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CAO – Crim 
Boletim Criminal Comentado n°116,11/2020 
(semana nº 1) 
 
 Procurador-Geral de Justiça 
Mário Luiz Sarrubbo 
 
Secretário Especial de Políticas Criminais 
Arthur Pinto Lemos Junior 
 
Assessores 
Fernanda Narezi P. Rosa 
Ricardo José G. de Almeida Silvares 
Rogério Sanches Cunha 
Valéria Scarance 
Paulo José de Palma (descentralizado) 
 
Artigo 28 e Conflito de Atribuições 
Marcelo Sorrentino Neira 
Fernando Célio Brito Nogueira 
 
Analistas Jurídicos 
Ana Karenina Saura Rodrigues 
Victor Gabriel Tosetto 
 
 
Boletim Criminal Comentado 116- Novembro 
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SUMÁRIO 
SUMÁRIO..............................................................................................................................................2 
ESTUDOS DO CAOCRIM.................................................................................................................3 
1-Tema: prova obtida pela autoridade policial, sem autorização judicial, mediante acesso a registro 
telefônico ou agenda de contatos de celular apreendido no local do crime atribuído ao 
acusado.................................................................................................................................................3 
STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM.......................................5 
DIREITO PROCESSUAL PENAL:...............................................................................................................5 
1- Tema: Inobservância de prazo nonagesimal e revogação automática de prisão 
preventiva.............................................................................................................................................5 
2- Tema: Organização criminosa. Gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem 
conhecimento do outro. Prova lícita. Inovações da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime). 
Entendimento consolidado. Não alteração...........................................................................................7 
3- Tema: Sexta Turma rechaça condenação baseada em reconhecimento que não seguiu 
procedimento legal.............................................................................................................................11 
4-Tema: Depoimento da vítima no inquérito policial confirmado por perícia autoriza a 
condenação.........................................................................................................................................14 
DIREITO PENAL:...................................................................................................................................16 
1-Tema: Organização criminosa. Apuração de crimes graves. Agência de inteligência. Apoio à 
investigação do Ministério Público. Possibilidade..............................................................................16 
MP/SP: decisões do setor art. 28 do CPP............................................................................................19 
1-Tema: divergência acerca do enquadramento legal dos fatos (perturbação da tranquilidade, 
estupro de vulnerável ou importunação sexual), com reflexo na atribuição funcional......................19 
 
 
 
 
 
 
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ESTUDOS DO CAOCRIM 
1-Tema: Prova obtida pela autoridade policial, sem autorização judicial, mediante acesso a 
registro telefônico ou agenda de contatos de celular apreendido no local do crime atribuído ao 
acusado 
Esta semana “correu” nas redes sociais a notícia de que o STF havia decidido fixar a seguinte tese: 
“É lícita a prova obtida pela autoridade policial, sem autorização judicial, mediante acesso a registro 
telefônico ou agenda de contatos de celular apreendido no local do crime atribuído ao acusado, 
não configurando esse acesso ofensa ao sigilo das comunicações, à intimidade ou à privacidade do 
indivíduo”. 
Essa decisão, por ora, é do relator, em sede de plenário virtual. Já existe, inclusive, voto divergente 
do Min. Gilmar Mendes, para quem o referido acesso demando autorização judicial. 
Importante observar que a tese do relator, caso sufragada pela Corte, não autoriza o acesso ao 
whatsapp ou aplicativos de conversa do agente suspeito ou investigado sem autorização judicial, 
mas somente de dados, seguindo a jurisprudência cristalizada no STJ. Vejamos. 
A Corte Cidadã, de forma copiosa, vem decidindo que, não havendo consentimento do investigado 
ou autorização judicial, são consideradas ilícitas as provas obtidas pela polícia por meio de 
conversas realizadas entre ele e outras pessoas pelo sistema de viva-voz de telefones: 
“O relato dos autos demonstra que a abordagem feita pelos milicianos foi obtida de forma 
involuntária e coercitiva, por má conduta policial, gerando uma verdadeira autoincriminação. Não 
se pode perder de vista que qualquer tipo de prova contra o réu que dependa dele mesmo só vale 
se o ato for feito de forma voluntária e consciente” (REsp 1.630.097, DJe 28/4/2017). 
Desde o julgamento do RHC 89.385/SP (j. 16/8/2018), o tribunal vem reiterando a orientação 
semelhante ao considerar nula a prova obtida por meio de acesso ao WhatsApp em telefone celular 
apreendido após prisão em flagrante por tráfico de drogas. 
Destaque-se que esta situação não se confunde com aquela na qual, sem autorização judicial, a 
polícia analisa dados em aparelho telefônico pertencente à vítima, como já decidiu o próprio STJ 
num caso de homicídio, em que o aparelho continha informações que poderiam constituir provas 
da prática do crime, e, como o titular do sigilo já estava morto, o tribunal considerou impertinente 
a alegação de prova ilícita. Não se trata, portanto, da mesma situação em que o aparelho pertence 
ao agente do crime e é apreendido e examinado em seu desfavor: 
“Sendo assim, não há sequer necessidade de uma ordem judicial porque, frise-se, no processo 
penal, o que se protege são os interesses do acusado. Logo, soa como impróprio proteger-se a 
 
 
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intimidade de quem foi vítima do homicídio, sendo que o objeto da apreensão e da investigação é 
esclarecer o homicídio e punir aquele que, teoricamente, foi o responsável pela morte” (RHC 
86.076/MT, DJe 12/12/2017). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM 
DIREITO PROCESSUAL PENAL: 
1-Tema: Inobservância de prazo nonagesimal e revogação automática de prisão preventiva 
INFORMATIVO 995 STF- PLENÁRIO 
A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal (CPP) não implica 
automática revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a 
legalidade e a atualidade de seus fundamentos. 
O disposto no art. 316, parágrafo único, do CPP insere-se em um sistema a ser interpretado 
harmonicamente, sob pena de se produzirem incongruências deletérias à processualística e à 
efetividade da ordem penal. A exegese que se impõe é a que, à luz do caput do artigo, extrai-se a 
regra de que, para a revogação da prisão preventiva, o juiz deve fundamentar a decisão na 
insubsistência dos motivos que determinaram sua decretação, e não no mero decurso de prazos 
processuais. 
O Supremo Tribunal Federal (STF) rechaça interpretações que associam, automaticamente, o 
excesso de prazo ao constrangimento ilegal da liberdade, tendo em vista: a) o critério de 
razoabilidade concreta da duração do processo, aferido à luz da complexidade de cada caso, 
considerados os recursos interpostos, a pluralidade de réus, crimes, testemunhas a serem ouvidas, 
provas periciais a serem produzidas, etc.; e b) o dever de motivação das decisões judiciais 
[ConstituiçãoFederal (CF), art. 93, IX], que devem sempre se reportar às circunstâncias específicas 
dos casos concretos submetidos a julgamento, e não apenas aos textos abstratos das leis. 
À luz desta compreensão jurisprudencial, o disposto no art. 316, parágrafo único, do CPP não 
conduz à revogação automática da prisão preventiva. Ao estabelecer que “Decretada a prisão 
preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 
(noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal”, o 
dispositivo não determina a revogação da prisão preventiva, mas a necessidade de fundamentá-la 
periodicamente. 
Mais ainda: o parágrafo único do art. 316 não fala em prorrogação da prisão preventiva, não 
determina a renovação do título cautelar. Apenas dispõe sobre a necessidade de revisão dos 
fundamentos da sua manutenção. Logo, não se cuida de prazo prisional, mas prazo fixado para a 
prolação de decisão judicial. 
Portanto, a ilegalidade decorrente da falta de revisão a cada 90 dias não produz o efeito 
automático da soltura, porquanto esta, à luz do caput do dispositivo, somente é possível mediante 
 
 
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decisão fundamentada do órgão julgador, no sentido da ausência dos motivos autorizadores da 
cautela, e não do mero transcorrer do tempo. 
No caso, trata-se de referendo de decisão do presidente do STF que, em sede de plantão judiciário, 
após reconhecer a existência de risco de grave lesão à ordem e à segurança pública, concedeu a 
suspensão de medida liminar proferida nos autos do HC 191.836/SP e determinou a imediata prisão 
do paciente. A periculosidade do agente do writ em foco para a segurança pública resta evidente, 
ante a gravidade concreta do crime (tráfico transnacional de mais de 4 toneladas de cocaína, 
mediante organização criminosa violenta e que ultrapassa as fronteiras nacionais) e a própria 
condição de liderança de organização criminosa de tráfico de drogas atribuída ao paciente, 
reconhecida nas condenações antecedentes que somam 25 anos. 
Com esse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a decisão em suspensão de liminar, 
com a consequente confirmação da suspensão da decisão proferida nos autos do HC 191.836/SP 
até o julgamento do writ pelo órgão colegiado competente, determinando-se a imediata prisão do 
paciente, nos termos do voto do ministro Luiz Fux (presidente e relator), vencido o ministro Marco 
Aurélio, que inadmitia a possibilidade de presidente cassar individualmente decisão de um 
integrante do STF. O ministro Ricardo Lewandowski, preliminarmente, não conhecia da suspensão 
e, vencido, ratificou a liminar. 
SL 1395 MC Ref/SP, rel. min. Luiz Fux, julgamento em 14 e 15.10.2020. (SL-1395) 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
Considerando “a preocupação da magistratura com as situações de prisão provisória com excesso 
de prazo ou a manutenção da privação da liberdade após o cumprimento da sua finalidade”, o 
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução 66/2009, onde determina que, estando o réu 
preso provisoriamente há mais de três meses, com o processo ou inquéritos parados, cumpre ao 
juiz (ou ao relator, tratando-se de recurso) investigar as razões da demora, indicando, ainda, as 
providências adotadas, a serem, posteriormente, comunicadas à Corregedoria Geral de Justiça ou à 
Presidência do Tribunal (no caso do relator). 
A propósito, como observam Alberto Silva Franco e Maurício Zanoide, sendo o juiz “obrigado a 
declinar os motivos da demora sempre que concluir a instrução fora do prazo, com maior razão 
deverá fundamentar a necessidade da prisão cautelar, se o arco de tempo processual, a que alude 
Chiavario, previsto para um determinado procedimento, estiver consumido” (Código de Processo 
Penal e sua Interpretação Judicial, 2ª ed., vol. 1, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 
279). 
A Lei 13.964/19, acrescentando ao art. 316 do CPP novel parágrafo, seguiu o espírito da referida 
Resolução. Diz que o órgão emissor da decisão deverá revisar a necessidade de sua manutenção a 
 
 
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cada 90 dias, mediante decisão fundamentada, sob pena de o constrangimento, até então legal, se 
tornar ilegal. 
Para a ministra do STJ Laurita Vaz, a obrigação de revisar de ofício a necessidade da prisão 
preventiva a cada 90 dias é imposta apenas ao juiz ou ao tribunal que decretou a medida. Segundo 
ela, seria desarrazoado, ou mesmo inexequível, estender essa tarefa a todos os órgãos judiciários 
competentes para o exame do processo em grau de recurso. A avaliação foi feita em decisão na 
qual a Ministra negou o pedido de liminar para revogar a prisão preventiva de um homem 
condenado por extorsão. Segundo a defesa, a preventiva – mantida na sentença condenatória – já 
tem mais de um ano sem que tenha havido a revisão exigida por lei. (STJ, HC 589.544/SC, j. 
25/06/2020). 
Em complemento à essa decisão, o STF anuncia que a inobservância do prazo nonagesimal do art. 
316 do Código de Processo Penal (CPP) não implica automática revogação da prisão preventiva, 
devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade e a atualidade de seus 
fundamentos. 
 
2-Tema: Organização criminosa. Gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem 
conhecimento do outro. Prova lícita. Inovações da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime). 
Entendimento consolidado. Não alteração 
INFORMATIVO 680 STJ- SEXTA TURMA 
As inovações do Pacote Anticrime na Lei n. 9.296/1996 não alteraram o entendimento de que é 
lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem 
conhecimento do outro. 
Informações do Inteiro Teor: 
Na hipótese, depois de firmado acordo de colaboração premiada ocorreu a gravação ambiental de 
conversa realizada por um dos interlocutores, em repartição pública, sem o conhecimento dos 
outros, o que, apesar de clandestina, não consubstancia prova ilícita, conforme reconhecido pela 
jurisprudência deste Superior Tribunal. 
Atualmente, existe tratamento diferenciado na jurisprudência entre: a) interceptação – captação de 
comunicação alheia e sem conhecimento dos comunicadores, de forma sub-reptícia; b) escuta – 
captação de conversa, por terceiro, com o consentimento de um dos interlocutores e c) gravação – 
captação feita por um dos próprios comunicadores sem que o outro saiba. 
 
 
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A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a gravação ambiental realizada por colaborador 
premiado, um dos interlocutores da conversa, sem o consentimento dos outros, é lícita, ainda que 
obtida sem autorização judicial, e pode ser validamente utilizada como meio de prova no processo 
penal. 
No mesmo sentido é o precedente do Supremo Tribunal Federal, exarado na QO-RG RE 583.937/RJ, 
de que, desde que não haja causa legal de sigilo, "é lícita a prova consistente em gravação 
ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro" (Tema 237). 
Na oportunidade, o Colegiado concluiu que a disponibilização de conteúdo de conversa por 
partícipe, emissor ou receptor, significaria apenas dispor daquilo que também é seu, sem que se 
possa falar em interceptação, sigilo de comunicação ou de intromissão furtiva em situação 
comunicativa. Não se delimitou que a gravação de conversa por um dos participantes do diálogo 
seria lícita somente se utilizada em defesa própria, nunca como meio de prova da acusação. 
É mister ressaltar, ainda, que a Lei n. 9.296, de 24/7/1996, mesmo com as inovações trazidas pela 
Lei n. 13.964/2019, não dispôs sobre a necessidade de autorização judicial para a gravação de 
diálogo por um dos seus comunicadores. 
Consta, em dispositivo novo da Lei n. 9.296/1996 (art. 10-A, § 1º) que não há crime se a captação é 
realizada por um dos interlocutores.Remanesce a reserva jurisdicional apenas aos casos relacionados à captação por terceiros, sem 
conhecimento dos comunicadores, quando existe a inviolabilidade da privacidade, protegida 
constitucionalmente. 
Processo: HC 512.290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado 
em 18/08/2020, DJe 25/08/2020 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
A interceptação telefônica, sem dúvida, demanda autorização judicial. 
A escuta, por sua vez, desperta indisfarçável controvérsia, havendo precedentes do STF exigindo, 
nela enxergando uma espécie de interceptação, já que realizada por terceiro. Vejamos: 
“EMENTA: I. Habeas corpus: cabimento: prova ilícita. 1. Admissibilidade, em tese, do habeas corpus 
para impugnar a inserção de provas ilícitas em procedimento penal e postular o seu 
desentranhamento: sempre que, da imputação, possa advir condenação a pena privativa de 
liberdade: precedentes do Supremo Tribunal. II. Provas ilícitas: sua inadmissibilidade no processo 
(CF, art. 5º, LVI): considerações gerais. 2. Da explícita proscrição da prova ilícita, sem distinções 
quanto ao crime objeto do processo (CF, art. 5º, LVI), resulta a prevalência da garantia nela 
 
 
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estabelecida sobre o interesse na busca, a qualquer custo, da verdade real no processo: 
consequente impertinência de apelar-se ao princípio da proporcionalidade – à luz de teorias 
estrangeiras inadequadas à ordem constitucional brasileira – para sobrepor, à vedação 
constitucional da admissão da prova ilícita, considerações sobre a gravidade da infração penal 
objeto da investigação ou da imputação. III. Gravação clandestina de ‘conversa informal’ do 
indiciado com policiais. 3. Ilicitude decorrente – quando não da evidência de estar o suspeito, na 
ocasião, ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu assentimento à gravação ambiental – 
de constituir, dita ‘conversa informal’, modalidade de ‘interrogatório’ sub- reptício, o qual – além 
de realizar-se sem as formalidades legais do interrogatório no inquérito policial (C.Pr.Pen., art. 6º, 
V) –, se faz sem que o indiciado seja advertido do seu direito ao silêncio. 4. O privilégio contra a 
autoincriminação – nemo tenetur se detegere –, erigido em garantia fundamental pela Constituição 
– além da inconstitucionalidade superveniente da parte final do art. 186 C.Pr.Pen. – importou 
compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o interrogado do seu direito ao 
silêncio: a falta da advertência – e da sua documentação formal – faz ilícita a prova que, contra si 
mesmo, forneça o indiciado ou acusado no interrogatório formal e, com mais razão, em ‘conversa 
informal’ gravada, clandestinamente ou não. IV. Escuta gravada da comunicação telefônica com 
terceiro, que conteria evidência de quadrilha que integrariam: ilicitude, nas circunstâncias, com 
relação a ambos os interlocutores. 5. A hipótese não configura a gravação da conversa telefônica 
própria por um dos interlocutores – cujo uso como prova o STF, em dadas circunstâncias, tem 
julgado lícito –, mas, sim, escuta e gravação por terceiro de comunicação telefônica alheia, ainda 
que com a ciência ou mesmo a cooperação de um dos interlocutores: essa última, dada a 
intervenção de terceiro, se compreende no âmbito da garantia constitucional do sigilo das 
comunicações telefônicas e o seu registro só se admitirá como prova, se realizada mediante prévia 
e regular autorização judicial. 6. A prova obtida mediante a escuta gravada por terceiro de conversa 
telefônica alheia é patentemente ilícita em relação ao interlocutor insciente da intromissão 
indevida, não importando o conteúdo do diálogo assim captado. 7. A ilicitude da escuta e gravação 
não autorizadas de conversa alheia não aproveita, em princípio, ao interlocutor que, ciente, haja 
aquiescido na operação; aproveita-lhe, no entanto, se, ilegalmente preso na ocasião, o seu 
aparente assentimento na empreitada policial, ainda que existente, não seria válido. 8. A extensão 
ao interlocutor ciente da exclusão processual do registro da escuta telefônica clandestina – ainda 
quando livre o seu assentimento nela – em princípio, parece inevitável, se a participação de ambos 
os interlocutores no fato probando for incindível ou mesmo necessária à composição do tipo 
criminal cogitado, qual, na espécie, o de quadrilha. V. Prova ilícita e contaminação de provas 
derivadas (fruits of the poisonous tree). 9. A imprecisão do pedido genérico de exclusão de provas 
derivadas daquelas cuja ilicitude se declara e o estágio do procedimento (ainda em curso o 
inquérito policial) levam, no ponto, ao indeferimento do pedido” 
(HC 80949, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, j. em 30.10.2001, DJ 14.12.2001, PP-
00026 EMENT VOL-02053-06 PP-01145 RTJ VOL-00180-03 PP-01001). 
 
 
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Vale ressaltar, no entanto, que no HC 161.053/SP, o STJ, durante os debates entre os Ministros, 
revelou que, para a escuta, não seria necessária autorização judicial. 
A gravação telefônica, entretanto, dispensa ordem judicial, nela inexistindo a figura do terceiro. 
Quando ambiental, as três formas dispensavam ordem judicial. A Lei de Abuso de Autoridade, 
contudo, ao dar nova redação ao art. 10 da Lei 9.296/1996, mudou o cenário. Vejamos o quadro 
comparativo. 
Lei 13.869/2019 Lei 9.296/1996 
“Art. 10. Constitui crime realizar 
interceptação de comunicações telefônicas, 
de informática ou telemática, promover 
escuta ambiental ou quebrar segredo da 
Justiça, sem autorização judicial ou com 
objetivos não autorizados em lei: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) 
anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a 
autoridade judicial que determina a 
execução de conduta prevista no caput com 
objetivo não autorizado em lei.” (NR) 
Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de 
comunicações telefônicas, de informática ou 
telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem 
autorização judicial ou com objetivos não 
autorizados em lei. 
Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa. 
 
 
Percebe-se da comparação que a Lei 13.869/2019 valeu-se do único tipo incriminador da Lei 
9.296/1996 para condicionar não somente a interceptação telefônica, mas também a escuta 
ambiental a prévia autorização judicial. 
Chama a atenção, todavia, a falta de técnica. É que a escuta é um minus quando comparada com a 
interceptação. Aquela, repetimos, tem a concordância de um dos interlocutores. Esta, de nenhum 
deles. Ora, se é crime realizar escuta ambiental sem ordem judicial, obviamente também é crime a 
interceptação sem autorização. 
Com a vigência da Lei 13.964/19, o cenário muda novamente. É que o legislador resolveu punir, de 
forma independente (art. 10-A), a captação ambiental (interceptação e escuta), revogando, nesse 
ponto, o art. 10 da Lei 9.296/1996. 
 
 
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A gravação, contudo, continua dispensando autorização judicial, na linha do que decidiu o STJ no 
acórdão em comento. 
 
3-Tema: Sexta Turma rechaça condenação baseada em reconhecimento que não seguiu 
procedimento legal 
STJ- PUBLICADO EM NOTÍCIAS DO STJ 
Ao conceder habeas corpus para absolver um homem acusado de roubo, cuja condenação não teve 
outra prova senão a declaração de vítimas que dizem tê-lo identificado em uma foto apresentada 
pela polícia, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu diretrizes para que o 
reconhecimento de pessoas possa ser considerado válido. 
Segundo o relator do habeas corpus, ministro Rogerio Schietti Cruz, a não observância das 
formalidades legais para o reconhecimento – garantias mínimas para o suspeito da prática de um 
crime – leva à nulidade do ato. 
Em seu voto, o ministro afirmou que é urgente a adoção de uma nova compreensão dos tribunais 
sobre o atode reconhecimento de pessoas. Para ele, não é mais admissível a jurisprudência que 
considera as normas legais sobre o assunto – previstas no artigo 226 do Código de Processo Penal – 
apenas uma "recomendação do legislador", podendo ser flexibilizadas, porque isso "acaba por 
permitir a perpetuação desse foco de erros judiciários e, consequentemente, de graves injustiças". 
Risco de falhas 
O voto do relator foi seguido por todos os membros da Sexta Turma. O ministro Nefi Cordeiro 
apenas ressalvou que, em seu entendimento, só as violações graves ao procedimento do artigo 266 
deveriam anular a prova. 
Ficou estabelecido no julgamento que, em vista dos riscos de um reconhecimento falho, a 
inobservância do procedimento descrito na norma legal invalida o ato e impede que ele seja usado 
para fundamentar eventual condenação, mesmo que o reconhecimento seja confirmado em juízo. 
Segundo os ministros, o magistrado pode realizar o ato de reconhecimento formal, desde que 
observe o procedimento previsto em lei, e também pode se convencer da autoria delitiva a partir 
do exame de outras provas que não guardem relação com o ato viciado de reconhecimento. 
Por fim – decidiu a turma –, o reconhecimento do suspeito por fotografia, além de dever seguir o 
mesmo procedimento do artigo 226, tem de ser visto apenas como etapa antecedente do 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art226
 
 
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reconhecimento presencial; portanto, não pode servir como prova em ação penal, ainda que 
confirmado em juízo. 
Injustiças 
Acusado de participação em assalto na cidade de Tubarão (SC), o suspeito foi condenado em 
primeira e segunda instâncias a cinco anos e quatro meses de prisão, apenas com base em 
reconhecimento fotográfico feito durante o inquérito. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina 
(TJSC) entendeu que seria perfeitamente possível o reconhecimento por foto no inquérito, mesmo 
quando o suspeito não foi preso em flagrante, como no caso. 
O habeas corpus foi impetrado pela Defensoria Pública de Santa Catarina. A ONG Innocence Project 
Brasil, que atuou no caso como amicus curiae, chamou a atenção para as injustiças que podem 
decorrer do reconhecimento de suspeitos sem a observância das regras legais. 
Segundo a Defensoria Pública, não houve nenhuma outra prova que corroborasse a acusação. Além 
disso, as vítimas haviam relatado que o assaltante teria cerca de 1,70m de altura, 25cm a menos do 
que o suspeito condenado. Três das vítimas afirmaram que não seria possível reconhecer os 
autores do crime, que estavam com o rosto parcialmente coberto. 
O ministro Rogerio Schietti observou que, diferentemente do que é exigido pelo CPP, as pessoas 
que participaram do reconhecimento não tiveram de fazer a prévia descrição do criminoso, nem 
lhes foram exibidas outras fotos de possíveis suspeitos. Em vez disso, a polícia escolheu a foto de 
alguém que já cometeu outros crimes, mas que nada indicava ter ligação com o roubo investigado. 
"Chega a ser temerário o procedimento policial adotado neste caso, ao escolher, sem nenhuma 
explicação ou indício anterior, quem se desejava que fosse identificado pelas vítimas", afirmou o 
relator. 
Erros judiciários 
Segundo o ministro, o reconhecimento equivocado de suspeitos tem sido uma das principais causas 
de erro judiciário, levando inocentes à prisão. Tal situação levou à criação, nos Estados Unidos, em 
1992, da Innocence Project, entidade fundada por advogados especialistas em pedir indenizações 
ao Estado em decorrência da condenação de inocentes. 
"Segundo pesquisa feita por essa ONG, aproximadamente 75% das condenações de inocentes se 
devem a erros cometidos pelas vítimas e por testemunhas ao identificar os suspeitos no ato do 
reconhecimento. Em 38% dos casos em que houve esse erro, várias testemunhas oculares 
identificaram incorretamente o mesmo suspeito inocente", afirmou. 
 
 
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Para o relator, o reconhecimento por meio fotográfico é ainda mais problemático quando realizado 
por simples exibição de fotos do suspeito extraídas de álbuns policiais ou de redes sociais, 
previamente selecionadas pela polícia. 
Prova comprometida 
"Mesmo quando se procura seguir, com adaptações, o procedimento indicado no CPP para o 
reconhecimento presencial, não há como ignorar que o caráter estático, a qualidade da foto, a 
ausência de expressões e trejeitos corporais e a quase sempre visualização apenas do busto do 
suspeito podem comprometer a idoneidade e a confiabilidade do ato", destacou. 
No entender do ministro, deve ser exigido da polícia que realize sua função investigativa 
comprometida com "o absoluto respeito às formalidades desse meio de prova". 
"Este Superior Tribunal de Justiça, a seu turno, ao conferir nova e adequada interpretação do artigo 
226 do CPP, sinaliza, para toda a magistratura e todos os órgãos de segurança nacional, que 
soluções similares à que serviu de motivo para esta impetração não devem, futuramente, ser 
reproduzidas em julgados penais", declarou. 
Leia o voto do relator. 
Esta notícia refere-se ao(s) processo(s):HC 598886 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
Se ao reconhecimento pessoal, feito in facien, já são apontadas restrições, com muito mais razão 
doutrina e jurisprudência nutrem enormes ressalvas quanto à validade do chamado 
reconhecimento fotográfico. O sempre lembrado Adalberto Camargo Aranha chega a negar-lhe a 
natureza de meio de prova, aduzindo que fotografias “somente serviriam como ponto de partida 
para uma investigação policial, como marco inicial tal qual o retrato falado, e nunca como prova”. 
Pensamento diverso é o de José Frederico Marques, ao alertar que “não nos parece muito acertado 
rejeitar-se de plano, como elemento de prova, o reconhecimento feito diante de fotografias. Tudo 
depende, em cada caso, das circunstâncias que rodearam o reconhecimento e dos dados que foram 
fornecidos pela vítima ou testemunha, para fundamentar suas afirmativas”. 
Parece-nos a opinião mais acertada. Com efeito, embora precário, o reconhecimento fotográfico 
submete-se, como de resto toda e qualquer prova penal, a uma análise global, dentro de um 
contexto probatório forjado nos autos e, como tal, deve ser tomado pelo Juiz, na formação de sua 
convicção, dentro da liberdade que orienta tal raciocínio. Não tem, é óbvio, valor absoluto – que, 
aliás, nem a confissão judicial possui – e, portanto, não pode isoladamente fundamentar um 
decreto condenatório. Mas também não deve, de plano, ser descartado, merecendo análise – 
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/SiteAssets/documentos/noticias/27102020%20HC598886-SC.pdf
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&termo=HC%20598886
 
 
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repita-se – em cotejo com as demais provas do processo, cabendo seja utilizado, entretanto, 
apenas quando não seja possível o reconhecimento pessoal. Sobretudo nos dias atuais, quando a 
sofisticação das máquinas fotográficas e celulares propicia uma qualidade de imagem muito 
superior àquela obtida, por exemplo, em meados do século passado. A 5ª. Turma do Superior 
Tribunal de Justiça (STJ) recentemente decidiu nesse sentido, isto é, que o reconhecimento 
fotográfico do réu, quando ratificado em juízo, sob a garantia do contraditório e ampla defesa, 
pode servir como meio idôneo de prova para fundamentar a condenação (HC 427051/SC). 
 
4-Tema: Depoimento da vítima no inquérito policial confirmado por perícia autoriza a 
condenação 
STJ. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. 
IMPOSSIBILIDADE. CONDENAÇÃO COM BASE EM PROVA EXCLUSIVAMENTE INQUISITORIAL. 
INOCORRÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LESÃO CORPORAL. DEPOIMENTO EM FASE POLICIAL. 
EXAME DE CORPO DE DELITO. VÍTIMA QUE REATOURELACIONAMENTO COM AGRESSOR E 
PERMANECEU EM SILÊNCIO NA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. ACERVO PROBATÓRIO SUFICIENTE. 
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA. VOLUNTARIEDADE RECURSAL. EMBARGOS 
INFRINGENTES NÃO INTERPOSTOS. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 
1. A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que a divergência a respeito da 
estratégia defensiva entre o novo advogado e seu predecessor na causa não inquina de nulidade a 
ação penal, ainda que se trate de hipótese de não interposição de recurso, em razão do princípio da 
voluntariedade recursal. 2. A época da audiência de instrução, a vítima não quis dar sua versão dos 
fatos pois já havia reatado o relacionamento com o acusado/paciente. Tratando-se de violência 
doméstica e familiar, é comum que não haja testemunhas do fato. Dentro desse cenário, o 
depoimento da vítima na fase inquisitiva e a prova pericial submetida à contraditório postergado se 
mostram suficientes para fundamentar a condenação. 3. Agravo Regimental desprovido.(AgRg no 
HC 558613 / RJ AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS 2020/0016617-0, Relator Ministro JOEL 
ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, j. 13/10/2020, publicação DJe 20/10/2020) 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
Em recente decisão, o STJ entendeu ser suficiente para a condenação o depoimento da vítima 
prestado durante investigação e confirmado por prova pericial, em que se estabeleceu o 
contraditório diferido ou postergado. Trata-se de importante precedente, que confirma a 
sistemática processual de atribuir o valor de prova judicial às irrepetíveis produzidas no inquérito. 
As reformas legislativas no ordenamento processual estabeleceram uma clara distinção entre o 
inquérito e o processo, fortalecendo o sistema constitucional acusatório. Com o artigo 155 do CPP, 
 
 
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alterado em 2008, constou expressamente que a sentença deverá estar baseada em “prova” 
produzida no curso do processo, não podendo ser fundamentada “exclusivamente” em elementos 
informativos do inquérito. O próprio legislador ressalva as provas cautelares, não repetíveis e 
antecipadas, como é o exame de corpo de delito. 
No Pacote Anticrime, embora parcialmente suspenso pelo STF, ficou estabelecido que o processo 
adotará a estrutura acusatória, com a atuação do Juiz de Garantias até o recebimento da denúncia. 
Nesta alteração, também houve ressalva expressa às provas irrepetíveis, que deverão ser remetidas 
para apensamento em apartado ao processo perante o juiz da instrução (art. 3º C, par. 3º). 
Assim, por interpretação autêntica, a perícia terá o mesmo valor de uma prova judicial e a 
fundamentação poderá se basear nesta prova, subsidiada por elementos do inquérito. 
Além disso, esse entendimento está de acordo com a situação de vulnerabilidade da mulher em 
situação de violência que, em regra, retrata-se do depoimento inicial em razão do ciclo da violência 
e da síndrome do desamparo apreendido, pois não consegue mais oferecer resistência à violência 
ou mesmo tomar decisões em relação àquele agressor. 
Além do aspecto processual, é muito importante proteger a vítima. 
A retratação não significa ausência de perigo, que deve ser avaliado segundo as circunstâncias do 
caso concreto, com base em indicadores de risco previstos no Formulário Nacional de Avaliação de 
Risco. 
De se notar, por fim, que a pandemia gerou um aumento da violência contra as mulheres e, por 
determinação expressa da Lei 14.022/2020, as medidas protetivas estão automaticamente 
prorrogadas durante o estado de emergência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PENAL: 
1-Tema: Organização criminosa. Apuração de crimes graves. Agência de inteligência. Apoio à 
investigação do Ministério Público. Possibilidade 
 INFORMATIVO 680 STJ- SEXTA TURMA 
É legal o auxílio da agência de inteligência ao Ministério Público Estadual durante procedimento 
criminal instaurado para apurar graves crimes em contexto de organização criminosa. 
Informações do Inteiro Teor: 
A atividade de inteligência desempenhada por agências dos estados, que integram o Subsistema de 
Inteligência criado pelo Decreto n. 3.695, de 21/12/2012, consiste no exercício de ações 
especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na esfera de 
segurança pública. Alcança diversos campos de atuação – um deles a inteligência policial judiciária 
– e entre suas finalidades está não só subsidiar o planejamento estratégico de políticas públicas, 
mas também assessorar com informações as ações de prevenção e repressão de atos criminosos. 
Apesar de não se confundir com a investigação, nem se esgotar com o objetivo desta, uma vez que 
a inteligência de segurança pública opera na busca incessante de dados, o resultado de suas 
operações pode, ocasionalmente, ser aproveitado no processo penal para subsidiar a produção de 
provas, desde que materializado em relatório técnico. 
Na hipótese, há alguns anos, no Estado-membro, ante a necessidade de aperfeiçoar o combate a 
crimes cometidos por policiais, foi atribuída à Subsecretaria de Inteligência (SSINTE/SESEG) a 
missão de prestar apoio a determinados órgãos em suas investigações criminais. 
Além das atividades de inteligência de segurança pública, era atribuição da Subsecretaria de 
Inteligência, integrante da estrutura da Secretaria de Estado de Segurança (SSINTE/SESEG), à luz do 
art. 2°, parágrafo único, da Resolução n. 436, de 8/2/2011, prestar o apoio necessário a 
determinados órgão de segurança pública em suas investigações criminais. 
A resolução em apreço estabeleceu, em seu art. 1°, que "os delegados da Polícia Civil" lotados na 
Corregedoria Geral Unificada (CGU) poderiam presidir procedimentos de polícia judiciária quando 
houvesse indícios de crimes imputados a policiais civis, militares ou bombeiros militares, "os quais 
seriam instaurados no âmbito da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado e Inquéritos 
Especiais (DRACO)". Em conformidade com o art. 2°, parágrafo único, "a Subsecretaria de 
Inteligência/SESEG prestará o apoio necessário aos órgãos acima no âmbito de suas atribuições". 
Ressalta-se que o Ministério Público, por força do art. 129 da Constituição Federal, possuía (e 
possui) a mesma competência que a Resolução n. 436 de 8/2/2011 relacionou à CGU e à DRACO. O 
 
 
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Parquet é legitimado a promover, por autoridade própria, procedimentos investigatórios criminais 
e, além disso, exerce o controle externo das polícias. 
No caso em apreço, o Parquet optou por não utilizar a estrutura da própria Polícia Civil para auxiliá-
lo no procedimento apuratório criminal, e é incabível criar limitação alheia ao texto constitucional 
para o exercício conjunto da atividade investigativa pelos órgãos estatais. 
Quanto ao ponto, esta Corte possui o entendimento de que a atribuição de polícia judiciária às 
polícias civil e federal não torna nula a colheita de elementos informativos por outras fontes. 
Ademais, o art. 3°, VIII, da Lei n. 12.850/2013 permite a cooperação entre as instituições públicas 
na busca de dados de interesse da investigação. 
Portanto, segundo a doutrina, no campo diversificado de atuação da segurança pública, a 
inteligência policial "tem como escopo questões (em sua maioria táticas) de repressão e apoio à 
investigação de ilícitos e grupos de infratores – não se trata, registre-se bem, de atividade de 
investigação criminal". Busca "levantar indícios e tipologias que auxiliam o trabalho da Polícia 
Judiciária e do Ministério Público", principalmente no combate do crime organizado, dissimulado 
ou complexo. 
Processo: HC 512.290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado 
em 18/08/2020, DJe 25/08/2020 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
A alta complexidade das atividades que envolvem a criminalidade organizadaexige uma perfeita 
sintonia entre os diversos órgãos públicos, de todos os níveis, que possam colaborar em sua 
investigação. 
A propósito, a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, com sede 
em Palermo, prevê em art. 7, item “b”, que cada Estado-parte garantirá “que as autoridades 
responsáveis pela administração, regulamentação, detecção e repressão e outras autoridades 
responsáveis pelo combate à lavagem de dinheiro [...], tenham a capacidade de cooperar e trocar 
informações em âmbito nacional e internacional, em conformidade com as condições prescritas no 
direito interno, e, para esse fim, considerará a possibilidade de criar um serviço de informação 
financeira que funcione como centro nacional de coleta, análise e difusão de informação relativa a 
eventuais atividades de lavagem de dinheiro”. 
Tal auxílio deve se operar entre os dois níveis de polícia judiciária existentes no Brasil, a federal e as 
estaduais. Dentre estas últimas, a cooperação deve ocorrer entre as polícias civil e militar. Por mais 
óbvio que possa parecer essa constatação, o certo é que, na prática, no mais das vezes tais órgãos 
 
 
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“não se falam”, isto é, não compartilham suas informações de modo a permitir um adequado 
enfrentamento à criminalidade. 
Mas a troca de informações não se restringe às entidades de caráter policial. Assim, por exemplo, a 
Receita Federal deve encaminhar ao Ministério Público representação pela prática, em tese, de 
crime tributário ou previdenciário, segundo o art. 83 da Lei nº 9.430/96. 
Também as instituições financeiras (cujo rol é apresentado no artigo anterior), devem comunicar 
“às autoridades competentes, da prática de ilícitos penais ou administrativos”, sem que tal conduta 
importe em violação do dever de sigilo, nos termos do art. 1º, § 3º, IV da Lei Complementar nº 
105/2001. Esta lei obriga, ainda, que os presidentes do Banco Central do Brasil e da Comissão de 
Valores Imobiliários comuniquem ao Ministério Público a ocorrência de crime (art. 9º). 
De sua parte, também o Tribunal de Contas da União, na dicção do art. 16, § 3º, da Lei nº 8.443/92, 
“providenciará a imediata remessa de cópia da documentação pertinente ao Ministério Público da 
União, para ajuizamento das ações civis e penais cabíveis.” Idênticas providências têm previsão 
legal em leis estaduais que tratam dos respectivos tribunais de contas de cada unidade da 
Federação. 
As corregedorias, das mais diversas carreiras, as Comissões Parlamentares de Inquérito, bem como 
o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público, também podem 
auxiliar, na análise do caso concreto, nos termos sugeridos por este dispositivo. 
São apenas exemplos de órgãos e instituições que, embora não compondo o aparato policial, 
podem colaborar com a investigação visando o combate ao crime organizado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MP/SP: decisões do setor do art. 28 do CPP 
1-Tema: divergência acerca do enquadramento legal dos fatos (perturbação da tranquilidade, 
estupro de vulnerável ou importunação sexual), com reflexo na atribuição funcional. 
 
CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÃO 
Autos n.º 1504xxx-4x.2020.8.26.0625 – MM. Juízo da Vara do Juizado Especial Cível e Criminal da 
Comarca de Taubaté 
Suscitante: xº Promotor de Justiça Taubaté 
Suscitado: xº Promotor de Justiça Taubaté 
Assunto: divergência acerca do enquadramento legal dos fatos (perturbação da tranquilidade, 
estupro de vulnerável ou importunação sexual), com reflexo na atribuição funcional. 
 
 
Cuida-se de inquérito policial instaurado para apurar a conduta de P.C.C.. 
Segundo se apurou, na data de 3 de julho de2020, por volta das 17 horas, na Rua 
Godofredo Lobato, 108, Bonfim, na cidade e comarca de Taubaté, o investigado, convidou a 
adolescente T., adolescente com doze anos ao tempo dos fatos, para que juntos fossem tomar um 
sorvete, sendo que, no trajeto, enquanto estavam em seu veículo, ele teria passado a mão nas 
coxas da menina, o que fez por 2 (duas) vezes, tendo ainda, feito perguntas a respeito de sua 
menstruação (fls. 04/05/08/09). 
Posteriormente, a vítima contou o ocorrido para sua genitora, que noticiou os fatos à 
Autoridade Policial. 
Concluídas as providências de polícia judiciária, o Douto Promotor de Justiça requereu a 
redistribuição dos autos ao Juizado Especial Criminal daquela comarca, por considerar que não 
restou tipificado o crime previsto no artigo 217-A do Código Penal, bem como por entender que a 
conduta, a princípio, se adequaria ao tipo da contravenção penal prevista no artigo 65 da Lei das 
Contravenções Penais (fls. 22/23). 
 
 
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O Ilustre Representante Ministerial recipiente, de sua parte, em judiciosa manifestação, 
sustentou que as circunstâncias que envolvem o episódio não permitem o delineamento da prática 
de ato libidinoso – impeditivo do aperfeiçoamento do delito previsto no art. 217-A, do Código 
Penal. Contudo, asseverou que a hipótese recomendaria, ao menos, a análise da conduta à luz da 
figura prevista no art. 215-A do Código Penal, delito não incluído no rol de competência do citado 
órgão judicial e, via de consequência, no âmbito de suas atribuições, motivo pelo qual suscitou o 
presente conflito negativo de atribuição (fls. 28/31). 
Eis a síntese do necessário. 
Há de se sublinhar, preliminarmente, que o envio do expediente a esta Chefia Institucional 
assenta-se no art. 115 da Lei Complementar Estadual n.º 734/93. 
Encontra-se configurado, portanto, o incidente supramencionado entre promotores de 
justiça. 
Como destaca HUGO NIGRO MAZZILLI, tal incidente tem lugar quando o membro do 
Ministério Público nega a própria atribuição funcional e a atribui a outro, que já a tenha recusado 
(conflito negativo), ou quando dois ou mais deles manifestam, simultaneamente, atos que 
importem a afirmação das próprias atribuições, em exclusão às de outros membros (conflito 
positivo) (Regime Jurídico do Ministério Público, 6.ª edição, São Paulo, Saraiva, 2007, pág. 486-487). 
Considere-se, outrossim, que em semelhantes situações o Procurador-Geral de Justiça não 
se converte no promotor natural do caso; assim, não lhe cumpre determinar qual a providência a 
ser adotada (oferecimento de denúncia, pedido de arquivamento ou complementação de 
diligências), devendo tão somente dirimir o conflito para estabelecer a quem incumbe a 
responsabilidade de oficiar nos autos. 
Pois bem. 
Com razão em parte o Douto Promotor de Justiça Suscitante, com a máxima vênia do 
Ilustre Suscitado. 
 
 
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A conduta do investigado configura, em tese, o delito de estupro de vulnerável, previsto no 
art. 217-A, do Código Penal: 
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso 
com menor de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 
12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela 
Lei nº 12.015, de 2009) 
Na hipótese versada nos autos, o investigado não teve conjunção carnal, mas praticou 
outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos, ao acariciar as coxas da adolescente, de 12 
anos, indagando-a sobre seu ciclo menstrual. 
E seu propósito de satisfazer a própria concupiscência emerge nítido nos autos, quando a 
menor relata que ele passou a mão em sua coxa uma vez; ela pediu para ele parar; ele repetiu o 
gesto, passando a mão mais uma vez na coxa da menina e ainda fez indagações acerca do ciclo 
menstrual dela (cf. fls. 08). 
Claro o ato libidinoso perpetrado contra a adolescente. 
Ou seja, incorreu o investigado na figura prevista no art. 217-A, do Código Penal. 
A conduta extrapolou os limites da mera contravenção de perturbação da tranquilidadepor 
acinte ou outro motivo reprovável (LCP, art. 65). Ademais, o princípio da especialidade das normas 
penais, em face da conduta praticada no caso concreto, aponta para a figura típica mais gravosa, do 
art. 217-A, do Código Penal. 
Com a máxima vênia do Douto Suscitante, por ser a vítima menor de 14 anos, não se aplica 
à espécie o tipo penal do art. 215-A, do Código Penal, segundo o pensamento dominante no 
Superior Tribunal de Justiça: 
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PRESUNÇÃO ABSOLUTA DE VIOLÊNCIA. 
PLEITO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DO ART. 215-A DO 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm#art3
 
 
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CÓDIGO PENAL (IMPORTUNAÇÃO SEXUAL). IMPOSSIBILIDADE. 
PALAVRA DA VÍTIMA. VALOR PROBATÓRIO DIFERENCIADO. 
1. "Tratando-se de crime sexual praticado contra menor de 14 
anos, a vulnerabilidade é presumida, independentemente de 
violência ou grave ameaça, bem como de eventual consentimento 
da vítima, o que afasta o crime de importunação sexual" (Ministro 
NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 26/11/2019, DJe 
3/12/2019). 
2. Segundo a orientação pacificada neste Tribunal Superior, nos 
crimes de natureza sexual, os quais nem sempre deixam vestígios, a 
palavra da vítima tem valor probante diferenciado. Precedente. 
3. Agravo regimental desprovido. 
(AgRg no AREsp 1625636/DF, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA 
PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 22/09/2020, DJe 
28/09/2020) 
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL E 
PROCESSUAL PENAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. DOSIMETRIA. 
PENA BASILAR FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. PLEITO DE 
REDUÇÃO PROPORCIONAL. RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA. 
POSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO DA PENA-BASE. EFEITO 
DEVOLUTIVO PLENO DA APELAÇÃO. REFORMATIO IN PEJUS. NÃO 
OCORRÊNCIA. QUANTUM DA PENA NÃO AGRAVADA. PRECEDENTES 
DE AMBAS AS TURMAS DA TERCEIRA SEÇÃO. FUNDAMENTO 
IDÔNEO NA NEGATIVAÇÃO DOS VETORES JUDICIAIS DA 
CULPABILIDADE E DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. 
DESCLASSIFICAÇÃO PELA CORTE DE ORIGEM PARA O DELITO 
PREVISTO NO ART. 215-A DO CP. DESCABIMENTO. VÍTIMA MENOR 
DE 14 ANOS. VIOLÊNCIA PRESUMIDA. JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA 
TURMA DESTA CORTE. 
1. A Corte a quo dispôs que, reavaliando-se as circunstâncias 
judiciais do art. 59 do CP, verifica-se que pesam em desfavor do 
apelante a sua culpabilidade, reprovável e censurável, pois, neste 
caso, o apelante agiu de forma fria e premeditada, uma vez que 
 
 
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esperou a vítima cair em sono profundo, para encaminhar-se até o 
colchão que a mesma dormia e, sobre ela, se masturbar, tendo a 
ofendida se assustado e acordado com os atos lascivos perpetrados 
pelo recorrente, bem como as circunstâncias do crime, pois a ação 
delituosa executada pelo acusado se mostrou bastante audaciosa, 
pois o delito foi cometido durante a madrugada, por volta de 2h00 
da manhã, dentro de um quarto em que estavam o apelante, a 
vítima, acompanhada de seus dois filhos menores de idade, sua 
genitora e mais uma sobrinha da mesma, o que, demonstra que o 
recorrente não impôs limites em seus anseios lascivos, 
circunstâncias factuais graves e que devem ser, portanto, avaliadas 
negativamente. 
2. Verifica-se que a Corte a quo, não obstante tenha utilizado 
fundamentos diversos para exasperar a pena-base, justificou de 
forma idônea o desvalor concebido aos vetores judiciais da 
culpabilidade e das circunstâncias do crime. [...] Dessa forma, 
diante da leitura do delineado pelo Tribunal paraense, tenho que 
razão não assiste ao recorrente, não havendo falar em violação do 
princípio non reformatio in pejus. [...] Com efeito, em conformidade 
com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o efeito 
devolutivo pleno do recurso de apelação possibilita à Corte de 
origem, mesmo que em recurso exclusivo da defesa, revisar as 
circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, bem como 
alterar os fundamentos para justificar a manutenção ou redução 
das reprimendas ou do regime inicial; não sendo o caso de apontar 
reformatio in pejus se a situação dos recorrentes não foi agravada, 
como no caso sob análise, em que a pena definitiva imposta na 
sentença foi preservada. 
3. Este Sodalício possui o entendimento de que, em razão do efeito 
amplamente devolutivo da apelação, pode o tribunal, ao julgar 
recurso exclusivo da defesa, apresentar nova fundamentação, 
desde que não seja agravada a situação do recorrente (AgRg no HC 
n. 499.041/SP, Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 1º/7/2019). 
4. A jurisprudência de ambas as Turmas da Terceira Seção deste 
Sodalício é firme no sentido de que o Tribunal de origem, ainda que 
no julgamento de recurso exclusivo da defesa, pode valer-se de 
 
 
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fundamentos diversos dos constantes da sentença para se 
manifestar acerca da operação dosimétrica e do regime inicial 
fixado para o cumprimento da pena, para examinar as 
circunstâncias judiciais e rever a individualização da pena, desde 
que não haja agravamento da situação final do réu e que sejam 
observados os limites da pena estabelecida pelo Juízo sentenciante 
bem como as circunstâncias fáticas delineadas na sentença e na 
incoativa (AgRg no HC n. 437.108/ES, Ministro Antonio Saldanha 
Palheiro, Sexta Turma, DJe 1º/7/2019). 
5. Inviável a desclassificação da conduta para aquela prevista nos 
moldes do art. 215-A do Código Penal, inserido por meio da Lei n. 
13.718, de 24/9/2018, porquanto não há como se aplicar a nova 
lei nas hipóteses em que se trata de vítimas menores, 
notadamente diante da presunção de violência. 
6. A Lei n. 13.718, de 24/9/2018, entre outras inovações, tipificou 
o crime de importunação sexual, punindo-o de forma mais branda 
do que o estupro, na forma de praticar ato libidinoso, sem 
violência ou grave ameaça. [...] Contudo, esta Corte Superior de 
Justiça firmou o entendimento no sentido de que a prática de 
conjunção carnal ou outro ato libidinoso configura o crime 
previsto no art. 217-A do Código Penal, independentemente de 
violência ou grave ameaça, bem como de eventual consentimento 
da vítima. Precedentes (AgRg no AREsp n. 1.361.865/MG, Ministra 
Laurita Vaz, Sexta Turma, DJe 1º/3/2019). 
7. Agravo regimental improvido. 
(AgRg no AgRg no REsp 1845858/PA, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS 
JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 01/09/2020, DJe 09/09/2020) 
 
Verifica-se, portanto, que a conduta objeto dos autos amolda-se em tese ao disposto no 
art. 217-A, do Código Penal. 
 
 
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Ante o exposto, conhece-se do presente incidente a fim de declarar que a atribuição para 
funcionar no presente inquérito policial é do Douto Promotor de Justiça que atua perante o juízo 
criminal comum, ou seja, do Suscitado, Digno 2º Promotor de Justiça de Taubaté. 
Em respeito, porém, à opinião delitiva diversa por ele exarada, designa-se outro Promotor 
de Justiça para intervir nos autos, ao qual se faculta a observância do disposto nas Resoluções 
302/2003 e 488/2006 (CSMP, PGJ, CGMP). 
Expeça-se portaria, designando-se o Substituto Automático. 
São Paulo, 29 de outubro de 2020. 
 
Mário Luiz Sarrubbo 
Procurador-Geral de Justiça

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