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Novas Abordagens em Saúde Mental 
transformando vidas de forma humana, autônoma e consciente 
Sumário 
 
1) The Hearing Voices Approach........................................................................................................................................4 
 
2) Open Dialogue..............................................................................................................................................................16 
 
3) The Davis Approach......................................................................................................................................................25 
 
4) Positive Psychoterapy...................................................................................................................................................36 
 
5) GAM (Gestão Autônoma da Medicação).....................................................................................................................50 
 
6) Power Threat Meaning Framework..............................................................................................................................62 
 
7) Abordagem Sistêmica Comunitária..............................................................................................................................76 
 
8) The Green Care Approach............................................................................................................................................84 
 
9) Wellness Recovery Action Plan...................................................................................................................................105 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 2 
Mas o que são Novas Abordagens em Saúde 
Mental? 
 
Novas abordagens em saúde mental representam, primeiramente, uma ruptura com abordagens historicamente 
dominantes no campo da saúde mental, que, em geral, estiveram (e ainda estão) associadas à patologização e à 
medicalização da existência, bem como à individualização da atenção e à padronização das técnicas. Tais abordagens 
dominantes são baseadas na hierarquia arbitrária entre profissionais e “pacientes”, na qual os primeiros são vistos como 
especialistas superiores e os segundos como doentes passivos. Assim, romper com essas abordagens hegemônicas 
implica subverter esses princípios, com a consequente construção de alternativas a eles. Nesse sentido, novas 
abordagens em saúde mental enfatizam diferentes interpretações possíveis para o sofrimento humano, a construção de 
novas relações humanas baseadas no diálogo e o favorecimento do protagonismo daqueles que historicamente 
ocuparam o lugar de objetos. 
 
Vale ressaltar que para que tais novas abordagens em saúde mental não se desvirtuem de seus propósitos, não devem 
somente ser “novas”, mas alcançarem “valor” na promoção de novos processos de desenvolvimento humano. Assim, o 
novo não poder se limitar a uma técnica nova, mas à problematização teórica e epistemológica que fundamenta o 
campo da saúde mental. Nesse processo, gera-se novos referenciais, que, por um lado, permitem explicar o sofrimento 
humano de diferentes formas, dialogando com a complexidade individual e social que representam, e, por outro, 
favorecem novas estratégias de ação profissional e comunitária baseadas nos saberes produzidos. Implica, nesse 
sentido, que o conhecimento não se volte para a colonização do outro, de modo a oferecer respostas técnicas 
conclusivas sobre o outro, mas para o favorecimento de possibilidades mediante construção conjunta de novas formas 
de estar no mundo e se relacionar com a vida. Implica sair de uma lógica centrada no modelo sujeito/objeto, para 
construir relações sustentadas por um modelo sujeito/sujeito. 
 
Daniel Magalhães Goulart – Doutor em Educação pela UnB e Professor do Instituto de Psicologia da UniCEUB. 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 3 
The Hearing Voices Approach (Ouvir 
Vozes) 
Capítulo 1 
Ouvir vozes em si nem sempre é 
sintoma de uma doença 
 
Assim como acontece com outras questões que 
envolvem a saúde mental das pessoas, o ouvir de 
vozes também se tornou um sinônimo de estigma 
social, visto que aquele que se autodeclarar um 
ouvidor, logo pode ser taxado como louco. 
 
Mas, na realidade, nenhum caso pode ou deve ser 
tratado dessa forma. Aquilo que se vem mostrando, 
com o tempo e estudos diversos, é que existe uma 
nova forma de se pensar a experiência de se ouvir 
vozes. 
 
Grupos de pesquisadores e instituições que tratam 
sobre o tema, têm unido esforços em função da 
desconstrução dessa ideia de que ouvidores de vozes 
são, por exemplo, em alguma instância, 
esquizofrênicos. 
 
Baseados na concepção de que as vozes, na realidade, 
dizem alguma coisa sobre aquele que as ouve, esse 
movimento mundial lida com o entendimento de suas 
mensagens e visa trazer autonomia para essas 
pessoas diante daquilo que experienciam. 
 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 5 
Estima-se, em um estudo exibido pela Rede 
Internacional de Ouvidores de Vozes, a INTERVOICE 
(2017), que em torno de 2 a 4% da população mundial 
ouve vozes, e que uma em cada três dessas pessoas se 
torna um paciente psiquiátrico, tendo em vista que as 
outras duas teriam condições de lidar bem com suas 
experiências e de maneira tranquila. 
 
Segundo essas instituições e profissionais vinculados à 
área da saúde mental que lida com o ouvir de vozes, a 
grande diferença que existe entre frequentadores de 
serviços de apoio a essas experiências e os não-
frequentadores é a diferente relação que esses dois 
grupos estabeleceram com as suas vozes. 
 
A verdade por trás desse movimento em função das 
vozes é a necessidade que se tem, por parte daqueles 
que sofrem com elas e dos especialistas que os auxiliam, 
de que se perceba que as vozes, na verdade, carregam 
mensagens, como mensageiras que tem como seu 
principal objetivo mostrar para estas pessoas questões 
mais antigas, vividas e não resolvidas, na tentativa de se 
mudar essa situação. 
 
Como ocorre com os traumas, as pessoas nem sempre 
absorvem de maneira ideal o acontecido, e o reflexo 
disso pode se dar de diversas formas, como também 
pode ocorrer na forma de vozes; vozes que deprimem; 
que tiram a capacidade de viver do indivíduo. 
 
 
A patologização das vozes tornou-se algo comum na 
medicina psiquiátrica do Ocidente. Nessas condições, 
as chances de se receber um diagnóstico como 
esquizofrênico indo a uma consulta psiquiátrica é de 
80% (INTERVOICE, 2017), tendo em vista a possível 
similitude sintomática que pode ter o ouvir vozes com 
um quadro de esquizofrenia. 
 
Quem lida com esse tipo de experiência precisa de 
apoio. A questão fundamental, e que precisa ser 
observada, é como as manifestações mentais por 
meio das vozes se desenvolveram no indivíduo; qual 
conexão elas tem com as suas experiências passadas. 
Muitos dos enganos que envolvem essas pessoas 
podem ser resolvidos por esse caminho. 
 
Em uma pesquisa desenvolvida por quatro anos com 
crianças ouvidoras de vozes, Sandra Escher (2013), 
doutora em psiquiatria social pela Universidade de 
Maastricht, na Holanda, fez de sua tese uma prova 
disso. 
 
Após acompanha-las durante o período, Sandra 
assinalou que 64% das 82 crianças observadas não 
apresentavam mais suas vozes, entendido que com o 
tempo teriam aprendido a lidar melhor com suas 
emoções, diminuindo suas cargas de estresse. 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 6 
Assim como tem sido feito por muitos grupos e 
instituições vinculadas aos indivíduos ouvidores de 
vozes, ensinando estes a lidar melhor com a sua própria 
experiência e levando a eles autonomia diante daquilo 
que vivem, um esforço cada vez maior deveria ser feito 
para que esse estigma social fosse desconstruído 
progressivamente. 
 
Dessa maneira, os diagnósticos se tornariam ainda mais 
precisos, a proteção àqueles que eventualmente sofrem 
por conta das vozes seria maior, e estes ficariam mais 
próximos do auxilio correto e necessáriolevar em conta o contexto 
brasileiro da Reforma Psiquiátrica e da existência do 
Sistema Único de Saúde (SUS). Também incluiu os 
direitos dos usuários de serviços de saúde e de saúde 
mental vigentes no Brasil. 
 
O Guia GAM brasileiro salienta que a decisão sobre o 
melhor tratamento se consegue a partir de uma 
composição entre o que os usuários sabem (baseados 
nas suas experiências pessoais ou de grupo), o que 
dizem os seus familiares sobre a experiência com o 
cuidado diário e o que sabem os médicos ou as 
equipes de referência sobre o uso das medicações. 
 
Os três tipos de saberes são importantes. E é a partir 
do diálogo e do compartilhamento desses saberes que 
poderão ser tomadas as melhores decisões a respeito 
do modo de se usar os medicamentos, assim como 
sobre se usa-los ou não. 
 
Chama-se essa composição de saberes de gestão 
compartilhada. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 54 
E ela é bem diferente da chamada autogestão, em que 
os usuários tomam suas decisões sozinhos, sem 
compartilhá-las, modificando dosagens ou parando com 
os remédios sem alguém que lhes acompanhe. 
 
Nesse sentido, quando se fala em ouvir, é ouvir mesmo, 
não apenas um faz de conta, um perguntar só por 
perguntar, e fazer no fim o que já tinha sido decidido ou 
pensado – independente da resposta. Ouvir é considerar 
legítimo tudo o que o usuário tem a dizer. 
 
A proposta da Gestão Autônoma da Medicação é 
justamente que decisões dos usuários sejam aceitas 
como legítimas e que sejam conversadas e 
compartilhadas com a equipe de saúde de referência 
para que possam ser analisadas coletivamente; e para 
que tanto os usuários como a equipe, e também os 
familiares envolvidos, saibam dos possíveis efeitos das 
decisões e "banquem juntos" uma posição – seja a 
redução ou mesmo a retirada dos medicamentos. 
 
 
 
 
 
Dois princípios básicos da GAM: 
Autonomia e Cogestão 
 
Começemos com o princípio da autonomia. O 
movimento da Reforma Psiquiátrica brasileira pensa a 
autonomia não como independência (fazer ou viver 
sozinho) ou individualismo (ter direitos pessoais acima 
de direitos coletivos). 
 
Autonomia, para esse movimento, significa estar em 
relacionamento com os outros, e não sozinho. Para 
viver a autonomia, as pessoas têm de compartilhar, 
umas com as outras, o que pensam e o que sentem, 
ao invés de se fecharem em suas ideias e posições. 
 
Essa vivência vale assim, também, para os usuários 
em seus tratamentos: para experimentarmos a 
autonomia nos tratamentos, a gestão destes precisa 
ser compartilhada entre todos aqueles que estão 
envolvidos. 
 
Por isso, os usuários devem ser considerados 
protagonistas e corresponsáveis (responsáveis junto 
com os profissionais) pelo tratamento que seguem. 
Eles devem 
Novas Abordagens em Saúde Mental 55 
ser considerados capazes de compartilhar as decisões 
sobre o próprio tratamento, inclusive sobre o uso de 
seus medicamentos. Ou seja, os usuários têm que 
participar da decisão de usar ou não, e de como irão 
usar os medicamentos (se a decisão for essa). 
 
Essas decisões não podem ser apenas dos profissionais 
da saúde responsáveis; elas têm que ser compartilhadas. 
Por isso, quando falamos de gestão autônoma, não 
estamos falando de uma gestão independente da 
própria vida do usuário, mas de uma cogestão, que é o 
segundo princípio sobre o qual queremos falar: cogestão 
é a gestão que se faz juntos. 
 
Nas nossas vidas, quando tomamos as decisões que são 
fundamentais, sempre procuramos o apoio de outras 
pessoas, com quem dividimos nossas preocupações e 
dificuldades. Por que teria que ser diferente com os 
medicamentos psiquiátricos? 
 
No dia-a-dia associamos com frequência a palavra 
autonomia a ideias como autossuficiência, livre-arbítrio 
e independência. Porém, a independência do usuário ao 
tomar decisões sobre sua medicação nem sempre o leva 
à melhor situação ou ao melhor resultado. 
 
Um exemplo disso surge quando um usuário decide 
sozinho parar de tomar seus medicamentos. Sem o 
 
 
acompanhamento de uma equipe de saúde que o 
apoie em sua decisão, é comum que a interrupção 
abrupta do uso do medicamento desencadeie uma 
crise que o faça ter que tomar uma dosagem ainda 
maior de medicamentos do que aquela que antes já 
tomava. 
 
Por outro lado, considerar somente o conhecimento 
médico, somente o que a equipe de saúde propõe, 
para avaliar qual é a melhor medicação para um 
usuário, é um erro. 
 
A melhor maneira de se tomar essas decisões é 
considerar não apenas o que sabem os médicos, mas 
também o que sabem os usuários sobre suas próprias 
experiências com os medicamentos. 
 
A GAM aposta no valor das conversas para decidir 
juntos – médico e usuário – o melhor plano de 
tratamento para cada um; isso é uma gestão 
autônoma, ou uma cogestão. 
 
Imaginemos uma cena onde se receitam 
medicamentos; nela participam vários grupos e 
pessoas: tem o usuário, o médico que prescreve, a 
equipe que vai acompanhar, a família do usuário, 
Novas Abordagens em Saúde Mental 57 
os amigos, os seus colegas de trabalho, os vizinhos, e a 
comunidade. 
 
Todos irão perceber os efeitos (sejam bons ou ruins) do 
tratamento para essa pessoa, e todos poderão contribuir 
de alguma maneira para ajudar em seu tratamento. 
 
Quanto mais conectados a uma rede de cuidados 
estiverem, mais possibilidades os usuários, seus 
familiares e/ou equipe de saúde terão para administrar 
(gerir) a medicação. Juntos, podemos sempre criar e 
sustentar formas de tratamento que isoladamente não 
conseguiríamos. 
 
Fazemos gestão autônoma quando ampliamos 
coletivamente as possibilidades de cuidado. E é dessa 
forma que a GAM contribui para a realização de políticas 
públicas de saúde comprometidas com o protagonismo 
dos usuários e dos trabalhadores, com a democratização 
dos serviços de saúde e com a melhor qualidade do 
atendimento que eles oferecem. 
 
No que consiste a Gestão 
Autônoma da Medicação 
 
A Gestão Autônoma da Medicação (GAM) é uma 
estratégia pela qual aprendemos a cuidar do uso dos 
medicamentos, considerando seus efeitos em todos 
os aspectos da vida das pessoas que os usam. 
 
A GAM parte do reconhecimento de que cada usuário 
tem uma experiência singular ao usar psicofármacos e 
de que importa aumentar o poder de negociação 
desse usuário com os profissionais da saúde que se 
ocupam do seu tratamento – sobretudo com os 
médicos, que são os que prescrevem os 
medicamentos. 
 
Ao prescrever um medicamento, o profissional tem 
que considerar a experiência prévia do usuário e não 
excluir a possibilidade de diminuir doses, trocar um 
medicamento por outro ou substituir o tratamento 
medicamentoso por outras formas de tratar. 
 
É fundamental que usuários e profissionais possam 
avaliar juntos em que medida os medicamentos 
servem mesmo à melhoria da qualidade de vida, 
reduzindo o 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 58 
sofrimento que os sintomas da doença causam; ou, se, 
de maneira oposta, intensificam esse sofrimento com 
efeitos não desejados (efeitos colaterais). 
 
É fundamental que profissionais da saúde se aproximem 
das vivências dos usuários; e que estes se sintam com 
liberdade e no direito de intervir nas condições do 
tratamento que seguem. 
 
Foi para ajudar usuários e profissionais da saúde a 
tomarem as melhores decisões a respeito de 
medicamentos, de forma compartilhada e solidária, é 
que Guia GAM foi construído. 
 
O Guia GAM é uma ferramenta prática e útil, que 
oferece não só informações técnicas, mas perguntas 
amplas e abertas, que remetem às experiências e aos 
significados individuais de usar tal ou qual medicamento, 
além de outros aspectos considerados importantes para 
avaliar se o tratamento está sendo adequado. 
 
A GAM é uma estratégia para ser praticada de forma 
coletiva, em grupo, de maneira dialogada e 
compartilhada – e assim deve ser também o uso do Guia 
GAM. Experimentar o compartilhamento de experiências 
no grupo é um ótimo exercício para a construçãode um 
diálogo com os médicos e com a equipe de saúde de 
cada usuário. 
 
 
A função dos moderadores é muito importante para 
isso, pois a dinâmica de um Grupo GAM – a 
possibilidade de compartilhamento das experiências e 
de protagonismo de seus participantes – depende, em 
grande parte, da boa qualidade da sua condução. 
 
Os moderadores dos Grupos GAM têm um papel 
muito importante no acolhimento dos grupos, 
abraçando as experiências mais diversas, por mais 
difíceis, diferentes e intensas que sejam. 
 
É preciso criar um ambiente de confiança e de 
abertura que possa ajudar cada participante a se 
sentir à vontade no próprio grupo e para negociar o 
seu tratamento e torná-lo mais afinado à sua própria 
situação de vida. 
 
Daí se faz importante que se saiba que mesmo 
perguntas simples sobre o tratamento com 
medicamentos e seus efeitos, ou sobre o papel que 
ele ocupa na vida de cada participante, podem criar 
insegurança ou ansiedade nos membros do grupo. 
 
Ao mesmo tempo, compartilhar essas questões pode 
permitir que os participantes confiem mais em suas 
próprias vivências e consigam valorizar suas 
potencialidades e 
Novas Abordagens em Saúde Mental 60 
recursos para enfrentar os problemas. 
 
O compartilhamento também seria importante para os 
próprios moderadores e outros profissionais 
participantes, já que abriria a possibilidade de que todos 
repensassem suas relações com os medicamentos, 
dando a elas um novo significado. 
 
Vários profissionais que participaram de Grupos GAM 
relatam que desenvolveram uma melhor compreensão 
sobre os diferentes medicamentos e, ainda, um melhor 
entendimento sobre o que o uso deles significaria para 
cada usuário de psicofármacos. 
 
Esses profissionais contariam também sobre mudanças 
na forma como se relacionavam com os usuários, a 
partir da escuta de suas experiências: ficaram mais 
flexíveis para ouvir sobre os medicamentos do 
tratamento e para acolher o significado do seu uso para 
cada um deles. 
 
Referências Bibliográficas 
 
Conteúdo transcrito e adaptado do documento: 
 
Referência: GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO – 
Guia de Apoio a Moderadores. Rosana Teresa Onocko 
Campos; Eduardo Passos; Analice Palombini et AL. 
DSC/FCM/UNICAMP; AFLORE; DP/UFF; DPP/UFRGS, 
2014. Disponível em: 
http://www.fcm.unicamp.br/fcm/laboratorio-saude-
coletiva-e-saudemental-interfaces 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 61 
http://www.fcm.unicamp.br/fcm/laboratorio-saude-coletiva-e-saudemental-interfaces
http://www.fcm.unicamp.br/fcm/laboratorio-saude-coletiva-e-saudemental-interfaces
http://www.fcm.unicamp.br/fcm/laboratorio-saude-coletiva-e-saudemental-interfaces
http://www.fcm.unicamp.br/fcm/laboratorio-saude-coletiva-e-saudemental-interfaces
http://www.fcm.unicamp.br/fcm/laboratorio-saude-coletiva-e-saudemental-interfaces
http://www.fcm.unicamp.br/fcm/laboratorio-saude-coletiva-e-saudemental-interfaces
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Power Threat Meaning Framework 
(PTM) (Saúde Mental em Geral) 
Capítulo 6 
Introdução ao projeto-abordagem 
PTM 
 
Em 2013, a Divisão de Psicologia Clínica da Sociedade 
Britânica de Psicologia publicou uma Declaração de 
Posição crítica a respeito de que – dentro de um 
contexto de reconhecimento generalizado – os 
sistemas de classificação atuais, como DSM e ICD, 
seriam fundamentalmente falhos. 
 
A terceira recomendação do documento de 
posicionamento tratava sobre o ato de apoiar 
trabalhos, em conjunto com os usuários dos serviços, 
no desenvolvimento de uma abordagem multifatorial 
e contextual, que incorporasse fatores sociais, 
psicológicos e biológicos de cada um. Nesse sentido, o 
PTM surge, como resultado de um projeto que 
buscaria atingir a esses e a outros objetivos. 
 
O objetivo da equipe do projeto era produzir um 
documento fundamental que estabelecesse a base 
filosófica, teórica e empírica para tal estrutura e 
descrevesse como ela poderia servir como uma 
alternativa conceitual à classificação psiquiátrica em 
relação ao sofrimento emocional e comportamentos 
ditos problemáticos ou perturbadores. 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 63 
Sempre existiram alternativas para o diagnóstico 
individual como descrições e formulações de problemas 
e, nesse sentido, o PTM tem o potencial de levar-nos 
além das hipóteses de medicalização e diagnóstico. 
Propõe formas alternativas de pensar sobre uma série 
de questões fundamentais, incluindo: 
 
• Que tipos de quadros teóricos e pressupostos são 
apropriados para compreender o sofrimento 
emocional, experiências incomuns e comportamentos 
problemáticos e problemáticos? 
 
• Quais métodos de pesquisa poderiam ser usados ​​e o 
que conta como evidência? 
 
• Como os resultados da pesquisa poderiam ser 
interpretados? 
 
• Qual é a relação entre sofrimento pessoal e seus 
contextos sociais, materiais e culturais mais amplos? 
 
• Como podemos centrar as experiências vividas das 
pessoas e os significados que as moldam? 
 
• Quais novas conceituações surgem de todas essas 
questões, e como todas as implicações podem ser 
traduzidas em prática, tanto dentro como fora dos 
serviços, em todos os níveis, da política individual à 
política social? 
 
É essencial reconhecer que há uma gama de 
pacientes, usuários de serviços, sobreviventes e de 
pessoas lidando com diagnósticos psiquiátricos. A 
equipe do projeto inclui tanto sobreviventes quanto 
profissionais, e essas visões e experiências são 
centrais para os argumentos da abordagem. 
 
Quaisquer que sejam as opiniões pessoais das 
pessoas, no curto e médio prazo, os diagnósticos 
psiquiátricos ainda serão de certa forma necessários 
para que se acesse alguns serviços, benefícios e assim 
por diante. Mas, mesmo assim, todos temos o direito 
de descrever nossas experiências da maneira que nos 
faz mais sentido. 
 
A longo prazo, esta abordagem destina-se a apoiar a 
construção de histórias não-diagnósticas, não-
culpáveis, desmistificadoras sobre força e 
sobrevivência, que reintegrem muitos 
comportamentos e reações atualmente 
diagnosticados como sintomas de transtornos mentais 
de volta ao intervalo da experiência humana universal. 
 
Os princípios do Power Threat 
Meaning (PTM) 
Novas Abordagens em Saúde Mental 64 
A estrutura do PTM (Power Threat Meaning) se baseia 
em uma variedade de modelos, práticas e tradições 
filosóficas, mas é mais ampla e não depende de 
qualquer orientação teórica específica. 
 
Em vez disso, o objetivo é informar e ampliar as 
abordagens existentes, oferecendo uma perspectiva 
fundamentalmente diferente sobre as origens, a 
experiência e a expressão do sofrimento emocional e do 
comportamento dito problemático. 
 
A abordagem PTM baseia-se nos seguintes princípios 
fundamentais: 
 
• As alternativas construtivas à classificação e 
diagnóstico psiquiátrico precisam se concentrar em 
aspectos do funcionamento humano que foram 
marginalizados em estruturas teóricas derivadas do 
estudo de processoscorporais no mundo físico. Em 
particular, as alternativas devem basear-se no estudo 
de seres humanos que se comportam 
intencionalmente em contextos sociais e relacionais. 
 
• Comportamento e experiências "anormais" existem 
em um continuidade com comportamentos e 
experiências "normais" e estão sujeitos a estruturas 
similares de compreensão e interpretação. 
 
Estes incluem a suposição de que, a menos que haja 
evidência forte em contrário, nosso comportamento e 
experiência podem ser vistos como respostas 
inteligíveis a nossas circunstâncias atuais, história, 
sistemas de crenças, cultura e capacidades corporais, 
embora os elos entre estes nem sempre sejam óbvio 
ou direto. 
 
• A causalidade no sofrimento, no comportamento 
humano, é probabilística; isto é, tem um caráter 
"em média" e nunca será possível prever impactos 
precisos. As influências causais também operam de 
maneira contingente e sinérgica, o que significa 
que os efeitos de qualquer fator são sempre 
mediados e contingentes aos outros, e que as 
influências podem ampliar os efeitos umas das 
outras. 
 
Experiências e expressões de sofrimento emocional 
são entendidas, mas não em qualquer sentido 
simplista, como elementos causados via nossos 
corpos, biologia e envolto social. 
 
• Os seres humanos são seres fundamentalmente 
sociais, cujas experiências de angústia e 
comportamento conturbado ou perturbador são 
inseparáveis ​​de seus contextos materiais, sociais, 
Novas Abordagens em Saúde Mental 66 
 ambientais, socioeconômicos e culturais. Não existe 
uma "desordem" separada a ser explicada, com o 
contexto como uma influência adicional. 
 
Não pode haver "psiquiatria global" ou "psicologia 
global". Padrões de dificuldades emocionais e 
comportamentais sempre refletirão os discursos, normas 
e expectativas sociais e culturais predominantes, 
incluindo conceituações aceitas da personalidade. 
 
• As teorias e julgamentos sobre identificar, explicar e 
intervir no sofrimento mental e no comportamento 
dito problemático não são isentas de valor. Isso não 
significa que outros conhecimentos úteis e confiáveis 
sejam inatingíveis. 
 
• Precisamos levar a sério o significado, a narrativa e a 
experiência subjetiva. Isso envolverá um lugar central 
para as narrativas de especialistas por experiência. 
Envolverá também o desenho de uma ampla gama de 
métodos de pesquisa e dará status equivalente a 
métodos qualitativos e quantitativos, incluindo o 
testemunho de usuários de serviços / sobreviventes e 
de seus próprios cuidadores. 
 
 
Características e finalidades do 
PTM 
 
Estes princípios informam as principais características 
e finalidades da Estrutura PTM, que são as seguintes: 
 
• Permite a identificação provisória de padrões e 
regularidades gerais na expressão e experiência de 
sofrimento e comportamento perturbado ou 
perturbador, em oposição a mecanismos causais 
biológicos ou psicológicos específicos ligados para 
separar as categorias de transtornos. 
 
• Mostra como esses padrões de resposta são 
evidentes em diferentes graus e em diferentes 
circunstâncias para todos os indivíduos ao longo da 
vida. 
 
• Não assume "patologia"; em vez disso, descreve os 
mecanismos de enfrentamento e sobrevivência que 
podem ser mais ou menos funcionais como uma 
adaptação a conflitos e adversidades particulares 
no passado e no presente. 
 
• Integra a influência de fatores biológicos/ genéticos 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 67 
 e epigenéticos / evolutivos na mediação e ativação 
desses padrões de resposta. 
 
• Integra fatores relacionais, sociais, culturais e 
materiais como formadores de emergência, 
persistência, experiência e expressão desses padrões. 
 
• Conta com a responsabilidade pelas diferenças 
culturais na experiência e expressão de sofrimento. 
 
• Atribui um papel central ao significado pessoal, 
emergindo dos discursos e crenças sociais e culturais, 
das condições materiais e das potencialidades 
corporais. 
 
• Atribui um papel central à agência pessoal ou à 
capacidade de exercer influência dentro em situações 
de inevitáveis ​​restrições psicossociais, biológicas e 
materiais. 
 
• Reconhece a centralidade do contexto relacional / 
social / político nas decisões sobre o que conta como 
uma necessidade ou crise de "saúde mental" em 
qualquer situação. 
 
• Fornece uma base de evidências para o desenho de 
padrões gerais de respostas de enfrentamento e 
sobrevivência para informar narrativas individuais / 
familiares / de grupo. 
 
 
 
• Oferece maneiras alternativas de cumprir as 
funções relacionadas ao serviço, administrativas e 
de pesquisa do diagnóstico. 
 
• Sugere usos alternativos de linguagem, enquanto 
argumenta que não pode haver substituições de 
um para um em termos de diagnóstico atuais. 
 
• Inclui significados e implicações para a ação em 
uma comunidade / política social / contexto 
político mais amplo. 
 
Um resumo esclarecido sobre a 
abordagem 
 
A ampla Estrutura PTM é derivada de uma vasta gama 
de teorias e pesquisas, construídas e realizadas 
através de disciplinas e métodos bem elaborados. É 
composta por quatro aspectos inter-relacionais: 
 
1) O funcionamento do PODER (biológico; coercivo; 
legal; econômico / material; ideológico; social / 
cultural e interpessoal). 
 
2) A AMEAÇA que a operação negativa do poder pode 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 69 
representar para a pessoa, o grupo e a comunidade, com 
particular referência ao sofrimento emocional, e as 
maneiras pelas quais isso é mediado pela nossa biologia. 
 
3) O papel central do SIGNIFICADO (como produzido 
nos discursos sociais e culturais, e estimulado pelas 
respostas corporais evoluídas e adquiridas) na 
modelagem da operação, experiência e expressão de 
poder, ameaça e nossas respostas à ameaça. 
 
4) E como reação a todos os itens acima, a RESPOSTA À 
AMEÇA instruída a qual uma pessoa, família, grupo ou 
comunidade, pode recorrer para garantir a sobrevivência 
emocional, física, relacional e social. Estas variam desde 
reações fisiológicas em grande parte automáticas até 
ações e respostas com base linguística ou 
conscientemente selecionadas. 
 
Ao contrário do modelo biopsicossocial mais tradicional 
de sofrimento mental, não há suposição de patologia e 
os aspectos "biológicos" não são privilegiados, mas 
constituem um nível de explicação fundamental ligado a 
todos os outros. 
 
O indivíduo não existe e não pode ser entendido 
separadamente de seus relacionamentos, comunidade e 
cultura; o significado só surge quando elementos sociais, 
culturais e biológicos se combinam; e as capacidades 
biológicas 
 
não podem ser separadas do ambiente social e 
interpessoal. 
 
Dentro disso, observa-se o significado como algo 
intrínseco à expressão e à experiência de todas as 
formas de sofrimento emocional, dando forma única 
às respostas pessoais do indivíduo. 
 
Em resumo, a abordagem PTM, tanto para às origens 
quanto para à manutenção da aflição, substitui a 
questão centro da medicalização existente, a saber, “o 
que está errado com você?”, por outras quatro 
alinhadas com seus princípios e valores, quais sejam: 
 
• O que aconteceu com você? (como o PODER 
operou na sua vida?) 
 
• "Como isso afetou você?" (Que tipo de AMEAÇAS 
isso representa?) 
 
• "Que sentido você fez dela?" (Qual é o 
SIGNIFICADO dessas situações e experiências para 
você?) 
 
• "O que você teve que fazer para sobreviver?" (Que 
tipo de RESPOSTA À AMEAÇA você está usando?) 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 70 
Um dos principais objetivos da Estrutura do PTM é 
auxiliar a identificação provisória de padrões baseados 
em evidências de situações de estresse, experiências 
incomuns e comportamentos ditos problemáticos. 
 
Em contraste com os mecanismos causais biológicos 
específicos que sustentam algumas categorias de 
distúrbios médicos, esses padrões são altamente 
probabilísticos, com influências operando de maneiracontingente e sinérgica. 
 
No entanto, isso não significa que não existem 
regularidades. Pelo contrário, isso implica que essas 
regularidades não são, como na medicina, 
fundamentalmente padrões na biologia, mas padrões de 
respostas de ameaças corporificadas, baseadas em 
significado, à operação negativa do poder. 
 
A Estrutura PTM demonstra como esses padrões 
probabilísticos podem ser descritos em vários níveis. Isso 
define o cenário para a identificação de sete Padrões 
Gerais Provisórios que emergem de dentro da Estrutura 
Fundamental. 
 
Eles não são substitutos de diagnósticos, mas são 
baseados em amplas regularidades que atravessam 
grupos de diagnóstico, e que surgem de significados 
pessoais, sociais e culturais. 
Esses Padrões Gerais Provisórios cumprem um dos 
principais objetivos da Estrutura, que é restaurar os 
vínculos entre ameaças baseadas em significado e 
respostas a ameaças baseadas em significado. 
 
Essas respostas surgem das necessidades humanas 
fundamentais a serem protegidas e valorizadas, que 
encontram um lugar no grupo social e assim por 
diante, e representam as tentativas das pessoas, 
conscientes ou não, de sobreviver aos impactos 
negativos do poder. 
 
Entendidas como "estratégias de sobrevivência" em 
vez de "sintomas", elas cruzam diagnósticos, através 
de especialidades e através dos limites do que é 
geralmente considerado "normal" versus "patológico". 
Elas estão presentes em diversos pontos e, até certo 
medida, na vida cotidiana de todos. 
 
O Modelo PTM e os padrões derivados dele fornecem 
uma nova perspectiva sobre a aplicação dos sistemas 
de classificação psiquiátrica ocidental às culturas não-
ocidentais e a expressões de sofrimento, tanto ao 
Reino Unido quanto ao mundo. 
 
A Estrutura PTM prevê e permite a existência de 
experiências culturais 
Novas Abordagens em Saúde Mental 72 
e expressões de sofrimento amplamente variáveis, sem 
as posicionar como variações bizarras, primitivas, menos 
válidas ou exóticas do paradigma diagnóstico dominante. 
 
Como os padrões de sofrimento emocional sempre 
serão, em certa medida, locais, no tempo e no lugar, 
nunca poderá haver um léxico universal de tais padrões. 
 
Mais especificamente, o Modelo PTM pode sugerir 
alternativas ao diagnóstico para fins de agrupamento; 
administração; judicialização; planejamento de serviços 
e pesquisas. Pode permitir a geração e a construção de 
narrativas pessoais e abrir a possibilidade de diferentes 
histórias não-diagnósticas de força e sobrevivência 
emergirem. 
 
Junto a isso, oferece uma forma de cumprir, mais 
eficazmente, alguns dos benefícios relatados do 
diagnóstico, como fornecer uma explicação, ter a aflição 
validada, facilitar o contato com outras pessoas em 
circunstâncias semelhantes, oferecer alívio da vergonha 
e da culpa, sugerir um caminho a seguir e transmitir 
esperança para uma mudança positiva. 
 
Reflexões importantes acerca de 
estigmas, dificuldades e o PTM 
 
As tendências e necessidades apresentadas neste 
conteúdo são tendências e necessidades de nível 
populacional, não caminhos individuais pré-
determinados, e elas descrevem riscos, não 
inevitabilidades. 
 
Nesse contexto, a estrutura fundamental da 
abordagem tem implicações extremamente 
importantes para os sistemas de saúde mental e para 
os serviços humanos como um todo. 
 
Um modelo cumulativo e sinérgico de impacto das 
adversidades como o PTM não apoia a 
individualização do sofrimento, tanto medicamente 
quanto psicologicamente. Em vez disso, implica a 
necessidade de ação, principalmente através da 
política social, o mais cedo possível, antes que ciclos 
destrutivos sejam postos em movimento. 
 
Embora muitas pessoas rotuladas psiquiatricamente 
tenham experimentado tanto rupturas quanto formas 
específicas de adversidade, até mesmo a educação 
mais amorosa e 
Novas Abordagens em Saúde Mental 73 
segura não poderia fornecer proteção contra todas as 
ameaças, especialmente considerando um contexto mais 
amplo de desigualdade social. 
 
Igualmente, muito poucas pessoas, independentemente 
do seu passado, sobreviveriam a circunstâncias como 
abuso doméstico, tráfico, status de refugiado, dor física 
crônica e problemas de saúde, luto múltiplo, grandes 
desastres naturais, guerras e assim por diante, sem 
cicatrizes emocionais. 
 
Quanto menores são os fatores de melhoria na vida de 
uma pessoa (por exemplo, cuidadores alternativos; 
apoio social; moradia adequada; habilidades 
desenvolvidas; educação; acesso a recursos; intervenção 
apropriada) menores as chances dela escapar destes 
ciclos, que envolvem sociedade e saúde mental 
diretamente. 
 
Apesar dessas constatações, é igualmente importante 
reconhecer que cada uma dessas possibilidades também 
pode ser reproduzida de maneira positiva - talvez na 
forma de um parente carinhoso, um talento particular ou 
uma mudança nas circunstâncias sociais de uma vida. 
Com o tipo certo de apoio, muitas pessoas conseguiram 
encontrar uma saída para esses padrões destrutivos. 
 
A estrutura fundamental da abordagem PTM surge no 
contexto de impactos negativos 
do poder, tanto imediatos quanto mais distantes. 
Juntamente com o trabalho de muitos outros, esta 
análise sugere que as estruturas socioeconômicas 
influenciam os discursos e significados sociais que 
servem e moldam os interesses de vários tipos de 
poder, tanto em sua operação negativa quanto 
positiva na saúde mental. 
 
Em todas essas situações, a angústia do indivíduo 
provavelmente aumentará proporcionalmente ao grau 
de assimilação das normas e discursos sociais 
subjacentes, por exemplo, aqueles relacionados a 
papéis de gênero ou de responsabilidade pessoal. 
 
A vergonha é uma emoção social e, embora um 
diagnóstico psiquiátrico seja às vezes aceito como 
proteção da vergonha para suas ações, ela também 
pode ser experimentada como abreviação de um 
julgamento comunitário de: "Você é um membro falho 
e inaceitável do grupo social". O diagnóstico pode, 
assim, definir o cenário para perpetuar o ciclo de 
traumatismo, discriminação e exclusão social. 
 
A estrutura da abordagem PTM pode ser usada em 
combinação com uma lista de "fatores de melhoria", 
como uma lista de verificação rápida para sugerir uma 
maneira de entender e validar 
Novas Abordagens em Saúde Mental 75 
o grau de sofrimento / dificuldade no funcionamento 
experimentado por um indivíduo, família, grupo ou 
comunidade em particular, e também como forma de 
alterar essa realidade. 
 
E para além de seu uso tradicional, pode também ser 
vista como um modelo inicial no qual outros modelos e 
corpos de evidências existentes podem ser acomodados. 
 
Pode, dessa forma, servir também como um ponto de 
referência importante para identificar lacunas na teoria e 
prática atuais, que muitas vezes surgem da atenção 
insuficiente à operação negativa do poder e seus 
significados ideológicos associados. 
 
Referência Bibliográfica 
 
Conteúdo traduzido e adaptado do documento: 
 
Referência: Johnstone, L. & Boyle, M. with Cromby, J., 
Dillon, J., Harper, D., Kinderman, P., Longden, E., Pilgrim, 
D. & Read, J. (2018). The Power Threat Meaning 
Framework: Overview. Leicester: British Psychological 
Society. 
 
Abordagem Sistêmica Comunitária 
(Saúde Mental em Geral) 
Capítulo 7 
No que consiste a Abordagem 
Sistêmica Comunitária 
 
A Abordagem Sistêmica Comunitária foi constituída 
para expor, a princípio, às pessoas da grande área de 
Bom Jardim, região de Fortaleza/CE, novas 
possibilidades de superação da pobreza e de 
conquista de uma saúde e vida dignas. 
 
A abordagem se desenvolveu por meio da união de 
saberes comunitários e científicos, colocados em 
prática através de atividades sociais que promoveriam 
seus objetivos. É uma abordagem de impacto múltiplo 
e que aborda o ser humano como um todo, 
conectando-o a comunidade e ao seu meio ambiente 
de maneira responsável e transformadora. 
 
Em menos de duas décadas, essa tecnologia 
socioterapêuticajá transformou e melhorou milhares 
de vidas na área de Bom Jardim, em Fortaleza, e em 
Maracanaú e Pacatuba, com os índios Pitaguary, 
através de diversas atividades e projetos 
desenvolvidos por seus coordenadores e parceiros. 
 
Reconhecida internacionalmente, a Bolívia, por 
exemplo, manifestou 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 77 
interesse em aplicar a Abordagem Sistêmica Comunitária 
como uma política pública capaz de revigorar e melhorar 
vidas. 
 
Os três pilares da ASC 
 
Autopoiese comunitária – processo evolutivo de 
autogeração, autorregulação e auto-organização do 
sistema comunitário. Oferece oportunidade para que a 
própria comunidade seja protagonista do processo de 
transformação social e cultural do contexto onde está 
inserida. 
 
Trofolaxe humana – aquecimento da comunicação 
intrapessoal (consigo mesmo), interpessoal (com o 
próximo) e transpessoal (com o transcendente), 
continuada e geradora de novas soluções de problemas 
pessoais e comunitários. O fortalecimento de laços 
afetivos e sociais entre as pessoas e a comunidade 
oferece novos caminhos de cura integrados à evolução 
biopsicossocioespiritual. 
 
Sintropia – É uma tendência natural para o 
autoaperfeiçoamento. Através do campo organizacional 
comunitário, acontece o fenômeno da emergência 
sintrópica, revelando novas informações até então 
presentes no nível inconsciente pessoal ou coletivo 
possibilitando a melhor solução da questão. 
 
As ferramentas da ASC 
 
1) Terapia da Autoestima. A Terapia da Autoestima 
tem por objetivo desenvolver a comunicação 
intrapessoal e interpessoal das pessoas, fortalecendo 
a autonomia, a dignidade e a sabedoria de cada uma, 
algo que seria encarado pelos criadores do método 
como um promovedor natural de cidadania ativa e 
positiva. 
 
A autoestima de uma pessoa ajuda-a a desenvolver 
novas habilidades para cuidar de si mesma, assumir 
seu lugar de direito dentro da família, tornar-se um 
membro capacitado e engajado da sociedade e 
transformar positivamente seu relacionamento com a 
Mãe Terra. Através de várias técnicas, dinâmicas e 
terapias complementares, cada participante melhora 
sua autoestima, despertando seu potencial criativo e 
participativo. 
 
2) Terapia Comunitária. Nos grupos de Terapia 
Comunitária, os participantes coletivamente 
desenvolvem suas habilidades para melhor gerenciar 
e resolver seus problemas assumindo o papel de um 
verdadeiro protagonista em suas vidas. Além disso, 
encorajam os participantes a 
Novas Abordagens em Saúde Mental 78 
assumirem um lugar apropriado na construção de uma 
sociedade mais justa e unida. 
 
Esta forma de terapia baseia-se no princípio da 
circularidade, em que não há vítimas e nem 
perpetradores, porque todos compartilham da 
responsabilidade. Hoje, existe uma rede de grupos de 
Terapia Comunitária que atende milhares de pessoas 
todos os meses em todo o Brasil. 
 
3) Projeto “Sim para a Vida”. O Projeto “Sim para a 
Vida” trabalha com a Abordagem Sistêmica Comunitária 
para atender crianças em situação de alto risco de vida, 
evitando sua exposição inicial às drogas, à violência e a 
violações de direitos humanos, buscando desenvolver 
seus sensos de agência como cidadãos. 
 
O Projeto oferece oportunidades para os jovens 
estimularem suas múltiplas inteligências através do 
envolvimento em atividades artísticas, esportivas e de 
lazer. 
 
Ele estimula o desenvolvimento integral das dimensões 
biopsicossocial-espirituais de cada pessoa e foi 
amplamente reconhecido por seu impacto pela 
Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD). 
 
A União Européia, a CBM International e a Universidade 
Federal do Ceará são parceiros valiosos deste Projeto. 
 
 
4) Centro de Atenção Psicossocial de Bom Jardim 
(CAPS). O CAPS é co-administrado pela organização 
implementadora da abordagem e pela Secretaria 
Municipal de Saúde e contribui para a Abordagem 
Sistêmica Comunitária, oferecendo tratamentos para 
pessoas com transtornos psicológicos e apoio familiar. 
 
Com o objetivo de promover o cuidado e a integração 
social, os CAPS desenvolveram-se como alternativas à 
internação psiquiátrica e são resultado do processo 
continuo de participação ativa da comunidade na 
sociedade e de corresponsabilidade nas políticas 
públicas. 
 
5) Residências Terapêuticas. Em funcionamento 
desde 2011, as residências terapêuticas atendem 
pacientes de hospitais psiquiátricos institucionalizados 
por pelo menos três anos e que não têm mais contato 
com suas famílias. 
 
Os moradores são acolhidos em uma nova casa onde, 
com o apoio de cuidadores comunitários certificados 
na Abordagem Sistêmica Comunitária, encontram a 
oportunidade de fazer laços e formar amizades com 
seus cuidadores, seus vizinhos e a comunidade em 
geral. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 80 
A residência oferece aos seus membros cuidados através 
de diversas atividades terapêuticas, que os estimulam a 
perceber que é possível reconectar-se com sua realidade 
social e cultural e integrar-se a sua comunidade. A 
residência terapêutica também é co-administrada pela 
organização participante e pela Secretaria Municipal de 
Saúde de Fortaleza. 
 
6) Jardim Comunitário. O Jardim Comunitário oferece à 
comunidade o contato com a terra, revivendo raízes 
culturais, estimulando a comunhão entre a natureza e os 
seres humanos e proporcionando uma perspectiva 
pedagógica transformadora. 
 
Este programa baseia-se no conhecimento existente da 
comunidade de agricultura e jardinagem, a fim de 
ensinar a todos os membros da comunidade as 
habilidades necessárias para cuidar da terra. No jardim, 
a comunidade desenvolve atividades de terapia 
ocupacional e Farmácia Viva, nas quais produz xaropes 
medicinais, sabonetes e xampus. 
 
A Comunidade Garden, como é chamada, é parceira do 
Departamento de Farmácia da Universidade Federal do 
Ceará (UFC) no cultivo da lippia alba (erva cidreira), que 
é o principal ingrediente dos medicamentos anti-
ansiedade naturais. Isso proporciona às pessoas uma 
medicação alternativa para evitar a dependência 
potencial de drogas ansiolíticas. 
 
7) AME House. A AME House (Arte, Música e 
Performance) abre portas para pessoas com maior e 
menor inclinação para formas criativas de expressão. 
Em 2008, a AME House foi designada pelo Ministério 
Federal da Cultura como um marco cultural. 
 
A Casa integra o Centro de Leitura de Intercâmbio de 
Conhecimento (Troca de Saberes) e proporciona à 
comunidade de Bom Jardim um espaço dinâmico de 
encontro, escuta, cidadania, lazer e cultura. 
 
Oficinas de artesanato, digitação, violão, bateria, 
piano, flauta, percussão, violino, cardmaking orgânico, 
pintura, mosaicos, teatro, cinema e ferramentas 
audiovisuais são oferecidos regularmente. 
 
A AME House oferece terapia de arte para membros 
da região da Grande Fortaleza, bem como um 
alinhamento com o CAPS da Comunidade Bom Jardim. 
O objetivo da AME House é expandir as múltiplas 
inteligências dos membros da comunidade e 
aumentar seu senso de agência e autoestima através 
do desenvolvimento de habilidades comercializáveis. 
 
8) Escola de Artes Culinárias. A Escola de Artes 
Culinárias ​​ 
Novas Abordagens em Saúde Mental 81 
treina os membros da comunidade como chefs 
profissionais, promovendo o objetivo de criar 
oportunidades de inclusão socioeconômica e o 
desenvolvimento de múltiplas inteligências para os 
membros da comunidade. 
 
A Escola de Artes Culinárias baseia-se na 
sustentabilidade e se utiliza de fontes alternativas de 
energia, como energia solar e hídrica, para sustentar a 
produção agroecológica de vegetais, frutas, aves, peixes 
e ovos orgânicos. 
 
Principais desafios para a 
Abordagem Sistêmica Comunitária 
 
• Estigma e desafios ideológicos 
 
• Resistência à mudança do paradigma de ideias e 
abordagens tradicionais aos tratamentos de saúde 
mental 
 
• Estereótipos e crenças negativas comuns na 
comunidade relacionadas à saúde mental 
 
• Situação política e questões governamentais quereduzem o orçamento disponível para projetos 
comunitários de saúde mental. 
 
 
• Fundamentalismo religioso; atitudes 
estigmatizantes em relação a pessoas com 
problemas de saúde mental são amplamente 
difundidas e comumente mantidas, especialmente 
sobre as causas de problemas de saúde mental, 
como a possessão demoníaca ou espiritual. 
 
Continuação dos Projetos e difusão 
da Abordagem Sistêmica 
Comunitária 
 
A tecnologia sócioterapêutica da Abordagem 
Sistêmica Comunitária pode ser replicada em muitas 
outras instituições de saúde mental que se 
concentram na criação de inclusão social e 
empoderamento. 
 
Essa abordagem foi desenvolvida como um rompedor 
de paradigmas na comunidade e foi formalmente 
incorporada pelo Departamento de Saúde Mental do 
governo municipal de Fortaleza por meio do uso de 
vários grupos sócioterapêuticos integrativos e da 
certificação de profissionais de saúde mental nessa 
abordagem. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 83 
Há planos para expandi-la, seu treinamento e 
certificação, nacional e internacionalmente, para 
fortalecer o combate às desigualdades e a melhoria de 
ofertas em saúde e autonomia para outras regiões do 
Brasil e outros países da América Latina, da África e da 
Ásia. 
 
Referências Bibliográficas 
 
Conteúdo traduzido e adaptado dos documentos: 
 
Referência: MHIN. “Community Systemic Approach”. 
Disponível em: 
. Acesso em: 10 de junho, 2019. 
 
Referência: MSMC. “Abordagem Sistêmica Comunitária”. 
Disponível em: 
. Acesso em: 11 de junho, 2019. 
 
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The Green Care Approach (Cuidado 
Verde) (Saúde Mental em Geral) 
Capítulo 8 
Uma breve história sobre 
abordagens baseadas na natureza e 
bem-estar 
 
Usar a natureza para nutrir uma boa saúde não é uma 
ideia nova. Prisões, hospitais, mosteiros e igrejas têm 
sido historicamente associados a diferentes espaços 
terapêuticos ao ar livre. Frumkin (2001) aponta que 
“os hospitais têm tradicionalmente jardins como um 
complemento à recuperação e cura”. 
 
Durante a Idade Média, muitos hospitais e mosteiros 
que cuidavam dos doentes incorporavam 
tradicionalmente pátios com arcadas para fornecer 
abrigo externo a pacientes e criavam belos jardins ao 
seu redor (Bird, 2007; Nightingale, 1860, 1996; 
Gerlach-Spriggs et al, 1998). 
 
Os primeiros"programas de cuidados" reconhecíveis 
que usaram o que pode ser chamado de "princípios 
do cuidado verde" foram em Geel, na Flandres, no 
século XIII. Aqui, os "peregrinos mentalmente 
angustiados" vinham para rezar no santuário de Santa 
Dympna e ficavam numa "aldeia terapêutica" onde 
eles eram 
Novas Abordagens em Saúde Mental 85 
solidariamente cuidados pelos residentes. Bloor (1988) 
descreveu isso como o primeiro exemplo de uma 
"Comunidade Terapêutica". 
 
Este era um ambiente agrícola rural, e a principal 
atividade de trabalho para todos era trabalhar na terra. 
Uma variedade de estruturas e procedimentos estava 
em vigor para cuidar desses indivíduos no contexto das 
famílias locais e da vida mais ampla da aldeia. 
 
A tradição de cuidar dessa forma ainda continua na 
cidade original de Geel, a 60 km a nordeste de Bruxelas, 
na atual Bélgica (ver Roosens, 1979, 2008). A literatura 
contém várias referências e observações sobre os 
benefícios mentais da agricultura. 
 
Por exemplo, Benjamin Rush, um médico americano do 
início do século XIX, é muitas vezes creditado como 
sendo o "pai" da moderna horticultura terapêutica 
através de suas aparentes observações de que trabalhar 
na fazenda de asilos era algo benéfico. 
 
Observações mais detalhadas e completas podem ser 
encontradas nos registros dos antigos asilos vitorianos, a 
maioria dos quais tinha suas próprias fazendas e hortas 
comerciais. O trabalho na fazenda foi considerado uma 
maneira útil de manter os pacientes longe de prejuízos e 
de proporcionar-lhes um passatempo interessante. 
 
O próprio ar fresco era (e ainda é) considerado 
"terapêutico". Por exemplo, em seus estudos sobre 
saúde mental e o “trabalho da natureza”, isto é, sobre 
jardinagem e manutenção de terras, Parr (2007) cita o 
relatório anual do Nottingham Borough Asylum de 
1881: 
 
“Descobrimos que os pacientes obtêm mais 
benefícios do emprego em jardins do que em 
qualquer outro lugar, e isso é natural, porque eles têm 
a vantagem do ar fresco, bem como da 
ocupação.”(Nottingham Borough Asylum, 1881, p. 11, 
citado por Parr, 2007, p. 542) 
 
O tratamento da tuberculose durante os séculos XVIII 
e XIX também invocou o uso de ar fresco e luz solar 
como agentes curativos (Bird, 2007). Os típicos asilos 
vitorianos incluíam recursos de design externos e 
áreas para lazer, campos esportivos, campos de 
cultivo e, às vezes, fazendas. Um ethos de regimes de 
asilos apresentavam exercícios e trabalhos fora de 
casa, permanecendo assim até meados do século XX 
(Bird, 2007). 
 
Na mesma linha, hospitais para dificuldades físicas 
mais gerais também seriam projetados com o tempo 
com base nestas estruturas e abordagens, 
Novas Abordagens em Saúde Mental 86 
visto que o trabalho de jardinagem era visto como uma 
forma de ajudar as pessoas que estavam se recuperando 
de lesões físicas a se fortalecerem e reconstituírem 
ossos e músculos danificados. 
 
À medida que a medicina e os cuidados de reabilitação 
se desenvolviam, a jardinagem era usada para "tratar" 
não apenas os feridos fisicamente, mas também aqueles 
com problemas de saúde mental e dificuldades de 
aprendizagem. Tornou-se uma das "atividades 
específicas" da terapia ocupacional como a disciplina 
desenvolvida nos anos 50 e 60 e ainda hoje é usada. 
 
Durante a década de 1940, várias comunidades 
terapêuticas foram estabelecidas em ambientes rurais, 
onde os benefícios da natureza eram reconhecidos como 
parte integrante da experiência terapêutica. As 
comunidades terapêuticas (CTs) são programas de 
tratamento baseados em grupos (isto é, proporcionando 
psicoterapia de grupo) que surgiram pela primeira vez no 
Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial e agora 
existem numa variedade de contextos. 
 
Um ponto importante a se destacar diz respeito a queda 
de interesse pela uso terapêutico da natureza e 
agricultura durante as décadas de 1950 e 60, quando 
fazendas e jardins hospitalares do Reino Unido seriam 
fechados por causa de mudanças na política de saúde e 
pela 
inquietude quanto aos hospitais que operavam 
grandes fazendas, ao passo em que se utilizavam de 
pacientes como trabalho não remunerado 
 
Passada essa fase, o interesse pelo potencial 
terapêutico do ambiente natural somente cresceu e o 
uso de atividades baseadas na natureza como uma 
forma de intervenção para promover a saúde e o 
bem-estar também, mas agora como uma variedade 
de abordagens que se desenvolveriam sob o guarda-
chuva do Green Care Approach. 
 
O que é particularmente interessante é que essas 
abordagens fornecem serviços para os mesmos 
grupos de clientes que as antigas fazendas 
hospitalares e asilares e hortas comerciais, ou seja, 
aquelas com problemas de saúde mental e 
dificuldades de aprendizagem. No entanto, a base de 
clientes também se ampliou para incluir quase todos 
os grupos vulneráveis ​​e excluídos. 
 
O conceito de “cuidar” para o 
Green Care Approach 
 
Uma das distinções que geralmente podem ser 
Novas Abordagens em Saúde Mental 88 
feitas entre o Green Care e outras atividades que as 
pessoas realizam no ambiente natural (caminhada, 
canoagem, mountain bike e assim por diante) é que o 
Green Care é destinado a fornecer uma gama (às vezes 
específica) de benefícios para determinados grupos de 
clientes. 
 
Outras atividades dentro da natureza podem contribuir 
para a saúde e o bem-estar das pessoas de uma maneira 
geral, mas mesmo que sejam organizadas, pode haver 
pouca ou nenhuma ênfase nos resultados terapêuticos a 
serem obtidos. Quando essas atividades se concentram 
em ajudar as pessoas vulneráveis ​​a alcançarem 
resultados específicos, elas passam para os domínios do 
Green Care. 
 
O cuidado verde em todas as suas formas se concentra 
em fornecer benefícios baseados na natureza para vários 
grupos de pessoas vulneráveis ​​ou socialmente excluídas. 
Há, no entanto, diferenças no nível de "cuidado" 
fornecido por diferentes opções de cuidados com a 
saúde. 
 
Alguns funcionam como programas de terapia 
estruturada (por exemplo, terapia horticultural e terapia 
assistida por animais) com objetivos claramente 
definidos e orientados para o paciente, enquanto outros 
buscam oferecer benefícios mais amplos. 
No entanto, estes também são destinados a grupos e 
indivíduos específicos, em vez de participantes 
ocasionais que podem não ter consciência da intenção 
"terapêutica". 
 
Ostensivamente, o mesmo meio ou ambiente pode 
ser usado tanto para as terapias específicas quanto 
para a promoção de objetivos mais amplos. 
 
A terapia assistida por animais, por exemplo, usa o 
contato com animais como uma ferramenta para o 
terapeuta trabalhar com clientes individuais e abordar 
áreas específicas de dificuldade, enquanto fazendas 
de cuidados usam animais no ambiente agrícola para 
obter benefícios mais amplos resultantes da ocupação 
significativa, de oportunidades para cuidar e de 
outros. 
 
O ambiente natural pode ser usado para fornecer 
muitos aspectos diferentes e às vezes específicos de 
"cuidado". 
 
Neste sentido, a palavra "cuidado" no Green Care é 
tomada em seu sentido mais amplo, isto é, 
compreendendo elementos de saúde, reabilitação 
social, 
Novas Abordagens em Saúde Mental 89 
educação ou oportunidades de emprego para vários 
grupos vulneráveis. 
 
A essência do Green Care e suas 
dimensões “comuns” e “naturais” 
 
As intervenções do Green Care, como por exemplo, a 
agricultura de cuidado e a horticultura terapêutica, 
permitem com que os clientes participem de atividades 
que sejam significativas e produtivas para eles, e que 
tenham muitos atributos em comum com um emprego 
remunerado. Estes incluiriam a atividade física, uma 
rotina diária, interações sociais, oportunidades e assim 
por diante. 
 
Poder-se-ia argumentar que muitas formas de emprego 
protegido em fábricas ou oficinas proporcionariam os 
mesmos benefícios que o Green Care, embora em um 
ambiente diferente. 
 
No entanto, Sempik et al (2005) mostraramque a 
horticultura social e terapêutica (HTS) permite com que 
os clientes, acima de tudo, sejam produtivos em um 
ambiente isento de pressões, podendo desenvolver um 
senso de identidade e competência em torno daquilo 
que realizam, além de criarem conexões mais profundas 
com outras pessoas participando das atividades ao seu 
lado, dentre outras coisas. 
 
Nesse sentido, as atividades e processos dentro do 
Green Care podem ser categorizados como aqueles 
que são "comuns", isto é, que ocorrem em comum 
com outras circunstâncias e abordagens e não 
envolvem necessariamente ou requerem um 
ambiente natural, e aqueles que são “naturais”, isto é, 
que envolvem ambientes e técnicas envolvendo a 
natureza e possuem particularidades em relação a 
outros métodos e abordagens. 
 
Dentro do Green Care, esses "processos comuns" 
podem ocorrer ou serem expressos no contexto de 
componentes ou ambientes naturais - plantas, animais 
e paisagens. Pensa-se que o pano de fundo de uma 
dimensão natural para uma atividade comum confere 
benefícios adicionais. 
 
Mas a natureza não é apenas um pano de fundo em 
muitas formas de tratamento do Green Care - é um 
ingrediente essencial. A agricultura e a horticultura 
exigem que os participantes se envolvam ativamente 
com o ambiente natural. Sem isso, essas atividades 
não seriam possíveis. 
 
A necessidade de interagir com a natureza e moldá-la 
(como todas essas atividades fazem invariavelmente) 
distingue atividades como a agricultura daquelas que 
usam o ambiente natural apenas como pano de 
fundo. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 91 
As dimensões “comuns” do Green 
Care 
 
• Desenvolvimento de rotina diária e estrutura 
 
• Participação na produção por meio de atividades 
significativas (mas não em ambiente pressionado) 
 
• Interação social e oportunidades de contato social 
 
• Trabalhar com os outros para um propósito comum 
 
• Oportunidades de envolvimento e de “ter uma 
palavra a dizer” no desenvolvimento de atividades 
 
• Desenvolvimento de habilidades, competência e 
identidade; e o desenvolvimento da autoestima e da 
estima dos outros 
 
• Oportunidades de realizar atividade física 
 
• Associação com trabalho, recebimento ocasional de 
pagamento nominal ou despesas 
 
• Possíveis oportunidades de emprego remunerado 
 
• Acesso potencial a produtos das fazendas ou da horta 
 
As dimensões “naturais” do Green 
Care 
 
• Senso de conexão com a natureza, possivelmente 
satisfazendo uma necessidade espiritual 
 
• Visão da natureza como inerentemente pacífica, 
algo a exercer um efeito calmante 
 
• Senso de bem-estar através da crença de que a 
natureza e o ar fresco são inerentemente saudáveis 
 
• Amor pela natureza ao se envolver com ele sem 
grande esforço 
 
• Oportunidade para nutrir plantas e animais e a 
satisfação que se segue 
 
• Proteger a natureza - cumprimento do desejo de 
proteger o meio ambiente de danos causados por 
pesticidas e outros produtos químicos 
 
• Trabalhando em conjunto com a natureza para 
mantê-la ou melhorá-lo 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 92 
• Ser governado pelas necessidades do meio ambiente 
através da necessidade de plantar ou colher em 
momentos apropriados - o ambiente exige o trabalho 
 
As ferramentas terapêuticas do 
Green Care Approach 
 
1) Care Farming (Agricultura de Cuidado) 
 
A Care Farming pode ser definida como o uso de 
fazendas comerciais e paisagens agrícolas como base 
para promover a saúde mental e física, através de 
atividades agrícolas normais (Hassink, 2003; Hassink e 
van Dijk, 2007; Hine et al, 2008), e é um movimento 
crescente para fornecer benefícios de saúde, sociais ou 
educacionais, através da agricultura, para uma ampla 
gama de pessoas. 
 
Estes podem incluir aqueles com necessidades médicas, 
psicológicas ou sociais definidas (por exemplo, pacientes 
psiquiátricos, pessoas que sofrem de depressão, pessoas 
com dificuldades de aprendizagem, pessoas com 
histórico de drogas, jovens ou idosos insatisfeitos), bem 
como aqueles que sofrem os efeitos do trabalho - 
relacionados com stress ou problemas de saúde 
decorrentes da obesidade. 
 
A agricultura de cuidado é, portanto, uma parceria 
entre agricultores, provedores de saúde e assistência 
social e participantes. Todas as fazendas de assistência 
oferecem alguns elementos de "agricultura" em 
diferentes graus, seja em culturas, horticultura, 
pecuária, uso de máquinas ou manejo florestal. 
 
Da mesma forma, todas as fazendas de cuidado 
oferecem algum elemento de "cuidado", seja de 
saúde, assistência social ou benefícios educacionais. 
 
Muitas fazendas de cuidado oferecem contato 
terapêutico com o gado agrícola, mas algumas 
fornecem terapia específica assistida por animais. 
 
Muitas fazendas oferecem participação no cultivo de 
plantações, saladas ou vegetais, por exemplo, mas 
algumas também oferecem terapia hortícola. 
 
A distinção entre projetos de horticultura social e 
terapêutica e fazendas de cuidados é que os projetos 
de terapia hortícola não costumam enfocar 
principalmente atividades de produção comercial, ao 
passo que muitas fazendas de assistência se 
concentram principalmente na produção em nível 
comercial. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 94 
Para algumas fazendas de cuidado, é a notável ausência 
dos elementos “cuidado” ou “institucional” e a presença 
de uma fazenda comercial com o agricultor, a família do 
agricultor e a equipe, que são os constituintes da 
reabilitação social bem-sucedida dos participantes 
(Hassink e cols. , 2007). 
 
No entanto, a situação em outras fazendas de cuidado 
pode ser mais "cuidadosa" e "cuidadora", orientada com 
o elemento agrícola presente principalmente para 
produzir benefícios para os clientes, e não para a 
produção agrícola comercial. 
 
2) Animais e o Green Care 
 
Intervenções Assistidas por Animais (IAA) é o termo 
geral usado para uma variedade de maneiras de se 
utilizar animais na reabilitação ou assistência social de 
seres humanos (Kruger e Serpell, 2006). Isso poderia 
envolver terapia pura ou incluir os animais em várias 
atividades. 
 
Terapia Assistida por Animais (TAA) é o termo usado para 
uma intervenção dirigida a um objetivo em que um 
animal que satisfaz certos critérios é parte integrante do 
processo de tratamento de um cliente humano em 
particular, um processo que é dirigido, documentado e 
avaliado por profissionais. 
 
Atividades Assistidas por Animais (AAA) são usadas 
para um serviço menos controlado, que pode ter um 
efeito terapêutico, mas que não é uma terapia 
verdadeira em um sentido estrito. Tanto pessoas da 
área da saúde quanto pessoas comuns podem estar 
envolvidos nessas atividades. 
 
O papel terapêutico dos animais de companhia está 
bem estabelecido para pessoas fisicamente doentes, 
pessoas com transtornos psicológicos, pessoas 
emocionalmente perturbadas, prisioneiros, viciados 
em drogas, idosos e crianças. 
 
A evidência foi revisada recentemente por Fine 
(2006). O contato com animais de companhia está 
associado a mudanças positivas na função 
cardiovascular e na concentração de vários 
neurotransmissores, na redução de distúrbios 
psicossomáticos e aflições e a um número menor de 
visitas por ano de idosos ao médico. 
 
Hipotetiza-se que o apoio social (definido por Cobb 
(1976)) como um relacionamento interpessoal que 
leva a uma “crença por parte da pessoa de que ela é 
cuidada, amada, estimada e membra de uma rede de 
obrigações mútuas” (p. 300), agiria como um 
amortecedor 
Novas Abordagens em Saúde Mental 95 
contra respostas ao estresse e a doenças, algo 
possivelmente derivado não apenas das relações 
humanas, mas também de relações entre ser humano e 
animal. 
 
De acordo com McNicholas e Collis (2006), o apoio social 
de animais de estimação pode ser um substituto para a 
falta de apoio humano, fornecendo uma liberação das 
obrigações de relacionamento, reforçando a 
reorganização, restabelecendo rotinas e 
“complementando”o suporte humano existente. Este e 
outros estudos demonstraram a robustez dos efeitos dos 
animais de companhia também como catalisadores da 
interação social entre as pessoas. 
 
Durante as últimas décadas, dentro do conceito de 
Green Care, o papel terapêutico de cavalos e animais de 
fazenda tem sido amplamente implementado para 
pessoas com problemas físicos, psicológicos ou sociais 
(Bokkers, 2006). Intervenções Assistidas por Animais em 
fazendas podem ser oferecidas como um serviço 
especializado ou como parte de um serviço mais amplo 
com trabalho ou atividades variadas na fazenda. 
 
As pessoas podem cuidar e montar cavalos ou burros, ou 
trabalhar com gado, ovelhas, cabras, coelhos, 
porquinhos-da-índia ou galinhas. Muitas vezes, cães ou 
gatos estão presentes nas fazendas, e os clientes 
 
normalmente preferem interagir com eles. No 
entanto, os efeitos na saúde de Intervenções 
Assistidas por Animais com animais de fazenda ainda 
não são bem documentados. 
 
Pesquisas têm sido feitas em crianças interagindo com 
vacas na Fazenda Educacional Green Chimneys 
(Mallon, 1994), em surdos e/ou pessoas com 
múltiplas deficiências interagindo com cabras (Scholl, 
2003; Scholl et al, 2008), e em pessoas que montam a 
cavalo (Fitzpatrick e Tebay, 1997). O único ensaio 
clínico randomizado e controlado com animais de 
criação foi realizado em pacientes psiquiátricos que 
trabalham com vacas leiteiras (Berget, 2006). 
 
Constata-se, apesar disso, que animais podem afetar 
positivamente a saúde física/fisiológica humana em 
duas direções, ambas envolvendo componentes 
psicológicos: (i) estimulando o exercício e a condição 
física, resultando também em redução do estresse e 
em aumento do bem-estar mental e (ii) estimulando 
mecanismos psicológicos, levando por sua vez, para 
uma melhorara na proteção contra doenças 
psicossomáticas e aflições. 
 
3) Horticultura e Terapia 
Novas Abordagens em Saúde Mental 97 
A Horticultura, em muitas formas diferentes, tem sido 
usada como terapia ou como coadjuvante de terapias no 
tratamento de doenças. 
 
Também tem sido utilizada para alcançar benefícios 
sociais e psicológicos para indivíduos e comunidades 
desfavorecidas e promover a saúde e o bem-estar físico 
e psicológico dessas pessoas. 
 
Horticultura e Jardinagem ainda são usadas por muitos 
terapeutas ocupacionais para promover o 
desenvolvimento de habilidades motoras e também para 
desenvolver habilidades sociais e proporcionar 
oportunidades sociais, particularmente para aqueles 
com problemas de saúde mental. Juntamente com o uso 
da horticultura em terapia ocupacional, as práticas de 
"Terapia Hortícola" e "Horticultura Terapêutica" (ver 
Sempik et al, 2003) seriam igualmente desenvolvidas. 
 
Essas abordagens têm formato e estrutura reconhecidos, 
pedagogia e, em alguns países (por exemplo, os EUA), 
uma organização profissional. 
 
Os termos "Terapia Hortícola" e "Horticultura 
Terapêutica" são frequentemente usados ​​na literatura, 
às vezes alternadamente, para descrever o processo de 
interação entre o indivíduo e as plantas ou jardins que, 
na maioria dos casos, 
são facilitados por um profissional treinado. 
 
A instituição de caridade britânica Thrive usa as 
seguintes definições de Terapia Hortícola e 
Horticultura Terapêutica, que foram acordadas por 
profissionais britânicos em uma conferência sobre 
Desenvolvimento Profissional realizada em setembro 
de 1999: 
 
“Terapia Hortícola é o uso de plantas por um 
profissional treinado como meio pelo qual certas 
metas clinicamente definidas podem ser cumpridas. E 
a Horticultura Terapêutica é o processo pelo qual os 
indivíduos podem desenvolver o bem-estar usando 
plantas e Horticultura. Isto é conseguido através do 
envolvimento ativo ou passivo.”(Growth Point, 1999, 
p. 4) 
 
A distinção é que a Terapia Hortícola tem um objetivo 
clínico pré-definido semelhante ao encontrado na 
Terapia Ocupacional, enquanto a Horticultura 
Terapêutica é direcionada para melhorar o bem-estar 
do indivíduo de forma mais generalizada. 
 
Recentemente, o termo "Horticultura Social e 
Terapêutica" 
Novas Abordagens em Saúde Mental 98 
(HST) tornou-se amplamente utilizado (particularmente 
no Reino Unido), uma vez que as interações sociais, os 
resultados e as oportunidades são uma parte importante 
das atividades e processos dos projetos de hortas 
terapêuticas. 
 
4) Ecotherapy (Terapia Ecológica) 
 
A Ecoterapia como uma abordagem tem sido proposta 
como uma forma de prática desde meados dos anos 90 
(Roszak, 1995; Clinebell, 1996; Burns, 1998). George W. 
Burns, um psicólogo clínico e hipnoterapeuta 
australiano, desenvolveu o que chamou de 
"Ecopsicoterapia" e "Terapia Guiada pela Natureza". 
 
Sua principal tese expressava que uma relação positiva 
com o mundo natural é o caminho da saúde e que as 
pessoas que procuram ajuda se beneficiam ao serem 
guiadas (com a ajuda do terapeuta e dos exercícios 
baseados na natureza) para tal relacionamento. 
 
Desde os anos 90, no entanto, Burns (2009), juntamente 
com outros (Buzzell e Chalquist, 2009; Fisher, 2009) 
reconheceram o contexto social da Ecoterapia. 
 
Burns (2009) afirma que a Ecoterapia “se encaixa na 
definição de uma abordagem de “terceira onda”, na 
medida em que é uma terapia mais baseada 
 
 
em soluções” (p. 95). Isso também se refletiria em 
pesquisas adicionais sobre as aplicações da 
Ecoterapia, tanto na prática quanto na educação 
(Burls e Caan, 2005; Burls, 2007) e em uma descrição 
de um modelo contemporâneo de Ecoterapia para o 
século XXI (Burls, 2008) desenvolvido. 
 
A Ecoterapia contemporânea pode ser descrita como 
um modelo de terapia bastante desenvolvido em 
padrões ecológicos e que adota uma abordagem de 
“saúde do ecossistema” com um foco amplo para a 
transdisciplinaridade. 
 
Ela enfatizaria atitudes sociais, bem como pesquisas e 
atividades que implicam um elemento de 
reciprocidade entre o humano e a natureza, e que 
promovem ações positivas sobre o meio ambiente 
que melhoram o bem-estar da comunidade. 
 
O estrutura da Ecoterapia contemporânea delineia 
dois níveis de envolvimento: o nível micro do processo 
terapêutico e o nível macro dos processos sociais mais 
amplos. Esse processo implicaria em uma visão de si 
como parte de um "todo maior", que os indivíduos 
passam a apreciar e a cultivar, gerando reciprocidade 
em relação ao ecossistema. 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 100 
Os poderosos efeitos dessa dimensão irradiam do 
"microcosmo" pessoal para o "macrocosmo" exterior 
dos parâmetros sociais. A Ecoterapia traz à luz ao 
esclarecimento de que a natureza não apenas nos ajuda 
a encontrar um equilíbrio biopsicológico saudável, mas 
que a saúde de nosso ecossistema é um elemento 
inextricável de nossa comunidade e sistema social. 
 
A prática ecoterapêutica não pode, portanto, contornar 
as questões sociais, nem pode contornar as questões de 
saúde pública e da política. Espaços e projetos 
ecoterapêuticos também podem ser usados ​​pela 
comunidade em benefício do público em geral e do 
ecossistema; eles também ajudam o público a se 
reconectar com a natureza e podem levar a mudanças 
comportamentais e sociais. 
 
Os espaços ecoterapêuticos são, portanto, espaços 
multifuncionais. Embora a Ecoterapia tenha suas origens 
legítimas na Ecopsicologia, ela se encaixa melhor dentro 
do conceito mais radical de Eco-saúde. A estrutura da 
Eco-saúde visa obter consenso e cooperação entre todas 
as partes interessadas, promovendo abordagens que são 
menos dispendiosas do que muitos tratamentos médicos 
ou intervenções de atenção primária à saúde (Lebel, 
2003) e que influenciam o amplo espectro de sistemas 
sociais, desde moradores da comunidade até 
fabricantes, 
 
 
 
sobre o valor da saúde do ecossistema como um fator 
crucial na saúde pública. 
 
A Ecoterapia contemporânea pode, portanto, ser 
definida como um termo genérico para todos os 
métodos baseados na natureza, visando o 
restabelecimentodo bem-estar recíproco humano e 
ecossistêmico; uma abordagem transdisciplinar e 
ecossistêmica voltada para o aprimoramento 
colaborativo da saúde física, psicológica e social das 
pessoas, comunidades e ecossistemas. Esses 
resultados são alcançados através do 
desenvolvimento de uma relação pessoal e coletiva 
próxima com o ecossistema natural. 
 
5) Wilderness Therapy (Terapia da Natureza 
Selvagem) 
 
Virar-se para a natureza e sua configuração selvagem 
para oportunidades de crescimento da consciência 
pessoal e da realização de mudanças pessoais não é 
uma ideia nova; o processo existe nas culturas 
humanas há milhares de anos. No entanto, em 
tempos mais recentes, áreas ao ar livre tem sido cada 
vez mais utilizadas para fornecer uma gama de 
oportunidades de desenvolvimento pessoal 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 101 
e bem-estar através da imersão em ambientes naturais 
mais selvagens. 
 
Embora o termo "Terapia da Natureza Selvagem" seja 
um conceito relativamente novo na Europa, ele existe 
nos EUA há muitos anos. Múltiplas definições evoluíram 
à medida que o conceito ganhou popularidade, mas 
todas reconhecem um processo terapêutico que é 
inerente às expedições ambiente selvagem (Peacock et 
al, 2008). 
 
Davis-Berman e Berman (1994) inicialmente definiram a 
Terapia da Natureza Selvagem como: “o uso de técnicas 
de terapia tradicionais, especialmente para terapias de 
grupo, em ambientes externos, utilizando atividades de 
aventura ao ar livre e outras atividades para o 
desenvolvimento do crescimento pessoal” (p. 13). Em 
anos um pouco mais recentes, Connor (2007) forneceu 
uma definição mais concisa, afirmando que a TNS seria 
“um programa experiencial que ocorre em um ambiente 
selvagem ou remoto ao ar livre”. 
 
Oferecida por profissionais devidamente especializados 
da saúde mental, a Terapia da Natureza Selvagem é uma 
intervenção de tratamento emergente que usa uma 
abordagem sistemática para trabalhar em grande parte 
com adolescentes vivenciando problemas 
comportamentais. 
 
 
 
 
Embora este não seja o único grupo que pode se 
beneficiar da TNS, ela é mais utilizada com esse viés 
para ajudá-los a lidar com problemas emocionais, de 
adaptação, dependência ou psicológicos (Hobbs e 
Shelton, 1972; Bandoroff, 1989; Russell, 1999; Russell 
e Phillips-Miller, 2002; Caulkins et al, 2006; Russell, 
2006a; Bettmann, 2007). 
 
Os programas normalmente oferecem exercícios 
saudáveis ​​e dieta através de caminhadas e atividade 
física, sessões de terapia individual e em grupo, 
educacionais, habilidades primitivas, convivência em 
grupo com colegas, oportunidades para o trabalho 
individual e treinamentos de liderança e reflexão, 
assim como os desafios inerentes da vida nesses 
ambientes. 
 
A justificativa para as intervenções em ambientes 
naturais mais selvagens envolve separar os 
participantes das influências negativas diárias e 
colocá-los em ambientes externos seguros e 
organizados. 
 
Gastar tempo em um ambiente natural permite que 
os participantes acessem aspectos de si mesmos que 
podem guia-los em um desenvolvimento pessoal mais 
convencional 
Novas Abordagens em Saúde Mental 103 
ou em configurações terapêuticas. 
 
Os principais fatores terapêuticos emergentes de várias 
revisões da literatura sobre a Terapia da Natureza 
Selvagem (Hans, 2000; Wilson e Lipsey, 2000; Russell e 
Phillips-Miller, 2002; Russell, 2006b) que facilitam uma 
mudança comportamental positiva incluem o 
desenvolvimento pessoal e interpessoal do indivíduo, a 
reestruturação das relações construídas pelos jovens e 
reduzidas taxas de reincidência. 
 
Os programas de TNS facilitam o autoconhecimento, a 
comunicação, a cooperação e a contribuição para o bem-
estar do grupo, permitindo com que os participantes 
descubram o que consideram importante para si 
mesmos (Connor, 2007). A participação na TNS também 
ajuda a lidar com comportamentos problemáticos, 
promovendo a responsabilidade pessoal e social, e 
proporcionando a oportunidade para o crescimento 
emocional (Russell, 1999). 
Referências Bibliográficas 
 
Conteúdo traduzido e adaptado do documento: 
 
Referência: Sempik, J., Hine, R. and Wilcox, D. eds. 
Green Care: A Conceptual Framework, A Report of the 
Working Group on the Health Benefits of Green Care. 
COST Action 866, Green Care in Agriculture, 
Loughborough: Centre for Child and Family Research, 
Loughborough University. 2010 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 104 
Wellness Recovery Action Plan 
(WRAP) (Saúde Mental em Geral) 
Capítulo 9 
Um pequeno resumo sobre a 
WRAP 
 
O Wellness Recovery Action Plan ou WRAP®, é um 
processo de prevenção e bem-estar autonomamente 
construído e que qualquer pessoa pode usar para 
desenvolver seu bem-estar e fazer de sua vida algo 
que gostaria que ela fosse. Foi desenvolvido em 1997 
por um grupo de pessoas que procuravam maneiras 
de superar seus próprios problemas de saúde mental 
e seguir em frente para realizar seus sonhos e 
objetivos de vida. 
 
Atualmente é usado extensivamente por pessoas em 
todos os tipos de circunstâncias, e por sistemas de 
saúde e saúde mental em todo o mundo para tratar 
de todos os tipos de problemas físicos, mentais e de 
vida. O WRAP foi estudado extensivamente em 
projetos de pesquisa rigorosos e está listado no 
Registro Nacional de Programas e Práticas Baseados 
em Evidência (EUA). 
Novas Abordagens em Saúde Mental 106 
A história por trás do 
desenvolvimento da WRAP 
 
O Wellness Recovery Action Plan (WRAP®) foi 
desenvolvido por pessoas que viviam com uma 
variedade de dificuldades no que diz respeito a saúde 
mental e que estavam trabalhando duro para se 
sentirem melhor e continuarem com suas vidas. Em 
1997, diversos indivíduos que haviam passado por sérios 
transtornos mentais reuniram-se no norte de Vermont 
para uma reunião de oito dias destinada a iniciar 
diálogos sobre como melhorar sua saúde mental e 
emocional. 
 
Muitos dos participantes da conferência foram 
residentes de hospitais psiquiátricos estatais em vários 
períodos de suas vidas. Eles se reuniram para discutir 
estratégias práticas para recuperar e sustentar seu 
próprio bem-estar. Eles não sabiam disso na época, mas 
esse grupo de exploradores estava abrindo caminho para 
um novo movimento internacional de autoajuda para o 
bem-estar e a recuperação de outras pessoas. 
 
Uma das principais líderes entre os corajosos pioneiros 
no encontro de Vermont foi Mary Ellen Copeland, uma 
mulher que lutava contra ansiedade, depressão e 
mudanças extremas de 
 
 
 
humor que a levaram a experimentar diferentes 
formas de isolamento social, dificuldades econômicas 
e repetidas hospitalizações. 
 
Buscando restaurar sua saúde e recuperar sua vida 
natural, Mary Ellen ficou desiludida com a instituição 
psiquiátrica da época e seu relacionamento com o 
tratamento focado em medicações que priorizavam o 
gerenciamento de seu transtorno, ao invés de facilitar 
seu retorno à saúde plena. Ela começou sua própria 
jornada em busca do encontrar de estratégias de 
recuperação, conduzindo uma pesquisa com seus 
pares sobre o assunto. 
 
A pesquisa envolveu 125 entrevistados. Através das 
respostas da pesquisa, Mary Ellen identificou cinco 
conceitos-chave para a recuperação (Esperança, 
Responsabilidade Pessoal, Educação, Autonomia e 
Apoio), juntamente com “truques” para se sentir 
melhor, que mais tarde seriam chamados de 
ferramentas de bem-estar. 
 
Ela começou a facilitar grupos de apoio de colegas 
com outras pessoas procurando maneiras de 
conquistar melhoras consistentes. Em 1997, a 
pesquisa e a facilitação de Mary Ellen estavam 
gerando grandes 
Novas Abordagens em Saúde Mental 107 
resultados por meio da atenção generalizada, algo que 
resultaria em um convite para liderar um retiro de apoio 
de oito dias em Vermont que estava destinado a fazer 
história. 
 
Mary Ellen ajudou seus companheiros de viagem na 
conferência de Vermont a usarem de sua própria 
experiência orgânicado que estão 
nos dias de hoje. 
 
Você pode ouvir vozes e ser 
saudável: uma breve historia sobre a 
INTERVOICE 
 
A INTERVOICE é uma das maiores instituições 
responsáveis por cuidar de pessoas ouvidoras de vozes 
no mundo hoje, construída de acordo com os princípios 
do Movimento Internacional dos Ouvidores de Vozes 
(HVM). 
 
Desenvolveu-se na Europa, no fim da década de 80, sob 
a experiência do psiquiatra Marius Romme, que se 
baseando 
 
 
 
em uma nova metodologia de cuidado com o 
indivíduo ouvidor, fundou a instituição. 
 
Tudo começou em 1987, quando Marius passou a 
conviver com a frequentadora de seu consultório 
psiquiátrico, Patsy Hage. Um dia, em uma conversa 
entre os dois, Patsy lhe fez uma pergunta que o faria 
pensar e teria como desfecho a mudança de toda sua 
concepção do que exatamente era a experiência de se 
ouvir vozes. 
 
A pergunta consistia na ideia de que se Marius 
acreditava em um Deus que nunca teria visto ou 
ouvido, porque este não poderia acreditar nas vozes 
que ela, Patsy, realmente ouvia e que faziam morada 
em sua cabeça. 
 
Esse teria sido o fator inicial de uma abordagem que 
vem dando resultados até hoje, a saber, a de se ouvir 
o que o indivíduo tem a dizer sobre suas vozes, e 
percebe-las como uma experiência a ser entendida 
pelo médico e o próprio indivíduo, ao invés de taxa-la 
diretamente como parte de um distúrbio grave como 
é a esquizofrenia. 
 
Em entrevista, Marius ressaltou que: “Foi Patsy Hage 
quem 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 8 
deixou claro para mim que a abordagem psiquiátrica 
não tinha sido muito útil. Porque, como um clínico 
tradicionalmente treinado, eu só estava interessado em 
sua experiência de audição de voz, na medida em que 
diz respeito às características de uma alucinação, a fim 
de construir um diagnóstico em combinação com outros 
sintomas. 
 
Mas ela estava interessada nas vozes e no poder que 
exerciam sobre ela; no estresse que ela experimentava; 
naquilo que lhe diziam”. 
 
Foi então que, a fim de romper as barreiras sociais 
existentes entre os próprios ouvidores, Marius resolveu 
organizar reuniões entre os ouvidores de vozes 
frequentadores de seu consultório, com o objetivo de 
deixar com que eles trocassem experiências sobre ouvir 
vozes, como lidavam com elas, dentre outras coisas. 
 
Marius conta que todos ficaram extremamente 
entusiasmados. Dali em diante, o pesquisador holandês 
percebeu que esse movimento apenas tenderia a 
crescer, e com a ajuda de Patsy e outros pesquisadores, 
fundou a INTERVOICE. 
 
A Instituição até hoje tem como objetivo principal 
incentivar uma discussão mais ampla, com o intuito de 
mudar a atitude da sociedade frente a vivência de 
 
 
se ouvir vozes e a maneira como os ouvintes são 
tratados pela medicina e, especialmente, pelos 
psiquiatras. 
 
Hoje, a principal cede da instituição se localiza na 
Inglaterra, e tem em sua história a participação direta 
de Marius, que entrando em contato com seu amigo e 
então co-fundador da instituição em território 
britânico, Paul Baker, levou sua ideia de mudar a 
forma como a sociedade e a psiquiatria olham para os 
indivíduos ouvidores de vozes para além das fronteiras 
de seu país. 
 
Paul (2014), em texto de sua autoria, ressalta a 
trajetória do movimento até aqui e sua importância 
para o reconhecimento da autonomia dos indivíduos 
ouvidores diante de sua própria experiência: 
 
“Talvez estejamos chegando lá. Uma maneira 
diferente de pensar sobre as vozes e uma nova forma 
de ajudar as pessoas que lidam com elas está sendo 
desenvolvida. Uma jornada que continua até hoje. 
 
Tudo isso faz parte de uma mudança que reconhece 
que as pessoas que ouvem vozes são os peritos da sua 
própria experiência, que estão em melhor posição 
para entender o que esta experiência significa e o que 
Novas Abordagens em Saúde Mental 9 
realmente tem o poder de ajudar.” 
 
Com o apoio dessa rede em todo o mundo e, 
especialmente, dos ouvintes, alguns dos quais passaram 
longos períodos de tempo em atendimentos 
psiquiátricos, hoje, recuperam-se vidas, fazendo com 
que pessoas que antes sofriam com suas vozes, agora 
sejam capazes de dizer que as ouvem, que assim mesmo 
vivem tranquilos e que as aceitam como parte de si 
mesmos. 
 
O sentido das vozes e o caminho 
para aprender a lidar com elas 
 
De acordo com a apostila de orientação escrita por Paul 
Baker em função de seu minicurso dado no Brasil sobre 
como lidar com o ouvir de vozes, existe uma forte 
relação entre a história do indivíduo, as vozes que este 
ouve e a maneira como este é capaz de lidar com elas. 
 
Na medida em que os próprios ouvidores relatam 
elementos indicadores desta relação, como sua 
identidade, sua história, as características de suas vozes 
e o teor daquilo que escutam, fica mais simples de se 
observar o sentido que estas vozes têm para a sua vida e 
para a vida de pessoas próximas a eles, como seus 
familiares, que conseguem entender a recorrência de 
alguns conteúdos exibidos pelas vozes. 
 
 
Em um processo de entrevistas/conversas, busca-se 
construir o mapeamento de alguns aspectos da 
existência desse indivíduo, o acessar dos possíveis 
gatilhos para as suas vozes e a sua cronologia, que faz 
referencia a sequência de suas aparições, visto que 
algumas vezes os ouvidores relatam o ouvir de mais 
de uma voz e em momentos distintos. 
 
Resumidamente, pensam em conjunto, profissional e 
ouvidor, com o objetivo de alcançar aquilo que Paul 
nomeia como “constructo”, que nada mais seria do 
que aquilo que serve como a estrutura/alicerce das 
vozes ou, aquilo que elas querem representar quando 
dialogam com o indivíduo. Por meio disso, descobre-
se outro elemento fundamental da análise: o código a 
ser quebrado. 
 
Realizado todo esse processo, sua ultima etapa 
consiste em quebrar o código estabelecido pelas vozes 
do indivíduo, de maneira que este, sempre em 
conjunto com o profissional que o acompanha, possa 
enxergar a origem de suas vozes; o porquê de seu 
conteúdo; e entender qual poderá ser a melhor forma 
para se lidar com elas dali em diante. 
 
Mas a ideia aqui também não consiste em fazer tudo 
de forma solitária, 
Novas Abordagens em Saúde Mental 11 
entendido que o envolvimento de familiares, amigos e 
entes queridos se faz fundamental para o fortalecimento 
da esperança, do apoio e do novo sentido de vida que 
fora construído pelo indivíduo. 
 
Trabalhar em si mesmo, em sua autoestima e 
autoconfiança, fazendo escolhas e se tornando o 
responsável por suas próprias decisões sem o advento 
negativo das vozes, mas sim se apropriando de sua 
experiência auditiva como outros exemplos o fazem. 
 
Os princípios e valores do Hearing 
Voices Approach 
 
Enquanto o HVM (Hearing Voices Movement) incorpora 
pessoas com uma ampla gama de expectativas e 
necessidades, existem alguns valores centrais pelos 
quais os membros em geral também o aderem. 
 
O primeiro deles é a crença de que ouvir vozes é uma 
parte natural da experiência humana. 
 
As próprias vozes não são vistas como anormais ou 
sinônimos de aberrações, mas sim conceitualizadas 
como uma resposta significativa e interpretável das 
circunstâncias sociais, emocionais e / ou interpessoais 
das pessoas. 
 
 
De acordo com essa perspectiva, a capacidade de se 
ouvir vozes existiria em todos nós. 
 
Para muitos ouvintes, isso é muito mais construtivo e 
empoderador do que diagnósticos baseados em 
doenças que enfatizariam a patologia, podendo 
induzir ao estigma, reduzir a autoestima ou mesmo 
levar à ênfase na eliminação da experiência. 
 
Essa capacidade para que as vozes sejam escutadas 
em certas circunstâncias é confirmada por estudos 
sobre os efeitos da privação sensorial de eventos tais 
como o luto, os traumas e a ingestão voluntária de 
alucinógenos. 
 
Da mesma forma como relatado nos estudos acima, 
as vozes são frequentemente encontradas na 
experiência de pessoas em amostras coletivas, sem 
qualquer tipo de histórico vinculado a transtornospara identificarem que tipos de 
estratégias funcionavam para eles, a fim de prevenir 
colapsos emocionais e mentais e manter uma saúde 
mental positiva e duradoura. 
 
No entanto, um dos participantes - uma mulher 
chamada Jess Parker - levantou-se e disse: “Tudo isso é 
bom, mas não tenho ideia de como organizar essas 
ferramentas e estratégias em minha vida”. Mary Ellen e 
Jane Winterling, uma colega que também estava 
participando da reunião, sentiram-se desafiadas a 
responder à observação de Jess. 
 
Nesse sentido, Jane e Mary Ellen trabalharam juntas 
para desenvolver um sistema simples para organizar um 
plano pessoal de ação de recuperação de bem-estar. 
Apresentaram-no ao grupo e todos ficaram 
entusiasmados com o conceito de “WRAP”. Eles 
deixaram o encontro com um espírito renovado de 
esperança e otimismo. 
 
Mary Ellen foi para casa da conferência de Vermont e 
começou a usar um WRAP para apoiar seu próprio 
regime de bem-estar. 
 
Ela ficou impressionada com o poder do WRAP em 
ajudá-la a antecipar e lidar com o estresse e as 
dificuldades inevitáveis ​​da vida, a permanecer 
centrada e a se concentrar em atitudes e atividades 
positivas. Sendo uma professora natural e 
comunicadora, Mary Ellen foi inspirada a compartilhar 
seu presente com o mundo. 
 
Em 1997, ela escreveu seu primeiro livro sobre WRAP, 
que rapidamente ganhou popularidade nos Estados 
Unidos e em todo o mundo. Mary Ellen começou a 
compartilhar o WRAP com outras pessoas que 
estavam enfrentando uma ampla gama de desafios 
emocionais, físicos e de saúde mental. 
 
Ela passou a orientar colegas na facilitação de 
workshops sobre o WRAP. Em seguida, desenvolveu 
uma avaliação a respeito do que teria constituído um 
workshop WRAP de sucesso e estabeleceu uma lista 
de valores e práticas não negociáveis ​​para os 
Facilitadores WRAP. Esses valores e práticas formaram 
a base da atual prática baseada em evidências do 
WRAP®. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 109 
Durante o início, Mary Ellen Copeland alcançou milhões 
de pessoas através dos seus livros e palestras, 
capacitando homens e mulheres de comunidades 
diversas e de todas as classes sociais para usar o WRAP® 
para as suas próprias aventuras pessoais de recuperação. 
 
Agora, o WRAP® está sendo utilizado em programas 
formais e informais de recuperação em todos os 50 
estados dos EUA e em vários países do mundo. O 
WRAP® está sendo implementado por departamentos de 
saúde comportamental, agências de saúde mental, 
programas de tratamento de vícios, bem como uma 
série de outros grupos de recuperação nos Estados 
Unidos e em todo o mundo. 
 
No que consiste a WRAP e quais são 
seus métodos? 
 
“Este [WRAP®] mudou minha vida completamente. Eu 
costumava pensar em mim como essa pessoa 
"mentalmente doente". Agora sou uma pessoa que sabe 
cuidar de mim mesma e me ajudar em tempos difíceis. 
Se estou me sentindo mal ou tendo dificuldades, eu ajo. 
E há tantas coisas simples e seguras que posso fazer. ” 
(uma praticante do Wellness Recovery Action Plan). 
 
Os programas de autogerenciamento de doenças para 
indivíduos com condições médicas crônicas, como 
artrite, diabetes, câncer e asma, têm sido 
reconhecidos como um componente importante da 
assistência médica centrada no paciente por muitos 
anos (Institute of Medicine, 2001). 
 
Duas décadas de estudos e pesquisas validaram o fato 
de que um número significativo de pessoas com 
problemas de saúde mental e desafios com vícios 
também foram capazes de autogerenciar suas 
condições com resultados positivos (Onken, Craig, 
Ridgway, et al. ., 2007). 
 
Intervenções e práticas específicas foram 
desenvolvidas para promover a recuperação 
autogerida (Bodenheimer e Lorig et al., 2002). O 
WRAP® é provavelmente a prática de autogestão mais 
difundida nos Estados Unidos (Roberts & Wolfson, 
2004), e seu uso por indivíduos e sistemas de saúde 
está aumentando em todo o mundo (Copeland, Cook, 
& Razzano, 2010). 
 
O WRAP® é um sistema de autogerenciamento e 
recuperação construído para pessoas que lidam com 
diversos desafios de saúde física e mental. O WRAP® é 
uma abordagem de bem-estar e recuperação 
Novas Abordagens em Saúde Mental 110 
que ajuda as pessoas a: 
 
1) Diminuir e prevenir sentimentos e comportamentos 
intrusivos ou perturbadores; 
 
2) Aumentar o empoderamento pessoal; 
 
3) Melhorar a qualidade de vida; 
 
4) Alcançar seus próprios objetivos e sonhos. 
 
Trabalhar com um WRAP® pode ajudar as pessoas a 
monitorararem sentimentos e comportamentos 
desconfortáveis ​​e angustiantes e, por meio de respostas 
planejadas, reduzir, modificar ou eliminar esses 
sentimentos. Um WRAP® também inclui planos de 
respostas para outros, quando um indivíduo não pode 
tomar decisões, cuidar de si próprio e/ou manter-se 
seguro. 
 
A pessoa que experimenta desafios de saúde é quem 
desenvolve um WRAP® pessoal. A pessoa pode escolher 
que os apoiadores e/ou profissionais de saúde o ajudem 
a criar o WRAP®, mas o indivíduo permanece no 
controle do processo (Copeland, Mary Ellen, PhD, Plano 
de Ação de Recuperação de Bem-Estar, 2011). 
 
 
Os indivíduos aprendem a usar o WRAP® através de 
um processo de grupo orientado pelo suporte em 
pares e que progride em três fases distintas: 
 
1) Uma sessão introdutória baseada no suporte em 
pares, na qual os participantes aprendem sobre o 
WRAP® e se envolvem; 
 
2) Sessões de desenvolvimento WRAP® de oito a 
doze semanas, conduzidas por especialistas do 
suporte em pares, com aproximadamente duas horas 
de duração; 
 
3) Contato direto com grupos WRAP® voluntários em 
andamento que facilitam o apoio em pares. O único 
critério para o envolvimento em qualquer grupo 
WRAP® é que a pessoa esteja disposta a participar. 
 
Grupos formais WRAP® tipicamente variam em 
tamanho de 10 a 15 participantes e são liderados por 
dois co-facilitadores treinados em suporte em pares e 
que usam o WRAP para sua própria recuperação. A 
informação é entregue e as habilidades são 
desenvolvidas através de palestras, discussões e 
exercícios individuais e em grupo. 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 112 
Conceitos e valores chave WRAP® são ilustrados através 
de exemplos das vidas dos co-facilitadores e 
participantes. Os participantes do WRAP® criam um 
sistema de recuperação personalizado de ferramentas de 
bem-estar e planos de ação para alcançar uma visão de 
bem-estar autodirigida, apesar dos desafios diários da 
vida. Os participantes são encorajados e, quando 
possível, levados a continuar nas reuniões após o 
período formal de 8 a 12 semanas e a apoiarem-se 
mutuamente na utilização e revisão contínua dos seus 
planos WRAP®. 
 
O WRAP® de uma pessoa é uma ferramenta que pode 
ser usada pelo resto da vida, e um grupo WRAP® 
voluntário pode ser um recurso de suporte de longo 
prazo para garantir que esse valioso e personalizado 
sistema de recuperação permaneça afiado e útil para 
construir uma saúde saudável e vida bem sucedida na 
comunidade. 
 
O WRAP como uma prática baseada 
em evidências 
 
Uma prática baseada em evidências é uma intervenção 
que se provou eficaz através de ensaios clínicos 
controlados e randomizados, constituindo um desenho 
de pesquisa rigoroso. 
 
Um estudo randomizado e controlado é um 
delineamento de estudo que atribui aleatoriamente 
participantes a um grupo experimental ou a um grupo 
controle. 
 
Como o estudo é realizado, a única diferença esperada 
entre os grupos controle e experimental é a variável 
de desfecho que está sendo estudada (SAMHSA, 
2002). 
 
O WRAP® foi reconhecido pela Administração de 
Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substâncias dos 
Estados Unidos (SAMHSA) como uma prática baseada 
em evidências e listado no Registro Nacional de 
Programas e Práticas Baseadas em Evidências 
(SAMSHA, 2010). 
 
Pesquisadores do Departamento de Psiquiatria da 
Universidade de Illinois em Chicago (UIC) divulgaram 
recentemente os resultados de um teste de controle 
randomizado em 2012que demonstrou resultados 
significativamente positivos para indivíduos com 
transtornos mentais graves e persistentes que 
participam de grupos WRAP®. 
 
Os resultados da pesquisa do estudo da UIC revelaram 
que 
Novas Abordagens em Saúde Mental 113 
indivíduos que participaram de grupos WRAP® de alta 
fidelidade, liderados pelo suporte em pares em seis 
comunidades de Ohio, relataram reduções de ansiedade 
e sintomas da depressão; sentimentos aumentados de 
esperança; e melhora na qualidade de vida global, 
comparado ao grupo controle. 
 
Um total de 519 indivíduos foram envolvidos no estudo, 
e os resultados foram avaliados no final do tratamento e 
em um seguimento de 6 meses usando uma análise de 
regressão aleatória de efeitos mistos com intenção de 
tratar. Os investigadores da UIC tomaram muito cuidado 
para garantir que as intervenções WRAP® em estudo 
fossem rigorosamente respeitadas pelos padrões de 
fidelidade estabelecidos por Mary Ellen Copeland e pelo 
Copeland Center for Wellness and Recovery. 
 
Os grupos WRAP® baseados em Ohio, no estudo, foram 
todos conduzidos durante um período de 8 semanas e 
reuniram-se durante 2,5 horas todas as semanas. 
 
Os colegas em recuperação que foram treinados pelo 
Copeland Center como Facilitadores do Nível Avançado 
WRAP® lideraram os grupos WRAP® e seguiram um 
currículo altamente padronizado desenhado por Mary 
Ellen Copeland. 
 
As saídas curriculares foram altamente desencorajadas, 
 
e os facilitadores do suporte em pares usaram o 
Manual de Facilitadores aprovado pelo Copeland 
Center e outros materiais protegidos por direitos 
autorais desenvolvidos por Mary Ellen Copeland 
(Cook, Copeland, & Floyd, et al., 2012). 
 
O estudo de Ohio é apenas um exemplo de uma base 
crescente de evidências para o WRAP® que foi 
estabelecida como resultado da replicação 
disseminada da prática em comunidades nos Estados 
Unidos e ao redor do mundo nas últimas duas 
décadas. 
 
O WRAP® provou ser uma prática eficaz para apoiar a 
recuperação e a realização de desafios para que se 
conquiste uma saúde mental positiva, se desconstrua 
vícios e outros desafios de saúde diagnosticáveis. 
 
Outro estudo conduzido pela Universidade de Illinois 
em 2009 descobriu que indivíduos com distúrbios de 
saúde comportamental que participaram em grupos 
WRAP® em Minnesota e Vermont demonstraram 
maior esperança, maior consciência a respeito dos 
desencadeantes de seus sintomas, sistemas de apoio 
social fortalecidos e uma aumento na capacidade de 
assumir a responsabilidade por seu próprio bem-estar 
(Cook, Copeland, & Corey, et al. 2010). 
Novas Abordagens em Saúde Mental 115 
As evidências demonstram claramente que o WRAP® 
pode melhorar as habilidades de autogerenciamento e 
suporte em pares de indivíduos que batalham contra 
uma série de dificuldades de saúde mental e 
comportamentais (Fukui, 2011). 
 
Descobertas similares confirmando a eficácia do WRAP® 
foram relatadas em estudos e pesquisas que 
examinaram a participação de pessoas em grupos 
WRAP® no Canadá (Allot, et al. 2002); China (Zhang, et 
al. 2007); Minnesota, EUA (Buffington, 2003); Irlanda 
(Higgins et al. 2010); Kansas, EUA (Starnino, et al. 2010); 
Nova Zelândia (Doughty, et al. 2008); Escócia (Centro 
Escocês de Pesquisa Social & Pratt, R., 2010); e o Reino 
Unido (Davidson, 2005). 
 
Referências Bibliográficas 
 
Conteúdo traduzido e adaptado do documento: 
 
Referência: Copeland Center for Wellness & Recovery. 
“The Way WRAP Works”. EUA. 2014. 
 
 
• Site _____________________________ https://www.cenatcursos.com.br/ 
 
 
• Eventos _________________________ https://www.sympla.com.br/cenat 
 
 
• Artigos e Notícias __________________ https://blog.cenatcursos.com.br/ 
 
 
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https://www.youtube.com/channel/UCWxHnmzMVCUJIzTzm0aitMgpsiquiátricos. A esse respeito, estudos 
epidemiológicos sugerem que uma minoria 
significativa da população já teve alguma experiência 
em ouvir vozes pelo menos uma vez na vida. 
 
Sob essa visão, precisaríamos parar de olhar para as 
sinais inevitáveis ​​de distúrbios psiquiátricos; essa 
mentalidade precisaria ser reavaliada 
Novas Abordagens em Saúde Mental 12 
diante da realidade que constatações e diversos estudos 
apresentam, sendo a vida positiva de muitos ouvidores o 
maior reflexo disso. 
 
O segundo deles, que diversas explicações para vozes 
são aceitas e valorizadas; e a HVM respeita que as 
pessoas possam usar essas diferentes explicações para 
entender suas vozes e experiências. 
 
O terceiro deles, que os ouvintes são encorajados a se 
apropriarem de suas vozes e experiências, definindo-as 
para si. Os grupos de ouvidores de vozes, por exemplo, 
fornecem um espaço seguro para essa exploração. Por 
isso termos remetendo ao discurso clínico podem evocar 
certa resistência, já que esse seria encarado como um 
discurso incapacitante e potencialmente colonizador do 
ponto de vista dos próprios ouvidores. 
 
O quarto, por acreditarem que na maioria dos casos o 
ouvir de vozes pode ser entendido e interpretado no 
contexto de eventos da vida e de narrativas 
interpessoais das pessoas. 
 
Especificamente, é frequentemente relatado que as 
vozes são precipitadas e mantidas por eventos 
emocionais que sobrecarregam e enfraquecem o 
indivíduo, com seu conteúdo, identidade e/ou momento 
de surgimento. 
 
 
 
Ferramentas como a “The Maastricht Hearing Voices 
Interview” podem ser empregadas para compreender 
– e tentar resolver – os conflitos latentes que podem 
estar por trás da presença das vozes. 
 
O quinto, por acreditarem que o processo de 
aceitação das vozes é mais eficaz do que 
simplesmente tentar suprimi-las ou eliminá-las. 
 
Isso envolve aceitar as vozes como uma experiência 
real, honrar a realidade subjetiva do ouvinte e 
reconhecer que as vozes são algo com que eles – dado 
o suporte necessário – podem lidar com sucesso. 
 
Por outro lado, poderia se pensar, por exemplo, que 
ao valorizar ativamente as vozes (por exemplo, como 
experiências emocionais significativas) algo contra 
intuitivo estaria sendo feito, como no caso de alguém 
que ouviria vozes angustiantes. 
 
Mas a esse respeito, Romme e Escher propõem que as 
vozes seriam tanto o “problema” quanto a “solução”: 
um ataque à identidade, mas também uma tentativa 
de preservá-la, articulando e incorporando a dor 
emocional. 
 
“Decifrar” os conflitos e os problemas de vida 
Novas Abordagens em Saúde Mental 14 
representados pelas vozes é frequentemente possível, 
mesmo quando as pessoas são diagnosticadas com 
doenças mentais complexas ou crônicas. 
 
Como consiste no respeito a diversidade de opiniões 
valorizada pelo HVM, se os ouvintes optam também por 
tomar medicamentos antipsicóticos para gerir ou 
erradicar as vozes, isto também é respeitado. 
 
A medicação, no entanto, é vista apenas como uma das 
muitas estratégias disponíveis. É muito importante, 
dentro dessa situação, que as pessoas recebam apoio 
para tomar suas próprias decisões sobre o tratamento e 
tenham as informações necessárias para fazer uma 
escolha consciente. 
 
Finalmente, entende-se o suporte coletivo como um 
meio frutífero de ajudar as pessoas a compreender e a 
lidar com as suas vozes. Os grupos de suporte mútuo 
têm uma longa associação com o HVM, com ênfase nas 
prioridades do grupo, ao invés de seguir uma estrutura 
predeterminada. 
 
Embora as vezes percebidas como marginais nos círculos 
profissionais, essas ideias estão de acordo com 
tratamentos psicossociais apoiados por muitos usuários 
e suas famílias, bem como perspectivas positivas sobre o 
ouvir de vozes e o impulso geral para a recuperação. 
 
 
 
Como consequência, elas se tornaram 
progressivamente mais aceitas e tradicionais, como 
muitos dos pressupostos básicos do HVM. 
 
Desde as associações entre ouvir vozes e traumas; a 
sugestão de que o conteúdo da voz é 
psicologicamente significativo; até a descoberta de 
que maiores níveis de supressão emocional estão 
associados a experiências de vozes mais frequentes e 
problemáticas; 
 
A mudança em relação as vozes, de um sintoma 
genérico para algo a ser compreendido como uma 
experiência significativa, pode direcionar á mudança 
pessoal e á recuperação de vivências positivas na vida 
dos ouvidores. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 15 
Referências Bibliográficas 
 
Referência: INTERVOICE Brasil. “Manual – Como montar 
um grupo de ouvidores de vozes”. São Paulo, 2017. 
 
Referência: Baker, Paul. “Guia – Como trabalhar com 
pessoas quem ouvem vozes”. Manchester, 2014. 
 
Referência: Corstens, Dirk et al. “Emerging Perspectives 
From the Hearing Voices Movement”. Schizophrenia 
Bulletin vol. 40 suppl. no. 4 pp. S285–S294, 2014. 
 
Referência: Waddingham, R., Escher, S., Dodgson, 
G.”Inner speech and narrative development in children 
and young people who hear voices; three perspectives on 
a developmental phenomenon”. Psychosis, 5(3), pp 226-
235, 2013. 
 
 
 
Open Dialogue (Diálogo Aberto) (Saúde 
Mental em Geral) 
Capítulo 2 
O diálogo em benefício da saúde 
mental 
 
Considerando os diversos tipos de tratamento 
desenvolvidos ao longo dos anos dentro do campo da 
saúde mental, o método Open Dialogue surge como 
um divisor de águas no que diz respeito ao tratar da 
esquizofrenia, das psicoses e de outros transtornos. 
 
Objetivando ser uma abordagem que prioriza o 
contato com o indivíduo e sua rede de apoio, não 
tendo como ferramenta o uso obrigatório de 
psicofármacos em seus tratamentos, seus resultados 
tornaram-se os melhores do mundo no que diz 
respeito a saúde mental individual. 
 
Nascida na Finlândia no início da década de 1980, 
tendo como seu principal idealizador o psicólogo 
clínico Jaakko Seikkula, a metodologia Open Dialogue 
surge como uma forma de atenção imediata às crises 
psicóticas que recorrentemente eram relatadas no 
contexto de uma das principais regiões do país, 
conhecida como Lapônia Ocidental. 
 
Desenvolveu-se no período em que se dava 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 17 
o Projeto Nacional Finlandês de Esquizofrenia, um 
projeto que tinha como um de seus objetivos principais 
o encontrar de novos estudos e abordagens capazes de 
aprimorar os tratamentos até então desenvolvidos na 
saúde mental do país. 
 
Tendo terreno fértil para caminhar e como referência a 
abordagem anterior criada pelo professor Yrjö Alanen na 
década de 1960 – uma abordagem elaborada com foco 
no cuidado as necessidades específicas de cada um a ser 
tratado – seus princípios vão sendo forjados com o 
mesmo sentido. 
 
É assim, dentro deste contexto, que o grupo de Seikkula 
inaugura o modelo de Diálogo Aberto na Finlândia, 
envolvendo os sistemas de apoio à saúde do cliente e 
realizando, através de unidades de tratamento formadas 
por equipes móveis, este novo sistema de tratamento 
centrado na família, no indivíduo e em suas redes de 
apoio. 
 
A metodologia Open Dialogue teria contribuído para 
uma significativa redução da incidência de casos de 
esquizofrenia na província da Lapônia Ocidental, fazendo 
com que o número de usuários de suas redes de apoio 
mental, nessas condições, diminuísse expressivamente 
com passar dos anos. 
 
 
 
No que consiste a abordagem Open 
Dialogue 
 
Tendo em vista a centralidade que o método dá a 
experiência do indivíduo como um todo, tem-se, em 
primeiro lugar, no diálogo e na tolerância para com o 
tratado, os princípios fundamentais que norteiam 
todo o tratamento. 
 
Seu espaço de interação terapêutica mais importante 
seriam às reuniões, momentos em que por meio da 
conversa coletiva entre usuário, membros de sua rede 
de apoio e os próprios terapeutas, seriam discutidos 
os principais assuntos relacionados às dificuldades 
enfrentadas por ele e como fazer para construir algo 
em prol de sua saúde e recuperação. 
 
De formatransparente, as decisões e o plano de ação 
seriam assim construídos na presença de todos do 
grupo. As funções das reuniões de tratamento, a cargo 
do que nos diz o próprio fundador do método, Jaakko 
Seikkula, estariam baseadas em reunir informações 
sobre o problema. 
 
Outras seriam: elaborar um plano de tratamento; 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 18 
tomar as decisões necessárias com base no diagnóstico 
feito; e gerar um diálogo psicoterapêutico constante 
(Seikkula, 2007 apud Queiroz, 2014). 
 
A chave do tratamento estaria também em torno da 
linguagem das famílias, algo levado com seriedade pela 
equipe responsável, que passa a adaptar sua própria 
linguagem à forma de linguagem exibida por elas, 
analisando os sentidos que estas dão para o problema 
encontrado, de maneira a escuta-las recorrentemente. 
 
Por esse ângulo, as equipes de tratamento 
compreenderiam as alucinações ou delírios psicóticos 
como mais uma das vozes que formam a experiência do 
individuo, de modo que, aparecendo ou não durante os 
diálogos, inicialmente, essas reações não seriam 
confrontadas. 
 
Os indivíduos seriam incentivados a expressá-las como 
parte natural do processo de tratamento. 
 
Em curto prazo, essas concepções permitiriam aos 
membros da equipe o promover de discussões reflexivas 
entre si a respeito das informações ali representadas, 
inclusive podendo contar com a presença de membros 
da família como ouvintes/espectadores. 
 
 
Normalmente, como as experiências narradas pelos 
indivíduos em crise psicótica estão associadas a 
situações traumáticas vividas por eles, acaba sendo 
em função disso que agem os terapeutas em 
atendimento. 
 
Nesses casos, a equipe de tratamento procura, então, 
explorar minuciosamente os pontos que estavam em 
discussão quando as reações psicóticas ocorreram, 
compreendendo que este ponto pode ter tocado em 
experiências não verbalizadas. 
 
A fala psicótica pode assumir a função de denunciar, 
de maneira dramática, os conteúdos conflitantes que 
circulam ou circularam no sistema familiar. 
 
Dado esse cenário, uma das principais funções da 
equipe torna-se o auxiliar da rede familiar do 
indivíduo com o fim de que esta se aproprie também 
do protagonismo ao redor do problema, mantendo 
uma postura dialógica frente a cada forma de 
expressão do indivíduo. 
 
Sempre se busca nesse sentido promover a 
construção de uma nova compreensão da experiência 
comum como um todo para todos. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 20 
Um adendo importante se da ao fato de que outros 
métodos de tratamento tradicionais e não tradicionais 
podem ser úteis e ocorrerem paralelamente à terapia 
familiar em atividade. 
 
O tratamento pode ser combinado com psicoterapia 
individual, a arteterapia, a terapia ocupacional, dentre 
outros tipos. 
 
Pode acontecer também, em algumas situações de crise 
psicótica, do enfoque acabar sendo voltado para a 
reabilitação psiquiátrica – quando já há o uso prévio da 
medicação – e/ou vocacional do indivíduo. 
 
Em suma, o método do Diálogo Aberto compartilha dos 
objetivos construtivistas em psicoterapia no sentido de 
construir um discurso não de patologia sobre os 
problemas dos pacientes, de respeitar as narrativas 
pessoais do problema e atribuir importância ao contexto 
do tratamento (Queiroz, 2014). 
 
Essas ideias construtivistas chamam a atenção para a 
responsabilidade dos terapeutas na co-construção do 
problema e dos caminhos até sua solução, na medida 
em que elaboram o tratamento. 
 
Os terapeutas construtivistas não julgam a realidade de 
um usuário com base em um critério externo de 
 
objetividade, portanto compreenderiam que não há 
forma absoluta de psicose (Queiroz, 2014). 
 
Os 7 princípios fundamentais da 
abordagem Open Dialogue 
 
Presente hoje em diversas redes de saúde mental ao 
redor do mundo como um “approach” reconhecido 
internacionalmente por seus resultados, estes seriam 
os 7 princípios fundamentais da abordagem Open 
Dialogue: 
 
1) Ajuda imediata. O primeiro encontro ocorre nas 
primeiras 24 horas após o contato inicial e tem como 
objetivo principal a prevenção da hospitalização. 
 
2) Uma perspectiva de rede social. As primeiras 
reuniões podem contar com os usuários dos serviços, 
suas famílias e outros membros importantes de sua 
rede social, estes últimos são convidados a oferecer 
apoio ao usuário e à família. 
 
3) Flexibilidade e mobilidade. O tratamento é 
adaptado às necessidades específicas e cambiantes de 
cada caso e, havendo a aprovação 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 21 
da família, ocorre na residência do paciente. 
 
4) Responsabilidade. A organização da primeira reunião 
fica a cargo do profissional que fez contato com a 
família. O tratamento é deliberado nessa ocasião. 
 
5) Continuidade do acompanhamento psicológico. Todo 
o tratamento fica sob a responsabilidade da mesma 
equipe, pelo tempo que for necessário, seja no setor 
ambulatorial como de internação. 
 
Da mesma forma, os representantes da rede social 
participam de todas as reuniões de tratamento. 
 
6) Tolerância à incerteza. Para desenvolver tolerância à 
incerteza na equipe e na família, um sentimento de 
confiança é fomentado em relação ao processo como 
um todo. 
 
Em crises psicóticas, o sentimento de confiança ganha 
mais força com a realização de reuniões diárias, pelo 
menos nos primeiros 10 ou 12 dias. 
 
A partir disso, o agendamento das reuniões é guiado 
pelos interesses da família. A rigor, o contrato 
terapêutico não é estabelecido durante o período de 
crise, para evitar conclusões e decisões precipitadas 
sobre o tratamento. 
 
 
7) Dialogismo. A promoção de diálogo é o foco 
primário, e o foco secundário é a promoção de 
mudanças no usuário ou na família. 
 
O diálogo é concebido como meio de fomentar o 
protagonismo dos usuários e dos familiares nas 
narrativas das suas próprias vidas ao conversarem 
sobre seus problemas. Na conversa, novos olhares são 
criados a partir da relação entre os participantes. 
 
Dados e pesquisas sobre o método 
Open Dialogue 
 
A confiabilidade que adquiriu a abordagem do Diálogo 
Aberto ao longo dos anos não se deu atoa. 
 
Pesquisas, dada a excelência do método, foram 
realizadas ao redor do mundo, assim como na própria 
Finlândia, com o fim último de chegar a conclusões 
mais detalhadas sobre ele. 
 
Em acompanhamento realizado na própria Lapônia 
Ocidental por exemplo, Harlane Anderson, 
psicoterapeuta americana e também escritora de 
diversos livros sobre o tema, 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 23 
relatou em seu artigo que, na prática, esse trabalho 
representaria um significativo desafio às crenças e 
tradições de diversos tratamentos. 
 
Isso porque ele consistiria em uma abordagem dialógica 
na qual o terapeuta/profissional deve respeitar e 
aprender sobre os pacientes, suas experiências e 
entendimentos, considerando que isto deve ter 
precedência sobre sua própria compreensão (Anderson, 
2002 apud Kantorski, 2017). 
 
Jill Gromer, em outro estudo, este realizado pela 
Universidade da Flórida, afirmou que o Diálogo Aberto 
teria sido associado a um melhor funcionamento social 
dos indivíduos, a menores quantidades de dias dentro de 
hospitais e a números menores de ocorrência de 
sintomas em pessoas com um primeiro episódio de 
psicose em seu histórico. 
 
Estudos mais recentes teriam apontado para uma 
associação ainda maior do Diálogo Aberto com poucos 
dias de permanência no hospital, o que mostraria uma 
evolução na abordagem e um certo refinamento dessa 
prática (Gromer, 2012 apud Kantorski, 2017). 
 
No sul da Noruega, entre 1998 e 2008, foram 
instaurados três programas para a promoção do Diálogo 
Aberto na região, tendo Jaakko Seikkula participado de 
todos eles, quais sejam: 
 
1) Ensinando a base para abrir diálogos; 
 
2) Supervisionando clinicamente terapeutas locais e 
usuários de serviços de saúde mental; 
 
3) Na concepção de pesquisas e projetos. 
 
Segundo a análise desses programas,os dez anos de 
implementação dessas práticas dialógicas no sul da 
Noruega produziram resultados positivos relativos à 
execução, à educação e ao aumento de pesquisas e 
projetos sobre o tema (Ulland, 2014 apud Kantorski, 
2017). 
 
Em pesquisa realizada na Polônia, constatou-se que a 
abordagem do Diálogo Aberto seria uma abordagem 
alternativa com o poder de contribuir para a redução 
do uso de psicofármacos, constituindo-se como um 
recurso diferenciado em relação aos tratamentos 
usuais da esquizofrenia, oferecendo grandes 
benefícios para os seus usuários (Klapcinski; 
Wojtynska; Rymazewska, 2015 apud Kantorski, 2017). 
 
E por fim, em artigo de revisão publicado por 
especialistas australianos em 2014, foram apontados 
resultados exitosos do tratamento com o Diálogo 
Aberto 
Novas Abordagens em Saúde Mental 24 
na intervenção imediata a crises psiquiátricas de 
indivíduos no país, relatando a necessidade de uso 
mínimo de medicação e os melhores resultados 
confirmados na Austrália desde sua incorporação ao 
sistema terapêutico do país (Lakeman, 2014 apud 
Kantorski, 2017). 
 
Referências Bibliográficas 
 
Referência: Kantorski, Luciane P; Cardano, Mario. 
“Diálogo Aberto: a experiência finlandesa e suas 
contribuições”. Saúde Debate: Rio de Janeiro, V. 41, N. 
112, P. 23-32, JAN-MAR, 2017. 
 
Referência: Kantorski, Luciane P; Cardano, Mario. 
“Diálogo Aberto: um método para enfrentamento da 
psicose”. Expressa Extensão, ISSN 2358-8195 , v.22, n.1, 
p. 13-21, JAN-JUN, 2017. 
 
Referência: Queiroz, Darlan N. “Introdução da 
abordagem Diálogo Aberto”. 2014. 
 
The DAVIS Approach (Dislexia) 
Capítulo 3 
Entendendo um pouco mais sobre 
a dislexia 
 
A dislexia enquanto um transtorno de aprendizagem 
atinge muitas pessoas ao redor do mundo, sendo em 
sua maioria homens. E, apesar de ser um assunto de 
grande relevância, ainda se percebe que as pessoas 
em geral pouco sabem sobre ela. 
 
A dificuldade enfrentada pelos disléxicos está, muitas 
vezes, relacionada ao modo como esses indivíduos 
constroem suas conexões com o mundo. 
 
Uma vez que os sistemas educacionais adotados pelas 
sociedades não estão preparados para integrar esses 
indivíduos de maneira a adequar as escolas ás suas 
necessidades, principalmente no que diz respeito à 
alfabetização, essas pessoas sofrem. 
 
Sendo um transtorno de origem hereditária, a dislexia 
baseia-se na dificuldade cognitiva do indivíduo em 
absorver tudo aquilo que concerne ao universo da 
leitura, visto que este não conseguiria conceituar 
palavras em sua mente em função de seu 
funcionamento cerebral, que apenas captaria 
conteúdos por meio de imagens. 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 26 
Como ilustração, percebemos que uma pessoa não 
disléxica pronuncia mentalmente o som das palavras 
quando as lê, uma vez que a alfabetização é baseada na 
fonética, entendendo seus significados por conta de seu 
som e conteúdo. Mas no caso de uma pessoa disléxica, 
tudo isso mudaria. 
 
Normalmente, os disléxicos tem uma melhor 
compreensão daquilo que observam quando, 
simplesmente, identificam uma palavra como imagem. 
 
Na teoria, esta capacidade é chamada de olho mental ou 
epicentro da consciência visual, quando o indivíduo 
utiliza da imaginação que tem para administrar o 
conhecimento referente às coisas que percebe ao seu 
redor. 
 
A história e conceituação da dislexia 
 
Por um longo período de tempo, as manifestações e 
implicações da dislexia permaneceram como um enigma 
a ser decifrado, dada a dificuldade em percebe-las e 
enquadra-las, científica e socialmente, quando nada 
ainda havia sido constatado ao seu respeito. 
 
Durante o final do século XIX, esse plano de fundo seria 
alterado por meio da percepção do médico William 
Morgan, que com base em seu estudo de caso do 
menino Percy, um garoto inglês de 14 anos, 
constataria características peculiares em sua cognição, 
observada sua dificuldade para ler e escrever. 
 
Morgan teria sido a partir daí a primeira pessoa a 
considerar aquilo que o neurologista alemão, Adolf 
Kussmaul, denominaria como “cegueira verbal 
congênita” – a primeira designação do conceito que, 
anos depois, se tornaria aquele que conhecemos hoje 
como “dislexia” ou “dislexia de desenvolvimento”. 
 
Desde então, até o desfecho final do termo, estudos 
diversos seriam realizados com o objetivo de entender 
ainda melhor sua origem, suas implicações e as 
maneiras existentes para se contornar as dificuldades 
apresentadas por seus portadores. 
 
A dislexia, apesar de ser um conceito singular, que 
define uma condição específica da cognição do 
indivíduo, teria ainda suas manifestações típicas, cada 
qual com sua particularidade e impacto sobre as 
capacidades de aprendizado do indivíduo, podendo 
surgir desde sua relação com a matemática até com a 
ortografia e/ou caligrafia. 
 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 27 
Olhando a dislexia como um dom – a 
história de Ron Davis, seu livro e sua 
relação com a dislexia 
 
Diferente das concepções tradicionais sobre a dislexia 
enquanto um transtorno de aprendizagem, a forma 
como a observou Ron Davis diante de sua experiência 
enquanto um disléxico revolucionaria sua vida e várias 
das antigas formas de se pensar a respeito dela. 
 
Ele próprio, um adulto severamente disléxico, 
descobriria como “corrigir” sua própria dislexia antes 
mesmo de chegar a qualquer teoria sobre como ajudar 
os outros. 
 
Até os 38 anos, Ron teria sempre aceitado os 
pronunciamentos oficiais dos especialistas que o 
diagnosticavam como mentalmente retardado e nada a 
mais do que isso. 
 
Embora ele tivesse um QI medido de 160, ele entendia 
naquela altura de sua vida que nunca seria capaz de ler 
ou escrever sem uma luta árdua, porque havia algo de 
terrivelmente errado com seu cérebro. 
 
No entanto, com o passar dos anos, Ron perceberia que 
às vezes sua dislexia piorava. 
 
Nesse momento, ele raciocinaria que, se pudesse 
descobrir como piorar sua dislexia, poderia de algum 
modo topar com a chave para melhora-la. 
 
Sua primeira pista viria de suas obras de arte, quando 
Ron se daria conta de que pintando, quando ele 
estava em seu melhor artístico, era o momento em 
que o pior de sua dislexia aparecia. 
 
Como conta em sua história, Ron trancar-se-ia no 
quarto de hotel em que estava e praticaria piorar sua 
dislexia, para então trabalhar em melhora-la, como se 
em sua maior “fraqueza” tivesse encontrado sua 
maior virtude e fonte de força. 
 
Depois de três dias de prática, Ron teria chegado ao 
momento em que as cartas no cartão de visitas do 
quarto de hotel teriam se tornado, de repente, 
legíveis para ele. 
 
Atordoado com as letras, que eram todas do mesmo 
tamanho, e também com os espaços existentes entre 
as palavras, Ron iria para uma biblioteca pública, 
pegaria o livro “Treasure Island” da prateleira e o leria 
inteiro como nunca havia feito antes, antes mesmo da 
biblioteca fechar. 
 
 
 Novas Abordagens em Saúde Mental 29 
Ron não teria descoberto a solução para a dislexia 
naquele momento, mas ali seria o início de sua jornada. 
Então Ron compartilharia suas ideias com outras pessoas 
e descobriria, para sua surpresa, que a maioria de seus 
amigos artistas também eram disléxicos. 
 
Dentro desse contexto, por meio de uma abordagem de 
tentativa e erro consigo mesmo e seus colegas, Ron 
desenvolveria seu próprio método para ajudar os outros 
a superarem sua própria dislexia. 
 
Cerca de um ano depois, Ron abriria sua primeira clínica 
de leitura e desenvolvimento da abordagem. Depois 
disso, escreveria um livro sobre ela. 
 
O dom da dislexia – conhecendo o 
método de Ron Davis 
 
A teoria de Davis surgiu dessa abordagem inicial de 
tentativa e erro, como uma forma de explicar por que 
seus métodos funcionariam. Em vez de começar com 
uma teoria e usar isso como base para elaborar um 
método, Ron trabalhou de trás para frente nessa 
solução. 
 
Os disléxicos são fundamentalmente pensadores de 
imagens: eles geralmente 
pensamem imagens mentais ao invés de usar 
palavras, sentenças ou diálogos internos em suas 
mentes. 
 
Para Ron, ao invés de uma espécie de deficiência, essa 
característica especial do disléxico seria um dom; algo 
mal interpretado e totalmente possível de ser 
desenvolvido. 
 
No entanto, como esse tipo de pensamento seria algo 
subliminar – mais rápido do que a pessoa poderia 
estar ciente – a maioria dos disléxicos começaria não 
se dando conta de que é isso que eles estariam 
fazendo. 
 
Os disléxicos, na ideia de Ron, ao contrário de pessoas 
com graves problemas de cognição seriam, na 
realidade, pessoas de cognição diferente, indivíduos 
que tenderiam a usar a lógica, imagens mentais e 
estratégias de raciocínio para entender o mundo ao 
seu redor. 
 
Pensando principalmente em imagens, os disléxicos 
tenderiam a desenvolver imaginações únicas e a usar 
um processo de raciocínio baseado em imagens e 
sensações para resolver seus problemas, 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 30 
ao contrário das maneiras verbais consideradas comuns 
utilizadas pelos não disléxicos. 
 
Por outro lado, essa habilidade poderia ser a base de um 
problema também como escreve Ron – algo que 
normalmente acaba acontecendo. 
 
Os disléxicos tendem a ter dificuldades com objetos 
irreais e simbólicos, como letras e numerais. E em seus 
esforços para compreende-los, ficariam bastante 
desorientados e confusos. 
 
Os erros repetidos que resultariam dessas percepções 
equivocadas devido à desorientação inevitavelmente 
levariam a reações emocionais, frustração e a perda de 
autoestima. 
 
De acordo com Ron, em um esforço para resolver esse 
dilema, cada disléxico começará a desenvolver um 
conjunto de mecanismos de enfrentamento e 
comportamentos compulsivos para contornar esses 
problemas. 
 
A memorização mecânica, a música do alfabeto, o 
fazimento de seus deveres de casa por familiares, a 
escrita da caligrafia ilegível para encobrir a ortografia 
insatisfatória e o evitar de qualquer tarefa relacionada à 
escola ou à leitura, são exemplos dessa realidade. 
 
 
 
Um disléxico adulto terá um repertório completo de 
tais comportamentos. Agora, como nos escreve Ron, 
tem-se a gama completa de sintomas, características e 
comportamentos comumente associados à dislexia. 
 
Nesse sentido, o aspecto mais significativo da Teoria 
de Ron na resolução de dislexia seria a observação de 
que, quando um símbolo auditivo – uma palavra – não 
tem uma imagem mental e significado para o 
disléxico, a desorientação e os erros são o resultado. 
 
Sendo assim, quando mostramos aos disléxicos como 
desligar as desorientações no momento em que 
ocorrem, e depois ajudar a encontrar e dominar os 
estímulos que desencadearam a desorientação, os 
problemas de leitura, escrita e ortografia começam a 
desaparecer. 
 
Educação x Desenvolvimento 
Infantil: como a dislexia acontece 
 
Segundo Ron, a falta de preparo e entendimento dos 
sistemas educacionais ao redor do mundo para lidar 
com a maneira de entender o mundo dos 
Novas Abordagens em Saúde Mental 32 
disléxicos seria, se não o maior, um dos maiores 
problemas existentes no que diz respeito ao entrave de 
seus desenvolvimentos. 
 
Ron enquadrou o passo-a-passo da trajetória dos 
disléxicos em uma linha do tempo muito interessante, 
baseando-se em sua própria experiência de vida, no 
trabalho com mais de 1000 disléxicos e no dia-a-dia de 
sua instituição voltada para a mudança de 
desenvolvimento destas pessoas. 
 
Seu objetivo teria sido elucidar esse processo que, de 
acordo com ele, não permitiria as pessoas disléxicas a 
atingirem todo seu potencial. 
 
1) Uma criança que é potencialmente disléxica descobre 
como preencher mentalmente percepções fragmentárias 
em uma idade de três meses. Este talento imaginativo 
pode mais tarde produzir dislexia. 
 
2) Durante a primeira infância, a criança usa esse talento 
para reconhecer objetos no ambiente e desenvolver 
talentos artísticos e cinestésicos. A criança se torna um 
pensador visual e conceitual. 
 
Há pouca necessidade de desenvolvimento do 
pensamento verbal, um modo de pensar mais lento 
caracterizado por um monólogo interno de palavras. 
 
Funciona bem com o mundo real, mas ver as letras 
impressas de cabeça para baixo ou invertidas ou na 
ordem errada torna-as menos reconhecíveis. 
 
4) A criança se torna cada vez mais confusa, o que 
produz mais desorientação. A criança suspeita que 
algo está errado. Isso é confirmado pelo professor, 
pelas outras crianças da turma, pela administração da 
escola e, eventualmente, pelos pais. 
 
Todo mundo fica chateado, então a criança 
“cognitivamente desafiada” também fica chateada. 
Agora podemos ver problemas de comportamento. 
 
5) A menos que alguém intervenha e forneça métodos 
de aprendizado apropriados, a criança não tem 
escolha a não ser lutar com a escola enquanto 
tolerável, possivelmente em uma classe de Educação 
Especial ou sob a influência de drogas como Ritalina 
ou Cylert. 
 
6) Na idade de oito ou nove anos, a criança inventa 
truques como a memorização, a repetição e o delegar 
para outros o fazer de leituras e escritas. Em aulas 
práticas como ciência, música, arte ou loja, essa 
criança pode se sobressair, 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 33 
mas aulas que exigem muita leitura e escrita, são 
torturas. 
 
7) A menos que haja intervenção apropriada de alguém 
que demonstre compaixão e respeito, a autoestima da 
criança disléxica sofrerá. 
 
8) Depois de escapar da escola, a pessoa começa a 
superar ou contornar a “desvantagem” de ser 
funcionalmente analfabeto. Os disléxicos 
frequentemente se destacam no trabalho, embora sejam 
funcionalmente analfabetos. 
 
9) No momento em que o disléxico se torna adulto, a 
incapacidade de ler e escrever bem é um segredo 
vergonhoso. A pessoa está convencida de que é um sinal 
não apenas de ignorância, mas de indignidade. Essa 
infeliz auto percepção pode tornar os disléxicos adultos 
secretos e hostis. 
 
Um método revolucionário 
 
Algo que chama a atenção quanto ao tema da dislexia e 
a teoria de Ron, são suas recorrentes aparições na vida 
de mentes brilhantes da história da humanidade. Albert 
Einstein, Thomas Edson, Charles Darwin, Leonardo da 
Vinci, Muhammad Ali, Walt Disney; todos esses ícones 
eram disléxicos e incrivelmente geniais. 
 
 
O método de Ron, hoje ensinado em 44 países, é 
muito simples e permitiria ao disléxico, adulto ou 
criança, através de exercícios simples, criar um 
sistema próprio de leitura. A partir daí, a criatividade e 
a imaginação fariam o resto. 
 
Os resultados práticos do método são extraordinários, 
e levaram a que “O Dom da Dislexia” se tornasse o 
livro mais vendido do mundo nesta área. 
 
No livro, encontra-se o programa explicado passo-a-
passo, e também as respostas para todas as dúvidas 
sobre a dislexia – numa linguagem clara, em letras 
grandes, escrita por uma pessoa que soube tornar a 
dislexia um poderoso aliado. 
 
Segundo Ron, restaurar a autoestima de uma pessoa 
seria realmente uma das partes mais importantes 
para se desconstruir a dislexia e outros problemas de 
aprendizagem, incluindo o DDA e a hiperatividade, 
que podem estar dificultando seu dia-a-dia. 
 
Os procedimentos descritos em “O Dom da Dislexia” 
geralmente permitem que uma pessoa com 
“deficiência de aprendizado” ganhe habilidades 
básicas 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 35 
de alfabetização por meio de um programa de 30 horas. 
Depois de alguns meses de aulas em casa, a maioria 
pode ler, escrever e estudar normalmente. 
 
Desconstruir a visão que eles mesmos tem de si, de que 
seriam estúpidos ou atrasados, é o resultado mais 
valioso do treinamento. Focando na experiência pessoal 
e em toda a capacidade que a pessoa tem para 
desenvolver, Ron tem sido capaz de mudar vidas para 
sempre utilizando-se de sua sabedoria e abordagem. 
 
Referências Bibliográficas 
 
Referência: Davis, Ronald D. “O Dom da Dislexia”. Rio de 
Janeiro: Editora Rocco,2004. 
 
Referência: Dyslexia The Gift. “Education vs Child 
Development”. Disponível em: 
. Acesso em: 13 de maio, 2019. 
 
 
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Positive Psychotherapy (Psicoterapia 
Positiva) (Saúde Mental em Geral) 
Capítulo 4 
O conceito de Psicoterapia Positiva 
(PPT) 
 
O termo psicoterapia tipicamente evoca pensamentos 
sobre tratar um distúrbio psiquiátrico – como 
depressão, TOC ou fobia social – ou ajudar casais a 
lidar com o conflito conjugal, ajudar indivíduos a 
superar o luto ou a superar um grande desafio da vida. 
Em outras palavras, o objetivo nesse pensamento 
seria eliminar ou reduzir algo negativo. 
 
A Psicoterapia Positiva – muitas vezes referida como 
PPT – é uma abordagem terapêutica relativamente 
nova e única, que valoriza mais a busca pelo que é 
bom e positivo do que a erradicação propriamente 
dita do que seria o problema ou o negativo. 
 
Ela se esforça para ajudar o indivíduo a explorar, 
identificar e desenvolver seus pontos fortes – e o que 
está dando certo em sua vida – em vez de dissecar e 
"consertar" suas fraquezas e o que estaria errado ou 
quebrado em seu mundo. 
 
Isso não quer dizer que problemas e fraquezas não 
sejam discutidas e exploradas dentro da abordagem. 
Mas não fazendo disso o foco do plano terapêutico, 
Novas Abordagens em Saúde Mental 37 
os contatos entre terapeuta e pessoa baseiam-se em 
encontrar seus pontos fortes e ajuda-la a experimentar a 
felicidade no presente como chaves para melhorar seu 
bem-estar e a saúde psicológica. 
 
A Psicoterapia Positiva baseia-se na ideia de que as 
pessoas encontram a felicidade de várias formas, e ao 
trabalhar com a felicidade inerente à vivência do 
presente e de seus momentos, as ajuda a encontra-la em 
seu dia-a-dia, em seus gestos e ocasiões – mesmo que 
relacionadas às dificuldades vividas –, afastando a ideia 
da felicidade como algo residente apenas no passado 
 
Algumas informações importantes 
sobre a abordagem 
 
Historicamente, a Psicoterapia Positiva teria sido 
desenvolvida com a intenção de promover a felicidade 
genuína e um maior senso de bem-estar a pessoas que 
já eram consideradas psicologicamente saudáveis. 
 
Atualmente, a Psicoterapia Positiva, quando não 
utilizada exclusivamente, trabalha em conjunto com a 
Psicoterapia Tradicional em benefício de seus 
participantes. 
 
De acordo com o pesquisador Martin Seligman – uma 
das principais autoridades em Psicologia Positiva – a PPT 
tem o poder de ampliar e 
aprimorar o objetivo da Psicoterapia Tradicional de 
ajustar aquilo que estaria causando problemas, ao 
construir também pontes para o alcançar de 
elementos genuinamente positivos da vida de cada 
um. 
 
Em termos de debate, os céticos históricos sobre a 
Psicologia Positiva e a eficácia do PPT e seus métodos 
tendem a desconsiderá-la, afirmando que a 
concentração em elementos positivos e felizes da vida 
seria algo pouco factualmente terapêutico e válido 
para que fosse levado em consideração como o faziam 
seus apoiadores. 
 
Enquanto, por outro lado, os clínicos e pesquisadores 
historicamente implementadores da PPT em sua 
prática regular argumentariam o contrário, dizendo 
que seus conceitos adicionariam um equilíbrio 
saudável ao foco habitual em distúrbios psicológicos e 
ao sofrimento emocional, atribuindo à vida humana e 
sua felicidade a importância que deveriam ter. 
 
A Psicoterapia Positiva baseia-se nos princípios da 
Psicologia Positiva. Humanísticas em sua natureza, 
Psicoterapia Positiva e Psicologia Positiva derivam do 
trabalho de vários proeminentes psicólogos e 
psicanalistas pesquisadores ao longo de muitos anos 
de estudo. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 38 
Martin Seligman (“Otimismo Aprendido”) e Christopher 
Peterson (“A primer in Positive Psychology”) são 
frequentemente creditados como fundadores do campo 
da Psicologia Positiva, mas diversas outras figuras, 
algumas anteriores aos dois pesquisadores citados, 
tiveram sua importância à teoria e história formadora da 
abordagem e seus métodos como está marcado em seu 
desenvolvimento. 
 
Estes incluem: Carl Rogers (“Terapia Centrada no 
Cliente”), Abraham Maslow (“Hierarquia de 
Necessidades”), Albert Bandura (“Teoria da 
Aprendizagem Social”), Erich Fromm (“A Arte de Amar”), 
Tayyab Rashid (“Positive Psychoterapy: Clinician 
Manual”), entre outros. 
 
Os três principais pressupostos da 
Psicoterapia Positiva 
 
De acordo com Seligman e Rashid, existiriam três 
principais pressupostos que formam a base da PPT: 
 
1) As pessoas têm um desejo inato de felicidade, 
satisfação e crescimento pessoal. Elas não estão apenas 
procurando evitar aflições ou sentimentos negativos. 
Problemas psicológicos se desenvolvem quando não 
conseguem crescer. 
 
 
2) Os pontos fortes de uma pessoa são tão reais e 
válidos quanto qualquer sintoma que estejam 
experimentando ou distúrbios que possam ter. 
 
3) Uma aliança terapêutica benéfica não requer um 
foco em fraquezas ou psicopatologias para se 
desenvolver; ela pode ser formada por falar sobre os 
pontos fortes e recursos de um cliente também. 
 
Cinco fundamentos da felicidade – 
o modelo “PERMA” de Seligman 
 
Ao longo de sua pesquisa sobre o que torna as 
pessoas felizes, Seligman identificou cinco elementos-
chave que passaram a ser conhecidos como o modelo 
de bem-estar PERMA. Ele seria baseado em 5 coisas 
que desempenham um papel fundamental na 
felicidade das pessoas. São elas: 
 
• Positive Emotion (Emoções Positivas) 
• Engagement (Engajamento) 
• Relationships (Relacionamentos) 
• Meaning (Significado) 
• Accomplishment (Realização) 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 40 
As pessoas que se sentem satisfeitas em cada uma 
dessas áreas-chave da vida são muito menos 
vulneráveis ​​à depressão e experimentam uma maior 
sensação geral de bem-estar. 
 
As emoções positivas trazem muitos benefícios, 
incluindo um clima mais positivo, maior criatividade, 
maior disposição para assumir riscos e tentar coisas 
novas, melhor saúde geral e relacionamentos mais 
felizes. 
 
Elas facilitam o lidar com o desapontamento do passado, 
tornam mais simples a apreciação e o desfrutar do 
presente, e fazem das pessoas mais otimistas sobre o 
futuroque as espera. 
 
Na PPT, os terapeutas ajudam as pessoas a 
desenvolverem suas emoções positivas. Isso faz com que 
elas se sintam mais esperançosas (em vez de esperar 
que algo ruim aconteça) e permite com que olhem para 
a própria vida sob uma perspectiva mais positiva. 
 
Envolver-se com a vida é essencial para o bem-estar. 
Sentar-se à margem te mantém entediado, deprimido e 
desmotivado – e reforça a tendência de se fixar no 
passado e se preocupar com o futuro. Quando nos 
engajamos na vida, ganhamos impulso e nos tornamos 
capazes de nos concentrarmos – e de aproveitarmos – 
no momento. 
 
 
 
 
Ao identificar nossos pontos fortes na PPT, podemos 
começar a encontrar mais maneiras de usá-los de 
formas significativas e gratificantes – e de jeitos que 
tenham valor aos outros, por meio do trabalho, de 
relacionamentos e de outros empreendimentos, por 
exemplo. 
 
Significado e propósito na vida tornam-na rica e 
recompensadora – fazendo-a valer a pena ser vivida. 
As pessoas encontram significados para ela de muitas 
maneiras diferentes, incluindo família, fé, uma causa 
digna ou mesmo o trabalho. 
 
A Psicoterapia Positiva ajuda a identificar as coisas 
que nos satisfazem e a dar significado à nossas vidas. 
Os terapeutas que utilizam da PPT, encorajam-nos a 
fazer coisas que se alinham com nossos valores e a 
encontrar pessoas que se importem com as coisas que 
são importantes para nós. 
 
Realizar um objetivo ou uma tarefa desafiadora é 
muito gratificante – seja terminar a faculdade, 
dominar uma habilidade como jogar tênis, tocar 
piano, ou perder quilos indesejados. 
 
As pessoas felizes podem olhar para a sua vida e sentir 
um sentimento genuíno 
Novas Abordagens em Saúde Mental 41 
de realização, mesmo que isso não signifique que elas 
não cometeram erros ou deixaram de lidar com falhas ao 
longo do caminho. 
 
Concentrarem-se nos seus sucessos – em suas 
realizações – inspira-os a trabalhar para objetivos futuros 
e a manterem-se fieis a eles, mesmo quando se torna 
mais difícil fazê-lo. 
 
Sob a PPT, os terapeutas encorajam-nos a definir nossos 
objetivos e a melhorar os traços positivos necessários 
para alcançá-los. Eles nos ajudam a manter o foco em 
nossos objetivos e encorajam-nos a celebrar todos os 
nossos sucessos – mesmo que pequenos. 
 
Um forte senso de realização pessoal aumenta a 
resiliência e permite que permaneçamos no curso, não 
importa quão entediante ou cansativo ele seja – mesmo 
quando os obstáculos se apresentam. 
As três fases da Psicoterapia 
Positiva 
 
A Psicoterapia Positiva pode ser dividida em três fases 
distintas. 
 
1) A primeira fase é focada em ajudar os clientes da 
terapia a examinar e a identificar seus pontos fortes 
pessoais. 
 
2) A segunda fase da PPT é voltada para a construção 
e fortalecimento das emoções positivas dos clientes, 
ao mesmo tempo em que os ajuda a abandonar os 
padrões de pensamento negativos e as emoções que 
causam problemas em sua vida. 
 
3) A terceira e última fase da PPT é focada nas 
relações positivas na vida dos clientes, incluindo 
formas de fortalecê-las. Esta fase também se 
concentra em ajudar os clientes a obter uma maior 
compreensão do que dá propósito e significado à sua 
vida. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 43 
Técnicas Terapêuticas da PTT 
 
Os terapeutas usam várias técnicas para incorporar os 
princípios da Psicologia Positiva em seus trabalhos com 
os clientes. Isso inclui ajudar os clientes a: 
 
Incentivar a linguagem baseada na força pessoal - A 
maioria das pessoas chega à terapia esperando falar 
sobre todas as coisas negativas – mágoas, 
ressentimentos, conflitos com os outros, tristeza e 
perdas. 
 
Mudar a linguagem para incorporar palavras mais 
positivas ajuda a mudar o foco para coisas mais positivas 
na vida de uma pessoa. Isso pode melhorar a capacidade 
dos clientes de reconhecer seus pontos fortes e 
identificar o que está funcionando em suas vidas. 
 
Concentrar-se no positivo em vez do negativo - Na 
terapia (e muitas vezes na vida) as pessoas tendem a se 
concentrar no negativo e não no positivo. 
 
As pessoas que combatem a depressão são 
especialmente propensas a se debruçarem sobre os 
aspectos negativos de suas vidas, bem como todas as 
coisas negativas que aconteceram em seu passado. 
 
Na PPT, o terapeuta se esforça para mover o foco dos 
clientes para o positivo – por exemplo, as coisas boas 
que aconteceram durante o dia ou a semana. 
 
Essa mudança ajuda os clientes a desenvolverem uma 
perspectiva mais equilibrada – e realista – ou seja, 
quase sempre há algo de bom nas coisas ruins. 
 
Também permite que eles se tornem mais hábeis em 
observar as coisas positivas no presente, bem como 
identificar qualquer coisa positiva que tenha saído de 
uma situação ou experiência difícil no passado. 
 
Reforçar sentimentos de esperança - Instilar um 
sentimento de esperança é um objetivo terapêutico 
comum. Na PPT, os terapeutas se esforçam para 
encontrar maneiras de construir e fortalecer o senso 
de esperança e otimismo de seus clientes. 
 
Ajudar os clientes a reconhecer seus pontos fortes 
pode contribuir para esse objetivo, pois facilita uma 
maior confiança em sua capacidade de lidar com 
problemas e desafios no futuro. 
 
Enviar lembretes - Alguns terapeutas usarão um 
pager, uma mensagem de texto ou outros meios para 
enviar ao cliente 
Novas Abordagens em Saúde Mental 44 
um lembrete para registrar o que estão vivenciando 
naquele momento, com ênfase no positivo. 
 
A ideia é que esses registros (que o cliente pode 
expandir no final do dia) forneçam uma amostra dos 
tipos. Em algum momento mais tarde na terapia, estes 
podem ser discutidos para ver como o cliente está 
progredindo. 
 
Inventário de Ações e Pontos Fortes 
 
Uma das principais ferramentas utilizadas na 
Psicoterapia Positiva é o Inventário de Pontos Fortes 
(VIA-IS). Esta ferramenta, desenvolvida por Seligman e 
Peterson, consiste em um questionário que permite 
determinar nossas cinco maiores forças. 
 
O VIA-IS pode servir como um poderoso lembrete de 
que nós não somos uma depressão, transtorno bipolar, 
transtorno obsessivo-compulsivo ou qualquer outro 
rótulo de diagnóstico depreciativo. 
 
Uma dificuldade percebida, falha pessoal ou distúrbio 
psiquiátrico, não define quem somos. Este é um dos 
aspectos mais fortalecedores da Psicoterapia Positiva. 
 
Ela permite que você se veja como uma pessoa inteira, e 
não como um indivíduo “quebrado” ou “confuso” que 
precisa ser “consertado”. 
 
 
Identificar nossos principais pontos fortes pode ser 
incrivelmente empoderador. Isso reforça a mudança 
de foco do que estaria errado para o que de fato seria 
forte em cada um de nós. 
 
(O VIA-IS está disponível on-line e é gratuito) 
 
Algumas vantagens inerentes à 
Psicoterapia Positiva 
 
1) Os terapeutas que normalmente usam outros tipos 
de psicoterapia, podem incorporar a Psicoterapia 
Positiva em sua prática como uma abordagem 
complementar para tratar uma variedade de 
problemas emocionais e distúrbios mentais. 
 
2) Os indivíduos podem facilmente usar ferramentas 
on-line, como o Inventário de Valores em Ação e os 
vários exercícios existentes, e aplicá-los 
benéficamente em suas próprias vidas. Esta pode ser 
uma ótima maneira de ajudar as pessoas que muitas 
vezes são resistentes à ideia de ir à terapia. 
 
3) Os princípios, conceitos e exercícios usados ​​na PPT 
são relativamente fáceis de entender. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 46 
Entrar em sintonia com uma abordagem mais acessível 
como a PTT pode fazer dela uma abordagem mais 
confortável e agradável para as pessoas. 
 
Isso é importante porque elas estarão mais inclinadas a 
manter o tratamento do que desistir prematuramente 
devido a uma desconexão intelectual ou emocional com 
o processo. 
 
4) Ao contrário de alguns tipos de psicoterapia e 
intervenções psicológicas, não há contraindicações 
importantes para a Psicoterapia Positiva. Quase todo 
mundo podeexperimentar pelo menos algum benefício 
com essa abordagem. 
 
5) Uma das críticas feitas à Psicoterapia Positiva trata 
sobre a necessidade de que mais pesquisas sejam 
realizadas em relação a sua eficácia, particularmente em 
indivíduos que foram diagnosticados com algum 
distúrbio psiquiátrico. 
 
No entanto, até que haja mais pesquisas baseadas em 
evidências, a maioria concorda que existem riscos 
mínimos para incorporar técnicas de Psicoterapia 
Positiva na prática clínica regular. 
 
Gastar pelo menos algum tempo concentrando-se em 
eventos positivos, resultados e emoções, bem como 
identificar, explorar e desenvolver os pontos 
 
fortes de uma pessoa, são geralmente considerados 
úteis, psicologicamente saudáveis ​​e benéficos. 
 
No mínimo, isso provavelmente trará maior sensação 
de confiança quando se trata de lidar com a 
adversidade. 
 
O processo também pode ajudar a mudar uma 
perspectiva negativa ou pessimista para uma 
perspectiva mais esperançosa e positiva na maioria 
dos indivíduos. 
 
A Psicoterapia Positiva, embora ainda relativamente 
nova em comparação com os tipos mais tradicionais 
de psicoterapia, mostra-se muito promissora. 
 
Para quem está pensando em trabalhar com um 
terapeuta, pode valer a pena considerar procurar um 
psicólogo ou outro profissional de saúde mental que 
incorpore os conceitos centrais e exercícios da PPT à 
sua prática atual. 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 47 
Distúrbios, condições e dificuldades 
que podem se beneficiar da 
Psicoterapia Positiva 
 
A Psicoterapia Positiva pode ser benéfica para uma 
ampla gama de transtornos e dificuldades psicológicas 
que levam os indivíduos a procurar ajuda profissional. A 
ênfase na identificação e promoção de forças pode ser 
muito estimulante para qualquer pessoa que esteja 
lutando contra algo dessa natureza. Estes incluem (mas 
não estão limitados a): 
 
• Depressão 
• Ansiedade 
• Fobia social 
• TOC 
• Estresse pós-traumático e traumas não resolvidos 
• Estresse crônico ou severo 
• Conflitos de relacionamento 
• Dependência e recuperação 
• Luto e perda 
• Momentos de grande transição na vida 
 
Referências Bibliográficas 
 
Conteúdo traduzido e adaptado dos documentos: 
 
Referência: Martin E. P. Seligman, Tayyab Rashid, and 
Acacia C. Parks. “Positive Psychotherapy”. 
Pennsylvania: American Psychologist, NOV, 2006. 
 
Referência: Addiction. “Positive Psychotherapy”. 
Disponível em: . Acesso em: 14 de maio, 
2019. 
 
Novas Abordagens em Saúde Mental 49 
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GAM (Gestão Autônoma da 
Medicação) (Medicamentos) 
Capítulo 5 
Introdução ao conceito GAM 
 
Desde sua instituição, o movimento pela Reforma 
Psiquiátrica mundial têm conquistado grandes 
avanços na saúde mental, impactando positivamente 
a vida de milhares de pessoas, como a redução de 
leitos em hospitais psiquiátricos e o retorno à vida em 
comunidade de cidadãos com longo histórico de 
internações. 
 
Em processo de desinstitucionalização constante, e 
que continua abrangendo a criação de novas formas 
de organização da atenção à saúde em vários países, 
esse movimento segue valorizando a integração dos 
serviços e dos usuários às suas comunidades e 
territórios. 
 
Dentre alguns dos desafios enfrentados por esse 
movimento, ainda se faz presente que tratamentos 
baseados em medicamentos – ou psicofármacos – 
ainda sejam os mais utilizados, colocando em segundo 
plano outras formas de cuidar das pessoas, baseadas 
nas relações, no afeto e na comunicação como 
elementos fundamentais. 
 
A Gestão Autônoma da Medicação (GAM), 
Novas Abordagens em Saúde Mental 51 
em consonância com os fundamentos da Reforma 
Psiquiátrica, propõe ferramentas concretas para o 
enfrentamento desse problema – de que práticas de 
saúde mental dependam tanto do mundo da Medicina 
(da medicalização) e tão pouco do contato humano e da 
conscientização. 
 
Nesse sentido, a GAM busca que as pessoas sob o uso 
de psicofármacos sejam mais críticas em relação a 
utilização que fazem deles, que conheçam melhor os 
medicamentos que usam cotidianamente e seus efeitos 
desejados e não desejados, por meio da instrução e do 
diálogo. 
 
É uma abordagem que objetiva, ainda, que elas 
conheçam quais são seus direitos e que saibam que 
podem decidir se aceitam ou recusam as diferentes 
propostas de tratamento apresentáveis. O direito à 
informação e o direito a liberdade de opinar e participar 
em relação aos tratamentos tornam-se princípios 
fundamentais da Gestão Autônoma da Medicação. 
 
A história por trás da Gestão 
Autônoma da Medicação 
 
A GAM começou a ser desenvolvida no Canadá, na 
cidade de Quebéc, 
 
 
em 1993, em um contexto onde a forma de usar os 
medicamentos nos tratamentos em saúde mental era 
pouco ou nada criticada. Foi uma iniciativa de grupos 
de usuários com transtornos mentais para ajudar 
outros usuários no enfrentamento dessa situação. 
Esses grupos afirmavam a importância dos diferentes 
significados que a medicação podia assumir para cada 
usuário. 
 
A GAM foi construída através de um processo coletivo 
muito participativo, com organização de grupos de 
debates entre usuários, associações de defesa dos 
direitos dos usuários, profissionais das redes 
comunitárias de serviços alternativos em saúde 
(serviços que não eram oferecidos pelo governo 
canadense) e pesquisadores – e atualmente, a GAM, 
no Quebéc, faz parte de um Plano de Ação elaborado 
pelo governo, e sua prática é reconhecida e 
estimulada. 
 
A partir desses debates, constatou-se que, mesmo 
que muitos usuários admitissem que os 
medicamentos ajudavam a reduzir o sofrimento, com 
frequência eram precisas longas peregrinações até 
conseguirem informações básicas sobre o seu 
tratamento e a prescrição de doses mais adequadas 
ao seu caso particular. 
Novas Abordagens em Saúde Mental 52 
O debate também permitiu perceber que, para alcançar 
o melhor tratamento para cada pessoa, podiam ser 
necessárias mudanças: trocar os medicamentos, 
aumentar ou diminuir uma dosagem, ou mesmo parar 
progressivamente com o seu uso. 
 
Para cada pessoa, o significado do uso dos 
medicamentos e seus efeitos eram diferentes, já que 
essa experiência é única (singular) para cada um. Por 
isso a estratégia GAM não propõe regras fixas ou gerais: 
reconhece sempre os caminhos singulares das pessoas. 
 
Uma das ferramentas da GAM, resultado de vinte anos 
de lutas dos serviços alternativos e dos grupos de 
promoção e defesa dos direitos em saúde mental do 
Quebec, é o guia Gestion Autonome de la Médication de 
l'Alme - Mon Guide Personel (Gestão Autônoma da 
Medicação da Alma - Meu Guia Pessoal), elaborado em 
2001, por pesquisadores e associações do Quebéc. 
 
Esse Guia, escrito em francês, propunha que os usuários 
tivessem acesso às informações e, assim, tivessem 
melhores condições de reivindicar os seus direitos, 
dialogando sobre o lugar que a medicação e outras 
práticas ocupavam em suas vidas. 
 
Além disso, propunha-se também que o usuário deixasse 
de ser tratado como 
 
 
"objeto" do tratamento para ser, de fato, tratado 
como "sujeito" e "pessoa de pleno direito“ do mesmo. 
 
O Guia GAM construído no Canadá foi adaptado para 
a realidade brasileira ao longo dos anos 2009 e 2011. 
A adaptação buscou

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