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<p>Editora Appris Ltda. 1.ª Edição - Copyright© 2019 dos autores Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda. Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010. Catalogação na Fonte Elaborado por: Josefina A. S. Guedes Bibliotecária CRB 9/870</p><p>Editora e Livraria Appris Ltda. Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês Curitiba/PR – CEP: 80810-002 Tel: (41) 3156-4731 | (41) 3030-4570 http://www.editoraappris.com.br/</p><p>FICHA TÉCNICA</p><p>EDITORIAL Augusto V. de A. Coelho Marli Caetano Sara C. de Andrade Coelho</p><p>COMITÊ EDITORIAL Andréa Barbosa Gouveia - UFPR Edmeire C. Pereira - UFPR Iraneide da Silva - UFC Jacques de Lima Ferreira - UP Marilda Aparecida Behrens - PUCPR</p><p>ASSESSORIA EDITORIAL Bruna Fernanda Martins</p><p>REVISÃO Isabela do Vale Poncio</p><p>PRODUÇÃO EDITORIAL Lucas Andrade</p><p>DIAGRAMAÇÃO Danielle Paulino</p><p>CAPA Matheus Miranda</p><p>COMUNICAÇÃO Carlos Eduardo Pereira Débora Nazário Karla Pipolo Olegário</p><p>LIVRARIAS E EVENTOS Estevão Misael</p><p>GERÊNCIA DE FINANÇAS Selma Maria Fernandes do Valle</p><p>CONVERSÃO PARA E-PUB Carlos Eduardo H. Pereira</p><p>COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E</p><p>TRANSDISCIPLINARIDADE</p><p>DIREÇÃO CIENTIFICA Dra. Marilda A. Behrens – PUCPR Dra. Patrícia L. Torres – PUCPR</p><p>CONSULTORES Dra. Ademilde Silveira Sartori – UDESC</p><p>Dr. Ángel H. Facundo – Univ. Externado de Colômbia</p><p>Dra. Ariana Maria de Almeida Matos Cosme – Universidade do Porto/Portugal</p><p>Dr. Artieres Estevão Romeiro- Universidade Técnica Particular de Loja/ Equador</p><p>Dr. Bento Duarte da Silva – Universidade do Minho/Portugal</p><p>Dr. Claudio Rama – Univ. de la Empresa/Uruguai</p><p>Dra. Cristiane de Oliveira Busato Smith – Arizona State University /EUA</p><p>Dra. Dulce Márcia Cruz – UFSC</p><p>Dr. Edméa Santos – UERJ</p><p>Dra. Eliane Schlemmer – Unisinos</p><p>Dra. Ercilia Maria Angeli Teixeira de Paula – UEM</p><p>Dra. Evelise Maria Labatut Portilho – PUCPR</p><p>Dra. Evelyn de Almeida Orlando – PUCPR</p><p>Dr. Francisco Antonio Pereira Fialho – UFSC</p><p>AGRADECIMENTOS</p><p>Agradecemos às agências brasileira de fomento à pesquisa: CNPq, Capes e</p><p>Funcap pelo apoio à realização desta coletânea.</p><p>PREFÁCIO</p><p>A presente obra Docência, prática e práxis é uma produção bibliográfica</p><p>composta por textos em forma de capítulos de livro resultado de esforços de</p><p>diversos pesquisadores(as) que comungam ideias, ações e reflexões sobre o</p><p>exercício da profissão docente. Os textos são produções de inúmeros</p><p>pesquisadores/as cuja preocupação precípua é o desenvolvimento de uma</p><p>educação humana, libertária, formadora, significativa, reflexiva e emancipadora.</p><p>É válido deixar posto que a tessitura conteudal do livro ora prefaciado traz à tona</p><p>possibilidades e alternativas de se compreender a realidade contextual visando a</p><p>ressignificação da prática e da práxis no âmbito da docência com vistas a</p><p>transformação social necessária.</p><p>Embora não queiramos contradizer a máxima de que os “filósofos tentaram</p><p>apenas interpretar o mundo cabe porém transformá-lo”, pensamos que não há</p><p>transformação potente e significante se primeiro não interpretarmos a realidade</p><p>contextual do mundo e suas coisas em nosso entorno. Destarte, entendemos</p><p>também que a interpretação é apenas uma etapa importante e decisiva para</p><p>perquirirmos à devida e indispensável transformação.</p><p>Nessa perspectiva, as páginas do livro que seguem tratam de temáticas de nosso</p><p>tempo perscrutando e tentando mostrar caminhos e estratégias para superação de</p><p>problemáticas e dilemáticas na esfera da educação. Para tanto, o livro contempla</p><p>assuntos diversos, porém necessários abordando desde a educação infantil até a</p><p>educação superior, passando pela educação inclusiva e à distância, musicalidade,</p><p>cinema e processo avaliativo da educação.</p><p>É racional esclarecer, que embora não sejamos seguidores do fetiche aos</p><p>conceitos enrijecidos dos códigos escritos, acreditamos ser cabível considerar o</p><p>imbricamento dessas categorias, docência, prática e práxis nos domínios</p><p>educacionais, a partir da ciência Etimologia, que aliás, ao lado de suas</p><p>complementares: Fonética, Semântica, Lexicografia, Filologia Comparada,</p><p>Dialetologia, Morfologia, entre outras, foram e são de suma importância para</p><p>sabermos e interpretarmos o sentido das coisas.</p><p>Nessa ótica, a começar pelo primeiro vocábulo, “docência” palavra originária do</p><p>latim docere, é ação intencional munida de arte e técnica para ensinar, informar,</p><p>mostrar, indicar, dar a entender. Em termos epistemológicos mais elaborados</p><p>docência é a prática fundamentada na reflexão nas e sobre ações e questões</p><p>educativas pertinentes a um dado e interpretado contexto (práxis).</p><p>Deste modo, docência é a profissão designativa de quem exerce o magistério,</p><p>prática é o ato ou ação e práxis é a reflexão crítica interna e externa designadora</p><p>da atividade produtora historicamente da unidade entre o ser e o mundo, espírito</p><p>e matéria, teoria e prática, aparência e essência, sujeito e objeto visando à</p><p>formação e à transformação sócio-histórica da sociedade.</p><p>Com efeito, diante da relação interdependente talvez o mais coerente seja</p><p>escrever os três vocábulos de forma justaposta, docência-prática-práxis ou</p><p>mesmo aderir a contumaz tríade prática e práxis docente haja vista que todas as</p><p>palavras em análise pertencem ao um mesmo domínio lexical de algo comum em</p><p>razão do perfil sêmico de cada uma delas.</p><p>A obra surge em um momento especificamente oportuno haja vista pairar sobre a</p><p>sociedade atual, seja em escala geral ou local, incertezas e desintegração das</p><p>relações indispensáveis a coesão do tecido social humano no âmbito político,</p><p>econômico, social e cultural. Mas, qual a intenção deste livro? E qual a relação</p><p>significante-significadora da tríade tematizadora Docência, prática e práxis</p><p>emergida na presente coletânea?</p><p>A fim de que o público não somente obtenha as respostas às indagações</p><p>imediatamente supracitadas, mas desperte também a curiosidade e o prazer do</p><p>exercício da hermenêutica textual eclética, inter e transdisciplinar. Lançamos o</p><p>convite para a leitura desta obra que oportunamente chega às nossas mãos.</p><p>Redenção, Ceará, 15 de Julho de 2019</p><p>Prof. Dr. Antônio Roberto Xavier</p><p>Universidade da Integração Internacional</p><p>da Lusofonia Afro-Brasileira – Unilab</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Este livro, em forma de coletânea, é resultado de pesquisas desenvolvidas no</p><p>âmbito da pós-graduação stricto sensu no Brasil, apresentando capítulos de</p><p>professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Educação, da</p><p>Universidade Federal do Ceará e demais investigadores de outros programas de</p><p>Instituições de ensino superior, local e nacional, na área da Educação.</p><p>A publicação desta coletânea é um esforço autogestionário de seus autores e</p><p>organizadores, que decidem socializar ideias e práticas pedagógicas a um grande</p><p>público como forma de prestação de contas da universidade pública com a</p><p>sociedade brasileira.</p><p>Destacamos e agradecemos o papel social, político e econômico das agências de</p><p>fomento da pesquisa no Brasil, tanto a nível estadual, a Fundação Cearense de</p><p>Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Funcap, quanto as</p><p>agências nacionais, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e</p><p>Tecnológico – CNPq e a Coordenação de Pessoal de Aperfeiçoamento de</p><p>Pessoal de Nível Superior – Capes, por terem financiado a publicação deste</p><p>livro.</p><p>De acordo com os princípios da liberdade acadêmica, assegurados no âmbito da</p><p>Constituição Federal, cada artigo é de inteira responsabilidade de seus autores,</p><p>eximindo-se os organizadores da coletânea de qualquer responsabilidade pelo</p><p>que for escrito e publicado.</p><p>A autonomia acadêmica de pensar e expor à coletividade pontos de vistas, que na</p><p>medida dos nossos desejos, parafraseando o educador e pensador Paulo Freire,</p><p>representam visões que temos de um ponto de onde partimos na caminhada</p><p>investigativa, depõe, favoravelmente, sobre</p><p>e desafios, tornando- se, portanto, espaço privilegiado de</p><p>aprendizagem da profissão. Pimenta e Lima (2010, p. 138) acrescentam que a</p><p>“escola será sempre ponto de partida e ponto de chegada dos estágios”.</p><p>No percurso formativo, a escola tende a adotar dois papéis na assunção da</p><p>docência: pode contribuir realmente na assimilação e construção do ser</p><p>professor(a) ou, muitas vezes, também burocratiza essa ação e passa a reproduzir</p><p>os modelos de uma prática verticalizada que, em pouco, ou quase nada ajudam</p><p>na constituição da identidade docente.</p><p>Essa ideia nos conduz a refletir sobre como os(as) alunos(as) são recebidos pela</p><p>escola de educação básica. Eis as respostas:</p><p>Fui muito bem recebida tanto pela no estágio da Educação Infantil quanto no</p><p>estágio do Ensino Fundamental, a diretora e a professora da Educação Infantil</p><p>me deixaram à vontade, tanto eu como minha colega de estágio, esse estágio foi</p><p>realizado em Barbalha, já o de Ensino Fundamental foi realizado no Crato (E1).</p><p>Tanto o estágio em Educação Infantil como nas séries iniciais fomos muito bem</p><p>recebidas pelas instituições. No primeiro estágio, a coordenadora da Creche nos</p><p>acolheu muito bem e percebemos que a escola não fez nenhuma objeção para</p><p>nos receber. (E3).</p><p>O núcleo gestor junto à professora nos recebeu com iniciativas motivadoras, a</p><p>escolha por estas salas se deu por buscar conhecer a fundo o trabalho das</p><p>professoras que tinha êxito na alfabetização de crianças. Portanto, procurei</p><p>aprender suas metodologias significativas na alfabetização. (E4).</p><p>No que concerne à forma como foram recebidos, as falas das três estagiárias</p><p>evidenciam que a sua recepção nas escolas foi muito boa. Ressaltamos, que essa</p><p>forma resulta de um conhecimento anterior com algumas das pessoas que</p><p>trabalhavam na escola vejamos: “Fomos bem recebidas, pois já era conhecida</p><p>pela Escola” (E3); “Fui bem recebida, pois minha dupla já conhecia a diretora e</p><p>a coordenadora” (E6); “Fui bem recebida, até porque era minha professora de</p><p>alfabetização” (E4). Por esses relatos, constatamos que não se trata de relações</p><p>construídas institucionalmente, mas ações particularizadas, ou seja, para que</p><p>os(as) alunos(as) tenham acesso à escola, faz-se necessário conhecer pessoas</p><p>naquele espaço que introduza a sua entrada nela para que desenvolva suas</p><p>atividades de estágio. Este se caracteriza como desafio a ser superado na relação</p><p>universidade e escola.</p><p>Nesse ínterim, também foi possível encontrar os que afirmam que foram bem</p><p>recebidos, mas com algumas ressalvas:</p><p>[...] Muitas vezes me senti como uma intrusa, pois como a rotina da escola é</p><p>muito corrida, o tempo é curto e as pessoas (principalmente a diretora) não</p><p>percebe muito a nossa presença (às vezes), só no momento que é necessário a</p><p>assinatura dos papéis de controle dos estágios. [...] Reconhecemos que abrem as</p><p>portas, mas falta apoio, compromisso com os estagiários, o estágio não é</p><p>inserido na rotina deles, não há diálogo (E2, grifo nosso).</p><p>Somos recebidos pelas escolas muitas vezes, com desconfiança, achando que é</p><p>mais um estagiário para “ocupar uma sala de aula”, pois só somos jogados e</p><p>não trazemos, mas o retorno à escola de como foi o relatório, as conclusões (E8,</p><p>grifo nosso).</p><p>A escola tem aberto suas portas para o estagiário, muitas vezes recebe por</p><p>receber ou compreende o fato de estarmos lá. Às vezes, a escola interpreta a</p><p>nossa visita como sendo intrusos ou que irá atropelar a rotina da escola [...]</p><p>(E9, grifo nosso).</p><p>Tais narrativas, postas pelo aluno estagiário e pelas alunas, trazem à cena a</p><p>forma como são vistos pelas escolas. São recebidos(as), abrem-se as portas, mas</p><p>não há uma preocupação efetiva com a formação dos sujeitos que ali se</p><p>encontram. Isso fica evidenciado na fala da estagiária 2 e do estagiário 8. Pois</p><p>estes(as) acabam sendo vistos(as) como “estorvo” que atrapalham a rotina da</p><p>escola.</p><p>A escola como uma instituição pública deve estar a serviço da comunidade e</p><p>precisa estar atenta a esse processo de formação dos alunos e alunas</p><p>estagiários(as), estes que representam “os moradores de duas cavernas” em</p><p>momentos distintos: saem da escola, entram na universidade a fim de dar</p><p>continuidade a sua formação e, muitas vezes, retornam para as escolas com</p><p>objetivo de atuarem como docentes. Essa ideia nos faz pensar na</p><p>responsabilidade que a escola também deve ter no processo formativo desse</p><p>docente, principalmente no estágio, um dos momentos mais delicados da</p><p>formação.</p><p>Nesse caso, indagamo-nos: como as escolas têm pensado esse evento, tendo em</p><p>vista ser uma prática que acontece semestralmente? Pensamos ser possível</p><p>levantar esse debate e inserir nos Projetos Políticos das Escolas ações que</p><p>viabilizem um olhar centrado para esses sujeitos em formação. Tais</p><p>considerações nos levam a crer que precisamos ter essa realidade como um fato</p><p>real, pois, como afirmam Pimenta e Lima (2010), é para as escolas que a maioria</p><p>dos orientadores encaminha seus(as) alunos(as) estagiários(as), considerando ser</p><p>este um espaço lugar de futura inserção profissional desses sujeitos.</p><p>Acreditamos, assim como Lima (2012), que a aprendizagem da profissão se dá</p><p>também a partir das relações estabelecidas com os professores(as) mais</p><p>experientes. Na escola, os(as) professores(as) regentes assumem esse papel de</p><p>espelho para aqueles que pensam em seguir carreira docente. Assim, buscamos</p><p>compreender como se estabelece essa relação com os(as) professores(as) no</p><p>momento de estágio. Como são recebidos pelos(as) professores(as); dos relatos</p><p>apontados por eles(as) destacamos:</p><p>A relação com as duas professoras tanto da Educação Infantil como do Ensino</p><p>Fundamental foi maravilhosa, sempre demonstraram interesse em nos ajudar na</p><p>medida do possível, até porque eu e minha colega não tínhamos nenhuma</p><p>experiência em sala de aula. (E 1).</p><p>Os professores regentes nos recebem super bem em todos os momentos, essa</p><p>relação com o professor é muito boa, pois eles nos ajudam muito, até mesmo</p><p>porque é a primeira experiência, mas não percebi um “ar de superioridade”</p><p>Estávamos ali para aprender e eles para nos ajudar nas dificuldades que iriam</p><p>surgir. (E2).</p><p>A professora regente da sala de aula também nos recebeu muito bem e nos</p><p>deram um imenso apoio durante período de regência, pois a turma era bem</p><p>difícil (violência física e psicológica, falta de respeito para com os colegas,</p><p>professore e até mesmo com nós estagiárias). Durante o estágio, pudemos</p><p>aprender muito com elas principalmente com a que mais se destacava (a outra</p><p>parecia ser somente cuidadora), tivemos momentos em que partilhamos o pouco</p><p>que sabíamos. Enfim, nesse estágio, houve de fato um trabalho conjunto entre</p><p>nós e a professora. (E3).</p><p>Nos dois estágios de regências, as professoras eram maravilhosas, sempre nos</p><p>momentos das observações as professoras davam dicas para a nossa atuação em</p><p>sala de aula. No momento da prática da Educação Infantil, a professora sempre</p><p>chegava no horário, mas depois saia e chegava ao final da aula, mas sempre ela</p><p>olhava o nosso plano de aula e, às vezes, dava dicas de materiais para fazermos</p><p>com os alunos. (E5).</p><p>Os professores também nos recebem muito bem, dando todo o suporte que</p><p>precisamos. A relação acontece de forma muito boa, pois os professores sempre</p><p>estão à disposição contribuindo para um estágio satisfatório por parte da</p><p>escola. (E10).</p><p>De modo geral, os/as investigados(as) apontam que foram muito bem</p><p>recebidos(as) pelos professores(as) e que mantiveram uma boa relação durante</p><p>os Estágios.</p><p>É um dado significativo, pois acreditamos que o/a professor(a) regente exerce</p><p>papel fundamental na construção da identidade docente destes alunos e alunas.</p><p>Consideramos um dado relevante, pois, mesmo com os desafios vividos no</p><p>interior da escola, percebemos que esta ainda tem acolhido os/as alunos(as) do</p><p>Estágio, mesmo de forma não institucionalizada através dos professores.</p><p>A interação com o/a professor(a) regente “abre espaço para um entendimento de</p><p>maior profundidade sobre a formação profissional docente e para o</p><p>desenvolvimento de um processo de construção da identidade</p><p>do futuro</p><p>educador” (LIMA, 2012, p. 57). É preciso, contudo, observar que, durante a</p><p>investigação, também encontramos alunos que apontam algumas dificuldades</p><p>nesta relação: Eis algumas delas:</p><p>[...] o estagiário é visto por duas vertentes: em primeiro, somos vistos como um</p><p>sabe tudo que apresenta ameaças à rotina da escola. Em segundo, é entendido</p><p>como uma “válvula de escape” em que professor docente, muitas das vezes,</p><p>cansado se exime da sala de aula e encarrega o aluno estagiário de suas</p><p>funções. Até onde sabemos o professor regente não pode se eximir de suas</p><p>funções, visto que e o estágio é o momento de trocas de saberes, logo aluno e</p><p>professor devem trabalhar juntos. (E3, grifo nosso).</p><p>[...] professores regentes aceitam, e simplesmente não nos auxiliam, para eles a</p><p>nossa regência é o descanso deles. (E8, grifo nosso).</p><p>Os professores, muitas vezes, abrem espaços para o estagiário, outros vezes,</p><p>afasta-o dessa experiência, a posição que o estagiário se mostra durante o</p><p>estágio também é muito importante para que o professor crie um vínculo de</p><p>atenção para com o mesmo. (E9, grifo nosso).</p><p>No conteúdo apontado pelo aluno E8, vimos uma ação de burocratização do</p><p>estágio. Quer dizer: o(a) professor(a) aceita, mas não se sente responsável por</p><p>auxiliar este(a) aluno(a). Lembramos de que a ação do professor(a) é essencial</p><p>para o discente que deseja aprender a profissão. Não se trata da ideia de</p><p>reproduzir a ação feita pelo professor(a) regente, mas pensar, refletir sobre essa</p><p>tarefa, tendo por base também as ações realizadas por este sujeito em campo.</p><p>A ausência do(a) professor(a) em sala dificulta a possibilidade de existir uma</p><p>reflexão de forma coletiva, impedindo de contribuir com as aprendizagens, tendo</p><p>por base as dificuldades apresentadas pelos(as) alunos(as), e pelos(as)</p><p>próprios(as) professores(as) regentes de sala. Precisa-se ainda levar em</p><p>consideração que as atividades de Estágio Curricular Obrigatório devem ser</p><p>devidamente acompanhadas. A necessidade desse acompanhamento está</p><p>explícita na Lei n.º 11.788, de 25 de outubro de 2008, que regulamenta o estágio</p><p>no Artigo 3º, parágrafo 1º, fica claro que o estágio é um “ato educativo escolar</p><p>supervisionado, deverá ter acompanhamento efetivo, tanto pelo professor</p><p>orientador da instituição de ensino e por supervisor da parte concedente [...]”.</p><p>O suporte do(a) professor(a) regente traduz a forma da supervisão, auxilia o</p><p>aluno(a) aprendente e estabelece uma relação de aprendizagem mútua, porém a</p><p>pesquisa aponta que, muitas vezes, o docente se exime dessa tarefa. Este fato é</p><p>evidenciado pela aluna E3. Já o aluno E8 reclama da ausência de um auxílio por</p><p>parte do professor(a). A estagiária 9 salienta que a posição deste pode interferir</p><p>na aproximação ou no afastamento da profissão. Pela natureza dos relatos</p><p>obtidos na pesquisa, conclui-se que é este um desafio a ser superado, de ambas</p><p>as partes, ou seja, do(a) orientador(a) da disciplina e do(a) professor(a) da parte</p><p>concedente do estágio.</p><p>Para responder à questão formulada, sobre como são recebidos pelas escolas e as</p><p>contribuições dos(as) professores(as) regentes, há uma multiplicação de ideias,</p><p>ora a escola recebe bem, mas não auxilia no processo, ora o(a) professor(a)</p><p>recebe bem, mas não orienta. No entanto, é possível perceber um ponto comum</p><p>entre as falas, todas apontam para a necessidade da melhoria da contribuição da</p><p>escola no processo formativo. Sobre as contribuições da escola para a formação</p><p>docente eles revelam:</p><p>Contribuição da escola- Fica muito a desejar a escola deveria receber os alunos</p><p>estagiários com outro olhar, abrir espaços para um bom atendimento, até</p><p>porque eles também já passaram por isso. A escola deveria ser mais</p><p>compreensiva com nós estagiárias, pois esse momento é de grande importância</p><p>para nossa formação como futuros professores (E1, grifo nosso).</p><p>Acredito que a escola deveria contribuir mais com os estagiários, dar um apoio</p><p>maior, uma atenção maior, pois esse momento é inevitável e superimportante</p><p>para todos, pois há uma troca de experiências de vontades... e só assim o</p><p>trabalho seria proveitoso (E2).</p><p>No tocante à contribuição da escola para nossa formação docente, percebemos</p><p>uma enorme fragmentação, visto que em nossas experiências foi comum</p><p>perceber falta de recursos didáticos, de um bom apoio da escola durante a</p><p>realização do estágio, lembrando de que outros casos a escola não está</p><p>preparada para receber estagiários, uma vez que nem sempre pode dar o apoio</p><p>necessário que o graduando precisa para enriquecer sua prática, já que o tempo</p><p>destinado (E7, grifo nosso)</p><p>A escola é primordial importância, pois é o primeiro contato para muitos</p><p>estagiários, porém deveria dar maior atenção, tanto por parte dos professores,</p><p>como por parte da coordenação (E8, grifo nosso).</p><p>As vozes expressas nos relatos acima merecem várias ponderações, inicialmente</p><p>no item anterior; como são recebidos pelas escolas, em sua maioria, revelam</p><p>que são muito bem recebidos(as), no mesmo diálogo, vão deixando aflorar que</p><p>receber não significa formar. Acentuam a importância da escola para a</p><p>formação docente, mas mostram existir muitas lacunas para se efetivar, de fato,</p><p>uma relação de parceria entre a escola e as necessidades de aprendizagens dos</p><p>sujeitos estagiários(as).</p><p>Nessa perspectiva, dos relatos acima apresentados, nota-se que, ao apontar as</p><p>lacunas da escola, mostram reconhecer as fragilidades da Universidade.</p><p>Observemos a fala da investigada E3.</p><p>Quanto à contribuição da escola para a formação docente, creio que ainda tem</p><p>muito a acrescentar, mas para que isso aconteça necessitamos diminuir a</p><p>distância entre escola e universidade e fazer um a um estágio de qualidade.</p><p>Assim com existência desses diálogos penso que a escola irá contribuir para a</p><p>formação docente, pois vai se reconhecer como importante elemento para a</p><p>formação inicial (E3, grifo nosso).</p><p>Ao expressar sua opinião sobre tais contribuições, a aluna aponta as fragilidades</p><p>da escola e convoca a universidade a construir uma relação que ajude a diminuir</p><p>a distância entre elas e, consequentemente, possibilite uma melhor apreensão das</p><p>aprendizagens nos momentos de realização dos estágios. Esse é um desafio</p><p>necessário e urgente para ser levantado por aqueles envolvidos nas atividades de</p><p>estágios. Convocar a universidade para estabelecer uma relação de diálogo com</p><p>a escola é, também, compreender as dificuldades que a esta enfrenta.</p><p>Retomamos a fala de Lima (2012, p. 235) com relação aos desafios vivenciados</p><p>no cotidiano da escola: “A escola recebedora vivencia um cotidiano carregado de</p><p>contradições e conflitos, onde se refletem os problemas sociais enfrentados pelos</p><p>adolescentes e jovens na atualidade, tais como a violência, a droga, o desgaste</p><p>familiar, entre outros”. Muitas vezes, vemos a escola apenas como objeto de</p><p>estudo e não percebemos as dificuldades que ela enfrenta em seu cotidiano.</p><p>Desse modo, se não tivermos compreensão, apenas criticamos a escola e as</p><p>ausências de ação para com os estagiários(as).</p><p>Destacamos um dado relevante nesse debate, mesmo quando a escola abre as</p><p>portas para os(as) alunos(as) estagiários(as). Estes(as) não são</p><p>acompanhados(as) de forma efetiva, apenas abrem-se as portas, mas o suporte</p><p>ainda é limitado. Outro ponto igualmente importante e contraditório é perceber</p><p>que, mesmo com todas as dificuldades que a escola apresenta em seu cotidiano,</p><p>parece estar mais aberta ao diálogo do que a própria universidade.</p><p>NOTAS CONCLUSIVAS</p><p>As discussões trazidas neste texto, referiram-se ao acesso e à realização dos</p><p>estágios na educação básica e em como os(as) alunos(as) são recebidos(as) e</p><p>vistos(as) no cotidiano da escola. Os achados dessa reflexão nos permitiram</p><p>inferir que a escola pública é um lugar por excelência, para a apropriação e</p><p>aprimoramento da identidade docente dos(as) aluno(as) estagiário(as). No</p><p>entanto, muitas vezes, os que nela estão inseridos(as) não têm consciência do seu</p><p>papel na formação dos(as) futuros(as) professores(as).</p><p>De acordo com as vozes dos(as) estagiários(as) investigados(as),</p><p>a escola abre as</p><p>portas, mas não demonstra preocupação efetiva com a formação dos(as)</p><p>alunos(as). Estes(as) revelaram, em sua maioria, que são bem recebidos(as) pela</p><p>escola, sobretudo, pelo fato de ter algum tipo de conhecimento com pessoas que</p><p>trabalha na instituição, ou seja, coordenador(a), gestor(a) ou professor(a). O que</p><p>indica facilitar a entrada desse sujeito na escola. De certo, esse fato revelou que</p><p>não há uma relação institucional, mas algumas ações particularizadas e isoladas,</p><p>por parte de alguns(mas) alunos(as) ou de algum professor ou professora da</p><p>disciplina de Estágio que sozinhos(as) buscam viabilizar a inserção dos</p><p>alunos(as) na escola.</p><p>Referente à recepção dos(as) professores(as) regentes da escola campo, os dados</p><p>oriundos dessa pesquisa apontaram que, em sua maioria, os(as) alunos(as)</p><p>afirmam ser bem recebidos(as) e que mantiveram uma boa relação com eles(as).</p><p>Porém, encontramos entre estes(as), os que pontuam algumas dificuldades nessa</p><p>relação, dentre elas; a ausência do(a) professor(a) regente nos momentos da</p><p>prática e a falta de orientação por parte deste(a). Essas dificuldades incidem na</p><p>inviabilidade de ações efetivas de reflexões coletivas.</p><p>No tocante às contribuições para formação docente, os dados revelaram que</p><p>ainda existem muitas lacunas por parte da escola. Muitas vezes, os(as) alunos(as)</p><p>são vistos como “estorvo”, que atrapalham as atividades e a rotina cotidiana, mas</p><p>é interessante registrar que os(as) alunos(as) reconhecem a fragilidade da escola</p><p>e convocam a universidade para construir uma relação de diálogo com a</p><p>instituição campo de estágio. A nosso ver, reconhecem também a fragilidade da</p><p>universidade.</p><p>Como resultados da pesquisa, conclui-se que a escola campo de estágio exerce</p><p>um papel significativo no processo de formação docente. Registramos que ainda</p><p>há muitas lacunas na relação escola e universidade nos momentos de realização</p><p>dos estágios, os dados apontam que a escola recebe os(as) estagiários(as), mas</p><p>deixam a desejar no que se refere à formação destes(as). Notamos que não há</p><p>uma relação construída pelas instituições, mas ajustes para que os alunos sejam</p><p>inseridos nas escolas.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALVES, Magda. Como escrever teses e monografias: um roteiro passo a passo.</p><p>Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.</p><p>ALVES, Gilberto Luiz. A produção da escola pública. 4. ed. Campinas: Autores</p><p>Associados, 2006.</p><p>BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Lei nº 9.394/96: estabelece as</p><p>Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.</p><p>BRASIL, Casa Civil: Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei 11.788. Dispõe</p><p>sobre o estágio de estudantes. Brasília, 2008.</p><p>BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP nº 1. Estabelece</p><p>as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia,</p><p>licenciatura. Brasília, 2006.</p><p>BRASIL. Resolução CNE/CP nº 2. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais</p><p>para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de</p><p>formação pedagógica para graduados de segunda licenciatura) e para a formação</p><p>continuada. Brasília, 2015.</p><p>FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 50 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,</p><p>2011 a.</p><p>FREIRE, P. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do</p><p>Oprimido. 17. ed. São Paulo: Paz e terra, 2011b.</p><p>LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e aprendizagem da profissão docente.</p><p>Brasília: Liber Livro, 2012.</p><p>LIMA, Maria Socorro Lucena. A hora da prática: reflexões sobre o estágio</p><p>supervisionado e a ação docente. 4. ed. Fortaleza: edições Demócrito Rocha,</p><p>2004.</p><p>NASCIMENTO, Ana Maria do. O Estágio Curricular Supervisionado no Curso</p><p>de Pedagogia: diálogo entre escola e universidade à luz de Paulo Freire.</p><p>Dissertação (Mestrado em Educação). 182 f. Universidade Estadual do Ceará,</p><p>Centro de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Fortaleza,</p><p>2014.</p><p>PIMENTA, Sema Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência.</p><p>São Paulo: Cortez, 2010.</p><p>SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo:</p><p>Cortez, 2007.</p><p>A EFICÁCIA DA INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL</p><p>COMPROVADA POR MEIO DAS EXPRESSÕES FACIAIS</p><p>CAPTADAS DURANTE A AÇÃO DE BLOGAGEM DE</p><p>JOVENS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL</p><p>³</p><p>Avanúzia Ferreira Matias</p><p>Introdução</p><p>Em meados de 1990, o conceito de inteligência emocional ganhou notoriedade,</p><p>principalmente, com a ênfase dada ao assunto no livro Inteligência Emocional,</p><p>de Daniel Goleman, que apresentou duas mentes em um único órgão: uma</p><p>racional e outra emocional. Juntas, essas duas concepções fortalecem a</p><p>inteligência de uma pessoa.</p><p>Houve uma exacerbada exploração do tema em seminários sobre inteligência</p><p>emocional e, consequentemente, educação emocional e competências</p><p>emocionais. Nesse contexto, Goleman descreve as cinco habilidades da</p><p>inteligência emocional e mostra como elas são capazes de influenciar o resultado</p><p>de nossas ações nos estudos, nos relacionamentos e no trabalho.</p><p>É interessante que os professores entendam a magnitude dessa temática, pois, à</p><p>medida que os sentimentos vão sendo administrados e o aluno aprende a lidar</p><p>com suas emoções, fortalece-se a possibilidade de êxito no desempenho escolar.</p><p>Sobre a inteligência, pode-se dizer que é a capacidade de aprendizagem por</p><p>pessoas com ou sem deficiência e que esta capacidade, há muito, deixou de ser</p><p>constatada por meio de habilidades verbais e/ou matemáticas, pois esse enfoque,</p><p>que orientou métodos e concepções tradicionais, foi considerado um método</p><p>falho na avaliação, porque, de acordo com Gardner (1983), em seu livro Frames</p><p>of mind, há outras inteligências tão importantes quanto a verbal e a matemática,</p><p>a saber, a inteligência musical, a corporal, a cinestésica, a espacial, a intrapessoal</p><p>e a interpessoal.</p><p>De acordo com Goleman (2011), os resultados de seus estudos revelam que nas</p><p>escolas onde se adotou o aprendizado da inteligência emocional mais de 50%</p><p>das crianças tiveram progresso em seu desempenho e 63% delas demonstraram</p><p>um comportamento significativamente mais positivo.</p><p>O autor esclarece que aplicações equivocadas destacaram a inteligência</p><p>emocional como mais importante do que o QI – que corresponde à inteligência</p><p>racional. Segundo o pesquisador, isso só acontece em circunstâncias em que o</p><p>intelecto é menos relevante para o contexto situacional, como, por exemplo,</p><p>numa ocasião em que se exija autocontrole emocional ou na qual seja necessário</p><p>refletir sobre emoções perturbadoras.</p><p>Dadas as explicações iniciais, nosso objetivo neste ensaio é apresentar um</p><p>recorte de nossa tese de doutorado para demonstrar em que medida o estímulo da</p><p>inteligência interpessoal interfere na ação de blogagem de dois jovens com</p><p>deficiência intelectual que criaram blogs pessoais com a ajuda de um mediador</p><p>e, durante oito meses, administraram o diário virtual fazendo postagens e</p><p>interagindo com visitantes, comprovando sua capacidade racional para letrar-se</p><p>digitalmente.</p><p>A INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL</p><p>Segundo Casassus (2009), quando se fala de competências emocionais, faz-se</p><p>referência à capacidade transformadora da educação emocional. Para o autor,</p><p>enquanto a inteligência emocional consiste na aquisição de habilidades com</p><p>relação às próprias emoções e às dos outros, a competência emocional, para além</p><p>disso, inclui um processo de transformação no qual a pessoa incorpora a</p><p>consciência e a compreensão emocional.</p><p>Apesar de muitas de nossas emoções serem inconscientes (não temos nem a</p><p>consciência, nem o controle delas), elas têm uma forte influência sobre nós e</p><p>influenciam nossa tomada de decisão e interferem em nossas ações.</p><p>Gardner (1993) fala sobre a teoria e a prática das inteligências múltiplas e,</p><p>especificamente, sobre a inteligência interpessoal, além de exemplificar o poder</p><p>dessa inteligência com o famoso caso da jovem Hellen Keller⁴, uma cega e surda</p><p>que, no século XX, comoveu o mundo ao escrever sua autobiografia, na qual</p><p>narra a difícil tarefa dada a sua primeira professora, Anne Sullivan⁵, que resolveu</p><p>entrar no insondável mundo emocional de Keller para compreendê-la e educá-la.</p><p>Sullivan, sem ter tido</p><p>acesso a nenhuma pesquisa na área ou mesmo sem ter</p><p>frequentado uma instituição de nível superior, passou a observar os desejos, as</p><p>intenções, as motivações e os estados de ânimo de Keller. Nisso está</p><p>fundamentada a inteligência interpessoal, algo tão obvio, mas, ao mesmo tempo,</p><p>tão distante do nosso campo visual.</p><p>Muitos especialistas relatam que um estado emocional pode atrapalhar o</p><p>desempenho de um aluno numa avaliação, os estados de ânimo podem dificultar</p><p>o aprendizado de certos conteúdos, até mesmo a pouca ou nenhuma motivação</p><p>ou estímulo podem fazer um aluno passar a não gostar de determinada matéria.</p><p>Contrário a essa perspectiva, é possível motivar e induzir alguém a querer fazer</p><p>certas atividades, a interessar-se por tarefas, a gostar de ler e escrever, a querer</p><p>aprender certo conteúdo, a adquirir certas habilidades, entre outras coisas.</p><p>O desenvolvimento da inteligência interpessoal, a única que abordaremos neste</p><p>ensaio, permite que alguém (professor) trabalhe eficientemente com outras</p><p>pessoas (alunos). Nesse contexto o professor precisa estar propenso à abertura,</p><p>pois se trata de estar à disposição para olhar os obstáculos que impedem os</p><p>avanços e tentar aniquilá-los por meio de estratégias que estimulem o aluno a</p><p>explorar suas competências.</p><p>Por meio da inteligência interpessoal uma pessoa pode motivar e cooperar para o</p><p>desenvolvimento de outra pessoa. Em nossa pesquisa, a inteligência interpessoal</p><p>foi explorada na relação estabelecida entre os sujeitos que criaram os blogs</p><p>(jovens com deficiência intelectual) e as pessoas que deixavam comentários</p><p>(leitores). A partir do corpus de nossa investigação, analisamos o efeito dos</p><p>comentários deixados nos blogs como elemento motivador para os blogueiros;</p><p>estes demonstravam satisfação ao visualizarem o número de acessos ao diário</p><p>virtual e ao lerem os comentários deixados pelos leitores.</p><p>A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL</p><p>Segundo Wehmeyer e Obremski (2010), uma das características que diferencia a</p><p>deficiência intelectual de outras deficiências que envolvem o desempenho</p><p>cognitivo é sua natureza global. Segundo os autores, a deficiência intelectual</p><p>refere-se a limitações na performance intelectual e, consequentemente, provoca</p><p>refreamento e restrição de seu funcionamento durante a realização de atividades</p><p>nas mais diversas esferas do desempenho humano. Portanto, pode-se concluir</p><p>que a deficiência intelectual refere-se a uma deficiência que se manifesta por</p><p>meio de limitações no funcionamento intelectual (raciocínio, planejamento,</p><p>resolução de problemas, pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas,</p><p>aprendizado rápido) e está diretamente relacionada a restrições causadas por</p><p>fatores etiológicos específicos.</p><p>Atualmente a definição de deficiência intelectual mais aceita entre pesquisadores</p><p>do mundo inteiro, inclusive da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de</p><p>instituições dedicadas ao estudo e atendimento de pessoas com deficiência</p><p>intelectual, é o definido pela American Association on Intellectual and</p><p>Developmental Disabilities (AAIDD), que, consoante Almeida (2004), foi</p><p>aprimorada com base em quatro eixos que causavam equívocos quanto à</p><p>classificação da importância da deficiência, a saber,</p><p>1. O critério psicométrico era equivocado porque muitas crianças provenientes</p><p>de diferentes backgrounds culturais eram passíveis de ser erroneamente</p><p>diagnosticadas como retardadas mentais.</p><p>2. O critério adaptativo foi criticado porque procedimentos para avaliá-lo não</p><p>eram adequados para diagnóstico e que, em consequência disso, este acabava</p><p>sendo baseado apenas nos resultados dos testes de inteligência. Posteriormente</p><p>esse critério passou a ser interpretado a partir de grau e eficiência com os quais</p><p>“os indivíduos alcançariam os padrões de independência pessoal e</p><p>responsabilidade social esperados para sua idade e grupo cultural” (ALMEIDA,</p><p>2004, p. 35).</p><p>3. O período de desenvolvimento foi modificado, passando a ser considerado o</p><p>ínterim que vai do nascimento até os 18 anos de vida, pois equivale à idade</p><p>aproximada de conclusão da escolaridade obrigatória (ensino médio) em muitos</p><p>países.</p><p>4. A descrição do comportamento do indivíduo passou a ser feita com base no</p><p>estágio em que se encontra, e não mais como a identificação de um estado</p><p>permanente, pois aspectos como comunicação, autocuidado, vida no lar,</p><p>habilidades sociais, desempenho na comunidade, independência na locomoção,</p><p>saúde e segurança, habilidades acadêmicas funcionais, lazer e trabalho podem</p><p>variar e estão relacionadas à necessidade de apoio que essa população recebe.</p><p>Conforme Almeida (2004), a AAIDD passou a utilizar, na sua definição vigente,</p><p>três critérios operacionais classificados como conceitual, prático e social. De</p><p>acordo com esta definição, as limitações do sujeito com deficiência intelectual</p><p>são medidas com base em dois desvios padrões abaixo da média na avaliação de</p><p>um dos três componentes ou escore geral de medida dos três componentes,</p><p>apresentados a seguir:</p><p>1. Componente conceitual: linguagem (receptiva e expressiva), leitura e escrita,</p><p>conceito de dinheiro e autodireção.</p><p>2. Componente social: relação interpessoal, responsabilidade, autoestima,</p><p>gullibility (ser enganado ou manipulado), ingenuidade, capacidade de seguir</p><p>regras, obediência às leis, esquivar-se de vitimização.</p><p>3. Componente prático: atividades instrumentais da vida diária no âmbito</p><p>pessoal (comer, transferência/mobilidade, uso do toalete, vestir-se), atividades</p><p>instrumentais da vida diária no âmbito cooperativo (preparação de alimentos,</p><p>atividades domésticas, transporte de itens, tomar remédios, gerenciamento do</p><p>dinheiro, uso do telefone), habilidades ocupacionais, manutenção da segurança</p><p>do ambiente.</p><p>Investigar o desenvolvimento cognitivo das pessoas com deficiência intelectual</p><p>aprofunda e alarga a compreensão das possibilidades dessa população. O</p><p>aprofundamento diz respeito a uma abordagem mais refinada para fins de</p><p>diagnóstico, uma delimitação mais precisa em relação à etiologia, ao nível de</p><p>desenvolvimento e a aspectos específicos do seu funcionamento. O alargamento</p><p>da compreensão parte da apreciação do sujeito como um todo, considerando-se,</p><p>de acordo com Zigler e Hodapp (1986), a personalidade, a interação social e o</p><p>desenvolvimento emocional, não apenas dentro do contexto familiar, mas</p><p>também em relação à sociedade.</p><p>Estudos sobre o desenvolvimento de pessoas com deficiência intelectual</p><p>(BURACK, 1990; BURACK, HODAPP e ZIGLER, 1988) promoveram a</p><p>interface entre a psicologia do desenvolvimento e o estudo da deficiência</p><p>intelectual. Os resultados desses estudos demonstraram que os referidos sujeitos</p><p>podem apresentar diferentes progressos cognitivos a partir da genética, do</p><p>funcionamento do cérebro, do comportamento, do funcionamento social e</p><p>interpessoal, do bem-estar emocional, bem como a partir das relações entre esses</p><p>fatores.</p><p>A motivação exerce um papel fundamental no processo de aprendizagem dos</p><p>sujeitos com deficiência intelectual, especialmente na resolução de problema.</p><p>Esse é um procedimento muito importante para esse público, pois enquanto tenta</p><p>resolver o problema, precisa atribuir sentido à atividade.</p><p>INTERAÇÃO DURANTE A AÇÃO DE BLOGAGEM</p><p>A interação entre os sujeitos participantes da pesquisa com seus interlocutores</p><p>materializa uma relação comunicativa que fortalece os propósitos da mediação,</p><p>ou seja, funciona como uma interferência cujo propósito beneficia esses sujeitos,</p><p>uma vez que os encoraja a estabelecer contato e a desenvolver uma interlocução</p><p>motivada pela intervenção.</p><p>Vygotsky (2000) esclarece que existe uma relação dinâmica ente intelecto e</p><p>afeto. Separá-los é um equívoco da psicologia tradicional, uma vez que a</p><p>influência do pensamento sobre o afeto e a volição apresentam o caminho para a</p><p>“solução de problemas de importância vital” (p. 9). Segundo o autor, isso</p><p>comprova que</p><p>O sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem</p><p>mostra que cada ideia contém uma atitude afetiva transmutada com relação ao</p><p>fragmento de realidade ao qual se refere. Essa trajetória</p><p>permite-nos seguir a</p><p>trajetória que vai das necessidades e impulsos de uma pessoa até a direção</p><p>específica tomada por seus pensamentos, e o caminho inverso, a partir de seus</p><p>pensamentos até o seu comportamento e a sua atividade (VYGOTSKY, 2000, p.</p><p>9-10).</p><p>A interação por meio do computador acontece, principalmente, nas atividades</p><p>realizadas em redes sociais e se dá por meio de comentários acerca de postagens</p><p>diversas ou em outros ambientes on-line, como em jornais e revistas e, ainda, em</p><p>bate-papos de sites educativos, científicos, de relacionamento, entre outros.</p><p>A interação desenvolvida a partir do uso do computador pode ser compreendida</p><p>como um mecanismo para fortalecer as funções cognitivas que atuam</p><p>diretamente na aquisição da aprendizagem. O diferencial nesse tipo de interação</p><p>pode ser atribuído ao seu caráter sedutor, devido às inúmeras possibilidades de</p><p>uso e às inúmeras ferramentas que existem ao dispor do usuário. Esses</p><p>elementos conseguem capturar a atenção dos participantes por muito mais tempo</p><p>do que o esperado em uma interação sem recursos tecnológicos.</p><p>É importante compreender que a interação, no caso do blog, requer audiência</p><p>para que se alcance o êxito comunicativo. Na mesma proporção em que a</p><p>audiência está ligada à nossa compreensão de desempenho, a interação é</p><p>imprescindível para a nossa clareza acerca da audiência. Nesse caso, a eficiência</p><p>comunicativa só funciona por meio da interação. Diante disso, para o êxito da</p><p>interação é fundamental a adaptação “ao contexto social e ao conhecimento, aos</p><p>valores, às convenções e às expectativas da audiência” (MILLER, 2012, p. 174).</p><p>Em uma situação de interatividade há pelo menos dois sujeitos que, a partir</p><p>dessa interação e das atribuições de valores ao que eles entendem que estão</p><p>fazendo, fortalecem essa relação para a eficácia do funcionamento e desempenho</p><p>cooperativo, participativo e social.</p><p>A análise das expressões faciais dos sujeitos com deficiência intelectual no</p><p>momento da leitura dos comentários do blog foi muito importante para nossa</p><p>investigação, porque pela análise dessa reação foi possível verificar em que</p><p>medida esses comentários exerceram influência nas práticas de letramento</p><p>digital dos referidos participantes.</p><p>OS PARTICIPANTES E A METODOLOGIA</p><p>Os dados aqui analisados fazem parte de um corpus de filmagens da ação de</p><p>blogagem de cinco sujeitos com deficiência intelectual. Os referidos sujeitos</p><p>foram selecionados pelos integrantes do grupo de pesquisa LER – Linguagem</p><p>Escrita Revisitada, coordenado pelas professoras Rita Vieira de Figueiredo e</p><p>Adriana Leite Limaverde Gomes, na Faculdade de Educação da Universidade</p><p>Federal do Ceará (UFC), para participarem de uma pesquisa sobre o letramento</p><p>digital durante a ação de blogagem. Para tanto, os referidos sujeitos atenderam</p><p>aos seguintes critérios:</p><p>apresentam deficiência intelectual;</p><p>sabem ler e escrever;</p><p>mostraram-se interessados e dispostos a criar um blog.</p><p>A coleta de dados foi feita por meio de filmagem das sessões em que mediador e</p><p>mediado interagiam. Enquanto aquele tinha a função de incentivar a realização</p><p>de atividades com as tecnologias digitais de interação e comunicação (TDIC),</p><p>este manuseava o computador para efetivar as ações propostas. Ao todo, foram</p><p>realizadas 18 sessões com cada sujeito.</p><p>As sessões ocorriam na frequência de uma vez por semana, com duração de,</p><p>aproximadamente, 50 minutos. Apenas os sujeitos com deficiência intelectual</p><p>interagiam no ambiente digital. O papel do mediador era apoiar esses sujeitos e</p><p>encorajá-los a executar as ações e, se julgasse necessário, poderia questioná-los e</p><p>fazer sugestões para que eles concentrassem suas ações nos propósitos do blog,</p><p>por meio dos quais faziam postagens de textos e respondiam os comentários</p><p>escritos em suas páginas.</p><p>Todas as sessões foram filmadas. Estas aconteceram sempre no mesmo</p><p>ambiente: na sala de reunião do grupo de pesquisa LER, dentro das</p><p>dependências da Faculdade de Educação da UFC.</p><p>As sessões foram filmadas de dois ângulos, pois nossa intenção, além de filmar a</p><p>interação durante a mediação, era filmar as expressões faciais no momento da</p><p>leitura dos comentários, para posteriores constatações acerca da interferência dos</p><p>interlocutores virtuais, com base nos propósitos da inteligência interpessoal.</p><p>Os mediadores (alunos do curso de graduação em Pedagogia e bolsistas do</p><p>Pibic) passaram por uma formação para auxiliar os sujeitos com deficiência</p><p>intelectual durante o processo de construção de seus diários on-line.</p><p>A coleta de dados para a análise das expressões faciais foi feita na ocasião em</p><p>que os sujeitos eram incitados a ler os comentários deixados em seus blogs,</p><p>momento em que havia uma câmera direcionada para o seu rosto filmando sua</p><p>expressão facial de forma espontânea, sem maiores preocupações com relação ao</p><p>ângulo do rosto ou a condições de luminosidade do ambiente.</p><p>O âmbito de aplicabilidade desse estudo levou em conta a interação em</p><p>condições normais, isto é, sem que houvesse uma preocupação relacionada a</p><p>possíveis restrições de utilização. Essa aplicação, em termos gerais, classificou a</p><p>expressão facial associando-a a uma emoção, registrada com base em dados</p><p>iconográficos (imagens faciais de todos os registos expressivos dos utilizadores)</p><p>e quantitativos (percentagem de verossimilhança para cada expressão, classe</p><p>expressiva predominante e informação acerca da correção do classificador).</p><p>As expressões foram obtidas a partir da captura de imagem do vídeo. A análise</p><p>dos dados aconteceu em duas etapas:</p><p>Etapa 1: recorte das imagens</p><p>Fizemos prints dos momentos em que os sujeitos estavam lendo os comentários</p><p>dos interlocutores em seus blogs.</p><p>Etapa 2: detecção da face</p><p>Inicialmente carregamos a imagem do print na biblioteca denominada Sky</p><p>Biometry, para que fosse realizada a busca por um rosto em uma imagem. Para</p><p>cumprir essa etapa, foi aplicado um classificador de faces. Isso ocorre sobre cada</p><p>frame, até que a face seja detectada. A região da face detectada é demarcada e</p><p>utilizada na etapa seguinte do processo, que corresponde à detecção das</p><p>características faciais. Na sequência ocorre a detecção do rosto a partir de uma</p><p>imagem de entrada. Em seguida a face é detectada, isolada e, então, faz-se a</p><p>leitura das expressões faciais. O funcionamento interno da arquitetura concebida</p><p>divide-se em cinco módulos principais:</p><p>1. Módulo de detecção facial: nessa fase é recebida a imagem inicial, arbitrária, e</p><p>feita a detecção do rosto.</p><p>2. Módulo de normalização: as imagens do rosto, que podem ter dimensões</p><p>bastante variadas de acordo com a resolução da imagem inicial e com o tamanho</p><p>do rosto em relação à imagem, são normalizadas de modo a possibilitar um</p><p>processamento mais eficiente nas fases seguintes.</p><p>3. Módulo de extração de características: a imagem normalizada do rosto é</p><p>sujeita a processamento por meio de uma série de algoritmos que devolvem as</p><p>coordenadas das características principais do rosto.</p><p>4. Módulo de transformação de características: as coordenadas das</p><p>características que definem a expressão (olhos, sobrancelhas e boca) são</p><p>transformadas em um conjunto de coordenadas mais adequadas ao classificador.</p><p>5. Módulo de classificação: o conjunto de coordenadas transformadas é passado</p><p>ao classificador, que devolve a expressão correspondente à imagem original,</p><p>completando, assim, o processo de classificação da expressão.</p><p>RESULTADO DA ANÁLISE DAS EXPRESSÕES FACIAIS</p><p>Neste movimento de leitura e escrita no blog, em que a interação com o</p><p>interlocutor foi ficando cada vez mais motivadora, fizemos uma análise, a partir</p><p>da descrição e classificação das seis expressões faciais básicas descritas por</p><p>Ekman e Friesen (1978): alegria, tristeza, raiva, nojo, medo e surpresa, para</p><p>revelar que tipo de emoção esses comentários foram capazes de provocar nos</p><p>blogueiros.</p><p>Como uma expressão espontânea dura, normalmente, um intervalo de tempo</p><p>entre 0,5 e 5 segundos (EKMAN, 2003), não é uma tarefa complicada selecionar</p><p>expressões. O mais difícil é analisá-las de forma coerente, por isso utilizamos</p><p>a</p><p>biblioteca Sky Biometry, pois essa ferramenta nos deu suporte técnico, por meio</p><p>do seu classificador de faces, para detectar e verificar quais emoções são</p><p>compatíveis com o movimento da musculatura facial.</p><p>De acordo com os criadores do classificador Sky Biometry, às vezes nós</p><p>sentimos várias emoções diferentes ao mesmo tempo. Mas isso não é um</p><p>problema para a análise dos algoritmos, pois sempre se destaca a emoção mais</p><p>forte (em porcentagem), ou seja, a que tem maior predominância no rosto da</p><p>pessoa.</p><p>A seguir, apresentamos a análise das expressões faciais de dois participantes, que</p><p>chamaremos de Ana e Pedro. Na ocasião da captura das expressões faciais,</p><p>ambos liam os comentários deixados em seus respectivos blogs. Essa é uma</p><p>pequena amostra do propósito da inteligência interpessoal, pois este ensaio não</p><p>comporta a apresentação dos resultados em sua totalidade.</p><p>Queremos ressaltar que a exposição das imagens foi autorizada pelos pais,</p><p>mediante a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e,</p><p>também, mediante autorização do Comitê de Ética, sob o parecer de n.º</p><p>1.233.792, por meio do qual nos comprometemos a utilizá-las apenas para fins</p><p>científicos, por exemplo na demonstração dos resultados da pesquisa.</p><p>FIGURA 1 – SUJEITO ANA DURANTE UMA SESSÃO DE BLOGAGEM</p><p>FONTE: a autora</p><p>Nessa imagem é possível ver, nitidamente, a expressão de alegria de Ana, que é</p><p>fortalecida ainda mais pela postura de suas mãos segurando o seu queixo.</p><p>Observando os cantos da boca, vê-se que estão bem puxados para as laterais,</p><p>esta é uma característica, segundo Ekman e Friesen (1975), que nos dá a certeza</p><p>de que esse sujeito está esboçando um sorriso de contentamento, principalmente</p><p>porque sabemos que é uma expressão espontânea. De acordo com o</p><p>classificador, considerando, proporcionalmente, os movimentos dos músculos</p><p>faciais, a jovem evidencia 80% de alegria em sua expressão facial.</p><p>No momento em que essa imagem foi capturada, Ana havia acabado de ler o</p><p>seguinte comentário, deixado em seu blog:</p><p>Olá Ana, tudo bem, querida? Estou olhando seu blog e pude perceber que vc</p><p>gosta muito de escutar as músicas da Sandy e também de passear. Você já teve a</p><p>oportunidade de ir a algum show dela? Quais lugares você mais gosta de sair?</p><p>Abraços (Lúcia, 26 de agosto de 2014, comentário no blog disponível em:</p><p>http://sandysamara30.blogspot.com.br. Acesso em: 15 jul. 2016).</p><p>Ana ficou surpresa com o comentário do interlocutor, pois foi a primeira vez que</p><p>este espectador deixou um comentário no diário da blogueira. Por não conhecer</p><p>o interlocutor pessoalmente, Ana ficou feliz, ainda mais porque o comentário</p><p>reforçou a ideia de que seu blog estava sendo visto por pessoas que ela não</p><p>conhecia, ou seja, seu blog estava facilitando a sua comunicação e interação com</p><p>outras pessoas dentro do ambiente digital de comunicação. Como não houve</p><p>tempo para responder a esse interlocutor durante essa sessão, o mediador fez</p><p>algumas perguntas a Ana antes de encerrar a sessão de blogagem.</p><p>O mediador perguntou a Ana se ela gostava do blog, e ela respondeu: “eu amo”.</p><p>O mediador perguntou, ainda, o que Ana mais gostava de fazer no blog, e ela</p><p>respondeu: “gosto da galera toda, porque eu tô fazendo o maior sucesso”.</p><p>Para Medeiros (2015), o déficit de funções executivas pode interferir na tomada</p><p>de decisão de pessoas com deficiência intelectual, pois a memória operacional, a</p><p>flexibilidade inibitiva e o controle inibitório, de acordo com Diamond (2013),</p><p>precisam ser estimulados. Por essa razão, o mediador é fundamental em</p><p>pesquisas como esta. Ele funciona como peça-chave no estímulo para que os</p><p>sujeitos continuem motivados e não se esqueçam de executar ações necessárias</p><p>para a comunicação. Nessa perspectiva, a interferência da inteligência</p><p>interpessoal partiu do interlocutor, que deixou um comentário no blog. Para Ana,</p><p>o comentário representa sua crescente popularidade no meio virtual.</p><p>FIGURA 2 – SUJEITO PEDRO DURANTE UMA SESSÃO DE BLOGAGEM</p><p>FONTE: a autora</p><p>Pedro sempre foi um sujeito muito preocupado com a audiência do blog, pois,</p><p>para ele, o fato de haver pessoas visualizando significava que também haveria</p><p>pessoas comentando, e ler comentários era algo que lhe causava muita</p><p>satisfação. No início da sessão representada por meio da Figura 2, ele já havia</p><p>comemorado o fato de haver um total de 690 visualizações em sua página. Na</p><p>sequência, Pedro comemorou o fato de haver três comentários sobre a última</p><p>postagem; em seguida, ocasião em que captamos essa imagem, ele leu, no topo</p><p>do comentário, o nome de uma pessoa que, há algum tempo, já vinha deixando</p><p>comentários em seu blog. Em seguida leu o seguinte comentário:</p><p>Olá Pedro!!Tudo bem? Você não acha que fazer as coisas sempre do mesmo jeito</p><p>é chato? Já experimentou fazer coisas diferentes? Faço pelo menos uma coisa</p><p>diferente cada dia. A vida fica mais interessante. Experimenta. Adorei saber mais</p><p>de você! Beijão. (Fabiana, 26 de agosto de 2014, comentário no blog disponível</p><p>em: http://levijustimusicaepoesia.blogspot.com.br. Acesso em: 15 set. 2016).</p><p>Após a leitura desse comentário, o mediador disse: “bora lá, responder?” E</p><p>Pedro falou: “vamos!” Em seguida, escreveu a seguinte devolutiva para o leitor.</p><p>Tudo! Fabiana para mim não é chato isso é coisas da vida. não experimentei</p><p>coisas diferentes. eu acho que todos nós tem uma vida diferentes cada uma das</p><p>outras. então conheça a minha vida da infancia até agora depois de adulto”</p><p>(resposta que Pedro escreveu em seu blog para a leitora Fabiana).</p><p>Uma estratégia que Pedro sempre usava para responder os comentários era</p><p>escrever as frases seguindo a sequência das questões. Ele ia construindo o texto a</p><p>partir do que os leitores iam lhe perguntando ou sugerindo. Pedro fazia isso para</p><p>ter a certeza de que estava esclarecendo todas as dúvidas de seus leitores.</p><p>Pedro, a todo instante, comprovava que utiliza várias formas de comunicação</p><p>digital para exercer seu direito de letrar-se digitalmente. Dessa forma, por meio</p><p>da produção textual e da leitura dos comentários, aceitava a contribuição do</p><p>outro (mediador e interlocutor) para fortalecer seu grau de letramento; isso</p><p>comprova que o letramento digital possibilita muitas formas de comunicação</p><p>pautadas nas práticas citadas (SOARES, 2002; XAVIER, 2007). Essas práticas</p><p>realizadas por Pedro garantiram a ele o estímulo de que precisava para adquirir</p><p>novas práticas sociais de leitura e de escrita (SOARES, 2002; STREET, 2003;</p><p>XAVIER, 2007).</p><p>Durante esse processo de construção e administração do blog, Pedro embasou-se</p><p>no suporte oferecido por meio da interação com os pares, pois, assim, adquiriu</p><p>competências que possibilitaram sua evolução referente ao seu processo de</p><p>aprendizagem e, consequentemente, o aprimoramento de seu letramento digital.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Ao desenvolver ações durante a ação de blogagem, os sujeitos participantes da</p><p>pesquisa estreitaram relações sociais no ambiente virtual, o que lhes garantiu um</p><p>espaço para o desenvolvimento de sua autonomia, construída mediante uma</p><p>proposta realizada com propósitos interativos, inclusivos e educacionais.</p><p>Constatamos que as atividades propostas aos participantes, além de terem</p><p>favorecido a evolução nos níveis de letramento, fortaleceram as relações</p><p>interpessoais, seja com os mediadores, seja com os interlocutores, que,</p><p>notadamente, os motivaram a escrever e a interagir no ambiente digital,</p><p>comprovando que houve resultados positivos no tocante a letramento digital,</p><p>mediação e interação com as tecnologias digitais de informação e comunicação.</p><p>A tecnologia foi um aliado importante no processo de letramento dos sujeitos e,</p><p>por meio das possibilidades de uso dos recursos tecnológicos, tornou-se possível</p><p>motivá-los para a ação e reflexão a partir do que aprenderam, para o</p><p>questionamento e para a busca de informações em diferentes formatos. Para</p><p>além de aprender a usar um recurso novo, os sujeitos inseriram-se em um meio</p><p>que lhes garantiu a conquista de novas formas de comunicação e interação</p><p>social.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALMEIDA, M. A. Apresentação</p><p>e análise das definições de deficiência mental</p><p>propostas pela AAMR – Associação Americana de Retardo Mental de 1908 a</p><p>2002. In: Revista da Educação PUC-Campinas, Campinas, n. 16, p. 33-48, 2004.</p><p>BURACK, J. A. Differentiating mental retardation: The two-group approach and</p><p>beyond. In: BURACK, J. A.; HODAPP, R. M.; ZIGLER, E. (Ed.) Issues in the</p><p>developmental approach to mental retardation. New York: Cambridge University</p><p>Press, 1990, p. 27-48.</p><p>BURACK, J. A.; HODAPP, R. M.; ZIGLER, E. Issues in the classification of</p><p>mental retardation: differentiating among organic etiologies. Journal of Child</p><p>Psychology and Psychiatry, v. 29, p. 765-769, 1988.</p><p>CASASSUS, J. Fundamentos da educação emocional. Brasília, Unesco, Liber</p><p>Livro Editora, 2009.</p><p>DIAMOND, A. Executive functions. Annual Review of Psychology, v. 64, n. 1,</p><p>p. 135-168, 2013.</p><p>EKMAN, P. Darwin, deception, and facial expression. In: Annals New York</p><p>Academy of sciences, 1000. [S.l.: s/.n.], p. 205-21, 2003.</p><p>EKMAN, P.; FRIESEN, W.V. Unmasking the Face. Prentice-Hall, 1975.</p><p>EKMAN, P.; FRIESEN, W.V. Facial Action Coding System (FACS): Manual.</p><p>Consulting Psychologists Press, 1978.</p><p>GARDNER, H. Frames of mind. Nova York: Basic Books, 1983.</p><p>EKMAN, P.; FRIESEN, W.V. Multiple intelligences: the theory in practice.</p><p>Nova York: Basis Books, 1993.</p><p>GOLEMAN, D. Inteligência emocional. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de</p><p>Janeiro: Objetiva, 2011.</p><p>MEDEIROS, W. M. B. Reconhecimento de expressões faciais e tomadas de</p><p>decisão em crianças que vivenciam situações de bullying. 156 f. Dissertação</p><p>(Mestrado em Neurociência Cognitiva e Comportamento), Universidade Federal</p><p>da Paraíba, João Pessoa, 2015.</p><p>MILLER, C. R.; Gênero textual, agência e tecnologia. (Org.) Ângela Paiva</p><p>Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagel. Tradução de Judith Chambliss</p><p>Hoffnagel. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.</p><p>SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. In:</p><p>Educação & Sociedade, Campinas, v. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002.</p><p>Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935. Acesso em: 2 mar.</p><p>2014.</p><p>STREET, B. What is new in New Literacy Studies? Critical approaches to</p><p>literacy. In: Theory and practice. Current Issues in Comparative Education.</p><p>Teachers College, Columbia University: v. 5, n. 2, p. 77-91, 2003.</p><p>VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.</p><p>WEHMEYER, M. L.; OBREMSKI, S. La déficience intellectuelle. In: J. H.</p><p>Stone; M Blouin (Ed). International Encyclopedia of Rehabilitation. 2010.</p><p>Disponível em: http://cirrie.buffalo.edu/encyclopedia/fr/article/15/. Acesso em: 1</p><p>dez. 2015.</p><p>XAVIER, A. C. Letramento digital e ensino. In: SANTOS, C. F.; MENDONÇA,</p><p>M. (Org.) Alfabetização e letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte:</p><p>Autêntica, p. 133-148, 2007.</p><p>ZIGLER, E.; HODAPP, R. M. Understanding mental retardation. New York:</p><p>Cambridge University Press, 1986.</p><p>METODOLOGIAS ATIVAS NO ENSINO DE CIENCIAS: O</p><p>JOGO INCLUZZO E A INCLUSÃO DE ESCOLARES COM</p><p>DEFICIÊNCIA INTELECTUAL</p><p>Cassandra Ribeiro Joye</p><p>Ana Karolina Melo Rodrigues</p><p>Sinara Socorro Duarte Rocha</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Deficiência Intelectual de acordo com a legislação nacional, Decreto Lei 5296 é</p><p>aquele indivíduo que apresenta:</p><p>[…] funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com</p><p>manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas</p><p>de habilidades adaptativas, tais como: 1. comunicação; 2. cuidado pessoal; 3.</p><p>habilidades sociais; 4. utilização dos recursos da comunidade; 5. saúde e</p><p>segurança; 6. habilidades acadêmicas; 7. lazer; e 8. Trabalho (BRASIL,</p><p>5296/2004).</p><p>Desde 2004, o termo correto é deficiência intelectual no lugar de deficiência</p><p>mental por recomendação da Organização Mundial de Saúde – OMS, sendo que</p><p>se estima que 5% da população mundial apresente algum grau de deficiência</p><p>intelectual (SÃO PAULO, 2012).</p><p>O Código Internacional de Doenças, desenvolvido pela Organização Mundial de</p><p>Saúde (CID -1), ao especificar o Retardo Mental (F70-79), propõe uma definição</p><p>fundamentada no coeficiente de inteligência (CI), classificando-o entre leve,</p><p>moderado e profundo, conforme o comprometimento intelectual do estudante</p><p>(GOMES et al., 2007). A maior dificuldade do estudante com DI é:</p><p>[...] demonstrar a sua capacidade cognitiva, principalmente nas escolas que</p><p>mantêm um modelo conservador de ensino e uma gestão autoritária e</p><p>centralizadora. O caráter meritocrático, homogeneizador e competitivo das</p><p>escolas tradicionais oprimem o professor, reduzindo-o a uma situação de</p><p>isolamento e impotência, principalmente frente aos seus alunos com deficiência</p><p>mental, pois são aqueles que mais “entravam” o desenvolvimento do processo</p><p>escolar, em todos os seus níveis e séries. Diante da situação, a saída encontrada</p><p>pela maioria dos professores é desvencilhar-se desses alunos que não</p><p>acompanham as turmas, encaminhando-os para qualquer outro lugar que</p><p>supostamente saiba como ensiná-los. (GOMES et al. 2007, p. 17)</p><p>O modelo tradicional de ensino apenas acentua as deficiências, aumentando a</p><p>inibição, reforçando os sintomas existentes e agravando as dificuldades do aluno</p><p>com DI. A Educação Inclusiva é uma proposta de ensino que chama a atenção</p><p>para a importância determinante que o processo de inclusão deve ter na</p><p>comunidade e na família para se tornar eficaz e duradouro, promovendo a</p><p>abertura da escola à diversidade (NOGUEIRA e RODRIGUES, 2003).</p><p>Nessas práticas o jogo é um recurso importante, pois promove o</p><p>desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento, resgatando o prazer pelo</p><p>aprender, inserindo o aluno com deficiência intelectual no contexto escolar e</p><p>contribuindo para sua formação. Dessa forma, “para que haja a inclusão novas</p><p>práticas são necessárias, com a renovação de estratégias e recursos de ensino que</p><p>favoreçam a aprendizagem do aluno, explorando materiais didáticos que são um</p><p>importante componente nesse processo”. (ARAGÃO et al., 2008, p. 1).</p><p>O interesse em estudar essa temática ocorreu durante o decorrer do estágio</p><p>supervisionado no ensino fundamental no qual se percebeu a seguinte</p><p>problemática: a presença de alunos com deficiências na escola básica e a baixa</p><p>participação e/ou interação nas aulas na disciplina de Ciências. Na maioria das</p><p>vezes eram dispersos, sem concentração e sem interesse no que estava sendo</p><p>exposto pelo professor. Com esse intuito investigou-se que na atualidade ainda</p><p>são incipientes os materiais didáticos para o ensino de Ciências numa</p><p>perspectiva da educação inclusiva. Contudo, se houver a presença de materiais</p><p>que auxiliem os docentes durante a aula, como por exemplo, jogos que tenham a</p><p>função de ajudar o entendimento de todos os alunos e em especial os que</p><p>possuem deficiências.</p><p>O objetivo deste estudo foi investigar a contribuição de um jogo educativo para</p><p>o ensino de ciências com alunos com deficiências intelectuais em uma escola</p><p>pública de Marco-CE utilizando metodologias ativas de ação docente. O</p><p>presente capítulo propõe um modelo de construção de conteúdo para que os</p><p>profissionais que desejam se inserir no ensino fundamental possam construir</p><p>materiais mais atrativos, interativos e dinâmicos, através de uma metodologia</p><p>ativa centrada na resolução do problema.</p><p>METODOLOGIA DE AÇÃO</p><p>A metodologia adotada para a construção deste capítulo, encaixa-se numa</p><p>abordagem qualitativa, tratando-se portanto, de um estudo de uma pesquisa-ação</p><p>por meio de metodologia ativa de resolução de problemas.</p><p>O presente estudo foi realizado em uma escola pública municipal da cidade de</p><p>Marco-Ce (Figura 1), localizada na região nordeste do Brasil, com a população</p><p>de aproximadamente 24.707 habitantes (IBGE, 2010). A instituição foi escolhida</p><p>por ser uma das escolas que possuem maior número de alunos com deficiência</p><p>intelectual e a única com sala de recurso multifuncional e professor</p><p>especializado em educação inclusiva na região.</p><p>FIGURA 1 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: MARCO –</p><p>CE</p><p>FONTE: IBGE</p><p>Em 2016, a escola possuía 740 alunos matriculados distribuídos nos turnos</p><p>manhã e tarde, sendo 16 alunos atendidos</p><p>na sala de Atendimento Educacional</p><p>Especializado (A.E.E), destes cinco possuem deficiência intelectual. Para</p><p>inclusão dos alunos na amostra foram adotados como critérios: a) a matrícula</p><p>regular; b) que os mesmos fossem atendidos no A.E.E. da instituição pesquisada;</p><p>c) os responsáveis autorizassem a participação na pesquisa por meio da</p><p>assinatura do T.C.L.E. Os encontros com os alunos foram realizados no horário</p><p>de atendimento da sala do A.E.E., assim, os mesmos não precisariam ausentar-se</p><p>das aulas regulares.</p><p>A coleta de dados foi realizada por meio de diário de campo e entrevista em três</p><p>fases (Figura 2): inicialmente foi realizada uma avaliação diagnostica, para saber</p><p>o conhecimento sobre as classes taxonômicas dados na disciplina de ciências da</p><p>amostra. Em seguida foi produzido um jogo didático – Baralho Incluzoo –</p><p>construído especificamente para este estudo em material concreto e a última</p><p>etapa foi aplicação e investigação se houve aprendizagem significativa.</p><p>FIGURA 2 – ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO</p><p>FONTE: IFCE (2016)</p><p>PRODUÇÃO DO JOGO INCLUSIVO INCLUZOO NA ÁREA DE</p><p>CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO INCLUSIVA</p><p>O nome do jogo Incluzoo dá referência a junção das palavras: inclusão e</p><p>zoologia que são as palavras-chave para a elaboração do jogo e da pesquisa, esse</p><p>material foi especificamente produzido para este estudo. Para a produção do jogo</p><p>foram realizadas pesquisas na literatura específica a fim de encontrar</p><p>embasamento teórico. A busca de imagens de animais ocorreu em site de banco</p><p>de imagens em Creative Commons que pudessem ser usados para melhor</p><p>representar cada classe taxonômica.</p><p>O design do Jogo Incluzoo ocorreu utilizando o programa Office Word 2007 e as</p><p>imagens que foram retiradas do site Pixabay⁷. Para o recurso didático foram</p><p>confeccionados 42 cartas, no qual cada uma possui imagem e o nome do animal</p><p>representado para melhorar o entendimento para aqueles que não conheçam o</p><p>animal e sabiam ler, separadas em 6 classes: aves (figura 3), anfíbios (figura 4),</p><p>mamíferos (figura 5), peixes (figura 6), repteis (figura 7), e invertebrado (figura</p><p>8), no qual especificamente a classe dos invertebrados está separada em duas</p><p>sendo insecta e o filo mollusca (crustácea, bivalve e cnidário). Do total de cartas,</p><p>seis é a quantidades de grupos distintos contendo uma com o nome da classe da</p><p>qual os animais correspondem e as outras com a imagem e nome dos animais,</p><p>elas foram impressas em folha 60 kg colorido e cortadas e coladas em na parte</p><p>de designer como slogan do IFCE, e o nome do jogo (figura 9) em seguida</p><p>adesivadas em papel transparente.</p><p>Figura 3 – classe taxonômica das aves</p><p>FONTE: IFCE, 2016</p><p>FIGURA 4 – CLASSE TAXONÔMICA DOS ANFÍBIOS</p><p>FONTE: IFCE, 2016</p><p>FIGURA 5 – CLASSE TAXONÔMICA DOS MAMÍFEROS</p><p>FONTE: IFCE, 2016</p><p>FIGURA 6 – CLASSE TAXONÔMICA DOS PEIXES</p><p>FONTE: IFCE, 2016</p><p>FIGURA 7– CLASSE TAXONÔMICA DOS INVERTEBRADOS</p><p>FONTE: IFCE, 2016</p><p>FIGURA 8 – CLASSE TAXONÔMICA DOS REPTEIS</p><p>FONTE: IFCE, 2016</p><p>FIGURA 9 – VERSO DE CARTA DO JOGO INCLUZO</p><p>FONTE: IFCE, 2016</p><p>COLETA E ANÁLISE DOS DADOS</p><p>A coleta de dados ocorreu por meio de entrevista na própria escola, durante o</p><p>atendimento no AEE, munidos de TCLE. Foram entrevistados cinco alunos com</p><p>D.I da sala de AEE, matriculados ente o 4° ao 9° ano do ensino fundamental da</p><p>escola municipal de ensino da cidade de Marco. Os entrevistados foram descritos</p><p>por letras do alfabeto em A, B, C, D e E. As entrevistas foram gravadas em</p><p>áudio e transcritas posteriormente no programa Office Word 2007. Cada</p><p>entrevista teve duração de aproximadamente 25 a 30 minutos e foram realizadas</p><p>entre o período de 2 a 31 de março, sendo que na primeira sessão teve 100% de</p><p>participação e nas outras 60%, isso ocorreu por conta nos dias específicos de</p><p>atendimento os alunos faltosos.</p><p>Para a análise dos dados coletados utilizou-se a técnica de Analise de Conteúdo</p><p>de Bardin (1977) organizados em três fases: pré-análise, exploração e tratamento</p><p>dos resultados (interpretação). Os dados coletados foram transcritos literalmente</p><p>e em seguida foram construídas categorias descritas a seguir nos resultados e</p><p>discussão.</p><p>RESULTADOS E DISCUSSÃO</p><p>A seguir são apresentadas as categorias de análise do jogo, a saber: a)</p><p>apresentação do jogo Incluzoo; b) caracterização das classes taxonômicas e</p><p>aplicação do jogo e por fim a categoria intervenção e eficácia do jogo Incluzoo.</p><p>Categoria apresentação do jogo Incluzoo</p><p>Esta categoria tem como principal objetivo apresentar o jogo Incluzoo para os</p><p>alunos com D.I e explicitar as regras e o conteúdo abordado nele. Com a</p><p>distribuição do baralho na mesa, solicitou-se que os entrevistados dissessem que</p><p>animal estava sendo ilustrado em cada carta do jogo. Inicialmente o aluno A,</p><p>disse qual era o animal fazendo uma associação dos animais que ele havia visto e</p><p>os que nunca viu, expresso em uma das frases: “eu nunca vi!”</p><p>O aluno B, mostrou timidez inicialmente, falando apenas palavras</p><p>monossilábicas, como por exemplo, “uhum!” “não” “sim”. Depois foi</p><p>conversando mais abertamente e respondendo que animal cada carta do jogo</p><p>representava em algumas ficou em dúvida sobre qual era o animal e então</p><p>questionava como na seguinte frase:“e esse daqui?”.</p><p>Já o aluno C, respondeu todos os animais que estavam sendo representados,</p><p>utilizando a leitura, já que no jogo tem expressado a imagem do animal e o</p><p>nome, utilizou também do conhecimento prévio que possuía com o nome</p><p>conhecido popularmente, na frase em que ele chama um sapo de “cururu”, por</p><p>conhecê-lo com esse nome. Entretanto, o aluno E mostrou-se envergonhado e</p><p>tímido, ao responder sobre os animais, respondia com um tom de voz baixo. O</p><p>aluno D, começou a responder com coerência alguns animais já em outros como</p><p>ele não sabia do que se tratava, ele associou-os a junção dos animais cujo nome</p><p>ele conhecia. Na seguinte fala: “urubu misturado com...” querendo representar o</p><p>pavão. E em outras falas ele se corrige como: “zebra não é cabrito”.</p><p>De todo modo, percebeu-se que os alunos mostraram seus breves</p><p>conhecimentos. E que as imagens influenciaram bastante para o conhecimento</p><p>dos entrevistados. Conforme Jesus et al. (2008) afirma que os programas mais</p><p>utilizados na Educação Especial são os jogos e esse jogo educativo deve</p><p>proporcionar um ambiente crítico, fazendo com que o aluno se sensibilize para a</p><p>construção de seu conhecimento com oportunidades prazerosas para o</p><p>desenvolvimento de suas cognições.</p><p>Categoria: caracterização das classes taxonômicas e aplicação do jogo</p><p>Esta categoria tem como princípio caracterizar todas as classes por algumas</p><p>características especificas de cada grupo taxonômico. Inicialmente houve a</p><p>participação de todos os alunos nas entrevistas, no entanto os alunos B e D</p><p>participaram somente da primeira entrevista, nas outras em que o jogo foi</p><p>puramente vivenciado eles não presenciaram. Os dados aqui apresentados serão</p><p>dos alunos A, C e E. Nessa fase pode-se perceber que os alunos já tinham</p><p>conhecimento do jogo e de seu funcionamento. Foram dadas aos mesmos as</p><p>características de cada classe, onde o aluno A, correlacionou rapidamente a</p><p>maioria dos animais, tendo um pouco de dificuldade em dar características do</p><p>animal e não no seu grupo todo, como pode-se ver na seguinte fala: “um</p><p>pinguim, ele não é de dentro d’água, aquele negócio como é?”</p><p>O aluno C, ao dizer que tal animal pertencia a determinada classe, surgia com</p><p>questionamentos o do por que, pertencia aquela classe, em uma de suas falas:</p><p>“eles são mamíferos? Mas porque eles são mamíferos?”. E em outra de suas</p><p>falas ele dá um adjetivo para o animal quando foi dito que pertencia a tal classe e</p><p>não a outra, provavelmente relacionando à imagem que ele tem desse animal por</p><p>meio de animações: “até porque pinguim é sabido!”</p><p>Já o aluno E, começou meio receoso, ficando em silêncio em algumas perguntas</p><p>e em outras usando palavras monossilábicas com “uhum” e “tá”, e houve</p><p>momentos em que o pesquisador perguntava e no tempo de resposta dizia as</p><p>primeiras sílabas para incentivar o aluno a falar o nome das classes. Durante a</p><p>apresentação foi questionando sobre cada animal, aproveitado para instigar ao</p><p>aluno responder, em alguns casos ele simplesmente não correlacionou e sim</p><p>disse o nome de outro animal. Nessa categoria os alunos mostraram suas</p><p>habilidades em correlacionar animal à classe taxonômica durante a entrevista.</p><p>Mesmo com as dúvidas, as incoerências, os alunos se sobressaíram com a</p><p>utilização do jogo Incluzoo.</p><p>Segundo Góes (2002) apud Vaz et. al 2012 a partir dos pressupostos de Vigotski,</p><p>afirmam que para favorecer a aprendizagem desses alunos é fundamental a</p><p>presença de recursos especiais e caminhos alternativos, que atuam como formas</p><p>compensatórias possibilitando o desenvolvimento da potencialidade desses</p><p>estudantes. Sendo assim, o material didático adaptado pode ser considerado</p><p>como um recurso especial que auxilia o processo de aprendizagem de alunos</p><p>com deficiência.</p><p>Categoria intervenção e eficácia do jogo Incluzoo</p><p>Esta categoria tem como principal objetivo analisar a correlação que os alunos</p><p>fizeram entre animal e classe durante as partidas do jogo Incluzoo. Mostrando</p><p>seu entendimento sobre o assunto e seu aprimoramento sobre ele. Pode-se dizer</p><p>que a aprendizagem dos alunos foi significante, desde a primeira entrevista e no</p><p>decorrer do estudo. É possível observar que houve uma aprendizagem</p><p>significativa nos alunos que participaram das três sessões, assim como mostra a</p><p>Figura 10, a qual representa todos os erros e acertos dos alunos durante o</p><p>período de estudo. Com esse intuito é relevante que os professores possam</p><p>utilizar meios e recursos lúdicos que influenciam no aprendizado do aluno,</p><p>principalmente os que possuem deficiência. Os alunos A, B e C, mostraram</p><p>aprendizagem em relação às primeiras sessões, com um crescimento de acertos</p><p>nas perguntas referentes ao animal/classe, assim como mostra a figura. O aluno</p><p>A inicialmente acertou 17 e errou 18 na primeira sessão, já na terceira acertou 30</p><p>e errou 5. O aluno C, na primeira acertou 16 e errou 19, respectivamente na</p><p>terceira 23 em uma e 12 na outra. O aluno E, iniciou acertando 10 e errando 25,</p><p>na terceira ele acertou 19 e errou 16.</p><p>Para Mafra (2008) pode-se afirmar que a aprendizagem acadêmica de alunos</p><p>com deficiência intelectual processa-se de forma mais lenta e que a criança com</p><p>deficiência intelectual apresenta maior dificuldade na apreensão de conceitos</p><p>abstratos. Os resultados ajudam a revelar que o educador deve desenvolver</p><p>práticas pedagógicas empregando o lúdico com os alunos com D.I, fazendo com</p><p>que o processo de ensino tenha um desenvolvimento e uma estimulação</p><p>adequada e com qualidade buscando contribuições que facilitem o ensino de</p><p>Ciências. Para Gomes et al (2007), o aluno com deficiência intelectual requer um</p><p>olhar diferenciado em relação as suas necessidades, pois incumbirá ao professor</p><p>uma avaliação constante, elaborando e desenvolvendo as atividades</p><p>educacionais, sempre respeitando a singularidade do educando.</p><p>FIGURA 10 – PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS EM TODAS AS SESSÕES</p><p>COM A INTERFERÊNCIA DO JOGO</p><p>FONTE: IFCE, 2016</p><p>Pela figura 10, percebeu-se que os alunos após a introdução do jogo na sala de</p><p>aula houve melhoria na aprendizagem apresentando menos erros conceituais</p><p>sobre taxionomia de vertebrados. Nessa fase observou-se que os alunos</p><p>aprimoraram seus conhecimentos sobre o assunto, e mostraram que mesmo</p><p>sendo deficientes intelectuais, isso não interrompeu qualquer aprendizado que</p><p>possam assimilar. Como aspectos que necessitam ser melhorados é a</p><p>continuidade do estudo com outros escolares para comparar a eficácia do jogo</p><p>em outros ambientes.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Neste capítulo, pode-se constatar que os alunos com Deficiência Intelectual</p><p>possuem habilidades que com a ajuda de algum recurso, como neste estudo foi</p><p>usado o jogo, é de grande valia seu uso, fazendo com que o aluno aprimore mais</p><p>seus conhecimentos e tenha um desempenho melhor em sala de aula. Durante as</p><p>entrevistas pode-se observar que os alunos com deficiência, passam por</p><p>momentos que, se observado de fora, uma pessoa desconhecida, poderiam ter o</p><p>diagnóstico de um não deficiente.</p><p>A partir deste estudo conclui-se que os materiais lúdicos contribuem de forma</p><p>significativa na aprendizagem e no aprofundamento no conteúdo de zoologia,</p><p>ministrado no ensino fundamental para crianças com deficiência intelectual. Em</p><p>2018, a equipe do laboratório Multimeios – UFC conheceu a experiência e está</p><p>procurando adaptar o jogo Incluzoo para o formato móbile.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARAGÃO, A. S; SILVA, V. C; SILVA G. M; Análise da produção em Educação</p><p>Especial e Inclusiva nos Programas de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e</p><p>Matemática. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE QUÍMICA, 14.</p><p>2008, Curitiba. Anais... Curitiba: UFPR, 2008</p><p>BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.</p><p>BRASIL. Lei n.º 5296 de 2004. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm.</p><p>Acesso em: 10 fev. 2018.</p><p>GOMES, A. L.; FERNANDES, A. C.; BATISTA, C. A. M.; SALUSTIANO, D.</p><p>A.; MANTOAN, M. T. E.; FIGUEIREDO, R. V. Atendimento Educacional</p><p>Especializado: Deficiência Mental. 2007. Disponível em:</p><p>http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dm.pdf. Acesso em: 10 fev.</p><p>2018.</p><p>JESUS R. P. T.; FERNANDES, A. M . R.; DAZZI, R. L. S.; MOREIRA, B. G.</p><p>Colibri – Ambiente Virtual de jogos Educativos que auxilia na Reabilitação</p><p>Cognitiva de Pessoas Portadoras de Deficiência Mental. Hífen, Uruguaiana, v.</p><p>32, n. 62, p. 308-313. Santa Catarina, 2008.</p><p>MAFRA, S.R.C, KEMPA, S. R. O lúdico na prática educacional de alunos</p><p>deficientes intelectuais. Paraná, 2008. Disponível em:</p><p>http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2444-8.pdf. Acesso</p><p>em: 10 set. 2017.</p><p>NOGUEIRA, J. H.; RODRIGUES, D. A. Avaliação do impacto da escola</p><p>especial e da escola regular na inclusão social e familiar de jovens portadores de</p><p>deficiência mental profunda. Revista do Centro de Educação da UFSM. Santa</p><p>Maria, v. 32, n. 2, p. 271-300, 2007.</p><p>SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Núcleo de Apoio Pedagógico</p><p>Especializado – CAPE. Deficiência intelectual: realidade e ação. Organizado por</p><p>Maria Amélia Almeida. São Paulo: Secretária de Educação, 2012.</p><p>VAZ, J. M. C. et al. Material didático para ensino de Biologia: possibilidades de</p><p>inclusão. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, p. 6173-</p><p>6184, v. 12, n. 3, 2012.</p><p>contribuições do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à</p><p>Docência – PIBID na formação INICIAL DE PROFESSORES DE</p><p>BIOLOGIA</p><p>Edilene Diniz Alves</p><p>Maria Márcia Melo de Castro Martins</p><p>Diego Adaylano Monteiro Rodrigues</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A formação de professores se constitui de um processo de investigação, reflexão,</p><p>busca pelo conhecimento e aperfeiçoamento pedagógico. Para Pimenta e Lima</p><p>(2004), o desenvolvimento profissional dos professores é objetivo de propostas</p><p>educacionais que valorizam a gênese docente, não mais baseada no</p><p>conhecimento de uma técnica que os torna meros executores de determinações</p><p>alheias, mas em uma perspectiva que reconhece sua capacidade de decidir. Nesse</p><p>aspecto, o professor não deve apenas ser detentor de técnicas, métodos didáticos.</p><p>Sua constituição deve proporcionar uma prática reflexiva e geradora de ações.</p><p>Nessa direção, Zeichner (1993) destaca a importância de preparar professores</p><p>que assumam uma atitude reflexiva em relação ao seu ensino e às condições</p><p>sociais que os influenciam. O autor reconhece na formação reflexiva uma</p><p>maneira de aperfeiçoar a formação docente, auxiliando na capacidade de</p><p>enfrentar a complexidade das condições da escola e da sociedade.</p><p>Sendo assim, a formação de professores precisa ser adequada, crítica e reflexiva.</p><p>A formação docente é uma atividade intencional, que tem como finalidade</p><p>ensinar a ensinar. Ao final de sua formação acadêmica, o licenciando tem que</p><p>estar apto para exercer a função de professor. Para isso, é necessário não apenas</p><p>que ele tenha domínio sobre o conteúdo, mas que assuma postura, atitudes,</p><p>valores e conhecimentos próprios e específicos da docência, adquirindo, assim,</p><p>uma identidade com a profissão.</p><p>Pimenta (2002) acresce que o saber docente se constitui da prática, mas também</p><p>das teorias de ensino, sendo ambas essenciais à formação docente, pois</p><p>permitem aos sujeitos envolvidos uma variedade de interpretações que motiva</p><p>uma ação contextualizada. Desse modo, o papel da teoria vinculada à prática na</p><p>formação docente é colaborar com os processos de criação, reflexão e</p><p>aprendizagem do saber docente.</p><p>A prática docente requer apropriação de métodos específicos, pois, para realizá-</p><p>la, é necessário conhecimento, além de domínio de habilidades intrínsecas ao ato</p><p>de ensinar. Deve-se, contudo, saber que essas “habilidades não são suficientes</p><p>para a resolução de problemas com os quais se defrontam, uma vez que a</p><p>redução das técnicas não dá conta do conhecimento científico nem da</p><p>complexidade das situações do exercício desses profissionais” (PIMENTA;</p><p>LIMA, 2004, p. 37).</p><p>Desse modo, o docente restringe-se ao uso de métodos sem reflexão, de uma</p><p>ação que não gera reação. Teoria e prática são concebidas separadamente, sendo</p><p>extremamente fragilizada a ligação entre essas dimensões da formação docente,</p><p>devendo uma oferecer subsídio à outra. Ao que se sabe, tal fragilidade tem</p><p>marcado, historicamente, os cursos de licenciatura, mesmo com os Estágios</p><p>Supervisionados e com os Programas de iniciação à docência existentes.</p><p>Por conta dessa fragilidade teoria-prática, é recorrente o discurso de que, quando</p><p>o licenciando se depara com a realidade da escola, em muitas situações, sente-se</p><p>perdido, por não conseguir relacionar conhecimento adquirido na universidade</p><p>com a realidade escolar, cujo cotidiano é atravessado por situações e problemas</p><p>adversos da prática profissional. Para Tardif (2002), a prática pode ser vista</p><p>como um processo de aprendizagem por meio do qual os professores</p><p>reformulam sua formação e a adequam à profissão, suprimindo o que lhes parece</p><p>abstrato ou sem relação com a realidade vivida e, conservando o que pode ser</p><p>usado de uma maneira ou de outra.</p><p>Sendo assim, podemos considerar que os conhecimentos acadêmicos, adquiridos</p><p>durante a formação inicial, devem ser adequados à prática docente conforme a</p><p>realidade e a necessidade do contexto em que está inserida.</p><p>A teoria deve atender às necessidades da prática, ou seja, fornecer suporte</p><p>necessário para a superação das dificuldades presentes no cotidiano escolar.</p><p>Pimenta e Lima (2004, p. 43) destacam que a teoria tem como função:</p><p>[…] iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para análise e investigação que</p><p>permitam questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos e, ao</p><p>mesmo tempo, elas próprias submeterem-se a questionamentos, uma vez que as</p><p>teorias são explicações provisórias da realidade.</p><p>Nesse sentido, a teoria deve existir como orientadora da ação docente. Ao</p><p>desarticular a relação teoria-prática, o fazer docente é privado da reflexão sobre a</p><p>ação e de uma compreensão da realidade. Sendo assim, é de suma importância</p><p>que os cursos de formação de professores trabalhem a teoria e a prática, de</p><p>forma indissociável, pois ambas são relevantes no processo de formação do</p><p>professor, uma vez que a teoria complementa a prática, e a prática a teoria.</p><p>De acordo com Libâneo (1994), a formação profissional do professor sugere</p><p>uma contínua integração entre teoria e prática, com a teoria vinculada às</p><p>dificuldades reais postas pela experiência prática, e a ação prática norteada pela</p><p>teoria.</p><p>Assim, a construção do ser professor é proporcionada por um processo de</p><p>socialização, diálogo e interação com o cotidiano profissional, promovendo o</p><p>conhecimento da realidade, confronto e elaboração com os aspectos e</p><p>competências necessárias ao exercício da profissão, incorporando, assim, a</p><p>imagem da profissão à pessoa do professor. Desse modo, Tardif (2002) nos</p><p>lembra que os professores em ofício possuem saberes específicos que são</p><p>mobilizados, adquiridos e utilizados por eles no campo de suas ocupações e</p><p>atividades cotidianas.</p><p>No âmbito da constituição da identidade profissional, afirma Gauthier (1998)</p><p>que uma das condições essenciais a toda profissão é a construção dos saberes</p><p>imprescindíveis ao cumprimento das tarefas que lhe são próprias. A identidade</p><p>profissional docente está intimamente ligada à absorção de conhecimentos</p><p>específicos, dos saberes didáticos, articulação teoria-prática, reflexão sobre a</p><p>ação e troca de saberes e experiências.</p><p>Vale salientar que esses saberes não devem ser trabalhados separadamente, mas</p><p>devem ser interligados, pois se complementam. Esses saberes são transformados</p><p>e passam a integrar a identidade do professor, constituindo-se em elemento</p><p>fundamental nas práticas pedagógicas, sendo assim, considerados saberes</p><p>próprios.</p><p>Assim, no intuito de elevar a qualidade da formação de professores no Brasil, a</p><p>Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes –</p><p>lançou, em 2007, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência –</p><p>Pibid –, o qual tem por finalidade fomentar a iniciação à docência, contribuindo</p><p>para o aperfeiçoamento da formação de docentes em nível superior e para a</p><p>melhoria da qualidade da educação básica pública brasileira (Art. 1º, Decreto n.º</p><p>7.219/2010, BRASIL, 2010).</p><p>O Pibid concede bolsas a alunos de licenciatura, participantes de projetos de</p><p>iniciação à docência (projetos institucionais) submetidos à avaliação da Capes</p><p>por Instituições de Educação Superior (IES), em parceria com escolas de</p><p>educação básica da rede pública de ensino. A efetivação dos projetos acontece</p><p>com a inclusão dos bolsistas no contexto escolar para vivência e realização de</p><p>atividades didático-pedagógicas, sob a orientação de um professor supervisor da</p><p>escola e coordenação de um professor da Instituição de Ensino Superior</p><p>(BRASIL/CAPES, 2015).</p><p>O professor supervisor, docente da escola de educação básica das redes públicas</p><p>de ensino contempladas pelo projeto institucional, que também é contemplado</p><p>com bolsa do Programa, é responsável por acompanhar e supervisionar as</p><p>atividades dos bolsistas de iniciação à docência, no âmbito da escola, atuando</p><p>como coformador dos licenciandos bolsistas.</p><p>O programa promove uma interação e troca de experiências entre licenciandos,</p><p>coordenadores e supervisores, promovendo uma dinâmica de formação mútua,</p><p>geração de conhecimentos e crescimento contínuo.</p><p>O Pibid é um programa que não visa apenas à articulação entre instituição de</p><p>ensino superior e a escola de educação básica, mas proporciona aos licenciandos</p><p>experiências reais que envolvem o processo de ensino-aprendizagem, auxiliados</p><p>e orientados por coordenadores e supervisores, profissionais atuantes e</p><p>experientes.</p><p>De acordo com os incisos I, II, III, IV, V e VI, do Art. 3º, do Decreto n.º</p><p>7.219/2010 (BRASIL, 2010), entre os objetivos do programa estão o incentivo à</p><p>formação docente, a valorização do magistério, a integração da educação básica</p><p>e superior, a promoção de experiências inovadoras e interdisciplinares,</p><p>estabelecimento de uma maior relação entre teoria e prática.</p><p>Esses aspectos nos levaram a questionar sobre as práticas formativas que</p><p>aconteceram no Pibid pertencente ao subprojeto Ciências Biológicas da</p><p>Faculdade de Educação, Ciências e Letras (FECLI) da Universidade Estadual do</p><p>Ceará (Uece), onde atuaram a primeira e a segunda autoras deste capítulo como</p><p>bolsista ID e coordenadora de área, respectivamente.</p><p>Desse modo, o objetivo desta pesquisa é compreender como o Pibid tem</p><p>colaborado para a formação docente de professores de Biologia com base na</p><p>integração teoria-prática.</p><p>PERCURSO METODOLÓGICO</p><p>A investigação teve uma abordagem qualitativa, a qual se preocupa com aspectos</p><p>da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e</p><p>explicação da dinâmica das relações sociais. Para Minayo (2001), a pesquisa</p><p>qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,</p><p>crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das</p><p>relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à</p><p>operacionalização de variáveis. No paradigma da pesquisa</p><p>o sentido teleológico de um texto</p><p>acadêmico escrito e publicado como exercício de reflexão nacional.</p><p>Os organizadores</p><p>Sumário</p><p>A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA NA FORMAÇÃO E NA PRÁTICA</p><p>DOS PROFESSORES DE BIOLOGIA EM UMA ESCOLA NO ESTADO</p><p>DE ALAGOAS</p><p>Alexandre Rodrigues da Conceição, Maria Danielle Araújo Mota e Raquel</p><p>Crosara Maia Leite</p><p>AVALIAÇÃO DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: PRIMEIRAS</p><p>EXPERIÊNCIAS</p><p>Ana Paula de Medeiros Ribeiro e Helen Cristina Vieira Costa</p><p>O ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO E O PAPEL DA ESCOLA</p><p>CAMPO NO PROCESSO FORMATIVO DO PEDAGOGO</p><p>Ana Maria do Nascimento, Maria Socorro Lucena Lima e Francione Charapa</p><p>Alves</p><p>A EFICÁCIA DA INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL COMPROVADA</p><p>POR MEIO DAS EXPRESSÕES FACIAIS CAPTADAS DURANTE A</p><p>AÇÃO DE BLOGAGEM DE JOVENS COM DEFICIÊNCIA</p><p>INTELECTUAL</p><p>Avanúzia Ferreira Matias</p><p>METODOLOGIAS ATIVAS NO ENSINO DE CIENCIAS: O JOGO</p><p>INCLUZZO E A INCLUSÃO DE ESCOLARES COM DEFICIÊNCIA</p><p>INTELECTUAL 73</p><p>Cassandra Ribeiro Joye, Ana Karolina Melo Rodrigues e Sinara Socorro Duarte</p><p>Rocha</p><p>contribuições do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência –</p><p>PIBID na formação INICIAL DE PROFESSORES DE BIOLOGIA</p><p>Edilene Diniz Alves, Maria Márcia Melo de Castro Martins e Diego Adaylano</p><p>Monteiro Rodrigues</p><p>VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS: IMPLICAÇÕES, CAUSAS E EFEITOS NO</p><p>ESPAÇO ESCOLAR</p><p>Ellery Henrique Barros da Silva e Fauston Negreiros</p><p>FAMÍLIA E ESCOLA: UMA PARCERIA PARA O SUCESSO.</p><p>Fernanda Maciel de Almeida e Maria Patrícia Morais Leal</p><p>A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA E A</p><p>IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO</p><p>Francisco Edmar de Sousa Silva, Jaqueline Pinheiro e Luiz Antonio de Sousa</p><p>Silva</p><p>AS AVALIAÇÕES EXTERNAS E A APRENDIZAGEM NO BRASIL</p><p>Francisco Robson de Araújo Pereira, Ana Paula Vasconcelos de Oliveira Tahim</p><p>e Gabrielle Silva Marinho</p><p>TECNOLOGIAS ASSISTIVAS COMO POSSIBILIDADE DE ACESSO</p><p>AO CONHECIMENTO, CULTURA E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE</p><p>SURDA</p><p>Gérison Kezio, Heridan de Jesus Guterres Pavão Ferreira e Maria Eugênia</p><p>Rodrigues Araújo</p><p>AS CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA AFETIVA PARA A</p><p>COMPREENSÃO DOCENTE SOBRE APRENDIZAGEM DA CRIANÇA</p><p>Jeriane da Silva Rabelo e Paulo Meireles Barguil</p><p>TECNOLOGIAS E RECURSOS EDUCACIONAIS DIGITAIS (RED):</p><p>UMA PROPOSTA DE FACILITAÇÃO DAS PRÁTICAS DOCENTES NA</p><p>ÁREA DA MATEMÁTICA</p><p>Juliana Silva Arruda, Liliane Maria Ramalho de Castro Siqueira e Ellen Lacerda</p><p>Carvalho Bezerra</p><p>ESTÁGIO DOCENTE EM FORMAÇÃO DE PROFESSORES:</p><p>POSSIBILIDADES PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA</p><p>Juliana Vargas e Bruna Pereira</p><p>O MÉRITO ESCOLAR NA PRÁXIS DOCENTE DAS ESCOLAS NOTA</p><p>DEZ</p><p>Karlane Holanda Araújo e José Melinho Lima Neto</p><p>SER PROFESSOR EM EAD: SABERES E PRÁTICAS DOS</p><p>PROFESSORES FORMADORES DE ESTÁGIO EM PEDAGOGIA NA</p><p>UAB/UECE</p><p>Maria do Socorro Lucena Lima, Silviane da Silva Rocha, Elisangela André da</p><p>Silva Costa e Stânia Nágila Vasconcelos Carneiro</p><p>OS CAMINHOS INCLUSIVOS NO PROCESSO EDUCACIONAL: DO</p><p>REAL AO IDEAL</p><p>Marisa Pascarelli Agrello</p><p>A UTILIZAÇÃO DA CINEMATOGRFIA EM SALA DE AULA</p><p>Wagner José Silva de Castro e Carlos Augusto Viana</p><p>SOBRE OS AUTORES</p><p>A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA NA FORMAÇÃO E NA</p><p>PRÁTICA DOS PROFESSORES DE BIOLOGIA EM UMA</p><p>ESCOLA NO ESTADO DE ALAGOAS</p><p>Alexandre Rodrigues da Conceição</p><p>Maria Danielle Araújo Mota</p><p>Raquel Crosara Maia Leite</p><p>Introdução</p><p>A formação inicial de professores trata-se do primeiro contato que o futuro</p><p>docente tem com os diversos conteúdos que deverão fazer parte do seu</p><p>conhecimento e que irá lhe auxiliar em sua prática docente. Giroux (1997, p.</p><p>157) afirma que “a formação inicial envolve um conjunto de procedimentos,</p><p>entre eles a necessidade que a instituição formadora possui de formar pessoas</p><p>que estejam comprometidas em se dedicar a profissão escolhida”.</p><p>Assim, corroboramos com a ideia do autor, uma vez que para ser possível formar</p><p>bons profissionais, é necessário que estes estejam dispostos a lutarem diante da</p><p>realidade na qual a educação está inserida. Portanto, não basta apenas uma boa</p><p>bagagem de conhecimentos específicos e conhecimentos didáticos-pedagógicos,</p><p>como bem nos assegura Nóvoa (1991).</p><p>Desta forma, para que o futuro docente consiga compreender a realidade na qual</p><p>estará inserido, ele precisará de uma preparação que vá além do que as aulas das</p><p>disciplinas presentes em sua formação. Para Freire (1987), existe uma</p><p>necessidade acentuada de problematização do conhecimento, tendo a pergunta</p><p>como ponto de partida para que os estudantes possam desenvolver uma maior</p><p>compreensão sobre o mundo, o que nem sempre é possível quando as aulas ainda</p><p>são baseadas na exposição de conteúdos.</p><p>Assim, os professores precisam compreender que a educação necessita de</p><p>mudanças para que o processo de ensino e aprendizagem possa ocorrer de forma</p><p>prazerosa entre os estudantes e os conteúdos trabalhados em sala de aula. Essa</p><p>compreensão surge a partir de momentos de reflexão e tal prática nos últimos</p><p>anos tem vindo “atribuir muita importância à reflexão, à avaliação ou à</p><p>aprendizagem como competências profissionais substantivas e necessárias para o</p><p>desenvolvimento profissional” (ZABALZA, 2004, p. 27).</p><p>Portanto para que os docentes busquem soluções para os problemas apresentados</p><p>no seu cotidiano, torna-se necessário pesquisar. A pesquisa, segundo Minayo</p><p>(1993, p. 23), é considerada como “atividade básica das ciências na sua</p><p>indagação e descoberta da realidade”. Desta forma, Carvalho e Pérez (2011)</p><p>deixam claro que a formação de professores deve imergi-los no mundo da</p><p>pesquisa para que as inovações metodológicas iniciem na formação acadêmica</p><p>desses profissionais.</p><p>Contudo, conforme explicado anteriormente, para que o professor possa ter</p><p>condições de intervir nos problemas por ele encontrados em seu cotidiano, faz-se</p><p>necessário que ele busque ferramentas que lhe permitam compreender quais são</p><p>as possíveis causas que têm dificultado a sua prática docente e o que pode ser</p><p>feito para que os estudantes possam aprender de uma forma eficaz.</p><p>Garcia (2009) deixa claro que pesquisar trata-se inegavelmente de permitir ao</p><p>professor tornar-se sujeito autônomo de sua prática docente, pois a partir da</p><p>pesquisa o docente passa a ser o responsável por mudanças no seu ambiente de</p><p>trabalho. Seria um erro, porém, não atribuir importância ao ato de pesquisar</p><p>como uma metodologia que agrega valor à profissão docente.</p><p>Assim, reveste-se de particular importância permitir aos professores em</p><p>formação o contato com diversas metodologias que possam complementar a sua</p><p>prática docente. Nesse contexto ganha particular relevância ser professor</p><p>pesquisador.</p><p>Pode-se dizer que os autores Carvalho e Perez (2011), assim como Garcia</p><p>(2009), convergem em suas opiniões ao demostrarem em seus argumentos a</p><p>necessidade que o professor possui em fazer da pesquisa uma ferramenta que lhe</p><p>permita desenvolver uma série de habilidades, além de contribuir de forma</p><p>significativa para sua prática pedagógica.</p><p>Nesse contexto, fica claro que a pesquisa, quando realizada por professores da</p><p>educação básica, pode gerar uma série de benefícios para os sujeitos que dela</p><p>participa. Isso porque, como bem nos assegura Freire (1996, p. 32), “não há</p><p>ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”. Porém, para que isso seja possível,</p><p>é essencial que desde cedo a pesquisa esteja inserida na formação dos</p><p>professores.</p><p>Por isso, torna-se imprescindível a inserção dos professores na pesquisa durante</p><p>sua formação inicial. Donatoni e Coelho (2007) mostram a importância da</p><p>pesquisa realizada por professores em formação, uma vez que acreditam na forte</p><p>relação existente entre ensino e pesquisa.</p><p>Particularmente, buscamos analisar a formação de professores de Biologia. Para</p><p>isso foram investigadas as concepções dos professores sobre a utilização do</p><p>laboratório de ciências, um dos recursos recomendados para o ensino de ciências</p><p>em uma escola situada no município de São Miguel dos Campos.</p><p>Assim o objetivo deste trabalho é mostrar como a pesquisa pode se configurar</p><p>como uma importante metodologia para a formação do professor e,</p><p>posteriormente, para sua prática docente, uma vez que pesquisar pode permitir</p><p>qualitativa, o</p><p>entrevistador faz parte do processo investigativo e tem papel fundamental na</p><p>interpretação dos dados (LUDKE; ANDRÉ, 2013).</p><p>Caracteriza-se, ainda, esta pesquisa como um estudo de caso, por se pretender</p><p>realizar, a partir dela, uma análise detalhada de um determinado contexto e</p><p>sujeitos. De acordo Yin (2010, p. 39-41):</p><p>O Estudo de Caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno</p><p>contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente</p><p>quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes.</p><p>[...] E esse fenômeno engloba importantes condições contextuais – altamente</p><p>pertinentes ao fenômeno em estudo.</p><p>A pesquisa foi desenvolvida com cinco professores de Biologia, ex-bolsistas do</p><p>Pibid, do subprojeto do curso de licenciatura em Ciências Biológicas</p><p>FECLI/Uece edital – 2011, que atualmente exercem à docência em escolas</p><p>públicas no município de Iguatu/CE.</p><p>A coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada. Esse</p><p>tipo de entrevista tem a finalidade de reconhecer os dados descritivos na própria</p><p>linguagem do sujeito (MINAYO, 2001).</p><p>Nesse tipo de técnica, o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe</p><p>formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à</p><p>investigação (GIL, 1994). A entrevista é, portanto, um diálogo intencional com o</p><p>intuito de levantar informações necessárias para a investigação.</p><p>Entrevistaram-se cinco ex-bolsistas de Iniciação à Docência do subprojeto</p><p>Ciências Biológicas FECLI/Uece Edital-2011. Os entrevistados foram</p><p>identificados com os nomes fictícios de: Ana, João, Lara, Maria e Matheus.</p><p>Todos atuam como docentes na rede pública estadual de ensino, pública</p><p>municipal de ensino e rede privada de ensino.</p><p>A análise dos dados foi realizada de forma descritiva e interpretativa. Gil (1994)</p><p>define a pesquisa descritiva como objeto indispensável para a descrição das</p><p>características de determinada população ou fenômeno ou, então, o</p><p>estabelecimento de relações entre variáveis, por meio de técnicas padronizadas</p><p>de coleta de dados, como questionários e observações sistemáticas.</p><p>Coulon (1995, p. 62) diz que “a análise interpretativa é conduzida através da</p><p>descrição e análise dos conceitos e raciocínios utilizados pelos próprios atores</p><p>sociais e tenta reproduzir, o mais fielmente possível, o mundo tal qual os atores o</p><p>compreendem e percebem”. Envolve interpretações aprofundadas dos elementos</p><p>disponíveis na tentativa de explicar um determinado fenômeno e seu contexto,</p><p>levando em consideração o ponto de vista dos sujeitos.</p><p>A INTEGRAÇÃO TEORIA-PRÁTICA NA VOZ DOS PROFESSORES DE</p><p>BIOLOGIA EX-PIBIDIANOS</p><p>A formação inicial de professores é cercada por várias fragilidades que</p><p>influenciam a vida profissional dos docentes, e um dos grandes dilemas</p><p>enfrentados é a articulação teoria-prática, a qual os cursos de licenciatura,</p><p>historicamente, têm se mostrado frágeis em realizar. O que se observa é uma</p><p>dicotomia teoria/prática, sendo perceptível a dificuldade dos licenciandos em</p><p>transformar/articular aprendizado teórico em atividade prática. O que ocorre, na</p><p>maioria das vezes, quando o docente inicia sua atividade profissional, é uma</p><p>crise de identidade e insegurança evidenciadas por suas atitudes e práticas</p><p>pedagógicas em sala de aula.</p><p>Considerando que a articulação teoria-prática é uma das dificuldades</p><p>encontradas no processo de formação docente, e que um dos objetivos do Pibid é</p><p>promover essa articulação, os entrevistados foram questionados se o Programa</p><p>contribuiu para a aproximação teoria-prática:</p><p>É uma realidade totalmente diferente do que a gente vê na faculdade, nas</p><p>disciplinas de didática, como já ouvi pessoas dizer você só aprende fazendo no</p><p>dia a dia, então você imagina uma coisa e quando chega é outra totalmente</p><p>diferente. [...] Com o PIBID, pude conviver efetivamente na escola com os</p><p>alunos, professores, núcleo gestor e isso foi de fundamental importância porque</p><p>na faculdade não tinha como ter essa vivência (Lara).</p><p>Conhecer o cotidiano da escola, trocar de experiência com os alunos, ter</p><p>determinada postura diante das diversas situações em sala de aula, domínio de</p><p>conteúdo; foram atitudes que aprendi durante o período de execução do projeto,</p><p>coisas que só a teoria não era suficiente para proporcionar tal aprendizado</p><p>(Matheus).</p><p>Fundamentando o que foi apontado por Lara, Pimenta (2002, p. 52) tece</p><p>comentário a partir de pesquisa realizada com professores:</p><p>“Na prática, a teoria é outra”. No cerne dessa afirmação popular, aplicada à</p><p>formação de professores, está a constatação de que o curso nem fundamenta</p><p>teoricamente a atuação da futura professora, nem toma a prática como referência</p><p>para a fundamentação teórica. Que seja, carece de teoria e prática.</p><p>No decorrer da graduação, os licenciandos percebem essa deficiência em relação</p><p>à aproximação teoria e prática, e a participação dos sujeitos no Pibid supriu essa</p><p>carência, preenchendo as lacunas criadas, historicamente, entre esses dois eixos</p><p>(teoria e prática), e tal aproximação só foi possível com a integração maior dos</p><p>sujeitos com o ambiente escolar.</p><p>Com isso, compreende-se que é de fundamental importância que a teoria esteja</p><p>articulada com a prática, e que as referências teóricas sejam adequadas à</p><p>realidade escolar. Segundo Pimenta (2002, p. 93), “a educação é uma prática</p><p>social, mas essa prática não fala por si mesma, necessita de uma relação teórica</p><p>com ela. A teoria é um reflexo da observação, investigação, análise e reflexão da</p><p>prática educacional”.</p><p>João, quando questionado sobre as contribuições do Programa no tocante à</p><p>integração teoria-prática, foi além:</p><p>[...] Eu diria que o medo de todo estudante de curso de licenciatura é justamente</p><p>a sala de aula, a primeira aula é um trauma que todo aluno tem. [...] Em relação</p><p>às disciplinas pedagógicas, na teoria, a gente vê uma coisa; na prática, é outra.</p><p>Muitas vezes, quando estamos na faculdade, idealizamos uma sala perfeita, onde</p><p>todos os alunos vão querer aprender, todos irão ficar calados enquanto você tá</p><p>dando aula, e quando você chega, na prática, não é bem assim. Com o PIBID,</p><p>deu pra fazer um link da realidade com a teoria que estávamos estudando.</p><p>Em concordância com João, que em sua fala, deixa evidente a dificuldade</p><p>enfrentada pelos docentes nesse período de transição de formando a formador,</p><p>Veenman (1988) fala sobre o árduo choque da realidade que os professores</p><p>iniciantes enfrentam nesse período. Esse choque refere-se à distinção existente</p><p>entre o que foi aprendido na academia, nos cursos de formação, e aquilo que o</p><p>professor iniciante encontra concretamente no cotidiano escolar. É nesse</p><p>momento que se confrontam os ideais aspirados e conhecimentos adquiridos no</p><p>decorrer de sua formação, com a realidade da escola, e, muitas vezes, essa</p><p>realidade não corresponde às expectativas dos professores iniciantes.</p><p>Enfatizando a importância dessa relação teoria-prática, Moraes (2009, p. 591)</p><p>afirma: “é da própria prática que devem ser extraídos os fundamentos e</p><p>conhecimentos necessários ao ofício do professor”.</p><p>Nesse sentido, os sujeitos acrescentam:</p><p>Conhecer o cotidiano da escola, trocar experiências com os alunos, ter</p><p>determinada postura diante das diversas situações em sala de aula, domínio de</p><p>conteúdo: foram atitudes que aprendi durante o período de execução do projeto,</p><p>coisas que só a teoria não era suficiente para proporcionar tal aprendizado</p><p>(Matheus).</p><p>[...] A postura em sala aula, saber se colocar na frente dos alunos, a didática em</p><p>laboratório, algo que foi bastante trabalhado no PIBID. [...] Outro ponto</p><p>importante que foi trabalhado no projeto, foi o preenchimento de diários, vejo</p><p>que muitos dos professores iniciantes possuem dificuldade em preenchê-los, e eu</p><p>já tinha certo domínio, o que facilitou bastante, nesse sentido burocrático</p><p>(Maria).</p><p>[...] Trabalhar a teoria e complementá-la com a prática. À medida que íamos</p><p>praticando utilizávamos a teoria para orientar nossas atividades (Ana).</p><p>Desse modo, inserir o estudante de licenciatura no cotidiano</p><p>escolar para</p><p>aprender o exercício da profissão docente, vivenciar as condições de trabalho e</p><p>as diversas relações existentes nesse espaço, são experiências que oportunizam a</p><p>aquisição de competências próprias e imprescindíveis ao exercício do</p><p>magistério. À medida que se pratica o saber docente, teorias são ressignificadas,</p><p>reformuladas e criadas. Nesse aspecto, o Pibid constituiu-se um forte</p><p>potencializador da integração teoria-prática, por meio do desenvolvimento das</p><p>atividades propostas e efetivadas no ambiente escolar.</p><p>Todavia, chama-se a atenção ao que destacam Martins, Leite e Cavalcante</p><p>(2018) sobre a necessidade de o Programa estar articulado a uma política mais</p><p>ampla de valorização dos professores, que garanta a esses sujeitos condições</p><p>objetivas de trabalho e de desenvolvimento de sua profissão. É, pois, necessário</p><p>considerar o contexto de produção dos saberes constituídos no âmbito do Pibid e</p><p>sua efetivação no âmbito da escola.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Os egressos do Pibid atribuíram grande importância às oportunidades de</p><p>aproximação teoria-prática, destacando a relevância da integração com o</p><p>ambiente escolar e com as práticas docentes desenvolvidas durante a</p><p>permanência no Programa, questão bastante discutida na formação docente, ou</p><p>seja, a necessidade da promoção da integração teoria-prática, universidade e</p><p>escola básica, no processo da constituição profissional do professor.</p><p>Quanto ao significado do Pibid para a formação docente, vale ressaltar que o</p><p>Projeto vem colaborando nesse processo de construção e aquisição de aptidões</p><p>necessárias ao saber docente, constituindo-se como um trajeto importante nessa</p><p>formação. Quanto à colaboração do Programa na construção da identidade</p><p>docente, os participantes destacam a integração com o futuro ambiente de</p><p>trabalho e o desenvolvimento de atividades práticas como fundamentais para a</p><p>construção da identidade docente e que essa identidade se constitui com maior</p><p>intensidade durante o processo de formação inicial.</p><p>O trabalho revelou que o Programa tem oferecido grandes contribuições para a</p><p>formação docente desses egressos. Entende-se, porém, que muito ainda se pode</p><p>avançar. Observou-se que as atividades desenvolvidas no Pibid fortaleceram a</p><p>formação e a atuação docente por meio das diversas articulações entre realidade</p><p>escolar e conhecimento acadêmico, teoria e prática, em processos de cooperação</p><p>para a construção da identidade docente e prática pedagógica dos sujeitos</p><p>pesquisados. Espera-se que iniciativas como o Pibid sejam implementadas ainda</p><p>mais no contexto das políticas educacionais, colaborando para o</p><p>aperfeiçoamento da formação de professores e melhoria da qualidade da</p><p>educação básica.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRASIL. CAPES. Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível</p><p>Superior. Disponível em: http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid.</p><p>Acesso em: 14 jun. 2014.</p><p>BRASIL. Decreto nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009. Institui a política nacional</p><p>de formação de profissionais do magistério da educação básica, disciplina a</p><p>atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –</p><p>Capes no fomento a programas de formação inicial e continuada, e dá outras</p><p>providências. Brasília, DF, 2009. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/Decreto/D6755.htm.</p><p>Acesso em: 14 jun. 2014.</p><p>BRASIL. Decreto nº 7.219, de 24 de junho de 2010. Dispõe sobre o Programa</p><p>Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid e dá outras providências.</p><p>Brasília, DF, 2010. Disponível em:</p><p>http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2010/decreto-7219-24-junho-2010-</p><p>606872-publicacaooriginal-127693-pe.html. Acesso em: 14 jun. 2014.</p><p>COULON, Alain. Etnometodologia e educação. Petrópolis: Vozes, 1995.</p><p>GAUTHIER, Clermont et al. Por uma teoria pedagógica: pesquisa</p><p>contemporânea sobre o saber docente. Ijuí: Unijuí, 1998.</p><p>GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 4. ed. São Paulo:</p><p>Atlas, 1994.</p><p>LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.</p><p>LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens</p><p>Qualitativas. 2. ed. [s/l.]: EPU, 2013.</p><p>MARTINS, Maria Márcia Melo de Castro; LEITE, Raquel Crosara Maia;</p><p>CAVALCANTE, Maria Marina Dias. Influência do PIBID na formação e na</p><p>prática de professores de biologia. Revista Educação em Foco. UEMG. ISNN:</p><p>2317-0093 (No Prelo).</p><p>MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria, método e</p><p>criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001.</p><p>MORAES, Maria Célia Marcondes de. A teoria tem consequências: indagações</p><p>sobre o conhecimento no campo da educação. Revista Educação e Sociedade, v.</p><p>30, n.107, p. 585-607, ago. 2009.</p><p>PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade teoria</p><p>e prática? São Paulo: Cortez, 2002.</p><p>PIMENTA, Selma Garrido. Formação de professores, pesquisa e didática.</p><p>Campinas: Papirus, 2002.</p><p>PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência.</p><p>São Paulo: Cortez, 2004.</p><p>TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes,</p><p>2002.</p><p>VEENMAN, Simon. El proceso de llegar a ser profesor: un análisis de la</p><p>formación inicial. In: VILLA, A. (Coord.). Perspectivas y problemas de la</p><p>función docente. Madrid: Narcea, 1988. p. 39-68.</p><p>YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e método. Porto Alegre.</p><p>Bookman. 2010.</p><p>ZEICHNER, Kenneth M. A formação reflexiva de professores: ideias e práticas.</p><p>Lisboa: Educa. 1993. p. 12-52.</p><p>VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS: IMPLICAÇÕES, CAUSAS E</p><p>EFEITOS NO ESPAÇO ESCOLAR</p><p>Ellery Henrique Barros da Silva</p><p>Fauston Negreiros</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Buscar explicações sobre os acontecimentos existentes no mundo é um</p><p>paradigma que resta para tentar diminuir ou até mesmo acabar de vez com a</p><p>violência gerada tanto dentro quanto fora do ambiente escolar. Assim, essa</p><p>manifestação social chega como uma vilã dentro do espaço escolar que vem se</p><p>transformando em um cenário opressor e de receios, gerando angústias e</p><p>tristezas de um lugar onde o principal objetivo é o aprender.</p><p>Pensando nisso, a escola é constituída como um espaço de construção de</p><p>saberes, de convivência e socialização, onde os jovens procuram a partir das</p><p>interações sociais expandirem os laços de comunicação, estabelecer</p><p>aprendizagens e desenvolver habilidades. Mesmo assim, a escola tem se tornado</p><p>um local de manifestação e reprodução de “violências”, fazendo com que a cada</p><p>dia se tornem mais presentes nos jovens e adolescentes (VALVERDE et al.,</p><p>2006).</p><p>Para enfrentar a violência faz-se necessário promover em todas as esferas da</p><p>vida, tanto familiar quanto social a implantação de uma Cultura de Paz, dos</p><p>direitos humanos. Assim torna-se possível uma sociabilidade marcada por</p><p>atitudes e valores que respeite a dignidade humana. Porém isso é uma tarefa</p><p>difícil, já que a violência na sociedade atual é um fenômeno que vem adquirindo</p><p>cada vez mais visibilidade social e essas práticas refletem no âmbito escolar.</p><p>Desse modo, a escola é considerada por muitos hoje em dia um ambiente</p><p>desinteressante, onde, em muitos casos os alunos só vão atrás de conversas</p><p>paralelas, encontrar amigos, agrupam-se em busca de diversão. Assim sendo,</p><p>deixam de buscar os conhecimentos necessários para se sobressaírem</p><p>futuramente em busca de uma carreira profissional.</p><p>Observa-se que a escola tem presenciado constantemente a incidência de</p><p>violência, por meio dos vandalismos, agressões, sejam elas físicas ou verbais,</p><p>deixando o corpo docente e de outros profissionais envolvidos no processo</p><p>educativo de mãos atadas sobre o problema existente (OLIVEIRA; SOUZA,</p><p>2014).</p><p>Quando a criança passa a ter um contato com a violência, pode reagir por meio</p><p>de inúmeras formas, reproduzindo-as e, até mesmo, adquirindo outro tipo de</p><p>comportamento. Sobre as reações pode-se citar a baixa autoestima, as mudanças</p><p>no humor e personalidade, a falta de atenção e concentração durante as aulas e</p><p>atividades escolares. Essas se tornam os principais indicadores de que a criança</p><p>está sofrendo ou vivenciando alguma manifestação de violência. No entanto, no</p><p>ambiente educacional, ela pode ser</p><p>manifestada por intermédio de fatores</p><p>externos ou internos dos mais variados problemas de ordem familiar, com</p><p>drogas, de conflitos entre pares, dentre outros. Sinais relacionados à falta de</p><p>atenção, à baixa autoestima e às mudanças no humor, podem ser indicadores de</p><p>que algo está errado na vida dessa criança e é muito importante que pais e</p><p>educadores estejam atentos a essas manifestações (SOUZA, 2008).</p><p>Souza (2008) ainda explicita em seus estudos que apesar da violência ser</p><p>cometida dentro da escola, não significa que tenha sido gerada dentro dela, pois</p><p>muito do que é refletido atrás dos muros ocasionam mudanças comportamentais.</p><p>Diante dessas contestações, pode-se inferir que a violência é um problema social</p><p>que permeia toda a nossa história, desde o período pré-histórico até os momentos</p><p>atuais, podendo ser atribuída a questões políticas, econômicas, de inclusão</p><p>social, de má distribuição de renda e também das relações familiares. Vale</p><p>ressaltar ainda que ela não acontece apenas em uma determinada classe social ou</p><p>a uma faixa etária específica, ela se concentra em toda a sociedade de forma</p><p>geral (MINAYO, SOUZA, 1997; ARAÚJO, 2004; ABRAMOVAY,</p><p>VALVERDE, BARBOSA et al, 2005).</p><p>A partir dessas constatações seguiu-se o seguinte tema: violência nas escolas:</p><p>implicações, causas e efeitos no espaço escolar. A partir desse tema formulou-se</p><p>o seguinte problema de pesquisa: qual a influência que a violência tem exercido</p><p>dentro do ambiente educacional? A pesquisa pretende alcançar o seguinte</p><p>objetivo geral: apresentar a influência da violência dentro do ambiente</p><p>educacional. Na qual desencadearam os seguintes objetivos específicos:</p><p>conhecer os principais fatores desencadeadores da violência escolar; analisar as</p><p>principais formas de violência e a sua influência dentro do ambiente escolar;</p><p>verificar as estratégias de combate da violência dentro do ambiente educacional.</p><p>Por isso, o presente estudo se justifica devido o fato da violência ainda se manter</p><p>presente dentro do contexto mundial. Com isso, na escola se torna ainda mais</p><p>assustadora, uma vez que é neste lugar onde o aprender é a principal</p><p>característica de transformação para a vida em sociedade.</p><p>Nesse sentido, por meio de uma pesquisa realizada com mais de 100 mil pessoas</p><p>(professores, gestores e discentes) promovida pela Organização para a</p><p>Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), colocam o Brasil em</p><p>primeiro lugar no ranking da violência nas escolas (TENENTE e FAJARDO,</p><p>2019). Diante dessas constatações, ela tem crescido de forma assustadora,</p><p>tornando cada vez mais difícil o acesso seguro às escolas, ocasionando a outros</p><p>jovens crescerem de forma agressiva, agindo de forma incrédula e maldosa.</p><p>Em relação ao preocupante assunto, o que se pode ver é que na sociedade a</p><p>violência está ocasionando inúmeros prejuízos, não apenas sociais, interferindo</p><p>também na saúde, na desestrutura familiar, terminando mortes, acidentes, entre</p><p>outras questões.</p><p>Desse modo, muitas vezes as instituições de ensino preferem “mascarar” a dura</p><p>da realidade, pois tem medo de possíveis retaliações por conta dos discentes, das</p><p>famílias e assim, prejudicar a imagem da escola, também quanto aos possíveis</p><p>repasses do governo em políticas públicas para a escola.</p><p>Nessa perspectiva, a violência reflete diretamente na vida do cidadão, pois traz</p><p>problemas para a vida de todo e qualquer sujeito, tornando-se indispensável à</p><p>escola realizar ações que promovam a erradicação da violência no ambiente</p><p>escolar, permitindo que seja um local de aprendizado e de relações sociais.</p><p>Nessa ótica, por se tratar de um trabalho de Revisão Sistemática, o presente</p><p>estudo utiliza-se essencialmente da pesquisa bibliográfica “feita a partir do</p><p>levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios</p><p>escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites”</p><p>(FONSECA, 2002, p. 32).</p><p>Pelo seu caráter bibliográfico, o levantamento dos materiais de web sites deste</p><p>trabalho se concentram nas leituras e análises de artigos científicos colhidos em</p><p>bancos de dados como Scielo, Biblioteca Nacional de Livros e Dissertações,</p><p>Lilacs, PEpSIC, publicados nos últimos 20 anos, como também em livros,</p><p>revistas e monografias.</p><p>Os critérios de inclusão do trabalho de pesquisa foram: discussão da temática</p><p>proposta sobre a violência, violência escolar e o bullying no contexto</p><p>socioeducacional.</p><p>Os autores que fundamentam a pesquisa são: (MINAYO, SOUZA, 1997;</p><p>ABRAMOVAY, VALVERDE, BARBOSA, 2005).</p><p>Diante disso, a relevância dessa pesquisa é de fundamental importância, pois</p><p>para muitos a “violência” representa a agressão física, brigas em família que</p><p>podem trazer sérias consequências para dentro da escola, além da falta de</p><p>respeito entre as pessoas. Uma responsabilidade que se torna da escola, de cada</p><p>criança, jovem, adolescente, professor, familiar, sociedade, que devem caminhar</p><p>juntos numa relação de união.</p><p>A violência e o seu contexto</p><p>A partir da formação da humanidade, o homem pré-histórico utilizava da força</p><p>como meio para sua sobrevivência, caçava, lutava e agia de forma agressiva,</p><p>caracterizando como a primeira forma de início da violência.</p><p>Nesse sentido, atualmente, o mundo vivencia situações de violência,</p><p>ocasionando medo na população, fazendo com que ela fique à margem da</p><p>criminalidade e as pessoas sejam aprisionadas em suas próprias casas. Assim, a</p><p>saída do homem do campo para as grandes cidades tem permitido um</p><p>crescimento populacional rápido, uma vez que uma parcela dessa população vem</p><p>para a cidade com a esperança de melhores condições de vida para ela e sua</p><p>família.</p><p>Partindo dessa premissa, a falta de emprego, condições de moradia, saúde,</p><p>educação, entre outras características são barreiras que ocasionam a incidência</p><p>da violência.</p><p>Por se tratar de um tema vasto e abrangente, a violência, marca registrada dentro</p><p>contexto sociopolítico e cultural da sociedade é um assunto que traz reflexões</p><p>acerca de como ela está se manifestando, principalmente do espaço escolar.</p><p>Referenciando ao quadro cotidiano que a violência traz ao cotidiano escolar, sua</p><p>extensão vai além de seus muros, seja no seio familiar ou nas comunidades, a</p><p>escola enquanto instituição educacional acaba obtendo uma carga maior de</p><p>responsabilidade, pois é de onde acreditam que seja a única “responsável” pela</p><p>educação, porém, ela não é a única responsável pelo fim da violência, mas toda a</p><p>sociedade, incluindo todos os atores envolvidos e autoridades (SOUZA, 2008).</p><p>Viana (2002) classifica que o fenômeno da violência precisa ser percebido a</p><p>partir do seu entendimento acerca das suas causas e consequências, sendo</p><p>necessário no campo da educação, um olhar mais apurado do gestor acerca da</p><p>situação em que se encontra esse problema, para assim, realizar as medidas</p><p>necessárias para acabar com ele.</p><p>Sobre isso é possível notar que com o crescimento tecnológico algumas</p><p>atividades relacionadas às brincadeiras, às relações sociais, ao hábito de estudar,</p><p>estão desaparecendo a cada dia e o individualismo crescendo. Assim, acaba</p><p>sendo impossível analisar o que se passa na mente daquela criança que se</p><p>encontra isolada, uma vez que tenha visto o isolamento como um mecanismo de</p><p>defesa do que vivencia na sua vida.</p><p>Destarte, é muito comum observar cotidianamente fatos violentos de vandalismo</p><p>tanto dentro quanto fora da escola, como pichações, quebra de carteiras, quadros,</p><p>degradação do patrimônio público e privado, agressões aos docentes, discentes,</p><p>muitas vezes pelos motivos mais torpes como não aceitar as regras impostas</p><p>pelas instituições ou reclamações advindas pelos gestores.</p><p>Nesse aspecto, Souza (2008 p. 126) advém que:</p><p>As agressividades reproduzidas por alunos, podem estar relacionadas ao que eles</p><p>presenciam ou vivem dentro do convívio doméstico, familiar ou social, mesmo</p><p>não sendo comportamentos aceitáveis socialmente. O indivíduo que possui</p><p>comportamentos agressivos na escola, muitas vezes sofre ou presencia atos de</p><p>violência, pois geralmente está cercado por instrumentos e situações que</p><p>remetem à violência.</p><p>Então, como um problema social, a violência nas escolas é uma problemática</p><p>que necessita uma atenção, pois é rotineira a repercussão das mídias sobre a</p><p>agressões e conflitos existentes nos estabelecimentos de ensino. Os índices de</p><p>homicídios, sequestros, os usos de armas em todo o mundo têm colocado a</p><p>escola antes vista como um espaço seguro e sagrado, como um ambiente de</p><p>repressão, medo e dor (VALVERDE et al., 2006).</p><p>Charlot (1997, p. 169) classifica quatro características da violência, a saber: a</p><p>primeira “no ambiente escolar (homicídios, estupros, agressões com armas)”;</p><p>segundo “os ataques e insultos de alunos contra professores (e vice-versa)”;</p><p>terceiro, “houve um aumento das intrusões externas na escola (invasões)”; e</p><p>quarto, “a existência de um “estado de sobressalto, de ameaça permanente” entre</p><p>os adultos de certos estabelecimentos de ensino”.</p><p>Corroborando a esse segmento, a prática da violência na escola não está atrelada</p><p>apenas aos alunos, cabendo também ao corpo docente. Nos dias atuais, existe</p><p>certa “rivalidade” docente atrelada na competição, principalmente no</p><p>desenvolvimento de projetos, atividades e ações, nos quais um professor quer se</p><p>sobressair em detrimento do outro. Esses fatores ocasionam conflitos entre essa</p><p>classe de trabalhadores, podendo gerar agressões físicas, verbais, desvalorização,</p><p>entre outras atitudes que se classificam como violência.</p><p>Além disso, a violência ocasionada no ambiente doméstico, mais precisamente</p><p>no familiar, permite reproduções, fazendo com que brigas, discussões</p><p>vivenciadas pelas crianças se transformem em atos violentos, pelo fato de ser a</p><p>casa o local ela passa mais tempo (MARQUES, 2014).</p><p>Ainda sobre isso, o mesmo autor referencia que não se pode educar apenas os</p><p>filhos, mas os pais também, por meio de ações que permitam o conhecimento</p><p>acerca da temática, qual a sua importância, que influências ocasionam na vida</p><p>social, entre outras. Vale ressaltar, que não é uma tarefa fácil, devido à falta de</p><p>tempo, a formação de opinião, mas se desvela como algo necessário para a</p><p>prática social do cidadão.</p><p>Marques (2014) cita que a família e a escola devem caminhar juntas para buscar</p><p>o que é melhor para o seu filho/aluno, estando atentos ao que acontece dentro e</p><p>fora da escola, permitindo a reflexão do educando frente ao que o mundo lhe</p><p>oportuniza. Pequenas ações como essas podem fazer total diferença na vida</p><p>desses sujeitos que se encontram em busca de uma formação enquanto cidadãos,</p><p>por isso, a família e a escola necessitam promover ações que colaborem para o</p><p>desenvolvimento do educando, consolidando a autonomia do sujeito em</p><p>processo de constituição da identidade.</p><p>Principais formas de violência e a sua influência dentro do ambiente escolar</p><p>Atualmente, dentro do ambiente escolar atitude como chacotas, brincadeiras</p><p>maldosas, ações preconceituosas, são os principais desencadeadores de atos de</p><p>violência dentro da escola. Sendo assim, esse tipo de violência denominada</p><p>como bullying, uma violência séria que merece atenção de toda a sociedade.</p><p>O bullying é caracterizado como um termo utilizado para denominar um tipo</p><p>específico de violência na escola. A palavra bullying surgiu em meados de 1980,</p><p>que de acordo com a língua inglesa, significa touro (Bull). Em outros países</p><p>possuem uma tradução própria já no Brasil foi adotado a de origem inglesa e</p><p>qualifica comportamentos agressivos no âmbito escolar (SILVA, 2010).</p><p>Desse modo, o bullying, não é um fator isolado e sim social que pode acontecer</p><p>com qualquer pessoa. A violência pode acontecer dentro e fora dos muros</p><p>escolares e ocorrem com mais frequência em locais onde há menos tráfego de</p><p>adultos, deixando as vítimas mais vulneráveis aos atos de violência.</p><p>Para Fante, (2005) a definição de bullying é compreendida como um</p><p>subconjunto de comportamentos agressivos, sendo caracterizado por sua</p><p>natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder. Devido a esses fatores é possível</p><p>perceber que é uma violência com características específicas, que causam dor e</p><p>sofrimento a muitos sujeitos, tanto à vítima quanto à quem testemunha o ato.</p><p>Alçada a essa ideia ainda Fante (2005, p. 30):</p><p>[…] o bullying possui, ainda, a propriedade de ser reconhecido em vários</p><p>contextos: nas escolas, nas famílias, nos condomínios residenciais, nos clubes,</p><p>nos locais de trabalho, nos asilos de idosos, nas Forças Armadas, nas prisões,</p><p>enfim, onde existam relações interpessoais.</p><p>Assim, é uma violência que pode ocorrer não apenas dentro do ambiente escolar,</p><p>mas em qualquer meio social. Segundo Carvalho e Matos (2009, p. 165), ao</p><p>fazer referência à Teoria Sócio-Histórica de Vygotsky relatam que “ao nascer, o</p><p>homem herda características genotípicas da sua espécie e dos seus familiares,</p><p>que constituem possibilidades a ser desenvolvidas no convívio social”. A pessoa</p><p>por meio da convivência passa a obter um espelho do que foi apresentado pelo</p><p>outro, ou seja, é a partir das relações sociais que se passa a formar e a construir</p><p>uma identidade.</p><p>Nesse aspecto Silva e Negreiros (2012, p. 5) fazem referência ao bullying</p><p>quando classificam “enquanto fenômeno que engloba também comportamentos</p><p>de isolamento, exclusão e discriminação, vem sendo relacionado à questão da</p><p>diversidade cultural, revelando a pertinência de um trabalho que focalize a</p><p>discussão da pluralidade cultural no espaço escolar”; ou seja, pensamentos</p><p>diferentes, etnias diversificadas, crenças, costumes, cada um com a sua</p><p>subjetividade, são fatores que contribuem ocasionando esse tipo de violência.</p><p>As principais formas de bullying ocorrem de forma direta ou indireta. A primeira</p><p>que é a indireta manifesta-se por meio de atos velados como olhares, isolamento,</p><p>apelidos maldosos, ilustrações negativas, comentários acerca da aparência, fala</p><p>etc. Com essa forma, deixa claro a vítima que estão falando dele; a segunda é a</p><p>direta que ocorre por meio de agressões físicas, verbais, chantagens, ameaças,</p><p>críticas contra a sua aparência, religião, etnia, orientação sexual, trazendo as</p><p>vítimas situações de constrangimento diante de outras pessoas, muitas vezes pelo</p><p>simples fato de acuá-lo e deixá-lo desmoralizado entre outras.</p><p>Com o grande avançar tecnológico e a massificação da internet, celulares,</p><p>câmeras digitais, define-se uma nova forma de bullying que permite denegrir a</p><p>imagem do outro mediante calúnias, exposição de imagens, frases maldosas,</p><p>pelo simples fato de colocar o sujeito exposto a situações constrangedoras. Essa</p><p>violência é classificada como ciberbullying (PROFÍRIO, 2011).</p><p>Partindo dessa premissa a educação para a paz é algo almejado pelos</p><p>educadores, mas é para que isso ocorra é necessária a colaboração de pais,</p><p>comunidade, corpo docente, corpo discente, para que assim sejam promovidas</p><p>ações de conscientização para uma convivência entre os demais. Assim Fante</p><p>(2005, p. 91) refere-se que:</p><p>A conscientização é a aceitação de que o bullying é um fenômeno que ocorre,</p><p>com maior ou menor incidência, em todas as escolas de todo o mundo,</p><p>independentemente das características culturais, econômicas e sociais dos</p><p>alunos, e que deve ser encarada como fonte geradora de inúmeras outras formas</p><p>de violências são fatores decisivos para inciativas bem-sucedidas no combate à</p><p>violência entre escolares.</p><p>Contudo, é primordial que a escola, família, comunidade e os próprios alunos</p><p>unam-se com o intuito de acabar com essa violência, pois o papel da escola é o</p><p>de educar, transformar. E que a escola continue sendo um ambiente de</p><p>aprendizado e assim possa conviver em harmonia.</p><p>Diante dessa temática, a violência, mais precisamente a da escola, vem tomando</p><p>proporções cada vez mais preocupantes, pois é necessário buscar aprofundar</p><p>novos conhecimentos acerca desse tema, para que se criem estratégias no</p><p>combate a esta violência no ambiente educacional.</p><p>É necessário observar também que o uso da violência, como meio para resolver</p><p>conflitos pessoais, significa, por parte dos homens, deixar de utilizar o</p><p>instrumento que os diferenciam dos outros animais, o diálogo. Com isso, é</p><p>somente por meio do diálogo que é possível</p><p>ir em busca de uma Cultura de Paz,</p><p>que proporcione ao ser humano viver em harmonia consigo e com os outros</p><p>(MATOS, 2012).</p><p>Então entender a violência que hoje reina no ambiente escolar é uma tarefa árdua</p><p>e buscar estratégias que erradiquem ou pelo menos diminua tais atos é uma</p><p>tarefa mais difícil ainda, cabendo a cada um utilizar meios que favoreçam a</p><p>educação e a transformação da sociedade em benefício do bem-estar coletivo e</p><p>da subjetividade de cada ser humano.</p><p>ALGUMAS CONSIDERAÇÕES</p><p>De acordo com o que foi exposto no decorrer do trabalho, percebe-se que o tema</p><p>violência é um assunto de fundamental importância, principalmente quando ela</p><p>está atrelada ao ambiente escolar, local de aprendizagem e transformação social.</p><p>Assim, na escola esse assunto deve ser trabalhado com o máximo cuidado, pois</p><p>muitas vezes os jovens encontram-se em grande vulnerabilidade, vítimas ou</p><p>testemunhas de agressões na família, nas ruas e na própria escola, sendo</p><p>primordial uma cautela em como abordar isso pedagogicamente.</p><p>O que a escola não pode é deixar passar atos de violência, para que não ocasione</p><p>danos maiores, podendo dar de certa forma ao agressor uma forma de liderança.</p><p>Contudo, o agressor não deve ser castigado com uma punição, a escola deve</p><p>procurar meios de incentivo que coloque esse jovem enquadrado na sociedade,</p><p>educando-o e oportunizando-o para um caminho melhor.</p><p>Diante disso, a conversa, o diálogo sobre o assunto, a interação entre os sujeitos,</p><p>discussões sobre a temática, são meios que permitem chegar a uma Cultura de</p><p>Paz, fazendo com que sejam modificadas posturas dos agressores, tornando-os</p><p>mais maduros e capazes de compreender que a violência é algo que não traz</p><p>benefícios para a vida, que é preciso pensar no outro.</p><p>Portanto deve-se sempre mostrar aos estudantes/comunidade/professores que o</p><p>espaço escolar também é um ambiente social e um local de paz, onde sua</p><p>conduta deve estar inteiramente relacionada ao aprender, ao desenvolver, ao</p><p>buscar mais conhecimentos, ao se tornar cidadãos de bem e preparados para o</p><p>convívio social.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABRAMOVAY, M; VALVERDE D. O; BARBOSA, D. T; AVANCINI M. M. P;</p><p>CASTRO, M. G. Cotidiano das escolas: entre violências. Brasília: Unesco, 2005.</p><p>ARAÚJO M.J. A Violência simbólica: uma difícil percepção. Unimontes</p><p>Científica, v. 6, n. 2, p. 101-106, 2004.</p><p>CARVALHO, M. V. C.; MATOS, K. S. A. L. Psicologia do desenvolvimento e</p><p>da aprendizagem em discussão. 2. ed. Fortaleza: Edições UFC, 2009.</p><p>CHARLOT, Bernard; ÈMIN, Jellab, Aziz (Coord.). Violences à l’école: état des</p><p>savoirs. Paris: Mason 7 Armand Colin, 1997.</p><p>FANTE, C. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar</p><p>a paz. Campinas: Verus, 2005.</p><p>FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.</p><p>MARQUES Jorge Manuel dos Santos. A violência escolar o papel das famílias à</p><p>luz do direito. 254f. Dissertação (Mestrado em Direito). Departamento de direito</p><p>mestrado em direito. Lisboa, março, 2014.</p><p>MATOS, K. S. A. L. Cultura de paz, ética e espiritualidade III. Fortaleza:</p><p>Edições UFC, 2012.</p><p>MINAYO M.C.S, SOUZA E.R. Violência e saúde como um campo</p><p>interdisciplinar e de ação coletiva. Hist. cienc. saúde-Manguinhos. 1997; v. 4, n.</p><p>3, p. 513-531.</p><p>OLIVEIRA, B.C; SOUZA, H.J.S. A violência nas escolas e as suas causas.</p><p>Cadernos de Educação: Ensino e Sociedade. Bebedouro- SP, v. 1, n. 1, p. 1-17,</p><p>2014</p><p>PROFIRIO, S. O bullying: uma nova forma de preconceito. Revista Construindo</p><p>Notícias, v. 10, n. 56, p. 26-27, jan./fev. 2011.</p><p>SILVA, A. B. B. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro:</p><p>Objetiva, 2010.</p><p>SILVA, Ellery Henrique Barros da; NEGREIROS, Fauston. O bullying no</p><p>ambiente escolar do contexto sócio-cultural de Floriano – PI. In: Anais… do VI</p><p>Colóquio Internacional “Educação e Contemporaneidade” de 20 a 22 de</p><p>setembro 2012. ISSN: 1982-3657.</p><p>SOUZA, M. R. Violência nas Escolas: Causas e Consequências. Caderno</p><p>Discente do Instituto Superior de Educação – ano 2, n. 2 – Aparecida de Goiânia</p><p>– 2008.</p><p>VIANA, Nildo. Escola e violência. In: VIANA, N.; VIEIRA, R. (Org.).</p><p>Educação, cultura e sociedade: abordagens críticas da escola. Goiânia: Edições</p><p>Germinal, 2002.</p><p>FAMÍLIA E ESCOLA: UMA PARCERIA PARA O SUCESSO</p><p>Fernanda Maciel de Almeida</p><p>Maria Patrícia Morais Leal</p><p>Introdução</p><p>Neste capítulo iremos abordar a princípio a importância da participação da</p><p>família na escola dando ênfase nas responsabilidades de cada um: escola e</p><p>família. Em seguida iremos relatar as experiências desenvolvidas na Escola</p><p>Municipal Zaíra Monteiro Gondim, localizada na periferia de Fortaleza, bairro</p><p>Serrinha que presta serviços educacionais no ensino fundamental II, a</p><p>adolescentes e vem desde 2014 implementando ações no intuito de transformar a</p><p>família parceira da escola e conscientizá-la da importância de participar da vida</p><p>escolar dos seus filhos.</p><p>Promover à participação de familiares e da comunidade contribuirá para que os</p><p>alunos possam ter sucesso na vida escolar e colaborará na diminuição da evasão</p><p>e da violência.</p><p>Tanto a família quanto a escola desejam a mesma coisa: preparar as crianças para</p><p>o mundo; no entanto, a família tem suas particularidades que a diferenciam da</p><p>escola, e suas necessidades que a aproximam dessa instituição. A escola tem sua</p><p>metodologia filosófica, no entanto ela necessita da família para concretizar seu</p><p>projeto educativo. (PARAOLIN, 2003, p. 99).</p><p>Para promover uma participação efetiva da família na vida escolar dos seus</p><p>filhos é preciso que a escola desenvolva estratégias de aproximação e construção</p><p>de uma relação significativa entre as partes, família e escola. Este ponto de</p><p>partida precisa ser da própria escola, visto que os pais pouco ou não</p><p>compreendem sobre características de desenvolvimento cognitivo, afetivo, moral</p><p>e social, e como acontece a aprendizagem, por isso a dificuldade em participar</p><p>da vida escolar dos filhos. Para os pais, os professores são os mestres em</p><p>educação, devendo estes auxiliá-los, quando não assumir a educação de seus</p><p>filhos.</p><p>A escola não quer exigir que em casa sejam ensinados conteúdos de Geografia</p><p>ou Matemática. Entretanto que os pais possam contribuir acompanhando as</p><p>atividades escolares em domicílio, verificando se a lição foi feita, perguntando o</p><p>que aprendeu na escola, fazendo elogios quando o menino ou a menina calcula</p><p>certo o troco do bombom, ou quando ler um cartaz fixado na parede. O professor</p><p>também não deve se sentir como o único responsável pela formação de valores.</p><p>Porém, é fundamental considerar os que são trazidos de casa pelos discentes e</p><p>contribuir para fortalecer seus princípios éticos.</p><p>Uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais leva pois muita</p><p>coisa mais que a uma informação mútua: este intercâmbio acaba resultando em</p><p>ajuda recíproca e, frequentemente, em aperfeiçoamento real dos métodos. Ao</p><p>aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais, e ao</p><p>proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola,</p><p>chega-se a uma divisão de responsabilidades [...] (PIAGET, 2007, p. 50).</p><p>A importância dessa parceria entre a família e a escola é percebida quando</p><p>lidamos com alguma dificuldade em relação à criança. Por exemplo, quando o</p><p>aluno apresenta baixo rendimento ou um comportamento agressivo em casa, um</p><p>diálogo entre as duas partes, escola e família, pode ajudar a lidar com essa</p><p>situação e reverter o quadro que a criança apresenta. Entretanto, ambas não</p><p>podem e não devem modificar-se em suas formas de se desenvolverem e se</p><p>organizarem – a escola em função da família e a família em função da escola.</p><p>Devem estar abertas às trocas de experiências mediante uma parceria</p><p>significativa.</p><p>A escola precisa alertar os pais sobre a importância de sua participação: o</p><p>interesse em acompanhar os estudos dos filhos é um dos principais estímulos</p><p>para que eles – alunos – estudem. É importante a participação dos pais nas</p><p>reuniões escolares que todos os meios para convocá-los são válidos: recados na</p><p>agenda, correspondência, telefonemas, e-mails ou mesmo o sistema “boca</p><p>a</p><p>boca”. Cada escola pode utilizar o meio que julgar mais suficiente (TIBA, 2006</p><p>p. 152).</p><p>Para que a parceria possa acontecer é necessário rever responsabilidades, limites</p><p>e expectativas de cada uma das partes – família e escola. Outro aspecto</p><p>importante é o fortalecimento dessa parceria, abrindo espaço para que as famílias</p><p>possam participar da construção das práticas educativas da escola. Na maioria</p><p>das vezes as famílias são chamadas apenas para a entrega das notas ou porque</p><p>existe algum problema com seus filhos. Elas precisam participar das reuniões</p><p>não apenas para saber o que acontece na escola, mas dar sua opinião, sugestão e</p><p>participar de algumas atividades escolares.</p><p>Aproximar a família, ouvindo suas queixas e dando início ao diálogo,</p><p>reconhecendo que os familiares podem ter voz dentro das escolas é um dos</p><p>primeiros passos para reverter essa distância. É o que vem fazendo a Escola</p><p>Municipal Zaíra Monteiro Gondim, com objetivo de melhorar o clima</p><p>escolar e a aprendizagem dos alunos.</p><p>A ESCOLA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO</p><p>A Escola Municipal Zaíra Monteiro Gondim vem há 44 anos prestando serviços</p><p>educacionais à comunidade da Serrinha, bairro da periferia de Fortaleza que</p><p>enfrenta os muitos problemas sociais que fazem parte de nossa vida atual tais</p><p>como: desestrutura familiar, violência, consumo de drogas ilícitas, gravidez</p><p>precoce, falta de espaços públicos para lazer da população e de programas</p><p>voltados à juventude.</p><p>A sua clientela é formada por adolescentes residentes na sua maioria não só no</p><p>próprio bairro, mas também nos bairros vizinhos. Percebe-se que a condição</p><p>socioeconômica dessa clientela é bem variada, pois recebemos alunos em</p><p>situação de pobreza, bem como, os que apresentam condições de vida mais</p><p>favoráveis com acesso à residência e transporte próprios e aos bens de consumo</p><p>variados.</p><p>Em 2012, para atender determinações da SME, reestruturou-se as turmas</p><p>remanejando os alunos de 1º ao 5º ano do ensino fundamental para outra</p><p>Unidade Escolar e passando a atender nos turnos manhã e tarde, exclusivamente,</p><p>alunos de 6º ao 9º do ensino fundamental. No turno da noite, continuou a atender</p><p>a clientela de 6º ao 9º e Educação de Jovens e Adultos-EJA. Desde 2013 até os</p><p>dias de hoje, a escola passou a atender alunos do fundamental II, distribuídos nos</p><p>turnos manhã e tarde em turmas de 6º aos 9º anos, contando com um corpo</p><p>docente composto de 24 professores, um orientador educacional, duas</p><p>coordenadoras pedagógicas, uma secretária escolar e uma diretora.</p><p>Com a reestruturação das turmas os índices como a evasão, a infrequência e a</p><p>reprovação escolar aumentaram, com eles vieram as questões de indisciplina,</p><p>violência e consumo de drogas.</p><p>Em 2013, os gestores das escolas do município de Fortaleza foram escolhidos</p><p>após um processo de seleção pública. No segundo semestre desse mesmo ano a</p><p>escola EM Zaíra M. Gondim recebeu uma nova diretora.</p><p>Uma gestão escolar democrática, a própria palavra nos diz, promove a</p><p>redistribuição de responsabilidades, idéia de participação, trabalho em equipe,</p><p>decidir sobre as ações que serão desenvolvidas analisa situações e promove</p><p>confronto de idéias, procura-se, assim, o êxito de sua organização, através de</p><p>uma atuação consciente (SCHNECKENBERG; PAULA, 2008, p. 50).</p><p>Em 2014, a escola resolveu investir em um novo modelo de gestão, incentivando</p><p>a participação de todos que faziam parte da comunidade escolar, inclusive a</p><p>família.</p><p>Participação competente é o caminho para a construção da autonomia. Mediante</p><p>a prática dessa participação, é possível superar o exercício do poder individual</p><p>empregado nas escolas e promover a construção do poder da competência,</p><p>centrado na unidade social escolar como um todo (LUCK, 2008, p. 41).</p><p>ESCOLA E FAMÍLIA: A BUSCA PELA PARCERIA</p><p>Com o quadro elevado de reprovação, evasão e a existência de muitos conflitos,</p><p>a primeira ação da gestão foi levantar as causas que levaram a esse diagnóstico,</p><p>ouvindo todos envolvidos e fazendo um estudo utilizando documentos da escola.</p><p>Com esse diagnóstico pronto foi levado para conhecimento de todos que ali</p><p>faziam parte da comunidade escolar e abriu-se espaço para o debate. Segundo o</p><p>depoimento do grupo gestor, o início foi muito difícil, pois as pessoas que ali</p><p>participavam do debate apenas reclamavam, os professores culpando os alunos</p><p>pela falta de interesse e a família por ser negligente com os estudos dos filhos,</p><p>por sua vez a família culpando a escola. Mas com tempo passaram a</p><p>compreender que cada um é responsável e são capazes de contribuir para</p><p>melhorar o desempenho escolar.</p><p>Segundo a teoria das relações humanas, trabalhar em um clima participativo</p><p>provoca a melhoria do comportamento, reduz resistência às mudanças e aumenta</p><p>a produtividade das organizações. Entretanto, o valor da participação não está</p><p>diretamente relacionado à produção ou a satisfação do trabalhador, mas à</p><p>institucionalização e a preservação da ação e dos direitos democráticos na</p><p>sociedade como um todo (LUCK, 2005, p. 10).</p><p>Vendo a necessidade de abrir um canal de diálogo mais próximo e sistematizado</p><p>com a família, a gestão implantou um novo modelo de reuniões de pais, que foi</p><p>aprovado por todos e é utilizada até os dias atuais. A reunião de pais passou a ser</p><p>por turmas e com a participação dos alunos, pais, professores e grupo gestor</p><p>(diretor, coordenador pedagógico e orientador educacional), a qual é realizada a</p><p>cada bimestre. O objetivo desse modelo é para que todos os presentes à reunião</p><p>participem, avaliando por meio de dados e gráficos trazidos pela gestão o</p><p>desempenho da turma, percebam as dificuldades e potencialidades daquela turma</p><p>e contribuam com as ações e metas propostas ali. E por fim, que todos possam se</p><p>sentir participantes do processo ensino-aprendizagem.</p><p>Senhora Maria do Carmo da Costa Lima⁸, mãe de um aluno, comentou sobre</p><p>como é importante as reuniões: podendo participar ativamente, dando sugestões</p><p>e refletindo sobre a educação dos alunos, além de orientação nas atividades</p><p>escolares domiciliares.</p><p>Eu gosto muito das reuniões que a escola faz. A gente participa pais, aluno,</p><p>professor, diretora, todos podem falar. Além disso, ficamos sabendo de como</p><p>nossos filhos estão e como nós podemos a ajudar o nosso filho em casa.</p><p>(Depoimento concedido no dia15 de agosto de 2107)</p><p>Para motivar mais a participação de todos os presentes à reunião, a direção da</p><p>escola sempre inicia as reuniões com uma dinâmica, textos ou vídeos de fácil</p><p>compreensão, abordando sempre temas relevantes as necessidades da escola,</p><p>como: a relação família e escola, pais e filhos, a função e responsabilidade de</p><p>cada um que faz parte da comunidade escolar entre outros que vão surgindo a</p><p>partir das vivências entre eles.</p><p>Segundo o professor Clesson as consequências parceria família fortaleceram as</p><p>relações interpessoais na comunidade escolar, o que vem ajudando a superar os</p><p>desafios da escola</p><p>De modo geral a parceria família e escola que a gestão começou a estabelecer</p><p>através das reuniões de pais por turmas, e do atendimento individualizado têm</p><p>mostrado resultados positivos em todos os sentidos. Percebemos menos conflitos</p><p>nas relações entre os alunos, um melhor entrosamento entre o professor e o</p><p>aluno, uma maior presença dos pais participando na vida escolar dos seus filhos</p><p>e sem esquecer tivemos uma melhoria significativa nos índices de desempenhos</p><p>dos nossos alunos. (Depoimento concedido no dia 16 de agosto de 2107)</p><p>Em 2015, a Escola implantou outro projeto que deu qualidade ao controle de</p><p>infrequência e melhorou o canal de comunicação com a família, Colaborando</p><p>para o sucesso¹ . Para isso contou com ajuda dos professores readaptados, que já</p><p>não estão desenvolvendo suas funções em sala de aulas e foram lotados na</p><p>escola para dar suporte à gestão. Os professores fazem um levantamento diário</p><p>dos alunos faltosos, utilizando instrumentais e ligações diárias para os pais, no</p><p>intuito de diminuir as faltas e ajudar aos pais no acompanhamento escolar. Outro</p><p>projeto implantado neste mesmo período foi Cultural de fazer tarefa¹¹, que</p><p>também conta com</p><p>ajuda desses professores readaptados. Esse último projeto</p><p>citado, além de incentivar o professor regente a criar estratégias para o aluno</p><p>realizar as tarefas, os pais são informados por comunicações escritas sobre as</p><p>tarefas não realizadas pelo seu filho e incentivados a fazer o acompanhamento</p><p>das atividades escolares dentro dos prazos acordados. No caso daquele aluno que</p><p>persiste em não fazer as atividades escolares, a família e o aluno são chamados</p><p>para um atendimento com a orientação educacional, com objetivo de tentar</p><p>ajudá-los a superar o problema. Esse ano, a escola, acrescentou uma aula no</p><p>quinto tempo para os alunos que não conseguem realizar as atividades escolares,</p><p>essa ação atendeu os casos de alunos que ainda possuem dificuldades na</p><p>realização das tarefas.</p><p>De acordo com o Professor Paulo Henrique¹²:</p><p>Para o pleno desenvolvimento e cumprimento de seus objetivos a escola</p><p>necessita do envolvimento de todos atores que fazem parte do processo de</p><p>educação. A parceria entre a família e a escola se encaixa nessa direção,</p><p>pactuando, entre dois agentes fundamentais no desenvolvimento do educando, o</p><p>sentido de trabalho coletivo e de excelência em prol de um bem comum.</p><p>(Depoimento concedido no dia 22 de agosto de 2017)</p><p>A escola criou um ambiente de atendimento ao aluno, com colaboração do</p><p>Orientador Educacional e da própria diretora para tratar dos assuntos que</p><p>envolvam os discentes, com objetivo de desenvolver um acompanhamento</p><p>individualizado do aluno. Em alguns momentos a família é convidada a</p><p>participar também, permitindo que a escola possa conhecer melhor o estudante e</p><p>sua família, bem como a família também possa conhecer a escola. Segundo a</p><p>mãe Maria Edilene Simão de Sousa¹³, o acompanhamento que a escola realizou</p><p>com a sua família foi muito importante para a mudança no comportamento e</p><p>aprendizagem de sua filha.</p><p>A minha Filha era muito malcomportada tinha notas muito baixas, não gostava</p><p>de estudar. Através do acompanhamento da escola e nós em casa houve uma</p><p>mudança de comportamento. A escola me ajudou a entender melhor a minha</p><p>filha. Hoje ela ingressou no Instituto Federal do Ceará no ensino médio.</p><p>(Depoimento concedido no dia 15 de agosto de 2017)</p><p>Para tratar casos específicos de conflitos, foi implantada a mediação escolar,</p><p>realizado pelo Orientador Educacional e recentemente foi criado um grupo de</p><p>alunos da escola para fazerem parte da mediação. Essa experiência com alunos é</p><p>nova, começou no segundo semestre do ano letivo de 2016, já tendo acontecido</p><p>duas experiências e ainda se encontra em processo de formação.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Evidenciou-se após o estudo bibliográfico realizado e as ações implementadas na</p><p>escola aqui citadas, a importância da relação família e escola no processo de</p><p>aprendizagem do aluno. Tanto a família quanto a escola são referenciais que dão</p><p>sustentação ao desenvolvimento da criança, portanto, a parceria entre as duas</p><p>instituições deve acontecer da melhor forma possível no intuito de garantir o</p><p>bom desempenho escolar.</p><p>Com base nos depoimentos de pais e professores as reuniões por bimestre com a</p><p>participação dos pais, alunos, professores e equipe gestora tornaram mais</p><p>motivadoras. Essas reuniões permitiram às famílias compreenderem a</p><p>necessidade de estimularem os filhos para levar mais a sério a escola.</p><p>Compreenderam também que não precisam esperar serem chamados para</p><p>comparecerem à escola e que incentivando os filhos a fazerem o dever de casa</p><p>estão favorecendo o bom desempenho escolar dos mesmos.</p><p>O importante é compreender que não existem receitas prontas para conquistar</p><p>uma boa relação entre escola/família, pois vivem realidades diferentes. Para isso</p><p>se faz necessário que ambas conheçam suas realidades e construam</p><p>coletivamente uma relação de diálogo mútuo, buscando meios para que se</p><p>concretize essa parceria, apesar das dificuldades e diversidades que as envolvem.</p><p>O diálogo promove uma maior aproximação e pode ser o começo de uma grande</p><p>mudança no relacionamento entre a família e a escola. A escola é, e deve</p><p>permanecer sendo, o principal espaço nessa construção das relações sociais</p><p>promovendo debates e inquietações que venham a contribuir para uma melhoria</p><p>significativa no desempenho escolar.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>LUCK, H. A gestão participativa na escola. 3. ed. Petrópolis. RJ: Vozes, 2008.</p><p>(Série Cadernos de Gestão).</p><p>LUCK, Heloísa. et al. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 5. ed.</p><p>Petrópolis: Vozes, 2005.</p><p>PAROLIN, Isabel. As dificuldades de aprendizagem e as relações familiares.</p><p>Livro da 5ª Jornada de Educação do Norte e Nordeste. Fortaleza, 2003.</p><p>PIAGET, Jean. Para onde vai à educação. Rio de Janeiro. José Olímpio, 2007.</p><p>SCHNECKENBERG, M.; PAULA, R. L. de. Gestão democrática: desafio para o</p><p>gestor do século XXI. Revista eletrônica Lato Sensu, São Paulo. ano 3, n. 1, p.</p><p>23, mar., 2008.</p><p>TIBA, I. Ensinar aprendendo: novos paradigmas da educação. 18 ed. São Paulo:</p><p>Integrare, 2006.</p><p>A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA E</p><p>A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO CURRICULAR</p><p>SUPERVISIONADO</p><p>Francisco Edmar de Sousa Silva</p><p>Jaqueline Pinheiro</p><p>Luiz Antonio de Sousa Silva</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A formação dos professores que irão atuar na educação básica é um dos grandes</p><p>desafios que os sistemas de ensino precisam enfrentar nas próximas décadas. Os</p><p>grandes avanços científicos, as amplas e profundas mudanças ocorridas no</p><p>campo sociopolítico e dos valores ao final do século XX e ao longo desses quase</p><p>vinte anos do século XXI, impõem processos de renovação e, em alguns casos,</p><p>inovação no âmbito da formação docente. É contraproducente formar professor</p><p>como se formava antigamente, pelo menos no que diz respeito às ferramentas</p><p>pedagógicas e à dinâmica que antecede à chegada definitiva do professor em sala</p><p>de aula. Para cada momento da história requer-se uma formação docente</p><p>equivalente, uma vez que o próprio público discente não é o mesmo. Isso</p><p>equivale dizer que o aluno das licenciaturas também não possui perfil</p><p>assemelhado com aqueles que eram correntes há duas ou três décadas passadas.</p><p>Todo esse novo cenário exige, por óbvio, uma nova concepção pedagógica e</p><p>didática ao longo dos cursos de formação de professores.</p><p>Evidentemente, a preocupação com uma formação mais robusta do professor</p><p>deve se iniciar, de maneia contundente, ainda nos cursos de graduação, desde o</p><p>primeiro semestre e se estendendo ao longo de todo o curso, sempre</p><p>correlacionando teoria e prática, de modo a garantir um constante processo de</p><p>inquietude científica que possa dar conta do alcance de uma qualidade</p><p>profissional (PASSINI, 2015). Em outras palavras, os cursos de licenciatura</p><p>devem, frente aos desafios crescentes que os professores terão que lidar ao longo</p><p>do seu exercício profissional, garantir uma formação docente pujante de forma</p><p>sistemática e ininterrupta, de tal maneira que os temas que digam respeito à</p><p>dinâmica escolar possam permear o curso do início ao fim. Os alunos das</p><p>licenciaturas precisam compreender que mesmo que não faça parte do seu</p><p>horizonte profissional o pleno exercício da carreira docente, o perfil da formação</p><p>do curso é construído tendo em vista à formação de professores. As grandes</p><p>discussões teóricas e metodológicas ao longo do percurso formativo terão,</p><p>necessariamente, essa preocupação.</p><p>Entretanto, nem sempre é possível visualizar uma preocupação clara, no âmbito</p><p>dos cursos de formação de professores, com um desenvolvimento teórico sólido</p><p>que abranja, de maneira satisfatória, as bases pedagógicas e didáticas</p><p>imprescindíveis para o exercício crítico e consciente da docência. Por isso,</p><p>muitos cursos que se destinam a formação de professores são conduzidos, na</p><p>prática, como se fossem cursos de bacharelado, sem uma clara vinculação entre</p><p>o que é ensinado nas licenciaturas e as realidades escolares. Os temas abordados</p><p>se restringem, nas raras vezes, apenas a questões tangenciais, que não enfrentam</p><p>o cerne da dinâmica escolar. Certamente que alguns docentes que atuam nas</p><p>licenciaturas fogem à essa regra, mas ainda em número menor do que o</p><p>desejado.</p><p>Nesse contexto,</p><p>os saberes específicos que cada ciência produziu ao longo dos</p><p>últimos séculos nem sempre são interligados com os conteúdos básicos e</p><p>indispensáveis da pedagogia e da didática. Desta forma, o futuro professor</p><p>poderá, em um cenário ideal, ter domínio sobre determinado tema, teoria ou</p><p>conceito que diga respeito apenas a um campo científico particular, mas terá</p><p>muita dificuldade em significar e ressignificar esses conteúdos no âmbito da</p><p>educação escolar, pois mesmo que se considere os dois campos dentro de uma</p><p>perspectiva dialética, eles mantêm as suas especificidades.</p><p>O que poderia explicar essa eventual negligência em relação a significação e</p><p>ressignificação pedagógica e didática dos conteúdos científicos particulares?</p><p>Pensando de uma maneira mais alargada é possível compreender que os próprios</p><p>professores que atuam nos cursos de licenciatura também possuem deficiência</p><p>na sua formação basal, sobretudo no campo da ciência pedagógica. Por esse</p><p>motivo grande parte, mesmo que não verbalize isso de maneira pública, encontra</p><p>entraves teóricos e práticos para correlacionar os temas específicos debatidos no</p><p>âmbito de suas disciplinas com o contexto didático e pedagógico típico das</p><p>escolas de educação básica.</p><p>É um ciclo que se arrasta faz muito tempo e não apresenta uma solução no curto</p><p>prazo, uma vez que os princípios de não diálogo entre as ciências específicas e o</p><p>campo das ciências da educação ainda é bastante presente. Esse cenário, não</p><p>muito raro de se observar, compromete sobremaneira a formação dos futuros</p><p>professores, pois o desenvolvimento insuficiente de competências e habilidades</p><p>teóricas e práticas por parte dos docentes dos cursos de licenciatura reduzem a</p><p>possibilidade de correlacionar, de maneira integrada, os conteúdos abordados no</p><p>âmbito da universidade com os conhecimentos produzidos pela pedagogia, teoria</p><p>do conhecimento e com o chão de escola. Assim, todo o ciclo vicioso tende a se</p><p>repetir com danos gravíssimos quando da atuação dos licenciandos na educação</p><p>básica.</p><p>Nesse mesmo sentido, a legislação que normatiza os cursos de licenciatura é</p><p>praticamente desconhecida pela ampla maioria de professores e estudantes dos</p><p>cursos de licenciatura. O não (ou parco) conhecimento acerca da legislação que</p><p>concede suporte legal e teórico aos cursos de graduação, sobretudo no que tange</p><p>ao estágio curricular supervisonado (através dos seus princípios norteadores), é</p><p>vetor de ampliação do ciclo vicioso descrito acima.</p><p>O presente texto, mesmo que de maneira sucinta, pretende realizar uma</p><p>discussão em torno da importância da formação robusta dos futuros professores</p><p>ainda no domínio das graduações, especialmente no momento em que esses</p><p>professores em formação irão para o contato direto com a realidade escolar,</p><p>quando da realização dos estágios previstos nos Projetos Pedagógicos dos</p><p>Cursos. A ideia central é traçar um panorama geral, destacando a importância e</p><p>os desafios inerentes à prática dos estágios curriculares supervisionados.</p><p>LICENCIATURA NÃO É RECEITA DE BOLO</p><p>Uma primeira incursão na temática da formação de professores conduz para uma</p><p>assertiva fundamental: esses cursos não devem ser resumir, em hipótese alguma,</p><p>ao tratamento de questões meramente técnicas, como muitos alunos preferem.</p><p>Os referidos alunos argumentam, na grande maioria das vezes, que essas</p><p>questões técnicas são necessárias para que eles saibam trabalhar os conteúdos</p><p>específicos em sala de aula com os seus futuros alunos. Porém, essa percepção é</p><p>equivocada, no sentido em que as questões puramente técnicas, por mais que</p><p>guardem sua importância, são insuficientes para dar conta das intensas</p><p>dinâmicas as quais todos, alunos e professores, estão submetidos no contexto</p><p>educacional contemporâneo. Aprender nas universidades apenas questões</p><p>técnicas, que muitas vezes não passam de simples memorização de dados e</p><p>fenômenos, não é suficiente para que os futuros professores possam enfrentar à</p><p>dinâmica de uma realidade cada vez mais irrigada por informações e dados,</p><p>muitos dos quais não são fidedignos ou carecem de uma maior reflexão crítica. A</p><p>técnica envelhece muita rapidamente.</p><p>Assim não se pode abrir mão da necessária formação pedagógica e didática. Essa</p><p>concepção se ancora na tese de que é necessário realizar uma maior conexão</p><p>entre o campo universitário e a prática em sala de aula. Se os conteúdos forem</p><p>trabalhados sem a clareza das suas dimensões pedagógica e didática, qualquer</p><p>curso de formação de professores poderá facilmente ser confundido com um</p><p>curso técnico, onde os alunos aprendem técnicas capazes de elevar a sua</p><p>“capacidade” de dar aulas, mas são incapazes de instrumentalizar sujeitos livres</p><p>e conscientes do “lugar de onde falam”, “o que falam”, “porque falam” e “para</p><p>quem falam”.</p><p>Grande parte dessa insuficiente integração que os alunos sentem entre teoria e</p><p>prática se deve a dois fatores básicos: o primeiro diz respeito a carência de</p><p>momentos relevantes e planejados de prática dos alunos na escola de educação</p><p>básica, onde eles possam conhecer de forma aprofundada, e norteados por um</p><p>corpo teórico (pedagógico, didático e político), todas as situações vividas por</p><p>uma escola, sem que isso represente apenas o cumprimento de uma exigência</p><p>legal; o segundo diz respeito a abordagem que o professor do curso de</p><p>licenciatura concede à disciplina que está ministrando: não raras vezes ela se</p><p>reduz ao campo de pesquisa do professor. Assim as disciplinas particulares são</p><p>ensinadas, desde a universidade, de forma fragmentada e sem a necessária visão</p><p>de conjunto e muito menos vinculadas diretamente à dinâmica da educação</p><p>básica. Sempre será necessário estudar as categorias, teorias e conceitos do</p><p>campo específico de cada ciência, mas sem perder de vista o seu horizonte maior</p><p>nos cursos de licenciatura, a saber, a atuação desse profissional, na maior parte</p><p>das situações, em escolas de educação básica, para que se evite que as</p><p>licenciaturas sejam percebidas como receitas a serem seguidas fielmente.</p><p>Dentro desse contexto, cabe salientar a importância do estágio curricular</p><p>supervisionado como ferramenta pedagógica capaz de aproximar o futuro</p><p>professor da realidade dinâmica da sala de aula e da escola no seu conjunto.</p><p>Autorizar a ida dos discentes para o estágio pressupõe, pelo menos no nível</p><p>teórico, o atendimento de algumas questões importantes que serão, de maneira</p><p>muito sucinta, destacadas nesse momento.</p><p>QUESTÕES RELEVANTES PARA UMA PRÁTICA DE ESTÁGIO MAIS</p><p>SIGNIFICATIVA</p><p>A primeira delas diz respeito à clareza em torno das abordagens de ensino ou</p><p>tendências pedagógicas: tradicional, comportamentalista, humanista, cognitivista</p><p>e sociocultural. Essa clareza é essencial para o desenvolvimento dos debates no</p><p>campo da formação docente. Essas discussões devem permear toda a formação</p><p>dos professores. Permitir que o docente enfrente a dinâmica educacional escolar</p><p>sem esses conhecimentos básicos é elevar substancialmente a probabilidade de</p><p>fracasso do processo, com sérios danos (inclusive afetivos e psicológico) para</p><p>alunos e professores.</p><p>A ideia do ensino tradicional, ancorada na percepção de que o aluno é apenas</p><p>receptor, desprovido de qualquer conhecimento prévio ao qual cabe apenas o</p><p>postura de “memorizador” e “repetidor” do que foi ensinado, bem como do</p><p>professor como detentor único do conhecimento, cuja função principal é</p><p>repassar, de maneira mecânica, o conteúdo previsto, tem perdido, pelo menos no</p><p>campo da discussão teórica, o seu espaço. O ensino enciclopédico e sem</p><p>nenhuma análise crítica ou ligação com o cotidiano do aluno não possui mais</p><p>razão de ser. A corrente comportamentalista, baseada nas ideias de Skinner, cuja</p><p>ideia central é promover mudanças comportamentais nos indivíduos, concebe a</p><p>escola como um agente educacional que atua com a função precípua de controlar</p><p>os comportamentos que se deseja implantar socialmente e o planejamento é</p><p>realizado com vistas a objetivos pré-fixados, esse pensamento também perdeu a</p><p>sua vitalidade conceitual e razão prática de ser.</p><p>Por outro lado, outras correntes possuem grande potencial</p><p>de elevar</p><p>qualitativamente as discussões engendradas ao longo dos cursos de formação dos</p><p>futuros docentes. A corrente humanista, de modo geral, tem como ponto fulcral a</p><p>concepção do professor enquanto facilitador da aprendizagem. Nela o aluno tem</p><p>autonomia para aprender, sendo que o foco são as estruturas cognitivas do aluno</p><p>visando o seu desenvolvimento social. A corrente cognitivista lastreada</p><p>principalmente nas ideias do pesquisador Jean Piaget percebe o professor como</p><p>grande provocador cognitivo e orientador da aprendizagem, através dos</p><p>processos de assimilação e acomodação. Nessa concepção de teoria do</p><p>conhecimento o indivíduo tende a desenvolver estruturas lógicas cada vez mais</p><p>complexas. Caberá à escola, e claro que ao professor, criar condições favoráveis</p><p>para a complexificação dessas estruturas, de tal modo que o aluno consiga sair</p><p>de um conhecimento menos elaborado para um conhecimento mais elaborado do</p><p>ponto de vista cognitivo, sempre permitindo o interesse do aluno em aprender</p><p>por si mesmo. Na abordagem sociocultural, por seu turno, que tem como</p><p>principal representante o pesquisador Lev Vygotsky, o professor é percebido</p><p>como mediador e o processo educativo é visto sob o prisma da integração social</p><p>e processo contínuo, onde deve ser respeitada a linguagem, cultura e</p><p>conhecimento prévio do aluno de sorte que ele possa conhecer melhor a sua</p><p>realidade e ser instrumentalizado para a sua transformação.</p><p>O segundo ponto a ser sublinhado é, sem dúvidas, o planejamento do estágio,</p><p>uma vez que ele se constitui na fase inicial de uma dinâmica pedagógica. Ele</p><p>garante uma prática pedagógica bem fundamentada. O planejamento tem que ser</p><p>realizado tendo em vista a garantia da eficiência da aprendizagem do aluno. É</p><p>importante destacar o caráter dinâmico do planejamento, de forma que ele pode</p><p>e deve ser revisto ao longo do seu desenvolvimento, de modo que se possa</p><p>promover alterações de rotas e caminhos que tornem a aprendizagem mais</p><p>significativa. No estágio obrigatório, como geralmente ele é realizado em apenas</p><p>uma turma e num curto intervalo de tempo, essas mudanças não são de fácil</p><p>aplicabilidade. O fato de existência prévia de um planejamento realizado pelo</p><p>professor titular da disciplina também dificulta a alteração de pontos que se</p><p>julgue necessário. Entretanto, não se pode abdicar dessa premissa básica.</p><p>A experiência do minicurso para o desenvolvimento do estágio pode ser bastante</p><p>proveitosa. Nessa proposição metodológica tem-se o seguinte encaminhamento:</p><p>de modo geral é escolhido um tema gerador e, logo após, elaborado um projeto</p><p>de intervenção, para fins de aplicação e avaliação. O minicurso não é (e nem</p><p>deve ser) burocrático e nem verticalizado. Também não segue, às cegas,</p><p>simplesmente o que está proposto no livro didático. A ideia central é aprofundar</p><p>uma temática que possua vinculação direta com as finalidades e propósitos do</p><p>projeto político pedagógico da escola escolhida. Nesse mesmo sentido, o</p><p>desenvolvimento de microaulas, a formulação de projetos pedagógicos/ didáticos</p><p>e a experiência das cartas escritas pelos alunos poderão, também, ser</p><p>fundamentais para a formação dos futuros professores.</p><p>Os trabalhos em grupo, desenvolvido com um viés artístico, sobretudo, através</p><p>do teatro pode ajudar na construção de vários conceitos e teorias importantes</p><p>para a consolidação da aprendizagem na educação básica. Dada a pouca</p><p>permeabilidade da prática docente por situações que fujam do tradicional, é</p><p>possível que práticas como essas sofram resistência da comunidade escolar,</p><p>especialmente das gestões das escolas, sobretudo das escolas privadas. O</p><p>conjunto dos docentes, seja da mesma área ou de outras áreas, também podem</p><p>visualizar essa ferramenta com certa resistência ou imaginar que o estagiário</p><p>quer protagonismo e que sofre de certo “estrelismo”. Entretanto, dentro do</p><p>possível, é necessário que novas ferramentas pedagógicas como essas sejam</p><p>experimentadas.</p><p>Essas propostas podem, potencialmente, ajudar a sair do marasmo que muitas</p><p>vezes domina a prática do estágio, pois os alunos, ao longo do seu</p><p>desenvolvimento, mantêm o seu foco, muitas vezes, apenas nos problemas das</p><p>escolas e pautam a sua reflexão apenas no descaso daquilo que é vivenciado nas</p><p>escolas públicas. Assim, esquece-se de focar no cabedal de possibilidades</p><p>pedagógicas e didáticas para a melhoria do ensino. Uma melhor leitura política</p><p>da realidade na qual estão imiscuídas as escolas, bem como uma clareza sobre a</p><p>função social da escola e do próprio professor são potencialmente capazes de</p><p>garantir que os futuros professores não fiquem aprisionados no pessimismo que</p><p>tende a influenciar, negativamente, aqueles que começam a ter contato com a</p><p>chão de escola (KAERCHER, 2001).</p><p>O estágio deve estar, ainda, pautado em algumas premissas básicas. A primeira</p><p>diz respeito ao período de observação. A fase de observação é muito importante,</p><p>uma vez que ela ajuda a aproximar, mesmo que de maneira incipiente, o</p><p>estudante de estágio da realidade escolar. Antes, porém, será necessário realizar</p><p>contato com os gestores para que essa visita seja realizada. Na ocasião, poderão</p><p>ser montadas duplas para que o trabalho seja realmente executado. Logo após o</p><p>estágio será colocado em prática. É importante salientar que as experiências</p><p>acumuladas deverão ser, necessariamente, socializadas no conjunto do curso de</p><p>licenciatura.</p><p>A referida socialização não tem como intuito criar receitas prontas para os</p><p>estágios, uma vez que as unidades escolares onde o estágio se desenvolve são</p><p>muito diferentes entre si não comportando, portanto, um único modelo de</p><p>estágio. Mas a socialização assume um caráter de instrumentalização (do aluno-</p><p>estagiário) pedagógica e didaticamente para enfrentar os desafios da educação.</p><p>Nesse contexto, destaca-se que o contato do aluno de licenciatura com o seu</p><p>campo de atuação profissional (escola) é imprescindível, uma vez que o curso</p><p>em si passa muito rápido e o aluno logo irá se deparar com a realidade escolar e</p><p>de sala de aula. Abdicar do estágio ou fazê-lo de forma precária significa criar</p><p>uma série de dificuldades para a realização da atividade profissional. O estágio,</p><p>quando bem realizado, ajuda, ainda, na formação consciente de uma identidade</p><p>profissional (PIMENTA e LIMA, 2004).</p><p>O atendimento insuficiente das questões levantadas anteriormente conduz a</p><p>situações de nervosismo e ansiedade no desenvolvimento do estágio. O</p><p>acompanhamento do estágio também não é realizado, muitas vezes, da forma</p><p>desejada, aumentando o grau de insegurança dos alunos. A não receptividade dos</p><p>professores regentes ou mesmo a sobrecarga dos alunos de estágio também</p><p>assumem caráter preocupante. A falta de experiência do aluno ao chegar a</p><p>prática do estágio, haja vista a não experiência desenvolvida de forma</p><p>independente ao longo do desenvolvimento do curso, também é fator que</p><p>pressiona negativamente o desenvolvimento do estágio.</p><p>Com o fito de reduzir o cenário destacado acima, muitas universidades estão,</p><p>lastreadas na legislação, aumentando a carga horária dos estágios</p><p>supervisionados e incrementando a discussão teórica e metodológica dessa</p><p>disciplina, no sentido de quebrar com a ideia tradicional de estágio que, no</p><p>limite, só aumenta a percepção de que o estágio é desnecessário</p><p>(PONTUSCHKA, 2007). Assim, muitas universidades já trabalham com duas ou</p><p>mais disciplinas de estágio. Elas, de maneira geral, contemplam a reflexão</p><p>teórica sobre estágio e escola. Algumas Instituições de Ensino Superior adotam a</p><p>ida para a escola em todas as disciplinas de estágio.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>A formação teórica e metodológica nas licenciaturas é muito importante, mas</p><p>não supre as necessidades de formação de quem irá atuar como professor. A</p><p>formação complementar propiciada pelo estágio obrigatório ajuda a</p><p>compreender, no par dialético teoria e prática, o caráter multifacetado e</p><p>multidimensional da educação básica.</p><p>Por isso, a prática do estágio deve, logo de início, pressupor uma visão humana</p><p>da educação e levar em consideração a sua intencionalidade, sempre tendo</p><p>como</p><p>base uma reflexão sobre as finalidades da educação. Conforme supracitado, não</p><p>se deve também esquecer das bases pedagógicas trazidas pelas reflexões</p><p>encampadas pelas várias tendências pedagógicas. Em outras palavras, o estágio</p><p>deve considerar, necessariamente, duas coisas fundamentais: a dimensão</p><p>pedagógica (entendendo o seu contexto político e socioeconômico, que alberga</p><p>as contradições oriundas do conjunto da sociedade) e a dimensão específica de</p><p>cada curso, entendida como a capacidade de analisar essa mesma realidade,</p><p>sempre pautada nos pressupostos teóricos e metodológicos que foram</p><p>historicamente produzidos por cada campo científico. Ou seja, ao longo da</p><p>prática do estágio será possível correlacionar as habilidades acadêmicas,</p><p>entendidas enquanto possibilidade de leitura do arcabouço teórico e</p><p>metodológico de cada disciplina em particular, com as habilidades pedagógicas e</p><p>didáticas indispensáveis para o exercício do magistério, pois é em cada sala que</p><p>se concretiza o ensino de modo geral e o ensino de cada ciência de modo</p><p>particular, sendo possível perceber as possibilidades e dificuldades inerentes ao</p><p>exercício profissional.</p><p>A prática do estágio faz romper a barreira apenas do exercício profissional, pois</p><p>conduz a uma reflexão sobre o tipo de homem e sociedade se quer formar. O</p><p>estágio, ainda, favorece a saída de uma visão conformista de que se o governo</p><p>não apoia a educação nada vai mudar, bem como faz pensar em novas estratégias</p><p>de ensino que rompam com o excessivo pragmatismo e inércia das aulas. Ajuda,</p><p>ainda, a conhecer os sujeitos que formam a escola (alunos, pais, colegas,</p><p>funcionários) e a comunidade do entorno. Isso colabora para o desenvolvimento</p><p>das competências profissionais típicas do professor e auxilia na compreensão da</p><p>necessidade de aprimoramento pessoal e profissional constante, entendendo que</p><p>é preciso buscar a renovação e inovação dos métodos de ensino evitando-se, a</p><p>todo custo, cair no tradicionalismo do ensino. O estágio ajudar a responder as</p><p>seguintes perguntas: O que ensinar? Como ensinar? Para quem ensinar? Para que</p><p>ensinar?</p><p>Por fim, é muito importante que, em todas as etapas do estágio supervisionado, o</p><p>aluno dos mais variados cursos de formação de professores assuma uma postura</p><p>de pesquisador: aprofundar o conhecimento teórico e metodológico em torno da</p><p>ciência específica a qual está buscando formação, mas sem esquecer das reais e</p><p>necessárias ligações no macrocampo pedagógico e didático. A postura de</p><p>pesquisador auxilia em um conhecimento mais ampliado do sistema educacional</p><p>brasileiro e ajuda a situar o futuro professor dentro do conjunto da sociedade e</p><p>concede suporte para uma melhor compreensão da realidade da escola onde irá</p><p>ministrar aulas.</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>KAERCHER, N. A. A Geografia escolar na prática docente: a utopia e os</p><p>obstáculos epistemológicos da Geografia Crítica. São Paulo. USP/FFLCH/DG,</p><p>2001. (Tese de Doutorado). 366p.</p><p>PASSINI, E. Y.; PASSINI, R.; MALYSZ, S. T (Org.). Prática de ensino de</p><p>geografia e estágio supervisionado. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2015.</p><p>PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2004.</p><p>PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. I.; CACETE, N. H. Para ensinar e</p><p>aprender Geografia. 1° ed. São Paulo: Cortez, 2007.</p><p>AS AVALIAÇÕES EXTERNAS E A APRENDIZAGEM NO</p><p>BRASIL</p><p>Francisco Robson de Araújo Pereira</p><p>Ana Paula Vasconcelos de Oliveira Tahim</p><p>Gabrielle Silva Marinho</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>No presente texto, produto parcial de uma pesquisa de mestrado em Ciências da</p><p>Educação e Multidisciplinaridade, discutimos sobre a aprendizagem enquanto</p><p>produto das avaliações em larga escala em vigência no Brasil, bem como</p><p>também são apresentadas quais são essas avaliações. Cabe ainda destacar que</p><p>abordamos brevemente a formação continuada e o currículo enquanto meandros</p><p>dessa dinâmica educacional.</p><p>Sem ainda adentrar no âmbito predominantemente da aprendizagem como objeto</p><p>norteador das avaliações externas, destacamos que, em 1990, foi criado no Brasil</p><p>o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) instrumentalizado pela</p><p>Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) pela Avaliação Nacional da</p><p>Educação Básica (Aneb) e pela Avaliação Nacional do Rendimento Escolar</p><p>(Anresc), mais divulgada com a nomenclatura de “Prova Brasil”, cuja aplicação</p><p>se dá nas seguintes turmas: quarta série e oitava série do primeiro grau (atuais</p><p>quinto ano e oitavo ano do ensino fundamental) e a Provinha Brasil para a</p><p>primeira série (atual segundo ano) e, em nível estadual, por sistemas próprios,</p><p>como frisa Afonso (2009). Um pouco mais tarde, em 1998, foi criado o Exame</p><p>Nacional do Ensino Médio (Enem).</p><p>Fernandes (2009) afirma que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas</p><p>Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é o órgão responsável pela coleta e</p><p>divulgação dos resultados das avaliações externas do Saeb, que, por sua vez, são</p><p>consideradas no cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica</p><p>(Ideb), cujos indicadores revelam a realidade educacional avaliada, ou seja, o</p><p>fluxo e o rendimento escolar.</p><p>Esse processo é produto do Plano Nacional de Educação (PNE), o que</p><p>oportunizou a criação do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), sob o qual</p><p>a legislação prevê, por meio do Decreto 6.024/2007, o Plano de Metas</p><p>Compromisso Todos pela Educação.</p><p>Resumidamente, vigora as seguintes modalidades no Sistema Nacional de</p><p>Avaliação da Educação Básica (Sinaeb) no Brasil: Avaliação Nacional da</p><p>Educação Infantil (Anei) será bianual com previsão para a primeira intervenção</p><p>ainda neste ano letivo (2017) e se caracteriza mais pelo diagnóstico da oferta de</p><p>vagas na escola pública do que pela verificação de aprendizagem; Avaliação da</p><p>Alfabetização (Provinha Brasil) que é aplicada ao início de cada ano letivo nas</p><p>turmas de segundo ano do ensino fundamental do das escolas públicas;</p><p>Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), aplicada a cada dois anos com o</p><p>intuito de verificar o nível de alfabetização e letramento dos alunos do terceiro</p><p>ano das escolas públicas; Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), cujo</p><p>proposta divulgada é a diagnosticar a qualidade da aprendizagem dos alunos do</p><p>quinto ano, do nono ano do ensino fundamental e do terceiro ano do ensino</p><p>médio a cada dois anos nas escolas públicas e privadas (por amostragem);</p><p>Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), cuja aplicação se dá</p><p>bianualmente nas turmas da Aneb, porém, de forma censitária (para todas as</p><p>turmas).</p><p>Quanto à aprendizagem a partir das avaliações externas, conforme Sobrinho</p><p>(2008), trata-se de um vislumbre pouco provável, visto que na proposta implícita</p><p>das avaliações externas no Brasil, como subterfúgio para dar satisfação à</p><p>sociedade capitalista por meio de resultados quantitativos, carrega esse processo</p><p>de clima de disputa, não de colaboração, nem de favorecimento da</p><p>aprendizagem. Sendo assim, descontextualiza-se supervalorizando os números e</p><p>desconsiderando sob que circunstâncias esses números possam ter se produzido.</p><p>Apenas os resultados gerados por essas avaliações em larga escala não são</p><p>capazes de refletir a aprendizagem. Só pela terminologia “larga escala” já se</p><p>percebe a generalização dada a esse processo. É necessário ainda que estudos</p><p>mais detalhados considerem as diferenças locais, econômicas, sociais e culturais</p><p>como elementos produtores de determinada qualidade educacional e, dado esse</p><p>contexto determinante, a aprendizagem proporcional a que faça jus revelada</p><p>pelas avaliações externas.</p><p>A comparação feita entre regiões, estados, municípios e escolas, nessa dinâmica,</p><p>é injusta e transparece um julgo holístico sob o qual não se enxerga a diferença</p><p>entre uma unidade de ensino e ela mesma em momentos específicos, o que</p><p>poderia ser mais eficaz na busca pela qualidade do ensino e por melhores</p><p>padrões de aprendizagem a partir de uma intervenção localizada e direcionada.</p><p>As dificuldades, assim, poderiam ser reveladas e as políticas públicas</p><p>implementadas com menor margem de erros. Mas ao que parece, é mais fácil</p><p>delegar esse papel sob efeito cascata de cobranças e</p><p>constantes reflexões, entre elas a necessidade de utilizar diferentes metodologias</p><p>que contribuam para uma melhor aprendizagem.</p><p>Para isso, torna-se necessário que essa necessidade seja evidente desde cedo na</p><p>formação inicial para que possam permitir aos futuros professores um contato</p><p>mais amplo com diferentes metodologias que visem ao desenvolvimento de</p><p>habilidades fundamentais para uma docência de qualidade. Como consequência,</p><p>essa prática será capaz de oferecer a seus estudantes momentos em que a</p><p>construção do conhecimento possa ocorrer de forma eficaz e o laboratório de</p><p>ciências, quando utilizado em qualquer nível de educação, pode contribuir para a</p><p>realização de diversas atividades, entre elas a pesquisa.</p><p>LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS: PESQUISAR PARA COMPREENDER</p><p>A pesquisa como um meio que permite a construção do conhecimento revela sua</p><p>importância nos cursos de formação de professores, pois desperta a capacidade</p><p>de questionamento sobre o objeto de estudo. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases</p><p>da Educação Nacional (LDB), n.º 9394, “o ensino superior tem por finalidade</p><p>incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o</p><p>desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e,</p><p>desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive”</p><p>(BRASIL, 1996, p. 20).</p><p>Diante dessa afirmação, percebe-se a importância de a pesquisa estar presente na</p><p>formação inicial dos professores, pois pode permitir ao futuro docente o</p><p>desenvolvimento de habilidades que são essenciais para sua atuação em sala de</p><p>aula. É durante a formação inicial que se torna importante deixar claro que a</p><p>pesquisa pode ser realizada em diversos níveis escolares, cada uma delas</p><p>abordando objetivos diferentes.</p><p>Portanto, por muitas vezes a pesquisa assume características diferentes</p><p>dependendo de onde ela é realizada. Garcia (2009, p. 177) afirma que “em</p><p>relação aos objetivos, a pesquisa do professor tem caráter instrumental e</p><p>utilitário, enquanto a pesquisa acadêmica em educação em geral está conectada</p><p>com objetivos sociais e políticos mais amplos”.</p><p>Ora, em tese, a pesquisa se torna inquestionável quando falamos em formação de</p><p>professores, pois uma das suas grandes virtudes é aprender pesquisando e isso</p><p>deveria ser uma prática constante nos cursos de licenciatura, já que</p><p>Educar pela pesquisa tem como condição essencial primeira que o profissional</p><p>da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio</p><p>científico e educativo e a tenha como atitude cotidiana […]. Não se busca um</p><p>profissional de pesquisa, mas um profissional da educação pela pesquisa</p><p>(DEMO, 2003, p. 2).</p><p>Portanto é importante considerar que o professor que utiliza a pesquisa no seu</p><p>cotidiano está em contato com o que há de mais recente em sua área, nesse caso,</p><p>possui uma maior possibilidade de mudar o cenário dentro de suas possibilidades</p><p>e realidade, assumindo dessa forma um perfil totalmente diferenciado, passando</p><p>a mediar a construção do conhecimento. Assim, o professor precisa compreender</p><p>a complexidade que envolve a docência, pois</p><p>A concepção moderna de professor o define essencialmente como orientador do</p><p>processo de questionamento reconstrutivo no aluno, supondo obviamente que</p><p>detenha esta mesma competência. Neste sentido, o que mais o define é a</p><p>pesquisa. A rigor, ensinar é algo decorrente da pesquisa. Não pode manter a</p><p>mesma densidade definitória, como se diz com respeito à universidade em</p><p>termos de ensino, pesquisa, extensão (DEMO, 2003, p. 26).</p><p>Consequentemente, não é somente na educação básica que o professor assume a</p><p>postura de mediador de todo o processo de aprendizagem a partir da pesquisa.</p><p>Em todos os níveis, essa nova modalidade de professor não deve entregar tudo</p><p>pronto aos estudantes, uma vez que a pesquisa também é um meio de construção</p><p>do conhecimento e cabe ao professor orientar o caminho para que isso aconteça.</p><p>Nesse contexto, podemos citar a importância dos laboratórios de ciências como</p><p>recurso pedagógico em que a pesquisa pode ser realizada pelos estudantes, sendo</p><p>capaz de aproximar os discentes de seu objeto de estudo, uma vez que são</p><p>capazes de propiciar momentos em que a relação entre teoria e prática se tornam</p><p>evidente. Segundo Krasilchick (2000, p. 5), “o trabalho em laboratório é</p><p>motivador da aprendizagem, levando ao desenvolvimento de habilidades</p><p>técnicas e principalmente auxiliando a fixação, o conhecimento sobre os</p><p>fenômenos e fatos”.</p><p>Portanto, conforme explicado anteriormente, a utilização dos laboratórios de</p><p>ciências torna-se essencial quando o intuito é tornar os estudantes agentes</p><p>centrais na construção de seus saberes, contribuindo para o desenvolvimento de</p><p>habilidades que são fundamentais para uma melhor aprendizagem.</p><p>Mas, para que isso seja possível, é importante que durante a sua formação o</p><p>professor tenha contato com diferentes metodologias. Isso porque segundo Bizzo</p><p>(2007, p. 66), “cabe ao professor selecionar o melhor material disponível diante</p><p>de sua realidade. Sua utilização deve ser feita de maneira que possa constituir</p><p>um apoio efetivo”.</p><p>Dessa forma, os laboratórios de ciências presentes nas escolas podem se</p><p>configurar como um importante espaço que visa não somente despertar o</p><p>interesse dos estudantes pelos conteúdos trabalhados, mas servir como mais um</p><p>recurso que pode auxiliar a prática docente, permitindo aos estudantes</p><p>enxergarem a relação existente entre o conteúdo trabalhado em sala de aula e o</p><p>cotidiano no qual estão inseridos.</p><p>Graças às atividades experimentais, o aluno é incitado a não permanecer no</p><p>mundo dos conceitos e no mundo das “linguagens”, tendo a oportunidade de</p><p>relacionar esses dois mundos com o mundo empírico. Compreende-se, então,</p><p>como as atividades experimentais são enriquecedoras para o aluno, uma vez que</p><p>elas dão um verdadeiro sentido ao mundo abstrato e formal das linguagens. O</p><p>aluno só conseguirá questionar o mundo, manipular os modelos e desenvolver os</p><p>métodos se ele mesmo entrar nessa dinâmica de decisão, de escolha, de inter-</p><p>relação entre a teoria e o experimento (SÉRE; COELHO; NUNES, p. 39, 2003).</p><p>Assim, torna-se indiscutível a importância dos laboratórios de ciências nas</p><p>escolas, pois quando utilizado da maneira correta, as aulas práticas que</p><p>envolvem experimentação podem contribuir para uma melhor apropriação do</p><p>conhecimento por parte dos estudantes. E diversos são os autores que convergem</p><p>em seus argumentos sobre a importância das aulas experimentais.</p><p>Conforme verificado pelos autores:</p><p>A experimentação e as atividades práticas sempre tiveram uma elevada</p><p>consideração no encaminhamento de aprendizagens em Química. Continuam a</p><p>tê-la numa abordagem sociocultural. É importante, todavia, compreender o papel</p><p>que a linguagem nesses tipos de atividades para se poder explorar seu potencial</p><p>de aprendizagem para os alunos de Química (MORAES, RAMOS E GALIAZZI,</p><p>2007, p. 202).</p><p>Já para o ensino de Física</p><p>[...] de modo que essas atividades podem ser concebidas desde situações que</p><p>focalizam a mera verificação de leis e teorias, até situações que privilegiam as</p><p>condições para os alunos refletirem e reverem suas ideias a respeito dos</p><p>fenômenos e conceitos abordados, podendo assim atingir um nível de</p><p>aprendizado que lhes permita efetuar uma reestruturação de seus modelos</p><p>explicativos dos fenômenos (ARAÚJO, ABIB, 2003, p. 176).</p><p>No ensino de Biologia</p><p>Na aprendizagem das Ciências Biológicas, as atividades experimentais devem</p><p>ser garantidas de maneira a evitar que a relação teoria-prática seja transformada</p><p>numa dicotomia. As experiências despertam em geral um grande interesse nos</p><p>alunos, além de propiciar uma situação de investigação. Quando planejadas</p><p>levando em conta estes fatores, elas constituem momentos particularmente ricos</p><p>no processo de ensino- aprendizagem (GUERRA, 2011, p. 103).</p><p>Dessa forma podemos perceber que a utilização dos laboratórios de ciências,</p><p>quando presentes na escola, são fundamentais tanto para os professores em</p><p>formação quanto para aqueles que já exercem a profissão, pois além de auxiliar a</p><p>prática docente</p><p>responsabilização pelos</p><p>resultados obtidos.</p><p>Sobre isso, Sousa e Oliveira (2010), apontam um fator crucial para o</p><p>distanciamento entre as avaliações externas e a construção do conhecimento.</p><p>Trata-se do protagonismo sob o qual o docente é colocado pelo colegiado que o</p><p>cerca – gestão educacional, gestão escolar, pais de alunos, sociedade, próprios</p><p>alunos etc. – nessa dinâmica e sob essa forma de pressão, o professor não se</p><p>encontra no processo de aprendizagem, inclusive pela desvinculação curricular</p><p>entre as matrizes referenciais dessas AE e o que esse docente tem contato direto</p><p>na sala de aula, mas, atabalhoadamente, busca os resultados que dele se espera, o</p><p>que o torna um operário oprimido de uma fábrica de números trabalhando no seu</p><p>setor isolado, mas responsável por toda produção.</p><p>O suporte teórico aprofunda essa discussão a partir de conceitos e concepções</p><p>dos autores Lima (2008), Sobrinho (2008), Fernandes (2014), Amaro (2013),</p><p>Oliveira (2007), Freitas (2007), Franco (2005), Lopes (2014), Afonso (2009),</p><p>Werle (2010), Paro (2016) e Esteban e Fitzner (2015).</p><p>SUPORTE TEÓRICO</p><p>Para Lima (2008), as avaliações externas enquanto política pública para</p><p>melhoria da qualidade do ensino e, por sua vez, da aprendizagem, tem sua</p><p>importância e é dotada de mecanismos que podem perfeitamente promover o</p><p>sucesso educacional que se espera.</p><p>O que o autor não concorda é com o excessivo exercício da autonomia da escola</p><p>sob o risco de produzir o efeito contrário do que se propõe. Ao invés de se</p><p>utilizar das características culturais que a cerca e lhe pode ser benéfica, elabora e</p><p>desenvolve projetos descontextualizados pautados em crença fundamentada num</p><p>restrito campo de visão, que são seus próprios muros. Dessa forma, perde em</p><p>aprendizagem no mesmo instante em que a busca. Lima (2008) alerta para a</p><p>importância da discussão docente em transcendência do espaço de trabalho</p><p>aliando teoria e prática a serem utilizadas para realização das avaliações externas</p><p>como instrumento de aprendizagem.</p><p>Sobrinho (2008) sugere que a avaliação institucional deva prevalecer sobre as</p><p>avaliações em larga escala, uma vez que o diagnóstico particularizado pode dar</p><p>mais subsídios às políticas públicas e às ações geradas, por sua vez, por</p><p>discussões entre profissionais cujas semelhanças – avanços e, principalmente,</p><p>dificuldades – revelem-se. Dessa forma, a construção da aprendizagem ganha</p><p>pela visão específica – e não holística – lançada sobre a situação momentânea de</p><p>cada escola envolvida nessa proposta de renovação das estratégias políticas na</p><p>busca pela qualidade educacional.</p><p>À luz de Fernandes (2014), apesar de haver grande empenho científico em</p><p>elucidar aspectos relacionados entre as avaliações externas e os efeitos destas,</p><p>não se tem encontrado muitos dados determinantes para o produto</p><p>aprendizagem. Isso tem se configurado num desafio permanentemente difícil de</p><p>se superar.</p><p>Para Amaro (2013), as AE invariavelmente estabelecem um clima conturbado às</p><p>vésperas de suas realizações. Há que se considerar a ansiedade causada por esse</p><p>acontecimento em vista das rivalidades geradas pelas comparações que seus</p><p>resultados, por si só, apresentam. Sob esse evento, comparam-se lugares e</p><p>pessoas em suas competências para produzir mais ou menos aprendizagem e</p><p>qualidade. São instrumentos para medição simples desses dois fenômenos, cujo</p><p>produto, muitas vezes, está exatamente sob o controle e as condições de quem</p><p>coleta os resultados e promove o referido confronto frio.</p><p>Mas o que ocorre nesse espaço é a existência de opiniões defensoras das</p><p>avaliações externas com a retórica da oportunidade de se conhecer cada</p><p>microrregião e cada unidade que a compõe, como meio para descentralizar a</p><p>gestão educacional. Mas, notadamente, isso representa uma cultura política</p><p>neoliberal no Brasil, concebida por reformas educacionais que a impulsionaram</p><p>a práticas das AE, que são, conforme Oliveira (2007), um forte mecanismo para</p><p>determinar pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) quais são</p><p>as melhores administrações educacionais, instituições e profissionais atuando</p><p>sob as AE. É necessário informar que o Ideb não é produto apenas das</p><p>avaliações externas, mas também do fluxo educacional (índices de</p><p>aprovação/reprovação, de distorção idade/série e de evasão escolar).</p><p>Conforme Freitas (2007), apesar da intensificação das discussões, nas últimas</p><p>duas décadas no Brasil, acerca das AE enquanto políticas públicas para</p><p>qualidade da educação, ainda não se tem um ponto consensual. Diversos</p><p>aspectos têm ocupado espaço nesse diálogo, tais como a aprendizagem, a</p><p>valorização docente, a gestão democrática, o currículo, o material didático, as</p><p>questões socioeconômicas e culturais, a exclusão etc. e cada um tem sua</p><p>pertinência.</p><p>Essa busca pela qualidade e, consequentemente, pela aprendizagem, gera a</p><p>necessidade de preparação do professor para enfrentar esse desafio tão cruel,</p><p>pois é o responsável mais evidente para a sociedade. Para tal, há que se preparar</p><p>a partir de estudos. Entra em ação, então, a formação continuada como</p><p>instrumento de ajuda nesse processo.</p><p>Sobre isso, Franco (2005), destaca que, no Brasil, essas formações são de</p><p>fundamental importância, contudo, vem influenciando um pouco mais do que</p><p>deveriam sobre as ações dos professores. Direcionam aos docentes atividades</p><p>que não condizem com suas realidades metodológicas. Dessa forma, agem de</p><p>maneira equivocada, não por incompetência, mas por falta de familiaridade com</p><p>as proposições emanadas dos referidos cursos, nos quais, para esse autor,</p><p>predomina a generalidade, e, muitas vezes, escamoteiam avaliações direcionadas</p><p>aos docentes que participam dessas formações.</p><p>De acordo com Freitas (2007), a busca pela qualidade educacional da forma</p><p>como vem sendo feita e, a partir dessa, o fenômeno da aprendizagem, não se</p><p>vislumbra. Isso se dá em face da meritocracia predominante como quesito para</p><p>julgo. Esse equívoco seria produto da desarticulação entre estados e municípios</p><p>acerca das políticas educacionais que envolvem e ditam os procedimentos</p><p>adotados nas avaliações em larga escala no Brasil.</p><p>Para corrigir essa distorção, poder-se-ia atribuir aos municípios maior</p><p>participação e influência direta sobre as especificidades de seu contexto, no qual</p><p>a construção da aprendizagem seria mais localizada e familiarizada entre</p><p>objetivos e recursos didáticos metodológicos, afinando o discurso entre ensino e</p><p>avaliação. Essa linha de pensamento se resume em afirmar que é fácil avaliar a</p><p>quem são conhecidas suas particularidades – potencial, necessidades, avanços e</p><p>dificuldades.</p><p>Na leitura de Lopes (2014), mensurar aprendizagem não é uma tarefa fácil</p><p>devido ao nível de complexidade, à diversidade de eventos e o acúmulo de</p><p>condições necessárias para que essa aprendizagem aconteça. No que tange à</p><p>complexidade, esse autor refere-se à própria definição e seus mecanismos</p><p>condutores para a aprendizagem, uma vez que varia de acordo com a perspectiva</p><p>de quem a define e, como há, segundo ele, muitos campos de pesquisa diferentes</p><p>e divergentes sobre esse fenômeno, e como cada um designa por meio de suas</p><p>constatações o que envolve o processo e como ele se desencadeia, torna-se muito</p><p>difícil destacar sob uma única linha teórica sem comparativos a quantificação da</p><p>aprendizagem.</p><p>A diversidade de eventos a que esse autor refere-se é determinada pela</p><p>subjetividade do aprendente, ou seja, por cada situação que lhe favoreceu ou que</p><p>lhe prejudicou no seu desenvolvimento cognitivo, portanto na sua capacidade de</p><p>aprender enquanto produto de fatores externos, ao passo que as condições para</p><p>aprendizagem seriam a culminância desses fatores manifestada no</p><p>desenvolvimento intelectual do indivíduo pela sua aprendizagem.</p><p>Não obstante esse pensamento, Lopes (2014) não despreza o ato avaliativo como</p><p>ferramenta para determinar a aprendizagem, mas alerta para que esse não se isole</p><p>dos resultados, que sejam devidamente catalogados para efeito comparativo</p><p>individual, pelo que se teria uma dimensão aproximada da construção da</p><p>aprendizagem dos alunos.</p><p>Afonso (2009) não enxerga relação entre avaliações externas e aprendizagem.</p><p>Define as AE como recurso estatal para alcançar a qualidade que almeja por</p><p>meio do esforço das instituições escolares. Notadamente, cria um clima de</p><p>competição interinstitucional a fim de que o desencadeamento dessa disputa</p><p>culmine com a melhoria do trabalho realizado por cada oponente.</p><p>O que esse estado manipulador deseja, na visão do autor acima (2009), é que os</p><p>resultados dessas avaliações sejam utilizados para acirrar cada vez mais o nível</p><p>dessa peleja a ponto que se desenvolva nos competidores competências para que</p><p>se tornem, no menor tempo possível, independentes de recursos externos para</p><p>garantir a qualidade educacional.</p><p>Acerca dessa função assumida pelo sistema educacional brasileiro, Werle (2010),</p><p>destaca que as AE se configuram por uma ação de controle por meio da</p><p>oportunidade de se obter a visão holística e também individualizada sobre os</p><p>resultados no sentido de que, corroborando com Afonso (2009), haja uma</p><p>mobilização geral entre os avaliados – administrações e instituições locais – sem</p><p>qualquer esforço político externo, exceto o da articulação para que essas</p><p>avaliações ocorram e, por si, motive a melhoria de cada administração e de cada</p><p>escola a partir de suas ações gerenciais particulares – a gestão.</p><p>Sobre essa gestão, Paro (2016) enfoca que reflete – sob caráter neoliberalista –</p><p>uma prática de redução de custos na qual as avaliações externas apenas são</p><p>usadas como instrumento controlado e controlador da pseudoqualidade</p><p>educacional sob certo pretexto de que as eventuais deficiências são causadas</p><p>pelo baixo desempenho profissional pedagógico desempenhado por gestores e</p><p>professores. Sendo assim, exime-se completamente da responsabilidade pela</p><p>aprendizagem. Então, mais uma vez, mostra-se o distanciamento entre as AE e a</p><p>aprendizagem.</p><p>Para Freitas (2007), as AE têm se constituído no Brasil como uma política</p><p>educacional pela qual se busca tão somente sua própria excelência em avaliar, e</p><p>não em estabelecer/promover/produzir conexos entre a aprendizagem. Isolando</p><p>institucionalmente como produto de preparação periódica a fim de obter</p><p>resultados positivos. Não privilegia, dessa forma, a aprendizagem, nem tão</p><p>pouco foi pensada e implementada sob esse intento.</p><p>Consoante pensam Esteban e Fitzner (2015), o inglório desafio da aprendizagem</p><p>enquanto construto das avaliações externas encontra ainda um fator prejudicial: a</p><p>especificidade curricular destinada à submissão nessas avaliações. Para essas</p><p>autoras, notadamente, há certo engessamento do currículo sem, contudo,</p><p>estabelecer relação desse com a proposta desenvolvida nas escolas, oriunda dos</p><p>sistemas educacionais municipais, além de uma nociva elitização social pela</p><p>segregação de classes pouco providas economicamente.</p><p>METODOLOGIA</p><p>Diversas dúvidas sobre os procedimentos a serem tomados no sentido de elencar</p><p>e ampliar a compreensão acerca dos expostos dos autores que abordam as</p><p>avaliações externas como suposto mecanismo de construção da aprendizagem,</p><p>oportuniza e demanda uma vasta consulta no universo teórico e em documentos</p><p>oficiais de âmbito nacional que tratam desse assunto e possam ser considerados</p><p>no entendimento do aspecto principal desta pesquisa: a aprendizagem como</p><p>produto das avaliações externas.</p><p>A partir desse breve apanhado epistemológico, ampliou-se nos limites desse</p><p>espaço as perspectivas por ocasião do estudo realizado a fim de ganho em</p><p>caráter científico. Assim, a opção pelos métodos se fundamentaram e a</p><p>priorização/organização das etapas se tornam mais evidentes.</p><p>Esta seção tem como base teórica da metodologia da pesquisa científica Minayo</p><p>(2010), e Marconi e Lakatos (2011), além de intentar a maior fidelidade possível</p><p>aos preceitos da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – Normas</p><p>Brasileiras – NBR 17.724 (2011).</p><p>À luz de Minayo (2010), é possível conceber a presente pesquisa como</p><p>bibliográfica sob revisão de literatura. É pertinente acrescentar que esse tipo de</p><p>pesquisa, segundo Marconi e Lakatos (2011) afirmam se dá por meio das mais</p><p>variadas fontes publicadas sob material físico ou virtual cuja análise teórica já se</p><p>tenha feito. Assim, consideram que qualquer pesquisa científica tem seu</p><p>nascedouro pela consulta bibliográfica. E, não diferente disso, o presente</p><p>capítulo dar-se também a partir desse método, delineado de acordo com o seu</p><p>caráter de medida como qualitativa, a saber, sob teóricos e autores restritos à</p><p>delimitação deste tema, vislumbrando um suporte satisfatório fundamentado em</p><p>fontes como Lima (2008), Sobrinho (2008), Fernandes (2014), Amaro (2013),</p><p>Oliveira (2007), Freitas (2007), Franco (2005), Lopes (2014), Afonso (2009),</p><p>Werle (2010), Paro (2016) e Esteban e Fitzner (2015).</p><p>Conforme Minayo (2010), a pesquisa desenvolvida justificou-se na abordagem</p><p>qualitativa por oferecer oportunidade de analisar, descrever e compreender o</p><p>objeto problematizado no sentido de conhecer algumas de suas características</p><p>visando obter informações significativas.</p><p>CONSIDERAÇÕES GERAIS</p><p>A tarefa de encontrar nexos causais entre as avaliações externas no Brasil e a</p><p>aprendizagem tem se revestido de imensas dificuldades, não obstante a</p><p>relevância dessa política pública das melhorias possíveis a partir desses estudos.</p><p>Isso se daria, na perspectiva desse autor, pelos riscos apresentados pela</p><p>elucidação, sob o controle teórico direcionado, empenhado em contê-los.</p><p>Os próprios sistemas educacionais pelo mundo, sob ideologias capitalistas, é que</p><p>estariam tolhendo a disseminação de uma cultura de transformação/adequação</p><p>das AE para se constituírem em mecanismo para promoção da</p><p>qualidade/aprendizagem. Para tal, o excessivo grau de dificuldade do qual se</p><p>reveste essas avaliações garantem o sucesso da proposta política por meio dos</p><p>sistemas educacionais, as quais seria baratear a forma pela qual as melhorias</p><p>possam acontecer. Assim, recai sobre as células a responsabilidade dos órgãos.</p><p>Cada um faz sua parte e o todo – desejado – é construído.</p><p>No entanto se há quem critique as avaliações externas por não cumprirem com</p><p>seu papel em não favorecer a aprendizagem, as avaliações internas não seriam,</p><p>então, a redenção da qualidade da educação e da aprendizagem, até porque</p><p>existem há muito mais tempo. Nessa ótica, é necessário que se considere a</p><p>completude entre ambas contemplando o mesmo currículo. Mas, ainda assim,</p><p>seria – qualquer uma delas – infrutífera diante da desmobilização/desarticulação</p><p>entre as instituições que comandam e aquelas que executam a educação.</p><p>Todavia, há uma desvinculação institucional quando se delega responsabilidades</p><p>e atribuições difusas para essas avaliações. Para o Estado, as avaliações externas,</p><p>para as escolas e para os professores, as internas. Nesse divórcio, se perdem</p><p>entre si na concepção curricular – cada uma para seu lado – e um só lado não</p><p>oportuniza enxergar a necessidade do outro. Dividem-se os bens – os currículos</p><p>– que, desconexos e descontinuados, causam traumas ao mais frágil da relação, a</p><p>aprendizagem, cujo resgate é papel social, mas a quem compete tratar do</p><p>problema diretamente, torna-se impotente diante da complexidade. O que precisa</p><p>ser feito é tão pesado para as forças do professor, que ele não consegue carregar,</p><p>e, pior ainda, incorre no risco de se perder por esses caminhos e, ao invés de</p><p>curar, adoecer. A união, nesse contexto, é que resultaria no sucesso da</p><p>aprendizagem.</p><p>No entanto, um ponto seria a chave para reduzir tantas controvérsias e conflitos</p><p>improdutivos: a centralização das ações na aprendizagem. Mas, o emaranhado de</p><p>processos que cercam as avaliações externas, não lhe permite se aproximar desse</p><p>sucesso. Nesse tumultuo, em que todos gritam, ninguém se escuta ou escuta o</p><p>outro. O mundo isolado na mente apenas teoriza, não capacita as práticas.</p><p>A forma de avaliar apenas reflete uma política preestabelecida, cujo desempenho</p><p>dos alunos é que determina os resultados avaliativos dos professores. Outrossim,</p><p>o docente é avaliado a partir do que seu aluno apresenta enquanto</p><p>aproveitamento</p><p>– nota obtida nas avaliações externas. Nesse contexto injusto, a</p><p>responsabilidade sobre a aprendizagem se configura como única e</p><p>exclusivamente do docente, sem que seja levado em consideração as condições</p><p>sob as quais o aluno aprende – positivas e/ou negativas – como se nem meio</p><p>nem subjetividade influenciasse no desenvolvimento cognitivo/intelectual do</p><p>aprendente.</p><p>As avaliações externas não oportunizam a aprendizagem pelos seguintes fatores</p><p>interligados: não define aprendizagem previamente em cada realização; em</p><p>consequência do primeiro fator colocado, não determina que aprendizagem</p><p>busca mensurar; não pondera aspectos externos determinantes para</p><p>aprendizagem dos indivíduos; não considera as condições do aprendente como</p><p>quesito para aprender; e mede a aprendizagem coletivamente.</p><p>Nessa dinâmica, de fato, não há espaço para se pensar em mecanismos para o</p><p>favorecimento da aprendizagem, apenas, sob as práticas capitalistas, reduzir as</p><p>custas do estado e sua responsabilidade sobre os resultados das AE, não só a</p><p>aprendizagem, mas também a constituição do Ideb, por isso esses números</p><p>seriam tão evidenciados da forma mais específica possível: dos estados, dos</p><p>municípios, das escolas e das turmas avaliadas.</p><p>Sob a luta para a instauração de uma escola pública que reduza as</p><p>diferenças/desigualdades sociais, a conduta sobre o currículo potencializa o</p><p>efeito contrário. Distancia a parcela de alunos mais pobres das oportunidades de</p><p>emancipação pela educação, condenando-lhes ao fracasso educacional, por</p><p>conseguinte, social.</p><p>Para que as AE produzam aprendizagem, já há resistência política, e isso</p><p>prejudica sobremaneira, o isolamento curricular para as demandas avaliativas</p><p>estatais fecham a questão em que, verdadeiramente, o produto social configura-</p><p>se como espelho dos equívocos sobre esse processo direcionado para tal</p><p>isolamento. Dessa forma, desvencilhar-se dessas amarras ideológicas torna-se</p><p>um intento quase impossível, no qual o esforço em reverter o desalentador</p><p>quadro de privilégio social mantido para e pelas classes dominantes, não parece</p><p>ser uma realização vislumbrável em curto ou em médio prazo.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AFONSO, A. J. Avaliação Educacional: regulação e Emancipação. Para uma</p><p>Sociologia das Políticas Avaliativas Contemporâneas. 4. ed. São Paulo: Cortez,</p><p>2009.</p><p>AMARO, I. Avaliações externas da Escola: Repercussões, tensões e</p><p>possibilidades. Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 24, n. 54, p. 32-55, jan./abr. 2013.</p><p>Disponível em:</p><p>www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1784/1784.pdf. Acesso em: 3</p><p>set. 2017.</p><p>ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR</p><p>14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de</p><p>Janeiro, abr. 2011.</p><p>ESTEBAN, M. T; FETZNER, A. R. A redução da escola: a avaliação externa e o</p><p>aprisionamento curricular. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial</p><p>n. 1/2015, p. 75-92. Disponível em: ambientedetestes2.tempsite.ws/.../esteban-</p><p>m-t-fetzner-a-reducao-da-escola-a-avaliacao. Acesso em: 16 jul. 2017.</p><p>FERNANDES, D. Avaliar para Aprender: Fundamentos, Práticas e Políticas. São</p><p>Paulo: Unesp, 2009.</p><p>FERNANDES, D. Avaliações Externas e Qualidade das Aprendizagens.</p><p>Conferência Avaliações Externas e Melhoria das aprendizagens dos Alunos:</p><p>Questões Críticas de uma relação (Im)Possível. Conselho Nacional de Educação</p><p>– CNE. Coleção Seminários e Colóquios. ISBN: 978-972-8360-88-7. Lisboa.</p><p>Dezembro de 2014. Disponível em: www.cnedu.pt/pt/publicacoes/seminarios-e-</p><p>coloquios?start=6. Acesso em: 28 jun. 2017.</p><p>FRANCO, C. Estudo sobre avaliação da educação e valorização do magistério.</p><p>CONSED RH – GT Valorização do Magistério, 2005.</p><p>FREITAS, L. C. de. Eliminação adiada: o ocaso das classes populares no interior</p><p>da escola e a ocultação da (má) qualidade do ensino. Educação & Sociedade,</p><p>Campinas, v. 28, n. 100, p. 965-987, out. 2007. Disponível em:</p><p>repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/24527/.../S010173302007000300016.pdf.</p><p>Acesso em: 9 jul. 2017.</p><p>LIMA, L. C. V. da S. A escola como organização educativa: uma abordagem</p><p>sociológica. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008.</p><p>LOPES, J. A. Avaliação Externa, Avaliação Interna e Aprendizagem Escolar.</p><p>Conferência Avaliações Externas e Melhoria das aprendizagens dos Alunos:</p><p>Questões Críticas de uma relação (Im)Possível. Conselho Nacional de Educação</p><p>– CNE. Coleção Seminários e Colóquios. ISBN: 978-972-8360-88-7. Lisboa.</p><p>Dezembro de 2014. Disponível em: www.cnedu.pt/pt/publicacoes/seminarios-e-</p><p>coloquios?start=6. Acesso em: 28 jun. 2017.</p><p>MARCONI, M. de A; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. 6. ed. São</p><p>Paulo: Atlas, 2011.</p><p>MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento. 12 ed. São Paulo: Hucitec,</p><p>2010. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csc/v17n3/v17n3a07. Acesso</p><p>em: 5 maio 2017.</p><p>OLIVEIRA, R. P. Da universalização do ensino fundamental ao desafio da</p><p>qualidade: uma análise histórica. Educação & Sociedade, Campinas, v. 28, n.</p><p>100, p. 661-690, out. 2007. Disponível em: www.cead.ufop.br. Acesso em: 20</p><p>ago. 2017.</p><p>PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. 4. ed. São Paulo: Cortez,</p><p>2016.</p><p>SOBRINHO, J. D. Avaliação educativa: produção de sentidos com valor de</p><p>formação. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, Campinas,</p><p>Sorocaba, v.13, n. 1, p. 193-207, mar, 2008.</p><p>SOUSA, S. M. Z. L; OLIVEIRA, R. P. Sistemas estaduais de avaliação: uso dos</p><p>resultados, implicações e tendências. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 40, n.</p><p>141, p. 793-822, set./dez. 2010.</p><p>WERLE, F. O. Corrêa, (Org.). Avaliação em larga escala: foco na escola. São</p><p>Leopoldo: Oikos; Brasília: Líber Livro, 2010.</p><p>TECNOLOGIAS ASSISTIVAS COMO POSSIBILIDADE DE</p><p>ACESSO AO CONHECIMENTO, CULTURA E CONSTRUÇÃO</p><p>DA IDENTIDADE SURDA</p><p>Gérison Kezio</p><p>Heridan de Jesus Guterres Pavão Ferreira</p><p>Maria Eugênia Rodrigues Araújo</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Nas últimas décadas mudanças substanciais vêm ocorrendo na sociedade</p><p>moderna, também conhecida como sociedade da comunicação e do</p><p>conhecimento, especialmente no que diz respeito à aceitação e interação entre</p><p>diferentes sujeitos. Tais mudanças têm feito com que as pessoas adotem um</p><p>olhar e postura de respeito e aceitação da diversidade, pois o reconhecimento de</p><p>que somos sujeitos plurais e diversos tem sido importante passo para superação</p><p>de posturas que foram se cristalizando ao longo dos anos. Destacamos a</p><p>equivocada concepção de superioridade em relação às minorias, entre estas o</p><p>grupo formado por pessoas com deficiência, concepção que era bastante</p><p>contundente na Idade Média, cuja base era a crença na qual ser que diferia da</p><p>normalidade, era considerado uma aberração, muitas vezes punida com a morte.</p><p>Após anos de lutas históricas, mais especificadamente durante os períodos antigo</p><p>e medieval, em que as pessoas com deficiência foram condenadas à morte ou</p><p>submetidas a tratamentos na perspectiva médico-terapêutica, mudanças</p><p>consubstanciais foram ocorrendo, com perdas, ganhos e, algumas vezes,</p><p>retrocessos; esse segmento populacional conseguiu, no entanto, avançar, em</p><p>termos de conquistas, o que ocorre principalmente no final do século XX, mais</p><p>especificamente nos anos 1980 e 1990, tendo em níveis internacionais a</p><p>Declaração de Salamanca (1994) e no Brasil, a Convenção dos Direitos da</p><p>Pessoa com Deficiência no Brasil aprovada no ano de 2008, e passando a</p><p>compor o ordenamento jurídico nacional.</p><p>Considerando que a Declaração de Salamanca foi um dos marcos para a</p><p>conquistas alcançadas, especialmente no tocante à educação escolar inclusiva, o</p><p>que de certa forma contribuiu para que se chegasse a um patamar de convivência</p><p>mais harmoniosa e pacífica entre os diferentes sujeitos e, principalmente, de</p><p>respeito e aceitação, ainda que se possa afirmar que a exclusão de pessoas com</p><p>deficiência se dá para além da educação formal, ou seja, em diferentes áreas,</p><p>compreendendo desde o acesso aos serviços de saúde, mercado de trabalho,</p><p>entre outras políticas efetivas de inclusão, ainda que esse segmento populacional</p><p>não tenha assegurado e/ou promovido em condições de igualdade, o exercício</p><p>dos direitos e das liberdades fundamentais</p><p>por pessoa com deficiência, visando à</p><p>sua inclusão social e cidadania, conforme dispõe a lei brasileira n.º 13.146, de 06</p><p>de junho de 2015, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência.</p><p>O respeito e aceitação da diversidade fizeram emergir, principalmente a partir</p><p>dos anos 1990 novas posturas, em que mais que aceitar a si e aos outros, está a</p><p>busca de estratégias e recursos para superação de barreiras físicas e atitudinais,</p><p>que mesmo frente aos avanços e de dispositivos legais, tais como os já citados,</p><p>via de regra, ainda impedem a interação e integração entre os sujeitos.</p><p>Entre as estratégias encontradas para inserção social desse contingente</p><p>populacional estão ações que visam à inserção no mercado de trabalho, acesso à</p><p>educação, cultura, tais como a construção de artefatos tecnológicos, entre outras,</p><p>cuja base advém das discussões e de ações voltadas à efetivação da cidadania e</p><p>dos direitos humanos para as pessoas com deficiência, inserindo-se nesse</p><p>contexto, as Tecnologias Assistivas, as quais tornam possíveis o vislumbre de</p><p>alternativas para a construção de saberes e novas possibilidades e caminhos</p><p>metodológicos no contexto da educação das pessoas com deficiência.</p><p>Considerando-se, o propósito do texto ora apresentado, qual seja, discutir em que</p><p>medida as tecnologias assistivas se constituem importantes meios para o acesso à</p><p>cultura e consequentemente à formação de identidades, principalmente no</p><p>tocante à identidade e cultura surda, buscaremos descrever o papel dessa</p><p>tecnologias no contexto da educação de surdos, tendo por base os estudos de</p><p>Galvão Filho, (2009), Manzini (2005), Bersch (2005), Skliar, (1998), entre</p><p>outros.</p><p>TECNOLOGIAS ASSISTIVAS</p><p>A terminologia Tecnologias Assistiva (TA) surgiu na Europa com a</p><p>nomenclatura Assistive Technology, segundo a legislação norte-americana, na</p><p>década de 1988, constituindo-se um conceito novo e abrangente, pois diz</p><p>respeito não somente ao uso da tecnologia de última geração, mas a outros</p><p>artefatos mais simples, criados para auxiliar as pessoas com deficiência a</p><p>transpor barreiras que lhes impediam não somente o direito de ir e vir, como</p><p>também a falta de acesso ao conhecimento (BERSCH, 2005).</p><p>Segundo Galvão Filho (2009), tal legislação regulamenta, os recursos públicos e</p><p>subsídios para a aquisição de material e/ou serviço destinado a “[...] aumentar,</p><p>manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência”</p><p>(BERSCH, 2005). No tocante à “aquisição” esta diz respeito desde a seleção até</p><p>a compra ou uso de recursos que são de capital importância para uma melhor</p><p>qualidade de vida e acesso à cidadania, bem como à consecução de direitos</p><p>humanos, tais como os de ir e vir, resultantes do acesso e uso das tecnologias</p><p>assistivas.</p><p>Nesse contexto, Manzini (2005, p. 82) comenta que:</p><p>Os recursos de tecnologia assistiva estão muito próximos do nosso dia-a-dia. Ora</p><p>eles nos causam impacto devido à tecnologia que apresentam, ora passam quase</p><p>despercebidos. Para exemplificar, podemos chamar de tecnologia assistiva uma</p><p>bengala, utilizada por nossos avós para proporcionar conforto e segurança no</p><p>momento de caminhar, bem como um aparelho de amplificação utilizado por</p><p>uma pessoa com surdez moderada ou mesmo veículo adaptado para uma pessoa</p><p>com deficiência.</p><p>Observa-se assim, que mesmo quando não se evidencia, a Tecnologia Assistiva,</p><p>doravante TA, se constitui importante ferramenta tecnológica e traz em seu bojo</p><p>distintas possibilidades, muitas delas de baixo custo, no tocante a recursos a</p><p>possibilitarem melhoria da qualidade de vida do contingente populacional</p><p>formado por pessoas com deficiência. Na busca por um conceito acerca da TA.</p><p>Pupo, Melo e Pérez (2008, p. 62) discorrem que:</p><p>Tecnologias assistivas são recursos e serviços que visam a facilitar o</p><p>desenvolvimento de atividades da vida diária por pessoas com deficiência.</p><p>Procuram aumentar capacidades funcionais e, assim, promover a autonomia e a</p><p>independência de quem as utiliza.</p><p>As TA fazem parte da vida humana de diferentes formas, possibilitando a</p><p>execução de tarefas que são importantes para a inserção social das pessoas com</p><p>deficiência, além de contribuir para a elevação do senso de estima e confiança;</p><p>embora a TA se destine ao suporte de diferentes deficiências, desde a auditiva,</p><p>visual, física, cognitiva e/ou múltipla, conforme preceitua Lauand (2005, p. 30),</p><p>corroborando o pensamento de Manzini (2005), anteriormente comentado.</p><p>Assim sendo: uma prótese, uma órtese, e uma série infindável de adaptações,</p><p>aparelhos e equipamentos nas mais diversas áreas de necessidade pessoal</p><p>(comunicação, alimentação, transporte, educação, lazer, esporte, trabalho,</p><p>elementos arquitetônicos e outras).</p><p>Verifica-se, desse modo, a amplitude da TA no que se refere ao suporte dado às</p><p>pessoas com deficiência, divergindo do conceito de reabilitação, conforme</p><p>preceitua Galvão Filho (2009) que chama a atenção para o fato que a TA difere</p><p>da tecnologia reabilitadora, pertencente ao campo da saúde e que tem como</p><p>finalidade auxiliar na recuperação de movimentos diminuídos.</p><p>Ao ter como objetivo a independência e autonomia do usuário quanto ao</p><p>atendimento de suas necessidades diretas (recursos ou procedimentos pessoais),</p><p>a TA difere da Tecnologia Reabilitadora a qual se relaciona ao diagnóstico e/ou</p><p>tratamento na área da saúde. Nessa perspectiva, a TA pode se fazer presente em</p><p>diferentes esferas da vida humana, interferindo e contribuindo para mudanças</p><p>nas formas de viver das pessoas com deficiência, bem como de suas relações</p><p>com o mundo. Assim sendo, as contribuições e mesmo interferência e mudanças</p><p>oriundas do uso das TA propiciam o acesso à cultura e formação de identidades</p><p>de diferentes sujeitos, por meio de aplicativos que permitem a comunicação,</p><p>utilizando teclado, gravador de imagem e tradutor de sinais, entre outros</p><p>aparatos da TA, voltados ao atendimento do contingente populacional formado</p><p>por surdos.</p><p>CULTURA, IDENTIDADE SURDA</p><p>A antropologia nos permite compreender o homem de diferentes culturas,</p><p>produzindo sua própria cultura e sendo produzido por ela (HALL, 1997). No</p><p>contexto dessa constituição humana destacamos a categoria ser surdo baseada na</p><p>concepção de sujeito surdo que se diferencia do sujeito ouvinte ao se evidenciar</p><p>no mundo, no professar de suas ideias, pensamentos, língua, concepções e</p><p>visões, buscando abdicar de estereótipos de incapacidade, deficiência; de</p><p>normatização que como preceitua Klein (2003, p. 95) “[...] são diagnosticados,</p><p>nomeados, identificados como indivíduos ‘anormais’, portadores de ‘desvios’,</p><p>estando sujeitos às práticas de correção”. Significa construir e contar a própria</p><p>história, enquanto elemento integrante de um grupo organizado que compartilha</p><p>crenças, linguagens, uso e costumes; é também objeto de estudo da visão sócio</p><p>antropológica da surdez (KLEIN, 2003; BRAGA, 2006).</p><p>Nessa perspectiva, ao constituir uma comunidade linguística minoritária que</p><p>socializa experiências visuais, os surdos utilizam-se da língua de sinais para</p><p>compartilhar ideias e conhecimentos, conhecer e ensinar outros membros e até</p><p>mesmo não membros da comunidade surda (STROBEL, 2008).</p><p>Assim sendo, nos diferentes países, as lutas da comunidade surda são por</p><p>políticas que respeitem sua língua, cultura e identidade, que percebam e</p><p>respeitem suas características linguísticas e culturais. Como afirma Skliar</p><p>(1998), os sujeitos surdos, organizam-se, integram-se como pertencentes a uma</p><p>comunidade linguística na qual a falta de audição não desempenha nenhum</p><p>papel significativo. Para Thoma (2000), apud Lopes e Thoma (2002, p. 171):</p><p>“Culturas surdas”, assim, se referem ao modo de vida distinto pelo qual os/as</p><p>surdos/as se organizam e os significados e valores por eles/as compartilhados.</p><p>Falar em culturas surdas significa assumir que existe um grupo de pessoas que</p><p>interpreta o mundo, expressa sentimentos e compartilha ideias e valores de</p><p>forma mais ou menos semelhante.</p><p>Assim sendo, por meio de movimentos políticos para terem seus direitos</p><p>linguísticos, de cidadania reconhecidos e não pautados nas filosofias</p><p>ouvintista</p><p>e, principalmente para comunicação entre seus membros e com o mundo, a</p><p>comunidade surda utiliza seu principal veículo comunicacional, que é a língua de</p><p>sinais, constituída por sinais criados no contexto das línguas espaço visuais,</p><p>línguas essas que variam de acordo com o país e/ou comunidade que as utilizam,</p><p>tendo suas especificidades e variações, tais quais as línguas orais auditivas.</p><p>Nessa acepção, as comunidades surdas têm se engajado na aprendizagem e uso</p><p>de línguas sinalizadas, especialmente pelas crianças surdas, partindo do</p><p>pressuposto que quando mais cedo for o acesso a essas línguas, maior será a</p><p>integração social, com acesso à cultura, pelos sujeitos surdos.</p><p>O termo Cultura é vasto e complexo, pois abrange vários aspectos da vida e das</p><p>atividades humanas; envolve sua ação e relação com mundo para produzir a</p><p>existência dos diferentes grupos; “cultura é considerada uma das duas ou três</p><p>palavras mais complexas de nossa língua [...].” Mais complexa do que o termo</p><p>cultura, para o autor, somente o termo “natureza”, que é o seu oposto</p><p>(EAGLETON, 2011, p. 90), sendo, de acordo com Silva (2000, p. 32) “[...]</p><p>teorizada como campo de luta entre os diferentes grupos sociais em torno da</p><p>significação”, ou seja, cada grupo constrói sua própria cultura, com base na</p><p>forma como cada um destes significa a si e ao mundo em que vive.</p><p>No tocante à nomenclatura da palavra, cultura origina-se do latim, que deriva do</p><p>verbo colere, que significa cultivar ou instruir e do substantivo cultus que</p><p>significa cultivo, instrução. É comum, pois, o uso dessa palavra para designar o</p><p>desenvolvimento da pessoa humana no meio da educação e da instrução; dessa</p><p>afirmação vem os termos de culto e inculto, usados com carga de preconceito e</p><p>discriminação, considerando a cultura do outro superior ou inferior. Contudo,</p><p>sabe-se que não existe comunidades humanas sem cultura assim como não existe</p><p>um único indivíduo que não seja detentor e faça parte da construção de cultura</p><p>(EAGLETON, 2011).</p><p>Nessa acepção, a cultura surda constitui-se como a forma em que o surdo</p><p>concebe, o mundo a sua volta, tornando-o acessível a sua percepção visual, o que</p><p>contribui para a construção das identidades surdas, o que abrange costumes,</p><p>crenças e língua (THOMA, 2002). Cabe, pois, compreender que ao tornar a</p><p>língua como definidora da identidade social, enfatiza-se a sua função social, o</p><p>que ocorre a partir de todos os sujeitos, indistintamente.</p><p>Em busca de uma política que respeite suas diferenças culturais, a comunidade</p><p>surda vem impingindo sua marca, na sociedade, explicitando seus anseios,</p><p>especificidades na história política, cultural, social, educacional e linguística da</p><p>humanidade. Tal demarcação, vem sendo fruto de lutas, pois, após séculos de</p><p>isolamento cultural do surdo, em que este foi estigmatizado e isolado</p><p>socialmente, vivenciamos, nos dias atuais, uma mudança significativa, no</p><p>tocante à inserção cultural e aquisição do respeito em relação à identidade surda,</p><p>ainda que muito haja por se conquistar, pois viver em um mundo de ouvintes</p><p>ainda se constitui um grande desafio para o surdo, que luta cotidianamente por</p><p>acesso à cultura, de modo geral, assim como pela aceitação e respeito a sua</p><p>própria cultura, para a construção de uma identidade reconhecidamente surda.</p><p>Identidade e cultura são categorias interdependentes, ainda que se considere que</p><p>a identidade seja uma das mais importantes categorias para pensar e analisar os</p><p>fenômenos socioculturais, especialmente no tocante à minoria linguística</p><p>formada por surdos. Para estes, mais que rebater as críticas daqueles que</p><p>impõem a identidade ouvintista como hegemônica, centrada e única, está a busca</p><p>pelo direito de reconhecimento e respeito da própria identidade. Perlin apud</p><p>Skliar (2003, p. 99) apresentam três aspectos experimentais sobre a Identidade</p><p>Surda:</p><p>A experiência que o surdo faz no contato com a essência que está no outro surdo.</p><p>É um ato de ir construindo a identidade, ato que permite novamente colocar a</p><p>questão não resolvida das identidades nunca prontas, fragmentadas, em contínua</p><p>construção, em uma temporalidade do deslocamento cultural. A experiência no</p><p>ato do surdo dar de sua experiência, do estar sendo surdo ao outro surdo</p><p>novamente entra a pretensão das identidades em questão de dependência, que</p><p>tem necessidade do outro semelhante. A experiência que simplesmente se</p><p>transforma em resistência. Ela vai além da resistência e transforma em pretensão</p><p>a sua pureza, de origem reposicionando as identidades transculturais. Uma</p><p>experiência que evidencia que somos multiformes plurais visto que acontecem</p><p>inclusive outras trocas como o caso de hibridismo.</p><p>A língua de sinais, enquanto meio para o reconhecimento da cultura surda,</p><p>possui papel fundamental na construção da identidade dos sujeitos surdos. Os</p><p>discursos sobre a cultura e identidade enfatizam os estudos culturais associando</p><p>sua importância na história de surdos. É por meio da cultura que um povo se</p><p>constitui, integra e se identifica como pertencentes de uma identidade. As</p><p>identidades surdas são múltiplas e multifacetadas, podendo ser percebidas e</p><p>definidas conforme suas vivências sociais (STROBEL apud PERLIN, 2008).</p><p>Nesse sentido, infere-se que as identidades surdas são construídas dentro das</p><p>representações possíveis da cultura surda; elas se moldam de acordo com maior</p><p>e menor representatividade cultural assumida pelo sujeito. No contexto dessa</p><p>busca por representatividade cultural surge também, o embate de ordem</p><p>linguística, política ou mesmo de consciência oposicional, pela qual o surdo</p><p>representa a si mesmo, defendendo-se por meio da língua de sinais, da</p><p>homogeneização, da redutibilidade, da sensação de invalidez, de inclusão entre</p><p>deficientes.</p><p>A língua de sinais é uma das principais marcas da identidade de um povo surdo,</p><p>pois é uma das peculiaridades da cultura surda, é uma forma de comunicação</p><p>que capta as experiências visuais dos sujeitos surdos, sendo que é esta língua que</p><p>vai levar o surdo a transmitir e proporcionar-lhe a aquisição de conhecimento</p><p>universal (STROBEL, 2008a, p. 42-43).</p><p>As línguas de sinais assumem diferentes lugares, que se destacam no contexto</p><p>das comunidades surdas. Assim sendo, os surdos que possuem acesso à língua de</p><p>sinais e desfrutam da participação da comunidade surda em sua vida</p><p>educacional, social e política demonstram possuir uma maior segurança,</p><p>autoestima e desenvolvimento de uma identidade cultural.</p><p>A cultura surda é o lugar para o sujeito surdo construir sua subjetividade de</p><p>forma a assegurar sua sobrevivência e a ter seu status quo, nas múltiplas</p><p>culturas, múltiplas identidades. Ainda que para o surdo nem tudo seja concebido</p><p>como cultura, esta tem significado essencial para a constituição da existência; a</p><p>cultura é uma parte constitutiva do ser político surdo, que por sua vez, impõe</p><p>inclusive os limites culturais (PERLIN, 2003, p. 130).</p><p>As multifacetas surdas estão evidenciadas em seus artefatos culturais nos quais</p><p>podemos destacar as obras artísticas: literatura, pintura, humor, teatro, entre</p><p>outros. Assim como nas outras culturas, a cultura surda socializa, passando para</p><p>as gerações futuras, suas experiências vivenciadas a partir de suas memórias. Por</p><p>meio de obras e contações de histórias, relatos das experiências passadas e</p><p>anseios futuros, a cultura surda é transmitida, por gerações. Essas lembranças</p><p>traduzem-se em representações ou símbolos, cuja expressão material visualiza-se</p><p>no patrimônio cultural das populações ou comunidades, tratando-se de valores e</p><p>significados, costumes, tradições, expressados por outras linguagens, como, por</p><p>exemplo, a dos relatos ou narrativas (PERAZZO, 2006, p. 63).</p><p>Dentro da história cultural dos surdos podemos perceber vários artefatos</p><p>culturais do povo surdo, que podem ser a experiência visual, linguística,</p><p>literatura surda, vida social, esportiva, artes, políticas e outros. “[…] o conceito</p><p>‘artefatos’ não se refere apenas a materialismos culturais, mas àquilo que na</p><p>cultura constitui produções do sujeito que tem seu próprio modo</p><p>de ser, ver,</p><p>entender e transformar o mundo” (STROBEL, 2008a, p. 35).</p><p>A cultura surda compreende a língua de sinais, artefatos culturais, ideológicos e</p><p>materiais. Dentre os artefatos materiais, especialmente aqueles que se inserem no</p><p>contexto da TA a serem usados por pessoas surdas, cabe destacar os dispositivos</p><p>eletrônicos não auditivos, telefones para surdos, campainha com sinal luminoso,</p><p>relógios com despertadores vibratórios, fax, internet, mensagens por celulares,</p><p>redes sociais, webcams, aplicativos de conversa em vídeo, closed-caption,</p><p>legenda de televisão, entre outros, ou seja, constituem-se materiais que são</p><p>adaptados e usados para atender às necessidades desse grupo específico,</p><p>focando, principalmente o canal visual. A TA visa possibilitar à comunidade</p><p>surda o acesso e o uso da tecnologia e seus canais de produção e recepção à</p><p>característica visual-espacial da língua de sinais para a comunicação e educação</p><p>desse grupo populacional.</p><p>TECNOLOGIAS ASSISTIVAS COMO RECURSOS PARA ACESSO AO</p><p>CONHECIMENTO, CULTURA E FORMAÇÃO DA IDENTIDADE</p><p>SURDA</p><p>Na percepção do surdo, as novas tecnologias contemplam um mundo de</p><p>possibilidades e potencialidades acessíveis visualmente, que possibilitam acesso,</p><p>atendendo suas necessidades educacionais, atrelando-as ao campo visual. A</p><p>despeito de tais possibilidades, oriundas do uso das TA, as pessoas surdas ainda</p><p>enfrentam algumas dificuldades, como por exemplo, o não conhecimento da</p><p>língua de sinais por seus professores, bem como o escasso conhecimento sobre a</p><p>cultura da comunidade surda, que tem como elemento basilar as experiências</p><p>visuais do mundo em que os surdos estão inseridos. Considerando a dificuldade</p><p>comunicativa entre surdos e ouvintes, como também, do papel da comunicação</p><p>no acesso à cultura, verifica-se que as TA têm atendido esse segmento</p><p>minoritário.</p><p>No Brasil, cuja língua de sinais é a Libras, entre os recursos voltados para as</p><p>pessoas surdas brasileiras, destacam-se diferentes aplicativos e softwares com</p><p>funcionalidades semelhantes. Mas no âmbito das TA, elegem-se o Handtalk e o</p><p>Prodeaf que são softwares que possibilitam a comunicação e expressão do</p><p>pensamento, fazendo com que surdos e ouvintes comuniquem-se entre si. O</p><p>Handtalk faz a conversão de imagens, textos e áudios para a Língua Brasileira de</p><p>Sinais (Libras) e o Prodeaf que é uma espécie de dicionário no qual um avatar</p><p>sinaliza a palavra ou expressão.</p><p>Essas TA podem ser utilizadas no contexto da sala de aula, possibilitando a</p><p>aprendizagem, por meio do acesso à língua de sinais e sua tradução para as</p><p>línguas orais auditivas e vice-versa, constituindo-se a partir de então em aliados</p><p>do processo de construção da identidade e cultura surda.</p><p>Ressaltamos, porém, que para facilitar o processo de ensino e de aprendizagem</p><p>da pessoa com deficiência auditiva, o docente deve permitir ao surdo o acesso</p><p>não somente às TA disponíveis, mas fazer uso de uma pedagogia que promova a</p><p>visualidade, proporcionando a esses estudantes surdos, superar as dificuldades</p><p>que emergem durante o processo de ensino e de aprendizagem; assim, os jogos</p><p>interativos, softwares educacionais, dicionários digitais, entre outros recursos</p><p>tecnológicos, correlacionados à comunicação visual, possibilitam a construção</p><p>de diferentes competências e habilidades. Essas ferramentas interativas</p><p>possibilitam uma maior aplicabilidade enquanto recursos para amenizar as</p><p>dificuldades, melhorando o desempenho dos alunos surdos.</p><p>Utilizar as novas tecnologias não garante a escola um avanço de qualidade se</p><p>esta continuar com os antigos processos da aprendizagem tradicional de</p><p>transmissão de informações. É preciso utilizá-las como ferramentas de trocas</p><p>cognitivas. E, no caso dos surdos, a língua a ancorar essas práticas precisa ser a</p><p>Libras. Mais importante do que a informação é saber buscar e trabalhar com ela.</p><p>O centro do processo educacional devem ser as trocas, as interações, cooperação</p><p>entre os pares, as pesquisas, os trabalhos em grupo, todas essas, habilidades</p><p>necessárias para a sociedade do conhecimento em que vivemos hoje. Para além</p><p>da aquisição do conhecimento essas abordagens privilegiam o processo de</p><p>construção do conhecimento do aluno, dando oportunidades de aumentar a</p><p>compreensão de conceitos complexos, estimular a imaginação e a criatividade</p><p>visando o desenvolvimento dos processos mentais superiores (STUMPF, 2009,</p><p>p. 3-4).</p><p>Para atuar como mediador, utilizando as TA como ferramentas a potencializarem</p><p>a sua prática docente, no contexto de sua vivência e experiências sobre os</p><p>assuntos de sala de aula, o docente precisa ter preparação e conhecimento das</p><p>línguas envolvidas nesse processo de mediação, entre a aprendizagem e o aluno</p><p>surdo. Essa preparação envolve a preocupação de dominar a língua de sinais, de</p><p>utilizar de forma adequada os recursos tecnológicos, inserindo-se nesse contexto,</p><p>as TA, bem como da possibilidade do uso de ferramentas pedagógicas, na</p><p>construção do desenvolvimento do aluno surdo.</p><p>Contudo, outra barreira importante dificulta a total acessibilidade por parte dos</p><p>surdos às novas tecnologias: elas são visuais, mas em sua grande maioria,</p><p>demandam sujeitos alfabetizados. A população surda, em nosso país e na maioria</p><p>dos países, é em grande parte, composta de analfabetos funcionais na escrita da</p><p>língua oral do próprio país e as produções em Libras exigem a disponibilidade</p><p>de vários artefatos de cultura como câmeras, vídeos, tradutores, intérpretes etc.</p><p>São dificuldades que aos poucos vão sendo vencidas. (STUMPF, 2009, p. 2- 3)</p><p>O analfabetismo constitui-se ainda uma das maiores barreiras a impedirem o</p><p>acesso dos surdos à educação, pois, no tocante ao uso das tecnologias, assim</p><p>como de outros recursos e mesmo acesso ao conhecimento de modo geral, a</p><p>modalidade escrita da língua ainda é o canal utilizado para a compreensão das</p><p>coisas. Stumpf (2009, p. 2-3) comenta que para além do aprendizado da língua</p><p>escrita do país onde vive, a pessoa surda deve também, ter domínio da língua de</p><p>sinais, pois:</p><p>[…] anterior a estas demandas, existe uma que, no caso dos surdos, é crucial</p><p>para dar início a qualquer processo de inserção social e cultural, esta é a</p><p>aquisição de uma consistente língua de sinais, primeiro passo para a constituição</p><p>do sujeito como indivíduo com uma identidade própria e participante de um</p><p>contexto cultural. São todos esses, os novos e grandes desafios que se</p><p>apresentam para tornar acessível à população surda as Tecnologias da</p><p>Informática e da Comunicação – TICs. No presente momento histórico</p><p>brasileiro, a língua de sinais aceita e o seu uso regulamentado abrem as portas</p><p>para profundas mudanças na educação dos surdos, pois o acesso a uma língua</p><p>plena, aliada ao uso das novas tecnologias, aponta para reais possibilidades de</p><p>um grande salto de qualidade nessa educação cujo principal objetivo é a inclusão</p><p>do sujeito surdo na escola e na sociedade (STUMPF, 2009, p. 2- 3).</p><p>Precisa-se então vislumbrar uma educação que permita ao surdo uma integração</p><p>em todos os extremos da sociedade, para que este tenha a possibilidade de</p><p>continuação de seus estudos, trabalhe, seja independente, participe, tenha acesso,</p><p>conquiste, enfim seja incluído no espaço escolar, o que faz com que as TA se</p><p>evidenciem nesse contexto, pois, em um momento em que as mídias digitais</p><p>tornaram-se ferramentas que afetam de forma direta ou indireta toda a</p><p>população, o ensino precisa se relacionar com a realidade social e cultural em</p><p>que os estudantes surdos estão inseridos.</p><p>Nesse contexto, faz-se necessário, por parte do professor, a constante busca de</p><p>uma didática que proporcione a valorização dos envolvidos no processo</p><p>educacional do surdo a fim de proporcionar um ensino embasado em uma</p><p>pedagogia visual. Enfatizando que o saber pedagógico, o docente ultrapassa a</p><p>barreira do conteúdo, ele analisa criticamente o projeto econômico, político e</p><p>social na relação do processo de ensino e de aprendizagem, reconhecendo a</p><p>didática como ferramenta grandiosa no contexto educacional.</p><p>CONCLUSÕES</p><p>O universo tecnológico tem buscado aprimorar ainda mais</p><p>recursos e</p><p>funcionalidades de aplicativos por meio de softwares que tem em sua construção</p><p>algorítmica regras que levem a cumprir o significado da cultura e identidade do</p><p>surdo, aprimorando a visualização através da imagem e principalmente das</p><p>línguas de sinais.</p><p>A comunidade surda, nos dias atuais, utiliza a língua de sinais, de forma</p><p>articulada às novas tecnologias para reafirmar sua cultura e identidade, como</p><p>instrumento essencial da comunicação em diferentes ambientes em que</p><p>participam. As novas tecnologias contemplam um mundo de possibilidades e</p><p>potencialidades acessíveis visualmente para as pessoas de modo geral e</p><p>especificadamente para aquelas com deficiência, os surdos, possibilitando-os a</p><p>alçar novos horizontes e a necessidade de introduzir suas necessidades</p><p>educacionais ao campo visual.</p><p>As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) assumem um papel</p><p>importante em nossa cultura e a sua utilização possibilita inclusão e interação</p><p>com o mundo a TA se insere no campo das TIC’s, ao ser utilizada por pessoas</p><p>com deficiência. Considerando a surdez, uma experiência visual (SKLIAR,</p><p>1999) o uso das tecnologias agrega fatores teórico-metodológico possibilitando,</p><p>a essa população, um novo campo de inclusão, haja vista, a visualidade do surdo</p><p>se manifesta em todos os tipos de significações, representações e produções, seja</p><p>intelectual, linguística, artístico, cultural, entre outros.</p><p>Ao desenvolvermos recursos que promovam acessibilidade, comunicação e</p><p>informação neutralizamos barreiras e inserimos esse indivíduo nos ambientes</p><p>ricos para a aprendizagem, proporcionados por sua e demais culturas. A TA visa</p><p>possibilitar à comunidade surda o acesso e o uso da tecnologia e seus canais de</p><p>produção e recepção à característica visioespacial da língua de sinais para a</p><p>comunicação e educação desse grupo populacional.</p><p>A utilização das tecnologias em sala de aula proporciona o despertar do interesse</p><p>dos estudantes e a aprendizagem significativa. Porém, somente a utilização das</p><p>TA, enquanto ferramentas não é o suficiente; faz-se necessário que o professor,</p><p>por meio da articulação entre estas e as línguas usadas pelos estudantes, trabalhe</p><p>os conteúdos, tendo como base as peculiaridades dos grupos de estudantes com</p><p>que trabalha, possibilitando assim, a formação de identidades, culturas e</p><p>conhecimentos, para todos, indistintamente.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BERSCH, R. Tecnologia assistiva e educação inclusiva. In: Ensaios</p><p>Pedagógicos, Brasília: SEESP/MEC, p. 89-94, 2006.</p><p>BRASIL. Lei n.º 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de</p><p>Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).</p><p>EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. 2. ed. São Paulo: Unesp, 2011.</p><p>GALVÃO FILHO, T. A. A Tecnologia Assistiva: de que se trata? In:</p><p>MACHADO, G. J. C.; SOBRAL, M. N. (Orgs.). Conexões: educação,</p><p>comunicação, inclusão e interculturalidade. 1. ed. Porto Alegre: Redes, p. 207-</p><p>235, 2009.</p><p>HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções de nosso</p><p>tempo. Porto Alegre: Educação & Realidade, v. 22, n. 2, 1997.</p><p>KLEIN, Madalena. Tecnologias de governamento na formação profissional dos</p><p>Surdos. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Porto</p><p>Alegre: UFRGS, 2003.</p><p>LAUAND, G. B. A. Fontes de informação sobre tecnologia assistiva para</p><p>favorecer à inclusão escolar de alunos com deficiências físicas e múltiplas. 155f.</p><p>Tese (Doutorado em Educação Especial) Programa de Pós-Graduação em</p><p>Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, 2005.</p><p>LOPES, Luciane Bresciani; THOMA, Adriana da Silva. Estudos Surdos em</p><p>articulação com os Estudos Culturais e Estudos Foucaultianos em educação.</p><p>Universidade Federal do Rio Grande do Sul, URGS, Porto Alegre, 2017.</p><p>MANZINI, E. J. Tecnologia assistiva para educação: recursos pedagógicos</p><p>adaptados. In: Ensaios pedagógicos: construindo escolas inclusivas. Brasília:</p><p>SEESP/MEC, p. 82-86, 2005.</p><p>PERAZZO, Priscila F. Memória e narrativas orais em estudos de comunicação</p><p>social. Comunicação e Inovação. 2006.</p><p>PERLIN, Gladis. Educação Bilíngue para surdos: identidades, diferenças,</p><p>contradições e mistérios. Tese de Doutorado, Curitiba: UFSC, 2003.</p><p>PERLIN, Gladis. O ser e o estar sendo surdos: alteridade, diferença e identidade.</p><p>Tese de doutorado. UFRG. 2003.</p><p>PUPO, Deise Tallarico; MELO, Amanda Meincke; PÉREZ FERRÉS, Sofia.</p><p>Acessibilidade: discurso e prática no cotidiano das bibliotecas. São Paulo:</p><p>Unicamp, 2008.</p><p>SILVA, Tomaz Tadeu da. Teoria cultural e Educação: Um vocabulário crítico.</p><p>Belo horizonte: Autêntica, 2000.</p><p>SKLIAR, Carlos. A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre:</p><p>Mediação, 1998a.</p><p>SKLIAR, Carlos. A forma visual de entender o mundo. In: Educação para todos.</p><p>Revista especial, SEED/DEE Curitiba, Editora Expediente, 1998b.</p><p>STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis:</p><p>Editora da UFSC, 2008a.</p><p>STROBEL, Karin. História de educação dos surdos. Apostila elaborada para</p><p>disciplina de curso de licenciatura de Letras/Libras, UFSC, Florianópolis, 2008b.</p><p>STROBEL, Karin. Surdos: vestígios culturais não registrados na história. Tese</p><p>de doutorado. UFSC. 2008.</p><p>STUMPF, Marianne Rossi. Educação de Surdos e Novas Tecnologias. Santa</p><p>Catarina: Editora da UFSC, 2009.</p><p>AS CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA AFETIVA PARA A</p><p>COMPREENSÃO DOCENTE SOBRE APRENDIZAGEM DA</p><p>CRIANÇA</p><p>Jeriane da Silva Rabelo</p><p>Paulo Meireles Barguil</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A infância é nossa querida propriedade, porque é impossível abandonar a</p><p>origem. (Wilmar Silva).</p><p>Refletir sobre os multimodos da aprendizagem de crianças pequenas em espaços</p><p>públicos de educação infantil implica repensar quais são as concepções a</p><p>defender, sejam elas psicoemocionais, socioculturais ou neurobiológicas, pois</p><p>não se pode mais reduzir essas visões somente aos aspectos cognitivos.</p><p>Nos últimos anos, uma proposta que vem ganhando espaço com a integração</p><p>entre Neurociência e Educação é a Neuroeducação, pois expressa uma visão</p><p>contemporânea na área da Educação. Os estudos de Bartoszeck e Bartoszeck</p><p>(2009), Brockington (2011) e Cosenza (2011) defendem que a Neuroeducação</p><p>pode contribuir para uma profissionalização docente ampliada, com o</p><p>incremento da compreensão dos processos de aprendizagem e suas implicações</p><p>no processo de ensino, que é o seu ofício.</p><p>A Neurociência Afetiva investiga as estruturas cerebrais e os circuitos neurais</p><p>relacionados aos processos motivacionais e emocionais. Para isso, torna-se</p><p>importante os estudos sobre o sistema nervoso – SN¹⁴, pois ele é responsável</p><p>pelas atividades relacionadas a motricidade, sensibilidade, raciocínio, memória,</p><p>linguagem e aprendizagem.</p><p>As pesquisas atuais sobre o SN utilizam exames de neuroimagem de alta</p><p>tecnologia, os quais possibilitam, cada vez mais, ampliar os conhecimentos. A</p><p>despeito dos avanços das últimas décadas, acreditamos que a utilização desses</p><p>estudos ainda são desafios para a área da Educação por vários motivos¹⁵, dentre</p><p>os quais destacamos: i) os cursos de formação inicial de professores ainda não se</p><p>atentaram para a importância desse campo de conhecimento, fato facilmente</p><p>comprovado pela falta de disciplinas sobre neuroeducação no currículo; ii) a</p><p>falta de investimento em estudos sobre o cérebro por laboratórios de pesquisa</p><p>composta também por educadores; e iii) a inexistência da intersetoriedade sobre</p><p>o aprender humano, tendo em vista que somente em classes especiais há uma</p><p>maior discussão com equipes multidisciplinares sobre esses processos.</p><p>Brockington (2011, p. 22) afirma que as discussões agregando neurocientistas e</p><p>educadores é uma realidade nos Programas de Pós-Graduação das universidades</p><p>de Harvard e Cambridge e “[...] serão extremamente promissores para o</p><p>tratamento de questões educacionais, contribuindo para que se entenda, cada vez</p><p>mais, os processos envolvidos na aprendizagem e desenvolvimento cognitivo</p><p>[...].”</p><p>Vale destacar ainda que o sistema nervoso – SN divide-se em duas partes:</p><p>sistema nervoso central – SNC e o sistema nervoso periférico – SNP. O primeiro</p><p>é composto pelo encéfalo – cérebro</p><p>e cerebelo – e medula espinhal, enquanto o</p><p>segundo é constituído de fibras, gânglios nervosos e órgãos terminais.</p><p>Conforme esclarece Lima (2013, p. 04) “[...] o desenvolvimento do cérebro é</p><p>biológico e cultural.”. A escola, enquanto instituição social e cultural,</p><p>desempenha um papel privilegiado na composição humana. Nessa perspectiva,</p><p>Cosenza (2011) explica que, enquanto o recém-nascido possui poucas sinapses, a</p><p>criança nos primeiros 5 anos de vida, em virtude do amadurecimento dos</p><p>neurônios, já tenha sinapses em quantidade que a possibilite reorganizar a</p><p>estrutura cerebral. É importante que o professor saiba que a capacidade de</p><p>aprender está relacionada com a quantidade de sinapses. Quais estratégias o</p><p>docente poderá propor para favorecê-las?</p><p>A Neurociência se constitui como a ciência que estuda o sistema nervoso e a</p><p>Educação como a ciência do ensino e da aprendizagem. Ambas ciências são</p><p>essenciais para a compreensão da afetividade no espaço escolar e, por</p><p>conseguinte, sobre como a criança se sente, pensa e age: se desenvolve!</p><p>Rato e Caldas (2010, p. 627) afirmam que</p><p>Embora a ideia de que a investigação neurocientífica pode influenciar a teoria e</p><p>prática educacional já não seja uma novidade, atualmente, com as novas</p><p>descobertas científicas, a neurociência e a educação voltam a cruzar caminhos.</p><p>Contudo, apesar do rápido avanço científico na área da Neurociência, muito do</p><p>funcionamento do cérebro ainda continua um mistério para muitos</p><p>pesquisadores. As operações individuais de neurônios e sinapses, hoje são</p><p>compreendidas com detalhamento considerável. Os avanços nessa área ainda são</p><p>poucos usados na Educação (BROCKINGTON, 2011, p. 5).</p><p>À luz da crescente disseminação de concepções oriundas desse campo de estudo,</p><p>propusemo-nos, neste capítulo, a responder à seguinte questão: quais são as</p><p>contribuições da Neurociência Afetiva para a elaboração de propostas</p><p>pedagógicas do professor que atua na educação infantil?</p><p>A reflexão foi construída com base em pesquisa bibliográfica, fruto do projeto de</p><p>tese da primeira autora sob a orientação do segundo autor. O presente artigo foi</p><p>organizado em três seções: na primeira, apresentamos alguns conceitos e</p><p>concepções do campo da Neurociência Afetiva; a seguir, discutimos sobre as</p><p>propostas educacionais para o desenvolvimento integral da criança, procurando</p><p>analisar possíveis contribuições e implicações dos aportes da Neurociência para</p><p>a Educação; por último, tecemos algumas considerações finais.</p><p>AFETIVIDADE E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA</p><p>Quais são as influências da afetividade no processo de aprendizagem da criança?</p><p>Como estas se relacionam para a construção de estimas positivos no espaço</p><p>escolar nos primeiros anos de vida? São essas as questões que procuraremos</p><p>responder nesta seção.</p><p>O interesse na área, ancorado ao progresso tecnológico vigente, tem garantido</p><p>avanços científicos significativos para a produção de pesquisas na Neurociência,</p><p>contribuindo intensamente para promover com maior eficácia o entendimento da</p><p>mente humana. Apesar disso, ainda estamos caminhando a “passos lentos”, no</p><p>que se refere aos saberes que os professores, especialmente pedagogos, têm</p><p>sobre o funcionamento do sistema nervoso e, consequentemente, sobre a</p><p>aprendizagem. Os estudos da Neurociência aplicados à Educação são</p><p>importantes, pois oportuniza ao professor conhecer como o homem aprende,</p><p>bem como os estímulos neurais são constituídos para a aprendizagem.</p><p>Com base na literatura pesquisada, é importante esclarecer que a relação entre a</p><p>aprendizagem e funcionamento do cérebro não são temas recentes, pois tinham</p><p>sido defendidas por pesquisas realizadas pelo russo Lev Vygotsky (1896-1934),</p><p>pelo suíço Jean Piaget (1896-1980) e pelos seguidores russos de Vygotsky, Luria</p><p>(1902-1977) e Alexei Leontiev (1903-1979), que estudaram o desenvolvimento</p><p>do psiquismo humano desde o início do século passado (TABACOW, 2006, p.</p><p>45).</p><p>Na atualidade, a Neuroeducação tem contribuído em pesquisas científicas para a</p><p>melhoria da compreensão da aprendizagem, a partir da abrangência de como o</p><p>cérebro funciona e desenvolve estímulos favoráveis para a aprendizagem. Por</p><p>exemplo, saber quais estímulos despertam a atenção, quais dão lugar à emoção,</p><p>pois sem esses dois fatores nenhuma aprendizagem ocorre (MORA, 2004). A</p><p>partir desse conceito, educar as emoções é criar condições para interação das</p><p>crianças e de suas estruturas inteligíveis.</p><p>Em relação à articulação entre afetividade e educação, Saltini (2008, p. 14)</p><p>declara:</p><p>Temos um mundo externo, imenso, estruturado, a partir da cultura, da natureza,</p><p>de regras preestabelecidas e dos sujeitos que aí vivem. Possuímos também um</p><p>mundo interno, da mesma forma grandioso, não somente nas áreas cognitivas,</p><p>mas também nas áreas afetivas (desejos e pulsões). Como aproveitar essas</p><p>relações na prática da educação?</p><p>No tocante a esse ponto, Rabelo (2017) ao pesquisar sobre o espaço físico e o</p><p>desenvolvimento integral de crianças em escolas municipais de Fortaleza</p><p>constatou que o pensamento predominante das professoras eram que os</p><p>problemas educacionais estavam relacionados à falta de materiais didáticos,</p><p>espaços adequados para o uso das crianças e falta de bons salários para o</p><p>professor.</p><p>Sobre essa crença, é pertinente o alerta Saltini (2008, p. 15),</p><p>Enquanto o Ser Humano permanecer na atitude de observador científico</p><p>“alheado”, tomando-se a si mesmo como objeto de sua investigação, só estará</p><p>em contato com o seu interior pelo “pensar”, não experimentando, assim, a</p><p>realidade mais ampla e mais profunda que existe dentro se si mesmo.</p><p>Conforme esclarece Moraes e Torre (2004, p. 21),</p><p>A neurociência oferece conhecimentos que deveriam ser aproveitados pelos</p><p>docentes. Os referidos autores lembram que a aprendizagem é proporcionada</p><p>pela plasticidade do cérebro e sofre influência do ambiente. Nesse caso, o</p><p>professor, por meio de sua ação profissional, transmite estímulos que podem vir</p><p>a contribuir para a secreção de hormônios que provocam o entusiasmo e o desejo</p><p>de aprender ou o extremo oposto, o desinteresse.</p><p>Os estudos da Psicologia Social defendem que as emoções são uma dimensão</p><p>mediadora nos processos de ensino e de aprendizagem: “[...] o sujeito é</p><p>antecipadamente emocional.”. (DOMINGUES, 2001, p. 6). Concomitante aos</p><p>estudos dessa área, os diferentes olhares sobre a infância – Sociológico [Corsaro</p><p>(2002, 2011) e Sarmento (2003, 2005)]; Antropológico (COHN, 2005) e</p><p>Histórico (ARIÈS, 1981) – apontam o processo histórico por meio da</p><p>desmitificação da concepção da criança, como “vir–a–ser”, um sujeito negado e</p><p>etimologicamente já definido como sujeito sem fala.</p><p>No que se refere à Filosofia da Infância, Koan (2010, p. 45) assinala que os</p><p>clássicos como Aristóteles, Sócrates e Kant compreendem a criança como “[...]</p><p>um adulto em potência que só alcançará sua completude e finalidade na</p><p>adultez.”. Nesse sentindo, os aspectos emocionais e o sentimento de infância são</p><p>também negados na criança.</p><p>Mora (2004) declara que, durante os primeiros anos de vida, é importante que a</p><p>criança esteja em contato com a natureza, fonte inesgotável de estímulo porque</p><p>nessa idade ocorre a construção das percepções, formas, cores, movimento,</p><p>profundidade, com as quais ela irá construir conceitos. Segundo esse autor, para</p><p>construir boas ideias a criança precisa desenvolver boas percepções, pois o</p><p>sistema nervoso é responsável pela integração do Homem ao ambiente,</p><p>integração do meio interno, controle da motricidade, da sensibilidade e das</p><p>funções psíquicas.</p><p>A aprendizagem, portanto, é o processo em virtude do qual se associam coisas</p><p>ou eventos no mundo, graças à qual adquirimos novos conhecimentos.</p><p>Denominamos memória o processo pelo qual conservamos esses conhecimentos</p><p>ao longo do tempo. Os processos de aprendizagem e memória modificam o</p><p>cérebro e a conduta do ser vivo que os experimenta (MORA, 2004, p. 94).</p><p>Liberato e Silva (2015, p. 11.104) declaram que “[...] tomar posse desses novos</p><p>conhecimentos é imprescindível para uma pedagogia contemporânea, que se</p><p>mostra atuante e voltada</p><p>às exigências do aprendizado em nosso mundo</p><p>globalizado, veloz, complexo e cada vez mais exigente.”.</p><p>De Oliveira (2011, p. 73) acredita que “[...] os estudos atuais sobre a mente, o</p><p>cérebro e os processos neurais envolvidos no pensamento e na aprendizagem</p><p>têm possibilitado a emergência de explicações e uma melhor compreensão da</p><p>ciência da educação.”.</p><p>Nesse contexto, entende-se a aprendizagem como o fortalecimento ou</p><p>enfraquecimento das conexões neuronais, as quais têm seus padrões conectivos</p><p>alterados a todo o momento em resposta aos estímulos externos, às nossas</p><p>percepções, pensamentos e ações. O cérebro humano precisa ser cotidianamente</p><p>desafiado, fora ou dentro do espaço escolar, por isso é importante que a criança</p><p>tenha o direito de se expressar: emoções, ideias, desejos...</p><p>Enfatizamos, portanto, portanto a necessidade de estudos, nos programas de</p><p>formação – inicial e continuada – docente, sobre o funcionamento do cérebro</p><p>com o objetivo compreender os processos de aprendizagem da criança e, assim,</p><p>ensinar melhor. Os aportes da Neuroeducação apresentam a evolução biológica</p><p>para um olhar sensvel sobre a aprendizagem e como nós, educadores, podemos</p><p>utilizá-los na nossa atuação profissional.</p><p>Brockington (2011, p. 23-24) esclarece que</p><p>A aprendizagem, de maneira geral, diz respeito a alterações na conectividade</p><p>entre os neurônios, seja por meio de mudanças na potencialização das sinapses</p><p>ou por meio do reforço de conexões. Um ensino eficaz, então, afeta diretamente</p><p>as funções cerebrais. Neste sentido, a aprendizagem é o processo pelo qual o</p><p>cérebro reage aos estímulos externos, fortalecendo algumas sinapses e</p><p>enfraquecendo outras. Desta maneira, os diferentes padrões de atividade neural</p><p>podem ser pensados como correspondentes a diferentes estados mentais ou</p><p>representações mentais.</p><p>Acreditamos ser necessário de definir emoção, o que faremos a partir dos</p><p>estudos do neurocientista português Antônio Damásio:</p><p>As emoções são programas de ações complexos e em grandes medidas</p><p>automatizados, engendrados pela evolução. As ações são complementadas por</p><p>um programa cognitivo que inclui certas ideias e modos de cognição, mas o</p><p>mundo das emoções é sobretudo feito de ações executadas no nosso corpo, desde</p><p>expressões faciais e posturas até mudanças nas vísceras e meio interno. [...]</p><p>emoções ocorrem quando imagens processadas no cérebro põem em ação</p><p>regiões desencadeadoras de emoções, por exemplo, a amígdala ou regiões</p><p>especiais do córtex do lobo frontal. Quando qualquer dessas regiões</p><p>desencadeadoras é ativada, certas consequências sobrevêm: moléculas químicas</p><p>são secretadas por glândulas endócrinas e por núcleos subcorticais e liberadas no</p><p>cérebro e no corpo [...] certas ações são executadas [...] e certas expressões são</p><p>assumidas (DAMÁSIO, 2011, p. 168).</p><p>Nessa perspectiva, as emoções são geradas a partir de movimentos do corpo, os</p><p>quais resultam da interpretação que o cérebro fez das ocorrências e do espaço no</p><p>qual está inserido o sujeito. “As informações do ambiente são enviadas para o</p><p>cérebro que as identifica gerando para esta uma reação específica, esta reação em</p><p>forma de movimento – interno e externo, é o que Damásio denomina como</p><p>emoção.” (SANTOS, 2016, p. 11).</p><p>No que se refere ao sentimento, Damásio (1996, p. 126) o define como sendo</p><p>“[...] a experiência de tais mudanças corporais associada às imagens mentais da</p><p>situação, ou seja, lembranças positivas ou negativas vividas.”.</p><p>Izquierdo (2011, p. 21) defende a emoção como condição essencial para o</p><p>desenvolvimento da aprendizagem, pois “[...] O professor melhorará seu</p><p>desempenho sabendo como o cérebro funciona para fazer a memória, para</p><p>modulá-la através dos seus estudos emocionais. Esta modulação é feita por vias</p><p>nervosas.”.</p><p>Embora já saibamos que a aprendizagem ocorre ao longo de toda a existência do</p><p>Homem na Terra, nos primeiros anos de vida, as experiências são mais</p><p>significativas. O cérebro continua a crescer e a desenvolver após o nascimento,</p><p>mediante inúmeras experiências, estímulos, exigências e desafios, que irão</p><p>propiciar novas conexões, reforçar as existentes e construir mais circuitos</p><p>neurais.</p><p>As conexões neurais são organizadas e vaporizadas durante todo o ciclo de vida,</p><p>essa é a plasticidade do cérebro. O vínculo emocional, portanto, nos primeiros</p><p>anos de vida, é vital para a estruturação e a reorganização neurobiológicas.</p><p>Nesse sentido, Damásio (1998, p. 159) apresenta as contribuições da</p><p>Neurobiologia numa visão transdisciplinar da afetividade, o autor “[...] vê as</p><p>emoções e os sentimentos como constituidores de aspectos centrais da regulação</p><p>biológica e como ponte entre os processos racionais e os não racionais.”</p><p>(BOMFIM, 2010, p. 55).</p><p>Há de se ressaltar ainda os desafios de pesquisas nessa área voltadas para a</p><p>Educação. Brockington (2011, p. 16), após a realização de seus estudos no</p><p>laboratório de Neurociência, Brain and Criativity Institute¹ , situado em Los</p><p>Angeles, constatou que há duas dificuldades em Neurociência voltadas para a</p><p>Educação, uma delas de ordem metodológica e outra de ordem prático na</p><p>utilização de testes em laboratório, pois, segundo o autor, “[...] desenhar um</p><p>experimento que seja capaz de responder uma pergunta complexa na área de</p><p>Ensino e, ao mesmo tempo, seja possível, de ser testado usando essas</p><p>tecnologias, é extremante complicado.”. Já as dificuldades práticas eram</p><p>voltadas para o financiamento dos recursos da pesquisa, pois eram utilizados</p><p>exames de ressonância magnética e outras tecnologias para o estudo do</p><p>funcionamento do cérebro.</p><p>PROPOSTA DE UMA EDUCAÇÃO INTEGRAL PARA CRIANÇAS NO</p><p>ESPAÇO ESCOLAR</p><p>[...] gastamos grande parte de nossa energia para manter muros. Muros entre o</p><p>privado e o público; entre compromisso, prazer e ação social; entre escola e vida;</p><p>entre razão, emoção, corpo e espiritualidade; e, também, entre disciplinas de</p><p>conhecimento. Quando é justamente a ausência de muros que libera a mais</p><p>poderosa energia, única energia capaz de nos levar à realização. (GUERRA,</p><p>1998, p. 7-8).</p><p>A educação infantil no Brasil tem alcançado visibilidade e, apesar dos grandes</p><p>desafios a serem enfrentados, avançou em termos legais, pois incidiu um</p><p>progresso expressivo com a inclusão de creches e pré-escolas no sistema de</p><p>ensino na Constituição Federal (BRASIL, 1988). As crianças foram</p><p>reconhecidas como sujeito de direitos, garantidos no Estatuto da Criança e do</p><p>Adolescente – ECA (BRASIL, 1990), e também considerada pela Lei de</p><p>Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (BRASIL, 1996) primeira</p><p>etapa da educação básica.</p><p>Nesse âmbito, o currículo destinado à primeira etapa da educação básica,</p><p>conforme a Resolução CNE/CEB n.º 05/09, que fixa as Diretrizes Curriculares</p><p>Nacional para a Educação Infantil – DCNEI (BRASIL, 2009a, Art. 3º), é “[...]</p><p>um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das</p><p>crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico,</p><p>ambiental, científico e tecnológico.”.</p><p>Essa concepção enfatiza a ação mediadora da instituição de educação infantil,</p><p>que tem a função de articular as experiências e saberes das crianças, de modo</p><p>que os conteúdos e as práticas colaborem para o desenvolvimento integral dos</p><p>infantes.</p><p>Conforme o Projeto de Cooperação Técnica entre o Ministério da Educação –</p><p>MEC e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS para a</p><p>construção de orientadores curriculares na Educação Infantil (BRASIL, 2009b,</p><p>p. 50),</p><p>[...] o currículo acontece na participação das crianças nos processos</p><p>educacionais, que envolvem os momentos de cuidado físico, a hora de contar e</p><p>ouvir histórias, as brincadeiras no pátio ou na sala, a hora de cantar e de</p><p>garatujar, ou seja, ele está continuamente em ação. O professor observa e</p><p>compreende, na ação, o pensamento se configurando, e ele não se restringe a</p><p>transmitir uma informação, mas propõe desafiar a criança a continuar pensando.</p><p>Nesse sentido, as propostas pedagógicas tradicionais, as quais não permitem dar</p><p>a devida atenção à individualidade, são um dos principais obstáculos para</p><p>o</p><p>pleno desenvolvimento integral das crianças, em virtude de seus currículos</p><p>rígidos, padronizados, cotidianos mecânicos e espaços escolares e opressores.</p><p>Na visão de Saltini (2008, p. 28), o controle que o professor constitui sobre as</p><p>tendências comportamentais são, muitas vezes, maléficas para a criança,</p><p>compreendendo-se como corretor das expressões e posturas corporais: “Sente-se</p><p>direito/Ande com a cabeça erguida/Feche as pernas/Cruze os braços.”.</p><p>Esse autor afirma ainda que todos nós recebemos amor ou atenção de nossos</p><p>pais e professores ao preço de negarmos o nosso Ser. A escola por muito tempo</p><p>e, ainda hoje, disciplina os corpos de seus estudantes com grades e ainda com</p><p>discursos voltados para a segurança.</p><p>Conforme Freire (1992, p. 114), “[...] quem fica confinado em salas apertadas,</p><p>sentado e imóvel em carteiras, milhares de horas durante boa parte da vida,</p><p>aprende a ficar sentado nas cadeiras, de onde talvez nunca mais venha a se</p><p>erguer.”.</p><p>É claro que não queremos e nem podemos negar que o espaço escolar também</p><p>tem vida e afetividade, pois ele é “[...] um corpo que afeta e é também afetado</p><p>pelos corpos que constituem seus agentes.” (SAWAIA, 2006, p. 20).</p><p>O conhecimento do próprio corpo se faz desde as primeiras descobertas: é por</p><p>meio dele que a criança explora suas primeiras sensações, vivencia o espaço que</p><p>está à sua volta e o mundo (NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012, p. 22).</p><p>Ressaltamos a necessidade da contínua constituição dos saberes docentes, os</p><p>quais são divididos por Barguil (2016, p. 275) em conteudístico, pedagógico e</p><p>existencial. O último “[...] abrange crenças, percepções, sentimentos e valores,</p><p>ou seja, é a subjetividade do professor, o seu sentir, agir e pensar sobre a vida, o</p><p>conhecimento, o estudante e a Educação.”.</p><p>A partir do saber existencial, os educadores precisam ampliar a sua visão de</p><p>Homem, como alguém de sente, pensa e age. O professor se relaciona com a</p><p>criança externa, o estudante, mediante sua criança interna, a qual ela precisa</p><p>conhecer e cuidar. A qualidade da conexão consigo mesmo está relacionada com</p><p>a qualidade da ação docente.</p><p>Para desenvolver uma perspectiva holística da Educação, é necessário articular</p><p>os distintos saberes docentes em prol da percepção do Homem em sua</p><p>totalidade. Imprescindível, portanto, que não seja valorizada apenas a formação</p><p>intelectual do professor e da criança, reduzindo a atividade docente aos aspectos</p><p>cognitivos discentes, descartando a chance de que os estudantes ampliem suas</p><p>competências espaciais, pictóricas, corporais, musicais, interpessoais e</p><p>intrapessoais (SMOLE; DINIZ; CANDIDO 2003, p. 10).</p><p>Sobre o aprender, Saltini (1997, p. 18) esclarece que</p><p>Conhecer é pensar e inventar, é descobrir e conectar as qualidades e atributos dos</p><p>objetos recompondo com a minha capacidade criadora o real externo dentro da</p><p>minha mente. Este é o significado do aprender. Não aprendo aquilo que o outro</p><p>de me dá pronto. Aprendo em função daquilo que posso trabalhar sobre o que o</p><p>outro me diz, ou daquilo que o objeto me mostra ou descubro. Construo, invento,</p><p>sempre dentro de minhas necessidades e do campo de possibilidade.</p><p>Vislumbramos, portanto uma educação escolar em que sentimentos, ações e</p><p>pensamentos das crianças sejam valorizadas na sua plenitude. Nessa visão, a</p><p>Neurociência amplia as perspectivas do trabalho docente, pois detalha as</p><p>particularidades do desenvolvimento da criança e as possibilidades das ações</p><p>docentes.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>O amor importa. E temos a ciência para prova isso</p><p>(Steve Biddulph).</p><p>O crescente interesse educacional no conhecimento do cérebro expressa a</p><p>convicção de cientistas e educadores sobre a possibilidade de a Neurociência</p><p>afetiva poder contribuir com a Educação, especialmente para os processos de</p><p>ensino e de aprendizagem (DE OLIVEIRA, 2011).</p><p>O fator emocional exerce grande influência na capacidade de aprendizagem do</p><p>Homem, dentre outros fatores: nutricional, genético, biológico, ambiental e</p><p>educativo. A nossa subjetividade é profundamente desenvolvida na infância,</p><p>sendo necessário que a criança viva sua liberdade e seu corpo inteiro na escola.</p><p>É responsabilidade dos agentes educacionais proporcionar essa vivência,</p><p>implicando elevar os níveis de respeito entre as crianças e entre essas e as</p><p>professoras, buscando assim a diminuição de conflitos internos e externos no</p><p>espaço escolar (SALTINI, 2008).</p><p>A aprendizagem da criança é resultante das interações dela, mediante suas</p><p>estruturas mentais, com o meio ambiente. Em virtude disso, defendemos uma</p><p>Educação que propicie o neurodesenvolvimento integral da criança, o qual</p><p>considera emoções, sentimentos e afetos, que constituem todo processo de</p><p>aprendizagem. Acreditamos que aportes teóricos da Neurociência afetiva</p><p>contribuem para a ampliação e a vivência dos saberes docentes.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARIÈS, Philippe. História Social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro:</p><p>LTC, 1981.</p><p>BARGUIL, P.M. Educação Matemática e Educação Infantil: esclarecendo alguns</p><p>equívocos seculares. In: ANDRADE, Francisco Ari de; TAHIM, Ana Paula</p><p>Vasconcelos de Oliveira; CHAVES, Flávio Muniz (Org.). Educação, saberes e</p><p>práticas. Curitiba: CRV, 2016. p. 271-289.</p><p>BARTOSZECK, A. B.; BARTOSZECK, F. K. Percepção do professor sobre</p><p>Neurociência aplicada à Educação. Educere – Revista da Educação, Umuarama,</p><p>v. 9, n. 1, p. 7-32, jan./jun. 2009.</p><p>BOMFIM, Z. A. C. Cidade e afetividade: estima e construção dos mapas</p><p>afetivos de Barcelona e de São Paulo. Fortaleza: Edições UFC, 2010.</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, de 05 de</p><p>outubro de 1988. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,</p><p>DF, 05 out. 1988. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em:</p><p>18 maio 2017.</p><p>BRASIL. Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da</p><p>Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República</p><p>Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 set. 1990. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm. Acesso em: 20 out. 2015.</p><p>BRASIL. Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e</p><p>bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,</p><p>Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm. Acesso em: 18 maio</p><p>2017.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução</p><p>nº 05, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais</p><p>para a Educação Infantil. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?</p><p>option=com_docman&task=doc_download&gid=2298&Itemid. Acesso em: 16</p><p>maio 2014.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Projeto de</p><p>Cooperação Técnica entre o Ministério da Educação – MEC e a Universidade</p><p>Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS para a construção de orientadores</p><p>curriculares na Educação Infantil. Práticas cotidianas na Educação Infantil –</p><p>bases para a reflexão sobre as orientações curriculares. Brasília: MEC, 2009b.</p><p>BROCKINGTON, G. Neurociência e Educação: investigando o papel da emoção</p><p>na aquisição e uso do conhecimento científico. 2011. 199 f. Tese (Doutorado em</p><p>Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo,</p><p>2011.</p><p>COHN, Clarice. Antropologia da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.</p><p>CORSARO, W. A Reprodução Interpretativa no brincar ao ‘faz-de-conta’ das</p><p>crianças. Educação, Sociedade e Culturas, Porto, n. 17, p. 113-134, 2002.</p><p>CORSARO, W. Sociologia da Infância. Porto Alegre: Artmed, 2011.</p><p>COSENZA, R. M. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. Porto</p><p>Alegre: Artmed, 2011.</p><p>DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano.</p><p>São Paulo: Companhia das Letras, 1996.</p><p>DAMÁSIO, António R. E o cérebro criou o Homem. São Paulo: Companhia das</p><p>Letras, 2011.</p><p>DE OLIVEIRA, G. G. Neurociência e os processos educativos: um saber</p><p>necessário na formação de professores. 2011. 147 f. Dissertação (Mestrado em</p><p>Educação). Faculdade de Educação, Universidade de</p><p>do professor, ele se configura como uma importante metodologia</p><p>que permite aos estudantes uma melhor apropriação dos conteúdos.</p><p>LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS: O QUE DIZEM OS PROFESSORES DA</p><p>ESCOLA?</p><p>Desta forma, buscando conhecer as opiniões dos professores sobre o laboratório</p><p>de ciências, foram aplicados quatro questionários com cinco perguntas</p><p>subjetivas. A escolha do questionário como metodologia</p><p>Pode ser definido “como a técnica de investigação composta por um número</p><p>mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo</p><p>por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses,</p><p>expectativas, situações vivenciadas etc.” (GIL, 1999, p. 128).</p><p>Assim, diante dessa definição, o questionário se adequa ao objetivo da pesquisa.</p><p>Contudo, a quantidade de professores remete aos que se dispuseram a participar</p><p>da pesquisa e serão representados por P.1, P.2, P.3 e P.4. Diante da pouca</p><p>disponibilidade dos docentes o número de questões foi reduzido de 10 para</p><p>cinco. A escolha da escola se deu pelo fato de que durante a realização do</p><p>estágio de observação, presente na matriz curricular do curso de Ciências</p><p>Biológicas da Universidade Federal de Alagoas, serem constantes as</p><p>lamentações de professores que já não sabiam mais o que fazer para tornar o</p><p>ensino atrativo o suficiente para despertar o interesse dos estudantes em aprender</p><p>os conteúdos abordados dentro da sala de aula. Dessa forma, podemos perceber</p><p>que o estágio supervisionado contribui tanto para a percepção que teoria e</p><p>prática são complementares, assim como insere os futuros professores em um</p><p>ambiente rico para a realização de pesquisa que são as escolas.</p><p>RESULTADOS E DISCUSSÕES</p><p>Na primeira questão, ao serem indagados se os estudantes sabem da existência</p><p>do laboratório presente na escola e como reagem ao saber desse importante</p><p>espaço, todos os professores responderam que os discentes sabem da existência</p><p>do laboratório, porém não completaram suas respostas como solicitado.</p><p>Na questão dois, ao serem convidados a responderem com que frequência</p><p>(semanal) utilizam o laboratório presente na escola, apenas P.1, P.2 e P.4</p><p>afirmaram que às vezes utilizam; P.3 não utiliza.</p><p>Assim, podemos perceber que os professores reconhecem a importância dos</p><p>laboratórios, mas poucos utilizam o espaço que existe para a execução das</p><p>atividades práticas que envolvam experimentação. Portanto é necessário que haja</p><p>uma sensibilização diante das necessidades que seus discentes apresentam,</p><p>assim, é necessário um olhar atento pois:</p><p>Na medida em que o professor está atento aos alunos e a eles dá oportunidades</p><p>de desenvolverem habilidades, deixa-os mais livres para fazerem perguntas e</p><p>questionar sobre os mistérios do mundo naturalista, com isto, estes alunos</p><p>passam a ter condições de observar, refletir e experimentar ao mesmo tempo em</p><p>que passam a integrar estas habilidades do pensamento naturalista em várias</p><p>outras disciplinas (KONZEN, 2009, p. 2).</p><p>Dessa maneira, o professor deve estar atento às necessidades impostas pela</p><p>educação, para que perceba a necessidade de complementação que suas aulas</p><p>possuem. E assim permita que os estudantes se sintam dispostos a interagirem</p><p>com o conteúdo e tenham condições de desenvolverem as habilidades</p><p>necessárias para sua formação enquanto cidadão crítico e reflexivo.</p><p>Já na questão três, ao serem questionados sobre o que impede de utilizar os</p><p>laboratórios de ciências e o porquê, obtivemos como respostas de todos os</p><p>professores que não há nenhum motivo que os impeça a sua utilização. P.2 e P.3</p><p>discorrem um pouco mais em suas repostas</p><p>P(2): Mas a carga horaria influência.</p><p>P(3): E ao mesmo tempo falta de material.</p><p>Nos chama atenção a reposta de P.2, pois sabemos que existe uma série de</p><p>conteúdos que precisam ser ministrados ao longo do ano letivo, necessitando que</p><p>o professor insira em seus planejamentos tais atividades, o que nem sempre é</p><p>possível. Ao buscarmos autores que discutissem essa questão, Borges (2002)</p><p>relaciona sua afirmação com P.2 e P.3, pois esses professores buscaram expor</p><p>suas ideias por meio de respostas completas como a pergunta solicitava.</p><p>[…] o fato de não existirem atividades já preparadas para o uso do professor;</p><p>falta de recursos para compra de componentes e materiais de reposição, falta de</p><p>tempo do professor para planejar a realização de atividades como parte do seu</p><p>programa de ensino; laboratório fechado e sem manutenção (BORGES,2002, p.</p><p>294).</p><p>Assim, podemos perceber que a não utilização dos laboratórios de ciências</p><p>quando presente nas escolas envolvem muitas outras questões que vão além da</p><p>vontade do professor. A falta de tempo e de equipamentos adequados são</p><p>considerados motivos suficientes para a redução de sua utilização.</p><p>Já na quarta questão, os professores foram indagados se durante sua formação ou</p><p>em outras experiências profissionais tiveram contato com os laboratórios. P1, P3</p><p>e P4 responderam que sim. Mas a pergunta, assim como todas as outras,</p><p>solicitava explicações depois de sua afirmação ou negação. Apenas P.2</p><p>completou sua resposta ao dizer que</p><p>(P2): Durante a formação não houve, porém participei de oficinas promovidas</p><p>pela usina de ciências/ufal.</p><p>Portanto, podemos perceber que apenas P.2 não teve contato com os laboratórios</p><p>em sua formação, mas demonstrou interesse em buscar outros meios que</p><p>possibilitassem esse contato, uma atitude importante quando se busca inovar.</p><p>Conforme Hargreaves (2002, p. 115), “uma inovação bem-sucedida implica mais</p><p>do que aperfeiçoar habilidades técnicas”. Ela estimula também a reflexão sobre a</p><p>importância da sua prática docente para uma transformação social.</p><p>A última questão indagou aos professores se já haviam realizado algum curso de</p><p>capacitação para a utilização dos laboratórios e que discorressem resumidamente</p><p>a respeito de tal experiência. E mais uma vez, não foi cumprido o que a questão</p><p>solicitava, todos responderam em respostas curtas, e apenas P.4 afirmou que sim.</p><p>P.1, P.2 e P.3 nunca realizaram nenhum curso.</p><p>Assim, torna-se necessário que o professor busque se atualizar para que possa ter</p><p>condições de continuar aprimorando sua docência e permitir a seus estudantes</p><p>uma melhor aprendizagem. Nesse sentido:</p><p>A formação continuada deve propiciar atualizações, aprofundamento das</p><p>temáticas educacionais e apoiar-se numa reflexão sobre a prática educativa,</p><p>promovendo um processo constante de auto avaliação que oriente a construção</p><p>contínua de competências profissionais. Porém, um processo de reflexão exige</p><p>predisposição a um questionamento crítico da intervenção educativa e uma</p><p>análise da prática na perspectiva de seus pressupostos. Isso supõe que a</p><p>formação continuada estenda-se às capacidades e atitudes e problematize os</p><p>valores e as concepções de cada professor e da equipe. (BRASIL, 2002, p. 70).</p><p>Dessa forma é essencial que o sentimento de incompletude faça parte da vida do</p><p>professor, para que assim ele possa ter a sensibilidade de rever a sua prática</p><p>pedagógica e perceba a necessidade de complemento que ela possui. Para isso, o</p><p>docente deve apostar no que conhecemos por formação continuada.</p><p>Contudo, vale ressaltar a importância de um professor que reflita sobre todas as</p><p>questões que envolvem o ensino e suas dificuldades, mas que principalmente</p><p>faça constantes reflexões sobre sua prática docente, pois é perceptível a</p><p>necessidade de rever ideias e atitudes dos professores para a transformação da</p><p>prática, o que:</p><p>[...] implica em mudança de concepção do próprio trabalho pedagógico, muitas</p><p>vezes conservador, centrado em relações autoritárias, na reprodução e</p><p>manutenção do conhecimento acrítico e deslocado da realidade e em métodos</p><p>positivistas-racionalistas. (FONSECA, 2008, p. 363).</p><p>Diante dessa argumentação, o professor deve procurar entender que, a simples</p><p>reprodução dos conteúdos acaba impedindo que os estudantes sejam críticos e</p><p>reflexivos. Para que seja possível um ensino voltado para as necessidades</p><p>apresentadas atualmente é necessária uma reflexão constante da prática docente.</p><p>Assim, torna-se fundamental que o professor</p><p>Uberaba, Uberaba. 2011.</p><p>DE OLIVEIRA, G. G. Neurociências e os processos educativos: um saber</p><p>necessário na formação de professores. Educação Unisinos, Uberaba, v. 18, n. 1,</p><p>p. 13-24, 2013.</p><p>DOMINGUES, A. R. A. A dificuldade de expressar emoções: um estudo</p><p>Psicossocial da servidão. 2001. 158 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia).</p><p>Departamento de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica – PUC, São</p><p>Paulo, 2001.</p><p>FREIRE, J. B. Métodos de confinamento e engorda: como fazer render mais</p><p>porcos, galinhas, crianças... In.: MOREIRA, W. W. (Org.). Educação Física e</p><p>esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus, 1992. p. 109-122.</p><p>GUERRA. Carlos Gustavo Marcante. Transdisciplinaridade com (re)ligação</p><p>entre Ciência e Cultura: da Antiga China à Informática Educativa e Musical.</p><p>1996, 215 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro de Ciências da</p><p>Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996.</p><p>IZQUIERDO, Ivan A. Memória. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.</p><p>KOAN, W. Devir-criança da Filosofia – infância da Educação. Belo Horizonte:</p><p>Autêntica, 2010.</p><p>LIBERATO. A. A. S; SILVA. A. L. G. Processos do aprender: as contribuições</p><p>da Neurociências para a formação de professores da Educação Infantil. Educere.</p><p>XII Congresso Nacional em Educação. PUCPR, Paraná, 2015. p. 11.103-11.118.</p><p>LIMA. E. S. Escrita para Todos: a aplicação da Neurociência na docência e na</p><p>aprendizagem. São Paulo: Cepaos, 2013.</p><p>MORA, Francisco. Como funciona o cérebro. Porto Alegre: Artmed, 2004.</p><p>MORAES, Maria Cândida; TORRE, Saturnino de la. 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Os</p><p>alunos costumam ter dificuldade em compreender essa ciência, pois têm a</p><p>concepção de que esta é complexa e de difícil entendimento. Esses obstáculos</p><p>podem estar associados à falta de relação com situações cotidianas, já que existe</p><p>uma diferença entre a matemática da escola e a utilizada no cotidiano</p><p>(CARRAHER; SCHLIEMANN, 2015).</p><p>A última análise relacionada à matemática, divulgada pelo Sistema de Avaliação</p><p>da Educação Básica (Saeb), demonstrou que os resultados das avaliações</p><p>continuam abaixo da média almejada pelo sistema educacional (BRASIL, 2016).</p><p>Os descritores desse processo avaliativo indicam que os alunos têm dificuldades</p><p>em cálculos simples com as quatro operações, na leitura, mostrando-se, muitas</p><p>vezes, restrita, na interpretação de gráficos e no estabelecimento das relações</p><p>entre medidas de tempo.</p><p>Sob essa ótica de analise, para Valente (2014), as dificuldades enfrentadas pelos</p><p>alunos podem estar associadas à falta de interesse pela metodologia utilizada.</p><p>Sendo assim, as tecnologias podem ser usadas como recurso para aproximar os</p><p>conteúdos vivenciados no cotidiano dos alunos, possibilitando o interesse, a</p><p>motivação e a atuação destes no seu próprio processo de aprendizagem.</p><p>Na perspectiva de Weller e Gould (2015), a disseminação dos recursos digitais e</p><p>da rede tecnológica traz grandes transformações ao processo de aprendizagem.</p><p>As informações estão além das livrarias e da sala de aula, há um livre acesso por</p><p>meio dos celulares e dos smartphones. Segundo análises, as aulas</p><p>exclusivamente expositivas e as metodologias que não seguem a realidade</p><p>vivenciada pelo discente, em algumas situações, têm contribuído para a evasão,</p><p>diminuindo o interesse dos estudantes.</p><p>A fim de superar tais dificuldades educacionais, estratégias metodológicas</p><p>podem ser utilizadas para, assim, alavancar a força motriz necessária para</p><p>estimular o interesse dos alunos pela matemática. Dentre essas alternativas, o</p><p>uso de elementos de games em jogos educativos e Recursos Educacionais</p><p>Digitais (RED) propiciam o interesse por parte dos alunos e trazem atributos</p><p>relacionados ao contexto do jogador(a), desafios e adrenalina (SOUZA, 2012).</p><p>Para Kapp (2012), os games são atividades que despertam interesse e motivam</p><p>os jovens da atualidade, sendo, dessa forma, essenciais para o ambiente de sala</p><p>de aula. A atratividade dos jogos de entretenimento transforma o espaço da</p><p>aprendizagem em um processo de contextualização, desafios e interação e fazem</p><p>que o aluno se sinta imerso e desafiado em um contexto real.</p><p>Diante disso, Vygotsky (1994) considera que há instrumentos que mediam a</p><p>interação e influenciam na aprendizagem. Para Nascimento e Castro-Filho</p><p>(2016), as tecnologias podem ser usadas como instrumentos em distintas áreas</p><p>temáticas, auxiliando os alunos a construírem conhecimentos individual ou</p><p>colaborativo em diversos contextos.</p><p>Ainda segundo Vygotsky (1994), o desenvolvimento educacional ocorre na</p><p>interação com o meio social e o cultural. Como a aprendizagem escolar é fonte</p><p>geradora de novos conhecimentos, para tentar compreendê-los, o autor propõe a</p><p>Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), uma concepção imprescindível para</p><p>o entendimento do aprendizado. A definição de ZDP vai muito além da esfera</p><p>educacional, sendo uma emergência do conhecimento que é constituído,</p><p>expressando as interações humanas e possibilitando o processo de</p><p>desenvolvimento do sujeito de maneira dinâmica. Dessa maneira, percebe-se que</p><p>o conceito de ZDP nasce da necessidade de o autor entender como se processa a</p><p>aprendizagem, sendo essa definição essencial para a compreensão da forma</p><p>como ocorre o desenvolvimento humano.</p><p>A primeira formulação do conceito de ZDP propunha uma relação entre a</p><p>distância do Nível de Desenvolvimento Real (NDR), ou seja, o que a criança já</p><p>consegue realizar sozinha, e o Nível de Desenvolvimento Proximal (NDP), que é</p><p>aquilo que a criança não consegue realizar sozinha, mas tem o potencial para</p><p>tanto,</p><p>pois, com a ajuda de alguém mais experiente, consegue fazê-lo</p><p>(VYGOTSKY, 1994).</p><p>A ZDP caracteriza-se por um processo pelo qual a aprendizagem se desenvolve e</p><p>pode ser facilitada por recursos e ferramentas do meio social. Os recursos</p><p>educacionais digitais – RED são ferramentas digitais criadas, que demandam</p><p>formas de mediação e interação (RUBTSOVA, 2016). Os RED definem-se como</p><p>recursos digitais usados para ajudar os docentes no desenvolvimento de</p><p>conceitos que facilitam o entendimento dos conteúdos pelos aprendentes.</p><p>O presente estudo propõe uma metodologia que utiliza e insere elementos de</p><p>games e RED na educação, analisando se serão possibilitadas aos alunos</p><p>situações didáticas que os possibilitem significar conhecimentos sob uma visão</p><p>teórica da ZDP.</p><p>Uma das formas de avaliação dos elementos dos games é a teoria de Potencial</p><p>Pedagógico desenvolvida por Souza (2012), que o define como capacidade de</p><p>instrumento ou atividade de forma isolada ou em conjunto com outros elementos</p><p>de representar certo conceito, promovendo a facilitação da sua compreensão.</p><p>Sobre esse entendimento, Silva (2000) destaca, há mais de uma década, que o</p><p>computador é utilizado na escola em atividades, muitas vezes, sem reflexão. Isso</p><p>ainda hoje é identificado, mesmo em um contexto em que os jogos estão cada</p><p>vez mais acessíveis pelos smartphones e por outros dispositivos móveis.</p><p>Propõe-se, portanto, o uso otimizado dos games como ferramentas que</p><p>possibilitem discussões e questionamentos, favorecendo a aprendizagem.</p><p>Domínguez et al. (2013) enaltece que os critérios de escolha dos elementos dos</p><p>games que serão utilizados devem respeitar a singularidade do perfil dos</p><p>discentes.</p><p>Complementa-se a importância desse estudo pelo atual desinteresse e pela falta</p><p>de motivação dos alunos pelas metodologias tradicionais, principalmente nos</p><p>conteúdos de matemática. Os discentes anseiam por ambientes e contextos que</p><p>promovam dinamicidade e interação, portanto a presente pesquisa analisará a</p><p>importância da inserção dos RED nos processos de aprendizagem.</p><p>Luckin et al. (2005) consideram que a relação entre os meios educacionais e os</p><p>avanços tecnológicos é dialética, tendo em vista que as Tecnologias de</p><p>Informação e Comunicação (TIC) modificam o cotidiano da sociedade. Em</p><p>consonância a isso, a escola também tenta adequar a utilização das tecnologias</p><p>ao currículo escolar para se harmonizar com as necessidades de toda a</p><p>comunidade escolar.</p><p>As dificuldades enfrentadas pelos alunos nos conteúdos da matemática fazem</p><p>que nossas metodologias sejam repensadas, e os jogos estando próximos da</p><p>vivência desses discentes tornam-se um recurso que podem auxiliar a sua</p><p>aprendizagem.</p><p>Dentro do exposto, surge a seguinte questão: como o uso de RED pode auxiliar</p><p>na aprendizagem da matemática e na prática docente sob a perspectiva de Zona</p><p>de Desenvolvimento Proximal (ZDP)? Partindo desse questionamento, tem-se</p><p>como objetivo geral: analisar o uso de RED no âmbito pedagógico e na</p><p>aprendizagem da matemática por meio da emergência de ZDP. E como</p><p>específicos: 1) identificar/levantar características dos RED na facilitação da</p><p>aprendizagem; 2) conhecer o conceito e o desenvolvimento de ZDP, assim como</p><p>os elementos de games na aprendizagem da matemática. 3) perceber de que</p><p>forma um Recurso Educacional Digital (RED) pode facilitar a aprendizagem e as</p><p>práticas docentes.</p><p>Este trabalho está estruturado da seguinte forma: a próxima seção discute o uso</p><p>das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) no auxílio da</p><p>emergência de ZDP, seguida de uma seção que aborda os elementos dos games e</p><p>o contexto educacional a partir do uso desta metodologia de ensino.</p><p>Posteriormente, são feitas observações sobre o RED Balança Interativa</p><p>finalizando com as considerações finais e as referências.</p><p>Referencial teórico</p><p>O uso das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) no auxílio da</p><p>emergência de ZDP</p><p>Com a globalização das informações, na atualidade, temas, como</p><p>compartilhamento e relações políticas e sociais, surgem cada dia com mais</p><p>frequência na sociedade. Não há mais limites espaciais para que diferentes</p><p>realidades e contextos se cruzem e troquem informações. E é nesse universo que</p><p>o tema interação se torna cada dia mais visível, maximizando suas áreas de</p><p>investigação e interesse e envolvendo diferentes campos de pesquisa, como</p><p>Educação, Psicologia e Linguística.</p><p>Nesse sentido, Leite (2006) acredita que a formação dos educadores é</p><p>imprescindível para a utilização eficaz das TIC. Sua função deve ser</p><p>reestruturada, haja vista a forte influência que exerce sobre os educandos. Esse</p><p>desafio envolve transformações no contexto educacional, desde a estruturação</p><p>física, perpassando pela metodologia, até a formação dos aprendentes e</p><p>educadores. A citada autora faz a seguinte reflexão:</p><p>O professor necessita de tempo e de oportunidades de familiarização com as</p><p>novas tecnologias educativas, precisando de apoio da instituição escolar no</p><p>âmbito de treinamentos, tempo para planejar suas atividades com os recursos</p><p>tecnológicos e condições físicas para o trabalho (laboratórios, computadores,</p><p>softwares e outros materiais (LEITE, 2006, p. 29).</p><p>Leite (2006) considera ainda importante que a escola deve acompanhar o</p><p>educador; criar chances com treinamentos para a apropriação dos novos</p><p>recursos; fornecer também condições para o planejamento das aulas interativas</p><p>com o uso das ferramentas; além de oferecer estrutura física mínima para a</p><p>aplicação das práticas tecnológicas. Ressalta-se ainda que as TIC estão em</p><p>processo contínuo de transformação e que, para acompanhá-las, a comunidade</p><p>escolar precisa de treinamento permanente.</p><p>A teoria sociointeracionista traz contribuições sobre o uso de recursos e</p><p>ferramentas sociais para a aprendizagem do ser humano. Sendo assim, quando a</p><p>criança aprende os primeiros nomes dos objetos, já começa sua aprendizagem de</p><p>conteúdos pré-escolares. Como a aprendizagem escolar é fonte geradora de</p><p>novos desenvolvimentos, para tentar compreendê-los, Vygotsky (1994) propõe a</p><p>Zona de Desenvolvimento Proximal, uma nova concepção imprescindível para o</p><p>entendimento do aprendizado educacional.</p><p>Sabe-se que a definição de ZDP vai muito além da esfera educacional, sendo</p><p>uma emergência do conhecimento que é constituído e que não apresenta</p><p>especificidade, expressando as interações humanas, possibilitando o processo de</p><p>desenvolvimento de maneira dinâmica, fluida e indeterminada. A ZDP não se</p><p>restringe ao contexto de educação formal, mas faz parte de todo o processo de</p><p>constituição cultural possível entre as pessoas, emergindo em qualquer lugar em</p><p>que as interações ocorrem.</p><p>Dessa maneira, percebe-se que o conceito de ZDP nasce da necessidade de o</p><p>autor entender como se processa a aprendizagem, sendo essa definição essencial</p><p>para a compreensão da forma como ocorre o desenvolvimento humano.</p><p>Nessa perspectiva, Vygotsky (1994), na busca de entender como a aprendizagem</p><p>ocorre, desenvolveu o conceito de ZDP. A primeira formulação da ZDP</p><p>propunha uma relação entre a distância do Nível de Desenvolvimento Real</p><p>(NDR), ou seja, o que o sujeito já consegue realizar sozinho, e o Nível de</p><p>Desenvolvimento Proximal (NDP), que é aquilo que o sujeito não consegue</p><p>realizar sozinho, mas tem o potencial para tanto e com a ajuda de alguém mais</p><p>experiente, consegue fazê-lo.</p><p>Assim, autores, como Meira e Lerman (2009), consideram essa primeira</p><p>formulação como restrita, visto que somente o desenvolvimento particular das</p><p>funções psicológicas limita a ZDP em um meio físico fechado, que deve ser</p><p>alcançado pelo educador, para que a aprendizagem venha a ocorrer.</p><p>No presente estudo, a visão ampliada da ZDP é considerada a partir dos</p><p>conceitos e das formulações dos autores acima citados, caracterizando-a como</p><p>espaço semiótico, mais abrangente e dinâmico construído durante as atividades,</p><p>nas quais os pares, professores ou outros recursos, propiciam a aprendizagem.</p><p>Nesse sentido, Luckin (2010) relaciona o uso das TIC na Educação,</p><p>desenvolvendo a definição de ZDP como suporte, e utiliza a metáfora</p><p>de</p><p>andaimes, ou seja, os educadores e os colegas com mais experiência têm como</p><p>missão auxiliar na compreensão dos conteúdos apresentados. Considera-se que</p><p>os pares e os educadores, por meio da interação e das relações de troca,</p><p>fornecem a base para a compreensão de novos significados.</p><p>Segundo Resta e Laferrière (2007), todo dia, recursos tecnológicos são</p><p>desenvolvidos. Estudos, baseados em teorias socioconstrutivistas, demonstram</p><p>necessidade no envolvimento de ambientes educacionais interativos. Por ser a</p><p>tecnologia um meio favorável para o desenvolvimento de processos</p><p>interacionais, David (2010, p. 16) considera que:</p><p>A busca por uma melhor compreensão em relação às interações interpessoais se</p><p>justifica pelo desenvolvimento das tecnologias digitais, as quais potencializam</p><p>algo que é intrínseco ao ser humano: a necessidade de se comunicar, de se</p><p>relacionar com outras pessoas. O senso de comunidade, de grupo social, de</p><p>interesse latente por estar em contato com o outro, vem sendo amplamente</p><p>favorecido pelo desenvolvimento dessas tecnologias e pelo grande leque de</p><p>recursos comunicativos por elas apresentados.</p><p>Sob esse viés, Colaço (2004) analisa que as atividades interativas promovem o</p><p>compartilhamento de conhecimentos, e o meio simbólico construído por essa</p><p>troca facilita a emergência de ZDP. Essas situações são essenciais na esfera</p><p>educacional para que os alunos compartilhem e construam o conhecimento de</p><p>forma conjunta.</p><p>Leite (2006) analisa, ainda, o uso da Balança Interativa para o entendimento dos</p><p>conceitos algébricos a partir das interações e dos diálogos entre docentes e</p><p>discentes. Os estudos da autora concluem que as trocas de diálogos entre</p><p>professor e aluno durante a execução do RED trazem contribuições para</p><p>aprendizagem da matemática.</p><p>As tecnologias, especificamente as móveis, se utilizadas de forma planejada,</p><p>apresentando objetivos claros e definidos, bem como obedecendo às</p><p>necessidades da aprendizagem, podem ajudar os participantes do processo</p><p>educacional. Assim, consideram-se as potencialidades dos diferentes tipos de</p><p>tecnologia como meio oportuno para a construção de vivências de ensino e</p><p>aprendizagem, das quais os educandos podem participar em cenários variados,</p><p>que promovam a colaboração e a comunicação de aspectos temporais e locais.</p><p>Os elementos dos games e o contexto educacional</p><p>Estudos recentes que discutem a temática da era digital apontam que as novas</p><p>gerações se desenvolvem no contexto dos recursos digitais. São criadas</p><p>diferentes ferramentas culturais, que demandam formas de mediação e interação.</p><p>Essas últimas determinam e podem potencializar o desenvolvimento de</p><p>processos mentais (RUBTSOVA, 2016).</p><p>Segundo Kapp (2012), os elementos dos jogos podem ser utilizados em</p><p>diferentes ambientes, havendo uma forma de integração de variadas</p><p>características dos games nos processos de aprendizagem.</p><p>Falcão, da Rocha e Hazin (2016) ressaltam que a gamificação relaciona os</p><p>contextos da aprendizagem ao ambiente dos jogos, tornando esse processo em</p><p>momentos de diversão e motivação, facilitando a constituição do conhecimento.</p><p>Os games trazem, por meio do seu aspecto lúdico, a característica de atratividade</p><p>uma premissa dos jogos e podem ter ou não potencial pedagógico. Souza (2012)</p><p>define o potencial pedagógico dos games como a capacidade que um</p><p>instrumento ou atividade de forma isolada ou em conjunto com outros elementos</p><p>podem representar certo conceito, promovendo a facilitação da sua</p><p>compreensão.</p><p>Para Bruner (2001), o ambiente de sala de aula pode ser desencadeador de</p><p>momentos opostos, como aversão e atratividade. Considera que a gamificação é</p><p>um meio interessante e atrativo no desenvolvimento das atividades em sala de</p><p>aula. A análise do potencial pedagógico e sua característica semiótica e dinâmica</p><p>podem fornecer importantes informações sobre a forma como as ZDP podem</p><p>emergir por meio do uso dos games.</p><p>O presente estudo busca identificar a emergência de ZPD nas atividades que</p><p>envolvem os jogos, de forma específica no RED Balança Interativa. Para o</p><p>aprofundamento de tais definições, na próxima sessão, o RED será</p><p>caracterizado.</p><p>O RED Balança Interativa</p><p>O programa tem como denominação “Balança Interativa” e possui constituição</p><p>concreta de uma balança de pratos, sendo utilizada pelos comerciantes, podendo</p><p>ser vista pelos aprendentes em feiras, comércios e outros tipos de ambientes que</p><p>eles visitam. O RED envolve situações problema e os diagramas interativos são</p><p>de simples manuseio, não tendo como requisito qualquer formação tecnológica.</p><p>A Balança Interativa pode auxiliar na compreensão de conceitos algébricos,</p><p>essencialmente na ideia de incógnita em equação de 1º grau, que representa a</p><p>passagem da aritmética para a algébrica. É um jogo educativo, em que as letras</p><p>(variáveis desconhecidas) representam pesos (variáveis conhecidas) de 1 até 9. O</p><p>aluno deve descobrir os pesos desconhecidos, associando-os às letras. Há 10</p><p>níveis de dificuldade no jogo, em que os conteúdos evoluem progressivamente.</p><p>Na Figura 1, tem-se uma das telas do O.A.</p><p>FIGURA 1 – TELA BALANÇA INTERATIVA</p><p>FONTE: elaboração própria</p><p>Segundo Arruda, Ramalho e Castro-Filho (2015), a efetiva utilização do RED –</p><p>Balança Interativa – suscitou bastante interesse e curiosidade nos alunos, todos</p><p>relatam que ele é muito interessante porque desenvolve o raciocínio lógico.</p><p>O O.A. Balança Interativa desperta interesse e motivação aos alunos, por isso,</p><p>diferentes estudos, debates e pesquisas têm como objetivo discutir e verificar</p><p>situações didáticas que se apresentem como facilitadoras ao ensino da</p><p>matemática, buscando analisar até que ponto uma ferramenta didática pode ser</p><p>considerada uma alternativa de ensino da álgebra.</p><p>Estudos empíricos anteriores</p><p>Estudos anteriores de autores, como Arruda, Siqueira e Castro Filho (2015),</p><p>concluíram que, quando os educandos se deparam com conceitos algébricos em</p><p>um programa de computador, e, posteriormente, ela o vê na aprendizagem</p><p>formal, a aprendizagem torna-se mais significativa e mais eficiente. Os</p><p>educandos, mesmo que estejam com lápis e papel, somente conseguem</p><p>visualizar situações vivenciadas anteriormente, por isso, tornam-se mais próxima</p><p>da sua realidade. Dessa forma, comprova que o computador, agindo como</p><p>mediador, e as relações de interação com o professor proporcionam o surgimento</p><p>de ZDP, facilitando o processo de aprendizagem e acarretando o</p><p>desenvolvimento dos educandos.</p><p>Pesquisas recentes, como a de Leite (2006), Macêdo (2009), Freire (2007),</p><p>procuram desenvolver uma metodologia utilizando o software Balança</p><p>Interativa, aliando o uso da tecnologia à aprendizagem de conceitos</p><p>matemáticos, o que proporciona aos alunos situações interativas que os</p><p>possibilitem significar e construir conhecimentos matemáticos.</p><p>Nesse sentido, Leite (2006) desenvolveu estudos com o objetivo de verificar</p><p>como o professor mediador das relações dialógicas pode facilitar a aprendizagem</p><p>de conceitos matemáticos entre os alunos por meio de atividades em pares, tendo</p><p>como recurso a utilização da Balança Interativa. Teve, assim, como principal</p><p>conclusão que a intervenção do professor e o auxílio mútuo dos alunos os levam</p><p>a uma melhor compreensão dos conceitos algébricos.</p><p>Macedo (2009) desenvolveu uma pesquisa com o objetivo de analisar os efeitos</p><p>de uma intervenção específica, com a utilização de uma sequência didática, em</p><p>que o estudante foi desafiado a refletir sobre sua ação e encorajado a</p><p>desenvolver estratégias próprias do pensamento algébrico durante a resolução de</p><p>equações do l0 grau. Os resultados das análises indicam que o uso do recurso</p><p>contribui para melhorias qualitativas e quantitativas.</p><p>Freire (2007), também analisou de que forma o Balança Interativa pode facilitar</p><p>o desenvolvimento de pensamentos algébricos em aprendentes da educação</p><p>inicial. Como principais conclusões, os estudos apontam que o uso do Objeto de</p><p>Aprendizagem (OA) auxilia na elaboração de estratégias, bem como na</p><p>resolução das atividades, facilitando a aprendizagem de conceitos algébricos.</p><p>De acordo com</p><p>os estudos sobre a utilização de recursos digitais no processo de</p><p>ensino e aprendizagem de conteúdos matemáticos, muitas estratégias de</p><p>aprendizagem são desenvolvidas pelos alunos quando utilizam esses recursos</p><p>(FREIRE, 2007).</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>O caminho percorrido até o momento revelou especificidades e características</p><p>dos processos de ensino e aprendizagem, mediados pelas tecnologias digitais,</p><p>buscando-se entender como ocorre a aprendizagem. A partir do estudo teórico,</p><p>procurou-se relacionar com base em questões de diferentes autores, objetivando</p><p>responder à pergunta inicial da pesquisa: como o uso de RED pode auxiliar na</p><p>aprendizagem da matemática e na prática docente sob a perspectiva de Zona de</p><p>Desenvolvimento Proximal (ZDP)?</p><p>O presente estudo buscou trazer benefícios e subsídios para a aprendizagem da</p><p>matemática, uma matemática não obrigatoriamente de quadro negro, mas, sim,</p><p>vivenciada e mais próxima da vida do aprendente.</p><p>Este trabalho baseou-se em estudos, debates e pesquisas, objetivando discutir e</p><p>verificar situações didáticas que fossem facilitadoras das práticas educacionais.</p><p>Analisando até que ponto uma ferramenta didática (Software Balança) pode ser</p><p>considerada uma alternativa e ferramenta para o ensino de conceitos teóricos.</p><p>Transpor as barreiras dessas dificuldades é um desafio para os educadores, haja</p><p>vista esses recursos tecnológicos não estarem em meios físicos, como os livros,</p><p>mas possuírem conteúdos dinâmicos e originados em processos de interação e</p><p>colaboração. Dessa forma, o avanço das tecnologias digitais e, entre estas, os</p><p>games podem atuar como potencializadores da comunicação e dos</p><p>relacionamentos interpessoais, fazendo a interação entre os elementos</p><p>mediadores do processo de ensino e aprendizagem.</p><p>O estudo ficou restrito aos níveis teóricos do uso das tecnologias, da gamificação</p><p>e de recursos digitais, sendo necessário prosseguir o trabalho posteriormente</p><p>com uma pesquisa que envolva uma aplicação prática de todos esses</p><p>conhecimentos.</p><p>Como sugestões de trabalhos futuros, tem-se o estudo de outros aspectos</p><p>educacionais do recurso, dentre elas, têm-se a usabilidade em outros</p><p>dispositivos, a promoção de trabalhos em grupo e a interação, bem como o uso</p><p>da Balança Interativa envolvendo outras áreas de conhecimento.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Inep. Saeb – 2016, Primeiros Resultados:</p><p>médias de desempenho em perspectiva comparada, Brasília: MEC, SEB; Inep,</p><p>61p. 2007. Disponível em:</p><p>http://portal.inep.gov.br/artigo/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/inep-</p><p>apresenta-resultados-do-saeb-prova-brasil2015/21206. Acesso em: 10 abr. 2017.</p><p>CARRAHER, David W.; SCHLIEMANN, Analúcia D. 6 Powerful Ideas in</p><p>Elementary School Mathematics. Handbook of International Research in</p><p>Mathematics Education, p. 191, 2015.</p><p>COLAÇO, V. F. R. Processos interacionais e a construção de conhecimento e</p><p>subjetividade de crianças. Psicologia: reflexão e crítica, v. 17, n. 3, p. 333-340,</p><p>2004.</p><p>DAVID, P. B. Interações contingentes em ambientes virtuais de aprendizagem.</p><p>2010. 226 f. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação,</p><p>Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010.</p><p>DOMÍNGUEZ, A., SAENZ-DE-NAVARRETE, J.; DE-MARCOS, L.; et al.</p><p>Gamifying learning experiences: Practical implications and outcomes.</p><p>Computers & Education, v. 63, p. 380-392, 2013.</p><p>FALCÃO, Taciana; DA ROCHA FALCÃO, J.; HAZIN, Izabel. Gamificação na</p><p>sala de aula: subsídios para a oferta de contexto pedagógico em regime de zona</p><p>de desenvolvimento proximal. Revista Tecnologias na Educação, v. 16, p. 1-23,</p><p>2016.</p><p>FREIRE, R. S. Objetos de Aprendizagem para o desenvolvimento do</p><p>pensamento algébrico no ensino fundamental. Dissertação de Mestrado.</p><p>Universidade Federal do Ceará: UFC, 2007.</p><p>KAPP, K. The gamification of learning and instruction: Game-based methods</p><p>and strategies for training and education. San Francisco: Pfeiffer, 2012.</p><p>LEITE, M. A. Processos de mediação de conceitos algébricos durante o uso de</p><p>um objeto de aprendizagem. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade</p><p>de Educação, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2006.</p><p>LUCKIN, R. Re-designing learning contexts: technology-rich, learner-centred</p><p>ecologies. New York: Taylor & Francis e-Library, 2010.</p><p>LUCKIN, R. et al. Using mobile technology to create flexible learning contexts.</p><p>Journal of Interactive Media in Education, 2005.</p><p>NASCIMENTO, K. A. S. do; CASTRO- FILHO, J. A. D. Dispositivos móveis</p><p>na educação: ensinando e aprendendo em diferentes contextos. In: XXVII</p><p>Simpósio Brasileiro de Informática na Educação, 2016, Uberlândia, 2016. p.</p><p>1225-1234</p><p>RESTA, Paul; LAFERRIÈRE, Thérèse. Technology in support of collaborative</p><p>learning. Educational Psychology Review, v. 19, n. 1, p. 65-83, 2007.</p><p>RUBTSOVA, O. V. Experimenting with roles in adolescent plays. In:</p><p>Proceedings of International Symposium Scientific School of L.S. Vygotsky:</p><p>traditions and innovations, Moscow State University of Psychology and</p><p>Education, 2016.</p><p>SILVA, M. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.</p><p>SOUZA, M. de F. C. de. Customização guiada: uma estratégia orientada a</p><p>modelos para produção de objetos de aprendizagem – Tese (doutorado) –</p><p>Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia. Programa de Pós-</p><p>Graduação em Engenharia de Teleinformática, Fortaleza, 2012.</p><p>VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,</p><p>1994.</p><p>WELLER, C.; GOULD, S. The most common reasons students drop out of high</p><p>school are totally heartbreaking. Disponível em:</p><p>www.businessinsider.com.au/most- common-reasons-students-drop-out-of-high-</p><p>school-2015-10. Acesso em: jan. 2018.</p><p>ESTÁGIO DOCENTE EM FORMAÇÃO DE PROFESSORES:</p><p>POSSIBILIDADES PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA</p><p>Juliana Vargas</p><p>Bruna Pereira</p><p>[...] a pesquisa nasce sempre de uma preocupação com alguma questão, ela</p><p>provém, quase sempre, de uma insatisfação com respostas que já temos, com</p><p>explicações das quais passamos a duvidar, com desconfortos mais ou menos</p><p>profundos em relação a crenças que, em algum momento, julgamos inabaláveis.</p><p>Ela se constitui na inquietação (BUJES, 2002, p. 14).</p><p>O presente capítulo analisa a prática do Estágio Docente em Formação de</p><p>Professores e Educação Profissional em Ambientes Escolares e/ou não</p><p>Escolares, componente curricular obrigatório do curso de licenciatura plena em</p><p>Pedagogia da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e sua potencialidade</p><p>como espaço para a Formação Continuada de professores em campo de</p><p>trabalho.¹⁷ De modo mais específico, buscamos visibilizar, neste estudo, a</p><p>experiência protagonizada por nós – orientanda e orientadora do referido estágio</p><p>– na organização de um projeto de trabalho que contemplasse “a inquietação”, na</p><p>forma como destaca Maria Isabel Bujes na epígrafe acima, de um grupo de</p><p>professoras de ensino médio de uma escola pública da rede estadual de ensino,</p><p>localizada na periferia de Canoas (RS). Apoiamo-nos nas palavras da autora pois</p><p>os projetos de trabalho, executados no estágio docente em nossa perspectiva de</p><p>ação, originam-se da prática de pesquisa no campo de atuação.</p><p>A insatisfação das docentes da escola supracitada relacionava-se ao</p><p>distanciamento entre as práticas pedagógicas organizadas até o momento e os</p><p>anseios de seus alunos, jovens entre 15 e 18 anos. A falta de comprometimento</p><p>com as tarefas escolares, as conversas paralelas em meio às atividades e</p><p>principalmente, o uso dos celulares em sala de aula, incomodava tais professoras</p><p>em demasia. No entanto, situações semelhantes não são restritas à escola em</p><p>questão. Estudos sobre juventude, a exemplo dos trabalhos de Juarez Dayrell</p><p>(2007), Elisabete Garbin (2009) e Juliana Vargas (2015), destacam que ações</p><p>como trocar mensagens, conversar com colegas, realizar os exercícios de</p><p>determinada disciplina e ainda ouvir música no celular pelo fone de ouvido</p><p>(burlando muitas vezes o olhar do professor) tornaram-se atividades</p><p>características e comumente realizáveis para os estudantes dos tempos atuais.</p><p>É importante destacar que corroboramos Selma Garrido Pimenta e Maria</p><p>Socorro Lucena</p><p>Lima (2010), ao destacar a potência de “práxis” nos estágios</p><p>obrigatórios dos cursos de formação de professores, uma vez que (re)configuram</p><p>concepções teóricas e ações práticas dos docentes titulares e dos alunos em</p><p>estágio, futuros educadores. Como destacam as autoras, em outro estudo:</p><p>Entendemos que o estágio se constitui como um campo de conhecimento, o que</p><p>significa atribuir-lhe um estatuto epistemológico que supera sua tradicional</p><p>redução à atividade prática instrumental. Enquanto campo de conhecimento, o</p><p>estágio se produz na interação dos cursos de formação com o campo social no</p><p>qual se desenvolvem as práticas educativas (PIMENTA; LIMA, 2005, p. 6).</p><p>Também nos aproximamos das ideias de Maurice Tardif (2002, p. 36) ao</p><p>compreender o saber docente como uma prática plural, “[...] formado pelo</p><p>amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação</p><p>profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.” Nessa</p><p>perspectiva, destacamos que o exercício do estágio obrigatório poderá tensionar</p><p>as práticas pedagógicas dos docentes de uma instituição de ensino, frente à</p><p>possibilidade de diferenciadas experiências promovidas pelos alunos/estagiários.</p><p>A partir de tais premissas apresentamos, a seguir, uma breve contextualização do</p><p>estágio curricular em questão e do grupo de profissionais com o qual ele foi</p><p>desenvolvido. Posteriormente, destacamos algumas das atividades que foram</p><p>realizadas e sua conexão com características da juventude contemporâneas,</p><p>público com o qual os professores participantes trabalhavam e que fomentou a</p><p>organização do referido estágio. Finalizamos este capítulo compreendendo o</p><p>estágio docente como espaço de pesquisa, de (re)construção das práticas</p><p>pedagógicas e de preparação para o trabalho docente coletivo, uma vez que o</p><p>ensino “é resultado das ações coletivas dos professores e das práticas</p><p>institucionais, situadas em contextos sociais, históricos e culturais” (PIMENTA;</p><p>LIMA, 2005, p. 21).</p><p>PEDAGOGOS EM CURSO FORMANDO PROFESSORES</p><p>O Estágio Docente em Formação de Professores e Educação Profissional em</p><p>Ambientes Escolares e/ou não Escolares, conhecido como Estágio III, é</p><p>realizado no sétimo semestre do curso de Pedagogia da Ulbra, sendo precedido</p><p>dos estágios curriculares na educação infantil e nos anos iniciais do ensino</p><p>fundamental. A prática curricular obrigatória tem por objetivo o exercício da</p><p>docência em cursos de formação docente em nível médio ou equivalente (curso</p><p>normal), ou ainda, em ambientes não escolares e, na formação continuada de</p><p>professores. Dessa forma, o referido estágio oportuniza aos alunos práticas de</p><p>observação, pesquisa, acompanhamento e participação no planejamento,</p><p>avaliação e execução da docência.</p><p>A partir da organização de projetos de trabalho, os alunos e alunas do curso de</p><p>Pedagogia da Universidade devem, ao longo das distintas modalidades do</p><p>Estágio Curricular Obrigatório, articular reflexivamente teoria e prática, a partir</p><p>dos focos diagnosticados nos ambientes de atuação. Vale referir que a prática da</p><p>pesquisa é compreendida como esteio da organização dos projetos de trabalho ao</p><p>longo dos estágios curriculares e, por conseguinte, como estratégia primeira para</p><p>a formação dos alunos/estagiários. Tais concepções balizam-se no que afirma</p><p>Paulo Freire (1999, p. 32):</p><p>Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se</p><p>encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo buscando,</p><p>reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me</p><p>indago. Pesquiso para constatar, contatando intervenho, intervindo educo e me</p><p>educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou</p><p>anunciar a novidade.</p><p>Conforme destacamos anteriormente, o Estágio III abre a possibilidade para os</p><p>alunos/estagiários realizarem práticas de formação continuada para docentes da</p><p>educação básica. Em consonância com José Carlos Libâneo (2001), Antônio</p><p>Nóvoa (2009), Pimenta e Lima (2010), compreendemos que a formação</p><p>continuada promove novos sentidos às concepções teórico/práticas constituídas</p><p>pelos professores em suas instituições de ensino, pressupondo “um movimento</p><p>dialético, de criação constante do conhecimento, do novo, a partir da superação</p><p>(negação e incorporação) do já conhecido” (PIMENTA; LIMA, 2010, p. 130).</p><p>Sobre o tema, Marilda Behrens (1996, p. 115) cita que:</p><p>A formação de professores é um meio útil, necessário e fundamental para</p><p>consolidar a mudança, mas, por si só, nenhum curso de formação e capacitação</p><p>docente leva a mudanças substanciais no meio educacional, principalmente se</p><p>for apresentado ao grupo de professores de maneira estanque e desligada da</p><p>prática pedagógica realizada na escola. A formação não se faz antes da mudança,</p><p>mas durante o processo.</p><p>Já Antônio Nóvoa (1992, p. 25) acredita que “A formação não se constrói por</p><p>acumulação de cursos, conhecimentos ou técnicas, mas sim através de um</p><p>trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente</p><p>de uma identidade pessoal”. Com o exercício da formação continuada, os</p><p>professores têm a possibilidade de repensar os pontos positivos e negativos da</p><p>sua prática, reformular suas atividades, buscando melhorias no processo de</p><p>ensino-aprendizagem.</p><p>O estágio docente que atua como prática de formação continuada permite que os</p><p>alunos/estagiários ultrapassem as fronteiras de suas salas de aula (espaço de</p><p>docência) e articulem ações colaborativas entre corpo docente, coordenações</p><p>pedagógicas e equipes diretivas. Fomenta-se assim, a ideia de docência como</p><p>ação coletiva, a qual deve ter a ética como alicerce, como destaca Nóvoa (2009,</p><p>p. 14): “Não existem respostas pré-estabelecidas para o conjunto de dilemas que</p><p>os professores são chamados a resolver em uma escola [...]. É por isso que é tão</p><p>importante assumir uma ética profissional que é construída com o diálogo com</p><p>outros colegas”.</p><p>O grupo de docentes participantes partilhava, em um mesmo dia da semana, dos</p><p>períodos de planejamento pedagógico e, por essa razão, fora indicado pela</p><p>direção da escola para participar da prática de formação continuada promovida</p><p>pelo Estágio III. As seis professoras participantes lecionavam em turmas de</p><p>ensino médio e eram licenciadas nas respectivas graduações: Biologia, Física,</p><p>Geografia, Inglês, Língua Portuguesa e Literatura. Era um grupo jovem, em</p><p>idade cronológica (entre 23 e 42 anos) e em experiência docente, uma vez que</p><p>seu tempo de ingresso/permanência na escola (e na docência) variava entre dois</p><p>e oito anos.</p><p>É preciso destacar que a reunião pedagógica da escola em questão, com todos os</p><p>docentes da instituição, ocorre uma vez por mês (aos sábados, no turno da</p><p>manhã). Nesse espaço, busca-se solucionar questões mais gerais, tanto</p><p>pedagógicas, quanto administrativas. Devido ao tempo escasso e à urgência das</p><p>demandas do cotidiano escolar, são raras as vezes em a reunião pedagógica visa</p><p>a formação continuada. Já no período de recesso escolar, os professores da rede</p><p>estadual de ensino participam de cursos e palestras, promovidas pela Secretaria</p><p>de Educação do Estado (Seduc). No entanto, as temáticas eleitas, por vezes, não</p><p>contemplam as necessidades específicas de cada instituição, uma vez que tais</p><p>formações são organizadas pelas coordenadorias de ensino da Seduc.</p><p>JUVENTUDES CONECTADAS – UM PROBLEMA EM SALA DE AULA?</p><p>Ao longo das observações para a organização do Estágio de Formação Docente,</p><p>percebeu-se que as turmas em que as professoras atuavam eram numerosas e</p><p>extremamente agitadas, com o predomínio de conversas paralelas entre os alunos</p><p>sob assuntos outros, os quais não se referiam à realização das atividades</p><p>organizadas pelas docentes. Vale ainda referir que o uso do celular era uma</p><p>constante: conectados em seus aparelhos na maior parte do tempo, fosse para</p><p>escutar música ou acessar as redes sociais, percebíamos que os alunos se</p><p>distraíam, com facilidade, dos conteúdos trabalhados pelos professores. Segundo</p><p>Paula Sibilia (2012), os celulares acabam por provocar mudanças diversas no</p><p>cotidiano de seus usuários, uma vez que as distâncias</p><p>(geográficas e temporais)</p><p>são suprimidas e a disponibilidade de contato torna-se, praticamente,</p><p>permanente. É importante destacar que, na atualidade, as promoções oferecidas</p><p>pelas diferentes operadoras de telefonias garantem aos estudantes, por valores</p><p>acessíveis, o acesso à web, principalmente a redes sociais, em seus aparelhos</p><p>celulares por longos períodos. O ingresso na web permite ao sujeito, em um</p><p>único acesso a uma determinada rede social, informar-se sobre as tendências da</p><p>moda, comunicar-se com amigos e colegas, comprar produtos diversos e ainda,</p><p>produzir artefatos culturais, a exemplo da postagem de pequenos vídeos de</p><p>animação.</p><p>Pode-se pensar que, nos tempos atuais, a escola esteja competindo na atenção</p><p>dos alunos com as novas tecnologias de comunicação e informação, presentes</p><p>nas próprias mãos dos estudantes e que são por eles utilizadas, muitas vezes, em</p><p>meio as atividades escolares. As referidas tecnologias têm conquistado a atenção</p><p>do alunado do século XXI, muitas vezes com maior força, do que nossas ações</p><p>como professores (SIBILIA, 2012). Sobre o tema também colabora Nóvoa</p><p>(2009, p. 212).</p><p>As dificuldades levantadas por novos alunos (por aqueles que não querem</p><p>aprender, por aqueles que trazem consigo novas realidades sociais e culturais</p><p>para a escola) chamam a atenção para a dimensão humana e relacional do</p><p>ensino, para o corpo para corpo diário que os professores são obrigados a</p><p>enfrentar.</p><p>A relação aluno/aparatos tecnológicos era uma das questões instigava as</p><p>professoras participantes da Formação Continuada proposta pelo Estágio III.</p><p>Diante disso, elaborou-se um projeto de trabalho que visava a aproximação das</p><p>práticas educativas às novas tecnologias, na tentativa de traçar caminhos para a</p><p>melhoria da qualidade do ensino e das relações entre professores e alunos.</p><p>Compartilhamos dos pressupostos de Pierre Levy:</p><p>Não se trata aqui de usar as tecnologias a qualquer custo, mas sim de</p><p>acompanhar consciente e deliberadamente uma mudança de civilização que</p><p>questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura</p><p>dos sistemas educacionais tradicionais e, sobretudo os papéis de professor e de</p><p>aluno (LÉVY, 1999, p. 172).</p><p>Na tentativa de buscar caminhos que ampliassem a qualidade do ensino e as</p><p>demandas das professoras em questão, pensamos em como o uso do celular e do</p><p>computador poderiam mudar atitudes/posturas dos estudantes e principalmente,</p><p>a relação deles com o conhecimento, especialmente, dentro da sala de aula.</p><p>Partimos do pressuposto que o uso da tecnologia, em sala de aula, pode trazer</p><p>contribuições para a construção da autonomia do aluno e tensionar a própria</p><p>prática pedagógica docente, como destaca Magda Pischetola (2016, p. 136):</p><p>As habilidades que a tecnologia permite desenvolver, potencialmente, nos alunos</p><p>– a criação autoral, a resolução colaborativa de problemas, a autonomia e o</p><p>letramento como leitura de mundo – fazem dela um recurso essencial para a</p><p>mudança. Ao mesmo tempo, a inclusão digital traz novas possibilidades</p><p>didáticas para o docente e contém grande potencial para motivar a</p><p>aprendizagem, não só dos conteúdos, mas também dos processos de construção</p><p>desses conteúdos.</p><p>Logo, a aprendizagem tecnológica (por parte de alunos e professores) faz-se</p><p>necessária para a apreensão/compreensão do mundo atual. Apesar do grande</p><p>potencial da tecnologia, a sua utilização por parte dos professores como uma</p><p>metodologia e estratégia para atrair a atenção dos alunos, ainda é pouco</p><p>utilizada, por diversos fatores: falta de estrutura adequada, ausência de</p><p>treinamento/formação específica sobre o tema, turmas numerosas etc.</p><p>Partilhando com Moacir Gadotti (2000) a ideia de que o educador é um</p><p>mediador do conhecimento, que busca e aponta sentidos para seu fazer,</p><p>apresentamos a seguir, de modo breve, algumas das atividades que foram</p><p>contempladas na organização do projeto “Juventudes Contemporâneas”,</p><p>realizado ao longo da Prática do Estágio III, na escola em questão.</p><p>O ESTÁGIO EM AÇÃO</p><p>No primeiro encontro, realizamos a apresentação da proposta de trabalho e</p><p>propusemos a seguinte reflexão: “Como foi a minha juventude?”. Os relatos das</p><p>professoras foram diversos, tais como: “Minha juventude foi tranquila, na escola</p><p>os alunos eram educados e comprometidos com os estudos” (E); “Na escola em</p><p>que estudei o respeito era a palavra chave” (V); “Na minha juventude, quando</p><p>tinha que fazer trabalhos para a escola, eu ia até a biblioteca pública para fazer as</p><p>pesquisas” (S).¹⁸ Todas as professoras conversaram bastante e relataram,</p><p>empolgadas, suas experiências quando jovens.</p><p>Foi também organizada uma linha do tempo na qual as professoras destacaram</p><p>distintas características dos jovens ao longo dos séculos XX e XXI. A referida</p><p>dinâmica permitiu analisar, de uma forma mais sistematizada, mudanças</p><p>ocorridas com as juventudes ao longo dos tempos, em nossa sociedade. Ao</p><p>debater sobre a juventude contemporânea, as professoras relataram,</p><p>principalmente, como a falta de respeito tem reverberado entre os estudantes,</p><p>fato que entristece e decepciona as docentes. No entanto elas acreditavam que</p><p>mudanças nos métodos de ensino e em alguns dos hábitos das professoras</p><p>poderiam promover um maior interesse dos jovens nas aulas e assim, colaborar</p><p>para a redução dos problemas existentes nas instituições de ensino.</p><p>As professoras participantes foram unanimes em destacar a tecnologia como um</p><p>recurso potente para a organização de práticas pedagógicas diferenciadas. A fala</p><p>das docentes corrobora a afirmação de Maria Elizabeth de Almeida (2000, p. 78)</p><p>“Nós, educadores, temos de nos preparar e preparar nossos alunos para enfrentar</p><p>exigências desta nova tecnologia, e de todas que estão a sua volta”. Apesar de</p><p>serem compreendidos como “nativos digitais”, uma vez que nasceram e</p><p>cresceram com ampliação da internet e das TIC’s, nem sempre os jovens</p><p>contemporâneos conhecem as possibilidades das tecnologias de informação e</p><p>comunicação. Para a superação de tais limites, a ação docente torna-se</p><p>fundamental (PISCHETOLA, 2016).</p><p>Para que as professoras começassem a entender melhor o uso de algumas</p><p>ferramentas digitais, propomos a leitura do texto “A escola tem tudo o que</p><p>precisamos. O Facebook tem tudo que gostamos” (CARRANO, DAMASCENO</p><p>e TAFAKGI, 2013). O referido texto aborda uma pesquisa que visava</p><p>compreender o modo como a referida rede social era utilizada por professores e</p><p>estudantes de uma escola de ensino médio. Posterior à leitura, algumas das</p><p>professoras comentaram:</p><p>Prefiro não utilizar o Facebook, visto que os alunos, apesar de serem adolescentes e estarem no ensino médio, não sabem se portar. Já teve muitos problemas na escola em função do Face. (B)</p><p>Achei a pesquisa superinteressante, estou pensando em utilizar esta metodologia com os alunos do terceiro ano pra ver se eles se animam para estudar Geografia. (T)</p><p>Vou tentar criar um perfil para a turma que sou regente para a utilização no próximo trimestre, já que em aula eles não leem os textos de literatura, talvez conectados dê bons resultados. (E)</p><p>Foi possível observar o receio de algumas professoras no trabalho pedagógico</p><p>com as redes sociais. Para elas o uso da tecnologia é maravilhoso, mas abre</p><p>precedente para a aproximação entre a vida pessoal e social dos alunos e</p><p>professores, conforme esclareceu uma das participantes: “Nós e nossa família</p><p>ficamos muito expostos utilizando o Facebook. Uma vez tive que excluir meu</p><p>perfil por ter alunos que ficavam mandando mensagens toda hora”. (B).</p><p>As possibilidades de interação proporcionadas pelo Facebook e outras redes</p><p>sociais estão modificando, em certa medida, o modo como ocorrem as relações</p><p>entre os sujeitos fora do ambiente virtual. Na atualidade, até mesmo os</p><p>relacionamentos amorosos assumem “determinado peso” quando são destacados</p><p>nas redes sociais. Pode-se depreender que a mídia eletrônica esteja modificando</p><p>os comportamentos humanos em diferentes âmbitos. Sobre o tema, refere Garbin</p><p>(2003, p. 121):</p><p>A mídia eletrônica se apresenta como um avanço tecnológico capaz de modificar</p><p>nosso</p><p>comportamento, com um discurso que se materializa em novas condições</p><p>de possibilidades, em novos espaços e em novas formas que ele assume. Muitos</p><p>de nós estamos sendo re-constituídos por essas variadas formas discursivas que</p><p>usamos na Rede e que também são usadas para nós.</p><p>Ao longo do Estágio III, uma das docentes participantes criou um grupo com</p><p>seus alunos no Facebook, a exemplo do que realizaram os professores</p><p>pesquisados por Carrano e demais autores (2013). Valendo-se de estratégias de</p><p>avaliação no espaço virtual, a professora obteve um número expressivo de</p><p>participações da sua turma, como vê-se em suas palavras: “Dos 37 alunos da</p><p>turma, 31 comentaram e curtiram a publicação. E por incrível que pareça, os</p><p>comentários foram coerentes (T)”. ¹</p><p>Outra atividade do Estágio III, organizou-se sobre a análise de trechos da</p><p>produção francesa “Entre os muros da escola”, obra cinematográfica que aborda</p><p>problemáticas da escola contemporânea: intolerância, desrespeito, agressividade,</p><p>desmotivação, estresse, violência, entre tantos outros problemas que aparecem</p><p>no espaço escolar. Ao longo da atividade, as docentes ficaram emocionadas, pois</p><p>elas se identificavam com o comportamento e com as atitudes dos jovens e</p><p>ainda, com os problemas na organização da prática de sala de aula apresentados</p><p>pela película. Para que as professoras pudessem expor seus sentimentos, foi feito</p><p>um mural de comentários das mesmas sobre o filme. A atividade foi bem</p><p>acolhida pelas docentes, uma vez que elas relataram o quão difícil, pelo</p><p>cotidiano urgente da escola, falar com a coordenação e/ou com a direção da</p><p>instituição, sobre dúvidas e anseios na realização de sua prática pedagógica.</p><p>Posteriormente, solicitamos às docentes a escolha de um tema transversal para a</p><p>construção de um planejamento em grupo, com o apoio de determinadas</p><p>ferramentas tecnológicas disponíveis na internet. Foram apresentadas</p><p>ferramentas da plataforma Google, em especial, o Google Formulários, que</p><p>permite coletar e organizar informações a partir da elaboração de questionários</p><p>diversos, os quais podem ser respondidos computador, celular ou tablet, de modo</p><p>gratuito. Também foram explorados com as docentes, recursos como blogs,</p><p>canais do YouTube e aplicativos utilizados em celulares, a exemplo o aplicativo</p><p>do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem.</p><p>As docentes escolheram trabalhar com o tema Meio Ambiente e desenvolveram</p><p>o planejamento hipotético para uma turma de terceiro ano do ensino médio. Ao</p><p>longo da elaboração do planejamento, surgiu o seguinte questionamento: de que</p><p>forma podemos utilizar isto em sala de aula? Usando o celular! – respondeu uma</p><p>professora. A razão para tal resposta pode estar no difícil acesso à sala de</p><p>informática na escola, uma vez que os períodos são curtos para a acomodação</p><p>dos alunos (não há uma máquina para cada estudante) e para a organização das</p><p>atividades. Conforme comentou a professora T: “Temos muito pouco tempo em</p><p>sala de aula, até fazer a chamada e acalmar os alunos, já se passaram</p><p>praticamente 20 minutos dos 50 que temos para dar nossa aula!”. A partir da</p><p>ilação da docente, solicitamos às professoras a realização de uma pesquisa sobre</p><p>o uso dos celulares, em sala de aula, nas turmas em cada uma era regente. Os</p><p>resultados apresentados revelaram que a maioria dos alunos daquela instituição</p><p>concordava com o uso dos celulares como metodologia de trabalho pedagógico,</p><p>em sala de aula.</p><p>Em nosso último encontro da prática de Estágio III, debatemos sobre os</p><p>cuidados com o uso das ferramentas tecnológicas na escola, observando que</p><p>essas não devem constituir-se em versões digitais de práticas pedagógicas</p><p>tradicionais. Vale lembrar que a tecnologia não substitui o professor, ao</p><p>contrário, ela auxilia os docentes de uma maneira interativa junto aos alunos,</p><p>como destaca Pischetola (2016), sobre a inclusão digital:</p><p>[...] significa mudar a educação na direção de práticas que priorizam a</p><p>participação, em detrimento da aula expositiva, o conhecimento distribuído em</p><p>vez de centralizado, a coautoria e o remix em lugar dos direitos de propriedade</p><p>intelectual, as formas de produção colaborativa mais do que as individuais</p><p>(PISCHETOLA, 2016, p. 135).</p><p>Todas as participantes destacaram a pertinência da temática abordada ao longo</p><p>do projeto e a contribuição da formação continuada para reflexão e</p><p>reorganização de seu fazer pedagógico. Vale referir que duas professoras</p><p>aplicaram algumas das ferramentas estudadas com suas turmas; as demais</p><p>afirmaram o desejo de aprimorarem-se melhor na utilização de ferramentas</p><p>tecnológicas com seus alunos.</p><p>À GUISA DE CONCLUSÃO</p><p>A partir das narrativas das participantes, destacamos que o uso das tecnologias e</p><p>dos aparelhos móveis de informação e comunicação contemporâneos têm</p><p>passado ao largo das questões de planejamento pedagógico de nossas redes de</p><p>ensino, apesar de estarem constantemente presentes nas salas de aula. Assim,</p><p>buscou-se a organização de um projeto de a formação docente continuada que</p><p>apresentasse possibilidades de trabalho sobre o tema.</p><p>Como abordamos no início deste texto, o referido projeto originou-se de uma</p><p>“inquietação” das professoras participantes. No entanto, além de representar uma</p><p>demanda específica da escola em questão, o trabalho com diferentes tecnologias</p><p>e mídias é destacado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino</p><p>Médio, no Art. 16: “O projeto político-pedagógico das unidades escolares que</p><p>ofertam o Ensino Médio deve considerar: [...] VIII – utilização de diferentes</p><p>mídias como processo de dinamização dos ambientes de aprendizagem e</p><p>construção de novos saberes”. Contudo, apesar do grande potencial da</p><p>tecnologia, a sua utilização por parte dos professores como uma metodologia e</p><p>estratégia para atrair a atenção dos alunos ainda é pouco utilizada, por diversos</p><p>fatores. Para Vani Moreira Kenski (2001, p. 105):</p><p>As tecnologias digitais permitem aos professores trabalhar na fronteira do</p><p>conhecimento que pretende ensinar. Mais ainda, possibilitam que eles e seus</p><p>alunos possam ir além e inovar, gerar informações novas não apenas no</p><p>conteúdo, mas também na forma como são viabilizadas nos espaços das redes.</p><p>A prática de estágio como formação continuada permitiu a organização de um</p><p>projeto de trabalho a partir das necessidades imediatas (e reais) do grupo</p><p>participante. Nesse sentido, compreendemos que a formação continuada deva ser</p><p>organizada com o objetivo de auxiliar professores e professoras na busca de</p><p>estratégias e metodologias frente às dificuldades do ensino, como destaca</p><p>Alexandre Freitas (2007, p. 44), “[...] a formação continuada transforma-se em</p><p>recurso estratégico para que as ‘inovações’ sejam materializadas nas salas de</p><p>aula”. No entanto tais inovações devem estar relacionadas a reflexão sobre os</p><p>conhecimentos e saberes abordados nas situações de ensino-aprendizagem e</p><p>ainda, à articulação “prático-crítica em relação ao aluno, à escola e à sociedade”</p><p>(PIMENTA; LIMA, 2010, p. 131).</p><p>Vale ainda refletir sobre as potencialidades da integração entre as esferas da</p><p>universidade e da educação básica, a partir da realização dos estágios docentes,</p><p>em especial, daqueles que promovem a formação dos professores. Em tais</p><p>espaços, os alunos/estagiários ensinam e aprendem, em um movimento dialético,</p><p>constituindo o seu “ser-professor”. Aproximamo-nos de Nóvoa (2009), uma vez</p><p>que também defendemos que a formação dos estudantes de licenciatura seja “[...]</p><p>construída dentro da profissão, [...] baseada numa complexa combinação de</p><p>contribuições científicas, pedagógicas e técnicas, mas que tem como base os</p><p>próprios professores [...]” (NÓVOA, 2009, p. 216). Encerramos com as palavras</p><p>de Pimenta e Lima (2010, p. 129):</p><p>Propomos que o estágio, em seus fundamentos teóricos e práticos, seja esse</p><p>espaço de diálogo e de lições, de descobrir caminhos, de superar os obstáculos e</p><p>de construir um jeito novo de caminhar na educação, de modo a favorecer</p><p>resultados de melhores aprendizagens dos alunos.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALMEIDA, M. E.; ProInfo: Informática e Formação de Professores – v. 1.</p><p>Brasília:</p><p>MEC/Secretaria de Educação à Distância, 2000.</p><p>BEHRENS, M. A. Formação continuada dos professores e a prática pedagógica.</p><p>Curitiba: Champagnat, 1996.</p><p>BOHN, V. As redes sociais no ensino: ampliando as interações sociais na web.</p><p>Rio de Janeiro: Conexão Professor. Disponível em:</p><p>http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/temas-especiais- 26h.asp. Acesso em: 8</p><p>ago. 2017.</p><p>BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. 2012.</p><p>Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?</p><p>option=com_docman&view=download&alias=13448-diretrizes-curiculares-</p><p>nacionais-2013-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 2 jun. 2017.</p><p>CARRANO, P. C.; ABREU, P.; TAFAKGI, C. A escola tem tudo o que</p><p>precisamos. O Facebook tem tudo o que gostamos: estudo de caso sobre as redes</p><p>sociais de internet numa escola pública de Ensino Médio. In: VII Seminário</p><p>Internacional ‘As redes educativas e as tecnologias’: transformações e</p><p>subversões na atualidade, 2013. Rio de Janeiro: UERJ, 2013. v. 1. p. 1-15.</p><p>Disponível em:</p><p>http://www.emdialogo.uff.br/sites/default/files/a_escola_tem_tudo_o_que_precisamos_o_facebook_tem_tudo_o_que_gostamos_comunicacao_vii_redes_2013.pdf.</p><p>Acesso em: 28 abr. 2017.</p><p>DAYRELL, J. A escola “faz” as juventudes? Reflexões em torno da socialização</p><p>juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100 – Especial, p. 1105-</p><p>1128, out. 2007.</p><p>FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 12.</p><p>ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.</p><p>FREITAS, A. S. Os desafios da formação de professores no século XXI:</p><p>competências e solidariedade, In: FERREIRA, A. T. B. (Org). Formação</p><p>continuada de professores. Belo Horizonte: Autêntica, p. 11-32, 2007.</p><p>GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Artes Médicas,</p><p>2000.</p><p>GARBIN, Elisabete M. Culturas Juvenis, Identidades e Internet: questões atuais.</p><p>Cultura, Culturas e Educação. Revista Brasileira de Educação. Campinas. n. 23.</p><p>p. 119-135. maio/jun./jul./ago. 2003.</p><p>GARBIN, Elisabete M. Conectados por um fio: Alguns apontamentos sobre</p><p>internet, culturas juvenis contemporâneas e escola. In: BRASIL, Ministério da</p><p>Educação, Secretaria de Educação a distância. Juventude e escolarização: os</p><p>sentidos do ensino médio, 2009.</p><p>KENSKI, V.M. O papel do Professor na Sociedade Digital. In: CASTRO,</p><p>Amélia Domingues de; CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. (Org.). Ensinar a</p><p>ensinar. São Paulo: Pioneira/Thomson Learning, p. 95-106, 2001.</p><p>LEVY, P. A cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34,</p><p>1999.</p><p>LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos: inquietações e buscas. Educar em</p><p>Revista. n. 17, p. 153-176. 2001. Disponível em:</p><p>http://www.educaremrevista.ufpr.br/arquivos_17/libaneo.pdf. Acesso em: 13</p><p>dez. 2017.</p><p>NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. Lisboa. Publicações Dom</p><p>Quixote, 1992.</p><p>NÓVOA, A. Para una formacion de profesores construída dentro de la</p><p>profession. Revista de Educación, Madrid, n. 350, p. 203-218, set./dez. 2009.</p><p>Disponível em: http://www.revistaeducacion.mec.es/re350/re350_09.pdf. Acesso</p><p>em: 20 jan. 2018</p><p>PISCHETOLA, M. Inclusão digital e educação. A nova cultura da sala de aula.</p><p>1. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.</p><p>PIMENTA, S. G. e LIMA, M. S. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2010.</p><p>NÓVOA, A. Estágio e docência: diferentes concepções. Revista Poíesis. v. 3, n.</p><p>3, 4, p. 5-24, set/dez., 2006.</p><p>SIBILIA, P. Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão. Tradução de</p><p>Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.</p><p>TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.</p><p>VARGAS, Juliana Ribeiro de. O que ouço me produz e me conduz? A</p><p>constituição de feminilidades contemporâneas de jovens contemporâneas no</p><p>espaço escolar da periferia. 182 f. Porto Alegre: UFRGS, 2015. Tese (Doutorado</p><p>em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de</p><p>Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015.</p><p>O MÉRITO ESCOLAR NA PRÁXIS DOCENTE DAS ESCOLAS</p><p>NOTA DEZ</p><p>Karlane Holanda Araújo</p><p>José Melinho de Lima Neto</p><p>Introdução</p><p>Iniciaremos este capítulo solicitando que o leitor busque em suas memórias</p><p>juvenis vivências do tempo e do espaço escolar relacionadas aos atributos de</p><p>recompensas e/ou premiações por conta da notória performance em alguma</p><p>atividade educativa. As competições escolares, bem como as concessões de</p><p>troféus, medalhas de honra e prêmios escolares em solenidades de</p><p>condecorações, fizeram e fazem parte da ambiência educacional. Não é difícil</p><p>encontrarmos registros dessa natureza em nossas lembranças, até porque tais</p><p>situações costumam nos deixar marcas emocionais inesquecíveis pelo fato de</p><p>termos conquistado ou não uma posição de realce.</p><p>O destaque pode ser em competições esportivas, concursos de beleza, emulações</p><p>cognitivas e/ou culturais, testes padronizados etc. Tais eventos são marcados por</p><p>avaliações com a determinação sistêmica e objetiva do valor e do mérito de um</p><p>objeto.</p><p>Nessa direção, Scriven (1976) assevera que um objeto só possui qualidade se</p><p>apresentar valor, atender às necessidades previstas pelas partes interessadas,</p><p>apresentar mérito e promover resultado eficaz e eficiente. Partindo desse</p><p>pressuposto, compreendemos que nem todo objeto avaliado tem valor, pois</p><p>precisa atender às necessidades das partes interessadas do sistema educacional,</p><p>ter relevância e impacto social real. Porém, todo objeto avaliado exibi a presença</p><p>do mérito² .</p><p>Trazendo essa concepção de Scriven para o contexto educacional, a eficiência e</p><p>a eficácia da escola, do professor e dos educandos podem ser medidas a partir de</p><p>critérios (taxa de evasão, de aprovação, de reprovação etc.) e de testes</p><p>padronizados de desempenho escolar, atribuindo, assim, o mérito ou demérito</p><p>dos sujeitos educacionais e, consequentemente, da instituição de ensino.</p><p>Na educação brasileira contemporânea, a avaliação em larga escala é tida como</p><p>peça-chave que tanto proporciona uma maior visibilidade e transparência acerca</p><p>dos aspectos centrais do processo de aprendizagem escolar, como também serve</p><p>para monitoramento, controle e regulação das políticas educacionais. Por conta</p><p>disso, os entes federados vêm implementando a política de responsabilização de</p><p>níveis de pressão mais forte de high-stakes²¹, que associa os resultados das</p><p>avaliações educacionais a recompensas financeiras para a escola, gestores,</p><p>professores e funcionários.</p><p>Um dos estados precursores na implantação do accountability²² escolar é o</p><p>Ceará. Atualmente a versão do Prêmio Escola Nota Dez²³ representa esse</p><p>modelo de gestão educacional, que caracteriza-se por ser uma política de</p><p>alocação de recursos, com base em resultados das avaliações do Sistema</p><p>Permanente de Avaliação Básica do Estado do Ceará (Spaece²⁴), com</p><p>consequências fortes ou responsabilização high-stakes, visto que a distribuição</p><p>de recursos, condicionada ao melhor desempenho escolar, provoca a competição</p><p>entre as escolas, tende a reorientação das práticas pedagógicas e a preleção de</p><p>conteúdos curriculares de acordo com as matrizes das avaliações externas.</p><p>As escolas cearenses, em busca de atingirem o status de Escolas Nota Dez,</p><p>acabam estimulando a aprendizagem memorística e reprodutivista dos conteúdos</p><p>com vista a conquistarem metas e alcançarem resultados. Essa reação escolar,</p><p>como adverte Araújo (2016), baseia-se nos princípios da meritocracia, do</p><p>tecnicismo e da produtividade.</p><p>Com efeito,</p><p>A meritocracia reúne os instrumentos para promoção de ranqueamento ou</p><p>ordenamento de alunos, escolas ou profissionais da educação com a finalidade</p><p>de definir recompensas para professores ou para a equipe da escola (salariais)</p><p>[...]. Fortemente ancorada em processos matemáticos e estatísticos de estimação,</p><p>é principalmente usada como ferramenta para estimar metas a serem cumpridas</p><p>pelas escolas e pelos profissionais. Os resultados dos processos de avaliação são</p><p>assumidos como válidos para definir o pagamento por mérito, entendido este</p><p>como a recompensa por um esforço que levou a conseguir que o aluno</p><p>aprendesse, atingindo uma meta esperada ou indo além dela. (FREITAS, 2011, p.</p><p>17).</p><p>Na corrida pelos resultados de</p><p>excelência as escolas tendem a moldar a práxis</p><p>docente, encarcerando as práticas de ensino, o currículo escolar, a avaliação da</p><p>aprendizagem e até mesmo as relações e laços afetivos entre professores e alunos</p><p>com a promessa de alcançarem o mérito escolar e receberem retribuições</p><p>financeiras vultosas em forma de premiação (ARAÚJO, 2016).</p><p>Diante dessa realidade, o presente estudo tem como escopo discutir a respeito</p><p>das implicações do mérito escolar na práxis docente das Escolas Nota Dez a fim</p><p>de trazer para o centro do diálogo político/pedagógico os descaminhos da</p><p>meritocracia.</p><p>O capítulo está organizado em cinco seções. A primeira conta com esta breve</p><p>introdução, que expõe a problemática e o objetivo do escrito científico; a</p><p>segunda apresenta a metodologia de elaboração do trabalho; a terceira discorre</p><p>acerca das repercussões do mérito escolar na práxis docente das Escolas Nota</p><p>Dez; a quarta traz as considerações finais; a quinta e última seção elenca as</p><p>referências bibliográficas consultadas.</p><p>PASSO A PASSO DA PESQUISA</p><p>A fim de definir a população da pesquisa, fez-se previamente uma consulta</p><p>documental aos resultados do Prêmio Escola Nota Dez entre o período de sua</p><p>criação, 2009, até o ano de 2013. Em seguida, decidiu-se por identificar qual o</p><p>município com maior incidência de premiação por melhor desempenho escolar</p><p>no Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece-</p><p>Alfa).</p><p>Mediante esse filtro, detectou-se que a cidade de Sobral²⁵ foi a que obteve maior</p><p>ocorrência de recebimento do prêmio. Assim, estabeleceu-se a cidade que seria</p><p>investigada.</p><p>Após a escolha do município, a etapa seguinte foi eleger as instituições de ensino</p><p>a serem pesquisadas. De um total de 23 escolas premiadas em Sobral no período</p><p>de 2009, optou-se por duas Escolas Premiadas (EPs); uma escola por já ter sido</p><p>contemplada pelo prêmio três vezes (EP1) e a outra por ter sido agraciada duas</p><p>vezes (EP2). Vale acrescentar ainda que, uma das escolas pesquisadas está</p><p>localizada na sede do município de Sobral e a outra instituição está situada no</p><p>distrito municipal, a fim de se permitir o confronto entre os diferentes contextos.</p><p>Para a coleta de dados, realizaram-se entrevistas semiabertas aos representantes</p><p>do núcleo gestor escolar, aos professores que atuam nas turmas de segundo ano</p><p>do ensino fundamental e aos alunos da série indicada. A amostra da pesquisa</p><p>ficou distribuída da seguinte forma: dois representantes do núcleo gestor, cinco</p><p>professores e 20 alunos, totalizando 27 sujeitos pesquisados.</p><p>Neste estudo, os relatos dos sujeitos da pesquisa estão identificados por meio de</p><p>acrônimos, a fim de resguardar as identidades dos entrevistados. Para o estrato</p><p>das escolas premiadas de Sobral, os sujeitos da pesquisa foram identificados</p><p>pelas abreviaturas “D”, para diretor; “P”, para professora; e “A”, para aluno,</p><p>seguido do número que o representa e a sigla da escola (EP1 ou EP2).</p><p>Dada a natureza qualitativa desta investigação, as falas dos participantes da</p><p>pesquisa foram analisadas com base na hermenêutica gadameriana,</p><p>especialmente com aplicação da noção de fusão de horizontes, em que ocorre</p><p>“[...] a plenitude da conversa, na qual ganha expressão uma coisa que não é só de</p><p>interesse meu ou do meu autor, mas de interesse geral.” (GADAMER, 1997, p.</p><p>404).</p><p>Nesse passo, não cabem achismos, e sim visões, pressuposições e posições</p><p>prévias fundamentadas, na medida em que:</p><p>Compreendemos e buscamos verdade a partir das nossas expectativas de sentido</p><p>que nos dirigem e provêm de nossa tradição específica. Essa tradição, porém,</p><p>não está a nosso dispor: antes de estar sob nosso poder, nós é que estamos</p><p>sujeitos a ela. Onde quer que compreendamos algo, nós o fazemos a partir do</p><p>horizonte de uma tradição de sentido, que nos marca e precisamente torna essa</p><p>compreensão possível (GADAMER, 1997, p. 403).</p><p>Por outras palavras, a compreensão não pode prescindir da tradição</p><p>experimentada pelo intérprete que lhe dá sentido em etapas de pré-compreensões</p><p>sucessivas, com a aplicação do círculo hermenêutico. Por essa razão, ele “[...]</p><p>não é de natureza formal. Não é nem objetivo nem subjetivo, descreve, porém, a</p><p>compreensão como a interpretação do movimento da tradição e do movimento</p><p>do intérprete.” (GADAMER, 1997, p. 439).</p><p>Vale considerar que, aqui será apresentado um recorte dos achados da pesquisa</p><p>de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade</p><p>Federal do Ceará (UFC), intitulada “Os efeitos do Prêmio Escola Nota Dez nos</p><p>processos pedagógicos das escolas de Sobral e das escolas apoiadas de Caucaia”,</p><p>defendida no ano de 2016 pela autora principal deste capítulo.</p><p>REPERCUSSÕES DO PRÊMIO ESCOLA NOTA DEZ NA PRÁXIS</p><p>DOCENTE DAS ESCOLAS PREMIADAS DE SOBRAL</p><p>Na tentativa de ampliar novos achados, para além dos dados secundários</p><p>aferidos nos resultados produzidos pelos sistemas de avaliação externa estadual,</p><p>a pesquisa desvelou as repercussões do Prêmio Escola Nota Dez na práxis</p><p>pedagógica das escolas premiadas de Sobral, possibilitando imprimir uma nova</p><p>visão acerca das resultantes da política accountability no cenário da educação</p><p>cearense.</p><p>O presente estudo indica os efeitos desse modelo de política nos componentes</p><p>dos processos pedagógicos (planejamento, currículo, ensino, avaliação), ou</p><p>melhor dizendo na práxis docente.</p><p>Na ação planejamento, os diretores das escolas premiadas de Sobral afirmaram</p><p>que:</p><p>O planejamento da escola é quinzenal. Uma vez por mês, os professores têm um</p><p>dia inteiro de formação em Sobral, com todas as professoras do 2º ano; tem as</p><p>formadoras. É onde elas estudam o programa, quando elas chegam nos</p><p>planejamentos daqui, elas revisam e vão implementando de acordo com a</p><p>realidade, porque a gente faz adequações. [...] A gente tem um plano de curso e,</p><p>dentro desse plano de curso tem a matriz de referência de habilidades, que é</p><p>avaliada. [...] Utilizamos a matriz do Spaece, os descritores, porque é o nosso</p><p>norte. A gente vai fazer essa avaliação no fim do ano [...]; a gente não pode</p><p>divergir daquilo que a gente busca. (DEP1, grifo nosso).</p><p>Como estamos falando de 2º ano, o Spaece só avalia a Língua Portuguesa.</p><p>Então, a gente faz o nosso plano de curso e contempla essas habilidades. Ao</p><p>longo do ano, a gente prepara atividades, as apostilas extras, além dos livros</p><p>didáticos (DEP2, grifo nosso).</p><p>As instituições premiadas realizam o planejamento em rede de ensino e na</p><p>própria escola, de forma sistematizada, com acompanhamento de formadores e</p><p>de coordenadores, fazendo as adequações necessárias. Percebeu-se que, as</p><p>escolas pesquisadas planejam ações voltadas para o Spaece-Alfa, o plano escolar</p><p>objetiva alcançar os melhores rendimentos possíveis nas avaliações externas. Em</p><p>face disso, consoante Freitas (2014), o professor e a escola tendem a eleger nos</p><p>planejamentos, conteúdos e métodos de trabalho mais propícios à lógica da</p><p>política educacional vigente.</p><p>Na questão de elaboração do currículo escolar, as escolas premiadas seguem as</p><p>orientações da matriz de referência do Spaece-Alfa para selecionar os conteúdos</p><p>programáticos, como confirmam as professoras a seguir:</p><p>A gente trabalha em cima dos descritores [...]. A gente trabalha os descritores</p><p>de três formas, primeiro, na questão da leitura, a gente trabalha os gêneros,</p><p>todos os descritores na questão da leitura, com cartazes, com trabalho em</p><p>equipe com as crianças. Formam-se grupos, dividem-se gêneros textuais para</p><p>cada grupo, fazemos as crianças pesquisarem em casa também. Depois vem a</p><p>atividade do projeto, que é esse do aprender, que aborda e trabalha todos os</p><p>descritores do Spaece, só que de uma forma bem interdisciplinar [...]. Por fim, a</p><p>gente trabalha a partir do diagnóstico, só com as questões em que as crianças</p><p>têm mais dificuldades. [...] Cada um olha, vê no diagnóstico o descritor que</p><p>apresenta mais erro, em que as crianças têm mais dificuldade, aí, em cima</p><p>daquele erro, em cima daquela questão, a gente planeja e faz essas atividades</p><p>[...] (P5EP2, grifo nosso).</p><p>Observou-se que nessas escolas há um trabalho pedagógico a partir dos</p><p>descritores do Spaece, os docentes realizam diagnósticos dos alunos a fim de</p><p>identificar as dificuldades de leitura e de escrita. Na sequência, trabalham os</p><p>descritores do Spaece-Alfa com atividades diversificadas, implementando os</p><p>ajustes necessários à realidade de aprendizagem das crianças. Essa constatação</p><p>reforça os pressupostos de Freitas (2014) e Neto (2014) de que as avaliações</p><p>externas tendem a comprimir e a moldar o currículo escolar à matriz de</p><p>referência dos testes, restringindo, assim o direito de aprender do educando ao</p><p>básico para atender às exigências dos processos produtivos sociais.</p><p>No quesito ensino, captou-se que as escolas Nota Dez dizem trabalhar a</p><p>alfabetização e o letramento das crianças, vejamos o que disseram as crianças</p><p>das escolas premiadas de Sobral sobre como ensinam suas professoras:</p><p>Ela explica, ela fala os gêneros, os textos, aí a gente lê, e eu aprendo mais [...].</p><p>Os gêneros do convite, do informativo, narrativo [...]. A professora passa tarefas</p><p>[...]. Ela ensina a ler, começa com as sílabas, depois vai passando palavras,</p><p>frases, depois que vem o texto [...]. Ela chama para a leitura, ensina a gente a</p><p>fazer as tarefas e ensina também no caderno [...]. Ela chama para a leitura, faz</p><p>perguntas do livro. Eu gosto de aprender assim (A4EP1, grifo nosso).</p><p>O que deu para atestar na pesquisa foi que, nas escolas premiadas, as educadoras</p><p>empreendem práticas docentes diversificadas, voltadas prioritariamente para</p><p>desenvolver habilidades de leitura e de escrita, inclusive com ênfase nos gêneros</p><p>textuais. Nas escolas Nota Dez de Sobral, as docentes fazem diariamente a</p><p>audição da leitura com os educandos, conforme explica o trecho a seguir:</p><p>[…] as unidades premiadas de Sobral empreendem práticas pedagógicas com o</p><p>fito de gerar o gosto e o hábito pela leitura. A tomada diária da leitura dos alunos</p><p>do 2º ano do ensino fundamental é um fato perceptível, tanto que os 20 minutos</p><p>iniciais das aulas são dedicados à leitura e à compreensão textual (ARAÚJO,</p><p>2016, p.111)</p><p>Porém essa tomada de leitura das crianças ocorre numa ritualística que prever</p><p>um ritmo, uma velocidade, uma entonação e uma habilidade de leitura padrão</p><p>designados pelos testes padronizados. Dessa forma, as crianças tendem a serem</p><p>pressionadas a enquadrarem-se num modelo pré-estabelecido.</p><p>Vale mencionar ainda que até mesmo os projetos de leitura das escolas</p><p>pesquisadas, que deveriam focar uma abordagem multicultural e transdisciplinar,</p><p>estão voltados para as atividades de treinamento e de condicionamento repetitivo</p><p>no formato das avaliações educacionais. Devido à promessa do recebimento de</p><p>prêmios, medalhas e honras ao mérito, as crianças são estimuladas a agirem com</p><p>maior prontidão e dedicação aos estudos, conforme mostra o cartaz ilustrativo à</p><p>continuação:</p><p>FIGURA 1 – CARTAZ ILUSTRATIVO DE DIVULGAÇÃO DO PRÊMIO</p><p>RECEBIDO POR UMA ESCOLA PREMIADA DE SOBRAL</p><p>FONTE: Araújo (2016, p. 111)</p><p>No que tange ao componente avaliação escolar, o aspecto central diz respeito à</p><p>aplicação de provas bimestrais elaboradas nos moldes do Spaece-Alfa.</p><p>Constatou-se que as escolas premiadas ajustam e fortalecem suas práticas</p><p>avaliativas internas à luz do teste padronizado de desempenho escolar do</p><p>Spaece-Alfa.</p><p>Sobre as avaliações escolares, a educadora da escola premiada de Sobral afirmou</p><p>que:</p><p>A coordenadora avalia a leitura. Tem um dia em que ela faz o diagnóstico de</p><p>leitura. Ela chama para a sala dela pela lista. No momento em que estou lendo</p><p>com eles, ela fica chamando também os alunos pela lista, um por um. Lá ela tem</p><p>um formulário para preencher sobre o nível de leitura de cada aluno. Ela vai ver</p><p>a questão da precisão da leitura, dos erros, das palavras erradas que a criança</p><p>falou. Essa é a avaliação de leitura [...]. A gente trabalha os pontos de</p><p>compreensão, entonação, ritmo, velocidade em que eles leem [...], porque tudo</p><p>isso que ela faz é conforme a avaliação da prefeitura, porque os meninos vão ter</p><p>que passar pela avaliação da prefeitura. Depois que o aluno lê, ela faz</p><p>perguntinhas para ver a compreensão da criança (P5EP1, grifo nosso).</p><p>Nessa perspectiva, as escolas Nota Dez de Sobral realizam avaliação interna de</p><p>leitura e de compreensão. As crianças são chamadas individualmente para</p><p>aferição da leitura. Professoras e coordenação pedagógica acompanham o nível</p><p>de leitura, avaliando a quantidade de palavras lidas, a entonação, a velocidade, o</p><p>ritmo, a precisão e também a compreensão textual. Esses dados são catalogados</p><p>mensalmente a fim de fornecer um diagnóstico das habilidades de leitura dos</p><p>aprendizes, como exemplifica a figura abaixo:</p><p>FIGURA 2 – DIAGNÓSTICO DE LEITURA MENSAL DOS ALUNOS DA</p><p>EP1</p><p>FONTE: Araújo, 2016, p. 108</p><p>As escolas Nota Dez de Sobral avaliam em três vertentes: aferem o nível de</p><p>leitura do aluno, avaliando a quantidade de palavras lidas, a entonação, a</p><p>velocidade, o ritmo, a precisão e a compreensão textual; realizam, a cada 15</p><p>dias, provas de produção escrita e corrigem por meio de uma chave de correção,</p><p>avaliando ortografia, pontuação, paragrafação, coesão e coerência; e aplicam a</p><p>prova bimestral elaborada pela coordenação escolar. Essas vertentes espelham-se</p><p>nos descritores que serão avaliados pelos exames externos de âmbito estadual e</p><p>municipal.</p><p>Nessa esteira, conforme Freitas (2014) entende-se que as crianças são</p><p>geralmente pressionadas a responderem a um ritmo, a uma velocidade e a uma</p><p>habilidade de leitura padrão designados pelos testes padronizados. Vislumbra-se</p><p>o mecanismo de controle mais uma vez presente nas escolas Nota Dez de Sobral,</p><p>agora com o mapa de acompanhamento das habilidades de leitura exposto em</p><p>cada sala de aula.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>A partir da fusão de horizontes, conclui-se que a práxis dos professores das</p><p>escolas premiadas de Sobral são reorientadas pelo teste padronizado do Spaece-</p><p>Alfa, direcionando a preleção do conteúdo programático, a prática de ensino</p><p>docente e o propósito de ensinar, ou seja, sobredeterminando os trabalhos</p><p>docentes. Observou-se que, em Sobral, esses processos são bem elaborados,</p><p>sistematizados e monitorados, incidindo determinantemente sobre o conteúdo</p><p>curricular a ser ensinado e sobre a maneira como devem ser trabalhados na</p><p>escola, objetivando que os estudantes alcancem os melhores resultados.</p><p>Nesse sentido, o crescimento mais significativo dessas escolas premiadas</p><p>ocasiona um maior recebimento de recursos financeiros para a bonificação</p><p>docente, efetuando assim, uma maior motivação juntos aos professores. Essa</p><p>maneira de conduzir a educação aumenta a relevância dos resultados das</p><p>avaliações, por conseguinte, pressiona os professores quanto à sua</p><p>responsabilidade pela qualidade do ensino. A lógica dessa política de gestão é</p><p>que o ensino se beneficie a partir de um maior interesse dos docentes em</p><p>abraçarem o currículo oficial e buscarem desenvolver as competências exigidas</p><p>nas provas.</p><p>Por fim, comprovou-se que o Prêmio Escola Nota Dez vem fomentando</p><p>alterações na práxis docente e, por conseguinte, afetando os processos</p><p>pedagógicos das escolas premiadas de Sobral. Tais padrões de mercado têm</p><p>desvirtuado o verdadeiro sentido da educação, automatizando as atividades</p><p>educativas para fins de monitoramento dos indicadores de qualidade e</p><p>recebimento de recompensas.</p><p>Contudo, faz-se mister lembrar que não se pretende aqui generalizar tais</p><p>resultados, haja vista que a amostra da pesquisa não representa o universo das</p><p>escolas premiadas do Ceará. Portanto, novos estudos são necessários para</p><p>comprovar o impacto dessa política e de seus diferentes desenhos na práxis</p><p>pedagógica e no processo de ensino e aprendizagem discente.</p><p>Referências</p><p>AFONSO, A. J. Nem tudo o que conta em educação é mensurável ou</p><p>comparável. Crítica à accountability baseada em testes estandardizados e</p><p>rankings escolares. Revista Lusófona de Educação, 13, 2009.</p><p>ARAÚJO, Karlane Holanda. Os efeitos do Prêmio Escola Nota Dez nos</p><p>processos pedagógicos das escolas premiadas de Sobral e das apoiadas de</p><p>Caucaia no ano de 2009. 2016. 185 f. Dissertação (Mestrado) Universidade</p><p>utilize com mais frequência aulas</p><p>experimentais nos laboratórios de ciências.</p><p>As atividades experimentais estão presentes no ensino de Ciências desde sua</p><p>origem e são estratégias de ensino fundamentais, pois, podem contribuir para a</p><p>superação de obstáculos na aprendizagem de conceitos científicos, não somente</p><p>por propiciar interpretações, discussões e confrontos de ideias entre estudantes,</p><p>mas também pela natureza investigativa (PARANÁ,2008, p. 23).</p><p>Portanto, para que o professor consiga atingir o resultado esperado, é necessário</p><p>que as atividades experimentais sejam orientadas pelo professor e realizada pelos</p><p>estudantes, para que os discentes exerçam muito mais do que a observação.</p><p>Assim, podemos perceber ao longo das leituras realizadas a importância da</p><p>pesquisa como metodologia a ser utilizada pelo professor, principalmente pela</p><p>autonomia adquirida com sua utilização. Mas para que isso seja possível é</p><p>fundamental que a instituição formadora insira desde cedo os futuros professores</p><p>na pesquisa.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Ser professor pesquisador diante desse modelo de ensino é assumir um perfil</p><p>diferente, que pode atender às necessidades da educação, uma vez que a</p><p>educação está imersa em um período histórico em que a exigência sobre os</p><p>professores é cada vez maior. Sendo assim, a escola requer um professor mais</p><p>crítico e que participe ativamente do processo de ensino e aprendizagem.</p><p>Contribuindo para que os professores consigam, dentro da sua realidade,</p><p>contribuir de forma eficiente na aprendizagem dos estudantes, torna-se</p><p>necessário apostar em diferentes metodologias que visem formar os estudantes</p><p>em agentes centrais na construção do conhecimento. Para isso, é necessário que</p><p>as instituições trabalhem junto aos futuros professores a necessidade de</p><p>continuar estudando, buscando aperfeiçoar sua prática docente.</p><p>Os laboratórios de ciências presentes nas escolas são um importante espaço para</p><p>que as pesquisas sejam realizadas pelos estudantes por meio da orientação dos</p><p>professores e, dessa forma, possam desenvolver habilidades que são essenciais</p><p>para uma participação ativa na sociedade.</p><p>E nos preocupa ainda mais o fato da pouca utilização dos laboratórios devido a</p><p>diversos fatores que podem estar contribuindo, como a falta de materiais</p><p>adequados, tempo reduzido diante das diversas atividades a serem realizadas</p><p>pelos professores, ou a insegurança adquirida por uma formação carente de aulas</p><p>que utilizassem o laboratório.</p><p>Portanto, as aulas de Ciências possuem uma relação indissociável, com aulas</p><p>práticas que envolvem experimentação. E quando o professor está disposto a</p><p>buscar diferentes maneiras de abordar seus conteúdos, a pesquisa se torna</p><p>fundamental para que a inovação e a criatividade façam parte de sua prática</p><p>docente.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARAÚJO, Mauro S. T.; ABIB, Maria L. V. S. Atividades Experimentais no</p><p>Ensino de Física: diferentes enfoques, diferentes finalidades. Revista Brasileira</p><p>de Ensino de Física, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 176-194, jun. 2003.</p><p>BIZZO, Nélio. Ciências: fácil ou difícil? – 2. ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 24-</p><p>75.</p><p>BORGES, A. Tarciso. Novos Rumos para o Laborátorio Escolar de Ciências.</p><p>Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Minas Gerais, v. 19, n. 3, p. 294, dez,</p><p>2002.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental.</p><p>Referenciais para Formação de Professores. Brasília: MEC/SEF, 2002.</p><p>BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB – Lei nº 9394/96, de 20 de</p><p>dezembro de 1996. Diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC,</p><p>1996.</p><p>CARVALHO, A. P.; PÉREZ, D. G. Formação de professores de ciências. São</p><p>Paulo: Cortez, 2011.</p><p>DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 6. ed. Campinas: Autores Associados,</p><p>2003.</p><p>DONATONI, A. R.; COELHO, M. C. P. Reflexões sobre o ensino, pesquisa e</p><p>formação de professores na sociedade contemporânea. Cadernos de Educação,</p><p>Pelotas, n. 29, p. 73-88, jul./dez. 2007.</p><p>FONSECA, D. M. A pedagogia científica de Bachelard. Educ Pesqui. 2008, v.</p><p>34, n. 2, p. 363.</p><p>FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.</p><p>FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.</p><p>São Paulo, SP: Paz e Terra, 1996.</p><p>GARCIA, V. C. Fundamentação teórica para as perguntas primárias: O que é</p><p>Matemática? Porque Ensinar? Como se ensina e como se aprende? Revista</p><p>Educação, v. 32, n. 2, p. 177, 2009.</p><p>GIROUX, H. A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica</p><p>da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 157.</p><p>GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo:</p><p>Atlas, 1999.</p><p>GUERRA, R. A. Cadernos Cb Virtual 7. João Pessoa: Universitária, 2011.</p><p>HARGREAVES, A. Aprendendo a mudar: o ensino para além dos conteúdos e</p><p>da padronização. Porto Alegre: Artmed, 2002.</p><p>KONZEN, I. I. W. A Didática no Ensino de Ciências Naturais, 2009. Disponível</p><p>em: http://www.webartigos.com/artigos/a-didatica-no-ensino. Acesso em: 1 nov.</p><p>2017.</p><p>KRASILCHICK. Reforma e Realidade: o caso do ensino das ciências. São</p><p>Paulo: Perspectiva, v. 14, n.1, 2000. Disponível em:</p><p>http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br. Acesso em: 19 jan. 2018.</p><p>MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. São Paulo:</p><p>Hucitec, 1993.</p><p>MORAES, Roque; RAMOS, Maurivan G.; GALLIAZZI, Maria C. Aprender</p><p>Química: Promovendo Excursões em discursos da Química. In: ZANON, Lenir;</p><p>MALDANER, Otavio A. (Org.). Fundamentos e propostas de Ensino de</p><p>Química para a Educação Básica no Brasil. Ijuí/RS: Unijuí, p. 193-209, 2007.</p><p>NÓVOA, A. Relação escola-sociedade: “novas respostas para um velho</p><p>problema”. In: SERBINO, R. V.; RIBERIO, R.; BARBASA, R. L. L.;</p><p>GEBRAN, R. A. (Org.). Formação de professores. São Paulo: Unesp, 1998. p.</p><p>30.</p><p>PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Superintendência da</p><p>Educação. Diretrizes Curriculares de Ciências para o Ensino Fundamental.</p><p>Paraná, 2008.</p><p>SÉRÉ, M.G.; COELHO, S.M.; NUNES, A.D. O papel da experimentação no</p><p>ensino de Física. In: SANTOS, J.F.; CASTILHO, W.S. O laboratório de física</p><p>nas escolas públicas de ensino médio de palmas – Tocantins. Anais Eletrônicos -</p><p>1ª Jornada de Iniciação Científica e Extensão do IFTO. Palmas – Tocantins,</p><p>2010.</p><p>ZABALZA, Miguel A. Diários de Aula. Um instrumento de pesquisa e</p><p>desenvolvimento profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004, p. 27.</p><p>AVALIAÇÃO DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL:</p><p>PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS</p><p>Ana Paula de Medeiros Ribeiro</p><p>Helen Cristina Vieira Costa</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>De acordo com a literatura da área educacional, sabe-se que a avaliação tem sido</p><p>tratada, cientificamente, como objeto de estudo desde o início do século XX. No</p><p>entanto, ela sempre esteve presente nas atividades humanas, de maneira a</p><p>estabelecer comparações entre coisas e valores diferentes ou semelhantes,</p><p>fazendo com que as pessoas realizassem suas escolhas e tomassem as devidas</p><p>decisões. No ambiente educacional não é diferente, pois a avaliação ocupa lugar</p><p>de destaque. É por meio do processo avaliativo que se obtêm informações que</p><p>permitem aos agentes escolares decidirem sobre as intervenções que se fazem</p><p>necessárias no processo educativo, sendo que, além dos alunos, os professores e</p><p>as instituições também são avaliados.</p><p>Existe uma trajetória na história da avaliação educacional no Brasil que se</p><p>caracteriza, em geral, por ser inspirada em modelos importados de países</p><p>desenvolvidos. As experiências, oriundas desses modelos, fundamentam os</p><p>diferentes paradigmas da avaliação. O interesse pela avaliação na organização do</p><p>sistema educacional já se manifestava na década de 1930, segundo Azevedo</p><p>(2000).</p><p>No entanto, a consolidação no campo das políticas educacionais e as discussões</p><p>em torno da avaliação na educação passaram a ocorrer, de forma mais efetiva,</p><p>desde a década de 1990. Com base nessas discussões, aconteceram progressos</p><p>significativos na elaboração de instrumentos de avaliação no Brasil, o que</p><p>culminou na criação de um sistema de responsabilização do Governo Federal,</p><p>além de sistemas de avaliação em larga escala. Desse modo, surgiu um relevante</p><p>crescimento das</p><p>Federal do Ceará, Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira,</p><p>Fortaleza (CE), 2016.</p><p>BRASIL. IBGE. Censo Demográfico, 2010. Disponível em:</p><p>https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ce/sobral/panorama. Acesso em: 6 abr. 2018b.</p><p>CEARÁ. Lei n.º 15.923, de 15 de dezembro de 2015, regulamentada pelo</p><p>Decreto n.º 32.079, de 9 de novembro de 2016. Modifica a Lei Estadual n.º</p><p>15.052, de 6 de dezembro de 2011, que define premiação para as escolas</p><p>públicas de 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental com os melhores resultados</p><p>na avaliação do Spaece, bem como apoio financeiro às escolas de 5º e 9º ano</p><p>com os menores resultados nesta avaliação. Diário Oficial do Estado do Ceará,</p><p>Fortaleza, 16 dez. 2015.</p><p>CEARÁ. Prêmio Escola Nota 10. Fortaleza, 2013b. Disponível em:</p><p>http://www.paic.seduc. ce.gov.br/index.php/o-paic/premio-escola-nota-10.</p><p>Acesso em: 10 mar. 2018a</p><p>CEARÁ. Governo do Estado do Ceará. Secretaria da Educação. O Sistema</p><p>Permanente da Educação Básica do Ceará – SPAECE. Ceará, 2018. Disponível</p><p>em: http://www.spaece.caedufjf.net/avaliacao-educacional/o-programa/. Acesso</p><p>em: 20 mar. 2018b.</p><p>FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o dicionário da língua</p><p>portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010.</p><p>FREITAS, L. C. Responsabilização, meritocracia e privatização: conseguiremos</p><p>escapar ao neotecnicismo. In: SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA,</p><p>3., 2011, Campinas. Anais... Campinas: Unicamp, 2011.</p><p>FREITAS, L. C. Os reformadores empresariais da educação e a disputa pelo</p><p>controle do processo pedagógico na escola. Educação e Sociedade, Campinas, v.</p><p>35, n. 129, p. 1085-1114,2014.</p><p>GADAMER, H. G. Verdade e método: traços fundamentais de uma</p><p>hermenêutica filosófica. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.</p><p>NETO, J. L. H. Avaliações educacionais e seus reflexos em ações federais e na</p><p>mídia eletrônica. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 25, n. 59, p.</p><p>172-201, 2014.</p><p>RAVITCH, D. Vida e morte do grande sistema escolar americano: como os</p><p>testes padronizados e o modelo de mercado ameaçam a educação. Porto Alegre:</p><p>Sulina, 2011.</p><p>SCRIVEN, M. S. Evaluation bias and it control. In: GLASS, G. V. (Ed.).</p><p>Evaluation studiesreview annual. Beverly Hills: Sage, v. 1 1976.</p><p>SER PROFESSOR EM EAD: SABERES E PRÁTICAS DOS</p><p>PROFESSORES FORMADORES DE ESTÁGIO EM</p><p>PEDAGOGIA NA UAB/UECE</p><p>Maria do Socorro Lucena Lima</p><p>Silviane da Silva Rocha</p><p>Elisangela André da Silva Costa</p><p>Stânia Nágila Vasconcelos Carneiro</p><p>Introdução</p><p>No presente capítulo, discutimos os saberes e as práticas de professores-</p><p>formadores de Estágio Curricular Supervisionado do curso de Pedagogia</p><p>ofertado pela Universidade Aberta do Brasil (UAB) em parceria com a</p><p>Universidade Estadual do Ceará – Uece, buscando conhecer os caminhos</p><p>trilhados pelos professores formadores no empreendimento de suas ações</p><p>formativas na Educação a Distância (EaD).</p><p>A formação de professores para EaD, suas práticas e metodologias são temas</p><p>educacionais relevantes devido à expansão e popularização dessa modalidade na</p><p>Sociedade em Rede. No entanto, há que se destacar também os desafios</p><p>inerentes ao desenvolvimento dessa modalidade de ensino, dentre os quais</p><p>consideramos a falta de preparo para o desempenho da docência em EaD e a</p><p>carência de formação permanente do formador que se constituem como</p><p>problemas que implicam em questões fundamentais relacionados à concepção de</p><p>educação, de profissão, de mundo, em suma, do universo que permeia a</p><p>subjetividade presente nas práticas desse professor. Assim “[...] a qualificação</p><p>profissional é posta no âmbito individual, deixando que cada professor procure</p><p>dar conta desse reclamo de forma isolada” (LIMA, 2001, p. 6).</p><p>Desse modo, o presente estudo pretende apresentar características quem</p><p>envolvem a dinâmica curricular da formação docente a partir de um estudo de</p><p>caso que investigou a experiência de professores formadores do curso de</p><p>Pedagogia da Universidade Aberta do Brasil ofertado por uma instituição de</p><p>ensino superior do Ceará. Para a aproximação com a realidade recorremos a</p><p>entrevistas semiestruturadas, realizadas junto a professores formadores, além de</p><p>análises documentais e revisão de literatura.</p><p>Buscamos por meio das reflexões aqui apresentadas fomentar a reflexão sobre as</p><p>ações pedagógicas empreendidas pelos professores formadores chamados ao</p><p>convívio no ciberespaço na construção da docência online, discutindo os limites</p><p>e as possibilidades de sua ação na modalidade EaD.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES E EAD</p><p>Com expansão quantitativa da educação superior, o aumento do número de</p><p>docentes traz consigo impactos nos processos formativos do professorado. A</p><p>formação do docente tornou-se tema relevante nas agendas das reformas. Os</p><p>debates apontam que formar professores é complexo, pois assim é o próprio</p><p>processo da formação humana. Não negamos a importância do processo</p><p>formativo, mas necessitamos dar vida a este para que realmente venha a</p><p>contribuir no processo educativo (NÓVOA, 2009, p. 1) Consideramos que</p><p>formação e educação são processos que se complementam.</p><p>Segundo Sacristán (1995) as profissões definem-se por práticas, regras e</p><p>conhecimentos particulares das atividades desempenhadas por diversos</p><p>profissionais. De forma a identidade profissional docente é plural na medida em</p><p>que os professores possuem uma profissionalidade essencialmente diversa, pois</p><p>possuem conhecimentos, estratégias e práticas particulares. “O aprender a ser</p><p>professor, na formação inicial ou continuada, se pauta por objetivos de</p><p>aprendizagem que incluem as capacidades e competências esperadas no</p><p>exercício profissional de professor” (LIBÂNEO, 2005, p. 73). Concordamos</p><p>com o autor quando nos lembra a importância da aprendizagem dos alunos.</p><p>Compartilhamos do pensamento de Nóvoa (2000, p. 29) quando argumenta que a</p><p>“[...] profissionalidade docente que não pode deixar de se construir no interior de</p><p>uma pessoalidade do professor”. São elementos constituintes do ser professor: o</p><p>conhecimento, partindo do pressuposto que o professor necessita saber de sua</p><p>ciência para poder conduzir o aluno à aprendizagem, a cultura docente, na busca</p><p>da compreensão do cotidiano com exercício da partilha com a comunidade da</p><p>escola, e a reflexão sobre suas práticas e avaliações. Essa pessoalidade não só</p><p>constitui a sua identidade, mas também subsidia ações, valores e práticas para a</p><p>constituição do ser professor.</p><p>Quando o autor destaca o processo identitário como fator indispensável na</p><p>formação do professor, remete a questão do “ser professor” no contexto da</p><p>profissão. De forma que a problemática da formação docente e seu trabalho são</p><p>temáticas atuais. Segundo Charlot (2008, p. 90) “[...] a ideia de formação implica</p><p>a de indivíduo que se deve dotar de certas competências. O conteúdo e a</p><p>natureza mesma dessas competências podem variar segundo o tipo de formação</p><p>e o momento histórico.” Acreditamos que discutir formação de professor é</p><p>buscar uma relação entre a construção de saberes profissionais embasados na</p><p>teoria e na prática.</p><p>Para Pimenta (2005), a identidade docente é o modo de relacionar e significar a</p><p>profissão, e a partir do estabelecimento destes surgem diferentes tipos de saberes</p><p>pertinentes ao docente. O saber da experiência, compreendido com aqueles</p><p>saberes adquiridos na vivência escolar, seja como aluno ou professor, o saber do</p><p>conhecimento, que trata do conteúdo específico e seu trato (classificação,</p><p>analise, contexto e reflexão) e o saber pedagógico, que considera a prática social</p><p>como agente potencializador da significação da ação docente.</p><p>Os saberes dos professores devem ser compreendidos com seu trabalho na escola</p><p>e na sala de aula. “Isso significa que as relações dos professores com os saberes</p><p>nunca são relações estritamente cognitivas: são relações mediadas pelo trabalho</p><p>que lhes fornece princípios para enfrentar e solucionar situações cotidianas”</p><p>(TARDIF, 2002, p. 17). Os saberes são elementos constituintes da identidade</p><p>docente e de sua profissionalização, os quais são desenvolvidos ao longo do seu</p><p>processo formativo e no cotidiano de suas ações.</p><p>Consideramos importante</p><p>avaliações externas, com o intuito de aprimorar a qualidade</p><p>educacional.</p><p>Conforme Luckesi (2011, p. 431),</p><p>A avaliação, seja ela de acompanhamento ou certificação [...] não deve ter como</p><p>objetivo somente aparecer como uma pesquisa, e sua função não é apenas criar</p><p>um ranking das instituições avaliadas. Seu objetivo fundamental é diagnosticar a</p><p>qualidade da educação no país e orientar intervenções para a sua melhoria.</p><p>Pode-se, então, dizer que a avaliação não se deve restringir a apenas detectar</p><p>quais conhecimentos o estudante já possui ou não possui; mas, sim, servir como</p><p>subsídio de auxílio para que se possa compreender o processo de aprendizagem,</p><p>fazendo inferências acerca dos porquês pelos quais o educando não consegue</p><p>estabelecer as devidas relações entre os diversos conhecimentos. É mediante</p><p>esses diagnósticos que se torna mais fácil replanejar as estratégias de ensino.</p><p>Quando falamos de avaliação educacional, também, é necessário que tenhamos o</p><p>conhecimento de que, dentro desse contexto, existem tipos diferentes de</p><p>avaliação, a saber:</p><p>1) a avaliação interna, que é realizada pelo professor e acontece em sala de aula,</p><p>correspondendo à verificação da aprendizagem dos alunos. Nessa modalidade,</p><p>explicitam-se os resultados do processo de ensino e aprendizagem. Acontece de</p><p>forma intencional e sistemática, e o professor pode recorrer a diferentes</p><p>instrumentos avaliativos;</p><p>2) a avaliação externa que é, na maioria das vezes, de larga escala e é um dos</p><p>principais instrumentos para a elaboração de políticas públicas dos sistemas de</p><p>ensino e redirecionamento das metas das unidades escolares. Caracteriza-se por</p><p>ser um processo pelo qual o sistema educacional é submetido a uma análise em</p><p>determinados aspectos. Esta, por ser mais abrangente tem um impacto maior no</p><p>processo educativo.</p><p>No Brasil, considerando os resultados das avaliações externas, podem-se</p><p>verificar inúmeros problemas educacionais existentes, em que a alfabetização é</p><p>um dos que mais se destaca por sua relevância e seu impacto.</p><p>Estudando a origem da alfabetização, pode-se dizer que ela surgiu com uma</p><p>concepção de um processo inicial de aquisição da leitura e da escrita. Conforme</p><p>Cagliari (1998 p. 15), “Ao longo do processo de invenção da escrita também</p><p>incluiu a invenção de regras de alfabetização, ou seja, as regras que permitem ao</p><p>leitor decifrar o que está escrito e saber como o sistema de escrita funciona para</p><p>usá-lo apropriadamente”.</p><p>Apenas a partir de 1980, a alfabetização escolar, no Brasil, começou a passar por</p><p>discussões que trouxeram novas concepções de alfabetização baseadas em</p><p>resultados de pesquisas na área da Psicologia cognitiva e da Psicolinguística.</p><p>Nessa concepção, havia a necessidade de se compreender o funcionamento do</p><p>sistema alfabético de escrita e de se saber utilizá-lo em situações reais de</p><p>comunicação, prevenindo-se, desde o início da alfabetização, do chamado</p><p>analfabetismo funcional.</p><p>O enfoque construtivista também se tornou influente na elaboração de novas</p><p>propostas de alfabetização com as pesquisas sobre a Psicogênese da Língua</p><p>Escrita das autoras Ferreiro e Teberosky, em 1986. Mas, as discussões sobre as</p><p>novas concepções de alfabetização não pararam por aí, foram ampliando e se</p><p>aprofundando, em diversas perspectivas. Ainda na década de 1980, apareceu,</p><p>pela primeira vez, a palavra letramento no livro de autoria de Mary Kato,</p><p>intitulado “No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística”, no ano de</p><p>1986.</p><p>Conforme Soares (2000), podemos conceituar letramento como “[...] estado em</p><p>que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas</p><p>sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vivem”.</p><p>Já nos anos 1990, começaram a surgir os ciclos básicos de alfabetização em</p><p>alguns estados e, atualmente, no Brasil, a perspectiva sociolinguística está em</p><p>bastante evidência, uma vez que, nela, a alfabetização é vista como um processo</p><p>estreitamente relacionado com os usos sociais da língua.</p><p>Ferreiro (2001, p. 9) afirma que “[...] é recente a tomada de consciência sobre a</p><p>importância da alfabetização inicial como a única solução real para o problema</p><p>de alfabetização remediativa (de adolescentes e adultos)”. Atualmente, os</p><p>estudantes iniciam a etapa da alfabetização aos seis anos de idade, e um dos</p><p>grandes desafios do professor é trabalhar com a alfabetização e o letramento em</p><p>sala de aula. O Parecer n.º 4/2008 (BRASIL, 2008) define a obrigatoriedade da</p><p>matrícula de crianças, com seis anos de idade completos até o início do ano</p><p>letivo, no primeiro ano do ensino fundamental.</p><p>Esse Parecer, também, ressalta que: “[...] os três anos iniciais são importantes</p><p>para a qualidade da Educação Básica: voltados à alfabetização e ao letramento, é</p><p>necessário que a ação pedagógica priorize e assegure o desenvolvimento das</p><p>diversas expressões e o aprendizado das áreas de conhecimento” (BRASIL,</p><p>2008). Assim, verifica-se a importância do desenvolvimento de concepções de</p><p>avaliação diagnósticas, processuais e qualitativas, capazes de acompanhar a</p><p>dinâmica da alfabetização, fornecendo também informações seguras e fidedignas</p><p>sobre as formas de aperfeiçoar seus processos.</p><p>Sentimos, assim, a importância de repensar a Educação, pois, infelizmente, o</p><p>contexto educacional brasileiro ainda é marcado por um problema de</p><p>analfabetismo, ao qual sistematicamente são apresentadas estratégias decorrentes</p><p>de políticas públicas. Alguns Estados do Brasil promoveram e continuam</p><p>promovendo ações nessa direção, a exemplo do Ceará que, desde 2007,</p><p>desenvolve o Programa Alfabetização na Idade Certa – PAIC, que tem como um</p><p>dos eixos de atuação conduzir as avaliações sobre o processo de alfabetização</p><p>dos alunos da rede pública. Essa experiência exitosa do Ceará, também, serviu</p><p>de inspiração, resultando na realização de parcerias com demais estados que</p><p>contemplam nosso país.</p><p>Dessa forma, o presente capítulo, propõe trazer, como ponto de estudo, algumas</p><p>das primeiras e relevantes experiências referentes a ações no campo da avaliação</p><p>da alfabetização, desenvolvidas pelos estados brasileiros. Para tanto, valeu-se de</p><p>uma pesquisa de cunho bibliográfico. Apresenta, na primeira parte, o</p><p>desenvolvimento do artigo, discutindo-se algumas das primeiras e relevantes</p><p>experiências de avalições no âmbito dos sistemas federais e estaduais na</p><p>alfabetização no Brasil e, por fim, as considerações que refletem as reflexões</p><p>realizadas mediante as contribuições dessas experiências de avaliações na</p><p>alfabetização no Brasil.</p><p>AVALIAÇÃO DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: SISTEMAS</p><p>FEDERAIS E ESTADUAIS DE AVALIAÇÃO</p><p>A educação brasileira, no período de 1990, passava por um processo de</p><p>descentralização, sendo influenciada pelo ideário neoliberal. Assim, a criação de</p><p>sistemas de avaliações externas teve como objetivo proporcionar uma educação</p><p>pública de qualidade para todos. Podemos mencionar, como exemplos desses</p><p>sistemas de avaliação, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica –</p><p>SAEB, que foi a primeira iniciativa brasileira de avaliação em larga escala,</p><p>desenvolvida a partir de 1990 e aplicada, inicialmente, em 1995; bem como o</p><p>Exame Nacional do Ensino Médio – Enem e o Exame Nacional de Desempenho</p><p>de Estudantes – Enade, do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior</p><p>(Sinaes), dentre outros que tinham como finalidade investigar a qualidade da</p><p>educação brasileira nos seus diversos níveis.</p><p>Acerca da avaliação da alfabetização no Brasil, pode-se destacar que ela também</p><p>se constrói por meio da aplicação de instrumentos avaliativos destinados a</p><p>alunos matriculados no período de escolaridade, denominado de Ciclo de</p><p>Alfabetização ¹.</p><p>Desde os debates mais recentes sobre o assunto, intensificou-se a relevância da</p><p>temática da alfabetização e do letramento. Logo, mediante pesquisas, pode-se</p><p>relacionar que um dos motivos dessa intensificação advém da relação com a</p><p>democratização da escolarização e de dados trazidos pelas avaliações. O Sistema</p><p>de Avaliação da Educação Básica – Saeb – constatou que estavam baixos os</p><p>níveis de desempenho dos alunos</p><p>nas provas de leitura, indicando que uma</p><p>significativa porcentagem de alunos chegava ao fim da educação básica, “[...]</p><p>sem o domínio de competências essenciais na área de leitura, que viabilizem o</p><p>bom prosseguimento de seus estudos e, consequentemente, a sua vida em uma</p><p>sociedade altamente letrada e tecnológica como a nossa” (BRASIL, 2008, p. 8).</p><p>Por conseguinte, a alfabetização e o letramento de todos os alunos, em tempo</p><p>determinado e adequado para garantir-lhes o direito de progredir nos estudos é,</p><p>atualmente, o grande desafio dos professores dos anos iniciais do ensino</p><p>fundamental, e se entende que a avaliação é uma ação fundamental das políticas</p><p>públicas para o enfrentamento dos desafios da alfabetização.</p><p>A avaliação esboça-se como um instrumento de compreensão do estágio de</p><p>aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em vista a tomar decisões</p><p>suficientes e satisfatórias para que possa avançar em seu processo de</p><p>aprendizagem (LUCKESI, 2002, p. 81).</p><p>Todavia, para garantir a alfabetização dos alunos no tempo certo, faz-se</p><p>necessária, também, a consciência de que não basta apenas o ensinar a ler e</p><p>escrever. Soares (2004) realça as especificidades inerentes ao processo educativo</p><p>de alfabetizar e letrar, evidenciando que ambos são processos distintos, porém</p><p>indissociáveis, considerando que o acesso ao mundo da escrita ocorre de maneira</p><p>simultânea pelos caminhos da alfabetização e do letramento, daí a necessidade</p><p>de uma prática pedagógica alfabetizadora na perspectiva do letramento.</p><p>Dessa maneira, a respeito da alfabetização e do letramento, importa indicar não</p><p>somente as discussões atinentes a este assunto, mas também trazer as avaliações</p><p>e programas ocorridos no Brasil que tem, como objetivo, melhorar a qualidade</p><p>da educação na fase específica da alfabetização.</p><p>As avaliações em larga escala e externas realizadas na educação básica,</p><p>desenvolvidas pelo Ministério da Educação – MEC – têm como intuito definir</p><p>ações direcionadas para o aprimoramento da qualidade da educação no país.</p><p>Dessa maneira, no âmbito educacional, de acordo com o artigo 209 da</p><p>Constituição Federal (BRASIL, 1988), a avaliação educacional está associada à</p><p>qualidade da educação, e essa avaliação parte do poder público, sendo um</p><p>procedimento avaliativo aplicado a um grande contingente de alunos.</p><p>Conforme Klein e Fontanive (1995, p. 30) uma avaliação dessa natureza tem o</p><p>propósito de “[...] informar o que populações e subpopulações de alunos em</p><p>diferentes séries sabem e são capazes de fazer, em um determinado momento, e</p><p>acompanhar sua evolução ao longo dos anos”.</p><p>Devemos, também, ressaltar que, desde 1988, vêm sendo tomadas iniciativas</p><p>voltadas à implantação e desenvolvimento de avaliações externas, o Sistema</p><p>Nacional de Avaliação da Escola Básica – Saeb – é uma delas. Em 2005, por</p><p>meio da Portaria n.º 931, a avaliação realizada pelo Saeb ramificou-se em duas:</p><p>Aneb e Anresc (Prova Brasil). O Aneb é uma avaliação da eficiência das redes</p><p>de ensino básico pelo desempenho dos alunos em Leitura e Matemática e dos</p><p>fatores contextuais a ele associados. O Anresc (Prova Brasil), que é uma</p><p>avaliação da eficiência de cada unidade escolar, é realizada para averiguar o</p><p>desempenho dos alunos em Leitura e Matemática, no âmbito do ensino</p><p>fundamental (CAEd, 2008).</p><p>A Provinha Brasil é uma avaliação diagnóstica da alfabetização e foi aplicada,</p><p>pela primeira vez, no ano de 2008. A iniciativa dessa avaliação diagnóstica foi</p><p>respaldada por um discurso, advindo dos dados produzidos pelo Sistema de</p><p>Avaliação da Educação Básica – Saeb – que demonstraram baixos níveis de</p><p>desempenho dos alunos nas provas de leitura. Essa avaliação acontece em duas</p><p>etapas, uma no início e a outra ao término do ano letivo. É realizada com</p><p>crianças matriculadas no segundo ano de escolarização das escolas públicas</p><p>brasileiras. A aplicação, em períodos distintos, possibilita aos professores e</p><p>gestores educacionais a realização de um diagnóstico mais preciso que permitem</p><p>conhecer o que foi agregado na aprendizagem das crianças, em termos de</p><p>habilidades de leitura dentro do período avaliado (INEP, 2012).</p><p>Atualmente, destacam-se muitos programas nacionais, estaduais e até</p><p>municipais, efetivados no Brasil na área da alfabetização. O Ceará desenvolveu,</p><p>em 2007, o Programa Alfabetização na Idade Certa – Paic – cujo principal</p><p>objetivo de um dos eixos do programa é promover autonomia e capacidade</p><p>técnica às equipes municipais dos seus 184 municípios para que possam</p><p>conduzir as avaliações sobre o processo de alfabetização de seus alunos.</p><p>Fundamentado nessa experiência, que tem dado certo, iniciaram-se algumas</p><p>parcerias com as Secretarias da Educação de Estados, a exemplo do que ocorreu</p><p>com o estado da Bahia que, desde 2011, desenvolve ações pela Secretaria da</p><p>Educação do Estado para atender ao primeiro compromisso do Programa Todos</p><p>pela Escola, com o objetivo de alfabetizar todas as crianças até os oito anos de</p><p>idade, criando também momentos de formações.</p><p>Outros estados brasileiros, também, já possuem um sistema de avaliação</p><p>consolidado, tais como os estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais.</p><p>O Paraná implantou o Sistema de Avaliação da Educação Básica do Paraná.</p><p>Configura-se como uma importante política pública de avaliação da educação,</p><p>capaz de monitorar a qualidade do ensino e da aprendizagem. O objetivo maior é</p><p>utilizar os resultados das avaliações como base para intervenções destinadas a</p><p>garantir o direito do estudante a uma educação de qualidade. Além do</p><p>direcionamento dos cursos de formação continuada de professores, com base nos</p><p>resultados dos alunos avaliados, mediante aplicação de prova padronizada. Em</p><p>2012, a Seed, em parceria com o CAEd/UFJF, realizou a primeira edição do</p><p>Saep.</p><p>Em São Paulo, há o Saresp que teve um grande momento entre 1996 e 2002 e se</p><p>caracterizou por sua construção identitária, pois se firmou como um sistema de</p><p>avaliação na política educacional. Com isso foi capaz de contribuir para uma</p><p>nova cultura de avaliação no ensino de São Paulo, em busca de melhoria da</p><p>qualidade educacional, no contexto, em ampla ascensão, da avaliação em larga</p><p>escala no Brasil na década de 1990.</p><p>O Saresp vem realizando trabalhos, até hoje, e, em 2010, realizou sua décima</p><p>terceira edição, com uma estrutura atendendo ao que propõe uma avaliação</p><p>externa, ou seja, possibilitando o fornecimento de informações comparáveis</p><p>acerca da escolaridade básica do estado de São Paulo, bem como monitorando as</p><p>políticas voltadas para a educação, além do fornecimento de material para</p><p>orientação da gestão escolar.</p><p>No estado de Minas Gerais, foi desenvolvido, em 1992, um complexo sistema de</p><p>avaliação de suas redes de ensino. O Sistema Mineiro de Avaliação da Educação</p><p>Pública (Simave) instituiu-se no ano de 2000, configurando-se como uma das</p><p>estratégias do Governo Estadual para a efetivação de políticas mais equitativas,</p><p>por meio da melhoria da qualidade da educação da escola pública. Insere-se no</p><p>contexto das reformas implementadas pelo Governo brasileiro, a partir do início</p><p>da década de 1990, condicionadas por acordos efetivados na Conferência</p><p>Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia.</p><p>O Simave atua em duas modalidades, complementares e integradas: a primeira é</p><p>a avaliação interna da escola, por meio do Programa de Avaliação da</p><p>Aprendizagem Escolar – Paae. A segunda modalidade é a avaliação externa do</p><p>sistema de ensino, por meio do Programa de Avaliação da Alfabetização –</p><p>Proalfa e o Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica – Proeb</p><p>.</p><p>Já no Ceará, o governo do Estado, por meio da Secretaria da Educação – Seduc,</p><p>vem implementando, desde 1992, o Sistema Permanente de Avaliação da</p><p>Educação Básica do Ceará – Spaece, que se caracteriza como avaliação externa,</p><p>em larga escala, avaliando as competências e habilidades dos alunos do ensino</p><p>fundamental e do ensino médio, em Língua Portuguesa e Matemática.</p><p>As informações coletadas a cada avaliação identificam o nível de proficiência e a</p><p>evolução do desempenho dos alunos. Por considerar a importância da avaliação</p><p>como instrumento eficaz de gestão, em 2007, a abrangência do Spaece,</p><p>incorporou a avaliação da alfabetização e expandiu a avaliação do ensino médio</p><p>para as três séries de forma censitária. Desse modo, o Spaece passou a ter três</p><p>focos: Avaliação da Alfabetização – Spaece-Alfa (2º ano), Avaliação do Ensino</p><p>Fundamental (5º e 9º anos) e Avaliação do Ensino Médio (1ª, 2ª e 3ª séries).</p><p>O Spaece-Alfa surge em decorrência da prioridade do governo na alfabetização</p><p>das crianças matriculadas nos primeiros anos de escolaridade. Logo, consiste</p><p>numa avaliação anual, externa e censitária, para identificar e analisar o nível de</p><p>proficiência em leitura dos alunos do segundo ano do ensino fundamental das</p><p>escolas da rede pública, possibilitando construir um indicador de qualidade sobre</p><p>a habilidade dos alunos em leitura.</p><p>Em face da necessidade urgente de melhorar a qualidade da educação, ofertada</p><p>na educação básica, vivenciamos, atualmente, a implantação do Pacto Nacional</p><p>pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC. Esse pacto é um compromisso</p><p>formal assumido pelos governos federal, do Distrito Federal, dos estados e</p><p>municípios, de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito</p><p>anos de idade, ao final do terceiro ano do ensino fundamental.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Diante das informações trazidas pelo presente estudo, pode-se perceber que,</p><p>mesmo com a implementação de sistemas de avaliação da educação acontecendo</p><p>desde os anos 1990, ainda existe um cenário de diversas discussões em torno da</p><p>avaliação educacional no Brasil.</p><p>Hoje procura-se uma educação que sensibilize os professores e os demais</p><p>gestores, que participam do sistema educacional, sobre a importância do ato</p><p>avaliativo, para que, assim, a avaliação possa ser visualizada como subsídio de</p><p>direcionamento para as ações a serem desenvolvidas. Ademais, ela precisa ser</p><p>compreendida como um recurso para mediação da aprendizagem. Dessa forma, a</p><p>avaliação passa a ser vista não apenas como tendo uma característica</p><p>controladora voltando-se para questões meramente quantitativas, mas cria-se</p><p>uma nova visão, na qual passa a ser uma estratégia de identificar os problemas, a</p><p>fim de saná-los.</p><p>Os estudos apontam que as avaliações diagnósticas, no âmbito da alfabetização,</p><p>podem ser subsídios valiosos para favorecer a reflexão e as mudanças da real</p><p>situação de aprendizagem dos alunos. Gestores municipais, professores,</p><p>coordenadores e diretores podem utilizar-se dos resultados dessas avaliações</p><p>para possíveis intervenções em sala de aula, na escola, bem como no âmbito do</p><p>município.</p><p>Com as significativas ações no sistema de avaliação da alfabetização e a</p><p>adequada interpretação dos resultados, pode-se auxiliar efetivamente no</p><p>direcionamento do trabalho pedagógico dos professores, de forma mais efetiva,</p><p>possibilitando o repensar das práticas pedagógicas e subsidiando reflexões</p><p>qualitativas que visem à melhoria da educação. Considerando os pontos de</p><p>estudo destacados neste capítulo, referentes às ações no campo da avaliação da</p><p>alfabetização desenvolvidas pelos estados brasileiros, pode-se refletir o quanto</p><p>os estudos nesse aspecto têm avançado, e como é importante e necessário um</p><p>aprofundamento nas questões pedagógicas que possam auxiliar os professores a</p><p>compreender os resultados das avaliações, a fim de que consigam estabelecer</p><p>metas de aprendizagem para seus alunos e planejar práticas que os levem a</p><p>alcançá-las.</p><p>Frente aos diversos desafios no ciclo de alfabetização, a escola tem-se tornado o</p><p>grande cenário de iniciativas para alcançar um nível satisfatório que garanta a</p><p>alfabetização dos alunos no tempo certo. Logo, nessa intensa batalha, a avaliação</p><p>diagnóstica apresenta-se como uma das ações importantes para auxiliar as</p><p>demandas reais de leitura e escrita. Pode-se refletir, diante dos estudos apontados</p><p>no presente capítulo, que as informações geradas pelos resultados das avaliações,</p><p>no âmbito da alfabetização, são muito úteis para o trabalho pedagógico, bem</p><p>como para as investigações científicas.</p><p>No entanto a interpretação e a utilização dos resultados da avaliação da</p><p>aprendizagem no estágio inicial do processo de alfabetização, ainda, é um</p><p>grande desafio para gestores e professores. A adequada forma de comunicar os</p><p>dados e a rapidez do processamento são fundamentais para o entendimento da</p><p>real função de uma avaliação diagnóstica efetiva para ações nesse ciclo. Assim,</p><p>podemos pontuar o quanto é árdua a tarefa a ser realizada no redimensionamento</p><p>da educação no ciclo de alfabetização. Ações adequadas podem desencadear o</p><p>direcionamento da avaliação educacional, proporcionando subsídios para</p><p>favorecer o trabalho pedagógico dos professores, de forma mais efetiva,</p><p>possibilitando o repensar das práticas pedagógicas e trazendo reflexões</p><p>qualitativas que visem à melhoria da educação.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AZEVEDO, J. M. L. O Estado, a política educacional e a regulação do setor</p><p>educação no Brasil: uma abordagem histórica. In: FERREIRA, N. S. C.;</p><p>AGUIAR, M. A. S. (Org.). Gestão da educação: impasses, perspectivas e</p><p>compromissos. São Paulo: Cortez, 2000.</p><p>BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). N 9.394/96.</p><p>Brasília, 1996.</p><p>BRASIL. Guia de Correção – Provinha Brasil. Brasília: MEC/INEP, 2011.</p><p>CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o Bá-Bé-Bi-Bó-Bu: Pensamento e</p><p>ação no magistério. 1. ed. São Paulo: Scipione, 1998.</p><p>FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Tradução de</p><p>Diana Myriam Lichtenstein et al. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.</p><p>FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. 24. ed. São Paulo: Cortez,</p><p>2001.</p><p>KLEIN, R.; FONTANIVE, N. S. Avaliação em larga escala: uma proposta</p><p>inovadora. In: Em Aberto. Brasília, ano 15, n.66, abr./jun., 1995.</p><p>LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem: componente do ato</p><p>pedagógico. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2011.</p><p>SOARES, Magda Becker, MACIEL, Francisca. Alfabetização. Brasília:</p><p>MEC/INEP/COMPED (série Estado do Conhecimento), 2000.</p><p>O ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO E O PAPEL DA</p><p>ESCOLA CAMPO NO PROCESSO FORMATIVO DO</p><p>PEDAGOGO</p><p>Ana Maria do Nascimento</p><p>Maria Socorro Lucena Lima</p><p>Francione Charapa Alves</p><p>Primeiras Palavras</p><p>O texto que segue foi composto de um diálogo reflexivo no qual discutimos</p><p>sobre o Estágio Curricular Obrigatório e o papel da escola campo de Estágio no</p><p>processo da formação inicial docente.</p><p>Destacamos que essa investigação centra-se no campo da pedagogia, embora</p><p>lance luzes para outras áreas de conhecimentos. Ressaltamos ainda, que o debate</p><p>constitui-se de um recorte da dissertação de mestrado defendida na Universidade</p><p>Estadual do Ceará – UECE², em que discutimos o Estágio Curricular</p><p>Supervisionado e a relação escola e universidade. Este texto tem como objetivo</p><p>central: analisar o papel da escola campo de estágio na formação inicial do</p><p>pedagogo.</p><p>Para elaboração do texto partimos da seguinte questão: a escola campo de</p><p>estágio tem contribuído para o processo da formação dos(as) futuros</p><p>professores? Ainda tivemos outras questões a saber: como os alunos(as) têm sido</p><p>recebidos(as) pela escola de educação básica? Como a escola tem percebido a</p><p>presença dos(as) alunos(as) estagiárias em seu espaço e em sua rotina?</p><p>Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, para assegurar as nossas</p><p>discussões, além do levantamento bibliográfico realizado a partir dos registros</p><p>disponíveis em pesquisas anteriores, também consideramos relevante a pesquisa</p><p>documental. Alves (2007) revela que a pesquisa documental se assemelha à</p><p>pesquisa bibliográfica, porém se utiliza de fonte que não celebram tratamento</p><p>analítico. Para Severino (2007) são documentos que não receberam nenhuma</p><p>análise, constituindo-se matéria-prima para o pesquisador.</p><p>No nosso caso, a escolha recai sobre as leis que normatizam o Estágio no curso</p><p>de Pedagogia, especificamente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação</p><p>Nacional, Lei n.º 9.394/96; na Resolução do Conselho Nacional de</p><p>Educação/Conselho Pleno n.º 1/2006 e na Lei n.º 11.788/2008 e Resolução do</p><p>Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno n.º 2/2015,</p><p>trazemos ainda,</p><p>para compor a lista de documentos o projeto Político Pedagógico do Curso de</p><p>Pedagogia em vigência no curso de Pedagogia da Universidade Regional do</p><p>Cariri – URCA, lócus desta investigação.</p><p>Desenvolvemos também, o processo de pesquisa de campo, entendida como</p><p>momento de inserção no espaço de formação dos alunos estagiários. Como</p><p>sujeitos da pesquisa foram escolhidos dez alunos(as) matriculados(as) no curso</p><p>de Pedagogia da URCA, que estivessem cursando regularmente o oitavo</p><p>semestre do curso e que, em semestres anteriores, já tivessem passado por duas</p><p>experiências de Estágio Curricular Obrigatório. Para produção de dados</p><p>desenvolvemos os Círculos Investigativos Dialógicos, um dispositivo de</p><p>pesquisa, elaborado a partir da ideia dos Círculos de Cultura vivenciados por</p><p>Freire em diferentes contextos.</p><p>A opção pelos Círculos Investigativos Dialógicos se deu pela oportunidade de</p><p>ouvir e problematizar o tema em função das diversas opiniões que a proposta</p><p>permite, tendo o diálogo como princípio. Como principais teóricos desta</p><p>investigação tivemos Paulo Freire com a ideia dos Círculos de Cultura e o</p><p>princípio do diálogo. Pimenta e Lima (2010) nos ajudam na reflexão sobre o</p><p>estágio na formação inicial docente. Lima (2012-2004) vem contribuir com as</p><p>discussões acerca do estágio e aprendizagem da profissão docente, o Estágio</p><p>enquanto atividade de pesquisa, bem como o estágio e a relação teoria e prática.</p><p>Destacamos esses(as) autores(as) como principais, mas afirmamos que</p><p>outros(as) autores(as) também contribuíram para a construção desse debate.</p><p>Consideramos ser esta uma temática importante, pois contribui com as</p><p>discussões que permeiam a formação docente, de modo específico com os</p><p>desafios vivenciados na realização dos estágios.</p><p>ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO NA FORMAÇÃO INICIAL</p><p>DOCENTE</p><p>O Estágio Curricular Obrigatório, destacado como elemento essencial à</p><p>formação inicial docente, pressupõe envolvimento não só da universidade,</p><p>enquanto instituição formadora, mas também da escola como instituição</p><p>recebedora e formadora do(a) estagiário(a). O envolvimento de duas instituições</p><p>de caráter diferenciado acaba por produzir diversas tensões que interferem de</p><p>forma significativa no aprender a ser professor(a). Como apontam Pimenta e</p><p>Lima (2010, p. 107), “no trânsito entre duas instituições de diferentes níveis de</p><p>ensino, com características, objetivos, estruturas e funcionamentos diversos, é</p><p>preciso que se compreendam suas culturas específicas e o que as aproximam, a</p><p>fim de não correr em mútuas acusações”.</p><p>Em se tratando da legislação é a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação</p><p>Nacional, aprovada em 1996, Lei nº 9394/96, que começamos a perceber, de</p><p>forma mais incisiva, o modo como o estágio aparece na Legislação e a</p><p>preocupação aparente em associar a teoria à prática, ao direcionarmos nosso</p><p>olhar atentamente para o Título VI, que dispõe sobre os profissionais da</p><p>educação.</p><p>O artigo 61, parágrafo único, inciso I, mostra-nos os fundamentos que devem</p><p>gerir a formação profissional docente, vejamos: “a presença de sólida formação</p><p>básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de</p><p>suas competências de trabalho”. Em seguida, o inciso II, chama a atenção para</p><p>articulação teoria prática: “a associação teoria e prática, mediante estágios</p><p>supervisionados e capacitação em serviço”.</p><p>As exigências postas na Lei nº 9394/96, aumentaram as horas de Estágio</p><p>Curricular Obrigatório. Além disso, foi exigido, também, um olhar atento ao</p><p>currículo, levando a uma nova reorganização. A Resolução n.º 2, de 1 de julho de</p><p>2015, em seu artigo 13, cursos de formação inicial de professores para a</p><p>educação básica em nível superior, em cursos de licenciatura, devem ter 400</p><p>horas como carga horária de estágio.</p><p>Embora consideremos um avanço significativo na Legislação, ao apontar a</p><p>necessidade de associação entre teoria e prática e trazer nitidamente o estágio</p><p>como necessário à formação, notamos uma contradição ao referir-se aos</p><p>fundamentos científicos direcionados ao termo competência e à vinculação</p><p>apenas com o trabalho, e não com o mundo do trabalho, ou seja, uma</p><p>preocupação dirigida apenas com o mercado, ficando o estágio, mais uma vez,</p><p>entendido apenas como momento da prática, separada da teoria e dos</p><p>fundamentos que geram a formação docente.</p><p>Mais adiante, no Artigo 65, o estágio reaparece no texto da Lei nº 9394/96,</p><p>sendo expresso da seguinte maneira: “a formação docente exceto para a</p><p>educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo trezentas horas”.</p><p>Constatamos, porém que o Estágio Curricular Obrigatório ganha destaque na</p><p>LDB 9394/96, mas ainda de forma tímida.</p><p>Pimenta e Lima (2011) revelam que, após aprovação da LDB, fica a cargo do</p><p>Conselho Nacional de Educação (CNE) definir as Diretrizes Curriculares para</p><p>todos os cursos de graduação do país. Nessa direção, o CNE institui as Diretrizes</p><p>Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia, por meio da</p><p>Resolução CNE/CP n.º 1, de 15 de maio de 2006. A resolução apresenta as</p><p>Diretrizes para o curso de Pedagogia, licenciatura, definindo princípios</p><p>condições de ensino e aprendizagem, procedimentos a serem observados em seu</p><p>planejamento e avaliação, pelos órgãos do sistema ensino e pelas instituições de</p><p>educação superior de todo país.</p><p>Já no que se refere à Lei nº 11.788, destaca o estágio como:</p><p>Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de</p><p>trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que</p><p>estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de</p><p>educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais</p><p>do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e</p><p>adultos (BRASIL, 2008, grifo nosso).</p><p>O Estágio Curricular Obrigatório cumpre um papel importante na formação</p><p>inicial docente, pois é o momento de imersão do discente no ambiente escolar,</p><p>este terá a possibilidade de confrontar a teoria e as metodologias abordadas ao</p><p>longo da graduação com a dinâmica que se expressa no interior das escolas</p><p>públicas. Também, proporciona pensar e repensar uma futura postura de</p><p>intervenção como profissional no exercício da docência.</p><p>Sendo assim, acreditamos que a disciplina de Estágio é um momento propício,</p><p>não é o único, mas relevante para a aprendizagem da profissão. Por meio das</p><p>atividades diversas que terão de realizar nessa disciplina. Os(as) alunos(as) estão</p><p>lidando diretamente com tarefas inerentes ao ser professor, a exemplo: planejar,</p><p>executar, avaliar, redimensionar as atividades que não tiveram êxito, bem como</p><p>entrar em contato diretamente com as escolas, onde atuarão futuramente.</p><p>Com base no exposto, acreditamos na importância da valorização do estágio na</p><p>formação inicial docente, uma vez que os(as) alunos(as) serão inseridos(as) em</p><p>seu futuro campo de atuação. Nesse sentido, o estágio não pode ser desenvolvido</p><p>de forma técnica e burocratizada. Contudo, uma disciplina pautada nos</p><p>princípios da relação teoria prática, ou seja, uma disciplina que visa a construção</p><p>da práxis.</p><p>Dito isto, vamos refletir sobre o lugar da escola campo no processo de formação</p><p>inicial docente.</p><p>O LUGAR DA ESCOLA NO PROCESSO FORMATIVO: DIALOGANDO</p><p>COM A ESCOLA CAMPO DO ESTÁGIO E O(A) PROFESSOR(A)</p><p>REGENTE</p><p>Salientamos que a análise advinda deste debate busca responder às seguintes</p><p>questões: como os alunos(as) têm sido recebidos(as) pela escola de educação</p><p>básica? Como a escola tem percebido a presença dos alunos(as) estagiários(as)</p><p>em seu espaço e sua rotina? A escola tem contribuído para o processo de</p><p>formação dos futuros(as) professores(as)?</p><p>Lima (2012) aponta a escola como lugar de formação, que pode ajudar na</p><p>construção da identidade docente. É a escola que vai possibilitar ao futuro</p><p>professor(a) o contato com a realidade social concreta, sendo o estágio um</p><p>momento propício para tal. Nesse caso, a escola é uma instituição importante na</p><p>constituição da formação docente, considerando que esta é carregada de</p><p>contradições</p>