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<p>HISTÓRIA DO BRASIL</p><p>27</p><p>DO BRASIL COLÔNIA ATÉ HOJE: COMO O CONCEITO DA ENTIDADE FAMILIAR SE MODIFICOU</p><p>RESUMO</p><p>O presente trabalho busca apresentar um pedaço da história da família, dentro da época do Brasil colônia, considerando sua constituição, os aspectos delimitados como importantes e característicos da sua formação e seu traçado com o direito de família. Será analisada a história das formações familiares, no que se faz necessário para o entendimento da sua inserção dentro do ordenamento jurídico. Primeiramente foi desenvolvida essa parte histórica das formações familiares no Brasil, como se formou as primeiras famílias, suas características e a importância que possuíam aquela época do Brasil colônia, os aspectos da sociedade naquele momento, como a escravidão, a educação, a forte presença da igreja que se expandiu com disseminação dos ensinamentos jesuítas; as formas de regramento daquela sociedade, mediante a aplicação de forma replicada da legislação de Portugal, que posteriormente dividiu espaço com normas estabelecidas pela igreja. Posteriormente a explanação das transformações ocorridas na constituição das famílias com o decorrer do tempo e os princípios que atualmente constituem esse meio, assim como o direito recepcionou esse ramo e qual a visão mais atual de família dentro dessa esfera jurisdicional. Conclui-se a explanação do assunto sob a abordagem da natureza jurídica da família e a dubiedade da sua abordagem dentro da esfera pública ou privada. É vivendo na unidade familiar que se aperfeiçoa a personalidade dos membros ali inseridos, pode-se dizer que, são nessas relações que os valores sociais, morais, ideológicos e religiosos são discutidos e vivenciados pelas pessoas que ali vivem e o compõem. Pode-se dizer que as percepções individuais oriundas do ambiente familiar são externadas nas vivências públicas e em comunidade, refletindo diretamente nas relações entre as pessoas, dentro de um contexto histórico.</p><p>Palavras Chaves: Brasil colônia. Direito de família. Princípios.</p><p>Sidilene da Rocha Oliveira</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>O presente trabalho tem como objetivo analisar a história da formação do instituto familiar brasileiro, a partir da época do Brasil colônia e seu entrelaço com o direito, mais precisamente o direito de família. As formações familiares apresentadas pela história do nosso país foram registradas a partir da colonização do Brasil pelos Portugueses, que iniciaram sua instalação em nossas terras passando a constituir o laço familiar no território brasileiro.</p><p>A problemática em questão era de desvendar as continuidades e as rupturas que a entidade familiar teve do período colonial em contrapartida aos dias de hoje, por meio da apresentação dessa sociedade no período do Brasil colônia, com enfoque na formação, características e relações familiares, e estes mesmos elementos das famílias da atualidade, a fim de identificar os fatores que se perpetuaram e os que se extinguiram.</p><p>O primeiro capítulo versou sobre a origem dos povos portugueses no território brasileiro e como a estadia destes influenciou na formação familiar da época, as características pertencentes a estas famílias, assim como a importância destas em meio a sociedade do período em questão. Abordaram também elementos marcantes desta fase, como a escravidão e a inferioridade do papel feminino, evidenciado pelo poder do gênero masculino dentro do meio social e do seio familiar, que tornou a época conhecida pela presença do poder patriarcal.</p><p>O segundo ato do trabalho traz à tona o papel que a igreja exerceu sobre a sociedade no período colonial, papel este que se expandiu com os ensinamentos passados pelos jesuítas aos povos nativos, mas que também eram ensinados à população portuguesa fixada no Brasil. Além do mais, o clero teve participação dentro da educação no Brasil, e esteve presente na elaboração de legislações que foram aplicadas em nosso território naquele momento. Paralela a atuação da igreja, esta parte da pesquisa também traz um pouco da tentativa de regramento da sociedade colonial mediante a aplicação de normas utilizadas em Portugal, o que, porém não teve um bom resultado.</p><p>Por fim, o terceiro capítulo evidencia as mutações ocorridas dentro da formação familiar, comparado com as famílias coloniais, trazendo fatores que atualmente são considerados elementos indispensáveis a constatação da família, assim como os princípios que o direito aplica sobre essa instituição, a natureza jurídica da família e um pouco das modificações que o direito que tutela a família teve com o decorrer desses anos, finalizando com a apresentação das considerações finais.</p><p>A pesquisa foi elaborada com auxílio de doutrinas, livros que transcrevem sobre a história do Brasil na época colonial, legislações referentes ao assunto, artigos científicos. Indubitável que o tema não foi esgotado neste trabalho, porém, visa demonstrar o quanto a instituição familiar se modificou através do tempo e por isso essa impossibilidade de haver um único conceito de família, assim como também é impossível haver apenas uma forma correta de formação da mesma, o que trás a tona a metamorfose necessária ao direito para regular toda essa diversidade.</p><p>A origem da família estende-se por um passado imensurável, e se perde no tempo por ser impossível definir sua extensão. No entanto, é singular a ideia de que os seres vivos se unem e criam vínculos uns com os outros desde sua origem, seja em decorrência do instinto de perpetuação da espécie, seja pelo desejo de não viver só, a ponto de se ter por natural, muitas vezes, a ideia de que a felicidade só pode ser encontrada a dois.</p><p>Segundo Morgan, partes da família humana existiram num estado de selvageria, outras partes em um estado de barbárie, e outras, ainda, no estado de civilização, por isso a história tende à conclusão de que a humanidade teve início na base da escala e seguiu um caminho ascendente, desde a selvageria até a civilização, através de acumulações de conhecimento e experimentos, invenções e descobertas. Morgan (1877, p. 49)</p><p>As instituições modernas têm suas raízes plantadas no período da barbárie, que por sua vez tiveram suas origens transmitidas a partir do período anterior, o de selvageria. Ou seja, por meio de uma descendência linear, foi apresentado um desenvolvimento lógico das instituições, como é o caso da família.</p><p>1 Aluno concludente do curso de Licenciatura em HISTÓRIA</p><p>2 TRANSFORMAÇÃO DA ESFERA FAMILIAR E SEUS PRINCÍPIOS</p><p>O passar dos anos desfez essa configuração de família patriarcal, dando espaço a um novo modelo familiar que passou a valorizar a convivência entre seus membros e sistematizar um lugar onde é possível integrar sentimentos, valores e objetivos, características que agregam a caminhada e contribuem para realização pessoal e felicidade de cada indivíduo. (VITORELLO, 2011)</p><p>As normas constitucionais, com força normativa, são classificadas em princípios e regras, se diferenciando pelo conteúdo e pelo modo de incidência e aplicação, sendo que os princípios constitucionais direcionados ao direito de família se subdividem em princípios fundamentais e os princípios gerais. A respeito desta área do direito dentro dessa esfera Constitucional, pode-se dizer que seus princípios são elencados em duas divisões: os relacionados às garantias dos membros da família quanto à liberdade em face de influências externas e relativo ao direito dos membros da família diante do Estado, visando a eficácia dos direitos que lhe são conferidos constitucionalmente.</p><p>O poder do patriarca se descentralizou, deixando a diversidade como sendo a característica fundamental no aspecto da aparência/formação da construção familiar. O domínio do gênero masculino deu espaço à importância da mulher dentro do meio familiar e em muitos casos, é sobre a égide das mães que são constituídas as famílias, sem contar que atualmente, a mulher pode prescindir do homem para gerar filhos e criá-los. (ROUDINESCO, 2003).</p><p>Outra característica desse arranjo familiar é a busca pelo afeto e felicidade, deste modo,</p><p>a filiação também se fundamenta nessa questão do afeto e convivência, abrindo espaço a possibilidade da ligação não ser apenas aquela derivada dos laços consanguíneos, mas também do amor e da convivência. (BARRETO, pg. 208).</p><p>A Carta Magna de 1988 trouxe todas essas transformação no panorama familiar consagrou a proteção da família prevista no artigo 226. Esta pode se formar pelo casamento civil ou religioso, com efeitos civis, por meio da união estável entre o homem e a mulher e pela família mono parental, sociedade formada por qualquer um dos pais e seus descendentes (CONSTITUIÇÃO, 1988).</p><p>Segundo Antônio Jorge Pereira Jr. o Estado, investido de poder pela sociedade política, gerencia as relações familiar dada a sua importância para a sociedade e também para cada pessoa individualmente considerada, visto que a família é uma sociedade natural, responsável primeira pela formação humana. Seu valor social foi assimilado pelo direito positivo constitucional, e assim, foi-lhe outorgada especial proteção do Estado.</p><p>Marcial Barreto Casabona afirma que, em análise ao conceito de família extraído do texto constitucional pátrio, pode-se concluir que nos últimos tempos ocorreram mudanças significativas oriundas de questões da natureza econômica, sociológica e moral, que fizeram com que a família deixasse de ser uma entidade política dentro do Estado para ser um local de reunião de pessoas ligadas pelo afeto.</p><p>O pensamento dessa sociedade contemporânea se modificou, e o casamento em sua forma tradicional passou a ser apenas uma das formas de relacionamento familiar. Então, a Constituição entende a família no seu aspecto sociológico, que, por sua vez, permite diversos significados, em que a família pode ser ou não fundada no casamento, reconhecem-se outras formas de família, com diferentes formas de constituições.</p><p>O princípio da dignidade da pessoa humana é considerado como máximo, mesmo que não haja uma hierarquia dentre os princípios, ele é uma conjectura para a formação dos demais, estruturante e conformador dos demais nas relações familiares.</p><p>A dignidade é algo iminente, que nasce com o indivíduo e nunca deve ser retirada deste, por isso, é necessário identificar todas as possíveis formas de violações, para que possa garantir a sua defesa no ordenamento jurídico (DUARTE; LANA; ARMOND; ROCHA, 2012).</p><p>De acordo Maria Helena Diniz, o princípio em questão “constitui base da comunidade familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus membros, principalmente da criança e do adolescente”.</p><p>O princípio da dignidade da pessoa humana não trata apenas de um limite a atuação do Estado, mas sim estabelece uma base para a sua posição dentro deste meio familiar de forma positiva, assim sendo, sua garantia se dá na medida em que resguarda o respeito à esfera individual do indivíduo, estando além da esfera pessoal, mas também dentro das relações sociais, pode-se então dizer que o princípio da dignidade humana é o ponto de partida nesse novo tempo do direito de família. Dias relata que:</p><p>A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares – o afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum - permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada partícipe com base em ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e humanistas. (DIAS, 2010, p.63).</p><p>É importante ressaltar que este princípio é de extrema importância para despatrimonialização dentro do conceito de família, ou seja, o patrimônio deixa de ser o enfoque central da construção familiar, supervalorizando o indivíduo, cada membro que forma aquele meio, estabelecendo a riqueza que o princípio da dignidade da pessoa humana aflora dentro do direito de família.</p><p>2.1 A FAMÍLIA PATRIARCAL E SUAS RAÍZES NA SOCIEDADE BRASILEIRA</p><p>Ao contextualizar a obra casa grande senzala de Gilberto Freyre, cria-se a percepção de que é tentado adequar toda essa sociedade da época colonial, dentro do conceito dessa família patriarcal, sendo da percepção do próprio autor a existência dessa diferença/contraste entre essas duas camadas sociais, que separam as famílias rurais e os demais cidadãos que ali não estão inclusos, observa-se isso em sua fala:</p><p>Somos duas metades confraternizastes e que se vêm mutuamente enriquecendo com valores e experiências diversas; quando nos complementarmos num todo, não será com o sacrifício de um elemento ao outro. (1978. pág.335).</p><p>Dada essa forma de pensar, interpreta-se que essas parcelas excluídas do meio das grandes famílias vivem entregas à natureza, sem ser regidas por nenhuma norma cultural, assim sendo, uma sociedade sem a presença de normas reguladoras dos comportamentos sociais que abarquem todos os cidadãos, independentemente de serem pertencentes a uma família patriarcal ou não. (CORRÊA 1981).</p><p>Ao pesquisar sobre as famílias na época do Brasil colônia, as grandes maiorias dos materiais disponíveis sobre este período histórico descrevem o modelo na forma patriarcal, comandada por um homem e voltados ao casamento.</p><p>Se fizer óbvio que esta forma de constituição familiar teve sua importância na história e no desenvolvimento das relações parentais, mas é essencial, ao falarmos deste tipo familiar, esclarecer a existência de outros modelos, que mesmo podendo ser a minoria também tiveram sua importância em nossa história e reflexos no futuro. (SOUZA 2011).</p><p>Gilberto Freyre descreveu a sociedade patriarcal rural como base da organização social e econômica do Brasil colonial. As cidades eram secundárias em importância e poder. A grande propriedade rural ditava as ordens, centralizando na figura do grande proprietário de terras o poder sobre todos os que se encontravam em seus domínios, incluindo mulher, filhos, familiares agregados, empregados livres, escravos, animais, a produção rural e a própria terra.</p><p>Segundo ele, assemelhava-se a um regime feudal. O latifundiário possuía o poder sobre a vida e morte das pessoas. Atuava como legislador julgador e executor de seus comandos. Ditava as ordens, o comportamento e os destinos de todos. Não havia poder, nem do governo central da metrópole nem da Igreja, que suplantasse o dos senhores. Além da superioridade da sociedade patriarcal rural, a igreja católica também tem seu grau de influência, por meio da figura dos jesuítas que percorreram grande parte do nosso território propagando a fé católica e implementando por meio do aprendizado a conformação da existência e veracidade do divino.</p><p>A fé católica, portanto, atuou como elemento integrador do país, principalmente em termos culturais, consolidando em terras brasileiras os padrões morais católicos como regras de conduta a serem observadas por todos. Nas palavras de Gilberto Freyre: “Daí ser tão difícil, na verdade, separar o brasileiro do católico: o catolicismo foi realmente o cimento da nossa unidade.” (FREYRE, 2003, p. 45-46).</p><p>2.2 HERANÇAS CATÓLICAS: FAMÍLIA E A IMPOSSIBILIDADE DE ADEQUAÇÃO EM APENAS UM CONCEITO</p><p>Toda essa presença marcante da igreja, que se estabeleceu em nosso país desde a colonização, e continuou a se disseminar com a educação, primeiramente repassada pelos jesuítas e depois com o surgimento de colégios, que eram constituídos de bases e ensinamentos do catolicismo, faz demonstrar o quanto somos enraizados em cima da religião católica, uma vez que toda a base inicial do Brasil foi fundamentada pelas diretrizes dessa crença. (OLINDA, 2003).</p><p>A cultura no nativo brasileiro foi sendo substituída pela cultura daqueles que os catequizaram, sob a desculpa de que a salvação da alma destes estaria condicionada a esse novo estilo de vida ensinada, devido a tudo isso, a família, principalmente na época do Brasil Colonial, era considerada uma unidade de extrema importância, mas se for analisar a formação das civilizações, a família é o primeiro</p><p>enquadramento a ser pensada, unidade social mais antiga da existência humana, uma vez que, a união de pessoas por meio de ancestrais em comum, antecede a época colonial do nosso país.</p><p>Obviamente, o regramento dessas uniões familiares se modifica de acordo com o tempo, entretanto, não pode ser considerada família apenas aquilo estabelecido, isso se dá por ser caracterizada como um fenômeno social, a qual sofre alterações compatíveis ao tempo em que está inserida, bem como modificações que visem acompanhar as condições econômicas, políticas e, principalmente, sociais de uma determinada coletividade (BITTENCOURT E XAVIER, 2016).</p><p>“Assim, a família é uma construção social, uma sociedade menor e, por assim se caracterizar, constitui o verdadeiro elemento sociológico” (PEREIRA, 1959, p. 41). Clóvis Beviláqua (1976, p. 17), mesmo entendendo ser a família um fenômeno natural, também corrobora com o citado acima, assim dizendo: “A família não é resultado apenas de um fato natural, recebendo influências culturais dos povos, sendo moldada de acordo com aspectos religiosos, culturais, sociais”.</p><p>Permita-se constatar a quantidade de diferenças que a entidade familiar sofreu em nosso país desde o período da colonização portuguesa até os dias atuais, nesse sentido, as características geográficas e culturais do nosso país deram às famílias brasileiras caracterizações próprias e até mesmo diferentes do modelo familiar tradicional inserido pela Corte Portuguesa e da Igreja Católica no território nacional, distanciando, dessa forma, o Direito imposto ao Brasil da realidade factual existente à época (BITTENCOURT E XAVIER, 2016).</p><p>Devido à trajetória das constituições familiares, e se observar que as mudanças sociais, de acordo com o período vigente, modificaram muitas características desse meio, não seria aplicável uma definição certeira, que abrangesse todas as constituições existentes de família.</p><p>2.3 ESCRAVIDÃO BRASIL COLONIA: INÍCIO E POSIÇÃO DO NEGRO EM MEIO A SOCIEDADE DA ÉPOCA</p><p>Além desse núcleo familiar advindo da colonização portuguesa, o principal alvo dos colonizadores era a exploração das terras coloniais a fim de extrair a matéria prima e importar seus produtos manufaturados.</p><p>Primeiramente com a extração do pau-brasil, o qual era realizado com a ajuda dos indígenas, que trocavam seus serviços por objetos ofertados pelos portugueses, mais conhecido como escambo (CARDOSO 1990, p. 101).</p><p>Por ser uma atividade que demandava muito esforço físico, principalmente braçal, e contava com uma grande quantidade de trabalhadores para abraçar a grande quantia da produção, via-se a necessidade de mão de obra para a produção, que não fosse os portugueses, uma vez que ainda não eram tão populares no Brasil, além de acreditarem serem atividades inferiores a sua posição, resultando assim na tentativa de escravidão do povo indígena (NETO 2013).</p><p>Essa utilidade da mão de obra indígena, por certo período foi eficaz, porém devido a sua cultura eram incompatíveis com o trabalho intensivo, regular e compulsório, pois, em regra, era habituado a fazer o necessário para garantir sua subsistência, o que levou a precisão deste povo no ramo da agricultura, principalmente com uma tecnologia adaptada a região, método que foi muito bem observado pelos colonizadores a utilizando de base a todo o processo de colonização, particularmente através do seu gênero principal, a mandioca (SILVA, 1990, p. 64).</p><p>Outro fator que enfraqueceu a escravidão indígena foi à sucessão que estes tinham para contrair doenças, segundo o historiador Boris Fausto (1998, p. 50), os índios foram vítimas de doenças como sarampo, varíola e gripe, as quais entre 1562 e 1563 mataram mais de 60 mil indígenas, que em parte se dedicavam a plantar alimentos, resultando em uma significativa fome no Nordeste e em perda de mão-de-obra.</p><p>Devido a estes fatores, iniciou-se o tráfico dos africanos, uma vez que este comércio já vinha sendo utilizado por outros colonizadores e as habilidades físicas destes já eram reconhecidas, porque exerciam de forma rentável atividades açucareiras nas ilhas do Atlântico. Sua capacidade de trabalho regular e compulsório era bem superior à dos índios. Os maiores centros importadores de escravos foram Salvador e, depois, o Rio de Janeiro.</p><p>Quanto à legislação relacionada aos escravos, existiam leis que protegiam os índios da escravidão, mas não os negros, que não eram considerados pessoas aptas a ter direitos uma vez que eram consideradas, juridicamente, como “coisas”, sendo as leis asseguradas aos cidadãos brancos, assim sendo, mesmo agregados às grandes famílias rurais, estes não passavam de serviçais que não poderiam se comparar, em nenhum dos aspectos com seus senhores (SILVA, 1990, p. 66).</p><p>Ser senhor de um escravo, naquela época, era prática requisitada e propiciava um status social, pertencente de grandes fortunas aquele que tinha condições de comprá-los, além do mais, todas as tarefas, cotidianas, nesses casos, era realizada pelo negro, chegando a ser considerado pelas senhoras o simples fato de ir a à rua fazer a compra dos alimentos tarefa que não lhe cabia, devendo as fazer seus serviçais.</p><p>[...] Porque além de tratá-la como sua escrava, fazendo todo o serviço da casa e de um botequim que tem de bebidas, a faz ir à praia comprar carvões, comprar peixe, ao açougue comprar carne fresca, e aos armazéns comprar carne seca, tendo escravos que podem servir neste ministério [...] (Processo de Divórcio de Sebastiana Rosa de Oliveira X Luiz Antônio Martins, 1805).</p><p>Por fim, como discorreu Dirceu Marchini Neto, em seu artigo o trabalho compulsório no Brasil colônia, a escravidão foi uma instituição nacional, presente em toda a sociedade, condicionando seu modo de pensar e agir. Muitos desejavam ser donos de escravos, desde o mais influente senhor de engenho, os grandes proprietários de minas, até o mais humilde artesão das cidades.</p><p>2.4 TRANSFORMAÇÃO DA ESFERA FAMILIAR E SEUS PRINCÍPIOS</p><p>O passar dos anos desfez essa configuração de família patriarcal, dando espaço a um novo modelo familiar que passou a valorizar a convivência entre seus membros e sistematizar um lugar onde é possível integrar sentimentos, valores e objetivos, características que agregam a caminhada e contribuem para realização pessoal e felicidade de cada indivíduo (VITORELLO, 2011).</p><p>O poder do patriarca se descentralizou, deixando a diversidade como sendo a característica fundamental no aspecto da aparência/formação da construção familiar. O domínio do gênero masculino deu espaço à importância da mulher dentro do meio familiar e em muitos casos, é sobre a égide das mães que são constituídas as famílias, sem contar que atualmente, a mulher pode prescindir do homem para gerar filhos e criá-los (ROUDINESCO, 2003).</p><p>Outra característica desse arranjo familiar é a busca pelo afeto e felicidade, deste modo, a filiação também se fundamenta nessa questão do afeto e convivência, abrindo espaço a possibilidade da ligação não ser apenas aquela derivada dos laços consanguíneos, mas também do amor e da convivência (BARRETO, pg. 208).</p><p>Segundo Antônio Jorge Pereira Jr. o Estado, investido de poder pela sociedade política, gerencia as relações familiares dadas a sua importância para a sociedade e também para cada pessoa individualmente considerada, visto que a família é uma sociedade natural, responsável primeira pela formação humana. Seu valor social foi assimilado pelo direito positivo constitucional, e assim, foi-lhe outorgada especial proteção do Estado.</p><p>Marcial Barreto Casabona afirma que, em análise ao conceito de família extraído do texto constitucional pátrio, pode-se concluir que nos últimos tempos ocorreram mudanças significativas oriundas de questões da natureza econômica, sociológica e moral, que fizeram com que a família deixasse de ser uma entidade política dentro do Estado para ser um local de reunião de pessoas ligadas pelo afeto.</p><p>O pensamento dessa sociedade contemporânea se modificou, e o casamento em sua forma tradicional passou a ser apenas uma das formas</p><p>de relacionamento familiar. Então, a Constituição entende a família no seu aspecto sociológico, que, por sua vez, permite diversos significados, em que a família pode ser ou não fundada no casamento, reconhecem-se outras formas de família, com diferentes formas de constituições.</p><p>De acordo Maria Helena Diniz, o princípio em questão “constitui base da comunidade familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus membros, principalmente da criança e do adolescente”. O princípio da dignidade da pessoa humana não trata apenas de um limite a atuação do Estado, mas sim estabelece uma base para a sua posição dentro deste meio familiar de forma positiva, assim sendo, sua garantia se dá na medida em que resguarda o respeito à esfera individual do indivíduo, estando além da esfera pessoal, mas também dentro das relações sociais, pode-se então dizer que o princípio da dignidade humana é o ponto de partida nesse novo tempo do direito de família. Dias relata que:</p><p>A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares – o afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum - permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada partícipe com base em ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e humanistas (DIAS, 2010, p.63).</p><p>É importante ressaltar que este princípio é de extrema importância para despatrimonialização dentro do conceito de família, ou seja, o patrimônio deixa de ser o enfoque central da construção familiar, supervalorizando o indivíduo, cada membro que forma aquele meio, estabelecendo a riqueza que o princípio da dignidade da pessoa humana aflora dentro do direito de família.</p><p>Pérez Luño, diz que a dignidade da pessoa humana constitui não apenas a garantia negativa de que a pessoa não será objeto de ofensas ou humilhações, mas implica também, em um sentido positivo, o pleno desenvolvimento da personalidade de cada indivíduo.</p><p>Vislumbra-se assim a importância desse princípio no âmbito desse direito, uma vez que a família é responsável, em grande porcentagem pelo desenvolvimento da personalidade de cada indivíduo, por isso, a dignidade da pessoa humana além de fornecer a proteção física e moral no âmbito familiar, onde somos mais vulneráveis, também garante o desenvolvimento de sua personalidade.</p><p>Carlos Alberto Bittar diz que o princípio da isonomia traz como consequência a eliminação de todas as normas de tratamento diferenciado entre marido e mulher, porém, mesmo com essa evolução dentro dessa relação conjugal e dentro do direito de família, que compactuam com o avanço da igualdade das pessoas, a organização social e jurídica da família ainda conserva resquícios do antigo modelo patriarcal, como levanta Sérgio Gischkow Pereira ao trazer dados sociológicos das estatísticas nacionais denunciando que:</p><p>A maior parte das mulheres brasileiras ainda vive em estado de subordinação aos maridos e não apresenta condições mínimas de conhecimento e de flexibilização negocial e segue sendo confinada no seu serviço doméstico, sendo agredida moral e fisicamente por seus maridos.</p><p>Embora haja essa suprema proteção dos valores humanos, sob a perspectiva da preponderância da dignidade da pessoa humana e por conta de se sobressair como fato natural à igualdade jurídica entre homem e mulher, ainda há existência da dominação cultural masculina dentro do meio afetivo (MADALENO, 2018).</p><p>2.5 FAMÍLIA NO DIREITO BRASILEIRO</p><p>No Brasil, o Código Civil é a principal lei que rege a instituição familiar. Contém normas referentes ao matrimônio, ao parentesco, aos filhos, à herança etc. Leis ordinárias vão surgindo, visando acompanhar a evolução social. Assim, a Lei nº 3.071, de 1916:</p><p>Primeiro Código Civil Brasileiro, inspirado no Direito Romano, no Direito Canônico e no Código Civil Napoleônico, recepcionado por todas as Constituições que o sucederam, trazia características da família patriarcal, regida pelo casamento monogâmico (TEPEDINO, 2004, p. 2).</p><p>Por esse Código Civil, atualmente revogado, a família tinha por base o matrimônio regido pelo Direito canônico, sendo o casamento religioso, o único conhecido.</p><p>Até 1960, as preocupações do Estado estavam voltadas para problemas como a epidemia e a demografia. Em 1962, a evolução social provocou expressivas mudanças na legislação nacional. A lei 4.121/62 - conhecida como Estatuto da Mulher Casada - prevendo sua plena capacidade, concedendo-lhe a competência da administração dos bens, como frutos do seu trabalho constituem um considerável avanço legislativo (BRASIL, 1962).</p><p>Em 1988, a Constituição, com relação à família, reconheceu mudanças sociais que perpassam valores presentes na realidade brasileira, como destaca Oliveira (2002, p. 91):</p><p>Não foi a partir dela que toda a mudança ocorreu. Institucionalizaram valores que já estavam impregnados no seio da sociedade, porque, antes mesmo que a lei reconhecesse direitos de família, as pessoas conviviam sob o mesmo teto e até geram filhos, independentemente da denominação que a sociedade atribuísse a essa união. A novidade foi a Carta Política contemplar e abrigar a evolução fática, vivida antes desse reconhecimento.</p><p>Segundo Danda Prado (2002), a Constituição, com o ânimo protetor da família, criou uma série de figuras jurídicas, equiparando algumas situações existentes às civilmente previstas, como união estável, onde a simples convivência garante direitos e estabelece direitos entre companheiros (p. 88).</p><p>Além disso, visando proteger a instituição familiar, a Magna Carta equiparou os filhos adotados aos legítimos, para efeito de herança (PRADO, 2002).</p><p>Segundo a Constituição Federal de 1988, no artigo 226: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado” (BRASIL, 1988, p. 116). Vê-se, assim, que a família, como uma célula humana com o preceito de total proteção do Estado, equivale a partículas que formam a sociedade. Nesses moldes, o sistema jurídico estabelece regramentos que alcançaram diretamente a célula familiar, regulamentando a possibilidade de diversas concepções de família, instaurando a igualdade entre homem e mulher, ampliando o conceito de família e protegendo todos os seus integrantes.</p><p>Podemos concluir então que a família deixou de ser uma instituição voltada ao matrimônio com vistas à procriação - família instituição - para uma instrumentalização, forma de desenvolvimento social para cada indivíduo, não tendo mais o que se falar em obrigações advindas dessa união ou qualquer resquício de patriarcalismo e patrimonialismo nas relações familiares, por conta disso, houve a aparição de institutos até então não esperados, como a figura da união estável, união homo afetiva, divórcio, reconhecimento de paternidade sócio afetivo, dentre outros. Conforme nos ensina Diniz:</p><p>A evolução da vida social traz em si novos fatos e conflitos, de maneira que os legisladores, diariamente, passam a elaborar novas leis; juízes e tribunais constantemente estabelecem novos precedentes e os próprios valores sofrem mutações devido ao grande e peculiar dinamismo da vida. (DINIZ, 1987).</p><p>O vínculo biológico que unia essa antiga forma familiar foi substituído pelo vínculo afetivo. Com a promulgação da Constituição de 1988, que trazia em seu art. 226 que a família era base da sociedade, devendo ser protegida de forma especial pelo Estado. O que se pode verificar é a expansão do conceito do que seria família, uma vez que as constituições familiares advindas da união estável e da monoparentalidade passou a ser resguardada nesta Constituição. “Por toda essa inserção de organizações, até então não reconhecidas pela Lei, pode-se dizer que a Carta Constitucional de 1988 foi um grande marco para a família” (VILASBOAS, 2020).</p><p>Tem-se um conjunto de características que podem ser levadas em consideração quando se analisa uma construção</p><p>familiar, são os pressupostos: afetividade, laço que une os envolvidos neste meio; estabilidade, característica que promove o laço duradouro, ânimo de constituir família, afastando os relacionamentos casuais e descomprometidos; ostensibilidade, publicidade da relação familiar; vontade, elemento fundamental para os indivíduos que resolvem constituir essa relação. Observa-se assim que as espécies da família não podem ser taxativas, uma vez que existe uma pluralidade de arranjos familiares que podem ser formados, conforme ensina Rodrigo Cunha Pereira:</p><p>Novas estruturas parentais e conjugais estão em curso, como as famílias mosaicos, as famílias que são geradas por meio de processos artificiais, famílias recompostas, famílias simultâneas, famílias socioafetivas, filhos com dois pais e duas mães, parcerias de paternidade, enfim, as suas diversas representações atuais, que estão longe do tradicional conceito de família, que era limitada a idéia de um pai, uma mãe, filhos, casamento civil e religioso.</p><p>Mesmo que a Lei mencione determinados tipos de constituições familiares, isso não significa dizer que apenas as mencionadas são tuteladas por esse direito, muito menos que apenas estas são as existentes em nossa sociedade.</p><p>2.6 NATUREZA DO DIREITO FAMÍLIA</p><p>Em uma visão mais ampla, observa-se que cada nação, com a estratificação da sua organização administrativa, foi empoderando o Estado à titularidade do controle e da formalização dos atos individuais de interesse público, mediante a isso, a instituição familiar foi perdendo um pouco da sua característica social e parte das suas funções primitivas e assumindo outras, mas sempre sob essa ótica de ser a cédula inicial do Estado (GONTIJO).</p><p>Devido à importância dessa instituição, o direito de família é o ramo da esfera privada menos individualista e privatista, amparado é constituído de normas rígidas, inflexíveis e imperativas. Constituído por direitos indisponíveis e inegociáveis, que o juiz não pode abstrair mesmo que os interessados queiram transacionar sobre eles.</p><p>Essa conjuntura é o que possibilita a afirmação de alguns doutrinadores sobre o direito de família ter a natureza do direito público, dadas as suas normas repercutirem dentro da ordem pública, por isso, não transacionável entre as partes.</p><p>A classificação do direito de família na esfera pública ou privada é assunto que diverge entre os doutrinadores, Carlos Roberto Gonçalves explana acerca do tema: “Em razão da importância social de sua disciplina, predominam no direito de família, portanto, as normas de ordem pública, impondo antes deveres do que direitos (..)”, por isso, essa intervenção crescente do Estado neste meio do direito de família, na busca de oferecer maior proteção a esse instituto e propiciar melhores condições de vida às gerações futuras. Independente das peculiaridades desse ramo do direito, sua natureza mais certeira é dentro da esfera privada, mais precisamente dentro do direito civil, em razão da sua finalidade de tutelar as relações jurídicas deste meio, como diz Arnaldo Rizzardo:</p><p>A íntima aproximação do direito de família ao direito público não retira o caráter privado, pois está disciplinado num dos mais importantes setores do direito civil, e não envolve diretamente uma relação entre o Estado e o cidadão. As relações adstringem-se às pessoas físicas, sem obrigar o ente público na solução dos litígios. A proteção às famílias, à prole, aos menores, ao casamento, aos regimes de bens não vai além de mera tutela, não acarretando a responsabilidade direta do Estado na observância ou não das regras correspondentes pelos cônjuges ou mais sujeitos da relação jurídica (2011, p-06).</p><p>O direito de família tem uma natureza personalíssima, por ser um direito intransferível e intransmissível, pois é certo que não se pode transferir e nem renunciar à condição de pai ou filho.</p><p>Por isso, pode-se dizer que este direito tem como característica normas imperativas, com forte proteção do Estado para fortalecer essas normas a fim de assegurar melhores condições de vida às gerações e devido a ser a base da nossa sociedade, por isso, existem doutrinadores que defendem a retirada do direito de família da esfera privada e transformá-lo em um direito público, enquanto outros defendem que mesmo havendo essa congruência de algumas normas que possuam o interesse público, estas não regem uma relação direta entre Estado e cidadão, apenas disciplina matéria que possui cunho importante e formador da sociedade, a família.</p><p>Finaliza-se então como a natureza do direito de família como ramo do direito privado, regulado por normas cogentes ou de ordem pública, com participação do Estado para proteger suas vulnerabilidades; sendo as instituições jurídicas de direitos/deveres: direito personalíssimo irrenunciável e intransmissível.</p><p>2.7 DIREITO COLONIAL: LEGISLAÇÃO ECLESIÁSTICA</p><p>Quando houve a colonização portuguesa, tomou-se posse das terras brasileiras, porém, Portugal, não enviou ao Brasil autoridade que possuísse os poderes necessários para organizar o domínio do território, por isso, os primeiros atos legislativos aplicados foram provenientes da igreja. As práticas das disposições tri dentinas vieram com os portugueses, desde a própria realização do Concílio de Trento. Não é sem razão que D. João III recomendou a Tomé de Souza, no seu Regimento de 1548,</p><p>Porque a principal cousa que me moveu a mandar povoar as ditas terras do Brasil, foi para que a gente dela se convertesse à nossa Santa Fé Católica, vos encomendo muito que pratiqueis com os ditos Capitães e Oficiais a melhor maneira para que isso se pode ter; e de minha parte lhes direis que lhes agradecerei muito terem especial cuidado de os provocar a serem Cristãos [...] (REGIMENTO, 1548, fl. 5).</p><p>O Concílio que se reuniu em Trento pela primeira vez em 1545 e foi pré convocado em 1562, procurou definir formas de enfrentamento dos efeitos da reforma protestante. Introduziu na Igreja católica algumas inovações que lhe permitiram estender seu campo de influência e se associar aos projetos colonizadores.</p><p>Dentre as inovações, à implantação do casamento e à repressão das relações consideradas pelo clero como ilícitas, que advinham das uniões que não eram oficializadas pelo casamento, deixaram transparecer a preocupação da Igreja com a normatização do comportamento de seus fiéis, ou seja, com a codificação moral da cristandade. “O casamento, aparecendo como a solução proposta ao desregramento moral, reforça a idéia de que se apostava na sua força política” (PIMENTEL, 2005).</p><p>Um pouco mais tarde, as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, geradas em 1707, iniciativa do arcebispo Monteiro e Vide, elaboradas como um intento de atualização da Igreja às condições do Brasil, dentre as quais a presença da escravidão, situação não contemplada na legislação canônica (CARMIGNANI, 2018).</p><p>Chegando ao Brasil, em 1702, D. Sebastião Monteiro da Vide, como 5º Arcebispo da Bahia, visitou todas as paróquias, anotando suas qualidades e deficiências. Concluiu, em especial, que as Constituições de Lisboa, em muitas coisas, não condizem com um território tão diverso, como a Bahia, o que poderia resultar em abusos das normas religiosas.</p><p>A partir de suas visitas às paróquias, o Arcebispo sentiu a necessidade de proceder à “direção dos costumes, extirpação dos vícios, e abusos, moderação dos crimes, e reta administração da Justiça” eclesiástica [...]. Cuidando da vida pastoral da Bahia, procurou tomar as providências necessárias para recompor a sociedade cristã, segundo as novas diretrizes.</p><p>Promoveu, então, a melhor forma de disciplinar a sociedade, dando início à composição das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, com uma grande defasagem em relação às congêneres lusas, - da Metrópole e domínios - e, principalmente, quanto ao Concílio de Trento (FLEXOR, 2020).</p><p>Em 1707 foi aprovada sua Constituição e promulgada em 1719. Assim, começou a ser disponibilizada seus exemplares na Sé Catedral, no Cabido do Arcebispado, nas igrejas paroquiais curadas e na Relação</p><p>Eclesiástica, para uso dos provisores, vigários da vara, advogados, meirinho geral, escrivão da câmara eclesiástica, visitadores, comprado à custa da fábrica das igrejas ou do próprio Arcebispado.</p><p>Sua leitura se tornou obrigatória nas missas com intuito de disseminar aos fiéis as novas regras que deveriam ser seguidas. Por ser elaborada por um arcebispo, este, providenciava em assegurar a imunidade da igreja católica com relação a tributos e privilégios. Em geral, a constituição conseguia regular toda vida daquela sociedade, com poder de ordenar a prisão de alguém, como sacerdotes ou seculares, impor multas, e até mesmo se utilizar da Inquisição.</p><p>Essa abrangência do direito eclesiástico se restringe com o início da aplicação das Ordenações Filipinas que entraram em vigor em fins do século XVI, constituíram o mais duradouro código legal português. No Brasil, esteve em vigor mesmo após a independência. A partir desse Código, a aplicação do direito canônico ficou proibida nos tribunais civis.</p><p>Foram criados Tribunais Eclesiásticos que exerceriam essa função, porém, dada a sentença, cessava a jurisdição da Igreja, e a execução dos condenados à pena de morte ou aos demais castigos era feita pela justiça real, que recebia da instância eclesiástica a sentença de condenação (PIMENTEL, 2005).</p><p>2.8 CONCEITO DE FAMÍLIA E O INÍCIO DA COLONIZAÇÃO: FORMAÇÃO DAS PRIMEIRAS FAMÍLIAS PORTUGUESAS EM TERRAS BRASILEIRAS.</p><p>É importante comunicar que, as informações aqui explanadas não correspondem ao Brasil em sua total expansão, são respectivas de determinadas regiões do nosso país, não devendo ser considerada que as famílias de todas as regiões tinham as características que aqui serão citadas.</p><p>A Constituição Federal, traz no § 4º do art. 226 o conceito de família: “...</p><p>§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes…” No entanto, este conceito fixado atualmente era inexistente na época alvo deste estudo, Brasil em sua era colonial, o clássico escrito por Gilberto Freyre, “Casa grande & senzala", não foi capaz de apresentar um conceito do que seria considerado família naquele tempo, no entanto, demonstrou em sua obra que foi por meio do modelo patriarcal a fundamentação e a construção da instituição familiar.</p><p>Este modelo é caracterizado pela figura do homem como autoridade máxima do poder, constituída a partir do acúmulo do patrimônio rural e da formação de grupos ou alianças com parentes consanguíneos e por outros ligados em razão de interesses comuns ou ainda por temor.</p><p>A história tradicional do nosso país revela que o descobrimento aconteceu por meio da esquadra portuguesa de Pedra Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500, na verdade, os olhos e os interesses do rei de Portugal estavam voltados inteiramente para a cobiça das especiarias das índias, não havia uma intenção do Reino de Portugal em habitar nossas terras, apenas mantê-las com a prevenção de possíveis ocupações de potências estrangeiras.</p><p>Entretanto, mais ou menos na quarta década da descoberta do Brasil, no período do rei D. João III, os governantes do reino foram obrigados a tomar uma decisão importante, o início do povoamento do país devido a intensa pirataria nas costas, que se não houvesse uma intervenção decisiva nesse sentido, a perda seria inevitável e quase irreversível (MARTINS FILHO, 1999, p.13).</p><p>Claramente, antes dos portugueses habitavam o Brasil, este já era povoado pelo povo nativo dessas terras, o índio, que também era inserido em um grupo porque poderíamos denominar de família, porém, os estudos familiares se dão a partida aos povos que colonizaram nossas terras e as famílias que vieram a ser constituídas a partir de então.</p><p>Segundo Gilberto Freyre, a famílias a partir deste ponto inicial de colonização, passa a ser o centro que oriunda a formação da sociedade brasileira e o processo de colonização portuguesa, em que o patriarcalismo rural determina toda a dinâmica atuando no interior da casa-grande, e nos espaços ao seu redor, a exemplo da senzala. Sob essa perspectiva.</p><p>A família não o indivíduo, nem tampouco o Estado nem nenhuma companhia de comércio, é desde o século XVI o grande fator colonizador no Brasil, a unidade produtiva, o capital que desbrava o solo, instala as fazendas, compra escravos, bois, ferramentas, a força social que se desdobra em política, constituindo-se na aristocracia colonial mais poderosa da América. Sobre ela o rei de Portugal quase reina sem governar. (...) a força social que se desdobra em política, constituindo-se numa aristocracia colonial (FREYRE, 1987:18).</p><p>Essa obrigatoriedade matrimonial é fato gerador de muitos relatos de adultério a época, isso porque, os esposos iam satisfazer seus impulsos e prazeres sexuais com outras mulheres, que na grande maioria das vezes pertencia a um meio social inferior ao seu e por isso se submetia a tal, uma vez que nunca alcançaria uma vida matrimonial (BRUGGER).</p><p>Evidência disto é o alto número de processos de divórcios instaurados aquela fase, na maior parte requerida pelas esposas insatisfeitas com a prática sexual do marido fora do casamento, gastando suas posses a sustentar suas amantes, como demonstrado no artigo escrito por Silvia Brugger.</p><p>Todas essas características, até então apresentadas, são referentes às grandes famílias rurais, modelo e parâmetro dominante da história familiar brasileira, no entanto, não eram apenas estas a existirem, o centro urbano também era habitado e dentre estes havia a presença de famílias, mas estas não foram alvo de tantos estudos quanto a estabelecida na zona rural, o que acaba por homogeneizar essa formação familiar como sendo a única existente aquele tempo (CORRÊA, 1981, p. 5- 16).</p><p>2.9 CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE FAMÍLIA EXISTENTES NO BRASIL</p><p>A nossa realidade não é a mesma de quando a Constituição de 1988 e o Código Civil de 2002 foram promulgados no Brasil. A nossa Lei Maior e o Código Civil trouxeram grandes transformações no âmbito familiar, mas a sociedade, as pessoas se relacionam de forma dinâmica, trazendo novos direitos, novas famílias que ainda não são protegidas por norma.</p><p>Dito isto, inicialmente compete listar as famílias que devem ser conhecidas e serão, uma a uma, caracterizadas a seguir. São elas: Família “Tradicional”; União Estável; Família Homo afetiva; Família Paralela ou Simultânea; Família Poliafetiva; Família Mono parental e etc.</p><p>2.9.1 FAMÍLIA PATRIARCAL</p><p>Este é o modelo familiar desde o período Colonial, persistindo até boa parte do século XX. Aqui se presenciava o pátrio poder onde o marido era soberano sobre a mulher e os filhos. Essa família tinha bases na função religiosa, na função política e até mesmo procracional.</p><p>Dito isto, acredita-se que muitas famílias brasileiras ainda têm esse formato, o que é comum, mas não é mais o único existente, bem como não mais se verifica a existência do pátrio poder, tendo em vista que homem e mulher possuem direitos e deveres iguais, mútuos, conforme § 5º do art. 226 da Constituição Federal de 1988.</p><p>2.9.2 UNIÃO ESTÁVEL OU INFORMAL</p><p>O conceito de união estável, retratado no art.1.723 do novo Código Civil, corresponde a uma entidade familiar entre homem e mulher, exercida contínua e publicamente, semelhante ao casamento. Hoje, é reconhecida quando os companheiros convivem de modo duradouro e com intuito de constituição de família. Na verdade, ela nasce do afeto entre os companheiros, sem prazo certo para existir ou terminar. Porém, a convivência pública não explicita a união familiar, mas somente leva ao conhecimento de todos, já que o casal vive com relacionamento social, apresentando-se como marido e mulher.</p><p>No trecho acima vemos uma definição da união estável em nosso ordenamento jurídico, porém, entende-se que a união estável pode ser reconhecida entre indivíduos de qualquer sexo, seja casal heterossexual, seja casal homo afetivo, desde que presentes os requisitos previstos em lei.</p><p>Ratificando esse pensamento DIAS, 2015 aduz que:</p><p>(...) Os filhos havidos de relações extramatrimoniais</p><p>eram alvo de enorme gama de denominações de conteúdo pejorativo e discriminatório. Assim, filhos ilegítimos, naturais, espúrios, bastardos, nenhum direito possuíam, sendo condenados à invisibilidade (...) Tal ojeriza, entretanto, não coibiu os egressos de casamentos desfeitos constituírem novas famílias, mesmo sem respaldo legal. Quando cio rompimento dessas uniões, seus partícipes começaram a bater às portas do judiciário. Viram-se os juízes forçados a criar alternativas para evitar flagrantes injustiças, tendo sido cunhada a expressão companheira, como forma de contornar as proibições para o reconhecimento dos direitos banidos pela lei à concubina (...) Essas estruturas familiares, ainda que rejeitadas pela lei, acabaram aceitas pela sociedade, fazendo com que a Constituição as albergasse no conceito ele entidade familiar.</p><p>Como se percebe não se aceitou o fato de homens, já casados, que constituíam nova família com filhos e esposa, abandonarem seus lares sem lhes prestar a devida importância, bem como não se admitiu o uso de termos como “filhos bastardos”, “ilegítimos”, entre outros. O pode judiciário criou, aos poucos, soluções para esses conflitos.</p><p>2.9.3 FAMÍLIA HOMOAFETIVA</p><p>Esta é aquela formada por casais do mesmo sexo, seja homens, seja por mulheres. Sobre essa relação pode-se dizer que pode ser considerada família desde que preencha os requisitos da afetividade, estabilidade e ostensibilidade e tiverem finalidade de constituição de família, conforme ensina LÔBO, 2011.</p><p>LÔBO, 2011, apud DIAS, denomina as uniões homossexuais ressaltando a relação afetiva entre as pessoas do mesmo sexo, o que transcenderia o propósito sexual. Vale ressaltar que a Constituição Federal não veda o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, afirma-se ainda que as normas do art. 226 da CF são auto-aplicáveis, ou seja, pode ser utilizada para amparar essa relação familiar. Apesar de não ser normatizado, esse grupo familiar é tutelado pelos tribunais, que já aplicam as regras de adoção, união estável e herança, por exemplo, para os casais homoafeitvos.</p><p>Registra-se por fim que a primeira união estável homossexual foi registrada no Rio de Janeiro. Vejamos:</p><p>O Superior Tribunal de Justiça - STJ definiu em recente julgamento que as questões relacionadas ao reconhecimento de uniões homoafetivas deverão ser analisadas sob a ótica do Direito de Família. O ministro Luis Felipe Salomão, responsável pelo voto de desempate, determinou que a justiça do Rio de Janeiro analise o pedido de um casal homossexual que pretendia ver reconhecida a união estável de 20 anos. A decisão tem um importante efeito na medida em que faz com que as relações havidas entre pessoas do mesmo sexo sejam vistas como relações familiares já que deverão ser analisadas por juízes de varas de família. Os relacionamentos homoafeitvos serão vistos como relações de amor, afeto enquanto se analisadas em varas cíveis, terminariam por ser tidas como sociedades de fato havidas entre os parceiros, onde se trata apenas das questões financeiras e patrimoniais. Esse é o principal efeito da decisão do STJ: a percepção de que as uniões de pessoas do mesmo sexo podem originar entidades familiares e não sociedades. (AMARAL, 2008)</p><p>É sabido que durante muitos anos essas relações foram vistas como pecaminosas, proibidas, mas notando-se a existência das mesmas foi necessário ampará-las e assim o fez o Superior Tribunal de Justiça ao reconhecer a união estável homoafetiva, exigindo para tal feito, a presença dos requisitos caracterizadores da união estável, deixando de lado então qualquer obstáculo para reconhecimento que fosse de cunho discriminatório, neste caso, a orientação sexual.</p><p>2.9.4 PARALELAS OU SIMULTÂNEAS</p><p>Esta família é aquela que é formada em concomitância com a existência de casamento anterior, onde o homem ou a mulher que sendo casados, constituem outra família. Como se sabe não existe lei prevendo esse tipo de relação, pois ela, assim como muitas outras, é fruto cultural da sociedade.</p><p>Sobre essa relação DIAS, 2015 afirma que:</p><p>A determinação legal que impõe o dever de fidelidade no casamento, e o dever de lealdade na união estável, não consegue sobrepor-se a uma realidade histórica, fruto de uma sociedade patriarcal e muito machista. (...) Dispõem de habilidade para se desdobrar em dois relacionamentos simultâneos: dividem-se entre duas casas, mantêm duas mulheres e têm filhos com ambas. É o que se chama de famílias paralelas (...) Fechar os olhos a esta realidade e não responsabilizar esta postura é ser conivente, é incentivar este tipo de comportamento. O homem pode ter quantas mulheres quiser porque a justiça não lhe impõe qualquer ônus. Livrá-lo de responsabilidades é punir quem, durante anos, acreditou em quem lhes prometeu amor exclusivo. Mulheres que ficaram fora do mercado de trabalho, cuidaram de filhos e, de repente, se veem sem condições de sobrevivência. (...) Tanto é assim que, quando a mulher nega que sabia ser "a outra", é reconhecida união estável putativa de boa-fé e atribuídos os efeitos de uma sociedade de fato (...) Não há como deixar de reconhecer a existência de união estável sempre que o relacionamento for público, contínuo, duradouro e com a finalidade de constituir família. (...) A Justiça não pode ser conivente com esta postura. Não pode ser cega, fazer de conta que não vê. Não impor quaisquer ônus não vai fazer os homens deixarem de assim se comportar. É preciso impor os deveres inerentes à entidade familiar a quem assume um relacionamento afetivo, independente de manter outra união.</p><p>Acredita-se que como resultado de uma convivência conjugal de longa data os parceiros acabam adquirindo direitos e deveres entre si. A fidelidade, o respeito, a sinceridade deveriam estar presentes em todos os relacionamentos. Porém algumas pessoas não dão tanta importância para esses requisitos e procuram fora do casamento outra companheira e muitas vezes acabam por constituir nova família, não podendo está última ficar desamparada, principalmente quando chega a preencher os requisitos para reconhecimento da união estável.</p><p>2.9.4 FAMÍLIA POLIAFETIVA</p><p>Apesar de todas as mudanças, este tipo familiar é o que se apresenta como o maior desafio. Alguns anos atrás em contato com um documentário sobre a relação Poliafetiva tiveram a oportunidade de conhecer e entender um pouco do que se trata essa relação. O documentário apresentava geralmente, trio, sendo um homem com duas mulheres e uma mulher com dois homens, vivendo na mesma casa, dividindo a mesma cama, vivendo de forma conjugal.</p><p>O que mais se questiona não é porque eles vivem juntos e sim como consegue saber que seu amor tem outro parceiro, ou até mesmo amar duas pessoas de forma intensa e semelhante, mesmo que os três vivam juntos. Sobre esse tema SILVA, 2012, afirmou que “a expressão poliafeto é um engodo, um estelionato jurídico, na medida em que, por meio de sua utilização, procura-se validar relacionamentos com formação poligâmica”.</p><p>2.9.4 FAMÍLIA MONOPARENTAL</p><p>Em relação aos indivíduos que formam a entidade familiar esta é menos complexa, tendo em vista que é formada pela presença de um dos genitores (pai ou mãe) com filho(s).</p><p>Percebe-se então que já há algum tempo em que essa família já marca o cenário brasileiro. Outro ponto que merece comentário é o fato que de que a pesquisa se refere a grande presença das mulheres, nos fazendo concluir então que os homens ou se esquivavam de sua responsabilidade enquanto marido/pai ou constituíam nova família.</p><p>Cumpre ressaltar que a família monoparental está expressamente prevista no texto constitucional pátrio.</p><p>As famílias culturais são aquelas que existem em nossa sociedade e que não tem nenhuma proteção legal específica. Ou seja, não possuem proteção na Constituição Federal de 1988, nem no Código Civil de 2002, nem possuem um código ou estatuto específico.</p><p>No capítulo um desse trabalho as famílias a serem estudadas foram elencadas, entre elas as famílias culturais que são: a Família Homoafetiva; Família Paralela ou Simultânea; Família Poliafetiva. Todas as famílias</p><p>acima citadas são ditas famílias culturais e foram devidamente apresentadas no capítulo correspondente, onde foram apresentados seus aspectos principais.</p><p>3 CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>A família vista tanto da esfera histórica quanto da jurídica sofreu modificações, esse é um fato incontestável. Dentro do contexto histórico é inoperante o poder patriarcal, todos os membros desse enlace denominado família têm seu lugar de voz, seja representado pela figura feminina ou pela masculina.</p><p>Voltada ao campo jurídico, o casamento deixou de ser requisito para formalizar esse instituto, a Constituição trouxe aspectos preponderantes a caracterizar essa relação direcionada à afetividade, que, atualmente, tornou-se o denominador para instituição de direitos dentro da relação familiar. O desígnio principal era explanar esses dois contrapontos, demonstrar uma parte de como a sociedade na época colonial era caracterizado, voltada a essas relações e constituições familiares, em contrapartida aos fatores que compõem as famílias da atualidade, a fim de averiguar as continuidades e as rupturas sofridas dentro desse âmbito familiar.</p><p>Em cima dessa proposta foi possível constatar que mesmo o instituto do casamento não sendo mais a formalidade obrigatória para instituir direitos familiares, é um ritual característico da época colonial, mas que constitui costume até os dias de hoje; outro fator herdado daquele período e presente atualmente são famílias unidas pelo vínculo biológico, a pesquisa demonstrou que o direito atual tem a capacidade de reconhecer a rede familiar entre pessoas que não dividem laços consanguíneos, utilizando o liame da afetividade como base para determinação de tal, no entanto, a maioria das famílias brasileiras ainda são constituídas por meio da consanguinidade.</p><p>Ao se apurar as rupturas, podemos mencionar como mais popularizada a afetividade como fator preponderante a se pensar em uma formação familiar, a Constituição assegura que este ambiente deva ser enriquecido e constituído de direitos e deveres a fim de assegurar o desenvolvimento saudável e seguro dos seus membros, principalmente quando este meio é composto por crianças, adolescentes e idosos, que podem ser considerados como frágeis. Ainda sobre as rupturas, outro vetor que merece ser mencionado é o reconhecimento, pelo direito, das relações formadas por pessoas do mesmo sexo, que no período da colônia era algo que nunca se imaginará ser possível.</p><p>A sociedade em que vivemos é reflexo das variantes ocorridas com o passar do tempo, característica esta que sempre será acompanhante dessa entidade social. O direito, como regulador desse meio, a fim de acompanhar essas comutações sociais, necessita estar em constante adequação, para acompanhar essas variáveis, ou seja, ele é altamente influenciado pelos parâmetros da sociedade que está inserido.</p><p>4 REFERÊNCIAS</p><p>BEVILAQUA, Clovis. Direito da família. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976</p><p>BICALHO Eduardo Barbuto. A moralidade do patriarcado rural enraizado no Brasil: uma leitura de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Revista Augustus Rio de Janeiro. mar./jun. 2020. Disponível em: . Acesso em 24 de setembro de 2023.</p><p>BRUGGER Silvia. Patriarcalismo e papéis femininos no Brasil escravista. Tempos gerais UFSJ. Minas Gerais. Disponivél em . Acesso em 24 de setembro de 2023.</p><p>FREYRE Gilberto. Casa - Grande & Senzala. 22 ª edição , Livraria José Olympio Editora , 1933 - 1983.</p><p>GHILARDI, Dóris. Reflexões Sobre O Direito De Família No Século XXI: O Discurso Do Afeto Em Cotejo Com O Discurso Econômico. Revista Eletrônica Direito e Política, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.8, n.1, 1º quadrimestre de 2013. Disponível em: . Acesso em 24 de setembro.</p><p>SOUZA, Laura de Mello e (Org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. v.1.</p><p>SILVA, Maria Beatriz Nizza da. História da família no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.</p><p>DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias I Maria Berenice Dias. -- 10. ecl. rev., atual. e ampl. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.</p><p>AMARAL, Sylvia Maria Mendonça. União Homossexual como Direito de Família. 2008. Disponível em .</p><p>A união estável no Novo Código Civil. 2004. Disponível em .</p><p>image1.jpeg</p>