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W BA 08 20 _V 1. 0 INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS CAD / CAM / CNC / FMS 2 Charlie Hudson Turette Lopes INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS CAD / CAM / CNC / FMS 1ª edição São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 3 _________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________ © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Gillian da Silva Crespo Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Lopes, Charlie Hudson Turette L864i Integração de sistemas CAD / CAM / CNC / FMS / Charlie Hudson Turette Lopes. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 44 p. ISBN 978-65-89965-93-0 1. Manufatura auxiliada por computador. 2. Integração dos sistemas. 3. CAD/CAM/CNC/FMS. I. Título. CDD 003 Evelyn Moraes – CRB: 8 SP-010289/O 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ https://www.platosedu.com.br/ 4 INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS CAD / CAM / CNC / FMS SUMÁRIO Integração dos sistemas CAD/CAM___________________________ 05 Comando Numérico Computadorizado (CNC) _______________ 19 Sistemas Flexíveis de Manufatura (FMS)______________________ 34 Manufatura aditiva: impressão 3D ___________________________ 47 5 Integração dos sistemas CAD/CAM Autoria: Charlie Hudson Turette Lopes Leitura crítica: Gillian da Silva Crespo Objetivos • Compreender o conceito de manufatura. • Reconhecer os conceitos de CAD, CAM e CNC. • Identificar as etapas necessárias para realizar programações em softwares de CAM. 6 1. Manufatura e desenhos feitos com o auxílio do computador O que um automóvel, um copo de vidro, uma bola de futebol e um mouse de computador têm em comum? Ficou difícil estabelecer uma relação, não é mesmo? A resposta é muito simples: todos eles passaram por um processo de fabricação. E, para serem fabricados, as pessoas e as empresas ao longo dos anos desenvolveram tecnologias para que isso fosse possível. Sem esses produtos, a vida contemporânea certamente não seria como estamos acostumados. Não seria possível praticar esportes de alto rendimento, os deslocamentos por grandes distâncias seriam muito menos eficientes e a maneira como vivemos, trabalhamos e nos divertimos apresentaria limitações consideráveis. Neste Tema, você verá como as invenções ao longo da história e a evolução da maneira como os produtos foram sendo fabricados geraram impacto direto na humanidade. Verá ainda como os desenhos técnicos e a manufatura evoluíram consideravelmente quando passaram a ser auxiliados por computador. 1.1 Conceituando a manufatura Analisando a etimologia da palavra manufatura, temos duas palavras oriundas do latim: manus (mão) e factus (fazer). Uma tradução aceita na língua portuguesa então nos remete a algo “feito à mão”. Entretanto, se pensarmos nos produtos que consumimos na sociedade contemporânea, a sua grande maioria é fabricada em processos automatizados e controlados por computadores (GROOVER, 2017). Desse modo, o conceito de manufatura também precisou evoluir ao longo dos anos. Para não nos confundirmos, vamos iniciar nossa conversa apresentando três termos comumente utilizados por autores que 7 tratam a respeito de processos produtivos. Essas palavras podem gerar convergência e, ao mesmo tempo, confusão quando falamos sobre transformação de materiais em produtos comercializados. São elas: manufaturar, produzir e fabricar. Define-se “manufaturar” como “fabricar ou produzir algo à mão ou em máquina caseira” ou “produzir algo em estabelecimento industrial; fabricar” (MANUFATURAR, 2021). Já a palavra “produzir” apresenta um vasto leque de opções de definições; porém, no contexto tratado, assimilaremos como “fazer bens úteis que atendam às necessidades do homem; fabricar, manufaturar” (PRODUZIR, 2021). Finalmente, “fabricar” significa – entre algumas definições – “dar origem a um produto, a partir de materiais diversos, utilizando diferentes processos; manufaturar, produzir” (FABRICAR, 2021). Por mais que os três verbos denotem conceitos similares, em alguns casos a aplicação de um em detrimento do outro pode fazer mais sentido. Groover (2017, p. 4) exemplifica: “...pode-se dizer “produção de petróleo bruto” mas não “fabricação de petróleo bruto”, que parece estranho, pois não há ainda a etapa de transformação”. Analisando, portanto, a manufatura, é possível classificá-la sob as óticas tecnológica ou econômica, como mostra a Figura 1. Figura 1 – Duas formas de definir fabricação: (a) como um processo tecnológico e (b) como um processo econômico Fonte: Groover (2017, p. 3). 8 Observe que as Figuras 1(a) e (b) possuem alguns elementos em comum: material inicial, processos de fabricação e produto fabricado. Na abordagem descrita na Figura 1(a), materiais são transformados nos processos de fabricação, por meio de máquinas, ferramentas, energia e mão de obra, e geram produtos fabricados ou sucata e refugo. Sob a ótica dos profissionais (engenheiros de produção, administradores e gestores de produção) que direcionam seus esforços para os processos produtivos, essa abordagem pode fazer mais sentido, pois eles percebem, durante a sequência da produção, como o produto vai sendo manufaturado ao longo de uma linha de produção. Vejamos um exemplo. Um par de meias, para ser produzido, pode passar por quatro processos básicos: tecelagem, costura, passação e embalamento. Na tecelagem, os fios (materiais iniciais) são transformados em meias semiacabadas ou prontas. Posteriormente, caso seja necessário, na etapa de costura, é feito o fechamento das meias semiacabadas. Você já reparou que as meias possuem uma costura na altura dos dedos? Depois de costuradas, elas são passadas em formas aquecidas e, por último, são embaladas. Observe a Figura 1(a) para completarmos as seguintes informações a respeito dos processos de fabricação das meias: • Máquinas: de tecelagem, de costura, de passar, de embalar etc. • Ferramentas: agulhas, gabaritos etc. • Energia: elétrica, hidráulica, pneumática etc. • Mão de obra: tecelões, costureiros, mantenedores, pessoal administrativo etc. No entanto, nem sempre os produtos atendem às especificações desejadas, gerando sucata, refugo e retrabalho. Esses itens serão descartados ou passarão novamente pelo processo fabril, até atingirem a qualidade requerida. Novamente, percebemos a visão focada no processo produtivo. 9 Passando para a Figura 1(b), observamos que no processo econômico os processos de fabricação processarão os materiais, agregando valor ao produto sob a ótica do cliente, que receberá o produto fabricado. Materiais que passam por processos produtivos se tornam mais valiosos. Por exemplo, em abril de 2021,o Brasil obteve sua maior venda de bens para o exterior desde 1997 (EXAME, 2021). No entanto, boa parte desse número vem de comodities, como o minério de ferro e a soja. Resultado: outros países compram esses produtos, agregam valor por meio de novos processos de fabricação e os vendem com maior percepção de valor por parte do cliente. Ainda é possível adotar uma percepção híbrida entre os dois contextos abordados na Figura 1. Para Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), todas as operações (empresas que transformam matérias-primas em produtos e serviços beneficiados) apresentam a sequência visualizada na Figura 2: Figura 2 – Todas as operações são processos de input (entrada) – transformação – output (saída) Fonte: Slack; Brandon-Jones e Johnston (2018, p. 15) 10 Para os autores, todo processo possui entradas (inputs, em inglês), que serão os recursos a serem transformados pelos recursos de transformação. Vejamos um exemplo. Uma hamburgueria processa materiais (carne, salada, queijo e pão) utilizando equipamentos como chapas, fogões e geladeiras. O cozimento, a preparação e a montagem de um sanduiche são parte do processo de transformação. Já as saídas (outputs) são os produtos e serviços transformados que serão disponibilizados para os clientes (hambúrgueres, sanduiches, sucos, doces etc.). É importante lembrar que algumas operações podem entregar tanto produtos quanto serviços. No caso da hamburgueria, podem ser criados produtos (hambúrgueres) atrelados a um serviço (entrega na casa do cliente). 1.2 Siglas CAD, CAM e CNC Existem inúmeras máquinas operatrizes, como os tornos mecânicos, as fresadoras, as furadeiras, as retíficas, entre outras. À medida que as necessidades por execução de peças de perfis cada vez mais complexos e em alta escala aumentaram, foram desenvolvidas as máquinas controladas por Comando Numérico Computadorizado (CNC). As máquinas CNC podem ser programadas de várias maneiras, inclusive utilizando desenhos técnicos realizados em computador, por meio de softwares de Desenho Auxiliado por Computador (CAD). No decorrer dos anos, com o aumento cada vez maior da complexidade geométrica do perfil das peças a serem fabricadas, a programação para a confecção dessas peças passou a ser realizada por meio de programas de Manufatura Auxiliada por Computador (CAM). A Figura 3 traz um exemplo de peça que pode ser usinada em uma máquina CNC, programada em softwares CAM: 11 Figura 3 – Usinagem complexa feita por máquinas CNC Fonte: kadmy /iStock.com. Imagine programar cada movimento tridimensional, cada contorno realizado por cada uma das ferramentas que aparecem na imagem. Parece difícil, não é mesmo? É por isso que os programas CAM são de tão fundamental importância quando falamos de usinagem com uso de máquinas CNC. 1.3 Programação de peças com sistemas CAD e CAM É comum que profissionais que trabalham com sistemas CAD/CAM possuam conhecimentos técnicos sobre os processos de usinagem. Muitas das vezes eles começam sua trajetória profissional em máquinas operatrizes, como tornos e fresadoras, e posteriormente passam a trabalhar com máquinas de Comando Numérico (CN). https://iStock.com 12 Existem algumas maneiras de se programar uma peça a ser usinada em uma máquina que trabalhe com CN. Groove (2017) lista as mais comuns: 1. Programação manual de peça. 2. Programação da peça assistida por computador. 3. Programação da peça assistida por CAD/CAM. 4. Entrada manual de dados. Detalharemos neste conteúdo a programação de peça assistida por CAD/CAM. As outras três maneiras citadas são bastante utilizadas na indústria, porém em situações que envolvem peças de menor complexidade geométrica, ou dotadas de perfis considerados simples, em situações que envolvam execução de operações rápidas ou, ainda, em produções de pedidos com baixa quantidade de peças. Uma operação de programação em sistemas CAD/CAM de uma peça a ser usinada em uma fresadora CNC pode seguir, genericamente, os seguintes passos: 1. Desenho bidimensional (2D) da peça a ser usinada De maneira similar ao que é realizado em softwares específicos de CAD, os programas CAM possuem uma interface na qual é possível realizar desenhos das geometrias desejadas, nos quais são utilizados comandos de desenho, como linhas, retângulos, raios, chanfros, círculos, dimensões, entre outros. A Figura 4 exemplifica uma peça desenhada em um software de CAM. 13 Figura 4 – Desenho bidimensional (2D) de uma peça realizado no software Mastercam Fonte: captura de tela do software Mastercam. 2. Preparação da máquina de usinagem a ser utilizada É preciso inserir nos campos específicos do software qual equipamento será usado na usinagem. Geralmente essa informação contém o nome do fabricante, o número de eixos e o tipo de comando CN. 3. Configuração do material bruto da peça É preciso informar as dimensões do material bruto que será submetido ao processo de usinagem. Em alguns casos, pode haver a necessidade de remoção de sobremetal. A Figura 5 traz uma visualização tridimensional do material bruto, no qual a geometria bidimensional a ser usinada encontra-se projetada em uma das faces. 14 Figura 5 – Representação tridimensional do material a ser usinado Fonte: captura de tela do software Mastercam. 4. Seleção das ferramentas que serão utilizadas na usinagem. Programas de CAM geram bibliotecas com as ferramentas escolhidas para realizar a usinagem. Essas ferramentas, por sua vez, recebem uma numeração padronizada que será utilizada no programa CNC. Na peça em questão, apresentada na Figura 5, serão necessárias ferramentas para realizar o faceamento, fresas de topo, brocas helicoidais e machos para a abertura de roscas. A Figura 6 mostra como é definida uma ferramenta de facear: 15 Figura 6 – Escolha de uma ferramenta de facear no software Mastercam Fonte: captura de tela do software Mastercam. Após essa definição, cada ferramenta adicionada precisará receber configurações específicas do faceamento, como altura e diâmetro do suporte, diâmetro da haste e da ferramenta, profundidade de corte, bem como se a ferramenta será utilizada para desbaste, acabamento ou ambos etc. Além disso, é imprescindível o conhecimento dos parâmetros de usinagem, que também deverão ser inseridos nas configurações da ferramenta, como o avanço de corte, o número de arestas da ferramenta, a velocidade de corte etc. 5. Realização das operações de usinagem Uma vez que as ferramentas foram adicionadas à biblioteca do software, é preciso selecionar cada uma que será utilizada em cada operação de usinagem. Algumas novas configurações serão solicitadas, como a escolha do uso ou não de fluido de corte, o tipo de compensação de raio que será utilizado, se o corte é concordante 16 ou discordante, se as coordenadas utilizadas são do tipo absoluta ou incremental etc. Para se apropriar de cada um desses parâmetros, o programador deverá ter conhecimento técnico de usinagem e programação a CN. Na peça em questão, outras operações ainda serão executadas (usinagem de contorno, furação, abertura de roscas), e cada qual seguirá as mesmas etapas de escolha e configuração das ferramentas. 6. Simulações Talvez a principal vantagem da programação com sistemas CAD e CAM, diante dos outros métodos, seja o nível de interação que o programador possui à medida que a peça está sendo idealizada e, posteriormente, usinada. As simulações em softwares de CAM permitem que ele tenha uma visualização virtual do processo de usinagem, antes de sua realização prática. Esse acompanhamento ocorre também durante a usinagem prática. A Figura 7 traz um exemplo de simulação em software CAM: Figura 7 – Simulação de usinagem realizada em software CAM Fonte: captura de tela do software Mastercam. 17 7. Geração do código para as máquinas de usinagem CNC Na etapa2 desta sequência, o software recebeu a informação de qual modelo de máquina realizaria a usinagem, e essa máquina apresenta um código de programação, geralmente na linguagem ISO. Programas de CAM têm um comando geralmente denominado “Pós-processar”, que abrirá uma pasta no computador para que o projeto seja salvo e o programa a ser utilizado na máquina CNC seja gerado. Findadas todas as etapas, a máquina de CNC pode ser preparada e o processo de usinagem executado de maneira segura. Neste Tema, você aprendeu os conceitos de manufatura, produção e fabricação. Compreendeu como as empresas e seus produtos revolucionaram a vida das pessoas e a economia. Acompanhou as etapas necessárias para a programação de uma peça em um software de Manufatura Auxiliada por Computador (CAM). Por fim, compreendeu que o sucesso desse tipo de programação depende de conhecimentos técnicos em usinagem (parâmetros, ferramentas, características), os quais são oriundos da atividade prática ao longo do tempo. Referências EXAME. Exportação brasileira bate recorde em abril, maior número desde 1997. 2021. Disponível em: https://exame.com/exame-agro/exportacao-brasileira-bate- recorde-em-abril-maior-numero-desde-1997/. Acesso em: 16 jun. 2021. FABRICAR. In: Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2021. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno- portugues/busca/portugues-brasileiro/fabricar/. Acesso em: 16 jun. 2021. GROOVER, Mikell P. Fundamentos da moderna manufatura: versão SI. Tradução de Givanildo Alves dos Santos. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. MANUFATURAR. In: Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2021. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno- portugues/busca/portugues-brasileiro/manufaturar/. Acesso em: 16 jun. 2021. https://exame.com/exame-agro/exportacao-brasileira-bate-recorde-em-abril-maior-numero-desde-1997/ https://exame.com/exame-agro/exportacao-brasileira-bate-recorde-em-abril-maior-numero-desde-1997/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/fabricar/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/fabricar/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/manufaturar/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/manufaturar/ 18 PRODUZIR. In: Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2021. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno- portugues/busca/portugues-brasileiro/produzir/. Acesso em: 16 jun. 2021. SLACK, Nigel; BRANDON-JONES, Alistair; JOHNSTON, Robert. Administração da Produção. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018. https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/produzir/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/produzir/ 19 Comando Numérico Computadorizado (CNC) Autoria: Charlie Hudson Turette Lopes Leitura crítica: Gillian da Silva Crespo Objetivos • Identificar os tipos de máquinas CNC existentes. • Reconhecer as funções utilizadas na programação CNC. • Aplicar as coordenadas cartesianas em programações CNC. 20 1. Comando Numérico Computadorizado auxiliando no aumento da produtividade das empresas A história da manufatura está repleta de exemplos de evolução tecnológica. À medida que as corporações precisam produzir mais e melhor, buscam processos que garantam produtividade (produzir utilizando o mínimo de recursos possível), eficácia (entregar o que foi demandado) e eficiência (utilizar racionalmente recursos para atingir o objetivo). O Comando Numérico (CN) para usinagem foi criado na década de 1940, época em que a programação era realizada utilizando-se cartões perfurados, cujos furos correspondiam ao código a ser executado para obter o perfil desejado para a peça. O CN em poucas décadas evoluiu até chegarmos às máquinas de Comando Numérico Computadorizado (CNC), nas quais a programação passou a ser executada diretamente em um computador, atrelado ou não à máquina de usinagem. Com isso, foram desenvolvidos trocadores automáticos de ferramentas, a linguagem utilizada nas máquinas passou a ser padronizada mundialmente e as máquinas se tornaram cada vez mais compactas. E atrelado a cada uma dessas evoluções, passou a ser cada vez menor o contato do homem com a máquina durante o processo de usinagem. Vale a pena pesquisar mais sobre essa história! Neste Tema, você verá os itens necessários para realizar a programação CNC, seus tipos e suas utilizações, e ainda desenvolverá sua primeira programação para usinagem em um torno CNC. 1.1 Máquinas CNC Existem vários tipos de máquinas que utilizam o CNC. O tipo de máquina a ser utilizado em um processo será definido de acordo com a 21 complexidade da geometria e dos processos de usinagem demandados. São exemplos de máquinas CNC: • Tornos. • Fresadoras. • Jato de água. • Furadeiras. • Puncionadeiras. • Eletroerosão a fio. • Eletroerosão por penetração. • Retificadoras. Como exemplo, conceituaremos um torno CNC como Equipamento que executa as mesmas operações de um torno mecânico, com alto nível de precisão (SILVA, 2015). Pode ser dividido em dois grandes grupos de elementos: máquina ferramenta e comando numérico. 1.1.1 Máquina ferramenta Elemento estrutural da máquina que apresenta cabeçotes, barramentos, carro principal, fuso de esferas recirculantes e dispositivos de fixação, como placas, castanhas, arrastadores etc. 1.1.2 Comando numérico Conjunto eletrônico que processa dados recebidos por meio de computadores interligados, cartões de memória ou inserção manual e os transforma em comandos para uma máquina ferramenta. Pode ser ainda definido como uma forma de automação programável. A Figura 1 apresenta um exemplo de Torno CNC. 22 Figura 1 – Torno CNC Romi GL 240 Fonte: Silva (2015, p. 17). 1.2 Sistema de coordenadas Vamos começar a entender a lógica de programação de uma máquina CNC a partir dos sistemas de coordenadas cartesianas, que são utilizados em todas essas máquinas operatrizes. Elas podem ser dispostas em dois eixos, nos casos de tornos CNC, ou três eixos, no caso de fresadoras CNC. A Figura 2 demonstra pontos que se encontram nos eixos das ordenadas (vertical) e das abcissas (horizontal). Figura 2 – Exemplo de coordenadas cartesianas em dois eixos Fonte: Silva (2008, p. 21) 23 Analisando a Figura 2, iniciando pelo ponto A, não há deslocamento no eixo horizontal, o ponto está sobre o eixo das ordenadas. Porém, na altura (eixo vertical), o ponto se encontra 30 unidades acima do ponto zero, que é a interseção dos eixos “x” e “z”. No ponto B, não há deslocamento vertical, e sim horizontal, de 20 unidades. Acompanhe a tabela fornecida na Figura 1 para que você possa compreender o posicionamento dos demais pontos. Os pontos das coordenadas representam a geometria a ser usinada. Nos tornos CNC, o eixo vertical utilizado para programação é nomeado de “x”. Como padrão, acima do ponto zero temos o valor de “x” positivo e, abaixo, negativo. Esse eixo representa os diâmetros das peças que serão usinadas. Já o eixo “z” descreve os comprimentos das peças. O valor será positivo para a direita e negativo para a esquerda. Há duas possibilidades de programação por coordenadas nas máquinas CNC: sistema de coordenadas absolutas e sistema de coordenadas incrementais. 1.2.1 Sistema de coordenadas absolutas Utilizam um ponto de referência, também chamado de ponto zero peça (SILVA, 2008). O ponto zero é representado por meio de um círculo com quatro quadrantes, sendo o direito inferior preenchido na cor preta. Nesse sistema, são adotadas as medidas reais da peça. O ponto zero pode ser definido durante a programação na face da peça (Figura 3) ou atrás do encosto das castanhas (Figura 4). 24 Figura 3 – Ponto zero na face dapeça Fonte: Silva (2008, p. 25). Figura 4 – Ponto zero no encosto das castanhas Fonte: Silva (2008, p. 25). Observe nas Figuras 3 e 4 que os eixos “x” e “z” possuem 0 como medida no ponto zero da peça (Figura 3 na face; Figura 4 atrás da peça). A partir do ponto zero, cada novo ponto no plano cartesiano possuirá suas coordenadas nos eixos dos diâmetros (x) e dos comprimentos (z). 25 1.2.2 Sistema de coordenadas incrementais Sistema pouco utilizado, quando comparado com o sistema de coordenadas absolutas. Nele, a cada novo ponto, temos uma nova medida de distância, pois avalia-se o deslocamento entre os pontos da geometria da peça. Veja um exemplo na Figura 5: Figura 5 – Exemplo de coordenadas incrementais Fonte: Silva (2008, p. 26-27). Vejamos o deslocamento entre os pontos A e B ao avaliarmos a Figura 5. O ponto A apresenta os valores (x=0; z=0). O primeiro diâmetro da peça mede 15 mm. Assim, o ponto B será, em “x”, 15 – 0, ou seja, 15; já em “z”, como não há deslocamento, o valor permanece 0. De B para C, não há deslocamento em “x”, e, portanto, o valor de “x” será 0. Já em “z”, há um deslocamento de 10 mm, sendo 10 o valor a ser considerado nessa situação. 1.3 Funções preparatórias e miscelâneas Visando padronizar o processo de programação a ser seguido pelos vários fabricantes de máquinas CNC, a International Organization 26 Standardization (ISO) adotou a linguagem G, descrita na Norma ISO 6983-1, atualizada em 2009 (ABNT, 2009). A Norma descreve que funções básicas e universais devem ser adotadas igualitariamente por todos os fabricantes, tornando o processo de intercambiabilidade de programação entre diferentes comandos (termo utilizado para a linguagem de programação que cada fabricante adota) menos trabalhoso. No entanto, cada empresa desenvolvedora de softwares de programação CNC poderá oferecer recursos adicionais, com sua linguagem própria, aos usuários. A linguagem G apresenta uma estrutura de blocos, na qual cada linha do programa CNC detalha funções a serem utilizadas e caminhos a serem percorridos pela máquina. Nessa linguagem, as funções preparatórias (funções G) são denominadas modais e não modais. As funções modais, uma vez ativadas, serão utilizadas em blocos seguintes, a não ser que sejam modificadas por outra função ou finalizadas por um comando. Já as não modais precisam ser acionadas todas as vezes em que serão utilizadas. Vamos ver, a partir de agora, quais são essas funções: • G00: avanço rápido – Função modal Utilizada apenas quando é desejado que uma ferramenta se desloque na máquina sem realizar contato com a peça. Essa função utiliza a maior velocidade de avanço disponível na máquina e desativa as funções de interpolação. • G01: Interpolação linear – Função modal Permite que a máquina execute movimentos retilíneos, com avanço programado. Em tornos CNC, o avanço é definido em milímetros por rotação, enquanto nas fresadoras CNC temos o avanço em milímetros por minuto. 27 • G02 e G03: Interpolação circular – Funções modais Executa a usinagem de arcos em uma peça. Essas funções possuem como parâmetros obrigatórios a serem inseridos no bloco: posição final em “x”; posição final em “z”; valor do raio; e avanço (se não definido em bloco anterior). O comando G02 atua quando o sentido do raio é horário, enquanto a função G3 gera raios no sentido anti-horário. É importante destacar que o movimento da ferramenta é avaliado acima da linha de centro da peça. Se fosse avaliada a parte inferior, aconteceria uma inversão na avaliação dos sentidos horário e anti-horário. Veja exemplos na Figura 6. Figura 6 – Exemplos de interpolações horária e anti-horária Fonte: adaptada de Silva (2015, p. 32). • G41 e G42: compensação do raio da ferramenta Para realizar uma programação CNC, o programador precisa conhecer parâmetros de corte, como velocidade de corte e avanços. Além disso, é necessário conhecer quais ferramentas deverá utilizar, suas geometrias e seus raios de ponta. Esse último fator é essencial para que as peças sejam usinadas nas medidas corretas, pois o operador deverá informar ao programa qual será a compensação do raio, visto que esta visa corrigir trajetos de ferramentas que podem ser equivocadamente interpretados pelas máquinas CNC. 28 Observe as Figuras 7 (a) e (b). Figura 7 – (a) Sem compensação de raio e (b) com compensação Fonte: Silva (2015, p. 38). As compensações de raio da ferramenta auxiliam na obtenção das corretas dimensões da peça. As funções G41 e G42 são modais. Utilizamos G41 nos casos de compensação de corte à direita e G42 para compensação de corte à esquerda. Na prática, para perfis externos, o G42 é utilizado se o deslocamento da ferramenta for no sentido do eixo árvore, e G41 no caso contrário. Para perfis internos, utilizamos G41 se o deslocamento da ferramenta for no sentido do eixo árvore, e G41 no caso contrário. Por fim, o comando G40 desabilita a compensação de raio da ferramenta. Existem ainda outras funções preparatórias importantes, a saber: • G04: tempo de permanência Define a permanência (em segundos) que a ferramenta ficará entre um bloco e outro. É utilizada, por exemplo, para mitigar os efeitos do esforço de corte. 29 • G20: define que a programação será feita em polegadas milesimais. • G21: define que a programação será feita em milímetros. • G90: comando utilizado para programação em coordenadas absolutas. • G91: comando utilizado para programação em coordenadas incrementais. • G94: define avanço como milímetros por minuto. • G95: define avanço como milímetros por rotação. • G96: estabelece velocidade de corte constante. É necessário inserir o valor da velocidade de corte. • G97: estabelece rotações por minuto constantes. Utilizada geralmente para furações. Além das funções preparatórias (G), as máquinas CNC utilizam funções miscelâneas (M), também chamadas de auxiliares. Essas funções ativam recursos do programa CNC e da máquina, tais como: • M00: parada obrigatória do programa. • M01: parada opcional do programa. • M02: fim de programa. • M03: rotação no sentido horário. • M04: rotação no sentido anti-horário. 30 • M05: desliga eixo árvore. • M06: troca de ferramenta. • M08: liga fluido de corte. • M09: desliga fluido de corte. • M17: Fim de subprograma. • M30: Fim de programa. 1.4 Programação CNC Para podermos fixar o conteúdo desta aula, vejamos um exemplo de programação de uma peça a ser usinada em um Torno CNC. Em nosso exemplo, realizaremos a programação de uma peça para receber acabamento de seu perfil. Para isso, é necessário remover o material em excesso até chegarmos ao mínimo de sobremetal, que é uma quantidade mínima de material que será removida por essa ferramenta de acabamento. Para cada tipo de material, são usados parâmetros a serem calculados, como velocidade de corte, rotação etc. Primeiramente, é necessário ler e interpretar o desenho da peça, reconhecendo suas dimensões antes e depois do processo de usinagem. Nessa etapa, também devemos estudar quais serão os processos de usinagem necessários. A Figura 8 contém o perfil a ser usinado. É preciso destacar que a peça será fixada pelo diâmetro de 70 mm nas castanhas da placa de um torno CNC. O perfil do acabamento a ser programado se encerra no chanfro de 1 X 45º. 31 Figura 8 – Peça a ser programada para receber acabamento externo Observação: para chanfros não cotados, adotar 1 X 45º. Fonte: elaborada pelo autor. Veja como ficará a programação, com comentários acerca de cada etapa da usinagem: Quadro 1 – Programação N. da linha Bloco Comentários N05 G21 G95 G40 G90; Reset de máquina: programação em milímetros; avanço em milímetros por rotação; desligar compensação de raio; utilizar coordenadas absolutas. N10 G00 X150. Z300.; Ponto de trocada ferramenta: caso o programa utilize três ferramentas, a cada troca o carro principal da máquina buscará esse ponto (distante da peça) para realizar a troca e não gerar colisões. N15 T0101; Selecionada a ferramenta 01, para acabamento. N20 G96 S400; Habilita a velocidade de corte constante. Calcular S (avanço) de acordo com material a ser usinado. N25 G92 S3000 M03; Define a rotação máxima, no sentido horário. N30 G00 X4. Z2. M08; Aproximação na velocidade de avanço mais alta da máquina, sem tocar a peça. Liga fluido de corte. N35 G42; Ativa compensação de raio à esquerda. 32 N40 G01 X2. Z1. F.05; Movimento de compensação no vazio. Avanço de 0.5 mm por rotação. N45 X0. Z0. F.15; Início do perfil. Avanço de 0.15 mm por rotação. N50 X21.; - N55 X25. Z-2.; - N60 Z-15.; - N65 G02 X35. Z-20. R5.; Interpolação horária com raio de 5 mm. N70 G01 X48.; - N75 X50. Z-21.; - N80 Z-28.; - N85 G02 X54. Z-30. R2.; - N90 G01 X68.; - N95 X70. Z-31.; Final do perfil. N100 G40; Desativa a compensação de raio da ferramenta logo depois do fim do perfil. N105 X72.; Movimento de saída da peça. N110 G00 X150. Z300. M09; Retorna para o ponto de troca. Desativa fluido de corte. N115 M30 Fim de programa. Fonte: elaborado pelo autor. Observações: 1. O sinal de ponto e vírgula em alguns comandos determina o fim de um bloco. Há comandos que utilizam “LF”, que significa, em inglês, fim de linha. 2. Os números das linhas são descritos em códigos especiais (N), múltiplos de 5, pois, caso necessário, é possível inserir novos blocos entre eles. Exemplo: N21, N22, N23. 3. Código especial de avanço (F): determina o avanço utilizado na interpolação. Comando modal. 4. Código especial para definir ferramenta (T): selecionará a ferramenta desejada para usinagem. 5. Em alguns comandos, é preciso adicionar ponto depois de cada medida (X300.), como foi feito nesse exemplo de programação. 33 Neste Tema vimos o que é o Comando Numérico Computadorizado (CNC). Além dos conteúdos aqui abordados, é preciso estudar sobre os conceitos de processos de usinagem, parâmetros de cortes, ferramentas, preparação e montagem de máquinas, além, é claro, da prática. Portanto, aprofunde seus conhecimentos para estar sempre preparado para as oportunidades do mercado na área de CNC. Referências ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ISO 6983-1: Automation systems and integration. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. SILVA, Sidnei Domingues da. CNC: Programação de Comandos Numéricos Computadorizados: Torneamento. 8. ed. São Paulo: Érica, 2008. SILVA, Sidnei Domingues da. Torno CNC: programação, preparação e operação. São Paulo: Érica, 2015. 34 Sistemas Flexíveis de Manufatura (FMS) Autoria: Charlie Hudson Turette Lopes Leitura crítica: Gillian da Silva Crespo Objetivos • Compreender o conceito de Sistema Flexível de Manufatura. • Compreender a evolução da manufatura e de suas tecnologias. • Identificar os tipos de arranjos físicos e equipamentos utilizados em Sistemas Flexíveis de Manufatura. 35 1. Integrando equipamentos e componentes para flexibilizar a manufatura Henry Ford cunhou uma frase que até os dias atuais reverbera nas escolas e nas indústrias: “o carro é disponível em qualquer cor, contanto que seja preto”. Essa asserção ocorreu durante a fabricação do Modelo Ford T, no início do século XX, o qual durante muitos anos foi o modelo de automóvel mais vendido no mundo. Hoje você compraria um carro de uma marca que só vendesse em uma única cor? Muito provavelmente não, de modo que você buscaria outra marca para comprar um carro na cor desejada. Por mais que hoje em dia possa parecer claro que o cliente deseja se sentir único ao adquirir um bem exclusivo, devemos compreender o contexto histórico em que Ford disse a famosa frase. Na época, não existia produção em massa de carros; logo, poucas pessoas possuíam o bem, até então produzido artesanalmente. A Ford criou uma demanda ao vender barato o Ford T (US$ 850 no seu lançamento) e financiar carros para seus próprios funcionários. O termo consumismo começou a ser rascunhado nessa época, pois as empresas (não só de automóveis) começaram a criar necessidades que até então não existiam. As pessoas não “precisavam” possuir várias peças de roupas; o trabalhador regular que viveu nos primórdios da época da produção em massa tinha, muitas das vezes, uma roupa para trabalhar e outra para ir à igreja. Neste Tema, você verá como as empresas evoluíram da produção em massa, perpassaram pela flexibilidade na manufatura e hoje cada vez mais adotam a personalização ou a customização em massa de seus produtos. 36 1.1 O que são Sistemas Flexíveis de Manufatura? Vamos iniciar com as definições de cada uma das palavras do termo Sistema Flexível de Manufatura. A palavra “sistema” possui inúmeras definições, mas, no contexto industrial, entendemos que um sistema é a “inter-relação de unidades, partes etc., responsáveis pelo funcionamento de uma estrutura organizada” (SISTEMA, 2021). Já “flexível” significa aquilo “que se adapta bem a diferentes atividades ou funções; acomodatício, adaptável, moldável” (FLEXÍVEL, 2021). Por último, define- se “manufaturar” como “fabricar ou produzir algo à mão ou em máquina caseira” ou “produzir algo em estabelecimento industrial; fabricar” (MANUFATURAR, 2021). Portanto, um Sistema Flexível de Manufatura (Flexible Manufacturing System – FMS) é a organização de equipamentos e componentes, interligados e automatizados, com capacidade de produzir produtos distintos sequencialmente. Em geral, são providos de máquinas CNC (GROOVER, 2017). Mas por que estamos falando sobre a necessidade de se produzir de forma flexível? Vamos resgatar um pouco da história da moderna manufatura para responder a essa questão. Até o fim do século XIX, era predominante o conceito de produção artesanal, o qual funciona da seguinte maneira: o cliente reconhece uma demanda, procura um prestador de serviço e realiza uma encomenda. Chamamos isso de produção puxada, ou seja, o cliente “puxa” a produção ao realizar um pedido. Na produção artesanal, apenas um item é fabricado por vez, integralmente realizado por apenas uma pessoa. Como exemplos podemos citar vestimentas, ferramentas e joias. Já no início do século XX, nomes como Frederick Taylor, Henry Ford e o Casal Gilbreth foram responsáveis diretos pelo desenvolvimento da chamada produção em massa. Nesse modelo, a produção deixa de ser 37 puxada e passa a ser empurrada; as indústrias começam a fabricar itens em grandes quantidades, criando demandas para a população; e tudo (como carros, roupas e equipamentos) passa a ser fabricado em grande quantidade, estimulando o consumismo, principalmente nos norte- americanos. Entre os anos 1950 e 1970, a produção em massa passou por alguns reveses. A inflação no período pós-guerra e a crise do petróleo fizeram as montadoras de veículos japonesas produzirem carros mais econômicos, além de enxugarem desperdícios em suas linhas de produção (HARVEY, 1992). Com grande participação da Toyota Motor Company, teve início a chamada personalização em massa. Recentemente, nos anos 2000, com a propagação do uso da internet, cada vez mais os clientes desejam possuir itens únicos. A personalização em massa traz novamente a singularidade da produção artesanal, aliada ao volume da produção em massa, unificando as melhores características de cada um dos modelos de produção. Para atender a essa evolução, Groover (2017) lista quatro fatores decisivos para um sistema ser considerado como um FMS: 1. Processar tipos diferentes de peças sem ser em lotes. 2. Aceitar mudanças no cronograma de produção. 3. Responder prontamente a falhas de equipamentos e sistemas. 4. Permitir a produção de novos itens. Tudo isso é controlado por um computador central, que monitora o sistema de produção. 1.2 Organizando osprocessos Não se sabe ao certo qual empresa utilizou primeiro um FMS, pois o termo, em si, já é adotado desde a década de 1960. Se conhecermos os 38 elementos que compõem um processo, compreenderemos que o FMS busca otimizar e eliminar desperdícios de cada um deles. A Figura 1 apresenta a simbologia de mapeamento de processos: Figura 1 – Alguns símbolos comuns de mapeamento de processos Fonte: Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018, p. 215). Vamos descrever como o FMS buscar otimizar os elementos do processo presentes à esquerda da Figura 1, oriundos da Administração Científica. O objetivo, ao final, é automatizar ao máximo o processo executado. 1. Operação Conceito: agregar valor ao produto modificando fisicamente suas características ou sua qualidade, seja por manufatura ou montagem. Trabalho do FMS: como exemplo, podemos listar um torno mecânico convencional e um torno CNC. No primeiro, o operador manipula diretamente a máquina, sendo responsável pelos movimentos dos eixos para que a ferramenta transforme a peça. Já no CNC, o operador alimenta a máquina com novas matérias-primas a serem transformadas, 39 transporta os produtos de um equipamento para outro e controla a qualidade dos itens produzidos. 2. Inspeção Conceito: comparar as características de um produto fabricado com as especificações previamente definidas (padrão). Trabalho do FMS: no exemplo dado sobre torno CNC, o operador passou a ser responsável pela alimentação das peças na máquina e pelo controle da qualidade. No FMS, uma máquina de medição tridimensional pode ser adicionada à linha de produção. Dessa forma, a peça produzida é levada à máquina de medição tridimensional, e, por estar conectada na mesma rede de dados da máquina CNC, as correções dimensionais necessárias são enviadas ao CNC, que executa os ajustes necessários automaticamente. 3. Transporte Conceito: mudança de posição que ocorre nos materiais e nos produtos dentro da linha de produção. Trabalho do FMS: continuando a avaliação da evolução do processo de torneamento, no torno CNC, o operador era responsável por transportar matérias-primas do armazém para a torno CNC e depois transportar a cada nova máquina necessária. Com o FMS, robôs transportam a peça entre máquinas após cada operação, gerando assim uma célula de torneamento. Já para o transporte do armazém para a primeira máquina e do produto pronto para a expedição são usados veículos autoguiados (Automated Guided Vehicle – AGVs). É um veículo guiado por computador que recebe os itens e os transporta de acordo com a programação. A Figura 2 apresenta um exemplo de AGV: 40 Figura 2 – Veículo autoguiado (AGV) Fonte: Chesky_W/iStock.com. 4. Atraso Conceito: período de ociosidade, por conta de alguma espera (de materiais ou de informações). Trabalho do FMS: deverá acontecer um trabalho, em parceria com Planejamento e Controle da Produção (PCP), para a organização do sequenciamento da produção. Dessa forma, o operador, antecipadamente, reunirá materiais, insumos e ferramentas necessários para as máquinas trabalharem, com o menor tempo possível de interrupção. 5. Estoque Conceito: acontece quando um material ou produto acabado é armazenado em local previamente definido. Trabalho do FMS: como os produtos são fabricados em células, evita que ocorra acúmulo de estoques entre as etapas do processo. https://Chesky_W/iStock.com 41 Uma vez que o objetivo do FMS é automatizar as etapas do processo, o operador passa a trabalhar integrado com as operações que ocorrem nas células. Groover (2017) lista seis atividade desenvolvidas por trabalho humano: 1. Carregar e descarregar peças do sistema. 2. Configurar e mudar ferramentas de corte. 3. Manter e reparar equipamentos. 4. Programar CNC de peças. 5. Programar e operar o sistema computacional. 6. Realizar a gestão global do sistema. Percebemos que no FMS o trabalho humano migra de operacional, com foco em atividades manipulativas, para gerencial, de monitoramento e controle de sistemas. Os cinco elementos de um processo (operação, inspeção, transporte, atraso e estoque) geralmente são detalhados em fluxogramas. Neles, o processo é classificado de acordo com cada um dos cinco elementos. A Figura 3 apresenta um exemplo de fluxograma de trabalho para levantamento de elementos: Figura 3 – Parte de um Fluxograma de Trabalho Fonte: adaptada de Cury (2017, p. 334). 42 Como pode ser visto na Figura 3, categorizar os elementos facilita a identificação de gargalos e desperdícios. Em tempo, um gargalo dita a velocidade de uma linha de produção. Por exemplo, em uma célula de produção com cinco máquinas, o gargalo estará na máquina que demorar o maior tempo para produzir um item, ou seja, a mais lenta. A Figura 4 apresenta como se comportaria um gargalo. Figura 4 – Configuração geral de uma linha de produção Fonte: Groover (2017, p. 454). Analisando a Figura 4, imaginemos que a linha de produção tenha cinco estações de trabalho (e). Cada estação depende da conclusão do trabalho realizado na estação anterior. Se e1 leva 0,3 minutos para fabricar uma peça; e2 leva 0,4 minutos; e3 leva 0,5 minutos; e4 leva 0,3 minutos; e e5 leva 0,2 minutos, temos que o gargalo está na estação 3, que demora 0,5 minutos. Isso significa que uma peça ficará pronta a cada 0,5 minutos por conta da estação gargalo, que ditará o ritmo de toda a produção. 1.3 Arranjos físicos utilizados no FMS Existem cinco tipos de arranjos físicos (layouts) comumente empregados no FMS. Veremos agora algumas características sobre cada um deles. Para as Figuras 5 a 9, utilizaremos a seguinte legenda: Aut = estação automatizada; L/UL = estação de carga/descarga; Insp = estação de inspeção; AGV = veículo autoguiado; e AGVS = sistema de veículo autoguiado. 43 Inicialmente, a Figura 5 nos mostrará um layout em linha. Nele, as transferências para movimentação de peças são lineares e podem acontecer em dois sentidos. Figura 5 – Exemplo de layout em linha Fonte: Groover (2017, p. 470). A Figura 6 apresenta um layout circular ou em loop. Nele, o transporte acontece em um circuito localizado no interior da área gerada entre as máquinas. Figura 6 – Exemplo de layout circular Fonte: Groover (2017, p. 469). Na Figura 7, temos um exemplo de layout em escada, similar ao anterior no que diz respeito ao transporte. Nesse arranjo, as máquinas ficam localizadas nos degraus de uma escada. 44 Figura 7 – Exemplo de layout em escada Fonte: Groover (2017, p. 471). Para a Figura 8, Groover (2017) descreve o layout de campo aberto como sendo “a configuração de FMS mais complexa e consiste em vários loops amarrados” (p. 471). Figura 8 – Exemplo de layout de campo aberto Fonte: Groover (2017, p. 471). Por último, mas não menos importante, a Figura 9 nos dá um exemplo de um robô alimentando matérias-primas e recolhendo as peças prontas das máquinas. 45 Figura 9 – Exemplo de layout de célula centralizada em robô Fonte: Groover (2017, p. 471). Neste Tema, vimos os conceitos de Sistemas Flexíveis de Manufatura. Compreendemos como a manufatura evoluiu tecnologicamente e como empresas geram demandas e muitas das vezes também precisam se adaptar a elas. É importante sempre estudarmos e ficarmos de olho nas novas tendências de mercado para ficarmos atualizados, de modo a podermos responder de maneira rápida a tudo que acontece em nosso mundo globalizado. Referências CURY, Antonio. Organização e métodos: uma visão holística. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2017. FLEXÍVEL. In: Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2021. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno- portugues/busca/portugues-brasileiro/flex%C3%ADvel/. Acesso em: 24 ago. 2021. GROOVER, Mikell P. Fundamentos da moderna manufatura: versão SI. Tradução de Givanildo Alves dos Santos. 5. ed. Riode Janeiro: LTC, 2017. v. 2. HARVEY, David. The Condition of Postmodernity: An Enquiry into the Origins of Cultural Change. New Jersey: Wiley, 1992. https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/flex%C3%ADvel/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/flex%C3%ADvel/ 46 MANUFATURAR. In: Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2021. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno- portugues/busca/portugues-brasileiro/manufaturar/. Acesso em: 16 jun. 2021. SISTEMA. In: Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2021. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno- portugues/busca/portugues-brasileiro/sistema/. Acesso em: 24 ago. 2021. SLACK, Nigel; BRANDON-JONES, Alistair; JOHNSTON, Robert. Administração da Produção. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018. https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/manufaturar/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/manufaturar/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/sistema/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/sistema/ 47 Manufatura aditiva: impressão 3D Autoria: Charlie Hudson Turette Lopes Leitura crítica: Gillian da Silva Crespo Objetivos • Identificar os processos de fabricação mais comuns. • Compreender a importância da utilização da manufatura aditiva em projetos, protótipos e produtos. • Identificar os materiais que podem ser utilizados no processo de manufatura aditiva. 48 1. Adicionar em vez de remover material Sabemos que em um mundo globalizado, o cenário competitivo entre as empresas passa a ser cada vez mais acirrado. É preciso que os projetos desenvolvidos sejam eficazes, permitindo a entrega de produtos complexos e com alta tecnologia ao consumidor final, com o mínimo de desperdício de material ao longo da cadeia produtiva e no preço mais competitivo possível. Quando falamos em manufatura aditiva, estamos nos referindo a um processo que possui uma infinidade de aplicações possíveis na indústria, desde o projeto, em sua concepção, até o desenvolvimento de ferramentas, dispositivos e, até mesmo, na fabricação de protótipos e produtos. Neste Tema, você verá como a manufatura aditiva permite a criação de um produto, a partir “do zero”, por meio do processo de adição de material, em contrapartida aos métodos de manufatura tradicional, que atingem as formas e as dimensões desejadas de um produto por meio do processo de remoção de material, muitas vezes sem reaproveitamento do material retirado, culminando em desperdícios e aumento nos custos de fabricação. 1.1 Os processos de fabricação e a manufatura aditiva Primeiramente, é preciso falar sobre os processos de fabricação tradicionais, para então compararmos com o processo de manufatura aditiva. Os processos de fabricação podem ser divididos em cinco grupos principais: • Fundição. • Soldagem. • Conformação Mecânica. • Metalurgia do Pó. 49 • Usinagem. Groover (2017a) classifica os processos de fabricação de acordo com o elencado na Figura 1. Figura 1 – Classificação dos processos de fabricação Fonte: Groover (2017a, p. 11). Nesse caso, os cinco processos anteriormente citados estão classificados como processos de solidificação (fundição), processos de união permanente (soldagem), processos de mudança de forma (conformação mecânica e usinagem) e processamento de partículas (metalurgia do pó). Compreender esses processos e suas características nos ajudará a reconhecer como a manufatura aditiva surge como uma excelente opção para a indústria, mesmo que não consiga atender a todas as variáveis que cada projeto pode apresentar. 50 1.1.1 Fundição Processo de fabricação que possibilita a utilização de diversas ligas metálicas e metais, como o aço, o alumínio e o ferro. Baseia-se em preencher a cavidade de um molde, permanente ou colapsável, com metal líquido (fundido), que fluirá dentro do molde até preenchê-lo completamente. Ao final do processo, o metal dentro do molde se solidificará e adquirirá o formato do deste. O processo de fundição pode gerar peças prontas (como carcaças de equipamentos) ou que passarão por outros processos de fabricação posteriormente. As peças fundidas apresentam a vantagem de possuírem um baixo custo de obtenção. Entretanto, o processo pode apresentar limitações quanto a formatos complexos e à precisão dimensional, necessitando de processos adicionais de usinagem. 1.1.2 Soldagem A soldagem consiste na união permanente de duas peças. O processo pode ser executado com a utilização de metal de adição ou de maneira autógena (sem utilização de metal de adição), pode ser tanto por ação de calor quanto por ação de pressão. Groover (2017a) cita alguns exemplos de processos de soldagem mais comuns, entre os mais de 50 processos catalogados pela American Welding Society (AWS), ou Sociedade Americana de Soldagem: • Solda oxiacetilênica. • Solda a arco elétrico. • Soldagem a arco elétrico com proteção gasosa (MIG/MAG). • Soldagem a arco elétrico com proteção gasosa (TIG). 51 1.1.3 Conformação mecânica A conformação mecânica pode ser dividida em duas categorias principais: processos de conformação volumétrica e processos de conformação de chapas. Na primeira, há deformações consideráveis, com consequente mudança de forma da peça. Outra característica relevante é a pequena relação entre a área superficial e o volume da peça. Essa característica de relação entre área superficial e volume da peça é oposta ao que se percebe na conformação de chapas, que consiste na alteração da forma geométrica de chapas, tiras e bobinas. A Figura 2 ilustra a divisão dos processos de conformação mecânica. Figura 2 – Classificação das operações de conformação dos metais Fonte: Groover (2017a, p. 318). Na categoria de conformação de volumes, temos os processos de: • Laminação. • Forjamento. 52 • Extrusão. • Trefilação. Já na categoria de conformação de chapas, temos as seguintes operações: • Dobramento. • Estampagem. • Corte. 1.1.4 Metalurgia do pó Processo no qual, após a compactação de pós em moldes com o formato da peça desejada, a peça obtida é submetida ao chamado processo de “sinterização”, processo de tratamento térmico que visa conferir melhores propriedades mecânicas à peça final, que possui características frágeis após sua retirada do molde. Peças de elevado grau de complexidade em suas geometrias podem ser fabricadas por meio desse processo, como mostra a Figura 3. Figura 3 – Uma coleção de peças fabricadas por metalurgia do pó Fonte: Groover (2017a, p. 280). 53 Fica a pergunta: se a metalurgia do pó pode fabricar qualquer modelo de peça, por que então continuar utilizando os outros processos de fabricação? Para respondê-la, Groover (2017a) retrata que a metalurgia do pó possui limitações, tais como os custos de obtenção de materiais e equipamentos, além da dificuldade de armazenagem dos pós e da obtenção de algumas geometrias mais complexas, em decorrência da dificuldade de o pó acessar algumas áreas das matrizes utilizadas. 1.1.5 Usinagem Processo de fabricação no qual é utilizada uma ferramenta de corte para remover material a partir de uma peça bruta (tarugo, bloco). Essa remoção resulta em uma perda intrínseca de material, chamada cavaco. São exemplos de processos de usinagem: • Torneamento. • Furação. • Fresamento. Agora que você já é capaz de identificar os processos de fabricação mais comuns, podemos falar diretamente sobre a manufatura aditiva, apresentando e discutindo suas características. Popularmente chamada de “impressão 3D”, a manufatura aditiva se trata de uma “tecnologia que produz objetos tridimensionaispelo depósito de camadas sucessivas de material” (SLACK; BRANDON-JONES; JOHNSTON, 2018, p. 787). Por isso o termo “aditivo” é empregado, pois o objeto é obtido camada a camada, uma sobre a outra, sucessivamente. Antes da disseminação do termo manufatura aditiva da forma que o conhecemos atualmente, a prototipagem rápida foi quem abriu as portas para as novas tecnologias utilizadas em projetos 54 de peças desenvolvidas em softwares de Desenho Assistido por Computador (CAD). No final da década de 1980, o termo prototipagem rápida foi utilizado pela primeira vez, tendo por objetivo reduzir consideravelmente o tempo gasto para a confecção de protótipos de peças de perfil geométrico complexo. Para se ter uma ideia, para uma peça plástica ser fabricada, é preciso primeiramente realizar a modelagem de seu molde em um software CAD. Posteriormente, deve-se realizar sua programação em um software de Manufatura Assistida por Computador (CAM). Só então a peça desejada pode ser usinada em uma máquina a Controle Numérico Computadorizado (CNC), ou pelos outros processos de fabricação que vimos até agora. Tudo isso sem falar nos custos com matérias-primas e ferramentas para a obtenção do molde. Agora, imagine: se o protótipo não atender às expectativas desejadas, esse molde (caro) perderá sua utilidade e será descartado e o processo terá de ser refeito quantas vezes forem necessárias, até o protótipo ser aprovado. Todo esse processo pode demorar semanas ou até meses. Desenvolver um novo produto até a década de 1980, além de extremamente custoso, era consideravelmente demorado. Com a modernização da prototipagem, o termo genérico “manufatura aditiva” passou a ser adotado massivamente. A confecção de protótipos nas indústrias é amplamente utilizada para melhorar a visualização, o compartilhamento e a comunicação das ideias. Exemplos de aplicações técnicas dos protótipos, segundo Baxter (2011), incluem: • Verificação volumétrica plástica. • Ensaio estrutural. 55 • Experimentação ergonômica. • Teste de qualidade dos materiais. • Auxilio na fabricação do produto em si. A Figura 4 apresenta um exemplo de fabricação de um protótipo obtido por uma impressora 3D. Figura 4 – Protótipo obtido por impressão 3D Fonte: kynny/iStock.com. A manufatura aditiva é um processo que pode ser empregado do início do planejamento do projeto até a obtenção do produto que irá para o cliente. 1.2 Áreas de aplicação da Manufatura Aditiva Do planejamento inicial ao produto finalizado, a manufatura aditiva auxilia indústrias, setores de ensino e, até mesmo, a medicina. Baxter (2011) afirma que projetar um novo produto é uma atividade complexa, não bastando pensar apenas em sua geometria e em suas dimensões. https://kynny/iStock.com 56 Desse modo, outras perguntas também devem ser respondidas, tais como: • Quais aspectos técnicos devem ser considerados? • Existe mercado para o produto? • Qual a sensação que o cliente deverá ter ao utilizar o novo produto? • Quais serão as funções do produto? • Quais são os riscos intrínsecos ao projeto? A prototipagem rápida, por meio das tecnologias de manufatura aditiva, permite aos projetistas tangibilizarem suas ideias, construindo um modelo físico real em um curto espaço de tempo. Assim, é possível discutir com a equipe, envolvida na obtenção de um novo produto, os erros já identificados, como melhorar o processo de produção do protótipo e, consequentemente, como melhorar o processo de obtenção do produto. Groover (2017a) lista como benefícios da manufatura aditiva para os setores de engenharia: • Possibilidade de comparações de diversos modelos visando ao apelo estético do produto. • Análise do fluxo de fluidos e da aerodinâmica por meio da geometria dos modelos prototipados. • Avaliação de tensões em um modelo físico. • Fabricação prévia de um modelo para facilitar a programação e planejamento de ferramentas e técnicas para a usinagem do produto. 57 • Auxílio na medicina: próteses, implantes e diagnósticos. Já no caso de fabricação de peças finais, o autor cita genericamente situações em que a manufatura aditiva é adequada: • Geometrias únicas. • Formas complexas. • Poucas quantidades, ou ainda uma única peça. • Retorno rápido do investimento. • Quando é inviável a fabricação de um molde para a obtenção da peça. • Quando é desejável evitar a fabricação de peças duras especiais. • Peças customizadas para aplicações específicas, como próteses. A aplicação de peças feitas por impressoras 3D é vasta. Algumas montadoras de veículos, por exemplo, disponibilizam lojas on-line para que o usuário baixe o modelo em CAD para impressão tridimensional de alguma peça simples de seu veículo que deseje repor. Para imprimir em 3D, o requisito mínimo é possuir um modelo em CAD tridimensional. O resto é com a impressora! 1.3 Características da Manufatura Aditiva Ainda há questões a serem avaliadas antes de substituir os processos tradicionais de fabricação pela manufatura aditiva. Primeiramente, Groover (2017b) classifica os tipos de processos de manufatura aditiva de acordo com as matérias-primas utilizadas, a saber: • Com base em líquido. 58 • Com base em pó. • Com material fundido. • Com base em lâmina ou placa sólida. A Figura 5 apresenta um resumo dos processos. Como legenda, temos: SL = estereolitografia; MPSL = estereolitografia por máscara de projeção; SLS = sinterização seletiva a laser; 3DP = impressão tridimensional; FDM = modelagem por deposição de material fundido; DDM = fabricação por deposição em gotas; e LOM = manufatura de objeto em lâminas. Figura 5 – Matérias-primas, processo de formação de camadas e modos de canal de manufatura aditiva Fonte: Groover (2017b, p. 313). Os processos possuem diferenças quanto à velocidade de deposição de material, à precisão e à qualidade de acabamento fornecida. Sobre as limitações encontradas, para que a manufatura aditiva não seja largamente empregada na indústria, Groover (2017b) cita três: • Precisão das peças: por conta de erros matemáticos, do material e do processo. • Variedade limitada de materiais. • Desempenho mecânico das peças fabricadas. 59 Neste Tema, vimos os conceitos dos processos de fabricação para que possam ser comparados com as mais novas tecnologias presentes na indústria, tais como a manufatura aditiva. Para cada produto, deve ser realizado um estudo na fase de planejamento de seu desenvolvimento, objetivando a escolha das melhores técnicas, ferramentas e processos possíveis. Referências BAXTER, Mike. Projeto de produto – Guia prático para o design de novos produtos. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2011. GROOVER, Mikell P. Fundamentos da moderna manufatura: versão SI. Tradução de Givanildo Alves dos Santos. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017a. v. 1. GROOVER, Mikell P. Fundamentos da moderna manufatura: versão SI. Tradução de Givanildo Alves dos Santos. 5.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017b. v. 2. SLACK, Nigel; BRANDON-JONES, Alistair; JOHNSTON, Robert. Administração da Produção. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 60 BONS ESTUDOS! Sumário Integração dos sistemas CAD/CAM Objetivos 1. Manufatura e desenhos feitos com o auxílio do computador Referências Comando Numérico Computadorizado (CNC) Objetivos 1. Comando Numérico Computadorizado auxiliando no aumento da produtividade das empresas Referências Sistemas Flexíveis de Manufatura (FMS) Objetivos 1. Integrando equipamentos e componentes para flexibilizar a manufatura Referências Manufatura aditiva: impressão 3D Objetivos 1. Adicionar em vez de remover material Referências