Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

AULA 1 
 PERÍCIA CONTÁBIL 
Prof. Michael Dias Corrêa 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Nesta aula, veremos os conceitos de perícia, ou seja, como esta pode ser 
relacionada às diferentes áreas do conhecimento humano. Adicionalmente, 
serão abordados os aspectos profissionais e técnicos ou ainda aqueles 
necessários para a operacionalização do trabalho do perito, seja em relação ao 
seu trabalho ou à sua pessoa. 
Posteriormente, serão apresentados os aspectos doutrinários, ou ainda 
relativos ao arcabouço dessa especialização da contabilidade. Esses serão 
seguidos dos aspectos processual e operacional que são também necessários 
para que a perícia possa ocorrer de forma prática. 
Por fim, será abordado um estudo de caso que apresenta as exigências 
em relação às formalidades da profissão e os passos que devem ser observados 
para que o profissional possa trabalhar como perito. 
TEMA 1 – CONCEITOS DE PERÍCIAS 
A perícia pode ser observada em diferentes áreas relacionadas ao 
conhecimento humano. Isso ocorre porque todos os âmbitos são passíveis de 
verificação e/ou contestação. 
Segundo Palombo (2012, p. 31), na área da saúde, por exemplo: 
Nos casos em que o objeto da perícia recai sobre a constatação ou 
avaliação de potenciais agentes capazes de ter provocado ou vir a 
provocar doenças, sequelas ou riscos à saúde, nada mais correto do 
que utilizar os serviços dos exercentes da profissão que detém a 
prerrogativa de cuidar, estudar, sanar ou tratar as doenças, ou seja, a 
de médico. Lógico, assim, que intitulemos a perícia como perícia 
médica. 
Ainda, segundo o autor, no caso específico da perícia contábil, é preciso 
relembrar que a Contabilidade em si é uma ciência, e, assim, utiliza-se de 
método científico que é aplicável a todas as ciências ou ainda possui 
metodologia própria. Já a perícia, por sua vez, entendida como uma 
especialização dessa ciência, tem grande influência, dessa ciência, ou seja, da 
contabilidade. 
Dessa forma, pode-se entender a perícia contábil segundo o que afirmam 
Magalhães et al. (2004), como um trabalho, de natureza específica, com rigor e 
profundida na execução. 
 
 
3 
A perícia contábil pode ser entendida, de forma adicional, como a busca 
pela geração de informações fidedignas confrontando o interesse de litigantes 
ou ainda por meio da requisição de interessados ou pelo meio judiciário, já que 
essa poderá ocorrer de diferentes formas. 
De acordo com o que é observado na A NBC TP 01 (R1) (CFC, 2016a), a 
perícia pode ser entendida da seguinte forma: 
2. A perícia contábil é o conjunto de procedimentos técnico-
científicos destinados a levar à instância decisória elementos de prova 
necessários a subsidiar a justa solução do litígio ou constatação de 
fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em 
conformidade com as normas jurídicas e profissionais e com a 
legislação específica no que for pertinente. 
Dias da Costa (2017) afirma que a perícia possui uma conexão como a 
instância decisória, por isso deve colocar o cliente como ator principal nesse 
processo. Nesse contexto, o perito atua como auxiliar da justiça, quando de 
realização de perícia contábil ou ainda na área jurídica. 
Essa definição está presente no CPC (Brasil, 2015) que apresenta esses 
profissionais da seguinte forma: 
Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições 
sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o 
escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o 
depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o 
conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador 
de avarias. 
Moura (2020), por sua vez, demonstra que a perícia contábil é um meio 
de prova pelo qual são verificados os fatos relacionados a uma certa causa ou 
lide. 
Para Sá (2019), a perícia contábil tem conexão com o reconhecimento de 
uma opinião, que é feita por meio do perito, ou seja, o profissional que atua na 
área. 
Hoog (2012) afirma que a utilização da opinião do perito é válida porque 
esse profissional possui notório conhecimento, saber e capacidade técnica que 
são comprovados de acordo com diversas etapas para que ele possa atuar na 
área. 
A perícia contábil ainda pode ser definida, conforme Sá (2019), como a 
que possui relação com qualquer procedimento necessário para a obtenção de 
uma opinião. Entre os procedimentos possíveis para esse processo estão: 
• arbitramentos; 
 
 
4 
• avaliações; 
• indagações; 
• investigações diversas; 
• vistorias; 
• exames; e 
• outras formas de obtenção de matéria para opinião e julgamentos. 
Sendo assim, a perícia ainda pode ser entendida como a necessidade de 
se conhecer algo, validada por meio da opinião de um especialista, seja do ponto 
de vista qualitativo ou quantitativo (Sá, 2019). 
Dessa forma, ainda de acordo com o autor, quando falamos de perícia 
judicial, de forma específica, ela visa servir de prova para que o juiz possa ser 
esclarecido sobre algum litígio que está sob julgamento, principalmente aqueles 
relacionados com os fatos relativos ao patrimônio de entidades ou de pessoas. 
Entende-se que na perícia judicial existe alguma coisa que precisa ser 
resolvida. Uma das possibilidades é um conflito entre as partes, e com o uso da 
perícia, dentro do âmbito do poder judiciário e com a determinação da perícia 
pelo juiz, serão discutidas as questões, e, posteriormente, serão resolvidas. 
Nesse caso, pode existir, por exemplo, um conflito de interesses ou 
qualquer discussão entre as partes. Uma situação comum é a ação de ex-
colaboradores contra e empresa. Nesse tipo de litígio existe a necessidade de 
intervenção judicial, com atuação do perito, para cálculos e atualizações. 
A perícia também ocorre na área extrajudicial, sem o conflito entre as 
partes, o que gera um encontro e resolução consensual entre os envolvidos. Um 
exemplo bastante comum é o uso desse tipo em fusão de empresas. 
A função da perícia, conforme Hoog (2014), é derivada da função social 
do conhecimento contábil, sendo que, segundo o autor, ela busca prover o 
equilíbrio da justiça. 
Ainda, segundo o autor, desempenhando essa função, a perícia ocorre 
como uma verdadeira prestação de serviço jurisdicional para os cidadãos, de 
forma ampla, independente de: 
• situação financeira; 
• política; 
 
 
5 
• raça; e 
• credo. 
Para que isso ocorra, a perícia só pode ser realizada por meio da 
independência, ligada à liberdade, seja ela científica, que é necessária para 
emitir a opinião do perito que deve ser imparcial sobre a matéria julgada. 
E é essa opinião do perito, conhecida como juízo de realidade, que não 
deverá ser confundida com juízo de valor, uma vez que está pautada na lógica 
da Ciência Contábil, ou seja, possui conotação científica para a sua emissão. 
A perícia tem em sua base, ou seja, o profissional irá utilizar para a 
emissão do laudo os conhecimentos científicos de outras áreas. Entre elas estão 
o Direito, a Administração, a Matemática, a Estatística, entre outras que irão 
auxiliar no pensamento científico. 
TEMA 2 – ASPECTOS PROFISSIONAIS E TÉCNICOS 
Do ponto de vista profissional, a perícia contábil está ligada 
exclusivamente aos profissionais que possuem conhecimentos na área. Nesse 
contexto, para exercer a função de perito contábil, que se obtenha o título de 
bacharel em Ciências Contábeis. Tal atribuição ocorreu no ano de 1946, por 
meio de promulgação da Lei n. 9.295 (Brasil, 1946). 
CAPÍTULO IV 
DAS ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS 
Art. 25. São considerados trabalhos técnicos de contabilidade: 
a) ...; 
b) ...; 
c) perícias judiciais ou extra-judiciais, revisão de balanços e de contas 
em geral, verificação de haveres revisão permanente ou periódica de 
escritas, regulações judiciais ou extra-judiciais de avarias grossas ou 
comuns, assistência aos Conselhos Fiscais das sociedades anônimas 
e quaisqueroutras atribuições de natureza técnica conferidas por lei 
aos profissionais de contabilidade. 
Art. 26. Salvo direitos adquiridos ex-vi do disposto no art. 2º do Decreto 
nº 21.033, de 8 de Fevereiro de 1932, as atribuições definidas na alínea 
c do artigo anterior são privativas dos contadores diplomados. 
Observa-se que já eram atribuições exclusivas técnicas de contabilidades 
as perícias tanto judiciais quanto extrajudiciais. No ano de 1983, com a resolução 
560 (CFC, 1983), outras atribuições foram adicionadas a esses profissionais, 
entre elas: 
• possibilidade de avaliação de acervos patrimoniais; 
• avaliação de haveres; e 
 
 
6 
• parecer em relação a fundos de comércio e participações em geral. 
Esses profissionais também podem desempenhar outras funções 
relativas a reorganizações societárias, assistências de conselhos fiscais, 
processos de concordatas, bem como docência. 
Entretanto, a categoria de técnico de contabilidade pode exercer tais 
funções. Logo, houve a promulgação da Lei n. 7.270 (Brasil, 1984). 
De acordo com a norma, observou-se o seguinte: 
Art. 1º - O art. 145 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código 
de Processo Civil, passa a vigorar acrescido de três parágrafos com a 
seguinte redação: 
“Art. 145 - 
§ 1º - Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível 
universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente, 
respeitado o disposto no Capítulo VI, seção VII, deste Código. 
§ 2º - Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que 
deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que 
estiverem inscritos (Brasil, 1984). 
§ 3º - Nas localidades onde não houver profissionais qualificados que 
preencham os requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação dos 
peritos será de livre escolha do juiz”. (Brasil, 1984). 
Assim, a partir da adoção dessa lei, somente os bacharéis em Ciências 
Contábeis, ou ainda, aqueles que tinham o grau universitário podiam exercer a 
perícia contábil. 
Depois de 2011, eles precisavam ser aprovados no exame do Conselho 
Federal de Contabilidade (CFC), com o devido registro no Conselho Regional de 
Contabilidade (CRC) de sua jurisdição, ou ainda da cidade em que atuavam. 
Novamente, no ano 2016, houve outra mudança, que culminou com a 
inserção da resolução n. 1.502 (CFC, 2016a). Esta passou a dispor de outra 
necessidade para que os profissionais atuassem na área em que era a inserção 
no Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC). 
Durante dois anos da criação do CNPC, o ingresso dos profissionais 
ocorria de forma simplificada, ou seja, era necessário somente o registro do CRC 
e comprovação de única atuação como perito do juízo ou ainda assistente ou 
perito particular (CRCBA, 2020). 
Porém, a pedido da classe, o prazo para inserção no CNPC foi alterado 
para 2017, e, por meio da Resolução n. 1.513 (CFC, 2016b), a partir do ano de 
2018, os profissionais teriam que fazer um teste denominado Exame de 
Qualificação Técnica (EQT) para que aí fizessem parte do CNPC. 
 
 
7 
Esse exame, observando a legislação vigente, visa, entre outros 
aspectos, medir o nível de conhecimento e da competência em relação aos 
conhecimentos técnico-profissionais para atuação na área de perícia contábil 
(CRCBA, 2020). 
Depois de devidamente aprovados e cadastrados no CNPC, os peritos 
poderiam participar de processos na justiça de acordo com suas especialidades 
e conhecimentos específicos. 
Para a manutenção desses conhecimentos específicos e de outros da 
área, adicionalmente, observa-se que os peritos, assim como diversos 
profissionais da área contábil, precisam cumprir o que é conhecido como 
Programa de Educação Profissional Continuada (PEPC), determinado de acordo 
com a NBC PG 12 (R3) (CFC, 2014): 
Campo de aplicação e obrigações dos profissionais 
4. A EPC é obrigatória para todos os profissionais da contabilidade 
que: 
[...] 
Peritos contábeis 
(j) estejam inscritos no Cadastro Nacional de Peritos Contábeis 
(CNPC) do CFC. (Incluída pela Revisão NBC 02) 
[...] 
Os profissionais referidos no item 4 devem cumprir, no mínimo, 40 
(quarenta) pontos de Educação Profissional Continuada por ano-
calendário. Dessa pontuação anual no mínimo 8 (oito) pontos devem 
ser cumpridos com atividades de aquisição de conhecimento, 
constantes da Tabela I, do Anexo II. (Alterado pela Revisão NBC 02) 
Esse processo de educação continuada que ocorre no PECP visa garantir 
que o profissional esteja sempre atualizado e o seu saber técnico científico 
alinhado com as constantes atualizações das legislações vigentes. 
A necessidade constante de conhecimento é demonstrada no Conselho 
Regional da Bahia (CRCBA, 2020) que afirma que os profissionais precisam 
observar os seguintes requisitos para que possam se manter atualizados: 
• conhecimento e atualização sobre a legislação e normas brasileiras de 
contabilidade; 
• entendimento específico da legislação ligada à matéria julgada; 
• domínio das normas relativas à perícia; 
• atualização em relação ao Código de Processo Civil (CPC) e de Processo 
Penal; 
• conhecimento das Leis de Trabalho (CLT); 
• entendimento da Lei de Arbitragem; e 
 
 
8 
• domínio, caso necessário, de outras normas e princípios relativos à 
matéria julgada. 
Dessa forma, o profissional deve estar em constante atualização e em 
busca de conhecimentos específicos para atuar na área de perícia já que esta 
exige notório saber para aqueles que desejam atuar nesse ramo. 
Do ponto de vista técnico, a perícia, conforme afirma Palombo (2012), está 
norteada por uma série de procedimentos e questões que permitem que ela 
ocorra de forma prática ou que o trabalho seja operacionalizado. 
Uma das primeiras necessidades em relação à questão técnica é a 
observância dos preceitos previstos na NBC TP 01 – (CFC, 2016c). Esta tem 
como objetivo: “1. Esta norma estabelece diretrizes e procedimentos técnico-
científicos a serem observados pelo perito, quando da realização de perícia 
contábil, no âmbito judicial e extrajudicial”. 
Ainda, de acordo com a NBC TP 01 – (CFC, 2016c), o profissional da área 
deve estar atento, já na elaboração do planejamento da perícia, aos seguintes 
tópicos: 
PLANEJAMENTO 
1. O planejamento da perícia é a etapa do trabalho pericial, na qual 
o perito estabelece as diretrizes e a metodologia a serem aplicadas. 
Objetivos 
2. Os objetivos do planejamento da perícia são: 
(a) conhecer o objeto e a finalidade da perícia para permitir a 
escolha de diretrizes e procedimentos a serem adotados para a 
elaboração do trabalho pericial; 
(b) desenvolver plano de trabalho onde são especificadas as 
diretrizes e procedimentos a serem adotados na perícia; 
(c) estabelecer condições para que o plano de trabalho seja 
cumprido no prazo estabelecido; 
(d) identificar potenciais problemas e riscos que possam vir a 
ocorrer no andamento da perícia; 
(e) identificar fatos importantes para a solução da demanda, de 
forma que não passem despercebidos ou não recebam a atenção 
necessária; 
(f) identificar a legislação aplicável ao objeto da perícia; 
(g) estabelecer como ocorrerá a divisão das tarefas entre os 
membros da equipe de trabalho, sempre que o perito necessitar de 
auxiliares. 
A norma, como um todo, apresenta outros aspectos elementares que 
devem ser observados para o desenvolvimento do trabalho do perito. Tópicos 
como equipe técnica, cronograma, termos e atas, execução, entre outros, 
servirão de guia para os profissionais da área. 
Crepaldi (2019) destaca o fato de que o profissional precisa estar atento 
ao fato de que é essencial o conhecimento das Normas Brasileiras de 
 
 
9 
Contabilidade, uma vez que elas também fazem parte do arcabouço teórico para 
a análise da matéria observada. 
Existem, de forma adicional, características relacionadas a possíveis 
vedações, uso do julgamento profissional e outras situações em que os peritos 
são confrontados com eventuais dilemaséticos. 
Tais acontecimentos estão dispostos na NBC PG 01 (CFC, 2019) que 
aprovou o Código de Ética Profissional do Contador (CEPC). Destacam-se 
alguns pontos: 
1. Esta Norma tem por objetivo fixar a conduta do contador, quando 
no exercício da sua atividade e nos assuntos relacionados à profissão 
e à classe. 
2. A conduta ética do contador deve seguir os preceitos 
estabelecidos nesta Norma, nas demais Normas Brasileiras de 
Contabilidade e na legislação vigente. 
3. Este Código de Ética Profissional do Contador se aplica também 
ao técnico em contabilidade, no exercício de suas prerrogativas 
profissionais. 
Destaca-se o fato de que o perito contábil é, antes de mais nada, um 
contador, logo, possui a obrigatoriedade de observação de tal norma. Os 
profissionais da área precisam, adicionalmente NBC PG 01 (CFC, 2019): 
• abster-se de convicção pessoal nos trabalhos realizados; 
• interpretações tendenciosas sob a matéria analisada; 
• manter sua competência nos trabalhos realizados; 
• comunicar eventual circunstância adversa que possa gerar risco ou que 
possa influenciar sua decisão; 
• renunciar suas funções, caso se positive desconfiança em relação ao 
cliente ou empregador; 
• quando substituído, informar ao substituto os fatos necessários que 
devem chegar ao seu conhecimento; e 
• outras situações dispostas em deveres, vedações e permissibilidades do 
CEPC. 
Entende-se que esse profissional deve ter ampla formação na área, 
conhecimentos técnicos e manter uma conduta ética ilibada, o que irá lhe 
proporcionar a autoridade técnico/científica necessária para a emissão do laudo 
ou parecer. 
10 
Segundo Palombo (2012), observando a questão ética, o profissional 
deve entender os seguintes pontos: 
• a razão deverá comandar o seu pensamento, com observância do rigor
lógico, evitando aceitar as situações todas como verdadeiras, ou seja,
desconfiando e investigando os casos analisados;
• não fazer julgamentos ou ainda emitir opiniões baseados somente em
aproximações;
• partindo do princípio de que a perícia tem uma base científica, não fazer
presunções, utilizando todas as bases técnicas e legais disponíveis;
• o profissional deverá estar livre de qualquer preconceito prévio em relação
à matéria analisada;
• devem ser observadas, com cuidado, todas as circunstâncias e as
características psicoambientais em que o exame ocorre;
• deve-se manter distância em relação ao objeto periciado para que não
exista nenhum tipo de confusão ou má intepretação; e
• o objeto que está sendo analisado é só um recorte da realidade, sendo
que sua análise e conclusão não podem escapar a esse fato.
Nota-se que existe uma complexidade de normas que precisam ser
observadas no trabalho do perito, envolvendo aspectos profissionais e técnicos 
e que precisam ser respeitadas devido à natureza dos trabalhos desenvolvidos. 
TEMA 3 – ASPECTOS DOUTRINÁRIOS 
De acordo com Hoog (2019), a perícia judicial possui conexão com as 
regulamentações do CPC, bem como as que são emitidas pelo CFC, entretanto, 
o autor lembra que existe um caráter superior com aspectos científicos sendo
estes de alta precisão e complexidade. 
Os aspectos doutrinários ou ainda teóricos da perícia possuem relação 
com a base que é utilizada para a sua opinião ou com a ciência tomada para as 
posições e tomada de decisões (Hoog, 2015). 
O autor cita que a necessidade de perícia derivada do CPC é alinhada 
com métricas da ciência contábil, que são utilizadas, por exemplo, para cálculos 
periciais, entre eles (Hoog, 2019): 
 
 
11 
• cálculo do investimento e seu retorno; 
• desempenho das empresas; 
• comparações com o mercado; e 
• entre outras derivadas da contabilidade. 
Ainda, segundo o autor, o uso de medidas quantitativas e que são 
mensuráveis permite criar métodos e testá-los, aplicando seus conceitos na 
perícia. 
Já Sá (2019) afirma que a o conhecimento científico da contabilidade, com 
ênfase na doutrina neopatrimonialista, é uma das bases para a construção dos 
modelos que serão utilizados na perícia, por exemplo, para a formulação dos 
quesitos. 
O neopatrimonialismo como definido pelo autor é baseado em teorias que 
implantaram uma doutrina compatível com a evolução e que adota o estudo dos 
fenômenos da riqueza dos empreendimentos. 
Com base nesse raciocínio, não basta, por exemplo, estudar a venda de 
uma empresa, se esta não for observada em relação ao mercado, as condições 
políticas e financeiras, a inflação e outros aspectos que estão relacionados com 
o fenômeno. 
Seguindo esse raciocínio, o método sempre irá depender do objeto que é 
examinado ou com base na matéria é que serão estabelecidos os cursos dos 
trabalhos que precisam ser elaborados. 
Sá (2019) afirma que quando a matéria é alcançável, examina-se tudo, já 
quando ela é ampla, o objetivo pode ser ligado à amostragem pela exceção. 
Outra possibilidade de entendimento são as opiniões particulares que ocorrem a 
respeito de um determinado objeto. Segundo o autor, observando a perícia, 
pode-se levar em consideração os seguintes pontos: 
• análises críticas de artigos e textos da área; 
• legislação própria pertinente; e 
• outros referenciais que servem de arcabouço teórico. 
Palombo (2012) relembra que a perícia contábil é uma especialização da 
contabilidade e, como tal, influenciada por tal metodologia. Logo, a perícia, irá 
valer-se dos seus princípios expressos na lógica formal para desenvolvimento 
de sua metodologia. 
 
 
12 
Com isso, é preciso lembrar que apesar do objeto da contabilidade ser o 
patrimônio, é formado pelo conjunto de bens, direitos e obrigações. Sendo que 
ele pode pertencer a uma pessoa física ou jurídica. 
O objeto da perícia é um pouco mais amplo, e inclui o fato principal 
discutido nos autos ou o motivo que iniciou a lide entre as partes (Costa, 2017). 
O entendimento do objeto da perícia possui relação com os seguintes 
aspectos: 
• questões de contabilidade; 
• aspectos fiscais; 
• situações trabalhistas; 
• tratativas societárias; e 
• outras demandas de acordo com a Lide. 
O autor complementa esse raciocínio afirmando que o laudo pericial 
contábil, que é o produto final da perícia, é o elemento de prova do especialista 
mostrando o conhecimento que prova a verdade, envolvendo os aspectos 
contábeis e que auxilia o juiz na tomada de decisão. 
Palombo (2012) afirma que esse objeto permite entender diferentes 
nuances, entre elas: onde, quando, como e por que certos fatos aconteceram 
em relação à riqueza patrimonial, por exemplo. 
Para Hoog (2014), o objeto está relacionado à prova ou à revelação da 
verdade, principalmente na possibilidade de conhecimento do patrimônio 
empresarial, incluindo as nuances da pessoa física. 
A perícia tem por finalidade atender àquele que dela se utiliza ou o 
usuário, seja ele judicial ou extrajudicial, transmitindo uma opinião sobre o 
verdadeiro estado da matéria analisada sobre o qual foi inquerida a se manifestar 
(Palombo, 2012). 
Logo, entende-se que a perícia, nessa área, e com base nesse arcabouço, 
é utilizada para entender alguns questionamentos. Ela mostra, por exemplo, 
onde estão recursos financeiros ou atualiza valores históricos, representando 
quanto cada sócio realmente possui na sociedade ou outras variações 
patrimoniais. 
 
 
13 
A perícia contábil irá se adaptar à cada situação apresentada, mostrando 
as respostas de acordo com as demandas, ou seja, de acordo com o que for 
requisitado. 
Hoog (2015) destaca mais um ponto, que é o uso da Teoria Contábil como 
base para a perícia. De acordo com o autor, esta fornece um conjunto de saberes 
que apresentam uma sistematização e credibilidade que podem auxiliar no 
entendimento ou na interpretação de um determinado acontecimento. Para o 
autor, esses conhecimentos advindos da Teoria da Contabilidade: 
[ ...] oferecem à atividade da práxis da ciência. Cria um ponto de vista 
estritamenteformal em que não se encontram proposições 
contraditórias, nem nos axiomas, nem nos teoremas que deles se 
deduzem. A teoria deve alcançar o domínio filosófico e consiste em 
considerar esses fenômenos ou acontecimentos, não como a soma de 
elementos isolados para que constituem unidades autônomas de uma 
célula social. Manifesta um vínculo da práxis contabilística, além de 
possuir leis próprias, donde resulta que o modo de ser de cada 
elemento depende da estrutura do conjunto e das Leis que o regem. 
(Hoog, 2015). 
Para Hoog (2015), a Teoria Contábil, uma das bases da perícia é um 
conjunto de conhecimentos, que apresenta uma sistematização e credibilidade. 
Ela permite, por exemplo, explicar, elucidar, ou interpretar fenômenos que estão 
ligados à ciência de forma geral. 
Com isso, conclui-se que a perícia utiliza a Contabilidade como sua base 
doutrinária primordial, já que, segundo Palombo (2012), o objetivo fundamental 
é o reconhecimento dos efeitos no patrimônio e suas consequências como forma 
de fornecer subsídio para a decisão correta. 
Entretanto, reforça-se o fato de que outras ciências auxiliam o profissional 
no reconhecimento da matéria analisada e são essenciais para que ele possa 
desenvolver o seu trabalho. 
TEMA 4 – ASPECTO PROCESSUAL E OPERACIONAL 
De acordo com as mudanças observadas com a adoção do CPC, (Brasil, 
2015), houve uma evolução no processo da perícia e nas atividades relacionadas 
a ela. 
Assim, a própria exigência de exame e cadastro dos profissionais no 
CNPC fez parte desse processo, já que buscou-se dar mais agilidade e 
praticidade ao poder judiciário. 
 
 
14 
Segundo o CFC (CFC, 2021), entende-se que a necessidade do cadastro 
dos profissionais se justifica pela assistência que deve ser dada aos juízes. 
No CPC (Brasil, 2015) observamos a demanda pelo perito de acordo com 
o art. 156: 
Do Perito 
Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato 
depender de conhecimento técnico ou científico. 
§ 1º Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente 
habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos 
em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. 
§ 2º Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta 
pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou 
em jornais de grande circulação, além de consulta direta a 
universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à 
Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a 
indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados. 
§ 3º Os tribunais realizarão avaliações e reavaliações periódicas para 
manutenção do cadastro, considerando a formação profissional, a 
atualização do conhecimento e a experiência dos peritos interessados. 
§ 4º Para verificação de eventual impedimento ou motivo de suspeição, 
nos termos dos arts. 148 e 467 , o órgão técnico ou científico nomeado 
para realização da perícia informará ao juiz os nomes e os dados de 
qualificação dos profissionais que participarão da atividade. 
§ 5º Na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado 
pelo tribunal, a nomeação do perito é de livre escolha pelo juiz e deverá 
recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico 
comprovadamente detentor do conhecimento necessário à realização 
da perícia. 
De acordo com a legislação e com as mudanças adotadas no processo 
ligado à perícia, os profissionais passaram a ter que fazer um registro no Poder 
Judiciário, seja na esfera Federal, Estadual ou na justiça do Trabalho (CRCBA, 
2020). 
Observando a evolução decorrente da modernização conjunta da 
legislação, do judiciário e da própria profissão, os processos passaram a ser 
eletrônicos, com a utilização do Processo Judicial Eletrônico (PJe) que substituiu 
o que antes era feito em papel ou de forma manual. 
A adoção do PJe permitiu que os processos passassem a ser 
digitalizados. No ano de 2019 esse sistema foi modernizado, o que permitiu a 
sua divisão em módulos, uso de computação distribuída e utilização em nuvem. 
Essa determinação está disponível no art. 193 e seguintes do CPC que 
relatam sobre as exigências que devem ser observadas para a modernização 
deste processo. “Art. 193. Os atos processuais podem ser total ou parcialmente 
digitais, de forma a permitir que sejam produzidos, comunicados, armazenados 
e validados por meio eletrônico, na forma da lei ” (Brasil, 2015). 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art148
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art467
 
 
15 
Outro avanço foi o PJe-CALC que auxilia nos cálculos trabalhistas, de 
forma eletrônica. A utilização de tal sistema, a partir de 2021, nas Justiças de 
Trabalho e como padrão por todas as partes envolvidas, tornou-se natural e 
compulsória segundo o CRCBA (2020). 
Tanto a questão processual quanto operacional da perícia passou não só 
pela mudança relacionada com os profissionais e ligada ao processo eletrônico, 
mas também a outras questões que tentam deixar a justiça mais célere e ao 
alcance de todos os brasileiros. 
O CRCBA (2020) cita, também, o Projudi – Processo Judicial Digital que 
auxilia no procedimento judicial substituindo procedimentos que eram gerados 
em papel. Foi inserida, de forma adicional, a figura do E-SAJ – Sistema de 
Automação da Justiça que ajuda em rotinas jurisdicionais e administrativas e, 
por fim, o E-Proc ligado à Justiça Federal e aos processos dessa esfera. 
As mudanças, como exigência de perito para acompanhamento dos 
cálculos e modernização do processo judicial, sejam para a escolha, prática ou 
transmissão dos dados, permitiram que a atividade pericial seja desenvolvida de 
forma cada vez mais dinâmica. 
Os profissionais podem acessar e inserir dados de maneira digital, o que 
confere segurança e agilidade ao processo, deixando este cada vez mais rápido 
e permitindo com que a justiça esteja acessível aos que necessitam. 
TEMA 5 – ESTUDO DE CASO OU PRÁTICA 
Um aluno que cursava o último semestre da faculdade de Ciências 
Contábeis, depois de ter estudado a disciplina de Perícia Contábil, acreditou que 
ela seria uma área interessante para atuar após a graduação. Como ele era 
bastante interessado, procurou o site do Conselho Federal de Contabilidade 
(CFC) e viu, por exemplo, que teria que, mesmo depois de Bacharel em Ciências 
Contábeis, obedecer a uma série de exigências. Primeiro teria que passar no 
exame do próprio CFC, fazer o registro no CRC de sua região e, na sequência, 
teria que fazer outro teste para atuar como perito. Como ainda tinha tempo, 
resolver buscar informações sobre a rotina da profissão. 
Seu tio, que lhe inspirou e era perito, tinha alguns processos, e concordou 
em mostrar como funcionava o trabalho na prática. Esse estudante já sabia que 
após a adoção do CPC em 2015, muitas mudanças tinham ocorrido, que houve 
 
 
16 
uma modernização, tanto para o perito quanto para o judiciário, com processos 
eletrônicos e digitalização das informações. Mas o seu tio apontou para alguns 
cálculos feitos à mão e comentou que iria levá-los até o tribunal. Tais questões 
se referiam a um processo antigo de cálculo de pensão alimentícia, ligado à 
revisão de valores. 
Ambos foram até o Tribunal de Justiça local e apresentaram o cálculo feito 
pelo tio do aluno. O juiz recebeu, em papel, mas queixou-se da falta do 
documento eletrônico. Ele ainda questionou o perito sobre o valor, que ao seu 
ver, parecia baixo, perguntando qual era a base utilizada, sendo que o tio do 
aluno não tinha os documentos referentes ao cálculo. Sendo assim, o juiz decidiu 
nomear outro profissional, já que denotou falta de conhecimento e uso das 
tecnologias inerentes ao processo. 
Assim, o aluno pôde notar que seu tio estava desatualizado, e não 
buscava acompanhar, por exemplo, a necessidade de inserção dos dados 
referentes ao processono sistema, entre outros problemas. Outra questão foi a 
falta de demonstração dos cálculos, já que a perícia, que utiliza metodologia 
científica, precisa da comprovação dos fatos, o que não ocorreu na situação em 
questão. 
 
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Lei n. 9.295, de 27 de Maio 1946. Disponível em: 
. Acesso em: 17 
jan. 2022. 
_______. Lei n. 7.270, de 10 de dezembro de 1984. Disponível em: 
. Acesso em: 17 
jan. 2022. 
_______. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em: 
. 
Acesso em: 17 jan. 2022. 
CFC. Resolução CFC n. 560/1983. Disponível em: 
. Acesso em: 17 jan. 2022. 
_______. NBC PG 12 (R3) – Educação Profissional Continuada. Disponível em: 
. Acesso em: 17 jan. 2022. 
_______. Resolução CFC n. 1.502/2016. Disponível em: 
. Acesso em: 17 jan. 2022. 
_______. Resolução CFC n. 1.513/2016. Disponível em: 
. Acesso em: 17 jan. 2022. 
_______. NBC TP 01 – Norma Técnica De Perícia Contábil. Disponível em: 
. Acesso em: 
17 jan. 2022. 
_______. Norma Brasileira de Contabilidade, Nbc PG 01. Disponível em: 
. Acesso em: 17 jan. 2022. 
_______. CNPC. Disponível em: . Acesso em: 
17 jan. 2022. 
 
 
18 
CRCBA. Cartilha de perícia contábil, mediação, conciliação e arbitragem. 
Bahia: CRCBA, 2020. Disponível em: 
. 
Acesso em: 17 jan. 2022. 
COSTA, J. C. D. da. Perícia Contábil: aplicação prática. 1. ed. São Paulo: Atlas, 
2017. 
CREPALDI, S. A. Manual de perícia contábil. São Paulo: Saraiva Educação, 
2019. 
HOOG, W. A. Z. A perícia contábil e as questões doutrinárias. 2015. 
MAGALHÃES, A. DE D. F. et al. Perícia Contábil uma abordagem teórica, 
ética, legal, processual e operacional. São Paulo: Atlas, 2004. 
MOURA, R. Perícia Contábil: Judicial e Extrajudicial. Rev. Atualizada. 6. ed. Rio 
de Janeiro: Freitas Bastos, 2020. 
PALOMBO, A. L. Perícia Contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 
SÁ, A. L. de. Perícia Contábil. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2019.

Mais conteúdos dessa disciplina