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Evolução do aparelho do Estado e
políticas públicas — do Estado liberal
ao Welfare State
PROBLEMATIZAR A TRAJETÓRIA DO ESTADO MODERNO CONTRAPONDO DOIS TIPOS RADICALMENTE
DISTINTOS DE APARELHO ESTATAL: O ESTADO LIBERAL E O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL.
O Estado liberal
Conforme assinalado na aula anterior, para se compreender a evolução das políticas públicas na sociedade
atual é imprescindível que seja efetuado uma breve análise histórica da evolução do aparelho do Estado no
século XX. Comecemos então pelo Estado liberal.
O Estado liberal se constituiu no século XVIII e perdurou até a terceira década do século XX. As funções
públicas deste tipo de estado eram mínimas, cabendo-lhe apenas salvaguardar os contratos, a propriedade e
o funcionamento da economia com base na doutrina do "livre-mercado" (em francês laissez-faire)
fundamentado no princípio do individualismo, da iniciativa privada e da competitividade econômica sem
interferências; pois na época havia uma crença generalizada de que as atividades econômicas livres de
regulações estatais gerariam maior volume de riqueza material que contribuiria de forma decisiva para
acabar com a pobreza, com as desigualdades sociais e a luta de classes sociais geradas pelo conflito
capital/trabalho no sistema capitalista.
As classes dominantes da época acreditavam que a doutrina do laissez-faire preconizada pela ideologia
liberal estimularia o progresso geral das nações, beneficiando, desse modo, a sociedade como um todo.
Porém, no âmbito do estado liberal, a cidadania não estava consolidada; os indivíduos não eram
considerados cidadãos no sentido pleno da palavra. Como consequência, as demandas sociais das classes
trabalhadoras e dos segmentos sociais menos favorecidos não se configuravam como pressões políticas
sobre o governo e o aparelho de Estado. O estado liberal servia aos interesses de grupos sociais
minoritários, porém mais bem organizados politicamente, como as elites industriais e burocráticas.
Portanto, no as políticas públicas eram reduzidíssimas, e as políticas sociais praticamente inexistiam. Como
parâmetro de comparação, basta mencionar que no âmbito do estado liberal funcionavam apenas quatro
ministérios: o da Justiça, o da Defesa, o da Fazenda e o das Relações Exteriores (Bresser, 1996, p. 5).
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O Welfare State
O estado liberal foi superado pelo Estado de bem-estar social (em inglês: Welfare State) no início do século
XX. O welfare state consolidou-se plenamente após a II Guerra Mundial, sobretudo nos países industriais
capitalistas da Europa Ocidental, Japão, Estados Unidos e Canadá. Nesta nova conjuntura que começa a se
delinear mais nitidamente em meados da década de 1950, o estado de bem-estar assume uma feição
inteiramente nova, transformando-se em um aparelho burocrático interventor e promotor do
desenvolvimento econômico e social mais justo e igualitário.
Como consequência, as funções públicas deste novo tipo de estado ampliam-se enormemente em número e
variedade, em razão do aumento da complexidade das sociedades industriais capitalistas. Complexidade
que é derivada do crescimento populacional, da expansão das atividades econômicas produtivas, do
mercado financeiro e do comércio internacional; da necessidade de aliar progresso tecnológico com
desenvolvimento industrial; e da conquista de novos direitos por parte das classes trabalhadoras e dos
cidadãos em geral.
No âmbito do estado de bem-estar, a cidadania consolidou-se plenamente e as relações entre os cidadãos e
as autoridades políticas passaram a ser mediadas pelo constitucionalismo, que é um conjunto de leis que
assegura ao povo garantias contra o arbítrio e decisões discricionárias do governo. O governo, por sua vez,
se constituiu como uma esfera institucional separada do Estado, ficando sujeito à alternância do poder em
decorrência dos processos políticos eleitorais democráticos.
Teoricamente, o welfare state está fundamentado em um pacto político-institucional entre as classes
sociais (construído por meio de concessões, negociação e lutas reivindicatórias), a fim de manter a
estabilidade social mediante a harmonização das relações capital/trabalho no âmbito de uma economia
industrial capitalista. Esse objetivo é alcançado com a implementação de políticas públicas que asseguram
certo padrão de vida, de dignidade e bem estar aos trabalhadores e outros segmentos sociais mais
vulneráveis, a partir da criação de um amplo sistema de seguridade social constituída por alguns benefícios
básicos: previdência, seguro-desemprego, seguro-saúde, pensão por invalidez e velhice, renda mínima,
auxílio financeiro aos mais pobres, entre outros. Deve ser enfatizado, porém, que os sistemas de proteção
social, bem como a extensão de seus benefícios, não são idênticos em todos os países, pois variam em
decorrência do grau de desenvolvimento das forças produtivas de cada nação.
Credita-se aos estudos do economista inglês John Maynard Keynes (1883–1946) os pressupostos teóricos
econômicos norteadores da construção do estado de bem-estar social. Em 1936, Keynes apresentou sua tese
prevendo que as atividades econômicas capitalistas (o mercado) sem nenhuma regulação estatal ampliam,
inexoravelmente, as desigualdades socioeconômicas e a exploração dos trabalhadores. De certo modo, as
políticas públicas do estado de bem-estar social dão sustentação ao desenvolvimento harmônico e a
reprodução do próprio sistema capitalista.
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Administração pública e políticas públicas
O welfare state assumiu funções de provisionar uma variedade de serviços sociais aos cidadãos, de regular o
mercado interno e realizar investimentos em infraestrutura e no desenvolvimento tecnológico. Para
cumprir com esses novos objetivos, a administração pública precisou ser completamente reestruturada, de
modo que pudesse dar conta do grau de complexidade das demandas sociais por serviços públicos. Nesta
conjuntura, as pressões por eficiência do aparelho estatal estimularam a implantação extensiva de sistemas
administrativos burocráticos, nos moldes weberianos.
Assim, à medida que se expandia, a administração pública tornava-se mais racional, sendo orientada pelos
princípios da separação entre "público" e "privado", pela seleção de funcionários públicos com base no
critério de competência técnica e também pela gestão eficiente dos recursos financeiros alocados para
custear os serviços públicos. Desse modo, em pouco tempo, a área de políticas públicas tornou-se
altamente técnica e especializada. O governo toma decisões sobre a implementação das políticas públicas,
mas, em última instância, a tarefa de execução é realizada por profissionais tecnicamente capacitados
(tecnocratas) que integram os órgãos burocráticos estatais.
Agora que estudamos em detalhes as relações entre políticas públicas e tipos de aparelho de Estado, na
próxima aula serão problematizadas as principais teorias sobre políticas públicas a partir da apresentação
de um quadro analítico e conceitual sobre o tema.
REFERÊNCIA
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