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<p>08/09/2021 15:46 Envio | Revista dos Tribunais</p><p>https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 1/7</p><p>Cabimento da ação monitória fundada em título executivo extrajudicial no</p><p>CPC/2015</p><p>CABIMENTO DA AÇÃO MONITÓRIA FUNDADA EM TÍTULO EXECUTIVO</p><p>EXTRAJUDICIAL NO CPC/2015</p><p>Adequacy of monition action based on extrajudicial executory instrument according to the Brazilian Civil</p><p>Procedure Code</p><p>Revista de Processo | vol. 277/2018 | p. 451 - 462 | Mar / 2018</p><p>DTR\2018\8997</p><p>Antonio Adonias Aguiar Bastos</p><p>Doutor e Mestre pela Universidade Federal da Bahia –- UFBA. Professor de Teoria Geral do Processo e</p><p>de Direito Processual Civil na Graduação e na Pós-Graduação lato sensu. Membro do Instituto Brasileiro</p><p>de Direito Processual (IBDP), do Instituto Iberoamericano de Derecho Procesal (IIDP) e da Associação</p><p>Brasiliense de Direito Processual (ABPC). Membro Fundador da Associação Norte e Nordeste de</p><p>Professores de Direito Processual (ANNEP). Advogado. adonias@adonias.adv.br</p><p>Área do Direito: Civil; Processual</p><p>Resumo: O presente texto visa a demonstrar o cabimento da ação monitória fundada em título</p><p>executivo extrajudicial no CPC/2015.</p><p>Palavras-chave: Direito processual civil – CPC/2015 – Ação monitória – Título executivo extrajudicial</p><p>– Interesse processual – Cabimento</p><p>Abstract: This paper aims to demonstrate theadequacy of monition action based on</p><p>extrajudicialexecutory instrument according to thecurrent Brazilian Civil Procedure Code.</p><p>Keywords: Civil procedure law – Civil Procedure Code – Monition action – Extrajudicial executory</p><p>instrument – Procedural interest – Adequacy</p><p>Sumário:</p><p>1 Introdução - 2 Cabimento da ação de conhecimento fundada em título executivo extrajudicial - 3</p><p>Cabimento da ação monitória fundada em título executivo extrajudicial - 4 Referências</p><p>1 Introdução</p><p>O presente texto visa a analisar se é cabível a ação monitória fundada em título extrajudicial, aspecto</p><p>que ainda permanece controvertido na doutrina.</p><p>No CPC/1973 (LGL\1973\5), o art. 1.102-A dispunha que a ação monitória era cabível para o</p><p>pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel, desde que o</p><p>autor instruísse a petição inicial com prova escrita sem eficácia de título executivo.</p><p>Eis a redação do mencionado dispositivo: “Art. 1.102-A. – A ação monitória compete a quem pretender,</p><p>com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega</p><p>de coisa fungível ou de determinado bem móvel. (grifo nosso)”.</p><p>Assim, o legislador impunha que o título monitório não poderia ser também e ao mesmo tempo título</p><p>executivo extrajudicial, apresentando vedação expressa.</p><p>Seguindo a tradição da legislação anterior, o CPC/2015 (LGL\2015\1656) repetiu a fórmula outrora</p><p>adotada, estabelecendo, em seu art. 700, que a peça inaugural do processo injuntivo deve estar</p><p>acompanhada de prova escrita “sem eficácia de título executivo”:</p><p>Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem</p><p>eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:</p><p>I – o pagamento de quantia em dinheiro;</p><p>II – a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;</p><p>III – o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer. (grifo nosso.)</p><p>Não há dúvidas de que o título monitório consiste em requisito indispensável para a adequação do</p><p>procedimento especial e de que ele será sempre um documento escrito, seja na forma de prova</p><p>documental ou documentada, esta produzida antecipadamente, nos termos do art. 700, § 1º c/c o art.</p><p>381 do CPC/2015 (LGL\2015\1656).</p><p>Mas, o que se quer averiguar aqui é se tal documento realmente não pode ter eficácia executiva tal</p><p>como afirma a legislação, que separa as duas espécies de título para colocá-los em compartimentos</p><p>08/09/2021 15:46 Envio | Revista dos Tribunais</p><p>https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 2/7</p><p>separados e incomunicáveis.</p><p>Em outas palavras, questionamos se um título executivo extrajudicial não poderia ser aproveitado e</p><p>utilizado também como título monitório, a ensejar o cabimento tanto da execução como da demanda</p><p>injuntiva, de acordo com a escolha do autor-credor.</p><p>2 Cabimento da ação de conhecimento fundada em título executivo extrajudicial</p><p>Para examinar o assunto, parece-nos relevante perquirir se, possuindo direito certificado num título</p><p>executivo, o credor só teria interesse processual para a ação satisfativa ou se ele também pode valer-</p><p>se da ação de conhecimento como meio adequado para veicular pretensão.</p><p>Como é sabido, o título executivo consiste em requisito indispensável para a propositura da demanda</p><p>satisfativa, aperfeiçoando o interesse-adequação do autor-credor para a prática dos atos invasivos que</p><p>ele pretende ver praticados pelo Estado-Juiz sobre a esfera patrimonial do executado-devedor ou do</p><p>terceiro responsável.</p><p>Cuida-se de documento expressamente previsto na legislação como tal (princípio da taxatividade do</p><p>título), que possui um atributo muito particular: o da eficácia executiva1.</p><p>Ao apresentar o título em juízo, o credor demonstra possuir o direito à prática de atos judiciais</p><p>satisfativos, mesmo que, ao final, reste evidenciado que não lhe assiste razão no que toca ao direito</p><p>material alegado. O título não assegura o direito substantivo que supostamente está nele impresso. Na</p><p>realidade, ele demonstra o interesse processual, na modalidade adequação, autorizando o credor a</p><p>optar pela via executiva, por ser este o meio apropriado tendente ao adimplemento forçado da</p><p>obrigação2. Os atos delineados para a efetivação da norma constante no título possuem contornos</p><p>completamente diferentes daqueles que acontecem na atividade de conhecimento. Nela, os atos têm o</p><p>objetivo de formar o convencimento do juiz acerca do acontecimento de fatos e da incidência do direito</p><p>sobre eles, para chegar à certificação, à formação da norma concreta que rege a relação jurídica</p><p>material entre as partes. Na atividade satisfativa, praticam-se atos concretos de invasão patrimonial</p><p>voltados à efetivação da norma concreta já elaborada.</p><p>Nesse sentido, o título, a um só tempo, demonstra a existência de uma obrigação certificada e autoriza</p><p>a prática dos atos de invasão. Além de funcionar como seu elemento autorizador, também os</p><p>delimitará, tornando-os lícitos e permitindo o seu controle, de modo que não sejam praticados</p><p>arbitrariamente3. Em lição que permanece atual, Cândido Rangel Dinamarco ensina que:</p><p>[...] a exigência de título executivo, sem o qual não se admite a execução, é conseqüência do</p><p>reconhecimento de que a esfera jurídica do indivíduo não deve ser invadida, senão quando existir uma</p><p>situação de tão elevado grau de probabilidade de existência de um preceito jurídico material</p><p>descumprido, ou de tamanha preponderância de outro interesse sobre o seu, que o risco de um</p><p>sacrifício injusto seja, para a sociedade, largamente compensado pelos benefícios trazidos na maioria</p><p>dos casos” 4.</p><p>Caso não esteja preenchido o requisito, o magistrado não pode praticar nenhum ato de constrição, nem</p><p>de expropriação. Não havendo prévia certificação e não existindo clareza acerca da existência da</p><p>obrigação e dos seus contornos, não será possível identificar quais são os atos que devem ser</p><p>praticados, nem o seu alcance. Se o sistema autorizasse a execução sem o balizamento decorrente do</p><p>título, surgiriam situações temerárias que fomentariam a insegurança.</p><p>Portanto, não se pode conceber o regular desenvolvimento de uma ação de execução sem que ela</p><p>esteja fundada num documento a que a legislação expressamente atribua eficácia executiva. Daí falar-</p><p>se que é nula a execução sem título (nulla executio sine titulo). Mas, há de se questionar, de outro lado,</p><p>se, possuindo título executivo, teria o credor interesse para a propositura da ação de conhecimento.</p><p>A resposta é negativa para o título judicial, afinal esse documento emana da atividade jurisdicional,</p><p>passando pelo crivo do devido processo legal, respeitado o contraditório e a ampla defesa. Sendo o</p><p>autor-credor</p><p>titular de direito já certificado pelo Poder Judiciário, não há utilidade alguma para a</p><p>veiculação de nova ação de conhecimento que visaria à certificação de obrigação que já fora constatada</p><p>na própria via judicial. Além disso, a eventual repropositura de outra ação de conhecimento, buscando</p><p>formar o mesmo título configuraria identidade entre as ações, caracterizando a litispendência ou a coisa</p><p>julgada (conforme a decisão prolatada no outro processo já tenha, ou não, transitado em julgado), sem</p><p>cogitar no risco de prolação de decisões conflitantes nos dois processos.</p><p>Assim, havendo título judicial, o credor não pode valer-se da ação de conhecimento. Caso o faça, ela</p><p>deverá ser extinta sem resolução do mérito, pois ele carecerá de interesse processual, por inexistir</p><p>resultado útil que lhe possa ser entregue pelo Estado-juiz. Se a finalidade da atividade cognitiva é a</p><p>certificação do direito e se já existe título judicial, constata-se que o acertamento da relação jurídica</p><p>material já foi realizado, devendo-se buscar a satisfação do direito ali estampado. Além disso, haveria a</p><p>configuração da litispendência ou da coisa julgada.</p><p>08/09/2021 15:46 Envio | Revista dos Tribunais</p><p>https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 3/7</p><p>Mas quando se passa à análise do assunto no contexto dos títulos extrajudiciais, ele ganha outros</p><p>contornos.</p><p>O CPC/1973 (LGL\1973\5) não tratava expressamente do tema. Durante a sua vigência, havia</p><p>controvérsia na doutrina acerca da existência do interesse processual para a ação de conhecimento,</p><p>caso o autor possuísse esta espécie de documento.</p><p>De um lado, parte dos juristas utilizava o mesmo raciocínio empregado ao título judicial, afirmando</p><p>que, já havendo certificação da relação obrigacional, não há que se cogitar na admissibilidade de uma</p><p>ação de conhecimento que visa exatamente a tal fim.</p><p>De outro lado, havia doutrinadores que afirmavam que o credor possuía a opção de ajuizar tanto a ação</p><p>de conhecimento, como a de execução, na medida em que esta espécie de título forma-se por ato das</p><p>partes. Fora do ambiente jurisdicional, a certificação do direito não teria passado por um prévio</p><p>acertamento judicial, com a observância do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.</p><p>Não pairando a mesma certeza que decorre do título judicial, é possível que o credor já conheça</p><p>previamente a posição do devedor e já saiba da sua resistência acerca do direito constante no</p><p>documento. O credor pode, então, ter a pretensão de adquirir plena segurança acerca do seu direito5,</p><p>caso em que lhe será útil a ação de conhecimento.</p><p>Nesse passo, de um lado, o título extrajudicial dá ao credor o direito de acessar diretamente a via</p><p>satisfativa, mas, de outro, não lhe retira o direito à cognitiva. Na realidade, ele possibilita a inversão da</p><p>ordem entre conhecimento e execução, permitindo que a atividade satisfativa preceda a de</p><p>conhecimento, até porque, ajuizado o feito satisfativo, o réu poderá propor os embargos, que</p><p>consistem em ação com amplo espectro de cognição6.</p><p>Ainda na vigência do Código anterior, Humberto Theodoro Junior (2008, p. 51-52) explicava:</p><p>É uma questão de lógica e bom senso: diante das controvérsias e incertezas reinantes no âmbito do</p><p>relacionamento subjacente ao título executivo, a atitude correta e prudente é, sem dúvida, a de</p><p>primeiro tentar o acertamento pelo processo de conhecimento, para depois intentar a execução forçada</p><p>já então sob o pálio da indiscutibilidade da sentença transita em julgado.</p><p>No mesmo diapasão, colhia-se a lição Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda (2001, p. 37), que</p><p>também vaticinava:</p><p>A nossa tradição e a tradição européia, a despeito de alguns inovadores, que o queriam transformar em</p><p>obrigatório, são no sentido da facultatividade. Posto que o Código não o diga, essa é a solução</p><p>coincidente, aliás, com a sugestão dos maiores processualistas (e.g., Konrad Hellwig, Justizreform, 42).</p><p>Manteve-se, além disso, a linha histórica da cognição inicial pelo juiz (e não pelo escrivão, ou até pelo</p><p>advogado), modernismo jurídico doentio, capitalístico, que se propôs desde 1908, entre alguns juristas.</p><p>Na mesma linha advogavam J. X. Carvalho de Mendonça (1960, p. 416) e José Maria Whitaker (1963,</p><p>p. 270). O último chegava a afirmar que “a ação executiva é um predicado que decorre de sua</p><p>natureza. [...] todavia, é um benefício para o credor e, como tal, pode ele dispensá-la, substituindo-a</p><p>pela ação ordinária”.</p><p>O CPC/2015 (LGL\2015\1656) dispôs expressamente sobre a matéria, afirmando, em seu art. 785, que</p><p>“[...] a existência de título executivo extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de</p><p>conhecimento, a fim de obter título executivo judicial”.</p><p>Portanto, no direito positivo vigente, o credor que possui título executivo extrajudicial tanto tem</p><p>interesse processual para a ação satisfativa como também para a de conhecimento.</p><p>Nada obstante a previsão legal, é importante destacar que o assunto ainda não é assente entre os</p><p>doutrinadores, havendo críticas ao texto da lei, sob o fundamento de que não há motivo para</p><p>“reconhecer ‘duas vezes’ o direito aplicável ao caso, criando a partir de um título executivo</p><p>(extrajudicial) um outro título executivo (judicial)”7.</p><p>De outro lado, há quem o apoie, entendendo-o útil por ensejar a segurança jurídica8 ou por consistir</p><p>num desdobramento do princípio da disponibilidade da execução9: estando o direito certificado num</p><p>título extrajudicial, o credor não se vê obrigado a manejar a ação satisfativa, tendo a opção de valer-se</p><p>desta via ou de propor a ação de conhecimento.</p><p>Parece-nos que o dispositivo legal é útil e deve ser bem empregado no ordenamento jurídico pátrio,</p><p>visando à constituição de um título judicial a partir de um extrajudicial, o que propicia uma certeza</p><p>jurídica que é em tudo benéfica para as partes. Sob o ponto de vista do credor, ele deterá um título</p><p>formado sob o crivo do devido processo legal, o que contribui para a efetivação do direito certificado no</p><p>ambiente jurisdicional. Sob a perspectiva do devedor, ele terá a oportunidade de exercitar o direito de</p><p>defesa antes da prática de atos invasivos do seu patrimônio10.</p><p>08/09/2021 15:46 Envio | Revista dos Tribunais</p><p>https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 4/7</p><p>3 Cabimento da ação monitória fundada em título executivo extrajudicial</p><p>A ação monitória consiste num procedimento especial que visa a abreviar a obtenção do título</p><p>executivo judicial11, quando o credor está convicto de que o devedor não vai se opor à sua pretensão</p><p>ou não dispõe de defesa capaz de abalar a base jurídica sobre a qual ela se funda12.</p><p>Nessas circunstâncias, ele dá início ao processo, acostando o título injuntivo à peça inaugural. Logo em</p><p>seguida, o Estado-Juiz realiza um exame sobre a pretensão e sobre o documento escrito que a embasa</p><p>e, em cognição sumária, profere decisão fundamentada e provisória13, determinando que o réu seja</p><p>citado para adimplir a obrigação (art. 701, caput, do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).</p><p>A sua particular estrutura faz com que, não havendo resistência do réu, o juízo se limite à averiguação</p><p>superficial do direito alegado pelo demandante, emitindo um provimento que, em seguida, constituirá o</p><p>título executivo, sem chegar a haver cognição em caráter exauriente14, nos termos do § 2º do art. 701</p><p>do CPC/2015 (LGL\2015\1656).</p><p>O procedimento só se transformará em contencioso sobre o mérito da relação jurídica material se o réu</p><p>se opuser à pretensão autoral, a teor do art. 702 do CPC/2015 (LGL\2015\1656).</p><p>Muito embora se caracterize pela prolação de uma ordem de pagamento logo no seu início, o</p><p>procedimento não é dotado de atos de invasão patrimonial forçada. Na realidade, os atos satisfativos</p><p>propriamente ditos só terão cabimento depois de haver a constituição do título executivo judicial, o que</p><p>acontecerá se o réu se mantiver inerte, sem pagar nem opor embargos, ou se, apresentada a defesa do</p><p>réu, for proferida sentença, confirmando o direito do credor que já havia sido chancelado em caráter</p><p>provisório</p><p>no início do procedimento. A ordem injuntiva não permite a prática de atos forçados de</p><p>interferência na esfera jurídica do réu. Apenas autoriza o devedor a realizar o pagamento</p><p>voluntariamente, com as vantagens de ter a fixação dos honorários advocatícios em 5% do valor</p><p>atribuído à causa (art. 701, caput, parte final) e de isenção das custas (art. 701, § 1º). Não</p><p>autorizando a prática de atos de invasão coativa, não se cuida de ação de execução.</p><p>Conforme já exposto, a ação monitória visa ao acertamento da relação jurídica material, com a</p><p>constituição do título executivo judicial. Ocorre que, em vez de observar o contraditório previamente</p><p>como sucede no rito comum, ele é diferido para o futuro, dado o grau de probabilidade que emana do</p><p>título injuntivo.</p><p>Cuida-se, pois, de ação cognitiva15, que, em vez de observar o procedimento geral, segue um iter</p><p>muito próprio, podendo o autor-credor escolher a utilização do rito diferenciado ou do comum. O</p><p>ordenamento jurídico garante tal faculdade a quem tenha consigo um título injuntivo16.</p><p>Buscando a certificação do direito e a constituição do título executivo judicial, e em se tratando de</p><p>demanda de conhecimento, parece-nos cabível a aplicação do art. 785 do CPC/2015 (LGL\2015\1656) à</p><p>ação monitória17.</p><p>O emprego do procedimento diferenciado propiciará a formação do título executivo judicial com maior</p><p>brevidade do que sucede no rito comum, não havendo porque refutar a sua utilização quando o credor</p><p>possui título executivo extrajudicial. Admitir a aplicação do art. 785 apenas ao rito padrão implicaria em</p><p>fazer com que o credor tivesse que submeter sua pretensão de acertamento exclusivamente a um</p><p>procedimento mais demorado, em vez de autorizá-lo a valer-se também de um caminho mais</p><p>abreviado.</p><p>Sob o ponto de vista do sujeito passivo da obrigação, não haverá prejuízo à defesa. O aviamento da</p><p>demanda monitória pelo credor lhe oportunizará o exercício do contraditório, da mesma maneira que</p><p>acontece no rito comum.</p><p>Ademais, o art. 785 alude ao “processo de conhecimento”, sem apontar qualquer especificação em</p><p>relação ao procedimento. Como já visto, a ação monitória enseja uma atividade cognitiva, só que ela se</p><p>desenvolve sob iter diferenciado, com atos distintos daqueles que têm vez no procedimento geral. Nada</p><p>obstante, cuida-se, sim, de “processo de conhecimento”.</p><p>Aliás, o cabimento da ação monitória fundada em título executivo extrajudicial já era aceito pela</p><p>jurisprudência pátria. É o que se depreende do seguinte julgado do STJ, proferido ainda na vigência do</p><p>CPC/1973 (LGL\1973\5), fazendo referência a outros tantos casos semelhantes:</p><p>Ação monitória. Adequação da via eleita. Na espécie, o tribunal de origem entendeu que o autor era</p><p>carecedor de interesse de agir por inadequação da via eleita, uma vez que, sendo possível o</p><p>procedimento executório de títulos extrajudiciais (notas promissórias), descaberia a via da ação</p><p>monitória. No entanto, assim como a jurisprudência do STJ é firme quanto à possibilidade de</p><p>propositura de ação de conhecimento pelo detentor de título executivo – não havendo prejuízo ao réu</p><p>em procedimento que lhe faculta diversos meios de defesa –, por iguais fundamentos o detentor de</p><p>título executivo extrajudicial poderá ajuizar ação monitória para perseguir seus créditos, ainda que</p><p>08/09/2021 15:46 Envio | Revista dos Tribunais</p><p>https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 5/7</p><p>também o pudesse fazer pela via do processo de execução. Precedentes citados: REsp 532.377/RJ, DJ</p><p>13.10.2003; REsp 207.173/SP, DJ 05.08.2002; REsp 435.319/PR, DJ 24.03.2003, e REsp 210.030/RJ,</p><p>DJ 04.09.2000 (REsp 981.440/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12.04.2012)18.</p><p>Na mesma linha, o Enunciado 446 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) preconiza que</p><p>“cabe ação monitória mesmo quando o autor for portador de título executivo extrajudicial”. Outrossim,</p><p>o Enunciado 101 da I Jornada de Direito Processual Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal</p><p>(CJF) nos dias 24 e 25 de agosto de 2017, estabelece ser “admissível ação monitória, ainda que o autor</p><p>detenha título executivo extrajudicial”. Cuida-se de entendimento adotado já na vigência do CPC/</p><p>201519.</p><p>Por fim e a nosso sentir, ao exigir que o título monitório consista num documento escrito sem eficácia</p><p>executiva, parece-nos que legislador repetiu, no art. 700 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), a equação</p><p>anteriormente adotada pelo art. 1.102-A do CPC/1973 (LGL\1973\5), olvidando-se da inovação trazida</p><p>pelo art. 785 do CPC/2015 (LGL\2015\1656). Ocorre que este dispositivo altera o cenário do direito</p><p>positivo brasileiro, não havendo porque fazer tal restrição ao cabimento da ação monitória fundada em</p><p>título extrajudicial no ordenamento jurídico vigente.</p><p>4 Referências</p><p>ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa; DIDIER JUNIOR, Fredie; TALAMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno</p><p>(Coord.). Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656). 3. ed. São Paulo:</p><p>Revista dos Tribunais, 2016.</p><p>ASSIS, Araken de. Manual da execução. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.</p><p>BASTOS, Antonio Adonias. Teoria geral da execução. Salvador: Faculdade Baiana de Direito, 2010.</p><p>BASTOS, Antonio Adonias. A defesa do executado de acordo com os novos regimes da execução</p><p>estabelecidos pelas Leis n. 11.232/2005 e 11.382/2006. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2009.</p><p>BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015.</p><p>BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2015a.</p><p>CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo (Coord.). Comentários ao Novo Código de Processo Civil</p><p>(LGL\2015\1656). 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.</p><p>CARNELUTTI, Francesco. Instituciones del proceso civil. 2. ed. Buenos Aires: EJEA, 1973. v. I.</p><p>CRUZ E TUCCI, José Rogério. Ação monitória. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.</p><p>CRUZ E TUCCI, José Rogério; FERREIRA FILHO, Manoel Caetano; APRIGLIANO, Ricardo de Carvalho;</p><p>DOTTI, Rogéria Fagundes; MARTINS, Sandro Gilbert (Coord.). Código de Processo Civil anotado. Rio de</p><p>Janeiro: LMJ Mundo Jurídico, 2016.</p><p>DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2000.</p><p>KLIPPEL, Rodrigo; BASTOS, Antonio Adonias. Manual de direito processual civil. 4. ed. Salvador:</p><p>JusPodivm, 2014.</p><p>MACEDO, Elaine Harzheim. Do procedimento monitório. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.</p><p>MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: execução. São Paulo:</p><p>Revista dos Tribunais, 2007. v. 3.</p><p>MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro – 2ª parte. Rio de Janeiro: Freitas</p><p>Bastos, 1960. v. V.</p><p>NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. Salvador: JusPodivm, 2017.</p><p>PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. Rio de</p><p>Janeiro: Forense, 2001. t. IX.</p><p>RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito processual civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.</p><p>THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.</p><p>v. II.</p><p>THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento da sentença. 25. ed. São Paulo:</p><p>LEUD, 2008.</p><p>WHITAKER, José Maria. Letra de câmbio. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1963.</p><p>08/09/2021 15:46 Envio | Revista dos Tribunais</p><p>https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 6/7</p><p>1 Araken de Assis (2007, p. 99).</p><p>2 Cândido Rangel Dinamarco (2000, p. 418) afirma que “[...] o título não integra, portanto, a causa de</p><p>pedir. É no capítulo do interesse de agir a sua justa colocação sistemática, como instituto da teoria</p><p>geral do processo civil. À falta de título, a situação é de carência de ação. Como se disse a seu tempo,</p><p>causa de pedir in executivis é, tanto como no processo cognitivo, a situação de fato de que se originou</p><p>o direito alegado pelo exeqüente, associada ao fundamento jurídico da pretensão deduzida e à atitude</p><p>do executado, violadora desse alegado direito”.</p><p>3 No mesmo sentido, consulte-se Luiz</p><p>Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (2007, p. 446).</p><p>4 Cândido Rangel Dinamarco (2000, p. 458).</p><p>5 Nesse sentido, Humberto Theodoro Junior (2008, p. 50-53).</p><p>6 Art. 917, VI, do CPC/2015, que encontra correspondência com o art. 745, V, do CPC/1973. Sobre o</p><p>assunto, durante a vigência do CPC/1973, confira-se os nossos A defesa do executado de acordo com</p><p>os novos regimes da execução estabelecidos pelas Leis n. 11.232/2005 e 11.382/2006 (2009, p. 22-25</p><p>e 105-107) e o Manual de direito processual civil, este em coautoria com Rodrigo Klippel (2014, p.</p><p>1328-1330 e 1361). Com o advento do CPC/2015, tratamos da matéria ao comentar o art. 917</p><p>(WAMBIER; DIDIER JUNIOR; TALAMINI; DANTAS, 2016, p. 2123-2124 e 2146).</p><p>7 Cassio Scarpinella Bueno (2015, p. 484; e 2015a, p. 455 e 484).</p><p>8 Gelson Amaro de Souza (In: CRUZ E TUCCI; FERREIRA FILHO; APRIGLIANO; DOTTI; MARTINS, 2016,</p><p>p. 1062-1063).</p><p>9 José Henrique Mouta (In: WAMBIER; DIDIER JUNIOR; TALAMINI; DANTAS, 2016, p. 2011).</p><p>10 Já defendíamos esse posicionamento durante a vigência do CPC/1973, como se infere dos nossos</p><p>Teoria geral da execução (2010, p. 97-98) e Manual de direito processual civil, este último escrito em</p><p>coautoria com Rodrigo Klippel (2014, p. 1120-1121), tendo-o mantido com a superveniência do CPC/</p><p>2015, agora com base legal, como explicamos ao comentar o art. 785, na obra coordenada por Antonio</p><p>do Passo Cabral e Ronaldo Cramer (2016, p. 1129).</p><p>11 Elaine Harzheim Macedo (1999, p. 132-133). Na jurisprudência: STJ, REsp. 208.870/SP, 4ª Turma,</p><p>j. 08.06.1999, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira.</p><p>12 Humberto Theodoro Junior (2016, p. 378; 380); Ronaldo Vasconcelos (In: WAMBIER; DIDIER</p><p>JUNIOR; TALAMINI; DANTAS, 2016, p. 1687).</p><p>13 José Rogério Cruz e Tucci (1995, p. 53-56).</p><p>14 Francesco Carnelutti (1973, p. 83).</p><p>15 Marcelo Abelha Rodrigues (2016, p. 885).</p><p>16 Ronaldo Vasconcelos (In: WAMBIER; DIDIER JUNIOR; TALAMINI; DANTAS, 2016, p. 1687).</p><p>17 Daniel Amorim Assumpção Neves (2017, p. 1013-1014) também entende ser cabível a ação</p><p>monitória calcada em título executivo extrajudicial, utilizando o raciocínio de aplicação do art. 785 do</p><p>CPC, muito embora critique este último dispositivo.</p><p>18 Confira-se ainda: STJ, REsp 1.180.033, 3ª Turma, rel. Min. Sidnei Beneti, j. 17.06.2010; e STJ,</p><p>REsp 394.695, 4ª Turma, rel. Min. Barros Monteiro, j. 22.02.2005.</p><p>19 Concordando com tal posicionamento: Marcela Melo Perez (In: CABRAL; CRAMER, 2016, p. 1012) e</p><p>Daniel Amorim Assumpção Neves (2017, p. 1013-1014). Em sentido contrário, Marcelo Abelha</p><p>Rodrigues (2016, p. 888) afirma que o documento que fundamenta a ação monitória não pode consistir</p><p>num título executivo extrajudicial, sob pena de faltar interesse processual para a ação monitória.</p><p>Acrescenta que, mesmo com a disposição prevista pelo art. 785 do CPC/2015, não há que se cogitar no</p><p>cabimento do procedimento monitório com fulcro em título executivo extrajudicial. Na mesma linha:</p><p>Carlos Eduardo Stefen Elias (In: CRUZ E TUCCI; FERREIRA FILHO; APRIGLIANO; DOTTI; MARTINS,</p><p>2016, p. 965) explica que “[...] carece de interesse processual o autor que ostentar documento que já</p><p>constitua título executivo, pois a finalidade mesma da ação monitória restaria prejudicada”. Ronaldo</p><p>08/09/2021 15:46 Envio | Revista dos Tribunais</p><p>https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 7/7</p><p>Vasconcelos (In: WAMBIER; DIDIER JUNIOR; TALAMINI; DANTAS, 2016, p. 1689-1690) defende que a</p><p>ação monitória não pode fundar-se em título executivo extrajudicial, já que restaria comprometida a</p><p>finalidade de tal espécie de processo, “que é abreviação dos meios para a obtenção do título executivo”.</p><p>Elaine Harzheim Macedo também conclui “pela exclusão do rol de documentos a ensejar sua</p><p>propositura [da ação monitória] [...] os títulos executivos. Esses legitimam o credor a propor, desde</p><p>logo, processo de execução, resolvendo-se a questão em sede de interesse de agir: o credor exequente</p><p>não tem necessidade de propor ação monitória, que se destina à formação de título executivo por um</p><p>caminho mais célere do que a ação ordinária, meio que serve ao processo de cognição. Se já é titular</p><p>de título exequendo, falta-lhe o interesse de agir pela ação injuncional” (1999, p. 133). Confira-se,</p><p>ainda: Cassio Scarpinella Bueno (2015a, p. 455 e 484).</p>