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1 MINDFULNESS E CONTEMPLAÇÃO – COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA, ESCUTA ATIVA E EMPATIA 2 Sumário 1. A PLENA ATENÇÃO, A PERCEPÇÃO SENSORIAL E AS SENSAÇÕES ....................................... 3 2. AS NOVE CONTEMPLAÇÕES DO CEMITÉRIO ..................................................................... 13 3. PRÁTICA DE MINDFULNESS ............................................................................................... 14 4. ATIVIDADES ....................................................................................................................... 15 5. INSTRUMENTO DE APOIO ................................................................................................. 23 6. COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA ....................................................................................... 25 7. CORPO E MENTE DE DOR .................................................................................................. 30 8. ESPIRAIS DA VIOLÊNCIA E DO CUIDADO (AMOR) .............................................................. 32 9. DIÁLOGO: O MAIS DIFÍCIL E PRECIOSO ............................................................................. 33 10. DIÁLOGO: OUVIR ABERTO E AFETIVO ............................................................................... 33 11. SEREMOS CAPAZES DE OUVIR ........................................................................................... 34 12. UMA SÍNTESE EM COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA .......................................................... 36 13. COMO SE PODE USAR O MODELO CNV ............................................................................ 40 14. PRÁTICA PELA TRANSFORMAÇÃO DE CONFLITOS E EMPATIA .......................................... 45 15. UMA PROPOSTA ÉTICO-PRÁTICA DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS .................................... 45 16. REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 57 3 1. A PLENA ATENÇÃO, A PERCEPÇÃO SENSORIAL E AS SENSAÇÕES Como ocorrem os processos sensoriais através dos quais percebemos a realidade? Qual é a sua base neurofisiológica? Como surge o sentimento? Como os sentimentos influenciam nossas respostas a eles? Como o treinamento da atenção plena pode intervir beneficamente nesses processos? Do ponto de vista da base neurofisiológica da percepção sensorial, temos quatro tipos principais de receptores sensoriais, dependendo do estímulo captado: → Quimiorreceptores (armadilhas para substâncias químicas no nariz e na língua); → Termorreceptores (estimulação térmica através da pele); → Mecanorreceptores (detectores de estímulos mecânicos, como compressão ou estiramento na forma de receptores de som, mudanças na pressão do ar e → receptores estatóricos, detectores de posição do corpo sob influência da gravidade, como ouvidos); → e fotorreceptores (armadilhas de estímulo luminoso). O processo de percepção começa com a captação de um estímulo: “O estímulo altera a permeabilidade da membrana plasmática da célula sensorial, gerando um potencial de ação, que é transmitido na forma de impulso nervoso” [Amabis & Martho, p. . 488]. Esses impulsos são transmitidos a áreas cerebrais relevantes, que os interpretam. Em outras palavras, a consciência surge quando um objeto sensorial encontra um órgão sensorial. À medida que os órgãos dos sentidos se encontram com a consciência, surgem o tato (fase) e a consciência correspondente: objetos visuais/objetos sonoros/consciência auditiva; Os ensinamentos budistas também incluem objetos mentais (pensamentos, memórias, imagens)/consciência mental, já que a mente é considerada o sexto sentido. O processo cognitivo de um objeto passa por vários estágios: por exemplo, se o objeto percebido for uma árvore, em uma série de momentos de consciência, o cérebro utiliza todos os dados visíveis para formar uma imagem progressiva, e o que vemos é apenas um objeto - Dados visíveis (conceitos de coisas). A consciência então busca na memória passada uma 4 referência semelhante aos dados visíveis e então a nomeia: árvore (nome do conceito). De acordo com o texto. Silananda, para dizermos “Vejo uma árvore”, são necessários uma série de processos cognitivos, cada um dos quais pode ocorrer milhares de vezes (Ven. Silananda, 2003, p. 231). Como veremos mais tarde, a consciência sensorial surge e desaparece de momento a momento, juntamente com o surgimento e desaparecimento do contato com os objetos dos sentidos correspondentes. Neste ponto, podemos fazer uma importante questão científica: Será que áreas específicas do cérebro interpretam e representam impulsos neurais, ou a mente percebe e representa dados sensíveis com o apoio de áreas específicas do cérebro? ? Na verdade, esta questão específica enquadra-se no âmbito da investigação neurocientífica atual sobre a relação entre o cérebro e a mente. Questão aberta. De qualquer forma, o fato é que no momento do contato as vibrações são geradas e conduzidas pelos nervos até o sistema nervoso central, onde esses sinais serão interpretados: “A percepção (sanna) torna essa vibração um único objeto, como os pontos do desenho de uma criança. Conecte os pontos para formar uma imagem, uma forma. Quando os pontos estão conectados, a forma é colocada na página e nomeamos as outras ao seu redor. Isso é percepção, o que diferencia as formas/figuras. realidades. Sem percepção na mente, veríamos um labirinto de cores em uma dimensão (Sir Rahula, Retiro de 11 de março de 2011., Casa de Dharma. Notas). Muitas vezes surgem novos problemas aqui. Acontece que a percepção, um dos cinco agregados, é condicionada por uma variedade de fatores: estresse, passado/futuro, emoções, pensamentos e reações. As percepções condicionadas criam opiniões, e reagimos de acordo com as opiniões que formamos, com apego ou aversão: “Desde que nascemos, temos percepções formadas em nossas mentes. A partir da nossa formação, desenvolvemos nossos sentimentos em relação a essas percepções. apenas em resposta a sensações (sentimentos). A percepção será vista como desagradável (e, inversamente, o mesmo se aplica a objetos agradáveis). Mesmo que a coisa em si não seja má, o padrão de reação fica fixo na mente. A percepção pode ter sido criada em uma vida passada. Achamos que queremos (ou não) um objeto, mas o que queremos é a maneira como o objeto nos faz sentir. O objeto não é tão importante, o que queremos/não queremos é a sensação agradável (ou rejeição da sensação desagradável). Porque se um objeto deixa de produzir aquela sensação de prazer, não 5 queremos mais aquele objeto (ou aquela pessoa). Devido à impermanência do sentimento, mudamos nossas preferências” (Bhante Rahula, 2011). Os sentimentos fazem parte dos quatro nama: sentimento (vedana), percepção (sanna), formações (sankhara (incluindo pensamentos, emoções, memórias, reações)) e consciência (vinnana). Juntamente com o agregado corporal (rupa), eles formam os cinco agregados (pancakkhandha), que normalmente chamamos de “pessoa”. Todo o problema do sofrimento vem da nossa identificação com os cinco agregados, de modo que eles se tornam os cinco agregados do apego. Pensamos neles como “meu corpo”, “meus sentimentos”, “minhas percepções”, “meus pensamentos”, “minha consciência”. Desenvolvemos um sentido de “eu”, identificamo-nos com este sentido de eu, aderimos a esta ideia e reagimos a qualquer coisa que ameace a falsa estabilidade e segurança do “eu”. Nós sofremos. Por que? Porque concordamos que estes cinco agregados são insatisfatórios. Por que eles estão insatisfeitos? Porque eles são impermanentes. Nosso desejo pela eternidade está constantemente em conflito com a lei da impermanência, que atua contra os nossos desejos. Todo o treino de mindfulness envolve asentimentos, e depois exponha sua visão da situação de forma transparente, sempre com a mente questionadora e aberta, sem culpar a outra pessoa ou a si mesmo. Além de conhecer os seus direitos e lutar por eles, essa é a atitude correta. Exemplos de interações sem e com CNV: Descreva a maneira como você fala: M - "Meu filho, pelo amor de Deus, desligue o celular. Não aguento mais ver você no celular. Desligue essa maldita coisa." F – Droga, mãe, todo mundo usa e você só reclama… M – Mas você não é todos eles, eu sou o responsável. COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais Essência: ouvir e comunicar-se (ações) de modo transparente, conectivo, empático. Filosofia prática (modo de vida) e método. "Comunicação Compassiva" — I cap. Livro CNV — "dar de Coração (do fundo do... Entrega de...)" - essência. "Uso o termo CNV como Gandhi, para expressar nosso estado natural de compaixão quando a violência se afasta do Coração". Marshall B. Rosenberg 40 F-#*! (então saia ou feche) Com CNV: Meu filho, vejo que você passa muito tempo nas redes sociais, né? Estou preocupado com essa situação porquê... sei que seus amigos também usam muito essa ferramenta, mas preciso que você aproveite melhor o seu tempo porque você tem estudos, vida social, sono e saúde mental. vamos combinar nossa vida diária com o tempo que passamos em nossos telefones, certo? 13. COMO SE PODE USAR O MODELO CNV 41 42 ALGUMAS NECESSIDADES HUMANAS UNIVERSAIS SUBSISTÊNCIA Abrigo Água Ar Comida Exercício físico Expressão sexual Movimento Saúde Toque PROTEÇÃO Acolhimento Conforto Estabilidade Ordem Segurança Segurança fisica Suporte DESCANSO Equilíbrio Espaço Harmonia Integração Cumplicidade Diversidade Encorajamento Honestidade Integração Mutualidade Participação Pertencimento Proximidade Troca ENTENDIMENTO Aceitação Clareza Compreensão Empatia Inclusão Presença COMPAIXÃO Afeição Amor Carinho Conexão Consideração Respeito Liberdade Metas Significado Sonhos DIVERSÃO Alegria Aprendizado Criatividade Distração Humor Iniciativa Inspiração Riso SENTIDO Apreciação Beleza Celebração Contribuição Esperança Expressão espiritual Felicidade Gratidão Luto Propósito 43 Paz Relaxamento Tranqüilidade Segurança Emocional Significado INTERDEPENDÊNCIA Apoio Apreciação Atenção Companhia Comunhão Comunidade Confiança Contato Contribuição AUTONOMIA Amor próprio Autenticidade Auto estima Criatividade Equilíbrio Escolha Força interior Honestidade Integridade ALGUNS SENTIMENTOS BÁSICOS QUE TODOS TEMOS Como nos sentimos quando nossas necessidades são atendidas ALEGRIA/CONTENTAMENTO Comovido(a) Confiante Confortável Contente Curioso(a) Deslumbrado(a) Esperançoso(a) Comovido(a) Confiante Confortável Contente Curioso(a) Deslumbrado(a) Esperançoso(a) Estimulado(a) Eufórico(a) Feliz Impressionado(a) Inspirado(a) Interessado(a) Intrigado(a) Orgulhoso(a) Otimista Realizado(a) Relaxado(a) Satisfeito(a) Solidário(a) Surpreso(a) Tranquilo(a) Como nos sentimos quando nossas necessidades não são atendidas: MEDO/ANSIEDADE RAIVA/FRUSTRAÇÃO TRISTEZ A /LUTO Ansioso(a) Aborrecido(a) Cansado(a) Apavorado(a) Agoniado(a) Chateado(a) 44 Apreensivo(a) Agressivo(a) Com pena/dó Cauteloso(a) Arrogante Com saudades Chocado(a) Chocado(a) Depressivo(a) Confuso(a) Colérico(a) Desapontado(a) Constrangido(a) Critico(a) Desencorajado(a) Culpado(a) Decepcionado(a) Desesperançado(a) Desconfiado(a) Enciumado(a) Desgostoso(a) desconfortável Enojado(a) Desolado(a) Desorientado(a) Exasperado(a) Entediado(a) Embaraçado(a) Frustrado(a) Exausto(a) Envergonhado(a) Histérico(a) Magoado(a) estressado(a) Hostil Melancólico(a) Horrorizado(a) Indignado(a) Nostálgico(a) Impaciente Invejoso(a) Perdido(a) Incrédulo(a) Irado(a) Retraído(a) Indeciso(a) Irritado(a) Solitário(a) Intrigado(a) Nervoso(a) Sozinho(a) Medroso(a) Perturbado(a) Triste Modesto(a) Rabugento(a) Nervoso(a) Revoltado(a) Preocupado(a) Vingativo(a) Prudente Relutante Surpreso(a) Tímido(a) NÃO-SENTIMENTOS Pensamentos/Interpretações ou fatos que aparentam sentimentos 45 Abandonado(a) Abusado(a) Atacado(a) Apressado(a) Depreciado(a) Enganado(a) Humilhado(a) Ignorado(a) Invisível Incompreendido(a) Manipulado(a) Negligenciado(a) Rebaixado(a) Tráido(a) Usado(a) 14. PRÁTICA PELA TRANSFORMAÇÃO DE CONFLITOS E EMPATIA Inspirado pela sua exposição diária ao preconceito e à violência quando jovem, Marshall Rosenberg criou um modelo de comunicação concebido para unir os indivíduos para gerar compreensão e autoconsciência aberta e reconhecimento dos outros. Marshall, de ascendência judaica, cresceu na cidade americana de Detroit, onde ocorreram vários conflitos raciais, e descobriu que “os apelidos podem ser tão perigosos como a cor da pele” (Rosenberg, 2000: 14). Estava fora da questão do que leva uma pessoa a usar ou não a violência contra outras pessoas que Rosenberg começou a desenvolver (CNV). O estudo dos fatores que influenciam a capacidade humana de compaixão demonstra o papel importante desempenhado pelos padrões de linguagem e pelo uso das palavras. Foi então que foi descoberta uma forma específica de comunicação – o processo de ouvir e falar – que fez com que os indivíduos se dispusessem a aceitar, a colocar-se no lugar do outro e a relacionar-se consigo próprios e com os seus pares de uma forma humana. conexões com outras pessoas. (A chamada compaixão) surge mais facilmente. 15. UMA PROPOSTA ÉTICO-PRÁTICA DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS A CNV é mais do que apenas uma tecnologia, é um aprimoramento da inteligência interpessoal que rompe barreiras linguísticas e psicológicas e nos permite aprender a ouvir e falar “com o coração”. A CNV propõe que observemos que uma vez que uma pessoa ouve suas próprias necessidades e sentimentos, ela tem espaço para considerar isso nos outros. Assim, quanto melhor formos capazes de distinguir entre observações corretas (por exemplo, 46 julgamentos factuais) e julgamentos morais (por exemplo, julgamentos de valor), sentimentos verdadeiros e sentimentos falsos, e mesmo necessidades humanas e táticas frias, entre pedidos e comandos/coerções, mais fácil será é para entendermos as diferenças entre o que causa bloqueios na comunicação com outras pessoas. Percebemos que, com a comunicação não violenta, fundamentalmente não se trata de saber quem está certo e quem está errado; Os tipos de processos aprendidos com isso são mais profundos porque a compreensão humana transcende as posturas defensivas. É um processo que exige presença, reconectando-se com o momento presente e com os outros que estão presentes. Trata-se de descobrir as intenções (necessidades, sentimentos e solicitações) por trás das ações e palavras em jogo e como se posicionar de forma que haja alguma conexão entre as pessoas, e não entre suas opiniões. Portanto, na CNV não se trata de um método de palavras, mas principalmente da intenção por trás das palavras. É importante notar que esta abordagem não é um programa fechado e pronto, mas um modelo inspirador para cada nova situação específica e diferentes contextos culturais. Portanto, a CNV só pode ocorrer fora de pressupostos teóricos e metodológicos fechados. Seguindo a orientação do trabalho básico de Rosenberg, abordaremos tópicos progressivamente relacionados: • Impede a comunicação compassiva; • Assumir a responsabilidade pelos seus próprios sentimentos e ações;• Expressar plenamente as emoções; • Lidar com os sentimentos dos outros; • O que queremos pedir aos outros para enriquecer as nossas vidas; • Acolhimento empático ou escuta compassiva; • O poder protetor da força. A seguir, apresentamos algumas discussões sobre cada tópico, relacionando os problemas da comunicação humana às soluções identificadas por Rosenberg. A- Comunicação que dificulta a empatia 47 (CNV) Além de uma filosofia prática, é também uma abordagem que visa nos aproximar da humanidade de todos os indivíduos, revelando a verdadeira mensagem de pedidos, sentimentos e necessidades contidas nas frases e palavras utilizadas no cotidiano. reorganiza para as pessoas as formas de se expressar e de ouvir os outros fornecem orientações que trazem clareza sobre o que realmente envolve ouvir as necessidades de todos os envolvidos em um relacionamento ou conflito. Observações (fatos, sem julgamento, interpretação ou avaliação moral), sentimentos (isso inclui sentimentos e emoções básicas), necessidades (o que precisamos, queremos, desejamos, dependendo do que pode ser atendido) e solicitações (como falamos e pedimos algo) e uma ação baseada em uma ação anterior) são os quatro componentes principais de. É importante sublinhar que para este modelo de moralidade não violenta, o conflito é a base das relações humanas; isto não é um problema em si, e podemos até aprender muito com as diferenças e conflitos dentro dele. O problema é o conflito doloroso, que geralmente envolve alguma forma de violência, ou seja, atinge o ser humano e produz comportamentos que prejudicam os envolvidos. A maneira como os humanos geralmente se comunica é resultado da educação linguística que recebemos. Inclui a maneira como pensamos e as estratégias que aprendemos para influenciar os outros e a nós mesmos. Nesse esquema, a principal forma de nos distanciarmos dos outros e envenenarmos os relacionamentos é imputando julgamento moral às pessoas, aprisionando-as em definições que não se enquadram no que elas são ou no que realmente precisam. Para Rosenberg, “culpar alguém, insultar, menosprezar, criticar, fazer comparações e fazer diagnósticos são formas diferentes de formular um julgamento” (Rosenberg, 2000, p. 29, Maria Carolina · Tradução de Morais). De acordo com essa atitude, são estabelecidos parâmetros para o que há de bom e de ruim no comportamento de um indivíduo, quando na verdade esse tipo de reação está mais relacionado a necessidades que uma pessoa tem, mas não são atendidas por outra. É seguir esse padrão de pensamento que cria desconforto e julgamento negativo. Em outras palavras, se A diz a B que “gostaria de ser menos egoísta”, então uma das coisas que A está realmente dizendo é que deseja que B leve mais em conta sua opinião, porque A precisa ouvi-la. Curiosamente, na visão de B, A é uma pessoa “neurótica e controladora”. Um dos verdadeiros significados de B é que ele deseja mais 48 espaço no relacionamento para ter mais controle sobre sua própria tomada de decisões. Para escapar de um conflito desta natureza, é necessário primeiro usar a auto empatia e depois ter empatia com os outros, mas muitas vezes esquecemos esse plano. A forma como A e B comunicam (refletindo o que normalmente acontece quando as pessoas entram em conflito) demonstra claramente a distorção das necessidades - o que A e B estão realmente a tentar dizer através dos seus julgamentos e críticas é que as suas necessidades também são afetadas pelas outras ameaças da Atitude. Porque seus sentimentos e sentimentos são afetados ali. Contudo, é importante não confundir julgamentos de valor com julgamentos morais. Os julgamentos de valor fazem parte da nossa autonomia, como valorizar a pontualidade ou a liberdade. Nossos julgamentos de valor refletem nossas crenças sobre como melhorar nossas vidas. Julgamentos morais são feitos sobre pessoas e comportamentos que são inconsistentes com nossos julgamentos de valor. (Rosenberg, 2000: 3) Os julgamentos morais são expressões pobres de necessidades porque impedem os indivíduos de perceberem que as suas necessidades não estão a ser satisfeitas nas suas relações com os outros. Através desta cultura de julgamento, as pessoas são ensinadas a pensar que precisam de aprovação. Por exemplo, o julgamento também pode ser usado para manipular os outros, fazendo com que gostem mais de alguém ou se sintam culpados, rejeitados ou aceitos. B - Assuma a responsabilidade por seus sentimentos e ações Marshall Rosenberg descobriu que, no fundo, todas as pessoas têm as mesmas necessidades. O que diferencia uma pessoa da outra são as estratégias que cada uma emprega para satisfazer suas necessidades. “Descobri que a resolução de conflitos se torna mais fácil se separarmos as nossas necessidades das estratégias para atendê-las” (Rosenberg, 2005, p. 4, traduzido por Maria Carolina Moraes). Assim, por exemplo, não são as ações (gatilhos) de uma pessoa que causam raiva, mas algo dentro do indivíduo reagindo às ações dos outros que é a causa primária do sentimento. Portanto, é importante separar os gatilhos das causas, reconhecendo plenamente que a responsabilidade pelos sentimentos é inteiramente nossa. Assim como podemos responsabilizar os outros pelos nossos sentimentos, também podemos negar que somos responsáveis pelas nossas próprias ações. Frases como: “Não falei nada 49 porque ninguém falou nada”, ou “Bati nele porque ele merecia”, ou “Não gostei do trabalho, mas trabalhei lá porque tinha que me alimentar”. Essas frases da moda nos afastam dos reais motivos que nos levam a fazer o que fazemos. Realizar uma ação em nome de alguém ou de alguma coisa é uma visão ilusória do real motivo da ação. É necessário que o indivíduo perceba quais sentimentos e necessidades o levam a agir. Ao sentir raiva ou ter algum tipo de emoção negativa em relação a alguém, é necessário que o indivíduo se concentre no fator irritante e não no julgamento ou avaliação. Porque “é a avaliação do que é feito que causa a nossa raiva” (Rosenberg, 2005: 5). Por exemplo, se A e B têm um encontro e ele está atrasado, A não ficará zangado se algo acontecer, podendo até sentir que B está um pouco atrasado. Porém, se A estiver com pressa para namorar novamente, ele pode ficar com raiva porque a procrastinação de B arruinou seus planos. Dessa forma, o olhar determina o cenário; diferentes formas de olhar dão diferentes respostas. Uma pequena fórmula criada pela CNV é muito útil para descobrir a raiz dos sentimentos: sinto as coisas porque digo a mim mesmo…. De acordo com Rosenberg, a razão pela qual temos menos probabilidades de não confundir estímulos com causas é porque “fomos ensinados por pessoas que usaram a culpa como forma primária de tentar motivar-nos” (Rosenberg, 2005: 5). Portanto, identificar um estímulo de raiva significa tomar consciência do tipo exato de avaliação do comportamento que cria o sentimento. Portanto, nesse processo é muito importante observar e não julgar a prática da pessoa. C - PLENA EXPRESSÃO DOS SENTIMENTOS Depois de identificar a causa e o estímulo, ter a capacidade de expressar plenamente os seus sentimentos é o segundo passo do processo. Quando desenvolvemos um vocabulário emocional que nos permite descrever as nossas emoções de forma clara e precisa, a comunicação com os outros torna-se mais fácil. Ao 50 mesmo tempo que nos torna mais vulneráveis, expressar os nossos sentimentos pode ajudar- nos a resolver conflitos. (Rosenberg, 2000: 63). Expressar plenamente e conectar-se com as emoções continua a ser uma tarefa difícil para muitas pessoas, mas o custo da falta de ligação através dos sentimentos entre as pessoas, especialmente dentro das famílias, é muito elevado. Aprender a falar sobre o que todos sentem por dentro é um momento importante de libertação humana e de verdadeiraconexão. Nesse processo, é importante compreender a diferença sutil, mas essencial, entre dizer: "Você está me deixando triste porque não limpa seu quarto, e é necessário!" “Fico triste quando você não limpa seu quarto porque o ambiente em que vivo precisa de cuidados”. No primeiro caso, o filho de uma mãe que pronuncia tal afirmação pode sentir-se obrigado a satisfazer (ou resistir) às necessidades da mãe porque se sente responsável pelos sentimentos dela, ou sente-se obrigado porque teme que o castigo coopere. . Porém, na segunda frase, a mãe consegue se conectar consigo mesma, compreender seus sentimentos e necessidades e criar uma conexão real com seu filho para que este possa compreender suas necessidades e expressar abertamente seus sentimentos a partir dessa iniciativa e necessidades. Outra dificuldade é saber reconhecer a diferença entre sentimentos e pensamentos ou crenças. Segundo Rosenberg (2000, p.68), quando frases como “sinto que vivo com uma parede”, “sinto que ela é responsável”, “sinto que meu chefe é um manipulador”, os sentimentos eram não claramente expressos. "é dito em nome dos sentimentos. Com a CNV, essas afirmações foram reinterpretadas no sentido de: “Sinto-me decepcionado porque não consigo criar uma conversa mais profunda entre mim e minha parceira” ou “Quando a vejo concluindo uma atividade dentro do prazo “me sinto seguro” e “me sinto frustrado porque não tenho coragem de enfrentar meu chefe. Pela mesma lógica, é necessário repensar o lugar das crenças e das emoções, ou seja, como pensamos sobre o comportamento das pessoas e como nos sentimos quando as vemos comportar-se de determinadas maneiras; Por exemplo, se eu disser: “Sinto que eles acham que sou incompetente”, esta avaliação indica a minha opinião sobre como os outros avaliam o meu trabalho, mas não é um sentimento. A melhor forma de se expressar é: Sinto-me frustrado ou triste porque acho que me acham incompetente 51 D- LIDANDO COM O SENTIMENTO DOS OUTROS Lidar com os sentimentos de outras pessoas nem sempre é fácil, e existem quatro maneiras básicas de lidar com nossos pensamentos quando nos deparamos com mensagens negativas como “Você é a pessoa mais egoísta que já conheci!” (Rosenberg, 2000, p. 66) – isto é: 1) colocar a culpa em nós mesmos (ex.: Realmente, fui egoísta…); 2) colocar a culpa nos outros (ex.: Ela disse isso porque é estúpida 3); ) Compreender os nossos sentimentos e necessidades 4) Compreender as necessidades e sentimentos dos outros. Há uma clara diferença entre as opções 1 e 2 e 3 e 4; as duas primeiras não entram em contato com os sentimentos e necessidades de quem transmite a mensagem negativa, aceitam toda a acusação ou a rejeitam. Na terceira opção, Rosenberg (2000, p. 67, traduzido por Maria Carolina Moraes) sugere esta resposta: “Quando você me diz que eu sou você Isso me ofende profundamente porque quero que você reconheça até onde vou para agradá-lo”. ." Ou, como na opção quatro, responda: "Você faz isso porque precisa. Ofendido por eu entender suas necessidades?” (Rosenberg, 2000, p. 67). Compreender como nos sentimos é sempre tão importante quanto compreender os sentimentos que se infiltram nos julgamentos das outras pessoas, para que possamos ter conversas menos defensivas/agressivas e estar mais abertos ao que se passa dentro de cada pessoa. Veja agora um exemplo de como alguém (uma mulher*) lida com informações negativas quando começa a falar mal das mulheres (resumo de caso real): •(falando sobre preconceito contra mulheres) Parece que você teve experiências ruins com mulheres? • Sim, eles são safados e fazem tudo por dinheiro. Você sente muita desconfiança e quer se proteger quando está com mulheres por questões financeiras? • Não é assim que deveria ser? É muito popular agora... Tento imaginar, como mulher, a preocupação que sinto quando os casais não se entendem, etc. Porque às vezes o que sinto e o que quero são ignorados… 52 • Sim, talvez eu esteja generalizando um pouco... mas é complicado... “Quando você se concentra nas necessidades e nos sentimentos dos outros, não há conflito. Porque quais são suas necessidades e sentimentos? Tenho essas necessidades quando ouço que ele está com medo e quer se proteger. Eu também preciso me proteger. " (Rosenberg, 2005: 28). A partir do momento em que uma mulher compreende o mundo interior de um homem, ela é finalmente capaz de expressar plenamente os seus pensamentos interiores através das suas necessidades e sentimentos. Nas palavras de Rosenberg: .... Sabe, quando você começou a falar, eu me senti tão frustrado, frustrado, porque minha experiência foi muito diferente da sua, e eu realmente queria que você tivesse a mesma experiência que eu tive. (…) Quero apenas que partilhem uma experiência diferente da sua (Rosenberg, 2005: 28). Obviamente, por mais que uma pessoa se prepare e tente calcular o que vai dizer e dizer você não consegue controlar a reação da outra pessoa. Na melhor das hipóteses, você pode controlar o que diz e suas intenções. É importante enfatizar que a CNV não é uma técnica para levar as pessoas a fazer o que queremos ou a aceitar a nossa posição; O objetivo de conseguir o que deseja dos outros deve ser completamente abandonado porque o verdadeiro objetivo da comunicação não violenta é apaziguar o relacionamento e encontrar uma maneira de atender às necessidades de todos os envolvidos. “A verdadeira colaboração é estimulada quando os participantes acreditam que os seus valores e necessidades serão satisfeitos.” E - O QUE QUEREMOS PEDIR AOS DEMAIS PARA ENRIQUECER A NOSSA VIDA A falta de coragem para saber o que queremos torna difícil pedir o que queremos a outra pessoa que é importante para nós. Nesta fase, use uma linguagem positiva para afirmar, 53 em vez de sempre negar. Portanto, antes de seguir o caminho tortuoso do julgamento e da culpa, é importante ter clareza sobre o que você realmente deseja. É mais importante saber o que você quer de uma pessoa do que o que você não quer. A cooperação entre as pessoas é muito mais provável se estas forem estimuladas em vez de reprimidas. A questão chave, portanto, é como fazer isso de uma forma que compreenda corretamente a nossa mensagem. Um fator importante é ser firme ao fazer solicitações e não sair do assunto e ser abstrato, levando à falta de clareza. É importante enfatizar o pedido. Em vez de dizer: “Você esteve ausente; “Você deve estar mais envolvido na vida de nossos filhos na escola”, é mais eficaz dizer: “Eu quero (ou preciso, quero...) que você nos acompanhe às funções escolares e aos pais. conferências de professores”. “O que acontece é que nem sabemos bem o que queremos. Não prestamos muita atenção ao fluxo da conversa quando falamos” (Rosenberg, 2000, p. 89). Muitas vezes, dizer algo que não queremos ou deixar claro, cria uma situação de conflito e falta de compreensão. Vincular o pedido aos sentimentos e necessidades que o sustentam também é uma forma de humanizar a natureza do pedido e deixar claro como ele pode trazer benefícios para sua vida. “Quero que você nos acompanhe nas funções escolares e nas reuniões de pais e professores porque preciso de apoio e sinto uma grande responsabilidade” seria uma ótima forma de humanizá-lo. Pedir ao outro que confirme as nossas palavras, pedir ao interlocutor que repita o que acabámos de dizer, também é importante para perceber se realmente sabemos expressar os nossos desejos. Talvez o interlocutor entenda a mensagem por meio do autojulgamento, por exemplo: “Você está dizendo que eu não cuidei do nosso filho? Portanto, para evitar “ruído” na comunicação, precisamos saber se a outra parte realmente? ouvimos o que queríamos dizer. "Então é disso que você precisa?" "Você acha que é importante que eu faça algo assim?" Porém, Rosenberg ressalta que, ao fazer pedidos,é importante respeitar a reação da outra pessoa e não se preocupar se ela concorda com o que pedimos. Uma das mensagens importantes que uma pessoa pode nos dar é “não” ou “não quero”. Se ouvirmos atentamente estas mensagens, elas podem ajudar-nos a compreender as necessidades dos outros. Se ouvirmos as necessidades da outra pessoa, descobriremos que cada vez que uma pessoa diz 54 “não”, o que ela realmente está dizendo é que suas necessidades não estão sendo atendidas através de nossas estratégias, o que a impede de dizer “sim” (Roman Sunberg , 2005: 19). Portanto, se pararmos de ver a palavra “não” como rejeição e começarmos a nos concentrar nas necessidades da outra pessoa, teremos uma intenção genuína de pelo menos ouvir as necessidades de todos. F - Aceitação Empática ou Escuta Compassiva Saber ouvir o outro é uma qualidade muito importante nos relacionamentos; valorizar os sentimentos alheios faz parte de qualquer relacionamento que valorize a felicidade de todos. Saber ouvir é uma habilidade mais importante do que dar conselhos ou responder porque promove uma conexão real entre palavras e sentimentos. Muitas vezes, as pessoas só querem ser ouvidas e consideradas. Ouvir significa mostrar empatia pelos outros e estar com eles quando falam. Neste ponto, pode surgir o desejo de “resolver” o problema ou de ser útil, e precisamos perceber se estamos realmente entendendo como a outra pessoa está se sentindo, ou se estamos simplesmente respondendo e dando feedback sobre o que fizemos. Audição. O ato de interpretar ou reformular o que alguém nos diz é um exercício importante para confirmar se o que acreditamos ter ouvido é realmente o que ele/ela disse. A abordagem da CNV sugere o desenvolvimento de uma paráfrase por meio de uma série de perguntas que não apenas revelarão o que entendemos, mas também solicitarão correções imediatas do interlocutor. As perguntas podem ser feitas das seguintes maneiras: a) O que os outros observaram? Por exemplo: Você reagiu assim porque saí muito na semana passada? b) Seus sentimentos e necessidades criam seus sentimentos. Por exemplo: você está frustrado porque gostaria de reconhecer os muitos esforços que fez? c) o que eles pedem. Por exemplo, você quer que eu diga por que digo isso? (Rosenberg, 2000: 114) 55 Relacionar-se com o que você ouve em vez de fazer perguntas como: “Por que você fez isso?”, “O que aconteceu com você?” ou “O que posso fazer por você?” de confiança e compreensão no interlocutor. Quando estamos numa situação ou encontro em que sentimos muita raiva e dor, e nos sentimos incapazes de nos conectar com os sentimentos e necessidades dos outros, talvez criando uma enorme quantidade de mágoa e ressentimento, é crucial ter um momento de reflexão e reflexão. Fique em silêncio ou até mesmo use ações como gritar para parar e se afastar de situações que nos incomodam por um tempo, até que estejamos prontos para abrir nossos ouvidos e corações. G - O USO PROTETOR DA FORÇA O comportamento punitivo é diferente do comportamento protetor - usar a força para impedir uma criança de enfiar o dedo numa tomada é diferente de bater numa criança por o fazer. Uma ação evita danos, enquanto outra ação os causa. Por exemplo, para criar um ambiente colaborativo e consistente na escola, é necessário que os alunos não estudem apenas para tirar boas notas, sob pena de serem punidos com sentimentos de vergonha, tristeza ou rejeição. Os professores não ditam o que os alunos devem fazer – eles concordam com os objetivos de todos. Na arena da competição e da responsabilidade, a vida deve ser priorizada. É importante ressaltar que buscar cooperação é muito mais positivo do que recorrer a punições e punições para conseguir o que deseja, seja psicológica ou fisicamente. Para Rosenberg, a punição mina a boa vontade e a auto-estima e desvia a nossa atenção do valor intrínseco de uma ação para as suas consequências externas. Culpar e punir os outros não ajuda as pessoas a terem a motivação que queremos que tenham. (Rosenberg, 2000). É importante reconhecer que a raiz da violência é muitas vezes uma necessidade ferida e não satisfeita, incluindo o reconhecimento, a aceitação, a validação e a afirmação das dimensões fundamentais do próprio ser, acima de tudo. Precisamos de mostrar que, embora a violência seja amplamente utilizada e seja uma forma de fazer as coisas, os seus efeitos secundários e custos são demasiado elevados e constituem uma expressão trágica das nossas 56 vidas e emoções. O ambiente que reproduz a violência, pesado, atrai e incorpora uma lógica de punição e contra-ataque, que depois se espalha para o grupo, que é a melhor e aceita forma de “combater” a violência. Precisamos escapar desta armadilha através da comunicação construtiva para acessar o nosso ser mais central. 57 16. REFERÊNCIAS HANH, Thich Nhat. Aprendendo a lidar com a raiva. SP: Sextante, 2001. HOFMANN, G. K. Escuta Compassiva. ICCS: Califórnia, 2006 (tradução Márcia Gama). KRISHNAMURTI, J. A vida – reflexões. Lisboa: Editorial Presença, 2007. GANDHI, M.K. Non- violent resistance (Satyagraha). Nova York: Schocken Books, 1961. PELIZZOLI, Marcelo L. “Fundamentos para a restauração da justiça resolução de conflitos na Justiça Restaurativa e a ética da alteridade e diálogo”. In: Cultura de Paz – Educação do novo tempo. Recife: Ed. da UFPE, 2008. www. ufpe.br/edr PELIZZOLI, M.L. (org.). Cultura de paz – restauração e direitos. Recife: Ed. da UFPE, 2010. ROSENBERG, Marshall. . SP: Ágora, 2006. TOLLE, Eckhart. O despertar de uma nova consciência. RJ: Sextante, 2007. http://www/investigação das funções destes cinco agregados na nossa vida quotidiana: Como nos relacionamos com o nosso corpo? Existem anexos? Com nojo? indiferente? Como nos relacionamos com nossos sentimentos, percepções, pensamentos, consciência? Ao compreendê-los, cuidar deles e não nos identificarmos com eles, gradualmente libertamos as nossas mentes do nosso apego a eles. Do ponto de vista prático, como isso acontece? Os sentimentos associados à nossa percepção estão distorcidos na maioria das vezes? Temos três tipos de sentimentos: prazer físico (sukha), prazer mental (somanassa); desconforto físico (dukkha), desconforto mental (domanassa) e indiferença ou neutralidade (upekkha). De acordo com cada sentido, teremos seis sensações relacionadas a eles ou através deles. Vamos primeiro examinar como é a dor. A dor é uma sensação desagradável que nossos padrões mentais condicionados se esforçam para rejeitar com desgosto. Não queremos sentir dor, queremos nos livrar dela. Como é tratada a neurofisiologia? A estimulação é conduzida através da medula espinhal até o bulbo, por meio de fibras nervosas transmissoras. Aqui, o sistema nervoso autônomo produz respostas físicas quase automáticas: aumento da pressão arterial, aumento 6 da frequência cardíaca, alterações na respiração, sudorese. Os estímulos são entregues à região central do tálamo, que é uma estação retransmissora para a região da amígdala, porta de entrada para o sistema límbico, responsável pelas emoções. Do tálamo eles são enviados para áreas superiores do córtex cerebral envolvidas na atenção e no significado, onde esses estímulos são interpretados como sensações. Córtex somatossensorial e córtex insular (as dobras profundas que separam os lobos temporal e frontal) Eles permitem que o cérebro saiba onde a dor se origina no corpo; o córtex cingulado anterior (ACC) gera o significado emocional da dor e a gravidade da lesão. Outras áreas também estão implicadas neste processo: o córtex motor e motor suplementar (responsável por planejar e executar movimentos; neste caso, escapar de estímulos dolorosos); significa e o que fazer a respeito) ["The Brain Book", 2, p. 112-115]. No entanto, este tratamento não é rigoroso. Certos fatores mentais podem intervir na regulação da sensação, percepção e resposta a estes estímulos dolorosos. De acordo com observações científicas, as regiões superiores do cérebro podem enviar sinais nervosos que reduzem ou interrompem os sinais de dor, reduzindo assim o nível das sensações de dor. Há um fator importante aqui: atenção. O córtex cingulado está associado à atenção à estimulação neural. De acordo com a literatura científica citada acima, existem diversas formas de tratamento da dor que apresentam efeitos opostos, o chamado efeito placebo e efeito Nocebo. Tratando os sentimentos dolorosos com total atenção e sabedoria, diminuindo as resistências e barreiras entre o “eu” e a “dor”, permitimos que ela se manifeste, não nos pensamos como “minha dor”, mas apenas como um sentimento desagradável, isso tende passar porque é impermanente e evitamos que a mente crie cenários mentais conceituais e trágicos que desencadeiam reações emocionais dolorosas, pensamentos negativos, ansiedade, porque ativam o sistema de resposta da amígdala, que por sua vez estimula o sistema de resposta da amígdala. Resultado: Intensificação da dor, o sofrimento é opcional. Ou, de acordo com a fórmula de ensino proposta pelo monge Bhante Rahula, S = d x r (O sofrimento é igual à dor vezes a resistência a ele.), a dor é 100, a reatividade é zero e a dor é zero. Em outras palavras, dor não é o mesmo que sofrimento. A dor é uma resposta à (dada) dor. Podemos evitar situações que geram dor até certo ponto, mas não podemos eliminá-la: existem 7 diferentes níveis e situações de dor num corpo. Mas a dor, podemos superá-la com concentração e sabedoria. Veja a dor como uma sensação, como uma simples energia, como uma vibração, mesmo que desagradável, como anicca, dukkha e anatta. Não existe sujeito, apenas os cinco agregados, sem qualquer “eu, eu mesmo, eu”. O controle consciente através da concentração total não significa inibir esse processo sensorial, nem significa desviar ou distrair a atenção através da realidade virtual. Isto não quer dizer que o desvio ou a distração (uma experiência em que tentamos reduzir o nosso foco no cérebro que processa sinais dolorosos) seja inerentemente negativo, e muitas vezes podemos até tirar vantagem disso. Mas como hábito, tem certa validade porque o padrão mental de resposta permanece o mesmo. A plena atenção e a sabedoria trabalham através do relaxamento, da aceitação, da investigação e da não identificação para trabalhar mais profundamente nos padrões de processamento cortical, reduzindo a estimulação da área, aumentando a tolerância e a resistência à dor e abrindo a porta para a compreensão. A vulnerabilidade abre portas. A natureza da origem dependente e a liberação da mente. Mas lembre-se: são processos de treino progressivos, onde o bom senso e a adaptação gradual aos nossos limites são fundamentais. As experiências prazerosas são o outro lado da moeda sensorial: queremos prazeres sensoriais e nos esforçamos muito para alcançá-los e quando conseguimos, ficamos apegados e não queremos que isso acabe; Como funciona a relação entre nossos desejos e recompensas? Para muitos de nós, a felicidade é vista (e procurada) como sinónimo de maximizar o prazer de experiências prazerosas. Existe hoje toda uma ideologia que induz esse padrão em nossas mentes: compre, consuma, satisfaça seus desejos, e isso é felicidade, satisfação. Existem profissionais capacitados em desejo de vendas. Do ponto de vista neurofisiológico, tudo começa com a estimulação. O desejo pode ser visto sob duas perspectivas: querer (necessidade real) e gostar (obter prazer). Podemos ver desde o início que, no aspecto dual do desejo, “necessidade” não é necessariamente sinônimo de “prazer”, nem “necessidade” exige necessariamente a rejeição do prazer resultante. A questão é: com quê. Temos critérios de prioridade em relação aos objetos? Ver esta importante questão já se refere ao treino de mindfulness e se baseia em outra questão fundamental: Que 8 modelo de felicidade temos? O que nos traz dor ou o que traz felicidade duradoura baseada na sabedoria? A estimulação pode ser causada por vários fatores: uma necessidade real (por exemplo, a necessidade de comer estimula o cérebro a procurar comida), ou um desejo devido à exposição a um objeto agradável que nos traz prazer, ou uma queda na glicose, emoções Deficiências, buscando compensação diante de perdas, contratempos, etc. Os estímulos envolvem uma expectativa, uma expectativa de recompensa que, por sua vez, depende do tipo de aprendizagem e memória que temos de experiências anteriores; O aprendizado e a memória são, por sua vez, afetados pelo grau de moha ou sabedoria que está enraizado dentro de nós. Muitas vezes não temos uma compreensão clara dos vários elos deste processo que se move rapidamente através dos nossos corpos e mentes. Os estímulos desencadeiam necessidades, desejos, que são informados pelo sistema límbico. Os desejos são registrados no córtex cerebral como desejos conscientes, orientando o corpo a agir para realizá-lo. Sob a orientação do córtex cerebral, os movimentos do corpo são acionados e esses movimentos enviam sinais de volta ao sistema límbico, que libera neurotransmissores opioides: “A expectativa de recompensa aumenta o fluxo sanguíneo cerebral na amígdala e no córtex orbitofrontal”, mostra Atividade no núcleos do núcleo accumbens (que libera dopamina) e do hipotálamo (rico em receptores de dopamina)…os neurotransmissores aumentam os níveis circulantes de dopamina, produzindo sentimentos de satisfação” (The Brain Book, 2, página 136). Se o problema da buscada felicidade parar neste nível, poderíamos perguntar: que problema seria? Tenho uma necessidade, combino com prazer, procuro, percebo, sinto satisfação, sou feliz. Mas o problema não termina aí. Como os sentimentos são impermanentes, os sentimentos agradáveis são seguidos por sentimentos desagradáveis, privação e insatisfação. Depois do apego vem a aversão e seu estímulo psicológico. As questões do desejo, da retribuição e da felicidade estão no cerne dos ensinamentos do Buda, porque as questões da existência giram em torno do desejo. Nossas mentes condicionadas não conseguem ver, nem querem ver, ambos os lados da correlação entre desejos sensuais e felicidade. Vimos apenas o lado reconfortante (grelhado). Qualquer coisa que tente interferir no nosso paradigma desejo = felicidade será vista como moralista, repressiva, obscurantista, uma 9 violação do nosso direito à felicidade = prazer maximizado, e rejeitada. Corremos atrás dos desejos sensuais e às vezes conseguimos experimentar alguns prazeres, mas eles desaparecem e nos encontramos novamente diante dessa sede insaciável, tanhã. Não vemos o lado astuto (adinava) que nos enlaça, o anzol escondido na isca. É por isso que o Buda associou esta sede ao fogo, ao ardor no coração. O fogo queima, consome, reduz tudo a cinzas e busca novos combustíveis, fazendo com que busquemos novos objetos e pessoas como fonte dessa experiência. É como um burro perseguindo a cana amarrada na frente, mas não consegue alcançá- la e acaba morrendo de exaustão. Num importante sutra chamado Magandya Sutra do Majjhima Nikaya (MN 75), o Buda conversa com o filósofo Magandya, um defensor do hedonismo, que vê a vida como O significado reside na busca da felicidade. Neste sutra, o Buda está tentando mostrar a Magandya que o problema não são as gratificações dos sentidos em si, mas o desejo e o apego a elas, mantendo a mente aprisionada nesta forma de gratificação, como a febre, o vício em drogas. toda a dor dessas dependências não é apenas mental, mas também química e física. O Buda usou algumas metáforas intensas em seus sermões, como a dor da lepra, para nos fazer perceber a natureza ilusória desses apegos. O Buda não ignorava as satisfações que o prazer sensual traz, pois se não trouxesse nenhuma satisfação, quem se esforçaria para obtê-las? A questão é que eles são impermanentes e, portanto, permanecem insatisfeitos no nível mais profundo e reforçam padrões de apego e sofrimento. Quando falamos sobre isso, muitas vezes surge uma pergunta em nossas mentes: Qual é o sentido da vida se não buscamos o prazer sensual? Como é possível viver sem desejos? A vida não é monótona e deprimente? Por trás desse medo um tanto compreensível está outro equívoco nascido do apego e da ignorância: até hoje, é isso que entendemos como felicidade: felicidade é sinônimo de busca de prazeres sensuais. Então, isso é tudo que existe. É como se passássemos a vida no deserto comendo cactos e achando que era uma iguaria. Então alguém veio e nos disse: Ei! Em frente há um oásis com águas claras, sombra e frutas deliciosas. Vá lá e veja por si mesmo! 10 O Buda mostrou que para alcançar a felicidade duradoura, o nirvana, existem outros níveis de alegria mais sutis que podem ser alcançados: "Margandia, suponha que um leproso, coberto de feridas e bolhas, devorado por vermes, coçasse as crostas de suas feridas com as unhas e cauterizasse seu corpo com brasas em brasa. Então seus amigos e companheiros ele e seus parentes contrataram um médico para tratasse-o, e o médico lhe daria remédio para que a lepra do homem fosse curada e ele ficasse saudável, feliz, independente e livre. O outro estava coberto de feridas e bolhas. O leproso, devorado por vermes, cortou suas feridas. com as unhas, cauterizou o corpo com carvão em brasa, Magandya, o que você acha de usar carvão em brasa ou seu remédio? Não, Mestre Gautama. Porque isso? Porque quando você está doente você precisa de remédio; quando você não está doente você não precisa de remédio. " Buda mostrou que quando ainda vivia uma vida familiar, ele também gostava da gratificação dos sentidos, mas mais tarde, depois de compreender a origem, o desaparecimento, a satisfação, os perigos e a possibilidade de escapar da gratificação dos sentidos, ele desistiu de seu interesse na gratificação dos sentidos. para alcançar a paz interior. Ele não inveja aqueles que estão ansiosos por buscar esses prazeres sensuais, porque ele descobriu uma felicidade que está além desses prazeres, além desses estados prejudiciais, até mesmo além da felicidade do céu (MN 75, 11-13, 2004, p) 610 -611). Os sentimentos materiais agradáveis têm uma tendência subjacente à obsessão, os sentimentos materiais desagradáveis têm uma tendência subjacente à aversão e os sentimentos neutros e indiferentes têm uma tendência subjacente à confusão ou à ganância subtil. Mas também existem sentimentos espirituais não físicos. Portanto, sentimentos espirituais agradáveis podem vir do prazer (piti), da alegria (sukha), da paz (khanti) provocados pela concentração ou devoção. Sentimentos espirituais desagradáveis podem advir do facto de ainda enfrentarmos certos obstáculos na nossa prática espiritual, exigindo-nos que reexaminemos a nossa prática e perseveremos. Os sentimentos mentais neutros referem-se a um estado de tranquilidade mental (upekkha), que é muito diferente da apatia, que é uma manifestação de ignorância e indiferença às realidades e sofrimentos dos outros. Pelo contrário, a serenidade é um estado de equilíbrio, uma das virtudes mais elevadas, através do qual nos tornamos sensíveis à dor. Podemos agir com compaixão e sabedoria sem nos 11 deixarmos levar pelo nosso próprio sofrimento ou pelo sofrimento dos outros. É como a atitude equilibrada de um salva-vidas, atento aos descuidos dos banhistas, orientando-os, alertando- os, ajudando-os quando necessário, mas sem entrar em discussões com as pessoas que está ajudando. Agora trazendo para um nível prático: damos todo o nosso foco à respiração e tentamos perceber em nosso corpo e mente quando surgem sensações, sejam elas agradáveis, desagradáveis ou neutras, e quais estados mentais são acompanhados por essas sensações: Apego? nojo? indiferente? Com suficiente atenção e inteligência, percebemos o surgimento na mente dessa busca por experimentar sensações de prazer e seus efeitos em nosso corpo e mente. Com total concentração e inteligência, tomamos consciência do seu desaparecimento e das alterações subsequentes no nosso corpo e mente. Uma forma de treinamento para lidar e superar o forte apego aos prazeres sensuais é contemplar as impurezas do corpo contemplando suas diversas partes, conforme ensinado pelo Buda no Sutra dos Quatro Fundamentos da Atenção Plena, no qual aprendemos a visualizar e observar cada parte do corpo, incluindo sua forma, cor, posição e sua natureza impermanente: 1.1. Reflexão sobre as Impurezas do Corpo “Bhikkhus, monges também contemplam o mesmo corpo das solas dos pés, de baixo para cima, e do topo da cabeça, de cima para baixo, com a pele como limite, cheia de todos os tipos de impurezas, assim: Neste corpo estão: Cabelo, pelos do corpo, unhas, dentes e pele; Gordura; lágrimas, linfa, saliva, muco, gordura nas articulações e urina. Parecia que havia um saco de boca dupla cheio de grãos diversos, como arroz, farinha de arroz, arroz japônica, palha, ervilha, gergelim, etc. Um homem com boa visão abriu e deu uma olhada e disse: “Isso é arroz. Isso é arroz." Isso é arroz com terra, isso é arroz com casca, isso é palha, isso é ervilha, isso é sementes de gergelim.” Da mesma forma, bhikkhus, um bhikkhu contempla seu corpo, das solas dos pés até a parte inferior, do topo da cabeça até a parte inferior, delimitado pela pele e preenchido com todos os tipos de terras puras e impuras: 12 “Existempêlos no corpo , pêlos corporais, unhas, dentes e pele; músculos, tendões, ossos, medula óssea e rins; Portanto, contemple o corpo dentro do corpo interno, ou contemple o corpo dentro do corpo externo, ou contemple o corpo dentro dos corpos interno e externo. Ele continua a pensar sobre sua materialidade no corpo, ou continua a pensar sobre suas partes ruins do corpo, ou continua a pensar tanto sobre a materialidade quanto sobre a maldade do corpo. Estabeleça a atenção plena “apenas para o corpo”. A atenção plena só pode ser estabelecida na medida necessária para o aprofundamento do conhecimento e da própria atenção plena. Permaneça desapegado de tudo relacionado ao apego e às visões erradas. Não está apegado a nada no mundo dos cinco agregados. É assim que um bhikkhu contempla o corpo no corpo. " (Baseado no texto do Venerável U Silananda, The Four Foundations of Mindfulness, Boston, Wisdom, 2002). Observamos quais sentimentos e desejos são inábeis e quais nos mantêm presos em um ciclo de samsara e sofrimento, em vez de negarmos ou tentarmos estritamente suprimir a experiência do prazer sensual, procuramos substituí-la gradativamente por prazeres mais sutis, por desejos mais sensíveis; O que é um desejo sábio? O desejo de não ser contaminado pela ganância, pela raiva e pela ilusão; o desejo de ter um relacionamento mais amoroso consigo mesmo e com o mundo, o desejo de ter uma felicidade mais refinada vinda de dentro, provocada pelo foco e pelo cultivo de qualidades saudáveis inatas. Surge coisas como simpatia, compaixão, alegria pelo sucesso dos outros, paz, sabedoria, supervisão dos sentidos e de suas portas por onde ocorre o contato, com surgimento de sentimentos e desejos inábeis. Mesmo a mais sutil das guloseimas ainda é uma delícia. No longo prazo, é uma renúncia completa a qualquer expectativa de felicidade. Numa forma mais conflituosa de desapego do sensualismo e do corpo, o Buda sugeriu a contemplação da morte, a dissolução do corpo, como a verdade da impermanência do corpo, para neutralizar a versão unilateral do “mérito”. 13 “(asada) desejos sensuais e apegos ao corpo, e visões das ‘falhas’ (adinava) do corpo material reveladas através da contemplação do corpo desintegrado. 2. AS NOVE CONTEMPLAÇÕES DO CEMITÉRIO Novamente, bhikkhus, quando um bhikkhu vê em um cemitério um cadáver um, dois ou três dias após a morte, inchado, azulado e jogado em uma vala, ele compara seu próprio corpo com ele: “Na verdade, este corpo também tem o mesmo propriedades, que se tornará igual a esta outra, não está isenta deste destino." Portanto, contemple o corpo dentro do corpo, contemple o corpo externamente, ou contemple o corpo internamente ou externamente. Ele continua a pensar sobre sua materialidade no corpo, ou continua a pensar sobre suas partes ruins do corpo, ou continua a pensar tanto sobre a materialidade quanto sobre a maldade do corpo. Estabeleça a atenção plena “apenas para o corpo”. A atenção plena só pode ser estabelecida na medida necessária para o aprofundamento do conhecimento e da própria atenção plena. Permaneça desapegado de tudo relacionado ao apego e às visões erradas. Não está apegado a nada no mundo dos cinco agregados. É assim que um bhikkhu contempla o corpo no corpo...” (Baseado no livro do Venerável U Silananda, The Four Foundations of Mindfulness, Boston, Wisdom, 2002). Como este processo é bastante exigente, tentamos fazê-lo passo a passo. Não meditamos no corpo e nas sensações para desenvolver aversão ao corpo. Continuamos a cuidar diligentemente dele e a mantê-lo saudável, mas ao mesmo tempo somos realistas sobre sua impermanência e os sentimentos que surgem na mente a partir do contato com os objetos dos sentidos. Assim como lidar com a dor, lidar com experiências sensoriais de prazer e prazer é um processo de treinamento progressivo. Experimente e veja. Lembre-se, use sempre o bom senso e vá adaptando-se gradativamente às nossas possibilidades e limitações. Escala, escada, caminho para o nirvana, felicidade duradoura. 14 3. PRÁTICA DE MINDFULNESS Antes de iniciarmos qualquer exercício proposto por este manual é importante que encontres um sítio confortável , onde seja possível encontrares um momento de silêncio, livre do stress e com pouca distração. É importante que de início definas a quantidade de tempo despendido para a prática de Mindfulness. Inicialmente podes começar com um tempo de curta duração (entre 5 a 1O minutos) e a medida que vais conhecendo a prática poderás aumentar o tempo de duração (entre 45 min. a 1 hora). Quando deres início a sessão, deves estimular que as crianças façam uma boa postura, que pode ir de sentar-se numa cadeira (e.g. senta-te então agora confortável na tua cadeira. Encosta-te bem. Apoia os pés no chão e deixa os braços ao longo do corpo e apoiados nas coxas) até sentado no chão com as pernas cruzadas ou deitado no chão de barriga para cima. Assim que, a postura estiver estabelecida, deves estimular a respiração diafragmática (respiração abdominal). Leve os participantes a estimular a sua respiração (e.g. inspire e respire lentamente). Quando estiveres estabelecido pede-lhe para seguira a tua voz. Regras para obter as melhores sensações e bem-estar com estes exercícios: • Deves fazer exatamente aquilo que eu digo; • Deves esforçar-te por fazer o melhor possível o que eu digo; • Deves prestar atenção ao que acontece no teu corpo; • Deves praticar estes exercícios/jogos. Deves perguntar: • Queres fazer alguma pergunta? Pronto para começar? • Sentes-te bem? • Agora fecha bem os olhos e não os abras até eu dizer. • Vais ouvir a minha voz, e quero que prestes atenção ao teu corpo 15 4. ATIVIDADES Exercício 1: Aprenda a relaxar através da respiração Este treinamento deve ser feito pelo menos duas vezes ao dia durante 5 ou 6 minutos de cada vez e sem distrações e interrupções. A prática acabará por permitir que você incorpore a respiração diafragmática em sua vida diária e, eventualmente, durante os momentos em que você se sentir mais ansioso. você deve: 1) Sente-se em uma posição confortável. Afaste as pernas, relaxe os pés e olhe para fora. Respire através do nanz e observe sua respiração. 2) Dobre os braços e coloque os polegares sob a extremidade da caixa torácica, com as mãos restantes perpendiculares ao corpo e voltadas uma para a outra. 3) Sinta o movimento do seu abdômen: • Quando você inspira, seu abdômen fica saliente • Quando você expira, seu abdômen se contrai 4) Simule o movimento do diafragma com as mãos: • Ao inspirar, estenda os dedos para baixo • Ao expirar, levante os dedos em forma de cone 5) Sincronize seus movimentos e pratique a respiração diafragmática por alguns minutos Exercício 1.1: Torne-se consciente de sua respiração (parceiro de respiração) 16 O objetivo deste exercício é ajudar as crianças a prestarem atenção à respiração, pois as crianças podem ter mais dificuldade em seguir a simples instrução “preste atenção à sua respiração”. Este exercício ajuda a estimular a respiração abdominal (diagrama de respiração) e concentra sua atenção na respiração. Esta tarefa ajudará as crianças a desenvolver a atenção e o controle do seu eu interior. Deves: 1) Deixe seu filho deitar no carpete, no chão ou em outro lugar onde ele se sinta confortável. 2) Coloque um alvo em sua barriga (como um bicho de pelúcia da escolha do seu filho) 3) Peça para ele prestar atenção no movimento para cima e para baixo do brinquedo de pelúcia. 4) Incentive seu filho a ficar curioso sobre quantas vezes o peluche se move para cima e para baixo. Você consegue fazê-lo subir e descer mais lentamente? B. Como isso faz você se sentir por dentro? Exercício 1.2: Eu conheço minha respiração (fábrica de papel) Este é outrojogo que faz com que as crianças se concentrem na respiração. Para tanto, a indicação visual de uma fábrica de papel colorida é por si só um estímulo visual muito estimulante que ensinará as crianças sobre a respiração você deve: 1. Dê à criança um moinho de papel colorido. Deixe-o brincar um pouco e depois diga que vocês dois podem praticar a curiosidade juntos. 2. Faça-o soprar o mais suavemente possível e veja o que acontece. Deixe-o ver quão lentamente ele consegue fazer uma fábrica de papel girar. Como isso faz você se sentir? 3. Agora faça-o soprar o mais forte que puder e veja quão rápido a fábrica de papel gira. O que acontece com todas as cores? Como isso faz você se sentir? 2. Pede-lhe para experimentar com uma respiração longa e curta, e reparar quanto tempo o moinho de papel gira. 17 5. Pede-lhe para respirar normalmente , e ver o que acontece ao moinho de papel. E novamente, pergunta-lhe como é que ele se sente. 6. Finalmente , pede-lhe para deixar o moinho de papel e sentir a sua respiração sem ele. Pergunta-lhe se ele sente-se calmo e relaxado mesmo sem o moinho de papel, apenas sentindo a sua própria respiração. 1. Exercício 2: Meu corpo Neste exercício você deve incentivar seu filho a aprender a conhecer seu corpo, sentindo cada parte uma por uma, e prestando atenção nas sensações que sentirá (a pergunta a fazer é: O que você sente?). Nesse sentido, é importante esclarecer que o objetivo não é compreender o corpo, mas sim vivenciá-lo através das sensações na parte do corpo que queremos focar. 2. mandíbula 1. Imagine que você tem um chiclete na boca. Muito difícil de mastigar. Você vai morder com força. Deixe os músculos do pescoço ajudarem. Agora relaxe e deixe seu queixo cair. Viu como é bom? 2. Agora continue mascando chiclete. Ele apertou o mais forte que pôde e tentou empurrá-lo contra os dentes com a língua. Agora relaxe e sinta seu queixo cair. 3. Novamente: você deve conseguir esmagar os comprimidos com os dentes! Sim, muito forte. é ótimo. Agora relaxe. 4. Tente relaxar todo o corpo. Deixa você se sentindo macio e sempre confortável. 3. rosto e nariz 1. Chegou uma mosca irritante. Cai no seu nariz, você sente? Tente desalojá-lo sem usar as mãos. Suas rugas e nariz se movem muito bem. Ótimo, você conseguiu afastá-la. Agora você pode relaxar o nariz. 18 Ops, as moscas estão aqui novamente. Ele cai bem no meio do seu nariz. Amasse novamente, tanto quanto possível. Simples assim, ele foi embora. Você pode relaxar seu rosto. Observe que também pode ajudar quando você enruga o nariz, a boca, os olhos e a testa. Então, quando você relaxa o nariz, todo o seu rosto relaxa. 10. As moscas estão aqui de novo! Agora está na sua testa. Faça muitas rugas para assustá-la! 5. Você escapou e pode relaxar. Deixe seu rosto suave e sem rugas. Observe como é agradável. Estômago 1. Agora imagine que você está deitado na grama. Imagine que um bebê elefante está chegando. Ele estava distraído e prestes a colocar a pata na sua barriga. Não se mexa! Esteja preparado para ficar realmente enjoado. Para fazer isso, contraia firmemente os músculos abdominais. Continue fazendo isso por um tempo até que passe. 2. O elefante se foi e você pode relaxar. 3. Tenha cuidado para que ele volte. Ele está vindo, prepare-se! Contraia sua barriga o máximo que puder, e se ele colocar as patas em sua barriga dura, ele não poderá te machucar. Quando você exerce força, seu estômago vira uma pedra e nada pode te machucar. Ok, o elefante se foi e você pode voltar a uma posição relaxada. Isso é legal, não é? 4. Ah, não, ele está aqui de novo! Você deve estar perdido! Vamos, prepare-se! Faz seu estômago parecer uma pedra. Aguenta. . . isso mesmo. 5. Agora fique à vontade para relaxar, ele se foi e não vai voltar. 6 - mãos e braços 1. Agora você vai imaginar que tem uma laranja na mão direita. Quero que você a aperte com força, como se quisesse espremer todo o suco dela. Sinta a força exercida por suas mãos e braços ao apertar a laranja. 19 2. Agora coloque a laranja. Observe como os músculos da mão e do braço se sentem quando você não está empurrando. 3. Agora imagine que você tem uma laranja em cada mão e as está espremendo. Tente apertar o máximo que puder para tirar todo o suco. isso mesmo! Que força você tem! 4. Largue a laranja e sinta como seus braços e mãos estão relaxados. 5. Vamos repetir. Imagine que você tem mais laranjas, uma em cada mão, e as aperta com toda a força que pode. É bom sentir o quão forte seus braços empurram enquanto você empurra. 6. Agora você pode largar a laranja. Sinta seus braços e mãos relaxarem. 7 - braços e ombros 1. Imagine que você é um gato muito preguiçoso e quer se alongar. Você levantará os braços e se estenderá para frente. Agora levante-os acima da cabeça e estique-os o máximo possível. 2. Incline-se para trás e sinta a força exercida pelos ombros. Estique mais. . . Deixe seus braços caírem ao lado do corpo. De qualquer forma, muito bom. 3.Você é um gato tão preguiçoso e sonolento. Você vai se alongar novamente. Levante os braços e estique-se para a frente. Agora levante-os acima da cabeça e estique-os o máximo possível. Curve-se para trás e use mais força, sentindo a força exercida pelos braços. 4. Agora alongue-se mais, como se tivesse tirado uma soneca ao sol. Levante os braços, empurre e estenda para frente. Levante-os acima da cabeça, o mais alto que puder. Sinta a força dos seus músculos. 5. Deixe-os cair lentamente e sinta como é maravilhoso estar relaxado, macio e preguiçoso. Pescoço e Ombros 1. Agora imagine que você é uma tartaruga. Você deita na praia e toma sol. Você se sente bem, o sol está quente e você sente o calor na pele. 2. Mas agora as ondas estão 20 chegando e você tem que enfiar a cabeça na concha para não se molhar. Tente levantar os ombros e enfiar a cabeça. Ser tartaruga não é fácil, é preciso se esforçar muito para permanecer na carapaça. 2. As ondas baixaram e você pode colocar a cabeça para fora novamente para tomar sol. 3. Mas outra onda está chegando! Enfie a cabeça, rápido! Levante os ombros e coloque a cabeça para dentro. Ok, acabou. 4. Você está pronto para outra onda? Vamos, coloque a cabeça de volta na concha para não se molhar. 5. Acabou. Você pode sair e aproveitar o sol e relaxar. Você se sente muito confortável. Isso é legal, não é? No final da reunião... • Continue a sentir-se suave e relaxado. Deixe seu corpo ficar cada vez mais flexível por um tempo. Sempre de olhos fechados. • Em breve você poderá abrir os olhos. . . • Agora, lentamente, você pode começar a alongar! Alongue todo o seu corpo. perna. . . Seco . . . braços. . . Ombro. . . pescoço . . . e cabeça. . . . Você está acordado. . . Você pode abrir os olhos agora! Exercício 3: A conexão entre cor e emoção Este exercício foi elaborado para ensinar as crianças a reconhecer suas próprias emoções e sentimentos. As crianças devem ser capazes de aprender a regular as suas respostas emocionais como parte do processo de autoconhecimento e autocontrole. Portanto, esta atividade tem como objetivo ajudar as crianças a compreender e identificar as 5 emoções básicas (como felicidade, tristeza, raiva, calma e medo). Dependendo da idade da criança, outras emoções podem ser agregadas como nojo, nervosismo, preocupação. 21 Materiais necessários: • Frascos de vidro (por exemplo, garrafas de plástico, potes de azeitona, etc.) • . Cinco cores diferentes de lã (outros materiais como pompons, bolas de algodão, bolas coloridas e papel colorido também podem ser usados) • Etiqueta • Máquina de etiquetagem Para executar uma atividade você deve: Apresente as emoções às crianças com a ajuda de imagens e histórias, facilitando a compreensão da relação entrecores e emoções. • Portanto, amarelo – alegria, azul – tristeza, medo – preto, verde – calma, vermelho – raiva. • Depois de conectar a cor à emoção, trabalhe no jarro da emoção. Uma possibilidade é ter as cinco emoções sempre visíveis desde o início. • No final do dia, você pode conversar com seu filho e perguntar-lhe sobre duas ou três situações que ele viveu durante o dia e que considerou importantes. → Para cada situação, peça-lhes que definam a emoção que sentem e coloquem o conteúdo correspondente no pote de emoções. → O objetivo é que ao final do mês ou semana, o cuidador e a criança consigam observar quais emoções a criança está vivenciando com mais intensidade e quais emoções são menos intensas. → Por exemplo, se uma criança apenas relata situações em que sente raiva ou medo, isso pode ser um sinal de que precisa de ajuda para regular essas emoções. → Além disso, se ela apenas relatar coisas que a deixam feliz, ela pode ser uma criança que consegue facilmente reverter situações negativas. → Mas você também pode ter dificuldade em reconhecer emoções como medo ou raiva e precisar de ajuda para identificá-las e regulá-las. 22 Exercício 3.1: Entrando em contato com as emoções O objetivo deste exercício é encorajar as crianças, como os meteorologistas, a analisar o que está acontecendo lá dentro e traduzir isso em uma previsão do tempo (por exemplo, feliz quando está ensolarado, triste quando está chovendo, irritado quando está trovejando, com medo de nublado). Essa atividade também permite que as crianças comecem a identificar seus próprios sentimentos e escolham a melhor forma de lidar com eles. Você deve: • Deixe seu filho deitar no carpete, no chão ou em qualquer lugar onde ele se sinta confortável. • Instrua as crianças a fecharem os olhos • Fique em silêncio por um minuto para que você possa se acalmar por alguns minutos e fazer sua previsão. • Um estado como Sunny descreve um estado emocional. • Esta atividade permite que as crianças observem as suas próprias emoções como alguém de fora. • Por exemplo: "Está chovendo, mas não tanto." Exercício 4: Expresse gratidão Esta prática permite-nos focar no momento presente com uma atitude de gratidão, porque a gratidão é uma enorme força psicológica e uma componente fundamental do mindfulness, porque é através da gratidão que começamos a desenvolver a compaixão, que é a pedra angular do mindfulness. Para fazer isso, a criança deve: 23 1. Deixe seu filho deitar no tapete, no chão ou em outro lugar onde ele se sinta confortável 2. Deixe seus filhos serem gratos por três coisas boas em suas vidas diárias. ou, 3. Pergunte ao seu filho se ele se lembra de alguém ou de algo pelo qual é grato. esse. Leve o tempo que quiser. B. Pode ser um aspecto seu, como sua visão. Pode ser uma pessoa ativa em sua vida, como um parceiro, um pai ou um amigo. c. Talvez você pense em algum aspecto da sua vida, como onde você mora. 5. INSTRUMENTO DE APOIO 5.1. Modelo de planificação de uma sessão de mindfulness Tipo de sessão (regular/individual/pontual) Elementos (caracterização do grupo/individual) Ambiente e Envolvência (caraterização do espaço) O que quer transmitir (que impacto quer criar nas crianças) Que tipo de meditação vou fazer? Que utensílios, objetos poderei integrar? (e.g.. mantas, peluches, livros, etc.) Que aprendizagem a meditação trouxe? Que aprendizagem esta prática me trouxe sobre o grupo? E sobre mim? Que pontos quero trabalhar nas crianças de futuro, as quais, apercebi-me nesta prática? Grelha de planificação / reflexão de uma sessão de mindfulness Sessão de Mindfulness Data:-------- 24 Tipo de Sessão Caracterização do grupo Momento do dia Intenções Técnicas Utensílios/objetos Processo Aquisições Desenvolvimento da ação O que eu aprendi sobre o grupo o que eu senti/ aprendi sobre mim Pontos a trabalhar no futuro Avaliação da Atividade Nome da Atividade: ___________________________________________ Calendarização A atividade realizou-se na data prevista. A atividade não se realizou na data prevista, porque: Data de realização prevista:____/________/___________ Responsáveis Participaram todos os intervenientes inicialmente previstos. Não participaram todos os intervenientes inicialmente previstos, porque: Participaram outros intervenientes, nomeadamente: Mecanismos / monitorização Bom Suficiente Insuficiente Não se aplica Grau de satisfação dos participantes Nº de participantes 25 Grelha de resultados Avaliação de atividades Outros... 6. COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA Vivemos um momento delicado que impõe muitas exigências à disciplina social e à justiça. Por um lado, há uma deterioração da confiança política e institucional, problemas de convivência social, ataques aos direitos e falta de oportunidades e de apoio público e privado. Mas, por outro lado, a inovação e a emergência de novas emoções, recursos e formas organizacionais ressocializadas tiram as pessoas deste navio de conflito e permitem-lhes interagir com uma vasta gama de áreas da disciplina social: justiça, segurança, ajuda à sociedade, saúde ou educação. Do lado judicial, estamos claramente desenvolvendo um aspecto participativo, humano, consensual, como mostram as resoluções do CNJ (em especial a Resolução nº 225 de 2016), o novo CPC e uma série de recomendações e práticas nesta área. Estas são dimensões da auto constituição e abordagens para uma justiça mais eficaz e restaurativa. Neste contexto, os modelos de resolução e transformação de conflitos devem incorporar uma das ferramentas mais importantes da atualidade: a comunicação não violenta desenvolvida por Marshall Rosenberg. Trata-se de criar espaços/momentos de compreensão, encontro, expressão em tempos de fechamento ambiental e conflito. Envolve confiança numa cultura de paz e a utilização de dimensões de comunicação, sensibilização e cuidado mútuo. Por um lado, é uma proposta metodológica, uma verdadeira técnica psicossocial. Por outro lado, é uma filosofia de vida, componentes organizacionais e práticas sociais. Qual é o ponto de partida para compreender a CNV neste contexto? 26 Raízes do conflito e escuta necessária As práticas de pacificação, incluindo o uso da comunicação não violenta, são filosofias práticas que incluem métodos destinados a encontrar, tranquilizar, cuidar e reconfigurar contextos relacionais. Uma das vantagens dessas práticas diz respeito à transformação de conflitos negativos. Mas o que o carácter ou a compreensão de um indivíduo tem a ver com a natureza dos meios utilizados para lidar com o conflito? O conflito revela as dimensões complexas e multidimensionais da realidade que as pessoas vivenciam. Eles falam sobre a verdade por trás da dinâmica da sociedade, da família, do trabalho e dos relacionamentos. No entanto, muitos mediadores de conflitos ou “disciplinadores” ou terapeutas tentam apagar o fogo do conflito, mas ao mesmo tempo removem as necessidades e histórias (feridas…) que aí estão. Seja nos campos da justiça, psicossocial ou da saúde, muitos programas de intervenção visam, direta ou indiretamente, mudar outros, consertar; Quais são as consequências negativas disso? Por que isso acontece? É necessário investigar as posturas temerosas e defensivas do pessoal de enfermagem e dos disciplinadores, e o resultante ambiente de disfunção, tensão e desconfiança. Essa atitude/mentalidade não só está fadada ao fracasso, mas também promove a desconexão, a rejeição e a falta de consciência da própria vida. Alimenta litígios, reincidência e uma crença na justiça retributiva. Mudar esta situação requer uma mudança de perspectiva, longe do paradigma que prevalece neste ambientefrustrante, e em direção à conexão, confiança, positividade e abertura. Para fazer isso, precisamos primeiro de compreender as causas estruturais básicas de todos os conflitos humanos, o que está por detrás da fachada moral e dos julgamentos e imagens projetados uns nos outros. Estas são as razões que mais citamos nos conflitos: diferenças irreconciliáveis; ego e egoísmo ele é (rótulo, definição moral...); isso não é bom; é fechado ou algo assim? Para nós, essas razões parecem secundárias, superficiais e baseadas nas seguintes razões básicas: 27 O conflito surge e aponta basicamente para 5 dimensões básicas do ser humano (PELIZZOLI, 2016): 1 Pensamentos/Imagens Mentais/Mente: As ideias (imagens) que trazemos sobre as pessoas, o mundo, sobre nós mesmos, especialmente as pessoas com quem estamos em conflito; Fala sobre como funciona a consciência humana (mentalidade). 2 – Necessidades: Temos um conjunto de coisas, relacionamentos, reconhecimentos e estilos de vida que são importantes para nós e é muito difícil quando eles estão magoados e frustrados. São importantes porque muitas vezes estão relacionados com o nosso crescimento, o nosso bem-estar, a nossa adaptação, a nossa forma de estar num determinado ambiente. 3 – Sentimentos (incluindo emoções e sensações): Sim A terminação, e é a força motriz por trás do conflito e da violência porque se relacionam com as necessidades e tentam defendê-las, mesmo que as questões não tenham importância real, elas assumem vida própria e tomam conta dos corpos das pessoas; Sentir-se bem, estar em bom contato com a vida e ter alegria, em vez de dor e sofrimento, são alicerces importantes da vida humana. 4 – Comunicação/Expressão: O que dizemos, o mundo linguístico em que vivemos, a forma como nos expressamos de forma incorreta, violenta ou clara e pacífica são a base para a compreensão, prevenção e resolução de conflitos. Precisamos desesperadamente de uma resposta construtiva ou compassiva. 5 sistema de relacionamento. Nossos pais e ancestrais, Questões sistêmicas que vêm de trás, bem como questões sistêmicas que vêm de nossos relacionamentos laterais, emocionais e ambientes de trabalho, são fatores que podem criar angústia, comportamento agressivo e conflito. Porém, baseiam-se nos itens anteriores (1 a 4). O conflito também é um sintoma. Com o tempo, eles podem gerar positividade, mudança, resiliência, humildade e muito mais. Estes domínios estão quase sempre presentes, no todo ou em parte, em conflitos dentro e fora da humanidade. Compreender e vivenciar o significado e a linguagem do conflito depende da nossa entrega à experiência presente, à consciência focada, à vulnerabilidade e ao 28 intenso jogo relacional no qual precisamos de agir com uma disciplina participativa e acolhedora. Escuta, barreiras e construção do poder A forma como as pessoas se comportam/sentem, a forma como são criados os ambientes bons e ruins, tem a ver com a forma como cada pessoa, grupo e instituição as vê, como vemos as pessoas, ajudamos principalmente as crianças e os adolescentes a construir o mundo; Este é o desafio e o início de uma jornada de método: Olhos confiantes, temperamento profundo, espírito (alma) chamado escuta. Requer transcender a compreensão técnica porque envolve experiência humana fundamental e coragem. Investir na escuta profunda significa falar com o coração, que está por trás de todos os métodos/meios eficazes em conflito. A escuta empática e transformadora envolve mais do que apenas compreender ou mesmo tentar resolver um problema. Inclui as seguintes dimensões: entrega, confiança, espaço aberto, presença, corporificação, atenção e intenção sustentada, bem como valorização da vida presente na situação/pessoa. Para conseguir isso, você precisa tomar a decisão de assumir essa sensibilidade, essa coragem; é isso que cria intenção/poder/confiança sustentados nos relacionamentos e no processo mais amplo: o diálogo. Fundamentalmente, trata-se de aceitar os outros e suas realidades além do que precisa ser respondido, aceitar o presente, mesmo que mais tarde eu possa ver a possibilidade de mudar o futuro; Esta é uma sabedoria antiga e profunda, uma aceitação radical (raiz) da vida tal como ela acontece (o que não significa quietude e inação). Poderíamos dizer que o que os indivíduos mais precisam hoje é o reconhecimento da sua existência, do seu significado e do seu lugar no mundo - um mundo que está sempre interligado, relacional e em contacto. A qualidade desta interação humana determina o destino das nossas vidas. Mas se este processo é tão importante, por que muitos operadores não conseguem ouvi-lo? O principal motivo: ouvir alguém me coloca no meio de possibilidades estranhas e 29 desconhecidas que exploram minha dor e falta de controle sobre meu processo. É necessário investigar as barreiras de escuta que você e os envolvidos vivenciam. A escuta - que é uma forma de força e paciência (luto profundo) - envolve uma entrega de si mesmo, a um sistema de relações sobre o qual não temos controle, no qual somos convidados a um silêncio interior, a um ritmo, além nós e surpresas podem surgir uma variedade de sentimentos e pensamentos. A tarefa de quem entende e está disposto a ouvir é elevar-se acima das imagens e do ruído. A principal razão pela qual é tão profunda é que é a prática do encontro real com as pessoas, da humanidade e do contacto afetivo (affectus), que nos remete à necessidade fundamental de afirmação do sujeito humano no mundo, especialmente das crianças e adolescentes, nomeadamente aceitação O reconhecimento das pessoas como elas são, o seu ser, é necessário para a existência - pois a existência está sempre interligada e interdependente. Ouvir para revisar, corrigir, julgar, confortar ESCUTA PARA ACOLHER (EMPATIA COMPASSIVA) 30 cnv.em.rede.social Encontramos agora uma frase básica que tenta expressar a essência do processo conversacional e, portanto, da escuta e de muitas práticas terapêuticas. Este é um pressuposto geral de considerável importância, tanto que podemos dizer que se refere ao significado principal deste tipo de prática. 7. CORPO E MENTE DE DOR Quanto mais jovem for a idade, mais poderosas serão as suposições acima sobre a vida de uma pessoa. Se em algum momento da jornada, principalmente nas primeiras fases da vida, ocorrer uma grave falha ou violação destes cuidados básicos: não recebo o reconhecimento e o amor que mereço, sou tratado como um objeto, minhas necessidades básicas foram privado de mim, obstáculos e cobranças foram colocados sobre mim, mas eu não tive força e apoio suficientes, e essa interferência contextual marcou um sujeito e sua história, sua busca, sua vida. Assim, quando ocorrem conflitos ou violações na vida atual, os eventos atuais referem-se condicionalmente a essas histórias dolorosas. A dor piora. Como os fios de ligação entre os acontecimentos dramáticos sofridos, como os nós de uma rede, ela é ativada pelo conflito e pela rejeição. É importante compreender que emoções negativas (dor…) podem surgir nas pessoas através de conflitos. Esta é uma razão importante para o cuidado continuado, a compreensão do conflito e o reconhecimento mútuo da agência. Estas também são suficientes para compreendermos que 31 lidar bem com os conflitos com os outros envolve lidar com as nossas próprias histórias de vida e com as nossas sombras (Pelizzoli, 2012 e 2016). A ideia de um corpo/mente dolorido, portanto, expressa o condicionamento encarnado que carregamos conosco e que temos a tarefa diária de ter consciência e cuidar, assim como a criança ferida e irritada que carregamos conosco, que é ativada em determinados momentos (To Er, 2007). A boa notícia é que a criança saudável e brincalhona que existe dentro de nós também é acessível. Isso está de acordo como que a CNV fala sobre enriquecer nossas vidas e trazer facilidade para nossas vidas. Compreender e gerir este corpo de dor revela uma interdependência interessante: quanto mais cuido de mim (da minha persona, ou da parte que me compõe), mais posso ajudar quem me é próximo e mudar coletivamente o ambiente; por sua vez, quando me importo com os outros, ajo de acordo com o meu cuidado. Por outro lado, a ideia de que os cuidadores devem curar para recuperar é inconsistente com a realidade. Isto porque existem muitos exemplos de grandes professores e cuidadores que abriram caminho precisamente através de grande dor, perda, trauma ou sofrimento em comunidades e pessoas. Então temos aqui a chamada filosofia das pérolas, onde as ostras são ameaçadas pela invasão dos seixos. Ela começou a trabalhar continuamente para envolver a pedra camada por camada, tornando-a uma pérola única e resiliente. Precisamos formar pérolas uns com os outros, transformando a energia das sombras em possibilidade, luz, cultura, unidade, convivência. O corpo doloroso carrega memórias, emoções, pensamentos repetitivos e padrões psicológicos corporais reais que influenciam as percepções, as emoções, o envolvimento de alguém com o mundo e com os outros. Estes são marcadores psicológicos ou efeitos condicionantes da ação subconsciente. Portanto, ao longo da vida de uma pessoa torna-se crucial o jogo entre desejos e medos, a busca constante pelo reconhecimento, a busca pela salvação (solidão, abandono, mágoa, etc.), que é em última análise a busca pela cura. Como é dito no livro Um Curso em Milagres, se uma pessoa está num estado agressivo é porque não está conseguindo um bom fluxo com a vida dentro de si, e se não está conseguindo isso, então o que ela realmente precisa é cuidado e cura, como resgatar fontes e recursos para o sentido maior da vida, pois somos todos seres sociais, interligados, dialógicos. 32 Nesse sentido, se o seu coração (centro de relacionamento) não estiver aberto, ela gritará por socorro, às vezes de forma violenta. Na verdade, para melhor ajudar os outros, precisamos mais do que pedras, mas saber abrir-nos para sentir a dor e ao mesmo tempo começar a nos familiarizar ou a crescer através da experiência, para podermos ter alguma consciência ou estabilidade e aprenda a não ser chato. Foi assim que a vida me capacitou para ser um bom cuidador, começando pela aceitação da história pessoal e elaborando-a com presença, sobriedade, aceitação, compaixão, sensibilidade, confiança, entrega, etc. 8. ESPIRAIS DA VIOLÊNCIA E DO CUIDADO (AMOR) Espirais de violência e conflito são armadilhas impulsionadas por emoções como raiva, medo e compensação negativa. Isto é evidente nas lutas familiares ininterruptas, na vingança, nas tácticas de ataque contínuas, e mesmo nos momentos em que irrompem conflitos de longa data. As emoções negativas (intimamente relacionadas à emoção e à dor) têm grande poder repetitivo (como a neurose). A espiral de dar, cuidar e amar, relacionada ao coração, é esta: eu dou algo, e a outra pessoa acha que é bom, reconhece isso e sente necessidade de dar também. Nos relacionamentos, quando uma pessoa dá, cria-se uma pequena dívida, que pode ser o início da validação do crescimento da outra pessoa, e por sua vez, a outra pessoa sente que é bom e ajuda a primeira pessoa, Crescimento espiral assim, inteligência coletiva; podem ajudar uns aos outros ampliando o cuidado. O amor, assim como a alegria, tem tendência a se expandir, a transcender o eu ou o eu. Os maiores exemplos disso são nossos filhos, frutos da nossa paixão pelas vidas que acompanhamos e pelas pessoas que servimos. Podemos examinar se há uma escalada de violência negociando com as pessoas, tendo conversas reais, cercando histórias de vida e, assim, repetindo padrões e as imagens dolorosas que elas carregam sobre si mesmas, sobre os outros e sobre a vida. Então visualizar a solução, usando a criatividade e imagens positivas é uma das formas de lidar com as emoções negativas e mudar a paisagem (ou seja, ambiente interno e/ou externo). Conecte-se com pessoas, grupos 33 e comportamentos que tenham valores positivos que possam ajudá-lo a lidar com situações difíceis na vida. É aí que entra em jogo a famosa rede de apoio, assistência, acesso, proteção de direitos… 9. DIÁLOGO: O MAIS DIFÍCIL E PRECIOSO A escalada da violência e do conflito é uma armadilha impulsionada por emoções como raiva, medo e compensação negativa. Isso fica evidente nas constantes brigas familiares, nas vinganças, nas táticas de ataque persistentes e até mesmo nos momentos em que surgem conflitos de longa data. As emoções negativas (intimamente relacionadas à emoção e à dor) têm grande capacidade de repetição (como na neurose). A espiral de dar, cuidar e amar em relação ao coração é esta: eu dou algo e a outra pessoa acha que é bom, reconhece e sente necessidade de dar também. Nas relações interpessoais, quando uma pessoa dá, cria-se uma pequena dívida, que pode ser o início da verificação do crescimento da outra pessoa, por sua vez, a outra pessoa se sente bem e ajudou a primeira pessoa, e o crescimento espirala assim. sabedoria coletiva; eles podem ajudar uns aos outros ampliando o cuidado. O amor, assim como a alegria, tem tendência a se expandir, a transcender o eu ou o eu. Os maiores exemplos disso são nossos filhos, que são fruto da nossa paixão pelas vidas que acompanhamos e pelas pessoas que servimos. Podemos verificar se a violência está a aumentar negociando com as pessoas, tendo conversas reais e cercando histórias de vida para que repitam padrões e imagens dolorosas de si mesmas, dos outros e da vida. Portanto, visualizar soluções, usar a criatividade e imagens positivas são uma das formas de lidar com as emoções negativas e mudar a paisagem (ou seja, ambiente interno e/ou externo). Conectar-se com pessoas, grupos e comportamentos que compartilham valores positivos pode ajudá-lo a lidar com situações difíceis na vida. É aqui que entra em cena a famosa Rede de Apoio, Assistência, Acesso, Proteção de Direitos… 10. DIÁLOGO: OUVIR ABERTO E AFETIVO 34 Como ombudsman, o seu papel não é o de juiz ou mediador, mas o de curador. (Hoffman, 2007, p. 12) O propósito essencial do diálogo é envolver, partilhar e talvez depois reunir, cuidar. Neste ponto, chegamos aos pontos básicos por trás do conflito e dos métodos de recuperação, calmante e similares, expressos neste grupo de palavras: lidar com a dor, objetificação, tensão, fechamento, imagem negativa, história de dor e, portanto, , a necessidade de reconhecimento; alguns sentimentos; diálogo, contato, crescimento (fluxo de vida, sociedade); Vivemos momentos de muita dor e sofrimento, manifestados nas principais emoções dolorosas: raiva, medo, tristeza, que estão associadas a necessidades magoadas e frustradas. A violência está relacionada a isso, como uma reação, como uma expressão errada das coisas humanas, e o processo de superação disso começa com uma humildade para aceitar o que estamos passando, uma compreensão, as limitações, que estas são palavras, formas de expressão, que são intensos em tempos difíceis. . “O amor existe através da imperfeição e existe por causa da imperfeição, e é atraente na imperfeição.” “Entenda todas as teorias, domine as técnicas, mas quando você toca uma alma humana, você se torna a alma de outro ser humano.” 11. SEREMOS CAPAZES DE OUVIR Krishnamurti (2007). Ouvir, trabalhar exige parar de projetar nossos desejos, raiva e medos naquilo que queremos dos outros; olhar além das espessas camadas que moldam e condicionam nossos pensamentos, os filtros criados para ver a realidade, que está repleta de suposições, crenças, desconfianças, unicidade. visões laterais e alteradas da realidade e de outras coisas. É uma prática, uma atitude de concentração,uma cessação que vai além da busca por aquisição e controle. “As palavras confundem; são apenas meios externos de comunicação; mas para ter uma conversa íntima, além do barulho das palavras, é preciso ouvir com passividade vigilante (…) Quem ama pode ouvir.” 35 É entrar em contato; estar presente além do pensamento, mesmo sabendo que sempre temos um ponto de referência e uma perspectiva adotada, e um pensamento contínuo. Compreender mais do que se ouve; focar além da comparação, julgamento, justificativa ou condenação, além da fixação, explicação e correção do outro. Estamos constantemente tentando evitar certos tipos de experiências e, portanto, situações e estados que algumas pessoas vivenciam, especialmente as difíceis e dolorosas, tentamos estar sempre em algum estado agradável ou familiar, portanto, nossos pensamentos ficam muito (preocupados); o encontro contínuo, a presença, a relação/contato na conversa. “A mente nunca pode ficar tão quieta a ponto de não conseguir ouvir suas próprias lutas e dores.” Ouvir é uma qualidade que precisa ser praticada e está intimamente relacionada com aprender a ouvir a natureza e o silêncio por trás dos sons. Isto é “ouvir sem resistência”. A incapacidade de falar, relacionada à incapacidade de ouvir, ilustra a incapacidade de transcender esses condicionamentos do eu, da dor e do desejo, das ocupações e projeções do pequeno mundo espiritual de cada pessoa. As plantas simples têm beleza, vitalidade e vitalidade. Portanto, para conhecer uma folha, uma flor, uma nuvem, um pôr do sol ou uma pessoa, é preciso observá-lo com toda a concentração. (ibid., pág. 23) Ouvir é sutil porque requer esforço reduzido e abertura à receptividade, mas ao mesmo tempo também requer uma certa concentração à medida que a pessoa começa a focar no que está sendo recebido. Nesse sentido, “nenhum caminho pode garantir a verdade” porque transcende os métodos, o conhecimento racional e a intervenção da mente do sujeito; só assim podemos aceitar coisas novas; "A vida é sempre nova; insistimos em envelhecer." Viva o momento e a conversa estará, portanto, ligada à atenção e à intenção – há tensão e energia interior. Preciso reunir minhas forças, focar, focar, assumir o controle e chegar ao momento. Tantas coisas tiram meu foco, minha imagem, minha percepção dos outros, meu condicionamento, o que eles estão me dizendo... Fundamentalmente, a dor, o sofrimento, ou evitar a dor me tornam incapaz de ouvir, é uma tendência, porque preciso ouvir; de alguma forma, sair da situação e “evitar” algo de mim e da outra pessoa. 36 “…porque o coração velho é um coração medroso, um coração ambicioso, um coração que tem medo da morte, tem medo da vida, tem medo dos relacionamentos, eles estão sempre buscando a eternidade e a segurança, consciente ou inconscientemente.” 32) No diálogo, torna-se evidente um aspecto importante da vida social, nomeadamente dar e receber, que é uma das leis sociais sistémicas. Vivemos em dar e receber; como enfatiza a teoria da dádiva de Marcel Mauss, estamos fazendo e recebendo coisas o tempo todo em nossas vidas diárias. Quando eu te dou alguma coisa, eu te coloco em dívida; isso fica bem refletido em português: em português, quando recebo alguma coisa, eu retribuo o favor e digo: “Obrigado”. Esta é uma obrigação em relação aos outros, e o que ele faz demonstra um forte vínculo social. Em inglês, digo "Obrigado"/"Danken" (alemão) = sinto sua falta agora; considero, lembro...; em francês, "merci" = eu te conheço, me submeto à sua misericórdia, graça; "gracias" em espanhol = agradeço pela gratidão, gentileza e uma vida feliz. Essa comunicação trata de produzir algo na direção do relacionamento. Diferente da linguagem de avaliação e julgamento, explicação, comparação, cobrança, rótulo, competição, exclusão. 12. UMA SÍNTESE EM COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA A Comunicação Não-Violenta é mais fácil de entender hoje em dia porque é basicamente uma filosofia prática e uma abordagem de vida que se concentra em ouvir e falar verdadeiramente construtivos. Temos quatro questões para analisar e praticar o discurso e tentar torná-lo construtivo: → Descreva a maneira como a pessoa com quem você está em conflito se comporta (o que o deixa infeliz). E descreva como você falou/conversou/reclamou com ela. Expressar como somos e o que queremos. → Como você se sente quando alguém faz isso? → O que você precisa nesta situação (relacionado aos sentimentos)? → Pedido: Como fazer o pedido? Caso contrário, CNV trata-se de: 37 1. – Falar e ouvir com autenticidade, sem rótulos, sem sarcasmos, sem interrupções excessivas, sem envergonhar, sem negar, sem ofender, sem generalizar ou fugir das questões, sem tentar sempre ser vítima. Não julgue as pessoas, julgue os fatos. Seja transparente e sincero sobre o que aconteceu, como você vê, e depois pergunte à outra pessoa como ela vê o que aconteceu. 2. – Perceba que existem sentimentos e emoções por trás das palavras da pessoa e dentro de você; que as pessoas estão discutindo com você não sobre si mesmas, mas por causa de raiva, medo, mágoa, ressentimento, falta de autoconsciência e dor, falta de equilíbrio, concentração, calma, paz. Você precisa ouvir o seu coração, silêncio, meditação. As emoções podem derrubar as pessoas e podem ser muito perigosas. 3. – Esses sentimentos estão relacionados a muitas necessidades das pessoas, que precisam de uma variedade de coisas e relacionamentos. Quando não o temos, vacilamos. Às vezes temos muito poucas coisas materiais, mas temos valores como amizade, amor, comunidade, cuidado, dignidade, etc., então isso dá sentido à nossa vida. 4. – Diga o que você quer sem ser agressivo (saiba perguntar e ouvir o que os outros querem), tenha clareza sobre o que você quer e entenda o que a outra pessoa realmente quer sem impor. Pergunte à outra pessoa como ela se sente e do que precisa, e declare claramente suas necessidades. É melhor que as pessoas façam as coisas por si mesmas do que serem forçadas a fazê-las. * Portanto, uma boa resposta à retórica violenta: Você se sente como ______________Por que você precisa de ____________________________? É sempre uma questão de ouvir sentimentos e necessidades. As pessoas basicamente fazem a pergunta da maneira errada… 38 "As pessoas permanecem agressivas porque pensam e ouvem que só queremos vencer e estamos certos; então você precisa realmente se conectar com ela (seus sentimentos e necessidades)." “O NCV baseia-se em competências linguísticas e de comunicação que melhoram a nossa capacidade de permanecermos humanos mesmo sob condições adversas.” “Em vez de serem respostas repetitivas e automáticas, nossa comunicação passa a ser intencional e baseada na consciência de nossas percepções, sentimentos e necessidades. Somos orientados a nos expressar com clareza, respeito e empatia.” A CNV nos ensina que devemos fazer as seguintes perguntas: Que ações específicas observamos que estão afetando o nosso bem-estar e o bem-estar dos outros? Como nos sentimos em relação ao que observamos e como os outros se sentem? Que necessidades, valores, desejos, etc. estão criando a forma como nós e os outros nos sentimos? Que ações específicas pedimos para enriquecer as nossas vidas e as vidas dos outros? A CNV mostra que quando as pessoas são criticadas ou ofendidas ou enfrentam conflitos, geralmente têm 4 reações: 1. Culpar a outra parte, revidar e fugir do crédito. Algumas pessoas dizem que “a melhor defesa é o ataque”; 2. Trate-se como vítima, culpe-se e transfira a responsabilidade para os outros; às vezes, ataque depois ou culpe a outra parte a terceiros; 39 3. – Tentar escapar pela apatia, esquivando-se de um desafio; 4. - Ouça a outra pessoa, faça perguntas, tente entender sua lógica e