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Prévia do material em texto

<p>Autores: Prof. Adalberto Oliveira da Silva</p><p>Profa. Camila Kimie Ugino</p><p>Prof. Marcos Paulo de Oliveira</p><p>Colaborador: Prof. Maurício Felippe Manzalli</p><p>Macroeconomia Aplicada</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Professores conteudistas: Adalberto Oliveira da Silva / Camila Kimie Ugino /</p><p>Marcos Paulo de Oliveira</p><p>Adalberto Oliveira da Silva</p><p>Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC‑SP). Atualmente é professor adjunto</p><p>da UNIP – Universidade Paulista, no curso de Ciências Econômicas, e leciona disciplinas de Macroeconomia Aplicada, História</p><p>Econômica Geral e Técnicas de Pesquisa em Economia.</p><p>É técnico do Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Socioeconômicos (Dieese), em que atua em pesquisas sobre</p><p>mercado de trabalho. Suas áreas de interesse são: teoria econômica, desenvolvimento econômico, economia brasileira e políticas</p><p>públicas. Também atua como revisor técnico no projeto da Biblioteca Universitária Pearson para a confecção de material didático</p><p>de cursos superiores.</p><p>Camila Kimie Ugino</p><p>Possui graduação em Ciências econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (2005), mestrado em Economia Política</p><p>(2011) e doutorado em andamento na área de Ciências Sociais com ênfase em ciência política pela Pontifícia Universidade Católica</p><p>de São Paulo. Atualmente é professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade Paulista, ministrando as</p><p>disciplinas de Introdução à Economia, Economia Política, Economia Internacional e Economia do Setor Público. Tem experiência na</p><p>área de Economia, com ênfase em Economia dos Programas de Bem‑Estar Social, Economia Política e Políticas Públicas.</p><p>Atuou no mercado financeiro nos bancos Unibanco e Citibank nas áreas de planejamento corporativo e na área de risco, e</p><p>também em empresa privada em Campinas no ramo farmacêutico veterinário.</p><p>Marcos Paulo de Oliveira</p><p>Graduado em Ciências Econômicas pela UNIP – Universidade Paulista com mestrado em Economia Política pela Pontifícia</p><p>Universidade Católica de São Paulo – PUC‑SP.</p><p>Leciona na UNIP desde o ano de 2002 em várias disciplinas, dentre elas, Contabilidade Social, Economia e Gestão do Setor Público,</p><p>Macroeconomia Fechada, Macroeconomia Aberta, Macroeconomia Aplicada. Trabalhou no setor privado na área de atacado, importação</p><p>e exportação, e no setor público com políticas públicas de geração de trabalho, emprego e renda, bem como nas áreas de planejamento e</p><p>gestão pública como gerente de indicadores econômicos e sociais, e como gerente de acompanhamento das receitas e dos gastos públicos.</p><p>© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou</p><p>quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem</p><p>permissão escrita da Universidade Paulista.</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>S586m Silva, Adalberto Oliveira da.</p><p>Macroeconomia Aplicada. / Adalberto Oliveira da Silva, Camila</p><p>Kimie Ugino, Marcos Paulo de Oliveira. – São Paulo: Editora Sol, 2017.</p><p>176 p., il.</p><p>Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e</p><p>Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2‑038/17, ISSN 1517‑9230.</p><p>1. Macroeconomia aplicada. 2. Modelo monitarista. 3. Modelos</p><p>macroeconômicos. I. Ugino, Camila Kimie. II. Título.</p><p>CDU 330.101.541</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Prof. Dr. João Carlos Di Genio</p><p>Reitor</p><p>Prof. Fábio Romeu de Carvalho</p><p>Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças</p><p>Profa. Melânia Dalla Torre</p><p>Vice-Reitora de Unidades Universitárias</p><p>Prof. Dr. Yugo Okida</p><p>Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa</p><p>Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez</p><p>Vice-Reitora de Graduação</p><p>Unip Interativa – EaD</p><p>Profa. Elisabete Brihy</p><p>Prof. Marcelo Souza</p><p>Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar</p><p>Prof. Ivan Daliberto Frugoli</p><p>Material Didático – EaD</p><p>Comissão editorial:</p><p>Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)</p><p>Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)</p><p>Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)</p><p>Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)</p><p>Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)</p><p>Apoio:</p><p>Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD</p><p>Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos</p><p>Projeto gráfico:</p><p>Prof. Alexandre Ponzetto</p><p>Revisão:</p><p>Marcilia Brito</p><p>Juliana Mendes</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Sumário</p><p>Macroeconomia Aplicada</p><p>APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7</p><p>INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7</p><p>Unidade I</p><p>1 MODELO MONETARISTA ............................................................................................................................... 11</p><p>1.1 Taxa natural de desemprego ............................................................................................................ 19</p><p>1.2 Expectativas adaptativas ................................................................................................................... 22</p><p>1.3 Curva de oferta agregada de curto e longo prazos ............................................................... 24</p><p>1.4 Curva de Phillips (curto e longo prazos) ..................................................................................... 25</p><p>1.5 Recomendações de política ............................................................................................................. 32</p><p>1.6 Críticas e evidência empírica ........................................................................................................... 35</p><p>2 MODELO DE EXPECTATIVAS RACIONAIS (MODELO NOVO‑CLÁSSICO)....................................... 36</p><p>2.1 A ofensiva novo‑clássica e a estrutura de seus modelos .................................................... 37</p><p>2.1.1 A hipótese de expectativas racionais .............................................................................................. 39</p><p>2.1.2 Market clearing contínuo e a hipótese da oferta agregada ................................................. 42</p><p>2.2 Modelo macroeconômico geral com expectativas racionais ............................................. 45</p><p>2.2.1 Políticas antecipadas e choques não antecipados .................................................................... 45</p><p>2.2.2 Curva de oferta de Lucas ..................................................................................................................... 49</p><p>2.2.3 Modelo de “ilhas” (oferta) de Lucas ................................................................................................ 51</p><p>2.2.4 Curva de Phillips com expectativas racionais ............................................................................. 55</p><p>2.3 Implicações político‑econômicas da abordagem novo‑clássica ....................................... 58</p><p>2.4 Críticas ao enfoque de expectativas racionais ......................................................................... 61</p><p>3 TEORIA DOS CICLOS ECONÔMICOS REAIS ............................................................................................ 62</p><p>3.1 Introdução e características básicas ............................................................................................. 63</p><p>3.2 Modelo básico de ciclos econômicos reais ................................................................................ 66</p><p>3.3 Choques reais (positivos e negativos) .......................................................................................... 72</p><p>3.4 Neutralidade e não neutralidade da moeda ............................................................................. 74</p><p>3.5 Críticas ao enfoque dos ciclos reais .............................................................................................. 75</p><p>a</p><p>proposição keynesiana sobre a eficácia da política fiscal, sendo adotado por Friedman (1985) o discurso</p><p>de total rejeição dessa proposição, já que, neste caso, a política fiscal seria totalmente ineficaz e o</p><p>importante seria a quantidade de moeda.</p><p>Se a política fiscal tivesse algum efeito, este seria certamente temporário e por isso não mereceria</p><p>nenhuma atenção. Na explicação dessa situação, quando o modelo monetarista discute os efeitos de</p><p>uma política fiscal, o caminho centra‑se nos efeitos de variações no orçamento governamental, em</p><p>situações de onde a quantidade de moeda continua constante.</p><p>Supondo um aumento nos gastos públicos, num caso em que a arrecadação tributária não seja</p><p>alterada, tais gastos devem ser financiados pela emissão de moeda ou por meio da venda de títulos. De</p><p>modo similar, em uma redução na arrecadação com os gastos se mantendo inalterados, as receitas de</p><p>impostos que foram perdidas devem ser substituídas pela venda de títulos ou por emissão de moeda</p><p>(FROYEN, 2013, p. 243).</p><p>Quando os casos de corte de impostos ou de aumento de gastos forem financiados pela emissão de</p><p>moeda, caracterizaria uma ação de política monetária, pelo aumento de M, conjuntamente, com uma</p><p>ação de política fiscal com aumento de G ou diminuição de T. Reproduzindo essa situação no diagrama</p><p>da IS‑LM, teríamos um deslocamento simultâneo das curvas IS e LM. Até esse ponto, os monetaristas</p><p>não afirmariam que há uma ineficácia da mudança de política, mas que o efeito da política é motivado</p><p>pela alteração que promoveu no estoque de moeda.</p><p>A divergência com a teoria keynesiana, quanto à política fiscal, seria relacionada ao efeito de uma</p><p>mudança totalmente de origem orçamentária; logo, que fosse realizada sem alteração na quantidade</p><p>de moeda. Nas palavras de Froyen (2013, p. 244):</p><p>Isso significa, no caso de um corte dos impostos ou de um aumento nos</p><p>gastos, que o déficit criado por essas medidas seria completamente</p><p>financiado pela venda de títulos ao público. A posição monetarista é que</p><p>tais ações de política econômica terão pouco efeito sistemático sobre a</p><p>renda nominal (preços ou produto real) a curto prazo, em um período de,</p><p>por exemplo, um a três anos.</p><p>33</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>As razões pelas quais os monetaristas chegam a tal conclusão estão ilustradas na figura a seguir:</p><p>Taxa de</p><p>juros (r)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>LM 0</p><p>IS 1</p><p>IS 0</p><p>r1</p><p>Y1Y0</p><p>r0</p><p>Figura 11 – Efeitos de um aumento nos gastos do governo: o caso monetarista</p><p>Nessa figura, temos os efeitos de um aumento nos gastos do governo quando aceitamos as proposições</p><p>monetaristas que determinam as inclinações das curvas IS e LM. Com um aumento nos gastos do governo,</p><p>de G0 para G1, temos o deslocamento da curva IS para a direita, de IS0 para IS1. Temos neste movimento</p><p>que o efeito, pela ótica monetarista, será produzir uma elevação da taxa de juros, neste caso, de r0 para r1.</p><p>Quando ao nível de renda, sua mudança será muito pequena, do ponto Y0 para Y1.</p><p>Mas quais as razões que motivam o pequeno crescimento do produto? A explicação oferecida reside</p><p>nas inclinações das curvas IS e LM; portanto, leva‑se em consideração a elasticidade‑juros da demanda</p><p>por moeda e da demanda por investimentos.</p><p>No modelo monetarista, a elasticidade‑juros da demanda por moeda é considerada pequena,</p><p>resultando numa curva LM bastante inclinada. Nessa situação, inicialmente temos um aumento da</p><p>demanda agregada em razão do aumento dos gastos do governo. Mas conforme a renda começa a</p><p>elevar‑se, a demanda por saldos para transações também aumenta. No caso de uma oferta de moeda</p><p>fixa, tais aumentos implicam uma alta das taxas de juros, que continuará se elevando até que a oferta</p><p>e a demanda por moeda sejam novamente coincidentes. Além disso, quanto mais inelástica a demanda</p><p>por moeda for, em relação aos juros, maiores serão os aumentos necessários na taxa de juros para</p><p>reequilibrar a demanda por moeda no mesmo patamar da oferta de moeda que continuou fixa.</p><p>Sendo a curva IS quase plana, a demanda por investimento apresenta uma alta sensibilidade em</p><p>relação à taxa de juros; assim, num segundo momento, a elevação das taxas de juros irá forçar uma</p><p>diminuição da demanda agregada do setor privado, via diminuição dos investimentos, quando os gastos</p><p>do governo começavam a estimular o crescimento da renda. Essa redução na demanda agregada do</p><p>setor privado é o conhecido efeito crowding out ou efeito deslocamento. Em outras palavras, os gastos</p><p>públicos expulsariam os gastos privados anulando os efeitos da política fiscal sobre o nível de produto.</p><p>34</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Em termos líquidos, o resultado é que a demanda agregada e a renda aumentam muito pouco em</p><p>razão de um aumento nos gastos do governo. Portanto, para os monetaristas a política fiscal não seria</p><p>recomendada, por mostrar‑se ineficaz em seu intuito, podendo ocasionar distúrbios na economia pela</p><p>ação unilateral dos governos.</p><p>Já no tocante à política monetária, a posição monetarista diverge da posição keynesiana; além disso,</p><p>ressalta seus efeitos sobre as flutuações econômicas. A diferença atual entre keynesianos e monetaristas</p><p>com relação às políticas monetárias não questiona se a política monetária pode afetar a renda, mas se</p><p>refere ao modo pelo qual a política monetária deve ser usada para estabilizar a renda.</p><p>Como vimos anteriormente, para os monetaristas as mudanças na quantidade de moeda representam</p><p>a principal causa das alterações da renda nominal e, a curto prazo, também nas alterações da renda real.</p><p>Nas palavras de Froyen (2013, p. 245):</p><p>Disso decorre que a estabilidade no comportamento do estoque de moeda</p><p>seria muito importante para produzir estabilidade no crescimento da renda.</p><p>Friedman atribui a maior parte da instabilidade passada no crescimento da</p><p>renda a um crescimento instável da oferta de moeda.</p><p>Por conta disso, a prescrição seria que as autoridades monetárias utilizassem os instrumentos</p><p>necessários para evitar as oscilações da oferta de moeda, tendo uma postura de realizar uma política para</p><p>obter uma taxa de crescimento específica em um estoque monetário específico. Seria, portanto, adotar a</p><p>máxima de Friedman (1985) em que os valores precisos da taxa de crescimento, assim como do estoque</p><p>monetário, não seriam importantes perante a adoção de uma taxa definida e conhecida por todos.</p><p>Para dar um exemplo, as autoridades monetárias poderiam anunciar e cumprir uma meta para a</p><p>taxa de crescimento de M1 (moeda corrente mais depósitos a vista) de 5% ao ano. Friedman acredita</p><p>que o crescimento da renda nominal seria, então, de aproximadamente 5% ao ano. Se a tendência de</p><p>crescimento da renda real fosse de 3% ao ano, o nível de preços subiria cerca de 2% ao ano. O nível de</p><p>5% não é essencial, mas, qualquer que seja o nível escolhido, Friedman quer uma taxa de crescimento</p><p>constante do estoque de moeda.</p><p>Outros monetaristas propuseram, recentemente, regras alternativas para o crescimento da moeda,</p><p>menos inflexíveis do que a regra de taxa de crescimento constante da moeda de Friedman (1985).</p><p>Apesar destas divergências, há um elemento comum nas propostas monetaristas que consiste na defesa</p><p>de um crescimento do estoque de moeda estabelecido por uma regra, ficando imune ao arbítrio dos</p><p>formuladores de políticas econômicas. Além disso, lembre‑se de que os monetaristas acreditam que,</p><p>deixado sozinho, o setor privado seja bastante estável.</p><p>Por outro lado, os monetaristas também advertem sobre os abusos de utilizar‑se das políticas</p><p>monetárias. Esses autores acreditam que mudanças no estoque de moeda tenham forte efeito sobre a</p><p>renda, mas acreditam que a moeda afete a renda com alguma defasagem. O efeito mais significativo</p><p>de uma ação monetária adotada hoje será sentido, acreditam eles, somente após um período de seis a</p><p>dezoito meses (FROYEN, 2013).</p><p>35</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Assim, para compensar um pequeno choque, é preciso ser capaz de prever seu tamanho e</p><p>quando ele irá afetar a economia, com muito tempo de antecedência. Nesse ponto, os monetaristas</p><p>acreditam que não haja conhecimento suficiente para empreender tal evento. Portanto, as tentativas</p><p>de compensar pequenos choques, no passado, levaram as autoridades monetárias a causar uma</p><p>desestabilização da renda.</p><p>1.6 Críticas e evidência empírica</p><p>De modo geral, a influência monetarista sobre as políticas econômicas centrou‑se na regra de</p><p>controle da oferta de moeda. Esse expediente foi adotado, no ano de 1979, pelo Banco Central Americano</p><p>(Federal Reserve), assumindo‑se um controle da oferta de moeda para conter uma aceleração da taxa de</p><p>inflação em sua economia. Medida que também foi seguida pela economia do Reino Unido no mesmo</p><p>ano. Assim, entendia‑se que a relação moeda‑renda apresentava um comportamento estável e que o</p><p>controle surtiria efeito.</p><p>Mas no período pós‑1980, a influência dos monetaristas diminui, já que em testes empíricos a</p><p>relação moeda‑renda mostrava‑se crescentemente instável. Portanto, a realidade contestava uma das</p><p>principais bases da teoria monetarista, ou seja, a estabilidade da velocidade da moeda ao longo do</p><p>tempo. No modelo monetarista, se a oferta de moeda e o produto movem‑se praticamente juntos, a</p><p>velocidade de circulação da moeda, dada pela razão (PY/M), deveria apresentar‑se estável.</p><p>Contudo, a velocidade estava sujeita a uma considerável instabilidade após os anos 1980. Quando</p><p>os economistas passaram a estudar a velocidade da medida do M1 da oferta de moeda nos Estados</p><p>Unidos, entre os anos de 1979 e 2005, constataram‑se fortes declínios da velocidade nos períodos entre</p><p>1985‑1987 e 1989‑1993 e, depois, um aumento da velocidade entre 1994 e 2001. Logo, ferindo uma</p><p>das principais bases do modelo monetarista e desacreditando suas regras de política macroeconômica</p><p>(FROYEN, 2013).</p><p>Devido à constatação dessa instabilidade da relação entre a moeda e a renda, muitas instituições e</p><p>o próprio meio acadêmico decretavam de certa forma o desaparecimento do monetarismo. Tal situação</p><p>forçou os monetaristas a reconsiderarem suas posições em alguns pontos, o que não levou a mudança</p><p>no que tange a suas concepções fundamentais.</p><p>Com essa constatação, muitos monetaristas passaram a defender regras mais flexíveis para</p><p>o crescimento da moeda, em detrimento da regra da taxa constante de crescimento da moeda.</p><p>Explicitamente, alguns autores advogavam regras voltadas diretamente para o controle da taxa de</p><p>inflação, que em grande parte contribuiu para os modernos sistemas de metas de inflação.</p><p>Mas também ocorreu de alguns monetaristas continuarem apoiando as conclusões teóricas de</p><p>Friedman (1985), que nesse período ressaltava que esse episódio só ratificava a importância da moeda</p><p>e, portanto, não poderia ser deixada totalmente a cargo das autoridades dos bancos centrais, devido</p><p>à influência governamental sobre tais instituições. Logo, ainda seria importante a adoção da regra de</p><p>crescimento constante da moeda.</p><p>36</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>De forma conclusiva, podemos constatar, mesmo com as críticas que foram movidas ao monetarismo,</p><p>sua grande influência no debate macroeconômico e, especificamente, o modelo de Milton Friedman</p><p>tornando‑se parte do senso comum sobre as políticas monetárias, ainda que suas recomendações</p><p>tenham perdido influência. Como destaca Froyen (2013, p. 249):</p><p>Políticas monetárias baseadas em regras ganharam popularidade entre os</p><p>economistas acadêmicos e autoridades de bancos centrais. O papel dominante</p><p>da política monetária na determinação da inflação foi amplamente aceito.</p><p>As concepções de Friedman sobre as limitações de políticas de estabilização</p><p>também permanecem fortemente influentes.</p><p>2 MODELO DE EXPECTATIVAS RACIONAIS (MODELO NOVO‑CLÁSSICO)</p><p>Eric Hobsbawm, no capítulo dedicado às décadas de crise (aberta nos anos 1970) de sua obra Era do Extremos</p><p>(1995), afirma que “a história dos vintes anos após 1973 é a de um mundo que perdeu suas referências e resvalou</p><p>para a instabilidade e a crise” (HOBSBAWN, 1995, p. 393). É nesse contexto de “perda de referências” que aquilo</p><p>que se apresentou como compromisso (ou consenso) keynesiano, e que marcara os chamados Anos Dourados</p><p>(ou “os trinta anos gloriosos”, do pós‑guerra até meados dos anos 1970), sofreria duras críticas teóricas e práticas.</p><p>Questionamentos acerca de por que a economia mundial teria se tornado menos estável ou se</p><p>Can “It” Happen Again? (Pode acontecer de novo?), título de uma famosa obra do economista Hyman</p><p>Minsky, publicada no início dos anos 1980, eram constantes.</p><p>Ainda que, segundo Hobsbawm (1995), não tenha sido imediatamente óbvia a profundidade das</p><p>mudanças conjunturais da economia (que, posteriormente, abririam reflexões a respeito de possíveis</p><p>alterações estruturais), uma série de economistas e de forças políticas buscavam apontar alternativas</p><p>teóricas e políticas à crise que se manifestara.</p><p>No bojo das alternativas à crise dos anos 1970, ideias que resgatavam a crença na capacidade</p><p>de economias de mercado alcançarem estabilidade macroeconômica, sem significativas intervenções</p><p>estatais e que ressaltavam justamente os equívocos produzidos pelo ativismo político no campo da</p><p>macroeconomia, adquiriam um espaço acadêmico inimaginável nos quinze anos anteriores.</p><p>Tais ideias significaram uma nova volta no parafuso da “contrarrevolução” monetarista (abordada</p><p>anteriormente) e originaram um sistema teórico relativamente novo na área da macroeconomia, que</p><p>se difundiu como escola (de pensamento) novo‑clássica. Ao contrário dos economistas monetaristas,</p><p>os novo‑clássicos estabeleceram suas análises numa crítica generalizada à eficiência (e eficácia) das</p><p>políticas ativas de estabilização, adotando um viés totalmente contrário ao pensamento keynesiano.</p><p>O questionamento à eficácia de políticas econômicas keynesianas ocorrera já com o monetarismo</p><p>(dos anos 1950 e 1960), porém, mesmo o monetarismo ainda relegava algum papel (particularmente</p><p>a curto prazo) a políticas econômicas ativas e pautadas pela discricionariedade (apesar de destacada</p><p>baixa efetividade). De certo modo, é possível afirmar que o pensamento novo‑clássico radicalizou</p><p>certas diretrizes analíticas abertas no monetarismo. A principal delas era que o keynesianismo teria</p><p>37</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>sido incapaz de explorar as implicações mais profundas das expectativas endogenamente formadas</p><p>pelo comportamento dos agentes econômicos. Na perspectiva novo‑clássica, o ativismo presente no</p><p>pensamento keynesiano seria, portanto, demasiadamente ambicioso e fundamentalmente falho. A única</p><p>forma aceitável de incorporar expectativas em modelos macroeconômicos seria adotar alguma variação</p><p>da hipótese de “expectativas racionais” inaugurada, em 1961, por John Muth (SNOWDON; VANE, 2005).</p><p>John F. Muth (1930‑2005) publicou seu artigo seminal “Rational Expectations and the Theory of Price</p><p>Movements” (Expectativas Racionais e a Teoria do Movimento de Preços) na revista Econometrica em 1961.</p><p>A hipótese apresentada nesse trabalho é de que a economia geralmente não desperdiça informações,</p><p>e as expectativas dependem da estrutura total do sistema (informação é escassa e não pode ser</p><p>desperdiçada). O modo como expectativas são formadas depende da estrutura relevante do sistema</p><p>descrito, e uma previsão pública não tem impacto substantivo sobre a operação do sistema econômico</p><p>(expectativas individuais estão mais sujeitas a erros do que a teoria).</p><p>Além disso, Muth apontava que, como as expectativas são prognósticos informados por eventos</p><p>futuros, elas são essencialmente semelhantes a prognósticos de teoria econômica. Para evitar confundir</p><p>essa hipótese (puramente</p><p>descritiva) com uma afirmação do que as empresas devam fazer, ela é chamada</p><p>de expectativa “racional”. Essa hipótese poderia ser entendida da seguinte maneira: a probabilidade</p><p>subjetiva de uma distribuição de resultados tende a ser, para o mesmo conjunto de informações,</p><p>semelhante às predições da teoria (isto é, “distribuições objetivas de probabilidades de resultados”).</p><p>A partir de Muth, e seguindo destacadamente as contribuições de Thomas Sargent e de Robert E. Lucas</p><p>Jr., a combinação de expectativas racionais, princípios teóricos de equilíbrio e a noção de market clearing</p><p>contínuo (ajuste flexível de preços perfeito e instantâneo) definiram as bases teóricas da análise novo‑clássica.</p><p>Como destacam Snowdon e Vane (2005), ainda que Lucas tenha usado explicitamente a hipótese de</p><p>expectativas racionais em 1965 (ao analisar políticas ótimas de investimento), foi a partir da incorporação</p><p>de um quadro de equilíbrio geral walrasiano, já nos anos 1970, que a hipótese de expectativas racionais</p><p>ficou efetivamente clara. Avançando para o campo de análise de flutuações econômicas agregadas,</p><p>natureza do desemprego e ênfase destacada no equilíbrio voluntário (de mercados).</p><p>Essas modificações teóricas, aliadas a trabalhos empíricos, permitiram estabelecer esse modo de</p><p>questionamento ao pensamento keynesiano dominante como “revolução lucasiana”, muito mais</p><p>profunda do que teria sido a crítica monetarista dos anos 1960, a despeito da significativa influência de</p><p>Friedman (1985) nessa nova tradição de pensamento macroeconômico.</p><p>2.1 A ofensiva novo‑clássica e a estrutura de seus modelos</p><p>De acordo com Snowdon e Vane (2005), o modo pelo qual a abordagem novo‑clássica se desenvolveu</p><p>no início dos anos 1970 apresentou as seguintes características importantes:</p><p>• Forte ênfase na teorização macroeconômica baseada em microfundamentos (postulados da teoria</p><p>neoclássica da escolha inseridos em um quadro geral de equilíbrio walrasiano).</p><p>38</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>• Adoção do pressuposto neoclássico de que todos os agentes econômicos são racionais (isto é, os</p><p>agentes são “otimizadores contínuos”, sujeitos aos constrangimentos que enfrentam, as empresas</p><p>maximizam lucros e otimizam mão de obra e as famílias maximizam utilidade).</p><p>• Agentes não sofrem de “ilusão monetária” (como reconhecia, por exemplo, o pensamento monetarista)</p><p>e, portanto, somente as magnitudes reais (preços relativos) importam para otimizar decisões.</p><p>• Flexibilidade de preços e de salários contínua, o que garante o market clearing adequado (isto é,</p><p>o mercado se mover em direção a um preço no qual a quantidade ofertada é igual à quantidade</p><p>demandada), na medida em que os agentes esgotam os benefícios mútuos de ganho do comércio</p><p>(não existindo, portanto, oportunidades rentáveis inexploradas).</p><p>Como sabemos, um elemento de destaque nas tradições de pensamento inspiradas em Keynes é</p><p>que em uma economia monetária de produção (baseada na iniciativa privada e mediada por moeda)</p><p>a demanda agregada pode e deve ser administrada pelos governos. Contudo, dadas as suposições</p><p>teóricas novo‑clássicas, alterações na quantidade de moeda devem ser neutras e são as magnitudes</p><p>reais (independentemente de variáveis nominais) que influenciam as decisões dos agentes; isto é, os</p><p>valores de variáveis reais como emprego, produto e renda são insensíveis a políticas sistemáticas de</p><p>administração da demanda agregada (política fiscal, monetária etc.), mesmo a curto prazo, o que Froyen</p><p>(2006) denomina postulado novo‑clássico da ineficácia das políticas econômicas.</p><p>Ainda segundo Snowdon e Vane (2005), podem‑se resumir os principais elementos da abordagem</p><p>macroeconômica novo‑clássica como: a aceitação conjunta das sub‑hipóteses principais: i) expectativas</p><p>racionais; ii) suposição de “compensação do mercado” (market clearing) contínua; e iii) hipótese de</p><p>oferta agregada de Lucas (ou “curva de oferta de Lucas”).</p><p>Hipótese de expectativas racionais</p><p>John Muth (1961)</p><p>Market clearing contínuo</p><p>Hipótese da oferta agregada</p><p>(“Curva de oferta de Lucas”)M</p><p>ac</p><p>ro</p><p>ec</p><p>on</p><p>om</p><p>ia</p><p>n</p><p>ov</p><p>o‑</p><p>cl</p><p>ás</p><p>sic</p><p>a</p><p>(1</p><p>ª g</p><p>er</p><p>aç</p><p>ão</p><p>)</p><p>Figura 12 – A estrutura dos modelos novo‑clássicos</p><p>Observação</p><p>Snowdon e Vane (2005) advertem que, embora os novo‑clássicos</p><p>aceitem todas essas hipóteses mencionadas, é possível que economistas</p><p>de outras orientações teóricas também aceitem a hipótese de expectativas</p><p>racionais, sem necessariamente admitir as demais.</p><p>39</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>A seguir abordaremos esses elementos que conformam o corpo teórico original do pensamento</p><p>novo‑clássico.</p><p>2.1.1 A hipótese de expectativas racionais</p><p>Para entendermos o significado do conceito de expectativas racionais e os demais fundamentos</p><p>da macroeconomia novo‑clássica é interessante recapitularmos brevemente algumas das conclusões</p><p>estabelecidas pela macroeconomia keynesiana sobre efeitos das políticas econômicas.</p><p>Nos modelos keynesianos tradicionais uma política de expansão da demanda agregada baseada,</p><p>por exemplo, no aumento do estoque (oferta) de moeda produz deslocamentos na curva de</p><p>demanda agregada.</p><p>A) Mercado de produto</p><p>B) Mercado de mão de obra</p><p>N</p><p>ív</p><p>el</p><p>d</p><p>e</p><p>pr</p><p>eç</p><p>os</p><p>(P</p><p>)</p><p>Produto (Y)</p><p>P2</p><p>P1</p><p>Y1</p><p>Y1</p><p>D</p><p>Y2</p><p>D</p><p>Y2</p><p>A) Mercado de produto</p><p>Sa</p><p>lá</p><p>rio</p><p>m</p><p>on</p><p>et</p><p>ár</p><p>io</p><p>(W</p><p>)</p><p>Emprego (N)</p><p>W2</p><p>W1</p><p>N1</p><p>NS(Poe)</p><p>PMgN(P2)</p><p>PMgN(P1)</p><p>N2</p><p>B) Mercado de mão de obra</p><p>Figura 13 – Expansão da demanda agregada no modelo keynesiano</p><p>Observando a figura anterior, a expansão da demanda agregada gera aumentos nos níveis de produto,</p><p>de emprego e de preços. Como o nível de emprego aumenta, há impactos sobre a curva de Phillips – a</p><p>taxa de desemprego diminui e o nível de salários nominais se eleva. O que se pode extrair, ao analisar a</p><p>figura, é que como expansões da demanda agregada elevam no nível de preços, quanto mais rápida for</p><p>a taxa de crescimento da demanda, maior tenderá a ser a taxa de inflação. Tem‑se, com isso, uma das</p><p>conclusões centrais do modelo keynesiano: o trade‑off entre inflação e desemprego (alto crescimento</p><p>corresponde a baixo desemprego, mas também a altas taxas de inflação).</p><p>Contudo, há ainda uma diferença no comportamento da curva de Phillips entre o curto prazo e</p><p>o longo prazo (ela tem inclinações diferentes). A análise de curto prazo supõe a constância do nível</p><p>esperado de preços (P0</p><p>e da Figura 13B, que determina as características da curva de oferta de mão de</p><p>obra), motivo pelo qual os efeitos apresentados seriam específicos a essa situação. A longo prazo, é</p><p>40</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>necessário considerar os feitos também do nível de preços esperados, o que não aparece na Figura 13B,</p><p>mas que (recapitulando) denota a diferença da curva de Phillips a curto e a longo prazos, como mostra</p><p>a figura a seguir.</p><p>CP longo prazo</p><p>CP curto prazo</p><p>Taxa de desemprego (µ)</p><p>Ta</p><p>xa</p><p>d</p><p>e</p><p>in</p><p>fla</p><p>çã</p><p>o</p><p>(π</p><p>)</p><p>Figura 14 – A curva de Phillips na perspectiva keynesiana</p><p>A questão crucial para que os resultados, no modelo keynesiano, de curto prazo e longo prazo</p><p>sejam diferentes está na expectativa do nível de preços. A suposição usual era de que o nível esperado</p><p>de preços seria determinado fundamentalmente pelos preços observados no passado, sem grandes</p><p>destaques para as ações esperadas da política econômica atual. Esse foi justamente um dos pontos</p><p>de ataque do pensamento novo‑clássico, não aceitando as conclusões keynesianas (e nem mesmo as</p><p>monetaristas, particularmente no que se refere à política monetária) de diferentes efeitos sobre produto</p><p>e emprego a curto e a longo prazos. A arma da crítica seria o modo de formação de expectativas.</p><p>A formação das expectativas para o nível de preços nos “modelos convencionais” (keynesianos e</p><p>monetaristas) pressupõe que os ofertantes de mão de obra (no caso da curva de Phillips) tomem</p><p>suas</p><p>decisões com base em comportamentos passados. De modo que o ajuste de expectativas pode ser</p><p>trabalhado como um processo lento e, por conseguinte, possibilitar a algumas modelagens tomarem as</p><p>expectativas como fixas (que, no caso, é própria definição de “curto prazo”).</p><p>Na visão dos novo‑clássicos essas formulações sobre expectativas seriam extremamente limitadas e,</p><p>no limite, equivocadas. A pergunta colocada pelos novo‑clássicos seria: por que os agentes econômicos,</p><p>sendo racionais, se baseariam apenas em valores passados do nível de preços para formarem suas</p><p>expectativas sobre níveis futuros? Ora, se os agentes são racionais, não faz sentido supor que eles</p><p>continuarão a cometer “erros” no futuro, como o da chamada “ilusão monetária”, após uma experiência</p><p>que demonstre os limites dessas “ilusões”.</p><p>Na verdade, os novo‑clássicos vão além. Nessa perspectiva, dado que praticamente todas as</p><p>decisões econômicas envolvem algum tipo de tomada de decisão no presente envolvendo retornos</p><p>futuros incertos, as expectativas sobre o futuro são cruciais nesse processo de tomada de decisão.</p><p>Como destacam diversos precursores do pensamento novo‑clássico, sendo as expectativas informadas</p><p>41</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>por previsões de eventos futuros, é razoável considerar que elas têm a mesma consistência que as</p><p>previsões da teoria econômica relevante (daí a afirmação de John Muth de que a probabilidade subjetiva</p><p>de uma distribuição de resultados tende a ser, para o mesmo conjunto de informações, semelhante a</p><p>distribuições objetivas – leia‑se: predições teóricas).</p><p>Um exemplo ilustrativo desse raciocínio, destacado por autores novo‑clássicos e mencionado por</p><p>Snowdon e Vane (2005), diz respeito a negociações salariais entre sindicatos e empregadores: se um</p><p>negociador sindical subestimar a taxa de inflação vigente durante o período (futuro) a ser acordado, os</p><p>trabalhadores estarão propensos a avaliar que eles obtiveram um aumento nominal, mas sem ganhos</p><p>reais (o que significa uma avaliação de que a negociação implicou, na verdade, cortes reais de salário).</p><p>A rigor, os autores identificáveis como novo‑clássicos retomam duas questões fundamentais para a</p><p>modelagem macroeconômica, que envolvem a questão das expectativas: i) como os indivíduos adquirem,</p><p>processam e usam informações com vistas a formarem expectativas de variáveis‑chave; ii) qual a forma</p><p>da hipótese sobre expectativas que devemos usar em modelos (SNOWDON; VANE, 2005).</p><p>A atratividade da hipótese de expectativas racionais é oferecer uma alternativa à hipótese, até então</p><p>dominante à época, de expectativas envolvendo erros sistemáticos. O que implicava algum tipo de</p><p>limitação à racionalidade dos agentes (ou, no limite, se apresentava como hipóteses não racionais), algo</p><p>que não se ajustava plenamente aos pressupostos mais gerais dos modelos neoclássicos.</p><p>Como destacamos, um tema caro à macroeconomia é o das expectativas. Até o início dos anos 1970,</p><p>o tratamento dado às expectativas pela macroeconomia era basicamente de dois tipos: i) expectativas</p><p>como animal spirits (espírito animal), expressão consagrada na Teoria Geral, de Keynes, a qual sugeria</p><p>que as expectativas são importantes, porém impossíveis de serem plenamente explicadas racionalmente</p><p>— a incerteza é (um fenômeno) fundamental, porém impossível de ser reduzido a um conjunto de</p><p>probabilidades ou ter seu tratamento reduzido a avaliação de “riscos”—, ou tomadas simplesmente</p><p>como uma variável exógena aos modelos; ii) as expectativas têm uma natureza retrospectiva, já</p><p>que uma expectativa se ajusta (lentamente) ao comportamento passado da variável; isso significa a</p><p>existência de expectativas estáticas (esperança de que o futuro fosse igual ao presente, e esse por sua</p><p>vez reproduzia as informações passadas) ou expectativas adaptativas (se a previsão de determinada</p><p>variável se mostrasse distante do que efetivamente ocorreu, supunha‑se que os agentes se adaptariam,</p><p>alterando a estimativa realizada anteriormente).</p><p>Observação</p><p>A hipótese de expectativas racionais foi uma inovação na macroeconomia,</p><p>pois alterou a natureza de tratamento dado às expectativas. De estáticas</p><p>ou mesmo adaptativas, portanto de natureza retrospectiva (observação de</p><p>informações passadas), as expectativas passaram a ser tratadas como se</p><p>dispusessem de uma natureza prospectiva – agentes econômicos utilizam</p><p>todas as informações relevantes disponíveis e avaliam inclusive as informações</p><p>sobre política econômica e teorias econômicas relevantes.</p><p>42</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>No interior das discussões sobre expectativas racionais há pelo menos duas versões sobre essa</p><p>hipótese: a “versão fraca” e a “versão forte”. Como afirmam Snowdon e Vane (2005), a ideia central</p><p>subjacente à “versão fraca” é que, para a formação de previsões ou expectativas sobre o valor futuro</p><p>de determinada variável, os agentes econômicos racionais farão o melhor uso (mais eficiente) do</p><p>conjunto de informações disponíveis sobre os fatores que considerarem influenciar o comportamento</p><p>da variável em questão; as expectativas são “racionais” por seguirem um padrão de comportamento</p><p>maximizador de utilidade. Por exemplo: se os agentes considerarem que a taxa de inflação é</p><p>determinada basicamente pela expansão da oferta monetária, eles usarão todas as informações</p><p>publicamente disponíveis sobre as taxas de expansão monetária para formarem suas expectativas de</p><p>taxas futuras de inflação.</p><p>Já na “versão forte”, que é aquela assumida pelos expoentes do pensamento novo‑clássico, as</p><p>expectativas formadas subjetivamente pelos agentes econômicos serão essencialmente idênticas</p><p>às previsões da teoria econômica relevante, como afirma Muth em seu texto de 1961, coincidindo,</p><p>portanto, com as expectativas objetivas do comportamento da variável em questão.</p><p>Uma questão que pode surgir diz respeito à chamada “teoria econômica relevante” e nos ajuda a</p><p>entender a diferença entre expectativas racionais e previsão perfeita do futuro. Para estabelecerem</p><p>suas expectativas, por exemplo, sobre inflação, os agentes tomarão o que eles consideram ser o modelo</p><p>macroeconômico “correto”, o que pode implicar erros nas suas previsões; além disso, mesmo agindo de</p><p>forma inteligente, os agentes se deparam, via de regra, com informações escassas e/ou incompletas.</p><p>Porém, esses erros não significam que todas as previsões estavam incorretas. Na “versão forte” da</p><p>hipótese de expectativas racionais, esses erros passíveis de previsão não têm relação com o conjunto</p><p>de informações disponíveis no momento em que as expectativas foram formadas, isso porque, na</p><p>média, as expectativas estarão corretas, com valores formados idênticos aos valores reais observados.</p><p>As expectativas que foram formadas incorretamente não serão “adaptadas”, mas os agentes mudarão a</p><p>forma de elaboração de suas expectativas, eliminando os erros (SOWDON; VANE, 2005).</p><p>Na seção seguinte examinaremos algumas das implicações analíticas da incorporação das</p><p>expectativas racionais e possibilidades de utilização de “erros” na formação de expectativas, com</p><p>enfoque em decisões de política econômica. Agora, cabe examinarmos o segundo elemento constitutivo</p><p>dos modelos novo‑clássicos, o market clearing (em tradução literal, “compensações de mercado”, mas</p><p>que pode ser entendido por nós como “equilíbrio de mercado”) contínuo.</p><p>2.1.2 Market clearing contínuo e a hipótese da oferta agregada</p><p>As duas outras suposições, além das expectativas racionais, que compõem o corpo teórico originário</p><p>da macroeconomia novo‑clássica são o market clearing contínuo, que para fins de simplificação</p><p>podemos tratar como equilíbrio de mercado contínuo (desde que lembremos que se trata de um processo</p><p>intertemporal, e não de situações estáticas de equilíbrio, o que envolve compensações contínuas das</p><p>interações entre oferta e demanda), e os pressupostos</p><p>presentes na análise da curva de oferta (difundida</p><p>usualmente como “curva de oferta de Lucas”, em referência a Robert E. Lucas Jr., um dos formuladores</p><p>e principais difusores dessa reavaliação da curva de oferta).</p><p>43</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>À primeira vista, a questão do equilíbrio de mercado pode parecer não ser algo de destaque;</p><p>afinal, uma das características básicas das teorias neoclássicas (pelo menos em suas versões mais</p><p>“puras”) seria justamente a adoção de alguma noção de equilíbrio. Contudo, a ênfase colocada</p><p>pelos novo‑clássicos é muito mais intensa e com significativas implicações para a análise de</p><p>políticas econômicas.</p><p>No caso do equilíbrio de mercado, os modelos consideram os agentes como “tomadores de</p><p>preços”, isto é, os preços de mercado são dados aos variados agentes (empresas, trabalhadores,</p><p>consumidores etc.), os quais não dispõem de poder de mercado para influenciar o nível de preços.</p><p>Seguindo a tradição de pensamento walrasiana, os modelos consideram a existência de uma</p><p>estrutura de mercado de concorrência perfeita (em que a produção ótima é ponto de equilíbrio entre</p><p>custo marginal e receita marginal, dado o preço de mercado).</p><p>Observação</p><p>Marie‑Ésprit Léon Walras (1834‑1910) foi um dos fundadores da</p><p>teoria da utilidade marginal e também responsável pela introdução de</p><p>significativa formalização matemática na economia. É considerado um</p><p>dos primeiros economistas a desenvolver uma teoria geral (abstrata)</p><p>do equilíbrio econômico através de uma combinação de equações</p><p>funcionais e da teoria do valor‑utilidade. Junto com William Stanley</p><p>Jevons e Carl Menger, é tido como responsável pela “revolução</p><p>marginalista”. Em sua obra Elementos de Economia Política Pura</p><p>(1874), Walras aponta que, em um mercado competitivo, o equilíbrio</p><p>se dá em um preço específico que iguala a quantidade ofertada à</p><p>quantidade demandada e que atende ao desejo dos consumidores</p><p>racionais de que as utilidades marginas sejam iguais.</p><p>Desconsiderando possíveis externalidades, os preços de mercado são determinados exclusivamente</p><p>pela interação de oferta e demanda. Supondo que essas condições se apliquem a todos os mercados, já</p><p>que os agentes otimizam seus resultados de acordo com as restrições dadas, o sistema econômico pode</p><p>ser tratado como em estado contínuo de equilíbrio (SNOWDON; VANE, 2005).</p><p>Recuperando alguns elementos de microeconomia conhecidos por nós, o destaque dado</p><p>pelo pensamento novo‑clássico é de que o equilíbrio contínuo de concorrência perfeita</p><p>significa justamente uma situação eficiente no “sentido de Pareto”. Esse raciocínio é ilustrado</p><p>na figura a seguir:</p><p>44</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A) B)</p><p>O O</p><p>D D</p><p>Pr</p><p>eç</p><p>os</p><p>(P</p><p>) Excedente do</p><p>consumidor</p><p>Excedente</p><p>do produtor</p><p>Pe Pe</p><p>Ps</p><p>Pd</p><p>Qe QeQ1Quantidade (Q) (Q)</p><p>(P)</p><p>Figura 15 – Eficiência de Pareto</p><p>A estrutura competitiva de mercado determina uma quantidade ótima de Pareto (em Qe, o preço</p><p>que alguém está disposto a pagar para comprar uma unidade adicional do bem é igual ao preço que</p><p>alguém pode receber para vender essa unidade). Nas situações com os preços Pd ou Ps, tem‑se perda</p><p>de excedente econômico, que é capturado pelos produtores (em Pd) ou pelos consumidores (em Ps);</p><p>além disso, como as situações não são de equilíbrio, por exemplo, no caso de Ps, existem consumidores</p><p>dispostos a pagar mais para terem uma unidade adicional do bem e há também produtores capazes de</p><p>ofertarem mais Q1, desde que o preço seja superior a Ps.</p><p>Um aspecto importante é que, seguindo a hipótese de expectativas racionais, o preço e a quantidade</p><p>de equilíbrio (bem como a posição das curvas de oferta e de demanda) serão determinados pela</p><p>expectativa dos agentes. Caso suponhamos que os agentes disponham de informações imprecisas ou</p><p>incompletas, de modo que as expectativas, à primeira vista, pareçam estar incorretas, o argumento</p><p>novo‑clássico é de que, apesar de essas limitações (ou “erros”) na formação das expectativas terem</p><p>gerado um preço diferente daquele que haveria se as informações fossem completas, a situação seria</p><p>de equilíbrio, pois os agentes estariam fazendo o melhor que pudessem com as informações a sua</p><p>disposição. Assim, como enfatizam Snowdon e Vane (2005), racionalidade gera maximização, o que, por</p><p>sua vez, produz equilíbrio contínuo.</p><p>Um pressuposto polêmico do equilíbrio contínuo de mercado é o da livre flutuação dos preços.</p><p>Diferentemente de abordagens keynesianas (ou mesmo monetaristas), que problematizam a questão</p><p>dos possíveis desequilíbrios de mercados, por exemplo, produzidos por rigidez de alguns preços, ou</p><p>discutem o tempo necessário para o ajuste dos preços (que pode ser mais ou menos lento), nos modelos</p><p>novo‑clássicos essas discussões não bloqueiam a hipótese de equilíbrio contínuo – o que, diria um</p><p>keynesiano, significa tratar o desemprego como unicamente voluntário, sem incorporar as questões</p><p>candentes colocadas por Keynes em sua Teoria Geral.</p><p>45</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Por fim, o último elemento de destaque característico da abordagem novo‑clássica é a hipótese</p><p>de oferta agregada. Também por trás dessa hipótese estão dois pressupostos microeconômicos</p><p>convencionais: i) os comportamentos das firmas e dos trabalhadores são reflexos de suas decisões</p><p>racionais; ii) a oferta de mão de obra dos trabalhadores e a oferta de produção das firmas dependem</p><p>dos preços relativos (SNOWDON; VANE, 2005).</p><p>No caso do mercado de trabalho, que envolve a decisão dos trabalhadores de quanto tempo pretendem</p><p>alocar entre trabalho e “lazer”, argumenta‑se que caso o salário real corrente esteve acima do nível esperado de</p><p>salário real, tem‑se um estímulo a se trabalhar mais no presente antecipando (afinal, está presente, a hipótese</p><p>de expectativas racionais) para trabalhar menos no futuro, quando se espera que o salário real seja menor que</p><p>o presente. Nesse modelo de substituição intertemporal (entre tempos presentes e futuros de trabalho e “lazer”),</p><p>as mudanças no nível de emprego são explicadas, como se destacou anteriormente, em termos “voluntários”.</p><p>No caso do mercado de bens e serviços, o destaque é dado ao caráter das informações disponíveis para</p><p>as empresas. O pensamento novo‑clássico assume que uma empresa seja capaz de saber efetivamente</p><p>o preço atual apenas de seus próprios produtos, enquanto o nível geral de preços dos outros mercados</p><p>apenas se torna conhecido com uma defasagem.</p><p>Desse modo, quando a empresa se depara com uma elevação do preço de seu produto pela demanda</p><p>do mercado, ela deve avaliar e decidir se essa mudança no preço reflete uma efetiva mudança na</p><p>demanda por seu produto (o que permite aumentar o preço de sua produção em relação aos demais</p><p>preços de mercado) ou se ela reflete apenas uma elevação nominal de preços em todos os mercados</p><p>(não fazendo sentido elevar sua produção).</p><p>Essa questão envolvendo a decisão de produção dada uma alteração no preço é chamada de</p><p>problema da extração de sinais, que significa que as empresas devem distinguir entre mudanças nos</p><p>preços relativos ou no nível geral de preços (preço absoluto).</p><p>Discutidas as hipóteses estruturantes do pensamento novo‑clássico, podemos passar para a próxima seção, de</p><p>discussão do modelo macroeconômico geral, na qual será exposta graficamente a curva de oferta novo‑clássica.</p><p>2.2 Modelo macroeconômico geral com expectativas racionais</p><p>2.2.1 Políticas antecipadas e choques não antecipados</p><p>Para o entendimento do modelo macroeconômico geral na análise novo‑clássica é interessante recuperar</p><p>o exemplo da negociação salarial. Considerando a hipótese de expectativas racionais, os ofertantes de mão</p><p>de obra, ao estabelecerem a previsão futura do nível de preços para o período corrente, utilizarão todas as</p><p>informações passadas relevantes, e isso vai muito além da</p><p>simples análise do comportamento dos preços:</p><p>leva em consideração também a política econômica prevista (esperada) por suas estimativas de preços</p><p>– o que, cabe frisar, significa que os ofertantes de mão de obra compreendem a relação entre políticas</p><p>econômicas e nível de preços (FROYEN, 2006). Porém, antes de estabelecermos análises mais profundas,</p><p>é importante diferenciar se as políticas que examinaremos são antecipadas ou não antecipadas pelos</p><p>agentes, posto que tal diferença produz efeitos distintos sob a hipótese de expectativas racionais.</p><p>46</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Suponha que a autoridade monetária expanda o estoque de moeda como reação a um aumento</p><p>do desemprego. Tem‑se, portanto, uma política expansionista, que pode ter sido anunciada</p><p>previamente ou que as próprias informações públicas já indicassem. A diferença entre os modelos</p><p>keynesianos e o caso novo‑clássico, como já podemos imaginar, dada a hipótese de expectativas</p><p>racionais, está inicial e centralmente nas variáveis que determinam as curvas de oferta agregada e</p><p>de oferta de mão de obra.</p><p>No caso do modelo keynesiano, supõe‑se que a oferta de mão de obra dependa do salário real</p><p>esperado, isto é, o salário monetário já conhecido dividido pelo nível de preços esperado no futuro.</p><p>N t</p><p>W</p><p>P</p><p>S</p><p>e= </p><p></p><p></p><p></p><p>A oferta de mão de obra (Ns) é uma função (t) da razão entre salário nominal (W) e nível esperado</p><p>de preços (Pe). Como lembra Froyen (2006), no caso de aumento no nível esperado de preços, tem‑se</p><p>o deslocamento tanto da curva de oferta de mão de obra quanto da curva de oferta agregada para a</p><p>esquerda (ou para cima, de acordo com o modo de observarmos a expressão gráfica). Isso porque um</p><p>aumento no nível esperado de preços corresponde a um salário real esperado mais baixo (com preços</p><p>maiores, o mesmo salário nominal terá menor poder de compra). Como o aumento nos preços esperados</p><p>reduz o emprego, ele também reduz o produto ofertado (o que significa justamente que a curva de</p><p>oferta agregada se desloca para cima e para a esquerda).</p><p>Já no modelo novo‑clássico, o nível esperado de preços depende de um conjunto mais amplo</p><p>de variáveis. Como estamos tratando de uma possível política monetária expansionista, os agentes</p><p>examinarão, além do nível esperado de moeda, também o nível de gastos, de arrecadação e de</p><p>outras variáveis consideradas relevantes (por exemplo, de algumas commodities, como o preço</p><p>do petróleo).</p><p>O2(M1, ...)</p><p>D2(M1, ...)</p><p>D1(M0, ...)</p><p>O1(M0, ...)</p><p>N</p><p>ív</p><p>el</p><p>d</p><p>e</p><p>pr</p><p>eç</p><p>os</p><p>(P</p><p>)</p><p>P2’</p><p>P1</p><p>Pd</p><p>Y1 Y2’ Produto (Y)</p><p>Figura 16 – Efeito de um aumento no estoque de moeda na oferta e a demanda agregadas</p><p>47</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Um aumento do estoque de moeda (de M0 para M1) desloca a curva de demanda agregada</p><p>D1 para (à direita) D2. Ao supor que a curva de oferta não se deslocasse, mantendo‑se em O1, o</p><p>produto cresceria para Y2’, porém o nível de preços também subiria, de P1 para P2’. Contudo, dada</p><p>a elevação do nível de preços, devemos supor que a curva de demanda por mão de obra também</p><p>se desloque.</p><p>Como o aumento do estoque de moeda foi previsto pelos agentes, devemos considerar que, na</p><p>verdade, a curva de oferta agregada se deslocou para a esquerda, de O1 para O2. Desse modo, o ponto de</p><p>equilíbrio entre D2 e O2, que são as curvas de demanda e oferta agregadas após o aumento do estoque</p><p>de moeda e os efeitos sobre o mercado de mão de obra, mantenham o mesmo nível de produto (Y1) com</p><p>tão somente um nível de preços superior (P2).</p><p>Lembrete</p><p>Nos modelos keynesianos e também monetaristas, em que não há</p><p>a hipótese de expectativas racionais, o nível esperado de preços não</p><p>tem uma relação direta com o valor efetivo das variáveis analisadas</p><p>pelos agentes para tomada de decisão, produzindo efeitos somente</p><p>a longo prazo, quando todas as variáveis são consideradas móveis; a</p><p>curto prazo tanto a oferta agregada quanto a oferta de mão de obra</p><p>seriam fixas.</p><p>Ns(M1</p><p>e, ...)</p><p>Ns(M0</p><p>e, ...)</p><p>Nd</p><p>(P2</p><p>,)</p><p>Nd</p><p>(P2)</p><p>Nd</p><p>(P1)</p><p>Pr</p><p>eç</p><p>os</p><p>(P</p><p>)</p><p>W2’</p><p>W1</p><p>W2</p><p>N1 N2’ Emprego (N)</p><p>Figura 17 – Efeito de um aumento no estoque de moeda no mercado de mão de obra</p><p>Observando o mercado de mão de obra, a elevação no nível de preços (de P1 para P2’) deslocaria</p><p>a curva de demanda por mão de obra de Nd(P1) para Nd(P2’), e o nível de emprego subiria para N2’.</p><p>Mas como o aumento do estoque de moeda foi previsto, a curva de oferta agregada de mão de</p><p>obra se desloca para a esquerda, de Ns(M0) para Ns(M1). Emprego e produto voltaram para seus</p><p>níveis iniciais e, no caso do mercado de mão de obra, a diferença é que agora o salário nominal</p><p>48</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>subiu de W1 para W2 (mas o salário real manteve‑se o mesmo, já que houve uma elevação do</p><p>nível geral de preços).</p><p>Como a elevação do estoque de moeda já era esperada, os ofertantes de mão de obra,</p><p>entendendo o efeito inflacionário dessa política, não tiveram nenhuma “ilusão monetária”</p><p>com a elevação dos salários nominais. O impacto da hipótese de expectativas racionais é que</p><p>as medidas de política econômica com efeitos potenciais sobre a demanda agregada, caso</p><p>previstas pelos agentes, não são capazes de afetar o produto real e o nível de emprego nem</p><p>mesmo a curto prazo.</p><p>E se, então, a modificação na política econômica, com o aumento da oferta de moeda, não tivesse sido</p><p>prevista pelos agentes? Quais seriam os efeitos se os agentes tivessem uma surpresa na política monetária?</p><p>De início, os efeitos seriam semelhantes àqueles que vimos anteriormente. O aumento no</p><p>nível de oferta de moeda deslocaria a curva de demanda agregada para a direita (na figura</p><p>anterior, de D1 para D2). Essa elevação da demanda agregada elevaria também a demanda por</p><p>mão de obra (na anterior, Nd(P1) para Nd(P2’)), mas não ocorreriam os deslocamentos nas curvas</p><p>de oferta agregada e de oferta de mão de obra. Como a política monetária expansionista em</p><p>questão não foi prevista pelos agentes, ela não afetou as expectativas dos ofertantes de mão de</p><p>obra sobre o nível esperado de preços e, portanto, para os mesmos níveis de oferta de mão de</p><p>obra os trabalhadores não exigirão salários nominais maiores e não teremos impactos de curto</p><p>prazo na curva de oferta agregada. Isso significa que, no caso de uma “surpresa monetária”, pelo</p><p>menos a curto prazo, temos impactos sobre produto e emprego (o nível de produto iria para Y2’</p><p>e o nível de emprego iria para N2’).</p><p>Observação</p><p>No caso de um choque não antecipado pelos agentes, tem‑se</p><p>no modelo novo‑clássico um resultado semelhante ao previsto nos</p><p>modelos keynesianos e monetaristas. Porém, no caso novo‑clássico, os</p><p>efeitos seriam apenas de curto prazo e resultado da não antecipação</p><p>pelos agentes do efeito inflacionário decorrente da política, enquanto</p><p>nas perspectivas keynesiana e monetária os efeitos de curto prazo</p><p>sobre produto e emprego valem para qualquer tipo de alteração na</p><p>demanda agregada.</p><p>No quadro a seguir são sintetizados os efeitos observados.</p><p>49</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Quadro 1 – Efeito de um aumento no estoque de moeda (a curto prazo)</p><p>Mudança política antecipada</p><p>(Alteração esperada no nível de oferta monetária)</p><p>Mudança política não antecipada</p><p>(Nível não esperado de oferta monetária)</p><p>þ Curva de demanda agregada se desloca para a direita,</p><p>de D1 para D2 þ Curva de demanda agregada se desloca D1 para D2</p><p>ý Curva de oferta agregada não se desloca,</p><p>mantendo‑se em O1</p><p>þ Curva de oferta agregada se desloca para a esquerda,</p><p>de O1 para O2</p><p>þ Curva de oferta agregada não se desloca,</p><p>mantendo‑se em O1</p><p>ý Curva de oferta agregada se desloca para a esquerda,</p><p>de O1 para O2</p><p>ý Produto aumenta de Y1 para Y2’</p><p>þ Produto mantém‑se em Y1</p><p>þ Produto aumenta de Y1 para Y2’</p><p>ý Produto mantém‑se</p><p>em Y1</p><p>ý Nível de preços sobe de P1 para P2’</p><p>þ Nível de preços sobe de P1 para P2</p><p>þ Nível de preços sobe de P1 para P2’</p><p>ý Nível de preços sobe de P1 para P2</p><p>ý Curva de demanda por mão de obra se desloca de</p><p>Nd(P1) para Nd(P2’)</p><p>þ Curva de demanda por mão de obra de Nd(P1) para</p><p>Nd(P2)</p><p>þ Curva de demanda por mão de obra se desloca de</p><p>Nd(P1) para Nd(P2’)</p><p>ý Curva de demanda por mão de obra se desloca de</p><p>Nd(P1) para Nd(P2)</p><p>þ Curva de oferta de mão de obra se desloca para a</p><p>esquerda</p><p>ý Curva de oferta de mão de obra mantém‑se a mesma.</p><p>ý Curva de oferta de mão de obra se desloca para a</p><p>esquerda</p><p>þ Curva de oferta de mão de obra mantém‑se a mesma.</p><p>ý Nível de emprego sobe para N2’</p><p>þ Nível de emprego mantido em N1</p><p>þ Nível de emprego sobe para N2’</p><p>ý Nível de emprego mantido em N1</p><p>Emprego e produto mantêm seus níveis iniciais (Y1 e N1) Emprego e produto se expandem (Y2’ e N2’)</p><p>2.2.2 Curva de oferta de Lucas</p><p>A hipótese novo‑clássica da curva de oferta agregada é que ela tem um caráter vertical a longo</p><p>prazo. Intuitivamente já é possível imaginarmos o porquê.</p><p>A formação de expectativas no modelo novo‑clássico não se dá apenas em referência ao passado,</p><p>mas também se projetam sobre o futuro: quando os agentes têm informação sobre uma política</p><p>econômica que será implementada, eles a incorporam em suas expectativas, o que altera o resultado da</p><p>política. Seguindo o exemplo de política utilizado na subseção anterior (aumento da oferta de moeda),</p><p>as expectativas subjetivas correspondem às expectativas objetivas preconizadas pela teoria econômica</p><p>e que, no caso, sugere que o aumento de moeda provoca inflação.</p><p>Desse modo, a sinalização da política de expansão monetária apenas transmite uma mensagem aos</p><p>agentes de que o nível de preços e os salários nominais se elevarão. Os agentes racionais, dispondo dessa</p><p>informação, já se anteciparão à política e elevarão preços e salários. O resultado é que a política não terá</p><p>efeito algum sobre produto e emprego.</p><p>As expectativas sobre o nível esperado de preços, dadas as expectativas sobre o comportamento</p><p>da demanda agregada e do mercado de mão de obra, permitem a determinação de um nível de</p><p>salário nominal compatível com o nível esperado de preços (que garante o emprego eficiente dos</p><p>fatores de produção).</p><p>50</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A curva de oferta agregada (também conhecida como “curva de oferta de Lucas”) pode ser expressa</p><p>pela seguinte equação:</p><p>Y Y P PN</p><p>e= + −( ) >α α, 0</p><p>Em que:</p><p>Y = nível de produto;</p><p>YN = produto natural (nível de produto potencial à taxa natural de desemprego);</p><p>P = nível corrente de preços;</p><p>Pe = nível esperado de preços;</p><p>α = sensibilidade de resposta do produto a alterações inesperadas (“surpresa”) do nível de preços.</p><p>No caso em que o nível corrente de preços se revela superior ao nível esperado, os agentes individuais</p><p>(dada a “surpresa”, por exemplo, da política adotada) confundirão esse aumento geral dos preços com</p><p>uma elevação do preço relativo de sua própria produção (lembremos do problema da extração de sinais,</p><p>mencionado anteriormente), o que resulta em um aumento no nível de oferta agregada e de emprego</p><p>da economia. Caso não ocorram surpresas, o nível de produto corrente será igual ao nível de produto</p><p>natural (nível potencial, dado o desemprego natural).</p><p>YN</p><p>OA (Oferta agregada)</p><p>N</p><p>ív</p><p>el</p><p>d</p><p>e</p><p>pr</p><p>eç</p><p>os</p><p>(P</p><p>)</p><p>Pe</p><p>Y1 Produto (Y)</p><p>Figura 18 – A curva de oferta de Lucas</p><p>A curva de oferta de Lucas indica que, a curto prazo, é possível se obter níveis superiores de produto,</p><p>desde que sejam aceitos níveis superiores de preços também. De todo modo, recuperando o que já</p><p>vimos, a elevação de produto é possível apenas através de políticas não antecipadas pelos agentes.</p><p>51</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Mas, afinal, por que a curva de oferta agregada, no modelo novo‑clássico, tem um caráter vertical</p><p>a longo prazo? Dispensando a intuição, podemos recuperar aquilo que já abordamos através da Figura</p><p>16 (Efeito de um aumento no estoque de moeda na oferta e demanda agregadas). Retomando aquele</p><p>caso, que era o de uma política antecipada de elevação do estoque de moeda, podemos considerar que</p><p>os agentes incorporam o nível esperado de preços (inflação) ao nível corrente.</p><p>Dispondo dessas informações, podemos incluir os efeitos de longo prazo, na figura a seguir:</p><p>OA (oferta agregada de longo prazo)</p><p>OA2 (curto prazo)</p><p>OA1 (curto prazo)</p><p>D2</p><p>D1</p><p>E’</p><p>E</p><p>N</p><p>ív</p><p>el</p><p>d</p><p>e</p><p>pr</p><p>eç</p><p>os</p><p>(P</p><p>)</p><p>P2’</p><p>P1</p><p>P2(= Pe)</p><p>Y1 Y2’ Produto (Y)</p><p>Figura 19 – Efeito de um aumento no estoque de moeda na oferta e demanda agregadas a curto e a longo prazos</p><p>Como os agentes estabeleceram expectativas futuras corretamente, a curva de oferta agregada se ajustou</p><p>ao novo nível de preços esperado (em decorrência, fundamentalmente, de alterações no mercado de mão de</p><p>obra). Além disso, as expectativas ajustaram o nível corrente de preços ao nível esperado (P = Pe), logo o nível de</p><p>produto (Y1) é igual ao produto natural (YN) – que é o nível de produto potencial à taxa natural de desemprego.</p><p>Por isso, mesmo a curto prazo, a hipótese novo‑clássica da oferta agregada é de que ela tem um</p><p>caráter vertical, é como se a curva de oferta de longo prazo se aplicasse instantaneamente.</p><p>2.2.3 Modelo de “ilhas” (oferta) de Lucas</p><p>Apesar das considerações estabelecidas anteriormente, por que, então, em determinadas situações,</p><p>o produto aumenta quando o nível geral de preços também aumenta?</p><p>É possível afirmar que parte da resposta está naquela questão da “extração de sinais” – empresas</p><p>devem distinguir entre mudanças nos preços relativos e no nível geral de preços. O “problema” é que</p><p>as empresas geralmente observam apenas os preços de seu próprio mercado. Trata‑se, portanto, de</p><p>uma questão, no fundo, de informação imperfeita: um preço elevado pode se dar por uma elevação</p><p>da demanda particular de mercado, à qual a empresa deve responder elevando sua produção, ou pode</p><p>simplesmente representar uma elevação geral dos preços, caso em que a empresa deveria manter sua</p><p>produção inalterada.</p><p>52</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A questão da informação imperfeita é que, quando a empresa observa uma elevação de preço do seu</p><p>produto, ela pode não ser capaz de avaliar se isso se deve a uma demanda mais alta ou ao nível geral de</p><p>preços mais elevados. Racionalmente, a empresa age como se a elevação fosse parcialmente causada por</p><p>cada um desses fenômenos e amplia sua produção em um montante pequeno (DORNBUSCH; FISCHER;</p><p>STARTZ, 2009).</p><p>Do ponto de vista agregado, uma política não antecipada que gera aumento do nível de preços</p><p>é geralmente interpretada (“erroneamente”) como um possível indicador de elevação da demanda</p><p>particular de mercado.</p><p>Para explicar esses efeitos, frutos de informação imperfeita, Robert Lucas Jr. utilizou a uma parábola</p><p>para se referir às empresas: cada uma estaria em uma ilha isolada. Os moradores de cada ilha produzem</p><p>bens e podem se encontrar num local específico para realizarem trocas. Nesse modelo, os trabalhadores</p><p>da ilha i estão dispostos a trabalharem mais quando esperam que o produto de sua ilha atinja um preço</p><p>(pi) alto, em relação ao nível geral de preços da economia (p).</p><p>Se os habitantes da ilha i soubessem o nível geral de preços (p), a oferta de produto da ilha i poderia</p><p>ser representada da seguinte forma:</p><p>yi = α (pi – p)</p><p>Porém, esses habitantes não sabem, de antemão, o nível geral de preços. Eles fazem, na prática, um</p><p>prognóstico desse nível. Podemos definir esse prognóstico como uma expectativa do nível de preços</p><p>(com base nas informações disponíveis da ilha i). Desse modo, a oferta de produto é representada de</p><p>outra maneira:</p><p>yi = α[pi – E (p|ilha i)]</p><p>O preço pago pelos bens da ilha i depende do nível geral de preços (p), bem como de um possível</p><p>choque de demanda dos bens particulares</p><p>produzidos pela ilha i (que podemos definir como zi).</p><p>Suponha que os habitantes da ilha saibam o seu preço local (pi) e não observem nem um choque de</p><p>demanda (zi) nem uma alteração do nível geral de preços (p). O nível geral de preços pode ser, portanto,</p><p>inferido a partir do próprio pi.</p><p>Caso haja uma elevação de pi, isso pode significar que zi é alto ou que p é alto. Assim, quando os</p><p>habitantes observam uma alta de pi, eles elevam sua expectativa do nível de preços (p), mas não muito,</p><p>já que esse valor de pi pode ser resultado de uma alta de zi (com níveis normais de p).</p><p>O melhor prognóstico para p pode ser expresso desta forma:</p><p>E p p k</p><p>a</p><p>pi i|( ) = + < <,0</p><p>1</p><p>0 1β β</p><p>53</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Em que:</p><p>E(p|pi) = indica que a única informação usada para fazer o prognóstico é o preço local;</p><p>α = é uma constante que reflete as inclinações das curvas de oferta e de demanda;</p><p>b = é o valor principal para a inclinação da curva de oferta agregada.</p><p>Observação</p><p>O k0é o “coeficiente linear da reta” (ponto de intercepto da função no eixo</p><p>das coordenadas), ele não tem nenhum interesse especial para nossa análise.</p><p>Como no modelo os habitantes da ilha i não têm nenhuma informação</p><p>agregada, podemos supor implicitamente que a taxa esperada de inflação</p><p>seja 0 [se tivessem, eles saberiam qual é o p e, portanto, poderiam definir</p><p>suas ações a partir de yi = α(pi – p)].</p><p>O valor de b expressa a origem dos movimentos em pi. Se esses movimentos vêm mais de p, b é</p><p>mais próximo de 1 (o que significa um aumento do preço), mas se esses movimentos provêm mais de</p><p>zi, o b é mais próximo de 0 (o que significa um aumento da produção). Se b for igual a 1, a curva de</p><p>oferta agregada será vertical. A figura a seguir apresenta visualmente três relações possíveis entre o pi</p><p>observado e o prognóstico estabelecido E(p).</p><p>Informação perfeita (b = 1)</p><p>Informação parcial</p><p>nenhuma informação (b = 0)</p><p>E(p)</p><p>pi</p><p>Figura 20 – Formação de uma expectativa no modelo de ilhas</p><p>Combinando a função de oferta:</p><p>yi = α[pi – E(p|pi)]</p><p>54</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Com a função de prognóstico:</p><p>E p p k</p><p>a</p><p>pi i|( ) = +0</p><p>1β</p><p>É possível apresentar a oferta de produto como:</p><p>y p k</p><p>a</p><p>pi i i= − +</p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>α β0</p><p>1</p><p>Podemos também agregar o pi da seguinte maneira:</p><p>y</p><p>a</p><p>p ki i= −</p><p></p><p></p><p></p><p>−</p><p></p><p></p><p></p><p>α β</p><p>1 0</p><p>A demanda pelo produto da ilha i depende do produto agregado (y), do choque de demanda (zi) e do</p><p>preço relativo do produto da ilha (pi – p). Ela pode ser expressa assim:</p><p>yi = y + zi – γ(pi – p)</p><p>O preço de equilíbrio da ilha i é encontrado ao se igualar a oferta com a demanda:</p><p>α β γ1 0−</p><p></p><p></p><p></p><p>−</p><p></p><p></p><p></p><p>= + − −( )</p><p>a</p><p>p k y z p pi i i</p><p>A equação anterior expressa a relação de equilíbrio entre choques, preços e produto de uma ilha</p><p>específica. Contudo, cada ilha é representativa da economia de modo geral; elas diferem entre si apenas</p><p>por conta de seus choques específicos, mas a economia agregada é formada pela média das economias</p><p>de cada ilha. Assim, o produto agregado y é a média dos vários yi e o nível geral de preços (p) é a média</p><p>dos vários pi, além de que, a média dos choques (zi) é zero (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2009).</p><p>Pode‑se concluir parcialmente que a inclinação da oferta agregada depende tanto da inclinação das</p><p>ofertas individuais (α), quanto da importância relativa de choques agregados versus choques individuais</p><p>(b). Se choques do nível geral de preços forem dominantes (em relação aos choques de demanda), b será</p><p>próximo de 1 e a curva de oferta agregada será quase vertical, o que significa que quando a maioria dos</p><p>choques de preços for atribuída à mudança no nível de preços, os choques (de demanda) individuais</p><p>serão, em grande parte, neutros, portanto, com pouco efeito sobre o nível de produto agregado. Ora, isso</p><p>significa justamente que a moeda é neutra.</p><p>Supondo informação imperfeita, em que os agentes não têm certeza se um aumento de seu preço se</p><p>deve ao aumento da sua demanda específica ou a um aumento do nível geral de preços, são atribuídos</p><p>55</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>pesos não nulos às duas causas possíveis dos aumentos. O resultado é que aumentos não antecipados em</p><p>p geram aumentos parciais no nível antecipado de preços (pe) e no produto (y). É essa associação positiva</p><p>entre aumentos em p e em y que constitui a observação empírica da curva de Phillips (DORNBUSCH;</p><p>FISCHER; STARTZ, 2009).</p><p>Nosso próximo passo é examinar a estrutura da curva de Phillips com as expectativas racionais e a</p><p>hipótese de curva de oferta de Lucas.</p><p>2.2.4 Curva de Phillips com expectativas racionais</p><p>Nos modelos de oferta e demanda agregada a análise da inflação é mais difícil de ser visualizada.</p><p>A curva de Phillips é uma estrutura analítica que busca justamente apresentar a relação entre inflação</p><p>e desemprego. Como sabemos, tradicionalmente, a curva de Phillips tem uma inclinação negativa, pelo</p><p>menos a curto prazo – como foi mostrado anteriormente pela Figura 14 (A curva de Phillips na perspectiva</p><p>keynesiana). Acontece que, considerando a hipótese da oferta agregada (“oferta de Lucas”) e a de</p><p>expectativas racionais, a equação de oferta pode ser desenvolvida incorporando a chamada “lei de Okun”.</p><p>Observação</p><p>A chamada “Lei de Okun” é derivada da formulação desenvolvida nos</p><p>anos 1960 pelo economista Arthur Okun, que relaciona crescimento do</p><p>produto a variações no desemprego. A “lei” propõe que o hiato do produto</p><p>(diferença entre produto potencial e produto efetivo) é proporcional à</p><p>diferença entre a taxa de desemprego efetiva e a taxa natural de desemprego.</p><p>A função oferta de Lucas (como visto) é:</p><p>Y = YN + α (P – Pe), α > 0</p><p>Podemos reorganizar (YN – Y) para o lado esquerdo:</p><p>YN – Y = –α (P – Pe)</p><p>A Lei de Okun determina que:</p><p>µ µ λ− = −N NY Y( )</p><p>Em que:</p><p>µ = taxa efetiva de desemprego;</p><p>µN = taxa natural de desemprego;</p><p>56</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Y = nível de produto;</p><p>YN = produto natural (produto potencial à taxa natural de desemprego);</p><p>λ = sensibilidade do produto em relação ao desemprego;</p><p>Combinando a função oferta de Lucas à Lei de Okun, temos que:</p><p>µ µ λ α− = − −( )</p><p></p><p></p><p>N</p><p>eP P</p><p>Reorganizando mais uma vez:</p><p>P Pe</p><p>N−( ) = − −( )</p><p>1</p><p>αλ</p><p>µ µ</p><p>A expressão</p><p>1</p><p>αλ representa a sensibilidade dos preços a variações na taxa de desemprego. Podemos</p><p>substitui‑lo simplesmente por ϕ.</p><p>P Pe</p><p>N= − −( )ϕ µ µ</p><p>Como o objetivo não é capturar o nível de preços, mas as variações, podemos fazer o seguinte:</p><p>P P P Pe</p><p>N( )− = − − −− −1 1 ϕ µ µ</p><p>Incluir – P‑1 nos dois lados da equação não altera nossos resultados. Assim, temos (P – P‑1), que é a</p><p>diferença entre o nível de preços presente e o nível passado, ou seja, a inflação (π).</p><p>π π ϕ µ µ= − −( )e</p><p>N</p><p>Observação</p><p>Caso não tenha entendido completamente o processo de transformação</p><p>da função de oferta agregada na curva de Phillips, não se preocupe.</p><p>Essa formalização não é indispensável ao entendimento, mas é uma</p><p>oportunidade para se exercitar a capacidade de acompanhamento de</p><p>raciocínios abstratos em economia; algo que, como sabemos, é mais usual</p><p>do que muitos gostariam.</p><p>57</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Observando a equação da curva de Phillips, é possível considerar duas grandes causas da inflação:</p><p>i) ela pode ocorrer porque os agentes acreditam que ela ocorrerá (as expectativas πe são positivas); ii) o</p><p>nível de desemprego (µ) se encontra abaixo do seu nível natural (µN) – isso significa que o produto está</p><p>acima do produto potencial, provocando a elevação dos preços. Poderíamos ainda incorporar outros</p><p>elementos (externos ao modelo) que podem influenciar a inflação, por exemplo, choques de oferta</p><p>(como preço do petróleo</p><p>etc.), mas as conclusões centrais da curva de Phillips na versão novo‑clássica</p><p>podem ser alcançadas desconsiderando esses elementos externos.</p><p>Numa situação em que πe = 0, a única explicação (desconsiderando choques de oferta) está no nível</p><p>de emprego. Caso se tenha inflação com πe = 0, isso significa que o desemprego está abaixo de seu</p><p>nível natural. Em outra situação, em que πe > 0, mesmo que a taxa de desemprego seja igual a sua taxa</p><p>natural, teremos inflação por conta das próprias expectativas.</p><p>Recuperando aquela discussão sobre versões novo‑clássicas das expectativas racionais (versão fraca</p><p>e versão forte), caso se acolha a versão forte da hipótese, tem‑se que as agentes sempre acertam</p><p>(na média) o valor efetivo das variáveis analisadas. A distribuição subjetiva de resultados tende a ser</p><p>igual à distribuição objetiva presente na teoria econômica relevante. O resultado pode ser ilustrado</p><p>ao combinar o que foi exposto na Figura 19 (Efeito de um aumento no estoque de moeda na oferta e</p><p>demanda agregadas a curto e a longo prazos) com o sentido atribuído à discussão da curva de Phillips,</p><p>como é apresentado na figura a seguir.</p><p>OA (LP)</p><p>(P)</p><p>OA2 (CP)</p><p>OA1 (CP)</p><p>D2</p><p>D1</p><p>YN Y’</p><p>(Y)</p><p>A) Curvas de oferta de curto e longo prazos</p><p>E2</p><p>Ex</p><p>π</p><p>E1</p><p>UNU’</p><p>(U)</p><p>B) Curva de Phillips vertical (Versão Lucas)</p><p>Figura 21 – Efeitos de política econômica (expansão de moeda) sobre oferta de curto e longo prazos e a curva de Phillips</p><p>Os resultados observáveis desse modelo simples permitem, agora, qualificar um postulado</p><p>destacado pelo pensamento novo‑clássico: a ineficácia das políticas econômicas. O argumento é</p><p>que tanto o produto quanto o nível de emprego (variáveis reais) não são afetados por modificações</p><p>sistemáticas (e previsíveis) nas políticas relacionadas à demanda.</p><p>58</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Como estão em cena as hipóteses de expectativas racionais, equilíbrio contínuo de mercado e da</p><p>curva de oferta, os formuladores de políticas econômicas não são capazes de influenciar variáveis para</p><p>além do próprio nível de preços (isto é, produzir inflação), caso a política adotada seja antecipada</p><p>pelos agentes. Somente nos casos de alguma política surpresa os efeitos de curto prazo (presentes nos</p><p>modelos keynesiano e monetarista) podem alterar variáveis como emprego e renda. Essa diferença entre</p><p>políticas antecipadas e não antecipadas pode induzir as autoridades econômicas a adotarem políticas</p><p>não sistemáticas e aleatórias.</p><p>Porém, a posição defendida pelo pensamento novo‑clássico é fortemente contrária a medidas</p><p>intervencionistas. Mas se políticas não antecipadas podem surtir efeitos, por que não se assumir</p><p>um caráter mais discricionário e aleatório à condução da política econômica? Essa pergunta será</p><p>respondida a seguir.</p><p>2.3 Implicações político‑econômicas da abordagem novo‑clássica</p><p>Suponha uma determinada política fiscal de estímulo da demanda agregada de caráter não</p><p>antecipado pelos agentes. Pelo que já se viu, é possível afirmar que ela teria efeitos sobre emprego e</p><p>renda, pelo menos a curto prazo?</p><p>A resposta é sim. Porém, há um elemento destacado pelo pensamento novo‑clássico que aponta</p><p>como essa linha política pode ser prejudicial.</p><p>Trata‑se do impacto que ela produz sobre as próprias expectativas (no caso, provoca maior incerteza).</p><p>Políticas “erráticas” aumentam a incerteza sobre futuro, comprometendo as condições de formação de</p><p>expectativas racionais. Como os agentes não cometem erros sistemáticos, políticas aleatórias tenderiam</p><p>a aumentar o nível esperado de preços futuros.</p><p>Por exemplo, a ocorrência de um déficit fiscal no presente permitiria aos agentes considerar</p><p>que, em algum momento, o governo terá de ajustar seu orçamento (elevando a carga tributária</p><p>e, portanto, reduzindo a renda pessoal disponível); isso já é um desestímulo à expansão da</p><p>demanda, já que uma parcela da renda dos agentes será destinada ao pagamento dessa variação</p><p>na carga tributária. Além disso, déficits orçamentários significativos exigiriam que a autoridade</p><p>monetária atuasse para ajudar a financiar o déficit, por exemplo, através de uma expansão</p><p>monetária. Ora, considerando esse comportamento previsível dos agentes, o governo seria, na</p><p>verdade, obrigado a ratificar as expectativas formadas (de uma maior demanda por moeda)</p><p>para evitar a escassez de liquidez. O resultado seria maior inflação e efeito quase nulo sobre</p><p>emprego e renda.</p><p>A medida de política econômica mais adequada seria a definição de uma regra monetária (para</p><p>a condição dessa política). Como toda tentativa de afetar emprego e renda apenas aumenta a</p><p>variação dessas duas variáveis em torno das suas respectivas taxas naturais (desemprego natural</p><p>e de produto natural), o que significa inflação, para essa abordagem, é indispensável examinar os</p><p>custos da “desinflação”.</p><p>59</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>A inflação, dentro do arcabouço novo‑clássico, é um fenômeno monetário fundamental. Afinal, mais uma</p><p>vez, as expectativas são racionais e o equilíbrio de mercado é contínuo – com uma curva de oferta, mesmo de</p><p>longo prazo, vertical –, restando a gestão da oferta monetária como elemento explicativo central.</p><p>Nesse quadro de reflexão, um elemento de destaque passa a ser justamente a credibilidade</p><p>da autoridade econômica; isto é, uma política anti‑inflacionária apenas será bem‑sucedida se os</p><p>agentes privados acreditarem nas autoridades. Se a política anunciada não dispuser de credibilidade,</p><p>as expectativas futuras de inflação não serão reajustadas e, portanto, os custos da “desinflação”</p><p>não ocorrerão, o que implica a manutenção de desequilíbrios diante das taxas naturais de emprego</p><p>e produto.</p><p>O raciocínio elaborado por essa tese da credibilidade pode ser formalizado como um jogo estratégico</p><p>(dinâmico) estabelecido entre autoridade monetária e agentes econômicos privados (lembrando que</p><p>essa formalização incorpora a curva de Phillips na versão de Lucas, a hipótese de expectativas racionais</p><p>e o equilíbrio contínuo de mercado.</p><p>Nesse jogo dinâmico, cada player escolhe uma estratégia que indica como ele se comportará durante</p><p>o próprio jogo (SNOWDON; VANE, 2005). A formalização de um jogo entre a autoridade monetária</p><p>(Banco Central) e os agentes privados pode ser ilustrada da seguinte maneira:</p><p>Banco Central anuncia</p><p>uma política de baixa</p><p>expansão monetária</p><p>Anúncio acreditado</p><p>Agentes privados</p><p>estabelecem contratos com baixo</p><p>crescimento salarial</p><p>Baixa</p><p>expansão</p><p>monetária</p><p>Baixa inflação.</p><p>Desemprego na</p><p>taxa natural</p><p>Baixa inflação.</p><p>Desemprego</p><p>acima da taxa</p><p>natural</p><p>Alta inflação.</p><p>Desemprego</p><p>abaixo da taxa</p><p>natural</p><p>Alta inflação.</p><p>Desemprego na</p><p>taxa natural</p><p>Alta</p><p>expansão</p><p>monetária</p><p>Anúncio não acreditado.</p><p>Agentes privados</p><p>estabelecem contratos com maior</p><p>crescimento salarial</p><p>Baixa</p><p>expansão</p><p>monetária</p><p>Alta</p><p>expansão</p><p>monetária</p><p>Alternativas</p><p>do mercado</p><p>trabalho</p><p>Alternativas</p><p>do Banco</p><p>Central</p><p>Figura 22 – Jogo praticado entre autoridade monetária e negociadores de salários</p><p>A tese da credibilidade conduz à discussão sobre a reputação da autoridade econômica. Se os</p><p>economistas “concordam” que a inflação é determinada fundamentalmente pela expansão monetária,</p><p>por que os governantes permitem que ocorra tal expansão?</p><p>60</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A resposta está no objetivo político que os governantes podem buscar alcançar a curto prazo, a despeito</p><p>dos custos de longo prazo que a política pode trazer. Os gestores da política econômica podem avaliar</p><p>(motivados por razões eleitorais, por exemplo) que os resultados imediatos e os passageiros de uma política</p><p>sobre o nível de emprego e renda são mais valiosos que a credibilidade nas regras de política.</p><p>Como os agentes não sabem efetivamente o tipo de comportamento governamental que eles podem</p><p>enfrentar, eles analisam</p><p>vários sinais, na forma de ações políticas e anúncios, observam a reputação da</p><p>autoridade econômica. Temos assim o conhecido trinômio: credibilidade – reputação – delegação.</p><p>Dado o risco de implementação de políticas inconsistentes com a posição de equilíbrio (correspondente</p><p>à taxa natural de desemprego), muitos autores novo‑clássicos defendem a independência do Banco</p><p>Central (BC) – plena liberdade de ação para que as autoridades monetárias possam buscar seu objetivo</p><p>único, que é o combate à inflação.</p><p>Como destacam Snowdon e Vane (2005), é importante estabelecer uma distinção entre “independência</p><p>de objetivo” e “independência de instrumento”. A primeira indica que o BC define seus próprios objetivos</p><p>(ou seja, dispõe de independência política); já a segunda se refere à independência em relação aos vários</p><p>mecanismos de política monetária (independência econômica).</p><p>Os meios para se estabelecer formas de independência dos BCs são variados, como a diferenciação</p><p>apontada anteriormente já sugere. Um exemplo de superação do viés inflacionário (presente no jogo</p><p>não cooperativo estabelecido entre autoridade monetária e agentes privados) pode ser a delegação da</p><p>política monetária a um “banqueiro central conservador”; a esse agente é delegada a tarefa de manter a</p><p>reputação e a credibilidade das regras monetárias (reduzindo a variabilidade do produto e favorecendo</p><p>o controle da inflação). Um “banqueiro central conservador” significa um agente cujas preferências</p><p>são mais avessas à inflação do que a média da sociedade, o que seria capaz de inclusive sustentar uma</p><p>taxa de variação do nível de preços menor do que aquela que ocorreria caso o presidente do BC tivesse</p><p>preferências semelhantes às sociais (CARVALHO et al, 2012).</p><p>Em qualquer um dos casos, tanto de independência de objetivos quanto de independência de</p><p>resultados, a tese decorre do trinômio credibilidade – reputação – delegação, em que a questão central</p><p>é buscar eliminar a possibilidade de implementação de políticas monetárias inconsistentes com as taxas</p><p>naturais (de emprego e produto), isto é, de eliminar o viés inflacionário.</p><p>A essa altura você pode estar se perguntando se as políticas econômicas não são capazes de afetar variáveis</p><p>reais, dadas as várias razões já vistas. De que modo se pode aumentar a produção e reduzir o desemprego?</p><p>Como o papel da política monetária não é tentar reduzir o desemprego de forma permanente (mas sim</p><p>controlar a inflação) e ela sequer é capaz de afetar o produto, a perspectiva novo‑clássica oferece como</p><p>resposta as medidas de políticas microeconômicas, como melhores alternativas – fundamentalmente</p><p>aquelas capazes de reduzir distorções no mercado de trabalho. Afinal, o desemprego é tomado como um</p><p>resultado de equilíbrio, que reflete as decisões ótimas de trabalhadores que escolhem entre trabalho e lazer</p><p>a partir dos movimentos dos salários reais correntes e futuros (SOWNDON; VANE, 2005). Desempregados</p><p>não passam de agentes que voluntariamente optam por não trabalhar pelo salário real corrente.</p><p>61</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Dados os preços relativos, mudanças no nível de produção e de emprego são resultados das decisões de</p><p>equilíbrio de trabalhadores e empresas. Portanto, seguindo o raciocínio novo‑clássico, medidas políticas</p><p>adequadas para elevar produção e emprego são aquelas que geram incentivos microeconômicos para</p><p>as empresas e os trabalhadores.</p><p>2.4 Críticas ao enfoque de expectativas racionais</p><p>Como toda questão de impacto teórico e prático na área das ciências econômicas, as propostas —</p><p>para alguns autores, revolucionárias — da abordagem novo‑clássica suscitaram uma série de críticas,</p><p>particularmente contra a hipótese de expectativas racionais (HER).</p><p>Snowdon e Vane (2005) destacam três críticas concernentes à HER:</p><p>A primeira refere‑se aos custos (em tempo, em esforços ou monetários) para a aquisição de todas</p><p>as informações públicas disponíveis com vistas a se estabelecer alguma previsão futura de variáveis</p><p>relevantes, como a inflação.</p><p>Muitos economistas keynesianos negam a hipótese de que os ofertantes individuais de mão de obra</p><p>(trabalhadores individuais) sejam capazes de dispor de um conhecimento do funcionamento da economia como</p><p>do comportamento dos formuladores de políticas econômicas. Mesmo que a hipótese de expectativas racionais</p><p>fosse realista, ela apenas o seria a longo prazo; pois, a curto prazo, pelo menos para os trabalhadores individuais, o</p><p>custo de coletar e processar informações pode ser expressivamente grande, de modo que esses agentes poderiam</p><p>escolher utilizar, a curto prazo, basicamente o comportamento passado de preços como fonte de informação.</p><p>Todavia, cabe destacar que, seguindo a “versão fraca” da HER, não é rigorosamente necessário que os agentes</p><p>utilizem todas as informações públicas disponíveis. Aliás, nem mesmo os proponentes da HER tinham em mente</p><p>a efetiva utilização, pelos agentes, de todas as informações. O destaque está no fato de que, sendo os agentes</p><p>racionais, eles buscarão fazer o melhor uso (mais eficiente) dessas informações, o que implica justamente</p><p>uma seleção mais significativa (relevante) e menos extensiva (em quantidade) do conjunto de informações –</p><p>podemos, inclusive, operar sob a lógica de custos e benefícios marginais (agentes serão incentivados a usar mais</p><p>informações até o ponto em que o benefício marginal dessa utilização se iguale ao custo marginal).</p><p>Portanto, no caso da “versão fraca” da HER, uma resposta novo‑clássica poderia ser a de que sequer</p><p>é necessário que todos os agentes individuais realizem essa seleção das informações. Muitos agentes</p><p>podem ter acesso a um conjunto relevante e significativo indiretamente, por exemplo, através das mídias.</p><p>Uma segunda crítica aborda a questão de como, especificamente, os agentes adquirem conhecimento</p><p>sobre o modelo econômico correto, pois é usual que os economistas, com base em teorias e análises</p><p>concretas diferentes, apresentem discordâncias entre si. Ainda segundo Snowdon e Vane (2005), no</p><p>caso dessa crítica, é importante sublinhar que na “versão forte” da HER não é necessário que os agentes</p><p>econômicos saibam efetivamente qual é o modelo econômico correto; o que é destacado por essa</p><p>versão da HER é que os agentes racionais não formarão expectativas que se mostrem sistematicamente</p><p>equivocadas. Assim, a proposição sobre modelo correto indicaria que as expectativas são formadas</p><p>como se os agentes soubessem qual é o modelo adequado.</p><p>62</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Contudo, a crítica ainda persiste. Apesar do argumento “como se”, que ainda mantém certo grau de</p><p>incerteza sobre a correção do modelo, e se consideramos a primeira crítica (sobre os custos de obtenção</p><p>e processamento de todas as informações), existiria a possibilidade de os agentes formarem expectativas</p><p>sistematicamente erradas; uma hipótese alternativa que é, inclusive, defendida com base em testes</p><p>empíricos críticos à HER.</p><p>A terceira crítica está associada particularmente ao pensamento macroeconômico pós‑keynesiano, que</p><p>sustenta que o sistema econômico no qual estamos inseridos é complexo, marcado pela irreversibilidade</p><p>do tempo histórico e pela não ergodicidade – que, em linhas gerais, significa que cada evento histórico é</p><p>único e não repetitivo –, posto que a incerteza tem um caráter fundamental, não sendo possível calcular</p><p>distribuições de probabilidades. Como a hipótese de expectativas racionais assume que os agentes sejam</p><p>capazes de formular distribuições probabilísticas, aquilo que os novo‑clássicos poderiam chamar de</p><p>incerteza seria, na verdade, risco.</p><p>Outra crítica é destacada, por exemplo, em Froyen (2006); ela se refere à questão do mercado de</p><p>trabalho como um leilão ou como uma articulação contratual.</p><p>A perspectiva novo‑clássica, como vimos, estabelece que as livres flutuações do salário monetário</p><p>são capazes de</p><p>4 MODELOS NOVO‑KEYNESIANOS ............................................................................................................... 77</p><p>4.1 Modelos de preço rígido (custos de menu) ............................................................................... 78</p><p>4.2 Modelos de salário de eficiência .................................................................................................... 79</p><p>4.3 Modelos insider‑outsider ou incluído‑excluído e histerese................................................ 82</p><p>4.4 Modelos de contratos sobrepostos de Taylor ........................................................................... 84</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>5 COMPARAÇÃO E SÍNTESE DOS DISTINTOS MODELOS MACROECONÔMICOS ........................ 92</p><p>5.1 Modelo monetarista ............................................................................................................................ 92</p><p>5.2 Modelo novo‑clássico de expectativas racionais .................................................................... 95</p><p>5.3 Modelo de ciclos econômicos reais.............................................................................................102</p><p>5.4 Modelo novo‑keynesiano ...............................................................................................................104</p><p>5.5 Comparativo dos modelos macroeconômicos .......................................................................106</p><p>6 KEYNESIANOS, MONETARISTAS, NOVO‑CLÁSSICOS E NOVO‑KEYNESIANOS:</p><p>UMA LEITURA PÓS‑KEYNESIANA ...............................................................................................................108</p><p>6.1 Hipótese da instabilidade financeira ..........................................................................................116</p><p>7 TÓPICOS INTERMEDIÁRIOS DE MACROECONOMIA APLICADA ..................................................120</p><p>7.1 Ciclos econômicos, ciclos reais de negócios e política econômica ................................120</p><p>7.2 Consumo, investimento e governo: a utilização de fundamentos</p><p>microeconômicos por meio da escolha intertemporal para o</p><p>crescimento econômico ..........................................................................................................................130</p><p>7.2.1 Consumo e escolha intertemporal ................................................................................................ 130</p><p>7.2.2 Investimento e a decisão de investir ........................................................................................... 137</p><p>7.2.3 Governo e restrição orçamentária intertemporal .................................................................. 138</p><p>8 AVANÇOS RECENTES: A CONTRIBUIÇÃO DA MACROECONOMIA DA</p><p>DEMANDA EFETIVA ...........................................................................................................................................144</p><p>8.1 Distribuição de renda e acumulação do capital ....................................................................145</p><p>8.2 Princípio da demanda efetiva a curto e a longo prazo ......................................................149</p><p>8.3 Crescimento liderado pelo investimento ..................................................................................157</p><p>8.4 Crescimento liderado pelos gastos autônomos .....................................................................159</p><p>8.5 Restrição externa e crescimento econômico ..........................................................................161</p><p>7</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>A disciplina de Macroeconomia Aplicada tem como objetivo aprofundar os conhecimentos do aluno</p><p>com a discussão teórica no campo da macroeconomia após a revolução keynesiana no pós‑Segunda</p><p>Guerra. A disciplina discute cada escola do pensamento econômico que se desenvolve, como as</p><p>escolas monetária e novo‑clássica, bem como as novas correntes teóricas dentro de cada escola, como</p><p>pós‑keynesiana e novo‑keynesiana.</p><p>A macroeconomia aplicada estuda o desenvolvimento teórico da macroeconomia com base na</p><p>história econômica, isto é, o debate sobre flutuação econômica, inflação, desemprego, entre outras</p><p>problematizações, leva à análise macroeconômica a passar por um período fértil de novas hipóteses,</p><p>suposições, conceitos, categorias metodológicas dentro de um debate sobre o papel de cada política</p><p>econômica e sua eficiência.</p><p>Como objetivo geral, a disciplina apresenta ao aluno os fundamentos dos modelos macroeconômicos</p><p>contemporâneos para lhe prover a capacidade de elaborar análises comparativas entre os diversos modelos</p><p>apresentados, e como objetivos específicos apresenta cada escola de pensamento macroeconômico e</p><p>seus modelos monetaristas, de expectativas racionais, de ciclos econômicos reais, da linha de pesquisa</p><p>dos pós‑keynesianos e novo‑keynesianos.</p><p>Faz‑se uma comparação entre os diversos modelos estudados na macroeconomia aplicada,</p><p>como forma de explicitar as diferenças teóricas entre eles e apresenta tópicos intermediários, isto</p><p>é, a utilização de fundamentos microeconômicos, além de apresentar os avanços recentes nesse</p><p>campo de estudo.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A macroeconomia é uma das grandes áreas do curso de Ciências Econômicas. Neste livro‑texto,</p><p>o objetivo é apresentar de maneira didática as discussões controversas acerca da macroeconomia</p><p>contemporânea. Ademais, é proposto para o aluno o desafio de elaborar análises comparativas entre os</p><p>diversos modelos apresentados nas disciplinas anteriores de macroeconomia, tais como contabilidade</p><p>social, macroeconomia fechada e macroeconomia aberta.</p><p>Considerando o objetivo principal e o conhecimento prévio acumulado a partir das disciplinas</p><p>já estudadas, acredita‑se que o aluno seja capaz de usar esses conceitos para discutir e analisar, por</p><p>exemplo, por que a economia apresenta, de tempos em tempos, uma flutuação econômica. Ora com</p><p>mais crescimento e emprego, ora com menos crescimento e emprego. As flutuações conjunturais</p><p>da economia são objeto de análise para muitos economistas, principalmente, a partir do início dos</p><p>anos 1970, quando a economia mundial capitalista passou a oscilar mais frequentemente e as teorias</p><p>macroeconômicas não eram suficientes para explicar esses fenômenos.</p><p>Após a Crise de 1929 e a Grande Depressão dos anos 1930, o enfoque keynesiano era a base de</p><p>análise macroeconômica e das prescrições de políticas macroeconômicas. Um dos argumentos centrais</p><p>da teoria geral de Keynes era a afirmação de que as economias de mercado são inerentemente instáveis</p><p>8</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>e que, em geral, não apresentam um equilíbrio com pleno emprego dos fatores de produção por períodos</p><p>prolongados de tempo. Esse consenso keynesiano prevaleceu no debate econômico principalmente até</p><p>o final dos anos 1960.</p><p>Desde os anos 1950, Milton Friedman resgatou os pressupostos da teoria quantitativa da moeda</p><p>e a recolocou no centro do debate macroeconômico. Em outras palavras, os monetaristas, cujo</p><p>principal expoente foi Friedman, defendiam que os teóricos keynesianos atribuíam pouca importância</p><p>macroeconômica à oferta de moeda. Dessa maneira, os monetaristas reafirmaram a importância</p><p>econômica da moeda e, portanto, das políticas monetárias para explicar a demanda agregada e a renda</p><p>nacional.</p><p>Principalmente a economia dos Estados Unidos apesentava uma crise econômica com fenômenos,</p><p>inicialmente, impossíveis de serem simultâneos, quais sejam, a inflação e o desemprego elevados, que</p><p>ficaram conhecidos como estagflação. No bojo das alternativas à crise dos anos 1970, diversas ideias que</p><p>resgatavam a crença na capacidade de economias de mercado alcançarem estabilidade macroeconômica</p><p>ganharam espaço no debate acadêmico no campo da economia. Essas teorias resgatavam os fundamentos</p><p>microeconômicos para o desenvolvimento das teorias macroeconômicas.</p><p>Após os</p><p>rapidamente equilibrarem o mercado de trabalho. Porém, segundo a visão contratual</p><p>keynesiana, os salários não são definidos de forma a permitir o equilíbrio de curto prazo do mercado,</p><p>pelo contrário, eles são fortemente condicionados por determinantes de longo prazo, que envolvem,</p><p>inclusive, as relações empregado‑empregador.</p><p>Como na abordagem contratual os salários são determinados com referência ao longo prazo, o salário</p><p>monetário deve ser visto como rígido, pelo menos para a variação para baixo (é necessário considerar nos</p><p>modelos a relutância dos trabalhadores a aceitarem cortes no salário monetário – um argumento que</p><p>pode ser vislumbrado mesmo intuitivamente). Com efeito, ajustes no mercado de trabalho, provenientes</p><p>de uma queda na demanda agregada, produzem redução no nível de emprego, e não a queda no salário</p><p>monetário (como preconizam os novo‑clássicos através da hipótese de equilíbrio contínuo de mercado).</p><p>O destaque keynesiano está, portanto, nos elementos institucionais que caracterizam o mercado de</p><p>trabalho e que reduzem a efetividade de práticas como a demissão de atuais funcionários e a contratação</p><p>de novos trabalhadores por salários mais baixos.</p><p>3 TEORIA DOS CICLOS ECONÔMICOS REAIS</p><p>A partir dos anos 1970, principalmente a partir da segunda metade da década, três escolas</p><p>de pensamento se destacam no debate da macroeconomia, quais sejam: os novo‑clássicos, os</p><p>novo‑keynesianos e os pesquisadores da nova teoria do crescimento.</p><p>Tanto Friedman (1985) como Lucas haviam discutido as causas das flutuações. Para ambos, essas</p><p>oscilações macroeconômicas estavam fundadas em choques de demanda agregada ou ainda em choques</p><p>monetários. Porém, em vez de defenderem a persistência de políticas expansionistas de demanda</p><p>agregada para ajustarem a economia, eles defendiam o uso de políticas do lado da oferta, a fim de</p><p>atingir as metas de emprego de equilíbrio.</p><p>63</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Diante dos ciclos econômicos, a escola novo‑clássica se renovou a partir dos modelos de ciclos reais</p><p>de negócios (real business cycle) que colocaram a causa das flutuações na oferta, e não na demanda</p><p>agregada. A questão era conseguir explicar as flutuações econômicas com base em choques competitivos</p><p>com preços e salários completamente flexíveis, e não rígidos.</p><p>Os principais economistas expoentes dessa teoria foram Finn Kydland (Universidade de Carnegie</p><p>Mellon) e Edward Prescott (Universidade de Minnesota) que publicaram, em 1982, o artigo “Time to</p><p>Build and Aggregate Fluctuations” na prestigiosa revista Econometrica. Eles utilizaram a teoria dos jogos,</p><p>numa economia artificialmente em concorrência perfeita, para supor o ajuste dos agentes racionais</p><p>diante de repetidos choques de produtividade. Outros economistas também contribuíram para o avanço</p><p>dessa escola: Charles Plosser, John Long e Alan Stockman, da Universidade de Rochester; Robert King, da</p><p>Universidade de Boston; Sérgio Rebelo, da Universidade Northwestern; e Robert Barro, da Universidade</p><p>de Harvard (SNOWDON; VANE, 2005).</p><p>3.1 Introdução e características básicas</p><p>Segundo esses modelos, as flutuações econômicas são originadas nos choques reais, principalmente</p><p>os de origem tecnológica, pelo lado da oferta, e não da demanda.</p><p>Ao contrário das explicações oferecidas nos anos 1960 e 1970, quando as flutuações econômicas</p><p>eram explicadas – por Friedman (1985) e por Lucas — pelos choques monetários e seus efeitos sobre a</p><p>demanda agregada nominal, os ciclos reais de negócios não procuram explicações para as flutuações</p><p>pela demanda agregada, mas pela oferta agregada.</p><p>De acordo com Blanchard (2011), é importante destacar dois pressupostos do modelo:</p><p>• Metodologicamente, os modelos macroeconômicos devem ser desenvolvidos a partir de</p><p>microfundamentos. Por exemplo: maximização de utilidade dos trabalhadores, dos empresários e</p><p>expectativas racionais.</p><p>• Conceitualmente, as flutuações econômicas têm como origem os choques na oferta, e não na</p><p>demanda, como supunha boa parte da literatura macroeconômica até meados dos anos 1980,</p><p>por exemplo, choques tecnológicos. Prescott acreditava que as alterações no produto real da</p><p>economia fossem na realidade movimentos naturais do produto, e não desajustes ou desvios do</p><p>nível natural.</p><p>Por essa teoria, os choques reais na economia provocam flutuações no produto, assim os mercados</p><p>devem se ajustar rapidamente para permanecerem sempre em equilíbrio. Uma diferença desse modelo</p><p>é que essas flutuações constituem posições de equilíbrio, e não de desvios do nível de equilíbrio natural.</p><p>Recuperando as considerações críticas estabelecidas pelo pensamento novo‑clássico, alterações</p><p>antecipadas de política monetária não teriam efeitos reais sobre a economia, mas somente mudanças</p><p>não antecipadas teriam esses efeitos, que seriam rapidamente corrigidos. Logo, choques na demanda</p><p>não seriam muito importantes.</p><p>64</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Considerando que os pensadores dos ciclos reais de negócios defendem as flutuações econômicas</p><p>como processo de ajuste racional dos agentes econômicos, isto é, rejeitam a visão de falhas de mercado,</p><p>essas flutuações econômicas reproduzem o movimento de ajuste racional dos agentes econômicos a</p><p>novos pontos de equilíbrio de pleno emprego. Esses movimentos são determinados por choques de</p><p>produtividade, sucedidos de avanços aleatórios da tecnologia.</p><p>Os choques de oferta alteram a função de produção da economia, gerando flutuações do produto</p><p>agregado e do emprego à medida que os agentes econômicos racionalmente respondem aos novos</p><p>preços relativos, modificando inclusive suas escolhas de ofertar trabalho e de consumo.</p><p>Essas mudanças de posição geram instabilidades que são posições de equilíbrio ótimas de Pareto.</p><p>A flutuação do produto representa um contínuo equilíbrio de pleno emprego que se move diante dos</p><p>choques de oferta (ALÉM, 2010).</p><p>Lembrete</p><p>Repare a semelhança com os resultados observados anteriormente,</p><p>quando foram abordadas as implicações político‑econômicas do</p><p>pensamento novo‑clássico.</p><p>Segundo Froyen (2006, p. 318):</p><p>Os teóricos dos ciclos reais de negócios interpretam essas flutuações como</p><p>“originárias de variações nas oportunidades reais da economia privada”. Tais</p><p>mudanças podem ser causadas por fatores como choques na tecnologia,</p><p>variações nas condições ambientais, alterações nos preços reais (relativos)</p><p>de matérias‑primas importadas (por exemplo, petróleo bruto) e mudanças</p><p>nas alíquotas tributárias. Mudanças nas preferências individuais – por</p><p>exemplo, preferência por bens em relação ao lazer – também implicam</p><p>flutuações no produto.</p><p>Como destacado, as causas das flutuações têm origem na economia real. A diferença entre os teóricos dos</p><p>ciclos reais e os da escola novo‑clássica é que os novo‑clássicos interpretavam essas variáveis como estáveis</p><p>a curto prazo e se alteravam lentamente a longo prazo, portanto não geravam alterações no produto e no</p><p>emprego. Já os defensores dos ciclos reais de negócios acreditavam que essas variáveis flutuassem inclusive</p><p>a curto prazo e que fossem as variáveis explicativas das flutuações do emprego e do produto.</p><p>Os novo‑clássicos não descartam mudanças no lado da oferta a curto prazo, mas enfatizam as mudanças</p><p>não previstas na demanda agregada como principal fonte das flutuações cíclicas no produto da economia.</p><p>Para os economistas dos ciclos reais de negócios, as análises empíricas que comprovam as origens das</p><p>flutuações econômicas pela mudança na demanda agregada são muito confusas. No limite, essa ideia parece</p><p>conflitar com o postulado de que os agentes racionais otimizam suas utilidades. Para os teóricos dos ciclos reais</p><p>65</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>de negócios, mudanças não previstas na demanda agregada dificilmente geram flutuações grandes e</p><p>custosas</p><p>no produto. De acordo com Barro (1989 apud FROYEN, 2006, p. 319): “se as informações sobre a moeda e o</p><p>nível geral de preços importassem muito para as decisões econômicas, as pessoas poderiam gastar recursos</p><p>relativamente baixos para obtê‑las rapidamente”. Considerando que os agentes não atuam dessa maneira,</p><p>Barro sugere, então, que talvez isso seja secundário ou mesmo que os agentes não estejam maximizando.</p><p>Há duas interpretações para a teoria dos ciclos reais de negócios:</p><p>• Fatores reais são mais relevantes que os nominais do lado da demanda para explicarem os ciclos</p><p>econômicos. Para eles, essa escola é um aprofundamento da escola novo‑clássica.</p><p>• Choques monetários ou nominais do lado da demanda não explicam os ciclos econômicos. Há inclusive</p><p>alguns modelos dos ciclos reais de negócios que não incorporam a moeda como uma variável relevante.</p><p>Os efeitos de um choque tecnológico positivo podem ser observados de forma sugestiva antes</p><p>mesmo de examinarmos o modelo básico de ciclos reais considerando fundamentalmente a função de</p><p>produção proveniente dos conhecimentos introdutórios de macroeconomia. Lembrando brevemente as</p><p>características da função de produção da economia, ela é basicamente o produto marginal da mão de</p><p>obra. Vejamos como um choque tecnológico (que eleva a produtividade) desloca a curva de produção:</p><p>f (K, N)0</p><p>f (K, N)1</p><p>N</p><p>ív</p><p>el</p><p>d</p><p>e</p><p>pr</p><p>od</p><p>ut</p><p>o</p><p>(Y</p><p>) Y1</p><p>Y1’</p><p>Y0</p><p>N0 N1 Emprego (N)</p><p>Figura 23 – Efeito de um choque tecnológico positivo sobre a função de produção</p><p>Observando a figura apresentada, um choque tecnológico positivo – que desloca a função de produção</p><p>para cima, de f(K,N)0 para f(K,N)1 – permite um nível de produto maior com a mesma quantidade de</p><p>trabalho (de Y0 para Y1’). O que veremos é que, segundo os economistas dos ciclos reais, se o agente</p><p>econômico perceber essa mudança (o que será pressuposto que sim), ele reagirá trabalhando ainda mais</p><p>(elevando o nível de mão de obra de N0 para N1) com vistas a um produto maior (Y1).</p><p>A seção seguinte desenvolve justamente o modelo básico da escola de ciclos reais de negócios, que</p><p>defende essa perspectiva.</p><p>66</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>3.2 Modelo básico de ciclos econômicos reais</p><p>No modelo de ciclos reais de negócios, pressupõe‑se um agente representativo – seja esse um agente,</p><p>uma família ou uma empresa (que são grupos homogêneos) – que tem como objetivo maximizar a sua</p><p>utilidade ou o seu lucro, subordinado às restrições de recursos e às possiblidades de produção. O ponto</p><p>de partida são os fundamentos microeconômicos explicativos dos ciclos econômicos.</p><p>Seguindo Snowdon e Vane (2005), os modelos de ciclos reais apresentam as seguintes</p><p>características gerais:</p><p>• Os agentes formam expectativas racionalmente e não sofrem de assimetria de informação. De</p><p>todo modo, apesar de os preços esperados serem iguais aos preços reais, os agentes podem ainda</p><p>enfrentar um problema de extração de sinal para decidir se um choque particular de produtividade</p><p>é (ou não) temporário ou permanente.</p><p>• A flexibilidade de preços garante os ajustes contínuos de mercado, de modo que o equilíbrio</p><p>sempre prevalece. Ademais, não existem barreiras ou custos de transação.</p><p>• As flutuações do produto agregado e de emprego são movidas por grandes mudanças aleatórias na</p><p>tecnologia de produção disponível (choques tecnológicos exógenos atuam como os mecanismos</p><p>de impulsão desses modelos).</p><p>• Uma variedade de mecanismos de propagação leva adiante o impacto do impulso inicial.</p><p>• Flutuações no emprego refletem mudanças voluntárias no número de horas que as pessoas</p><p>escolhem dedicar ao trabalho (lazer e trabalho são considerados altamente substituíveis ao longo</p><p>do tempo).</p><p>• A política monetária é irrelevante, já que ela não é capaz de influenciar variáveis reais (ou seja, a</p><p>moeda é neutra).</p><p>• As diferenças entre curto e longo prazos nas análises de flutuações e tendências econômicas</p><p>são abandonadas.</p><p>Nesse modelo, a produção agregada de um único bem, que pode ser feita tanto para fins de consumo</p><p>como para investimento, é realizada a partir do pressuposto neoclássico de rendimentos de escala</p><p>constante, respeitando a seguinte equação:</p><p>Y</p><p>t = AtF (Kt, Lt)</p><p>Em que:</p><p>Yt = produto da economia;</p><p>67</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Kt = estoque de capital;</p><p>Lt = quantidade de trabalho no tempo t;</p><p>At = fator de desvio de produtividade estocástico (ou choque). Por exemplo: choques de tecnologia,</p><p>fatores ambientais ou mudanças em regulamentações governamentais que afetam a produtividade e</p><p>mudanças na disponibilidade de matérias‑primas.</p><p>O choque pode ser representado por:</p><p>A At t t+ += + < <1 1 0 1ρ ε ρ,</p><p>Considere ε um choque aleatório, o nível tecnológico no período t depende do nível tecnológico do</p><p>período anterior ajustado por um choque aleatório.</p><p>No modelo simples, supõe‑se um agente representativo que busca maximizar sua utilidade em cada</p><p>período de sua vida. A utilidade se dá entre a alocação de seu tempo em trabalho e lazer (há um modelo</p><p>trade‑off entre trabalho e lazer). Esse agente representativo se depara com a seguinte equação de utilidade:</p><p>U U C Le f C f Let t t t t= ( ) > ( ) >, , ’( ) , ’0 0</p><p>Em que:</p><p>U = utilidade;</p><p>Ct = unidades de consumo;</p><p>Let = horas de lazer.</p><p>Como o agente, para consumir, precisa trabalhar para gerar produto, o problema desse agente</p><p>representativo é maximizar a sua utilidade numa escolha intertemporal (a soma descontada da sua</p><p>utilidade atual e futura em um horizonte infinito de tempo), o que é dado por:</p><p>U maxE c Lt t</p><p>j</p><p>t j</p><p>t j t j t= − </p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>> ></p><p>=</p><p>∞</p><p>+</p><p>+ −∑</p><p>0</p><p>1 0 0β µ β, ,'</p><p>Em que:</p><p>Ct = nível de consumo do agente representativo;</p><p>Lt = número de horas de trabalho;</p><p>68</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>1 – Lt – j = horas consumidas de lazer;</p><p>Et {.}= operador de esperança matemática;</p><p>Ωt = conjunto de informações nas quais as expectativas têm bases;</p><p>b = fator de desconto do agente representativo.</p><p>A função utilidade apresentada anteriormente é uma formalização da vontade do agente</p><p>representativo de substituir o consumo por lazer. O problema de escolha para o agente representativo é</p><p>como maximizar a utilidade (subjetiva) do seu tempo de vida (infinito), dadas as restrições de recursos</p><p>mostradas nas equações a seguir:</p><p>C I A F K Lt t t t t+ ≤ ( ),</p><p>Essa equação indica que a soma do total do consumo (Ct) e do total do investimento (It) não pode</p><p>ser maior que o total da produção (Yt).</p><p>L Lt e+ ≤1</p><p>O total de horas disponíveis para trabalho (L) e lazer (Le) é 1.</p><p>Já a evolução do estoque de capital (Kt+1) depende dos investimentos no período corrente (It), que</p><p>por sua vez dependem da poupança, e da taxa de depreciação, dada por δ:</p><p>K K It t t+ = −( ) +1 1 δ</p><p>Até aqui é importante entender que uma mudança na produtividade – por exemplo, um choque</p><p>tecnológico – irá resultar em uma resposta dinâmica do agente representativo ao maximizar sua utilidade.</p><p>O efeito disso é uma variação na produção, nas horas trabalhadas, no consumo e no investimento ao</p><p>longo dos períodos.</p><p>Para exemplificar o modelo, suponha um mundo onde não haja moeda nem instituições financeiras</p><p>e que esteja isolado. Caso ocorra um choque exógeno (alteração do At da equação do produto agregado),</p><p>haverá um aumento da produtividade do trabalho, o que significa que, a partir da mesma quantidade</p><p>de horas dedicadas ao trabalho, o agente econômico consegue produzir mais comparativamente ao</p><p>momento anterior ao choque de produtividade.</p><p>Dessa maneira, o agente, numa escolha intertemporal, prefere dedicar mais horas ao trabalho</p><p>no período corrente, reduzindo as horas usadas em lazer. O agente realizou com isso a substituição</p><p>intertemporal de lazer por trabalho. Na hipótese de o agente interpretar esse choque como temporário</p><p>e curto, ele substitui ainda mais lazer por</p><p>trabalho, ou seja, intensifica essa substituição.</p><p>69</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Considerando que uma parte do aumento do produto agregado se transforme em poupança, isso</p><p>posteriormente se converterá em investimento no futuro ou ainda em ampliação de capital para os</p><p>períodos seguintes. Isso significa que um choque no período corrente, mesmo temporário, gera efeitos</p><p>para o futuro.</p><p>Observe que esse efeito se deveu basicamente a uma resposta do agente representativo diante da</p><p>percepção de um choque de produtividade. Portanto, os economistas dos ciclos reais apontam que, dado</p><p>esse aumento do produto e do investimento, essa expansão ocorreu a despeito de quaisquer intervenções</p><p>governamentais na economia. Desse fato, o agente racional é capaz de chegar a uma escolha ótima de</p><p>Pareto sem a necessidade de estímulos governamentais (lembrando que nessa economia não há moeda</p><p>nem instituições financeiras, mas que também não foram necessárias para estimular a economia).</p><p>De acordo com essa teoria, os agentes fazem escolhas intertemporais, de maneira que, quando o</p><p>salário real está mais alto, os agentes escolhem trabalhar mais no momento corrente em substituição</p><p>ao lazer e, quando o salário real está mais baixo, preferem lazer a trabalho.</p><p>Observação</p><p>Para entender um caso de substituição intertemporal de trabalho,</p><p>suponha que durante um período bienal os trabalhadores estejam</p><p>planejando trabalhar 4.000 horas (50 semanas x 40 horas x 2 anos) ao</p><p>salário vigente.</p><p>Se o salário não flutuar nesse período bienal, eles trabalharão</p><p>uniformemente, 2.000 h em cada ano, dado que se planejam para otimizar</p><p>a utilidade. Entretanto, se o salário no primeiro ano for somente 2% mais</p><p>alto que no segundo ano, eles preferirão trabalhar 2.200 h no primeiro ano</p><p>(eliminando as férias e fazendo horas extras) e apenas 1.800 h no segundo</p><p>ano. Substituindo entre os anos, trabalha‑se o mesmo tempo total, mas se</p><p>aumenta o rendimento.</p><p>A questão: é por que isso ocorre? Uma das explicações possíveis para esse fenômeno é que o</p><p>trabalhador, para consumir bens e serviços, precisa antes trabalhar. Dado que a restrição do consumo</p><p>é limitada pela renda, então, a depender do salário, os trabalhadores alocarão mais tempo para o</p><p>trabalho ou para o lazer. Alguns teóricos enfatizam o papel da taxa de juros reais nessa escolha</p><p>intertemporal com preços flexíveis. Havendo um aumento da taxa real de juros, há um incentivo para</p><p>que os trabalhadores ofertem mais trabalho no período corrente, devido ao aumento do salário diário</p><p>em relação ao futuro.</p><p>A oferta de trabalho pode ser expressa por:</p><p>S S W P rL L= ( / , )</p><p>70</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Em que:</p><p>SL = oferta de trabalho;</p><p>W/P = salário real;</p><p>r= taxa de juros.</p><p>Para entender a escolha intertemporal dos trabalhadores diante de uma mudança da taxa de juros,</p><p>basta resgatar uma relação da matemática financeira – valor presente e valor futuro – para expressar o</p><p>preço relativo intertemporal (PRI):</p><p>PRI r</p><p>W</p><p>P</p><p>W</p><p>P</p><p>= +</p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>( )1 1</p><p>2</p><p>Em que:</p><p>r = taxa de juros;</p><p>(W/P)1 = salário real corrente;</p><p>(W/P)2 = salário real futuro.</p><p>Supondo que (W/P)1 = 100, r1 = 0,05 (5% a.a.) e (W/P)2 = 100; havendo um aumento da taxa real de</p><p>juros para r2 = 0,1 (10% a.a.), então:</p><p>1 0 05</p><p>100</p><p>100</p><p>1 0 1</p><p>100</p><p>1+( ) = +</p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>, ( , )</p><p>W</p><p>P</p><p>1 05</p><p>100</p><p>1,( ) =</p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>W</p><p>P</p><p>W</p><p>P</p><p>x</p><p></p><p></p><p></p><p>= =</p><p>1</p><p>100 1 05 105,</p><p>Dada essa equação, havendo um aumento da taxa real de juros, o salário real no presente será</p><p>maior conforme houver um aumento da taxa de juros (veja que partimos de um salário real no futuro</p><p>71</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>dado e igual a 100; o salário real corrente saiu de 100 para 105). Portanto, há um incentivo para que o</p><p>trabalhador oferte mais trabalho no período corrente, em detrimento do futuro.</p><p>Observação</p><p>Taxa de juros, para a teoria de escolha intertemporal, expressa a escolha</p><p>intertemporal entre o consumo presente e o futuro. Portanto, a taxa de</p><p>juros é o prêmio que se recebe ao abrir mão do consumo presente para</p><p>consumir no futuro. Caso a taxa de juros esteja alta, dada esta teoria, é</p><p>preferível consumir no futuro, pois o prêmio é alto e, em detrimento disso,</p><p>reduz‑se o consumo presente.</p><p>Assume‑se que o consumidor seja forward‑looking e escolha o consumo</p><p>para o presente e o futuro a fim de maximizar o nível de satisfação ao</p><p>longo de toda a vida.</p><p>Outra maneira de entender esse processo e que está representada em Dornbusch, Fischer e Startz</p><p>(2009) supõe analisar inicialmente a restrição orçamentária do trabalhador. Essa restrição é dada pela</p><p>soma do consumo de toda a vida do trabalhador que se iguala à remuneração de toda a sua vida. Veja:</p><p>C C C w L w L w Lt t t t t t t t t+ + +…= + + +…+ + + + + +1 2 1 1 2 2</p><p>Em que:</p><p>Ct = consumo no período;</p><p>wt = salário no período;</p><p>Lt = quantidade de horas dedicadas ao trabalho.</p><p>O trabalhador se depara a cada período com o problema de maximizar utilidade entre horas dedicadas</p><p>ao trabalho ou ao lazer, sujeito à restrição orçamentária dada pela equação apresentada.</p><p>As utilidades marginais do consumo e do lazer podem ser expressas por:</p><p>UMg C L L</p><p>U</p><p>Cconsumo t t</p><p>t</p><p>t</p><p>= −( ) =−γ γγ 1</p><p>UMg C L L</p><p>U</p><p>L Llazer t t</p><p>t</p><p>t</p><p>= −( ) =</p><p>−</p><p>−</p><p>β βγ β 1</p><p>72</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Para que a escolha seja um ótimo de Pareto:</p><p>UMg</p><p>UMg</p><p>wlazer</p><p>consumo</p><p>t=</p><p>ou</p><p>L L</p><p>U</p><p>wt</p><p>t</p><p>t</p><p>− = β</p><p>γ</p><p>Lembrando que UMg é a utilidade marginal, γ e b são coeficientes do consumo intertemporal e são</p><p>positivos, L são as horas dedicadas ao trabalho e Lt as horas disponíveis.</p><p>Se o trabalhador abrir mão de uma hora de lazer no período corrente, isso significa que ele ganhará wt a</p><p>mais que permite que ele acrescente wt / wt+1 de lazer no período seguinte. Isso pode ser representado por:</p><p>UMg w</p><p>w xUMglazer</p><p>t</p><p>t</p><p>lazer t1</p><p>1</p><p>1=</p><p>+</p><p>+( )</p><p>Igualando as utilidades marginais do lazer presente com o futuro, tem‑se a equação de substituição</p><p>intertemporal de lazer do trabalhador, dada por:</p><p>L L</p><p>L L</p><p>w</p><p>w</p><p>t</p><p>t</p><p>t</p><p>t</p><p>−</p><p>−</p><p>=</p><p></p><p></p><p></p><p>+</p><p>+</p><p>−</p><p>− −</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>γ</p><p>γ β</p><p>Essa equação demonstra que caso o salário no período t+1 aumente 1%, considerando que o</p><p>salário se mantenha inalterado nos outros períodos, o lazer no período t+1 reduzirá em</p><p>1</p><p>1</p><p>−</p><p>− −</p><p>γ</p><p>γ β</p><p>. Se o</p><p>lazer será mais ou menos sensível a mudanças temporárias do salário real, isso vai depender dos valores</p><p>de γ e b.</p><p>Os parâmetros γ e b são chamados de parâmetros estruturais na literatura de ciclos econômicos reais. Os</p><p>economistas que defendem essa abordagem argumentam que os modelos econômicos deveriam depender</p><p>justamente dos parâmetros que descrevem as preferências dos consumidores‑trabalhadores e dos que descrevem</p><p>a função de produção das empresas. No caso do modelo simples apresentado, se γ + b estiver próximo de 1, a</p><p>substituição intertemporal de lazer por trabalho será muito forte, de modo que os mecanismos de propagação</p><p>traduzirão choques tecnológicos relativamente pequenos em impactos maiores sobre do produto.</p><p>3.3 Choques reais (positivos e negativos)</p><p>Como os teóricos dos ciclos reais de negócios adotam algumas das principais hipóteses dos modelos</p><p>novo‑clássicos, aceitam certos resultados destes, particularmente o postulado da ineficácia das políticas</p><p>econômicas que atuam sobre a demanda agregada. Qualquer intervenção do governo, a partir de</p><p>políticas fiscai, por exemplo, pode levar a um desequilíbrio com redução do bem‑estar. Ora, dado que a</p><p>moeda é neutra a curto e a longo prazo, a política monetária também não apresenta efeito real sobre a</p><p>economia. Portanto, qualquer alteração sustentável do nível de produto envolve a alteração, no fundo,</p><p>do produto potencial, que para se modificar depende dos fatores de oferta.</p><p>73</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>As flutuações são explicadas pela substituição intertemporal de lazer, por exemplo. Caso haja um</p><p>choque tecnológico com aumento de produtividade, ao salário real maior, os trabalhadores estarão</p><p>mais dispostos a substituir lazer por trabalho ao longo do ciclo econômico, o que gera um aumento</p><p>do produto potencial. Eles se preocupam com o esforço (quantidade de trabalho) total, mas não se</p><p>incomodam com quando trabalhar. Observe, contudo, que a substituição intertemporal do lazer não</p><p>implica que a oferta de trabalho seja sensível a mudanças permanentes no salário.</p><p>Esse choque temporário, em apenas um período, representado por At, dados Kt e Lt pode ser</p><p>representado na figura a seguir:</p><p>A1t (Kt, Lt)</p><p>A0t (Kt, Lt)</p><p>Y1</p><p>Y</p><p>Y1’</p><p>Y0</p><p>N0 N1</p><p>N</p><p>Figura 24 – O efeito de um choque tecnológico positivo em um modelo de ciclos reais de negócios</p><p>O efeito do choque positivo leva a um deslocamento da curva de produção, conforme apontado pela</p><p>seta vermelha. Além disso, o próprio choque de produtividade gera um aumento da produtividade dos</p><p>fatores de produção, por exemplo, do trabalho, o que faz a curva ser mais sensível para qualquer nível</p><p>de trabalho.</p><p>A substituição intertemporal de lazer gera grandes movimentos na quantidade de trabalho realizado</p><p>em resposta a pequenas mudanças nos salários reais, mostrando que a elasticidade é elevada.</p><p>Outro exemplo que se pode examinar é em caso de um choque de produtividade negativo, como por</p><p>exemplo, uma externalidade positiva no fato do estabelecimento de uma lei ambiental ou um aumento</p><p>do custo das matérias‑primas, uma nova tributação sobre a produção. Esses atos aumentam o custo</p><p>para o produtor, o que leva a uma redução do produto potencial.</p><p>O efeito multiplicador dos ciclos econômicos é estimulado por perturbações que alteram os níveis</p><p>de equilíbrio do produto e do emprego em mercados específicos e na economia em geral. Principais</p><p>perturbações consideradas: choques sobre produtividade, ou choques da oferta e choques sobre a</p><p>despesa pública.</p><p>74</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>3.4 Neutralidade e não neutralidade da moeda</p><p>Uma pergunta que surge, após tudo o que já foi visto sobre keynesianos, monetaristas e novo‑clássicos,</p><p>sobre moeda e políticas econômicas, é: como os economistas dos ciclos reais lidam com a aparente</p><p>influência da moeda sobre as flutuações econômicas? Afinal, seus modelos mais simples sequer supõem</p><p>a existência de moeda.</p><p>O início da resposta já pode ser intuído pelo caráter neutro da moeda, uma propriedade que já havia</p><p>sido enfatizada pelos economistas novo‑clássicos. A questão é que, pelo menos até o final dos anos 1970,</p><p>importantes economistas, de variadas escolas de pensamento, concordavam que pelo menos a taxa de</p><p>crescimento da oferta de moeda tinha efeitos reais na economia e desempenhava um papel importante</p><p>em qualquer explicação das flutuações da produção (SNOWDON; VANE, 2005). As polêmicas davam‑se</p><p>em torno da força e do caráter da relação entre moeda e produção, bem como das capacidades das</p><p>políticas econômicas. Na verdade, desde a contrarrevolução monetarista difundiu‑se a ideia de que a</p><p>instabilidade monetária seria a principal razão de instabilidade real (aqui se referindo a impactos sobre</p><p>variáveis reais).</p><p>Sem embargo, a correlação positiva, bastante estabelecida, entre moeda e produto agregado pode</p><p>simplesmente indicar o fato de que a oferta agregada responde à atividade econômica (e não o contrário).</p><p>Assumir essa relação de “resposta monetária” à atividade significa tomar a moeda como um fenômeno</p><p>endógeno ao ciclo econômico. Isto é, sendo a relação de causalidade inversa, seriam as expectativas de</p><p>expansão futura da produção o que provocariam o aumento da oferta de moeda.</p><p>Segundo os teóricos dos ciclos reais de negócios, a demanda por moeda se expande durante</p><p>expansões dos negócios e provoca uma resposta flexível da oferta de dinheiro (SNOWDON; VANE, 2005).</p><p>Diversos estudos de caso foram realizados com resultados que sustentaram essa hipótese.</p><p>Seguindo as explicações de Snowdon e Vane (2005), vale destacar que, apesar de os modelos</p><p>iniciais de ciclos reais de negócios terem sido construídos sem características monetárias, muitos</p><p>modelos posteriores concluíram que a inclusão de um setor monetário seria desnecessária, na medida</p><p>em que não alteraria as conclusões centrais dos modelos: a relação entre moeda e produto refletiria</p><p>justamente a endogeneidade da moeda. Uma maneira de formalizar essa característica é, por exemplo,</p><p>ao definir o setor financeiro como uma indústria que fornece um fluxo de serviços contábeis voltados</p><p>para facilitar as operações de mercado. Aliás, como os serviços financeiros podem ser produzidos</p><p>mais rapidamente que os demais produtos finais, a própria variação de depósitos bancários seria um</p><p>indicador importante dos ciclos de negócios (é de se esperar que a expansão dos serviços financeiros</p><p>ocorra antes da expansão da produção).</p><p>Curiosamente, o argumento dos ciclos reais de negócio de que a moeda é endógena corresponde</p><p>a uma das principais proposições do pensamento pós‑keynesiano. Tomando como referência a teoria</p><p>quantitativa da moeda (TQM), tanto os teóricos pós‑keynesianos quanto os do ciclo real de negócios</p><p>pareceriam concordar com o argumento de que a TQM (MV = PY) deveria ser lida, em termos causais,</p><p>da direita para a esquerda.</p><p>75</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Contudo, as aparentes semelhanças param por aí. Isso porque, segundo Charles Plosser (economista</p><p>americano e um dos expoentes da teoria dos ciclos reais), por exemplo, mesmo a capacidade de os</p><p>governantes implementarem políticas de surpresa (algo reconhecido pelos novo‑clássicos) não existiria</p><p>(CARVALHO et al., 2012).</p><p>Como os agentes formam expectativas racionais (e não desperdiçam informações, vale lembrar),</p><p>eles incorporam em suas decisões o modelo decisório dos dirigentes do Banco Central, que com o</p><p>tempo se torna conhecido para todos os agentes, de modo que as flutuações de produto não podem ser</p><p>explicadas pela falta de informação (expressa por uma política não antecipada).</p><p>Nesse caso, recuperando o que vimos sobre os novo‑clássicos, a função oferta de Lucas, em termos</p><p>de taxa de desemprego, seria a seguinte:</p><p>U U P Pt N</p><p>e= + −( ) +α β  , restrição:  P Pe− =( ) 0</p><p>Não existindo sequer a possibilidade de decepção de expectativas de preços, a moeda se torna</p><p>superneutra (CARVALHO et al, 2012). Afinal, os choques estão do lado da oferta, e não da demanda,</p><p>portanto as variações de produto e emprego não decorrem de choques monetários, sejam eles</p><p>supostamente antecipados ou não antecipados.</p><p>3.5 Críticas ao enfoque dos ciclos reais</p><p>A observação da estrutura das proposições da teoria dos ciclos reais (especialmente seus pressupostos),</p><p>bem como diversas de suas conclusões, denotam, para muitos economistas, uma radicalidade extrema.</p><p>A crítica mais evidente é que considerar os ciclos econômicos (reais) como fenômenos de</p><p>equilíbrio é uma noção inconcebível. As mais variadas abordagens macroeconômicas convencionais</p><p>destacam que as flutuações têm fundamentos da demanda agregada e da oferta agregada e que,</p><p>portanto, é importante a ação diante dos desvios custosos em relação ao produto potencial (ou</p><p>para alcançar esse patamar).</p><p>Como destacam Snowdon e Vane (2005), a análise neoclássica convencional de oferta de mão de</p><p>obra destaca dois efeitos opostos de um aumento no salário real. Por um lado, um salário real mais</p><p>elevado induz um aumento na oferta de mão de obra (por meio do efeito‑substituição, entre trabalho</p><p>e lazer); por outro, um salário real maior também tem um efeito‑renda, o que estimula o trabalhador a</p><p>dedicar mais horas ao lazer. No caso dos modelos de ciclos econômicos reais (CER), o efeito‑substituição</p><p>deve ser superior</p><p>ao efeito‑renda; caso contrário, não é possível justificar que choques tecnológicos</p><p>induzam variações no nível de emprego. Uma crítica, baseada em evidências tratadas em vários trabalhos,</p><p>é que a elasticidade de substituição intertemporal da oferta de trabalho aponta uma fraca resposta</p><p>a mudanças salariais transitórias. Ora, se essa elasticidade de substituição intertemporal é baixa, os</p><p>choques tecnológicos tendem a produzir uma variação muito maior nos salários reais do que no nível</p><p>de emprego, ele a observação empírica aponta grandes variações no emprego – o que indicaria que a</p><p>explicação não está na substituição intertemporal.</p><p>76</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Além disso, outros críticos apontam que a taxa de juros não é uma variável tão importante na tomada</p><p>de decisão dos ofertantes de mão de obra. Como é possível os agentes estabelecerem expectativas</p><p>futuras precisas das taxas de juros e dos salários reais a fim de tomarem suas decisões de substituição</p><p>intertemporal? Um crítico mais franco poderia responder que isso somente é possível nos modelos pelos</p><p>próprios pressupostos heroicos estabelecidos neles.</p><p>Outra questão que é objeto de severas críticas é a dependência dos choques tecnológicos pelos</p><p>modelos de CER. Como destacam Snowdon e Vane (2005), muitos economistas duvidam que os</p><p>choques tecnológicos necessários para impulsionar os fenômenos trabalhados pelos CERs sejam mesmo</p><p>suficientemente grandes ou razoavelmente frequentes. Podemos destacar aqui pelo menos três razões</p><p>para essa dúvida:</p><p>• As observações sugerem que a difusão tecnológica tende a ser lenta.</p><p>• O processo de difusão tecnológica, no agregado, tende a produzir resultados suaves no</p><p>produto agregado.</p><p>• A regressão técnica necessária para produzir recessões (afinal as flutuações econômicas são</p><p>fundamentalmente causadas por choques tecnológicos) não encontra microfundamentações plausíveis.</p><p>O que nos leva a outra crítica, relacionada à ideia de recessões como períodos de regressão</p><p>tecnológica. Como as recessões são eventos importantes no sistema econômico, elas detêm grande</p><p>atenção tanto dos formuladores de política quanto dos meios de comunicação. Contudo, não existem</p><p>discussões sobre queda da tecnologia disponível; se ocorresse efetivamente algum choque tecnológico</p><p>negativo, a sociedade já saberia.</p><p>Uma resposta dos teóricos de CER é que choques tecnológicos significam quaisquer alterações nas</p><p>funções de produção (ou de modo mais geral, dos conjuntos de possibilidades de produção rentáveis).</p><p>Desse modo, como exemplo de choque tecnológico, poderiam ser elencadas alterações de marcos legais</p><p>e institucionais ou barreiras regulatórias (SNOWDON; VANE, 2005).</p><p>O tema do desemprego também não passa incólume às críticas. Nos modelos de CER o</p><p>desemprego é voluntário ou completamente ausente. Tomando como referência experiências</p><p>históricas marcantes, por exemplo, a Grande Depressão nos Estados Unidos, argumentar que</p><p>aquele processo histórico se deveu, economicamente, a choques de produtividade e substituição</p><p>intertemporal desafiaria a credulidade de qualquer pessoa sensata, diria um economista crítico</p><p>e franco. Aliás, tomando algumas referências históricas, a crítica à inexistência de desemprego</p><p>involuntário nos modelos teóricos de CER se aplica também aos modelos novo‑clássicos (fatos</p><p>estilizados sobre desemprego na Europa nos anos 1980 demonstram a existência de um expressivo</p><p>volume de desemprego involuntário).</p><p>A variedade de críticas aos CERs é grande. Uma delas se refere à tese da superneutralidade da</p><p>moeda, que à semelhança da tese de neutralidade dos novo‑clássicos é recorrentemente criticada pelo</p><p>pensamento pós‑keynesiano (para citar apenas uma tradição crítica a esse tipo de tratamento da moeda).</p><p>77</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Outro elemento estruturante dos modelos de CER que é bastante criticado é o uso generalizado</p><p>da noção de agente representativo. Com esse recurso os teóricos de CER se desviam dos problemas de</p><p>agregação inerentes às análises macroeconômicas, apoiando‑se na hipótese de que as escolhas desse</p><p>agente coincidem com as ações agregadas de milhões de agentes heterogêneos. Desaparecem assim</p><p>problemas caros ao debate macroeconômico, como coordenação, associação e informação assimétrica</p><p>(SNOWDON; VANE, 2005).</p><p>4 MODELOS NOVO‑KEYNESIANOS</p><p>A economia novo‑keynesiana é uma linha de pesquisa que surge na década de 1980, cujo</p><p>arcabouço teórico incorpora elementos da teoria microeconômica e agentes econômicos que formam</p><p>expectativas racionais, entretanto considera os elementos centrais da teoria keynesiana. Faz‑se uma</p><p>crítica aos economistas novo‑clássicos e, principalmente, a sua teoria dos ciclos reais de negócios, mas</p><p>consideram‑se preços e salários rígidos a curto prazo.</p><p>A economia novo‑keynesiana faz um contraponto à economia novo‑clássica que surgiu nos anos</p><p>1970, em que retoma os postulados de racionalidade dos agentes econômicos da escola neoclássica</p><p>ou marginalista, cujos agentes formam suas expectativas sobre as variáveis econômicas com base em</p><p>preços e salários flexíveis, e informações simétricas ou perfeitas.</p><p>A formação de expectativas sustenta a necessidade de agentes econômicos racionais e com capacidade</p><p>analítica para criar e entender o processo de formação de preços e a possibilidade de mercados em</p><p>equilíbrio. Esse ponto torna a teoria macroeconômica dependente dos fundamentos microeconômicos.</p><p>Para se contraporem à escola novo‑clássica, os economistas novo‑keynesianos iniciam seus estudos</p><p>pelo pressuposto dos preços e salários rígidos e desequilíbrio dos mercados, por exemplo, o mercado</p><p>de trabalho em que há trabalhadores desempregados de forma involuntária, portanto em desequilíbrio,</p><p>e não em pleno emprego. Portanto, o debate teórico entre os novo‑clássicos e novo‑keynesianos</p><p>apresentou avanços significativos, mas restritos à microeconomia, cuja macroeconomia é a análise das</p><p>variáveis agregadas, e não das variáveis de alguns mercados em que a escola novo‑keynesiana faz</p><p>críticas à teoria dos ciclos reais de negócios e resgata elementos da teoria keynesiana.</p><p>Keynes, em seu livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), procura explicar a</p><p>existência do desemprego involuntário e a rigidez de salários, por meio da tese da demanda efetiva,</p><p>segundo a qual a demanda agregada determinaria o produto e impactaria o nível de emprego. Conforme</p><p>Froyen (2006, p. 328‑329):</p><p>Uma queda na demanda agregada por mercadorias, por exemplo, leva a</p><p>uma queda na demanda por mão de obra. Como resultado da existência</p><p>de contratos de trabalho com salários fixos, e das expectativas de preços</p><p>retrospectivas dos trabalhadores, o salário monetário não cairá o suficiente</p><p>a curto prazo para manter o nível de emprego inicial. Emprego e produto</p><p>cairão. O desemprego aumentará.</p><p>78</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A linha de pensamento econômico novo‑keynesiana tem como principal objeto de pesquisa</p><p>o desemprego involuntário. O campo de pesquisa tem sido a microeconomia como forma de</p><p>contrapor as críticas novo‑clássicas à teoria keynesiana e evidenciar os pontos microeconômicos da</p><p>macroeconomia keynesiana.</p><p>Os pontos microeconômicos baseiam‑se em agentes racionais e preços e salários rígidos que</p><p>pressupõem uma estrutura de mercado em concorrência imperfeita para o mercado de bens e serviços.</p><p>A rigidez não é apenas de variáveis nominais, como o salário monetário corrente, mas também de</p><p>variáveis reais, como o salário real, ou dos preços relativos das empresas diante de mudanças na</p><p>demanda agregada.</p><p>4.1 Modelos de preço rígido (custos de menu)</p><p>A teoria econômica keynesiana, ao tratar a economia em uma situação de desequilíbrio, isto é, a</p><p>demanda agregada efetiva abaixo da demanda agregada de pleno emprego, demonstra que o salário</p><p>monetário não era flexível, ou seja, em uma situação de crise, uma redução dos salários não levava a um</p><p>ajuste nos níveis de produto e emprego, e muito menos ao equilíbrio da economia.</p><p>Observação</p><p>A teoria clássica, ao adotar os pressupostos de concorrência perfeita,</p><p>agentes racionais e preços e salários flexíveis, afirmava que em uma crise</p><p>a queda dos salários leva as empresas a contratar mais trabalhadores, e a</p><p>queda dos preços eleva a demanda por bens e serviços.</p><p>A questão dos preços rígidos é um ponto essencial para os novo‑keynesianos, pois permite analisar</p><p>a economia em estruturas de concorrência imperfeita. Na concorrência perfeita, os preços são</p><p>determinados pelas forças de oferta e demanda, em que empresas são tomadoras de preços e não têm</p><p>poder para formar os preços de bens e serviços, sendo as curvas de demanda elásticas. Se os preços</p><p>apresentarem uma tendência de queda, todas as empresas reduzirão os preços.</p><p>Entretanto, analisando o mundo real, há várias empresas com poder de mercado (monopolisticas,</p><p>oligopolistas e concorrentes monopolísticos) que não reduzem preços diante de uma queda no nível de</p><p>atividade. Há situações em que as empresas mantêm os preços de bens e serviços constantes, mesmo</p><p>diante um cenário de queda da demanda agregada, pois a mudança de preços representa um custo</p><p>adicional que supera o benefício da redução de preços.</p><p>Esses custos adicionais ao alterar preços são chamados de custo de menu pela linha</p><p>novo‑keynesiana, em alusão aos restaurantes que trabalham com menus sofisticados, cuja alteração</p><p>de preços exigirá a impressão de novos menus. Outro exemplo são as empresas que trabalham com</p><p>listas de preços e ao alterá‑los necessitam da confecção de novas listas de preços, tendo, por</p><p>consequência, custos adicionais.</p><p>79</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Alterações constantes de preços podem gerar a perda de clientes e consumidores, que podem</p><p>considerar a empresa exploradora. Outro fato relacionado a alterações de preços é que as empresas</p><p>que passam a reduzir preços são seguidas por outras, resultando em uma guerra de preços, fato que</p><p>acontece muito em estruturas de mercado oligopolista.</p><p>Caso a alteração de preços represente custos altos, haverá rigidez de preços. A queda da demanda</p><p>agregada causa redução de produtos e empregos, e não diretamente alterações de preços, principalmente,</p><p>em setores com estruturas de mercado imperfeitas.</p><p>Saiba mais</p><p>Sobre rigidez de preços e salários, leia:</p><p>DATHEIN, R. O crescimento do desemprego nos países desenvolvidos</p><p>e sua interpretação pela teoria econômica: as abordagens neoclássica,</p><p>keynesiana e schumpeteriana. 2000. Tese (Doutorado em Economia) –</p><p>Instituto de Economia, Unicamp, Campinas, 2000.</p><p>4.2 Modelos de salário de eficiência</p><p>O salário eficiência (e) na teoria novo‑keynesiana é o salário acima da média de mercado e que</p><p>gera maior produtividade e reduz a rotatividade do trabalhador, portanto a eficiência desse trabalhador</p><p>possui uma relação positiva com o salário que ele recebe.</p><p>e2</p><p>e1</p><p>e</p><p>w/p 1 w/p 2 w/p</p><p>Figura 25 – Relação entre eficiência do trabalhador e salário real</p><p>80</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A formalização dessa premissa da teoria novo‑keynesiana pode ser expressa da seguinte forma:</p><p>e = e(w/p), em que:</p><p>e = é o índice de eficiência ou produtividade do trabalhador;</p><p>w = é o salário nominal;</p><p>p = é o índice de preço;</p><p>w/p = é o salário real.</p><p>O produto é determinado pela quantidade de fatores de produção. De forma clássica, os fatores de</p><p>produção estão divididos entre capital e trabalho. Como o produto depende desses dois fatores, cujo</p><p>trabalhador está em função do salário real que recebe, podemos formalizar como o índice de eficiência</p><p>determina o produto da seguinte forma:</p><p>y = F[K, e(w/p) N] em que:</p><p>y = é o produto</p><p>K = é o fator de produção capital;</p><p>e(w/p) = é o índice de eficiência do trabalhador em relação ao salário real;</p><p>N = é o fator de produção trabalho.</p><p>Como o produto (y) também é determinado pela quantidade de mão de obra (N), também será</p><p>medido em unidades de eficiência do trabalhador ou mão de obra, que é igual ao número de unidades</p><p>físicas (N), isto é, mensurado em trabalhador/horas multiplicado pelo índice de eficiência. Assim, o</p><p>produto tende a aumentar com o aumento do número de trabalhadores (N) e/ou com o aumento da</p><p>eficiência da força de trabalho, e(w/p). Segundo Froyen (2006, p. 333)</p><p>[...] a meta da firma é estabelecer o salário real de forma que o custo de uma</p><p>unidade de eficiência de mão de obra seja minimizado ou, dizendo de outro</p><p>modo, maximizar o número de unidades de eficiência de mão de obra compradas</p><p>com cada unidade monetária despendida na folha de pagamento. Isso é feito</p><p>aumentando o salário real até o ponto em que a elasticidade do índice de</p><p>eficiência e(w/p) em relação ao salário real seja igual a 1.</p><p>Isso significa que uma mudança percentual em cada uma das variáveis, isto é, a eficiência de mão</p><p>de obra e o salário real, alteram o produto, sendo necessário um ponto que maximize a produtividade</p><p>(produto) a um nível de salário ótimo ou salário eficiência ótimo, (w/p)*. Podemos formalizar a elasticidade</p><p>da seguinte forma:</p><p>81</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Elasticidade e(w/p), (w/p) = [∆% e(w/p) / ∆% (w/p)]</p><p>Fazemos a leitura da equação apresentada da seguinte forma: dada a variação percentual (∆%) do</p><p>salário real, w/p, qual é a variação percentual (∆%) no índice de eficiência do salário real, e(w/p)?</p><p>Observação</p><p>A elasticidade representa a sensibilidade entre duas variáveis. Aqui,</p><p>a relação é entre salário real e produtividade, isto é, dado um salário real</p><p>acima da média de mercado, o trabalhador apresenta maior produtividade.</p><p>Podemos concluir que esse trabalhador e a sua produtividade são sensíveis</p><p>ao salário real que está sendo pago e é considerado como salário‑eficiência.</p><p>A ideia é que um aumento de 10% do salário real eleve em 20% a eficiência do trabalhador, logo empresa</p><p>irá beneficiar‑se desse aumento devido ao aumento da produtividade, isto é, cada unidade monetária da</p><p>folha de pagamento compra o dobro em unidades de eficiência. Esses aumentos adicionais na folha de</p><p>pagamento serão realizados até um ponto ótimo (elasticidade unitária), em que os ganhos em eficiência</p><p>começarão a ser decrescentes. Por exemplo, no ponto em que um aumento de 10% no salário real levar</p><p>apenas aos mesmos 10% de aumento na eficiência. Já no ponto em que um aumento de 10% no salário real</p><p>levar a 5% de aumento na eficiência, a empresa não considerará ótimo aumentar ainda mais o salário real.</p><p>Analisando o mercado de trabalho, em muitos casos, o pressuposto do salário‑eficiência, ou melhor,</p><p>a determinação dos salários reais de alguns trabalhadores e setores ocorrem com base na produtividade</p><p>do trabalho, isto é, na eficiência. Não são os salários reais que se ajustam para equilibrar o mercado de</p><p>trabalho, as empresas é que determinam o salário real acima da média salarial ou o equilíbrio de mercado,</p><p>cujo resultado pode ser o desemprego involuntário persistente em forma de menos trabalhadores e</p><p>maior produtividade.</p><p>Froyen (2006, p. 334‑335) apresenta algumas explicações lógicas dos salários‑eficiência:</p><p>O modelo da leniência. Definindo o salário real acima do nível vigente no</p><p>mercado (isto é, a próxima melhor oportunidade para o trabalhador), a firma</p><p>dá ao funcionário um incentivo para não “fazer corpo mole” no serviço. Se</p><p>ele fizer, poderá ser demitido, e ele sabe que seria difícil encontrar outro</p><p>emprego com um salário tão alto. Se as firmas só tiverem condições de</p><p>monitorar o desempenho no trabalho de forma imperfeita e com algum</p><p>custo, essa estratégia de salários altos pode ser lucrativa.</p><p>Modelos de custos de rotatividade. Ao pagar um salário acima do nível de</p><p>mercado, as firmas</p><p>podem reduzir as taxas de abandono de emprego e, assim,</p><p>os custos de recrutamento e treinamento. O salário alto também permite</p><p>que elas desenvolvam um contingente de mão de obra mais experiente e,</p><p>portanto, mais produtivo.</p><p>82</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Modelos de reciprocidade. Outra explicação para a eficiência depender</p><p>do salário real centra‑se no estado de ânimo dos trabalhadores. De</p><p>acordo com essa argumentação, se a firma pagar um salário real</p><p>acima do salário de equilíbrio de mercado, melhorará o moral dos</p><p>trabalhadores, que se esforçarão mais. A firma dá aos trabalhadores o</p><p>presente de um salário acima do mercado, e os trabalhadores retribuem</p><p>com uma maior eficiência.</p><p>Essas lógicas podem ser aplicadas em várias ocupações do mercado de trabalho. Por exemplo,</p><p>ocupações com elevada qualificação, seja de ensino superior ou ensino técnico, como diretores de</p><p>empresas, metalúrgicos e petroquímicos, entre outras. O salário‑eficiência passa a ser importante, pois</p><p>representa o salário real definido acima do salário do nível de equilíbrio de mercado, o que poderá</p><p>causar o desemprego involuntário, levando trabalhadores a procurar empregos com altos salários e a</p><p>não aceitar empregos com salários médios e mais baixos.</p><p>Dado que o salário real é fixado com base na eficiência, em alguns casos, podemos afirmar que os</p><p>modelos de salário‑eficiência explicam a rigidez real devido a uma parte dos trabalhadores não aceitar</p><p>trabalhar para ganhar a média salarial, portanto a rigidez real pode explicar o desemprego involuntário.</p><p>Entretanto, a rigidez do salário real referente ao pagamento de salários‑eficiência não explica como</p><p>ocorrem às oscilações na demanda agregada, que, por sua vez, impactam os níveis de produto e emprego,</p><p>que, sendo uma queda da demanda agregada, resulta em desemprego involuntário.</p><p>Caso o Banco Central adote uma política monetária contracionista, isto é, reduza a base monetária,</p><p>haverá uma redução nominal da demanda agregada, pois as empresas tendem a reduzir preços para</p><p>manter as vendas, bem como diminuição do salário monetário ou nominal na mesma proporção dos</p><p>preços para manter o salário real igual ao salário‑eficiência, (w/p)*. No entanto, as empresas podem não</p><p>reduzir preços devido aos custos de menu, e o salário real vinculado ao salário‑eficiência será mantido</p><p>constante devido ao fato de o salário monetário ou nominal ser fixo. Nesse caso, a redução na demanda</p><p>agregada provoca uma queda dos níveis de produto e emprego, elevando o desemprego involuntário.</p><p>Dessa forma, o salário monetário constante ou fixo caracteriza a rigidez nominal que, relacionada</p><p>aos custos de menu, provoca a rigidez do salário real e dos salários‑eficiência, em que a combinação</p><p>desses fatores provoca o desemprego involuntário.</p><p>4.3 Modelos insider‑outsider ou incluído‑excluído e histerese</p><p>A agenda de pesquisa keynesiana tem constatado a persistência de elevadas taxas de desemprego</p><p>da década de 1980 em diante, quando comparado ao período do Pós‑Segunda Guerra (1945‑1975),</p><p>conhecido como “os anos dourados do capitalismo” ou “trinta anos gloriosos”.</p><p>Há a hipótese de que a taxa de desemprego presente tenha uma relação com a taxa de desemprego</p><p>passada, em que economias podem estar em armadilhas de desemprego que persistem por um longo</p><p>período, caracterizando uma taxa de desemprego natural (Nairu).</p><p>83</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Utiliza‑se o termo histerese para tratar variáveis que apresentam uma variação e tendência</p><p>que se afasta de um valor ou média inicial e não volta a apresentar tendência de retorno para</p><p>esse mesmo valor ou média iniciais, mesmo quando a conjuntura econômica volta a ser a mesma,</p><p>em que modelos de histerese voltados para a taxa de desemprego explicam a persistência de altas</p><p>taxas de desemprego dentro desse contexto. Por exemplo, se a média de desemprego é de 7% ao</p><p>ano dentro de uma conjuntura em que a economia cresce 5% ao ano, mas, numa dada recessão</p><p>econômica, a taxa de desemprego sobe para 10% ao ano e permanece a mesma em um cenário no</p><p>qual a recessão econômica é superada, isto é, com crescimento econômico, denominaremos esse</p><p>fato de histerese.</p><p>Um dos modelos que explicam a histerese na taxa de desemprego é o modelo insider‑outsider ou</p><p>incluído‑excluído, que é um modelo de preços rígidos em um ambiente de concorrência imperfeita nos</p><p>mercados de trabalho e de bens e serviços. Veja o exemplo de Froyen (2006, p. 336):</p><p>[...] vamos examinar uma situação com um sindicato no lado dos</p><p>empregados e poucas firmas empregadoras; por exemplo, a indústria</p><p>siderúrgica alemã. Os membros do sindicato, que chamaremos de</p><p>incluídos (de dentro), têm poder de negociação com os empregadores</p><p>porque é caro substituí‑los por excluídos (de fora – nesse caso,</p><p>trabalhadores não pertencentes ao sindicato). O custo de substituí‑los</p><p>é um custo de recrutamento e treinamento de novos trabalhadores.</p><p>Os membros do sindicato também podem impor custos aos excluídos</p><p>que tentem aceitar empregos por salários mais baixos, fazendo uso de</p><p>piquetes, por exemplo.</p><p>Pressupõe‑se que os incluídos usem seu poder de negociação para empurrar</p><p>o salário real para cima do nível de equilíbrio do mercado, o que resulta em</p><p>um grupo de excluídos desempregados. Os incluídos só empurrarão o salário</p><p>real para cima até certo ponto, porém, porque quanto mais alto o salário</p><p>real, menos incluídos estarão empregados.</p><p>O sindicato formado pelos incluídos tem informações do total de trabalhadores incluídos e do</p><p>seu nível salarial, por isso acompanham tanto o nível de empregos quanto a demanda por mão</p><p>de obra das empresas. Há uma relação negativa entre demanda por trabalho e o salário real, por</p><p>isso, quando o salário real sobe, poderá haver queda da demanda por mão de obra, causando o</p><p>desemprego involuntário.</p><p>Os sindicatos tentam negociar com as empresas um nível de salário que mantenha o nível de</p><p>emprego de todos, entretanto, uma queda na demanda agregada da economia leva a uma queda do</p><p>produto e do emprego, que eleva o desemprego involuntário dos trabalhadores incluídos. Portanto, o</p><p>modelo incluído‑excluído estuda o desemprego, que é resultado das questões salariais, isto é, do salário</p><p>real acima do salário de equilíbrio somado a crises de demanda agregada, resultando em desemprego</p><p>involuntário de trabalhadores incluídos e excluídos.</p><p>84</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>As crises econômicas dos anos 1980 em diante elevaram o contingente de trabalhadores</p><p>desempregados, em que trabalhadores sindicalizados deixaram os sindicatos e tornaram‑se excluídos. Esse</p><p>fato reduz o número de trabalhadores incluídos. Em uma conjuntura econômica favorável, os sindicatos</p><p>lutam por salários reais mais elevados que o nível salarial vigente no período de crise econômica. Com</p><p>menor contingente de trabalhadores sindicalizados na ativa (incluídos), há uma tendência de um salário</p><p>real mais alto, mas com o nível de emprego mais baixo, cujos excluídos não são levados em conta e</p><p>elevam a taxa de desemprego.</p><p>Saiba mais</p><p>A questão do desemprego é um grande problema econômico. O Banco</p><p>Mundial, em seus estudos de casos, vem pesquisando uma tendência nos países</p><p>de crescimento econômico sem emprego, conhecida como jobless growth.</p><p>Para aprofundar seus conhecimentos a respeito do tema, leia:</p><p>VERME, P. et al. Labor mobility, economic shocks, and jobless growth:</p><p>evidence from Panel Data in Morocco. The World Bank, 2014. Disponível</p><p>em: <http://documents.worldbank.org/curated/pt/608451468062117236/</p><p>pdf/WPS6795.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2016.</p><p>Nesse caso, a taxa de desemprego passada eleva a taxa de desemprego presente ao transformar</p><p>trabalhadores incluídos em excluídos, ou seja, causa histerese e armadilha do desemprego.</p><p>Devido à falta de força política e econômica dos trabalhadores</p><p>excluídos, eles não participam do</p><p>processo de negociação salarial e assim não conseguem, mesmo com uma proposta salarial mais</p><p>baixa, voltar à ativa.</p><p>Os modelos que trabalham com a hipótese de histerese na taxa de desemprego, isto é, o modelo</p><p>insider‑outsider ou incluído‑excluído, passaram a explicar as elevadas taxas de desemprego em países</p><p>europeus, as quais se mantiveram a longo prazo.</p><p>4.4 Modelos de contratos sobrepostos de Taylor</p><p>Há modelos afirmando que a concorrência imperfeita no mercado de trabalho é que poderia explicar</p><p>os aumentos das taxas de desemprego de longa duração, em que os contratos de trabalho que fixam</p><p>salários são geradores de rigidez e desemprego involuntário.</p><p>Nessa linha de pensamento, o modelo de contratos sobreposto de John Taylor tem como base a</p><p>teoria dos ajustes nominais incompletos que explica a elevação da demanda agregada por meio de uma</p><p>política monetária expansionista que eleva o produto interno bruto, ao contrário da teoria quantitativa</p><p>da moeda (TQM), em que a moeda é neutra.</p><p>85</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Esse modelo leva em conta expectativas racionais, preços e salários rígidos, e procura analisar o</p><p>comportamento dos preços e salários no produto real. Na questão dos salários, evidencia que o processo</p><p>de ajustamento ocorre por meio da interação dos trabalhadores com as empresas e que há vários</p><p>contratos de trabalho com diferentes ajustes salariais entre os trabalhadores.</p><p>Na questão de preços, o modelo de John Taylor explica que a premissa de rigidez existe, mas pode ser</p><p>falha em alguns mercados, pois há preços que mudam, mas não todos no mesmo período, isto é, não há</p><p>uma sincronização devido às várias estruturas de mercado diferentes e que adotam políticas de preços</p><p>diferentes em cada setor. Segundo Silva (2012, p. 7):</p><p>Com base em sua revisão das teorias e estudos empíricos, Taylor (1999)</p><p>chega a algumas conclusões: (1) a incidência de salários rígidos é mais</p><p>frequente que a de preços rígidos, o que não indica qual dos dois é</p><p>mais importante. Enfatiza ainda que, para que os salários e preços</p><p>sejam perfeitamente flexíveis, é necessária a informação completa, e</p><p>na ausência desta, tais variáveis são temporariamente rígidas; (2) há</p><p>heterogeneidade na formação de salários e de preços, além disso, estes</p><p>mudam a depender do setor; (3) nem os preços e nem os salários são</p><p>sincronizados, exceto para casos em que a economia é sindicalizada,</p><p>e, deste modo, os empregados possuem algum poder de barganha; e,</p><p>finalmente, (4) a frequência na mudança de preços e salários depende</p><p>da taxa de juros.</p><p>John Taylor apresenta resultados que estão próximos da teoria novo‑keynesiana, em que afirma que</p><p>choques monetários impactam tanto a inflação como o produto real. Portanto, a política monetária</p><p>impacta variáveis reais e os preços não são totalmente flexíveis, logo a neutralidade da moeda não</p><p>explica as variações da demanda agregada, mas a teoria do ajuste nominal incompleto e sua análise sobre</p><p>a política salarial adotada pelas empresas se aproximam de uma melhor explicação do comportamento</p><p>dos níveis de emprego e salários, e da demanda agregada.</p><p>O modelo de John Taylor também tem como base os estudos sobre a persistência da taxa de</p><p>desemprego nos Estados Unidos no período do pós‑guerra, cujos modelos econômicos empíricos</p><p>de flutuações econômicas trabalham com rigidez de preços e salários, e assimetria de informação.</p><p>Segundo Silva (2012, p. 9), o modelo de Taylor trabalha dentro de um contexto de expectativas</p><p>racionais supondo duas hipóteses principais:</p><p>1) Os contratos de trabalho são sobrepostos, de forma que as decisões de</p><p>salários da economia não serão feitas conjuntamente;</p><p>2) As decisões salariais são tomadas com base no nível de salário</p><p>que se encontra em vigor no conjunto de firmas, o que transfere</p><p>os efeitos dos choques de um contrato para outro, [...] como um</p><p>contrato multiplicador.</p><p>86</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Simonsen e Cysne (2009) afirmam que o modelo de contratos justapostos ou sobrepostos de Taylor</p><p>com expectativas racionais não implica a neutralidade da política monetária esperada, em que admite</p><p>que ajustes dos contratos salariais entre os vários trabalhadores de diversos setores são formalizados</p><p>em períodos diferentes, resultando em uma inércia fraca, isto é, preços e salários estão vinculados aos</p><p>valores passados em função dos contratos que vencem e são atualizados.</p><p>Portanto, os contratos salariais geram a rigidez de salários, em que o aumento salarial não é</p><p>em conjunto, sendo a política monetária importante instrumento de determinação da demanda</p><p>agregada nominal e dos níveis de produto e emprego, ao elevar os salários nominais e reduzir o</p><p>desemprego involuntário.</p><p>Resumo</p><p>O modelo monetarista busca reafirmar a importância econômica</p><p>da moeda e, portanto, das políticas monetárias na explicação das</p><p>flutuações econômicas. Para tanto, Friedman (1985) empreendeu uma</p><p>reformulação da teoria quantitativa clássica, originando assim uma</p><p>equação quantitativa que é a base para uma teoria da demanda por</p><p>moeda, mais do que uma teoria da determinação do nível de preços e</p><p>da renda nominal.</p><p>Suas principais proposições admitem que a oferta de moeda tenha</p><p>influência sobre as variações da renda nominal, a curto prazo, e que a</p><p>longo prazo só afetaria os preços e variáveis nominais. Além disso, adota o</p><p>pressuposto de que o setor privado seria inerentemente estável.</p><p>Através da hipótese de expectativas adaptativas, os monetaristas</p><p>explicam as variações do emprego e do produto, a curto prazo, em razão</p><p>de desequilíbrios no mercado de trabalho originados por erros de previsão</p><p>sobre a inflação esperada, mas a longo prazo adaptariam suas expectativas</p><p>quanto aos níveis de preços e salários.</p><p>No debate sobre a curva de Phillips, o monetarismo formula uma</p><p>versão aceleracionista que poderia explicar a aceleração da inflação</p><p>como o resultado de políticas econômicas equivocadas de estímulo à</p><p>demanda, com o intuito de diminuir a taxa de desemprego além de sua</p><p>taxa natural.</p><p>No modelo monetarista, o papel da política fiscal seria ineficiente ao</p><p>passo que a política monetária deveria seguir uma regra, principalmente,</p><p>por seus impactos a curto prazo no nível de produto e emprego. Essa regra</p><p>consiste no controle da quantidade de moeda.</p><p>87</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>O pensamento novo‑clássico, marcado destacadamente pela chamada</p><p>“revolução das expectativas racionais”, pode ser lido como uma grande crítica à</p><p>economia keynesiana (pelo menos àquela desenvolvida até o final dos anos 1960).</p><p>Essa abordagem, que se pretendeu revolucionária, não apenas criticou</p><p>as bases teóricas do modelo keynesiano, como buscou radicalizar as</p><p>hipóteses já presentes na “contrarrevolução monetarista”.</p><p>Enquanto os “keynesianos” utilizariam como regra a noção de que o</p><p>preço esperado seria uma função do comportamento passado dos preços,</p><p>os novo‑clássicos radicalizam a hipótese de expectativas (adaptativas), já</p><p>sugerido por Friedman (1985), lançando a ideia de expectativas racionais.</p><p>Além disso, a noção de que os salários (e preços) seriam “rígidos” é</p><p>substituída pela noção de preços flexíveis – todos os mercados, incluindo o</p><p>de mão de obra, continuamente se equilibram.</p><p>Baseado na hipótese de expectativas racionais, de equilíbrio contínuo</p><p>de mercado e da curva de oferta de curto prazo vertical (curva de Lucas),</p><p>o programa de investigações novo‑clássico procurou estabelecer respostas</p><p>alternativas àquelas difundidas pela “revolução keynesiana” sobre por que</p><p>existiriam desvios prolongados tanto do produto quanto do emprego em</p><p>relação aos níveis de pleno emprego dos fatores.</p><p>Desse programa de investigação surgiram as considerações sobre</p><p>a ineficácia das políticas econômicas, dada a incapacidade</p><p>das políticas</p><p>macroeconômicas de afetarem decisivamente variáveis reais, além de</p><p>provocar novos debates em torno das características da curva de Phillips.</p><p>Como apenas as políticas não antecipadas seriam capazes de produzirem</p><p>efeitos de curto prazo, elas poderiam induzir as autoridades a adotarem</p><p>posturas aleatórias e erráticas na condução da política, sem avaliarem os</p><p>custos posteriores da desinflação e os variados prejuízos produzidos por</p><p>taxas significativas e persistentes de inflação. Visando superar esse viés</p><p>inflacionário se difundiram as ideias de independência do Banco Central,</p><p>baseadas no trinômio credibilidade – reputação – delegação.</p><p>Mesmo supondo informação imperfeita, como é o caso do modelo de</p><p>“ilhas” de Lucas, os resultados seriam muito semelhantes àqueles previstos</p><p>sob o pressuposto de informação perfeita. As proposições clássicas de</p><p>políticas não intervencionistas tinham agora um reforço com a introdução</p><p>do pressuposto de expectativas em substituição ao pressuposto de</p><p>informação perfeita, mantendo os resultados mais evidentes: políticas</p><p>significativas de administração e intervenção na demanda agregada não</p><p>são capazes de produzir efeitos sobre emprego e produto.</p><p>88</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A teoria dos ciclos reais de negócios foi formulada a partir do início dos</p><p>anos 1980 dando uma nova interpretação para os ciclos econômicos. De</p><p>acordo com esta escola, os ciclos se originam do lado da oferta, e não da</p><p>demanda, como supunham os teóricos monetaristas, e os novo‑clássicos.</p><p>Há uma dupla interpretação do papel dos choques de demanda para</p><p>explicar as flutuações econômicas: por um lado, coloca‑se o choque de</p><p>demanda como secundário, diante do papel dos choques de produtividade</p><p>do lado da oferta; por outro, despreza‑se totalmente o papel da demanda</p><p>agregada no processo.</p><p>Entre os pressupostos do modelo, pode‑se destacar que, apesar de os</p><p>choques reais na economia provocarem flutuações no produto, ainda assim</p><p>os mercados devem se ajustar rapidamente para permanecerem sempre em</p><p>equilíbrio. Uma das diferenças desse modelo é que essas flutuações constituem</p><p>posições de equilíbrio, e não de desvios do nível de equilíbrio natural.</p><p>É dessa maneira que alterações antecipadas de política monetária</p><p>não teriam efeitos reais sobre a economia; logo, somente mudanças</p><p>não antecipadas teriam efeitos sobre a economia, mas esses efeitos são</p><p>rapidamente corrigidos. Assim, choques na demanda não são muito</p><p>importantes para entender os ciclos econômicos.</p><p>Os teóricos dos ciclos reais de negócios defendem que o processo de</p><p>ajuste racional dos agentes econômicos gera flutuações econômicas, isto</p><p>é, rejeitam a visão de falhas de mercado, pois essas flutuações econômicas</p><p>reproduzem o movimento de ajuste racional dos agentes econômicos a novos</p><p>pontos de equilíbrio de pleno emprego. Esses movimentos são determinados</p><p>por choques de produtividade, sucedidos de avanços aleatórios da</p><p>tecnologia. Os choques de oferta alteram a função de produção da economia,</p><p>gerando flutuações do produto agregado e do emprego à medida que os</p><p>agentes econômicos racionalmente respondem aos novos preços relativos,</p><p>modificando inclusive suas escolhas de ofertar trabalho e de consumir.</p><p>Essas mudanças de posição geram instabilidade, que são posições de equilíbrio</p><p>ótimas de Pareto. A flutuação do produto representa um contínuo equilíbrio de</p><p>pleno emprego que se move diante dos choques de oferta.</p><p>Os choques de produtividade são, na maioria das vezes, tecnológicos,</p><p>mas também podem ser fatores como variações nas condições ambientais,</p><p>alterações nos preços reais (relativos) de matérias‑primas importadas (por</p><p>exemplo, petróleo bruto) e mudanças nas alíquotas tributárias. Mudanças</p><p>nas preferências individuais – por exemplo, preferência por bens em relação</p><p>ao lazer – também implicam flutuações no produto.</p><p>89</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>O livre funcionamento do mercado assegura que as melhores</p><p>posições sejam atingidas para todos. Dessa forma, não há a necessidade</p><p>de intervenções governamentais para estimular a demanda agregada ou</p><p>mesmo para regular a economia.</p><p>A política monetária não apresenta efeitos reais sobre a economia,</p><p>dado que a moeda é neutra ou mesmo superneutra, mesmo a curto prazo.</p><p>Portanto, uma política monetária não antecipada não apresenta efeitos</p><p>consistentes na economia. Esse elemento é muito semelhante ao efeito da</p><p>política monetária num modelo novo‑clássico.</p><p>O produto potencial pode flutuar, mas necessariamente está em</p><p>equilíbrio de pleno emprego. O que ocorre não são desvios do equilíbrio,</p><p>mas um passeio ou uma flutuação do próprio produto potencial.</p><p>O trabalhador, quando faz sua escolha intertemporal entre trabalho e</p><p>lazer, decide a partir do salário real vigente e esperado. Assim, quando há</p><p>um choque positivo com aumento de produtividade, o trabalhador tende</p><p>a trabalhar mais e alocar menos horas para o lazer, aumentando o produto</p><p>potencial. No geral, esses choques são tecnológicos, conforme apontado</p><p>pelos teóricos dos ciclos reais de negócios.</p><p>Choques negativos também podem ocorrer, com redução de</p><p>produtividade, queda de salário real, redução de oferta de trabalho e maior</p><p>alocação de horas para lazer, o que impacta negativamente o produto</p><p>potencial. Outros exemplos de choques de produtividade negativos:</p><p>introdução de uma lei ambiental que aumenta o custo de produção,</p><p>aumento do preço das matérias‑primas e aumento da tributação sobre a</p><p>produção ou sobre o trabalho.</p><p>Exercícios</p><p>Questão 1. A respeito da Curva de Phillips e da oferta agregada, avalie as afirmativas.</p><p>I – Quando os preços são rígidos, a oferta agregada não é positivamente inclinada.</p><p>II – Na ausência de assimetrias de informação, a curva de oferta agregada de curto prazo torna‑se</p><p>mais inclinada na medida em que os salários ajustam‑se mais rapidamente a variações no desemprego.</p><p>III – A longo prazo, a possibilidade de que políticas ativas de administração da demanda sejam</p><p>utilizadas para reduzir a taxa de desemprego, trazendo‑a para um nível inferior à taxa natural, independe</p><p>do formato da curva de Phillips, afinal, no modelo original da curva, o trade‑off entre inflação e</p><p>desemprego é permanente.</p><p>90</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>IV – Se os salários nominais fossem mais flexíveis, uma política monetária expansionista seria mais</p><p>eficaz em reduzir a taxa de desemprego.</p><p>V – A redução da tributação numa curva de Phillips negativamente inclinada expande a demanda</p><p>agregada, reduz o desemprego, mas eleva a taxa de inflação.</p><p>Está correto apenas o que se afirma em:</p><p>A) I, IV e V.</p><p>B) II e IV.</p><p>C) II e V.</p><p>D) I, II e III.</p><p>E) IV e V.</p><p>Resposta correta: alternativa C.</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: na hipótese de preços rígidos, a curva de oferta agregada apresenta inclinação positiva.</p><p>II – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: a função oferta agregada vertical resulta das suposições do modelo clássico</p><p>sobre mercado de trabalho. Supõe‑se que a oferta e a demanda por trabalho dependam</p><p>exclusivamente do salário real, que é conhecido (não existe assimetria de informações) e que</p><p>o salário monetário e os preços sejam perfeitamente flexíveis, ajustando‑se rapidamente para</p><p>igualar a demanda à oferta.</p><p>III – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a possibilidade de políticas ativas de administração de demanda permite ao governo</p><p>alterar a produção, o desemprego e a inflação a curto prazo. Se o governo tentar exaustivamente aceitar</p><p>um pouco mais de inflação para conseguir um menor desemprego, fará que os agentes ampliem suas</p><p>expectativas de inflação. A longo prazo, o desemprego volta à sua taxa natural, e não há opção conflitiva</p><p>entre inflação e desemprego, sendo a curva de Phillips uma linha vertical posicionada no nível</p><p>da taxa</p><p>de desemprego natural.</p><p>91</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>IV – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: quanto maior a flexibilidade de salários na economia, menor a possibilidade de uma</p><p>política monetária expansionista em reduzir a taxa de desemprego. No modelo clássico, por exemplo,</p><p>os salários são totalmente flexíveis e qualquer tentativa de política monetária em atingir o mercado</p><p>de trabalho seria inócua. Nesse caso, uma expansão monetária resultaria em um excesso de mão de</p><p>obra, levando imediatamente ao declínio do nível de salário real e ao restabelecimento do equilíbrio no</p><p>mercado de trabalho.</p><p>V – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: uma redução da tributação eleva a renda disponível ou torna o investimento mais</p><p>promissor. Logo, haverá uma expansão da demanda agregada e, portanto, da renda. Com uma</p><p>atividade econômica em alta, além de um produto elevado, tem‑se um maior nível de emprego.</p><p>Produção em alta e nível de desemprego em baixa levarão a uma pressão no nível de preços e, por</p><p>conseguinte, da inflação.</p><p>Questão 2. (Anpec, 2006). A respeito das teorias das flutuações econômicas, avalie as proposições:</p><p>I – De acordo com a teoria dos ciclos reais, flutuações no produto são devidas a choques de</p><p>produtividade ou na política fiscal.</p><p>II – Choques negativos de produtividade diminuem o produto e os preços, enquanto choques</p><p>positivos aumentam o produto e os preços.</p><p>III – De acordo com a teoria dos ciclos reais, a política fiscal e a política monetária crível influenciam</p><p>apenas os preços, não o produto.</p><p>É correto o que se afirma apenas em:</p><p>A) I.</p><p>B) II.</p><p>C) III.</p><p>D) I e II.</p><p>E) I, II e III.</p><p>Resolução desta questão na plataforma.</p><p>92</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Unidade II</p><p>5 COMPARAÇÃO E SÍNTESE DOS DISTINTOS MODELOS MACROECONÔMICOS</p><p>A revolução keynesiana foi marcada por colocar que o maior problema da Grande Depressão,</p><p>nos anos 1930, era a falta de demanda agregada. A escola keynesiana triunfou desse período até</p><p>aproximadamente meados dos anos 1970, quando o mundo passou novamente por outra grande crise</p><p>e houve o questionamento do funcionamento das políticas intervencionistas keynesianas.</p><p>5.1 Modelo monetarista</p><p>Dessa mudança, surgiu a escola monetarista, cujo principal expoente foi Milton Friedman, a partir da</p><p>publicação, em 1970, de The Counter‑Revolution in Monetary Theory. Esse autor, junto aos demais monetaristas,</p><p>resgatou as hipóteses clássicas; sua abordagem teórica baseava‑se na teoria quantitativa da moeda (TQM), que</p><p>estabelece que o estoque de moedas determina o nível geral de preços. Dessa maneira, uma expansão monetária</p><p>deve ser equivalente à taxa de crescimento do produto real, para evitar o fenômeno inflacionário.</p><p>A despeito de concordarem com os clássicos sobre a condução da política monetária, os monetaristas</p><p>aceitam a possiblidade de a moeda não ser neutra a curto prazo, pois a demanda por saldos reais não é</p><p>perfeitamente estável a curto prazo.</p><p>Com relação à curva de Phillips, essa escola incorpora a hipótese de que os trabalhadores usem</p><p>a expectativa futura do nível de preços, dados os salários nominais. Essa abordagem ficou conhecida</p><p>como curva de Phillips versão Friedman‑Phelps. Portanto, essa escola criticou a primeira versão da curva</p><p>de Phillips, que embasava as decisões dos agentes nos salários nominais e não reais. A diferença dos</p><p>monetaristas foi considerar as expectativas dos agentes quanto à inflação futura.</p><p>Na nova abordagem da curva de Phillips, são associados o conceito de taxa natural de desemprego</p><p>ou Nairu e a formação de expectativas a partir da informação do passado. Isso implicou uma curva de</p><p>Phillips aceleracionista ou aumentada de expectativas.</p><p>Observação</p><p>A taxa natural de desemprego também é concebida como Nairu</p><p>(Non‑accelerating inflation rate of unemployment). Pode ser caracterizada pela</p><p>presença de desemprego friccional apenas, indicando pleno emprego dos fatores de</p><p>produção da economia. No nível de desemprego natural, dado pela Nairu, a inflação</p><p>é estável. Portanto, se o desemprego for maior que o natural, haverá uma queda no</p><p>nível geral de preços; se o desemprego estiver abaixo do natural, haverá inflação.</p><p>93</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Segundo Além (2010, p. 283), a formação de expectativas está embasada nas seguintes hipóteses:</p><p>i) o salário nominal se ajusta de forma a equilibrar o mercado (igualar a</p><p>oferta e demanda de trabalho);</p><p>ii) os trabalhadores decidem quanto trabalho ofertar a cada salário</p><p>nominal, formando uma expectativa de nível de preços (Pe) e</p><p>calculando a partir dela o salário real, que é a variável relevante; e</p><p>iii) os empregadores decidem quanto trabalho demandar a cada</p><p>salário nominal utilizando seu conhecimento sobre o preço de</p><p>seu próprio produto para converter o salário nominal em salário</p><p>real, que será igualado ao produto marginal do trabalho, para a</p><p>maximização do lucro.</p><p>Nesse modelo, os agentes observam o passado – melhor conjunto de informações disponível – e</p><p>aprendem com seus próprios erros. Assim, as expectativas de inflação são tomadas a partir das taxas</p><p>de inflação efetivas observadas no passado. Desse modo, quando a taxa de inflação é plenamente</p><p>antecipada, a economia retorna ao ponto de equilíbrio dado pela taxa natural de desemprego. Nesse</p><p>ponto, os níveis maiores de preços e salários são maiores e estão equilibrados à mesma taxa de</p><p>expansão monetária.</p><p>Considerando que os agentes são capazes de aprender com os erros do passado, os trabalhadores,</p><p>por exemplo, não sofrem de ilusão monetária, ou seja, podem ajustar suas posições lentamente a partir</p><p>de seus próprios erros e das suas expectativas do passado.</p><p>Em termos matemáticos, pode‑se expressar a formação das expectativas de preços por:</p><p>∆ ∆ ∆ ∆Pe Pe P Pet t t t= + −( )− − −1 1 1α</p><p>Em que:</p><p>∆Pet = taxa de inflação esperada em t;</p><p>∆Pet –1 = taxa de inflação esperada no momento t‑1;</p><p>∆Pt –1 = inflação efetiva ocorrida em t‑1;</p><p>∆Pet –1 = inflação esperada em t‑1;</p><p>α = constante que mensura quanto do erro de previsão é incorporado à estimativa da inflação futura.</p><p>94</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Para entender o funcionamento da curva de Phillips aceleracionista, suponha uma situação de</p><p>equilíbrio de pleno emprego, em que a taxa de desemprego esteja no nível natural. Imagine agora que o</p><p>governo decida reduzir a taxa de desemprego para níveis menores que o nível natural. Para isso, aplica‑se</p><p>uma política monetária expansionista e, como os agentes sabem que o resultado é um aumento dos</p><p>preços, isso incentiva os ofertantes a produzirem mais e, então, aumenta a demanda por mão de obra.</p><p>Diante disso, como os trabalhadores subestimaram a inflação esperada, esse novo excesso de mão de</p><p>obra leva a um aumento do salário nominal. Caso a inflação efetiva supere a esperada, o salário real não</p><p>aumenta, o que reduz o nível de desemprego abaixo do nível natural. O efeito final dessa política é um</p><p>aumento da demanda agregada, dos preços, do produto e do emprego.</p><p>Perceba que, segundo essa escola, apenas os trabalhadores erram suas expectativas de inflação esperada.</p><p>Na figura a seguir é possível verificar esse mecanismo de ajuste:</p><p>∆P1</p><p>U1 U0</p><p>U</p><p>CB</p><p>A</p><p>CPh cp1</p><p>CPh cp2</p><p>CPh Ip</p><p>U < Un</p><p>∆P > ∆Pe</p><p>U = Un</p><p>∆P = ∆Pe</p><p>U > Un</p><p>∆P < ∆Pe</p><p>Figura 26 – A segunda versão da curva de Phillips: aceleracionista</p><p>Supondo que inicialmente a economia esteja em equilíbrio no ponto A, onde a curva de Phillips</p><p>de longo prazo (vertical – CPhlp) se encontra com a curva de Phillips de curto prazo (CPhcp1), caso o</p><p>governo queira reduzir a taxa de desemprego de Un para U1, ele pode aplicar uma política monetária</p><p>expansionista. Isso faz com que haja um excesso de demanda de bens e de trabalho cujo efeito é</p><p>monetaristas, o pensamento novo‑clássico radicalizou as análises dos enfoques monetarista</p><p>e keynesiano, e introduziu novas hipóteses para explicar os ciclos econômicos como a de expectativas</p><p>racionais. Houve também a escola novo‑keynesiana que retomou a análise da demanda agregada para</p><p>analisar as flutuações cíclicas.</p><p>Com os rumos do debate macroeconômico, os autores pós‑keynesianos recuperaram o legado</p><p>de Keynes para entenderem a dinâmica de uma economia monetária da produção, uma vez que a</p><p>macroeconomia discute os problemas econômicos da economia real e monetária e as possíveis soluções</p><p>para esses pontos.</p><p>Essa disciplina não é trivial, pois, além de ser extremamente contemporânea, apresenta questões</p><p>candentes de nosso tempo. Questões essas que são subjacentes à análise macroeconômica, como refletir</p><p>sobre as possibilidades de crescimento e desenvolvimento econômicos numa sociedade capitalista. Esse</p><p>dilema requer o conhecimento detalhado do debate da teoria macroeconômica contemporânea, pois,</p><p>numa economia capitalista, não existe uma solução rápida e fácil. Necessariamente é crucial se apropriar</p><p>dos debates mais recentes da macroeconomia, como também considerar a formação social e histórica</p><p>para se chegar a um diagnóstico dos problemas a serem enfrentados para se encontrar uma solução</p><p>econômica e social viável.</p><p>É corriqueiro observar economistas discutindo e divergindo sobre como garantir crescimento</p><p>econômico estável, isto é, sem que haja o desenvolvimento de um processo inflacionário. Ou, ainda,</p><p>quais seriam os melhores mecanismos de política econômica para superar uma crise e por que há</p><p>tantas flutuações econômicas. A macroeconomia garante embasamento teórico para responder a essas</p><p>questões a partir das diversas teorias, desde as de cunho liberal e pró‑mercado até as intervencionistas,</p><p>com fundamento keynesiano.</p><p>9</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Primeiramente o foco é expor e debater as teorias macroeconômicas contemporâneas, começando</p><p>pela teoria monetarista, passando pelos novo‑clássicos e pelos teóricos dos ciclos reais de negócios, que</p><p>analisam os fundamentos macroeconômicos principalmente pelo lado da oferta. Após isso, essa parte é</p><p>encerrada com a exposição dos teóricos da escola novo‑keynesiana.</p><p>Posteriormente, o objetivo é centrar no balanço das escolas apresentadas e nas críticas pós‑keynesianas.</p><p>Para, por último, porém não menos importante, apresentar e discutir questões avançadas e atuais sobre</p><p>ciclos econômicos, papel da moeda, da dívida pública e da inflação e sobre a teoria macroeconômica da</p><p>demanda efetiva.</p><p>11</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Unidade I</p><p>1 MODELO MONETARISTA</p><p>Durante os anos 1950 até, pelo menos, meados dos anos 1960, a economia keynesiana sintetizada</p><p>pelo modelo da síntese neoclássica (IS‑LM) foi a força dominante na evolução da macroeconomia em</p><p>de teorização e prescrições de políticas macroeconômicas. Um dos pontos centrais da Teoria Geral de</p><p>Keynes era a afirmação de que as economias de mercado são inerentemente instáveis e que não podem</p><p>apresentar um equilíbrio com pleno emprego por períodos prolongados de tempo.</p><p>Essa instabilidade seria resultado das flutuações da demanda agregada, oriundas de variações no</p><p>investimento e consumo autônomo. Uma depressão, como a dos anos de 1930, reflete um cenário</p><p>de queda acentuada do nível de investimentos associada a um elevado desemprego que refletiriam</p><p>a insuficiência da demanda agregada. Para isso, abandonavam a tradição, que via nas variações da</p><p>quantidade de moeda, através da teoria quantitativa da moeda, as explicações para as flutuações de</p><p>renda e emprego da economia.</p><p>Durante os anos 1950 e 1960, Milton Friedman, mais do que qualquer outro economista, foi</p><p>responsável por revisitar os pressupostos da teoria quantitativa da moeda e recolocá‑la no centro do</p><p>debate macroeconômico. Em outras palavras, os monetaristas liderados por Friedman defendiam que os</p><p>primeiros economistas keynesianos atribuíam pouca importância macroeconômica à oferta de moeda.</p><p>O monetarismo representa uma tentativa de reafirmar a importância econômica da moeda e, portanto,</p><p>das políticas monetárias que foram usurpadas com a revolução keynesiana.</p><p>Nesse esforço de reabilitação da teoria quantitativa da moeda, inaugura‑se uma forma de interpretar</p><p>as flutuações econômicas com novas propostas de políticas. Ao listarmos as principais proposições do</p><p>monetarismo que norteiam o desenvolvimento de seu modelo, destacam‑se:</p><p>• A oferta de moeda como a principal influência sobre a renda nominal.</p><p>• A longo prazo, a influência da moeda revela‑se, basicamente, nos preços e em outras magnitudes</p><p>nominais. A longo prazo, variáveis reais, como o produto real e o nível de emprego, são determinadas</p><p>por fatores reais e não monetários.</p><p>• A curto prazo, a oferta de moeda influencia variáveis reais. A moeda é o fator dominante que</p><p>causa movimentos cíclicos na produção e no nível de emprego.</p><p>• O setor privado é inerentemente estável. A instabilidade na economia resulta, basicamente, de</p><p>políticas econômicas governamentais inócuas ou ineficientes.</p><p>12</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Numa breve análise das proposições, a primeira decorre da reformulação da Teoria Quantitativa da</p><p>Moeda (TQM) realizada por Friedman (1985), consolidando a TQM como uma teoria de demanda por</p><p>moeda, em vez de uma teoria estritamente ligada ao comportamento do nível geral de preços, como se</p><p>pregava sua utilização no modelo clássico.</p><p>A segunda proposição monetarista afirma que, a longo prazo, o nível de atividade econômica,</p><p>medido em unidades monetárias reais (corrigidas da inflação), não depende da quantidade de moeda.</p><p>Portanto, a longo prazo o nível de produto real será determinado por fatores reais, como o estoque de</p><p>bens de capital, o tamanho e a qualidade da mão de obra, e o padrão tecnológico.</p><p>A terceira proposição diz que, a curto prazo, o produto real e o nível de emprego são fortemente</p><p>influenciados por mudanças no estoque de moeda. Os preços também são afetados, mas a curto prazo,</p><p>tanto os preços como os salários não são plenamente flexíveis, logo, quando a quantidade de moeda se</p><p>altera os preços não sofrem o ajuste completo, que só ocorrerá a longo prazo.</p><p>Por fim, a quarta proposição monetarista afirma que o setor privado – empresas e famílias – não</p><p>representa fonte de instabilidade na economia. A instabilidade seria produzida predominantemente pela</p><p>operação do setor governamental, já que o governo causa instabilidade na economia, principalmente,</p><p>por permitir instabilidade no crescimento do estoque de moeda, o principal determinante do nível de</p><p>atividade econômica. Somam‑se a isso as interferências que o governo realiza nos mecanismos normais</p><p>de ajuste do setor privado. Dentre elas, os controles de preços e salários, influências nos níveis das taxas</p><p>de juros e leis de regulamentação do salário mínimo.</p><p>Na teoria clássica, a Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) explicava somente as variações de preços</p><p>causadas por modificações na oferta monetária. Para Milton Friedman, no entanto, a TQM pode explicar</p><p>a renda nominal a curto prazo, enquanto a longo prazo valeriam as conclusões clássicas.</p><p>Dessa forma, Friedman (1985) promove a substituição do Princípio da Demanda Efetiva</p><p>de Keynes pela TQM como fator explicativo de oscilações do produto e do emprego. A TQM</p><p>transforma‑se em uma teoria monetária da renda nominal, e a inflação é entendida como um</p><p>fenômeno puramente monetário. Então, pode‑se afirmar que o Monetarismo possui duas teorias:</p><p>uma para o longo prazo, em que variações da oferta de moeda afetam somente os preços, e outra</p><p>para o curto prazo, em que a política monetária afeta a renda nominal ou monetária, não se</p><p>especificando claramente se a variação dessa renda será nos preços ou nos produtos e</p><p>um aumento de preços e salários nominais. Porém, o preço das mercadorias se ajusta mais rápido</p><p>que os salários nominais. Como estava numa situação de equilíbrio, conforme os salários nominais</p><p>aumentam, os trabalhadores interpretam equivocadamente que houve aumento de salário real, pois</p><p>ainda não viram o aumento dos preços. A partir disso, ofertam mais mão de obra e sofrem de uma ilusão</p><p>monetária temporariamente, porque os salários reais na realidade caem, devido ao aumento dos preços.</p><p>95</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>As empresas, por sua vez, procuram mais trabalhadores com essa queda salarial, acarretando uma taxa</p><p>de desemprego abaixo do nível de pleno emprego (de Un para U1). O novo ponto de equilíbrio agora é o</p><p>B, porém não é um equilíbrio de longo prazo.</p><p>Como os trabalhadores aprendem com os erros do passado, eles perceberão que os salários reais, na</p><p>verdade, caíram, e não aumentaram. Portanto, irão pressionar por salários nominais maiores, o que leva</p><p>ao deslocamento da curva CPhcp para a direita e para cima. No ponto C, na nova curva CPhcp2, a inflação</p><p>esperada e a efetiva são iguais novamente, o que corrige o erro de previsão dos trabalhadores. Com o</p><p>aumento do salário real, as empresas demitem alguns trabalhadores, e a taxa de desemprego aumenta</p><p>para Un. Nesse novo ponto de equilíbrio (C), houve um aumento do nível de preços.</p><p>Há uma segunda versão aceleracionista que supõe que os agentes precisem ser novamente</p><p>surpreendidos para que haja a manutenção de uma taxa de desemprego abaixo da taxa natural.</p><p>Para tanto, a expansão maior precisa ser maior ainda, porque os agentes, ao observarem o passado,</p><p>rapidamente reorganizam suas posições, de maneira que a política monetária expansionista perde efeito.</p><p>Desse modo, somente a parte não antecipada da taxa de inflação consegue</p><p>influir no lado real da economia permitindo um trade‑off entre inflação</p><p>e desemprego a curto prazo; em outras palavras, somente um erro de</p><p>expectativas torna inexistente a “dicotomia clássica”, segundo a qual as</p><p>variáveis reais são independentes das variáveis monetárias [...] para que a taxa</p><p>de desemprego se mantenha abaixo de sua taxa natural indefinidamente, é</p><p>necessário que a inflação se acelere para que as expectativas inflacionárias</p><p>dos agentes sejam constantemente frustradas (ALÉM, 2010, p. 286).</p><p>Esse princípio de aceleração mostra que não há um trade‑off estável entre inflação e nível de</p><p>emprego. Portanto, a longo prazo ou quando todas as expectativas estão ajustadas, a curva de Phillips é</p><p>vertical ao nível da taxa natural de desemprego. Isso significa que uma política monetária expansionista</p><p>gera apenas elevação de preços, sem que seja acompanhada por um aumento do produto da economia</p><p>e do nível de emprego.</p><p>5.2 Modelo novo‑clássico de expectativas racionais</p><p>Ao contrário dos economistas monetaristas, os da escola novo‑clássica estabeleceram suas análises</p><p>numa crítica quanto à eficiência das políticas ativas de estabilização, ou seja, eram totalmente contrários</p><p>aos pensadores keynesianos.</p><p>É importante lembrar que a revolução keynesiana se notabilizou dos anos 1930 aos 1970, que foi</p><p>quando a inflação elevada e o desemprego atingiram as economias desenvolvidas e houve um enorme</p><p>questionamento quanto à capacidade das políticas keynesianas.</p><p>Os teóricos da escola novo‑clássica, assim como os da escola monetarista, resgataram seus</p><p>pressupostos teóricos junto aos clássicos, chegando, portanto, a uma conclusão bastante semelhante,</p><p>isto é, concordavam com as políticas não intervencionistas (FROYEN, 2006).</p><p>96</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>De acordo com Além (2010), as hipóteses resgatadas dos clássicos foram:</p><p>• Total flexibilidade de preços e salários, tanto a curto quanto a longo prazo, garantindo que</p><p>a economia opere sempre em equilíbrio. Dessa maneira, não há necessidade de políticas</p><p>intervencionistas para estabilizar a economia.</p><p>• Todos os agentes são racionais e se empenham continuamente em maximizar os seus ganhos,</p><p>dadas as restrições.</p><p>• Os agentes observam e decidem a partir das informações reais, ou melhor, das variáveis reais,</p><p>como os preços relativos, portanto não sofrem de ilusão monetária.</p><p>Ainda de acordo com Além (2010), os economistas novo‑clássicos, no que se refere às hipóteses</p><p>centrais, defendem que:</p><p>• Preços e salários sejam flexíveis, permitindo que o mercado opere em equilíbrio (market clearing)</p><p>conforme as pressões de oferta e demanda.</p><p>• Os agentes econômicos tomam suas decisões de escolha em variáveis reais, especificamente,</p><p>preços relativos.</p><p>• Os agentes otimizam suas escolhas a partir das informações disponíveis, permitindo a esses</p><p>agentes estarem sempre em equilíbrio.</p><p>• Os agentes não cometem erros sistemáticos quando utilizam as informações disponíveis, pois</p><p>suas expectativas são racionais.</p><p>A hipótese fundamental é a de market clearing contínuo, isto é, partindo da suposição de concorrência</p><p>perfeita, os mercados operam sempre em equilíbrio contínuo. Esse resultado é possível tanto a curto</p><p>quanto a longo prazo, pois os agentes conseguem responder bem às oscilações de demanda e oferta,</p><p>uma vez que conhecem os preços da economia.</p><p>Como os agentes operam em concorrência perfeita, eles são tomadores de preços (price takers), e</p><p>não fazedores de preços, então, não havendo outras externalidades, o equilíbrio competitivo é um ótimo</p><p>de Pareto, o que leva à maximização da oferta total da economia.</p><p>Para os pensadores da escola novo‑clássica, a economia se equilibra à taxa natural de desemprego,</p><p>e qualquer ponto fora disso é visto como um fenômeno voluntário, ou seja, indivíduos que não estão</p><p>dispostos a trabalhar pelo nível de salário vigente. A inflação é vista como um fenômeno estritamente</p><p>monetário, o que significa que não interfere nas decisões reais da economia, por exemplo, investimento</p><p>e consumo.</p><p>Uma das inovações dessa escola foi a introdução das expectativas racionais. Diferentemente dos</p><p>monetaristas, para os novo‑clássicos, a melhor base de informação para tomarem suas decisões é o</p><p>97</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>futuro, e não o passado; assim, eles observam o futuro ao construírem suas expectativas de variação</p><p>de preços ou taxa de inflação. Os novo‑clássicos são muito enfáticos quanto ao processo de tomada</p><p>de decisão, pois, segundo esses, os agentes incorreriam em erros sistemáticos se tomassem como base</p><p>informações do passado, pois a demanda agregada se altera.</p><p>Na versão forte, as expectativas são formadas com base em todas as informações relevantes disponíveis</p><p>sobre a variável que está sendo antecipada. Ademais, é importante considerar que os indivíduos usam as</p><p>informações disponíveis de maneira inteligente, isto é, compreendem como as variáveis que observam</p><p>afetarão a variável que estão tentando prever.</p><p>Portanto, os agentes econômicos conseguem prever de acordo com a realização das variáveis futuras.</p><p>Em média, os valores reais das variáveis são iguais aos previstos. Os erros de previsão das expectativas</p><p>racionais apresentam média zero e são aleatórios. Assim, esse método é o mais eficiente e preciso dentre</p><p>as expectativas com relação ao futuro.</p><p>Segundo Além (2010), a equação das expectativas racionais apresenta as seguintes características:</p><p>∆Pet+1 = ∆Pt+1 + ∈t+1</p><p>Em que:</p><p>∆Pet+1 = taxa de inflação esperada em (t+1);</p><p>∆Pt+1 = inflação realmente observada em (t+1);</p><p>∈t+1 = termo de erro aleatório, com média e correlação iguais. Significa que os agentes na média não</p><p>errarão, caso usem de maneira inteligente as informações existentes.</p><p>Considerando que os agentes se baseiam em informações completas e corretas, a previsão econômica</p><p>se realiza, e todos os agentes acabam obtendo a mesma chance de lucrar, sem que haja benefício de</p><p>algum agente em específico.</p><p>Corroborando a hipótese</p><p>de ausência de erros de expectativas, a terceira versão da curva de Phillips</p><p>dos novo‑clássicos mostra que haveria alteração do nível de produto e emprego do ponto de equilíbrio</p><p>caso houvesse mudança na preferência ou mesmo choques tecnológicos. Assim, dadas as hipóteses do</p><p>modelo novo‑clássico, a curva de Phillips não apresenta um trade‑off entre inflação e desemprego nem</p><p>a curto nem a longo prazo. Ademais, a moeda é neutra a curto e a longo prazo. Portanto, os desvios</p><p>sistemáticos das previsões das variáveis em relação à variável real não se concretizam, mesmo com</p><p>utilização das políticas econômicas.</p><p>De acordo com os novo‑clássicos, os monetaristas se equivocaram ao estabelecer que as expectativas</p><p>eram dadas pelas informações do passado, pois essa suposição determina que os agentes ajustam suas</p><p>posições parcialmente de acordo com o erro cometido no passado. Isso significa que os agentes não</p><p>levam em consideração outras informações disponíveis, apesar dos erros de previsão. Os pensadores</p><p>98</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>novo‑clássicos supõem que os agentes olham o futuro (forward‑looking) e contam com informações</p><p>disponíveis. Segundo a implicação fundamental forte, esses agentes econômicos não formam</p><p>expectativas sistematicamente erradas ao longo do tempo.</p><p>As expectativas dos agentes na média estão corretas, ou seja, as variáveis reais observadas ou efetivas</p><p>coincidem com as previstas.</p><p>Apesar de os novo‑clássicos dizerem que não há trade‑off entre inflação e desemprego, diversos</p><p>estudos empíricos mostravam que havia esse trade‑off ao menos a curto prazo. Portanto, uma política</p><p>monetária expansionista seria capaz de aumentar o nível de emprego e de renda. Robert Lucas, um dos</p><p>principais expoentes da escola novo‑clássica, respondeu a essa análise empírica chamando a atenção</p><p>para a racionalidade dos agentes, porém considerando que as informações existentes são imperfeitas ou</p><p>incompletas. A hipótese da expectativa racional continua válida, mas nem toda informação necessária</p><p>está disponível para os agentes no momento de sua decisão. Dessa maneira, apenas um choque</p><p>monetário não antecipado pelos agentes poderia levar a um efeito sobre a economia real (emprego e</p><p>renda), o que ficou conhecido como oferta agregada de Lucas com “surpresa” monetária.</p><p>Caso haja uma política monetária surpresa e os agentes não antecipem essa política, considerando</p><p>a Teoria Quantitativa da Moeda, o efeito é um aumento do nível geral de preços.</p><p>No mercado de trabalho, os trabalhadores devem decidir a alocação do seu tempo entre trabalho</p><p>e lazer. Supondo que eles saibam o salário real médio, uma expansão monetária surpresa leva a um</p><p>aumento do salário nominal que é percebido pelos agentes como um aumento real dos salários. Isso</p><p>fará que os trabalhadores aumentem suas disponibilidades para o trabalho no presente, em detrimento</p><p>do lazer, dado que podem reduzir o trabalho no futuro.</p><p>Já no mercado de produtos, a expansão monetária leva a um aumento dos preços dos produtores.</p><p>Como a informação é incompleta, esses produtores entendem que o aumento de preços é, na realidade,</p><p>um aumento dos preços relativos, o que leva a um aumento da produção.</p><p>Portanto, dada a informação incompleta, uma expansão monetária não antecipada pelos agentes</p><p>econômicos pode levar a uma expansão do emprego e do produto, deslocando a curva de demanda</p><p>agregada do ponto A para o ponto B e a curva de demanda por mão de obra de X para Z. Nesse caso,</p><p>dado o efeito da política monetária, a moeda não é neutra a curto prazo.</p><p>A equação da curva de oferta de Lucas pode ser dada por:</p><p>Y Yp P Pi i i i</p><p>e= + ∝ −( )</p><p>Em que:</p><p>Yi = produção efetiva da firma i;</p><p>99</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Ypi = produção potencial de pleno emprego da firma i;</p><p>Pi = preço do produto da firma i;</p><p>Pi</p><p>e = nível geral de preços da economia esperado pela firma i;</p><p>∝ = constante que mensura o efeito da diferença entre Pi e Pi</p><p>e na produção efetiva da firma.</p><p>Quando Pi > Pi</p><p>e, a firma i aumenta sua produção efetiva em relação à produção potencial, pois ocorre</p><p>a percepção de que há um aumento do preço relativo do seu produto.</p><p>Quanto maior for ∝, mais elástica (e menos inclinada) será a curva de oferta agregada de Lucas de</p><p>curto prazo e maior será o efeito sobre o aumento do nível geral de preços não antecipado sobre as</p><p>variáveis reais da economia.</p><p>Y</p><p>P</p><p>P1</p><p>P0</p><p>Y0</p><p>A</p><p>B</p><p>DA1</p><p>DA0</p><p>OA cp</p><p>OA lp</p><p>Y1</p><p>Figura 27 – A curva de oferta de Lucas a curto prazo</p><p>N</p><p>W</p><p>W1</p><p>W0</p><p>N0</p><p>X</p><p>Z</p><p>Nd(P1)</p><p>Nd(P0)</p><p>Ns</p><p>N1</p><p>Figura 28 – A curva de oferta de mão de obra a curto prazo</p><p>100</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Partindo do ponto de equilíbrio (A) na curva de oferta de Lucas, no ponto B, após a surpresa dos</p><p>agentes com relação à política expansionista monetária, o produto está acima do seu potencial, e</p><p>a taxa de desemprego, abaixo do nível natural. Veja que, na figura anterior, a demanda por mão de</p><p>obra aumentou acima do equilíbrio de pleno emprego (de N0 para N1). Portanto, a curto prazo, há um</p><p>trade‑off entre desemprego e inflação, dadas a informação incompleta e a surpresa dos agentes diante</p><p>da política monetária.</p><p>Nesse modelo de informação incompleta de Lucas da curva de oferta agregada, as firmas observam</p><p>apenas os preços relativos ao seu próprio mercado. Assim, um preço elevado é entendido como uma</p><p>maior demanda pelo seu produto. Supondo a economia como mercados distintos, “ilhas isoladas”, se o</p><p>preço do produto da ilha estiver relativamente maior que o de outros mercados, os habitantes da ilha i</p><p>desejarão produzir mais.</p><p>Os agentes, tanto produtores como consumidores, têm as mesmas informações sobre seus preços,</p><p>porém não sabem quanto da variação de seus preços reflete variações do nível geral de preços,</p><p>nem quanto refletem variações dos preços relativos. Os agentes apresentam expectativas racionais,</p><p>todavia todas as informações não são suficientes para saber exatamente o que está ocorrendo, dado</p><p>que a informação é incompleta. Caso o agente acredite que o aumento de seu preço vai ocorrer</p><p>devido ao aumento do nível geral de preços, ele simplesmente aumenta seus preços sem modificar a</p><p>quantidade produzida. Lembrando que a OA é vertical (o mercado de trabalho está no equilíbrio de</p><p>pleno emprego). Caso ele espere que haja uma mudança nos preços relativos, o agente aumenta tanto</p><p>os preços quanto a quantidade produzida: OA é menos inclinada. Em economias que apresentam</p><p>grande instabilidade de preços, a OA será mais inclinada, porque os agentes, na hora de fazer a</p><p>extração de sinal, tendem a pensar que houve um aumento do nível geral de preços. Em economias</p><p>mais estáveis, OA será menos inclinada porque os agentes, na extração de sinal, tendem a pensar que</p><p>houve uma mudança no preço relativo.</p><p>Saiba mais</p><p>Sobre a teoria econômica e a abordagem realizada por Robert Lucas</p><p>(1972), leia:</p><p>SIMONSEN, M. H. Teoria econômica e expectativas racionais. Biblioteca</p><p>Digital FGV, [s.d.]. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.</p><p>php/rbe/article/download/261/6789>. Acesso em: 7 dez. 2015.</p><p>A longo prazo, como se realizariam os ajustes?</p><p>No caso da oferta de Lucas, considerando a teoria quantitativa da moeda, o efeito será um aumento</p><p>da inflação de mesma magnitude que a expansão monetária, com deslocamento da curva de oferta</p><p>agregada de curto prazo.</p><p>101</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Na figura a seguir, o ajuste se dá no ponto C. No mercado de mão de obra, a curva de oferta de</p><p>mão de obra se desloca para a esquerda até o ponto Y. Nesse ponto, retorna‑se ao nível de equilíbrio</p><p>de emprego e de produto, porém com inflação e salários maiores.</p><p>Y</p><p>P</p><p>P1</p><p>P2</p><p>P0</p><p>Y0</p><p>A</p><p>B</p><p>DA1</p><p>DA0</p><p>OA cp0</p><p>OA cp1</p><p>OA lp</p><p>Y1</p><p>Figura 29 – A curva de</p><p>oferta de Lucas a longo prazo</p><p>N</p><p>W</p><p>W1</p><p>W2</p><p>W0</p><p>N0</p><p>X</p><p>Z</p><p>Y</p><p>Nd(P1)</p><p>Nd(P0)</p><p>Ns</p><p>1</p><p>Ns</p><p>2</p><p>N1</p><p>Figura 30 – A curva de oferta de mão de obra a longo prazo</p><p>Observação</p><p>Expectativas adaptativas: o conjunto de informações usado para formar</p><p>expectativas está no passado. Caso haja desvio da variável prevista com a</p><p>efetiva, esses erros são ajustados nas novas escolhas.</p><p>Expectativas racionais: o conjunto de informação usado para formar</p><p>expectativas está no futuro e no presente. Na média os agentes acertam as</p><p>previsões. Não significa que os agentes não erram, isto é, não são capazes de</p><p>prever de forma exata. Os agentes erram quando contam com informações</p><p>disponíveis incompletas.</p><p>102</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Segundo os pensadores da escola novo‑clássica, não há política macroeconômica que consiga</p><p>sistematicamente alterar o curso da economia, nem a curto nem a longo prazo.</p><p>5.3 Modelo de ciclos econômicos reais</p><p>A partir dos anos 1980, diante dos ciclos econômicos, a escola novo‑clássica se renovou a partir dos</p><p>modelos de ciclos reais de negócios. Segundo esses modelos, as flutuações econômicas vêm dos choques</p><p>reais, principalmente, os de origem tecnológica pelo lado da oferta, e não da demanda. Lembrando que,</p><p>nos anos 1960 e 1970, as flutuações econômicas eram explicadas por Friedman (1985) e por Lucas,</p><p>por meio dos choques monetários, isto é, com a variação da base monetária com impacto sobre a</p><p>demanda agregada nominal. Ao contrário disso, os ciclos reais de negócios não explicam as flutuações</p><p>pela demanda agregada, mas pela oferta agregada.</p><p>Por essa teoria, flutuações no produto são oriundas de choques reais na economia, com os mercados</p><p>se ajustando rapidamente e permanecendo sempre em equilíbrio. Uma diferença desse modelo é que</p><p>essas flutuações constituem posições de equilíbrio. Mudanças antecipadas de política monetária não</p><p>teriam efeitos reais sobre a economia, somente mudanças não antecipadas teriam; no entanto, tais</p><p>efeitos são rapidamente corrigidos. Portanto, choques na demanda não são muito importantes.</p><p>Então, as questões que se colocam são:</p><p>Quais são os choques que afetam a economia? Quais são e como operam os mecanismos</p><p>multiplicadores? Por que os choques parecem ter efeitos persistentes?</p><p>Considerando que os pensadores dos ciclos reais de negócios defendem as flutuações econômicas</p><p>como processo de ajuste racional dos agentes econômicos, isto é, rejeitam a visão de falhas de mercado,</p><p>Além (2010, p. 297) destaca que, para esses pensadores:</p><p>[...] as flutuações econômicas representam o processo de ajuste racional</p><p>dos agentes econômicos a novos pontos de equilíbrio de pleno emprego,</p><p>determinados por choques de produtividade, resultantes em grande</p><p>medida de avanços aleatórios da tecnologia. Os choques de oferta afetam</p><p>a função de produção da economia, o que gera flutuações do produto</p><p>agregado e do emprego à medida que os agentes econômicos racionais</p><p>reagem à nova estrutura de preços relativos, alterando suas decisões de</p><p>oferta de trabalho e consumo.</p><p>Tendo em vista que a instabilidade é o resultado de agentes econômicos</p><p>racionais respondendo de forma ótima a mudanças no ambiente econômico,</p><p>as flutuações observadas devem ser consideradas como posições de</p><p>equilíbrio ótimas de Pareto. A flutuação do produto nada mais é do que</p><p>um contínuo equilíbrio de pleno emprego que se move como resultado de</p><p>choques de oferta.</p><p>103</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Dessa maneira, qualquer intervenção do governo a partir de políticas fiscais pode levar a um</p><p>desequilíbrio com redução do bem‑estar. Como a moeda é neutra a curto e a longo prazo, a política</p><p>monetária também não apresenta efeito real sobre a economia. Portanto, o produto potencial pode se</p><p>alterar, a depender dos fatores de oferta.</p><p>As flutuações são explicadas pela substituição intertemporal de lazer, por exemplo. Caso</p><p>haja um choque tecnológico com aumento de produtividade, o salário real se torna maior,</p><p>então os trabalhadores estarão mais dispostos a substituir lazer por trabalho ao longo do ciclo</p><p>econômico, o que gera um aumento do produto potencial. Eles se preocupam com o esforço</p><p>(quantidade de trabalho) total, mas não se incomodam com quando trabalhar. Observe, contudo,</p><p>que a substituição intertemporal do lazer não implica que a oferta de trabalho seja sensível a</p><p>mudanças permanentes no salário.</p><p>A substituição intertemporal de lazer gera grandes movimentos na quantidade de trabalho realizado</p><p>em resposta a pequenas mudanças nos salários reais, mostrando que a elasticidade é elevada.</p><p>Outro exemplo que se pode examinar é em caso de um choque de produtividade negativo, como</p><p>uma externalidade positiva no fato do estabelecimento de uma lei ambiental ou de um aumento do</p><p>custo das matérias‑primas, uma nova tributação sobre a produção. Esses atos aumentam o custo para</p><p>o produtor, o que leva a uma redução do produto potencial.</p><p>O efeito multiplicador dos ciclos econômicos é estimulado por perturbações que alteram os níveis</p><p>de equilíbrio do produto e do emprego em mercados específicos e na economia em geral. As principais</p><p>perturbações consideradas são choques sobre produtividade ou choques da oferta, e choques sobre a</p><p>despesa pública.</p><p>Os críticos à escola novo‑clássica consideram inconcebível a noção de que os ciclos econômicos reais</p><p>são fenômenos de equilíbrio. Para os críticos, as flutuações têm fundamentos da demanda agregada e</p><p>da oferta agregada e, portanto, é importante a ação diante dos desvios custosos em relação ao produto</p><p>potencial.</p><p>Os custos do combate à inflação e a importância de bancos centrais independentes</p><p>Uma importante preocupação da política econômica relaciona‑se aos custos – em</p><p>termos de redução do produto e do emprego – de reduzir a inflação. Como já visto, da</p><p>mesma forma que os economistas monetaristas, para os novo‑clássicos, a inflação também</p><p>é um fenômeno essencialmente monetário, ou seja, o aumento do nível geral de preços é</p><p>o resultado de um excessivo crescimento da oferta de moeda. Entretanto, há discordância</p><p>entre as duas escolas em relação ao custo do combate à inflação, também conhecido como</p><p>“taxa de sacrifício”.</p><p>Em contraste com os keynesianos (síntese neoclássica) e monetaristas, para os</p><p>novo‑clássicos, se a política monetária tiver credibilidade, mudanças na oferta de moeda que</p><p>sejam anunciadas/antecipadas não terão nenhum efeito sobre o nível de renda e emprego</p><p>104</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>da economia, mesmo a curto prazo. Como os agentes econômicos seguem o modelo de</p><p>expectativas racionais, uma contração monetária anunciada fará com que eles revisem</p><p>imediatamente suas expectativas de inflação para baixo. Sendo assim, as autoridades</p><p>monetárias são capazes de reduzir a taxa de inflação sem os custos de redução do nível de</p><p>emprego e produto previstos por keynesianos e monetaristas. Ou seja, a “taxa de sacrifício”</p><p>seria igual a zero.</p><p>A ênfase na manutenção de regras claras de conduta para se manter a estabilidade</p><p>de preços cria as bases para o estabelecimento de bancos centrais independentes, cuja</p><p>discricionariedade é limitada por compromissos explícitos de combate à inflação.</p><p>Tendo em vista que a falta de credibilidade pode ser resultado dos poderes discricionários</p><p>das autoridades econômicas na condução da política monetária, o problema poderia</p><p>ser solucionado pela transferência da política anti‑inflacionária para um banco central</p><p>independente, que estaria livre de potenciais pressões políticas.</p><p>O sistema de metas inflacionárias adotado por diversos países, inclusive o Brasil, reflete</p><p>essa preocupação com a transparência da política monetária.</p><p>Fonte: Além, 2010, p. 296.</p><p>No início dos anos 1970, a economia dos Estados Unidos da América enfrentava um problema ao</p><p>qual a princípio a curva de Phillips</p><p>havia dado a resposta. Esse problema era a coexistência de inflação e</p><p>desemprego elevados. De acordo com a curva de Phillips, havia um trade‑off entre essas duas variáveis.</p><p>Em parte, esse fenômeno mostrava uma limitação da teoria novo‑clássica de explicar as flutuações</p><p>econômicas e de garantir os mecanismos de ajuste da economia. Essa crise foi superada apenas no final</p><p>dos anos 1970.</p><p>5.4 Modelo novo‑keynesiano</p><p>A partir do início dos anos 1980, a escola novo‑keynesiana surgiu como contraponto às análises</p><p>dos novo‑clássicos. Portanto, afasta‑se das hipóteses adotadas pelos novo‑clássicos, isto é, descarta a</p><p>concorrência perfeita e o market clearing contínuo. Com isso, um dos objetivos era explicar o desemprego</p><p>e o papel da demanda agregada na determinação do produto e do nível de emprego. De acordo com</p><p>esses pensadores, as reduções da demanda agregada levam à redução da oferta, pois os preços são</p><p>rígidos.</p><p>As principais hipóteses dessa escola são:</p><p>• Presença de concorrência imperfeita entre as firmas.</p><p>• As firmas são formadoras de preços, portanto têm uma parte de poder sobre o mercado.</p><p>105</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>• As decisões de precificar são tomadas considerando a concorrência.</p><p>• As alterações de preços apresentam um custo superior ao ganho de alterá‑la continuamente.</p><p>• Diante dos custos de remarcação de preços, os preços são alterados periodicamente de forma não</p><p>sincronizada, com implicações sobre o ciclo econômico.</p><p>• Agentes econômicos racionais tomam suas decisões a partir das expectativas racionais.</p><p>• Agentes racionais são maximizadores de bem‑estar.</p><p>• Apropriação de fundamentos microeconômicos para explicar os fenômenos macroeconômicos.</p><p>• Abordagem matemática.</p><p>Os modelos novo‑keynesianos mantêm o pressuposto de racionalidade dos indivíduos dos modelos</p><p>clássicos, porém não corroboram a hipótese de que os mercados não se equilibram rapidamente, e</p><p>os preços nem sempre se ajustam às mudanças na oferta de moeda, ou seja, mantêm os resultados</p><p>da OA‑DA. Apesar de acreditarem na hipótese das expectativas racionais, observam que a economia</p><p>demora mais para retornar ao equilíbrio do que previsto por esses modelos.</p><p>Dessa maneira, quando há uma expansão monetária, todas as firmas deveriam ajustar</p><p>proporcionalmente seus preços, como previsto pelos modelos clássicos. Porém, há custos – custos de</p><p>menu – para realinhar os preços, e esses custos, em geral, podem ser maiores do que a perda de receita</p><p>ao permanecer com o preço anterior.</p><p>De acordo com Além (2010, p. 299):</p><p>As diferenças dos resultados do modelo novo‑keynesiano em relação</p><p>ao modelo novo‑clássico só existem a curto prazo. Isso ocorre porque</p><p>o modelo novo‑clássico trabalha com a hipótese de preços flexíveis,</p><p>enquanto os novos keynesianos defendem a existência de preços rígidos</p><p>a curto prazo.</p><p>A longo prazo, os resultados esperados pelas duas escolas são os mesmos:</p><p>equilíbrio com pleno emprego, inexistência de desemprego involuntário e</p><p>inexistência de flutuações econômicas.</p><p>A curto prazo, a rigidez pode existir no mercado de bens ou no mercado de</p><p>trabalho, ou nos dois ao mesmo tempo. O raciocínio é o seguinte: a partir</p><p>de uma redução da demanda agregada, o ajuste ocorre via redução das</p><p>quantidades ofertadas, em vez de haver uma redução dos preços porque</p><p>estes são rígidos.</p><p>106</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Essa rigidez de preços a curto prazo pode ser explicada pelos seguintes fatores:</p><p>• Existência de contratos nominais.</p><p>• Falhas de coordenação.</p><p>• Custos de menu.</p><p>• Existência de insiders/outsiders.</p><p>• Defasagem temporal dos reajustes salariais.</p><p>• Salário‑eficiência.</p><p>Esses custos podem existir também para coletar informação, bem como para manter os clientes e</p><p>contratos com fornecedores ou salariais de médio prazo. Diante de uma alteração de preços na economia,</p><p>as firmas só irão mudar seus próprios preços se os benefícios forem maiores que os custos.</p><p>Esses fundamentos microeconômicos listados ajudam a explicar as flutuações macroeconômicas.</p><p>Caso houvesse preços flexíveis, seria possível manter um market clearing contínuo. Portanto, as políticas</p><p>monetária e fiscal expansionistas podem ser eficazes para expandir a demanda agregada e ajustar os</p><p>hiatos do produto.</p><p>A longo prazo, quando os preços são todos flexíveis, as políticas de estimulo da demanda agregada</p><p>perdem eficácia. Ainda assim, defende‑se o uso das políticas econômicas para ajustar a economia a</p><p>curto prazo, pois há um longo período entre o curto e o longo prazo.</p><p>Observação</p><p>A grande contribuição dos pensadores novo‑keynesianos ao debate</p><p>da macroeconomia contemporânea é destacar os fenômenos da rigidez</p><p>dos preços e dos salários. A escola novo‑keynesiana criticou a escola</p><p>novo‑clássica sob o argumento de que a análise de longo prazo não dava</p><p>conta de explicar os fenômenos macroeconômicos. Para tanto, era preciso</p><p>focar a análise de curto prazo.</p><p>5.5 Comparativo dos modelos macroeconômicos</p><p>A seguir, o quadro comparativo das escolas de pensamento da macroeconomia que resume as</p><p>variantes entre elas.</p><p>107</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Q</p><p>ua</p><p>dr</p><p>o</p><p>2</p><p>–</p><p>Pr</p><p>in</p><p>ci</p><p>pa</p><p>is</p><p>ca</p><p>ra</p><p>ct</p><p>er</p><p>íst</p><p>ic</p><p>as</p><p>d</p><p>as</p><p>e</p><p>sc</p><p>ol</p><p>as</p><p>d</p><p>e</p><p>pe</p><p>ns</p><p>am</p><p>en</p><p>to</p><p>Es</p><p>co</p><p>la</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>es</p><p>d</p><p>e</p><p>in</p><p>st</p><p>ab</p><p>ili</p><p>da</p><p>de</p><p>M</p><p>od</p><p>el</p><p>o</p><p>de</p><p>fo</p><p>rm</p><p>aç</p><p>ão</p><p>d</p><p>e</p><p>ex</p><p>pe</p><p>ct</p><p>at</p><p>iv</p><p>as</p><p>Pr</p><p>eç</p><p>os</p><p>e</p><p>sa</p><p>lá</p><p>rio</p><p>s</p><p>Cu</p><p>rt</p><p>o</p><p>pr</p><p>az</p><p>o</p><p>Lo</p><p>ng</p><p>o</p><p>pr</p><p>az</p><p>o</p><p>Po</p><p>lít</p><p>ic</p><p>a</p><p>m</p><p>on</p><p>et</p><p>ár</p><p>ia</p><p>Po</p><p>lít</p><p>ic</p><p>a</p><p>fis</p><p>ca</p><p>l</p><p>Re</p><p>gr</p><p>as</p><p>e</p><p>di</p><p>sc</p><p>ric</p><p>io</p><p>na</p><p>rie</p><p>da</p><p>de</p><p>M</p><p>on</p><p>et</p><p>ar</p><p>ist</p><p>a</p><p>ad</p><p>ap</p><p>ta</p><p>tiv</p><p>as</p><p>fle</p><p>xí</p><p>ve</p><p>is</p><p>po</p><p>ss</p><p>ib</p><p>ili</p><p>da</p><p>de</p><p>d</p><p>e</p><p>eq</p><p>ui</p><p>líb</p><p>rio</p><p>a</p><p>ba</p><p>ix</p><p>o</p><p>da</p><p>ta</p><p>xa</p><p>na</p><p>tu</p><p>ra</p><p>l 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3</p><p>01</p><p>‑3</p><p>02</p><p>.</p><p>108</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>6 KEYNESIANOS, MONETARISTAS, NOVO‑CLÁSSICOS E</p><p>NOVO‑KEYNESIANOS: UMA LEITURA PÓS‑KEYNESIANA</p><p>Após o percurso de diversos modelos macroeconômicos, iremos partir para o debate que se inaugura</p><p>com a teoria pós‑keynesiana, já que os desdobramentos das análises de Keynes ainda ocupam o centro</p><p>das discussões da macroeconomia contemporânea.</p><p>Com os rumos do debate macroeconômico, os autores pós‑keynesianos buscam o resgate do legado</p><p>de Keynes que leva ao entendimento da dinâmica de uma economia monetária da produção, já que a</p><p>discussão em macroeconomia se localiza tanto na compreensão dos problemas econômicos da economia</p><p>real quanto na proposição de soluções.</p><p>Para isso, o caminho que trilharemos será pautar, de forma sucinta, as principais questões</p><p>teóricas e implicações dos modelos neoclássico, monetarista, novo‑clássicos e novo‑keynesianos,</p><p>com o objetivo de mostrar que esses modelos, apesar do grau de refinamento de suas estruturas</p><p>teórico‑analíticas, são inconsistentes com as características das modernas economias empresariais,</p><p>propostas por Keynes.</p><p>Em outras palavras, entende‑se que os modelos destacados ajudam pouco para a compreensão do</p><p>mundo real. Assim, por intermédio da teoria pós‑keynesiana, criticam‑se tais formas de apreensões</p><p>da dinâmica econômica e a consistência dos pressupostos que sustentam tais abordagens ortodoxas,</p><p>principalmente quanto às caracterizações e soluções das crises cíclicas de produção e emprego das</p><p>economias monetárias.</p><p>Primeiramente, um grande debate se abre em relação à teoria da síntese neoclássica, seja</p><p>por sua leitura dos conceitos de Keynes, seja pelas propostas de políticas macroeconômicas.</p><p>Destacam‑se duas estruturas teóricas relacionadas à revolução keynesiana, como aponta Ferrari</p><p>Filho (1996, p. 79):</p><p>[...] por um lado, existe uma análise interpretativa da Teoria Geral, conhecida</p><p>como diagramas IS‑LM, que está centrada na proposição de que o</p><p>desemprego involuntário keynesiano se constitui em um caso particular da</p><p>teoria clássica devido tão‑somente à existência da armadilha da liquidez;</p><p>por outro, existe um approach, denominado desequilibrista, que interpreta o</p><p>princípio da demanda efetiva de Keynes em um contexto no qual a economia</p><p>se move, ao longo do tempo, de uma situação de equilíbrio parcial para uma</p><p>de equilíbrio geral.</p><p>O mais divulgado e difundido no debate macroeconômico foi o diagrama da IS‑LM</p><p>desenvolvido por Hicks em um artigo de 1937. Nessa análise, as contribuições da teoria</p><p>keynesiana e clássica podem ser representadas por uma estrutura teórica similar, onde Hicks</p><p>objetiva comparar as ideias desses dois modelos. Em seu esforço de comparação, Hicks apresenta</p><p>sua síntese em três modelos:</p><p>109</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Quadro 3 – Modelos de Hicks</p><p>Modelo Clássico Modelo “Especial”</p><p>de Keynes</p><p>Modelo da Teoria</p><p>Geral</p><p>M = KI M = L(i) M = L(i,I)</p><p>Ix = C(i) Ix = C(i) Ix = C(i)</p><p>Ix = S( i,I ) Ix = S(I) Ix = S(i)</p><p>Fonte: Ferrari Filho, 1996, p. 80.</p><p>Em que M é a quantidade de moeda, k é a constante da equação quantitativa da moeda de Cambridge,</p><p>I é o nível de renda, Ix é o investimento total, i é a taxa de juros e S é a poupança.</p><p>Nos três modelos apresentados, a primeira equação de cada um deles representa a definição da curva</p><p>LM, sendo as duas equações seguintes, em cada modelo, respectivamente, as suas definições da curva IS.</p><p>Assim, como nos informa o modelo de Hicks, temos as condições de equilíbrio dos mercados monetário</p><p>e real, dadas as possíveis combinações entre taxas de juros e níveis de renda em uma economia nos três</p><p>modelos distintos.</p><p>Quando Hicks compara os diferentes modelos, ele realiza duas ponderações: a primeira seria a</p><p>comparação entre os modelos clássico e especial de Keynes, que para esse autor teriam diferenças quanto</p><p>à função poupança e à demanda por moeda. A diferença essencial se encontra na análise da demanda</p><p>por moeda, que em Keynes é explicada pela função preferência pela liquidez e, no caso clássico, é parte</p><p>integrante da equação quantitativa da moeda de Cambridge (FERRARI FILHO, 1996, p. 80).</p><p>Em segundo lugar, ao comparar os modelos de Keynes, o modelo especial e o da teoria geral,</p><p>Hicks entende que em sua análise monetária no âmbito da Teoria Geral (TG) a apresentação da</p><p>demanda por moeda como função dos motivos especulação e transação remete a um Keynes que</p><p>volta a adotar uma teoria monetária quantitativista e, portanto, representaria uma derivação do</p><p>modelo clássico.</p><p>Desse modo, quando a economia keynesiana se encontra num caso de armadilha da liquidez, as</p><p>suas equações monetárias demonstradas no modelo da Teoria Geral passam a ter a mesma relação</p><p>funcional que a apresentada pelo modelo clássico, ou seja, a de que variações na demanda por moeda</p><p>dependem unicamente do nível de renda. Com base nesse argumento, a teoria neoclássica entende que</p><p>a ocorrência de desemprego involuntário corresponderia a uma incapacidade da política monetária em</p><p>alterar o nível da taxa de juros e, consequentemente, o nível de renda.</p><p>Tendo como referência a conclusão hicksiana de que a economia keynesiana</p><p>é a economia da depressão, a síntese neoclássica interpreta a revolução</p><p>keynesiana como sendo tão‑somente a solução fiscalista de Keynes para as</p><p>crises temporárias de desemprego (FERRARI FILHO, 1996, p. 82).</p><p>110</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Já na interpretação da TG, na abordagem desequilibrista, Partinkin formaliza um modelo keynesiano</p><p>de desequilíbrio em que o desemprego involuntário tem explicação na rigidez de salários no mercado</p><p>de trabalho. Portanto, os desequilíbrios dinâmicos do sistema de equilíbrio geral de Walras seriam a</p><p>base dos desequilíbrios dados pela teoria keynesiana. Em uma segunda versão, dentro da vertente</p><p>desequilibrista, o modelo adotado seria de desequilíbrio geral, detectando‑se as regras de racionamento</p><p>nos mercados de bens e de trabalho com as implicações no equilíbrio macroeconômico em razão das</p><p>restrições quantitativas.</p><p>Mas em síntese, nas duas versões, independentemente de utilizar‑se do equilíbrio parcial ou geral,</p><p>as flutuações cíclicas nos níveis de produto e emprego estão relacionadas ao fato de que os preços,</p><p>em unidades monetárias, se ajustam lentamente para retornar ao ponto de equilíbrio entre oferta e</p><p>demanda, já que acreditam na vigência do equilíbrio walrasiano a longo prazo.</p><p>O papel da relação entre a moeda e os níveis de preços e do produto também será trabalhado pela</p><p>escola monetarista de Friedman (1985). Ao alicerçar o papel da moeda na determinação dos níveis de</p><p>produto e emprego a curto prazo e do estoque de moeda no nível de preços a longo prazo, como vimos,</p><p>o autor também realiza críticas ao modelo keynesiano.</p><p>A crítica da análise de Keynes se circunscreve ao fato de sua teoria não apresentar uma explicação</p><p>monetária satisfatória para as crises, dado o papel central da política monetária e de suas regras. Ao</p><p>se remeter ao modelo de equilíbrio geral walrasiano, Friedman (1985) elabora a hipótese de taxa de</p><p>desemprego natural e da insustentabilidade da relação da curva de Phillips a longo prazo ao incluir</p><p>regras de formação das expectativas dos níveis de inflação.</p><p>Generalizando</p><p>a análise friedmaniana, variações iniciais na taxa de desemprego</p><p>ocorrem devido ao fato de que os agentes econômicos não conseguem prever</p><p>a inflação futura. Contudo, com o passar do tempo, a partir de um processo</p><p>contínuo de revisão das expectativas, a inflação esperada pelos agentes</p><p>econômicos tende a ajustar‑se à inflação corrente e, como resultado dessa</p><p>antecipação inflacionária, por parte dos agentes econômicos, o nível de emprego</p><p>retorna à sua taxa natural de desemprego (FERRARI FILHO, 1996, p. 85).</p><p>Nesse sentido, a conclusão de Friedman (1985) em relação às limitações da política monetária é que</p><p>esta, ao longo do tempo, provoca tão somente distúrbios nominais na economia. Logo, os monetaristas</p><p>entendem que a economia é inerentemente estável – excetuando‑se os distúrbios monetários de</p><p>curto prazo –, portanto, sem a necessidade de quaisquer políticas econômicas ativas, tanto fiscais</p><p>como monetárias, para garantir a estabilidade econômica. Defende a máxima do livre‑mercado como</p><p>garantidor da estabilidade.</p><p>Tal solução ficará mais latente no interior da teoria novo‑clássica, nos anos de 1970, em que a</p><p>economia clássica passa a incorporar a hipótese das expectativas racionais nos modelos de equilíbrio</p><p>geral. Com essa formulação, o modelo novo‑clássico busca ser uma alternativa teórica à abordagem</p><p>keynesiana, que tomaria por base a hipótese de longo prazo da curva de Phillips e que não teria poder</p><p>explicativo para processos de estagflação, onde não se observaria o trade‑off entre inflação e desemprego.</p><p>111</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Assim, por conter falhas teóricas e econométricas, os modelos keynesianos não representariam o</p><p>melhor guia para operacionalizar as políticas econômicas, fato defendido pelos autores novo‑clássicos.</p><p>Isso ficaria mais claro com a adoção das expectativas racionais, que também seria um fator de crítica a</p><p>Friedman (1985). Nesse caso, as expectativas dos agentes sobre o valor esperado de uma variável não</p><p>seriam uma função estável de seus valores passados, mas corresponderiam a um modelo de expectativas</p><p>com informações completas e com a utilização das informações disponíveis no presente, e não baseadas</p><p>nas ocorrências do passado, como nas expectativas adaptativas.</p><p>Ao não adotar as expectativas racionais, o modelo keynesiano incorreria em erros sistemáticos de</p><p>avaliação, pois, acreditando num trade‑off temporário ou permanente entre inflação e desemprego,</p><p>utilizaria erroneamente políticas de administração da demanda agregada, que, na realidade, segundo os</p><p>novo‑clássicos, não teriam impactos na determinação do nível de equilíbrio da economia correspondente</p><p>a uma taxa natural de desemprego. As mudanças no nível de equilíbrio, nesse caso, seriam explicadas por</p><p>choques exógenos de oferta, seja por variações tecnológicas ou mudanças na produtividade, implicando</p><p>mudanças nos preços relativos da economia.</p><p>Em resumo, suas críticas ao arcabouço keynesiano estão em rejeitar o papel da demanda agregada e</p><p>centrar as atenções na oferta agregada, reforçando a ocorrência da lei dos mercados com autocorreção</p><p>e neutralidade da moeda. Dentre todas as críticas, é a mais contundente, por acreditar na total</p><p>inconsistência teórica da análise de Keynes.</p><p>Esse último fato não foi compartilhado pela teoria novo‑keynesiana, que buscou revitalizar a</p><p>economia keynesiana com fundamentos microeconômicos, dando maior ênfase ao fato da ocorrência</p><p>de rigidez de preços e salários, que representaria a principal questão da teoria de Keynes.</p><p>Nesse exercício de atualização da teoria keynesiana, os novo‑keynesianos analisam os desequilíbrios</p><p>da economia a partir de modelos de rigidez de salários nominais, como salário‑eficiência, contrato</p><p>implícito e insider‑outsider e pelo comportamento dos preços cuja rigidez seria dada por modelos de</p><p>custos de ajustamento de preços, ambos relacionados às estruturas de mercados imperfeitos.</p><p>No caso da rigidez de salários, ao compreender o trabalho como um bem não homogêneo,</p><p>mudanças na remuneração do trabalhador podem ocasionar diminuições na produtividade do</p><p>trabalho. No caso do modelo de salário‑eficiência, as empresas evitam reduzir salários, porque</p><p>temem que as referidas quedas de produtividade e de lucro, ao serem realizadas, reduzam a</p><p>participação delas no mercado.</p><p>Já no modelo de contrato implícito, as firmas oferecem contratos que impossibilitam a diminuição</p><p>dos salários reais dos trabalhadores e garantem a permanência e a produtividade deles, com reflexos</p><p>positivos para os ganhos empresariais. Fato muito próximo da explicação dos modelos insider‑outsider,</p><p>em que temos uma remuneração maior aos trabalhadores qualificados e sindicalizados, os insiders, em</p><p>relação aos desprovidos de qualificação e organização, denominados outsiders. A partir dessa estrutura</p><p>organizacional no mercado de trabalho, existe um acordo entre as firmas e os trabalhadores que impede</p><p>a redução dos salários. Todos esses fatos explicariam a rigidez dos salários nominais e os desequilíbrios</p><p>no mercado de trabalho.</p><p>112</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>No caso dos preços, há os modelos de custos de ajustamento, denominados modelos de custo de</p><p>menu, já que mesmo quando ocorrem variações de demanda, as decisões de mudanças de preços por</p><p>parte da firma são postergadas, porque estas implicam reestruturação de custos e estão relacionadas ao</p><p>poder de monopólio das empresas.</p><p>Nesse ponto, a teoria novo‑keynesiana apresenta uma tentativa de dar consistência teórica aos</p><p>problemas de falhas de mercado que leva os agentes econômicos a buscarem otimizar suas decisões em</p><p>meio às imperfeições. Logo, sua referência a Keynes limita‑se a explicação do desemprego involuntário</p><p>devido à rigidez de preços e salários, pois adota a hipótese de expectativas racionais.</p><p>A resposta às críticas perante as concepções teóricas de Keynes será desenvolvida pela leitura</p><p>pós‑keynesiana, que entenderá que as teorias macroeconômicas, destacadas anteriormente,</p><p>distanciam‑se da análise revolucionária de Keynes por convergirem a uma representação da economia</p><p>de longo prazo em que ocorreriam a autorregulação do mercado e a manutenção do nível de pleno</p><p>emprego da economia.</p><p>O resgate pós‑keynesiano consiste em reafirmar a posição de Keynes quanto à negação de um sistema</p><p>econômico autorregulador, ou seja, que possui mecanismos econômicos que evitem as flutuações e as</p><p>depressões econômicas. Conforme Ferrari Filho (1996, p. 92), Keynes desenvolve um projeto a partir de</p><p>três proposições teóricas:</p><p>• Uma teoria da determinação da renda (propensão a consumir e multiplicador da renda).</p><p>• Uma teoria do investimento (eficiência marginal do capital).</p><p>• Uma teoria da taxa de juros (preferência pela liquidez).</p><p>Tais proposições, conforme a concepção pós‑keynesiana, seriam desenvolvidas num contexto econômico</p><p>em que a moeda não seria neutra – apresentando propriedades que a diferem de outros ativos econômicos</p><p>–, com o futuro incerto e imprevisível e o desemprego como resultado normal da atividade econômica.</p><p>Se olharmos por esse prisma, a interpretação de Hicks, em seu modelo neoclássico, apresenta alguns</p><p>equívocos em relação à teoria de Keynes, pois substitui a concepção de equilíbrio parcial adotada na TG</p><p>pela análise de equilíbrio geral, bem como separa os mercados real e monetário, invertendo a relação</p><p>causal entre investimento e poupança e desconsiderando o papel das expectativas na dinâmica da</p><p>demanda efetiva. Logo, mutilando as principais ideias sobre o processo de ajustamento econômico</p><p>enfatizado por Keynes.</p><p>Observação</p><p>No equilíbrio parcial, desenvolvido por Alfred Marshall, o comportamento</p><p>de um mercado específico é obtido independentemente dos preços e</p><p>quantidades obtidos e fornecidos por outros mercados.</p><p>113</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA</p><p>APLICADA</p><p>No modelo IS‑LM, ao separar em diferentes departamentos os mercados de bens e monetário,</p><p>descaracteriza a teoria de Keynes, já que essas duas esferas fazem parte de uma teoria de escolha de</p><p>ativos, portanto representam mercados interdependentes, sendo tal divisão uma construção equivocada.</p><p>Hicks contraria a lógica keynesiana da demanda efetiva ao analisar a relação causal entre investimento</p><p>e poupança, pois acredita que um crescimento do investimento não possa ocorrer sem um crescimento</p><p>da poupança ou da quantidade de moeda em uma economia. Assim, volta ao argumento clássico de</p><p>poupança prévia como elemento central na dinâmica dos investimentos.</p><p>Além disso, o modelo neoclássico não abarca o papel das expectativas, num ambiente de incerteza,</p><p>nos diagramas da IS‑LM, e novamente se distancia das proposições de Keynes na TG. Em resposta, os</p><p>pós‑keynesianos mostram que a teoria keynesiana vai muito além de uma teoria da economia em</p><p>depressão, como denominada por Hicks, já que esta teoria também se aplica a situações em que as</p><p>restrições quantitativas não são somente de demanda.</p><p>As indagações levantadas pelos desequilibristas e, por extensão, pelos novo‑keynesianos</p><p>restringem‑se ao entendimento dos fatores centrais do desequilíbrio econômico, na teoria de Keynes,</p><p>representados pela existência de rigidez de preços e salários. Ao longo da TG, Keynes admite a suposição</p><p>de inflexibilidade de preços e salários, mas tal fato não configura nem condição necessária, nem</p><p>suficiente para a ocorrência do desemprego involuntário.</p><p>Como bem defendem os autores pós‑keynesianos, com base em diversas passagens da TG, o</p><p>desemprego involuntário ocorre mesmo quando preços e salários são flexíveis, pois a suposição de</p><p>inflexibilidade ao longo da demonstração de Keynes será abandonada ao longo de sua exposição, sendo,</p><p>portanto, um fator analítico de contraponto com a abordagem clássica. Desse modo, na visão de Keynes</p><p>a flexibilidade de preços e salários não garante o pleno emprego de forma contínua em uma economia.</p><p>Dito isso, fica difícil aceitar a hipótese de que falhas de mercado, caracterizadas pela rigidez de</p><p>preços e salários, sejam a causa do desemprego involuntário keynesiano, constituindo somente um dos</p><p>fatores que podem ocorrer ao longo da dinâmica de uma economia monetária.</p><p>Será a caracterização dessa economia monetária que servirá de resposta às críticas lançadas pelos</p><p>modelos monetaristas e novo‑clássicos em relação à teoria keynesiana. Na percepção de Ferrari Filho</p><p>(1996, p. 96) esse debate se centraria em dois pontos:</p><p>[...] em primeiro lugar, a teoria monetária desses modelos é, essencialmente,</p><p>diferente da teoria monetária de Keynes; segundo, algumas hipóteses</p><p>dos referidos modelos têm suas consistências lógicas fragilizadas</p><p>quando confrontadas com a dinâmica comportamental das economias</p><p>empresariais modernas.</p><p>Isso fica latente, pois as análises monetárias dos modelos monetaristas e novo‑clássicos não</p><p>aprofundam as questões inerentes às propriedades essenciais da moeda. Em seu resgate, a teoria</p><p>pós‑keynesiana ressalta que na TG a moeda possui duas propriedades essenciais: a de possuir elasticidade</p><p>114</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>de produção igual a zero, já que a moeda não é produzida pela quantidade de trabalho que o setor</p><p>privado incorpora no processo produtivo; e a de possuir uma elasticidade‑substituição nula, porque não</p><p>há nenhum outro ativo, não líquido, que possa exercer as três funções da moeda.</p><p>Observação</p><p>As três funções da moeda seriam a de funcionar como unidade de</p><p>conta, meio de troca e reserva de valor ao longo do tempo.</p><p>Dessas três propriedades, Keynes ressalta o papel de reserva de valor porque a retenção de ativos</p><p>líquidos constitui‑se em uma segurança contra a incerteza dos retornos futuros, logo a retenção de ativos</p><p>líquidos é recorrentemente utilizada pelos agentes econômicos. Por isso, a insuficiência de demanda</p><p>efetiva ocorre em situações em que a incerteza acerca do futuro aumenta, pois os indivíduos passam a</p><p>reter moeda, postergando, assim, suas decisões de dispêndio que, em último caso, geram impactos no</p><p>nível de produto e aumentos da taxa de desemprego.</p><p>Assim, desmente‑se a afirmação de Friedman (1985) de que a moeda não tem importância na</p><p>economia de Keynes, já que a moeda tem um papel central no entendimento da dinâmica econômica,</p><p>ou seja, a teoria de Keynes seria uma teoria monetária da produção. Por conta disso, a moeda não pode</p><p>ser neutra, ao passo que a neutralidade monetária é comumente incorporada nos modelos monetaristas,</p><p>pelo menos a longo prazo, e novo‑clássicos, tanto a curto quanto a longo prazo.</p><p>Isso terá impactos, portanto, no entendimento da economia real e em seus processos de ajustamento.</p><p>Para os pós‑keynesianos, as hipóteses dos modelos novo‑clássicos, dentre elas o ajuste de todos os</p><p>preços via mercado e os agentes sempre com comportamentos otimizadores e expectativas racionais,</p><p>não corresponderiam à dinâmica do sistema econômico. Esse seria um mundo hipotético, em que</p><p>haveria o equilíbrio geral de Walras e da mão invisível para conduzir a economia para a alocação</p><p>eficiente dos recursos.</p><p>Em situações de flutuações cíclicas dos níveis de produto, emprego e preços observados no sistema</p><p>econômico, as expectativas por parte dos agentes econômicos parecem ser formadas não com base em</p><p>um processo estocástico e estatisticamente controlado, mas num processo que Keynes denominou de</p><p>conhecimento incerto, logo, ressaltando, novamente, a incerteza inerente aos processos econômicos.</p><p>Nessas ponderações da teoria keynesiana reside a explicação da ocorrência de desemprego</p><p>involuntário. Já que seriam as insuficiências de demanda efetiva devido ao entesouramento de moeda e</p><p>o papel das expectativas que justificariam esses acontecimentos recorrentes, em detrimento das análises</p><p>que defendem a ocorrência de rigidez ou a escolha intertemporal entre renda e lazer como fatores</p><p>explicativos para as mudanças no equilíbrio no mercado de trabalho.</p><p>Portanto, em seu percurso, a teoria pós‑keynesiana esclarece, enfatiza e acrescenta elementos</p><p>em relação à teoria de Keynes, pois se entende que esse autor elaborou uma teoria monetária do</p><p>emprego, ou seja, considerou que as variáveis monetárias causariam efeitos reais e, por isso, não</p><p>115</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>poderia ser aceita a dicotomia rígida entre variáveis monetárias e reais da teoria neoclássica. Os</p><p>autores pós‑keynesianos criticam fortemente a teoria neoclássica, considerando‑a uma base teórica</p><p>irreal e irrelevante.</p><p>Para Keynes, a lei de Say teria validade somente em uma economia de trocas (de escambo), não</p><p>monetária, também chamada de economia cooperativa ou de salários reais, ou então em uma economia</p><p>neutra, em que a moeda assumiria papel meramente facilitador de trocas. Ou seja, uma economia</p><p>imaginária, que faria parte da utopia liberal.</p><p>Nesses casos, garantir‑se‑ia que o gasto agregado seria sempre igual à renda agregada, de modo que</p><p>a economia permanecesse no pleno emprego. Em uma economia empresarial, ou de salários nominais,</p><p>ao contrário, existem flutuações de demanda efetiva e de emprego e, em vista disso, não se garante o</p><p>pleno emprego.</p><p>Nessa economia empresarial, as decisões são tomadas com base em expectativas sobre o futuro,</p><p>dada a existência de incerteza, o que coloca a possibilidade de erros em decisões econômicas. A teoria</p><p>keynesiana possui o conceito de tempo histórico – e não num tempo lógico neoclássico –, em que existe</p><p>um passado irrevogável e um futuro desconhecido, envoltos numa fragilidade das informações por</p><p>parte dos agentes.</p><p>Este tempo move‑se em uma só direção, havendo possibilidade</p><p>de ajustamentos, mas não de reversão das decisões. No caso dos</p><p>investimentos, leva‑se em conta que os bens de capital são duráveis</p><p>e não maleáveis e, portanto, que</p><p>as correções de rota têm custos não</p><p>desprezíveis (DATHEIN, 2000, p. 2).</p><p>O comportamento do empresário keynesiano é completamente diferente do empresário neoclássico.</p><p>Para Keynes, o empresário faz prognósticos sobre a demanda futura, age de acordo com expectativas</p><p>em contexto de incerteza.</p><p>Na economia capitalista real, existe uma diferença de objetivos e de poder de decisão entre</p><p>empresários e trabalhadores (assim como os consumidores). Enquanto os empresários buscam a</p><p>acumulação de dinheiro, os trabalhadores têm como objetivo a obtenção de bens de consumo. Os</p><p>empresários comandam os recursos e tomam decisões que regem a operação da economia, decidindo</p><p>sobre produção, emprego e investimentos com base em suas expectativas sobre a rentabilidade futura</p><p>de seus negócios, tomando decisões segundo premissas observadas que são insuficientes, o que lhes</p><p>impõe a incerteza.</p><p>Segundo Keynes, os empresários não fazem somente cálculos sobre lucros para tomarem suas</p><p>decisões, possuindo, além disso, um instinto espontâneo de agir. Isso não leva ao irracionalismo, uma</p><p>vez que as expectativas de longo prazo são, muitas vezes, estáveis, com os empresários baseando‑se</p><p>em determinados estados de confiança. Nisso reside a explicação de por que os investimentos são o</p><p>elemento mais instável da demanda efetiva.</p><p>116</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>De acordo com a teoria neoclássica, um aumento de poupança sempre leva a um aumento de</p><p>investimento. Por isso, coloca‑se, por exemplo, a desejabilidade de uma concentração de renda nas</p><p>mãos das famílias e empresas mais ricas, caso se deseje maior taxa de crescimento econômico, pois estas</p><p>possuem maior propensão a poupar e, portanto, a acumulação será acrescida. Para a teoria keynesiana,</p><p>ao se considerar a possibilidade de aplicações de renda não ativadoras de produção e emprego, uma</p><p>concentração de renda pode levar a uma redução de consumo e investimento.</p><p>6.1 Hipótese da instabilidade financeira</p><p>Dentro do arcabouço teórico pós‑keynesiano, Hyman Minsky apresenta uma interpretação ou</p><p>complementação teórica denominada de hipótese da instabilidade financeira, em que Minsky vai além</p><p>do que está explicitado na TG de Keynes, por integrar em sua análise as implicações da estrutura dos</p><p>passivos das empresas sobre a atividade econômica.</p><p>De acordo com este autor, a teoria neoclássica não conseguiria provar a existência de um equilíbrio</p><p>geral de pleno emprego alcançado pela autorregulação do processo de mercado em uma economia com</p><p>ativos de capital e com instituições e práticas financeiras capitalistas. Assim, os modelos neoclássicos</p><p>não explicariam a instabilidade financeira, presente nas economias, ao tomar como causadores de ciclos</p><p>e crises fatores exógenos, por exemplo, variações na quantidade de moeda ou utilização de gastos fiscais</p><p>pelos governos por motivos políticos.</p><p>Na visão de Minsky (1982), a instabilidade financeira é geradora de ciclos econômicos, sendo o</p><p>resultado do funcionamento normal da economia capitalista, ou seja, resulta endogenamente do</p><p>comportamento dos agentes econômicos. Sendo assim, caberia aos governos intervir para controlar e</p><p>guiar a economia, principalmente as instituições e a evolução financeira, para garantir o pleno emprego</p><p>sem inflação ao assegurar uma estrutura financeira robusta e estável.</p><p>Deste modo, a economia capitalista não é simplesmente uma economia de mercado, mas</p><p>fundamentalmente uma economia de finanças. Essa economia é caracterizada pela existência de dois</p><p>sistemas de preços relativos com determinantes diferentes. Como nos aponta Dathein (2000, p. 8‑9):</p><p>Os preços dos bens correntes dependem da visão sobre as condições de</p><p>demanda de curto prazo e do conhecimento corrente das taxas de salários</p><p>nominais, sendo determinados por expectativas de curto prazo. Já os preços</p><p>dos ativos de capital e dos ativos financeiros (que são preços presentes</p><p>de rendas futuras) dependem da visão corrente sobre os fluxos de lucros</p><p>futuros e do valor subjetivo corrente em relação à incerteza incorporada</p><p>no valor futuro do dinheiro. Estes preços, portanto, são determinados por</p><p>expectativas de longo prazo e possuem uma volatilidade muito maior que</p><p>os primeiros.</p><p>Com determinantes diferentes, não podemos acreditar que o mercado teria capacidades de induzir</p><p>que os dois preços tenham variações a uma mesma taxa, logo, exigindo diferentes formas de avaliação</p><p>num processo econômico.</p><p>117</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>As relações desses dois sistemas de preços, com dois horizontes de tempo diferentes e dependentes</p><p>de distintas variáveis, em suas relações com as condições financeiras da economia, determinariam os</p><p>investimentos, no entendimento de Minsky. Esses investimentos, em conjunto com outras variáveis,</p><p>determinam a demanda efetiva e, portanto, o emprego.</p><p>A hipótese da instabilidade financeira integra na análise, portanto, as instituições financeiras e as</p><p>práticas financeiras, as quais impõem condições e exigências em relação ao comportamento futuro da</p><p>economia, dando sustentação para uma teoria financeira dos investimentos, que corresponderia a uma</p><p>teoria sobre o comportamento cíclico da economia.</p><p>Na visão da hipótese da instabilidade financeira, a oferta de moeda é considerada endógena.</p><p>Moeda será criada toda vez que os bancos financiarem negócios ou adquirem ativos, ocorrendo uma</p><p>destruição de moeda no momento em que os empréstimos forem pagos ou pela venda de ativos por</p><p>parte dos bancos. Assim, num ambiente financeiro e bancário moderno, a oferta monetária precisaria</p><p>ser vista como endógena. Neste ponto, Minsky tem uma interpretação diversa daquela de Keynes, já</p><p>que este último autor toma a oferta de moeda como exógena, e por isso os governos poderiam intervir</p><p>aumentando a oferta monetária visando estimular a demanda efetiva.</p><p>Com uma visão de moeda endógena, essa análise de Keynes precisa ser modificada. Mas ressalva</p><p>que o fato de existir criação e destruição privada de moeda não indica que o governo perca</p><p>completamente o controle sobre a oferta de moeda. Por isso, a ação do governo será a de disciplinar</p><p>o processo de variação monetária dada pela destruição e criação de moeda ao manter um ambiente</p><p>financeiro robusto.</p><p>Para Minsky (1982), a principal transação que ocorre na economia é a troca de dinheiro no</p><p>presente por dinheiro no futuro, por exemplo, quando ocorrem investimentos ou a aquisição de</p><p>ativos de capital. Por isso, a teoria econômica não pode abstrair‑se do tempo fazendo uma análise</p><p>meramente estática. Admitindo‑se a existência de flutuações do produto e de poder de mercado,</p><p>a função de produção neoclássica não pode ser a base para a análise teórica da produção, nem</p><p>a teoria da produtividade marginal, a base para a análise das remunerações relativas dos fatores,</p><p>dentre eles os lucros.</p><p>A atividade econômica gera fluxos de caixa, que contêm os lucros, usados como garantias</p><p>para financiar posições em ativos de capital ou para validar dívidas e os preços que foram pagos</p><p>pelos ativos de capital no passado, permitindo honrar as obrigações de pagamentos originadas</p><p>em decisões passadas de financiamento. Dessa forma, a economia capitalista somente funciona</p><p>de forma equilibrada com a existência de investimentos geradores de lucros, e as flutuações nos</p><p>investimentos determinam se as dívidas poderão ou não ser pagas. O problema fundamental que</p><p>se coloca faz referência aos motivos que levariam os investimentos a flutuarem, ou seja, qual</p><p>o mecanismo que transforma um aperto financeiro em uma crise financeira. Para solucionar</p><p>tais indagações, Minsky chama a atenção para as diferentes posturas financeiras que podem ser</p><p>adotadas pelos agentes econômicos.</p><p>118</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Existem, segundo Minsky, três tipos básicos de posturas financeiras das</p><p>empresas, famílias e governos nas relações entre seus compromissos</p><p>de pagamentos de contratos (suas dívidas) e seus fluxos de receitas,</p><p>chamadas de posturas hedge, especulativa e Ponzi. A estabilidade da</p><p>estrutura financeira e, portanto, da economia como um todo, depende</p><p>do mix das posturas financeiras, sendo a postura hedge correspondente</p><p>a uma economia mais estável, enquanto a postura especulativa e a</p><p>Ponzi tornam a economia mais suscetível à instabilidade financeira</p><p>(DATHEIN, 2000, p. 10).</p><p>De forma resumida, a postura financeira hedge corresponderia à situação em que os agentes</p><p>possuem um fluxo de caixa esperado que gere um excedente ou pelo menos iguale, em todos os</p><p>períodos, os compromissos contratuais de pagamentos de passivos. Contrasta com a posição dos agentes</p><p>econômicos com finanças especulativas, situação na qual o fluxo de caixa esperado para todo o período</p><p>previsto excede o total de pagamentos de dívidas, mas, a curto prazo, o fluxo de caixa é inferior aos</p><p>compromissos totais neste mesmo prazo, necessitando que parte do serviço da dívida seja refinanciada.</p><p>Ou, por exemplo, os retornos poderiam cobrir apenas os pagamentos de juros, enquanto o principal teria</p><p>de ser renegociado.</p><p>Por último, a postura financeira Ponzi corresponderia aos agentes econômicos cujos fluxos de renda</p><p>são inferiores aos compromissos financeiros em todo o período, necessitando de refinanciamento de</p><p>parcela superior ao serviço da dívida, que contribui para o crescimento da dívida total, o que significa</p><p>uma postura de alto risco. Para Minsky, os investimentos de longo prazo e de retorno incerto têm</p><p>aspectos que se assemelham a essa postura financeira.</p><p>Tanto empresas com finanças especulativas quanto aquelas em situação Ponzi necessitam</p><p>constantemente se endividar ou vender ativos para cumprirem seus compromissos totais, além de que</p><p>a viabilidade da situação Ponzi depende de uma expectativa de crescimento dos preços dos ativos da</p><p>empresa no futuro. A quantidade e a variabilidade da ocorrência de finanças hedge, especulativa e</p><p>Ponzi variam de tempos em tempos e de acordo com a estrutura de cada economia, sendo a base para</p><p>o entendimento dos ciclos e das crises financeiras e econômicas.</p><p>Segundo a hipótese da instabilidade financeira, o capitalismo possui falhas inerentes e inescapáveis.</p><p>Nessa hipótese, o capitalismo não conseguiria manter‑se próximo ao pleno emprego por um longo</p><p>período, pelo fato de o sistema financeiro afetar os preços e as demandas por produtos e ativos de</p><p>capital e financeiros.</p><p>Ao afetar os preços e as demandas por produtos, o sistema financeiro corrobora a elevação dos</p><p>componentes das dívidas e dos seus serviços em relação às rendas auferidas por parte das empresas,</p><p>gerando endogenamente crises financeiras, que paralisam os investimentos e, portanto, ocasionam</p><p>maior desemprego.</p><p>Vamos ver com mais detalhes esse mecanismo endógeno gerador de crises e ciclos financeiros. Para</p><p>Minsky (1982), se a economia estiver em um período de tranquilidade, próxima ao pleno emprego,</p><p>119</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>haverá a diminuição das exigências dos emprestadores de dinheiro. Existe a tendência a uma alteração</p><p>das aplicações dos agentes econômicos, em que poderá haver um aumento das posições financeiras</p><p>especulativas e Ponzi por parte das empresas e dos demais agentes, respaldados pelos mercados</p><p>financeiro e bancário.</p><p>O próprio sistema financeiro gera endogenamente os recursos necessários para o aumento dos</p><p>investimentos ou exigidos pelo aumento dos preços dos bens de capital. Quando a participação das</p><p>finanças especulativas e Ponzi ganha preponderância na estrutura financeira total, a economia torna‑se</p><p>mais sensível a mudanças nos patamares das taxas de juros praticadas no mercado. No caso de um</p><p>aumento da taxa de juros, as posições hedge podem tornar‑se especulativas, e as especulativas podem</p><p>tornar‑se estruturas de financiamento Ponzi.</p><p>Ao mesmo tempo, uma maior taxa de juros gera uma queda no valor presente dos lucros esperados</p><p>pelos bens de capital, que em termos de eficiência marginal do capital (EmgK) provoca uma diminuição</p><p>dos investimentos. Com uma situação de queda dos lucros, dos investimentos realizados no passado,</p><p>chegamos à situação de deterioração da capacidade de pagamento dos empresários. Nesse contexto,</p><p>mesmo sem uma crise financeira aberta, as expectativas de longo prazo são afetadas, aumentando</p><p>os prêmios de risco de projetos de investimentos, levando os empresários e banqueiros a buscarem</p><p>posições financeiras menos especulativas, diminuindo a liquidez da economia. Depois de certo período</p><p>de instabilidade pode surgir, também endogenamente, uma fase de estabilidade financeira, mas agora</p><p>com baixo nível de atividade econômica, em razão da queda dos investimentos, até ser retomada,</p><p>novamente, a fase ascendente do ciclo.</p><p>Temos, com isso, a mais contemporânea das formulações no âmbito da teoria pós‑keynesiana. Para</p><p>tal modelo, as crises financeiras são resultado do funcionamento normal da economia. Os ciclos de</p><p>instabilidade são endógenos ao sistema econômico, em razão da busca de interesses próprios dos agentes</p><p>em uma economia descentralizada, apta a apresentar expansões incoerentes ou bolhas especulativas, na</p><p>concepção de Minsky.</p><p>No entanto, essas crises podem ser evitadas ou atenuadas, dependendo das ações dos</p><p>bancos centrais como financiadores de última instância, de aumento dos gastos fiscais –</p><p>mesmo que gerem déficits – por parte dos governos para sustentar os lucros e eventuais</p><p>mudanças no balanço de pagamentos. Isso é necessário, pois a forma privada de criação de</p><p>recursos é inerentemente míope e precisa ser suplementada pela visão de longo prazo que os</p><p>governos têm capacidade de ter.</p><p>Por fim, a alternativa à crise é basicamente uma combinação de ações do Banco Central e do governo</p><p>que permitam a sustentação do emprego e da renda. A ação do Banco Central, em momentos pré‑crise,</p><p>deve ser promover intervenções para sustentar os preços dos ativos e dar liquidez necessária e robusta</p><p>às instituições financeiras, enquanto os governos devem gerar ou aumentar seus gastos públicos para</p><p>sustentar a demanda e os lucros. Voltamos, portanto, às propostas de políticas macroeconômicas ativas</p><p>que caracterizam a teoria keynesiana.</p><p>120</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Saiba mais</p><p>A questão da instabilidade financeira representa uma das principais</p><p>linhas de pesquisa da teoria pós‑keynesiana. Para aprofundar seus</p><p>conhecimentos a respeito do tema e também sobre a teoria de Hyman</p><p>Minsky, leia:</p><p>DEOS, S. A contemporaneidade de Minsky. Dossiê da crise, Porto</p><p>Alegre, p. 20‑22, 2008. Disponível em: <http://www.akb.org.br/</p><p>upload/080820121726488142_AKB_DOSSI%C3%8A_DA_CRISE.pdf>.</p><p>Acesso em: 7 dez. 2016.</p><p>DEOS, S. Instabilidade financeira numa economia de mercado de</p><p>capitais. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 19, n. 2, p. 38‑61, 1998. Disponível em:</p><p><http://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/viewFile/1923/2298>.</p><p>Acesso em: 7 dez. 2016.</p><p>7 TÓPICOS INTERMEDIÁRIOS DE MACROECONOMIA APLICADA</p><p>7.1 Ciclos econômicos, ciclos reais de negócios e política econômica</p><p>A macroeconomia caracteriza‑se por estudar as flutuações econômicas. A contabilidade social</p><p>tornou‑se um grande instrumento metodológico e estatístico ao permitir mensurar as variáveis</p><p>macroeconômicas de forma agregada e, assim, a possibilidade do estudo das variáveis que determinam o</p><p>produto ou PIB, como consumo, investimento, gastos do governo, exportação e importação. As agendas</p><p>de pesquisas econômicas foram adiante, perceberam que o ciclo de negócios e o nível de preços também</p><p>determinam o produto, em que a hipótese de preços rígidos é um dos pontos de desenvolvimento</p><p>teórico recente.</p><p>Keynes (1936) já afirmava que a instabilidade era algo intrínseco ao sistema capitalista.</p><p>Sua teoria era embasada na análise</p><p>sobre a variável investimento agregado, que é composta de</p><p>formação bruta de capital fixo e de variação de estoques. O investimento agregado dependia de um</p><p>cenário econômico favorável à realização da produção, e a incerteza sobre o futuro poderia levar os</p><p>empresários a reduzir o nível de produção e com isso haveria uma queda do produto.</p><p>É possível analisar as flutuações econômicas por meio do ciclo de estoques em que, sendo o</p><p>investimento agregado à soma da formação bruta de capital fixo e da variação de estoque, quando</p><p>o estoque aumenta, a tendência é uma queda futura do nível de investimento devido à queda da</p><p>realização da produção.</p><p>121</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>I = FBKF + ∆ Estoques</p><p>I = é o investimento agregado;</p><p>FBKF = é a formação bruta de capital fixo;</p><p>∆ Estoques = é a variação de estoques.</p><p>Tabela 1 – Ciclo de estoques</p><p>Etapas C I DA Var. E E desejado Nível E Produção E Y</p><p>1 4.500,00 250,00 4.750,00 – 475,00 475,00 – 5.500,00</p><p>2 4.500,00 500,00 5.000,00 500,00 500,00 975,00 ‑ 475,00 4.525,00</p><p>3 3.720,00 500,00 4.220,00 305,00 422,00 1.280,00 ‑ 858,00 3.362,00</p><p>4 2.789,60 500,00 3.289,60 72,40 328,96 1.352,40 ‑ 1.023,44 2.266,16</p><p>5 1.912,93 500,00 2.412,93 ‑ 146,77 241,29 1.205,63 ‑ 964,34 1.448,59</p><p>6 1.258,87 500,00 1.758,87 ‑ 310,28 175,89 895,35 ‑ 719,46 1.039,41</p><p>7 931,53 500,00 1.431,53 ‑ 392,12 143,15 503,23 ‑ 360,08 1.071,45</p><p>8 957,16 500,00 1.457,16 ‑ 385,71 145,72 117,52 28,19 1.485,35</p><p>9 1.288,28 500,00 1.788,28 ‑ 302,93 178,83 ‑ 185,41 364,24 2.152,52</p><p>10 1.822,02 500,00 2.322,02 ‑ 169,50 232,20 ‑ 354,90 587,11 2.909,12</p><p>Lopes e Vasconcellos (2011, p. 126). Adaptado.</p><p>Percebe‑se que a demanda agregada (DA) determina a flutuação do produto (Y), em que a DA</p><p>é composta de consumo e investimento agregados. No lado do investimento, temos a variação de</p><p>estoques, que possui quatro variáveis em subdivisões: variação de estoque, estoque desejado, nível de</p><p>estoque e produção para estoque. Temos, na tabela apresentada, por etapas ou período de tempo, o</p><p>consumo agregado (C), o investimento agregado (I), a demanda agregada (DA), a variação de estoques</p><p>(Var. E), o estoque desejado (E desejado), que representa 10% da demanda agregada, o nível de estoque</p><p>(Nível E), a produção para estoque (Produção E) e o produto ou PIB (Y).</p><p>A tabela supõe na Etapa 2 um aumento do nível de investimento que eleva a demanda agregada e</p><p>causa uma queda do nível de estoques, fazendo que as empresas passem a produzir mais para atender</p><p>o aumento da demanda, como forma também de repor o estoque vendido. Como a demanda agregada</p><p>determina o nível de renda, haverá um aumento do produto.</p><p>Entretanto, o aumento da produção elevará o nível de estoques, em que os empresários decidem</p><p>reduzir o nível de produção com a queda na demanda agregada e do produto. Esse processo cíclico leva</p><p>o nível de produto às flutuações econômicas, em que as convergências para situações de equilíbrio são</p><p>determinadas pelos níveis de estoques. O produto é uma variável que não se ajusta à demanda de forma</p><p>instantânea, sendo o resultado de fortes expansões ou contrações do nível de atividade econômica.</p><p>Podemos formalizar o produto assim:</p><p>122</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Y = C + I + ∆ Estoques</p><p>Y = é o nível de renda ou produto agregado;</p><p>C = é o consumo agregado;</p><p>I = é o investimento agregado;</p><p>∆ Estoques = é a variação de estoques.</p><p>Geralmente, os empresários esperam que o consumo presente (Ct) seja igual ao consumo do período</p><p>anterior ou ao consumo passado (Ct‑1). A variável consumo é considerada uma variável com certa</p><p>estabilidade, pois está dividida entre consumo autônomo (C) e a propensão marginal a consumir (cY),</p><p>que pode ser formalizada assim:</p><p>C = C + cY, em que 0 < c <1</p><p>C = é consumo autônomo que é realizado pela despoupança;</p><p>c = é a propensão marginal a consumir, isto é, a relação entre consumo e renda ou percentual da</p><p>renda que vai para o consumo e varia entre 0 e 1;</p><p>Y = é o nível de renda ou produto.</p><p>Então, verifica‑se que uma parte da função consumo depende da propensão marginal a consumir:</p><p>C = cY</p><p>Em que o nível de consumo presente (Ct) é igual ao consumo passado (Ct‑1):</p><p>Ct = Ct‑1</p><p>O consumo presente é determinado pelo nível de renda do período anterior:</p><p>Ct = cYt‑1</p><p>A formalização da variação de estoques é:</p><p>∆Estoques t‑1 = cY t – c Y t‑1</p><p>Caso haja um aumento do nível de renda e do consumo, teoricamente, as empresas tendem a</p><p>manter um nível de estoques desejado para atender rapidamente à demanda agregada.</p><p>Y = C + I + ∆ Estoques</p><p>123</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Y = cYt + (cYt – cYt‑1) + I</p><p>Y = 2 cYt – cYt‑1 + I</p><p>As expressões apresentadas colocam a economia em uma posição de equilíbrio quando Y t = Y t‑1,</p><p>em que a variação de estoque (∆ Estoques) seja igual a zero. Caso ocorra uma variação da demanda,</p><p>haverá variação no nível de estoques, ocasionando uma flutuação da demanda agregada e do produto.</p><p>A teoria keynesiana também explica o comportamento cíclico da economia por meio do modelo</p><p>multiplicador‑acelerador, em que o investimento é determinado pela variação da produção ocorrida no</p><p>período anterior (Yt‑1). Podemos formalizar assim:</p><p>I = I0 + d ∆ Yt</p><p>ou</p><p>I = I0 + d ∆ (cYt – cYt‑1)</p><p>Essa equação apresenta a função investimento formada por um componente autônomo somado a</p><p>um componente que decorre do comportamento da renda no período anterior. Considerando‑se que o</p><p>consumo seja função da renda defasada de um período, temos:</p><p>C = cYt</p><p>Sendo Y = C + I, temos:</p><p>Y = cYt + I0 + d(cYt – cYt‑1)</p><p>Y = (c + d) Yt + I0 – dcYt‑1</p><p>A equação final apresentada revela que se elevarmos o investimento autônomo, haverá um</p><p>crescimento do produto presente em relação ao nível de produto anterior. Por sua vez, haverá um</p><p>crescimento adicional do investimento que diminuiu a variação da renda, restabelecendo o equilíbrio</p><p>quando Y t = Y t‑1.</p><p>A teoria keynesiana, ao analisar as flutuações econômicas, coloca as oscilações do investimento em</p><p>razão das incertezas e decisões dos empresários, isto é, da eficiência marginal do capital (Emg K). Se Emg</p><p>K passar por uma tendência de queda, poderá haver retração do nível de investimento autônomo. No</p><p>modelo IS‑LM, isso representa um deslocamento da curva IS para a esquerda, cujo resultado é a retração</p><p>do produto.</p><p>124</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>LM</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>IS 2 IS 1</p><p>ie</p><p>i2</p><p>Y2 Ye</p><p>Figura 31 – Queda do nível de investimento no modelo IS‑LM</p><p>Observação</p><p>O modelo IS‑LM representa a síntese neoclássica da teoria keynesiana,</p><p>cuja curva IS (Investment‑Saving) representa o lado real e a curva LM</p><p>(Liquidity‑Money) representa o lado monetário da economia.</p><p>Portanto, as flutuações são resultado das variáveis que determinam o produto. A principal delas</p><p>é o investimento agregado como um dos gastos autônomos que compõem a demanda agregada. A</p><p>teoria keynesiana, diante de tal diagnóstico, propõe mecanismos de compensação da queda de gastos</p><p>autônomos por meio da intervenção do Estado na economia de modo a utilizar a política econômica</p><p>fiscal, monetária, cambial e creditícia para regular a demanda agregada e gerar um cenário favorável</p><p>para a produção e o emprego.</p><p>A teoria do ciclo real de negócios afirma que há uma percepção equivocada das flutuações</p><p>econômicas devido a uma análise pelo lado da oferta agregada como principal determinante do</p><p>produto da economia. Portanto, as flutuações da demanda agregada não são o objeto de estudo para</p><p>essa agenda de pesquisa. A curva de oferta agregada é composta de capital, trabalho e tecnologia,</p><p>isto é, são essas as principais variáveis que determinam essa curva. Assim, o valor monetário de cada</p><p>fator de</p><p>empregos.</p><p>No entanto, as oscilações de curto prazo são interpretadas como meros desequilíbrios, e não</p><p>como crises econômicas.</p><p>No primeiro estágio de reformulação da TQM, o monetarismo buscou centrar a sua redefinição</p><p>levando em conta alguns aspectos da posição de Keynes. Assim, para Friedman (1985), no debate da</p><p>teoria monetária, devia‑se ressaltar o significado da equação quantitativa (MV = PT), principalmente, com</p><p>atenção sobre o termo da velocidade de circulação (V) acreditando‑se que ela poderia ser considerada</p><p>muito estável; assim, independentemente dos outros fatores da equação, explicitaria que mudanças nas</p><p>quantidades de moeda seriam refletidas nos preços ou no nível de produção.</p><p>13</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Mas ao mesmo tempo se percebia a necessidade de reformular a teoria quantitativa lhe agregando</p><p>algumas das contribuições de Keynes, sempre com o intuito de reafirmar a importância da moeda. Essa</p><p>concepção deveria contradizer o papel da moeda na análise do sistema keynesiano, pois, nesse modelo,</p><p>a velocidade de circulação da moeda não seria constante, nem independentemente determinada, já que</p><p>teria sua determinação pelo próprio sistema econômico.</p><p>Saiba mais</p><p>Sobre a teoria monetária do modelo keynesiano, leia:</p><p>FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo:</p><p>Saraiva, 2013.</p><p>Contrário à posição keynesiana, para Friedman (1985), a demanda por moeda seria estável, logo</p><p>significava uma oposição ao conceito de armadilha da liquidez. O autor argumenta que a elasticidade</p><p>da demanda por moeda em relação aos juros certamente não era infinita e, na realidade, seria bem</p><p>pequena. Portanto, a própria quantidade de moeda seria o principal fator na explicação das flutuações</p><p>da atividade econômica (FROYEN, 2013, p. 235).</p><p>Para chegar a tais conclusões, Friedman (1985) empreende uma reformulação da teoria quantitativa</p><p>da moeda clássica. Nessa versão, a teoria quantitativa seria centrada na demanda por moeda, numa</p><p>relação caracterizada pela seguinte equação:</p><p>Md = kPy</p><p>Nessa expressão teríamos uma relação proporcional entre a demanda por moeda (Md) e o nível</p><p>de renda nominal, caracterizado pelo preço (P) vezes a renda real (y). Um fator de proporcionalidade,</p><p>denominado k, seria constante a curto prazo. Assim, Friedman (1985) transforma a teoria quantitativa</p><p>em uma teoria da demanda por moeda, como base na equação de Cambridge. Como destaca</p><p>Froyen (2013, p. 237), sendo k considerada uma constante, nos desenvolvimentos dos economistas</p><p>de Cambridge, adotando‑se também que a oferta nominal de moeda (M) seria determinada</p><p>exogenamente pelas autoridades monetárias, esta nova equação poderia ser transformada em</p><p>uma teoria da renda nominal:</p><p>M = Md = kPy</p><p>Rearranjando,</p><p>M</p><p>k</p><p>Py</p><p>1 =</p><p>14</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Sendo também verdadeira uma forma alternativa, em que a velocidade da moeda (V) seria igual a (1/k):</p><p>MV = PY</p><p>Dadas essas ponderações, Friedman (1985) buscou mostrar quais mudanças deveriam ser realizadas na</p><p>teoria quantitativa, após os desenvolvimentos de Cambridge, sob a luz da teoria da demanda por moeda</p><p>de Keynes. Isso representaria o caminho correto para transformá‑la numa teoria da renda nominal.</p><p>Friedman (1985) examinou as mudanças que deveriam ser feitas na teoria da demanda por moeda de</p><p>Cambridge, à luz da teoria da demanda por moeda de Keynes e, então, mostrou como essa versão revista</p><p>da teoria de Cambridge poderia ser transformada em uma teoria da renda nominal. Essa conclusão</p><p>não era possível dentro da teoria de Keynes, pois esse autor adotava o fato de a taxa de juros ser o</p><p>determinante de k, que afetaria o montante de saldos monetários que as pessoas iriam requerer num</p><p>dado nível de renda.</p><p>Assim, ainda nessa concepção de Keynes, mudanças na taxa de juros motivariam alterações na</p><p>velocidade de circulação da moeda, que representaria uma variação em k, que, portanto, não seria uma</p><p>constante, logo a equação de Cambridge não forneceria uma teoria da renda nominal.</p><p>Mas uma das contribuições de Keynes, respectivamente, a ênfase no papel da moeda como um ativo,</p><p>seria aceita por Friedman (1985) no desenvolvimento de sua teoria. Sendo tal ênfase uma de suas bases,</p><p>Friedman (1985) formula sua própria teoria da demanda por moeda. Primeiramente, a renda seria um</p><p>dos determinantes da demanda por moeda, buscando assim uma análise que fornecesse uma teoria</p><p>sobre os fatores que determinariam k, ou seja, os estoques de moedas requeridos como proporção da</p><p>renda nominal.</p><p>Com esse intuito, Friedman (1985) constrói sua função de demanda por moeda que corresponde à</p><p>seguinte expressão:</p><p>Md = L(P, Y, rB, rA, rD)</p><p>Em que:</p><p>P = nível de preço</p><p>Y = renda real</p><p>rB = taxa de juros nominal sobre títulos</p><p>rA = retorno nominal das ações</p><p>rD = retorno nominal dos bens duráveis</p><p>15</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Tal equação implica que a demanda por moeda depende da renda nominal, expressa pelo produto</p><p>dos dois primeiros fatores da função demanda. Dito isso, casos de aumentos na renda nominal levariam</p><p>a elevações da demanda por moeda. Como nos alerta Froyen (2013, p. 238):</p><p>Para um dado nível de renda nominal, Friedman acredita, assim como</p><p>Keynes, que a quantidade de moeda demandada depende da taxa de retorno</p><p>dos outros ativos. A função demanda por moeda é uma simplificação da</p><p>equação de Friedman, e inclui as taxas de retorno das principais alternativas</p><p>à moeda como ativo.</p><p>Dentre as alternativas podem figurar títulos, ações e bens duráveis, que podem compreender bens</p><p>de consumo duráveis, terras e imóveis. No caso dos bens duráveis, seu retorno monetário seria expresso</p><p>pelo aumento esperado no seu preço em determinado horizonte de tempo, diferentemente das outras</p><p>aplicações que são remuneradas por uma taxa de juros explícita.</p><p>Assim, os níveis de preços da economia, ou seja, a taxa esperada de inflação também se torna</p><p>um fator de determinação da demanda por moeda. Por exemplo, um aumento na taxa de retorno de</p><p>qualquer um desses ativos alternativos faz a demanda por moeda declinar.</p><p>Por conta disso, a teoria de Friedman distancia‑se em vários aspectos da teoria de Keynes. Um</p><p>destes aspectos será o fato de Friedman considerar a função demanda por moeda como estável.</p><p>Portanto, as variáveis da equação determinariam a quantidade de moeda que será demandada, logo</p><p>a função de demanda por moeda não necessitaria sofrer deslocamentos. Já para Keynes, a função de</p><p>demanda por moeda apresenta‑se instável, como reflexo das mudanças de confiança por parte dos</p><p>agentes econômicos.</p><p>Friedman (1985) não segmenta a demanda por moeda em componentes que representam saldos para</p><p>transações, demanda especulativa e demanda por precaução. A moeda como um ativo apresenta uma</p><p>série de atributos que expressam sua utilidade, não sendo um artifício proveitoso especificar demandas</p><p>separadas para cada uso da moeda. Por fim, a terceira diferença entre as teorias da demanda por moeda</p><p>de Friedman e Keynes é que o primeiro inclui rendimentos separados para títulos, ações e bens duráveis.</p><p>Keynes centrou‑se somente na escolha entre moeda e títulos. Friedman explicita a possibilidade de</p><p>outras substituições, dentre elas, considerar a substituição direta da demanda por moeda pela demanda</p><p>por bens duráveis atendendo a mudanças nas taxas de retorno.</p><p>Após tais apontamentos, podemos apresentar a reformulação da equação de Cambridge com base</p><p>na teoria da demanda por moeda proposta por Friedman (1985) com base na respectiva expressão:</p><p>Md = k(rB, rA, rD)PY</p><p>Nessa expressão, agora k será representado como uma função das taxas de retorno dos ativos</p><p>alternativos à moeda, e não mais um k constante. Por exemplo, no caso de um aumento na taxa</p><p>de retorno de qualquer um dos ativos alternativos faz k declinar, refletindo um aumento no</p><p>produção (preços e salários) impacta diretamente essa variável, que sofre variações positivas</p><p>e negativas.</p><p>O ciclo real de negócios é uma agenda de pesquisa da Escola de Chicago (EUA), em que duas linhas</p><p>de pensamento econômico, monetaristas (Friedman) e novo‑clássicos (Lucas), formalizam sua estrutura</p><p>teórica, em que temos:</p><p>125</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Y = Yp + ∆ (P – Pe)</p><p>Y = é o produto ou nível de renda da economia;</p><p>Yp = é o produto ou nível de renda da economia de pleno emprego;</p><p>P = é o nível de preços vigente.</p><p>Pe = é o nível de preços esperado.</p><p>A Escola de Chicago faz um contraponto ao referencial teórico keynesiano quando este adota políticas</p><p>econômicas discricionárias para elevar os níveis de produto e renda. A política monetária expansionista</p><p>impacta a produção e o emprego, devido ao fato de os agentes econômicos terem a expectativa de</p><p>preços estáveis e, portanto, fixarem preços e salários com base nessa expectativa. Dada uma elevação</p><p>da base monetária e dado um aumento nominal de preços e salários, os agentes se ajustam à demanda</p><p>e passam a produzir e trabalhar mais.</p><p>O aumento da base monetária pelo Banco Central desloca a demanda agregada para a direita e eleva</p><p>o nível geral de preços, o que não era esperado pelos trabalhadores e empresários, ou seja, os agentes</p><p>erram devido à assimetria de informação e cometem erros de percepção e de análise econômica. O</p><p>aumento de preços é entendido como aumento de preços relativos, e não aumento do nível geral de</p><p>preços, por isso a oferta aumenta.</p><p>Para os trabalhadores, o aumento dos salários nominais é considerado como aumento dos salários</p><p>reais e resulta na oferta de mais horas de trabalho. Na verdade, há uma redução dos salários reais, em</p><p>que as empresas contratam mais trabalhadores e elevam a produção, portanto a flutuação está em</p><p>função da assimetria de informação dos agentes econômicos.</p><p>As flutuações econômicas ocorrem pelo desvio entre o nível de preços efetivo e o nível de preços</p><p>esperado. Caso a variação seja prevista por meio de expectativas racionais, os agentes econômicos</p><p>não aumentam a oferta de produção e trabalho, e a política monetária expansionista perde seu efeito.</p><p>Percebe‑se que se o governo não tivesse adotado uma política econômica, as variáveis se ajustariam via</p><p>preços, sendo a política econômica, ou seja, o governo, o fator de instabilidade da economia.</p><p>A análise do resultado da política econômica pela teoria dos ciclos reais de negócios pode ser feita</p><p>pelo modelo IS‑LM, dadas as curvas IS,Y=C(Y‑T) + I(r) + G, e LM, M/P=Ky‑hi, cujo produto é determinado</p><p>pela oferta agregada composta de capital (K) e trabalho (T), isto é, Y = F(K, N), em que não há expectativa</p><p>de inflação, não havendo necessidade da execução de uma política econômica discricionária.</p><p>No modelo IS‑LM, as variações de preços e os saldos reais definem a posição da LM que sempre</p><p>interceptará a curva IS ao nível de renda de pleno emprego. Se a intersecção IS‑LM for abaixo do</p><p>pleno emprego, haverá queda do nível de preços e elevação dos saldos monetários reais, deslocando</p><p>a LM para a direita até o ponto em que ambas se interceptem no nível de pleno emprego, em que os</p><p>preços se estabilizam.</p><p>126</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>LM</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>LM 2</p><p>IS</p><p>ie</p><p>i2</p><p>Ye Yp</p><p>Figura 32 – Aumento da base monetária no modelo IS‑LM</p><p>A posição da curva IS, que é determinada pela política fiscal, mantém‑se constante. O deslocamento</p><p>da curva LM via variação de preços leva a economia à renda potencial, determinando o produto e a taxa</p><p>de juros. Não houve aumento da oferta de moeda nominal, mas real, devido à queda de preços gerada</p><p>em um contexto de equilíbrio abaixo do pleno emprego.</p><p>Entretanto, os preços e os salários não são flexíveis como se imagina, apresentando certa</p><p>rigidez, conforme afirmam os novo‑keynesianos, pois a queda da demanda agregada não será</p><p>ajustada por queda de preços devido à rigidez, mas pela elevação do desemprego involuntário,</p><p>o que leva ao debate da execução de políticas econômicas para gerar a estabilidade econômica</p><p>por meio de instrumentos fiscais e monetários. São várias as questões colocadas, já que as</p><p>políticas econômicas apresentam limitações no combate aos choques econômicos por causa</p><p>das possibilidades de defasagens. Segundo Lopes e Vasconcellos (2011, p. 256), há dois tipos</p><p>de defasagem:</p><p>Defasagem interna: correspondente ao intervalo de tempo que</p><p>transcorre entre a ocorrência do choque econômico e a ação política por</p><p>parte do governo. Esta defasagem decorre do tempo que se gasta com o</p><p>reconhecimento do choque e com a implementação da política adequada.</p><p>Um ponto relevante na questão do reconhecimento é saber se a perturbação</p><p>econômica é temporária ou permanente. Por temporária entende‑se um</p><p>desvio de rota que logo tende a ser corrigido pelos rumos normais dos</p><p>negócios. Nesse caso, a melhor alternativa pode ser não fazer nada em</p><p>relação ao choque. Caso identifique‑se que o choque seja permanente, a</p><p>alternativa da intervenção pública pode ser mais adequada. Entretanto,</p><p>uma vez reconhecido que o choque seja permanente, tem‑se um segundo</p><p>problema: identifica‑se o choque, estuda‑se a melhor forma de corrigi‑lo</p><p>127</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>para depois implementá‑lo. Tanto a análise da melhor política quanto sua</p><p>implementação demandam tempo.</p><p>Defasagem externa: esta defasagem refere‑se ao intervalo de tempo entre</p><p>a implementação da política e sua repercussão sobre a economia, ou seja,</p><p>até que comece a surtir efeito sobre o desempenho econômico.</p><p>A adoção de uma política econômica, assim como seus resultados, como desemprego e/ou</p><p>inflação, sempre serão objetos de discussão entre os economistas da linha keynesiana, dentre eles os</p><p>novo‑keynesianos, e as correntes monetaristas e novo‑clássicas. Quando se adota uma política econômica,</p><p>ela começará a surtir efeito numa conjuntura econômica, diferente do período de diagnóstico, e a</p><p>causar outros efeitos sobre a economia. Por exemplo, pode‑se adotar uma política econômica com</p><p>objetivos de crescimento econômico e redução do desemprego, entretanto os resultados podem ser de</p><p>endividamento público e inflação.</p><p>A existência de defasagens acaba se tornando um forte argumento para os economistas da Escola</p><p>de Chicago quanto à intervenção do governo, já que pode causar resultados diferentes dos objetivos</p><p>propostos. Ou seja, deixar a economia convergir para o seu equilíbrio de “forma natural”, ou melhor, sem</p><p>a “mão visível” do Estado, e sim por meio de uma “mão invisível” do sistema econômico.</p><p>Entre as políticas fiscal e monetária, a primeira possui uma defasagem interna maior que</p><p>a segunda, que possui uma defasagem externa maior. A implementação da política fiscal não</p><p>depende apenas do governo executivo, diferentemente da política monetária, que é, no Brasil,</p><p>decidida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom/BCB), mas também é</p><p>competência do Poder Legislativo (Congresso Nacional), já que as questões de tributação e de</p><p>gastos públicos devem ser regidas por lei. As decisões tomadas passam a vigorar no ano seguinte</p><p>ao da sua aprovação.</p><p>Ao estudar o modelo keynesiano simples, há alternativas para a redução de defasagens, como o</p><p>estabilizador automático que é a tributação (tY) relacionado ao nível de renda. Portanto, quando o nível</p><p>de renda se eleva, automaticamente, há uma elevação da arrecadação pública, que passa a constituir</p><p>um fundo público para ser utilizado em uma conjuntura de crise econômica por meio de transferências</p><p>(seguro‑desemprego, bolsa de estudos, entre outras) para as famílias manterem seu nível de gastos</p><p>pessoais, e por meio da concessão de subsídios para as empresas, como forma de redução do nível de</p><p>preços e realização da produção,</p><p>para evitar as flutuações econômicas.</p><p>128</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Nível de</p><p>preços (P)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>Y pleno</p><p>emprego</p><p>Aumento da</p><p>arrecadação</p><p>pública</p><p>Aumento dos gastos públicos</p><p>Y efetivo</p><p>Figura 33 – Relação entre a renda de pleno emprego e a efetiva</p><p>Na figura apresentada, temos o nível de renda de pleno emprego ou PIB potencial como</p><p>uma linha que apresenta crescimento linear e constante. Já a segunda linha que apresenta</p><p>flutuações é o nível de renda efetiva ou PIB efetivo. Quando a renda efetiva está acima da linha</p><p>de pleno emprego, significa que a demanda agregada está acima da oferta agregada e resulta</p><p>em uma inflação de demanda. No ponto em que o PIB efetivo está acima do PIB potencial,</p><p>o estabilizador automático eleva a arrecadação do governo devido à elevação do nível de</p><p>renda. Em uma possível queda do nível de atividade, em que o PIB efetivo esteja abaixo do PIB</p><p>potencial, o desemprego poderá se elevar, logo o governo aumenta seus gastos públicos para</p><p>retomar o nível de atividade e reduzir a flutuação econômica com o objetivo de se aproximar</p><p>da situação de estabilidade macroeconômica.</p><p>A existência de defasagens irá depender da capacidade e da competência dos policy makers ou</p><p>gestores de política econômica de fazer um diagnóstico e propor objetivos, metas e resultados esperados</p><p>como forma de tornar a política econômica não apenas eficiente, mas também eficaz, não minimizando</p><p>a tendência de desemprego, mas reduzindo o desemprego, ou não criando uma tendência de queda da</p><p>inflação, mas levando a uma redução contínua e generalizada do nível de preços.</p><p>Para tentar fazer previsão e antecipar as flutuações, utilizam‑se dois tipos de instrumentos da</p><p>análise econômica. O primeiro é a elaboração de indicadores econômicos e sociais, que servem para o</p><p>acompanhamento do comportamento das principais variáveis, por exemplo, o PIB, os índices de preços e</p><p>as taxas de desemprego, para avaliar o nível de atividade econômica. Mas o objetivo é se antecipar com</p><p>indicadores antecedentes. Por isso, temos o PIB trimestral, o índice de preços quinzenal, entre outros.</p><p>Mas podemos criar e analisar indicadores, como a produção de papelão, que é essencial para embalar</p><p>os produtos novos, o nível de compras no setor de serviços (atacado e varejo) e as expectativas dos</p><p>consumidores e dos empresários, como forma de criar um cenário otimista para prever as variáveis de</p><p>consumo e investimento futuros.</p><p>129</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>O segundo instrumento é a criação de cenários econômicos por meio da análise de conjuntura, cuja</p><p>formação, geralmente de economistas, leva o conhecimento técnico para a construção de modelos</p><p>econômicos que trabalham com variáveis endógenas e variáveis exógenas, cujos valores buscamos</p><p>determinar. Por meio da construção de coeficientes e parâmetros estatísticos, busca‑se entender o</p><p>comportamento das variáveis, ou seja, o cálculo dos coeficientes e a estimação de parâmetros permitem</p><p>relacionar as variáveis. A partir disso, formulam‑se as hipóteses sobre o comportamento das variáveis e</p><p>elaboram‑se as suposições com base no diagnóstico de comportamento dos agentes econômicos.</p><p>Mesmo levando em conta questões técnicas e fundamentadas em história e teoria econômica, o</p><p>debate continua. Entre outros questionamentos sobre a formulação e a implementação de políticas</p><p>econômicas, segue a pergunta: o governo deve adotar critérios por meio de um conjunto de regras? Por</p><p>exemplo, se o PIB cresceu 5% no ano, o Banco Central deve elevar a base monetária em 5% no mesmo</p><p>ano e evitar um crescimento monetário nominal? Ou o Banco Central adota uma atuação discricionária</p><p>e arbitrária ao perceber que o PIB apresenta tendência de queda e eleva a base monetária em 5% como</p><p>forma de elevar a liquidez e o crédito na economia, cujo objetivo seria elevar o consumo e o investimento</p><p>para evitar a flutuação econômica? Segundo Lopes e Vasconcellos (2011, p. 258), há algumas críticas às</p><p>políticas discricionárias:</p><p>a) Problemas de arbitrariedade</p><p>Incompetência: o processo político é aleatório, e não tem como separar</p><p>sugestões de charlatões das de economistas competentes. Muitas vezes</p><p>o proponente da política econômica não possui condições de avaliar</p><p>satisfatoriamente o que deve ser feito;</p><p>Oportunismo: os responsáveis pela política econômica podem ter interesses</p><p>que entram em choque com o bem‑estar social, por exemplo, fins eleitoreiros,</p><p>ou mesmo interesses pessoais. Isto acontece em situações em que existem</p><p>órgãos reguladores de determinadas atividades, mas permite‑se que o</p><p>agente regulador/fiscalizador seja capturado pelo regulado/fiscalizado; por</p><p>exemplo, diretores do Banco Central que possuem interesses conjuntos com</p><p>o sistema bancário: pode‑se sujeitar a política monetária aos interesses</p><p>dos bancos. Outro exemplo refere‑se ao chamado ciclo político, pelo qual</p><p>a política econômica do governo depende do estágio do mandato em que</p><p>se encontra e adota políticas austeras contra a inflação nos primeiros anos</p><p>para liberar no período final, de modo a gerar mais emprego e expansão</p><p>econômica para conseguir se reeleger.</p><p>b) Inconsistência temporal das políticas discricionárias</p><p>A questão, nesse sentido, refere‑se ao incentivo do governo em manter</p><p>políticas anunciadas. O governo pode, por exemplo, anunciar forte controle</p><p>monetário e dos gastos públicos com antecedência, como parte de um plano</p><p>de combate à inflação. Uma vez feito o anúncio, isto afetará as expectativas</p><p>130</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>dos agentes que reverão suas estimativas. Com isso, se os agentes acreditarem</p><p>nas propostas do governo, independente deste cumpri‑las, a inflação tende</p><p>a ceder. Contudo, uma vez que o governo tenha atingido o objetivo a que se</p><p>propunha, mesmo sem efetivar as medidas, por que tomá‑las e arcar com o</p><p>ônus político da recessão? Ou seja, uma vez conseguido o objetivo, tem‑se</p><p>um estímulo a renegar a política anunciada.</p><p>Percebe‑se que há uma discussão entre as várias escolas e correntes de economistas. O debate atual</p><p>entre a Escola de Chicago (monetaristas e novo‑clássicos) e a corrente keynesiana, principalmente os</p><p>pós‑keynesianos e os novo‑keynesianos, tem se mostrado bastante frutífero para a teoria econômica</p><p>que busca entender as flutuações e a estabilidade econômicas. A microeconomia é um campo de estudo</p><p>econômico cuja relação com a macroeconomia é fundamentar a análise por meio de fundamentos</p><p>microeconômicos ou microfundamentos como forma de exigir mais técnica e competência da ciência</p><p>econômica. Temos de adotar tais ferramentas metodológicas visando entender o sistema econômico e</p><p>seus agentes, com o objetivo maior do bem‑estar econômico e social.</p><p>7.2 Consumo, investimento e governo: a utilização de fundamentos</p><p>microeconômicos por meio da escolha intertemporal para o crescimento</p><p>econômico</p><p>A evolução recente da macroeconomia tem aprofundado os fundamentos microeconômicos como</p><p>forma de desenvolver a teoria econômica a partir de um modelo que permita uma análise econômica das</p><p>políticas macroeconômicas com maior eficácia. Levando em conta não somente as variáveis agregadas,</p><p>mas considerando também como cada agente econômico toma decisão em suas escolhas no dia a dia,</p><p>por exemplo: consumir ou aplicar sua renda? Comprar ou financiar uma residência? Dessa forma, temos</p><p>a renda permanente, o ciclo de vida e a escolha intertemporal como conceitos relevantes para analisar</p><p>a macroeconomia e seus fundamentos.</p><p>7.2.1 Consumo e escolha intertemporal</p><p>Para os policy makers, o consumo agregado é um dos principais determinantes do produto e da</p><p>renda, pois em alguns países representa mais de 60% do PIB. Com a evolução da contabilidade social, a</p><p>teoria econômica keynesiana procurou estudar os principais determinantes do produto interno</p><p>bruto,</p><p>em que faz a seguinte análise: quanto maior o nível de renda, maior será o consumo agregado. Keynes</p><p>(1936) estruturou a sua função consumo da seguinte forma:</p><p>C= Ct + cY, em que:</p><p>Ct > 0 e 0<c<1</p><p>Sabendo que:</p><p>C = consumo agregado;</p><p>131</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Y = nível de renda agregada;</p><p>Ct = consumo autônomo que independe do nível de renda;</p><p>c = propensão marginal a consumir.</p><p>C</p><p>Ct</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>cY</p><p>Figura 34 – Função consumo keynesiana</p><p>O consumo, ao depender da renda, leva a política fiscal a apresentar eficácia sobre a renda, isto</p><p>é, o governo pode, por meio dos instrumentos fiscais, elevar e reduzir a renda, além de poder elevar</p><p>o efeito multiplicador. Os estudos de Keynes sobre o consumo também permitiram analisar que a</p><p>razão entre os níveis de consumo e renda forma a propensão média a consumir. Um aumento da</p><p>renda faz essa propensão cair, ou seja, há uma parte das famílias que apresenta renda mais elevada</p><p>e que possui uma propensão marginal mais elevada a poupar, isto é, troca o consumo presente pelo</p><p>consumo futuro. Entretanto, a análise keynesiana é de curto prazo, e vários estudos surgiram no</p><p>século XX, procurando verificar a relação entre consumo e renda. Segundo Lopes e Vasconcellos</p><p>(2011, p. 263‑264):</p><p>Com o desenvolvimento de técnicas econométricas, não tardaram a aparecer</p><p>trabalhos empíricos objetivando testar a função consumo keynesiana. Um</p><p>dos estudos mais importantes deve‑se ao economista Simon Kuznets que,</p><p>com base em série temporal para o período de 1869 a 1938, verificou</p><p>uma proporcionalidade entre renda e consumo, rejeitando a hipótese de</p><p>a propensão média a consumir ser decrescente em relação à renda. Essa</p><p>evidência sugeria que, a longo prazo, a função consumo se comportaria</p><p>diferentemente da análise keynesiana.</p><p>Sobre as explicações referentes à função consumo de curto prazo e a de longo prazo, sabemos que</p><p>a função de curto prazo tem como base a renda das classes sociais e seus orçamentos familiares no</p><p>132</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>período de um ano. Já a função consumo de longo prazo tem como base a renda e os gastos familiares</p><p>de determinados períodos de tempo maiores que um ano, denominados séries de tempo, isto é, a soma</p><p>de dois anos ou mais.</p><p>C</p><p>Ct</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>função consumo de longo prazo</p><p>função consumo de curto prazo</p><p>Figura 35 – Funções consumo de curto e de longo prazos</p><p>Consumo por</p><p>classes de renda</p><p>Y = Classes de renda</p><p>C</p><p>Figura 36 – Função consumo com base em orçamentos familiares</p><p>133</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Consumo anual</p><p>C</p><p>Ct</p><p>Y = anos</p><p>Figura 37 – Função consumo por séries de tempo</p><p>A função consumo de curto prazo e com base em orçamentos familiares demonstra que quanto</p><p>maior a renda, maior será o consumo. Entretanto, em classes sociais com níveis de renda mais elevados,</p><p>o consumo apresenta variação com taxas decrescentes porque, nessas classes sociais, há maior</p><p>propensão a poupar do que a consumir. Já sobre a função consumo de longo prazo, os estudos empíricos</p><p>demonstram que é uma curva linear, cuja propensão marginal e média ao consumo são idênticas e</p><p>constantes, mas a única diferença reside no ponto de origem.</p><p>De acordo com a decisão das famílias de quanto consumir e poupar hoje se constitui a</p><p>abordagem do consumo intertemporal, isto é, a decisão do consumo presente (Ct) ou do consumo</p><p>futuro (Ct+1). Essa é uma análise que podemos estender para os agentes econômicos superavitários</p><p>que gastam menos do que ganham e os agentes superavitários que gastam mais do que ganham,</p><p>ou seja, elevam o consumo presente e comprometem a capacidade de consumo futuro devido à</p><p>restrição orçamentária intertemporal.</p><p>Ao partir da suposição de que as famílias alocam o consumo e a poupança entre presente (t) e futuro</p><p>(t+1), considera‑se que Yt e Ct sejam a renda e o consumo no presente e Yt+1 e Ct+1 a renda e o consumo</p><p>no futuro. Agora, vamos supor a possibilidade de se fazer empréstimos bancários. O nível de poupança</p><p>no presente pode ser formalizado assim:</p><p>St = Yt – Ct</p><p>No período futuro, o consumo é dado da seguinte forma:</p><p>C t+1 = (1+r).S + Y t+1</p><p>Em que r representa a taxa de juros real. Ao combinar as duas equações, temos:</p><p>C2 t+1 = (1+r).(Yt – Ct) + Y t+1</p><p>134</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Agora, isolamos Ct e C t+1 e dividimos ambos os lados do resultado por (1+r), chegando a:</p><p>Ct + C t+1 / (1 + r) = Yt + Yt+1 / (1 + r)</p><p>Esta última equação representa a restrição orçamentária intertemporal do consumidor, isto é, um</p><p>limite para consumir no presente e no futuro, em que a taxa de juros é um fator (1 + r) que iguala a</p><p>renda em ambos os períodos. O lado direito da equação representa a riqueza da família no presente.</p><p>Na figura a seguir, o ponto A representa o consumo de toda a renda no período presente. Como</p><p>a renda é toda consumida, não há poupança, e a renda no período futuro é igual à renda no período</p><p>presente. No ponto B, há poupança no período presente, o que eleva a capacidade de consumo no</p><p>período futuro. Já no ponto C, o consumo é maior que a renda presente, devido à possibilidade de</p><p>empréstimos bancários, fato que reduz o consumo futuro em razão da dívida contraída.</p><p>B</p><p>A</p><p>C</p><p>Ct+1</p><p>Ct</p><p>Y t+1</p><p>Yt</p><p>Figura 38 – Restrição orçamentária intertemporal</p><p>O agente econômico, neste caso, as famílias, faz escolhas por meio de suas preferências de como</p><p>alocar o consumo, isto é, quanto consumir nos períodos presente e futuro. Essa escolha é representada</p><p>por curvas de indiferença que são convexas, em que todos os pontos da curva de indiferença futura</p><p>(Ut+1) são melhores que os pontos da curva de indiferença presente (Ut).</p><p>135</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>B</p><p>A</p><p>Consumo no</p><p>período t+1</p><p>Consumo no</p><p>período t</p><p>Ut</p><p>Ut+1</p><p>Figura 39 – Preferências do consumidor</p><p>Ao combinar a curva de indiferença com a restrição orçamentária, chega‑se ao equilíbrio no ponto E,</p><p>em que a curva de indiferença tangencia a restrição orçamentária intertemporal. A partir do equilíbrio,</p><p>há como analisar de que modo a elevação da renda impacta o consumo.</p><p>R</p><p>E</p><p>Ct+1</p><p>Ct</p><p>Figura 40 – Equilíbrio do consumidor</p><p>Um aumento da renda presente desloca a restrição orçamentária para cima, o que irá elevar a renda</p><p>e o consumo no período futuro.</p><p>136</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Rt Ut</p><p>Ut+1</p><p>Rt+1</p><p>Ct+1</p><p>Ct</p><p>Figura 41 – Aumento da renda intertemporal</p><p>Mudanças na taxa de juros provocam mudanças no consumo. Uma elevação da taxa de juros</p><p>provoca um aumento do consumo no período futuro e resulta no efeito renda. O aumento da taxa</p><p>de juros faz o poder de comprar ser maior no período futuro do que no período presente, portanto o</p><p>consumo será realizado no futuro devido ao efeito substituição. O efeito total se dá pelos dois efeitos</p><p>juntos.</p><p>Rt</p><p>–(1+rt+1) –(1+rt)</p><p>Rt+1</p><p>Ct+1</p><p>Ct</p><p>Figura 42 – Aumento da taxa de juros intertemporal</p><p>A hipótese da renda permanente dentro da teoria do consumo na escolha intertemporal representa</p><p>a decisão das famílias de manter um padrão de consumo estável em todos os períodos de tempo, aqui,</p><p>presente e futuro. Isso ocorre devido às expectativas que os agentes econômicos têm do futuro, pois</p><p>em momentos de crescimento econômico e emprego, as famílias poupam, e em momentos de crise e</p><p>desemprego, as famílias realizam a despoupança.</p><p>137</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Além da hipótese da renda permanente, há o modelo do ciclo de vida dentro da escolha intertemporal,</p><p>em que as famílias escolhem o quanto poupar e o quanto consumir conforme suas</p><p>expectativas e seu</p><p>nível de renda ao longo da vida. Como há uma tendência de baixa renda, aumento e queda da renda</p><p>ao longo do tempo e da vida, há uma escolha intertemporal entre presente e futuro, seja por meio de</p><p>uma poupança espontânea, por exemplo, os planos de previdência privada, seja por meio da poupança</p><p>compulsória, por exemplo, a poupança pública por meio da contribuição previdenciária descontada,</p><p>geralmente, em folha de pagamento.</p><p>7.2.2 Investimento e a decisão de investir</p><p>A variável investimento (I) no sentido econômico representa produção e emprego. Ela é composta</p><p>da formação bruta de capital fixo e da variação de estoques, cujo impacto é a elevação da capacidade</p><p>produtiva da economia. A curto prazo, o investimento representa demanda agregada, ou seja, gastos</p><p>com máquinas, equipamentos, imóveis, construção civil, entre outros, e a longo prazo representa a</p><p>oferta agregada, isto é, a capacidade de produção.</p><p>Portanto, ao calcular a taxa de acumulação de capital, estamos analisando o incremento do estoque</p><p>de capital na economia. Tanto nas contas nacionais do Brasil como no balancete das empresas, existe</p><p>o valor da depreciação, que é o valor para a reposição de capital devido ao seu desgaste. Podemos</p><p>formalizar o investimento assim:</p><p>I bruto = I líquido + d.K, em que:</p><p>I bruto = investimento bruto;</p><p>I líquido = investimento líquido;</p><p>D = taxa de depreciação;</p><p>K = estoque de capital.</p><p>As empresas tomam as decisões sobre os investimentos com base em expectativas sobre o futuro</p><p>e têm de ser alinhadas com as decisões das famílias em suas escolhas intertemporais sobre o consumo</p><p>presente e o futuro. Tanto as empresas como as famílias podem decidir como utilizar sua renda entre</p><p>consumo, investimento e aplicação em ativos financeiros. Conforme o modelo de alocação intertemporal,</p><p>a poupança pode ser formalizada assim:</p><p>St = Yt + Ct</p><p>Onde St, Yt e Ct representam a poupança, a renda e o consumo no período presente. A poupança</p><p>no período presente pode ser alocada entre ativos financeiros (Bt) e investimento (It), agora da</p><p>seguinte forma:</p><p>St = Bt + It</p><p>138</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>No período futuro, o consumo é dado por:</p><p>Ct+1 = Yt+1 + (1 + r). Bt</p><p>Ao combinar as três equações, temos:</p><p>C t+1 = Y t+1 + ( 1+ r).(Yt – Ct – It)</p><p>Ao isolar Ct e Ct+1 e dividir ambos os lados por (1 + r), temos:</p><p>Ct + C t+1 / (1 + r) = (Yt – It) + Yt+1 / (1 + r)</p><p>Que representa a restrição orçamentária intertemporal, considerando o investimento. O ponto de</p><p>maximização do retorno ao fazer a alocação intertemporal será quando a produtividade do capital (Pmg</p><p>K) for igual à taxa de juros real (1+r), isto é:</p><p>Pmg K = (1+r)</p><p>Segundo Lopes e Vasconcellos (2011, p. 275‑276), há outra importante contribuição sobre a decisão</p><p>de investir que foi desenvolvida por James Tobin (1960), conhecida como Teoria q, que é a razão entre o</p><p>valor de mercado do capital instalado, avaliado pelo mercado de ações, e o custo de reposição do capital</p><p>instalado. Tobin, ao afirmar que as empresas consideram em suas decisões de investimento a variável q,</p><p>faz a seguinte análise:</p><p>Se o valor da empresa avaliado pelo mercado acionário for igual ao custo</p><p>de reposição de seu capital instalado, temos que q = 1. Se q > 1, o mercado</p><p>acionário está valorizando a empresa mais do que ela vale em termos de</p><p>reposição do capital instalado. Segundo a análise de Tobin, o investimento</p><p>depende de q ser maior ou menor do que a unidade. Se q > 1, vale a pena</p><p>investir, pois a valorização da empresa no mercado mais do que compensa o</p><p>custo de se aumentar o estoque de capital. De forma análoga, se q < 1, não</p><p>haverá incentivos ao investimento.</p><p>A teoria de James Tobin revela que os empresários fazem uma análise de custo de oportunidade ao</p><p>relacionar a aplicação financeira no mercado de ações ou realizar investimentos produtivos na economia.</p><p>7.2.3 Governo e restrição orçamentária intertemporal</p><p>O governo tem como fonte de sua receita pública impostos diretos, impostos indiretos, contribuições</p><p>e outras receitas. Já os gastos públicos englobam as despesas correntes ou custeio, transferências e</p><p>subsídios, e os gastos com as empresas públicas.</p><p>A carga tributária bruta é a arrecadação pública por meio do total de impostos que ao subtrairmos</p><p>as transferências como serviços da dívida pública (pagamento de juros), gastos com seguridade social e</p><p>139</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>subsídios, resulta na carga tributária líquida ou receita corrente líquida, que dá condições para pagar as</p><p>despesas correntes ou o consumo do governo. A diferença entre a receita corrente líquida e a despesa</p><p>corrente forma a poupança corrente do governo.</p><p>A poupança corrente do governo é utilizada para os investimentos públicos. Caso os gastos com</p><p>investimento superem a poupança pública, estamos diante de um déficit público que será financiado</p><p>por meio da venda de títulos públicos. Essa forma de financiamento leva ao endividamento público por</p><p>meio da rolagem da dívida, isto é, o pagamento dos juros, na maioria dos casos sem amortização do</p><p>principal, o que eleva o estoque e o fluxo da dívida pública, e à necessidade de elevação da arrecadação</p><p>pública para pagar o déficit público.</p><p>No Brasil, temos três conceitos que medem o déficit público, conhecido como necessidade de</p><p>financiamento do setor público (NFSP), são eles:</p><p>A) Necessidade de Financiamento do Setor Público conceito nominal (NFSP cn)</p><p>NFSP cn = G – T + i B</p><p>Sendo:</p><p>G = gasto não financeiro;</p><p>T = arrecadação não financeira;</p><p>B = estoque da dívida pública;</p><p>i = taxa de juros nominais, inclui a correção monetária.</p><p>B) Necessidade de Financiamento do Setor Público Operacional (NFSP co)</p><p>NFSP = G – T + r B</p><p>Sendo:</p><p>G = gasto não financeiro;</p><p>T = arrecadação não financeira;</p><p>B = estoque da dívida pública;</p><p>r = taxa de juros real, exclui a inflação.</p><p>C) Necessidade de Financiamento do Setor Público Primário (NFSP cp)</p><p>140</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>NFSP cp = G – T</p><p>Sendo:</p><p>G = gasto não financeiro;</p><p>T = arrecadação não financeira.</p><p>A NFSP cn leva em conta a taxa de juros nominal que é a base de remuneração do estoque da dívida</p><p>pública. Em um contexto com elevada inflação o resultado nominal não apresenta fundamentos, passando</p><p>a haver a necessidade de eliminar a inflação, isto é, trabalhar com a taxa de juros real, ou seja, subtraindo</p><p>da taxa de juros nominal a inflação, para chegar ao resultado operacional (NFSP co). Já o conceito primário</p><p>(NFSP cp) é a diferença entre gastos e receitas públicas correntes ou não financeiros, isto é, exclui as</p><p>despesa com juros. Se essa subtração der um resultado negativo, significará um superávit fiscal (G –T).</p><p>Observação</p><p>A necessidade de financiamento do setor público (NFSP) representa</p><p>o resultado fiscal de tudo o que foi gasto e recebido pelo setor público.</p><p>Nos gastos do governo, temos os gastos não financeiros, como folha de</p><p>pagamento do funcionalismo, material de escritório, aluguéis, manutenção,</p><p>combustível, entre outros. Já os gastos financeiros do setor público são,</p><p>basicamente, o pagamento de juros, principalmente da dívida pública.</p><p>Exemplo</p><p>Vamos supor que a receita do governo (T) seja $ 1.000, os gastos do governo (G) sejam $ 800, o</p><p>estoque da dívida pública seja $ 10.000, os juros nominais (i) sejam 15% e a inflação (π) seja de 10%.</p><p>Quais são os resultados primário, operacional e nominal do governo?</p><p>Podemos calcular o resultado primário da seguinte forma:</p><p>NFSP cp = G – T</p><p>NFSP cp = $ 800 – $ 1.000</p><p>NFSP cp = – $ 200</p><p>Cabe uma observação aqui sobre o resultado negativo, que demonstra que o governo gastou menos</p><p>do que arrecadou, ou seja, o resultado negativo significa um superávit fiscal.</p><p>O resultado operacional é aquele que exclui a inflação, isto é, considera‑se a taxa de juros real, que é o</p><p>resultado da taxa</p><p>de juros nominal (15%) menos a inflação (10%) e pode ser calculado da seguinte forma:</p><p>141</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>NFSP co = G – T + r B</p><p>NFSP co = $ 800 – $ 1.000 + ($ 10.000x0,05)</p><p>NFSP co = ‑$ 200 + $500</p><p>NFSP co = $ 300</p><p>O resultado positivo demonstra que o governo gastou mais do que arrecadou, ou seja, o resultado</p><p>positivo significa um déficit fiscal devido ao pagamento de juros da dívida.</p><p>Já o resultado nominal é aquele que leva em conta a inflação, isto é, considera a taxa de juros</p><p>nominal (15%) e pode ser calculado da seguinte forma:</p><p>NFSP cn = G – T + i B</p><p>NFSP cn = $ 800 – $ 1.000 + ($ 10.000 x 0,15)</p><p>NFSP cn = ‑$ 200 + $1.500</p><p>NFSP cn = $ 1.300</p><p>O resultado positivo demonstra que o governo gastou mais do que arrecadou, ou seja, o resultado</p><p>positivo significa um déficit fiscal devido ao pagamento de juros da dívida.</p><p>Restrição orçamentária intertemporal</p><p>Sabe‑se que uma política fiscal expansionista por meio da redução de impostos eleva a renda</p><p>disponível dos agentes econômicos e seu nível de consumo, que somado ao efeito multiplicador,</p><p>possibilita uma tendência de crescimento econômico.</p><p>Entretanto, a redução de impostos pelo governo poderá ser financiada via endividamento público</p><p>com vencimento futuro, cuja carga tributária apresentará uma tendência de crescimento.</p><p>A partir da restrição orçamentária intertemporal, a política fiscal expansionista poderá será anulada,</p><p>pois os agentes econômicos têm a expectativa de que a elevação dos gastos públicos no período presente</p><p>signifique uma elevação da carga tributária no período futuro. Portanto, os agentes econômicos passam</p><p>a economizar o valor da redução dos impostos para pagar o aumento desses impostos no período</p><p>futuro. Essa forma de decisão é denominada equivalência ricardiana.</p><p>A questão do déficit público em que o governo poderá incorrer pode ser analisada a partir de dois</p><p>períodos (presente e futuro), ao se simplificar o conceito de déficit público (NFSP) da seguinte forma:</p><p>NFSP = G</p><p>t – Tt</p><p>142</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Em que:</p><p>NFSP = é a necessidade de financiamento do setor público;</p><p>Gt = são os gastos do governo no período presente;</p><p>Tt = é a arrecadação do governo no período presente.</p><p>Vamos considerar que o governo irá financiar o déficit público por meio da venda de títulos públicos,</p><p>cuja arrecadação de impostos no período futuro poderá ser suficiente para liquidar a dívida pública e as</p><p>despesas correntes, isto é:</p><p>Tt+1 = (1 + r).D + G t+1</p><p>A letra r representa a taxa de juros real que remunera os títulos públicos. Ao considerar as duas</p><p>equações, isolando T t e T t+1, e dividindo por (1 + r), temos:</p><p>T t + T t+1 / (1 + r) = G1 + G t+1 / (1 + r)</p><p>Essa equação resulta na restrição orçamentária intertemporal do governo que afirma o seguinte:</p><p>dado um corte nos impostos no primeiro período (∆T), sem uma redução dos gastos públicos, haverá a</p><p>necessidade de uma elevação dos impostos no período futuro em (1 + r):</p><p>∆T.(1 + r)</p><p>Vamos considerar a restrição orçamentária intertemporal dos agentes econômicos em dois períodos</p><p>(presente e futuro), mas agora incluindo os impostos:</p><p>C t + C t+1 / (1 + r) = (Y t – T t) + [(Y t+1 – t+1 / (1 + r)]</p><p>Rearranjando os termos:</p><p>C t + C t+1 / (1 + r) = Y t + Y t+1 / (1 + r) – [(T1 t – T t+1) / (1 + r)]</p><p>Percebe‑se que o nível de consumo permanente dos agentes econômicos deve ser igual ao</p><p>valor presente da produção menos o valor presente dos impostos. A restrição orçamentária</p><p>intertemporal dos agentes econômicos em dois períodos (presente e futuro) conclui o seguinte:</p><p>se a carga tributária for reduzida no período presente (∆T), em que se tenha uma restrição</p><p>orçamentária intertemporal do governo, haverá elevação dos impostos no período futuro em</p><p>∆T.(1 + r) e não haverá alteração no consumo dos agentes econômicos no período presente,</p><p>portanto os agentes econômicos passarão a economizar o valor da redução dos impostos para</p><p>pagar o aumento futuro destes.</p><p>143</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Impostos e inflação como fontes de receita pública</p><p>Os impostos são a principal fonte de receita do governo. Entretanto, determinar uma carga tributária</p><p>eficiente é um dos desafios do setor público. Para fazer uma análise, temos a curva de Laffer, que</p><p>demonstra a relação entre a receita tributária e a taxa de impostos. O gráfico apresentado na figura a</p><p>seguir demonstra que um aumento na taxa de impostos elevará a receita pública a um ponto máximo,</p><p>mas caso a taxa continue crescendo, haverá redução da receita pública.</p><p>Receita</p><p>tributária</p><p>(T)</p><p>Taxa de</p><p>impostos</p><p>(t)</p><p>t máxima</p><p>Figura 43 – Curva de Laffer</p><p>O aumento de impostos pode levar as pessoas a trocar horas de trabalho por horas de lazer. Uma</p><p>carga de impostos muito elevada poderá levar à evasão fiscal devido à elevação da sonegação. Portanto,</p><p>uma carga tributária ótima (t máxima) é uma forma de elevar a receita e reduzir a evasão fiscal.</p><p>Outra alternativa para elevação da receita é o imposto inflacionário, isto é, aumento da emissão de</p><p>moeda nominal (senhoriagem) que provocará elevação do nível de preços e queda dos valores reais e do</p><p>poder aquisitivo. Podemos formalizar o imposto inflacionário assim:</p><p>Imposto Inflacionário = πe . (∆L/P)d</p><p>Em que:</p><p>πe = inflação esperada;</p><p>(∆L/P)d = demanda por moeda.</p><p>Da mesma forma que analisamos a carga tributária com uma alíquota máxima, a receita por meio do</p><p>imposto inflacionário apresenta limites, pois a emissão de moeda ou o aumento nominal da quantidade</p><p>144</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>de moeda em circulação eleva a taxa de inflação e desvaloriza a moeda, o que faz os agentes econômicos</p><p>reduzirem a demanda por moeda (L).</p><p>Portanto, há um imposto inflacionário máximo que está relacionado com a taxa de inflação (π). Ao</p><p>passar desse ponto máximo, decresce a receita advinda do imposto inflacionário, havendo a necessidade</p><p>de nova emissão de moeda e a possibilidade de um descontrole de aumento da base monetária que</p><p>poderá resultar em uma hiperinflação.</p><p>8 AVANÇOS RECENTES: A CONTRIBUIÇÃO DA MACROECONOMIA DA</p><p>DEMANDA EFETIVA</p><p>Nos últimos anos, as abordagens críticas da teoria dominante na economia desenvolveram novas formas</p><p>de pensar a macroeconomia através do resgate de autores com importantes contribuições para essa ciência.</p><p>A partir desse esforço foram revisitados e reformulados os principais pontos sobre os condicionantes da</p><p>trajetória das principais variáveis macroeconômicas, dentre elas o produto, a renda e o emprego.</p><p>Numa dessas abordagens heterodoxas, temos um modelo que tem como base o resgate da abordagem</p><p>clássica do excedente, originada pelo economista Piero Sraffa, que segue sendo desenvolvida por autores</p><p>ligados à escola de Cambridge, no Reino Unido. Em linhas gerais, este projeto pode ser resumido em</p><p>três pontos: o primeiro, uma crítica à teoria marginalista baseada no princípio da substituição, também</p><p>denominado utilidade, que trata o capital com as mesmas características dos fatores não reprodutíveis,</p><p>como o trabalho e a terra.</p><p>O segundo ponto está no resgate da teoria geral do valor e da distribuição com base no conceito</p><p>de excedente, possibilitando uma teoria objetiva dos preços relativos que reflita as reais condições</p><p>técnicas de produção e os mecanismos de distribuição de renda. O terceiro ponto consiste em integrar</p><p>na análise o princípio da demanda efetiva buscando uma ponte entre as teorias keynesiana‑kaleckiana</p><p>e o conceito de excedente. Nesse ponto, tal elo permite entender as flutuações da economia a curto</p><p>prazo, mas também o processo de acumulação de longo prazo.</p><p>Ficará claro ao longo da apresentação o papel central da demanda efetiva, considerada a</p><p>determinante do nível de produção, mesmo a longo prazo, sendo, portanto,</p><p>a sua expansão necessária</p><p>para o crescimento dos investimentos e da capacidade produtiva.</p><p>Veremos ao longo deste modelo, como descreve Serrano (2001, p. 3):</p><p>[...] o papel central que o gasto improdutivo desempenha como</p><p>estímulo à acumulação, através de uma análise baseada num modelo do</p><p>supermultiplicador clássico ou Sraffiano, um esquema onde a distribuição é</p><p>exógena ao processo de acumulação e a economia cresce puxada pelo efeito</p><p>acelerador e multiplicador da expansão do consumo improdutivo.</p><p>Em outras palavras, busca mostrar a importância da ideia de investimento autônomo com base nas</p><p>inovações na dinâmica do crescimento econômico em uma dada economia; além disso, ressaltar que</p><p>145</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>o mecanismo do investimento induzido e do supermultiplicador consistem no esquema teórico mais</p><p>adequado para analisar o efeito da expansão do gasto improdutivo autônomo sobre o processo de</p><p>acumulação de capital.</p><p>Para chegarmos a essa síntese teórica, vários conceitos são retomados dentro da discussão</p><p>macroeconômica e reavaliados à luz da abordagem do excedente, com o intuito de ressaltar as deficiências</p><p>da teoria neoclássica e pós‑keynesiana na explicação da dinâmica das economias capitalistas.</p><p>8.1 Distribuição de renda e acumulação do capital</p><p>Nessa vertente teórica o exame sobre a ligação entre o processo de distribuição de renda e de</p><p>acumulação de capital se faz presente. Isso prescinde de uma breve descrição da abordagem clássica</p><p>do excedente como base para uma teoria “objetiva” dos preços relativos, em que preços competitivos</p><p>reflitam as condições técnicas de produção e os mecanismos de distribuição de renda.</p><p>A abordagem que iremos apresentar contrasta com a definida pelos modelos neoclássicos. Em termos</p><p>gerais, as teorias neoclássicas que explicam os fenômenos de crescimento econômicos seriam aquelas em</p><p>que todos os fatores de produção tendem a ser plenamente utilizados através da combinação da noção</p><p>de substituição de fatores com flexibilidade de seus preços, ou seja, em situação de pleno emprego, que</p><p>se classificaria em dois grandes grupos.</p><p>No primeiro grupo teríamos as teorias neoclássicas do crescimento exógeno, que são aquelas em que</p><p>a acumulação de capital tem retornos marginais decrescentes. No outro grupo, as teorias neoclássicas</p><p>do crescimento endógeno em que, apesar de os preços dos fatores continuarem a ser determinados por</p><p>funções de oferta e demanda baseadas no princípio de substituição, por uma série de motivos, os fatores</p><p>de produção que podem ser acumulados não têm retornos marginais decrescentes, e sim constantes.</p><p>Partindo desses pressupostos, tais modelos neoclássicos teriam dificuldades em explicar teoricamente</p><p>e empiricamente duas fortes associações da dinâmica econômica: a relação entre taxas de investimento</p><p>em capital fixo e taxa de crescimento do produto e, posteriormente, a relação entre taxas de investimento</p><p>e taxa de crescimento do produto per capita ou por trabalhador.</p><p>Do ponto de vista teórico, as críticas mais importantes que foram feitas às teorias neoclássicas do</p><p>crescimento corresponderam à crítica monetária e externa. Baseadas nas teorias de Keynes e Kalecki, em</p><p>que taxa de juros exprime um fenômeno estritamente monetário e uma crítica real e interna à noção</p><p>de substituição de fatores de produção relacionada às dificuldades de tratar o capital como um fator de</p><p>produção idêntico aos demais, levantada por Piero Sraffa. Tais teorias denominaremos pertencentes ao</p><p>conjunto de teorias heterodoxas de crescimento.</p><p>Claro que há muitas diferenças entre as teorias heterodoxas do crescimento, pois por serem</p><p>heterodoxas notadamente são menos homogêneas entre si. Mas, apesar disso, existem dois aspectos</p><p>gerais em comum a estas teorias em contraposição às teorias neoclássicas, já que advogam pela</p><p>determinação assimétrica da distribuição a partir do princípio clássico do excedente e pela ausência do</p><p>princípio de pleno emprego da força de trabalho.</p><p>146</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Da noção clássica do excedente, todas as teorias heterodoxas do crescimento herdaram a ideia de uma</p><p>relação inversa entre as rendas da propriedade em geral e o nível do salário real, para uma determinada</p><p>técnica dada. Essa relação inversa leva a uma determinação assimétrica da distribuição quando uma das</p><p>variáveis distributivas é determinada exogenamente e a outra seria ajustada residualmente.</p><p>Nesse caso, adotariam a noção de o capital e o trabalho serem fatores complementares, e que a</p><p>oferta de trabalho tende a se ajustar às necessidades da acumulação de capital. Tal situação origina‑se</p><p>de uma série de processos como a estrutura do mercado de trabalho – a divisão entre o mercado</p><p>formal e o informal –, mudanças na taxa de participação de distintos grupos sociais ou, finalmente,</p><p>migrações internas e internacionais. Concomitantemente, a necessidade de mão de obra se reduz devido</p><p>ao crescimento da produtividade, compreendido como parcialmente endógeno e em função da própria</p><p>acumulação de capital.</p><p>Como o trabalho não é visto como um fator destinado à escassez, o produto potencial da economia</p><p>é limitado basicamente pelo estoque de capital acumulado e sua eficiência produtiva. Neste caso, o</p><p>crescimento desta capacidade produtiva vai depender crucialmente da evolução do investimento.</p><p>Em resumo, as abordagens heterodoxas contribuem para o entendimento da dinâmica econômica</p><p>porque congregam elementos centrais em comum, como: a abundância de mão de obra, a determinação</p><p>do produto potencial pelo estoque de capital e a importância central do investimento para o</p><p>crescimento da capacidade produtiva. Constituindo um ponto de distinção o debate sobre a forma em</p><p>que a distribuição de renda é determinada quando os salários reais estão acima dos níveis mínimos de</p><p>subsistência. Como descreve Serrano (2007, p. 15):</p><p>Assim, a distribuição era vista como determinada por salários barganhados</p><p>por autores clássicos e Marx e talvez em parte pelas taxas monetárias de juros</p><p>na visão de Sraffa e alguns de seus seguidores; para Kalecki, por margens</p><p>de lucro exógenas determinadas por fatores de organização industrial como</p><p>o grau de concorrência no mercado de produto; para os seguidores da</p><p>chamada teoria da distribuição de Cambridge, pela necessidade de obter</p><p>poupança forçada diante de alguma suposta rigidez estrutural no lado da</p><p>oferta da economia.</p><p>A rigor, os diferentes entendimentos teóricos sobre a distribuição representam diferentes aspectos</p><p>de uma abordagem geral para a distribuição baseada na noção clássica do excedente, com a exceção</p><p>da teoria da distribuição de Cambridge. Esta última teoria não é compatível com as demais, pois, ao</p><p>postular que a distribuição de renda é a variável de ajuste entre oferta e demanda agregada a longo</p><p>prazo, não deixa nenhum espaço para que outros elementos influenciem a distribuição. Neste caso, a</p><p>forma de distribuição afetaria a determinação do investimento a longo prazo.</p><p>Quando focamos o caso das relações entre poupança e investimento, muitos autores heterodoxos</p><p>supõem que a poupança potencial seja condição necessária e suficiente para o investimento a longo</p><p>prazo. Deve‑se ressaltar que poupança potencial, nessas teorias, em geral, significa poupança de</p><p>plena utilização do capital instalado, e não pleno emprego do trabalho. Essa abordagem era aceita</p><p>147</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>por autores clássicos como Adam Smith e David Ricardo, assim como entre os autores da tradição</p><p>da economia do desenvolvimento temos Lewis, Rosenstein‑Rodan, Nurkse, Prebisch, Furtado e os</p><p>neomarxistas.</p><p>Esse entendimento busca justificar a conclusão de que possíveis reduções do consumo em economias</p><p>capitalistas levariam ao aumento do nível de investimento. Recorrentemente</p><p>afirmadas sem argumento</p><p>teórico mais sólido, ao apresentar somente uma identificação mecânica das decisões de poupar e</p><p>investir, remetendo à suposição da Lei de Say, tendo a longo prazo a situação de que a oferta agregada</p><p>cria sua própria procura.</p><p>Nessa divisão, parte dos autores, dentre eles Smith, Ricardo, Lewis e alguns neomarxistas,</p><p>enfatizam o quanto uma alta parcela do excedente, em geral, e dos lucros, em particular, representaria</p><p>automaticamente estímulos ao crescimento de uma economia. Porém, outros autores, como Nurkse,</p><p>Prebisch, Baran e Furtado, temiam que o consumo excessivo das elites dos países em desenvolvimento</p><p>fosse um entrave ao processo de acumulação, por ocasionar a redução da poupança potencial.</p><p>Dentro deste debate, os autores que chamam a atenção para a questão dos retornos crescentes de</p><p>escala apontam para o fato de que a baixa taxa de poupança potencial adviria, em boa parte, da baixa</p><p>produtividade decorrente das reduzidas dimensões do mercado, como reflexos do estágio efetivo do</p><p>processo de acumulação de capital. Por conta disso, ressaltam a questão do aumento de produtividade</p><p>das economias em desenvolvimento.</p><p>O aumento de produtividade poderia ser alcançado pela via dos investimentos públicos ou pela</p><p>coordenação, por parte do Estado, de um conjunto de investimentos privados em setores estratégicos</p><p>com externalidades positivas. No caso de uma ocorrência simultânea de ambos, as taxas de retorno</p><p>seriam muito superiores às taxas de retorno privadas de cada projeto realizado isoladamente. Mas,</p><p>segundo Serrano (2007, p. 17):</p><p>Embora a questão das externalidades do investimento público e a</p><p>importância dos retornos crescentes de escala para a produtividade em</p><p>nada dependam da noção de que o investimento seja determinado pela</p><p>poupança potencial, estes autores claramente faziam a conexão nesta</p><p>direção. Embora, naturalmente, estes autores considerassem a produção</p><p>em cada mercado isolado determinada pela demanda, o nível global</p><p>de produção e, portanto, a extensão geral do mercado, era visto como</p><p>determinado pela capacidade previamente instalada que era suposta</p><p>plenamente utilizada, a partir da “lei de Say”.</p><p>Já dentre as teorias heterodoxas do crescimento que seguem a crítica de Marx, Keynes e Kalecki,</p><p>em relação à Lei de Say, e num contexto de uma economia monetária, a curto ou a longo prazo, as</p><p>decisões de investimento seriam independentes das decisões de poupança e, portanto, determinariam o</p><p>montante de poupança agregada. Assim, o nível de investimento agregado é independente do nível de</p><p>poupança potencial da economia; portanto, numa economia capitalista, casos de reduções do consumo</p><p>não representariam estímulos diretos ao investimento.</p><p>148</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Existem, no entanto, basicamente duas versões desse princípio através do qual, mesmo a longo</p><p>prazo, são os gastos em investimento que geram um montante agregado equivalente de poupança</p><p>efetiva. Essas duas versões dão origem a teorias da acumulação e distribuição diversas.</p><p>Em uma primeira abordagem, num horizonte de longo prazo, a poupança seria resultado do processo</p><p>inflacionário e mudanças induzidas por ela na distribuição funcional da renda. Numa segunda versão,</p><p>também a longo prazo, o argumento defende que o investimento gera poupança através de variações</p><p>do produto e da renda real.</p><p>A solução baseada na distribuição supõe que a longo prazo a economia estará sujeita a uma grande</p><p>restrição estrutural pelo lado da oferta, que condiciona a renda real a um nível dado e que não sofre</p><p>variações com aumentos dos gastos em investimento. Com a ocorrência de uma inflação de demanda, a</p><p>distribuição de renda altera‑se em favor das classes que podem poupar maior fração de seus rendimentos,</p><p>ou seja, o investimento geraria um processo de poupança forçada que representa a principal conclusão</p><p>da teoria da distribuição de Cambridge.</p><p>Observação</p><p>A teoria da distribuição de Cambridge foi proposta na década de 1950</p><p>como uma teoria válida em condições normais nos países capitalistas</p><p>avançados por alguns economistas ligados àquela escola, com destaque</p><p>para Nicholas Kaldor, Joan Robinson e Luigi Pasinetti.</p><p>Mas veremos que a lógica que leva ao surgimento de uma poupança forçada apresenta problemas</p><p>tanto na análise teórica como na empírica. Nesse caso, o mecanismo de ajuste deveria funcionar</p><p>simetricamente, seja em situações em que temos um excesso de demanda agregada – propiciando</p><p>uma concentração da renda –, seja em situações em que a demanda agregada está abaixo do produto</p><p>potencial, nesse caso, levando a uma queda de preços em relação aos salários e a uma consequente</p><p>diminuição da parcela dos lucros na renda total.</p><p>Numa situação de baixa utilização da capacidade, o mecanismo pressupõe perfeita flexibilidade</p><p>para baixo dos preços e das margens de lucro, mesmo a longo prazo. Mas, por outro lado, condiz com a</p><p>lógica das empresas capitalistas; mesmo num ambiente competitivo, ocorre a busca pela preservação</p><p>de suas margens mínimas de lucro com diminuição da produção em razão de queda da demanda,</p><p>principalmente a longo prazo.</p><p>Quando analisamos um caso de excesso de demanda agregada a longo prazo, a conclusão também</p><p>não se apresenta satisfatória. Isso ocorre porque a teoria não consegue explicar o fato de a criação de</p><p>capacidade do investimento não ser capaz de eliminar as restrições de oferta, portanto apresentando</p><p>sempre um excesso de demanda agregada a longo prazo. Além disso, implica que haja uma relação inversa</p><p>entre os níveis de investimento e de consumo a longo prazo, coisa que não se observa empiricamente</p><p>nas economias capitalistas, nem mesmo nas menos desenvolvidas.</p><p>149</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Na segunda versão, a produção consegue responder a estímulos de demanda a longo prazo e a</p><p>distribuição não precisa se alterar automaticamente. O produto e a renda real é que são as variáveis de</p><p>ajuste. Portanto é mais razoável a longo prazo supor que, nas economias capitalistas, tanto desenvolvidas</p><p>quanto em desenvolvimento, mesmo em condições competitivas, o investimento determina a poupança</p><p>agregada através da segunda via descrita, isto é, através dos níveis de produto e renda real.</p><p>Nesse caso, o produto é determinado pela demanda efetiva agregada. Não há uma relação inversa,</p><p>e sim positiva, entres os níveis de investimento e consumo a longo prazo. Na teoria de Kalecki, tais</p><p>conclusões só seriam totalmente possíveis em economias capitalistas avançadas, o que não limitou a</p><p>adoção desta visão por economistas em países em desenvolvimento.</p><p>Diante de aumentos da demanda, a oferta da economia responderá tanto através do aumento do</p><p>grau de utilização efetivo da capacidade já instalada quanto, em prazos mais longos, pela expansão da</p><p>capacidade posteriormente criada pelo próprio aumento do investimento. O crescimento do produto é</p><p>liderado pela demanda efetiva.</p><p>8.2 Princípio da demanda efetiva a curto e a longo prazo</p><p>Neste ponto apresentaremos a importância do papel da demanda efetiva como principal explicação para</p><p>a trajetória de crescimento das principais variáveis macroeconômicas. Esse caminho será mostrado através</p><p>de um problema levantado por um modelo de crescimento econômico pós‑keynesiano, realizado por Harrod,</p><p>que foi conhecido como a instabilidade fundamental da taxa garantida de crescimento. Assim, veremos que</p><p>um modelo do tipo supermultiplicador, em que a distribuição é dada exogenamente e com gastos autônomos</p><p>que não criam capacidade produtiva, representa a melhor resposta ao problema da instabilidade.</p><p>Em 1939, Harrod construiu um modelo de crescimento econômico baseado tanto no “princípio</p><p>da aceleração” como na “teoria do multiplicador”. Nesse exercício fica clara a percepção do autor</p><p>sobre o caráter dual do investimento. O multiplicador trata o investimento como um componente</p><p>da demanda</p><p>agregada da economia, enquanto o acelerador trata o investimento como gerador de</p><p>capacidade produtiva.</p><p>Harrod, com esse modelo, procura estudar qual a condição para a ocorrência de um crescimento</p><p>econômico equilibrado, situação em que temos uma conciliação dos efeitos da demanda e da</p><p>capacidade de investimento, originando assim um equilíbrio entre a demanda agregada e a capacidade</p><p>produtiva. Essa condição destacada ganha expressão no modelo de Harrod, que parte da identidade</p><p>entre investimento e poupança agregados após algumas manipulações acaba por derivar sua equação</p><p>fundamental, demonstrada na seguinte expressão:</p><p>I</p><p>K</p><p>S</p><p>Y</p><p>Y</p><p>K</p><p>Y</p><p>Y</p><p>≡ </p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>*</p><p>*</p><p>Tal expressão indica que a taxa de crescimento do estoque de capital (I/K) corresponde à propensão</p><p>média a poupar (S/Y) multiplicada pelo inverso da relação normal capital‑produto (Y*/K = 1/v) e também</p><p>150</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>pelo grau efetivo de utilização da capacidade (Y/Y * = u). Destaca‑se neste modelo que a propensão média</p><p>a poupar é totalmente determinada pela propensão marginal a poupar, s , sendo dada exogenamente</p><p>ao modelo. Como destacam Serrano e Freitas (2013, p. 2), isso decorre do fato de que, na especificação</p><p>de seu modelo, Harrod não considerou a existência de consumo agregado autônomo.</p><p>Por adotar essa hipótese o nível do produto da economia será determinado pela demanda efetiva</p><p>com base no gasto canalizado ao investimento produtivo através de:</p><p>Y I s= /</p><p>Onde I representa o nível de investimento e s é a propensão marginal a poupar.</p><p>Lembrando novamente que nesse modelo a propensão marginal é correspondente à propensão</p><p>média a poupar.</p><p>A partir disso, em razão de um dado valor da propensão marginal a poupar, a taxa efetiva de</p><p>crescimento da economia (g) iguala‑se à taxa de crescimento do investimento, isso porque o consumo</p><p>cresce sempre na mesma proporção que o investimento realizado. Neste contexto, a taxa de crescimento</p><p>do estoque de capital (gk)também acompanha, mesmo com alguma defasagem, a taxa de crescimento</p><p>do investimento líquido.</p><p>Desse modo, podemos relacionar a taxa de crescimento do investimento e do estoque de capital,</p><p>dada pela expressão:</p><p>g g g gk k k( ) / ( )( ) ( )= + +− −1 11 1</p><p>Que nesse caso segue a tendência para que (gk = g), possibilitando a obtenção da seguinte equação:</p><p>g s v u= ( / )</p><p>Será a partir da equação apresentada que, adotando um grau normal de utilização da capacidade, com</p><p>u = 1, poderemos deduzir a equação fundamental de Harrod que expressa a condição para que ocorra um</p><p>crescimento equilibrado entre demanda e capacidade nesse modelo. Tal situação é dada pela expressão:</p><p>gw = s/v</p><p>Nesse ponto, temos a taxa garantida (gw) como a representação da taxa que permite esse tipo de</p><p>crescimento equilibrado. Essa taxa garantida é uma função positiva da propensão marginal a poupar e</p><p>negativa quanto à relação normal capital‑produto, ambas determinadas de forma exógena. Notamos</p><p>que tal representação reflete apenas as condições de oferta, mesmo com a pretensão de Harrod em</p><p>estender para o longo prazo, quando temos variações na capacidade produtiva, o mesmo diagnóstico</p><p>keynesiano num contexto de curto prazo. Se olharmos mais atentamente, extrapolando a análise para</p><p>o longo prazo, a taxa garantida pode ratificar a validade da lei de Say.</p><p>151</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Para Serrano e Freitas (2013, p. 3), isso seria garantido pela equação apresentada quando g = gw</p><p>adotar uma propensão marginal a consumir igual a 1, o que corresponderia à própria representação</p><p>algébrica da lei de Say. Mas se rejeitarmos a lei de Say, como fez Harrod, a conclusão a que se chega é a</p><p>de não haver motivo nenhum para o crescimento da economia corresponder à taxa garantida.</p><p>Em decorrência disso, toda vez que o investimento e, posteriormente, o estoque de capital crescer</p><p>a uma taxa g exógena diferente da taxa garantida (gw), o grau de utilização será diferente do normal</p><p>(u ≠ 1) Lembremos que a taxa garantida representa a única taxa em que o investimento, a demanda</p><p>e a capacidade produtiva crescem de forma equilibrada, ou seja, apresentando (u = 1).</p><p>Logo, qualquer outra taxa de crescimento motivada por um investimento induzido, como</p><p>demonstrou Harrod, provoca desequilíbrios cumulativos. Decorre que quando (g > gw) temos uma</p><p>situação de sobreutilização da capacidade produtiva (u > 1), enquanto apresentando (g < gw), temos</p><p>uma subutilização da capacidade produtiva (u < 1). Tal resultado ocorre supondo que o investimento</p><p>seja totalmente induzido e sensível ao grau de utilização da capacidade produtiva. Diante disso, como</p><p>descrevem Serrano e Freitas (2013, p. 4):</p><p>Decorre disto que frente a uma sobreutilização da capacidade (u > 1) as</p><p>empresas em conjunto reagiriam aumentando seus investimentos, enquanto</p><p>que diante de uma situação de subutilização da capacidade (u < 1) elas</p><p>tenderiam a reduzir os investimentos. Nos dois casos a reação das empresas</p><p>faria com que a taxa efetiva de crescimento se afastasse cada vez mais da</p><p>taxa garantida (teríamos, respectivamente, g >> gw e g >> gw).</p><p>Com o que foi descrito podemos ter a seguinte constatação: embora uma dada taxa de</p><p>crescimento dos investimentos g leve a um grau de utilização da capacidade estável, já que o</p><p>estoque de capital cresce à mesma taxa que crescem a demanda agregada e o investimento, ocorre</p><p>que cada mudança na taxa de crescimento implica ao seu grau de utilização uma alteração de valor,</p><p>pois o efeito inicial de um aumento de g é aumentar a demanda mais do que a capacidade. Isso</p><p>ocorre porque o investimento reflete primeiramente um aumento da demanda e só posteriormente</p><p>resulta no aumento de capacidade produtiva. A relação inversa correspondente ocorre no caso de</p><p>uma queda de g.</p><p>Assim, cada rodada de redução (ou aumento) da taxa de crescimento do investimento devido a</p><p>uma queda (aumento) do grau de utilização da capacidade levaria a um novo grau de utilização da</p><p>capacidade menor (maior) (SERRANO; FREITAS, 2013, p. 4.)</p><p>Temos com isso o denominado problema da instabilidade fundamental</p><p>de Harrod, ou seja, as divergências entre g e gw, independente de sua</p><p>magnitude, temos uma ampliação do respectivo mecanismo descrito.</p><p>Portanto, a instabilidade da taxa garantida de crescimento de Harrod</p><p>reafirma a situação de desajuste entre a demanda agregada e a capacidade</p><p>produtiva a longo prazo.</p><p>152</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Exemplo</p><p>O problema da instabilidade fundamental de Harrod consiste num desajuste entre a taxa</p><p>de crescimento esperada Gt</p><p>e e a taxa garantida da economia</p><p>s</p><p>v</p><p>. Em decorrência disso temos uma</p><p>discrepância entre o estoque de capital verdadeiro (Gt) e o esperado ( )Gt</p><p>e . Veremos tal comportamento</p><p>em três casos diferentes:</p><p>1º caso – Taxa de Crescimento dos investimentos igual à Taxa Garantida:</p><p>Supondo que G</p><p>s</p><p>vt</p><p>e = , então G Gt t</p><p>e=</p><p>Adotando: Gt</p><p>e = 0 1, s/v = 0,1</p><p>G</p><p>G</p><p>G</p><p>s</p><p>vt</p><p>t</p><p>E</p><p>t</p><p>E= − −</p><p>1</p><p>1</p><p>.</p><p>Gt = − − =1</p><p>1 0 1</p><p>0 1</p><p>0 1 0 1</p><p>,</p><p>,</p><p>. , ,</p><p>Se os empresários esperarem uma taxa de crescimento equivalente à taxa garantida, então</p><p>suas expectativas serão realizadas e psicologicamente eles estariam preparados a continuar em um</p><p>avanço similar.</p><p>2º caso – Taxa de Crescimento dos investimentos maior que a Taxa Garantida:</p><p>Supondo que G</p><p>s</p><p>vt</p><p>e > então G Gt t</p><p>e></p><p>Adotando: Gt</p><p>e = 0 2, s/v = 0,1</p><p>Gt = − − = − =1</p><p>1 0 2</p><p>0 2</p><p>0 1 1 0 4 0 6</p><p>,</p><p>,</p><p>. , , ,</p><p>Se os empresários esperarem uma taxa de crescimento da renda maior que s/v, eles vão investir mais,</p><p>o que, via multiplicador, aumentará ainda mais o nível de renda. Então, a taxa verdadeira excederá suas</p><p>expectativas otimistas e, dessa forma, eles revisarão suas expectativas, supondo uma taxa de crescimento</p><p>ainda maior para o período seguinte.</p><p>3º caso – Taxa de</p><p>Crescimento dos investimentos menor que a Taxa Garantida:</p><p>Supondo que G</p><p>s</p><p>vt</p><p>e < então G Gt t</p><p>e<</p><p>Adotando: Gt</p><p>e = 0 1, s/v = 0,2</p><p>Gt = − − = − = −1</p><p>1 0 1</p><p>0 1</p><p>0 2 1 18 0 8</p><p>,</p><p>,</p><p>. , , ( , )</p><p>153</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Se os empresários esperarem uma taxa de crescimento menor do que a taxa garantida, eles</p><p>reduzirão os investimentos, o que, via multiplicador, reduzirá ainda mais o nível de renda. Então a taxa</p><p>de crescimento verdadeira será menor que suas expectativas, eles sentirão que foram superotimistas e</p><p>revisarão suas expectativas negativamente para o próximo período.</p><p>Este problema é chamado de “fio da navalha”: dado um equilíbrio de pleno emprego, qualquer</p><p>pequeno desvio da taxa de crescimento dos investimentos em relação à taxa garantida (s/v) vai gerar</p><p>efeitos cumulativos, desviando a economia do crescimento em estado estável.</p><p>A situação de instabilidade reafirma‑se como fundamental, nos termos de Harrod, já que o processo</p><p>de ajustamento vai na direção errada, isso independente do valor específico do coeficiente de reação do</p><p>investimento ou do seu grau de utilização. Para ilustrarmos essa situação, nos momentos em que a taxa</p><p>efetiva de crescimento se encontra abaixo da garantida e o grau de utilização está baixo, o crescimento</p><p>no ritmo da taxa garantida só é possível com um aumento do investimento, mas os sinais de mercado</p><p>em razão do baixo grau de utilização acabam por incentivar uma redução do investimento privado.</p><p>Mas tais afirmações, que caracterizam esse impasse, só se apresentariam na realidade quando as</p><p>hipóteses utilizadas pelas teorias pós‑keynesianas não fossem contestadas. Dentre estas hipóteses, duas</p><p>são essenciais: ocorrência de investimento autônomo e ausência de consumo agregado autônomo, que</p><p>representam gastos autônomos que não geram nova capacidade produtiva pelo setor privado.</p><p>Será neste ponto que a macroeconomia da demanda efetiva irá divergir da teoria pós‑keynesiana.</p><p>Para Harrod, o investimento autônomo representa o principal responsável pelo impasse em questão,</p><p>sendo o fator necessário para a demanda agregada se ajustar à capacidade produtiva, resultando num</p><p>grau normal de utilização desta capacidade e, em decorrência, indispensável na resolução do problema</p><p>da instabilidade fundamental de Harrod (SERRANO, FREITAS, 2013, p. 8).</p><p>No entanto, para a macroeconomia da demanda efetiva isso não corresponde à verdade. Admitindo</p><p>o problema da instabilidade fundamental da taxa de crescimento aliado ao casamento do acelerador e</p><p>do multiplicador, tal instabilidade fundamental desaparece tão logo se admita a existência de gastos em</p><p>consumo autônomos.</p><p>Ao admitir a existência de consumo agregado autônomo, Z, crescendo a uma determinada taxa</p><p>independente (z ), temos, ao contrário do que se admite no modelo de Harrod, o fato de as propensões</p><p>marginal e média a poupar não serem equivalentes. A propensão média a poupar (S/Y) é dada por:</p><p>S</p><p>Y</p><p>s Z Y= − ( / )</p><p>Diante dessa expressão detectamos que as duas propensões só serão iguais S Y s/ =( ) na ausência</p><p>do consumo autônomo (Z = 0). Com isso, o papel da propensão marginal será de representar um teto</p><p>para a propensão média, que, neste caso, será estritamente menor do que ela. Como nos alertam</p><p>Serrano e Freitas (2013, p. 9):</p><p>154</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Note também que, embora a propensão marginal a poupar seja exógena, a</p><p>propensão média a poupar depende positivamente do nível do produto. Um</p><p>aumento do produto causado por um aumento do investimento diminui</p><p>o peso relativo da “despoupança” representada pelos gastos em consumo</p><p>autônomo, aumentando a razão entre propensão média e a (dada) propensão</p><p>marginal a poupar.</p><p>Conseguimos visualizar isso ao escrevermos a expressão da propensão média a poupar em termos</p><p>das variáveis independentes (s IeZ, ). Sendo S/Y=I/Y e Y I Z s= +( ) / , temos:</p><p>S Y I I Z s/ [ / ( )]= + </p><p>e</p><p>S Y f s/ .= </p><p>Aqui a incógnita f corresponderia à razão entre a propensão média e a marginal a poupar. Após tal</p><p>derivação vemos que a propensão média não é mais determinada unicamente pela propensão marginal</p><p>a poupar. Ela passa a depender também dos níveis de investimento e de consumo autônomo.</p><p>Ao ocorrer um aumento do investimento em relação ao aumento do gasto autônomo Z, temos</p><p>uma elevação do nível e da taxa de poupança. Temos, portanto, que a propensão média a poupar é</p><p>uma variável endogenamente determinada, para qualquer valor abaixo do seu limite superior s . Na</p><p>existência de gastos improdutivos autônomos, a propensão marginal a poupar só definiria esse limite</p><p>superior sem interferência no valor efetivo da propensão média a poupar. Portanto, em situações abaixo</p><p>deste limite, a determinação da poupança nesta economia, via mudanças na fração f, será dada pelo</p><p>nível de investimento.</p><p>Dito isso, iremos agora observar o que ocorre numa economia adotando a existência de consumo</p><p>autônomo, tendo como condição adicional o investimento induzido a longo prazo. Ao definir como h</p><p>uma dada propensão marginal a investir, ou taxa de investimento, obtemos:</p><p>I/Y = h</p><p>Nessas condições, o nível de produto será dado por um supermultiplicador, que, como ressaltamos</p><p>anteriormente, levará em conta as ocorrências de consumo e investimento induzido, dando‑nos uma</p><p>nova relação, representada por:</p><p>Y Z s h= −/ ( )</p><p>Se nesse modelo considerarmos como dada a propensão marginal a poupar e a propensão a investir,</p><p>a demanda efetiva e a economia irão crescer puxadas pela taxa de crescimento do gasto em consumo</p><p>autônomo, z . Soma‑se a isso que a propensão média a poupar é inteiramente determinada pela</p><p>155</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>propensão marginal a investir, isso, para qualquer valor da propensão a investir menor que s . Como</p><p>nos alertam Serrano e Freitas (2013, p. 10), isso é facilmente demonstrável utilizando a equação do</p><p>supermultiplicador e, assim, determinando a parcela do consumo autônomo no produto:</p><p>Z Y s h/ ( )= −</p><p>Se continuarmos a derivação dessa equação, substituindo essa equação na equação da taxa de</p><p>poupança, teremos:</p><p>S Y s s h/ ( )= − </p><p>Originando:</p><p>S/Y = h</p><p>Vemos que nesse modelo a propensão média a poupar é inteiramente determinada pela propensão</p><p>a investir h, mesmo com a propensão marginal a poupar sendo exógena. Ao reunirmos esses resultados,</p><p>num modelo de supermultiplicador, podemos construir uma equação em que:</p><p>z h v u= [ / ]</p><p>Temos, assim, com a presença de gastos autônomos que não geram capacidade e crescem a uma</p><p>taxa independente z , que o investimento induzido passa a não ocasionar a instabilidade fundamental,</p><p>como apontado pelo modelo de Harrod. Esse modelo com um supermultiplicador adotando consumo</p><p>autônomo apresenta‑se totalmente estável, e o processo de ajustamento agora será na direção correta.</p><p>Vamos entender melhor a construção dessa solução.</p><p>Vamos partir de uma situação em que o grau de utilização da capacidade está em seu nível normal,</p><p>com uma taxa z de crescimento do consumo autônomo se reduzindo permanentemente. Tal redução</p><p>tem um impacto negativo de mesma magnitude na taxa de crescimento do produto g, sendo dadas as</p><p>propensões marginais a consumir e a investir.</p><p>O primeiro impacto será que o grau efetivo de utilização da capacidade se reduz (u < 1), como</p><p>reflexo do menor crescimento da demanda agregada; posteriormente, tanto a taxa de crescimento da</p><p>capacidade produtiva como o estoque de capital terão taxas menores. Essa situação de lento crescimento</p><p>da capacidade será efetivada pelo ritmo mais lento que apresentará o nível de investimento, já que, para</p><p>uma dada taxa de investimento induzido h, temos uma redução da taxa de crescimento dos gastos</p><p>autônomos e, finalmente, com igual nível de redução da taxa de crescimento do estoque de capital</p><p>(SERRANO;</p><p>FREITAS, 2013, p. 11).</p><p>Após essas implicações, temos que a taxa de crescimento do estoque de capital vai se adaptando ao</p><p>menor crescimento do produto, levando o grau de utilização para um nível inferior ao normal, que pode</p><p>ser ratificado pela equação anteriormente deduzida. Ao longo do tempo, a própria taxa de investimento</p><p>156</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>induzido h irá se reduzir devido à baixa utilização da capacidade produtiva, ou seja, uma redução na</p><p>propensão marginal a investir que resultará em dois efeitos para a economia. Como nos alertam Serrano</p><p>e Freitas (2013, p. 12):</p><p>Inicialmente reduzirá adicionalmente a demanda agregada e o produto</p><p>reduzindo ainda mais o grau de utilização da capacidade. Posteriormente, a</p><p>redução da taxa de investimento reduzirá a taxa de crescimento do estoque</p><p>de capital e da capacidade produtiva.</p><p>Mas ao aceitarmos a presença dos gastos autônomos, cuja taxa de crescimento é exógena, qualquer</p><p>elevação desses gastos implica que a taxa de crescimento da demanda agregada e do produto seja</p><p>reduzida em menor grau que a queda da taxa de crescimento do investimento, enquanto a queda</p><p>posterior do crescimento do estoque de capital será igual à redução do crescimento do investimento.</p><p>Isso terá impactos no grau de utilização que poderá se elevar novamente, pois mesmo com a demanda</p><p>agregada apresentando um ritmo de crescimento menor o impacto final da redução do crescimento do</p><p>estoque de capital será ainda maior. Tal situação seria improvável sem a ocorrência de consumo autônomo.</p><p>Neste processo de ajustamento, o fato descrito seguirá essas implicações enquanto o grau de utilização</p><p>estiver abaixo do nível normal e se encerrará no momento em que a taxa de investimento induzido tiver</p><p>sido reduzida o suficiente, permitindo que, ao grau de utilização normal, a taxa de crescimento do estoque</p><p>de capital vá se adaptando ao ritmo de crescimento mais baixo dos gastos autônomos.</p><p>No caso de uma elevação da taxa de crescimento dos gastos autônomos (z ), esse processo ocorre</p><p>simetricamente na direção contrária. Teríamos uma sobreutilização da capacidade de produção, com</p><p>aumentos graduais na taxa de investimento (h) que redundam numa ampliação ainda maior da utilização</p><p>da capacidade. Num segundo momento, a aceleração do crescimento da capacidade em comparação ao</p><p>da demanda agregada levaria a uma redução do grau de utilização em direção ao seu nível normal, em</p><p>que a taxa de crescimento da capacidade produtiva adapta‑se à maior taxa de crescimento dos gastos</p><p>autônomos z .</p><p>Ao observarmos esse processo, temos que o comportamento do crescimento liderado pelos gastos</p><p>autônomos Z seria caracterizado como estável, já que a reação do investimento induzido ao desequilíbrio</p><p>entre demanda agregada e capacidade produtiva gera uma redução maior do crescimento da capacidade</p><p>do que da demanda no caso de subutilização e um aumento maior da expansão da capacidade do que</p><p>da demanda no caso de sobreutilização, portanto o processo de ajustamento direciona a economia na</p><p>direção correta.</p><p>Quando comparamos com o modelo de Harrod, no qual o ajustamento causava instabilidade, por</p><p>não existir consumo autônomo o nível da demanda cresce ou diminui sempre na mesma proporção que</p><p>o crescimento da capacidade. Como nos explicam Serrano e Freitas (2013, p. 13):</p><p>A ausência de consumo autônomo tornava impossível uma variação na taxa</p><p>de investimento que era univocamente determinada pela propensão marginal</p><p>157</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>a poupar. Já no modelo do supermultiplicador Sraffiano a propensão média a</p><p>poupar depende inteiramente da propensão a investir. Como esta aumenta em</p><p>resposta à sobreutilização da capacidade, o mesmo ocorre com a propensão</p><p>média a poupar, que acaba se ajustando à taxa de investimento induzido</p><p>requerida para ajustar a capacidade à demanda agregada.</p><p>Como vimos anteriormente, dadas s e v, as variações da taxa de investimento h alteram a fração f = [I/</p><p>(I + Z)] possibilitando que a economia endogenamente gere a taxa de poupança requerida pela expansão</p><p>da demanda agregada e do investimento, possibilitando que o grau de utilização tenda a 1. Se utilizarmos</p><p>a linguagem de Harrod, tal situação diz que a taxa efetiva de crescimento é dada pela expansão dos</p><p>gastos autônomos em consumo e a taxa garantida iria se ajustar à taxa efetiva por conta das variações da</p><p>propensão média a poupar da economia, tendo como causa as variações induzidas da taxa de investimento.</p><p>Concluímos que o resgate do modelo de Harrod, pela macroeconomia da demanda efetiva, visa</p><p>solucionar as imperfeições deste modelo ao enfatizar o papel dos gastos autônomos – que não</p><p>criam capacidade – como fator importante para o equilíbrio entre demanda e capacidade produtiva,</p><p>adotando‑se tanto um elemento acelerador como multiplicador, dados pelo investimento induzido e</p><p>pelo consumo induzido, respectivamente. Assim, a partir deste cenário, temos como derivar os impactos</p><p>econômicos pelo comportamento destes mesmos gastos autônomos.</p><p>No que diz respeito ao investimento produtivo privado, podemos caracterizá‑lo como investimento</p><p>autônomo ou investimento induzido quando pensamos na relação técnica necessária entre investimento</p><p>e expansão da capacidade produtiva. Se o investimento é caracterizado como autônomo, então, dada</p><p>a relação técnica, a evolução da capacidade produtiva será uma consequência das decisões de investir.</p><p>Mas no caso de constatarmos o investimento como induzido, em resposta a uma evolução esperada</p><p>da demanda, na presença de um mecanismo do tipo acelerador flexível ou ajuste de estoque de capital,</p><p>a própria evolução da demanda efetiva ditará o ritmo de expansão da capacidade produtiva e o nível de</p><p>investimento compatível com esse processo.</p><p>Portanto, temos a distinção de dois modelos de crescimento, sendo uma primeira teoria baseada na</p><p>ideia do investimento fundamentalmente autônomo, logo representando uma variável independente, e</p><p>um segundo modelo no qual o investimento é visto como induzido e a dinâmica do investimento, mesmo</p><p>sendo independente da propensão a poupar, será vista como uma variável dependente, ambas vistas no</p><p>interior de um processo de acumulação. Iremos agora para uma apresentação destas duas famílias de</p><p>modelos, ressaltando que os modelos do segundo tipo são os mais eficazes para propiciar um maior nível</p><p>de renda e emprego, conforme os pressupostos da teoria da macroeconomia da demanda efetiva.</p><p>8.3 Crescimento liderado pelo investimento</p><p>Os modelos de crescimento liderados pelos investimentos produtivos autônomos são conhecidos</p><p>como modelos kaleckianos de crescimento. Desses modelos, a demanda agregada e o produto seguem</p><p>a tendência do investimento produtivo autônomo, que gera aumentos proporcionais no consumo</p><p>induzido através do mecanismo do multiplicador.</p><p>158</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Simultaneamente, o estoque de capital e a capacidade produtiva da economia tendem, a longo</p><p>prazo, a crescer à mesma taxa que cresce o nível de investimento autônomo. Como a capacidade e a</p><p>demanda agregada tendem a crescer à mesma taxa, neste tipo de teoria, o grau efetivo de utilização</p><p>de capacidade tende a ficar estável a longo prazo. No entanto, é importante notar que não há nenhum</p><p>motivo para esse grau de utilização estável ser idêntico ou sequer próximo ao grau normal ou planejado</p><p>de utilização da capacidade produtiva.</p><p>Para uma dada relação capital‑produto, o aumento absoluto do estoque de capital e da capacidade</p><p>produtiva da economia depende do nível de investimento. Já as taxas de crescimento do estoque de</p><p>capital e da capacidade produtiva dependem do montante de investimento em relação ao estoque de</p><p>capital ou ao produto potencial existente.</p><p>Como não se postula uma tendência ao grau de utilização normal,</p><p>desejo</p><p>de manter o ativo alternativo. Nesses termos, pode‑se entender que Friedman (1985), levando em</p><p>16</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>conta a análise keynesiana do papel da moeda como um ativo, reformulou a teoria quantitativa,</p><p>oferecendo uma explicação sistemática para k. Demarcando, portanto, as diferenças perante a</p><p>análise keynesiana.</p><p>Na visão de Friedman, como descreve Froyen (2013, p. 239) um teórico quantitativista precisa</p><p>acreditar nas seguintes conclusões:</p><p>• A função demanda por moeda é estável.</p><p>• Essa função demanda desempenha um papel importante na determinação do nível de</p><p>atividade econômica.</p><p>• A quantidade de moeda é fortemente afetada por fatores de oferta de moeda.</p><p>Decorre disso que a versão de Friedman (1985) para a equação quantitativa corresponde a uma</p><p>condição de equilíbrio no mercado monetário, dado por:</p><p>M = Md = k(rB, rA, rD)PY</p><p>A partir dessa condição, sendo a função demanda por moeda estável, qualquer aumento exógeno do</p><p>estoque de moeda leva, consequentemente, a uma elevação em PY, também sendo possível um declínio</p><p>dos retornos dos demais ativos (rB, rA, rD), caracterizando um aumento de k, com efeitos indiretos em PY.</p><p>Um teórico quantitativista precisa acreditar que a função demanda</p><p>por moeda é realmente estável e que mudanças no estoque de moeda</p><p>derivam basicamente do lado da oferta, como resultado de políticas do</p><p>Banco Central. Por fim, deve acreditar que mudanças na quantidade de</p><p>moeda são importantes para a determinação da renda nominal e que</p><p>boa parte do efeito de uma mudança em M reflete‑se em alterações em</p><p>PY (FROYEN, 2013, p. 239).</p><p>Resumindo os pontos até aqui, na teoria monetarista acredita‑se que a função demanda por</p><p>moeda seja estável e que a quantidade de moeda seja um determinante importante do nível de</p><p>atividade econômica. Além disso, Friedman (1985) pontua que a elasticidade da demanda por moeda</p><p>em relação à taxa de juros é baixa, fato esse que não validaria a ocorrência da armadilha da liquidez</p><p>proposta por Keynes.</p><p>Se levadas ao extremo, as proposições monetaristas a curto prazo não atenderiam à visão clássica da</p><p>proporcionalidade de moeda e preços, embora aceitem sua aplicação a longo prazo. Será essa posição</p><p>forte da teoria quantitativa que difere, de forma marcante, da posição keynesiana moderna. Nessa</p><p>posição, a teoria quantitativa transforma definitivamente uma teoria da demanda por moeda em uma</p><p>teoria da renda nominal.</p><p>17</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Essa transformação, proposta por Friedman (1985), será garantida quando as outras variáveis em sua</p><p>função demanda por moeda além da renda nominal (rB, rA, rD) tiverem pouco impacto sobre a demanda</p><p>por moeda. Quando obedecido esse caso, as variáveis dos retornos dos ativos terão pouco efeito sobre</p><p>k. Como decorrência, o montante de moeda mantido pelos agentes, como proporção da renda (K), será</p><p>praticamente constante. Mas como ressalta Froyen (2013, p. 240):</p><p>Friedman não acredita que a demanda por moeda seja completamente independente de (rB, rA, rD), a</p><p>teoria da renda nominal (resultante da suposição de que k seja constante) deve ser percebida como uma</p><p>aproximação. Mas qualquer teoria é apenas aproximadamente correta.</p><p>Baseado nesse posicionamento e após realizar diversos trabalhos empíricos, Friedman (1985) e</p><p>outros autores monetaristas expressaram essa posição forte da teoria quantitativa reformulada como:</p><p>PY</p><p>K</p><p>M= 1</p><p>Tal expressão sintetiza a prova necessária para as conclusões monetaristas, que estariam sustentadas</p><p>pela ideia de que mudanças apreciáveis na taxa de crescimento do estoque de moeda seriam a condição</p><p>para as mudanças nas taxas de crescimento da renda monetária.</p><p>A posição forte da teoria quantitativa é um elemento central do monetarismo. Decorrem dela todas</p><p>as conclusões de política econômica do modelo monetarista, em contraposição às defendidas pelas</p><p>visões keynesianas.</p><p>Como forma de situar o debate entre as duas posições, vamos representar a posição forte da teoria</p><p>quantitativa no esquema IS‑LM e na estrutura de oferta e demanda agregadas, que poderá nos facilitar</p><p>as comparações entre monetaristas e keynesianos.</p><p>A figura a seguir ilustra as curvas IS‑LM, com base no modelo monetarista, na visão de um teórico</p><p>quantitativista forte. A curva LM é quase, mas não completamente vertical, refletindo a visão de Friedman</p><p>(1985) de que a elasticidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros é bastante baixa.</p><p>Ta</p><p>xa</p><p>d</p><p>e</p><p>ju</p><p>ro</p><p>s</p><p>Renda</p><p>IS</p><p>LM</p><p>y</p><p>r</p><p>Figura 1 – IS/LM: uma versão monetarista</p><p>18</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Também vemos uma divergência em relação à teoria keynesiana no tocante à curva IS. Na figura</p><p>a curva IS é mais plana, sendo consistente com a posição monetarista de que a demanda agregada é</p><p>bastante sensível a mudanças na taxa de juros. Até esse ponto, as diferenças entre os keynesianos e os</p><p>monetaristas compreendem somente as diferenças entre os graus de inclinação das duas relações.</p><p>Os monetaristas afirmam que a posição keynesiana restringe os canais pelos quais a taxa de juros afeta</p><p>a demanda agregada somente ao efeito de mudanças nos custos de empréstimos sobre os investimentos.</p><p>Já os monetaristas julgam que essa seja uma interpretação muito limitada dos efeitos das taxas de juros,</p><p>em razão de os keynesianos pensarem o conceito de títulos como uma classe de ativos financeiros, em vez</p><p>de incorporarem todos os ativos diferentes da moeda. Portanto, como ressalta Froyen (2013, p. 242):</p><p>Em sua teoria da demanda por moeda, Friedman não agrupou todos os ativos</p><p>não monetários em uma única categoria. Ele considerou separadamente</p><p>títulos, ações e bens duráveis. Os monetaristas acreditam que, se uma mudança</p><p>na taxa de juros é, realmente, uma mudança em todas essas taxas de retorno,</p><p>seus efeitos vão além dos efeitos de uma mudança nos custos de empréstimos</p><p>para firmas que compram bens de investimento. Além disso, uma mudança</p><p>na taxa de juros significa uma mudança nos preços das ações privadas e no</p><p>retorno previsto dos imóveis e dos bens duráveis. Os monetaristas acreditam</p><p>que a taxa de juros desempenha um papel mais importante na determinação</p><p>da demanda agregada do que lhe era atribuído no modelo keynesiano.</p><p>Essa representação contempla várias características do modelo monetarista, mas seria deficiente</p><p>em um aspecto. Os diagramas de IS‑LM mostram as determinações do produto real e da taxa de juros,</p><p>com o nível de preços mantido constante. Mas, no caso monetarista, um nível de preços constante não</p><p>representaria uma aproximação satisfatória nem a curto prazo, logo não é um pressuposto assumido</p><p>pelos monetaristas.</p><p>A figura a seguir mostra como a visão monetarista seria representada na estrutura de oferta e</p><p>demanda agregadas. Três posições da curva de demanda agregada são mostradas, Yd(M0), Y</p><p>d(M1), Y</p><p>d(M2),</p><p>correspondendo a três valores diferentes da oferta de moeda, M0, M1 e M2.</p><p>Ys</p><p>P</p><p>P2</p><p>P1</p><p>P0</p><p>Y0 Y1</p><p>Yd(M0)</p><p>Yd(M1)</p><p>Yd(M2)</p><p>Y2</p><p>Y</p><p>Figura 2 – Oferta e demanda agregadas: a visão monetarista</p><p>19</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Se retornarmos à formula monetarista, representada pela equação:</p><p>PY</p><p>K</p><p>M= 1</p><p>Para uma dada renda nominal, a posição monetarista afirma que alterações na oferta de moeda</p><p>(M) levam a deslocamentos significativos da curva de demanda agregada. Portanto, a moeda é a única</p><p>influência sistemática sobre a demanda agregada.</p><p>Pelo lado da oferta agregada, a sua posição seria determinada pelas variáveis reais da economia</p><p>e, portanto, estes também determinariam o nível do produto a longo prazo, como afirma a segunda</p><p>proposição monetarista. Para uma melhor caracterização da oferta agregada, devemos analisar</p><p>o comportamento do mercado de trabalho, tanto pelo lado da</p><p>neste tipo de modelo, uma alta</p><p>taxa de investimento (em relação ao produto efetivo) não significa necessariamente uma alta taxa de</p><p>investimento em relação ao produto potencial nem uma alta taxa de crescimento do estoque de capital.</p><p>Ocorre que o produto efetivo pode estar muito abaixo ou, dentro de certos limites de capacidade ociosa</p><p>planejada, consideravelmente acima do produto potencial normal.</p><p>Por consequência, nas teorias de crescimento liderado pela demanda em que o investimento</p><p>produtivo é autônomo, embora as taxas de crescimento da economia e do estoque de capital dependam</p><p>da tendência da taxa de crescimento do nível de investimento, não há motivo algum para que se</p><p>obtenha qualquer relação entre a taxa de investimento (como proporção do produto) e a taxa de</p><p>crescimento do produto, nem do produto por trabalhador, nem do produto per capita. Uma alta parcela</p><p>do investimento no produto efetivo meramente reflete uma baixa propensão marginal a consumir e</p><p>poderá perfeitamente coexistir com baixas taxas de crescimento do produto e da capacidade produtiva</p><p>se o grau de utilização da capacidade for baixo.</p><p>Simetricamente, com um alto grau efetivo de utilização da capacidade, uma alta taxa de crescimento</p><p>e de acumulação de capital pode ser compatível com uma baixa taxa de investimento (como parcela do</p><p>produto). O investimento pode ser, ao mesmo tempo, relativamente baixo no que concerne ao produto</p><p>e relativamente alto no que se refere ao estoque de capital (e ao produto potencial).</p><p>As teorias do crescimento liderado pela demanda efetiva em que a tendência do investimento</p><p>produtivo é autônoma têm, portanto, algumas limitações empíricas e teóricas. A maior dificuldade</p><p>teórica é a suposição implausível de que é possível postular a persistência, por prazos longos,</p><p>do grau de utilização da capacidade produtiva sistematicamente muito diferente dos graus</p><p>planejados ou normais, sem que isso tenha efeitos significativos sobre a taxa de crescimento do</p><p>investimento produtivo.</p><p>Em termos empíricos, este tipo de modelo, no qual o grau médio de utilização da capacidade é a</p><p>variável de ajuste no processo de crescimento, não consegue explicar a relação observada entre taxas</p><p>de investimento (como parcela do produto) e taxa de crescimento, seja do produto efetivo, seja do</p><p>produto per capita.</p><p>159</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Além disso, a evidência econométrica dos chamados testes de causalidade, em geral, aponta</p><p>uma forte relação de que é o produto (ou a taxa de crescimento) que precede ou causa os níveis de</p><p>investimento produtivo (ou a taxa de investimento), ao invés do oposto, o que contraria a noção de</p><p>investimento autônomo e reforça a noção de investimento induzido a longo prazo.</p><p>Estas, no entanto, não devem ser vistas como dificuldades da noção de crescimento liderado pela</p><p>demanda em geral, e sim como resultado da hipótese de que o investimento produtivo é autônomo a</p><p>longo prazo.</p><p>8.4 Crescimento liderado pelos gastos autônomos</p><p>Uma alternativa é o outro tipo de modelo de crescimento liderado pela demanda, no qual o</p><p>investimento produtivo privado é totalmente induzido a longo prazo pelo processo de ajustamento</p><p>da capacidade à demanda através do mecanismo do acelerador flexível. O crescimento da demanda</p><p>depende da expansão dos gastos autônomos improdutivos (como o consumo autônomo, o investimento</p><p>residencial, as exportações e os gastos públicos), que injetam novo poder de compra monetário na</p><p>economia e não criam capacidade para o setor privado. Estes modelos são conhecidos como modelos</p><p>de supermultiplicador.</p><p>Nesses modelos de crescimento, a demanda agregada aumenta à taxa de crescimento dos gastos</p><p>autônomos improdutivos, que geram adicionalmente consumo induzido e investimento induzido, dadas</p><p>as propensões marginais a consumir e a investir da economia. Com uma dada taxa de investimento</p><p>produtivo, o estoque de capital e a capacidade produtiva tenderão a crescer à mesma taxa que o produto,</p><p>liderados pela expansão dos gastos autônomos improdutivos.</p><p>Nessas condições, o grau efetivo de utilização da capacidade tenderá a se estabilizar. No</p><p>entanto, se o grau de utilização estiver num nível acima do normal (ou desejado), a taxa de</p><p>investimento induzido (ou a propensão marginal a investir, qual seja, a parcela do investimento</p><p>produtivo na renda) tenderá a ser gradualmente elevada. Por conseguinte, o estoque de capital e</p><p>a capacidade produtiva crescerão mais rápido do que a demanda agregada. Já no caso em que o</p><p>grau de utilização da capacidade encontra‑se num nível abaixo do normal, a propensão marginal</p><p>a investir se reduz gradualmente.</p><p>Este mecanismo de acelerador flexível ou ajuste do estoque do capital faz com que, a longo</p><p>prazo, o grau médio de utilização da capacidade da economia não tenda a se afastar muito de</p><p>seu nível normal ou planejado. Tanto o nível quanto a taxa de crescimento do produto potencial</p><p>tendem a seguir a expansão da demanda agregada, liderada pela taxa de crescimento dos gastos</p><p>autônomos improdutivos.</p><p>Através do mecanismo do supermultiplicador, uma taxa de crescimento permanentemente</p><p>mais alta dos gastos autônomos improdutivos levará a um aumento permanente da taxa de</p><p>investimento produtivo, na extensão requerida para que o grau de utilização da capacidade</p><p>tenda ao normal.</p><p>160</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>Essa maior taxa de investimento implica necessariamente que o investimento aumentou mais do</p><p>que o produto e a renda, e faz que não só o nível como também a própria taxa de poupança (ou</p><p>propensão média a poupar) aumentem, sem nenhuma necessidade de mudança na propensão marginal</p><p>a consumir ou na distribuição de renda.</p><p>Com essas propriedades, o modelo do supermultiplicador não tem as deficiências teóricas dos</p><p>modelos kaleckianos de crescimento puxados pelos investimentos produtivos autônomos, pois leva em</p><p>conta que, numa economia capitalista, a concorrência impõe aos produtores a necessidade constante</p><p>de tentar ajustar a capacidade produtiva à demanda.</p><p>O modelo do supermultiplicador também não tem as dificuldades empíricas do modelo puxado pelo</p><p>investimento autônomo. O próprio fato de o investimento produtivo ser totalmente induzido explicaria</p><p>os resultados dos testes de causalidade mencionados, nos quais é a evolução do produto que a longo</p><p>prazo determina o investimento, e não o oposto, como nos modelos kaleckianos.</p><p>Da mesma maneira, o modelo de supermultiplicador explica com facilidade a relação empírica</p><p>positiva observada entre taxa de investimento e taxa de crescimento do produto. O mesmo ocorre para</p><p>a relação entre a taxa de investimento e o crescimento do produto per capita, ou por trabalhador. Neste</p><p>modelo, essa relação resultaria da combinação da noção de taxa de investimento produtivo induzida</p><p>pelas ideias de endogeneidade parcial do progresso técnico e do processo de mudança estrutural, via</p><p>modificações do tamanho do setor informal e do desemprego disfarçado, enfatizados por vários autores</p><p>da abordagem heterodoxa. Por esses motivos, o supermultipicador parece o modelo mais adequado para</p><p>explicar o processo de crescimento a longo prazo liderado pela demanda.</p><p>Saiba mais</p><p>A macroeconomia da demanda efetiva tem como base a construção</p><p>de modelos fundamentadas no supermultiplicador, derivados dos estudos</p><p>econômicos de Cambridge com base na teoria de Piero Sraffa (1960). Para</p><p>aprofundar seus conhecimentos a respeito disso, ver:</p><p>SERRANO, F. Acumulação e gasto improdutivo na economia do</p><p>desenvolvimento. In: FIORI, J. L.; MEDEIROS, C. A. (Org.) Polarização mundial</p><p>e crescimento. Petrópolis: Vozes, 2001.</p><p>SERRANO, F. Long period effective demand and the sraffian supermultiplier.</p><p>Contributions to Political Economy, Oxford, v. 14, p. 67‑90, 1995.</p><p>SRAFFA, P. Produção de mercadorias por meio de mercadorias: prelúdio</p><p>a uma crítica da teoria econômica. São Paulo:</p><p>oferta de mão de obra quanto pela</p><p>demanda de mão de obra dentro do modelo monetarista.</p><p>1.1 Taxa natural de desemprego</p><p>Ao resgatar a teoria quantitativa da moeda, o modelo monetarista de Friedman (1985) adota que</p><p>as mudanças de curto prazo na oferta de moeda são os determinantes primários de flutuações no</p><p>produto e no emprego. Já a longo prazo, também em conformidade com a TQM, a influência da moeda</p><p>é basicamente sobre o nível de preços e outras variáveis nominais.</p><p>No que concerne às variáveis reais, principalmente o nível de produto e o emprego, o comportamento</p><p>a longo prazo seria determinado por fatores reais e não monetários. Tal solução do modelo monetarista</p><p>baseia‑se na teoria das taxas naturais de desemprego e produto desenvolvida por Milton Friedman.</p><p>Como bem resume Froyen (2013, p. 251):</p><p>De acordo com a teoria da taxa natural, existe um nível de equilíbrio do</p><p>produto e uma taxa de emprego a ele associada, determinados pela</p><p>oferta de fatores de produção, tecnologia e instituições da economia</p><p>(isto é, determinados por fatores reais). Esta é a taxa natural de Friedman.</p><p>Mudanças na demanda agregada, que Friedman acredita serem dominadas</p><p>por mudanças na oferta de moeda, causariam movimentos temporários na</p><p>economia, afastando‑a da taxa natural.</p><p>As mudanças na demanda agregada poderiam ser oriundas de políticas monetárias expansionistas,</p><p>que, nesse caso, poderiam mover o produto da economia para um nível acima de sua taxa natural,</p><p>deslocando, consequentemente, a taxa de desemprego para baixo de sua taxa natural. O aumento da</p><p>demanda, após a política expansionista, também resulta numa elevação de preços.</p><p>Nesse ponto, os monetaristas divergem do modelo clássico ao não aceitarem a posição de que o</p><p>produto é completamente determinado pela oferta, mesmo a curto prazo. No caso clássico, acredita‑se</p><p>que o ajuste dos preços não seria completo, já que os aumentos na demanda causariam elevação nos</p><p>preços sem nenhum impacto no produto.</p><p>20</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Em sua crítica, Friedman (1985) acredita que o processo de ajuste ocorra num horizonte de período</p><p>mais amplo onde as forças de equilíbrio do mercado fazem os níveis de produto e emprego retornarem a</p><p>sua taxa natural. Aqui reside uma das proposições monetaristas, quanto à visão equivocada dos governos</p><p>em utilizarem os instrumentos de política monetária para manter a economia permanentemente com</p><p>uma taxa de desemprego abaixo da taxa natural. Se tomarem tal caminho, os formuladores de políticas</p><p>econômicas deverão estar dispostos a aceitar uma taxa de inflação sempre crescente.</p><p>Um dos pontos fundamentais da análise de Friedman (1985) está em reconhecer que a explicação do</p><p>desemprego persistente tem fundamento no mercado de trabalho, e não no mercado de bens. A ideia é</p><p>que o mercado de trabalho, em última análise, seria o lugar relevante para entender a negociação entre</p><p>a força de trabalho e os empregadores, com os empregados transmitindo os seus sinais sobre os salários.</p><p>Nesse sentido, não concorda com a análise de Keynes, desenvolvida na teoria geral, sobre a ocorrência</p><p>de situações de desemprego involuntário.</p><p>Observação</p><p>Para Keynes, o nível de emprego e o nível de desemprego são determinados</p><p>pela demanda efetiva no mercado de bens e pelo cruzamento da curva</p><p>de oferta agregada com a curva de demanda agregada. Insuficiência de</p><p>demanda efetiva ocasiona desemprego involuntário.</p><p>Para Friedman (1985), o sinal relevante no mercado de trabalho consiste no comportamento do salário</p><p>real, e não no do salário nominal. Portanto, a definição da taxa natural de desemprego representaria a</p><p>taxa de desemprego consistente com o equilíbrio na estrutura de salários reais da economia. Assim, a</p><p>taxa natural de desemprego, ou a taxa natural de emprego correspondente, estará em um nível em que</p><p>o salário real de equilíbrio seja tal que iguale a demanda com a oferta de mão de obra. Essa situação é</p><p>representada na figura a seguir.</p><p>WIP</p><p>Sa</p><p>lá</p><p>rio</p><p>Emprego</p><p>PMgN</p><p>PMgN</p><p>(WIP)*</p><p>N*</p><p>N</p><p>N</p><p>W</p><p>P P</p><p>s</p><p>e =</p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>Figura 3 – Taxa natural de desemprego</p><p>21</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>A curva de demanda por mão de obra, como deduzida no modelo clássico, é a já conhecida curva</p><p>do produto marginal do trabalho (PMgN). No ponto N*, que corresponde à taxa natural de emprego,</p><p>a demanda por mão de obra será igual à oferta, pois nesse ponto temos o intercepto com a curva de</p><p>oferta de mão de obra, dada por N</p><p>W</p><p>P P</p><p>s</p><p>e =</p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>, ocasionando que o nível esperado de preços seja, para</p><p>os ofertantes de mão de obra, igual ao nível de preços efetivo</p><p>W</p><p>P</p><p></p><p></p><p></p><p> . Portanto, apenas nesse nível de</p><p>emprego não existe tendência de mudança no salário real. A demanda e a oferta de mão de obra são</p><p>equivalentes.</p><p>Quando ocorre esse equilíbrio no mercado de trabalho, os ofertantes de mão de obra têm uma</p><p>expectativa correta quanto ao nível de preços. Se esse não fosse o caso, haveria uma tendência de</p><p>mudança da oferta de mão de obra, quando os trabalhadores percebessem que suas expectativas</p><p>estavam erradas, ora ofertando mais trabalho, ora diminuindo tal oferta.</p><p>A taxa natural de desemprego pode ser encontrada simplesmente pela subtração da quantidade</p><p>de trabalhadores empregados da força de trabalho total, portanto como expressão de um número</p><p>correspondente a uma porcentagem da força de trabalho total. Usando outra fórmula conhecida, a</p><p>função produção (y = F(K, N)) descrita na figura a seguir, podemos encontrar o nível de produto que</p><p>resulta de um nível de emprego N*. Essa é a taxa natural de produto, y*.</p><p>y</p><p>Pr</p><p>od</p><p>ut</p><p>o</p><p>Emprego</p><p>F(K,N)</p><p>y*</p><p>N*</p><p>N</p><p>Figura 4 – Taxa natural de produto</p><p>Como vimos nas figuras anteriores, as taxas naturais de produto e emprego dependem da oferta de</p><p>fatores de produção e da tecnologia, que compõem o lado da oferta, também denominadas variáveis</p><p>reais. É por isso que o modelo monetarista defende que as taxas naturais de produto e emprego não</p><p>dependem do nível de demanda agregada. Isso corresponde praticamente às conclusões originadas pelo</p><p>modelo clássico, com uma simples diferença: para os monetaristas a economia a curto prazo pode não</p><p>se encontrar necessariamente nos níveis naturais de emprego e produto.</p><p>Em conformidade com o modelo keynesiano, os monetaristas adotam que os ofertantes de mão de</p><p>obra não têm informações perfeitas sobre o nível do salário real. Eles tomam suas decisões de oferta</p><p>22</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>de mão de obra com base no salário real esperado</p><p>W</p><p>Pe</p><p></p><p></p><p></p><p> . Ressalva‑se, portanto, que a curto prazo a</p><p>oferta de mão de obra pode não ser dada pela curva de oferta, porque Pe pode ser diferente de P, logo o</p><p>emprego e o produto podem desviar de suas taxas naturais.</p><p>A taxa natural de desemprego é um conceito crucial na análise macroeconômica de Milton Friedman,</p><p>já que constitui o equilíbrio estável que suporta não só a versão da curva de Phillips monetarista, mas</p><p>também a hipótese geral de que só os determinantes reais da economia têm importância a longo prazo.</p><p>Desta maneira, se a taxa natural perder seu significado, o edifício teórico de Friedman não se sustentará.</p><p>Para entendermos melhor tal mecanismo, será de vital importância entender como são construídas</p><p>as previsões acerca dos preços e no nível do salário real numa situação em que os salários nominais</p><p>podem mudar rapidamente. Com isso, podemos reconhecer a maneira como os trabalhadores elaboram</p><p>suas expectativas sobre o comportamento dos preços, conjuntamente com os empresários; em ambos os</p><p>casos as previsões são imprecisas e diferentes ao longo do tempo. É isso que veremos na apresentação</p><p>da hipótese das expectativas adaptativas.</p><p>1.2 Expectativas adaptativas</p><p>Em sua formulação do modelo monetarista, Friedman (1985) incorpora o papel das expectativas</p><p>formuladas</p><p>por Keynes, mas adaptando suas implicações na dinâmica econômica para harmonizar‑se</p><p>com os pressupostos do modelo clássico. Nesse ponto, também divide a economia a curto e a longo</p><p>prazos, dando origem à Hipótese das Expectativas Adaptativas (HEA).</p><p>Sua principal constatação postula que a curto prazo a renda nominal será afetada, já que depende</p><p>da política monetária atual e da realizada nos períodos passados, tendo, portanto, efeitos mediatos,</p><p>além de imediatos, na economia. Para Friedman (1985), esses encadeamentos seriam garantidos pelos</p><p>mecanismos de propagação expressos pelas expectativas adaptativas. No caso do longo prazo, o</p><p>modelo clássico iria vigorar, já que não teríamos mais impactos das expectativas em conformidade</p><p>com políticas econômicas acomodatícias ou previsíveis, principalmente, quanto à política monetária.</p><p>Se, por exemplo, as pessoas fizessem uma previsão de uma dada variável em um dado período</p><p>cuja estimativa fosse muito baixa, elas se adaptariam elevando a sua expectativa do valor da</p><p>variável para o período seguinte. Essa variável, na maioria dos casos, compreende o nível de preços</p><p>da economia (inflação).</p><p>Segundo a Hipótese das Expectativas Adaptativas (HEA), as pessoas estimam a inflação futura com</p><p>base na expectativa sobre a inflação presente, que em todo esse processo compreende os erros entre</p><p>os níveis da inflação estimada e da efetiva no presente. Se expressarmos a HEA em equação, teremos:</p><p>π π π πt</p><p>e</p><p>t</p><p>e</p><p>t</p><p>e</p><p>+ = + ( )1 v t –</p><p>23</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Sendo πt</p><p>e</p><p>+1 a expectativa da inflação no período t+1 futuro, πt</p><p>e</p><p>a expectativa da inflação para o</p><p>período t atual, πt a inflação atual efetiva e v um fator de correção que expressa a velocidade de revisão</p><p>das expectativas.</p><p>Em outras palavras, com expectativas adaptativas os agentes econômicos assumem que o futuro seja</p><p>determinado pelo passado e pelo presente. Quando aplicado ao comportamento dos preços, isso implica</p><p>que tais agentes consideram que os preços futuros (expectativas inflacionárias) dependem somente das</p><p>dinâmicas presente e passada. Nesse sentido, as pessoas corrigem suas expectativas em resposta aos</p><p>erros cometidos no passado.</p><p>Existem tanto efeitos imediatos como mediatos na economia que se expressam ao longo do tempo</p><p>como um mecanismo de propagação. Supondo com base na equação uma simplificação do fator de</p><p>correção v igual à unidade, ocorrendo uma diferença entre a inflação presente efetiva e a esperada, isso</p><p>provocaria impactos imediatos na expectativa de inflação futura, de forma que esta se tornasse igual à</p><p>inflação presente efetiva.</p><p>Ao adotar a hipótese das expectativas adaptativas, o modelo monetarista nos mostra que</p><p>somente num ambiente de frustração de expectativas, ou seja, se a variação do nível de preços</p><p>fosse diferente da esperada por parte dos agentes econômicos, isso levaria a uma alteração da</p><p>renda com impactos nos níveis de produto e emprego. Isso ocorre porque os agentes precisam</p><p>decidir a curto prazo sem que possuam informações completas, de forma que suas decisões são</p><p>tomadas com base em expectativas.</p><p>Iremos perceber que Friedman (1985) não se importa com o debate sobre o problema da rigidez</p><p>de salários e preços, já que ao adotar a teoria quantitativa da moeda as variações dos salários</p><p>nominais compreendem um subproduto das variações da oferta monetária. Além disso, mesmo que</p><p>os mercados funcionassem perfeitamente, ainda existiria certa demora de ‘o‑s agentes econômicos</p><p>obterem informações completas.</p><p>É esta demora que pode levar a frustrações de expectativas a curto prazo, produzindo as oscilações</p><p>na renda, no produto e no emprego. A HEA explica o ajuste entre valores estimados, ocorridos e</p><p>permanentes das variáveis, que leva tempo e, portanto, explica as flutuações cíclicas de curto prazo nas</p><p>variáveis macroeconômicas.</p><p>Já na análise de longo prazo, no modelo monetarista as expectativas não se frustram, uma vez</p><p>que as informações são perfeitas, por definição, caso em que a renda real evolui com as variações dos</p><p>recursos e da tecnologia, vigorando as implicações do modelo clássico da economia em pleno emprego.</p><p>Contudo, os problemas do mundo real, a curto prazo, fazem Friedman (1985) admitir que a política</p><p>monetária tenha importância, pois as mudanças na quantidade de moeda originam uma ilusão</p><p>monetária que contribui para os erros de estimativas dos agentes. No entanto, essa política deve seguir</p><p>uma regra, com o intuito de evitar ou minimizar as frustrações de expectativas e, portanto, as oscilações</p><p>do produto, da renda ou do emprego e da inflação.</p><p>24</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A oferta monetária, em síntese, deve seguir as necessidades impostas pela evolução da renda real</p><p>de longo prazo, como regra, fato que veremos com mais detalhe quando examinarmos as prescrições</p><p>de políticas. Mas antes, veremos que a adoção das expectativas adaptativas terá impactos na oferta</p><p>agregada de curto e longo prazos no modelo monetarista.</p><p>1.3 Curva de oferta agregada de curto e longo prazos</p><p>O modelo do mercado de trabalho, apresentado por Friedman (1985), admite como hipótese básica</p><p>uma assimetria no conjunto de informações dos trabalhadores e dos empregadores: os trabalhadores</p><p>oferecem sua força de trabalho com base no nível de preços esperado, enquanto os empregadores</p><p>contratam a mão de obra conhecendo de antemão os preços dos bens que irão produzir. As equações do</p><p>mercado de trabalho são, então, dadas por:</p><p>Demanda de mão de obra:</p><p>W</p><p>P</p><p>g Nd= ( )</p><p>Oferta de mão de obra: W</p><p>P</p><p>h Ne</p><p>s= ( )</p><p>Equilíbrio de mercado: Nd = Ns</p><p>Graficamente a figura a seguir descreve o funcionamento do mercado de trabalho. Quando os</p><p>trabalhadores acertam nas suas expectativas, Pe = P, o volume de emprego é igual a N.</p><p>W</p><p>P D(P)</p><p>N1 N0 NN</p><p>D(P)</p><p>S(Pe>P)</p><p>S(Pe>P)</p><p>S(Pe=P)</p><p>S(Pe=P)</p><p>S(Pe<P)</p><p>S(Pe<P)</p><p>Figura 5 – Funcionamento do mercado de trabalho sob expectativas adaptativas</p><p>Nessas circunstâncias, existe equilíbrio tanto a curto quanto a longo prazo, pois ambos os</p><p>lados do mercado estão nas suas posições preferidas. Quando os trabalhadores antecipam um</p><p>nível de preços menor do que aquele que efetivamente ocorre, eles oferecem um volume de mão</p><p>de obra acima do nível de pleno emprego, pois esperavam um salário real elevado que na verdade</p><p>representou uma mera ilusão.</p><p>25</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Essa situação não é de equilíbrio de longo prazo, porque os trabalhadores acabarão por reconhecer que</p><p>tomaram uma decisão errada e irão rever o volume de emprego que desejam oferecer diante das novas</p><p>condições da economia. Quando os trabalhadores antecipam um nível de preços superior ao que ocorreu, o</p><p>volume de emprego é inferior ao de pleno emprego e suas decisões serão revistas em face do erro de previsão.</p><p>No modelo de Friedman (1985) os níveis de emprego e de produto real variam, a curto prazo, em</p><p>virtude dos erros de previsão dos trabalhadores. Para um dado nível de preços esperado (Pe), quanto</p><p>maior o nível de preços (P), maior será o produto real da economia. Quando o nível de preços for igual</p><p>ao valor antecipado pelos trabalhadores (P = Pe), o produto real será igual ao produto de pleno emprego.</p><p>A figura seguinte mostra as curvas de oferta agregada de curto prazo, que são positivamente inclinadas, e</p><p>a curva de oferta agregada de longo prazo, que é vertical, como no modelo clássico; portanto, contemplando</p><p>as proposições monetaristas, já que a longo prazo só fatores reais podem mudar os níveis de produto.</p><p>y y</p><p>P</p><p>Pe</p><p>1</p><p>Pe</p><p>0</p><p>S P Pe e</p><p>1 0>( )</p><p>S P Pe e</p><p>1 0>( )</p><p>S Pe</p><p>0( )</p><p>S Pe</p><p>0( )</p><p>Figura 6 – Oferta agregada: modelo monetarista</p><p>Assim, devido ao funcionamento do mercado de trabalho sobre a hipótese de expectativas</p><p>adaptativas, podemos derivar a curva de Phillips aceleracionista desenvolvida por Friedman</p><p>(1985) com</p><p>base na oferta agregada monetarista.</p><p>1.4 Curva de Phillips (curto e longo prazos)</p><p>Após a apresentação dos principais pressupostos do modelo monetarista, podemos avançar para o</p><p>exame da dinâmica macroeconômica vigente nesse modelo. Para tanto, o papel da curva de Phillips na</p><p>versão aceleracionista proposta por Friedman (1985) toma o centro desta análise.</p><p>Numa breve recordação, a tradicional curva de Phillips resultou de um trabalho empírico realizado por</p><p>Phillips e aperfeiçoado por Lipsey, a partir dos anos de 1950. Isso originou um instrumento que mostrava</p><p>a existência de um trade‑off entre inflação e desemprego, bem como a existência, a curto prazo, de uma</p><p>taxa de desemprego natural. Na realidade, os trabalhos de Phillips e Lipsey apenas observaram uma relação</p><p>inversa entre a taxa de desemprego (u) e a taxa de variação dos salários nominais (W).</p><p>26</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A partir disso, em situações de recessão, em que temos altas taxas de desemprego, as variações</p><p>salariais serão baixas, enquanto em períodos de crescimento as taxas de desemprego são baixas e os</p><p>salários nominais crescem mais, em conformidade com a oferta e a demanda de mão de obra no mercado</p><p>de trabalho. Nesta primeira versão da curva de Phillips, ilustrada na figura a seguir, é a demanda efetiva</p><p>que determina o nível de emprego e que afeta a taxa de variação do salário nominal, o que lhe dá um</p><p>caráter keynesiano.</p><p>∆W</p><p>u</p><p>Figura 7 – Curva de Phillips keynesiana</p><p>Esse mecanismo foi contestado e modificado por Friedman (1985) e Phelps (1970) de forma a</p><p>gerar‑se uma curva de Phillips monetarista. Aqui, o comportamento dos preços e do desemprego</p><p>seria afetado pela vigência da teoria quantitativa da moeda revisitada alterando a dinâmica do</p><p>ajustamento a curto e longo prazo. Logo, qualquer política econômica que visasse ao pleno emprego,</p><p>através de uma maior oferta de moeda, somente a curto prazo, poderia aumentar a renda nominal</p><p>da economia.</p><p>No entanto, se essa política exceder as necessidades monetárias da taxa de crescimento da renda real</p><p>de equilíbrio de longo prazo, a inflação eliminará qualquer estimulo adicional à produção. Entretanto, a</p><p>curto prazo, os estímulos à produção com menores taxas de juros e maiores preços elevariam a demanda</p><p>por mão de obra, o que permitiria um aumento de salários nominais.</p><p>Com base nas expectativas adaptativas, o modelo pressupõe a existência de uma ilusão</p><p>monetária por parte dos trabalhadores, de forma que estes perceberiam o aumento nominal como</p><p>um aumento dos salários reais, resultando numa elevação da oferta no mercado de trabalho. Ao</p><p>mesmo tempo, os empresários só aumentariam o emprego com salários reais menores, os quais os</p><p>trabalhadores não percebem, visto que a oferta de trabalho depende não do salário real efetivo,</p><p>mas do salário real esperado, como conceituado por Friedman (1985). Como resultado do aumento</p><p>da oferta e da demanda de mão de obra, a curva de Phillips de curto prazo se deslocaria para a</p><p>esquerda, de CP1 para CP2:</p><p>27</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>∆W</p><p>LP</p><p>CP1</p><p>CP2</p><p>un</p><p>u</p><p>Figura 8 – Curva de Phillips revisada</p><p>Mas essa situação só ocorre a curto prazo, pois quando os trabalhadores se desfazem de sua</p><p>ilusão monetária, ao perceberem que os preços também se elevaram, ocasionando uma situação</p><p>em que os salários reais não cresceram, apesar dos aumentos nominais, voltam, neste momento,</p><p>a diminuir sua oferta de mão de obra, fazendo a curva de Phillips deslocar‑se de volta para a</p><p>direita. Como resultado disso, os impactos reais sobre a produção e o emprego se revelam nulos</p><p>com o passar do tempo.</p><p>Assim, qualquer aumento do estoque de moeda levaria somente a maiores salários nominais e a</p><p>um aumento do nível de preços, mas com salários reais constantes. Dessa forma, a longo prazo, em</p><p>razão das expectativas adaptativas, não temos frustrações das expectativas, logo não ocorre o trade‑off</p><p>inflação‑desemprego e a taxa de desemprego não pode diminuir além de certo patamar, resultando no</p><p>aparecimento de uma curva de Phillips de posição vertical.</p><p>Será neste processo de ajustamento, num dado nível de equilíbrio de longo prazo, que se revelará a</p><p>existência da já citada taxa natural de desemprego (un) compatível com o equilíbrio de pleno emprego,</p><p>dadas as características estruturais e as imperfeições dos mercados de trabalho e de bens. Segundo</p><p>Friedman (1985, p. 390),</p><p>[...] a “taxa natural de desemprego” [...] não é uma constante numérica,</p><p>mas se apoia em fatores “reais” em oposição aos monetários: a eficácia</p><p>do mercado de trabalho, o nível de competição ou de monopólio, os</p><p>obstáculos ou incentivos ao trabalho em várias ocupações, e assim</p><p>por diante.</p><p>Dessa forma, os fatores determinantes da “taxa natural de desemprego” podem ser, por exemplo,</p><p>os benefícios aos desempregados, os salários mínimos fixados acima do nível salarial de equilíbrio,</p><p>o poder sindical, a incidência de impostos sobre os salários e a folha salarial, fatores demográficos</p><p>ou migratórios, as diferenças entre oferta e demanda setoriais por trabalho e a ocorrência de</p><p>histerese no desemprego.</p><p>28</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Observação</p><p>Histerese são as consequências defasadas de mudanças de variáveis.</p><p>O sentido é de que a posição das variáveis no presente depende não</p><p>somente do que esteja acontecendo no presente, mas também do que</p><p>aconteceu no passado.</p><p>Dessa maneira, no modelo monetarista, estímulos ao aumento da renda nominal a curto prazo</p><p>gerariam, de forma transitória, mais empregos, produzindo também inflação, que faz a curva de Phillips</p><p>de curto prazo ainda apresentar o trade‑off entre inflação e desemprego.</p><p>No entanto, a versão apresentada na figura anterior é apenas uma primeira aproximação da</p><p>curva de Phillips monetarista. Ela poderia levar à ilusão de que para se obter uma menor taxa</p><p>de desemprego se poderia admitir alguma taxa de inflação maior, porém estável. Os teóricos</p><p>monetaristas afirmam que esta opção é impossível, visto que a inflação tenderia a crescer</p><p>continuamente. A versão completa da curva de Phillips monetarista incorpora as expectativas</p><p>adaptativas.</p><p>Com isso, a equação da curva de Phillips passa a expressar uma tendência de aceleração da inflação em</p><p>toda a tentativa de manter o desemprego abaixo da sua taxa natural. Dessa forma, a taxa de desemprego</p><p>só pode ficar abaixo da taxa natural com políticas expansionistas que aumentem continuamente não</p><p>somente o nível de preços, mas também a sua taxa de variação.</p><p>Na figura a seguir, temos a representação da curva de Phillips aceleracionista com a incorporação</p><p>da hipótese das expectativas adaptativas. Partindo‑se de uma situação com taxa de desemprego</p><p>natural e inflação nula, uma política expansionista poderia produzir um aumento no emprego a</p><p>curto prazo, considerando‑se a ilusão monetária dos trabalhadores, mas ao custo de um aumento</p><p>de preços.</p><p>Quando os trabalhadores se dão conta de que os salários reais não aumentaram, eles diminuem a</p><p>oferta de mão de obra, e a taxa de desemprego volta a subir para a natural. No entanto, como foi gerada</p><p>uma taxa inflacionária, as expectativas extrapolam essa inflação para o período seguinte (trabalhadores</p><p>e empresas embutem esta expectativa na negociação salarial e em seus aumentos de preços, por</p><p>exemplo), de forma que a curva de Phillips vai se deslocar, gerando uma situação de equilíbrio com taxa</p><p>de desemprego natural e taxa de inflação positiva (a curva de curto prazo CP2 não vai voltar para CP1,</p><p>mas deslocar‑se para CP3).</p><p>29</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>πe</p><p>un</p><p>CP1</p><p>CP2</p><p>CP3</p><p>u</p><p>Figura 9 – Curva de Phillips aceleracionista</p><p>Portanto, existiria sempre uma taxa natural de desemprego, determinada por fatores</p><p>reais,</p><p>que vigora quando as expectativas se realizam e que é compatível com qualquer nível de preços</p><p>ou de inflação; portanto, neste caso, a moeda seria neutra. No entanto, de acordo com Friedman</p><p>(1985, p. 404):</p><p>[...] mudanças não esperadas na demanda agregada nominal e na</p><p>inflação causarão erros sistemáticos de percepção tanto por parte dos</p><p>empregadores como dos empregados, que inicialmente desviarão o</p><p>desemprego na direção oposta à sua taxa natural. Neste sentido, a moeda</p><p>não é neutra. Todavia, tais desvios são transitórios, embora possa levar um</p><p>longo tempo até que eles sejam revertidos e, finalmente, eliminados com</p><p>o ajuste das previsões.</p><p>A curva de Phillips monetarista poderia, portanto, explicar a tendência aceleracionista dos</p><p>preços como o resultado de políticas econômicas equivocadas de demanda dos governos, e o</p><p>desemprego como resultante não da escassez de demanda, mas de problemas relacionados ao</p><p>lado da oferta.</p><p>Em complemento a essa ideia, devemos levar em conta que o desemprego a curto prazo pode ser</p><p>influenciado por fatores relacionados à demanda e também à oferta agregada de curto prazo, já que a</p><p>longo prazo somente a oferta agregada importaria. Dessa forma, tanto choques de demanda quanto de</p><p>oferta poderiam alterar o equilíbrio da taxa natural de desemprego e dos preços.</p><p>Por exemplo, um choque positivo de demanda gera, a curto prazo, aumento de preços e de emprego,</p><p>enquanto um choque negativo de oferta gera aumento da inflação e redução de emprego, ou seja,</p><p>estagflação. Seria justamente isso o que teria ocorrido nos anos 1970, com os aumentos de preços do</p><p>petróleo e das commodities. O trade‑off inflação‑desemprego existe somente com choques de demanda,</p><p>de forma que a estagflação teria sido gerada pelo choque de oferta.</p><p>30</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A constatação da tendência aceleracionista do nível de preços expressa pela curva de Phillips</p><p>monetarista gerou outro nome para a taxa natural de desemprego, a chamada Nairu – sigla em inglês</p><p>para Non‑Accelerating Inflation Rate of Unemployment –, ou seja, a taxa de desemprego que não</p><p>acelera os níveis de inflação. É a taxa que corresponde a um equilíbrio macroeconômico, quando a</p><p>inflação efetiva é igual à esperada.</p><p>A Nairu pode ser entendida como uma taxa de desemprego estrutural, uma vez que é causada por</p><p>fatores de médio e longo prazo que são decorrentes da estrutura imperfeita dos mercados de trabalho</p><p>e de bens. Em contraposição aos fatores conjunturais, de curto prazo, que são provocados por erros</p><p>expectacionais sobre preços ou salários ou devido a processos de substituição intertemporal, entendidos</p><p>como as variações da taxa de desemprego acima ou abaixo da Nairu, de forma que esse seria um</p><p>desemprego cíclico.</p><p>Somente uma taxa superior à Nairu, ou seja, um desemprego cíclico, poderia ser reduzida com</p><p>políticas macroeconômicas. As políticas keynesianas de pleno emprego que não levassem em conta a</p><p>Nairu causariam inevitavelmente inflação. Para a redução da Nairu, ou seja, do desemprego estrutural,</p><p>seriam necessárias medidas microeconômicas, ou políticas estruturais, que combatessem suas causas,</p><p>principalmente na órbita da função de oferta de trabalho.</p><p>O custo de políticas expansionistas que tentem reduzir a taxa de desemprego abaixo de seu nível</p><p>natural, obviamente, seria alto, portanto, não só por gerar uma espiral inflacionária, mas também</p><p>porque, mesmo se o governo voltar atrás e eliminar a política expansionista, o desemprego voltará</p><p>ao seu nível natural, mas a taxa de inflação não recuará do patamar alcançado, deixando somente de</p><p>aumentar ainda mais. A taxa de desemprego natural é compatível com uma taxa estável de inflação, e</p><p>não somente com inflação nula.</p><p>Por isso, a curva de Phillips de longo prazo é vertical, e não somente um ponto sobre a abscissa,</p><p>demonstrando que qualquer taxa de inflação é compatível com a taxa de desemprego natural. Não</p><p>existe um trade‑off estável entre inflação e desemprego. Dessa forma, para que a taxa de inflação fosse</p><p>reduzida, o desemprego teria de ser elevado acima da taxa natural, sendo este o custo ou a taxa de</p><p>sacrifício para uma desinflação.</p><p>Em princípio, enquanto as variações da Nairu são pouco frequentes, o desemprego cíclico tem</p><p>movimentos muito frequentes. A Nairu depende de variáveis estruturais, de longo prazo, como o valor</p><p>e a duração dos benefícios aos desempregados, as formas de barganha salarial e a cobertura sindical,</p><p>por exemplo. No entanto, mudanças temporárias, como as da órbita da oferta agregada (por exemplo,</p><p>variações nos preços do petróleo), também afetam a Nairu. Dessa forma, admite‑se que choques de</p><p>oferta também alterem o nível da Nairu por um breve período de tempo.</p><p>Exemplo</p><p>Como adotado pela teoria monetarista, um esforço para diminuir a taxa de desemprego através de</p><p>políticas econômicas ativas gera, a longo prazo, um aumento do nível de preços na economia.</p><p>31</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA APLICADA</p><p>Suponha que a taxa de crescimento da oferta de moeda aumente além da taxa compatível com a</p><p>estabilidade de preços. Vamos imaginar que a economia em equilíbrio apresente uma taxa de desemprego</p><p>igual à taxa natural de 6%, com nível de preços estáveis (πe= 0), e a taxa de crescimento da oferta de</p><p>moeda suba de 3% para 5%. O aumento da taxa de crescimento estimula a demanda agregada com</p><p>diminuição da taxa de desemprego e com elevação da inflação.</p><p>Conforme a figura a seguir, a economia move‑se do ponto A para o ponto B num novo equilíbrio de</p><p>curto prazo, com desemprego reduzido para 4% e uma taxa de inflação de 2%. Mas para os monetaristas</p><p>essa situação é temporária, pois os trabalhadores acabam por observar que o nível de preços elevou‑se</p><p>e demandarão salários monetários mais altos. Se o crescimento da oferta de moeda continuar em 5%,</p><p>a economia retornará à taxa natural de desemprego de 6%, mas com uma taxa de inflação de 2% dada</p><p>pelo ajuste que ocorre quando a economia se move do ponto B para o ponto C.</p><p>2</p><p>4</p><p>6</p><p>8</p><p>π(</p><p>ta</p><p>xa</p><p>d</p><p>e</p><p>in</p><p>fla</p><p>çã</p><p>o)</p><p>CP(πe=0)</p><p>(F)</p><p>(G)</p><p>(H)(E)</p><p>(C)</p><p>(A)</p><p>2 4 6 8</p><p>µ(taxa de desemprego)</p><p>(D)</p><p>(B)</p><p>CP(πe=2%)</p><p>CP(πe=4%)</p><p>CP(πe=6%)</p><p>CP(πe=π)</p><p>Figura 10 – Curva de Phillips de curto prazo e longo prazo monetarista</p><p>Se os formuladores de políticas insistirem em diminuir a taxa de desemprego, abaixo da taxa natural,</p><p>aumentarão novamente a taxa de crescimento da oferta de moeda. Supondo aumentos no crescimento</p><p>da moeda, para 5%, depois 7%, depois 9%, teremos reduções temporárias no desemprego (movimentos</p><p>de C para D e de E para F, ilustrados na figura anterior). Mas a longo prazo a economia retornará à</p><p>taxa natural de desemprego, com uma taxa de inflação aumentada para πe = 6% (9% de crescimento</p><p>monetário menos 3% de crescimento da renda real). A curva de Phillips torna‑se vertical, a longo prazo,</p><p>com deslocamento do ponto E para o ponto G, por exemplo.</p><p>Portanto, como ilustrado, para os monetaristas uma política monetária expansionista só move a</p><p>taxa de desemprego para baixo da taxa natural temporariamente e sofrerá com elevação nos níveis</p><p>de inflação.</p><p>32</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>M</p><p>ar</p><p>ci</p><p>lia</p><p>-</p><p>D</p><p>ia</p><p>gr</p><p>am</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>12</p><p>/1</p><p>2/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>1.5 Recomendações de política</p><p>Como vimos ao longo da apresentação do modelo monetarista, essa estrutura em comparação à</p><p>teoria keynesiana produz visões bastante diferentes sobre a efetividade das políticas macroeconômicas,</p><p>dentre elas, a política fiscal e monetária. Desse modo, no modelo monetarista, o papel da política fiscal</p><p>seria ineficiente, ao passo que a política monetária deveria seguir uma regra, principalmente, por seus</p><p>impactos a curto prazo no nível de produto e emprego.</p><p>Sobre a política fiscal, o modelo monetarista prega que o estado do orçamento não tem nenhum</p><p>efeito significativo sobre o curso da renda nominal ou das flutuações cíclicas. Portanto, não aceita</p>

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