Prévia do material em texto
Introdução Olá, caro(a) aluno(a) Neste material de Microeconomia, você estudará os principais aspectos da Teoria do Consumidor. Antes, porém, terá uma breve introdução que fala sobre as justificativas para o estudo da Microeconomia, e por que esse conteúdo é tão importante em sua formação acadêmica. O material divide-se em duas seções: a primeira destina-se a apresentar os principais fundamentos do estudo da Microeconomia em termos gerais; na segunda seção, são apresentadas as variáveis que formam o arcabouço da Teoria do Consumidor. Objetivos de Aprendizagem Compreender a Teoria do Consumidor. Apresentar os fundamentos da Microeconomia. Entender os aspectos da Teoria do Consumidor. Teoria do Consumidor Marcela Ribeiro de Albuquerque Autor Por que estudar Microeconomia? A Microeconomia é uma área de estudo da Economia. Basicamente, a Economia divide o estudo em duas grandes áreas, que constituem o núcleo duro dessa ciência, são elas: a Microeconomia e a Macroeconomia. É preciso compreender como se dá a produção dos bens e serviços, a formação dos preços, o planejamento da produção, o comportamento do consumidor e as relações no ambiente das empresas, porque são, entre outras "n" questões, objetos de estudo da Microeconomia. Em outras palavras, o estudo dessa disciplina é essencial para encontrarmos respostas a inúmeras questões com as quais diariamente nos deparamos em nosso cotidiano, tais como a escolha por consumir determinado tipo de bem, o planejamento da produção e das políticas governamentais relacionadas ao sistema produtivo, o processo de tomada de decisão na empresa etc. Em síntese, essa matéria é determinante para compreendermos como a economia moderna funciona. O objetivo central é estudar a disciplina para entender a crença de que se faz necessário mostrar de que maneira a Microeconomia pode nos ajudar a entender o que acontece no mundo e como pode ser utilizada como ferramenta no processo de tomada de decisão no âmbito do sistema produtivo. Para tanto, é extremamente importante que você perceba a utilidade e a relevância dessa área de estudo, especialmente porque há diversos instrumentos que vão viabilizar o entendimento na prática, fora deste livro e da universidade. Atenção! Microeconomia x Macroeconomia Microeconomia: ramo da economia que trata do comportamento das unidades econômicas individuais - consumidores, empresas, trabalhadores e investidores -, assim como dos mercados formados por essas unidades. Macroeconomia: ramo da economia que trata das variáveis econômicas agregadas, como taxa de crescimento e nível do produto nacional, taxa de juros, nível de desemprego e inflação. Highlight Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 4). Fundamentos da Microeconomia Prezado(a) aluno(a): este tópico destina-se a apresentar os principais fundamentos do estudo da Microeconomia. É muito importante tê-los em mente antes de efetivamente nos direcionarmos à Teoria do Consumidor, bem como aos demais conteúdos ao longo de nossa disciplina. Empresas x Tomada de decisão: trade-off O trade-off consiste em uma situação na qual o indivíduo tem que realizar uma escolha, tomar uma decisão e, necessariamente, a opção escolhida se dá em detrimento de outra alternativa, escolha, ou seja, ao incorrer em um trade-off, sempre deixamos de lado outra possível decisão. É simples a compreensão desse conceito, pois nos deparamos diariamente com diversos trade-offs em nossas vidas. A exemplo, a situação na qual você tem que escolher se vai estudar Microeconomia após sua jornada de trabalho ou se vai assistir a um filme. Note que, independentemente de sua escolha, outra está sendo deixada de lado, o que, necessariamente, acarretará um custo que, na economia, chamamos de custo de oportunidade. Os indivíduos incorrem em custo de oportunidade quando abrem mão da melhor oportunidade no momento em que realizam uma escolha. No exemplo que foi dado, consideremos que você optou por estudar Microeconomia durante duas horas à noite. Neste caso, qual seria o seu custo de oportunidade dessas duas horas de estudo? Saiba que o custo de oportunidade varia entre os indivíduos, mas sempre será o que a pessoa der mais valor em relação a esse tempo. No exemplo trabalhado, o custo de oportunidade é deixar de assistir a um filme com duração de duas horas. No entanto, para outra pessoa, pode ser que o custo de oportunidade seja abrir mão de uma atividade física ou não ir a um churrasco pelo mesmo período de tempo. Atenção! Custo de oportunidade é mensurável? Quando, efetivamente, há o desembolso de dinheiro (recursos monetários) em uma dada situação, podemos afirmar que esse custo é mensurável, já que o quantificamos e sabemos quanto gastamos. No entanto, quando incorremos em um custo de oportunidade, não é possível mensurar a magnitude dessa despesa, pois não houve o efetivo desembolso de dinheiro. É exatamente dessa relação que se deriva a diferença entre um custo de ordem contábil e um custo de ordem econômica, ou seja, custos contábeis sempre contemplam as despesas que efetivamente demandaram o desembolso de dinheiro. Já os custos econômicos, neste caso, o custo de oportunidade, não demanda o efetivo desembolso de dinheiro. Fonte: elaborado pela autora. O que é uma teoria? E um modelo? A economia, assim como as demais ciências, preocupa-se em explicar diversos fenômenos que ocorrem, e o faz, naturalmente, por meio das teorias. Ou seja, para explicar e ou prever qualquer fenômeno observado em termos de um conjunto de premissas e regras básicas, utilizamos as teorias. Por exemplo, temos a teoria da empresa (teoria da firma ou produção), que apresenta uma premissa básica: as empresas sempre buscam maximizar seus lucros. Vamos estudar a teoria da empresa, ou da firma (produção) na Unidade 2 de nosso livro. Mas já é possível adiantar que a teoria utiliza a suposição de que as empresas procuram sempre maximizar os lucros com o intuito de explicar como as empresas/firmas determinam a quantidade de capital, mão de obra e matérias- primas que empregam no processo produtivo, assim como o volume produzido. As teorias econômicas constituem também a base para a elaboração de previsões. Assim, a teoria da empresa nos diz se o nível de produção de uma empresa aumentará ou diminuirá em resposta a um aumento nos níveis salariais ou a um decréscimo no preço das matérias-primas. Com a aplicação de técnicas estatísticas e econométricas, as teorias podem ser utilizadas para construir modelos a partir dos quais possam ser feitas previsões. Um modelo é uma representação matemática de uma empresa, um mercado ou alguma entidade, com base na teoria econômica (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 5). Em outras palavras, entende-se que um modelo nada mais é do que uma forma mais simplificada de explicar uma determinada parte da realidade. Em Microeconomia, é muito comum a utilização de modelos, a fim de esclarecer os fenômenos que ocorrem no âmbito dos mercados. Assim, os modelos são instrumentos bastante utilizados no conjunto da Economia. É simples compreender que, independentemente da área de estudo, ciência nenhuma será absolutamente correta, sem qualquer falha. As teorias sempre sofrem testes por meio da observação, que se faz necessária na medida em que a validade e a utilidade das teorias dependem da eficácia em explicar e prever o conjunto de fenômenos, objeto de estudo. Constantemente, as teorias se renovam, pois são modificadas ou aprimoradas e, às vezes, dependendo dos resultados das observações, podem até mesmo ser extintas. Para todas as áreas de estudo, o processo de teste e aprimoramento de teorias é fundamental para o desenvolvimento da ciência, e isso se estende à Economia. Na avaliação de uma teoria, é importante ter em mente que ela é invariavelmente imperfeita. Isso ocorre em todos os campos da ciência. Por exemplo, em física, a lei de Boyle, que relaciona volume, temperatura e pressão de um gás, baseia-se na suposição de que moléculas individuais de um gás se comportam como se fossem pequenas bolas debilhar elásticas. Os físicos atualmente sabem que as moléculas de gás na realidade nem sempre se comportam como bolas de bilhar, motivo pelo qual a lei de Boyle não é válida em condições extremas de pressão e temperatura. No entanto, sob a maioria das condições prevê muito bem como a temperatura de um gás vai se modificar quando a pressão e o volume mudarem, sendo, portanto, uma ferramenta essencial para engenheiros e cientistas (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 6). A citação evidenciou um exemplo na Física, mas em Economia não é diferente, pois também temos exemplos das imperfeições das teorias econômicas. A respeito da teoria da firma, que estamos discutindo de forma breve, temos que explicar parcialmente alguns aspectos do comportamento das empresas, como o melhor momento em que se escolhe onde aplicar os investimentos, já que a empresa não maximiza seus lucros o tempo todo em que está operante. Em que pese o fato dessa "fragilidade", a teoria, de fato, elucida diversos fenômenos relacionados ao comportamento, ao crescimento e à evolução de empresas e setores, o que contribui para ser um importante instrumental no processo de planejamento e gestão da produção. Preços Em diversos momentos, gostaríamos de comparar o preço de um determinado produto com seu preço no passado ou até mesmo com o provável preço no futuro. Para realizar tais comparações, é necessário medir os valores em relação ao nível geral de preços. Por exemplo, em termos absolutos, o preço de um quilo de picanha é mais alto do que o preço de 20 anos atrás. Entretanto, em relação ao nível geral de preços, hoje, na realidade, é mais baixo. Aqui você já conseguiu compreender que é necessário sempre utilizar um determinado índice inflacionário para que seja possível realizar essa comparação do nível de preços e, ao fazermos isso, estamos corrigindo a inflação e medindo os preços em termos reais e não em termos nominais. Atenção! Preço nominal x preço real Preço nominal: também pode ser chamado de preço em moeda corrente. É apenas seu preço absoluto. Por exemplo: o preço nominal de uma lata de 350 ml de cerveja, no Brasil, em 2000, era cerca de R$ 0,57. Preço real: também pode ser chamado de preço em moeda constante, o preço relativo a uma medida agregada dos preços, que foi ajustado, corrigido pela inflação do período. Fonte: Adaptado de Pindyck e Rubinfeld (2006). Saiba mais! Índice de preços No estudo da Teoria do Consumidor, sempre nos deparamos com o desafio de compreender como os preços se originam e depois se comportam nos mais diversos mercados. Para nos auxiliar nesse desafio, dispomos do instrumental de Índice de Preços, o que, na prática, norteia e direciona as principais decisões tanto de cunho empresarial, por parte dos gestores, quanto, em "primeira instância" as decisões dos policy makers, no âmbito governamental. A exemplo, o índice de preços utilizado no Regime de Metas Inflacionárias, em vigor no Brasil, é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para saber mais a respeito do IPCA, acesse o link do IBGE em Clique Aqui Fonte: IBGE (on-line). Oferta e demanda Certamente, você já se deparou com alguma situação, por exemplo, em que o preço de um ingresso para um show de rock aumentava à medida que a data do evento se aproximava e maior era o número do público. Nesse momento, pode ter vindo a sua mente a seguinte máxima: "É a lei da oferta e da demanda!", pois o preço do ingresso subiu porque a demanda por ele cresceu e, paralelamente, a Highlight Highlight Highlight quantidade de ingressos diminuiu. Este é um exemplo típico de como o modelo da oferta e da demanda pode explicar uma parte da realidade do mercado de entretenimento. Nesse contexto, a Microeconomia utiliza, entre outros exemplos, o modelo básico da oferta e da demanda - na verdade, o instrumento-chave nessa área de estudo da Economia. Esse modelo contribui para a compreensão do motivo e de como acontecem as mudanças de preços em um determinado mercado, bem como outros acontecimentos. Aqui, tem-se a combinação de dois conceitos essenciais à Microeconomia: a curva da oferta e a curva da demanda. Vejamos a seguir o que cada uma dessas curvas representa. A Figura 1 ilustra o formato da curva de oferta. O gráfico tem representado em seu eixo x (horizontal) a quantidade ofertada, Q, de um determinado bem, e no eixo y (vertical) o preço do bem, P, medido em unidades monetárias. P é o preço que os vendedores recebem por determinada quantidade ofertada. Assim, a curva de oferta expressa a relação entre quantidade ofertada e preço, e pode ser escrita por meio da equação: Qs = Qs (P) A curva da oferta apresenta um formato positivo, ascendente, que significa coeteris paribus, quanto maior for o preço, maior será a capacidade, desejo e estímulo para as empresas atuantes nesse mercado produzirem e venderem os bens. A hipótese coeteris paribus quer dizer "mantendo todo o resto constante". Consiste em uma condição muito utilizada na Economia para explicar diferentes modelos ou teorias, considerando como constantes e inalterados outros fatores que possam influenciar o comportamento de determinada variável. A Figura 2 ilustra o formato da curva de demanda. O gráfico tem representado em seu eixo x (horizontal) a quantidade demandada, Q, de um determinado bem, e no eixo y (vertical) o preço do bem, P, medido em unidades monetárias. P é o preço que os consumidores estão dispostos a pagar por determinada quantidade demandada. Assim, a curva de demanda expressa a relação entre quantidade demandada e preço, escrita por meio da equação: Qd = Qd (P) A curva da demanda apresenta um formato negativo, decrescente, o que significa coeteris paribus: quanto maior for o preço do bem, menor será a demanda, estímulo à aquisição de bens por parte dos consumidores nesse mercado. FIGURA 1 Curva da oferta FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 18). As Figuras 1 e 2 ilustram também o deslocamento das respectivas curvas em função exclusivamente da alteração no nível do preço, seja de oferta de um bem ou para demandar um bem. Seja para a curva de oferta ou para a curva da demanda, é importante considerar que existe "n", ou ainda, uma diversidade de variáveis que influenciam o comportamento dessas curvas e podem fazer com que elas se desloquem. No entanto, sabemos que é inviável construir um gráfico com diversos eixos para cada uma dessas variáveis, que podem influenciar a quantidade ofertada e ou demandada de um bem. Por isso é que utilizamos um modelo que, pela própria definição de modelo visto na seção 1.1.2, apresenta limitações e contempla somente a influência do preço. O que é um mercado? O termo mercado consiste no conjunto de compradores e vendedores que interage, mantém relações de troca, ou seja, de compra e venda de bens e ou serviços. O estudo da Microeconomia envolve diversas classificações de mercados, mas basicamente, há dois tipos: os mercados competitivos, nos quais nenhum comprador ou vendedor tem individualmente influência no preço; e os mercados não competitivos, cujas entidades individuais podem afetar o preço que vigora no mercado. Na terceira unidade, estudaremos os tipos de estruturas de mercado, ou, ainda, as formas como os diversos mercados se organizam em uma economia. FIGURA 2 Curva da demanda FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 19). Elasticidade Verificamos anteriormente que diversas variáveis podem influenciar o comportamento da oferta e da demanda de um determinado bem e, na Microeconomia, trabalhamos, essencialmente, com a influência do preço do bem. Nesse sentido, um importante conceito da Economia nos ajuda a compreender o quão sensível é a demanda e a oferta de um bem frente a variações em preços ou qualquer outra variável independente (ou parâmetro) dessas funções. Esse conceito é o de elasticidade, bastante utilizado pelos economistas, principalmente pela importância analítica em diversas questões econômicas. Vejamos um exemplo da utilizaçãodo conceito de elasticidade: se o preço do leite aumentar, a quantidade demandada diminuirá e a quantidade ofertada aumentará, coeteris paribus. No entanto, desejamos saber quanto vai aumentar ou reduzir a oferta ou a demanda. Surgem as seguintes dúvidas: até que ponto a demanda por leite será afetada? Se o preço do leite aumentar em 20%, qual deverá ser a variação da demanda? Qual seria a variação da demanda se o nível de renda aumentasse em 10%? São essas questões nas quais utilizamos o conceito de elasticidade para encontrar as respostas. A elasticidade mede a variação percentual que ocorrerá em uma variável frente a um aumento de um ponto percentual em outra variável. Assim, a elasticidade preço da demanda mede a sensibilidade da demanda de um bem frente a variações e alterações no seu preço, ou seja, nos informa qual a variação percentual na quantidade demandada de um bem após o aumento de 1% no preço desse bem. A elasticidade preço da demanda, denotada por Ed, é a relação entre a variação proporcional (ou percentual) na quantidade demandada e a variação proporcional no seu preço. Especificando-se a função de demanda de um bem X por xd = D(p,M,P,...), representada pela seguinte equação: 𝐸𝑑 = % ∆𝑂 % ∆𝑃 A elasticidade preço da demanda ou elasticidade da demanda é, via de regra, negativa, o que significa que a quantidade demandada e o preço movem-se inversamente, em direções opostas. Por exemplo: se o preço do bem x aumentasse 20% e a quantidade demandada caísse apenas 10%, então a elasticidade de demanda seria igual a Ed = - 0,5. Por outro lado, se a redução na quantidade demandada fosse de 30%, então a elasticidade da demanda seria igual a Ed = - 1,5. A Figura 3 ilustra uma curva de demanda infinitamente elástica, que é a situação em um dado mercado, em que os consumidores vão adquirir a quantidade que puderem de determinado bem a um preço correspondente, sendo que qualquer preço maior do que esse, a demanda vai se anular (se tornar zero) e, a qualquer preço mais baixo, a demanda aumentará ilimitadamente, daí esse formato horizontal da curva de demanda. Já a Figura 4 ilustra uma curva de demanda completamente inelástica, que é a situação em um dado mercado, em que os consumidores vão adquirir a quantidade que puderem de determinado bem, independentemente do preço que vigora nesse mercado, daí o formato vertical da curva de demanda. FIGURA 3 Demanda infinitamente elástica FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 29). Atenção! Outros tipos de elasticidade Elasticidade de renda da demanda: porcentagem de variação na quantidade demandada de um bem que resulta de um aumento de 1% na renda do consumidor. Elasticidade cruzada da demanda: porcentagem de variação na quantidade demandada de um bem que resulta em 1% de aumento no preço de outro. Elasticidade de preço da oferta: porcentagem de variação na quantidade ofertada de um bem que resulta de 1% de aumento em seu preço. Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 30). FIGURA 4 Demanda infinitamente elástica FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 29). Comportamento do consumidor Até este momento, apresentamos os principais fundamentos para o estudo da Microeconomia e introdutórios à Teoria do Consumidor, da firma e dos mercados. Agora, entenderemos os principais aspectos que norteiam a Teoria do Consumidor, que se constitui por ser uma contribuição essencial à Teoria Econômica. Antes disso, é importante você ter em mente um princípio fundamental da Teoria do Consumidor, o da racionalidade, que considera que todo consumidor tem um comportamento otimizador, ou seja, ele sempre busca adquirir o máximo de um conjunto de bens realizando o mínimo de esforço. Atenção! Postulados da Teoria do Consumidor 1. Maximização da utilidade: o consumidor escolhe a aquisição de cada mercadoria, de modo a maximizar sua satisfação (ou utilidade) e condicionado ao conjunto de possibilidades de consumo, limitado pela capacidade orçamentária. 2. Minimização do gasto ou custo: o consumidor escolhe a quantidade de mercadoria a ser consumida, de modo a minimizar o seu gasto, limitado a atingir um certo nível de utilidade. Fonte: Fernandez (2009, p. 68). Preferências do consumidor A Teoria do Consumidor destina-se a explicar como os consumidores alocam sua renda para adquirir os bens e serviços. Para iniciar nosso estudo, vejamos a primeira etapa do processo que se refere às preferências do consumidor. Em primeiro lugar, precisamos compreender por que as pessoas podem preferir um produto a outro. Tenha em mente que todos os elementos que estudaremos nesta seção, bem como nas demais ao longo da disciplina, são modelos econômicos que integram a Teoria Microeconômica, portanto, possuem limitações (já que é impossível contemplar em uma teoria toda a complexidade da realidade dos diversos mercados). Tenho o cuidado em avisar sobre essa questão, pois é normal tentarmos pegar esses elementos e "colocar em prática", imaginando que tudo corresponderá à realidade de nossos cotidianos. No momento em que nos deparamos com as nossas necessidades, demandas, é absolutamente normal termos uma infinidade de opções de bens e serviços. É exatamente aí que reside a questão de como é o comportamento do consumidor de acordo com a Teoria Microeconômica, bem como se dá o processo de decisão. Considerando essa diversidade, como um consumidor pode comparar diferentes conjuntos de bens ofertados para a compra? Como é a questão da preferência por um determinado conjunto de bens? Aqui insere-se o conceito de cesta de mercado, que consiste em uma lista com quantidades específicas de um ou mais bens. A exemplo, uma cesta de mercado pode conter diversos itens de vestuário, ou de alimentos, remédios etc. Atenção! Premissas básicas sobre preferências Integralidade: as preferências são completas, ou seja, os consumidores podem comparar e ordenar todas as cestas de mercado. Transitividade: as preferências são transitivas, o que significa que, se um consumidor preferir a cesta de mercado A a B e prefere B a C, então ele também prefere A a C. Por exemplo: quando se prefere uma TV Sony a uma Phillips e uma Phillips a uma Panasonic, então também se prefere Sony à Panasonic. Mais é melhor do que menos: os consumidores sempre preferem quantidades maiores de cada mercadoria. Tal premissa ou princípio também chamamos de monotonicidade. Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2006, p.57-58). A expressão gráfica das preferências de um consumidor se dá por meio das curvas de indiferença, que representa todas as combinações de cestas de mercado que fornecem o mesmo nível de satisfação a um consumidor. A Figura 5 ilustra uma curva de indiferença U1 de um consumidor, em que as cestas de mercado B e D são evidenciadas e, por estarem situadas na mesma curva de indiferença, ofertam o mesmo nível de satisfação da cesta A. Nota-se que se dá a preferência pela cesta E, acima de U1, à cesta A. No entanto, o consumidor prefere A em relação a H ou G, que está abaixo de U1. Note que a cesta de mercado E tem mais unidades de alimento e vestuário do que a cesta de mercado A - então, deverá ser preferível a A e não poderá estar sobre a mesma curva de indiferença em que se encontra a cesta A. Portanto, qualquer cesta de mercado que esteja acima e à direita da curva de indiferença U1 é preferível a qualquer cesta que se encontre sobre U1. Temos também a Figura 6, que nos mostra um mapa de curvas de indiferença, que consiste em um conjunto de curvas de indiferença, em que, neste caso, a curva de indiferença U3 oferece o mais alto grau de satisfação. Em seguida, as curvas de indiferença U2 e U1. FIGURA 5 Curva de indiferença FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 60). Atenção! Curvas de indiferença não podem se interceptar Se as curvas de indiferença se interceptassem (cruzassem), uma das premissas da Teoria do Consumidor seria violada. Qual seria a premissa a ser violada? Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 61). Restrição orçamentária Em seu cotidiano, ao demandar qualquer tipo de bem ou serviço, é convencionalvocê observar o nível de renda para verificar as condições em adquirir determinado bem. Na Microeconomia, denominamos de restrição orçamentária essa limitação que os consumidores enfrentam. FIGURA 6 Mapa de indiferença FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 60). Consideremos ainda o exemplo da cesta de mercado que inclui unidades de alimentos e vestuário. Conforme ilustra a Figura 7, temos uma linha do orçamento, que consiste em todas as combinações de bens para as quais o total de dinheiro gasto é igual à renda. A linha do orçamento AG, expressa na Figura 7, passa pelos pontos B, D e E e mostra um orçamento associado a uma renda de R$ 80, um preço unitário de alimento = R$ 1 e um preço unitário de vestuário = R$ 2. A inclinação da linha do orçamento, medida entre os pontos B e D, é - 10 20 = - 1 2 . O grau de inclinação nos mostra a proporção pela qual as duas mercadorias podem ser trocadas, sem que a quantidade total de dinheiro gasto seja alterada. Utilidade Na introdução desta segunda seção, você viu no quadro "Fique por dentro" os dois principais postulados da Teoria do Consumidor, sendo o postulado da maximização da utilidade nosso objeto de estudo neste tópico. Nós utilizamos o conceito de utilidade para compreender o comportamento do consumidor, ou ainda tudo o que consome, desde um alimento até um automóvel. A função de utilidade, que é uma fórmula que atribui um nível de utilidade a cada cesta de mercado, necessariamente varia de indivíduo para indivíduo, pois o que você gosta e consome não necessariamente é igual ao que eu consumo. FIGURA 7 Linha do orçamento FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 69). Mas será que é possível medir a utilidade? Antes de verificarmos essa questão, é necessário ter em mente que, para maximizar a utilidade total, o consumidor precisa direcionar o foco na utilidade marginal, que é a satisfação adicional obtida do consumo de uma unidade a mais de determinado bem. A utilidade marginal é sempre decrescente, pois, à medida que aumentamos o consumo de determinada mercadoria, quantidades adicionais do produto terão menor utilidade. Um exemplo para que você compreenda o conceito de utilidade marginal, sempre decrescente, é lembrar quando você está com muita fome e vai a um restaurante de refeição por quilo. Você serve seu primeiro prato e, eventualmente, há meio quilo de comida nele. Quanto você se sentiu satisfeito com esse primeiro prato? Com certeza algo muito próximo a 100% de satisfação. Mas você continua com fome e, no entanto, o segundo prato nunca terá o mesmo grau de satisfação que o primeiro lhe proporcionou, pois a fome já foi, em parte, saciada. Assim ocorrerá, consecutivamente, com o terceiro, quarto prato, quem sabe! A utilidade que você atribui a cada prato que consome sempre vai diminuir. Agora voltemos ao desafio de medir a utilidade. Nesse sentido, nosso interesse consiste em se ater ao conceito de utilidade ordinal, ou seja, é possível ordenarmos nossas preferências à medida que atribuímos um valor real a cada curva de indiferença. Isso fica fácil de visualizar por meio da Figura 8. Esse conjunto de curvas de indiferença ilustrado na Figura 8 pode representar uma função utilidade, em que cada curva pode apresentar um correspondente indicador FIGURA 8 Função utilidade FONTE: Elaborada pela autora. numérico (valor) x. Essa representação poderia ser feita com quaisquer valores, desde que a ordem não fosse alterada. Por exemplo, ao associar um valor numérico para cada cesta de mercado, de tal forma que, se a cesta A for preferida à C, o valor de A será maior do que o de C. Sendo assim, a cesta de mercado A, situada na curva de indiferença mais elevada U2, poderia fornecer um nível de utilidade 200, enquanto C, situada sobre a curva U1, poderia fornecer um nível de utilidade 100. Assim, a função utilidade oferece a mesma informação sobre as preferências que o mapa de indiferença estudado por meio da Figura 1.6, ou seja, ambos instrumentos conseguem ordenar as escolhas do consumidor em termos de nível de satisfação. Tipos de bens Neste tópico, você verá a distinção, bem como classificações dos tipos de bens existentes. Bens inferiores x bens normais Os bens são classificados como normais quando apresentam aumento em suas demandas, quantidades consumidas, na medida em que há aumento do nível de renda. Exemplo: camarão e filé-mignon. Já os bens inferiores são aqueles que têm a quantidade consumida reduzida em função de um aumento no nível de renda, pois naturalmente existem substitutos melhores em relação a eles. Exemplo: margarina e mortadela. Bens substitutos x bens complementares Dois bens são substitutos perfeitos quando a taxa marginal de substituição (veremos o conceito dessa taxa no próximo tópico) de um pelo outro é constante. Por exemplo, refrigerante X água com gás e salame X presunto. Já o outro caso, extremo, em que temos os bens como complementos perfeitos, ocorre quando a taxa marginal de substituição entre eles for infinita, o que faz com que as curvas de indiferença sejam ângulos retos. Exemplo: cachorro-quente e salsicha; arroz e feijão. A Figura 9 ilustra o formato das curvas de indiferença desses tipos de bens. No gráfico da esquerda, o consumidor considera suco de maçã e suco de laranja como bens substitutos, ou seja, é sempre indiferente entre o consumo de um ou de outro. Já no gráfico da direita, o consumidor considera sapato esquerdo e sapato direito como bens complementares. Um aumento na quantidade de sapato esquerdo não propicia aumento na satisfação, a menos que obtenha um sapato direito correspondente. Atenção! Ao enfrentar dificuldades financeiras, boa parte das famílias brasileiras passaram a administrar melhor o orçamento e, consequentemente, a criar uma relação mais saudável com o dinheiro. Estudos apontam que a crise econômica acabou forçando os consumidores a repensar as prioridades. Fonte: SPC Brasil/CNDL (2018). FIGURA 9 Efeito renda e efeito substituição: bem norma FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 99). Efeito renda e efeito substituição Antes de apresentar os conceitos correlatos a este tópico é importante descrever o conceito de Taxa Marginal de Substituição (TMS), que consiste na taxa à qual o consumidor está disposto a trocar um bem por outro. Para saber o seu valor, basta verificar qual é a inclinação da curva de indiferença. Quando ocorre uma queda no preço de uma determinada mercadoria, temos dois possíveis efeitos: Efeito substituição: os consumidores tendem a comprar maior quantidade de uma mercadoria que ficou mais barata e uma menor quantidade de outra que ficou relativamente mais cara (isso acontece com os bens normais que estudamos anteriormente). Efeito renda: em função de uma mercadoria tornar-se mais barata, há um aumento no poder de compra dos consumidores, que agora podem adquirir maior quantidade de uma dada mercadoria. Na Figura 10, é possível visualizar graficamente o efeito renda e o efeito substituição quando consideramos um bem normal. Na Figura 10, houve, inicialmente, uma queda no preço do alimento. O consumidor está no ponto A, sob a linha do orçamento RS. Com a queda no preço do alimento, temos um aumento da quantidade consumida, que corresponde a A1A2, até chegar FIGURA 10 Efeito renda e efeito substituição: bem normal FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 99). ao ponto B de consumo. O movimento do ponto A para o ponto D associa o efeito substituição A1E. O movimento de D para B associa o efeito renda EA2. Excedente do consumidor O excedente do consumidor consiste no somatório das diferenças entre as disposições a pagar dos consumidores que adquirem uma dada mercadoria e os valores que foram efetivamente pagos na aquisição delas por parte dos consumidores. Vejamos um exemplo: qual é o excedente do consumidor quando o preço do ingresso para assistir à final da NBA é US$ 2.000? ConsumidorDisposição a pagar (US$)Adquire o ingresso?Excedente do consumidor A 3.000 Sim 3.000-2.000=1.000 B 2.000 Sim 2.000-2.000=0 C 1.000 Não 0 O excedente doconsumidor total será = US$ 1.000 Quadro 1 - Cálculo do excedente do consumidor Fonte: Elaborado pela autora. Como o preço afeta o excedente do consumidor? A seguir, conseguimos visualizar a resposta a essa questão por meio da Figura 11 FIGURA 11 Excedente do consumidor Note que, ao diminuir o preço de P1 para P2, tem-se um aumento no excedente do consumidor. Agora que você concluiu a leitura deste estudo, veja, nos vídeos a seguir, temas que complementarão seus estudos: Indicação de Leitura Livro: Comportamento do consumidor: construindo a estratégia de marketing Autores: Del Hawkins e David L. Mothersbaugh Ano: 2018 Editora: Elsevier Edição: 13ª (14 de setembro de 2018) ISBN: 9788535287912 Sinopse: o livro Comportamento do consumidor é um dos melhores trabalhos didáticos sobre comportamento do consumidor, pois a lógica que o permeia facilita muito o aprendizado da disciplina. Ao começar com as influências externas mais amplas da antropologia e da sociologia e ir para o foco mais individual da psicologia, o entendimento do aluno flui e a didática fica muito mais facilitada. Um ponto alto do título são as pontes entre os conceitos e suas aplicações. Hawkins e Mothersbaugh são brilhantes ao ligarem as teorias do comportamento do consumidor à prática do marketing. Seus exemplos são elucidativos, atrativos e motivadores. Esse aspecto, particularmente, faz o livro ser bem compreendido por alunos de graduação, mas, ao mesmo tempo, fornece explicações e dicas que podem ser bem aproveitadas pelo público empresarial. A obra também conta com um capítulo essencial que descreve o comportamento do consumidor adaptado à realidade brasileira, além de um texto extremamente agradável e, ao mesmo tempo, instigante. Questão 1 FONTE: Guena (2013, p. 14). Considerando que todos os indivíduos sempre apresentam suas preferências no momento em que escolhem as mercadorias e serviços que desejam consumir e que a teoria microeconômica descreve como se dão essas preferências, assinale a alternativa que corresponda ao comportamento do consumidor que age racionalmente preferindo maior quantidade de um bem à menor quantidade do mesmo item: A. Reflexividade B. Monotonicidade C. Exaustividade D. Transitividade E. Integralidade Questão 2 No estudo da Microeconomia, dispomos da utilização de algumas hipóteses para que seja possível a validação de diversas afirmativas relacionadas tanto à Teoria do Consumidor quanto às demais. Nesse sentido, assinale a alternativa que expresse uma implicação direta em não utilizar a hipótese coeteris paribus no estudo da Microeconomia. A. A demanda por um determinado bem pode aumentar, mesmo que o preço desse bem tenha se elevado. B. A cor de um automóvel não determina a venda dele. C. A preferência do consumidor será poupar diante de uma redução no preço de um dado bem. D. O empresário optará por reduzir o seu nível de produção se o preço do bem que ele fabrica aumentar. E. Em função de uma nova tecnologia para smartphones, reduzirá a oferta desse bem. Questão 3 Essencialmente, a Teoria do Consumidor busca mostrar o comportamento geral dos indivíduos que estão dispostos a adquirir bens e/ou serviços, pois apresentam diversas preferências e agem de forma racional, ou seja, buscam maximizar sua utilidade e satisfação. A respeito dessa teoria, assinale a alternativa correta: A. O trade-off oferta ao consumidor a máxima satisfação com a demanda por um bem. B. Como exemplo, vinho francês é classificado como um bem inferior. C. O custo de oportunidade é um custo explícito. D. O consumidor apresenta um comportamento racional. E. A utilidade marginal é sempre crescente. Síntese Caro(a) aluno(a) Chegamos ao final do material e você pôde se inserir no mundo da Microeconomia por meio dos principais fundamentos da Teoria do Consumidor. Essencialmente, a Teoria do Consumidor busca mostrar o comportamento geral dos indivíduos que estão dispostos a adquirir bens e/ou serviços, apresentam diversas preferências e agem de forma racional, ou seja, buscam maximizar sua utilidade e satisfação. Os instrumentos aqui estudados serão ideais para capacitar você a conhecer o "lado da demanda", antes mesmo de estudar os aspectos do lado da oferta e da produção. Referências Bibliográficas FERNANDEZ, J. C. Curso básico de microeconomia. Salvador: Edufba, 2009.,GUENA, R. Excedente do consumidor, excedente do produtor e eficiência. USP, 28 mai. 2013. Disponível em: http://robguena.fearp.usp.br/Introducao/excedente.imp.pdf. Acesso em :02 mar. 2020.,IBGE. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e- custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-consumidor-amplo.html?=&t=o-que- e. Acesso em: 02 mar. 2020,HAWKINS, D. I.; MOTHERSBAUGH, D. Comportamento do consumidor: construindo a estratégia de marketing. 13 ed. São Paulo: Elsevier, 2018.,PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. São Paulo: Pearson, 2006. ,SPC Brasil/CNDL (2018). Impactos da Crise Econômica na Gestão das Finanças Pessoais. Disponivel em: http://www.fecomercio-se.com.br/radarfecomercio/brasileiros- mudam-habito-financeiro-com-a-crise-economica . Acesso em: 31 jul. 2020.