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Prévia do material em texto

<p>Anatomia da Alma – Introdução</p><p>Anatomia da Alma analisa a representação bíblica do homem como um ser criado à</p><p>"imagem de Deus".</p><p>As idéias principais dos textos são extraídas dos ensinamentos do grande mestre</p><p>chassídico Rebe Nachman de Breslav e de seu discípulo mais próximo, o Reb Natan.</p><p>Nestes textos vamos apresentar uma descrição da anatomia humana com seus</p><p>análogos espirituais essenciais, com a finalidade de encorajar a todos a realizar seu</p><p>pleno potencial por meio da percepção do corpo como um templo para a alma.</p><p>Seguimos a prática usual de dividir o corpo de acordo com sistemas fisiológicos,</p><p>como faz a maioria dos estudos de anatomia.</p><p>No entanto, estruturamos nossa abordagem específica em conformidade com a</p><p>nossa intenção de examinar a essência espiritual da anatomia humana.</p><p>A parte 1 introduz a noção de "anatomia espiritual", tomando a representação</p><p>bíblica de Adão como protótipo de toda a humanidade.</p><p>Discute também os conceitos de Adão no jardim do Éden, a ingestão do fruto</p><p>proibido da árvore do conhecimento do bem e do mal, a subseqüente expulsão do</p><p>Éden e o que ela significa para nós na atualidade.</p><p>A parte 2 detalha a necessidade do corpo e da alma de funcionarem juntos e em</p><p>harmonia.</p><p>A criação da alma e do corpo, sua interdependência e características fundamentais</p><p>são discutidas aí.</p><p>Muitos dos conceitos cabalísticos empregados nos textos são introduzidos nesta</p><p>seção.</p><p>Na parte 3, começamos a investigar a constituição interna do corpo.</p><p>Como será claramente demonstrado, o caráter da pessoa está enraizado na</p><p>circulação sanguínea e no sistema digestório.</p><p>Portanto, estes sistemas e órgãos serão analisados primeiro, para que possamos</p><p>entender como os traços básicos de nossa personalidade se desenvolvem durante a</p><p>infância.</p><p>Explicaremos, por exemplo, as fontes da ira e da arrogância, e como se originam a</p><p>avareza, a gula e a luxúria.</p><p>Em seguida, nas partes 4, 5 e 6, apresentamos os órgãos que podem ser usados</p><p>para combater os desejos mais vis do homem.</p><p>Entre eles, incluem-se os componentes do sistema nervoso central e os órgãos</p><p>contidos na caixa torácica (o coração e os pulmões — sedes do intelecto e das</p><p>emoções), que possuem os meios pelos quais o indivíduo pode aprender a</p><p>compreender-se.</p><p>A parte 7 trata do sistema nervoso periférico, ramos do intelecto que nos dotam do</p><p>potencial para controlar os próprios desejos e sublima-los para nosso benefício</p><p>espiritual.</p><p>Na parte 8, a discussão se concentra no sistema locomotor, que nos habilita a subir</p><p>a escada espiritual, cada um de acordo com as suas habilidades singulares.</p><p>Na parte 9, examinamos o sistema reprodutor e abordamos, do ponto de vista</p><p>espiritual, a pureza sexual, relações conjugais, concepção, gravidez e parto.</p><p>Finalmente, a parte 10 trata de questões como as razões pelas quais Deus viu a</p><p>necessidade de criar o homem com um corpo físico e necessidades físicas, o</p><p>propósito da morte e a idéia de recompensa final, o mundo vindouro, que pode ser</p><p>experimentado mesmo neste mundo, pelo simples direcionamento de nossos</p><p>esforços para a superação das aspirações materiais.</p><p>Vamos apresentar também o texto completo da história "O Filho do Rei e o Filho da</p><p>Criada", usada pelo Reb Natan como guia para o entendimento das respectivas</p><p>funções de nossa natureza física e espiritual.</p><p>Outros textos que farão parte deste estudo são:</p><p>-Relação das mitsvót específicas que se relacionam com os vários órgãos e</p><p>membros, com base no Sêfer Charedim.</p><p>-Texto que define em que sefirot se enraízam as características do homem, para</p><p>que ele possa, da melhor maneira, empenhar-se por alcançar sua imagem Divina,</p><p>trazendo um resumo dos ensinamentos do Tômer Devora (Este livro também será</p><p>estudado em breve).</p><p>-Diagramas e outras representações visuais que ilustram os conceitos cabalísticos</p><p>empregados em nossos textos</p><p>-Texto completo do Ticun Clali</p><p>- O Autor</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 1</p><p>À Imagem de Deus</p><p>As tradições midráshicas e cabalísticas afirmam que, quando havia profecia, a existência de</p><p>Deus era muito mais evidente do que é hoje.</p><p>Deus falava no coração do homem, o céu estava na terra, o espírito permeava a matéria.</p><p>Na realidade, isso continua sendo verdadeiro.</p><p>O homem ainda está conectado a Deus, a terra ainda está ligada ao céu, e a matéria segue</p><p>sendo permeada por espírito ou energia.</p><p>Na atualidade, sabe-se com certeza até mesmo que a matéria é apenas mais uma forma de</p><p>energia.</p><p>Entretanto, este fenômeno é profundamente oculto, e a humanidade, desesperada, busca um</p><p>caminho para religar-se a Deus.</p><p>O que une Deus e homem, céu e terra, espírito e matéria?</p><p>Há uma ponte para Deus?</p><p>Existe uma escada pela qual podemos subir ao céu e voltar trazendo sua luz para nossa vida</p><p>aqui embaixo?</p><p>Há uma ponte e uma escada.</p><p>Ela se chamam Torá.</p><p>O que é a Trá?</p><p>A Torá é um documento escrito que foi recebido e transmitido por Moisés no Sinai há pouco</p><p>mais de 3.300 anos.</p><p>É também a tradição oral que acompanhava esse documento, contendo instruções para o</p><p>entendimento do seu significado básico (porque o texto é extremamente conciso e diz muito</p><p>mais do que se vê de imediato) e o cumprimento de seus mandamentos.</p><p>A Torá Oral está em consonância com a Torá Escrita de quatro maneiras principais, codificadas</p><p>na palavra hebraica Pardes.</p><p>Pardes é a fonte da palavra inglesa Paradise (Paraiso, em português ), que se refere ao Jardim</p><p>do Éden.</p><p>É também um acrônimo dos quatro níveis de entendimento da Torá:</p><p>Pshat (sentido simples),</p><p>Ramez (alusão),</p><p>Daish (sentido homilético) e</p><p>Sod (Cabalá; sentido oculto ou segredo).</p><p>Juntos, estes quatros níveis são as chaves necessárias para a entrada no Paraíso da Torá.</p><p>Com estas quatro chaves, a Torá se abre e revela não apenas seus próprios segredos, mas</p><p>também os segredos do universo, da matéria (espaço), da história (tempo) e do homem (alma</p><p>e consciência).</p><p>Se desejarmos ver o que se passa nos bastidores e sondar os mistério da criação e da</p><p>existência humana, a Torá é o endereço certo, porque ela precedeu a criação.</p><p>Na verdade, a Torá não é nada menos do que uma iluminação do que denominamos a Mente</p><p>de Deus.</p><p>Ela é a ligação conceitual entre Ele e Seu mundo, entre Ele e nós.</p><p>Torá e Anatomia</p><p>Esta é a Torá. o homem...</p><p>Números 19:14</p><p>É bem sabido que a Torá contém 613 mitsvót (mandamentos; plural de mitsvá).</p><p>O significado da raiz do verbo letsavot (ordenar) é “ligar”.</p><p>2</p><p>Quando cumprimos uma mitsvá, estabelecemos uma ligação entre nós, assim como o mundo</p><p>que nos cerca, e Deus.</p><p>As 613 mitsvót se dividem em 248 preceitos positivos e 365 proibições.</p><p>Estes mandamentos abrangem todos os aspectos de nossa relação com Deus, com nossos</p><p>semelhantes e com toda a existência.</p><p>Por meio deles, Deus forneceu todas as ferramentas necessárias para que o homem possa</p><p>conectar-se a Ele e levar toda a criação a sua perfeição máxima.</p><p>O corpo humano possui 248 partes que correspondem aos 248 mandamentos positivos da</p><p>Torá, e 365 tecidos conjuntivos, veias tendões, que correspondem ás 365 proibições da Torá</p><p>(conforme Zôhar 1,1 70).</p><p>Assim, o homem foi moldado segundo o padrão da Torá.</p><p>Não só sua alma, mas também seu próprio corpo, que aparentemente o impede de superar as</p><p>limitações físicas deste mundo, são “uma Torá”.</p><p>Através desta conexão, ele pode utilizar tudo que está contido no mundo para reconhecer e</p><p>servir a Deus com o seu corpo.</p><p>Com sua alma, ele pode ascender além do mundo material e entrar no campo do espirito.</p><p>Com o corpo, ele é capaz de trazer para baixo o espiritual e canalizá-lo para o material,</p><p>criando a perfeição à qual estava destinada a vida humana na terra.</p><p>A Torá é o elo que permite ao homem fazê-lo.</p><p>O Rav Natan escreve sobre a ligação entre a Torá e o corpo humano:</p><p>Para efetuar uma cura,</p><p>A diferença entre as duas é que a satisfação espiritual perdura, dado que a alma é</p><p>eterna, enquanto a satisfação física só pode ser momentânea e logo é esquecida.</p><p>O individuo cuja alma examina todas as suas entranhas e busca a espiritualidade da vida</p><p>é verdadeiramente afortunado.</p><p>O Rebe Nachman descreve as diferenças entre corpo e alma com base no “côach</p><p>hamoshech” (força de atração) e no “côach hamachriach” (força de repulsão).</p><p>A força de atração é Deus, que age como a gravidade, para trazer a alma</p><p>constantemente para Ele, sua fonte espiritual.</p><p>A força de repulsão é o materialismo, porque ela “força” a alma a permanecer no mundo</p><p>físico.</p><p>O Rebe Nachman ensinou:</p><p>Tudo se assenta sobre a terra.</p><p>A gravidade terrestre puxa tudo para ela.</p><p>Só uma força oposta possibilita que pessoas e objetos se movimentem livremente.</p><p>Conforme a intensidade da força contrária à gravidade que atua sobre ele, um objeto</p><p>pode distanciar-se da terra.</p><p>Porém, quando esta força se dissipa ou é removida, o objeto retorna á terra.</p><p>O tsadic é o sustentáculo da terra, como consta nos Provérbios 10:25, e tudo no mundo</p><p>se apoia e repousa sobre ele.</p><p>O correto seria as pessoas serem atraídas para o tsadic, já que ele possui esta “força de</p><p>atração” espiritual.</p><p>No entanto, existe uma força contrária que as separa e afasta do tsadic: há quem faça e</p><p>diga coisas com a finalidade de manter a si mesmo e aos outros longe do tsadic.</p><p>O tsadic, como vimos, é o elemento matriz único dos quatro elementos básicos.</p><p>Em virtude de sua pureza, ele é o símbolo da espiritualidade para todos, e poderia</p><p>aproximá-los da fonte espiritual, mostrando-lhes os benefícios de tal modo de vida, se</p><p>não fosse pela existência da força de repulsão.</p><p>O mesmo se aplica a cada individuo.</p><p>A alma contém dentro de si as propriedades da Divindade.</p><p>Se fosse deixada por sua própria conta, ela subiria aos céus.</p><p>Todo individuo deveria ter consciência de que todos os obstáculos e dificuldades que</p><p>enfrenta na vida se originam da força de repulsão, do materialismo.</p><p>2</p><p>A força de “atração”, o tsadic, é mais poderosa que a de repulsão, pois a gravidade no</p><p>fim prevalece.</p><p>Logo, a força de repulsão é apenas temporária.</p><p>Quem deseja verdadeiramente a espiritualidade sempre é capaz de superar os</p><p>obstáculos e encontrá-la.</p><p>De fato, a principal missão do ser humano é vencer as forças de repulsão e lutar por</p><p>uma vida de espiritualidade. Porém, ironicamente, a força de repulsão torna-se um fator</p><p>decisivo nessa missão.</p><p>Unindo as duas forças opostas, a pessoa poderá tirar o máximo de proveito de suas</p><p>habilidades e ascender as alturas mais elevadas.</p><p>Observe por exemplo, um relógio mecânico.</p><p>Ele tem uma mola do aço enrolada firmemente no sentido contrário ao seu movimento</p><p>natural. A mola tenta desenrolar-se para sair desta posição forçada.</p><p>A pressão da mola se desenrolando obriga as engrenagens a se encaixarem, uma</p><p>movendo a outra.</p><p>É a reação de uma força contra uma força oposta que faz o mecanismo funcionar.</p><p>Assim, no produção industrial, a operação de uma máquina resulta de forças contrárias</p><p>trabalhando em uníssono.</p><p>É da natureza da alma aproximar-se de sua Fonte, a Divindade, a verdadeira força da</p><p>“gravidade”.</p><p>O Reb Natan conclui explicando que a interação entre corpo e alma ocorre por causa de</p><p>suas naturezas diferentes. Apesar de tal divergência, o corpo e a alma juntos podem</p><p>realizar prodígios extraordinários e magníficos neste mundo, servindo de receptáculos</p><p>para a espiritualidade e desenvolvendo o ambiente material necessário para que se</p><p>possa crescer.</p><p>“Façamos o Homem...”</p><p>As diferenças entre o corpo e a alma são enormes.</p><p>No entanto, a combinação dos dois é o que faz o homem.</p><p>Eles podem funcionar juntos em perfeita harmonia.</p><p>O Rebe Nachman ensinou: A pessoa deve cuidar de seu corpo, para que ele brilhe com</p><p>cada avanço espiritual que ela fizer. Pois a alma percebe e compreende níveis</p><p>extremamente elevados, enquanto o corpo os ignora.</p><p>A pessoa deve, portanto, purificar seu corpo, a fim de habilitá-lo a compartilhar das</p><p>percepções da alma.</p><p>A alma também se beneficiará de um corpo que está em sintonia com a espiritualidade,</p><p>porque, se ela cair de nível espiritual, o corpo que já experimentou a Divindade</p><p>possibilitará que ela recupere seu grau anterior de santidade. Isto pode acontecer</p><p>porque o corpo atingiu um nível correspondente de pureza.</p><p>Para alcançar este grau de harmonia e cooperação entre corpo e alma, o individuo deve</p><p>quebrar o atrevimento da luxúria e dos desejos corporais, contrapondo-lhe o</p><p>“atrevimento sagrado”, a vontade obstinada de aproximar-se da espiritualidade,</p><p>aconteça o que acontecer.</p><p>Ao fazê-lo, ele permite que sua alma se mescle completamente com seu corpo.</p><p>O corpo se mescla com a alma por meio do cumprimento das mitsvót (“mandamentos”</p><p>ou conexões). Quanto mais boas ações a pessoa pratica, maior é a submissão de seu</p><p>corpo a sua alma, o que possibilita que o corpo de fato sinta as realizações da alma.</p><p>No que diz respeito à maneira de conseguir o “atrevimento sagrado”, o Reb Nachman</p><p>oferece muitas sugestões práticas (como cumprir as mitsvót, rezar com fervor, dançar,</p><p>cantar, bater palmas, dar caridade, suspirar e ansiar por espiritualidade).</p><p>3</p><p>O seguinte ensinamento do Reb esclarece várias idéias que mencionamos anteriormente:</p><p>A alma corresponde ao homem, luz, vida, memória e sabedoria verdadeira - a sabedoria</p><p>da Tora.</p><p>O corpo corresponde ao animal, trevas, morte, esquecimento, filosofias estranhas e</p><p>tolice.</p><p>A missão do homem é se elevar acima do materialismo.</p><p>Isto está implícito na palavra “homem” em hebraico, Adam, que se escreve com alef –</p><p>dalet – mem. Alef significa aprender sabedoria; dalet equivale ao número quatro,</p><p>representando os quatro elementos; e o mem final é uma letra fechada, que simboliza o</p><p>além, o mundo vindouro.</p><p>Para alcançar o mundo vindouro mem, a pessoa deve superar as más características que</p><p>provem dos dalet (quatro) elementos. Isto é feito mediante o aquisição da sabedoria</p><p>verdadeira, a sabedoria do Torá, o alef.</p><p>Este é o significado do versículo Gênesis 1:26 –“Façamos o Adam”.</p><p>Aquele que luta por espiritualidade - pela verdadeira essência da vida - é chamado de</p><p>adam.</p><p>Bom Conselho</p><p>O Reb Natan escreve que a verdadeira sabedoria da Torá provém de suas 613 mitsvót,</p><p>conhecidas como os 613 “preceitos de conselho”.</p><p>Estes preceitos aconselham o individuo e o orientam na escolha entre os atos que devem</p><p>ser praticados e os que devem ser evitados.</p><p>O Reb Natan explica que ensinar uma pessoa a cometer um pecado não é considerado</p><p>um bom conselho, porque a expõe a sofrimento e humilhação.</p><p>De forma semelhante, se alguém tem uma “idéia brilhante” para obter ganhos</p><p>financeiros, mas não considera que tais ganhos podem afastá-lo da espiritualidade, esse</p><p>também não é um bom conselho, porque (Eclesiastes 5:12) “a riqueza às vezes tem a</p><p>finalidade de gerar o dano de seu possuidor”.</p><p>Se os prazeres mundanos forem perseguidos e os eternos, negligenciados, a riqueza</p><p>obtida desta maneira se revelará prejudicial.</p><p>Portanto, o melhor conselho para o sucesso neste mundo é o que conduz à vida eterna -</p><p>a orientação para a obtenção de espiritualidade.</p><p>Se Adão tivesse comido da árvore da vida, ele saberia identificar o conselho que o</p><p>levaria a seu destino mais elevado.</p><p>Ele conheceria o caminho da espiritualidade, da vida verdadeira e eterna.</p><p>Mas, Adão comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal.</p><p>Por consequência, o conselho que se tem para lhe oferecer agora é confuso e</p><p>desorientador.</p><p>Todo dia exige novas decisões, cada problema requer uma abordagem diferente, e, o</p><p>que é ainda pior, nunca se sabe se uma determinada escolha é correta ou não.</p><p>Algumas idéias parecem muito boas no momento, mas a longo prazo, seus benefícios se</p><p>esgotam.</p><p>Outras escolhas poderiam</p><p>ser benéficas se houvesse mais tempo disponível, mas o</p><p>tempo sempre se mostra escasso, tornando improvável que advenham ganhos de tal</p><p>conselho.</p><p>Estas circunstâncias frustrantes surgiram porque Adão comeu da árvore do</p><p>conhecimento.</p><p>Ele então foi banido do jardim do Eden, e uma espada que se volvia foi colocada na</p><p>entrada, para que o acesso fosse restrito apenas aos que o merecem.</p><p>A espada que se volvia corresponde à grande massa de conselhos desorientadores que</p><p>nos inunda.</p><p>Esta “espada” que também é chamada de hechalé hatemurot - as câmaras das trocas - é</p><p>o que produz pensamentos inconstantes e dúvidas incessantes na mente, sabotando</p><p>nossos esforços para focalizar a vida eterna.</p><p>4</p><p>Assim, verificamos que mesmo aqueles que se concentram com seriedade em sua vida</p><p>espiritual - ainda que eles possam já ter começado a seguir o caminho certo - também</p><p>se sentem muito confusos, com uma profusão de escolhas a sua disposição mesmo</p><p>dentro do campo de conselhos da Torá.</p><p>Portanto, não há alternativa a pessoa deve sempre procurar a verdade.</p><p>Tudo que for absolutamente verdadeiro a ajudará a descobrir o caminho certo.</p><p>Mas isto só acontecerá se essa busca for associada ao esforço para encontrar os</p><p>verdadeiros tsadikim, porque a Torá é composta de duas partes - uma Lei Escrita e uma</p><p>Lei Oral.</p><p>A Lei Escrita prescreve as 613 mitsitót, mas a Lei Oral transmitida por intermédio dos</p><p>verdadeiros tsadikim, explica como podemos cumprir da melhor maneira esses preceitos</p><p>de conselho.</p><p>O Reb Natan prossegue falando da importância de depositarmos nossa fé nos tsadikim.</p><p>Como sua natureza espiritual não foi corrompida pela árvore do conhecimento do bem e</p><p>do mal (isto é, eles transcendem os quatro elementos e correspondem ao elemento</p><p>matriz), os tsadikim são capazes de guiar-nos pelo caminho correto de desenvolvimento</p><p>espiritual e benefício eterno.</p><p>Os tsadikim que transcendem a materialidade estão em perfeita harmonia com a Torá e</p><p>o bom conselho.</p><p>Receber conselhos de tsadikim - por exemplo, aceitar seus ensinamentos de Torá é uma</p><p>retificação do ato de Adão de comer da árvore do conhecimento e habilita a pessoa a</p><p>ater-se à árvore da vida.</p><p>Por isto é importante que o individuo deposite sua fé nos tsadikím.</p><p>Quando foi banido do jardim do Éden, Adão também foi amaldiçoado (Génesis 3:19):</p><p>“Com o suor de teu rosto comerás pão”.</p><p>A necessidade de um esforço excessivo para ganhar o sustento surgiu por causa da</p><p>ingestão do fruto da arvore do conhecimento.</p><p>Podemos ver os efeitos do excesso, dado que ele é uma das principais causas de</p><p>confusão.</p><p>Comer, dormir ou trabalhar em excesso, por exemplo, gera confusão e dúvidas, além de</p><p>criar grandes dificuldades na vida.</p><p>Assim, a atitude mais sensata é buscar o conselho adequado e ser capaz de passar a</p><p>viver sem excessos.</p><p>A árvore do conhecimento é análoga ao conselho, porque ets, árvore em hebraico, tem a</p><p>mesma raiz de etsá, conselho.</p><p>O conselho, que agora é necessariamente deturpado na pessoa mediana, deve ser</p><p>solicitado aos tsadikim, cujo nível de espiritualidade os liga à árvore da vida.</p><p>Os tsadikim não foram maculados pelos efeitos da árvore do conhecimento do bem e do</p><p>mal e são capazes de discernir o conselho adequado.</p><p>O pecado de comer da árvore também corresponde à fé desvirtuada.</p><p>Consultar os tsadikim retifica nosso ato de comer da árvore do conhecimento e nos</p><p>dirige para o caminho do bom conselho - para o desenvolvimento material e espiritual.</p><p>A morte foi decretada para Adão, e por causa dele para toda a humanidade, devido ao</p><p>pecado de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.</p><p>O homem já não pode obter uma ficha perfeita, escolhendo sempre o conselho correto e</p><p>encontrando o caminho pelo qual se chega ao jardim do Éden [Isto é, a espiritualidade</p><p>absoluta] e se entra nele durante sua vida.</p><p>Ele tem de falecer e deixar este mundo.</p><p>Só depois da morte ele pode tomar a estrada para o jardim do Éden, a Arvore da vida.</p><p>Porém, quanto mais o indivíduo fortalecer sua fé nos tsadikím, mais refinado será o</p><p>conselho que receberá deles, no qual poderá basear suas ações durante a vida.</p><p>Desta maneira, ele merecerá conselhos acertados, que o ajudarão na retificação de sua</p><p>porção no pecado de Adão, e assim estará muito mais perto de achar seu caminho para</p><p>a árvore da vida.</p><p>5</p><p>Corpo e alma correspondem a trevas e luz, e também são associados ao mal e ao bem,</p><p>pois o conhecimento do mal obtido por meio da árvore maculou o corpo humano,</p><p>arrastando-o ao materialismo.</p><p>Se Adão não tivesse pecado, o mal automaticamente pareceria inferior ao bem, e o</p><p>homem teria uma orientação clara de como chegar a seu destino - o Jardim do Éden.</p><p>Em nosso estado atual, contudo, o corpo deve separar-se da alma [ na morte] antes que</p><p>ela possa atingir sua perfeição máxima.</p><p>O corpo tem de retornar à terra - ao elemento do qual se originou.</p><p>Mas esta separação é na realidade um processo de purificação.</p><p>Na morte, o corpo, que é a parte do ser humano mais propensa a sucumbir ao mal, é</p><p>anulado. Na morte, nós nos despojamos do físico.</p><p>Mesmo se o individuo for um verdadeiro tsadic, ele terá de despojar se de sua</p><p>corporeidade, pois o decreto ocasionado por Adão afeta toda a humanidade.</p><p>O homem não pode entrar no jardim durante sua vida.</p><p>Só após a ressurreição, com o renascimento do corpo, a alma será reunida no corpo</p><p>num estado de pureza perfeita.</p><p>A alma, depois de lutar para superar os testes do materialismo e de retificar-se</p><p>enquanto ainda estava no mundo material, está pronta para sua recompensa final</p><p>quando o corpo morre.</p><p>Quando ocorrer a ressurreição, o antigo opressor da alma, o corpo, se tornará seu servo</p><p>benevolente.</p><p>O corpo então se sujeitará de boa vontade a essa “servidão”, por reconhecer a realeza</p><p>da alma. Porém, como na história “O Filho do Rei e o Filho da Criada”, a alma terá mais</p><p>razão ainda para estar satisfeita.</p><p>Justamente por causa do sofrimento e da purificação a que foi submetida, ela encontrará</p><p>à sua espera uma recompensa que é muito maior do que ela imaginara.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 7</p><p>O Sistema Digestório</p><p>Os Órgãos Internos</p><p>A maioria dos livros de anatomia começa com o estudo das células ou do sistema ósseo,</p><p>que são as principais estruturas de sustentação do corpo.</p><p>Saber como o corpo humano é constituído e como suas partes são interligadas pode</p><p>fornecer uma visão geral da localização e função de cada órgão.</p><p>No entanto, quando se investiga a anatomia espiritual, é mais adequado iniciar com uma</p><p>discussão a respeito do desenvolvimento das características mais básicas das pessoas,</p><p>pois elas são os recursos essenciais para que o homem possa assumir sua forma</p><p>espiritual.</p><p>Portanto, nosso “quadro” será apresentado desta maneira.</p><p>Como vimos, o pecado de Adão foi comer da árvore do conhecimento.</p><p>Assim, nosso exame da anatomia espiritual começará pelo sistema digestório.</p><p>Os órgãos contidos neste sistema são as bases das características mais fundamentais do</p><p>ser humano.</p><p>Só poderemos avançar em nosso crescimento espiritual se reconhecermos o potencial</p><p>que está oculto nesses órgãos.</p><p>Os três maiores desejos do homem são a riqueza, o prazer sexual e a comida.</p><p>O Reb Nachman ensina que a cobiça de riqueza é um abismo sem fundo do qual é</p><p>extremamente difícil retornar.</p><p>A luxúria também é um grande teste que a pessoa encontra constantemente durante a</p><p>vida. No entanto, é a gula que o Rav Nachman chama de “avidez suprema”, porque a</p><p>comida dá força ao homem para perseguir todos os outros desejos, e ela nunca pode ser</p><p>evitada completamente.</p><p>Além disso, logo que chega ao mundo, a pessoa já quer comer.</p><p>Os outros impulsos, como amor, temor, paciência e humildade, desejo de sucesso ou</p><p>poder, inveja, ira e arrogância, tornam-se manifestos em diversas fases da vida.</p><p>Algumas características se desenvolvem na infância,</p><p>e outras, na puberdade ou na idade</p><p>adulta.</p><p>Mas a necessidade que o corpo tem de comer, digerir e eliminar resíduos começa no</p><p>nascimento.</p><p>O Rav Nachman ensina que os desejos são supérfluos.</p><p>Eles são comparados à casca de uma fruta, que removemos e jogamos fora.</p><p>Do mesmo modo, podemos jogar fora todas as coisas insignificantes e viver sem elas,</p><p>como evidencia a criança que, surpreendentemente, “sabe” quanto alimento necessita e</p><p>não come em excesso.</p><p>Para sobreviver de forma ideal, o corpo humano precisa de uma dieta simples e</p><p>balanceada de carboidratos, proteínas, gorduras, frutas e verduras.</p><p>Porém, ensina o Rav Nachman, qualquer alimento pode ser elevado para que seja capaz</p><p>de proporcionar aquele estado de nutrição plena que era oferecido a Adão no jardim do</p><p>Éden.</p><p>O Talmud afirma que o homem deveria experimentar tudo que lhe é permitido para</p><p>poder apreciar as maravilhosas criações de Deus e agradecer-Lhe.</p><p>É claro, então, que se espera que sintamos prazer com a comida.</p><p>Mas há uma diferença entre comer numa medida que é essencial e ansiar por excessos.</p><p>Embora possamos viver de pão e água, usamos manteiga, margarina, mel e geléia para</p><p>enriquecer o pão, e adoçamos as bebidas para torná-las mais saborosas.</p><p>Estes são exemplos simples de acréscimos permitidos que podem levar a excessos se a</p><p>pessoa não for vigilante.</p><p>A manutenção adequada do sistema digestório é essencial para o crescimento e a saúde</p><p>física do homem.</p><p>2</p><p>Como o corpo é semelhante à alma, o bem-estar físico indica um bem-estar proporcional</p><p>nas capacidades da alma.</p><p>Uma relação harmoniosa entre corpo e alma só pode ser sustentada por meio da</p><p>alimentação, porque o corpo deve receber nutrientes para existir.</p><p>A alma sozinha não precisa de comida. Só quando o corpo e a alma se unem, a</p><p>alimentação torna-se necessária.</p><p>Por conveniência, trataremos os órgãos relacionados á digestão, processamento e</p><p>excreção dos alimentos como uma unidade, sob o título “O Sistema Digestório”, embora</p><p>a medicina ocidental os veja como sistemas separados. (É interessante notar que a</p><p>medicina chinesa e outras formas de medicina holistica ensinam que todas as partes do</p><p>corpo são interdependentes.) Assim, o estômago, o fígado, a vesícula biliar, o baço, os</p><p>rins e o sistema circulatório, que estão ligados de alguma maneira à digestão dos</p><p>alimentos, à sua conversão em nutrientes para o corpo e à sua excreção na forma de</p><p>matérias residuais, serão todos estudados como um sistema integrado.</p><p>Quando comemos, a comida desce ao estômago, onde ácidos e enzimas a decompõem</p><p>em partículas menores.</p><p>O trato digestivo continua a processar esse alimento, convertendo-o em nutrientes que</p><p>são então transportados para a circulação sanguínea.</p><p>Enriquecido com nutrientes, o sangue corre para o coração, onde é aprimorado ainda</p><p>mais, recebendo oxigênio, e em seguida é bombeado para todo o organismo, levando</p><p>nutrição ao corpo.</p><p>Tudo que não tem valor é rejeitado e expelido.</p><p>A capacidade do corpo de saber exatamente o que absorver e o que rejeitar é de fato</p><p>um dos mais admiráveis prodígios de Deus.</p><p>Examinaremos a importância da capacidade do corpo de absorver nutrientes e eliminar</p><p>resíduos, e como ela se relaciona com os poderes espirituais que possuímos e devemos</p><p>empregar para promover nosso crescimento espiritual.</p><p>Passaremos agora a analisar o processo de purificação e prosseguiremos com uma</p><p>investigação da circulação sanguínea, pois o sangue, embora faça parte do sistema</p><p>circulatório, levando oxigênio e nutrientes ao corpo inteiro, desempenha um papel</p><p>relevante também no sistema digestivo.</p><p>Como nosso primeiro contato com a satisfação material se dá por meio de nossa ligação</p><p>com a comida, discutiremos nossos hábitos alimentares e o trato digestivo.</p><p>Por fim, examinaremos os outros órgãos envolvidos no processo de purificação - o</p><p>fígado, a vesícula biliar, o baço, as glândulas sudoríparas e os rins.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 8</p><p>O Processo de Purificação</p><p>Adão foi criado com a capacidade de ascender continuamente a graus cada vez mais</p><p>altos de espiritualidade.</p><p>Ele deveria fazê-lo usando o corpo como veículo, por meio da elevação da matéria ao</p><p>nível do espiritual.</p><p>Para que tivesse condições favoráveis para o cumprimento de sua missão, ele foi</p><p>colocado no Jardim do Éden. Porém, esse processo que transcorria tranquilamente foi</p><p>tolhido quando ele cedeu aos desejos físicos.</p><p>A queda de Adão e suas consequências podem ser comparadas a uma peça de cristal</p><p>bela e valiosa que é derrubada de uma grande altura e se estilhaça em milhares de</p><p>fragmentos, que se espalham por uma extensa área.</p><p>Adão continha dentro de si as almas de toda a humanidade num estado de união</p><p>perfeita.</p><p>Sua queda provocou a quebra desta união sagrada em incontáveis “centelhas de</p><p>santidade‟, que em seguida se dispersaram pelo mundo inteiro.</p><p>Desde então, o homem, utilizando as inclinações espirituais incorporadas em sua</p><p>natureza, tem a missão de procurar, encontrar, purificar e elevar essas centelhas, para</p><p>que elas possam voltar a sua fonte.</p><p>Isto reparará, e até aperfeiçoará, o recipiente do qual elas se originaram - Adão.</p><p>Onde quer que uma centelha sagrada seja encontrada, ela deve ser submetida a um</p><p>processo contínuo de birur, “purificação”, até que se conclua sua retificação.</p><p>As centelhas de santidade que foram espalhadas pelo mundo inteiro encontram-se hoje</p><p>em toda a criação: nos minerais e vegetais, em nossa comida e bebida.</p><p>Elas existem tanto nos animais que podem trabalhar para o homem como naqueles que</p><p>lhe podem servir de alimento.</p><p>São achadas em matérias-primas usadas na indústria e também no dinheiro e outros</p><p>bens que são comercializados no mundo todo.</p><p>O Rav Natan trata dessa idéia num de seus discursos:</p><p>Tudo neste mundo deve passar por um processo de purificação para alcançar sua</p><p>perfeição. Em nenhum lugar isto está mais evidente do que na produção dos alimentos.</p><p>O fazendeiro ara seus campos, planta as sementes e espera que elas criem raízes e</p><p>germinem. Ele cuida da plantação até que ela esteja pronta para ser colhida, e em</p><p>seguida separa o trigo da palha e o debulha. Então ele mói os grãos, isolando a farinha</p><p>pura do farelo grosseiro. Depois é necessário misturar farinha e água para fazer a</p><p>massa, formar um filão de pão e assá-lo. Só então as sementes que ele plantou muito</p><p>antes atingem seu estado de perfeição, o objetivo a que eram destinadas.</p><p>O corpo humano foi projetado para digerir os alimentos de maneira muito semelhante</p><p>aquela pela qual são produzidos os géneros alimentícios. Quando come, a pessoa</p><p>mastiga e tritura o alimento com os dentes. A comida desce ao estômago, onde ácidos e</p><p>enzimas a quebram em partículas ainda menores. Os demais componentes do trato</p><p>digestivo continuam o processo de transformação e depuração do alimento.</p><p>Purificado, ele passa ao sistema circulatório, que leva os nutrientes ao organismo.</p><p>A matéria residual é rejeitada e expelida pelo corpo.</p><p>O processo de purificação que ocorre dentro do corpo é um reflexo do processo de</p><p>purificação da alma.</p><p>O corpo sabe o que aceitar e purificar, e o que eliminar.</p><p>Assim como o corpo limpa e depura a comida que entra nele, também a alma, em sua</p><p>busca de espiritualidade, limpa e depura seus elementos nutritivos, e consequentemente</p><p>a si mesma.</p><p>Este processo de purificação e crescimento espiritual é um fenômeno contínuo, tanto no</p><p>âmbito pessoal como no universal.</p><p>2</p><p>De acordo com o plano de busca de perfeição da alma, todas as centelhas de santidade</p><p>caídas e perdidas - espalhadas e dispersas devido ao pecado de Adão - devem ser</p><p>recuperadas para que se reconstrua a “tsurá” (forma) espiritual original do homem.</p><p>Agora, o ser humano deve examinar cuidadosamente o ambiente material em procura do</p><p>espiritual.</p><p>O Rav Nachman ensina que tudo que existe, até mesmo a riqueza, precisa</p><p>passar por</p><p>este processo de purificação:</p><p>As mesmas etapas necessárias para a produção dos alimentos devem ser seguidas para</p><p>o refinamento do dinheiro.</p><p>As etapas são: aceitação, retenção, digestão, distribuição e expulsão.</p><p>Quando comemos, fazemos uso das capacidades de aceitação e retenção, pois o corpo</p><p>retém a comida por um tempo. A digestão então faz a comida ser absorvida, e o Sistema</p><p>digestivo distribui os nutrientes necessários por todo o corpo. O coração e o cérebro</p><p>recebem os melhores nutrientes, porque desempenham as funções mais vitais. Em</p><p>seguida o corpo excreta a matéria residual.</p><p>O mesmo processo de refinamento precisa ser feito com o dinheiro.</p><p>Quando ganha dinheiro você deve retê-lo e não gastá-lo imediatamente - não agir como</p><p>aqueles que passam a vida perseguindo a riqueza e quando a adquirem, logo a</p><p>dilapidam. Você deve “digerir” esse dinheiro, guardando-o até que ele seja necessário, e</p><p>só então distribuí-lo. A melhor porção deve ser destinada á caridade, e o restante para</p><p>as suas necessidades. Também há supérfluos nos seus gastos.</p><p>Esses são alguns exemplos do processo de purificação no plano físico.</p><p>Conforme observamos, o mesmo tratamento deve ser aplicado à esfera espiritual.</p><p>Em todos os casos, a paciência tem importância crucial.</p><p>Assim como precisamos de tempo e concentração para ordenar uma pilha de papéis ou</p><p>de roupas, necessitamos de uma paciência infinita para ordenar nossa vida e os assuntos</p><p>espirituais.</p><p>Paciência</p><p>Uma das principais lições que podemos extrair do processo de purificação refere-se à</p><p>virtude da paciência. Uma refeição pode ser ingerida num tempo relativamente curto,</p><p>até mesmo em poucos minutos.</p><p>No entanto, para ser digerida de maneira adequada, a comida tem de passar por um</p><p>processo que dura algumas horas - para que os nutrientes sejam separados da matéria</p><p>residual e cada partícula seja enviada a seu destino próprio.</p><p>Todos nós precisamos aprender a ter paciência.</p><p>Há milênios, a humanidade está envolvida na retificação do pecado de Adão.</p><p>Desde tempos imemoriáveis, pessoas justas têm espalhado espiritualidade pelo mundo</p><p>inteiro, para despertar e unificar as centelhas adormecidas que caíram e se dispersaram</p><p>por causa desse pecado.</p><p>Apesar de estarmos agora nos aproximando do final de nossa espera por um mundo</p><p>aperfeiçoado, o processo foi longo e árduo. Portanto, uma paciência extrema se faz</p><p>necessária para a consecução desse objetivo em âmbito universal.</p><p>O mesmo se aplica à purificação espiritual de cada individuo.</p><p>Embora os benefícios de uma vida orientada para a espiritualidade não sejam</p><p>imediatamente percebidos, todo esforço despendido é parte do processo de purificação.</p><p>O Rav Natan cita um exemplo excelente da importância crucial da paciência.</p><p>Os judeus atingiram um nível espiritual muito alto quando receberam a Torá no Monte</p><p>Sinai. Foi-lhes então ordenado que aguardassem quarenta dias até que Moisês descesse</p><p>da montanha. Perto do fim deste período de espera, eles ficaram impacientes, e isso os</p><p>fez errar nos cálculos da previsão do retorno de Moisés.</p><p>Em vez de aguardarem apenas mais algumas horas, como Aarão lhes suplicou que</p><p>fizessem, eles se precipitaram e produziram um bezerro de ouro. Pela pressa, causaram</p><p>sofrimento a si mesmos e a todas as gerações futuras, um sofrimento que só terminará</p><p>com a chegada do Messias.</p><p>3</p><p>A pressa e a impulsividade são associadas às propriedades da água, como demonstra o</p><p>comentário de Jacob sobre seu filho mais velho (Gênesis 49:3-4): “Ruben, meu</p><p>primogênito.., primeiro em dignidade e primeiro em poder. [Mas porque foste] afoito</p><p>como as águas, não mais serás o primeiro. Por ser fluida, a água está presente em</p><p>quase todos os prazeres humanos. Nós nos banhamos nela, a ingerimos em bebidas</p><p>variadas, e ela é encontrada na maior parte dos alimentos que comemos. Também a</p><p>impulsividade pode afetar todos os aspectos da vida, e é o atributo que possibilita que a</p><p>pessoa se entregue aos prazeres sem pensar nas consequências”.</p><p>A água não fica parada.</p><p>O vento mais suave produz elevações e ondas na superfície de uma massa de água, e</p><p>rajadas mais fortes provocam redemoinhos até mesmo nas profundezas.</p><p>A impulsividade tem um efeito semelhante sobre a pessoa.</p><p>Mesmo quando as coisas parecem calmas, um simples desejo incontrolado pode causar</p><p>agitação em todo a estrutura emocional, chegando a gerar uma turbulência interna que</p><p>impede que a pessoa tenha paz de espírito.</p><p>Precisamos de muita paciência para esperar que passem as tempestades que</p><p>enfrentamos ao longo da vida.</p><p>A maioria dos anseios surge num frenesi.</p><p>O Rav Nachman ensina que o vendaval dos “perversos” - a luxúria humana - é</p><p>temporário. Ele ataca furiosamente com desejos nocivos, mas só por pouco tempo.</p><p>A paciência nos permite aguardar o fim da tempestade e vencer com inteligência as</p><p>forças que nos tentam dominar.</p><p>O Reb Natan escreve:</p><p>Em nossas orações diárias, louvamos a D´us: “Ele ilumina com misericórdia a terra e</p><p>seus habitantes, e na Sua bondade renova constantemente o ato da criação, todos os</p><p>dias.”</p><p>A luz principal é a da verdade, que é a Luz do Próprio Deus.</p><p>A purificação principal é a separação da falsidade da verdade.</p><p>Cada dia oferece uma oportunidade de busca da verdade.</p><p>Ainda que a verdade muitas vezes possa parecer obscurecida pela falsidade, são as</p><p>falsidades existentes em cada dia e em todas as épocas que por fim se dissipam,</p><p>enquanto a verdade permanece como será revelado um dia, para que todos vejam.</p><p>Assim, cada geração tem seu mal, que mais tarde é rejeitado e até mesmo repudiado</p><p>por todos. Outras falsidades tomam seu lugar, mas elas também se desintegram e</p><p>acabam sendo relegadas às lixeiras da história.</p><p>A paciência que se mantém durante a busca de espiritualidade e Divindade guia a pessoa</p><p>à luz e à verdade que no fim perdurarão.</p><p>A paciência, portanto, está inserida no cotidiano do cabalista.</p><p>Ao levantar-se de manhã, em vez de imediatamente comer e começar a cuidar de seus</p><p>negócios pessoais, ele reserva um tempo para as orações diárias.</p><p>Alguns se levantam ainda mais cedo para estudar Torá antes de rezar, ou dedicam um</p><p>tempo depois das preces matinais para o estudo ou a prática de boas ações, antes de</p><p>tratarem de seus assuntos mundanos. De forma semelhante, antes de comer, a pessoa</p><p>deve exercer o autocontrole, lavando as mãos e recitando as bênçãos apropriadas.</p><p>A Carruagem de Deus</p><p>Por meio de seus atos, o homem pode aperfeiçoar-se a ponto de tornar-se uma</p><p>“carruagem para Deus”. O Profeta Ezequiel inicia seu livro de profecia com uma</p><p>descrição de sua visão da carruagem de Deus conduzida por “quatro criaturas”.</p><p>A pessoa que se purifica completamente, livrando-se de suas características negativas e</p><p>refinando suas boas qualidades, torna-se digna de refletir a essência dessas “criaturas”</p><p>celestiais, que são capazes de “sustentar e conduzir” a carruagem de Deus - a</p><p>espiritualidade.</p><p>Cada uma das quatro “criaturas” da carruagem tem quatro „rostos”, com a aparência de</p><p>leão, touro, águia e homem (Ezequiel 1:10).</p><p>4</p><p>Estes quatro “animais” são considerados “reis”: O leão é o rei dos animais, o touro é o</p><p>rei dos animais domesticados, e a águia é a rainha das aves. O homem foi criado para</p><p>ser o rei de todos estes reis, o guardião supremo de todas as formas de vida.</p><p>Nossos Sábios explicam que o leão, o touro e a águia correspondem à mente, ao coração</p><p>e aos pulmões. Eles também correspondem aos sentidos da audição, visão e olfato.</p><p>O homem, como a categoria mais elevada dos seres vivos, é associado à fala.</p><p>Quando ele se porta de maneira principesca, todos esses importantes órgãos e sentidos</p><p>agem para impeli-lo a alturas cada vez maiores.</p><p>No entanto, nossos Escritos Sagrados ensinam que (Eclesiastes 7:14) “Deus os fez</p><p>correspondendo um ao outro”.</p><p>Esta é a “lei do paralelismo” - Para toda meta espiritual há um obstáculo</p><p>material</p><p>correspondente, para que em cada nível, em cada momento e conjuntura da vida, nós</p><p>tenhamos livre-arbítrio para escolher que caminho seguir.</p><p>Portanto, quando hesita, o homem é dominado por três criaturas de corporeidade</p><p>grosseira: o cão, o jumento e o gavião, que representam o potencial para o mal.</p><p>Em sua degradação, o ser humano também é subjugado por três órgãos importantes, o</p><p>fígado, a vesícula biliar e o baço, cujos efeitos são destruição, ira e fúria.</p><p>O homem (adam), a quarta criatura, pode regredir ao nível do “adam belial”, o homem</p><p>mau.</p><p>Isto é sugerido pela própria palavra “belial lrila”, que também pode ser lida como “beli ol</p><p>ler ila”, literalmente “aquele que se desvencilha do jugo celestial”.</p><p>Dado que ele se distanciou de Deus, diz-se que a sua fala expressa mentiras, conversa</p><p>frívola e vulgaridades.</p><p>O alimento que a pessoa come é digerido, absorvido pela circulação sanguínea e depois</p><p>distribuído por todo o organismo.</p><p>O fígado, a vesícula biliar e o baço estão entre os principais órgãos do corpo que</p><p>realizam a transformação dos nutrientes, a filtração do sangue e a eliminação do</p><p>excesso de fluidos e da matéria residual.</p><p>Se ficarem subordinados aos órgãos superiores, eles ampliarão as faculdades espirituais</p><p>da pessoa.</p><p>Porém, se esses órgãos forem deixados sem controle, seus efeitos negativos farão</p><p>aflorar as piores características do sujeito - inveja, luxúria e avidez por honraria e poder</p><p>- de uma maneira extremamente degradante.</p><p>Maravilha das Maravilhas</p><p>O processo de purificação é tão admirável que nossos Sábios instituíram o costume de</p><p>recitar uma bênção após a satisfação das necessidades fisiológicas.</p><p>A bênção diz o seguinte:</p><p>Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do universo, que formaste o homem com</p><p>sabedoria e Criaste nele muitos orifícios e cavidades. É revelado e sabido perante o Teu</p><p>glorioso trono que, se apenas um dos muitos orifícios e cavidades se rompesse ou</p><p>abstraísse, seria impossível sobreviver ou postar-se diante de Ti mesmo por um breve</p><p>momento. Bendito sejas Tu, Eterno, que saras toda a carne e fazes maravilhas.</p><p>O Rav Natan explica que o processo de purificação é o objetivo de todo individuo.</p><p>Ele assinala que o corpo foi criado com poderes tão incríveis - é realmente a “maravilha</p><p>das maravilhas” - para que seja a mais perfeita usina de “purificação”.</p><p>De fato, é esta combinação singular de corpo e alma que produz a retificação final.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 9</p><p>A Circulação Sanguínea</p><p>O corpo humano tem 248 partes, que correspondem aos 248 mandamentos positivos da</p><p>Torá. Ele também possui 365 tendões e vasos (ligamentos, artérias, veias, etc.), que</p><p>correspondem às 365 proibições da Torá.</p><p>Como o corpo necessita de membros para fazer as coisas, os mandamentos positivos</p><p>são associados ao sistema locomotor.</p><p>As proibições da Torá, por sua vez, são análogas ao tecido conjuntivo e ao sistema</p><p>circulatório - pois o sangue carrega consigo todos os desejos e a luxúria, que devem ser</p><p>contidos para que a pessoa possa cultivar os aspectos espirituais de sua existência.</p><p>O sangue, o elemento vital da maioria das formas de vida animal, é bombeado pelo</p><p>coração através de uma rede extremamente complexa de artérias e veias.</p><p>A circulação sanguínea tem dois propósitos principais: levar oxigênio e nutrientes aos</p><p>músculos e tecidos do corpo inteiro, e extrair o gás carbônico e outras matérias residuais</p><p>para livrar o corpo de qualquer substância tóxica que ele acumule.</p><p>Uma das redes mais incríveis que existe, o sistema circulatório é ao mesmo tempo</p><p>intrincado e impressionante, e torna-se ainda mais admirável quando consideramos suas</p><p>implicações espirituais.</p><p>Ele contém literalmente centenas de milhões de células que transportam os combustíveis</p><p>do corpo - alimentos e minerais.</p><p>Estas células recebem a comida digerida do trato intestinal, levam-na ao fígado e em</p><p>seguida ao coração.</p><p>O coração manda o sangue aos pulmões, onde ele é oxigenado.</p><p>O sangue então retorna ao coração e é bombeado para o corpo inteiro, distribuindo</p><p>oxigênio e nutrientes pelo caminho.</p><p>Além de disseminar estes elementos essenciais à vida, a circulação sanguínea também</p><p>remove as impurezas encontradas no corpo.</p><p>É por esta razão que a sangria (flebotomia) era o principal meio de cura no passado.</p><p>Ela tinha o propósito de retirar o sangue “usado” e “cansado”, possibilitando a</p><p>eliminação de resíduos e gerando a produção de uma nova provisão de sangue.</p><p>No Talmud consta o seguinte: “Eu, o sangue, sou a principal causa de doenças”.</p><p>O Rashbam [Rav Shmuel ben Meir, neto do Rashil] explica (na palavra bereish): “Todas</p><p>as doenças são transportadas [pelo corpo] através do sangue.”</p><p>Alguns deduziram do ensinamento do Rashbam que, com a prática regular de sangrias,</p><p>as impurezas que se alojam na circulação sanguínea e prejudicam o organismo seriam</p><p>eliminadas.</p><p>A respeito das impurezas espirituais, o Rav Nachman ensinou : A sangria é benéfica para</p><p>combater a maioria das características negativas”.</p><p>Doar sangue duas ou três vezes por ano pode multiplicar os efeitos positivos da sangria,</p><p>pois faz bem à própria pessoa, como assinala o Rebe Nachman, e também aos</p><p>receptores, que necessitam desesperadamente da dádiva vivificante do sangue sadio.</p><p>O Batimento Rítmico</p><p>O coração é formado por quatro câmaras - duas aurículas e dois ventrículos.</p><p>A aurícula direita recebe o sangue que volta do fígado através das veias e o bombeia</p><p>para o ventrículo direito.</p><p>Apesar de já ter sido purgado de matéria residual, o sangue ainda porta gás carbônico.</p><p>Portanto, é mandado do ventrículo direito aos pulmões, para expelir esse gás carbônico</p><p>e reabastecer-se de oxigênio.</p><p>O sangue oxigenado corre então para a aurícula esquerda, e daí para o ventrículo</p><p>esquerdo, de onde é impulsionado para o resto do corpo.</p><p>O Rei Salomão escreve (Eclesiastes 10:2): “O coração do sábio se volta para a direita,</p><p>enquanto o do tolo se volta para a esquerda”.</p><p>Nas Escrituras e no Talmud, o “lado direito” representa o bem, e o “lado esquerdo”</p><p>representa a tolice ou o mal.</p><p>2</p><p>O Rei Salomão refere-se aqui a desejos.</p><p>O sábio usa o intelecto para buscar o caminho que lhe é apropriado na vida, enquanto o</p><p>tolo segue os caprichos da inclinação de seu coração.</p><p>Assim, o lado direito corresponde à boa inclinação, e o lado esquerdo à má inclinação.</p><p>Dos quatro componentes do coração, o ventrículo esquerdo é o que precisa trabalhar</p><p>mais para desempenhar sua função, porque tem de bombear sangue para o corpo</p><p>inteiro.</p><p>A desvantagem espiritual deste sistema é que ele está no lado esquerdo, o lado do</p><p>“tolo”.</p><p>Por conseguinte, todo o sangue bombeado para o organismo corre junto com os maus</p><p>desejos da pessoa.</p><p>Isto não significa que a má inclinação automaticamente obterá o domínio do corpo.</p><p>Indica apenas que é necessário manter os desejos sob controle.</p><p>Quanto maior for o controle exercido sobre as inclinações - quanto mais espiritualidade a</p><p>pessoa respirar - mais pura será a circulação sanguínea.</p><p>Por outro lado, quanto mais intenso for o anseio da pessoa pelo materialismo, mais forte</p><p>será a influência da má inclinação sobre seu “suprimento de sangue”.</p><p>O Rav Nachman ensinou o seguinte: O pulso bate ritmicamente.</p><p>As vezes o batimento do pulso leva a pessoa a servir a Deus; outras vezes, ele a afasta.</p><p>Tudo depende do ar, ou espírito, que entra no corpo.</p><p>Como o sangue recebe oxigénio dos pulmões e o transporta para todo o corpo, a</p><p>inspiração de ar poluído faz o pulso bater num ritmo que tende para o materialismo. +</p><p>A inalação de ar puro - isto é, a busca de espiritualidade - fornece à circulação sanguínea</p><p>ar límpido para ser usado no serviço a Deus.</p><p>Sangue “Quente”</p><p>A cor vermelha do sangue simboliza o sofrimento, a ira e a matança.</p><p>Quando uma pessoa se corta e sangra, ela sente dor e sofre.</p><p>Quando</p><p>ela é humilhada, seu rosto pode tornar-se “rubro”.</p><p>Caso se sinta furiosa e muito irritada, ela poderá ficar “vermelha de raiva”.</p><p>Estas reações representam o conceito de Guevurá (literalmente, “força”, “julgamento”).</p><p>Quando é julgado por má conduta, o indivíduo pode sofrer humilhação.</p><p>Se um infortúnio o acometer, ele talvez fique com raiva.</p><p>Neste sentido, cada um possui seu próprio sistema interno de justiça, que,</p><p>infalivelmente, lhe infligirá o sofrimento cabível, o Rav Nachman explica como esse</p><p>sistema funciona: “A “má inclinação” de um justo é angelical por natureza. Porém, na</p><p>maioria das pessoas, a “má inclinação” é na verdade seu próprio sangue poluído. Ele as</p><p>leva a agir de forma tola e a pecar”.</p><p>Conforme indicamos, o sofrimento pressupõe uma disfunção espiritual - é como se a</p><p>circulação sanguínea, poluída pela má inclinação, estivesse exigindo justiça a fim de</p><p>tornar-se pura novamente.</p><p>Assim, quando o indivíduo vê que está sofrendo e as coisas não estão acontecendo da</p><p>maneira que ele gostaria, ele deve entender que isto se deve à má inclinação, que se</p><p>manifesta através de seu sangue poluído, porque a má inclinação está “viajando junto”</p><p>com o sangue. O Rav Nachman ensina, portanto, que o sujeito pode mitigar os</p><p>julgamentos e o sofrimento subjugando seus desejos.</p><p>Assim fazendo, ele domina a má inclinação, seu “sistema circulatório defeituoso”, se</p><p>purifica.</p><p>Mencionamos antes a paciência demonstrada pelo corpo humano durante a</p><p>decomposição do alimento em seus nutrientes constitutivos.</p><p>Observamos ainda que a paciência é fundamental para o desenvolvimento espiritual.</p><p>Levando esta idéia um passo adiante, podemos compreender a grande importância da</p><p>paciência quando a pessoa está passando por um julgamento - quando está sofrendo,</p><p>por exemplo, ou tem de lidar com outras situações desagradáveis.</p><p>3</p><p>O exercício da paciência é em si mesmo um fator essencial para a mitigação dos</p><p>julgamentos e a purificação da circulação sanguínea.</p><p>Evidentemente, isso não significa que, se a circulação sanguínea for purificada, a cor do</p><p>sangue mudará.</p><p>O vermelho sempre significa julgamentos, e o sangue sempre será vermelho.</p><p>No entanto, há julgamentos que podem ser benéficos - quando são usados para</p><p>promover o exercício da prudência e do comedimento (por exemplo, a direção defensiva</p><p>ou a pacificação de uma situação explosiva).</p><p>Do ponto de vista espiritual, Guevurá representa o atributo do temor e reverência a</p><p>Deus e, portanto. tem um lado muito positivo.</p><p>O sangue é sinônimo da má inclinação, que causa julgamentos e sofrimento.</p><p>Quanto maior for o controle que o indivíduo exerce sobre a má inclinação, mais controle</p><p>ele terá da dor, frustração e humilhação que talvez tenha de suportar, e mais preparado</p><p>ele estará para lidar com o sofrimento.</p><p>Isto ocorre porque, num certo sentido, ele obtém um grau de “controle” sobre os</p><p>próprios julgamentos.</p><p>Considerando-se que a circulação sanguínea funciona como um sistema interno de</p><p>justiça da pessoa, podemos compreender como ela pode tornar-se o veículo de sua ruína</p><p>- tanto física como espiritual.</p><p>As pessoas envolvem-se em problemas por causa de seu “sangue quente” - a pressa, a</p><p>impulsividade e a ira.</p><p>Devido a sua própria forma de agir, elas impõem julgamento a si mesmas e determinam</p><p>que haja conseqüências para seus atos.</p><p>O Rav Nachman ensinou: Um sistema circulatório que está poluído pelo pecado cria</p><p>dificuldades para o ganho do sustento.</p><p>Quem rouba gera sangue pútrido dentro de si mesmo; e o mesmo se aplica a quem é</p><p>desonesto nos negócios, porque a palavra hebraica “damim” se traduz tanto como</p><p>“sangue”, quanto como “dinheiro”.</p><p>Os dois estão inter-relacionados da seguinte maneira:</p><p>Um sistema circulatório puro impede o roubo.</p><p>O roubo, por outro lado, polui o sangue e cria um círculo vicioso, fazendo surgir um</p><p>desejo cada vez mais forte de roubar, que tem um potencial intrínseco para sujar ainda</p><p>mais o sangue, que então exigirá um esforço extraordinário para ser purificado.</p><p>Além disso, como assinala o Rav Natan, “ilusão” em hebraico é “medamê”, que tem a</p><p>mesma raiz de “dam”, “sangue” . Idéias ilusórias provêm de um sistema circulatório</p><p>impuro - do mesmo sangue que carrega todos os desejos e a luxúria do sujeito.</p><p>Aprendemos também que “a avidez pelo prazer sensual se origina do sangue poluído da</p><p>pessoa”.</p><p>O próprio homem, portanto, é a fonte de sua ilusão e a principal causa de seus erros.</p><p>Vitória ou Verdade</p><p>O Rebe Nachman ensinou:</p><p>Aqueles que possuem a característica negativa de sempre querer sobrepujar os outros</p><p>não são capazes de aceitar a verdade.</p><p>Quando as pessoas querem estar sempre certas, mesmo se a verdade estiver clara</p><p>diante de seus olhos, elas a distorcerão para manter sua suposta superioridade, isto se</p><p>aplica em todas as áreas da vida.</p><p>O Mestre ensina que esta característica negativa é semelhante à rivalidade.</p><p>Ele explica que a fonte do desejo de ser vitorioso e do anseio de controlar os outros é o</p><p>próprio sangue do indivíduo.</p><p>Como diz um versículo (Isaias 63:3): “Veiez nitscham - Seu sangue salpicou”.</p><p>A raiz da palavra hebraica “nitscham”, “seu sangue” , é “nétsach”, que também se</p><p>traduz como “vitória”.</p><p>4</p><p>Logo, o desejo de ser vitorioso é inerente ao sangue.</p><p>Porém, quem serve a Deus com todo o seu ser consegue purificar seu sangue dos maus</p><p>desejos. Desta maneira, ele pode suprimir dentro de si o atributo da rivalidade e o</p><p>desejo de dominar os outros, e assim estabelecer a paz.</p><p>O Rav Nachman ensinou:</p><p>“Ninguém pode dizer a verdade absoluta sem ter antes limpado sua circulação sanguinea</p><p>das impurezas, que são indícios de falsidade. Reciprocamente, ninguém diz falsidades</p><p>sem ter antes poluído sua circulação sanguínea”.</p><p>“A falsidade é prejudicial à visão.” A vista fraca apresenta imagens falsas - objetos</p><p>grandes podem ser percebidos como pequenos, outros podem ser vistos em duplicidade.</p><p>Tais fenômenos são distorções - ou melhor, inverdades.</p><p>O Rebe prossegue afirmando que olhos lacrimosos turvam a visão.</p><p>As lágrimas são fluidos corporais excedentes secretados através dos canais lacrimais</p><p>(que fazem parte do sistema de purificação do corpo).</p><p>Além disso, o Rav explica, com base nos versículos Nafshi “[minha alma] partiu quando</p><p>ele falou” (Cântico dos Cânticos 5:6) e “O sangue é a néfesh [alma]” (Deuteronômio</p><p>12:23), que a fala, a alma e o sangue estão interconectados.</p><p>Se sujar sua fala - por exemplo, proferindo falsidades - a pessoa sujará também sua</p><p>circulação sanguínea e, por extensão, sua própria alma.</p><p>A verdade é uma; a falsidade é múltipla.</p><p>Só pode haver uma única verdade.</p><p>Ainda que a falsidade possa ser apresentada de muitas maneiras - literalmente, em</p><p>milhares de idéias, máximas e assim por diante - ela não é a verdade.</p><p>Falsidade é, portanto, sinônimo de excesso.</p><p>Por conseguinte, ela causa um excesso de fluidos e provoca lágrimas, que turvam e</p><p>distorcem a visão.</p><p>O Rebe Nachman ensina que a recíproca também é verdadeira - dizer verdade purifica o</p><p>sangue.</p><p>Do mesmo modo, para atingir o nível da verdade absoluta e ficar livre da falsidade, sem</p><p>ilusões a respeito da vida, o individuo precisa purificar seu organismo inteiro.</p><p>Este é o nível alcançado pelo tsadic.</p><p>Porém, qualquer pessoa, dependendo da intensidade com que ela lute pela verdade, é</p><p>capaz de purificar seu sistema circulatório.</p><p>Além disso, o choro e as lágrimas podem servir de veículos tanto para a purificação</p><p>como para a poluição da circulação sanguínea.</p><p>Chorar para obter objetos supérfluos produz sangue pútrido e lágrimas desnecessárias -</p><p>excesso e desperdício.</p><p>Mas chorar e rezar para eliminar objetos e anseios impróprios ajuda a purificar a</p><p>circulação sanguínea de excessos indesejados.</p><p>A Via Principal para o Arrependimento</p><p>O Rav Nachman ensina que há maneiras de purificar toda a circulação sanguínea de uma</p><p>vez.</p><p>A causa do pecado é a má inclinação que reside no coração, fazendo sangue pútrido fluir</p><p>pelo corpo inteiro.</p><p>Um modo de purificar o sangue é permanecer quieto quando se é insultado e suportar o</p><p>constrangimento.</p><p>Ficando em silêncio, a pessoa controla o desejo de revidar o insulto e contém a ira, uma</p><p>manifestação da má inclinação. Isso fica evidente na reação que é sentida pelo individuo</p><p>que é ofendido: humilhado, ele cora, e seu rosto fica rubro de vergonha.</p><p>Em seguida ele empalidece, como se seu sangue se tivesse exaurido.</p><p>O sangue simboliza os pecados, e a reação de ficar “branco” representa a limpeza desses</p><p>pecados que saturavam a circulação sanguínea.</p><p>5</p><p>Embora o sangue ainda esteja correndo pelo corpo, o autodomínio e a renúncia à réplica</p><p>constituem um arrependimento verdadeiro, pois são atos poderosos de controle da má</p><p>inclinação.</p><p>É claro que esse método de arrependimento tem suas desvantagens.</p><p>Em primeiro lugar, é extremamente difícil suportar o constrangimento.</p><p>Além disso, ainda que a vergonha possa ser causada pela própria pessoa (por exemplo,</p><p>quando ela comete um erro em público), muitas vezes ela é provocada pelos outros - e</p><p>sabemos que é proibido vexar alguém.</p><p>O Talmud compara a ação de humilhar ao assassinato e afirma: “Quem envergonha uma</p><p>pessoa em público desce ao Guehinom (inferno) e nunca mais sobe!”</p><p>O Rav Natan trata desta questão e explica que, apesar disso, o constrangimento pode</p><p>ser causado pelos outros, porque cada um escolhe agir da maneira que julga apropriada.</p><p>Embora não deva buscá-lo, a pessoa que é humilhada deve ter em mente os benefícios</p><p>espirituais que resultam do sofrimento que ela experimenta.</p><p>Porém, o constrangimento não precisa vir de uma fonte externa.</p><p>Com frequência, as pessoas admitem para si mesmas que agiram de forma tola e se</p><p>sentem envergonhadas - mesmo quando estão sozinhas.</p><p>Sentir-se humilhado pelos próprios erros e pecados é passar vexame diante de Deus.</p><p>Apesar de este tipo de constrangimento não exigir necessariamente que o indivíduo</p><p>controle a raiva, o reconhecimento do pecado também consiste numa forma de controle</p><p>- a decisão de subjugar os próprios desejos e não pecar mais, evitando assim novas</p><p>situações embaraçosas. Portanto, quem de fato quer arrepender-se sentirá vergonha de</p><p>seus pecados.</p><p>Depois de expor a lição sobre a atitude de suportar a humilhação como o melhor</p><p>caminho para o arrependimento, o Rav Nachman perguntou ao Reb Natan:</p><p>“Você cora de vergonha diante de Deus?”.</p><p>Certa vez, quando falava de sua juventude, o Rav Nachman disse: “Eu costumava ser</p><p>tão tímido diante de Deus que podia sentir, literalmente, a vergonha em meu rosto.</p><p>Muitas vezes, eu me colocava diante de Deus e me sentia constrangido, como se tivesse</p><p>sido humilhado na frente de um amigo. Havia ocasiões em que eu de fato enrubescia de</p><p>tanta vergonha”.</p><p>Além disso, o Rav Natan explica que toda pessoa deve suportar pelo menos algum</p><p>sofrimento antes de alcançar a espiritualidade. Ele pode ser a luta pessoal contra a má</p><p>inclinação, ou assumir a forma de antagonismo familiar, dificuldades financeiras ou</p><p>outros problemas particulares.</p><p>Esse sofrimento também é um tipo de constrangimento, e o indivíduo tem de ser</p><p>paciente e esperar até que as portas da espiritualidade se abram e ele encontre alivio.</p><p>Assim, todo sofrimento, se aceito com paciência, é uma maneira de permanecer em</p><p>silêncio diante da “humilhação” e pode produzir um arrependimento completo e</p><p>verdadeiro.</p><p>“Eu Serei”</p><p>O Rav Nachman elabora ainda mais essa idéia: “Como se vê em toda a Torá, Deus é</p><p>conhecido por vários Nomes. Um deles é Ehiê, cujo sentido literal é “Eu serei”. Isto não</p><p>significa que Deus mude de alguma maneira, nem que Ele tenha de vir a “ser”, Deus nos</p><p>livre. Deus é eterno e imutável. Antes, o conceito implícito no Nome Ehiê é Eu serei</p><p>revelado em medida cada vez maior”.</p><p>As quatro letras de Ehiê (), Alef=1, Hê=5, Yud=10 e H=5, totalizam 21.</p><p>Porém, se adicionadas com retrocesso (isto é, voltando-se cada vez à primeira letra até</p><p>que a palavra esteja completa) -  +  +  + , (1+6+16+21) - elas somam</p><p>44. Este é o mesmo valor em numérico de “dam”, “sangue”.</p><p>6</p><p>O Ari explica que este método de cálculo é usado quando há uma ocultação da</p><p>santidade.</p><p>Em contraposição a “panim” (face a face), ele é chamado de “achoraim” (parte de trás),</p><p>o que indica um encobrimento da santidade. Portanto, o Próprio Deus está oculto na</p><p>circulação sanguínea.</p><p>Por que Ele está escondido aí?</p><p>Como vimos, a circulação sanguínea está impregnada da má inclinação. Ainda assim,</p><p>mesmo num ambiente tão materialista, o Próprio Deus sempre está presente e espera,</p><p>com infinita paciência, que nos voltemos para Ele. No exato momento em que</p><p>reconhecemos nossos pecados, podemos imediatamente encontrar Deus!</p><p>O pecado rebaixa a pessoa ao nível da “não-existência”.</p><p>Nossos Sábios fizeram alusão a essa condição quando afirmaram: “Teria sido melhor que</p><p>o homem não tivesse sido criado.”</p><p>O arrependimento, por outro lado, equivale a um renascimento.</p><p>Ele liga a pessoa a Deus, como revelado no sagrado Nome Ehiê (Eu serei).</p><p>Suportando as dificuldades, o sofrimento ou a vergonha, o indivíduo atrai para si a</p><p>espiritualidade do Ehiê que está oculto em sua corrente sanguínea.</p><p>O processo se repete muitas vezes enquanto ele busca atingir níveis sempre mais</p><p>elevados.</p><p>O Rav Nachman assinala que esta idéia também é sugerida pela vogal utilizada para</p><p>definir a pronúncia da palavra “dam”.</p><p>As letras que compõem o alfabeto hebraico são consoantes, e as vogais são uma série</p><p>de pontos e traços.</p><p>A vogal de “dam” é o “camats” (que tem o som de “a”).</p><p>A palavra “camats” significa “fechado ou escondido”, porque estão ocultos na circulação</p><p>sanguínea tanto uma presença sagrada (Ehiê) como a má inclinação (as características</p><p>negativas). Deduz-se da palavra “dam” que a pessoa deve suportar o sofrimento em</p><p>silêncio - mantendo sob controle as características negativas como a ira, inveja,</p><p>impaciência e assim por diante - a fim de dominar sua má inclinação e assim revelar a</p><p>santidade.</p><p>Permanecendo calada, ela transforma “dam” em “dom” (“silêncio”), substituindo o</p><p>“camats” pelo “cholam” (vogal que tem o som de “o”), um ponto que é colocado acima</p><p>das consoantes.</p><p>O sangue corrente que antes fora usado para pecar torna-se silêncio, por amor a Deus,</p><p>liberando a Divindade oculta em seu interior, que leva ao verdadeiro arrependimento.</p><p>Isto corresponde à sefirá de Kéter (Coroa). Portanto, o “cholam” fica acima da letra</p><p>“dalet”, como a coroa fica sobre a cabeça.</p><p>Keter em si mesmo, está além da compreensão.</p><p>No entanto, todos podem encontrar algum aspecto de cada uma das dez sefirot em seu</p><p>próprio nível espiritual. Assim, cada pessoa tem um determinado “nível elevado de</p><p>Kéter” ao qual pode aspirar.</p><p>Após alcançá-lo, ela poderá ascender ao grau seguinte de espiritualidade.</p><p>Um Circuito de Alegria</p><p>Inspire profundamente. Retenha o ar. Agora expire. Assim você limpa seu sangue.</p><p>O Rav Nachman ensinou:</p><p>O sangue flui pelo corpo, junto com o oxigênio, purificando-o da matéria residual.</p><p>Mas a tristeza pode afetar de forma adversa este fluxo.</p><p>A tristeza se expressa pela respirarão superficial, que é comum em pessoas</p><p>melancólicas.</p><p>Ela pode provocar uma pulsação inadequada, fazendo a pessoa sentir se indolente.</p><p>O suspiro profundo de arrependimento, causado pelo desejo intenso de retornar ao</p><p>serviço de Deus, é uma cura para os efeitos da tristeza. Respirar ar puro introduz</p><p>oxigénio no organismo e o livra das impurezas produzidas pela tristeza.</p><p>7</p><p>O sangue deve poder fluir pelas veias sem impedimentos.</p><p>Quando há uma infecção em alguma parte do organismo, ela faz uma grande quantidade</p><p>de sangue acorrer ao local, interrompendo o fluxo sanguíneo normal. [Os vasos</p><p>sanguíneos se dilatam na área infectada, possibilitando</p><p>um aumento do fluxo de</p><p>sangue]. As “shalosh regalim“[três festas] nos ajudam a recuperar a pulsação normal.</p><p>Por este motivo, “festa” diz-se „chag”, uma raiz que também se traduz como “círculo”,</p><p>fazendo alusão ao circuito do fluxo sanguíneo pelo corpo.</p><p>O Rebe Nachman explica que a comemoração de cada festa, em virtude da razão da</p><p>celebração, revela uma quantidade significativa de Divindade no mundo.</p><p>Pêssach nos permite reviver o Êxodo, com o milagre das dez pragas e a travessia do Mar</p><p>Vermelho.</p><p>Shavuót rememora o milagre da revelação, um evento admirável por Deus ter descido</p><p>sobre o Monte Sinai e Se revelado aos Hebreus enquanto lhes dava a Torá.</p><p>Sucót recorda o milagre das nuvens de glória que protegiam os Hebreus durante sua</p><p>permanência no deserto. Assim, a comemoração de cada festa proclama a presença de</p><p>Deus e nos possibilita experimentar as forças da espiritualidade que transcendem o</p><p>físico.</p><p>A respeito das festas, está escrito (Deuteronômio 16:14): “E te alegrarás no teu “chag”</p><p>[festa].” A alegria, portanto, é benéfica para o “chag”, que representa o circuito do</p><p>sangue.</p><p>Além disso, como as festas são chamadas de “regalim” (literalmente, “pés”), ficar alegre</p><p>nessas datas é especialmente benéfico para a circulação do sangue até os pés.</p><p>Ademais, como os pés representam as extremidades inferiores, os lugares mais</p><p>distantes de Deus, a alegria é uma das melhores maneiras de levar sangue e energia</p><p>vivificantes àqueles que estão afastados de Deus, enchendo-os de força e vitalidade para</p><p>que se aproximem Dele como nunca antes.</p><p>Recicle-se e Retorne</p><p>Por transportar vida pelo corpo inteiro, o sangue é, em certo sentido, a própria vida.</p><p>Além disso, devemos lembrar que uma determinada gota de sangue não percorre</p><p>exatamente o mesmo caminho a cada vez que circula pelo corpo.</p><p>Uma vez ela irá à cabeça, na volta seguinte, ao braço direito, e assim por diante.</p><p>O Rav Natan extrai uma lição importante deste fato: Visto que a vida flui por todas as</p><p>partes do nosso ser, podemos conectar-nos a qualquer elemento específico da Cabalá</p><p>como um pensamento da Torá, uma boa ação ou uma palavra gentil, e a partir daí</p><p>começar de novo.</p><p>No fim, essa vitalidade renovada atingirá todas as partes do nosso ser, e nossa relação</p><p>com Deus será intensificada em todos os aspectos.</p><p>Desenvolvendo essa idéia, o Rav Natan explica que a Torá menciona a palavra “admoni”</p><p>(o vermelho) em referência a duas pessoas: o Rei David e Esaú (1 Samuel 16:12;</p><p>Gênesis 25:25).</p><p>Os dois representam Guevura (força e julgamento), sendo um proveniente do lado da</p><p>santidade e o outro, do outro lado.</p><p>Uma das principais manifestações de Guevura, que pode ser usada para o bem ou para o</p><p>mal, é a audácia ou ousadia.</p><p>Se uma pessoa sente que está distante de Deus e tem vergonha de aproximar-se, ela</p><p>deve ser audaciosa e, a despeito de seus atos passados que causaram o afastamento,</p><p>acercar-se Dele continuamente, até começar a experimentar algum grau de</p><p>espiritualidade. Esta idéia é sugerida pelo fluxo contínuo de sangue pelo corpo e</p><p>representa a ousadia sagrada, a qualidade que o Rei David personificava travando</p><p>batalhas para revelar o reino de Deus.</p><p>Em contraposição, a principal fonte de audácia e ousadia impróprias se encontra no</p><p>“sangue quente”, o aspecto de “Esaú”, que existe dentro de cada pessoa e vem à tona</p><p>quando se buscam prazeres materiais.</p><p>Esta característica é importante e pode ser controlada e dirigida à santidade por meio do</p><p>exercício da paciência.</p><p>As “Kavanot” (meditações) da festa de Chanucá fazem alusão a tudo isso.</p><p>8</p><p>A opressão marcou esse período muito sombrio de nossa história, no qual os gregos não</p><p>poupavam meios nem ocasiões para intimidar os judeus e submetê-los a sua cultura</p><p>ateísta.</p><p>Foi necessária uma extrema ousadia da parte dos macabeus para travar guerra contra</p><p>forças tão superiores, em nome da honra de Deus.</p><p>Assim, o Ari escreve que a luz de Chanucá é extraída do Nome Sagrado “Nachal”,</p><p>acrônimo de “Nafshenu chictá Laadonai... - Nossa alma espera pelo Eterno; Ele é o</p><p>nosso amparo e nosso escudo” (Salmos 33:20).</p><p>O valor numérico da palavra hebraica “Nachal” é 88.</p><p>Somando-se 1 a este número para representar a palavra em si, obtém-se 89, o mesmo</p><p>valor numérico de Chanucá.</p><p>Os judeus foram severamente intimidados e oprimidos; no entanto, aguardaram</p><p>pacientemente a salvação, sem jamais perder a esperança de que Deus os ajudaria.</p><p>Quando surgiu a oportunidade, eles a aproveitaram e derrotaram as forças da heresia.</p><p>Além disso, verificamos que as palavras “dam adam” ( “sangue do homem”) têm a</p><p>mesma guematria (valor numérico) de Chanucá. e Nachal = 89, o que mostra mais uma</p><p>vez que o indivíduo precisa ter muita paciência em sua busca espiritual, sem deixar que</p><p>se enfraqueça o desejo de servir a Deus.</p><p>O sangue flui continuamente pelo corpo, e é aconselhável que a pessoa tire proveito</p><p>desse elemento vital, procurando, ansiando e esperando com paciência pelo momento</p><p>em que possa começar sua elevação espiritual.</p><p>Como o sangue, que não percorre sempre o mesmo trajeto e constantemente busca uma</p><p>nova direção dentro do corpo, nós podemos seguir um movimento constante de busca</p><p>da ocasião apropriada para estreitar nossa relação com Deus.</p><p>Álcool e a Arvore do Conhecimento</p><p>A árvore do conhecimento da qual Adão comeu era uma videira</p><p>O vinho tem dois poderes potenciais, um bom e outro mau.</p><p>Ele provém de uma fonte muito elevada, como está evidente na palavra hebraica que</p><p>designa “vinho”, “iáin”, cujo valor numérico é 70.</p><p>O vinho corresponde, portanto, às “70 facetas” da Torá e aos “70 anciãos” ”anciãos”</p><p>indica sabedoria.</p><p>Tomar vinho com pureza e alegria sagrada pode ajudar a pessoa a ascender a níveis</p><p>realmente muito elevados. isto é possível com a ingestão do vinho sacramental do</p><p>kidush no Shabat e nas festas, em Purim ou na celebração de uma mitsva.</p><p>Porém, o poder negativo inerente ao vinho e às bebidas alcoólicas também é enorme.</p><p>Ele pode despertar a luxúria, especialmente os desejos imorais.</p><p>Como afirma o seguinte versículo (Provérbios 23:31): „Não mires o vinho quando</p><p>rebrilha sua cor vermelha.”</p><p>Nossos Sábios comentam: “Pois o seu fim traz o vermelho [isto é, sangue, julgamentos</p><p>e sofrimento].”</p><p>O consumo excessivo de álcool atordoa a mente, pois ele entra na circulação sanguínea.</p><p>A pessoa pode sentir-se alegre quando está bêbada, mas isso só acontece porque o</p><p>álcool “esquenta” o sangue, incitando á imoralidade, á discórdia e a muitos outros</p><p>males.</p><p>Assim, quem bebe álcool em demasia não só se torna suscetível a doenças físicas como</p><p>também danifica a natureza espiritual de seu sangue. Inversamente, quem é cauteloso</p><p>na ingestão de vinho terá o mérito de beber um vinho antiquíssimo, que lhe trará</p><p>verdadeira alegria - O vinho preservado das uvas dos seis dias da criação (isto é, provar</p><p>da árvore da vida que foi preparada para o homem no Jardim do Éden).</p><p>Exame de Sangue</p><p>A depuração do sangue e a manutenção de uma circulação sanguínea pura requerem</p><p>muito esforço, tanto físico como espiritual.</p><p>9</p><p>Os médicos quase sempre pedem exames de sangue para detectar desequilíbrios no</p><p>organismo.</p><p>O “exame de sangue” é ainda mais necessário para a nossa saúde espiritual.</p><p>Considerando-se a complexidade da circulação sanguínea, uma breve revisão das idéias</p><p>apresentadas acima nos permitirá testar o estado espiritual de nosso sangue e retificar</p><p>qualquer impureza.</p><p>O sangue representa julgamento.</p><p>É preciso ter muita paciência para suportar o sofrimento (na forma de julgamento,</p><p>humilhação, etc.).</p><p>O sangue também representa o arrependimento e a sefirá de Kéter, o nível de Ehiê.</p><p>Quando permanecemos em silêncio diante do constrangimento e do antagonismo,</p><p>purificamos nosso sangue e realizamos nosso potencial mais elevado.</p><p>A alegria é benéfica para um fluxo de sangue normal, pois nos possibilita sentir um</p><p>espírito</p><p>de renovação.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 10</p><p>Alimentação: O Exílio no Egito</p><p>Vimos como o sangue transporta nutrientes para todo o organismo.</p><p>Examinaremos agora como os nutrientes chegam à circulação sanguínea através</p><p>dos alimentos.</p><p>Trataremos agora as partes do corpo relacionadas à alimentação - a boca, o</p><p>pescoço e os vários órgãos nele contidos, o estômago e os órgãos que lhe são</p><p>associados.</p><p>O pescoço, no qual se localiza a garganta, é uma parte muito estreita do corpo.</p><p>Assim, em hebraico, a garganta é denominada “metsar hagaron”, que literalmente</p><p>significa “o estreito do pescoço”.</p><p>Nesta passagem estreita se localizam três órgãos ou vasos vitais: a traquéia,</p><p>situada do lado direito da garganta, conduz o ar; o esôfago, situado à esquerda da</p><p>traquéia e parcialmente atrás dela, perto da nuca, transporta a comida; e as veias</p><p>jugulares e artérias carótidas, que conduzem sangue.</p><p>O Rav Nachman ensina que as histórias relatadas na Bíblia transmitem mensagens</p><p>para a vida contemporânea, e ilustra esta idéia com a terra do Egito, Mitsraim, que</p><p>corresponde ao “metsar hagaron”. A história dos hebreus como nação começa com</p><p>sua descida ao exílio no Egito, em consequência da venda de José como escravo.</p><p>A palavra “faraó”, que designa o soberano do Egito, representante das forças do</p><p>mal, tem a mesma raiz de “oref”, a nuca ou região posterior do pescoço, que faz</p><p>alusão ao esôfago, isto é, à alimentação. Para iludir os hebreus, o faraó precisava</p><p>da ajuda de seus três oficiais: o chefe dos açougueiros, o chefe dos padeiros e o</p><p>chefe dos copeiros (Gênesis 37:36, 40:2).</p><p>Eles correspondem aos tipos básicos de nutrientes que introduzimos em nosso</p><p>organismo: carne (animal), pão (vegetal) e vinho (líquido).</p><p>Assim, para dominar os hebreus, o faraó os manipulou por meio de sua</p><p>necessidade mais básica - a necessidade de comer.</p><p>Apesar de ter sido vendido como escravo ao Egito (o metsar hagaron), José, que</p><p>tinha inclinação espiritual, perseverou na busca da Divindade.</p><p>Na narrativa bíblica, vemos que ele enfrentou os três oficiais do faraó sob condições</p><p>adversas. José manteve-se firme e, por seus próprios méritos, tornou-se</p><p>governante de seus supostos senhores. Isto nos ensina que quem permanece</p><p>inabalável em seus esforços espirituais pode elevar-se acima das circunstâncias de</p><p>seu ambiente e tornar-se senhor de seu próprio destino.</p><p>Porém, os descendentes de José e de seus familiares - os hebreus - sucumbiram ao</p><p>faraó e seus oficiais.</p><p>Eles ficaram amigos dos vizinhos egípcios, comeram de seu pão (isto é, ficaram</p><p>presos na armadilha da estreiteza do pescoço - o metsar hagaron) e por fim se</p><p>tornaram seus escravos.</p><p>Evidentemente, o caminho para o mal - a escravidão espiritual - tem origem na</p><p>alimentação inadequada.</p><p>Além disso, aprendemos que a região do pescoço e da garganta, “garon‟,</p><p>corresponde ao Nome Sagrado “Elohim”. Isto pode ser inferido da seguinte</p><p>maneira:</p><p>Elohim, cujo valor numérico é 86, pode ser expandido de três formas (pois a letra</p><p>“hê” pode ser escrita por extenso com alef, hê ou Yud no final).</p><p>O triplo do valor numérico de Elohim () é 258. Somando 1, para representar</p><p>a palavra em si, obtemos 259, o valor de “garon” ().</p><p>2</p><p>Este Nome Sagrado de Deus tem conotação de julgamentos e restrições, assim</p><p>como “garon”, por extensão. Portanto, ser apanhado em armadilha no garon ou</p><p>pelo garon - o exílio no Egito ou hábitos alimentares inadequados - indica uma</p><p>ocultação da Divindade e a servidão a um modo de vida materialista.</p><p>Comer é uma necessidade humana básica, a principal ação que une corpo e alma.</p><p>O Rav Nachman ensina que se a pessoa, ao alimentar-se, tiver como finalidade o</p><p>crescimento espiritual, ela pode ascender aos níveis mais elevados. Inversamente,</p><p>a obsessão constante por comida ou a submissão à glutonaria podem elevar à</p><p>estagnação espiritual. A respeito disto, Nachman ensinou:</p><p>“O ventre do iníquo sempre se sente vazio‟ (Provérbios 1 3:2 5). Isto se refere</p><p>àqueles que nunca estão satisfeitos e sempre desejam mais.”</p><p>O estômago, após receber a comida triturada, armazena-a enquanto ela é reduzida</p><p>a uma pasta. Esta pasta é então enviada ao intestino, onde continua sendo</p><p>quebrada em partículas menores antes de passar aos órgãos digestivos.</p><p>Este é o percurso do alimento no desempenho de sua função através do sistema de</p><p>purificação do corpo. Considerando- se que um estômago cheio leva algumas horas</p><p>para esvaziar-se, é de fato “o ventre do iníquo [que] sempre se sente vazio”,</p><p>porque aqueles que constantemente desejam comida nunca se sentem satisfeitos e</p><p>sempre têm vontade de comer mais, mesmo quando há alimento em seu</p><p>estômago.</p><p>O Rav Nachman também ensina:</p><p>“A paz e a prosperidade andam juntas, enquanto a fome é presságio de discórdia e</p><p>guerra. Portanto, o desejo intenso de comida é sinal de que a pessoa tem inimigos.</p><p>Dominando o anseio por comida, ela pode obter a paz com seus inimigos”.</p><p>À parte os inimigos humanos - aqueles que têm inveja ou ódio dos outros - os</p><p>“inimigos” aos quais o Rav Nachman se refere são na realidade os órgãos internos</p><p>da própria pessoa, que podem subjugá-la e escravizá-la.</p><p>Eles se aproveitam de seus desejos, sempre buscando prazeres materiais, jamais</p><p>se sentindo satisfeitos.</p><p>Estes “inimigos” tentam constantemente sujeitar a pessoa à luxúria, de forma cada</p><p>vez mais inextricável.</p><p>A Boca, os Dentes e o Estômago</p><p>É pela boca que toda a comida entra no corpo.</p><p>Trituramos o alimento com os dentes e depois o mandamos ao estômago, através</p><p>do esôfago.</p><p>O estômago atua como uma área de armazenagem, onde os ácidos gástricos e as</p><p>enzimas dissolvem o alimento para que ele possa ser digerido.</p><p>O versículo “Mi sam pê leadam? - Quem deu a boca ao homem?” (Êxodo 4:11)</p><p>também pode ser traduzido como “Quem colocou o homem? Sua boca!”.</p><p>Ou seja, o que habilita uma pessoa a portar o título de ser humano?</p><p>A boca.</p><p>Se o indivíduo come por gula, por sua boca ele é classificado como animal.</p><p>Porém, quando ele come com a intenção de nutrir o corpo para poder desenvolver-</p><p>se espiritualmente assim como fisicamente, sua boca pode conduzi-lo ao</p><p>elevadíssimo nível espiritual do homem, pois tal forma de comer enche o corpo</p><p>todo de reverência a Deus!</p><p>A boca funciona, portanto, como um órgão crucial na determinação da maneira pela</p><p>qual podemos tornar-nos “humanos” no sentido mais pleno da palavra.</p><p>Em seus ensinamentos Nachman expressa de várias formas a máxima de que o</p><p>homem honrado pode ser identificado pelo seu modo de usar a boca.</p><p>3</p><p>Embora se possa mostrar deferência com diversos órgãos, é a maneira de falar com</p><p>e sobre os outros que, mais claramente, indica respeito.</p><p>No entanto, a honradez não se limita ao jeito de falar. Nachman ensina que “a</p><p>glutonaria leva a pessoa a perder honra e estima”.</p><p>Vemos assim que é a boca, nos dois papéis que desempenha, como porta-voz e</p><p>consumidora, que define o nível do indivíduo.</p><p>O Baal Shem Tov e seus discípulos encontravam-se certa vez numa hospedaria.</p><p>Um freguês começou a tomar sua refeição, e o Baal Shem Tov disse a seus</p><p>discípulos que observassem atentamente.</p><p>Eles notaram que o rosto do sujeito tinha um certo ar bovino. O Baal Shem Tov</p><p>afirmou que isto se devia ao fato de ele ter a atitude de um boi sempre que comia.</p><p>Esta idéia é reforçada quando consideramos os dentes.</p><p>Os adultos têm 32 dentes, que ajudam tanto na trituração dos alimentos como na</p><p>pronunciação das palavras.</p><p>A palavra hebraica “cavod”, que significa “honra”, tem valor numérico de 32,</p><p>correspondendo aos 32 dentes. Portanto, vemos nos dentes mais um indicador de</p><p>que é a boca que define a honra - tanto para os outros como para a própria pessoa.</p><p>Há duas maneiras de comer como um animal.</p><p>Alguns ingerem alimentos de seres humanos, mas com o apetite de um animal.</p><p>Outros comem como seres humanos,</p><p>mas alimentos que não são próprios para o</p><p>consumo humano. Pois há centelhas de santidade nos alimentos que comemos, e</p><p>se estas centelhas não forem retificadas adequadamente, tanto pela observância</p><p>das mitsvót relacionadas à comida como pelo ato de alimentar-se com todas as</p><p>atitudes corretas, tal comida só será apropriada para um animal, não para seres</p><p>humanos.</p><p>Comer “como um animal” de qualquer uma dessas duas maneiras pode provocar</p><p>doenças.</p><p>Um versículo afirma (Salmos 66:12): “Fizeste homens montar em nossa cabeça;</p><p>passamos por fogo e água “.</p><p>Quando come como um animal, a pessoa desce ao nível do animal.</p><p>Neste ponto, “homens montam em nossa cabeça”, pois descemos aos níveis mais</p><p>baixos. Então, “passamos por fogo e água”, que fazem referência a febres e</p><p>resfriados (isto é, doenças).</p><p>Isto é verdadeiro tanto no plano físico como no espiritual.</p><p>Água e fogo correspondem a amor e temor.</p><p>Quem possui conhecimento genuíno também possui amor e temor a Deus.</p><p>No entanto, a pessoa que desce a um nível animalesco é privada de seu</p><p>conhecimento; ela se submete a um amor e temor inapropriados: dominadas por</p><p>forças materialistas, suas emoções passam a concentrar-se no mundano e não na</p><p>essência espiritual.</p><p>“O Estômago Dorme”</p><p>Nossos Sábios ensinam que “o estômago dorme”.</p><p>Os comentários salientam que o esforço exigido pelo estômago para a digestão dos</p><p>alimentos “esgota” a pessoa e provoca sono.</p><p>Nachman apresenta uma idéia semelhante e a desenvolve em vários discursos.</p><p>A vitalidade essencial da pessoa encontra-se em seu intelecto.</p><p>Alguém que não esteja usando todo o potencial de seu intelecto é considerado</p><p>adormecido. Muitas pessoas que parecem estar vivas na verdade desperdiçam a</p><p>vida dormindo; elas não usam o intelecto em sua capacidade máxima.</p><p>Este “sono” pode ser causado por uma maneira inadequada de alimentar-se ou pela</p><p>ingestão de comidas impróprias.</p><p>A alimentação pode gerar confusão.</p><p>4</p><p>Logo depois de comer, o indivíduo frequentemente se sente confuso, porque as</p><p>forças das klipot [o outro lado] também se nutrem dos alimentos que ele ingere.</p><p>A mente se desenvolve com os nutrientes que recebe.</p><p>Quando a pessoa come sem necessidade, a comida supérflua danifica seu</p><p>discernimento.</p><p>Se o corpo estiver livre de excessos, o indivíduo será capaz de ter uma</p><p>compreensão clara de como deve conduzir sua vida.</p><p>O funcionamento da mente depende do que comemos: os nutrientes que ingerimos</p><p>são absorvidos pelo sangue e transportados para os pulmões através do ventrículo</p><p>direito do coração (circulação pulmonar).</p><p>O sangue oxigenado retorna dos pulmões para o ventrículo esquerdo do coração.</p><p>De lá ele é bombeado para a aorta, atravessando o arco aórtico, as artérias</p><p>carótidas e outros ramos arteriais, até chegar ao cérebro.</p><p>Assim, a mente é fortemente afetada pelos alimentos que ingerimos.</p><p>O Rav Nachman ensina ainda que mesmo os traços de personalidade de um</p><p>indivíduo dependem de sua dieta. Isto também se deve ao fato de a comida afetar</p><p>a mente por meio dos nutrientes, tanto físicos como espirituais, que lhe fornece.</p><p>Alimentos saudáveis ajudam a desenvolver a mente, enquanto alimentos nocivos à</p><p>saúde têm efeitos adversos.</p><p>Isso se aplica não só à distinção entre comida “casher” e “não casher”, mas</p><p>também entre alimentos nutritivos e fest food, assim como a comer com uma</p><p>postura adequada ou inadequada.</p><p>Comer demais pode provocar doenças.</p><p>Como tudo precisa de alguma fonte de sustento, até mesmo o alimento que</p><p>ingerimos deve receber nutrição de algum lugar.</p><p>Comer ativa o trato digestivo, que converte o alimento em nutrientes.</p><p>Para se manterem digeríveis, os próprios nutrientes devem ter uma fonte de vida,</p><p>que neste momento é o corpo. Quando a pessoa come quantidades razoáveis para</p><p>suprir ás necessidades do organismo, o alimento encontra sua “vida” dentro do</p><p>corpo.</p><p>Porém, quando se come mais do que é necessário, o alimento não encontra uma</p><p>fonte de sustento, porque ele não tem utilidade para o corpo.</p><p>Uma vez que, apesar disso, ele continua a buscar nutrição para manter-se vivo, ele</p><p>retira seu sustento do próprio corpo e pode causar um grande número de doenças.</p><p>A avidez por comida revela a distância entre o indivíduo e a verdade [isto é, a</p><p>Divindade].</p><p>Por causa desse desejo imoderado de comida, Deus, por assim dizer, esconde Sua</p><p>face dele, como consta (Deuteronômio 3 1:17): “Esconderei o Meu rosto, e ele será</p><p>devorado...”</p><p>Ou seja, sua ação de “devorar” Me faz esconder o Meu rosto.</p><p>É por esta razão que se costuma jejuar quando se é acometido por problemas.</p><p>O jejum, que representa uma quebra do desejo de comida, reverte o processo e</p><p>produz a revelação da Divindade.</p><p>Sonhos Doces</p><p>Além de seus ensinamentos a respeito dos efeitos da comida e do ato de alimentar-</p><p>se sobre a mente consciente, o Rav fala também de seus efeitos sobre o</p><p>subconsciente.</p><p>A comida transformada em nutrientes desempenha um papel fundamental no</p><p>funcionamento do subconsciente, como nos sonhos, por exemplo.</p><p>Quanto mais clara for a mente de uma pessoa, devido à nutrição e hábitos</p><p>alimentares corretos, mais claro será seu subconsciente, e mais capaz ela será de</p><p>ter o que o Talmud chama de “sonho angelical”.</p><p>5</p><p>Essa idéia é ilustrada pelo fato de a palavra hebraica para “comida”, “maachal”</p><p>() ter as mesmas letras de malach () “anjo”.</p><p>Contudo, se a alimentação for inadequada, tanto a mente como o subconsciente</p><p>ficam sujeitos a distorções.</p><p>A pessoa terá sonhos “demoníacos”, que podem manifestar-se como emissões</p><p>noturnas, pesadelos e de outras formas semelhantes.</p><p>Assim, a alimentação inapropriada possibilita que o subconsciente incline a pessoa</p><p>a uma atitude materialista mesmo que seu desejo consciente seja encontrar Deus.</p><p>De fato, o Rav ensina em várias lições que padrões negativos de alimentação</p><p>resultam numa redução da consciência que, subsequentemente, impede que o</p><p>indivíduo cresça espiritualmente.</p><p>O Rav faz um paralelo com uma pessoa que está dormindo e sonhando.</p><p>No sonho, ela vive 70 anos.</p><p>Ao acordar, percebe que os 70 anos do sonho duraram apenas 15 minutos.</p><p>Analogamente, se a mente não for bem utilizada, toda a vida da pessoa pode</p><p>equivaler a apenas alguns minutos de valor verdadeiro - “tempo de qualidade”.</p><p>Por outro lado, se usar a mente em sua capacidade máxima, o indivíduo pode</p><p>realmente viver uma vida plena.</p><p>Uma alimentação adequada lhe permitirá realizar seu potencial e viver uma vida</p><p>plena - em vez de desperdiçar a vida “sonhando” .</p><p>Comer Como Mitsvá (“Mandamento ou Conexão”)</p><p>Começamos agora a perceber os efeitos debilitantes da glutonaria.</p><p>Ao invés de encher o estômago, a comida em excesso produz um vazio; a pessoa</p><p>pode sentir-se cheia, mas não satisfeita.</p><p>A gula cria “inimigos” e provoca doenças.</p><p>Sob o seu domínio, nunca se pode viver uma vida plena e vibrante.</p><p>Ela pode afetar a mente e traz desonra.</p><p>Também nos distancia da verdade, da espiritualidade, de Deus.</p><p>São inumeráveis os problemas - médicos, financeiros, espirituais e emocionais -</p><p>causados pela gula, a “avidez suprema”.</p><p>Do exposto acima, poder-se-ia concluir que é melhor tornar-se um asceta e</p><p>subsistir exclusivamente de pão e água.</p><p>Mas isso não é verdade.</p><p>Em princípio, o Rav era contrário ao excesso de jejuns, porque precisamos de força</p><p>para servir a Deus. É melhor dedicar as energias ao estudo da Torá e à oração e,</p><p>como nos diz o Rav, jejuar só quando exigido pela “halachá” (lei).</p><p>Além disso, o Rav Nachman enfatizava a importância e exaltava as virtudes da</p><p>comida no Shabat e nas festas. Nesses dias especiais, uma refeição simples não é</p><p>suficiente. Deve-se fazer todo o possível para preparar e desfrutar um banquete.</p><p>Está claro, portanto, que o ato de comer, em si, não é prejudicial; apenas os</p><p>motivos negativos que podem acompanhá-lo o são.</p><p>Além disso, alimentar-se por amor</p><p>o médico deve ter conhecimento pleno da anatomia humana.</p><p>Ele precisa conhecer todas as partes do corpo - os órgãos, artérias, veias, etc.</p><p>Deve saber como os órgãos se inter-relacionam e dependem uns dos outros.</p><p>Deve também ter consciência de como cada órgão pode ser afetado por todos os outros.</p><p>Então, e somente então, o médico será capaz de entender a natureza da doença que ele</p><p>procura curar.</p><p>Do mesmo modo, a Torá é um corpo de leis, e cada mitsvá representa um “órgão” desse</p><p>“corpo”. Para poder compreender o verdadeiro valor da Torá, a pessoa tem de conhecer sua</p><p>“anatomia” - suas leis e ideais - como cada mitsvá se inter-relaciona com as outras como um</p><p>elemento individual integrante de uma Tora inteira.</p><p>O Rav Natan continua seu discurso explicando os paralelos entre a “anatomia” da Torá e a</p><p>anatomia humana.</p><p>Este é um tema central da Cabala, que descreve a conexão entre determinadas partes do</p><p>corpo e certas mitsvót.</p><p>O Rav Natan escreve que quem entende os textos do Zohar e do Arizal notará que todos os</p><p>mistérios da Cabala falam disso.</p><p>Apesar de ser corpórea, a forma humana é análoga à Torá e reflete os níveis mais altos de</p><p>espiritualidade.</p><p>Cada parte do corpo corresponde a um conceito espiritual especifico, a uma dada mitsvá.</p><p>Cada órgão e cada vaso contém seu próprio poder espiritual.</p><p>Quando dominados, estes poderes podem elevar o homem acima da forma material que abriga</p><p>sua alma.</p><p>Moisés é o modelo desta elevação.</p><p>Ele purificou seu corpo físico a tal ponto que sua corporeidade foi transformada em</p><p>espiritualidade.</p><p>A Torá dá testemunho disso quando relata que Moisés subiu ao céu e lá permaneceu quarenta</p><p>dias e quarenta noites sem comer nem beber (Deuteronômio 9:9).</p><p>Outro versículo afirma 33:1 : “Esta é a bênção com que Moisés, o homem de Deus, abençoou</p><p>o povo”.</p><p>Moisés é chamado de “homem de Deus” porque conseguiu transformar seu corpo físico num</p><p>templo Divino para seu espírito.</p><p>Assim está escrito (Êxodo 34:30):</p><p>3</p><p>“Ao descer Moisés do Monte Sinai com as duas tábuas do Testemunho na mão... Moisés não</p><p>sabia que resplandecia a pele de seu rosto por [Deus] ter falado com ele. E Aarão e todos os</p><p>filhos de Israel viram a Moisés, e eis que resplandecia a pele de seu rosto, e temeram</p><p>aproximar-se dele”.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 2</p><p>No Jardim do Eden</p><p>Um dos primeiros passos que podemos dar para alcançar a verdadeira espiritualidade é nos</p><p>tornarmos mais conscientes do significado espiritual da anatomia humana.</p><p>Para fazê-lo, temos antes de reconhecer a grandeza da alma e aprender como ela se relaciona</p><p>com o corpo.</p><p>O Zohar afirma que a alma está em posição tão mais alta que a do corpo que este é chamado</p><p>de “sapato” em relação a ela.</p><p>Só a extremidade mais baixa da alma se “encaixa” no corpo.</p><p>Por meio de nosso desejo de aproximação de Deus, por meio de nossos pensamentos,</p><p>emoções, fala e ações, podemos trazer aqui para baixo iluminações cada vez mais fortes de</p><p>nossa própria alma.</p><p>Desta maneira, qualquer um tem a capacidade de fazer de seu corpo físico uma carruagem ou</p><p>um templo para as partes mais elevadas da alma, como fez Moisés.</p><p>O corpo humano não foi sempre como nós o conhecemos.</p><p>O corpo de Adão era de luz.</p><p>Ele irradiava Divindade e era tão esplêndido que os anjos se enganaram e consideraram</p><p>adorá-lo.</p><p>Mesmo depois de pecar, Adão se manteve um ser espiritual envolto num corpo físico que</p><p>emitia espiritualidade.</p><p>No entanto, em relação a seu nível antes do pecado, e certamente em relação ao nível que ele</p><p>deveria ter atingido, suas ações causaram um obscurecimento da Luz de Deus.</p><p>Seu corpo de luz (“cotnot or”, onde “or” se escreve com alef, vav, reish ), que revelava a</p><p>alma, solidificou-se e transformou-se num corpo de pele e epiderme (“cotnot or”, onde “or” se</p><p>escreve com aiyn, vav, reish ) que ocultou a alma.</p><p>Luz (“or” com alef) e pele (“or” com aiyn) correspondem a duas árvores especiais do jardim do</p><p>Éden.</p><p>Está escrito na Torá (Gênesis 2:8-9):</p><p>“Deus plantou um jardim no Éden, no oriente, e pôs ali o homem que formara. Deus fez brotar</p><p>da terra toda árvore agradável à vista e boa para comer e a árvore da vida estava no meio do</p><p>jardim, assim como a árvore do conhecimento do bem e do mal.”</p><p>Pouco depois deste trecho, lemos o aviso de Deus :</p><p>“Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, pois no dia em que dela</p><p>comeres morrerás!”</p><p>A Torá afirma explicitamente que foi ordenado a Adão que não comesse da árvore do</p><p>conhecimento. De acordo com a Cabalá, a proibição incluia a árvore da vida, mas só até o pôr</p><p>do sol, a chegada do primeiro Shabat. Neste momento, comer da árvore da vida se tornaria</p><p>uma mitsvá. Depois de comer dela, Adão teria permissão para comer também da árvore do</p><p>conhecimento, porque então ele seria capaz de elevá-la e fazê-la voltar a sua fonte na árvore</p><p>da vida (pois o nível mais alto sempre inclui o mais baixo).</p><p>Portanto, foi só para dar a Adão a oportunidade de alcançar a espiritualidade mais elevada que</p><p>Deus o colocou no jardim com essas duas árvores.</p><p>Ambas foram feitas por Deus, porém, como com tudo que há na criação, Ele as formou de</p><p>modo que representassem energia potencialmente opostas ou complementares - dependendo</p><p>do uso que o homem fizesse delas.</p><p>A árvore da vida correspondia à alma, à espiritualidade.</p><p>A árvore do conhecimento do bem e do mal correspondia ao corpo, mais especificamente ao</p><p>potencial do corpo de revelar a alma e radiar sua santidade ou de ocultar e sufocar a alma.</p><p>A missão de Adão era transformar a árvore do conhecimento em árvore da vida, iluminar o</p><p>corpo com o or (luz) da alma.</p><p>Ao invés disso, ele fez a alma ser obscurecida pelo or (pele) do corpo.</p><p>Adão foi criado com a capacidade de discernir o bem do mal.</p><p>Por que então, foi tão tentado pelo mal?</p><p>Ele ansiava pela sua fonte espiritual.</p><p>Queria conhecer a Deus e perceber Sua presença em tudo e através de tudo que há no mundo,</p><p>até mesmo através do mal.</p><p>2</p><p>Mas o homem foi impetuoso.</p><p>Com uma presunção sutil, ele quis ser como Deus, criar mundos.</p><p>Logo, foi induzido a acreditar que era a vontade Divina que ele cometesse a transgressão.</p><p>Então ele apreciaria a Deus!</p><p>Ou assim ele pensava...</p><p>Que bom seria se ele tivesse suportado a dor da tentação!</p><p>Se tivesse percebido essa experiência como uma oportunidade de ligar-se a Deus, de ansiar e</p><p>clamar para ser salvo da tentação...</p><p>Se tivesse enxergado Deus oculto na angústia dessa provação, visto a árvore da vida</p><p>escondida no interior da árvore do conhecimento...</p><p>Mas não, a consciência de Deus, que estivera à espera de efetivação, foi nesse momento</p><p>fortemente comprimida.</p><p>Adão perdeu sua elevada capacidade de profecia.</p><p>Apartado dos níveis mais altos de sua alma, ele teve a sensação de “morte” - “pois no dia em</p><p>que dela comeres morrerás”.</p><p>Desde então, a missão do homem é buscar o espiritual e retornar a sua posição inicial.</p><p>A essência do homem é sua alma.</p><p>Se Adão não tivesse pecado, o homem poderia ter uma vida inteiramente espiritual - uma vida</p><p>plena de felicidade, contentamento e pureza.</p><p>Ele deveria ter vivido para sempre - a morte só foi decretada após o pecado.</p><p>Mas Adão comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal e assim manchou sua alma</p><p>pura. Por ter sucumbido a seus desejos físicos, ele caiu de nível, foi banido do Jardim do Éden</p><p>e impedido de voltar pela espada que se volvia (Gênesis 3:24).</p><p>Nós, seus descendentes, temos de pagar pelos seus atos, e o preço é o conflito constante</p><p>entre as necessidades e desejos do corpo e as aspirações da alma.</p><p>Esse conflito entre corpo e alma é belamente ilustrado por uma das histórias clássicas do Rebe</p><p>Nachman, “O Filho do Rei e o Filho da Criada”, na qual se conta que uma rainha e sua criada</p><p>deram à luz no mesmo instante.</p><p>A criada trocou as crianças, de modo que seu filho cresceu como um príncipe,</p><p>a uma mitsvá ou para ter força para servir a</p><p>Deus só pode levar a grandes alturas espirituais.</p><p>O Rav Ludel, um dos discípulos mais próximos do Rav Nachman, casou-se com uma</p><p>filha da família pobre. mas, devota do Rab Trastinetz. Diariamente, ele recebia uma</p><p>porção de “borscht” (sopa de beterraba) como refeição.</p><p>Após alguns dias, o Rav Ludel mostrou descontentamento com a comida parca e</p><p>sem gosto.</p><p>Seu sogro, o Rav Leib, percebeu e ofereceu-lhe um bocadinho de sua porção.</p><p>O Rav provou uma colherada e admirou-se com o incrível sabor, como se fosse</p><p>algum tipo de alimento celestial.</p><p>O Rav disse: “Veja, meu filho! Não é a comida; é quem a come!” (tradição oral).</p><p>6</p><p>Comer com Consciência</p><p>O Rav Nachman ensinou: Comer com a intenção de ganhar espiritualidade é a única</p><p>maneira de atingir certos graus de temor a Deus. Por meio da alimentação</p><p>apropriada, pode-se ascender a um nível além do intelecto, além de toda</p><p>compreensão [da Divindade] que já se tenha alcançado.</p><p>Para entender melhor esse ensinamento, imagine um rei que tem o poder de</p><p>destinar toda a riqueza da nação ao bem-estar de seu reino.</p><p>Todo ser humano é considerado um “rei”, e seu corpo, um “reino”. Quando come,</p><p>ele automaticamente reparte a “riqueza” que consome para assegurar o bem-estar</p><p>de seu “reino”.</p><p>Em termos cabalísticos, a riqueza de Deus desce através das sefirot superiores para</p><p>Malchut (Realeza / Reino, a sefirá mais baixa).</p><p>De Malchut ela é distribuída por todos os níveis inferiores da criação.</p><p>Portanto, Malchut deve receber das sefirot que estão “acima” dela, e estas, por sua</p><p>vez, receberão de níveis ainda mais altos.</p><p>Fornecer alimento para o próprio corpo com a consciência de que essa riqueza</p><p>provém de uma Fonte Superior possibilita que o indivíduo atinja um grau mais</p><p>elevado de percepção.</p><p>Com a percepção mais clara, pode- se alcançar um reconhecimento mais profundo</p><p>da existência de Deus, que resultará num grau extraordinário de reverência a Ele.</p><p>De fato, por meio de uma alimentação adequada pode-se ter o privilégio de</p><p>ascender a um nível de humildade absoluta e realmente sentir a presença de Deus.</p><p>O Rav Natan assinala que a dificuldade desse empreendimento é sugerida pela</p><p>expressão “partir o pão”.</p><p>O pão é o “sustento da vida” e como tal inclui todos os outros alimentos.</p><p>Isso é evidenciado pelo fato de a bênção recitada sobre o pão isentar a pessoa de</p><p>pronunciar as bênçãos exigidas pelos outros alimentos que constituem a parte</p><p>principal da refeição. A palavra hebraica para “pão”, “léchem” ()l, está</p><p>etimologicamente relacionada com o vocábulo que designa “guerrear”, “lochem”</p><p>().</p><p>Comer pão ou, por extensão, qualquer outro alimento é mesmo uma batalha.</p><p>Para alcançar santidade por meio da comida, a pessoa tem de lutar para “partir”</p><p>suas atitudes em relação ao “pão”. Ou seja, é necessário ter em mente que se</p><p>come para obter benefícios espirituais, e não somente satisfação física.</p><p>No Shabat e nas festas, a batalha é menos intensa, e é mais fácil atingir esse</p><p>objetivo. Nos dias de semana, as pessoas se ocupam de seu trabalho e até são</p><p>consumidas por ele. Essa situação tende a reduzir seu alcance religioso e espiritual.</p><p>No Shabat, porém, o indivíduo descansa, desfruta o tempo e tem paz de espírito</p><p>para analisar sua vida e avaliar seus atos.</p><p>Com tranquilidade, é possível comer em paz e com a atitude certa.</p><p>O Talmud ensina que tudo que Shamai comia era em honra do Shabat.</p><p>Quando via um pedaço de carne de ótima qualidade no domingo ou na segunda-</p><p>feira, ele o comprava e guardava para o Shabat.</p><p>Se depois encontrasse uma peça mais apetitosa, ele comia a primeira e reservava a</p><p>melhor para o Shabat.</p><p>Shamai levava a espiritualidade do Shabat para suas refeições nos dias comuns,</p><p>mantendo sua mente concentrada no Shabat durante a semana inteira.</p><p>Todos podem fazer o mesmo.</p><p>Essa prática de trazer a santidade e espiritualidade do Shabat para os dias de</p><p>trabalho - por exemplo, transformando em hábito a avaliação do próprio progresso</p><p>espiritual - possibilita que a pessoa coma durante a semana não por gula, mas por</p><p>um desejo genuíno de crescimento espiritual.</p><p>7</p><p>Alimento Espiritual</p><p>Uma das histórias mais apreciadas do Rav Nachman é “O Inteligente e o Simplório”.</p><p>No início, apesar de seu grande esforço para aprender um ofício, o simplório não</p><p>passa de um sapateiro medíocre, que mal consegue ganhar seu sustento.</p><p>Mesmo assim, ele é extremamente feliz.</p><p>Graças a sua simplicidade e alegria, ele se torna o governante de seu distrito e por</p><p>fim galga à posição de primeiro-ministro do país.</p><p>O simplório aprendera o ofício de sapateiro.</p><p>Como ele era simples, teve de estudar muito para dominá-lo, e mesmo assim não</p><p>se tornou muito hábil na profissão.</p><p>Ele se casou e ganhava o sustento com seu trabalho.</p><p>Porém, como ele era simples e não tinha destreza no serviço, seus ganhos eram</p><p>escassos.</p><p>Devido a sua aptidão limitada, ele tinha de trabalhar incessantemente e quase não</p><p>tinha tempo para comer. Dava uma primeira mordida no pão enquanto fazia um</p><p>buraco com a sovela. Em seguida, passava o grosso fio de costura usado pelos</p><p>sapateiros de um furo a outro, e comia mais um pedaço de pão.</p><p>No entanto, ele estava sempre feliz.</p><p>Estava cheio de alegria em todos os momentos, pois tinha todo tipo de comida,</p><p>bebida e roupa.</p><p>Ele dizia à mulher: “Minha esposa, dê-me algo para comer”.</p><p>Ela lhe oferecia um pedaço de pão, e ele o comia.</p><p>Depois ele dizia: „Traga-me um pouco de sopa com aveia”, e ela lhe cortava mais</p><p>uma fatia de pão.</p><p>Ele comia e exclamava: “Que sopa boa e deliciosa.”</p><p>Então ele pedia carne e outros alimentos finos e, a cada pedido seu, ela lhe dava</p><p>mais um pedaço de pão.</p><p>Ele apreciava muito a comida e a elogiava veementemente, dizendo que ela fora</p><p>muito bem preparada e estava deliciosa.</p><p>Era como se realmente estivesse comendo os alimentos que pedia.</p><p>Quando contava essa história, o Rav comentou que o simplório realmente sentia no</p><p>pão o sabor de qualquer tipo de alimento que ele tivesse pedido (como ocorria com</p><p>o maná no deserto, que continha todos os sabores). Isso acontecia por causa de</p><p>sua simplicidade e intensa alegria.</p><p>A história passa a descrever então como ele degustava na água bebidas de toda</p><p>espécie, e como se sentia bem vestido para qualquer ocasião sempre que trajava</p><p>seu casaco de pele de carneiro.</p><p>Devido a sua despretensão, ele ficava feliz e satisfeito com tudo que comia, bebia e</p><p>vestia.</p><p>Embora fosse inicialmente alvo de zombaria para todos que o conheciam, ele por</p><p>fim se tornou o primeiro-ministro de seu país.</p><p>A batalha da comida “dentro ou fora do corpo” - seja por prazer físico, seja para</p><p>manter corpo e alma unidos, ou ainda para usá-la como um trampolim para a</p><p>espiritualidade - é longa e árdua.</p><p>O simplório domina sua cobiça com a compreensão de que há nutrição espiritual</p><p>contida em cada bocado que ele come ou bebe.</p><p>Assim, obtém energia espiritual, que o impulsiona para alturas cada vez maiores, e</p><p>por fim ele se torna líder dos homens.</p><p>Mencionamos num texto anterior o “rio que sai do Éden para regar o jardim”, que</p><p>corresponde ao elemento matriz único e aos quatro elementos básicos que</p><p>compõem o homem.</p><p>O Rav Natan escreve que, se injetar espiritualidade no ato de alimentar-se, a</p><p>pessoa poderá experimentar os prazeres maravilhosos do Éden através da comida:</p><p>8</p><p>Existe nutrição para o corpo [comida] e nutrição para a alma [por exemplo, o</p><p>sentido do olfato, a oração e a reverência a Deus].</p><p>A ingestão de comida para o corpo enfraquece a alma.</p><p>Como, então, nos é permitido comer?</p><p>Podemos nutrir a alma concentrando-nos no espiritual.</p><p>Quanto mais espiritual for a nossa motivação quando nos alimentamos, mais</p><p>espiritualmente nutritiva será a comida.</p><p>A ocasião mais favorável para comer visando à espiritualidade é o Shabat, quando</p><p>temos acesso</p><p>ao “oneg”, o prazer especial desse dia. “Oneg” () é um acrônimo</p><p>de “Éden” ((), Paraíso), “nahar” ((), Rio) e “gan” (), Jardim).</p><p>Assim, a comida que saboreamos no Shabat pode levar-nos a esses níveis</p><p>supremos representados pelo oneg.</p><p>A gula realmente degrada o indivíduo.</p><p>Porém, há esperança até mesmo para os que já se habituaram a esse padrão.</p><p>O Rav ensinou que quem come demais deve vomitar.</p><p>Geralmente se vomita mais do que se engoliu.</p><p>Em outras palavras, pode-se até expelir o que fora ingerido antes.</p><p>Da mesma maneira, quando o Demônio tomar mais do que é capaz de ingerir, ele</p><p>será forçado a devolver cada partícula de bem, cada alma preciosa que já engoliu e</p><p>mais.</p><p>Ele terá até de “vomitar” sua própria força vital.</p><p>Nesse ponto, a pessoa pode perceber que as coisas foram longe demais.</p><p>A gula à qual se entregou pode agora ser a motivação para uma mudança de rumo</p><p>em sua vida.</p><p>Ao perceber que “foi longe demais”, ela aprende a rejeitar seus antigos hábitos e</p><p>retorna a uma vida orientada para a espiritualidade.</p><p>Quem come demais deve fazer dieta para recuperar o controle de seus hábitos</p><p>alimentares. De forma semelhante, quem passou a ser dominado pela má</p><p>inclinação pode melhorar sua saúde física e emocional.</p><p>Quando simplesmente se decide que alimentos consumir e em que quantidade, e se</p><p>come de acordo com os ditames da Torá, ou seja, abstendo-se de ingerir certos</p><p>alimentos e parando para fazer uma bênção sobre os alimentos permitidos, é</p><p>possível reparar qualquer falha causada pela alimentação.</p><p>Se compreendermos a poderosa influência que a comida exerce sobre nós,</p><p>poderemos utilizar o ato de comer para elevar-nos às alturas espirituais mais</p><p>sublimes.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 11</p><p>O Fígado, a Vesícula Biliar e o Baço</p><p>Agora analisaremos os órgãos que filtram as impurezas do corpo: o Fígado, a</p><p>Vesícula Biliar e o Baço.</p><p>O fígado e a vesícula biliar são partes integrantes do sistema digestório e o baço</p><p>desempenha um papel crucial no sistema circulatório e no sistema linfático.</p><p>Antes de explicar seus aspectos espirituais, é fundamental entender suas funções</p><p>dentro do corpo.</p><p>Introdução</p><p>O fígado está localizado predominantemente no lado direito da cavidade abdominal.</p><p>Ele é o maior órgão do corpo e tem duas funções importantes: a produção e</p><p>regulação de substâncias químicas para suprir às necessidades do organismo, e a</p><p>neutralização de substâncias tóxicas e produtos residuais.</p><p>Depois de ser parcialmente digerida, a comida entra no trato intestinal. De lá, os</p><p>nutrientes são transportados através das paredes do intestino para a circulação</p><p>sanguínea.</p><p>O sangue, após absorver os nutrientes, passa pelo fígado e seu sistema de</p><p>filtragem antes de retornar ao coração e aos pulmões.</p><p>É interessante notar que o fígado purifica o sangue antes que este seja enviado ao</p><p>coração.</p><p>Neste sentido, o fígado age como um servo do coração.</p><p>Para viabilizar a produção de novas substâncias químicas, o fígado “purifica” os</p><p>nutrientes brutos e os torna compatíveis com o corpo. Ele produz proteínas e</p><p>processa carboidratos (açúcares e amidos), convertendo-os em glicose que fornece</p><p>energia ao corpo, e armazena parte do açúcar para uso posterior.</p><p>O fígado também processa gorduras e produtos residuais do sangue.</p><p>Assim, todos os nutrientes absorvidos pelo fígado são refinados e depois devolvidos</p><p>ao corpo, seja para o sangue, seja para os tecidos, ou ainda na forma de energia.</p><p>As enzimas do fígado também limpam o sangue de bactérias e neutralizam</p><p>substâncias tóxicas que tenham entrado no organismo.</p><p>Como o fígado interage principalmente com o sistema circulatório, ele é associado</p><p>ao fluido de “cor vermelha”.</p><p>A vesícula biliar é uma pequena bolsa em forma de pêra, adjacente ao fígado, que</p><p>serve como local de armazenagem da bile, um líquido grosso, amargo, “amarelo-</p><p>esverdeado” produzido pelo fígado.</p><p>A bile, necessária para a digestão de gorduras, é descarregada no intestino delgado</p><p>quando há sinal da presença de alimento.</p><p>Ela neutraliza a acidez e quebra as gorduras. Depois que a vesícula biliar cumpre</p><p>sua função, a maior parte dos minerais da bile volta para o fígado através da</p><p>circulação sanguínea e é reaproveitada pelo corpo.</p><p>A seguinte afirmação de nossos Sábios faz menção a esse processo:</p><p>“O fígado se enfurece; a vesícula biliar expele líquidos para aplacar essa fúria.”</p><p>Ou seja, o fígado se enfurece quando comemos, porque é forçado a trabalhar</p><p>arduamente para purificar o organismo.</p><p>A vesícula biliar então expele líquidos para aplacar a fúria - pois, quando a bile</p><p>retorna, o trabalho do fígado praticamente terminou.</p><p>A vesícula biliar também transporta células deterioradas do sangue ao sistema</p><p>linfático, para que sejam removidas do corpo.</p><p>O baço, segundo algumas opiniões médicas, é parte do sistema linfático.</p><p>Outros, porém, o consideram um órgão do sistema circulatório e do sistema</p><p>imunológico, porque ele oferece proteção contra corpos estranhos e inúteis no</p><p>organismo e contra infecções.</p><p>2</p><p>Ele se localiza à esquerda do estômago, entre o estômago e o diafragma.</p><p>Os vasos linfáticos absorvem o líquido residual (denominado “linfa”) dos tecidos.</p><p>Os gânglios linfáticos filtram e destroem bactérias e outros corpos estranhos.</p><p>A cor dos linfócitos, que produzem anticorpos para combater substâncias nocivas, é</p><p>“branca”. Outros órgãos que também filtram as bactérias do corpo, como o baço e</p><p>as amídalas, contêm tecido linfóide semelhante ao encontrado no sistema linfático.</p><p>A principal função do baço é filtrar o sangue. Ele remove glóbulos vermelhos e</p><p>glóbulos brancos velhos, deteriorados e anormais, assim como bactérias e</p><p>partículas irregulares. Os linfócitos contidos no baço também produzem anticorpos</p><p>para enfraquecer ou matar bactérias, vírus e outras substâncias que causam</p><p>infecção. O Talmud ensina que o sangue contaminado tem a cor “preta”; por esta</p><p>razão, diz- se que o baço está ligado aos fluidos negros do corpo.</p><p>Esses três órgãos têm participação ativa no processo de purificação do corpo e</p><p>realizam um excelente trabalho. No entanto, são “atacados” continuamente por</p><p>impurezas que precisam ser filtradas. Neste sentido, eles são a principal conexão</p><p>do homem com sua natureza física, porque lidam exclusivamente com a matéria</p><p>que ele ingere (a comida) e sua purificação.</p><p>A medicina oriental atribui características particulares a cada órgão, de acordo com</p><p>a influência que ele exerce sobre o corpo. Por exemplo, é próprio do fígado, “caved”</p><p>em hebraico, invadir o domínio dos outros órgãos (devido a suas múltiplas</p><p>habilidades de processamento de substâncias, os efeitos do fígado são sentidos no</p><p>corpo inteiro).</p><p>Se lhe for permitido fazê-lo, ele causará problemas graves.</p><p>Por outro lado, se o fígado servir outros órgãos, tais como o coração e os rins, tudo</p><p>irá bem.</p><p>Essa idéia está expressa no versículo “Vaiachbed pará et Iibó - O faraó endureceu</p><p>seu coração” (Êxodo 8:28).</p><p>“Endureceu” em hebraico é “caved” (semelhante a fígado).</p><p>Logo, isso equivaleria a dizer que “o faraó „figadou‟ seu coração”, permitindo que</p><p>seu fígado, seu materialismo crasso, o controlasse.</p><p>Sua auto imposta subserviência à “personalidade de seu fígado” provocou sua</p><p>ruína. O certo teria sido o coração e os rins prevalecerem.</p><p>Se tivesse ouvido seu coração e o bom conselho (os “rins”), ele não teria causado</p><p>sua própria destruição e a de seu país.</p><p>Examinemos agora o impacto desses órgãos sobre o homem no que se refere a seu</p><p>caráter básico e sua estabilidade emocional.</p><p>Escravidão no Egito</p><p>O final do Gênesis e o início do Êxodo descrevem a descida da família de Jacob - os</p><p>filhos de Israel - à terra do Egito. No fim, conforme Deus predissera a Abrahão, eles</p><p>se tornam escravos “do faraó e de seus ministros”.</p><p>Lemos na Hagadá de Pêssach:</p><p>Bendito seja Deus que</p><p>cumpre Sua promessa a Israel, bendito seja Ele! Pois Deus</p><p>calculou o fim [do exílio no Egito], de modo a cumprir Sua promessa a Abrahão,</p><p>nosso pai, na berit bem habetarim [aliança entre as metades]. Assim está escrito</p><p>(Gênesis 1 5:1 3-1 4): “Sabe com certeza que teus descendentes serão peregrinos</p><p>em terra que não lhes pertence, e os farão servir e os afligirão por 400 anos. Mas</p><p>então Eu julgarei essa nação à qual hão de servir; e depois eles sairão com grande</p><p>riqueza.”</p><p>A primeira parte dessa profecia realizou-se mais tarde, quando (Êxodo 1 :14) “eles</p><p>[os egípcios] amarguraram as suas vidas [dos hebreus] com serviço penoso, com</p><p>argamassa e tijolos e com todo tipo de trabalho do campo.</p><p>3</p><p>Todo o trabalho que lhes impunham era árduo”.</p><p>Quando fala dos exílios, o Zôhar afirma que o homem se enfraquece, tanto no</p><p>aspecto físico como no espiritual, devido às aflições que padece, e em seguida</p><p>aplica o versículo citado acima à labuta humana:</p><p>Amarguraram as suas vidas - isso faz alusão à vesícula biliar, que armazena fluidos</p><p>amargos [amarelo-esverdeados] e ameaça o corpo de febre e doença. [Em</p><p>hebraico, a vesícula biliar é chamada “mará”, de mar, que significa “amargo”.].</p><p>Serviço penoso com “chômer” [argamassa] e “levenim” [tijolos] – “levenim”, de</p><p>“levaná‟ [cor branca), correspondem aos fluidos brancos [línfócitos] que foram</p><p>afligidos pelo excesso de comida.</p><p>Do campo - refere-se ao fígado [fluidos vermelhos], como Esaú, também conhecido</p><p>como “Edom” [Vermelho], que era um homem do campo (Gênesis 25:27).</p><p>Todo o trabalho... árduo - faz alusão ao baço [fluidos negros].</p><p>O Zôhar deixa claro que a pessoa pode tornar-se suscetível a doenças e sofrimento</p><p>em conseqüência do “trabalho vigoroso” do sistema digestório.</p><p>O Rambam (Maimônides), célebre por sua competência como médico, ensina</p><p>também que “a maioria das doenças se deve ao excesso de comida”.</p><p>Comer demais estimula uma atividade intensa dos fluidos corporais que pode</p><p>sobrecarregar os órgãos e causar doenças graves.</p><p>Estudaremos agora as características espirituais desses órgãos e veremos que</p><p>esses princípios se refletem com exatidão no plano espiritual.</p><p>O Fígado</p><p>O Rav Nachman ensinou que o fígado é chamado de “caved”, que também se</p><p>traduz como „pesado‟ ou „carregado‟, porque ele purifica o sangue que está</p><p>„carregado‟ de substâncias desnecessárias.</p><p>A função do fígado, assim como a dos outros sistemas de filtragem do corpo, é</p><p>realmente pesada.</p><p>Se receber nutrição adequada, o fígado funciona como o principal filtro de</p><p>purificação do organismo.</p><p>Se não, ele faz o processamento, mas devolve as impurezas ao sangue.</p><p>Esses produtos não-essenciais começam então a acumular-se e no fim passam a</p><p>agir contra o bem-estar do corpo.</p><p>Essa dinâmica tem repercussões no plano espiritual, pois a comida que o corpo</p><p>digere pode nutrir e purificar o organismo ou ser prejudicial para o funcionamento</p><p>do corpo, dependendo da maneira pela qual ela é ingerida e de sua qualidade.</p><p>Assim, ela pode dar força ao indivíduo e auxiliá-lo em sua busca espiritual ou</p><p>debilitá-lo e inibir sua capacidade de elevar-se espiritualmente.</p><p>Em nossa análise do fígado, tenha em mente que a Néfesh, a parte da alma que faz</p><p>fronteira com o corpo, reside no sangue e está, portanto, intrinsecamente</p><p>conectada ao fígado, órgão cuja função principal envolve o sangue.</p><p>A palavra “néfesh” é associada com o desejo, como no versículo:</p><p>“Im iesh et nafshechem - Se é o vosso desejo” (Cênesis 2 3:8).</p><p>Assim, a circulação sanguínea transporta nossos desejos e anseios básicos.</p><p>A medida em que “filtramos nossa circulação sanguínea” - isto é, como</p><p>desenvolvemos nossa espiritualidade e dominamos nossos instintos mais abjetos -</p><p>determinará o curso de nossa subida pela escada espiritual.</p><p>O Talmud ensina que o “O fígado é cheio de sangue”. Como vimos, o fígado é um</p><p>ponto de parada fundamental para o sangue, que é o elemento vital que flui pelo</p><p>corpo humano.</p><p>Assim, na qualidade de órgão que purifica o nosso elemento vital, o fígado tem uma</p><p>importância inestimável para o organismo.</p><p>4</p><p>Situado na “encruzilhada” do sistema circulatório, o fígado pode funcionar como um</p><p>purificador eficaz do sangue poluído que corre pelo nosso corpo, ou poluí-lo ainda</p><p>mais.</p><p>Como observamos, a circulação sanguínea é um componente central de nossa</p><p>constituição espiritual. Se alguém deseja (néfesh) uma vida materialista, seu</p><p>sangue refletirá tal escolha. O fígado absorverá os “nutrientes da cobiça” e lançará</p><p>a gula de volta ao organismo. Por outro lado, se a pessoa deseja espiritualidade,</p><p>seu fígado processará os “nutrientes espirituais” e descarregará sangue puro no</p><p>organismo.</p><p>O sangue, que é vermelho, simboliza calor, ira e matança, e corresponde a Esaú,</p><p>que era “vermelho” (Gênesis 25:25).</p><p>Esaú, portanto, representa tanto as forças do mal como o fígado, um dos pontos</p><p>principais da atividade do sangue no corpo.</p><p>A ira e as acusações são a sua força, de modo que o indivíduo que se torna vítima</p><p>destas características coloca-se sob a influência e o controle de Esaú.</p><p>Mas o sangue e o vermelho não devem ser vistos apenas como entidades inimigas</p><p>da existência espiritual.</p><p>Na Cabalá, o vermelho representa as “Guevurot”, julgamentos ou forças, e é</p><p>associado ao atributo de temor. Quando a pessoa deseja Divindade, seu sangue</p><p>(isto é, força) é canalizado para um grau correspondente de temor a Deus, para</p><p>servi-Lo adequadamente.</p><p>Ela só se sujeita ao domínio de Deus e está livre da influência de Esaú.</p><p>Toda alma se ramifica ou tem raiz numa das 70 almas dos filhos de Israel que</p><p>desceram ao Egito (Génesis 46:27).</p><p>Estas 70 almas estão enraizadas nas 70 facetas da Torá.</p><p>Quando a pessoa cumpre a Torá, ela atrai espiritualidade - Deus.</p><p>Porém, quando se afasta da Torá, é como se ela se tivesse envolvido em idolatria.</p><p>Ela atrai as forças do outro lado - que se manifestam através das 70 nações</p><p>(conforme o Zohar).</p><p>Essas “forças” são então corporificadas nos 70 aspectos do caráter da pessoa.</p><p>Os filhos de Israel têm raízes na Torá, que possui ”70 facetas” - pensamentos e</p><p>preceitos que orientam o indivíduo no caminho espiritual e transformam suas</p><p>características negativas. Estas características negativas são denominadas “os 70</p><p>aspectos do caráter da pessoa” e referem-se aos atributos que fazem parte da</p><p>conformação das 70 nações. (O termo “70 nações” vem do número de nações</p><p>relacionadas em Gênesis 10.).</p><p>Quem se distancia da luz espiritual da Torá permite que as más características das</p><p>nações se enraízem dentro dele e se manifestem em comportamento perverso ou</p><p>imoral.</p><p>Além disso, assim como as 70 almas de Israel estão enraizadas em Jacob, as 70</p><p>nações têm suas raízes em Esaú e Ismael.</p><p>O fígado, como órgão que representa o materialismo crasso, possui 70 vasos</p><p>sanguíneos principais, que correspondem às influências negativas das “70 nações”.</p><p>O fígado em si corresponde a Esaú, enquanto seus lóbulos estão ligados a Ismael</p><p>(conforme o Zôhar).</p><p>Assim, a pessoa pode escolher a Torá e conectar-se à fonte de Jacob, ou buscar o</p><p>materialismo e conectar-se às fontes maléficas de Esaú e Ismael.</p><p>Ira e Orgulho: O Elemento Fogo</p><p>Em nossas Sagradas Escrituras, seria impossível encontrar um órgão tão</p><p>menosprezado quanto o fígado.</p><p>O Zôhar o compara a “Esaú, o Vermelho” (Gênesis 2 5:30).</p><p>Enquanto não se purificar e retornar a Deus, Esaú personifica o poder do mal.</p><p>O fígado também é associado à idolatria, que se assemelha à presunção e à</p><p>arrogância e corresponde ao fogo do Guehinom (Zohar 21) - Ira e Furor.</p><p>5</p><p>Dos quatro elementos, o fogo, que é quente e seco, é o de constituição física mais</p><p>leve [as propriedades do calor o fazem subir].</p><p>Na personalidade, o elemento fogo, portanto, é a fonte do orgulho, de quem se</p><p>considera “acima” dos outros. Um subproduto do fogo do orgulho é a ira.</p><p>Por causa da arrogância, a pessoa</p><p>enfurece-se rapidamente quando seus desejos</p><p>não são satisfeitos da maneira esperada.</p><p>O sujeito humilde é mais capaz de exercer o autocontrole.</p><p>Assim, a arrogância e a ira, juntas, são as duas piores características do homem.</p><p>Elas também conduzem à irritabilidade e ao desejo de poder e honraria.</p><p>Desse modo, levam a pessoa a odiar aqueles que estão em posição mais elevada</p><p>do que ela.</p><p>A ira, o orgulho, a irritabilidade e o ódio dispensam comentários.</p><p>Todos reconhecem que essas características são desprezíveis.</p><p>No entanto, elas predominam de forma desmesurada em toda a sociedade.</p><p>É conveniente, portanto, citar aqui alguns dos ensinamentos do Rav Nachman</p><p>referentes à gravidade desses atributos e à maneira de controlar e influenciar</p><p>positivamente o fígado e a vesícula biliar a fim de superar seus efeitos negativos.</p><p>Orgulho e Humildade</p><p>O orgulho causa pobreza.</p><p>A comida e a bebida produzem arrogância.</p><p>A arrogância equivale à idolatria. Por meio da ligação estreita com um “tsadic”,</p><p>pode-se suplantar a arrogância.</p><p>Muitos posam de humildes, porque percebem que a arrogância é uma característica</p><p>desprezível. Assim, fingem-se modestos e relutantes em aceitar honrarias, embora</p><p>na realidade anseiem pelo respeito dos outros e persigam louvores.</p><p>Essa falsa humildade, que na verdade é arrogância, constitui idolatria.</p><p>A busca de honrarias é o motivo pelo qual o exílio não terminou.</p><p>A arrogância e a imoralidade sexual estão ligadas.</p><p>A arrogância leva à homossexualidade e à ira.</p><p>A inteligência, o poder e as posses materiais são os três principais fatores pelos</p><p>quais o indivíduo se torna arrogante.</p><p>Um homem arrogante é uma pessoa deformada.</p><p>A arrogância causa problemas.</p><p>Quando as coisas parecem transcorrer de forma contrária à vontade da pessoa, isso</p><p>é um sinal de arrogância.</p><p>A Torá (isto é, a espiritualidade) só pode encontrar lugar para si dentro de uma</p><p>pessoa humilde.</p><p>A fé gera humildade.</p><p>A humildade leva ao arrependimento.</p><p>A vivência do Shabat e a celebração das festas com alegria cultivam a humildade.</p><p>Ser verdadeiramente humilde não significa ser desleixado ou agir como se fosse</p><p>uma pessoa sem valor.</p><p>O indivíduo deve ter consciência de todo o seu valor e, ainda assim, agir com</p><p>humildade.</p><p>A humildade elimina a discórdia e o sofrimento e dá vitalidade à pessoa.</p><p>O deleite indescritível da vida eterna no mundo vindouro só pode ser sentido na</p><p>medida em que o indivíduo alcança a humildade neste mundo.</p><p>Ira e Irritablidade</p><p>A ira está enraizada no fígado, que é cheio de sangue e corresponde a Esaú, que</p><p>nasceu com a tez vermelha. Como Esaú representa a ira, seu poder se estende</p><p>sobre todos aqueles que se permitem encolerizar-se.</p><p>Quando cede à ira, a pessoa provoca o grande acusador, Esaú (isto é,</p><p>o Demônio).</p><p>As “acusações” de Esaú são os obstáculos, impedimentos e inimigos que</p><p>enfrentamos na vida. Eles literalmente se apoderam do homem furioso.</p><p>6</p><p>Sua ira afugenta a sabedoria, e a imagem de Deus desaparece de seu rosto.</p><p>A ira faz a pessoa dilacerar sua alma!</p><p>A ira faz a pessoa ter filhos tolos e encurta a vida.</p><p>A ira traz desgraça; a pessoa irada humilha a si mesma.</p><p>A ira [em hebraico, “chemá”], faz a pessoa perder o seu dinheiro.</p><p>A riqueza é descrita como um “muro protetor”,” chomá” em hebraico.</p><p>Quando se enfurece, o indivíduo transforma a “chomá” em “chemá”, e assim perde</p><p>sua riqueza.</p><p>A ira leva à depressão.</p><p>A ira faz a pessoa perder a sabedoria e a prudência.</p><p>A paciência e a contenção da ira trazem riqueza para a pessoa.</p><p>Quebre a força da ira com amor, controlando-se e agindo com bondade.</p><p>Então você poderá compreender os verdadeiros objetivos aos quais deveria aspirar.</p><p>A ira e a indelicadeza surgem quando o entendimento das pessoas é limitado.</p><p>Quanto mais profundo for o entendimento, mais a ira se dissipará, e a bondade, o</p><p>amor e a paz se propagarão.</p><p>O estudo da Torá desenvolve a capacidade de alcançar um entendimento mais</p><p>profundo.</p><p>A santidade da Terra de Israel ajuda a pessoa a eliminar sua ira.</p><p>Com a superação e eliminação de sua ira, você atrai o espírito do Messias para o</p><p>mundo. Você também se torna digno de bênçãos abundantes e de ganhar o</p><p>respeito e a admiração das pessoas.</p><p>Quando dominar a sua ira, você conseguirá alcançar os seus objetivos.</p><p>Amor e Ódio</p><p>O ódio infundado faz a pessoa comer alimentos que não são casher “adequados”.</p><p>[Isto “alimenta” o fígado, a fonte da ira e do ódio, causando mais ódio.]</p><p>O tumulto é um sinal de ódio.</p><p>O diálogo promove a paz.</p><p>A discórdia debilita os relacionamentos mais francos.</p><p>A avidez por comida faz a pessoa ter preferência por um dos filhos em detrimento</p><p>dos outros.</p><p>Comer no Shabat traz amor e paz.</p><p>Amor e bondade são sinônimos.</p><p>O amor leva ao encorajamento.</p><p>O amor causa alegria.</p><p>O Rav Nachman ensinou que quando a pessoa come, o fígado é alimentado</p><p>primeiro. Depois ele transfere para o resto do corpo os nutrientes, que por fim</p><p>chegam ao cérebro. Quando se jejua, o fígado é desconsiderado, porque o cérebro</p><p>precisa dispor dos nutrientes que já estão no organismo, e o fígado não recebe</p><p>nutrientes novos.</p><p>Assim, por meio do jejum, o fígado é subordinado ao cérebro.</p><p>Há dois tipos de paz. Um é o cessar-fogo; o outro, o diálogo pacífico.</p><p>O jejum representa um cessar-fogo [a dominação temporária dos inimigos, dos</p><p>poderes de “Esaú”, localizados no fígado; não se trata de uma paz permanente].</p><p>Em contraposição, o Shabat, ocasião em que somos obrigados a comer, significa</p><p>uma paz mais duradoura - um diálogo pacífico entre forças conflitantes, no qual</p><p>podemos comer sem nos sujeitarmos à influência de Esaú.</p><p>No Shabat, a mente reina suprema.</p><p>Conforme vimos a pessoa que se alimenta no “espírito do Shabat” pode elevar suas</p><p>perspectivas espirituais. Por meio do próprio ato de comer, é possível atingir um</p><p>nível mais alto que o da matéria da qual nos alimentamos! Isso ocorre porque a</p><p>palavra “shabat” é equivalente a “shévet” “sentar com calma e em paz”.</p><p>7</p><p>A alimentação pode trazer serenidade (como quando se participa de uma refeição</p><p>tranqüila de Shabat com a família) e é capaz de subjugar os inimigos e estabelecer</p><p>a paz.</p><p>A Vesícula Biliar</p><p>A maioria das pessoas admite, ou deveria admitir que seu sofrimento é causado por</p><p>suas próprias ações.</p><p>Se não cuidar da saúde, o indivíduo provocará doenças em si mesmo.</p><p>Se agir de forma irresponsável com o dinheiro, ele produzirá sua própria ruína</p><p>financeira.</p><p>A discórdia familiar geralmente é conseqüência de um “pequeno” lapso verbal.</p><p>A lista é infinita.</p><p>O Rav Nachman disse uma vez: “Se você não estiver disposto a sofrer um pouco,</p><p>sofrerá muito!” (tradição oral).</p><p>É de fato doloroso reconhecer e aceitar os próprios erros, mas esse é o primeiro</p><p>passo para retificá-los.</p><p>Ignorá-los, além de não evitar a dor, acaba sempre levando a pessoa a repeti-los, o</p><p>que causa um sofrimento ainda maior.</p><p>Um Pouco de Amargo(r).....</p><p>O Rav Nachman ensinou que a alma sempre procura fazer a vontade de seu</p><p>Criador. No entanto, quando vê que o corpo que a abriga não serve a Deus, ela</p><p>tenta abandoná-lo e retornar ao Criador, provocando doenças no organismo.</p><p>Os medicamentos podem restituir a saúde.</p><p>A doença surge porque o indivíduo se acostumou a ceder aos seus desejos.</p><p>Quando está doente, ele perde o apetite para a comida e é forçado a engolir todo</p><p>tipo de remédio e pílulas amargas para melhorar. Dessa maneira [sem nenhuma</p><p>intenção, é claro], ele mostra que é perfeitamente capaz de controlar seus desejos</p><p>por causa de um propósito que compreende.</p><p>Por conseguinte, a alma volta para ele, com a esperança de que ele também aceite</p><p>o “amargor” necessário para o retorno ao caminho espiritual.</p><p>A bile armazenada na vesícula biliar é extremamente amarga, porém esse próprio</p><p>amargor é um dos mais importantes “adoçantes” encontrados no corpo.</p><p>Produzida no fígado, a bile</p><p>neutraliza a acidez e quebra as gorduras.</p><p>Depois de desempenhar sua função, uma parte desse líquido retorna a sua fonte,</p><p>para “pacificar e acalmar” o fígado depois de seu trabalho intenso de purificação do</p><p>sangue.</p><p>A afirmação de nossos Sábios citada acima faz alusão a esse processo: “O fígado se</p><p>enfurece; a vesícula biliar expele líquidos para aplacar essa fúria.”</p><p>Assim, da própria substância de que é feita a nossa ira, é criado um apaziguador</p><p>para abrandá-la. De forma semelhante, do âmago do sofrimento, o reconhecimento</p><p>do nosso erro causa a retificação...E PAZ</p><p>O Rav ensinou também que a paz é o remédio universal, como está escrito (Isaías</p><p>57:19): “Paz ao que está distante e para o que próximo está - diz o Eterno</p><p>- e haverei de curá-lo”.</p><p>As pessoas em geral adoecem porque os sistemas de seu corpo não estão</p><p>funcionando em harmonia – seus quatro humores ou elementos de alguma forma</p><p>estão em conflito.</p><p>Elas necessitam de medicamentos que restabeleçam o equilíbrio e possibilitem a</p><p>cura.</p><p>É curioso que os remédios sejam comumente muito amargos.</p><p>No entanto, as pessoas estão dispostas a suportar um pouco de amargor para</p><p>serem curadas - para obterem paz interior.</p><p>O mesmo se aplica à cura espiritual.</p><p>8</p><p>O indivíduo talvez tenha de agüentar uma certa medida de sofrimento - que pode</p><p>ser realmente amargo - mas depois ele percebe que a aflição provém de suas</p><p>próprias imperfeições espirituais; ele mesmo é a fonte de sua amargura.</p><p>O reconhecimento de suas falhas leva-o a aprimorar-se.</p><p>O amargor se torna assim o agente de cura, aproximando-o cada vez mais da paz</p><p>espiritual.</p><p>O Baço</p><p>As funções do baço incluem a manutenção do volume sanguíneo, a produção de</p><p>alguns tipos de células do sangue e a recuperação de materiais de células do</p><p>sangue deterioradas (filtrando as impurezas do sangue).</p><p>Para desempenhá-las, ele concentra sua energia nas impurezas encontradas no</p><p>corpo e trava uma batalha incessante para eliminar os excessos do organismo.</p><p>Quanto mais excessos houver, mais árduo será o trabalho do baço.</p><p>O baço costuma ser associado à melancolia.</p><p>A ligação é clara: ele representa a “bile negra”, e a depressão melancólica é</p><p>atribuída ao excesso de “bile negra”.</p><p>Assim, o baço, que opera regularmente com matérias inúteis, de fato tem um</p><p>trabalho muito “deprimente”.</p><p>A Sede da Depressão</p><p>O Rav Nachman ensinou que a melancolia é associada ao baço.</p><p>O baço só é capaz de filtrar uma quantidade limitada de sangue num determinado</p><p>período de tempo, e essa atividade é muito benéfica para a saúde.</p><p>Porém, quando existe um volume exorbitante de excessos no organismo, o baço</p><p>não consegue filtrá-los adequadamente.</p><p>Esses excedentes induzem a tristeza e a depressão [que por sua vez poluem ainda</p><p>mais o sangue, causando doenças].</p><p>O baço, “tchol” em hebraico, é considerado “frio e seco”, como a terra (“chol” em</p><p>hebraico significa “areia”), o mais baixo e denso dos quatro elementos.</p><p>Como tal, a terra corresponde à depressão.</p><p>Quanto mais triste for a pessoa, mais sua personalidade será dominada pela inércia</p><p>interior enraizada no elemento terra, que leva à preguiça e à indiferença, o que</p><p>causa ainda mais depressão e letargia.</p><p>O sangue poluído que o baço purifica é igualmente lento por natureza (ver Zôhar</p><p>22).</p><p>Além disso, o Rav Nachman ensinou que a pior “mordida da serpente” é a tristeza e</p><p>a preguiça, porque a serpente foi amaldiçoada com as seguintes palavras (Isaías</p><p>65:25): “A poeira será o alimento da serpente.”</p><p>A poeira representa a preguiça e a tristeza, que provêm do elemento terra.</p><p>Pela mesma razão, o Rav desaprovava os excessos (isto é, rigores) na busca da</p><p>espiritualidade.</p><p>Há um versículo que afirma (Levítico 18:5): “Viverá por eles”. “Viverás - e não</p><p>morrerás - por eles”.</p><p>As pessoas que estão sempre buscando restrições porque nunca estão seguras de</p><p>suas realizações em suas devoções espirituais geralmente são muito deprimidas.</p><p>O excesso de rigor no estilo de vida, na devoção e, na verdade, em todas as áreas</p><p>da vida leva à depressão.</p><p>Isso pode ser visto na palavra “chumrot” (rigores), que é semelhante a “chômer”</p><p>(matéria, em oposição a espiritualidade).</p><p>Assim, esses rigores terão um efeito contrário ao pretendido, porque a depressão é</p><p>um obstáculo para a conquista da grandeza espiritual.</p><p>Avareza: Obsessão e Inveja</p><p>9</p><p>Em nenhuma outra área a depressão se manifesta de forma tão intensa quanto na</p><p>busca de riqueza.</p><p>Numa de suas principais lições, o Rav fala da ligação entre avareza e depressão.</p><p>O Rav Nachman ensinou que a face da santidade é resplandecente e expressa vida</p><p>e alegria.</p><p>A face do profano é obscura, representando melancolia e idolatria.</p><p>Há aqueles que são dominados pelo desejo de riqueza, mas se recusam a acreditar</p><p>que Deus pode sustentá-los com um mínimo de esforço de sua parte.</p><p>Essas pessoas investem todos os seus esforços na caça à fortuna, porém, tendo</p><p>acumulado uma vasta riqueza, ela não lhes dá prazer, como consta (Gênesis 3:17):</p><p>“Com tristeza comerás”.</p><p>Elas são atormentadas pelas forças do mal, da idolatria e da morte.</p><p>Por outro lado, o Rav Natan escreve que a fé corresponde à terra, como afirma o</p><p>seguinte versículo (Salmos 37:3): “Habitarás na terra e cultivarás a fé”.</p><p>Isso pode ser entendido à luz do fato de que, assim como o homem se firma sobre</p><p>a terra e é dependente dela, sua espiritualidade depende de sua fé.</p><p>Portanto, do mesmo modo que a busca de riqueza significa uma falta de fé na</p><p>capacidade de Deus de suprir às nossas necessidades, ter fé em Deus e acreditar</p><p>que ele nos pode prover nos elevará da “terra material” a um plano espiritual.</p><p>O Baço Ri</p><p>O Rav Nachman dedica a maior parte dos ensinamentos à apresentação de</p><p>fundamentos adicionais para esse princípio, destacando várias ações que podem</p><p>conduzir à avareza, como violar a aliança, dizer falsidades e assim por diante.</p><p>Em seguida, ele afirma que o baço desempenha um papel central no desejo</p><p>imoderado de riqueza.</p><p>O baço representa “Lilit”, a “esposa” de Satan, o Anjo da Morte.</p><p>Ela é a “mãe” da grande mistura de gente (Êxodo 12:38), a leviandade dos tolos.</p><p>Conforme o Zohar Ela incita as pessoas com riqueza e depois as mata.</p><p>Quando comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal, Adão foi amaldiçoado:</p><p>“Com tristeza comerás.” A serpente também foi amaldiçoada (Gênesis 3:14): “Pó</p><p>comerás todos os dias da tua vida”, O “pó” corresponde ao dinheiro, como consta</p><p>(Jó 28:6): “Seu pó é ouro”.</p><p>O Rav Nachman explica que quando alguém fica obcecado por riqueza e gasta</p><p>“todos os dias de sua vida” perseguindo-a, sua maldição é idêntica à da serpente;</p><p>ou seja, a busca de fortuna de fato “devora” os dias de sua vida!</p><p>Ele passa a vida à procura de riqueza (isto é, pó).</p><p>Tal pessoa realmente come com tristeza e melancolia.</p><p>Como assinalamos, o baço é associado à melancolia, um estado anormal atribuído a</p><p>um excesso de “bile negra”.</p><p>A melancolia se caracteriza pela depressão, mau humor e ilusões - talvez os</p><p>maiores inimigos do homem.</p><p>As pessoas que fazem da busca de riqueza a única atividade de sua vida em geral</p><p>têm aspirações grandiosas. Como não se contentam com suas posses, elas sofrem</p><p>constantemente de depressão e tristeza e tendem à irritabilidade.</p><p>O Rav Nachman prossegue explicando o que o Zôhar quer dizer quando representa</p><p>o baço como “Lilit, a „mãe‟ da grande mistura de gente, a leviandade dos tolos, que</p><p>incita as pessoas com riqueza e depois as mata”.</p><p>A grande mistura de gente não aspirava à espiritualidade. Embora estivesse</p><p>impressionada com a recém-descoberta grandiosidade dos hebreus, ela ainda</p><p>estava imersa demais no materialismo para compreender a sua importância.</p><p>10</p><p>Seus integrantes saíram do Egito com os filhos de Israel, mas preferiram adorar (o</p><p>dinheiro e) o bezerro de ouro quando estavam no deserto.</p><p>Isto era idolatria, “a leviandade</p><p>dos tolos”, pois “os incitou” oferecendo-lhes riqueza</p><p>como um substituto da espiritualidade.</p><p>Esse é o significado de “ela incita as pessoas com riqueza e depois as mata”.</p><p>O baço, que corresponde à avareza e à depressão, representa “Lilit”.</p><p>Ela provoca as pessoas durante toda a vida, porque elas estão sempre pensando</p><p>que “agora” terão lucro e “agora” ganharão dinheiro, mas na verdade “comem pó</p><p>todos os dias da sua vida”. A avareza as deixa vazias, dominadas pela melancolia.</p><p>Curiosamente, ela é chamada de “Lilit”, porque em hebraico “lamento” é “lelalá”.</p><p>Quem é acometido pelo atributo da avareza está sempre se lamentando e</p><p>reclamando da dureza do trabalho e do que lhe falta.</p><p>Uma conseqüência natural da avareza é a inveja - cobiçar as posses alheias.</p><p>“A verdade é”, afirma o Rav Nachman, “que às vezes é dada a um indivíduo uma</p><p>grande fortuna. Todos o invejam e passam a vida perseguindo a riqueza por causa</p><p>dessa inveja. Isso é obra do Demônio; ele trabalha arduamente para tornar um</p><p>homem rico, a fim de que muitos outros desperdicem a vida invejando-o. Que Deus</p><p>nos proteja dessa idéia enganosa”.</p><p>Além disso, “a leviandade é associada ao baço”.</p><p>Este é o significado de “ela é a leviandade dos tolos”: A avareza faz de tolas as</p><p>pessoas que esperam enriquecer rapidamente.</p><p>Em lugar de ficarem ricas, elas passam a vida perseguindo a riqueza.</p><p>Na maioria das vezes, acabam mal podendo pagar as contas e ficam muito</p><p>endividadas. Onde, então, estará a fortuna que buscaram “todos os dias de sua</p><p>vida”? Era a isso que os nossos Sábios se referiam quando disseram: “O baço ri”.</p><p>Quando usada corretamente, a riqueza é um meio poderoso para a conquista de</p><p>espiritualidade.</p><p>O Rav Nachman ensina que há certos caminhos da Torá que só podem ser</p><p>alcançados por intermédio de uma grande fortuna, razão pela qual Moisés e muitos</p><p>dos profetas e tsadikim que vieram depois dele eram extremamente ricos.</p><p>Essa riqueza era necessária para que eles pudessem obter revelações magníficas e</p><p>depois transmiti-las aos outros.</p><p>Contudo, o Rav Nachman disse também que o desejo de acumular riqueza e</p><p>adquirir poder é a maior cobiça de nossos tempos.</p><p>Até gerentes de baixo escalão se regozijam com a autoridade que têm.</p><p>Tudo isso é obra de Lilit, o baço. “Ela incita as pessoas com riqueza [isto é, poder]”,</p><p>mas depois, tendo desenvolvido nelas uma obsessão por riqueza e poder, “ela as</p><p>mata”. Uma vida inteira pode ser dedicada à busca de prosperidade que jamais</p><p>será encontrada.</p><p>Longe de ser uma atividade agradável, essa busca pode fazer a vida do indivíduo</p><p>ser completamente dominada por sentimentos de melancolia e profunda depressão.</p><p>Mas o Rav também ensina que a alegria gera vitalidade, de modo que aquele que</p><p>cai em depressão pode combater seus efeitos negativos tornando-se - ou mesmo</p><p>forçando-se a ficar alegre.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 12</p><p>Purificação de Corpo e Alma</p><p>Uma das etapas mais fundamentais do processo de purificação é a remoção da</p><p>matéria residual do corpo.</p><p>Cinco sistemas principais realizam essa tarefa: o suor sai através da pele; os</p><p>pulmões eliminam o gás carbônico; o fígado, a vesícula biliar e o baço processam</p><p>os nutrientes e limpam o sangue; os rins filtram e excretam os líquidos; e o</p><p>intestino grosso expele resíduos sólidos.</p><p>É evidente que, da mesma maneira que os resíduos físicos, o excesso espiritual</p><p>também deve ser eliminado.</p><p>Porém, enquanto os primeiros são removidos automaticamente pelas funções</p><p>corporais, é necessário muito esforço para suprimir o excedente espiritual.</p><p>Assim como o corpo foi dotado de meios para depurar-se, nós recebemos de Deus</p><p>todas as ferramentas indispensáveis para nossa purificação espiritual.</p><p>A diferença é que deve existir o desejo de usar essas ferramentas para que nossos</p><p>esforços sejam bem-sucedidos.</p><p>Sangue, Suor e..............</p><p>O Rav Nachman ensinou que o suor é extremamente benéfico, porque livra o corpo</p><p>de líquidos poluídos. Estes poluentes resultam da incapacidade do baço de</p><p>filtrar todos os fluidos que passam por ele.</p><p>A presença de líquidos poluídos no organismo causa depressão; portanto, o suor -</p><p>isto é, a remoção da poluição que leva à depressão - traz alegria.</p><p>O Rav Nachman pertencia a uma escola de pensamento que exaltava o trabalho</p><p>pesado. Ele dizia repetidamente a seus discípulos que nada de valor pode ser</p><p>obtido se a pessoa não empenhar esforços em suas devoções.</p><p>O trabalho árduo pode fazer o indivíduo prorromper em suor.</p><p>Mas também se pode começar a suar devido a uma “irrupção de alegria”.</p><p>O esforço físico é capaz de produzir a purificação do corpo pela remoção dos</p><p>excessos. Mas esforços espirituais para despertar a alegria também podem</p><p>beneficiar o organismo. Assim o Rav conclui a lição acima:</p><p>O “suor bom”, que resulta do empenho na busca de espiritualidade [por meio da</p><p>prática de mitsvót, por exemplo], traz alegria. Um dia em que se transpira por boas</p><p>razões é cheio de regozijo, como um dia de festa. “Suor” em hebraico é “zelá”, um</p><p>acrônimo de “Zé halom assá IHVH. - Este é o dia que Deus fez [isto é, uma</p><p>festividade]; nele nos alegraremos e nos regozijaremos” (Salmos 118:24).</p><p>Prorromper em suor por causa da espiritualidade é motivo de festa!</p><p>Para ilustrar os benefícios do trabalho pesado e do suor como meios de purificação</p><p>do organismo, o doutor Riphael (Robert) Rosen, que foi diretor do Midwest Dialysis</p><p>Center em Duncan, Oklahoma, relatou a seguinte história:</p><p>Um paciente que era boiadeiro informou ao Centro que viajaria por dez dias para</p><p>arrebanhar cavalos selvagens. Aconselharam-no que não fosse, pois ele precisava</p><p>de diálise três vezes por semana, devido ao mau funcionamento de seus rins.</p><p>Ele partiu. Quando voltou, tinha ótima aparência, sentia-se bem, não apresentava</p><p>aumento no peso dos líquidos corporais e seus exames de sangue estavam apenas</p><p>um pouco piores do que usualmente.</p><p>Nas palavras do doutor Rosen: “Vimos então o benefício do trabalho árduo e da</p><p>transpiração - que puderam até substituir a diálise!” (Não sugerimos que aqueles</p><p>que necessitam de diálise optem por esse método de eliminação de matéria</p><p>residual do corpo. Simplesmente destacamos aqui os benefícios do trabalho árduo e</p><p>do suor para a saúde.)</p><p>2</p><p>O Rebe Nachman ensina também que banhos regulares e a imersão na micvá</p><p>(banho ritual) facilitam a abertura dos poros que possibilita que o corpo se purifique</p><p>do excesso de líquidos e de substâncias tóxicas.</p><p>............e Lágrimas</p><p>O Rav Nachman ensinou que “As lágrimas vêm da melancolia, que resulta dos</p><p>excessos.”</p><p>É inerente à natureza humana chorar quando se está deprimido e sofrendo.</p><p>Como vimos a depressão está relacionada com a presença de excessos no</p><p>organismo.</p><p>Logo, as lágrimas também são “excessos” e atuam como filtros para livrar o corpo</p><p>de líquidos supérfluos e substâncias tóxicas.</p><p>O baço corresponde à depressão, que é uma das principais causas da imoralidade.</p><p>Lilit é a “mãe da grande mistura de gente”.</p><p>Ela se assemelha a uma prostituta, uma mulher promíscua que gera “filhos</p><p>misturados”.</p><p>Ela também é comparada a uma “criada” que deve ser subjugada a sua patroa.</p><p>Do mesmo modo, as forças do materialismo devem permanecer sob o domínio do</p><p>Reino do Céu, a força da espiritualidade. É por essa razão que a recitação do</p><p>Shemá - a aceitação do jugo do Céu - ajuda a pessoa a controlar suas tendências</p><p>materialistas e a superar seus desejos luxuriosos.</p><p>Porém, se o indivíduo é exposto a muitos pensamentos lascivos, a mera recitação</p><p>do Shemá não é suficiente.</p><p>Ele deve também derramar lágrimas enquanto aceita o jugo do Céu, porque as</p><p>lágrimas são líquidos em excesso no corpo, chorando, ele remove a matéria</p><p>residual que é expelida pelo baço - a melancolia.</p><p>Assim, verter lágrimas pela espiritualidade combate os efeitos da melancolia.</p><p>Esaú Versus Lea</p><p>No nível</p><p>espiritual, há dois tipos de lágrima.</p><p>Um é como as lágrimas de Esaú, que chorava amargamente pelo desejo de</p><p>experimentar todos os prazeres deste mundo (Gênesis 2 7:38).</p><p>O outro é como as lágrimas de Lea, que chorou quando suplicava para não ser</p><p>entregue a Esaú sendo forçada a casar-se com ele (Gênesis 29:17).</p><p>O Rav Natan escreve que a pessoa deve empenhar-se para livrar-se da luxúria, dos</p><p>excessos de seu organismo. Se não o fizer, estes excessos permanecerão no corpo,</p><p>envenenando-o.</p><p>Os líquidos supérfluos, que representa a depressão e dão origem a traços de</p><p>caráter negativos, correspondem a Esaú e Ismael, as forças do mal.</p><p>Quando não são filtradas, essas impurezas continuam a correr pelo corpo e por fim</p><p>afetarão a mente, convencendo a pessoa da “necessidade” da luxúria, Deus nos</p><p>livre.</p><p>Esaú e Ismael representam as filosofias estranhas que desviam o indivíduo do</p><p>caminho da retidão. Elas podem ser comparadas à árvore do conhecimento do bem</p><p>e do mal. Foi ordenado a Adão e Eva que não comessem dessa árvore.</p><p>A serpente, sabendo disso, começou a racionalizar esse ato com eles: “Se</p><p>comerem, vocês serão como Deus”, e assim por diante. No final, eles sucumbiram</p><p>aos falsos argumentos da serpente e comeram da árvore. Assim, foi o excesso de</p><p>pensamento e racionalização que levou Adão a pecar. Racionalizações semelhantes</p><p>provocam um grande dano em nossa capacidade de distinguir entre o verdadeiro e</p><p>o falso.</p><p>O choro, o derramamento de lágrimas pela espiritualidade, remove os excessos do</p><p>corpo. Chorar, suplicar e rogar a Deus em nossas orações para que Ele nos auxilie a</p><p>3</p><p>crescer espiritualmente ajuda a eliminar os excessos impuros, “Esaú e Ismael”, do</p><p>organismo.</p><p>Os Rins</p><p>Os rins contêm milhares de minúsculas unidades de filtragem que atuam sobre os</p><p>líquidos e a matéria residual e os enviam a seus devidos destinos, seja reciclando-</p><p>os e devolvendo-os ao organismo, seja excretando-os.</p><p>Os rins também controlam o nível de sal e de outros minerais essenciais no corpo.</p><p>É significativo o fato de haver um rim direito e um esquerdo.</p><p>A medicina não explica por que é necessário um par de rins, já que a pessoa pode</p><p>viver apenas com um.</p><p>Mas espiritualmente isso faz muito sentido.</p><p>O Tamud ensina que “os rins aconselham”.</p><p>O Rashi explica que essa idéia provém do seguinte versículo (Salmos 1 6:7):</p><p>“Bendirei ao Eterno que me guia; até de noite os meus rins me advertem”.</p><p>O Maharshá comenta que o par de rins indica o livre-arbítrio do homem, sua</p><p>capacidade de escolher entre o verdadeiro e o falso.</p><p>Também se observa que a principal atividade física dos rins, o processamento e a</p><p>purificação das substâncias tóxicas e das matérias residuais do corpo, ocorre à</p><p>noite, quando a pessoa descansa. (Quando nos deitamos com as pernas para o</p><p>alto, há um aumento do fluxo de sangue para os rins, e conseqüentemente do</p><p>volume de sangue purificado por eles.)</p><p>Isso é sugerido pelas palavras “até de noite os meus rins me advertem”.</p><p>O versículo também mostra que a atividade espiritual dos rins segue o mesmo</p><p>padrão da física.</p><p>Às vezes, tanto o bem como o mal parecem ser a escolha certa.</p><p>Os rins nos lembram de que há um lado direito e um lado esquerdo, que</p><p>representam o bem e o mal; e nos advertem “de noite” (quando está escuro e</p><p>estamos mais propensos a pecar), para que, nas ocasiões mais cruciais, possamos</p><p>escolher o que é certo.</p><p>Assim como os rins reciclam o utilizável e excretam os resíduos, nós também</p><p>devemos escolher e usar o que é bom, e rejeitar o mal.</p><p>Logo, “Os rins aconselham e o coração compreende”.</p><p>Há um ensinamento de nossos Sábios que é um excelente exemplo disso:</p><p>“Abrahão não tinha mestre. Então, como ele estudou a Torá? Deus fez os seus rins</p><p>agir como duas fontes de sabedoria, e eles lhe ensinaram Torá e sabedoria”. Eles</p><p>agiram como duas fontes: uma para ensinar a Abrahão os mandamentos positivos</p><p>e como cumpri-los, e a outra para impedi-lo de transgredir os mandamentos</p><p>proibitivos. Nossos Sábios ensinam que “Abrahão cumpria a Torá inteira mesmo</p><p>antes que ela fosse dada!”</p><p>A Árvore do Conhecimento</p><p>Vimos que a árvore do conhecimento do bem e do mal representa o conselho.</p><p>Nosso estudo dos rins revela agora que o corpo humano contém sua própria</p><p>“árvore do conhecimento do bem e do mal”, com a capacidade de distinguir o bem</p><p>do mal, o certo do errado.</p><p>A clareza das escolhas que podemos fazer depende de como esses filtros são</p><p>alimentados. Permitiremos que a serpente nos dê para comer dos frutos dessa</p><p>árvore, ou seguiremos o caminho da espiritualidade e receberemos nosso sustento</p><p>de um verdadeiro tsadic?</p><p>O Rav Nachman nos ensinou que os rins aconselham.</p><p>Eles também participam do sistema reprodutor [através das glândulas adrenais,</p><p>com as quais estão intimamente ligados].</p><p>Ouvir um conselho é como receber uma “semente”.</p><p>Esse conselho pode “fazer nascer” escolhas e atos.</p><p>4</p><p>Portanto, é fundamental só ouvir conselhos bons e válidos, de pessoas capazes de</p><p>aconselhar - os verdadeiros tsadikim.</p><p>A mente do tsadic é pura, logo, o seu conselho é correto.</p><p>Os órgãos reprodutores (isto é, o “conselho” dos rins) podem ser vistos como as</p><p>“partes do corpo que fazem nascer novas idéias”.</p><p>É importante entender que, se a mente estiver de alguma maneira maculada, a</p><p>pessoa não será capaz de determinar se o conselho que recebeu ou escolheu é</p><p>válido e apropriado.</p><p>Por isso, o Rav sugere que só se peça conselho a uma tsadic.</p><p>Desse modo, o indivíduo não precisa confiar somente em seu próprio “sistema de</p><p>filtragem”, que pode ou não estar funcionando adequadamente.</p><p>O paralelo que o Rav Nachman estabelece entre a reprodução e o aconselhamento</p><p>tem implicações ainda mais profundas.</p><p>Ao nascer, a criança não é um diamante polido.</p><p>São necessários muitos e muitos anos de esforço intenso para criá-la e educá-la, e</p><p>só depois que ela atinge a maturidade começamos a ver os verdadeiros frutos de</p><p>nosso trabalho.</p><p>Mesmo nesse ponto, só nos resta esperar e pedir a Deus que ela continue a</p><p>desenvolver-se no caminho certo. Dar ou receber conselho funciona de forma muito</p><p>semelhante. Quando pede um conselho, você não pode saber quais serão as</p><p>consequências de segui-lo. Só lhe cabe esperar ter escolhido um bom conselheiro,</p><p>cuja orientação lhe traga satisfação e estabilidade no futuro.</p><p>Muitos se consideram capazes de aconselhar os outros - e até a si mesmos.</p><p>Mas será que eles realmente podem ver “além do horizonte”?</p><p>Assim como a árvore precisa ser nutrida durante muitos anos para dar frutos, os</p><p>resultados satisfatórios dos conselhos dos tsaclikim quanto à maneira de alcançar</p><p>uma vida espiritualizada só podem ser vistos depois de anos de esforço.</p><p>Do mesmo modo que, no momento do nascimento, não vem à luz um indivíduo já</p><p>maduro, os conselhos dos tsadikim devem ser absorvidos, contemplados e seguidos</p><p>judiciosamente, no devido tempo, de acordo com a capacidade de cada um.</p><p>A pessoa precisa ter muita paciência para filtrar o organismo repetidas vezes, até</p><p>conseguir purificar-se.</p><p>Só então ela começará a experimentar uma vida verdadeiramente espiritual.</p><p>O Resultado “Final”</p><p>Este é seu “kessel‟ - seu jeito tolo; falam de forma tranqüilizadora sobre o seu fim.</p><p>Salmos 49:14.</p><p>Esse capítulo dos Salmos fala da incapacidade das pessoas de reconhecer que a</p><p>morte é uma realidade que se aplica a elas.</p><p>Os seres humanos se vêem como imortais, apesar de admitirem que ninguém vive</p><p>para sempre. Ao invés de se prepararem com suprimentos espirituais que os</p><p>acompanhem pelo longo caminho, eles muitas vezes se dedicam apenas a</p><p>atividades puramente materiais.</p><p>A respeito disso, o Rav Natan escreve: Embora a vaca vermelha tenha sido criada</p><p>para purificar os que estavam impuros, curiosamente ela não era sacrificada no</p><p>recinto do Templo Sagrado.</p><p>Na verdade, todas as ações relacionadas com a vaca vermelha tinham de ser</p><p>realizadas fora dos muros do Templo!.</p><p>Poder-se-ia pensar justo o contrário.</p><p>Se o serviço feito com a vaca vermelha consegue purificar até a pessoa mais</p><p>impura, não se deveria exigir que cada etapa de sua preparação fosse efetuada em</p><p>local sagrado?</p><p>5</p><p>Porém, é exatamente por essa razão que ele deve ser executado fora do espaço</p><p>mais sagrado: o conceito da vaca vermelha representa um conselho muitíssimo</p><p>profundo - como se aproximar daqueles que parecem estar completamente</p><p>afastados da espiritualidade e estender-lhes a mão para ajudá-los.</p><p>Mesmo nos lugares mais distantes da santidade, é possível perceber o vazio e a</p><p>falsidade de uma vida materialista e começar a buscar a espiritualidade.</p><p>Na realidade, este mundo materialista é pura futilidade - uma sombra passageira -</p><p>e a vida é extremamente fugaz porque o materialismo parece tão atraente que as</p><p>pessoas tendem a ignorar suas implicações mais perigosas.</p><p>Elas podem perder de vista o bom conselho que está à sua disposição e perseguir</p><p>os bens materiais. “O que podemos fazer?”, dizem, “já estamos tão mergulhados</p><p>na materialidade!”.</p><p>É isso que significa o versículo “Este é seu kessel - seu jeito tolo; falam de forma</p><p>tranqüilizadora sobre o seu fim”.</p><p>O Rashi explica que “Você poderia pensar que eles esquecem sua mortalidade.</p><p>Porém, o versículo afirma: „Falam de forma tranqüilizadora sobre o seu fim.‟</p><p>É o seu kessel, sua tolice, que os faz desconsiderar o seu fim.”</p><p>A palavra hebraica “kessel” pode ser traduzida como “tolice” e como “lombo” (as</p><p>gorduras que envolvem os rins). Se os indivíduos desencaminhados ao menos</p><p>ouvissem o conselho de seus rins quanto à maneira de purificar o organismo, eles</p><p>com certeza cresceriam espiritualmente.</p><p>Mas há “gorduras” que cobrem e escondem os rins.</p><p>Elas são os chamarizes do mundo materialista que camuflam o verdadeiro objetivo</p><p>do homem.</p><p>Assim, o propósito do serviço realizado com a vaca vermelha é demonstrar que</p><p>mesmo “fora” - nos lugares mais remotos, mais afastados da espiritualidade -</p><p>Moisés, personificado no verdadeiro tsadic, está presente com conselhos para</p><p>ajudar os que desejam superar seu ambiente material.</p><p>Até mesmo aí, ele ilumina os espaços mais escuros com conselhos verdadeiros,</p><p>possibilitado que a pessoa se aproxime de Deus.</p><p>Confiança</p><p>Tu desejas verdade em meus rins [batuchot], e ensina-me sabedoria em meu</p><p>coração. Salmos 51:8</p><p>Para que eu saiba a verdade, de modo que meus rins me dêem bom conselho, Tu</p><p>deves colocar sabedoria dentro de mim.</p><p>A palavra hebraica “bitachon” significa “confiança”. Ter bitachon em Deus, confiar</p><p>que Ele provê às necessidades do homem, é uma atitude extremamente elevada.</p><p>Os rins são chamados em hebraico de “batuchot”, vocábulo semelhante a bitachon,</p><p>“confiança”.</p><p>A abundância provém da confiança em Deus.</p><p>Ouvir histórias e ensinamentos dos verdadeiros tsadikim desperta a pessoa de seu</p><p>sono espiritual. Então ela pode exprimir-se com fervor diante de Deus.</p><p>Suas palavras fortalecem-lhe a fé e a confiança em Deus, o que traz maior</p><p>abundância ao mundo.</p><p>Mas existem formas de confiança falsas e inapropriadas, contra as quais devemos</p><p>acautelar-nos. Desenvolver a confiança em Deus ajuda a eliminar as formas falsas</p><p>de confiança e gera prosperidade.</p><p>6</p><p>Quando a pessoa trabalha com diligência para alcançar um estilo de vida espiritual,</p><p>seus rins, isto é, o conselho que ela escolhe, a orientarão a depositar cada vez mais</p><p>confiança em Deus.</p><p>Deus, por sua vez, colocará Sua sabedoria dentro dessa pessoa, de maneira que ela</p><p>se verá ainda mais direcionada para a espiritualidade.</p><p>Quando o homem se volta para Deus, cumprindo assim o propósito principal de sua</p><p>criação, Ele lhe concede abundância para que sua elevação espiritual possa</p><p>continuar.</p><p>Revisão</p><p>Até agora vimos as influências negativas que os instintos mais abjetos do homem</p><p>podem exercer sobre a alma, além de várias maneiras de combatê-las.</p><p>Examinamos também os quatro humores, três dos quatro elementos básicos - fogo,</p><p>água e terra - e alguns de seus efeitos sobre as emoções. (O elemento ar será</p><p>analisado em texto futuro).</p><p>O organismo humano dá a impressão de ter sido projetado para nutrir</p><p>características negativas.</p><p>O sistema digestório parece ser programado para dirigir a pessoa para o</p><p>materialismo.</p><p>As próprias veias pelas quais fluem o sangue impuro e os desejos excessivos agem</p><p>como pontas-de-lança dos impulsos imorais e da instabilidade emocional.</p><p>Isso explica por que a atração física e emocional do homem pelo materialismo se</p><p>inicia tão cedo, já no nascimento.</p><p>Como ensinam nossos Sábios : “A má inclinação começa o seu trabalho logo que o</p><p>bebê nasce!”.</p><p>Mas isso não significa que o homem não tenha recursos, nem que não possa travar</p><p>batalha contra essas más características.</p><p>Pois “Deus os fez correspondendo um ao outro” (Eclesiastes 7:14).</p><p>Assim, a “lei do paralelismo” dita que o homem tem livre-arbítrio para escolher o</p><p>caminho que deseja seguir (como demonstram os rins).</p><p>Portanto, se Deus projetou o ser humano para ter más inclinações, Ele também lhe</p><p>forneceu as ferramentas necessárias para superar esse mal, porque, como vimos,</p><p>os próprios sistemas internos que tendem a afastar-nos da espiritualidade contêm</p><p>elementos que nos podem guiar para uma existência espiritual.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 13</p><p>Sistema Nervoso Central</p><p>Introdução</p><p>O cérebro é, de longe, o órgão mais complexo do corpo humano.</p><p>Com a medula espinhal (o grosso cordão de tecido nervoso que é um</p><p>prolongamento dele), o cérebro compõe o sistema nervoso central.</p><p>Ele é constituído de uma massa de tecido mole, chamada em linguagem coloquial</p><p>de “massa cinzenta” (embora seja cinzenta e branca), e, como diretor do sistema</p><p>nervoso, é o órgão do pensamento e da coordenação neural.</p><p>Com suas dezenas de bilhões de células, o cérebro transmite e recebe milhões de</p><p>mensagens por minuto.</p><p>Por exemplo, ele controla o ritmo do coração e da respiração e mantém o equilíbrio</p><p>químico do organismo, além de responder aos vários estímulos provenientes do</p><p>corpo inteiro e do ambiente externo.</p><p>O cérebro funciona como a unidade de processamento central de um</p><p>supercomputador.</p><p>Recebe constantemente informações de todos os órgãos e receptores e coordena as</p><p>atividades entre eles, além de armazenar essas informações na memória.</p><p>O cérebro também age como um posto de comando, assegurando a sinergia global</p><p>do organismo.</p><p>Em suma, tudo que acontece no corpo foi em algum momento processado por essa</p><p>massa cinzenta denominada cérebro.</p><p>O Rav Nachman ensinou que “A mente é o comandante superior do corpo”.</p><p>O encéfalo se divide em três partes principais - o cérebro, o cerebelo e o tronco</p><p>cerebral (mesencéfalo/medula oblonga).</p><p>Cada uma delas desempenha funções diferentes, porém perfeitamente</p><p>coordenadas.</p><p>O cérebro é a sede do intelecto, o cerebelo coordena os movimentos corporais, e o</p><p>tronco cerebral (composto pela medula, protuberância anular, mesencéfalo e</p><p>hipotálamo) transmite impulsos por todo o sistema nervoso.</p><p>Essas três áreas fundamentais do encéfalo atuam como veículos de seus</p><p>respectivos “mochin”, as faculdades espirituais do intelecto: o cérebro é a sede de</p><p>Chochmá (sabedoria); o cerebelo, de Biná (entendimento); e o tronco cerebral, de</p><p>Dáat (conhecimento).</p><p>O crânio, que abriga os mochin, corresponde a Kéter (coroa).</p><p>O Sistema Nervoso Central</p><p>O cérebro é a seção mais volumosa do encéfalo, ocupando a maior parte do crânio,</p><p>a caixa óssea que envolve e protege o encéfalo. O cérebro é o centro do intelecto,</p><p>da memória, da linguagem e da consciência.</p><p>Ele recebe e interpreta as informações transmitidas pelos sentidos e controla as</p><p>funções motoras do corpo.</p><p>Está dividido em duas metades, conhecidas como os hemisférios direito e esquerdo.</p><p>O hemisfério direito é associado às faculdades</p><p>não verbais, não temporais,</p><p>relacionais, intuitivas e holísticas.</p><p>O hemisfério esquerdo está ligado com as faculdades verbais, temporais, analíticas,</p><p>racionais, lógicas e lineares.</p><p>O cerebelo é a segunda maior parte do encéfalo.</p><p>Está localizado logo abaixo do cérebro, na região posterior do crânio, próximo ao</p><p>tronco cerebral.</p><p>O cerebelo é responsável pela postura, pela coordenação e tônus muscular, e pela</p><p>manutenção do equilíbrio.</p><p>2</p><p>O tronco cerebral está situado perto do centro do encéfalo e desce até a</p><p>protuberância anular e a medula oblonga, onde se conecta com a medula espinhal.</p><p>Ele é composto principalmente de nervos que passam através da medula espinhal e</p><p>vão ao encéfalo, servindo assim de canal de transmissão de mensagens entre o</p><p>cérebro e o resto do corpo, através do sistema nervoso.</p><p>O tronco cerebral também controla e regula muitas funções corporais automáticas e</p><p>involuntárias.</p><p>A medula espinhal é constituída de tecido nervoso que passa pela coluna vertebral.</p><p>Trinta e um pares de nervos espinhais ligam o cérebro à medula espinhal e a</p><p>medula espinhal aos músculos, ao aparelho sensorial e a outras partes do corpo.</p><p>Junto com doze pares de nervos cranianos (assim chamados porque se ligam</p><p>diretamente ao encéfalo), eles controlam movimentos voluntários e sensações.</p><p>Os nervos do sistema nervoso vegetativo, que controla e regula funções motoras</p><p>involuntárias, como a do coração, pulmões, intestinos e vasos sanguíneos, também</p><p>se originam aí.</p><p>Os Mochin: Uma Visão Cabalística</p><p>Encontramos na Bíblia e nos escritos talmúdicos e cabalísticos muitas referências a</p><p>Chochmá (sabedoria), Biná (ou Tevuná; entendimento e / ou lógica) e Dáat</p><p>(conhecimento).</p><p>As três formam a “cabeça” da “árvore da vida das sefirot” e são chamadas, em</p><p>conjunto, de “mochin” (faculdades intelectuais).</p><p>As sete sefirot inferiores correspondem ao “corpo” e são denominadas “midot”</p><p>(traços de caráter), através das quais os mochin se manifestam.</p><p>Quando se medita sobre as sefirot, é aconselhável que, de forma alternada, elas</p><p>sejam ora visualizadas como um sistema unificado, ora consideradas como poderes</p><p>individuais ou grupos de poderes.</p><p>Como sistema unificado, as sefirot representam as fases compreendidas entre um</p><p>impulso ou vontade inicial (Kéter) e um ato final que satisfaz essa vontade</p><p>(Malchut).</p><p>Kéter pode ser visto como causa, e Malchut como efeito.</p><p>Todas as outras sefirot - tudo que acontece ao longo do caminho - são etapas do</p><p>processo de realização do impulso inicial.</p><p>A árvore da vida das sefirot costuma ser apresentada em três colunas: direita,</p><p>esquerda e do meio. À direita, correspondendo ao hemisfério direito do cérebro, ao</p><p>braço direito e à perna direita, respectivamente, encontram-se Chochmá, Chéssed</p><p>e Nétsach. À esquerda, correspondendo ao hemisfério esquerdo do cérebro, ao</p><p>braço esquerdo e à perna esquerda, estão Biná, Guevurá e Chochmá.</p><p>No meio, correspondendo ao tronco cerebral, à coluna vertebral e aos órgãos</p><p>sexuais, localizam-se Kéter, Tiféret, Iessod e Malchut. (Como veremos, a quase-</p><p>sefirá de Dáat só é incluída entre as sefirot quando Kéter não é, e vice-versa.).</p><p>Na Cabalá, a “direita” representa o conceito de misericórdia, amor e iluminação</p><p>ilimitados e incondicionais.</p><p>A “esquerda” simboliza o conceito de doação limitada e condicional (dependente do</p><p>merecimento ou da capacidade de receber do receptor).</p><p>O “meio” significa a sinergia perfeita dos dois pólos.</p><p>Como vimos as noções de direita, esquerda e meio são mencionadas na introdução</p><p>do Zôhar, intitulada “Petichat Eliahu” (Discurso de Elias), que aparece em muitos</p><p>livros de oração.</p><p>Essas dez sefirot estão dispostas numa ordem especial de três colunas.</p><p>A coluna direita é descrita como “longa” [porque representa amor e bondade].</p><p>A coluna esquerda é descrita como “curta” [porque representa julgamento e o</p><p>poder de limitação].</p><p>A coluna do meio, ou tronco, é chamada de “intermediária” [porque representa</p><p>misericórdia, a harmonia perfeita entre amor e limitação]. [Desta maneira, as dez</p><p>3</p><p>sefirot servem de canais através dos quais Deus regula Sua interação com os seres</p><p>humanos de acordo com seus atos.]</p><p>Acima de tudo, é Ele apenas que as dirige.</p><p>Nenhum poder O governa - nem em cima, nem embaixo, nem de qualquer lado.</p><p>As sefirot também podem ser vistas em grupos de três.</p><p>Kéter, Chochmá e Biná formam a tríade superior; Chéssed, Guevurá e Tiféret</p><p>compõem a segunda, do meio; Nétsach, Hod e Iessod constituem a terceira, a mais</p><p>baixa.</p><p>Por conter um conjunto completo de direita, esquerda e meio, cada tríade expressa</p><p>uma ação plena.</p><p>A tríade superior representa a concessão máxima de misericórdia,</p><p>independentemente de nosso mérito.</p><p>As tríades do meio e inferior refletem um exame cada vez mais rigoroso de nosso</p><p>mérito, a tal ponto que Deus pode negar Sua misericórdia se não formos</p><p>merecedores.</p><p>Evidentemente, a negação também é uma manifestação de amor.</p><p>Esse princípio pode ser encontrado no relacionamento entre pais e filhos.</p><p>Um pai que ama o filho não cederá a todos os seus caprichos.</p><p>O verdadeiro amor envolve o estabelecimento de limites, que mostra à criança que</p><p>o que ela faz tem consequências.</p><p>Sem limites claros, uma criança não pode ser considerada responsável por seus</p><p>atos; sem responsabilidade, ela jamais poderá amadurecer de fato.</p><p>Deus é o Pai supremo.</p><p>Não há nada que Ele deseje mais do que nos conceder Sua bondade.</p><p>Porém, Ele Se limita visando ao nosso próprio bem, até que cresçamos.</p><p>Tudo isso e muito mais é sugerido pelas várias combinações e configurações</p><p>inerentes à árvore da vida das sefirot.</p><p>Para falar sobre estas sefirot vamos utilizar um material do Rav Aryeh Kaplan onde</p><p>adaptamos as idéias aí apresentadas para atender os nossos propósitos.</p><p>Kéter: A Coroa</p><p>A palavra “Kéter” significa “Coroa”.</p><p>Como a coroa fica sobre a cabeça, Kéter está acima de todas as outras sefirot.</p><p>Assim, muitas vezes o Zôhar o denomina “gulgolta” (crânio).</p><p>Kéter também corresponde à luz espiritual, ou aura, que envolve nosso corpo e nos</p><p>liga à raiz de nossa alma na dimensão espiritual.</p><p>Kéter uma palavra cifrada que significa “a vontade de Deus”, a razão e causa</p><p>suprema pelas quais Ele criou tudo que existe, e também o propósito e objetivo</p><p>maior que toda a criação deve alcançar.</p><p>A única finalidade deste mundo é que o homem aspire a uma vida espiritual,</p><p>busque a Divindade.</p><p>Conforme subimos a escada espiritual, nós nos aproximamos cada vez mais da</p><p>vontade suprema de Deus.</p><p>É justamente por isso que Kéter é associado ao nível mais básico e forte de nosso</p><p>livre-arbítrio.</p><p>Na esfera de Kéter, não somos compelidos nem por nossa predisposição interna</p><p>nem pelas circunstâncias externas; nossas decisões são totalmente independentes.</p><p>Isso ocorre porque a “força de vontade” emana de nossa essência, a parte do nosso</p><p>ser que se assemelha a Deus.</p><p>Quando nos conectamos com esse grau profundo de volição interna, podemos</p><p>mover montanhas e somos capazes de elevar-nos às maiores alturas espirituais.</p><p>O Rav ensinou o seguinte:</p><p>Quem poderia dizer “Estou servindo verdadeiramente a Deus”?</p><p>4</p><p>Deus é tão sublime e venerável que nem mesmo os anjos podem compreendê-Lo.</p><p>Sendo assim, qual é a utilidade de nossas devoções?</p><p>A resposta é que devemos desejar servir a Deus.</p><p>Este desejo, ou vontade, é tão poderoso que define o propósito da criação: que o</p><p>ser humano deve querer servir a Deus.</p><p>O Rav Natan acrescenta: “Mesmo que alguém não consiga realizar a mitsvá que</p><p>deseja, mesmo que a própria capacidade de praticar a boa ação lhe seja tirada,</p><p>ninguém pode controlar sua mente; ninguém pode subtrair-lhe o livre-arbítrio.</p><p>Aquele que aproveita ao máximo a energia de sua própria vontade é incluído na</p><p>“vontade das vontades‟, o mais alto dos níveis, Kéter”.</p><p>Chochmá (Sabedoria) e Biná (Entendimento)</p><p>Enquanto Kéter</p><p>é relacionado com o crânio, Chochmá e Biná são comparadas aos</p><p>dois hemisférios do cérebro.</p><p>Juntas, Chochmá e Biná são chamadas “as coisas ocultas”, porque, assim como os</p><p>pensamentos de uma pessoa só se tornam aparentes por meio de seus atos, os</p><p>efeitos de Chochmá e Biná só são visíveis quando revelados pelas sefirot mais</p><p>baixas.</p><p>Uma das fontes bíblicas de Chochmá e Biná é o seguinte versículo dos Provérbios</p><p>(3:19): “Deus criou a terra com Chochmá; Ele estabeleceu os céus com Biná.”</p><p>A Bíblia está afirmando aí que Chochmá e Biná são as forças básicas que Deus</p><p>empregou na criação do mundo.</p><p>Do ponto de vista do Divino, Chochmá constitui os axiomas que definem o mundo,</p><p>enquanto Biná representa o sistema lógico que liga esses axiomas.</p><p>Todas as leis da natureza são fundamentalmente axiomas.</p><p>Mesmo o axioma mais simples contém vários níveis.</p><p>Por exemplo, o axioma que diz que “a menor distância entre dois pontos é uma</p><p>reta” pressupõe a existência de pontos, retas, espaço, e assim por diante.</p><p>Todas essas categorias existem em Chochmá.</p><p>Em Biná, elas interagem logicamente e emergem como um sistema coerente de</p><p>leis.</p><p>Na perspectiva humana, Chochmá se manifesta como sabedoria Divina transmitida</p><p>por revelação profética.</p><p>Ela exprime a capacidade de atravessar as camadas superficiais da realidade e</p><p>perceber a essência das coisas.</p><p>Isso pode ser visto na construção da própria palavra Chochmá.</p><p>Se transpusermos as duas primeiras letras, obteremos Côach Má - literalmente, “o</p><p>“potencial de „o quê?””, ou o poder de questionar.</p><p>Neste sentido, Chochmá, Côach Má, refere-se à pergunta sobre o que uma coisa é</p><p>de verdade, a sua essência.</p><p>Chochmá também é chamada de “início”, como em “Reshit Chochmá</p><p>- O começo é sabedoria” (Salmos 111:10).</p><p>Análoga ao hemisfério direito, não verbal, do cérebro, Chochmá corresponde aos</p><p>axiomas fundamentais da cognição que estão subjacentes a todos os nossos</p><p>processos de pensamento.</p><p>Alguns desses axiomas já existem em nossa mente quando nascemos, outros lhe</p><p>são incorporados por meio de nossas experiências durante a vida.</p><p>Eles formam a base da nossa capacidade de estruturar e categorizar informações, e</p><p>assim adquirir sabedoria.</p><p>Biná é a capacidade de deduzir informações adicionais de dados que já foram</p><p>recebidos.</p><p>O Talmud define Biná como a “faculdade de entender ou distinguir uma coisa da</p><p>outra” (Sanédrium 93b).</p><p>Ela se assemelha à palavra hebraica “Bein”, que significa “entre”.</p><p>Neste sentido, Biná denota a habilidade de apreender relações implícitas.</p><p>5</p><p>Assim, enquanto Chochmá nos permite chegar à essência das coisas, Biná nos</p><p>possibilita percebê-las em relação com as outras.</p><p>No nível de Chochmá, tudo que existe é potencial ou essência indiferenciada.</p><p>É por meio de Biná que a mente diferencia as coisas.</p><p>Chochmá representa, portanto, o conhecimento indiferenciado, enquanto Biná é a</p><p>fonte da capacidade de analisar esse conhecimento e decompô-lo em seus</p><p>elementos constitutivos.</p><p>Podemos fazer uma analogia com a água (Chochmá) que flui através de um</p><p>sistema de canos (Biná).</p><p>A água em si mesma é um líquido “indiferenciado”, que não tem uma estrutura</p><p>macroscópica definida.</p><p>A estrutura lhe é imposta quando ela corre através da tubulação.</p><p>Deve-se mencionar que, em geral, as pessoas tendem a oscilar na aplicação de</p><p>Chochmá e Biná. Elas o fazem inconscientemente.</p><p>Porém, o sistema de pensamento cabalístico enfatiza a importância de tomar</p><p>conhecimento dessas mudanças sutis de estado de consciência e a necessidade de</p><p>integrá-las para que funcionem juntas.</p><p>Esse é o significado da seguinte afirmação do Sêfer Ietsirá (O Livro da Formação</p><p>1:4), uma instrução para meditação: “Entenda com sabedoria e seja sábio com</p><p>entendimento.”</p><p>A relação entre Chochmá e Biná também é expressa na Cabalá em termos de</p><p>masculino e feminino.</p><p>Na formação do ser humano, o homem fornece o espermatozóide, e a mulher o</p><p>acolhe no útero durante nove meses, até o surgimento de uma criança plenamente</p><p>desenvolvida.</p><p>Da mesma maneira, Chochmá assume a forma de uma série de fatos que podem</p><p>ser colocados no “útero” de Bíná para que deles se desenvolva uma estrutura lógica</p><p>completa.</p><p>Vemos assim que a força criativa masculina só pode ser aproveitada quando é</p><p>recebida, canalizada e processada dentro do “útero” feminino. [Essa idéia é</p><p>consistente com a relação entre sefirá e partsuf. Assinalamos aí que a sefirá de</p><p>Chochmá corresponde ao partsuf de Aba (pai), enquanto a de Biná corresponde a</p><p>Ima (mãe).].</p><p>Outro sentido de Chochmá faz alusão ao passado, enquanto Biná se refere ao</p><p>futuro.</p><p>Isso pode ser visto nas palavras “masculino‟ e “feminino” em hebraico.</p><p>Masculino é “zachar”, vocábulo formado pelas mesmas consoantes de “zocher”</p><p>(lembrar).</p><p>Feminino é “nekevá”, que contém as mesmas consoantes de “nikev” (perfurar;</p><p>penetrar).</p><p>Assim, o masculino “lembra-se” do passado, enquanto o feminino “penetra” no</p><p>futuro.</p><p>Tanto Chochmá como o passado podem ser explicados em termos das “informações</p><p>que possuímos”. O futuro, por outro lado, só existe nas projeções de nossa</p><p>imaginação, que são produtos de Biná.</p><p>Devemos, portanto, usar nossa Biná para “vê-lo”.</p><p>Dáat (Conhecimento)</p><p>Como vimos, Chochmá “fecunda” Biná, o “útero”, que “armazena” o passado e “dá</p><p>à luz” o futuro. Contudo, embora possamos recordar o passado e talvez antever o</p><p>futuro, só conhecemos o presente.</p><p>Dáat (conhecimento) é o resultado da confluência de Chochmá e Biná.</p><p>O momento presente, situado na interseção entre o passado e o futuro,</p><p>corresponde a Dáat.</p><p>Dáat representa, portanto, a idéia da união perfeita de opostos.</p><p>6</p><p>É por essa razão que a Torá usa esse termo para referir-se a relações conjugais,</p><p>como no seguinte versículo (Gênesis 4:1): “E Adão conheceu Eva, sua esposa”.</p><p>Não há relacionamento mais íntimo do que o conhecimento entre marido e mulher -</p><p>dois opostos.</p><p>Por meio das relações matrimoniais, os cônjuges se tornam “uma só carne” (ib.</p><p>2:24) e podem conceber um filho que constituirá a unificação tangível de suas</p><p>características.</p><p>Assim, tanto a união de marido e mulher como o filho nascido dela personificam o</p><p>conceito de Dáat.</p><p>Dáat é também uma manifestação especial de Kéter.</p><p>Isso pode ser visto no fato curioso de quase nunca encontrarmos Kéter e Dáat</p><p>juntos na representação da estrutura das sefirot.</p><p>Sempre que Kéter é contado entre as dez sefirot, Dáat é excluída, e vice-versa.</p><p>O Arizal discute a relação mutuamente excludente entre Kéter e Dáat em</p><p>diversos lugares.</p><p>Kéter e Dáat são, respectivamente, as manifestações interna e externa do mesmo</p><p>conceito.</p><p>Kéter, como vimos, equivale à nossa vontade mais básica, a volição interior</p><p>inviolável.</p><p>Dáat, por outro lado, é o nível do intelecto que empregamos para nos conectarmos</p><p>com o mundo.</p><p>No que concerne a Chochmá e Biná, Dáat representa uma manifestação externa.</p><p>Chochmá e Biná são processos completamente internos, e por isso são</p><p>denominadas “as coisas ocultas”, enquanto Dáat é a capacidade de expressar essa</p><p>atividade interior para os outros. Assim, Chochmá e Biná, e também, em grau mais</p><p>elevado, Kéter, são as forças subjacentes aos processos internos de pensamento,</p><p>enquanto Dáat é a base da capacidade de comunicar os próprios pensamentos de</p><p>forma efetiva.</p><p>Na esfera da consciência humana, vimos que Chochmá representa o que se poderia</p><p>chamar de pensamento puro e indiferenciado, ainda não decomposto em idéias ou</p><p>conceitos diferenciados.</p><p>No nível de Chochmá, encontramos os axiomas mais básicos da existência numa</p><p>espécie de unidade primordial.</p><p>Bíná, o nível seguinte, representa o poder de diferenciação, a capacidade de</p><p>analisar e fazer distinções lógicas.</p><p>Nesse sentido, Biná é o sistema lógico pelo qual os axiomas fundamentais de</p><p>Chochmá são delineados e definidos.</p><p>Dáat poderia ser denominada “lógica aplicada”, a manifestação</p><p>enquanto o</p><p>príncipe foi educado na casa dos servos.</p><p>Espalharam-se rumores de que as crianças haviam sido trocadas quando nasceram, e assim o</p><p>verdadeiro príncipe foi banido do reino pelo aspirante ao trono.</p><p>Ele vagou pelo mundo, satisfazendo os desejos de seu coração, mas por fim passou a refletir</p><p>sobre sua situação e a questionar seu estilo de vida.</p><p>“Se não sou o príncipe, eu deveria ter sido expulso de meu reino? E se de fato sou um</p><p>príncipe, condiz comigo viver assim?”</p><p>O príncipe começou a buscar a si mesmo - a sua verdadeira identidade - e acabou tornando-se</p><p>monarca de um reino maior do que o que lhe pertencia anteriormente.</p><p>Numa reviravolta interessante, o criado, que crescera como príncipe, tornou-se seu servo.</p><p>O Reb Natan comenta que a espada que se volvia e impedia que reentrasse no jardim do Éden</p><p>corresponde as “câmaras das trocas”. Nestas câmaras, enfrentamos continuamente conflitos</p><p>entre o bem e o mal, a luz e a escuridão, o doce e o amargo (conforme Isaias 5:20), cada um</p><p>deles se mostrando como a opção.</p><p>Em suma, essas câmaras representam nossos dilemas em relação a própria vida - devemos</p><p>escolher uma vida material ou espiritual?</p><p>O mal parece ser bom, o que na verdade é escuro apresenta-se claro e apropriado, e o que</p><p>tem sabor amargo pode tornar-se doce e maravilhoso.</p><p>O material é mau, ou o físico pode ser bom?</p><p>O espiritual é amargo demais ao paladar, ou a experiência espiritual pode ser doce?</p><p>O Reb Natan explica que a obscuridade a respeito do bem e do mal encontrada nessas</p><p>câmaras é simbolizada pela troca do príncipe pelo servo.</p><p>Foi essa falta de clareza que provocou os conflitos entre Isaak, Jacob e Esaú, José e seus</p><p>irmãos, os hebreus e as nações; e também a fonte da batalha permanente entre o corpo e a</p><p>alma.</p><p>3</p><p>Adão, ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, desceu a essas câmaras e</p><p>trocou o que era verdadeiramente bom - um eterno deleite espiritual - pela vida material e</p><p>temporal da qual depende agora a nossa existência.</p><p>A missão do homem é buscar espiritualidade, distinguir o bem do mal, para poder encerrar seu</p><p>exílio pessoal e reentrar no jardim.</p><p>É esta a luta incessante de toda alma em cada geração.</p><p>Frequentemente, a alma - que é tão elevada em sua fonte – assume a identidade de seu</p><p>ambiente material. Ela se rende e se torna cativa dos impulsos materialistas que detêm o</p><p>poder no momento, como fez o príncipe na história.</p><p>A alma esquece completamente suas origens reais, enreda-se na corporeidade e ilude-se</p><p>quanto à verdade de sua existência.</p><p>Mas é assim que deve ser?</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 3</p><p>Deus e a Alma</p><p>De acordo com o Rav Nachman, as funções do corpo físico e de suas contrapartidas na</p><p>alma são totalmente inter-relacionadas.</p><p>Ele via a alma em todos os aspectos da anatomia.</p><p>Sua forma de abordar o corpo, portanto, era inteiramente espiritual e cabalistica.</p><p>Assim sendo, esta aula tem o objetivo de fornecer uma base de conceitos cabalisticos</p><p>necessários para a compreensão de muitos dos ensinamentos que serão expostos pela</p><p>Cabalá neste sentido.</p><p>A palavra cabalá significa “recebido” e designa um conjunto de conhecimentos que foi</p><p>recebido profeticamente e transmitido com exatidão de geração em geração.</p><p>Um dos princípios fundamentais da Cabalá é que tudo que há na dimensão física possui</p><p>um análogo na dimensão espiritual.</p><p>Com efeito, um dos cognatos da palavra cabalá é hacbalá, que significa “paralelismo” ou</p><p>“correspondência”.</p><p>Isso provém de um antigo ensinamento cabalístico que diz: “Como em cima, embaixo;</p><p>como embaixo, em cima.” Com a finalidade de esclarecer esta idéia, costuma-se dedicar</p><p>a fase inicial do estudo da Cabalá ao entendimento de seu complexo sistema de</p><p>correspondências.</p><p>Não se deve, de maneira nenhuma, pensar que essas correspondências sejam</p><p>mecânicas. Ao contrário, elas nos proporcionam uma visão profunda das inter-relações</p><p>que governam toda a existência e nos levam de volta à raiz e fonte de toda a</p><p>complexidade do Próprio Ser Infinito que criou e continua a sustentar a totalidade do</p><p>holograma interdimensional que denominamos universo.</p><p>Assim, iniciaremos nossa exposição resumida do sistema cabalistico considerando o</p><p>Próprio Deus, a Fonte unitária de toda a existência.</p><p>Em seguida, apresentaremos os quatro (que na realidade são cinco) níveis do</p><p>Tetragrama, os cinco níveis da alma, os cinco níveis de universos e os cinco elementos</p><p>do mundo físico. Por fim mostraremos como as dez sefirot se relacionam com todos os</p><p>itens acima.</p><p>Deus e Seus Nomes</p><p>“Senhor dos mundos! Tu és o Oculto cuja unidade é infinita e absoluta e, portanto,</p><p>indivisível”.</p><p>Petichat Eliáhu, Ticuné Zóhar.</p><p>Não é por acaso que o principio da unidade indivisível de Deus está no início do Zôhar,</p><p>um dos mais importantes textos cabalísticos que existe. Esta primeira afirmação de</p><p>Eliáhu (o Profeta Elias) é uma indicação e advertência para todos aqueles que desejam</p><p>entender quem e o que é Deus.</p><p>Diferentemente de tudo que Ele criou, o Próprio Deus não está sujeito às leis de divisão,</p><p>categorização, quantificação e qualificação que caracterizam Sua criação.</p><p>Ele transcende todas as dicotomias, polaridades e paradoxos.</p><p>Todos estes aspectos fazem parte da criação.</p><p>Deus transcende a criação. Ele está fora do “sistema” que criou.</p><p>Não pode ser julgado segundo as suas regras nem está sujeito a elas.</p><p>A natureza bipolar da realidade é mencionada na seguinte declaração talmúdica :</p><p>„Tudo que o Santíssimo criou em Seu mundo, Ele criou macho e fêmea.”</p><p>“Macho e fêmea” refere-se, fundamentalmente, a pares de conceitos opostos, como céu</p><p>e terra, transcendência e imanência, revelação e ocultação, misericórdia e justiça,</p><p>2</p><p>onisciência Divina e livre-arbítrio humano, dia e noite, sol e lua, alma e corpo, mundo</p><p>vindouro e este mundo, etc.</p><p>Nossa experiência e percepção de Deus contêm algumas destas dicotomias ou paradoxos</p><p>básicos que estão embutidos no sistema da criação e só existem do nosso ponto de</p><p>vista, do ponto de vista do próprio sistema. Eles não definem Deus, mas apenas as</p><p>lentes duplas através das quais O percebemos.</p><p>Nas palavras do Maharal de Praga : “O significado [do Talmud ] é que o universo foi</p><p>criado de acordo com o princípio de opostos. A unidade do Bendito Nome, porém, é</p><p>absolutamente singular”.</p><p>O Salmista expressava esta mesma idéia quando cantou (Salmos 11 3:4-6): “Deus está</p><p>além da compreensão de todas as nações; Sua glória está acima dos céus mais</p><p>espirituais. Quem é como o Eterno, nosso Deus, que habita nas alturas? Ele olha para</p><p>baixo para ver o céu e a terra igualmente!”</p><p>A tradição cabalística é inequívoca.</p><p>O Próprio Deus está além de toda descrição. Ele é chamado de En Sof (O Infinito)</p><p>porque não há categoria finita com a qual possamos descrever a Ele ou a Sua Essência.</p><p>Apenas a Sua Luz, a Luz do En Sof, flui, contraída, através de todo o sistema de olamot</p><p>(universos, mundos). O termo olam deriva da raiz elem ou heelem, “ocultação” e</p><p>“encobrimento”. Basicamente, o olam (universo) é o “esconderijo secreto” de Deus.</p><p>Deus é Melech haolam, “o Rei do universo” ou “o Rei que Se oculta em Seu mundo”.</p><p>Os vários universos que Ele criou não são mais que filtros que retêm a intensa radiação</p><p>de Sua Luz Infinita. Estes filtros recebem diferentes denominações - Nomes Divinos,</p><p>sefirot, mundos, universos, dimensões ou, em seu conjunto, a dimensão espiritual.</p><p>Porém, perguntamos mais uma vez, por que precisamos de um sistema de canais, de</p><p>uma dimensão espiritual, entre nós e o Infinito?</p><p>Por que não podemos relacionar-nos diretamente com Deus?</p><p>Porque a energia seria quente demais - como um reator atômico. Não se pode ligar uma</p><p>lâmpada incandescente ao reator, a menos que se queira desintegrá-la.</p><p>É necessária uma usina geradora que reduza a potência da energia para que ela possa</p><p>ser usada sem</p><p>da mente interior.</p><p>Portanto, Dáat é a capacidade de comunicar o que sabemos.</p><p>Isso pode ser visto na definição talmúdica de surdo-mudo:</p><p>“O surdo-mudo não tem Dáat”.</p><p>Embora ele possa ter as faculdades intelectuais, por lhe faltar a capacidade de</p><p>transmitir seu conhecimento ao mundo, considera-se que ele não tem Dáat.</p><p>Por outro lado, quando se torna capaz de comunicar-se, seja por escrito, seja pela</p><p>linguagem de sinais, ele deixa de ser classificado como “mudo” pela lei judaica.</p><p>Vemos assim que a capacidade fundamental de comunicar-se e estabelecer uma</p><p>relação inteligente com o mundo externo é função de Dáat.</p><p>Juntas, Chochmá, Biná e Dáat constituem os processos mentais básicos</p><p>subjacentes a toda expressão criativa. No entanto, apesar de representarem os</p><p>níveis mais abstratos da mente, elas na verdade se derivam do impulso primordial</p><p>da vontade (Kéter), que é muito mais sutil e abstrato e está acima dos axiomas e</p><p>da lógica da criação.</p><p>Kéter, portanto, abrange Chochmá, Biná e Dáat numa unidade transcendente.</p><p>7</p><p>Isso é demonstrado por uma guematria (equivalência numérica) muito</p><p>impressionante: a soma dos valores numéricos de Chochmá (73), Biná (67) e</p><p>VeDáat (480) , o valor exato de Kéter (620).</p><p>Criação: O Centro Nervoso</p><p>“Deus criou a terra com Chochmá; Ele estabeleceu os céus com Biná; e com Dáat</p><p>dividiu os abismos”.</p><p>(Provérbios 3:19-20).</p><p>Na história da criação (Gênesis 1), o Nome Divino Elohim é mencionado 32 vezes,</p><p>que equivalem aos 32 caminhos da sabedoria com os quais Deus criou o mundo.</p><p>Se buscássemos um paralelo no corpo humano, esses 32 caminhos</p><p>corresponderiam ao sistema nervoso.</p><p>Trinta e um pares de nervos espinhais ligam a medula espinhal aos músculos, ao</p><p>aparelho sensorial e a outras partes do corpo.</p><p>O trigésimo segundo caminho, o nível mais elevado, corresponde a todo o</p><p>complexo de nervos cranianos.</p><p>[E Esaú disse:] “Não se chama ele com razão Jacob, visto que por duas vezes me</p><p>enganou? Primeiro tomou a minha primogenitura, e eis que agora tomou minha</p><p>bênção!”</p><p>Gênesis 27:36.</p><p>Com base neste versículo, o Rav Nachman ensina que o patriarca Jacob (Yaacov)</p><p>representa o intelecto. Isso pode ser verificado no Targurn (tradução) aramaico do</p><p>versículo, no qual “ele me enganou” – “vaiaakveni” é traduzido como</p><p>“vechachmeni” (palavra derivada de chochmá).</p><p>Como se sabe, Jacob teve doze filhos.</p><p>Jacob e seus filhos são associados ao caminho mais elevado da sabedoria: Jacob é</p><p>análogo ao cérebro, e os doze filhos, aos doze nervos cranianos ligados a quatro</p><p>dos cinco sentidos: visão, audição, olfato e paladar.</p><p>Os 31 pares de nervos espinhais que saem da medula espinhal e se estendem pelo</p><p>corpo inteiro correspondem aos outros 31 caminhos da sabedoria.</p><p>Estes nervos são responsáveis pela maior parte do quinto sentido, o tato, que</p><p>conecta o cérebro com o resto do corpo.</p><p>Os 31 nervos espinhais, portanto, são associados a Dáat, que reside no tronco</p><p>cerebral e se propaga pela medula espinhal e outras partes do sistema nervoso</p><p>para ligar o corpo inteiro à mente.</p><p>Essa abordagem é coerente com o princípio geral segundo o qual tudo que é</p><p>formulado em Chochmá e Bíná é canalizado para as sefirot inferiores através de</p><p>Dáat.</p><p>Por meio de Dáat, integramos os níveis mais altos de consciência, Chochmá e Biná,</p><p>a todas as nossas ações.</p><p>Assim, podemos explicar o versículo citado acima à luz de nossa compreensão das</p><p>sefirot superiores:</p><p>“Deus criou a terra [o homem] com Chochmá; Ele estabeleceu os céus com Biná [a</p><p>integração de Chochmá]; e com Dáat dividiu os abismos [criou um sistema pelo</p><p>qual o homem pode ter acesso às profundezas da criação e incorporá-las a todos os</p><p>seus atos].”</p><p>Quando desenvolvemos nosso intelecto concentrando-nos na espiritualidade,</p><p>evocamos os próprios poderes da criação!</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 14</p><p>Intelecto Fiel</p><p>Dizemos que Chochmá e Biná correspondem ao intelecto, ao que conhecemos e</p><p>entendemos.</p><p>Kéter, por outro lado, é análogo à fé - não uma fé “irracional”, mas uma fé que ao</p><p>mesmo tempo inclui e transcende o intelecto.</p><p>O intelecto de Deus é infinito; o nosso não é.</p><p>Por mais que subamos a degraus elevados da escada espiritual, sempre haverá</p><p>níveis ainda mais altos dos quais nem seríamos capazes de aproximar-nos.</p><p>O intelecto humano pode ser comparado à mente de uma criança que está em</p><p>constante aprendizagem - seja com o auxílio de professores, de livros ou das</p><p>experiências da vida.</p><p>À medida que cresce, ela compreende mais; é fortalecida pelos conhecimentos que</p><p>adquire, e estimulada a aprender ainda mais.</p><p>Cada nova descoberta abre horizontes mais amplos.</p><p>O indivíduo percebe então que há muito mais a saber do que ele pensara</p><p>inicialmente. Sempre restarão campos inteiros de conhecimento que ainda são</p><p>desconhecidos, níveis cada vez mais altos de sabedoria que ele precisa dominar.</p><p>Essa percepção o torna mais humilde.</p><p>Nós somos essa criança.</p><p>Antes que nos precipitemos como o proverbial “elefante numa loja de cristais”,</p><p>devemos tomar consciência de nossas presentes limitações e mostrar humildade.</p><p>Embora o nosso desejo seja alcançar os níveis mais elevados de entendimento</p><p>espiritual, não podemos esperar que o nosso próprio intelecto, ainda em</p><p>amadurecimento, sozinho nos conduza a eles.</p><p>Devemos desenvolver um respeito saudável pelos nossos mestres, depositando</p><p>nossa fé nos que são mais sábios do que nós.</p><p>Acima de tudo, devemos ter fé na existência de um Deus cujo intelecto transcende</p><p>o nosso.</p><p>Esta fé por si mesma nos impulsionará para os graus intelectuais mais altos.</p><p>Ela também criará dentro de nós a humildade necessária para que evitemos</p><p>avançar demais, ou com rapidez excessiva, em nossa busca.</p><p>O Rav Nachman ensinou que um cabalista deve sempre visar à sabedoria mais</p><p>elevada e ao intelecto mais profundo que se encontra em tudo.</p><p>Ele deve ligar-se a esse intelecto de modo que este possa iluminar o seu próprio</p><p>intelecto.</p><p>Dessa maneira, ele será capaz de aproximar-se de Deus</p><p>E por meio de qualquer objeto.</p><p>Pois o intelecto mais profundo é uma grande luz que brilha continuamente para a</p><p>pessoa. Assim está escrito (Eclesiastes 8:1): “A sabedoria do homem faz</p><p>resplandecer seu rosto.”</p><p>A citação acima é extraída do primeiro discurso do Rav Nachman.</p><p>Essa lição fala da importância de desenvolver ao máximo o intelecto. Buscando a</p><p>sabedoria, a pessoa pode ascender a Chaiá, o nível da alma que corresponde ao</p><p>grau mais alto e profundo de Chochmá, trazendo Essência Viva a sua vida</p><p>cotidiana.</p><p>Ele explica esse fenômeno comparando a mente à luz solar, a fonte luminosa que</p><p>nos permite ver claramente o que está à nossa frente e assim saber que caminho</p><p>tomar na vida. Porém, diz ele, a luz do sol é extremamente brilhante, tão intensa</p><p>que não podemos mirá-la diretamente, para não ficarmos cegos.</p><p>Só podemos olhar para o sol através de um filtro ou anteparo, ou ver sua luz</p><p>refletida pela lua.</p><p>2</p><p>Da mesma maneira, o intelecto humano é uma luz fortíssima que pode “cegar” a</p><p>pessoa que o usa sem “filtros”, ou seja, quem tenta ser “esperto demais” e começa</p><p>a pensar que sabe tudo que há para saber.</p><p>Para nos protegermos desta atitude, necessitamos do filtro da fé.</p><p>Como a lua reflete a luz do sol, a fé reflete a luz do intelecto.</p><p>Este filtro de fé consiste no conhecimento da existência de um intelecto superior.</p><p>Tendo isso em mente, ninguém será tão arrogante a ponto de pensar que sabe</p><p>tudo. Porém, a pessoa não é capaz de realmente entender esse intelecto, assim</p><p>como não pode ver o sol, e por isso precisa basear-se nessa mesma fé para ganhar</p><p>confiança e continuar a adquirir conhecimento.</p><p>Todas as pessoas, por mais seguras que possam parecer, têm dúvidas.</p><p>Elas se confrontam com uma grande variedade de questões e situações</p><p>embaraçosas durante a vida.</p><p>O intelecto nem sempre pode “ver” além</p><p>desse tumulto.</p><p>Em muitas ocasiões, o “sol” (isto é, a capacidade de decidir) é encoberto, e a</p><p>escuridão prevalece.</p><p>O indivíduo simplesmente não consegue “enxergar” uma saída para os seus</p><p>problemas. É a sua fé (luz refletida) na existência de uma solução que resolve a</p><p>situação.</p><p>Há uma alusão a isso no seguinte versículo (Isaías 30:26): “A luz da lua se</p><p>parecerá com a do sol.”</p><p>Quando a fé é forte, a “luz da lua” no fim aumentará e brilhará tão intensamente</p><p>quanto a do sol.</p><p>A fé guiará a pessoa por momentos difíceis, até que ela alcance a clareza genuína -</p><p>o verdadeiro intelecto.</p><p>Porém, nem tudo que se apresenta como intelecto é o verdadeiro intelecto.</p><p>Há filosofias e idéias que parecem bastante impressionantes, mas podem afastar o</p><p>indivíduo de Deus. Apesar de esse tipo de intelecto também ser chamado de “luz</p><p>solar”, a luz que ele reflete é a das falsas crenças.</p><p>Como se evidencia com freqüência, a vida das pessoas pode ser arruinada por</p><p>crenças errôneas.</p><p>Sobre essa categoria de intelecto está escrito (Isaías 24:23): “Ficará assombrada a</p><p>lua e envergonhado o sol...”</p><p>Jacob e Esaú</p><p>A Bíblia relata que Jacob era um “homem íntegro” que estudava a Torá e buscava a</p><p>espiritualidade, enquanto Esaú era um “perito caçador, homem do campo”.</p><p>Um dos principais episódios da história de Jacob e Esaú é a disputa pela</p><p>primogenitura.</p><p>Um dia, Esaú volta do campo cansado e faminto, depois de ter praticado homicídio,</p><p>adultério e idolatria.</p><p>Ele pede que Jacob o alimente, e este o atende com satisfação - sob a condição de</p><p>Esaú renunciar à primogenitura. Esaú o faz em troca de uma porção de lentilhas.</p><p>A Cabalá interpreta essa disputa da seguinte maneira: Jacob aspirava a uma vida</p><p>espiritual. Esaú, por outro lado, só estava interessado na existência material.</p><p>Vimos que Chochmá é associada ao conceito de “começo”, de ser “o primeiro”,</p><p>como no versículo “O começo é sabedoria” (Salmos 111:10).</p><p>Jacob, que buscava a sabedoria verdadeira, compreendia a importância da</p><p>primogenitura (isto é, Chochmá, que é chamada reshit, o “começo”).</p><p>Assim, quem procura a espiritualidade está ligado conceitualmente ao patriarca</p><p>Jacob, que representa o intelecto. Em virtude de sua busca de espiritualidade,</p><p>Jacob teve a oportunidade de receber a primogenitura, proeminência e bênção.</p><p>Esaú, por outro lado, preferiu satisfazer seus desejos corporais, visando apenas a</p><p>uma vida material.</p><p>3</p><p>Ele estava disposto a renunciar ao verdadeiro intelecto em troca de prazeres físicos,</p><p>temporais. Aqueles que escolhem o caminho de Esaú passam toda a vida</p><p>obstruindo a luz do verdadeiro intelecto.</p><p>Eles se distanciam de Deus e podem chegar a cometer as piores transgressões -</p><p>adultério, idolatria e assassinato (o qual muitas vezes se manifesta no hábito de</p><p>envergonhar e ridicularizar os outros, equiparado pelos nossos Sábios ao homicídio</p><p>e reconhecido no mundo como “assassinato moral”).</p><p>O Rav Natan explica que a aspiração a uma vida material equivale ao castigo de</p><p>“caret” - exclusão espiritual. Quando busca a verdadeira Chockmá, a pessoa se</p><p>aproxima cada vez mais de Kéter, o nível mais alto de comunhão com Deus.</p><p>Todavia, quem rompe a conexão com Kéter, Deus nos livre, sofre caret, ou seja, é</p><p>excluído de sua Fonte. Seu próprio empenho na vida material torna-se sua punição,</p><p>porque tal empenho jamais poderá trazer satisfação genuína.</p><p>Essa atitude é retratada no personagem de Esaú, que desprezou o espiritual, e se</p><p>expressa num sentimento de alienação de Deus, da família e até de si mesmo.</p><p>O Verdadeiro Intelecto</p><p>O Rav Natan escreve que por mais inteligente que a pessoa seja, se suas palavras</p><p>não forem palavras de verdade, elas não têm valor e podem até ser perniciosas.</p><p>Por exemplo, um médico prescreve um determinado tratamento e, com seu</p><p>conhecimento especializado, explica minuciosamente como o paciente será</p><p>beneficiado, apresentando provas para sustentar sua visão.</p><p>Porém, se o paciente vier a sofrer em conseqüência do tratamento, de que vale a</p><p>sabedoria do médico?</p><p>Esse princípio se aplica a tudo neste mundo.</p><p>Se não tiver chegado à verdade da questão, o indivíduo não adquiriu sabedoria</p><p>nenhuma.</p><p>A única forma de intelecto genuíno é a verdade.</p><p>O verdadeiro intelecto só pode ser atingido por meio da fé.</p><p>Embora, aparentemente, a fé só seja empregada quando o intelecto é incapaz de</p><p>apreender algo, em sua fonte, fé e intelecto (verdade) são uma coisa só.</p><p>Isso ocorre porque, por meio da fé, a pessoa é capaz de discernir e aceitar dos</p><p>outros (os verdadeiros tsadikim) o que ela “sabe” que é verdadeiro.</p><p>Em suma: “O conhecimento só é chamado de conhecimento quando leva a pessoa</p><p>a reconhecer Deus”.</p><p>Intelecto Transcendente e Imanente</p><p>Como vimos a alma é composta de cinco níveis interligados (Néfesh, Rúach,</p><p>Neshamá, Chaiá e Yechidá).</p><p>Os primeiros três, Néfesh, Rúach e Neshamá, são descritos como os “níveis</p><p>imanentes da alma”.</p><p>Eles correspondem, respectivamente, aos nossos desejos inconscientes, identidade</p><p>consciente (o eu) e consciência superior.</p><p>Os dois últimos níveis, Chaiah e Yechidá, são associados a Chochmá e Kéter.</p><p>Como, em geral, não somos capazes de interiorizá-los, eles são chamados de</p><p>“makifim” (“níveis circundantes de consciência”).</p><p>Ou também de “Or Makif “”Luz Circuinvolvente - A Luz que envolve uma pessoa” -</p><p>“pairam além” de nosso nível atual de Biná (entendimento).</p><p>Como poderíamos tentar alcançar esses graus mais elevados?</p><p>A resposta é que teríamos de reviver todas as fases de nosso desenvolvimento</p><p>físico (estado embrionário, infância, adolescência, juventude e maturidade).</p><p>Segundo a Cabalá, esse desenvolvimento ocorre em três etapas principais: “ibur”</p><p>(gestação), “ienicá” (amamentação) e “mochin” (intelecto maduro).</p><p>4</p><p>Em essência, elas consistem na passagem de um estado de consciência</p><p>embrionária e potencial à interiorização e efetivação dos níveis mais elevados de</p><p>nossa alma.</p><p>São períodos de crescimento e transformação espiritual, mais do que de</p><p>desenvolvimento mental e emocional.</p><p>Ou seja, mais do que marcar o nascimento de novos níveis de intelecto, elas</p><p>representam as principais etapas do processo de “dar à luz” a si mesmo.</p><p>É necessário um grande esforço para alcançar esses graus mais altos.</p><p>A luta e as dificuldades enfrentadas correspondem às fases de gestação e</p><p>amamentação.</p><p>Porém, essa luta conduz à satisfação de ver uma “criança” crescer e atingir a</p><p>maturidade plena, por meio da internalização de uma consciência expandida de</p><p>Deus em todas as áreas da vida.</p><p>O Rav ilustra esse conceito estabelecendo uma analogia com uma mulher em</p><p>trabalho de parto.</p><p>O parto sempre é acompanhado de algum grau de dor.</p><p>À medida que se aproxima a hora do nascimento, a dor pode tornar-se quase</p><p>insuportável, e, nesse momento, muitas mulheres gritam como se estivessem</p><p>morrendo. Então surge uma nova vida.</p><p>Da mesma maneira, para “dar à luz” um nível mais elevado de consciência,</p><p>devemos suportar as “dores do parto”, clamando a Deus que nos ajude.</p><p>Nachman também explica que, sempre que interiorizamos esse nível de intelecto</p><p>transcendente, que antes estava um pouco além de nosso alcance, e o tornamos</p><p>imanente, o grau seguinte - o intelecto transcendente que até então nos era</p><p>impossível alcançar - torna-se acessível.</p><p>É como caminhar a um ponto no horizonte longínquo, além do qual não podemos</p><p>enxergar.</p><p>Quando chegamos a esse ponto, um novo horizonte se abre diante de nossos olhos.</p><p>Exatamente do mesmo modo, nosso processo de crescimento e amadurecimento</p><p>espiritual/intelectual está destinado a prosseguir por toda a eternidade, de fato ad</p><p>infinitum.</p><p>Mesmo depois da morte física, a alma eterna continua a buscar o infinito.</p><p>Essa é a dádiva de Deus para Suas criaturas: a capacidade de obter a vida eterna,</p><p>de atingir níveis sempre mais altos de Divindade, de aproximar-se Dele cada</p><p>vez</p><p>mais, subindo continuamente a escada cósmica, internalizando um nível após o</p><p>outro, para todo o sempre.</p><p>Naassê Venishmá</p><p>“Naassê venishmá” [faremos e ouviremos] tudo que Deus falou Êxodo 24:7</p><p>Quando Israel recebeu a Torá no Sinal e declarou “Naassê venishmá”, anjos</p><p>desceram e puseram duas coroas sobre a cabeça de cada um.</p><p>Uma coroa correspondia ao “naassê”, e a outra, ao “nishmá”.</p><p>Essas coroas foram removidas mais tarde, depois que Israel adorou o bezerro de</p><p>ouro, mas serão recolocadas no futuro. Assim está escrito (Isaías 35:10): “E</p><p>retornarão os que foram redimidos por Deus; virão a Tsion com cânticos de júbilo e</p><p>uma alegria eterna sobre a cabeça.”.</p><p>Todos os comentaristas fazem uma pergunta óbvia: Como pode o “naassê”</p><p>preceder o “nishmá”?</p><p>Como é possível fazer algo antes de ouvir o que deve ser feito?</p><p>Como pôde Israel aceitar a Torá com tanta pressa, mesmo antes de saber o que</p><p>estava aceitando?</p><p>A opinião consensual é que o fazer se refere ao cumprimento das mitsvót, enquanto</p><p>o ouvir diz respeito à compreensão do significado das mitsvót.</p><p>5</p><p>Isso pode ser comparado à situação de um adulto que sabe o que é melhor para</p><p>seu filho e lhe diz que cumpra suas obrigações, esperando que, quando</p><p>amadurecer, a criança entenda com clareza a importância e a necessidade desses</p><p>deveres.</p><p>Mas a Bíblia e os ensinamentos de nossos Sábios sempre são muito mais profundos</p><p>do que aparentam inicialmente, e o Rav Nachman explica o suposto paradoxo do</p><p>“naassê venishmá” com uma abordagem original e com muita maestria:</p><p>As palavras “naassé venishmá” correspondem aos aspectos ocultos e revelados da</p><p>Torá.</p><p>“Naassé - faremos” é um sinônimo da Torá revelada e significa os preceitos que</p><p>cada um pode cumprir de acordo com o seu nível.</p><p>“Nishmá - ouviremos” é um sinônimo da Torá oculta, a que está além do grau atual</p><p>de compreensão do indivíduo.</p><p>Esta mesma relação existe entre a Torá e a oração.</p><p>“Faremos” é um sinônimo da Torá - aquela que nos é revelada, que sabemos como</p><p>cumprir. “Ouviremos” é um sinônimo daquilo que está oculto e corresponde às</p><p>coisas pelas quais temos de rezar.</p><p>A Torá é o aspecto revelado do conhecimento.</p><p>A oração representa a Torá oculta - o que está além de nossa capacidade de</p><p>entendimento e interiorização no momento.</p><p>Ela corresponde ao “Makif” (a luz circundante), e pedimos, em nossas orações, que</p><p>possamos alcançá-lo e apropriar-nos dele.</p><p>Com a descrição dessa relação dinâmica, o Rav nos ensina que nosso objetivo deve</p><p>ser compreender o que está oculto e torná-lo revelado.</p><p>Isso se realiza por meio do estudo da Torá com a intenção de cumprir seus</p><p>preceitos, seguido de uma oração na qual pedimos a Deus que tenhamos o mérito</p><p>de entender o sentido profundo do que acabamos de estudar.</p><p>Era este o propósito do Rei David quando proferiu a seguinte oração (Salmos</p><p>119:18): “Desvenda meus olhos para que eu possa perceber as maravilhas ocultas</p><p>de Tua Torá!”</p><p>Assim fizeram todos os nossos grandes profetas e sábios, bem como o Rei David</p><p>nos cinco livros de Salmos que, significativamente, correspondem aos cinco livros</p><p>da Torá.</p><p>Com os Salmos, o Rei David de fato transformou a Torá em prece.</p><p>Nós somos capazes de fazer o mesmo.</p><p>A Torá é a vontade de Deus.</p><p>Depois de estudá-la, podemos transformar o trecho que aprendemos em oração.</p><p>“Restituindo a Deus Sua Torá em forma de oração” (isto é, rezando para que</p><p>possamos cumprir o estudado e ter o mérito de compreender a profundidade da</p><p>Torá), nós Lhe dizemos que queremos o que Ele quer e completamos o círculo,</p><p>transformando nossa vontade na Dele.</p><p>Ao fazê-lo, obtemos o mérito de ter nossas orações traduzidas em mais Torá, num</p><p>nível mais profundo - o que estava oculto é revelado; o que estava totalmente fora</p><p>de nosso alcance é interiorizado em todas as áreas de nossa vida.</p><p>Então nos tornamos dignos das duas coroas do Naassê Venishmá que adornavam o</p><p>povo hebreu no Sinai!</p><p>Nachman conclui que essas coroas são a essência da grande alegria que sentiremos</p><p>no mundo vindouro - elas são “o Kéter” que nos esforçamos por alcançar, o nível</p><p>mais alto de comunhão com Deus.</p><p>Por isso, há um versículo que afirma (Isaías 35:10): “E retornarão os que foram</p><p>redimidos por Deus; virão a Tsion com cânticos de júbilo e uma alegria eterna</p><p>sobre a cabeça”.</p><p>A “alegria eterna” é a alegria do mundo vindouro, que no presente está além de</p><p>nossa compreensão.</p><p>6</p><p>Quando “rezamos a Torá de Deus”, pondo a nossa vontade em conformidade com o</p><p>Seu desejo de nos levar à posição de merecer a vida eterna, podemos atingir a</p><p>alegria e o contentamento do mundo vindouro mesmo agora, neste mundo.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 15</p><p>Kéter: O Crânio</p><p>O intelecto é a “coroa” das realizações do homem na vida.</p><p>No entanto, como vimos ele deve ser controlado e filtrado pela fé.</p><p>Por um lado, a fé representa a sefirá de Kéter e, pelo outro, a sefirá de Malchut.</p><p>Isso nos apresenta um paradoxo.</p><p>Considere o seguinte: Kéter, a sefirá mais elevada, corresponde ao crânio, que em</p><p>geral atinge seu tamanho máximo quando a pessoa tem vinte e um anos.</p><p>Por conseguinte, a expansão e o crescimento físico do cérebro, que vinham</p><p>ocorrendo até esse momento, chegam ao seu limite.</p><p>A ampliação é detida.</p><p>Essa é a relação entre a fé (Kéter; o crânio) e o intelecto (Chochmá e Biná; os</p><p>hemisférios direito e esquerdo do cérebro).</p><p>A fé impede o intelecto de ir além de um certo ponto.</p><p>Ao mesmo tempo, porém, a fé corresponde a Malchut, a sefirá mais baixa.</p><p>Como tal, Malchut serve de passagem para todas as sefirot mais elevadas.</p><p>Sua própria essência evidencia o desejo de crescer além das limitações presentes.</p><p>Como é possível que a fé seja tanto Kéter como Malchut?</p><p>Como ela pode, simultaneamente, limitar e permitir a expansão?</p><p>A Escada Espiritual</p><p>Para explicar esse paradoxo, precisamos entender mais um ensinamento do Arizal.</p><p>Lembre-se de que, com base no Nome Inefável de Deus, IHVH, a Cabalá fala de um</p><p>grande sistema de cinco universos celestiais.</p><p>Cada um desses universos é um microcosmo, uma réplica em miniatura composta</p><p>de inúmeros níveis dentro de níveis que são, por sua vez, réplicas em miniatura do</p><p>universo (e de todo o grande complexo de universos) do qual fazem parte.</p><p>Algo análogo a esse sistema pode ser encontrado em nosso mundo físico - a célula</p><p>de um organismo vivo.</p><p>A informação básica necessária para a reprodução do organismo inteiro (chamada</p><p>de DNA) está codificada no interior de cada célula.</p><p>Da mesma maneira, dentro de cada universo, e em cada nível ou sefirá dentro de</p><p>cada universo, existem miríades de níveis, cada um dos quais constitui uma réplica</p><p>em miniatura do sistema inteiro.</p><p>De modo semelhante, como vimos, a alma humana pode ser comparada a uma</p><p>escada composta de cinco grandes degraus (Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiáh</p><p>Yechidá) que atinge os níveis mais elevados da dimensão espiritual.</p><p>Cada um desses degraus, por sua vez, é formado por cinco degraus menores.</p><p>Por exemplo, há Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Yechidá de Néfesh; Néfesh,</p><p>Rúach, Neshamá, Chaiá e Yechidá de Rúach; Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e</p><p>Yechidá de Neshamá, e assim por diante, que perfazem 25 degraus menores.</p><p>O sistema não termina aí, porque se subdivide repetidamente.</p><p>Todo degrau menor tem mais cinco degraus, que produzem um subtotal de 125</p><p>degraus.</p><p>Embora o sistema seja ainda mais complexo, com muitas subdivisões adicionais,</p><p>pararemos aqui para analisar o sentido dessa profusão de níveis dentro de níveis</p><p>dentro de níveis, que suscita a seguinte questão: Por que há tantos níveis?</p><p>Pense nisso por um instante.</p><p>Mesmo Néfesh de Néfesh tem cinco degraus menores; ou seja, mesmo o nível mais</p><p>baixo de Néfesh contém uma iluminação do nível mais alto de Yechidá.</p><p>De onde vem essa Yechidá de Néfesh de Néfesh?</p><p>A resposta é que ela se baseia na Néfesh de</p><p>Néfesh de Yechidá.</p><p>2</p><p>Isso significa que uma iluminação de Yechidá desce até o nível mais baixo de nossa</p><p>Néfesh, o que tem implicações espantosas.</p><p>Isso indica que o sistema inteiro está interligado.</p><p>No que se refere a Yechidá de Néfesh, por exemplo, o grau mais alto de Néfesh</p><p>nunca é separado de sua fonte em Yechidá.</p><p>Yechidá de Néfesh é literalmente uma extensão de Néfesh de Yechidá.</p><p>Este fato nos mostra que o nível espiritual mais elevado que podemos alcançar</p><p>(Yechidá) está presente em nossa vida atual (Néfesh).</p><p>Neste exato momento e lugar, podemos lançar-nos à eternidade e trazer sua luz</p><p>vivificante às nossas experiências mais mundanas.</p><p>Nossa tarefa, portanto, é realizar a Yechidá de nossa Néfesh, tirá-la do estado</p><p>potencial e dar-lhe uma posição dominante em nossa vida.</p><p>Um dos benefícios que obtemos do fenômeno da multiplicidade de níveis é a</p><p>proximidade.</p><p>A distância entre os grandes degraus de nossa escada espiritual individual diminui.</p><p>Assim, o nível mais alto de Néfesh (Yechidá de Néfesh de Néfesh) fica muito mais</p><p>perto da extremidade inferior de Rúach (Néfesh de Néfesh de Rúach) que fica</p><p>imediatamente acima dele.</p><p>O processo é idêntico à experiência de subir e descer uma escada física.</p><p>É impossível passar de um degrau a outro se eles estiverem afastados demais.</p><p>O mesmo se aplica à subida da escada espiritual de nossa alma.</p><p>Visto que cada degrau menor está muito mais perto do degrau ainda menor que</p><p>está logo acima dele, não precisamos subir aos pulos.</p><p>Podemos crescer espiritualmente dando um pequeno passo de cada vez, mantendo</p><p>a consistência em nossas devoções e ascendendo um pouco mais a cada dia, sem</p><p>desanimarmos devido ao que ainda falta.</p><p>De modo semelhante, pequenos passos também são vantajosos quando ocorre uma</p><p>descida espiritual.</p><p>Se o nosso grau de devoção declinar, Deus nos livre, não perderemos tudo de uma</p><p>vez.</p><p>Receberemos muito apoio pelo caminho e numerosas oportunidades de</p><p>recuperação, para que retornemos à posição anterior e continuemos a subir a níveis</p><p>sempre mais elevados.</p><p>O Ari ensina que o grau mais alto de Néfesh (Yechidá de Néfesh) é um templo para</p><p>a extremidade inferior de Rúach (Néfesh de Rúach).</p><p>De fato, é aí que os níveis se sobrepõem e unificam.</p><p>Assim, conforme crescemos, internalizamos e integramos o nível que antes talvez</p><p>estivesse fora de nosso alcance.</p><p>Por exemplo, embora até este momento fôssemos incapazes de ir além de Yechidá</p><p>de Néfesh, agora podemos alcançar Néfesh de Rúach.</p><p>Além disso, a luz de Rúach passa também a permear nossa Néfesh, a ponto de o</p><p>próprio Ruach elevá-la e incorporá-la dentro de si.</p><p>Este princípio é válido em todos os níveis da ascensão.</p><p>O grau mais alto sempre eleva e transforma o que está abaixo dele.</p><p>Isso explica nosso aparente paradoxo.</p><p>Cada universo tem dez sefirot, e mais dez sefirot dentro de dez sefirot.</p><p>No interior de cada universo, Malchut (correspondente a Néfesh) é a sefirá mais</p><p>baixa, enquanto Kéter (correspondente a Yechidá) é a mais alta.</p><p>À medida que se sobe a escada espiritual, o Kéter de um universo mais baixo</p><p>torna-se a Malchut de um universo superior.</p><p>O crânio humano, que abarca e limita o intelecto, é associado a Kéter, que reflete</p><p>nossa fé num intelecto superior que transcende o que podemos entender no</p><p>presente.</p><p>3</p><p>Assim, a própria limitação é uma abertura para graus cada vez mais altos de</p><p>intelecto e fé. Nosso Kéter atual é na realidade a Malchut do nível mais elevado que</p><p>atingiremos em seguida.</p><p>O Talmud nos ensina que “No futuro, os justos se sentarão com suas coroas na</p><p>cabeça e se deleitarão com o brilho da Shechiná [Presença Divina].”</p><p>O Rav Nachman pergunta: “Não deveria ser „coroas sobre a cabeça‟? Ou seja, o</p><p>intelecto transcendente que corresponde a Kéter não deveria repousar sobre a</p><p>cabeça?”</p><p>A resposta é que “em” faz alusão ao intelecto transcendente (Kéter) que</p><p>atualmente circunda a cabeça dos justos, mas que no futuro será internalizado e</p><p>imanente.</p><p>Quando esta interiorização ocorrer, um intelecto transcendente maior se abrirá, que</p><p>é a Malchut do próximo nível.</p><p>Kéter e a Paciência</p><p>De uma forma ou de outra, todos os ensinamentos do Rav Nachman oferecem uma</p><p>visão profunda da dinâmica da verdadeira elevação espiritual.</p><p>Numa de suas principais lições (que citaremos abaixo), ele explica que, até certo</p><p>ponto, todo crescimento e avanço ocorrem dentro dos limites da posição atual da</p><p>pessoa.</p><p>Por exemplo, quando alguém está no nível de Néfesh, todos os seus esforços</p><p>espirituais até esse momento visavam à retificação dos cinco níveis de sua alma</p><p>dentro de Néfesh.</p><p>Só depois de concluir essa retificação o indivíduo estará pronto para avançar para o</p><p>próximo nível, Rúach.</p><p>Porém, aqui surge um problema.</p><p>Como a pessoa sabe que atingiu seu apogeu no nível inferior e está preparada para</p><p>passar para o grau seguinte?</p><p>Como ela pode entender as implicações da subida ao próximo nível?</p><p>Além disso, restrições são necessárias para manter a mente sob controle e assim</p><p>evitar que a pessoa seja exposta a níveis demasiadamente intensos, que estão</p><p>além das habilidades que ela desenvolveu até então.</p><p>Como ela pode superar com segurança o seu nível atual sem ir além das limitações</p><p>de sua mente racional?</p><p>Essa é a função de Kéter.</p><p>A palavra kéter significa “coroa”, mas também denota “espera”, como vemos em</p><p>“Espera-me [catar] um pouco” (Jó 36:2).</p><p>A “coroa” indica que há “algo acima”, que impele a pessoa a subir ao nível</p><p>seguinte.</p><p>No entanto, deve-se notar que é impossível atingir esse nível diretamente.</p><p>Existe uma “barreira” que cerca o indivíduo e o impede de avançar além de seu</p><p>alcance.</p><p>Essa barreira, Kéter, se manifesta na característica da paciência, que impõe um</p><p>período de espera entre a absorção do conhecimento no nível que já foi atingido e a</p><p>passagem para um nível mais elevado.</p><p>Quem “usa a cabeça” perceberá a diferença.</p><p>Com o intelecto sob controle, ele será capaz de reconhecer suas limitações e</p><p>deficiências.</p><p>Ao mesmo tempo, sempre procurará esforçar-se para chegar a níveis mais</p><p>elevados e estará pronto para aproveitar as oportunidades de crescimento.</p><p>Assim, Kéter atua como uma barreira automática que impede a pessoa de ir “longe</p><p>demais, rápido demais”.</p><p>Para poder subir continuamente a escada espiritual, o indivíduo deve empenhar-se</p><p>no cultivo da virtude da paciência, uma necessidade absoluta para a obtenção de</p><p>Kéter - o intelecto mais elevado.</p><p>4</p><p>Vejamos como o Rav Nachman traduz esses ensinamentos em conselhos práticos</p><p>para aqueles que buscam um modo de vida espiritual.</p><p>As Nove Camaras</p><p>“Detrás dessa cortina, por meio da busca do pensamento [superior] que alcança e</p><p>no entanto não alcança, nove câmaras são criadas.</p><p>Elas não são nem [do nível das] luzes, nem espíritos, nem almas sublimes.</p><p>Ninguém pode compreendê-las...</p><p>Elas não se fazem acessíveis ou conhecidas”.</p><p>(Zohar)</p><p>O cérebro nunca descansa.</p><p>Mesmo quando a pessoa dorme, a mente permanece ativa, ainda que em estado</p><p>subconsciente.</p><p>Na dimensão espiritual, o nível mais alto do cérebro é Kéter, no qual se tenta</p><p>alcançar um intelecto de natureza transcendente.</p><p>Porém, até onde o ser humano pode subir intelectualmente?</p><p>A que altura pode chegar a mente?</p><p>Considerando-se que há tantos níveis, mesmo no mundo mais baixo de Assiá, e</p><p>muitos mais nos universos superiores, é possível ao homem “tocar o céu”?</p><p>Poderá ele ter esperança de algum dia obter conhecimento absoluto de Deus?</p><p>Numa de suas lições mais profundas, o Rav. Nachman explica:</p><p>Saiba que existe uma luz mais elevada do que Néfesh, Rúach e Neshamá.</p><p>É a Luz do Infinito.</p><p>Embora o intelecto não possa captá-la, a mente corre e persegue-a</p><p>constantemente. Em virtude desta “corrida”, é possível ao intelecto captar a Luz no</p><p>sentido de “alcançar e não alcançar”.</p><p>Pois a verdade é que não é possível</p><p>realmente captá-la, porque esta Luz está num</p><p>nível acima de Néfesh, Rúach e Neshamá. E saiba que é impossível captar esta Luz</p><p>mesmo no sentido de “alcançar e não alcançar”, exceto por meio da prática das</p><p>mitsvót com alegria.</p><p>O Rav explica em seguida que, por meio da prática das mitsvót com alegria, a</p><p>pessoa redime e eleva a Shechiná (a Presença Divina, que corresponde à sefirá de</p><p>Malchut) de Seu exílio.</p><p>O conceito da Shechiná no exílio pode ser entendido, num nível simples, como a</p><p>ocultação de Deus - o homem é incapaz de estar ciente de Deus a cada instante</p><p>porque a Presença Divina não é sentida com facilidade.</p><p>É por esta mesma razão que a Shechiná é associada a Malchut.</p><p>Malchut traduz-se como “realeza” e é a sefirá na qual ocorre a interação entre Deus</p><p>e o homem. Aceitando plenamente Deus como Rei, o homem mostra consciência e</p><p>reconhecimento da Presença Divina. Logo, a expressão “Shechiná no exílio” indica</p><p>que o homem ainda não admitiu completamente a Malchut de Deus e não sente a</p><p>Sua Presença. Para tomar consciência plena da Shechiná, a pessoa deve cumprir as</p><p>mitsvót com alegria.</p><p>O Zôhar ensina que todas as mitsvót da Torá correspondem ao nível de Néfesh, e</p><p>assim, por extensão, também ao nível de Malchut.</p><p>Isso pode ser deduzido do seguinte versículo (Levítico 4:2): “Se uma alma [néfeshj</p><p>pecar por engano contra uma mitsvá proibitiva...”, O fato de a Escritura usar o</p><p>termo mitsvá ligado a néfesh indica que as mitsvót da Torá correspondem ao nível</p><p>de Néfesh.</p><p>O pecado mancha a Néfesh e os elementos que lhe são associados - Malchut e a</p><p>Shechiná. Inversamente, a prática das mitsvót retifica Malchut, e praticá-las com</p><p>alegria eleva Malchut. Isso de fato pode ser percebido, pois, quando está alegre, a</p><p>5</p><p>pessoa se sente enaltecida e fica entusiasmada.</p><p>Na disposição antropomórfica das sefirot, Malchut representa os pés.</p><p>A alegria é um meio de elevar os “pés” e iniciar a ascensão a níveis mais altos.</p><p>A pessoa começa a subir do degrau mais baixo da escada espiritual e avança a</p><p>partir de Malchut (os “pés”), passando pelas seis sefirot seguintes e continuando</p><p>até atingir o nível dos mochin: Chochmá, Biná e Dáat.</p><p>Esse movimento pode ser comparado ao de uma criança que primeiro aprende a</p><p>construir brincando com um conjunto simples de blocos de madeira.</p><p>Quando já domina a montagem com peças básicas, ela está pronta para usar um</p><p>jogo de blocos de encaixe e assim alcançar um padrão mais complexo de projetos e</p><p>construções.</p><p>Em seguida, pode passar para artefatos metálicos sofisticados que simulam</p><p>edificações e requerem novas ferramentas, e assim por diante.</p><p>Na elevação espiritual, como vimos acima, até certo ponto todo crescimento e</p><p>avanço ocorrem dentro das limitações do nível presente da pessoa.</p><p>Kéter, que está relacionado à palavra “catar” (esperar), conforme mencionamos,</p><p>atua de modo a impedir que a mente avance além de seu alcance e passe para o</p><p>grau seguinte antes que a pessoa esteja preparada.</p><p>Isso explica por que Kéter se evidencia na virtude da paciência - o indivíduo</p><p>reconhece (isto é, tem consciência de) suas deficiências, mas ao mesmo tempo</p><p>continua a lutar por níveis mais altos.</p><p>Assim, o Rav Nachman descreve Kéter como “messader umeiashev” dos mochin.</p><p>Messader significa “o que coloca em ordem”, e meiashev, “o que assenta”.</p><p>Kéter “impõe ordem” quando a mente perde a razão e fica fora de si, indo além de</p><p>sua capacidade atual.</p><p>Ele assenta a pessoa em seu lugar, restabelecendo o devido equilíbrio do</p><p>crescimento espiritual. Em essência, ele fornece os rudimentos da paciência e</p><p>também ensina uma forma de paciência mais concentrada aos que estão dispostos</p><p>a esforçar-se para obtê-la.</p><p>Esse aspecto de Kéter torna-se ainda mais indispensável no nível espiritual mais</p><p>alto que o ser humano pode alcançar.</p><p>Neste grau elevadíssimo, os três mochin interagem uns com os outros, triplicando</p><p>sua força espiritual (ou seja, Chochmá, Biná e Dáat de Chochmá interagem com</p><p>Chochmá, Biná e Dáat de Biná e de Daat).</p><p>Assim, quando se sobe a escada espiritual por meio da alegria, cria-se uma força</p><p>“multiplicada por nove” (três vezes três mochin) de poderes espirituais.</p><p>Agora, se Kéter é necessário nos níveis inferiores, nos quais se lida com apenas</p><p>uma força, ele o é muito mais quando a pessoa se vê diante de três forças</p><p>triplicadas. Em tal situação, o intelecto pode “explodir” e crescer exponencialmente,</p><p>de forma desproporcionada.</p><p>A força restritiva de Kéter é imprescindível para manter a mente sob controle.</p><p>O Rav Nachman explica que este é o mistério das nove câmaras mencionadas no</p><p>Zôhar; Os três mochin, Chochmá, Biná e Dáat, interagem uns com os outros.</p><p>A interação os expande e os transforma em nove câmaras de conhecimento e</p><p>energia espiritual.</p><p>O Zôhar ensina que essas câmaras não podem ser descritas: elas se referem ao</p><p>nível mais sublime, que “alcança e no entanto não alcança” contato direto com o</p><p>Infinito. Isto é, ainda que esse nível esteja além da capacidade de compreensão do</p><p>homem, a mente corre em sua direção.</p><p>A alma busca sua fonte, e a mente procura o conhecimento supremo, o</p><p>conhecimento de Deus.</p><p>6</p><p>Quem aprende a conter-se, utilizando tanto o intelecto como a fé e misturando-os</p><p>para que trabalhem em uníssono, pode atingir o Kéter de seu nível atual. Depois</p><p>ele pode ir adiante e para cima - por meio da alegria - até entrar em níveis</p><p>espirituais que são realmente muito impressionantes; e então ascender</p><p>continuamente, a graus cada vez mais altos - para aproximar-se das nove câmaras.</p><p>Ratson (Vontade)</p><p>Quando tratarmos do sistema respiratório, falaremos mais sobre o conceito de</p><p>desejo.</p><p>Vontade e desejo estão intimamente relacionados, mas também podem ser opostos</p><p>perfeitos: a vontade em geral se baseia numa escolha racional, enquanto o desejo</p><p>costuma originar- se de emoções profundas.</p><p>Estabelecemos uma distinção entre Kéter, a vontade [ou instinto] primordial, e</p><p>Dáat, o desenvolvimento desse instinto, que se manifesta como desejo.</p><p>Kéter, como a primeira sefirá ou emanação, é considerado a “vontade primordial”</p><p>porque, quando foi criado, não havia nada, exceto a Luz do Infinito.</p><p>Kéter é, portanto, uma “vontade inicial”, enquanto Dáat, que se segue a Chochmá e</p><p>Biná, é uma manifestação desenvolvida dessa vontade e, portanto, mais</p><p>estreitamente associada ao desejo.</p><p>Kéter é a fonte do livre-arbítrio do homem - sua capacidade de decidir como agir e</p><p>reagir nas diferentes situações da vida.</p><p>Quando é direcionada para o bem, essa capacidade pode levar a pessoa ao nível de</p><p>Kéter.</p><p>Contudo, ela também pode tornar-se uma força nociva.</p><p>Quando um discípulo lhe pediu que definisse o livre-arbítrio, o Rav Nachman</p><p>respondeu: “É realmente muito simples: Se quiser, você faz. Se não quiser, você</p><p>não faz.”</p><p>O Rav Natan comenta que essa afirmação aparentemente simples transmite um</p><p>ensinamento muito importante. As pessoas em geral agem como se não pudessem</p><p>fugir ao controle de seus desejos ou impulsos.</p><p>Às vezes, justificam uma ação ou reação negativa alegando que são assim mesmo</p><p>e não podem mudar. O Rav ensina aqui que todos, a qualquer instante, podem</p><p>mudar, simplesmente escolhendo de modo diferente.</p><p>O Rav Natan vê implicações muito amplas nessa lição.</p><p>Ele explica que Deus, no momento em que criou o homem, colocou em suas mãos</p><p>o poder do livre-arbítrio. Quando uma pessoa resolve buscar a espiritualidade, essa</p><p>decisão “obriga” Deus, por assim dizer, a ativar os poderes que se encontram na</p><p>criação para apoiar o seu desejo.</p><p>Inversamente, se alguém prefere seguir os desejos mais vis de seu coração, ou até</p><p>mesmo a maldade absoluta, essa decisão “obriga” Deus a apoiá-lo e auxiliá-lo no</p><p>caminho escolhido.</p><p>Com o exercício da sua vontade, a pessoa pode libertar-se do passado, subir ao</p><p>Kéter de seu nível atual e daí seguir avançando, ou desfazer-se de todo bem</p><p>que já</p><p>tenha realizado e descer a graus muito inferiores aos de sua presente posição.</p><p>A vontade controla tanto as mudanças comportamentais como as espirituais.</p><p>Como instinto primário do homem, ela se torna o primeiro passo na busca de</p><p>espiritualidade.</p><p>A “Vontade das Vontades”</p><p>Num de seus discursos clássicos sobre o assunto, o Rav Natan define a vontade da</p><p>seguinte maneira: A força principal é a vontade. O homem deve acostumar-se a</p><p>ansiar, desejar, almejar, anelar e aspirar, a cada instante, por Divindade - estudar</p><p>a Sua Torá, cumprir as Suas mitsvót “conexões” e também de todas as outras</p><p>maneiras servi-Lo adequadamente.</p><p>7</p><p>O Rav Nachman ensinou que a vontade é o aspecto principal do serviço a Deus.</p><p>Nem mesmo os anjos poderiam afirmar verdadeiramente que servem a Deus da</p><p>forma apropriada, por causa de Sua grandeza e elevação, que não podem ser</p><p>descritas.</p><p>Assim sendo, como é possível que o homem tenha esperança de um dia servir a</p><p>Deus?</p><p>Devido ao seu desejo de servir a Deus.</p><p>Nesta área, todas as pessoas podem ser iguais.</p><p>Embora sejamos todos diferentes, e dois indivíduos não possam ter os mesmos</p><p>desejos, a vontade e o desejo de cada um atuam como sua maior força na luta</p><p>para alcançar o mais elevado dos níveis.</p><p>Quem dirige sua vontade para Deus no fim subirá a um nível de verdadeira</p><p>espiritualidade. Mesmo que seja impedido por fatores externos de realizar o que</p><p>deseja no serviço a Deus, ele não será responsabilizado por isso. Contanto que não</p><p>perca a esperança e continue querendo fazer o bem e servir a Deus, ele será</p><p>recompensado, porque seu desejo está na direção certa.</p><p>A principal recompensa que a alma pode obter é chegar à vontade suprema, que,</p><p>na linguagem do Zôhar, é denominada “raavá deraavin” (literalmente, “a vontade</p><p>das vontades”).</p><p>A alma foi enviada do plano mais elevado a este universo material grosseiro.</p><p>Enquanto sua alma estiver contida no corpo físico, a pessoa deve aprender a guiar</p><p>sua vontade para a vontade do seu Criador. Isso pode ser comparado à situação de</p><p>duas pessoas que se sentem muito próximas.</p><p>Quanto maior a distância que as separa, maior a sua vontade de unir-se</p><p>novamente.</p><p>De modo semelhante, a alma viajou do mais alto dos níveis – Kéter - a este mundo</p><p>inferior. Aqui ela deve aprender a orientar sua vontade para voltar a sua fonte e</p><p>merecer a proximidade de Deus no mundo vindouro. Por outro lado, uma má</p><p>vontade afasta a pessoa de Deus. Assim como os bons desejos acabam conduzindo</p><p>a boas ações, os maus desejos rebaixam o indivíduo e o distanciam de Deus.</p><p>O Rav Natan explica em seguida que, como Kéter é a primeira manifestação da</p><p>vontade de Deus de criar o mundo, tudo na criação reflete um aspecto da vontade</p><p>Divina. Por esta razão, o homem pode encontrar Deus em toda parte, pois Sua</p><p>vontade está presente em tudo. Assim, não existe desespero para quem busca a</p><p>espiritualidade.</p><p>Em qualquer lugar ou nível em que esteja, o homem sempre pode encontrar Deus.</p><p>Esta deve ser a principal ocupação do homem na vida, desejar e ansiar por</p><p>Divindade.</p><p>O Rav Natan explica ainda que a recompensa para quem busca a espiritualidade é a</p><p>capacidade de avançar espiritualmente, com o crescimento constante da</p><p>consciência e do conhecimento de Deus, bem como de pôr sua vontade em</p><p>conformidade com a vontade de Deus e ser incluído na Sua Unidade.</p><p>Direcionando sua vontade para servir a Deus da melhor forma possível, o indivíduo</p><p>conecta-se a Kéter, a vontade suprema.</p><p>Como vimos, uma vez que Kéter é definido como sendo, ao mesmo tempo, o</p><p>propósito supremo da criação e a recompensa do mundo vindouro, a pessoa pode</p><p>de fato experimentar e provar sua recompensa eterna mesmo neste mundo.</p><p>Curiosamente, o Rav Nachman ensina que, por meio da alimentação, pode-se</p><p>adquirir uma consciência mais profunda dessa vontade.</p><p>Esta afirmação é surpreendente, porque a vontade representa Kéter, o nível</p><p>espiritual mais alto, enquanto comer parece ser uma função mundana grosseira.</p><p>Todavia, como explica o Rav Natan, a alimentação facilita a consecução do objetivo</p><p>8</p><p>espiritual do homem neste mundo: ela sustenta a vida, mantendo a alma ligada ao</p><p>corpo. Isso é particularmente verdadeiro quando se come com a intenção de obter</p><p>a força necessária para alcançar o espiritual, pois este tipo de alimentação eleva as</p><p>centelhas sagradas que se encontram nos alimentos.</p><p>Comer com esta atitude pode despertar na pessoa uma vontade e um desejo</p><p>intenso de espiritualidade (a ponto de ela quase poder fundir-se com Kéter).</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 16</p><p>Pensamento e Imaginação</p><p>Kéter, a vontade primordial, é chamada de “áin” (nada) porque transcende o nível</p><p>do pensamento, que começa em Chochmá.</p><p>Chochmá, por sua vez, é “reshit”, “começo”, a capacidade de criar.</p><p>Como tal, ela é a interface entre o nada e a criação.</p><p>O Rav Nachman ensinou o seguinte que: O pensamento é extremamente valioso.</p><p>A pessoa de fato pode criar coisas com a mente.</p><p>Cuide bem de seus pensamentos, porque eles podem literalmente criar algo vivo.</p><p>Quanto mais elevada for uma capacidade, mais longe ela chegará.</p><p>Você pode chutar um objeto com o pé, mas poderá arremessá-lo a uma altura</p><p>maior com a mão.</p><p>Sua voz tem um alcance ainda maior, sendo capaz de chamar alguém que está</p><p>muito distante.</p><p>A audição vai mais longe, pois você ouve sons, como fogo de artilharia, de uma</p><p>distância enorme.</p><p>Mas a visão a supera, porque enxerga coisas que estão no céu.</p><p>Acima de tudo está a mente, que é capaz de penetrar nas alturas mais sublimes.</p><p>Portanto, você deve protegê-la mais que tudo.</p><p>O Amalec Interior</p><p>Os pensamentos do homem são “rac rá col haiom” (exclusivamente maus o dia</p><p>todo). Gênesis 6:5.</p><p>Sabendo que os pensamentos podem alcançar as alturas mais extraordinárias,</p><p>devemos compreender que eles nunca são meros pensamentos.</p><p>Jamais nos devemos permitir supor que o que pensamos não tem importância.</p><p>Os bons pensamentos são extremamente benéficos tanto para quem os pensa</p><p>como para o mundo como um todo, enquanto os maus pensamentos são muito</p><p>prejudiciais.</p><p>O Rav ensinou que nos antigos anfiteatros, os monarcas costumavam encenar</p><p>batalhas entre animais selvagens e suas presas.</p><p>O mesmo tipo de luta é travado todos os dias em nossa mente: batalhas entre bons</p><p>e maus pensamentos.</p><p>Quando os bons pensamentos se saem vitoriosos, isto causa um grande prazer no</p><p>Alto.</p><p>O Rav Nachman explica também um trecho correlato do Zôhar: “Todo dia contém</p><p>um bem oculto. Porém, um anjo acompanha o dia e impede que as pessoas</p><p>[indignas] usufruam desse bem. Esse anjo pode assumir muitas formas - escuridão,</p><p>espinhos, cobras, escorpiões - que agem todas como guardiões que protegem o</p><p>bem do dia e evitam que quem não é merecedor se beneficie dele. De fato, se não</p><p>fosse por esses guardiões, os perversos poderiam penetrar livremente nos</p><p>mistérios da Torá [e partilhar do bem oculto desse dia].</p><p>É por essa razão que, quando alguém que não é digno tenta ter acesso aos</p><p>mistérios da Torá, tropas de anjos destruidores, que se manifestam como</p><p>escuridão, encobrimento, confusão, etc., imediatamente o cercam e confundem</p><p>seus pensamentos, impedindo a intrusão. Porém, quando uma pessoa digna deseja</p><p>entrar, esses guardiões a auxiliam... Levam-na ao bem oculto e falam em seu favor</p><p>ao Mestre do Universo...”</p><p>As “cobras e escorpiões” são os pensamentos que confundem o indivíduo quando</p><p>ele quer aprender os mistérios da Torá. Contudo, se ele persistir no desejo de</p><p>2</p><p>encontrar Deus, esses mesmos pensamentos o ajudarão; então ele achará um</p><p>grande bem todos os dias... Pois a pessoa tem a capacidade de inclinar seus</p><p>pensamentos na direção que quiser. Mesmo que os pensamentos se</p><p>desencaminhem, ela tem o poder de dominá-los e fazê-los voltar ao rumo correto</p><p>O Rebe Nachman ensina que os pensamentos nocivos que acometem as pessoas</p><p>servem como um lembrete da batalha incessante contra Amalec, o arqui-inimigo da</p><p>nação hebraica. Este é o significado do versículo citado acima, “Os pensamentos do</p><p>homem são “rac rá col haiom” (exclusivamente maus o dia todo)”. Em hebraico, as</p><p>letras finais dessas quatro palavras formam “Amalec”.</p><p>Pensamentos maus e lascivos representam o Amalec interior.</p><p>Amalec também denota dúvidas e confusão.</p><p>Isso pode ser visto no valor numérico da palavra “Safec”, “dúvida”, que é 240, o</p><p>mesmo da palavra “Amalec”.</p><p>As dúvidas, como Amalec, atacam furtivamente.</p><p>Mesmo antes de percebermos que estamos sitiados, nós nos sentimos oprimidos</p><p>por pensamentos e emoções conflitantes. Portanto, é um mandamento bíblico</p><p>lembrar Amalec, isto é, ter consciência dele e de seu jeito dissimulado e combatê-lo</p><p>incessantemente.</p><p>O Poder do Pensamento</p><p>O Rav Nachman nos ensinou:</p><p>Seja qual for o pensamento da pessoa, é aí que ela está.</p><p>O pensamento tem um poder incrível.</p><p>O segredo é concentrar toda a sua energia na realização de algo.</p><p>Isso é verdadeiro mesmo quando se trata de coisas mundanas.</p><p>A única condição é que a concentração seja absoluta, a ponto de você estar</p><p>disposto, literalmente, até a dar a própria vida a fim de alcançar o seu objetivo.</p><p>A melancolia e a depressão impedem que você controle os seus pensamentos.</p><p>Com alegria, você pode orientar a sua mente de forma adequada.</p><p>O roubo leva a pessoa a ter pensamentos ilícitos.</p><p>Mesmo cobiçar as posses alheias é uma ofensa muito grave. Como o poder da</p><p>mente é tão grande, até pensar com cobiça sobre os bens dos outros é considerado</p><p>um tipo de roubo.</p><p>O pensamento está num nível muito elevado, que transcende o da fala.</p><p>Se quiser ascender a esse nível, você deve permanecer em silêncio: pois mesmo a</p><p>fala boa e digna pode fazê-lo perder essa altura do pensamento.</p><p>Os pensamentos realmente estão entre as maravilhas de Deus.</p><p>Eles ficam agrupados na mente, como feixes [de informações], um sobre o outro.</p><p>Quando necessita, a pessoa lembra um fato “tirando-o” do lugar em que ele está na</p><p>mente.</p><p>Isso é uma grande maravilha, pois onde se localizava tal pensamento até então?</p><p>Há muitas associações e símbolos na mente, todos localizados nesses feixes.</p><p>Nós nos lembramos de algo porque encontramos alguma idéia que estimula a</p><p>associação e o simbolismo identificados com um pensamento específico.</p><p>Este pensamento então é trazido daqueles “feixes”.</p><p>Quando um pensamento é retirado, todos os outros são movidos e reordenados</p><p>num padrão diferente [como ocorre com os feixes físicos - quando se retira um</p><p>item do conjunto, toda a ordem é desfeita.</p><p>3</p><p>Os maus pensamentos são comparados ao “chamêts” [pão fermentado, que se</p><p>expande quando fermenta]. Deve-se tomar cuidado para que esses pensamentos</p><p>não “expandam” sua influência sobre a mente.</p><p>Quando se “expandem”, eles “preenchem” todo o crânio e não deixam espaço para</p><p>o temor ao Céu.</p><p>Quem tem a mente maculada por pensamentos estranhos sempre tomará</p><p>conhecimento de discórdias e discussões [que ocuparão a sua mente e o afastarão</p><p>da espiritualidade].</p><p>O estudo da Torá à noite é benéfico para a proteção dos pensamentos.</p><p>A pessoa deve permanecer em vigilância constante e absoluta contra os</p><p>pensamentos imorais.</p><p>Tais pensamentos podem apartá-la de Deus, a fonte da vida.</p><p>Às vezes, parece que os maus pensamentos dominam a pessoa.</p><p>Ela pode tentar eliminá-los combatendo-os diretamente - sacudindo a cabeça,</p><p>enfrentando a questão, etc. Porém, isso não ajuda, pois a força dos pensamentos</p><p>parece crescer na proporção do vigor com que lutamos contra eles.</p><p>É muito mais proveitoso desviar a mente para outros assuntos.</p><p>A concentração num tópico escolhido reduzirá os esforços necessários para a</p><p>superação dos maus pensamentos.</p><p>Um pensamento que produz Humildade</p><p>A humildade é o melhor caminho para a aquisição de sabedoria, como afirma o</p><p>seguinte versículo (jó 28:12): “A Chochmá vem do áin [nada].”</p><p>Vimos que o “áin” corresponde a Kéter, e Chochmá deriva de Kéter.</p><p>Como o “áin” se refere ao nada, quem desenvolve o atributo da humildade (ou</p><p>seja, a anulação de si mesmo) pode alcançar a verdadeira Chochmá.</p><p>Por outro lado, quem separa a sabedoria da humildade desliga-se de Kéter, a fonte</p><p>da verdadeira sabedoria.</p><p>A sabedoria então passa a ser só dele, mas é imperfeita, tanto no pensamento</p><p>como na capacidade criativa que dele resulta.</p><p>O indivíduo deixa de aceitar suas deficiências, e, como o Rav Nachman ensinou,</p><p>“Quem só confia na própria mente pode cometer erros graves e chegar a um mal</p><p>terrível”. “O intelecto sempre avisa à pessoa que não se torne arrogante.”</p><p>Deve-se compreender que “o principal aspecto do serviço a Deus está na</p><p>simplicidade absoluta, na ausência de sofisticação”.</p><p>Deixando de lado a sofisticação e a presunção, a pessoa pode tornar-se “íntegra” e</p><p>servir a Deus com toda a simplicidade.</p><p>Na época em que vivemos, na qual as seitas, sobretudo “religiosas”, estão muito</p><p>difundidas, é possível que se questione a afirmação do Rav citada acima, “Quem só</p><p>confia na própria mente pode cometer erros graves e chegar a um mal terrível”.</p><p>Os membros dessas seitas aprendem que o pensamento independente é perigoso e</p><p>são induzidos à irreflexão. Porém, a diferença entre o processo de pensamento</p><p>guiado de Chochmá e a irreflexão vazia é que Chochmá é uma expressão de Côach</p><p>Má, “o poder de „o quê?” - que faz referência à capacidade de perguntar e</p><p>investigar.</p><p>Repetidas vezes, em suas conversas e aulas, o Rav Nchman estimulava os alunos a</p><p>fazer perguntas e exortava os discípulos a usarem o pleno potencial de suas</p><p>faculdades mentais.</p><p>A advertência do Rav sobre os perigos de confiar no próprio intelecto diz respeito</p><p>ao intelecto destituído de Torá. Ele se endereçava aos principais adeptos do</p><p>Iluminismo na época, homens muito instruídos que tinham abandonado a</p><p>observância da Torá e seguiam os ditames de sua própria mente, não os de nossos</p><p>Sábios.</p><p>4</p><p>O resultado disso foi o “caret” (exclusão) de Kéter, uma alienação completa da</p><p>Cabalá e a assimilação ao ambiente material.</p><p>Poder-se-ia dizer que, usando sua própria chochmá, eles se desligaram de Kéter e</p><p>assim perderam as defesas que os teriam protegido e mantido dentro do campo da</p><p>espiritualidade.</p><p>Imaginação ou Ilusão</p><p>Veremos em texto próximo que Dáat corresponde ao Santuário e ao Templo</p><p>Sagrado. Mas não é uma tarefa fácil construir o santuário interno da mente.</p><p>A edificação de uma estrutura física requer a elaboração e aprovação de um</p><p>projeto.</p><p>Em seguida, devem ser contratados trabalhadores para a execução do serviço, e os</p><p>materiais de construção têm de ser adquiridos.</p><p>Mesmo quando tudo parece pronto, inúmeros obstáculos podem surgir e provocar</p><p>atrasos.</p><p>Da mesma forma, quando nos dedicamos à edificação espiritual da mente,</p><p>precisamos de projetos, trabalhadores e suprimentos, e temos de enfrentar as</p><p>dificuldades que inevitavelmente aparecem.</p><p>Deus, em Sua bondade, forneceu-nos todos os planos necessários para o nosso</p><p>desenvolvimento espiritual quando nos deu a Torá.</p><p>A Torá contém um conjunto abrangente de leis que têm a capacidade de abrir o</p><p>coração e a mente para esferas que estão muito além do mundo material.</p><p>Até a pessoa mais inculta pode experimentar a espiritualidade, as alegrias do</p><p>Shabat e das festas, as orações comoventes e sinceras que liberam as emoções, a</p><p>satisfação duradoura dos atos de caridade, e assim por diante.</p><p>Isso é possível porque a estrutura da Torá é análoga à do corpo humano.</p><p>Portanto, independentemente de sua condição, neste mundo o homem sempre</p><p>pode conectar-se com a Torá - e assim com Deus.</p><p>Os “trabalhadores e suprimentos” são os sentidos, membros e órgãos do corpo.</p><p>Obstáculos e barreiras também são inerentes ao organismo, mas o opositor mais</p><p>forte que encontramos quando tentamos construir nosso santuário interno</p><p>reside</p><p>na própria mente.</p><p>Como o Rav Nachman ensinou, “Os maiores empecilhos que enfrentamos são os da</p><p>mente”.</p><p>Isto se refere aos poderes da imaginação e da ilusão.</p><p>“Deus formou Adão do pó da “adamá” [terra].” Adam [Adão] tinha este nome</p><p>porque foi formado da adamá. Gênesis 2:7.</p><p>O Rav ensinou que “A pessoa deve elevar-se sobre sua imaginação para alcançar o</p><p>intelecto. Ninguém pode transpor os portões da humildade sem antes ter aprendido</p><p>a superar as próprias ilusões.”</p><p>A imaginação é um “combustível” incrível para o pensamento, pois estimula a</p><p>mente a buscar o desconhecido e a procurar novas idéias, invenções e percepções.</p><p>Ela possibilita que o intelecto ultrapasse seus limites atuais, mas também facilita o</p><p>desvio da mente para áreas proibidas.</p><p>Vimos que a característica distintiva do ser humano se encontra no intelecto, e que</p><p>ele recebeu as ferramentas necessárias para usar esse intelecto com sabedoria.</p><p>Vimos também que o homem tem liberdade para decidir se quer fazer bom ou mau</p><p>uso do intelecto.</p><p>Como nos ensina a narrativa bíblica, Adão foi formado da “adamá” (terra).</p><p>A palavra hebraica “adamá” é semelhante a “medamê”, que significa “imaginação”.</p><p>O homem não é composto só de “adamá”, mas também do poder de “medamê”</p><p>(imaginação). Se ele preferir abusar do intelecto, a imaginação o ajudará nesse</p><p>caminho, servindo de obstáculo à obtenção do verdadeiro intelecto.</p><p>5</p><p>Por outro lado, se o indivíduo realmente quiser fazer a vontade de Deus, a</p><p>imaginação será indispensável, pois, sem ela, ele não poderá nem começar a captar</p><p>a espiritualidade. Isso pode ser verificado no emprego de um verbo que tem a</p><p>mesma raiz de “medamê” no seguinte versículo da Escritura (Isaías 14:14):</p><p>“Edamê Lelion - eu me assemelharei ao Altíssimo.”</p><p>Era a isso que o Rav se referia quando afirmou que a imaginação deve ser</p><p>subjugada ao intelecto. A imaginação é uma força poderosa.</p><p>Ela é a fonte da capacidade criativa do homem e pode lançá-lo às alturas mais</p><p>sublimes quando é usada adequadamente.</p><p>Porém, se não for guiada pelo intelecto verdadeiro, ela também pode</p><p>desencaminhá-lo.</p><p>Imaginação: A ponte entre o Físico e o Espiritual</p><p>O Reb Natan escreve que a imaginação age como um intermediário.</p><p>Ela serve de ponte entre o físico e o espiritual, entre corpo e alma.</p><p>A capacidade de visualizar algo na mente vem do poder da imaginação.</p><p>Ainda que a imagem mental que formamos seja de um objeto físico, este processo</p><p>de visualização é na verdade uma experiência “espiritual”.</p><p>Logo, a imaginação pode ao mesmo tempo ser considerada como o ponto mais alto</p><p>do plano físico e o ponto mais baixo do plano espiritual.</p><p>Ela é a ponte entre o material e o etéreo.</p><p>Esse poder do intelecto se estende muito além das limitações físicas.</p><p>Quem que tem o intelecto puro está muito distante do pecado e até do erro.</p><p>Porém, desde o pecado de Adão, o corpo físico se tornou tão grosseiro que mal</p><p>podemos “imaginar” como seria estar completamente livre de imperfeições.</p><p>É necessário algum tipo de ponte que promova a interação do intelecto com a</p><p>matéria, de modo que o indivíduo possa dominar seus desejos físicos.</p><p>Aí reside o poder da imaginação: ela une as forças do corpo e da alma.</p><p>Se usar a imaginação com sabedoria, a pessoa pode realmente ascender do nível</p><p>físico para o espiritual.</p><p>Por essa razão, o homem é chamado de Adam [Adão].</p><p>Ele é formado de adamá o pó, o físico; mas pode elevar-se sobre o mundo material</p><p>por meio do uso da imaginação e alcançar o nível da profecia.</p><p>“Imaginarei” em hebraico é “adamê”. Desta forma, podemos entender o significado</p><p>do seguinte versículo (Qséias 12:11): “Através dos profetas adamé [serei</p><p>imaginado].”</p><p>Quem permanece imerso na materialidade só é capaz de relacionar-se com a</p><p>espiritualidade por conjectura; ela lhe é totalmente abstrata. Porém, se usar a</p><p>imaginação para buscá-la, ele poderá subir a níveis muito altos de Divindade.</p><p>Angelical ou Demoníaco</p><p>O Rav nos ensina: “A fé só existe na imaginação. Na esfera que a mente é capaz de</p><p>compreender, o conceito de fé não pode existir.”</p><p>Por ser necessária onde falta entendimento, a fé fortalece o homem, encorajando-o</p><p>a buscar o que, no presente, está além de seu alcance, e o mantém concentrado no</p><p>espiritual.</p><p>Assim, a imaginação pode ser um catalisador para a obtenção de espiritualidade.</p><p>Por outro lado, o Talmud ensina o seguinte: “O homem não peca, a menos que um</p><p>espírito de insensatez o domine.”</p><p>Engana-se a pessoa que baixa a guarda pensando que um pecado não lhe fará mal.</p><p>Com esta atitude, ela cai do intelecto para a insensatez, danificando sua mente.</p><p>Sua imaginação, na qual está enraizada a fé, também é desvirtuada, e passa a</p><p>manifestar-se em pensamentos ilusórios.</p><p>6</p><p>“A deturpação do intelecto aumenta o poder da ilusão.”</p><p>Sucumbindo ao poder negativo da ilusão, a pessoa perde algo de sua Divindade e</p><p>desce do nível humano para o animal.</p><p>Embora os animais possuam um intelecto rudimentar, falta-lhes um conhecimento</p><p>claro e bem definido.</p><p>O indivíduo cujos pensamentos se degeneram a tal ponto inevitavelmente desce do</p><p>nível da espiritualidade.</p><p>O Rav relaciona esse tipo de intelecto enganador e desvirtuado com os demônios.</p><p>Nossos Sábios ensinam que “os demônios foram criados na tarde da primeira</p><p>sexta-feira, pouco antes do pôr do sol. Como o sol já se punha, só os seus espíritos</p><p>foram criados, pois não houve tempo de formar corpos para eles. Por este motivo,</p><p>os demônios têm espírito, mas não possuem corpo físico” (Zôhar 1).</p><p>Consequentemente, os demônios estão sempre buscando um corpo para habitar.</p><p>A imaginação pode ser comparada a um espírito sem corpo – um espírito ou</p><p>pensamento “desincorporado”. Assim, agir de maneira precipitada, com base em</p><p>pensamentos ou objetivos imaginados, sem exercer o autocontrole (Kéter),</p><p>equivale a fornecer o próprio corpo para um demônio, e leva a pessoa a declinar</p><p>com facilidade para um comportamento “demoníaco”.</p><p>Nesse estado, ela fica vulnerável às forças do mal e nunca sabe ao certo onde</p><p>acabará. Por isso, o Rav ensinou que ninguém pode transpor os portões da</p><p>santidade sem antes subjugar seu poder interno de ilusão.</p><p>Ele também enfatizava que os aspectos negativos da imaginação - o “demônio”</p><p>dentro de cada um - são ainda mais potentes no indivíduo orientado para a</p><p>espiritualidade.</p><p>O “demônio” da ilusão, à procura de um corpo no qual possa repousar, tende a</p><p>escolher o corpo de um estudioso da Torá e, mais especificamente, de alguém</p><p>versado em halachá (os códigos da lei ).</p><p>A razão para isso está relacionada com a necessidade de manter o equilíbrio entre o</p><p>bem e o mal no mundo. O estudo da halachá e seu cumprimento meticuloso</p><p>ajudam a definir com nitidez o caminho espiritual que a pessoa deve seguir,</p><p>moldando seu estilo de vida. Assim, o conhecimento dessa pessoa é bastante claro</p><p>- ela sabe o que é permitido e o que é proibido.</p><p>Se não houvesse uma força para contrabalançar esse conhecimento, seria fácil</p><p>escolher o caminho correto; o rumo a seguir seria cristalino.</p><p>Portanto, para assegurar o livre-arbítrio, o poder da ilusão tenta esmagar esse</p><p>conhecimento claro e bem definido.</p><p>Isso fica mais evidente no ensinamento do Rav segundo o qual, quando a pessoa</p><p>começa a obter clareza intelectual, esses “demônios” que se originam de sua</p><p>imaginação tornam-se ainda mais fortes.</p><p>Sempre há graus mais elevados de intelecto a atingir, e nunca devemos pensar</p><p>que, por termos atravessado alguns portões de santidade, já subjugamos de forma</p><p>definitiva as nossas ilusões. Nesta vida, o equilíbrio entre o bem e o mal é mantido</p><p>em todos os níveis, para que se garanta o livre-arbítrio em cada etapa do caminho.</p><p>Assim, em todo nível se encontram obstáculos e ilusões, que devem ser</p><p>enfrentados e vencidos continuamente.</p><p>O Rav ensinou também que a criação de idéias de Torá retifica pensamentos</p><p>impróprios,</p><p>porque a pessoa precisa esforçar-se e desenvolver sua imaginação até</p><p>que seja capaz de formar um “corpo” para as novas idéias.</p><p>Praticamente todos os pensamentos humanos são produtos da imaginação, e a</p><p>criação de um conceito de Torá certamente exige essa faculdade.</p><p>No entanto, deve-se sempre examinar a relação entre os conhecimentos já</p><p>existentes e os que estão sendo produzidos, para assegurar que as novas idéias</p><p>sejam condizentes com uma visão válida da Torá. Isso serve para retificar os</p><p>pensamentos inadequados e a imaginação desvirtuada da pessoa.</p><p>7</p><p>Por outro lado, a fundamentação de ensinamentos inovadores em idéias distantes</p><p>da Torá só intensifica os poderes de ilusão, como veremos agora.</p><p>As Câmaras das Trocas</p><p>“E viu a mulher que a árvore era boa para comer e desejável para os olhos... Ela</p><p>tomou do seu fruto e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu.”</p><p>Gênesis 3:6</p><p>Quando se aproximou de Eva para incitá-la a comer da árvore do conhecimento, a</p><p>serpente disse: “Sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal”, e</p><p>imediatamente a mulher viu que a árvore era boa para comer e desejável para os</p><p>olhos: “Ela tomou do seu fruto e comeu, e deu também a seu marido, e ele</p><p>comeu”.</p><p>O Rav Natan escreve que o erro deles foi tentar ir além dos limites de seu Kéter, as</p><p>barreiras superiores. Pensaram que, dessa maneira, poderiam ser como Deus.</p><p>Porém, ao invés disto, eles desceram às câmaras das trocas, onde o bem se torna</p><p>mal, e o mal se torna bem.</p><p>As câmaras das trocas são a imaginação desvirtuada, onde a pessoa pensa que</p><p>sabe e entende, mas na verdade não sabe nem entende. Essa idéia é expressa no</p><p>seguinte versículo (Isaías 5:20): “Ai dos que chamam o mal de bem e o bem de</p><p>mal. Eles trocam escuridão por luz e luz por escuridão; trocam o amargo pelo que é</p><p>doce e o doce pelo amargo”.</p><p>Toda a amargura da vida, que inclui o ódio e a ira, tristeza e inveja, discórdia,</p><p>conquista e a avidez de honraria, provém da imaginação.</p><p>O Rav disse uma vez que o Talmud afirma que a má inclinação tem sete nomes:</p><p>má, incircuncisa, impura, inimiga, obstáculo, pedra e cobra.</p><p>Em nossos dias, ela deveria ganhar um nome adicional: o poder da ilusão.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 17</p><p>Chochmá e Biná</p><p>O Arizal ensina que Chochmá e Biná são indissociáveis.</p><p>Elas são descritas como “duas amigas que nunca se separam” (Zôhar 3), e são</p><p>análogas ao cérebro, que se divide nos hemisférios direito e esquerdo, que também</p><p>não se separam, apesar de cada um ter identidade própria.</p><p>Como vimos, Chochmá representa a sabedoria indiferenciada, o hemisfério direito</p><p>“não verbal”, enquanto Biná é a manifestação dessa sabedoria, o hemisfério</p><p>esquerdo “verbal”.</p><p>O Sêfer Yetsirá afirma: “Entenda com sabedoria e seja sábio com entendimento.”</p><p>Isso significa que, para que se alcancem os níveis mais elevados de consciência de</p><p>Deus, Chochmá e Biná devem ser utilizadas em conjunto.</p><p>Em outra perspectiva, Chochmá e Biná correspondem, respectivamente, ao cérebro</p><p>(que controla os processos de pensamento) e ao cerebelo (que é responsável pela</p><p>coordenação muscular e pelo equilíbrio do corpo).</p><p>Neste sentido, Chochmá representa o intelecto como um todo, a capacidade de</p><p>dominar um assunto e integrar seus princípios fundamentais aos processos</p><p>mentais.</p><p>Biná refere-se à capacidade de dirigir o corpo com base nos comandos da mente.</p><p>Isso só é possível devido à faculdade mental de derivar informações adicionais de</p><p>dados já recebidos.</p><p>Em seus esforços para alcançar a espiritualidade, a pessoa precisa de ambas.</p><p>Essa idéia é ilustrada pelo fato de, no nível de Chochmá, todo ser humano saber</p><p>que Deus existe. Mesmo aqueles que não O buscam O reconhecem de forma</p><p>latente. Até quem se autodenomina ateu possui uma percepção profunda de Deus,</p><p>ainda que encoberta.</p><p>Biná comanda o trabalho de compreensão e desenvolvimento desse conhecimento</p><p>latente.</p><p>Sem ela, a Chochmá inata não tem serventia.</p><p>O Rav ensinou: Saiba que há pessoas más que passam a vida inteira tentando</p><p>desarraigar-se de Deus e de Sua Torá. No entanto, uma minúscula centelha de</p><p>espiritualidade permanece, sempre procurando reacender a chama espiritual que há</p><p>dentro delas.</p><p>Porém, por estarem tão profundamente entrincheiradas na maldade, elas redobram</p><p>seus esforços para se desarraigarem, de modo que acabam rejeitando até a mais</p><p>ínfima ligação com Deus.</p><p>Infelizmente, na maioria dos casos, quando as pessoas atingem esse nível de</p><p>ateísmo, elas morrem. Então elas vêem, de imediato, a verdade que com tanto</p><p>empenho tentaram negar, mas é tarde demais. Que Deus nos livre!</p><p>A Metrópole de Roma</p><p>Quando o Rei Salomão desposou a filha do faraó, [o arcanjo] Gavriel [Gabriel]</p><p>desceu e plantou um canê [junco] no mar. Um banco de areia se formou [em volta</p><p>do junco], sobre o qual mais tarde se erigiria a metrópole de Roma.</p><p>O Rav ensinou que há dois tipos de “cané”.</p><p>Um é “kenê‟ [adquire], como em “Kenê Chochmá, kenê Biná - Adquire sabedoria,</p><p>adquire entendimento” (Provérbios 4:5).</p><p>O outro é associado a “Repreende a fera do canê [junco]” (Salmos 68:31).</p><p>Chochmá representa a sabedoria pura, que é o conhecimento de Deus, enquanto as</p><p>falsas crenças e os estilos de vida indesejáveis são comparados a animais</p><p>selvagens.</p><p>2</p><p>A plantação de falsas crenças na mente permite que a “fera” crie raízes e espalhe</p><p>seu veneno, tomando o lugar da verdadeira sabedoria.</p><p>A verdadeira sabedoria é a espiritualidade.</p><p>A pessoa inicia sua estadia na terra com a mente aberta, pronta para absorver todo</p><p>tipo de conhecimento e informação.</p><p>Conforme o tempo passa, as informações obtidas se acumulam, criam raízes e se</p><p>expandem.</p><p>Quando o indivíduo dirige sua mente para a espiritualidade, elas podem expandir-</p><p>se ainda mais, pois o espiritual está além do tempo e do espaço e, portanto, é</p><p>infinito.</p><p>Porém, se ele optar pela busca dos bens materiais, com as falsas crenças e os</p><p>estilos de vida indesejáveis que os acompanham, sua mente será poluída por</p><p>desejos não naturais.</p><p>Primeiro, uma pequena dose de mal lançará raízes, depois um pouco mais; por fim,</p><p>anseios perversos dominarão a mente inteira.</p><p>O cérebro sorverá e armazenará uma enorme quantidade de materialismo, e</p><p>restará pouco espaço para que qualquer outra coisa entre e se desenvolva.</p><p>O espiritual será praticamente banido.</p><p>Nesta lição o Rav explica o significado do trecho talmúdico citado acima:</p><p>O Rei Salomão representa a sabedoria espiritual.</p><p>A filha do faraó simboliza as falsas crenças e um estilo de vida indesejável.</p><p>Gavriel corresponde a guevurot, julgamentos.</p><p>O mar é “o mar de sabedoria” que se encontra na mente das pessoas.</p><p>Roma representa o ateísmo.</p><p>O casamento do Rei Salomão com a filha do faraó refere-se ao indivíduo que faz</p><p>uso da mente para acumular falsas crenças. O anjo Gavriel representa os</p><p>julgamentos, constrangimentos e restrições que ele enfrenta na vida, em</p><p>conseqüência de sua dedicação à busca dos bens materiais.</p><p>Os desejos materiais são comparados ao junco plantado no mar.</p><p>A mente, originalmente aberta para a espiritualidade ilimitada, agora tem um</p><p>diminuto objeto material plantado dentro dela, tomando espaço.</p><p>Como o Rashi explica: um mar sem obstruções corre livremente, mas um único</p><p>junco atrai toda a sujeira que passa flutuando.</p><p>À medida que a sujeira se acumula, o junco transforma-se em banco de areia e por</p><p>fim numa grande porção de terra.</p><p>Dessa maneira, as falsas crenças, que podem ter começado como algo muito</p><p>pequeno, tornam-se um polo para o qual serão atraídas outras idéias antiéticas.</p><p>Essas infrações “aparentemente minúsculas” acabam se juntando e adquirindo o</p><p>tamanho e a força da “cidade de Roma”, a capital do império que destruiu o Templo</p><p>e torturou e assassinou milhões de pessoas: o arquétipo do ateu.</p><p>Mente Aberta ou Estreita?</p><p>À luz do ensinamento do Rav apresentado</p><p>acima, percebemos que as pessoas que</p><p>se definem como científicas, seculares, liberais e de mente aberta têm, na verdade,</p><p>a mente muito estreita e limitada.</p><p>Ao invés de enxergar uma inteligência infinita manifesta na química da vida e no</p><p>milagre da consciência humana que essa química sustenta, elas preferem ver</p><p>processos acidentais e aleatórios.</p><p>Tendo a mente fechada para a Divindade, elas simplesmente não conseguem</p><p>compreender as pessoas espiritualizadas e religiosas.</p><p>Além disso, como só pensam em termos materialistas, elas se impedem de ver o</p><p>que está além da matéria - ou dentro dela.</p><p>Peça a um cético em relação à existência de Deus que observe um pedaço de</p><p>madeira através das lentes de um microscópio eletrônico. Faça-o ver que ela é</p><p>composta de fibras, que são feitas de celulose, que é constituída de moléculas, que</p><p>3</p><p>são feitas de átomos, que são compostos de partículas subatômicas como prótons,</p><p>elétrons e nêutrons, que são formadas de partículas elementares de dimensões</p><p>inferiores às das subatômicas, denominadas quarks e léptons.</p><p>Faça-o entender que não se trata de entidades físicas, mas de feixes de energias</p><p>vibratórias; e que essas energias vibratórias são freqüências de uma única força</p><p>básica de energia vibratória que está continuamente criando e recriando todos os</p><p>átomos e moléculas do universo, a cada momento.</p><p>Faça-o compreender que o que outrora era conhecimento profético ou cabalístico</p><p>do “interior” da matéria é hoje teoria científica aceita.</p><p>Quem não conseguir ver a maravilha de tudo isso é realmente tacanho e tem a</p><p>mente obstruída por suas próprias idéias preconcebidas e limitadas.</p><p>Examinemos agora a atitude de uma mente aberta, em contraposição à de uma</p><p>mente estreita, no contexto dos acontecimentos vivenciados pelos hebreus no Mar</p><p>Vermelho.</p><p>Eles tinham o mar a sua frente, um deserto cheio de animais selvagens de um lado,</p><p>rochedos escarpados intransponíveis do outro, e atrás, os egípcios a persegui-los.</p><p>De seu ponto de vista, eles estavam diante de pouquíssimas escolhas, todas muito</p><p>dolorosas: pular no mar, voltar para a escravidão no Egito, lutar com os egípcios ou</p><p>fugir para o deserto (Shemot 21:5).</p><p>Mas os poderes de Deus não são limitados pelas categorias de tempo e espaço. Sua</p><p>escolha foi “abrir o Mar Vermelho”!</p><p>É claro que não enfrentamos situações como essa todo dia.</p><p>Tampouco esperamos de fato ver um milagre revelado em nossa época... ou</p><p>esperamos?</p><p>No plano espiritual, tudo pode acontecer.</p><p>Quando uma pessoa que tem uma vida exclusivamente materialista encontra</p><p>dificuldades, ela só pode considerar as opções que estão de acordo com sua</p><p>maneira de ver as coisas.</p><p>Assim, ela se decidirá por uma solução “natural”, baseada em seu modo de</p><p>entender os problemas. Esta pessoa tem a mente estreita.</p><p>Procurando apenas soluções que podem ser concebidas por sua mente finita, ela</p><p>automaticamente exclui todo um conjunto de recursos possíveis que não se</p><p>harmonizam com suas idéias.</p><p>Por outro lado, quem busca a espiritualidade sabe que sempre pode confiar em</p><p>Deus.</p><p>Como Deus é infinito, Ele é capaz de oferecer recursos incontáveis.</p><p>Este indivíduo com certeza tentará imaginar soluções próprias, mas também estará</p><p>atento a outras possibilidades que possam surgir, porque ele sabe que Deus, em</p><p>Sua infinita sabedoria, pode ajudá-lo de inúmeras maneiras.</p><p>Muitas vezes, durante a vida, parece que não há saída, ou que as opções</p><p>disponíveis não são factíveis.</p><p>No entanto, de alguma forma, uma solução inesperada se materializa.</p><p>Não há limite para o que Deus pode fazer.</p><p>Logo, por definição, o plano espiritual está além das restrições de tempo e espaço.</p><p>Ele não se assemelha a nada que a inteligência humana finita seja capaz de</p><p>imaginar.</p><p>Por essa razão, a fé em Deus e o esforço para viver uma vida espiritual são</p><p>indicadores seguros de uma mente aberta.</p><p>Como Deus está acima do espaço e do tempo, quem se relaciona com Ele pode</p><p>esperar que qualquer coisa aconteça.</p><p>Em contraposição, a mente estreita do indivíduo que só busca o materialismo limita</p><p>seu potencial apenas ao que o mundo material pode oferecer. Ele nunca poderá</p><p>realmente apreciar as maravilhas inerentes à criação.</p><p>4</p><p>Memória: Recordação do Futuro....</p><p>Quem é sábio? Aquele que vê o “nolad” [futuro].</p><p>O Rav Moshé Sofer comenta que a palavra “nolad” (literalmente, “nascido”) indica</p><p>uma ligação profunda entre o que já “nasceu” no passado e o que ainda está para</p><p>nascer no futuro.</p><p>Ela nos ensina que o futuro só pode ser visualizado e compreendido por meio do</p><p>estudo do passado.</p><p>Como notamos acima, Chochmá e Biná representam a “lembrança” do passado e a</p><p>“projeção” do futuro.</p><p>Vimos como a imaginação pode preencher a lacuna entre o espiritual e o material.</p><p>A memória, do mesmo modo, pode ser entendida como uma ponte entre o passado</p><p>e o futuro.</p><p>O Rav Nachman ensinou que a pessoa sempre deve ter em mente a imagem de</p><p>seus objetivos.</p><p>O Rav explica que, se quiser construir uma casa, primeiro você precisa visualizar a</p><p>aparência desejada da casa pronta. Com base nesta imagem, você pode projetar os</p><p>detalhes, fazer as plantas necessárias, adquirir os materiais de construção e depois</p><p>trabalhar na construção propriamente dita.</p><p>Durante todo o processo, a imagem mental não só orienta seus passos, mas</p><p>também atua como um forte estímulo que o impele a executar o plano.</p><p>Seu maior incentivo é a imagem final da edificação, que se destaca em sua mente</p><p>em todas as etapas.</p><p>Essa atitude é fundamental para que se alcance sucesso na vida.</p><p>Nosso objetivo supremo, que devemos sempre ter em mente, é o mundo vindouro.</p><p>O Rav fala de “lembrar-se constantemente do mundo vindouro e manter esse</p><p>objetivo em posição proeminente na mente”.</p><p>Como podemos lembrar-nos de algo que está no futuro?</p><p>Uma das respostas é que o mundo vindouro representa uma dimensão que está</p><p>fora da nossa realidade presente.</p><p>Nessa dimensão, o tempo ainda não é segmentado, e passado, presente e futuro</p><p>são uma coisa só.</p><p>Do ponto de vista do nosso estado de consciência atual, o mundo vindouro se</p><p>encontra no futuro; porém, da perspectiva da nossa alma transcendente, ele existe</p><p>agora (porque a alma também transcende o tempo).</p><p>Além disso, dado que a alma se origina nessa dimensão e retorna a ela toda noite</p><p>enquanto dormimos, temos a memória dela inculcada firmemente em nossa psique.</p><p>Assim, podemos “lembrar” o futuro.</p><p>Na história “O Filho do Rei e o Filho da Criada”, do Rav , o verdadeiro príncipe,</p><p>embora tenha sido criado como servo, ainda se sente atraído pelos modos da</p><p>realeza.</p><p>O que estava naturalmente gravado em sua psique nunca foi de todo apagado.</p><p>No fim, ele se torna senhor do rei anterior (que na verdade era seu servo) e</p><p>governa a “terra dos tolos” como um “rei sábio”.</p><p>O Rav Natan explica que a luta entre o verdadeiro príncipe e o servo simboliza a</p><p>batalha incessante entre o corpo (servo) e a alma (príncipe).</p><p>Embora se encontre neste mundo material, a alma jamais esquece completamente</p><p>a sua origem e acabará por buscá-la.</p><p>No mundo vindouro, a alma do homem transcenderá esta vida material para entrar</p><p>numa dimensão na qual ela reinará suprema.</p><p>O Rav Nachman ensinou que a Torá é vasta.</p><p>Como se pode pretender estudá-la inteira e retê-la na memória?</p><p>5</p><p>Imagine se quiséssemos adicionar água, ainda que em pequena quantidade, a um</p><p>barril que já está cheio.</p><p>Parte do líquido contido no barril teria de ser derramada para dar espaço ao que</p><p>seria acrescido. Porém, diferentemente do barril e do que ele armazena, a natureza</p><p>espiritual da Torá transcende a noção de espaço. Assim, quem busca a</p><p>espiritualidade sempre pode aumentar seu conhecimento da Torá sem perder nada</p><p>da sabedoria que adquiriu antes.</p><p>Quanto mais espiritualidade a pessoa cultivar em seu intelecto, maior será a sua</p><p>capacidade de guardar novas informações desse</p><p>causar danos.</p><p>O En Sof é O Infinito, com o e I maiúsculos. Por definição, Ele não permite a existência</p><p>de nada mais. Para que algo mais pudesse existir, para que o mundo, tudo que há nele e</p><p>todos nós existíssemos, o En Sof teve de criar um sistema redutor. Este sistema é como</p><p>um agente imitador ou uma escada, ou ainda, na linguagem dos cabalistas, um sistema</p><p>de “vestimentas” que oculta e diminui a luz de Deus.</p><p>A mais elevada destas “vestimentas” é o Nome IHVH (pronuncia-se Yud-Hê-Vav-Hê ou</p><p>Havaia, porque é proibido articular o Tetragrama como ele é escrito).</p><p>É sabido que temos relacionamentos diferentes com diversos tipos de pessoa.</p><p>Temos pai e mãe, cônjuge, amigos e professores. As vezes, até chamamos uma só</p><p>pessoa por vários nomes, de acordo com as circunstâncias. Isto ocorre porque podemos</p><p>manter formas distintas de relação com o mesmo individuo.</p><p>Dependendo do ambiente em que nos encontramos, se ele for mais ou menos formal, ou</p><p>até íntimo, podemos chamar uma pessoa por diversas designações, chegando mesmo a</p><p>usar diferentes inflexões da voz.</p><p>Em algumas ocasiões, o que dizemos não é tão importante quanto como o dizemos.</p><p>De maneira geral, conforme nos aproximamos de alguém, passamos a falar-lhe de modo</p><p>diferente, e os nomes e entonações tornam-se mais íntimos.</p><p>Por exemplo, digamos que você venha a conhecer uma pessoa que se chama Martin</p><p>Cohen. Numa situação formal, você o chamará de Sr Cohen. Quando você já o conhecer</p><p>melhor, ele se tornará Martin, e depois Marty; em seguida, você chegará a um nível em</p><p>que não há nomes. Isto é, embora o nome seja algo muito profundo, podemos dizer que</p><p>a pessoa é o seu nome?</p><p>3</p><p>O mesmo se aplica a Deus.</p><p>Há um versículo dos Salmos (65:2) que diz: “Lechá dumiá tehilá - Para Ti, o silêncio é</p><p>louvor” Chamamos Deus de “nosso Rei”, “nosso Pai”.</p><p>No Zôhar, nós O chamamos até de “nosso Avó”.</p><p>Moisés O denomina “Aquele tardio em irar-Se”.</p><p>O Próprio Deus diz a Moisés que Ele Se chama ehié asher ehié – “serei o que serei”, “sou</p><p>o que sou” ou “sou Aquele cuja existência só pode ser expressa como Ser”.</p><p>Daniel chama Deus de “Ancião dos Dias”. Nós O descrevemos como “misericordioso e</p><p>amoroso, sábio e justo”. Também O denominamos Adonai (Senhor); Elohim (Soberano</p><p>ou juiz); Shadai (Todo-Poderoso); e, no nível mais profundo, Havaia, o Ser em Si, o Ser</p><p>que transcende espaço e tempo, que foi, é e será eternamente, que está acima e além</p><p>da compreensão, a Fonte de toda existência.</p><p>Todos esses nomes denotam diferentes interações de Deus com a Sua criação.</p><p>Apesar de todas essas denominações serem muito profundas, Deus é mais do que</p><p>qualquer nome pelo qual possamos designá-Lo. Isto se deve ao fato de até o nome mais</p><p>elevado ser finito em comparação com a Luz Infinita que o preenche.</p><p>Um nome é uma criação que exprime uma certa relação, que estabelece a possibilidade</p><p>de um relacionamento entre Deus e qualquer coisa que Ele crie. Deus em Si, o Infinito,</p><p>está acima disso - Ele transcende todo relacionamento. E por esta razão que “Lechá</p><p>dumiá tehilá - Para Ti, o silêncio é louvor”.</p><p>Portanto, quando pronunciamos, pensamos ou meditamos sobre um Nome Divino,</p><p>estamos essencialmente nos relacionando com Deus, o Infinito, por meio desse Nome.</p><p>Como diz o Zóhar, os Nomes Divinos são como canais ou condutos através dos quais</p><p>flui a água.</p><p>A única diferença é que um canal físico existe mesmo quando não há água correndo por</p><p>ele. No entanto, os canais Divinos e tudo o mais não existiriam por um só instante se o</p><p>fluxo Divino de energia cessasse.</p><p>Agora desçamos um pouco.</p><p>Um dos princípios mais importantes da Cabalá é que Deus é Um. A Torá afirma</p><p>(Deuteronômio 6:4): “Shemá Israel Adonai Elohênu Adonai Echad.” Este é o Shemá</p><p>Pronunciamos essas palavras pelo menos duas vezes por dia.</p><p>Elas constituem uma das primeiras expressões que um Cabalista aprende e são as</p><p>últimas que ele profere antes de morrer. No umbral das portas “quando possível e</p><p>desejo” há uma mezuzá que as proclama. Essas palavras são encontradas também nos</p><p>tefilin que atamos diariamente ao nosso coração e à nossa mente. De todas essas</p><p>maneiras se anuncia o principio mais básico da Cabalá: D-us é Um..</p><p>Isso nos ensina que todas as coisas provêm de Uma Fonte Suprema.</p><p>Toda a criação é mantida coesa por Deus. Há Uma Força unificadora no universo, Deus</p><p>somente, o En Sof. A Torá nos diz (Deuteronômio 4:39:</p><p>“E saberás hoje, e considerarás no teu coração, que IHVH Hu Haelohim [Deus é o Poder</p><p>Supremo], em cima nos céus e embaixo na terra; não há nenhum outro.”</p><p>Abra um Chumash (os Cinco Livros de Moisés) ou um sidur (livro de orações) em</p><p>hebraico e contemple o nome IHVH. Como foi dito, não o pronunciamos como ele é</p><p>escrito, o que também nos ensina algo - que o Nome mais elevado de Deus, e ainda</p><p>mais a Sua Infinitude que permeia este Nome, estão além de nossa capacidade de</p><p>compreensão. IHVH é o Santo dos Santos da existência. Ele contém o segredo da</p><p>relação de Deus com o mundo que Ele criou. Abstendo-nos de proferir o Nome, e até</p><p>mesmo de pronunciar suas letras em voz alta, nós reconhecemos essa santidade.</p><p>Admitimos que, se há uma coisa no mundo inteiro que jamais deveria ser usada ou</p><p>tomada de forma indevida, ela é a própria Essência do Ser e da Existência, o Nome</p><p>Sagrado de Deus. Por reverência, portanto, e como sinal de que somos sensíveis ao que</p><p>4</p><p>é totalmente integro e sagrado, podemos apenas pensar em suas letras e no que elas</p><p>significam, mas nunca proferí-las como elas estão escritas.</p><p>O Tetragrama é composto de quatro letras, Yud, Hê, Vav e Hê, mais um quinto nivel que</p><p>transcende e inclui os outros quatro, o topo do Yud .</p><p>De acordo com os cabalistas, estes cinco níveis abrangem tudo. É este o Nome que</p><p>representa a totalidade do que existe. Para os nossos propósitos, a única diferença entre</p><p>este Nome e o En Sof que o preenche e permeia é que, por meio deste Nome, Deus</p><p>deseja e determina que a criação exista. Como dissemos, no nível do puro En Sof, nós</p><p>não existimos. Deus, no entanto, quer que existamos.</p><p>Este Nome está relacionado aos tempos pretérito, presente e futuro do verbo hebraico</p><p>“ser”. Em hebraico, “foi” é haiá did, “é” é hovê ded, e “será” é ihiê didi.</p><p>Isto nos diz algo a respeito de Deus. Mostra-nos que Ele criou o tempo e que Ele está</p><p>absolutamente além e acima do tempo. Diz-nos também que, para criar, Ele ocultou Sua</p><p>lnfinitude e deu existência ao mundo de modo que Ele o permeasse, porém não o</p><p>anulasse. Mais uma vez, isto nos ensina que o Próprio Deus é Existência, mas que nada</p><p>poderia existir até que Ele lhe desse existência.</p><p>Podemos entender melhor essa idéia com a ajuda de um antigo ensinamento cabalistico</p><p>que afirma que essas quatro letras contêm o segredo da caridade.</p><p>De acordo com esta visão, o lud é como uma moeda, simples e pequeno. O Hê é como a</p><p>mão que dá a moeda. O Vav é o braço que se estende para dá-la. O último Hê é a mão</p><p>da pessoa que recebe a moeda.</p><p>Assim é a caridade no plano mundano, mas ela também pode ser entendida numa esfera</p><p>Divina. O Yud é existência. Existência é o que Deus quer dar Nesse nível, porém, a</p><p>existência é tão intensa que não podemos recebê-la. Assim, o Hê, como uma mão,</p><p>representa o conceito de algo que pode reter a existência. O Vav é mais uma extensão</p><p>disto, algo que reduz suficientemente a força para nos permitir existir O último Hê é a</p><p>nossa capacidade de receber a existência que Deus nos quer dar.</p><p>Deus e a Alma Humana</p><p>O Ari “Rav Isaac Luria, explica que os cinco níveis do Tetragrama correspondem aos</p><p>cinco níveis da alma. A alma, na realidade, é uma unidade, ligada ao Deus Único, mas</p><p>dividida em vários graus que representam aspectos distintos de sua relação com o</p><p>corpo. Estas cinco partes são conhecidas (em ordem decrescente) como:</p><p>Yechidá Essência única</p><p>Chaiá Essência viva</p><p>Neshamá Alma Divina</p><p>Rúach Espírito</p><p>Néfesh Alma</p><p>tipo.</p><p>No entanto, é muito fácil esquecer nosso verdadeiro objetivo.</p><p>Considerando-se as numerosas exigências físicas da vida, o empenho aplicado no</p><p>ganho do sustento e no cuidado da família pode tranqüilamente fazer o indivíduo</p><p>esquecer sua natureza e potencial espiritual.</p><p>Como ensina o Rav “O esquecimento é comparado a nuvens que cobrem os olhos”.</p><p>A vista pode tornar-se fraca, e o futuro (o mundo vindouro) ser logo esquecido.</p><p>Portanto, o Rav ensina também que a pessoa deve proteger sua memória para não</p><p>se tornar esquecida.</p><p>O esquecimento é análogo ao conceito de „coração agonizante‟ [o coração é um</p><p>aspecto de Biná e se refere ao futuro] e predomina naqueles que consideram este</p><p>mundo corpóreo como o único mundo.</p><p>O maior esforço da memória deve ser dedicado a recordar a lembrança do futuro.</p><p>O Rav Nachman ensina que a oração, o canto e a alegria fortalecem a memória e</p><p>combatem o esquecimento. Por meio da oração, a pessoa pode cuidar de sua</p><p>memória e nutrir uma consciência constante do mundo vindouro.</p><p>...e Esquecimento do Passado</p><p>O Rav ensina que a tendência humana para o esquecimento é, em alguns aspectos,</p><p>muito benéfica: Se não houvesse o esquecimento, seria totalmente impossível</p><p>servir a Deus.</p><p>Você se lembraria de todo o seu passado, e as recordações [desagradáveis] o</p><p>deprimiriam e não permitiriam que você se elevasse para aproximar-se Dele.</p><p>Tudo que você tentasse fazer seria obscurecido pelas memórias do passado.</p><p>Mas Deus lhe deu o poder de esquecer e desconsiderar o passado.</p><p>O passado ficou para trás, não voltará, e não precisa ser trazido à memória.</p><p>Graças à sua capacidade de esquecer, você não tem de ser dominado por ele.</p><p>É muito importante compreender isso quando se serve a Deus.</p><p>A maioria das pessoas se angustia com os acontecimentos pretéritos,</p><p>principalmente durante a reza. Quando o indivíduo recita suas orações, a devoção</p><p>muitas vezes é dissipada pelas recordações. Ele pensa nos negócios ou em</p><p>assuntos familiares, perguntando-se, com preocupação, se cometeu algum erro ou</p><p>deixou de fazer algo importante.</p><p>Apesar de estar tentando servir a Deus por meio da oração ou do estudo, ele pode</p><p>ficar perturbado pensando em seus numerosos pecados e falhas.</p><p>Esse é um problema universal, e todos reconhecem as suas dificuldades.</p><p>O mais aconselhável nesses casos é simplesmente esquecer.</p><p>Assim que um acontecimento [doloroso] passar, esqueça-o por completo e nunca</p><p>mais pense nele.</p><p>Entenda bem esse princípio, porque ele é fundamental.</p><p>O Rav Nachman prossegue: Em nossa literatura sagrada, vemos que Deus nos deu</p><p>o poder de esquecer para que sempre possamos apreciar a Torá como se a</p><p>estivéssemos estudando pela primeira vez.</p><p>Por causa do esquecimento, você pode reaprender ou revisar uma lição como se</p><p>estivesse estudando algo novo.</p><p>Assim, você pode admirá-la tanto quanto na primeira vez em que a viu.</p><p>6</p><p>O Midrash (Vaicrá Rabá 19:2) compara essa situação à de trabalhadores</p><p>contratados para encher barris que têm vazamentos, recebendo pagamento diário.</p><p>Quanto mais líquido eles despejam nos barris, maior é o volume que vaza.</p><p>Os tolos se queixam: “Por que estamos trabalhando em vão? De que serve encher</p><p>os barris, se todo seu conteúdo vaza?”</p><p>Mas os sábios respondem: “Que diferença faz? Acaso não somos pagos por dia de</p><p>trabalho? Se os barris vazam, nosso salário não é reduzido por isso”.</p><p>Esta mesma atitude deve ser mostrada em relação aos estudos sagrados.</p><p>Talvez você os esqueça, mas a sua recompensa não será reduzida.</p><p>No futuro, Deus fará cada um se lembrar de tudo que já aprendeu, mesmo que o</p><p>tenha esquecido durante a vida.</p><p>O Sonho do Faraó</p><p>O faraó falou a José: “No meu sonho, eu estava sobre a orla do Nilo. De repente,</p><p>subiram sete vacas, gordas de carne e formosas à vista... Em seguida, também</p><p>subitamente, outras sete vacas [subiram], magras e muito feias de forma.., E as</p><p>vacas vazias e feias devoraram as sete vacas primeiras, as gordas. Elas as</p><p>engoliram completamente, mas não se notava que houvessem entrado nas suas</p><p>entranhas, e sua aparência era feia como no princípio” .</p><p>Quando fala sobre esquecimento, o Rav Natan adverte que devemos tomar cuidado</p><p>com o “sonho do faraó”.</p><p>A Bíblia relata que o faraó sonhou com sete vacas gordas e sete vacas magras.</p><p>Depois de engolir as “vacas gordas”, as magras não davam sinal de as terem</p><p>consumido. O sonho faz alusão à tendência das pessoas de “engolir todo o bem”</p><p>que existe em sua vida - isto é, esquecer o bem de modo tão absoluto que não</p><p>resta nem vestígio dele em sua memória.</p><p>É certo que o indivíduo deve esquecer suas más ações e os erros do passado, que</p><p>poderiam inibir seu crescimento espiritual, e ao mesmo tempo relembrar os</p><p>equívocos cometidos e esforçar-se para corrigi-los.</p><p>No entanto, ele tem de recordar o bem que praticou.</p><p>A lembrança constante do positivo possibilita que ele empregue suas forças</p><p>interiores para crescer continuamente.</p><p>Isto lhe trará alegria, que por sua vez preservará sua memória.</p><p>Em outro lugar, o Rav Natan explica que o faraó está relacionado com a “hafraá”,</p><p>“interferência”, simbolizando as ilusões e pensamentos inoportunos que se infiltram</p><p>na mente.</p><p>A pessoa deve sempre combater o sonho do faraó, e a força do tsadic (Justo) pode</p><p>ajudá-lo nessa tarefa.</p><p>Foi José que apresentou a solução que salvou o faraó e o país inteiro (na verdade,</p><p>todas as nações afetadas) da fome, mostrando que o conselho dos tsadikim é capaz</p><p>de neutralizar os efeitos nocivos dos maus sonhos e ilusões.</p><p>Vimos que o pecado de Adão foi ter comido da árvore do conhecimento do bem e</p><p>do mal, que o separou do conselho correto. Este conselho pode ser redescoberto</p><p>nos ensinamentos dos tsadikim. Quem realmente deseja superar a má inclinação -</p><p>com suas ilusões, pensamentos negativos e más recordações - se beneficiará muito</p><p>com o estudo dos conselhos oferecidos pelos verdadeiros tsadikim (“justos”).</p><p>Criação Ex Nihilo</p><p>“Em Sua bondade Ele renova constantemente o ato da criação, todos os dias.</p><p>Quão grandes são as Tuas obras, ó Deus; a tudo fizeste com Chochmá”</p><p>(Ofício da manhã).</p><p>7</p><p>A pessoa deve empenhar-se para só ter pensamentos bons e produtivos, e assim</p><p>renovar e revigorar seu intelecto diariamente.</p><p>Isso se assemelha à criação, quando “a tudo fizeste com Chochmá” (Salmos</p><p>104:24). Deus repete o ato da criação do mundo de novo, “ex nihilo” [a partir do</p><p>nada], todos os dias.</p><p>Da mesma maneira, o indivíduo deve renovar a mente e o intelecto diariamente.</p><p>O primeiro passo é iniciar o dia sem julgamentos preconcebidos.</p><p>Assim como a criação ocorreu ex nihilo, você também deve começar o dia com uma</p><p>atitude ex nihilo.</p><p>Diga: “Hoje não será a mesma coisa de sempre. Este dia é totalmente novo!”</p><p>Mantenha-se aberto para idéias novas e vigorosas, sem prender-se a rotinas.</p><p>Encare até mesmo suas atividades cotidianas de forma diferente e original.</p><p>A maioria dos inventores são pessoas que rejeitam noções e idéias predefinidas e</p><p>estão dispostas a testar novas abordagens para alcançar os objetivos desejados.</p><p>Pode-se dizer o mesmo da busca de espiritualidade.</p><p>Adotar um enfoque diferente a cada dia abre novas perspectivas espirituais.</p><p>O Rav Natan acrescenta que Deus injeta esse poder de renovação em cada dia.</p><p>“Imagine”, ele escreve, “um artista que produz as obras mais belas”.</p><p>Seria possível visualizar uma pessoa tão criativa fazendo a mesma coisa toda vez?</p><p>Deus, o Artista Supremo, recria o mundo inteiro todos os dias.</p><p>Poder-se-ia pensar, por um instante, que Deus - que fez um mundo tão incrível e</p><p>tudo que há nele - faria a mesma coisa por tantos milênios, sem jamais criar nada</p><p>novo?</p><p>É claro que não!</p><p>Todo dia é uma criação original.</p><p>Assim como Deus renova o mundo, trazendo sempre uma novidade, você pode</p><p>seguir esse exemplo e revigorar-se diariamente.</p><p>O segredo é ver cada dia como uma criação</p><p>inédita, uma criação “ex nihilo”.</p><p>Noticiário 24 Horas por Dia</p><p>Dáat (intelecto) é a própria vida!</p><p>Ao levantar-se pela manhã, quem não lê o jornal ou ouve o rádio para informar-se</p><p>de todos os “acontecimentos importantes do dia”?</p><p>Quem consegue ficar sentado à mesa do jantar sem assistir ao noticiário das sete</p><p>horas?</p><p>Como é possível ter uma boa noite de sono sem antes verificar o que está</p><p>ocorrendo no mundo?</p><p>Se seguirmos o conselho da mídia, não poderemos viver sem notícias.</p><p>A pergunta é: que notícias? Por que o mundo é tão obcecado por notícias?</p><p>Afirmamos acima que Deus injeta o poder de renovação em cada dia.</p><p>Assim, sempre há as “notícias do dia”, nas quais se pode perceber e experimentar o</p><p>frescor da criação de Deus.</p><p>Além disso, vimos que a recompensa do mundo vindouro é um nível sempre</p><p>crescente de conhecimento da Divindade.</p><p>Portanto, nossa avidez por notícias é na realidade um desejo instintivo de Dáat, ou</p><p>seja, de Divindade, a fonte da vida.</p><p>Como o conceito da criação - as inúmeras inovações que Deus produz todos os dias</p><p>- corresponde a Chochmá e Biná, a mente tem uma tendência inata a buscar</p><p>constantemente o novo. O tipo de novidade que você procura é uma questão de</p><p>escolha.</p><p>8</p><p>Você pode ser alimentado de forma passiva pela seleção de notícias feita pelos</p><p>jornalistas locais, ou buscar a renovação verdadeiramente original e mais recente</p><p>existente em cada dia, que é capaz de revigorá-lo com um novo interesse pela</p><p>vida.</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 18</p><p>Dáat: O Templo Sagrado – Parte 1</p><p>Moisés recebeu a ordem de construir o Santuário no qual a Presença Divina seria</p><p>revelada na terra. “Olha”, disse-lhe Deus, “chamei a Betsalel... e fiz com que ele</p><p>ficasse repleto do espírito de Deus, em Chochmá (sabedoria), Tevuviá</p><p>(entendimento) e Daat (conhecimento)..” (Êxodo 31:2-3).</p><p>A Cabalá define Dáat como “rúach hacódesh”, ”inspiração Divina”.</p><p>Quando os poderes de Chochmá e Biná são combinados, obtém-se Dáat</p><p>(conhecimento) e constrói-se um Santuário.</p><p>Isso também pode ser realizado no nível individual.</p><p>Todos são capazes de tornar-se um Templo Sagrado no qual o rúach hacóclesh</p><p>pode manifestar-se!</p><p>O Rav Nachman ensinou o seguinte: “A aquisição de Dáat é comparável à</p><p>construção do Templo Sagrado, enquanto a ausência de Dáat corresponde à sua</p><p>destruição”. Portanto, o objetivo do homem deve ser a obtenção de Dáat, a</p><p>construção de um santuário pessoal de espiritualidade, onde Deus possa ser</p><p>revelado.</p><p>Como vimos Daat é a manifestação externa de Kéter.</p><p>Ela é uma quase-sefirá formada pela confluência de Chochmá e Biná.</p><p>A principal retificação de tudo que está imperfeito neste mundo se faz por meio da</p><p>construção do intelecto de Dáat. O Rav Natan explica que a razão fundamental</p><p>disso é o pecado de Adão, que consistiu em comer do “ets hadaat”, a “árvore do</p><p>conhecimento do bem e do mal”.</p><p>Como a imperfeição que ele criou com este pecado estava na esfera de Dáat, sua</p><p>retificação também deve acontecer por intermédio de Dáat</p><p>Dáat: O Tronco Cerebral e a Coluna Vertebral</p><p>O Rav Nachman nos ensinou que “Chochmá é o intelecto potencial; Biná é o</p><p>intelecto lógico; Dáat é a verdadeira sabedoria adquirida”.</p><p>Chochmá é a primeira revelação do intelecto, o intelecto potencial, porque ainda</p><p>indiferenciado.</p><p>Biná é o processo de pensamento lógico por meio do qual Chochmá se torna</p><p>manifesta. Finalmente, quando o que foi absorvido e compreendido pode ser</p><p>aplicado no nível prático, chega-se a Dáat.</p><p>Podemos entender melhor essa idéia se lembrarmos que Dáat corresponde ao</p><p>tronco cerebral e à coluna vertebral.</p><p>Tudo que é processado no cérebro se manifesta nas reações do corpo aos</p><p>comandos cerebrais. A coluna vertebral, por ser uma extensão do tronco cerebral,</p><p>reflete a capacidade de Dáat de receber de Chochmá e Biná.</p><p>Como vimos, Chochmá representa o passado, e Biná representa o futuro.</p><p>Dáat é o poder do presente, o aqui e agora, onde interagimos com as forças à</p><p>nossa volta. Assim, é só por meio de Dáat que podemos realmente tomar</p><p>consciência da Divindade que nos cerca e preenche.</p><p>Para saber como é possível conscientizar-se da espiritualidade por meio de Dáat,</p><p>você deve lembrar que, na disposição das sefirot, Chochmá está do lado direito, e</p><p>Biná, do lado esquerdo.</p><p>Direita e esquerda correspondem, respectivamente, a Chassadím (bondade) e</p><p>Guevurot (julgamento).</p><p>Explicamos que Chochmá é o aspecto masculino que se une com Biná, o aspecto</p><p>feminino, para criar Dáat. A combinação de Chochmá e Biná é crucial para a</p><p>atuação de Dáat.</p><p>Do ponto de vista prático, se tentássemos estruturar nossa vida só com bondade,</p><p>seríamos esmagados e não conseguiríamos funcionar.</p><p>2</p><p>Por outro lado, se quiséssemos viver com base apenas no julgamento, não</p><p>poderíamos subsistir, porque o mínimo descumprimento de nossas</p><p>responsabilidades exigiria uma punição severa.</p><p>O equilíbrio entre bondade e julgamento é essencial para uma existência saudável.</p><p>Da mesma maneira, alcançar uma combinação perfeita de amor (Chéssed) e</p><p>respeito (Guevurá) a Deus é equivalente a adquirir conhecimento Dele.</p><p>O amor possibilita que você se doe sem restrições, enquanto o respeito o ajuda a</p><p>manter a distância necessária para servir a um Ser tão elevado.</p><p>Dáat também gera um equilíbrio salutar nas relações humanas.</p><p>Ela representa a compaixão, um estado no qual a bondade e a contenção são</p><p>exercidas simultaneamente.</p><p>Um exemplo claro dessa combinação é o ato de disciplinar uma criança com</p><p>sabedoria. Às vezes, os pais castigam o filho com severidade para aplacar sua</p><p>própria raiva, ou então se abstêm completamente de discipliná-lo, por medo de</p><p>torná-lo ainda mais rebelde.</p><p>Essas duas atitudes são prejudiciais à criança.</p><p>Se for estabelecida corretamente, a disciplina pode fazer o filho entender que tipos</p><p>de comportamento são inaceitáveis e como ele deve comportar-se no futuro.</p><p>A contenção é usada aí como uma forma de punição, mas associada ao amor.</p><p>Esta é a verdadeira compaixão, a compaixão criada por Dáat.</p><p>Aiê? e Meló: Esperança, Não Desespero</p><p>A compreensão da necessidade da mistura de forças opostas (Chéssed e Guevurá)</p><p>para sustentar a criação pode auxiliar-nos a perceber como a Divindade está</p><p>presente neste planeta terreno grosseiro.</p><p>O princípio mais básico da existência é que Deus permeia toda a criação, dos níveis</p><p>mais altos até os mais baixos.</p><p>Por um lado, quanto mais a pessoa se elevar, maior será a revelação de Divindade</p><p>que ela experimentará, e mais ela será atraída à espiritualidade.</p><p>Em graus mais baixos de existência, por outro lado, a presença de Deus torna-se</p><p>cada vez mais encoberta.</p><p>Nos níveis inferiores, pode parecer que Ele é, Deus nos livre, inexistente.</p><p>Assim, vemo-nos diante da seguinte pergunta: considerando-se o mundo material</p><p>grosseiro em que vivemos, como é possível que simples seres humanos nutram a</p><p>esperança de ter alguma percepção de Deus?</p><p>Existe um nível no qual a revelação da grandeza de Deus é tão sublime que nos é</p><p>totalmente insondável.</p><p>É o nível do “Aiê mecom Kevodó? - Onde é o lugar de Sua glória?”.</p><p>Nem os tsadikim podem compreender o “mecom Kevodó” (lugar de Sua glória),</p><p>porque, quanto mais elevam, mais eles percebem a grandiosidade de Deus em</p><p>contraposição a sua própria insignificância. Eles ficam com a pergunta, “Aiê?”.</p><p>No extremo oposto da balança estão os piores pecadores, que se encontram tão</p><p>distantes da espiritualidade que parecem não ter absolutamente nenhuma ligação</p><p>com Deus.</p><p>Como poderiam então começar a buscá-Lo?</p><p>Para avançar, eles devem perceber que a imponência e a grande misericórdia de</p><p>Deus descem dos níveis mais altos até este mundo material. Desta forma, Deus</p><p>sustenta o mundo, e “Meló col haarets Kevodó - O mundo inteiro está repleto de</p><p>Sua glória” (Isaías 6:3). Segue-se que, apesar da tão formidável grandeza de Deus,</p><p>sempre podemos</p><p>encontrá-Lo, porque Ele está em toda parte.</p><p>Em cada geração há um tsadic tão magnífico que compreende esses dois conceitos,</p><p>Aiê? e Meló. Ele mostra aos que têm inclinação para a espiritualidade que,</p><p>independentemente do que já tenham alcançado, eles ainda não entendem nada da</p><p>3</p><p>essência de Deus. Ao mesmo tempo, ele é capaz de mostrar à pessoa mais</p><p>afastada da espiritualidade que Deus está ao lado dela, sempre acessível.</p><p>Vemos que os conceitos de Aiê? e Meló representam os dois extremos de uma</p><p>escala. O primeiro indica um estado de incessante anseio e questionamento:</p><p>“Quando chegarei ao meu objetivo?”</p><p>O outro se caracteriza por um sentimento de incapacidade de encontrar Deus e de</p><p>falta de merecimento para aproximar-se da santidade, de modo que é necessário</p><p>“mostrar” à pessoa que “o mundo inteiro está repleto de Sua glória”.</p><p>Do ponto de vista da lógica, os dois jamais poderiam coexistir.</p><p>Em geral se presume que quem tem inclinação para a espiritualidade está afastado</p><p>do materialismo; e que quem é materialista não busca o espiritual. No entanto, é</p><p>interessante notar que todos nós vivenciamos esses extremos em nossa vida diária.</p><p>Freqüentemente oscilamos entre a esperança e o desespero; também conhecemos</p><p>as conseqüências de pensar que “chegamos” ou de perder toda a fé na nossa</p><p>capacidade de um dia começar de novo.</p><p>Daat é a “ponte” entre esses dois opostos.</p><p>Com Daat, sempre podemos encontrar Deus - onde quer que estejamos.</p><p>Mesmo no abismo mais profundo, podemos recuperar o ânimo com a consciência</p><p>de Sua proximidade, sabendo, ao mesmo tempo, o quanto estamos distantes Dele.</p><p>O tsadic é alguém que aperfeiçoou sua Dáat e por isso é capaz de compreender e</p><p>entrelaçar esses dois conceitos, apreendendo-os como um só.</p><p>Ele transita entre os mundos superiores e inferiores com naturalidade, como se</p><p>estivesse indo e vindo entre dois quartos. Por ter unido os dois opostos aparentes</p><p>dentro de si, ele pode iluminar a Dáat das demais pessoas, de maneira que todo</p><p>aquele que aceitar a sua orientação será capaz de perceber Deus em seu próprio</p><p>nível.</p><p>Os Três Compartimentos</p><p>“O homem não peca, a menos que um espírito de insensatez o</p><p>domine.”</p><p>O Rav Nachman ensinou que Daat indica uma ligação e uma união, conforme está</p><p>escrito (Gênesis 4:1): “E Adão conheceu Eva, sua esposa”. A união pode assumir</p><p>duas formas.</p><p>A união sagrada consiste em ligar-se aos tsadikim, à Torá, a Deus.</p><p>Esta união vem da Daat sagrada.</p><p>Uniões pecaminosas, por outro lado, vêm da Daat desvirtuada.</p><p>Vimos que o encéfalo se divide em três seções principais: o cérebro, o cerebelo e o</p><p>tronco cerebral.</p><p>Esta divisão é análoga à faculdade da mente de compartimentar e analisar</p><p>informações para chegar a conclusões lógicas.</p><p>De acordo com o Rav esse processo composto de três etapas (compartimentagem,</p><p>análise e decisão conclusiva) reflete a capacidade mental de “estabelecer</p><p>compartimentos” para proteger a pessoa do pecado, principalmente do pecado da</p><p>imoralidade.</p><p>Os compartimentos do encéfalo correspondem a Chochmá, Biná e Daat, como</p><p>explicamos. Quando concentra sua mente na obtenção de mais espiritualidade,</p><p>você se orienta para a santidade. Sua união interna, a combinação de sabedoria e</p><p>entendimento, cria então uma Daat de santidade, um santuário onde a Divindade</p><p>pode ser revelada. Porém, se você se afasta da santidade por nutrir falsas crenças</p><p>ou por desperdiçar sua energia mental em pensamentos imorais ou pecaminosos,</p><p>sua capacidade de alcançar a Daat sagrada é danificada.</p><p>Os compartimentos de sua mente ficam fragmentados; a sabedoria (Chochmá) se</p><p>dissipa, e a lógica (Biná) o abandona.</p><p>O Arizal ensina que só as forças da santidade possuem Daat, enquanto as forças do</p><p>mal existem sem Daat.</p><p>4</p><p>O Zôhar afirma que “Elas [as forças do mal] começam em união, mas terminam em</p><p>separação”.</p><p>A união não pode perdurar no campo do mal, porque aí não há possibilidade de</p><p>fusão de amor e temor, bondade e contenção. Não é possível, portanto, atingir</p><p>Daat, aquela mescla benéfica que resulta na compaixão.</p><p>Quando Daat é desvirtuada, a compaixão diminui, e a bondade é substituída pela</p><p>crueldade. As pessoas nesse estado ficam insensíveis aos sentimentos dos outros e</p><p>negligentes com a propriedade alheia.</p><p>Danos e abusos tornam-se freqüentes.</p><p>E o que é ainda pior, a compaixão é muito mal empregada, sendo muitas vezes</p><p>consumida - e desperdiçada - com pessoas indignas.</p><p>Quando a imoralidade reina, Daat é desvirtuada e o sentido de compaixão é</p><p>deturpado. Sente-se pena dos criminosos - terroristas, assassinos, estupradores e</p><p>assim por diante - enquanto os cidadãos cumpridores das leis temem por sua vida,</p><p>e indivíduos que não merecem reprovação sofrem restrições injustificadas.</p><p>Alguns mostram uma preocupação extrema com a conservação da natureza,</p><p>enquanto a humanidade definha devido à pobreza.</p><p>Foi por essa razão que Deus criou o homem com um “triunvirato” firmemente</p><p>plantado em sua mente: Chochmá, Biná e Daat.</p><p>Tentando combinar a bondade de Chochmá com as restrições de Biná, o indivíduo</p><p>pode desenvolver uma Dáat bem constituída e aprender a construir e criar com</p><p>moderação, para o seu próprio benefício e em proveito da humanidade como um</p><p>todo.</p><p>Deus deu ao homem a oportunidade de formar “compartimentos” sólidos em sua</p><p>mente e assim cultivar Daat.</p><p>Enquanto Daat cresce, esses compartimentos agem como barreiras contra os maus</p><p>pensamentos, para que a pessoa. possa banir qualquer idéia ou ato imoral antes</p><p>que eles tenham a chance de estabelecer um baluarte em sua mente. Caso se torne</p><p>vítima de um pensamento indecoroso, o indivíduo pode fortalecer- se com a ajuda</p><p>desses compartimentos e combater a imoralidade antes mesmo que ela se</p><p>transforme em palavra falada ou ação efetiva.</p><p>Ele tem a possibilidade de analisar e classificar o pensamento e então decidir o que</p><p>fazer com ele: bani-lo ou permitir que se manifeste como ato ou fala.</p><p>Dominando dessa maneira as idéias indecorosas, o sujeito retifica sua Daat e</p><p>obtém mais Daat. Quem consegue fazê-lo irradia amor e bondade de modo</p><p>apropriado, beneficiando os demais seres humanos.</p><p>O Rav sugere o estudo da Torá como um recurso para a superação de tendências</p><p>imorais: “A Torá é chamada de Daat. Com Dáat, é possível subjugar todas as</p><p>características negativas, principalmente a imoralidade.”</p><p>A Árvore do Conhecimento: Bem e Mal</p><p>Pudemos vislumbrar a importância do intelecto, especialmente em seu aspecto de</p><p>Daat, que está relacionada com a nossa capacidade de atuar como um povo santo</p><p>neste mundo.</p><p>Examinemos agora a influência que ela exerce, tanto positiva como negativa.</p><p>O Rebe Nachman nos ensina:</p><p>- Dáat é assim chamada quando, por intermédio dela, a pessoa vem a reconhecer</p><p>Deus.</p><p>- Dáat corresponde à paz, e a discórdia indica uma forma comprimida de Daat.</p><p>- O caminho para alcançar a condição de “homem” é o estudo da Torá (Números</p><p>19:14): Isso se deve ao fato de a Torá ser adquirida em três etapas: o estudo, que</p><p>corresponde a Chochmá; a compreensão do estudado, que se refere a Biná; e o</p><p>domínio do assunto, que equivale a Daat.</p><p>Os principais aspectos do intelecto, Chochmá e Biná (pois Daat resulta de sua</p><p>confluência), são associados às duas primeiras letras do Tetragrama, Yud e Hê.</p><p>5</p><p>Juntos, Yud e Hê têm valor numérico de 15, e [dado que eles podem ser</p><p>expandidos de três maneiras diferentes] 3 vezes 15 são 45, o equivalente numérico</p><p>de adam, homem.</p><p>- Daat contém a verdadeira alegria do mundo vindouro.</p><p>Você pode provar do gosto dessa Daat ainda neste mundo, por meio do estudo da</p><p>halachá, os códigos da lei.</p><p>Cada lei aprendida nesses códigos lhe dá uma nova porção de Daat.</p><p>- Quando sua Daat está íntegra, a alma pode desenvolver-se. Inversamente, se sua</p><p>Dáat estiver desvirtuada, você é chamado de “estéril”, incapaz de procriar e gerar</p><p>descendência.</p><p>“Estéril” em hebraico é “limiechá”,</p><p>por associação com a palavra “melach” [“sal”,</p><p>isto é, “amargura”]. Assim como o sal provoca sede, a alma tem sede de</p><p>espiritualidade, e esta sede corresponde ao sofrimento. Ela pode ser saciada com</p><p>visões originais da Torá.</p><p>- Obter Daat só para si não é suficiente. A pessoa deve transmiti-la aos outros,</p><p>para que mesmo depois de sua morte ela possa “manter se viva” por meio da Daat</p><p>que deixou neste mundo. Isso pode ser realizado por intermédio dos filhos, que são</p><p>criados a partir da semente que se origina nos “mochin”, e também pelo ensino da</p><p>Torá.</p><p>- Daat é comparada à luz do dia. Quem alcança a fé absoluta em Deus atinge Daat.</p><p>Então, mesmo as suas “noites” são tão claras quanto o dia.</p><p>- O homem se distingue por Daat, a capacidade de discernir o bem do mal.</p><p>- Quem estuda a Torá sem Daat [sem aplicar esse conhecimento] é comparado a</p><p>Labão, que só se valia de artimanhas. Tal pessoa usa sua Daat para sobrepujar os</p><p>outros e provocar discórdia.</p><p>- Quem não possui Daat tem de esforçar-se mais para ganhar o sustento. Quanto</p><p>menos Daat a pessoa tiver, mais precisará trabalhar.</p><p>O maná, que era o alimento dos israelitas no deserto, representa uma grande Dáat.</p><p>Assim, quem possui Dáat mantém-se com mais facilidade.</p><p>- A vida é vivida por meio do intelecto. Considera-se que a pessoa que não</p><p>consegue fazer bom uso de seu intelecto desperdiça a vida dormindo.</p><p>Esse “sono” é causado pela alimentação inadequada.</p><p>- A verdadeira pobreza é a da mente.</p><p>- Quando a Dáat de uma pessoa excede sua capacidade de dirigi-la, o intelecto cria</p><p>heresias. A faculdade de controlar o intelecto é proporcional às boas ações da</p><p>pessoa.</p><p>- Toda dor, sofrimento e até mesmo o exílio resultam da falta de Dáat.</p><p>O Rav também oferece sugestões que ajudam a retificar e desenvolver nossa Dáat:</p><p>- O intelecto é incompleto sem uma ligação com os tsadikim. Para atingir um grau</p><p>de perfeição, o intelecto deve ser puro. Os tsadíkim, que são puros, auxiliam a</p><p>pessoa a alcançar pureza mental.</p><p>- A Terra Santa tem o poder de purificar a mente.</p><p>- A alegria eleva a mente.</p><p>- A honestidade nos negócios possibilita que a pessoa reze com a mente pura.</p><p>- Os três mochin correspondem às três festividades. A observância das três</p><p>festividades pode retificar os mochin.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 19</p><p>Dáat: O Templo Sagrado – Parte Final</p><p>Doença Mental...</p><p>Psiquiatras e psicólogos são hoje obrigados a acompanhar as constantes mudanças</p><p>no campo da saúde mental. Novos tipos de neurose parecem surgir em velocidade</p><p>alarmante, e enfermidades antes inexistentes estão sempre sendo descobertas.</p><p>A medicina não consegue explicar esse fenômeno.</p><p>Soluções concretas ainda precisam ser encontradas, e, neste ínterim, remédios são</p><p>prescritos indiscriminadamente para compensar nossa falta de compreensão da raiz</p><p>do problema.</p><p>Um círculo vicioso pode ser criado quando, por exemplo, um distúrbio leve exige</p><p>medicação. O Manual do Uso de Medicamentos para Médicos descreve com clareza</p><p>os efeitos colaterais de cada tipo de remédio, que causam, por sua vez, outros</p><p>problemas, que requerem nova medicação.</p><p>Infelizmente, uma parcela significativa da humanidade sofre de doenças mentais e</p><p>emocionais, algumas das quais são consideradas hereditárias, enquanto outras são</p><p>atribuídas às circunstâncias da vida.</p><p>Que Deus mande uma cura completa para todos!</p><p>Assim como a fisiologia do homem é análoga a sua constituição espiritual, a saúde</p><p>mental espelha a saúde espiritual.</p><p>Vimos que Kéter representa espera e paciência.</p><p>A mente deveria ter um mentor que lhe dissesse: “Ainda não é hora. Espere, seja</p><p>paciente. Você não pode ter tudo que quer imediatamente. Talvez seus desejos se</p><p>realizem em algum momento no futuro, mas não agora. Você precisa aprender a</p><p>ter paciência. Agora você tem de trabalhar duro e tentar aperfeiçoar-se. Viva a vida</p><p>plenamente no presente. Com o passar do tempo, você deve conseguir alcançar</p><p>seus objetivos.”</p><p>Aí reside a solução para quase todas as doenças mentais.</p><p>Quando Kéter está desvirtuado, reduz-se a capacidade da pessoa de criar uma</p><p>estrutura na qual seu estado mental e emocional possa crescer e florescer.</p><p>O resultado: anomalias em abundância.</p><p>Verificamos, assim, que muitos distúrbios estão associados a tendências</p><p>compulsivas, como o transtorno bipolar (maníaco-depressivo) e o transtorno</p><p>obsessivo-compulsivo.</p><p>Além disso, todas as formas de desejo imoderado (obsessão por pensamentos</p><p>imorais, vício do trabalho, distúrbios alimentares, etc.), embora em geral sejam</p><p>reconhecidas como doenças, na realidade estão relacionadas com impulsos</p><p>incontidos.</p><p>Como ensina o Talmud “A ira causa perda de intelecto.”</p><p>A ira denota falta de paciência.</p><p>A perda de intelecto ocorre porque a falta de paciência reflete um defeito no nível</p><p>de Kéter, que faz a mente sofrer.</p><p>Ademais, vimos que o desvirtuamento de Kéter leva ao “caret” (exclusão) da</p><p>pessoa e é responsável por diversos tipos de “demência” que podem acometê-la,</p><p>como as psicoses.</p><p>Mostramos a ligação que há entre Kéter (vontade) e o livre-arbítrio.</p><p>O ser humano tem a capacidade de escolher e agir sem nenhuma compulsão.</p><p>Suas decisões podem ser tomadas com total independência de considerações</p><p>externas, O homem pode ser um ente verdadeiramente responsável, empregando a</p><p>paciência, que significa a sabedoria de saber o que deve e o que não deve ser feito,</p><p>como a chave de uma vida normal.</p><p>2</p><p>No entanto, o homem moderno é submetido a formas de pressão, tanto internas</p><p>como externas, que eram desconhecidas algumas décadas atrás.</p><p>Em vez de aceitar o desafio moral da modernidade e enfrentar sua dura realidade,</p><p>muitos perdem a paciência e escolhem a saída mais fácil: isentar-se da</p><p>responsabilidade espiritual.</p><p>Ao invés de esperar o momento adequado, a pessoa muitas vezes se sente</p><p>“compelida” a agir de determinada maneira, “impor” uma idéia ou “forçar” uma</p><p>decisão específica. Como o lema é “não vacilar”, ela sente que “tem” de fazer</p><p>alguma coisa: comprar... correr... jogar... adquirir... possuir, etc.</p><p>A compulsão - não a paciência é a ordem do dia.</p><p>Além disso, quando se equivocam, as pessoas não conseguem simplesmente</p><p>admitir o erro e se complicam tentando racionalizar seus atos.</p><p>Com essa atitude, elas se esquivam da responsabilidade em relação a si mesmas, a</p><p>suas ações e ao ambiente.</p><p>Não faz muito tempo, tornou-se moda entre os terapeutas tentar fazer o indivíduo</p><p>sentir-se satisfeito consigo mesmo - uma idéia muito nobre, proposta pelo Rav</p><p>Nachman há duzentos anos! Porém, esse conselho muitas vezes foi difundido à</p><p>custa de um senso básico de responsabilidade.</p><p>A idéia predominante era: “Contanto que eu me sinta bem, não importa o que eu</p><p>faça ou o que acontece à minha volta.”</p><p>Graças a Deus, essa linha de pensamento está em declínio, porque, com muita</p><p>freqüência, era evidente que ela não promovia a saúde e sim uma modalidade</p><p>severa de doença mental, e as pessoas mais próximas dos que buscavam essa</p><p>forma tão deturpada de auto complacência eram as que mais se machucavam.</p><p>.......E Remédios Sugeridos</p><p>A chave da maturidade é a responsabilidade, entendida como a capacidade do</p><p>indivíduo de responder não só pelos seus atos, mas também pelos seus</p><p>pensamentos. Assim como as ações têm um efeito visível sobre o ambiente, os</p><p>pensamentos também produzem um efeito - ainda que nem sempre aparente no</p><p>momento - sobre a própria pessoa e o seu caráter.</p><p>O indivíduo responsável é aquele cujo senso de responsabilidade está firmemente</p><p>arraigado em seu caráter.</p><p>Como afirma o Talmud: “Toda pessoa deve dizer: „O mundo foi criado para mim‟.”</p><p>O Rav explica o que isso significa: “Eu sou responsável por tornar o mundo um</p><p>lugar melhor”.</p><p>O Talmud ensina também que “O homem não peca, a menos que um espírito de</p><p>insensatez o domine”. Esse “espírito de insensatez” é uma compulsão interior que</p><p>nos tira do equilíbrio e nos leva a fazer coisas que talvez não fizéssemos se nossa</p><p>mente estivesse bem focalizada.</p><p>Para superar essa compulsão, devemos observar nossos atos com calma e</p><p>objetividade.</p><p>Se notarmos que fizemos algo errado, nossa primeira reação deve ser vencer o</p><p>instinto natural de negar ou racionalizar.</p><p>Neste sentido, a saúde mental pode ser definida como a capacidade de distinguir</p><p>entre “mim” e “minhas ações”.</p><p>É só quando nos esquivamos de nossas responsabilidades, permitindo que nossos</p><p>atos passem desapercebidos, que, por assim dizer, o espírito de insensatez começa</p><p>a residir em nosso interior.</p><p>Quanto mais nos deixamos cair, mais ele se torna parte de nós.</p><p>É claro que Deus nos criou com as habilidades e oportunidades necessárias para</p><p>escolhermos a vida e assim nos libertarmos de todas as compulsões.</p><p>Porém, até percebermos o enorme valor dessas oportunidades, cada pecado que</p><p>cometemos possibilita que muito mais tolice entre e se instale em nós.</p><p>Isso se aplica especialmente aos pecados relacionados à imoralidade.</p><p>3</p><p>Como o sêmen do homem se origina na mente, qualquer ato que envolva</p><p>desperdício de sêmen é na realidade um desperdício injustificado da mente.</p><p>O Rav Natan escreve que a maioria das pessoas se entrega a excentricidades</p><p>claramente insensatas.</p><p>Isso ocorre porque elas não assumiram a responsabilidade por suas transgressões</p><p>do passado e não se arrependeram delas, como se pode deduzir da passagem</p><p>talmúdica citada acima.</p><p>Essas pessoas podem chegar a um estado em que, na composição de sua</p><p>identidade, predomina a insensatez e só há uma porção mínima de intelecto.</p><p>O Rav Natan também salienta que, neste caso, a maior parte delas poderia ser</p><p>classificada como lunática! No entanto, deve-se notar que o intelecto é tão</p><p>poderoso que, mesmo em quantidade ínfima, ele é capaz de contrabalançar toda a</p><p>tolice que o indivíduo incorporou.</p><p>Mesmo aqueles a quem só resta um vestígio diminuto de intelecto ainda possuem</p><p>livre-arbítrio e podem, a qualquer instante, modificar seu estilo de vida e passar a</p><p>ter uma vida normal, sem pecado e sem culpa.</p><p>O Rav ensinou que o despertar do sentido inato de bem da pessoa lhe permite</p><p>levantar-se da tolice na qual se entrincheirou e a habilita a retificar sua mente.</p><p>O Rav Nachman ensina também que “caridade é julgamento”. Quando um indivíduo</p><p>é procurado para fazer um donativo, ele precisa tomar algumas decisões. É</p><p>necessário avaliar se a causa é digna, o que e quanto ele deve dar, e assim por</p><p>diante.</p><p>Portanto, praticar a caridade é semelhante a fazer julgamentos, e ajuda a pessoa a</p><p>obter Daat e retificar sua mente.</p><p>O Talmud afirma que “É proibido mostrar piedade a quem não tem Daat”.</p><p>Porém, também consta que “Todo aquele que demonstra compaixão para com os</p><p>outros verá a compaixão do Céu”.</p><p>Se a pessoa não tem Daat, como pode o Céu apiedar-Se dela [se é proibido]?</p><p>A resposta é que quem pratica a caridade age com compaixão e, dessa forma,</p><p>torna-se digno de obter Daat e a compaixão do Céu.</p><p>Obtendo Daat, ele fica protegido do pecado, pois “O homem não peca, a menos que</p><p>um espírito de insensatez o domine”.</p><p>Portanto, a caridade preserva a Daat, e a Daat intacta defende a pessoa do pecado.</p><p>Depressão ou Alegria</p><p>O Rav ensinou que as pessoas só ficam longe de Deus e não se interessam pela</p><p>espiritualidade porque não têm “ishuv hadáat” [calma ou serenidade mental].</p><p>Quando está deprimido, o indivíduo não consegue controlar sua mente a ponto de</p><p>alcançar essa serenidade.</p><p>Portanto, deve-se sempre buscar a alegria.</p><p>Quem tem “ishuv hadáat” pode manter sua mente concentrada no espiritual.</p><p>Essa pessoa é capaz de examinar de forma seletiva o enorme volume de</p><p>informações a que está exposta, e assim se põe em sintonia com o conhecimento</p><p>que a ajudará a alcançar seu objetivo.</p><p>Vimos que Kéter é o “messader umeiashev” do intelecto.</p><p>“Messader” significa “o que coloca em ordem”, e “meiashev”, “o que assenta”.</p><p>Neste sentido, “ishuv hadáat” quer dizer “assentar a própria Daat”.</p><p>A motivação para assentar a própria mente habilita a pessoa a ligar Daat a Kéter,</p><p>ou seja, ao espiritual.</p><p>O Rav Nachman nos ensina que a rotina diária tende naturalmente a afastar as</p><p>pessoas da espiritualidade.</p><p>4</p><p>As necessidades materiais, mesmo as mais simples, em geral nos impedem de</p><p>concentrar-nos em nossos objetivos - sobretudo quando eles são espirituais!</p><p>Se avaliássemos nosso progresso espiritual todos os dias e refletíssemos sobre a</p><p>viabilidade de nossas metas, teríamos mais certeza de seu valor e buscaríamos</p><p>Daat de forma mais efetiva.</p><p>O problema é que, freqüentemente, a capacidade de concentração nas questões</p><p>mais importantes da vida é, na melhor das hipóteses, intermitente. As pessoas</p><p>sentem-se oprimidas pelo que pensam ser a magnitude de suas dificuldades.</p><p>Ao invés de se sentirem contentes e serenas, elas se inclinam à depressão.</p><p>A depressão é um dos meios mais eficazes da má inclinação para impedir que elas</p><p>se concentrem em seus objetivos, e assim se forma um círculo vicioso.</p><p>O Rav relaciona esse estado mental com o exílio.</p><p>A respeito da redenção, está escrito (Isaías 55:12): “Com alegria saireis [do</p><p>exílio]”.</p><p>A alegria é um sinal de liberdade.</p><p>A calma mental nos conduz à alegria, que por sua vez liberta nossa mente.</p><p>A alegria nos restitui a capacidade de orientar a nossa vida para o objetivo</p><p>supremo, a redenção.</p><p>A depressão, por outro lado, é associada ao exílio e à servidão.</p><p>A Mishná afirma: “Quem é rico? Aquele que se regozija com a sua porção.”</p><p>O caminho para a verdadeira satisfação é alegrar-nos com a parte que nos cabe.</p><p>Essa “porção” não consiste necessariamente nos objetos tangíveis que possuímos</p><p>num determinado momento.</p><p>Ela se refere mais ao que é de fato significativo para nós, o que realmente importa,</p><p>a começar da gratidão por estarmos vivos.</p><p>É a descoberta de quem somos e a alegria de saber por que nascemos; a</p><p>capacidade de desvendar e desenvolver nosso potencial - que o Rav denomina “os</p><p>pontos bons” dentro de nós.</p><p>Então, quem é rico?</p><p>Aquele que é capaz de ver e apreciar o bem; de ter uma visão positiva da vida.</p><p>Evidentemente, é mais fácil falar do que fazer.</p><p>Porém, se a pessoa se esforçar, ela conseguirá alegrar-se e ter uma vida cheia de</p><p>felicidade e contentamento.</p><p>A Abertura do Mar</p><p>Durante o Êxodo, Moisés usou sua vara para abrir o mar. Durante</p><p>a redenção final, a pena abrirá o “mar de sabedoria”.</p><p>Zôhar.</p><p>Como afirmamos, Adão foi criado para atingir um estado de perfeição.</p><p>Ele perdeu essa chance quando comeu do “ets haddat” (árvore do conhecimento) e</p><p>desceu ao domínio do mal.</p><p>Essa descida tinha como propósito uma subida.</p><p>É só quando se desce que se pode não apenas recuperar o que foi perdido, mas</p><p>também alcançar um nível mais elevado que o inicial.</p><p>Neste sentido, não foi por acaso que a descida foi causada por uma falha em Daat</p><p>e, por conseguinte, “a própria Daat foi para o exílio” (ou seja, agora é muito difícil</p><p>obter Dáat verdadeira). Só quando o Mashíach vier, Dáat será redimida, porque</p><p>então “a terra estará repleta de Dáat [conhecimento] de Deus, como as águas</p><p>cobrem o mar” (Isaías 11:9).</p><p>Como parte de sua função cósmica de retificar o pecado de Adão, o povo hebreu</p><p>tem a missão de redimir Dáat do exílio e reparar a Dáat desvirtuada, tendo por</p><p>modelo a redenção dos hebreus do exílio no Egito.</p><p>5</p><p>Este exílio foi uma descida necessária que tinha o propósito de preparar Israel para</p><p>subir ao Sinai, entrar na Terra Santa e construir o Templo (todos esses aspectos</p><p>integram a Dáat sagrada retificada).</p><p>Os hebreus só puderam sair do exílio no Egito graças à força e ao mérito de Moisés,</p><p>porque, como escreve o Ari, Moisés corresponde a Dáat.</p><p>Nesta qualidade, ele tinha a missão de levar Israel à Terra Santa para realizar a</p><p>retificação final de Dáat.</p><p>Infelizmente,</p><p>apesar de ter conseguido fazer muitas retificações, Moisés não foi</p><p>capaz de concluir sua tarefa.</p><p>A razão disto é um dos mistérios mais profundos da Torá.</p><p>Temos a impressão de que, por causa de seus pecados, o povo de Israel tornou-se</p><p>indigno de entrar na Terra Santa com Moisés.</p><p>Isto com certeza é verdade, mas os motivos mais profundos não estão escritos</p><p>para que todos vejam.</p><p>Basta dizer que, durante aqueles quarenta anos cruciais no deserto, Moisés e os</p><p>filhos de Israel plantaram as sementes da futura redenção.</p><p>Lá eles foram alçados aos níveis mais elevados de visão profética; viram milagres e</p><p>compreenderam o plano de Deus para Israel e para toda a humanidade.</p><p>Embora tenham tentado, com todo o seu ser, antecipar a redenção final, eles</p><p>entenderam que ainda não chegara o momento.</p><p>Sua função era arar a terra e lançar as sementes para que as gerações futuras</p><p>fizessem a colheita.</p><p>Por mérito deles, Deus planejou milagres e maravilhas ainda maiores do que os</p><p>testemunhados e vividos pelo povo hebreu na travessia do Mar Vermelho.</p><p>Quando os israelitas saíram do Egito, o Mar Vermelho obstruiu o seu caminho e os</p><p>impediu de entrar diretamente na Terra Prometida.</p><p>Em nossos dias, há também um “mar” que bloqueia nossa capacidade de retornar à</p><p>espiritualidade da Terra Santa.</p><p>É o “mar” da sabedoria imprópria e das falsas crenças (Daat impura e desvirtuada)</p><p>que nos bombardeiam diariamente e nos impedem de ver a Divindade em toda</p><p>parte.</p><p>Para nos ajudar a superar esse obstáculo, Deus está abrindo o “mar de sabedoria”,</p><p>desvendando os mistérios da Torá que se encontram na Cabalá para que Sua</p><p>Presença seja revelada no mundo.</p><p>O Zôhar, os escritos do Ari e os ensinamentos dos verdadeiros tsadikim, que</p><p>representam Moisés, contêm os mistérios mais magníficos da literatura referente à</p><p>Torá. Esses conhecimentos constituem os aspectos ocultos da Torá que serão</p><p>revelados na época do Mashíach.</p><p>Sua fonte é o nível de Kéter, o grau mais elevado de conhecimento de Deus que</p><p>pode ser alcançado no mundo.</p><p>O Rav Natan explica que o conceito de pena (mencionado acima na citação do</p><p>Zôhar) faz referência a isso. A pena representa a escrita e o registro dos</p><p>ensinamentos da Torá que revelam a Divindade.</p><p>Assim como a vara de Moisés foi usada para abrir o Mar Vermelho, essa pena é</p><p>empregada para abrir o “mar de sabedoria”. Os tsadikim que revelam esses</p><p>ensinamentos estão envolvidos continuamente na “abertura do mar de sabedoria” a</p><p>fim de tornar manifesta a Presença de Deus neste mundo.</p><p>À medida que esses conhecimentos são divulgados, mais pessoas se voltam para a</p><p>espiritualidade.</p><p>A “abertura” no mar de falsas crenças aumenta, e cresce o número dos que passam</p><p>por ela. No final, a verdadeira Daat e a boa vontade obterão um triunfo absoluto; o</p><p>Mashiach virá e revelará a maior dimensão espiritual que existe além do que é</p><p>aparente e da qual toda a humanidade pode participar.</p><p>6</p><p>O Rav nos ensinou o seguinte: O maior sofrimento do atual exílio é conseqüência</p><p>do fato de Israel ter caído da Dáat suprema [fé na providência milagrosa de Deus]</p><p>e posteriormente ter chegado na crença equivocada de que tudo depende da</p><p>natureza, do acaso ou do destino.</p><p>Na realidade, essa crença é a causa de seu sofrimento.</p><p>Vivendo entre as nações gentias e aprendendo com elas, o povo passou a pensar</p><p>que tudo depende [das leis] da natureza e do destino. Quando readquirirem Dáat</p><p>(conhecimento] da providência Divina, as pessoas não sofrerão mais. Porque a</p><p>verdade é que Israel está acima das leis naturais. Só quando peca, Deus nos livre,</p><p>ele fica sob o domínio da natureza.</p><p>É então que ele vive exílio e humilhação.</p><p>Dáat: O Templo Sagrado</p><p>Todo aquele que tem Daat - é como se o Templo Sagrado tivesse sido construído</p><p>em sua época.</p><p>Quando achar conveniente, Deus mandará o Mashíach, cuja responsabilidade será</p><p>construir o Templo Sagrado, que será usado para orações e sacrifícios. No entanto,</p><p>poderíamos muito bem perguntar se a construção do terceiro Templo, pela qual</p><p>ansiamos com todo o coração, destina-se apenas ao recebimento da oferenda de</p><p>alguns sacrifícios. Deve haver aí um sentido mais profundo do que notamos à</p><p>primeira vista.</p><p>O que é, realmente, o Templo, e o que representam os sacrifícios?</p><p>A era messiânica anunciará o alvorecer de uma época de grande Daat,</p><p>conhecimento de Deus.</p><p>As inovações tecnológicas dos últimos anos são revelações notáveis de</p><p>conhecimento, mas falta-lhes a durabilidade de Daat.</p><p>O fato de a ciência e a tecnologia não serem capazes de criar nada eterno indica</p><p>que deve haver algo além delas, um conhecimento maior do que todos os avanços</p><p>que possam ser feitos por pesquisadores e cientistas.</p><p>E há.</p><p>O conhecimento maior é a espiritualidade - a Divindade.</p><p>Vimos que o mundo foi estabelecido com um sistema de “três colunas”, que se</p><p>manifestam nos atributos de Chochmá, Biná e Daat.</p><p>Chochmá corresponde à sabedoria que possuímos, o que estudamos e sabemos.</p><p>Biná representa a incorporação dessa sabedoria na construção de nossa vida.</p><p>Daat é a aplicação final do nosso aprendizado - a formação de uma estrutura</p><p>funcional completa. Daat é a “coluna do meio” - a combinação da sabedoria</p><p>adquirida com a capacidade de usá-la de maneira lógica, para chegar a conclusões</p><p>responsáveis e gratificantes.</p><p>Uma análise mais minuciosa da afirmação dos nossos Sábios de que Daat é um</p><p>sinônimo do Templo Sagrado nos permitirá entender melhor o que o Templo</p><p>significa em diversos níveis.</p><p>Como estrutura física, ele conterá um altar sobre o qual serão ofertados os vários</p><p>sacrifícios. Mas esse Templo Sagrado também simboliza a construção da mente do</p><p>indivíduo - a obtenção de Daat e pureza.</p><p>Este é o nível no qual a pessoa é capaz de absorver espiritualidade e tornar-se um</p><p>templo para a alma Divina, o que leva à formação de uma consciência expandida de</p><p>Deus.</p><p>O desenvolvimento desta consciência não é uma tarefa fácil.</p><p>Sacrifícios têm de ser feitos.</p><p>Pois nesse dia.. sairá um manancial da Casa de Deus...joel 4:18</p><p>7</p><p>O que significa oferecer um sacrifício no Templo Sagrado, e qual é a relevância</p><p>disso para nós?</p><p>O sacrifício (“corban” em hebraico) consiste numa oferenda para Deus, que pode</p><p>ser de três tipos: por ação de graças, de pecado ou queimada.</p><p>O Arizal explica que o ser humano é a forma mais elevada de vida, mas, quando</p><p>peca, ele perde a superioridade e desce ao nível do animal.</p><p>Quando se arrepende, ele leva um animal como sacrifício, indicando que deseja</p><p>“sacrificar” suas tendências animalescas abjetas e voltar à condição anterior de ser</p><p>humano. Assim, o pecador vai à Casa de Deus e oferece o animal sobre o altar,</p><p>tomando uma forma inferior de vida e ofertando-a a Deus, elevando-se dos níveis</p><p>mais baixos aos quais caíra e retornando às posições mais altas.</p><p>Ao mesmo tempo, por intermédio do sacrifício, o homem, por assim dizer, traz</p><p>Deus de Sua morada sublime e revela Sua presença nos níveis inferiores.</p><p>O sacrifício efetivamente aproxima dele, neste mundo mais baixo, a presença de</p><p>Deus. Portanto, é o “sacrifício” que une todos os mundos - o mundo material com</p><p>os universos espirituais - causando uma revelação da Divindade até então</p><p>desconhecida.</p><p>Podemos ainda ampliar essa idéia.</p><p>A palavra “corban” deriva de “carev”, “aproximar”. (O “b” e o “v” são representados</p><p>pela mesma letra hebraica, “bet” ou “vet”).</p><p>Assim, quando uma pessoa, por amor a Deus, oferece um sacrifício, este</p><p>literalmente a aproxima de Deus.</p><p>O cohen (sacerdote), que executa os ritos sacrificiais, e o animal não podem ter</p><p>nenhum defeito (Levítico 21:18, 22:20).</p><p>Num sentido mais largo, o ato de levar um sacrifício indica que, no serviço a Deus,</p><p>o indivíduo deve esforçar-se para obter “temimut” (integridade; perfeição).</p><p>A Torá chama a oferenda por ação de graças de “zevach hashlamim” (sacrifício de</p><p>pazes) (Levítico 7:1</p><p>1).</p><p>A raiz “shalem” significa “inteiro”, “completo” ou “perfeito”, e também “paz”.</p><p>Portanto, fazer uma oferenda por ação de graças é semelhante a aproximar-se de</p><p>Deus por meio da aquisição da integridade, porque o corban leva todos os mundos</p><p>ao estado de perfeição e completude. Isso, por sua vez, traz a paz que reinará nos</p><p>dias do Mashíach.</p><p>O Templo é o único local onde é permitida a oferta de sacrifícios, que aproximam</p><p>pessoa de Deus, porque ele corresponde a Daat, conhecimento de Deus.</p><p>Este conhecimento, que será revelado a todos no futuro, é um “manancial de</p><p>sabedoria” que sairá continuamente do Templo Sagrado, que simboliza o intelecto</p><p>expandido. O Profeta Joel (4:18) previu uma era na qual esse conhecimento estará</p><p>à disposição de todos, quando as pessoas terão superado seus instintos</p><p>animalescos que hoje bloqueiam seu caminho para a compreensão do Divino.</p><p>A verdade é que a nossa mente é um Templo Sagrado; ou, pelo menos, poderia</p><p>ser. Com Daat, o homem é capaz de dominar e refinar seus instintos mais abjetos,</p><p>por meio da elevação de sua natureza animalesca, a fim de aproximar-se de Deus.</p><p>Quem consegue fazê-lo com alegria merece, mesmo nestes tempos, uma revelação</p><p>da Divindade semelhante à revelação global que será conhecida quando o Mashíach</p><p>vier.</p><p>No fim, Daat com certeza será revelada.</p><p>A obtenção da verdadeira Daat anunciará o término de todo sofrimento.</p><p>Ela conduzirá à reunião dos exilados, à vinda do Mashíach e à reconstrução do</p><p>Templo Sagrado, tanto no sentido espiritual como no físico.</p><p>Esta é a magnitude do poder de Daat.</p><p>Que isso se realize rapidamente, em nossos dias. Amém.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 20</p><p>O Sistema Circulatório</p><p>A Caixa Torácica</p><p>O oxigênio é essencial para a nossa sobrevivência - uma necessidade absoluta para</p><p>o sangue, os tecidos e, na realidade, para todas as células do corpo.</p><p>Nós introduzimos oxigênio nos pulmões, que usam essa substância vital para</p><p>purificar o sangue.</p><p>Vitalizado e oxigenado, o sangue flui então para o coração, que o bombeia para o</p><p>resto do corpo.</p><p>Se no plano físico o coração e os pulmões desempenham funções vitais críticas, no</p><p>nível espiritual sua tarefa não é menos crucial.</p><p>Além de serem estruturados anatomicamente para trabalhar em conjunto, esses</p><p>órgãos também são interdependentes espiritualmente, como veremos.</p><p>Nosso estudo do sistema circulatório começará com uma breve descrição da</p><p>constituição e do funcionamento desses órgãos.</p><p>Os pulmões são dois órgãos distintos, formados por massas de tecido esponjoso e</p><p>localizados na caixa torácica, ou peito. O pulmão esquerdo é menor do que o direito</p><p>(para deixar espaço para o coração, que fica à esquerda, entre os dois pulmões.)</p><p>Cada pulmão é dividido em lobos (seções); o pulmão direito tem três lobos, e o</p><p>esquerdo tem dois.</p><p>Os pulmões inspiram o ar, fornecem oxigênio ao corpo inteiro e eliminam o gás</p><p>carbônico, um produto residual.</p><p>As passagens de ar estão ligadas à faringe, que se estende até a traquéia e se</p><p>ramifica nos brônquios, através dos quais o oxigênio vai para os pulmões.</p><p>Aí o sangue absorve o oxigênio e transporta-o para o coração, de onde ele é</p><p>bombeado para o resto do organismo.</p><p>O coração, situado na região central do tórax, tem sua maior porção no lado</p><p>esquerdo do corpo. Ele tem o tamanho aproximado de um punho humano e é</p><p>composto de quatro câmaras, com um sistema de vasos e válvulas que se</p><p>coordenam para bombear o sangue.</p><p>Essas quatro câmaras constituem duas aurículas e dois ventrículos.</p><p>As aurículas atuam como cavidades de acumulação do sangue antes que este possa</p><p>fluir para os ventrículos, de onde será impulsionado para fora do coração.</p><p>A aurícula esquerda recebe o sangue que foi oxigenado nos pulmões através da</p><p>veia pulmonar.</p><p>O sangue oxigenado é transportado da aurícula esquerda para o ventrículo</p><p>esquerdo, que então o bombeia para todo o organismo.</p><p>Depois de concluir sua tarefa de levar oxigênio a todas as partes do corpo, o</p><p>sangue volta, cheio de gás carbônico, através das veias, para a aurícula direita, que</p><p>o passa para o ventrículo direito.</p><p>Este impulsiona o sangue para dentro da artéria pulmonar, que o leva aos pulmões,</p><p>onde a matéria residual é eliminada.</p><p>O sangue é novamente oxigenado e retorna dos pulmões à aurícula esquerda do</p><p>coração, e o ciclo se reinicia.</p><p>É interessante observar, num plano mais geral, a interação entre o coração e os</p><p>pulmões.</p><p>O Zôhar descreve o coração como “quente” - um músculo em constante movimento</p><p>que recebe sangue “quente”, com baixo teor de oxigênio, e o devolve, purificado e</p><p>renovado, a todas as partes do corpo.</p><p>Os pulmões aspiram o ar fresco que “esfria o calor do coração”.</p><p>Isso é realizado mediante a “agitação” dos lobos pulmonares, que funcionam como</p><p>“abanos” e “esfriam” o coração.</p><p>Encontraremos em nosso estudo um padrão espiritual semelhante.</p><p>2</p><p>A Carruagem de Deus</p><p>O Zôhar afirma que os quatro rostos das criaturas da carruagem sagrada da visão</p><p>de Ezequiel - de leão, touro, águia e homem - correspondem, respectivamente, à</p><p>mente, ao coração, aos pulmões e ao poder do pensamento.</p><p>A mente, o coração e os pulmões também são associados a Chochmá, Binah e</p><p>Dáat, as três sefirot que representam as faculdades intelectuais (mochin) e se</p><p>localizam na parte superior da estrutura das dez sefirot.</p><p>O quadro abaixo mostra a relação entre cada rosto da carruagem, o órgão ou</p><p>função do corpo e a sefirá correspondente:</p><p>Rosto da Carruagem Órgão ou Função Sefirá / Posição</p><p>Leão Mente Chochmá/direita</p><p>Touro Coração Biná/esquerda</p><p>Águia Pulmões Dáat/centro</p><p>Homem Pensamento</p><p>O leão/mente corresponde a Chochmá, que fica do lado direito na disposição das</p><p>sefirot.</p><p>O touro/coração corresponde a Biná, situada no lado esquerdo, como vemos no</p><p>seguinte versículo (Ezequiel 1:1 O): “A cara de um touro do lado esquerdo.”</p><p>Note que o coração se localiza na região central do corpo, deslocado para a</p><p>esquerda.</p><p>A águia representa os pulmões, que são análogos a Dáat, a fusão de Chochmá e</p><p>Biná.</p><p>Assim como as asas da águia, os lobos pulmonares “se agitam” (ver Zôhar 2).</p><p>Dáat é o “caminho do meio” que mescla as forças opostas de Chochmá e Biná -</p><p>direita e esquerda; e os pulmões, de modo semelhante, ocupam os dois lados do</p><p>corpo, direito e esquerdo.</p><p>Quando o indivíduo se esforça para ter uma vida espiritual, todos esses poderes se</p><p>unem para transformá-lo numa “carruagem de Divindade”.</p><p>Como vimos, para todo aspecto da materialidade há um nível espiritual</p><p>correspondente.</p><p>A cada momento, a pessoa tem livre-arbítrio para escolher o caminho que deseja</p><p>trilhar (ou, pelo menos, a maneira pela qual seguirá um determinado caminho).</p><p>Apesar de serem tão dinâmicas, as faculdades vitais inerentes ao coração e aos</p><p>pulmões também têm potencial para o pecado.</p><p>A missão do homem é definir a direção que tomará e assumir o controle de seu</p><p>próprio destino - para tornar-se uma carruagem de Divindade - e assim aproximar-</p><p>se cada vez mais de Deus.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 21</p><p>Tsimtsum: O Espaço Esvaziado</p><p>Embora Deus tenha criado o ser humano e o mundo que ele habita, o homem é</p><p>responsável pelo que faz com este mundo.</p><p>Ele foi incumbido da tarefa de aperfeiçoá-lo e deve cumpri-la, com ou sem a</p><p>intervenção clara de Deus.</p><p>O trabalho de aprimoramento, ou retificação, ocorre em dois planos</p><p>simultaneamente: pensamento e ação.</p><p>A “ação” corresponde às sete sefirot inferiores, e o “pensamento”, às três sefirot</p><p>superiores, os mochin.</p><p>De maneira bastante direta, é o pensamento subjacente a cada ação que determina</p><p>seu poder de efetuar retificação.</p><p>A expressão hebraica “hirhurê lev”, cujo sentido literal é “pensamentos do</p><p>coração”, refere-se de forma específica ao tipo de pensamento que envolve um</p><p>conflito ou hesitação entre duas formas opostas de</p><p>lidar com a realidade.</p><p>Esse conflito é associado ao coração porque seus ventrículos direito e esquerdo são</p><p>chamados de “sedes” da boa e da má inclinação, respectivamente.</p><p>Isso explica as emoções divergentes que as pessoas enfrentam com muita</p><p>freqüência.</p><p>A “sabedoria do coração” - a interiorização de Chochmá na Binah do coração -</p><p>consiste no reconhecimento e na escolha do conselho do ventrículo direito, ligado à</p><p>boa inclinação, e na rejeição do conselho do ventrículo esquerdo, relacionado com a</p><p>má inclinação. Essa sabedoria deve ser bastante criativa para resistir a qualquer</p><p>ataque direto ou de flanco da má inclinação.</p><p>Neste aspecto, o coração é uma verdadeira maravilha, pois sua ação criativa</p><p>espelha o ato original da criação.</p><p>Para compreender essa idéia, examinemos um dos ensinamentos mais célebres do</p><p>Rav Nachman - a Torá do espaço esvaziado.</p><p>Ainda que os conceitos que estamos prestes a discutir sejam muito difíceis, e o</p><p>esforço exigido para entendê-los seja enorme, as recompensas são proporcionais</p><p>ao empenho.</p><p>O Paradoxo da Criação</p><p>Já fizemos referência aos ensinamentos do Ari sobre o espaço esvaziado, conhecido</p><p>em hebraico como “chalal hapanui”.</p><p>Antes da criação, só existia Deus.</p><p>Deus é denominado En Sof, o Eterno, o Infinito - Ele não tem começo, meio nem</p><p>fim; não é limitado por tempo nem espaço e é onipresente.</p><p>Como Deus está em toda parte, não havia “espaço” para a criação acontecer,</p><p>nenhum lugar que pudesse conter Sua Luz Infinita.</p><p>Assim, Ele comprimiu Sua Luz, removendo-a de um “ponto central”, por assim</p><p>dizer, para criar um espaço esvaziado.</p><p>Neste espaço seriam formados todos os universos celestiais e também o mundo</p><p>material - as galáxias, nosso sistema solar, o planeta Terra e o homem.</p><p>Primeiro, a Luz de Deus envolveu externamente esse espaço esvaziado.</p><p>Em seguida, Ele reintroduziu Sua Luz, na forma de um cav (raio), no espaço</p><p>esvaziado, de modo lento e gradativo, para evitar que o espaço se enchesse com</p><p>demasiada rapidez ou de Luz em excesso, o que o faria desintegrar-se de novo</p><p>dentro do En Sof.</p><p>Dessa maneira, Deus começou a criar os universos celestiais dentro do espaço</p><p>esvaziado, primeiro as dez sefirot do universo do Adam Cadmon (homem</p><p>primordial), depois as dos universos de Atsilut (proximidade e emanação), Beriah</p><p>(criação) e Yetsirá (formação) e, finalmente, as do universo de Assiah (ação ou</p><p>conclusão), no qual nosso mundo físico se tornou manifesto.</p><p>2</p><p>É evidente que a imagem de Deus removendo Sua Luz e depois a reintroduzindo</p><p>não deve ser entendida de forma literal.</p><p>Deus existe igualmente em todo lugar, a cada instante.</p><p>A “remoção de Sua Luz” do “espaço esvaziado” para “dar lugar” à criação não</p><p>implica, de jeito nenhum, que Ele não estivesse ou não esteja mais lá.</p><p>Deus estava “lá” exatamente da mesma maneira, tanto antes como depois de criar</p><p>o espaço esvaziado, e antes e depois de introduzir o “cav”.</p><p>A diferença entre “antes” e “depois” existe apenas do nosso ponto de vista - porque</p><p>o mundo inteiro foi criado só por causa da humanidade.</p><p>Como explica o Ari, Deus comprimiu Sua Luz e criou o espaço esvaziado para que o</p><p>homem pudesse ter existência independente e livre-arbítrio.</p><p>Com certeza, Ele está em toda a criação, pois sem Divindade nada pode existir.</p><p>Porém, se a existência de Deus fosse clara e óbvia neste mundo, o homem não</p><p>teria livre-arbítrio. Por esta razão, Ele contraiu Sua Luz, por assim dizer, ocultando-</p><p>Se do homem, fazendo parecer à visão humana limitada que há um vácuo, um</p><p>lugar desprovido de Divindade.</p><p>Este é o mistério do tsimtsum (contração de Si Mesmo).</p><p>Por um lado, o espaço esvaziado deve ser considerado como desprovido de</p><p>Divindade - se assim não fosse, ele não seria um espaço “esvaziado”.</p><p>Por outro lado, Deus deve necessariamente estar presente nele - pois nada, nem</p><p>mesmo o que se denomina “espaço vazio”, pode existir sem a presença da</p><p>Divindade.</p><p>A respeito desse paradoxo do espaço esvaziado, o Rebe Nachman ensinou:</p><p>O Bendito Nome criou o mundo por profunda compaixão.</p><p>Ele desejava revelar Sua compaixão, porém, sem mundo, a quem poderia mostrá-</p><p>la?</p><p>Portanto, Ele deu existência a toda a criação, da emanação mais elevada até o</p><p>ponto mais baixo no centro do mundo físico, tudo para demonstrar Sua compaixão.</p><p>Todavia, quando o Bendito Nome desejou criar os mundos, não havia lugar para</p><p>fazê-lo, porque tudo que existia era Sua Infinita Essência [que impedia a existência</p><p>de qualquer coisa finita]. Por isso, Ele contraiu Sua Luz. Em virtude deste tsimtsum</p><p>[contração de Si Mesmo], um espaço esvaziado foi produzido.</p><p>Foi dentro deste espaço que todas as personas [partsufim] e atributos [sefirot]</p><p>Divinos foram formados.</p><p>O espaço esvaziado era absolutamente necessário para a criação.</p><p>Sem ele, não teria havido lugar para criar o universo.</p><p>O tsimtsum que resultou no espaço esvaziado no momento nos é incompreensível.</p><p>Só seremos capazes de apreender esse conceito no final dos tempos, porque temos</p><p>de atribuir [ao espaço esvaziado] dois estados incompatíveis, a saber, existência e</p><p>não-existência.</p><p>O espaço esvaziado foi formado em conseqüência do tsimtsum, por meio do qual</p><p>[na medida de nossa capacidade de expressão] Deus contraiu [removeu] Sua</p><p>Essência.</p><p>Portanto, a Essência de Deus não existe [nesse espaço].</p><p>Se Sua Essência estivesse lá, o espaço não estaria vazio, e não haveria nada além</p><p>da Infinita Essência.</p><p>Se isso fosse verdade, não haveria lugar nenhum para a criação do universo.</p><p>A pura verdade, porém, é que a Essência de Deus deve ainda assim estar nesse</p><p>espaço, pois é indubitável que nada pode existir sem Sua força vital. [Logo, se a</p><p>Essência de Deus não estivesse no espaço esvaziado, nada mais poderia existir lá.]</p><p>É impossível o ser humano compreender o conceito de espaço esvaziado; só no</p><p>final dos tempos ele será entendido.</p><p>Apliquemos agora essa abordagem da criação ao indivíduo, na perspectiva de um</p><p>dia, uma hora, e até mesmo um instante.</p><p>O Rav Nachman ensinou que antes da Criação, a Luz do Santíssimo era En Sof</p><p>[infinita], O Santíssimo quis revelar Sua [qualidade de] Malchut [realeza].</p><p>3</p><p>Porém, como não pode haver rei sem nação, Ele “precisou”, por assim dizer, criar</p><p>seres humanos que pudessem aceitar o jugo de Sua realeza.</p><p>Só é possível perceber Sua Malchut pelos Seus atributos [isto é, sefirot], porque</p><p>através dos atributos percebemos Sua Divindade, e então podemos saber que há</p><p>um Senhor, um Soberano e uma Autoridade Suprema.</p><p>Assim, Ele contraiu a Luz do En Sof para as extremidades, deixando o “chalal</p><p>hapanui” [espaço esvaziado], e dentro deste “chalal hapanui” Ele criou os</p><p>universos, que são os próprios atributos.</p><p>Podemos entender melhor a necessidade da criação e do espaço esvaziado com o</p><p>auxílio do seguinte versículo (Salmos 104:24): “Quão imensa é a multiplicidade de</p><p>Tuas obras, Deus! Fizeste a todas com Chochmá [Sabedoriaj.”</p><p>Como vimos, Chochmá representa uma sabedoria indiferenciada, enquanto Biná é a</p><p>manifestação dessa sabedoria.</p><p>No nível de Chochmá, tudo que existe é potencial ou essência indiferenciada, ao</p><p>passo que Biná é a fonte da capacidade de analisar esse conhecimento e decompô-</p><p>lo em seus elementos constitutivos.</p><p>Se relacionarmos esses conceitos com o ato da criação e o espaço esvaziado, a</p><p>criação representa Chochmá, e o espaço esvaziado representa Biná.</p><p>Só com Chochmá, não haveria diversificação na criação.</p><p>É por meio do espaço esvaziado, correspondente a Biná, que o projeto de todos os</p><p>universos passa a existir.</p><p>O tsaiar [desenhista] dos atributos é o coração [que representa Biná].</p><p>Assim está escrito (Êxodo 31:6): “No coração dos sábios coloquei sabedoria.”</p><p>A idéia da criação origina-se em Chochmá, como consta (Salmos 104:24):</p><p>“Quão imensa é a multiplicidade de Tuas obras, Deus! Fizeste a todas com</p><p>Chochmá”, e toma forma no coração.</p><p>O coração é o “tsaiar”</p><p>[aquele que dá forma a essa idéia], como está escrito (Salmo</p><p>73:26):</p><p>“Tsur [rocha] do meu coração.”</p><p>Mas há uma Yetsirá [formação] para o bem e uma Yetsirá para o mal.</p><p>Sobre o versículo “Vayitser IHVH Elohim - E o Senhor Deus formou [o homem do pó</p><p>da terra]” (Cênesis 2:7), os Sábios ensinaram:</p><p>“Vayitser tem dois yuds [mas um teria sido suficiente]. Por quê? Eles representam</p><p>os dois ietsarin [inclinações], a boa inclinação e a má inclinação.”</p><p>Bons pensamentos são [uma expressão da] boa inclinação; maus pensamentos são</p><p>[uma expressão da] má inclinação...</p><p>[Assim, quando tem bons pensamentos, a pessoa purifica o espaço da criação.]</p><p>Porém, quando tem maus pensamentos, a pessoa obstrui o espaço da criação, isto</p><p>é, o espaço onde os atributos são revelados.</p><p>Porque o coração é o “tsur dos mundos” (conforme Isaías 26:4), ou seja, tsaiar,</p><p>aquele que dá forma aos atributos.</p><p>No nível individual, enquanto o coração da pessoa flamejar com uma paixão</p><p>fervorosa, a revelação dos atributos [finitos] é impossível, porque a paixão do</p><p>coração é na realidade um anseio infinito pelo En Sof. Portanto, o coração deve</p><p>contrair seu desejo ardente e criar um “espaço vazio”, conforme escreveu o Rei</p><p>David (Salmos 109:22): “Meu coração é um chalal [espaço vazio] dentro de mim.”</p><p>É somente por meio da contração do desejo do coração que se pode obter uma</p><p>revelação das “midot” [atributos finitos], isto é, a capacidade de servir ao Bendito</p><p>Nome em etapas, na “midá” [medida] correta...</p><p>Vemos, então, que quando o indivíduo nutre em seu coração bons pensamentos</p><p>sobre o serviço ao Bendito Nome, seu coração se torna um aspecto de “tsur [isto é,</p><p>tsaiar] do meu coração” e de “meu coração é um chalal [espaço vazio] dentro de</p><p>mim”. Dentro do chalal do seu coração, suas ações podem ser reveladas, e por</p><p>meio de suas boas ações e atributos revela-se que ele aceita inteiramente o jugo</p><p>do reino do Céu.</p><p>4</p><p>Se fosse evidente e indubitável que a sabedoria Divina impregna todos os níveis da</p><p>criação, o homem não teria escolha além de servir a Deus.</p><p>Ele veria, literalmente, a grandeza de Deus, e seria consumido por um desejo</p><p>irresistível de unir-se com Sua Luz Infinita.</p><p>Para que isso não aconteça, o coração deve transformar-se num espaço vazio, no</p><p>qual a Divindade possa ser revelada por etapas, como afirma o seguinte versículo</p><p>(Salmos 109:22): “Meu coração está oco dentro de mim.”</p><p>Assim, o coração (Biná) corresponde ao vão da criação, o espaço esvaziado, dentro</p><p>do qual é introduzida a Divindade de modo gradual.</p><p>É este o significado de “No coração dos sábios coloquei sabedoria” (Êxodo 31:6).</p><p>Pois a Chochmá Divina está oculta no interior de Biná, que corresponde ao coração.</p><p>Portanto, mesmo no espaço esvaziado, a Divindade existe de forma encoberta.</p><p>Biná, então, representa o conceito do espaço esvaziado no qual ocorre a formação</p><p>de todos os universos.</p><p>Para encontrar a Divindade oculta, devemos ter pensamentos bons e positivos.</p><p>Estes bons pensamentos nos levam à prática de boas ações, pois resultam numa</p><p>“boa criação”.</p><p>Contudo, quando temos maus pensamentos, nossa “criação” é má [ela obstrui a</p><p>Divindade]. Nosso vão, nosso “espaço esvaziado”, torna-se uma fonte de</p><p>características ruins e maus atributos, e, de certa maneira, nós destruímos a</p><p>criação, enchendo o espaço esvaziado de maldade, Deus nos livre.</p><p>Nisto consiste o segredo do espaço esvaziado.</p><p>A Luz de Deus estava em toda parte, mas Ele abriu um “espaço esvaziado” a fim de</p><p>dar “lugar” para a Criação. Do mesmo modo, devemos “abrir espaço” para uma</p><p>“boa criação” em nosso coração, no qual a Divindade possa entrar e habitar.</p><p>Para fazê-lo, precisamos ter bons pensamentos, produzindo uma boa criação - um</p><p>nível melhor e mais elevado de consciência.</p><p>Assim mereceremos obter uma revelação ainda maior da Divindade.</p><p>De fato, quando transformamos nosso coração num espaço esvaziado para receber</p><p>Divindade, então, simplesmente tendo bons pensamentos, formamos uma nova</p><p>criação. Em seguida, podemos subir ao nível de operar milagres - tentando imitar o</p><p>milagre original da criação.</p><p>Caso tenha sido difícil compreender o mistério do espaço esvaziado, podemos</p><p>consolar-nos com um ensinamento diferente do Rav Nachman:</p><p>“A localização [ou espaço] da pessoa que realmente possui um „coração‟ não é</p><p>relevante. Como Deus é denominado Hamacom [o Lugar] do Universo, quando se</p><p>sente Deus no coração, esse é o único lugar que importa!”.</p><p>Parada Cardíaca</p><p>Um ataque cardíaco pode ter diversas causas.</p><p>Ele pode resultar da redução do fluxo de sangue que chega ao coração, causada</p><p>pelo entupimento das artérias que o alimentam.</p><p>Pode ocorrer também quando o coração, enfraquecido, não consegue bombear o</p><p>sangue de forma adequada.</p><p>Esses mesmos fatores de risco estão presentes na dimensão espiritual.</p><p>O coração tem um anseio firmemente arraigado de servir a Deus, mas os vasos</p><p>através dos quais o “sangue” deste anseio deve ser transportado às vezes se</p><p>entopem ou desgastam.</p><p>Enquanto a pessoa não se despoja do excesso de “gorduras e colesterol” - desejos</p><p>materiais - de seu sistema espiritual, os vasos não conseguem suportar a pressão</p><p>da atividade de bombeamento do coração, e a “circulação sanguínea” fica poluída</p><p>pelas impurezas dos maus pensamentos.</p><p>Quando os atos do indivíduo são bons, em conseqüência de bons pensamentos, o</p><p>coração permanece sadio.</p><p>Pensamentos impuros, por outro lado, obstruem o sistema com más ações,</p><p>provocando um “ataque cardíaco” espiritual.</p><p>5</p><p>Uma “parada cardíaca” espiritual pode acontecer quando diminui a determinação do</p><p>coração de servir a Deus, em conseqüência de pensamentos impróprios. Estes</p><p>pensamentos obstruem o coração, impedindo-o de fazer seu trabalho de maneira</p><p>apropriada, o que leva, inevitavelmente, a um enfraquecimento - às vezes, até</p><p>mesmo à cessação - da determinação de buscar a espiritualidade.</p><p>Como se pode evitar uma parada cardíaca espiritual?</p><p>A compreensão da natureza da “doença” conduzirá à descoberta da “cura”.</p><p>Como vimos, a criação tem dois aspectos opostos: o bem e o mal.</p><p>O coração dá forma e corpo aos pensamentos, possibilitando que as idéias se</p><p>manifestem. Neste sentido, os pensamentos do homem são análogos ao ato da</p><p>criação. Sempre que pensamos, devemos perceber que estamos realizando um ato</p><p>de criação. Por causa disso, o Rav Nachman recomenda que não se deixe que as</p><p>coisas saiam do controle. Com base no princípio de que tudo na criação tende a</p><p>buscar sua fonte, ele ensina que o coração (Biná) também procura, por instinto, a</p><p>sua fonte (Chochmá), de modo que o coração, por natureza, arde com um desejo</p><p>devorador de servir a Deus.</p><p>O perigo é que a pessoa queira subir a escada espiritual rápido demais, tentando ir</p><p>além de suas possibilidades, Isso provoca um esgotamento ou “apagamento”</p><p>espiritual - quando alguém que ainda não é capaz de absorver o conteúdo dos</p><p>níveis espirituais que se empenha por alcançar reduz sua devoção; ou quando seu</p><p>grau de observância das mitsvót “conexões” é inadequado para a consciência</p><p>espiritual que ele busca.</p><p>Neste caso, seu coração desejoso não recebe nutrição prática suficiente para</p><p>manter-se batendo de modo apropriado.</p><p>A cura pode ser encontrada no ato da criação.</p><p>Deus formou os universos dentro do espaço esvaziado.</p><p>Para cumprir o propósito da criação, foi necessário formar mundos inferiores, de</p><p>diferentes níveis, que fornecessem um ambiente ao qual a alma pudesse descer</p><p>para servir a Deus, apesar de Ele estar oculto. O homem, por sua vez, também</p><p>funciona em diversos níveis.</p><p>Seu coração “pensa”, e as funções mais baixas de seu corpo traduzem fielmente</p><p>esses pensamentos em atos físicos. Se os pensamentos provenientes do coração</p><p>forem bons, os atos físicos serão bons; maus pensamentos, por outro lado, gerarão</p><p>más ações.</p><p>A partir do momento em que as boas ações se manifestam, elas mantêm o coração</p><p>em</p><p>funcionamento constante, “proporcionando- lhe” um sentimento de realização</p><p>que fortalece seu desejo de praticar boas ações.</p><p>Podemos ver que temos de cuidar de nossos pensamentos com muito zelo, pois</p><p>cada um deles contém um potencial extraordinário.</p><p>Bons pensamentos conservam a saúde espiritual do coração, de modo que ele pode</p><p>continuar “batendo” de maneira equilibrada, ansiando por espiritualidade e, ao</p><p>mesmo tempo, permanecendo sob controle para que não se “consuma” por ir além</p><p>de sua capacidade.</p><p>Remédio para o Coração: Fé</p><p>As medidas que devem ser tomadas para impedir uma parada cardíaca são</p><p>assustadoras.</p><p>Mas as dificuldades para evitar um ataque espiritual do coração são ainda maiores!</p><p>Como vimos, o Rav Nachman ensinou que o coração corresponde ao espaço</p><p>esvaziado.</p><p>Neste espaço, há muitas questões que exigem respostas; porém, as respostas nem</p><p>sempre aparecem. Isto se deve ao paradoxo do espaço esvaziado: “Deus está</p><p>lá...”” Não está...” Ele tem de estar.. .“</p><p>Reina a confusão, e isto pode deixar o “coração pesado”, já que as perguntas que</p><p>se originam desse paradoxo necessariamente excluem a possibilidade de solução.</p><p>Como é muito difícil achar Deus nessas indagações, a pessoa deve apoiar-se na fé</p><p>6</p><p>para “aliviar” o coração sobrecarregado, porque Deus existe até (e principalmente)</p><p>onde há questões irrespondíveis.</p><p>Mesmo alguém acometido por um “coração pesado” pode encontrar Deus, desde</p><p>que se fortaleça com a fé.</p><p>Perguntas relacionadas à fé, somadas a outros fardos, como problemas financeiros</p><p>ou dificuldades em casa, pesam muito sobre o “coração compreensivo”.</p><p>Esta pressão incessante contribui, com muita freqüência, para o surgimento de um</p><p>quadro cardíaco instável. Às vezes, uma simples “mudança de dieta”, como a</p><p>adoção de materiais de leitura que inspirem mais fé do que heresia, é suficiente</p><p>para aliviar a pressão.</p><p>Outros casos podem requerer “medicação” - uma dose diária de oração, por</p><p>exemplo.</p><p>Infelizmente, há ocasiões em que são necessárias “pontes de safena” ou outras</p><p>cirurgias de “coração aberto”, que obrigam a pessoa a promover uma mudança</p><p>radical em seu estilo de vida a fim de obter espiritualidade.</p><p>Veremos que as perguntas podem gerar um coração dividido.</p><p>O Rav Nachman ensinou que devemos fortalecer nossa fé para que possamos</p><p>alcançar um estado de paz interior.</p><p>Esta paz interior é a resposta para qualquer pergunta herética que surja no</p><p>coração.</p><p>Costuma-se erguer as mãos depois de lavá-las para comer pão, antes de enxugá-</p><p>las. Quando o faz, a pessoa traz santidade aqui para baixo.</p><p>Há um versículo que afirma (Salmos 134:2): “Erguei vossas mãos com santidade e</p><p>bendizei ao Eterno.”</p><p>Isso indica que quando levantamos as mãos até os olhos ou a testa (isto é, a</p><p>mente), apontando Chochmá, conseguimos fazer descer bênçãos para o coração</p><p>(Biná).</p><p>O Rav Nachman ensina que, embora a principal fonte de fé esteja no coração, a fé</p><p>se transforma em convicção verdadeira quando se espalha pelo corpo todo Ele</p><p>explica que seremos capazes de absorver santidade erguendo as mãos se</p><p>acreditarmos que o ato de levantar as mãos produz esse efeito.</p><p>É este o significado do seguinte versículo (Salmos 119:86): “Todas as Tuas mitsvót</p><p>são fé” - devemos crer que, por meio da observância das mitsvót, trazemos a nós</p><p>santidade dos céus. Desta maneira, estendemos a nossa fé para fora, do coração</p><p>para as mãos (que são os “veículos” através dos quais fazemos descer influências</p><p>do Alto).</p><p>Assim, a pessoa pode espalhar sua fé de modo que o corpo inteiro a sinta e a</p><p>transforme em fé verdadeira.</p><p>Quem alcança a verdadeira fé efetivamente eleva seu intelecto a um nível no qual</p><p>pode compreender de verdade o que antes só sabia pela fé.</p><p>Este é o sentido da idéia de ser capaz de fazer descer santidade (Chochmá) para o</p><p>coração (Biná).</p><p>A fé fortalece nossa capacidade de enfrentar as tribulações da vida, desde que</p><p>estejamos dispostos a esforçar-nos para atingir esse nível.</p><p>Desenvolver a fé não é uma tarefa fácil. Ela envolve o corpo inteiro.</p><p>Oração e Hitbodedut: Meditações do Coração</p><p>Servi a Deus com todo o vosso coração.</p><p>Deuteronômio 11:13.</p><p>Que devoção é praticada no coração?</p><p>A oração!</p><p>Na estrutura das dez sefirot, Chéssed (bondade) à direita e Guevurá (julgamento) à</p><p>esquerda seguem-se imediatamente a Biná. Biná, que se localiza bem acima de</p><p>Guevurá, é a fonte de todos os julgamentos, como consta (Provérbios 8:14): “Eu</p><p>sou Biná; a força [Guevurá] é minha.”</p><p>7</p><p>Além disso, sabemos que Biná está enraizada no coração, que se situa ligeiramente</p><p>à esquerda no corpo humano (Zôhar).</p><p>Podemos deduzir daí que Biná, como fonte de Guevurá (força), indica que o coração</p><p>tem um enorme poder que, se canalizado adequadamente, pode conduzir a pessoa</p><p>a Deus.</p><p>O Rav Nachman ensina, portanto, que quando alguém desperta seu coração para</p><p>servir a Deus, tanto a força como os julgamentos (que se encontram no coração) o</p><p>inspiram com palavras de entusiasmo.</p><p>O conceito de julgamento refere-se aos sofrimentos que a pessoa enfrenta (por</p><p>exemplo, problemas familiares, confusão, dúvidas, adversidade).</p><p>Os julgamentos a estimulam a examinar seus pensamentos e atos para verificar se</p><p>estão enraizados no bem ou, Deus nos livre, no mal.</p><p>Depois de ver a verdade de seus atos, quer ela seja impelida a mudar de atitude,</p><p>quer seja incentivada por suas boas ações a continuar praticando boas ações, ela</p><p>poderá clamar a Deus com palavras entusiasmadas de prece absolutamente</p><p>sincera.</p><p>Esse despertar do coração em oração mitiga os julgamentos, porque servir a Deus</p><p>com sinceridade no coração revela o melhor (isto é, o melhor julgamento e a</p><p>franqueza) dos desejos da pessoa.</p><p>As preces verdadeiras agem como um guia e a conduzem por um caminho que por</p><p>fim aliviará seus sofrimentos.</p><p>Assim, o ato de rezar confere ao indivíduo o poder de trazer ao mundo bondade e</p><p>abundância, o oposto de julgamento.</p><p>O Rav ensina que a prece é o meio mais eficaz para a obtenção de revelação da</p><p>Divindade no coração. Isso explica por que a Amidá (Dezoito Bênçãos) é lida em</p><p>silêncio - ela exprime o anseio mais profundo do coração, que está oculto.</p><p>Uma das recomendações mais enfáticas do Rav é que todos, sem exceção,</p><p>recolham-se em hitbodedut diariamente.</p><p>Hitbodedut é a expressão pessoal das preces e o diálogo particular com Deus,</p><p>realizados em local isolado.</p><p>Cada um deve escolher um horário do dia para refletir sobre seus atos passados,</p><p>meditar sobre sua presente situação e rezar pelo futuro.</p><p>O Rav sugere que seja reservado um intervalo de uma hora para esta finalidade</p><p>todos os dias, mas a pessoa pode (e deve) começar com períodos mais curtos, até</p><p>mesmo de cinco ou dez minutos, e depois, à medida que avançar, estender esse</p><p>tempo. Durante a hitbodedut, as orações devem ser recitadas na língua materna,</p><p>porque “quando se reza na língua materna, as preces fluem mais facilmente do</p><p>coração”.</p><p>De certo modo, a prática da hitbodedut também é uma maneira de</p><p>mitigar os julgamentos do coração.</p><p>Não existe ninguém que não sinta perplexidade, frustração, ira ou culpa, e</p><p>raramente as pessoas encontram um jeito de expressar esses sentimentos sem</p><p>ferir a si mesmas ou aos outros, em geral os que lhes são mais próximos.</p><p>A hitbodedut prescrita pelo Rav - julgar a si mesmo, aos próprios pensamentos e</p><p>atos - permite que tais sentimentos sejam exteriorizados de modo seguro e</p><p>positivo.</p><p>Ele ensinou o seguinte: “O coração é a fonte do julgamento. A prática da</p><p>hitbodedut retifica o coração; ela estabelece um sentido apropriado de julgamento</p><p>na pessoa, e ao mesmo tempo diminui seu potencial para o mal”.</p><p>Esta forma de oração é um instrumento poderoso que auxilia o indivíduo a obter</p><p>espiritualidade, pois possibilita que ele comunique a Deus o que pesa sobre seu</p><p>coração, que expresse seus sentimentos mais íntimos - dor, alegria, gratidão,</p><p>tristeza -</p><p>residente</p><p>Elas correspondem também a cinco tipos de universo: Adam Cadmon (homem</p><p>primordial), Atsilut (proximidade ou emanação), Beriá (criação), Ietsirá (formação) e</p><p>Assiá ( Ação ou completude).</p><p>Todos esses conjuntos de cinco elementos podem ser descritos em termos de seus</p><p>correlatos no plano humano.</p><p>A vontade mais intima da pessoa corresponde ao topo do Yud, Yechidá e Adam Cadmon.</p><p>O nível da mente indiferenciada e anterior à conceituação equivale ao Yud, Chaiá e</p><p>Atsilut.</p><p>O processo de pensamento é associado à letra Hê, Neshamá e Beriá.</p><p>A fala e a comunicação são análogas ao Vav, Rúach e Yetsirá.</p><p>A ação corresponde ao Hê final, Néfesh e Assiá.</p><p>Tetragrama Universo Correlato na Alma Manifestação Humana</p><p>5</p><p>Topo do Yud Adam Cadmon Yechidá Vontade</p><p>Yud Atsilut Chaiá Mente</p><p>Hê Beriá Neshamá Pensamento</p><p>Vav Yetsirá Rúach Fala e sentimentos</p><p>Hê Assiá Néfesh Ação</p><p>Esses e outros paralelismos não são mecânicos.</p><p>Eles representam conexões muito profundas entre nós e as dimensões mais elevadas.</p><p>Como dissemos acima, nossa alma está enraizada no transcendental. Por conseguinte,</p><p>quando pensamos - por exemplo, quando contemplamos uma verdade, ou simplesmente</p><p>agradecemos o fato de estarmos vivos, ou percebemos num instante que Deus está</p><p>mesmo aqui conosco, apesar de todas as indicações em contrário - estes não são meros</p><p>pensamentos que vêm e se vão, para nunca mais serem repensados. Não. Esses</p><p>pensamentos são quem nós realmente somos, e quem nós realmente somos é algo</p><p>eterno.</p><p>Pensamentos como esses constituem a ligação entre nossa alma e Deus.</p><p>Quando sentimos algo intensamente, falamos do fundo do coração, agimos ou resistimos</p><p>ao impulso de agir, todos esses fenômenos são expressões da nossa alma vibrando e</p><p>operando dentro do nosso corpo e por meio dele.</p><p>Nosso corpo é sensível a essas vibrações mais elevadas, muito mais sensível do que</p><p>imaginamos...</p><p>Os antigos mestres ensinaram que também há cinco níveis no mundo material grosseiro.</p><p>Diz-se que a matéria é composta de quatro elementos básicos e um quinto “elemento</p><p>matriz” que harmoniza e unifica todos eles.</p><p>Os quatro elementos são fogo, ar, água e terra.</p><p>Eles correspondem a quatro tipos básicos de pessoa, ou a quatro traços de caráter que</p><p>existem em cada um de nós ( esses elementos não devem ser confundidos com os</p><p>elementos químicos).</p><p>O quinto “elemento” é o tsadic, o indivíduo justo que liga os quatro elementos e traços</p><p>de caráter uns aos outros e a Deus.</p><p>O Espaço Esvaziado</p><p>O ARI descreve a maneira pela qual Deus deu existência ao mundo:</p><p>Antes que todas coisas fossem criadas.., a Luz Sublime era simples [isto é, completa e</p><p>perfeita]. Ela preenchia toda a existência. Não havia espaço vazio que pudesse ser</p><p>caracterizado como espaço, vacuidade ou vão. Tudo estava cheio daquele simples Or En</p><p>Sof [Luz Do Infinito]. Não havia a categoria de começo nem a categoria de fim.</p><p>Tudo era uma Luz Infinita simples e indiferenciada.</p><p>Quando ocorreu à Sua Simples [isto é, perfeita] Vontade criar mundos e emanar</p><p>emanações... Ele contraiu [removeu] Sua Essência Infinita do ponto central de Sua Luz.</p><p>[Evidentemente, como a infinitude não tem centro, essa afirmação só pode ser feita do</p><p>ponto de vista do espaço que está prestes a ser criado.] Em seguida, Ele removeu essa</p><p>Luz [ainda mais], afastando-a para as extremidades em volta desse ponto central, e</p><p>deixou um espaço esvaziado e uma cavidade vazia.</p><p>Depois dessa contração, que resultou na criação de um espaço esvaziado e de uma</p><p>cavidade vazia bem no meio da Luz Infinita do En Sof, passou a haver um lugar para</p><p>tudo que viria a ser emanado [Atsilut], criado [ Briá], formado [ Yetzirá] e completado</p><p>[Assiá].</p><p>Então Ele lançou um cav [raio] único e direto de Sua Luz Infinita Circundante para</p><p>dentro do espaço esvaziado. Este cav desceu em etapas ao espaço esvaziado.</p><p>A extremidade superior desse cav tocava a Luz Infinita do En Sof [que circundava o</p><p>espaço] e estendia-se para baixo [para o interior do espaço esvaziado, em direção ao</p><p>centro], mas não ate chegar â extremidade inferior [para não fazer o espaço esvaziado</p><p>extinguir-se e fundir-se novamente com a Luz Infinita de Deus]. Foi através deste cav</p><p>[que serviu de conduto] que a Luz do En Sof foi trazida para baixo e espalhada no plano</p><p>inferior.. Através deste cav, a emanante Luz Sublime do En Sof se propaga e flui para</p><p>6</p><p>baixo, para dentro dos universos que estão localizados no interior desse espaço e dessa</p><p>cavidade.</p><p>O ponto central representa o primeiro tsimtsum, o ato inicial da criação. O círculo ao</p><p>redor dele é o espaço esvaziado, de onde Deus, por assim dizer, retirou-Se para deixar</p><p>lugar para a criação. A linha representa o cav.</p><p>Cinco Olamot e Dez Sefirot</p><p>Não só o En Sof, mas também o Or En Sof (a Luz Do Infinito) é tão formidável que nada</p><p>pode suportá-lo diretamente. Por isso, Deus contraiu Sua Luz a fim de criar um espaço</p><p>esvaziado ou vão, no qual Ele introduziu uma quantidade calculada dessa Luz através de</p><p>um conduto que o ARI chama de cav.</p><p>Até mesmo esse processo foi realizado em etapas, para evitar que o espaço esvaziado se</p><p>extinguisse e se fundisse novamente com a Luz Infinita de Deus.</p><p>Essas etapas são os vários universos a que o ARI se refere, denominados olamot</p><p>(singular: olam) e sefirot (singular: sefírá) em hebraico.</p><p>O termo “olam mier” vem da raiz “elem mlr”, que significa “ocultação”.</p><p>Os olamot servem para ocultar a Luz de Deus.</p><p>O Ari prossegue explicando o lugar das sefirot dentro dos olamot:</p><p>O cav mencionado acima que se estende em linha reta de cima para baixo.. – é</p><p>constituído de dez sefirot na forma de um homem em posição vertical com suas 248</p><p>partes componentes distribuídas por três linhas ou colunas, à direita, a esquerda e no</p><p>meio. Cada uma dessas dez sefirot é composta por outras dez, por mais dez, por mais</p><p>dez, ad infinitum.</p><p>É isto que o Zohar denomina tselem Elohím [a imagem Divina], como no versículo [</p><p>Gênesis 1:27 ] “Elohim criou o homem a Sua imagem; a imagem de Elohim o criou;</p><p>macho e fêmea Ele os criou”.</p><p>O termo sefirá relaciona-se com a palavra saper, que significa “expressar” ou</p><p>“comunicar”. Ele também é associado com o vocábulo sapir, “brilho” ou “luminar”, e com</p><p>sefar, “limite”. Em essência, todos esses conceitos estão relacionados e indicam que as</p><p>sefirot têm duas funções básicas. Em primeiro lugar, as sefirot são luzes ou luminares</p><p>que servem para revelar e exprimir a grandiosidade de Deus.</p><p>Em segundo lugar, elas são recipientes que limitam e delineiam a Luz Infinita de Deus,</p><p>trazendo-a ao plano finito de restrições.</p><p>Cinco Partsufim e Dez Sefirot</p><p>O Ari ensina que as dez sefirot são divididas em cinco unidades básicas conhecidas como</p><p>partsufim (plural de partsuf, que significa “persona”). A diferença entre eles é que,</p><p>enquanto uma sefirá representa um único atributo Divino ou uma irradiação espiritual</p><p>calculada da Luz de Deus, um partsuf é uma persona completa ou uma configuração de</p><p>sefirot.</p><p>Cada partsuf corresponde a uma determinada sefirá ou grupo de sefírot: Arich Anpin</p><p>(face alongada; paciência) corresponde a Kéter; Aba (pai) corresponde a Chochmá; Ima</p><p>(mãe) corresponde a Biná; Zeer Anpin (face diminuída) corresponde às seis sefirot de</p><p>Chéssed, Guevurá, Tiféret, Nétsach, Hod e Yessod‟; e Nucva de Zeer Anpin (a</p><p>contraparte feminina de Zeer Anpin) corresponde a Malchut.</p><p>As dez sefirot e os cinco partsufim:</p><p>Sefirá Partsuf Tradução Correspondente na família</p><p>Kéter Arich Anpin Face alongada Avô</p><p>Chochmá Aba Pai Marido; pai</p><p>Biná Ima Mãe Esposa; mãe</p><p>Seis sefirot Zeer Anpin Face diminuída Filho; noivo</p><p>Malchut Nucva Contraparte Filha; noiva</p><p>7</p><p>feminina</p><p>Há uma analogia quase de um para um entre as sefirot e os partsufim.</p><p>Porém, existem dez sefirot e apenas cinco partsufim.</p><p>O Cabalista perspicaz já deve ter notado que cada partsuf</p><p>tudo que se acumula no coração.</p><p>Por meio da hitbodedut, ele pode ordenar seus pensamentos, confrontar-se</p><p>diretamente consigo mesmo e analisar sua rotina diária.</p><p>8</p><p>Pode julgar seus atos passados, avaliar sua presente situação e entrever seu</p><p>futuro.</p><p>O mais importante é que, na hitbodedut, ele tem a oportunidade de articular esses</p><p>pensamentos em prece diante de Deus.</p><p>A hitbodedut é uma forma vigorosa de expressão pessoal, sem os sentimentos de</p><p>vergonha que o indivíduo experimenta quando confessa suas falhas a alguém.</p><p>Ela ajuda a eliminar as frustrações que provêm das emoções contidas que não têm</p><p>como se extravasar.</p><p>Deus sempre está extremamente perto, porque reside em nosso coração - dentro</p><p>do nosso “espaço esvaziado”. E Ele sempre escuta.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 22</p><p>O Coração Compreensivo</p><p>Reis, presidentes e primeiros-ministros são vistos por todos como os comandantes</p><p>superiores de suas respectivas forças armadas.</p><p>No entanto, é o comandante supremo que dirige todas as tropas para que</p><p>executem as ordens gerais dos comandantes superiores.</p><p>No corpo humano, a mente poderia ser considerada o comandante superior, e o</p><p>coração seria o comandante supremo.</p><p>Para reagir adequadamente em todas as situações, o coração deve ser capaz de</p><p>entender as necessidades de suas tropas, isto é, do corpo.</p><p>Como comandante supremo, o coração tem uma função bastante difícil.</p><p>Ele deve constantemente exortar as tropas a fazerem o melhor possível, manter</p><p>seu moral elevado e incutir nelas vitalidade e energia.</p><p>Ele tem de ser criativo, sempre apresentando “idéias novas” para conservar corpo e</p><p>alma juntos.</p><p>O Rav ensinou:</p><p>A audição depende do coração, como está escrito (1 Reis 3:9): “Dá a Teu servo um</p><p>coração que escuta [compreende] para julgar o Teu povo e discernir entre o certo e</p><p>o errado.”</p><p>Se as palavras faladas não penetram no coração do ouvinte, é como se elas jamais</p><p>tivessem sido ouvidas [ou-vidas].</p><p>Em hebraico, o conceito de “prestar atenção” é denominado “tessumat lev”</p><p>[literalmente, “atenção do coração”].</p><p>Para escutar de verdade o que alguém nos diz - não só as palavras, mas também</p><p>sua intenção - o coração deve permanecer atento.</p><p>[Esta idéia pode ser aplicada à] oração, o “serviço do coração”.</p><p>Quando rezamos, temos de concentrar a atenção do nosso coração e ouvir as</p><p>palavras que dizemos para que elas penetrem em nosso coração.</p><p>Só então o Próprio Deus de fato “ouvirá” e escutará as nossas preces.</p><p>O coração “ouve”.</p><p>A audição começa nas orelhas, mas deve terminar com o entendimento do coração</p><p>daquilo que foi dito. Um professor deve falar ao coração do aluno, e o aluno precisa</p><p>prestar atenção e gravar essas palavras em seu próprio coração.</p><p>Assim, o entendimento está enraizado no coração e é uma ferramenta importante</p><p>para o desempenho de sua função de “comandante supremo” do corpo.</p><p>Biná (Entendimento)</p><p>Como vimos Chochmá é a sabedoria que aprendemos dos outros, por meio do</p><p>estudo, da observação e assim por diante.</p><p>Ela representa a capacidade de dominar um assunto e integrar seus princípios</p><p>fundamentais a nossos processos mentais.</p><p>Biná é capacidade de extrair informações adicionais dos dados que já foram</p><p>integrados, e compreender ou distinguir uma coisa da outra. Ela está relacionada à</p><p>palavra hebraica “bem”, que significa “entre”, e, neste sentido, implica distância e</p><p>separação: para ver algo com objetividade, você tem de afastar-se.</p><p>Assim, Biná é a faculdade de examinar tudo que já foi aprendido por Chochmá,</p><p>tomar distância emocional e intelectual destas informações, pesquisá-las e</p><p>investigá-las.</p><p>Todo ser humano possui mente e coração, que correspondem às sefírot de</p><p>Chochmá e Biná, respectivamente.</p><p>Cada um de nós tem um estoque básico de conhecimentos, sobre os quais a mente</p><p>atua e nos quais ela se fundamenta para dirigir o corpo.</p><p>Porém, os comandos da mente consistem essencialmente em impulsos neurais, que</p><p>são reações automáticas. É no coração, Biná, que tem um enfoque diferente do da</p><p>mente, que avaliamos e compreendemos de fato uma dada situação.</p><p>2</p><p>É a maneira pela qual nosso coração “ouve” e “entende” uma adversidade que</p><p>determina nossa forma de reagir a ela.</p><p>O homem tem uma consciência instintiva disso.</p><p>Várias figuras de linguagem retratam as pessoas como portadoras de um “coração</p><p>de pedra”, um “coração de ouro”, um “coração frio” ou um “coração compreensivo”.</p><p>O coração é suscetível a todas as dores e aflições experimentadas pelo corpo.</p><p>Ele também sente nossas alegrias e apreensões e corresponde ao amor e ao temor.</p><p>A respeito do coração compreensivo, o Rav ensinou: O coração é Biná, que se</p><p>refere ao entendimento. Quando alguém sofre, o coração “entende” o sofrimento e</p><p>o sente com extrema intensidade. Isto ocorre porque, quando o corpo enfrenta um</p><p>perigo, o sangue aflui ao coração - o comandante supremo - em busca de conselho.</p><p>O coração tenta “repelir” esse “sangue invasor” adicional que acorreu a ele.</p><p>É por esta razão que o coração bate mais rápido quando se defronta com o perigo.</p><p>Há um versículo que afirma (Provérbios 20:5): “O conselho dentro do coração do</p><p>homem é como água profunda, mas o homem de entendimento o faz aflorar.”</p><p>A “água profunda” dentro do coração são as idéias [isto é, novos ensinamentos e</p><p>percepções] logicamente pensadas que aconselham a pessoa para que ela alcance</p><p>seu objetivo na vida</p><p>Não é fácil manter o controle do corpo, com todas as suas complexidades.</p><p>Como vimos, atuam nele muitas forças opostas que causam sofrimento, cada uma</p><p>puxando o indivíduo numa direção diferente. Portanto, o coração deve ser um</p><p>órgão muito especial para conseguir comandar suas “tropas”.</p><p>Ele tem de ser extremamente ativo na condução das atividades corporais, para que</p><p>todos os obstáculos ao bem-estar físico sejam enfrentados e vencidos.</p><p>No entanto, podem surgir circunstâncias nas quais o coração, na qualidade de</p><p>comandante supremo, não funciona efetivamente como um líder e se torna um</p><p>fantoche daqueles que deveria governar.</p><p>Nessas ocasiões, ele renuncia à posição de comando e se transforma num “coração</p><p>tolo” (Eclesiastes 10:2) - cheio de luxúria - que deseja as paixões auto induzidas do</p><p>corpo (produzidas pelos vários órgãos internos, que devolvem sangue poluído ao</p><p>coração).</p><p>Tudo isso se manifesta na estrutura física do coração.</p><p>Suas câmaras à direita e à esquerda abrigam a boa e a má inclinação.</p><p>Assim, é o coração que contém a possibilidade de escolha entre o certo e o errado.</p><p>O lado direito expele o mal (gás carbônico) e gera o bem (bombeando o sangue</p><p>para os pulmões e trazendo deles oxigênio novo e vivificante para enriquecer o</p><p>sangue).</p><p>Do ponto de vista espiritual, a função de distribuir o bem cabe ao lado esquerdo do</p><p>coração, a residência da má inclinação, cuja tarefa é obscurecer o bem e incitar as</p><p>pessoas a fazer o mal. Para que o “coração compreensivo” desempenhe bem o seu</p><p>papel, ele tem de manter o controle de seus soldados, bombeando o sangue de</p><p>modo a causar resultados espiritualmente benéficos.</p><p>O Rav Nachman ensinou que a maior força do homem está no coração.</p><p>Quem tem o “coração forte” nada temerá.</p><p>Tal pessoa pode obter muitas vitórias.</p><p>É este o significado do seguinte ensinamento dos nossos Sábios:</p><p>“Quem é poderoso? Aquele que domina sua inclinação.”</p><p>Com o coração forte, podemos manter o controle em qualquer situação e superar</p><p>todos os obstáculos. Quando subjugamos nossa má inclinação, obtemos uma vitória</p><p>decisiva.</p><p>Como ensinou o Rav: “Quem tem o coração forte [força de vontade e</p><p>determinação] não terá medo de travar batalha [com o maligno].”</p><p>Examinemos agora alguns dos efeitos da má inclinação sobre o coração, e as</p><p>“armas” de que dispomos para combatê-la.</p><p>Tratamento Para o Coração Congestionado</p><p>3</p><p>A insuficiência cardíaca congestiva pode ser fatal.</p><p>Às vezes, essa condição requer cirurgia.</p><p>corresponde a uma sefirá,</p><p>exceto Zeer Anpin.</p><p>Além disso, não se pode dizer que o partsuf Nucva de Zeer Anpin seja tão completo</p><p>quanto os três partsufim superiores, Arich Anpin, Aba e Ima.</p><p>A razão disso é que, enquanto Arich Anpin, Aba e Ima começam com configurações</p><p>completas de dez sefírot, Zeer Anpin começa com seis sefirot, e Nucva com apenas uma.</p><p>O ARI explica este assunto de forma muito detalhada e acrescenta que os dois últimos</p><p>partsufim foram intencionalmente criados incompletos.</p><p>Eles só adquirirão a forma final de dez sefirot por meio das boas ações do homem.</p><p>As idéias centrais da Cabalá mostram como os atos do homem se correlacionam com as</p><p>dez sefirot e, sejam eles bons ou o contrário, exercem impacto sobre os mundos mais</p><p>elevados, com seus partsufim e sefirot.</p><p>O Ari escreve que Zeer Anpin e Malchut (que correspondem, respectivamente, ao Vav e</p><p>ao Hé, as duas últimas letras do Tetragrama) constituem a principal interface entre Deus</p><p>e o homem. Por conseguinte, a maioria das ações humanas estará relacionada a estes</p><p>dois partsufim e às sefirot que lhes são associadas.</p><p>No entanto, várias dessas ações também têm um efeito sobre os partsufim e sefirot</p><p>superiores.</p><p>É muito importante salientar que os ensinamentos cabalisticos sobre partsufim e sefirot</p><p>não têm absolutamente nenhuma relação com imagens físicas, mas tratam apenas de</p><p>forças e conceitos espirituais. A tradição cabalistica é inflexível no que se refere ao fato</p><p>de que tal terminologia é usada estritamente em nosso beneficio, para que possamos</p><p>discutir idéias elevadas de uma maneira que nós sejamos capazes de compreender.</p><p>As Três Colunas</p><p>Diz-se que as sefirot, distribuídas em três colunas, assemelham-se a um homem em</p><p>posição vertical. Em hebraico, reto é “iashar”, que faz alusão ao dever do homem de ser</p><p>moralmente integro e honesto para parecer-se com Deus, O Zôhar explica o conceito das</p><p>três colunas da seguinte maneira:</p><p>As dez sefirot estão dispostas numa ordem especial de três colunas.</p><p>A coluna da direita é chamada de longa” [porque representa o amor e a bondade de</p><p>Deus]. A coluna da esquerda é chamada de curta” [porque representa o julgamento e o</p><p>poder de restrição ]. A coluna do meio, ou tronco, é chamada de [intermediária] porque</p><p>representa a misericórdia, a harmonia perfeita entre amor e restrição...</p><p>As sefírot são os modos básicos de atuação do poder criativo de Deus e da providência</p><p>com que Ele dirige a criação rumo à perfeição final. Em termos cabalísticos, Deus é a</p><p>“alma do corpo cósmico” de olamot, e as sefirot são seus “órgãos” ou “membros‟.</p><p>A mais elevada das dez sefirot é Kéter.</p><p>Ela corresponde ao topo do Yud e à coroa da cabeça do corpo cósmico.</p><p>A sefirá seguinte, Chochmá, é associada ao Yud e ao hemisfério direito do cérebro.</p><p>Depois de Chochmá vem Biná, que se correlaciona com o Hê e o hemisfério esquerdo do</p><p>cérebro.</p><p>As seis sefirot seguintes (Chéssed, Guevurá, Tiféret, Nétsach, Hod e Yessod) são</p><p>análogas ao Vav e ao tronco, genitais e pernas.</p><p>Malchut, a última sefirá, corresponde ao Hê final e aos pés ou à contraparte feminina.</p><p>Assim, quando a Bíblia diz que o Eterno criou o homem “à imagem de Deus”, isto na</p><p>verdade se refere à imagem espiritual do ser humano, aos poderes que estão refletidos</p><p>nas sefirot.</p><p>O Corpo Cósmico</p><p>8</p><p>O Zohar descreve em seguida as dez sefirot como um sistema unificado que Deus</p><p>preenche e dirige, da mesma forma que a alma preenche e dirige o corpo.</p><p>As “partes” do “corpo cósmico” estão assim dispostas:</p><p>Chéssed [bondade] é o braço direito, Guevurá [restrição ] é o braço esquerdo, e Tiféret</p><p>(harmonia] é o tronco. Nétsach [domínio] e Hod tem [ empatia ] são as duas pernas, e</p><p>Yessod [fundação; canal ] é a extremidade do corpo, o sinal da aliança sagrada. Malchut</p><p>[realeza] é a boca [da aliança sagrada]. Por isso ela é chamada de Torá Shebeal Pê</p><p>[Torá da boca ou Torá Oral]. [Acima destas “partes” do corpo está a “cabeça”, na qual]</p><p>Chochmá [sabedoria] é o [hemisfério direito do] cérebro, a sede do pensamento, e Biná</p><p>[entendimento] é [o hemisfério esquerdo do cérebro e] o coração, a capacidade de</p><p>discernimento do coração.</p><p>A respeito delas, esta escrito (Deuterinonimo 29:28): As coisas ocultas pertencem ao</p><p>Eterno [que corresponde á sefírá de Chocmá], nosso Deus [que corresponde á sefirá de</p><p>Biná. Kéter Elion [a coroa celestial ] é o Kéter [coroa] de Malchut [realeza], a respeito do</p><p>qual é dito (lsaías 46:10): Eu [Deus] proclamo o fim [Malchut] ainda no início [Kéter ].</p><p>Em seu conjunto, o sistema de olamot e sefirot foi criado para filtrar a Luz de Deus, de</p><p>modo que o homem pudesse interagir com Ele de forma segura, sem ser anulado.</p><p>Assim como o corpo humano encobre a intensidade da alma, as sefirot servem para</p><p>encobrir e ocultar a Luz Divina.</p><p>Estrutura antropomórfica das Dez Sefirot:</p><p>Sefirá Representação</p><p>Kéter Crânio</p><p>Chochmá [hemisfério direito do] cérebro</p><p>Biná [hemisfério esquerdo do cérebro] / coração</p><p>Chéssed Braço direito / mão direita</p><p>Guevurá Braço esquerdo / mão esquerda</p><p>Tiféret Tronco</p><p>Nétsach Perna direita / rim direito / testículo direito</p><p>Hod Perna esquerda / rim esquerdo / testículo esquerdo</p><p>Yessod Órgão sexual</p><p>Malchut Pés / coroa do órgão sexual</p><p>Faremos muitas referências à estrutura antropomórfica das sefirot e a explicaremos em</p><p>termos de seus paralelismos com o corpo humano, refletidos em todo o espectro dos</p><p>poderes espirituais contidos no homem.</p><p>Cinco Níveis da Alma</p><p>Sobre o versículo:</p><p>“E Deus soprou em suas [do homem] narinas o alento-alma da vida”</p><p>(Gênesis 2:7), o Zôhar acrescenta: “Aquele que exala, exala do âmago de seu ser.”</p><p>Assim, o “alento” que Deus insuflou no homem não poderá jamais ser separado Dele.</p><p>A alma humana é uma extensão do “alento” de Deus e está diretamente conectada a</p><p>Ele.</p><p>Esta conexão interna pode ser vista na etimologia dos cinco termos definidores dos</p><p>níveis da alma do homem.</p><p>A palavra Yechidá vem de echad e ichud, que significam “unicidade” e “união”.</p><p>No nível de Yechidá a alma ainda forma uma unidade com Deus, a Fonte.</p><p>A palavra Chaiá deriva de “chai”, “vida”, e de “chaiut”, “força vital”.</p><p>Chaiá é a própria força vital da alma, o nível no qual ela ainda está ligada a todas as</p><p>outras almas.</p><p>9</p><p>Na Bíblia, conectar-se com este nível é descrito como ser “atada no feixe da vida” (1</p><p>Samuel 25:29).</p><p>O vocábulo Neshamá é equivalente a neshimá, que significa “respiração”.</p><p>A razão disto é que, como consta, Deus insufla nossa alma Divina em nós do mesmo</p><p>modo que a insuflou em Adão. Além disso, o intelecto da pessoa se reflete em sua</p><p>maneira de “respirar” - isto é, em sua maneira de viver a vida</p><p>Rúach geralmente é traduzido como “espírito”, mas verifica-se que a palavra tem</p><p>também as conotações de vento, ar ou direção. Ela representa o caráter da pessoa, sua</p><p>capacidade de escolher uma direção, tomar decisões criteriosas e responsabilizar-se por</p><p>elas.</p><p>A palavra néfesh vem da raiz “nafash”, que significa “descansar”</p><p>Néfesh é a extremidade inferior da alma, quase totalmente identificada com o corpo, em</p><p>particular com a circulação sanguínea.</p><p>A Torá afirma (Deuteronômio 12:23): “O sangue é a Néfesh”.</p><p>O vocábulo hebraico néfesh também se assemelha ao aramaico “nafish”, que significa</p><p>“crescer ou espalhar-se”. Néfesh, assim, corresponde à circulação sanguínea, que se</p><p>espalha pelo corpo levando vida a todas as células.</p><p>Os cinco níveis da alma, portanto, formam uma cadeia que liga o homem aos universos</p><p>celestiais e, enfim, a Deus.</p><p>A Analogia do Vidreiro</p><p>Os antigos cabalistas comparavam essa relação a um vidreiro que deseja fazer um belo</p><p>vaso.</p><p>Como escreveu o Rab “Mestre” Aryeh Kaplan :</p><p>A “decisão” de fazer a vidro, que emana da vontade mais profunda é o nível de Yechidá</p><p>[unicidade]. Ela corresponde ao universo de Adam Cadmon e ao topo do Yíud. Em</p><p>seguida, vemos o próprio vidreiro</p><p>antes de ele começar a assoprar. Este é o nível de</p><p>Chaiá [Essência Viva], correspondente ao universo de Atsilut, onde a força vital ainda</p><p>está no âmbito do Divino. Este nível e associado ao Yud do Tetragrama.</p><p>Depois, o alento [ Neshamá] emana da boca do vidreiro e desloca-se como vento</p><p>pressurizado [Rúach ] através do tubo de vidraria, expandindo-se em todas as direções</p><p>e formando um vaso rudimentar, o vento finalmente descansa [Nafash] no vaso</p><p>acabado...</p><p>Kaplan usa essa analogia como uma meditação para elevar-se, através de cinco estados</p><p>de consciência de amplitude crescente, a uma percepção cada vez mais clara do Divino:</p><p>A parte mais baixa da alma interliga-se com o corpo físico..</p><p>É no nível de Nêfesh, que a pessoa adquire consciência do corpo como um receptáculo</p><p>para o espiritual.</p><p>Porém, isto só é possível quando o individuo é capaz de isolar-se do fluxo contínuo de</p><p>estímulos internos e externos que ocupa seus pensamentos.</p><p>A consciência do espiritual, portanto, começa necessariamente com o aquietamento da</p><p>percepção do físico.</p><p>Por este motivo, essa parte da alma é, em essência, passiva e não ativa.</p><p>Para que a pessoa esteja preparada para experimentar a forte influência de Ruach, toda</p><p>estática deve ser eliminada.</p><p>Essa idéia também é sugerido pelo termo Nefesh, cujo sentido literal é “alma em</p><p>repouso”.</p><p>O segundo nível da alma é Rúach, o “vento” do alento de Deus que sopra em nossa</p><p>direção...</p><p>Neste nível, a pessoa vai além da espiritualidade serena de Néfesh e sente um tipo de</p><p>movimento completamente diferente.</p><p>Neste estado de consciência, informações podem ser transmitidas, é possível ter visões,</p><p>ouvir coisas e tomar conhecimento de graus mais altos de espiritualidade.</p><p>Ao alcançar o nível de Rúach, o individuo sente um espírito que provoca movimento e</p><p>não aquietamento.</p><p>10</p><p>Nos graus mais elevados, isto se torna a experiência de Rúach Hacodesh [Inspiração</p><p>Divina], o estado profético no qual a pessoa se sente totalmente elevada e transformada</p><p>pelo espírito de Deus.</p><p>No nível de Neshamá, você experimentaria o alento Divino...</p><p>Neste grau, você se torna consciente não só da espiritualidade como também de sua</p><p>Fonte. É exatamente esta a distinção entre um sopro e um vento.</p><p>É agradável sentir uma brisa num dia quente de verão, mas é muito diferente sentir o</p><p>sopro de uma pessoa intima lhe descendo pelo pescoço - isso denota uma certa</p><p>proximidade.</p><p>Portanto, no nível de Neshamá a pessoa alcança um alto grau de intimidade com Deus...</p><p>Se você quisesse ir adiante, qual seria o próximo nível, além do sopro?</p><p>Voltando á analogia do vidreiro, há o sopro, o vento e por fim o ar que se acomoda e dá</p><p>forma ao vaso.</p><p>O que viria antes do sopro?</p><p>O ar quando ainda se encontra nos pulmões do vidreiro.</p><p>A própria força vital do soprador, que se denomina Chaiá [Esséncia Viva].</p><p>Este é o quarto nível, no qual o alento ainda não está separado do soprador.</p><p>Trata-se, na verdade, da experiência de estar dentro do campo do Divino.</p><p>Finalmente, qual seria o grau além desse?</p><p>Poder-se-ia concebê-lo como a decisão inicial de assoprar quando ela entra na psique do</p><p>Soprador.</p><p>A ideia singular que Ele tem de criar estaria em Yechidá [Esséncia Única], o mais</p><p>elevado dos cinco níveis.</p><p>A partir dai, você está no campo do inimaginável.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 4</p><p>O Corpo: Uma Vestimenta com Duplo Propósito</p><p>Nós perguntamos:</p><p>O corpo sempre tem de obscurecer a luz da alma?</p><p>O mundo (olam) sempre ocultará (elem) a luz do En Sof que o preenche e lhe dá</p><p>existência?</p><p>Podemos atravessar a dura fachada de matéria e materialidade para sentir o espírito</p><p>vivo que impregna todos os aspectos de nossa vida?</p><p>Vimos que os cinco olamot (mundos / universos) celestiais formam um sistema que</p><p>contrai progressivamente a Luz formidável de Deus conforme ela desce ao nível mais</p><p>baixo de corporeidade.</p><p>De modo semelhante, diz-se que os olamot atuam como “vestimentas” da Luz Divina</p><p>(Salmos 104:2).</p><p>Uma vestimenta serve a dois propósitos: ocultar e revelar.</p><p>No que se refere a Deus, os universos ocultam Sua verdadeira essência e, ao mesmo</p><p>tempo, a atenuam, para que ela possa ser revelada.</p><p>Este conceito também está implícito na idéia de um corpo (correspondente ao sistema de</p><p>universos) que esconde a verdadeira essência da alma (correspondente a Deus).</p><p>Deus, a Torá e a alma não podem manifestar-se neste “mundo da separação‟ (que é</p><p>análogo à árvore do conhecimento do bem e do mal) sem uma vestimenta” que oculte a</p><p>intensidade extraordinária de sua luz.</p><p>Deus criou o sistema desta maneira porque tinha a intenção de dar existência a uma</p><p>dimensão material na qual o ser humano pudesse funcionar como um agente</p><p>independente e livre.</p><p>O homem poderia então utilizar esse sistema como uma escada para elevar-se e</p><p>retornar a Deus.</p><p>Poderia também entrar no sistema e descobrir que Deus realmente está “envolto” no</p><p>tecido de sua própria vida.</p><p>De uma forma ou de outra, o propósito da criação por meio de olamot é possibilitar que</p><p>o homem se relacione com Deus.</p><p>Ai reside o mistério da relação entre o Templo Sagrado e o corpo humano.</p><p>Cada um deles é um microcosmo de todo o sistema projetado para ajudar o homem a</p><p>trazer revelações cada vez maiores da Luz de Deus às trevas deste mundo.</p><p>Se refletirmos sobre a idéia de que todo nível superior está oculto nos que estão abaixo</p><p>dele, e todo nível inferior se torna uma “vestimenta” para os que estão acima dele,</p><p>podemos entender melhor como o corpo se transforma na “vestimenta” da alma.</p><p>Como os mundos inferiores são vestes para os superiores, e uma roupa é feita para</p><p>ajustar-se ao corpo que ela cobrirá, o corpo assume a “forma” da alma.</p><p>Isso pode ser visto no fato de o corpo ser chamado de chômet (matéria), enquanto a</p><p>alma é denominada tsurá (forma).</p><p>Chômer, o corpo, na realidade é uma „matéria prima” flexível que adquire a “forma da</p><p>alma” conforme é moldada.</p><p>Quem persegue uma existência materialista modelará seu corpo de acordo com as</p><p>exigências especificas desse estilo de vida, e este corpo encobrirá sua alma.</p><p>Por outro lado, quem busca Divindade moldará e refinará sua natureza física com a</p><p>intenção de ser sensível aos sinais mais sutis da alma, de modo que a espiritualidade</p><p>inata da alma por fim irradiará de seu corpo.</p><p>Nos níveis mais elevados, o corpo físico desta pessoa se tornará um corpo espiritual</p><p>semelhante ao de Moisés, cujo rosto resplandecia quando ele desceu do Sinai após ter</p><p>recebido a Torá (Êxodo 34:29-30, 35); semelhante ao de Adão antes que ele comesse</p><p>da árvore do conhecimento do bem e do mal quando ele todo brilhava com mais</p><p>2</p><p>intensidade que o sol do meio-dia; e semelhante ao de Elias, que ascendeu ao céu num</p><p>“carruagem de fogo” (ver 2 Reis 2:1 1).</p><p>Os Quatro Elementos</p><p>Já observamos que quatro elementos básico constituem o mundo material - fogo, ar,</p><p>água e terra.</p><p>O Ari explica que esses quatro elementos correspondem às quatro letras do Tetragrama:</p><p>Tetragrama Elemento</p><p>Yud Fogo</p><p>Hê Ar</p><p>Vav Água</p><p>Hê Terra</p><p>Uma antiga tradição fala também de quatro níveis de existência física: domem (mineral),</p><p>tsomeach (vegetal), chai (animal) e medaber (falante, isto é, o homem); quatro</p><p>camadas principais do corpo: or (pele), bassar (carne), guidim (tendões) e atsamot</p><p>(ossos); e quatro tipos de fluidos corporais, conhecidos como os “quatro humores”,</p><p>classificados como branco, vermelho, verde (amarelo-esverdeado) e preto (marrom-</p><p>avermelhado) e baseados nos seguintes órgãos que lhes são correspondentes:</p><p>Fluido Órgão</p><p>Branco Ductos linfáticos</p><p>Vermelho, sangue Fígado</p><p>Verde, bile Vesícula biliar</p><p>Preto (fluidos imundos) Baço</p><p>As quatro camadas e os quatro humores serão discutidos em textos específicos.</p><p>Agora, portanto, nossa análise se concentrará nos quatro elementos e sua fonte oculta</p><p>única.</p><p>“E um rio sai do Éden para regar o jardim; dali ele se divide e converte-se em quatro</p><p>torrentes”.</p><p>(Gênesis 2:10)</p><p>Os quatro elementos se originam de um único elemento matriz.</p><p>Isto é indicado no seguinte versículo: “E um rio sai do Éden para regar o jardim; dali ele</p><p>se divide e converte-se em quatro torrentes.”</p><p>Ou seja, há uma fonte única que se divide em quatro - os quatro elementos.</p><p>O elemento matriz único é o tsadic, o justo cujo mérito mantém o mundo, como está</p><p>escrito (Provérbios 10:25): “E o tsadic é o sustentáculo do mundo”.</p><p>Ele é comparado ao –“topo do Yud”, a fonte das quatro letras do Tetragrama.</p><p>Este elemento matriz é denominado Yessod hapasbut, o “elemento simples”, porque, na</p><p>fonte, tudo está unido, como uma coisa só, sem diferenciação.</p><p>Tudo que há no mundo é composto de quatro elementos básicos.</p><p>Cada elemento contém traços de todos os outros, mesmo que apenas em proporção</p><p>microscópica.</p><p>Assim, o componente principal do domem (mineral) é “terra”, mas, podemos encontrar</p><p>traços de “água”, „ar” e “fogo” dentro dele.</p><p>A existência contínua do mundo baseia-se na combinação e interação adequadas destes</p><p>elementos.</p><p>Cada elemento tem uma constituição radicalmente diferente da dos demais.</p><p>No entanto, Deus, com Sua Infinita Sabedoria, criou-os de modo tal que eles pudessem</p><p>coexistir e sustentar a vida numa variedade quase infinita de combinações - enquanto o</p><p>ser que eles sustentam estiver vivo.</p><p>3</p><p>Quando a “vida” termina, os elementos se dispersam - criando, conceitualmente, uma</p><p>situação do “mundo da Separação”.</p><p>Assim, é a força vital que mantém os diversos elementos unidos para que o homem</p><p>possa existir.</p><p>Esta força vital é o elemento matriz único, o tsadic, que se elevou acima do materialismo</p><p>deste mundo.</p><p>Ele age como uma ponte entre o espiritual e o físico e pode, portanto, transmitir força</p><p>vital espiritual ao mundo físico.</p><p>Em sua fonte (o elemento matriz único, o tsadic), os quatro elementos na realidade são</p><p>um - conceitualmente, o “mundo da unidade” - e coexistem e interagem de forma</p><p>pacífica. Mesmo quando deixam sua fonte, eles podem existir em perfeita harmonia,</p><p>contanto que continuem a receber força vital do tsadic.</p><p>A harmonia só é perturbada quando os elementos, por alguma razão, são desligados</p><p>dessa força vital.</p><p>Neste momento, surgem a degeneração e a disfunção, que causam doença e</p><p>sofrimento...</p><p>Apesar de todas as pessoas serem compostas pelos quatro elementos, há quatro raízes</p><p>principais, que correspondem as quatro letras do Tetragrama.</p><p>Cada indivíduo está enraizado numa letra particular mais do que em qualquer outra, de</p><p>forma correlata, ele também está radicado no elemento específico e no traço de caráter</p><p>derivado dessa letra.</p><p>Isto explica as enormes diferenças que percebemos entre os temperamentos dos seres</p><p>humanos. Uns têm raiz no fogo, outros no ar, alguns na terra, e outros na água.</p><p>O mais importante é harmonizar as diferenças, porque quando se enfatiza a distinção, ao</p><p>invés da harmonia, a discórdia torna-se a norma, e as pessoas resistem e opõem-se</p><p>umas as outras.</p><p>Esta discórdia reverbera em seus elementos primordiais, causando desarmonia no Alto.</p><p>Por consequência, o mundo é afligido por destruição e doença.</p><p>A principal força reguladora capaz de harmonizar essas diferenças se encontra no</p><p>elemento matriz único, o tsadic.</p><p>Ele sabe como estabelecer um equilíbrio adequado entre os vários elementos de seu</p><p>domínio, isto traz harmonia e paz a cada individuo e à humanidade como um todo.</p><p>Este é o nível da aliança de paz que foi dada a Pinchás.</p><p>Por tê-lo atingido, Pinchás nunca morreu e, como o Profeta Elias, ascendeu ao céu numa</p><p>carruagem de fogo.</p><p>O tsadic é aquele que transcendeu o “mundo da separação” (correspondente à árvore do</p><p>conhecimento do bem e do mal) e ligou-se ao “mundo da unidade” (a árvore da vida).</p><p>Por ter harmonizado seus elementos, ele se torna o elemento matriz único que une a</p><p>todos os outros.</p><p>Como vimos, o corpo humano reflete a Torá, que contém 248 mitsvót (mandamentos)</p><p>positivos e 365 negativos. O conhecimento sinérgico que o tsadic possui da Torá inteira</p><p>(“o todo que é maior que a soma de suas partes”) liga-o a todas as mitsvót de uma vez.</p><p>Conectado com a unidade, ele percebe todas as mitsvót como um sistema unificado, e</p><p>vê como cada mitsvá abrange todas as outras, formando uma unidade.</p><p>Do mesmo modo, ele liga e harmoniza com sua alma as 248 partes e 365 tendões e</p><p>vasos de seu corpo.</p><p>Então ele pode atuar como o elemento matriz único para todos que estão abaixo de seu</p><p>nível.</p><p>Nos ensinamentos do Rav Nachman, aparece repetidas vezes, como uma máxima, que</p><p>qualquer um pode tornar-se tsadic num nível que lhe seja adequado. Na medida em que</p><p>a pessoa se desenvolve espiritualmente e obtenha o domínio sobre seu corpo - seus</p><p>quatro elementos - ela poderá merecer o titulo de tsadic para esse nível.</p><p>4</p><p>Isto se aplica até mesmo a quem se encontra numa posição espiritual relativamente</p><p>baixa.</p><p>Qualquer que seja o nível em que estejam, todos têm capacidade para harmonizar os</p><p>quatro elementos dentro de si e alcançar uma “aliança de paz”, a harmonia completa</p><p>entre corpo e alma.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 5</p><p>Traços de Caráter Positivos e Negativos</p><p>No Shaarê Kedushá, o Rabi Chaim Vital (1542-1620), o principal discípulo do Ari,</p><p>escreve:</p><p>Assim como um artífice mestre é capaz de esculpir a figura humana na pedra, o Artífice</p><p>Mestre moldou o corpo na forma exata da alma. Dado que a alma, por sua vez, tem uma</p><p>composição análoga a da Torá, com suas mitsvót positivas e proibições, as partes do</p><p>corpo, embora formadas pelos quatro elementos materiais, são análogas ás partes da</p><p>alma e ás mitsvót correspondentes.</p><p>Adão deveria ter vivido eternamente.</p><p>Ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, ele maculou tanto sua alma</p><p>como seu corpo. Por conseguinte, doença, sofrimento e morte acometeram a</p><p>humanidade, conforme fora avisado a Adão (Genesis 2:17): “Mas da árvore do</p><p>conhecimento do bem e do mal não comerás, pois no dia em que dela comeres mot</p><p>tamut [morrerás]!”.</p><p>A expressão repetitiva mot tamut significa literalmente “morte morrerás”, indicando uma</p><p>morte dupla - física e espiritual.</p><p>Adão era o modelo de homem espiritual.</p><p>Porém, por ter comido da árvore do conhecimento do bem e do mal, ele desceu ao nível</p><p>material, arrastando consigo toda a criação.</p><p>Além disso, ao servir-se tanto do bem como do mal, ele fez tudo na criação tornar-se</p><p>uma mistura de bem e mal.</p><p>Adão foi colocado no Jardim do Éden, e foi-lhe dada a possibilidade de escolher.</p><p>Ele poderia ter escolhido uma vida espiritual, porém, ao servir-se do fruto da árvore do</p><p>conhecimento do bem e do mal, ele provocou a mistura do bem e do mal.</p><p>A partir dai, tudo passou a ser uma mescla dos dois.</p><p>A missão do homem desde então é separar o bom do mau, purificar-se do mal que o</p><p>cerca e que se encontra dentro dele.</p><p>Os Quatro Servos</p><p>Os quatro elementos contêm todos os recursos físicos que o homem necessita para</p><p>ganhar impulso em seu crescimento espiritual, mas também possuem as características</p><p>que podem inibir - e até mesmo reverter - esse crescimento.</p><p>É por esta razão que os quatro elementos são denominados “servos” - eles devem servir</p><p>fielmente á alma para que a pessoa se eleve na espiritualidade.</p><p>Nós podemos insuflar espirito e alma em nossos quatro elementos materiais, como está</p><p>escrito (Ezequiel 3 7:9): “Profetiza ao rúach [espírito, vento ou alento]; profetiza, filho</p><p>do homem, e diz ao rúach: “Assim diz o Eterno Deus: Vem das quatro direções, ó Rúach,</p><p>e sopra sobre estes mortos para que vivam!”’</p><p>Este versículo pertence à profecia dos ossos secos de Ezequiel.</p><p>Primeiro Deus o manda profetizar para os ossos, para que eles se unam.</p><p>Depois lhe é ordenado que profetize uma segunda vez, para que o rúach entre nos</p><p>corpos</p><p>ainda mortos e os faça viver.</p><p>Como explica o Reb Natan, os corpos “mortos” correspondem aos quatro elementos, que</p><p>estão “mortos” se não estiverem ligados ao quinto elemento, o tsadic.</p><p>Quando estão conectados, eles ganham vida e podem incorporar todas as boas</p><p>qualidades que são identificadas com o conceito de tsadic - amor e temor, bondade e</p><p>limitação, humildade, responsabilidade e zelo, etc.</p><p>Quando não estão conectados, os quatro elementos materiais - na forma das</p><p>características mais abjetas - literalmente controlam a vida do individuo.</p><p>2</p><p>Este se torna seu “servo” e, portanto, suscetível às “quatro fontes primárias de danos”,</p><p>também denominadas “os quatro tipos de lepra”.</p><p>Os “danos” e “lepras” se manifestam em todos os tipos de sofrimento que afligem a</p><p>humanidade: doenças, dificuldades emocionais, guerras, exílio, etc..</p><p>Os quatro elementos tornam-se então a fonte de todas as más características básicas.</p><p>O Rabi Chaim Vital esclarece:</p><p>Fogo é o de constituição mais leve dos quatro, pois suas propriedades fazem o calor</p><p>aumentar. É a fonte da arrogância, daquele que se considera “acima” dos outros.</p><p>O fogo é também a fonte da ira.</p><p>Ira e arrogância levam à irritabilidade e ao desejo de poder e honraria.</p><p>Ar é a fonte da conversa frívola, a tendência para falar de assuntos insignificantes.</p><p>Também se refere à fala proibida: bajulação, falsidade, calúnia e zombaria.</p><p>O ar é também a fonte da presunção.</p><p>Água traz prazer - do elemento água vem os desejos intensos por todas as formas de</p><p>concupiscência.</p><p>Ela também provoca ciúme e inveja, levando ao comportamento desonesto e ao roubo</p><p>propriamente dito.</p><p>Terra é o elemento mais pesado e denota preguiça e depressão.</p><p>A pessoa dominada pelos aspectos materiais da terra sempre lamenta seu destino e</p><p>nunca está satisfeita com o que tem.</p><p>Traços de caráter e disposições interiores não estão incluídos nos mandamentos da Torá,</p><p>como se pode verificar com uma leitura atenta da lista de 613 mitsvót.</p><p>Há todo um conjunto de mandamentos que gira em torno dos relacionamentos</p><p>humanos, como amar ao próximo, dar caridade aos pobres, ajudar um inimigo em</p><p>dificuldade, não guardar rancor, não se vingar, não odiar o semelhante no coração, etc.</p><p>Há também numerosos mandamentos que tratam da relação do homem com Deus.</p><p>Em lugar nenhum, porém, encontramos um preceito que diga que devemos ser éticos,</p><p>humildes, afetuosos, bondosos, caridosos, compassivos, empáticos, generosos, e assim</p><p>por diante.</p><p>Tampouco é decretado que é proibido irar-se ou ser arrogante, invejoso ou malvado.</p><p>Mesmo um mandamento como “não odiarás a teu irmão em teu coração’ (Levítico</p><p>19:17) só pode ser interpretado como uma norma comportamental, e não como uma</p><p>diretriz referente a sentimentos.</p><p>Se, como vimos, os traços de caráter e as disposições interiores são tão essenciais, por</p><p>que eles não são sequer mencionados no sistema de mandamentos?</p><p>A resposta é que os traços de caráter e as disposições interiores são o objetivo - e a</p><p>própria base - dos mandamentos.</p><p>De fato, o refinamento e fortalecimento de nossas características morais são uma</p><p>precondição para a verdadeira observância dos preceitos, pois a premissa básica dos</p><p>mandamentos é que, se “agirmos” em conformidade com a moralidade objetiva da Torá,</p><p>esta moralidade se tornará parte da constituição espiritual e emocional da personalidade</p><p>humana.</p><p>Assim, a Torá não nos manda de forma direta “ser”, e sim “fazer”.</p><p>Isto é, seus preceitos são claramente concebidos por Deus para exercer impacto sobre</p><p>nossos traços de caráter básicos, mas por meio de nossas ações.</p><p>Agir de maneira afetuosa com uma pessoa, talvez apesar do fato não gostarmos dela,</p><p>obriga-nos a superar o sentimento que formamos em relação a ela, que nos impede de</p><p>vê-la como semelhante.</p><p>É evidente que o objetivo da ação é a transformação interior.</p><p>Quem vê os mandamentos como meras diretrizes comportamentais não compreende</p><p>este seu aspecto crucial.</p><p>3</p><p>Podemos perceber agora que o sistema de preceitos foi concebido para ajudar o homem</p><p>a expressar, desenvolver ou refinar traços de caráter inatos.</p><p>Quando ele é visto desta maneira, os aspectos referentes às disposições emocionais que</p><p>estão ocultos atrás de todos os mandamentos tornam-se evidentes.</p><p>A Torá pressupõe que estas disposições interiores e traços de caráter constituem a base</p><p>da personalidade humana e já estão presentes, em forma rudimentar, desde a infância.</p><p>O aperfeiçoamento dos traços de caráter positivos, por um lado, e a transmutação da</p><p>energia dos traços negativos, pelo outro, representam o maior desafio que a pessoa tem</p><p>de enfrentar ao longo de toda a vida.</p><p>O Rebe Nachman ensinou:</p><p>O importante é anular cada um de seus traços de personalidade.</p><p>Você deve esforçar-se para fazê-lo, até que seu ego seja eliminado, reduzido a nada</p><p>diante de Deus. Comece com uma característica, transmute-a, e em seguida trabalhe</p><p>sobre outra. Quando cada um dos traços for transformado, a glória de Deus começará a</p><p>brilhar e lhe será revelada.</p><p>Como afirma um versículo (Ezequiel 43:2), “A terra brilhava com a Sua glória”.</p><p>A glória de Deus é como a luz.</p><p>Um bastão fino produz uma sombra pequena, enquanto um objeto mais volumoso</p><p>projeta uma sombra maior.</p><p>Quanto mais luz for obstruída, maior será a sombra criada.</p><p>O mesmo se aplica á glória de Deus.</p><p>O material obstrui o espiritual e lança sombras sobre ele.</p><p>Quanto mais denso o objeto, mais escura a sombra.</p><p>Quando a pessoa está ligada a uma emoção ou desejo específico, a glória de Deus é</p><p>obstruída e uma sombra é produzida.</p><p>Assim, a luz de Deus é ocultada.</p><p>Quando o sujeito transmuta seus desejos e emoções negativas, a sombra é</p><p>gradativamente removida.</p><p>Depois que a sombra parte, a Divindade é revelada.</p><p>Então, „A terra [o materialismo da pessoa] brilha com a Sua glória [pois o espiritual não</p><p>está mais oculto]”.</p><p>Como veremos, as principais características da personalidade se correlacionam com os</p><p>vários órgãos do corpo.</p><p>O grau de controle que o homem exerce sobre seus instintos mais vis permite-lhe subir</p><p>a escada espiritual, fazendo emergir a beleza que se encontra no interior de sua alma.</p><p>Resumindo:</p><p>Tudo que dissemos sobre a relação que existe entre os mandamentos, por um lado, e os</p><p>traços de caráter e disposições interiores básicas, pelo outro, o Rabe Chaim Vital</p><p>escreve:</p><p>Os traços básicos de caráter do homem não se incluem entre as mitsvot efetivas da</p><p>Torá...</p><p>No entanto, eles são fundamentais para que as mitsvót possam ser cumpridas.</p><p>O aperfeiçoamento dos traços de caráter aumenta a capacidade da pessoa de</p><p>desenvolver a espiritualidade.</p><p>Porém, se permitir que seus traços negativos criem raiz e se transformem em veneno, o</p><p>sujeito se tornará incapaz de realizar qualquer uma das mitsvót adequadamente.</p><p>Por exemplo, nossos Sábios afirmam que “a arrogância e a ira são semelhantes à</p><p>idolatria”, e, em sentido inverso, que “a humildade pode elevar a pessoa ao nível da</p><p>profecia”.</p><p>Continua</p><p>1</p><p>Anatomia da Alma – Parte 6</p><p>O Paradoxo de Corpo e Alma</p><p>Considerando-se a composição etérea da alma em comparação com a densidade do</p><p>corpo físico, é realmente surpreendente que os dois sejam capazes de permanecer</p><p>juntos.</p><p>A alma sempre é atraída para sua fonte sublime, D´us, enquanto o corpo busca apenas</p><p>satisfação material.</p><p>O milagre da harmonia entre corpo e alma torna-se ainda mais evidente e admirável por</p><p>causa de suas naturezas divergentes.</p><p>“A alma do homem é a vela de Deus, que examina todas as entranhas do</p><p>abdômen’ (Provérbios 20:27).</p><p>Nossos Sábios explicam que Deus implantou dentro da alma uma necessidade incessante</p><p>de buscar a perfeição.</p><p>A alma tem uma curiosidade insaciável: ela procura e investiga - sempre atrás de uma</p><p>nova experiência.</p><p>A pessoa pode obter satisfação procurando-a no campo espiritual ou no físico.</p>

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