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<p>XVII - PRÁTICAS CONSERV ACIONISTAS</p><p>DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>Isabella Clerici De Marial/, Ildegardis BertoJ7/ & Mario Ivo Drugowich31</p><p>11 Instituto Agronômico de Campinas, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais,</p><p>Campinas, SP. E-mail: icdmaria@iac.sp.gov.br</p><p>21 Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Agroveterinárias, Lages, SC.</p><p>E-mail: ildegardis.bertol@udesc.br</p><p>31 Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, Campinas, SP.</p><p>E-mail: drugo.cati@gmail.com</p><p>Conteúdo</p><p>INfR0DUÇÃ0 ............................................................................................................................................ ·-··-· .. ····....... 528</p><p>ESTRATÉGIAS C0NSERVAO0NISTAS .................... ....................... ....................................................................... 529</p><p>Aumento da cobertura vegetal ................................................................................................... ...................... - .. 529</p><p>Aumento da infiltração de água no solo ............................ ................................................................. ·-·-·····-···· 530</p><p>Controle do escoamento superficial ........ .. ............... .......... ................................................................................. .</p><p>PRÁTICAS C0NSERVACI0NISTAS ........................................................................................................................ .</p><p>Práticas vegetativas ............................................................................................................................................... .</p><p>Cobertura morta .......................................................................... ............................................. .......................... .</p><p>Cordões ou faixas de vegetação permanente, aleias, quebra-ventos ........................................................ ..</p><p>Cultivo ou culturas em faixas ····························· ··· ···························································································</p><p>Qualidade na população de plantas ······ ··························· ······························································-····--·········</p><p>Plantas de cobertura do solo ············· ............................................ ................................................................... .</p><p>Cultivo consorciado ··· ················ ........................................................................................................................ .</p><p>530</p><p>531</p><p>532</p><p>533</p><p>537</p><p>539</p><p>542</p><p>543</p><p>545</p><p>Pastagem e sua integração com lavouras e florestas ..................................................................................... 546</p><p>Manejo das plantas infestantes .................... .............................. ....................................................................... 548</p><p>Florestamento, reflorestamento e faixas de bordadura ............. ....................................................................</p><p>Práticas edáficas ......................................................................................... ..............................................................</p><p>Controle do fogo .......................................... .................................................................................................. ·-···</p><p>Correção do solo e adubação ........................................................................................................................... .</p><p>Adubação verde ...... ... ..... .................................... .. ............................................................................................. .</p><p>Rotação de culturas ................... .................. ........................................................................................................</p><p>Sistemas de manejo conservacionista ............................................................................................................. .</p><p>Semeadura direta (SD)/plantio direto (PD) ........................................................................................ ...... ..</p><p>Operações de preparo do solo, subsolagem e controle da compactação ............................... ·-·········• ....... .</p><p>Práticas de caráter mecânico ......................................................................................................... . , .. -.. ................ .</p><p>Distribuição de estradas e carreadores .. , ........................................................................................................ .</p><p>550</p><p>551</p><p>552</p><p>552</p><p>~</p><p>554</p><p>555</p><p>556</p><p>557</p><p>558</p><p>558</p><p>Berto! I, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do solo e da água. Viçosa MG: 5oc· d d</p><p>Brasileira de Ciência do Solo; 2018. ' te ª e</p><p>528</p><p>lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>ulti ,·o em contorno cem, semeadura cm nívL•l ............. ...................... ................... .................. .... ...... .......... .</p><p>· nleiramcnto da fitomassa cultural rl'Sidual L'm ni,·cl ........................... ............ ....................... ..... ............. .</p><p>Terraceamento</p><p>···················································· ····· .. ······················ ·· ························ ····· ···· ········· ········ ···· ·· ··········</p><p>Tipos de tcrrilços ...................... ............ ........ ............ .... .. ........ ........ ............................... .... ..... .... ... .... .... ..... . .</p><p>Terraço. quanto à função .............................. .. .... ................................. ......... ... .. ... ... ............ ....... ... ..... .. . .</p><p>Terraço. quanto ao modo de constn1ção ....................................... ............ .. ...... ................... ..... ........ ..</p><p>T erraç - quanto i\ faixa de movimcntaç<'io de tcrrn .............. .. ..... .. .... ........................................... .. . ..</p><p>Terraços quanto à fonna do pl'rfil ........................................................................ ....... ....................... ..</p><p>560</p><p>561</p><p>561</p><p>563</p><p>563</p><p>564</p><p>565</p><p>567</p><p>Bpaçamento entre terraços ..................................................... ................................................................. 56</p><p>Dimensionamento de canais de terraços de infi ltTaçào .......... .............................................................. .</p><p>Cálculo d o volume de água nos terraços de infiltração ................. .................................................... .</p><p>Cálculo da secção transversal e dimensionamento do canal do terraço de infiltração ..... .... ....... ..</p><p>Dimensionamento de canais de terraços de dre nagem ............ ........................ .. .. .............. ............. ..... .</p><p>Cálculo da vazão má:-.ima de ~ cri · , 1 t d d • " o -1" par« cana em erraço e renagcm .... .............. .. ............. .. ..... .</p><p>Cálculo da ecção transversal para canal em terraço de drenagem ................... ................... ... ... ..... .</p><p>Cálculo d o gradiente do canal do terraço de dren;igem ....................................................... ............. .</p><p>Locação dos terraços ......................................... ...... ................................................ .. ..... ............ ........... ..... .</p><p>Construção e manutenção do sistema de terraceamento ........... .......................................................... ..</p><p>Canais escoadouros e canais divergentes ................................................................ ............................... .. ..... .</p><p>Sulcos de infiltração e diques em pastagem ................................................................... .......................... ...... .</p><p>Cordão de pedra em contorno ............ .. ..... ..... ........................................................... .................... ........ .. ........ .</p><p>A1ulclzi11g vertical ............................................................................................................................</p><p>ÁGUA 553</p><p>fitomassa e para a atividade biológica; e, por isso, a ca lagem é considerada também como</p><p>uma medida conservacionista de solo.</p><p>O fornecimento de Caem profundidade pela utilização do gesso agr ícola não sub~titui</p><p>o calcário porque não corrige acidez nem reduz saturação de AI, mas melhora o ambiente</p><p>proporcionando condições para maior desenvolvimento radicula r.</p><p>A calagem, no entanto, em solos ácidos pode provocar desagregação e d ispersão da</p><p>argila na camada superficial, resultando no aumento do transporte de partículas de solo</p><p>pela erosão hídrica ou na elevação do encrostamento da superfície, que reduz a capacidade</p><p>de infiltração de água e aumento do escoamento superficial, no momento em que é aplicada</p><p>ao solo. Com o tempo, com a reação do calcário com o solo e o efeito no crescimento de</p><p>raízes e das plantas, este efeito negativo do ca lcário é compensado, e as áreas corrigida</p><p>apresentam menores valores de perdas por erosão.</p><p>A adubação mineral e a adubação orgânica constituem-se em fator imprescindível</p><p>à manutenção da produtividade agrícola e, portanto, da cobertura vegetal. A adubação</p><p>adequada deve ser definida com base na análise de solo.</p><p>A adubação química serve para repor a quantidade de nutrientes de plantas, extraída</p><p>por estas durante o processo produtivo, e também aqueles nutrientes perdidos por</p><p>erosão hídrica durante o ciclo das culturas. Isso é fundamental para evi tar a depleção de</p><p>nutrientes, que, em nível acentuado, ocasiona enfraquecimento e incapacidade química do</p><p>solo. Com isso, a produção vegetal é rebaixada, diminuindo o teor de matéria orgânica do</p><p>solo e a proteção do solo com a fitomassa residual decorrente das plantas. Os nutrientes</p><p>N, P e K necessitam ser repostos com maior intensidade e frequência e, para isso, devem</p><p>ser seguidas tabelas de necessidades de nuh·ientes requeridas pelas plantas cultivadas,</p><p>acrescidas das quantidades perdidas pela erosão hídrica anualmente.</p><p>A adubação orgânica é principalmente aquela que utiliza dejetos de anima.is, mas</p><p>existe um uso crescente também dos resíduos agroindustriais e urbanos em áreas agrícolas.</p><p>O aumento no uso, tanto dos dejetos animais quanto das biomassas residuais de outras</p><p>fontes, está relacionado à necessidade imposta pelas legislações ambientais de disposição</p><p>adequada destes materiais e ao aumento da conscientização dos problemas causados pelo</p><p>descarte inapropriado, principalmente o impacto nos recursos hídricos.</p><p>Os dejetos comumente usados na adubação dos cultivas anuais, perenes e pastagens</p><p>são os de suínos, aves e bovinos. Os de suínos e bovinos são, em geral, aplicados na forma</p><p>liquida, enquanto os de aves, na forma sólida, cada um deles apresentando concentrações</p><p>variadas de N, P e K e de outros nutrientes, dependendo do tipo do animal e da forma</p><p>como é obtido e tratado. A quantidade de cada nutriente aplicado ao solo é dependente,</p><p>portanto, da quantidade de dejeto aplicado e do teor do nutriente no dejeto.</p><p>Esta forma de adubação, além de fornecer nutrientes às plantas, estimula fortemente</p><p>a produção vegetal e a atividade biológica do solo, o que, por sua vez, é fator importante</p><p>para aumentar indiretamente a resistência do solo à erosão hídrica.</p><p>A adubação orgânica é mais comum em culturas perenes, hortaliças e, principalmente,</p><p>em culturas de pequena expressão geográfica, mas intensivas. A pequena disponibilidade</p><p>de adubos orgânicos e o custo, em especial do transporte, limita seu uso mais generalizado.</p><p>Mesmo que a adubação orgânica não possa ser efetivada diretamente, devem-se adotar</p><p>práticas que proporcionam a preservação da matéria orgânica do solo, como utilização de</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>554</p><p>lSAB · LL A L · RI CJ D MA RIA FT /\ L .</p><p>• du bos \'C' rd ~ • pl ;mtc\c; d</p><p>d u, ~ da!- or rn õcs d</p><p>dul ª\'Üo n ~rdr</p><p>oh rhJr . manut nção dl' rol r. rtu rn com fi tmnassn rc<-id u a l</p><p>mobili7ação da!- ra mada~ superficiai s.</p><p>A adubação " rd a utili z.a ão d planta cultivada especifi camente para melhora r</p><p>os atri bu i .., fís i o~. qufmico~ biol gicos do solo. Estas plantas podem er cortad as e</p><p>•nt rrada~ ou mantidas na sup •rf1cie, ;iinda verde ou depois de completar seu ciclo. Do</p><p>P nt d \' i~ ta da r são, ent re> os fe itos r osit ivos da adubação verde estão manter o solo</p><p>e m cobertu a., para prote ào e nlTa a ação direta das chuvas quando vivas e melhorar</p><p>os atribut ~ d -olo que result am em maior produção de biomassa vegetal e major</p><p>in orp raçâ de m al ri n orgânica ao solo.</p><p>É uma técnka apropriada para obtenção de maior cobertura vegetal do solo em</p><p>determinadas , p ca do ano, com grande potencialidade de adoção nas seguintes</p><p>ondi ô : na entre safra d culturas anuais, em áreas que permanecem em pousio, a</p><p>inlT du à d adubo verde melhora as condições físicas, químicas e biológicas do solo,</p><p>ai m manter p r mai tempo a superfície protegida pela coberrura vegetal; e nas cult-uras</p><p>rmanente , com o coberturas das entrelinhas. Este efeito do adubo verde como planta</p><p>de cobertura do olo foi apre entado anteriormente no item Plantas de cobertura do solo.</p><p>Geralmente, ão usadas leguminosas para adubação verde, pois, além de fixarem</p><p>\ doar que e rá adicionado ao solo, produzem grande quantidade de fitomassa que se</p><p>decompõe com rela tiva facilidade para liberar os nulTientes para o cultivo subsequente.</p><p>Outras espé ie lamb m u tilizadas, mesmo que não fixem N</p><p>2</p><p>do ar, reciclam nutrientes</p><p>de planta na fitoma sa. Os adubos verdes têm efeito também como rotação de cult-ura,</p><p>controlando p raga e doenças e promovendo a ciclagem de nutrientes.</p><p>Rotação de culturas</p><p>A rotação de culturas significa alternar en1 um mesmo terreno diferentes culturas</p><p>numa sequência de acordo com um plano previamente definido. As culturas não precisam</p><p>ser anuais, poi mandioca, cana-de-açúcar e pastagens podem estar num mesmo plano de</p><p>rotação. Os principais objetivos da rotação são obter melhor organização da distribuição</p><p>das culturas na propriedade, na economia de trabalho, no controle de plantas infestantes,</p><p>insetos e doenças, na manutenção da matéria orgânica e N do solo, no awnento da produção</p><p>e na redução d as perdas por erosão. A rotação de sucesso resulta, em longo pra.zo, em</p><p>elevação da produção e aumento da matéria orgânica do solo.</p><p>Esta prática, entre outras vantagens, proporciona aumento da cobertura vegetal de</p><p>diversas formas: altemáncia de cult-uras que produzem maior quantidade de biomassa,</p><p>diferentes velocidades de crescimento, diferentes tipos de raízes e diversos espaçamentos,</p><p>proporcionando uma variação na cobertura vegetal do solo, o que não ocorre nas</p><p>monocultura ; uso de culturas plantadas em épocas que proporcionam maior cobertura</p><p>vegetal do solo em períodos críticos; alten:1.â!'cia de culrur~s que ~eram biomassa r~sidual</p><p>com d iferentes velocidades de decompos1çao; e exploraçao de diferentes profundidades</p><p>do solo, em razão dos sistemas radiculares diversos, proporcionando melhor ciclagern de</p><p>nutrientes.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A</p><p>XVII - PRÁT f CA S CoN AV cro rsT s oo So o E º"' r.u 5</p><p>A rnt,1ç, n d <' cultur,1 c: d PV<' 'lf'r pl,, n j dil par.t 'lllf' ;ipr?<en "'nutr e: v, rit1 en'- cn P</p><p>controle de prclg;-1 c;" do nr,ac:, cnntrnlP dr m,, n, prn 'f' Í mPnln de n11 rit->n "'"· m~ li nr ,l</p><p>n,1 iníiltr;iç, o" armr17f'nagcm d<' .:ig11a . J lg Jma rc;pfrie'- dr> ,1 i 11bnc: ·n~r Jec: P pl;i ,1c: dt•</p><p>cobertura pod<'m a tua r poc: ití 'c1m<'nlr n;i cfec,cnmpartaç~in dn c:nln.</p><p>Sistemas de manejo con erYaclo nL ta</p><p>O prep a ro d o solo l m como objetivn .Jd qu.i r ,, e: rn cl,çrrc: dn ~nfn JJ,,,., n</p><p>de envolv imento das plantas cultiv;ida c; . É .1 np raç,1n df' e 11 1vn m,1i 1mpQr t n</p><p>controle da erosão, pois dela dependem cJirctnm nt a mai<' 011 menor de<:.1</p><p>camada superficial do o lo e a manutenção na c;u perfiriP n I incnrpnr ç-o ,l ~itnm ,,</p><p>residual.</p><p>Adequações ou modificações no preparo cJo c;o ln pod m cnn nrru,r d m, n r,</p><p>deci iva na redução do processo era ivo por meill</p><p>e tccnol<\_ 1,1 p r.1 cnntrole dt> pi nt,1</p><p>infestantes e soqueiras, dispensando a incorporação; prep,1m e.ln ·nlo -nm ec. u,p m n <</p><p>que permitam a manutenção da filomass.i cultura l rec;idu.11 nc1 u r ic, •; ro J Jo J~·</p><p>culturas; rotação de implementas de prepuro do <;olo, .ilternc1.ndn pe rwd, m ·n l' n IJ"õ(l</p><p>de imple m en tas de hastes (Figura l7); e lim inaçc'in cJo fo o n, p lh.1 f,L . pr p.uo do oln</p><p>com umidade adequada; e a lteração da profundidude do preparo do olo p<.1 r Cciu_· :i J,</p><p>ocorrência de camadas compactadas.</p><p>8</p><p>7</p><p>6</p><p>o</p><p>1(0</p><p>CI)</p><p>~</p><p>5</p><p>&,4</p><p>~</p><p>]</p><p>Cl.</p><p>3</p><p>2</p><p>1</p><p>o</p><p>PC verão PC verão e</p><p>inverno</p><p>PC verão e RP verão</p><p>SD inverno SD invem</p><p>lo</p><p>• I' gua</p><p>ES</p><p>SDinvemo</p><p>Figura 17. Pe_rdas médias anuais de s?lo (t ha 1) e águ~ (d, L m 1) por l!ru- 0 em pr, ·p . r Jn 'iülo</p><p>convenoonal (PC), semeadura direta ( O), õ carihc, ç,fo (ES) e rot.lç,1o J~ pr p (h \RP) nu</p><p>verão e inverno em Latossolo Vermelho, muito ,ugilo o, Ch.i p~ o. - -.</p><p>Fonte: Adaptado de Beuller e t ai. (2003).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E D GU</p><p>556</p><p>lSABELLA (LERICl DE MARIA ET AL.</p><p>erneadura direta (SD)/plantio direto (PD)</p><p>Com a adoção desta técnica, é possível obter um controle de erosão acima de 80 %</p><p>em rela_ção ao preparo do olo convencional. Em princípio, qualquer cultura pode ser</p><p>produzida em SD/ PD, desde que se tenha mínima mobilização da superfície; manutenção</p><p>de cobertura morta; manutenção de cobertura verde a maior parte do tempo; e rotação de</p><p>cultura .</p><p>O cultivo de grãos, hortaliças, frutas, outros cultives perenes e florestais, mandioca e</p><p>cana-de-açúcar pode ser feito utiljzando esta técnica. Se for preciso sistematizar e corrigir</p><p>a área antes da sua implantação, recomenda-se o uso de prepares reduzidos em épocas de</p><p>chuvas menos intensas.</p><p>Além do controle da erosão, a SO/PD resulta em ganhos ambientais, como proteção e</p><p>manutenção da biodiversidade do solo, melhor utilização da água e nutrientes, manutenção</p><p>de estoques de C e menor consumo de combustíveis fósseis.</p><p>O principal efeito da SO/PD é a proteção da superfície com a palha dos cultivos</p><p>anteriores (Figura 18). Dados obtidos por diferentes autores, em ensaios comparando</p><p>perdas por erosão entre diferentes manejas do solo, publicados entre 1977 e 1997,</p><p>indicaram perdas de solo variando entre 0,5 e 5,0 t ha·1 ano·1 em SO/PD, com urna redução</p><p>de 75 % comparativamente aos preparas convencionais (De Maria, 1999). Nestes trabalhos,</p><p>verificou-se também que as perdas de água, que vão formar as enxurradas, são reduzidas</p><p>em média em 20 % na SD/PD, embora em algumas situações tenham sido verificadas</p><p>perdas iguais ou maiores na SO/PD em relação aos preparos convencionais.</p><p>a SD/ PD, as perdas de solo e água são reduzidas de forma complementar pela</p><p>palha e pela consolidação da superfície, tanto no processo de erosão em entressukos</p><p>como na erosão em sulcos (Schafer et al., 2001a,b). A consolidação da camada superficial</p><p>do solo, mantido sob SD/PD por tempo prolongado, proporciona mruor resistência do</p><p>solo à desagregação e maior resistência ao cisalhamento. Com a utilização da SD/PD, é</p><p>possível incrementar o teor de C orgârúco do solo, alterando de forma positiva seu estado</p><p>de agregação (Castro Filho et al., 1998) e assim conferindo mruor resistência à erosão.</p><p>A utilização na SD/PD como prática edáfica de controle da erosão deve considerar</p><p>também a falha ou perda da eficácia relativa da fitomassa cultural residual em superfície, que</p><p>determina lirrútes de comprimento de rampa na SD/PD, dependendo do regime de chuva,</p><p>solo, declividade e condições de manejo. Morais e Cogo (2001) estimaram comprimentos</p><p>críticos de declive de, aproximadamente, 60 a 100 m em razão da quantidade, do estado de</p><p>decomposição e da ancoragem de fitomassa residual de soja.</p><p>Também, deve-se considerar o arraste de nutrientes das áreas de SD/PD, uma vez</p><p>que as perdas de solo e água são reduzidas; entretanto, ainda ocorrem perdas nesta técnica</p><p>de manejo, e a concentração de nutrientes na superfície do solo é maior do que a no manejo</p><p>com preparo do solo (Hernaru et ai., 1999; Bertol et ai ., 2004).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>,</p><p>XVII - PRÁTI CAS C ONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA AGUA 557</p><p>Figura 18. Semead ura direta sem preparo prévio do solo em Argissolo de textura média/ argilosa</p><p>sobre palha de milho.</p><p>Fonte: Foto dos au tores.</p><p>Operações de preparo do solo, subsolagem e controle da compactação</p><p>As operações de preparo do solo, subsolagem e con trole de tráfego têm papel</p><p>fw1d arnental no controle da erosão híd rica, wna vez que a com pactação do solo em</p><p>subsuperfíc ie e na superfície tem sido a causa principal da formação de processos erosivo</p><p>em entressulcos e em sulcos.</p><p>Urna das fom1as comuns de fo rmação de camadas compactadas (pé-de-arado ou pé</p><p>de-grade) é a utilização de equipamentos de preparo com d iscos. Além da incorporação</p><p>d a fitomassa residual, o que reti ra a proteção da superfície, a elevação do número de urna</p><p>operação de preparo pode resultar em aumento da erosão, como apresentado no quadro 6.</p><p>As perdas de solo aumentam quan do são feitas d uas operações por ano, em</p><p>comparação a uma operação por ano, quando utilizados os arados de d isco e grade pesada</p><p>pa ra o preparo. Constatou-se, nesse caso, o início de uma camada compactada de 10 a</p><p>20 cm . No ta-se que, de forma contrária, a semeadura direta se beneficia do a umento do</p><p>número de cultivo no ano, com maior redução nas perdas por erosão.</p><p>O planejamento das operações de preparo e do tráfego de máquinas e implementas</p><p>d eve ser realizado de forma a não impactar a superfície do solo, ev itando a formação de</p><p>camad as compactadas. Inclui-se aqui a importància da adoção de controle de tráfego e,</p><p>a inda, d a inserção de operações de escari.ficação e subsolagem, caso o histórico de uso e</p><p>ma nejo da área tenha resultado em camadas compactadas.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>558 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>Quadro 6· Perdas de terra e água por erosão cm razão de d iferentes equipamentos para preparo do</p><p>solo e semeadura direta em sisten1as com um cultivo (milho/pousio) e dois cultivas</p><p>(soja/ aveia) por ano, em Latossolo Vermelho com 6% de declive, Campinas, SP</p><p>Cultivos Escarificador Arado de discos Grade pesada</p><p>Perdas de terra, t ha·1</p><p>milho/ pousio(ll 3,5 6,3 4,4</p><p>soja/ aveiar.1 3,4 7,7 9,0</p><p>Perdas de água, mm</p><p>mfülO/ pousiof1l 37 68 47</p><p>soja/ aveiaf2l 40 93 110</p><p>(1) uma operação de preparo do solo por ano. (2) duas operações de preparo do solo por ano.</p><p>Fonte: Dados dos autores.</p><p>Semeadura direta</p><p>1,7</p><p>1,0</p><p>25</p><p>13</p><p>A inclusão de operações de escarificação e de subsolagem no manejo pode resultar</p><p>em aumento da infiltração de água e redução das perdas de solo e água por erosão. Este</p><p>feito está associado a alterações nos atributos físicos da camada superficial do solo e nas</p><p>propriedades da superfície, como a rugosidade. Volk e Cogo (2014) observaram que a</p><p>rugosidade superficial do solo, criada pela operação de escarificação, retardou o início da</p><p>enxurrada e aumentou a infiltração de água, reduzindo a perda de água por erosão.</p><p>Práticas de caráter mecânico</p><p>As práticas conservacionistas de caráter mecânico são aquelas em que se recorre a</p><p>estruturas artificiais por meio de movimentação de terra com os objetivos de redu zir a</p><p>velocidade de escoamento da enxurrada e facilitar a infiltração da água no solo.</p><p>Basicamente, estas práticas aumentam a rugosidade da superfície do solo, retendo e</p><p>conduzindo a água em excesso de forma lenta, evitando a desagregação e o transporte do</p><p>solo, de forma a não causar mais erosão.</p><p>As práticas mecânicas mais utilizadas são a distribuição de estradas e carreadores,</p><p>cultivo em contorno com semeadura em nivel, aleiramento da fitomassa cultural residual</p><p>em nível, terraceamento, canais escoadouros e canais divergentes, sulcos de infiltração e</p><p>diques em pastagens, cordão de pedra em contorno, mulching vertical, caixas de retenção</p><p>ou pequenas barragens e embaciamento.</p><p>As práticas mecânicas que têm como objetivo a condução das águas de superfície,</p><p>algumas vezes chamadas de práticas complementares, são também importantes</p><p>componentes do planejamento conservacionista de urna propriedade agrícola.</p><p>Distribuição de estradas e carreadores</p><p>o traçado dos carreadores deve considerar a topografia do terreno, colocando-os ao</p><p>máximo seguindo a linha de nível do terreno, e são distribuídos levando-se em consideração</p><p>a necessidade de mecanização da cultura e do transporte dos insumos e produtos colhidos.</p><p>MANEJO E C ONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTI CAS CON SERVACI ONISTAS DO SOLO E DA AGUA 559</p><p>Nas á reas rurais, observa-se que os processos erosivos mais intensos, com fo rmação</p><p>d e sulcos profundos e voçorocas, geralmente são decorrentes de estradas e carreadores</p><p>mal loca li zados, fazendo com que a água dél enxurrnda se acumule em grande volume em</p><p>determinados pontos do terreno.</p><p>Entretanto, se adequadamente locadas e dimensionadas, as es tradas ru rais podem</p><p>se tornar importantes práticas de controle das perdas de solo e água por erosão hídrica.</p><p>Seguindo o apresentado em Bublitz e Campos (1992), as estradas não podem se constituir</p><p>em locais de armazenagem e condução de enxurrada, ou seja, a enxurrada não deve ser</p><p>orientada a escoar pelo leito das estradas e carreadores.</p><p>Assim, estradas e carreadores devem es tar localizados preferencialmente nos djvisores</p><p>de água, nas cotas mais elevadas do terreno, de maneira a d ivid ir as águas, orientando-a</p><p>de um lado e de outro para as áreas de lavoura. A conformação idea l de estradas rurais é</p><p>aquela em que o leito é levemente abaulado e suavizado, com uma incl inação transversal</p><p>variando de 3 a 6 cm m·1 do centro para as laterais do leito e com uma incl inação no talude</p><p>lateral de no máximo 12 cm m·1. Esse abaulamento do leito da estrada tem o objetivo de</p><p>evitar o acúmulo de água no centro da pista da estrada.</p><p>Ressalta-se que a água proveniente das estradas não pode causar erosão nas áreas</p><p>marginais e tão pouco nas áreas agrícolas adjacentes. Por isso, a condução da enxurrada</p><p>deve ser feita por meio de estruturas mecânicas denominadas, de forma abrangente, de</p><p>sangradouros. Estas estruturas têm diversas denominações, corno vírgulas e bigodes, que</p><p>variam conforme o tipo de construção e a região, e podem estar associadas a lombadas no</p><p>leito das estradas, utilizadas para diminuir a velocidade e conduzir a enxurrada (Figura 19).</p><p>As lombadas são construídas transversalmente no declive do leito da estrada. A altura</p><p>máxima da lombada deverá ser de 40 cm, após a compactação. ormalmente, o volume de</p><p>solo utilizado em uma lombada antes da sua compactação é cerca de 1,3 vez o volume de</p><p>uma lombada compactada. A largura da lombada deverá ser igual à largura da estrada, e</p><p>o seu comprimento poderá variar de acordo com o declive e de forma que não dificulte ou</p><p>limite o trânsito dos veículos. De modo geral, quando a declividade do terreno no leito da</p><p>estrada for 6 %, projetar 50 % do seu comprimento a montante e os outros 50 % a jusante</p><p>da lombada; e quando a declividade do terreno no leito da estrada for de 6 a 10 %, projetar</p><p>30 % do seu comprimento a montante e os outros 70 % a jusante da lombada.</p><p>Os sangradouros conduzem a enxurrada proveniente das estradas para os terraços e</p><p>para as bacias de retenção, utilizados para armazenar e infiltrar a água das estradas e dos</p><p>carreadores, ou para outras estruturas de terra ou alvenaria, corno escadas hidráulicas,</p><p>por exemplo. Nos sistemas de conservação do solo com terraços, o intervalo entre os</p><p>sangradouros e as lombadas das estradas são um múltiplo do espaçamento entre terraços,</p><p>para facilitar a distribuição das estruturas e parcelar o excesso de enxurrada no terreno.</p><p>As estradas internas ou de acesso às lavouras, quando mal locadas ou danificadas pela</p><p>erosão híd~ica e pelos trabalhos_ de manutenção, de_vem ser recupera das. A recu peração</p><p>deve ser feita de modo a regularizar e preencher o leito e elevar o seu nível, suavizando os</p><p>taludes e abaulando e suavizando o leito.</p><p>A r~~ari~ação e o preenchimento do leito da estrada deverão ser feitos em segmen tos</p><p>onde existirem megular1dades na estrada que comprometam o tráfego. orrnalrnente, este</p><p>trabalho é realizado com motoniveladoras com escarificador, carro-tanque dis tribuidor</p><p>de água, grade de discos e rolos compactadores tipo pé-de-carneiro, liso-vibratóri e</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>560 ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>pneum tico. preenchimento do leito da eslTada deve elevar o seu nível àquele que a</p><p>eslTada apre-enlava quando d a sua construção. De se modo, obtém-se a suavização dos</p><p>taludes com o m ínimo de corte lateral e movi,ncnto de terra dos mesmos.</p><p>. . ~uavi zil _ão dos ta ludes laterais da estrada tem o objetivo de estabilizilr as barrancas,</p><p>dmu!~umdo o n sco de desli zarnento do solo em massa para denh·o do leito da esh·ada por</p><p>oca iao da chuvas. Além disso, esta prática permite integrar as obras de conservação do</p><p>solo da e trada com as da lavoura.</p><p>Figura 19. Estrada rural com lombadas no leito e estrutura para condução da água da enxurrada para</p><p>o sistema de terraceamento da lavoura de citros.</p><p>Fonte: Foto d os autores.</p><p>Cultivo em contorno com semeadura em nível</p><p>Esta prática consiste em dispor as fileiras de plantas e executar todas as operações de</p><p>cultivo no sentido transversal ou em contorno em relação à pendente, em curvas de nível</p><p>ou em gradiente.</p><p>Cada fileira de planta, pequenos sulcos e camaU1ões de terra que as máquinas deixam</p><p>na superfície do terreno constituem-se em obstáculos que se opõem ao percurso livre da</p><p>enxurrada, diminuindo sua velocidade e capacidade de arrastamento.</p><p>Quando a semeadura em nivel é usada isoladamente, sem nenhuma outra prática,</p><p>em terrenos de topografia acidentada, ou em regiões de chuvas intensas, ou em solos</p><p>de grande erodibilidade, há aumento do risco de formação de sulcos de erosão porque</p><p>as pequenas }eiras rompem-se e soltam a água que estava acumulada, e o volume de</p><p>enxurrada aumenta em cada leira sucessiva causando prejuízo acumulativo (Lombardi</p><p>eto e Drugowich, 1994).</p><p>o cultivo em contorno apresenta eficácia máxima de aproxjmada.mente 50 % na redução</p><p>da erosão hídrica na faixa de declive entre 3 e 8 cm m-1 (Wischrneier e Smith, 1978; Luciano et</p><p>aL, 2009; Barbosa et al., 2010). Além disso, a eficácia desta prática ocorre no comprimento de</p><p>rampa máximo de 122 m em preparo convencional (Wischrneier e Smüh, 1978).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 561</p><p>Is to é explicado pelo fato de que, na m d ida em que aum nta o comprimento da ~ampa,</p><p>aumentam-se o volume e a velocidade da enxurradzi superficial, aca rretando o rompimento</p><p>das barreiras formadas pelas marcas do preparo e culti vo na superfície d olo. No entanto.</p><p>fatores como tipo de solo e declividade do terreno modificam sua efetividade.</p><p>Entre as práticas mecânicas mais simples, o cultivo em nível é efe ti vo no contro le</p><p>da erosão e proporciona maior facilidade e eficiência no es tab lecimento de outras</p><p>práticas com base na orientação em nível, como cultivo em fai xas cordões de veoetação</p><p>permanente, por exemplo.</p><p>Considera-se que tanto o preparo do solo quanto a semead ura em nível não elevam</p><p>o custo de produção, pois não requerem nenhum investimento adicional. Lombardi ·eto e</p><p>Drugowich (1994) apresentaram dados indicando uma economia de 9,4 % no consumo de</p><p>combustível e de 12,8 % no tempo gasto na operação, quando utilizado o cultivo em nível.</p><p>Enb.-etanto, o cultivo em nível vem sendo abandonado em diversas regiões, com o</p><p>objetivo principal de aumentas o rendimento operacional das operações mecanizada ,</p><p>associado à retirada de sistemas de terraceamento em nível. A utilização de manejo</p><p>conservacionistas, com implantação adequada e efetivo controle da desagregação e</p><p>aumento da infiltração da água no solo, permite fazer o cultivo sem seguir perfeitamente</p><p>as curvas de nível, mas certamente a orientação das linhas de semeadura no sen tido do</p><p>declive deve aumentar a ocorrência de erosão.</p><p>Enleiramento da fitomassa cultural residual em nível</p><p>O enleiramento em nível surgiu como alternativa à queima de fitomassa cultural</p><p>residual que era feita antigamente. Esta fitomassa era arrastada para uma linha nivelada do</p><p>terreno onde era deixada para decomposição, permitindo o crescimento de uma vegetação</p><p>espontânea que, além de cobrir o solo, representa um obstáculo para o escoamento</p><p>superficial e condiciona todas as outras operações em nível.</p><p>Em geral, pode ser utilizado em áreas de relevo acidentado e áreas menos tecnificadas</p><p>e indicado para áreas de corte ou substituição de culturas perenes como citros e café</p><p>(Lombardi Neto e Drugowich, 1994).</p><p>Atualmente, tem sido adotado no manejo da cana-de-açúcar em despalha a fogo,</p><p>como forma de facilitar a brotação das soquei.ras, resultando em prática auxiliar no controle</p><p>da erosão (Figura 20).</p><p>Terraceamento</p><p>Os terraços são utilizados para reduzir a erosão em entressulcos e em sulcos, pre eni ndo</p><p>a formação de sulcos profundos e voçorocas. Esta prática se aplica especialmente quando,</p><p>ainda que a superfície do solo esteja protegida e práticas para melhorar a infiltração de</p><p>água tenl1am s_ido adotadas, h~ p_rodução de grande volume de enxurrada, principalmente</p><p>por causa do tipo de solo, decl1v1dade ou grande comprimento das vertentes.</p><p>A eficiência de terraços no controle de erosão em muitas áreas agrícolas e O estímulo</p><p>à construção de terraços por programas governamentais de controle da ero ão reforçaram ,</p><p>ao longo do tempo, a ideia de que os terraços, utilizados isoladamente, promo iam a</p><p>conservação do solo.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>562 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>Figura 20. Enleiramento da palha da cana-de-açúcar na entrelinha da cultura seguindo o nivel do</p><p>terreno.</p><p>Fonte: Foto dos autores.</p><p>O uso do terraceamento, que se iniciou no Brasil na década de 1930, teve grande</p><p>difusão entre 1950 e 1990. Em São Paulo, em 1939, a primeira organização governamental</p><p>de conservação do solo para assistência aos produtores rurais foi denominada Serviço de</p><p>Terraceamento, oferecendo técnicos e implementes para a construção de terraços nas áreas</p><p>agrícolas (Bertoni e Lombardi Neto, 1990).</p><p>Entre 1949 e 1970, o Departamento de Engenharia Mecânica da Agricultura (DEMA) e,</p><p>posteriormente, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CA TI), com o Programa</p><p>de Microbacias Hidrográficas, orientaram sistematicamente a construção de terraços. Esta</p><p>mesma orientação e a implantação de terraceamento nas áreas rurais para o controle da</p><p>erosão ocorreu por todo país, especialmente nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, nos</p><p>cultives de grãos e cana-de-açúcar.</p><p>Embora a eficiência dos terraços no controle das perdas de água e de terra possa</p><p>ser bastante elevada, apenas os terraços em si não são suficientes para evitar a erosão,</p><p>principalmente se o excesso de água ficar concentrado em determinados locais na paisagem.</p><p>Um exemplo típico da necessidade de urn planejamento conservacionista completo</p><p>da área são os sulcos profundos de erosão, algumas vezes ravinas e voçorocas, comumente</p><p>observados em carreadores paralelos às divisas de propriedades, inadequados para a</p><p>condução do excesso de água retido pelos terraços.</p><p>O terraceamento é uma prática conservacionista composta por um conjunto de</p><p>terraços e, muitas vezes, pelo conjunto de terraços e canais escoadouros. O terraço é uma</p><p>obra hidráulica definida pelo conjunto de um canal a montante e de um dique a jusante</p><p>no declive, construído em contorno, podendo ser em nível ou em gradiente, de maneira a</p><p>interromper o livre escoamento da água na superfície do solo.</p><p>A principal função do terraço é parcelar o comprimento da rampa, evitando que o</p><p>escoamento superficial aumente em volume e velocidade. Assim, as principais vantagens</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>'</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSE RVACIONISTAS DO SOLO E DA A GUA 563</p><p>do terraço são: armazcm1r água e sedimentos no cana l, no caso do t rraços de infiltração;</p><p>e conduzir a água e parte dos sedimentos para fo ra da la voura, no cas? dos te rraç~</p><p>de drenagem. Além disso, os terraços servem como orientação para realiza r as demat</p><p>operações de manejo no declive.</p><p>Tipos de terraços</p><p>Os terraços apresentam variações em sua forma, dependendo das condições locais</p><p>(clima, solo, declive, sistema de manejo e cultura) e da dis ponibilidade de máquinas e</p><p>implementas para sua construção e manutenção, de forma a atender as condições</p><p>específicas de cada lavoura ou empresa agrícola.</p><p>Considerando estas variáveis, os terraços podem ser classificados de acordo com</p><p>a função, o modo de construção, a largura da faixa de movimento de terra para a sua</p><p>construção e a forma do perfil.</p><p>Diferentes implementas estão disponíveis para a construção de terraços, como</p><p>os arados de tração animal ou mecânica, de disco ou aiveca, fixos ou reversíveis, as</p><p>motoniveladoras ou patrol, as escavadeiras hidráulicas, as lâminas e pás carregadeiras e</p><p>os terraceadores. Em razão do implemento escolhido para a construção do terraço, podem</p><p>ocorrer variações quanto à construção ou forma dos tipos apresentados.</p><p>Terraços quanto à função</p><p>Os terraços podem interceptar e disciplinar o escoamento superficial ou reter a água</p><p>para promover sua infiltração no solo. Dessa forma, distinguem-se dois tipos de terraços:</p><p>terraços em desnível ou de drenagem e terraços em nível, de infiltração ou de absorção</p><p>(Figura 21) .</p><p>Os terraços em desnível ou de drenagem, construídos com gradiente, tem a função</p><p>de interceptar e escoar o excesso de água da enxurrada que se forma entre os terraços. É</p><p>indicado para solos com permeabilidade moderada ou lenta, que não tenham capacidade</p><p>de infiltrar a água de uma chuva antes da ocorrência da próxima chuva.</p><p>Este tipo de terraço está sempre associado a canais escoadouros, naturais ou artificiais,</p><p>com a função de conduzir disciplinarmente a água das chuvas que excedem a capacidade de</p><p>infiltração de água no solo. Estes terraços podem ser construídos com gradiente cons tante</p><p>ou progressivo.</p><p>Em caso do gradiente constante, mantém-se o mesmo caimento (declividade) ao longo de</p><p>toda a extensão do canal do terraço. No caso do gradiente progressivo, aumenta-se O caimento</p><p>( declividade cada vez maior) ao longo da extensão do canal do terraço. Existe um valor máximo</p><p>de gradiente recomendado para os terraços em desnível, em tomo de 0,6 cm m·1, para que 0</p><p>escoamento da água não tenha velocidade elevada a ponto de provocar erosão no canal do</p><p>terraço, restringindo-se também seu comprimento.</p><p>Os terraços em nível ou de infiltração, também denominados de terraços de absorç- 0 ,</p><p>são construidos em nível e têm a função de interceptar e reter a água para posterior</p><p>infiltração. Em regiões de escassez de chuvas, esses terraços podem ser utilizado para</p><p>armazenar as águas pluviais para posterior aproveitamento pelas culturas. En tretanto, em</p><p>climas de chuvas intensas, em regiões tropicais e subtropicais, os terraços em ni e l não</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>564</p><p>lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL .</p><p>podem é\T~1azenar a e gua por longo período para que sua capacidade não seja superada</p><p>p~la_ p~óximas chuvas, re ultando em rompimento e formação de sulcos de erosão. Assim,</p><p>~a~ mdi~ados para solos que apresentem alta permeabilidade, possibilitando uma rápida</p><p>mfiltraçao da água a té camadas mais profundas do solo.</p><p>Figura 21. Terraços de infiltração (a) armazenando água após chuva intensa; e terraços de drenagem</p><p>(b) orientando a enxurrada para canal escoadouro.</p><p>Fonte: Foto dos autores.</p><p>Esses terraços podem ser construídos com as extremidades fechadas ou abertas. No</p><p>caso das extremidades fechadas, deverão armazenar toda a enxurrada e os sedimentos</p><p>gerados entre os terraços. No caso das extremidades abertas, os terraços armazenam a</p><p>água e os sedimentos</p><p>que chegam, mas parte pode sair pelas extremidades abertas que</p><p>funcionaT11 como comportas nas chuvas extremas. Nesse caso, o risco de rompimento dos</p><p>diques é menor, mas é necessáTio que sejam construídas estruturas adequadas de condução</p><p>da água de forma seguTa, sem causar erosão em outras glebas, carreadores, estradas e</p><p>grotas.</p><p>A decisão sobre a escolha do tipo de terraço, de infiltração ou de menagem deve ter</p><p>corno base, principalmente, os atributos físicos que determinam a permeabilidade da água</p><p>no perfil do solo.</p><p>Portanto, é importante conhecer textura, estrutura, profundidade e permeabilidade</p><p>das camadas superficial e subsuperficial do solo. Para a escolha de terraços de infiltração,</p><p>os solos devem ser profundos e permeáveis. No entanto, outras variáveis que condicionam</p><p>a formação de pequeno volume de enxurrada, como intensidade e distribuição da</p><p>precipitação, declividade e comprimento dos terraços, também devem ser consideradas, de</p><p>forma que volume de enxurrada possa ser totalmente armazenado no canal dos terraços,</p><p>sem risco de rompimento deste.</p><p>Terraços quanto ao modo de construção</p><p>Na construção dos terraços para a formação do canal e do dique, a movimentação</p><p>de terra por ser feita de duas maneiras diferentes, dando origem a dois tipos de terraços:</p><p>ichols e Mangum.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>,</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA AGUA 565</p><p>O terraço tipo Nichols (Figurn 22) é construído cortando-se a terra e movim ~tando-a</p><p>sempre de cima para baixo, de forma que a terra usada pélra formar o clique é rehrada da</p><p>parte s uperior do declive, local onde vai ficar o canal do terraço.</p><p>Este tipo de terraço apresenta um Célnal aproximadamente triangular e com ~ase</p><p>estreita pela limitação da técn ica construtiva, sempre tombando a terra apenas para baixo.</p><p>Pode ser utilizado em terrenos com declive mais acentuado, sendo recomendado pa ra</p><p>áreas com declividades entre 1.6 e 18 cm m·'.</p><p>A técnica construtiva, em razão da limitação na operacional ização das máquinas e</p><p>nos equipamentos usados, limita ampliar a largura do cannl, e o implemento de melhor</p><p>rendimento é o arado reversível.</p><p>O terraço tipo Mangum (Figura 23) é construído movi mentando a terra de uma faixa</p><p>mais larga, tombando a terra de cima para baixo e de baixo para cima, ora em um sentido</p><p>e ora em outro, alternadamente, em passadas de idas e voltas do implemento. São terraços</p><p>com canal aproximadamente trapezoidal ou parabólico e, como a técnica construtiva</p><p>permite, apresentam canais mais largos e mais rasos que o tipo ichols, formando terraço</p><p>de base média ou larga.</p><p>Pode ser construído com implementas fixos ou reversíveis e, por causa da facilidade</p><p>de operacionalização das máquinas e equipamentos, é utiLizado em terrenos com declive</p><p>suave, de até 16 cm m-1.</p><p>Terraços quanto à faixa de movimentação de terra</p><p>Considerando a dimensão do terraço, ou seja, a faixa de movimentação de terra, os</p><p>terraços podem ser classificados em base estreita, base média e base larga.</p><p>Os terraços de base estreita são construídos em uma faixa de movimentação de terra</p><p>em geral menor do que 3 m, incluindo o dique e o canal. Estes também são conhecidos como</p><p>"cordões de contorno" ou "curvas de nivel", quando em nivel, podendo ser construídos</p><p>com ferramentas manuais, tração animal ou mecânica, utilizando a técnica de construção</p><p>Nichols.</p><p>Como a faixa de movimentação de terra é estreita, o dique apresenta maior a ltura</p><p>para a formação do canal do terraço, não permitindo a mecanização, o que pode re ultar</p><p>em uma perda de 8 a 10 % da área de lavoura. O cultivo sobre a faixa do terraço só pode</p><p>ser feito com ferramentas manuais.</p><p>Estes terraços são usados em condições em que não seja possível construir terraços de</p><p>base média ou larga. Seu uso ma.is comum é em lavouras com culturas perenes, lavouras de</p><p>pequena extensão e terrenos inclinados, normalmente em declives superiores a 16 cm m ·1_</p><p>Já os terraços de base média são construídos em faixas de movimentação de terra</p><p>com largura entre 3 e 6 m, incluindo o dique e o canal, utilizando as técnicas ichols ou</p><p>Mangum.</p><p>Normalmente, são utilizados em declives entre 10 e 16 cm m-1 e podem ser cultivados</p><p>na m aior parte da sua extensão, resultando em perdas de 2 a -l % do total da área cultivada.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>566 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>___ I</p><p>i</p><p>_[</p><p>+</p><p>L --- l</p><p>l -.....</p><p>Tonaçoembutldo</p><p>Figura 22. Terraço tipo Nichols. Diagrama CA 11/SAA.</p><p>1 -::::::</p><p>___ I</p><p>1</p><p>- ----- ------·- --, ---- - - ,--</p><p>1</p><p>Terraço 111 latlll pa1unta</p><p>figura 23. Terraço tipo Mangum. Diagrama CATI/SAA.</p><p>1</p><p>1</p><p>!</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 567</p><p>Os terraços de base larga são construídos em faixas de movimentação de terra com</p><p>largura entre 8 e 12 m, incluindo o dique e o canal, utilizando a técnica Mangum, formando</p><p>um canal trapezoidal ou parabólico. É utilizado em lavouras de grande ex tensão, em</p><p>terreno suave ondulado, com declives entre 6 e 12 cm m·1• Como a altura do dique e a</p><p>profundidade do canal são baixas, 0 terraço pode ser cultivado em toda a sua extensão</p><p>e normalmente não há perda de área da lavoura. A vantagem do cultivo em área total</p><p>inclui a facilidade de manutenção deste terraço e o controle de plantas infes tantes, pragas</p><p>e doenças que encontram abrigo nas faixas de terraços não cultivados.</p><p>Terraços quanto à forma do perfil</p><p>Classificam-se também os terraços quanto à forma do seu perfil, sendo as duas</p><p>principais o terraço comum e o terraço em patamar.</p><p>O terraço comum é aquele construído de terra, composto de um canal e um dique,</p><p>com as características descritas nos itens anteriores. Normalmente, é utilizado em áreas</p><p>agrícolas que apresentam declividades inferiores a 18 cm m·1• Os terraços comuns,</p><p>dependendo da forma de construção, podem apresentar variações originando os terraços</p><p>embutido, embutido invertido e leirão ou murundum.</p><p>O terraço embutido é, em geral, um terraço de base estreita do tipo Nichols, construído</p><p>de modo que o canal tenha forma triangular, ficando o talude que separa o canal do dique</p><p>praticamente na vertical. Este terraço tem grande estabilidade e pequena área inutilizada</p><p>para o cultivo, construído com motoniveladora ou trator com lâmina.</p><p>Utiliza-se, também, como forma de perfil, o terraço embutido invertido. É denominado</p><p>invertido por de ser um terraço do tipo Nichols. Para sua construção, ao invés de</p><p>movimentar a terra no sentido do declive para a formação do talude, tomba-se a terra de</p><p>baixo para cima, resultando em um talude posterior inclinado e abrupto.</p><p>É utilizado em situações de declive intermediário, entre 10 e 18 cm m·1, e permite</p><p>o plantio da cultura até o canal formado. Mobiliza uma grande área da superfície e,</p><p>principalmente nos solos de textura média e arenosa, apresenta risco de solapamento do</p><p>talude pelo turbilhonamento da água que extravasa, eventualmente, pelo carnalhão.</p><p>O terraço murundum é construído com trator de lâmina, pá carregadeira ou escavadeira</p><p>hidráulica, movimentando grande volume de terra, formando um dique alto, até 2 m de</p><p>altura, e um canal com forma triangular. São terraços não recomendados para a maioria das</p><p>situações, pois têm custo elevado, dificultam o trânsito de máquinas, acumulam um volume</p><p>muito grande de água e têm menor estabilidade, aumentando o risco de desmoronamento.</p><p>Os terraços em patamar são constituídos de uma plataforma, onde são implantadas</p><p>as culturas, e de um talude, que deve ser estabilizado por vegetação, construído</p><p>transversalmente à linha de maior declive, ou seja, em nível.</p><p>A imagem mais conhecida deste tipo de terraço é aquela com terraços de irrigação,</p><p>onde a água é armazenada na plataforma do terraço, utilizados principalmente para 0</p><p>cultivo de arroz irrigado, no sudeste asiático.</p><p>É uma estrutura recomendada para terrenos muito inclinados, com declividade acima</p><p>de 18 cm m·1• A plataforma do terraço deve</p><p>ser limitada por um pequeno cordão de terra</p><p>na superfície e ter uma pequena inclinação para o interior, cerca de 0,7 cm m·1, para evitar</p><p>o escoamento da água entre terraços sucessivos ou para armazenar a água.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>,-</p><p>568</p><p>lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>a construção do terraço em patamar, 0 talude para o corte pode variar de 1:2,5</p><p>at 1_:4,_ en~uanto para o aterr e te valor pode variar de 1:1,5 até 1:1,8, dependendo da</p><p>con istencia do olo. O espa ·amento vertical enh·e os terraços é calculado do mesmo modo</p><p>que para s demai tipos de terraços. O terraço em patamar é uma prática de controle da</p><p>erosão, ma também facilita as operações agrícolas, sistematizando o terreno.</p><p>E~t: terraço, considerando o alto custo de implantação, só é viável economicamente</p><p>em regioes onde há pequena disponibilidade de terras com baixa declividade, para culturas</p><p>de alto rendimento e em situações em que não é viável implantar outros tipos de terraços.</p><p>J~stificar-se-ia apenas para implantaT culturas perenes de grande valor econômico, como</p><p>'mhedos, maçãs, outras frutíferas e cafezais, com um terraço patamar para cada linha de</p><p>plantas, em regiões restritas.</p><p>A banqueta individual ou patamaT descontínuo é também uma variação do terraço</p><p>em patamar, que consiste em um patamar circular, ao redor de uma planta, normalmente</p><p>uma frutífera perene. A banqueta individual é recomendada para locais onde há grande</p><p>limitação para mecanização, como em terrenos com pedras ou afloramentos rochosos,</p><p>com alta declividade ou com deficiência de máquinas e equipamentos, e é construída</p><p>manualmente. Faz-se um corte em meia-lua no lado de cima do declive e joga-se a terra</p><p>para o lado de baixo, de modo a formaT uma banqueta no local onde a planta será ou já está</p><p>plantada. A banqueta normalmente é inclinada para o lado inverso do declive natural do</p><p>terreno, como no terraço patamar, de maneira a armazenar a água sobre ela.</p><p>Espaçamento entre terraços</p><p>Para que um sistema de terraceamento funcione adequadamente, é necessário un1</p><p>correto dimensionamento, tanto na definição do espaçamento entre terraços corno no</p><p>cálculo na sua seção transversal.</p><p>O espaçamento entre terraços depende dos fatores que controlam o escoamento</p><p>superficial, como a cobertura do solo, o tipo de solo e a qualidade dos atributos físicos do</p><p>solo decorrentes do manejo. São estes fatores que determinam quanto da água da chuva</p><p>infiltra no solo e quando escoa pela superfície.</p><p>Há também os fatores que interferem no espaçamento entre os terraços; entre estes</p><p>estão a conformação do relevo e as máquinas e os implementas disponíveis. Depois de</p><p>definido, o espaçamento entre terraços pode ser ajustado, considerando o manejo da área</p><p>nos cultivas seguintes, de forma a acomodar e facilitar o tráfego das máquinas que serão</p><p>utilizadas, permitir uma locação mais adequada ou tomar os terraços paralelos, tanto</p><p>quanto possível, e adequar o sistema para facilitar a condução da água. Este ajuste do</p><p>espaçamento deve atender critérios rígidos para não comprometer os objetivos dos terraços</p><p>de quebrar a velocidade da água e de condução da enxurrada.</p><p>o espaçamento entre terraços é definido pelo espaçamento horizontal e espaçamento</p><p>vertical, conforme apresentado na figura 24.</p><p>Para determinar o espaçamento vertical entre terraços, existem diversos métodos,</p><p>tabelas e equações. As recomendações para dimensionamento de terraços utilizam</p><p>principalmente O declive e a textu~a do ~oi~, arenoso o_u argiloso, para definir o espaçamento</p><p>vertical, considerando também a influencia do maneJo, como a equação de Bentley:</p><p>EV = [2 + (D/X)] 0,305 (1)</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>I</p><p>XVII - PRÁTI CAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA AGUA 569</p><p>em que EV é o espaçamento vertical entre os terraços; D, a decl ividade do terren em</p><p>cm m -1; e X, a influência cio tipo de solo em razão da resistência do solo à e rosão (Q uadro 7).</p><p>Infiltração</p><p>Infiltração</p><p>Figura 24. Perfil apresentando esquematicam ente um sis tema de terraceamento, indicando o</p><p>espaçamento horizontal (EH) e o espaçamento vertical (EV) entre os terraços.</p><p>Evidentemente, declive e textura do solo são dois fa tores importantes no controle</p><p>da erosão, mas apenas a textura não é suficiente para especificar o comportamento</p><p>hidrológico do solo, que vai determinar a taxa de infiltração e permeabilidade do solo e,</p><p>consequentemente, a formação da enxurrada.</p><p>Solos arenosos têm taxa de permeabilidade elevada, entretanto, a lguns argissolos de</p><p>textura arenosa apresentam gradiente textural abrupto. Nesse caso, a infiltração de água</p><p>é reduzida e maior volume de enxurrada é formado. Portanto, nesse caso, os terraços</p><p>deveriam ficar mais próximos ou ter sua seção transversal aumentada para reter a água_</p><p>A equação para determinar o espaçamento entre terraços apresentada por Lombardi</p><p>Neto et al. (1991) calcula o espaçamento vertical em razão do grupo hidrológico do solo, do</p><p>declive e do uso e manejo:</p><p>EV = 0,4518 K D (o,sai (u+m)/2 (2)</p><p>em que K refere-se ao tipo de solo, D é o declive do terreno em cm m-1, ué o tipo de uso ou</p><p>cultura e m é o manejo do solo.</p><p>Os tipos de solo (K) são agrupados em razão de propriedades hidrológicas e</p><p>resistência à erosão (Quadro 8). Os fatores importantes para definir o grupo hidrológico</p><p>são a profundidade e a permeabilidade. Em solos profundos, com permeabilidade rápida</p><p>e textura argilosa, a resistência à erosão é mais alta e é menor a formação da enxurrad a,</p><p>podendo-se, dessa forma, espaçar mais os terraços. Para definir a resistência à erosão</p><p>considera-se também a agregação do solo, normalmente maior em solos de textur~</p><p>a rgilosa.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>570 ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>Quadro 7. Valores de X para ser utilizado na fórmula de Bentley, de acordo com o nível de resistência</p><p>do solo à erosão (RSE)</p><p>Prática</p><p>Cultura</p><p>Locação</p><p>RSE</p><p>Perene</p><p>Gradjente</p><p>Alta</p><p>Média</p><p>Bruxa</p><p>Mecânicalll</p><p>Nível</p><p>Alta</p><p>Média</p><p>Baixa</p><p>Anual</p><p>Gradiente</p><p>Alta</p><p>Média</p><p>Baixa</p><p>Nível</p><p>Alta</p><p>Média</p><p>Baixa</p><p>Vegetativa e mecânica121</p><p>Perene Anual</p><p>Gradiente</p><p>Alta</p><p>Média</p><p>Bruxa</p><p>Nível</p><p>Alta</p><p>Média</p><p>Bruxa</p><p>Nível</p><p>Alta</p><p>Média</p><p>Baixa</p><p>n l Prática mecânica = Terraço. (2) Prática vegetativa e mecânica = Cordão em contorno e faixa pem1anente de retenção.</p><p>Fonte: Adaptado de Rio Grande do Sul (1985).</p><p>X</p><p>1,5</p><p>2,0</p><p>2,5</p><p>3,0</p><p>3,5</p><p>4,0</p><p>4,5</p><p>5,0</p><p>5,5</p><p>6,0</p><p>O fator de uso do solo (u) está relacionado principalmente à proteção da superfície</p><p>do solo pelas culturas. Os cultivas que produzem maior quantidade de fitomassa e que</p><p>mantêm o solo coberto por mais tempo protegem a superfície do solo contra a ação das</p><p>chuvas e da enxurrada (Quadro 9). Assim, também, cultivas com linhas mais espaçadas</p><p>urna das outras deixam o solo mais descoberto (no caso de preparo convencional) e mais</p><p>sujeito ao impacto das gotas de chuva. O sistema radicular das plantas também é um fator</p><p>considerado na classificação do valor de uso do solo.</p><p>Quadro 8. Valores de K para os grupos hidrológicos de solo considerados na determinação do</p><p>dimensionamento do espaçamento vertical entre terraços</p><p>Resistência à Prof. Permeabilidade Textura</p><p>Razão</p><p>K Grupo erosão textural<1></p><p>(m)</p><p>rápida/ rápida méilia/média argilosa/</p><p>A Alta >2 moderada/ rápida argilosa <1,2 1,25</p><p>moderada/ moderada m. argilosa/m. argilosa</p><p>rápida/ rápida arenosa/ arenosa</p><p>B Moderada 2-1 rápida/ moderada arenosa/média média/ 1,2-1,5 1,10</p><p>moderada/ lenta argilosa</p><p>moderada/ lenta arenosa/média</p><p>e Baixa 0,5-1 rápida/ moderada arenosa/ argilosa >1,5 0,90</p><p>moderada/ lenta média/ argilosa</p><p><0,5</p><p>moderada/ lenta</p><p>D Muj to baixa lenta/ lenta</p><p>variável variável 0,75</p><p>C11 Razão entre os horizontes B/ A.</p><p>Fonte: Adaptado de Lombardi Neto et al . (1991).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS (ONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA Á GUA 571</p><p>Nas á reas de cultivo perene, onde O solo é mantido coberto e as raízes contri?~e_m</p><p>para a es tabilização da estrutura do solo com maior porosidade nos horizontes superficiais,</p><p>a formação de enxurrada é menor. A cultura de cana-de-açúcar, por apresentar grande</p><p>massa vegetal, que promove a cobertura do solo por quase todo o período de cultivo, e p~r</p><p>apresentar grande massa de raízes, é considerada como uma cultura que oferece proteçao</p><p>contra a erosão.</p><p>A fase de reforma dos canaviais, entretanto, é muito crítica, com grandes áreas de</p><p>solo descoberto e sujeito à ação de chuvas torrenciais, dependendo da época do ano er:n</p><p>que a reforma é realizada. Por isso, em média, o valor deu não é tão elevado. Valores mais</p><p>elevados para ou indicam maior proteção ao solo e, portanto, terraços mais espaçados ou</p><p>com seção transversal menor.</p><p>Quadro 9. Valores do fator u para grupos de cultura, conforme a proteção que oferecem ao solo, para</p><p>determinar o dimensionamento do espaçamento vertical entre terraços</p><p>Grupo Culturas u</p><p>1 feijão, mandioca, mamona 0,50</p><p>2 amendoim, algodão, arroz, alho 0,75</p><p>3 soja, batata, melancia, leguminosas 1,00</p><p>4 milho, sorgo, cana, aveia, abacaxi 1,25</p><p>5 banana, café, citros 1,50</p><p>6 pastagens bem formadas 1,75</p><p>7 reflorestamentos, seringueira 2,00</p><p>Fonte: Adaptado de Lo mbardi Neto et al. (1991).</p><p>A equação para determinar o espaçamento entre terraços considera, ainda, as</p><p>operações mecânicas de mobilização do solo (Quadro 10), que alteram as condições da</p><p>superfície do solo.</p><p>Dados obtidos em experimentação de campo sempre confirmam o senso comum de</p><p>que o preparo do solo e a queima ou incorporação da fitomassa residual no solo por estas</p><p>operações aumentam as perdas de terra e água por erosão.</p><p>As operações agrícolas, necessárias para a correção do solo e criação de ambiente</p><p>favorável para o crescimento inicial da cultura, também rompem a estrutura do solo,</p><p>quebram agregados, liberam partículas menores que podem ser mais facilmente arrastadas</p><p>pelas águas superficiais e, principalmente, incorporam o material vegetal, que, na superfície,</p><p>ofereceria proteção contra o impacto das gotas de chuva. Estes efeitos estão diretamente</p><p>relacionados à perda de terra ou produção de sedimentos e têm impacto menor na perda</p><p>de água e formação de enxurrada.</p><p>Muitas vezes, as operações de preparo do solo criam condições favoráveis para a</p><p>infiltração de água, reduzindo, portanto, a enxurrada e, mais uma vez, consequentemente,</p><p>possibilitando maior espaçamento entre os terraços.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>572</p><p>ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>. A sim, para definir o espaçamento entre terraços, levam-se em consideração os</p><p>atnbutos do olo e o relevo e, também, 0 sistema de produção como um todo, identificando</p><p>os aspectos crítico para a formação da enxurrada, desde as operações de preparo do solo, a</p><p>cobertura do olo ao longo do ciclo, a sobreposição das épocas de solo exposto e as chuvas</p><p>torrenciais.</p><p>Quadro 10. alores do fator m para grupos de preparo e mobilização da superfície, conforme</p><p>a redução que prO\ ocam na proteção do solo, para determinar o dimensionamento do</p><p>espaçamento vertical entre terraços</p><p>Grupo Preparo primário Preparo secundário Fitomassa cultural residual m</p><p>1 GA, ER G incorporada ou queimada 0,50</p><p>2 AD, AA GN incorporada ou queimada 0,75</p><p>3 GL GN parcialmente incorporada 1,00</p><p>4 Escarificador GN parcialmente incorporada 1,50</p><p>5 Sem preparo Sem preparo na superfície 2,00</p><p>GA-grade aradora; ER=enxada rotativa; AD=arado de disco; AA=arado de aiveca; GL=grade leve; e GN=grade niveladora.</p><p>Fonte: Adaptado de Lombardi Neto et ai. (1991).</p><p>Dimensionamento de canais de terraços de infiltração</p><p>Determinado o espaçamento entre os terraços, é necessário dimensionar o tamanho</p><p>do canal que vai receber a água de enxurrada gerada entre os terraços.</p><p>Cálculo do volume de água nos terraços de infiltração</p><p>A área (A, m 2</p><p>) de captação de água do escoamento superficial é o resultado do produto</p><p>entre o comprimento dos terraços (CT, rn) e o espaçamento horizontal (EH, m) entre eles:</p><p>A= (CTEH) (3)</p><p>O CT é determinado no projeto de locação dos terraços ou medido no campo. O EH é</p><p>calculado com base no espaçamento vertical (EV, m) e na declividade da área (D, cm m-1):</p><p>EH = (EV 100)/0 (4)</p><p>O volume médio máximo de enxurrada (V, m3</p><p>) a ser armazenado no canal dos terraços</p><p>é obtido pelo produto entre a área de captação (A, m2</p><p>) e a altura máxima média da lâmina</p><p>de enxurrada que deverá escoar sobre a área de captação. A lâmina máxima é obtida pelo</p><p>produto entre a média do volume máximo de chuva (h), precipitado em 24 h no local para</p><p>um período de retomo de 10 a 15 anos, e a porcentagem do volume da chuva que escoará,</p><p>para a condição de solo e manejo estudado, ou o coeficiente de enxurrada (e). Assim, o</p><p>volume de enxurrada (V, m3) é obtido pela equação, a seguir:</p><p>V=A h c (5)</p><p>o coeficiente de enxurrada é o volume de enxurrada esperado para determinado</p><p>volume de chuva, variando, assim, entre O e 1, e dependendo de fatores como declividade</p><p>do terreno, tipo de solo, cobertura vegetal, _Preparo do solo e manejo de fitomassa cultural</p><p>residual, sendo obtido em tabelas que relac10nam estes fatores (Quadro 11) ou definido em</p><p>campo.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>.........</p><p>1</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 573</p><p>Quadro 11. Vél lores de coeíiciente de enxurrad él para solo-; cul tivados utilizatlo· para 0</p><p>dimens ionamento cios terrnços</p><p>Classe de uso e Solos121</p><p>Topografia</p><p>manejo''' A B e D</p><p>cmm-1</p><p>Alto 0,20 0,30 0,40 0,50</p><p>Plano a suave</p><p>Médio 0,30 0,40 0,50 0,60</p><p>ondulado (0-6)</p><p>Baixo 0,40 0,50 0,60 0,70</p><p>Al to 0,30 0,40 0,50 0,60</p><p>Suave ondulado a</p><p>Médio 0,40 0,50 0,60 0,70</p><p>ondulado (6-10)</p><p>0,60 0,70 0,80 Baixo 0,50</p><p>Alto 0,40 0,50 0,60 0,70</p><p>Ondulado a forte</p><p>Médio 0,50 0,60 0,70 o, o</p><p>ondulado (10-30)</p><p>0,60 0,70 0,80 0,90 Baixo</p><p>!IJ Com base nos valores para a expressão (u + m)/ 2 dos quadros 9 e 10 = Alio: valores superior~ a 1,75; :'1- l~d10 : valores entre 1,0</p><p>e 1,75; e Baixo : valores inferiores a 1,00. m Gru pos de solos d e acordo com o quaruo 8.</p><p>Fonte: Adaptado de Lombard i Neto et ai. (1991).</p><p>Para o cálculo do volume de enxurrada a ser captado pelos terraços, na semeadura</p><p>direta ou plantio direto (SD/ PD) e outros preparas conservacionistas, pode ser utilizado o</p><p>conceito do comprimento crítico de declive, segundo Foster et ai. (1982).</p><p>O comprimento crítico de declive é a distância entre o ponto (cota) mais al to no</p><p>terreno e o ponto onde o fitomassa cultural residual começa a ser removida pela ação</p><p>da enxurrada. Dados de comprimento cr ítico de declive e de coeficiente de enxurrada,</p><p>para vários tipos de solo e diversos tipos e quantidades de fitomassa cultural residual e</p><p>em semeadura direta, podem ser vistos em Berto! (1995), Morais (1999), Amaral (2010) e</p><p>Barbosa (2011), para as condições brasileiras.</p><p>A quantidade de água do escoamento entre terraços pode ser também calcu lada</p><p>pelos modelos apresentados por Pruski (1993, 2009), que determinam uma làmina de</p><p>enxurrada ou lâmina de escoamento superficial máximo (ES), correspondente ao volume</p><p>de enxurrada, de acordo com a equação:</p><p>ES =PT -Ia - I (6)</p><p>em que ES = lâmina máxima de escoamento superficial em mm; PT = precipitação to tal</p><p>máxima em 24 h, mm, Ia = precipitação que ocorre antes do início do escoamento, mm; e</p><p>I = infiltração acumulada da água no solo, mm. Os valores de Ia são discriminados pelo</p><p>método da "curva-número", que define a relação entre precipitação e enxurrada em razão</p><p>do solo e da cobertura (tipo de vegetação), podendo ser isto no capítulo 13, neste mesmo</p><p>livro. O valor de I corresponde à velocidade de infiltração básica do solo ou à taxa de</p><p>infiltração estável, com a umidade do solo próxima da capacidade de campo.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>574</p><p>ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>Cálculo da secção transversal e dimensionamento do canal do terraço de infiltração</p><p>A ecção transversal do canal do terraço (S, m2) é a área que será ocupada pela</p><p>água</p><p>durante a am1azenagem. A secção do canal dos terraços necessária para armazenar o</p><p>v~lume de ~nxurrada é obtida pelo quociente entre o volume máximo de enx~rrada (V,</p><p>m ) produzido na área de captação, calculado pelas equações 5 ou 6, e o comprimento do</p><p>terraço (CT, m):</p><p>s = (V /CT) (7)</p><p>Para terraços com canal na fonna triangular, a secção (S) é representada pela expressão</p><p>que relaciona a base (B) com a altura 01) do canal:</p><p>S = (B. h) / 2 (8)</p><p>Para terraços com canal na forma trapezoidal, a secção (S) é representada pela</p><p>expressão que relaciona a base maior (B) com a base menor (b) e com a altura (h):</p><p>S = (B + b)/ 2h (9)</p><p>Para os terraços de base estreita, a forma de construção no campo permite que se</p><p>obtenha uma secção transversal de aproximadamente 0,45 m2; para os de base média, de</p><p>aproximadamente 0,45 a 0,75 m2; e para os de base larga de, aproximadamente, 0,75 a 1,5</p><p>m2</p><p>, independentemente do comprimento do terraço.</p><p>Terraços com seções de canal maiores têm grande capacidade de armazenamento e,</p><p>com isso, menor será a probabilidade de seu transbordamento. No entanto, os com grande</p><p>capacidade de armazenamento de enxurrada apresentam riscos, e devem ser evitados, em</p><p>especial em solos com horizonte superficial com baixa agregação, como solos de textura</p><p>média ou grande quantidade de areia fina na camada superficial.</p><p>Conhecida a secção do canal do terraço necessária para armazenar um determinado</p><p>volume de enxurrada, é possível dimensionar o canal. O dimensionamento depende do</p><p>tipo de canal a ser adotado, enquanto o tipo de canal, por sua vez, depende da secção</p><p>necessária para armazenar esta enxurrada.</p><p>Quando a secção necessária é menor do que 0,45 m2, para o caso de terraços de base</p><p>estreita, o canal é triangular. No caso de a secção necessária ser maior do que 0,45 m 2, para</p><p>terraços de base média ou larga, o canal deverá ser do tipo trapezoidal.</p><p>Para canais com formato triangular, é necessário arbitrar um valor para h, que,</p><p>normalmente, é de aproximadamente 0,6 m. Para canais com formato trapezoidal, é</p><p>necessário arbitrar valores para b, h, calculando B; ou arbitrar valores para B, h, calculando</p><p>b; ou arbitrar valores para B, b, calculando h.</p><p>Dimensionamento de canais de terraços de drenagem</p><p>Cálculo da vazão máxima de água para canal em terraço de drenagem</p><p>A vazão máxima de enxurrada ( q, m3 s·1) num canal de terraço de drenagem é calculada</p><p>com base no coeficiente de escoamento (C), na intensidade máxima média de chuva (i, mm</p><p>h•l) para período de retorno (T) d~ 10 a 15 anos para o local de estudo e na área de captação</p><p>(A, ha), utilizando a Equação Racional (Ramser, 1927):</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 575</p><p>q = (C . i . A)/360 (1 O)</p><p>A área (A) é calcu lada pelo produto en tre o comprimen to dos terraços (CT, m) até 0</p><p>ponto de sa ída e o espaçamento horizonta l (EH, m) entre eles. O coeficiente de escoamento</p><p>(C), que representa a fração da precipitação que será convertida em enxurrada em razão de</p><p>fatores da superfície do terreno, é obtido em tabelas (Quadro 11 ).</p><p>A intensidade máxima média das chuvas é aquela que ocorre em um tempo igual ao</p><p>do tempo de concentração da área. Os terraços de drenagem apresentam comprimento</p><p>entre 500 e 600 m, e o gradiente poderá ir até 6 m por 1 000 m (0,6 cm m·1</p><p>), sendo mais</p><p>comum 3 m por 1 000 m (0,3 cm m·1) .</p><p>A velocidade da enxurrada no canal do terraço varia entre 0,6 e 0,75 m s·1 para que não</p><p>ocorra erosão no canal e também para que não ocorra excessiva deposição de sedimentos</p><p>no fundo do canal. Portanto, levaria de 11 a 19 min para a água percorrer do início ao fim</p><p>do terraço. O tempo médio de 15 min foi proposto como o tempo de concentração para</p><p>determinar a intensidade máxima da chuva que irá resultar na enxurrada máxima, no caso</p><p>de solo manejado com preparo convencional (Lombardi eto et ai., 1991).</p><p>As intensidades máximas de chuvas variam com o microclima em cada região e são</p><p>obtidas em mapas, tabelas e equações com coeficientes locais que relacionam intensidade</p><p>duração-frequência (Pfafstetter, 1957; Pruski et ai., 1997).</p><p>Cálculo da secção transversal para canal em terraço de drenagem</p><p>A secção necessária de um canal em terraços (S, m2) para drenar a enxurrada é</p><p>calculada pelo quociente entre a taxa máxima de enxurrada (q, m3 s·1> e a velocidade da</p><p>enxurrada no canal 0f e, m s·1), variável conforme a resistência da superfície ao escoamento</p><p>(Quadro 12):</p><p>S = (q/Ve) (11)</p><p>Em razão das alterações na seção transversal ao longo do tempo, Pruski et al. (2006)</p><p>recomendaram utilizar um coeficiente de uniformidade e um valor adicional de 0,10 m</p><p>correspondente à borda Livre de água no cálculo da altura de água da seção do canal do</p><p>terraço.</p><p>Cálculo do gradiente do canal do terraço de drenagem</p><p>O gradiente ou o desnivel que o canal do terraço de drenagem de erá apresentar ao</p><p>longo de sua extensão para a condução da enxurrada é calculado utilizando-se a fórmula</p><p>de Manning, com base na velocidade do escoamento superficial:</p><p>R 2n 112</p><p>V= g</p><p>' 'l (12)</p><p>g, = [ Ve 11/( ffe)]</p><p>(13)</p><p>em que Ve = velocidade max1ma da água no canal de terraços em solo descoberto</p><p>(0,4 m s·1); R = raio hidráulico do canal (m); g = gradiente do canal (m m·1); eh= coeficiente</p><p>de rugosidade hidráulica de Manning do canal.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>576 lSABELLA (LERICI ÜE MARIA ET AL.</p><p>Quadro 12. Velocidade da enxurrada (Ve) segura para canais de escoamento</p><p>Condição da superfície</p><p>Solo arenoso, muito solto</p><p>Areia grossa, solta</p><p>Solo arenoso</p><p>Solo franco-arenoso</p><p>Solo franco de aluvião</p><p>Solo franco-argiloso</p><p>Solo argiloso ou cascalhento</p><p>Conglomerados</p><p>Rocha</p><p>Cimento</p><p>Canais escoadouros em lavouras, solo coberto por vegetação</p><p>Canais de terraços em lavouras, solo descoberto</p><p>Fonte: Adaptado de Beasley (1972).</p><p>Velocidade</p><p>(m s·1)</p><p>0,30 - 0,45</p><p>0,45 - 0,60</p><p>0,60 - 0,75</p><p>0,75 - 0,83</p><p>0,83 - 0,90</p><p>0,90 - 1,20</p><p>1,20 -1,50</p><p>1,50 - 2,40</p><p>3,00 - 4,50</p><p>4,50 - 6,00</p><p>1,50 - 2,00</p><p>0,40</p><p>Para o cálculo do gradiente do canal (g), calcula-se o raio hidráulico (R, m), com base</p><p>na relação entre a secção do canal (S, m2) e seu perímetro molhado (Pm, m):</p><p>R = (S/Pm) (14)</p><p>O perímetro molhado (Prn, m) varia com o formato do canal, seja triangular ou</p><p>trapezoidal.</p><p>Na semeadura direta e outros manejas conservacionistas, no cálculo da taxa máxima de</p><p>enxurrada (q), o coeficiente de escoamento (C) depende de mais informações de pesquisa.</p><p>Dados desta natureza para semeadura direta em vários tipos de solo e diversos tipos e</p><p>quantidades de fitomassa cultural residual e de formas de semeadura são apresentados em</p><p>Morais (1999), Amaral (2010) e Barbosa (2011), para as condições brasileiras.</p><p>Finalizados estes cálculos, é preciso saber se a q calculada será drenada com segurança</p><p>no canal dos terraços que serão construídos. Considerar também nesse caso que a secção</p><p>máxima possível para um terraço de base larga, por exemplo, é de 1,5 m2, ou pouco maior.</p><p>Caso a q supere a capacidade de drenagem dos canais, é necessário diminuir o valor</p><p>de q inicialmente calculada e relacionada com o EH determinado com base no comprimento</p><p>crítico de declive, até que a q seja drenada com segurança nos canais dos terraços.</p><p>A diminuição de q pode ser calculada também aqui com base de que há uma relação</p><p>linear entre q e o comprimento de declive no campo, segundo Bertol (1995), Morais (1999),</p><p>Amaral (2010) e Barbosa (2011). Assim, altera-se o valor de q com base no ajuste de EH e de</p><p>acordo com a secção calculada para os canais dos terraços.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CON SERVACIONISTAS DO SOLO E DA A GUA 577</p><p>Locação dos terraços</p><p>O comprimento dos terraços se refere à sua extensão, do início até o final Para</p><p>garantir sua eficácia no controle do escoamento superficial, devem ser estabelecidos limites</p><p>de comprimento na maioria dos casos. Isto se deve ao fa to de q ue q uanto maior o seu</p><p>comprimento,</p><p>maior é o volume de água armazenada no cana l, em re lação aos terraços em</p><p>nível; e, no caso dos terraços de drenagem, mafor é a vazão e velocidade da água. P_or tanto,</p><p>nestas circuns tâncias, aumentam respectivamente os riscos de rom pimento do dique e a</p><p>erosão dentro do canal, com consequências no aumento da erosão na lavoura.</p><p>Em ocorrência dos terraços em nível com as extremidades fechadas, se estabelece um</p><p>limite de aproximadamente 150 a 200 m de comprimento par a os terraços. As extremidades</p><p>fechadas fazem com que aumente a altura da lâmina de água no canal em relação aos</p><p>de extremidade aberta. A água pode atingir urna altura crítica e, consequentemen te,</p><p>ocasionar o rompimento do dique do canal em algum ponto ao longo de sua extensão, o</p><p>que ocasionará o aumento das perdas de solo e água.</p><p>Já em relação aos terraços em nível com as extremidades abe rtas, em princíp io não</p><p>há limite de comprimento. As extremidades abertas facilitam a saida do excesso de água</p><p>do canal, quando a lâmina de água atinge uma altura crítica, determinada pela altura da</p><p>comporta nas extremidades. Destaca-se, entretanto, que é necessário conduzir esse excesso</p><p>de água de forma planejada e segura.</p><p>No caso dos terraços de drenagem, devem ser estabelecidos limites de comprimento</p><p>para os terraços. Isto é com base de que quanto maior o comprimento do terraço, maiores</p><p>serão o volume e a velocidade da água no canal, o que, a partir de um comprimento cr ítico,</p><p>poderá ocasionar erosão hídrica dentro do canal. Este comprimento cr ítico é variável</p><p>conforme a resistência do solo ao cisalhamento, o que é dependente do tipo de solo.</p><p>Assim, para solos arenosos, estabelece-se um comprimento m áximo de 400 m para</p><p>os terraços. Isto significa que se tiverem comprimento maior do q ue 400 m, a enxurrada</p><p>poderá ocasionar erosão no canal a partir dos 400 m.</p><p>Para solos argilosos, entretanto, mais resistentes à erosão do que os arenosos, o</p><p>comprimento dos terraços poderá chegar a 600 m, ou seja, a água poderá ocasionar erosão</p><p>no canal se o seu comprimento ultrapassar este valor.</p><p>O procedimento para a locação e marcação dos terraços no campo segue urna</p><p>cronologia de passos que deve ser observada e que exige certa experiência:</p><p>1 - Proceder a uma observação geral e abrangente da área, de modo a identificar o</p><p>local mais alto e dirigir-se até este.</p><p>2 - Definir se os terraços serão de infiltração ou drenagem.</p><p>3 - Deve-se escolher o local do canal escoadouro, no caso de terraços de drenagem, que</p><p>deve localizar-se preferentemente numa depressão natural do terreno.</p><p>4 - De terminar a declividade média do terreno (cm m·1) .</p><p>5 - Ca lcular o espaçamento vertical (EV) entre os terraços, com base na declividade</p><p>(D, cm m·1) e na resistência do solo à erosão (X), obtida no quadro 7.</p><p>A_locação de sistemas de te.rraceamen~o pode s:r auxiliada por modelos digi tais de</p><p>elevaçao do terreno gerados em sistemas de informaçoes geográficas (Griebeler et al., 2005).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>578 ISABELLA (LERICI DE MARIA ET AL.</p><p>Tarnbém e importante que O planejamento preveja a integração entre as estradas e</p><p>0 - terraçoL. integração entre o terraccamento e o escoamento superficia l de es tradas</p><p>pode aumentar os riscos de eros5o e rompimento dos terraços, caso não seja realizada</p><p>com O correto dimensionamento. Este dimensionamento se faz necessário, pois permite</p><p>identificar pontos críticos onde o terraço poderá apresentar problemas pelo excesso de</p><p>água para armazenamento (Rabelo e Griebeler, 2012).</p><p>Con trução e manutenção do sistema de terraceamento</p><p>Terraçosconstruídos deformainadequadaousemmanutençãopodemagravaraerosão.</p><p>1ira.nda et ai. (2012), avaliando terraços de infiltração, observaram que a uniformidade</p><p>da altura do dique, o fechamento das exh·enudades do terraço e o acabamento da seção</p><p>transversal eram as principais causas de baixa eficiência. Estas causas são decorrentes de</p><p>construção inadequada e da falta de aferição dos parâmetros do projeto após a construção,</p><p>muito comumente observada em campo (Magalhães, 2012).</p><p>Qualquer que seja o tipo de terraço, há necessidade de fazer periodicamente a vistoria</p><p>e manutenção para que a capacidade de retenção de água no canal seja mantida ao longo</p><p>do tempo. Os terraços interceptam a enxurrada, reduzem sua velocidade e, por isso,</p><p>permitem a sedimentação das partículas de maior tamanho em seu canal. No entanto, este</p><p>processo contribui para evitar a perda de solo para fora da área da lavoura, mas resulta em</p><p>acúmulo de partículas que bloqueiam poros (Figura 25) e reduzem a infiltração de água.</p><p>As áreas onde é implantado um sistema de terraceamento devem apresentar um plano de</p><p>manutenção preventiva dos terraços.</p><p>F. 25 Canal de terraço apresentando selamento da superfície pelas partículas sedimentadas na</p><p>igura · · · - L I V Ih C . d superfície, reduzindo a mfiltraçao de água em atosso o erme o, em ampmas, SP. Foto os</p><p>autores.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTI CAS CONSERVACTONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 579</p><p>Canais escoadouros e canais divergentes</p><p>O canal escoadouro é urna prálica imprescind ível uti lizada em assoc iação aos terraços</p><p>em d esnível, indicados para solos com deficiência na infiltração de gua. A fu nção dele é</p><p>coletar o excesso da água de chuva de uma área terraceada e conduzi-lo, de fo rma segura,</p><p>sem provocar erosão, até um leito estável.</p><p>No planejamento de um sistema de terraços de d renagem numa lavoura, é neces ário</p><p>selecionar locais adequados para os canais escoadouros que irão escoa r o excesso d água</p><p>da chuva vinda dos terraços contribuintes.</p><p>Os canais escoadouros devem escoar o excesso de água em risco de erosão no seu</p><p>leito, por isso, devem ser plenamente vegetados. Preferencia lmente, devem localizar-:e em</p><p>posições de depressão natural do terreno, que são naturalmente pontos de confluenoa das</p><p>águas das chuvas.</p><p>No caso onde a vegetação natural já tenha sido suprimjda pelo cultivo, devem</p><p>ser implantadas culturas de cobertura do solo antes da cons trução do terraço , para</p><p>que tenham tempo de se estabelecer para que, quando os terraços estiverem prontos,</p><p>tenham suficiente resistência à ação da água que escoará sobre estas no lei to do canal. A</p><p>culturas mais indicadas para isso são espécies de gramíneas, estoloníferas, que de em er</p><p>selecionadas de acordo com a adaptação cljmática para cada local.</p><p>O formato do canal deve ser preferentemente trapezoidal ou parabólico, cuja secção</p><p>deve aumentar de cima para baixo na pendente. O procedjmento de cálculo das dimensões</p><p>do canal segue o mesmo já apresentado para os terraços de drenagem, considerando- e que</p><p>o canal escoadouro deve captar e conduzir adequadamente a enxurrada vinda de todos os</p><p>terraços da área contribuinte com vazão.</p><p>Os canais divergentes, também denominados terraços divergentes ou terraços</p><p>interceptadores, são estruturas semelhantes aos terraços, construídos com pequeno</p><p>desnível, com a finalidade de transportar a enxurrada em baixa velocidade para um ponto</p><p>de escoamento desejado. Estas estruturas devem ser construídas com a antecedência</p><p>necessária para que possam se apresentar estáveis e, se for o caso, vegetad as na época de</p><p>maior volume de chuvas.</p><p>São utilizados, principalmente, para interceptar enxurradas a montante da área rulti ada,</p><p>para evitar deságue em áreas externas e, também, para desviar a enxurrada da cabeceira de</p><p>voçorocas como parte de merudas de estabilização de grandes erosões, para proteger na entes,</p><p>desviar a enxurrada de construções rurais ou a provinda de áreas impermeabilizada por</p><p>construções, como as estufas. A enxurrada coletada pelo canal divergente é conduzida para</p><p>canais escoadouros, grata natural estabilizada ou estruturas de alvenaria.</p><p>Sulcos de infiltração e diques em pastagem</p><p>A combinação de sulcos e diques resultantes da subsolagem em contorno no declive é</p><p>uma eficaz prática de controle do escoamento superficial e da erosão hídrica plu ial. Além</p><p>disso, retém água no</p><p>solo em regiões onde as chuvas são escassas.</p><p>Embora as pastagens sejam eficazes no controle das perdas de olo, em relação ao</p><p>controle d as perdas de água a eficiência delas é menor, como demonstraram Bert I et .1I.</p><p>(2011) .</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>580 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>~~ área de pa tagem cultivada, 0 cultivo em contorno é importante, pois, nestas</p><p>con~ç es: e~, geral o olo apresenta-se degradado fisicamente, o que aumenta o risco de</p><p>erosao, pnnc1palmente no período de implantação da pastagem.</p><p>Os sulcos devem ser realizados em contorno no terreno, em distâncias que variam de</p><p>acordo com o tipo de solo e com a declividade. Em geral, são distanciados entre 1 e 3 m,</p><p>podendo, em casos específicos, alcançar 10 m um dos outros.</p><p>Cordão de pedra em contorno</p><p>A prática conservacionista mecânica denominada cordão de pedra, também</p><p>denominada "taipa de pedra", consiste em recolher pedras disponíveis no terreno e</p><p>arranjá-las em faixas estreitas seguindo linhas em nível. Os cordões de pedra em contorno</p><p>fazem diminuir a velocidade das enxurradas e forçam a deposição de sedimentos nas áreas</p><p>onde são construídos, apresentando eficácia relativamente alta na retenção dos sedimentos</p><p>mais grosseiros do solo.</p><p>Este processo acarreta, com o passar do tempo, a formação de patamares no terreno,</p><p>decorrentes da elevação do nível do solo a montante da taipa e, ao mesmo tempo, um</p><p>rebaixamento de tal nível a jusante desta. Assim, ocorre uma redução da inclinação no</p><p>declive entre uma taipa e outra de pedras, o que, por sua vez, facilita o trabalho do terreno</p><p>(Silva e Silva, 1997).</p><p>A redução na perda de água, no entanto, é pouca, uma vez que o arranjo das pedras</p><p>e o da taipa mantêm espaços vazios entre estas, por meio dos quais passa livremente a</p><p>água e os sedimentos finos de solo, em suspensão na enxurrada. A eficácia desta prática na</p><p>redução da perda de solo é decorrente da diminuição da velocidade da enxurrada, o que,</p><p>por sua vez, condiciona a deposição de sedimentos grosseiros à taipa.</p><p>Também, um ponto positivo decorrente das barreiras de pedras se refere à limpeza</p><p>da área, já que, para a sua confecção, é necessário juntar e amontoar as pedras, livrando a</p><p>superfície do solo de sua presença. Isto torna mais fácil o manejo do solo mecanizado óu</p><p>com tração animal. Outro benefício da adoção desta prática é orientar as demais operações</p><p>do manejo em contorno no terreno.</p><p>As desvantagens decorrentes da adoção desta prática se relacionam, principalmente,</p><p>ao custo de mão de obra, bem como ao grande dispêndio de esforço físico necessário para a</p><p>sua confecção, já que o trabalho de montagem e acomodação das pedras na taipa é manual.</p><p>Também, um fato citado é que os espaços mantidos entre as pedras servem de abrigo para</p><p>roedores, cobras e de produção de espécies vegetais invasoras.</p><p>Mulching vertical</p><p>o mulching vertical, fundamentado no aumento da taxa de infiltração de água no</p><p>solo, é constituído por sulcos com dimensões de 7,5 a 9,5 cm de largura por 40 cm de</p><p>profundidade, dispostos em nível~ ou seja, perpendicularme~te ao decl_ive do terreno,</p><p>e preenchidos com palha (Denardm et al., 2008). ?s sulcos sao preenchidos com palha</p><p>disponível na propriedade rural ou no mercado reg10nal.</p><p>A irtdicação do mulchíng vertical está limitada a solos bem drenados e a áreas específicas</p><p>de lavouras manejadas sob semeadura direta com declives propensos à concentração de</p><p>enxurrada ou com problemas evidentes de erosão.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 581</p><p>O afastamento horizontal ou vertical entre os sulcos é determinado pelo método da</p><p>estimativa da enxurrada máxima esperada, a partir de modelos matemáticos de predição</p><p>de chuvas intensas (Pfafstetter, 1957; 0enardin e Freitas, 1982).</p><p>Garcia e Righes (2008) avaliaram a utilização do mulching vertical em Lato solo</p><p>Vermelho distrófico típico em semeadura direta, que reduziu o escoamento superficial</p><p>de água no solo em até de 48 %, com espaçamento de 10 m entre sulcos e 55 %, com</p><p>espaçamento de 5 m, em relação ao mesmo sistema sem mulching vertical.</p><p>É importante destacar que o mulching vertical não substitui o terraço agrícola, pois</p><p>o mulching vertical, diferentemente do terraço, não diminuí o comprimento do decl ive</p><p>pelo fato de não conter nem canal e nem dique na sua estrutura. Os sulcos construído no</p><p>terreno são preenchidos com palha e cobertos de forma que nenhuma saliência resultante</p><p>de sua construção se destaque na superfície do solo, diferentemente de outras estruturas</p><p>que parcelam o declive, como os terraços.</p><p>Caixas de retenção ou pequenas barragens</p><p>Bastante utilizada para armazenar a água de estradas e de áreas de relevo acentuado,</p><p>esta técnica consiste em construir pequenas barragens à frente do percurso dos fluxos</p><p>concentrados de enxurradas, que armazenam parte da água para infiltração e reduzem a</p><p>velocidade e o volume do escoamento superficial (Figura 26). Existem diierentes versões e</p><p>adaptações desta técnica, incluindo a construção de sulcos, locados e construidos em nível,</p><p>com ou sem vegetação, também com o objetivo de reter o fluxo de água.</p><p>Figura 26. Bacia de retenção para controle do escoamento superficial em estradas em (a) área de</p><p>pastagens e (b) cultivo de eucalipto.</p><p>Fonte: Foto dos autores.</p><p>Embaciamento</p><p>É urna prática de controle de erosão recomendada para culturas perenes, como café</p><p>e citros, em que uma depressão é construída no terreno nos intervalos entre as linhas da</p><p>cultura.</p><p>Com a mecanização _de todas as operações nestas culturas, os terraços para condução</p><p>ou armazenamento da agua de enxurrada representam um obstáculo ao trânsito de</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>582</p><p>lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>máquina e impleme.ntos para o tra tos culturais e à retirada das colheitas. Além de reduzir</p><p>0 rendimento operacional, a eficiência do terraços é reduzida, principalmente em solos de</p><p>te ·tura are.no a.</p><p>C? embaciamento consiste na consh·uçào e manutenção de canais suavizados em cada</p><p>en~elinha da cultura (Figura 27). Na faixa centrnl da enh·elinha é feita un1a aração para</p><p>bai 'O e outra para cima, rebaixando o meio da linha e elevando as faixas laterais próximas</p><p>às plantas.</p><p>As o_perações agrícolas subsequentes como capinas mecânicas são feitas de tal forma</p><p>que contribuam para manter um canal cenb·al. Embora a capacidade individual de cada</p><p>canal em controlar a enxurrada seja baixa, sua eficiência é assegurada pelo grande número</p><p>deste e pela pequena área de captação de cada um (Lombardi Neto e Drugowich, 1994).</p><p>---</p><p>Figura 27. Perfil de um pomar com sistema de embaciamento para controle da enxurrada.</p><p>Fonte: E..c.quema de Lombardi Neto e Drugowich (1994).</p><p>Práticas conservacionistas complementares na propriedade agrícola</p><p>Diversas outras práticas, que proporcionem soluções de problemas pontuais e que</p><p>sejam tão importantes quanto as já elencadas, devem ser incluídas no planejamento</p><p>conservacionista. São práticas corno controle de voçorocas, construção de açudes, correção</p><p>de cercas, construção de abastecedouros, relocação de construções e benfeitorias rurais,</p><p>readequação de estradas e carreadores, localização de pontes e de aterros, construção de</p><p>caixas de captação de águas pluviais, depósito de lixo tóxico, obras de saneamento e fossa</p><p>séptica, entre outras.</p><p>A ferramenta que possibilita a definição dos diferentes conjuntos de práticas ou</p><p>estratégias visando o controle da erosão é o planejamento conservacionista da propriedade,</p><p>que deve ser visto como porção dinâmica _numa microbacia hidrográfica. Recomenda-se</p><p>que este planejamento seja realizado a parhr do enquadramento das glebas no Sistema de</p><p>Classes de Capacidade de Uso da Terra (Lepsch et al., 2015), que indica a aptidão destas</p><p>diferentes glebas para os diferentes ~so:5 _e manejas, e~ razão de restrições ou limitações</p><p>apontadas pelo levantamento do me~o f1s1co, e a_necess1dade ~ complexidade do conjunto</p><p>de</p><p>.................. .. .</p><p>572</p><p>572</p><p>574</p><p>574</p><p>574</p><p>575</p><p>575</p><p>577</p><p>578</p><p>579</p><p>579</p><p>580</p><p>580</p><p>Caixas de retenção ou pequenas barragens .................................. .................... ........................ ........ ....... ....... 581</p><p>Embaciamento .................................... ........ .............................................................................. ........................... 581</p><p>Práticas conservacionistas complementares na propriedade agrícola ................................................... ......... 582</p><p>ESCOLHA DAS PRÁTICAS CONSERVACIONIST AS....................................................................... ......... ......... .... 583</p><p>LITERATUR.i\ CITADA.................................................................................. ................................................ ........ ...... 584</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A erosão induzida, acelerada em consequência de atividades antrópicas, é a principal</p><p>causa da degradação dos solos em todo o mundo. No entanto, alguns de seus fatores e causas</p><p>podem ser controlados para que sua magnitude e abrangência sejam reduzidas a valores</p><p>toleráveis.</p><p>As práticas e os sistemas de manejo do solo utilizados para aumentar a resistência do</p><p>solo à erosão ou dissipar as forças que atuam no processo erosivo denominam-se práticas</p><p>conservacionistas e sistemas de manejo conservacionistas do solo. O conjunto destes</p><p>sistemas e práticas deve ser utilizado para dissipar a energia dos agentes erosivos, reduzir</p><p>a degradação de atributos do solo e, com isso, manter ou meU1orar a sua qualidade.</p><p>a agricultura, os sistemas e as práticas conservacionistas devem manter as principais</p><p>funções do solo para garantir sua qualidade, sustentar a produção vegetal e regular o ciclo</p><p>natural da água, indefinidamente.</p><p>A erosão hídrica pluvial, causada pelas chuvas sobre o solo com dete rminados uso</p><p>e ocupação, é a principal causa da degradação dos solos, em extensão terri torial e em</p><p>intensidade, a qual promove o arraste de porções da superfície da terra, incluindo sedimentos</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 529</p><p>minerais e orgânicos, nutrientes e outros produtos químicos. Além de empobrecer o so lo</p><p>e reduzi1· a produtividade agrícola, a erosão hídrica produz poluição e assoreamento de</p><p>cursos d' água e de partes da superfície terrestre. Por isso, o objetivo principal das prá ticas</p><p>de manejo e conservação do solo deve ser controlar a erosão. O controle da erosão e a</p><p>redução da degradação do solo, da água e do ambiente tomarão as áreas agrícolas sempre</p><p>produtivas e, no longo prazo, a agropecuária uma atividade sustentada .</p><p>ESTRATÉGIAS CONSERVACIONIST AS</p><p>O processo de erosão hídrica do solo é resultado de uma sequencia de três fases</p><p>sucessivas e concomitantes: a desagregação do solo na superfície, o transporte do</p><p>sedimentos desagregados e, por fim, a deposição do material transportado nos pontos</p><p>mais baixos do relevo ou nos corpos d'água. As práticas con.servaciorustas devem atuar</p><p>nestas três fases e, para isso, três estratégias principais são utilizadas: aumento da cobertura</p><p>vegetal do solo, visando reduzir a desagregação e transporte de solo pela dissipação da</p><p>energia do impacto das gotas de chuva e do escoamento superficial; aumento da rugosidade</p><p>superficial e da porosidade do solo para aumentar a infiltração da água, a fim de diminuir o</p><p>volume e a energia do escoamento superficial; e controle do escoamento superficial e, com</p><p>isso, redução do transporte e desagregação do solo pela enxurrada por meio de barreiras</p><p>mecânicas na superfície do solo.</p><p>Assim, o conjunto destas estratégias deve diminuir a degradação do solo no local de</p><p>origem da erosão e a poluição do ambiente fora deste local, principalmente dos mananciais</p><p>de água.</p><p>Aumento da cobertura vegetal</p><p>Para o controle da erosão hídrica, é de fundamentai importância aumentar a cobertura</p><p>vegetal do solo, seja com plantas, seja com fitomassa residual. Sua importância está no</p><p>fato de a cobertura vegetai do solo atuar exatamente no ponto inicial do processo erosivo,</p><p>reduzindo o impacto direto das gotas de chuva sobre a superfície. Entretanto, a cobertura</p><p>vegetal no nível do solo, pelas plantas e por sua massa residual, também tem efeito na</p><p>redução da velocidade do escoamento superficial, em razão do obstáculo formado pelas</p><p>estruturas vegetais (folhas, colmos, raízes) e pelo aumento da tortuosidade e rugosidade.</p><p>O efeito das plantas e dos manejes agrícolas sobre as perdas por erosão está quase</p><p>sempre relacionado às diferentes densidades e aos períodos de cobertura vegetal que cada</p><p>um proporciona. Assim, cultives perenes tendem a resultar em menores perdas por erosão</p><p>comparativamente a cultives anuais, porque proporcionam maior cobertura vegetai sobre</p><p>o solo e por período de tempo contínuo.</p><p>No solo mantido inteiramente coberto com vegetação protetora, de grande densidade</p><p>e com diversos extratos de dossel e serrapilheira, como matas, florestas ou campos nativo ,</p><p>a erosão será núnirna. Isso indica que os sistemas de produção devem buscar O cultivo com</p><p>diversidade de espécies e aumento da cobertura para, consequentemente, obter a proteção</p><p>da ~u~e.rfície do solo, t~to p~lo ~ol~~e e pela arq~tetura das suas folhagens como pela</p><p>vanab1hdade de ocupaçao e d1stnbuiçao dos seus sistemas radiculares.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>530</p><p>lSABELLA (LERICI DE MARIA ET AL.</p><p>O aumento da cobertura vegetal do solo relaciona-se diretamente com a elevação da</p><p>Produçào agrícola. Consequentemente, estabelece-se um ciclo positivo de maior proteção</p><p>da superfície do solo contra o processo erosivo e de menores perdas de solo e água causadas</p><p>pela erosão quanto maior for a produção de biomassa vegetal. As baixas produtividades,</p><p>em geral, relacionam-se a solos degradados ou com baixo suprimento de nutrientes, que</p><p>resultam em lento desenvolvimento das plantas e menor produção de biomassa vegetal,</p><p>resultan?o em diminuição da cobertura vegetal. Para aumentar a produção vegetal,</p><p>é _essen_c1a! o uso adequado de todos os fatores de produção e tecnologias agronômicas</p><p>disp~ruve1s para manter a qualidade e capacidade produtiva dos solos, bem como a sua</p><p>funçao de sustentar a produçào vegetal.</p><p>Aumento da infiltração de água no solo</p><p>Os diferentes tipos de solos têm capacidades distintas de infiltração de água, em</p><p>razão, principalmente, da textura e do arranjo das diferentes frações granulométricas,</p><p>definindo sua estrutura e de seu perfil, determinado pela profundidade, pelo número e</p><p>pela sequência de seus horizontes superficiais, bem como de sua inserção na paisagem</p><p>(grau de declividade e comprimento do declive) .</p><p>As práticas agronômicas resultam, no entanto, em alterações na camada superficial</p><p>do perfil, principalmente quanto à qualidade física do solo, seja por desagregação, seja por</p><p>compactação, reduzindo a infiltração de água. Para manter alta a infiltração de água no</p><p>solo, é necessário utilizar sistemas de manejo e práticas conservacionistas que contribuam</p><p>para a manutenção da estrutura do solo na sua camada superficial, em especial evitando</p><p>a desagregação e a compactação, e que criem condições para melhorar a infiltração,</p><p>percolação e retenção da água.</p><p>Por meio da cobertura vegetal, amplia-se a rede de poros biológicos por causa da</p><p>atividade da fauna edáfica e das raízes das plantas, e esta atividade biológica melhora os</p><p>atributos físicos do solo, aperfeiçoando a infiltração e retenção de água no solo. A cobertura</p><p>do solo, o tipo de cultura, a forma de preparo, o sistema de cultivo e a adubação e correção</p><p>do solo reduzem, portanto, as perdas pela erosão, não apenas por protegerem a superfície</p><p>da desagregação, mas também por permitirem maior infiltração da água no solo.</p><p>A redução da compactação do solo é alcançada, principalmente, com práticas de</p><p>controle do tráfego de máquinas e implementes agrícolas, não apenas reduzindo a pressão</p><p>e quantidade de tráfego,</p><p>práticas a serem adotadas. Este sistema, devidamente aplicado, conferirá o caráter de</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS (ONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 583</p><p>sus tent,ibiliclzidc ao empreendimento agro, s il vo e pas toril, vis to que ind icará o má imo de</p><p>aproveitamento com o mínimo de impacto ao ambiente.</p><p>ESCOLHA DAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS</p><p>A escolha da prática conservacionista mais adequada a uma determinada área depende</p><p>de fatores como o clima e o solo, a declividade, a pos ição no relevo, o tipo de cultura,</p><p>o manejo e as condições socioeconômicas. Vale lembrar que não devem ser implantadas</p><p>práticas isoladas de conservação do solo, devendo-se considerar que a penas o conjun to de</p><p>prá ticas, estabelecidas em um planejamento conservacionis ta, é que promoverá resultados</p><p>sa tisfa tórios no controle da erosão e na conservação do solo como um todo. Também,</p><p>destaca-se que a bacia hidrográfica, ou microbacia, é a unidade geográfica de terreno ideal</p><p>para planejamento de ações visando conservação do solo e da água, porque é nes ta unidade</p><p>que todos os processos hidrológicos associados às fases da erosão estão inter-relacionados</p><p>e constituídos.</p><p>Para que o conjunto de práticas conservacionistas possa atuar adequadamente no</p><p>controle da erosão, atacando a causa do problema, é fundamental conhecer a vulnerabilidade</p><p>do local e o processo predominante que está causando a degradação do solo.</p><p>Não é incomum observar práticas conservacionistas que não es tão exercendo sua</p><p>função de reverter a degradação do solo ou controlar a erosão ou, pior, que estão induzindo</p><p>novos processos erosivos (Figura 28). Por isso, é importante que, nçi escolha das prática</p><p>conservacionistas, sejam identificados os processos que estão causando a degradação do</p><p>solo. E que sejam bem compreendidas as funções das práticas conservacionistas, de forma</p><p>que as práticas elencadas sejam capazes de reverter o processo de degradação.</p><p>Figura 28. Área rural com práticas conservacionistas que não estão re<1lizando a fun •ão a</p><p>1</p><p>ue se</p><p>d</p><p>. ~</p><p>es tmam.</p><p>fonte: Foto dos autores.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>584</p><p>ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>Assitn, se o manejo do solo resulta em compactação, que reduz a infiltração e gera</p><p>grande' olume de enxurrada, a escolha deve recair em mudanças de manejo para que não</p><p>ocorra compacta ão. Entretanto, se a erosão é causada por grande volume de enxurrada</p><p>gera?º por um longo comprimento do declive, apenas o parcelamento do declive e as</p><p>práhcas de condução da enxurrada podem reduzir a degradação.</p><p>Para que a erosão hídrica pluvial do solo não se torne um problema sério, devem</p><p>ser ob ervadas as seguintes medidas básicas: manter a superfície do solo coberta; manter</p><p>a superfície do solo rugosa; manter o solo com alta capacidade de infilh·ação de água;</p><p>preservar o solo com alta estabilidade de agregados; reduzir o volume e a velocidade de</p><p>escoamento superficial; e usar as diferentes classes de terra de acordo com sua capacidade</p><p>e aptidão.</p><p>Em resumo, a superfície do solo deve ser mantida coberta para ser protegida contra</p><p>0 impacto direto das gotas da chuva, evitando a desagregação rugosa e permeável para</p><p>promover alta infiltração de água no solo e diminuir a enxurrada, e com estruturas mecânicas</p><p>para manejar o excesso de chuva. Com isso, evita-se a desagregação e o transporte do solo</p><p>pelo impacto das gotas da chuva e pelo fluxo concentrado superficial.</p><p>LITERATURA CITADA</p><p>Aguiar ACF, Amorim AP, Coelho KP, Moura EG. Environmental and agricultural benefits of a</p><p>management system designed for sandy loarn soils of the humid tropics. Rev Bras Cienc Solo.</p><p>2009;33:1473-80.</p><p>Alves AGC, Cago NP, Levien R. Relações da erosão do solo com a persistência da cobertura vegetal</p><p>morta. Rev Bras Cienc Solo. 1995;19:127-32.</p><p>Azevedo FA, Rossetto MP, Schinor EH, Martelli IB, Pacheco CA. lnfluência do manejo da entrelinha</p><p>do pomar na produtividade da laranjeira 'Pera'. Rev Bras Frutic. 2012;34:134-42.</p><p>Baptista J, Levien R. Métodos de preparo de solo e sua influência na erosão hídrica e no acúmulo</p><p>de biomassa da parte aérea de Eucaliptus Saligna em um Cambissolo Háplico da Depressão</p><p>Central do Rio Grande do Sul. 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Terraceamento agrícola. Campinas: Coordenadoria da Assistência Técnica lntegral; 1991.</p><p>(Boletim técnico, 206)</p><p>Lombardi Neto F, De Maria IC, Castro OM, Dechen SCF, Vieira SR Efeito da quantidade de resíduos</p><p>culturais de milho nas perdas de solo e de água. Rev Bras Gene Solo. 1988;12:71-5.</p><p>Lombardi Neto F, Drugowich MI, coordenadores. Manual técnico de manejo e conservação do solo</p><p>e água. Campinas: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral; 1994. (Manual técnico, 38)</p><p>Lopes PRC, Cassol EA, Cago NP. Influência da cobertura vegetal morta na redução da velocidade</p><p>de enxurrada e na distribuição de tamanho de sedimentos transportados. Rev Bras Cienc Solo.</p><p>1987a;ll:193-7.</p><p>Lopes PRC, Cogo NP, Levien R. Eficácia relativa de tipo e quantidade de resíduos culturais espalhados</p><p>uniformemente sobre o solo na redução da erosão hidrica. Rev Bras Cienc Solo. 1987b;ll:71-5.</p><p>Luciano RV, Bertol I, Barbosa FT, Vida! Vázquez E, Fabian EL. 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O microrrelevo formado por</p><p>operações agrícolas e as estruturas mecânicas de retenção da água na superfície do solo,</p><p>como é O caso de terraços em nível, valas e caixas de retenção, aumentam a rugosidade do</p><p>terreno e armazenam a água da chuva oriunda do escoamento superficial, permitindo mais</p><p>tempo para, lentamente, infiltrar no solo.</p><p>Controle do escoamento superficial</p><p>A precipitação pluvial anual na maior parte das áreas agrícolas do Brasil varia entre</p><p>900 e 2 000 mm, em geral concentrada em alguns meses do ano, com ocorrência de eventos</p><p>de intensidade muito elevada, muito superior à capacidade de infiltração de água no solo.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 531</p><p>Em razão disso, ocorrem eventos com elevado volume de escoamento superficia l ou</p><p>enxurrada, havendo necessidade de estruturas mecânicas para fraci onar o comprimento</p><p>de rampa e, com isso, reduzir o volume e a velocidade da água escoada. Tais estruturas são</p><p>utilizadas para controlar as perdas de solo para além da á rea cultivada . Como estas ~êm</p><p>baixo efeito na redução da erosão em si, devem ser usadas sempre associadas com práticas</p><p>conservacionistas para aumentar a cobertura e a infiltração de água do solo.</p><p>Duas outras estratégias conservacionistas são também utilizadas em situações</p><p>especiais: a sistematização do terreno e a bioengenharia. Embora a sistematização do</p><p>terreno possa ser colocada como uma estratégia de controle do escoamento superficial, ela</p><p>é mais abrangente, pois tem como objetivo reabilitar mecanicamente áreas degradadas.</p><p>Por meio dela, eliminam-se sulcos de erosão existentes, locam-se ou realocam-se estradas e</p><p>carreadores e adequa-se ou readequa-se a superfície do terreno para o transito de máquinas.</p><p>Para tanto, são usados equipamentos topográficos, sondas, materiais para drenagem e,</p><p>naturalmente, máquinas para terraplenagem e nivelamento, entre outras.</p><p>Com a mecanização das operações agrícolas e a necessidade de adaptação das</p><p>condições topográficas à eficiência das máquinas agrícolas, a sistematização tomou-se</p><p>uma estratégia importante para o sucesso dos sistemas de produção, associada às práticas</p><p>de conservação do solo e da água. A sistematização de terrenos depende de projeto</p><p>de engenharia e deve ser planejado em função do tipo de exploração agropecuária, do</p><p>relevo, do solo e das condições climáticas, dos equipamentos disponíveis, evitando-se a</p><p>implantação das ações em épocas de chuvas intensas.</p><p>Quanto à bioengenharia, esta pode ser entendida como uma estratégia de controle</p><p>da erosão com aumento de cobertura vegetal, indicada para áreas de difícil acesso, de alta</p><p>vulnerabilidade natural à erosão, em locais em que o solo está muito degradado, bem como</p><p>em situações em que outras práticas não podem ser aplicadas, por limitações técnicas ou</p><p>operacionais. Utilizam-se pedras, troncos, sacos de areia, mantas sintéticas e naturais ou</p><p>geomantas, dentre outras, conjugadas com diferentes tipos de vegetais vivos.</p><p>Para estabelecer a vegetação, utilizam-se também técnicas de sobressemeadura e</p><p>transplantio. A expressão bioengenharia em conservação do solo inclui a utilização de</p><p>material biológico, em contraponto às técnicas convencionais em engenharia, que priorizam</p><p>obras de alvenaria, para o controle de erosão em grandes obras civis, como estradas, a</p><p>estabilização de margens de cursos de água, a firmação de taludes em áreas de mineração,</p><p>em encostas íngremes, em deslizamentos de terra em áreas urbanas.</p><p>PRÁTICAS CONSERV ACIONISTAS</p><p>As práticas conservacionistas são classificadas corno vegetativas, edáficas e mecànicas,</p><p>~m razão de sua natureza e conforme seja utilizada a vegetação ou seu material residual,</p><p>implementada pela alteração no sistema de manejo ou construção da estrutura de terra ou</p><p>alvenaria em posições adequadas do terreno.</p><p>As práticas vegetativas e edáficas são mais simples de implantar e manter, de</p><p>forma que, primeiramente, deve-se recorrer a estas. Já as práticas mecânicas devem ser</p><p>implantadas em combinação com as duas primeiras. Sempre se deve levar em conta que</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>532 !SABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>apenas O sinergismo entTe diferentes práticas pode proporcionar segurança ao projeto de</p><p>consen ação do solo.</p><p>Individualmente, cada prática conservacionista conh·ola apenas parcialmente os fatores</p><p>~ue ca_usam a ero, ão. As im, na grande maioria dos casos, para o efetivo conh·ole da erosão</p><p>e pren o que a práticas sejam utilizadas associadamente, de forma planejada, constituindo</p><p>um verda~ei.ro si tema conservacionista. O objetivo de um sistema conservacionista, em</p><p>uma propnedade agrícola, é aumentar ao máximo a infiltração de água no solo pa.ra reduzir</p><p>ao núnirno o escoamento superficial; manter a erosão controlada, de modo que o solo e os</p><p>constituintes nele adsorvidos pem1aneçam no seu local de origem; melhorar a qualidade do</p><p>so~o para os propô itos a que ele se destina; controlar a poluição ambiental fora do local de</p><p>ongem da erosão; e manter elevada a capacidade produtiva do solo.</p><p>As práticas consen1acionistas devem estar associadas às estratégias de planejamento</p><p>conservacionista do solo, pois devem aumentar a cobertura vegetal, manter elevada a</p><p>infil~ação da água no solo e reduzir o escoamento superficial (Figura 1). As diferentes</p><p>práticas podem contribuir mais ou menos intensamente em cada estratégia ou interferir</p><p>mais ou menos no controle de cada uma das fases da erosão.</p><p>/ 'I</p><p>Práticas</p><p>vegetativas</p><p>'- ,</p><p>7</p><p>• + • ' ' '</p><p>Cobertura Infiltração de Escoamento</p><p>vegetal água no solo superficial</p><p>\. \.</p><p>t t t t</p><p>1 ,.</p><p>Práticas Práticas</p><p>edáficas mecânicas</p><p>\.</p><p>Figura 1. Principais estratégias (aumento da cobertura vegetal e da infiltração de água no solo e</p><p>controle do escoamento superficial) para definir as ações de conservação dos solos no meio rural</p><p>e tipos de práticas conservacionistas (vegetativas, edáficas e mecânicas) para alcançá-las.</p><p>Práticas vegetativas</p><p>As práticas vegetativas são aquelas em que se utiliza a vegetação, tanto as plantas</p><p>vivas, também denominadas dossel, como a biomassa vegetal provinda das plantas</p><p>fenecidas, que podem ter sido cultivadas no próprio local ou trazidas de outras áreas. Essas</p><p>práticas são eficazes principalmente para proteger o solo da energia decorrente do impacto</p><p>das gotas de chuva e do cisalharnento da enxurrada, que promovem a desagregação do</p><p>solo e o selarnento dos poros superficiais.</p><p>A biomassa vegetal protege o solo também, em parte, na fase de transporte de</p><p>sedimentos, agindo na redução da velocidade da enxurrada. As práticas vegetativas têm</p><p>efeito na infiltração de água no solo e devem ser utilizadas no controle do escoamento</p><p>superficial. Esse efeito das plantas na pro~eção do sol? contra o_impacto direto das gotas de</p><p>chuva depende da densidade da vegetaçao, da arqwtetura foliar e da altura do dossel em</p><p>relação à linha da superfície do solo.</p><p>MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 533</p><p>Assim, a erosão do solo é tanto menor quanto maior a densidade da vegetação e quanto</p><p>mais próximo do solo estiver o dossel da vegetação que o recobre. Também, a e r~são é</p><p>menor quanto maior for a porcentagem da superfície do solo coberta e quanto maior fo r</p><p>a quantidade de biomassa vegetal que estiver sobre e sob o solo. É de vital importància</p><p>o sistema radicular das plantas no controle da erosão, considerando os seus efeitos na</p><p>manutenção da agregação das partículas e na formação de canais e poros no solo.</p><p>No controle do escoamento superficial, as práticas vegetativas estão em geral</p><p>associadas às práticas mecânicas, já que essas, como o terraceamento agrícola, são capazes</p><p>de reduzir o comprimento do declive e, com isso, controlar o volume e a velocidade da</p><p>enxurrada, sendo capazes de iníiltrar ou conduzir seu</p><p>excesso.</p><p>Cobertura morta</p><p>A cobertura do solo com biomassa vegetal morta é a prática conservacionista mais</p><p>fácil de ser implementada, sendo eficaz no controle da erosão tanto hídrica quanto eólica,</p><p>e, provavelmente, a de menor custo. A fitomassa residual deixada na superfície do solo,</p><p>dependendo do tipo, da quantidade e da forma de distribuição, forma um colchão,</p><p>denominado 111ulch, que protege a superfície da energia de impacto das gotas de chuva e,</p><p>em parte, da energia cisalhante do escoamento superficial, em razão do controle do vo lume</p><p>e da velocidade deste. Além disso, incorpora matéria orgànica ao solo, aumentando a sua</p><p>resistência à energia dos agentes erosivos (Figura 2).</p><p>Pelo fato de a cobertura morta estar colocada no nível do solo, a dissipação da energia</p><p>cinética das gotas é completa e por isso mais eficiente do que a cobertura por plantas vivas.</p><p>Quando a cobertura do solo é proporcionada pelo dossel de plantas, existe a possibilidade</p><p>de as gotas interceptadas se refazerem, se agruparem em gotas maiores e readquirirem</p><p>energia, produzindo impacto sobre o solo se este estiver sem cobertura próxima da</p><p>superfície. Isso é constatado em condições de mata e reflorestamento comercial, onde se</p><p>observam grandes gotas impactando o solo, mesmo quando as chuvas que atingem a copa</p><p>são de baixa intensidade.</p><p>Figura 2. Áreas de cultivo com solo descoberto (a), exposto à ação das chuvas; e área utilizando a</p><p>prática de cobertura morta (b) com fitomassa residual para proteção do solo contra O impacto</p><p>das gotas de chuva. Foto dos autores.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>534</p><p>lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>A cotJ:ertura morta sobre o solo apresenta ouh·as vantagens do ponto de vista agronômico</p><p>e do ambiental, que se somam ao efeito de conservação da água e do solo: diminui a</p><p>temperatura em termos absolutos e limita a amplitude térmica da superfície do solo, reduz</p><p>a evaporação de água, aumenta a infiltração e o armazenamento de água no solo; e mantém</p><p>condições adequadas para desenvolvimento da microfauna do solo. Com isso, a cobertura</p><p>morta ~ria no_ so~o condições favoráveis para a elevação da produtividade das lavouras, a</p><p>proteçao da biodiversidade e a manutenção da atividade biológica diversificada.</p><p>O efeito da cobertura morta no controle da erosão vem sendo avaliado em cultivas</p><p>anuais e perenes há muito tempo (Marques et ai., 1961). Os diversos estudos de avaliação</p><p>e ~uantificação do efeito dessa prática vegetativa no controle da erosão indicaram que</p><p>deLxar a fitomassa residual na superfície, apenas, apresenta uma alta eficiência no controle</p><p>das perdas de solo e água, como evidenciaram os primeiros ensaios realizados no Brasil</p><p>(Quadro 1). Nestes trabalhos, ficou demonstrado que a palha deixada na superfície do solo,</p><p>mesmo não caracterizando a técnica denominada "semeadura direta", reduziu as perdas</p><p>de solo e água em cerca de 70 % em relação à palha queimada.</p><p>Quadro 1. Efeito do manejo de fitomassa cultural residual de milho nas perdas de terra e água por</p><p>erosão em um Latossolo férrico</p><p>Manejo da palha</p><p>Palha queimada</p><p>Palha enterrada</p><p>Palha na superfície</p><p>Fonte: Adaptado de Bertoni et al. (1972).</p><p>Solo</p><p>t ha·1</p><p>20,2</p><p>13,8</p><p>6,5</p><p>Perda</p><p>Água</p><p>% da chuva</p><p>8,0</p><p>5,8</p><p>2,5</p><p>O efeito da cobertura morta no controle das perdas de solo e água é proporcional à</p><p>quantidade de fitomassa residual na superfície (Figura 3). No entanto, no controle das</p><p>perdas de solo, mais importante que a quantidade de fitomassa residual na superfície é a</p><p>porcentagem de solo coberto por esta fitomassa. Quanto maior a porcentagem da superfície</p><p>do solo coberta, menor é a perda de solo, independentemente da forma de manejo da</p><p>fitomassa residual, urna vez que a superfície do solo que recebe diretamente o impacto das</p><p>gotas de chuva é reduzida, embora a eficiência no controle da erosão possa variar com o</p><p>tipo de fitomassa residual sobre a superfície (Figura 4).</p><p>A fitomassa residual na superfície dissipa, também, em parte, a energia do escoamento</p><p>superficial, formando uma barreira física que retém os sedimentos de maior tamanho que</p><p>seriam transportados pela enxurrada (Figura 5). Assim, o aumento da porcentagem de</p><p>cobertura do solo aumenta a proporção de sedimentos de menor tamanho transportados</p><p>pela enxurrada (Cogo et al., 1983; Lopes et al., 1987a). Ao reter os sedimentos de maior</p><p>tamanho, a cobertura do solo deixa passar por entre suas peças os de menor tamanho e</p><p>mais ricos em nutrientes (Barbosa et al., 2009, 2010).</p><p>o aumento da cobertura do solo também contribui para reduzir a velocidade da</p><p>enxurrada (Figura 6), diminuindo sua capacidade de transporte de sedimentos (Lopes et</p><p>al., 1987a; Bertol et al., 2010).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTI CAS CONSERVACIONISTAS DO SO LO E DA ÁG UA 535</p><p>A cobertu ra m orta exerce maior influência sobre a perd a d e solo d o q ue sobre él de</p><p>águ él (Lom bélrdi Ne to et a i., 1988; Alves e t a i., 1995; Ber to! e t al., 2010), pois es ta p rática</p><p>a presenta m e no r e ficácia rela tiva no au mento da infil tração de água no solo e no con trole</p><p>do escoam e nto supe rficia l. Em cond ições em que o com prime nto d o decl ive é muito longo</p><p>(Be rto ! e t a i., 1987; Morais e Cago, 2001; Ba rbosa et a i., 2012) e e m que o so lo a presenta baixa</p><p>cap acida d e d e infi ltração de água, seja por se us atributos natu ra is, seja pe la com pactação</p><p>cau sada p e lo m anejo, a eficácia d a cobertura mo rta na redução das pe rdas d e água é ainda</p><p>m e nor.</p><p>300 700</p><p>250</p><p>f = 189,01 e"B-04• Á perda de solo 600</p><p>.-;'(IS</p><p>,.e; 200 ....</p><p>à</p><p>õ</p><p>150 til</p><p>QJ</p><p>"Cl</p><p>y = 596,69 e·:z&.04• ♦ perda de água 500 ~</p><p>400</p><p>d</p><p>i</p><p>300</p><p>QJ</p><p>"Cl</p><p>(IS</p><p>"Cl 100</p><p>1i:l p..</p><p>d</p><p>-e,</p><p>200 ...</p><p>QJ</p><p>p..</p><p>50 100</p><p>o -+--------- - --- ~ --- -------+ o</p><p>o 2000 4000 6000 8 000 10000</p><p>Fitomassa residual na superfície, t ha·1</p><p>Figura 3. Efeito da quantidade de fitomassa cultural resid ual de milho deixados na superficie nas</p><p>perdas de água por escoamento superficial em um Latossolo férrico.</p><p>Fonte: Adaptado de Lombardi Neto et ai. (1988).</p><p>40,0</p><p>35,0</p><p>30,0</p><p>~ 25,0 ....</p><p>o'</p><p>õ 20,0 Ul</p><p>QJ</p><p>'"O</p><p>15,0 ~</p><p>~</p><p>10,0 p...</p><p>5,0</p><p>0,0</p><p>o 20 40 60 80</p><p>Cobertura do solo, %</p><p>- milho</p><p>--•--</p><p>100</p><p>trigo</p><p>soja</p><p>120</p><p>Figura 4. Relação da perda de solo (Ps) com a cobertura (C) por fitomassa residual de cultivo de</p><p>mi lho, trigo e soja .</p><p>Fonte: AdaptaJo de Lopes t!t ai. (1987b).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>536 ISABE LLA C LERICI D E MARIA ET AL.</p><p>~ 100 ....</p><p>~ 90</p><p>1 80</p><p>cu 70</p><p>"'CI</p><p>~ 60</p><p>ia</p><p>"3 50</p><p>6 e</p><p>ia</p><p>40 - 22%C</p><p>5 30 - 62 %C</p><p>b0</p><p>.19 20</p><p>~ u 10</p><p>~</p><p>p., o</p><p>-t-81 %C</p><p>o 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5</p><p>Tamanho dos sedimentos, mm</p><p>Figura 5. Tamanho de sedimentos erodidos em tratamentos com valores crescentes de cobertura do</p><p>solo (%C) com fitomassa residual de soja.</p><p>Fonte: Adaptado de Lopes et al. {1987a).</p><p>30</p><p>-:</p><p>a)</p><p>6 25 t.l</p><p>-+-sUP</p><p>cà ---- Sl+lG</p><p>'"O</p><p>(0 20</p><p>~ -Ã-SI+2G</p><p>~ 15 QJ</p><p>-+-s1+4G</p><p>co</p><p>'"O</p><p>QJ 10 '"O</p><p>co</p><p>'"O ·e</p><p>5 o</p><p>'ã)</p><p>></p><p>o</p><p>o W ~ ~ M ~</p><p>Cobertura do solo com fitomassa residual, %</p><p>f igura 6. Velocidade da enxurrada e cobertura do solo com fitomassa residual de trigo espalhada</p><p>uniformemente (SUP) e incorporada por uma (SI+ 1 G), duas (SI+ 2G) e quatro (SI +4G) gradagens.</p><p>Fonte: Adaptado de CarvaU10 et ai. (1990).</p><p>Em culturas perenes, onde o espaçamento entre as linhas de plantas é grande em</p><p>relação ao das culturas anuais, a cobertura da superfície do solo com fitomassa residual é</p><p>muito importante para o controle da erosão, além das demais vantagens que a cobertura</p><p>morta proporciona ao solo e desenvolvimento das plantas.</p><p>Esta prática foi muito utilizada em parreirais e em outros pomares, e ainda é comum</p><p>em alguns sistemas de cultivo em regime de agricultura familiar em pequenas propriedades</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁT I CAS (ONSERVACJON ISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 537</p><p>(Figura 7). Pa lha de gramíneas e de outros tipos de fitomassas,</p><p>como aqueles resultantes de</p><p>poda u rbana, podem ser trazidos para as áreas de cu ltivo pa ra formar a cober tura 1_:1orta</p><p>do solo . Trazer a pa lha de outros locais pode ser um problema se o local de produçao for</p><p>dis tante do local de destino, o que acarreta alto custo de trans porte e de mão de obra para</p><p>dis tribuição.</p><p>Entretanto, a cobertura morta pode ser produzida na própria área, com o cultivo de</p><p>plantas específicas para isso, no período adequado pa ra a cu ltura principal, de fo_rma ~ue a</p><p>fitomassa destas plantas, quando terminado seu ciclo ou quando dessecadas, se1a deixada</p><p>na superfície do solo.</p><p>Entre os cuidados com a cobertura morta estão o controle do fogo, para que a</p><p>cultura principa l não seja atingida caso a palha seja incendiada; e a escolha de e~pé~ies de</p><p>cobertura morta que não sirvam de abrigo para pragas e doenças da cul tura pnncipal. A</p><p>cobertura morta também potencializa os efeitos de geadas, o que, em situações especificas</p><p>d e locali zação, tipo de cul tura e épocas, deve ser evitada.</p><p>Figura 7. Cobertura morta para melhorar a qua lidade do solo e oferecer proteção contra a erosão em</p><p>pomar na região de Jundiaí, SP. Foto dos autores.</p><p>Cordões ou faixas de vegetação permanente, aleias, quebra-ventos</p><p>Os cordões de vegetação permanente são fileiras de plantas perenes ou semiperenes</p><p>dis postas com determinado espaçamento, geralmente gramíneas, de crescimento rápido e</p><p>de a lta densidade foliar e de raízes. São faixas estreitas de vegetação, não ultrapassando,</p><p>em geral, 2 a 3 m de largura, intercalares a faixas de cultivas anuais, cultivas perenes</p><p>ou tem porários, formando barreiras vivas para reduzir o transporte de sedimentos. São</p><p>menos eficazes no controle do escoamento superficial, com parados a outras práticas mais</p><p>complexas e onerosas, mas é uma prática s imples com baixo custo de implantação.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>538</p><p>lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>Esta t cnka pode er usada em locais onde O t rraceamento não apresenta resultados</p><p>satisfat rio , e mo em áreas muito declivo as, solos ra os ou muito arenosos e em solos</p><p>com baixa pem1eabilidade. Pode, tambe:m, ser associada aos terraços, cordões de terra</p><p>em contorno e cordões de pedra, aumentando a capacidade destas práticas mecânicas</p><p>no controle das p rdas de solo por erosão e permitindo o cultivo de culturas perenes em</p><p>relevo movimentado e em áreas mais críticas. É utilizada também no controle de voçorocas</p><p>ou ~~~e, sulcos, interceptando o fluxo da água que se concenh·a no fundo, bem como</p><p>possibilita a fom1ação gradual de terraços em patamar pelo acúmulo dos sedimentos a</p><p>montante.</p><p>Os cordões de vegetação são eficazes para reter os sedimentos, pois reduzem a</p><p>'elocidade do escoamento superficial, provocando a deposição das partículas transportadas,</p><p>e filtram os sedimentos como um efeito mecânico em razão da densa massa de vegetação,</p><p>tendo como consequência o aumento da infiltração de água no solo.</p><p>Estima-se que esta prática controla cerca de 80 % das perdas de solo e 60 % das perdas</p><p>de água (Bertoni et al., 1972) e apresenta eficiência mesmo quando locada sem grande</p><p>precisão de nível e em declividades onde outras práticas são pouco eficientes.</p><p>A espécie escolhida para formar a faixa de vegetação deve, preferencialmente, ter</p><p>fim econômico, apresentar porte baixo, crescimento rápido e perenidade, formar densa</p><p>barreira com o solo, não ser invasora e nem servir de abrigo para pragas e doenças.</p><p>Algumas das espécies recomendadas são capim-cidreira (Cymbopogon citrnh1s), cana-de</p><p>açúcar (Sacdwrum spp.), capim-elefante e capim-napier (Pennisehon purpureum) e vetiver</p><p>(01rysopogo11 zizanioides (L.) Roberty), entre outras.</p><p>O vetiver (Figura 8) vem sendo recomendado para estabilizar o solo em áreas</p><p>declivosas (Vetiver Network - http:/ /www.vetiver.org), e as espécies forrageiras e cana</p><p>de-açúcar estão sendo indicadas para, adicionalmente, fornecer suplementação alimentar</p><p>aos animais domésticos, em pequenas propriedades.</p><p>F. 8 Avaliação da eficiência de cordões de vegetação permanente com capirn-vetiver no controle</p><p>igura · Ih C . SP de perdas por erosão, em Latossolo Verme o, ampmas, .</p><p>Fonte: Foto dos autor .</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONJSTAS DO SOLO E DA A GUA 539</p><p>Lombardi Neto e Drugowich (1994) recomendaram que os cor fõ s d~ ':'egetaçã</p><p>permanente seja m d ispostos em contorno no decli ve e em espaçamento definido pelo</p><p>m esmos crité rios de espaçamentos entre te rraços (Quadro 2).</p><p>Quadro 2. Espaçamentos entre fai xas de vegetação permanente cm razão do tipo de <;olo e d..i</p><p>declividade do terreno</p><p>D eclividade Arenoso</p><p>EH EV</p><p>Tipos de solo</p><p>Argiloso com baixa</p><p>infiltração</p><p>EH EV</p><p>% ---------------------------------------- m --------</p><p><4 0,90 30</p><p>5-8 1,20 20</p><p>8-22 1,50 15</p><p>EV = espaçamento vertical e EH = espaçamento horizontal.</p><p>Fonte: Adaptado de Lombardi Neto e Drugowid1 (1994).</p><p>1,00 33</p><p>1,35 23</p><p>1,70 17</p><p>Argiloso com alta</p><p>infiltração</p><p>EH EV</p><p>1,30</p><p>1,75</p><p>2,20</p><p>•B</p><p>29</p><p>22</p><p>Também, como variante dos cordões de vegetação permanente é o cultivo em aleia,</p><p>um sistema agroflorestal em que, nas faixas de vegetação permanente, são plantadas</p><p>urna ou mais fileiras de árvores e arbustos, de crescimento rápido e preferencialmente</p><p>que tenham simbiose com microrganismos fixadores de N</p><p>2</p><p>• esse caso, o espaçamento</p><p>entre as faixas de vegetação permanente deve ser tal que permita o bom desenvolvimento</p><p>das culturas plantadas entre as árvores. A eficiência do cultivo em aleias no controle da</p><p>erosão é variável em razão da altura das espécies escolhidas, formação da serrapilheira,</p><p>associação com cobertura de baixo porte e disposição no terreno. O efei to principal deste</p><p>sistema é a manutenção da matéria orgânica do solo e a ciclagem de nutrientes (Mafra et</p><p>al., 1998; Aguiar et al., 2009).</p><p>Os cordões de vegetação permanente podem ser utilizados no controle da era ão</p><p>eólica, formando quebra-ventos que são locados perpendicularmente à direção dominante</p><p>dos ventos (Lombardi Neto e Drugowich, 1994).</p><p>Cultivo ou culturas em faixas</p><p>O cultivo em faixas consiste na disposição das culturas em fai . a de largura variá el ao</p><p>longo do declive, de forma que se alternem diferentes culturas ou cultivares ou diferente</p><p>manejos e épocas de plantio de uma mesma cultura (Figura 9). O principal objetivo é obter</p><p>maior cobertura do solo no espaço e tempo. Assim, alternam-se nas faixas plantas que</p><p>oferecem pouca proteção ao solo com outras de maior produção de massa erde e raíze</p><p>ou se faz a semeadura das culturas nas faixas em épocas diferentes, de forma que parte</p><p>do campo esteja com o dossel da cultura formado e parte com as plantas iniciando eu</p><p>desenvolvimento.</p><p>A manutenção de maior cobertura do solo também pode ser alcançada com</p><p>alternância de preparo do solo, ou seja, em um momento uma faixa recebe O prepar</p><p>mecânico e em outro, não. O controle da erosão na área com cultivo em faixa é om ba e no</p><p>mesmo princípio dos cordões de vegetação permanente, ou seja, o solo perdido pela er ã</p><p>MAN EJ O E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>-</p><p>540</p><p>ISABELLA CLERlCI DE MARIA ET AL.</p><p>corrida na faixa com p uca cobertura ou mobilizada pelo preparo é retido, pelo menos em</p><p>parte, na' egeta ão ainda xi tente na faixa com boa cobertura e não mobilizada.</p><p>Figura 9. Cultivo em faixas, alternando faixas com cultivo de cana-de-açúcar e com cultivo de</p><p>crotalária. Foto: Luiz Carlos Dalben, Agrícola Rio Claro.</p><p>As faixas podem ter o reforço da proteção mecânica de terraços em ruvel ou em</p><p>desnível, em razão do declive e tipo de solo, principalmente para terrenos de topografia</p><p>regular. Assim, tomam-se uma prática complexa, porque combinam a prática vegetativa</p><p>(uso de plantas para controlar a erosão) com práticas edáficas (rotação de culturas) e</p><p>mecânicas (plantio em contorno e terraços), pelo que exigem esforço de planejamento,</p><p>embora seu custo seja relativamente baixo.</p><p>O cultivo em faixas como urna prática vegetativa</p><p>isolada é eficiente apenas em</p><p>declividades e em comprimentos de declive limitados. A eficácia do cultivo em faixas</p><p>com rotação de culturas adequada e disposição em nível pode chegar a 75 % no controle</p><p>de perdas de solo em declive entre 3 e 8 %; e, no caso de preparo convencional, em</p><p>comprimento de declive de até cerca de 240 m (Wischmeier e Smith, 1978).</p><p>Se a rotação adotada é muito simples, não acrescenta nenhum benefício para reduzir</p><p>a erosão hídrica em relação àquele proporcionado pelo cultivo em contorno isolado; nesse</p><p>caso, sua eficiência é de 50 % de controle da erosão em comprimento de declive máximo de</p><p>aproximadamente 120 m para o caso de preparo convencional (Wischmeier e Smith, 1978).</p><p>É importante ressaltar que a eficácia do cultivo em faixa na redução das perdas de</p><p>água é mais baixa em relação a outras práticas pelo fato de não diminuir o comprimento</p><p>do dechve, quando utilizado sem associação às praticas mecânicas.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO S OLO E DA Á GUA 541</p><p>O culti vo em faixas apresenta va riações em razão da escolha das cultu ra e da</p><p>disposição das faixas no relevo (Quadro 3). A la rgura das fai xas deve ser determinada por</p><p>causa do declive do terreno, do tipo de solo, da cultura e do manejo da cultura.</p><p>Quadro 3. Variações da prática conservacionis ta cul tivo cm faixas em rnão da escolha das cultura</p><p>e da disposição das faixas no relevo</p><p>Tipo</p><p>Fahas de exploração contínua</p><p>Faixas de exploração em rotação</p><p>Faixas niveladas</p><p>Faixas paralelas</p><p>Faixas associadas</p><p>Características principais</p><p>Culturas permanecem de um ano para outro na</p><p>mesma faixa, sem rotação de cul tu ras.</p><p>Culturas mudam de posição ou de faixa após o</p><p>término do ciclo de cultivo.</p><p>Limites entre fa ixas na linha de contorno do terre</p><p>no, em associação com o cultivo em con torno.</p><p>Apenas urna linha mediana é marcada no centro do</p><p>terreno, sendo as demais Linhas paralelas a esta.</p><p>Combina faixas com Linha divisória nivelada e fai</p><p>xas com linhas divisórias paralelas.</p><p>A largura da faixa será menor quanto mais erodível for o solo, maior sua declividade</p><p>e menor a densidade da cobertura proporcionada pelas culturas. Em geral, adota-se o</p><p>mesmo espaçamento que seria usado caso fossem utilizados terraços, facilitando inclusive a</p><p>futura construção destes, caso seja necessário. A largura destas faixas pode ser estabelecida</p><p>também com base no múltiplo da larpilla das máquinas, especialmente as semeadoras e</p><p>colhedoras que serão usadas na área. E preciso considerar que, quando a largura das faixas</p><p>em nível for muito irregular, haverá muitas ruas mortas, dificultando trabalhos de cu ltivo</p><p>e tráfego de máquinas.</p><p>O cultivo em faixas com rotação entre plantas anuais e semiperenes (cana-de-açúcar</p><p>e pastagens) pode incluir um período com adubo verde ou planta de cobertura. Es ta</p><p>alternância de culturas no tempo e espaço adiciona o efeito da rotação de culturas na</p><p>melhoria da qualidade do solo e na sua resistência à erosão hídrica, mas exige cuidad os</p><p>na escolha das culturas e dos manejas, considerando pragas, doenças e manejo de plantas</p><p>infestantes.</p><p>Para a produção da cana-de-açúcar, foi desenvolvido um sistema de cultura em faixas,</p><p>associado à adubação verde e à redução do preparo do solo, denominado meiosi (método</p><p>interrotacional ocorrendo simultaneamente, Barcelos, 1990) que consis te no plantio, em</p><p>faixas, de cana-de-açúcar intercalada com faixas para o cultivo de adubos verdes.</p><p>A cana-de-açúcar plantada é utilizada no ano seguinte para produzir mudas para</p><p>a faixa que estava com a adubação verde (Figura 10). Este sistema mantém o solo com</p><p>vegetação durante todo o período de reforma, reduz a porcentagem da área a ser preparada</p><p>e faz o efeito de barreira vegetal, retendo sedimentos e controlando a enxurrada, além de</p><p>reduzir o tráfego de máquinas para o corte e transporte das mudas, evitando compactação.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>-</p><p>542</p><p>lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>2 hnh,,~ d(• c,lll,l l'l,mt., de co\,.,r tum</p><p>uu ,,clubo verde</p><p>I</p><p>1-1----3 m 12m</p><p>Figura 10. Sistema de plantio em faixas, associado à adubação verde e à redução do preparo do solo</p><p>para a cultura de cana-de-açúcar, denominado meiosi.</p><p>Fonte: Foto do autores. Diagrama CATI/ SAA.</p><p>Qualidade na população de plantas</p><p>O número de plantas por unidade de área (estande) e a distribuição espacial uniforme</p><p>e adequada para o desenvolvimento destas plantas podem aumentar a porcentagem e</p><p>velocidade de formação da cobertura vegetal sobre o solo.</p><p>A partir de uma população de plantas adequada, com o mesmo número de plantas por</p><p>hectare, pode-se reduzir o espaçamento entre as linhas e awnentar o espaçamento entre as</p><p>plantas, o que possibilitará urna cobertura vegetal do solo mais uniforme e mais rápida. Essa</p><p>mudança na distribuição espacial das plantas pode não aumentar a produtividade, mas</p><p>pode refletir na redução do consumo de herbicidas e no custo de produção e, certamente,</p><p>diminuir as perdas por erosão (Lombardi Neto e Drugowich, 1994).</p><p>Nos sistemas de produção de grãos, os espaçamentos entre as linhas de plantas</p><p>das culturas anuais variam entre 15 e 90 cm e, em geral, há pouco efeito da redução do</p><p>espaçamento na quantidade de solo e água perdida por erosão. Este efeito é sempre no</p><p>sentido de que, mantendo-se o mesmo estande, com menor espaçamento entre linhas a</p><p>cobertura do solo será mais rápida e a erosão menor (Colvin e Laflen, 1981).</p><p>Em cultives perenes, com as distâncias mais largas entre fileiras de plantas, este</p><p>efeito é mais evidente (Quadro 4), embora nestes cultivas seja mais importante manter</p><p>os intervalos entre as linhas das culturas cultivadas com uma planta de cobertura ou com</p><p>cobertura morta.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>,</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA A GUA 543</p><p>Quadro 4. Efeito do espaçamento entre plantas d café nas perdas d s?lo por ero~ào ~ídrica_ e m</p><p>Argissolo em café novo (ele zero a cinco ano do plantio) e em café to rmado (seis a 12 anos <l o</p><p>plantio)</p><p>Perda de solo</p><p>Espaçamento</p><p>Café novo Café formado</p><p>m</p><p>3,Q X Ü,5 11,83</p><p>3,Q X 1,0 7,51</p><p>3,0 X 2,0 8,62</p><p>3,0 X 3,0 12,24</p><p><11 Relação das perdas com o solo descoberto.</p><p>Fonte: Adaptado de Prochnow et ai. (2005).</p><p>t ha·1 ano·1</p><p>Plantas de cobertura do solo</p><p>0,03</p><p>0,07</p><p>0,08</p><p>0,11</p><p>Razão de perda de solo111</p><p>Café novo Café formado</p><p>t r1</p><p>0,3219 0,000</p><p>0,2097 0,0058</p><p>0,2-W6 0,0072</p><p>0,3372 0,00 6</p><p>As plantas de cobertura se destinam a cobrir o solo durante o ciclo delas, seja este na</p><p>primavera-verão ou no outono-inverno e, ainda, sejam estas gramíneas, leguminosas ou</p><p>outras, ou combinações de diferentes espécies. Estas plantas, além de dissipar a energia</p><p>das gotas de chuva pelo efeito do dosse1, exercem importante efeito indireto na erosão na</p><p>medida em que mell1oram as condições químicas, biológicas e, principalmente, físicas do</p><p>solo. As gramíneas, em especial, potencializam a estruturação do solo pela ação das raízes,</p><p>enquanto as leguminosas, ao fixarem N</p><p>2</p><p>do ar no solo, melhoram sua fertilidade. Em</p><p>ambos os casos, há aumento na infiltração de água no solo com diminuição do escoamento</p><p>superficial e também melhoria na condição biológica, e quanto maior a densidade de</p><p>plantas menor a perda de solo por erosão.</p><p>A fitornassa residual destas culturas também tem função como cobertura morta para</p><p>o cultivo subsequente. Nesse caso, a taxa de decomposição da fitomassa influenciando a</p><p>persistência da cobertura do solo ao longo do tempo é uma caracterís tica importante e está</p><p>relacionada principalmente com sua relação C/N. De forma geral, as leguminosas, com</p><p>baixa relação C/N, se decompõem mais rapidamente. A semeadura simultânea de plantas</p><p>de d iferentes espécies denominada coquetel ou consórcio de plantas de cobertura tem sido</p><p>utilizada, buscando associar as características de persistência da fitomassa (Heinrichs et ai.,</p><p>2001), conferindo proteção do solo e de reciclagem e fornecimento</p><p>de nutrientes à cultura</p><p>subsequente (Giacomini et ai., 2004).</p><p>A produção de grande quantidade de massa vegetal, que pode se transformar em</p><p>matéria orgânica a ser acrescentada ao solo, e a ciclagern de nutrientes resultam em efeitos</p><p>indiretos das plantas de cobertura do solo na redução da erosão hídrica pluvial por causa</p><p>da melhoria dos atributos do solo. A matéria orgânica, ao ser mineralizada, disponibiliza</p><p>ácidos húmicos, que podem complexar Al, evitando efeitos tóxicos às plantas, e melhorando</p><p>a dispobilidade de nutrientes das plantas.</p><p>Muitas espécies de plantas adaptadas às distintas condiçõe agroclimáticas do Brasil</p><p>estão disponíveis para serem utilizadas como plantas de cobertura, tanto no período de</p><p>primavera/verão quanto no de outono/inverno. As leguminosas são as espécies mai</p><p>divulgadas como adubos verdes, mas diversas outras espécies, corno as gramíneas</p><p>(Poáceas), crucíferas e compostas, podem ser utilizadas (Wutke et ai., 2014).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>-</p><p>544</p><p>lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>As_ esp~cies indicadas como plantas de cobertura variam de acordo com as condições</p><p>e~afoc~máticas, o sistema de produção adotado e a época de plantio (Silveira e Stone, 2010;</p><p>L~m~ F1~1o et ai., 2014). Há mais opções para a Região Sul do Brasil, onde as chuvas são</p><p>distnbmdas ao longo do ano, do que para a região central, especialmente no Cerrado, pelo</p><p>período de défice lúdrico acentuado no outono-inverno.</p><p>E~tre as principais espécies de granúneas (Poáceas) cultivadas no outono-inverno,</p><p>exclusivan:ente para cobertura do solo, estão a aveia-preta (Avena strigosa), a aveia-branca</p><p>(Av~rn sahva) e a aveia-amarela (Avena byzantina), o azevém anual e o perene (Lolium</p><p>multiflorum Lam) e o centeio (Secale cereale L.). Também, há granúneas de outono-inverno,</p><p>destinadas à produção comercial, que também podem ser consideradas como cobertura</p><p>do_ solo, como a cevada (Hordeum vulgare), 0 trigo (Triticum spp) e o triticale (Triticoseca/e</p><p>Wittrnack). As gramíneas são importantes na produção de material vegetal, tanto na parte</p><p>aérea quanto nas raízes e, por isso, são eficazes na cobertura do solo e na agregação do solo,</p><p>além da ciclagem de nutrientes.</p><p>Com relação às leguminosas (Fabáceas) de outono-inverno, a ervilhaca (Vicia sativa),</p><p>ervilhada-peluda (Vicia villosa), parda (Vicia articulada), púrpura (Vicia atropurpurea),</p><p>húngara (Vicia pannonicn), hirsuta (Vicia Jzirsuta) e a de folha estreita (Vicia angustifólia)</p><p>são cultivadas. Além dessas, há a ervilha (Pisum sativum), a fava (Vicia Jaba), a serradela</p><p>(Omithopus sativus), o tremoço-branco (Lupinus albus), o amarelo (Lupinus luteus) e o azul</p><p>(Lupinus angustifolius), os trevos (Trifolium spp.), sendo os principais o encarnado e o</p><p>vermelho e o chícharo (Latliyrus sativus) importantes culturas para esta época do ano.</p><p>Estas leguminosas são importantes na produção de material vegetal, principalmente na</p><p>parte aérea, além de seu potencial na fixação de N</p><p>2</p><p>por simbiose e, por isso, são eficazes na</p><p>cobertura e melhoria da qualidade química do solo, além da ciclagem de nutrientes.</p><p>Entre as gramíneas de primavera-verão estão o milheto (Pennisetum glaucum), o sorgo</p><p>forrageiro ou capim-sudão (Sorglzum bicolor L. Moench e Sorglzum sudanense L.), o teosinto ou</p><p>dente-de-burro (Zea mays subesp. mexicana). Também têm sido utilizadas corno plantas de</p><p>cobertura as braquiárias, como a Urochloa ruziziensis. Estas espécies são grandes produtoras</p><p>de material vegetal na parte aérea e nas raízes e, por isso, apresentam grande potencial</p><p>para formação da cobertura do solo e melhoria de sua estrutura. Dentre as gramíneas</p><p>destinadas à produção comercial, o milho (Zea mays) destaca-se como sendo protetora do</p><p>solo pela grande quantidade de fitomassa residual persistente que produz.</p><p>No caso das leguminosas de primavera-verão, mesmo cultivadas no início do outono,</p><p>a cobertura do solo pode ser feita com feijão-de-porco (Canavalia ensifonnis); mucunas</p><p>(Mucuna sp.) preta, cinza, rajada e anã; guandu (Cajanus cajan), especialmente o arbustivo e</p><p>0 anão; e as crotalárias (Crotalaria spectabilis, C. juncea, C. ocroleuca, C. mucronata, C. brevifl.ora</p><p>e e. grantiana). Estas leguminosas são mais import~tes na_pro~ução de mate~ial ~egetal,</p><p>principalmente na parte aérea, ~ém d: seu ~ote~cial na fixaçao de N2 por s11nb10se, do</p><p>que as de outono-inverno e, por isso, sao mais efi_cazes do que a~uelas na cobertura e na</p><p>melhoria da qualidade química do solo, além da c1clagem de nutrientes.</p><p>Espécies como nabo-forr_ag~iro (Raphanus sativu~), colza ou ~anela (cruc_íferas)</p><p>(Brassica napus), espérgula (car10filáce~) _(Spergula _a1vens1s), no ~utono_-mverno; ~ girassol</p><p>(composta) (Helianthus annuus) e sesbama (le~osa) (Sesbama spec1osa), ~a pnrn~~era</p><p>verão, entre outras, são pronussoras para cobnr o solo e melhorar seus ah·1butos fis1cos,</p><p>químicos e biológicos.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII .: PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 545</p><p>Cultivo consorciado</p><p>A consorciação de culturas é uma prática utilizada há bastante tempo, especialmente ~m</p><p>pequenas propriedades agrícolas, porque possibilita melhor índice de utilização da terra, rrta1or</p><p>retomo econômico, melhoria da qualidade e fertilidade do solo, controle de pragas, doenças</p><p>e plantas infestantes, além de proporcionar maior cobertura do solo (Figura 11). Trata-se do</p><p>cu ltivo de duas ou ma.is espécies vegetais na mesma área, na mesma época, com semeadura ou</p><p>plantio simultâneo, ou com pequena defasagem de tempo entre uma época e outra.</p><p>O consórcio tem sido utilizado tanto em cultivas anuais (milho, feijão, hortaliças) como</p><p>em cultivos perenes (café, ci tros, seringueira, viticultura, banana, pastagens) e semi perenes</p><p>(mandioca).</p><p>Figura 11. Plantio consorciado de cana-de-açúcar e adubo verde, em área irrigada, em Latossolo</p><p>Vermelho na região de Ribeirão Preto, SP.</p><p>Fonte: Foto dos autores.</p><p>Para a formação de cobertura sobre o solo, buscam-se opções para a consorciação</p><p>de plantas de cobertura como o cultivo simultâneo de aveia, ervilhaca e nabo-forrageiro,</p><p>procurando associar as vantagens de cada espécie para melhorar os atributos do solo,</p><p>adicionar N ao sistema e manter o solo coberto por mais tempo (Giacomini et ai, 2003;</p><p>Crusciol et ai., 2013).</p><p>Um cultivo consorciado também muito utilizado é o sistema de milho no verão</p><p>consorciado com plantas forrageiras, semeadas com alguma defasagem em relação à época</p><p>de semeadura do milho. Neste sistema, após a colheita do milho, em razão do aumento de</p><p>luminosidade na superfície do solo, as plantas forrageiras rapidamente se desenvolvem.</p><p>Este sistema é utilizado para formar pastagens ou recuperar pastos degradados. É referido</p><p>como integração lavoura-pecuária (ILP).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>546 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>De_ forma semelhante e também com O objetivo de aumentar a coberturn do solo</p><p>em cultivas de grãos para proteger o solo contra a erosão, tem sido bastante difundido</p><p>0 ~~nsórcio milho safrin.ha-forrageiras, em sistema de cultivo de soja, no verão; e milho</p><p>s~tTm.ha, no ou tono-inverno (Ceccon, 2013). Nesse caso, as duas culturas (milho e forrageira)</p><p>sao semeadas ao mesmo tempo; no entanto, o milho se desenvolve mais rapidamente, e a</p><p>forrageira é som?reada. Após a colheita o milho, no final do período chuvoso, as forrageiras</p><p>esta~elecem rapidamente uma elevada biomassa, que pode ser pastejada ou apenas ter a</p><p>funçao de cobertura do solo para a posterior semeadura da soja em semeadw·a d ireta no</p><p>Yerão (Figura 12).</p><p>Figura 12. Consórcio entre espécies forrageiras e milho safrinha, em semeadUia direta com soja, no</p><p>verão, após a colheita do milho na região do Médio Paranapanema, SP.</p><p>Fonte: Foto dos autores.</p><p>Pastagem e sua integração com lavouras e florestas</p><p>A pastagem é um tipo de uso da terra que, quando bem conduzida, protege a superfície</p><p>do solo e resul ta em valores muito baixos de perdas de água e solo por erosão lúd rica, em</p><p>razão</p><p>da cobertura proporcionada pela biomassa aérea das plantas forrageiras, pelo efeito</p><p>das raízes nos atributos físicos do solo e pela consolidação do solo (Dechen et ai., 1981 ).</p><p>Em conjunto com as florestas, são consideradas como um uso conservacionista em</p><p>relação a outros usos da terra. Por isso, as pastagens são recomendadas pa1·a terrenos onde</p><p>os riscos de erosão são maiores. Entretanto, esta eficácia relativa na redução das perdas de</p><p>solo e de água depende fundamentalmente do manejo dos animais e das plantas forrageiras.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 547</p><p>A elevada eficácia das pastagens no controle das perdas de solo por erosão hídrica é</p><p>decorrente da cobertura do solo pela parte aérea muito próxima do nível do so lo;~, no ca 0</p><p>das gramíneas, do efeito das raízes na estruturação do solo. Por outro lado, a re lativamente</p><p>baixa eficácia destas no controle das perdas de água é devida à compactação do solo,</p><p>geralmente presente nas pastagens por causa da alta carga animal e da baixa oferta de</p><p>forragem, decorrentes do manejo inadequado.</p><p>O alto escoamento superficial em pastagens cult ivadas mal man jadas pode</p><p>desencadear elevadas perdas de solo, em especial quando as pastagens ão cultivadas</p><p>sobre solos frágeis do ponto de vista de resistência à erosão (Figura 13).</p><p>Figura 13. Pastagens degradadas, com erosão laminar e em pequenos sulcos, bai..'Xa qualidade física e</p><p>fertilidade do solo resultando em baixa produção de biomassa e cobertura do solo.</p><p>Foto: Foto dos autores.</p><p>Paisagens com pastagens degradadas, com baixa cobertura, sulcos de erosão e trilha</p><p>decorrentes de caminhamento animal são comuns em muitas regiões brasileiras. Por isso,</p><p>nem sempre as pastagens podem ser consideradas um uso conservacionista do solo, uma</p><p>vez que a presentam perdas de solo e de água e compactação da superfície.</p><p>Idealmente, deve-se manter a oferta de forragem em aproximadamente 12 % para</p><p>que as pastagens mantenham o ritmo adequado de crescimento vegetal, tanto na parte</p><p>aérea quanto nas raízes, para que, efetivamente, reduzam a erosão e conservem o solo e,</p><p>ao mesmo tempo, supram adequadamente os animais com forragem, confom,e dados de</p><p>Bertol e t al. (1998, 2000).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>548 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.</p><p>recuperação de pastagen degradadas, a readequação e a adoção de manejo da oferta</p><p>de forragen são fundamentais para a conservação dos solos pastejados, principalmente</p><p>pela e ·tensão territorial deste tipo de uso da terra no Brasil. As pastagens degradadas</p><p>apresentam pouca cobertura e oferecem pouca proteção ao solo, tanto contra a erosão como</p><p>contra a compactação do solo. Enh·e os sistemas adotados para recuperar as pastagens,</p><p>estão a integração enlTe lavoura e pecuária (lLP) e integração entre lavoura, pecuária e</p><p>floresta (lLPF). Estas formas de exploração da terra, integrando atividades de agricultura,</p><p>flore ta e pecuária, mantêm ou atm1entam a cobertura do solo durante o ano todo, com</p><p>tipos variados de vegetais, com ampla variedade de dossel e de capacidade de cobertura</p><p>do solo, incluindo a cobertura próxima à superfície do solo. Em situações como estas,</p><p>espera-se que a erosão do solo seja expressivamente reduzida. Estes sistemas de cultivo</p><p>integram a produção de grãos, frutas, fibras, madeira, carne, leite e, ou, agroenergia, em</p><p>uma mesma área.</p><p>O cultivo de grãos, a exploração de pastagens e a produção de espécies arbóreas são</p><p>realizados em consórcio, em rotação ou em sucessão, de forma planejada para resultar em</p><p>benefícios ecológicos, ambientais e econômicos, de modo duradouro. Além da conservação</p><p>do solo e da água, incluindo o controle da erosão, da melhoria dos atributos físicos,</p><p>químicos e biológicos, com aumento da biodiversidade do solo, estes sistemas promovem</p><p>a sustentabilidade da produção agropecuária, a diversificação de atividades e o bem-estar</p><p>animal (Figura 14). Maiores detalhes sobre ILPF podem ser vistos no capítulo 37 neste</p><p>mesmo livro, específico sobre este tema.</p><p>Figura 14. Sistemas de manejo (a) integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF), com a pastagem</p><p>estabelecida entre as linhas de eucalipto em Votuporanga, SP; e (b) integração lavoura pecuária</p><p>(TLP) estabelecida após cultivo de soja em Rancharia, SP.</p><p>Fotos: Fotos dos au tores.</p><p>Manejo das plantas infestantes</p><p>o manejo das plantas infestantes pode incluir ações para aumentar a cobertura do solo</p><p>por material vegetal, tornando ~stas plantas ~liadas no controle da erosão ~1ídrica _e eólica.</p><p>A alternáncia de épocas de capina das entrelinhas das culturas enh·e as faixas ad1acentes,</p><p>especialmente durante o período chuvoso_ em regiõ~s onde es~a condição climática existe, é</p><p>uma forma de reduzir as perdas por erosao em cultives anuais e perenes (Marques, 1950).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 549</p><p>Esta prática compreende fazer as capinas, utilizando métodos mecânicos ou químicos,</p><p>alternando faixas capinadas com não capinadas e, passado algum tempo, v_oltando ~ara</p><p>capinar as que foram deixadas com as plantas infestantes. Dessa forma, a fa1x~ que f~cou</p><p>com o mato retém o solo perd ido das faixas anteriormente capinadas. Todas as faixas terao 0</p><p>mesmo número de capinas usual. Esta prática exige atenção na distribuição das época~ P~ª</p><p>que a cultura não tenha perda de produtividade pela concorrência com o mato. É de ap~caçao</p><p>simples e de baixo custo e controla cerca de 30 % das perdas de solo, em culturas anua1s, e de</p><p>40 %, nos cultivas perenes, sendo mais eficiente se o cultivo estivar em contorno (Quadro 5).</p><p>Quadro 5. Efeito de práticas conservacionistas em cuJtUias anuais sobre as perdas de solo e água por</p><p>erosão</p><p>Perdas por erosão hídrica</p><p>Práticas</p><p>Linhas de plantio no sentido morro abaixo</p><p>Linhas de plantio em contorno</p><p>Linhas de plantio em contorno com alternância de capinas</p><p>Cordões em contorno com cana-de-açúcar</p><p>Fonte: Adaptado de Bertoni et al. (1972).</p><p>solo</p><p>t ha·1</p><p>26,0</p><p>13,2</p><p>9,8</p><p>2,5</p><p>água da</p><p>chuva</p><p>%</p><p>6,9</p><p>4,7</p><p>4,8</p><p>1,8</p><p>Também, urna prática relacionada ao manejo de plantas infestantes é a ceifa do</p><p>mato, mantendo a füomassa residual na superfície do solo, com eficiência de 74 %, no</p><p>controle das perdas de solo, e 51 %, na enxurrada (Marques, 1950). É uma das maneiras</p><p>mais eficientes de controlar a erosão nas culturas perenes (café, cacau, citros, pomares),</p><p>mantendo as plantas infestantes ceifadas a uma pequena altura da superfície do solo. O</p><p>sistema radicular das plantas fica intacto e a parte aérea forma urna vegetação protetora.</p><p>A ceifa deve ser feita regularmente para não prejudicar a cultura pela concorrência</p><p>do mato, com utilização de ceifadeiras apropriadas. Há algumas vantagens em relação a</p><p>capinas por métodos mecânicos com a grade como a cobertura que protege o solo contra o</p><p>impacto das gotas de chuva, sombreamento e controle da temperatura; e a manutenção de</p><p>umidade e da matéria orgânica do solo. Como não há desagregação da camada superficial</p><p>do solo, não há prejuízo às raízes das culturas perenes cultivadas.</p><p>Mais recentemente, passaram a ser cultivadas plantas de cobertura na entrelinha de</p><p>plantas perenes, mais eficientes na cobertura do solo em relação às plantas infestantes pelo</p><p>rápido crescimento e mais fáceis de controlar com ceifa ou capina química.</p><p>Diversas combinações de uso de roçadeiras e de herbicidas para controlar O mato</p><p>e manter o solo coberto têm sido utilizadas, com vantagens para o controle da erosão e</p><p>manutenção da umidade do solo. Em culturas perenes, o controle de gramíneas e plantas</p><p>de fo lha larga, feito com roçadeiras no verão e com produtos químicos no início do inverno,</p><p>preservando sempre intacto o sistema radicular, tem evidenciado eficiência no controle da</p><p>erosão. Tem sido utilizado, também, o manejo da vegetação das ruas de pomares de citros</p><p>com roçadoras projetadas para o corte e a deposição de fitomassas residuais</p><p>sob a área de</p><p>projeção da copa (Azevedo et al., 2012), com o objetivo de formar urna cobertura morta</p><p>sobre a superfície do solo no entorno das árvores (Figura 15).</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>550</p><p>lSABELLA (LERICI DE MARIA ET AL.</p><p>Figura 15. fanejo de plantas invasoras: (a) na entrelinha de pomar recém-implantado; e (b) em</p><p>pomar de limão manejado com roçadeira ecológica, concentrando a palha próximo à fileira de</p><p>plantas.</p><p>Fonte: Foto dos autores.</p><p>Florestamento, reflorestamento e faixas de bordadura</p><p>As terras de baixa capacidade de uso e, ao mesmo tempo, muito suscetíveis à erosão</p><p>devem ser cobertas por vegetação permanente densa, como florestas (Bertoni e Lombardi</p><p>Teto, 1990).</p><p>Para terrenos muito inclinados, de baixa fertilidade ou que já sofreram intensa erosão,</p><p>a melhor prática conservacionista vegetativa é florestar ou reflorestar para proteção do solo.</p><p>Pode-se considerar o floresta.menta como o plantio de floresta onde ela nunca existiu,</p><p>enquanto o reflorestamento é o seu plantio em locais onde ela já existiu e foi eliminada.</p><p>Preferencialmente, devem ser usadas espécies nativas da região para atuarem no equilíbrio</p><p>ecológico. O plantio ou replantio florestal em áreas íngremes deve ser feito no alto das</p><p>vertentes, com o objetivo de potencializar ali a infiltração de água no solo, reduzindo</p><p>assim a enxurrada e alimentando o fluxo de base que serve para perenizar as nascentes em</p><p>posições inferiores no declive. A floresta pode restabelecer o equilíbrio ecológico rompido</p><p>pelo inadequado uso da terra e do manejo anterior do solo.</p><p>As florestas, especialmente as ricas em espécies nativas frutíferas, são importantes nas</p><p>áreas ripárias para suprirem a fauna aquática com aumentos. Ainda, este tipo de floresta</p><p>atua fortemente no aumento da infiltração de água no solo, no retardamento da recarga e</p><p>na filtragem da água que incidirá nos rios e na redução da enxurrada e do consequente</p><p>aporte de sedimentos e produtos quúnicos para dentro do leito dos rios.</p><p>As á reas de maior risco ou que já foram severamente erodidas muitas vezes destinam</p><p>se ao uso florestal, pois a exploração da madeira, seja para energia, seja para a conslTução</p><p>civil, torna essa atividade mais rentável economicamente do que qualquer outra que possa</p><p>ser implantada em áreas deste tipo. Entretanto, é preciso planejar o manejo para estas</p><p>áreas, porque apenas a cobertura com espécies arbóreas não é suficiente para o controle</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 551</p><p>da erosão, principalmente pela falta de cobertura na superfície do solo e pela colheita total</p><p>das árvores (Figura 16).</p><p>Alguns estudos vêm demonstrando que há perdas por erosão nas á~ea~ d_e</p><p>reflorestamentos, principalmente na fase de implantação das espécies, sendo os pnnc1~~1s</p><p>fatores: o preparo do solo no sentido do declive com mobiLização intensiva da su perficie,</p><p>os solos frágeis e o declive acentuado (Martins et ai., 2003; Pires et ai., 2006; Baptista e</p><p>Levien, 2010).</p><p>Práticas edáficas, como sistemas conservacionistas de preparo, corte das árvores</p><p>escalonado no tempo, controle do fogo, época de plantio e colheita fora da época ~ais</p><p>chuvosa, também devem ser planejadas para que não ocorram novos processos erosivos</p><p>nestes locais.</p><p>Figura 16. Paisagem de solos suscetíveis à erosão em declividade elevada, correspondente à classe</p><p>de capacidade de uso VII: (a) protegida por reflorestamento; e (b) sem cobertura após a colheita</p><p>em área total.</p><p>Fonte: Foto dos autores.</p><p>As faixas marginais de terras cultivadas apresentam, muitas vezes, problemas de</p><p>controle da erosão. As faixas de bordadura consistem em faixas formadas por plantas</p><p>de porte baixo e vegetação fechada para conter excessos de enxurrada, evitando danos</p><p>(Bertoni e Lombardi Neto, 1990). Estas faixas, com 3 a 5 m de largura, são formadas na</p><p>margem de campos cultivados, ao lado de caminhos e canais escoadouros, ou com larguras</p><p>variáveis, colocadas em áreas mais íngremes, nas partes mais baixas da paisagem. Estas</p><p>áreas podem ser utilizadas para manobras de máquinas e implementes. Para sua formação,</p><p>são recomendadas leguminosas e gramíneas de pequeno porte e arbustos, havendo 0</p><p>cuidado para que esta área não seja fonte de sementes de plantas infestantes.</p><p>Práticas edáficas</p><p>As práticas conservacionistas de caráter edáfico são aquelas que, com modificações no</p><p>sistema de cultivo ou no manejo, promovem a melhoria das condições de fertilidade e de</p><p>qualidade física dos solos, de forma a contribuir para o controle da erosão.</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>552 lSABELLA (LERICI DE MARIA ET AL.</p><p>. 10 s sistemas de produção agropecuária e florestal, o consumo e a lixiviação dos</p><p>nuh·t~nte do solo, a degradação da matéria orgânica e a formação de camadas compactadas</p><p>conlTtbuem para a degradação dos atributos do olo relacionados com a sus tentação da</p><p>produção vegetal e infiltração de água no solo e, assim, proporcionam condições para</p><p>acelerar os processos erosivos.</p><p>As medidas de caráter edáfico se relacionam à manutenção e melhoria da qualidade</p><p>física e quíntica do solo. Solos equilibrados e consen adas quimicamente produzem</p><p>ma~s, com n~aior aporte de matéria , egetal, e, com isso, protegem mais e adicionam</p><p>maJor quanhdade de matéria orgânica, assim como solos que mantém uma estrutura</p><p>física adequada para o desenvolvimento radicular e a infiltração de água tornam-se mais</p><p>resistentes à erosão.</p><p>Entre os objeti, os das práticas edáficas está a manutenção da matéria orgânica do solo,</p><p>que tem importante relação com a erosão. Nos solos argilosos, a matéria orgânica modifica</p><p>a estrutura, formando espaço poroso entre as partículas, melhorando condições de aeração</p><p>e retenção de água. Nos solos arenosos, esta aglutina as partículas, estabilizando a esh·utura,</p><p>diminuindo o tamanho de poros e aumentando a capacidade de retenção de água.</p><p>Controle do fogo</p><p>O fogo vem sendo usado pelo homem há milênios para manejar a matéria vegetal e</p><p>preparar o terreno para a semeadma ou plantio. Esta prática apresenta algumas vantagens,</p><p>todas relacionadas à economia e facilidade na preparação de áreas para o cultivo. A</p><p>pronta mineralização de nutrientes pelo fogo pode propiciar aumento de produtividade</p><p>das culturas no curto prazo e ajudar a controlar pragas e plantas daninhas. No entanto,</p><p>o fogo apresenta desvantagens que superam essas vantagens imediatas. Os principais</p><p>problemas decorrentes do fogo são: eliminação da cobertura do solo, redução da matéria</p><p>orgânica, diminuição da atividade biológica pelo menos nos dias ou semanas após a</p><p>queima, eliminação de espécies vegetais menos resistentes, diminuição da infiltração e</p><p>armazenagem de água no solo, aumento do escoamento superficial e da erosão (Quadro</p><p>1). Com o aumento da erosão, aumentam as perdas de nutrientes (Berto! et aJ ., 2011) e o</p><p>empobrecimento do solo no longo prazo.</p><p>Correção do solo e adubação</p><p>A correção do solo, por meio de calagem e gessagem, tem reflexo direto na produção</p><p>das culturas, urna vez que oferece condições ideais para o máximo aproveitamento do</p><p>potencial produtivo das plantas, criando um ambiente favorável no solo ao desenvolvimento</p><p>das raízes, aumentando o volume explorado, o que proporciona melhor aproveitamento</p><p>de água e nutrientes.</p><p>A calagem é uma operação de manejo do solo utilizada para eliminar a toxidez de</p><p>aJwnínio, normalmente presente em solos ácidos, e diminuir a concentração de íons H da</p><p>solução do solo para níveis adequados para plantas cultivadas e microrganismos.</p><p>Elevadas concentrações de AI em solução são tóxicas para a maioria das plantas</p><p>cultivadas, especialmente para as legwninosas, e para os microrganismos do solo,</p><p>especialmente as bactérias. Assim, .ª _Preci~ita_ção do AI e ~ elevação do pH por meio da</p><p>calagem propicíam melhores cond1çoes qumucas na soluçao do solo para a produção de</p><p>MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA</p><p>XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA</p>