortuito quanto a força maior referem-se a eventos externos, imprevisíveis,
ou, ainda que previsíveis, são inevitáveis, de modo que impossibilitam a execução de
uma obrigação ou causam dano sem que haja culpa do agente.
Esses eventos rompem o nexo causal entre a ação do agente e o dano ocorrido,
excluindo a responsabilidade.
O caso fortuito caracteriza-se por sua imprevisibilidade, enquanto a força maior destaca-
se pela inevitabilidade de seus efeitos, mesmo que sua causa seja conhecida.
Quanto à responsabilidade civil objetiva, a incidência de caso fortuito ou força maior
exige análise cuidadosa do nexo causal e dos elementos constitutivos da
responsabilidade civil, como a conduta humana, o nexo causal e o dano.
A autonomia da vontade permite que partes em um contrato possam, expressamente,
assumir o risco por eventos de caso fortuito ou força maior, alterando assim a regra geral
de não responsabilização prevista no Código Civil.
A responsabilidade civil do Estado também merece atenção especial, especialmente no
que tange à distinção entre caso fortuito interno e externo, conforme a origem do evento
que causou o dano.
Enquanto o caso fortuito interno, gerado pela própria atividade da Administração, pode
acarretar responsabilização estatal devido ao princípio do risco administrativo, o caso
fortuito externo, advindo de terceiros ou da natureza, geralmente não implica
responsabilidade civil do Estado, salvo em regimes de responsabilidade ampliada
Página 19 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
responsabilidade civil do Estado, salvo em regimes de responsabilidade ampliada
baseados no risco social.
Culpa Exclusiva da Vítima
Quando um dano é causado exclusivamente por ação ou omissão da própria vítima, o
agente causador do dano inicial (ou potencialmente causador) é isento de
responsabilidade.
No Direito Civil, a responsabilidade civil é geralmente estabelecida pelo Código Civil, em
seus artigos 186 e 927, os quais dispõem que aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito, estando sujeito à reparação do dano.
No entanto, a responsabilidade civil pressupõe a existência de um nexo causal entre a
conduta do agente e o dano experimentado pela vítima.
Quando esse nexo é interrompido pela culpa exclusiva da vítima, a responsabilidade do
agente é excluída.
Imagine, por exemplo, que um indivíduo se lança intencionalmente na frente de um
veículo que está seguindo todas as regras de trânsito.
Nessa situação, é evidente que o condutor do veículo não pode ser responsabilizado pelo
dano ocorrido, uma vez que a ação da vítima é o único fator causal do evento danoso.
Fato de Terceiro
O fato de terceiro consiste em uma intervenção de uma pessoa alheia à relação jurídica
principal, cuja ação é a causa exclusiva do dano.
Tal como a culpa exclusiva da vítima, essa circunstância exclui o nexo causal entre o
comportamento do agente inicialmente responsabilizado e o dano, afastando sua
responsabilidade.
A jurisprudência brasileira, como exemplificado pela Súmula 187 do Supremo Tribunal
Federal, demonstra uma interpretação em que, em certos contextos, como no caso de
transportadores, a responsabilidade não é eximida pela intervenção de terceiros,
especialmente devido à natureza da obrigação de segurançaassumida pelo
transportador.
Este entendimento sublinha a expectativa de que determinadas atividades, mesmo
afetadas por ações de terceiros, não isentam o prestador do serviço de sua
responsabilidade final de garantir a integridade dos seus clientes.
Em contrapartida, há situações em que o fato de terceiro é considerado suficiente para
romper o nexo causal e excluir a responsabilidade do agente inicial do dano.
Isso ocorre, por exemplo, quando a ação do terceiro é completamente independente e
imprevisível, e o agente não tinha como evitar as consequências daquela ação.
Argumenta-se que, se o dano causado por um terceiro for imprevisível e inevitável, e não
houver contribuição de culpa por parte do agente inicial, a responsabilidade pode ser
excluída, equiparando-se, assim, ao caso fortuito ou força maior.
No entanto, a atribuição da responsabilidade em casos envolvendo fatos de terceiros
permanece um tema desafiador na jurisprudência, com decisões variadas refletindo
diferentes interpretações dos princípios da responsabilidade civil.
Em muitas situações, o ônus da prova recai sobre o agente do dano, que deve
demonstrar que sua ação foi apenas um instrumento involuntário no processo que levou
ao prejuízo, não tendo, portanto, responsabilidade direta sobre o evento danoso.
Responsabilidade Civil por Ato de Terceiro
Página 20 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Responsabilidade Civil por Ato de Terceiro
Historicamente, a responsabilidade civil por ato de terceiro estava condicionada à
demonstração da culpa ou negligência do responsável pelo terceiro causador do dano.
Tal exigência refletia uma concepção que, embora visasse proteger a vítima, acabava por
impor-lhe o ônus probatório da culpa do agente responsável pela guarda, vigilância ou
escolha do terceiro.
No entanto, a jurisprudência desempenhou papel fundamental na suavização dessa
rigidez, mediante a adoção de presunções de culpa, facilitando assim a reparação dos
danos sofridos pela vítima.
Especial destaque merece a Súmula 341 do Supremo Tribunal Federal, que estabeleceu
presunção de culpa do empregador pelos atos culposos de seus empregados ou
prepostos, representando uma importante mudança na atribuição de responsabilidade
civil por ato de terceiro.
Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, observou-se uma mudança
paradigmática na abordagem da responsabilidade civil por ato de terceiro.
Abandonando a dependência da demonstração de culpa, o novo diploma legal adotou
a teoria do risco, consagrando a responsabilidade objetiva nas situações previstas nos
artigos 932 e 933.
De acordo com o artigo 932, diversas categorias de responsáveis são elencadas,
incluindo pais por atos dos filhos menores, tutores e curadores, empregadores, dentre
outros.
O artigo 933, por sua vez, dispensa a prova de culpa para a responsabilização por atos
praticados pelos terceiros ali referidos, reforçando o caráter objetivo da responsabilidade
civil nesses casos.
O Código Civil de 2002 também estabeleceu a possibilidade de responsabilidade
solidária entre os responsáveis pelos atos de terceiros e os próprios autores dos danos,
conforme dispõe o parágrafo único do artigo 942.
Tal disposição amplia as opções da vítima na busca pela reparação civil, podendo
direcionar sua demanda tanto contra o autor direto do dano quanto contra o
responsável indireto.
Além disso, o artigo 934 contempla a possibilidade de direito de regresso pelo
responsável que efetuou o pagamento da indenização, contra aquele por quem se viu
obrigado a responder, salvo em casos específicos, como o impedimento de ação
regressiva contra descendentes incapazes.
Responsabilidade Civil dos Pais pelos Filhos Menores
O art. 932, inciso I, do Código Civil estabelece que os pais são responsáveis pela
reparação civil por atos praticados por filhos menores que estiverem sob sua autoridade
e companhia.
Conforme disposto no art. 933, para a responsabilização dos pais pelos atos de seus
filhos menores, não se faz necessária a análise de culpa, bastando a ocorrência do ato
danoso e a relação de autoridade e companhia.
Importante destacar também a previsão contida no artigo 928 do Código Civil, que
subverte a teoria tradicional da inimputabilidade dos menores impúberes.
O dispositivo legal introduz a possibilidade de responsabilização direta do incapaz pelos
prejuízos que causar, caso os responsáveis por ele não tenham a obrigação de indenizar
ou não disponham de meios suficientes para tanto.
Página 21 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
ou não disponham de meios suficientes para tanto.
Esta disposição busca assegurar a reparação à vítima, ao mesmo tempo em que
considera a situação econômica do incapaz e de sua família, visando não comprometer
seu sustento básico.
Responsabilidade Civil dos Tutores e Curadores pelos Tutelados e
Curatelados
Sob a ótica do Código Civil, tal matéria é disciplinada, entre outros, pelos art. 932, II, e
933, delineando um regime de responsabilidade por atos de terceiros que guarda
peculiaridades importantes.
O art. 932, II, do Código Civil estabelece expressamente que os tutores e curadores são
responsáveis pelos atos praticados pelos tutelados e curatelados, na medida em que
estes estejam sob sua autoridade e em sua companhia.
A responsabilidade prevista neste artigo fundamenta-se na ideia de que quem tem o
poder de direção e vigilância sobre outra pessoa deve responder pelos atos desta que
causem dano a terceiros.
Além disso, o art. 933 do mesmo código reforça essa responsabilidade ao estipular que
aqueles que houverem de responder por outrem responderão pelos atos deste,
independentemente de haver culpa de sua parte.
Essa norma consagra a responsabilidade civil objetiva do tutor ou curador, desvinculada
da necessidade de demonstração de culpa, embora permita o direito de regresso contra
o causador do dano, conforme previsto no art. 934.
A responsabilidade civil dos tutores e curadores não é, contudo, absoluta.
O Código Civil, em seu art. 928, introduz um mecanismo de equidade ao permitir que,
mesmo nos casos em que o incapaz cause um dano, se este possuir patrimônio próprio,
tal patrimônio poderá ser utilizado para o ressarcimento do dano, preservando-se um
mínimo para a sua subsistência.
Essa previsão busca equilibrar a proteção à vítima do dano com a garantia de que o
incapaz não seja desprovido dos meios mínimos de subsistência.
Responsabilidade Civil do Empregador ou Comitente, pelos Atos dos Seus
Empregados, Serviçais ou Prepostos
O Código Civil de 2002, em seu artigo 932, inciso III, estabelece que o empregador ou
comitente é responsável pelos atos praticados por seus empregados, serviçais ou
prepostos no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele.
Esta disposição legal consolida a aplicação da teoria do risco da atividade econômica,
segundo a qual aquele que se beneficia da atividade econômica deve responder pelos
riscos ou danos que essa atividade possa causar a terceiros.
Distinguem-se, nesse contexto, duas figuras centrais: o empregador, no âmbito de uma
relação de trabalho subordinada caracterizada por um vínculo empregatício, e o
comitente, em uma relação jurídica mais ampla que pode abarcar diversas formas de
contratação civil, tais como mandato, comissão, agência, distribuição, corretagem, e
representação comercial autônoma, como previsto nos artigos 653 a 729 do Código Civil
de 2002, além de ser regulamentada pela Lei nº 4.886/65 no caso específico da
representação comercial.
A responsabilização do empregador ou comitente decorre da existência de um negócio
jurídico celebrado com o autor material do dano, que, ao praticar a conduta lesiva no
exercício de suas funções ou em razão delas, gera a obrigação de reparar os danos
Página 22 de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
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https://direitodesenhado.com.br/teoria-geral-do-negocio-juridico/exercício de suas funções ou em razão delas, gera a obrigação de reparar os danos
causados.
Tal responsabilização está fundamentada na teoria da responsabilidade objetiva, que
prescinde da comprovação de culpa, bastando a existência do dano e do nexo causal
com a atividade exercida pelo agente.
Além disso, é importante notar a previsão do direito de regresso, conforme estabelecido
pelo artigo 934 do Código Civil, que permite ao empregador ou comitente ressarcir-se do
empregado, serviçal ou preposto causador do dano, especialmente em situações em que
o dano resulte de dolo ou culpa grave. Esta disposição encontra paralelo na
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mais especificamente no artigo 462, que regula
os descontos em salários por danos causados pelo empregado, condicionando-os à
existência de pactuação específica ou à ocorrência de dolo por parte do empregado.
Finalmente, cabe destacar a relevância dessa responsabilização no contexto processual,
inclusive trabalhista, onde o empregador ou comitente pode ser representado por
prepostos com conhecimento dos fatos relevantes para a lide, conforme o artigo 843, §
1º, da CLT.
Isso sublinha a importância da escolha adequada de prepostos, dado que suas
declarações podem vincular o empregador ou comitente, afetando diretamente o
resultado do processo.
Responsabilidade Civil do Donos de Hotéis, Hospedarias e
Estabelecimentos Educacionais por Ato dos seus Hóspedes, Moradores e
Educandos
No caso dos donos de hotéis e similares, o artigo 932, inciso III, do Código Civil estabelece
que são também responsáveis pela reparação civil, o empregador ou comitente, pelos
danos causados por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho
que lhes competir, ou em razão dele.
Até aqui, não há novidade, dado que o dono do hotel, hospedaria ou estabelecimento
educacional responde na qualidade de empregador.
O que merece atenção é que o dono de hotel, hospedaria ou estabelecimento
educacional responde também pelo ato dos hospedes, moradores e educandos.
É o que disciplina o art.
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
(…)
IV – os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de
educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
Tal responsabilidade é ampla e objetiva.
Responsabilidade Civil pelo Produto de Crime
O art. 932, inciso V, do Código Civil dispõe o seguinte:
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
(…)
V – os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.
A fundamentação para tal previsão legal reside na necessidade de evitar
o enriquecimento sem causa dos agentes ou beneficiários de um crime, garantindo que
os valores obtidos ilicitamente sejam devolvidos à vítima ou ao erário, conforme o caso.
Segundo o entendimento doutrinário, a participação gratuita nos produtos de um crime
implica uma obrigação de restituir o valor correspondente, reafirmando o princípio da
inadmissibilidade do enriquecimento sem causa.
Isso se fundamenta no princípio geral do direito segundo o qual o indevido deve ser
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Isso se fundamenta no princípio geral do direito segundo o qual o indevido deve ser
devolvido, visando a reposição do status quo ante, ou seja, a situação que existiria se o
ato ilícito (crime) não tivesse ocorrido.
Responsabilidade Civil das Pessoas Jurídicas
A base legal para a responsabilidade civil das pessoas jurídicas encontra-se no Código
Civil de 2002, especialmente nos artigos 186, 187, 927 e 931.
Estes dispositivos estabelecem que a pessoa jurídica deve responder pelos atos ilícitos
praticados em seu nome, seja em relação a obrigações contratuais (art. 389) ou
extracontratuais, seguindo o princípio do “neminem laedere“, que significa que a
ninguém se deve causar dano.
O artigo 931 do Código Civil traz uma disposição específica para pessoas jurídicas de
direito privado, principalmente as sociedades empresárias, estabelecendo a
responsabilidade objetiva pelos danos causados por produtos postos em circulação.
Esta norma harmoniza-se com as disposições do Código de Defesa do Consumidor, que
também prevê a responsabilidade objetiva do fornecedor pelos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços ou por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Responsabilidade Civil pelo Fato da Coisa ou do Animal
A questão central da responsabilidade civil pelo fato da coisa ou do animal gira em torno
da identificação do “guardião” e, consequentemente, do responsável pelos danos
ocasionados.
Esse conceito de guarda abrange não apenas o proprietário, mas também o possuidor
ou detentor do objeto ou animal no momento do evento danoso.
Observe o que dispõe o art.. 936 do Código Civil:
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força
maior.
A maneira como os animais são tratados por seus guardiões tem um impacto direto na
periculosidade que podem representar.
Contrariamente à visão de que determinadas raças de animais possuem uma
periculosidade inata, a realidade sugere que o comportamento nocivo destes
frequentemente deriva das condições de tratamento e criação impostas por seus donos.
A legislação brasileira, reconhecendo a complexidade dessa dinâmica, evoluiu para um
modelo de responsabilidade objetiva para os guardiões de animais, conforme
estabelecido pelo Código Civil.
O Código Civil de 2002 marcou um desvio importante em relação ao tratamento anterior
da responsabilidade civil pela guarda de animais.
Antes, conforme previsto no Código Civil de 1916, a responsabilidade do guardião
poderia ser afastada mediante a demonstração de que não houve negligência na guarda
ou vigilância do animal.
Contudo, o novo código adota um enfoque na teoria do risco, eliminando a necessidade
de demonstrar culpa para a atribuição de responsabilidade ao guardião.
Este só poderá se eximir de responsabilidade se provar a quebra do nexo causal por
culpa exclusiva da vítima ou por evento de força maior.
Quanto a responsabilidade civil pela ruína de edifício ou construção, temos o seguinte…
O art. 937 disciplina o tema:
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta
de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.
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de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.
Portanto, o dispositivo esclarece que o proprietário de um edifício ou construção é
responsável pelos danos resultantes de sua ruína, caso esta seja causada pela falta de
reparos necessários, cuja necessidade fosse manifesta.
Na prática, ao proprietário incumbe o dever de zelo e manutenção de sua propriedade,
de modo a prevenir danos a terceiros decorrentes de sua deterioração ou colapso.
A doutrina jurídica moderna tende a interpretar tal dispositivo sob a ótica da
responsabilidade objetiva, fundamentando-se na teoria do risco criado.
Sob esta perspectiva, entende-se que a atividade de manter um edifício ou construção
implica um risco inerente que, uma vez concretizado na forma de ruína ou colapso
estrutural, atrai a responsabilidade do proprietário pelos danos causados,
independentemente da comprovação de culpa.
De
Teoria da irresponsabilidade do Estado
Iniciamos esse resumo sobre responsabilidade civil do Estado,
falando da evolução histórica das responsabilidades assumidas pelo
Estado. E ele começa com a falta de responsabilização do Estado.A teoria da não responsabilização do Estado decorre da crença de
não contestar as atitudes do rei. Portanto entendia-se que o rei não
podia errar (“The king can do no wrong”).
Essa irresponsabilidade do Estado ocorreu durante o período
dos regimes absolutistas. E, então, com as ideias democráticas
começou a ruir.
Teoria da responsabilidade civil por atos de gestão
Inicialmente, a teoria da responsabilidade surge com base no direito
privado. Ou seja, o estado se equipara com os indivíduos. Por
isso, os danos causados a terceiros são indenizáveis conforme o
direito civil.
Mas, não eram todos os atos que exigiam essa equiparação. Havia
dois tipos de atos: os atos de império e os atos de gestão. Os atos de
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https://direitodesenhado.com.br/propriedade/
https://direitodesenhado.com.br/responsabilidade-civil/#Responsabilidade_Civil_Objetiva
dois tipos de atos: os atos de império e os atos de gestão. Os atos de
império são os atos realizados pelo Estado Soberano. Enquanto
nos atos de gestão, o Estado coloca-se em uma situação de
igualdade com o indivíduo.
Assim, a teoria considera que o Estado poderia ser responsável
apenas pelos atos de gestão.
Teoria da culpa civil
Após a superação da Teoria da responsabilidade dos Atos de gestão,
na qual havia dificuldade de distinguir os atos de gestão e os atos de
império, surgiu a teoria da culpa civil. Essa teoria também é
conhecida como a teoria da responsabilidade subjetiva.
Essa teoria é subjetiva porque depende da comprovação de dolo ou
culpa do agente estatal para responsabilização do Estado. Porém, o
terceiro lesado deve comprovar a culpa da administração.
Essa teoria ainda é vista na Inglaterra e nos Estados Unidos com
mais frequência.
Teoria da culpa administrativa
Na teoria da culpa administrativa, diferentemente da teoria anterior,
a culpa não é causada pelo agente. Ou seja, independe de culpa ou
dolo do agente para responsabilização do Estado.
Essa teoria foca na falta de responsabilidade com base no serviço.
Por isso, essa teoria se aplica em três situações: serviço não
funcionou, serviço não funcionou bem ou o serviço atrasou.
Ainda assim, cabe ao particular comprovar a existência dessas
possibilidades e reclamar pela indenização.
Teoria do risco administrativo
E, então, para continuar o resumo da responsabilidade civil do
Estado, veremos a teoria mais utilizada na administração pública
brasileira.
A teoria do risco administrativo representa o fundamento
da responsabilidade objetiva do Estado. Para gerar
responsabilidade do Estado, devem surgir três elementos: a conduta
administrativa, o dano e o nexo causal.
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Teoria do Risco Administrativo – Conduta, dano e nexo causal
Considera-se que, durante uma operação policial, uma viatura da
polícia colida com um carro de propriedade particular estacionado em
via pública. Nessa situação, a administração responderá pelos danos
causados ao veículo particular, ainda que se comprove que o
motorista da viatura policial dirigia de forma diligente e prudente.
No caso da teoria do risco administrativo, o Estado poderá eximir-se
da reparação em alguns casos específicos. Portanto, nessa teoria
há uma presunção de culpa da administração. Mas, é preciso que
o Estado comprove que determinada situação não foi sua culpa.
Causas excludentes ou atenuantes da responsabilidade do
Estado
A teoria do risco administrativo admite algumas hipóteses de exclusão
de responsabilidade civil. Portanto, são elas: Caso fortuito ou força
maior, culpa exclusiva da vítima e fato exclusivo de terceiro.
São considerados casos fortuitos ou força maior eventos humanos
ou da natureza dos quais não se poderia prever ou evitar. Por
exemplo: enchentes, terremotos, tsunamis, entre outros. Porém, vale
ressaltar que em casos de omissões culposas do Estado, pode-se
haver responsabilização subjetiva da administração.
Há também casos em que a culpa é exclusiva da vítima. Todavia, o
ônus da prova é do Estado. Há que se destacar que a culpa pode ser
exclusiva da vítima, o que não há que se falar em responsabilidade
do Estado. Ou atenuação da responsabilidade, quando há
concorrência de culpa.
E, por último, atos exclusivos de terceiros. Esse é o caso
de eventos com multidões ou muitas pessoas e não há controle da
situação. Nesse caso, o Estado só poderá ser responsabilizado de
forma subjetiva (com comprovação de culpa ou dolo) em casos de
omissões.
Por exemplo, se em um show de música houver violência durante o
evento, não há que se responsabilizar o Estado pelo caso. O Estado
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evento, não há que se responsabilizar o Estado pelo caso. O Estado
só poderia ser responsabilizado, se houvesse possibilidade do
controle da situação pelos policiais e os agentes se omitiram.
Teoria do risco integral
A teoria do risco integral também exige responsabilidade objetiva do
Estado. Porém, diferencia-se da teoria do risco administrativo, já que
neste caso não aceita excludentes na responsabilidade da
administração. Por isso, o Estado deve suportar os danos sofridos por
terceiros em qualquer hipótese.
Assim, mesmo que se comprove culpa exclusiva de terceiro ou força
maior, o Estado deverá ressarcir o particular pelos danos sofridos.
Sujeitos da responsabilidade civil do Estado
E para continuar o nosso resumo sobre responsabilidade civil do
Estado, falaremos sobre os sujeitos dessa responsabilidade.
No Brasil vigora a teoria da responsabilidade objetiva do Estado na
modalidade do risco administrativo. Portanto, a Constituição Federal
define quem deve seguir essa teoria: as pessoas jurídicas de
direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Responsabilidade direta
Portanto, os ditames constitucionais alcançam:
Autarquias e fundações públicas de direito público;•
Empresas públicas e sociedades de economia mista quando
prestarem serviço público;
•
Pessoas privadas que prestam serviço público por delegação
do Estado.
•
Logo, ressalta-se que Sociedade de economia mista exploradora de
atividade econômica será regida pelas normas do direito privado.
Quanto à responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas de
direito privado prestadoras de serviço público, o entendimento
atual do STF é que ela alcança os usuários e os não usuários do
serviço.
Responsabilidade indireta
Segundo a teoria do órgão, a atuação do agente público deve ser
imputada ao órgão que ele representa. Portanto, o terceiro que se
sentir prejudicado diante da atitude de um agente, deve procurar o
Estado para reaver os seus direitos.
Porém, o Estado tem o direito de regresso contra o agente
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Porém, o Estado tem o direito de regresso contra o agente
público. Mas, só pode ocorrer o direito de regresso no caso de o
agente público ter agido com culpa ou dolo. Ou seja, a
responsabilidade do agente público é sempre subjetiva.
Vamos exemplificar: no caso de um carro da polícia ter batido no
carro de José. José deve solicitar a responsabilização do Estado
pelos danos ocorridos na batida. E em caso de o Estado conseguir
provar que houve culpa ou dolo do agente público que estava
dirigindo a viatura, pode entrar com direito de regresso contra o
agente. Resumindo: a responsabilidade do Estado é
objetiva. O agente público responde subjetivamente.
Nesse caso exemplificado, uma ação gerou uma obrigação de
indenização por parte do Estado. É possível uma omissão gerar a
mesma responsabilidade?
Responsabilidade por omissão do Estado
A responsabilidade por omissão do Estado existe, mas deve ser
levada em consideração outra Teoria. Quando o ato que
determinou a responsabilização for uma ação do Estado, é usado
a Teoria