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AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Renata Costa de Miranda Diagnósticos de nutrição Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reproduzir a definição e a proposta de trabalho dos diagnósticos de nutrição. Identificar os métodos de avaliação necessários para a determinação dos diagnósticos de nutrição. Descrever os componentes dos diagnósticos de nutrição. Introdução O diagnóstico nutricional é a segunda etapa da sistematização do cuidado em nutrição de indivíduos e coletividades. Ele é precedido pela avaliação nutricional, sucedido pela intervenção e o monitoramento nutricional. Para a definição do diagnóstico nutricional, que compete ao profissional nutricionista, a avaliação do estado nutricional deverá ser realizada por um conjunto de métodos. Estes recursos de avaliação nutricional englo- bam o histórico geral e alimentar do indivíduo, além dos exames físico, bioquímico e a antropometria. Neste capítulo, você irá estudar a definição e a proposta de trabalho dos diagnósticos em nutrição, bem como, distinguir os métodos de avaliação e os componentes desse processo. Definição de diagnóstico nutricional O diagnóstico nutricional se apresenta como o ato de identifi car uma doença ou condição nutricional, a partir de sinais e sintomas, investigando ou ana- lisando as causas ou, ainda, a natureza da condição, situação ou problema. Para a determinação de um diagnóstico nutricional, se tem a necessidade da existência predefi nida das potenciais causas para tais condições, bem como critérios (sinais e sintomas), a fi m de se possibilitar uma comparação (ACA- DEMY OF NUTRITION AND DIETETICS, 2017). O diagnóstico nutricional é um passo crítico, realizado ao final da avaliação nutricional de indivíduos e coletividades, é anterior à intervenção nutricional. Portanto, está presente na rede de cuidados em nutrição, em que constam, também, a triagem nutricional, caracterizada como a primeira etapa da siste- matização da assistência nutricional, além da intervenção nutricional, seguida pelo acompanhamento nutricional. Já, o risco nutricional é uma condição estabelecida pela triagem nutricional e, caso esteja presente, parte-se para a avaliação nutricional que, incorporando outras informações além dos dados de triagem nutricional, definirá o estado nutricional, finalmente, direcionando o planejamento dietoterápico e o seu monitoramento (FIDÉLIX, 2014; MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012). Os problemas de cunho alimentar e nutricional existentes no indivíduo ou população são estabelecidos, a partir de um diagnóstico nutricional. Os diagnósticos em nutrição se dão quando o problema se encontra instalado, assim como, em casos de risco ou potencial chance de desenvolvimento. O diagnóstico nutricional está presente em todos os níveis de assistência em nutrição, seja no atendimento ambulatorial ou no atendimento hospitalar. Por vezes, ele deverá ser realizado com maior frequência e, por outras, com menor regularidade. Esta frequência é aumentada com relação ao aumento do nível de complexidade, ou seja, quanto mais grave e vulnerável o paciente, menor o intervalo de tempo em que o diagnóstico nutricional deverá ser realizado. Os diagnósticos de nutrição devem ser diferenciados dos diagnósticos médicos, já que há incompreensão e confusão entre os dois tipos de diag- nóstico. Os diagnósticos médicos são aqueles realizados, exclusivamente, pelo profissional médico, que identifica determinada patologia ou alteração de funções fisiológicas do corpo humano, podendo ser prevenida ou tratada. No caso dos diagnósticos de nutrição, a condição apresentada pelo sujeito ou grupo está diretamente associada à sua situação alimentar e nutricional. Pode acontecer desta condição coexistir com uma patologia que possui, até mesmo, outro diagnóstico na área médica. Os diagnósticos nutricionais são de competência do profissional nutricionista e, de maneira geral, são passíveis de serem solucionados, a partir da intervenção dietoterápica. No diagnóstico médico, sua determinação permanece inalterada enquanto a doença se encontra presente. Já, o diagnóstico nutricional é mais dinâmico, pode variar conforme a evolução da situação alimentar e nutricional, ainda que haja a manutenção da doença de base (FIDÉLIX, 2014). Diagnósticos de nutrição2 Com relação à diferenciação entre os diagnósticos médico e nutricional, será citado como exemplo, um indivíduo que apresenta esclerose múltipla como diagnóstico médico e no diagnóstico nutricional possui desnutrição proveniente da ingestão inadequada de energia ocasionada, por sua vez, pela dificuldade de deglutição. Assim, como resposta ao tratamento dietoterápico adequado ao paciente diagnosticado com esclerose múltipla, ele teve o seu diagnóstico nutricional alterado para uma condição de normalidade (eutrofia). Ainda hoje, os diagnósticos na área da nutrição são, predominantemente, baseados em situações como a desnutrição e a obesidade. Estas são, contudo, formas simplórias e reducionistas de diagnosticar as condições de alimentação e nutrição de indivíduos e coletividades. Os diagnósticos nutricionais devem ser estabelecidos de forma mais completa, com foco não somente em aspectos relacionados à depleção ou ao aumento de reservas corporais, como também, em fatores mais específicos que se relacionem, por exemplo, à ingestão es- pecífica de nutrientes, além das condições clínicas e comportamentais dos sujeitos (ACADEMY OF NUTRITION AND DIETETICS, 2017). Padronização do diagnóstico nutricional Em 2006, foi lançado um modelo para a padronização mundial de diagnós- ticos nutricionais proposto pela Associação Americana de Dietética (ADA). A padronização fomenta uma melhoria em relação à comunicação entre os profi ssionais da saúde, à qualidade da assistência, à gestão, à documenta- ção dos atendimentos realizados, além de favorecer o andamento sequencial dos processos de cuidado em nutrição, como a intervenção nutricional e seu monitoramento. Diversos países adotaram a padronização para o diagnóstico nutricional. No caso do Brasil, desde 2014 que a Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) publicou a padronização e passou a aderir a tal medida, de seus materiais oficiais. A padronização divide o diagnóstico nutricional em três diferentes aspectos: ingestão, nutrição clínica e nutrição comportamental. O domínio ingestão refere-se ao consumo excessivo ou inadequado, real ou estimado, em relação às recomendações diárias e de acordo com as especificidades relativas ao sexo, à 3Diagnósticos de nutrição idade e ao grupo populacional. O domínio que se relaciona à nutrição clínica, diz respeito a condições médicas ou clínicas fora da normalidade. De acordo com o comportamento nutricional e o ambiente, se tem o conhecimento, as atitudes, as crenças, o ambiente físico, o acesso à alimentação e a segurança alimentar como características desse domínio. Em cada um deles, existem classes e subclasses que abordam características mais específicas relativas à situação alimentar e nutricional de indivíduos e populações. Os diagnósticos estão concentrados, em sua maioria, no domínio ingestão. Não há impedimento para que um determinado indivíduo possa apresentar mais de um diagnóstico, pode-se, inclusive, receber dois ou três diagnósticos diferentes, dependendo de sua gravidade. No entanto, é orientado um desen- corajamento de determinação superior a três diagnósticos concomitantes. Os diagnósticos devem levar em consideração, não apenas, à gravidade do caso, mas também, os recursos disponíveis para o seu tratamento. O diagnóstico padronizado contempla, ainda, uma situação em que o paciente não apresente diagnóstico definido, mesmo após a concretização da avaliação nutricional. Assim, os diagnósticos padronizados devem se basear em dados da ava- liação nutricional que sejam precisos e de confiança, sendo, também, dire- cionados ao paciente, relacionando as etiologiasaos problemas apresentados. Para cada diagnóstico estabelecido, existirá um código (sigla) associado ao domínio (Ingestão: IN; Nutrição Clínica: NC; Comportamento/Ambiente Nutricional: CN). As classes e subclasses, por sua vez, são representadas por algarismos arábicos, assim como ocorre com a Classificação Internacional de Doenças (CID), no caso do diagnóstico médico (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION, 2006; ACADEMY OF NUTRITION AND DIETETICS, 2017; FIDÉLIX, 2014). Agora, acompanhe na Figura 1 um formulário para diagnóstico padronizado: Diagnósticos de nutrição4 Figura 1. Padronização dos diagnósticos de nutrição. Fonte: Academy of Nutrition and Dietetics, adaptado por Fidélix (2014). 5Diagnósticos de nutrição Figura 1 (continuação). Padronização dos diagnósticos de nutrição. Fonte: Academy of Nutrition and Dietetics, adaptado por Fidélix (2014). Diagnósticos de nutrição6 Ainda, que haja esse modelo de padronização mundial, os diagnósticos em nutrição no país variam consideravelmente, principalmente, de acordo com o profissional nutricionista que o realiza. Logo, tais diagnósticos pecam na estandardização, dificultando o alcance dos benefícios que a proposta traria para a assistência nutricional. Um diagnóstico adequado exige um certo grau de experiência do profissional nutricionista com o modelo proposto, além do senso crítico em relação a todos os procedimentos realizados na avaliação nutricional. Pode-se observar, contudo, que há um desconhecimento ou falta de familiaridade com os códigos e as definições estabelecidas, limitando a utilização da padronização (ACADEMY OF NUTRITION AND DIETETICS, 2017; FIDÉLIX, 2014). Métodos de avaliação do estado de nutrição A realização da investigação do estado nutricional divide-se em dois métodos: clínico e epidemiológico. O método clínico diz respeito às estratégias de investigação, baseando-se em manifestações puramente biológicas e exclusiva- mente individuais. Um profi ssional nutricionista se utiliza do método clínico, principalmente, em ambientes como ambulatórios e hospitais. A aplicação dos conhecimentos adquiridos, a partir das ciências naturais, é prioridade neste método, dispensando qualquer identifi cação das causas e processos sociais que podem vir a ocasionar determinado problema nutricional. No que tange ao método epidemiológico de investigação, este se debruça nos conhecimentos das ciências sociais para estudar o estado nutricional de grupos populacionais e coletividades. Apesar de apresentar algumas carac- terísticas semelhantes ao método clínico, o método epidemiológico é mais amplo, já que procura explicar não somente as consequências das condições alimentares e nutricionais, mas, especialmente as relações causais estabe- lecidas por trás do problema. Neste contexto se encontra o nutricionista em saúde coletiva que, como pano de fundo para seu trabalho, faz do domicílio do paciente, o ambiente propício para a utilização do método. De posse de informações reais sobre o estilo de vida, moradia, condição socioeconômica e sanitária do paciente, família e vizinhança, o nutricionista possui maiores chances de realizar uma intervenção eficaz (VASCONCELOS, 2008). Independentemente, do método clínico ou epidemiológico de investigação, o diagnóstico nutricional envolve diferentes métodos de avaliação, passando pela análise de dados clínicos, antropométricos, dietéticos e, até, bioquímicos. A partir do momento que os instrumentos utilizados para a avaliação do estado 7Diagnósticos de nutrição nutricional evoluem, o estabelecimento do diagnóstico de nutrição se torna mais completo e certeiro. A análise isolada de cada parâmetro, como por exemplo, a interpretação de um exame laboratorial, de um inquérito alimentar e das avaliações clínica e antropométrica não reflete o diagnóstico nutricional global de um paciente ou grupo populacional. Este diagnóstico só ocorre de forma adequada e precisa, quando todos esses parâmetros estão associados (FIDÉLIX, 2014). Com base na avaliação dos indicadores nutricionais e nas causas do pro- blema nutricional, pode-se realizar um diagnóstico nutricional. Assim, os indicadores são as medidas relativas ao estado alimentar e nutricional dos indivíduos ou coletividades, que são postos em confronto com as medidas encontradas em uma população específica e saudável, os chamados padrões de normalidade ou valores de referência. Os métodos de avaliação necessários para a determinação do diagnóstico em nutrição são: história nutricional global; história alimentar; exame físico nutricional; antropometria e composição corporal; exames bioquímico nu- tricional e metabólico. Ainda, estes métodos podem ser classificados como diretos ou objetivos e indiretos ou subjetivos. O método direto ou objetivo considera a avaliação antropométrica ou da composição corporal e a avaliação laboratorial. Eles estão intimamente relacionados às manifestações biológicas do problema propriamente dito. O histórico nutricional, a avaliação dietética e o exame físico, por sua vez, podem ser considerados como métodos indi- retos ou subjetivos. O conjunto do histórico e do exame físico do paciente, também, pode ser chamado de avaliação clínica e se relaciona com os sinais e sintomas envolvidos no problema nutricional (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012; VASCONCELOS, 2008). A seguir, os métodos de avaliação do estado nutricional serão abordados considerando-se o diagnóstico nutricional: Antropometria e composição corporal As medidas antropométricas e de composição corporal visam a avaliar as dimensões e os compartimentos corporais, respectivamente, comparando-os com valores de referência a fi m de auxiliar na defi nição global do estado nu- tricional. Este método é capaz de refl etir a situação alimentar e nutricional de um sujeito a médio e longo prazo, a partir da depleção ou excesso de reservas ou, ainda, a partir do defi cit de desenvolvimento. A antropometria, método de cunho qualitativo, é majoritariamente aplicado em função de sua simplicidade e baixo custo, podendo ser utilizado tanto na prática clínica, como em estudos populacionais. Em muitas situações, a determinação do estado nutricional, Diagnósticos de nutrição8 com base em instrumentos antropométricos, pode ser sufi ciente, até mesmo, no contexto clínico individual, dispensando a necessidade de equipamentos caros e de difícil acesso. Isso ocorre, principalmente, em casos em que é notória a presença de problemas nutricionais bem defi nidos, como a desnutrição ou a obesidade. Em situações mais discretas, diante das possibilidades, se pode, contudo, fazer uso de técnicas de composição corporal mais sofi sticas. Tais técnicas, porém, são comumente exploradas em estudos científi cos, pois propiciam a ampliação do conhecimento sobre o assunto e o desenvolvimento de técnicas mais simples para uso na população como um todo (VITOLO, 2008; FIDÉLIX, 2014). Exame bioquímico Os exames laboratoriais ou bioquímicos, na área da nutrição, fazem parte de um método, ainda, mais objetivo e sensível da situação alimentar e nutricional de um indivíduo ou coletividades. Neste método, a análise de fl uidos corporais, como sangue, saliva e urina, revela as quantidades de certos nutrientes ou de seus metabólitos. Por vezes, este recurso é requerido com base na observação de sinais e sintomas envolvidos em inadequações nutricionais. Todavia, sabe-se que diversas alterações bioquímicas são manifestadas clinicamente apenas a longo prazo ou em situações avançadas. Assim, elas são mais recorrentes na prática clínica do que em estudos populacionais, devido ao elevado custo. Os exames de laboratório se configuram como imprescindíveis durante o tratamento de indivíduos internados, já que representam um feedback com relação à intervenção nutricional que está sendo realizada. A avaliação bioquímica global investiga os componentes viscerais (órgãos e estruturas) e somáticos (tecidos muscular e adiposo) do corpo humano.Ge- ralmente, a análise inicial, solicitada na investigação bioquímica, diz respeito à concentração proteica, ou seja, ao estado proteico do indivíduo por causa de sua associação à desnutrição. Além desse parâmetro é, também, analisado o perfil inflamatório, uma vez que sua associação à gravidade das patologias e ao consequente risco de desnutrição independe das reservas somáticas. Marcadores da resposta imunológica, ainda, estão relacionados à presença da desnutrição e podem ser analisados no método. Com relação às carências nutricionais, vitaminas, minerais e aos marcadores associados, eles podem ser avaliados laboratorialmente para compor o diagnós- tico nutricional. O perfil lipídico é um foco de análise bioquímica no âmbito do estado nutricional, pois pode indicar o risco de doenças cardiovasculares. 9Diagnósticos de nutrição É importante ressaltar que determinadas condições críticas de saúde, como alterações na hidratação, modificam os resultados da análise bioquímica dos pacientes, cabendo, portanto, uma interpretação atenta e ponderada em relação à extrapolação das análises para a situação alimentar e nutricional do paciente (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012; FIDÉLIX, 2014). História nutricional A história nutricional global de indivíduos e coletividades, também, conhecida como anamnese, se refere às informações demográfi cas, socioeconômicas e culturais, bem como às condições de saúde e nutrição, incluindo o momento presente e o passado. O conhecimento das condições de saúde e nutrição da família do sujeito em avaliação, se faz importante, basicamente pelos fatores genéticos associados. Qualquer informação que possa estar relacionada ao problema nutricional em investigação prcisa ser indagada com o intuito de aprofundar o entendi- mento de fatores que podem estar envolvidos diretamente ou indiretamente, no caso. Estas informações são reveladas na entrevista, à medida que o profissional as estimula, com base em questionamentos que, muitas vezes, são padronizados e constam nos prontuários de atendimento. Existem questionários específicos e validados envolvendo qualidade de vida, comportamento, atividade física, entre outros que, também, podem ser aplicados com o intuito de complementar a anamnese. As questões são respondidas pelo próprio indivíduo, pela família ou cuidadores envolvidos nas atividades diárias do paciente. A confiabilidade do método depende da veracidade e precisão com que as informações são fornecidas. O alcance de um bom resultado dependerá da qualidade na co- municação e interação obtida entre as duas partes participantes na entrevista. A partir da história nutricional são abordados diversos indicadores, também, chamados de condicionantes ou explicativos, já que auxiliam na compreensão das possíveis causas do problema nutricional. O método é capaz, ainda, de fornecer subsídio para o planejamento de medidas de intervenção passíveis de serem realizadas pelo indivíduo, possibilitando, assim, o sucesso no tratamento (FIDÉLIX, 2014; VASCONCELOS, 2008). História alimentar Este método busca compreender as características relativas ao consumo ali- mentar de indivíduos e de grupos populacionais a fi m de contextualizar o aspecto alimentar do diagnóstico do estado nutricional. Tem como objetivo Diagnósticos de nutrição10 avaliar, seja a quantidade ou a qualidade do que está sendo ingerido, a partir de diferentes técnicas e questionários. Com este método, é possível conhecer os hábitos relacionados à alimentação e ao preparo dos alimentos, assim como a prioridade dada as refeições e o ambiente em que são realizadas. A ingestão alimentar pode fazer referência ao presente, ao dia anterior e, também, a períodos mais longos, como semanas e meses. A questão temporal depende, normalmente, do inquérito escolhido para utilização, com base no que se deseja averiguar. Existem dois grupos de inquéritos alimentares: in- quéritos prospectivos e inquéritos retrospectivos. Os inquéritos prospectivos demonstram a ingestão de alimentos atual, já os inquéritos retrospectivos abordam uma ingestão de alimentos habitual, com base em um período do passado determinado pelo instrumento. Este método de avaliação do estado nutricional pode apresentar alguns erros, principalmente, no que tange à memória e honestidade do indivíduo entrevistado. Entre os instrumentos disponíveis e validados, não existe um que seja perfeito. O profissional deve estabelecer a ferramenta adequada à situação em questão, baseando-se nas características inatas a cada um deles e reconhecendo os possíveis erros externos que afetam uma estimativa precisa. Na prática clínica, a estimativa da ingestão alimentar deve contar com certas precauções com relação às técnicas de aplicação dos instrumentos avaliadores, mas os dados estimados podem ser prontamente utilizados com base em tabelas de composição dos alimentos ou em softwares que fazem uma compilação de várias tabelas e bancos de dados. Quando este método é utilizado em populações, as medidas estatísticas devem ser empregadas a fim de corrigir a estimativa pelas variações intra e interindividuais, geralmente, revelando, como resultado final, a adequação ou inadequação percentual daquele grupo. A partir desse método, de posse da estimativa da ingestão alimentar, se pode avaliar tanto o valor calórico consumido por dia, quanto a distribuição dos nutrientes e o quantitativo de micronutrientes presentes na dieta. Pos- teriormente, é possível comparar tais valores com as reais necessidades do indivíduo, quanto ao seu valor energético total (mensurado ou estimado) e aos macronutrientes e micronutrientes diários de acordo com o sexo, a idade e o grupo populacional, baseando-se em padrões de referência para pessoas saudáveis disponíveis na literatura (GIBSON, 1990; MAHAN; ESCOTT- -STUMP, 2012). 11Diagnósticos de nutrição Exame físico nutricional A partir do método do exame físico, certas defi ciências ou excessos nutricionais podem ser identifi cados em indivíduos ou coletividades. Neste exame, o pro- fi ssional nutricionista deve observar, ouvir, sentir e tocar o paciente em busca de quaisquer possíveis anormalidades. As técnicas de realização do exame físico nutricional compreendem a inspeção, palpação, percussão e auscultação. O examinador precisa ser qualifi cado para efetuar o exame, usando os seus sentidos para analisar o paciente dos pés à cabeça. A necessidade da avaliação e a sua extensão irão depender das queixas relativas ao problema nutricional, o que não impede, contudo, que o nutricionista faça uma observação geral do paciente durante o atendimento, mesmo que despretensiosamente. Veja a seguir, técnicas do exame físico nutricional que podem ser utilizadas: inspeção: observação geral que progride para uma observação mais focada, utilizando os sentidos da visão, do olfato e da audição; é a técnica mais utilizada; palpação: exame tátil para sentir as pulsações e vibrações; avaliação das estruturas corporais, incluindo, textura, tamanho, temperatura, sensibilidade e mobilidade; percussão: avaliação dos sons para determinar os limites dos órgãos do corpo, a forma e a posição; nem sempre utilizada em um exame físico com enfoque na nutrição; auscultação: uso apenas do ouvido ou de um estetoscópio para ouvir os sons do corpo (p. ex., sons do coração, pulmões, sons intestinais, vasos sanguíneos). O exame físico nutricional pode ser dividido em três grupos: exame de tecidos de rápida regeneração e dos sistemas corporais; exame das massas adiposa e muscular; exame do estado de hidratação corporal. Os sinais nem sempre estarão presentes durante a realização do exame físico ou podem, também, estar relacionados ás causas não nutricionais. Por esse motivo, é primordial que o diagnóstico nutricional seja baseado no conjunto dos métodos de avaliação do estado nutricional podendo, assim, levantar outros aspectos para auxiliar na confirmação ou descarte das evidências constatadasno exame físico. As alterações corporais relativas a deficiências em micronutrientes costu- mam ser mais sutis de serem percebidas e requerem, portanto, maior experiência por parte do profissional avaliador. O profissional deve estar exposto, sempre Diagnósticos de nutrição12 que possível, à realização de exames físicos para que, assim, adquira prática no assunto. O treinamento é um diferencial para o nutricionista, auxiliando- -o de forma muito positiva na tomada de decisões com relação à definição do estado nutricional individual ou de grupos (FIDÉLIX, 2014; MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012). Existem casos em que certas características físicas são resultado de tratamentos di- recionados a patologias de base e, portanto, não devem ser entendidos como um problema nutricional. A interpretação dos sinais observados durante o exame físico é, ainda, mais cautelosa, quando o paciente possui doenças importantes e que sejam responsáveis por alterar aspectos corporais, coincidindo com questões alimentares ou nutricionais. A queda de cabelo, por exemplo, é uma característica da desnutrição, porém, representa, da mesma forma, uma consequência do tratamento de quimiote- rapia. Sendo assim, o paciente pode não estar, necessariamente, desnutrido, mas sim, realizando tratamento para um câncer. A avaliação de todos os métodos descritos irá compor o diagnóstico nu- tricional em casos clínicos ou epidemiológicos, por vezes, de forma mais completa e por outras dependerá das condições oferecidas pelo serviço de saúde ou das características de uma população. Todavia, o profissional deve ser responsável por avaliar os prós e contras dos instrumentos e métodos empregados e personalizá-los, de acordo com o evento a ser avaliado. Cada um dos métodos de avaliação nutricional é composto por indicadores que, quando reunidos, são capazes de gerar um diagnóstico nutricional e promover o estabelecimento das intervenções dietoterápicas adequadas. Componentes do diagnóstico nutricional O diagnóstico nutricional é resumido a partir de uma sentença estruturada com base em três componentes distintos. Estes componentes formam a sigla PES que, do inglês, signifi cam: P: problem; E: etiology; S: signs and symptoms. Sendo assim, os diagnósticos de nutrição devem ser realizados a partir destas três informações: problema, etiologia e sinais e sintomas. 13Diagnósticos de nutrição O problema se refere à situação de cunho alimentar e nutricional capaz de ser resolvida ou melhorada pelo profissional nutricionista. O problema é como um rótulo do diagnóstico, responsável por descrever as alterações no estado nutricional de um indivíduo ou população. Este rótulo ou qualificador deve ser um adjetivo, como por exemplo: alterado, deficiente, aumentado, diminuído, risco de, agudo e crônico. O próximo componente representa a etiologia do problema, ou seja, o fator condicionante, a causa do problema. Estes fatores contribuem para a existência ou manutenção de problemas fisiopatológicos, psicossociais, situacionais, de desenvolvimento, culturais e/ou ambientais. Os problemas nutricionais são causados diretamente por uma ingestão inadequada, que pode ser considerada uma causa primaria. Como causa secundária, tem-se o resultado de outros fatores, como fatores médicos, genéticos ou ambientais. Os tipos de causa ou fator de risco dos problemas nutricionais são, principalmente, o acesso aos alimentos e o comportamento alimentar, além de questões relacionadas a atitudes e crenças, à cultura, ao conhecimento, aos tratamentos, entre outros. Mesmo que a causa do problema não consiga ser corrigida, a partir de uma intervenção, considera-se que tal tratamento seja capaz de, ao menos, reduzir os sinais e sintomas ocasionados pelo problema. Na sentença estruturada não basta constar apenas a descrição do problema, mas em sequência deve ser identificada, também, a sua causa. Sendo assim, apresenta-se a expressão relacionado/a a/ao, seguido da etiologia do problema, precedendo os seus sinais e sintomas. Os sinais e sintomas do problema são as características que o define, podendo ser objetivos ou subjetivos. Os sinais se referem aos dados objetivos e representam as mudanças passíveis de observação, do estado de saúde e nutrição do indivíduo ou coletividade, como a história nutricional e alimentar, além de exame físico, bioquímico e antropométrico. No que diz respeito aos sintomas, estes se referem aos dados subjetivos e representam as mudanças que o indivíduo ou a coletividade sente e expressa verbalmente aos profissionais nutricionistas. Os sinais e sintomas fornecem evidências de que o problema existe e de sua associação à alimentação e nutrição. Além disso, eles quanti- ficam o problema com base na demonstração de sua gravidade. Na estrutura da sentença, os sinais e sintomas estão ligados à etiologia, precedendo-os por meio da expressão como evidenciado/a por. Diagnósticos de nutrição14 Diagnóstico nutricional segundo a estrutura PES: consumo excessivo de gordura relacionado ao acesso limitado a opções saudáveis (consumo frequente de refeições com alto teor de gordura e fast-foods) evidenciada por nível sérico de colesterol de 230 mg/dL e relato de 10 refeições semanais compostas por hambúrguer e batata frita. Se no momento de realizar um diagnóstico nutricional, no formato PES, for observado que o determinado problema nutricional corresponde, até o momento, apenas a um risco potencial de ocorrer, deve-se utilizar, apenas, dois elementos da sigla PES na estrutura do diagnóstico. Os dois elementos devem ser o problema (P) e a etiologia (E), já que os sinais e sintomas (S) ainda não terão sido manifestados pelo paciente. O PES conforme proposto pela ADA gera padronização, facilitando a com- preensão e favorecendo diversos aspectos da assistência nutricional. Contudo, para que uma descrição de diagnóstico nutricional apresente qualidade, ela deve ser escrita de forma clara e concisa. A especificidade do diagnóstico, baseada no indivíduo ou grupo, é outra característica responsável por um diagnóstico bem escrito. Uma outra característica relevante é descrever cada diagnóstico fundamentando-se em um só problema e uma só etiologia. Por fim, é preciso ter a garantia de que ele foi formulado, com base em resultados obtidos, a partir métodos de avaliações confiáveis e precisos. Com a intenção de auxiliar os profissionais no compromisso de utilizar os diagnósticos nutricionais de forma consistente e correta, a ADA desenvol- veu dezenas de fichas para diferentes diagnósticos de nutrição. As 62 fichas apresentam quatro componentes distintos, sendo eles: o problema relativo ao diagnóstico nutricional, a definição do diagnóstico nutricional, a etiologia, além dos sinais e sintomas: 1. O problema relativo ao diagnóstico nutricional descreve alterações no estado nutricional dos indivíduos que apenas os profissionais de nutrição são responsáveis pelo tratamento. Lembrando que o diagnós- tico nutricional difere do diagnóstico médico e pode sofrer variação à medida que a resposta do indivíduo ao tratamento muda; 2. A definição do diagnóstico nutricional descreve brevemente o problema relativo ao diagnostico nutricional a fim de diferenciá-lo; 15Diagnósticos de nutrição 3. A etiologia, ou seja, a causa ou fator de risco, diz respeito aos aspectos que contribuem para a existência ou manutenção de problemas fisio- patológicos, psicossociais, situacionais, de desenvolvimento, culturais e/ou ambientais; 4. Os sinais e sintomas definem as características do problema e consis- tem em dados objetivos e subjetivos utilizados para determinar, se o indivíduo tem o diagnóstico nutricional especificado. Nas fichas de diagnóstico nutricional, os resultados da avaliação dos sinais e sintomas são baseados nas categorias de avaliação nutricional, isto é, a partir dos métodos e indicadores disponíveis para a determinação do estado nutricional de indivíduos e coletividades. O item examebioquímico engloba dados laboratoriais relacionados ao estado de nutrição, como por exemplo, marcadores de reserva somática, con- centração de vitaminas e minerais, perfil lipídico e inflamatório, entre outros. Assim, observe no Quadro 1 os indicadores do exame bioquímico: Indicadores Exemplos Concentrações proteicas viscerais (plasmáticas) Albumina, transferrina, transtirretina (pré-albumina), proteína carreadora do retinol, fibronectina, somatomedina C. Reservas proteicas somáticas (massa muscular) Creatina urinária, índice creatinina (urinária)- estatura, 3-metil-histidina urinária. Excreção urinária de ureia (indicador de presença e grau de catabolismo muscular), creatinofosfoquinase (indicador de dano em células musculares, principalmente cardíacas). Metabolismo proteico Balanço nitrogenado. Concentrações plasmáticas e intracelulares de aminoácidos Essenciais e não essenciais. Resposta inflamatória (proteínas plasmáticas de fase aguda positiva) PCR, alfa-1-glicoproteína ácida e ferritina. IPIN, IIN: relação albumina/PCR. Quadro 1. Indicadores do exame bioquímico (Continua) Diagnósticos de nutrição16 Quadro 1. Indicadores do exame bioquímico Indicadores Exemplos Resposta imunológica Leucócitos, principalmente linfócitos. Interleucinas plasmáticas. Testes cutâneos de hipersensibilidade tardia. Concentrações plasmáticas de lipídios Colesterol total, lipoproteínas de alta densidade (HDL), lipoproteínas de baixa densidade (LDL), lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL). Triglicerídeos, ácidos graxos essenciais (ômegas-6 e ômegas-3). Concentrações plasmáticas de vitaminas A, D, E, K, ácido ascórbico (C), tiamina (B1), riboflavina (B2), niacina (B3), piridoxina (B6), ácido pantotênico, biotina, folato, cianocobalamina (B12). Concentrações plasmáticas de minerais e oligoelementos Cálcio, fosfato, magnésio, enxofre, sódio, potássio, cloro (eletrólitos). Ferro, zinco, iodo, selênio, cobre, manganês, cromo, flúor e molibdênio (oligoelementos). Anemia Contagem de eritrócitos, hemoglobina, hematócrito (volume globular ou VC), volume corpuscular médio, hemoglobina corpuscular média e concentração da hemoglobina corpuscular média. Ferro, ferritina, capacidade total de ligação (ou fixação) de ferro (TIBC), transferrina, porcentagem de saturação da tranferrina, ácido metilmalônico, folato, B12. Função pancreática endócrina/controle do diabetes Glicemia, glicose urinária, hemoglobina glicada plasmática, frutosamina plasmática, corpos cetônicos plasmáticos ou urinários, teste de resistência à insulina (HOMA-IR). Função pancreática exócrina Lipase, amilase. Função renal Creatina e ureia plasmáticas. Clearance de creatinina e ureia. Proteinúria. (Continuação) (Continua) 17Diagnósticos de nutrição O item que diz respeito às medidas antropométricas pode incluir dados relativos à altura, ao peso, ao Índice de Massa Corporal (IMC), à mudança de peso, entre outros. Veja a seguir alguns indicadores da avaliação antropométrica e da composição corporal: Peso corporal e estatura; IMC: kg/m2; Dobras cutâneas: tríceps, bíceps, subescapular, soprailíaca, abdominal e peitoral, em homens; axilar média, coxa média e panturrilha média; Circuferências (braços, panturrilha, cintura, quadril, abdominal e coxa); Relação circunferência da cintura/estatura, relação circunferência da cintura/quadril; Diâmetro sagital abdominal; Espessura do músculo adutor do polegar; Força de preensão das mãos avaliada por dinamômetro; Quadro 1. Indicadores do exame bioquímico Indicadores Exemplos Estado de hidratação Densidade urinária, osmolalidade da urina, osmolalidade plasmática. Sódio, potássio e cloreto plasmáticos. Equilíbrio acidobásico Gás carbônico (CO2), pressão de gás carbônico (PCO2), bicarbonato (HCO3), pressão de oxigênio (PO2). Função tireoidiana Tri-iodotironina (T3), tiroxina (T4), hormônio tireoestimulante (TSH). Função hepática Bilirrubina total, direta e indireta. Transaminase glutâmica-pirúvica (TGP), transaminase glutâmica-oxaloacética (TGO), amônia plasmática, fosfatase alcalina plasmática. Coagulação sanguínea Tempo da protrombina (TP), tempo da tromboplastina (TTP), fibrinogênio. Fonte: Fidélix (2014). (Continuação) Diagnósticos de nutrição18 Porcentagem de gordura corporal e de massa muscular estimada por meio da antropometria (área de gordura do braço, circunferência mus- cular do braço e área muscular do braço); Porcentagem de gordura corporal, de massa magra e porcentagem/ kg de água corporal estimadas por meio de bioimpedância, DEXA, pletismografia por deslocamento de ar, TC, RM, US e outros; Ângulo de fase e análise de vetores (BIA). Com relação ao item exame físico nutricional, aspectos relacionados à saúde bucal, com as características dos cabelos, das unhas e da pele, além de aspectos de perda de gordura subcutânea, edemas e outros, podem ser incluídos. Agora, verifique no Quadro 2 os indicadores do exame físico nutricional: Visão geral da saúde (simetria, sensibilidade, coloração, textura, tamanho) Visão e audição Sistema respiratório, hematológico, cardiovascular, gastrintestinal, hepatobiliar, geniturinário, endócrino, neurológico e musculoesquelético. Sinais em tecidos de regeneração rápida Cabeça e pescoço Características dos cabelos (cor, pigmentação, textura, brilho, quantidade, distribuição); da face; dos olhos: cor e condições da conjuntiva, esclera e córnea (xeroftalmia, manchas de bitot, oftalmoplegia, fotofobia); do olhar; do nariz (passagens aéreas, formato, simetria, patência, condições das mucosas, existência de sonda); dos ouvidos (dor ou infecção); das glândulas parótidas; das mandíbulas (condição de oclusão, movimentos); da cavidade oral: simetria, cor, condições dos lábios e canto da boca (queilose, queilite angular, estomatite angular), língua (glossite, atrofia, erosão), palato, gengivas (esponjas, pálidas, sangrantes, mucosas secas), faringe e dentes (presença e condições dos dentes, uso e condições de próteses); do pescoço (aumento da tireoide/bócio; veias: reflexo da condição hídrica). Quadro 2. Indicadores do exame físico nutricional (Continua) 19Diagnósticos de nutrição Quadro 2. Indicadores do exame físico nutricional Pele Cor, textura, profundidade, umidade, integridade, temperatura, higiene e condições gerais (palidez, lesões, feridas, úlceras de pressão, dermatite e outras inflamações, cicatrização inadequada, turgor deficiente, descamação, hipopigmentação, eritema, equimoses, petéquias e áreas hemorrágicas ou hiperpigmentadas, hiperceratose folicular, xerose). Edema (pele brilhante, esticada, com palidez localizada, particularmente nos membros inferiores e sacro). Unhas Cor, formato, consistência, textura e vascularização (moles, finas, irregulares, pálidas, manchadas e facilmente dobráveis, com ondas transversas, coiloníquia). Nervos cranianos Força e simetria da boca e língua, fechamento dos dentes, mastigação, deglutição, reflexo de tosse e náusea. Sinais em massa magra e/ou gorda Obesidade, sobrepeso, magreza. Perda de peso grave. Alteração nas reservas musculares da face (têmporas e masseter), da região do deltoide (clavícula, ombros e escápula), das costas (intercostais), dorso das mãos (interósseos), pernas (quadríceps, joelho, panturrilha). Alteração de reservas gordurosas (bochechas, região suborbital, abdome). Tônus muscular (rigidez ou flacidez), franqueza, cãibras musculares, paralisia. Ataxia (não coordenação dos músculos voluntários). Presença de atrite e outras alterações nas articulações, além de deformidades. Sinais neurológicos Força e simetria dos movimentos corporais. Coordenação motora. Estado de consciência (alerta, letargia, coma, confusão metal, torpor). Dormência, formigamento dos membros inferiores, tremores, rigidez, parestesia, agitação, tetania, mania, reflexos hiperativos ou hipoativos. Convulsões. Irritabilidade. Sede, cefaleia,tontura. Capacidade funcional (mobilidade e força). Náuseas, vômitos. (Continuação) Diagnósticos de nutrição20 A história alimentar e nutricional consiste em aspectos, como o consumo de alimentos, a conscientização sobre nutrição e saúde, a disponibilidade de alimentos e atividade física. O consumo de alimentos pode incluir fatores relacionados à ingestão de alimentos e nutrientes, a padrões de refeição e lanche, a sugestões de ambientes apropriados para comer e a dietas atuais e/ ou modificação de alimentos. A esfera baseada na conscientização e gestão da nutrição e saúde pode englobar, por sua vez, o conhecimento e as crenças sobre recomendações nutricionais, além da influência de aconselhamentos nutricionais do passado. Sobre atividade física e exercício, é possível incluir os padrões de atividade, intensidade, frequência e duração dos exercícios físicos realizados e, até mesmo, a quantidade de tempo gasto assistindo TV, usando o smartphone ou o computador. Já, a disponibilidade de alimentos constitui-se de fatores, como o planejamento alimentar, as compras, as habilidades, as limitações no preparo de refeições, as práticas de segurança alimentar, utili- zação de programas de alimentação e nutrição, além da insegurança alimentar. Veja a seguir, os indicadores da história alimentar e nutricional (FIDÉLIX, 2014): Fonte: Fidélix (2014). Quadro 2. Indicadores do exame físico nutricional (Continuação) Sinais cardiopulmonares Dificuldades respiratórias (dispneia taquipneia), sons respiratórios. Sons cardíacos, arritmia, taquicardia, hipertensão, hipotensão. Sinais abdominais Aparência geral, pele, movimentos e contorno. Sons (ruídos) abdominais: hipoativos, ausentes ou hiperativos. Cólicas intestinais. Sinais nos ossos Raquitismo e má formação óssea. Sinais urinários Volume, cor, odor e turbidez da urina (sinais de desidratação). 21Diagnósticos de nutrição Locais de aquisição de alimentos (mercearia, supermercado, restauran- tes, cantinas, lanchonetes, lojas de conveniência, feiras livres); Local de realização de refeições; Pessoa responsável pela compra e preparo dos alimentos; Condições/existência de instalação para armazenamento, refrigeração e preparo de alimentos (geladeira, fogão); Hábitos e padrões alimentares atuais e passados (número, tamanho, conteúdo e qualidade das refeições); Formas de preparo (crus, cozidos, fritos, refogados, assados e outros); Uso de lanches (tipos, horários, idas da semana); Uso de dietas da moda (tipo, há quanto tempo); Preferências e não preferências alimentares; Preferências de intolerâncias, alergias e aversões alimentares; Influências étnicas, culturas ou religiosas na alimentação; Prescrição de dieta especial (atual e pregressa), como tipo de restrição/ dieta, quem prescreveu, razão, há quanto tempo, aderência do paciente; Ingestão insuficiente de energia e nutrientes (uso prolongado de dieta de líquidos, nutrição enteral/parenteral insuficiente, jejum); Restrições quanto à consistência dos alimentos (branda, pastosa, líquida); Ingestão hídrica (quantidade, tipos de bebidas); Uso de suplementos alimentares convencionais (vitaminas, minerais e/ ou outros) ou não convencionais; Dados da alimentação por sonda/parenteral (instituição ou domicilio), como volume/quantidade prescrita, volume de infusão, volume/quan- tidade recebida; Dados do conhecimento sobre alimentos e nutrição; Uso e abuso de substâncias (álcool, cafeína); Influência da educação nos hábitos alimentares. Atividade/capacidade física: Nível de atividade física diária (sedentário, moderadamente ativo, muito ativo); Limitado ao leito/casa ou instituição; Tipos de exercícios e capacidade de execução de atividades da vida diária; Ocupação (tipo/horas por semana) e programa de exercício físico (du- ração, intensidade, frequência, horários, tipo); Diagnósticos de nutrição22 Limitações físicas ou mentais para aquisição, preparo, mastigação ou deglutição dos alimentos e/ou atividade/capacidade física. Quanto ao histórico nutricional global, este envolve aspectos relacionados à história medicamentosa, às características socioeconômicos e demográficas, além da história médica e de saúde que considera, principalmente, a queixa nutricional propriamente dita, as doenças do presente e do passado, doenças na família, habilidades cognitivas e, também, saúde mental e emocional. Agora, confira no Quadro 3 os indicadores da história nutricional global: Indicador Descrição Clínicos/cirúrgicos (saúde atual/ enfermidades presentes e passadas) Queixa principal relacionada à nutrição (citação subjetiva do paciente sobre o problema de saúde, incluindo início e duração ou razões para a procura do cuidado). Dor ou desconforto. Padrão de sono (qualidade e horas por dia). Condições associadas a um diagnóstico (infecções e doenças crônicas ou agudas, febre, traumas, sepse, cirurgias, câncer, obesidade, síndrome metabólica, Parkinson, paralisias cerebrais, demência e outras doenças neurológicas) ou tratamento que possa alterar o gasto energético (diálise, quimioterapia, radioterapia, ventilação mecânica). Presença de doenças crônicas (diabetes, doença renal, hipertensão) ou agudas. Doenças gastrintestinais ou de má absorção (úlcera, hérnia de hiato, colite). Relatos de traumas ou cirurgias recentes (cirurgias: há quanto tempo, localização, complicações, ressecção ou reconstrução do trato gastrintestinal). Presença de feridas na pele ou outras abertas, fistulas/abscessos ou ostomias. Alergias alimentares. Mudanças recentes na condição funcional. Amputações de membros, transplante de órgãos ou tratamentos médicos. Quadro 3. Indicadores da história nutricional global (Continua) 23Diagnósticos de nutrição Indicador Descrição Familiares (genéticos) Doenças ambientais ou fatores predisponentes à condição atual. Desordens genéticas e familiares que podem afetar o estado nutricional (doença cardiovascular, Chron, diabetes, distúrbios gastrintestinais, osteoporose, câncer, anemia falciforme, alergias, intolerâncias alimentares, obesidades, demência). Apetite e peso Perda/aumento do apetite (quanto tempo, razão, anorexia, bulimia). Perda/ganho de peso recente, intencional ou não intencional (quantidade, tempo, razão provável na percepção do paciente). Peso usual. Saúde oral/ função sintomas gastrintestinais Ausência de dentes. Próteses mal fixadas. Dificuldades de mastigação, salivação e deglutição. Alimentos que não podem ser ingeridos, dor na cavidade oral quando ingere alimentos. Inflamação e feridas na cavidade oral e lábios. Frequência e consistência das evacuações. Qualidade, quantidade e cor das fezes. Náuseas, azia, refluxo, dor e/ou distensão abdominal, vômitos. Saciedade precoce. Diarreia, esteatorreia, flatulência, obstipação. Diminuição da ingestão alimentar Estado socioeconômico Condição de emprego (renda, frequência e duração). Mudanças. Renda de seguro social, ticket alimentação. Tipo de plano de saúde. Quantidade de dinheiro reservado para alimentação (por semana ou mês). Percepção do indivíduo com relação à adequação em encontrar as necessidades alimentares. Elegibilidade para os programas sociais de suplementação de alimentos. Tipo de moradia (casa, apartamento, cômodo ou outro). Quadro 3. Indicadores da história nutricional global (Continuação) (Continua) Diagnósticos de nutrição24 As fichas de diagnósticos de nutrição baseadas nos componentes da sigla PES, tendo os sinais e sintomas (S) organizados conforme os indicadores da avaliação nutricional, facilitam o entendimento do profissional em relação aos aspectos que devem ser avaliados para cada problema nutricional e proporcio- nam um diagnóstico mais abrangente e apurado. No entanto, é importante que no momento do fechamento de um diagnóstico nutricional, deve-se sempre Fonte: Fidélix (2014). Quadro 3. Indicadores da história nutricionalglobal (Continuação) Indicador Descrição Onde reside (residência de grupo, cuidado especializado, prisão, sem teto), com quem reside (sozinho, membros da família, cuidador, outros), localização da moradia (região urbana/rural), exposição a meio ambiente de risco. Membros da família e amigos, atividades sociais. Acesso ao cuidado médico (SUS, convênios de saúde). Tabagismo e uso ou abuso de álcool/drogas. Estresse pessoal/ condição psicológica e psiquiátrica Mecanismos de reação ao estresse, autoconceitos e apoio social. Depressão, ansiedade, psicose, estresse ou trauma recente não usual (família: dificuldades, morte de membro; emprego: perda ou dificuldades). Recusa ou falta de interesse pelos alimentos, história de distúrbios alimentares (bulimia, anorexia nervosa, pica). Ideias irracionais sobre os alimentos. Alimentação e peso corporal. Interesse dos pais quanto à alimentação da criança. Grau de interesse pelos alimentos. Medicamentos atuais prescritos ou não Tipo, dose, horário, tempo de início, razão para uso. Uso atual ou recente de esteroides, imunossupressores, quimioterápicos, anticonvulsivantes, contraceptivos orais e outros medicamentos com interações fármaco-nutrientes conhecidas. Uso de medicina alternativa ou complementar (ervas, medicamentos homeopáticos, suplementos de vitaminas, minerais, aminoácidos ou outros). Percepção do paciente quanto a efeitos colaterais dos medicamentos utilizados. 25Diagnósticos de nutrição questionar, se os dados da avaliação nutricional sustentam, de fato, a descrição do problema nutricional, a etiologia e os sinais e sintomas específicos. Assim, após a definição do diagnóstico nutricional, o nutricionista tem como função a determinação das condutas de intervenção cabíveis para os mais variados casos, visando à promoção da recuperação da saúde do indivíduo em situação alimentar e nutricional inadequadas. As fichas de diagnóstico nutricional propostas pela Associação Dietética Americana (ADA) e seus respectivos componentes podem ser acessadas a partir do link: https://goo.gl/FfTtm2 1. No que diz respeito à padronização do diagnóstico nutricional, proposto pela Associação Dietética Americana (ADA), em 2006, é correto afirmar: a) A descrição do diagnóstico deve ter como base o Índice de Massa Corporal (IMC). b) A descrição padronizada do diagnóstico dificulta o entendimento dos profissionais sem experiência. c) A descrição do diagnóstico deve conter informações como problema, etiologia, sinais e sintomas. d) A descrição do diagnóstico deve ser tão complexa quanto à gravidade do caso. e) A estrutura leva em consideração os componentes dos métodos clínico e epidemiológico. 2. Os diagnósticos de nutrição não podem ser confundidos com o diagnóstico médico. Com relação a essa sentença, marque a resposta correta: a) Os dois diagnósticos apresentam grande semelhança no que diz respeito às informações descritas. b) O diagnóstico médico é mais dinâmico do que o diagnóstico nutricional. c) O nutricionista deve realizar os dois diagnósticos de forma diferenciada. d) O diagnóstico nutricional é realizado com menos frequência do que o diagnóstico médico. Diagnósticos de nutrição26 e) O diagnóstico nutricional pode evoluir independentemente da evolução do diagnóstico médico. 3. Sobre os métodos de investigação do estado nutricional, que se fazem necessários para a realização do diagnóstico nutricional, eles são classificados como clínico e epidemiológico. Assim, é correto afirmar que: a) O método clínico tem como ambiente o domicílio do paciente. b) O método epidemiológico apresenta uma abordagem individualizada. c) O método epidemiológico se baseia no estudo das ciências naturais. d) O método clínico é mais amplo do que o método epidemiológico. e) O método epidemiológico aborda as questões causais do problema nutricional. 4. O diagnóstico nutricional deve ser realizado a partir de um conjunto de métodos de avaliação como: a história nutricional global; a história alimentar; o exame físico nutricional; a antropometria/ composição corporal; o exame bioquímico nutricional e metabólico. Sobre os indicadores relacionados a esses métodos afirma-se: a) Os exames laboratoriais de concentração de micronutrientes fazem parte do exame físico. b) As condições socioeconômicas estão incluídas no histórico nutricional global. c) As medidas das dobras cutâneas fazem parte do exame físico. d) Os inquéritos alimentares fazem parte do histórico nutricional global. e) O aspecto da boca, pele e unhas podem ser considerados parte do exame bioquímico. 5. Os métodos de avaliação, utilizados na determinação do diagnóstico nutricional, podem ser diretos ou objetivos e indiretos ou subjetivos. Indique, entre os métodos descritos abaixo, aquele indireto ou subjetivo: a) Exame bioquímico. b) Exame clínico. c) História alimentar. d) Antropometria. e) Composição corporal. 27Diagnósticos de nutrição ACADEMY OF NUTRITION AND DIETETICS. Nutrition Terminology Reference Manual (eNCPT): dietetics language for nutrition care. Chicago: NCPT, 2017. AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION. Nutrition diagnosis: a critical step in the nutrition care process. Chicago: Academy of Nutrition & Dietetics, 2006. FIDÉLIX, M. S. P. (Org.). Manual orientativo: sistematização do cuidado de nutrição. São Paulo: Asbran, 2014. Disponível em: <http://www.asbran.org.br/arquivos/PRONUTRI- -SICNUT-VD.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2018. GIBSON, R. S. Principles of nutritional assessment. Oxford: Oxford University Press, 1990. MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. VASCONCELOS, F. A. G. Avaliação nutricional de coletividades. 3. ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008. VITOLO, M. R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Rubio, 2008. Leituras recomendadas LACEY, K.; PRITCHETT, E. Nutrition care process and model: ADA adopts road map to quality care and outcomes management. Journal of the American Dietetic Association, v. 103, n. 8, p. 1061-1072, 2003. MARTINS, C. Diagnósticos em nutrição: fundamentos e implementação da padronização internacional. Porto Alegre: Artmed, 2016. SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL; ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA. Triagem e avaliação do estado nutricional: projeto diretrizes. 2011. Disponível em: <https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/triagem_e_avaliacao_do_es- tado_nutricional.pdf >. Acesso em: 8 dez. 2018. Diagnósticos de nutrição28 Conteúdo: