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Sumário Introdução P A R T E 1 C A P Í T U L O 1 É preciso nos movimentar mais: a atividade física como saída C A P Í T U L O 2 Quantas calorias há em um quilo? A falácia das 7.500cal C A P Í T U L O 3 Causa e consequência na luta contra a obesidade C A P Í T U L O 4 Um conto de fadas: o balanço calórico C A P Í T U L O 5 As calorias definitivamente não são iguais C A P Í T U L O 6 Nosso peso é uma questão hormonal, não termodinâmico O exercício como ferramenta (ineficaz) de perda de peso C A P Í T U L O 8 A desordem hormonal como o problema do sobrepeso C A P Í T U L O 9 O metabolismo do carboidrato C A P Í T U L O 1 0 A frutose e a obesidade C A P Í T U L O 1 1 O risco de uma realidade com uma insulina (constantemente) elevada C A P Í T U L O 1 2 Os riscos do açúcar C A P Í T U L O 1 3 O açúcar como vício C A P Í T U L O 1 4 Há relação de diabetes e açúcar? C A P Í T U L O 1 5 Obesidade e a mudança dos tempos A cetose como via e sua segurança C A P Í T U L O 1 7 A (não) essencialidade do carboidrato C A P Í T U L O 1 8 A adição de açúcar nos alimentos C A P Í T U L O 1 9 A pirâmide alimentar é uma invenção puramente política Sobre a segurança de uma gordura transformada em vilã 158 Danilo Balu C A P Í T U L O 2 0 Quando a gordura saturada passou para o lado negro da força? C A P Í T U L O 2 1 O cenário para a restrição de gordura As consequências inesperadas da substituição C A P Í T U L O 2 3 Ancel Keys: o nome do homem por trás da ideia C A P Í T U L O 2 4 O risco dos óleos vegetais à nossa saúde Os marcadores do risco cardíaco C A P Í T U L O 2 6 O falso temor pelo colesterol C A P Í T U L O 2 7 O que dizem as pesquisas sobre a segurança da gordura saturada C A P Í T U L O 2 8 O efeito da restrição da gordura sobre a obesidade global C A P Í T U L O 2 9 As vozes em contrário não eram novas C A P Í T U L O 3 0 O problema seria o carboidrato, não a gordura, calorias ou o colesterol C A P Í T U L O 3 1 A segurança da gordura saturada e o risco da dieta low-fat C A P Í T U L O 3 2 O paradoxo das recomendações P A R T E 3 A proteína e a segurança de se restringir o carboidrato C A P Í T U L O 3 3 O exemplo sueco O temor apressado por riscos inexistentes C A P Í T U L O 3 5 Pesquisas mostram eficiência na restrição C A P Í T U L O 3 6 Pode não servir para todos, mas vale a tentativa C A P Í T U L O 3 7 Mais fácil, eficiente e segura Conclusão 296 Danilo Balu Referência bibliográfica Introdução Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 30 Capítulo 31 Capítulo 32 Capítulo 33 Capítulo 34 Capítulo 35 Capítulo 37 Conclusão Introdução Se você quer perder peso, não coma. Isso não é uma questão de medicina, mas de termodinâmica. Se você consumir mais (energia) do que gasta, você armazena. (Michael Bloomberg, prefeito de Nova Iorque 2002- 2013) Pessoas ficam acima do peso porque elas não se movimentam o suficiente e comem demais. Ou seja, para pessoas que querem perder esse excesso de peso, basta se movimentar mais e comer menos. Além disso, basta comer mais frutas e vegetais (legumes e verduras). Carboidratos são bons, monte sua dieta baseada neles, principalmente os complexos e integrais. Fique longe do sal. Coma carne com muita moderação, principalmente carnes vermelhas ´gordas´ ou as de aves com pele. Prefira sempre os cortes magros. Coma peixe regularmente. De resto, uma caloria é sempre uma caloria, controle sempre isso. A recomendação acima, você consegue muito bem imaginar vinda, informalmente, em um consultório ou da boca de um profissional de saúde. É o que chamamos de sabedoria popular, de tanto que já foi repetida por especialistas e de tão óbvio que é para qualquer um, mesmo um leigo. Atualmente, são publicados na área de “Nutrição Humana” artigos científicos em um ritmo humanamente impossível de acompanhar atentamente. Junto com os milhares de artigos científicos e as centenas de livros sobre o assunto, há todo um ruído que nos impede de distinguir entre o que é fato e o que é apenas associação malfeita. Para agravar, médicos, nutricionistas, pesquisadores e os órgãos oficiais de saúde falharam ao tentar nos oferecer informação válida e inequívoca, que evitasse os gatilhos para a explosão da obesidade e da diabete no mundo moderno. Isso criou um ambiente fértil para que todo tipo de orientações, sugestões e hipóteses florescessem. E como cada um tem sua teoria e sempre podemos encontrar evidências que confirmem nosso ponto de vista, por mais absurdas que elas sejam, você tem um campo no qual é difícil provar que algo está muito errado sem ter anos de dispendiosas pesquisas para o retardo de todo o processo. Uma vez que não importa o quanto a ciência avance, a Nutrição é um daqueles campos os quais se multiplicam os falsos especialistas, picaretas, charlatães, enganadores e gurus ansiosos por lucros com a venda de recomendações, dicas e produtos milagrosos. O problema é que desde a metade do século passado vários órgãos oficiais de saúde estabeleceram recomendações, tomando precipitadamente como fatos o que eram apenas hipóteses, sem nunca terem testado. Como pede a lógica da ciência, não houve tentativas por parte desses órgãos de tentar refutar a asserção de que cortar gordura saturada, por exemplo, era uma boa ideia na prática. Caiu-se no erro da indução de que eram ótimas ideias, ignorando o “Princípio da Falseabilidade”. Uma das hipóteses, como discutiremos nesse livro, é a de que estaríamos comendo algo demasiadamente. Seja esse excesso no consumo de gorduras e/ou de calorias. Temos que testar essas ideias porque, como veremos, não podemos assumir que sabemos as respostas. Talvez, no momento seja mais fácil apontar exatamente o que não é a explicação correta para a epidemia de obesidade e diabetes. Podemos, com uma boa segurança, tentar provar que estão muito equivocadas as atuais diretrizes daqueles que dizem que comemos demais e nos movimentamos de menos. Para piorar, o estudo da Nutrição não parece ter o cuidado, sequer, onde deveria merecer. Não há aulas no currículo escolar no curso de Medicina na Universidade de Harvard e em muitas outras instituições quase igualmente importantes. Aqui no Brasil, não é diferente. Nosso mais prestigiado e concorrido curso de Medicina da Universidade de São Paulo não conta com uma disciplina sobre o assunto. Quando muitas vezes atribuímos a obesidade, equivocadamente, à falta de força de vontade e não como doença ou transtorno, acabamos por associar um peso corporal correto à disciplina à mesa. Damos como sabido a causa e perdemos a oportunidade de entender melhor a questão das razões da obesidade. O problema não seria criticar ou julgar o que o outro come, a questão parece estar em ao menos entender o custo das escolhas à nossa saúde. Mas, infelizmente, com os alimentos isso não é verdadeiro porque quando falamos sobre as melhores opções, seja para perder peso ou melhorar a saúde, muitas pessoas ainda estão “no escuro”. Essas pessoas, na verdade, não sabem quais são essas melhores opções para cada um. Pior ainda, você verá neste livro que elas talvez achem que saibam. Mas fazem as escolhas acreditando em décadas de ciência malfeita ou enviesada no campo. E é sobre algumas orientações oficiais equivocadas e deduções nunca antes comprovadas (mas que viraram sabedorias populares) de que vamos tratar aqui. Ao tomarmos o errado como certo, estamos há décadas tentando tratar um problema com um método que não irá funcionar. Pior, ao aumentar a dose de um remédio com recomendações ainda mais difíceis, estamos piorando a “doença”. Será que não estaríamos comendo os alimentos errados, pensando serem eles os melhores? Não estaríamos buscando em outros comportamentos, como a atividade física ou a contagem de calorias,reduzida, por que ainda há tanta crença que a perda de peso pode ou deveria ser feita com mais exercícios físicos, ignorando os níveis de insulina ou ainda cortando o consumo de gordura, justo ela que não atua na liberação de insulina na corrente sanguínea? Ou seja, o óbvio passa necessariamente por combater um estado de secreção de muita insulina que ocorre ao seguirmos a recomendação de alto consumo de carboidratos, mesmo os complexos. Seria então que nossa insulinemia (níveis de insulina no sangue) hoje permanece elevada em níveis muito acima do que seria o ideal, como resultado das dietas recomendadas. Porque se essa relação de causa e efeito na obesidade é justamente o contrário do imaginado por boa parte dos nutricionistas e da comunidade médica ortodoxa, talvez seja o caso de nos perguntarmos se não seria possível alguma desordem outra gerar o ganho de peso e as doenças associadas à obesidade. Com a paranoia por combater o consumo de gordura e gastar mais calorias, teríamos invertido então todo o tratamento ideal. Mais importante do que isso, parece que ganhar peso pode ser consequência de complicações de nossa saúde, entre elas o diabetes, que se instalariam perigosamente antes que o sobrepeso. Se a atividade física não é uma boa ferramenta de perda de peso, como se explicaria tantos casos de sucesso de emagrecimento com a prática de exercício? Antes de qualquer coisa, precisamos lembrar o quanto buscamos pela nossa memória exemplos que deem suporte a uma tese na qual acreditamos. Nesse hábito tão humano, vamos lembrar de exemplos de emagrecimento de algumas pessoas, mas ignoraremos os incontáveis casos de fracasso. E em um exercício de certa forma cruel, ainda culparemos quem não perdeu peso fazendo uso de uma estratégia tão ineficiente. Além de ser preciso ainda esquecer a questão da associação. Não é raro quem aponte os atletas profissionais, ou mesmo amadores de melhor desempenho, como prova concreta do esporte como alternativa para a obesidade. A pessoa ser atleta e ser magra não explica por si só a questão. Vejamos usando o próprio esporte como exemplo. Jogadores de basquete e de vôlei são mais altos do que a média populacional. Assim como as atletas de ginástica artística são mais baixas. Era um hábito recorrente décadas atrás (anos 70 e 80) mães colocarem seus filhos nas escolinhas de esporte para desenvolver a altura das crianças. Ou ainda temiam que suas crianças não atingiriam uma altura adequada, caso treinassem ginástica artística. Mas os atletas bem-sucedidos não ficaram grandes por causa do esporte, mas foram destaque em suas disciplinas entre outras coisas justamente por serem mais altos (ou mais baixos) que a média de seus pares. Joguemos a outro extremo, judocas das categorias absoluto ou lutadores de sumô são incrivelmente fortes, mas possuem taxas de gordura também elevadas, mesmo sob forte carga de treino. Seria sinal de desconhecimento técnico atribuir a essas modalidades a explicação para sua gordura. Eles se destacam porque seu corpo é forte e gordo. Mais interessante ainda é se olharmos somente no judô porque as categorias mais leves têm atletas com porcentual de gordura mais baixo. Os próprios maratonistas quenianos são apontados como exemplo de esporte e perda de peso. Uma explicação evolutiva é justamente que, em um organismo tão geneticamente privilegiado para esse esporte, esses indivíduos queimam muita energia e de forma eficiente. Eles são corredores bons entre outras coisas porque são magros e não o inverso. Nem todas as pessoas no Quênia são corredores profissionais, ainda assim, a taxa de obesidade no país é baixíssima. Mas todos temos algum conhecido que passou a treinar algum esporte e perdeu muito peso. Veja bem, não estamos negando que esporte ajude na perda de peso, mas negando que ele seja uma ferramenta eficiente. O primeiro fator que é pouco lembrado é o peso que o esporte tem na dieta da pessoa. A pessoa passa a comer mais fazendo esporte. O aumento de ingestão energética é equivalente ao gasto sem que seja necessário um profissional de saúde calculando ou orientando quanto a esse ponto. Mas junto com a prática do esporte há muitas vezes mudanças nos hábitos alimentares, algumas dessas pessoas passam a comer melhor. Por fim, há uma explicação fisiológica que explique boa parte dos sucessos. Quando a pessoa passa a ter uma rotina de atividade física regular ela aumenta a sensibilidade à insulina. Em um processo de certa forma inverso à resistência, ela precisa de menos insulina, nosso hormônio mais engordativo. É um benefício indireto do exercício. Sua prática aumenta nossa sensibilidade à insulina, fazendo assim cair os níveis gerais de insulina. Um dos motivos é que os músculos (mais treinados pelo indivíduo) passam a ter mais transportadores de glicose (GLUT4) que são independentes desse hormônio. Além disso, os praticantes de esporte utilizam mais frutose, um açúcar que tem enorme importância na obesidade como falaremos no capítulo 10. É de certa forma difícil ou impossível calcular exatamente a participação de cada fator nos casos de sucesso, mas dá para arriscar dizendo que essa menor produção de insulina explique boa parte do porquê você vai conhecer bastante gente que tenha perdido peso ao incorporar atividade física em sua rotina. C A P Í T U L O 8 A desordem hormonal como o problema do sobrepeso Parece que há cada vez mais indícios de que o nosso alto consumo de alimentos processados é o que vem desencadeando um aumento na frequência e incidência de doenças crônicas no mundo ocidental. Vale lembrar que os alimentos processados e refinados vendidos e propagandeados como low-fat (baixa quantidade de gordura) são muitas vezes carregados de açúcar e conservantes como substitutos à gordura indesejada. Os iogurtes talvez sejam o mais fácil exemplo disponível nas prateleiras. Saem os naturais e integrais com menos de 10g de carboidrato por pote e entram os de baixa gordura com cerca de 30g de carboidrato. Contudo, temos que evitar reducionismos, pois a obesidade é um problema sério de ordem multifatorial, com inúmeras explicações, nuances e especificidades. Em virtude até da individualidade biológica, seria muita pretensão ou ingenuidade achar que uma dieta rica em gordura e pobre em carboidratos seria a solução final para um problema dessa magnitude, uma espécie de panaceia. Cometer o erro de sugerir, ou mesmo prometer, que essa solução serve a todos é um equívoco já feito com as dietas que restringem calorias ou gordura (low-fat). A obesidade pode envolver causas díspares como flora intestinal, vírus, hormônios, sono, hábitos, culturas, comportamento, renda e até uso de antibióticos, o intuito aqui, porém, é desmistificar o que de errado já foi sugerido e tido como diretriz. Para tratar um problema, precisamos entender sua causa e também as melhores e mais eficazes soluções. O que vamos tentar explicar é que uma das causas do aumento vertiginoso da obesidade é o crescente aumento do carboidrato no fornecimento porcentual das calorias, seguindo as diretrizes e recomendações de saúde governamentais desde os anos 70. E não a falta de exercícios, o excesso do consumo de gordura, a falta de força de vontade, ou “a gula”. Com cada vez mais carboidratos simples e refinados na dieta, sobem os níveis de insulina no sangue, isso promove o estoque de energia nas células gordurosas e respostas, gerando obesidade e os problemas da síndrome metabólica em um número cada vez maior de pessoas. É novamente a ingestão calórica excessiva como consequência de “algo errado”, como uma inflamação que gera um estado febril, os alimentos ricos em açúcar e carboidrato levariam o corpo a comer para engordar. E este “algo errado”, esta “desordem” causada pela ingestão desses alimentos tem um nome: síndrome metabólica. Mas não podemos falar ainda sobre essa síndrome sem falarmos da resistência à insulina. 76 Danilo Balu O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA estima que hajaatualmente 75 milhões de americanos que sofrem1 da síndrome metabólica. Ela ainda se caracteriza como o primeiro sinal da resistência à insulina2. Essa síndrome também é um sinal que uma diabetes pode estar muito próxima. Um indivíduo pode ser diagnosticado como tendo a síndrome metabólica quando ele possui três ou mais dos seguintes sintomas: alto nível de triglicerídeos (TG) (150mg/dL), pressão alta (acima de 135:85mmHg), obesidade abdominal (cintura maior do que 102cm nos homens e 88cm nas mulheres3), baixos índices de colesterol HDL (40 em homens e 50 nas mulheres. *valores para homens na casa dos 60 e das mulheres como 70 sendo ideais, ou metas) ou glicemia alta em jejum. A síndrome metabólica é perigosa por vários motivos. Nela, a glicemia de jejum é associada a alto índice do TG, valor este que, se elevado, é um marcador de maior risco cardíaco. Parte desses TG é feita no fígado com o excesso de açúcar consumido, especialmente frutose. Esse açúcar simples está presente nas frutas, xarope de milho dos refrigerantes ou açúcar de mesa (sacarose), por exemplo. Quando o valor do TG sobe acima dos 100mg, por exemplo, seu risco de sofrer um ataque cardíaco sobe linearmente. Quando está em 150, por exemplo, você recebe um alerta do seu médico ou cardiologista. Em 175 o risco é “grande”. Um nível de TG elevado é quase um indicador da viscosidade do sangue. Quando ele sobe, o colesterol HDL, um protetor cardíaco, tende a cair. Por isso, um indicador que é muito importante é a relação dos valores TG e HDL. Se dividindo o TG pelo HDL esse valor estiver menor que 1, isso representa um baixo risco cardíaco (ex: 80:80= 1). Em um exemplo de 160:40 teríamos uma relação igual a 4, significando um alto risco. Apesar de ser uma relação ignorada por muitos profissionais (médicos e nutricionistas), essa relação TG:HDL é apoiada por 5 estudos de 1977 do NIH que observou que, quando um sobe, o outro desce e vice-versa. Gary Taubes em seu Good Calories Bad Calories fala que a relação de comportamento invertido é observada nos 5 estudos em todas as faixas etárias de 45 anos a octogenários, homens e mulheres, sem distinção nas etnias representadas nos estudos. Além desses marcadores, se você está acima do peso e viu a sua circunferência abdominal aumentar, há uma considerável chance de que você tenha síndrome metabólica. É por isso ainda que a pessoa acima do peso tem mais chance de ter diabetes e maior risco cardíaco (ou os dois). Porém, indivíduos magros também podem sofrer de síndrome metabólica e, quando sofrem, também possuem maior risco cardíaco e maior chance de adquirir diabetes que pessoas magras sem a síndrome. Essa síndrome, tecnicamente, é um estado no qual as células do nosso organismo “ignoram” a insulina, e aí chegamos à resistência à insulina. Esse é o estado de resistência à insulina constante do nosso organismo (ou um órgão em particular) de ignorar a ação deste hormônio, fazendo o pâncreas entrar em um estado de fadiga e exaustão por ter que produzir cada vez mais do hormônio. E, de repente, a glicemia fica elevada e perigosamente fora de controle. Nem todo mundo com resistência à insulina vira diabético. Ainda assim, uma insulinemia tão alta tem efeitos deletérios ao organismo. Um dos efeitos é o maior nível de TG no sangue, um aumento da pressão arterial, a redução do colesterol HDL e a piora da resistência à insulina, num ciclo vicioso. C A P Í T U L O 9 O metabolismo do carboidrato Temos que entender sempre que todos os carboidratos (uma categoria na qual os açúcares simples se incluem) são convertidos em açúcar no sangue. Teoricamente, quanto mais refinados eles são, mais rápida essa conversão. Para controlar esse açúcar no sangue, o pâncreas produz o hormônio insulina e a libera na corrente sanguínea. Esse hormônio transporta o açúcar para dentro das células para ser utilizado e/ou armazenado. Quando essas células por algum motivo (ex: consumo exagerado e crônico de açúcar simples) se tornam resistentes à insulina, isto é, necessita-se maior quantidade de insulina para gerar o mesmo estímulo ou o mesmo sinal à célula, o pâncreas precisa produzir mais para transportar essa mesma quantidade de glicose para dentro das células. É como fazer um paralelo com o assoprar de uma bexiga sendo o organismo o balão. Conforme ela se expande, é preciso assoprar com mais força (resistência) o ar (a insulina). Como a insulina é obesogênica, mais insulina gera mais resistência a ela mesma, além da obesidade. Ou seja, nesse estado de maior resistência à insulina, como se fosse uma bola quase cheia, consumir carboidratos passa a ser um desafio, pois é um estresse metabólico cada vez maior ao organismo. Quando o organismo chega a um estágio crítico no qual o pâncreas não dá conta de produzir insulina suficiente para controlar a glicemia, o diabetes se desenvolve e se instala. Podemos dizer então que o diabetes é um caso grave de resistência à insulina, sendo essa tão séria que ainda que nosso pâncreas libere quantidades enormes de insulina para tentar compensar a falta de sensibilidade das células, estas não teriam mais sensibilidade para reconhecer aquele hormônio circulante, nessa condição, a insulina é incapaz de evitar a elevação da glicemia. Nesse cenário, a obesidade em si parece não ser a causa do aumento dramático de nossas doenças crônicas, ao contrário, é a instalação de um estado de síndrome metabólica a geradora dessas doenças, podendo atingir pessoas de peso normal. A obesidade é um dos marcadores da síndrome metabólica, e não a sua causa. Uma das primeiras consequências dessa maior resistência é o aumento da glicemia e uma série de efeitos consequentes disso tudo. E abre-se espaço para doenças cardíacas, já que a síndrome metabólica aumenta o risco, porque essa resistência à insulina significa uma glicemia já elevada, e o açúcar faz reduzir o colesterol Lipoproteína de Alta Densidade (HDL), um natural protetor cardíaco do qual falaremos na segunda parte do livro sobre gordura e sua segurança. E o que levaria a este estado de resistência à insulina num primeiro momento poderia ser apenas uma alta ingestão calórica de qualquer comida? A causa parece ser um problema diretamente ligado ao consumo de carboidrato, seja na forma de grãos refinados, açúcar e amido. Ou seja, não é uma consequência direta nem da falta de exercícios, nem da obesidade nem do consumo de gordura. Parece não haver segredo nem entre os mais céticos que o consumo de açúcar (não importa qual) em altas quantidades tem efeito deletério à saúde. Inúmeros estudos vêm associando o consumo de açúcar com obesidade, diabetes, aumento de risco cardíaco, entre outras doenças crônicas. O maior problema, é bom explicar, não estaria simplesmente em consumir carboidratos, mas na enorme quantidade de açúcar adicionado nos alimentos processados e nas bebidas atualmente. E não apenas aquele açúcar de mesa que nós adicionamos no cafezinho, por exemplo. É na adição caseira, mas também e principalmente naquela em escala industrial que mora o perigo e que merece muito mais de nossa atenção. Os açúcares adicionados nos alimentos vêm sob uma miríade de diferentes nomes como glicose, frutose, sacarose, maltodextrina, dextrose, mascavo, orgânico, demerara, refinado, cristal, glaçúcar, xarope invertido, xarope simples etc. E é o consumo desse açúcar, via alimentação (caseira ou industrialmente adicionado), que gera a presença de glicose no sangue que por sua vez estimula a produção do hormônio insulina. Primeiro entendamos o que é açúcar. Aquilo que chamamos de açúcar branco (o de mesa, vendido em sacos de um quilo em qualquer supermercado) é chamado de sacarose. Ele é um dissacarídeo (carboidrato simples) composto basicamente por 50% de glicose e 50% de frutose. Outras variedades de “açúcares” vão conter proporções parecidas, mas com reações bem similares em nosso organismo. Figura 1: A sacarose é aproximadamente feita com 50% de glicose e 50% de frutose As enzimas estomacais então convertem esse açúcar quebrando-oem glicose, a fonte de energia mais fácil e “preferida” de nosso organismo por sua simplicidade. Se, contudo, essa glicose pode oferecer energia imediata para cérebro e músculos, ela pode também causar ganho de peso ao elevar a quantidade de insulina no sangue como consequência do aumento da glicemia. A insulina, e isso é uma simplificação de sua ação no corpo, é quem consegue carregar a glicose para dentro das células que vão utilizar como energia ou armazená-la como glicogênio. Dentre as principais funções da insulina ainda temos: • Estimular a transformação de glicose em gordura no fígado, aumentando os triglicerídeos (TG) no sangue; • Estimular a síntese de colesterol no fígado; • Estimular o uso da glicose pelas células; • Reter sódio e água na “filtragem” renal; • Manter e estocar gordura dentro das células adiposas, impedindo a enzima que degrada os TG de funcionar; • Inibir a enzima LPL nos músculos, forçando o uso da glicose como combustível, ao invés da gordura; • Estimular a síntese de TG. Uma das alternativas para fugir dos efeitos da insulina poderia então ser o consumo de carboidratos complexos. Mas vale retomar o que falamos sobre o IG. Se não atentarmos aos valores do IG, a recomendação de consumir mais carboidratos complexos em muitos casos eleva a glicemia mais do que o próprio açúcar de mesa puro o faria. Temos que lembrar que o amido, presente nas opções recomendadas por muitos profissionais, é encontrado na forma de grãos nas sementes e tubérculos de várias plantas e legumes como trigo, mandioca, arroz, milho, feijão, batata, entre outras. Ele está presente em muitos dos alimentos que seriam as tais fontes de carboidratos complexos. O amido é o mesmo que um conjunto de milhares de moléculas de glicose ligadas umas às outras. Ou seja, atenção quando a ideia for consumir carboidratos complexos, pois os valores de IG acabam por dizer mais do que dizem algumas recomendações. Lendo tudo isso não precisa ser especialista na área de saúde para entender o quão impactante é o hormônio insulina no tecido adiposo. A maioria das pessoas tende a achar que o impacto dela é tão somente na glicemia, no açúcar do sangue. Porém, as funções são inúmeras e muitas ligadas ao aumento da massa adiposa, à “preservação” da gordura, reduzindo a utilização como combustível com uma “ordem” para que o corpo dê prioridade à glicose como combustível. E aqui temos um dilema: as dietas para perda de peso muitas vezes são focadas em comer menos gordura, o que necessariamente vai aumentar a participação do carboidrato como alimento. Justo o carboidrato, o alimento que mais age na liberação de (mais) insulina no organismo, o hormônio que conserva e produz gordura. Não é o objetivo do livro entrar nas nuances que falam sobre o glúten ou riscos de seu consumo. Tenho que destacar que o pesquisador William Davis em seu livro mais famoso Barriga de Trigo (Wheat Belly)1 examina minuciosamente o assunto de como o consumo dele, encontrado no trigo, trouxe inúmeras consequências. Basicamente, precisamos entender que o trigo consumido atualmente sofreu inúmeras alterações ao longo dos séculos. O pão servido na Santa Ceia não seria o mesmo servido na infância de nossos bisavôs, que por sua vez não é o mesmo trigo que compõe os pães de nosso café da manhã. Resultado de cruzamentos e muita agricultura moderna, consumimos hoje outro alimento e, na teoria descrita por Davis em seu livro, comemos um trigo possuidor de um glúten para o qual nosso organismo não estaria 100% preparado ou adaptado. Ainda segundo a obra dele, a digestão do glúten do trigo moderno libera substâncias estimulantes que no Sistema Nervoso Central acabam gerando fome e acarretam um vício. Não cabe aqui discutir as validades dessas teorias, com as quais confesso nutrir certa simpatia. Mas o simples ato de seguir uma dieta restringindo o carboidrato, indiretamente acaba por reduzir consideravelmente o consumo de alimentos ricos em glúten como os pães e massas que levam farinha de trigo. O contrário também pode ser verdadeiro, ou seja, parte da perda de peso de quem decide por abolir o glúten da dieta, pode vir pela redução do consumo de carboidratos. Não convém aqui discutir o custo metabólico do trigo à nossa saúde e o quanto dele seria real, mas seja em dietas de restrição de carboidrato, seja em dietas cortando o glúten, provavelmente comeremos menos glúten e menos carboidrato em ambas as dietas. C A P Í T U L O 1 0 A frutose e a obesidade Se o açúcar de mesa (sacarose) e suas variações contêm glicose e frutose e se a glicose altera nosso padrão de insulina quando em excesso, a frutose, o “açúcar das frutas”, poderia despontar como uma alternativa saudável. Além disso, é a frutose que possui e dá o gosto doce aos alimentos, é ela quem “adoça” a sacarose. Mas a coisa não é tão simples assim. A frutose é metabolizada de um jeito particular, bem diferente, ela é metabolizada somente no fígado. Esse órgão tem assim um papel muito importante já que com a ingestão da frutose a insulinemia não sobe tanto quanto com a da glicose. Uma das razões é que a frutose tem IG menor que o da glicose. Isso pode parecer uma característica benéfica, porém um dos papéis da insulina é também o de sinalizar saciedade ao cérebro (estou cheio). Como a frutose não dispara esse sinal químico, há o risco de comermos demais. As consequências de seu consumo são objetos de muita controvérsia e é fácil entender o porquê, visto que as frutas são ricas em frutose e são consideradas saudáveis. Há, porém, evidências que atribuem efeitos um tanto nocivos à frutose como o aumento do colesterol lipoproteína de baixa densidade (LDL)1, o aumento do TG, aumento da resistência à leptina2 e aumento do ácido úrico3. Para complicar, a frutose é “a parte” do açúcar mais adicionada nos alimentos processados e também em alguns dos açúcares autointitulados “mais saudáveis”. Estes apostam em uma proporção maior dela do que a do açúcar branco de mesa para reduzir a carga da “vilã” glicose, além de gerar a carga de doçura. Mais ainda, a frutose, em comparação com a mesma quantidade de glicose, tem maior capacidade de estimular a fome e aumentar a obesidade abdominal4, 5, 6. Logicamente não é nem de longe um veneno, pode ser consumida, mas há estudos apontando, ainda que em baixas quantidades, que seu consumo possa aumentar o risco de uma desordem metabólica, entre elas a resistência à insulina7. Ou seja, um dos “problemas” da frutose é que ela vem envolta nessa áurea de natural porque é encontrada facilmente nas frutas. Mas ela também está presente no xarope de milho (high fructose corn syrup ou HFCS) dos refrigerantes e acaba prejudicando nossos marcadores de colesterol porque como é metabolizada pelo fígado, em excesso o faz produzir TG que em níveis elevados aumentam o risco cardíaco. Ou seja, a combinação frutose- glicose ataca sempre em duas frentes. O HFCS foi inventado nos anos 50, mas apenas em 1978 ele passou a ser fabricado e utilizado em escala industrial. Foi nessa década que ele passou a ser usado em todo tipo de alimento, em pizzas, pães e bolos, melhorava a aparência e podia deixar tudo mais doce (mais gostoso!), além de aumentar o tempo de conservação em prateleira. Era uma revolução no uso e na quantidade de açúcar que passaríamos a comer dali em diante. Outro produto em particular foi revolucionado com a massificação da produção do xarope de milho: os refrigerantes. Em 1984, nos EUA, a Coca-Cola passou a utilizá-lo, era cerca de 2/3 mais barato que adoçar o refrigerante com açúcar. E se até o icônico refrigerante não tinha seu sabor alterado, estavam abertas as portas para todas as outras marcas. Aqui cabe um alerta: não existe essa de “açúcar saudável” ou mesmo açúcar “menos pior”. Seu organismo não sabe dizer se um açúcar é orgânico, natural ou refinado. Seu corpo não vai saber se ele foi ou não recomendado por um guru ou pelo nutricionista da estrela da TV. Não importa qual açúcar você vai consumir, não importa se é o de mesa, em xaropeou “enriquecidos com vitaminas e minerais”, sua glicemia vai subir e mesmo no caso de haver micronutrientes que foram adicionados, como nos alimentos enriquecidos, eles pouco farão para reduzir o seu efeito no organismo. E para piorar, sempre que caracterizamos o açúcar em variedades, involuntariamente aliviamos sua culpa. Não importa se ele é orgânico, vem da fruta, da beterraba, na forma de amido ou vitaminado, seu pâncreas não vê nenhuma diferença nem lê rótulos. Voltando à frutose, ela é diferente entre outras coisas porque, é importante reforçar, o único órgão que pode metabolizá-la é o fígado8, pois apenas ele tem um transportador para isso. Atletas ou indivíduos ativos poderiam, teoricamente, consumi-la em maior quantidade sem problemas porque ele a metabolizará a glicogênio, sua forma de estoque nesse órgão. O problema é que quando o estoque está completo, quando há energia em excesso na forma de frutose, o fígado a metabolizará em gordura9. Parte dessa gordura será liberada como TG no sangue e parte ficará estocada no próprio fígado, contribuindo para uma Esteose Hepática 10, 11. E em um processo de ciclo vicioso, esse excesso contribui para aumentar aos poucos a resistência desse órgão à insulina, o que indiretamente aumenta a insulinemia, podendo gerar ou colaborar com um estado de obesidade, síndrome metabólica e outras doenças4, 12. Esteatose hepática é o acúmulo de gordura nas células do fígado, também chamada como: Infiltração gordurosa do fígado, Doença gordurosa do fígado, fígado gorduroso ou fígado gordo. Ela pode ser dividida em doença gordurosa alcoólica do fígado (quando há abuso de bebida alcoólica) ou doença gordurosa não alcoólica do fígado, quando não existe histórico de ingestão de álcool significativa. Como o próprio nome diz, ocorre por acúmulo de gordura no fígado. Há algumas décadas acreditávamos que o acúmulo de gordura no fígado era causado apenas pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas. Isso porque até o século passado, os casos estavam relacionados necessariamente ao consumo do álcool ou por enfermidade (hepatite do tipo B e C). Atualmente sabemos que a esteatose hepática é muito comum em outras condições que não as relacionadas ao abuso da ingestão crônica de álcool e que mais de 70% dos pacientes são obesos. O diabetes tipo 2 e a resistência à insulina também estão intimamente relacionados ao acúmulo dessa gordura no fígado. Mais preocupante ainda é quando olhamos às crianças, um sinal indicativo do futuro sombrio que nos aguarda. A presença dessa doença era praticamente desconhecida nessa idade até 15 anos atrás. Agora estima-se que 1 em cada 10 delas tenha esteatose hepática (sempre do tipo não alcoólico). Mas se você olhar apenas aos garotos mexicanos e americanos obesos, essa chance passa a ser de 50%! Em 2001 de cada 100 transplantes de fígado nos EUA, um era em razão da doença. Em 2010 esse valor já estava em 10%. Estima-se que em 2015 ela seja o maior motivo. Como combater isso ainda é uma dúvida. A associação entre o acúmulo de gordura hepática e resistência à insulina é grande sem sabermos ainda o que é causa e qual, exatamente, é consequência. A razão que leva o fígado a acumular gordura também não é muito bem explicada porque mesmo pessoas magras podem ter esse acúmulo, o que derrubaria a hipótese de ser um depósito comum de gordura consumida. Como sempre, pode ser também uma predisposição genética (o gene PNPLA3). Mas pode ainda ser o açúcar. O especialista em diabetes Gerald Reaven da Stanford University, por exemplo, diz que para induzir ratos a adquirir esse problema, basta aumentar a frutose da dieta. Como o açúcar frutose é metabolizado no fígado, seu excesso geraria esse acúmulo adiposo no órgão que também tem presença forte no HFCS dos refrigerantes, altamente consumido por crianças. Isso muito provavelmente explica parte da explosão da doença nesta idade. Regulamos em muitos locais a prática de forçar a alimentação de aves para a produção do foie gras, uma iguaria do fígado de gansos, mas somos muito complacentes com a explosão dessa doença silenciosa em crianças. Para tornar as coisas mais complicadas, você não terá dificuldade alguma de encontrar médicos e nutricionistas que recomendem o tratamento dessa disfunção recomendando alimentos de “fácil digestão”. Esse termo é o sinônimo que muitos deles usam para recomendar enfaticamente o corte do consumo de gordura saturada e aumento do consumo de frutas. Elas são justamente a maior fonte natural de frutose. Até 1999, por exemplo, a AHA ainda incluía refrigerantes como alternativa de pequeno lanche (snacks) para pessoas aderindo ao low-fat. Essa condição leva o pâncreas a não conseguir suprir as necessidades de excreção e produção de insulina. A glicemia então sobe demasiadamente e teremos um estado de diabetes implantado no organismo. Como podemos ver, a frutose pode ser um problema em um estado de excesso de calorias, em baixas quantidades, ela não cria problemas. Fica fácil então entender o problema que gera o açúcar de mesa (cerca de 50% de frutose) ou mesmo os sucos de frutas e refrigerantes que disponibilizam grandes quantidades de frutose. Por outro lado, é muito difícil para um indivíduo normal ingerir enormes quantidades de frutas por causa do estímulo estomacal mecânico (volume e peso das frutas), ele fica facilmente saciado. Mesmo praticantes de atividade física que comam muitas frutas cumprem um requisito: o de ter um gasto maior de energia. Aqui não há tentativa de uma cruzada contra as frutas até porque quase todo levantamento mostra o mesmo13: um consumo maior de frutas está ligado a peso mais baixo (menos obesidade) e menor risco de diabetes. Porém, um cuidadoso estudo epidemiológico encontrou14 que se por sua vez comer frutas reduz o risco de diabetes, beber suco de frutas (três porções por semana) aumenta o mesmo risco em 8%. Ou seja, do ponto de vista epidemiológico, “açúcar é ruim, mas fruta é bom”. Apesar de muito práticos e de serem anunciados como “fruta em caixinha”, os sucos parecem ser uma opção bem menos saudável que a fruta in natura. O processo de produção do suco parece não só fazer perder alguns dos componentes mais interessantes como os antioxidantes, mas como nesse processo se perde também grande parte das fibras naturais, ou seja, é a fruta sem as fibras (na polpa, bagaço), mas com todo o seu açúcar. Essas fibras têm dentre tantas funções, o papel de reduzir a velocidade de absorção do açúcar da fruta, reduzindo assim o IG dela. Ou seja, se na natureza a fruta nos oferece frutose em menores quantidades e sempre associado às fibras, nos sucos (industrializados ou não) você consome facilmente muita frutose e muito menos fibra15, além de outros possíveis aditivos. A hipótese é que sem as fibras o IG aumenta e, consequentemente, aumenta-se o risco de adquirir diabetes, podendo ainda o suco de fruta responder por uma das causas da obesidade infantil16, 17. O índice de adolescentes obesos18, por exemplo, triplicou nos últimos 30 anos nos EUA e o de crianças obesas no Reino Unido duplicou no mesmo período19. Um dos fatores que parece explicar isso é o aumento de consumo de bebidas adocicadas como refrigerantes e sucos. Um estudo de 201020 mostra que em crianças o consumo excessivo de frutose (mas não de glicose) fez com que as células adiposas viscerais se maturassem de um modo tal que possibilitavam condições para um aumento da gordura na região, relacionado a um maior risco cardíaco e também de diabetes. Não é só este tipo de maturação que esse excesso pode causar. Um estudo recente de destaque do Human Reproduction levantou dados de consumo de 5.583 garotas adolescentes de nove a 14 anos21 e traçou a relação entre o consumo de bebidas adocicadas e a redução da menarca. Porém, esta redução da idade da primeira menstruação está por sua vez associada a um maior risco de câncer nos seios e endometrial na idade adulta22. A questão envolvendo esse tipo de bebida açucarada é que, imperceptivelmente, quem as consome não tem amesma saciedade se comparada com a ingestão da mesma quantidade energética via alimentos sólidos23. Ou seja, elas não passam a consumir menos desses alimentos. Além disso, sabendo que os sucos (ou outras bebidas adoçadas) são “piores” porque não têm as fibras da fruta abre-se com isso um precedente perigoso, afinal, bastaria você beber um copo de refrigerante, uma cápsula de algum multivitamínico e algum preparado de fibras comercial e você teria a mesma proporção nutricional de uma fruta, por exemplo. Mas aí os efeitos biológicos seriam muito diferentes, pois as fibras parecem ter seu maior benefício quando as células que as contêm estão intactas, o que não acontece nos sucos de fruta. Nelas, o açúcar é então retirado da célula da fruta de uma maneira mais lenta, dando tempo ao trato digestivo de quebrar essas células e dando ainda mais tempo ao fígado de metabolizar essa frutose. Não é só uma questão de ingerir frutose e fibra juntas, mas como elas são ingeridas, sobre ter a frutose “presa” dentro das células. Não é o todo apenas como uma soma das partes. E ainda que vendidos sob a argumentação de saudável e natural, sucos não são bebidas de baixa caloria. Mesmo um copo de suco de laranja podendo conter as calorias de até três frutas não trará a sensação de saciedade equivalente pela falta de fibras e também dos estímulos mecânicos distintos entre um alimento sólido e um líquido. Se a questão da laranja é a vitamina C, uma única unidade de fruta supre nossas necessidades sem causar aumento de glicemia. Ou seja, entre a fruta e o suco, fique sempre com a primeira. Por isso, talvez dentre todos os açúcares, a frutose seja um dos açúcares que mais exijam atenção, justamente porque em sua forma natural, que mais a valoriza, é consumida de modo mais difícil. Porém, ela é facilmente combinada com glicose no açúcar de mesa ou em escala industrial e maciça no HFCS dos refrigerantes. Se pouca frutose não faz mal, deve haver uma quantidade a partir da qual ela passa a ser crítica. O bioquímico Michael Pagliassotti, da Colorado State University, em uma série de estudos no final dos anos 90 viu que uma dieta riquíssima em frutose (60% a 70% das calorias) fazia ratos adquirirem gordura no fígado em questão de uma semana. Aplicada uma porcentagem mais próxima ao da população americana (20% das calorias), isso levaria vários meses, sempre lembrando da enorme limitação da aplicabilidade de algo em ratos a humanos. A boa notícia é que em ratos, cessada a dieta rica em frutose, a gordura hepática desaparece. Outro estudo da Universidade de Lausane e conduzido por Luc Tappy e Kim Anne24 chegou a oferecer aos ratos uma quantidade de frutose equivalente de oito a 10 latinhas de refrigerante. Ou seja, uma dose enorme sob qualquer parâmetro. O fígado desses roedores ficava resistente à insulina e os TG se elevavam em questão de dias. Em doses menores, os resultados demoravam meses. Essas conclusões estão longe de serem definitivas, uma vez que foram utilizados em ratos, ademais, trata-se de uma quantidade enorme para ser proporcionalmente transferida aos humanos e pelo uso de um único açúcar (frutose) e não misto (glicose, frutose e de fontes outras que não frutose pura), como em nossa dieta. De qualquer forma, são um norte, um indicativo do custo metabólico de nossa dieta ocidental moderna. Somente um estudo intervencionista poderá responder quanto do que consumimos hoje (em alimentos e bebidas) irá alterar nossa saúde. Para isso, falaremos aqui de um estudo que interfira em milhares de refeições para entendermos seu custo crônico, não apenas agudo. Visto tudo isso, não espanta saber que haja atualmente muita gente investigando se a frutose teria um papel central e/ou determinante na explosão de obesidade. Afinal, hoje consumimos muito mais alimentos ricos nesse nutriente (refrigerante, sucos de frutas, açúcar de mesa). Em excesso, ela pode causar uma cascata perigosa porque gera gordura hepática, resistência à insulina (no fígado), aumento de glicemia, hipersinsulinemia e na persistência disso tudo, obesidade e mesmo diabetes. Ou seja, sem esse passo inicial dado pela frutose, nada disso iria ocorrer. A teoria então faz muito sentido, mas ela falha justamente porque hoje sabemos haver populações obesas com resistência à insulina que não consomem muita frutose. Visto assim, podemos dizer que o consumo exagerado dela pode aumentar nossa susceptibilidade a ter tudo isso, mas seu consumo não é nem obrigatório nem uma causa única. C A P Í T U L O 1 1 O risco de uma realidade com uma insulina (constantemente) elevada A insulina não age somente na glicemia, sua ação mais conhecida, a nossa obsessão em focar somente em seu efeito mais famoso fez com que não prestássemos atenção no fato de que ela faz muito mais do que isso. A insulina é um hormônio anabólico e muito obesogênico, ela afeta o metabolismo de proteínas e gorduras também, sua interação com o tecido adiposo tem enormes desdobramentos. Talvez, o mais ignorado ou subestimado seja o fato de que quando há insulina na corrente sanguínea, a gordura não pode nem consegue sair das células. E não só não saem das células como elas ficam mais gordas. É isso o que acontece sempre que você obedecer a recomendação de tantos nutricionistas de ingerir alimentos a cada três ou quatro horas, você vai manter altos os níveis do hormônio em uma rotina estranha do ponto de vista evolutivo. Visto desse ângulo, quando olhamos ao nosso passado, não é natural para nós seres humanos termos níveis constantemente elevados de insulina o tempo todo porque ao longo de nossa história essas elevações não eram fáceis como é atualmente, na realidade que a sociedade possibilita. Outro complicador é que se especula que não estamos naturalmente adaptados para a alta concentração do sabor doce nos alimentos na quantidade disponível hoje na nossa sociedade. Isso é provavelmente um enorme problema do ponto de vista evolutivo. E não é só a questão do sabor doce, quando seguimos as orientações dietéticas fundamentadas também nas pirâmides alimentares convencionais, estaremos ingerindo frequentes porções de carboidratos a intervalos curtos como nunca feito em nossa história evolutiva. Como resultado, nossos níveis de insulina serão mantidos elevados a todo o momento. Com o tempo, em função da individualidade biológica e também da carga glicêmica que a pessoa consome, isso pode levar em um maior ou menor grau a uma progressiva resistência à insulina. Deve haver algo de errado com a mudança de nosso padrão ao longo das gerações. De acordo com o Center for Disease Control (CDC), na primeira década do século passado o risco de adquirir diabetes era de um em 30 e atualmente esse risco é de um em três; alguma coisa estamos fazendo de errado com nossa alimentação. Quando falarmos de diabetes neste livro, a menos que explicitado, estaremos nos referindo sempre à diabetes do tipo II. Nesta doença a insulina até é produzida, mas o organismo se encontra em um estado grande de resistência à insulina que acaba tendo uma resposta menor. Ou seja, o corpo precisa de altas quantidades do hormônio para que faça efeito, podendo gerar uma estafa do pâncreas. Ao não respondermos tão bem aos efeitos da insulina, a glicose se acumula no sangue, aumentando a glicemia. É uma situação atípica porque o corpo produz muita insulina (sobrecarregando fisiologicamente o pâncreas) e, ainda assim, há um perigoso estado de hiperglicemia que não se resolve naturalmente. Na diabetes do tipo I, o problema “principal” é a falta de insulina. Uma doença (autoimune) impede que o pâncreas desse diabético possa produzir o hormônio, é um pâncreas doente. A ausência deste hormônio, entre outras coisas, faz com que as concentrações de glicose possam atingir níveis altíssimos. Um indivíduo assim não devidamente tratado pode ter cetoacidose diabética que não deve jamais ser confundida com a cetose, consequente de uma dieta baixa em carboidratos, pois são fisiologicamente diferentes e porque estanão é nociva. Simplificando, no diabetes do tipo II (mais citado neste livro) o corpo produz uma insulina que passa a gradativamente não mais fazer efeito porque o corpo adqui- riu resistência a ela (resistência à insulina). Na do tipo I, o corpo simplesmente não a produz. Imagine esta situação como a de quem mora vizinho a um rio poluído e muito malcheiroso e passa em pouco tempo a não sentir mais seu forte odor, ou então pense naquela pessoa fumante que não sente o seu cheiro da fumaça do cigarro, ou ainda aquele indivíduo que não percebe que sempre exagera no mesmo perfume porque seu corpo passou a aceitar aquilo como padrão. Com a insulina de alguém com diabetes do tipo II é algo parecido, ou seja, uma situação atípica passa a ser o comum, o corpo não mais escuta os sinais da insulina. Como em outras doenças congênitas, na diabetes (I ou II), o corpo não sabe (ou passa a não ser mais capaz de) metabolizar alguns elementos. Um indivíduo que seja intolerante à lactose busca pela alimentação eliminar a lactose de suas refeições. Já o fenilcetonúrico, em seu tratamento terá que buscar, também pela dieta, eliminar o aminoácido fenilalanina, ao qual é intolerante. Já o celíaco (severo ou não) em sua alimentação elimina o glúten porque seu corpo tem graves problemas para metabolizá-lo. Converse com qualquer médico ou nutricionista e verá que para essas três doenças esses indivíduos tentarão, como tratamento convencional e amplamente aceito, a eliminação de um nutriente em particular da dieta. A diabetes (seja a do tipo I ou do tipo II), tal como essas três doenças, se caracteriza pela incapacidade (total ou parcial) do corpo conseguir metabolizar a glicose, o que acarreta seu acúmulo na corrente sanguínea (hiperglicemia). Deste modo, o quadro de diabetes é a incapacidade do pâncreas em produzir insulina em quantidade adequada. E nos casos de grande resistência à insulina, o corpo simplesmente não reconhece esse hormônio. Uma alternativa natural e simples seria ou obter energia por outras fontes, ou ainda tirar o estresse fisiológico de um pâncreas combalido. Olhando desse ângulo, você espera que os especialistas fossem restringir ao máximo o carboidrato que é o macronutriente diretamente relacionado ao hormônio. Seria o tratamento seguindo a lógica da intolerância à lactose, fenilcetonúria ou celíase. Vejamos então o que dizem os portais de algumas das principais associações. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) diz em seu portal que a prevenção contra a obesidade passa pela conscientização da importância da atividade física e de uma alimentação adequada1. Por alimentação adequada podemos entender qualquer coisa, é um termo vago, normal em um espaço que dá as primeiras orientações a quem busca informações básicas sobre o problema. Claramente a SBEM enxerga a obesidade como uma questão de balanço calórico. Veja o que diz como causas da obesidade: (ter um) estilo de vida sedentário, as refeições com poucos vegetais e frutas, além do excesso de alimentos ricos em gordura e açúcar precipitam o aumento do número pessoas obesas. Já falamos aqui como a atividade física é uma solução ineficiente para perda e controle do peso. Quando a SBEM diz que alimentos ricos em gordura causam obesidade, ela confunde causa com consequência, ela faz uma associação que não é necessariamente verdadeira. Fazendo um paralelo, é como achar que sorvete causa afogamento. Mas sabemos que no calor as vendas de picolés sobem e em paralelo há mais gente nas praias e consequentemente mais afogamentos. Não deixa de ser preocupante que a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia tenha em seu portal oficial uma definição assim distorcida, falha e sem embasamento algum que não seja meramente hipotético daquilo que nos leva a ter sobrepeso. As recomendações da própria SBEM não são menos desatualizadas quando o assunto é diabetes. Em seu tratamento ela preconiza que na alimentação é necessário reduzir a ingestão calórica, o consumo de carnes gordas (...) e aumentar o consumo de grãos integrais 2. Ao dizer isso, ela supõe que é possível viver em constante dieta hipocalórica, que é entre outras coisas uma questão da força de vontade de quem possui a patologia. Quando um indivíduo passa a comer menos carne gorda, necessariamente substitui isso por outro alimento que, sabemos, será carboidrato, justamente o macronutriente que o organismo do diabético pior sabe lidar. O recado da SBEM é mais ou menos como: sa- bemos que você não consegue digerir a glicose, mas recomendamos que você deveria comê-la ainda mais, mesmo assim. Já o portal Diabetes Brasil, um dos maiores existentes, segue na mesma linha do balanço calórico3 para sugerir que o diabético, que tem um problema fisiológico para metabolizar carboidratos, coma ainda menos gordura; que “o ideal é restringir ao máximo a ingestão de alimentos gordurosos” 4 porque a gordura “engorda mais”. Para o Diabetes Brasil, o diabético deve consumir muitos cereais, pães, arroz, raízes brancas e massas (amido) e, consequentemente, administrar insulinas e consumir de modo muito reduzido os alimentos como carnes e laticínios em suas versões magras. Para a Diabetes Brasil, um corpo que não sabe ou não consegue lidar com carboidratos não tem que reduzir a glicose, tem que aumentar o seu consumo. É meio como tratar uma doença na base da marretada. No portal da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) recomenda-se que diminua o consumo de gorduras animais (exceto os mais magros como ricota e cottage) e manteiga, consumindo alimentos como pães integrais, aveia, arroz integral, macarrão integral5, esses alimentos de alta carga glicêmica, justamente em diabéticos parece não fazer sentido algum, e não faz mesmo. São medidas que soam absurdas como as da Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD)6 que pregam que os carboidratos em um diabético devem constituir a base da alimentação. Você acha que faz algum sentido? Mas o problema não é somente esse, o que estamos ignorando é: talvez não seja só a glicemia que importe, talvez ainda mais importante seja como ela se mantém baixa. Você pode optar por não a aumentar através da dieta, ou então baixá-la na pancada, com a injeção de doses de insulina, como o proposto nos portais oficiais das entidades citadas. Isso vai na contramão do encontrado em estudos bem interessantes. Em 1977 começou o cuidadoso The United Kingdom Prospective Diabetes Study, um grande estudo desenhado de forma que ao tentar descobrir se o melhor tratamento para diabéticos seria na forma medicamentosa (forçando a redução da glicemia com drogas, alterando a sensibilidade à insulina, mais a injeção do hormônio insulina) comparando com o tratamento na forma dietética. A mortalidade dos dois grupos não se alterou, mas o grupo medicamentado ganhou peso. O mesmo estava sendo investigado em um estudo envolvendo 10.251 pacientes que foi interrompido prematuramente7 porque no grupo medicamentado havia um inesperado aumento da mortalidade, além do ganho de peso. Já se sabe que o risco de mortalidade aumenta linearmente com o aumento da glicemia7, o que o estudo britânico de 1977 nos mostrou foi que manter a glicemia baixa usando de tratamento via medicamentos não aumenta a longevidade. Isso nos faz crer que não é apenas a glicemia baixa que importa, mas como ela é mantida. Se uma alta glicemia ou forçosamente mantendo-a baixa não reduz as mortes, podemos concluir que é tendo uma glicemia baixa pela dieta que é o adequado. E não há debate algum sobre qual é a principal fonte de glicose na dieta: carboidratos. Com isso, é pela restrição de carboidrato que se produz as maiores reduções de glicemia sem via medicamentosa. Ou seja, sem que ela aumente antes de ser reduzida por medicamentos. Simplificando, é consumindo menos daquilo que impacta a glicemia que vai importar na longevidade e saúde dessas pessoas. Não é mais correto afirmar que faltam evidências sobre a efetividade ou segurança da dieta restringindo carboidratos em diabéticos.Em um estudo feito com essa população8, essa restrição reduziu a necessidade de medicação e reduziu o risco cardíaco mais do que a dieta restringindo gordura. Um outro estudo chegou ainda à conclusão que a restrição na dieta é segura e mais eficiente no controle da glicemia em obesos diabéticos9, enquanto um outro estudo concluiu que restringir carboidratos é mais eficiente ainda em indivíduos10 em estado severo de diabetes. Já em outros dois estudos com pacientes diabéticos e com síndrome metabólica11, 12 , eles perderam mais peso com seis meses de dieta restrita em carboidratos do que em uma dieta restrita em calorias e gordura, com também melhora da sensibilidade à insulina e dos níveis de TG. Outro estudo restringindo carboidratos foi mais eficiente na redução do risco cardíaco13, um enorme temor dos médicos que justificam o corte de gorduras, demonstrando outra vantagem desse tipo de abordagem e dieta. Além disso, há evidências de que restringir o carboidrato se mostra uma estratégia mais eficiente no controle glicêmico e na perda de peso também dos diabéticos14, e esta perda de gordura pode ser a do tipo visceral15, aquela mais perigosa à saúde. Confirmações não faltam, outro estudo mais longo (dois anos) chegou ao mesmo resultado de maior redução do risco cardíaco ao restringir carboidratos16 na dieta, não a gordura, enquanto outro também de maior duração encontrou melhor controle glicêmico17. Não é só que restringindo gordura se aumenta o risco cardíaco ou se é menos efetivo no controle do peso, mas também pior no próprio controle da hiperglicemia18 ou mesmo no combate da resistência à insulina, como mostrou ainda outro estudo19. Há ainda evidência de redução de apetite entre os diabéticos20 e também redução positiva dos marcadores inflamatórios21 e outros benefícios diversos22. Assim, nenhuma intervenção na dieta parece ser mais eficiente seja no controle da glicemia 23, 24, perda de peso ou redução do risco cardíaco em obesos e ou diabéticos do que a restrição de um macronutriente em especial, o carboidrato. Como já dissemos, se este é o macronutriente que o organismo do diabético não sabe metabolizar eficientemente e se a outra opção é segura, nada explicaria com o suporte de evidências a abordagem atual que apenas é uma repetição de teorias que não se sustentam diante de novas descobertas e novos estudos. Está no imaginário desses citados de que é uma boa estratégia alimentar oferecer carboidratos complexos a pessoas diabéticas, indivíduos que não metabolizam bem a glicose. Porque quem recomenda quantidades significativas desses alimentos é que deveria provar, cientificamente, que esta é uma interessante estratégia dietética. Diante de tantos absurdos, não seria então a hora de mudar o paradigma? Adotar uma dieta restringindo os carboidratos (e não gordura saturada ou proteína) seria assim uma forma de tratar os casos de diabéticos como apontou muito bem uma longa revisão publicada em 2011, mas ignorada por essas entidades especialistas citadas25. Ou ainda uma importantíssima revisão crítica de 201426 apontando a dieta de restrição de carboidrato como primeira alternativa em função de seus melhores resultados em 15 estudos. Cabe dizer que a resistência à insulina além de reversível, pode ser algo natural e momentâneo. Nas células musculares, por exemplo, isso acontece porque elas têm um limite de estoque de glicose na forma de glicogênio. Já os adipócitos demoram mais porque eles acabam estocando essa glicose em excesso ajudando ainda em um controle natural da glicemia ao tirar o açúcar de circulação, evitando que ela atinja valores perigosamente altos. A insulina liberada pelo pâncreas em resposta à elevação da glicemia evita que atinja níveis perigosos. A insulina sinaliza aos órgãos e tecidos (adipócitos inclusive) para usar essa quantidade maior de glicose circulante como energia e ainda sinaliza aos adipócitos que a armazenem como gordura (até as da refeição que acabou por elevar a glicemia também). Enquanto o nível de insulina permanecer elevado, os adipócitos continuam armazenando e as demais células continuam a “preferir” a glicose como fonte de energia em detrimento da gordura. A ideia por trás das dietas de restrição de carboidrato é reverter grande parte desse processo, evitando o consumo de alimentos ricos nesse macronutriente e também de açúcar, evitamos a elevação da insulina alterando o tipo de combustível utilizado pelo organismo de glicose para gordura. A gordura corporal e também a da (nova) dieta passam a fornecer a energia que o corpo precisa e, mais importante, mantêm baixos os níveis de insulina, dando assim as condições para que o corpo pare de acumular gordura e ainda a queime como uma nova fonte prioritária de energia. Essa dieta propõe que a crise de epidemia global, seja de obesidade ou de diabetes, é resultado de um mundo que consome muito açúcar, muitos grãos e muitos alimentos ricos em carboidrato. O primeiro passo seria cortar esses alimentos (grãos inclusos) sem se preocupar a princípio com quantas calorias está consumindo ou quanto de exercício físico está praticando. Vale aqui, como sempre, reforçar sempre que a prática regular de exercícios físicos traz inúmeros e incontáveis benefícios à saúde, mas ela não é nem deveria ser um alicerce para a perda de peso. Se você utiliza o esporte para manter seu peso, é sua dieta que está errada. Mas se ao longo do tempo tínhamos um padrão insulínico de menor produção desse hormônio, deve ter havido algo que nos fez chegar ao atual estado de recomendação. Se passamos a comer mais carboidrato e menos gordura, os motivos foram outros. E vamos depois tentar entender essas mudanças no capítulo 19 e na segunda parte do livro. Mas antes, até para que entendamos o quão grave e sério foi esse redirecionamento de curso, vamos tentar entender quais outros problemas o açúcar promove. C A P Í T U L O 1 2 Os riscos do açúcar Sejamos diretos, o açúcar, independentemente de sua quantidade, faz mal e não é somente pelo fato de serem calorias vazias1, 2, 3, 4, 5, 6. Muitas pessoas parecem, intuitivamente (ou não), saber que o consumo dessa adição de açúcar não é algo saudável. Mas por alguma razão essas mesmas pessoas parecem achar que os riscos do excesso de açúcar são mais baixos do que o consumo exagerado de gordura, por exemplo, seja ela saturada ou trans. Aliás, talvez seja a própria característica do açúcar, de não ter gordura ou sal, este um outro alimento demonizado, que nesse raciocínio faria dele algo menos nocivo ou menos perigoso. Outro ponto interessante e possível é ser difícil temer os riscos daquilo que não sabemos fazer mal. O açúcar é há muito consumido e não saber os efeitos do seu consumo excessivo evita que ele seja colocado numa lista de alimentos a se evitar. É ainda mais agravante quando vemos que gostando ou não dele (e somos viciados em seu sabor), ao consumir alimentos industrializados é praticamente impossível passar um dia sequer sem tê-lo adicionado em nossas refeições. Talvez se soubéssemos hoje o real “custo metabólico” do seu consumo, seria mais fácil tentar deixá-lo de lado como atualmente fazemos com o consumo da gordura trans ou o hábito do tabagismo, por exemplo. Como falado no processo que desencadeia a síndrome metabólica, alertamos como indiretamente o consumo de carboidratos e açúcar pode aumentar o risco cardíaco. Mas não é só isso. Diretamente parece já sabermos que ele pode prejudicar o coração porque há evidências do risco com o excesso no consumo dele7. Um importante estudo de 2013 no Journal of the American Heart Association (AHA)8, por exemplo, encontrou forte evidência de que o açúcar pode afetar o mecanismo de bombeamento do coração, aumentando assim o risco de insuficiência cardíaca. Não é só isso, ainda vamos falar mais a respeito da importância do carboidrato no crescimento da obesidade ao longo de todo o livro, mas é importante vermos o que têm a dizer alguns especialistas, como o renomado endocrinologista RobertLustig. Para ele parece estar claro que é o açúcar adicionado por adultos nos cereais matinais e bebidas infantis que deveriam responder pelo aumento vertiginoso da obesidade nessa idade e não o consumo de gorduras ou a falta de atividade física. Para Lustig, cocaína e heroína são letais porque viciam e são tóxicas, mas não encaramos o açúcar desse modo, mesmo esse alimento compartilhando de algumas das características desses entorpecentes. Quando se adiciona açúcar em um cereal matinal, por exemplo, ele fica mais gostoso e vende mais. Mas, infelizmente, parece que a maioria de nós não sabe o real custo disso à nossa saúde. Não é como o cigarro do qual sabemos os riscos, o açúcar ainda é tido e considerado um alimento que se não faz bem, não faz muito mal assim. E antes que se argumente que podemos compensar nossa dieta com esporte, a má notícia é que parece estar cada vez mais claro que fazer atividade física parece não conseguir totalmente a compensação dos efeitos deletérios do excesso de açúcar no organismo. Mesmo que a atividade física melhore os números do colesterol, ela não parece sozinha reverter a um estado saudável. E um dos riscos do indivíduo se considerar parte de um grupo que pode comer açúcar porque seu estilo de vida permitiria, é justamente o fato de o açúcar ter propriedades viciantes. Ou seja, quanto maior e mais regular a ingestão, mais difícil é reduzir o seu consumo. C A P Í T U L O 1 3 O açúcar como vício Para entender como esses alimentos poderiam gerar compulsão, os autores de um estudo recrutaram homens obesos entre 18 e 35 anos de idade e ofereceram a eles milk shakes1 em duas ocasiões separadas, por questão de semanas. Nos dois episódios os sabores das bebidas eram idênticos, não sendo reportada nenhuma preferência por alguma. Além disso, elas continham as mesmas quantidades de calorias (500cal), de carboidrato (69g), gordura (14g) e proteína (18g). Porém, em uma ocasião o milk shake era feito com HFCS de alto IG e em outra com um carboidrato de baixo IG. Mesmo sem haver ou perceber preferência de sabor ou textura, como esperado, a glicemia dos participantes subiu mais no milk shake de alto IG. Mas a maior surpresa mesmo surgiu na diferença de comportamento horas depois dos participantes experimentarem as diferentes bebidas. Duas horas depois da ingestão, os que tomaram o de alto IG estavam em um estado de hipoglicemia. E imagens da atividade cerebral neles apontavam maior ativação das áreas que regulam compulsão, recompensa e comportamento compulsivo. Não foi apenas isso, o grupo que consumiu a bebida de alto IG nunca esteve igualmente saciado quanto o outro grupo, que em nenhum momento ficou em estado de hipoglicemia. Em seu artigo The Toxic Truth About Sugar2, por exemplo, Robert Lustig e dois colaboradores observaram e comprovaram cientificamente suas suspeitas: a de que a sacarose e o HFCS têm uma capacidade de criar dependência da mesma forma que têm cigarro e álcool. O artigo ainda culpa o consumo exagerado dos dois primeiros pela crise mundial de obesidade e diabetes, pois, entre outras coisas, estudos sugerem que quando os níveis de glicemia caem consideravelmente, as pessoas tendem a buscar alimentos que retomem esse estado rapidamente e é esse ciclo de alimentação quase que compulsiva que talvez seja disparado com o consumo de alimentos de alto IG. Mas uma vez parece ser o tipo de comida que comemos e não a ideia reducionista que sugere que é o quanto de calorias ingerimos. C A P Í T U L O 1 4 Há relação de diabetes e açúcar? Como dito antes, diabetes é definido como uma doença crônica que resulta em um excesso de açúcar no sangue. O primeiro culpado ou vilão deveria desde o início ter sido considerado o consumo de açúcar. Mais de um estudo já realizado com diabéticos permitiu1, 2 que em uma dieta de baixo carboidrato eles pudessem até abandonar sua medicação em razão de sua melhora. Mas, como dissemos, você não terá dificuldade alguma de achar um profissional de saúde que aponte como causa o consumo excessivo de gordura. Uma das descobertas sempre repetidas3 por Robert Lustig sobre o “custo do açúcar” veio de outro levantamento feito em 175 países que mostra que países que têm maior acesso ao açúcar têm maiores incidências de diabetes. Essa taxa sobe 1,1% para cada 150 calorias adicionais de açúcar por dia, quantidade essa encontrada em apenas uma simples lata de refrigerante comum, por exemplo. Para colocar esse número em perspectiva, se a população americana hoje passasse a consumir uma lata a mais de refrigerante por dia, isso resultaria em quase 3.500.000 de pessoas a mais com diabetes. Vale sempre reforçar que é um estudo observacional, você não pode provar que o açúcar causa diabetes, você apenas prova que há uma fortíssima ligação. Nesse levantamento, Lustig e sua equipe controlaram variáveis como pobreza, nível de urbanização, idade, obesidade, nível de atividade física e ainda o consumo de outros alimentos e calorias totais. Assim, foi possível saber que quanto mais açúcar era ingerido (ou sua disponibilidade), maior era a incidência de diabetes. Se a doença piora com aumento da quantidade do açúcar e se, por outro lado, a diminuição de sua ingestão reduz a incidência da doença, respeitando a ordem dos fatos (consumo de mais açúcar antes da doença), ele pode concluir que as pessoas que consomem mais açúcar são as que têm mais chance de adquirir a doença. Ainda que existam questionamentos sem muita contra-argumentação sobre se a associação entre consumo de açúcar e diabetes é causal ou não, a falta de associação entre o consumo de gordura saturada e diabetes é muito significativa. Ou seja, a falta de associação é considerada uma forte evidência da ausência de relação de causa entre diabetes e gordura. Assim, não importa o que digam as evidências, as recomendações que você encontrará é a de consumir açúcar com moderação, mas também por alguma razão sem sentido cortar o consumo de gordura saturada. E esse corte inevitavelmente levará a pessoa a consumir mais carboidrato e mais açúcar. C A P Í T U L O 1 5 Obesidade e a mudança dos tempos Natureza fez o açúcar difícil de se obter. O homem facilitou essa obtenção (de açúcar). (Robert Lustig, Revista Nature). Parece cada vez mais claro que, dentre tantas coisas, a incrível quantidade de carboidrato e açúcar adicionados nos alimentos seja um dos responsáveis pelo aumento da obesidade e diabetes no mundo. Porém, antes de apontarmos o dedo à indústria alimentícia, é importante lembrar que não chegamos a esse cenário de consumo por mero acaso. Essa mudança abrupta de nossa alimentação ao longo das últimas décadas do século passado foi resultado de diretrizes oficiais governamentais. Hoje algumas das recomendações passam por valores como as de “ser necessário consumir diariamente no mínimo 120g de carboidratos” (cerca de 500 calorias), pois o cérebro consumiria cerca de 20% de toda a energia do corpo e somente na forma de glicose. Mas o que dizer quando encontramos populações saudáveis como os Esquimós e os Masai com uma dieta quase nula em carboidratos? Não há muita discussão quanto à argumentação de que o cérebro precisa de glicose como combustível, mas muito se discute se a energia necessariamente tem que ser somente de glicose ou que ela tenha que vir necessariamente da dieta. Pois é de se perguntar onde estaríamos, já que em períodos longínquos nossos ancestrais não tiveram acesso a tamanha fonte de carboidrato diariamente, já que a rica oferta é recente, isso nos leva a crer duas coisas: primeiro que o cérebro parece conseguir usar outras formas de energia, do contrário não teríamos sobrevivido em tempos muito remotos. E outra é que nosso corpo é sabidamente capaz de sintetizar glicose com base em outros macronutrientes, através da gliconeogênese. Por esse processo bioquímico chamado gliconeogênese, o fígado consegue produzir com substratos do próprio organismo cerca de 200g de glicose por dia1, muito acima dos 120g recomendados2. Além disso, no processo de utilizaçãode gordura como fonte primária de energia, produzimos corpos cetônicos. Os ácidos graxos (gorduras) não podem chegar diretamente ao cérebro, pois são moléculas enormes, mas estes corpos cetônicos podem e os neurônios podem metabolizá-los perfeitamente. Foi assim que sobrevivemos quando não havia oferta de carboidrato. E é importante saber: essa via continua biologicamente ativa em nossos organismos. C A P Í T U L O 1 6 A cetose como via e sua segurança Uma das maiores críticas daqueles contrários a se “investir” nessa via metabólica de gordura como fonte primária de energia, seria uma certa essencialidade da glicose como nutriente ao ser humano e a suposta toxidade de metabólitos da via gliconeogênica. Falemos primeiro da toxicidade. Como já havíamos dito, não podemos jamais confundir cetose com cetoacidose, duas coisas completamente diferentes e às vezes equivocadamente tidas como parecidas. Cetose acontece em dietas de baixa ingestão de carboidrato, é uma característica certamente presente quando o seu consumo cai para níveis de 50g de carboidrato por dia, ou seja, uma grande restrição. Quando não estamos ingerindo muito carboidrato, o organismo libera gordura dos tecidos adiposos na corrente sanguínea e, pela ação do fígado, essa gordura se transforma nos corpos cetônicos dos quais falamos. Esses produtos são moléculas que conseguem também pelas suas características de tamanho serem utilizadas no cérebro. Deste modo, a produção de corpos cetônicos é uma resposta natural para a baixa ingestão de carboidrato e/ou no jejum. Já a cetoacidose, algo completamente diferente, é algo que acontece em diabéticos do tipo I em casos especiais de mau tratamento caracterizada por alta glicemia e ainda grande quantidade de corpos cetônicos na corrente sanguínea. Entenda “grande quantidade” como até 10 vezes mais corpos cetônicos que os níveis normais de um diabético devidamente tratado. Em pessoas ceto-adaptadas, ou seja, indivíduos “acostumados” a queimar gordura como fonte de energia, por estarem habituados a uma dieta com pouco carboidrato, o cérebro consegue obter por volta de metade de sua energia sob a forma de glicose, o restante vem justamente dos corpos cetônicos. E temos de reforçar que mesmo a metade vinda da glicose, não vem necessariamente e diretamente da glicose da dieta. O cérebro não fará distinção se é do alimento ou via fígado (gliconeogênese), visto que elas são exatamente iguais. O cérebro assim consegue desempenhar todas as suas funções com um mínimo de glicose já que usa corpos cetônicos como importante fonte energética. Quando falamos em ceto-adaptação, temos que lembrar que seguindo a dieta ocidental e as diretrizes de restrição de consumo de gordura (não importando seu tipo), perdemos ainda que reversivelmente nossa capacidade de usar gordura como combustível. Ou seja, nosso cérebro não “sabe” ou “esqueceu” como utilizar a gordura como fonte energética, mas a via “está lá”. Em um estado saudável, os humanos adaptados a consumir e, principalmente, utilizar gordura e corpos cetônicos como fonte de energia, toleram a ausência de açúcar e glicose nos períodos de jejum de modo natural. C A P Í T U L O 1 7 A (não) essencialidade do carboidrato Outro argumento de crítica à via metabólica da gordura cita a essencialidade do carboidrato. Quanto a essa essencialidade, ao contrário do que hoje sabemos sobre alimentos realmente essenciais à vida humana como alguns aminoácidos e gorduras, não existe nenhum carboidrato que pertença a esse grupo. É importante reforçar: nenhum. O carboidrato é um nutriente totalmente opcional na dieta humana, do contrário estaríamos extintos pela dificuldade de sua oferta em outras eras. Se você for checar a atual lista de nutrientes essenciais ao ser humano1, não encontrará nenhum carboidrato nela. Talvez mais interessante ainda seja ver como um nutriente tido como não-essencial passou a ser recomendado como principal fonte energética e ter ingestão mínima diária estabelecida sendo de 150g2. Talvez seja o caso de revisitarmos a “ciência” da definição desta recomendação mínima diária. Vejamos: Um importante estudo de George Carhill sobre fome extrema encontrou que a quantidade de glicose consumida pelo Sistema Nervoso Central (SNC) era de apenas 50g de glicose por dia em períodos sem alimentos. Mas uma das coisas mais interessantes é que por causa da metodologia do estudo, essa glicose não tinha como ser de origem dietética. Mas parece não ter adiantado, estabeleceram que nosso organismo precisava de uma quantidade ainda maior disso na dieta. Já para adultos, sabemos hoje que a cetose resultante da quebra da gordura e a produção de corpos cetônicos para fornecer energia ao SNC pode ser prevenida com uma dieta ingerindo-se 50g de carboidrato por dia. Essa é a quantidade encontrada também por Carhill que satisfaria aproximadamente as necessidades mínimas de glicose do SNC. Então concluiu-se que o ideal não seria a quantidade mínima, mas 100g por uma questão de segurança. Usando-se uma outra margem de segurança para os demais órgãos do corpo que, ao contrário do cérebro, não vivem exclusivamente de glicose, definiu-se 150g por dia como a mínima ingestão dietética recomendada de carboidrato. Esta é a ciência por detrás da atual recomendação mínima. Agora atenção: este valor diário é inferior à quantidade que o próprio fígado pode produzir pela gliconeogênese3. Além disso, em estudos feitos com animais (ratos e galinhas) que tiveram o carboidrato retirado completamente de sua dieta, a restrição não resultou em problemas4, 5. Uma maneira comum para sabermos a essencialidade ou não de um nutriente é observar alguma síndrome como resultado de uma deficiência deste nutriente em particular1. Porque essa deficiência não existe no caso da relação de humanos e carboidratos. Uma dieta típica dos esquimós, por exemplo, tem somente cerca de 50g do nutriente por dia6, ainda assim, não há casos de qualquer síndrome. O que surpreende é que apesar de não haver evidências que mostrem que uma severa restrição de carboidratos não ofereça qualquer risco, há igualmente falta de evidência que uma restrição de carboidratos, desta vez não tão severa, seja ao menos perigosa ou nociva, não é. E ainda assim optou-se por estabelecer valores mínimos diários em quantidades bem altas. C A P Í T U L O 1 8 A adição de açúcar nos alimentos A segunda das principais causas da obesidade são os farináceos e o amido que o homem faz com que sejam os principais ingredientes da sua alimentação diária. Como já havia dito, todos os animais criados à base de farináceos engordam facilmente; e o homem não é uma exceção à lei universal. (Brillant-Savarin em The Physiology of Taste, 1825) Uma lata de refrigerante contém zero de gordura, nenhuma fibra e cerca de 21g de açúcar. É muita energia, tudo a um preço baixíssimo: água, (muito) açúcar, corante, acidulante, flavorizantes e estabilizantes. Criam lucros com um custo baixo de produção. Na essência não há nada de mal nisso. Descontado e ignorado como se propagandeia um produto, não é o caso de se pregar contra a indústria quando ela somente produz um produto que é tão desejado e consumido. Além disso, é a gordura que consumi- mos com medo atualmente. Comemos com ainda mais pavor se ela for animal, mas achamos que uma lata de refrigerante, ou um chocolate ou tantos outros alimentos que entraram em nosso dia a dia, são parte do prazer, são indulgências quase naturais sem darmos a devida atenção ao custo metabólico desses alimentos e produtos. Alimentos esses que estão nos trazendo problemas de saúde como jamais poderíamos imaginar quando decidimos décadas atrás meio que apressadamente combater um vilão errado. Como já dito, o açúcar é adicionado em nossos alimentos nas mais variadas e diversas formas: açúcar branco (de mesa), açúcar mascavo, HFCS, dextrose, mel, maltodextrina, néctar etc. Basicamente a natureza fez o açúcar um alimento de difícil acesso, o homem e a indústria o tornaram facilmente acessível e muitobarato. Se antes ele era um condimento, quase um tempero, hoje ele se transformou em um ingrediente como outro qualquer. Ganhou um dos papéis centrais em nossa dieta moderna. Alimentos que antes víamos como sobremesa ou como algo pontual em ocasiões mais especiais ou exclusivas, viraram rotina, passaram a ser prato principal ou pequenos lanches. Pior, estão agora presentes em quase todas as refeições, viraram diários. Os adultos passamos a comer como os pequenos filhos e sobrinhos, ou ainda por uma questão que talvez a sociologia ou a psicologia expliquem, hoje a indústria permitiu que o adulto possa trazer à mesa alimentos que antes eram reservados para ocasiões especiais. Seja isso pela redução dos custos, pelo aumento do poder aquisitivo ou para realizar sonhos reprimidos de infância. Mas não podemos negar que também como fruto de orientações oficiais. Corte o bacon do café da manhã e traga o cereal matinal com muito açúcar. A vida virou uma longa, eterna e saborosa festa. A indústria ao seguir as diretrizes governamentais que vamos ainda mostrar equivocadas no próximo capítulo, transformou todo lanche da tarde em uma festa, a exceção virou rotina. Ela trouxe o chocolate para comermos com pão logo pela manhã. Trouxe as bolachas recheadas para o lanche da tarde, as frutas da sobremesa já facilmente espremidas e em muito maior quantidade para bebermos em copos, balas para chuparmos ao longo do dia todo. O que era raro, virou frequente, virou várias vezes ao dia em questão de algumas poucas décadas. Em algum momento de nossa história recente passamos a achar que um pequeno chocolate depois das refeições (para adoçar o dia) é algo que não faz assim tão mal. Em algum momento passamos a assumir que uma caixinha de leite achocolatado ou iogurte com 30g de açúcar adicionados, é um hábito saudável, até para crianças. Se antes granola era sobremesa em algumas refeições, virou café da manhã ou um pequeno lanche. E assim o foi com frappuccinos, chás industriais e outras bebidas adocicadas (refrigerantes, água de coco, néctares). A indústria foi transformando mesmo a refeição em sobremesa com a adição de mel já no pão do café da manhã, nos molhos como agridoce, barbecue, ketchup, ou mostarda & mel que invadiram as mesas de qualquer restaurante bufê. A AHA, por exemplo, estipula que as crianças americanas deveriam limitar1 a ingestão de açúcar a quatro colheres de chá por dia (adultos: seis a nove colheres). Uma porção comercial de um cereal matinal comercial e um suco de caixinha, que hoje por alguma razão associamos a dieta saudável, totaliza 11 colheres de chá, só de açúcar. Esse é, por exemplo, o lanche oferecido pelo National School Lunch Program2 nos EUA, um programa oficial. Para piorar, o mesmo programa ainda oferece um leite achocolatado com adição de mais quatro colheres de chá de açúcar, 39% das crianças tomam esse lanche nas escolas americanas e 25% delas recebem o tal café da manhã. Não parece muito saudável. Vou citar aqui uma analogia que pode não ser dele, mas foi muito bem formulada e foi citada pelo José Carlos Souto em seu famoso blog3 Low- Carb Paleo sobre restrição de carboidrato. Imaginemos o seguinte cenário: condensemos a história de 2,5 milhões de anos da evolução humana em apenas um único ano de 365 dias, teríamos algo mais ou menos assim nesse tal calendário: Dia 01 de Janeiro: Início da evolução dos hominídeos, há 2,5 milhões de anos; Dia 31 de dezembro, 23:59:59.9 segundos - data presente; Neste calendário imaginário, a agricultura surgiu apenas às 13h00 do dia 30 de dezembro. As primeiras cidades e a escrita, na madrugada do dia 31 de dezembro, às 3h00. As civilizações clássicas às 15h00 do último dia do ano. O açúcar só foi introduzido (na Europa) às 21h00 do dia 31, somente três horas antes da meia-noite. Os moinhos modernos que com a Revolução Industrial baratearam a farinha de trigo refinada, aumentando de sobremaneira o consumo de trigo, são extremamente recentes, são de 18 segundos antes da meia-noite. A introdução do xarope de milho de alta frutose, com o qual se adoçam refrigerantes, biscoitos, sorvetes e outros doces, foi feita apenas sete segundos antes da meia-noite desse hipotético ano evolutivo. Ou seja, se a evolução da espécie tivesse ocorrido em apenas um ano, teríamos tido uma dieta por 363 dias e meio, e uma mudança radical nas 36 horas finais com uma mudança ainda mais radical nos últimos segundos. Em um calendário como este, a evolução e a adaptação da espécie não ocorrem de um dia para o outro, mas no decorrer de semanas e meses. O período anterior à agricultura é denominado período paleolítico, apenas “dois dias” atrás. Nossos genes, obviamente, ainda são os mesmos do paleolítico. É evidente que estamos geneticamente adaptados à dieta paleolítica. Mas, e o que comíamos até “anteontem”? Não é só esta mudança lenta e silenciosa um dos grandes desafios da Nutrição. Uma das diferenças de se encontrar um vilão é que não há a opção de não consumir nada. Ao pregar contra o hábito do tabagismo, a pessoa pode parar de fumar sem precisar apelar a um substituto direto, mas na Nutrição isso não é possível, sempre teremos que oferecer substitutos. Porém, quando equivocadamente sinalizou-se para que reduzíssemos a ingestão de gordura e calorias décadas atrás, descobriu-se na prática que necessariamente precisávamos buscar alternativas, já que uma redução calórica constante é praticamente impossível. Estando cientes ou não disso, passamos a consumir mais todos os tipos de carboidratos para atender às recomendações. Os números comprovam essa tese. Enquanto o consumo de gordura saturada nos EUA caiu cerca de 11% nos anos 70, o de carboidrato subiu 25%. Ou seja, em lugar de carne, ovos e laticínios, estamos comendo mais massas, grãos e outras fontes ricas em carboidrato. E isso pode ser hoje uma das principais, se não a principal, causa da obesidade ao redor do mundo. Uma das razões é que do ponto de vista gastronômico, quando você retira a gordura na produção do alimento, seu sabor fica bem pior. Para compensar essa perda (e também a perda de energia), a indústria alimentícia teve que buscar um substituto: o açúcar, justamente um elemento que parece ter enorme relação com a síndrome metabólica (hipertensão, glicemia elevada, elevação do TG, redução do HDL e aumento da circunferência abdominal). Um levantamento feito mostrou que de 600.000 produtos analisados em supermercados, 80% tinham açúcar adicionados4, 5, 6, 7. A indústria por outro lado usa até 56 diferentes nomes para esse açúcar. Quando se adiciona esse composto, compramos mais porque ficam mais gostosos, e quando não sabemos o que estamos consumindo nem o seu custo fisiológico, compramos e comemos ainda mais. Como sugere Robert Lustig, parece ir ficando claro que o açúcar adicionado por adultos nos cereais matinais e bebidas, por exemplo, pode responder em grande parte pelo aumento vertiginoso da obesidade, não o consumo de gorduras ou a falta de atividade física. Quando se adiciona açúcar em um cereal matinal, por exemplo, ele vende muito mais, foi assim na primeira metade do século passado com a marca mais conhecida no mundo. Basicamente podemos adivinhar que quando um alimento vem sob o rótulo de low-fat, zero gordura, light ou diet no rótulo, você provavelmente irá encontrar açúcar, ou HFCS ou outro ingrediente artificial que fará a substituição da gordura. Ademais, com receio de consumir gordura, a venda e consumo desses produtos só aumentaram, ainda que sob recomendação de profissionais da saúde. Resumidamente podemos afirmar categoricamente que reduzir o consumo ou quantidade de gordura nos faz consumir mais carboidratos, o que não é bom. E o que dizem as autoridades americanas? Em 1986 a Food and Drugs Administration (FDA) disse que não há evidência conclusiva que o consumo do açúcar cause alguma doença crônica. A edição de 2010 da Dietary Guidelines for Americans diz que até 25% das calorias, ou seja, ¼ de toda a energia que você consome na dieta pode, sim, ser consumida deuma ferramenta para emagrecer ou manter a forma, sem saber que isso tem pouca valia? Vale a pena questionar, sempre mostrando o que pesquisas reveladoras, algumas por décadas esquecidas, têm a mostrar. Desde os anos 70, com a explosão da obesidade, a Medicina e a Nutrição vivem um dilema. Pela primeira vez, o consenso do que é bom ou deveria ser feito e consumido pelas pessoas foi estabelecido e definido por governos, órgãos e institutos de saúde. A dieta com restrição de gordura tem sido a base para emagrecimento e/ou para uma dieta saudável por mais de 40 anos. Pirâmides alimentares foram criadas, diretrizes, guias e hábitos nutricionais saudáveis foram estabelecidos, divulgados e propagandeados à toda a população. Tudo isso foi feito ao longo do período com a maior explosão dos índices de obesidade e diabetes no planeta. Desde os anos 70, os índices de obesidade nos EUA mais do que dobraram1 enquanto o número de diabéticos mais do que triplicou2. Quando se questiona sobre essa problemática, a resposta parece ser simples: o senso comum é sabido por todos, as pessoas ouvem, mas elas não seguem adequadamente as orientações. Porém, buscando perder peso e emagrecer, muitas pessoas ao redor do mundo se esforçam tentando seguir uma dieta de baixo consumo de gordura e também de calorias. Enquanto parece haver um consenso leigo, uma “sabedoria popular” de que é preciso consumir pouca gordura, ainda que sem questionamentos, a maioria dos americanos, por exemplo, se encontra obeso e/ou acima do peso. Então parece que essas dietas de redução de calorias (hipocalóricas) ou de baixa ingestão de gordura (low-fat) são prescrições que a maioria ou não segue ou não consegue seguir. Ou segue e descobre o resultado pela maneira mais dura: elas simplesmente não funcionam. E pode ser ainda pior, elas estão longe de ser saudáveis. Para efeitos de facilitação da linguagem, a menos que, claramente explicitado, sempre que nos referirmos à perda ou ganho de peso nesta obra, estaremos falando de massa gorda, ou seja, gordura corporal. É sabido que uma pessoa pode aumentar seu peso corporal como resultado de um ganho de músculos, ainda que com queima de gordura, como resultado de um treinamento de hipertrofia e ganho muscular, por exemplo. Mas iremos nos ater somente ao termo “perda/ganho de peso” quando estivermos falando de resultado do balanço positivo ou negativo da massa de gordura corporal do indivíduo. P A R T E 1 O carboidrato como solução em um mundo com gordura animal e calorias como vilões C A P Í T U L O 1 É preciso nos movimentar mais: a atividade física como saída Os maiores críticos das dietas de restrição de gordura fundamentam-se em um princípio básico que não encontra quem o negue: o papel da insulina no armazenamento de gordura em nossos tecidos adiposos. O que vamos tentar explicar aqui é que muitos de nós estaríamos, pela (má) alimentação e pelas piores escolhas, produzindo muito hormônio insulina e assim acumulando sobrepeso. Para estes críticos, uma dieta de restrição, seja de calorias ou de gordura, está longe de ser a melhor prescrição. Há muitos testes controlados1, envolvendo milhares de indivíduos, mostrando2 que uma limitação no consumo de carboidratos leva a uma maior perda de peso se comparada a uma dieta com restrição de gordura. E é disto que trataremos bastante aqui. Desde os anos 1970, por exemplo, a população nos EUA aumentou o consumo de frutas e vegetais em 17%, o consumo de grãos em 29% e reduziram de 43% para 33% a gordura nas calorias ingeridas. Ainda assim, desde início dos anos 60, o número de obesos nos EUA mais do que dobrou. Saltou de 13,4% para 35,7% nos adultos com mais de 20 anos3, 4. Isto poderia nos fazer concluir que se trata da consequência de uma dieta melhor, mas com pouco hábito de praticar exercícios. Mas não é o que mostram os números. Ao olharmos atentamente as estatísticas, vemos que a população realmente ouviu e seguiu as recomendações dos órgãos de saúde. Nosso tempo gasto fazendo esporte nas escolas aumentou. Analisando o comportamento, não somente das crianças, podemos ver que nunca tantas pessoas fizeram tanto exercício, nunca houve uma proliferação tão grande de academias, centros de lazer e esporte ou mesmo explosão dos grupos de corrida em países como EUA e Brasil. Ter seus próprios aparelhos em casa nunca foi tão barato, fácil e nunca tantos deles foram tão vendidos. De acordo com os dados americanos do National Institutes of Health (NIH)5 de 2001 a 2009, o número de americanos adultos submetidos semanalmente a 150 minutos de exercício moderado (ou 75 minutos de atividade vigorosas) aumentou na maioria dos municípios dos EUA. A variação existe, é um fato: estamos mais ativos. Porém, nunca estivemos tão obesos. Em algumas dessas regiões analisadas, por exemplo, a obesidade subiu mais de 15% apenas no período. Ou seja, se fizemos tanta atividade e mesmo assim estamos tão obesos, isso poderia indicar que o exercício físico parece simplesmente não ser a solução do problema. Figurativamente falando, atividade física parece não ser um remédio que funcione para essa doença, ao menos não para uma grande maioria, como indicam as pesquisas, estudos e evidências na ciência não faltam. Por exemplo, uma meta-análise finlandesa feita em 2000 com 12 estudos avaliando a atividade física6 como ferramenta de perda de peso, concluiu que ela não tem efeito sequer para prevenir o aumento do peso. Em alguns estudos ela gerou até ganho de peso em relação ao grupo controle Uma análise feita em 1986 pelo estatístico Paul Williams da Universidade da Califórnia (Berkeley) e por Peter Wood da Universidade de Stanford avaliou 13.000 corredores e as distâncias treinadas por eles. Com o passar dos anos todos os atletas tendiam a ganhar peso, independentemente da distância semanal percorrida. A recomendação dos autores, estatísticos, era a de correr mais para gastar mais calorias e fazer a manutenção do peso. Ou seja, para eles a manutenção de peso era uma questão matemática. Como árvores não crescem até o céu, se cairmos na tentação de seguir essa orientação, um corredor terá que correr cada vez mais com o passar do tempo num ciclo quase infinito. Uma mulher de 20 anos que corresse cinco quilômetros por dia, cinco vezes na semana, teria de aumentar para cerca de 24km por dia, cinco vezes na semana para manter aos 40 anos o peso que tinha aos 20. Vamos ver se essa abordagem com um enfoque matemático faz sentido. Uma sistemática revisão sueca7 mostrou que uma intervenção que adiciona mais atividade física em indivíduos obesos tem um efeito marginal na perda de peso do grupo, sempre variando de pessoa para pessoa. Entretanto, vale frisar que são inegáveis e praticamente incontáveis os benefícios diretos e os indiretos de uma rotina de prática regular e bem-feita de atividade física. Parece não haver na área de saúde profissional sério e qualificado que vá tentar negar isso. Não vamos aqui jamais negar a recomendação e orientação de incluir ou ter uma rotina bem orientada de exercícios físicos. Porém, temos que entender que como ferramenta de controle ou perda de peso, a atividade física é uma péssima ferramenta; sua eficiência é baixa, muito baixa. Historicamente, os dados indicam que estamos nos movimentando mais. E se a revisão mostra que nos casos em que passamos a nos movimentar mais não houve uma bem-sucedida redução de peso, talvez estaria errada a mensagem que nos passam de nos movimentar mais para perder peso. Talvez o problema seja mais do que fechar a conta de ingestão e gasto calórico, precisamos primeiro entender, então, a questão do excesso de peso. Gordura, afinal, é aquilo que se deposita por baixo de nossa pele. Sendo assim, nada mais natural do que pensar e deduzir que a gordura que ingerimos na alimentação vá gerar ainda mais gordura. O raciocínio é mesmo lógico e natural, mas não é correto como mostram os dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) comparando o consumo americano entre os anos de 1974 e 2000.forma saudável na forma de carboidrato simples (açúcar). Essa é a diretriz de 2010. C A P Í T U L O 1 9 A pirâmide alimentar é uma invenção puramente política Diretrizes dietéticas (governamentais) são necessariamente compromissos políticos entre o que a ciência nos diz sobre nutrição e saúde e aquilo que é bom para a indústria de alimentos. Marion Nestlé (Food politics: how the food industry influences nutrition and health. Berkeley: University of California Press, 2002). É parte do cenário, visite um laboratório para crianças, o consultório do nutricionista, uma cozinha escolar e ela estará lá imponente, na parede, quase que um símbolo, um guia: a pirâmide alimentar. Ela simboliza aquilo que deveria ser a base de uma dieta saudável de um indivíduo. Basicamente você deve “lê-la” assim. Em sua base (grande) temos o que deveríamos comer em maior quantidade: porções de carboidratos (pães, arroz, massa, cereais). Subindo, comer pequenas quantidades de gordura e os do- ces, próximos ao vértice/pico. No meio termo ficam frutas, verduras, carnes (sempre magras!), ovos e leite/laticínios. Acredito que assim como eu quando estudei na faculdade de Nutrição, você também a imaginava como resultado de uma construção cuidadosa, desenhada em cima de décadas de pesquisa e experimentos rigorosamente bem feitos e controlados. Sendo assim, ela deveria ser um norte quase inquestionável. A pirâmide alimentar, porém, é uma criação basicamente e puramente política e ideológica feita por pessoas sem passado, formação, especialização ou carreira na área da saúde. Em 1969 o senador americano George McGovern liderou o Select Committee on Nutrition and Human Needs com o objetivo de erradicar a má nutrição nos EUA e mirando ainda reduzir o consumo de gordura para reduzir o risco cardíaco. Terminado esse trabalho, a partir de 1976 um membro do comitê, o jornalista Nick Mottern, recebeu a tarefa de escrever um guia com diretrizes nutricionais. Mottern, que não tinha nenhuma formação científica e nenhuma experiência em escrever sobre nutrição ou saúde, acreditava que suas diretrizes dietéticas iriam produzir uma revolução na dieta e agricultura do país. Porque foi o que aconteceu ao adotar a ideia da gordura como o principal vilão da dieta, ignorando as controvérsias científicas em torno de uma tese que não havia ainda sido devidamente testada. E assim, em 14 de janeiro de 1977, foi publicado o Dietary Goals for the United States, um documento visando reverter um quadro de epidemia de doenças do coração nos EUA e que acabou por regular fortemente o que comemos até hoje. A recomendação principal era a de cortar a ingestão de gordura para 30% do total de calorias consumidas e a de gordura saturada para 10%. A gordura foi comparada ao cigarro e a indústria de carnes e ovos foi acusada de se comportar como a indústria tabagista, vendendo produtos nocivos somente para obter lucros. Muitos cientistas e entidades protestaram contra as diretrizes. Mas, em geral, eram acusados de estarem trabalhando em favor da indústria. As diretrizes poderiam ter sido esquecidas com o encerramento do comitê de McGovern no final de 1977. Mas duas agências federais levaram a questão adiante. A primeira foi a United States Departament of Agriculture (USDA) na pessoa de Carol Tucker Foreman, secretária assistente do USDA que, impressionada com o primeiro relatório, consultou a National Academy of Science (NAS) a respeito das diretrizes. Quando seu presidente Philip Handler lhe disse que elas não faziam sentido e não tinham base científica, ela ignorou e procurou alguém com opinião contrária. Consultou os antigos membros do comitê McGovern que indicaram Mark Hegsted, da Harvard School of Public Health, um entusiasta das diretrizes que foi contratado por ela para desenhar as diretrizes nutricionais do país. O resultado foi a publicação em fevereiro de 1980 do Dietary Guidelines for Americans, quase idêntico às diretrizes de 1977. Ou seja, incluindo a orientação para se comer menos gordura. Novamente houve reações, mas dessa vez a imprensa (The Washington Post e The New York Times) saiu em defesa do novo paradigma. Assim estava formado o consenso, e em 1992 com base nessas diretrizes o USDA criou a conhecida pirâmide alimentar, recomendando pouca gordura e muito carboidrato. Nas palavras de Gary Taubes: na história da convicção nacional de que a gordura na dieta é mortal, e a sua evolução de hipótese a dogma, políticos, burocratas, a mídia e o público desempenharam um papel muito maior do que o dos cientistas e da ciência. E um relatório da National Academy of Sciences, feito em uma conferência após o lançamento das diretrizes americanas, dizia não haver dúvidas de que seguir uma dieta de baixa gordura iria trazer proteção significativa contra doenças do coração, para qualquer americano acima dos dois anos de idade. Não demorou assim para que a American Cancer Society recomendasse a dieta de baixa gordura para prevenir – adivinhe só – câncer. Mas quando as teorias começaram a serem testadas depois das recomendações, o que é muito grave, as evidências não as corroboravam. Assim sendo baseado em alguns estudos malconduzidos e por decisões políticas enviesadas, a dieta com restrição de consumo de gorduras saturada foi recomendada para todo o público americano em 19771 e isso serviu de base para tudo dali em diante no que culminaria na pirâmide em 1992. O problema é que não havia estudos feitos com esta nova dieta que estava agora sendo recomendada a toda população. Ou seja, a população dos EUA se tornava assim participante do maior experimento não-controlado da história da nutrição. Hoje com a explosão da diabetes e obesidade vemos que o resultado não foi nada bom e estamos sofrendo as consequências. Se repararmos nas datas veremos que a epidemia de obesidade começou, mais ou menos, no mesmo tempo em que as diretrizes de restrição de consumo de gordura foram lançadas2. O ponto parece não apenas ser o fato das pessoas passarem a comer menos alimentos que hoje sabemos ser seguros como carne vermelha, ovos e manteiga, mas também substituir por alimentos ricos em açúcar e outros carboidratos refinados. Sejamos justos, muitos outros cientistas respeitados foram críticos da decisão. A própria JAMA foi uma que questionou a decisão. Outro grande crítico foi o renomado pesquisador britânico John Yudkin, da University of London e que já havia conduzido grande quantidade de estudos desde a década de 1950 que apontavam para o açúcar como causador de diabetes, resistência à insulina e obesidade. Mas não foi o suficiente. Resumidamente, as recomendações da Dietary Goals For The United States foram diretrizes baseadas em estudos observacionais (que nunca provam associação com causa) feitas por cientistas querendo provar seu ponto de vista, não encontrar a resposta. Entre elas incluíam-se: - Comer menos gordura e menos colesterol; - Comer menos açúcares e carboidratos refinados; - Consumir mais carboidratos complexos de vegetais, frutas e grãos. Segundo dados da própria americana National Center for Health Statistics, a epidemia de obesidade nos EUA começou quase que no mesmo momento em que foram publicadas as diretrizes recomendando a dieta de baixa gordura. Apesar de correlação não provar causa, ela faz sentido porque as pessoas pararam de comer gordura saturada e esses alimentos foram sendo substituídos por versões mais ricas em carboidrato. Troca essa que foi um equívoco porque há estudos comprovando que nem ela reduz o peso corporal de forma eficiente ao mesmo tempo que não reduz o risco cardíaco das pessoas submetidas a ela a longo prazo3, 4, 5, como alaremos na parte sobre a Gordura e sua segurança. Fonte do gráfico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK19623/ A obesidade também vai se agravando (assim como doenças como o diabetes) quando as pessoas passam a reduzir o consumo de carnes vermelhas, leite integral e a optar por queijos mais magros. Fonte do gráfico: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJM200008243430802 A obesidadeexplode no final dos anos 70. O número de americanos com sobrepeso sempre esteve na casa dos 35% por muitos anos. Ao final dos anos 70 houve aumento do número de obesos de 10% para 30%. E a faixa menor é o de obesos mórbidos que foram de 1% para 6%. Fonte do gráfico: http://win.niddk.nih.gov/statistics Consumo de açúcar sobe consideravelmente no começo dos anos 80. Consumo per capita por ano que era de 15 libras em 1830, sobe de cerca de 80 libras em 1980 para 100 libras em 20 anos. Apesar da queda do consumo do açúcar de mesa, o HFCS veio de quase zero em 1970 para mais de 40 libras por ano. P A R T E 2 Sobre a segurança de uma gordura transformada em vilã C A P Í T U L O 2 0 Quando a gordura saturada passou para o lado negro da força? Gordura é ruim, principalmente se for saturada. Dessa você deveria comer muito pouco, do contrário seu colesterol sobe, suas artérias entopem e você terá algum problema cardíaco. Você deveria então comer gordura vegetal, até porque a trans é perigosa. Dê preferência aos óleos vegetais, margarina, leite desnatado e queijos, principalmente os magros. As equivocadas recomendações nutricionais oficiais baseadas em má ciência e também muito viés, mudariam como a indústria alimentar faz negócios, o que elas venderiam e o que promoveriam ao público. Com as doenças do coração atingindo um contingente tão grande de pessoas, era necessário fazermos algo. Mas a série de erros fez com que culpássemos um vilão de modo equivocado e apressado, afinal, veremos que a gordura saturada não é uma vilã. Por doenças do coração neste livro, entenda uma miríade de doenças que afetam o coração como a isquemia cardíaca (falta de sangue bombeado por ele), cardiomiopatia (deterioração do músculo cardíaco), inflamação do músculo cardíaco, “fraqueza” muscular cardíaca como consequência da hipertensão e a arteriosclerose, que é o entupimento (total ou parcial) das artérias. As atuais recomendações nutricionais sobre gordura, o nutriente pelo qual nossos órgãos governamentais de saúde viveram obcecados nas últimas décadas, parecem estar completamente equivocadas. Nada do que acreditamos hoje como senso comum parece ser verdade se investigarmos com cuidado e atenção. Em seu excelente e meticulosamente bem fundamentado livro The Big Fat Surprise1, Nina Teicholz nos traz a hoje desconhecida história do médico e antropologista Aleš Hrdlička que escreveu um longo relatório de 460 páginas ao Smithsonian Institute. Nativos do sudoeste americano visitados por ele comiam uma dieta predominantemente de carne (principalmente de búfalo) e ainda assim essas pessoas pareciam muito saudáveis e viviam até longa idade. O censo americano revela que a presença de centenários entre esses nativos era de 224 homens e 254 mulheres para cada milhão. Já entre os brancos (caucasianos), a proporção era de apenas três e seis por milhão, respectivamente. O antropólogo ainda se espantou com a lucidez e a independência no dia a dia desses nativos idosos de idade muito avançada. 160 Danilo Balu Mais do que isso, ele ficou surpreso com a ausência ou raridade de doenças crônicas, tumores ou cânceres entre os índios estudados. Nada de arteriosclerose, apendicites, úlceras estomacais ou graves problemas no fígado entre os mais de 2.000 examinados. Hrdlička deduziu que se comer carne não foi o responsável pela longevidade e boa saúde do grupo, parece lógico concluir que a dependência da carne como grande fonte alimentar não prejudica a boa saúde. Quando foi feita essa observação de Aleš Hrdlička? Entre 1898 e 1905. C A P Í T U L O 2 1 O cenário para a restrição de gordura Nutrição é um esporte sangrento. Quando a ciência é fraca, é a política quem resolve. (Nina Teicholz) De lá para cá, as orientações sofreram uma guinada incrível, ainda que sem embasamento. Mas as ideias por trás das diretrizes americanas feitas por volta de 1970 não foram fruto apenas do acaso. É preciso contextualizá- las. Se cerca de quatro décadas atrás as recomendações dos diversos órgãos oficiais de saúde foram baseadas em leituras de estudos equivocados, talvez tenha havido também certa pressa por algum motivo. Se formos investigar o medo que os americanos e muitos de nós temos pela gordura, precisamos voltar então e entender o que se passava no senado dos EUA em julho de 1976. Foi neste período que o então senador George McGovern convocou uma audiência para alertar sobre os riscos e a relação que haveria entre a dieta deles naquele tempo e as doenças cardiovasculares, como dissemos no capítulo 19 sobre a criação da pirâmide alimentar. Voltando ainda um pouco mais, em 1968 e ainda então membro do Comitê da Agricultura, George McGovern assistiu ao documentário da CBS Hunger in America. O político foi sensivelmente tocado ao saber que a fome ainda era uma realidade de parte da população do país de economia mais robusta do mundo ao assistir a uma criança morrer em frente às câmeras do programa da TV. A pequena criança americana não tinha condições financeiras nem merenda gratuita para ter o que comer na escola. O político se viu no mesmo instante disposto a já no dia seguinte ir ao seu gabinete para fazer algo urgente contra isso. Meses depois ele seria nomeado o chefe do Senate Select Committee on Nutrition and Human Needs. Por volta de 1970 eles repaginaram o programa de food stamp (programa social americano que oferece vale-alimentação aos mais necessitados, uma espécie ou variação do bolsa-família nos EUA) e o Special Supplemental Nutrition Program for Women, Infants, and Children (WIC) que funciona até os dias de hoje. É nessa época ainda que a American Heart Association (AHA) estende sua recomendação de dieta de baixa gordura também às gestantes e crianças. O governo americano cria um programa de apoio e assistência às mulheres com crianças permitindo apenas leites semidesnatados ou desnatados para crianças acima de dois anos. Sucos adoçados, achocolatados e cereais matinais, todos ricos em açúcar, seguem permitidos e recomendados. E não era só isso o que ocorria naqueles tempos. O leitor precisa saber que aqueles eram anos em que não era incomum homens de meia-idade morrerem subitamente vítimas de um ataque cardíaco. Somente durante os anos 60 e 70, por exemplo, oito senadores americanos morreram vítimas súbitas de problemas cardíacos em seus escritórios no Senado. E como os políticos mais poderosos eram justamente os homens de meia-idade, não foi difícil transformar a especialidade no alvo das pesquisas e dos investimentos. Antes disso, em 1955 o então presidente americano Dwight D. Eisenhower sofrera um episódio de ataque cardíacoii que o deixou por sete semanas internado em um hospital e uma nação em pânico com o risco de perder um presidente para uma doença do coração. Pareceu não importar que ele fumava quatro maços de cigarro por dia, a questão passou a ser não só ter o que comer. Era preciso educar o povo americano do que era o mais saudável a comer. Aqueles eram anos também nos quais os problemas consequentes do tabagismo já eram conhecidos, mas o peso da nossa alimentação em nossa saúde cardíaca estava apenas entrando no radar. Os cientistas diziam ter evidências que alimentos ricos em gordura saturada como ovos, manteiga, carne vermelha e laticínios integrais poderiam aumentar os níveis do colesterol LDL. Mas havia ainda muitas complexidades que eles mesmos ainda não compreendiam muito bem, além de não haver informação e dados suficientes. Nota de Rodapé: Recomendo a leitura do capítulo inicial de Good Calories Bad Calories de Gary Taubes1 recontando toda a intervenção médica na dieta e hábitos de Dwight D. Eisenhower que não resultou em nenhum tipo de melhora dos indicadores (o paradoxo de Eisenhower), por mais radical que fosse sua dieta de restrição de gordura. C A P Í T U L O 2 2 As consequências inesperadas da substituição O problema é que o voluntarismo de George McGovern resultou na criação das equivocadas e primeiras diretrizes nutricionais para osamericanos. Pior: apressadamente, o pensamento corrente era de que era preciso reduzir a ingestão das gorduras saturadas. Uma vez que ela sem muito cuidado e pesquisas foi considerada uma vilã do coração, reduzir seu consumo seria algo bom. E nada mais fácil do que fazer isso baseado na teoria de simples troca substituindo o leite, o queijo, ovos, manteiga e as carnes gordurosas por carboidratos (massa, batatas, arroz e grãos, por exemplo). Assim, nós viveríamos mais, melhor e seríamos mais magros. Como tudo tinha fundamento na questão do balanço calórico, subestimou-se, ou não se considerou, que a saída da gordura saturada da dieta, acarretaria em uma inevitável substituição energética também por carboidratos e muito açúcar, alimentos cujo peso e influência em nossa saúde ainda não sabíamos nem entendíamos muito bem. E nessa estratégia de simples troca, a indústria alimentícia viu um enorme campo de oportunidade para criar, produzir e vender toda uma nova gama de produtos de baixa gordura e ricos em carboidratos. A fórmula era: tire a gordura, troque-a por carboidratos. Ao tentar combater principalmente um problema – o risco cardíaco – cortando o consumo de gordura saturada, é bem provável que essa nova diretriz nutricional tenha feito surgir um ambiente propício para o crescimento descontrolado da diabetes e obesidade. Uma medida bem- intencionada pode ter sido a responsável por uma das maiores crises de saúde da história. Mas o que diz a ciência? Depois de décadas de recomendação sobre os supostos males causados pela gordura saturada como as da manteiga, cientistas não encontram evidências de ligação dela com problemas cardíacos. Inúmeros estudos dos quais vamos falar aqui de alguns analisaram uma quantidade enorme de dados e concluíram que as gorduras poli-insaturadas dos óleos vegetais, recomendadas para substituir a saturada, estão longe de serem saudáveis, elas não têm efeitos positivos na redução do risco cardíaco. Estes estudos aumentam o coro das vozes que pregam sobre o real papel e participação do açúcar, carboidratos e gorduras em uma dieta saudável. Para melhor compreensão, vamos dividir as gorduras em dois tipos: as saturadas e as insaturadas. Para simplificar, a gordura é uma cadeia de átomos de carbono rodeada por átomos de hidrogênio. E é o tipo de ligações que faz o ácido graxo ser saturado ou insaturado. Uma ligação dupla, encontrada nos insaturados é menos estável porque ela pode virar uma ligação simples e se ligar a um novo átomo. Um ácido graxo monoinsaturado, como o nome diz, possui apenas uma única ligação dupla. Enquanto os poli-insaturados possuem mais do que isso. Já as saturadas não têm nenhuma, elas já estão “saturadas” de átomos de hidrogênio, sendo também por isso mais estáveis e são sólidas à temperatura ambiente. Aliás, é essa característica física que explica o outro motivo do porquê também falamos “gordura animal” e “óleo vegetal”. A gordura insaturada é importante dividi-la em três: as poli-insaturada ômega-3 (a encontrada em alguns peixes, por exemplo), as poli- insaturada ômega-6 (a dos óleos vegetais comerciais) e as monoinsaturadas ômega-9. Para ficar ainda mais fácil entender, adotemos o ômega-3 como a encontrada em alguns peixes e vegetais (exemplo: abacate e castanhas) e os óleos vegetais comerciais como uma gordura insaturada rica em ômega-6. E o azeite de oliva é uma exceção aqui, porque ele é monoinsaturado e rico em ômega-9. Ou seja, sua estrutura molecular possui características próprias que não a fazem serem pró-inflamatórias e nocivas como são os óleos vegetais convencionais. Repare ainda que falamos no plural porque as insaturadas são mais de uma, é importante que fique claro ao leitor que diferente dos açúcares simples que possuem poucas variações, como glicose e frutose, é muito importante que entenda que as gorduras e os óleos são muitos, com diferentes efeitos e diversas consequências. Essa simplificação para justificar a retirada da saturada de nossa dieta é outro gravíssimo erro. Porque simplificou a ponto de supor que apenas ter colesterol fizesse da gordura saturada uma opção pior, sem avaliar toda uma gama de outros fatores nas insaturadas e mesmo nas saturadas. Esses óleos vegetais de que tratamos aqui são os óleos comerciais vendidos em garrafas transparentes (antigamente em latas) em qualquer supermercado. Esses são óleos que ficaram disponíveis para consumo ainda no século passado, por volta de 1900, quando ficou acessível a tecnologia para extraí-los das sementes das plantas. O processo é inteiro e completamente industrial, químico e envelopado como sendo um produto natural e mais saudável por não ser gordura saturada animal. Como esses óleos vegetais são ricos em ômega-6, um ácido graxo essencial em humanos, aumentar substancialmente o consumo de apenas um elemento essencial parecia não acarretar problemas. A questão é que antes da industrialização dos óleos vegetais, a proporção no consumo deles, relação essa também fundamental para a nossa saúde, era de um a quatro ômega-6 para cada ômega-3. E essa proporção pode hoje chegar a 16 vezes mais ômega-6 (dos óleos vegetais) para uma de ômega-31. Só que este excesso não é bom porque ele tem sérias consequências, como o aumento de inflamações2, que é um fator muito comum em doenças cardíacas, câncer, diabetes e artrite, por exemplo. Além disso, o ômega-6 é muito instável quimicamente e pode conter ainda as hoje sabidamente perigosas gorduras trans3 que podem causar doenças cardíacas, câncer, diabetes e mesmo obesidade4, 5, 6. E o risco da substituição não é pequeno. Ao menos sete estudos compararam pessoas que substituíram gordura saturada por óleos vegetais ricos em ômega-6. Se em quatro deles não houve diferença estatística relevante, em três estudos, as pessoas que consumiram mais desses óleos vegetais poli-insaturados tiveram maior mortalidade7, 8, 9. Além disso, a concentração de ômega-6 no sangue parece ter alta relação com mortalidade por doença cardíaca10. Outros estudos relacionam o consumo desses óleos com violência (homicídios)11, com prejuízo da imunidade em crianças que consomem leite materno rico em ômega-612, gordura e complicações hepáticas em ratos que consomem muito desse óleo13. A gordura saturada por sua vez é a gordura que chamamos de origem animal. Diferente das insaturadas, essa gordura não é facilmente oxidável, processo esse danoso e nocivo ao alimento e ao nosso organismo. Por fim, sobrou a gordura poli- insaturada ômega-3 presente em muitos peixes, que possui vários benefícios do ponto de vista da saúde. Cortar a condenada gordura saturada da indústria alimentícia foi ainda um desafio gastronômico, ou seja, do ponto de vista do aspecto e do sabor, foi uma enorme e dispendiosa tarefa passar a usar os óleos vegetais (poli- insaturados) que nem sequer tinham benefícios comprovados. Por outro lado, esses óleos são muito mais baratos que a gordura saturada animal, então a opção uma vez feita, passou a ser interessante comercialmente. Mas havia outro problema, pois não há estudos bem conduzidos sobre sua segurança. E sabemos já que elas são mais instáveis e oxidáveis (quando aquecidas a altas temperaturas14). Para tornar tudo ainda mais complicado, com o aumento do coro condenando o consumo atual dos óleos vegetais, a indústria se vê agora impossibilitada de voltar a usar as gorduras saturadas seja porque as diretrizes seguem com a condenação ou por todo um temor e receio público de consumi-la. As gorduras saturadas e o colesterol são há muito tempo considerados os vilões e os maiores culpados pela obesidade e doenças cardíacas. Mas agora surgem vozes dissonantes que tentam trazer evidências mostrando o porquê é um equívoco essa demonização. No discurso de defesa dessas evidências, na quase totalidade delas seria o açúcar e os carboidratos a ser os alimentos a serem mais restringidos em uma dieta adequada. Uma das descobertas, por exemplo, é que o total de gordura saturada consumida em nossa dieta, por si só nãoapresenta ligação com doenças cardíacas. Outra conclusão é que não há evidências apontando benefícios que suportem diretrizes que encorajem um alto consumo de gorduras poli- insaturadas do tipo ômega-6 e/ou um baixo consumo de gorduras saturadas. Basicamente, não só a saturada não faz mal, como pouca tampouco fará bem, pelo contrário, já que menos consumo dela significa mais consumo de algum outro nutriente. C A P Í T U L O 2 3 Ancel Keys: o nome do homem por trás da ideia Hoje, se você corta a gordura da sua picanha, opta pelo leite desnatado em detrimento do integral ou tenta achar algum sabor na ricota ou num corte magro e sem pele de frango, saiba que a guerra contra as gorduras começou provavelmente nas mãos de um único homem. Ou ainda como diz Richard David Feinman em seu livro The World Turned Upside Down: sempre que você vir um produto low-fat na prateleira do supermercado, você estará diante de um artefato de uma das histórias mais bizarras da história da ciência. Neste cenário é que entra Ancel Benjamin Keys (19042004), não só um pesquisador muito respeitado à sua época, como possuidor de uma personalidade cativante que fazia defesa ferrenha de suas teses. E aproveitando do dom da argumentação, fazia uso de qualquer artifício, até o do questionável hábito de escolher quais amostras usar para provar seu ponto. Muito do que achamos que sabemos sobre os efeitos e supostos perigos do alto consumo de gordura vem principalmente como resultado de um projeto obstinado e obsessivo de pesquisa feito por ele que, quase duas décadas antes de seu mais famoso estudo, o “Estudo dos Sete Países” (Seven Countries Study), já advogava contra as gorduras saturadas1. Esse clássico estudo começou em 1958, nele Keys comparou os hábitos, a saúde e a dieta de quase 13.000 homens de meia-idade nos EUA, Japão e Europa. Uma das conclusões seria a de que as populações de países que consumiam grandes quantidades de gordura saturada em alimentos como carne e laticínios, tinham altas taxas de problemas cardíacos. Por outro lado, aquelas nações cujos indivíduos comiam mais grãos, peixes, castanhas e vegetais não apresentavam este problema de alta incidência. Com esses dados e minimizando o fato de que correlação de duas coisas não significa necessariamente que uma cause a outra, Keys incansavelmente, e utilizando de táticas um tanto quanto questionáveis do ponto de vista ético, persuadiu a agência americana AHA em 1961 em favor de sua teoria que associava risco cardíaco a consumo de gordura saturada resultando na primeira diretriz americana do tema ainda em 1961. Porque assim foi sugerido que deveríamos reduzir a ingestão de gordura para 30% das calorias ingeridas e que a saturada se limitasse a 10% do total calórico2. Pode ter demorado, mas em 1980 o U.S. Department of Agriculture adotou também suas recomendações. O problema do estudo de Keys é que em 1953, já convenci do de que as gorduras na dieta são as responsáveis pelas doenças cardíacas, ele publicou seu Six Country Analysis (Análise dos seis Países). Essa era uma apresentação prévia do famoso “Estudo dos Sete Países”, sugerindo a associação entre o consumo da gordura saturada, mortalidade e doenças do coração. Já que ainda que houvesse dados de 22 países, Ancel Keys, em uma manobra um tanto quanto estranha e inexplicável, escolheu apenas seis países, justamente aqueles que confirmavam sua teoria. Quando analisado de perto vemos que ele escolheu apenas dados dos países que davam suporte à sua hipótese (como Itália, Finlândia e antiga Iugoslávia), escondendo ou deixando de lado os dados de países que refutariam sua tese, como França, a então Alemanha Ocidental, Suécia, Holanda, Chile, Noruega e Suíça. Dentre os países cuidadosamente escolhidos, ele se assegurou de incluir Itália e Japão, países vindos da Segunda Guerra Mundial que sofreram com racionamento de comida, algo que tem profundas consequências nesses marcadores. Na verdade, as manobras tinham explicação, Ancel Keys queria a qualquer custo provar seu ponto, assim ele acabou filtrando 16 dos 22 países porque eles não se encaixavam em sua hipótese3 e manipulando os dados ele conseguiu achar justamente aquilo que esperava encontrar. Além disso, Keys listava os países utilizando dados independentemente do destino a que seria dado à gordura, pois o que era avaliado era a produção de gordura saturada, não necessariamente seu consumo, se era para ser exportado ou usado na indústria não alimentícia, por exemplo. Já convencido de sua teoria, ele parecia apenas buscar dados que confirmassem sua te oria, mesmo que para isso fosse preciso escolher quais números usar. A manipulação e tratamento das informações foi tão grave e sério, que quando em 1999 o pesquisador italiano Alessandro Menotti analisou alguns dos mesmos dados4, ele acabou encontrado uma maior correlação do consumo de açúcar (e não gordura saturada5, o pilar da tese de Keys) com o risco cardíaco. Esse sistemático viés de Keys teve um preço incalculável porque, por décadas seguintes6, levaria muitos órgãos a adotar medidas contraproducentes7. Mais grave ainda talvez tenha sido o desenrolar de seu famoso estudo na Ilha de Creta (Grécia), quando Keys de uma forma um tanto quanto suspeita em episódio que só foi revisto em 2005 por pesquisadores da Public Health Nutrition, avaliou a dieta de um grupo mínimo de 499 sujeitos (e não dos 12.770 participantes ou os 655 previamente selecionados). Keys subavaliou enormemente o consumo de gordura saturada desses, já que durante o período de jejum religioso (lent), o qual se encontrava cerca de 60% dos moradores na época, havia uma redução de cerca de 50% no consumo dessa gordura, segundo um levantamento feito entre 2001 e 2002. O jejum desses moradores indiscutivelmente acaba por ter um peso fisiológico e grande influência. Mas aí já era tarde demais, suas conclusões, num misto de obsessão, ambições pessoais misturadas com pesquisa enviesada, virariam um dogma que se arrastou incontestavelmente por muitos e muitos anos. Podemos dizer assim com segurança que Ancel Keys estava tão convencido que a gordura saturada era a culpada pela arte riosclerose que ele passou a ver tudo por essa perspectiva a ponto de escolher cuidadosamente quais resultados usar em suas pesquisas. Em 1961, quando Ancel Keys vira capa da revista Time Magazine, seu discurso orquestrado e selecionando os dados dizendo que pouca gordura (na dieta) é melhor para a saúde ganharia uma força sem precedentes. Alguns outros estudos nos anos 70 vieram supostamente apoiar as teses de Keys. Alguns grandes acompanhamentos tentavam encontrar benefícios do consumo dos óleos vegetais, como os de milho ou soja, sobre a gordura saturada. Mas eles vinham cheios de falhas metodológicas, seja porque não controlavam o tabagismo entre os analisados, seja porque o acompanhamento era falho a ponto de não controlar a aderência (entrada e saída dos indivíduos) à dieta. Os resultados são assim, na melhor das hipóteses, não confiáveis. A questão é que muito esforço e – principalmente – muito dinheiro já vinham sendo investidos no estudo da tese de Keys. O viés para provar seu ponto era tão grande que a corrida não era mais para buscar as respostas certas, mas apenas comprovações da teoria levantada. O campo amostral era cego e tão grande que em 1977 Mark Hegsted, professor de Nutrição de Harvard e um entusiasta das ideias de Keys, de quem já falamos aqui, tentando persuadir o senado americano a adotar a dieta sugerida, argumentava dizendo que a questão não era mais se a população americana deveria adotá-la, mas “por que não a adotar?”. Afinal, segundo Hegsted, nenhum risco poderia ser identificado e benefícios poderiam ser esperados. Assim, ele basicamente achava seguro a população dos EUA se tornar cobaia de um enorme experimento de nutrição, uma vez que não havia estudos prévios bem conduzidos demonstrando a segurança de tal dieta. C A P Í T U L O 2 4 O risco dos óleos vegetais à nossa saúde Comer alimentos com gordura saturadaelevam os níveis sanguíneos de colesterol. (American Heart Association) Outra grande e grave consequência de toda a política de restrição da gordura saturada não é apenas a troca direta dela por carboidratos, sejam os de baixo ou alto IG, refinados ou não. Mas também a utilização dos óleos vegetais. Em 1956 a AHA apresentou na TV em rede nacional sua versão e explicação para a então epidemia de doenças cardíacas: consumo de manteiga, banha, carne vermelha e ovos. A solução para isso, segundo a associação, seria a substituição por óleo de milho, margarina, frango e cereais. E então em 1957 pela primeira vez a margarina, rica em ômega-6 (ácido linoleico) que pode causar inflamações diversas no organismo, ultrapassa a manteiga em vendas. Quando a AHA em 1961 enfaticamente sugeriu à população que comesse menos gordura saturada e trocasse essa opção por óleos vegetais em nome da “saúde do coração”, ajudou a disparar não só a venda de margarinas, mas a de óleos vegetais que hoje respondem por cerca de 8% das calorias da dieta americana, quando em 1900 esse valor era próximo de 0%. Ou seja, um dos maiores crescimentos no consumo orientado de qualquer tipo de alimento no século passado foi o de um pouco compreendido e/ou pesquisado. Ao pedirem que cortássemos o consumo de gordura saturada, passamos a consumir muito mais gordura insaturada, principalmente dos óleos vegetais. E essa orientação de substituição é paradoxal porque não havia nenhum histórico de tamanho consumo em toda a história da humanidade antes de 1900. Aqui vale um adendo: em 1948 a própria AHA foi uma milionária beneficiária de uma das maiores produtoras mundiais desses produtos. O patrocínio da entidade por essa empresa ajudou a catapultar o tamanho (e poder) de uma associação que até então era pequena e que passou a receber, nos anos 60, cerca de U$30 milhões de patrocínio indireto anual de uma multinacional produtora de alimentos de baixa gordura saturada em um claro e questionável conflito de interesse. O problema em adotarmos uma dieta assim que parecia saudável com tantos óleos vegetais é que estudos clínicos apontavam que os consumidores acabavam sofrendo maior incidência de câncer, pedras nos rins e, mais surpreendente, mortes não relacionadas, como suicídios e mortes violentas. Alarmados, no começo dos anos 80, ou seja, com o carro andando e dando sinais de falha após abastecê-lo com um combustível desconhecido, o NIH tentava explicar as razões, mas sem muito sucesso e sem voltar nas diretrizes. Ou seja, a troca de gordura saturada pelos óleos vegetais foi um enorme experimento porque nunca havia sido testada corretamente antes de ser recomendada. Somente 30 anos depois ela passou a ser testada e os resultados foram desanimadores. Apenas agora está sendo conduzido pelo NIH e encabeçado por Christopher E. Ramsden um teste clínico controlado e bem feito, para melhor entendermos os impactos do consumo desses óleos em nossa saúde e nos níveis de colesterol. Isso décadas depois da recomendação. O que sabemos há muito tempo, desde os anos 40 para ser mais exato, é que esses óleos quando aquecidos são facilmente oxidados podendo estar envolvidos em inflamações diversas. Mas os cientistas descobriram que eles poderiam ser estabilizados quimicamente em um processo chamado hidrogenação que ainda os fariam estar no estado sólido em temperatura ambiente. Dos anos 50 em diante, este tipo de óleo endurecido foi uma panaceia à indústria alimentar, pois ele aumentava o tempo de duração dos alimentos na prateleira, sua textura e sua maciez, tudo resultando em maiores lucros. Além disso, esse óleo endurecido é livre de colesterol, ou seja, não tinha como não ser melhor aos olhos de um público que teme a substância. Porém, a hidrogenação produziu as temidas gorduras trans que sabemos hoje, após suspeitas que vinham desde os anos 70, interferem no funcionamento celular e aumentam o colesterol LDL. Isso fez com que o Food and Drug Administration (FDA) em 2003 obrigasse que elas fossem discriminadas nos rótulos e tabelas nutricionais. Em 2014 ele acabou por bani-las. Muito cuidado ao considerar que estaríamos livres e protegidos das gorduras trans. Por causa de tecnicismos nas regras que definem o que significa “zero gordura trans”, alguns alimentos foram propositadamente particionados em tamanhos e pesos menores do que antes do decreto para que os alimentos se encaixem dentro da nova determinação. Ao comermos a mesma quantidade baseada no peso, iremos consumir uma quantidade perigosa do nutriente. Mas aos olhos da lei, a porção sugerida e propositadamente reduzida, respeita as regras. Legenda da imagem: não se engane, por mais que nutricionistas e médicos advoguem contra a gordura saturada como se a diferença entre ela e os óleos vegetais estaria principalmente na ausência do colesterol nos alimentos de origem vegetal, é importante atentar que nem todos os óleos são iguais. Aqui apenas por curiosidade você tem a estrutura molecular simplificada de alguns dos óleos mais comuns. A estrutura dos do tipo ômega-3 faz deles mais estáveis, menos sujeito à oxidação e produção de radicais livres, um marcador pró-inflamatório que faz o consumo excessivo dos óleos ômega-6 aumentar o risco cardíaco. A solução encontrada por muitos na cozinha, seja amadora ou a industrial, com a recente proibição da gordura trans seria naturalmente retornar ao uso das gorduras saturadas animais, uma vez que os óleos vegetais são facilmente oxidáveis em altas temperaturas. (*Esses óleos poderiam ser usados com maior segurança em frituras de até 180ºC)1. Mas não há ambiente para que a indústria volte à gordura saturada sem ser acusada de querer nos matar com colesterol. Isso tudo não deixa de ser um disparato. Se os cientistas parecem ter entrado em consenso sobre a ideia que as gorduras do tipo trans aumentam o risco de doenças cardíacas2 por processos inflamatórios por causa de seu consumo, por outro lado a equivocada ideia que o consumo da gordura saturada deve ser limitado para redução do risco cardíaco ainda permanece por quatro décadas até o presente momento nas diretrizes nutricionais mesmo com pesquisa mal feita dando suporte às teses nunca comprovadas. Visto hoje pelos riscos dos óleos vegetais, podemos dizer que a história do consumo deles como substitutos à gordura saturada é no mínimo preocupante e nem de longe aquilo que a população espera como uma solução adequada dada pelos órgãos de saúde que deveriam trabalhar para promover a saúde pública ensinando e recomendando as melhores, as mais saudáveis e mais seguras opções. C A P Í T U L O 2 5 Os marcadores do risco cardíaco Toda essa mudança de hábitos está justamente no caráter extremamente complexo da relação entre colesterol e doenças cardíacas. O colesterol LDL, por exemplo, é apenas um dos marcadores de risco. E a gordura saturada parece ter um papel nulo, nem benéfico nem deletério, diz por exemplo o pesquisador Dariush Mozaffarian da Harvard School of Public Health, autor de artigos no assunto. Ou seja, a gordura saturada não seria um vilão, mas apenas parte de todo um intrincado quebra-cabeça que hoje é mal compreendido e que foi simplificado de maneira trágica décadas atrás. Todo esse questionamento vai de encontro ao que vínhamos sendo orientados a fazer, a ideia de que deveríamos comer alimentos como carnes vermelhas, laticínios integrais e manteiga com muita moderação sob o risco de maior chance de incidência de ataques cardíacos ou problemas de ordem cardiovascular. As diretrizes, até então, apontam para a substituição desta gordura pela insaturada, mesmo que sem evidências claras sobre sua segurança. Basicamente, passamos a cada nova diretriz a ser orientados a comer menos alimentos naturais como ovos, carnes e derivados diretos do leite. Passaríamos a comer alimentos industrializados que corrigiriam assim excessos ou erros da natureza, como os óleos vegetais. Aqui cabe um reforço:óleos vegetais comerciais não são alimentos naturais. Todo o seu processo é industrializado quimicamente e mecanicamente. A esta altura você já deve ter ouvido outros termos em moda atualmente falando de novas dietas ou estilos. Simplificando, podemos citar o Paleolítico (ou Paleo), o Primal e o Comida de Verdade (“Eat real food”). Há pequenas divergências entre elas e mesmo outras divisões que podem se tornar inúmeras. Mas podemos dizer de um modo mais geral que no Paleolítico a ideia é simples, o que não está sendo consumido por nós há milhões de anos é improvável que nos faça bem. Muitos povos do período paleolítico eram low-carb. Ou seja, tinham uma dieta restrita em carboidratos porque eles não faziam uso da agricultura nem tinham acesso fácil a esse nutriente e comiam pouco ou nenhum alimento derivado de leite. Nosso organismo teria se adaptado assim a uma realidade em que o carboidrato era um alimento escasso, de difícil obtenção e, assim, pouco consumido. Já o Primal seria uma espécie de paleolítico estendido além da nutrição e da dieta. O Primal seguiria os preceitos dos povos paleolíticos também no que diz respeito ao exercício (como treinar e se exercitar, além daquilo que diz respeito à sua intensidade e duração), repouso, sono, lazer e gerenciamento do estresse. No Comida de Verdade (Eat real food) há certa convergência com o Paleo porque destaca a importância de comermos comida “de verdade”, não produtos industrializados e/ou com conservantes, corantes e estabilizantes. Podemos dizer que os três em maior ou menor grau batem na tecla de insistir em “comida de verdade”, ou seja, sem produtos processados, muitos industrializados, produzidos de forma mais natural, orgânicos, sem muitos agrotóxicos ou alimentos transgênicos etc. E haveria uma razão para isso. Parece ficar claro que o tipo de alimentação dada aos animais na pecuária parece interferir substancialmente no perfil de gorduras do animal. Sendo assim, animais alimentados com ração de milho, por exemplo, seriam menos nutritivos, com impacto negativo no risco cardíaco do consumidor se comparado com aqueles criados se alimentando de pastagem natural. O gado alimentado e criado no pasto parece ser mais rico em ômega-3 do que o criado com ração (7% contra 1% da gordura total), justamente a gordura mais estável, menos oxidável e menos inflamatória. Enquanto isso, parece haver algo como 20 vezes mais ômega-6 do que ômega-3 em gados criados com ração feitas de grãos, entre eles, a discutida soja. Há autores que dizem que essa proporção na dieta deveria ser na casa de um a quatro1, 2. Porém, em gados criados e alimentados no pasto, essa relação cai de 20 para um, ou seja, bem mais próximo do que seria ideal em nossa dieta. Poderíamos ainda argumentar que um ainda não é o valor ideal, mas consumir essa carne pode, sim, ajustar assim uma balança que tende a ser muito maior do que isso, uma vez que já dissemos que com a industrialização dos óleos vegetais essa relação, também fundamental em nossa saúde, saltou podendo hoje chegar a incríveis 16 vezes mais ômega-6 para cada ômega-33. O temor da soja transgênica é outro desafio já que esta faz essa proporção no gado subir para inacreditáveis 60, muito acima do criado no pasto (cerca de um) ou à base de ração de milho (cerca de 20). Uma discussão levantada por Denise Minger em seu livro The Death by Food Pyramid4 estende a questão ainda sobre o quanto de salmão teríamos que ingerir para compensar com ômega-3 o abuso da vida moderna com o ômega-6. Ela explica o quanto comer desse peixe seria necessário para contrabalancear com o que há do ômega-6 em apenas duas colheres de sopa de alguns óleos populares. Dos mais populares e consumidos no Brasil, é impor- tante sabermos que, usando as informações do Nutrition Data, ela encontrou que precisamos comer entre 6 e 10 porções de salmão, uma quantidade enorme, para equilibrar com cada vez que consumimos apenas duas colheres de sopa o óleo de soja. Já o óleo de milho, outro produto muito vendido e consumido entre nós, exige entre oito e 11 porções de salmão para as mesmas duas colheres! O de girassol um pouco menos, entre quatro e seis porções do peixe. Já a manteiga, tão inexplicavelmente condenada por causa do colesterol, exige menos da metade de uma única porção de salmão. E ainda vale lembrar que assim como o gado, essa conta é feita com salmão selvagem pescado, se consumirmos o salmão criado em cativeiro (cerca de 50% do consumo americano é de salmão de cativeiro), essa quantidade do peixe deverá ser ainda maior. C A P Í T U L O 2 6 O falso temor pelo colesterol Altos níveis de colesterol aumentam suas chances de ter uma doença cardíaca ou um infarto (American Heart Association) O nosso medo do colesterol é bem antigo. Desde o século 19 já se sabia que as placas nas artérias continham colesterol. Em 1912, o patologista russo Nikolaj Anitschkow realizou experimentos em coelhos nos quais os alimentava com dietas riquíssimas em colesterol extraído de gemas de ovos de galinha. Elas eram diluídas em óleo de girassol seguindo teorias baseadas em estudos anteriores que também alimentaram coelhos com alimentos ricos em colesterol como ovos, carne e leite. Os coelhos de Anitschkow foram alimentados com uma dieta incrivelmente alta em colesterol, era o equivalente a 100 ovos por dia para um humano (ou 5% do peso da pessoa em colesterol). Eles apresentaram depósitos de colesterol nas artérias e também em diversos outros tecidos, inclusive fígado e rins, coisa que não ocorre em humanos. Isso não chega a ser surpresa porque animais herbívoros como os coelhos não são metabolicamente adaptados para consumir tanto colesterol e assim acabam o acumulando. Tanto que o próprio autor do estudo tentou replicar o experimento com cães, animais que se alimentam também de carne, e os resultados não foram sequer parecidos. Não houve acúmulo nem mesmo em outros animais mais próximos aos coelhos, como ratos e porquinhos da Índia. Dessa forma, a única coisa que estes experimentos provaram foi que coelhos não deveriam comer carne. E o simples fato de uma minoria dos coelhos de Anitschkow não terem jamais desenvolvido placas, o levou a concluir que o colesterol não era o único responsável pelo aparecimento dessas placas1. Isso porque estudos bem mais recentes mostram que nem o consumo de gordura saturada nem o colesterol da dieta são prejudiciais à nossa saúde2, 3, 4, 5. Não é o colesterol total alto, ou mais precisamente o colesterol LDL apenas, que prediz um maior risco cardíaco, mas alguns outros marcadores que são: baixo colesterol HDL, alta concentração de TG, aumento das partículas pequenas e densas do colesterol LDL e a alta glicemia. O que estamos tentando dizer é que esses são marcadores justamente melhorados com uma dieta de baixo carboidrato e que pioram em dietas de baixa gordura. A mera observação de populações já abala a tese do colesterol como um enorme vilão do coração. Uma comparação em vários povos feito pelo pesquisador Glyn Wainwright6, por exemplo, encontrou ausência de correlação de doenças cardíacas com ingestão de colesterol. Os aborígenes australianos, por exemplo, têm o menor consumo de colesterol e o maior índice de mortes por doença cardíaca. Há outro paradoxo mais famoso e conhecido. O Paradoxo Francês7 foi “criado” em 1987 em uma observação que mostrou que os franceses consumiam mais gordura saturada que os americanos (108g versus 72g) e ainda assim eram os americanos que tinham 38% mais doenças cardíacas. Não demorou para que o vinho fosse tido como a explicação para isso. Porém, o Paradoxo Alpino8 viria para questionar essa tese uma vez que os suíços tinham taxa de doenças cardíacas similar aos franceses, porém sem consumir vinho. E então a explicação passou a ser para muitos o queijo local. Outro paradoxo interessante é o Paradoxo Americano9. Nele, a arteriosclerose progride mais rapidamente justamente em quem consome menos gordura saturada. Foi isso o que encontrou em 2004 um importante estudo prospectivoanalisando 235 mulheres por mais de três anos. As que comiam menos gordura saturada tinham uma maior indesejada progressão da doença. Muito provavelmente o efeito positivo dessa gordura nos níveis do colesterol HDL, um protetor vascular, explique o paradoxo. E não é somente isso, como ainda falaremos, justamente aqueles que consumiam mais carboidrato tinham maior avanço da doença. Por fim podemos citar ainda o Paradoxo Espanhol10 criado com um estudo de 1995 que analisou dados de 1966 e 1990. Ele trata sobre o aumento do consumo de carnes e peixes entre esse povo concomitante a uma redução do consumo de carboidratos, óleos vegetais e grãos reduzindo o índice de mortes e doenças cardíacas. Esses são exemplos que apesar de serem considerados paradoxos na verdade mostram uma dissociação entre gordura saturada, níveis de colesterol e doenças cardíacas. Enquanto há a falsa ideia que colesterol é algo intrinsicamente ruim, temos que enfatizar que o colesterol HDL mais elevado é um marcador sanguíneo positivo. Ele é um fator de proteção11,12, mas ele por sua vez eleva o valor do colesterol total, reforçando o porquê visto isoladamente o nível de colesterol é um indicador que pode mais confundir do que ajudar. Focar, aliás, nos valores totais de colesterol e/ou apenas nos níveis de sua fração LDL foi um dos grandes erros da cardiologia por muito tempo. Hoje, por exemplo, sabemos que 2/3 das pessoas com entradas em hospitais sob suspeita de enfarte do miocárdio tem síndrome metabólica, mas 75% das pessoas apresentam13 colesterol em concentração dentro da normalidade. E esse achado não é coisa recente, o que nos faz questionar sustentar diretrizes tão questionáveis. O colesterol LDL é chamado costumeiramente de “colesterol ruim”, porém você não encontrará aqui neste livro referências sendo “colesterol ruim”, nem ao HDL como o “colesterol bom”, simplesmente porque isso não existe. Não existe algo essencial que seja bom ou ruim, não existe oxigênio “do bem” ou “do mal”. Não faz sentido do ponto de vista evolutivo que um corpo produza e mantenha circulante em condições normais algo que seja uma espécie de veneno para sua própria sobrevivência. O modo como a observação da relação com o colesterol e/ou gordura saturada com problemas cardiovasculares foi feita é como o de culpar um bombeiro por um incêndio. Sempre que você chegar a um prédio em chamas, os bombeiros estarão lá trabalhando, mas isso não faz deles os agentes do fogo, com o colesterol e a gordura não deixa de ser parecido. Precisamos entender que o consumo de colesterol e gordura saturada não fazem necessariamente mal, este é um mito criado nos anos 60 e 70 nunca cientificamente provado. Já a preferência dos profissionais de saúde pela busca de níveis baixos para o colesterol LDL sobre uma tentativa por aumentar os níveis do colesterol HDL de um paciente, parece estar menos relacionada com evidências ou razões médicas e mais motivada por razões bem mais comerciais. Esse enfoque na fração LDL pode se explicar pelo fato da indústria farmacêutica ter já conseguido criar medicamentos que reduzam esse indicador, mas não tenham obtido sucesso no desenvolvimento de um medicamento que aumente a fração HDL sem incluir sacrifícios outros, como dieta, exercícios e hábitos saudáveis como o abandono ou redução do tabagismo. Havendo um produto e sua praticidade, é natural que tenha havido tamanho sucesso com o medicamento e um enfoque sobrevalorizado na fração LDL sobre a HDL, mesmo com benefícios ainda bem discutíveis. O que chamamos de colesterol HDL ou LDL, os dois mais conhecidos, é na verdade uma lipoproteína que carrega colesterol pela corrente sanguínea. O nome, como pode ver, pode de início confundir. O Colesterol HDL e o LDL serão muito citados aqui no livro por serem os dois mais conhecidos e estudados por nós, além de até o presente momento serem provavelmente os mais ligados aos assuntos abordados no livro. O colesterol HDL e o LDL são como se fossem ou funcionassem como veículos transportadores. Além disso, possuem outras funções vitais como a síntese de vitamina D e hormônios sexuais. É interessante imaginar, ainda que de forma meio simplista e reducionista, a fração LDL como um táxi fazendo o trajeto do fígado ao restante do corpo carregando consigo colesterol. E pensemos na versão HDL fazendo o sentido inverso, trazendo o colesterol para o fígado metabolizá-lo. Pense na hipótese desse “táxi” LDL ficar “preso no trânsito” com seu “passageiro” colesterol. Esse tempo excedente no tráfego acaba por ultrapassar o tempo que o antioxidante que ele carrega junto consegue estabilizar o conjunto. Uma vez que isso acontece, há oxidação (estamos simplificando todo o processo para explicar o fenômeno) e nosso sistema imune começa a ver essa combinação de “táxi LDL ocupado e sem antioxidante” como um ser estranho, um invasor. Isso aumenta a chance de uma inflamação e uma série de outros riscos. Ou seja, muitos táxis LDL´s circulantes (altos níveis de colesterol LDL) são um risco porque em maior número, maior a chance de ultrapassar o tempo e assim se oxidar gerando inflamações, entre elas, nos vasos. Esse é o perigo de uma taxa alta da fração LDL. Mas vale reforçar que uma substância essencial à nossa vida não pode ser taxada de ruim. Vejamos outros exemplos. Em 1957, o pesquisador John Peters e a médica Margaret Albrink, ambos da Yale University, fazendo uso de uma centrífuga conseguiram mensurar os níveis de TG. Albrink concluiu que a alta concentração de TG era muito mais comum em indivíduos que sofrem de doenças coronarianas do que a alta colerestemia (níveis de colesterol no sangue). Outros pesquisadores confirmaram os achados. Primeiro foi Peter Kuo da University of Pennsylvania, depois Lars Carlson da sueca Karolinska Institute e mais tarde Joseph Goldstein da University of Washington. Mas havia nessas descobertas um enorme empecilho de ordem prática: àquela época, final dos anos 50, em função da tecnologia disponível, o nível de TG era um marcador muito mais difícil de se conseguir do que o do colesterol, poucos laboratórios conseguiam realizar a tarefa. Esse é um caso exemplar como o do colesterol. Antes de ser possível mensurar as diversas frações do colesterol, tomou-se as partes pelo todo, levou-se assim muito tempo para entendermos as diferenças fundamentais no risco cardíaco que desempenham os diferentes números de HDL e LDL. Com o triglicerídeo parece ter acontecido um pouco do mesmo. Ele “chegou depois” do colesterol ter ganho toda sua fama e sua condição de protagonista nas doenças cardíacas já estava montada. Mas isso em nada justifica que aos olhos do que sabemos hoje profissionais continuem a ignorar informações tão vitais, como a de que é o triglicerídeo e não o colesterol o mais importante marcador. Se erramos qual marcador deveria ser prioridade neste equívoco “triglicerídeo x colesterol”, este não foi o único grave erro. Muitos anos atrás haviam já descoberto também qual macronutriente da dieta piora esses mesmos dois marcadores. E a descoberta vai na direção contrária da apontada, seja pelo senso comum seja por órgãos como a AHA. Acho que a essa altura você já deve imaginar qual seja de fato o maior responsável. Vejamos. Em 1967, o mesmo Peter Kuo publicou no periódico JAMA um estudo com 286 pacientes14, 246 eram tidos como indivíduos com altos níveis de colesterol por alguma razão genética. Ele então descobriu que menos de 10% deles mantinham uma hipercolerestemia genética. Na verdade cerca de 90% deles estavam nessas condições por causa do alto consumo de carboidrato. Quando submetidos a uma dieta com menos de 150g por dia do macronutriente, os valores dos TG e colesterol caíram a índices seguros. Antes de Kuo, Elliott Joslin, um renomado pesquisador no assunto e tratamento de diabetes, cerca de 40 anos antes já havia afirmado algo parecido falando que a concentração lipídica no sangue está associada ao consumo de carboidrato e não ao de gordura. E em maio de 1961, por sua vez, Pete Ahrens da RockefellerUniversity, um dos mais respeitados pesquisadores do assunto na história, e novamente Margaret Albrink da Yale University disseram para espanto de um grupo de médicos que a elevação dos TG está associada com o risco cardíaco e que é uma baixa ingestão de gordura e alta em carboidratos que aumentam os TG. Consumo de carboidratos, e não de gorduras, aumentavam assim o risco cardíaco. Mais recentemente, estudos vêm reforçando o quão mal interpretamos os indicadores. Em 2012, pesquisadores da Norwegian University of Science and Technology (NTNU) examinando por um período de 10 anos hábitos de saúde e estilo de vida de 52.087 adultos entre 20 e 74 anos de idade15, concluíram que as mulheres com colesterol alto (acima de 270mg/dl) tinham um risco de mortalidade 28% menor se comparado às de colesterol baixo (menos de 183mg/dl). Eles encontraram ainda que elas têm risco cardíaco maior quando esses níveis são baixos. Vem também da Noruega outro estudo importante16. Nele os pesquisadores mostraram que a ingestão de gordura saturada não está associada com o risco de eventos coronarianos ou mortalidade em pacientes com doença das artérias coronárias já estabelecida. Entre 1999 e 2004, 2.412 pacientes cardíacos daquele país foram analisados. Os dados nos levam a concluir que nenhuma associação entre o consumo de gordura saturada e gordura saturada no sangue foi demonstrada. Mais do que isso, o estudo mostra que um maior consumo de gordura saturada foi associado a um menor consumo de carboidratos totais, fibras e álcool. Estes pacientes também consumiam mais carne, queijo, manteiga, leite, ovos, bolos, açúcar e doces. Participantes com maior consumo de gordura saturada tinham menor probabilidade de ter complicações cardíacas ainda que esses mesmos indivíduos tivessem maior probabilidade de ser fumantes, de ter colesterol total e LDL mais altos, e TG mais altos. Ao ver isso deveríamos nos perguntar se então seria mesmo o colesterol o problema. Estamos vendo que uma maioria dos acometidos com eventos cardiovasculares tem síndrome metabólica, altamente relacionada com o consumo de carboidratos. Parece definitivamente que não estaríamos agindo certo ao olharmos para a gordura saturada e colesterol quando o colesterol total não é um preditor do risco cardíaco e quando a maioria das pessoas que sofrem um ataque cardíaco tem baixo ou normal nível de colesterol17. Não são apenas esses pesquisadores que defendem a tese, há ainda outros estudos mostrando que baixos níveis de colesterol estão ligados a uma maior mortalidade (de origem cardíaca ou não)18, 19 e indicando que alto colesterol parece não ser mesmo o problema20, 21, 22. Ou seja, estamos falando de um cenário que é muito mais complexo do que o de apenas um ou dois indicadores ou frações vistas isoladamente. Outro ponto solenemente ignorado é que a fração LDL do colesterol, apesar de “ser uma só”, pode ter perfis diferentes. Tê-la em sua maioria nas versões pequenas e densas pode ser perigoso enquanto sua versão maior passa a ser interessante e benigno23, 24, 25, 26, 27, 28. Para entender melhor a relação entre colesterol e doenças cardíacas, começaram a estudar melhor essas diferentes frações LDL e HDL do colesterol. Algo que é muito importante sabermos é que desde mais ou menos 1988, através das pesquisas de Ronald Krauss, sabe-se que o LDL teria uma espécie de lado B. Essa sua versão B, vamos chamar assim, é pequena e densa, entrando nas paredes dos vasos criando os bloqueios perigosos. Porém, uma versão A do mesmo colesterol LDL, é uma partícula maior e é associada com um menor risco cardíaco. Esse é mais um dos motivos por não haver razão para chamar a fração LDL de colesterol ruim, já que suas ações quando nocivas ao organismo não são consequências intrínsecas de uma característica, mas de uma concentração em quantidades indesejadas. Uma vez que o LDL é essencial à vida, não podemos taxar de ruim como se zerar a sua quantidade significasse uma vitória da saúde. Estudos ainda apontam que o consumo de gordura saturada pode mesmo aumentar os níveis de colesterol LDL, porém ele muda o perfil, aumentando os níveis da fração LDL do tipo A, que reduzem o risco cardíaco. Isso além de aumentar ainda os níveis do colesterol HDL, outro protetor cardíaco. Já o consumo de carboidratos refinados, aumenta os níveis da fração LDL do tipo B, ou seja, pioram o perfil do colesterol LDL circulante e ainda diminui a quantidade da fração HDL, diminuindo essa proteção cardíaca natural do organismo. E outros alimentos podem ter um efeito significativo sobre esse padrão da fração LDL como falaremos logo mais adiante. Colesterol LDL, gordura saturada e ovos Uma importantíssima meta-análise com 60 triagens foi publicada em 2003 e nela encontrou-se que o consumo de gordura saturada aumenta os níveis de colesterol LDL e do HDL no sangue29. E como o indicador da fração LDL tem uma associação positiva com um aumento do risco cardíaco29, isso levou o U.S. Department of Agriculture (USDA) e o U.S. Department of Health and Human Services (USDHHS) a recomendarem a redução do consumo das gorduras saturadas em 201029 para menos de 10% das calorias. Sugeriu-se substituirmos este nutriente pelas gorduras mono e poli-insaturadas29 e ainda, a recomendação de manter o consumo de gordura saturada “o mais baixo possível na dieta” feita pelo Institute of Medicine (IOM) em 200529 e pelo European Food Safety Authority (EFSA) em 201029. Decisões essas que foram criticadas por terem sido baseadas em falta de total evidência atualmente já existente no tema29. Essas decisões vieram se somar às de décadas atrás que sinalizaram a cura de uma doença com um remédio que não funciona. E vão aumentando a dose a cada revisão. Isto porque dietas baixas em gorduras saturadas até podem melhorar os níveis do colesterol LDL, mas apenas temporariamente. Depois de seis a 12 meses as diferenças não são significativas. Se há um temor de que dietas com restrição de carboidrato poderiam piorar os marcadores lipídicos como o colesterol LDL, ele não se justifica uma vez que estudos mostram que há apenas melhoras30, 31. E ainda que o temor do consumo de gordura saturada seja seu impacto nos níveis do colesterol LDL, seu efeito nesse marcador é inconsistente, fraco e parece depender de indivíduo para indivíduo32, 33, 34. Quando há mudanças, ela é a do tipo “bem-vinda” já comentada mudando positivamente o perfil desse colesterol35, 36, 37, de menor para maior. Como já dissemos, esse padrão importa no risco cardíaco. Além disso, no colesterol HDL esse maior consumo de gordura saturada pode resultar em aumento de sua presença38 que também é bem-vinda porque é sinal de menor risco cardíaco26, 29, 31, 36, 39, 40. Ou seja, a gordura saturada é um alimento seguro e carece de evidências que a provem como tendo ligação com as doenças cardíacas como apontou o resultado de uma ampla meta-análise publicada no Annals of Internal Medicine que concluiu que “há insuficiente evidência41 que dê suporte à longa recomendação de baixo consumo de gordura saturada preconizada por muitos órgãos governamentais atualmente”2, 3, 42. Não bastasse a falta de comprovação de seu benefício, as medidas de restrição do consumo da gordura saturada podem ser contraproducentes. Um estudo de 2013 no BMJ43 argumenta que a recomendação de redução do consumo de gorduras saturadas pode na verdade aumentar as chances de obesidade e aumentar o risco cardíaco. Talvez porque ele seja o vilão errado, um estudo comparando 21 diferentes tipos de dieta2 concluiu que mesmo consumindo alta quantidade de gordura saturada, a restrição de carboidrato foi o que levou a uma redução da gordura circulante, dando suporte às declarações dos especialistas já citados aqui. Quando investigado o comportamento de pessoas e analisados se um maior consumo de gorduras saturadas foi seguido de um maior risco cardíaco ou casos de problemas cardíacos, verificou-se não haver relação consistente. Estudos mais novos encontram associação nula entre consumo destagordura e risco coronário dando suporte a esta referida análise com quase 350.000 participantes2. Mas e outros alimentos ricos em colesterol? Os ovos, por exemplo, talvez sejam o melhor exemplo de alimento saudável e seguro que sofre de tempos em tempos alguma restrição e são condenados. O ovo é um alimento tão nutritivo a ponto de permitir que uma célula fecundada possa dar origem a um filhote de galinha. O ovo é um dos alimentos mais demonizados na atual cultura de combate ao colesterol na dieta porque ele é rico nesse nutriente. Porém, seu consumo não aumenta os valores do colesterol LDL44. A questão é que o colesterol na dieta não necessariamente implica em elevação da colesterolemia e o ovo nunca teve seu consumo provado como perigoso. Além disso, o ovo é um alimento de alto valor nutricional, possuidor de vitaminas, minerais e antioxidantes45, 46. Ele acaba por melhorar o perfil lipídico aumentando os valores do colesterol HDL47, 48. Outros estudos observacionais mostram que o consumo de ovos não está relacionado com aumento do nosso risco cardíaco4, 5, 48, 49. Como está na gema a maior parte dos nutrientes, a recomendação facilmente encontrada para que se descarte a gema comendo apenas a clara, poderia ser descrita como uma das mais estúpidas recomendações nutricionais de toda a história da Nutrição. O colesterol LDL por sua vez parece que visto isoladamente tampouco é um ótimo marcador. Essa é a conclusão feita por um levantamento com 231.986 pacientes hospitalizados que possuíam níveis de LDL adequados50. Porém, a proporção entre TG e colesterol HDL, como já dito, parece ser51, 52. Mas não importa, parece não valer aos olhos de quem se convenceu de taxar a gordura saturada uma grande vilã, mesmo com uma cascata de evidências em contrário, basta um hemograma apontar um valor elevado do colesterol total, ignorando as frações HDL e LDL, ou mesmo desconhecendo a importância da relação TG e HDL, as pessoas são orientadas a cortar a ingestão da gordura saturada (o que não funciona e é contraproducente) e ainda até mesmo adotar o uso de medicamentos (estatinas) de redução de colesterol. Uma análise de quase 48.000 mulheres por um período de oito anos feito pela Sabina Sieri do National Cancer Institute (Itália)53 descobriu que mulheres que comem mais carboidratos refinados e açúcar e não gorduras é quem têm maior risco de doença cardíaca. Ou seja, basicamente podemos dizer que milhões de pessoas ao redor do mundo estão seguindo por décadas uma dieta ineficaz que restringe a gordura saturada ou ainda utilizando medicamentos para combater um marcador que ainda sequer é totalmente compreendido e tem importância provavelmente muito superestimada. Uma outra análise, esta com dados de mais de 80.000 mulheres do Nurse’s Health Study54, um amplo estudo que começou nos anos 70 analisando dados de cerca de mais de 100.000 mulheres, chegou à uma conclusão diferente do que os defensores do risco da gordura saturada poderiam imaginar. Analisando a correlação entre o consumo das diferentes gorduras, óleos e de colesterol nesses indivíduos, e considerando-se ainda o estilo de vida (prática de atividade física e tabagismo), concluiu-se que o risco de doenças coronarianas não é afetado pela ingestão de gordura animal, uma vez que o colesterol da dieta também não tem correlação com o aparecimento de doenças cardíacas. Para dar suporte a isso, cabe citar um estudo apontando ainda que uma dieta restrita em carboidratos é mais efetiva do que uma dieta restrita em gorduras55 para perda de peso em curto prazo e não está associada com efeitos deletérios em importantes fatores de risco cardiovascular em mulheres saudáveis. C A P Í T U L O 2 7 O que dizem as pesquisas sobre a segurança da gordura saturada Nessa miríade de maus conselhos, as mulheres parecem ter sido as mais prejudicadas com as novas diretrizes. Como historicamente elas sempre sofreram menor incidência de episódios de acidentes cardíacos, tardou até os anos 90 com o Women’s Health Initiative1, um dos maiores, mais amplos, mais caros e cuidadosos estudos clínicos da história, para se estudar apenas o que acontecia com elas. Nele, cerca de metade das mulheres foi aconselhada a seguir as diretrizes americanas de baixa ingestão de gordura saturada enquanto outro grupo seguiria comendo “normalmente”. E o que foi encontrado surpreende. Pode-se simplificar dizendo que aprendemos que não há benefícios nas dietas de baixa gordura que vinham sendo recomendadas por 30 anos sem testes prévios, pois o acompanhamento das 48.835 mulheres divididas nos dois grupos encontrou que a dieta não trouxe redução do risco cardíaco nem redução nas chances de incidência de câncer. Para piorar, suas taxas de colesterol HDL caíram mais, aumentando assim o risco cardíaco1, 2, 3, 4. Além disso, após mais de sete anos sob uma dieta com restrição de gordura, essas mulheres do Women’s Health Initiative pesavam apenas 0,4kg a menos que o grupo-controle, uma diferença não significativa1. E os efeitos em outro ponto que sustentava a adoção dessa medida, a redução de problemas cardíacos, como dito, foi nula1, 2. É por causa desse estudo também que a AHA e a USDA não mais recomendam essas dietas. Mas esses órgãos ficam em silêncio quanto aos resultados por certo embaraço de terem pregado por décadas algo que simplesmente não funciona para o proposto. Não é apenas este, mas outros estudos também não encontraram vantagens na dieta de baixa ingestão de gordura5, 6, 7. Não é só isso, uma dieta com restrição e substituição da gordura saturada, cabe sempre reforçar, não só não traz as melhoras que justificaram sua adoção, como parece piorar alguns indicadores como o de aumentar os níveis de TG, reduzir o colesterol HDL e piorar o perfil da fração LDL. Pior ainda, apesar de inúmeras evidências válidas, os profissionais de saúde mundo afora continuam a prescrever dietas com corte de consumo de gordura saturada ainda que não sejam seguras, ainda que não promovam perda de peso nem a manutenção dele8, 9, 10, 11. Visto de fora, esses profissionais não entenderam que o remédio simplesmente não funciona, ao aumentar as doses esperando de certa forma um milagre, ignoram que essa superdosagem é quase um veneno. A questão é ainda mais séria porque se uma série de estudos mostra que o consumo de gordura saturada12 não só não aumenta as chances de problemas vasculares13 nem de doença cardíaca12, é interessante apontar que a gordura saturada pode também ter características protetoras, já que alguns alimentos que são fontes são ricos em vitaminas A e D, como os laticínios. A Vitamina D tem sua carência relacionada a risco cardíaco. O cálcio e fósforo também presentes nessa classe de alimentos ajudam no controle da hipertensão, essa diretamenta ligada ao risco cardíaco14, 15, 16. Para falarmos mais dos benefícios do consumo da gordura saturada, vale citar ainda um importante estudo israelense chamado Israeli Civil Service Study que acompanhou mais de 10.000 funcionários públicos homens por cinco anos. O resultado analisado é que não há correlação entre ataque cardíaco e seu consumo. Um estudo 23 anos depois analisando os mesmos dados encontrou17 ainda uma relação muito pequena entre gordura saturada e infarto do miocárdio. Esse estudo israelense é hoje considerado uma das provas dessa relação benéfica entre consumo de gordura saturada e o risco de doença cardíaca18 da qual vimos falando. Isso porque ainda que consumindo três vezes mais gordura saturada durante a dieta de baixo carboidrato, os TG e colesterol total diminuíram significativamente em relação aos níveis verificados durante a dieta de baixa ingestão de gordura19. A mesma queda foi verificada com os níveis de lipogênese. Esses resultados dão suporte ao uso da restrição de carboidratos como uma abordagem efetiva para a melhora dos aspectos da síndrome metabólica e do risco cardiovascular. Há mais coisas. Uma dieta baixa em gordura, além de poder reduzir o gasto energético e piorar o perfil lipídico, podeaumentar a resistência à insulina20 quando comparada a uma dieta de restrição de carboidrato e de baixo IG. Lembrando o que dissemos na primeira parte do livro, essa maior resistência à insulina pode marcar e acarretar um estágio de início da diabetes. C A P Í T U L O 2 8 O efeito da restrição da gordura sobre a obesidade global Uma das lógicas para incentivar ou justificar dietas de baixa gordura é que este é um nutriente densamente mais energético que o carboidrato. Reduzi-lo teoricamente reduziria o peso da pessoa além de deixar salvo nosso coração. Uma lógica tão simples assim tinha que dar certo, mas não deu. Vale notar que as diretrizes que orientavam para uma dieta com restrição de consumo de gorduras saturadas e colesterol e um aumento no consumo de carboidratos vieram em 19771, 2. Como discutimos na primeira parte do livro, os números mostram que a população seguiu as recomendações oficiais. Durante os últimos 30 anos os americanos reduziram em 5% seu consumo de gordura e ainda assim nunca estiveram tão gordos, como podemos ver nos dados do aumento e expansão da obesidade mundial. Fonte do gráfico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK19623/ A obesidade também vai se agravando (assim como doenças como o diabetes) quando as pessoas passam a reduzir seu consumo de carnes vermelhas, leite integral e passam a optar por queijos mais magros. Ou seja, veja a consequência quando passamos por mera substituição a comer menos alimentos ricos em gordura saturada (carne, ovos, leite integral, queijos gordos) e passamos a consumir mais óleos vegetais, e carnes mais magras. Fonte do gráfico: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJM200008243430802 222 Danilo Balu Fonte do gráfico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22377374 Na Europa, países que consomem mais gordura saturada têm menor morte por complicações cardíacas. Fonte do gráfico: http://www.youtube.com/watch?v=HC20OoIgG_Y O Nutricionista Clandestino 223 Algumas doenças se tornaram mais comuns justamente quando passamos a usar menos gordura saturada e mais óleos vegetais e gorduras trans. Vejamos ainda o que diz, por exemplo, um grande estudo publicado em 20103 na American Journal of Clinical Nutrition que analisou 21 outros estudos epidemiológicos totalizando 347.747 indivíduos que foram acompanhados de cinco a 23 anos. Resultado dele: não há associação entre o aumento do consumo de gordura saturada e o de doenças cardiovasculares3. Uma outra meta-análise dá suporte a esse estudo ao indicar que alterando a ingestão de gordura não se alterou a mortalidade consequente de problemas cardiovasculares4 C A P Í T U L O 2 9 As vozes em contrário não eram novas Não estou entre os muitos livros que saíram tentando redimir Robert Coleman Atkins, popularmente e mundialmente conhecido como Dr. Atkins, e que foram publicados após a sua morte em 2003. Não farei isso justamente porque tenho certeza de que ele não precisa de mim, seria pretensão demais. Mas ele vinha alertando havia muito tempo dos perigos dos altos valores de TG. Segundo ele, “quanto maior o valor, maiores os riscos de um ataque cardíaco”. Ele argumentava que os homens com os níveis mais altos tinham 2,5 vezes mais chances de sofrer um episódio de ataque cardíaco que os com níveis mais baixos. Mas focamos toda a atenção (e verbas de pesquisa e propaganda) nos valores de colesterol. Foi incrível nossa incapacidade de articular o conhecimento gerado. Ainda em 1937 os bioquímicos David Rittenberg e Rudolph Schoenheimer da Columbia University demonstraram que o colesterol dietético tem pouco efeito no colesterol sanguíneo. Nunca refutando essa demonstração, a U.S. Dietary Guidelines ainda hoje, ao contrário de muitos dos países europeus, recomenda um limite de ingestão de colesterol dietético de 300 miligramas por dia, o equivalente a menos de dois ovos. Depois deles, em 1950, o pesquisador John Gofman, da University of California descobre várias substâncias circulantes no sangue, entre elas o colesterol LDL e quase 70 anos atrás ele já afirmava que “o colesterol total sanguíneo é um perigosamente pobre preditor de doenças cardíacas”. Mais do que isso, Gofman afirmou à época que uma dieta pobre em gorduras e rica em carboidrato iria certamente aumentar o risco cardíaco e que essa dieta era uma orientação perigosa a ser feita. C A P Í T U L O 3 0 O problema seria o carboidrato, não a gordura, calorias ou o colesterol Como a gordura é densamente mais energética, o raciocínio era de que uma redução no seu consumo levaria a uma queda da ingestão calórica, mas isso foi seguido de um aumento natural compensatório do consumo de carboidratos que levou por aumentar a incidência de diabetes e obesidade nos EUA1. Prova disso é que o consumo de gordura não está associado com diabetes quando o consumo de calorias é considerado1, e durante o mesmo período o consumo de gordura saturada nos EUA não subiu2. Esses dados reforçam o argumento que o aumento no consumo de carboidrato refinado na dieta do americano é um dos principais se não o maior causador do aumento de diabetes e de obesidade nos EUA. Esses números ganham força quando analisamos os resultados de um estudo randomizado, controlado, com intervenções na dieta de dois grupos comparando uma de baixa ingestão de gordura (No período houve um grande aumento do consumo de carboidratos sendo o maior responsável pelo excesso calórico nesse intervalo de tempo. O carboidrato passou em homens de 42% para 49% das calorias ingeridas e em mulheres de 45% para 52%. O consumo absoluto de gordura, que seria a explicação de muitos profissionais para o aumento da obesidade e do diabetes, caiu para homens e apresentou mínimo aumento em mulheres. Ou seja, o problema não é mesmo tão simples. C A P Í T U L O 2 Quantas calorias há em um quilo? A falácia das 7.500cal Se emagrecer é uma questão de nos movimentarmos mais e comermos menos, temos como alternativa a prática de exercícios físicos. Mas essa parece ser uma ferramenta ruim, como voltaremos a falar no capítulo sete. A outra variável da equação é comer menos. Para isso, temos então que reduzir nossa ingestão calórica. Mas um controle minimamente rigoroso é dificílimo, improvável e inviável, ainda que com o auxílio de profissionais (médicos e nutricionistas) ou tabelas nutricionais. Várias fontes orientam que quando estamos em dieta, para perdermos um quilo de gordura precisaríamos perder o equivalente a 7.500 calorias, ou seja, ter um déficit calórico dessa magnitude. Esse seria um preceito bem básico, fundamental e presente em livros sobre nutrição e em revistas de saúde. Esse dado está, inclusive, na orientação de órgãos oficiais que têm o dever de nos informar, como na do British Dietetic Association (BDA)1. Para ser tão usado e propagado, imaginamos que esse valor de 7.500 calorias para cada quilo de gordura deva ser verdadeiro e embasado, mas não é bem assim. Entre junho e julho de 2009, a pesquisadora britânica Zoë Harcombe2 fez algo que todo mundo poderia fazer com os mesmos resultados na próxima visita a um nutricionista, educador físico ou médico quando ele afirmar as calorias que há em um quilo de gordura: ela perguntou a fonte. Mas ela não questionou qualquer um não, ela cuidadosamente escreveu formal e detalhadamente a sete dos principais órgãos britânicos, um país que trata a saúde como coisa séria. Ela escreveu ao National Health Service (NHS), ao National Institute for Clinical Excellence (NICE), ao Department of Health (DoH), ao National Obesity Forum (NOF), ao Association for the Study of Obesity (ASO), ao BDA e ao Dieticians in Obesity Management (DOM). E as respostas surpreenderam: cinco deles simplesmente não souberam responder e os dois que tentaram variaram muito nas respostas. Se você sair pesquisando em publicações sobre obesidade, encontrará que os especialistas trabalham com a hipótese de que um grama de gordura tem entre 8,7 e 9,5 calorias. Estamos, desde já, falando de uma grande diferença quando formos trabalhar na casa dos milhares de unidades. As mesmas publicações também trabalham com a informação que o tecido adiposo humano possa ter entre 72% e 87% de lipídios. Com isso, novamente, estamos falando de uma grande variação. Para ser mais preciso, falamos de algo entre 6.264 e 8.265 calorias em um quilo. Uma variação tão grande assim torna a montagem de cardápios para perda de peso fundamentada no déficit calórico uma tarefa extremamente imprecisa, porque sequer sabemos quantas calorias exatamente equivalem ao sobrepeso do tecido adiposo da pessoa. C A P Í T U L O 3 Causa e consequência na luta contra a obesidade Então se estamos comendo menos gordura, nos exercitando mais e ingerindo menos calorias mesmo sem saber contá-las, talvez estejamos mirando no alvo errado. E talvez, justamente por focar na causa errada não descobrimos ainda a solução do problema. É bem provável que para resolver esse problema, tenhamos optado pela ferramenta errada sem saber disso, já que durante a maior parte do século passado parece ter sido um enorme equívoco nossa compreensão sobre o funcionamento do mecanismo da obesidade no organismo humano. Tradicionalmente, a sociedade entendia a obesidade mais como uma questão de força de vontade do que uma desordem, era como se a pessoa pudesse naturalmente perder o excesso de peso se ela realmente quisesse. Enxergamos o problema do acúmulo de gordura de uma forma menos científica e mais puritana. De certa forma, com um pé na ideia do pecado capital da gula como as causas desse problema, acabamos por condenar o obeso. Para combater um hábito pecaminoso e a falha de caráter por ter comido muito, bastaria comer menos. E não era só isso, entendemos equivocadamente ainda hoje o problema de balanço de peso como uma questão puramente matemática. Seria uma questão de física, aquela explicada e regida pela Primeira Lei da Termodinâmica que fala sobre a conservação da energia: nenhuma energia pode ser criada ou destruída, apenas modificada. Quando vamos para o campo do peso corporal, isso significa que as calorias ingeridas menos as gastas resultam nas que serão depositadas na forma de gordura quando este balanço for positivo. Ou seja, se a pessoa precisa de 2.000 calorias e ingeriu 2.500, estas 500 calorias do balanço positivo são um excesso que seria convertido em gordura. Com o problema da obesidade, visto aos olhos da nossa realidade, em um mundo repleto de tentações gastronômicas, com ambientes tão obesogênicos, nós estaríamos comendo mais do que gastamos e o excesso só poderia mesmo se transformar em gordura. A solução seria termos força de vontade e conseguir comer menos e/ou nos movimentarmos mais, ou seja, fazer atividade física regularmente. O problema, como já citamos com alguns dados populacionais, é que essa recomendação não vem funcionando. Sua resolução do ano novo de “entrar em forma” não chega sequer até o Carnaval. Temos que admitir, falhamos gravemente como sociedade a despeito de todos os institutos, governos e profissionais apresentarem os hábitos que seriam os corretos e adequados. Mas não é correto dizer que falhamos mesmo, afinal, mostrei capítulos atrás que seguimos o que nos foi dito. A questão é outra: será que o que nos recomendaram é mesmo a melhor solução? Será que estão nos oferecendo o tratamento certo para o problema em questão? Quando questionamos a explicação do problema da obesidade, pode ser que entendamos que o ponto não é o excesso de comida, não é uma questão de gula. Ou seja, talvez não estejamos ficando acima do peso por comer demais, mas estaríamos comendo demais porque estamos em um processo de engorda. É muito confuso pensar assim invertendo causa e consequência, mas é hora de nos perguntarmos se sabemos as razões reais da obesidade. É fundamental olharmos com atenção se por décadas não trocamos a ordem delas. Porque está lá no site da Organização Mundial da Saúde (OMS)1 a definição: a causa fundamental da obesidade e do sobrepeso é o desbalanço entre as calorias consumidas e as calorias gastas. Ou seja, para a OMS, é também uma questão de balanço calórico. Mas voltamos ao ponto, é mais do que provável que por décadas de confusão invertemos razão e efeito, causa e consequência. Isso porque a Lei de Termodinâmica diz que alguém que engordou um quilo acabou consumindo calorias a mais do que gastou. Ela explicou a consequência do acúmulo, mas não a causa do consumo excessivo, apenas relata o fato (engorda) sem jamais explicá-lo em sua origem. Podemos tentar explicar por diversas analogias, uma delas é fazer um paralelo de uma pessoa com edema. Nessas condições médicas, um indivíduo assim acaba perdendo muito líquido das veias para o tecido com edema. Não importa o quanto ele beba de água, a sensação de sede não passa porque o líquido não fica no sangue, onde teria fim essa sensação. Outro exemplo, ainda para explicar a questão de como encaramos de modo equivocado o ganho de peso no obeso, seria por meio de um indivíduo diabético ainda não devidamente tratado. Essa pessoa produz uma grande quantidade de urina e tem muita sede. Você poderia argumentar que ele urina muito porque bebe muita água. A melhor explicação, porém, sabemos ser outra: urinando tanto, ele precisa beber muita água. Sabendo de sua condição, conseguimos explicardieta baixa em gordura traga benefícios à saúde. O temor público gerado pelos supostos malefícios do consumo de gordura saturada só se agrava quando a consequência é a substituição dela necessariamente por mais carboidratos, tanto em quantidade quanto qualitativamente do ponto de vista de valores porcentuais calóricos. Vejamos, pois, o que dizem mais alguns dos estudos que evidenciam não haver vantagens ou benefícios cardíacos das dietas baixas em gordura. Uma triagem feita com 264 homens vítimas de infarto8 revelou que mesmo em uma dieta comendo menos gordura (45g/ dia contra 110- 130g/dia) e menos calorias (1950 calorias versus 2450 calorias) que um grupo controle, mesmo reduzindo os níveis de colesterol e o peso corporal, esse grupo não teve diminuição das reincidências e/ou mortes. Este não foi o único estudo feito com pessoas que já sofriam de doenças cardiovasculares. Como já havíamos citado no capítulo 26 com o Paradoxo Americano, a arteriosclerose progride mais rapidamente em quem consome menos gordura saturada. Esse foi o encontrado no estudo9 citado. A hipótese é o efeito protetor vascular do colesterol HDL. O estudo importante também citado no mesmo capítulo feito com 2.412 pacientes10 é outro exemplo de como a ingestão de gordura saturada não está associada com o risco de eventos coronarianos ou mortalidade mesmo em pacientes com doença coronarianas já estabelecida. E assim como no paradoxo americano, o consumo desses alimentos sugere ser um fator protetor. E essas são conclusões de caráter protetor similares a de outro estudo11 com a dieta Mediterrânea (maior consumo de gorduras do que as de restrição de gordura) que encontrou efeito protetor de até quatro anos. Uma outra importante e recente análise englobando 76 estudos com mais de 650.00012 indivíduos ao todo concluiu que as evidências atuais não dão suporte às diretrizes recomendadas de baixo consumo de gordura saturada já que encontrou não haver evidências de que um maior consumo delas tenha relação com um maior risco cardíaco. Hoje sabe-se que a maioria das pessoas que tem um ataque cardíaco não tem altos níveis de colesterol LDL. Mas elas têm grandes chances de ter síndrome metabólica. Porém, essa síndrome as coloca como de alto risco para contrair diabetes ou ter problemas do coração. E qual a maior causa da Síndrome Metabólica? Como dito na primeira parte deste livro, o consumo exagerado de carboidratos, justamente o macronutriente que fomos orientados ou levados a consumir quando reduzimos a ingestão de gordura. Uma revisão da American Journal of Clinical Nutrition4 sobre gorduras saturadas encontrou não haver correlação entre o consumo desse nutriente e doenças cardíacas. E um recente editorial do renomado British Journal of Medicine13 falou deste mesmo ponto questionando o mito de que a gordura causaria obesidade e problemas cardíacos. E, novamente, quando pessoas passam a comer menos gordura, elas tendem a comer mais carboidratos ou açúcar e isso faz aumentar justamente o tipo de colesterol que em excesso é mais perigoso, o LDL. O pesquisador sueco Uffe Ravnskov é autor de livros no assunto e vem desde os anos 60 demonstrando seu ceticismo quanto ao impacto nocivo que teria a gordura saturada à saúde do coração. Ele afirma que “mais de 20 estudos demonstraram que pessoas que foram vítimas de ataque cardíaco não comiam mais gordura saturada que as pessoas saudáveis” (que não haviam sofrido esse tipo de complicação). Além disso, “oito estudos mostram que pessoas que haviam sofrido infarto, comiam menos gordura saturada que os indivíduos saudáveis” e que “não há intervenções bem sucedidas que tenham reduzido mortes por acidentes cardíacos através da redução do consumo de gordura saturada”. E quando há substituição por carboidrato, ela é quase sempre perigosa. Estudos da University of California mostraram14, por exemplo, que os níveis do colesterol LDL podem subir aumentando o risco cardíaco significantemente em apenas duas semanas ingerindo bebidas açucaradas em quantidades parecidas com o que muitos americanos consomem. Já o colesterol HDL, um protetor, é sensível ao consumo de gordura. Em uma dieta restrita em carboidrato, por haver maior consumo de gordura saturada ele aumenta. Sendo assim, a gordura saturada reduz o risco cardíaco ao elevar o colesterol HDL e ainda mudando o perfil do colesterol LDL3, 4, 15, diretamente reduzindo as chances de sofrermos com a Síndrome Metabólica. Em março de 2014 uma meta-análise publicada no Annals of Internal Medicine utilizou dados de quase 80 estudos com mais de 500.000 pessoas e encontrou que aqueles que consomem mais gordura saturada tinham menos doenças cardíacas que aqueles que consumiam menos gordura saturada12, 16. Os autores também não encontraram menor redução de doenças cardíacas entre aqueles que consumiam mais óleos vegetais e azeite. Ou seja, não achou evidências significativas que o consumo de gordura saturada aumente o risco cardíaco. O encontrado é que os indivíduos de maior consumo poderiam também ter menor risco12, 16. Já um estudo indiano de 1967 com cerca de 1 milhão de trabalhadores descobriu que os moradores do norte comiam entre 8% e 19% mais gordura (principalmente de laticínios) que os do sul. E aqueles viviam 12 anos a mais que estes. A conclusão foi que para prevenir doenças cardíacas as pessoas deveriam comer mais laticínios como iogurtes e manteiga. Já o antropologista canadense Vilhjalmur Stefansson que viveu anos no Ártico com os Inuits, observou que eles comiam entre 70% e 80% da energia em gordura e “eles pareciam ser as pessoas mais sadias com quem ele já havia vivido”, mesmo que se alimentando somente de salmão, rena e leões marinhos. Um estudo publicado no Scandinavian Journal of Primary Health Care17 por sua vez questiona o efeito protetor da redução do consumo de gordura. Acompanhando a saúde de 1.589 suecos por 12 anos, descobriu-se que uma dieta de baixa gordura aumentava a chance de o grupo ter obesidade abdominal, a mais perigosa, se comparados aos indivíduos que comiam mais manteiga e leite integral. Já um estudo publicado no England Journal of Medicine18 submeteu randomicamente 7.500 homens e mulheres a uma dieta de baixa gordura ou então uma com mais gordura (Mediterrânea). A desistência não só foi muito maior no grupo com restrição de gordura (4.9% contra 11.3%) pela sabida maior dificuldade da dieta, como o grupo da dieta Mediterrânea por sua vez teve reduzido em 30% o risco de um ataque cardíaco. Uma meta-análise de 2010 publicada no American Journal of Clinical Nutrition chegou às mesmas conclusões da meta-análise publicada na Annals of Internal Medicine12 ao concluir que a gordura saturada não causa doenças do coração. E, enquanto elas aumentam moderadamente o colesterol LDL, isso não traria problemas adversos como doenças cardíacas ou infartos. Já um dos maiores e mais importantes estudos, o Framingham Heart Health Study, tentava jogar luz na relação do colesterol sanguíneo e doenças do coração com fatores da dieta como gordura animal, gordura vegetal, proteína, colesterol nos alimentos e calorias. Coletando dados de mais de 5.000 residentes da cidade próxima de Boston que dá nome ao estudo e localizada no estado de Massachusetts (EUA), o estudo que ainda está em andamento foi gerando conclusões, algumas delas apressadas e mal analisadas19. Por exemplo, em 1961, depois de seis anos de iniciada a pesquisa, descobriram que homens abaixo dos 50 anos e com colesterol elevado tinham maior risco cardíaco, descoberta essa anunciada com muito barulho. Porém, esses mesmos homens eram mais propensos também a fumar, a estar com sobrepeso e ser sedentários. Eles tinham também glicemia alta, dado esse ignorado à época. Uma vez que esses homens chegavam aos 50 anos, justamente a idade em que deveria haver maior risco cardíaco, não havia correlação entre risco cardíaco com colesterol elevado, dado esse ignorado. Mais do que isso, para decepção dos pesquisadores que esperavam confirmar as teorias de Ancel Keys,o consumo de gordura estava relacionado a menores níveis de colesterol total. Mais. Não havia relação do colesterol na dieta com o colesterol sérico (sanguíneo). Em 1974, anos depois no mesmo Framingham Heart Health Study, aos 24 anos “de vida” da pesquisa, descobriu-se que homens com colesterol total abaixo de 190mg/dL são três vezes mais propensos a sofrer de câncer do cólon do que homens com valores acima de 220. Isso acaba questionando fortemente a tese de que quanto mais baixo esses valores, mais saudável o indivíduo. Há ainda grande associação de baixo valor total de colesterol e morte prematura e ainda não há correlação entre colesterol total elevado e morte súbita. E não foi só isso, outra análise do Framingham descobriu que mulheres de qualquer idade20 com colesterol de até 294mg/dL, muito acima do preconizado, não tinham aumento do risco cardíaco. William Kannel, o diretor médico do estudo, teria dito a um jornal local que a ideia do colesterol sanguíneo ser altamente correlacionado com a arteriosclerose coronariana não era mais uma dúvida. Talvez porque a ideia do estudo fosse mais para encontrar provas para dar suporte a uma teoria do que realmente descobrir mais das causas das doenças cardíacas, todo o alarde feito com as primeiras descobertas em 1961, que soubemos anos depois serem equivocadas, não foi usado quando no final dos anos 80 descobriu-se que metade daqueles que tiveram algum episódio de ataque cardíaco tinham colesterol dentro dos valores “ideais” (220mg/dL). Ou ainda sem o mesmo barulho ao descobrirem que homens com mais de 48 anos e colesterol dentro dos padrões tinham mais risco de sofrer um episódio cardíaco que um com colesterol total elevado. Basicamente, descobria-se que o colesterol total não é um indicador confiável do risco cardíaco, contrariando o desejo de Kannel. Não seria trágico não houvesse outras descobertas omitidas em um estudo querendo dar suporte ao controle das gorduras saturadas. Um estudo feito 30 anos depois com os dados, chegou que para cada 1% na queda do colesterol, havia aumento de 11% no número de mortalidade. Outra análise com dados do estudo encontrou nos anos 60 que o consumo de gordura saturada não estava relacionado com doenças cardíacas. Essa informação era tão na contramão do que o NIH queria encontrar que ele não permitiu que no início dos anos 60 George Mann a publicasse. A autorização só foi dada em 1968 e depois esquecida. Ainda que publicado, Mann foi praticamente banido de todas as publicações posteriores da AHA. Um dos diretores do estudo Framingham Heart Health Study e adepto das ideias de Keys, William P. Castelli admitiria depois em um jornal de pequena circulação, o The Archives of Internal Medicine, “que (entre a população do Framingham) quanto maior o consumo de gordura saturada (...) menor era o colesterol total do indivíduo e menor o seu peso”. O porquê ele não decidiu publicar isso em um jornal de maior circulação e importância como o The New England Journal of Medicine é o questionamento que Nina Teicholz faz em seu livro The Big Fat Surprise21. A partir de 1972 o Mr. FIT (Multiple Risk Factor Intervention Trial) foi outro grande estudo intervencional com resultados desanimadores para a patrulha contra a gordura saturada. Acompanhando o comportamento dietético e o estilo de vida 12.866 homens de alto risco cardiovascular, após sete anos de acompanhamento, o grupo que reduziu o consumo de gordura saturada e colesterol teve maior risco de óbito que o grupo controle. Não bastam evidências científicas quando uma pessoa está decidida. Por exemplo, em 1984 o então presidente da AHA, Anthony Gotto disse que se “todos seguirmos reduzindo nosso colesterol, a arteriosclerose será vencida em 2000”. Não à toa, anos depois, em 1986 os EUA declaram “guerra ao colesterol” e assim o NIH e a AHA estabelecem o programa National Cholesterol Education Program. Suas diretrizes determinam que níveis de colesterol total acima de 200mg/dL seriam tratados como uma doença. Não à toa, fabricantes de alimentos como óleos vegetais, de cereais matinais, de alimentos de baixo colesterol e a American Medical Association, ao terem uma nova doença para tratar e um novo produto para vender, apoiaram (e ainda apoiam) a medida. C A P Í T U L O 3 2 O paradoxo das recomendações Sejamos justos, as diretrizes dietéticas convencionais que recomendam redução no consumo de gordura de fato atentam para a diminuição do consumo de açúcar. Mas basta uma rápida olhada nelas, como as dadas pelo National Heart, Lung, and Blood Institute1 em seu site, para perceber que nem de longe há o mesmo ou similar entusiasmo quando o alerta é dado sobre um possível perigo à saúde com o consumo de gordura saturada. Não apenas eles. Ainda em 1995, a AHA trazia a recomendação em seu site orientando pequenos lanches com cookies low-fat, bolachas low-fat, (...) doces, balas, açúcar, mel. Ou seja, como dito e repetido, ao cortar a gordura saturada partimos para substituí-la com alimentos que são justamente associados com marcadores inflamatórios diversos2 e aumento de risco cardíaco3, 4, 5, 6, 7. Em 2010 as recomendações do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estabelecia que o consumo de gordura saturada deveria ser de no máximo 10% das nossas calorias ingeridas. Isso vai na contramão de tudo o que a ciência vem recentemente nos mostrando. Não são poucos os pesquisadores que dizem que as gorduras (não só as saturadas) deveriam responder por algo entre 50% e 85% de nosso consumo calórico. Porém, após décadas e bilhões de dólares tentando provar os benefícios da dieta de restrição de gordura, aceitar que foi um enorme equívoco parece ser algo embaraçoso à AHA, à NIH e à USDA a ponto de até agora elas não voltarem atrás nas diretrizes, ou ainda quando se silenciam diante de novas evidências científicas e questionamentos. Como já dissemos, é como se esses órgãos viessem por décadas preconizando um remédio, mas que teríamos sido pacientes displicentes. Mas já mostramos aqui desde o começo que não, em 1970 a gordura saturada respondia por 13,5% das calorias ingeridas nos EUA. Em 2000 elas respondiam agora por 11%, uma queda substancial, e a recomendação da AHA em 2006 quando essa mudança não trouxe nem redução da obesidade nem de outras doenças crônicas foi reduzir ainda mais esse número. Ou seja, decidiram aumentar a dose de um remédio que nunca funcionou. O primeiro desses “remédios” proposto pela AHA claramente sabemos hoje não teria como funcionar. Em lugar de questionar a eficácia dele e da proposta, ela decidiu por aumentar o cerco. Foi assim que eles pediram então uma redução mais drástica, dessa vez agora para 7%, metade do consumido 40 anos antes. A consequência nefasta e indireta dessa recomendação é consumirmos ainda mais carboidrato e ainda mais óleos vegetais. Até onde vai essa lógica? Não sabemos, a AHA já tem seu veredito e fechou os olhos a qualquer argumentação. Parece não bastar estudo após estudo dizer que a gordura saturada da dieta não é a causa da obesidade ou de problemas cardíacos ou de qualquer outra doença crônica8, que esta responsabilidade é do consumo de carboidratos, principalmente açúcares com seus efeitos gerando anormalidades nos indicadores lipídicos. Por mais que essas evidências comecem a se empilhar concluindo que os carboidratos refinados, açúcares e farináceos são a causa dietética do diabetes e doenças coronarianas, essas entidades estão obcecadas em seguir culpando a gordura que em um julgamento todo torto, décadas atrás, já foi sentenciada. P A R T E 3 A proteína e a segurança de se restringir o carboidrato C A P Í T U L O 3 3 O exemplo sueco Em 2013 o governo da Suécia revisando 16.000 estudos do assunto passou a ser o primeiro país do mundo ocidental a endossar1 a dieta de restrição de carboidrato como a forma mais efetiva para combater o ganho de peso. Essa mudança sueca vai na contramão do dogma atual. Mais do que isso, o Council on Health Technology Assessment reconheceu que as dietascom restrição de gordura vêm há décadas falhando na luta para impedir o crescimento da obesidade e a mudança é consequência direta de uma longa análise de dois anos analisando a incapacidade das atuais diretrizes e que resultou no Dietary Treatment for Obesity2. O órgão sueco sugere uma dieta de consumo moderadamente baixo, mas não radical, de carboidratos (40% do total de calorias) o que traria os benefícios dos quais já discutimos aqui e são desconhecidos ou ignorados por inúmeros profissionais como a melhora do colesterol HDL sem efeitos adversos (aumento) nos níveis da fração LDL. E um consumo ainda mais baixo de carboidratos (20% das calorias totais) poderia resultar em ganhos ainda maiores como melhora do perfil glicêmico em indivíduos obesos ou diabéticos e um decréscimo dos níveis sanguíneos de TG. Por muito tempo o sistema de saúde público sueco, como tantos outros, advogava contra a gordura, a saturada em particular, e ainda as calorias. Pois agora eles retiram a ideia de que a restrição de carboidrato seja uma dieta perigosa ou ainda que careça de evidências e bases científicas de sua segurança e efetividade. Alguns trechos do relatório descrevem o seguinte: indicadores de saúde irão melhorar quando o indivíduo é submetido a uma dieta de baixo carboidrato. Dentre elas um aumento do colesterol HDL sem efeitos no LDL, além de melhoria do padrão insulínico em pessoas obesas e/ou diabéticas acompanhado de uma queda marginal dos níveis de TG. Mais: “manteiga, azeite de oliva, cremes e bacon não são alimentos perigosos. Gordura é a melhor coisa para quem quer ou deseja perder peso”. E “não há conexões entre alta ingestão de gordura e doenças cardiovasculares”. Vem de lá, por exemplo, um estudo no Scandinavian Journal of Primary Health Care3, do qual já falamos, que por 12 anos acompanhou 1.589 suecos e encontrou que o maior consumo de gordura saturada dos laticínios tinha relação com menor obesidade. Aqueles indivíduos que consumiam menos desses alimentos eram mais propensos a ter maior quantidade de gordura abdominal, a mais perigosa. A explicação dentre outros motivos deve ser que esses ali- 252 Danilo Balu mentos, por sua mais alta densidade energética, trazem maior saciedade. Ao consumir pouco deles, a pessoa acaba substituindo por alimentos com mais carboidrato. Esses resultados foram encontrados também na importante revisão de 76 estudos4 já citada aqui e feita com mais de 500.000 pessoas que encontrou ainda o efeito positivo dessa gordura na redução do risco cardíaco. Nesse cenário, é no mínimo grave que diabéticos e obesos, como eram na Suécia e ainda o são mundo afora, sejam recomendados a comer muitas frutas (ricas em frutose) e alimentos com pouca gordura, indiretamente ricos em carboidratos e também açúcar. Agora essa inversão promete ser a maneira mais eficiente de combater muitos dos problemas. O painel sueco foi formado por um comitê de 10 médicos dos quais muitos deles eram céticos quanto às vantagens da dieta restringindo carboidrato durante o início dos trabalhos. Um país como a Suécia decidiu fazer agora o que não foi feito décadas atrás nos EUA, quando orientações foram montadas com uso de política e sem suporte da ciência. Mas a ideia desconexa de que carboidrato é bom e gordura é ruim ainda bate forte em nosso imaginário. E uma das maneiras de questionarmos tamanho movimento sueco em direção ao low-carb é levantar alguns riscos que haveria na adoção de uma restrição de carboidratos. E mostrar como esses são riscos hipotéticos e falsos, nunca práticos. 254 Danilo Balu C A P Í T U L O 3 4 O temor apressado por riscos inexistentes Um dos receios mais citados de se recomendar a dieta com restrição de carboidrato está, por exemplo, no fato dela se caracterizar também pela alta ingestão de gordura saturada que equivocadamente levanta o falso temor de maior risco cardíaco e/ ou outras doenças crônicas do tipo, como já discutimos muito aqui. Desde 2002, mais de 20 estudos controlados foram conduzidos comparando essas dietas com outras do tipo de restrição de gordura. As vantagens da dieta de restrição de carboidrato são inúmeras. Ela proporciona maior perda de peso1, 2, reduz mais acentuadamente os níveis de TG (um importante marcador do risco cardíaco)3, 4, aumenta os níveis do colesterol HDL5, 6, melhora o perfil glicêmico e insulínico (principalmente em diabéticos)7, 8, muda para melhor o perfil do colesterol LDL reduzindo o risco cardíaco9, reduz significativamente a pressão arterial10, 11 e não apresenta nenhuma evidência de efeito colateral ou ad- verso12, 13, 14. Mas há ainda muitos outros temores que impedem que profissionais mundo afora advoguem em um corte de carboidratos ou reforcem um aumento no consumo proporcional de gordura. Um desses temores é que dietas cetogênicas seriam perigosas. A dieta cetogênica é caracterizada por um estado de cetose, quando a gordura é utilizada como fonte primária de energia como nos casos de uma grande restrição de carboidratos. Nessa situação de baixa ingestão de glicose o corpo produz mais corpos cetônicos. Pelo fato da glicose ser a única fonte de energia que o cérebro pode utilizar, o organismo necessitaria e faria deste nutriente essencial em nossas vidas. Mas não é exatamente assim. Como já discutimos, os ácidos graxos (gorduras) não podem chegar diretamente ao cérebro, pois são moléculas grandes, mas os corpos cetônicos conseguem e os neurônios podem utilizar perfeitamente os corpos cetônicos. Não só já vimos a segurança dessa via quanto a diferença conceitual entre cetose e a cetoacidose, que é uma situação completamente diferente com a qual nenhum profissional de saúde deveria jamais fazer confusão. Há estudo mostrando15 não haver efeitos prejudiciais de uma dieta assim cetogênica, não é uma especulação. Além disso, essas dietas vêm sendo estudadas por seus efeitos neuroprotetores16 e como ferramenta terapêutica efetiva em outros campos, como em casos de Alzheimer17, câncer18, Parkinson19, diabetes20 e epilepsia21. Já discutimos aqui não só que o carboidrato não está na lista de nutrientes essenciais do ser humano, assim como revisitamos o fato das células cerebrais serem metabolicamente muito flexíveis quanto a sua capacidade de obter energia, sendo justamente os corpos cetônicos outra fonte possível21. O cérebro realmente precisa de uma quantidade de glicose, energia essa que pode vir de modo seguro e mais do que suficiente pelo processo de gliconeogênese hepática22. Ou seja, sem precisar da glicose na dieta, pois a produção do fígado supera em muito as necessidades cerebrais23. Além disso, as proteínas e aminoácidos da dieta passam a ser, com a restrição de consumo de carboidrato, uma grande fonte de substratos no processo de gliconeogênese. Necessariamente uma dieta de restrição de carboidrato exige que ao restringirmos um dos três macronutrientes principais na dieta, em seu lugar reponhamos os outros dois macronutrientes para compensar a perda calórica com a retirada do primeiro. Uma dieta low-carb acarreta então em um maior consumo de proteína, macronutriente este que é sempre questionado por médicos e nutricionistas quando consumido em valores acima do que pregam as atuais recomendações. Já falamos sobre a segurança da gordura (saturada), vamos então falar das proteínas. Um dos argumentos é então o de que uma dieta restringindo carboidrato poderia causar danos aos rins por causa de um aumento considerável na ingestão de proteínas. Isto não é verdade, pois não há efeitos deletérios aos rins como consequência de uma dieta rica em proteínas em indivíduos saudáveis24. Além disso, parte da restrição de carboidrato resulta em aumento de consumo de gorduras, não apenas uma substituição por proteínas. Um aumento do consumo em quantidade que não é nociva ao organismo. Também há evidencias científicas20 de que uma dieta cetogênica pode ajudar um rim não saudável. É muito importante que tenhamos sempre em mente que restringir carboidrato não significa aumento exagerado noconsumo de proteínas, esse trata-se de um temor infundado e falso que faz muitos pensarem que a alta ingestão de proteína pode afetar a saúde renal e/ou gerar osteoporose, este outro temor. É verdade que um aumento súbito do consumo de proteína pode acarretar uma maior excreção de cálcio, o que explica parte do temor de osteoporose de alguns profissionais. Mas esta maior excreção de cálcio é apenas no curto prazo25. Neste caso a explicação é bem simples. Uma dieta com mais proteínas aumenta a absorção intestinal do cálcio26 e isto acabaria gerando um aumento da excreção dele pela urina. Ou seja, a proteína poderia aumentar a absorção de um nutriente que seria “perdido” ainda pelas fezes, não sendo absorvido. Ao ser agora absorvido, ele então será eliminado não pelas fezes, mas pela urina. É isto o que leva a crer também outro estudo neste sentido27. Ou seja, uma dieta com mais proteína aumentou a absorção do cálcio sem qualquer prejuízo à massa óssea dos indivíduos estudados. O temor de perda de cálcio pela urina se comprova em outro estudo importante, mas tal perda veio acompanhada de uma maior absorção a compensando28 completamente como demonstraram os exames que avaliaram a saúde óssea dos indivíduos. Um outro estudo, este com 99 diabéticos29, chegou a conclusões similares, ou seja, maior excreção, mas sem prejuízo da função renal ou da saúde óssea dos envolvidos. Outro estudo interessante encontrou que ao aumentarmos30 em cerca de 50% a ingestão de cálcio, aumentava-se em mais de 40% sua presença na urina. Isto é, uma dieta rica em cálcio gera aumentos de cálcio na urina, e nem por isso alguém se atreve a sugerir que uma dieta assim traria prejuízo aos ossos porque o que mais vale é o balanço de cálcio e a massa óssea, não apenas sua presença na urina. O temor da saúde de nossos ossos estaria ligado ainda ao temor de um maior risco renal. Estudo após estudo reforça e comprova que dietas hiperproteicas (e vale sempre lembrar que os teores de proteína ao restringirmos o carboidrato não são demasiadamente grandes) são seguras aos rins. Um exemplo de sua segurança aos ossos é um recente e importante estudo da University of South Florida que concluiu que uma dieta31 restringindo fortemente os carboidratos não gerou perda de massa óssea. Os reumatologistas conduziram o estudo com 30 indivíduos com sobrepeso por três meses. Para metade deles foi limitado o consumo de apenas 20g de carboidrato por dia por um mês e 40g do macronutriente por mais dois meses. Estamos falando de um caso de uma dieta com uma grande restrição de carboidratos. Não só os indivíduos perderam muito peso, como o maior objetivo do estudo, a análise da massa óssea, mostrou-se não comprometida durante este tipo de dieta. Há ainda estudo mais longo que encontrou que a perda de cálcio na urina vinha acompanhada de maior absorção em uma espécie de efeito compensatório. O estudo foi feito por dois anos acompanhando 307 pacientes28 e mostrou que a dieta restringindo carboidrato gerou melhora renal. Não estamos aqui negando que uma maior ingestão proteica poder ser questionada em indivíduos com problemas renais pré-existentes (ou insuficiência renal), forçando estes a realmente reduzir sua ingestão proteica pela sua dificuldade em excretar diversas substâncias. Mas por outro lado, estudos de maior duração e em pessoas com rins saudáveis apontam que o consumo de proteína é associado com melhor saúde óssea e menor risco de fraturas, não o contrário24, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40. Para explicar esta questão da dieta em indivíduos com patologias específicas determinar a segurança ou não de algo em alguém saudável, gosto de usar uma analogia citada pelo médico José Carlos Souto41. Quando você tem uma perna quebrada, você não deveria sair andando pelo parque, mas isso nem de longe significa que sair para andar no parque resulte em uma perna quebrada. Ou seja, é um enorme engano supor que quem tem rins saudáveis irá adquirir problemas porque o organismo de um insuficiente renal não pode lidar perfeitamente com a excreção de proteínas. Isso é um enorme erro lógico. O temor quanto à saúde renal não tem fundamento como apontam ainda outros estudos24, 35. Dois dos maiores fatores de risco renal são o diabetes e a hipertensão arterial, não o consumo de proteína. Uma ingestão mínima adequada desse macronutriente ajuda na redução desses dois riscos42, 43, 44, 45. Há evidências que apontam24 que mesmo em dietas hiperproteicas para perda de peso e também em atletas que consumiam muita proteína, não houve relatos de piora da função renal induzida por essa dieta. Podemos dizer que evidências não faltam, seja em estudos com atletas controlando sua função renal46, seja em indivíduos controlando a função renal e a densidade óssea47, ou ainda em pessoas submetidas por um ano à dieta com restrição de carboidrato48. Um temor inicial de estresse renal de um profissional que desconhece a fundo estudos na área dessas dietas é até compreensível. Porém, insistir com essa argumentação diante de tantas evidências, é sinal de ignorância ou vontade de ignorar. Em estudo do The International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism49, para falarmos de outro grupo de pessoas, pesquisadores avaliaram a função renal de atletas (entre eles fisiculturistas, classe de atletas que sabidamente consomem quantidades extremas de proteína) durante sete dias. E nos resultados todos os indicadores funcionais permaneceram dentro do intervalo normal entre os que consumiram grandes doses de proteína. E agora para falar de um prazo mais longo, em um estudo no The Annals of Internal Medicine50, pesquisadores examinaram o consumo de proteínas em 1.624 mulheres por um período de 11 anos. E concluíram que as dietas de hiperproteicas não causavam problemas nas funções renais dessas mulheres. Sobre o consumo proteico dessas dietas, vale dizer que a sigla em inglês para dietas de baixo carboidratos é LCHF que significa “Baixo Carboidrato e Alta Gordura”. Essas dietas não podem ser chamadas de “dietas da proteína” como veículos não-técnicos costumam chamá-la. Elas não são dietas da proteína51 e não têm grande aumento de consumo deste nutriente porque sua proporção pouco ou quase não se altera como mostrou um importante estudo11 que mostra que as proporções de proteína variam pouco em dietas de diferentes cargas de carboidrato. Outro argumento muito usado por quem não conhece a fundo essa dieta é a equivocada argumentação de que a dieta de restrição de carboidrato não promoveria a perda de massa gorda, mas perda de massa muscular e água corporal. Uma dieta de restrição de carboidratos altera favoravelmente a composição corporal52. Em um estudo53, e ele é apenas um entre tantos exemplos, os participantes seguiram uma dieta restringindo este macronutriente e perderam mais gordura e menos massa magra em comparação com os participantes submetidos a uma dieta de restrição de gordura. E não custa relembrar sempre que a Dieta Atkins (restrição de carboidrato) apresenta as maiores perdas de peso (gráfico) acompanhadas das maiores reduções do risco cardíaco. Fonte do gráfico: http://jama.jamanetwork.com/data/Journals/JAMA/5118/joc70018f2.png Sim, é um fato que nos primeiros dias (uma semana ou mais) de adoção da dieta de restrição de carboidrato, o indivíduo tenha boa parte da sua perda de peso como consequência de perda de água corporal. As reservas de glicogênio se reduzem e com ela vai junto uma grande quantidade de água que serve para estabilizar essas moléculas. Outra razão para a perda de água54 é que com a queda dos níveis de insulina, os rins acabam liberando um pouco do sódio e também da água55, não por acaso que há quem advogue que é o açúcar e não o sal um grande vilão da hipertensão, pois a insulina ajuda muito na retenção de líquidos. Porém, depois da perda inicial, a perda passa a ser por diminuição de massa gorda. É um tremendo equívoco supor que há grande perda de massa magra. Um interessante estudo56 usando de técnicas muitoprecisas de composição corporal, por exemplo, restringindo carboidrato gerou perda de 3,4kg de massa adiposa e ganho de 1,1kg de massa magra (muscular) em apenas seis semanas, contrariando a ideia dos que dizem que trata-se de perda de água e/ou músculos. Já outro e cuidadoso estudo feito com 148 obesos por 12 meses e publicado no Annals of Internal Medicine57 mostrou não só que as dietas restringindo carboidrato são superiores na perda de peso e redução do risco cardíaco, mas também mostrou-se superior no perfil da massa perdida quando comparado à dieta que restringe gordura. Neste estudo, a dieta de baixo carboidrato trouxe aumento da massa magra e perda de massa gorda. Ou seja, há casos nos quais uma dieta assim pode não só ser mais eficiente para perder gordura, mas como pode proteger nossa massa magra quando há maior ingestão proteica58. C A P Í T U L O 3 5 Pesquisas mostram eficiência na restrição Quando formos falar de eficiência, temos que uma dieta de restrição de carboidrato gera maior perda de gordura que as dietas com restrição de gordura1, 2, 3, ainda que os indivíduos da primeira possam comer até se sentir saciados4, 5. Ou seja, como já falamos aqui, dietas assim podem ainda trazer maior redução da pressão arterial6, 7, reduzir a glicemia melhorando (aliviando) os sintomas da diabetes8, 9, reduzir de forma segura os níveis de TG no sangue10, 11, aumentar os níveis do colesterol HDL e mudar o perfil do LDL10, 12, 13, 14 melhor que as dietas com restrição de gordura12. Outro estudo comparando dietas15 mostrou que dietas restringindo carboidrato com uma restringindo consumo de gordura, as primeiras resultaram em uma perda significantemente maior de gordura, especialmente na região abdominal, a mais nociva, que interferem em uma cadeia de ação hormonal como o cortisol. Além disso, a obesidade abdominal, caraterizada entre outras coisas pela gordura visceral, é mais perigosa17, 18 e significa maior risco de morte cardíaca súbita como encontrou um importante estudo que por 13 anos acompanhou 14.941 homens e mulheres16. Ainda que outros estudos expliquem que a melhor dieta não é a de baixa ingestão de gordura19, 20, 21, isso parece não importar aos que ignoram evidências e insistem em não acreditar nos dados. Além da menor efetividade, temos ainda que discutir a dificuldade de seguir as dietas low- fat. Muitas pessoas que perderam uma grande quantidade de peso por essa dieta, mesmo com enorme esforço pessoal, têm uma enorme dificuldade de fazer essa manutenção por um período de até um ano. Alguns estudos sobre manutenção de peso, incluindo um do The New England Journal of Medicine, teve sucesso22 considerável ao limitar alimentos de alto IG, ricos em carboidrato, como pães, arroz, sucos e refrigerantes. Isso porque além de elevar a glicemia consideravelmente, como já dissemos, esses alimentos ricos em açúcar geram respostas em áreas do cérebro envolvidas na sensação de recompensa. Estudos com imagens23 mostram maior atividade nessas regiões quando consumido um pedaço de bolo de chocolate do que quando há o consumo de vegetais, por exemplo. Não é só isso, a ativação parece ser maior em cérebros de indivíduos obesos24 quando comparados aos cérebros de pessoas magras, reforçando toda a complexidade por trás da obesidade e o seu combate. Uma das vantagens da dieta de restrição de carboidrato é que ela é mais fácil de se seguir. Comparado com uma dieta de baixa gordura, um programa de dieta de baixo carboidrato tem maior adesão dos participantes25 e consequente maior perda de peso. Vejamos o porquê do sucesso ao longo prazo das dietas com restrição de carboidrato ser maior. O pesquisador Kris Gunnars fez um levantamento avaliando a aderência dos indivíduos às dietas26. Com isso ele queria saber quantos dos avaliados continuavam seguindo as instruções das dietas após determinado tempo, informação essa fundamental quando considerado que uma dieta é um estilo de vida, não um remédio aplicado de tempos em tempos. Pois nessa análise de 19 estudos avaliados por Gunnars, as dietas de restrição de carboidrato foram superiores na aderência. Ele descobriu que havia mais gente a seguindo por mais tempo. Entre outras coisas porque elas saciavam mais, reduziam mais o apetite e também porque em muitas delas não há um limite do quanto comer. Nelas a pessoa podia comer o quanto quisesse, desde que respeite os níveis limitados de carboidrato. Enquanto isso, nas dietas de restrição de gordura há muitas vezes um limite calórico, estando ou não o indivíduo ainda com fome. Um outro estudo que apoia essas conclusões encontrou ainda que a percepção de menos fome e, portanto, maior comedimento com a dieta low carb27 pode explicar a maior perda de peso comparada com a dieta de alto carboidrato e baixa gordura. C A P Í T U L O 3 6 Pode não servir para todos, mas vale a tentativa Nem todo mundo que consome carboidratos refinados acabaria desenvolvendo essa compulsão incontrolada por comida da qual falamos, e está aí também a complexidade da obesidade. Por esse motivo, às pessoas que estão tentando controlar ou perder peso, ainda mais em um ambiente obesogênico como o da nossa sociedade, frente à dificuldade de controlar essa forte compulsão, reduzir a oferta e o consumo desses carboidratos refinados talvez seja um importante primeiro passo. Mas não a solução final que atenderia a todos. Existem muitas evidências apontando para a tese que, paradoxalmente, a orientação para reduzirmos nosso consumo de gordura saturada décadas atrás, levou a um aumento da ingestão de carboidratos que acabou justamente aumentando nosso risco cardíaco e os índices de obesidade e diabetes, justamente aquilo que se queria combater ou evitar em um primeiro momento. Além disso, a obsessão de alguns órgãos de saúde com os níveis totais de colesterol levou posteriormente milhões de pessoas a fazer uso de medicamentação para controlar esses indicadores. Voltar na contramão de parte das recomendações dos anos 60 e 70 significa cortar parte do consumo do alimento que veio nos salvar da gordura saturada, uma vilã que nunca foi julgada. Se um dos maiores argumentos e mesmo temores seria quanto à segurança das dietas com restrição de carboidrato, já há estudos que apontam não haver efeitos adversos nesta dieta1. Não há qualquer razão lógica ou factual para temer sobre sua segurança, como já foi dito e observado, há populações inteiras que por gerações consumiam em suas dietas pouco ou pouquíssimo carboidrato (nem mesmo frutas, verduras e legumes) como os Inuit2 ou ainda os africanos Masai3, que viviam de carne, vísceras, leite, sangue e quase nada de vegetais. Ambos os povos viviam de forma saudável, sem evidência de presença de problemas crônicos comuns hoje no mundo ocidental. Deveríamos, pois, incluir em nossa dieta folhas verdes, talos e cogumelos, ou seja, vegetais com pequena quantidade de carboidratos e ainda baixos IG. Esse deveria ser o maior foco de nossa dieta, e não fugir de alimentos de origem animal, tão preconizado até os dias de hoje. Deveríamos não só comer “sem medo” esses alimentos, como evitar suas versões “magras”, light, processadas ou industrializadas. Vejamos o caso do leite integral. Não só estamos aqui falando das vantagens de uma dieta mais rica em gordura, acrescente aí que é a gordura presente no leite integral que permite que as vitaminas A e D desse alimento estejam disponíveis e sejam digeridas pelo organismo. Não há ciência por trás da recomendação de se optar por queijos magros e leites desnatados para se evitar o excesso de calorias de consumo de gordura saturada. Esse suposto excesso calórico, como discutimos muito aqui, não é a causa de obesidade. Além disso, ao tirarmos a gordura do leite, passamos necessariamente a consumir mais carboidrato e mais açúcar. O consumo desses alimentos em sua forma integral não só é seguro como está relacionado a um menor índice de obesidade e de menor doenças cardiovasculares4, 5, 6. Ao longo desses anos, não sófomos evitando alimentos nutricionalmente ricos e seguros, como passamos a substituí-los ou por alimentos muito piores (leite desnatado, por exemplo) ou perigosos (margarinas). E complementamos as trocas com opções com mais carboidrato que veio sobrecarregar o pâncreas de milhões de indivíduos mundo afora até a falência do órgão dessas pessoas. Outro temor sempre lembrado é que dietas de restrição de carboidrato seriam deficientes em vitaminas, minerais e outros micronutrientes. A dieta de restrição de carboidrato indiretamente permite que o indivíduo consuma alimentos de alta densidade nutricional como carnes, ovos, verduras, legumes e frutas. Ou seja, fazendo escolhas adequadas, um padrão de baixo consumo de carboidratos permite um padrão nutricional sem deficiências. Uma dieta assim não seria “perigosa” por uma suposta baixa ingestão de vegetais. Isso não é verdade. Evito sempre partir para o plano pessoal, mas vou repetir uma experiência e o que ouço de muita gente adepta e que você verá que faz sentido: eu nunca comi tantos vegetais (legumes e verduras) quanto como agora. Por quê? Eles agora fazem parte de todas as minhas refeições, o que não acontecia antes. Eu podia antes passar dias sem vegetais por estar à base de grãos e massas. Isso porque também aprendi na faculdade que era saudável e manteria a forma. Por alguma razão estranha, achamos que podemos fazer engordar o gado, os porcos, as galinhas e os outros rebanhos oferecendo alimentos à base de grãos. Mas por alguma maneira seu nutricionista insiste em lhe dizer que grãos integrais são fundamentais e o manterão magro. Isso não é verdade justamente porque não faz nenhum sentido! É um raciocínio completamente e totalmente ilógico em sua base! Vou repetir o dito no capítulo que falamos sobre a essencialidade do carboidrato: não há um estudo sequer feito com adultos restringindo carboidrato que aponte qualquer tipo de deficiência nutricional. Uma das razões pelo emagrecimento pela dieta com restrição de carboidrato é que as pessoas que aderem terão dificuldades para comer exageradamente quando a carne passa a ser um alimento mais consumido, como nos mostraram alguns experimentos feitos ainda na década de 80. Mas por outro lado, é muito possível consumir quantidades enormes em calorias de alimento como doces ou batatas fritas. Uma das explicações é que proteína e gordura são nutrientes que trazem saciedade mais rapidamente. E um dos acompanhamentos para os alimentos ricos em gordura e proteínas que não infrinjam a orientação de consumir pouco carboidrato são justamente as verduras, legumes, talos, folhas, etc. Talvez a maior explicação do porquê esses nutrientes emagreceriam é que como apenas os carboidratos trazem grandes mudanças na insulina no sangue, mantido seu consumo baixo significa pouca insulina liberada, justamente o hormônio responsável pelo estoque de gordura nas células. Aí voltamos às ideias de Atkins. Inúmeros estudos feitos baseados em suas ideias não controlavam a ingestão de calorias. Neles, não havia a premissa de uma dieta com restrição de calorias (hipocalórica), apenas a missão de restringir parte do carboidrato ingerido. E qual era invariavelmente o resultado? Os indivíduos perdiam mais peso que os que ingeriam mais carboidrato. Quando comparadas as dietas com restrição de carboidrato com as dietas de baixa de gordura, os grupos de baixo carboidrato perdem até de dois a três vezes mais peso que o outro grupo. Isso não é teoria! Há muitos testes controlados1 envolvendo milhares de indivíduos mostrando7 que uma limitação no consumo de carboidratos leva a uma maior perda de peso do que uma dieta restrita em gordura8, e em alguns experimentos há a diferença importante de que quando há restrição de carboidrato, esses podem comer o quanto quiser. Nela não há um controle para haver uma limitação calórica imposta para saciar a fome deles. Isso um pouco que explica as vantagens da dieta por causa da completa saciedade9, 10 que aumenta assim a aderência à ela. E ainda assim, quando há restrição de calorias, quem restringe carboidrato perde mais peso11, 12, 13, ainda que não seja sempre significante14, 15, 16. Em uma série de estudos, apenas em um grupo a perda de peso foi menor do que o grupo de baixa gordura17. Ou seja, em apenas uma avaliação, a dieta preconizada atualmente se saiu melhor e em um valor muito baixo (500g). É importante frisar: em apenas um estudo a atual dieta recomendada se saiu melhor. Isso é muito grave! C A P Í T U L O 3 7 Mais fácil, eficiente e segura Enfim, podemos dizer com muita confiança que dietas com restrição de carboidratos são seguras. Desde 2002 foram feitos inúmeros estudos randomizados, controlados e bem conduzidos para estudar seus benefícios e riscos1, 2, 3. É verdade que a segurança das carnes processadas ainda não é totalmente compreendida. Mas a carne não-processada é um alimento seguro e nutritivo que não aumenta os riscos cardíacos em função de sua riqueza em gordura saturada4, 5, 6, 7. Um ótimo exemplo está em um estudo no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism8 que analisou mulheres submetidas a uma dieta com restrição de carboidrato sem restrição calórica comparando seus resultados com um grupo de mulheres com restrição calórica e dieta de baixa gordura. Restringindo carboidrato elas tiveram duas vezes mais perda de peso que a dieta restringindo calorias e gordura. E não podemos deixar de citar que essa dieta além de mais eficiente ao gerar maior perda de peso, ainda reduziu o risco cardíaco e as chances de desenvolver diabetes, justamente o que se queria combater ao irmos na direção oposta1, 2, 3. Mais um exemplo é o já citado estudo publicado no Annals of Internal Medicine9 que encontrou que pessoas que seguem dietas de baixo carboidrato ou de baixa gordura, aqueles que cortaram mais fortemente o carboidrato tiveram maior perda de peso em gordura após um ano, além de reduzirem seu risco cardíaco. Os pesquisadores analisaram 148 obesos que receberam um acompanhamento nutricional. O grupo de baixa gordura ingeriu até 30% das calorias vindas da gordura, enquanto os de baixo carboidrato também limitaram a 30% as calorias diárias via carboidrato. O grupo de restrição de carboidrato perdeu mais de três quilos a mais ao longo do ano, além de perder também mais gordura e melhor balanço de massa magra que o grupo com restrição de gordura. Ambos tiveram redução do colesterol LDL, mas os restritos em carboidrato tiveram maior aumento do colesterol HDL, além de redução do seu risco cardíaco pelos marcadores de glicemia e níveis lipídicos. E uma das coisas mais importantes nesse estudo é que o foco foi no que foi ingerido e não no quanto. Os dois grupos não tiveram restrição calórica, mostrando que o balanço calórico fica em segundo plano, é uma consequência. Mesmo diante dos resultados, é interessante notar que uma das maiores críticas ao estudo veio justamente de um membro do comitê de Nutrição da AHA que questiona a capacidade dos 280 Danilo Balu indivíduos em continuarem a seguir uma dieta de restrição de carboidratos. O crítico também ignora as melhoras dos níveis de colesterol ainda que o grupo sob baixo consumo de carboidratos tenha aumentado o colesterol HDL e reduzido o risco cardíaco em função dos níveis de glicemia e TG. É como dissemos, após décadas e bilhões de dólares tentando provar os benefícios da dieta de restrição de gordura, aceitar que foi um enorme equívoco parece ser algo embaraçoso à própria AHA, seus profissionais e outros órgãos, a ponto de até agora elas não voltarem atrás nas diretrizes ou ainda quando se mantêm em silêncio diante do surgimento de estudos. Conclusão O primeiro passo é aceitar a possibilidade de que o que acreditamos saber sobre obesidade, diabetes e resistência à insulina pode estar errado e consequentemente precisa ser testado. (Petter Attia) Usar de exemplos de nosso círculo pessoal é uma tentação da qual deveríamos sempre fugir e evitar quando falamos de nutrição. Na enorme miríade depossibilidades que a individualidade biológica permite, nos apoiar nesse tipo de casos pode acabar confirmando em nossa cabeça o exemplo que precisamos para justificar uma determinada opção, ainda que ela seja muito errada. Por isso que ficar dizendo que um conhecido, ou mesmo paciente, teve enorme sucesso com uma dieta X, pode nos servir para defender uma determinada causa. Mas isso não dirá muita coisa sobre o veredito do que seria realmente melhor em uma população. A experiência pessoal da qual quero falar não se trata de dietas, mas de desencanto. Acho que foi em 2010 que eu me deparei com uma lista do The New York Times com uma lista dos 10 melhores livros de contracorrente da década que terminava. Os temas dos livros eram variados, mas um deles era sobre nutrição. Resolvi comprar o Good Calories Bad Calories do Gary Taubes, não porque gostava de suas ideias. Eu nunca tinha sequer ouvido falar algo do autor, mas comprei porque sabia que um livro em uma lista de um veículo tão importante iria acabar ganhando algum destaque e depois iriam me perguntar e questionar sobre o assunto nas colunas para qual eu escrevia. Foi assim que fui apresentado às ideias de Taubes. Li com dificuldade a obra, porque além de densa, o que ele me apresentava ia de encontro a tudo o que havia aprendido em anos de estudo, primeiro no curso de Bacharelado em Esporte na Escola de Educação Física e Esporte, e depois no curso de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública, ambas da USP. Costumo dizer, desde então, em tom de piada, que o livro dele me mostrou que o que haviam me ensinado até então, era o contrário do correto. Era só aplicar o que diziam os professores, mas fazendo justamente o oposto. Não preciso dizer que fiquei quase obcecado pelo assunto, tanto pelas ideias um tanto quanto revolucionárias de Taubes, como em ler outros autores que iam mostrando, tal como ele, a fraqueza na qual se apoiam as diretrizes nutricionais aqui, nos EUA e na Europa. Aliás, temos que ser justos, o próprio autor deixa muito bem claro que ele apenas revisitou autores de décadas atrás, ele não é o criador das teorias, apenas está trazendo de volta antigas ideias esquecidas. Tão fascinante quanto toda a investigação por trás de décadas e décadas de estudos que foram silenciados ou esquecidos, é descobrir como acabamos por inverter totalmente a lógica de como funciona a questão da obesidade. O que tentei neste livro foi mostrar como é difícil, mesmo após décadas e bilhões de dólares em pesquisas, conseguir provar algum benefício das dietas com restrição de gordura. Conceitos criados por ambição, vaidade, má ciência, viés e muita política, criaram um enorme equívoco que começa a ficar embaraçoso não só à AHA, à NIH e à USDA. A cada novo estudo revelador ou revisitado, não só esses órgãos, mas profissionais da saúde e instituições de ensino vão ter que ir revendo radicalmente suas recomendações. Para estes, provavelmente não bastará apenas se silenciar ou usar da tática da avestruz, escondendo a cabeça esperando a tormenta passar. Muita gente terá que vir e aceitar que errou gravemente. Um dos grandes desafios na Nutrição é ganhar a confiança do leitor ou do paciente em um mundo no qual se proliferam “gurus” com dietas da moda. Quando falamos de Nutrição ou dietas, todo mundo parece entender um pouco. Amplificando nosso ditado popular, que diz que o Brasil é uma pátria repleta de técnicos de futebol, de Nutrição todos entendemos. Você não precisa ir à banca comprar a revista de fofocas com a dieta alternativa de uma estrela de cinema, todos conhecemos alguém com dicas. Porém, quando queremos falar respeitando critérios científicos, temos que respeitar que o processo, entre outras coisas, funciona na base da hipótese e teste e esse caminhar é muito lento e mais difícil nesse campo. Para provar seu ponto, você deveria depois de criada uma tese, tentar refutá-la em muitas tentativas. Porém, na Nutrição, estamos falando de algo complexo porque as teorias se baseiam entre outras coisas em comidas consumidas ao longo de toda uma vida. Apelar para testes com animais de laboratório ajudou imensuravelmente, mas esbarra na limitação da aplicabilidade em humanos. Para saber essa validade em nós, a dieta acaba sendo repetida em prazos muito curtos e ficamos torcendo para que os resultados possam ser estendidos para décadas. Mas isso é apenas torcida, nunca uma segurança. Uma alternativa muito comum nas pesquisas são os estudos observacionais, aqueles nos quais se observam populações por décadas. Quando estudamos estatisticamente a frequência do consumo de alimentos e nutrientes, criamos uma hipótese, mas é um erro gravíssimo assumir causalidade. Uma vez observado, temos necessariamente que testar a validade da hipótese e, novamente, caímos na barreira da execução muito cara e dificílima. Isso sem contar todo o seu estilo de vida fora da mesa pesando consideravelmente na saúde. Adicione a dificuldade de fazer tudo isso pela baixa acurácia do recordatório alimentar, aquele relatório que você preenche dizendo o que comeu nos últimos dias. Assim como hábitos sexuais, mentimos muito sobre nossas refeições. Ainda que, anonimamente, subestimamos nossos vícios, exageramos na frequência que decidimos por opções saudáveis e ainda variamos consideravelmente nosso cardápio. Isso é então um enorme complicador já que o pesquisador não saberá o que nem quanto de fato você consumiu e esse erro só aumenta quando se tenta converter essas informações na composição alimentar final do indivíduo. Uma saída seria anotar as refeições futuras. Sempre quando um profissional de saúde faz isso, é com enorme ingenuidade que ele se apoia nos dados tentando fingir que não sabe que todas essas refeições não são escolhas naturais, mas sim de um indivíduo que está sendo observado por um nutricionista. Nunca agimos naturalmente nessas condições. Pode funcionar com um erro menor para populações, mas não para indivíduos. Ou seja, não há alternativa simples. Inclua aí ainda o fato de ser difícil de você esconder de alguém em um experimento que ele está consumindo vegetais, ou carne, ou gordura. Como evitar o efeito placebo? Considere ainda a complexidade sabendo que são necessários inúmeros testes clínicos, específicos, randomizados e controlados. Tudo isso estendido por décadas, pois o peso do acúmulo do consumo (ou da falta) de alguns nutrientes não são imediatos. Isso alavancará o preço a um nível proibitivamente caro, sem contar a enormidade dificuldade técnica da qual venho falando. Para complicar, quem passa a comer mais carboidrato, come menos gordura e proteína. Este é um exemplo muito simples das variáveis que poderiam explicar uma pergunta que se quer responder. Toda essa imensa dificuldade não é justificativa para as decisões políticas tomadas em décadas. Mas explica um pouco do desafio para chegarmos um dia a uma dieta que seja mais próxima da ideal ao ser humano, temos um desafio quase intransponível. Como burlar a questão ética de submeter um grupo a uma dieta que gere ganho de peso e doenças é outro ponto a ser enfrentado. Se passei aqui a ideia que a dieta com restrição de carboidrato é uma panaceia ou a solução final do problema da obesidade recente, me expressei mal. Ela parece ser uma alternativa muito melhor, mais eficiente e mais saudável do que a oferecida pelos profissionais que seguem as diretrizes de baixa gordura. Ela tem suas limitações, mas ainda assim posso dizer com segurança, apoiado nos estudos, que ela é mais eficiente. Mas reforço: ela não é a saída infalível como nos venderam com a tese do balanço calórico ou do corte de gorduras. Reduzir a ingestão de carboidratos, infelizmente também não irá zerar a obesidade mundo afora. Por mais de uma geração, as pesquisas nessa área foram norteadas mais pela política do que ciência. Não é de todo fundamental entender o porquê chegamos onde chegamos. Mas precisamos ter sempre em mente que gostamos de nos ver como pessoas racionais, que tomam decisões baseadas apenas em escolhas racionais e ótimas.É como se em questões técnicas decidíssemos apenas após avaliar e debater longamente causas e consequências. Quando alguém com títulos e certo gabarito sugere uma resposta, por mais que neguemos, é mais provável que tendo que fazer uma escolha tomemos o mesmo lado dele. Se a primeira pessoa escolher errado e levar alguns outros consigo, estamos em apuros. O que dizer então quando um órgão oficial se posiciona favorável. Por ser humanamente impossível ler tudo o que é produzido, profissionais seguirão a orientação. Mas é um exercício muito saudável e fundamental ao avanço questioná-la. E hoje sabemos haver muitas evidências de que as teorias são tortas. Por mais que tenha ficado claro qual a minha posição no assunto, as causas e tratamentos para obesidades não podem jamais serem vistos de uma forma binária, simples ou polarizada. Não parece existir um nutriente (micro ou macro) ou determinado comportamento que venha para erradicar a obesidade. Justamente porque ela, antes de tudo, tem muitas causas. Ela é tão complexa que paradoxalmente não pode ser explicada apenas pelo que ou quanto você come. A questão do comportamento e do acesso à comida tem que ser considerada. Uma pessoa hoje gasta somente cerca de 10% de sua renda com alimentação1. Para mostrar o peso desse acesso aos alimentos, pesquisadores da Cornell University’s Food and Brand Lab, por exemplo, explicam que as pessoas comem 92% daquilo que elas colocam no prato, não importa nem quanto de comida nem o tamanho dele. Por sua vez, um levantamento de 2003 indicou que a porção do suco de laranja, por exemplo, aumentou 40% em 20 anos2. Não são só as porções, os garfos, copos e pratos estão maiores com o passar das décadas. Mas nosso hábito de comer tudo colocado no prato se mantém. Basta um pequeno aumento no tamanho do prato para se obter um volume 25% maior. E aí não vai importar muito qual o tipo de nutriente consumido. Há ainda fortes evidências já sugerindo que as respostas do organismo a diferentes estímulos podem atravessar até gerações. Se você, seus pais ou mesmo seus avós sofreram desnutrição, você tem mais chances de sofrer com obesidade, mais ainda, pode não existir, ou mesmo não termos descoberto, um gene da obesidade. Mas é sabido que pessoas obesas quando têm filhos podem transmitir características no metabolismo que podem deixá-las mais predispostas a serem obesas em um mecanismo ainda não completamente compreendido. Ou seja, não importa se eles passaram fome ou tinham sobrepeso, o neto terá mais chances de ter problemas com a balança. Isso sem contar toda a influência do comportamento dos pais. Já parece também haver evidências mais do que suficientes que apoiem a ideia de que cada pessoa tenha um “perfil metabólico” pessoal. Ou seja, que cada pessoa responda diferentemente para a ingestão dos três macronutrientes (gordura, carboidrato e proteína), além das diversas estratégias nutricionais. E quando falamos “responda diferentemente” estamos falando de como o organismo vai utilizar fisiologicamente esses nutrientes no dia a dia, seja nas diversas funções anabólicas e catabólicas e na manutenção de sua saúde e/ou bem-estar. Além disso, não podemos esquecer que uma estratégia nutricional não age isoladamente, os fatores externos, do ambiente, têm papel determinante ou mesmo a relação psicossocial com o alimento. Tudo parece influenciar, cada um com sua participação, no resultado final. E assim como cada organismo responde de forma diferente, cada indivíduo pode ter ainda o seu objetivo particular. Um emagrecimento rápido para o verão, desempenho esportivo ou manutenção da saúde. Se indivíduos respondem de modo particular para cada intervenção nutricional, elas sempre serão mais ou menos efetivas para cada um de nós. Isso significa que não há uma solução única para absolutamente todos, seja cortando carboidrato ou insistindo com o corte de gordura ou calorias. Assim como nosso organismo é tão complexo a ponto de parecer ingenuidade que por anos nutricionistas e órgãos venham recomendando menos gordura porque elas virariam tecido adiposo, podemos dizer que é questão de muita fé de um profissional achar que a calorias são iguais. Por isso que uma dieta para uma pessoa em particular não é, ou não pode ser uma “receita de bolo”, nem funcionaria indiscriminadamente, apesar de seguir alguns preceitos para muitos. Há algumas similaridades e coisas em comum, sim, as individualidades existem, mas não podem ser a base de argumentação contra as teorias que foram expostas aqui. Sempre que um profissional de saúde rechaçar as ideias por trás do corte de carboidrato apenas dizendo que é perigoso sem observar os estudos, ele reforça a tese que as diretrizes se basearam em fé, dedução ou boa vontade. Se esse mesmo profissional argumentar que “um pouco de carboidrato é importante” ele recorre a dois erros lógicos. O primeiro é negar o fato exposto aqui e aceito na literatura de que nenhum carboidrato é essencial ao ser humano. O outro erro lógico é afirmar que uma dieta restringindo carboidrato “zere” o consumo deste macronutriente. Mesmo as recomendações mais radicais (e mais absurdas) como as da AHA, falam em redução, nunca em eliminar, “zerar” o consumo de carboidrato nem é a sugestão, ou meta ou uma realidade. Falamos é em reduzir substancialmente o consumido e o preconizado deste macronutriente, ainda mais os mais simples e de alto IG. E se por algum motivo este mesmo profissional disser que em uma dieta não pode haver radicalismo demonizando um nutriente destacando a necessidade de equilíbrio, ele cai em seu terceiro erro lógico. Primeiro porque a diretriz da AHA sugere chegarmos a 7% da energia vindo da gordura saturada. Se isso não é radicalismo, o que seria? E depois, porque um equilíbrio então significaria 33% de carboidrato e 33% de gordura, além dos 33% em proteína. Esses valores são algo mais próximos do falado aqui e mais distante do discurso que clama por equilíbrio. Quando um profissional explica seu ponto dessa maneira, ele foge da ciência e afasta ainda mais a Nutrição da lógica. Seria até um exercício fácil tentar sugerir a razão pelo ganho de peso da população. Muitos irão culpar as grandes empresas alimentícias e sua ávida ganância por altos lucros. É uma tarefa fácil argumentar contra ou a favor, afinal, há muita gente ali com bom caráter, mas também muitos com mau caráter. Não requer muita habilidade provar que há muito produto ruim sendo vendido e oferecido a preços baixíssimos. Isso sem contar estratégias de marketing um tanto questionáveis do ponto de vista ético, ensinando o errado ou mirando um público infantil que não tem pela idade total discernimento para fazer as próprias escolhas. Para mim, a maior crítica que pesa sobre a categoria é que ao seguirem as orientações se apoiando na tese imaginária do balanço calórico e de que seriam as calorias todas iguais, não haveria comida boa ou ruim. Seria uma tarefa e missão do consumidor e do indivíduo fazer opções sem que ultrapassem as necessidades energéticas. Essa responsabilidade pessoal transfere a nós uma culpa, ainda assim, a indústria não deixa de usar diretrizes governamentais. A troca de gordura por açúcar nos alimentos foi economicamente interessante a eles. Mas sempre destaquemos que antes ela foi oficialmente sugerida, como demonstrado. Nós e a indústria alimentar acatamos as recomendações. Como não há como apenas retirar gordura saturada da dieta e adicionar “esperança” em seu lugar, ficamos gordos e doentes, mesmo com parte da culpa, não é justo tentar negar que essa indústria trouxe também benefícios, trouxe diferentes sabores, prazeres, segurança, praticidade e redução de preço. Temos é que saber agora discernir o bom do péssimo. E é este um ponto crítico que quis apresentar no livro. Segundo boa parte dos estudos apresentados aqui, estaríamos recebendo dos profissionais de saúde (contratados diretamente por nós ou não) as melhores orientações daquilo que é saudável ou engorda e nos faz mal? Sou pessimista na resposta. Vou usar um raciocíniodo médico e pesquisador Peter Attia que é bem interessante sobre disciplina e escolha de alimentos. Quando o elogiam dizendo que ele “é muito disciplinado com o que come”, Attia explica que não é mais disciplinado do que um ex-fumante. Não só ele não fuma, como não importa quantos fumantes estejam por perto ou ao redor, a presença não altera nem gera desejo por fumar. É bem claro a ele os malefícios do cigarro à saúde, seja no curto ou no longo prazo. Quando alguém opta por fumar, essa pessoa tem seu motivo para fazê-lo. O prazer é um deles e essa pessoa calcula (ainda que irracionalmente) o custo e o benefício da escolha. Mas com a alimentação isso não é de todo verdadeiro. Parece claro que as pessoas seguindo as diretrizes oficiais se apoiam na tese do balanço calórico e a gordura animal como vilã. Segundo Attia, essas pessoas ainda estão “no escuro”, e ainda mais perigoso, elas acham que sabem. E são tantas as escolhas que não tenho a intenção de dizer qual delas seria de uma forma mais precisa a ideal. Este não é um livro de receitas ou de dietas para perda de peso ou emagrecimento. Mas hoje acredito que a alimentação que vai nos fazer mais saudáveis e que deveria estar em boa parte de nossas refeições terá que envolver necessariamente animais e plantas. Inclui vitaminas e os micronutrientes que você encontra, necessariamente, em alimentos gordurosos como ovos e peixes. Não há alimentos dos quais não se pode nunca, nem macronutriente que seja proibido. Mas acredito muito que deveríamos nos encaminhar a uma dieta comendo mais “comida de verdade”. Sem versões light, low-fat, zero, diet ou magra. Quanto menos industrializada ou processada, melhor. Com baixo uso de conservantes, estabilizantes, aditivos e afins. Uma dieta que inclua consumo significativo de vegetais folhosos e legumes (notadamente os que cresçam acima da terra). Não há valores que caibam a uma gama tão rica de indivíduos com necessidades e particularidades tão distintas, mas acredito que a distribuição ideal de macronutrientes deva ser ou estar em algo como 40g a 120g diários de carboidrato. Ou seja, uma redução drástica da ingestão deles em comparação com a recomendação atual. E eles deveriam ser preferencialmente de baixo IG, evitando assim em especial os de cadeia mais simples (refinados), açúcares e amido. Ainda que haja mudança no tipo de carboidrato consumido (seja alto ou baixo IG), penso que isso jamais terá o mesmo efeito no controle de peso ou do risco cardíaco que uma substituição deste macronutriente pela gordura, preferencialmente a saturada e/ou de fonte animal, as nozes, castanhas, azeite, abacate e côco. Para os valores de proteína, a meu ver, ainda estamos um pouquinho mais distantes de descobrir ou determinar o que seria o consumo ideal. Mas acho que esse número fique entre algo como 1.0 a 1.5g por quilo corporal. Sem esquecer que sua fonte seja principalmente de animais criados organicamente, minimizando o uso de ração processada. O restante da necessidade energética virá das gorduras. Espero que uma mensagem fundamental tenha ficado clara, a nossa dieta definitivamente não é nem deve ser um jogo de soma zero entre calorias ingeridas e calorias gastas. É mais do que fundamental de onde essas calorias vêm, sem nos fixarmos obsessivamente quantas elas são. Referência bibliográfica Introdução 1 OGDEN, C. L. et al. Long-term trends in diagnosed diabetes. Centers for Disease Control and Prevention – CDC. Disponível em: . Acesso em: 26 jan. 2015. 2 OGDEN, C. L. et al. Prevalence of overweight, obesity, and extreme obesity among adults: United States, trends 1960– 1962 through 2007– 2008. Centers for Disease Control and Prevention – CDC. Disponível em: . Acesso em: 26 jan. 2015. Capítulo 1 1 SHAI, I. et al. Weight loss with a low-carbohydrate, Mediterranean, or low-fat diet. The New England journal of medicine, v. 359, n.3, p. 229-241, 2008. 2 FREDERICK, F. et al. A low-carbohydrate as compared with a low-fat diet in severe obesity. 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Essa analogia tenta explicar que urinar e beber muita água são consequências de uma doença, no caso, a diabetes. A bioquímica comanda e regula nosso comportamento, não o contrário. Se você tem um paciente bebendo 15 litros de água e urinando 15 litros por dia, pode ser que seja o caso de uma desordem comportamental. Mas é mais provável que ele tenha diabetes. Pedir que ele se controle, tenha força de vontade, “não seja preguiçoso”, “não tenha tamanha gula” por líquidos e “pare de beber tanta água” não o curará da diabetes. Mas por uma crença de lógica similar estamos seguros e acreditamos que pedir que alguém pare de comer muito resolve a obesidade de alguém com sobrepeso. Talvez valha questionarmos: será que ao tentarmos reduzir a ingestão calórica de um indivíduo com sobrepeso não estamos tentando resolver o grave problema da obesidade como alguém que fosse tentar curar um diabético apenas cortando a ingestão de água dele? Fazendo outra analogia, explicar o excesso de peso tão somente por uma ingestão exagerada de comida é como tentar explicar o alcoolismo pelo consumo de álcool, esquecendo e ignorando toda a questão por trás da doença. A febre é ainda outra boa analogia para explicar a obesidade, suas causas e consequências. Se dermos um banho de água gelada em alguém febril, conseguiremos baixar um pouco sua temperatura, que estará pouco elevada por causa da enfermidade. Porém, sabemos que o banho por si só não irá curá-lo, mais do que isso, para restabelecer a condição, seu corpo irá disparar algumas reações como tremer, para gerar calor e contrair alguns vasos sanguíneos, para perder menos calor pela pele. Ou seja, tratar um obeso oferecendo menos comida não deixa de ser como tratar alguém com febre, dando banhos de água gelada. Estamos provavelmente combatendo algo sem saber sua causa e, mais importante, ainda gerando reações. No nosso corpo essa reação é o das células adiposas terem muito combustível (via consumo exagerado de alimentos) e acabam por produzir ainda mais gordura em lugar de utilizar essa energia para as outras funções de manutenção do organismo. Pode parecer repetitivo listar analogias que nunca serão perfeitas, mas é quase central, é extremamente importante que tenhamos bem fixo esse problema fundamental de não confundir causa e consequência no debate sobre obesidade. Imagine que por décadas a Medicina e a Nutrição têm ido dormir de sapatos como resultado de uma enorme bebedeira e no dia seguinte acordam quase sempre com uma forte dor de cabeça (ressaca). Porém, a solução escolhida por elas é que, ainda que cambaleante, tentemos todos tirar os sapatos antes de dormir porque, afinal, sempre que dormiu com eles, acordou de ressaca. Por décadas, ainda que seguindo as orientações deles de tirar os sapatos antes de dormir bêbados, a enxaqueca no dia seguinte vem sempre igual. Precisamos lembrar que o culpado é o uísque, não o dormir calçado. C A P Í T U L O 4 Um conto de fadas: o balanço calórico A causa fundamental da obesidade e excesso de peso, é um desequilíbrio energético entre as calorias consumidas e as calorias gastas. (OMS) Uma relação que poucos tentariam negar é o do consumo de calorias com obesidade. E ela é tão forte que estatísticas simples poderiam mostrar e comprovar. No entanto, o estatístico Nate Silver em seu belo livro “O Sinal e o Ruído”1, usando dados de 84 países que disponibilizam os valores de consumo calórico, descobriu que a associação entre elas não é assim tão clara, é apenas tênue. Países como a Coreia do Sul ou Nauru, uma pequena ilha na Oceania, com o mesmo consumo energético, apenas um pouco acima da média mundial, apresentam índices de obesidade contrastantes (3% versus 79%). O gráfico obtido aponta evidências apenas limitadas da relação consumo calórico e obe- sidade, ou ainda, nas palavras do próprio autor sobre aquela que é uma regra fundamental para nutricionistas e médicos adeptos da ideia do balanço calórico: parece haver indícios restritos para uma associação entre obesidade e consumo calórico; pelos testes padrões, tal relação não seria qualificada como “estatisticamente significativa”. Figura 1: Consumo de calorias e índice de obesidade em 84 países Ignorar que os carboidratos simples são um dos maiores responsáveis pela obesidade mundial está na equivocada e enraizada ideia do balanço como o maior e principal regulador de nosso peso. A ideia, entre outras coisas, parte do pressuposto de que “todas as calorias são iguais”, afinal, o que importa é o balanço ao final do dia, tal qual o saldo bancário de um indivíduo. Mas isso teria que nos fazer crer que 100 calorias de refrigerante seriam como 100 calorias de um legume, por exemplo. O corpo, como discutiremos no próximo capítulo, trata e metaboliza os diferentes alimentos de formas bem distintas. Quando se acredita que todas as calorias são iguais, reforça a ideia que a questão é apenas gastar energia a mais ou consumi-la de menos. Assim, acaba-se por reforçar que obesidade é simplesmente uma consequência de comer demasiadamente por gula ou se movimentar de menos por preguiça. Não deixa de ser um tanto ingênuo imaginar que nosso organismo, e sua intricadíssima rede de reações bioquímicas, lidaria do mesmo jeito com calorias vindas de um pão, ou de carne, ou de uísque. Ou ainda, por uma lógica simples demais para ser crível, assumir que a gordura ou colesterol circulantes no nosso sangue, sejam resultado direto da gordura saturada na dieta. Isso tudo, ainda que as evidências científicas sejam cada vez mais frequentes, apontam que os carboidratos (sugeridos para substituí-la) elevam sua concentração sanguínea. Na verdade, a ideia de que a obesidade é uma questão matemática e de balanço calórico nem sempre foi central. Até antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), muitos pesquisadores europeus acreditavam que a obesidade era uma desordem regulatória de causa hormonal. Em uma recapitulação cuidadosamente feita e investigada por Gary Taubes em seu livro “Good Calories, Bad Calories”, temos recontada as ideias do médico alemão Gustav von Bergmann que explicava no início do século passado que nós comemos demais porque e quando estamos ficando gordos. Ele desmistificava o raciocínio do sobrepeso como tendo o desbalanço energético como causa, e não consequência. Defendia a causa da obesidade como uma desordem metabólica à qual deu o nome de lipophilia ou love of fat (amor da gordura, em tradução própria). Suas teorias, porém, foram depois ignoradas. Não foram apenas as ideias dele que parecem ter se perdido no tempo, em 1864, William Banting publicou Letter On Corpulence, Addressed to the Public2. Sua dieta explicada na obra acabou virando verbete na Nutrição e foi muito recomendada por médicos até a metade do século passado. O autor perdeu quase 40kg em uma dieta rica em gordura e restrição de carboidrato. Porém, o The British Medical Journal e o The Lancet publicaram uma resposta dizendo que tal dieta poderia ser perigosa. Na verdade, não foram muito gentis, eles aconselhavam Banting e todos os seus a não se meter com literatura médica novamente, e ir cuidar de sua própria vida. Ou seja, como muitos órgãos hoje ainda fazem, eles criticavam e rechaçavam a ideia de restrição de carboidrato e alto consumo de gordura sem sequer entender as ideias e a sua segurança. É difícil criticar o tom da resposta com a falta de evidências que havia no longínquo ano de 1863, mas é inaceitável órgãos de saúde, médicos e nutricionistas fazerem o mesmo nos dias de hoje com o vasto material produzido à disposição de todos. Falaremos ainda muito da segurança do consumo de gordura na segunda parte do livro. Depois de Gustav von Bergmann, em 1951, foi publicado por sete respeitados clínicos britânicos o The Practise of Endocrinology.2 ____. 10 coisas que você precisa saber sobre diabetes tipo 2. Disponível em: . Acesso em: 28 jan. 2015. 3 DIABETES BRASIL. Carboidratos. Disponível em: . Acesso em: 28 jan. 2015. 4 DIABETES BRASIL. Alimentação. Disponível em: . Acesso em: 28 jan. 2015. 5 SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA – SBEM. Descobri que tenho diabetes... como deverá ficar minha alimentação? Disponível em: . Acesso em: 28 jan. 2015. 6 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA AO DIABÉTICO – ANAD. Diabetes. Disponível em: . 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A falácia das 7.500cal C A P Í T U L O 3 Causa e consequência na luta contra a obesidade C A P Í T U L O 4 Um conto de fadas: o balanço calórico C A P Í T U L O 5 As calorias definitivamente não são iguais C A P Í T U L O 6 Nosso peso é uma questão hormonal, não termodinâmico O exercício como ferramenta (ineficaz) de perda de peso C A P Í T U L O 8 A desordem hormonal como o problema do sobrepeso C A P Í T U L O 9 O metabolismo do carboidrato C A P Í T U L O 1 0 A frutose e a obesidade C A P Í T U L O 1 1 O risco de uma realidade com uma insulina (constantemente) elevada C A P Í T U L O 1 2 Os riscos do açúcar C A P Í T U L O 1 3 O açúcar como vício C A P Í T U L O 1 4 Há relação de diabetes e açúcar? C A P Í T U L O 1 5 Obesidade e a mudança dos tempos A cetose como via e sua segurança C A P Í T U L O 1 7 A (não) essencialidade do carboidrato C A P Í T U L O 1 8 A adição de açúcar nos alimentos C A P Í T U L O 1 9 A pirâmide alimentar é uma invenção puramente política Sobre a segurança de uma gordura transformada em vilã 158 Danilo Balu C A P Í T U L O 2 0 Quando a gordura saturada passou para o lado negro da força? C A P Í T U L O 2 1 O cenário para a restrição de gordura As consequências inesperadas da substituição C A P Í T U L O 2 3 Ancel Keys: o nome do homem por trás da ideia C A P Í T U L O 2 4 O risco dos óleos vegetais à nossa saúde Os marcadores do risco cardíaco C A P Í T U L O 2 6 O falso temor pelo colesterol C A P Í T U L O 2 7 O que dizem as pesquisas sobre a segurança da gordura saturada C A P Í T U L O 2 8 O efeito da restrição da gordura sobre a obesidade global C A P Í T U L O 2 9 As vozes em contrário não eram novas C A P Í T U L O 3 0 O problema seria o carboidrato, não a gordura, calorias ou o colesterol C A P Í T U L O 3 1 A segurança da gordura saturada e o risco da dieta low-fat C A P Í T U L O 3 2 O paradoxo das recomendações P A R T E 3 A proteína e a segurança de se restringir o carboidrato C A P Í T U L O 3 3 O exemplo sueco O temor apressado por riscos inexistentes C A P Í T U L O 3 5 Pesquisas mostram eficiência na restrição C A P Í T U L O 3 6 Pode não servir para todos, mas vale a tentativa C A P Í T U L O 3 7 Mais fácil, eficiente e segura Conclusão 296 Danilo Balu Referência bibliográfica Introdução Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 30 Capítulo 31 Capítulo 32 Capítulo 33 Capítulo 34 Capítulo 35 Capítulo 37 ConclusãoAs recomendações nele eram muito parecidas com as de William Banting em 1864, ou seja, as comidas a serem evitadas eram: pães e tudo feito com farinha de trigo, cereais, cereais matinais, pudins, batatas e quaisquer outros vegetais e tubérculos que contenham açúcar e todo tipo de doce. Depois deles, em 1957, ainda veio Hilde Bruch, autoridade e especialista em obesidade infantil, que escreveu: um grande progresso no controle da obesidade pela dieta foi o reconhecimento de que a carne não é engordativa, mas que pães e doces é que causam a obesidade. Ou seja, para esses, o problema não era uma questão de quanto, mas do que comer. Já que se a questão do ganho (ou perda) de peso é apenas numérica, de quantas calorias ingerimos, e não da composição daquilo que comemos, a ingestão calórica exagerada, ainda que por poucas semanas, deveria dar suporte à crença da teoria do balanço energético. Questionando essa lógica citada amplamente em órgãos de saúde, Sam Feltham fez um curto experimento pessoal, sem validade científica. Por três semanas ele ingeriu diariamente uma média de 5.794 calorias com uma restrição tal de carboidratos que totalizou apenas 10% dessa energia consumida. Se a tese do balanço calórico fosse 100% válida, Feltham deveria ter engordado 7,5kg, mas ele ganhou apenas 1,7kg. Essa diferença levanta uma hipótese: será que nosso corpo pode alterar seu gasto energético? Durante o experimento é bem provável que seu gasto tenha se elevado3, explicando seu ganho de peso bem abaixo do esperado na teoria matemática do déficit calórico. E o que sugere ainda, outro estudo do The Journal of the American Medical Association (JAMA) que examinou 21 sujeitos3 com sobrepeso ou obesidade, comparando a perda de peso entre dietas com restrição de gordura com as restringindo carboidrato e também seu gasto energético. Mesmo consumindo a mesma quantidade calórica, a dieta com restrição de carboidrato gerou um aumento no gasto diário de 325 calorias por dia. O inverso também acontece, se você entrar em jejum objetivando perda de gordura, não perderá peso de forma equivalente ao desbalanço calórico. Ou seja, um indivíduo que “necessite” 2.500 calorias, em jejum de dois dias não terá perdido necessariamente o equivalente a 5.000 calorias. Poderíamos argumentar que por não ser um experimento válido, Feltham, hoje sabidamente um defensor da não-validade do balanço calórico, estaria blefando, mentindo ou não teria controlado outras variáveis de uma forma precisa, como o gasto energético, por exemplo. Porém, há outros relatos parecidos que sustentam a veracidade ou a viabilidade desses dados. O que aconteceu neste curto experimento dele parece estar bem de acordo com o que ocorre em nosso organismo quando estamos com os hormônios bem regulados, ou seja, quando nosso corpo responde adequadamente aos estímulos. Porém, ingerir grandes quantidades de carboidrato simples parece interferir justamente no balanço hormonal, aumentando a produção do hormônio insulina. Um exemplo que ficou mundialmente popular foi retratado num filme anos atrás, em “A Dieta do Palhaço” (Super Size Me, 2004), o diretor Morgan Spurlock também fez um auto experimento sem validade científica. Ele ingeriu cerca de 5.000 calorias diariamente na mais famosa rede de fast-food do mundo por 30 dias seguidos. Ao contrário de Feltham, o diretor não comeu uma dieta de baixa ingestão de carboidratos, mas sim, uma dieta rica em carboidratos refinados e gorduras. Ao contrário do outro experimento, Spurlock ganhou mais de 11kg. Esse ganho pode ter uma explicação simples, um estudo de 2004 sugere4 que a qualidade (ou tipo) da dieta importa muito, porque mesmo em uma hipocalórica, ratos submetidos a uma alimentação com alto IG engordaram rapidamente. Eles ganharam cerca de 71% de gordura a mais do que os outros ratos que comeram mais calorias, só que por meio de carboidratos de menor IG. O IG é uma medida comparativa do quanto os diferentes alimentos elevam a glicemia quando comparados a uma solução de glicose pura. Esta tem uma pontuação de 100, quanto mais alto ou próximo de 100, maior o poder do alimento avaliado para elevar a glicemia comparada à glicose. Como o açúcar de mesa (sacarose) tem composição aproximada de metade de glicose e metade de frutose, seu valor é de 65 e não 100 (glicose pura) mas vale falarmos de outros alimentos. A diretriz americana (seguida por inúmeros países mundo afora) e incontáveis profissionais recomendam consumir carboidratos complexos, mas são muitos os exemplos de alimentos assim considerados que elevam a glicemia mais do que o próprio açúcar de mesa puro o faria. Uma breve explicação para isso é que o amido, que vai no pão, é encontrado na forma de grãos nas sementes, caules e raízes de várias plantas como trigo, mandioca, arroz, milho, feijão, batata, entre outras. É presente em muitos dos alimentos que seriam fontes dos tais carboidratos complexos, sendo um polímero natural de glicose, ou seja, o amido é o mesmo que um conjunto de milhares de moléculas de glicose ligadas umas às outras. Por isso, redobre a atenção quando a ideia for consumir carboidratos complexos, pois os valores de IG acabam por dizer mais do que fazem algumas recomendações. Saindo dos casos individuais e sem validade, temos o caso de um experimento5 de um professor que fez 12 estudantes comerem por quatro semanas uma dieta rica em fast-food e calorias. Resultado: ganhos em média de 6,4kg, reforçando a ideia de que quando nossa dieta é rica em carboidratos simples e de alto IG é mais fácil ganhar peso porque há o aumento na liberação de insulina, hormônio responsável pelo aumento da massa adiposa. Esse ganho, por sua vez, é bem mais difícil na dieta de restrição de carboidratos, seja porque não há liberação de muita insulina no sangue, seja porque a gordura e proteína trazem maior sensação de saciedade, ou porque o corpo responde como respondeu no primeiro exemplo: aumentando o peso em uma quantidade bem mais modesta ainda que consumindo um grande excesso. Há muitos exemplos registrados sustentando isso. Um estudo foi feito para comparar o efeito de uma alimentação hipercalórica6 separando os indivíduos em duas fases. Um grupo de pessoas magras e outro de pessoas com sobrepeso foram submetidos a dietas hipercalóricas (aumento de 50% das calorias) mudando a ênfase do macronutriente. O primeiro grupo (magro) consumia cerca de 2.700 calorias e o de sobrepeso 3.300. Passaram depois a ingerir 4.000 e 5.000 calorias. Esse período de excesso de calorias durou duas semanas. Ele foi seguido por mais quatro semanas, quando elas voltaram às suas dietas padrão, antes de serem novamente submetidas a uma nova fase de duas semanas de aumento de 50% das calorias. A diferença era que em uma fase aumentava-se o carboidrato e em outra a gordura. Se o sobrepeso é uma questão matemática, não deveria haver então mudanças já que o controle energético era rigoroso. Mas não foi isso o que aconteceu: o carboidrato tem um impacto na quantidade de insulina do nosso organismo (insulinemia), o que tem influência direta na formação e armazenamento de gordura corporal, como demonstrou um importante estudo que descobriu que os carboidratos fizeram um grupo de sobrepeso, comparativamente, ainda mais gordos que um grupo magro estudado. Esse achado da diferença de aumento de gordura foi confirmado depois ainda por outro estudo com período mais curto de dieta7. Isso se explica pela diferença da metabolização de carboidratos como resultado da ingestão de carboidrato ou gordura na dieta. Essas importantes alterações nos indivíduos foram ainda confirmadas mais tarde também em outros dois estudos8, 9. Esses experimentos são importantes não só por questionarem fortemente a ideia do balanço calórico como causa da obesidade, mas por indicarem qual a melhor forma de intervenção para combater o sobrepeso. Esses estudos são fundamentais porque reforçam que a queima de gordura (lipólise) é reduzida quando a pessoa com sobrepeso consome uma dieta de pouca gordura (low-fat) e proporcionalmentemais carboidrato. Deste modo, quando falamos de controle de peso, perda de peso ou combate à obesidade, o balanço calórico é muito falho porque nem todas as calorias são iguais pelo fato de que ao organismo importa muito de qual macronutriente ela vem. C A P Í T U L O 5 As calorias definitivamente não são iguais Do ponto de vista termodinâmico, ninguém nega que 100 calorias de alimento, não importa sua origem, se proteína, gordura, ou carboidrato, libere a mesma energia em um teste laboratorial1. Ainda, a primeira publicação conhecida da definição de caloria foi em 18252 no jornal francês Journal de l’Industrie, des Sciences et des Beaux-Arts. Porém, as leis termodinâmicas que o pesquisador Clément-Desormes propôs à época não se aplicam, necessariamente, ao organismo humano. Independente disso, ela continua sendo usada como base das diretrizes populacionais para combater ou controlar a obesidade. Ainda que em um organismo animal complexo como o nosso os diferentes alimentos tenham efeitos igualmente diversos na saciedade, na intervenção da taxa de metabolismo, na resposta e atividade cerebral, nos níveis de glicemia e hormônios que regulam e controlam a gordura corporal. Mas se há tantas evidências de que as calorias não são todas iguais3, se até os defensores do balanço calórico pedem, equivocadamente, que comamos mais carboidratos complexos, por que ainda encaramos a obesidade como se fosse apenas uma questão de calorias? Afinal, se é uma questão energética, não há razão de preterir a gordura em favor do carboidrato quando o problema é apenas o peso ou sua manutenção. Um dos pilares é haver mais calorias por grama nas gorduras do que no carboidrato e proteína, ou seja, pela gordura ser densamente mais energética ela seria mais “engordativa”. Porém, há evidências que comprovam que uma dieta rica em gordura reduz o apetite. Estudos consistentes mostram que dietas ricas em gordura e com restrição de carboidrato resultam maior perda de peso do que as que são baixas em gordura4, 5, 6. O argumento da alta densidade energética, ou seja, calorias por grama, remete ao equívoco de tratar tudo como uma questão numérica ou termodinâmica e não do ponto de vista da composição dos alimentos. E é um grave erro, justamente, por nosso organismo não metabolizar os diferentes macronutrientes da mesma maneira7. Um estudo de 19568, ao comparar dietas que consumiam ou 90% de gordura, 90% de carboidratos ou 90% de proteínas, apesar de radical, provou o que muita gente desconfiava: mais do que atentar ao fato que a dieta 90% de gordura foi a que mais possibilitou perda de peso, a diferença nos resultados reforça a ideia de que mais importante do quanto é a ingestão calórica é o quê necessariamente se ingere, ou seja, uma caloria não é só uma caloria. Apenas cortar a ingestão de calorias não é a melhor resposta nem a ideal. É importante sabermos de onde e de qual alimento ela vem. Os efeitos ao nosso organismo de uma caloria vinda do açúcar, apesar de ser uma grandeza termodinâmica equivalente, é diferente dos efeitos que tem uma caloria que vem de um bife. Além de sua origem, é praticamente impossível, de forma acurada e precisa, calcular quantas calorias há nos alimentos, mesmo fazendo uso de instrumentação muito precisa. O mesmo vale para quantas calorias são gastas por um indivíduo. O que existe, atualmente, são cálculos levando a aproximações. Além disso, é importante lembrarmos que “caloria” é um termo calculado em função da quantidade de energia necessária para elevar a temperatura de um determinado volume da água. Só que nosso organismo não usa as calorias para isso. Ele a usa para sobreviver, produzir enzimas, sintetizar nutrientes, se movimentar etc. Lâmpadas é que são classificadas em função da energia que consomem, não em função de sua luminosidade. Algumas são mais eficientes que outras, como as lâmpadas frias modernas, muito mais econômicas que as antigas incandescentes. Com o organismo acontece algo parecido, a quantidade de energia que diferentes pessoas utilizam para fazer tarefas distintas também é variável. Não podemos jamais acreditar na precisão de quem acha que o controle de peso é algo puramente matemático, como se fosse uma esteira na academia, se não conseguimos calcular com confiança inúmeras outras variáveis. Além disso, a tese do balanço energético de que uma caloria é uma caloria tem outros furos, vejamos as fibras, por exemplo. Quando você consome 160 calorias de amêndoas, você absorve apenas 130 dessas calorias9. A fibra na amêndoa retarda a absorção, deixando que essas calorias fiquem para as bactérias da flora intestinal ou sejam liberadas nas fezes. Alguns vegetais têm “apenas” cerca de 3/4 das calorias absorvidas10. O custo energético de metabolizar os diferentes nutrientes11 também é muito importante. Gastamos quase o dobro da energia para metabolizar proteínas12 quando se compara com o gasto na metabolização de carboidratos. Este é o efeito térmico dos diferentes alimentos13 e elas ainda reduzem melhor a sensação de fome14, 15, 16, por exemplo. Assim, você não necessariamente absorve aquilo mostrado na tabela nutricional do rótulo. Um conceito definido pelo pesquisador Robert Lustig é: os alimentos podem ser isocalóricos, mas não necessariamente isometabólicos. Isto é, você pode comer 100 calorias de glicose por meio de uma batata, ou 100 calorias de açúcar e elas serão metabolizadas diferentemente pelo organismo com efeitos distintos no corpo. A energia é a mesma, as consequências metabólicas não14, 15, 16. Um exemplo são os alimentos e bebidas ricas em açúcar, pão branco e outros alimentos com carboidratos processados que sabidamente causam picos e/ou elevações abruptas na glicemia e parecem estimular partes do cérebro envolvidas na percepção de fome, compulsão, desejo e recompensa. De forma ainda mais complexa e grave, um estudo interessante do periódico The American Journal of Clinical Nutrition17 nos revela que esses alimentos de alto IG agem no cérebro de uma maneira que faz com a que a pessoa seja compelida a comer demasiadamente. Efeito importantíssimo esse que falaremos mais adiante, no capítulo 13. C A P Í T U L O 6 Nosso peso é uma questão hormonal, não termodinâmico Muitos são os fatores biológicos que afetam o acúmulo de gordura, mas um é indiscutível e predominante: o hormônio insulina. Dê muita insulina a um indivíduo saudável e ele ganhará peso, e de tudo o que comemos, um tipo de alimento faz o corpo liberar mais insulina na corrente sanguínea: carboidratos refinados, facilmente digeríveis. Esta responsabilidade da insulina como promotor do acúmulo de gordura corporal não é questionada sequer entre aqueles que recomendam que comamos pouca gordura. É importante atentarmos que na natureza sempre que um tecido ou organismo estiver em crescimento, ou seja, em um estado de anabolismo, de metabolização e formação, ele estará, por definição, consumindo mais calorias do que gastando. Ele estará, necessariamente, em um estado de balanço calórico positivo. Mas novamente temos que lembrar que isso não explica o que é a causa e o que é o efeito desse crescimento. Uma criança indo à fase adulta, para crescer e se desenvolver de forma naturalmente saudável, sempre terá que consumir mais energia do que gasta. É a lei da física, porém isso não explica o porquê ela está crescendo. Ela não cresce porque come demais, mas come demais porque está crescendo. Toda a cadeia de hormônios envolvida na infância e depois adolescência faz a criança comer mais para crescer, não o inverso. Suponhamos ainda que esse indivíduo chegue saudavelmente à fase adulta a uma altura de 1,70m e tenha como sonho jogar basquete na NBA. Não seria nada lógico supor que comendo mais e mais ele fosse aumentar essa altura, achando que cresceria ao comer demais. Não, ele não cresceu porque comeu mais, mas ele comeu mais na adolescência porque estava crescendo. Essa é uma lógica inegável. Enfim, em todos os processosanabólicos na natureza, ou seja, de formação de tecidos, há maior ingestão calórica para permitir esse crescimento; por que então apenas o aumento das nossas reservas de gordura seria um processo unicamente invertido e isolado de toda a natureza? Pela inversão da lógica natural dos exemplos da natureza, a explicação reducionista é achar que o crescimento do tecido adiposo na população atual é resultado de uma ingestão quase forçada de alimentos e gordura. Nós temos inúmeros exemplos e analogias para fazer. Alguém que vai à academia para ter hipertrofia (aumento e ganho de músculos) tem que comer mais. Ele não precisa de ninguém o lembrando disso, porque no processo de anabolismo muscular ele necessariamente terá mais fome. Mas nenhum profissional de saúde irá jamais argumentar que ele está mais forte só porque “decidiu” comer mais. Uma grávida “come por dois”, mas ninguém dirá que um feto se desenvolve porque a gestante passou a comer mais, senão o contrário, a futura mamãe come mais porque há um ser vivo em desenvolvimento. E é esse o ponto agora defendido por algumas pessoas que falam sobre obesidade e nosso controle de peso: a obesidade seria um desbalanço (ainda que momentâneo) que nos faz comer mais porque o corpo entrou em um estado de engorda. Comer a mais seria, então, a consequência e não a causa da obesidade. A hipótese da inversão entre causa e consequência nesta questão da obesidade foi discutida em um artigo1 publicado no JAMA. Nele, uma das explicações seria que por algumas razões nossas células adiposas estariam armazenando mais energia. Com uma menor disponibilidade na corrente sanguínea, o cérebro “avisaria” o corpo para ingerir ainda mais alimentos (de preferência de rápida oferta de energia) despertando a sensação de fome, enquanto por outro lado, ele pede que economizemos energia (redução do metabolismo). Isso, além de atender às “ordens” do cérebro, gera uma consequência imediata: ganho de peso. Conscientemente, negar esse alimento ao organismo (uma dieta hipocalórica, de corte no consumo de calorias), pode resolver o problema apenas momentaneamente. A resposta do corpo é aumentar ainda mais a fome e reduzir ainda mais o metabolismo, gerando letargia, preguiça. Outros exemplos de aumento de peso corporal (massa adiposa) na natureza acabam reforçando a questão do controle de peso e ingestão alimentar como consequência e não causa. Os esquilos, por exemplo, de tempos em tempos engordarão seguindo um ciclo natural. Mesmo que você os coloque em laboratórios, controlando, sua alimentação (e ingestão calórica), eles engordarão. O mesmo vale para ursos em zoológicos, esses animais reduzirão sua atividade corporal (sedentarismo). É um caso exemplar de ciclo natural independente das condições ambientais de oferta ou não de alimento. No começo dos anos 70, o então jovem pesquisador George Wade da University of Massachusetts acabou levando esse exemplo dos esquilos ao extremo. Ele conduziu, com grande rigor, experimentos documentando o que acontecia com ratas que tinham os ovários removidos por ele. Por um desbalanço hormonal, as ratas passavam a comer muito e se tornavam obesas1. Na lógica do balanço calórico, ou mesmo da gula como gerador do nosso sobrepeso, diríamos que a falta dos ovários as fez gulosas, ingerindo muitas calorias e consequente causando ganho de peso. Ou seja, essa explicação é tão simplista que ignora o fato que a retirada dos ovários trouxe um desbalanço hormonal nas roedoras. Mais tarde, Wade continuou a pesquisa colocando essas ratas sem ovários em uma dieta com as mesmas calorias da fase pré-cirúrgica. Elas assim foram submetidas à fome, pois o desbalanço hormonal as faziam “querer” engordar, mas as ratas tinham ração apenas equivalente ao que consumiam antes da retirada dos ovários. E se a questão da manutenção de peso for algo matemático, elas teriam assim que manter o peso. O mais incrível deste experimento é que contrariando a “lógica”, elas continuaram a engordar por ficarem mais letárgicas, muito sedentárias, economizando assim mais e mais energia e continuando seu processo de engorda pelo desbalanço hormonal. A conclusão foi muito diferente do que aponta a tese nunca provada do balanço calórico como regulador do nosso peso. A retirada dos ovários mudou toda a regulação do tecido gorduroso, de modo que este tecido entrou em anabolismo, gerando um déficit calórico que foi compensado pela sensação de fome. Havendo comida e disponibilidade de alimento, o animal comerá; se não houver, ele reduzirá seu gasto para que o balanço calórico seja positivo. Veja bem, não vamos negar a matemática (ou a física), mas a fome, a ação de comer demasiadamente nessas ratas era uma consequência do processo de engorda e não a causa! Nesse cenário, combater a preguiça (faça exercício!) ou a gula (coma menos!) não resolverá o problema se a razão for de desordem hormonal. Esses animais comeram mais para engordar e não ficaram gordos por comer demais. Quando queremos nos movimentar mais, fazer mais atividade física para compensar um alto consumo ou um baixo gasto, temos que lidar com outro fato: poucas coisas dão tanta fome quanto fazer exercício. Não deixa de ser uma questão de equilíbrio, de homeostase; essa maior fome por causa da prática de esporte é o nosso corpo buscando ou tentando atingir um equilíbrio, seja aumentando o apetite ou tendo mais preguiça (letargia). É uma resposta natural. As células removem a gordura da circulação pela ação de uma enzima chamada Lipoprotein Lipase, ou lipase de lipoproteína (LPL). Se a LPL estiver presente e ativa na superfície de uma célula adiposa, esta célula removerá a gordura do sangue e ficará um pouco mais “gorda”. O estrógeno, hormônio secretado pelos ovários, inibe a ação da LPL. Assim, os adipócitos das ratas castradas removem quantidades desproporcionais de gordura do sangue, deixando o animal mais gordo. Tais calorias fazem falta no resto do corpo e o animal precisará comer mais para atingir o equilíbrio calórico. As células adiposas, desreguladas pela ausência do hormônio, de fato sequestram as calorias e o organismo terá de “se virar” para resolver o déficit criado. Falaremos mais sobre a LPL no capítulo 9. Enfim, se o ponto central de um debate sobre a saúde de um indivíduo fosse as explicações pela sua altura ou ainda os casos extremos dela (nanismo e gigantismo), ou ainda uma hipertrofia muscular, o debate seria no campo dos hormônios e enzimas envolvidos nessa questão. Porém, quando o assunto é obesidade, fechamos a vista, invertemos uma lógica inúmeras vezes presente na natureza. Para explicar a obesidade insistimos em partir para o campo do comportamento pessoal e/ou mesmo para uma questão moral, que envolve força de vontade ou mesmo puritanismo e pecados. Há um claro anabolismo do tecido gorduroso, porém não consideramos sua causa como hormonal e/ou enzimática; partimos para a responsabilidade individual como culpa pelo sobrepeso. Buscamos e equivocadamente achamos as respostas somente do “lado de fora” do organismo, ignorando toda uma complexa rede hormonal e apressadamente transformamos sobrepeso até em uma questão de fraqueza pessoal. Foi um enorme erro, parece que já teríamos definido as causas e quando esse quebra-cabeça não fecha, como nas falhas da dieta hipocalórica, vamos buscando dentro de teorias nunca provadas explicações para o que não entendemos. Ou o indivíduo come demais ou é preguiçoso, nem que para isso sugira-se que o faça até escondido. A história e a natureza são repletas de casos que nos possibilitam questionar o balanço calórico como causa e não consequência. Animais de laboratório submetidos a dietas hipocalóricas severas em estudos, ou ainda os relatos de guerras e os períodos de fome contam que os famintos ficaram letárgicos, sonolentos, gastando o mínimo de calorias em uma resposta de sobrevivência do organismo para poupar importante energia. O inverso também é verdadeiro, basta fazermos (muita) atividade física para termos fome. C A P Í TU L O 7 O exercício como ferramenta (ineficaz) de perda de peso Da mesma forma que alguém acaba bebendo mais líquidos como resultado imediato de se exercitar mais, a pessoa também come mais quando realiza uma atividade física um pouco mais longa. Analisadas, populações de homens que fazem atividade física extenuante consomem mais alimentos que homens em atividades físicas menos intensas. O exercício por si só tem sido demonstrado não ter diretamente grande efetividade no tratamento ou combate da obesidade justamente porque o aumento do gasto energético é facilmente compensado com o aumento da ingestão calórica. Há uma enorme interdependência entre gasto energético, atividade física e a sensação de fome. Mais atividade física é talvez uma das duas maiores soluções apontadas para quem quer emagrecer. Mas não é sensato crer que uma pessoa poderá fazer esporte (ou qualquer esforço físico duradouro) e não ter ou então aguentar passar fome por longos períodos. Não há força de vontade que vença um desejo de fome contínuo sete dias por semanas, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Mas o mais grave é que ainda assim, insistimos nesse “remédio” de combate ao sobrepeso. Com a frequência com a qual é falado sobre a obesidade como resultado do desbalanço calórico, poderíamos imaginar que isso tenha sido arduamente testado em experimentos rigorosamente controlados em algum momento do passado. Pela enorme dificuldade e custo de se fazer um grande estudo para provar esse ponto, a resposta mais fácil era achar que engordamos porque comemos demais; para isso, bastava fazer uma associação de que quem come muito é gordo, sem buscar descobrir o que era causa e o que era consequência. Mas a explicação do porquê um adipócito acumula gordura em lugar de transformar esse excesso em energia (calor ou movimento) não é uma questão física, deveria ou poderia já ter sido vista como uma questão biológica. Aceitamos a explicação biológica que na palma das mãos ou no couro cabeludo não haja depósitos de gordura, mas tentamos explicar pela primeira Lei da Termodinâmica o fato de alguém ir engordando. Usamos a física (e o comportamento da pessoa com sobrepeso) para um e a biologia para outro. Este conceito de que a atividade física é uma boa ferramenta para perda de peso vem dos anos 50 quando o nutricionista Jean Mayer começou a estudar a relação entre peso e o exercício. Até então, este conceito de atividade física e perda de peso não estava na moda. As análises de Mayer demonstravam que em bebês, crianças e ratos, quanto menos ativos eram eles, mais propensos eram a ter excesso de peso. O que o pesquisador mostrou foi haver relação, sem demonstrar sua causa ou efeito. Mas já era tarde demais, a associação equivocada estava assim montada. Hoje sabemos que o excesso de peso leva à inatividade, mas inatividade não necessariamente leva ao excesso de peso. E esta diferença é crucial porque ela demonstra não ser a falta de movimento a causa da obesidade. Por exemplo, havia um tempo em que ninguém acreditava que exercícios físicos ajudariam ou que eram necessários para perdermos peso. Até os anos 60, médicos e clínicos que tratavam obesos ou pessoas com sobrepeso ignoravam essa alternativa. Para Russell Wilder, um especialista em obesidade e diabetes nos anos 30, obesos tinham mais chance de perder peso em repouso (na cama) do que fazendo esforço físico extenuante, porque isso acabaria por diminuir sua velocidade de emagrecimento. O que ele e seus contemporâneos já sabiam, e que hoje também sabemos, é que exercício físico gasta insignificantemente poucas calorias do ponto de vista calórico para perda de peso. Um obeso tem que subir vários andares de um edifício para queimar algumas poucas calorias. Se o problema fosse matemático, bastaria esquecer a academia, evitar algumas calorias e a meta estaria atingida. Além disso, todos sabemos pela própria experiência que esforço físico, cedo ou tarde, gera fome, muita fome. Pouco gasto energético, pouca fome, muito gasto, muita fome. É assim que sempre funcionou. Exercícios físicos vigorosos resultam em uma imediata demanda por uma grande refeição já dizia Hugo Rony da Northwestern University em 1940 em seu Obesity and Leanness. Basta trocarmos de lugar um estivador que gaste, digamos, cerca de 5.000 calorias por dia por causa de seu trabalho com um advogado que em sua rotina de escritório gaste diariamente 2.500 calorias. É ingenuidade achar que eles não mudarão quase que imediatamente seu consumo calórico. Seria inocência achar que o advogado desapareceria de tanto esforço em um déficit energético diário na nova atividade. Mas há muitos que acreditam que o estivador continuará, indefinidamente, a comer 5.000 calorias mesmo gastando metade disso, a menos que alguém o oriente do contrário. A conclusão de que quanto mais gordos estamos, mais sedentários somos, é uma correlação que não nos diz nada, não sabemos o que é causa ou efeito. Igualmente possível é que tanto a obesidade quanto o sedentarismo sejam consequências e ainda sintomas de um mesmo problema. Ou seja, a recomendação para comermos menos e nos exercitarmos mais porque isso fará de você mais magro, quando levada ao extremo, não deixa de ser verdade. A ciência e a história são cheias de exemplos de animais e pessoas que foram levados ao extremo da fome e acabaram perdendo muito peso. Mas isso não combate, necessariamente, nem de forma saudável, aquilo que é a causa do sobrepeso. Quando somos privados de comida, temos fome, quando nos exercitamos, ficamos cansados. Nosso organismo é regido pela biologia, não pela física, nesse caso, a termodinâmica. É um sistema em homeostase que regula desde nossa pressão arterial, batimentos cardíacos, temperatura, respiração, estado de hidratação etc. Este sistema, visto dessa perspectiva, acaba por nos dizer que um corpo magro não é uma pessoa que necessariamente gosta ou tem a disciplina ou ainda a força de vontade para se exercitar mais, mas nos mostra que aquele organismo em questão é programado de um jeito tal que pega a gordura para transformá-la em energia e não em depósito. A indústria alimentar tem muito a ganhar quando permanece a ideia equivocada de que a obesidade seria explicada pela teoria do balanço calórico porque joga o seu controle, principalmente, para a questão da responsabilidade individual. Nesse contexto simplista de controle calórico, é a pessoa quem tem a responsabilidade de resistir à tentação. O problema é que se as doenças metabólicas fossem algo apenas de obesos, que não teriam a força de vontade para resistir às tentações nem a disciplina para se exercitar, como explicar algumas das “doenças da obesidade” em pessoas com baixo peso? Se metade da população americana hoje já sofre com problemas antes típicos apenas da obesidade, não podemos explicar a obesidade pelo comportamento de não conseguir fazer a tal manutenção. Deve, pois, haver outra explicação e se os índices apontam uma explosão conjunta no aumento da obesidade, seria porque o mundo virou uma multidão de gulosos e preguiçosos, todos ao mesmo tempo e na mesma época. É muito improvável tamanha sincronia voluntária. Pois então, primeiro falemos sobre a falsa ideia da preguiça para fazer atividade física. É inegável que atividade física queima energia, mas como já dissemos antes, estudos atrás de estudos mostram uma enorme ineficiência da atividade física como ferramenta de controle ou perda de peso, mesmo quando os indivíduos são dedicados e os programas bem desenhados. E uma das razões parece ser bem simples e indiscutível: compensando o maior gasto energético, você come mais, suprindo essa maior demanda calórica. Além disso, no esporte, assim como na nutrição, parece não haver uma solução igual para todos; ao olharmos minuciosamente os resultados para os diferentes indivíduos, é mais do que esperado observar que houve os que perderam muito peso, os que pouco se alteraram e até os que ganharam peso, mesmo seguindo à risca as orientações de atividade e dietas prescritas. Basicamente dizendo,a atividade física, orientada ou não, parece ser pouco eficiente como ferramenta de perda de peso. Justamente essa enorme variabilidade individual, com exemplos do círculo pessoal, serve de argumento e exemplo aos defensores que acham que praticar esportes é bom para emagrecer. Quando fazem isso, eles ignoram os inúmeros exemplos de fracasso, entre outras coisas, alegando que as pessoas não seguiram corretamente o modelo seja treinando de menos (por preguiça?), seja comendo de mais (gula?). Os estudos científicos e suas revisões servem justamente para tirar esse caráter pessoal ou de depender somente da memória que providencialmente ignora os insucessos e controla, ainda, esses que falharam, provando que o problema não seria a força de vontade, mas de método. No início da década de 1990, nos EUA, um grande estudo, o Women’s Health Initiative (WHI), foi feito, envolvendo por mais de sete anos quase 50 mil mulheres, com o intuito de entender e estudar o impacto de diferentes dietas (pobre ou rica em gordura) sobre a saúde. O centro da pesquisa não era a relação atividade física e (sobre)peso, mas as conclusões sobre balanço calórico, as quais foram e são reveladoras. Dessas mulheres, 40% foi instruída aleatoriamente a comer uma dieta pobre em gorduras (low-fat), rica em fibras e com muitas frutas e vegetais. Elas tiveram acompanhamento nutricional para que os pesquisadores se certificassem que todas continuavam na dieta. Esta simples intervenção resultou em uma redução no consumo de gordura de 37% para 29% do total calórico, uma redução das gorduras saturadas de 12% para 9,5% e uma redução de 360 calorias a menos em média por dia. E elas ainda aumentaram em 14% o nível de atividade física. Se o balanço calórico é a causa de nosso ganho (ou controle) de peso, essas mulheres, necessariamente, comendo um pouco a menos diariamente teriam que emagrecer significativamente com o passar dos anos. Porém, quase 8 anos depois e comendo menos, elas perderam em média menos de um quilo. E ainda vale notar que a circunferência abdominal delas aumentou, indicando que o peso perdido foi de massa magra e não gordura. Em outro estudo, liderado por Timothy Church1 da University of Louisiana, centenas de mulheres com sobrepeso entraram em uma rotina de exercícios físicos por um período de seis meses. Um grupo treinava 72 minutos por semana, outros 136 minutos, outros 194 minutos e um quarto grupo era o controle, ou seja, sem treino adicional. Contra todas as expectativas, não houve diferença significativa de peso entre os grupos que treinavam e o grupo controle (sedentário). Pior, algumas até ganharam peso. Isso aconteceu porque essas mulheres passaram, naturalmente, a comer mais, já que exercício inevitavelmente dá fome por aumentar a necessidade energética. Não há como fugir dessa realidade. Além disso, essa compensação às vezes ultrapassa o mero ato de repor uma necessidade fisiológica maior por energia, psicologicamente, quem treina pode acabar “se premiando” pelo esforço. Em outros casos, se o prêmio não vinha na forma de muito mais comida, vinha na forma de menor atividade física fora do período de treinamento, o indivíduo descansava mais como fruto de mais movimento momentos antes. Essas conclusões encontram suporte em outros dados. Um estudo publicado em 2008 sobre obesidade infantil, por Steven Gortmaker e Kendrin Sonneville2, encontrou que, num período de observação de 18 meses, 538 crianças que se exercitavam, acabavam comendo mais calorias do que as gastas na atividade. Às vezes, esse desbalanço energético era de 10 a 20 vezes maiores do que o da atividade. Ou seja, aquele conceito arraigado que temos de que exercício gera um déficit energético não é necessariamente apoiado pelos experimentos práticos. Outro estudo de 11 anos, de Terry Wilkin com 202 crianças3 desde seus cinco anos de idade, vem dar apoio a essa tese de compensação. Nele, o autor monitora o peso e o nível de atividade física das crianças. O que ele vem descobrindo é revelador: parece não haver diferença entre os pesos e composição corporal delas não importando se são mais ou então menos ativas fisicamente. O estudo ainda está em andamento e pode ser questionado pelo baixo número de indivíduos, mas vem também questionar fortemente a tal “sabedoria popular” que atribui à atividade física uma ferramenta eficiente de controle de peso. Um achado muito interessante em todos esses estudos é o fato de haver essa capacidade natural de compensarmos os gastos calóricos ao longo do dia. No estudo com as “crianças de Wilkin”, o grupo com mais aulas de educação física (64% mais, para ser mais preciso), ao chegar às suas casas fez o oposto, se movimentou menos. O grupo com menos atividade, se movimentava mais em casa. O resultado foi que ambos os grupos faziam a mesma quantidade de atividade num efeito compensatório. Isso faz lembrar a atividade de pessoas que treinam assiduamente para provas mais longas. Um maratonista amador pode sair de casa num sábado de manhã para treinar 25km. O seu nutricionista, desconsiderando esse efeito compensatório, adiciona o gasto e a necessidade energética ao de uma pessoa que treinou 25km “a mais”. O problema é que essa pessoa, no sábado, acaba dormindo, pouco se movimentando no restante do dia e evitando até outros compromissos sociais por indisposição física. Ao final do dia, podemos deduzir que ele se aproxima aos gastos de uma pessoa que correu pouco mais de cinco quilômetros, por exemplo. Se estendermos esse comportamento compensatório para os próximos dois dias (suponhamos que ele volte a treinar somente na terça feira à noite), podemos dizer que ele teve um gasto energético praticamente igual ao de quem nunca sequer sonhou em correr uma maratona. Mas já é tarde demais, em sua dieta prescrita estão lá milhares de calorias pensadas para seus 25km, ignorando toda uma compensação das demais 72 horas. Porém, reforço, não podemos confundir o fato de exercícios não serem ferramentas eficientes para controle e perda de peso com o fato de não os recomendar. Faço questão de reafirmar que os benefícios da atividade física bem-feita são inumeráveis; eles apenas parecem não gerar perda de peso substancial diretamente se não vier junto de mudanças nos hábitos alimentares. Fica talvez ainda mais difícil explicar a epidemia de obesidade pela gula se há casos na história em populações que tinham pouco acesso à comida e ainda tinham que trabalhar e batalhar arduamente (fisicamente) para conseguir alimento. Não seria muito mais do que simples matemática (calorias ingeridas menos as calorias gastas) e mais uma questão de desbalanço hormonal, fruto do alimento mais consumido. Além disso, é impossível para povos de diferentes nações se coordenarem de modo tão acurado sobre quando passar a ter pouca força de vontade para se movimentar e não resistir à gula. Parece bem mais provável que seja uma mudança de nosso comportamento em função de uma nova realidade, algo ligado à escolha que de repente, em algum momento, passamos a fazer em nossa sociedade. É, pois, uma falácia que o esporte e a atividade física sejam ferramentas eficientes para combater o sobrepeso. Mas as autoridades, seja por total ignorância ou, mais provável, pelos incontáveis benefícios outros que o esporte proporciona, não vão deixar de recomendar o esporte como saída para quem busca perder peso, por mais que isso se transforme em frustração, já que não é uma questão de força de vontade, mas de conselhos equivocados. Nossas autoridades cedo ou tarde terão que admitir que muitas recomendações, desde os anos 60, estão completamente equivocadas ainda nos seus fundamentos. Ao aceitar, pois, que a perda de peso é uma questão biológica e não de matemática com força de vontade, poderemos nos atentar à relação da insulina com a queima de gordura também durante o exercício. Se ainda em 1974 a American Medical Association Council on Foods and Nutrition explicou sem haver contestação que a gordura é mobilizada (dos adipócitos) quando a secreção de insulina é