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<p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Unidade 1</p><p>Filoso�a e Educação</p><p>Aula 1</p><p>Conhecimento e Educação</p><p>Conhecimento e Educação</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você irá re�etir a respeito da origem do conhecimento e como os �lósofos, desde a</p><p>Antiguidade, pensaram a construção do conhecimento humano. Esse conteúdo é importante</p><p>para a sua formação pro�ssional, pois o levará ao entendimento da relação existente entre</p><p>ciência, conhecimento e educação. Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!</p><p>Ponto de Partida</p><p>A Filoso�a é um conhecimento que marca, signi�cativamente, a história ocidental. Tendo sua</p><p>origem por volta do século VII a.C., ao longo dos séculos ela deu luz a um conhecimento singular</p><p>da realidade. A Filoso�a mostra sua importância ao problematizar o homem e a produção de</p><p>conhecimento. A teoria do conhecimento é uma disciplina �losó�ca que busca compreender</p><p>como acontece a complexa relação entre o sujeito que aprende e o objeto que ele busca</p><p>aprender, além de esclarecer quais são os múltiplos fatores que estão envolvidos nesse</p><p>processo.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Sendo um dos pilares mais fundamentais da prática pedagógica, entre os seus temas de estudo</p><p>estão os relacionados à origem dos saberes, isto é, à forma como o ser humano se apropria do</p><p>conhecimento sobre o mundo físico e social. Por ser uma teoria que trata de elementos mais</p><p>subjetivos do que objetivos, não é possível encontrarmos uma única abordagem nesse campo de</p><p>estudo, pois nesse território convivem múltiplas e antagônicas concepções.</p><p>Para compreendermos melhor tais questões e conseguirmos olhar mais especi�camente para</p><p>essas questões, vamos pensar na seguinte situação: você está no momento de cursar os</p><p>estágios obrigatórios do seu curso de graduação. Você inicia suas horas de estágio</p><p>acompanhando o professor Carlos, responsável pela disciplina de Ciências em turmas do Ensino</p><p>Fundamental em uma escola da rede pública de ensino.</p><p>As aulas são expositivas quase em sua totalidade, com questionários e atividades que devem ser</p><p>realizados no caderno ou livro, individualmente ou em grupo. Motivado pelo que tem estudado</p><p>nas disciplinas da faculdade, você começa a perceber que a prática da sala de aula, observada</p><p>no cumprimento do estágio, está bem distante daquilo que se pensa como boa prática pelos</p><p>teóricos. Re�ita o seguinte: qual a utilidade da teoria, já que ela parece não ser aplicável?</p><p>Vamos Começar!</p><p>A origem do conhecimento</p><p>Como sabemos o que sabemos, ou conhecemos aquilo que julgamos conhecer? Essa é uma</p><p>questão que ocupa a mente dos �lósofos desde a Antiguidade, e desde então eles vêm tentando</p><p>desvendar os aspectos que envolvem a interação do ser humano com o ambiente social, físico e</p><p>cultural. A origem do conhecimento sempre foi um enigma para o ser humano. A �loso�a</p><p>centrada no ser humano, que teve seu início praticamente com Sócrates na Grécia Antiga, já</p><p>apresentava, desde o princípio, a clássica formulação epistemológica "sujeito-objeto". Isso</p><p>signi�ca que, desde o momento em que adquiriu consciência de sua existência como uma</p><p>entidade autônoma em relação aos elementos da natureza, o ser humano passou a dedicar-se à</p><p>busca da verdade (conhecimento).</p><p>Se falamos em ensinar, temos, em contrapartida, a ideia de que há quem deve aprender. Também</p><p>de modo primário, entenderemos que no processo educativo deve haver quem provoca (ensina) e</p><p>aquele que é provocado (aprende). “Aprender” signi�ca, aqui, “apreender um objeto”. Desse modo,</p><p>ao tratar da educação, necessariamente, temos de tratar da relação que ocorre entre aquele que</p><p>aprende (chamemos de “sujeito”) e aquilo que é apreendido (chamemos de “objeto”). A essa</p><p>relação entre um sujeito que apreende um objeto, damos o nome de conhecimento. Dito isso,</p><p>podemos concluir não ser possível falar de educação sem falar do conhecimento.</p><p>Por diferentes motivos, os seres humanos têm o desejo de explorar e compreender o mundo em</p><p>todos os seus aspectos, pois o conhecimento proporciona uma sensação de segurança à sua</p><p>existência. Essa busca pela segurança pode ser facilmente compreendida ao considerar o</p><p>seguinte argumento: se nada é conhecido, não há expectativas e a falta de previsão prevalece; se</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>tudo permanece imprevisto e inesperado, os perigos se tornam inevitáveis. Assim, a ausência de</p><p>conhecimento resulta em falta de segurança, transformando a própria vida em uma situação</p><p>perigosa. Portanto, o ato de conhecer coloca o ser humano em uma posição diferente na</p><p>existência, distanciando-o das surpresas que afetam outros animais.</p><p>Aristóteles (384-322 a.C.) foi um dos grandes pensadores do auge da Filoso�a Grega. Uma de</p><p>suas monumentais obras, que recebeu o título de Metafísica, é iniciada com a seguinte ideia:</p><p>Todos os homens, por natureza, desejam conhecer. Sinal disso é o prazer que nos proporcionam</p><p>os nossos sentidos, pois, ainda que não levemos em conta a sua utilidade, são estimados por si</p><p>mesmos; e, acima de todos os outros, o sentido da visão. Com efeito, não só com o intento de</p><p>agir, mas até quando não nos propomos a fazer nada, pode-se dizer que preferimos ver a tudo</p><p>mais. O motivo disto é que, entre todos os sentidos, é a visão que põe em evidência e nos leva a</p><p>conhecer o maior número de diferenças entre as coisas (Aristóteles, 1969, p. 36)</p><p>Não entraremos na discussão da escolha do pensador pelo sentido da visão, embora possamos</p><p>perceber claramente a supremacia desse sentido ao trazer o mundo até nós: ao abrir os olhos,</p><p>não demandamos energia, pois o mundo se revela a nós por meio deles. A ideia principal reside</p><p>no desejo inato do ser humano de conhecer. Independentemente do local ou do tempo, esse</p><p>desejo emerge como uma característica natural do homem, que, enquanto animal dotado de</p><p>racionalidade, anseia por conhecer.</p><p>O ato de conhecer proporciona satisfação, semelhante a outros desejos e necessidades, como</p><p>comer, ser reconhecido, ser amado, entre outros. A Filoso�a se desdobra em várias disciplinas, e</p><p>uma delas se dedica à re�exão sobre o problema do conhecimento, conhecida como Teoria do</p><p>Conhecimento. No entanto, surge a pergunta: por que o conhecimento se torna um problema</p><p>�losó�co?</p><p>Siga em Frente...</p><p>Teoria do Conhecimento</p><p>É importante ter em mente que tudo pode se tornar “problema �losó�co”. Essa classi�cação é</p><p>atribuída a algo que passa a ser de maior preocupação para os �lósofos. Eles se preocupam com</p><p>aquilo que não é totalmente claro, deixando dúvidas sobre seu ser ou funcionamento de algo.</p><p>Nesse caso, o conhecimento se torna problema, pois não se sabe de modo exato como ele</p><p>funciona. Por exemplo, podemos observar o impasse que existe entre duas concepções da</p><p>Teoria do Conhecimento: o racionalismo e o empirismo.</p><p>A Idade Moderna é o marco histórico que de�ne o início da teoria do conhecimento como</p><p>disciplina autônoma, pois, na Antiguidade e na Idade Média, esse tipo de estudo estava vinculado</p><p>à metafísica (área da Filoso�a que se ocupa de questões como a existência do ser, a causa e o</p><p>sentido da realidade e a natureza).</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Na Idade Moderna, portanto, Descartes, Locke, Hume e Kant procuraram sistematizar questões</p><p>sobre a gênese, a essência e a verdade sobre o conhecimento, apontando algumas questões,</p><p>como:</p><p>Qual o critério fundamental para se chegar ao conhecimento?</p><p>O sujeito pode apreender o objeto?</p><p>O conhecimento investigado é fechado deixando brecha para a descrença?</p><p>A fonte (origem) do conhecimento seria a experiência ou a razão?</p><p>Como consequência dessas indagações, durante a Idade Contemporânea, surgem outras teorias,</p><p>de natureza menos cientí�ca e de caráter mais próximo do existencialismo, pois percebemos que</p><p>responder a toda</p><p>pois nós estamos inseridos em um contexto especí�co,</p><p>somos in�uenciados por ele e o in�uenciamos de volta.</p><p>Para fornecer um respaldo teórico fundamental para uma prática docente re�exiva, a história</p><p>surge nesse contexto como um campo do conhecimento cientí�co sólido que nos permite</p><p>estudar o desenvolvimento do homem ao longo do tempo e analisar processos históricos,</p><p>personagens e fatos. Assim, é possível proporcionar aos educadores um corpo substancial de</p><p>saberes, que consegue promover uma melhor compreensão dos períodos históricos, das</p><p>diferentes culturas e civilizações e, como consequência, tornar a prática pedagógica mais crítica</p><p>e re�exiva.</p><p>Portanto, por ser a educação uma prática mediadora das práticas históricas sob as quais o ser</p><p>humano constrói sua existência subjetiva e social, é fundamental que haja uma re�exão mais</p><p>elaborada sobre os pressupostos �losó�cos da formação e da atuação didática dos professores.</p><p>A qualidade da prática pedagógica só é garantida se, ao longo de sua formação, o educador tiver</p><p>acesso a um conjunto articulado de elementos formativos que lhe tragam no futuro uma</p><p>competência técnica e cientí�ca, a ser desenvolvida com criatividade, sensibilidade ética e</p><p>criticidade política.</p><p>Dessa forma, a teoria sempre deve estar presente como subsídio na prática do professor. No</p><p>entanto, ela não deve ser vista como ponto único do processo de ensino-aprendizagem. O ser</p><p>humano, a partir do que apresentamos, deve ser entendido sempre tomando-se a situação na</p><p>qual ele está inserido, não podendo ser compreendido a partir dos parâmetros de outra época. O</p><p>professor é entendido como “ensinante”, mas isso não signi�ca que ele deva ser reconhecido</p><p>como o único detentor do conhecimento. Ele sabe determinado conteúdo e tem uma vivência de</p><p>ensino a partir dele. O aluno, como “aprendente” traz a capacidade de aprender, mas não uma</p><p>mente vazia, pois ele já tem uma vivência e um conteúdo que adquiriu ao longo do tempo.</p><p>É Hora de Praticar!</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Precisamos pensar no potencial transformador da educação e na forma como ela é ofertada</p><p>para compreender a estrutura e organização da nossa sociedade. A sociedade nunca é um grupo</p><p>homogêneo e toda tentativa de fazer com que ela fosse assim, ao longo da história, terminou em</p><p>“catástrofes sociais” – é só pensarmos em um simples exemplo, que foi o nazismo. No entanto,</p><p>não podemos entender a realidade social como condenada a uma divisão impossível de ser</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>superada. Vamos re�etir sobre a educação no período da Segunda Guerra Mundial a partir da</p><p>Teoria Crítica. A vivência social, marcada pela guerra, tornou-se objeto de profunda re�exão, por</p><p>conta da recon�guração de valores que se impunha à sociedade. Viver em guerra é viver tendo o</p><p>outro como inimigo real, mesmo que ele nada faça.</p><p>Uma das ocorrências históricas mais brutais contra a humanidade foi gerenciada pelo nazismo.</p><p>A construção de campos de concentração para a segregação – e posterior extermínio –</p><p>daqueles que não participavam ou não concordavam com as ideias e os ideais difundidos por tal</p><p>ideologia. Tomando-se um desses campos (Auschwitz) por objeto, responda aos seguintes</p><p>questionamentos: como foi possível Auschwitz? O que fazer para evitar que Auschwitz se repita?</p><p>Como subsídio para elaborar a sua resposta, faça a leitura dos seguintes textos:</p><p>Educação após Auschwitz  - Theodor Adorno.</p><p>Por uma ruptura do processo cíclico da história: uma leitura de "educação após Auschwitz</p><p>– LIMA, J. C. de.; SOBREIRA JUNIOR, V. J.; SOUZA, A. I. L. de.</p><p>Pense sobre a realidade na qual você vive. A educação sozinha teria a capacidade de transformá-</p><p>la?</p><p>Quais con�itos sociais expressam a defesa, pela força, de interesses que não são coletivos?</p><p>O processo educativo obedece, simplesmente, às políticas vigentes, sendo, muitas vezes, força</p><p>de barbarização?</p><p>A educação é fundamental nesse contexto em que a barbárie domina os indivíduos, em que a</p><p>agressividade é tamanha e o ódio chega a ter um viés primitivo, nos remetendo a um contexto</p><p>pré-civilizatório. Aqui, não tomamos a ideia de “civilização” como um modelo determinado de</p><p>sociedade, mas um tipo de pensamento sobre a vivência coletiva. Nesse sentido, o civilizado não</p><p>é aquele que propaga determinados valores, de determinada sociedade, mas aquele que</p><p>compreende a vivência comum como parte de si e que, assim, deve ser preservada na defesa de</p><p>valores individuais. Nesse sentido podemos entender como Auschwitz foi possível.</p><p>A educação deve criar novas possibilidades ao homem, para que ele tenha condições de lidar</p><p>com a própria liberdade, que abrisse espaço para uma liberdade comum e que contivesse o</p><p>espírito autoritário (que pode ser visto em determinados indivíduos do grupo social). Assim, a</p><p>educação deve ser processo de inclusão aberta do indivíduo no grupo, a partir de interesses que</p><p>sejam coletivos e que levem à humanização, ao contrário da barbárie.</p><p>O aprendizado (educação) deve ser pensado para que o indivíduo seja preparado para sua</p><p>realização na vida coletiva – uma vivência que, ao invés da preservação da própria vida,</p><p>objetivasse a conservação da vida comum. A educação deve ser liberta do caráter manipulador</p><p>das forças políticas para que possamos evitar que Auschwitz ocorra novamente.</p><p>Veja no infográ�co a seguir os principais pontos estudados nessa unidade:</p><p>https://campuscastanhal.ufpa.br/wp-content/uploads/2018/arquivospdf/02.fevereiro/texto-1.pdf</p><p>http://congressos.ifal.edu.br/index.php/connepi/CONNEPI2010/paper/viewFile/193/172</p><p>http://congressos.ifal.edu.br/index.php/connepi/CONNEPI2010/paper/viewFile/193/172</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Figura 1 | Filoso�a e educação</p><p>ARANHA, M. L. de A. Filoso�a da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1994.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>CHAUI, M. Convite à �loso�a. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>,</p><p>Unidade 2</p><p>Sociologia e Educação</p><p>Aula 1</p><p>Sociedade e Educação</p><p>Sociedade e Educação</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você re�etirá sobre as diferentes classes sociais sob a perspectiva do marxismo e</p><p>sobre a fabricação de produtos culturais, à semelhança do processo industrial. Essas re�exões</p><p>são cruciais para a compreensão da divisão da sociedade em diferentes classes sociais e para</p><p>entender como o capitalismo “invade” até o meio artístico, promovendo uma massi�cação das</p><p>obras de arte, distorcendo a realidade. Vamos lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>A educação é um processo intrinsecamente ligado à nossa integração na sociedade, sendo</p><p>moldada por regras, normas morais, éticas, costumes e línguas compartilhadas pelos nossos</p><p>antepassados. Os valores legados pelas gerações anteriores funcionam como um guia</p><p>especí�co para a vida coletiva, sendo transmitidos ao longo da história das diversas sociedades.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Cada sociedade, com suas identidades sociais distintas, contribui para uma essência única,</p><p>enriquecendo a tradição e a herança cultural que são passadas de geração em geração. O ato</p><p>educacional é uma forma essencial para que esses valores sejam transferidos de uma geração</p><p>para a próxima, desempenhando um papel crucial na manutenção da estrutura e dos</p><p>fundamentos de uma sociedade, proporcionando segurança aos indivíduos.</p><p>Para nos aprofundarmos no assunto, vamos re�etir sobre a seguinte situação: na aula de</p><p>Sociologia, a professora apresenta aos alunos reportagens que tratam do</p><p>mesmo assunto</p><p>(político), no entanto, publicadas por diferentes veículos de comunicação de massa: jornais,</p><p>revistas, blogs e sites jornalísticos. Considerando-se que 1) os materiais apresentados trazem</p><p>visões diferentes sobre o mesmo fato (às vezes, contraditórias) e 2) os estudantes apresentam</p><p>uma concepção de mundo aprendida na vivência cotidiana (principalmente, familiar), a atividade</p><p>dá origem a um acirrado debate. Os educandos passam a identi�car algumas fontes e notícias</p><p>como “verdadeiras”, dividindo-se em, praticamente, dois grupos de posicionamento.</p><p>A professora elenca com o corpo discente alguns pontos que deveriam ser pesquisados, para</p><p>tirar a dúvida que repousava sobre ele e todos vão para o laboratório de informática para realizar</p><p>a pesquisa. De volta à sala de aula, a educadora retoma o debate a partir dos resultados das</p><p>pesquisas realizadas. Alguns alunos começam a perceber que o posicionamento que adotam</p><p>diante de alguns fatos não tem fundamento plausível – alguns preferem se calar, e outros,</p><p>mesmo assim, querem fazer valer sua opinião, dizendo que as fontes são manipuladas para que</p><p>se pensasse o contrário do que eles entendem.</p><p>O que esta atividade mostra para a professora? E para os próprios estudantes? Qual é o sentido</p><p>de uma atividade como esta?</p><p>Vamos Começar!</p><p>As interações entre sociedade e educação são complexas e variadas, uma vez que a escola</p><p>busca constantemente na sociedade os temas e as tendências contemporâneas para</p><p>desenvolver e estruturar sua proposta curricular. Ao mesmo tempo, a sociedade, com</p><p>expectativas semelhantes, busca na escola os elementos necessários para se atualizar e</p><p>preparar seus membros para as demandas do mundo do trabalho e da cidadania</p><p>contemporânea.</p><p>Nesse contexto, podemos a�rmar que os eventos históricos e sociais exercem uma in�uência</p><p>mútua entre a educação e a sociedade. Os acontecimentos históricos, como eventos sociais</p><p>signi�cativos, têm o poder de moldar e direcionar as práticas educacionais. Dessa forma, a</p><p>educação, por sua vez, desempenha um papel fundamental na resposta e adaptação da</p><p>sociedade a esses acontecimentos, contribuindo para a formação de indivíduos capazes de</p><p>enfrentar os desa�os do seu tempo.</p><p>A sociedade capitalista</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>A transição da Idade Média para a Idade Moderna marcou também a queda do sistema Feudal e</p><p>a ascensão do sistema Capitalista. É importante compreender que as Revoluções Burguesas</p><p>(Revolução Industrial e Revolução Francesa) foram in�uenciadas pelos ideais iluministas. Esses</p><p>ideais trouxeram uma nova maneira de interpretar o mundo, proporcionando uma racionalização</p><p>dos conhecimentos, deixando de lado explicações atreladas a questões supersticiosas e</p><p>fantasiosas. As mudanças foram profundas em todos os setores da sociedade, desde a maneira</p><p>como o trabalho passou a ser organizado, nas relações entre patrões empregados, nas relações</p><p>políticas, culturais, etc.</p><p>Karl Marx (1818-1883) é um dos autores que nos oferece uma profunda re�exão sobre o sistema</p><p>capitalista e seus desdobramentos. A lógica capitalista, fundamentada na propriedade privada,</p><p>estabelece a necessidade de obtenção de lucro nas atividades empreendidas, uma vez que é por</p><p>meio desse lucro que há a possibilidade de que os indivíduos tenham acesso às benesses</p><p>produzidas e ofertadas pelo sistema. Entretanto, nem todos os indivíduos possuem propriedades</p><p>ou capital, resultando em disparidades no acesso aos bens.</p><p>Essa dinâmica econômica, baseada na busca pelo lucro, cria uma divisão entre aqueles que têm</p><p>propriedades e capital (burguesia) e aqueles que não possuem esses recursos (proletariado).</p><p>Essa disparidade de acesso aos benefícios econômicos e sociais é uma característica intrínseca</p><p>ao sistema capitalista, gerando desigualdades signi�cativas na distribuição de recursos e</p><p>oportunidades.</p><p>Os bens são econômicos, �nanceiros, culturais, etc., a falta de um acarreta a falta do outro –</p><p>embora essa relação não seja plenamente necessária. A sociedade é desigual e, para que o</p><p>capitalismo funcione, deve continuar desigual. É a propriedade privada que dá origem à situação</p><p>na qual as classes se opõem e vivem em luta constante. Eis a luta de classes, um dos conceitos</p><p>mais importantes do pensamento de Marx.</p><p>O autor observa que, ao analisarmos a história da humanidade, estruturada em sociedades,</p><p>identi�camos um tema constante em todas as épocas: a persistente existência de classes</p><p>sociais especí�cas que competem pelo controle, ou, no mínimo, procuramos impedir que outras</p><p>classes alcancem tal controle. Segundo Marx (1996, p. 66), “homem livre e escravo, patrício e</p><p>plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e</p><p>oprimidos, em constante oposição”. Essa oposição sempre tem como base a propriedade</p><p>privada, que é vista como o elemento crucial para garantir a sustentação da vida material. A</p><p>classe mais privilegiada, em qualquer sociedade, será aquela que detém o controle sobre os</p><p>meios de produção.</p><p>Educação e classes sociais</p><p>Ao longo da história, as sociedades se desenvolveram divididas em classes ou castas. Em</p><p>alguns momentos, essas divisões foram determinadas por questões religiosas, enquanto em</p><p>outras foram in�uenciadas por fatores econômicos. Por serem fatores distintos que</p><p>determinaram e determinam essa divisão, a sociedade nunca se caracterizou como um grupo</p><p>homogêneo (Marx, 1996). Se uma sociedade exibisse uma característica de homogeneidade,</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>seria viável um único projeto educativo abrangendo toda a sociedade. No entanto, o que é</p><p>possível observar é uma homogeneidade dentro de cada grupo (classe) que compõe uma</p><p>sociedade. Na realidade, cada grupo é geralmente de�nido por elementos comuns que são</p><p>especí�cos, sendo um conjunto de pessoas que se identi�cam entre si.</p><p>A questão a ser re�etida é: como a divisão da sociedade em grupos leva à realização da</p><p>educação de maneiras diferentes? Pensar a educação como um processo único que se realiza de</p><p>forma objetiva em qualquer realidade é um discurso ideológico. Essa realidade persiste porque</p><p>parte do pressuposto de que todos os indivíduos em uma sociedade recebem um nível de</p><p>instrução uniforme e enfrentam oportunidades sociais equivalentes, sendo as diferenças entre as</p><p>pessoas atribuídas apenas ao mérito individual. No entanto, na prática, as políticas educacionais</p><p>frequentemente implementam processos que estabelecem modelos diversos de educação, o que</p><p>acaba por contribuir para disparidades nas oportunidades e nos resultados educacionais.</p><p>É preciso reconhecer que a in�uência dos contextos é tão signi�cativa que é difícil resistir às</p><p>tendências predominantes. Uma sociedade dividida em classes é estruturada de maneira que a</p><p>educação acaba reforçando essa divisão. A presença de diferentes modelos de escola re�ete e</p><p>reproduz os diversos interesses das classes sociais distintas. Essa dinâmica é tão arraigada que</p><p>passa a ser percebida quase como algo inerente ou natural. Sob tal perspectiva, Durkheim (2007,</p><p>p. 47) entende que</p><p>cada sociedade, considerada num momento determinado do seu desenvolvimento, tem um</p><p>sistema de educação que se impõe aos indivíduos com uma força geralmente irresistível. É inútil</p><p>pensarmos que podemos criar nossos �lhos como queremos. Há costumes com os quais temos</p><p>de nos conformar; se os infringimos, eles vingam-se nos nossos �lhos. Estes, uma vez adultos,</p><p>não estarão em condições de viver no meio dos seus contemporâneos, com os quais não se</p><p>encontram em harmonia.</p><p>É importante ressaltar que Durkheim ao longo de sua obra não se preocupou em re�etir sobre as</p><p>diferentes classes sociais, essa não foi uma questão para o autor assim como foi para Marx. No</p><p>entanto, Durkheim analisou profundamente o funcionamento da sociedade e das diferentes</p><p>estruturas que a compõe e in�uenciam. Dito isso, é possível a compreensão de que a escola é o</p><p>lugar em que a sociedade se mostra por meio de valores que guiam a prática e que são</p><p>transmitidos diretamente aos alunos. As classes sociais, por sua vez, utilizam-se</p><p>dos meios que</p><p>dispõe para manter ou tentar transformar a situação vigente.</p><p>Podemos interpretar que, por um lado, há uma instituição que visa formar estudantes com</p><p>autonomia e liberdade para escolher seus caminhos de realização. Trata-se de uma escola</p><p>privada, que oferece um conteúdo mais abrangente ao considerar a formação humana. Para essa</p><p>instituição, o sistema é e�caz e deve ser mantido, pois traz constantes benefícios. Por outro lado,</p><p>temos uma escola pública que, devido a vários fatores, em sua maioria in�uenciados por</p><p>questões econômicas, oferece uma instrução básica que, de certa forma, predetermina os</p><p>futuros caminhos possíveis dos estudantes, restringindo as suas opções. Para essa instituição, a</p><p>situação necessita de alterações (Marx, 1978).</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>De certa maneira, entende-se que existe uma correlação entre tipos de escola e classes sociais.</p><p>Inicialmente, devemos considerar os projetos políticos que delineiam as direções possíveis para</p><p>a educação. Em segundo lugar, mesmo em uma escola pública, que teoricamente possui um</p><p>único projeto educacional, o meio social em que está inserida exerce uma grande in�uência em</p><p>suas práticas, relacionando-se à perspectiva de vida dos estudantes, às características</p><p>socioculturais da comunidade, entre outros aspectos (Marx, 1978).</p><p>Dessa forma, é de suma importância compreender que a escola não é um ambiente neutro,</p><p>exigindo uma análise profunda para re�etir sobre sua função na sociedade. A educação possui</p><p>uma in�uência tão signi�cativa que pode ser um elemento de superação das desigualdades</p><p>sociais, mas também pode simplesmente reproduzi-las.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Indústria cultural</p><p>Outro ponto que merece nossa re�exão é a maneira pela qual a sociedade transmite ao indivíduo</p><p>uma determinada visão da realidade. Mesmo que ele não perceba, acaba internalizando</p><p>diferentes abordagens para interagir com o mundo ao seu redor, in�uenciado pelo conteúdo que</p><p>recebe, seja de maneira formal (através da disseminação de informações "o�ciais" pelos meios</p><p>de comunicação e outros instrumentos) ou informal (no cotidiano, no âmbito do senso comum,</p><p>por meio de opiniões que parecem ser pessoais). Para nos aprofundarmos nessa re�exão,</p><p>tomemos como base os pensadores da Escola de Frankfurt.</p><p>A Escola de Frankfurt foi, originalmente, uma instituição �losó�ca que se originou com</p><p>pensadores marxistas, mas não no sentido de simples prolongamento e reprodução. A Escola</p><p>deu origem à chamada Teoria Crítica da Sociedade, como proposta de uma nova re�exão sobre a</p><p>sociedade, a partir dos âmbitos econômicos, históricos, psicológicos e sociais. Foi no bojo da</p><p>Escola de Frankfurt que surgiu o conceito de Indústria Cultural, pois uma das maneiras de</p><p>dominação capitalista se daria pela cultura.</p><p>De acordo com Theodor Adorno e Max Horkheimer (1985), desde o início do século XX, temos</p><p>testemunhado um fenômeno cultural mundial marcante, o capitalismo industrial, que teve origem</p><p>no contexto da Revolução Industrial. Para ser assimilado pelas pessoas, esse sistema</p><p>econômico necessitou de uma vigorosa força de propaganda ideológica. Esse fenômeno não</p><p>apenas transformou as estruturas econômicas, mas também in�uenciou profundamente as</p><p>perspectivas culturais, sociais e ideológicas em todo o mundo. A disseminação de ideias e</p><p>valores associados ao capitalismo industrial desempenhou um papel crucial na aceitação e</p><p>adoção desse modelo econômico em diversas sociedades ao redor do globo.</p><p>Assim, podemos entender o conceito de Indústria Cultural como se ela fosse um vasto aparato a</p><p>serviço da sociedade contemporânea, essencialmente tecnológica. Ela se vale dos meios de</p><p>comunicação de massa (televisão, rádio, jornais, revistas e hoje em dia internet) para transmitir</p><p>os valores e ideais que são úteis ao sistema. A divulgação ocorre sem a devida preocupação</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>com o nível de veracidade que está sendo transmitido. Na verdade, a massa receptora muitas</p><p>vezes não compartilha dessa preocupação, pois, ao observar as intenções de quem transmite (ou</p><p>�nancia os meios de comunicação), torna-se evidente que a intenção, muitas vezes, é justamente</p><p>não transmitir a verdade de forma intencional.</p><p>Essa dinâmica destaca como a manipulação da informação pode ser utilizada estrategicamente</p><p>para atender a interesses especí�cos (do sistema) e mostra a necessidade de um pensamento</p><p>crítico por parte do público. Nesse sentido, a indústria cultural desempenha um papel</p><p>fundamental na disseminação e consolidação de determinadas narrativas, normas e padrões</p><p>culturais que contribuem para moldar a visão de mundo e as atitudes das pessoas na sociedade</p><p>contemporânea.</p><p>Essa transmissão não é simplesmente "oferecida", mas sim imposta aos indivíduos de uma</p><p>maneira que muitas vezes passa despercebida por eles. As mensagens são apresentadas de</p><p>forma pronta e simpli�cada ao extremo, de modo a evitar que as pessoas precisem re�etir</p><p>profundamente sobre elas. Os problemas, as re�exões e até mesmo as respostas são entregues</p><p>de maneira predeterminada, buscando criar uma aceitação quase automática por parte das</p><p>pessoas. Esse fenômeno evidencia como a indústria cultural pode in�uenciar sutilmente a</p><p>maneira como as pessoas percebem o mundo ao seu redor.</p><p>A indústria cultural se limitaria a levar o entretenimento como se fosse arte ao consumidor, que</p><p>se sentiria satisfeito ao se deparar com elementos aparentemente agradáveis e de fácil</p><p>consumo. A ideia de “indústria” cultural é bem interessante: a cultura deixa de ser a manifestação</p><p>humana em diversos âmbitos para ser a produção em série de algo que deve servir para um �m.</p><p>A partir daí, podemos pensar o conceito de cultura de massa.</p><p>Cultura de massa</p><p>Adorno e Horkheimer entenderam que havia dois tipos de cultura autêntica: a cultura erudita e a</p><p>cultura popular. A cultura erudita é aquela produzida por uma elite intelectual, mais re�nada e</p><p>menos intuitiva. Essa cultura teria um valor estético maior, visto que é mais elaborada. A cultura</p><p>popular é uma forma autêntica de se fazer arte e cultura vinculadas às culturas tradicionais dos</p><p>povos. Ela é autêntica, porém composta por menor re�namento técnico e intelectual, sendo mais</p><p>intuitiva.</p><p>Por outro lado, a cultura de massa, ao contrário dos outros dois tipos, é considerada inautêntica.</p><p>Resultante da fusão de elementos da cultura erudita e da cultura popular, além da viabilidade de</p><p>reprodução técnica em larga escala, ela é vista como um instrumento da sociedade capitalista</p><p>para comercializar uma forma inferior de arte. Simultaneamente, argumenta-se que a cultura de</p><p>massa serve para manter a população sob controle, manipulando suas preferências culturais e</p><p>oferecendo produtos padronizados que não incentivam a re�exão crítica. Essa perspectiva</p><p>destaca as implicações sociais e econômicas associadas à produção e ao consumo da cultura</p><p>de massa.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Para Walter Benjamin, o processo de reprodução técnica é o meio pelo qual a produção de arte</p><p>em escala industrial se torna possível. Ele se refere à capacidade de reproduzir em massa uma</p><p>obra de arte, como uma música que pode ser gravada e reproduzida in�nitas vezes, ou uma</p><p>imagem que pode ser capturada por fotogra�a ou uma �lmagem que pode ser replicada.</p><p>Benjamin argumenta que esse fenômeno retira da arte sua "aura", que é a autenticidade e</p><p>singularidade associadas a uma obra de arte original. A reprodutibilidade técnica, ao criar cópias</p><p>em grande escala, transforma a natureza da obra de arte e sua relação com o espectador.</p><p>A cultura de massa, produzida pela indústria cultural, opera com uma fórmula que combina</p><p>elementos da cultura erudita com elementos da cultura popular, adicionando componentes que</p><p>agradem ao público. O resultado é uma obra de arte produzida em escala industrial. Para</p><p>representantes da Escola de Frankfurt, o capitalismo não apenas utilizou a indústria cultural para</p><p>promover um movimento de consumismo, mas também transformou a própria arte em um</p><p>produto a ser consumido. Dessa forma, cinema, música</p><p>e até as artes plásticas passaram a</p><p>seguir uma fórmula que agrada aos espectadores pela facilidade de assimilação do conteúdo da</p><p>obra. O espectador médio da indústria cultural é alguém que busca apenas entretenimento,</p><p>contribuindo para uma massi�cação absoluta dos produtos culturais.</p><p>Qual o papel da escola nesse contexto?</p><p>Nesse contexto, a educação, regulada por legislação, é um instrumento do Estado e um aparato</p><p>utilizado pelo sistema. Cada vez mais, busca-se garantir que os pro�ssionais da educação,</p><p>principalmente os professores, sigam integralmente os planos de ensino, transmitindo um</p><p>conteúdo que é considerado "neutro" e importante para a formação geral do indivíduo, visando</p><p>garantir condições para uma vida social plena. No entanto, é dentro desse mesmo cenário que a</p><p>escola, como "o lugar" da educação, pode ser um instrumento de emancipação.</p><p>Em vez de simplesmente reproduzir os interesses do sistema, a escola tem o potencial de</p><p>capacitar o indivíduo a enxergar a realidade em seus detalhes e a superar as desigualdades. Isso</p><p>implica compreender que as desigualdades não são um fenômeno natural, mas sim socialmente</p><p>construídas e, portanto, passíveis de transformação.</p><p>A escola e seus educadores desempenham um papel crucial ao oferecer esclarecimento aos</p><p>alunos que vivem imersos na sociedade consumista. Essa função educativa visa romper com a</p><p>alienação imposta pela indústria cultural. Ao proporcionar uma compreensão crítica sobre o</p><p>processo de produção cultural e seus impactos na sociedade, os educadores podem capacitar os</p><p>alunos a desenvolverem uma postura re�exiva em relação aos produtos culturais que</p><p>consomem. Essa abordagem educacional pode contribuir para a formação de indivíduos mais</p><p>conscientes e capazes de fazer escolhas mais racionais em meio à cultura de massa.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: em uma aula de Sociologia, a professora</p><p>apresenta aos alunos reportagens que tratam do mesmo assunto (político), no entanto,</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>publicadas por diferentes veículos de comunicação de massa. Os educandos passam a</p><p>identi�car algumas fontes e notícias como “verdadeiras”, dividindo-se em, praticamente, dois</p><p>grupos de posicionamento. Após algumas pesquisas, alguns alunos reveem o seu</p><p>posicionamento e outros ainda mantêm a mesma posição, dizendo que as fontes são</p><p>manipuladas para que se pensasse o contrário do que eles entendem. O que essa atividade</p><p>mostra para a professora? E para os próprios estudantes? Qual é o sentido de uma atividade</p><p>como esta?</p><p>A atividade realizada mostra à professora que o aprendizado que o aluno traz de suas vivências</p><p>dentro de sua classe social é muito marcante e constrói sua visão de mundo de modo muito</p><p>forte. Ela percebe que devem ser realizadas atividades como esta, mas que deve tomar o</p><p>cuidado necessário para que os resultados não sejam apenas a discórdia entre os educandos.</p><p>Os alunos percebem – concordando ou não – que há certa possibilidade de que as informações</p><p>que são divulgadas abertamente para a sociedade sejam manipuladas; percebem que, muitas</p><p>vezes, são sem fundamento e que podem ter força apenas pela repetição.</p><p>A atividade é importante por mostrar ao estudante que o pensamento diferente também tem</p><p>fundamento para o indivíduo que o defende, levando ao questionamento sobre a possibilidade de</p><p>que os meios de comunicação estejam a serviço de interesses que não são propriamente os de</p><p>toda a sociedade. Quando bem trabalhada, uma atividade assim auxilia na construção do senso</p><p>crítico do aluno, em uma autoanálise.</p><p>Saiba mais</p><p>Para se aprofundar na re�exão sobre a escola e a maneira como o ensino é ofertado aos</p><p>alunos, assista ao documentário:</p><p>A educação está proibida. Direção: Germán Doin. Coprodução: Maria Farinha Filmes. 145 min.</p><p>Colorido. Idioma: espanhol. Legenda: português. Título original: La educación prohibida. 2012. O</p><p>documentário critica a forma como estão constituídos os projetos pedagógicos em diferentes</p><p>países latino-americanos. Na maioria dos casos, seguindo modelos inadequados para as</p><p>diferentes realidades, a escola não é lugar que ensina a pensar, mas que ensina conteúdo.</p><p>Compreender mais sobre as classes sociais existentes na sociedade capitalista e as</p><p>relações antagônicas que as regem é de suma importância para perceber seus re�exos nas</p><p>demais instituições sociais, como a escola, por exemplo. Para se aprofundar no assunto</p><p>assista ao �lme:</p><p>A classe operária vai ao paraíso. Direção: Elio Petri. 125 min. Colorido. Idioma: italiano. Legenda:</p><p>português. 1971. O �lme clássico do cinema italiano apresenta a trajetória de um "operário</p><p>padrão" que, ao sofrer um acidente de trabalho que resulta na perda de um dedo, inicia um</p><p>processo de tomada de consciência, possibilitando a reconstrução de sua identidade.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Referências</p><p>ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos �losó�cos. Rio de</p><p>Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1985.</p><p>DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. 3. ed. Trad. Paulo Neves. São Paulo, SP: Martins</p><p>Fontes, 2007.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da Educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>MARX, K. Crítica da educação e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978.</p><p>MARX, K. Manifesto do partido comunista. Pretópolis: Vozes, 1996.</p><p>MATOS, O. D. F. A escola de Frankfurt. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2005.</p><p>PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004.</p><p>Aula 2</p><p>Ideologia e Educação</p><p>Ideologia e Educação</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você re�etirá sobre o poder que a ideologia tem de distorcer a realidade, tornando</p><p>“natural” tudo aquilo que é histórico. Essas re�exões são imprescindíveis para a percepção de</p><p>como a força da ideologia se in�ltra na escola e nos materiais didáticos utilizados pelos</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>professores, com o intuito de alienar os alunos para atender aos interesses do capital. Vamos</p><p>lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>A ideologia pode ser descrita como um conjunto de representações e normas que</p><p>predeterminam como as pessoas devem pensar, agir e sentir. Seu propósito é favorecer os</p><p>interesses especí�cos de uma classe dominante sobre outra classe dominada, buscando</p><p>universalizar esses interesses. Para alcançar e�cácia, a ideologia se apoia na habilidade de criar</p><p>um imaginário coletivo no qual os indivíduos possam se situar e se identi�car, involuntariamente</p><p>legitimando a divisão social. Sua coesão está vinculada a uma lógica de omissão e silêncio em</p><p>relação à sua própria origem, ou seja, à divisão social entre as classes.</p><p>Para nos aprofundarmos no assunto, vamos pensar sobre o seguinte: em muitas situações, o</p><p>professor se verá em meio a con�itos que, no fundo, ocorrem por conta de ideologias diferentes.</p><p>Muitos dos problemas de uma escola giram em torno de questões ideológicas que não são bem</p><p>administradas. Em uma sala de aula, as diferenças sociais aparecem muito claramente no grupo</p><p>de alunos, em sua percepção interna, ou seja, todos que não fazem parte do grupo podem não</p><p>conseguir enxergar o que ocorre nas entrelinhas.</p><p>Diante de um con�ito de grupos, o que o docente deve fazer? Pode ser sobre os interesses na</p><p>organização de um festival da escola, ou até mesmo sobre um projeto que tenham de</p><p>desenvolver para a disciplina. Além disso, pode surgir um con�ito a partir de uma temática, por</p><p>exemplo, sobre o aborto como problema de saúde pública. Ele pode interferir? Sim, mas a</p><p>interferência pode acabar com as chances de que os próprios estudantes aprendam a resolver</p><p>seus con�itos, desenvolvendo uma habilidade social muito importante. Pode não interferir, mas a</p><p>não ação do educador pode deixar</p><p>a imaturidade dos educandos agravar a situação pela qual,</p><p>posteriormente, o docente pode ser cobrado. O con�ito de classes é sempre ideológico.</p><p>Vamos Começar!</p><p>Provavelmente você já ouviu o termo “ideologia” sendo utilizado em diferentes contextos. Talvez</p><p>o que você não saiba é que muitas vezes as pessoas utilizam o termo com uma conotação</p><p>errônea. Frequentemente, as pessoas recorrem a esse conceito para discutir assuntos</p><p>relacionados à política. No entanto, nem todos se empenham em compreender a sua de�nição</p><p>precisa. Quando isso acontece, surge um discurso que pode estar permeado por uma ideologia.</p><p>Para compreendermos melhor, vamos começar com a de�nição da palavra.</p><p>Termo que se origina dos �lósofos franceses do �nal do século XVIII, conhecidos como</p><p>“ideólogos” (Destutt de Tracy, Cabanis, dentre outros), para os quais signi�cava o estudo da</p><p>origem e da formação das ideias. Posteriormente, em um sentido mais amplo, passou a</p><p>signi�car um conjunto de ideias, princípios e valores que re�ete uma determinada visão de</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>mundo, orientando uma forma de ação, sobretudo uma prática política. Ex.: ideologia fascista, de</p><p>esquerda, dos românticos etc. (Japiassú; Marcondes, 1996, p. 136)</p><p>Uma ideologia pode ser compreendida como um conjunto de ideias que sustenta uma visão de</p><p>mundo, seja ela de natureza política, religiosa, cientí�ca, literária ou de outras categorias. Não é</p><p>possível conceber uma visão de mundo que não seja respaldada por tal conjunto. Nossa</p><p>interpretação do mundo é moldada pela maneira como o recebemos e o consideramos, sendo</p><p>formada por diversas ideias provenientes de experiências pessoais e sociais. Essas ideias são</p><p>adquiridas em diversos contextos, desde a convivência familiar até o ambiente acadêmico.</p><p>Até este ponto, não identi�camos problemas inerentes à ideologia. No entanto, a complexidade</p><p>surge ao considerarmos que:</p><p>1) a representação da realidade expressa pelo conjunto de ideias pode ser falaciosa, implicando</p><p>que se uma das ideias carece de fundamento, todo o conjunto �ca comprometido;</p><p>2) essa construção ideal pode ser motivada apenas pela defesa de interesses pessoais ou de</p><p>classe, isto é, quando há a intenção de importar uma determinada ideologia.</p><p>Dito isso, é fundamental a compreensão de que não existe um contexto que escape à in�uência</p><p>de ideologias – aquele que prevalece geralmente é o que possui mais poder de persuasão ou</p><p>imposição. O problema surge quando se proclama a existência de uma ideologia totalmente</p><p>verdadeira, rejeitando todas as outras. Vamos olhar de maneira mais especí�ca para a ideologia</p><p>e como ela in�uencia no ambiente escolar a partir dos escritos de Marx e Gramsci.</p><p>Ideologia para Marx</p><p>O alemão Karl Marx (1818-1883) analisou profundamente a sociedade capitalista de sua época,</p><p>buscando compreender a sua organização e os seus desdobramentos. Os conceitos elaborados</p><p>pelo autor ainda hoje são válidos e totalmente aplicáveis para a nossa realidade, principalmente</p><p>porque as relações na sociedade capitalista se aprofundam e se tornam cada vez mais</p><p>antagônicas. Dentre os diferentes conceitos elaborados pelo autor, como mais valia, alienação,</p><p>luta de classes, etc., vamos nos ater ao de ideologia.</p><p>Foi com a contribuição de Marx que o entendimento desse conceito foi aprimorado,</p><p>enriquecendo o debate acerca do assunto e de sua aplicação. De acordo com o autor, é</p><p>necessário considerar as maneiras ilusórias de conhecimento que conduzem à ocultação dos</p><p>con�itos sociais quando os seres humanos tentam explicar a realidade e estabelecer normas de</p><p>ação. Conforme a visão marxista, a ideologia adquire um sentido negativo, pois é utilizada como</p><p>uma ferramenta de dominação.</p><p>A oposição entre as diferentes classes sociais sempre estará fundamentada na propriedade</p><p>privada, que é o elemento que deve garantir a sustentação da vida material. Os detentores dos</p><p>meios de produção sempre serão a classe mais privilegiada. No entanto, podemos nos</p><p>questionar como eles conseguem manter a dominação sobre a outra classe, já que, em termos</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>numéricos, a classe dominada teria condições de alterar a situação. Nesse ponto, é importante</p><p>compreender o signi�cado da ideologia no pensamento de Marx.</p><p>A ideologia é um conjunto de ideias e conceitos que sustenta uma determinada visão de mundo.</p><p>Dessa forma, cada classe social possui uma ideologia, já que cada uma enxerga o mundo de</p><p>forma distinta. O poder econômico dos dominantes (burguesia) alimenta o desejo de dominar</p><p>cada vez mais, enquanto do outro lado se encontra a classe subjugada (proletariado), que</p><p>sustenta a economia com seu trabalho e sua falta de recursos, impossibilitada de desfrutar dos</p><p>benefícios oferecidos pela sociedade capitalista.</p><p>As ideias têm o poder de transformar a realidade. Seja na classe dos proprietários ou na dos</p><p>trabalhadores assalariados, ambos sempre buscam proteger seus direitos e conquistar mais.</p><p>Sendo a classe assalariada numericamente maior, hipoteticamente teria mais poder e seria</p><p>dominante na sociedade. No entanto, isso não acontece devido ao poder econômico que permite</p><p>à classe dos proprietários controlar a disseminação das ideias na sociedade. Em outras palavras,</p><p>esse poder garante que certas ideias tenham mais força e presença, tornando os mais ricos</p><p>sempre a classe dominante.</p><p>Nesse contexto, a ideologia é uma distorção da realidade, pois considera apenas uma</p><p>perspectiva como a correta e a melhor. Um discurso é ideológico quando transmite uma ideia</p><p>que é tomada como a única aceitável, sem levar em consideração todos os elementos possíveis.</p><p>Em suma, esse tipo de discurso objetiva manter os poderosos no poder, não possibilitando que a</p><p>ordem social seja alterada.</p><p>Siga em Frente...</p><p>A escola sob o viés ideológico</p><p>A escola como instituição social carrega em si a potência de transformar a realidade social por</p><p>meio da educação. Entretanto, ela é utilizada como instrumento de dominação e manutenção do</p><p>status quo, quando é apenas reprodutora de ideias propostas pela classe dominante. A educação</p><p>deixa de ser ideológica quando possibilita a emancipação do ser humano, dando-lhe a</p><p>oportunidade de lutar pela igualdade social e melhores condições de vida. A capacidade de ler e</p><p>escrever de forma e�caz, aliada ao desenvolvimento do pensamento crítico em relação à</p><p>realidade, é a maneira pela qual a educação liberta o aluno. A conscientização da realidade torna-</p><p>se o caminho para a libertação (Marx, 1978).</p><p>É evidente que o discurso ideológico é tão poderoso que mesmo a classe menos favorecida</p><p>acaba endossando ideias que perpetuam o domínio da classe dominante. Por exemplo, o</p><p>discurso meritocrático é ideológico embora não sejam proporcionadas as mesmas</p><p>oportunidades a todas as pessoas, o que signi�ca que, por mérito, é difícil conquistar algo sem</p><p>uma base sólida para enfrentar a realidade.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Discursos do senso comum, como "basta trabalhar muito para conquistar a riqueza, pois o</p><p>capitalismo é regido pela livre concorrência", são ideológicos, pois são usados para angariar</p><p>mais apoiadores ao sistema. Essas ideias são ideológicas porque são falsas, uma vez que o</p><p>sistema não oferece as mesmas oportunidades para todos, mesmo que trabalhem arduamente</p><p>(não há espaço para que todos se tornem ricos, pois é necessário que haja indivíduos que</p><p>trabalhem e produzam uma riqueza). Aqueles que acreditam que “é natural existirem pobres e</p><p>ricos”, simplesmente aceitam a divisão social e corroboram a ideologia dominante.</p><p>Os intelectuais e seu papel na sociedade</p><p>O italiano Antonio Gramsci (1891-1937) entende que o marxismo não pode servir simplesmente</p><p>como análise intelectual que encaminha o homem para a transformação da sociedade</p><p>(revolução). Para ele, o conceito de práxis, como “ação com sentido, re�exiva, com �nalidade</p><p>própria”, é central para a construção de uma nova sociedade. A sociedade deve ser entendida</p><p>como uma construção coletiva permeada por contradições. Não existe uniformidade na maneira</p><p>como os eventos históricos</p><p>se desenrolam. Em um processo dialético, a sucessão de momentos</p><p>revela que, na busca por um poder hegemônico, são os interesses de dominação que governam a</p><p>sociedade.</p><p>Segundo Gramsci (1979), as ideologias desempenham um papel fundamental para organizar as</p><p>massas humanas, constituindo o terreno no qual as pessoas se movem, adquirem consciência</p><p>de sua posição na sociedade e se engajam em lutas e ações. Sob tal perspectiva, os intelectuais</p><p>têm um papel fundamental na sociedade. Cada classe social tem os seus intelectuais (embora</p><p>sejam em número menor e em espaço não organizado na classe dos proletários). Eles</p><p>desempenham um papel crucial na construção e a�rmação de suas respectivas ideologias,</p><p>utilizando meios como a educação, a religião, o direito, entre outros.</p><p>Visto que eles surgem das próprias classes sociais, o seu papel é imprescindível para a formação</p><p>de ideologias a partir delas. Gramsci os denomina de "intelectuais orgânicos". Isso evidencia a</p><p>presença de várias instituições de ensino externas para a formação ideológica de diferentes</p><p>classes que buscam alcançar a hegemonia. Em particular, Gramsci argumenta que os</p><p>intelectuais orgânicos se organizam como um grupo estruturado principalmente na classe</p><p>hegemônica, que, no caso, é uma burguesia.</p><p>Por um lado, existe uma classe intelectual que reforça os ideais dos proprietários do capital; por</p><p>outro, há aquela que trabalha para a emancipação das massas. A classe operária (as massas)</p><p>enfrentou desa�os por não contar com um grupo robusto de intelectuais orgânicos envolvidos,</p><p>semelhante ao que existe na classe hegemônica. Na sua atuação, o intelectual orgânico das</p><p>massas busca elevar o pensamento do senso comum, transformando um conjunto desordenado</p><p>de ideias em algo mais coeso. Isso implica atribuir valor ao que emerge do seio das massas e</p><p>precisa ser re�nado. Esse intelectual tem a capacidade de fazê-lo, pois parte do mesmo contexto</p><p>e compartilha da mesma visão de mundo.</p><p>Hegemonia social</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Um dos conceitos fundamentais no pensamento de Antonio Gramsci é o de hegemonia. As</p><p>classes sociais são distintas e buscam estabelecer seu domínio sobre a sociedade. A dominação</p><p>refere-se à força política exercida por uma classe, muitas vezes através do Estado, que pode agir</p><p>de maneira coercitiva. Por outro lado, a direção diz respeito ao poder ideológico, envolveu a</p><p>formação do pensamento que orienta a sociedade. Uma classe só ascende ao poder quando sua</p><p>visão de mundo passa a guiar a sociedade, tornando-se dominante.</p><p>Para manter-se no poder, uma classe precisa controlar tanto a dominação política quanto a</p><p>direção ideológica. A situação só muda quando outra classe assume uma liderança no</p><p>pensamento da sociedade. Sem a direção do pensamento, uma classe não consegue manter seu</p><p>domínio por muito tempo. A situação de hegemonia ocorre quando uma classe não apenas</p><p>domina, mas também dirige o pensamento da sociedade. Assim, para que uma classe se torne</p><p>hegemônica, é necessário orientar a direção do pensamento. Os responsáveis por essa direção</p><p>na sociedade são os intelectuais.</p><p>A escola unitária</p><p>Para Gramsci, a divisão das classes decorrente da divisão do trabalho também se re�etiu na</p><p>divisão da escola, resultando em uma instituição pro�ssionalizante e outra humanista. A escola</p><p>humanista, proposta exclusivamente para a classe hegemônica, tem como objetivo oferecer uma</p><p>instrução de qualidade superior, envolvendo a formação integral do indivíduo. Essa educação</p><p>humanista é orientada pelos mais elevados valores culturais, preparando o indivíduo para atuar</p><p>conscientemente em sua realidade. A perspectiva de uma revolução das massas torna-se viável</p><p>quando estas se organizam em torno do objetivo comum de estabelecer uma educação que</p><p>promova a formação integral do ser humano. Para que isso seja possível, são necessários os</p><p>intelectuais orgânicos.</p><p>A escola unitária ou de formação humanista (entendido este termo, 'humanismo', em sentido</p><p>amplo e não apenas no sentido tradicional) ou de cultura geral deveria se propor a tarefa de</p><p>inserir os jovens na atividade social, depois de tê-los levado a um certo grau de maturidade e</p><p>capacidade, à criação intelectual e prática e a uma certa autonomia na orientação e na iniciativa.</p><p>(Gramsci, 1979, p.121)</p><p>Segundo o pensamento gramasciano, é a escola que pode desencadear a transformação social,</p><p>tornando-se uma instituição singular na qualidade da formação oferecida aos alunos,</p><p>independentemente da classe a que pertençam. Embora o autor tenha apontado outros domínios</p><p>nos quais a transformação social pode ser gerada, como igrejas, partidos políticos e outros, a</p><p>escola recebe atenção especial.</p><p>Para Gramsci, a escola é fundamental na criação do modelo de ser humano que uma sociedade</p><p>busca estabelecer, mesmo que a divisão entre instituições pro�ssionalizantes e humanistas</p><p>perpetue um processo de exploração de uma classe sobre outra. A transformação a partir das</p><p>bases é crucial para desestruturar o movimento de luta pela hegemonia, no qual apenas uma</p><p>classe permanece hegemônica. Dentro das escolas, são constituídos indivíduos que podem</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>construir a possibilidade de uma nova hegemonia, por meio da promoção de uma</p><p>contraideologia.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: em muitas situações, o professor se verá</p><p>em meio a con�itos que, no fundo, ocorrem por conta de ideologias diferentes. Muitos dos</p><p>problemas de uma escola giram em torno de questões ideológicas que não são bem</p><p>administradas. Diante da existência de con�itos entre os alunos o professor pode interferir?</p><p>Costumeiramente, a ideologia é usada para classi�car algo como “negativo”. Na verdade, ela se</p><p>torna negativa quando é utilizada como maneira de favorecer apenas uma classe. Considerando-</p><p>se a sociedade capitalista, a classe favorecida é a dominante no aspecto econômico. Não é</p><p>possível viver sem ideologia, pois toda pessoa pertence a uma determinada classe social e</p><p>aprendeu a lançar um olhar especí�co sobre o mundo. Além disso, cada pessoa busca defender</p><p>seus interesses que, em última instância, mostram-se como interesse de classe.</p><p>Em sala de aula, a astúcia do educador deve ser tamanha para perceber os con�itos ideológicos</p><p>que podem surgir. Não há regra segundo a qual ele deva pensar sua ação ou inação: a prática o</p><p>fará perceber quando é necessário agir. A instituição deve ser lugar não apenas de convivência</p><p>pací�ca, mas também local em que se desenvolve a sociabilidade e se respeita a alteridade.</p><p>Ninguém nasce culpado por pertencer a uma ou outra classe, mas não se pode achar que as</p><p>divisões sociais são algo natural. O professor tem de desenvolver maneiras de lidar com esse</p><p>tipo de con�ito.</p><p>Saiba mais</p><p>Para se aprofundar na re�exão sobre a educação para Marx e Gramsci, leia o texto a seguir:</p><p>FERRETI, C. J. O pensamento educacional em Marx e Gramsci e a concepção de politecnia.</p><p>Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 7, supl. 1, p. 105-128, 2009. O texto aborda o tema</p><p>da educação no pensamento dos dois autores apresentados, buscando compará-los e identi�car</p><p>o que é a escola para cada um deles.</p><p>Pensar sobre o conceito de hegemonia e como ela se faz presente em nossas vidas é</p><p>importante para compreendermos a organização da nossa sociedade. Para se aprofundar</p><p>no assunto, assista ao �lme:</p><p>FAHRENHEIT 451. Direção: Ramin Bahrani. 100 min. Colorido. Idioma: inglês. Legenda:</p><p>português. 2018. A obra Fahrenheit 451 de Ray Bradbury é considerada um clássico do século</p><p>XX, descreve a realidade de uma sociedade distópica onde os livros são proibidos e portá-los é</p><p>grave crime.</p><p>https://www.scielo.br/j/tes/a/GTK93QB5JvKdccpjXjyfNyP/#</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Referências</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>FERRETI, C. J. O pensamento educacional em Marx e Gramsci e a concepção de politecnia.</p><p>Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 7, supl. 1, p. 105-128,</p><p>2009. Disponível em:</p><p>https://www.scielo.br/j/tes/a/GTK93QB5JvKdccpjXjyfNyP/#.</p><p>GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização</p><p>Brasileira, 1979.</p><p>JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de �loso�a. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,</p><p>1996.</p><p>JOHNSON, A. G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro:</p><p>Jorge Zahar Ed., 1997.</p><p>MARX, K. Crítica da educação e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978.</p><p>MARX, K. Manifesto do partido comunista. Petrópolis: Vozes, 1996.</p><p>PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004.</p><p>Aula 3</p><p>Diversidade e Educação</p><p>Diversidade e Educação</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você irá compreender o conceito de cultura, entendendo como ela molda os</p><p>indivíduos que estão inseridos em um contexto e perceber o motivo de falarmos em “culturas”,</p><p>no plural. Essas re�exões são importantes para que você compreenda o papel da educação na</p><p>promoção da diversidade. Vamos lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>A a�rmação de que o ser humano não existe fora da cultura destaca a ideia de que a cultura é</p><p>intrínseca à existência humana. Cada indivíduo carrega consigo sua própria cultura, sendo capaz</p><p>de criar e construir formas de difusão. Nesse contexto, a relação entre cultura e educação torna-</p><p>se fundamental, uma vez que uma prática pedagógica deve ter como base a responsabilidade</p><p>social de formar cidadãos competentes, capazes de se desenvolver em suas atividades</p><p>cotidianas e de contribuir para os valores essenciais da vida coletiva.</p><p>Para ampliarmos nossa visão de mundo sobre o assunto, vamos pensar sobre a seguinte</p><p>situação: em uma determinada escola, há um grupo de alunos que vem da área rural para estudar</p><p>na cidade. Enquanto estavam no ensino fundamental, havia uma instituição rural frequentada por</p><p>todos, no entanto, para o ensino médio era necessária essa mudança. Os professores percebem</p><p>que o grupo nem sempre tem uma convivência “plena” junto aos demais estudantes, pois</p><p>acabam conversando apenas entre si, sentando-se próximos uns dos outros na sala de aula e</p><p>estando juntos na hora do intervalo.</p><p>No momento que devem fazer trabalhos com os colegas, sempre escolhem pares de seu grupo,</p><p>alegando que moram próximos uns dos outros e �ca mais fácil de se reunirem. Além de tudo, são</p><p>os mais quietos durante as aulas. Em uma determinada ocasião, uma das docentes está</p><p>conversando com uma das meninas que vem daquele grupo: a aluna relatou que eles sentem</p><p>certa vergonha na exposição diante da classe, pois, em uma das primeiras aulas, um deles foi</p><p>responder a uma questão e todos começaram a rir do seu jeito de falar e das comparações que</p><p>ele fez. Eles passaram a ser chamados pelos outros de “o pessoal do sítio”.</p><p>A educadora levou o caso para a reunião de professores e todos entenderam que deveriam</p><p>pensar em ações de integração. De que modo poderia ser pensado algo nesse aspecto?</p><p>Vamos Começar!</p><p>A diferença fundamental entre o animal e o homem reside no fato de que o animal permanece</p><p>imerso na natureza, enquanto o homem tem a capacidade de transformá-la, possibilitando assim</p><p>o surgimento da cultura. O mundo resultante da ação humana não é mais puramente natural, pois</p><p>é moldado e modi�cado por essa ação.</p><p>O termo "cultura" possui diversos signi�cados, abrangendo desde a cultura da terra até a cultura</p><p>de um indivíduo letrado. Em Antropologia, cultura refere-se a tudo o que o homem produz ao</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>construir sua existência: práticas, teorias, instituições, valores materiais e espirituais. Dado que o</p><p>contato do ser humano com o mundo é mediado por meio de símbolos, a cultura é composta por</p><p>um conjunto de símbolos escritos por um grupo em um determinado tempo e lugar.</p><p>Considerando a in�nita capacidade de simbolização, as culturas das diferentes comunidades são</p><p>diversas e múltiplas, permitindo a utilização do termo "culturas" no plural.</p><p>Cultura: um conceito antropológico</p><p>A Antropologia é o ramo da ciência que tem como objetivo chegar a um conhecimento mais</p><p>completo sobre o homem, tomando-o em seus aspectos histórico, biológico e psíquico. Ter a</p><p>cultura como objeto central não implica que a Antropologia tenha feito uma de�nição última do</p><p>conceito de "cultura". Assim, podemos considerar a cultura como aquilo que representa o modo</p><p>de ser do ser humano, além de ser a produção de seu mundo. Isso inclui a transmissão do</p><p>conhecimento adquirido ao longo do tempo, os vestígios materiais e imateriais deixados, bem</p><p>como as modi�cações no meio natural realizadas pela ação humana. A cultura, portanto, é um</p><p>conceito dinâmico e abrangente, re�etindo a complexidade das atividades e expressões</p><p>humanas ao longo da história.</p><p>O ser humano é caracterizado como um ser que fala, trabalha e, por meio do trabalho, transforma</p><p>a natureza e a si mesmo. No entanto, é importante destacar que a ação humana é</p><p>signi�cativamente coletiva, e o trabalho é realizado como uma tarefa social, enquanto a palavra</p><p>ganha signi�cado no contexto do diálogo. O mundo cultural é percebido como um sistema de</p><p>signi�cados previamente estabelecido por outros. Assim, ao nascer, a criança se deparará com</p><p>um universo de valores já existentes, nos quais ela se situará. Desde a língua que aprende até a</p><p>maneira como se alimenta, senta-se, anda, corre, brinca, o tom da voz nas conversas e nas</p><p>dinâmicas familiares, tudo está codi�cado.</p><p>Nesse sentido, considerando a existência de uma diversidade cultural, surge o conceito de</p><p>pluralidade cultural, que nos permite analisar as origens e características especí�cas dos</p><p>diversos povos. O ser humano atribui signi�cados às suas ações: para cada detalhe, responde às</p><p>necessidades éticas, estéticas ou funcionais, buscando alcançar algo que transcende a utilidade</p><p>mais básica. Por exemplo, uma casa, além de ser funcional como abrigo, é projetada para trazer</p><p>conforto à vida. Ela é idealizada e se torna um símbolo de realização, representando não apenas</p><p>um espaço habitável, mas também um local que incorpora valores éticos e estéticos, atendendo</p><p>a necessidades mais amplas e signi�cativas.</p><p>Vamos pensar em outro exemplo: a experiência de vida de um homem que reside no Alasca pode</p><p>ser semelhante à de outro que vive na África em muitos aspectos. No entanto, as peculiaridades</p><p>e vivências ao longo de suas histórias individuais levam a diferentes possibilidades de</p><p>simbolização. É por isso que as culturas são diversas. Além da necessidade primordial de</p><p>sobrevivência, que deu origem ao trabalho como uma consequência, a cultura representa o</p><p>estabelecimento de um modo de ser único para o ser humano. Cada cultura é moldada por</p><p>experiências, valores, tradições e símbolos que se desenvolvem ao longo do tempo em contextos</p><p>especí�cos, contribuindo para a diversidade e complexidade das formas de expressão e</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>compreensão humana ao redor do mundo. Ou seja, tudo que os seres humanos produzem é</p><p>cultura.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Educação e cultura</p><p>O ser humano vive coletivamente, em sociedade, organizando a vida de maneira a permitir a</p><p>realização do grupo. Nesse contexto, um dos aspectos mais signi�cativos da realidade humana é</p><p>a transmissão do conhecimento produzido e adquirido ao longo do tempo, evitando a</p><p>necessidade de começar sempre do zero. A educação, seja ela formal ou informal, pode ser</p><p>compreendida como um meio essencial para essa transmissão de conhecimento. Sendo assim,</p><p>somos produtores, consumidores e transmissores da cultura e, sob essa condição, dependendo</p><p>do acesso que temos à educação, podemos ter um maior ou menor grau de autonomia em</p><p>relação aos produtos fabricados pela indústria cultural que nos cercam em nosso cotidiano.</p><p>Isso nos leva a re�etir sobre a questão dos interesses que muitas vezes estão por trás da</p><p>produção e difusão da cultura, pois nem todas as pessoas têm o mesmo acesso a ela. Enquanto</p><p>algumas experiências sociais são vivenciadas por indivíduos no acesso a elementos da chamada</p><p>“cultura mais re�nada”, outras apenas possibilitam a vivência de elementos mais comuns do</p><p>cotidiano. Isso ressalta as desigualdades na distribuição do conhecimento e na exposição às</p><p>diversas formas de expressão cultural, re�etindo os diferentes interesses e poderes presentes na</p><p>sociedade.</p><p>É crucial compreender que nem todas as manifestações culturais são acessíveis a todos os</p><p>indivíduos, pois isso depende do local onde vivem e da classe social de qual pertence. Essa</p><p>realidade é moldada pelo sistema capitalista, cujo princípio central é o “lucro”. No entanto, é</p><p>necessário que haja quem o produza. O conceito de lucro, por sua natureza, implica uma noção</p><p>de diferença, uma vez que nem todos podem ter o mesmo acesso aos benefícios econômicos e</p><p>culturais. Assim, as desigualdades sociais e econômicas inerentes ao sistema capitalista</p><p>impactam diretamente na disponibilidade e acessibilidade a diversas expressões culturais.</p><p>A cultura é transmitida de geração em geração por meio de diversos processos educacionais nos</p><p>quais os seres humanos socializam conhecimentos com seus descendentes. Esses processos</p><p>podem ocorrer de forma sistemática, por meio da escola e de métodos didáticos formais, ou de</p><p>maneira assistemática, envolvendo eventos sociais na família e na comunidade do aluno. No</p><p>contexto da instituição escolar, é importante considerar as diferenças sociais e econômicas que</p><p>contribuem para a desigualdade social presente nas escolas, muitas vezes re�etida no currículo</p><p>escolar.</p><p>Nesse cenário, as atividades didáticas em sala de aula devem incluir não apenas a leitura de</p><p>textos, mas também a apreciação de materiais provenientes da mídia, oferecendo aos</p><p>estudantes a oportunidade de analisar os problemas contemporâneos com base em</p><p>perspectivas teóricas sólidas. Além disso, é essencial sensibilizar os educadores para uma</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>mudança de paradigma, pois, muitas vezes, suas práticas docentes podem variar entre escolas</p><p>públicas e privadas, o que pode ser considerado eticamente um problema. Promover uma</p><p>abordagem educacional mais equitativa e inclusiva é fundamental para criar um ambiente de</p><p>aprendizagem que respeite a diversidade e combata as desigualdades.</p><p>No caso especí�co da legislação e das diretrizes curriculares no Brasil, os Parâmetros</p><p>Curriculares Nacionais indicam que a pluralidade cultural</p><p>propõe-se a uma concepção que busca explicitar a diversidade étnica e cultural que compõe a</p><p>sociedade brasileira, compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioeconômicas</p><p>e apontar transformações necessárias, oferecendo elementos para a compreensão de que</p><p>valorizar as diferenças étnicas e culturais não signi�ca aderir aos valores do outro, mas respeitá-</p><p>los como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua</p><p>dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação. A a�rmação da diversidade é traço</p><p>fundamental na construção de uma identidade nacional que se põe e repõe permanentemente,</p><p>tendo a ética como elemento de�nidor das relações sociais e interpessoais (Brasil, 1997, p. 19)</p><p>Além disso, também é possível priorizar a abordagem em relação à educação e à cidadania, por</p><p>meio dos conteúdos que os PCNs indicam, por exemplo, o conceito de pluralidade cultural, que</p><p>aborda a origem histórica e geográ�ca da diversidade cultural, etnia, arte, linguagem e</p><p>representações; a vivência da pluralidade cultural, apontando os problemas culturais na escola,</p><p>como discriminação, estigmatização e omissão cultural; a multiplicidade cultural e as crianças e</p><p>jovens do Brasil, além dos direitos humanos e de cidadania. Por meio dos estudos sobre</p><p>pluralidade cultural, é possível mergulhar na rica temática da diversidade social, regional e</p><p>cultural do país, levando a uma valorização das características étnicas e culturais dos diferentes</p><p>grupos sociais.</p><p>Etnocentrismo e relativismo</p><p>Já compreendemos que mesmo a Antropologia tendo a cultura como objeto central de seus</p><p>estudos, ela não chegou a uma de�nição única ou última sobre o conceito. Assim, diferentes</p><p>autores lançaram seus olhares sobre o tema.</p><p>O conceito de cultura varia no tempo, no espaço e em sua essência. Tylor, Linton, Boas e</p><p>Malinowski consideram a cultura como ideias. [...] Leslie A. White apresenta outra abordagem: a</p><p>cultura deve ser vista não como comportamento, mas em si mesma, ou seja, fora do organismo</p><p>humano. [...] Foster e outros englobam no conceito de cultura os elementos materiais e não</p><p>materiais da cultura. A colocação de Geertz difere das anteriores, na medida em que propõe a</p><p>cultura como um “mecanismo de controle” do comportamento. (Marconi; Presotto, 2013, p. 23)</p><p>Em termos gerais, esse assunto é relevante para o educador em formação, pois amplia a re�exão</p><p>sobre a cultura, incorporando constantemente mais elementos. Isso visa garantir que o aluno</p><p>seja compreendido como um ser completo, com uma variedade de signi�cados e experiências</p><p>que se desenvolvem ao longo de sua história. O estudante não se limita ao que é evidente no</p><p>ambiente escolar, ele carrega toda uma bagagem cultural subjacente. Nessa busca por uma</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>compreensão mais abrangente do ser humano, identi�cam-se duas posturas distintas: o</p><p>etnocentrismo e o relativismo.</p><p>O etnocentrismo envolve uma visão de si mesmo como o ponto central para compreender o</p><p>mundo, considerando os valores do próprio grupo social como uma verdade absoluta. Por outro</p><p>lado, o relativismo implica a compreensão de que não existe uma cultura que serve como padrão</p><p>de avaliação para os demais, uma vez que todas são sempre relacionadas a um contexto</p><p>especí�co. Qualquer tentativa de avaliação externa, ao observar os fenômenos de forma isolada,</p><p>está fadada ao erro, pois uma cultura só pode ser verdadeiramente conhecida quando</p><p>compreendida a partir de dentro, compreendendo os elementos dentro do seu próprio contexto,</p><p>percebendo como foram gerados e se relacionam. O relativismo cultural refuta a ideia de normas</p><p>e valores absolutos, defendendo a premissa de que as avaliações devem sempre estar</p><p>relacionadas à cultura em que surgem (Marconi; Presotto, 2013).</p><p>É importante compreender que abordar esse tema não é simples. Poderíamos pensar que a</p><p>solução seja simplesmente rejeitar o etnocentrismo e relativizar as culturas, mas há algo a mais</p><p>a se re�etir aqui. Essa é uma postura que tem como objetivo proteger a cultura, ajudando a</p><p>preservar o que caracteriza um determinado grupo social e destacando o que o torna único.</p><p>Portanto, há algo positivo a ser considerado. Quanto ao relativismo, devemos ter cuidado para</p><p>não levar à perda de elementos essenciais de uma cultura. É importante lembrar que nem todas</p><p>as culturas são iguais ou se manifestam da mesma forma. Assim, devemos considerar a</p><p>complexidade das expressões humanas.</p><p>Considerando o que estudamos até aqui, torna-se evidente o fato de que o homem não pode ser</p><p>limitado a uma de�nição única. Isso signi�ca compreender que ele não possui um caminho</p><p>preestabelecido para seguir, mas constrói o seu próprio caminho ao longo do tempo. Assim, os</p><p>estudos sobre o homem devem ser sempre considerados re�exões abertas. Os diversos</p><p>contextos dão origem a diferentes formas de realização humana, são padrões coletivos de</p><p>sociabilidade distintos – são culturas diversas.</p><p>Se cada grupo social permanecesse sem contato com outros, as culturas se manteriam</p><p>preservadas e cada indivíduo interagiria somente com os seus "iguais", mesmo que se dentro de</p><p>um mesmo grupo houvesse diferenças. No entanto, as culturas estão cada vez mais em contato,</p><p>mesclando-se, devido ao fato de que o homem passa a habitar não apenas a sua região de</p><p>origem, mas pode transitar pelo mundo como um todo.</p><p>O ser humano se realiza em um mundo diverso, ele está</p><p>em constante contato com o diferente.</p><p>Quando duas culturas diferentes se encontram, pode haver algum atrito, mas quando, além do</p><p>encontro, as culturas precisam conviver, a situação se torna ainda mais complexa. Pessoas</p><p>diferentes passam a habitar o mesmo espaço, trazendo consigo elementos de suas respectivas</p><p>culturas. Inicialmente, é possível observar o etnocentrismo, porém é possível evoluir para o</p><p>conceito de alteridade – e é aí que a educação desempenha um papel especí�co.</p><p>No dicionário de Filoso�a, Abbagnano (1998, p. 34) de�ne alteridade como “ser outro, colocar-se</p><p>ou constituir-se como outro”. De forma geral, podemos compreender como a ação de se colocar</p><p>no lugar do outro, buscando compreendê-lo de dentro para fora. É fácil rotular o outro como</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>"errado" ou "estranho" quando se observa apenas o que é aparente. A alteridade nos coloca no</p><p>lugar do outro e nos leva a perceber que o que se mostra tem uma razão de ser, resultado de um</p><p>contexto do qual o outro veio e assimilou determinados valores.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: em uma determinada escola, há um grupo</p><p>de alunos que vem da área rural para estudar na cidade. Os professores percebem que o grupo</p><p>nem sempre tem uma convivência “plena” junto aos demais estudantes. Em uma determinada</p><p>ocasião, uma das docentes está conversando com uma das meninas que vem daquele grupo: a</p><p>aluna relatou que eles sentem certa vergonha na exposição diante da classe, pois, em uma das</p><p>primeiras aulas, um deles foi responder a uma questão e todos começaram a rir do seu jeito de</p><p>falar e das comparações que ele fez. Eles passaram a ser chamados pelos outros de “o pessoal</p><p>do sítio”. A educadora levou o caso para a reunião de professores e todos entenderam que</p><p>deveriam pensar em ações de integração. De que modo poderia ser pensado algo nesse</p><p>aspecto?</p><p>A educação está diretamente relacionada à formação de mulheres e homens, e os professores</p><p>têm a capacidade de instruir desde antes que os alunos tenham adquirido muitos dos</p><p>preconceitos dos adultos. No contexto escolar diário, as questões relacionadas à identidade</p><p>cultural surgirão, e se o educador não agir com cautela, essas questões podem se tornar a base</p><p>para con�itos negativos, resultando na exclusão da diversidade. Educar para a diversidade</p><p>signi�ca promover a acessibilidade positiva das diferenças, permitindo que o grupo reconheça</p><p>uma riqueza de experiências diversas. Na pluralidade, a identidade não desaparece, ao contrário,</p><p>possibilita a manifestação de diferentes sem julgamentos de valor.</p><p>A educação não pode ser instrumento de segregação, mas de libertação e convivência pací�ca.</p><p>Nesse sentido, o desa�o dos professores era possibilitar momentos e atividades de convivência</p><p>que levassem todos os alunos à re�exão sobre o que é a cultura e de que modo a diversidade</p><p>enriquece os ambientes. Optaram por realizar um projeto interdisciplinar que trabalhasse</p><p>diferentes culturas e o modo como elas convivem nos espaços urbanos. A docente de Português</p><p>trabalhou com contos que retratavam diferenças culturais em diversas épocas da história e das</p><p>regiões do Brasil.</p><p>A partir disso, os educadores foram fazendo suas propostas de contribuição: História, trataria</p><p>dos contextos dos personagens; Geogra�a, trabalharia a in�uência do meio na vivência do</p><p>indivíduo; Artes, buscaria apresentar diferentes manifestações artísticas advindas das regiões do</p><p>Brasil; Sociologia e Filoso�a, realizariam debates sobre temas, como diversidade cultural e</p><p>tolerância e, assim, cada um fez sua proposta. O combinado era que em todas as aulas fosse</p><p>provocada a discussão e que o grupo que residia na área rural desse sempre sua contribuição,</p><p>manifestando-se.</p><p>Saiba mais</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>O contato com diferentes culturas nos permite também ter contato com diferentes locais</p><p>do planeta, sem que para isso precisemos ir para muito longe. Para re�etir sobre isso,</p><p>procure pela música Parabolicamará, de Gilberto Gil. Escute-a e procure também a letra</p><p>para acompanhar melhor os versos. O autor apresenta essa problemática do homem no</p><p>contato com o mundo: as diferentes tecnologias diminuem o mundo, quando dá ao homem</p><p>o acesso necessário ao mundo todo.</p><p>A escola deve atuar como um espaço de debate para que os estudantes possam re�etir</p><p>sobre suas próprias identidades e descobrir a igualdade que existe na diversidade. Para se</p><p>aprofundar no assunto, assista ao �lme:</p><p>ENTRE OS MUROS DA ESCOLA. Direção: Laurent Cantet. 128 min. Colorido. Idioma: francês.</p><p>Legenda: português. 2008. François Marin atua como professor de língua francesa em uma</p><p>escola de ensino médio na periferia de Paris, composta por estudantes de diversos países da</p><p>África, do Oriente Médio e da Ásia. Sem reconhecer a identidade e a cultura dos estudantes, o</p><p>docente insiste em ensinar pelo método tradicional, impedindo o diálogo e o efetivo aprendizado</p><p>do seu grupo.</p><p>Referências</p><p>ABBAGNANDO, N. Dicionário de �loso�a. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.</p><p>BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.</p><p>Brasília, MEC/SEF. 1997.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>JOHNSON, A. G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro:</p><p>Jorge Zahar Ed., 1997.</p><p>MARCONI, M. de A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução. 7. ed. São Paulo: Atlas,</p><p>2013.</p><p>PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004.</p><p>Aula 4</p><p>Dominação e Educação</p><p>Dominação e Educação</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nessa aula você irá conhecer o olhar do sociólogo Pierre Bourdieu sobre a sociedade e a</p><p>educação, entendendo que a escola é um instrumento para a reprodução da sociedade. Esse</p><p>conhecimento é importante para que você compreenda como o autor relaciona os conceitos de</p><p>capital cultural, violência simbólica, campo e habitus. Vamos lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>Os estudos sociológicos da educação trazem conteúdos teóricos essenciais para a atuação</p><p>docente, orientando-a, com o apoio de outras disciplinas, na direção da oferta de instrumentos</p><p>que lhes possibilitam olhar a sociedade, a escola, os estudantes, seus familiares, sua prática</p><p>pedagógica e o contexto macrossocial e político no qual a instituição escolar está inserida. O</p><p>fato de estar comprometido com o desenvolvimento humano torna o ato pedagógico mais</p><p>exigente em termos de rigor cientí�co. Assim, torna-se fundamental ao docente o domínio de</p><p>instrumentais teóricos próprios da Sociologia, a �m de tornar a docência menos restrita às</p><p>experiências empíricas.</p><p>Para ampliarmos nossa visão de mundo sobre o assunto, vamos pensar sobre a seguinte</p><p>situação: o ano letivo estava se aproximando de seu �m e Thomas já havia concluído as horas</p><p>obrigatórias de estágio. Como restavam apenas algumas semanas de aula, ele combinou com a</p><p>coordenação da escola que ainda frequentaria algumas aulas. Naqueles dias, a instituição</p><p>recebeu um convite para que levasse os alunos do ensino médio ao teatro, quando seria</p><p>apresentada uma peça antiga, uma tragédia grega intitulada Hécuba, da autoria de Eurípedes.</p><p>Mesmo sem o compromisso de cuidar dos estudantes, Thomas foi convidado e aceitou assistir</p><p>à peça, junto de alguns professores, com uma média de 100 alunos. A peça havia sido executada</p><p>de modo brilhante, porém, em alguns momentos, diferentes estudantes se manifestaram com</p><p>risadas e brincadeiras, de modo que todos ouvissem. Houve um momento especí�co no qual os</p><p>comentários paralelos eram tantos que os alunos chegaram a atrapalhar a fala dos atores. A</p><p>situação foi desagradável</p><p>ao ponto de o diretor da peça cancelar um bate-papo que ocorreria</p><p>com os atores logo após a encenação.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>No mesmo dia e em alguns dias seguintes, a coordenação e a direção da escola estiveram junto</p><p>aos alunos para diversos momentos de séria re�exão, buscando, inclusive, saber de nomes</p><p>especí�cos que tivessem maior culpa na atitude desrespeitosa. Na reunião semanal dos</p><p>professores, o tema foi posto e todos opinaram – eles queriam descobrir por que o fato ocorreu,</p><p>já que não condizia com a atitude habitual dos alunos. O que pode ter motivado a atitude dos</p><p>alunos durante a peça teatral?</p><p>Vamos Começar!</p><p>Existem muitos autores e diferentes pensamentos que nos possibilitam olhar para os fenômenos</p><p>sociais e educacionais por diversos ângulos e perspectivas. Um mesmo fato pode ser</p><p>interpretado de distintas maneiras a partir das bases conceituais utilizadas nessa análise. Pierre</p><p>Bourdieu (1930-2002) é um pensador da Sociologia que contribui de maneira fecunda para</p><p>pensar a relação entre a sociedade e a educação.</p><p>Bourdieu apresenta uma perspectiva crítica ao analisar a educação na sociedade. É importante</p><p>ressaltar que "fazer uma crítica" signi�ca examinar cuidadosamente o que já existe, buscando</p><p>compreender suas bases e as relações que estabelece com o conjunto de elementos que</p><p>constituem o contexto. Foi dessa forma que o pensador francês desenvolveu sua re�exão,</p><p>tentando perceber que, de certa maneira, o processo educativo precisava ser reinterpretado,</p><p>especialmente na época em que vivia, em que a educação era vista de forma muito positiva</p><p>como a solução para os problemas sociais.</p><p>Naquele contexto (assim como hoje), diversas teorias educacionais abordavam a educação</p><p>como um caminho para a salvação. A questão que falta compreender é que a educação é uma</p><p>ferramenta e, como tal, pode ser utilizada para diferentes �nalidades. É nesse sentido que</p><p>Bourdieu propõe uma compreensão diferente, abrangendo de forma mais completa o fenômeno</p><p>educacional, com condições de abordar de maneira mais e�caz o problema das desigualdades</p><p>escolares.</p><p>Campo, habitus e capital cultural</p><p>Bourdieu criou uma sociologia que provocou uma re�exão crítica sobre as estruturas sociais. De</p><p>acordo com ele, o papel do sociólogo como um pesquisador atento às interações sociais seria</p><p>desvendar os aspectos ocultos por trás dessas estruturas sociais, identi�cando os traços</p><p>invisíveis que não podem ser percebidos apenas por uma observação super�cial. Bourdieu</p><p>desenvolveu uma sociologia que trouxe uma crítica importante em relação às estruturas sociais.</p><p>Na visão dele, o papel do sociólogo é desvendar o que se esconde por trás dessas estruturas,</p><p>identi�cando traços que não são visíveis ao senso comum.</p><p>O pensador criou um sistema teórico com foco em mostrar como as condições de participação</p><p>social das pessoas são baseadas na herança social, que é constantemente reproduzida em uma</p><p>determinada sociedade – que ele chama de estrutura estruturante. Dessa forma, a sociedade se</p><p>tornaria uma estrutura organizadora, uma vez que suas relações mais fundamentais são</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>continuamente recon�guradas pelas ações de seus membros. Assim, a acumulação de bens</p><p>simbólicos, incluindo a educação, se centraliza nos padrões de pensamento individuais e nas</p><p>expressões manifestadas por meio de suas ações (Bourdieu, 1989).</p><p>Campo e habitus</p><p>Em suas investigações, Bourdieu identi�cou uma interdependência entre os conceitos de habitus</p><p>e campo. O termo "campo" refere-se a um espaço caracterizado por relações de dominação e</p><p>con�itos, como exempli�cado nos campos jornalístico, literário, educacional, entre outros. Cada</p><p>campo possui uma autonomia distinta, estabelecendo suas próprias normas organizacionais e</p><p>hierarquia social. Dentro desses contextos delimitados, os indivíduos agem de acordo com seu</p><p>capital social, representando as oportunidades que têm com base nas redes de contatos às</p><p>quais pertencem.</p><p>Dentro de cada campo, a luta se desenrola pelo desejo de uma classe especí�ca alcançar a</p><p>dominação. A classe já dominante busca perpetuar seus valores e sua visão de mundo. Isso</p><p>implica reconhecer que os valores vigentes em uma sociedade re�etem sempre os valores da</p><p>classe dominante em um determinado campo. Em outras palavras, Bourdieu argumenta que</p><p>existem vários campos nos quais forças competem pela supremacia. Por exemplo,</p><p>consideremos o campo cultural da literatura: é um espaço de produção simbólica no qual uma</p><p>classe de indivíduos determina o que possui mais ou menos valor.</p><p>Essa determinação possibilita a atribuição de um status social, criando uma divisão entre</p><p>aqueles que possuem conhecimento (desenvolvem ou aderem aos valores considerados</p><p>valiosos) e aqueles que não possuem. Assim, quando ouvimos alguém a�rmar que um indivíduo</p><p>não possui "cultura", isso representa um equívoco conceitual. Na perspectiva de Bourdieu, esse</p><p>discurso está fundamentado na ideia de que os elementos culturais daquele indivíduo não são</p><p>considerados valiosos ou não recebem valorização social por parte das instituições sociais, ao</p><p>contrário do que ocorre com os elementos tidos como universais da cultura ocidental.</p><p>A classe dominante que exerce in�uência sobre o Estado e as instituições sociais, cada uma em</p><p>seu respectivo campo, estrutura-se de modo a permitir a participação apenas daqueles que</p><p>compartilham um mesmo nível cultural. Esse nível cultural, na verdade, está em constante</p><p>transformação, impedindo que qualquer pessoa possa facilmente integrar o seleto grupo dos</p><p>considerados "bons". Os campos acabam por se restringir, uma vez que uma grande parcela da</p><p>população não possui as condições necessárias para participar plenamente dos bens culturais</p><p>disponíveis em uma sociedade capitalista.</p><p>Nessa perspectiva, as ações, os comportamentos, as escolhas e as aspirações individuais não</p><p>são resultado de cálculos ou planejamentos deliberados, são, na realidade, produtos da interação</p><p>entre o habitus e as pressões e os estímulos do ambiente. O habitus, portanto, re�ete os estilos</p><p>de vida, julgamentos políticos, morais e estéticos, além de servir como um meio de ação que</p><p>possibilita a criação ou o desenvolvimento de estratégias individuais ou coletivas (Bourdieu,</p><p>1998). O indivíduo carrega consigo diversos elementos de seu contexto de vivências, tornando</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>impossível conceber alguém capaz de interpretar o mundo ao seu redor de forma "neutra" e</p><p>desvinculada de uma estrutura social.</p><p>O conceito de habitus propõe a compreensão de um processo no qual o indivíduo internaliza e</p><p>incorpora a estrutura que o rodeia. Essa incorporação do habitus ocorre por meio de uma</p><p>re�exão relacional entre processos que são estruturados e outros que são estruturantes. A</p><p>estrutura representa o aspecto teórico e objetivo, enquanto a vivência é a dimensão prática e</p><p>subjetiva desse processo.</p><p>O habitus revela-se, portanto, como uma atitude prática, um processo estruturante, por meio do</p><p>qual é possível perceber de maneira mais sutil os fenômenos sociais, entendidos como</p><p>processos estruturados. Essa interação dinâmica entre a estrutura objetiva e a experiência</p><p>subjetiva contribui para moldar a forma como os indivíduos interpretam e se relacionam com o</p><p>ambiente ao seu redor.</p><p>Capital cultural</p><p>O capital cultural refere-se aos recursos técnicos e simbólicos que os indivíduos adquirem em</p><p>seu meio social. Isso inclui uma gama de elementos como diplomas, nível de conhecimento</p><p>geral, experiências em áreas como teatro, artes, idiomas, etc. (Bourdieu, 1998). Esse conceito se</p><p>distingue de outros dois conceitos igualmente relevantes: o "capital econômico" e o "capital</p><p>social". O primeiro está relacionado aos recursos �nanceiros e aos bens materiais detidos pelo</p><p>indivíduo, enquanto o segundo está associado às redes de relações sociais que o sujeito mantém</p><p>com outros agentes na sociedade. Acompanhe o esquema a seguir para compreender melhor os</p><p>diferentes tipos de capital elencados por Bourdieu:</p><p>Figura 1 | Tipos de capital por Bourdieu</p><p>essa complexa estrutura, que envolve o ser humano e o conhecimento, não é</p><p>tão somente uma possibilidade objetiva. Assim, em decorrência dessa relação imbricada, que</p><p>envolve o ser humano e suas interações com o meio natural e social, outros estudiosos se</p><p>posicionam, dando origem a novas formas de entendimento dessa questão. Vamos compreender</p><p>duas visões de mundo diferentes: o racionalismo e o empirismo.</p><p>I. Racionalismo</p><p>Para o racionalismo, a razão está acima da experiência, pois também muitas coisas que os</p><p>sentidos nos mostram (“o Sol é menor que a Terra”), são provadas como “falsas” pela razão.</p><p>René Descartes (1596-1650) é reconhecido como o pensador que estabeleceu os fundamentos</p><p>do racionalismo, sendo que muitos outros posteriormente basearam suas ideias na �loso�a</p><p>cartesiana. Descartes sustenta a ideia de que a dúvida é o caminho para alcançar a verdade,</p><p>levando essa concepção ao extremo: ele questiona todos os conhecimentos que possuía,</p><p>buscando determinar se algo permaneceria como verdadeiro. O ato de "duvidar" implica não</p><p>aceitar algo, partindo em busca de evidências que possam contradizer.</p><p>Esse pensador entendia que o homem tem ideias inatas, ou seja, que sempre estiveram em sua</p><p>mente. Por exemplo, imagine de onde tiramos o conceito de “perfeição”, se nunca conhecemos</p><p>algo sobre o que possamos dizer que seja realmente perfeito (tudo o que conhecemos pode</p><p>sempre ser melhorado).</p><p>II. Empirismo</p><p>O empirismo, derivado do grego "empeiría", que signi�ca experiência, representa essencialmente</p><p>o oposto do racionalismo. Diversos pensadores dedicaram-se a essa abordagem e tomaremos</p><p>como exemplo um dos principais, John Locke (1632-1704). Para Locke, nenhuma ideia surge na</p><p>mente sem antes ter sido percebida pelos sentidos. Assim, as ideias que não podem ser</p><p>veri�cadas na realidade têm sua origem na atividade mental sobre aquelas previamente</p><p>adquiridas. Como a�rmou Locke, "A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento</p><p>constitui su�ciente prova de que não é inato" (Locke, 1999, p. 37). O empirismo aborda o</p><p>conhecimento ao estabelecer os sentidos como as portas de entrada para as ideias: antes da</p><p>experiência, a mente pode ser concebida como uma folha em branco.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Ciência e Educação</p><p>Agora possuímos mais elementos para contemplar a educação ao considerar o homem como</p><p>um sujeito individual que compartilha uma realidade. Após re�etir sobre o conhecimento e como</p><p>compreendemos o ser humano como sujeito na relação de conhecimento, é necessário</p><p>examinar, de maneira especí�ca, a relação entre a educação e um tipo particular de</p><p>conhecimento, que é a ciência. Não temos a intenção de abordar aqui a �loso�a da ciência, uma</p><p>área tão relevante da Filoso�a. Em vez disso, discutiremos a ciência e a educação como dois</p><p>domínios interconectados dentro de uma mesma realidade.</p><p>Considerando o que já destacamos sobre o desejo natural do homem de conhecer, torna-se fácil</p><p>compreender que a ciência não é algo recente para o ser humano. Desde a antiguidade, o anseio</p><p>pelo conhecimento levou-o a se dedicar à descoberta do que seria a ciência. No entanto, é crucial</p><p>perceber que há uma notável diferença ao longo do tempo no que denominamos como "ciência".</p><p>Inicialmente, a ciência não era fragmentada em diversas áreas, dessa forma, um único indivíduo</p><p>se dedicava a contemplar as diferentes questões que a realidade apresentava. Com o decorrer do</p><p>tempo, surgiu o que chamamos de especialização: à medida que o pensamento sobre os</p><p>problemas se desenvolvia, alguns pensadores começaram a se especializar no tratamento de um</p><p>objeto especí�co, resultando na formação de ciências especializadas. Podemos citar como</p><p>exemplo: a Química (que estuda a matéria física em sua constituição), a Física (que analisa a</p><p>matéria física em suas relações espaço-temporais), a Matemática (que explora os números e seu</p><p>comportamento em determinadas relações), a História (que investiga os eventos humanos ao</p><p>longo do tempo), a Medicina (que se dedica ao estudo do corpo humano, com base nos</p><p>conceitos de saúde e doença), entre outras.</p><p>A ciência procura compreender a realidade por meio da observação dos fenômenos, buscando</p><p>identi�car elementos que se repetem. A constância dessas repetições permite à ciência registrar</p><p>a regularidade na maneira como o mundo se desenrola. Essa regularidade, por sua vez, leva os</p><p>cientistas a formular leis gerais que descrevem o funcionamento do mundo. As teorias</p><p>cientí�cas são, portanto, constituídas pelo conjunto de leis que abrangem um determinado</p><p>domínio da realidade.</p><p>A ciência é responsável pela geração de conhecimento, enquanto o cientista conduz pesquisas e</p><p>registra os resultados obtidos. A educação, por sua vez, lida com o conhecimento produzido pela</p><p>ciência. O propósito constante da educação é formar cidadãos autônomos, capacitados a</p><p>viverem a liberdade dentro de seu contexto. Não indo até o mundo, a educação transmite a ideia</p><p>de que o conhecimento é pleno e verdadeiro do modo como aparece nos livros.</p><p>No contexto educacional, o professor ensina, explorando o conteúdo disponibilizado pela</p><p>pesquisa cientí�ca. A educação (entendida como possibilidade de libertação e emancipação do</p><p>homem) deve levar o aluno à criticidade, para que ele saiba se portar diante da ciência, não como</p><p>um mero espectador, que recebe e aceita o que é dito, mas como aquele que sabe questionar e</p><p>perceber os interesses que estão por detrás do fazer cientí�co, já que a produção da ciência</p><p>nunca é neutra, mas obedece a interesses diversos.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial. Você está cursando o estágio obrigatório</p><p>do seu curso de graduação e se depara com algo que o instiga a pensar mais detidamente na</p><p>relação teoria-prática. De certa forma, sua questão é: qual é a importância da teoria, já que a</p><p>prática não permite sua aplicação? O problema pode – e deve – ser entendido por diversos</p><p>ângulos.</p><p>Podemos começar pensando sobre o desejo natural pelo conhecimento, que é inerente ao ser</p><p>humano. Contudo, para que esse desejo se concretize, vários fatores estão envolvidos,</p><p>especialmente quando consideramos o conhecimento no contexto educacional. Embora a teoria</p><p>seja crucial como um guia, evitando começar do zero, o professor não deve se limitar</p><p>exclusivamente a ela, pois a realidade transcende o conhecimento já existente. A sua sugestão</p><p>sobre tornar as aulas mais interessantes e estimulantes, é acertada, uma vez que a teoria oferece</p><p>um caminho, mas o professor Carlos poderia conduzir os alunos a experimentarem diretamente</p><p>o mundo, especialmente nas aulas de Ciências.</p><p>O papel do professor é geralmente de�nido como "ensinante", mas isso não implica que ele deva</p><p>ser considerado como o único detentor do conhecimento. O professor possui conhecimento</p><p>especí�co em determinado conteúdo e adquiriu experiência de ensino a partir desse</p><p>conhecimento. Por outro lado, o aluno, reconhecido como "aprendente", traz consigo a</p><p>capacidade de aprender, não partindo de uma mente vazia, pois já possui experiências e um</p><p>conjunto de conhecimentos adquiridos ao longo do tempo.</p><p>Saiba mais</p><p>Muitas vezes quando pensamos em um �lósofo, o entendemos como uma pessoa</p><p>diferente das demais. Mas na realidade ele apenas tem uma preocupação que os outros</p><p>não têm, com problemas que os outros podem até considerar banais. Aprofunde-se mais</p><p>sobre o assunto assistindo ao �lme indicado a seguir sobre a vida do pensador René</p><p>Descartes, no desenvolvimento de sua �loso�a, em busca da verdade.</p><p>DESCARTES. Diretor: Roberto Rossellini. Versátil Filmes. (162 min.). Colorido. Idioma: italiano.</p><p>Legenda: português. Coleção Os Filósofos de Rossellini. Título Original: Cartesius, 1974.</p><p>Compreender sobre a teoria do conhecimento e os teóricos racionalistas e empiristas é</p><p>fundamental para posteriormente entender a organização e o desenvolvimento da ciência.</p><p>Para isso, saiba mais sobre o tema a partir da leitura a seguir.</p><p>LOURENÇO, V. H. René Descartes e o cogito. In: LOURENÇO, V. H. Construção do pensamento</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Dessa situação decorre que os indivíduos que adquirem um determinado capital cultural estão</p><p>mais preparados para participar nos estratos mais elevados da sociedade. Pressupõe-se que o</p><p>indivíduo possua certos elementos para ter acesso a esferas mais restritas, as quais, por sua vez,</p><p>serão responsáveis por proporcionar um novo capital. A sociedade, assim, se divide entre os</p><p>considerados "melhores" e os "comuns", com base no capital cultural que possuem.</p><p>Existe uma arbitrariedade cultural na de�nição do que pode ser considerada "cultura legítima". É</p><p>crucial compreender que essa arbitrariedade cria divisões entre as pessoas, estabelecendo uma</p><p>determinação de bens simbólicos que parece instituir uma hierarquia social. A partir disso, os</p><p>próprios indivíduos passam a se reconhecer e se identi�car como pertencentes a uma classe</p><p>especí�ca. O re�exo dessa situação na escola é evidente.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Educação e dominação</p><p>Com base nas ideias apresentadas, podemos destacar outro conceito fundamental na teoria de</p><p>Bourdieu: o conceito de herança. O autor argumenta que desde o nascimento, o indivíduo já é</p><p>portador de um conjunto de elementos materiais e imateriais que moldam todo o seu</p><p>desenvolvimento ao longo da vida. Os elementos materiais estão diretamente ligados ao aspecto</p><p>�nanceiro, abrangendo as condições de vida proporcionadas pela família ou pelo local de</p><p>nascimento. Já os elementos imateriais estão relacionados à cultura e à interpretação de mundo,</p><p>ambos in�uenciados diretamente pela classe de origem. A ambição do indivíduo é moldada pela</p><p>herança recebida, levando alguns a almejar constantemente mais, enquanto outros aceitam os</p><p>limites que talvez nunca consigam ultrapassar.</p><p>A primeira experiência social do indivíduo ocorre na família, onde desde muito cedo a criança</p><p>compreende quais possibilidades de vida estão ao seu alcance, de acordo com a realidade</p><p>�nanceira e cultural do grupo familiar. Isso implica que, com base nas diferentes classes sociais,</p><p>as heranças deixadas para os indivíduos variam, já que alguns têm acesso à chamada "cultura</p><p>legítima", enquanto outros �cam à margem dela. Nesse contexto, a escola deveria operar</p><p>considerando a realidade dos indivíduos, começando a partir do conhecimento que eles já</p><p>possuem. A proposta seria permitir que os alunos alcancem sempre mais benefícios sociais,</p><p>reconhecendo e valorizando as diferentes heranças que cada indivíduo traz consigo.</p><p>No entanto, a instituição escolar se revela como uma reprodutora dos valores sociais vigentes, os</p><p>quais determinam o conteúdo a ser ensinado. Sendo assim, ela se torna um instrumento de</p><p>dominação utilizado pela classe dominante desejosa em manter a sua posição social.</p><p>Contrariamente à visão ingênua e amplamente difundida de que a escola prepara para as</p><p>necessidades sociais em vigor, Bourdieu (1998) sugere algo diferente: a escola, na realidade,</p><p>transmite aquilo que é valorizado pela classe dominante. Desse modo, enquanto um aluno</p><p>proveniente da classe popular pode se sentir perdido diante do desconhecido de uma percepção</p><p>de mundo re�nada pela arte e pela ciência, um aluno da classe média (ou alta) recebe os</p><p>mesmos conteúdos como uma continuidade do que aprendeu ao longo de sua vida.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>A escola, então, reproduz o que é predeterminado pela classe dominante. Considere o capital</p><p>cultural incorporado, como língua, gosto por determinadas coisas, por exemplo, há uma</p><p>determinação arbitrária do que deve ser seguido, e a escola assume como necessário e</p><p>pressuposto esse capital para que o aluno tenha sucesso no ambiente escolar. É evidente que o</p><p>aluno com pouco capital cultural dominante terá di�culdade em atingir esse sucesso, e ele pode</p><p>se perceber como "naturalmente incapaz" de alcançar o que os provenientes de outra classe</p><p>social conseguem. Toda essa estrutura se desenrola como uma forma de violência simbólica.</p><p>Segundo Bourdieu, sistema de ensino exerce um tipo de poder simbólico, isto é, um tipo de</p><p>“poder invisível que só pode se exercer com a cumplicidade daqueles que não querem saber que</p><p>a ele se submetem ou mesmo que o exercem” (Bourdieu, 2014, p. 31). Assim, para esse</p><p>pensador, o papel da educação é impor certos valores de forma arbitrária. A escola, desse modo,</p><p>acaba por exercer uma forma de violência simbólica ao implicar que todos devem aderir à</p><p>"cultura legítima". Na prática, o que ocorre é uma exigência aos estudantes das classes</p><p>populares para incorporarem uma herança que não receberam e, por conseguinte, têm poucas</p><p>chances de alcançar sucesso, seja na esfera educacional, seja na realização social. A educação,</p><p>nesse contexto, contribui para um fracasso predestinado das classes populares, aprofundando</p><p>cada vez mais a divisão que favorece os privilegiados de nascimento.</p><p>No ambiente escolar, a violência simbólica se manifesta sem a necessidade de força física,</p><p>ocorrendo de maneira sutil e inquestionável devido à aceitação legítima do poder simbólico. De</p><p>acordo com Bourdieu, esse poder é internalizado pelos indivíduos e se transforma de forma</p><p>dissimulada em ações aparentemente simples, não sujeitas a questionamentos, sendo</p><p>reconhecidas como legítimas na sua natureza de violência exercida.</p><p>O pensamento de Bourdieu sugere que a pedagogia cria mecanismos que destacam a</p><p>vulnerabilidade dos alunos diante da autoridade pedagógica. Nesse contexto, é crucial revisar os</p><p>modelos interativos ocorridos em sala de aula, promovendo re�exões docentes sobre o currículo</p><p>oculto. A escola, apesar de aparentemente proporcionar uma educação igualitária, camu�a a</p><p>delicada linha entre a origem social da criança e seu sucesso escolar por meio da prática</p><p>pedagógica. Uma análise mais aprofundada das práticas de ensino revela que muitas crianças</p><p>enfrentam di�culdades devido aos efeitos da violência simbólica perpetrada pelos professores.</p><p>Mesmo quando ocorrem exceções de crianças que obtêm "êxito", é conhecido que muitas</p><p>enfrentam consequências devido às suas condições familiares precárias.</p><p>Assim, a escola utiliza casos improváveis de sucesso escolar em ambientes populares como</p><p>exceções que, segundo Bourdieu, con�rmam a regra e reforçam a suposta neutralidade do</p><p>sistema escolar. Essa prática alimenta a ilusão de que o sistema é imparcial em seu</p><p>funcionamento.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: Thomas, juntamente com outros</p><p>professores, foi acompanhar um grupo de alunos do ensino médio ao teatro quando seria</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>apresentada uma peça antiga, uma tragédia grega intitulada Hécuba, da autoria de Eurípedes. A</p><p>peça havia sido executada de modo brilhante, porém, em alguns momentos, diferentes</p><p>estudantes se manifestaram com risadas e brincadeiras, de modo que todos ouvissem. Os</p><p>professores, incomodados com a situação, se reuniram com a coordenação e direção para</p><p>buscar entender o que poderia ter ocasionado tal atitude dos alunos.</p><p>Depois de muito conversar, os professores resolveram fazer uma pesquisa, simples e breve, para</p><p>começarem a entender o ocorrido, a qual foi feita apenas com os alunos envolvidos na situação:</p><p>além de dados como idade e bairro de residência, foi perguntado com que frequência eles iam ao</p><p>teatro, dizendo com quem iam e de que tipo de peça mais gostavam. O resultado foi triste, na</p><p>conclusão dos professores, 60% dos alunos nunca tinham ido a um teatro antes. Dos demais,</p><p>alguns foram, quando bem pequenos, levados pelas escolas que frequentaram e pouquíssimos</p><p>iam ao teatro de uma a duas vezes por ano.</p><p>Os alunos que atrapalharam a apresentação estavam errados – não há dúvidas. Mas os</p><p>professores chegaram à conclusão de que os estudantes não sabiam aproveitar aquele</p><p>momento cultural. Quem nunca foi a um teatro, sentiu-se totalmente desmotivado quando, na</p><p>primeira vez, tivessem de assistir a uma tragédia grega? Como já estava terminando o ano letivo,</p><p>foi sugerido que, no próximo ano, realizassem um trabalho voltado para diferentes vivências</p><p>culturais, dentre as quais, o teatro.</p><p>Saiba</p><p>mais</p><p>A escola, em muitos momentos, é instrumento de dominação e de reprodução da estrutura</p><p>social vigente. Para re�etir sobre isso, leia o artigo a seguir:</p><p>SAES, D. A. M. de. A ideologia docente em A reprodução, de Pierre Bourdieu e Jean-Claude</p><p>Passeron. Educação & Linguagem, Ano 10, n. 16, jul./dez., 2007.</p><p>O autor explora os conceitos do pensamento de Bourdieu, analisando a escola no contexto do</p><p>capitalismo, mostrando que a ideologia que se põe como base do ato educativo, por meio dos</p><p>professores, é a do mérito pessoal.</p><p>A violência simbólica é imperceptível na escola, como nos aponta Bourdieu. Re�etir sobre</p><p>ela é fundamental para conseguir colocar em prática uma perspectiva educacional</p><p>diferente da vigente. Para se aprofundar no assunto, assista ao documentário:</p><p>PRO DIA NASCER FELIZ. Direção: João Jardim. 88 min. Colorido. Idioma: português. 2007.</p><p>As situações que o adolescente brasileiro enfrenta no precário sistema de educação público do</p><p>país, envolvendo preconceito, precariedade, violência e esperança. Adolescentes de locais dos</p><p>mais variados tipos de três estados diferentes, de classes sociais distintas, falam de suas vidas</p><p>na escola, seus projetos e suas inquietações.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Referências</p><p>BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998.</p><p>BOURDIEU. P. Sobre o Estado. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>JOHNSON, A. G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro:</p><p>Jorge Zahar Ed., 1997.</p><p>PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004.</p><p>Aula 5</p><p>Encerramento da Unidade</p><p>Videoaula de Encerramento</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta videoaula você irá perceber a importância da sociologia para a compreensão da sociedade</p><p>e da educação. Será possível também re�etir sobre o conceito de ideologia e como ela está</p><p>presente nos contextos sociais, políticos, econômicos, culturais e também educacionais.</p><p>Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!</p><p>Ponto de Chegada</p><p>Olá, estudante!</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Para desenvolver a competência desta unidade, que é entender os pressupostos sociológicos da</p><p>educação, conhecendo os diferentes autores que se dedicaram a pensar a sociedade e as</p><p>in�uências que a sua organização e estruturação têm no sistema educacional, você deverá</p><p>primeiramente entender os diferentes olhares que esses autores lançaram sobre a sociedade e</p><p>sobre o sistema educacional. Esses diferentes conceitos e perspectivas nos auxiliam a olhar de</p><p>uma maneira crítica e re�exiva para a sociedade capitalista, compreendendo como cada um</p><p>deles se faz presente também no ambiente escolar.</p><p>Ao pensarmos a sociedade capitalista a partir da perspectiva de Marx e Gramsci percebemos</p><p>uma sociedade dividida em classes (dominantes e dominados) que vivem constantemente em</p><p>luta para que os interesses de uns prevaleçam sobre os interesses de outros. Nesse sentido, a</p><p>ideologia da burguesia é mais forte que a do proletariado e acaba se sobressaindo. A presença</p><p>da ideologia em todos os âmbitos da sociedade se comporta como um véu que encobre a</p><p>realidade dos fatos, tornando-se, assim, um dos maiores obstáculos para a superação do senso</p><p>comum, �cando garantido à classe hegemônica o domínio sobre aqueles que são submetidos a</p><p>essa prática violenta.</p><p>Assim, entendemos que tudo aquilo que o indivíduo experiencia em sociedade é algo que, ao</p><p>longo do tempo, foi sendo produzido para a sustentação da vida do homem – seja vida material</p><p>ou vida espiritual e sendo rea�rmado pela ideologia dominante. Aos poucos, com a divisão do</p><p>trabalho em suas diversas funções “superiores” e “inferiores”, toda essa bagagem produzida</p><p>passou a diferenciar os indivíduos, classi�cando-se segundo aquilo a que tinham acesso. A essa</p><p>bagagem damos o nome de capital cultural.</p><p>Sob tal perspectiva, podemos compreender também que a cultura de uma sociedade é permeada</p><p>pela ideologia que a cerca. A escola reproduz, então, aquilo que é predeterminado pela classe</p><p>dominante. Pensemos no capital cultural incorporado (língua, gosto e bom gosto, etc.); há uma</p><p>arbitrária determinação daquilo que deve ser seguido, e a escola toma como necessário e</p><p>pressuposto tal capital para que o aluno tenha sucesso na escola. Parece-nos óbvio que o aluno</p><p>com pouco capital cultural dominante não atingirá tal sucesso e vai se enxergar como</p><p>“naturalmente incapaz” de alcançar aquilo que os advindos da outra classe social conseguem.</p><p>Essa é uma realidade que pode ser alterada pela educação, é nela que se encontra essa potência</p><p>de mudança. Entender a in�uência da cultura na educação implica considerar que os valores, as</p><p>crenças, as tradições e as normas culturais moldam a maneira como as pessoas percebem o</p><p>mundo, aprendem e se relacionam.</p><p>Ao incorporar a diversidade cultural no processo educacional, é possível criar um ambiente que</p><p>promova a compreensão intercultural e prepare os indivíduos para uma participação signi�cativa</p><p>na sociedade. Nesse contexto, a educação não apenas transmite conhecimentos cientí�cos, mas</p><p>também desempenha um papel crucial na formação de indivíduos culturalmente competentes e</p><p>socialmente responsáveis.</p><p>É Hora de Praticar!</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Compreendemos que a ideologia é um conjunto de ideias que sustenta uma determinada visão</p><p>de mundo, seja ela política, religiosa, cientí�ca, etc. Não é possível considerarmos uma visão de</p><p>mundo que não seja permeada por algum tipo de ideologia. Esse discurso, na realidade, já está</p><p>tomado pela ideologia dominante, que tem o intuito de manter a organização social como está,</p><p>sem nenhum tipo de contestação.</p><p>Assim, percebemos que prevalece sempre a ideologia que tem mais força, seja de</p><p>convencimento ou por imposição. Torna-se um problema quando se entende haver uma ideologia</p><p>plenamente verdadeira, diante da qual todas as outras devem ser rechaçadas. Esse discurso</p><p>ideológico pode ser percebido também no contexto educacional, na maneira como o ensino é</p><p>ofertado ou quando se tenta impor algum tipo de conduta aos professores, por exemplo.</p><p>Para nos aprofundarmos nessa re�exão, assista ao �lme:</p><p>A ONDA. Direção: Dennis Gansel. 107 min. Idioma: alemão. Legendas: português. 2008. Rainer</p><p>Wenger é um professor de colegial que, ministrando aulas sobre autocracia, realiza um</p><p>experimento com os alunos, que não acreditam que uma nova ditadura possa surgir na</p><p>Alemanha. Rainer propõe que os estudantes instituam um grupo entre si, para que ele possa</p><p>mostrar na prática como funciona esse sistema, e como é possível manipular a população.</p><p>Após assistir ao �lme, responda: Como é possível identi�car um discurso ideológico? Como</p><p>percebemos a ideologia dominante no sistema educacional? É possível que a educação deixe de</p><p>ser ideológica?</p><p>De que modo as oportunidades sociais podem ser as mesmas para todas as pessoas se os</p><p>modelos de escola preparam cada um para um futuro diferente?</p><p>Você percebe que as situações de divisão de classes se perpetuam ao longo do tempo?</p><p>Como é possível perceber a in�uência da ideologia dominante na educação?</p><p>O �lme mostra exatamente o que uma ideologia manipuladora, seguida pela maioria das</p><p>pessoas, pode fazer com os indivíduos. Um discurso é ideológico sempre quando a ideia que ele</p><p>transmite é tomada como a única aceitável, considerando apenas uma visão de mundo, não se</p><p>tomando todos os elementos possíveis para</p><p>análise e favorecendo determinadas situações. No</p><p>fundo, esse tipo de discurso objetiva manter os poderosos no poder.</p><p>Para compreender o poder da ideologia dominante no sistema educacional, podemos pensar os</p><p>projetos educacionais das escolas públicas que, muitas vezes, são impostos sem ser conhecida</p><p>a realidade de sala de aula. Isso faz com que a educação não se realize de modo efetivo para a</p><p>maior parte da população, pois depende do ensino gratuito. Acaba-se ofertando uma educação</p><p>diferente para as diversas classes sociais: quem pode pagar, garante maior qualidade e, no</p><p>futuro, terá condições de continuar fazendo parte da classe dominante, pois a dominação nas</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>ideias é mais poderosa que a física. E a classe menos favorecida sempre continuará desprovida</p><p>de educação de qualidade, recursos �nanceiros, bens, etc.</p><p>A educação deixa de ser ideológica quando permite a libertação do ser humano, quando esta</p><p>passa a ter vez, lutando pela igualdade social em melhores condições de vida. Ler e escrever de</p><p>modo efetivo, aprendendo a pensar criticamente a realidade é o modo pelo qual o aluno é</p><p>libertado pela educação. Ter consciência da realidade é a abertura de caminho para a libertação.</p><p>Veja no mapa mental a seguir os principais pontos estudados nessa unidade:</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Figura 1 | Sociedade e educação</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>MARX, K. Crítica da educação e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978.</p><p>PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004.</p><p>,</p><p>Unidade 3</p><p>Perspectivas da Educação Brasileira</p><p>Aula 1</p><p>A Educação Brasileira de 1930 a 1964</p><p>A Educação Brasileira de 1930 a 1964</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você re�etirá sobre a educação brasileira de 1930 a 1964. Pensaremos a partir de um</p><p>panorama histórico da educação marcada pelos distintos projetos de desenvolvimento, pelas</p><p>resistências da educação católica diante das propostas pedagógicas dos reformadores da</p><p>educação nova e da emergência da educação popular. Vamos lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>Falar da educação brasileira é um resgate �losó�co e histórico muito importante para todas as</p><p>áreas do conhecimento. Nesse momento, vamos entender as questões históricas e sociais em</p><p>torno do período de 1930 a 1964 como fonte de conhecimento da história brasileira. É preciso</p><p>levar em consideração as transformações ocorridas no desenvolvimento econômico, político e</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>social nos dois governos de Getúlio Vargas, de Juscelino Kubitschek, de Jânio Quadros e de João</p><p>Goulart, de intenso desenvolvimento industrial num contexto social de democracia restrita, que</p><p>exigiu uma política educacional coerente com os projetos de desenvolvimento em curso.</p><p>Para nos aprofundarmos no assunto, imaginemos que você tenha assumido a tarefa de realizar</p><p>um seminário sobre a “Educação no período desenvolvimentista: de Vargas a João Goulart”. De</p><p>que forma você relacionaria a dinâmica econômica, política e social com os processos</p><p>educacionais nesse período? Com a Revolução de 1930, liderado por Vargas, e pelos demais</p><p>governos desenvolvimentistas, a velha estrutura coronelista foi superada? Como a diversidade de</p><p>projetos de desenvolvimento repercutiram nos projetos educacionais? Quais foram as principais</p><p>divergências entre os católicos e os reformadores da educação nova? Como as classes</p><p>dominantes reagiram diante das propostas pedagógicas inovadoras?</p><p>Bons estudos!</p><p>Vamos Começar!</p><p>A educação não está apartada da sociedade, ela também é a expressão dos con�itos sociais.</p><p>Para começar, precisamos compreender que os fatos históricos não acontecem de maneira</p><p>isolada. Como vivemos em uma sociedade globalizada, os fatos e fenômenos que ocorrer em</p><p>diferentes locais do mundo afetam também a nossa realidade. A crise de 1929 na Bolsa de Nova</p><p>Iorque desencadeou a maior crise até então no sistema capitalista, impactando severamente a</p><p>economia brasileira, que estava fortemente dependente da exportação de café. Essa situação foi</p><p>agravada pela crise política e social no país. As antigas elites oligárquicas estavam divididas,</p><p>enquanto o descontentamento social era reprimido com vigor.</p><p>Após as eleições de 1929, nas quais Júlio Prestes, representando a oligarquia paulista, foi</p><p>declarado vencedor contra Getúlio Vargas, que simbolizava outras oligarquias e setores</p><p>insatisfeitos, a Aliança Liberal, formada por diversos grupos sociais heterogêneos, impediu a</p><p>posse do novo presidente por meio de um golpe, conhecido como a Revolução de 1930. Getúlio</p><p>Vargas assumiu temporariamente o governo, estendendo sua liderança até 1945.</p><p>Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, a oligarquia paulista buscou recuperar o</p><p>controle político, mas foi derrotada. A única conquista foi a convocação de um processo eleitoral</p><p>constituinte, resultando na Constituição de 1934, que elegeu indiretamente Vargas para um</p><p>mandato de quatro anos. A Constituição de 1934 não conseguiu satisfazer nenhum dos setores</p><p>envolvidos na disputa pelos rumos do país. Diante desse descontentamento generalizado, a</p><p>Aliança Liberal se fragmentou em setores con�itantes, e os descontentamentos sociais</p><p>persistiram e aumentaram.</p><p>Aproveitando-se da situação, Vargas, respaldado pelos militares e pelos integralistas,</p><p>interrompeu as eleições de 1938, dissolveu o Congresso Nacional e os partidos políticos. Getúlio</p><p>então impôs uma nova constituição por meio de outorga, inaugurando o Estado Novo em 1937.</p><p>Esse regime autoritário permaneceu em vigor até 1945, quando Vargas foi deposto. Durante esse</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>período, houve uma concentração signi�cativa de poder nas mãos do governo, marcada pela</p><p>supressão de instituições democráticas e pela instauração de medidas autoritárias.</p><p>Por outro lado, para conter as agitações no movimento operário, o governo adotou a</p><p>Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como uma ferramenta para exercer controle social e</p><p>tutela estatal sobre os trabalhadores. O trabalho foi promovido como o principal meio de</p><p>cidadania e inclusão social. Getúlio Vargas, com sua abordagem nacionalista, desagradava os</p><p>setores econômicos conservadores, que eram politicamente representados pela União</p><p>Democrática Nacional (UDN). Ao mesmo tempo, sua política ditatorial gerava descontentamento</p><p>entre os setores progressistas, que buscavam uma maior expansão da democracia. Vargas</p><p>navegava nesse �o da navalha, equilibrando-se entre essas contradições.</p><p>Entre 1930 e 1964 as políticas educacionais foram predominantemente caracterizadas pela</p><p>disputa de ideias entre os católicos e os defensores da Educação Nova. Desde a chegada dos</p><p>jesuítas ao Brasil no século XVI, os católicos exerceram uma in�uência signi�cativa na educação</p><p>do país. Até 1759, eles praticamente detinham o monopólio do ensino. Após a expulsão dos</p><p>jesuítas do Brasil, os católicos, representados por outras ordens religiosas, passaram a liderar as</p><p>principais instituições privadas de ensino no país, exercendo uma in�uência direta sobre a</p><p>educação pública.</p><p>Governo Getúlio Vargas</p><p>Durante o governo de Vargas, diante da crise nos primeiros anos da década de 1930, ocorreu</p><p>uma transformação no padrão de desenvolvimento econômico. A ativa intervenção do Estado na</p><p>gestão da economia impulsionou uma intensa industrialização, acompanhada pela construção</p><p>da infraestrutura necessária para o desenvolvimento econômico. No entanto, essa mudança não</p><p>alterou a antiga estrutura agrária do país.</p><p>Nesse período, foram estabelecidas importantes iniciativas, como a construção da Usina de</p><p>Paulo Afonso para a produção</p><p>de energia, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para a</p><p>produção de ferro e aço, a Vale do Rio Doce para a exploração mineral, a Eletrobrás para a</p><p>distribuição de energia, além da expansão de estradas, ferrovias e portos. Durante seu segundo</p><p>governo, em 1953, a Petrobras impulsionou um novo setor industrial nacional, permitindo o</p><p>desenvolvimento de outros segmentos.</p><p>O debate central nesse período era sobre o projeto de desenvolvimento econômico do país: se</p><p>seria autônomo, destacando-se pela industrialização, ou se manteria a estrutura agrária anterior,</p><p>argumentando que isso garantiria uma vantagem comparativa ao Brasil globalmente. Vargas,</p><p>apesar de suas contradições, representou a escolha pelo primeiro caminho, enfrentando intensa</p><p>oposição interna e externa dos setores que se bene�ciavam de um desenvolvimento dependente</p><p>dos países capitalistas centrais. Sua deposição em 1945 e o suicídio em 1954, evitando um</p><p>golpe em andamento, foram eventos gerados por essa disputa.</p><p>Diferentes ideais de educação</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>No início da década de 1920, as in�uências das pedagogias renovadoras da Europa,</p><p>especialmente dos Estados Unidos com �guras como John Dewey, deram origem a críticas</p><p>contundentes à educação tradicional que predominava no sistema educacional brasileiro.</p><p>Defendeu-se a necessidade de reformas educacionais fundamentadas em uma nova perspectiva</p><p>pedagógica. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, lançado em 1932, advogava por uma</p><p>educação pública, gratuita, obrigatória, laica e orientada para preparar as novas gerações diante</p><p>das transformações em curso no país.</p><p>A reação católica após a publicação do Manifesto de 1932 foi marcada pela sua retirada da</p><p>Associação Brasileira de Educação (ABE) em 1932. Em 1934, os católicos fundaram a</p><p>Confederação Católica Brasileira, reunindo educadores católicos brasileiros. A principal objeção</p><p>dos católicos no início do governo Vargas foi contra a laicização do ensino. Além disso, eles</p><p>criticaram a gratuidade e obrigatoriedade do ensino pelo Estado, defendendo o direito das</p><p>famílias de escolherem a melhor forma de educar seus �lhos, alegando que as imposições</p><p>estatais seriam inadequadas.</p><p>Para os católicos, as ações dos reformadores eram vistas como um atentado contra uma</p><p>hierarquia divina, contrárias aos valores católicos e promotoras de uma visão social que se</p><p>baseava na convicção de que uma elite deveria guiar um povo considerado incapaz de construir</p><p>seu próprio caminho, segundo as concepções morais católicas.</p><p>Os reformadores, fundamentados em métodos cientí�cos, advogavam por uma educação</p><p>voltada para o impulso do desenvolvimento econômico e social, alinhada à dinâmica</p><p>desenvolvimentista em curso no país. Acreditavam que a educação deveria promover a</p><p>integração entre indivíduos de diferentes classes sociais e ser responsável pela inclusão social.</p><p>Para eles, o principal obstáculo na educação brasileira residia no método tradicional, que deveria</p><p>ser substituído por uma metodologia inovadora baseada em biologia, psicologia e ciência.</p><p>Segundo Saviani (2009), para a Escola Nova, seria necessário deslocar o foco do intelecto para o</p><p>sentimento no processo pedagógico, passar do aspecto lógico para o psicológico, dos</p><p>conteúdos para os métodos ou processo pedagógico, do professor para o aluno, do esforço para</p><p>o interesse, da disciplina para a espontaneidade, da quantidade para a qualidade e da pedagogia</p><p>�losó�ca/cientí�ca para o experimentalismo baseado em biologia e psicologia. O enfoque não</p><p>era apenas aprender, mas aprender a aprender, ou seja, o método era mais importante do que o</p><p>conteúdo. Enquanto os católicos, com suas instituições educacionais consolidadas, exerciam</p><p>uma hegemonia pedagógica no cenário educacional brasileiro, os reformadores buscavam</p><p>ampliar os espaços para a prática de métodos pedagógicos inovadores. Diversas medidas</p><p>governamentais foram adotadas para atender aos interesses dos reformadores, permitindo</p><p>algumas reformas importantes.</p><p>Vargas manteve um equilíbrio delicado nesse embate, alternando entre atender aos interesses</p><p>dos reformadores ao nomeá-los para importantes órgãos públicos de educação e considerar a</p><p>in�uência católica no país, atendendo aos interesses religiosos. Na Constituição de 1934, por</p><p>exemplo, Vargas apoiou o retorno do ensino religioso obrigatório nas escolas públicas,</p><p>contrariando os reformadores.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Durante a elaboração dessa Constituição, ocorreu um intenso debate sobre o �nanciamento</p><p>público para a Educação. Foi permitido ao Estado, com recursos públicos, �nanciar a educação</p><p>privada, principalmente por meio de bolsas de estudos e empréstimos subsidiados, atendendo a</p><p>demandas dos católicos. Essa medida permitiu que a Igreja amenizasse suas críticas ao papel</p><p>do Estado na educação, possibilitando a expansão do ensino público no país.</p><p>As políticas educacionais do governo Vargas foram caracterizadas por reformas que visavam</p><p>atender às novas demandas educacionais, decorrentes do crescimento urbano, da diversidade</p><p>social e do desenvolvimento de novos setores econômicos e pro�ssionais, sem confrontar</p><p>diretamente os interesses católicos. A criação do Ministério da Educação e da Saúde, mesmo</p><p>compartilhado, com o primeiro sendo o primeiro órgão governamental especí�co para a</p><p>educação, demonstrou um aumento da importância dada a essa área pelo governo.</p><p>Leis Orgânicas do Ensino</p><p>Entre 1942 e 1946, por meio das Leis Orgânicas do Ensino, foi implementado o ensino supletivo,</p><p>contribuindo para a redução do analfabetismo. Sob a pressão dos reformadores da educação, o</p><p>governo incorporou previsão de recursos orçamentários para a reforma educacional, estabeleceu</p><p>o planejamento escolar, organizou a estrutura da carreira docente e os salários, regulamentou os</p><p>cursos de formação de professores e reestruturou os cursos secundários, que passaram a ter 4</p><p>anos de ginásio e 3 de colegial (cientí�co e clássico). Durante esse período, foram criados dois</p><p>tipos de ensino pro�ssionalizante: o primeiro, mantido pelo governo, abrangia ramos industrial,</p><p>comercial e agrícola; o segundo, mantido pelas empresas, foi estabelecido com a criação do</p><p>Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em 1942. Em 1946, foi instituído também o</p><p>Sistema Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).</p><p>Apesar da expansão da escolarização, as reformas educacionais enfrentaram desa�os na</p><p>realidade brasileira. O número de professores leigos, sem formação adequada, era signi�cativo e</p><p>cresceu a partir de 1940. As escolas normais, destinadas à formação de professores, tornaram-</p><p>se predominantemente frequentadas por classes médias e por mulheres. Os cursos secundários</p><p>continuavam a servir como preparação para o ensino universitário, mantendo o dualismo escolar,</p><p>enquanto o ensino pro�ssionalizante, promovido pela iniciativa privada, era direcionado</p><p>principalmente às classes trabalhadoras.</p><p>O ensino fundamental foi negligenciado, e os reformadores, confrontados com contradições,</p><p>precisaram conciliar com os católicos. As perspectivas educacionais desses últimos</p><p>pressupunham uma democratização dos espaços educacionais, algo que não ocorreu durante a</p><p>ditadura do Estado Novo.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Os governos Juscelino Kubitschek e João Goulart</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Com a deposição de Vargas em 1945, uma nova Assembleia Constituinte foi convocada,</p><p>resultando em uma Constituição permeada por conteúdos defendidos pelos reformadores da</p><p>Escola Nova. A partir de 1947, conforme apontado por Saviani (2011), houve uma predominância</p><p>das ideias da pedagogia nova. Lourenço Filho permaneceu no Ministério da Educação, dirigido</p><p>por Clemente Marini, e elaborou o anteprojeto da primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da</p><p>educação brasileira, que tramitou no Congresso Nacional até 1957, sendo promulgada em 1961.</p><p>O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) navegou entre as ambiguidades do</p><p>nacionalismo legado por Vargas e um desenvolvimentismo apoiado no capital privado</p><p>estrangeiro, principalmente nas indústrias</p><p>de bens duráveis como automóveis e</p><p>eletrodomésticos, bens intermediários e bens de produção. Essa abordagem, no entanto, não</p><p>impediu duas tentativas de golpes por parte dos setores conservadores.</p><p>Nos debates sobre a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), os reformadores advogaram pela</p><p>descentralização do ensino e defenderam suas bandeiras históricas de educação pública,</p><p>gratuita e laica. Por outro lado, os católicos, representados pelos setores conservadores do</p><p>Congresso Nacional, especialmente a UDN, continuaram a apoiar o ensino privado e</p><p>argumentaram que o Estado deveria �nanciar tanto o ensino público quanto o privado.</p><p>Em 1959, de acordo com Aranha (2006), o foco central era a proposta republicana de um ensino</p><p>laico, uma responsabilidade do Estado, e a defesa da democratização do ensino. No entanto,</p><p>devido ao favorecimento das escolas privadas, majoritariamente católicas, a democratização da</p><p>educação foi retardada. Em resposta a essa situação, os reformadores lançaram a Campanha</p><p>em Defesa da Escola Pública, que resultou no "Manifesto dos Educadores Mais uma Vez</p><p>Convocados" em 1959.</p><p>O principal argumento do manifesto era que os recursos públicos deveriam ser exclusivamente</p><p>destinados à educação pública e não deveriam �nanciar instituições privadas. Aranha (2006)</p><p>também argumenta que a LDB, promulgada em 1961, estava desatualizada em relação à</p><p>dinâmica industrial em curso, favorecendo o ensino privado ao permitir �nanciamento público</p><p>para instituições privadas. Com a criação do Conselho Federal de Educação (CFE) e dos</p><p>Conselhos Estaduais de Educação (CEE), nos quais as entidades privadas participavam, a</p><p>pressão e a in�uência desse setor aumentaram.</p><p>O fortalecimento dos interesses privados na educação di�cultava signi�cativamente o acesso</p><p>dos setores historicamente marginalizados. A possibilidade de construção de um sistema de</p><p>ensino público e sua democratização estavam em jogo. As disputas de projetos sociais, que</p><p>opunham os desenvolvimentistas aos setores que defendiam um desenvolvimento econômico</p><p>subordinado aos interesses estrangeiros e às antigas elites oligárquicas dominantes, também se</p><p>manifestavam no campo da educação. Um exemplo disso era a UDN apoiando os católicos</p><p>nesse debate educacional, enquanto os setores progressistas e de esquerda defendiam os</p><p>reformadores.</p><p>Já no governo de João Goulart (1961-1964), que representava legitimamente o nacionalismo</p><p>varguista, foi um período marcado por intensas disputas políticas, instabilidade e tensões sociais</p><p>no Brasil. João Goulart, conhecido popularmente como "Jango", assumiu a presidência em</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>setembro de 1961, após a renúncia de Jânio Quadros. Setores conservadores, como a UDN, a</p><p>grande imprensa, a grande burguesia e os Estados Unidos, buscaram desestabilizar seu governo</p><p>por meio de diversas iniciativas. Isso incluiu a imposição do Parlamentarismo, a oposição</p><p>persistente da UDN e dos meios de comunicação, culminando na deposição de Goulart pelo</p><p>Golpe de 1964. Esse período foi marcado por tensões políticas e sociais que contribuíram para a</p><p>crise e instabilidade no cenário brasileiro.</p><p>Jango era um político ligado às correntes trabalhistas e progressistas, com forte apoio dos</p><p>movimentos sindicais e trabalhadores. Ele implementou algumas medidas que visavam a</p><p>promover reformas estruturais e sociais, o que gerou resistência por parte de setores mais</p><p>conservadores da sociedade brasileira, incluindo setores militares. Jango propôs uma série de</p><p>reformas conhecidas como "Reformas de Base". Estas incluíam reformas agrária, tributária,</p><p>educacional e política, com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais e promover uma maior</p><p>participação popular.</p><p>A LDB, em vigor a partir de 1962, estabeleceu o Conselho Federal de Educação, e o Plano</p><p>Nacional de Educação foi elaborado sob a coordenação de Anísio Teixeira. O Plano previa a</p><p>destinação de no mínimo 12% dos recursos federais para o ensino, criando fundos especí�cos</p><p>para cada nível educacional e desenvolvendo um plano de educação para cada um desses níveis,</p><p>incluindo critérios para os salários dos professores. Anísio Teixeira desempenhou um papel</p><p>signi�cativo durante o início dos anos 1960, permanecendo na direção da CAPES (Coordenação</p><p>de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e do Inep (Instituto Nacional de Estudos e</p><p>Pesquisas Educacionais), além de colaborar diretamente na criação da Universidade de Brasília</p><p>(UnB) em 1961.</p><p>Diante dos interesses privados presentes na LDB e das di�culdades para democratizar a</p><p>educação, vários setores sociais impulsionaram experiências de educação popular. Desde o</p><p>início do século, anarquistas, socialistas, comunistas e organizações do movimento negro</p><p>buscavam formas alternativas de educação, realizando experiências fora das estruturas</p><p>institucionais.</p><p>É importante relembrar o contexto internacional da "Guerra Fria", com a polarização entre o bloco</p><p>socialista e capitalista, viu a URSS fortalecer-se após a Segunda Guerra Mundial, o que, por sua</p><p>vez, fortaleceu o movimento comunista internacional. Nessa condição, os Estados Unidos</p><p>aumentaram seu controle sobre os países latino-americanos, interferindo diretamente em seus</p><p>governos, desestabilizando regimes e apoiando golpes e ditaduras militares.</p><p>Diante da intensi�cação da luta de classes no Brasil e das di�culdades para democratizar a</p><p>educação, surgiram diversas iniciativas educacionais no campo popular. Essas iniciativas</p><p>procuravam conscientizar o povo brasileiro por meio de diversas perspectivas, desde o marxismo</p><p>até o catolicismo, utilizando a cultura e a educação popular como instrumentos. O teatro, as</p><p>artes plásticas, a fotogra�a, a literatura de cordel, os cursos de formação política para</p><p>trabalhadores, exposições, publicações, música, exibição de �lmes e documentários e a</p><p>alfabetização popular foram algumas das propostas pedagógicas que se tornaram espaços de</p><p>expressão dos interesses populares que a dinâmica política do país sufocava.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Apesar de suas limitações, a educação pública expandiu-se durante esse período, com a criação</p><p>de algumas universidades. Os estudantes foram in�uenciados pela crescente politização da</p><p>sociedade. A União Nacional dos Estudantes (UNE), criada em 1937, nas décadas de 1950 e</p><p>1960, foi hegemonizada por setores católicos que se radicalizaram, unindo-se na defesa da</p><p>democratização da educação pública. Entre 1962 e 1964, a UNE estabeleceu o Centro Popular de</p><p>Cultura (CPC) para promover uma cultura engajada e politizada.</p><p>Os Movimentos de Cultura Popular (MCP), inicialmente inspirados nas propostas educacionais</p><p>da Prefeitura de Recife, em Pernambuco, onde Paulo Freire atuou, também se disseminaram. Em</p><p>1961, em Natal, surgiu a "Campanha de pé no chão também se aprende a ler", uma importante</p><p>iniciativa de alfabetização popular. O Movimento de Educação de Base (MEB), criado pelos</p><p>católicos progressistas e coordenado por Paulo Freire, in�uenciado pela Teologia da Libertação,</p><p>desenvolveu uma abordagem pedagógica inovadora e participativa. O MEB promovia a</p><p>alfabetização de adultos e buscava integrar a educação com as realidades sociais, visando à</p><p>conscientização e à transformação social.</p><p>Desdobramentos dos movimentos progressistas</p><p>As ações educacionais aliadas à politização social, trouxeram uma nova dimensão à educação</p><p>popular. Antes centrada principalmente na alfabetização, essa fase incorporou elementos</p><p>nacionalistas e viu o surgimento de iniciativas inovadoras. Exemplos dessas inovações incluem o</p><p>Colégio de Aplicação da USP, que operou entre 1962 e 1966, e os Colégios Vocacionais em</p><p>cidades do estado de São Paulo, como Americana, Batatais, Rio Claro e Barretos. Essas</p><p>iniciativas buscaram proporcionar aos setores populares acesso a uma perspectiva pedagógica</p><p>diferenciada e crítica, despertando a atenção e a oposição de setores conservadores.</p><p>Setores conservadores, liderados por militares, opuseram-se fortemente às propostas de Jango.</p><p>O clima de polarização política e as divergências ideológicas levaram a</p><p>manifestações e</p><p>protestos, tanto a favor quanto contra o governo. Diante da crise política, em 1963, foi instituído o</p><p>sistema parlamentarista, diminuindo os poderes presidenciais. Entretanto, em 1963, um</p><p>plebiscito restabeleceu o presidencialismo. O governo enfrentou desa�os econômicos, como</p><p>in�ação e pressões de diversos setores da sociedade. A busca por soluções para os problemas</p><p>econômicos aumentou a polarização política no país. Em 31 de março de 1964, ocorreu um</p><p>golpe militar que resultou na deposição de João Goulart. Os militares alegaram a necessidade de</p><p>conter ameaças comunistas, corrupção e instabilidade política como justi�cativas para o golpe.</p><p>Com o Golpe Militar de 1964, essas experiências pedagógicas foram interrompidas bruscamente.</p><p>A repressão sobre professores, estudantes e demais pro�ssionais da educação seguiu o mesmo</p><p>padrão da repressão social geral, caracterizada por perseguições, cassações, torturas e</p><p>assassinatos promovidos pelos novos detentores do poder. O espírito crítico adotado nas ações</p><p>educacionais tornou-se alvo das políticas repressivas do regime militar.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: você �cou encarregado de realizar um</p><p>seminário sobre a Educação no período desenvolvimentista, lançando algumas questões para</p><p>sua preparação. Nesse sentido, seguem algumas re�exões:</p><p>Na primeira questão, se a velha estrutura coronelista foi superada durante o período de 1930 a</p><p>1964, podemos responder positiva e negativamente. O projeto político representado pelas elites</p><p>coronelistas foi parcialmente derrotado pelos governos desenvolvimentistas na medida em que</p><p>uma nova dinâmica industrializante foi impulsionada, mas eles não foram totalmente derrotados.</p><p>Se na Europa a velha classe dominante feudal foi destruída pela burguesia, abrindo caminho para</p><p>o pleno desenvolvimento capitalista, no Brasil isso não ocorreu, não houve uma ruptura. Mesmo</p><p>com um projeto de desenvolvimento mais autônomo em relação ao período agroexportador, os</p><p>setores burgueses não romperam totalmente os laços de dependência com os interesses</p><p>externos nem com a velha estrutura latifundiária, o que ajuda a compreender as contradições</p><p>desses governos desenvolvimentistas.</p><p>Em relação à questão sobre como a diversidade de projetos de desenvolvimento repercutiu nos</p><p>projetos educacionais, podemos a�rmar, a partir do que foi indicado anteriormente, que eles</p><p>expressaram essas contradições, limitando-se a propiciar a formação de uma força de trabalho</p><p>para as novas atividades que surgiram, sem alterar o quadro de dualismo escolar existente no</p><p>país. As divergências entre os reformadores e católicos estavam situadas dentro dos limites de</p><p>disputas entre um projeto de desenvolvimento nacional e aquele que foi derrotado em 1930.</p><p>O Golpe de 1964 demonstrou os limites da democracia realmente existente no país, pois as elites</p><p>nacionais e estrangeiras não suportaram nem mesmo os tímidos níveis de democratização</p><p>existentes nesse período. A força dos interesses privados na educação e as di�culdades de</p><p>ampliação do ensino público e gratuito no país expressavam esses limites. O Golpe de 1964, com</p><p>a instituição do ensino tecnicista, permitiu à burguesia uma formação da força de trabalho sem</p><p>os perigos da conscientização que estava em curso no país.</p><p>Saiba mais</p><p>Para se aprofundar na re�exão sobre o processo de alfabetização no Brasil, lei a seguinte</p><p>artigo:</p><p>Memórias da educação: a alfabetização de jovens e adultos em 40 horas, das autoras Maria</p><p>Elizete Guimarães Carvalho e Maria das Graças da Cruz Barbosa.</p><p>No texto você encontrará um interessante estudo sobre as experiências de Paulo Freire na</p><p>construção de seu método de alfabetização de jovens e adultos.</p><p>O governo do presidente João Goulart foi marcado por inúmeras tentativas de</p><p>desestabilização. Para compreender mais sobre o assunto, ouça o episódio João Goulart</p><p>do podcast História em Meia Hora, publicado em outubro de 2022. O podcast apresenta a</p><p>http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8639928</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>vida do presidente trabalhista que nunca concorreu à presidência, que esteve ao lado de</p><p>Vargas e que protagonizou o Golpe de 1964 pelos militares.</p><p>Referências</p><p>ARANHA, M. L. de A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo:</p><p>Moderna, 2006.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e</p><p>organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.</p><p>SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.</p><p>SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2011.</p><p>XAVIER, M. E. S. P.; RIBEIRO, M. L.; NORONHA, O. M. História da educação: a escola no Brasil. São</p><p>Paulo: FTD, 1994.</p><p>Aula 2</p><p>A Educação no Período Militar</p><p>A Educação no Período Militar</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Nesta aula você re�etirá sobre a educação brasileira no período de 1964 a 1988. Essa re�exão é</p><p>importante para a compreensão do período da ditadura militar e do início da redemocratização,</p><p>em que a educação tecnicista foi marcante na política educacional ditatorial. É hora de</p><p>aprofundar o seu conhecimento sobre o assunto. Vamos lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>Compreender a educação brasileira no período de 1964 a 1988 é entender o objetivo dos</p><p>fundamentos da educação brasileira durante o período da ditadura, resultando em um modelo</p><p>tanto social quanto educacional, em uma rigorosa imposição de leis e modelos de vivência frente</p><p>à sociedade brasileira, em um domínio e uma prática de conduta autoritária, revoltando</p><p>intensamente muitos setores da sociedade brasileira.</p><p>Reformas voltadas à transformação da educação tradicional para uma educação tecnicista</p><p>criaram revoltas estudantis e uma insatisfação social muito grande no povo brasileiro quanto aos</p><p>aspectos culturais e políticos que estavam envolvidos naquele momento. As mudanças que</p><p>ocorreram no Brasil e na educação brasileira a partir de 1964 têm impacto até hoje.</p><p>Para nos aprofundarmos no assunto, imaginemos que você é um professor da disciplina de</p><p>História no ensino médio. Você está trabalhando o período da Ditadura Militar com seus alunos.</p><p>Diante disso, você elaborou algumas questões para nortearem o desenvolvimento da sua aula.</p><p>Você já sabe os motivos que levaram ao golpe militar de 1964. Mas que consequências isso</p><p>traria para a educação nacional, para as universidades, para o ensino primário e secundário da</p><p>época e em que isso impactaria as próximas décadas? Quais foram as mudanças implantadas</p><p>no ensino primário, no secundário e na educação de jovens e adultos? E no ensino superior, o que</p><p>mudou?</p><p>Entramos nos anos 1980 sofrendo diretamente as consequências do regime militar. Se por um</p><p>lado a economia cresceu e se modernizou nos anos 1970, por outro, a conta sobrou para as</p><p>gerações futuras. Como estava a economia brasileira nesse período? Nos anos 1970 vivemos o</p><p>“milagre econômico”, mas quais seriam seus re�exos nos anos seguintes? Será que a crise</p><p>econômica explica a de�ciência das políticas públicas, em especial a educação, no período?</p><p>Por falar em políticas públicas, o que estava acontecendo na política nacional nesse período?</p><p>Experimentávamos a abertura política, o fortalecimento da sociedade civil, os debates para a</p><p>elaboração da nova Constituição, até sua promulgação em 1988. O que mudou no Brasil? Que</p><p>transformações ocorreram na educação nacional? Bons estudos!</p><p>Vamos Começar!</p><p>Quais foram os verdadeiros motivos que levaram ao</p><p>estabelecimento de uma ditadura no período</p><p>de 1964 a 1985? Em 31 de março de 1964, ocorreu o golpe militar, destinado a conter o avanço</p><p>das organizações populares durante o governo de João Goulart, rotulado como comunista. O</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>evento central foi a renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961, o que intensi�cou a</p><p>insatisfação de uma parcela da população quanto aos rumos do país. Em março de 1964,</p><p>militares contrários a João Goulart (PTB) o destituíram da presidência, conquistando o poder por</p><p>meio de um golpe de liderança pelas Forças Armadas, instaurando um regime ditatorial que</p><p>perdurou por 21 anos.</p><p>Cada líder desse período apresentou características próprias e especí�cas, com suas</p><p>especialidades. Houve fases distintas, como a fase legalista da ditadura (1964-1968), os anos de</p><p>terror de Estado (1969-1978) e a abertura política (1979-1985), cada uma com suas</p><p>consequências sociais, como desigualdade exacerbada, restrição de acesso da população</p><p>preocupada com informações públicas, aumento da concentração de renda entre a elite, in�ação</p><p>elevada e aumento do endividamento externo.</p><p>Como re�exos relevantes na educação nacional, cabe destacar que uma repressão constante foi</p><p>imposta para controlar professores e o movimento estudantil, resultando em alterações nos</p><p>cursos e na in�ltração de agentes em salas de aula para monitorar e controlar docentes. Nas</p><p>universidades públicas, foram implementados sistemas de vigilância e espionagem direcionados</p><p>a professores, estudantes e técnicos-administrativos, culminando em casos de desaparecimento,</p><p>privação de empregos e interrupção de pesquisas acadêmicas.</p><p>Durante o regime militar, a educação passou por sucessivas reformas, incluindo a</p><p>obrigatoriedade curricular e a reformulação da disciplina de Educação Moral e Cívica,</p><p>incorporando elementos de Sociologia e Filoso�a, além de integrar partes da disciplina</p><p>Organização Social e Política Brasileira (OSPB).</p><p>A Lei nº 5.540/68 promoveu reformas no ensino superior, incluindo a privatização de instituições</p><p>e o estabelecimento de instituições de menor porte. Já a Lei nº 5.692/71 representou uma</p><p>"atualização" na estrutura de ensino, o�cializando a transição do curso primário e antigo ginásio</p><p>para o "1º grau", re�etindo a intenção do governo militar de formalizar a formação pro�ssional da</p><p>população desde a adolescência.</p><p>A conjuntura social do período militar</p><p>Ao assumirem o governo, os militares implementaram seu projeto político, econômico e social,</p><p>resultando no que �cou conhecido como "milagre econômico" nos anos subsequentes. Isso se</p><p>refere ao notável crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que representa o valor de toda</p><p>produção interna, durante parte do período militar. O rápido crescimento e a diversi�cação do</p><p>parque industrial exigiam, de maneira urgente, a formação de uma mão de obra quali�cada.</p><p>O “milagre econômico” fundamentou-se, principalmente, na abertura da economia para</p><p>investimentos estrangeiros, nos investimentos estatais, na ampliação do crédito, na</p><p>concentração de renda que elevou a margem de lucro e o retorno dos investimentos, bem como</p><p>nos investidores internacionais públicos e privados a juros �utuantes.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Para enfrentar a oposição, além da deposição do presidente, foi necessário estabelecer um</p><p>aparato repressor, baseado nos Atos Institucionais (AIs), que gradualmente descaracterizaram a</p><p>Constituição de 1946. Os Atos Institucionais foram uma série de decretos emitidos durante o</p><p>regime militar no Brasil, entre 1964 e 1969, que conferiram poderes extraordinários ao governo e</p><p>tiveram impacto signi�cativo na estrutura política e social do país. Eles foram utilizados como</p><p>instrumentos para consolidar o controle dos militares sobre o poder e para responder à oposição</p><p>política. Alguns dos Atos Institucionais mais relevantes incluem:</p><p>AI-1 (9 de abril de 1964): este Ato extinguiu todos os partidos políticos existentes,</p><p>suspendeu garantias constitucionais e autorizou o presidente a legislar por decretos.</p><p>AI-2 (27 de outubro de 1965): este Ato decretou o bipartidarismo, permitindo apenas dois</p><p>partidos políticos: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), de apoio ao governo, e o</p><p>Movimento Democrático Brasileiro (MDB), considerado uma oposição controlada.</p><p>AI-3 (5 de fevereiro de 1966): ampliou os poderes do Executivo, estabelecendo eleições</p><p>indiretas para governadores de estados e prefeitos das capitais.</p><p>AI-5 (13 de dezembro de 1968): este foi o Ato Institucional mais severo e autoritário. Ele</p><p>conferiu ao presidente poderes para encerrar o Congresso Nacional, decretar estado de</p><p>sítio, cassar mandatos parlamentares, suspender direitos políticos e prender indivíduos</p><p>considerados subversivos, sem a necessidade de habeas corpus. O AI-5 marcou o auge da</p><p>repressão e resistência do regime.</p><p>Os Atos Institucionais foram desenvolvidos para a concentração de poder nas mãos do governo</p><p>militar, restringindo as liberdades civis, promovendo a censura e reprimindo qualquer forma de</p><p>oposição ao regime. Esses decretos tiveram um impacto profundo na história política e social do</p><p>Brasil durante esse período. O AI-5 decretou o fechamento de�nitivo do regime. A partir desse</p><p>ponto, ocorreram prisões arbitrárias, exílio, torturas e assassinatos de forma generalizada,</p><p>praticamente dizimando os opositores.</p><p>Desde o início, o novo governo buscou eliminar a oposição, incluindo ex-presidentes,</p><p>governadores, diplomatas, sindicalistas, o�ciais militares, professores, entre outros (Skidmore,</p><p>1988). Durante o período de 1964 a 1985, testemunhamos a consolidação de um modelo muito</p><p>diferente das propostas de reformas de base, que originalmente visavam à distribuição de renda</p><p>e ao crescimento sustentável, sem depender signi�cativamente de empréstimos internacionais,</p><p>especialmente dos Estados Unidos.</p><p>No tocante à educação, as reformas educacionais, ao longo de diferentes contextos históricos,</p><p>evidenciaram a in�uência do empresariado nacional e internacional, uma vez que o mercado</p><p>local e global exerce um papel determinante nas diretrizes do setor educacional. Nesse cenário,</p><p>tais iniciativas tendem a servir aos interesses de uma elite empresarial e cultural, alinhada à</p><p>realidade econômica da sociedade em questão.</p><p>É notável que essas reformas muitas vezes são concebidas sem uma participação signi�cativa</p><p>da sociedade, resultando em desa�os persistentes. No Brasil, por exemplo, a ausência de uma</p><p>abordagem participativa da sociedade na elaboração de políticas educacionais contribui para a</p><p>persistência de um elevado número de pessoas não alfabetizadas, bem como para a baixa</p><p>qualidade do aprendizado na sociedade. Essas lacunas di�cultam a e�cácia do sistema</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>educacional em cumprir seu papel fundamental de redução das desigualdades culturais, políticas</p><p>e econômicas entre os mais desfavorecidos.</p><p>Siga em Frente...</p><p>As reformas educacionais no período militar</p><p>A repressão durante a ditadura não se restringiu apenas às �guras políticas, alcançando também</p><p>professores e estudantes. Entre os que foram cassados e exilados, destacam-se personalidades</p><p>como Celso Furtado e Paulo Freire (Skidmore, 1988). Professores que se opuseram ao regime</p><p>foram alvo de prisões, exílios ou aposentadorias compulsórias, como no caso de Florestan</p><p>Fernandes. Anísio Teixeira, pioneiro desde os anos 1930 e que atualmente dá nome ao Inep</p><p>(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), foi deposto do cargo de</p><p>reitor da UNB em 1964. Em 1971, seu corpo foi encontrado no fosso de um elevador,</p><p>provavelmente mais uma vítima fatal da ditadura.</p><p>Buscando intensi�car a repressão após a implementação do AI-5, foi promulgado em fevereiro de</p><p>1969 o Decreto-Lei nº 477, que proibia qualquer debate político nas universidades. Em setembro</p><p>de 1969, através do Decreto-Lei nº 869, foram adicionadas as disciplinas acríticas de Educação</p><p>Moral e Cívica e Organização Política Social e Brasileira no ensino básico, enquanto os cursos</p><p>nos superiores foram incluídos</p><p>na disciplina de Estudo de Problemas Brasileiros.</p><p>Em 1970, o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) foi implantado em substituição ao</p><p>Plano Nacional de Alfabetização do governo João Goulart, que foi extinto em 1964. Embora</p><p>teoricamente baseado na metodologia de Paulo Freire, na prática, foi distorcido pela</p><p>impossibilidade de conscientização e conexão com a realidade concreta. Segundo Aranha</p><p>(2006), os resultados foram modestos, reduzindo a taxa de analfabetismo de 33% em 1970 para</p><p>28,5% em 1972.</p><p>Lei nº 5.540, de 1968</p><p>Aprovada em tempo recorde pelo Congresso, que em parte era cumplice e em parte intimida</p><p>pelos militares, a Lei nº 5.540/68 alterou o ensino superior. As faculdades foram uni�cadas em</p><p>universidades. Medidas como a implementação do ciclo básico, a de�nição de cursos de curta e</p><p>longa duração, além do estabelecimento de programas de pós-graduação foram empregados.</p><p>Matrículas por disciplinas, sistema de créditos foram implantados e ocorreu a nomeação de</p><p>diretores e reitores que não necessariamente eram professores.</p><p>A escassez de recursos se revelava em uma insu�ciência de vagas, o que propiciou a expansão</p><p>do ensino privado em nível superior. Entre 1970 e 1980, o número de instituições públicas</p><p>aumentou de 184 para 200 (um incremento de 8,7%), enquanto as instituições privadas passaram</p><p>de 2.221 para 4.394 (um aumento signi�cativo de 97,8%), conforme apontado por Frigotto e</p><p>Sousa (2005).</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Apesar de serem �nanciadas com recursos públicos, as faculdades privadas, geralmente menos</p><p>exigentes e equipadas, direcionaram sua especialização para atender aqueles que não obtiveram</p><p>aprovação nos vestibulares das universidades públicas. Esse cenário deu origem ao modelo de</p><p>instituições de ensino de qualidade inferior, com mensalidades pagas, focadas em atender a</p><p>população de menor poder aquisitivo, enquanto as vagas nas instituições públicas eram</p><p>ocupadas majoritariamente pelos mais privilegiados. Esse ciclo dualista acabou se fortalecendo</p><p>ao longo do tempo.</p><p>Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692, de 1971</p><p>Durante o período ditatorial as corretes teóricas positivista e tecnicista in�uenciaram de maneira</p><p>mais contundente a educação. A Lei nº 5.692/71 vinha como uma “atualização” da estrutura de</p><p>ensino do país, efetivando a mudança do curso primário e o antigo ginásio para “1º grau”, sendo</p><p>que, com sua promulgação, o governo militar tinha a intenção de o�cializar a formação do povo</p><p>para o trabalho ainda na fase da adolescência. Dentre as mudanças, podem ser destacadas a:</p><p>Redução do percentual mínimo da arrecadação federal destinada à educação.</p><p>Uni�cação do ensino primário com o ginasial, eliminando os exames de admissão e</p><p>ampliando a obrigatoriedade de quatro para oito anos de escolaridade. Contudo, essa</p><p>obrigatoriedade não se concretizou na prática, devido à carência de estrutura, recursos e</p><p>professores.</p><p>Criação do segundo grau pro�ssionalizante, que pretendeu oferecer uma formação técnica</p><p>ao estudante ao �nal do ensino secundário, reduzindo a pressão pelo aumento do ensino</p><p>superior.</p><p>Obrigatoriedade de disciplinas como Educação Física, Educação Moral e Cívica,</p><p>Organização Social e Política Brasileira, Educação Artística, Programa de Saúde e Religião.</p><p>Extinção das disciplinas de Filoso�a e Sociologia e a uni�cação das disciplinas de História</p><p>e Geogra�a em Estudos Sociais no primeiro grau, caracterizando um ensino mais prático e</p><p>acrítico.</p><p>A Escola Normal, destinada à formação de professores do primeiro grau, foi desativada.</p><p>Redução da idade mínima legal para o trabalho para 12 anos, incentivando, assim, a evasão</p><p>escolar.</p><p>A educação tecnicista</p><p>Naquele contexto, a função principal da educação era preservar a consonância entre o modelo</p><p>econômico predominantemente e o controle militar. O epicentro era um capitalismo não liberal,</p><p>cujas repercussões se re�etiam na dinâmica cotidiana da população brasileira. A teoria que</p><p>fundamentou o sistema educacional brasileiro naquela época era a teoria do capital humano,</p><p>divulgada nos setores da economia, do planejamento e da educação.</p><p>A denominação "educação tecnicista" refere-se à adaptação da educação às exigências e</p><p>necessidades da sociedade capitalista e industrial, direcionando o ensino para o trabalho em</p><p>detrimento de uma abordagem mais abrangente do conhecimento. Enquanto as elites tinham</p><p>acesso a uma formação geral, não restrita ao âmbito pro�ssional, a educação tecnicista buscava</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>formar indivíduos de maneira segmentada, desprovida de uma visão integrada, focada nas</p><p>demandas da produção e não no desenvolvimento de uma re�exão sobre o mundo.</p><p>A ascensão dos setores conservadores ao poder, tanto no Brasil como em países vizinhos,</p><p>ocorreu muitas vezes de maneira coercitiva, seguindo uma lógica incentivada pelos interesses</p><p>norte-americanos. Essas legislações propiciaram a privatização e o aumento do dualismo</p><p>escolar. Muitas escolas privadas, ao invés de adotar a abordagem pro�ssionalizante, optaram por</p><p>se especializar na preparação para o vestibular, contribuindo para a criação de uma escola</p><p>voltada para a elite, que preparava os estudantes para ingressarem na universidade, enquanto</p><p>outra vertente, focada em conhecimentos técnicos, acabaram sendo relegados àqueles que não</p><p>puderam arcar com os custos de uma instituição de ensino particular.</p><p>O processo de redemocratização</p><p>Após alguns anos, o denominado “milagre econômico” desapareceu e, em seu lugar, surgiu a</p><p>fatura resultante do endividamento irresponsável a juros �utuantes. O modelo econômico,</p><p>caracterizado pela concentração de renda e dependência da economia global mostrou-se</p><p>insustentável. Aliado à crise das décadas de 1980 e 1990, esse modelo deu origem a uma</p><p>geração de pessoas em condições de extrema pobreza, subnutridas e desprovidas de direitos.</p><p>Com a crise do petróleo e o aumento das taxas de juros internacionais na metade dos anos 1970,</p><p>o sistema começou a entrar em colapso. O �m dos investimentos em obras públicas e privadas,</p><p>que coincidiu mais ou menos no mesmo período, resultou em maior desemprego. O vencimento</p><p>dos empréstimos contraídos nos anos anteriores agravou ainda mais a situação. Entre 1980 e</p><p>1983, o PIB encolheu 7%, a concentração de renda aumentou e a sociedade brasileira passou as</p><p>duas próximas décadas em busca de soluções para a crise provocada pelo que foi chamado de</p><p>"milagre", embora muitos ainda não percebam isso.</p><p>Na segunda metade da década de 1980, aconteceram uma série de planos econômicos com o</p><p>objetivo de combater a in�ação, resultado da desorganização da economia e da disputa pela</p><p>renda nacional por parte dos setores economicamente mais poderosos. Esses setores se</p><p>bene�ciaram do aumento de preços ou da proteção dos rendimentos por meio do sistema de</p><p>correção monetária.</p><p>Diante do obstáculo signi�cativo representado pela escassez de recursos, foram tomadas</p><p>medidas inovadoras para tentar solucionar esse problema. Em 1983, a Emenda Constitucional nº</p><p>24 foi aprovada, alterando o Art. 176 da Constituição. Essa emenda estabeleceu que a União</p><p>deveria destinar pelo menos 13% da receita proveniente de impostos para a área da educação,</p><p>enquanto os Estados e municípios deveriam alocar pelo menos 25%.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>No entanto, o governo federal não apenas deixou de cumprir essa legislação, como, no ano</p><p>subsequente, enviou ao Congresso um orçamento com despesas ainda mais reduzidas para a</p><p>educação (Gomes et al., 2007). Foi necessário aguardar a aprovação da Lei nº 7.348, em 1985,</p><p>proposta pelo Senador João Calmon, para que esse investimento mínimo fosse efetivamente</p><p>garantido, regulamentando assim a Emenda de 1983.</p><p>Constituição Federal de 1988</p><p>A Constituição de 1988, conhecida também como a constituição cidadã, é um marco importante</p><p>da nossa democracia. O Brasil se reencontrava com a democracia, e o debate político,</p><p>interrompido em 1964, ressurgia com vigor. Temas cruciais foram discutidos intensamente,</p><p>abrangendo desde os direitos fundamentais do cidadão, sistema de</p><p>governo, direitos trabalhistas</p><p>e previdenciários, monopólio estatal do petróleo, reforma agrária, até direitos sociais, incluindo a</p><p>criação do Sistema Único de Saúde (SUS), modelo de previdência social, �nanciamento da</p><p>educação, entre tantos outros. A Constituição ampliou os investimentos obrigatórios na área da</p><p>Educação, elevando o percentual mínimo dos impostos da União destinados a essa</p><p>especi�camente de 13% para 18%, enquanto para Estados e municípios se mantiveram em 25%,</p><p>estabelecendo o maior percentual da história do país.</p><p>Além disso, o Artigo 206 da Constituição destaca os seguintes princípios para a Educação:</p><p>Igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola.</p><p>Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.</p><p>Pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, bem como a coexistência de instituições</p><p>públicas e privadas de ensino.</p><p>Gratuidade do ensino público em estabelecimentos o�ciais.</p><p>Valorização dos pro�ssionais de ensino, incluindo plano de carreira, piso salarial e</p><p>contratação por meio de concursos.</p><p>Gestão democrática do ensino público e garantia de padrão de qualidade.</p><p>É evidente que a Constituição não possui um poder mágico capaz de transformar imediatamente</p><p>a realidade. No entanto, ao enumerar esses princípios e fontes de �nanciamento, apontava a</p><p>direção que a educação nacional deveria seguir. Além desses princípios, o Artigo 208 da</p><p>Constituição previa:</p><p>Atendimento em creches e pré-escolas para crianças de 0 a 6 anos.</p><p>Instituição do ensino fundamental obrigatória e gratuita, com extensão progressiva ao</p><p>ensino médio, sendo a autoridade competente passível de punição caso não oferecesse as</p><p>vagas necessárias.</p><p>Prestação de atendimento educacional especializado para pessoas com de�ciência,</p><p>preferencialmente na rede regular de ensino.</p><p>A Constituição também determinou a Autonomia Universitária (Art. 207) e a obrigatoriedade de</p><p>elaboração de um Plano Nacional de Educação de duração Plurianual (Art. 214). Nos anos</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>seguintes, ocorreram modi�cações importantes, incluindo a aprovação da Lei de Diretrizes e</p><p>Bases da Educação (LDB) em 1996 e dos Planos Nacionais de Educação (PNE) em 2001 e 2014.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: você é um professor da disciplina de</p><p>História no ensino médio e está trabalhando o período da Ditadura Militar com seus alunos.</p><p>Diante disso, você elaborou algumas questões para nortearem o desenvolvimento da sua aula.</p><p>Quais as consequências da ditadura para a educação nacional? Quais foram as mudanças</p><p>implantadas no ensino primário, no secundário e na educação de jovens e adultos? E no ensino</p><p>superior, o que mudou? Como estava a economia brasileira neste período? Será que a crise</p><p>econômica explica a de�ciência das políticas públicas, em especial a educação, no período? Por</p><p>falar em políticas públicas, o que estava acontecendo na política nacional nesse período? O que</p><p>mudou no Brasil? Que transformações ocorreram na educação nacional?</p><p>O golpe militar teve por trás interesses econômicos ligados ao empresariado, aos partidos</p><p>conservadores, como a UDN, e aos Estados Unidos. Todos eles defendiam uma ruptura com as</p><p>bandeiras defendidas nas reformas de base. Logo, o modelo deles só poderia ser diferente, e</p><p>realmente era. Suas políticas acabaram com o debate democrático, de�niram uma educação</p><p>tecnicista que pensava como fazer, mas não no que fazer ou por que fazer. Formaram pessoas</p><p>sem liberdade e sem senso crítico capazes de combater o modelo e o regime, por meio da</p><p>eliminação ou redução das disciplinas da área de humanas, como História e Geogra�a, além da</p><p>�loso�a, priorizando disciplinas técnicas voltadas à formação para o trabalho.</p><p>Isso teria repercussão por toda uma geração e, portanto, no futuro do país. As perseguições aos</p><p>professores e intelectuais, como Anísio Teixeira e Paulo Freire, e a repressão ao movimento</p><p>estudantil e aos sindicatos perseguidos desde a década de 1950 pelos setores conservadores</p><p>(agora vitoriosos) permitiram o cerceamento do livre pensar e da oposição ao regime,</p><p>necessários para a concentração de renda e poder. Este modelo econômico, político e</p><p>educacional gerou graves consequências, obrigando o país a percorrer duas décadas, 1980 e</p><p>1990, até tentar novamente retomar seu rumo. Entretanto, o crescimento acelerado e</p><p>concentrador de renda do “milagre” gerou sua própria crise, agravada pelo aumento dos preços</p><p>do petróleo importado e dos juros internacionais.</p><p>O Brasil literalmente “quebrou” nos anos 1980. Por outro lado, a sociedade se fortaleceu, criou</p><p>entidades e organismos em sua defesa, exigiu a democratização e os militares deixaram o</p><p>governo. Era hora de se criar um novo país e isso exigia uma nova Constituição. Mas os re�exos</p><p>da crise econômica foram implacáveis sobre a capacidade dos governos em garantir, na prática,</p><p>uma sociedade mais justa. Passamos toda a década de 1980 brigando contra a dívida externa e</p><p>a desorganização da economia, que se traduzia em taxas assombrosas de in�ação.</p><p>Por outro lado, as composições políticas que apoiavam os governos – primeiros os militares, até</p><p>1985, e depois a Nova República, até 1990, eram incapazes de pensar um projeto político e</p><p>econômico que efetivamente ampliasse os direitos inaugurados com a Constituição. A sociedade</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>exigia mais democracia, mais direitos, mais renda, enquanto o governo resistia em conceder</p><p>pequenos avanços concretos. Tratava-se da disputa pela renda nacional, além da incapacidade</p><p>de se construir consensos – mesmo entre os grupos dominantes – que permitissem superar a</p><p>crise.</p><p>Nessa conjuntura toda conseguimos, ao menos do ponto de vista legal, grandes avanços na</p><p>Constituição, que consagrou uma série de novos direitos civis e trabalhistas. Apontava para um</p><p>país mais igual, mais tolerante e democrático, bem diferente dos anos 1970.</p><p>Saiba mais</p><p>Para saber mais sobre a repressão indiscriminada no período militar, conheça o projeto</p><p>Brasil Nunca Mais, desenvolvido pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Arquidiocese de</p><p>São Paulo nos anos oitenta, sob a coordenação do Rev. Jaime Wright e de Dom Paulo</p><p>Evaristo Arns.</p><p>A constituição de 1988 trouxe inúmeras mudanças para a sociedade brasileira após o</p><p>período ditatorial. A população brasileira se reencontrava com direitos que haviam sido</p><p>amplamente retirados. Vale a pena dar uma olhada em como políticos até hoje na ativa se</p><p>posicionaram frente aos direitos trabalhistas. Pela análise das votações das bancadas do</p><p>PT, do PSDB, do PMDB e do PFL é possível compreender as diferenças de concepção que</p><p>polarizariam as disputas eleitorais nos trinta anos seguintes, ou seja, até hoje.</p><p>DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR. Quem foi quem na</p><p>Constituinte – nas questões de interesse dos trabalhadores. São Paulo: Cortez/Oboré, 1988.</p><p>Referências</p><p>ARANHA, M. L. de A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo:</p><p>Moderna, 2006.</p><p>BRASIL. Lei nº 5.540/68, de 28 de novembro de 1968. Fixa normas de organização e</p><p>funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras</p><p>providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5540.htm. Acesso em: 11</p><p>fev. 2024.</p><p>BRASIL. Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-05-68.htm. Acesso em: 13 mar. 2017.</p><p>BRASIL. Lei nº 5.692/71. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5692.htm.</p><p>Acesso em: 11 fev. 2024.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>http://bnmdigital.mpf.mp.br/#!/o-que-e-o-bnm</p><p>https://www.diap.org.br/index.php/publicacoes/category/79-quem-foi-quem-na-constituinte-nas-questoes-de-interesse-do-trabalhadores-1988</p><p>https://www.diap.org.br/index.php/publicacoes/category/79-quem-foi-quem-na-constituinte-nas-questoes-de-interesse-do-trabalhadores-1988</p><p>https://www.diap.org.br/index.php/publicacoes/category/79-quem-foi-quem-na-constituinte-nas-questoes-de-interesse-do-trabalhadores-1988</p><p>�losó�co na modernidade. Curitiba: Intersaberes, 2019. Cap. 3. p. 106-113. ISBN: 978-85-227-</p><p>0065-3. [Biblioteca Virtual 3.0].</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/193177</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/193177</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Referências</p><p>ALVES, R. Filoso�a da ciência. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2001.</p><p>ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969.</p><p>ARANHA, M. L. de A. Filoso�a da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1994.</p><p>CHAUI, M. Convite à �loso�a. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Col. Os</p><p>Pensadores.</p><p>Aula 2</p><p>Antropologia Filosó�ca</p><p>Antropologia Filosó�ca</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você irá conhecer mais sobre o ser humano e sobre as diferentes visões de mundo</p><p>(ou concepções) que podem ser empregadas no seu entendimento. Você conhecerá também a</p><p>Antropologia Filosó�ca, ramo do conhecimento que permite compreender melhor o ser humano e</p><p>suas interações. Esses tópicos são importantes para a sua formação, pois permitirão que você</p><p>amplie o olhar sobre o ser humano, de modo mais totalizante. Prepare-se para essa jornada de</p><p>conhecimento! Vamos lá!</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Ponto de Partida</p><p>Entre os diversos campos do conhecimento humano dedicados ao estudo do ser humano,</p><p>destaca-se a antropologia �losó�ca. Essa área do saber se con�gura como uma análise</p><p>sistemática e fundamentada sobre a vida humana e seu destino, abrangendo suas faculdades e</p><p>operações, bem como suas relações interpessoais, todas referenciadas à totalidade do ser</p><p>humano. As ciências especí�cas que abordam o ser humano não conseguem oferecer uma</p><p>resposta satisfatória à pergunta essencial: "O que é o ser humano?". A ausência de uma resposta</p><p>adequada a essa indagação é desorientadora, uma vez que os estudos nessas áreas tendem a</p><p>ser parciais e especializados, ressaltando, assim, a importância crucial da antropologia �losó�ca.</p><p>Vamos pensar na seguinte situação: ao acompanhar as aulas de ciências do professor Carlos</p><p>nas turmas do ensino fundamental, você percebe que elas são realizadas sempre do mesmo</p><p>modo, o professor apresenta o conteúdo, veri�ca as dúvidas dos alunos e �naliza com uma</p><p>atividade. Isso o deixa intrigado, pois nem sempre o conteúdo é assimilado pelos alunos. Você</p><p>resolve então ir conversar com a professora Tânia, responsável pela disciplina de História, para</p><p>tentar saber o que ela tem feito para conquistar os estudantes, buscando fazer com que eles</p><p>aprendam de modo mais signi�cativo. Tânia diz que ela tenta sempre de modos diferentes, pois</p><p>não é possível achar um único método que dê conta de realizar plenamente a atividade docente.</p><p>Nenhum professor nasce sabendo como ser um bom docente. Do mesmo modo, nenhum</p><p>educador morre sabendo todos os elementos para ser um bom professor. O estagiário em sala</p><p>de aula aprende, aos poucos, a dosar o aprendizado de seus estudos e o aprendizado de sua</p><p>prática, junto aos outros professores. Quando você busca falar com Tânia, percebemos uma</p><p>ampliação dos horizontes de percepção, entendendo não existir um caminho que seja “o” correto.</p><p>O docente em formação vê a necessidade de buscar caminhos para pensar possíveis novos</p><p>modos de conceber o fazer educativo. Você consegue perceber que ganhos o educador tem, em</p><p>sua formação, quando passa a olhar além de sua experiência. Até que ponto a prática ensina?</p><p>Até que ponto isso cabe à teoria?</p><p>Vamos Começar!</p><p>O que é o homem, o ser humano? Você já parou e prestou atenção sobre esse animal que somos</p><p>nós? Que somos diferentes dos animais ditos “irracionais” isso sabemos, e não é difícil que se</p><p>perceba isso. Mas quem é exatamente o homem? Não temos a resposta para essa questão e</p><p>isso faz com que a Filoso�a se debruce sobre ela, na tentativa de desenvolvê-la melhor. Diversos</p><p>são os olhares que podem ser lançados sobre o ser humano – cada um tem um embasamento, a</p><p>partir do qual constrói uma teoria. A Filoso�a também lança um olhar especí�co na busca de</p><p>entender melhor o homem por meio da Antropologia Filosó�ca.</p><p>Discutimos o ato educativo como uma característica inerente ao ser humano. Ao longo do</p><p>tempo, os seres humanos reconheceram a importância e a necessidade de transmitir o</p><p>conhecimento adquirido a outros, independentemente da idade. Diversos objetivos podem ser</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>atribuídos ao ato educativo, todos re�etindo a ideia crucial de compartilhar algo signi�cativo</p><p>daqueles que possuem conhecimento para aqueles que ainda não o possuem.</p><p>Entretanto, o método de ensino não é uma abordagem categoricamente de�nida. É ao contrário,</p><p>um tema sujeito a debate, variando de acordo com os indivíduos e seus contextos. A educação</p><p>visa capacitar o ser humano a alcançar níveis mais elevados em sua existência. No entanto, o ser</p><p>humano não é um ser "�nalizado"; está em constante transformação, adaptando-se às situações</p><p>em que se encontra. Diante dessa dinâmica, surge a questão: será que não há uma essência</p><p>humana subjacente que poderia contribuir para uma compreensão mais profunda do ser</p><p>humano, permitindo assim a organização de um ato educativo mais e�caz?</p><p>Diferentes visões de mundo</p><p>Podemos falar em diferentes concepções ou visões de mundo para pensarmos o ser humano. É</p><p>importante ter em mente que “concepção” signi�ca tratarmos de uma determinada ideia que</p><p>fazemos de algo. Não signi�ca que este seja, necessariamente, do modo como o estamos</p><p>pensando. Isso ocorre, pois, em Filoso�a, a verdade é uma busca constante e, assim, não há</p><p>ideias que devam ser tomadas como o que deve ser aceito sem questionamento. “Concepção” é</p><p>uma maneira de se entender um objeto.</p><p>O pensamento atual foi forjado ao longo de milênios e embora usemos o termo no singular (o</p><p>pensamento), reconhecemos que não há uma única maneira de pensar. Ao interagir com a</p><p>natureza e viver em sociedade, os seres humanos se deparam com diversos estímulos e</p><p>interações, resultando no desenvolvimento de inúmeras e variadas abordagens para</p><p>compreender e explicar o funcionamento do mundo físico e social ao seu redor.</p><p>Nesse cenário, surgem diversas concepções, sendo duas delas destacadas: a essencialista e a</p><p>naturalista. Ambas enfatizam a importância de considerar o princípio da diversidade.</p><p>Consequentemente, a educação, de acordo com ambas as perspectivas, busca realizar o</p><p>potencial que cada ser humano deve alcançar.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Concepção essencialista</p><p>Para compreender o sentido da concepção essencialista, o caminho mais fácil ao qual devemos</p><p>recorrer é o da palavra: “essencialista”, que nos remete ao termo “essência”. E o que é essência?</p><p>Em outras palavras, a essência fala daquilo que algo deve trazer em si de modo necessário, fala</p><p>daquilo que algo tem de ser. Esta não muda – deve apenas ser descoberta.</p><p>Nesse contexto, ao pensarmos em uma perspectiva essencialista do ser humano, estamos</p><p>lidando com uma idealização. Sendo assim, a concepção essencialista do ser humano busca</p><p>de�nir o que seria o homem ideal, servindo como base para o desenvolvimento de práticas</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>educativas, por exemplo. Contudo, para além do esforço em reconhecer a essência humana, é</p><p>crucial ponderar sobre as implicações dessa abordagem.</p><p>Ao estabelecermos um ideal, criamos um modelo, um padrão, um alvo a ser atingido. Em outras</p><p>palavras, ao concebermos o ser humano como dotado de uma essência, passamos a</p><p>compreender que ele só pode alcançar plenitude ao perseguir essa essência como seu objetivo</p><p>máximo. Fora desse</p><p>e pouca ação. Na área da educação, criou o Projeto de Reconstrução Nacional (1991)</p><p>para compartilhar as responsabilidades entre governo, sociedade e iniciativas privadas, porém</p><p>�cou apenas no papel.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Governo Fernando Henrique Cardoso</p><p>Fernando Henrique Cardoso foi presidente por dois mandatos consecutivos, de 1995 a 2002.</p><p>Durante seu governo, o Brasil passou por várias transformações econômicas e sociais. O Plano</p><p>Real foi lançado em 1994 por Itamar Franco, conseguiu controlar a hiperin�ação e estabilizar a</p><p>moeda brasileira. O governo buscou políticas de estabilização econômica e reformas estruturais.</p><p>Ele promoveu a abertura econômica, privatizações de empresas estatais, reformas na</p><p>previdência social e alterações no setor �nanceiro. Entretanto, ao se apoiar nas importações para</p><p>segurar os preços internos, consumiu nossas reservas cambiais e deixou o país dependente da</p><p>economia internacional. Gerou desemprego, recessão e baixo crescimento econômico ao longo</p><p>de vários anos.</p><p>Apesar de o PSDB nascer como um partido de centro, com nome de centro-esquerda (social-</p><p>democracia), logo abraçou os ideais liberais. No governo, a partir de 1995, tendo como vice o</p><p>PFL, privatizou estatais, reduziu direitos previdenciários, deu mais liberdade ao capital e</p><p>aumentou os juros. Foi inserido nesse cenário político e econômico em que a nova LDB foi</p><p>elaborada em 1996, a reforma do ensino técnico em 1997 e o primeiro Plano Nacional de</p><p>Educação, em 2001.</p><p>A Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394, de 1996</p><p>A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394/96, é uma legislação brasileira</p><p>que estabelece as diretrizes e bases da educação no país. Ela foi promulgada em 20 de</p><p>dezembro de 1996 e revogou a LDB anterior, de 1961. A LDB 9.394/96 é uma legislação</p><p>fundamental que orienta o sistema educacional brasileiro, abrangendo desde a educação básica</p><p>até o ensino superior. A demora entre a redemocratização e a promulgação de uma nova LDB se</p><p>deu em grande parte aos ideais de educação defendidos pelos diferentes blocos sociais que</p><p>ocupavam o poder.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Partidos mais à direita ou conservadores eram contrários às mudanças e aos defensores do</p><p>“capitalismo expropriador” brasileiro, combatiam propostas de mudanças ou de melhorias</p><p>salariais de professores. Outro bloco era chamado de “mudancista” e propunha ampliação dos</p><p>direitos sociais e alguma abertura do sistema educacional. O terceiro bloco, minoritário, com</p><p>apenas 9,9% dos deputados, chamado por elas de “transformador”, defendia ampla</p><p>transformação do sistema econômico e educacional.</p><p>Como o bloco conservador e os chamados mudancistas eram ampla maioria, a proposta da LDB</p><p>elaborada pelas entidades e pelos setores educacionais foi substituída por uma proposta que</p><p>imprimia uma visão neoliberal à educação nacional. Segundo Aranha (2006, p. 325), a nova LDB</p><p>não garantiu a “esperada democratização da educação, sobretudo porque o Estado delegou ao</p><p>setor privado grande parte de suas obrigações”. Assim, muitos estudiosos consideram que a</p><p>proposta mais progressista foi derrotada pela proposta do governo que representava um</p><p>retrocesso político e pedagógico para a educação escolar.</p><p>Enquanto o projeto original previa a integração da educação pro�ssional com a formação geral e</p><p>humanística, o texto aprovado separou esses aspectos, possibilitando que a formação</p><p>pro�ssional fosse ministrada por instituições especializadas ou no ambiente de trabalho. Essa</p><p>separação incentivou a expansão de escolas privadas focadas "nas demandas do mercado,</p><p>priorizando, assim, a preparação prática" (Aranha, 2006, p. 325). Martins (2000) também destaca</p><p>críticas semelhantes à LDB, ao examinar a relação com a reforma do ensino técnico pelo Decreto</p><p>nº 2.208/97. Essa reforma, ao ser segmentada e desprovida de formação geral fortaleceu uma</p><p>dualidade existente em nosso sistema educacional.</p><p>Outros pontos negativos podem ser destacados, tais como a redução da exigência de</p><p>professores, mestres e doutores nas universidades e a não obrigatoriedade das disciplinas de</p><p>Filoso�a e Sociologia. Além disso, a legislação permitiu a concessão de bolsas de estudo em</p><p>instituições privadas quando não houvesse vagas em instituições públicas, em vez de investir</p><p>esses recursos para a expansão do setor público.</p><p>Contudo, a LDB também trouxe aspectos positivos, como uma melhor de�nição do que não pode</p><p>ser considerado despesa com manutenção do ensino, evitando assim o desvio de recursos para</p><p>outras áreas. Outro avanço foi a exigência de que os professores tenham formação universitária</p><p>e não apenas o antigo magistério. Simultaneamente à discussão e aprovação da LDB, o governo</p><p>propôs e aprovou a Emenda Constitucional nº 14, em 1996, que priorizava os investimentos no</p><p>ensino fundamental, por meio da criação do Fundef. Segundo Libâneo (2012, p. 186), “a</p><p>centralização dos recursos em nível federal [...] possibilitou uma melhoria relativa nas áreas mais</p><p>pobres do país”.</p><p>O PNE 2001 - 2010</p><p>O primeiro Plano Nacional de Educação, previsto pela Constituição, foi aprovado em 2001, com</p><p>validade até 2010. Em fevereiro de 1998, dois projetos, que re�etiam diferentes visões de</p><p>educação e de mundo em disputa no Brasil, chegaram a tramitar na Câmara dos Deputados. A</p><p>primeira proposta, elaborada pela "sociedade brasileira consolidada na plenária de encerramento</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>do Congresso Nacional de Educação" em 1997, contou com a participação de entidades</p><p>cientí�cas, acadêmicas, sindicais e estudantis, propondo, entre outros avanços, que 10% do PIB</p><p>fosse investido em educação. A proposta do governo, por sua vez, “teve apenas alguns</p><p>interlocutores privilegiados” e sugeria destinar 5,5% do PIB para a Educação (Libâneo, 2009, p.</p><p>180).</p><p>O projeto foi aprovado em 2001, abrangendo objetivos como aumento da escolaridade da</p><p>população, melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis, redução das desigualdades</p><p>sociais e regionais no acesso e permanência na educação, democratização da gestão escolar e</p><p>elaboração do projeto pedagógico. A redação �nal previa destinar 7% do PIB para a Educação.</p><p>Contudo, esse percentual foi vetado pelo presidente FHC, que também rejeitou outras metas</p><p>importantes, rebaixando o plano. Entre as metas vetadas estavam a ampliação do programa de</p><p>renda mínima para crianças até 6 anos, o aumento das vagas em instituições públicas e de</p><p>crédito educativo e a ampliação das verbas para pesquisa cientí�ca e tecnológica. Essas</p><p>medidas, que ampliariam a oferta e a qualidade do ensino, eram contrárias ao ideário neoliberal</p><p>em voga na época. De acordo com Libâneo (2009), não ocorreu uma avaliação efetiva do</p><p>cumprimento das metas propostas.</p><p>A mudança de concepção: os governos Lula e Dilma</p><p>Com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva no ano 2002, a partir de 2003 tivemos um novo</p><p>governo que, principalmente, depois de 2005, distanciou-se das teses neoliberais. Lula esteve no</p><p>governo por dois mandatos, de 2003 a 2010 e após esse período Dilma Rousseff foi eleita</p><p>também para dois mandatos, não tendo terminado o segundo por sofrer o golpe do</p><p>impeachment em 2016. Entre 1989 e 2002, o PIB cresceu 27,9% (2,1% em média ao ano),</p><p>enquanto de 2002 a 2015, cresceu 44,3% (média de 3,4% ao ano). Esse crescimento foi possível</p><p>devido a uma mudança de concepção. Enquanto os governos anteriores tentavam combater a</p><p>in�ação por meio da contenção dos salários, o novo modelo ampliou o mercado consumidor,</p><p>gerando mais renda, mais empregos e salários maiores, o que se traduziu numa melhoria da</p><p>distribuição de renda.</p><p>Inúmeras mudanças ocorreram em todos os setores da sociedade brasileira, sendo importante</p><p>ressaltar a redução no índice de miséria e pobreza da população. Mas vamos focar nas</p><p>alterações percebidas no âmbito da educação nacional. A Emenda Constitucional nº 59, de 11 de</p><p>novembro de 2009, estabeleceu a obrigatoriedade e gratuidade da educação para a faixa etária</p><p>dos 4 aos 17 anos. Anteriormente, somente o ensino fundamental era compulsório, com a</p><p>perspectiva de progressão</p><p>para o ensino médio. Além disso, conferiu prioridade ao conjunto da</p><p>educação básica, não se limitando apenas ao ensino fundamental, com o objetivo de elevar o</p><p>nível médio de escolaridade da população. A emenda também determinou que o PNE</p><p>determinasse um percentual do PIB para investimentos em educação.</p><p>A aprovação do novo Plano Nacional de Educação em 2014 representou um marco signi�cativo.</p><p>Pela primeira vez na história, estabeleceu-se um valor especí�co em relação ao Produto Interno</p><p>Bruto (PIB) destinado ao investimento na educação. Ao contrário do plano anterior, que vetou o</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>percentual de 7%, dessa vez foi aprovado que se atinja, no mínimo, esse patamar em 2019,</p><p>elevando-se para 10% em 2024.</p><p>Durante a época da Ditadura Militar, em 1975, apenas 4,7% do PIB foi alocado para investimentos</p><p>em educação e esse mesmo percentual persistiu 23 anos depois, em 2002. Em 2013, o</p><p>investimento subiu para 6,2%. Em termos absolutos, ajustados para 2013, os dados públicos</p><p>indicam que o orçamento total do Ministério da Educação (MEC) aumentou de R$ 34 bilhões em</p><p>2003 para R$ 104 bilhões em 2013.</p><p>Até o ano de 2002, o Brasil contava com 140 unidades dos Institutos Federais de Educação,</p><p>Ciência e Tecnologia. No período compreendido entre 2003 e 2014, houve a construção de 422</p><p>novas unidades. Uma expansão expressiva que contribuiu para ampliar a presença e o alcance</p><p>dessas instituições. No que diz respeito ao Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e</p><p>Emprego (Pronatec), entre os anos de 2011 e 2015, o governo federal �nanciou 9,4 milhões de</p><p>matrículas. Essas matrículas foram distribuídas por quase 80% dos municípios do país,</p><p>indicando um substancial aumento na oferta desse tipo de ensino e uma abrangência</p><p>signi�cativa em termos de alcance territorial.</p><p>Entre 2002 e 2014, o ensino superior público federal no Brasil registrou um notável aumento no</p><p>número de alunos atendidos, passando de 560 mil para quase um milhão e quatrocentos mil</p><p>alunos. Durante esse mesmo período, foram construídas 18 novas universidades, resultando em</p><p>um aumento dos campi universitários de 148 para 321. As vagas oferecidas pelos sistemas</p><p>municipais e estaduais também apresentaram um crescimento, passando de 592.541 em 2003</p><p>para 780.934 em 2014.</p><p>No entanto, é importante destacar que, como é natural em processos de expansão, houve críticas</p><p>em relação à forma como foram ampliadas as vagas na rede pública de ensino superior.</p><p>Algumas preocupações foram levantadas, conforme apontado por Léda e Mancebo (2009),</p><p>incluindo questões relacionadas ao aumento do número de alunos em sala de aula, sobrecarga</p><p>nas tarefas docentes e preocupações com a qualidade do ensino.</p><p>Na rede privada de ensino superior, �nanciada pelo poder público através dos programas Prouni</p><p>(Programa Universidade para Todos), que concede bolsas a estudantes carentes, e Fies</p><p>(Financiamento Estudantil), houve um crescimento substancial nas vagas de graduação. O</p><p>número de alunos nessa modalidade passou de 2,7 milhões em 2003 para mais de 5,8 milhões</p><p>em 2014. De acordo com dados o�ciais, em 2013, o Fies atendia 1.168.198 alunos na rede</p><p>privada, representando aproximadamente 22% do total de estudantes nessa modalidade. Já o</p><p>Prouni, em 2014, bene�ciava pouco mais de 300 mil alunos. Esses programas desempenharam</p><p>um papel crucial na expansão do acesso ao ensino superior, especialmente para estudantes de</p><p>baixa renda.</p><p>Os dados de 2014 revelam um aumento signi�cativo no acesso de alunos com renda familiar de</p><p>até três salários mínimos, ao mesmo tempo que houve uma redução no percentual de</p><p>estudantes com renda familiar acima de nove salários mínimos. Importante notar que essa</p><p>análise está focada no percentual de alunos por faixa de renda, não no número absoluto. Esse</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>padrão sugere que as políticas e os programas implementados foram e�cazes em ampliar o</p><p>acesso ao ensino superior para grupos de menor renda.</p><p>Os governos Lula e Dilma investiram maciçamente na educação nacional, sendo que um dos</p><p>slogans do governo Dilma era a “Pátria Educadora”. O governo Dilma reconstruiu a gestão da</p><p>educação brasileira, corrigiu a política da indiferença e organizou novas práticas: uma política</p><p>integrada de ensino, da creche à universidade, com educação básica de qualidade;</p><p>democratização do acesso ao ensino público e garantia de permanência dos alunos na escola.</p><p>Apesar de observarmos uma discreta melhoria na qualidade da escola pública e um aumento no</p><p>acesso a todos os níveis de ensino, persiste no Brasil a existência de uma dicotomia entre</p><p>escolas voltadas para a elite e aquelas destinadas aos �lhos da classe trabalhadora. Essa divisão</p><p>re�ete a estrutura de uma sociedade dividida em classes e não é passível de resolução dentro do</p><p>sistema capitalista, que, por sua natureza, tende a perpetuar desigualdades de maneira contínua.</p><p>Um aspecto negativo e contínuo é a privatização do ensino, especialmente no nível superior, que</p><p>foi incentivada por receitas substanciais ou isenções �scais, promovendo assim uma expansão</p><p>signi�cativa desse segmento.</p><p>Embora essa expansão tenha permitido a inclusão de milhões de pessoas no ensino superior,</p><p>surgiu um con�ito constante entre o objetivo da educação privada de reduzir custos e obter</p><p>lucros e a qualidade do ensino oferecido. A única maneira de garantir direitos iguais para todos</p><p>seria a universalização da educação superior, seguindo o modelo já estabelecido para a</p><p>educação básica. Isso demandaria a alocação de recursos públicos su�cientes para assegurar</p><p>acesso e qualidade, promovendo, assim, uma educação equitativa e inclusiva.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: você teve algumas questões para re�etir a</p><p>respeito da educação nacional e da organização da sociedade no período de 1990 a 2016, sendo</p><p>elas: como as diferentes opiniões e propostas em debate na Constituição se desenvolveriam nos</p><p>anos seguintes? Até que ponto a conjuntura internacional impactava nossa economia, nossa</p><p>política e nossas políticas públicas, entre elas, a educação? Como esse debate in�uenciou a</p><p>elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a atual LDB de 1996, e nosso primeiro</p><p>Plano Nacional de Educação? Em geral, o que houve a partir de 2003 para o Brasil e, em</p><p>particular, para a educação? Houve mudanças qualitativas ou quantitativas em relação à</p><p>economia e às políticas públicas anteriores? Ou houve apenas uma sequência do que já havia?</p><p>Por certo tempo, e de certa forma até recentemente, houve um debate no Brasil justamente sobre</p><p>continuidades e rupturas nas últimas décadas: seria o governo Lula uma continuidade ou uma</p><p>mudança em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso, principalmente na economia, nas</p><p>áreas sociais e na educação? Estudamos os caminhos escolhidos pelo Brasil e as</p><p>consequências dessas escolhas. Nos anos 1990, nossa opção foi por vertentes neoliberais que</p><p>optaram por delegar à iniciativa privada ações que até então eram de responsabilidade do</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Estado. Esse modelo não era exclusivo do Brasil, pelo contrário, tinha preponderância na maior</p><p>parte da América Latina, que seguia caminhos parecidos.</p><p>A prioridade governamental era o combate à in�ação por meio da contenção do consumo, de</p><p>forma a segurar os preços, além da facilidade de importações por meio do câmbio favorável ao</p><p>Real. Outra frente de combate à in�ação, recomendada por essa escola ortodoxa, é a redução</p><p>dos gastos públicos. Daí os vetos às propostas do PNE, que previam ampliação do atendimento</p><p>e da qualidade do ensino em todos os níveis. Essas concepções liberais defendem a</p><p>meritocracia, considerada neutra e estimulante para o progresso individual e, consequentemente,</p><p>o avanço do país. Isso explica a ênfase em processos avaliativos, na formação para o trabalho,</p><p>na defesa da ideia de empregabilidade focada no desempenho individual do aluno ou do</p><p>empregado, como se o sucesso de cada um dependesse apenas de seu empenho pessoal.</p><p>Saiba mais</p><p>Os governos Lula e Dilma</p><p>passaram a olhar para a educação nacional a partir de um viés</p><p>mais progressista, entendendo a educação como um investimento e não como um gasto</p><p>para a nação. Inúmeras medidas de inclusão foram adotadas nesses governos, uma delas</p><p>foi a Lei de Cotas, que, em 2022, completou 10 anos. Para de aprofundar nessa questão e</p><p>compreender sua importância, ouça o episódio Lei de Cotas: 10 anos depois, do podcast O</p><p>Assunto, publicado em maio de 2022.</p><p>A compreensão da in�uência neoliberal na educação é fundamental para que se perceba os</p><p>caminhos trilhados pela educação nacional, em todas as suas etapas. Para re�etir sobre o</p><p>assunto, leia a entrevista realizada pela Revista Arco, da Universidade Federal Santa Maria,</p><p>em abril de 2022, com a Professora Rosana Soares Campos sobre o neoliberalismo e a</p><p>educação.  Rosana Soares Campos é docente de Ciência Política no Departamento de</p><p>Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a�rma que a redução do</p><p>investimento tem um propósito, que é fazer com que a instituição universidade não</p><p>funcione bem.</p><p>Referências</p><p>ARANHA, M. L. de A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo:</p><p>Moderna, 2006.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 9.394/96. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação</p><p>Nacional. Disponível em:  http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 13</p><p>fev. 2024.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. A democratização e expansão da educação superior no país</p><p>2003-2014. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.</p><p>https://www.ufsm.br/midias/arco/sociedade-neoliberal-educacao-servico-mercado</p><p>https://www.ufsm.br/midias/arco/sociedade-neoliberal-educacao-servico-mercado</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>php?option=com_docman&view=download&alias=16762-balanco-social-sesu-</p><p>2003-2014&Itemid=30192. Acesso em: 13 fev. 2024.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da Educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>HUMEREZ, D. C. de; JANKEVICIUS, J. V. Evolução histórica do ensino superior no Brasil. [S. l.: s.</p><p>d.]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2015/05/Evolucao-Historica-no-</p><p>ensino-superior-no-brasil.pdf. Acesso em: 13 fev. 2024.</p><p>LÉDA, D. B.; MANCEBO, D. REUNI: heteronomia e precarização da universidade e do</p><p>trabalho docente. Educação e Realidade, v. 34, n. 1, p. 49-64, jan./abr., 2009. Disponível em:</p><p>http://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/viewFile/8457/4922. Acesso em: 13 fev. 2024.</p><p>LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e</p><p>organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.</p><p>MIRANDA, M. G. de. Novo paradigma de conhecimento e políticas educacionais na América</p><p>Latina. Caderno de Pesquisa, São Paulo, n. 100, p. 37-48, mar. 1997.</p><p>RAMOS, A. M. P. O �nanciamento da educação brasileira no contexto das mudanças político-</p><p>econômicas pós-90. Brasília: Plano, 2003.</p><p>SOUZA, D. B. de; FARIA, L. C. M. Políticas de �nanciamento da educação municipal no Brasil</p><p>(1996-2002): das disposições legais equalizadoras às práticas político-institucionais</p><p>excludentes. Ensaio: avaliação e políticas públicas em educação, Rio de Janeiro, v. 12, n. 42, p.</p><p>564-582, jan./mar. 2004.</p><p>Aula 4</p><p>A Educação Brasileira após 2016</p><p>A educação brasileira após 2016</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula os conteúdos trabalhados ajudarão na compreensão da organização atual da</p><p>educação nacional. É importante perceber como as mudanças sociais e econômicas in�uenciam</p><p>também no projeto de educação que se tem para a sociedade. As reformas educacionais e as</p><p>políticas públicas implantadas e geridas pelos governos nem sempre ouvem as reais</p><p>necessidades da população. Vamos lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>Até o ano de 2015 o Brasil era conhecido como a “Pátria Educadora”, entretanto, após o</p><p>impeachment da presidenta Dilma Rousseff em agosto de 2016, os governos seguintes voltaram</p><p>a adotar uma perspectiva neoliberal voltada para os diferentes setores da sociedade. No período</p><p>entre 2016 e 2022 muitas mudanças ocorreram no setor educacional e na maneira como a</p><p>educação passou a ser interpretada na sociedade. A educação voltou a ser considerada um</p><p>gasto que precisava ser contido em detrimento de uma visão progressista que a via como um</p><p>investimento não só nos indivíduos, mas na sociedade como um todo.</p><p>Com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva para um terceiro mandato a partir de 2023, têm-se a</p><p>expectativa de que a educação deixará, mais uma vez, de ser vista como um gasto pelos setores</p><p>governamentais. Considerando tal contexto, re�ita sobre as seguintes questões: quais os</p><p>impactos da reforma do ensino médio na educação nacional? Como os cortes no orçamento da</p><p>educação impactaram os setores educacionais? É possível avaliar as metas do PNE 2014-2024?</p><p>Agora é com você! Bons estudos!</p><p>Vamos Começar!</p><p>É fundamental que a sociedade civil compreenda que a política educacional é uma ferramenta</p><p>controlada pelo Estado, in�uenciando a formação de atitudes, incluindo as práticas pedagógicas</p><p>conforme delineadas em seus protocolos. As políticas públicas de educação, assim como de</p><p>outras áreas governamentais, re�etem sempre um modelo de sociedade e de desenvolvimento</p><p>social e político em andamento no Brasil ou em qualquer outra nação. O que alguns governos</p><p>negligenciam é a importância da participação coletiva da sociedade em todas as etapas da</p><p>formulação das políticas educacionais. Para a criação de um projeto educacional transformador,</p><p>é imprescindível ouvir a voz do povo. No Brasil, a educação passa por revisões constantes em</p><p>todos os governos, porém na maioria das vezes sem considerar a valiosa contribuição da</p><p>sociedade.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Elaboradas pelo Poder Legislativo e propostas pelo Poder Executivo, as políticas educacionais</p><p>são implementadas por meio de leis federais, estaduais e municipais. Essas legislações</p><p>educacionais recebem respaldo de representantes da sociedade civil e de setores ligados à</p><p>educação, por meio de conselhos e outras formas de organização. A participação popular, como</p><p>um modelo inerente à democracia participativa, desempenha um papel fundamental para garantir</p><p>que as demandas de uma parcela ou de toda a população sejam ouvidas e efetivamente</p><p>colocadas em prática.</p><p>O novo ensino médio</p><p>A Reforma do Ensino Médio no Brasil foi implementada por meio da Medida Provisória (MP)</p><p>746/2016, proposta pelo então presidente Michel Temer apenas 22 dias após a posse do</p><p>presidente, em setembro de 2016. É importante ressaltar que a principal característica da Medida</p><p>Provisória é sua e�cácia imediata, produzindo efeitos legais assim que é editada pelo</p><p>presidente.  Dito isso, é preciso compreender que o processo de aprovação da reforma foi</p><p>marcado por debates acalorados, críticas e controvérsias.</p><p>De acordo com autoridades do Ministério da Educação (MEC), a urgência na reforma do Ensino</p><p>Médio foi justi�cada pela necessidade de superar obstáculos que impactam o crescimento</p><p>econômico. A educação, especialmente a educação pro�ssional, é destacada como um elemento</p><p>crucial para impulsionar a retomada do crescimento econômico, uma vez que o investimento em</p><p>capital humano potencializa a produtividade. Nessa perspectiva, no âmbito educacional,</p><p>aspectos considerados essenciais para elevar as condições de competitividade do Brasil no</p><p>mercado internacional incluem investimentos na melhoria da qualidade do ensino médio,</p><p>incluindo a possibilidade de aumento da jornada escolar para aprimorar o desempenho</p><p>acadêmico; a reestruturação do currículo, alinhando-o às transformações no mundo do trabalho</p><p>e às supostas demandas da educação no século XXI (Hawthorne, 2017).</p><p>A nova proposta</p><p>de ensino se caracterizou em um modelo com áreas de conhecimento,</p><p>permitindo ao educando fazer algo diferenciado para sua carreira e conhecimento universal. O</p><p>aluno, teoricamente, terá a oportunidade de estar em um processo constante de aprendizagem</p><p>dos novos componentes da educação e aprofundamentos curriculares, tendo a chance de trilhar</p><p>outros caminhos, chamados de itinerários formativos. A escola seria responsável por distribuir</p><p>aos alunos seus itinerários formativos, favorecendo as seguintes áreas de conhecimento:</p><p>Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais</p><p>Aplicadas e Ciências da Natureza e suas Tecnologias – ou formação técnica e pro�ssional.</p><p>Assim, uma das mudanças mais signi�cativas foi a �exibilização do currículo. A proposta</p><p>permitia que parte do currículo obrigatório fosse de�nida pelos próprios estudantes,</p><p>concentrando-se em áreas especí�cas de interesse. A MP reduziu o número de disciplinas</p><p>obrigatórias, priorizando a ênfase em português e matemática. Além disso, introduziu a</p><p>obrigatoriedade do ensino de língua estrangeira e estimulou a ampliação da carga horária através</p><p>de parcerias com instituições públicas e privadas.</p><p>Críticas à nova proposta</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Críticas contundentes foram feitas à proposta do novo ensino médio, que acabou sendo</p><p>implantado em alguns estados do país. Podemos destacar a falta do diálogo com a população e</p><p>com os estudiosos da área. Assim, é possível considerar que a reforma visou atender aos</p><p>interesses do mercado, não se preocupando de fato com a formação integral dos alunos. Por</p><p>outro lado, a roupagem apresentada é de autonomia, dinamização e mudanças, o que em um</p><p>primeiro momento empolga alunos e professores, mas quando posta em prática, percebe-se que</p><p>sua implementação é falha. A falta de recursos para a implementação adequada, a qualidade do</p><p>ensino, a capacitação de professores, a infraestrutura das escolas e a inclusão de todos os</p><p>estudantes são outras preocupações legítimas em relação às mudanças.</p><p>Em relação aos docentes autorizados a atuar no ensino médio, o artigo 61, inciso IV, da Medida</p><p>Provisória nº 746/2016 estabelece regulamentações para "pro�ssionais com notório saber</p><p>reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino para ministrar conteúdos de áreas a�ns à sua</p><p>formação para atender o disposto no inciso V do caput do art. 36". Esses pro�ssionais, embora</p><p>não possuam formação em licenciatura, são considerados aptos a lecionar conteúdos</p><p>relacionados às suas áreas de conhecimento reconhecidas pelos sistemas de ensino.</p><p>Essa prática levanta preocupações, uma vez que esses pro�ssionais podem não ter familiaridade</p><p>com os processos didático-pedagógicos, o que pode resultar na deterioração do já precário</p><p>sistema educacional, potencialmente contribuindo para o enfraquecimento do ensino. Os alunos</p><p>matriculados em cursos pro�ssionalizantes podem ser os mais prejudicados por essa questão</p><p>do notório saber, especialmente aqueles provenientes de classes sociais mais desfavorecidas.</p><p>Isso se deve ao fato de que cursos pro�ssionalizantes não são frequentemente escolhidos por</p><p>escolas particulares e pelos �lhos das classes mais privilegiadas.</p><p>A oferta de diferentes itinerários formativos e a �exibilização do currículo podem ser</p><p>implementadas de maneira desigual entre escolas e regiões do país. Escolas em regiões menos</p><p>privilegiadas podem ter di�culdades em oferecer uma variedade de opções, aumentando as</p><p>disparidades educacionais. A redução do número de disciplinas obrigatórias e a ênfase em</p><p>português e matemática podem levar a uma negligência em relação às disciplinas de ciências,</p><p>humanidades e artes, prejudicando a formação integral dos estudantes.</p><p>A implementação das mudanças exige investimentos signi�cativos em infraestrutura, como</p><p>laboratórios e equipamentos especí�cos para as novas áreas de aprofundamento, o que pode ser</p><p>um desa�o para escolas com recursos limitados. A oferta de itinerários formativos pode criar</p><p>discrepâncias na qualidade e no acesso a determinadas áreas de conhecimento, potencialmente</p><p>favorecendo alunos de escolas mais privilegiadas e prejudicando os de escolas públicas em</p><p>áreas menos favorecidas. Dessa forma, a crítica de que a reforma não considerou</p><p>adequadamente a realidade socioeconômica e cultural dos estudantes brasileiros, especialmente</p><p>os provenientes de áreas mais vulneráveis, impactou a sua efetividade.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Redução nos investimentos destinados à educação</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Em dezembro de 2016, foi aprovada a Emenda Constitucional 95, também conhecida como PEC</p><p>do "Teto dos Gastos" no Brasil. Essa emenda impôs um limite para os gastos públicos, incluindo</p><p>os investimentos em áreas como saúde e educação, pelos próximos 20 anos, contados a partir</p><p>de 2017. Essa emenda estabeleceu um novo regime �scal, limitando o aumento dos gastos</p><p>públicos à variação da in�ação do ano anterior pelos próximos 20 anos, com a possibilidade de</p><p>revisão a partir do décimo ano de sua vigência.</p><p>Essa medida foi objeto de controvérsias e críticas, principalmente em relação aos impactos que</p><p>poderiam ter na qualidade e na expansão dos serviços públicos, incluindo a educação e a saúde.</p><p>Críticos argumentaram que o congelamento poderia resultar em uma redução do �nanciamento</p><p>real per capita ao longo do tempo, prejudicando a capacidade do sistema educacional de atender</p><p>às demandas crescentes e melhorar a qualidade do ensino.</p><p>Com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, os cortes na área da educação se intensi�caram. Em</p><p>maio de 2019, houve uma série de protestos em todo o país em resposta aos cortes</p><p>orçamentários no setor educacional anunciados pelo governo federal. Os cortes afetaram</p><p>diversas áreas da educação, incluindo ensino básico, ensino superior e pesquisa. Esses</p><p>bloqueios impactaram diversas áreas, incluindo despesas operacionais, bolsas de pesquisa e</p><p>investimentos em infraestrutura. As universidades federais organizaram protestos em resposta</p><p>aos cortes, argumentando que isso poderia prejudicar a qualidade do ensino, da pesquisa e da</p><p>extensão.</p><p>Na área da ciência, o contingenciamento (como era chamado pelo governo), também gerou</p><p>preocupações quanto ao �nanciamento de bolsas de pesquisa, projetos cientí�cos e a</p><p>manutenção de laboratórios. Cientistas e pesquisadores expressaram apreensão sobre os</p><p>impactos negativos que esses cortes poderiam ter no avanço da pesquisa cientí�ca no país. O</p><p>governo na época alegou que os cortes eram necessários devido às restrições orçamentárias e à</p><p>necessidade de equilibrar as contas públicas. No entanto, críticos argumentaram que essas</p><p>medidas poderiam ter impactos negativos a longo prazo na qualidade da educação e na</p><p>capacidade de pesquisa no país.</p><p>Outras polêmicas envolveram o setor educacional no período de 2019 a 2022, como questões</p><p>ligadas aos livros didáticos, levando à revisão de conteúdos abordados nos livros. O governo</p><p>expressou preocupações sobre o suposto viés ideológico em materiais educacionais, levando a</p><p>mudanças em alguns itens. Como exemplo, é possível citar a questão do golpe militar de 1964,</p><p>alterado para revolução. O governo também apresentou projetos de lei relacionados à educação,</p><p>abordando temas como homeschooling (ensino domiciliar), liberdade de expressão nas</p><p>universidades e outras questões educacionais.</p><p>Essas questões precisam ser vistas a partir de um viés crítico e re�exivo. Passar a ideia de que</p><p>existe uma doutrinação ou ideologia presentes nos livros didáticos ou no ambiente universitário</p><p>nos leva a re�etir a respeito do conceito de ideologia e de como a classe dominante não deseja</p><p>que a ordem posta na sociedade seja contestada e alterada. A Constituição Federal de 1988, no</p><p>seu artigo 207 prevê que “As universidades gozam, na forma da lei, de autonomia didático-</p><p>cientí�ca, administrativa e de gestão �nanceira e patrimonial e obedecerão ao princípio da</p><p>indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Sendo assim, não é possível admitir um governo</p><p>que pretenda intervir nas universidades e na</p><p>forma como o ensino é ofertado como outrora fora feito em nosso país, na época da ditadura</p><p>militar. A falta de �nanciamento adequado e as propostas de mudanças sem fundamentação</p><p>apropriada também impactaram negativamente no cumprimento das metas propostas pelo</p><p>Plano Nacional de Educação (2014-2024).</p><p>Plano Nacional de Educação 2014-2024</p><p>O Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 é um conjunto de diretrizes e metas</p><p>estabelecidas por lei no Brasil, com o objetivo de orientar as políticas educacionais do país ao</p><p>longo de um período de dez anos, de 2014 a 2024. O PNE foi sancionado pela Lei nº</p><p>13.005/2014. O plano abrange toda a educação brasileira, desde a educação infantil até a pós-</p><p>graduação e inclui metas especí�cas para áreas como alfabetização, acesso à educação básica,</p><p>qualidade do ensino, formação de professores, inclusão de pessoas com de�ciência, entre outros</p><p>aspectos.</p><p>Existe uma lógica para a elaboração das metas, procurando contemplar as necessidades</p><p>percebidas ao longo dos anos no ambiente educacional. Essas metas podem ser agrupadas</p><p>considerando: metas estruturantes, metas para redução das desigualdades e valorização da</p><p>diversidade, metas para valorização dos pro�ssionais da educação e metas que regulamentam e</p><p>orientam a criação do sistema nacional de educação e a gestão democrática. É por meio da</p><p>análise de todas as metas e resultados alcançados, ou não, que as políticas educacionais do país</p><p>são estruturadas.</p><p>Em 2011, deveria entrar em vigor um novo PNE, que valeria de 2011 a 2021, já que o antigo teve</p><p>sua vigência de 2001 a 2011. Todavia, apesar de ter sido apresentado em março de 2010, o novo</p><p>PNE foi sancionado apenas em junho de 2014. Essa demora se deu devido a discordâncias entre</p><p>os representantes dos diferentes setores da sociedade e do governo. Após muito debate e quase</p><p>4 anos de tramitação, o PNE 2014-2024 foi sancionado em junho de 2014, e a meta de 10% do</p><p>PIB para a educação incluída no documento.</p><p>Foram elaboradas 20 metas que deveriam ser atingidas progressivamente ao longo dos dez anos</p><p>de vigência do PNE. Entretanto, a maioria delas não se concretizou. Na meta 20, por exemplo,</p><p>está previsto “Ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo,</p><p>o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o (quinto) ano de</p><p>vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao �nal do decênio”.</p><p>Em 2020, teríamos que ter alcançado 7% de investimento. Ao invés disso, houve uma redução</p><p>dessa aplicação de 6% para 5%.</p><p>Esse é apenas um exemplo dentro das 20 metas estabelecidas que não foram cumpridas. Para</p><p>que as metas possam ser atingidas são pensadas estratégias que devem ser implantadas</p><p>naquele sentido. Entretanto, como foi possível perceber, é necessário que haja um esforço</p><p>conjunto da sociedade e dos órgãos governamentais para que seja possível o cumprimento de</p><p>tais objetivos. Você pode pesquisar sobre as outras metas estabelecidas pelo PNE a �m de</p><p>veri�car em que medida elas foram ou não cumpridas ao longo dos anos.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva</p><p>para um terceiro mandato a partir de 2023, tem-se a expectativa de que a educação deixará, mais</p><p>uma vez, de ser vista como um gasto pelos setores governamentais. Considerando tal contexto,</p><p>re�ita sobre as seguintes questões: quais os impactos da reforma do ensino médio na educação</p><p>nacional? Como os cortes no orçamento da Educação impactaram os setores educacionais? É</p><p>possível avaliar as metas do PNE 2014-2024?</p><p>A partir de 2023 foi possível perceber uma discreta, mas importante mudança na maneira como</p><p>a educação é percebida pelo governo federal. Em março de 2023, por exemplo, após 10 anos</p><p>sem reajustes, as bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior</p><p>(CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí�co e Tecnológico (CNPq), que</p><p>atendem 256 mil estudantes de mestrado, doutorado, pós-doutorado, iniciação à docência, além</p><p>de coordenadores, tutores e preceptores que atuam nos programas de formação de professores</p><p>da educação básica foram �nalmente reajustadas. O valor da bolsa de mestrado subiu de R$</p><p>1.500 para R$ 2.100. Já o de doutorado de R$ 2.200 para R$ 3.100. No caso do pós-doutorado, o</p><p>benefício passou de R$ 4.100 para R$ 5.200. O auxílio para a iniciação à docência foi de R$ 400</p><p>para R$ 700. Esse reajuste con�gura um importante sinal do governo no tocante à volta dos</p><p>investimentos em educação. Também é importante ressaltar que um país que não investe em</p><p>pesquisa está fadado à estagnação. Assim, possibilitar a permanência dos pesquisadores é</p><p>fundamental para o desenvolvimento cientí�co e tecnológico da nação.</p><p>O ensino médio no Brasil enfrentava (ainda enfrenta) diversos desa�os, sendo a evasão escolar</p><p>um dos problemas mais signi�cativos. A reforma no currículo e carga horária trouxe a</p><p>perspectiva de permitir que os alunos escolham a área de aprofundamento, o que é uma</p><p>proposta interessante. No entanto, essa ideia não condiz totalmente com a realidade atual do</p><p>ensino, pois alguns alunos podem não ter acesso a todas as áreas desejadas devido à falta de</p><p>oferta em suas escolas ou estados, o que limita a liberdade de escolha do estudante.</p><p>A avaliação do cumprimento ou não das metas do PNE pode ser feita por meio da veri�cação</p><p>das metas e dos números o�ciais divulgados pelo governo, por meio de dados da Pesquisa</p><p>Nacional de Amostras por Domicílio ou dos Censos da Educação. É necessário que se olhe para</p><p>o que foi estabelecido nas metas e como elas se encontram atualmente, para que seja possível</p><p>pensar também o que pode ser modi�cado para a proposta do novo PNE.</p><p>Saiba mais</p><p>As mudanças na forma como a educação é ofertada aos alunos são importantes até</p><p>mesmo para acompanhar as transformações pelas quais a sociedade passa. Mas, para que</p><p>isso se efetive, é necessário que a sociedade seja ouvida e participe na construção das</p><p>propostas de alterações. O novo ensino médio é um exemplo de uma política que foi feita</p><p>sem o diálogo com a população e que pouco tempo após a sua implantação já precisa ser</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>revista. Para de aprofundar nessa questão e compreender sua importância, ouça o episódio</p><p>A encrenca no novo ensino médio, do podcast Café da manhã, publicado em abril de 2023.</p><p>O Plano Nacional de Educação estabelece metas a serem alcançadas pela educação</p><p>nacional num período de dez anos. Para compreender melhor a origem e as concepções</p><p>acerca do PNE, leia o artigo a seguir:</p><p>SILVA, C. V. G. Plano Nacional de Educação (PNE): origem e concepções. Ensaios Pedagógicos</p><p>(Sorocaba), vol. 7, n. 1, jan./abr. 2023, p. 52 - 60.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.</p><p>Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.</p><p>Acesso em: 14 fev. 2024.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional</p><p>de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, 2014. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 14 fev.</p><p>2024.</p><p>BRASIL. Medida provisória nº 746, de 22 de setembro de 2016. Brasília, DF, set 2016. Disponível</p><p>em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Mpv/mpv746.htm.  Acesso em:</p><p>13 fev. 2024.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da Educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>HAWTHORNE, J. G. A Medida Provisória n. 746/2016 e o real motivo de se reformar o ensino</p><p>médio no Brasil. Ensaios Pedagógicos (Sorocaba), vol.1, n. 2, mai./ago. 2017, p.20-24. Disponível</p><p>em: https://www.ensaiospedagogicos.ufscar.br/index.php/ENP/article/view/17/49. Acesso em:</p><p>13 fev. 2024.</p><p>LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e</p><p>organização. 7. ed. São Paulo:</p><p>Cortez, 2009.</p><p>SILVA, C. V. G. Plano Nacional de Educação (PNE): origem e concepções. Ensaios Pedagógicos</p><p>(Sorocaba), vol. 7, n. 1, jan./abr. 2023, p. 52 - 60. Disponível em:</p><p>https://www.ensaiospedagogicos.ufscar.br/index.php/ENP/article/view/296/305. Acesso em: 14</p><p>fev. 2024.</p><p>Aula 5</p><p>Encerramento da Unidade</p><p>https://www.ensaiospedagogicos.ufscar.br/index.php/ENP/article/view/296/305</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm</p><p>https://www.ensaiospedagogicos.ufscar.br/index.php/ENP/article/view/296/305</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Perspectivas da educação brasileira</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta videoaula você irá compreender os fundamentos históricos da educação brasileira desde</p><p>1930 até os dias atuais. É nesse período que o desenvolvimento econômico, político e social</p><p>passou por uma mudança profunda, de um país agroexportador para industrializado.</p><p>Compreender esse contexto é importante para perceber as consequências na educação</p><p>nacional. Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!</p><p>Ponto de Chegada</p><p>Olá, estudante!</p><p>Para desenvolver a competência desta unidade, que é compreender a organização da educação</p><p>brasileira a partir de 1930 e as mudanças que ocorreram ao longo dos anos, percebendo as</p><p>diferentes vertentes políticas que regiam o país e as reformas educacionais propostas em cada</p><p>período, você deverá primeiramente entender o processo histórico que levou a sociedade</p><p>brasileira a diferentes transformações sociais. Essas transformações in�uenciaram diretamente</p><p>como a educação nacional foi sendo estruturada.</p><p>Até 1930, o desenvolvimento econômico brasileiro foi marcado pela exportação de produtos</p><p>primários, como foi com a cana-de-açúcar, o minério e o café, os principais produtos extraídos</p><p>desde o período colonial até a República Velha (1889-1930). Politicamente, de Colônia (1500-</p><p>1822) de Portugal, passamos pelo Império (1822-1889), chegando até a Proclamação da</p><p>República, em 1889, que inaugurou o período republicano, em que a oligarquia latifundiária</p><p>brasileira assumiu o controle político do país. Também é importante ressaltar que vivenciamos</p><p>séculos de escravização de indígenas e, principalmente, de africanos, marcando, de forma</p><p>autoritária, a formação social brasileira. Essa conjugação de fatores econômicos, políticos e</p><p>sociais teve como consequências uma brutal extração de riquezas pela metrópole portuguesa,</p><p>um enriquecimento das antigas e novas elites rurais e uma enorme desigualdade social.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Em 1930, com a tomada de poder pela Aliança Liberal, com a liderança de Getúlio Vargas, em</p><p>função da grave crise econômica, política e social, inaugurou-se o “nacional-</p><p>desenvolvimentismo”, um novo ciclo de desenvolvimento marcado pela busca de uma</p><p>industrialização autônoma, pela presença do Estado, rompendo com a dependência da</p><p>exportação de produtos primários que vigorava até aquele momento. O “nacional-</p><p>desenvolvimentismo” não foi homogêneo, foi marcado por intensas disputas e contradições,</p><p>adequadamente expresso pelo conceito de “modernização conservadora”. A partir de 1990, as</p><p>privatizações, a abertura comercial e a desregulamentação trabalhista interromperam o</p><p>desenvolvimentismo e inauguraram a fase neoliberal da economia brasileira, principalmente com</p><p>os governos Collor e FHC.</p><p>É nesse contexto que é possível perceber a relação desses condicionantes históricos com a</p><p>educação e as políticas educacionais. Desde a educação jesuítica, após a frustrada tentativa de</p><p>educação indígena, passando pela educação pombalina e imperial até o início da República</p><p>Velha, o acesso à educação estava restrito à elite brasileira. Com uma sociedade mais complexa,</p><p>na transição do século XIX para o XX, a pressão para a construção de um sistema nacional de</p><p>ensino aumentou. Variados setores sociais marginalizados exigiam acesso à educação, novas</p><p>perspectivas pedagógicas chegavam ao Brasil, requisitando um novo patamar de investimentos,</p><p>de políticas e de prioridade na educação.</p><p>Nesse sentido, levando em consideração o processo de “modernização conservadora” em seu</p><p>período desenvolvimentista e neoliberal, é possível que você (futuro professor) compreenda</p><p>como, avaliando cada momento histórico, as necessidades de formação tanto da elite quanto</p><p>dos setores populares foram marcadas pelo projeto de desenvolvimento em curso.</p><p>O Estado norteia seus projetos com vistas a resolver as grandes demandas sociais, como a</p><p>redução dos índices de analfabetismo, a democratização do ensino, o preparo para o mundo do</p><p>trabalho e o acesso à tecnologia, entre outros. Como forma a atender e resolver essas</p><p>demandas, cabe ao Estado construir suas políticas educacionais em diálogo franco e aberto com</p><p>a sociedade, promovendo e praticando a pedagogia da escuta, permitindo que a comunidade</p><p>escolar, por meio dos conselhos legalmente constituídos, tenha voz nas decisões. Atualmente,</p><p>entre os objetivos do governo em relação à educação, destacam-se a ampliação do acesso à</p><p>escola pública, a oferta de níveis elevados de qualidade, a superação do quadro crônico de</p><p>analfabetismo infanto-juvenil, a Educação de Jovens e Adultos, o controle da fome e a oferta de</p><p>saúde de qualidade.</p><p>Na atual conjuntura, o que se espera da educação é a capacidade de um olhar diferente sobre a</p><p>sala de aula, em especial sobre a relação entre docente e aluno. Cada vez mais, há uma</p><p>construção coletiva e dinâmica da aprendizagem, com estudantes compartilhando experiências</p><p>e buscando métodos de ensino ativos. A escola e seus agentes enfrentam muitos desa�os</p><p>derivados das grandes mudanças ocorridas no século XXI. Hoje há a necessidade de se preparar</p><p>o estudante para a vida e o trabalho num mundo que traz muitas inovações e incógnitas.</p><p>Cabe destacar que é necessário um ensino que valorize mais a compreensão e o raciocínio do</p><p>que a memória meramente mecânica, além do desenvolvimento de habilidades socioemocionais,</p><p>cognitivas e a capacidade de trabalhar em grupo, por meio de aprendizagem colaborativa. Sendo</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>assim, para projetar um futuro incerto, os educadores deverão conhecer bem a história das</p><p>gerações precedentes, buscando no conhecimento que essa área nos fornece, elementos de</p><p>compreensão que possam contribuir para o desenho de cenários por ora inimagináveis.</p><p>É Hora de Praticar!</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>No contexto do cenário educacional contemporâneo, encontramos medidas que são de</p><p>fundamental importância para o avanço da democratização do ensino no Brasil. Uma delas é a</p><p>atual reforma do ensino médio. Considerando o conteúdo do texto a seguir, podemos dizer que a</p><p>reforma do ensino médio tem de fato características tão positivas?</p><p>A necessidade de reformulação da atual estrutura do ensino médio adveio de análises</p><p>estatísticas que vêm há mais de uma década monitorando os resultados de desempenho de</p><p>estudantes dessa etapa da educação nacional. De acordo com pesquisas recentes, advindas da</p><p>consolidação de dados coletados pelo governo federal sobre os resultados do Enem (Exame</p><p>Nacional do Ensino Médio), tem havido uma cristalização dos índices de aprendizagem por parte</p><p>dos estudantes, além do aumento das taxas de abandono, reprovação e atraso escolar com</p><p>média de dois anos ou mais.</p><p>Nesse sentido, surgiram por parte das autoridades um rol de justi�cativas que levaram à</p><p>proposta de reformulação desse modelo, que no entender de especialistas educacionais vem se</p><p>esgotando em termos de qualidade, organização curricular sobrecarregada com muitos</p><p>componentes curriculares e distante da realidade concreta vivida pelos alunos.</p><p>Decorre dessa propositura de reforma, a necessidade de a escola se aproximar mais da</p><p>realidade, procurando aproximar os conteúdos contemplados pelo currículo do ensino médio,</p><p>com os grandes temas sociais contemporâneos. Nessa perspectiva, uma das prioridades no</p><p>entendimento dos técnicos responsáveis pela nova organização do ensino médio, é a ampliação</p><p>do tempo destinado aos estudantes, para que possam se aprofundar em temas especí�cos do</p><p>currículo que certamente trarão contribuição para o seu futuro desempenho pro�ssional.</p><p>Assim, ao poder usufruir de um tempo maior para a dedicação e o foco em assuntos</p><p>acadêmicos, os estudantes poderão se bene�ciar da possibilidade de vislumbrar temas que</p><p>servirão de norte para projetos de vida que poderão planejar enquanto estiverem frequentando a</p><p>escola. Por meio de cooperação, trabalho em grupo e estratégia de resolução de problemas, os</p><p>estudantes poderão desenvolver durante esse período da sua escolaridade, habilidades mais</p><p>próximas do atual mercado de trabalho, além de se aproximarem dos instrumentos tecnológicos</p><p>contemporâneos ao mesmo tempo que desenvolvem o pensamento crítico e a ética. Além</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>desses benefícios, com a presença de novas metodologias de ensino, a aprendizagem será mais</p><p>contextualizada e motivadora.</p><p>Re�ita: podemos dizer que a reforma do ensino médio tem, de fato, características tão positivas,</p><p>conforme o anunciado?</p><p>De que forma as reformas educacionais expressam a concepção governamental sobre a</p><p>educação?</p><p>As reformas educacionais propostas pelos diferentes governos, a partir de 1930, de fato</p><p>possibilitaram mudanças para a sociedade brasileira?</p><p>A educação de fato tem algum potencial transformador na vida dos indivíduos?</p><p>Considerando o conteúdo do texto a seguir, podemos dizer que a reforma do ensino médio tem</p><p>de fato características tão positivas, conforme o anunciado?</p><p>A proposta do novo ensino médio surgiu após a percepção de uma estagnação dos índices de</p><p>desempenho dos estudantes brasileiros, além do agravante de ter essa etapa educacional,</p><p>grandes taxas de abandono, índices altíssimos de reprovação e um atraso escolar de dois anos</p><p>ou mais.</p><p>Foram muitas as justi�cativas para reformular a última etapa da educação básica: a baixa</p><p>qualidade de um ensino genérico, com uma quantidade excessiva de disciplinas, evasão, de</p><p>reprovação, além de distante das demandas cotidianas e reais do aluno. De acordo com o</p><p>Anuário Brasileiro da Educação Básica 2020, apenas 65,1% dos brasileiros concluíram o Ensino</p><p>Médio na idade esperada, até os 19 anos, percentual que chega a 51,2% entre os mais pobres. E</p><p>12% dos brasileiros com idades entre 15 e 17 anos estão fora das salas de aula.</p><p>Nesse sentido, cabe à instituição escolar promover o diálogo entre os conteúdos curriculares e a</p><p>realidade contemporânea, por meio de um ensino que esteja alinhado com as necessidades dos</p><p>estudantes, preparando-os assim para a vida em sociedade e o enfrentamento dos desa�os de</p><p>um mercado de trabalho altamente dinâmico. A implementação do novo ensino médio traz</p><p>benefícios para alunos e professores. Primeiramente, destacado como ponto principal, que será</p><p>possível disponibilizar mais tempo para os estudantes se aprofundarem em conhecimentos</p><p>especí�cos que vão agregar e são importantes para o futuro pro�ssional que cada um escolher.</p><p>O novo ensino médio contribui ainda para o desenvolvimento do projeto de vida e a carreira dos</p><p>alunos, já que as escolas deverão priorizar atividades que promovam a cooperação, a resolução</p><p>de problemas, o desenvolvimento de ideias, o entendimento de novas tecnologias, o pensamento</p><p>crítico, a compreensão e o respeito. A forma como o ensino médio será implementado, trará</p><p>muitos ganhos para docentes e discentes. Primeiramente, destacado como ponto principal, que</p><p>será possível uma dilatação do tempo a �m de que os alunos tenham mais oportunidades para</p><p>aprofundarem em temas de seu interesse e em assuntos mais especí�cos, que muitos</p><p>contribuirão para o seu futuro pro�ssional.</p><p>A reforma do ensino médio vai auxiliar os estudantes no desenvolvimento de projetos de vida e</p><p>carreira, já que as escolas irão propor uma programação promotora de habilidades</p><p>socioemocionais, cognitivas, incentivando a criatividade e o manejo de tecnologias</p><p>contemporâneas. Outro benefício da nova metodologia é o de proporcionar menos aulas</p><p>expositivas e focar mais em projetos, o�cinas, cursos e atividades práticas e signi�cativas.</p><p>Nessa perspectiva, podemos considerar que a justi�cativa da reforma do ensino médio poderia</p><p>ser positiva caso as autoridades governamentais respeitassem as etapas do processo de</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>implementação dessa proposta, o que infelizmente não ocorreu, pois a reforma pensada foi</p><p>“atropelada” por uma Medida Provisória decretada pelo governo de Michel Temer.</p><p>Como responsáveis pelo ensino médio, conforme dispõe a LDB em vigor, os estados e o Distrito</p><p>Federal deveriam ser consultados sobre a proposta de reforma desse nível de ensino. No entanto,</p><p>nem mesmo foram informados, sendo surpreendidos com a entrada em vigor da referida</p><p>reforma, uma vez que, sendo baixada por medida provisória, passou a valer imediatamente após</p><p>sua promulgação.</p><p>Logo que foi promulgada, a Medida Provisória foi alvo de uma avalanche de críticas provenientes</p><p>do Fórum Nacional de Educação, dos Conselhos e Secretarias estaduais de educação, assim</p><p>como de diversas entidades representativas dos pro�ssionais da educação. No entanto, o</p><p>governo, em lugar de levar em conta as críticas revendo a orientação impressa à reforma,</p><p>ignorou-as e lançou uma agressiva campanha publicitária com muitas inserções diárias nos</p><p>meios de comunicação.</p><p>Veja no infográ�co a seguir os principais pontos estudados nessa unidade:</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Figura 1 | Mudanças na educação nacional</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.</p><p>Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.</p><p>Acesso em: 14 fev. 2024.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>HAWTHORNE, J. G. A Medida Provisória n. 746/2016 e o real motivo de se reformar o ensino</p><p>médio no Brasil. Ensaios Pedagógicos (Sorocaba), vol. 1, n. 2, mai./ago. 2017, p.20-24. Disponível</p><p>em: https://www.ensaiospedagogicos.ufscar.br/index.php/ENP/article/view/17/49. Acesso em:</p><p>13 fev. 2024.</p><p>,</p><p>Unidade 4</p><p>A Educação no Século XXI</p><p>Aula 1</p><p>A Ciência como Promotora da Educação</p><p>A Ciência como Promotora da Educação</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você irá re�etir sobre o desenvolvimento do conhecimento cientí�co e sua</p><p>importância na educação e como precisamos, enquanto educadores, conciliar o desenvolvimento</p><p>da ciência na nossa prática educativa. Vamos pensar também sobre a relevância de se</p><p>considerar a cultura do aluno e sua construção individual no processo educacional. Vamos lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Diversas disciplinas cientí�cas oferecem uma compreensão mais re�nada do campo da</p><p>educação. Nesse contexto, buscamos analisar de maneira minuciosa as práticas educativas,</p><p>examinando tanto os acertos quanto as lacunas. No entanto, nossa meta é desenvolver uma</p><p>perspectiva cada vez mais abrangente e integrada, ou seja, uma compreensão mais completa</p><p>das especi�cidades educacionais. Isso implica considerar a implementação prática da educação</p><p>em ambientes especí�cos, como salas</p><p>de aula dentro de contextos especí�cos. No entanto, de</p><p>maneira mais ampla, é crucial ter uma compreensão clara do que está sendo realizado, ou seja,</p><p>entender tanto os resultados obtidos quanto os objetivos a serem realizados. Em última</p><p>instância, isso signi�ca ter discernimento sobre o tipo de indivíduo que está sendo moldado pelo</p><p>processo educacional.</p><p>Para aprofundarmos o conhecimento sobre a formação dos alunos, vamos pensar na seguinte</p><p>situação: o estagiário Thomas está acompanhando as aulas de Ciências da professora Clara há</p><p>algumas semanas. Depois de diversas aulas, a professora Clara pergunta a Thomas se ele</p><p>gostaria de apresentar um conteúdo na próxima semana. Ele se surpreende com a possibilidade</p><p>e a aceita, acreditando ser a oportunidade de assumir outra postura diante dos alunos. A docente</p><p>deu liberdade para que ele preparasse o tema do modo como entendesse ser melhor, já que ela</p><p>tinha feito uma introdução na aula daquela semana. Thomas deveria trabalhar com os</p><p>estudantes a aplicação dos conceitos no cotidiano deles – a aula seria sobre higiene e</p><p>transmissão de doenças.</p><p>Thomas passou a semana preparando sua exposição, pesquisou e separou diversas fotos,</p><p>grá�cos e �guras que serviriam para apresentar e exempli�car as ideias. Reuniu tudo em slides e</p><p>preparou uma apresentação para usar com o projetor e falar com os estudantes de uma forma</p><p>mais atrativa, combinando tudo com a professora Clara. No dia programado, Thomas fez sua</p><p>apresentação aos alunos, mas percebeu que os exemplos utilizados começaram a se mostrar</p><p>inadequados, diante das respostas que os educandos davam. O estagiário começou a perceber</p><p>que imaginara uma realidade de vida que os alunos, na verdade, não tinham.</p><p>Alguns deles chegaram a rir, dizendo: “Professor, você tá viajando... acha que tenho essas coisas</p><p>na minha casa?! A gente vive do jeito que dá... Lá no bairro, as pessoas comem o que tem – e</p><p>quando tem”. Thomas tentou reconduzir os exemplos e a professora Clara o auxiliou a transmitir</p><p>o conteúdo com outros elementos.</p><p>Na dinâmica apresentada, o estagiário deixou de considerar alguns pontos muito importantes</p><p>antes de realizar a aula?</p><p>Bons estudos!</p><p>Vamos Começar!</p><p>Desde o advento do Iluminismo no século XVIII, a ciência passou por contínuas transformações,</p><p>exercendo uma profunda in�uência no mundo e na vida humana. Atualmente, o volume crescente</p><p>de conhecimentos gerados por essa atividade tem levado a sociedade a uma nova ordem,</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>caracterizada pela predominância da tecnologia. Nesse contexto, a educação tem sido</p><p>impactada por esse acervo cientí�co, apresentando desa�os signi�cativos para os educadores</p><p>que, muitas vezes, são migrantes digitais, encontrando di�culdades em acompanhar o ritmo</p><p>acelerado das mudanças tecnológicas.</p><p>A abordagem ideal da educação em ciência deveria envolver a observação atenta dos</p><p>comportamentos e práticas que serão desenvolvidos. Isso permitiria a formulação de propostas</p><p>educacionais que integrassem a ciência com os dilemas naturais, sociais e culturais, tanto em</p><p>nível coletivo quanto individual. Essa abordagem visa preparar os educadores para lidar de</p><p>maneira e�caz com os desa�os contemporâneos, promovendo uma compreensão mais profunda</p><p>e crítica das interações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade.</p><p>A importância da ciência para a educação</p><p>O conhecimento proveniente dos avanços cientí�cos e tecnológicos exerce um impacto</p><p>signi�cativo em toda a estrutura de nossa existência material e nas instituições sociais, sendo a</p><p>escola um ponto crucial para a transmissão desse conhecimento. Nesse processo, é essencial</p><p>que o conhecimento compartilhado seja compreendido e interpretado pelos alunos, que trazem</p><p>suas experiências empíricas e culturais para a sala de aula. Diante da intensa dinâmica</p><p>tecnológica da sociedade contemporânea, o ensino dos conteúdos presentes nos currículos</p><p>enfrenta um novo desa�o: apresentar a ciência como um produto cultural e social.</p><p>Isso requer uma contextualização do conhecimento com a realidade do aluno, estabelecendo um</p><p>processo contínuo de ação e re�exão. Os educadores precisam compreender a natureza dialética</p><p>que envolve a cognição e a afetividade, a �m de criar situações didáticas que levem os alunos a</p><p>compreender que a ciência não é apenas uma disciplina escolar, mas uma ação humana que</p><p>impacta a natureza, a sociedade e o meio ambiente em que o estudante está inserido. É</p><p>fundamental que os educadores estimulem uma compreensão mais ampla, promovendo a</p><p>percepção de que a ciência está intrinsecamente ligada às transformações no mundo real,</p><p>incentivando assim uma visão crítica e integrada do conhecimento cientí�co.</p><p>É importante re�etir também que a cultura do aluno é um elemento essencial que não pode ser</p><p>negligenciado e suas opiniões em relação aos elementos do conhecimento curricular devem ser</p><p>consideradas em um processo pedagógico humanizado. Em um ambiente educacional</p><p>desprovido de um processo didático que conecte o conteúdo escolar com a vida que o aluno</p><p>vivencia fora da escola, o ensino corre o risco de tornar-se vazio e sem signi�cado para o aluno</p><p>envolvido.</p><p>Assim, um conhecimento cientí�co apresentado de forma descontextualizada na escola é</p><p>percebido pelos estudantes como um simples acúmulo de informações, permanecendo no</p><p>âmbito do senso comum. A escola desempenha um papel crucial ao elevar o nível do</p><p>conhecimento dos alunos, uma vez que o senso comum que trazem é fundamentado no</p><p>"achismo", categorizado pelos �lósofos como "doxa" (opinião) – um conhecimento empírico,</p><p>ingênuo e popular, que carece de sistematização e profundidade. O senso comum é constituído</p><p>por opiniões baseadas em hábitos cotidianos, espontâneos e sincréticos. O conhecimento</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>adquirido empiricamente é fortuito, fragmentado e busca atender às demandas imediatas do dia</p><p>a dia. Sua característica central é a super�cialidade.</p><p>Diante desse cenário, a educação escolar tem a responsabilidade de conduzir o aluno além</p><p>desse estágio de conhecimento, introduzindo-o ao universo do conhecimento cientí�co, sem</p><p>desconsiderar a relação dialética entre cognição e afetividade. A tarefa educacional nesse</p><p>contexto é desenvolver uma concepção e uma prática mais alinhadas com as demandas sociais</p><p>contemporâneas, respeitando tanto o legado ocidental do conhecimento produzido e</p><p>sistematizado quanto as perspectivas das famílias dos educandos e dos educadores.</p><p>Siga em Frente...</p><p>A formação para a criticidade</p><p>No contexto educacional contemporâneo, torna-se crucial desenvolver uma prática pedagógica</p><p>que promova a construção da capacidade crítica dos educandos. Essa capacidade crítica é</p><p>entendida como “uma educação crítica, transformadora e emancipatória, que tem como</p><p>�nalidade contribuir para a construção de uma sociedade justa, democrática e sustentável e […] a</p><p>intervenção quali�cada” (Quintas, 2008, p. 31). Nesse sentido, é imperativo direcionar o foco para</p><p>uma educação que considere o cenário social, reconhecendo a capacidade humana de modi�car</p><p>hábitos com base em novas experiências para alcançar um aprimoramento na qualidade de vida.</p><p>Quando falamos da atuação do professor como aquele que guia o aluno para a construção do</p><p>pensamento crítico, não estamos assumindo que as responsabilidades sejam unicamente dele,</p><p>mas entendemos que esteja em suas mãos e�cazes instrumentos de abertura e renovação do</p><p>pensamento. Daí, sim, o pensamento pode transformar a realidade e encaminhar o homem para</p><p>a emancipação. O professor é quem pode criar o desejo de maior liberdade e, acima de tudo,</p><p>abrir as portas para um pensamento emancipado.</p><p>Para viabilizar esse processo, o currículo emerge como um elemento fundamental. Além disso, é</p><p>urgente a construção de uma proposta pedagógica que se baseie na ética e que derive de um</p><p>trabalho coletivo, no qual todas as necessidades e diretrizes educacionais estejam alinhadas</p><p>com a conquista de objetivos compartilhados pela comunidade escolar. Essa abordagem</p><p>coletiva propicia não apenas a formação acadêmica, mas</p><p>também o desenvolvimento integral do</p><p>indivíduo, preparando-o para uma participação ativa e crítica na sociedade. Sendo assim, para</p><p>implementar essa metodologia de trabalho baseada em um currículo dialético construído</p><p>coletivamente, o educador precisa familiarizar-se e investigar o contexto cultural vivido pelos</p><p>estudantes. Além disso, é essencial re�etir sobre esse contexto, criando condições para que os</p><p>alunos possam criar e recriar os saberes cientí�cos presentes no projeto curricular.</p><p>Logo, o processo de ensino e aprendizagem deve ser capaz de contextualizar e relativizar os</p><p>conteúdos do currículo, relacionando-os aos conhecimentos prévios adquiridos pelos estudantes</p><p>ao longo do processo educacional. Isso implica reconhecer a necessidade de desenvolver um</p><p>senso crítico fundamentado nas demandas humanas. Nesse contexto, a educação assume um</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>papel crucial no desenvolvimento do cidadão, consciente de sua importância no processo de</p><p>formação histórica e cultural dos alunos. Educar de maneira alinhada ao pensamento cientí�co</p><p>signi�ca proporcionar um ensino que permita ao aluno compreender o papel da ciência na</p><p>sociedade, identi�cando-a como um processo histórico e dinâmico, e não como um</p><p>conhecimento mágico que subestima a inteligência humana e a própria transformação histórica</p><p>da sociedade.</p><p>Portanto, educar o aluno para o conhecimento cientí�co signi�ca formar um sujeito consciente e</p><p>integrado ao contexto social, pois, como destaca Carvalho (2012, p. 77), "o educador é por</p><p>'natureza' um intérprete, não apenas porque todos os humanos o são, mas por ofício, uma vez</p><p>que educar é ser mediador, tradutor de mundos". Nesse sentido, é fundamental demonstrar de</p><p>maneira contínua, por meio do conteúdo e da prática do currículo, que a dinâmica da ciência e da</p><p>sociedade não são processos distintos. Existe uma interação entre a ciência e as condições</p><p>sociais em que ela se desenvolve, e tentar isolar de alguma forma essa relação dialética que</p><p>evidencia a ação das forças sociais e econômicas é negar ao estudante o conhecimento do</p><p>poder de ação humana sobre a natureza.</p><p>Compreender para atuar</p><p>Quando um pesquisador se dedica a uma investigação cientí�ca, ele utiliza um método que lhe</p><p>permite realizar antecipações mentais. Essas antecipações funcionam como meios de</p><p>racionalizar sua abordagem, auxiliando-o na melhor adequação entre os meios e os �ns, evitando</p><p>orientar-se apenas pelo acaso. Em determinadas circunstâncias, os sentidos do pesquisador</p><p>podem ser insu�cientes para uma observação cientí�ca e�caz, tornando-se necessário o uso de</p><p>instrumentos. Esses instrumentos proporcionam maior rigor à observação, tornando-a mais</p><p>objetiva.</p><p>É importante reconhecer que a observação cientí�ca não se resume a uma simples</p><p>contemplação dos fatos. Quando o pesquisador observa a realidade, ele já realiza uma seleção</p><p>dos aspectos que mais chamam sua atenção, realizando "recortes" na realidade observada. Essa</p><p>observação é fundamental para a posterior atuação, seja do pesquisador ou do docente em</p><p>questão. Como a�rmam Aranha e Martins (1995, p.156),</p><p>Quando se trata do olhar de um cientista, este se acha impregnado por pressupostos que lhe</p><p>permitem ver o que o leigo não percebe. Se olhamos uma lâmina ao microscópio, quando muito</p><p>percebemos cores e formas. Precisamos estar de posse de uma teoria para "aprender a ver”. Em</p><p>outras palavras, ao fazer a coleta de dados, o cientista seleciona os mais relevantes para o</p><p>encaminhamento da solução do problema. O critério para a seleção dos fatos obviamente já</p><p>orienta a observação.</p><p>A abordagem empirista da ciência parte do princípio de que seu conhecimento deriva sempre da</p><p>observação de dados sensíveis aos humanos. No entanto, embora a observação seja crucial para</p><p>o desenvolvimento cientí�co, é essencial considerar que os fatos resultam não apenas da</p><p>observação, mas também de interpretações, teorias e estruturas conceituais que os cientistas</p><p>aplicam aos dados observados.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Assim, conhecer a realidade do aluno é fundamental para proporcionar uma educação</p><p>signi�cativa e e�caz. Essa prática reconhece a diversidade de experiências, contextos culturais e</p><p>necessidades individuais dos estudantes, contribuindo para um ambiente de aprendizagem mais</p><p>inclusivo e engajador. A prática de conhecer a realidade do aluno vai além do simples</p><p>entendimento de suas condições socioeconômicas. Envolve o reconhecimento da</p><p>individualidade, das experiências culturais e das necessidades especí�cas de cada estudante,</p><p>proporcionando uma abordagem mais holística e e�caz no processo educacional.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: o estagiário Thomas �cou responsável por</p><p>apresentar um conteúdo para os alunos referente à higiene e transmissão de doenças. Apesar de</p><p>se preparar para o momento de explanação dos conteúdos, Thomas percebeu que os exemplos</p><p>utilizados começaram a se mostrar inadequados, diante das respostas que os educandos</p><p>davam. O estagiário começou a perceber que imaginara uma realidade de vida que os alunos, na</p><p>verdade, não tinham. O rapaz deixou de considerar alguns pontos muito importantes, antes de</p><p>realizar a aula?</p><p>Uma aula preparada sem conhecer o grupo de alunos que dela vai participar corre grande risco</p><p>de não alcançar os objetivos propostos ou até mesmo de fracassar e levar a conclusões</p><p>extremamente opostas às que eram objetivadas. Ensinar é possível, mas há diferentes modos de</p><p>se fazer isso, pensando-se nos diferentes modos de conhecer e nos elementos dos quais aquele</p><p>grupo de estudantes dispõe. É preciso perceber que nem todas as histórias têm o mesmo</p><p>sentido para todas as pessoas. Isso signi�ca entender que a história e a construção cultural de</p><p>uma pessoa ou de um grupo é que dá sua identidade e leva a determinada concepção de mundo.</p><p>A experiência em sala de aula, aos poucos, vai dando ao docente as condições necessárias de</p><p>saber qual é a melhor maneira de ser ensinado um determinado conteúdo. A experiência de</p><p>Thomas o levou a identi�car algumas necessidades que teria de sanar quando tivesse de</p><p>preparar uma nova aula. Esse aprendizado é constante e, com a mesma turma, o professor</p><p>deverá rever sua postura.</p><p>Saiba mais</p><p>Compreender a relação entre educação e cultura é fundamenta para uma prática docente</p><p>bem engajada e fundamentada. Para se aprofundar no assunto, leia o seguinte artigo:</p><p>Cultura, culturas e educação, do autor Alfredo Veiga-Neto. No texto você encontrará uma</p><p>interessante problematização sobre os conceitos de cultura e educação e suas relações.</p><p>O processo de desenvolvimento da ciência caminha de forma conjunta com a educação e</p><p>com as perspectivas culturais de cada época e de cada povo. Assista ao �lme Estrelas</p><p>além do tempo (2016), que retrata a história de mulheres negras que desenvolveram a</p><p>tecnologia necessária para levar o Homem ao espaço. Procure perceber a relação entre a</p><p>cultura de segregação norte-americana da época (anos 1960), a importância da educação</p><p>https://www.scielo.br/j/rbedu/a/G9PtKyRzPcB6Fhx9jqLLvZc/?format=pdf&lang=pt</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>para a vida daquelas mulheres e o desenvolvimento cientí�co que impactou e impacta</p><p>nossas vidas.</p><p>Referências</p><p>ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Temas de �loso�a. São Paulo: Moderna, 1992.</p><p>CARVALHO, I. Educação ambiental: a formação de sujeito ecológico. 6. ed. São Paulo: Cortez,</p><p>2012.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e</p><p>organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.</p><p>QUINTAS, J. S. Educação no processo de gestão ambiental pública: a educação ambiental no</p><p>contexto da gestão ambiental pública. Em formação, Rio de Janeiro, v. 3, 2008.</p><p>SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.</p><p>SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2011.</p><p>SAVIANI,</p><p>D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados,</p><p>2013.</p><p>Aula 2</p><p>Re�exões Sociológicas sobre a Educação</p><p>Re�exões Sociológicas sobre a Educação</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você irá compreender a in�uência do processo de globalização econômica, dos</p><p>costumes e dos valores na educação. Vamos pensar também, a partir da perspectiva de Pierre</p><p>Bourdieu, na escola como instituição reprodutora das desigualdades sociais enquanto ela deveria</p><p>�gurar como promotora da autonomia. Vamos lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>A Constituição de 1988 assegura a educação como um direito fundamental. Para que a escola</p><p>atinja efetivamente seu propósito de fomentar a autonomia de todos os indivíduos, é necessário</p><p>que, ao longo do processo educacional, ela não apenas ofereça condições físicas de acesso</p><p>universal, mas também proporcione meios para a permanência e aprendizagem. Isso inclui</p><p>estimular as diferenças e reconhecer as potencialidades individuais. Dessa forma, é crucial que</p><p>os professores e demais pro�ssionais estejam devidamente preparados, inclusive para</p><p>estabelecer diálogos construtivos com todos os familiares dos alunos. Isso implica a</p><p>participação em cursos de formação continuada, visando capacitá-los a lidar de maneira e�caz</p><p>com a diversidade presente no ambiente educacional. Assim, é necessário que a escola trabalhe</p><p>no sentido de superar as diferenças e não as reproduzir.</p><p>Para nos aprofundarmos sobre esses assuntos, vamos pensar na seguinte situação: o ano letivo</p><p>estava começando e Pedro era novo aluno na escola – tratava-se de uma escola estadual. No</p><p>ano anterior, o garoto estudava em um colégio particular, no qual esteve desde o início da</p><p>educação básica. Nos primeiros dias de aula, alguns professores começaram a perceber que, por</p><p>conta de uma grande participação e conhecimento que Pedro trazia, alguns alunos começaram a</p><p>fazer chacotas e a deixar o estudante meio isolado.</p><p>Os professores diziam que Pedro era bom aluno e tudo que falava não era na intenção de se</p><p>exibir: era simplesmente aquilo que ele conhecia e trazia de sua história. Mas os colegas</p><p>começaram a chamá-lo de exibido e a se incomodar com ele. Qual seria a causa do problema e</p><p>qual seria uma boa maneira de lidar com a situação?</p><p>Vamos Começar!</p><p>O fenômeno histórico conhecido como globalização recebeu sua denominação na década de</p><p>1980 e pode ser compreendido como uma descrição do movimento de uni�cação da economia e</p><p>da política. Suas origens remontam ao século XV, durante o período das grandes navegações na</p><p>Europa. Na contemporaneidade, a globalização encontra fortes aliados nos meios de</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>comunicação, transporte e tecnologia, que ampli�cam seu poder ao agilizar as trocas de</p><p>informações de forma simultânea e em escala mundial.</p><p>A globalização tem ampliado os níveis de degradação humana através de um extenso processo</p><p>de exclusão social. Baseada no fortalecimento do capital, essa dinâmica tem apresentado</p><p>desa�os signi�cativos, especialmente nas áreas de saúde e educação, para os países menos</p><p>desenvolvidos do planeta. Nesse contexto, a globalização tem afetado vários setores da</p><p>sociedade, especialmente aqueles dominados pelo capital �nanceiro, resultando naquilo que</p><p>Santos (2000) chama de "tirania do dinheiro". As instituições como o Banco Mundial e o FMI,</p><p>entre outras, exercem in�uência e estabelecem regras no mundo globalizado contemporâneo,</p><p>impactando diretamente a política educacional das nações e, consequentemente, a brasileira.</p><p>É evidente que as diretrizes do mercado �nanceiro têm moldado as propostas de políticas para a</p><p>educação básica, formação técnico-pro�ssional e quali�cação, promovendo um ensino orientado</p><p>para o desenvolvimento de habilidades e competências voltadas para a empregabilidade. Essa</p><p>abordagem reforça uma ideologia capitalista de natureza fordista ou pós-fordista, que, como é</p><p>perceptível, contribui para a legitimação da exclusão social. No cenário da globalização, a</p><p>educação se destaca como um dos elementos fundamentais na consolidação do capitalismo</p><p>neoliberal em dimensões cada vez mais abrangentes.</p><p>Globalização e educação</p><p>As características contemporâneas do capitalismo re�etem uma organização social que</p><p>promove a acumulação excessiva de capital, fundamentada na lógica do mercado livre em</p><p>escala global e impulsionada pela crescente revolução tecnológica. Esse cenário demanda um</p><p>novo per�l de mão de obra quali�cada, que, de forma cada vez mais alienada, atenda às</p><p>exigências do mercado. Nesse intricado contexto, o discurso pedagógico assume uma narrativa</p><p>e prática diária que legitimam a preparação e adaptação dessa mão de obra quali�cada,</p><p>proporcionando uma formação geral e pro�ssional.</p><p>As re�exões na área educacional concentram-se na questão da qualidade de ensino como</p><p>mediadora do papel da escola frente às demandas contínuas e urgentes do capitalismo global,</p><p>in�uenciando a formulação das políticas públicas de educação. Tecnologias educacionais</p><p>surgem como uma força cada vez mais potente, introduzindo novos elementos que revelam o</p><p>per�l atual dos usuários no cenário contemporâneo.</p><p>Embora a globalização proporcione acesso global à tecnologia, ciência e pesquisa, a ação</p><p>educativa não pode ser compreendida fora do contexto da alienação, pois os valores da</p><p>sociedade moderna capitalista permeiam as políticas públicas educacionais. Apesar de ser um</p><p>direito constitucional, o acesso à educação no Brasil não é equitativo entre as classes sociais,</p><p>especialmente no contexto contemporâneo, com o país apresentando índices de desempenho</p><p>educacional considerados entre os mais baixos do mundo.</p><p>Nesse cenário, os governos têm adotado projetos educacionais alinhados aos padrões do</p><p>mercado internacional. No Brasil, exemplos dessa nova realidade incluem a implementação de</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>reformas no ensino médio e alterações em seu projeto curricular. Apesar da resistência de alguns</p><p>setores da população, essas mudanças no currículo oferecem aos alunos a oportunidade de</p><p>escolherem caminhos formativos alinhados aos seus projetos de vida, promovendo o exercício</p><p>do autoconhecimento e a possibilidade de focar de forma mais autônoma nos componentes</p><p>curriculares, nas áreas de conhecimento e na formação técnica relacionada à pro�ssão</p><p>desejada.</p><p>Entretanto, é importante ter em mente que, por trás da aparente liberdade de escolher disciplinas,</p><p>a sociedade permanece dividida por diferentes classes, e o critério capitalista gera um</p><p>antagonismo a ser reproduzido e reforçado pelo sistema educacional. Nesse contexto, os �lhos</p><p>da classe trabalhadora frequentemente enfrentam defasagens, pois raramente conseguem</p><p>atingir níveis mais elevados de ensino, sendo direcionados para atividades manuais. A escola,</p><p>nesse cenário, desempenha o papel de reproduzir a divisão social preexistente. Dessa forma, a</p><p>instituição escolar persiste na prática da dualidade, mantendo a separação entre o ensino</p><p>acadêmico e o ensino manual. Essa dicotomia contribui para assegurar a continuidade da lógica</p><p>capitalista.</p><p>Globalização e exclusão</p><p>Embora as tecnologias de comunicação e informação tenham sido instrumentos e ideologia na</p><p>disseminação dos males da globalização guiada pela lógica capitalista, também permitem a</p><p>emergência de novos arranjos sociais, incluindo o ressurgimento do multiculturalismo. A</p><p>horizontalidade da rede tecnológica contemporânea abre oportunidades para a interconexão</p><p>entre diversos grupos humanos, possibilitando sua participação não apenas como consumidores</p><p>de bens materiais, mas também como criadores e recriadores de conhecimento, uma moeda</p><p>valiosa na atualidade.</p><p>Consequentemente, a inclusão é</p><p>contexto, a realização plena se tornaria impossível. Platão, São Tomás de</p><p>Aquino e Kant são �lósofos representantes do essencialismo.</p><p>Um dos primeiros pensadores essencialistas da Antiguidade que realizou uma grande</p><p>sistematização �losó�ca foi Platão (428 ou 427-347 a.C.), que contribuiu com uma discussão</p><p>acerca de importantes temas relacionados à perspectiva humana. Entre as perguntas que esse</p><p>�lósofo fazia, havia a que se referia à possibilidade de superação do nível empírico, aquele que</p><p>circunda o mundo da experiência, a�rmando que havia a necessidade de se alcançar a esfera das</p><p>essências, ou seja, da verdade.</p><p>A teoria platônica fala de um Mundo das Ideias, no qual estão as ideias (essências) de todas as</p><p>coisas. É o momento em que a Filoso�a se vê desgrudada da realidade física, na tentativa de</p><p>caminhar apenas por si. Nasce a metafísica: “aquilo que vai além da física”. A metafísica é um</p><p>tipo de raciocínio que depende, total e unicamente, da atividade da razão. Para Platão, os seres</p><p>da realidade metafísica são mais reais do que os da realidade física, simplesmente por serem</p><p>mais perfeitos. Como exemplo, re�ita: onde a justiça é mais perfeita, na ideia ou na realidade?</p><p>Com certeza é na primeira.</p><p>Além de Platão, um outro pensador essencialista, já na Idade Média, Tomás de Aquino (1225-</p><p>1274), entendia que educação servia para educar o indivíduo na fé e para a vida após a morte. É</p><p>crucial destacar que, durante a Idade Média, houve uma clara tentativa do pensamento religioso</p><p>de subordinar o pensamento �losó�co à esfera da teologia, de fato, ao controle da Igreja. Nesse</p><p>contexto, séculos antes de Tomás de Aquino, Santo Agostinho (354-430) já havia apresentado</p><p>uma signi�cativa "conversão" do pensamento �losó�co grego para o cristianismo.</p><p>Tomás de Aquino baseou seu pensamento na �loso�a de Aristóteles (384-322), resultando em</p><p>traços aristotélicos notáveis que são facilmente identi�cáveis na �loso�a tomista. Para Tomás</p><p>de Aquino, a essência humana está no projeto de Deus, ou seja, a realização do homem apenas</p><p>pode ser alcançada quando este realiza aquilo que é o projeto feito para a vida do homem</p><p>concreto. Suas ações devem sempre ser pensadas com o objetivo de que alcance a salvação</p><p>depois da morte e possa participar da vida eterna, com Deus.</p><p>Concepção naturalista</p><p>Do lado oposto ao essencialismo, surge, na Idade Média, a concepção naturalista. Desde o �nal</p><p>da Idade Média, por volta do século XIV, o modo de conceber a produção do conhecimento foi se</p><p>alterando, pois a religião foi, aos poucos, perdendo seu poder sobre a realidade como um todo.</p><p>Com isso, os cientistas e pensadores em geral passaram a lançar um novo olhar sobre a</p><p>realidade. O conhecimento do mundo foi se tornando autônomo, dentro das diferentes áreas da</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>ciência que se delineavam. Esse período de mudança pode ser entendido como de libertação, no</p><p>qual o homem se guiava por sua razão, e não mais pela “vontade divina”, da qual a igreja era a</p><p>única portadora.</p><p>Foi necessário re�etir sobre novos caminhos, novos métodos que fossem e�cazes e capazes de</p><p>garantir sempre maior valor ao conhecimento cientí�co. Foram dadas, então, as bases do</p><p>método seguido pela ciência até a atualidade, o chamado método experimental, cujo centro</p><p>ordenador está no entendimento de que a experimentação da realidade (por meio de hipóteses e</p><p>testes) permite chegar a elaborações con�áveis sobre o funcionamento da realidade.</p><p>De acordo com Aranha (1994, p. 113) “o que caracteriza a tendência naturalista é a tentativa de</p><p>adequar a metodologia das ciências humanas ao método das ciências da natureza, que se</p><p>baseia na experimentação, no controle e na generalização”. Para essa perspectiva, contribuem os</p><p>estudos do britânico Francis Bacon (1561-1626), que elaborou uma metodologia racional para o</p><p>trabalho cientí�co, delimitando a linha entre o pensamento medieval e o moderno. Ao</p><p>problematizar as questões relacionadas ao conhecimento, traz a ideia de que “saber é poder”.</p><p>Quanto mais o homem conhece do mundo em seu funcionamento, mais ele tem condições de</p><p>regê-lo, pois saber das leis naturais faz com que se possa agir sobre seus constituintes, para que</p><p>o mundo esteja de acordo com os desejos humanos. Conhecer o homem signi�ca saber também</p><p>sobre seu funcionamento.</p><p>O pensamento de René Descartes (1596-1650) também contribui para a nossa compreensão da</p><p>concepção naturalista do ser humano, adotando a dúvida como um caminho em direção à</p><p>verdade. Descartes chega ao reconhecimento do cogito ("penso, logo existo") como o ponto a</p><p>partir do qual todo o restante poderia ser concebido. A única certeza alcançada pela re�exão é a</p><p>certeza do eu como uma substância pensante. No entanto, essa mesma re�exão revela que o</p><p>homem, além do pensamento é também um corpo. Enquanto corpo, o homem compartilha a</p><p>mesma realidade dos demais corpos que existem no mundo real.</p><p>Sua compreensão do Universo está alinhada com o mecanicismo, ou a perspectiva mecanicista</p><p>da realidade, que postula que tudo segue um funcionamento mecânico, onde os elementos</p><p>desempenham funções especí�cas para o pleno funcionamento do conjunto. Essa abordagem</p><p>concebe o Universo como se fosse uma vasta máquina, onde compreender minuciosamente o</p><p>funcionamento de cada elemento possibilita alcançar o entendimento do todo.</p><p>Cultura e educação</p><p>Uma área do conhecimento humano que pode oferecer contribuições signi�cativas ao trabalho</p><p>dos professores é a Antropologia. O ser humano, ao produzir e transmitir cultura para as</p><p>gerações seguintes, estabelece um contínuo processo de socialização. No entanto, a aquisição</p><p>do conhecimento é um processo singular, sendo construído de maneira única por cada indivíduo.</p><p>A dinâmica desse complexo processo precisa ser desvendada pela Antropologia, que, ao reunir</p><p>elementos para analisar a interação do homem com o mundo circundante, traz contribuições</p><p>valiosas para a educação. Nesse sentido, a antropologia �losó�ca estimula a re�exão sobre os</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>conteúdos apresentados aos estudantes por meio do projeto curricular, levando em consideração</p><p>o contexto cultural, a história de vida e o universo simbólico de cada indivíduo.</p><p>Esses fatores são fundamentais para a aprendizagem, abrangendo capacidades derivadas da</p><p>infância, como a incorporação de experiências, habilidades sensório-motoras, capacidade de</p><p>locomoção, função imitativa, lúdica, linguística, intelectual e estética.</p><p>O ser humano, naturalmente desejante, busca integrar-se ao seu grupo social, sendo que esse</p><p>desejo de participação pode ser tanto estimulado quanto bloqueado durante o processo</p><p>pedagógico de socialização da criança. O movimento de internalização do espaço social</p><p>estruturado, conhecido como socialização, ocorre em constante interação entre a história</p><p>individual e a convivência coletiva. É esse processo que destaca a necessidade de uma</p><p>abordagem antropológica na educação.</p><p>A Antropologia e a educação devem ser integradas por meio das emoções e crenças. O educador</p><p>deve cultivar uma sensibilidade em relação à diversidade cultural dos educandos, buscando</p><p>empatia ao detectar suas necessidades, as quais são moldadas na interação entre o estudante e</p><p>sua comunidade de origem. Nesse contexto, a Antropologia histórica proporciona uma valiosa</p><p>contribuição ao trabalho docente, permitindo uma análise aprofundada da cultura e dos valores</p><p>dos educandos.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Vamos retomar a nossa situação inicial:  ao acompanhar as aulas de ciências do professor</p><p>Carlos, você percebe que elas são realizadas sempre do mesmo modo e isso o deixa intrigado,</p><p>pois nem sempre o conteúdo é assimilado pelos alunos. Você resolve então ir conversar com a</p><p>professora Tânia e tenta saber o que ela tem feito para conquistar os estudantes, buscando fazer</p><p>com que eles aprendam de modo mais signi�cativo.</p><p>O docente em formação vê a necessidade de buscar caminhos para pensar possíveis novos</p><p>modos de conceber o fazer educativo. Você consegue perceber que ganhos o educador tem, em</p><p>sua formação, quando</p><p>rede�nida, pois toda a humanidade torna-se capaz de produzir e</p><p>consumir diversos saberes. Isso propicia um rico entrecruzamento de culturas entre todos os</p><p>povos do planeta, desa�ando a hegemonia de um único grupo. Essa transformação exige a</p><p>re�exão e construção de um novo paradigma educacional.</p><p>Conforme Santos (2000), quando as pessoas compartilham um território, elas não apenas criam</p><p>cultura, mas também estabelecem uma economia, um discurso e uma política que re�etem as</p><p>características desse território. Embora isso possa parecer uma fragilidade à primeira vista, na</p><p>realidade é uma força. O autor argumenta que, quando essa cultura se forma localmente, ela se</p><p>torna uma fonte de fortalecimento para a política das classes menos favorecidas, operando de</p><p>maneira autônoma, sem depender de partidos políticos ou outras organizações.</p><p>Apesar de vivermos em uma sociedade predominantemente caracterizada pelo modelo</p><p>capitalista, que persiste na disseminação dos valores da modernidade, podemos perceber</p><p>indícios de que estamos ingressando em uma nova fase histórica. Essa fase sugere que a</p><p>superação desse modelo econômico não ocorrerá mediante a substituição por outra forma de</p><p>poder hegemônico, mas sim através da capacidade humana de indignação, questionando a</p><p>ideologia que sustenta essa lógica.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>O esforço coletivo dos pesquisadores em analisar e provocar re�exões sobre a problemática da</p><p>globalização e suas implicações para a educação é crucial. Isso permite evidenciar a tensão</p><p>existente entre dois movimentos aparentemente contraditórios, mas que coexistem no contexto</p><p>social contemporâneo: a globalização com seus interesses políticos e econômicos e a crescente</p><p>visibilidade dos movimentos de diversos grupos sociais minoritários nas últimas décadas.</p><p>A sociedade brasileira demanda uma educação renovada, mais inclusiva e menos excludente.</p><p>Esse modelo precisa reconstruir a educação de maneira a compreender os diferentes interesses</p><p>dos movimentos sociais. Embora seja importante formar indivíduos com competências</p><p>especí�cas para enfrentar o mundo globalizado, é igualmente fundamental criar oportunidades</p><p>que desenvolvam sua sensibilidade. As pessoas precisarão aprender a conviver com a</p><p>multiculturalidade, a diversidade, as diferenças e as incertezas do mundo contemporâneo.</p><p>Nesse contexto, a desconstrução da ideologia dominante como algo que não precisa ou deve ser</p><p>contestado é urgente. Os alunos precisam compreender o conceito de hegemonia, como</p><p>proposto por Antonio Gramsci, pois, segundo o �lósofo, "toda relação de 'hegemonia' é</p><p>necessariamente uma relação pedagógica” (Gramsci, 1978, p. 37). Isso não se limita ao interior</p><p>de uma nação, mas ocorre em todo o campo internacional e mundial, entre conjuntos de</p><p>civilizações nacionais e continentais.</p><p>Tendo como base o pensamento de Gramsci (1978) sobre hegemonia, a função educativa torna-</p><p>se relevante e imprescindível. A educação desempenha um papel fundamental no processo de</p><p>concretização de uma nova concepção de mundo e na construção da hegemonia da classe</p><p>trabalhadora, desde que direcionada para seus interesses. Portanto, uma vez que a sociedade</p><p>brasileira necessita de uma nova educação, concretizada por meio de um projeto curricular</p><p>renovado, mais inclusivo e menos excludente, é de suma importância que a educação atinja não</p><p>apenas o nível individual, mas também o coletivo.</p><p>Assim, é possível que a educação se torne um mecanismo de extrema relevância para os</p><p>processos de lutas que buscam a transformação da sociedade, uma educação voltada para os</p><p>interesses dos trabalhadores, transmitindo conhecimentos vivos, críticos e transformadores. Isso</p><p>contribuirá para a construção da conscientização da classe trabalhadora, reconhecendo-a como</p><p>uma classe dominada que precisa lutar pela construção de um novo modelo.</p><p>Nesse contexto, a instituição escolar, ao elaborar e implementar seu projeto curricular, deve</p><p>considerar a pluralidade e a diversidade cultural, buscando abordagens e�cazes para contemplar</p><p>as diferenças presentes na sociedade e dentro da própria escola. Abordar a diversidade e a</p><p>pluralidade cultural implica reconhecer a existência não de uma única cultura, mas sim de</p><p>inúmeras culturas, distintas entre si. Nesse sentido, a escola precisa adotar abordagens e�cazes</p><p>para consolidar uma prática educacional inclusiva, alcançando a todos de maneira equitativa.</p><p>Siga em Frente...</p><p>A escola e a não neutralidade</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>O pensador Pierre Bourdieu (1930-2002) contribuiu signi�cativamente com os estudos sobre a</p><p>escola e a educação na sociedade capitalista. O pensamento de Bourdieu oferece uma</p><p>abordagem crítica ao analisar o papel da educação na sociedade. "Fazer a crítica" implica</p><p>examinar minuciosamente o que já existe, buscando compreender seus fundamentos e as</p><p>relações que mantêm com o conjunto de elementos que compõem o contexto. Dessa forma,</p><p>Bourdieu desenvolveu sua re�exão de maneira a perceber que o processo educativo precisava</p><p>ser reinterpretado, especialmente em sua época, quando a educação era amplamente vista como</p><p>uma solução positiva para os problemas sociais. E será que hoje ela é vista de maneira diferente?</p><p>No contexto em que Bourdieu se inseriu, e que persiste até hoje, várias teorias educacionais</p><p>enfocavam a educação como uma espécie de redentora. O ponto crucial é entender que a</p><p>educação é um instrumento que pode servir a diferentes propósitos. Bourdieu propõe uma</p><p>compreensão mais abrangente do fenômeno educacional, capaz de abordar de maneira mais</p><p>e�caz as desigualdades escolares. O autor argumenta que não existe uma escola neutra. A ideia</p><p>de uma instituição educacional que apenas transmite conhecimentos necessários para que os</p><p>indivíduos se realizem social e humanamente é ilusória.</p><p>Essa suposta escola neutra, na verdade, estaria a serviço do sistema e, por conseguinte, seria</p><p>alheia ao contexto social. Mesmo dentro de uma realidade especí�ca, ela trataria todos os alunos</p><p>e todo o conteúdo de maneira uniforme, sem considerar elementos de diferenciação em termos</p><p>de importância do conteúdo e experiência social. Bourdieu percebeu que a escola pode</p><p>inadvertidamente legitimar o projeto de desigualdade contra o qual ela supostamente se</p><p>posiciona.</p><p>A educação, na teoria de Bourdieu, perde o papel que lhe fora atribuído de instância</p><p>transformadora e democratizadora das sociedades e passa a ser vista como uma das principais</p><p>instituições por meio da qual se mantêm e se legitimam os privilégios sociais. Trata-se, portanto,</p><p>de uma inversão total de perspectiva. (Nogueira, 2014, p. 14)</p><p>A crítica da escola emerge da análise da relação entre o indivíduo, sua vivência no contexto</p><p>social e sua experiência escolar. Existe uma estrutura social objetiva na qual todas as vivências</p><p>são organizadas, mas há também uma participação individual (subjetiva) na construção da</p><p>realidade. A questão central é compreender a autonomia do indivíduo dentro dessa estrutura: ele</p><p>possui autonomia ou está apenas seguindo o que é predeterminado pela estrutura social?</p><p>O pro�ssional da educação, especialmente o professor, torna-se crítico em sua prática quanto</p><p>mais consegue identi�car o que aparenta ser uma preferência individual, mas que, na realidade, é</p><p>uma indução social. O aluno aprende a interpretar de uma maneira especí�ca em uma</p><p>determinada situação, e mesmo diante de situações diferentes, continua interpretando sob a</p><p>in�uência da estrutura objetiva internalizada.</p><p>Para compreendermos melhor essa questão, vamos pensar a realidade social a partir do ponto</p><p>de vista de Karl Marx, que interpreta a sociedade a partir da luta de classes. Bourdieu acrescenta</p><p>que há uma estrutura objetiva de dominação de uma classe sobre outra. Cada vez que um</p><p>indivíduo se depara com a realidade, assume uma posição como membro de uma classe, muitas</p><p>vezes de maneira inconsciente. No campo educacional, as disputas re�etem a busca pelo melhor</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>caminho a ser seguido, o que pode ser observado claramente é a divisão</p><p>em dois principais</p><p>modelos: o público e o privado. Essa divisão re�ete, corrobora e perpetua a divisão social e a</p><p>situação de dominação de classe.</p><p>Dessa forma, a educação não pode ser ingenuamente entendida como um caminho de</p><p>libertação, pois ela reproduz a hierarquização dos indivíduos. Os bem-nascidos e bem-formados</p><p>expressam os valores da classe dominante que busca manter sua posição. A classe dominada</p><p>internaliza a estrutura objetiva de dominação, aceitando-a como algo natural. Ao chegar na</p><p>escola, o aluno deveria trazer uma bagagem cultural que lhe permitisse acessar novos tipos de</p><p>conhecimento e, cada vez mais, desenvolver seu pensamento. Porém, a escola não consegue</p><p>desenvolver a capacidade de re�exão no aluno, por conta de faltarem elementos básicos a partir</p><p>dos quais se torna possível pensar criticamente.</p><p>A escola não cumpre apenas a função de consagrar a “distinção” – no sentido duplo do termo –</p><p>das classes cultivadas. A cultura que ela transmite separa os que a recebem do restante da</p><p>sociedade mediante um conjunto de diferenças sistemáticas: aqueles que possuem como</p><p>“cultura” (no sentido dos etnólogos) a cultura erudita veiculada pela escola dispõem de um</p><p>sistema de categorias de percepção, de linguagem, de pensamento e de apreciação, que os</p><p>distingue daqueles que só tiveram acesso à aprendizagem veiculada pelas obrigações de um</p><p>ofício ou a que lhes foi transmitida pelos contatos sociais com seus semelhantes. (Bourdieu,</p><p>2007, p. 221)</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: Pedro era novo aluno na escola – tratava-</p><p>se de uma escola estadual. No ano anterior, o garoto estudava em um colégio particular, no qual</p><p>esteve desde o início da educação básica. Como Pedro sempre participava das aulas e respondia</p><p>aos questionamentos dos professores, os alunos começaram a implicar com ele. Qual seria a</p><p>causa do problema e qual seria uma boa maneira de lidar com a situação?</p><p>O pensamento de Bourdieu pode explicar o que ocorreu: as diferenças sociais levam os</p><p>indivíduos a terem diferentes experiências de mundo – principalmente no que se refere ao</p><p>conteúdo de conhecimento e à vivência cultural. O problema é causado pelo próprio sistema, que</p><p>não oferece as mesmas condições de participação social a todas as pessoas. Nesse sentido,</p><p>crianças advindas de classes populares deixam de conhecer aquilo que, adiante, a escola (e</p><p>outros ambientes sociais) vai cobrar.</p><p>Uma criança não escolhe e, portanto, não tem “culpa” de nascer em uma classe com mais ou</p><p>menos condições �nanceiras. Também não seria o caso de Pedro deixar de lado tudo o que havia</p><p>aprendido e �ngir que não trazia determinado conhecimento prévio. Muitas ações poderiam ser</p><p>pensadas como solução, mas, basicamente, é preciso integrar o aluno no novo ambiente e fazer</p><p>com que todos percebam que ter diferentes experiências, ao invés de ser prejuízo, é ganho para</p><p>toda a turma quando se partilha o conhecimento.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Saiba mais</p><p>A promoção da educação desde a infância para a cidadania é fundamental para a concretização</p><p>da democracia. Para se aprofundar no assunto, leia o artigo:</p><p>Cidadania desde a infância e educação para a democracia: da negação da fala à perspectiva de</p><p>fortalecimento da voz da criança, da autora Delma Lúcia de Mesquita. O texto busca responder</p><p>algumas questões orientadoras acerca da relação entre cidadania, infância e educação.</p><p>A escola deveria atuar na emancipação dos indivíduos, promovendo uma formação crítica e</p><p>re�exiva aos indivíduos. Em vez disso ela atua na reprodução das desigualdades sociais. Assista</p><p>ao �lme Escritores da Liberdade (2007), em que uma jovem e idealista professora chega a uma</p><p>escola de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e violência. Procure perceber</p><p>os elementos ligados à educação e à desigualdade social entre alunos e professores. Observe as</p><p>estruturas educacionais que propiciam a reprodução dessas desigualdades.</p><p>Referências</p><p>BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2007.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>GRAMSCI, A. Concepção dialética da História. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978.</p><p>LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e</p><p>organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.</p><p>NOGUEIRA, M. A. Bourdieu e a educação. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.</p><p>SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2006. Coleção primeiros passos.</p><p>SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.</p><p>SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados,</p><p>2013.</p><p>Aula 3</p><p>O Pensamento Complexo</p><p>https://www.scielo.br/j/rbedu/a/NTccBByqp94d3FmCszMhSTj/?lang=pt#</p><p>https://www.scielo.br/j/rbedu/a/NTccBByqp94d3FmCszMhSTj/?lang=pt#</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>O Pensamento Complexo</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você irá compreender a importância de uma educação contextualizada. Vamos partir</p><p>dos pressupostos do autor Edgar Morin e da sua Teoria da Complexidade para entender que a</p><p>escola e os métodos de ensino precisam ser revistos a �m de levar aos alunos uma visão do</p><p>todo da realidade, e não fragmentada como vem sendo feito. Vamos lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>Até um passado recente, o papel do professor era reproduzir conhecimento, enquanto os alunos</p><p>recebiam lições e se preparavam para provas. Hoje, o ambiente escolar valoriza mais a prática e</p><p>coloca o estudante como protagonista de seu próprio aprendizado. Além disso, busca</p><p>proporcionar uma formação mais ampla, pois o estudante é considerado o responsável pelo seu</p><p>progresso. Com a transformação digital, a democratização do conhecimento veio trabalhando</p><p>intensamente. Na mesma medida, o mercado de trabalho passou a buscar habilidades</p><p>diferentes, forçando os sistemas de ensino a pensarem em desenvolvimento cognitivo,</p><p>comportamental e intelectual, tendo o desenvolvimento da cidadania como eixo central.</p><p>Para nos aprofundarmos sobre esses assuntos, vamos pensar na seguinte situação: o estagiário</p><p>Thomas �nalizou suas atividades e o ano letivo também estava terminando. Conforme havia sido</p><p>combinado com a coordenação, Thomas tinha participado das atividades até o último dia. Foi</p><p>uma experiência muito rica tudo o que ele vivenciou nas aulas, junto aos professores e alunos –</p><p>algo que com certeza serviu de modo especial para sua formação.</p><p>Tudo o que pôde vivenciar, o rapaz relatava em um diário de estágio, seguindo as orientações da</p><p>professora de estágio. Thomas ainda teria um último encontro com essa docente. Dessa forma,</p><p>ele preparou todos os seus materiais e foi para a universidade. Ao receber todos os documentos,</p><p>a educadora pediu a ele que �zesse uma avaliação geral da experiência realizada.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>No geral, a avaliação foi muito positiva, na qual o estagiário elencou elementos que foram mais</p><p>signi�cativos para ele – fossem de caráter positivo ou negativo. Ele encerrou com a seguinte</p><p>colocação: “Percebo que a realidade é simples, e o sistema educacional, do modo como está</p><p>organizado, complica tudo na cabeça dos alunos. O ensino deveria ser mais simples... só assim o</p><p>aluno aprenderia a viver neste mundo”.</p><p>A professora disse a Thomas que gostou da análise que ele fez de todo o estágio cumprido. Mas</p><p>indicou que havia um problema na conclusão de seu raciocínio e que mudaria por completo o</p><p>sentido do pensamento. Nesse contexto, ela repete o �nal da fala do aluno pedindo que ele</p><p>identi�casse o que poderia estar errado. Você consegue identi�car o que está errado na fala do</p><p>aluno? Bons estudos!</p><p>Vamos Começar!</p><p>A sociedade contemporânea enfrenta uma crise global profunda, e a conscientização dessa crise</p><p>nos leva a perceber o caos que estamos vivenciando. Isso nos motiva a buscar um caminho que</p><p>supere o individualismo, que há muito tempo tem causado inúmeros males à nossa existência.</p><p>No contexto atual, as relações sociais, culturais e educacionais parecem ser um modelo falido.</p><p>Apesar do considerável desenvolvimento social e tecnológico que alcançamos, proporcionando</p><p>certo conforto material, este é um privilégio de uma minoria. Assim, torna-se necessário quebrar</p><p>esse paradigma, considerando as re�exões que vêm sendo construídas ao longo do tempo.</p><p>O modelo educacional atual, fundamentado no método mecanicista e materialista de ensino,</p><p>enxerga os alunos como recipientes vazios a serem preenchidos com valores de uma sociedade</p><p>representada por um currículo descontextualizado, fragmentado e in�exível, que não leva em</p><p>conta as emoções e os saberes originais dos estudantes. Ao contrário desse modelo</p><p>fragmentado, a abordagem holística, surgida a partir da década de 1970 do século passado,</p><p>propõe uma visão interdisciplinar. Estudiosos de diversos campos passaram a estabelecer</p><p>princípios norteadores para uma interação mais equilibrada entre a essência e a existência</p><p>humanas.</p><p>A abordagem holística acredita na capacidade do homem integral em criar uma sociedade</p><p>saudável. Propõe um modelo de educação mais íntegro, respeitando as habilidades e percepções</p><p>individuais, considerando o ser humano como singular e valioso. Esse modelo reconhece a</p><p>capacidade de aprender com a subjetividade, apoiado pelas artes, pelo diálogo e pelos</p><p>momentos de re�exão. O cartesianismo ainda prevalece na trajetória educacional do indivíduo,</p><p>com o sistema educacional contemporâneo, fruto do iluminismo, colocando a razão como única</p><p>possibilidade de educação. Elementos como turnos, horários, seriações e grade curricular</p><p>re�etem essa premissa, evidenciando a arqueologia da cultura escolar.</p><p>Nesse contexto, como alerta Edgar Morin (1921), é urgente reformar o pensamento moderno,</p><p>colocando a Universidade como ponto de partida e respeitando a natureza humana dos</p><p>estudantes. A partir disso, podemos nos questionar: é possível chegar a um conhecimento como</p><p>este objetivado? Do modo como organizamos nosso pensamento, conseguimos simpli�car o</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>entendimento da realidade a um número reduzido de conceitos? Eis o nosso erro: a tentativa de</p><p>simpli�cação.</p><p>Teoria da complexidade</p><p>Em primeiro lugar, é crucial perceber que nosso pensamento segue uma orientação particular,</p><p>especialmente in�uenciado pelas ideias de René Descartes (1596-1650), que buscava certezas</p><p>capazes de indicar ideias claras e distintas. Em sua proposta metodológica, Descartes adota a</p><p>dúvida como meio para alcançar a verdade, a qual seria encontrada por meio de ideias claras e</p><p>distintas, aquelas que não suscitam dúvidas. O autor elabora então o que �ca conhecido como</p><p>método cartesiano.</p><p>A primeira regra do método cartesiano estipula que só devemos aceitar as ideias evidentes. Caso</p><p>não sejam evidentes, a segunda regra instrui a analisar em partes menores, para que,</p><p>posteriormente, pela terceira regra, possamos reconstruir o problema. A quarta regra salienta a</p><p>necessidade de realizar revisões tão frequentes quanto necessário, a �m de eliminar qualquer</p><p>dúvida remanescente.</p><p>Esse caminho, que serviu de base para o desenvolvimento de várias escolas �losó�cas e</p><p>cientí�cas, levou o pensamento a dividir a realidade para compreendê-la. A análise consiste em</p><p>dividir constantemente em partes menores, visando conhecer todos os elementos que</p><p>constituem a realidade. Dessa abordagem, surgiu a crença de que quanto mais conseguimos</p><p>dividir o objeto, mais compreensível ele se torna. Essa divisão é notavelmente observada na</p><p>especialização do conhecimento cientí�co, onde diferentes subáreas dedicam-se ao estudo de</p><p>partes especí�cas da realidade dentro de uma mesma ciência.</p><p>Morin compreende que a realidade é intrinsecamente complexa. O desa�o não reside apenas em</p><p>compreender as partes individuais, mas também no entendimento dos tipos de relações que</p><p>ocorrem entre essas partes. Além disso, tais relações se transformam, sendo únicas para cada</p><p>conjunto de objetos inter-relacionados. Diante da complexidade da realidade, a tentativa de</p><p>reduzi-la por meio de uma compreensão simpli�cadora corre o risco de perder nuances</p><p>fundamentais.</p><p>A questão que se coloca é: perdemos ou não algo ao simpli�car? Essa incerteza persiste, pois ter</p><p>plena certeza da perda implicaria um conhecimento total da realidade. Contudo, considerando</p><p>que continuamos a expandir nosso conhecimento e que os métodos devem se adaptar aos</p><p>novos modos pelos quais os objetos se apresentam, podemos suspeitar que a busca por</p><p>simpli�cação nos afasta de um entendimento mais verdadeiro.</p><p>A teoria da complexidade destaca que a realidade não se submete ao modo como o homem</p><p>organizou seu raciocínio, frequentemente caracterizado por uma redução simpli�cadora. Se uma</p><p>ciência busca uma explicação simples, determinada, clara e distinta sobre o mundo, ela pode</p><p>estar deixando algo signi�cativo para trás. Isso é particularmente evidente ao tentar</p><p>compreender o mundo humano em todos os seus aspectos, incluindo a educação. Surge, então,</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>a indagação: o que é o homem e como educá-lo? Qualquer visão reducionista nesse contexto</p><p>está fadada ao erro.</p><p>Frente à questão de como lidar com a complexidade da realidade, surge o dilema: devemos</p><p>persistir na tentativa de reduzir continuamente a realidade aos limites estreitos de nosso modelo</p><p>de razão, que exclui tudo que não se ajusta rigidamente às regras? Ou devemos "abrir as portas"</p><p>da razão e aceitar tudo que deseja transitar por ela, sem impor limitações às regras? Existe</p><p>alguma outra opção?</p><p>A proposta de Morin (2003) é a de que repensemos o conhecimento através de uma</p><p>rearticulação das esferas que ao longo do tempo o ser humano tem separado. Em outras</p><p>palavras, ele sugere a necessidade de enxergar o mundo de maneira diferente, reconhecendo um</p><p>emaranhado de relações interdependentes. Morin destaca a importância de não segmentar as</p><p>disciplinas, pois essa abordagem torna impossível apreender "o que é tecido junto", ou seja, o</p><p>complexo, conforme o sentido original do termo. A perspectiva da complexidade visualiza a</p><p>realidade como um tecido, uma trama de �os, onde mover um �o afeta os demais; nada pode ser</p><p>compreendido de forma isolada. Essa visão implica uma compreensão mais holística e</p><p>interconectada da realidade, desa�ando a simpli�cação excessiva e encorajando uma apreciação</p><p>mais completa das complexas relações que moldam o mundo.</p><p>O modo como percebemos e interpretamos a realidade in�uencia diretamente nos processos</p><p>educativos, pois a escola não se limita apenas a transmitir conteúdos, mas também molda a</p><p>forma como o mundo é entendido, frequentemente adotando uma visão compartimentada.</p><p>Contrariamente, a teoria da complexidade sugere que o conhecimento pode ser mais autêntico</p><p>quando abraça aquilo que não pode ser simpli�cado e que poderia ser descrito como "confuso"</p><p>ou "incerto".</p><p>Atualmente, a educação ainda adere a modelos de compreensão do mundo que muitas vezes</p><p>não re�etem a complexidade da realidade. Como resultado, as pessoas passam anos em</p><p>ambientes escolares imersas em processos que não as preparam para uma vivência mais</p><p>signi�cativa e alinhada com a dinâmica do mundo em constante movimento. A abordagem da</p><p>complexidade destaca a importância de reconhecer e abraçar a incerteza, evitando</p><p>simpli�cações excessivas.</p><p>Uma educação que incorpora a complexidade não apenas proporciona conhecimentos mais</p><p>profundos, mas também prepara os indivíduos para enfrentar um mundo multifacetado e em</p><p>constante transformação. Portanto, repensar os paradigmas educacionais à luz da teoria da</p><p>complexidade pode abrir caminho para uma experiência mais enriquecedora e relevante para os</p><p>alunos em relação ao mundo que os cerca.</p><p>Predomina em nós ainda a visão</p><p>linear de espaço e tempo, como se as coisas não coubessem</p><p>ao mesmo tempo em vários lugares e tempos. O conceito de dimensão talvez seja mais</p><p>congruente, porque, sendo processual, possivelmente não linear, coabita o caótico; ao mesmo</p><p>tempo em que se estrutura, a luz é matéria (partícula) e espírito (onda) que depende de como é</p><p>vista. (Demo, 2011, p. 34)</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Siga em Frente...</p><p>O pensamento complexo</p><p>Morin (2002) apresentou em sua obra Os sete saberes necessários à educação do futuro</p><p>re�exões sobre o tipo de educação adequada ao cenário mundial contemporâneo. Ele inicia sua</p><p>análise remontando às origens do homem como homo sapiens, destacando a interação entre a</p><p>vida natural e a cultura na formação do ser humano. O autor ressalta a necessidade urgente de</p><p>construir uma educação do futuro, uma vez que o modelo educacional atual ainda se baseia no</p><p>passado, caracterizado pela fragmentação do conhecimento.</p><p>O �lósofo defende a importância do pensamento complexo, capaz de oferecer uma educação</p><p>integral às novas gerações. Ele critica a pedagogia atual por fragmentar o conhecimento, criando</p><p>a falsa ideia de que o universo é desconexo e sem relação com o universal. Essa abordagem,</p><p>segundo Morin (2002), resulta na falta de interação entre o local e o global, prejudicando a</p><p>resolução de questões existenciais contextualizadas.</p><p>Considerando a sala de aula como um espaço de complexidade, reunindo diferentes estratos</p><p>socioeconômicos, emoções e culturas, Morin propõe que esse ambiente seja o ponto de partida</p><p>para a transformação de paradigmas educacionais, tornando-se signi�cativo para os estudantes.</p><p>A trajetória proposta por Morin busca romper com a estreiteza das disciplinas e compreender o</p><p>contexto que permite a conexão com a existência. Ele advoga pela eliminação da fragmentação</p><p>do conhecimento em campos restritos e pela abolição de estruturas hierárquicas rígidas entre</p><p>disciplinas.</p><p>Na tentativa de promover uma mudança de paradigma educacional, Morin apresenta os sete</p><p>saberes indispensáveis para o futuro da educação:</p><p>1. As cegueiras do conhecimento: destaca a importância de valorizar o erro como ferramenta</p><p>de aprendizagem, reconhecendo que é impossível conhecer algo sem passar por equívocos</p><p>ou ilusões.</p><p>2. A unidade do conhecimento: enfatiza a necessidade de unir diversos campos do</p><p>conhecimento para combater a fragmentação, destacando as conexões entre diferentes</p><p>áreas do saber.</p><p>3. Ensinar a condição humana: propõe que a pedagogia do futuro priorize a compreensão da</p><p>natureza multidimensional do ser humano.</p><p>4. Identidade terrena: destaca a importância de os alunos conhecerem o lugar em que vivem,</p><p>reconhecendo as necessidades de sustentabilidade, criatividade e compreendendo as</p><p>novas tecnologias, problemas sociais e econômicos associados.</p><p>5. Enfrentar as incertezas: aborda a urgência de lidar com a incerteza, reconhecendo que a</p><p>dúvida é uma constante na jornada humana, mesmo com o progresso da sociedade.</p><p>�. Ensinar a compreensão: destaca a compreensão como um ponto fundamental na interação</p><p>humana, presente em todas as atividades cotidianas na escola.</p><p>7. Ética do gênero humano: introduz a "antropo-ética" como a ética do gênero humano,</p><p>destacando a importância da empatia e da compreensão mútua.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Perspectivas para a educação</p><p>Com base nas ideias de Morin (2002; 2003), cada um dos sete saberes aponta para diferentes</p><p>necessidades de libertação do ser humano, que muitas vezes se vê aprisionado por ideias e</p><p>situações que não criou, mas que persistem ao longo do tempo. Nesse contexto, o maior desa�o</p><p>da educação é promover a libertação, uma tarefa complexa dada a necessidade de enfrentar</p><p>fatores externos (como modelos de racionalidade, determinação de conteúdos e organização</p><p>social) e internos (considerando além da subjetividade, os elementos externos já internalizados).</p><p>A educação se revela como um campo desa�ador, e a escola é o local especí�co no qual o</p><p>esforço para a transformação deve ser aplicado. A escola necessária ao homem do século XXI,</p><p>segundo Morin (2003), é aquela que se apresenta como plural, rica em manifestações humanas,</p><p>aberta ao mundo, capaz de ensinar a enfrentar as necessidades e incertezas que surgem no</p><p>caminho. Essencialmente, é uma escola que possibilita um novo pensamento, criando as</p><p>condições para um novo relacionamento entre o homem e o mundo.</p><p>Dessa forma, a escola do século XXI não apenas transmite conhecimentos, mas também</p><p>estimula o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento diante das complexidades da vida.</p><p>Deve ser um espaço que promove a diversidade, a criatividade e a compreensão das interações</p><p>entre o indivíduo e o mundo ao seu redor. Ao adotar essa abordagem, a escola se torna não</p><p>apenas um local de aprendizagem, mas também um agente de transformação, capacitando os</p><p>indivíduos a pensarem de maneira inovadora e a se posicionarem de maneira mais signi�cativa</p><p>no mundo contemporâneo.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: Thomas �nalizou as suas atividades de</p><p>estágio na escola que acompanhou as atividades. O aluno ainda fez um último encontro com a</p><p>professora responsável pelo estágio para entregar os documentos e fazer uma avaliação geral da</p><p>experiência realizada. Ele encerrou com a seguinte colocação: “Percebo que a realidade é</p><p>simples, e o sistema educacional, do modo como está organizado, complica tudo na cabeça dos</p><p>alunos. O ensino deveria ser mais simples... só assim o aluno aprenderia a viver neste mundo”. A</p><p>professora apontou que havia um problema no raciocínio de Thomas, o que mudaria por</p><p>completo o sentido do pensamento. Qual seria esse problema?</p><p>Thomas chega à conclusão de que sua professora de estágio queria que ele percebesse um erro</p><p>que é transmitido de maneira aleatória pelo pensamento comum, que é a ideia de que “devemos</p><p>simpli�car a realidade” e, no caso da escola, traduzir de uma maneira fácil para os alunos. A</p><p>professora o fez enxergar que, ao longo de cada experiência vivida nas horas de estágio, estavam</p><p>envolvidos elementos de diferentes âmbitos que constituíam a realidade de cada aluno.</p><p>Desse modo, já era possível perceber as di�culdades em se tentar considerar as especi�cidades</p><p>de diferentes estudantes em uma mesma escola. Mais ainda: ele percebeu que não é simples a</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>consideração de um único aluno que seja, em sua subjetividade. O erro é, justamente, a tentativa</p><p>de simpli�cação.</p><p>Thomas reestrutura suas ideias e não apenas assume o que a professora havia indicado, mas</p><p>começa também a enxergar outros elementos que indicam como problema a tentativa de</p><p>simpli�cação da realidade. Parece ser difícil simpli�car, mas é mais simples do que tratar da</p><p>complexidade do real.</p><p>Saiba mais</p><p>A teoria da complexidade nos auxilia a olhar para a educação e interpretá-la de maneira</p><p>diferente da que está posta na atualidade. O artigo a seguir apresenta pontos importantes</p><p>para essa re�exão:</p><p>Complexidade e transdisciplinaridade em educação: cinco princípios para resgatar o elo perdido,</p><p>do autor Akiko Santos.</p><p>O desenvolvimento da ciência e da tecnologia está intimamente ligado à educação. Para se</p><p>aprofundar no assunto, leia o artigo:</p><p>A teoria da complexidade de Edgar Morin e o ensino de ciência e tecnologia, das autoras Virginia</p><p>Ostroski Salles e Eloiza Aparecida Silva Ávila de Matos.</p><p>Referências</p><p>CARDOSO, C. M. A canção da inteireza: uma visão holística da educação. São Paulo: Summus,</p><p>1995.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>DEMO, P. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento. São Paulo:</p><p>Atlas, 2011.</p><p>MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2002.</p><p>MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Bertrand Brasil, 2003.</p><p>SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.</p><p>https://www.scielo.br/j/rbedu/a/5qbJPVmkqkbqNMj8hGTXVBN/#</p><p>https://www.scielo.br/j/rbedu/a/5qbJPVmkqkbqNMj8hGTXVBN/#</p><p>https://www.scielo.br/j/rbedu/a/5qbJPVmkqkbqNMj8hGTXVBN/#</p><p>https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4144525/mod_resource/content/0/Complexidade%20e%20o%20Ensino%20de%20Ci%C3%AAncias.pdf</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Aula 4</p><p>A Educação na Atualidade</p><p>A Educação na Atualidade</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você irá re�etir a respeito do papel da escola na sociedade. É importante pensar</p><p>também sobre o papel de salvação e transformação social que sempre fora atribuído à escola e à</p><p>educação. A re�exão necessária é: da maneira como está posta, a educação de fato pode</p><p>transformar a vida dos alunos? Vamos lá?!</p><p>Ponto de Partida</p><p>A educação refere-se ao processo pelo qual os indivíduos adquirem conhecimentos, habilidades,</p><p>valores e competências. É um pilar fundamental para o desenvolvimento pessoal e social, além</p><p>de desempenhar um papel crucial na formação de cidadãos e na construção de sociedades mais</p><p>justas. Para pensar na construção de sociedades mais justas a partir da educação, precisamos</p><p>pensar como os conceitos de igualdade e equidade podem ser percebidos no contexto</p><p>educacional.</p><p>A igualdade na educação diz respeito à garantia de que todos os alunos tenham acesso às</p><p>mesmas oportunidades, recursos e tratamento justo, independentemente de suas características</p><p>individuais, como gênero, raça, origem étnica, orientação sexual, entre outros. Procure eliminar</p><p>discriminações e garantir que todos tenham acesso a uma educação de qualidade. A equidade,</p><p>por outro lado, con�rma as diferenças individuais e busca fornecer recursos e apoios adicionais</p><p>a grupos que enfrentam metas especí�cas. Em vez de tratar tudo de maneira uniforme, a</p><p>equidade visa garantir que cada aluno receba o suporte necessário para alcançar resultados</p><p>semelhantes. Isso implica considerar as disparidades existentes e implementar medidas</p><p>especí�cas para superar essas disparidades.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>A partir dessas questões, busque re�etir sobre o papel atribuído à escola na sociedade atual e</p><p>como é possível perceber os conceitos de equidade e igualdade nesse contexto.</p><p>Bons estudos!</p><p>Vamos Começar!</p><p>A escola, enquanto instituição socializadora, desempenha um papel crucial na formação do</p><p>caráter dos educandos. Em contraste com práticas educacionais tribais, onde a responsabilidade</p><p>era compartilhada por todos na comunidade desde a infância até a preparação para a vida, a</p><p>realidade atual revela uma certa falta de comprometimento e envolvimento por parte das</p><p>famílias. Além disso, há uma necessidade de maior empenho por parte da escola no que diz</p><p>respeito às intervenções sociais na comunidade local, visando a preparação e formação do</p><p>caráter social dos alunos.</p><p>Esse cenário ressalta a importância de a escola assumir um papel mais ativo na promoção do</p><p>desenvolvimento integral dos alunos, não apenas no aspecto acadêmico, mas também no</p><p>âmbito social. A falta de participação da família e a necessidade de intervenções sociais na</p><p>comunidade destacam a responsabilidade da escola em desempenhar seu verdadeiro papel na</p><p>sociedade, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis e socialmente conscientes.</p><p>No Brasil, historicamente, a responsabilidade pela formação do caráter humano era atribuída</p><p>exclusivamente à família. Contudo, a partir da década de 1930, esse cenário passou por</p><p>transformações signi�cativas com o início do processo de democratização do acesso à</p><p>educação. Nesse contexto, a escola, além de desempenhar o papel de transmissora de</p><p>conhecimento acadêmico, assumiu também a função de colaborar com a família na formação do</p><p>caráter dos educandos.</p><p>Atualmente, no seio familiar, muitos pais enfrentam desa�os ao estabelecer limites para seus</p><p>�lhos, e parte signi�cativa das demandas educacionais acaba sendo transferida para a escola.</p><p>Isso cria um impasse entre ambas as instituições (família e escola) no que diz respeito à</p><p>compreensão de qual é o papel real de cada uma na formação do caráter e no desenvolvimento</p><p>humano dos aprendizes (�lhos e alunos).</p><p>O papel da escola e da família na formação dos educandos</p><p>Existe uma união indissolúvel que perdura ao longo dos séculos, e essa é a conexão entre a</p><p>escola e a sociedade. No cenário social, a família busca na escola um refúgio seguro para</p><p>auxiliar na educação de seus �lhos. Por sua vez, no ambiente escolar, há uma constante</p><p>preocupação em atender às demandas familiares e sociais de maneira abrangente.</p><p>Assim, à escola, enquanto instituição, cabe a missão de desempenhar sua função social ao</p><p>articular os conceitos espontâneos dos indivíduos com os conceitos cientí�cos integrados no</p><p>projeto curricular. A escola assume o papel de mediadora desse processo, guardiã do</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>conhecimento acumulado pelas gerações anteriores, estabelecendo metas e estratégias para</p><p>que as novas gerações possam incorporar esse conhecimento em sua formação pessoal e</p><p>desempenho pro�ssional futuro.</p><p>Para atingir esse propósito, os professores desempenham um papel central na seleção de</p><p>conteúdos, integrados no currículo, que por sua vez é parte essencial do projeto político-</p><p>pedagógico da instituição. É crucial que os professores, ao iniciar seu trabalho, possuam</p><p>familiaridade com esses documentos e preparo acadêmico adequado à área e componente</p><p>curricular em que atuam.</p><p>A gestão escolar desempenha um papel vital no acompanhamento do desempenho dos</p><p>professores. Frente aos desa�os que podem surgir, a equipe gestora deve oferecer formação</p><p>continuada aos docentes, visando aprimorar sua prática educacional. Nesse contexto, a equipe</p><p>gestora pode implementar uma variedade de atividades de formação, como seminários, fóruns,</p><p>palestras, o�cinas, grupos de estudo, pesquisas e estudos de caso. A prioridade no planejamento</p><p>das ações pedagógicas é fundamental, pois de�ne os caminhos metodológicos direcionados</p><p>para a aprendizagem.</p><p>A equipe pedagógica, respaldada pela gestão escolar, desempenha um papel crucial na criação</p><p>de um percurso propício ao desenvolvimento e à aprendizagem dos alunos. Essa e�cácia é</p><p>alcançada por meio do conhecimento da legislação educacional, das teorias que embasam a</p><p>aprendizagem e da compreensão do processo de construção do conhecimento pelo aluno. Além</p><p>disso, a equipe pedagógica deve contribuir ativamente para a elaboração do projeto curricular da</p><p>instituição e buscar uma comunicação constante com a família e a comunidade dos estudantes.</p><p>Ao agir dessa maneira, o professor torna-se um agente fundamental no processo de construção</p><p>da cultura e identidade da unidade educacional em que atua.</p><p>A re�exão no contexto da prática pedagógica proporciona ao docente a oportunidade de</p><p>desenvolver gradualmente a habilidade de posicionar-se criticamente diante dos acontecimentos</p><p>cotidianos da instituição. Isso implica colocar em prática pontos importantes planejados para</p><p>aprimorar seu trabalho, contribuindo assim para a melhoria contínua da qualidade educacional.</p><p>Nessa abordagem, é essencial manter uma comunicação ativa com a comunidade de origem do</p><p>aluno e seus familiares. Agindo de maneira preventiva e organizada, a instituição escolar evita</p><p>problemas de comunicação e antecipa demandas mais graves relacionadas ao contexto</p><p>extraescolar. Essa interação contínua promove uma compreensão mútua entre a escola, a família</p><p>e a comunidade, fortalecendo os laços e promovendo um ambiente educacional mais saudável e</p><p>colaborativo.</p><p>Portanto, integrando ações de formação continuada para os professores com uma comunicação</p><p>efetiva com as famílias dos estudantes, a instituição escolar pode desenvolver seu trabalho de</p><p>maneira e�caz, cumprindo sua função social ao atender aos anseios da sociedade</p><p>no que se</p><p>refere à formação acadêmica, cidadã e humana dos alunos.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Siga em Frente...</p><p>Educação e possibilidade de transformação</p><p>A legislação educacional brasileira, especi�camente a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº</p><p>9.394/96, estabelece, em seu artigo 3º, XI, os princípios fundamentais que devem orientar o</p><p>ensino nas instituições escolares, destacando a "vinculação entre educação escolar, o trabalho e</p><p>as práticas sociais". Essa diretriz implica que a escola no Brasil deve assumir o compromisso</p><p>com a formação humana e crítica dos indivíduos, preparando-os para a transformação do mundo</p><p>e para o exercício consciente da cidadania.</p><p>É essencial superar a visão simplista de que a educação é a solução para todas as questões</p><p>sociais. No entanto, é igualmente crucial reconhecer que, sem a educação, há limitações</p><p>signi�cativas na capacidade de promover transformações em direção a uma sociedade mais</p><p>justa e igualitária. A utopia promissora que a educação representa deve estar presente na</p><p>consciência de todos os envolvidos na prática pedagógica, pois ela é o combustível que</p><p>impulsiona o compromisso diário em direção aos objetivos delineados na legislação</p><p>educacional.</p><p>Ao longo da história, o ser humano, sendo inerentemente sociável, vivia em comunidades,</p><p>utilizando o coletivo como referência prática para interação e tomada de decisões. As novas</p><p>gerações eram moldadas pela "argila" social, e a estrutura da personalidade era o resultado</p><p>desse processo de modelagem. Esse contexto destaca a in�uência signi�cativa do ambiente</p><p>social na formação das pessoas, reforçando a importância da educação como agente moldador</p><p>e capacitador para uma participação ativa e crítica na sociedade.</p><p>A escola surgiu originalmente como um espaço destinado a colaborar com os grupos sociais na</p><p>construção do caráter e da personalidade de seus membros mais jovens. Nessa concepção, a</p><p>função social primordial da escola é a educação, atuando como um complemento à família</p><p>nesse processo fundamental. Ao longo do tempo, a escola evoluiu, consolidando uma estrutura</p><p>funcional voltada para a promoção da convivência humana e o desenvolvimento econômico e</p><p>social dos indivíduos. Dentre as atividades essenciais historicamente atribuídas à escola,</p><p>destacam-se o monitoramento (cuidado) dos alunos, a seleção, a promoção do pensamento</p><p>crítico, o ensino e a colaboração na educação integral dos indivíduos.</p><p>Esse fenômeno social coloca diante dos educadores a necessidade de um propósito institucional</p><p>claro e uma formação cientí�ca robusta. Para desempenhar e�cazmente seu papel, o educador</p><p>precisa possuir um profundo entendimento, tanto do conteúdo do componente curricular que</p><p>leciona quanto do processo de aprendizagem. A habilidade de ensinar efetivamente está</p><p>intrinsecamente ligada ao conhecimento aprofundado desses dois aspectos, re�etindo a</p><p>complexidade da missão educacional.</p><p>Com o tempo e as mudanças nas abordagens de preparação de professores nas universidades, o</p><p>conhecimento acadêmico começou a apresentar uma super�cialidade, limitando o acesso dos</p><p>docentes a uma base cientí�ca sólida. Nesse contexto, ameaças ao trabalho docente surgiram,</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>originadas pela frágil base cientí�ca em relação aos componentes curriculares e ao processo de</p><p>aprendizagem, juntamente com comportamentos indisciplinados por parte dos estudantes. A</p><p>educação escolar, enquanto fenômeno social, passou a representar uma ameaça à utopia</p><p>promissora da instituição em continuar contribuindo para a formação de práticas pedagógicas</p><p>e�cazes que realmente possam colaborar para a consolidação de uma sociedade mais justa e</p><p>equilibrada para todos.</p><p>Essas questões ressaltam a necessidade de revisão e fortalecimento das abordagens de</p><p>formação de professores, bem como a importância de lidar de maneira e�caz com as mudanças</p><p>na dinâmica social. A superação desses desa�os é crucial para garantir que a educação escolar</p><p>possa cumprir sua missão essencial de contribuir para a construção de uma sociedade mais</p><p>justa e equilibrada.</p><p>Educar para a consciência</p><p>A instituição escolar, como qualquer outra, possui uma estrutura interna que a caracteriza e</p><p>historicamente determina um modus operandi nem sempre democrático. Enquadrada em uma</p><p>sociedade capitalista, onde a disparidade entre poucos detentores de grandes recursos e muitos</p><p>com acesso limitado prevalece, a lógica de dominação e manutenção do poder se mantém.</p><p>Contudo, apesar dessa realidade incontestável, é viável imaginar um movimento social que</p><p>desa�e essa engrenagem, destacando a necessidade de construir uma escola mais democrática,</p><p>baseada na equidade em vez de simplesmente na igualdade.</p><p>Nessa perspectiva, mesmo diante de uma realidade social complexa e diversa, um movimento</p><p>social bem organizado, com propostas claras em relação às injustiças existentes, pode</p><p>desencadear uma transformação social. Essa mudança seria liderada por agentes conscientes</p><p>do papel crucial desempenhado pela instituição educacional na promoção da equidade e da</p><p>justiça social. Portanto, ao questionar e desa�ar a estrutura existente, promovendo debates e</p><p>ações que visam uma escola mais inclusiva e equitativa, a sociedade pode iniciar um processo</p><p>de transformação que contribua para a construção de uma instituição escolar verdadeiramente</p><p>democrática e comprometida com a igualdade de oportunidades para todos.</p><p>No cenário educacional contemporâneo, especialmente após a promulgação da Lei de Diretrizes</p><p>e Bases da Educação (LDB) de 1996, é evidente uma mudança na abordagem da escola brasileira</p><p>em relação ao passado. A pedagogia atual demonstra uma maior sensibilidade e respeito pelo</p><p>multiculturalismo. Leis subsequentes à Constituição Federal de 1988 e à LDB nº 9.394/96</p><p>surgiram em resposta aos movimentos sociais organizados, que trouxeram à tona temas cruciais</p><p>para a busca de uma sociedade mais equitativa. Dentre esses temas, destacam-se questões</p><p>relacionadas à etnia, à raça, ao gênero e à de�ciência.</p><p>Esses exemplos reforçam a ideia de que o processo educacional, quando conduzido de maneira</p><p>ética e consciente, pode desempenhar um papel fundamental na transformação social. Um</p><p>exemplo é a Lei nº 10.639/03, que obrigou as instituições escolares a incluírem no currículo</p><p>o�cial o estudo da história da África e da cultura africana. Esse avanço contribui para que alunos</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>afrodescendentes e brancos obtenham uma visão mais realista e integradora sobre o tema,</p><p>promovendo a prevenção da prática desumana e criminosa do racismo.</p><p>Essas iniciativas demonstram a importância de uma abordagem educacional sensível às</p><p>diversidades culturais e sociais, que reconhece e valoriza a pluralidade presente na sociedade</p><p>brasileira. A educação, ao incorporar tais elementos em seu currículo e práticas, desempenha um</p><p>papel crucial na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A escola pública, nascida</p><p>a partir dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, tem como fundamento desde sua</p><p>origem a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, conforme preconizado pelos</p><p>iluministas.</p><p>A partir desse momento, foi estabelecido o compromisso de garantir a todos os cidadãos o</p><p>acesso à educação. Nessa perspectiva, a escola assumiu a responsabilidade pelo seu próprio</p><p>percurso histórico, disseminando entre os aprendizes as sementes do conhecimento e da</p><p>humanização. Diante desse papel crucial, cabe aos educadores uma prática educativa ética e</p><p>consciente, capaz de despertar a consciência daqueles que passam pela escola e se bene�ciam</p><p>de sua prática social.</p><p>Os educadores, ao cultivarem uma abordagem ética, não apenas transmitem conhecimento</p><p>acadêmico, mas também contribuem para o desenvolvimento humano e moral dos alunos. A</p><p>escola, como agente transformador, desempenha um papel vital na formação de cidadãos</p><p>conscientes, capazes de contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária. Essa visão</p><p>destaca a importância da escola pública como um pilar fundamental na construção de um futuro</p><p>baseado nos valores da liberdade, igualdade e fraternidade.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora é hora de retomarmos nossas re�exões iniciais sobre o papel da educação na sociedade</p><p>atual e como os conceitos de igualdade e equidade podem ser percebidos nesse contexto. O</p><p>papel da escola na sociedade atual é multifacetado e vai além da simples transmissão de</p><p>conhecimentos. O papel da escola evolui continuamente para atender às necessidades em</p><p>constante mudança da sociedade. Uma educação e�caz não se limita apenas à transmissão de</p><p>informações, mas também se concentra no desenvolvimento integral dos alunos, capacitando-os</p><p>a membros ativos e responsáveis da sociedade.</p><p>Enquanto a igualdade na educação se concentra em garantir o mesmo tratamento para todos, a</p><p>equidade se preocupa em fornecer recursos de maneira proporcional às necessidades</p><p>individuais, regularizando e abordando as desigualdades existentes. Ambos os conceitos são</p><p>fundamentais para promover uma educação justa e inclusiva, contribuindo para o</p><p>desenvolvimento pleno de cada indivíduo e para a construção de sociedades mais igualitárias.</p><p>A igualdade na educação visa garantir que todos os alunos tenham acesso às mesmas</p><p>oportunidades educacionais, como acesso a uma boa infraestrutura, currículo de qualidade e</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>professores integrados. Busca eliminar discriminações e oferecer tratamento justo a todos os</p><p>alunos, independentemente de suas características individuais.</p><p>A equidade na educação visa reconhecer que diferentes alunos podem começar uma jornada</p><p>educacional em pontos diferentes e com diferentes necessidades. Proporciona recursos</p><p>adicionais para grupos ou indivíduos que enfrentam desa�os especí�cos, como estudantes com</p><p>necessidades especiais, alunos de comunidades economicamente desfavorecidas, entre outros.</p><p>O objetivo não é apenas igualar as oportunidades, mas também considerar as situações</p><p>individuais, buscando a justiça e a equidade no resultado educacional. Em muitos contextos, a</p><p>equidade na educação é vista como um passo além da igualdade, permitindo e abordando as</p><p>desigualdades existentes para garantir que todos os alunos possam atingir seu potencial</p><p>máximo.</p><p>Saiba mais</p><p>É importante re�etir sobre a formação crítica e para a consciência dos alunos. A interação</p><p>entre a escola e a família também são elementos fundamentais nesse processo de</p><p>formação. O texto a seguir apresenta pontos importantes para essa re�exão:</p><p>Interação escola-família: subsídios para práticas escolares, organizado por Jane Margareth</p><p>Castro e Marilza Regattier.</p><p>É importante re�etir a respeito das diferenças que podem ser percebidas na educação</p><p>pública e privada. Desigualdades sociais e violência interferem diretamente na educação e</p><p>na maneira como ela é ofertada. Para re�etir mais sobre isso, assista ao documentário:  Pro</p><p>dia nascer feliz (2007), do diretor João Jardim.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.</p><p>BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, 20 de dezembro de 1996.</p><p>Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.</p><p>CASTRO, J. M.; REGATTIERI, M. Interação escola-família: subsídios para práticas escolares.</p><p>Brasília: MEC, 2009.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>DEMO, P. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento. São Paulo:</p><p>Atlas, 2011.</p><p>http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=4807-escola-familia-final&Itemid=30192</p><p>http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=4807-escola-familia-final&Itemid=30192</p><p>http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=4807-escola-familia-final&Itemid=30192</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>LOPES, E. M. T. Perspectivas históricas da educação. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995.</p><p>NOBRE, F. E.; SULZART, S. O papel social da escola. Revista Cientí�ca Multidisciplinar Núcleo do</p><p>Conhecimento, v. 3, pp. 103-115, agosto de 2018.</p><p>Aula 5</p><p>Encerramento da Unidade</p><p>Videoaula de Encerramento</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta videoaula você irá compreender as perspectivas da educação no século XXI, pensando</p><p>como o processo de globalização in�uencia de maneira determinante como a educação chega</p><p>até os alunos na atualidade. Nesse sentido, é importante perceber o papel da escola como</p><p>instância transformadora e não reprodutora do sistema vigente. Prepare-se para essa jornada de</p><p>conhecimento! Vamos lá!</p><p>Ponto de Chegada</p><p>Olá, estudante!</p><p>Para desenvolver a competência desta unidade, que é analisar a educação na atualidade,</p><p>pensado no processo de globalização e no papel da escola na formação dos sujeitos, você</p><p>deverá primeiramente entender como a ciência pode e deve ser aliada no processo de</p><p>construção do conhecimento. Ela precisa ser ofertada de maneira contextualizada, a �m de fazer</p><p>sentindo aos alunos e ser pertinente à sua realidade. O conhecimento cientí�co é intrínseco ao</p><p>conhecimento e à prática educacional.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>É necessário pensar também em como a escola, que é uma instância transformadora da</p><p>realidade e dos indivíduos, acaba atuando como reprodutora da ordem social vigente. Nesse</p><p>sentido, podemos nos valer do pensamento de Pierre Bourdieu, sociólogo francês, que</p><p>desenvolveu a teoria da reprodução social para explicar como as desigualdades sociais são</p><p>perpetuadas através das instituições, incluindo a escola. A noção de reprodução social de</p><p>Bourdieu destaca como as estruturas sociais existentes são transmitidas de uma geração para</p><p>outra, contribuindo para a reprodução das classes sociais. Para Bourdieu, a escola desempenha</p><p>um papel crucial nesse processo de reprodução social.</p><p>Bourdieu usa o conceito de "violência simbólica" para descrever o poder invisível exercido pela</p><p>escola ao impor certas normas e valores culturais. Isso pode favorecer aqueles que já possuem</p><p>capital cultural semelhante, perpetuando desigualdades. O autor argumenta que a escola, ao</p><p>favorecer certas formas de capital cultural, pode inadvertidamente perpetuar as desigualdades</p><p>sociais. Os alunos que têm maior cobertura com o capital cultural valorizado pela escola têm</p><p>mais probabilidade de serem bem-sucedidos, enquanto aqueles cujo capital cultural é</p><p>desvalorizado enfrentam obstáculos.</p><p>A seleção e classi�cação dos alunos, com base em critérios acadêmicos e culturais, muitas</p><p>vezes re�ete as classes sociais existentes. Isso pode levar à reprodução de uma elite educada e</p><p>à marginalização de certos grupos. Ao integrar esses conceitos, Bourdieu destaca que a escola</p><p>não é um mero veículo de transmissão de conhecimento, mas também uma instituição que</p><p>re�ete e perpetua as estruturas de poder e desigualdade social.</p><p>A partir desse olhar, podemos pensar também na globalização e nas suas in�uências na</p><p>educação. A globalização, caracterizada por uma interconexão crescente entre países e culturas,</p><p>in�uencia as dinâmicas educacionais, afetando a forma como as instituições escolares</p><p>reproduzem ou desa�am as desigualdades sociais. Em algumas regiões ou países, a exposição a</p><p>in�uências culturais globais pode criar expectativas e padrões que favorecem determinados</p><p>grupos, contribuindo para a reprodução de desigualdades educacionais.</p><p>A exposição a diferentes perspectivas e conhecimentos pode enriquecer a experiência</p><p>educacional, mas ao mesmo tempo pode criar disparidades entre aqueles que têm acesso a</p><p>essas oportunidades globais e aqueles que não têm. Alunos com maior acesso a recursos</p><p>tecnológicos podem ter vantagens, contribuindo para a reprodução de desigualdades no acesso</p><p>ao conhecimento. Podemos</p><p>pensar também a partir do âmbito da padronização de exames e</p><p>currículos, buscando comparabilidade internacional, o que contribui para perpetuar e aprofundar</p><p>as desigualdades.</p><p>Sendo assim, é preciso pensar na reestruturação da abordagem educacional. É necessário</p><p>pensar em uma abordagem educacional que vai além da simples transmissão de conhecimentos</p><p>e habilidades, desenvolvendo a capacidade dos indivíduos de re�etir criticamente sobre si</p><p>mesmos, os outros e o mundo ao seu redor. Essa abordagem busca cultivar uma consciência</p><p>mais ampla e profunda, promovendo a compreensão, a empatia, a responsabilidade social e a</p><p>re�exão ética.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Ao educar para a consciência, os educadores buscam ir além da mera transmissão de</p><p>informações, promovendo uma educação que forme indivíduos re�exivos, críticos e socialmente</p><p>engajados. Essa abordagem busca não apenas preparar os alunos para o sucesso acadêmico,</p><p>mas também para uma participação signi�cativa na sociedade e um entendimento mais</p><p>profundo do mundo ao seu redor.</p><p>É Hora de Praticar!</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Num modelo educacional mais coerente com o atual cenário globalizado, multicultural e</p><p>altamente tecnológico, a função da escola passa a ser a de realizar a mediação entre o</p><p>conhecimento prévio dos alunos e o conhecimento formal, sistematizado, possibilitando formas</p><p>de acesso ao conhecimento cientí�co. Logo, a de�nição de objetivos, a seleção de conteúdo, a</p><p>proposta metodológica e o processo avaliativo devem ser alicerçados na re�exão �losó�ca.</p><p>Dessa re�exão e seleção é que se con�gurará a prática educativa mediada pela ação pedagógica</p><p>do professor com os alunos, ou seja, é a ação que faz com que o currículo escolar se efetive.</p><p>Assim, a escola deve manter uma lógica, uma coerência entre os documentos que manifestam a</p><p>ação re�etida do conjunto de pessoas que ali atuam.</p><p>Para que tudo isso ocorra de maneira favorável ao aprendizado dos alunos, os professores</p><p>precisam conhecer e re�etir a priori, ao elaborarem seus planos de ensino, as formas como o</p><p>sujeito aprende, sendo, portanto, um mediador na relação do aluno com o objeto de</p><p>conhecimento. Considere os dois casos a seguir:</p><p>CASO 1</p><p>Marcos é um aluno graduando em Zootecnia e, durante um dos módulos do curso que frequenta,</p><p>deve aprender a técnica de inseminação arti�cial. Para dar conta da tarefa, esse aluno assiste</p><p>atentamente às aulas teóricas e procura ler artigos cientí�cos e capítulos de livros técnicos a</p><p>respeito desse tipo de inseminação. À medida que estuda, internaliza o referencial teórico e cria</p><p>um plano mental sobre os procedimentos práticos da referida técnica. Além disso, o estudante</p><p>procurou assistir a algumas demonstrações práticas de inseminação antes de praticá-la. Quando</p><p>começou a tentar, fracassou algumas vezes, mas não desistiu, foi observando os pontos que o</p><p>professor lhe apontava e tentando evitar repetir os erros. Finalmente, depois de várias tentativas,</p><p>o aluno Marcos conseguiu realizar com êxito a técnica de inseminação arti�cial, o que lhe rendeu</p><p>um elogio do mestre: “muito bem!”.</p><p>CASO 2</p><p>O aluno José é graduando de primeiro ano em Agronomia. Tem uma origem social no meio</p><p>agrícola e sua família tem um baixo nível de escolaridade. Durante as aulas, ele apresenta</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>di�culdade de entendimento acerca do conteúdo dos enunciados dos professores. Em seguida,</p><p>aos poucos ele anotava as palavras cujo signi�cado não conhecia e, posteriormente, consultava</p><p>os colegas. Quando tentava usá-las, algumas vezes o seu emprego era equivocado, provocando</p><p>risadas de colegas de turma e até de alguns professores. Finalmente, após muito insistir e treinar,</p><p>o aluno José aprendia os termos e sua correta aplicação sem mais ser ridicularizado pelos</p><p>colegas, o que o estimulava cada vez mais a dominar e a aplicar adequadamente o vocabulário</p><p>especí�co.</p><p>Considere os casos e destaque:</p><p>• Quem é o sujeito da aprendizagem?</p><p>• Qual é o objeto da aprendizagem envolvido?</p><p>Pense no processo educativo do qual você participou ao longo de sua formação na educação</p><p>básica. Era escola pública ou privada? A maior parte dos alunos que participou pertencia à</p><p>mesma classe social que você? Todos chegaram também ao ensino superior? Que in�uências a</p><p>origem social pode ter sobre o desenvolvimento educacional de uma pessoa?</p><p>A sociedade contemporânea, veloz, altamente tecnológica e multifacetada do ponto de vista</p><p>cultural, exige um novo modelo de educação. A função social da escola nesse contexto, portanto,</p><p>é a de preparar indivíduos capazes de re�etir sobre as informações que assimilam e transformá-</p><p>las em conhecimento sólido e bem-fundamentado.</p><p>Desde a Antiguidade, quando os primeiros �lósofos ocidentais iniciaram um caminho de re�exão</p><p>acerca da origem do conhecimento na mente humana, uma fórmula clássica surgiu, qual seja,</p><p>aquela que expressa o movimento do psiquismo humano em direção ao objeto de conhecimento</p><p>a ser construído.</p><p>A partir dessa possibilidade de análise, a educação das novas gerações precisa levar em conta a</p><p>forma como se dá a interação entre o aprendiz e o objeto que ele busca aprender, pois esse</p><p>entendimento é fundamental para que os professores possam construir estratégias didáticas</p><p>favoráveis ao aprendizado.</p><p>Nesse sentido, a resposta às questões dos dois sujeitos apresentados aqui no estudo de caso</p><p>�ca assim con�gurada:</p><p>CASO 1:</p><p>Sujeito – Marcos</p><p>Objeto de conhecimento – Inseminação arti�cial</p><p>CASO 2:</p><p>Sujeito – José</p><p>Objeto – Vocabulário técnico</p><p>Veja no infográ�co a seguir os principais pontos estudados nessa unidade:</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Figura 1 | O papel da escola e a educação no século XXI</p><p>BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2007.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e</p><p>organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.</p><p>SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.</p><p>passa a olhar além de sua experiência. Até que ponto a prática ensina?</p><p>Até que ponto isso cabe à teoria?</p><p>Um educador jamais está isolado, sua base é composta tanto pela teoria quanto pela prática. A</p><p>teoria o acompanha desde os primeiros anos de formação, desde a graduação, oferecendo uma</p><p>fonte de re�exão contínua ao longo do tempo, tornando-se um ideal re�exivo na educação. No</p><p>entanto, o educador também encontra suporte na prática, examinando o ambiente educacional</p><p>em que está inserido e reconhecendo a diversidade de caminhos possíveis.</p><p>Cada ação desenvolvida no contexto escolar deve servir como um ponto de referência para</p><p>iniciativas subsequentes. Nesse contexto, o docente, especialmente o professor em formação,</p><p>pode observar seu entorno e buscar orientação na prática de colegas que já atuam na sala de</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>aula. A verdadeira di�culdade reside em integrar efetivamente os elementos desses dois</p><p>domínios, visando construir ações impactantes na realidade educacional.</p><p>Saiba mais</p><p>Compreender sobre a Antropologia e como ela nos possibilita olhar para as diferentes culturas é</p><p>um passo importante para pensarmos também o processo educativo. Para saber mais sobre o</p><p>assunto faça a leitura a seguir:</p><p>BARROSO, P. F. Cultura. In: BARROSO, P. F.; BONETE, W. J.; QUEIROZ, R. Q. de M. Antropologia e</p><p>cultura. Porto Alegre: SAGAH, 2017. Cap. 1. p. 37-48. ISBN: 978-85-9502-185-3. [Minha</p><p>Biblioteca].</p><p>Conhecer as perspectivas naturalista e essencialista são importantes para perceber as diferentes</p><p>visões de mundo sobre uma mesma situação ou um conceito. Em seus escritos, são Tomás de</p><p>Aquino pretende descobrir as condições para o conhecimento humano e busca saber os seus</p><p>limites, isto é, até onde esse conhecimento pode chegar. Para se aprofundar no assunto, faça a</p><p>leitura a seguir:</p><p>VICENTE, J. J. N. B. Tomás de Aquino: o ente e a essência como concebidos primeiro pelo</p><p>intelecto. Griot: Revista de Filoso�a, vol. 9, núm. 1, pp. 181-190, 2014. Disponível em:</p><p>https://www.redalyc.org/journal/5766/576664778014/html/ Acesso em: 23 jan. 2024.</p><p>Referências</p><p>ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969.</p><p>ARANHA, M. L. de A. Filoso�a da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1994.</p><p>BARROSO, P. F. Cultura. In: BARROSO, P. F.; BONETE, W. J.; QUEIROZ, R. Q. de M. Antropologia e</p><p>cultura. Porto Alegre: SAGAH, 2017. Cap. 1. p. 37-48. ISBN: 978-85-9502-185-3. [Minha</p><p>Biblioteca].</p><p>CHAUI, M. Convite à �loso�a. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Col. Os</p><p>Pensadores.</p><p>VICENTE, J. J. N. B. Tomás de Aquino: o ente e a essência como concebidos primeiro pelo</p><p>intelecto. Griot: Revista de Filoso�a, vol. 9, núm. 1, pp. 181-190, 2014. Disponível em:</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595021853/pageid/0</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595021853/pageid/0</p><p>https://www.redalyc.org/journal/5766/576664778014/html/</p><p>https://www.redalyc.org/journal/5766/576664778014/html/</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>https://www.redalyc.org/journal/5766/576664778014/html/ Acesso em: 23 jan. 2024.</p><p>Aula 3</p><p>A História e a Formação Humana</p><p>A História e a Formação Humana</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você irá re�etir sobre a história, uma ciência humana que estuda o desenvolvimento</p><p>dos seres humanos no tempo, analisando processos históricos, personagens e fatos para</p><p>promover uma melhor compreensão das diferentes culturas e civilizações. Esse conteúdo é</p><p>importante, pois a história ajuda a resgatar os aspectos culturais de um determinado povo ou</p><p>região para o entendimento do processo de desenvolvimento humano. Prepare-se para essa</p><p>jornada de conhecimento! Vamos lá!</p><p>Ponto de Partida</p><p>A história é uma ciência humana que estuda o desenvolvimento do homem no tempo, analisando</p><p>processos históricos, personagens e fatos para promover uma melhor compreensão dos</p><p>períodos históricos, das diferentes culturas e civilizações. Um dos seus principais objetivos é o</p><p>resgate dos aspectos culturais de um determinado povo ou região para o entendimento do seu</p><p>processo de desenvolvimento. O aprendizado da história traz uma forte contribuição para a</p><p>formação do sujeito, tendo como objetivo principal a formação cidadã do ser humano, pois essa</p><p>disciplina apresenta dados sobre o contexto global e multicultural onde se inserem os indivíduos.</p><p>Para conseguirmos nos aprofundar no tema apresentado, vamos pensar na seguinte situação:</p><p>assim que assumiu a coordenação pedagógica de uma escola pública, Ana quis trazer novidades</p><p>para a formação dos professores. Como ainda não conhecia bem o grupo, partiu daquilo que ela</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>via como necessidade para si, enquanto havia lecionado em outra unidade. Já nas primeiras</p><p>reuniões pedagógicas, trouxe pro�ssionais diversos para que colaborassem com a formação</p><p>continuada do grupo. Ao longo das semanas, ela achava que tudo ia bem, mas começou a</p><p>perceber certo descaso dos pro�ssionais.</p><p>Ana decidiu que, na próxima reunião, colocaria a formação em pauta, para que pudesse perceber</p><p>o que estava ocorrendo. Na ocasião, então, a coordenadora pôde perceber que os educadores</p><p>não se sentiram agraciados com aquele momento diferente de formação, mas oprimidos pela</p><p>obrigatoriedade de uma formação em áreas e temas que, para eles, não eram os mais</p><p>importantes. Por qual motivo isso pode ter ocorrido?</p><p>Vamos Começar!</p><p>A questão do tempo é um dos dilemas �losó�cos mais antigos. O ser humano vivencia o tempo,</p><p>ou seja, de alguma maneira, tem uma experiência temporal, mesmo que não consiga racionalizá-</p><p>la plenamente. A percepção de que o tempo passa é evidenciada pela observação do mundo e de</p><p>si mesmo: desde a infância, a criança começa a perceber a natureza mutável das coisas e a</p><p>compreender que essa mudança está inerente à vida. Gradualmente, ela nota que é possível</p><p>marcar essa transformação, tornando-a mais tangível. É nesse momento que o ser humano</p><p>passa a registrar o tempo e pode medi-lo em horas, dias e anos.</p><p>A história aborda a vivência do ser humano no tempo e no espaço. É essencialmente uma</p><p>experiência de um ser que não pode ser concebida fora de uma determinação especí�ca, de um</p><p>contexto. Cada contexto, por sua vez, representa uma forma de organizar a vida de acordo com</p><p>as condições dadas pela realidade. É por essa razão que ao longo da história nos deparamos</p><p>com contextos diversos, cada um caracterizado por tudo aquilo de que o ser humano apresenta,</p><p>pelo impacto que causou no mundo e pela resposta que ele devolve como reação.</p><p>Aranha (1994) nos apresenta três elementos distintos que são importantes para a compreensão</p><p>do ser humano inserido em um determinado contexto. A autora evidencia a</p><p>Preocupação com o processo (nada é estático), com a contradição (não há linearidade no</p><p>desenvolvimento, que resulta do embate e do con�ito) e com o caráter social do engendramento</p><p>humano (o ser do homem se faz permeado pelas relações humanas e por isso se expressa de</p><p>formas diferentes ao longo da história). (Aranha, 1994, p. 115)</p><p>O elemento processual implica o fato de que a realidade é compreendida como algo que está</p><p>constantemente em transformação, ou seja, o ser humano não é algo predeterminado ou dado,</p><p>mas sim resultado de um processo em constante desenvolvimento, que não tem um �m</p><p>de�nitivo, podendo ser considerado como um ser para o que sempre é possível um "ainda".</p><p>O elemento contraditório signi�ca que não ocorre de maneira homogênea, mas se manifesta por</p><p>meio de um confronto entre</p><p>diversas situações e concepções, frequentemente opostas e/ou</p><p>contraditórias. A dimensão social indica que o ser humano não vive isolado, mas compartilha</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>uma realidade com outros seres, sejam eles semelhantes ou não, cada um exercendo in�uência</p><p>sobre o outro.</p><p>O ser humano molda a realidade de acordo com sua in�uência em todas as esferas. Da mesma</p><p>forma, a realidade exerce uma in�uência sobre o ser humano, determinando sua natureza. Nesse</p><p>intercâmbio, as relações são variadas através de con�itos, pois cada estilo de vida representa</p><p>uma busca pela realização. Se considerarmos essa dinâmica como intrinsecamente con�itante,</p><p>torna-se evidente a ideia de que não existe vida humana isenta de con�itos. A partir disso, é</p><p>possível antecipar diversos elementos relacionados à prática educativa.</p><p>Siga em Frente...</p><p>O papel da história na formação dos seres humanos</p><p>Cada ser humano carrega consigo uma espécie de “moldura”, similar à moldura de um quadro,</p><p>que in�uencia sua visão e compreensão do mundo. Essa "moldura" começa a ser moldada desde</p><p>o seu nascimento, à medida que o cérebro recebe estímulos, inicialmente sensoriais, do meio</p><p>natural, social e cultural ao seu redor.</p><p>A partir de uma base biológica (o cérebro), as estruturas do pensamento são formadas ao longo</p><p>da vida através das interações com o ambiente externo, dando contornos culturais à mente do</p><p>indivíduo. No contexto inicialmente familiar, elementos históricos do grupo social de origem</p><p>tornam-se parte integrante de sua existência. De acordo com pesquisadores como Piaget e</p><p>Vygotsky, a mente do sujeito é moldada pelas interações com os membros de seu grupo social.</p><p>Assim, sujeitos imersos em diferentes contextos sociais e históricos expressam suas formas de</p><p>pensar, resultando em inúmeras e diferentes concepções de mundo. Pensadores ao longo das</p><p>épocas, in�uenciados por diversos contextos culturais e sociais, deram forma às maneiras de</p><p>compreender e explicar essa rica dinâmica.</p><p>Entre as diversas "molduras" dos pensadores, �lósofos e pesquisadores, foram desenvolvidas</p><p>diferentes maneiras de olhar para os fenômenos e interpretá-los. Independente da vertente</p><p>escolhida, é fundamental que a educação leve em consideração o princípio da diversidade, uma</p><p>vez que as “molduras” humanas são distintas. O processo educacional, então, teria como</p><p>resultado a realização do ser humano como um constante "vir a ser".</p><p>Rousseau e um novo olhar sobre o homem</p><p>Até o século XVII predominou nas teorias pedagógicas o modelo cienti�cista, fato que</p><p>incomodou pensadores como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que no século seguinte</p><p>deslocou o foco central do processo educacional do mestre para o educando. Rousseau</p><p>provocou uma grande revolução na pedagogia e colocou a emoção e a moral no epicentro de sua</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>visão do homem. Segundo o pensador, o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Nesse</p><p>sentido idealizou a �gura de um educando que seria livre das in�uências sociais.</p><p>Rousseau é um autor de uma corrente de pensamento conhecida como teoria contratualista, cujo</p><p>foco está na relação do homem com o contexto em que ele está inserido. Segundo essa</p><p>perspectiva, o homem nasceu livre, mas logo após o nascimento se vê acorrentado a uma</p><p>condição coletiva, tendo que atender às demandas impostas por essa situação – o que</p><p>Rousseau denomina como estado civil ou vida em sociedade.</p><p>Embora não seja possível determinar com precisão quando ocorreu a transição do estado de</p><p>natureza para o estado civil, Rousseau argumenta que algo deve ter desencadeado essa</p><p>mudança de situação. Ele destaca que a necessidade de garantir a sobrevivência é fundamental</p><p>para compreender esse processo. No estado natural, o homem envelhece de forma individual,</p><p>utilizando suas próprias forças para satisfazer suas necessidades; já no estado civil, ele percebe</p><p>que, ao unir forças com outros, pode facilitar suas atividades.</p><p>A sociedade civil surge, então, quando o homem decide viver de modo coletivo, sujeitando sua</p><p>vontade à vontade geral, com o objetivo de que melhor pudesse viver. É como se aceitasse um</p><p>contrato que, fundando a sociedade, garantisse que o indivíduo fosse livre, ainda que sujeito a</p><p>algo mais amplo, que é o respeito às regras comuns.</p><p>Você, possivelmente, já ouviu dizer que a sociedade corrompe o homem, é nesse caminho que a</p><p>�loso�a de Rousseau nos apresenta a necessidade de que seja lançado um novo olhar sobre o</p><p>ser humano, buscando na educação – especi�camente, no indivíduo – os elementos de</p><p>transformação. Nesse sentido é que pode ser pensado o projeto educacional de Rousseau: se o</p><p>homem é bom naturalmente, é importante que a educação resgate sua bondade, para que se</p><p>faça uma nova vivência coletiva.</p><p>A dialética hegeliana</p><p>Hegel (1770-1831) é o pensador cuja �loso�a trazemos para uma re�exão mais detida sobre a</p><p>realidade histórica. Esta foi desenvolvida como um sistema �losó�co (teoria construída de modo</p><p>a abarcar toda a realidade) e pode ser entendida como o auge do idealismo alemão. O autor dá</p><p>mais uma contribuição ao processo de construção da �loso�a, pois, ao desenvolver a �loso�a do</p><p>devir, concebe o ser como processo, como vir-a-ser. A dialética colocada como eixo de sua</p><p>�loso�a transforma o conceito de verdade, não mais um fato, uma essência, uma realidade, mas</p><p>o resultado de um desenvolvimento do espírito.</p><p>Hegel entende que a realidade ocorre de modo dialético, ou seja, que a história pode ser</p><p>compreendida como um movimento de sucessão de momentos que se contrapõem. Desse</p><p>modo, toda realidade tem o movimento como condutor. A contradição é geradora da realidade e</p><p>o presente é visto como resultado de um processo. O conceito de histórico nos faz pensar que a</p><p>realidade não é estática.</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Entendendo-se o homem como parte da realidade, não nos é possível negar seu caráter histórico.</p><p>Este sempre é encontrado dentro de um contexto (conjunto de todas as signi�cações de mundo)</p><p>que o forma – ele é um ser que responde de diferentes maneiras às necessidades que os</p><p>diversos contextos lhe impõem. Signi�ca entender que o espírito de uma época constrói um</p><p>modo especí�co de ser humano e, desse modo, a história (como soma de todos os contextos ao</p><p>longo do tempo) implica no desenvolvimento do espírito ao longo do tempo.</p><p>O espírito pode ser visto, de maneira inicial e super�cial, como a consciência, mas não a</p><p>consciência individual, e sim como a possibilidade de o homem ser consciente (como se fosse a</p><p>consciência da humanidade). O homem é diferente em cada contexto, pois sua consciência é</p><p>diferente em cada situação. A individual é, então, a expressão contextualizada do espírito. Cada</p><p>momento histórico determina a consciência, não sendo possível falar de uma que seja única ao</p><p>longo do tempo.</p><p>A sucessão não apresenta momentos estanques, que vêm, simplesmente, um após outro, cada</p><p>momento traz em si algo do anterior, que passa a ser questionado e já deixa ver algo do posterior,</p><p>que passa a ser gerado. O que rege essa mudança é a contradição: signi�ca entender que</p><p>nenhuma realidade é plena em si, sempre deixando margem para ser questionada naquilo que ela</p><p>apresenta. Vamos analisar a imagem a seguir para que você compreenda melhor:</p><p>Figura 1 | Tese, antítese e síntese</p><p>Vamos interpretar a �gura: nenhuma situação histórica é plena e verdadeira em si mesma. Sendo</p><p>assim, toda situação pode ser questionada, pois ela é contraditória em seus elementos (TESE). O</p><p>questionamento abala as certezas e dá origem a uma nova possibilidade de entendimento, à</p><p>possibilidade de uma nova consciência (ANTÍTESE). A superação do momento contraditório é o</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>estabelecimento de uma nova tese, de uma nova consciência (SÍNTESE). Por sua vez, a síntese</p><p>se apresenta como uma nova tese, que também traz a possibilidade de contradição (antítese),</p><p>cuja superação levará à nova síntese e assim sucessivamente.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Vamos retomar a nossa situação inicial:  ao assumir a coordenação pedagógica</p><p>de uma escola</p><p>pública, Ana quis trazer novidades para a formação dos professores. Como ainda não conhecia</p><p>bem o grupo, partiu daquilo que ela via como necessidade para si. Com o andamento da</p><p>formação, Ana percebeu que os educadores não se sentiram agraciados com aquele momento</p><p>diferente de formação, mas oprimidos pela obrigatoriedade de uma formação em áreas e temas</p><p>que, para eles, não eram os mais importantes. Por qual motivo isso pode ter ocorrido?</p><p>O entendimento do homem como ser histórico não é auxílio apenas para o olhar que se volta</p><p>sobre os alunos, mas para o que se volta para todo o ambiente escolar. Houve erro na postura da</p><p>coordenadora, mesmo que ela tivesse boa intenção: ela não considerou as necessidades</p><p>especí�cas para aquela escola e não percebeu que os professores que ali lecionavam ainda não</p><p>tinham se relacionado, efetivamente, com ela. O problema surgiu quando os educadores</p><p>entenderam todo aquele projeto como uma imposição e a tentativa de formar no sentido de</p><p>“enformar”, “colocar em única forma”.</p><p>A solução da coordenadora, depois de ouvir todos os envolvidos, foi explicar a importância de</p><p>que continuassem o processo formativo e que, então, indicassem os temas/áreas que seriam</p><p>mais bem aproveitados pelo grupo. A consciência necessária é a de que o homem é diferente em</p><p>cada situação e deve ser conhecido a cada dia, como um novo fazer.</p><p>Saiba mais</p><p>Pensar sobre a educação atualmente é fundamental para pensarmos a nossa prática educativa.</p><p>Para isso podemos recorrer a diferentes autores e a diferentes olhares sobre a realidade.</p><p>Rousseau é um dos autores que nos ajuda nessa tarefa. Assim, vamos nos aprofundar na</p><p>perspectiva de Rousseau sobre a educação.</p><p>STRECK, D. R. Rousseau e a educação latino-americana. In: STRECK, D. R. Rousseau & a</p><p>Educação. Belo Horizonte: Grupo Autêntica, 2007 p. 79-88. ISBN 9788551301500. [Minha</p><p>Biblioteca].</p><p>O pensamento hegeliano tem in�uência na análise da sociedade, na educação e também na</p><p>construção do pensamento marxista. A compreensão da dialética é importante para</p><p>compreender o movimento constante da sociedade em que estamos inseridos. Para se</p><p>aprofundar no assunto, leia o seguinte texto:</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788551301500/pages/recent</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788551301500/pages/recent</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>NOVELLI, P. G. O conceito de Educação em Hegel. Interface, vol. 5, núm. 9, pp. 65-88, 2001.</p><p>Disponível em:  https://www.scielo.br/j/icse/a/sC8FRpKHFHshKfkJcwZC3jj/?</p><p>format=pdf&lang=pt. Acesso em: 23 jan. 2024.</p><p>Referências</p><p>ARANHA, M. L. de A. Filoso�a da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1994.</p><p>CHAUI, M. Convite à �loso�a. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>FEYERABEND, P. Diálogos sobre o conhecimento. São Paulo: Perspectiva, 2008.</p><p>NOVELLI, P. G. O conceito de Educação em Hegel. Interface, vol. 5, núm. 9, pp. 65-88, 2001.</p><p>Disponível em:  https://www.scielo.br/j/icse/a/sC8FRpKHFHshKfkJcwZC3jj/?</p><p>format=pdf&lang=pt. Acesso em: 23 jan. 2024.</p><p>REALE, G.; ANTISERI, D. História da �loso�a. v. 2. São Paulo: Paulus, 1990.</p><p>STRECK, D. R. Rousseau e a educação. Belo Horizonte: Grupo Autêntica, 2007.</p><p>Aula 4</p><p>A Teoria Crítica e o Diagnóstico da Realidade</p><p>A Teoria Crítica e o Diagnóstico da Realidade</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>https://www.scielo.br/j/icse/a/sC8FRpKHFHshKfkJcwZC3jj/?format=pdf&lang=pt</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta aula você irá re�etir sobre o contexto de surgimento da Teoria Crítica e os fatos que</p><p>in�uenciaram seus teóricos na elaboração dos conceitos por eles desenvolvidos. Esse conteúdo</p><p>é importante, pois levará ao entendimento de uma sociedade marcada pelo cenário de barbárie e</p><p>como a educação pode contribuir para a humanização. Prepare-se para essa jornada de</p><p>conhecimento! Vamos lá!</p><p>Ponto de Partida</p><p>A educação desempenha o papel de mediadora nas práticas históricas que moldam a existência</p><p>subjetiva e social do ser humano. Por essa razão, é essencial realizar uma re�exão mais</p><p>aprofundada sobre os fundamentos �losó�cos que permitem a formação e a prática docente. A</p><p>qualidade da prática pedagógica só pode ser assegurada se, ao longo da formação do educador,</p><p>ele tiver acesso a um conjunto de elementos formativos. Esses elementos devem proporcionar</p><p>ao educador a competência técnica e cientí�ca, a ser desenvolvida com criatividade,</p><p>sensibilidade ética e criticidade política. Nesse contexto, a presença de subsídios provenientes</p><p>da �loso�a é crucial para enriquecer e fundamentar a formação do educador.</p><p>Para conseguirmos nos aprofundar no tema apresentado, vamos pensar na seguinte situação:</p><p>em uma determinada escola, diferentes professores começaram a notar que, de repente, muitos</p><p>alunos do ensino médio passaram a demonstrar certo desinteresse pelas aulas e pelas</p><p>atividades em geral. Eles estavam preocupados por estarem quase no período das provas do</p><p>último bimestre. Na tentativa de resolver a situação, a coordenação levantou duas hipóteses: ou</p><p>os professores estavam exigindo demais, em quantidade e nível de di�culdade, ou estavam</p><p>exigindo pouco dos alunos. Partindo dessa ideia, foram pensadas algumas atividades para</p><p>diagnosticar a situação, mas os resultados não ajudaram muito, pois percebeu-se que tudo</p><p>estava dentro da normalidade. Qual outra ação poderia ser realizada para tentar identi�car o</p><p>problema? O que poderia estar faltando para saber o que estava ocorrendo e, assim, resolver a</p><p>situação?</p><p>Vamos Começar!</p><p>Ao interagir com seu grupo social, o ser humano passa por transformações, evidenciando-se</p><p>como um ser em constante construção. Essa interação é permeada pela contradição, pois a</p><p>atividade humana é intrinsecamente política, alimentando-se do con�ito para sua manutenção.</p><p>Nesse contexto, a historicidade das experiências humanas emerge como um elemento crucial</p><p>para compreender a natureza humana. A constante interação dialética do homem com sua</p><p>própria história e a estrutura social na qual está inserido de�ne sua experiência. Nesse sentido,</p><p>vários �lósofos buscam relacionar os fatos históricos e sociais com seus re�exos não somente</p><p>sobre a sociedade, mas também sobre a educação.</p><p>A teoria crítica e o diagnóstico da realidade</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>A existência é um ato de signi�cado profundo. No entanto, devido à sua extrema importância,</p><p>acaba por perder o seu sentido ao se tornar a base sobre a qual se constrói a compreensão do</p><p>mundo. Dessa forma, é crucial abordar o ato de existir com cautela, pois não se pode dispensá-lo</p><p>para que o pensamento ocorra. Nesse contexto, é importante ter em mente que, mesmo quando</p><p>estamos coletivamente engajados em nossa existência como um grupo social, a experiência do</p><p>mundo permanece sempre individual. Embora existamos em conjunto, é sempre o indivíduo que</p><p>interpreta o signi�cado da existência.</p><p>Há uma linha de pensamento que se debruçou de maneira singular nessa re�exão sobre a</p><p>realidade: a Teoria Crítica. Para essa teoria, o questionamento “Que mundo pode e deve ser</p><p>pensado já que a experiência é coletiva e individual ao mesmo tempo?” é particularmente</p><p>importante, visto que que apenas se pode pensar a educação atrelada a um contexto, além de</p><p>considerarmos outros elementos que constituem a realidade histórica e social. Muitos foram os</p><p>autores que contribuíram para o desenvolvimento dessa perspectiva teórica, podemos citar</p><p>alguns: Theodor Adorno (1903-1969), Max Horkheimer (1895-1973), Hebert Marcuse (1898-</p><p>1979), Walter Benjamin (1892-1940), dentre outros.</p><p>A Teoria Crítica, sob in�uência do pensamento marxista, lança seu olhar</p><p>sobre a realidade</p><p>pensando sobre aquilo que ela é (no que se mostra, do que foi feito dela), em contraposição</p><p>àquilo que ela pode ser. Os autores se debruçaram sobre temas como cultura, totalitarismo e</p><p>política, questões que estavam em evidência no momento em que desenvolveram seu</p><p>pensamento. A realidade se apresenta de uma determinada maneira, tendo sido constituída ao</p><p>longo do tempo por inúmeros “projetos de sociedade” – muitos deles desapareceram, sendo</p><p>substituídos. Porém, há traços e elementos que permanecem e vão se entrelaçando a novos. A</p><p>Teoria Crítica busca enxergar tais elementos para poder falar sobre eles com mais clareza.</p><p>Diferentes conceitos foram desenvolvidos pelos autores e nos auxiliam a pensar a sociedade, a</p><p>organização social e como essas questões in�uenciam na educação. Podemos citar os</p><p>conceitos de Indústria Cultural e Cultura de Massa, que dizem respeito à padronização de</p><p>produtos da cultura. As re�exões sobre esses conceitos e no que diz respeito à Teoria Crítica, se</p><p>dirigem criticamente ao sistema capitalista. No interior de seu conteúdo é observável a denúncia</p><p>das formas de dominação presentes na política, economia, cultura e psicologia da sociedade</p><p>desde a modernidade. Outros conceitos também são importantes, como o de humanização,</p><p>barbárie e emancipação, e é a eles que vamos nos ater.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Humanização e barbárie</p><p>O surgimento da Escola de Frankfurt ocorreu no século XX, também chamado por muitos</p><p>historiadores de século da morte, devido às duas grandes guerras mundiais. O contexto exigiu</p><p>que os pensadores da escola questionassem qual mundo seria possível diante das atrocidades</p><p>humanas observadas naquele momento. A experiência social, profundamente impactada pelas</p><p>guerras, tornou-se objeto de re�exão intensa, dada a recon�guração de valores impostos à</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>sociedade. Viver em um cenário de guerra considerou o outro não apenas como um inimigo</p><p>potencial, mas como um inimigo real, mesmo que este nada tivesse feito.</p><p>Uma das manifestações mais brutais contra a humanidade durante esse período foi durante a</p><p>Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a construção, sob o regime nazista, de campos de</p><p>concentração destinados à segregação e posterior extermínio, especialmente dos judeus,</p><p>embora não tenham sido os únicos afetados. Ao focalizar um desses campos, como Auschwitz,</p><p>as indagações centrais que guiavam as preocupações eram reduzidas a duas questões</p><p>fundamentais: como foi possível Auschwitz? E o que pode ser feito para evitar que Auschwitz se</p><p>repita? Nesse contexto histórico, a educação ganha importância fundamental, sendo</p><p>considerada como um elemento crucial na re�exão sobre as causas dessas atrocidades e na</p><p>busca por meios de prevenção no futuro.</p><p>Nesse sentido, podemos pensar nos conceitos de humanização e barbárie. Adorno entende</p><p>como barbárie, o impulso humano destrutivo, que se manifesta nas diversas formas de</p><p>agressividade percebidas no cotidiano, podendo chegar a situações extremas, como os campos</p><p>de extermínio nazistas. As pessoas, ao invés de prosseguirem um caminho de evolução do</p><p>pensamento, na consideração do outro como importante e que deveria ser considerado em suas</p><p>ações, consideram apenas seus interesses como dignos de defesa e, assim, tomam como guias</p><p>uma agressividade e um ódio primitivos característicos de um contexto pré-civilizatório. Nesse</p><p>contexto, o civilizado não é aquele que propaga determinados valores, de determinada</p><p>sociedade, mas aquele que compreende a vivência comum como parte de si e que, assim, deve</p><p>ser preservada na defesa de valores individuais.</p><p>Nesse sentido, Adorno propõe uma educação “emancipatória”, pois formas autoritárias de</p><p>educação não conseguem evitar esse caráter impulsivo destrutivo. A educação desempenha um</p><p>papel crucial ao criar possibilidades para o ser humano, capacitando-o a lidar com sua própria</p><p>liberdade. Seu propósito é abrir espaço para uma liberdade compartilhada e conter o espírito</p><p>autoritário que pode se manifestar em alguns indivíduos do grupo social. Nesse contexto, a</p><p>educação deve ser um processo de inclusão aberto a indivíduos no grupo, centrado em</p><p>interesses coletivos que promovam a humanização e evitem a barbárie.</p><p>O aprendizado, concebido como educação, deve visar a preparação do indivíduo para sua</p><p>participação na vida coletiva. Em vez de focar na preservação individual, o objetivo é a</p><p>conservação da vida comum. A educação deve ser desvinculada do caráter manipulador das</p><p>forças políticas, evitando contribuir para a formação de indivíduos que desejam participar do</p><p>grupo dos manipuladores. O primeiro passo para a libertação reside na consciência do que está</p><p>ocorrendo. O que é reprimido pode adquirir uma força tão intensa que, em determinado</p><p>momento, escapa ao controle, e a repressão diante de valores impostos alimenta a barbárie.</p><p>Consequentemente, a conscientização é crucial para evitar a perpetuação desse ciclo.</p><p>Educar para a emancipação</p><p>Ao abordar o conceito de emancipação, é crucial reconhecer o propósito de libertar o indivíduo</p><p>de um contexto situacional que o conduz a uma compreensão única da realidade. Essa</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>compreensão muitas vezes sugere que a realização pessoal está intrinsecamente ligada ao que</p><p>as forças sociais propõem como uma conquista coletiva. No entanto, os interesses subjacentes</p><p>a essas forças frequentemente permanecem obscuros, e a educação pode, de fato, desempenhar</p><p>o papel de um instrumento que ofusca essa clareza. A base conceitual dessas re�exões reside</p><p>no pensamento de Theodor W. Adorno (1903-1969), um dos �lósofos da Escola de Frankfurt.</p><p>Apesar de não ter produzido obras exclusivamente dedicadas à educação, diversos textos seus</p><p>abordam de maneira tangencial o tema educacional.</p><p>Quando pensamos em emancipação, precisamos compreender que “a emancipação não é</p><p>possível em termos gerais. Só há emancipação do indivíduo na medida em que é nele que se</p><p>concentra o con�ito entre autonomia da razão e as forças obscuras e inconscientes que invadem</p><p>essa mesma razão” (Matos, 2005, p. 52). Isso nos leva a compreender que, mesmo em iniciativas</p><p>voltadas para uma educação de caráter coletivo, é crucial focar nas ações individuais. Isso nos</p><p>alerta para a possibilidade de um projeto educacional tornar-se uma fachada, desviando a</p><p>atenção dos interesses que se pretendem ocultar. A sociedade, ao invés de orientar o indivíduo</p><p>em direção à emancipação, muitas vezes inculca nele a ideia de que o Estado (ou qualquer</p><p>entidade que o represente) deve ser o guia da vontade coletiva.</p><p>O indivíduo emancipado é aquele que se bene�cia de suas habilidades e características,</p><p>desempenhando o papel de legislador de sua própria existência. No entanto, se o sistema induz</p><p>os alunos a acreditarem na existência de uma classe "merecedora" (com base no esforço) de</p><p>uma educação diferenciada em termos de quantidade e qualidade, dessa forma, podemos</p><p>perceber que a ausência de emancipação é o elemento que in�uencia a formação de uma</p><p>mentalidade favorável a essa condição, na qual se assume que "o sistema sabe o que é melhor".</p><p>Os métodos pedagógicos, conforme observado por Adorno, são con�gurados de maneira a não</p><p>instigar o desenvolvimento do senso de posse de uma qualidade. Em vez disso, promove-se o</p><p>senso de respeito e obediência a uma autoridade, considerando o propósito de educar o homem</p><p>para assumir responsabilidade por si mesmo e pela posse de sua vontade. Entretanto,</p><p>frequentemente observamos que a prática na sala de aula segue uma direção oposta. A</p><p>educação voltada para a emancipação deve resultar na humanização do indivíduo, oposta a um</p><p>ethos de competição que pode levar à barbárie. No entanto, as disparidades inerentes ao próprio</p><p>sistema frequentemente colocam os seres humanos uns contra os outros, ao permitir a</p><p>participação nos direitos sociais apenas para alguns.</p><p>Quando pensamos no contexto brasileiro, por exemplo, após intensas lutas e organizações da</p><p>sociedade civil e pressões internacionais, o ensino fundamental foi universalizado para</p><p>todas as</p><p>crianças. Posteriormente, essa universalização se estendeu também para o ensino médio. O</p><p>Estado precisa ceder a tais reivindicações. Entretanto, a educação ofertada pode ser considerada</p><p>semiformativa, uma vez que a escola continua sendo utilizada para atender aos interesses de</p><p>grupos hegemônicos da sociedade (Pucci, 2001).</p><p>Dessa forma, cria-se a impressão de que as ações do poder público são realizadas com o</p><p>objetivo aparente de proporcionar mais autonomia ao indivíduo, buscando sua realização na</p><p>sociedade. No entanto, somente uma observação cuidadosa é capaz de identi�car as</p><p>camu�agens da realidade, que se revestem de diversas formas para conquistar ou, pelo menos,</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>transmitir a mensagem de uma pretensa consideração às necessidades humanas. Isso ocorre</p><p>porque as autoridades políticas têm consciência de que um indivíduo emancipado não se</p><p>submete a manipulações e não aceita o mínimo quando poderia aspirar ao máximo.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Vamos retomar a nossa situação inicial: Em uma determinada escola, diversos professores</p><p>começaram a notar que, de repente, muitos alunos do ensino médio passaram a demonstrar</p><p>certo desinteresse pelas aulas e pelas atividades em geral. Na tentativa de resolver a situação, a</p><p>coordenação levantou duas hipóteses: ou os professores estavam exigindo demais, em</p><p>quantidade e nível de di�culdade, ou estavam exigindo pouco dos alunos. Foram pensadas</p><p>algumas atividades para diagnosticar a situação, mas os resultados não ajudaram muito, pois</p><p>percebeu-se que tudo estava dentro da normalidade. O que poderia estar faltando para saber o</p><p>que estava ocorrendo e, assim, resolver a situação?</p><p>Uma das professoras tinha a opinião de que algo de fora dos muros da escola estaria afetando a</p><p>vida daquela comunidade de alunos. Ela conversou com a coordenadora e, preparando uma</p><p>pesquisa geral, entregou aos alunos um conjunto de perguntas que eles deveriam responder: os</p><p>temas iam desde a vivência social e familiar até a percepção que eles tinham da escola, dentro</p><p>das perspectivas de futuro. O resultado foi interessante, apontou para algo que o corpo docente e</p><p>o gestor não haviam se atentado: diversas questões, envolvendo transporte público,</p><p>reorganização das escolas e a consequente transferência de alunos estavam preocupando as</p><p>famílias e criando um clima de insegurança e insatisfação.</p><p>O corpo gestor não imaginava que tais fatos estivessem in�uenciando a comunidade de alunos,</p><p>pois a notícia havia sido anunciada nas mídias há poucas semanas e ainda não havia qualquer</p><p>de�nição de como tudo iria se desenrolar. A partir de então, a coordenadora envolveu os</p><p>professores em um grande projeto de conscientização para que a comunidade (alunos e</p><p>famílias) fosse acalmada e o ano letivo pudesse terminar bem.</p><p>Percebeu-se a necessidade de se alargar os horizontes para que fosse possível entender todos</p><p>os aspectos envolvidos na situação apresentada: a primeira suspeita recaiu na atuação dos</p><p>professores, mas os resultados da pesquisa mostraram que outros fatores é que de fato estavam</p><p>in�uenciando na queda do rendimento dos alunos.</p><p>Saiba mais</p><p>Vamos aprofundar nosso conhecimento sobre a barbárie ocorrida no século XX. No �lme</p><p>brasileiro Nós que aqui estamos por vós esperamos, de Marcelo Masagão, o autor se inspirou na</p><p>obra Era dos extremos, do historiador britânico Eric Hobsbawm, mostrando em sua produção, por</p><p>meio da montagem das imagens produzidas no século XX, ambientadas pelo fundo musical de</p><p>Wim Mertens, o período de contrastes de um mundo envolvido em duas guerras, colocando</p><p>ênfase na banalização da violência, no desenvolvimento tecnológico, na esperança e na loucura</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>humanas. O �lme revela a vida de pessoas comuns e de celebridades, com a �nalidade de levar</p><p>ao interlocutor a importância individual para a construção da história. O documentário foi</p><p>premiado no Festival de Gramado, em 1999, por sua montagem, e no Festival do Recife, como</p><p>melhor �lme, melhor roteiro e melhor montagem.</p><p>Pensar sobre a liberdade no contexto social é importante para compreender como essas</p><p>questões estão presentes também no contexto educacional. Leia o artigo a seguir sobre o tema</p><p>da liberdade, a partir das ideias de Theodor W. Adorno.</p><p>CHAVES, J. de C. O conceito de liberdade na dialética negativa de Theodor Adorno. Psicol. Soc.,</p><p>Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 438-444, dez., 2010.</p><p>Referências</p><p>ARANHA, M. G. A. Filosofando: introdução à �loso�a. São Paulo, SP: Moderna, 1993.</p><p>CHAUI, M. Convite à �loso�a. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.</p><p>CHAVES, J. de C. O conceito de liberdade na dialética negativa de Theodor Adorno. Psicol. Soc.,</p><p>Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 438-444, dez., 2010. Disponível em:</p><p>https://www.scielo.br/j/psoc/a/TPsfvSMw7sc7BzqzvzC5BrM/?</p><p>format=pdf&lang=pt#:~:text=Adorno%20indica%20o%20quanto%20pode,pelo%20particular%20e</p><p>%20pelo%20universal. Acesso em: 24 jan. 2024.</p><p>CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>HOBSBAWM, et al. Era dos extremos. São Paulo: Ed. Companhia das letras, 1995.</p><p>MATOS, O. C. F. A escola de Frankfurt: luzes e sombras do iluminismo. 2. ed. São Paulo: Moderna,</p><p>2005.</p><p>MELO, R. Teoria crítica e os sentidos de emancipação. Caderno CRH, vol. 24, n. 62, p. 249-262,</p><p>2011. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792011000200002. Acesso em: 24 jan.</p><p>2024.</p><p>PUCCI, B. Teoria crítica e educação: contribuições da teoria crítica para a formação do professor.</p><p>Espaço Pedagógico, v. 8, p. 13-30, 2001.</p><p>Aula 5</p><p>Encerramento da Unidade</p><p>https://www.scielo.br/j/psoc/a/TPsfvSMw7sc7BzqzvzC5BrM/?format=pdf&lang=pt#:~:text=Adorno%20indica%20o%20quanto%20pode,pelo%20particular%20e%20pelo%20universal</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Filoso�a e educação</p><p>Este conteúdo é um vídeo!</p><p>Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo</p><p>computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo</p><p>para assistir mesmo sem conexão à internet.</p><p>Dica para você</p><p>Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua</p><p>aprendizagem ainda mais completa.</p><p>Olá, estudante!</p><p>Nesta videoaula você irá compreender a importância da perspectiva �losó�ca para o</p><p>desenvolvimento de diferentes teorias e para a compreensão humana. Será possível também</p><p>re�etir a respeito da barbárie que aconteceu nos campos de concentração nazistas, percebendo</p><p>o papel de humanização da educação nesse contexto.</p><p>Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!</p><p>Ponto de Chegada</p><p>Olá, estudante!</p><p>Para desenvolver a competência desta Unidade, que é conhecer os pressupostos �losó�cos da</p><p>educação, identi�cando suas particularidades e aplicações no contexto educacional, você deverá</p><p>primeiramente compreender que existem diferentes teorias sobre a origem do conhecimento.</p><p>Elas nos ajudam a entender como acontece a complexa relação entre o sujeito que aprende e o</p><p>objeto que ele busca aprender, além de trazer luz sobre os múltiplos e variados fatores que estão</p><p>envolvidos nesse processo.</p><p>Essas teorias, fundamentadas no rigor dos estudos �losó�cos, apresentam dentre os seus temas</p><p>de destaque questões relacionadas à origem do conhecimento, explorando como os seres</p><p>humanos adquirem compreensão sobre o mundo físico e social. Mas é importante perceber que</p><p>devido à presença de elementos subjetivos, não é possível identi�car uma única abordagem</p><p>nessa área do conhecimento, uma vez que ele abriga diversas concepções, muitas vezes</p><p>antagônicas, coexistindo em um território marcado pela pluralidade de teorias.</p><p>Ainda nesse sentido, podemos pensar sobre a Antropologia Filosó�ca, que nos leva a pensar</p><p>sobre a natureza humana. Esse campo epistemológico é constituído de uma re�exão sistemática</p><p>sobre a vida humana, o seu destino, sua estrutura psíquica, suas ações no mundo, suas relações</p><p>com outros seres humanos e a totalidade da sua essência. Todas essas questões são</p><p>Disciplina</p><p>FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO</p><p>permeadas pelos processos históricos,</p>pensar também a partir do âmbito da padronização de exames e
currículos, buscando comparabilidade internacional, o que contribui para perpetuar e aprofundar
as desigualdades.
Sendo assim, é preciso pensar na reestruturação da abordagem educacional. É necessário
pensar em uma abordagem educacional que vai além da simples transmissão de conhecimentos
e habilidades, desenvolvendo a capacidade dos indivíduos de re�etir criticamente sobre si
mesmos, os outros e o mundo ao seu redor. Essa abordagem busca cultivar uma consciência
mais ampla e profunda, promovendo a compreensão, a empatia, a responsabilidade social e a
re�exão ética.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Ao educar para a consciência, os educadores buscam ir além da mera transmissão de
informações, promovendo uma educação que forme indivíduos re�exivos, críticos e socialmente
engajados. Essa abordagem busca não apenas preparar os alunos para o sucesso acadêmico,
mas também para uma participação signi�cativa na sociedade e um entendimento mais
profundo do mundo ao seu redor.
É Hora de Praticar!
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Num modelo educacional mais coerente com o atual cenário globalizado, multicultural e
altamente tecnológico, a função da escola passa a ser a de realizar a mediação entre o
conhecimento prévio dos alunos e o conhecimento formal, sistematizado, possibilitando formas
de acesso ao conhecimento cientí�co. Logo, a de�nição de objetivos, a seleção de conteúdo, a
proposta metodológica e o processo avaliativo devem ser alicerçados na re�exão �losó�ca.
Dessa re�exão e seleção é que se con�gurará a prática educativa mediada pela ação pedagógica
do professor com os alunos, ou seja, é a ação que faz com que o currículo escolar se efetive.
Assim, a escola deve manter uma lógica, uma coerência entre os documentos que manifestam a
ação re�etida do conjunto de pessoas que ali atuam.
Para que tudo isso ocorra de maneira favorável ao aprendizado dos alunos, os professores
precisam conhecer e re�etir a priori, ao elaborarem seus planos de ensino, as formas como o
sujeito aprende, sendo, portanto, um mediador na relação do aluno com o objeto de
conhecimento. Considere os dois casos a seguir: 
CASO 1 
Marcos é um aluno graduando em Zootecnia e, durante um dos módulos do curso que frequenta,
deve aprender a técnica de inseminação arti�cial. Para dar conta da tarefa, esse aluno assiste
atentamente às aulas teóricas e procura ler artigos cientí�cos e capítulos de livros técnicos a
respeito desse tipo de inseminação. À medida que estuda, internaliza o referencial teórico e cria
um plano mental sobre os procedimentos práticos da referida técnica. Além disso, o estudante
procurou assistir a algumas demonstrações práticas de inseminação antes de praticá-la. Quando
começou a tentar, fracassou algumas vezes, mas não desistiu, foi observando os pontos que o
professor lhe apontava e tentando evitar repetir os erros. Finalmente, depois de várias tentativas,
o aluno Marcos conseguiu realizar com êxito a técnica de inseminação arti�cial, o que lhe rendeu
um elogio do mestre: “muito bem!”. 
CASO 2 
O aluno José é graduando de primeiro ano em Agronomia. Tem uma origem social no meio
agrícola e sua família tem um baixo nível de escolaridade. Durante as aulas, ele apresenta
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
di�culdade de entendimento acerca do conteúdo dos enunciados dos professores. Em seguida,
aos poucos ele anotava as palavras cujo signi�cado não conhecia e, posteriormente, consultava
os colegas. Quando tentava usá-las, algumas vezes o seu emprego era equivocado, provocando
risadas de colegas de turma e até de alguns professores. Finalmente, após muito insistir e treinar,
o aluno José aprendia os termos e sua correta aplicação sem mais ser ridicularizado pelos
colegas, o que o estimulava cada vez mais a dominar e a aplicar adequadamente o vocabulário
especí�co. 
Considere os casos e destaque:
• Quem é o sujeito da aprendizagem?
• Qual é o objeto da aprendizagem envolvido?
Pense no processo educativo do qual você participou ao longo de sua formação na educação
básica. Era escola pública ou privada? A maior parte dos alunos que participou pertencia à
mesma classe social que você? Todos chegaram também ao ensino superior? Que in�uências a
origem social pode ter sobre o desenvolvimento educacional de uma pessoa?
A sociedade contemporânea, veloz, altamente tecnológica e multifacetada do ponto de vista
cultural, exige um novo modelo de educação. A função social da escola nesse contexto, portanto,
é a de preparar indivíduos capazes de re�etir sobre as informações que assimilam e transformá-
las em conhecimento sólido e bem-fundamentado.
Desde a Antiguidade, quando os primeiros �lósofos ocidentais iniciaram um caminho de re�exão
acerca da origem do conhecimento na mente humana, uma fórmula clássica surgiu, qual seja,
aquela que expressa o movimento do psiquismo humano em direção ao objeto de conhecimento
a ser construído.
A partir dessa possibilidade de análise, a educação das novas gerações precisa levar em conta a
forma como se dá a interação entre o aprendiz e o objeto que ele busca aprender, pois esse
entendimento é fundamental para que os professores possam construir estratégias didáticas
favoráveis ao aprendizado.
Nesse sentido, a resposta às questões dos dois sujeitos apresentados aqui no estudo de caso
�ca assim con�gurada: 
CASO 1: 
Sujeito – Marcos
Objeto de conhecimento – Inseminação arti�cial
 
CASO 2: 
Sujeito – José
Objeto – Vocabulário técnico
Veja no infográ�co a seguir os principais pontos estudados nessa unidade:
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Figura 1 | O papel da escola e a educação no século XXI
BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2007. 
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017. 
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e
organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009. 
SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.

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