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Crosta T^cntko
■k
ü
HERMENÊUTICA
DIGITALIZADO POR: 
PRESBÍTERO 
(TEÓLOGO APOLOGISTA) 
PROJETO SEMEADORES DA PALAVRA 
VISITE O FÓRUM
http://semeadoresdapalavra.forumeiros.com/forum
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£ .sd tãs (Zosta fèentho
HERMENÊUTICA
F Á C I L E D E S C O M P L I C A D A
<3 0 m0 in te ip u ta i a T^íbtia 
de inAneiiá p iá ticn e e ficaz
C90
Todos os direitos reservados. C o p v n g h r © 2 0 0 3 para a língua portuguesa da Casa Publicadora 
das Assembléias de D eus. A provado pelo C onse lho de D o u tr in a .
P reparação de originais: Alexandre C oelho 
Revisão: Joel D u tra do N a sc im e n to e Isael de Araujo 
Capa, p ro je to gráfico e editoração: E d u a rd o Souza
C D D : 2 2 0 — In te rp re tação Bíblica 
ISBN : 8 5 - 2 6 3 - 0 5 4 4 - 1
Para maiores inform ações sobre livros, revistas, periód icos e os ú lt im os lançam entos da CPAD. 
visite nosso site: h t t p / / www .cpad.com .br
As citações bíb licas fo ram extraídas da versão A lm eida e C orrig ida, edição de 1995 , da 
Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário .
Casa Publicadora das Assembléias de D eus
Caixa Posta l 331
2 0 0 0 1 - 9 7 0 , R io de Janeiro, RJ, Brasil
I a e d i ç a o /2 0 0 3
http://www.cpad.com.br
T^edlcatóüa
A minha esposa Ana Paula, ao meu filho Esdras Júnior e 
ao pastor Joel M ontanha com carinho.
S u m á t lo
A B R E V I A T U R A S ...........................................................................................9
I N T R O D U Ç Ã O ..........................................................................................I I
C A P Í T U L O I
F u n d a m e n to s d a H e r m e n ê u t i c a ...................................................... 15
C A P Í T U L O 2
In sp ira ção e R evelação ..........................................................................3 7
C A P Í T U L O 3
H e rm e n ê u t ic a B íb lic a ............................................................................. 55
C A P Í T U L O 4
H e rm e n ê u t ic a M a te r i a l ..........................................................................93
C A P Í T U L O 5
E sco las T e n d e n c io sa s de I n te r p r e ta ç ã o ...................................... 125
C A P Í T U L O 6
H e rm e n ê u t ic a C o n te x tu a l ..................................................................139
C A P Í T U L O 7
H e b r a í s m o s .............................................................................................. 2 0 9
C A P Í T U L O 8
P o é tic a H e b r a i c a ................................................................................... 2 6 1
C A P Í T U L O 9
F igu ras de L in g u a g e m .........................................................................3 0 7
G L O S S Á R I O ............................................................................................. 3 3 7
B I B L I O G R A T I A ......................................................................................3 3 9
a. C. - Antes de Cristo
ACF - Almeida Corrigida Fiel
ARA - Almeida Revista e Atualizada
ARC - Almeida Revista e Corrigida
AT - Antigo Testamento
BKJ - Bíblia King James
CB - Concordância Bíblica
cap. - Capítulo
cf. - compare-se (confira)
d. C. - Depois de Cristo
DITAT - D icionário Internacional de Teologia do Antigo 
Testamento
ECA - Edição Contemporânea de Almeida 
IBB - Imp rensa Bíblica Brasileira 
LXX - Septuagmta 
MC - M undo Cristão (editora)
Mss. - Manuscritos
NA-26 - Nestlé Aland 26a edição
NDB - Novo Dicionário Bíblico
N D IT N T Novo Dicionário Internacional de Teologia do ־ 
Novo Testamento
N T - Novo Testamento
N V I - Nova Versão Internacional
SB - Sociedade Bíblica
SBB - Sociedade Bíblica Brasileira
ss. - sucessivos ou seguidos
TC - Texto Crítico
tr. - Traduzido ou tradução
TR - Textus Receptus (Texto Recebido)
v. - versículo
w. - versículos
vss. - Versões
Vulg. - Vulgata
jh t to d u ç ã o
A Hermenêutica é a ciência tanto bíblica quanto secular, 
que se ocupa dos métodos e técnicas da interpretação. E, basi- 
camente, o estudo da compreensão de textos.
A Hermenêutica tem sido considerada por muitos estu- 
dantes sérios da Bíblia uma ciência tanto necessária quanto 
hermética.
Uns conferem às regras uma autonomia, e chegam a sepa- 
rar o texto e o contexto do pensamento do seu autor, como se o 
texto tivesse vida independente de quem o produziu. Por outro 
lado, há quem não creia na existência de qualquer regra válida 
de interpretação, ou que “interpretação boa é aquela que o Es- 
pírito revela no púlpito”; “a letra mata, mas o Espírito vivifica”, 
dizem eles. Acreditamos que o Espírito Santo é o agente funci- 
onal de toda interpretação bíblica genuína. Entretanto, não acei- 
tamos o argumento de que se o Espírito revela o que está no 
texto, não é necessária uma metodologia para a interpretação e 
compreensão das Escrituras. Esta obra não valoriza qualquer 
um dos dois segmentos. Ao contrário, critica-os.
Devo frisar, entretanto, que esta obra é resultado de mi- 
nha experiência como professor de Hermenêutica na Faculda- 
de Teológica Refidim, Escola Preparatória de Obreiros Siloé e
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
nos diversos cursos e seminários promovidos pela Missão de 
Edificação Cristã (M EC R I). Conseqüentemente, pretende 
ser mais prático do que teórico. Para isto, adotamos o mo- 
derno método de ensino integrado. Ao mesmo tempo em 
que procuramos adaptarmo-nos às condições do moderno 
conhecimento sobre a hermenêutica, colocamos ao alcance 
dos alunos blocos organizados de conceitos e afirmativas, 
capazes de mostrar a unidade do estudo teológico e secular, 
e a unidade do conhecimento interpretativo na multiplici- 
dade de suas abordagens.
Para que essa metodologia cumpra o fim pretendido, o 
currículo adotado não espera o encerramento de um bloco de 
assuntos para somente iniciar outro; ao contrário, integra-os 
na medida em que se faz necessário para a compreensão 
multifocal do tema tratado. N a prática, usa a linha traçada 
pela natureza própria do texto considerado.
O que define o método empregado não é diretamente a 
técnica para dentro do texto, mas o texto sugerindo as princi- 
pais vias in te rp re ta tiv as . C om isto prevalece a visão 
cosmogônica, centrada na direção que o texto concebe, sobre 
a visão microscópica centrada na técnica externa do intérpre- 
te. O texto conduz a técnica ou método a ser empregado, em 
vez de o intérprete conduzir o texto por meio de sua perícia. 
O uso deste método em sala de aula, para o primeiro ano do 
curso teológico propiciou novo dinamismo e interesse por parte 
dos estudantes.
Ja que em sala de aula há mais versatilidade e muitas ou- 
tras técnicas didáticas envolvidas no ensmo-aprendizagem do 
que no “autonomismo” que adquire o aluno autodidata atra- 
vés de um livro texto, esperamos que esta obra, se não atingir
12
In t ro d u çã o
os modestos objetivos delineados, ao menos desperte no lei- 
tor o interesse e comprometimento pela interpretação séria 
das Escrituras.
Este livro não pretende substituir qualquer outro manual 
de hermenêutica cristã, senão, remetê-los.
Este manual foi elaborado a partir de um contexto espe- 
cífico em nosso seminário. Inicialmente definimos o termo 
teologia e seus principais conceitos e ramos. Esta forma hete- 
rodoxa de iniciar uma obra de hermenêutica prende-se às cir- 
cunstâncias que geraram a obra — muitos alunos em nossas 
aulas não conheciam os fundamentos básicos da teologia, sua 
história, ênfase e divisões. Portanto, caso esta obra seja usada 
na preparação formal, sem que o contexto acadêmico exija a 
explicitação introdutória, é só remeter-se para o capítulo se- 
guinte. O assunto de inspiração e revelação não se objetiva a 
discorrer sobre as teorias a respeito do tema, mas apenas reca- 
pitular aquilo que o aluno já conhece. N a hermenêutica mate-rial nossa mtenção é propiciar ao estudante obras de referên- 
cia acadêm ica, d ic ionário s , encic lopéd ias e obras de 
hermenêutica bíblica e filosófica. Consideramos um pouco 
extensas essas referências bibliográficas, mas em nossa expen- 
ência, constatamos que muitos alunos não realizam um sério 
trabalho exegético por não saber usar fontes apropriadas. O 
método mostrou-se útil em sala de aula. Ao tratarmos das 
escolas tendenciosas de interpretação, estamos cônscios de que 
deveríamos incluir outras correntes; porém, a análise apenas 
da alegórica e literal justifica-se pelo fato de serem as mais 
usadas em nossas comunidades. N o capítulo de hermenêutica 
contextual procuramos fornecer ao estudante bases contextuais 
para uma interpretação séria da Bíblia, tratando dos princi­
H e rm e n ê u t ic a fácil e descomplicada
pais tipos de contextos e de suas regras principais. Os hebraís- 
mos são tratados nesta obra por serem necessários ao conhe- 
cimento de todos aqueles que lidam com a exegese do texto 
bíblico. N a poética hebraica procuramos destacar os aspectos 
estruturais da poesia e as formas básicas de interpretação dos 
livros poéticos. N a seqüência, ao tratar-se das figuras de lin- 
guagem, consideramos apenas as mais comuns.
A guisa de epílogo, precisamos ressaltar que não tratamos 
sobre os aspectos teóricos da hermenêutica. A razão disto é 
que no currículo de nossa faculdade teológica temos a disci- 
plina Hermenêutica Filosófica, onde consideramos os aspec- 
tos teóricos da hermenêutica.
A transliteração dos termos hebraicos, sempre que possí- 
vel, segue a do Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testa- 
mento. Os léxicos gregos usados foram o de Bauer e de Gingrich; 
a transliteração das palavras segue o da Gramática Coinê, de Fran- 
cisco L. Schalkwijk, e a pronuncia é a erasmiana.
Que o divino Espírito, em sua santa providência, dirija 
seu coração e mente no aprendizado da Palavra de Deus.
M inha oração é que você seja ricamente abençoado atra- 
vés deste manual.
14
C A PÍT U L O I
fundamentos 
dá é־ietn\cníutica
A hermenêutica e a teologia são 
uma para a outra, 0 que 0 ouro é para 
0 ourives, e 0 sol para 0 dia. 
Inexistem separadas.
Étimo de Teologia
O termo teologia, tal qual conhecemos na língua portu- 
guesa, não se encontra nas Escrituras. Procede originalmente 
de dois substantivos gregos, o genitivo1 θεοί) ( theou = Deus)2 
e do acusativo3 λόγια (Jogia), que significa “tratado, fala” 
(I Pe 4 .1 1). Em Lucas 4.32 λόγος é traduzido como palavra, 
ensino (Jo 4.41). Assim, Θεολογία é o ensino, discurso, tra- 
tado ou ciência sobre Deus e dos assuntos relacionados com a 
divindade.
Apesar de não encontrarmos o vocábulo nas Escrituras, 
não deixa, contudo, de ser correlativo a elas: τα λόγια τοΟ 
θεοΟ (fa logia tou Theou = oráculos de Deus — R m 3.2),
H e rm e n êu t ica fácil e ·descomplicada
ώς λόγια θ€0ύ (hõs logía Theou — os oráculos de Deus —
I Pe 4. I I ) . 4 Isto posto, ο θεολόγος é tanto o que fala a 
Palavra de Deus quanto aquele a quem Deus fala. Sua função 
confunde-se, neste aspecto, com a dos profetas veterotesta- 
mentários: por meio da revelação divina recebe a palavra dire- 
tamente de Deus e a transmite aos homens. Daí, a razão por- 
que aquilo que se diz acerca de Deus e dos fatos a Ele relacio- 
nados é chamado de theologoumenon.
U m estudo diacrônico do termo revelará que o vocábulo 
Θ€0λ0γία não constitui um monopólio dos cristãos. N o grego 
clássico, os poetas eram chamados de θεολόγος e, através de 
suas narrações mitológicas, criaram uma “teologia do mito”. 
Mais tarde, Platão contribui com a teologia do logos filosófico. 
N a época da escolástica medieval, a teologia era entendida de 
duas maneiras: em sentido literal, isto é, doutrina de Deus 
(λόγια του θεοΟ), e com o a afirm ação da verdade 
concernente a todos os ensinamentos sagrados da Igreja (sacra 
doctrina); deste modo, a Θεολογία tratava desde a teologia pró- 
pria até os assuntos pertinentes a fé e a moral da Igreja.5
r ___
Acepções do Etimo Teologia
O term o Θεολογία a partir do conceito escolástico me- 
dieval e das rupturas surgidas por meio das principais con- 
trovérsias cristãs, tornou-se termo elástico e inclusivo para 
reconhecer o expoente pragmático de um sistema teológico, 
combinando o nome do indivíduo ao vocábulo Θεολογία. 
Assim temos: Teologia Agostiniana, Teologia Arminiana, 
Teologia Wesleiana, Teologia Paulina, Teologia Joanma, e 
muitas outras.
16
F u n d a m en to s da H e rm en êu t ica
O termo pode ser classificado também pelo local de ori- 
gem, por exemplo: Teologia Alexandrina, Teologia da Antiga 
Princeton, Teologia de Mercersburg, Teologia de New Haven. 
Entretanto, a forma mais comum à Ig re ja e aos estudos inici- 
ais de Θεολογία é o uso pelo qual se empregam: Teologia 
Exegética, Teologia Histórica, Teologia Bíblica, Teologia Sis- 
temática e Teologia Prática.
Quando se deseja diferençar a Θεολογία dos conteúdos 
da Antiga e Nova Aliança, chama-se de Teologia do Antigo 
Testamento e Teologia do Novo Testamento.
Classificação Básica da Teologia
A Teologia pode ser comparada a um edifício de cinco 
andares, cada um desses com suas respectivas salas e funções. 
Estas, por sua vez, dependem uma das outras numa correspon- 
dência recíproca, formando todas o mesmo edifício. De modo 
análogo a um edifício de cinco andares, a Teologia em sentido 
restrito, pode ser agrupada e classificada em cinco formas usais. 
Assim, na medida em que se conhece uma disciplina teológica, 
esta obsequiará a compreensão da disciplina seguinte.
Teologia Exegética
A Teologia Exegética enfatiza o emprego dos métodos 
hermenêuticos a fim de poder auscultar corretamente a men- 
sagem dos textos sacros. Preocupa-se com o sentido primário 
e literal do texto sagrado. Inclui os seguintes estudos:
Filologia Sacra
Hebraico
O hebraico é a língua em que Deus falou! Quase todos os 
textos do Antigo Testamento foram redigidos em hebraico. O
17
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
adjetivo “hebraico” deriva-se provavelmente, do nome do pa- 
triarca Heber (Ebher ou Ibhr), um dos pósteros de Sem, filho 
de N oé (G n 10.24,25). Foi de Heber que o povo oriundo de 
Abraão tomou nome — o povo “hebreu”, cuja língua mater- 
na tradicional é o hebraico (Gn 14.13).
O hebraico constitui uma das línguas do ramo semítico 
falado no período veterotestamentário. Durante o período da 
independência dos israelitas, o hebraico foi a língua oficial da 
civilização hebréia. Entretanto, após várias escaramuças sofri- 
das pelo povo judeu, em função da miscigenação das raças, a 
língua patrícia dos mesmos começou a arrefecer. Em 722 a.C., 
o hebraico era usado apenas pelos círculos sacerdotais e pro- 
féticos de Israel, e não como língua nacional. E possível que a 
famosa tradução Septuaginta (LXX) tenha sido traduzida dos 
originais hebraicos para o grego devido a dificuldade que os 
judeus helenistas possuíam com o idioma pátrio.
O alfabeto hebraico é constituído de 22 letras ou conso- 
antes, e possui três consoantes que não fazem parte do alfabe- 
to e que servem como vogais. Seu formato é quadrático e lê-se 
ou escreve-se como outras línguas semíticas, da direita para a 
esquerda. N ão há letras maiúsculas e minúsculas, e quando 
não podemos escrever parte de uma palavra numa linha se- 
guinte, não podemos usar hífen como no português. N o caso 
de não haver espaço, escreve-se a palavra toda na linha seguin- 
te. Também é chamada nas Escrituras de “língua de Canaã” 
ou “língua judaica” (Is 19.18; 2 Rs 18.26-28; Is 36.13).
Gênesis - בראעזית 
הארץ ואת השמ;ם את אלוזים ברא בראשית 1 :
18
F u n d a m e n to s da F íe rm enêu tica
Aramaico
Entre os descendentes de Sem, conta-se ainda Arão ou 
Aram, do qual tomou nome a nação araméia (no hebraico) ou 
Síria (no grego), residente na Síria e na Mesopotamia. Era 
uma língua dotada de semelhanças e distinções do hebraico 
(2 Rs 18.26). As porções bíblicas escritas emaramaico geral- 
mente são mensagens de gentios a judeus ou de gentios a gen- 
tios, jamais de judeus a judeus. O aramaico influenciou pro- 
fundamente o hebraico por causa do cativeiro do reino de 
Israel em 722 a.C. na Assíria, e 587 a.C. em Babilônia. E por 
essa razão que, no tempo de Esdras, ao serem lidas as Escritu- 
ras em hebraico, era preciso interpretá-las (N e 8.5-8). O 
aramaico propagou-se tanto entre os judeus (N e 13.24) que 
no tempo de Cristo tornara-se a língua popular dos judeus 
(M t 5.18; Mc 14.36). São trechos significativos, pronuncia- 
dos nesse idioma no Antigo Testamento:
a) Carta de um gentio a outro (Ed 4.8-23; 5.6-17; 6.3- 
18; D n 2.4-7.28);
b) Carta de um gentio a um judeu: (Ed 7 .11-26c).
O aramaico possui o mesmo alfabeto que o hebraico, 
diferindo nos sons e na estrutura de certas partes gramati- 
cais. D o mesmo m odo que o hebraico, não possui vogal e, 
em 800 a.C., é que os sinais vocálicos lhe foram introduzi- 
dos. Os idiomas hebraico e aramaico pertencem ao grupo 
das línguas semíticas, e este foi tornando-se cada vez mais 
comum entre os povos do Oriente, principalmente em suas 
relações diplomáticas (conforme 2 Rs 18.26, de m odo que 
veio a ser, no século IV a.C., a língua usual do próprio povo 
de Abraão — N e 13.24), ficando o hebraico reservado para 
o culto sagrado.
19
H e rm en êu t ica fácil e ciescomplicada
Grego
A terceira língua que compõe as Escrituras Sagradas é o 
grego. O Novo Testamento foi todo escrito na língua grega, 
com exceção do original do Evangelho de Mateus, escrito em 
aramaico que, por sua vez, foi traduzido para o grego comê. 
O grego do Novo Testamento é denominado grego helenístico 
ou coinê, isto é, comum. Depois das conquistas de Alexandre 
Magno (330 a.C.), a língua grega ao redor do Mediterrâneo 
tornou-se um grego simplificado, comum. O Antigo Testa- 
m ento foi traduzido do hebraico para o grego coinê em 
Alexandria (280 a.C.), por um grupo de eruditos judeus- 
helenísticos — a famosa Septuaginta (LXX). O grego tor- 
nou-se uma língua universal, tanto que, quando Paulo escreve 
à igreja em Roma, não o faz em latim, mas em grego!
O alfabeto grego consta de vinte e quatro letras: a primei- 
ra é “alfa” (A) e a última “ômega” (Ω ) (Ap 1.8). Segundo 
LaSor, o grego escrito pelo evangelista Lucas e pelo escritor 
aos Hebreus é o “mais literário”, o grego do Apocalipse mais 
“comum” e Paulo é classificado como um helêmco educado.6
,Εν άρχη ήν ó λόγος, και ó λόγος ήν προς τον 
θεόν, και θεός ήν ό λόγος (Jo Ι .Ι ) .
1300
LXX
700 300 0
N T
500 1500 d.C.
a.C * 
minóico clássico Comê Comê
d.C.
Bizantino Moderno
2 0
F u n d a m en to s da H e rm en êu t ica
“N o período antigo da língua helênica, quatro dialetos 
eram identificados: o minóico, um alfabeto silábico; o clássico 
ou ático (falado por Platão, Homero, H eródoto); o Coinê 
falado no Novo Testamento; bizantino e o moderno, que é o 
grego demotiki”/
Toda a Escritura Sagrada foi escrita nessas três línguas 
por cerca de quarenta escritores, abrangendo um período apro- 
ximado de 1.600 anos. Os autores foram os mais variegados. 
As relações entre esses escritores e a cultura do seu tempo 
deixaram impressões extraordinárias nas Sagradas Escrituras.
Isagoge Bíblica ou Introdução Bíblica
A Teologia Exegética alcança também os assuntos que 
preparam os estudantes para melhor compreenderem as Es- 
crituras. Isagoge é a designação técnica para descrever os estu- 
dos que fornecem informações gerais e preliminares sobre os 
assuntos cujo conhecimento seja necessário a uma melhor com- 
preensão das E scrituras. Isagoge é derivado do grego 
ε ϊσ + άγω γή (eis+agõgê)8, que significa conduzir para den- 
tro, introdução, introduzir. Para fins didáticos designa-se como 
Introdução Bíblica.
O objetivo da Isagoge Bíblica é preparar o estudante para 
compreender melhor as Escrituras. Visa determinar a exten- 
são e o caráter original dos autógrafos sagrados, bem como 
conhecer as vicissitudes que eles enfrentaram para atmgir sua 
presente forma, unidade e valor. A Isagoge prepara o estudan- 
te para compreender melhor a Exegese, a Hermenêutica e a 
Teologia Bíblica. Tornando-se então não o edifício, mas o con- 
junto dos cálculos e estimativas necessárias à construção.9
21
H e rm e n êu t ic a fácil e descom plicada
A Isagoge Bíblica divide-se em dois pólos principais: Isagoge 
Especial ou Restrita, e Isagoge Geral. A Isagoge Especial estuda 
as questões que dizem respeito aos livros que compõem as Sa- 
gradas Escrituras, tais como: sua origem divina, transmissão do 
texto e interpretação. Divide-se em cinco partes:
a) O Tratado da Inspiração: Discute os critérios pelos 
quais se distinguem os livros inspirados dos que não o são;
b) O Tratado do Canon: Discute as questões relaciona- 
f das com a formação dos escritos sacros, quais são concreta-
mente esses livros inspirados e como distinguí-los dos não 
inspirados;
c) Critica Textual: Também chamada de Baixa Crítica, es- 
tuda o texto dos manuscritos com o fim de descobrir e corri- 
gir possíveis erros que neles podem ocorrer e restaurá-los, até 
onde possível, às condições originais, procurando determinar 
os textos originais mais exatos;
d) Crítica Histórica: Também chamada de Alta Crítica. - 
Interessa-se por problemas relacionados a idade, autoria, fon- 
tes, valor histórico, composição, publicação de cada livro, cir- 
cunstâncias (de tempo e lugar) em que foi escrito, conteúdo 
da obra, os textos mais significativos e os dados característicos 
de sua mensagem divina, verificando os relacionamentos his- 
tóricos e a validade das asserções feita pelos documentos;
e) O Tratado da Hermenêutica: Utiliza-se dos resultados 
dos assuntos tratados nas disciplinas anteriores, a fim de mos- 
trar o melhor caminho a ser percorrido pelo exegeta na sua 
extração da verdade.
A Isagoge Geral ou Ampla, além de incluir as matérias da 
Especial, inclui: Arqueologia, História N atural e Geografia 
da Palestina.
2 2
F u n d a m e n to s da F íe rm enêu tica
Teologia Histórica
A Teologia Histórica é o segundo andar do “edifício teo- 
lógico”. Trata do desenvolvimento histórico da doutrina e se 
preocupa com as variações sectárias e afastamentos heréticos 
da verdade bíblica que apareceram durante a era cristã. Con- 
tém duas divisões principais:
a) O estudo do desenvolvimento progressivo das doutri- 
nas da Bíblia. Os que seguem este método, também chamado 
de “horizontal”, consideram a história do desenvolvimento 
doutrinário como um todo, em períodos, e traçam a gênese de 
todos os vários dogmas em cada período específico, deixan- 
do-os no estágio em que são encontrados no fim do período, 
e então os retomam nesse ponto a fim de seguir seu posterior 
desenvolvimento. Assim, a teologia própria é estudada até o 
início da Idade Média; daí abandonada, sendo seguida pelo 
estudo de outras doutrinas até este período.10
b) O exame do desenvolvimento histórico das doutrinas 
da Igreja desde a era apostólica. Os que seguem este método, 
também chamado de “vertical”, consideram o estudo das dou- 
trinas separadas na ordem em que se tornam o centro da aten- 
ção da Igreja, seguindo seu desenvolvimento até atingirem sua 
forma final. Seguindo este método, o estudo da teologia pró- 
pria segue das discussões apostólicas, até a sua formulação 
final nos credos histórico posterior a reforma.11
A Teologia Histórica destaca a importância da história se- 
cular, bíblica e eclesiástica devido à contribuição que podem ofe- 
recer à compreensão do desenvolvimento doutrinário. Abrange:
a) H istória da Igreja;
b) História das Missões;
23
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
c) História dos Credos e Confissões;
d) História das Doutrinas.
Teologia Bíblica
O objetivo da Teologia Bíblica é traçar o progresso da 
verdade nos diversos livros da Bíblia, e descrever a forma de 
cada escritor apresentar as doutrinas fundamentais. A Teolo- 
gia Bíblica, então, preocupa-se com a doutrina emum livro, 
quer no Antigo Testamento, quer nas páginas do Novo Testa- 
mento em particular. Seguindo este m étodo teológico, o 
biblista, por exemplo, pode ocupar-se do estudo da doutrina 
de Deus apenas em Gênesis, ou da cristologia na epístola de 
Paulo aos Romanos, e assim sucessivamente.
A Teologia Bíblica não enfatiza o arranjo sistemático da 
doutrina em categorias específicas; ao contrário: o alvo é iso- 
lar os ensinamentos em determinados contextos, usjaalmente 
livro por livro, autor por autor, ou em agrupamentos históri- 
cos. Portanto, a Teologia Bíblica auxilia a Teologia Exegética 
procurando identificar a única verdade que cada locução, 
cláusula e frase pretende transmitir ao perfazer o pensamento 
dos parágrafos, seções e, em última análise, de livros intei- 
ros.12 As duas principais divisões da Teologia Bíblica são:
I) Teologia do Antigo Testamento:
A Teologia do Antigo Testamento é a ciência que trata da 
natureza de Deus e da sua relação com o universo. Propõe-se 
a expor, do modo mais ordenado possível, as grandes declara- 
ções da verdade divina e o propósito das atividades de Deus 
na história e na vida do povo de Israel, de acordo com a dou- 
trina da revelação divina nos livros sagrados deste povo. Nesta
24
F u n d a m en to s da H e rm en êu t ica
disciplina discute-se a problemática geral do AT com objetivo 
de auscultar os temas teológicos que são chave para a interpre- 
tação do AT, tanto de forma diacrônica como sincrônica. 
Quatro tipos de métodos têm surgido, a saber:
a) O M étodo Estrutural seguido por Eichrodt, Vriezen e 
van Imschoot, que descreve o esboço básico do pensamento e 
da crença no AT em unidades tiradas por empréstimo da Te- 
ologia Sistemática, da sociologia ou de princípios teológicos 
seletos, e depois traça seu relacionamento para conceitos se- 
cundários.
b) O M étodo Diacrônico seguido por von Rad, que ex- 
põe a teologia dos sucessivos períodos de tem po e das 
estratificações da história de Israel. Infelizmente, a ênfase re- 
caía sobre as tradições sucessivas da fé e da experiência da 
comunidade religiosa.
c) O M étodo Lexicográfico seguido especialmente por 
Gerhard Kittel, limita seu escopo de investigação a um grupo 
de homens bíblicos e seu vocabulário especial, por exemplo, 
os sábios, o eloísta, o vocabulário sacerdotal.
d) O M étodo dos Temas Bíblicos seguido por John Bright 
e Paul e Elizabeth Achtemeier, leva sua busca além do vocabu- 
lário do único termo chave para abranger toda constelação de 
palavras ao der redor de um tema chave.13
2) Teologia do Novo Testamento:
A Teologia do Novo Testamento é o ramo da Teologia 
Bíblica que segue determinados temas através de todos os au- 
tores do NT, e que depois funde esses quadros individuais 
num só conjunto abrangente. Estuda, portanto, a revelação 
progressiva de Deus em termos da situação vivencial na oca­
25
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
sião da escrita, e depois delineia o fio subjacente que une to- 
dos os dados. Essa disciplina enfoca o significado mais do 
que a aplicação, isto é, a mensagem do texto para seus própri- 
os dias mais do que para as necessidades modernas, além de 
discutir a problemática geral do N T .14 Objetiva-se a auscultar 
os temas teológicos que são necessários para a compreensão 
do NT, levando em consideração a diversidade dos testemu- 
nhos dos escritores (teologia paulina, joanina, etc.) e da Igreja 
em geral no período do NT. Os métodos empregados para a 
Teologia do Novo Testamento são:
a) O M étodo Sintético segue os temas teológicos básicos 
por todas as partes das Escrituras a fim de notar seu desenvol- 
vimento através do período bíblico. Sua fortaleza é a ênfase 
que dá à unidade das Escrituras. Sua fraqueza é a tendência 
para a subjetividade: é possível enquadrar a matéria do N T 
dentro de um padrão artificial.
b) O M étodo Analítico estuda a teologia distintiva de 
seções individuais e nota a mensagem específica de cada uma 
delas. Sua virtude é a ênfase no significado do autor individu- 
al. Sua fraqueza é a diversidade radical, que resulta numa 
colagem de quadros sem coesão.
c) O M étodo Histórico estuda o desenvolvimento de idéi- 
as religiosas na vida do povo de Deus. Seu valor é a tentativa 
de entender a comunidade dos crentes por trás da Bíblia. Seu 
problema é a subjetividade da maioria das construções, nas 
quais o texto bíblico está à mercê do pesquisador.
d ) O M éto d o C risto lóg ico faz de C ris to a chave 
hermenêutica do AT e NT. Sua virtude é o reconhecimento 
do verdadeiro centro da Bíblia. Sua fraqueza é a sua tendência 
de espiritualizar passagens e forçar interpretações que lhe são 
estranhas, p r in c ip a lm en te em te rm o s da experiência
26
F u n d a m e n to s da H e rm e n êu t ic a
veterotestamentárias de Israel. N ão se deve considerar que tudo 
no AT ou no N T seja um “tipo de Cristo”.
e) O M étodo Multíplice combina o melhor dentre os 
métodos e passa hermeneuticamente do texto para a teoria. 
Começa com a análise gramatical e histórica do texto, e pro- 
cura desvendar o significado de vários textos dentro dos seus 
contextos vivenciais. Aqui, uma análise social também é útil, 
posto que estuda aqueles contextos vivenciais em termos de 
matriz social das comunidades da fé. N a medida em que os 
dados são coletados por meio dessa tarefa exegética, são orga- 
nizados pelos padrões básicos de cada livro individual e de- 
pois, pelos de cada autor. A ênfase que Paulo dá à justificação 
pela fé será unida ao uso que João faz da linguagem do novo 
nascimento. Finalmente, esses temas são compilados em se- 
ções principais e subseções, seguindo um método descritivo 
(bíblico), ao invés de uma reconstrução artificial.13
Percebe-se então que a Teologia Bíblica é a disciplina que 
estrutura a mensagem dos livros da Bíblia em seu ambiente 
formativo histórico, sendo mais descritiva do que aplicativa.
Teologia Sistemática
A Teologia Sistemática é uma ciência teológica que se 
encarrega do material das disciplinas anteriores com o fim de 
arranjá-los de forma lógica e metódica, para facilitar a com- 
preensão e promover aplicação prática do mesmo. Por isso, 
tem sido considerada como uma disciplina que segue um es- 
quema ou uma ordem humana de desenvolvimento doutriná- 
rio e que tem o propósito de incorporar no seu sistema toda a 
verdade sobre Deus e o seu universo, a partir de toda e qual- 
quer fonte: Teologia Natural, Bíblica, Histórica, etc.
2 7
H e rm en êu t ica fácil e descom plicada
Por tratar de temas específicos e desenvolvendo-os atra- 
vés de toda Bíblia, pode ser chamada de Teologia Temática; 
porém, quando se preocupa com as formas confessionais 
(magisterium da Igreja) pode ser chamada de Teologia Dogmática; 
tanto um quanto o outro podem ser classificados como méto- 
dos no fazer teologia sistemática. Apesar das disciplinas da 
Teologia Sistemática, abarcarem todos os “fatos de toda e 
qualquer fonte referentes a Deus e às suas obras”16, entretan- 
to, as disciplinas comuns aTeologia Sistemática são: Bibliologia 
(Escrituras), Teontologia1' (Deus, seu ser, suas obras, seus 
decretos), Angelologia (Anjos, Satanalogia e Demonologia), 
Antropologia Teológica (Homem), Hamartiologia (Pecado), 
Cristologia (C risto), Soteriologia (Salvação), Expiação, 
Pneumagiologia (Espírito Santo), Eclesiologia (Igreja) e 
Escatologia (Ultimas Coisas).
Divisões da Teologia Sistemática
I) Teologia Dogmática ou Confessional:
Estuda os ensinos contidos nos credos e confissões ex- 
pressos nos símbolos da Igreja. E estritamente a sistematiza- 
ção e defesa das doutrinas como nos apresentam os credos e 
confissões eclesiásticas. Umas das dificuldades do método 
confessional na Teologia Sistemática é que são dadas poucas 
razões pelas quais certos pontos de vista confessional devam 
ser aceitos como norma, em contraste com todos os demais. 
Deve ser chamada de dogmática, principalmente porque se 
deriva de δοκεω, “pensar, crer, supor, considerar” (M t 3.9;Lc 
24.37; I Co 3.18), a expressão δοκ6ι μοι (dokei moi) signi- 
fica não só “parece-me ou agrada-me”, mas também “deter- 
minei definitivamente algo de modo que para mim é fato esta­
28
F u n d a m e n to s da H e rm e n êu t ic a
belecido”.18 Assim, cada sentença confessional deve ser testa- 
da pelos critérios da consistência lógica e da coerência com os 
fatos da revelação. U m exemplo de confissões dogmáticas é a 
Confissão de Westminster (Presbiterianos).19
2) Teologia Apologética:
Como subdivisão da Teologia Sistemática, a Teologia 
Apologética é tanto bíblica quanto filosófica. E um discurso 
sistemático e argumentative na defesa da origem divina e da 
autoridade da fé cristã. Desenvolve uma defesa das pressuposi- 
ções básicas dos cristãos a respeito de Deus, de Cristo e da 
Bíblia contra as pressuposições conflitantes. O sentido de 
apologética procede de απολογία (apologia), que é traduzido 
como defesa, respQnder ou replicar (At 25.16; Fp 1.7,16; 2T m 
4.16; I Pe 3.15; I Co 9.3), e απολογεομαι (apologéomai) sig- 
nifica falar em autodefesa, ou defender-se (Lc 21.14; Rm 2.15). 
N o período neotestamentário uma apologia era a defesa de al- 
guma coisa feita formalmente no tribunal (2 T m 4.16).
Teologia Prática
A Teologia Prática relaciona-se com a aplicação prática 
dos resultados da investigação teológica, particularmente no 
que concerne à obra do ministério cristão, procurando aplicar 
à vida prática aquilo que outros departamentos da teologia 
contribuíram.
E uma disciplina terminantemente prática, pois viabiliza 
a capacitação ministerial e eclesiológica da liderança e da igre- 
ja, a fim de que todos sejam perfeitamente habilitados para a 
obra do ministério. Abrange:
29
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
a) Homilética;
b) Organização e Administração Eclesiástica;
c) Liturgia;
d) Educação Cristã;
e) outros.
SIN O PSE
Θ εολογία a é o ensino, discurso, tratado, ou ciência so- 
bre Deus e fatos a Ele relacionados. Procede originalmente de 
dois substantivos gregos, o genitivo Θεου (T h eo s) e do 
acusativo λόγια (logia) que significa tratado, fala .
Apesar de não encontrarmos o vocábulo nas Escrituras, não 
deixa contudo, de ser correlativo a elas: τα λόγια ToO θεου (ta 
logia tou T h e o u = oráculos de D eus — R m 3.2); 
ώς λό γ ια θεου (hõs logia Theou = os oráculos de Deus — I 
Pe 4 .11).
Ο θεολόγος é tanto o que fala a palavra de Deus, quan- 
to aquele a quem Deus fala.
A Teologia Exegética enfatiza o emprego dos métodos 
hermenêuticos a fim de auscultar corretamente a mensagem 
dos textos sacros.
A Teologia Histórica trata do desenvolvimento histórico 
da doutrina, e se preocupa com as variações sectárias e afasta- 
mentos heréticos da verdade bíblica que apareceram durante a 
era cristã.
O objetivo da Teologia Bíblica é traçar o progresso da 
verdade nos diversos livros da Bíblia, e descrever a forma de 
cada escritor apresentar as doutrinas fundamentais.
A Teologia Sistemática é uma ciência teológica que se 
encarrega do material de outras disciplinas com o fim de arran-
3 0
F u n d a m e n to s da H e rm e n êu t ica
já-los de forma lógica e metódica para facilitar a compreensão 
e promover aplicação prática do mesmo.
A Teologia Dogmática estuda os ensinos contidos nos 
credos e confissões expressos nos símbolos da Igreja. E estri- 
tamente a sistematização e defesa das doutrinas como nos 
apresentam os credos e confissões eclesiásticas.
Teologia Apologética, como subdivisão da Teologia Sis- 
temática, é tanto bíblica quanto filosófica. E um discurso sis- 
temático e argumentative na defesa da origem divina e da au- 
toridade da fé cristã.
A Teologia do Novo Testamento é o ramo da Teologia 
Bíblica que segue determinados temas através de todos os au- 
tores do NT, e que depois funde esses quadros individuais 
num só conjunto abrangente.
A Teologia do Antigo Testamento é a ciência que trata da 
natureza de Deus e da sua relação com o Universo. Propõe-se 
a expor, do modo mais ordenado possível, as grandes declara- 
ções da verdade divina e o propósito das atividades de Deus 
na história e na vida do povo de Israel, de acordo com a dou- 
trina da revelação divina nos livros sagrados deste povo.
A Teologia Prática relaciona-se com a aplicação prática 
dos resultados da investigação teológica, particularmente no 
que concerne à obra do ministério cristão, procurando aplicar 
à vida prática aquilo que outros departamentos da teologia 
contribuíram.
TR A BA L H A N D O C O M T E X T O 
ISAGOGE BÍBLICA
Admite-se geralmente ter sido Adriano, monge grego que 
viveu provavelmente no século V, o primeiro estudioso a usar
31
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
o vocábulo ISAGOGE ou i n t r o d u ç ã o para designar os estudos 
que auxiliavam o mais correto conhecimento da Bíblia. Com 
este objetivo escreveu um pequeno tratado destinado a ajudar 
o estudante a familiarizar-se com a fraseologia bíblica e suas 
expressões peculiares, cujo título era “ A d r i a n o u I s a g o g e TÉ s 
g r a f e s ” (εισαγωγή τής γραφής) apareceu em latim em 
1602 editado por Davi Hoeschel.
Contribuição mais ampla e significativa foi oferecida por 
Marcus Aurelius Cassiodorus que, em 550, escreveu uma obra 
na qual se refere a cinco estudiosos que se empenharam na 
tarefa de investigar a Bíblia. A obra se intitula “Introcuciones 
Divinae Scripturae”; assim surgiu e foi consagrada a expressão 
“Introdução à Escritura Sagrada”, para designar a disciplina 
que inclui todos os assuntos preliminares e necessários ao es- 
tudo da Bíblia.
O fundador da ciência m oderna da Isagoge é J.G. 
Eichhorn, que publicou em 1780-83 alentada obra em três 
volumes sobre o assunto. Como parte da Introdução comen- 
tou sobre a origem do Canon, a história do texto e a origem 
dos diferentes livros.
Os críticos hoje admitem que a Isagoge compreende certas 
matérias que preparam o estudante para compreender melhor 
as Escrituras e alcançar conhecimento mais sólido delas. Porém, 
não há unanimidade entre os críticos dos assuntos a ser tratado, 
por isso, a divisão entre Isagoge Estrita e Isagoge Ampla.
RIBEIRO, Américo J. Isagoge do Velho Testamento, Seminário 
Presbiteriano de Campinas, 1970 (p. 1,2).
EXERCÍCIOS
I . Defina e conceitue o termo teologia.
32
F u n d am e n to s da H e rm e n êu t ica
2. Quais são as principais disciplinas da Teologia Exegética 
e Sistemática?
3. Faça uma dissertação sobre a função da teologia e do 
teólogo na igreja.
4. Como a Teologia do AT e N T pode ser útil a comuni- 
dade cristã?
Bibli-Holmes
Ajude nosso detetive Bibli-Holmes a investigar as diver- 
sas acepções do termo “teologia” e sua correspondência com 
os diversos sistemas teológicos.
LE ITU R A S E LIVROS PARA A P R O FU N D A M E N T O
ELWELL, Walter A., editor. Enciclopédia Histórico-Teológica 
da Igreja Cristã, Vida Nova, v.3 (p. 452-520).
CH A M PLIN , R. N. & BENTES, J. M. Enciclopédia de Bí~ 
blia, Eeologia e Filosojia, Candeia, v. 6 (p. 465-495).
H O R T O N , Stanley M., editor. Teologia Sistemática, CPAD 
(p. 50-62).
N O TA S
1 Declmação do substantivo grego que indica possessão.
2 N o grego Θ6ός, “Deus” ou “deus”. O grego do Novo 
Testamento não difere pelo uso da letra theta maiúscula (Θ ) ou 
minúscula (Θ) a que divindade o texto se refere, usando ο “Θ” 
minúsculo para referir-se tanto ao verdadeiro Deus quanto 
aos deuses falsos. Os tradutores da Bíblia, subsidiados pelo 
contexto é que traduzem [interpretam] as referências a qual- 
quer uma das pessoas da Santíssima Trindade com ο Θ maiús-
H e rm en êu t ica fácil e descom plicada
culo (At 7.32, “Deus de Abraão”), enquanto em minúsculo, 
refere-se a uma divindade falsa ou pagã, como em Atos 7.43 
[deus Renfã]. Da raiz do termo θβός (theós), muitas outras 
palavras são formadas: theodidaktos (ensinado por Deus — I Ts 
4.9); theomakbeo (lutar contra Deus — At 23.9); theópneustos (ms- 
pirada por Deus — 2 T m 3.16); theosébeia (reverência a Deus —I T m 2 .I 0 ) .
3 Declinação do substantivo grego que corresponde à fun- 
ção de objeto direto.
4 Lewis S. Chafer, Teologia Sistemática} 1986, p. 26.
 Importantes contribuições históricas sobre o conceito נ
de teologia podem ser encontradas em Roque Frangiotti, H is- 
tória da Teologia — Período Patrístico, SP: Edições Paulinas, 1992; 
Claude Geffré, Como Tazer Teologia Hoje — Hermenêutica Teológica! 
SP: Edições Paulinas, 1989. Cf. Alberto F. Roldán, Para que 
Serve a Teologia? Curitiba: Editora Descoberta, 2000.
6 W illiam S. LaSor, Gramática Sintática do Grego do N T 
1986, p. 4.
7 Francisco L. Schalkwijk, Coinê-Pequena Gramática do Grego 
Neotestamentário, 1992, p. 4.
8 Esse estilo de análise remonta ao monge do século V, 
membro da escola de Antioquia, conhecido por Adrianos, es- 
creveu Eisagõgê eis tas theiasgrapbas, “Introdução às Sagradas Es- 
crituras” aproximadamente em 440 (d.C.). Em latim Eisagõgê 
tornou-se Introductio, e daí por diante, o termo técnico Introdu- 
ção, como apresentado nas ciências teológicas.
9 Américo J. Ribeiro, Isagoge do V T ~ Iparte: Canônica, Semi- 
n á rio P re sb ite r ia n o de C am pinas , 1 9 7 0 , A p o stila 
mimeografada, p. 2.
3 4
F u n d a m e n to s da H e rm e n êu t ica
10 Louis Berkhof, A História das Doutrinas Cristãs, 1992, p. 27.
11 Id.Ibidem, 1 9 9 2 , p. 27.
12 C f, por exemplo, G.Eldon Ladd, Teologia do Novo Testa- 
mento, 1997, p.24-32.
13 C f Walter C. Kaiser Jr., Teologia do AntigoTestamento, 1980, 
p. IO-II .
14 G. Eldon Ladd, 1997, Id. Ibidem, p. 25.
 G. R. Osborne, Teologia do Novo Testamento, In: Enciclopédia ה1
Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Walter A. Elwell (ed.), vl.III 
p. 504. Foi omitido propositalmente o método confessional e 
o do Corte Transversal.
16 Considere as proposições sobre o tema em Chafer, 1986, 
op.cit., p. 5.
.Chamado também de Teologia Própria ׳1
18 Outras considerações sobre o termo e sua ênfase nos 
escritores judeus, latinos e gregos pode ser conferida In: Walter 
Bauer’s, A Greek-English Lexicon of the N ew Testament and Other Early 
Christian Literature, 1958, p. 201-2.
Ig A Igreja Assembléia de Deus possui seu credo dogmático 
exposto nos periódicos da denominação.
35
C A PÍT U L O 2
3n9pítação e *Revelação
Se cremos na bondade de D eu s, é p resum íve l que E le 
não d e ixaria 0 hom em na escuridão da ignorância 
sobre a sua pessoa, seus atos e seu incom ensurável 
amor. Para compreendê-lo, a razão hum ana 
é incompleta e absolutam ente ineficaz. O s grandes 
pensadores têm fo r m u la d o m ilhares de labirintos para 
entender e defin ir 0 E terno , porém , sem qualquer 
proveito. A fastados da revelação do Logos E ncarnado 
e da Palavra Escrita, os pensadores céticos só 
encontraram percalços na compreensão do Insondável.
Revelação, Inspiração e Escritura
Etim o de Revelação
O termo hebraico para revelação é gcW que conota o 
mesmo significado que a expressão neotestamentária apokalipsis 
(άποκαλυψ ις )2: desvendar, revelar ou tirar o véu. E assim 
que em Romanos 16.25 Paulo refere-se a “revelação do mis- 
téno que desde os tempos antigos esteve oculto”. O termo 
revelação e mistério são associações comuns nas epístolas 
paulmas. Paulo emprega, por exemplo, o termo mistério seis 
vezes na epístola aos Efésios. Para compreender adequada­
H erm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
mente este termo é necessário uma comparação formal com a 
epístola aos Colossenses, pois esta também usa o termo várias 
vezes (1.26,27; 2.2; 4.3). O termo também pode ser encon- 
trado em Romanos (duas), I Coríntios (seis vezes), I Timó- 
teo (duas), 2 T im óteo (duas). Os usos do term o grego 
mystêrion (μυστήριον) nestas epístolas possuem particular 
afinidade com o contexto já encontrado em Efésios e Colos- 
senses. Notadamente em Colossenses, mistério é especificado 
pelo genitivo “mistério de Deus” (2.2) e “mistério de Cristo” 
(4.3). N os outros dois casos (1.26,27), o contexto define o 
mistério em relação a Deus e a Cristo: “Deus quis fazer co- 
nhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os 
gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória”. Em Colos- 
senses 2.2, este mistério é o próprio Cristo: “para conheci- 
mento do mistério de Deus — Cristo”.
Esse conjunto de taracterísticas se encontra também nos 
textos de Efésios. Em três casos o mystêrion é determinado 
por um genitivo que o põe em relação com a iniciativa gratuita 
e eficaz de Deus, a sua “vontade” (1.9), com o Cristo (3.4) ou 
com o Evangelho (6.19). Em dois casos o termo é usado de 
forma absoluta, “o mistério” (3.3,9), mas o contexto permite 
referi-lo, sem dúvida, a Deus ou ao Cristo. Exclui-se dessa 
perspectiva o caso de 5.32, onde designa uma interpretação 
“profética” de um texto bíblico, precisamente, de Gênesis 2.24, 
relido à luz da ligação salvífica entre Cristo e a Igreja3. Veja- 
mos os textos relativos ao termo na Epístola ao Efésios: 
“descobrindo-nos o mistério da sua vontade” (1.9); 
“este mistério manifestado pela revelação” (3.3); 
“compreensão do mistério de Cristo” (3.4); 
“dispensação do mistério... oculto em Deus” (3.9);
3 8
Inspiração e Revelação
“Grande é este mistério” (5.32);
“fazer notório o mistério do evangelho” (6.19).
N ão somos escusados de frisar que Paulo dá-nos a chave 
sobre o seu entendimento do “mistério”: “como me foi este 
mistério manifestado pela revelação, como acima, em pouco, 
vos escrevi” (3.3). O mistério de que o doutor dos gentios 
trata não é nada oculto ou enigmático, mas antes algo “revela- 
do”, pois relaciona-se com a revelação que Deus faz de si e de 
seus projetos salvíficos. Ele chama os seguintes temas dos de- 
eretos divinos como um mistério revelado:
a) as bênçãos espirituais em Cristo nas regiões celestes (1.3);
b )a eleição em Cristo (1.4);
c) a predestinação (1.5);
d) a adoção (1.5);
e) a redenção pelo sangue (1.7);
f) Congregar em Cristo todas as coisas (I.IO);
g) o selo do Espírito ( L I 3);
h )o poder de Deus no crente ( I .1 9);
1) Cristo acima de todo principado ( I .2 I ) ;
j) Cristo a cabeça da Igreja (L 22);
1) a Igreja, corpo de Cristo (1.23).
Isto posto, revelação, no sentido escriturístico, é a mam- 
festação que Deus faz de si mesmo e de sua vontade aos ho- 
mens. Essa revelação, de acordo com a origem e desenvolvi- 
mento do Canon Sagrado, é a comunicação sobrenatural des- 
conhecida do hagiógrafo. Por meio da revelação, verdades an- 
teriormente ignoradas pelos hagiógrafos foram descortinadas, 
como Zacarias 12.10, Miquéias 5.2 e Isaías 50.4-10. Certa- 
mente os autores sagrados não adquiriram essas informações 
por estudo ou vias meramente humanas.
39
H e rm e n êu t ica tacil e descomplicada
Tip os de Revelação
Revelação Ativa
E uma revelação imediata da parte de Deus, sem qual- 
quer permeio humano. E Deus revelando-se diretamente ao 
homem. A revelação de Deus a Moisés no monte Sinai é um 
exemplo direto dessa revelação. A revelação ativa ou direta pres- 
supõe a comunicação especial de Deus ao homem. A fimtude 
humana não é capaz de penetrar no mcognoscível universo 
divino. Seus modos de percepção naturais apenas o possibili- 
tam a discernir as bases físicas e temporais da existência. Atra- 
vés de sua mente, o homem especula o lógico, perceptível e 
natural. A revelação de Deus aos homens então não é somente 
plausível, mas também necessária, por dois fatores:
a) O fator implícito: Que diz respeito ao que Deus é em 
sua natureza infinita, sendo por isso, Deus inacessível aos ho- 
mens ( I Tm 6.16; Jo 4.23,24);
b) O fator explícito: Que é a vulnerabilidade humana para 
conhecer a Deus em sua natureza incomensurável. Não parte 
de Deus, mas da natureza finita do homem. Daí, a necessidade 
de uma comunicação direta de Deus aos homens. Neste aspec- 
to é notável o modo teofânico como Deus se revela: teofanias 
visíveis (Gn 16.11 cf. 16.13; Êx 3.2-6; 19.18-20; D n 7.9-14) 
e, teofanias audíveis (Gn 3.8; I Rs 19.12,13; M t 3.17). Através 
dessestextos percebemos que a teofânia, como veículo da reve- 
lação de Deus, pode ser humana (Gn 18.1,2,13,14), angélica 
(Jz 2.1; 6.11,14) e não humana (Gn 15.17; Êx 19.18-20). Al- 
gumas dessas revelações teofânicas são cristofanias (Jo 12.40,41). 
N a teofania é Deus quem toma a iniciativa. Ele nunca se revela 
completamente, e usualmente o faz apenas de modo temporá­
4 0
In spiração e Revelação
rio, ao invés de se manifestar de forma permanente. A manifes- 
tação permanente foi a encarnação de Cristo (Jo I .I4 -I8 ) .
Revelação Passiva
E uma revelação mediativa, isto é, Deus não se revela di- 
retamente ao homem como o fez com Moisés, porém, é o 
conhecimento de Deus que é comunicado aos homens ou 
mesmo aquele que é observado através da revelação geral 
(Gn I; SI 119; 148; R m I.20ss).4 Revelação Geral é uma 
expressão teológica para definir uma forma de teologia natu- 
ral (SI 8; I9 .I ; Rm Essa revelação acha-se impressa ב.(1.8-21 
na criação. Apesar de não ser uma revelação pontifícia, como a 
Revelação Especial, o Logos Encarnado ( Logos Theau) e a 
epistemológica ( Rhetna Theou — que é o registro dessas revela- 
ções através das Escrituras a todas as gerações), contudo, pos- 
sui predicativo suficiente para que o homem conheça a Deus e 
o adore.6
A Revelação Geral ocorre de dois modos distintos:
a) Uma revelação externa na criação — a qual proclama 
o poder, a sabedoria e a bondade de Deus, e;
b) Revelação interna da razão e da consciência em cada 
indivíduo (Rm 12.16; Jo 1.9).
O cristianismo reconhece tanto a Revelação Geral quan- 
to a Especial, como modos progressivos da auto-revelação de 
Deus. Entretanto, o clímax revelador manifesta-se em dois 
meios específicos: o Verbo Vivo e a Palavra Escrita. A Revela- 
cão Especial é coroada pela encarnação do Verbo Vivo (Jo 
1.1,14,17,18; 14.8,9; H b I.I-3 ), e pelo registro da Palavra 
nas Escrituras (I Co 14.37; 2 Tm 3.16), sendo essas revela- 
ções o desvendamento que Deus faz de si mesmo de modo
41
H e rm e n êu t ica fácil e de sc om phc ada
imediato e sobrenatural. O Logos Encarnado revelou o Pai. 
A Palavra escrita registrou essa revelação e o seu progresso
(H b L I -3; 2 Pe 1.20,21; G1 I .I2 ) .7
Inspiração do AT e do N T
O sentido teológico de inspiração divina é derivado da 
expressão paulina de 2 Timóteo 3.16: “Toda a Escritura é 
inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, 
para a correção e para a educação na justiça” (N V I).
A expressão “divinamente inspirada”, no grego theópneustos 
(θεόπνευστος), constitui-se um hapax legoumenon, isto é, ter- 
mo que aparece apenas uma vez nas Escrituras, e é formada 
p o r dois vocábulos, T h e ó s (θεός = D eu s) e pneusto s 
(πνευστός =inspiração, influxo). O apóstolo Pedro afirma 
que os profetas eram literalmente levados (φερόμενοί - 
pherófnenot) pelo Espírito Santo (2 Pe 1 .21; cf. At 27.15,17). 
A Vulgata traduz pherómenoi por iivírtítus inspírata. Isto posto, 
2 Tim óteo 3.16 quer dizer que as Escrituras são produtos 
do sopro criador de Deus. Paulo exorta seu discípulo a per- 
severar na autêntica doutrina que aprendeu desde a tenra 
idade no Antigo Testamento, a qual é capaz de guiá-lo à 
salvação exatamente porque se origina de Deus.
O apóstolo assevera que toda Escritura é inspirada 
(πάσα γραφή - pãsa graphê), isto é, cada parte, pois o adjeti- 
vo acusativo πάσα, faltando o artigo, deve de preferência en- 
tender-se em sentido distributivo (cada Escritura), mas tam- 
bém em sentido coletivo (toda Escritura), o que vem a ser 
substancialmente o mesmo, pois se as Escrituras são assim em 
cada uma de suas partes, logo também o é no seu conjunto.
4 2
Inspiração e Revelação
Por meio da inspiração divina, o conteúdo das Escrituras 
não é proveniente da sabedoria e aferimento humano, não sendo 
produto pessoal da mente do escritor (2 Pe L I 9-21). Assim 
sendo, o uso litúrgico do AT na Igreja militante é útil para 
ensinar, repreender, corrigir e instruir na justiça, para que o 
homem de Deus (θεοΟ άνθρωπος, cf.’is hã Élnhim — D t 
33.1) +seja apto e plenamente preparado para toda boa obra. 
Dessa forma, inspiração é a influência sobrenatural exercida 
pelo Espírito Santo sobre os hagiógrafos, em virtude do qual 
seus escritos são produtos da vontade divina, constituindo-se 
cânon de regra, fé e prática ( I Co 2.13; cf I Co 14.34; 
G1 I.6 -I2 ).
A Abrangência da Inspiração
Todo o Antigo Testamento
E significativo o argumento de Cristo em Lucas 11.51. 
Ao citar de Abel até o sangue de Zacarias, Jesus está referin- 
do-se ao Cânon Judaico da Tanak. Abel encontra-se no livro de 
Bereshith (Gênesis), que é o primeiro livro da primeira divisão 
conhecida comoTorá ou Lei; “até... Zacarias” encontra-se no 
livro de Drive Hayamim (I e 2 Crônicas) e corresponde ao últi- 
mo livro da terceira divisão da Tanak, conhecidos como Kethuvim 
ou Escritos. Em Lucas 24.45, Cristo refere-se à tríplice divi- 
são da Tanak, referindo-se à Lei de Moisés (Torá — I a divi- 
são), Profetas (2a divisão) e Salmos (o primeiro livro da 3a 
terceira divisão). Assim, Cristo confirma toda a inspiração 
bíblica do Antigo Testamento. N ão somente isto, mas os ju- 
deus tecnicamente designavam a coleção dos escritos da Anti- 
ga Aliança como hê graphê (a Escritura, R m 9.17), ou tais 
graphais (as Escrituras, Lc 24.27).
43
H e rm e n êu t ica tácil e descomplicada
O Testimonium de Cristo
Caminhando um degrau acima em nossa investigação, é 
sempre de praxe assinalar o testimonium de Cristo acerca das 
Escrituras. Os ditos de Jesus sempre costeavam as profecias 
do Antigo Testamento. Quando uma controvérsia enrubescia, 
citava um dos textos das Escrituras a fim de encerrar a polê- 
mica e atestar o valor profético da mesma, senão vejamos:
• “Nunca lestes nas Escrituras...” (M t 21.42; cf. Rm 4.3);
• “Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito” (M t 4.4);
• “Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem 
que assim convém que aconteça?” (M t 26.54);
Os eixos im plíc itos da au to ridade das E scrituras 
veterotestamentárias brotam nas páginas do NovoTestamen- 
to como uma nascente límpida e fresca. O m odo como Cristo 
interpreta as Escrituras distingue-se do uso rabínico de inter- 
pretação da Torá, seja dos textos estritamente legalistas 
(halakah) ou todas as seções não jurídicas (haggadah). Cristo 
interpreta o Antigo Testamento a partir de si mesmo. N o con- 
texto de seu sofrimento vicário explica e reinterpreta o Antigo 
Testamento colocando-o no contexto de sua situação vivencial 
(Sitz im Lebem).
Esse novo método hermenêutico foi posteriormente ado- 
tado pelos apóstolos. Estes, por sua vez, tanto atestavam a 
a u to r id a d e e in fa lib il id ad e das E sc ritu ra s q u a n to a 
reinterpretavam a partir da tradição cristológica inaugurada e 
exemplificada pelo próprio Mestre. Em seus discursos, ao afir- 
marem a autoridade e procedência divina das Escrituras, esta- 
vam de conluio com a tradição existente entre os judeus, mas 
quanto ao método interpretativo, diferenciavam-se do uso pro- 
saico dos rabinos: “... porque assim está escrito pelo profeta...”
44
In spiração e Revelação
(M t 2.5 cf. Jo 10.35); “... irmãos, convinha que se cumprisse 
a Escritura que o Espirito Santo predisse pela boca de Davi” 
(At I .I6 ) . A pregação dos apóstolos era lustrada pela convic- 
ção de que as Escrituras da Antiga Aliança eram a expressão 
de autoridade da vontade de Deus para a história das nações, 
de Israel e da Igreja (At 3.18).
Deste recomeço interpretativo é que o Antigo Testamen- 
to foi redescoberto e remterpretado na historiologia da salva- 
ção cristã (I Co 15.3,4). Para tanto, seguiu-se um padrão 
normativo quase sacramental no escopo do Novo Testamen- 
to, isto é, o uso de uma frase-programa para referir-se às cita- 
ções e remterpretações veterotestamentárias. Este novo padrão 
in trodu tório é usado pelo narrador como discurso que 
semaforiza uma redescoberta do sentido do texto. A fraseologia 
padrãoé “para que se cumprisse” e o uso combinado de duas 
preposições gregas “pelo” (υπό, hypo) e “por meio”, “por in- 
termédio” (δ ιά , dia).6 Conectivos estes, expressos em fórmu- 
las quase que sacramentais no escopo do NT, o que sugere ser 
o próprio Deus quem fala por meio do hagiógrafo:
• “... foi dito da parte do Senhor pelo profeta” (M t 1.22);
• “O próprio Davi disse pelo Espírito Santo” (M c 12.36);
• “O Espírito Santo predisse pela boca de Davi” (At 1.16);
• “... é o que foi dito pelo profeta Joel” (At 2.16).
• “... e também o Espírito Santo no-lo testifica, depois de 
haver dito” (H b 10.15);
• “(...) para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta 
Isaías” (M t 4 .I4 ;8 .I7 ; M c 1.2);
• “... porque está escrito” (M t 4.10);
• “... é este de quem está escrito” (M t I LIO);
• “Está escrito nos profetas” (Jo 6.45);
45
H e rm e n êu t ica fácil e d escom phcada
• “... para que se cumpra a Escritura” (Jo 13.18);
• “Porque isso aconteceu para que se cumprisse a Escritu- 
ra” (Jo 19.36,37).
A razão pela qual os escritores neotestamentários atribuem 
as Escrituras veterotestamentárias uma autoridade mcontestá- 
vel é porque estas se originam de Deus, através de um hagiógrafo. 
Chamam-se Escrituras porque não foram comunicadas oral- 
mente às sucessivas gerações, mas através de escritos.
Por fim, Cristo faz duas asseverações cruciais: quem qui- 
ser acreditar n’Ele faça-o segundo as autênticas afirmações das 
Escrituras da Antiga Aliança: “Quem crê em mim, como diz a 
Escritura” (Jo 7.38); “(...) a Escritura não pode ser anulada” 
(kai ou dunatai luthênai hê graphê — Jo 10.35).
As Aduções Internas dos Hagiógrafos
Se não bastassem as apologias dos eixos internos do N T 
para a ratificação da inspiração do AT, bastaria citar as aduções 
testemunhais do próprio hagiógrafo, tais como:
Moisés:
“E chamou o Senhor a Moisés...” (Lv I .I ) ;
Josué:
“Falou o Senhor a Josué, dizendo...” (Js 4.1);
Isaías:
“Porque assim o Senhor me disse, com uma forte mão 
sobre mim...” (Is 8 .11); “Assim diz o Senhor” (Is 43.14);
Jeremias:
“Porque assim me disse o Senhor, o Deus de Israel” (Jr 
25.15; 34.8).
46
In spiração e Revelação
Ezequiel:
“Caiu, pois, sobre mim o Espírito do Senhor e disse-me” 
(Ez 1 1.5);
Todo o Novo Testamento
N o próprio texto dos livros do Novo Testamento há nu- 
merosos indícios de sua autoridade e inspiração divina. Os 
apóstolos estavam cônscios de que seus escritos não eram pro- 
dutos especulativos de sua mente, mas que procediam direta- 
mente do Espírito Santo: “... não em palavras ensinadas pela 
sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito 
Santo” [didaktoispeneumatos1 (I Co 2 13; 14.34; cf G1 I .6 -I2 ). 
Sua vocação ao apostolado era por iniciativa divina (R m I .I - 
3). Por isso, o que escrevia era mandamento divino ( I Co 
14.37) e, quando escrevia ou falava, estava credenciado por 
Deus, tendo recebido por revelação: “... porque não o recebi, 
nem o aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus 
C nsto” (G 11.12 cf E f 3.2; Cl 4 .16;I Ts 2 .13;I Tm 4 .11,13).
Pedro equipara os escritos paulinos às Escrituras 
veterotestamentárias. Deturpá-las é torcer a palavra de Deus 
(2 Pe 3.15.16).
As profecias jamais foram produzidas por vontade hu- 
mana: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia 
da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia 
nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os 
homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito San- 
to ” (2 Pe 1.20,21).
A expressão “n en h u m a p ro fec ia da E s c r i tu ra ” 
(πάσα προφ ητεία γρα φ ή ς) é um caso d e pars pro tota, isto é, 
uma parte da Escritura representando a totalidade desta. As
H e rm e n êu t ic a fácil c descomplicada
mesmas evidências podem ser encontradas nos Evangelhos e 
nos Atos dos Apóstolos (M t I .22 ;2 .I5 ,I7 ; M c 1.2; Lc 1.1,2; 
Jo 20.31; At I .I ) . O Novo Testamento reivindica a autonda- 
de que inspira e revela.
Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento são comple- 
tamente inspirados por Deus. A inspiração é proporcional a 
tudo que está registrado. Tudo é igualmente inspirado porque 
é o efeito da cooperação de Deus com o homem. Portanto, 
cada livro da Escritura é igualmente inspirado, e em cada livro 
são inspirados todos os elementos que o compõe. Deus é tan- 
to a causa quanto o autor da Escritura, ainda que não tenha 
sido o autógrafo direto da mesma. Deve-se, porém, evitar a 
visão simplista de que cada enunciado bíblico são afirmações 
divinas. Assim, a narrativa histórica (não folclórica) do preci- 
pitado voto de Jefté não está incluída como modelo a ser se- 
guido, e sim, a ser estudado e evitado; entretanto, de forma 
alguma quer dizer que não seja inspirado.
SIN O PSE
O termo hebraico para revelação égvlâ, que conota o mes- 
mo significado que a expressão neotestamentária apokalipsis: 
desvendar, revelar ou tirar o véu.
Revelação, no sentido escriturístico, é a manifestação que 
Deus faz de si mesmo e de sua vontade aos homens.
Revelação Ativa é uma revelação imediata da parte de Deus, 
sem qualquer interferência humana. E Deus revelando-se di- 
retamente ao homem.
Revelação Passiva é uma revelação mediativa, isto é, Deus 
não se revela diretamente ao homem, como o fez com Moisés, 
mas o conhecimento de Deus é comunicado aos homens.
48
In spiração c Revelação
O clímax da revelação manifesta-se por dois meios espe- 
cíficos: o Verbo Vivo e a Palavra Escrita. A Revelação Especial 
é coroada pela encarnação do Verbo Vivo (Jo 1.1,14,17,18; 
14.8,9; H b I .I -3 ) e pelo registro da Palavra nas Escrituras 
( I Co 14.37; 2 Tm 3.16).
O sentido teológico de inspiração divina é derivado da 
expressão paulma de 2 Timóteo 3.16.
A expressão “divinamente inspirado”, no grego theopneustos, 
constitui-se um hapax legoumenon, isto é, termo que aparece ape- 
nas uma vez nas Escrituras, e é formada por dois vocábulos 
Tkeós ((θεός = Deus) e pneustos (πνευστός = inspiração, in- 
fluxo ן .
O apóstolo Pedro afirma que os profetas eram literal- 
mente levados (φερόμενοι - pherómenot) pelo Espírito Santo 
(2 Pe 1.21; cf At 27.15,17). A Vulgata traduz pherómenoi por 
tlivinitus inspirata.
Inspiração é a influência sobrenatural exercida pelo Espí- 
rito Santo sobre os hagiógrafos, em virtude do qual seus escri- 
tos são produtos da vontade divina, constituindo-se cânon de 
regra, fé e prática.
A conclusão apostólica sobre a inspiração e autoridade 
bíblica é que as predições proféticas do AT cumpnram-se in- 
falivelmente no ministério terreno de Cristo, e o núcleo dessa 
ratificação é a certeza inviolável de que foi Deus quem anun- 
ciou por boca de todos os profetas (At 3.18).
A Inspiração garante infalibilidade e veracidade ao ensi- 
no exposto pelas Escrituras, enquanto a Revelação acrescenta 
o tesouro de conhecimento do hagiógrafo.
N ão devemos ignorar as idiossincrasias dos hagiógrafos, 
onde traços marcantes de suas personalidades são aviltados
4^
H e rm e n êu t ica f á a í e descom píicada
nas Escrituras. Através de seu estilo aparece sua psicologia e 
cultura, por vezes consultando outros manuais quando neces- 
sáno (2 Cr 9.29; 12.15).
TR A BA L H A N D O C O M T E X T O
Infalibilidade e inerrância
Ambos conceitos, aplicados às Escrituras, são amplamente 
corretos quando entendidos os seus matizes principais. Am- 
bos se depreendem da doutrina da Inspiração das Escrituras. 
São termos mais teológicos do que bíblicos. Por esse motivo, 
temos que ser prudentes em toda formulação dogmática a 
respeito dessas características da Bíblia. A etimologia de “infa- 
libilidade” nos ajuda a determinar seu significado. Falibilida- 
de se deriva do latim “fallere”, que quer dizer enganar, induzir 
ao erro, ser infiel, não cumprir, trair. Neste sentido pode-se 
dizer que a Bíblia é infalível, que não induz ao erro e que não 
trai ao propósito com o qual Deus a inspirou. Se assim não 
fosse, a Escritura, como instrumento de comunicação da reve- 
lação de Deus, careceriade valor. A “inerrância”, neologismo 
teológico, indica a ausência de erro nos livros da Bíblia. Po- 
rém, que amplitude deve dar a estes conceitos? A tendência 
mais generalizada nos credos e confissões de fé tem sido a de 
aceitar a infalibilidade das Escrituras em tudo o que concerne 
a questões de fé e conduta, enquanto que na inerrância se tem 
aplicado especialmente aos textos históricos em sua relação 
com a obra redentora. Além dessas posições, há aqueles que 
têm defendido a inerrância levando-a a extremos desnecessá- 
rios, afirmando com veemência que na Bíblia não existe ne- 
nhuma classe de erro, nem sequer os derivados de equívocos
50
Inspiração e Revelação
dos copistas, solapando qualquer problema que o texto possa 
apresentar e sugerindo soluções pouco convincentes. Em sen- 
tido oposto, não têm faltado aqueles que só reconhecem a 
fidedigmdade das Escrituras no tocante a assuntos doutrinais 
e éticos, negando a inerrância nos fatos históricos. As duas 
posturas, contudo, estão presas a inconvenientes. A primeira, 
de uma falta de objetividade; a segunda, de um excesso de 
subjetividade.
M A R T ÍN EZ , José M. Hermenêutica Bíblica, CLIE, p. 55. 
EXERCÍCIOS
1. O que é inspiração?
2. Diferencie revelação de inspiração?
3. Como podemos provar a inspiração do AT e do N T?
4. Quais são as expressões bíblicas que comprovam a ins- 
piração das Escrituras?
Bibli-Holmes
Ajude nosso detetive Bibli-Holmes a investigar as princi- 
pais teorias sobre a inspiração bíblica: inspiração verbal e ple- 
nána, ditado divino na inspiração, orientação dinâmica na ins- 
piração e outros.
LEITURAS E LIVROS PARA APROFUNDAMENTO
R O D O R , Amin A. A Bíblia e a Inerrância — Revista Teoló- 
gica do Salt-Iaene, v. 2 (p. I -22);
VIERTEL, Weldow E. A Interpretação da Bíblia, Juerp (p. 
13,14,21,22);
51
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
BOICE, James Montgomery. O Alicerce da Autoridade Bíblica, 
Vida Nova (p. 71-94);
GEISLER, Norman; NIX, William. Introdução Bíblica,Y i d a, 
( p . I 5 - 5 9 ) .
N O TA S
1N o hebraico גלא , “revelar”, “desvendar”, “retirar o véu”.
T
2 E a transliteração do vocábulo grego άττοκώ λυψ ίς, 
que significa “revelação”, “desvendamento”. Procede de “apo” 
(άττό) (a partir de / / da parte de) e de “kalüpto” ( κ α λ ύ π τ ω ) 
(cobrir / / ocultar / / esconder).
3 Cf. Rinaldo Fabris, As Cartas de Paulo) vl. III, Edições 
Loyola, p. 114-8.
4 Cf. J. I. Packer, Revelação e Inspiração, In; O Novo Comentário 
da Bíblia, Dr. Russell P. Shedd (ed.) 1995, p. 25.
* C f■ H . O rton Willey & Paul T. Culbertsos, Introdução à 
Teologia Cristã, 1990, p. 45. A Revelação Geral algumas vezes é 
designada como Natural ou Externa, enquanto a Revelação 
Especial, de Sobrenatural e Interna. A Revelação Geral mani- 
festa-se através da Natureza, da Constituição do Hom em e na 
História. U m excelente artigo que reflete o sentido de Revela- 
ção Geral e especial pode ser observado em B. A. DEMAREST, 
Revelação Especial e Revelação Geral, In; Enciclopédia Histórico~Teológica 
da Igreja Cristã, Walter A. Elwell (ed.), vl. III (N -Z ),I990 , p. 
299-305.
6 Cf. Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia, p. 32-39. 
Para uma análise filosófica da revelação veja Paul Tillich, Teolo- 
gia Sistemática, p .77-I37.
7 A Revelação Especial é manifestada no propósito re­
52
dentor de Deus manifesto em Jesus Cristo, em oposição à re- 
velação mais geral do seu poder e da sua deidade no universo 
criado, na constituição da natureza humana e na história. Cf. 
Wilev & Paul T. Culbertson, op. c i t p. 48.
8 P. M. Beaude, De acordo com as Escrituras, Cadernos Bíbli- 
cos, p.39. Cf. também C. H . Dodd, Segundo as Escrituras - Estru- 
tura Fundamental do Novo Testamento, Biblioteca de Estudos Bíbli- 
co —7. Para um estudo das preposições hypo e dia, consulte o 
D IT N , VL. III, p. 657. Veja Esdras Costa Bentho, Hermenêutica 
Contextual, 2000, p. 135,6.
C A PÍT U L O 3
^Hetmeneutlca lS>ibtic<\
A hermenêutica não é apenas a arte ou a ciência da 
interpretação de qualquer texto; antes de tudo, é uma 
ciência que procura também 0 significado da palavra 
como evento histórico) social e de vida. O que 
representa um fóssil para 0 arqueólogo e paleontólogo, 
tal é a palavra fossilizada através dos séculos nas 
Escrituras para 0 intérprete,
Introdução
Hermenêutica Bíblica é a disciplina da Teologia Exegética 
que ensina as regras para interpretar as Escrituras e a maneira 
de aplicá-las corretamente. Seu objetivo primário é estabele- 
cer regras gerais e específicas de interpretação, a fim de enten- 
der o verdadeiro sentido do autor ao redigir as Escrituras. E a 
ciência da compreensão de textos bíblicos.
A Hermenêutica como Ciência é:
• Objetiva, pois está fundada em fatos concretos, isto é, 
na verdade bíblica.
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
• Racional, pois é constituída de conceitos, juízos e raci- 
ocínios, e não por sensações e imagens.
• Analítica, pois em virtude de abordar um fato, processo, 
ou situação de interpretação, ela decompõe o todo em partes 
componentes e relacionadas entre si. Isto quer dizer que a 
hermenêutica, ao analisar um texto, disseca-os em partes a fim 
de que o todo seja compreendido.
• Explicativa, em virtude de ter como finalidade explicar 
os fatos em termos de leis, e as leis em termos de princípios. 
Ora, qualquer pregador ou estudante precisa justificar sua m- 
terpretação, isto é, mostrar as leis ou princípios que o cond^i- 
ziram na interpretação de qualquer texto bíblico, Como ele- 
mento explicativo^ a hermenêutica é tanto descritiva quanto 
prescritiva. Como descritiva explica o que é o texto (seu signi- 
ficado), enquanto prescritiva, determina qual deve ser o nosso 
comportamento mediante a interpretação fornecida - o que 
deve ser feito.
A hermenêutica como teoria que postula M étodos e 
Regras:
M étodo1 é todo processo racional usado para se chegar a 
determinadas conclusões válidas. Em hermenêutica, refere-se 
às regras ou técnicas usadas para chegar ao conhecimento do 
significado original do texto. Para que o método seja útil e 
aconselhável, não basta que indique qualquer caminho; é pre- 
ciso que indique aquele que melhor e mais satisfatoriamente 
conduza ao fim que se tem em vista. Método, então, é a ma- 
neira de proceder.
Metodologia, entretanto, é uma indicação do método. 
Metodologia exegética é o conjunto de procedimentos cientí- 
ficos colocados em ação para explicar os textos. Diferencia-se
56
H e rm e n êu t ica Bíblica
das “abordagens”, que são pesquisas orientadas segundo um 
ponto de vista particular.
Quando fazemos exegese, usamos sempre um método que 
orienta a pesquisa e o modo de proceder. Estudaremos alguns 
métodos e técnicas a fim de descobrir o verdadeiro sentido de 
um texto. O método empregado dirige o resultado da pesqui- 
sa ou análise. Dependendo da metodologia empregada, pode- 
se chegar a conclusões conflitantes. Entre os principais méto- 
dos hermenêuticos ou exegéticos encontram-se o histórico- 
crítico, o estruturalista e o fundamentalista. Além destes mé- 
todos encontramos abordagens distintas aplicadas às Escritu- 
ras: sociológicas, antropológicas, psicológicas e psicanalíticas.2
A hermenêutica, como disciplina geral do conhecimento, 
é uma ciência que se ocupa do estudo da compreensão, sendo 
essencialmente a ciência da compreensão de textos. Mas não 
se aplica somente a estes, pois transcende as formas lmgüísti- 
cas de interpretação. Os seus princípios se aplicam não so- 
mente a textos literários, teológicos, bíblicos, filosóficos, 
lingüísticos ou jurídicos, mas também a obras de arte e ao 
viver cotidiano. Atualmente possuímos, segundo o Dr. Richard 
E. Palm er , seis definições modernas de hermenêutica, das 
quais destacamos quatro:
a) Hermenêutica como teoria da Exegese Bíblica: 
b^ Hermenêutica como Metodologia Filológica;
c) Hermenêutica como Ciência da Compreensão Lingüística; 
d̂ ; H erm enêu tica como base m etodológica paraas 
Geisteswissenschaften.4
Deste modo, a hermenêutica propõe-se a postular méto- 
dos válidos de interpretação. U m método é todo processo ra- 
cional usado para se chegar a determinadas conclusões váli­
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
das. Em hermenêutica, refere-se às regras ou técnicas usadas 
para chegar ao conhecimento do significado original do texto.
O primeiro registro do termo como título de um livro foi 
obra de J. C. Danhauer, publicada em 1654 sob o título 
Hermeneutica sacre sirve metbodus exponenàarum sacrarum litterarum. 
Após a obra de Danhauer, o termo como metodologia da m- 
terpretação foi usado freqüentemente para distmguir-se do 
comentário real do texto bíblico (exegese), principalmente entre 
os teólogos alemães.3 N o que concerne aos seus períodos his- 
tóricos, pode-se afirmar que a hermenêutica bíblica passou 
por sete períodos distintos:
1) Pré-Cristão;
2) Cristão Primitivo;
3) Patrística;
4) Medieval;
5) Reforma e ortodoxo;
6) Moderno;
7) Contemporâneo.6
Terminologia
O term o “herm enêu tica” procede do verbo grego 
hermeneueín, usualmente traduzido por “interpretar”, e do subs- 
tantivo hermeneia (έρμενεΐα), que significa “interpretação”. 
Tanto o verbo quanto o substantivo podem significar “tradu- 
zir, tradução”, ou “explicar, explicação”.
N a filologia do Antigo Testamento acham-se termos cor- 
respondentes ao grego hermeneuein; entre eles: tirgen, cujo signi- 
ficado é “interpretar ou traduzir” (Ed 4.7), pesher, pcshar, tradu- 
zido por “solução ou interpretação em geral”, e o vocábulo 
hawâ, isto é, “interpretar, informar, contar”.' U m hermeneuta,
58
H e rm e n êu t ica Bíblica
segundo o étimo, é um intérprete ou tradutor de qualquer 
porção literária, quer sacra, quer profana.
Derivação do Termo
O termo grego bermeios referia-se, originalmente ao sacer- 
dote do oráculo de Delfos, que era responsável pela interpreta- 
ção dos desejos dos deuses aos seus consulentes. N a cultura 
pagã, os romanos possuíam o áugure da salvação, que era um 
especialista oficial encarregado da interpretação dos sinais ce- 
lestes, como por exemplo, o vôo das aves, e os arúspices, adivi- 
nhos que estudavam as entranhas das vítimas sacrificadas e pro- 
curavam assim, interpretar presságios favoráveis ou contrários.8
O étimo do verbo kermêneueiu e do substantivo herrneneia, no 
entanto, remetem para o deus mensageiro-alado Hermes, de 
cujo nome as palavras aparentemente derivam, ou vice-versa.
Hermes, segundo a mitologia greco-romana, era filho de 
Zeus e de Maia, sendo o arauto e mensageiro dos deuses. Era 
também considerado o deus da ciência, da interpretação e elo- 
qüência. Nas escrituras neotestamentárias a cultura pagã ro- 
mana o chamava de Mercúrio (At 14.12). Porém, no texto 
original grego, aparece o substantivo próprio Hermes em vez 
de Mercúrio.
N o texto grego de Atos 14.12, Hermes (Ε ρμήν) aparece 
com a oração explicativa, “porque era este o principal porta- 
dor da palavra” (ARA).
Os gregos atribuíam a Hermes a descoberta da língua- 
gem e da escrita — as ferramentas que a compreensão huma- 
na utiliza para chegar ao significado das coisas e para transmi- 
tir aos outros.
Hermes se associa a uma função de transmutação — trans- 
formar tudo aquilo que ultrapassa a compreensão humana em
59
H e rm e nêu t ica fácil e descom plicada
algo que essa inteligência consiga compreender.L) As várias for- 
mas da palavra sugerem o processo de trazer uma situação ou 
uma coisa, da ininteligibilidade à compreensão.
Quando Filipe (At 8.26-40) foi conduzido pelo Espirito 
Santo ao encontro do oficial etíope perguntou-lhe: “Compre- 
endes o que vens lendo?” (ARA). Seu objetivo era levar ao 
etíope a compreensão do texto, decodificar o incógnito signi- 
ficado ao seu leitor. Se considerarmos o fato à luz do diálogo 
platônico Ion, Sócrates afirma que os poetas são “eisin ho 
hermêneus tõn theõ” (e lo ív ό 6ρμηνεύς τω ν θ εώ ) ou 
seja, “são os intérpretes de deus”. A função de Filipe, sob a 
ótica helênica, confunde-se com a de um mensageiro divino 
incumbido de ser portador de uma mensagem divina e torná- 
la compreensível, tanto narrando quanto explicando.
O Termo e suas Vertentes no N T
As várias aparições do termo hermeneuein e hermeneia ou um 
dos cognatos no Novo Testamento subjazem duas orienta- 
ções significativas do seu uso clássico e também do seu signi- 
ficado moderno. Entre eles destacamos:
a) diermenéusen (δίερμήνευσεν), “explicar ou interpretar” 
A interpretação como explicação enfatiza os aspectos 
discursivos da compreensão, em vez da sua dimensão expres- 
siva. Em Lucas 24.25-27, Jesus ressuscitado aparece aos discí- 
pulos: “E começando por Moisés e por todos os profetas, 
explicava-lhes (diermêneusen) o que dele se achava em todas 
as Escrituras”.
Jesus estava trazendo à compreensão dos discípulos o sig- 
nificado oculto do texto. Em vez de apenas discorrer sobre o 
texto, explicou-o e explicou-se a si mesmo em função deles.10
60
H e rm e n êu t ica Bíblica
Isto sugere que o significado tem a ver com o contexto; o 
processo explicativo fornece o palco da compreensão. Marcos 
(4.34) afirma que Cristo falava em parábolas, e muitas delas 
ficavam incógnitas aos seus ouvintes, mas Ele “explicava em 
particular aos seus próprios discípulos” (ARA). O texto não 
usa o termo diermêneusen, mas epilyõ (επιλύω), explicar, inter- 
pretar. Nota-se que o sentido prático de hermenêutica é ex- 
plicar, decodificar um significado, proporcionando a compre- 
ensão exata do seu sentido. Sem explicação não há atividade 
hermenêutica.
b) methermêneuõ (μεθερμηνεύω) “traduzir, tradução, dar 
significado”.
A tradução é uma forma especial do processo básico 
mterpretativo de tornar algo compreensível. Tornamos com- 
preensíveis o que é estrangeiro, estranho ou ininteligível. Tal 
como Hermes, o tradutor é um mediador entre um mundo e 
outro. A tradução torna-nos conscientes do fato de que a pró- 
pria língua contém uma visão que abarca o mundo, à qual o 
tradutor tem que ser sensível, mesmo quando traduz expres- 
sões individuais.
Os evangelistas por diversas vezes foram tradutores das 
expressões estranhas aos seus destinatários. A transliteração 
aramaica Talitka, Kcum significa (quer dizer ou traduz-se) “Me- 
nina, levanta” (Mc 5.41). Emanuel significa “Deus Conosco” 
(M t 1.23), Gólgcta, “Caveira” (M t 15.22), Messias, “Cristo” 
(Jo 1.41) ou Rabi, “Mestre” (v. 38), e assim por diante.
A tradução da Bíblia pode servir de ilustração aos proble- 
mas da tradução em geral. A Bíblia chega-nos de um mundo 
distante no tempo, espaço e língua. As variegadas traduções e 
toda sua terminologia técnica (versão, versão revista, versão
61
H e rm e n ê u t ic a fácil e deseom piicada
atualizada, revisão, transliteração, recensão, tradução idiomá- 
tica, tradução literal modificada, tradução dinâmica, paráfra- 
se) mostram a tentativa de mediar o hiato existente entre a 
língua receptora e o contexto histórico e social diferenciado 
entre os dois mundos.
CORRELAÇÃO E N T R E H ER M E N ÊU TIC A 
E O U T R A S CIÊNCIAS BÍBLICAS
As hermenêuticas bíblica e teológica valem-se dos resul- 
tados do estudo das seguintes disciplinas exegéticas:
Tratado da Inspiração
Discute os critérios pelos quais se distinguem os livros 
inspirados dos que não o são. E o meio pelo qual podemos 
precisar com certeza quais são realmente os livros inspirados e 
como distingui-los dos que não o são. O Tratado da Inspira- 
ção procura responder as seguintes perguntas:
a) O que é inspiração divina:
b) Existem livros inspirados:
c) Quais exatamente são os livros inspirados:
d) Que reivindicações contêm o AT e o N T sobre sua 
inspiração divina?
e) Quais são os critérios para que um livro seja conside- 
rado inspirado?
f) Qual a relação entre merrância, infalibilidade e veraci- 
dade das Escrituras?
Canônico
Canônico é o estudo que trata do reconhecimento, com- 
pilação, fixação e história do Cânon. N o estudo da canoni-
62
He rm e n êu r ic a Bíblica
cidade, estão também incluídos os conhecimentos sobre o 
processo de canonização. A canônica procura responder as 
seguintes perguntas, indispensáveis a um a hermenêutica 
escnturística e responsável:
a) Quais são verdadeiramente os livros possuídos de au- 
toridade normativa para a fé cristã, que possuem a inspiração 
divina?
b) Quais os critérios para distinguir entre um livro inspi- 
rado do não1־nspirado?
c) Como o presente Canon veio a ser fixado?
Crítica Textual
Também chamada de Baixa Crítica, estuda o texto dos 
manuscritos com o fim de descobrir e corrigir erros que neles 
ocorrem e restaurá-lo, até onde possível, às condições origi- 
nais, procurando determinar os textos originais mais exatos. 
A Crítica Textual, exclusivamente bíblica, ocupa-se mais preci- 
samente do estudo, história, e restauração dos manuscritos 
bíblicos. Graças a esta ciência podemos afirmar que algumas 
das atuais edições e traduções das Escrituras estão de acordo 
com os originais, ainda que estes tenham sido perdidos pouco 
depois de sua circulação. E uma ferramenta indispensável a 
todo exegeta. A Crítica Textual busca responder às seguintes 
perguntas:
a' Quais são os manuscritos que hoje possuímos em con- 
formidade com os autógrafos originais?
b'' Quais os erros que existem nos manuscritos bíblicos 
que hoje possuímos?
c) Como determinar os textos originais mais exatos?
63
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
d) Quais os tipos de vicissitudes enfrentadas pelos textos 
bíblicos?
Crítica Histórica
Crítica Histórica ou Alta Crítica se interessa por proble- 
mas relacionados à idade, autoria, fontes, valor histórico, com- 
posição, publicação de cada livro, circunstâncias (de tempo e 
lugar) em que foi escrito, conteúdo da obra, os textos mais 
significativos e os dados característicos de sua mensagem divi- 
na. Também verifica os relacionamentos históricos e a valida- 
de das asserções feitas pelos documentos. Essa disciplina tem 
sido usada principalmente por racionalistas germânicos, na 
tentativa de desmitologizar as Sagradas Escrituras. Porém, 
quando corretamente entendida, consiste no escrutínio cui- 
dadoso, à base de princípios aplicados a toda forma de litera- 
tura, dos fenômenos reais das Escrituras, objetivando deduzir 
dali as considerações escudadas nos fatos relativos à antigüi- 
dade, autoria, etc. Como ferramenta hermenêutica, a Crítica 
Histórica, procura responder as seguintes perguntas:
a) Quem foi o autor?
b) Quais são as fontes, valor histórico, composição e pu- 
blicação de cada livro sagrado?
c) Quais as circunstâncias de tempo e lugar em que foi 
escrito?
d) Qual o conteúdo da obra, os textos mais significativos 
e os dados característicos de sua mensagem divina?
e) Quais os relacionamentos históricos e a validade das 
asserções feitas pelos documentos?
64
H e rm e n êu t ica Bíblica
Divisão da Hermenêutica Sacra
A hermenêutica bíblica subdivide-se em geral e específi- 
ca. A geral estuda as regras que regem a interpretação do texto 
bíblico inteiro: análise histórico-cultural, léxico-sintática, 
contextual e teológica. A especial estuda as regras que se apli- 
cam a gêneros literários específicos, tais como figuras de lin- 
guagem, tipos, símbolos, numerologia, profecia e poesia.
A exegese católica costuma dividir a hermenêutica bíblica em:
a) Noemática:
L itera lm en te significa “p e rcep ção ”. A função da 
hermenêutica noemática é analisar os vários sentidos das Es- 
crituras. Pela noemática compreende-se que existe uma lacuna 
filosófica entre o autor e o tradutor atual, e que para transmi- 
tir validamente uma mensagem o tradutor precisa estar ciente 
tanto das similaridades como dos contrastes das cosmovisões. 
Uma das disciplinas da noemática é a fenomenologia, isto é, 
opiniões acerca da existência, vida, circunstância e da natureza 
do Universo.
b) Heurístico:
Literalmente significa “achar”. A função da hermenêutica 
heurística é ensinar as regras para encontrar os sentidos trata- 
dos pela noemática. Através de métodos analíticos procura 
descobrir as verdades expostas cientificamente. Atua também 
como disciplina auxiliar da História, estudando as “Pesquisas 
das Fontes”.
c) Proforística:
Literalmente significa “expor”. Ensina a maneira de ex- 
por o sentido encontrado.11
6 כ
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
Propósito da Hermenêutica
A hermenêutica propõe-se a auxiliar o obreiro e a qual- 
quer estudante da Bíblia, a usar métodos de interpretações 
confiáveis, além de estabelecer os princípios fundamentais da 
exegese bíblica, como base para o estudo do texto na sua di- 
versidade lingüística, cultural e histórica.
Além disso, podem os acrescentar, que por fim, a 
hermenêutica auxilia o estudante a analisar criticamente, com 
critérios objetivos, os métodos e resultados de um estudo ou 
exegese de qualquer texto da Bíblia.
Correlação entre Hermenêutica, Exegese e Eisegese
A hermenêutica precede a exegese. Esta, por sua vez, vale- 
se dos princípios, regras e métodos hermenêuticos em suas 
conclusões e investigações. O sentido literal do termo con- 
funde-se com o vocábulo hermenêutica, de sorte que, às ve- 
zes, se usa os dois termos simultaneamente. Exegese é a apli- 
cação dos princípios hermenêuticos para chegar a um enten- 
dimento correto sobre o texto. E o estudo do sentido literal 
do texto. Refere-se a idéia de que o intérprete está derivando 
o seu entendimento do texto, em vez de incutir no texto o seu 
entendimento. Enquanto a hermenêutica é a teoria da inter- 
pretação, a exegese é a prática. Teologicamente, a exegese é o 
capítulo da Teologia que estuda a interpretação, utilizando-se 
Se modos formais de explicação, que podem ser aplicados a 
alguma passagem das Escrituras a fim de compreender o seu 
sentido. Já a Eisegese, consiste em manipular o texto para di- 
zer o que ele não diz.
66
H e rm e n ê u t ic a Bíblica
Definição Etimológica de Exegese
A palavra exegese, do grego eksêgêsis (έξήγησις de έξηγέομαι 
eksêgeomaí, “explicar, interpretar, contar, descrever, relatar”] 
Lc 24.35; At 10.8; 15.12,14; 21.19), significa, segundo o con- 
texto, narrativa, explicação, interpretação. E a ciência da inter- 
pretação. O termo é formado pela aposição do final “sis” (σ ίς), 
expressivo de ação, ao tema verbal composto, ek+bêgeomai (έκ+ 
ήγέομαι), “tiro, extraio, conduzo fora”. A exegese é, pois, a 
extração dos pensamentos que assistiam ao escritor ao redigir 
determinado documento.12
Em João I .1 8, exegese é traduzido por “revelou”. O ter- 
mo έξηγήσατο ('eksegêsato) traduzido por “revelou” é um hapax 
legoumenon. A expressão eksegêsato, usada por João, é termo de 
cunho técnico para indicar um expositor. N a ARA é traduzi- 
do por “revelou”, na ARC por “o fez conhecer”, na Vulgata 
ípse enarravit, “aquele que expõe em porm enor”. Ao que parece, 
esse termo designa não o indivíduo, mas a função exercida por 
ele — arauto, proclamador, revelador. O eksegêsato confunde- 
se com o hermenêutes, arauto ou proclamador oficial. Dessa 
forma, o Logos aparece como o principal e oficial intérprete 
de Deus Pai, pois para os gregos, os eksegêtai eram os intér- 
pretes e expositores oficiais.
João descreveu no versículo dezessete dois expositores: 
Moisés, expositor da Lei no monte Smai, e Jesus, eksegêsato da 
graça e da verdade. Assim é descrita a superioridade do expo- 
sitor “da graça e da verdade” sobre o da “Lei”. Através do 
intérprete do Smai, a “graça e a verdade” ficaram obscuras, 
mas através de Cristo a * graça e a verdade” se manifestaram 
aos homens, pois Ele é “a verdadeira luz que, vinda ao mun- 
do, ilumina a todo homem” (v.9).
67
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
O termo sugere que a finalidade da hermenêutica é muito 
mais do que interpretação. Sua finalidade é guiar-nos a uma 
compreensão adequada de Deus através de Cristo, a Palavra 
Encarnada. As interpretações dos textos do Antigo e Novo 
Testamentos devem ser o efeito de uma preocupaçãoevange- 
lística e pastoral, mais do que técnica e documental. A 
hermenêutica deve ser um instrumento que conduza o ho- 
mem a Deus.
Segundo o Dr. George A. Barton, as cinco regras comuns 
à exegese são:
a) Interpretação Lexical;
b) Interpretação Sintática;
c) Interpretação Contextual;
d) Interpretação Histórica;
e) Interpretação Analógica.13
Exegese e Eisegese
Enquanto a exegese consiste em extrair o significado de 
um texto qualquer, mediante legítimos métodos de interpre- 
tação; a eisegese consiste em injetar em um texto, alguma coisa 
que o intérprete quer que esteja ali, mas que na verdade não 
faz parte do mesmo. Em última instância, quem usa a eisegese 
força o texto mediante várias manipulações, fazendo com que 
uma passagem diga o que na verdade não se acha lá. Contudo, 
J. Severino Croatto diverge do sentido protestante de eisegese. 
Segundo Croatto:
“Existe uma práxis, do crítico ou do seu contexto sócio- 
histórico, que indica o parâmetro da leitura. Não se ‘sai’ do 
texto (ex-egese, do grego ago, ‘conduzir/guiar’), trazendo um 
sentido puro nele recolhido, como um mergulhador traz um
68
H e rm e n ê u t ic a Bíblica
coral à superfície do mar ou como se tira um objeto do cofre. 
Antes, a partir de um horizonte vivencial novo que repercute 
significativamente na produção de sentido que é a leitura, ‘en- 
tra-se no texto (eis-egese(! com perguntas que nem sempre são 
as de seu autor’.14
N a hermenêutica do dr. Croatto, o autor é banido. O 
significado do texto não se encontra impingido no próprio 
texto, isto é, na intenção autoral, no contexto histórico, na 
audiência original e nem mesmo no texto, ao contrário, está 
na experiência existencial do intérprete — o leitor é quem 
determina o significado. Eisegese, segundo Croatto, substitui 
a exegese tradicional, onde o autor, suas idiossincrasias e o 
panorama social em que viveu são levados em consideração, 
constituindo-se bases para uma interpretação viável.
Função da Hermenêutica e da Exegese Bíblica
·Traduzir o texto original tornando-o compreensível em 
língua vernácula, sem sangrar o sentido primário.
• Compreender o sentido do texto dentro de seu ambien- 
te histórico-cultural e léxico-smtático;
• Explicar o verdadeiro sentido do texto, em todas as di- 
mensões possíveis (autor, audiência, condições sociais, religi- 
osas, etc.).
·Tornar a mensagem das Escrituras inteligível ao homem 
moderno.
• Conduzir-nos a Cristo.
Formas pelas quais o Intérprete Pratica a Eisegese
I ) Quando força o texto a dizer o que não diz:
O intérprete está cônscio de que a interpretação por ele 
asseverada não está condizente com o texto, ou então está
69
H e rm e n êu t ica fác i l e descom plícada
inconsciente quanto ao objetivo do autor ou propósito da obra. 
Entretanto, voluntária ou involuntariamente, manipula o tex- 
to a fim de que sua loquacidade possa ser aceita como princí- 
pio escriturístico.
Geralmente tal interpretação não possui qualquer justifi- 
cativa lexical, cultural, histórica ou teológica, pois se baseiam 
em pressupostos ou premissas previamente estabelecidos pelo 
intérprete.
Outro problema neste caso é o individualismo que embe- 
be alguns na leitura da Bíblia. O que se busca como interpre- 
tação “é o que as Escrituras significam para mim agora”, e 
não “o que elas significam em seu contexto”.
2) Quando ignora o contexto, sob pretexto ideológico:
Poucas atividades hermenêuticas têm sangrado tanto o
texto como o banimento do contexto. Ignorar o contexto é 
rejeitar deliberadamente o processo histórico que deu mar- 
gem ao texto. O intérprete, neste caso, não examina com a 
devida atenção os parágrafos pré e pós-texto, e não vincula 
um versículo ou passagem a um contexto remoto ou imediato.
Uma interpretação que ignora e contraria o contexto não 
deve ser admitida como exegese confiável. Existem pessoas 
que são capazes de banir conscientemente o contexto e o sen- 
tido do texto, simplesmente para forçar as Escrituras a con- 
formarem-se com suas ideologias.
3) Quando ignora a mensagem e o propósito principal 
do livro:
U m livro pode ser mais facilmente entendido quando se 
sabe qual é o propósito do autor e qual a mensagem que ele 
procura afirmar para seus contemporâneos. A mensagem do 
livro e o propósito do autor são “almas gêmeas” da interpre- 
tação bíblica.
70
H e rm e n ê u t ic a Bíblica
Os assuntos genéricos tratados pelo autor precisam ser 
observados a partir dos propósitos e da mensagem do autó- 
grafo. Quando ignoramos a mensagem principal e o propósi- 
to do livro, somos dispersivos na aplicação coerente do texto.
Os livros de Lucas ( L I -4), João (20.30, 31; 21.24,25), 
Atos (I) , I Coríntios (5.1; 6 .I ;7 .I ;8 .I , I2 .I ; I6 .I ) e muitos 
outros são melhor compreendidos quando conhecemos a in- 
tenção do autor, expresso no próprio autógrafo.
4) Quando não esclarece um texto à luz de outro:
Os textos obscuros devem ser entendidos à luz de outros 
e segundo o propósito e a mensagem do livro. Recorrer a ou- 
tro texto é reconhecer a unidade das Escrituras na correlação 
de idéias. Por vezes, pratica-se eisegese por ignorar a capaci- 
dade que as Escrituras têm de interpretar a si mesmo.
5) Quando põe a “revelação” acima da mensagem revelada:
Por vezes, aparecem indivíduos sangrando o texto sagra-
do sob o pretexto de que “... Deus revelou”, ou “... essa veio 
do céu”. Estes colocam a pseudo-revelação acima da mensa- 
gem revelada. Quando assim asseveram, procuram afirmar in- 
falibilidade à sua interpretação, pois Deus, que “revelou”, au- 
tor principal da Escrituras, não pode errar. Devemos ter o 
cuidado de não associar o nome de Deus a mentira, pois Ele 
não pode contradizer o que anteriormente, pelas Escrituras, 
havia afirmado.
6λ Quando está comprometido com um sistema ou ideologia:
Não são poucos os obstáculos que o exegeta encontra 
quando a interpretação das Escrituras afeta os cânones do sis- 
tema e as tradições de sua denominação. Por outro lado, até as 
ímpias religiões encontram justificativas bíblicas para ratificar 
as suas heresias. Kardec citava a Bíblia para defender a reen-
H e rm e n ê u t ic a tácil e cicscomplicada
camação! Muitos outros movimentos sectários torcem as Es- 
crituras. Utilizar as Escrituras para apologizar um sistema ou 
ideologia pode passar de uma eisegese para uma heresia aplica- 
da.
Pelo menos três razões podem ser apresentadas para ex- 
plicar essa atitude imprudente do intérprete.
Atitude Defensiva
Provavelmente, a atitude defensiva do intérprete em rela- 
ção às suas ideologias seja responsável pela prática da eisegese. 
Com o doutrinismo, usa o Livro Sagrado para ratificar suas 
doutrinas, em vez de confrontá-las com a Palavra de Deus. 
Ignora o caráter histórico e contextual da Bíblia e sobrepõe à 
ela a “revelação espiritual” das entrelinhas do texto. A inter- 
pretação histórica e contextual para esses não é suficiente, por 
isso, é necessária a espiritualização do texto.
Preconceito
H á muitos conceitos, costumes, interpretações e ensinos 
que procedem mais do preconceito, ignorância, e atitudes pré- 
concebidas do intérprete do que de uma exegese bíblica 
confiável.
Preferência ao M étodo Alegórico
O método alegórico de interpretação é um dos mais usa- 
dos por esses intérpretes. Desprezam o significado comum e 
ordinário das palavras e especulam sobre o sentido místico 
ou simbólico de cada uma delas, além, é claro, de ignorar a 
intenção autoral, inserindo no texto todo tipo de extravagân- 
cia ou fantasia.
72
H e rm e n êu t ica Bbíblica
O intérprete que usa métodos como o alegórico tende a 
rejeitar os demais métodos válidos de interpretação, e a única 
base mterpretativa que concebe é aquela que procede de sua 
própria imaginação folclórica.
“Se alguém ensina alguma outra doutrina e se não con- 
forma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com 
a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo e nada sabe...” 
( I Tm 6.3,4a).
Bloqueios a Interpretação das EscriturasA tarefa da hermenêutica e da exegese não é nada fácil. 
Quando alguém se propõe a interpretar as Escrituras, encon- 
tra diversos bloqueios a uma compreensão espontânea do sig- 
nificado primitivo da mensagem. Pede a boa ordem do racio- 
cimo que voltemos ao tópico anterior, movendo-nos nas im- 
plicações funcionais da hermenêutica e da exegese. Quando o 
intérprete inicia a empresa de “traduzir” o texto bíblico, ele 
inevitavelmente está lidando com uma língua e cultura distin- 
ta da sua; como agravante, há muitas cópias manuscritas dos 
textos originais que reverberam autenticidade, apesar de não 
concordarem com um outro manuscrito mais recente ou mais 
antigo do que este. Entre os tipos de bloqueios, destacaremos 
os mais comuns.
Podemos dividi-los em bloqueios internos e externos. Os 
bloqueios internos são os que deduzem do próprio objeto em 
si; os externos deduzem dos agentes em resposta a esse objeto.
Bloqueios Internos
Bloqueios Histórico-Culturais
As Escrituras foram escritas não para a nossa realidade e 
cultura, mas para uma outra eqüidistante da nossa a mais de
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
três milênios. Os conjuntos de fatos e mensagens expostos nas 
Sagradas Escrituras são produtos de uma evolução histórico- 
cultural vivenciados pelo hagiógrafo e seus contemporâneos. 
N ós não fomos os destinatários originais. A cosmovisão, com- 
preensão dos fenômenos físicos e naturais, existência e filoso- 
fia de vida dos hagiógrafos e de seus contemporâneos eram 
distintas da atual. Imagine se você voltasse alguns milênios de 
anos através de uma máquina do tempo e aparecesse na corte 
do rei Salomão, e no diálogo com ele, você falasse sobre 
internet, e-mail, luz elétrica, telefone, televisão, avião, viagens 
espaciais... Acredito que ele se surpreenderia com tanta cultu- 
ra e conhecimento, ainda que não compreendesse totalmente 
aquilo que está sendo dito. A recíproca é verdadeira em rela- 
ção à cultura dos povos bíblicos. Para compreendermos per- 
feitamente essa cultura, expressa principalmente através da lm- 
guagem, são necessárias introspecção e empatia com ela. As- 
sim como Salomão teria que se esforçar para compreender a 
tecnologia moderna, nós temos que depreender esforços para 
entender a cultura s emita.
Os povos próximos à época dos autógrafos assimilaram 
mais rapidamente o conteúdo das Escrituras por viverem na 
mesma cultura, ou próximos a ela, do que os intérpretes afas- 
tados por milênios de anos. Por vezes, os escritores da Antiga 
Aliança tiveram de explicar os costumes que por tempos 
imemoriais já haviam caído em desuso em Israel (R t 4.7). Os 
exegetas atuais precisam também transpor a barreira históri- 
co-cultural.
Bloqueios Lingüísticos
Nossas Bíblias não foram originalmente escritas em nosso 
idioma. Isto é um fato. Tanto a grafia hebraica quanto a grega
74
H e rm e n ê u t ic a Bíblica
são distintas da nossa. A Bíblia foi escrita nos idiomas hebraico, 
aramaico e grego, além de possuir diversos vocábulos derivados 
de outros idiomas do ramo semita. Quando os hagiógrafos se 
comunicaram, fizeram-no pela palavra falada e escrita. Para que 
suas mensagens fossem entendidas, eles precisaram, no mínimo, 
coordenar sua fala e escrita de acordo com a gramática vigente. 
Por sua vez, essa gramática e a língua pelas quais as Escrituras 
foram produzidas possuem sintaxe, morfologia, fonemas, en- 
fim, estruturas diferentes da nossa. E quase impossível, àqueles 
que não possuem conhecimento das línguas originais, entende- 
rem as Escrituras no seu idioma de origem.
Bloqueios Textuais
N ão perceptivas a qualquer intérprete, as diferenças de 
cópias e versões tornaram necessária a árdua atividade dos crí- 
ticos textuais.
N enhum dos autógrafos dos escritores sagrados chegou 
até nós; o que possuímos são cópias manuscritas. Apesar da 
meticulosidade dos escribas, o texto sagrado sofreu algumas 
alterações ao ser repetidamente copiado, porém não invali- 
dam o conjunto.
Versões --------- abismo textual ------- N T ----- AT
Diversas traduções seguindo Autógrafos originais perdidos,
manuscritos distintos: Cópias manuscritas: textos
textus receptus; texto crítico massorético, bizantino,
ocidental e alexandrino
Crítica Textual
O propósito fundamental da Crítica Textual é reconstruir 
com toda perfeição possível o texto bíblico, expurgando-o de
75
H e rm e n êu t ica tácil e descomplicada
qualquer alteração introduzida por erro do escriba, seja um equi- 
voco de d1tografial\ fusão16, ou outro qualquer que costumam 
achar-se na transmissão de obras manuscritas plunsseculares. 
Tal texto, reconstruído à base dos critérios da crítica textual, 
chama-se texto crítico. A ARA é baseada em tais textos.
Entre os vários exemplos dessa ciência, podemos citar 
como exemplo o texto de Mateus 6.13 (ARA), onde aparece 
a expressão entre colchetes: “(pois teu é o reino, o poder e a 
glória para sempre. Amém]”. N a ARC os colchetes são omiti- 
dos e na N V I aparecem no rodapé. Já em Marcos 16.9,20, 
tanto a ARA quanto a ARC, não trazem qualquer referência à 
omissão dos textos (vv.9-20), enquanto a N V I, no rodapé, 
afirma que “alguns manuscritos antigos omitem os versículos 
9-20; outros manuscritos apresentam finais diferentes do evan- 
gelho de Marcos”.17 Estes e muitos outros postos em colche- 
tes não se encontram nos melhores manuscritos segundo vári- 
os críticos textuais, mas foram adotados por Almeida (1 6 8 1). 
N a ARC encontramos diversas palavras em itálico que não se 
encontram no texto hebraico ou grego, mas que foram adotados 
pelos tradutores para que o texto tivesse sentido.18
U m outro exemplo pode ser encontrado em Mateus 12.40. 
N a ARC diz que “como Jonas esteve três dias e três noites no 
ventre da baleia...”, enquanto a ARA traduz por “ no ventre 
do grande peixe”. As duas traduções comparadas parecem 
contradizer-se. Jonas esteve no ventre de um mamífero ou no 
ventre de um grande peixe? O texto original hebraico em 
Jonas I .1 7, é “dâggâdhôl”, literalmente “peixe enorme”. Quan- 
do Almeida traduziu o termo por “baleia”, fez provavelmente 
fundamentado no aspecto fenomenológico ou natural das 
coisas, mas do que na consistência científica ou lingüística,
76
H e rm e n êu t ica Bíblica
visto que para o tradutor, um “peixe grande ou enorme”, en- 
quadrava-se melhor na descrição de uma baleia do que em 
outro ser marinho qualquer. O próprio termo, no grego k‘tous, 
significa “grande peixe” e não “baleia”. Pelo que a tradução 
da ARA é mais correta.19
ARAARCTexto Hebraico Texto Grego
“Porque assim 
como esteve 
Jonas três dias 
e três noites 
no ventre do 
grande peixe .’. ’
..pois, como 
Jonas esteve 
três dias e três 
noites no ventre 
da baleia.!’
“...en lonas em 
te koilia tou 
kêtous
treis hêmera kai 
treis núnktas...”
“w av'm am Ύ H W H 
dâg gâdhôl libhlô'” 
"'eth-Yômah waig'hi 
bim 'ey hãddâg 
shdôshâh 
vâmím ushclôshâh 
leylôth”
O termo grego agápe, que é traduzido pela ARC como 
“caridade”, é um outro exemplo de como a crítica textual pode 
ajudar ao intérprete a transpor os abismos comuns à exegese. 
Em I Coríntios 13 0 termo aparece nove vezes, sempre tradu- 
zido pela ARC como “caridade”, não representando o senti- 
do do vocábulo original, enquanto a ARA, neste caso, conci- 
11a-se com o sentido comum ao termo, traduzmdo-o por amor.
Espero que o leitor compreenda tratar-se de três breves e 
fáceis exemplos, à guisa de ilustração de alguns aspectos do 
labor da crítica textual. N ão desejamos, ser simplistas quanto 
as implicações conflituosas dos problemas elencados, mas a 
complexidade do tema, não nos permite argüi-los acurada- 
mente nesse breve esboco.
Embora redundante, creio ser necessário sublinhar que 
cada tradução ou versão das Escrituras, protestante ou não, 
dão à estampa de que usam os manuscritos mais antigos e
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
mais corretos ( “vetustussimis simul et emendatissimis”'), apesar de 
diferirem em muitos aspectostextuais um dos outros por se- 
guirem manuscritos distintos. O exegeta, cônscio desta bar- 
reira fará uso das diversas versões, além de se exercitar por 
adquirir cada vez mais perícia tanto nas línguas bíblicas quan- 
to nos cânones que regem a crítica textual.
Frontispício de Algumas Versões Bíblicas
Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil
Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original
Imprensa Bíblica Brasileira
Versão Revisada da Tradução de João Ferreira de Almeida de acordo 
com os Melhores Textos em Hebraico e Grego
Edições Paulinas e Edições Loyola
A Bíblia TEB com o Antigo e o Novo Testamento traduzidos dos 
textos originais hebraico e grego com introduções, notas essenciais e 
glossários nova edição revista e corrigida
Sociedade Bíblica do Brasil
Bíblia Sagrada Traduzida em português por João Ferreira de Almeida 
com referências e algumas variantes 
Edição Revista e Corrigida Edição de 1995
Temos diversas cópias e versões das Escrituras Sagradas20, 
e por meio do exercício dos críticos textuais, podemos assegu- 
rar com toda clareza a confiabilidade das Escrituras vetero e 
neotestamentárias, e afirmar que são exatamente idênticas aos 
autógrafos originais.
Por mais de dois mil anos as cópias manuscritas dos ori- 
ginais foram transmitidas com a máxima exatidão. Antes da 
descoberta dos rolos do mar M orto, discutia-se muito a
78
H e rm e n ê u t ic a Bíblica
confiabilidade dos textos sagrados, se as sucessivas cópias ha- 
viam alterado profundamente o sentido original. Porém, ao 
ser descoberto o rolo de Isaías, escrito em 125 a.C., desco- 
briu-se que esse texto corresponde ao mesmo texto massorético 
de Isaías que data de 9 16 (A.D.). O texto preparado quase mil 
anos antes era idêntico ao texto que hoje possuímos, deixando 
dúvidas apenas sobre dezessete letras que em nada alteram o 
sentido primário.
Isto posto, infiro que as relações da crítica textual com a 
exegese e a hermenêutica fundem-se grandemente, tornando a 
empresa de interpretar não só desafiante e exaustiva, mas tam- 
bém com pensadora , pois através dessas três ciências 
indissociáveis, o sentido primário do texto sagrado é entregue 
na ação evangelística e pastoral, tal qual pretendido pelo Espí- 
rito da inspiração escriturística.
Casos conflitantes pelo uso de fontes manuscritas distin- 
tas tal qual Marcos 9.24, não devem diminuir a credibilidade 
na autenticidade das Escrituras. Os que seguem o Texto Ma- 
joritário (TM aj), por exemplo, criticam os que usam o Texto 
Crítico, simplesmente porque este não inclui o vocativo “Se- 
nhor” no texto.
Simplifiquemos este exemplo citando especificamente os 
textos.
ARC
“E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: 
Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade.”
ARA
“E imediatamente o pai do menino exclamou [com lágri- 
mas]: Eu creio! Ajuda na minha falta de fé!”
79
H e rm e n êu t ica tácil e descom plicada
NVI
“Imediatamente o pai do menino exclamou: Creio, ajuda- 
me a vencer a minha incredulidade.”
TEB
“Logo o pai do menino exclamou: Eu Creio! Vem em 
auxílio da minha falta de fé!”
Verificando cada uma das traduções assinaladas observa- 
mos uma distinção e correspondência:
A ARC, seguindo oTextus Receptus, inclui o vocativo “Se- 
nhor”, com a variante de tratar-se de “senhor” no sentido de 
divindade, e não de respeito comum. Isso salienta que o pai 
tinha conhecimento da divindade de Cristo, o que é discutível.
A ARA, N V I e a TEB omitem o vocativo “Senhor”. 
Almeida Revista e Atualizada acrescenta, entre colchetes, a 
nota explicativa de que o pai do menino exclamou21, “com 
lágrimas”: termo que corresponde aos manuscritos A (2) 
C (3), D E F G H K M N SU V X , Gamma, Delta e Fam Pi, mas 
também é omitida pelos manuscritos mais antigos do evange- 
lho de Marcos: P (45), Aleph, A (I), BC (I)D L W , 28,700. 
O que sugere que o texto de Marcos não continha essas pala- 
vras, que foram acrescidas por algum escriba a fim de aumen- 
tar o efeito dramático.22
Bloqueios Externos
A Atividade Maligna no Mundo
Segundo as Escrituras “o deus deste século cegou o en- 
tendimento dos incrédulos para que lhes não resplandeça a 
luz do evangelho” (2 Co 4.4). Percebe-se uma atividade ma­
80
H e rm e n êu t ica Bíblica
ligna com intuito de que o Evangelho não floresça na mente e 
no coração dos incrédulos. Além de procurar obscurecer a 
mensagem do evangelho, envia seus ministros malévolos para 
perverter a sã doutrina (2 T m 4.1), quando não, falsos minis- 
tros atestando infalibilidade procuram distorcer o evangelho 
de Cristo, “por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a 
tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e 
não segundo Cristo” (Cl 2.8,22; E f 4.14).
A Depravação Mental a que os Homens Ficaram Sujeitos 
após a Queda
Em decorrência da queda, o homem não perdeu a facul- 
dade intelectual; entretanto, o pecado a dilacerou terrivelmen- 
te, e através do pecado, os homens adquiriram uma mente 
depravada em relação a Deus, a moral e a si mesmo (Rm 1.28ss; 
T t L I 5). Pela corrupção de suas mentes não têm capacidade, 
por mais eruditos que sejam, de divisar os assuntos espiritu- 
ais, por parecerem irracionais e loucura ( I Co 2.14). Por ou- 
tro lado, após a regeneração, o homem recebe profunda trans- 
formação em sua mente ( I Co 2.14-16), que é operado pelo 
Espírito Santo (Jo 16.8-10) através da Palavra pregada ou 
ensinada (Rm 10.13-21).
Atitudes e Qualidades do Intérprete 
Maturidade Espiritual
Deve o hermeneuta possuir qualidades espirituais, prin- 
cipalmente o temor e a reverência ao Espírito Santo (Pv 1.7). 
O “homem espiritual”, segundo Paulo, é o crente que tem 
capacidade de julgar, de discernir, de compreender todas as 
verdades espirituais. O escritor aos Hebreus assevera que o 
homem espiritual é “adulto, o qual tem, pela prática, a fa­
81
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
culdade exercitada para discernir tanto o bem como o mal” 
(H b 5.12-14; c f I Co 3.1-3). Assim como o homem espiri- 
tual contrasta com o “homem natural”, o homem maduro é a 
antítese do cristão menino. Enquanto o cristão tem suas fa- 
culdades exercitadas pela prática e alimenta-se de alimentos 
sólidos, os “meninos” “ainda necessitais de que se vos torne a 
ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de 
Deus”. Sua dieta é a base de leite e não de alimentos sólidos. 
O hermeneuta possui suas faculdades “dilatadas” por Cristo 
(Lc 24.44), para compreender “as coisas do Espírito de Deus” 
( I Co 2.14).
Comunhão com o Espírito Santo
O homem natural, por conhecimentos de filologia (estu- 
do das línguas, idiomas), pode extrair significados dos mais 
aplicáveis aos vernáculos bíblicos, mas entender as realidades 
espirituais é facultado apenas àqueles que têm a mente de Cris- 
to. Daí a necessidade do hermeneuta cristão ser, acima de tudo, 
nascido de novo (Jo 3.5,6).
O intérprete deve estar cheio do Espírito Santo e guiado 
por Ele. Somente o crente pode sondar o verdadeiro significa- 
do das Escrituras, porque o mesmo Espírito que a inspirou 
realiza no intérprete uma obra de iluminação que lhe permite 
chegar, através do texto, ao pensamento de Deus ( I Co 2.10). 
A carência de sensibilidade com o Espírito Santo incapacita o 
exegeta para captar com profundidade o significado das pas- 
sagens bíblicas. O crente precisa de uma congenialidade espi- 
ritual ÇGeisteverwandschaft) com o Espírito Santo.
82
H e rm e n êu t ica Bíblica
A mente, os sentimentos e a vontade do hermeneuta de- 
vem estar abertos para a ação espiritual do Espírito Santo.
Oração
T odo trabalho exegético deve ser acompanhado com ora- 
ção. N o campo da hermenêutica tem perfeita aplicação o 
aforismo bene est bene stuiuisse (orar bem e estudar bem). O 
exegeta, mais que qualquer leitor da Bíblia, deveria fazer a 
mesma súplica do salmista: “Desvenda os meus olhos para 
que veja as maravilhas de tua lei” (SI 119.18).
Um dos nossos irmãos em Cristo, quando ainda era um 
novo convertido,leu a epístola de Paulo a Timóteo (4.2) e não 
compreendeu o texto da ARC que diz: “tendo cauterizado a 
sua própria consciência”. Já passava das 24:00 horas, quando 
ele, cansado (pois às 4:00 horas da manhã levantaria para o 
trabalho diário), disse: “Espírito Santo eu não entendo o que é 
‘consciência cauterizada’. Ensina-me”. Ao acordar ouviu o Es- 
pírito Santo falando mansamente ao seu ouvido: “Consciência 
cauterizada é o estado insensível da alma que não aceita mais o 
meu apelo em sua consciência”. Passado alguns anos, quando 
ele terminava o seminário, compreendeu que se tratava de uma 
figura de linguagem, e que o texto pode ser interpretado literal- 
mente como “cuja consciência foi marcada com ferro em bra- 
sa”, isto é cicatrizada, o que eqüivale a dizer que está insensível. 
Tal qual a mensagem do Espírito Santo para ele.
É Inimigo da Ociosidade Bíblica
Em Hebreus 5 .11 e 6.12 o escritor chama os cristãos 
hebreus de “tardios em ouvir” e “indolentes”. Essas duas ex- 
pressões são a tradução de um termo grego ( notbrói) usado
83
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
somente nestas duas passagens no Novo Testamento. O vocá- 
bulo literalmente significa “preguiçosos”. Por serem indolen- 
tes, deixaram de receber profundas instruções espirituais (v.I I). 
Pois devido ao tempo de fé que possuíam (cerca de trinta 
anos), nunca se preocuparam com o estudo sério da Palavra 
de Deus. A preguiça era tanta que até o que sabiam haviam 
esquecido. Em vez de haver progresso: “Quando devíeis ser 
mestres” (v. 12), houve regressão: “Tendes, novamente, neces- 
sidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os prmcípi- 
os elementares dos oráculos de Deus”; a estagnação seria mais 
aceitável. A inanição era tão crônica que o escritor desabafa: 
“Vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento 
sólido” (5.12). Eles não tinham condições de seguir uma ex- 
planação profunda das Escrituras porque o raciocínio deles 
era semelhante ao de uma criança. O mais notável é que eles 
não eram preguiçosos, mas tornaram-se (v 05 tornastes).
Mente Sã e Equilibrada
O hermeneuta deve evitar o raciocínio defeituoso e a ex- 
travagância da imaginação, a perversão do raciocínio e as idéi- 
as vagas. O intérprete deve ser capaz de perceber rapidamente 
o que uma passagem ensina e não ensina, assim como obser- 
var sua verdadeira tendência. O intérprete deve gozar do po- 
der de observar o pensamento do autor e notar, de uma só 
vez, toda força e significado. Essa rapidez de percepção deve 
ser unida a um entendimento, não somente do sentido das 
palavras, como também do propósito do argumento.
Ao tratar de explicar a Epístola aos Gálatas, com uma 
percepção rápida, se observará o caráter apologético dos pri­
84
H e rm e n êu t ica Bíblica
meiros capítulos, e a veemente audácia de Paulo ao afirmar 
sua autoridade divina e seu apostolado e as conseqüências de 
sua pretensão na epístola. Notará, também, com quanta força 
os incidentes pessoais da vida e do ministério de Paulo entram 
em seu argumento.23
É Apreciador das Línguas Originais
O hermeneuta reconhece o valor das línguas sagradas. 
Sabe que uma consistente extração da verdade depende, a cer- 
to ponto, do conhecimento das línguas bíblicas, sua gramáti- 
ca e ídiotismos. Não somente isto, mas sabe que uma intuição 
verdadeira com a cultura e o gênio característicos da lingua- 
gem do hagiógrafo propiciará riquezas que somente o conhe- 
cimento da língua original não favorece. Pio XII em Divino 
ajflante Spiritu, deixou uma recomendação aos exegetas católi- 
cos que deveria ser observada pelos estudiosos das Sagradas 
Escrituras.
“Hoje são tantos os meios para aprender as línguas bíblicas 
que o intérprete das Escrituras não pode fechar-se ao acesso 
aos textos originais, não pode atualmente evitar a tacha de 
mconsideração e indolência. Por isso trabalhe por adquirir 
uma perícia cada vez maior das línguas bíblicas e também dos 
outros idiomas orientais, e apóie a sua interpretação em todos 
os recursos submimstrados por toda espécie de filologia.”24
Possui Cultura Geral
N ão somente o conhecimento da gramática e do ver- 
náculo de sua língua pátria, mas também da história dos 
povos bíblicos, da geografia palestina, arqueologia do O ri- 
ente M édio, etc...
à5
H e rm e n ê u t ic a fácil e d escom phcada
SINOPSE
O term o “herm enêu tica” procede do verbo grego 
hermeneuein, usualmente traduzido por interpretar, e do subs- 
tantivo hermenda, que significa interpretação. Tanto o verbo 
quanto o substantivo podem significar “traduzir”, “tradução”, 
ou “explicar”, “explicação”.
Hermenêutica é a ciência que se objetiva a formular regras 
gerais e específicas de interpretação de qualquer texto literário.
Exegese, do grego eksêgêsis, significa, segundo o contexto, 
narrativa, explicação, interpretação. E a ciência da interpretação.
Enquanto a exegese consiste em extrair o significado de 
um texto qualquer, mediante legítimos métodos de mterpre- 
tação, a eisegese consiste em injetar em um texto alguma coisa 
que o intérprete quer que esteja ali, mas que na verdade não 
faz parte do mesmo.
As formas pelas quais o intérprete pratica a eisegese são: 
quando força o texto a dizer o que não diz; quando ignora o 
contexto sob pretexto ideológico; quando não esclarece um 
texto à luz de outro; quando está comprometido com um sis- 
tema ou ideologia.
Os principais bloqueios à interpretação das Escrituras são: 
histórico-culturais; lingüísticos; textuais; a atividade maligna 
no mundo; a depravação mental a que os homens ficaram su- 
jeitos após a queda.
As atitudes e qualidade apreciáveis no intérprete das Es- 
crituras são: maturidade espiritual, comunhão com o Espírito 
Santo, oração, inimigo da ociosidade bíblica, mente sã e equi- 
librada, apreciador das línguas originais, cultura geral.
O propósito fundamental da Crítica Textual é recons- 
truir com toda perfeição possível o texto bíblico, expurgando-
H e rm e n êu t ica Bíblica
o de qualquer alteração introduzida por erro do escriba, seja 
um equívoco de ditografia, fusão, ou outro qualquer que cos- 
tum am achar-se na transm issão de obras m anuscritas 
plurisseculares.
Pelos menos três razões podem ser apresentadas para ex- 
plicar a atitude imprudente de se ignorar o contexto: atitude 
defensiva, preconceito, preferência ao método alegórico.
As principais funções da hermenêutica e da exegese bíbli- 
ca são: traduzir o texto original tornando-o compreensível em 
lín gua vernácula; compreender o sentido do texto dentro de 
seu ambiente histórico-cultural e léxico-sintático; explicar o 
verdadeiro sentido do texto em todas as dimensões possíveis; 
tornar a mensagem das Escrituras inteligível ao homem mo- 
derno; conduzir-nos a Cristo.
TR A BA L H A N D O C O M T E X T O 
Hermenêutica Fundamental
A hermenêutica presta-se a formular regras gerais de in- 
terpretação de textos bíblicos. Deve-se observar, entretanto, 
que tipos diferentes de literatura bíblica requerem metodologias 
específicas para cada um deles. Isto sugere que os métodos 
que se empregam na interpretação das parábolas serão dife- 
rentes daqueles que se empregam na interpretação da poesia 
hebraica ou numa parte das epístolas de Paulo. Os poucos 
princípios gerais que podem ser universalmente aplicados a 
todos os tipos de literatura bíblica tendem a ser tão básicos 
que ficam óbvios, por exemplo: a necessidade de prestar aten- 
ção ao contexto lingüístico, à situação histórica, ao gênero 
literário e ao propósito do autor.
87
H e rm e n êu t ica tácil e descomplicada
Por causa do caráter multifacetado da Bíblia, sua inter- 
pretação adota uma variedade de formas. Os documentos bí- 
blicos são antigos, escritos em hebraico, aramaico e grego, em 
vários períodos entre 1200 a.C. (ou antes) e 100 d.C., refle- 
tindo vários contextos históricos e culturais. Uma exigência 
básica para a compreensão destes documentos é sua mterpre- 
tação histórico-gramatical, ou exegese — ressaltandoaquilo 
que os escritores pretendiam transmitir e aquilo que se espe- 
rava que os leitores entendessem.
ELWELL, Walter A., editor, Enciclopédia Historico-Teológica 
da Igreja Cristã, Vida Nova; v.2, p. 338-342.
EXERCÍCIOS
1. Defina e conceitue hermenêutica.
2. Diferencie hermenêutica, exegese e eisegese.
3. Quais são os principais bloqueios à interpretação cor- 
reta das Escrituras?
4. De que forma o intérprete pratica a eisegese?
5. Quais as principais qualidades do intérprete?
Bibli-Holmes
Ajude nosso detetive Bibli-Holmes a investigar as princi- 
pais práticas eisegéticas aplicadas em nossas reuniões de pre- 
gaçao e ensino das Escrituras.
LEITURAS E LIVROS PARA APROFUNDAMENTO
M ARTÍNEZ, José M. Hermenêutica Bíblica, CLIE (p. 15-21);
BLEICHER, Josef. Hermenêutica Contemporânea, Edições 70 
(p. 13-18, 23-30);
BROW N, Colin, editor, Dicionário Internacional de Teologia do 
Novo Testamento, Vida Nova, v.2 (p. 180-191);
PALMER, Richard, Hermenêutica, Edições 70 (p. 45-50).
88
H e rm e n êu t ica Bíblica
NO TA S
1 Do grego μετα + όδός literalmente “caminho a seguir”.
 Sobre os diversos métodos e abordagens confira a obra ־
da Pontifícia Comissão Bíblica, A Interpretação da Bíblia na Igreja, 
Paulinas, 1994. Sobre o método histórico-crítico, Odete 
Mamville, A Bíblia à L u z da História —guia de exegese histórico-crítica, 
Paulinas, 1999; Cássio M. Dias da Silva, Metodologia de Exegese 
Bíblica, Paulinas, 2000. U we W E G N E R , Exegese do Novo Testa- 
mento, Manual de Metodologia, Smodal, Paulus, 1998. Para o mé- 
todo estruturalista, Vários autores, Iniciação à Análise Estrutural, 
C adernos Bíblicos —23, Paulinas, 1983; Paul Ricoeur, 
Hermenêutica y Estructuralísmo, Ediciones Megápolis, 1975; 
Horácio Simian-Yofre (Coord.), Metodologia do Antigo Testamento, 
Bíblica Loyola, 28, p. 109-122.
Richard E. Palmer, Hermenêutica, O '־־ Saber da Filosofia, 
1969, p. 44. Palmer foi orientado pelos três maiores teóricos 
hermenêuticos de nosso tempo: Professor Gerhard Ebeling 
no Institut f i i r Hermeneutik, na Universidade de Zurique, por 
Hans - Georg Gadamer em Heidelberg, e M artin Heidegger.
’ Richard E. Palmer, Hermenêutica, O Saber da Filosofia, 
1969, p. 43. As outras duas definições são: Uma Fenomenologia 
da Existência e da Compreensão Existencial e Hermenêutica como um 
Sistema de Interpretação; Recuperação de Sentido Versus Iconoclasmo.
' Id. Ibidem, 1969, p. 44.
6 Op.cit., p. 45. Palmer cita a divisão apresentada por 
Gerhard Ebeling. Palmer foi orientado pelos três maiores teó- 
ricos hermenêuticos de nosso tempo: Professor Gerhard 
Ebeling no Institut für Hermeneutik, na Universidade de Z u­
89
H e rm e n êu t ica fácil e d escom phcada
rique, por Hans - Georg Gadamer em Heidelberg, e M artin 
Heidegger.
' R. Laird Harris (et alii(), Dicionário Internacional de Teologia 
do Antigo Testamento, 1998, p. 1248. Os termos gregos para her- 
menêutica são: èpp.€V׳e ía , “tradução” ou “interpretação”; 
έρμηνεύω, “explicar, interpretar” ;Ερμηνευτής, “tradutor”. 
Os termos são encontrados nos textos de I Co 12.10; Lc 
24.27 e I Co I . I I .
8 Cf. J. Comby; P. Lemonon, Vida e Religiões no Império Roma- 
no, Documentos do M undo da Bíblia-4,1988, p. 8-27. Para 
informações sobre a situação religiosa e social do mundo do 
NT, Eduardo Arens, Asia Menor nos Tempos de Paulo; Lucas e João, 
Paulus, 1997.
9 Palmer, id.Ibidem, 1969, p. 34.
10 Id. Ibidem, 1969, p. 34.
11 Teodorico Ballarine, Introdução à Bíblia, 1968, p. 209
12 W. D. Chamberlain, Gramática Lxegética do Grego Neo-Tes- 
tamento, 1989, p. 25.
13 Citado por Chamberlain, op.cit., p. 25.
14 Cf. Hermenêutica Bíblica — Para uma teoria da leitura como 
produção de significado - Estudos Bíblicos Teológicos A T e N T 5,
1985, p. 59.
15 Escrever duas vezes o que se deveria ser escrito apenas 
uma vez.
16 Combinação da última letra da palavra anterior com a 
primeira do termo seguinte.
17 Informações detalhadas sobre o problema textual dos 
doze últimos versículos de Marcos o leitor deve consultar 
Russel N orm an Champlin, O Novo Testamento Interpretado Versículo 
por Versículo, VI I, 1995, p. 800-2. Sobre Crítica Textual, Wil-
90
H e rm e n ê u t ic a Bíblica
son Paroschi, Crítica Textual do Novo Testamento, SP, Vida Nova, 
1993, ou ainda, B. P. Bittencourt, O Novo Testamento: metodologia 
da pesquisa textual, RJ, Juerp, 1993. Ver também Champlin, op. 
cit., p. 86-130.
18 Cf. o Prefácio da ARC [1995], p. 5.
19 B. P. Bittencourt, O Novo Testamento: metodologia da pesquisa 
textual, 1993, p. 190.
20 Acrescentando os manuscritos unciais, minúsculos, 
lecionários, papiros e outros, temos apenas para o NT, mais 
de 5.000 manuscritos, acrescentando os da Vulgata e outras 
versões, perfazem mais de 24.000 manuscritos. Comparado a 
Ilíada de Homero, que possui apenas 643 manuscritos, as Es- 
crituras são mais confiáveis pelo testemunho textual do que 
qualquer outro manuscrito antigo.
21 Literalmente gritou: κραζας particípio aoristo de κράζω, 
gritar, clamar (em alguns casos clamar ininteligivelmente). Confi- 
ra, por exemplo, www.sbibrasil.org.br/nvi2.htm.
22 Cf. Champlm, 1995, op. cit. p. 737; os textos de The Greek 
Text VnderlyingTke English Authorised Version of 1611 daTrinitarian 
Bible Society e The Greek N ew Testament, Kurt Aland (et alii), 
United Bible Societies, The Greek New Testament According to the 
Majority Text, Zane C. Hodges & Arthur L. Farstad, Thom as 
Nelson Publishers. Consulte Esdras Costa Bentho, Hermenêutica 
Contextual, 1999, p. 37.
 ,Confira José M. Martinez, Hermenêutica Bíblica, 1987 '־־2
p. 27-36.
24 Citado por P. Teodorico Ballarini, Introdução à Bíblia, 
1969, p. 201.
91
http://www.sbibrasil.org.br/nvi2.htm
C A PÍT U L O 4
cHzttneheutica /Kateilaí
A Hermenêutica como disciplina teológica contínua 
árdua e espinhosa. Todos os docentes e alunos que 
se prestam a essa íngreme e escarpa trilha precisam 
a todo tempo de auxílios exegétícos dos mais 
substanciais\ e que perfilem sohre a moderna 
e clássica literatura auxiliar a interpretação bíblica.
N a fa lta de saber qual é 0 caminho, caminhar 
por trilhas seguras ainda continua sendo a melhor 
fo rm a de se seguir à frente.
Chaves e Concordâncias Bíblicas
Concordância bíblica é uma compilação em ordem alfabé- 
tica, de termos bíblicos ou de conceitos (matérias) bíblicos, que 
remete às passagens da Bíblia onde ocorre o respectivo termo 
ou conceito. Chama-se Concordância porque as passagens 
bíblicas que contém a mesma palavra ou a mesma idéia são “con- 
cordantes” entre si, e porque a concordância ajuda a encontra- 
las, e mesmo as aduz já reunidas. O primeiro a idealizar uma 
obra deste gênero foi o cardeal dominicano Hugo de S. Caro, 
que em 1230, compilou uma concordância verbal da Vulgata.
H e rm e n ê u t ic a fác i l e descom plicada
As concordâncias são muito úteis para a exegese, pois fornecem 
as passagens paralelas, cujo conhecimento ajuda a interpretar o 
sagrado texto; são úteis também para a pregação.
Objetivos das Concordâncias Bíblicas
Os principais objetivos das Concordâncias Bíblicas são:
a) Localizar passagens. Suponhamos que alguém se re- 
corde de que a Bíblia em certo lugar fala do “encontrar-se 
com Deus”. Mas onde? Basta procurar o verbete “encontrar” 
e, passando os olhos sobre a lista de passagens sob este verbe- 
te, logo notará Amós 4.12 e lerá “Israel, para te encontrares 
com”. Consultando o texto da Bíblia, terá a oração: “Prepara- 
te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus”. Esta passa- 
gem por exemplo, aparece quatro vezes na Concordância (CB- 
ARA-SB) caso o leitor prefira Israel, preparar e Deus. Se houver 
interesse em saber se em outros lugares a Bíblia menciona “en- 
contro com Deus”, a Concordância imediatamente cita I 
Tessalonicenses 4 .17.1
b) Auxiliar o leitor da Bíblia no estudo de assuntos ou 
tópicos bíblicos. Tomemos como exemplo o verbo “salvar” 
tão freqüente na Bíblia, e estudemos os seus usos e sua signifi- 
cação.O leitor terá, imediatamente, a surpresa de grande lista 
de passagens citadas; e, juntando a este verbete Salvação e Salva- 
dor, terá diante de si várias páginas, todas referentes a “salvar”. 
Logo em seguida notará o leitor que em toda Bíblia, quando 
se trata do sentido passivo do verbo “salvar”, foi usada, quase 
sem exceção, a forma “ser salvo” e não “salvar-se”, pois esta, 
ainda que expressão popular, é ambígua, tendo também o sen- 
tido reflexivo, salvar-se a si mesmo (cf. E f 2.8).2
94
H e rm e n êu t ica M ateria l
Tip os de Concordâncias Bíblicas
H á dois tipos de concordâncias:
a) As verbais: relacionam palavras ( verbum), são chamadas 
também de Chaves Bíblicas; algumas são encontradas nas par- 
tes finais de algumas Bíblias. Podemos afirmar que as referên- 
cias encontradas nos rodapés ou dispostas em colunas em al- 
gumas Bíblias são formas abreviadas de chaves bíblicas. A im- 
portância dessas chaves é que elas são correlativas à versão 
bíblica da qual compõem.
b) Concordâncias reais:
Estas, ao contrário de somente palavras arrolam também 
idéias, são em sentido estrito, listas de idéias ou assuntos que 
remetem aos textos bíblicos. Atualmente, existem quatro con- 
cordâncias bíblicas evangélicas no Brasil, representando as ver- 
sões bíblicas mais divulgadas:
1) A Concordância Bíblica baseada na ARA da Sociedade 
Bíblica do Brasil, que compreende cerca de 7.000 verbetes, 
com mais de 45.000 referências a passagens bíblicas e 51 bio- 
grafias de personagens bíblicos.
2) A Chave Bíblica baseada na ARC da Sociedade Bíblica 
do Brasil.
3) A Concordância Bíblica Abreviada da Imprensa Bíblica 
Brasileira.
4) A Concordância Bíblica Abreviada baseada na Edição Con- 
temporânea da Editora Vida.
Deve-se dar devida consideração às Concordâncias Gre- 
gas, geralmente bilíngües entre elas:
" Concordância Fiel do Novo Festamento (Editora Fiel).
95
H e rm e n êu t ica tácil e descomplicada
A obra foi editada em dois volumes Grego-Português e 
Português-Grego, tendo como base para a tradução a Bíblia 
Revista e Atualizada (ARA) da Sociedade Bíblica do Brasil. 
Esta concordância investiga as palavras no grego e mostra, em 
português, como os tradutores interpretaram cada uma delas 
em todas as passagens em que aparecem.
ψ Concordância Analítica Greco-Espanola del Nuevo Testamento de 
A. E. Tugg e J. Stegenga (CLIE).
Tem como propósito ajudar os leitores a entender perfei- 
tamente a língua helenista. E uma concordância analítica: ana- 
lisa cada palavra do N T grego exaustivamente, além de ser um 
auxílio aos missionários e lingüistas que trabalham entre os 
índios hispânicos, pois nela encontram-se todas as formas de 
uma palavra grega traduzida para a língua espanhola dentro 
de seus vários contextos.
ψ Concordância Greco-Espanola dei Nuevo Testamento de Hugo 
Petter (CLIE).
Inclui um índice espanhol de todas as palavras do NT, 
indicando debaixo de cada uma, como se encontram no texto 
original grego e quantas vezes ocorrem na mesma forma, ofe- 
recendo a transliteração em caracteres latinos. O leitor pode, 
mediante o número de referências, consultar a passagem onde 
se encontram os termos, comparando-a com outras passagens 
e distinguindo suas possibilidades de tradução.
* Concordância Completa da Santa Bíblia, de William H. Sloan 
(CLIE).
Abrange de forma completa todos os vocábulos bíblicos, 
contendo todos os verbos castelhanos no infinitivo, como em 
outras concordâncias, e também em todos os tempos verbais. 
Oferece também o sinônimo da palavra que se busca, permi-
96
H e rm e n êu t ica M ateria l
tmdo assim encontrar paralelos; inclusive os dos nomes pró- 
prios e de lugares, e é compatível com todas versões de Reina- 
Valera: 1909, I9 6 0 e 1977.
 ̂Enciclopédia de Tópicos) Concordâncias, de Samuel Vila (CLIE).
E uma Concordância Temática completa e exaustiva de 
toda a Bíblia. Contém 702 temas, classificados em 14 secções 
principais, que permitem em pouco tempo saber o que a Bí- 
blia diz sobre uma idéia ou conceito determinado.
Dicionários e Enciclopédias
Não devemos confundir dicionário com concordância, e 
estas com enciclopédias ou vice-versa. Os dicionários bíblicos 
não se propõem, como as concordâncias, a reproduzir os tex- 
tos, e sim oferecer a cada assunto uma exposição mais ampla. 
Dicionário, tal como é seu étimo latino ditionariu, é um conjunto 
de vocábulos e termos de uma língua dispostos em ordem 
alfabética com seus respectivos significados. As enciclopédias 
bíblicas, entretanto, não se prestam a verificar o significado 
dos termos, ainda que muitos se achem nela, mas abranger 
todos os ramos do conhecimento bíblico e teológico.
Dicionários
* O Novo Dicionário da Bíblia, editado por J. D. Douglas 
("Vida N ova\
“Os assuntos tratados incluem tanto pessoas, lugares, 
geografia, história, cultura e costumes das terras e tempos bí- 
bli cos como apresentações extensas e claras das grandes dou- 
tnnas da Fé cristã. E um tesouro de conhecimento bíblico, 
reunindo os resultados especializados de uma equipe de 139 
eruditos entre os maiores do atual mundo evangélico.”
9־
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
* O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, 
editado por Colin Brown (Vida Nova).
“Baseia-se no Teologisches Begriffslexihon zun Neuen Testament, 
que originalmente foi publicado em alemão em 1965. Os ver- 
betes dispostos em ordem alfabética discorrem sobre o signi- 
ficado helenístico clássico, seu correlato veterotestamentário 
com base na Sep tuag in ta (L X X ) e seu uso no grego 
neotestamentário. O dicionário é expressamente teológico em 
sua intenção. Informações históricas, geográficas e arqueoló- 
gicas, que são apropriadas num dicionário geral da Bíblia, nele 
se incluem à medida que são teologicamente relevantes. Faz 
parte essencial do propósito de O Novo Dicionário Internacional 
de Teologia do Novo Testamento, capacitar o leitor a explorar por si 
mesmo as novas avenidas de descoberta que têm sido abertas, 
e avaliar por si mesmo os pontos-de-vista dos estudiosos que 
têm contribuído ao moderno estudo da Bíblia.”
O *י Léxico do Novo Testamento Grego/ Português, de F. W. 
Gingrich e F. W. Danker (Vida Nova).
“O léxico é uma versão condensada da obra publicada 
para o inglês em 1957. O alvo da versão em português é 
fornecer os significados dos vocábulos gregos sem entrar em 
discussões de hermenêutica e teologia”.
* Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, de R. 
L. Harris, G. L. Archer Jr e B. K.Waltke (Vida Nova).
“Quarenta e seis especialistas em hebraico bíblico contri- 
buíram com artigos valiosos para essa obra. As principais pa- 
lavras do texto hebraico são examinadas sob os seguintes as- 
pectos: significado teológico, usos bíblicos, antecedentes 
etimológicos, comparação com línguas cognatas, traduções em
98
H e rm e n ê u t ic a M ate ria l
versões antigas, sinônimos e antônimos. As palavras-chave em 
textos de difícil interpretação recebem atenção especial”.
 Dicionário Enciclopédico da Bíblia, redigido por A. Van Den *״
Born (Vozes).
“Obra holandesa e belga com cooperação de biblistas de 
outras nacionalidades. Obra de farto material arqueológico, 
sobretudo os documentos. Os verbetes são eruditamente ex- 
postos, trazendo o significado lexical de cada palavra, bem 
como, o significado simbólico de alguns termos.”
 ̂ hnagens Verbais do Novo Testamento, de Archibald Thomas 
Robertson (CLIE)
“E uma obra editada em seis volumes. Estuda e expõe as 
expressões mais importantes do NT, dando uma análise gra- 
matical do texto, por ordem do livro, capítulo e versículo tal 
como se apresenta no NT. Para uma melhor compreensão do 
assunto, faz observações sobre os costumes da época.”
* Dicionário de Figuras de Dicção Usadas na Bíblia> de E. W. 
Bullmger (CLIE).
“O objetivo da obra é apresentar em sua própria ordem e 
lugar cada uma das 214 figuras literárias usadas na filologia 
sacra, fornecendo a pronúncia de cada uma, facilitandoa sua 
etimologia através das razões pelas quais se disse certo nome 
e seu significado. Apresenta ainda os textos bíblicos em que se 
usa tal figura.”
* Vocabulário Teológico do Evangelho de São João, de Juan Mateos 
e Juan Barreto (Edições Paulinas).
“Juan Mateos e Juan Barreto produziram em parceria um 
excelente comentário bíblico e exegético ao Evangelho de João. 
J. Mateos e J. Barreto partem de princípios hermenêuticos 
claros e peculiares, tão peculiares que talvez signifiquem uma
99
H e rm e n ê u t ic a fácil e descomplicada
mudança inédita na exegese bíblica: a interpretação do texto 
pelo próprio texto. O Vocabulário é um apêndice e índice do 
vernáculo ao comentário do mesmo evangelho. Os vocábulos 
teológicos estão classificados em ordem alfabética e de forma 
orgânica, os conceitos fundamentais de João, aqueles que pul- 
sam ao longo de todo escrito e lhe conferem peculiar 
fisionomia”.
* Dicionário Teológico, de Claudionor Corrêa de Andrade 
(CPAD).
O Dicionário Teológico traz as definições dos principais 
termos usados no círculo teológico e nas obras de referência 
teológica. Possui definições etimológicas e a tradução das prm- 
cípais locuções latinas usada pelos pais latmos.
* Dicionário de Figuras e Símbolos Bíblicos, de Manfred Lurker 
(Paulus).
Esta obra foi traduzida do original alemão. Propõe-se a 
interpretar o mundo das figuras e dos símbolos do Antigo e 
Novo Testamento. Possui índice de cada um dos verbetes usa- 
dos e instruções de como os artigos da obra estão estruturados.
A Pequena Enciclopédia Bíblica; de O. S. Boyer (CPAD)
Combina em uma só obra dicionário, chave bíblica, m- 
trodução aos 66 livros da Bíblia, um atlas bíblico, e uma mini- 
enciclopédia bíblica.
1:1 Manual Bíblico, por Henry H . Halley (Vida Nova)
“Começou em 1924, como um panfleto de 16 páginas... 
e, agora com 850. Seu desígnio não é servir de livro texto; 
destina-se a ser um breve manual para aqueles que dispõem de 
poucos comentários sobre a Bíblia. O conteúdo destina-se a 
fornecer uma vista geral da Bíblia, seus pensamentos centrais, 
descobertas arqueológicas, nota sobre cada livro da Bíblia, in-
100
H e rm e n êu t ica M ateria l
formações bíblicas diversas, notas sobre passagens obscuras, 
dados históricos relacionados, epitome da história da Igreja e 
sugestões sobre a leitura da Bíblia”.
* Enciclopédia Histónco-Teológica da Igreja da Igreja Cristã, edita- 
do por Walter A. Elwell (Vida Nova).
Ό professor Walter Elwell, deão do W heaton College 
Graduate School o f Theology, compilou os 1.200 tópicos da 
Enciclopédia. Escolheu cerca de duzentos eruditos entre os 
evangélicos mais reconhecidos no mundo, para que fossem 
escritos os artigos sobre pessoas, movimentos e doutrinas que 
mais influenciaram as correntes do Cristianismo em seus dois 
milênios de história.”
* Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, de Gleason Archer (Vida).
“O Dr. Archer escreveu esta enciclopédia para mostrar que
nada existe na Bíblia de incoerente com a afirmação de ser ela a 
Palavra merrante de Deus. Dr. Archer durante muitos anos foi 
responsável pela área de apologética da revista Decision, produ- 
zida pela Associação Evangelística Billy Graham.”
Versões bíblicas
São diversas as traduções da Bíblia existentes em circula-ג
cão no Brasil — todas com base na tradução de João Ferreira 
de Almeida, trazida para o Brasil no século X V II pela Socie- 
dade Bíblica Britânica e Estrangeira. Nesta ocasião a tradução 
de Almeida foi entregue a uma comissão de tradutores brasi- 
leiros. a fim de tirar os lusitanismos do texto e dar uma carac- 
terística lingüística mais brasileira. Apesar do labor desempe- 
nhado, alguns lusitanismos ainda persistem (por exemplo, lume, 
Ez 24.3). Essa revisão, publicada em 1898, recebeu o nome 
de "Revista e Corrigida”; a partir de então “Almeida” vem
101
H e rm e n ê u t ic a fácií e de sc om phc a da
sendo constantemente revisada. A tradução de J. Ferreira de 
Almeida em português (1681), a tradução do Novo Testa- 
mento em Alemão por Lutero (1522) e da Bíblia Kmg James, 
em inglês (1 6 1 1), tomou como base o Textus Receptus (Texto 
Recebido) em grego, publicado pelo holandês Erasmo de 
Roterdã, em 1516. U m dos principais percalços do Textus 
Receptus, apesar de ser um dos melhores que existiam naqueles 
dias, é que ele continha palavras, frases e às vezes versículos 
inteiros que tinham sido incluídos pelos copistas, mas que 
não faziam parte do texto original. Os manuscritos usados 
não eram os mais antigos e confiáveis. Após o lançamento do 
Textus Receptus, muitos outros manuscritos foram achados, até 
mesmo mais antigo que o usado por Erasmo. Esses novos 
manuscritos são conhecidos como Textos Críticos. Nosso estu- 
do não comporta mmudências sobre as diferentes traduções, 
pois ainda há problemáticas relacionadas com algumas ver- 
sões que seguiam o vocabulário da Vulgata Latina. Citamos 
um vago exemplo: na versão de Almeida, Revista e Atualizada, 
João 7.53-8.12 e Atos 8.37 trazem versículos entre colchetes, 
enquanto o mesmo não ocorre na Revista e Corrigida. Isto 
porque na Revista e Atualizada, tomou-se como base à 1 
edição do Novo Testamento de Nestle, baseado nos Textos 
Críticos.3 Os colchetes, no caso, destacam textos que não se 
encontram nos manuscritos usados na versão Revista e Atua- 
lizada, enquanto eles são omitidos na Revista e Corrigida pois 
esta segue o Textus Receptus.
Para auxiliar o estudante sugerimos familiarizar-se com a 
seguinte terminologia:
Tradução4
Do latim traductione, é o ato de transpor uma composição 
literária de uma língua para outra. Através da tradução, as Escri­
102
H e rm e n ê u t ic a M ateria l
turas foram vertidas dos originais gregos e hebraicos para as 
línguas afins. Sem a tradução, a Palavra de Deus seria como uma 
espada embamhada — não cortaria, pois não a entenderíamos.
A Tradução pode ser:
a) Tradução Literal Modificada: E uma tradução que pro- 
cura expressar com toda fidelidade e o máximo de exatidão o 
sentido das palavras originais do texto que está sendo traduzi- 
do. E uma transcrição textual palavra por palavra.
b) Tradução Idiomática: E uma tradução “popular” que 
procura a forma mais natural de expressão do idioma na qual 
será traduzida. Procura expressar a mensagem em linguagem 
corrente, em vez da forma das línguas originais, como naTra- 
dução Literal.
c) Tradução Dinâmica: Dentro desse princípio todo esfor- 
ço é feito para que, de um lado, a tradução seja completamente 
fiel ao sentido do texto original e, de outro, seja claramente 
compreendida pelo público atual. A Bíblia na Linguagem de 
Hoje, da Sociedade Bíblica do Brasil, é um exemplo de tradução 
dinâmica, ainda que outros a considerem como paráfrase.
Transliteração
D o latim trans + littera, é o ato de reduzir um sistema de 
escrita a outro, letra por letra. E a versão das letras de um 
texto em certa língua para as letras correspondentes de outra 
língua. Palavras como “batizar” e “anjo” foram transliteradas 
do grego para o português.
Versão
D o latim versíone, é uma tradução da língua original para 
outra língua. Geralmente o termo “versão” é usado, simulta- 
neamente, com o vocábulo “tradução”. .
103
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
Revisão ou Versão Revista
Do latim revisione, é o ato ou efeito de rever através de um 
novo exame do texto, com vistas a corrigir erros ou introduzir 
emendas ou substituições. E uma “versão” já aceita sendo “re- 
vista” e atualizada.
Recensões
Do latim recensione, é o ato de comparar o texto de edições 
anteriores com os manuscritos. Através das recensões são con- 
frontados entre si os diversos manuscritos, códice, versões e 
citações, agrupando-os de acordo com suas coincidências e 
semelhanças em grupos ou famílias. Por meio desses agrupa- 
mentos os estudiosos chegam a descobrir as diversas recensões 
das quais os códices descendem. Assim reconstroem, ao me- 
nos nas linhas gerais, a história primitiva do texto e as revisões 
aque ele foi submetido, com o fim de purificá-lo das altera- 
ções devidas aos amanuenses (copistas).
Paráfrase
Do grego paraphrases é uma tradução “livre e solta” de um 
texto, procurando expressar a idéia ou mensagem do texto e 
não as palavras.
E mais uma interpretação do que uma tradução literal do 
texto. U m dos problemas da paráfrase é que, às vezes, o tradu- 
tor inclui explicações desnecessárias ou informações que não 
estão implícitas no texto original, o que pode levar a acrésci- 
mos, omissões ou até distorções no texto bíblico. Dr. Werner 
Kaschel cita, como por exemplo, Romanos 4.9, na Bíblia Viva. 
A passagem traz:
“Agora, então, a pergunta: Será que a bênção só é dada àque- 
les que têm fé em Cristo mas também guardam leis judaicas,
104
H e rm e n êu t ica M ateria l
ou a bênção é dada também àqueles que não guardam as leis 
judaicas, mas tão somente confiam em Cristo? Dizemos que 
ele recebeu essas bênçãos por meio da sua fé. Foi pela fé mes- 
mo? Ou porque também guardou as leis judaicas? ”
Segundo o Dr. Werner, há dois sérios deslizes nesse texto 
parafraseado. “Em primeiro lugar, Paulo não está falando das 
‘leis judaicas’ em geral, mas especificamente do costume da 
circuncisão, que já existia no tempo de Abraão. E há, também, 
um anacronismo, ao falar-se de Abraão como guardando as 
leis judaicas — as quais só vieram uns 700 anos mais tarde.”5 
As Cartas para Hoje (Vida Nova) e a Bíblia Viva (M C ) são 
alguns exemplos de paráfrases.
Edição
D o latim editione, é um empreendimento editorial com vista 
à publicação.
Uma edição pode ser:
a) Edição Atualizada — quando o texto sofreu acresci- 
mos ou modificações em relação a edição anterior;
b) Edição Anotada — quando o texto se faz acompanhar 
de notas destinadas a esclarecê-lo, completá-lo ou atualizá-lo;
c) Edição Crítica — (é uma edição exegética), quando se 
procura estabelecer o texto original de uma obra, mediante 
colação com o manuscrito, correção de erros tipográficos, 
modernização na maneira de compor e, tanto quanto possí- 
vel, de particularidades ortográficas e gramaticais acrescen- 
tando variantes de passagens, notas e comentários que consti- 
tuem o aparato crítico;
d) Edição Abreviada — quando o texto foi parcialmente 
suprimido, ou resumido em trechos ou passagens supostamente 
não essenciais à sua compreensão;
105
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
e) Edição de Bibliófilo — quando se destina a coleciona- 
dores, de tiragens reduzidas e exemplares numerados;
f) Edição Fac-similar — quando reproduz outra por pro- 
cesso fotomecâmco;
g) Edição Corrente — é uma edição comum, de baixo 
custo, feita para o grande público, e que contém o texto puro 
e simples da obra;
h) Edição de Luxo — quando editada em papel de alto 
preço, em formato quase sempre grande e com margens am- 
pias, às vezes composta com tipos especiais, ornadas de ílus- 
trações e, não raro, suntuosamente encadernadas,
i) Edição Comemorativa — quando procura celebrar um 
acontecimento. ARA e ARC receberam edições comemorati- 
vas no jubileu da SBB.
j) Edição de Afinidade — quando procura personalizar 
certas edições para grupos especiais.
Entre as versões mais conhecidas temos:
Traduções Protestantes6
l j Edição Revista e A tualizada no Brasil, 2 a edição daTradu- 
ção de João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil.
Tradução de equivalência formal em linguagem erudita. 
Seu formato é prosa em parágrafos e poesia em versos. Os 
parágrafos são apresentados com a letra inicial em negrito. 
Foram atualizadas a linguagem, pesos e medidas. Acrescenta 
colchetes aos termos que não se encontram em diversos ma- 
nuscritos, além de incluir no Novo Testamento as citações do 
AT de forma edentada. Inclui referências bíblicas, e o vocábu- 
lo Senhor quando se refere ao nome de Deus (Iavé) é grafado
106
H e rm e n ê u t ic a M ateria l
com letras maiúsculas. Possui ainda mapas, cronologia, plano 
anual de leituras bíblicas e palavras de orientação.
2 ) Edição Revista e Corrigida edição de 1 9 9 5 da Tradução de 
João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil.
Tradução de equivalência formal em linguagem erudita. 
Seu formato traz tanto o texto em prosa quanto a poesia em 
parágrafos. Os termos que não fazem parte do texto original, 
mas que foram incluídos a fim de que o texto fosse compreen- 
dido, aparece em itálico. A ARC conserva essa inserção desde 
a primeira edição do Novo Testamento em 16 8 1. Possui refe- 
rências, indicação de parágrafos de conteúdo em negrito, 
translitera o tetragrama (Y H W H ) pelo nome “Jeo v á”, e pos- 
sui notas variantes de termos.
3 ) Edição Revisada da Tradução de João Ferreira de Almeida, 
também chamada de “Melhores Textos”, 3a impressão 1991, 
RJ. Juerp & Imprensa Bíblica Brasileira. A primeira (1967) 
foi chamada de Versão da Imprensa Bíblica Brasileira.
Tradução de equivalência formal em linguagem erudita e 
arcaica. Seu formato é prosa em parágrafos e poesia em ver- 
sos. Os textos referentes ao AT que aparecem no N T estão 
edentados. Possui notas de rodapé que fazem referências aos 
termos originais. Consta textos em colchetes, com notas de 
que não fazem parte dos manuscritos mais aceitos, possui 
mapas e referências.
4 ) Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original, Socie- 
dade Bíblica Trinitanana do Brasil, 1994.
Tradução de equivalência formal em linguagem erudita e 
arcaica. Seu formato é prosa e poesia em parágrafo. Possui 
vocábulos e preposições em itálico que não constam nos ori- 
ginais, mas que foram acrescidos ao texto a fim de facilitar a 
leitura. As referências ao AT no N T aparecem edentados. Não
107
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
possui referências textuais, notas ou qualquer outro tipo de 
comentário. Inclui um plano de leitura da Bíblia.
5 j Nova Versão Internacional (N V I). Obra feita por um 
colegiado de especialistas patrocinados pela International Bible 
Society.
E uma tradução baseada nos melhores textos gregos e 
hebraicos disponíveis. Seu estilo é a equivalência formal 
com uso do português m oderno em linguagem corrente. A 
prosa está em parágrafos e a poesia em versos. Possui notas 
de rodapé, além de preservar os term os teológicos (peca- 
do, graça, expiação).
Traduções Católicas
I j Tradução de Antônio Pereira de Figueiredo.
E uma tradução da Vulgata Latina e seu estilo é corres- 
pondência formal literal, utilizando linguagem arcaica. Possui 
pouquíssimas notas explicativas e seu formato é prosa em pa- 
rágrafos e poesia em versos.
2 ) Tradução do Padre Matos Soares.
E uma tradução da Vulgata Latina e seu estilo é corres- 
pondência formal literal. Possui poucas notas explicativas e 
seu formato é prosa e poesia em parágrafos.
3 ) Bíblia de Jerusalém.
Foi traduzida dos originais por um grupo de exegetas 
interconfessionais, respeitando as opções da tradução france- 
sa feita pela Ecole Biblique de Jerusalém, seu estilo é a equiva- 
lência dinâmica. A prosa encontra-se em parágrafos e a poesia 
em versos. H á abundantes notas textuais e explicativas, com 
introduções, mapas, quadro cronológicos e outros aparatos.
108
H e rm e n êu t ica M ateria l
4 j Ave Maria.
Foi traduzida dos originais mediante a versão francesa 
dos monges de Maredsous, pelo Centro Bíblico Católico. Usa 
como estilo a correspondência formal; prosa em parágrafos e 
a poesia em versos. Poucas notas textuais e explicativas.
5'j Santuário.
R ep ro d u ção e adap tação da trad u ção feita pelos 
capuchinhos de Portugal a partir dos originais. Possui corres- 
pondência formal e os textos em prosa estão em parágrafos e 
a poesia em versos.
6 ) TEB — Tradução Ecumênica Brasileira} Edições Paulinas e 
Edições Loyola
Baseia-se nos textos originais e reproduz fielmente o mo- 
delo da Traduction oecuménique de la Bible. Procura cuidadosa 
fidelidade semântica, isto é, expressar-se em língua moderna, 
levando em consideração a cultura atual, a realidade comunicada 
pelas palavras antigas.Correspondência formal literal.
Com tantas versões circulando, não é apenas necessário 
como também plausível que o leitor se familiarize com essas 
terminologias e procure adquirir conhecimento de cada uma 
das versões aqui apresentadas e das que foram omitidas.
C o m e n t á r i o s B íb l i c o s 7
Os comentários bíblicos são classificados de acordo com 
o seu planejamento:
a) Sermonário;
b) Exegéticos;
c) Devocionais.
109
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
Entre os comentários básicos de auxílio exegético pode- 
mos citar:
* A Série Cultura Bíblica, da Sociedade Religiosa Edições 
Vida Nova e Associação Religiosa Editora M undo Cristão.
Esses comentários são mais exegéticos do que devocionais. 
Todos os livros do AT e do N T são comentados com grande 
erudição, perfazendo um total de 33 volumes. Destaca-se nes- 
sa obra o uso do método histórico-gramatical.
* Comentário Bíblico Moody, da Imprensa Batista Regular.
São cinco volumes comentando cada capítulo dos 66 11-
vros da Bíblia.
* O Novo Comentário da Bíblia das Edições Vida Nova.
Anteriormente o comentário foi publicado em língua por-
tuguesa em três volumes. Atualmente foi editado em apenas 
um. A atenção do comentário foi orientada principalmente para 
o entendimento do texto conforme existente em versões co- 
muns. Não se encontra nele qualquer extensão considerável de 
espaço à análise de fontes, ao criticismo arbitrário e às teorias 
especulativas e nem extensivas notas devocionais e homilétícas.
Devida atenção deve ser dada também aos comentários 
individuais.
* O Comentário Bíblico de Broadman, editado pela Juerp; e
* O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, editado 
pela Candeia.
Esta obra possui seis volumes e demorou oitos anos de 
trabalho árduo para ser produzida. O texto usado foi a terceira 
edição do Novo Testamento Grego, da United Bible Societies, 
bem como os comentários textuais dessa mesma obra. São 
discutidas cerca de duas mil variantes importantes do texto do 
N T. Cada versículo é discutido minuciosamente, além de con- 
ter esboços temáticos e filosóficos de diversos temas.
1 10
H e rm e n êu t ica M ateria l
* Comentário Bíblico de Matthew Henry (CPAD).
Deste comentário Spurgeon afirmou: “Todo ministro de 
Deus deveria ler M atthew H enry com plena atenção pelo 
menos uma vez”.
T ítulos Histórico-Culturais8
São livros que auxiliam o estudante no conhecimento da 
cultura, história, antropologia e sociologia do mundo bíblico 
constituindo-se excelente pano de fundo para a interpretação 
histórico-cultural.
* Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos, Ralph Gower (CPAD)
* O Mundo do Antigo Testamento, J. I. Packer et alli, (Vida)
* Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos, J. I. Packer et alli, (Vida)
* Vida e Religiões no Império Romano, J. Comby e J. P. Lemonon 
(Paulinas).
* Roma em Face a Jerusalém, J. Comby e J. P. Lemonon 
(Paulinas).
* Vida Cotidiana nos Tempos de Jesus (Vida Nova);
* Para Entender 0 Antigo Testamento, Estêvan B ittencourt 
(Santuário).
Estes livros procuram combinar pesquisas seculares com a 
narrativa bíblica. Costumes, rituais e crenças que governaram a 
vida diária dos tempos bíblicos são examinados em pormenores 
nessas obras, bem como uma compreensão geral dos povos, reis, 
impérios e períodos do Antigo e do Novo Testamento.
M A NUAIS D E H ER M E N ÊU TIC A 
E TEO R IA H ER M E N ÊU TIC A
* Hermenêutica Avançada: Princípios e Processos de Interpretação 
Bíblica, Henry A. Virkler (Vida);
I I I
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
* Hermenêutica Bíblica, ]. Severino Croatto (Sinodal e 
Paulinas);
* A Arte de Interpretar e Comunicar a Palavra Escrita — Técnicas 
de Tradução da Bíblia, John Beekman e John Callow (Vida Nova);
* Como Interpretar a Bíblia - Introdução à Hermenêutica, Pedro 
Gilhuis (Editora Cristã Unida);
* Hermenêutica de E. Lund e P. C. Nelson (Vida);
* Entendes 0 que Lês? G. D. Fee e D. Stuart (Vida Nova);
* Princípios de Interpretação Bíblica de W A. Hendrichsen (Mun- 
do Cristão);
* Hermenêutica Bíblica de José M . M artinez (CLIE);
* Hermenêutica de M. S. Terry (CLIE);
* A Interpretação da Bíblia na Igreja, Pontifícia Comissão Bí- 
blica (Paulinas);
* A Palavra Inspirada: A Bíblia à luz da Ciência da Linguagem, de 
L. Alonso Schõkel (Loyola);
* A Interpretação da Bíblia na Igreja de J.M.Terra (Loyola);
* Iniciação à Análise Estrutural de vários autores - Cadernos 
Bíblicos (Paulinas);
* Princípios de Interpretação Bíblica de Louis Berkhof (JUERP);
* A Interpretação Bíblica: Meio de Descobrir a Verdade de Roy B. 
Zuck (Vida Nova);
* Hermenêutica Contextual (edição do autor) Esdras Costa 
Bentho;
* A Bíblia à L u z da História de Odette Maínvílle (Paulinas)
* Metodologia de Exegese Bíblica de Cássio Murilo Dias da 
Silva (Paulinas);
* Exegese do Novo Testamento - M anual de Metodologia, Uwe 
Wegner (Sinodal e Paulus);
112
H e rm e n êu t ica M ateria l
Hermenêutica Filosófica
* Hermenêutica, de Richard E. Palmer (Edições 70);
*Hermenêutica Contemporânea, de Josef Bleicher (Edições 70);
*Hermenêutica e Sociologia do Conhecimento, de Susan J. Hekman 
(Edições 70);
* Hermeneutica y Estructuralismo, de Paul Ricoeur (Ediciones 
megápolis);
* Ser e Tempo, de M artin Heidegger (Vozes);
* Verdade e Método, de Hans-Georg Gadamer (Vozes).
SINO PSE
Concordância Bíblica é uma compilação em ordem alfa- 
bética, de termos bíblicos ou de conceitos (matérias) bíblicos, 
que remete às passagens da Bíblia onde ocorre o respectivo 
termo ou conceito.
O primeiro a idealizar uma obra deste gênero foi o carde- 
al dominicano Hugo de S. Caro, que em 1230 compilou uma 
concordância verbal da Vulgata.
Os principais objetivos da Concordância Bíblica são lo- 
calizar passagens e auxiliar o leitor da Bíblia no estudo de 
assuntos ou tópicos bíblicos.
H á dois tipos de concordâncias: as verbais — chamadas 
também de Chaves Bíblicas, e as concordâncias reais.
A tradução de J. Ferreira de Almeida em português ( 16 8 1), 
a tradução do Novo Testamento em alemão por Lutero (1522) 
e da Bíblia King James, em inglês ( 16 11), tomou como base o 
Textus Receptus (Texto Recebido), em grego, put^licado pelo 
holandês Erasmo de Roterdã, em 15 16.
113
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
T ra d u ç ã o , do latim traiuctione, é o ato de transpor uma 
com posição literária de um a língua para outra.
T ra n s l i te ra ç ã O , do latim trans+littera, é o ato de reduzir 
um sistema de escrita a outro, letra por letra.
V e rsã o , do latim versione é um a tradução da língua origi- 
nal para outra língua.
R ev isão o u V e rs ã o R ev is ta , do latim revisione, é o ato 
ou efeito de rever através de um novo exame do texto, com 
vistas a corrigir erros ou in troduzir emendas ou substituições.
RECENSÃO, do latim recensione, é o ato de com parar o tex- 
to de edições anteriores ou com os manuscritos.
PARÁFRASE, do grego paraphrases é um a tradução “livre e 
solta” de um texto, procurando expressar a idéia ou mensa- 
gem do texto e não as palavras.
E d ição , do latim editione, é um em preendim ento editorial 
com vista a publicação. U m a edição pode ser:
* Edição Atualizada, quando o texto sofreu acréscimos ou 
modificações em relação à edição anterior;
* Edição Anotada, quando o texto se faz acom panhar de 
notas destinada a esclarecê-lo, com pletá-lo ou atualizá-lo;
ψ Edição Crítica, é um a edição exegética, quando se procura 
estabelecer o texto original de um a obra;
* Edição Abreviada, quando o texto foi parcialmente supri- 
mido;
ψ Edição de Bibliófilo, quando se destina a colecionadores, de 
tiragens reduzidas e exemplares numerados;
φ Edição Fac-similar, quando reproduz outra por processo 
fotomecânico;
ψ Edição Corrente, é uma edição comum, de baixo custo, feita 
para o grande público, e que contém o texto puro e simples da obra.
114
H e rm e n ê u t ic a M ateria l
TR A BA L H A N D O CO M T E X T O S 
SINOPSE HISTÓRICA DAS CONCORDÂNCIASCom o termo “concordância” costuma-se chamar um re- 
gistro alfabético de todas as palavras na Bíblia, indicando os 
lugares onde se encontram. E evidente a utilidade de tais obras, 
tanto para o exegeta (estudo de linguagem e idéias da Santa 
Escritura) como para o pregador (ajuda para encontrar textos 
bíblicos sobre determinados assuntos).
A primeira concordância nesse sentido foi feita sobre o 
texto da Vulgata por Hugo de S. Caro. Depois o rabino Isaac 
Nathan trabalhou por dez anos, de 1438 a 1448, produzindo 
sua obra sobre a Bíblia Hebraica. Essa concordância foi poste- 
riormente aprimorada pelo hebraísta John Buxtorf, em sua 
Concordantia Bibliorum Ebraicae, publicada em Basel, em 
1632. Houve concordâncias no período medieval, da Vulgata 
Latina. Em 1896, Mendelkern, de Leipzig, publicou uma 
concordância hebraica que se tornou uma espécie de trabalho 
padrão, a qual foi muito usada.
A melhor concordância da Septuaginta é a de Hatch e 
Repath, publicada em Oxford, na Inglaterra, em 1897-1900. 
Q uanto ao Novo Testamento, temos a concordância de 
M outon e Geden, publicada em 1897. N o idioma inglês, o 
começo dessa atividade foi a concordância do Novo Testa- 
mento, de autoria de Thomas Bybson, publicada em 1540. A 
primeira concordância da Bíblia inteira em inglês foi a de John 
Marbeck, publicada em 1550. Por motivo desse esforço ele 
quase foi executado pelo estado!
BORN, A. Van Den, Dicionário Enciclopédico da Bíblia, p. 285 
& C H A M PLIN , R. Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filo~ 
sofia, v. I p. 835-6.
H e rm e n ê u t ic a fácil e d escom phcada
EXERCÍCIOS
Exercício de Tradução, Revisão e Estilística
Confira cada um dos textos destacados nas diferentes versões 
bíblicas.
Isaías 27.8a
ARA : “Com xô! xô! e exílio o trataste”.
A R C :________________________________________________
T R I : _________________________________________________
V R : _________________________________________________
B L H : ________________________________________________
T E B :_________________________________________________
J E R : _________________________________________________
N V I : ________________________________________________
O que significa a expressão: “xô! xô!״ ? _________________
Qual a tradução/versão mais clara?_______________________
Jeremias 48.1 Ia
ARA : “Moabe esteve descansado desde a sua mocidade, e as 
suas fezes repousaram”.
A R C :________________________________________________
T R I : _________________________________________________
V R : _________________________________________________
B L H : _________________________________________________
T E B : ________________________________________________
J E R : _________________________________________________
N V I : ________________________________________________
116
O que s ign ifica a expressão “ suas fezes rep o u sa - 
ram’ ’ ?__________________________________________________
H e rm e n êu t ica M aterial
Qual a tradução/versão mais clara?________________________
Zacarias 9. 15
ARA : “...eles devorarão os fundibulários e os pisarão”.
A R C :________________________________________________
T R I : _________________________________________________
V R : _________________________________________________
BLH : ________________________________________________
T E B : ________________________________________________
J E R : _________________________________________________
N V I : ________________________________________________
O que significa a expressão “devorar os fundibulários”?
Qual a tradução/versão mais clara?.
Jó 15.27
ARA : “ Porquanto cobriu o rosto com a sua gordura e criou 
enxúndia nas ilhargas”.
ARC: _____________________________________
T R I : _________________________________________________
V R : _________________________________________________
B L H : ________________________________________________
117
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
T E B : ________________________________________________
J E R : _________________________________________________
N V I : ________________________________________________
O que significa a expressão “enxúndia nas ilhargas”?
Qual a tradução/versão mais clara?________________________
Êxodo 12.4
ARA : “ ...então tome um só com seu vizmho perto de sua 
casa, e... conforme o comer de cada um ”.
A R C :________________________________________________
T R I : _________________________________________________
V R : _________________________________________________
B L H : ________________________________________________
T E B : ________________________________________________
J E R : _________________________________________________
N V I : ________________________________________________
O que significa as expressões “tome um só com seu vizinho”
e “comer de cada um ”?:________________________________
Qual a tradução/versão mais clara?_______________________
Jeremias 31.22
ARA : “ ... a mulher infiel virá a requestar um homem”.
A R C :________________________________________________
T R I : _________________________________________________
V R : _________________________________________________
B L H :______________________ __________________________
T E B : ________________________________________________
118
H e rm e n ê u t ic a M ateria l
J E R : _________________________________________________
N V I : ________________________________________________
O que significa a expressão “requestar um homem”; _______
Qual a tradução/versão mais clara?________________________
Sofonias I .I2 b
V R : “...e castigarei os homens que se embrutecem com as 
fezes do vinho”.
A R C :________________________________________________
T R I : _________________________________________________
A R A :________________________________________________
B L H :________________________________________________
T E B : ________________________________________________
J E R : _________________________________________________
N V I : ________________________________________________
O que significa a expressão: “embrutecer com as fezes do vi-
nho”?_________________________________________________
Qual a tradução/versão mais clara?_______________________
Provérbios 28.25b
ARC : “...mas o que confia no Senhor engordará”.
A R A :________________________________________________
T R I : _________________________________________________
V R : _________________________________________________
B H L : ________________________________________________
T E B : ________________________________________________
J E R : _________________________________________________
N V I : ________________________________________________
119
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
Bibli-Holmes
Ajude nosso detetive Bibli-Holmes a investigar as pnnci- 
pais técnicas e métodos de tradução da Bíblia, para que possa 
justificar as diferentes versões de um mesmo texto.
LEITURAS E LIVROS PARA APROFUNDAMENTO
BORN, A. Van Den, editor, Dicionário Enciclopédico da Bíblia, 
Vozes (p. 285).
CH A M PLIN , R. N orm an & BENTES, J. M. Enciclopédia 
de Bíblia Teologia e Filosofia, Candeia v. I (p. 835-6).
BALLARINI, Teodorico, editor, Introdução à Bíblia, Vozes 
(p. I9I-I92).
NOTAS
1 Paul W Schelp. Concordância Bíblica. In: Apresentação, Soei- 
edade Bíblica do Brasil.
2 Id. Ibidem.
3As diferenças encontradas na ARC e ARA são devido ao 
uso de fontes distintas. O N T da ARA foi revisado com base 
na 16a edição do Novo Testamento de Nestlé (Textos Críti- 
cos), e por isso acrescenta os colchetes ou omite algumas ex- 
pressões. Já a ARC segue o Textus Receptus, onde as variações 
salientadas na ARA não possuem notas.
4 Confira N orm an Geisler e William Nix, Introdução Bíbli- 
ca, Como a Bíblia chegou até nós, p. 184; John Beekman e John 
Callow, A Arte de Interpretar e Comunicar a Palavra Escrita — Técnicas 
de Tradução da Bíblia, p. 17-28.
5 Consulte A BÍBLIA N O BRASIL, n° 174, abril a ju- 
n h o /9 6 , in Fiel, Clara e Confiável, p. 17-22.
120H e rm e n êu t ica M ateria l
6Esta lista de versões ou traduções não é exaustiva, foi 
feita à guisa de exemplo. Estamos cônscios de que deixamos 
de mencionar outras traduções importantes. Por se tratar de 
uma citação breve, recomendamos a leitura de Bittencourt, 
O Novo Testamento: metodologia da pesquisa textual p .157-195; 
Elizabeth Muriel Ekdahl Versões da Bíblia: Por que tantas diferen~ 
fas'!, Edições Vida Nova. W ilson Paroschi, Crítica Textual do 
Novo Testamento, Vida Nova. SO C IED A D E BÍBLICA D O 
BRASIL, Curso de Cultura Bíblica Çlradufão, Lingüística e Comu- 
nicafão), Rev. Oswaldo Alves. Cf. Luiz Sayão, N V I — A Bíblia 
do Século 2 1, Editora Vida. Além de que o leitor deve sempre 
ler as notas e prefaciais das versões que adquire a fim de com- 
preender as notas e variações desta comparadas com outras.
' Será de bom alvitre o leitor consultar Gordon D. Fee & 
Douglas Stuart, Entendes 0 que lês?, p. 223-5; principalmente o 
apêndice I, que faz uma avaliação do uso dos comentários 
por parte dos estudantes. E uma sinopse muito apropriada 
para quem está começando, e para aqueles que esqueceram o 
assunto. Cf. p. 223-5.
8Estas referências são à guisa de exemplo. Os manuais 
sobre este assunto e afins são tantos que um livro não seria 
suficiente para arrolar tantas obras.
9Abreviações: ARC- Almeida Revista e Corrigida; ARA - 
Almeida Revista e Atualizada; TRI - Trmitariana; VR - Ver- 
são Revisada; BLH - Bíblia na Linguagem de Hoje; TEB - 
Tradução Ecumênica Brasileira; JER - Bíblia de Jerusalém; NVI 
.Nova Versão Internacional ־
121
CAPÍTULO 5
Escolas ^tendenciosas 
de ôntetpietaçao
Todas as interpretações das Sagradas Escrituras 
devem estar firm adas em pilares críticos 
interpretativos confiáveis. Devem-se ju s t ficá -la 
através de métodos e técnicas hermenêuticas livres 
de quaisquer premissas dogmáticas ou pressupostos 
individuais. O texto pelo texto ainda continua 
sendo um dos melhores métodos para 
se interpretar as Escrituras.
Escolas Tendenciosas de Interpretação
Em todo labor de investigação bíblica, os resultados de- 
pendem em grande parte dos sistemas ou métodos de traba- 
lhos que se empregam. A Hermenêutica Bíblica não é uma 
exceção, pois o modo de inquirir o significado dos textos de- 
termina consideravelmente as conclusões do trabalho exegético. 
Isto explica a grande disparidade de interpretações dadas aos 
mesmos textos da Escritura. Isto significa que nem todas as 
escolas e métodos são confiáveis. Entre elas destacamos duas: 
alegorista e literalista.
H e rm en êu t ica fácil e descom plicada
Vejamos a posição mterpretativa dessas duas escolas ten- 
denciosas de interpretação bíblica e os principais métodos por 
elas empregados.
Alegórica
O termo alegoria procede da combinação de dois termos 
gregos, allos, isto é, “outro”, e agoreyo, “falar”, ou “proclamar”. 
Literalmente significa “d ize r uma coisa que significa outra”. 
O vocábulo aparece em Gálatas 4.24, a fim de indicar a expli- 
cação ou expressão de alguma coisa por meio do nome ou 
imagem de outra. Quem alegoriza fala ou escreve sobre algu- 
ma coisa por intermédio de outra, procurando desvendar sen- 
tidos simbólicos, espirituais ou ocultos.
Em Lucas 13.32, Cristo usa a alegoria quando diz: “Ide 
dizer a essa raposa...” referindo-se à natureza ardilosa e má de 
Herodes, principalmente a sua agudez. Como figura literária, 
a alegoria é uma metáfora estendida e um recurso literário 
válido e útil; porém, como sistema de interpretação, mutila os 
textos bíblicos. A Escritura está repleta de alegorias que são 
usadas como recurso retórico e didático.
De acordo com o método alegórico, o sentido literal e 
histórico das Escrituras é completamente desprezado, e cada 
palavra e acontecimento são transformados em alegoria de al- 
gum tipo, a fim de escapar de dificuldades teológicas ou para 
sustentar certas crenças estranhas e alheias ao texto bíblico. 
Assim, não interpreta o texto bíblico, mas perverte o verda- 
deiro sentido deles, embora sob o pretexto de buscar um sen- 
tido mais profundo ou mais espiritual.1
Bultmann chama esse tipo de interpretação de alegorese, 
e não alegoria.
124
Escolas Tendenciosas de In te rp re tação
“...Pois se o texto apresenta uma alegoria, ela naturalmen- 
te precisa ser explicada como alegoria. Essa explicação, entre- 
tanto, não é alegorese, uma vez que pergunta pelo sentido ten- 
cionado pelo texto.” 2
M. S. Terry assim se expressa acerca do método alegórico:
“O método alegórico de interpretação se baseia em uma 
profunda reverência pelas Escrituras e um desejo de exibir suas 
múltiplas profundidades de sabedoria. Porém, se notará ime- 
diatamente que seu costume é desatender o significado co- 
mum das palavras e dar a elas toda classe de idéias fantásticas. 
N ão se extrai o significado legítimo da linguagem do autor, 
mas sim, introduz toda fantasia e capricho do intérprete.”3
Os Perigos do M étodo Alegórico
O método alegórico, como sistema de interpretação, é 
repleto de perigos que o tornam inaceitável ao intérprete da 
Escritura, a saber:
a) Ele despreza o significado comum e ordinário das pala- 
vras, especulando sobre o sentido místico de cada uma delas;
b) Ele ignora a intenção do autor, inserindo no texto todo 
tipo de extravagância ou fantasias que um intérprete possa 
desejar;
c) O intérprete que usa o presente método rejeita os mé- 
todos válidos de interpretação, e a única base de interpretação 
encontra-se na arte que sua própria mente concebe;
d) A autoridade básica da interpretação deixa de ser a 
Bíblia, e passa a ser a mente engenhosa do intérprete.4 
D. Pentecost assevera que “a interpretação pode então ser 
distorcida pelas posições doutrinárias do intérprete, pela au- 
toridade da igreja à qual o intérprete pertence, por seu am-
125
H e rm e n ê u t ica fácil e descom plicada
biente social e por sua formação ou por uma enormidade de 
fatores” .3
e) Quem usa o método alegórico não possui meios de 
provar as suas conclusões, afirma o teólogo Ramm:
“Ele não pode estar seguro de coisa alguma, exceto do 
que lhe foi ditado pela igreja, e em todas as eras a autoridade 
da ‘igreja’ tem sido falsamente reivindicada pela presunçosa 
tirania das falsas opiniões dominantes... afirmar que o princi- 
pal significado da Bíblia é um sentido secundário e que o prm- 
cipal método de interpretação é a ‘espiritualização’, é abrir a 
porta à imaginação e especulação praticamente desenfreadas. 
Por essa razão, insistimos que o controle na interpretação se 
encontra no método literal”.6
Sinopse Histórica
O método alegórico foi usado pelas escolas filosóficas 
gregas no afã de interpretar os poemas de Homero e Hesíodo, 
e reduzir os problemas teóricos e religiosos entre a tradição 
religiosa e a herança filosófica.
N o tempo de Cristo, estava entre os quatro tipos princi- 
pais de exegese: mídráshica, alegórica, literal e pcsber. Filo, pro- 
vavelmente, foi o maior defensor do método alegórico. Acre- 
ditava que o método literal era uma forma imatura de com- 
preensão, que deveria ser superado pelo alegórico. Henrv A. 
Virkler colaciona dez regras instituídas por Filo. O método 
deveria ser usado:
a) Se o significado literal repugna a santidade de Deus;
b) Se contraria outra declaração das Escrituras;
c) Se o registro alega tratar-se de uma alegoria;
126
Escolas Tendenciosas de In te rpretação
d) Se as expressões são dúplices ou se há emprego de 
palavras supérfluas;
e) Se há repetição de algo já conhecido;
f) Se uma expressão é variada;
g) Se empregam sinônimos;
h) Se for possível um jogo de palavras;
i) Se houver algo anormal em número ou tempo (verbal);
j) Se há presença de símbolos.8
Filo, comentando sobre a peregrinação de Abrão, afirma:
“A viagem de Abrão para a Palestina é realmente a histó- 
na de um filósofo estóico que deixa a Caldéia (entendimento 
sensual) e se detém em Harã, que quer dizer “buracos”, e 
significa o vazio de conhecer as coisas pelos buracos, isto é, ossentidos. Ao tornar-se Abraão, ele se torna um filósofo verda- 
deiramente esclarecido. Casar-se com Sara é casar-se com a 
sabedoria abstrata”.9
N a exegese patrística, Clemente de Alexandria e Orígenes 
adotaram com devida ênfase o método alegórico. Clemente 
desenvolveu a teoria de que cinco sentidos estão relaciona- 
dos à Escritura: histórico, doutrinai, profético, filosófico e 
místico, este por sua vez, suas riquezas são disponíveis so- 
mente aos que entendem os sentidos mais p ro fundos.10 
Orígenes, discípulo de Clemente, cria ser a Escritura uma 
vasta alegoria na qual cada detalhe é simbólico, e dava gran- 
de importância a I Coríntios 2.6,7, principalmente à ex- 
pressão “falamos a sabedoria Deus em mistério”. Orígenes 
cria que assim como o homem constitui de três partes: cor- 
po, alma e espírito, da mesma forma a Escritura possui três 
sentidos: o corpo é o sentido literal, a alma o sentido moral,
127
H e rm e n êu t ica tácil e descom plicada
e o espírito o sentido alegórico ou místico, do qual usou 
amplamente ignorando os restantes.11
Posteriormente, Agostinho concebeu várias regras para 
interpretar as Escrituras. N a prática, contudo, menospre- 
zou todas as suas regras, exceto o m étodo alegórico. Agos- 
tinho justificou suas interpretações alegóricas em 2 Corín- 
tios 3.6, “porque a letra mata, mas o espírito vivifica”, 
querendo com isto dizer que uma interpretação literal da 
Bíblia mata, mas a alegórica ou espiritual vivifica. Para ele 
as Escrituras possuía um sentido quádruplo: histórico, 
etiológico, analógico e alegórico.12
N a exegese medieval (600-1500), o sentido quádruplo 
elaborado por Agostinho era a norma para a interpretação da 
Bíblia. Segundo a exegese medieval, as quatro regras de Agos- 
tinho existiam em toda passagem bíblica. Virkler assevera que 
neste período:
“a letra mostra-nos o que Deus e nossos pais fizeram; a 
alegoria mostra-nos onde está oculta a nossa fé; o significado 
moral dá-nos as regras da vida diária e a anagogia mostra-nos 
onde terminamos nossa luta13.״
Durante essa época os místicos ou cabalístas judaicos acre- 
ditavam que cada letra possuía um significado sobrenatural. 
O método era substituir uma palavra bíblica por outra que 
tinha o mesmo valor numérico, acrescentar ao texto por con- 
siderar cada letra de uma palavra como a letra inicial de ou- 
tras; substituir novas palavras num texto por algumas letras 
das palavras primitivas.14
O intérprete deve, a todo custo, evitar o uso do méto- 
do alegórico como princípio válido de interpretação das 
Escrituras.
128
Escolas Tendenciosas de In te rp re tação
M étodo Literalista
A princípio não devemos confundir o método literalista, 
híperliteralista ou letrista com o método literal ou lingüístico-gra- 
matical. O método literal reconhece princípios de tradução e 
interpretação não reconhecidos pelo seu oposto. O literalismo 
é o extremo da escola gramatical. O método literal considera 
o valor das palavras no texto, mas não ignora os matizes da 
linguagem figurada, e o sensus plenior - próprio da linguagem 
escntvirística. Ocupa-se tanto da lexicografia, isto é, do signifi- 
cado das palavras e de sua relação com a oração (sintaxe), 
quanto do valor retórico da linguagem conotativa, quando 
assim intencionada pelo autor. N a escola literalista ignoram-se 
esses valores e interpreta-se tudo “ao pé da letra”.
As fraquezas do literalismo
a) Al guns textos são observados, em detrimento a outros.
Textos como Deuteronômio 22.5, I Coríntios I I . 13 ou 
2 Coríntios 13.12 são interpretados literalmente, ignorando 
as finuras da cultura do mundo de então. Porém, quando se 
trata de textos como os de Deuteronômio 2 1.18-21, 22.8, 
5.12 e I Timóteo 2.11,12, dificilmente alguém os interpreta 
literalmente.‘3 Mas vejamos qual é o sentido de Deuteronômio 
22.5. O texto afirma que:
“N ão haverá trajo de homem na mulher, e não vestirá o 
homem veste de mulher; porque qualquer que faz isto abomi- 
nação é ao Senhor, teu Deus”.
Ao que parece a exegese de Deuteronômio 22.5 não é 
tarefa fácil; entretanto, admitir que o texto prova que a mulher 
não deve usar calças compridas (o que é um anacronismo se­
129
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
mântico, visto não existir essa indumentária naqueles dias) 
carece de autenticidade exegéttca, senão vejamos.
O texto está envolto em vários aspectos culturais 
eqüidistantes de nossa contemporaneidade, porém, o espírito 
legal da proibição atravessa qualquer temporalidade cultural. 
Dois termos são inclusivos para a exegese de Deuteronômio 
22.5: a palavra hebraica klí, que se traduz por “que é pertinen- 
te a”, mas que se refere contextualmente a qualquer tipo de 
produtos manufaturados, embora também possa relacionar- 
se a adornos e jóias; e o vocábulo sinlab, traduzido por “roupa, 
veste ou manta”.16
Sínlah é um entre vários termos hebraicos para designar a 
palavra portuguesa roupa ou veste. A princípio era feita de lã, e 
mais tarde utilizou-se pêlo de camelo. Tratava-se de uma 
vestimenta exterior semelhante a um lençol grande com capuz, 
e os judeus a usavam como roupa de frio. Os pobres a usavam 
como vestido básico de dia e como capa de noite (Ex 22.26,27).
Sem e Jafé tomaram esta vestimenta para cobrir a nudez 
de seu pai (Gn 9.23). Outros termos são: beged (Gn 27.15) 
que era considerado pelos israelitas como um distintivo de 
dignidade do usuário; o addereth que indicava que o usuário era 
um cidadão respeitável (Js 7.21); e o labesb (C t 5.3), termo 
genérico para roupa, vestimenta, ou estar vestido.1'
N o contexto bíblico, o uso que se faz desses vocábulos 
poderia variar um do outro. As vezes, fala de vestimentas em 
sentido próprio, outras como sinal de nível social ou hierár- 
quico, ou ainda com o recurso poético para com parar 
vestimentas com qualidades abstratas. E assim que se diz de 
“vestes de justiça” (Jó 29.14), de “salvação” (2 Cr 6.41), de 
“força” (Is 52.1), e assim por diante.
130
Escolas Tendenciosas de In te rpretação
N o trato com o texto de Deuteronômio 22.5, deve-se 
verificar que sendo os judeus um povo nômade no período de 
sua formação, as modas dos homens israelitas permaneceram 
quase inalteradas, geração após geração, sofrendo alguma in- 
fluência, no início, da indumentária dos egípcios durante o 
tempo em que lá foi cativo. Havia pouquíssimas diferenças 
entre o vestuário feminino e o masculino. A veste interior que 
se assemelhava a uma camisa justa e apertada chamada de 
kethoneth, era feita de lã, linho ou algodão, e geralmente a pessoa 
que usava apenas esta vestimenta interior, dizia-se que estava 
nu (I Sm 19.24; Is 20.2-4).18 N ão havia qualquer diferença 
entre a ketbonet masculina e feminina. A vestimenta exterior dos 
homens consistia numa faixa de pano quadrada ou oblonga, 
de 2 a 3 metros de largura que em hebraico se chamava meyil, 
e é traduzida por “capa, manto, túnica ou vestimenta”. Era 
enrolada no corpo como uma coberta protetora, com dois 
cantos do material na frente unido ao corpo com um cinto 
(uma faixa de couro, com 10 cm de largura ou mais).19 
Os homens judeus usavam franjas com fitas azuis na orla (N m 
15.38). A vestimenta exterior da mulher hebréia era parecida 
com as do homem, todavia, as diferenças eram suficientemen- 
te observáveis (D t 22.5). Era mais comprida, com borda e 
franja suficientes para cobrir os pés (Is 47.22), um material 
mais fino e mais colorido. Prendia-se à cintura por um cinto. 
Como no caso dos homens, a vestimenta da mulher podia ser 
feita de materiais diferentes, de acordo com a condição social 
de cada pessoa. Uma outra peça de destaque no vestuário fe- 
mimno era o véu e um ornato para a cabeça.20
Do que acima foi descrito fica claro que a diferença entre 
a indumentária feminina e masculina era ínfima. Daí, conside­
131
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
rarmos que a proibição e a rotulação de “coisa abominável” 
revestia-se de um caráter muito mais moral e sacramental do 
quede usos e costumes. A proibição como tal era uma refe- 
rência às perversões sexuais e homossexuais relacionadas ao 
culto pagão em Canaã. Thom pson assinala que Luciano de 
Samosata e Eusébio mencionam a prática do travesti no culto 
à deusa da fertilidade Astarte. As mulheres apareciam com 
roupas masculinas e os homens com roupas femininas nesses 
cultos, e invertiam a posição sexual e relacionai característica 
de cada sexo.21 Essa inversão da ordem natural era ofensiva e 
repugnava a distinção criada por Deus entre macho e fêmea. 
Todas as leviandades praticadas nos cultos pagãos são severa- 
mente rejeitadas por Deus nesse versículo, pois que, como afir- 
ma Matthew Henry: ״A adoção das vestimentas de um sexo 
por outro é um ultraje à decência, mancha as distinções da 
natureza, produzindo efeminação no homem, indecoro e falsa 
modéstia na mulher, como também leviandade e hipocrisia 
para ambos”.22 Fica claro que a condenação divina é contra o 
travestismo, ao indecoro e a hipocrisia característica a quem 
assim procede. Embora esta lei em seu contexto original não 
tenha implicações diretas para com a nossa vida moderna, há 
algumas implicações indiretas: "... porque qualquer que faz 
tais cousas é abominável ao Senhor teu Deus”. Portanto, é 
bastante questionável se essa provisão especial da lei mosaica 
deve ser relegada ao nível de mero rito inconseqüente, que se 
pode ou deve eliminar mediante a emancipação dos crentes 
neotestamentários, os quais devem estar livres do jugo lega- 
lístico do Antigo Testamento.
O Novo Testamento enfatiza o vestuário adequado, mo- 
desto, como elemento im portante do testemunho cristão
132
Escolas Tendenciosas de In terp retação
( I Tm 2.9), pelo que o crente dedicado deve vestir-se de manei- 
ra a honrar ao Senhor. Em Gálatas 3.28 a afirmação de Paulo 
de que não há macho e fêmea não se aplica a coisas como rou- 
pas ou costumes, mas à nossa posição espiritual perante Deus. 
O reconhecimento das diferenças relativas entre os sexos, den- 
tro de sua unidade comum à humanidade, é um princípio digno 
de ser preservado, mas facilmente mal interpretado.23
b) Ignora-se a situação histórica.
A situação histórica do texto também é ignorada no mé- 
todo literalista. As orientações bíblicas nem sempre são as 
mesmas em todas as circunstâncias; por exemplo, em Esdras 
10.2,3, ele obriga os judeus a despedirem suas esposas. Po- 
rém, o apóstolo Paulo aconselha aos casados com cônjuges 
incrédulos a não se apartarem um do outro ( I Co 7 .I2 ,I3 ) .24
c) Usa textos de prova isolados para provar certas doutri- 
nas e tradição eclesiástica com sentidos diferentes do propósi- 
to do texto.
A maneira como o Diabo usou o texto bíblico compro- 
va esta prática inverossímil do texto. Em Mateus 4.6, Sata- 
nás cita literalmente o Salmo 91.11,12, não para consolar, e 
sim para tentar. Usou literalmente, mas sangrou o propósito 
principal do texto. U m outro exemplo disto é Isaías 55.2 
para condenar qualquer uso do dinheiro que não seja para 
comprar pão. Comentando o primeiro verso do Salmo 130, 
tão carregado de dramatismo espiritual e rico ao ser exami- 
nado à luz da totalidade contextual do Salmo, o intérprete 
literahsta judeu, sempre inclinado ao legalismo, só observa- 
va uma forma correta de orar “das profundezas”, significan- 
do, segundo eles, que a oração devia ser praticada na posição 
mais baixa possível.2:)
133
H e rm e n êu t ica fácil e de sc om phc ada
d) Aceitam a inspiração mecanicista das Escrituras Sa- 
gradas. Neste caso os hagiógrafos eram extremamente passi- 
vos no ato da inspiração, onde suas idiossincrasias foram 
ignoradas.
SIN O PSE
O termo “alegoria” procede da combinação de dois ter- 
mos gregos, allos, isto é, “outro”, e agoreyo, “falar ou proclamar 
Literalmente significa “dizer uma coisa que significa outra”.
O vocábulo “alegoria” aparece em Gálatas 4.24, a fim de 
indicar a explicação ou expressão de alguma coisa por meio 
do nome ou imagem de outra.
Como figura literária, a alegoria é uma metáfora estendi- 
da e um recurso literário válido e útil, porém, como sistema 
de interpretação mutila o texto bíblico.
De acordo com o método alegórico, o sentido literal e 
histórico das Escrituras é completamente desprezado, e cada 
palavra e acontecimento são transformados em alegoria de al- 
gum tipo.
Bultmann chama os tipos de interpretações alegonstas de 
alegorese, e não alegoria.
O método alegórico despreza o significado comum e or- 
dinário das palavras, especulando sobre o sentido místico de 
cada uma delas;
O método alegórico ignora a intenção do autor, inserm- 
do no texto todo tipo de extravagância ou fantasias que um 
intérprete possa desejar;
O intérprete que usa o método alegórico rejeita os méto- 
dos válidos de interpretação.
134
Escolas Tendenciosas de In terp retação
A autoridade básica da interpretação deixa de ser a Bi- 
blia e passa a ser a mente engenhosa do intérprete.
O método alegórico foi usado pelas escolas filosóficas 
gregas no afã de interpretar os poemas de Hom ero e Hesíodo, 
e reduzir os problemas teóricos e religiosos entre a tradição 
religiosa e a herança filosófica.
Filo provavelmente foi o maior defensor do método ale- 
górico. Acreditava que o método literal era uma forma imatu- 
ra de compreensão que deveria ser superado pelo alegórico.
N ão devemos confundir o método literalista, hiperlite- 
ralista ou letrxsta com o método literal ou lingüístico-grama- 
tical. O método literal reconhece princípios de tradução e m- 
terpretação não reconhecidos pelo seu oposto.
As fraquezas do literalismo são que alguns textos são ob- 
servados, em detrimento a outros; ignora-se a situação históri- 
ca; usa textos de prova isolados para provar certas doutrinas e 
tradição eclesiástica com sentidos diferentes do propósito do 
texto; aceitam a inspiração mecanicista das Escrituras Sagradas.
TR A BA L H A N D O CO M T E X T O S 
É POSSÍVEL A EXEGESE LIVRE DE PREMISSAS?
“E preciso responder ‘sim’ a esta pergunta se ‘livre de pre- 
missas’ significar: sem pressupor os resultados da exegese. Neste 
sentido, a exegese livre de premissas não só é possível, mas até 
constitui uma exigência. Em outro sentido nenhuma exegese 
naturalmente está livre de premissas, uma vez que o exegeta 
não é nenhuma t a b u l a r a s a , mas aborda o texto trazendo 
consigo certas perguntas, isto é, abordando-o com certo 
enfoque, além de ter certa noção do assunto de que trata o
135
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
texto. Expliquemos em rápidos traços a exigência de que a 
exegese seja isenta de premissa no sentido de ela não pressu- 
por seus resultados; ou também poderíamos dizer: de ela ser 
livre de preconceitos. Esta exigência significa em primeiro lu- 
gar a rejeição do método da alegorese. Quando Filão vê a idéia 
estóica de sábio livre de afetos representada no preceito da lei 
de que o animal de sacrifício seja imaculado (Spec. Leg. I, p. 
270), ou quando Paulo interpreta Deuteronômio 25.4 como 
prescrição de que o pregador do Evangelho seja sustentado 
pela comunidade (I Co 9.9), ou quando na carta de Barnabé 
os 318 servos de Abraão (Gn 14.14) são interpretados como 
profecia da cruz de Cristo (9.7s), está claro que nestes casos o 
exegeta não ouve o que o texto diz, e sim fá-lo dizer aquilo 
que ele, o exegeta, já sabe de antemão.
B U L T M A N N , R udolf. C rer e Compreender, S inodal 
(p. 2 2 3 ) .
EXERCÍCIOS
1. Qual a diferença entre alegoria e escola alegorista?
2. Faça um resumo da história do método alegórico
3. Qual a diferença entre o hiperletrismo e o método 
literal?
4. Quais são as fraquezas do método literalista: 
Bibli-Holmes
Ajude nosso detetive Bibli-Holmes a investigar as princi- 
pais diferenças entre o método literalista e o método literal- 
gramatical.
136
Escolas Tendenciosas de In te rp retação
LEITURAS E LIVROS PARA APROFUNDAMENTO
B U L T M A N N , Rudolf. Crer e Compreender, Sinodal 
(p. 223-229).
ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares, ABíblia e 0 Pensamento 
Teológico na América Latina - Boletim Teológico/ftl -B (p. 7-13).
P E N T E C O S T , J. Dwight, M anual de Escatologia, Vida 
(p. 29-43).
V IR K L E R , H en ry A., Herm enêutica Avançada, V ida 
(p. 36-39).
NOTAS
1 Confira a definição de Joseph Angus & Samuel G. Green, 
m Manual de Escatologia, citado por J. D. Pentecost, p. 32.
2 Confira, Crer e Compreender, Rudolf Bultmann, Artigos 
Selecionados, Editado por Walter Altmann, 1987, p. 223-229.
3 Cf. Hermenêutica, Barcelona, 1990, p. 22.
4 Pentecost, op.cit., p. 33.
.Id. Ibidem כ
6 Id. Ibidem, p. 32 
Cf. Louis Berkhof, Princípios de Interpretação Bíblica, 19 8 1, 
p. 15-19.
8 Cf. Hermêutica, Princípios e Processos de Interpretação Bíblica,
1992, p. 38.
9 Id.Ibidem, 1992, p. 39.
10 Op.cit., p. 45.
11 Op.cit., p. 44.
12 Ibidem.
Op.cit., p. 46.
14 Op.cit., p. 47.
 Cf. Pedro Gilhuis, Como Interpretar a Bíblia — Introdução à נ1
Hermenêutica, 1980, p. 17.
137
H e rm en êu t ica fácil e descom plicada
1616 Gleason Archer, Enciclopédia de Dificuldades Bélicas, 1997, p. 16 1.
17 Merril C. Tenney (et alli), Vida Cotidiana nos Tempos Bíhli- 
r05,I988, p. 1 15-133.
18 Id.Ibidem, 1988, p. 115.
19 Id.Ibidem, 1988, p. 115.
20Id.Ibidem, 1988, p. 116.
21 J. A. Thom pson, Deuteronômio: Introdução e Comentário, 
1982, p. 224.
22 Comentário Exegético Devoeiocional de toda la Biblia, VI. 
I Pentateuco, 1982, p. 172.
23 Archer, 1997, op.cit., p. 162.
24 Gilhuis, 1997, op.cit., p. 21.
25 Id.Ibidem, 1997, p. 25.
138
C A PÍT U L O 6
cH^^ncneutlca (Contextual
A lei do contexto é um a das primeiras leis 
que regem a interpretação. M uitas interpretações 
errôneas têm sua origem na desconsideração 
desta norma tão óbvia.
C O N T E X T O
O próprio conceito do termo nos mostra a conveniência 
de seu estudo. O étimo do termo contexto significa “tecido 
com’’. N o latim, cun é preposição do ablativo que denota união, 
associação ou companhia, e textum significa “tecido”; por ex- 
tensão, “contextura, trama”. Aplicados a documentos escritos, 
expressa a conexão de pensamento que existe entre diferentes 
partes para fazer dela um todo coerente. Assim, contexto é o 
nexo recíproco dos vários elementos duma oração, sejam pró- 
ximos (contexto imediato), sejam distantes (contexto remoto).
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
N um texto, ou uma seqüência de textos, o contexto é 
constituído pela seqüência de parágrafos ou blocos que prece- 
dem e seguem imediatamente o texto, e que podem, de uma 
forma ou de outra, fazer pesar sobre o texto certas coerções.1
A Importância do Contexto
U m dos reconhecidos problemas hermenêuticos são os 
chamados textos de “prova”. São textos isolados do contexto 
usados por determinados intérpretes para aquilatar certas as- 
severações teológicas, dogmáticas ou culturais. Textos de pro- 
va, segundo a hermenêutica contextual, são secundários para a 
validação de uma interpretação, simplesmente porque erram 
ao desconsiderar o contexto.
Importância de se Conhecer o Contexto
O exame do contexto é extremamente importante por 
três razões:
a) As palavras, as locuções e as frases podem assumir sen- 
tidos múltiplos.
O contexto neste caso vai determinar qual o sentido exa- 
to do termo usado, como veremos adiante. Não somos escu- 
sados de frisar que não basta apenas decompor o termo con- 
siderado em seus aspectos etimológicos, é necessário com- 
preendê-lo em relação ao conjunto geral da frase.
O significado de um termo nem sempre se projeta basea- 
do em sua raiz. E necessário que se analise o signo lingüístico 
com a luz refletida pela frase e pelo contexto a que pertence. 
N o entanto, verdade é que um vocábulo espelha o significado 
de sua raiz e de sua composição.
O estudo etimológico é útil e necessário em vários casos, 
mas não significa que em todos os textos essas análises sejam
140
H e rm e n êu t ica C ontex tual
extremamente necessárias, ou que os termos significarão aqui- 
lo que a raiz determina, daí a necessidade do estudo diacrônico 
da 11 nguagem (isto é, histórico, as mudanças ocorridas aos 
vocábulos em certos períodos).
b) Os pensamentos normalmente são expressos por se- 
qüência de palavras ou de frases.
Os sentidos de uma palavra (unidade) podem ser capta- 
dos de acordo com a frase (conjunto), pois o termo e a frase 
estão associados dando entendimento um ao outro, da pala- 
vra à frase (várias unidades formando um conjunto) e da frase 
à palavra (o conjunto limitando, aí o sentido da palavra).
Deve-se lembrar que o sentido de um termo qualquer em 
uma frase geralmente é determinado pelos artigos, verbos, 
adjetivos, etc., que o precedem e sucedem (tal como veremos 
no contexto gramatical).
O vocábulo manga (fruta) e manga (camisa) são termos 
com o mesmo som e grafia, porém de significado distinto 
(homônimos homógrafos perfeitos). Somente a frase (geral) é 
que determinará se a palavra (unidade) deve ser interpretada 
como uma fruta, ou tratar-se de parte de vestuário onde se 
enfia o braço (camisa).
c) Desconsiderar o contexto acarreta interpretações fal- 
sas, além de se constituir numa eisegese.
Certo pregador, ao explanar Efésios 6.12 sobre o significa- 
do da expressão “regiões celestiais”, deu uma pausa retórica, 
interrogou a congregação sobre o significado da expressão e 
sorriu, como se algo sobrenatural e enigmático fosse revelado. 
Interrogou a platéia pela segunda vez dizendo: “O que você 
tem de mais celestial?” Ninguém ousou responder. U m silêncio 
sepulcral tomou conta da audiência. Ele mesmo respondeu: ‘Ό
141
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom phcada
seu coração”. Difícil foi para ele explicar como as potestades do 
mal viviam no coração do crente regenerado! A solução para ele 
foi muito simples: “Espiritualmente falando...”
Efésios é o único livro do Novo Testamento que trata 
especificamente do tema “regiões celestiais”. Se nosso prega- 
dor das “regiões celestiais” apenas conferisse a mensagem da 
epístola nos versículos 1.3, 21-22; 2.6; 3.10 compreenderia o 
significado de regiões celestiais.
T IP O S D E C O N T E X T O
A interpretação da Bíblia deve levar em consideração os 
diversos tipos de contexto.
Contexto Inicial
E a própria frase ou versículo em que o termo foi usado.
Antes mesmo de recorrer ao contexto imediato e remoto, 
é extremamente necessário entender o texto (frase) onde o 
termo aparece em seu conjunto.
Esta regra é muito viável, principalmente na interpreta- 
ção dos Provérbios, onde uma sucessão de conselhos é 
fornecida, e algumas vezes sem qualquer relação com o texto 
precedente e o subseqüente. Exclusivamente neste caso, o co- 
nhecimento de como as palavras se formam, raízes, prefixos, 
sufixos e uma intuição com a linguagem das Escrituras é m- 
dispensável. Desse modo, a análise do contexto inicial não 
deve ser da palavra pela palavra apenas, mas da palavra como 
intermediária entre o intérprete e um conteúdo de idéias, sen- 
timentos e emoções que nela se coagulam.
N os termos principais cujos textos são irregulares em seu 
contexto, deve-se atentar para:
142
H e rm e n ê u t ic a C on tex tua l
• o gênero literário que o caracteriza;
• o propósito da obra;
• a totalidade da mensagem do autógrafo.
Cada um desses itens serve de parâmetro para identificar 
o significado pretendido pelo hagiógrafo. Em razão de as Es- 
crituras serem tanto descritivas quanto prescritivas, ocorre a repe- 
tição quase que proposital de certos vocábulos. Assim sendo, 
se o vocábulo já apareceu em contextos anteriores ligado a um 
fato histórico ou código legal, leis cerimoniais, etc., pode ser 
que o autor pretenda ao repeti-lo:
• dar o mesmo significado;
• esclarecer o sentido anterior;
• remterpretar o termo original aplicando um novo con- 
texto social, moral, religioso ou vivencial.
Correndo o risco de perturbar a clareza deste livro, levan- 
do-o fora dos limítrofes aqui perlustrados, é necessário 
determo-nos por um instante nesse pormenor.
Não se deve dar prosseguimentoa uma interpretação en- 
quanto os termos principais não forem devidamente compre- 
endidos, isto é, determinado os seus significados. U m bom 
dicionário do hebraico e grego bíblicos, uma análise diacrônica 
do termo, o uso de uma concordância e a observação do con- 
texto remoto são necessários a fim de que se compreenda o 
uso dos vocábulos em contextos distintos.
Assim sendo, mesmo que o contexto seja irregular, ele não 
é independente da frase que o forma, mas uma unidade relacio- 
nada com todos os elementos semânticos que o compõem.
N a análise contextual decompõe-se o texto em suas par- 
tes fundamentais. A postura do intérprete é primariamente 
analítica, e só depois crítica.
143
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
N a análise das unidades que estruturam o texto, preten- 
de-se conhecer sua estrutura a fim de absorver sua mensagem 
com todo colorido pincelado pelo autor. Analisar o texto é 
entrar em diálogo com o seu autor.
Essa comunicação é ampliada desmesuradamente no cam- 
po da perquirição dos conteúdos textuais quando se lhes co- 
nhecem as relações com o meio exterior em que foram gera- 
dos. E o caso de Provérbios 22.28: “N ão removas os marcos 
antigos que puseram teus pais” (ARA). N ão são poucos os 
“doutrinadores” que usam este texto para falar dos usos e cos- 
tumes que não são mais observados pelos adeptos de determi- 
nadas denominações, afirmando que “antigamente não era 
assim... mas a Bíblia diz: “N ão removas os marcos antigos 
que fizeram teus pais”. N a verdade entendemos o zelo, mas 
que este seja com entendimento!
U m “marco” era uma pedra ou um poste inscrito, onde 
eram definidos os limites do terreno ou propriedade. Quan- 
do Canaã foi dividida entre as tribos israelitas, e a cada família 
foi dada uma porção da terra, os limites da terra foram deter- 
minados através de um marco. A remoção de um marco im- 
plicava falsificação do levantamento topográfico e constituía 
um roubo de terra, além de violar o nono mandamento.
A recomendação já tinha sido prescrita antes mesmo da 
possessão da terra de Canaã pelos israelitas (D t 19.14), e todo 
aquele que removesse o marco era considerado maldito: “Mal- 
dito aquele que mudar os marcos do seu próximo. E todo o 
povo dirá: Amém!” (27.17). A violação do marco deve ser 
entendido no âmbito da herança divina (Lv 25.23,24). A por- 
ção de terra que o israelita possuía era uma dádiva divina (I 
Rs 21.3) e alterar os limites dessas propriedades era uma ofensa 
àquEle que as outorgou.
144
H e rm e n êu t ica C ontex tual
A remoção do marco ou limite aparece mais uma vez em 
Provérbios 23.10, como uma ação de roubo, opressão e injusti- 
ça contra a herdade do órfão. Fica patente que este versículo 
não ensina a veneração de costumes históricos, mas o respeito 
pela propriedade alheia, pela prática da justiça. O que adianta 
venerar costumes históricos se não praticamos atos de justiça?
Atente-se para o fato de que o verso identificado possui 
estreita relação com a sabedoria egípcia, conhecida como Sa- 
bedoria de Amen-em-opet, esse paralelo inicia em 27.17 e 
culmina em 23.12. O texto paralelo afirma: “N ão retires os 
marcos das fronteiras da terra cultivável... nem ultrapasses as 
fronteiras da viúva”.2
Antes de recorrer ao contexto remoto ou imediato é ím- 
portante entender o termo ou toda a frase, porque nem sem- 
pre uma mesma palavra quer significar a mesma coisa em tex- 
tos distintos, e somente o texto, em seu contexto original, é 
que projetará luz sobre o significado exato do termo.
E o caso de alguém descuidadamente tentar inserir o sen- 
tido de marco, tal qual apresentamos acima, com o marco 
registrado em Jeremias 31.21: “Ergue para ti marcos, levanta 
para ti pirâmides, aplica o teu coração à vereda, ao caminho 
em que andaste; regressa, ó virgem de Israel, regressa, a estas 
tuas cidades” (Jr 31.21). Neste caso temos um marco que traz 
também o sentido de sinal, mas com aplicação distinta. En- 
quanto em Provérbios trata-se de um marco que funciona 
como um “documento de delimitação topográfica”, o marco 
de Jeremias 31.21 designa um sinal feito com um montão de 
pedras para assinalar uma vereda, ou seja, servir de orientação 
para que não se perca o caminho certo. Isto fica claro quando 
lemos o versículo 22 que interroga: “Até quando andarás er- 
rante, ó filha rebelde?”, “errante” quer dizer “sem definição”.
145
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
Já os textos de Ezequiel 39.15 e 2 Reis 23.17, o termo 
significa monumento ou pilha de pedras usados para assinalar 
o local do sepultamento dos mortos.
Quando qualquer um dos sentidos do vocábulo marco é 
inserido em textos distintos de modo que se altere o sentido 
do referido texto, temos um caso de pseudoconcordância. E a 
ocorrência repetida da mesma palavra em um ou mais textos 
com sentidos diferentes. Assim, não podemos transferir o sig- 
nificado de marco de Ezequiel 39.15 para o texto de Jeremias 
31.21 ou vice-versa.
N o contexto inicial, os vários sentidos de uma mesma 
palavra podem relacionar-se através de um significado tênue, 
mas comum.
Todas as palavras naqueles textos têm um significado co- 
mum, que é “sinal”.
O mesmo ocorre com o termo gregoglossa (γλώσσα):
a) Tem o sentido primário de “língua” como órgão mus- 
cular situado na cavidade bucal, responsável principalmente 
pela fala, como no texto de Marcos 7.33,35: “... e lhe tocou a 
língua com saliva... e soltou o empecilho da língua” (ARA). 
Nesse texto o sentido de língua é verbal, literal ou próprio.
b) O sentido de /̂055« não se limita apenas à língua, como 
órgão do corpo, mais também por “idioma”, como em Mar- 
cos 16.17: “Falarão novas línguas”, ou ainda como em Atos 
2.4 e 2 .1 1: “... e passaram a falar em outras línguas..”, “... 
ouvimos falar em nossas próprias línguas...” (cf. Ap 7.9; 13.7).
Nesses textos há uma relação entre causa e efeito. Sendo 
a língua (órgão) responsável pela fala (idioma, linguagem), 
busca-se a contigüidade, preferindo usar a metonímia a fim
146
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
de reforçar a causa, em vez do efeito. E o que pretende Paulo 
ao afirmar: “... toda língua dará louvores a Deus...״ (R m
14.11; Fp 2 .1 1).
c) O sentido de glossa não se limita apenas a esses dois 
exemplos. Em Tiago 1.26, a metáfora “refrear a sua língua” 
quer dizer literalmente “guiar a língua com arreios” e significa 
“exercer controle ou domínio sobre o conteúdo do que se 
fala”. E o oposto daquele a quem chamamos de linguarudo, 
ou seja, o que possui “língua solta”, “fofoqueiro” ou “maldi- 
zente”. U m exemplo semelhante encontramos em I Pedro 3.10: 
“... refreie a sua língua do mal”.
Em I Jo 3.18, onde se lê: “... não amemos de palavra, 
nem de língua, mas de fato e de verdade”, a expressão “não 
amemos de palavra, nem de língua” faz parte do mesmo cam- 
po semântico, isto é, possui significado com os textos anteri- 
ores através de uma relação associativa. As implicações dessa 
proposição joanina é dicotômica: literal e figurada. Literal- 
mente refere-se ao conteúdo do que se fala, a um amor or- 
questrado por palavras formosas, enquanto figuradamente, a 
um amor efêmero, sem qualquer ação, exalando hipocrisia. 
Daí, João concluir o texto usando uma adversativa: “ Mas por 
obra e em verdade”.
N o contexto inicial, saber se o vocábulo está sendo usado 
em sentido literal (denotativo) ou figurado (conotativo) é 
imprescindível.
Foi publicado no jornal do Telecurso 2° Grau um texto 
intitulado “Eles vivem fazendo arte”. Lendo esta manchete, 
poderá vir-nos à mente a idéia de que “fazer arte” é igual a fazer 
estripulias, molecagens ou bagunça. N o entanto, ao lermos o 
texto do artigo, constatamos que o significado é outro, ou seja,
147
H e rm en êu t ica híoil e descom plicada
que todos os visitantes do museu Lasar Segall em São Paulo, 
podem, ao visitar o museu, desenvolver sua capacidade de criar.
A palavra arte, no dicionário, é um dos principais meios 
de comunicação usados pelo homem paraa expressão de suas 
idéias, valores, emoções, crenças, sentimentos e revoltas. As- 
sim, o significado do termo arte tem um sentido atribuído 
pelo dicionário que nos permite uma só interpretação. E o 
significado literal, isto é, denotativo.
Denotação é o uso do signo lingüístico (palavra/repre- 
sentação gráfica) com seu significado próprio, que não per- 
mite mais de uma interpretação.
Mas o significante arte pode receber um outro significa- 
do, não contido no dicionário: arte é o mesmo que fazer ba- 
gunça. E um significado criado pelo contexto inicial, e ao qual 
chamamos de significado conotativo ou figurado.
Conotação é o uso do signo lingüístico com novos sig- 
nificados e com novas interpretações oferecidas pelo contex- 
to ou não.3
a) Ao lermos M ateus 10.34, onde Jesus diz: “Vim 
trazer...espada”, veremos que Ele não se referia ao objeto em 
si, mas ao que esse objeto representa: dissensões, contendas. 
Assim, “vim causar dissensões, contendas” seria a interpreta- 
ção correta.
b) Em Mateus 16.17, Jesus diz a Pedro: “ ... porque não 
foi carne e sangue quem to revelou”. Noutras palavras: “Não 
foi nenhum ser humano quem to revelou”.
c) Em Mateus 27.24, Pilatos declara: “Estou inocente 
do sangue deste justo”, o que quer dizer: “Estou inocente da 
morte (ou de causar a morte) deste homem justo”.4
148
H e rm e n êu t ica C ontex tual
Nesses textos o sentido literal de espada, carne e sangue, 
e sangue deste justo, é, à princípio, alterado por uma relação 
associativa. E o dinamismo característico da língua/língua- 
gem ausente nos léxicos.
A palavra oú o significante, com seu sentido denotativo 
ou seu sentido próprio, é muito comum nos textos mformati- 
vos, narrativos e históricos, amda que estes textos não excluam 
o uso do sentido conotativo.
O significado denotativo dificilmente permite ambigüi- 
dade na interpretação ou leitura do texto. Já a palavra 
(significante), com seu sentido figurado (conotativo), renova 
o sentido da palavra.
O significado conotativo permite ambigüidade na inter- 
pretação ou leitura do texto, por isso, no estudo do contexto 
inicial, é necessário conhecer as mutações semânticas que um 
mesmo vocábulo pode possuir no texto.
Em 2 Samuel 7, o substantivo hebraico bayt ( ית que é ,(ב
traduzido por “casa”, possui conotações distintas no capítulo.
a) no versículo I trata-se de casa no sentido de residência;
b) nos versículos 5 e 6 casa é entendida por “templo”;
c'l nos versículos 16 e 18 trata-se de “descendência”;/ 7
d) no 19 com sentido tanto de reino quanto de descendência 
(v. 16), que sem dúvida refere-se ao remado do Messias.0
U m outro exemplo bastante comum entre os estudantes 
das Escrituras são os diversos sentidos do termo “m undo”.
a) em João 3.16 o term o (κόσμος) representa a huma- 
mdade;
b) em I João 2.15-18 somos admoestados a não amar ao 
mundo; neste caso, o sistema rebelado e organizado contra 
Deus (Tg 4.4);
149
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
c) em João 1.9,10 é dito que Jesus criou o mundo, no 
sentido mundo habitado ou Universo.
Fica claro que os te rm os são os m esm os códigos 
lingüísticos (palavras), mas com significados distintos, este 
que é determinado pelo contexto.
Nas páginas do Novo Testamento grego, o substantivo casa 
possui dois significantes, oikos [οίκος] e oikia [οικία]. Tanto um 
quanto o outro são usados em sentido intercambiáveis para:
a) referir-se a casa/moradia: “Entrando na casa” (M t 2 .1 1 
{eis tê n o ik ian /εις τή ν ο ικ ία ν} , cf. 7.24-27); “partiu para 
sua casa” (M t 9.7 {eis ton oikon / ε ις το ν ο ικον});
b) referir-se a casa /família: “se uma casa estiver dividida” 
{oikia/ο ϊκ ία } (M c 3.25; M t 12.25 cf.Lc 19.9; At 16.5,31);
c) o termo também pode significar nação ou descenden- 
tes: “ovelhas perdidas da casa de Israel” (M t 10.6; 15.24 {oikou 
Israel / ο ίκ ο ο ’Ισραήλ});
d) em sentido figurado o corpo físico: “casa terrestre” 
(2 Co 5.1 {oikia tou skênous/ ο ι κ ί α του σκήνους});
e) a habitação de Deus-Pai: “N a casa de meu Pai”
(Jo 14.2 {oikia tou patros / ο ι κ ί α του πατρός}).
O sentido conotativo pode apresentar-se também como 
um símbolo, figura, tipo, ou até mesmo abrangendo termos 
característicos da cultura semita, e geralmente os termos não 
correspondem àqueles registrados nos dicionários.
A palavra adquire sentido figurado dentro do texto, à 
medida que é relacionada a outras palavras.
Deve-se cuidar principalmente quando o autor usa uma 
figura de estilo, tais como o símile, a metáfora, o eufemismo 
ou outra qualquer.
150
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
N o texto de I Samuel 15.26-28 lemos: “N ão tornarei 
contigo; porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, já ele te 
rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel. Virando-se 
Samuel para se ir, Saul o segurou pela orla do manto, e este se 
rasgou. Então, Samuel lhe disse: O Senhor rasgou hoje de ti o 
reino de Israel, e o deu ao teu próximo, que é melhor do que 
tu” (grifo nosso).
Neste texto, o termo manto, no versículo 27, refere-se a 
túnica ou capa usada por Samuel. N o versículo 28, contudo, 
o significado da palavra é trasladado, figurado, tomando um 
novo sentido, isto é, remo ou reinado.
N o episódio de I Reis I I . 19-32, o mesmo sentido figu- 
rado de manto é expresso de modo mais eloqüente. O manto 
rasgado representa o reino dividido, em doze pedaços, as doze 
tribos de Israel: “... toma para ti os dez pedaços, porque assim 
diz o Senhor, Deus de Israel: Eis que rasgarei o reino da mão 
de Salomão, e a ti darei as dez tribos” (v.3I).
O sentido de manto, representando reino encontra para- 
leio nas escrituras neotestamentárias. N o evangelho de João, 
ele usa o sentido figurado do manto (reino), embora dando- 
lhe cunho particular. O manto de Jesus, Rei dos judeus (Jo 
19.19), é figura do seu reinado. O manto sorteado entre os 
gentios é figura de que o antigo reinado sobre os judeus se 
realizará agora sobre os gentios: estes tiram dos judeus seu Rei 
para fazê-lo rei deles (Jo I .I2 ) .6
O significante manto, em sentido figurado, pode repre- 
sentar também pessoas. Em 2 Reis 9.12,13 lemos: “... Disse 
Jeú: Assim e assim me falou, dizendo: Assim diz o Senhor: 
Ungi-te rei sobre Israel. Então se apressaram e, tomando cada um
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
0 seu manto, os puseram debaixo dele, sobre os degraus, toca- 
ram a trombeta, e disseram: Jeú é rei” (grifo nosso).
O manto neste texto representa o seu possuidor, as pes- 
soas que se submetem a Jeú, pondo à sua disposição a própria 
vida. Semelhante cena ocorre na entrada triunfal de Jesus em 
Jerusalém: “E muitos estendiam as suas vestes pelo caminho, e 
outros cortavam ramo das árvores, e os espalhavam pelo cami- 
nho” (M c 11.8). O ato concreto de estenderem seus mantos 
pelo caminho, indicava a submissão daquele povo a Jesus, pois 
o consideravam como sucessor de Davi: “Bendito o remo do 
nosso pai Davi” (v. 10).' N ão podemos considerar estes fatos 
apenas como acidentais, principalmente quando verificamos 
no AT tal prática entre os judeus; é de se esperar que o mesmo 
ocorresse com os judeus neotestamentários ao proclamarem 
Jesus como rei, tal como ocorreu com Jeú.
Quando observamos que “... apresentavam os enfermos 
nas praças e rogavam-lhe que os deixasse tocar, ao menos na 
orla de sua veste; e todos os que tocavam saravam” (M c 6.56), 
devemos compreender que o fato de os enfermos sararem quan- 
do tocavam no manto de Jesus é figura (representada pelo 
manto), da vida que emana da pessoa de Cristo (ver M c 5.25- 
32). Neste caso, o manto é literal, ao mesmo tempo em que a 
cura através dele, representa o poder vivificador que emanava 
da pessoa que o usava, Cristo.8
O sentido denotativo, que é o significado comum e usual 
da palavra, é encontrado nos dicionários. Sobre essa designa- 
ção denotativa da palavra, deve-se prestar atenção nos termos:
Sinônimos:
Palavras de significantes (letras) diferentes e significados 
(conceitos) semelhantes.Ex: luminária — candeeiro/ candeia/ 
lâmpada (H b 9.2; M c 4.21; SI 119.105; Pv 20.20);
152
H e rm e n ê u t ic a C ontex tua l
Antônimos:
Palavras de significantes (letras) diferentes e significados 
(conceito) opostos. Ex: justo — ímpio (Pv 21.12); prudente 
— simples (Pv 22.3), rico — pobre (Pv 22.2);
Homônimos:
Palavras de significantes iguais e significados diferentes:
a) canto, do verbo cantar), e canto com o âng ulo
(S1I00.2;98.5; Pv 21.9; At 26.26);
b) lança (arma), lança (do verbo lançar) (Jo 19.34; Ec I I.I). 
Homônimos Homófonos:
Mesmo som, mas grafias (letras) diferentes:
a) cega — tornar cego; sega — colheita, ceifa (Ex 23.8,16; 
D t 16.19; Jr 5.17:51.33);
b) expiar — purificar; espiar — observar secretamente
(D n 9. 24; Ez 43.20; G1 2.4; Jz 18.2).
Homônimos Perfeitos:
Os que são homógrafos e homófonos ao mesmo tempo 
(tem escrita e pronúncia idênticos mas significados distintos), 
como: pêlo — do corpo de um animal; pelo — preposição 
(M t 3.4; 21.8).
N o contexto inicial, o importante não é o estudo isolado 
de uma palavra (interpretação léxica) com seu significado 
etimológico e diacrônico (o estudo histórico da palavra), e 
sim, ao sentido particular em que ela ocorre no texto.
O intérprete deve determinar se as palavras são usadas 
em sentido geral ou particular; se empregadas em sentido lite- 
ral ou figurado. Deve levar em conta também o aspecto dinâ- 
mico de muitos textos.
O sentido dos Salmos reais, por exemplo 72, não deve 
estar limitado estritamente às circunstâncias históricas da
153
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
produção deles. Falando do rei, o salmista evocava ao mesmo 
tempo uma instituição verdadeira e uma visão ideal da realeza, 
conforme ao plano de Deus, de maneira que seu texto ultra- 
passava a instituição real tal qual como ela tinha se manifesta- 
do na história. O mesmo ocorre com os Salmos messiânicos. 
Particularmente certos textos que poderiam ser considerados 
como hipérboles (exagero), como por exemplo, 2 Samuel 
7.12,13 e I Crônicas I 7 . I I - I 4 , onde Deus, falando de um 
filho de Davi, prometia firmar “para sempre” seu trono, de- 
vem ser tomados literalmente, porque diz a palavra: “Haven- 
do Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre” (R m 6.9).
Os hermeneutas e exegetas que possuem uma visão limi- 
tada, isto é, apenas histórica, do sentido literal, ou apenas do 
contexto inicial, não levando em consideração o restante das 
Escrituras, julgarão que aqui há heterogeneidade. Aqueles que 
são abertos aos aspectos dinâmicos dos textos reconhecerão 
uma continuidade profunda, ao mesmo tempo em que uma 
passagem é elevada a um nível diferente: Cristo rema para sem- 
pre, mas não sobre o trono terrestre de Davi, ainda que profe- 
ticamente isto virá a ocorrer (SI 2.7-8; 110.1,4; Fp 2.9-11; 
Ap I9 .I6 ) .9
Deve-se levar em conta a variedade de significados 
(polissemia) que uma palavra pode ter em uma mesma época, 
inclusos nos escritos de um mesmo autor.
Nesta altura podemos deduzir do uso sinonimico e vari- 
ante de um vocábulo qualquer. Mesmo um termo possuindo 
outras palavras sinônimas ou variantes do mesmo sentido, o 
autor por vezes, insiste no uso repetitivo de uma mesma pala- 
vra, não sabemos se por pobreza vocabular, por gênio peculiar
154
H e rm e n ê u t ic a C ontex tua l
do literato, ou ainda para levar o leitor a raciocinar sobre o 
sentido pretendido pelo autor.
O termo kosmos (mundo, ordem, sistema), em cada uma 
das ocasiões em que aparece nos Evangelhos e nas Epístolas 
de João, é usado com sentido distinto, e somente o contexto 
imediato esclarecerá o sentido; às vezes, mesmo recorrendo ao 
contexto, permanece um dúbio sentido. Vejamos:
Em João 3.16 o termo kosmos representa a humanidade 
como objeto do amor de Deus. O versículo 17 descreve o 
mesmo sentido (mundo-humanidade) mas com ênfase na 
missão de Cristo (cf. 10.36). Enquanto estes três textos pro- 
jetam luz sobre o relacionamento entre Deus, a humanidade e 
a missão de Cristo, em outros textos, como 1.10, é dito que 
Jesus “estava no m undo” (mundo — a terra habitada? mundo
— a humanidade?). Tanto um sentido quanto o outro se en- 
caixam perfeitamente no contexto. Em sentido explícito, “es- 
tava no m undo” (en tõ kosmo ên) designa “a terra habitada 
pelo homem”, mas em sentido implícito, “todos os homens 
que habitam na terra”. Ele não apenas estava no mundo, mas 
também entre a humanidade, sendo ele próprio, homem. Con- 
siderando João I.IO como poesia, e não prosa, teremos como 
estrutura, um trístico (estrofe com três versos) e, quanto ao 
paralelismo, trata-se do climático, pois retoma do membro 
precedente um termo (kosmos) acrescentado-lhe um comple- 
mento até levá-lo ao clímax.
εν τω κοσμώ ήν,
(en tõ kosmõ ên) 
estava no mundo
155
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
και ó κόσμος δι’ αυτού έγένετο,
(kai hô kosmos di autú egêneto)
e 0 mundo fo i feito por meio dele
και ó κόσμος αυτόν ουκ εγνω 
(kai hô kosmos autôn ouk egnõ) 
e 0 mundo não 0 conheceu
N o limítrofe de nossas inquirições, o verso 9 fulge como 
texto de tradução controversa, mas que não se interpõe ao 
significado do vocábulo kosmos. O disparate não é resultado 
dos textos gregos mais comuns aos seminaristas, todos eles
— Nestle-Aland (N T G — Novum Testamentum Graece), 
Majority Text (Texto Majoritário, mais conhecida como VA — 
Versão Autorizada ou Versão King James), The Greek N ew 
Testament (G N T - ed. Kurt Aland) e o Textus Receptus (T R — 
Texto Recebido) — trazem o mesmo texto sem qualquer va- 
riação que comprometa a tradução; apenas, como atesta o 
aparato crítico da GNT, uma pequena interrupção no micio 
do versículo, caracterizada comumente por uma vírgula. A vír- 
gula, por exemplo, aparece no T R (uma vez), G N T (duas 
vezes), mas é omitida na VA. Agora, a tradução é outra histó- 
ria. Cada uma das versões (ARA, ECA, N V I, VR, TEB) con- 
cordam que o Verbo “estava vindo ao m undo” para iluminar 
todos os homens, enquanto a ARC e a KJ (Kmg James), que 
essa iluminação é sobre “todo homem que vem ao m undo”. 
O texto grego possibilita mais de uma tradução.
ARA A saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina 
a todo homem
156
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
ECA A luz verdadeira que ilumina a todos os homens estava 
vindo ao mundo
N V I Estava chegando ao mundo a verdadeira luz, que ilumina a 
todos os homens
V R Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava 
chegando ao mundo
TEB 0 Verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, 
ilumina todo homem
ARC Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo homem 
que vem ao mundo
Mas, parece-nos mais correto entender o acusativo (objeto 
direto) vindo ao mundo como se referindo ao nominativo (subs- 
tantivo) luz. Somos inclinados a entender “vindo ao m undo”
como aposto do substantivo; assim sendo, o texto declara: “era 
a verdadeira luz, (que) vindo ao mundo, ilumina todo (o) 
homem”. Em cada um dos casos, porém, o sentido de kosmos é 
claro — trata-se da terra habitada pelo homem.
Deixando as controvérsias para os peritos, vejamos a 
urdidura do texto. Neste verso, sentimos a pulsação, o ritmo, a 
cadência da própria poesia, e até mesmo a sonoridade ao final 
de cada linha poética:
Hvtò φως τό αλη θ ινή ν ,
(en tô fõs tô alêthinôn) 
Era a verdadeira luz
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
ο φοτίζει πάντα άνθρωπον, 
(hô fotízei panta ânthrõpon) 
que ilumina todo 0 homem
ερχόμενον εις τον κόσμον 
(erkhomenon êis tôn kosmon) 
vindo ao mundo
Voltemos ao propósito principal desse tópico. Em I João 
2.15-18, somos admoestados a não amar o mundo (&05mo5), 
neste caso, o sistema organizado e rebelado contra Deus. O 
mundo-ordem injusta é o mundo-humanidade alienado de Deus 
pela rejeição das leis do Reino e do Messias Encarnado (Jo 8.7; 
17.25). Em João o mundo-ordem injusta possui seus próprios 
valores, sistemas e governo (Jo 8.44; 12.31; 14.30; 16.11).
Em João I.9 -I0 , como analisamosanteriormente, é dito 
que Jesus criou o mundo ( kosmos), significando a terra ou 
mundo habitado (v.9) — o sentido é logo explicado pelo apos- 
to: “ilumina a todo homem”. Nas duas primeiras frases do 
versículo 10, o evangelista, seguindo a trama do texto, fala de 
mundo (kosmos-universo) como a terra habitada pelo homem: 
“Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele”, mas na últi- 
ma parte do verso trata do mundo não em seu aspecto físico, 
a terra, mas a humanidade — aqueles que nela habitam, “mas 
o mundo não o conheceu”.
Já no capítulo 17.5, o evangelista usa o termo kosmos tan- 
to em sentido particular quanto geral. Particularmente prefe- 
re o uso do termo para dar ênfase à preexistência de Cristo. 
Em geral, antes que houvesse mundo físico e mundo humani- 
dade, mas o uso distinto do significado de kosmos permanece.
158
H e rm e n êu t ica C ontextual
N o versículo 4, ocorre o uso do termo “terra” como smôni- 
mo de “mundo habitado pelos homens”.
Cremos não ser necessário repisar o quanto é necessário 
considerar os diversos sentidos de um mesmo vocábulo usado 
pelo mesmo autor. Esse fenômeno literário não se explica fa- 
cilmente, pois o rapsodo, possivelmente conhecendo outros 
termos que se enquadravam perfeitamente no contexto de sua 
obra, prefere o uso repetitivo e prolongado de um mesmo vo- 
cábulo em vez de usar:
a) gês/ γ η ς (terra, solo, chão, no sentido de território, 
terra em distinção ao firmamento);
b) oikoumené/οΤκουμένη (habitado; a terra habitada: 
Lc 4.5; o mundo: M t 24.14; Lc 4.5; mundo no sentido de 
humanidade: Lc 2.1; At 7.31);
c) ou mesmo a iõ n /αιώ ν (era; século; presente século; 
eternidade; o povo do mundo em Lc 16.8).
Apesar de todos os textos em que o termo kosmos é usado 
em sentido positivo no evangelho joamno, prevalece o sentido 
de “mundo hostil a Deus”, ou “sistema de idéias e ideais que 
se opõe a Deus e ao Messias” representado principalmente 
pelas classes do judaísmo (fariseus, saduceus, etc.), e pelos 
opositores de Cristo em geral. N ão obstante, o sentido positi- 
vo também é largamente usado por João.
A guisa de epílogo, deve-se frisar acerca do contexto ini- 
cial que:
1 ) 0 significado de uma palavra deve ser determinado, 
levando em conta o marco cultural e costumes que impera- 
vam durante a com posição do texto, o cham ado usus 
loquendi. Por exemplo, “M oabe é a minha bacia de lavar/ 
sobre Edon lançarei as minhas sandálias” (SI 108.9); “D i­
159
H e rm e n êu t ica hicil e Jescom plicada
zendo, pois, o remidor a Boaz: Compra-a para ti, descalçou 
o sapato” (R t 4.8).
2) Deve-se examinar cuidadosamente os sinônimos, 
parônimos e homônimos; se o sentido pretendido pelo autor 
é denotativo ou conotativo.
3) Deve-se dar devida atenção aos termos principais, às 
palavras com aspectos litúrgicos ou que expressam a teologia 
do seu tempo, por exemplo: sacrifícios, holocaustos, ofertas, 
luas novas, estender as mãos, purificar (Is I . I I - I7 ) , tradições 
de homens, Corbã (M c 7.8,11), jurar pelo santuário e pelo 
altar (M t 23.16-18).
4) Deve-se levar em conta a variedade de significados 
(polissemia) que uma palavra possa ter numa mesma época - 
no autógrafo só haverá um significado (monossemia) e inclu- 
so nos escritos de um mesmo autor. U m autor bíblico não 
escreve uma coisa pensando noutra.10 O termo kosmos (mun- 
do), por exemplo, em cada um dos textos analisados, possui 
sentidos distintos, e somente o contexto imediato esclarece o 
conceito pretendido pelo autor.
C O N T E X T O IM EDIATO
O contexto imediato, conseqüente, microcontexto ou sub- 
seqüente é aquele que procede imediatamente ao texto. Quan- 
do o texto está numa seqüência ordenada, é um termo ou 
texto que sucede imediatamente o outro de modo racional, 
lógico e coerente.
Em lingüística chama-se microcontexto, o contexto ime- 
diato da palavra considerada, isto é, a palavra que precede e a 
palavra que segue, em oposição ao macrocontexto, que desig- 
na um contexto maior.
160
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
O contexto imediato de um versículo ou texto é forma- 
do pelos textos que vêm antes e depois do versículo considerado.
Deve-se:
1) verificar a situação histórica do texto;
2) saber quem foi o autor;
3) a quem o autor destinou o escrito;
4) e qual foi o propósito do autor.
Assim sendo:
• o contexto imediato de um versículo é o parágrafo pelo 
qual é formado;
• o contexto de um parágrafo é o capítulo que o forma;
• o contexto do capítulo é todo o livro.
Livro
capítulo_______________________________________________
parágrafo______________________________________________
versículo_______________________________________________
parágrafo______________________________________________
Isaías I .I I afirma que: “De que me serve a mim a multi- 
dão de vossos sacrifícios diz o SENHOR? Já estou farto dos 
holocaustos de carneiros, e da gordura de animais nédios, e 
não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem 
de bodes”.
Sem tomar conhecimento do contexto de Isaías L I I con- 
cluiremos, como fazem alguns intérpretes, que Deus está em 
contradição com toda legislação do Antigo Testamento, pois 
condena aquilo mesmo que Ele instituiu: os sacrifícios.11 Mas 
verificando o contexto do versículo I I , veremos que tanto na
161
H e rm e n ê u n c a fácil e descom plicada
ARA como na ARC o capítulo é formado por sete parágrafos
( I . I ; 2,3; 4-9; 10-17; 18-20; 21-26; 27-31).
O versículo em apreço ( I I ) , está no quarto parágrafo, 
então, o versículo 1 1 tem como contexto os parágrafos: 4-9 e 
18-20, e estes parágrafos todo o capítulo I.
Muitos intérpretes têm argumentado que Deus, através do 
versículo I I , rejeita a validade dos sacrifícios. Se admitirmos 
essa interpretação como correta, teremos que aceitar, com base 
na mesma seqüência lógica de textos, que Deus também está 
invalidando as orações no versículo 15 (mesmo parágrafo!). Deus, 
de fato, está invalidando os sacrifícios oferecidos por um povo 
injusto e impuro. Estes textos esclarecem que até mesmo as for- 
mas corretas e próprias de culto são inteiramente ofensivas ao 
Senhor quando prestado por crentes não arrependidos que ten- 
tam suborná-lo, a fim de que os poupe do castigo que mere- 
cem.12 O sentido do texto, de acordo com o contexto subse- 
qüente, é que Deus não aceita e não pode aceitar mesmo as 
ofertas mais pródigas e mais dispendiosas que os não 
arrependidos lhe possam colocar no altar.13 Neste exemplo, Deus 
está condenando em todo o capítulo a prática litúrgica destitu- 
ida de piedade e justiça. Ao descobrir o título principal do capí- 
tulo I, estamos prontos para saber como cada parágrafo ou 
bloco se inter-relacionam com a temática geral do capítulo.
Disposição dos parágrafos de Isaías I
( I .! ) :T ítu lo e descrição do período do ministério profé- 
tico de Isaías.
(2,3): A queixa do Senhor contra Israel que não o 
conhece.
(4-9): A descrição do estado espiritual de Israel devido 
ao formalismo.
!62
H e rm e n ê u t ic a C ontex tua l
(10-17): A condenação do culto hipócrita.
(18-20): U m convite ao arrependimento.
(21-26): Jerusalém é julgada e purificada de suas mazelas.
(27-31): Os transgressores são julgados e condenados 
juntamente com as árvores sagradas.
Deve-se observar que nem sempre os parágrafos ou blo- 
cos, tal como se encontram nas atuais edições das Escrituras, 
estão coerentemente divididos. As vezes bipartem as idéias 
centrais do texto como se fossem unidades distintas. Em mi- 
nha própria observação dos blocos que compõem o capítulo
I, o versículo 27 deveria fazer parte do sexto parágrafo, en- 
quanto o sétimo deveria iniciar no versículo 28. Visto que os 
versículos 25-27 tratam do reavivamento da cidade rebelde.
Nunca é demais insistir que:
• a exata extensão da delimitação do texto é conditio sine qua 
nonN para uma compreensão perspicaz das unidades que ο 
acompanham;
• determinar essas mtegridades lógicas subjaz uma com- 
preensão dos movimentos sucessivos do texto,no decurso dos 
quais produz, abandona e ultrapassa teses ligadas umas às ou- 
tras numa ordem racional;13
• a delimitação dos textos auxilia na determinação do 
conteúdo, de forma que o analista é capaz de saber se as uni- 
dades são congruentes e perfeitamente unidas, ou se verifica 
eli são de idéias e conceitos cuja estrutura dificulta a claridade 
do texto, o chamado contexto irregular.
Deve-se por fim registrar que uma das formas caligráficas 
comuns aos autógrafos, que perdurou até o século X d.C., foi 
a escrita uncial, que, além de ser em letra maiúscula (daí uncial), 
não possuía qualquer divisão entre as palavras, isto é, eram
163
H e rm e n ê u t ic a tácil e descomplicada
redigidos em escrita contínua, sem espaço entre as palavras, 
sem subdivisões de versículos, parágrafos ou capítulos, além 
de não possuírem acentuações. Importantes manuscritos como 
o Códice Sinaítico16, Alexandrino1' e o Vaticano16 foram re- 
digidos em escrita uncial.
Correndo o risco de perturbar a clareza de nossa assertiva, 
vejamos alguns porm enores das divisões de capítulos e 
versículos das Escrituras:
A Vulgata Latina foi a primeira versão dividida em capí- 
tulos, obra de Estêvão Langton, que a introduziu pela primei- 
ra vez na edição parisiense da Vulgata no século XIII. As divi- 
sões de capítulos feitas por Langton eram extensas por toda 
obra, possuindo textos relativamente curtos em cada capítulo. 
Contudo, foi necessário subdividir ainda os capítulos, e foi o 
que fez o abade dominicano Hugo de Samt Cher em 1250, 
ao compilar a sua Concordância, subdividindo cada capítulo 
em outros sete pequenos trechos designados pelas primeiras 
sete letras do alfabeto (a-g)19, totalizando 929 capítulos para 
o Antigo e 260 para o Novo Testamento. Mais tarde, o rabino 
Mardoqueo Nathan (1445), de modo análogo, divide o Anti- 
2 0 Testamento em versículos, cerca de 23.214, ficando a res-O
ponsabilidade da divisão em versículos do Novo Testamento a 
Robert Stevens (ou Roberto Estéfano), que em 1551, na ci- 
dade de Genebra, dividiu o Novo Testamento em 7.959 
versículos. Stevens também dividiu o Antigo Testamento em 
versículos, introduzindo essa divisão numa edição latina da 
Bíblia em 1555. A divisão feita por Stevens foi para substituir 
a introduzida por Santes Pagnini, que introduziu em sua ver- 
são latina dos originais, os versículos, porém, estes eram lon- 
gos demais vindo a ser substituída pelo labor de Stevens. Uma
164
H erm e n êu t ica C ontex tual
das razões pelas quais a divisão do texto bíblico apresenta cer- 
ta subjetividade pode ser atribuída a ocasião em que Stevens 
lançou-se a essa titânica tarefa. Segundo Wilson Paroschi20 a 
divisão do texto bíblico foi feita quando Stevens viajava de 
Paris a Lião, e que este foi confundido pelo balanço do animal 
ao fazer tal divisão. A padronização da pontuação e a divisão 
em parágrafos do texto foi feita por Johann A. Bengel (1687-
1752).
A guisa de epílogo, o leitor deve atentar para as constan- 
tes revisões das principais versões bíblicas. Como dizem os 
revisores da ARA, na apresentação de maio de 1975:
“E certo que toda tradução, ou revisão, da Bíblia Sagrada, 
ainda que levada a termo por íntegros peritos bíblicos, é sem- 
pre trabalho humano, e como tal, sujeito a falhas; por outro 
lado, no entanto, suscetível de melhoria” .21
Os parágrafos ou blocos já se encontram dispostos nas 
atuais edições da Bíblia Sagrada.
1) N a ARA / RA, aparece com uma palavra cuja primei- 
ra letra está em negrito (Gn I .I ) ;
2) N a ARC, a partir da edição de 1995, exibe a indica- 
ção de parágrafos de conteúdo, seguindo o modelo da ARA 
(Gn L I) ;
3) N a ECA (Edição Contemporânea de Almeida) e na Νλ/Ί 
não aparecem em negrito, ao contrário, os inícios de parágrafos 
aparecem edentados, enquanto os versículos que correspondem 
ao mesmo seguem nas linhas contínuas (Gn 1.9-13).
4) A Bíblia Viva divide os parágrafos em blocos distintos. 
Cada parágrafo é antecedido pelos números dos versículos 
que o correspondem.
165
H e rm e n êu t ica fác i l e descom plicada
5) A Trimtariana, não divide em parágrafos. Separa os 
capítulos apenas em epígrafes.
E assim que na ARA (1956):
O Salmo 2 apresenta cinco estrofes (1-4; 4-7; 7-10; 10- 
I2b; I2b), porém na 2 a edição da mesma (1993) apresenta 
apenas quatro (1-4; 4-10; I0 -I2 b ; I2b);
N a ARA (1956 e 1993) I Coríntios 12 o versículo 31 é 
bipartido (2 7 -3 Ia; 3 1b), formando um novo parágrafo, en- 
quanto na ARC (1995) o texto compõem-se do mesmo pará- 
grafo (27-31). Os exemplos seguiriam ininterruptos por toda 
a Bíblia. Quando comparamos Bíblias de edição católica com 
as protestantes, encontramos também disparidades entre ambas.
Os poéticos seguem o mesmo princípio divisório, exceto 
que nestes, os blocos não são chamados de parágrafos, mas 
estrofes e os versículos de versos.
O Salmo 139 surpreende não somente pela excelência 
literária, mas também pela sublimidade de sua mensagem es- 
piritual. Possui 24 versos, divididos em 4 estrofes (quaternário), 
contendo cada uma 6 versos (sextilha). Vejamos a estrutura 
deste maravilhoso poema:
I a estrofe: 1-6: A onisciência divina
2a estrofe: 7-12: A onipresença divina
3a estrofe: 13-18: A onipotência divina
4a estrofe: 19-24: O problema do mal
N a primeira estrofe (1-6): trata-se da onisciência divina. 
O salmista afirma que Deus conhece:
a) o seu coração (I) ,
b) os seus pensamentos (2),
c) os seus caminhos (2),
d) as suas palavras (4).
166
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
Isso indica o homem moral por inteiro, toda nossa vida 
interior e exterior. A omsciência é vista como uma realidade 
controladora, que influencia toda nossa vida e nosso ser, e não 
como uma simples abstração teológica ou filosófica.
N a segunda estrofe (7-12): trata-se da onipresença divi- 
na. Esta, por sua vez, é expressa em cinco extremos:
a) altura (v.8a),
b) profundidade (8b),
c) leste (9a),
d) oeste (9b),
e) trevas ( I I ) .
N o verso 9: “Se tomo as asas da alva...”. E uma referência 
poética ao nascer do sol e, portanto, ao leste: “e se habitar nas 
extremidades dos mares”, referência ao mar Mediterrâneo e, 
portanto, ao oeste. Nem altura, profundidade, leste e oeste, 
luz, e ainda as trevas, podem ocultar-nos da presença de Deus 
através de seu Santo Espírito (vs.7 ,II).
N a terceira estrofe (13-18): trata-se da onipotência divi- 
na, claramente evidenciada na repetição do verbo formar (vs. 
13, 14, 15). Nesta terceira estrofe o salmista relaciona a oni- 
potência à presciência divina: “Os teus olhos viram o meu 
corpo ainda informe” (16, cf. 17, 18). Deveríamos terminar 
de ler estes versos com a mesma admiração do salmista: “Que 
preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como 
é grande a soma deles!” (v. 17).
N a quarta estrofe (19-24): trata-se do problema do mal. 
Depois do salmista divisar todos os excelentes atributos divi- 
nos, considera que uma visão clara como essa, só pode levar o 
homem a abandonar o pecado e aborrecer o mal. Esta é a 
razão porque condena os pecados dos outros (vs. 19-22) e o 
dele próprio (v.23-24). Ao contemplarmos a Deus, à seme-
167
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
lhança do salmista e de Isaías (6), só nos resta ajoelharmos em 
oração, temor e confissão! 22
A estrutura do Salmo 139 sugere o título “Deus é louva- 
do pelos seus atributos”, ou ainda “Deus deve ser adorado 
pelo que é”.
Em cada um desses títulos verifica-se o relacionamento 
com os blocos ou estrofes que o formam. O aluno deve ter o 
cuidado de compreender satisfatoriamente a mensagem de cada 
parágrafo ou estrofe, a fim de dar-lhe o tema correspondente, 
de acordo com o título ou vice-versa.
H á salmos que possuem uma estrutura interna bastante 
simples, sendo formados por poucas estrofes.
O Salmo I possui apenas duas estrofes, que além de se- 
rem facilmente detectadas, são de uma coesão interna simples, 
por tratarem apenas de dois temas: o justo e o ímpio:
I o) A bem-aventurança do justo ( I.I -3 ) ;
2°) A brevidade dos ímpios (vs.4-6).
O mesmo exemplo pode ser verificado no Salmo 23:
I o) O Senhor é o nosso anfitrião (vv.I-3);
2 o) Deus está com os peregrinos (v.4);
3o) Deus é o nosso acolhedor (vv.5,6).
Nunca é demais repisar que o autor, quando termina a 
seção de um parágrafo, usa certos termos que indicam este 
término e outros vocábulos que sinalizam o início de outro.23 
Deve-se atentar para:
• As alterações de gênero;
• As alterações temporais;
• As alterações regionais;
168
H e rm e n ê u t ic a C ontex tua l
• As alterações de personagens;
• As alterações de conectivos lógicos.
C O N T E X T O R E M O T O
O macrocontexto, também chamado amplo, imediato ou 
remoto de uma palavra ou de um versículo, é um contexto 
maior que a palavra ou o versículo que precede ou segue o 
versículo considerado.
O contexto remoto é formado pelas passagens que não 
vêm imediatamente antes ou depois do texto, mas que se refe- 
rem ao assunto do texto.
Além de o exegeta contar com o esclarecimento do texto, 
derivado do contexto imediato, ele também é auxiliado pelo 
contexto remoto. Pois este é formado por todas as passagens 
que se referem ao assunto do texto.
Já sabemos qual é o título do capítulo I de Isaías, agora é 
necessário saber o que o restante do livro tem a dizer sobre o 
assunto.
N o capítulo 29.13 de Isaías, o Senhor condena o culto 
hipócrita e a cegueira espiritual do povo:
“O Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, 
e com a boca e com os lábios, me honra, mas o seu coração se 
afasta para longe de mim, e o seu temor para comigo consiste 
só de mandamentos de homens, em que foi instruído”.
E interessante verificar que o livro de Isaías possui duas 
principais divisões:
• A primeira, formada pelos 39 capítulos iniciais, cuja 
temática é a “Denúncia dos pecados de Judá”;
• A segunda, formada pelos capítulos 40-60, cujo tema é 
a “Consolação de Judá”.
169
H e rm e n êu t ica fácii e descom plicada
Todo o capítulo I está inserido na primeira seção (1-39), 
que é uma denúncia dos pecados de Judá. Assim, o capítulo é 
o primeiro de um composto de 39.
N o contexto amplo, o importante é verificar o tema ex- 
posto pelo versículo, parágrafo e capítulo e como ele se relaci- 
ona com o esboço geral do livro, e com temas semelhantes em 
outros livros.
Já observamos como o versículo 1 1 de Isaías I está rela- 
cionado à primeira divisão do livro. Agora veremos a rela- 
ção entre a temática do capítulo I com os demais livros das 
Escrituras.
Recorrendo a temas semelhantes ao de Isaías I, em ou- 
tros livros das Escrituras, estaremos aptos para entender o 
que as Escrituras afirmam sobre o formalismo, o ativismo 
religioso, e as práticas cúlticas destituídas de justiça e sensi- 
bilidade espiritual.
Temos várias personagens que servem como exemplos:
a) os filhos de Eli ( I Sm 2.12-36);
b) o estado de Israel e dos seus sacerdotes em Malaquias 
(M q I;2;3;4). Ao ler Malaquias I .6 -I4 , parece que estamos 
ouvindo Isaías em I . I I .
Ao que parece, o contexto remoto de um texto nas pági- 
nas do Novo Testamento se encontra aduzido nas próprias 
citações que prendem um a situação h istórica presente 
(sincrônica) a um fato ou profecia pretérita.
Por diversas vezes, os escritores do Novo Testamento uti- 
lizaram-se das profecias do Antigo Pacto — quanto a isso 
nada novo] O que muitos ignoram, todavia, é que essas cita- 
ções tanto acentuavam o cumprimento da profecia na histó- 
ria, quanto ligavam o fato a um contexto remoto.
170
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
Verifica-se esse procedim ento , como p o r exemplo, 
M arcos 7.6:
“Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hi- 
pócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, 
mas o seu coração está longe de mim. Em vão, porém, me hon- 
ram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens”.
Ao fazer referência a Isaías 29.13, Jesus cita a Escritura 
respeitando o contexto em que foi pronunciado, enquanto ao 
Diabo, condena-o por usar textualmente as Escrituras igno- 
rando, porém, o contexto (SI 91. I I cf. M t 4.6).
Creio não ser necessário insistir no contexto da primeira 
seção de Isaías (1-39), que condena os pecados de Judá, para 
verificarmos como é idêntica a situação denunciada por Cris- 
to aos seus contemporâneos.
Ao lermos o texto de Mateus 12.18-21:
“Eis aqui o meu servo que escolhi, o meu amado, em 
quem minha alma se compraz. Porei sobre ele o meu Espírito, 
e anunciará aos gentios o juízo. N ão contenderá, nem clama- 
rá, nem alguém ouvirá pelas ruas a sua voz. N ão esmagará a 
cana quebrada, e não apagará o morrão que fumega, até que 
faça triunfar o juízo. E, no seu nome, os gentios esperarão”.
Quanto mais estudamos sobre o contexto, mas impressi- 
onado ficamos pelo respeito dos escritores sacros a esta nor- 
ma. Mateus, ao citar Isaías, fê-lo dentro do contexto primiti- 
vo. A referência é ao capítulo 42 de Isaías, precisamente na 
segunda seção do livro que trata da “restauração ou consola- 
ção de Judá”.
Os exemplos continuam: confira a denúncia de Mateus 
I3 . I 4 ,I5 24 e compare com Isaías 6.9,10 ( I a seção), ou ainda 
a citação de Cristo em Lucas 4.18,19 com Isaías 61.1,2.
171
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
Se o próprio Cristo e os escritores sacros respeitaram o 
contexto das Escrituras, não devemos fazer o mesmo?
O uso do contexto remoto por Cristo, e mais tarde pelos 
apóstolos, inaugurou uma nova fase mterpretativa das Sagra- 
das Escrituras: A interpretação cristológica, tendo as profeci- 
as do Antigo Testamento como pilar, mas sendo explorada de 
seu contexto maior e geral para um particular e especial.
C O N T E X T O GRAMATICAL E LÓGICO
Contexto gramatical e lógico regem-se simultaneamente 
pelas leis da gramática e da lógica. O contexto gramatical e 
lógico confundem-se de modo que é impossível falar de um 
sem penetrar na esfera de ação do outro.
O contexto gramatical estuda as regras para a construção 
e coordenação das frases, exclusivamente através da sintaxe, a 
disposição das palavras na oração e das orações no período.
Entende-se por lógica a ciência do raciocínio correto. O 
contexto lógico ocupa-se do estudo da coerência interna do pen- 
sarnento e o modo como são aplicados. O objeto do contexto 
lógico é verificar a relação existente entre os termos de uma mes- 
ma frase, e daí determinar sua viabilidade ou incoerência.
O propósito do contexto gramatical é verificar o nexo 
dos termos com outros termos na mesma frase, e a relação da 
oração com outras orações do mesmo período. N o contexto 
lógico, entretanto, a conexão das idéias de uma determinada 
sentença, oração ou frase, relativas a outras orações do mesmo 
parágrafo, capítulo ou livro do mesmo autor.
O contexto lógico apresenta-se unido ao gramatical, prm- 
cipalmente através do uso de palavras que estabelecem liga- 
ções entre dois term os ou duas orações, os chamados
172
H e rm e n êu t ica C ontex tual
conectivos. Os conectivos podem apresentar-se como prepo- 
sições, conjunções 2נ , etc.
Os conectivos são palavras que ligam orações subordina- 
das e coordenadas à anterior. Os conectivos são de duas espé- 
cies: coordenantes, pois ligam orações coordenadas, e 
subordinantes, que ligam orações subordinadas. Há, ainda, 
outros conectivos: os pronomes relativos (que, quanto, quem, 
o qual, onde, cujo — depois de substantivo), que ligam ora- 
ções subordinadas adjetivas.
Conectivos Lógicos:
Causais
São conjunções subordmativas que ligam uma oração prin- 
cipal a uma subordinada na relação de causa e efeito.
I ) Podem designar a razão pela qual algo acontece:
a) porque: Em I João 2.8-16, encontramos nove vezes a 
conjunção causai “porque”. Quando João afirma que aquele 
que odeia a seu irmão “está em trevas, anda em trevas, e não 
sabe para onde deva 1r;” a causa disto é “porque as trevas lhe 
cegaram os olhos”.
b) por causa: Paulo afirma aos coríntios que o motivo 
pelo qual muitos nas igrejas estavamfracos e enfermos, era 
porque não discerniam o corpo de Cristo (v. 29): “Por causa 
disto há entre vós muitos fracos e enfermos, e muitos que 
dorm em ” (I Co 11.30). Enquanto o versículo 29 aborda a 
causa, o versículo 30 aborda o efeito.
c) porquanto: O uso do conectivo causai “porquanto” 
refere-se ao julgamento sobre àqueles que não crêem no 
umgênito Filho de Deus: “Quem crê nele não é condenado; 
mas quem não crê já está condenado; porquanto não crê no
173
H e rm e n êu t ica fácil e d escom phcada
nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3.18). A causa deste 
julgamento-morte não é porque foram predestinados a isso, 
mais sim, por uma decisão voluntária de não crer no Filho 
de Deus.
N outra ocasião, Paulo ordena aos efésios que usem pru- 
dentemente as oportunidades, “porquanto os dias são maus”
(E f 5.16).
Conclusivas
São conjunções coordenativas que ligam orações coorde- 
nadas conclusivas.
2) Designam a conclusão da primeira oração:
a) portanto: Essa conjunção, como as demais que se se- 
guem, ligam à oração anterior uma oração conseqüente que 
exprime conclusão.
“Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mun- 
do, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a 
todos os homens, por isso que todos pecaram.” (Rm 5.12).
N o parágrafo anterior (6 -11), Paulo refere-se ao homem 
em sua condição de pecador: ímpios (v. 6), ninguém morreria 
por um pecador (v. 7), Cristo morreu pelos pecadores (v. 8), 
pecadores justificados pelo sangue (v. 9), os pecadores são mi- 
migos de Deus (v. 10), os pecadores são reconciliados (v. I I ) .
Paulo conclui seu argumento anterior, “portanto”, e mi- 
cia uma segunda oração usando um conectivo de subordina- 
ção “assim como”, ao mesmo tempo que conclui o período 
explicando a razão porque todos os homens morrem, “por- 
quanto”. O encadeamento lógico das proposições que-com- 
põem este versículo, leva ao seguinte silogismo:
Pelo pecado entrou a morte no mundo 
Todos os homens pecam
174
H e rm e n ê u t ic a C on tex tua l
Logo, todos os homens morrem
Confira os outros “portanto” de Paulo aos Romanos: 2.1;
5.18; 8.1,12; 14.13; 15.2,7.
b) assim: Uma outra conjunção muito freqüente nas ora- 
ções seguidas por conjunções coordenativas conclusivas é o 
conectivo “assim”. Vejamos:
“Pois, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão 
o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém 
sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” ( I Co 2 .1 1).
N o versículo 10, Paulo já atestara que o Espírito Santo é 
aquEle que “esquad rinha todas as coisas, m esm o as 
profundezas de Deus”. A demonstração que ele ainda não 
interrompeu o seu argumento é o uso do conectivo conclusivo 
“pois”. Esse conectivo não apenas relaciona-se ao aspecto 
discursivo da linguagem, mas cria naquele que lê ou ouve, uma 
expectativa para o que sucede imediatamente. Assim como 
somente o espírito do homem entende as coisas do homem 
por causa da relação íntima existente entre ambos, Paulo con- 
clui, afirmando que somente o Espírito de Deus compreende 
as coisas de Deus, devido a sua relação íntima, ou seja, 
indissociável com Deus. Neste exemplo, Paulo parte de uma 
dedução primária, física e inferior, para uma outra, superior e 
metafísica. Mas a surpresa que espera o leitor está no argu- 
mento que sucede:
“Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o 
Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer 
o que nos é dado gratuitamente por Deus” (v. 12).
A conjunção explicativa “ora” prossegue o argumento 
antecedente designando a relação lógica entre ambos. Se o 
Espírito de Deus, que nEle está, conhece os mistérios de
,
175
H e rm e n êu t ica tácil e descom plicada
Deus, este mesmo Espírito que também habita em nós, proce- 
dente de Deus, revela-nos gratuitamente o conhecimento de 
Deus (v. 10).
Outros conectivos correspondentes:
* Por isso: “Por isso, Deus entregou tais homens a 
imundícia”(R m 1.24).
ψ Pois: “Se, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti 
mesmo?” (R m 2.26; 3.28)
Adversativas
São conjunções coordenativas que ligam orações coorde- 
nadas que expressam adversidade.
3) Designam adversidade:
a) mas: Essa conjunção e as da mesma classe ligam dois 
termos ou duas orações de igual função, acrescentando-lhes, 
porém, uma idéia de contraste.
“Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, 
por aquele que nos amou” (R m 8.37).
Paulo alista dez inimigos contra o soldado cristão: 
opositores (v.3I), acusadores (v.33), condenadores (v.34), tri- 
bulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada 
(v.35), porém, através da adversativa “mas”, acrescenta que 
“em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele 
que nos amou”.
N os textos de Romanos 7.19-25, Paulo usa quatro vezes o 
conectivo “mas”, sempre contrastando uma sentença com a outra: 
“N ão faço o bem... mas o mal que não quero, esse faço” 
“Mas, se eu faço o que não quero”
“Mas vejo nos meus membros, outra lei...”
“Sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne”.
176
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
“M as” é o tipo de conjunção adversativa que nitidamente 
indica adversidade de pensamentos ou idéias. Dentre esses 
conectivos, é este o mais ácido.
b) contudo: “Por isso, não desanimamos; pelo contrário, 
mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o 
nosso homem interior se renova de dia em dia” (R m 4.16).
As idéias de adversidade e contraste nesse versículo fi- 
cam evidenciadas pela oposição: homem exterior/hom em 
interior, corromper/renovar, ânimo/desânimo, estagnação/ 
renovo (dia a dia).
Vejamos a adversidade demonstrada pelo texto paulino 
de 2 Coríntios 13.4, onde “contudo” e “mas” se intercalam:
“Porque, ainda que tenha sido crucificado por fraqueza, 
vive, contudo, pelo poder de Deus. Porque nós também somos 
fracos nele, mas viveremos com ele pelo poder de Deus em vós”.
A primeira sentença, “crucificado em fraqueza”, é con- 
trastada (contudo) com a sentença de oposição “vive pelo 
poder de Deus”, enquanto por meio da adversativa “mas”, o 
contraste ocorre entre somos fracos/mas viveremos, com ele.
Outros conectivos:
* porém: “uns, para honra; outros, porém, para desonra” 
(2 Tm 2.20)
~ entretanto: “E, entretanto, os seus discípulos lhe roga- 
ram, dizendo: Rabi, come” (Jo 4.31)
* ainda: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e 
dos anjos” (I Co I3 .I )
" senão: “Quem pode perdoar pecados, senão Deus?”
(M c 2.7)
Deve-se distinguir entre o “senão” de Marcos 2.7 do “se 
não” de I Coríntios 13.1. Enquanto o primeiro pode ser tra­
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
duzido por “mas sim”, o segundo contudo, o “não” é advér- 
bio de negação e o “se” conjunção, que pode ser substituído 
por “e”, tal qual encontramos na ARC.
ψ aliás: “..para serdes vistos por eles; aliás [־ARA — “dou- 
tro m odo”], não tereis galardão junto de vosso Pai, que está 
nos céus” (M t 6.1)
Comparativas
São conjunções subordmativas que ligam orações subor- 
dinadas comparativas.
4) Designam comparação:
a) assim, (assim) como, assim também: Assim, como e 
assim também são conectivos subordinativos de comparação. 
Estes geralmente, iniciam uma oração adverbial que encerra 
uma comparação.
“[Assim] Como se dissipa a fumaça, assim tu os disper- 
sas; como se derrete a cera ante o fogo, assim à presença de 
Deus perecem os iníquos” (SI 68.2 ARA).
“[Assim] Como suspira a corça pelas correntes das águas, 
assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (SI 42.1 ARA) 
Nesse dístico, a segunda linha poética desenvolve a pri- 
meira elevando-a a um nível superior através do uso de um 
conectivo de comparação “assim”. Como figura literária, é 
claro estar se tratando de um símile, ou seja, uma comparação 
entre dois objetos ou ações, normalmente precedido por uma 
conjunção de comparação, a fim de impressionar o ouvinte 
com algo semelhante. Tomamos a liberdade de decompor esse 
dístico como se segue:
“[Assim] Como suspira a corça pelas correntes das águas, 
assim, por ti, ó Deus, suspiraa minha alma” (SI 42.1).
178
H e rm e n êu t ica C ontextual
Além da símile, a beleza poética desse canto está na su- 
gestão verbal do suspiro da corça. O salmista evoca uma ima- 
gem auditiva que projeta sentimentos de ansiedade, expectati- 
va e necessidade. Esse recurso poético chamado de onomatopéia 
também é usado no Salmo 93.3,4:
“Os rios levantam, ó Senhor, os rios levantam o seu ruí- 
do, os rios levantam as suas ondas. Mas o Senhor nas alturas é 
mais poderoso do que o ruído das grandes águas e do que as 
grandes ondas do mar”.
Em Eclesiastes 7.6 pode-se ouvir o riso tolo:
“Porque qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma 
panela, tal é o riso do tolo; também isso é vaidade”.
A imagem, típica do cenário palestino nos períodos de 
seca e praga, foi usada como palco profético por Joel ( L I 7- 
20), especificamente no verso 20:
“Também todos os animais do campo bramam a ti; porque 
os rios se secaram, e o fogo consumiu os pastos do deserto”.
Qual uma solitária corça suspira audivelmente por água, 
não escondendo sua sede e necessidade, assim o salmista não 
consegue disfarçar sua paixão e sede pela “fonte de águas vi- 
vas” (Jr 2.13):
“A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando 
entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? (SI 42.2)
O anelo pela presença de Deus é comparado ao suspiro 
audível da corça, tal qual o salmista se expressa.
b) qual, (tal) qual, (tanto) quanto: Esses conectivos de 
comparação são usados em diversas ocasiões. N o Cântico dos 
Cânticos, é usado principalmente para exaltar a graça e a be- 
leza do cônjuge. Vejamos:
179
H e rm e n êu t ica fácil e d escom phcada
“Qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha amiga entre 
as filhas. (Tal) Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal 
é o meu amado entre os filhos” (Ct 2.2,3).
Nesse epitalâmio, o esposo e a amada exaltam mutua- 
mente as qualidades um do outro. Em 2.1, ela se expressa 
afirmando ser “a rosa de Sarom”. Sarom era a planície costei- 
ra do Mediterrâneo entre Jope e Cesaréia. Era uma planície 
fértil com muita água e vegetação rica. Ao afirmar que era a 
“rosa de Sarom”, provavelmente esteja falando de algum tipo 
de rosa que se destacava das demais pela sua singeleza e bele- 
za. O esposo responde à amada, afirmando que assim como o 
lírio se destaca entre os espinhos, tal é a amada entre as demais 
virgens. Ela responde declarando que assim como, uma maci- 
eira se destaca entre as árvores da floresta, assim o amado 
entre os demais jovens.
Cada uma dessas comparações evoca uma imagem de con- 
traste, a fim de dignificar e exaltar as qualidades do cônjuge. A 
amada, ao escolher floresta em vez do pomar, o faz para que o 
contraste mais se acentue. O valor de uma macieira numa fio- 
resta é muito superior aquela encontrada no pomar.
Condicionais
São conjunções subordinativas adverbiais que ligam ora- 
ções subordinadas condicionais.
5) Designam condição:
a) exceto·, excetua: As conjunções condicionais ligam duas ora- 
ções, principal e subordinada, pondo a subordinada em relação 
de condição em que se indica uma hipótese ou uma condição 
necessária para que seja realizado ou não o fato principal.
“... e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e da 
Samaria, exceto os apóstolos” (At 8.1c).
180
H e rm e n êu t ica Contextual
exceto Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, e Josué, 
filho de Num, porquanto perseveraram em seguir ao Senhor”
(N m 32.12).
“Exceto”, em cada um desses textos, pode ser substituído 
por “salvo”. O versículo de Números 32.12 biparte o versículo
I I , e não deve ser considerado distinto deste, ao contrário, 
segue a linha lógica da narrativa.
Em I Coríntios 15.27, Paulo, tratando da subordina- 
ção de todos e tudo à Cristo, condiciona esse domínio nes- 
tes termos:
“Porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. 
Mas, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, claro 
está que se excetua aquele que sujeitou todas as coisas.”
Vej am os as três divisões lógicas deste d iscu rso , 
exemplificado pelos uso dos conectivos:
1 ) Explicativo: P o r q u e todas as coisas sujeitou debaixo 
de seus pés.
2) Adversativo: M a s , quando diz que todas as coisas lhe 
estão sujeitas,
3) Condicional: claro está que se EXCETUA aquele que su- 
jeitou todas as coisas
b) contanto que: “A mulher casada, está ligada pela lei todo 
o tempo em que o seu marido vive; mas, se falecer o seu mari- 
do, fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no 
Senhor” (1 C o 7.39).\ y
“Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto 
que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que 
recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da 
graça de Deus” (At 20.24).
181
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
Em cada um dos dois textos, “contanto que” pode ser 
substituído por “desde que”. N o primeiro texto, a viúva, é 
livre para casar-se. N o entanto, Paulo admoesta que ela não 
seja precipitada, condicionando a nova união “no Senhor”. 
“Contanto”, inicia a oração subordinada estabelecendo uma 
condição necessária para o novo matrimônio: “no Senhor”.
Texto célebre, usado por diversos missionários e pastores, 
o versículo 24 de Atos 20, o doutor dos gentios, estabelece uma 
condição para expor-se ao martírio: “contanto que cumpra com 
alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor 
Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus”.
Paulo não era um cavaleiro errante a procura de redemo- 
inhos para a batalha, e dispõe sua própria vida sob a condição 
de cumprir alegremente a carreira e o ministério recebido da 
parte do Senhor, não de outro modo.
Registre-se por fim que as conjunções coordenativas e as 
subordmativas, que mtroduzem orações, não têm, isoladamente 
nenhuma função sintática. Todavia, semelha acrescentar às 
observações anteriormente expendidas, que o conectivo pode 
também exercer função sintática de sujeito de objeto direto, de 
objeto indireto, de complemento-nominal, de adjunto adnominal, de ad- 
junto adverbial, preduativo e agente da passiva - os pronomes relati- 
vos. Mas isto foge dos limítrofes de nosso manual.
QUADRO DE ALGUNS CONECTIVOS LÓGICOS
R azão: porque
1 por causa
I porquanto
182
H e rm e n êu t ica Contex tua l
C onclusão: portanto 
assim 
por isso 
pois
A dversidade: mas
contudo
porém
entretanto
ainda
senão
aliás
C omparação: assim, assim como,
assim também
como, qual, tal qual
tanto quanto, tanto
C ondição : exceto
excetua
contanto que
desde que
Pelo que se depreende do que atrás foi dito, é que o con- 
texto gramatical e lógico unem-se naturalmente no discurso 
literário, cada um emprestando ao outro suas normas.
N o contexto gramatical, o hagiógrafo respeita as regras 
gramaticais; no lógico, as regras do raciocínio correto.
Como a pouco perlustramos, o sentido de um texto, se- 
gundo a gramática, não é o resultado de cada uma de suas 
partes, mas é um todo relacionado de forma específica com
183
H e rm e n êu t ic a fácil e descomplicada
suas partes. Daí, o cuidado que o hermeneuta deve ter para 
não dar devida ênfase a expressões menos importantes. O m- 
térpre te deve estar atento entre a relação da estru tura 
(morfologia) e da função (partes do discurso) com a mterpre- 
tação das Escrituras.
Os substantivos são as palavras com que se nomeia algo. 
N a Bíblia temos vários exemplos deles, como por exemplo:
a) de pessoa (Pedro, Paulo);
b) de lugar (Betânea, Egito);
c) de coisa (pedra, porta);
d) de conceito ou idéia (justificação, pecado, graça);
e) de ação (ascensão, crucificação), etc.26
N o contexto gramatical, não é apenas necessário como 
também plausível, que o intérprete faça um esquema das divi- 
sões das orações do texto, a fim de que a seqüência lógica do 
pensamento do autor fique mais patente, além, é claro, do 
período e sua estrutura.
Ú til ao estudante é o emprego do método lingüístico- 
gramatical também chamado de léxico-smtática. Esse método 
combina o estudo etimológico dos vocábulose a relação deste 
termo com as partes frasais que o acompanha.
Enquanto na análise léxica ou lingüística a ênfase está no 
sentido etimológico, sua origem (étimo), desenvolvimento 
(diacrônia), e o sentido deste termo empregado pelo autor 
(sincronia), a gramatical ou sintática verifica as relações funci- 
onais de cada uma das partes integrantes da frase.2־
Análise Etimológica
O termo etimologia procede da língua de Homero. E 
formado por dois termos: etyrnos, que é traduzido por “verda­
184
H erm e n êu t ica C ontextual
de” e, logos, “tratado, palavra, discurso ou relato”. Chama-se 
de etimologia o ramo da lingüística que se ocupa da origem, 
derivação e desenvolvimento dos vocábulos. O alvo do estudo 
etimológico é proporcionar um entendimento claro do vocá- 
bulo em análise, a fim de que o leitor hodierno compreenda 
os matizes lexicais, culturais e semânticos que circundam o 
lexema em apreço.
A análise etimológica precede a gramatical. N ão em im- 
portância, pois as duas são igualmente necessárias, mas por 
razões metodológicas. N os variegados exemplos apresentados 
nesta obra provamos o quanto é útil esse recurso hermenêutico. 
Acreditamos porém, ser mais fácil apresentar os perigos e fa- 
lácias deste método, quando usado inabilmente pelo intérpre- 
te, do que as regras seguras de análise, composição e interpre- 
tação. As vezes, o interpretante é encantado pela semelhança 
epidérmica do seu achado e não acura, contrasta ou testa sua 
conclusão acumulando prejuízos estratosféricos à intenção 
autoral. N a verdade, esse método de análise textual se movi- 
menta em busca do enlace e do divórcio, do falso e do verda- 
deiro, do real e do imaginário, e por isso as aparências fugidias 
e ambíguas devem ser rejeitadas. A guisa de remate deste tópi- 
co, vejamos como opera o método:
Ler o parágrafo várias vezes até compreender-lhe a tessitura, 
o sentido; a mensagem que o literato deseja comunicar. Ler não 
é pouco, se entendermos bem o que significa o termo.
Selecionar o termo-chave ou central do texto. Os vocá- 
bulos que se repetem propositalmente, os termos teológicos, 
litúrgicos ou cerimoniais que estão carregados de sentido pneu- 
mático (graça, expiação, purificação, redenção, etc.).
185
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
Exclusivamente este último, a terminologia usada para 
referir-se a redenção abrange diversos verbos e substantivos 
que participam do mesmo campo semântico.
Os verbos:
agorazõ (αγοράζω = comprar, adquirir, I Co 6.20);
exagorazõ (εξαγοράζω = redimir, comprar de volta, 
G1 3.13);
lytrôõ (λυτρόω = libertar ao pagar um resgate, redimir, 
resgatar, I Pe I .I8 ).
E os substantivos:
lytron (λυτρον = preço de libertação, resgate, M t 20.28);
antilytron (αντί λυτρον = resgate, preço pago para liber- 
tar um escravo, I Tm 2.6), e muitos outros, são termos que 
merecem atenção do exegeta quando encontrados no texto.
O estudo etimológico de um vocábulo conduzirá o exegeta 
ao estudo e a compreensão da estrutura e formação da palavra 
em apreço. Para tanto, o expositor terá que se imiscuir ao fas- 
cmante estudo dos sufixos formadores de substantivos, de 
adjetivos, de verbos, além é claro, de imergir na análise das 
palavras compostas.28
Com ajuda de uma concordância bíblica verificar o uso 
do termo em contextos anteriores e posteriores ao escrito e ao 
autor em análise, a fim de compreender o uso diacrônico e 
sincrônico do vocábulo.
Isto deve ser feito para que o hermeneuta evite a atribuição 
de um sentido recente de uma palavra ao vernáculo fossilizado 
das Escrituras, o chamado anacronismo semântico29, ou senti- 
do anacrônico. Para evitar esta e muitas outras falácias o exegeta 
deve conhecer as significações que o termo adquiriu no decor- 
rer do tempo, e o sentido corrente ou específico usado pelo
186
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
autor naquele contexto específico. Beekman e Callow, na opus 
magnum A Arte de Interpretar e Comunicar a Palavra Escrita ~ Técnicas de 
Tradução da Bíblia} tratando sobre a equivalência léxica entre as línguas — 
quando coisas ou eventos são desconhecidos na língua receptora, 
assinalam que no caso da tradução:
“... não existe uma distinção clara entre o que é anacrôni- 
co e o que não é. Contudo, há uma gradação que vai do mais 
anacrônico até 0 menos anacrônico... Provavelmente, não há hoje ne- 
nhuma versão do Novo Testamento que não inclua certo grau 
de anacronismo. N o entanto, casos sérios de anacronismo podem e 
devem ser evitados” 30 (grifos nossos).
Entre os vários exemplos apresentados na obra, citam 
quatro substitutos culturais que representam a gradação de 
anacronismos aceitáveis e inaceitáveis na tradução dinâmica 
da Bíblia, destes citamos apenas dois: “Ninguém costura re- 
mendo de pano novo em veste velha” (M c 2.21). Ao traduzir 
o texto para algumas tribos aborígines da Austrália, que não 
conhecem o pano, e daí não existe sentido textual para eles, 
Beekman e Callow consideram aceitável na tradução dinâmica 
a substituição da imagem “pano” por “pele de gambá”, visto 
ser essa pele o artefato usado para remendar um tapete nessas 
tribos. De certa forma este substituto cultural possui um cer- 
to grau de anacronismo semântico, entretanto, “deixar de usar 
um substituto cultural pode diminuir a fidelidade dinâmica, e 
provavelmente alguma parte da mensagem original não será 
entendida”.1' Já o texto de Lc 12.3: “... será proclamado dos ־
eirados” ( “dos telhados”, na BLH), um substituto por demais 
anacrônico, diminuindo a fidelidade histórica seria “será anun- 
ciado pelo rádio”.''2 Recomendamos aos interessados a leitura 
de Carson, Beekman e Callow, para aqueles que desejam co- 
nhecer todas as nuanças desta ciência.
187
H e rm e n êu t ic a fácil e descomplicada
• Consultar a palavra assinalada na língua original. Tra- 
duzi-la. Procurar o significado da mesma em um dicionário 
hebraico ou grego. Observar se o autor empregou o termo em 
sentido próprio ou conotativo.
• C o n su lta r o te rm o nos d ic io n á rio s teo lóg icos 
especializados para apreender o sentido original, desenvolvi- 
mento histórico, campo semântico e sentido usado por diver- 
sos hagiógrafos.
• Ser cuidadoso com os termos chamados de hapax legomenon 
(isto é, termos que aparecem apenas uma vez na Escritura).
Neste caso é importante reconhecer as diferenças apre- 
sentadas por Louis Berkhof, que divide estes em duas espéci- 
es: absolutos e relativos.33 O primeiro, quando um termo apa- 
rece uma única vez em todo acervo de literatura conhecida. O 
segundo, quando há apenas um exemplo nas Escrituras, josé 
M. M artinez assevera que na ocorrência de um hapax legomenon, 
o te rm o só pode ser “de te rm in ad o ou sim plesm ente 
conjecturado pelo contexto ou pela comparação de palavras 
análogas de outras línguas”.34 Quanto a isto, o expositor deve 
tranqüilizar-se, pois os bons dicionários e comentários 
exegéticos sempre assinalam estes termos raros.
Recorrer sempre ao contexto, seja ele inicial, imediato ou 
remoto. Pois mesmo que uma palavra seja polissêmica, o con- 
texto em que foi usada indicará o sentido pretendido pelo 
autor. Deve-se, portanto, atribuir prioridade não ao versículo 
isolado, mas a estrutura geral do texto — ao bloco que com- 
põe cada um dos versículos.
C O N T E X T O H IST Ó R IC O
Os contextos subseqüentes e remotos são muito úteis para 
a interpretação de qualquer texto bíblico. N ão podemos igno­
188
H erm en êu t ica C ontextual
rar, entretanto, os matizes histórico-culturais e literários que 
enriquecem e adornam a mensagem de determinados versículos. 
Esta realidade parte da premissa de que o hagiógrafo não é 
uma tabula rasa33, isto é, um indivíduo alheio à cultura de seu 
tempo e desprovido de qualquer saber que o habilite a ter um 
pré-conhecimento da realidade.36
A inspiração divma sobre os sacros escritores não elimi- 
nou suas idiossincrasias e, portanto, valeu-se do registro ope- 
rado pelos órgãos dos sentidos e da culturado tempo de cada 
um. As vezes, nos escritos sacros, vazam essa cultura dando 
beleza e fortalecendo a mensagem. Quando não há uma cita- 
ção literal de algum texto literário, escreve-se condenando 
muitos dos costumes licenciosos e pagãos da época.
Muitos leitores se surpreendem com a ironia, explosão de 
ira, eufemismo e desabrido usado por Paulo em Gálatas 5.12: 
“Tomara até se mutilassem os que vos incitam à rebeldia”.
O pomo da discórdia nesse texto é a circuncisão. Esse 
texto é polimorfo em seu contexto. Se valermo-nos do con- 
texto histórico, pode ser que seja uma referência aos ritos de 
castração dos sacerdotes, próprios do culto à deusa Cibele, na 
Galácia.
O culto a Cibele foi introduzido em Roma na época da 
segunda guerra púmca. A deusa era representada com os tra- 
ços e a aparência de uma mulher robusta que trazia uma coroa 
de carvalho, torres sobre a cabeça e uma chave que levava nas 
mãos indicando os tesouros que a terra guarda no inverno e 
concede no verão. Segundo a mitologia greco-romana, Cibele 
enamorou-se perdidamente pelo formoso jovem frígio Atis, a 
quem confiou o cuidado de seu culto, com a condição de que 
não violaria seu voto de castidade. Atis violou o juramento,
189
H e rm e n ê u t ic a fácil e descomplicada
casando-se com a ninfa Sangárida, sendo esta morta por Cibele. 
Atis, em um acesso de frenesi e torturado pela morte de sua 
amada, se mutilou. Cibele, para evitar o suicídio de Atis, o 
transforma em pinheiro.
Ao som de oboés e címbalos, nos cultos à deusa, todo 
tipo de licenciosidade era cometido — o som da música con- 
trastava-se com os uivos dos sacrificadores.
Uma porca, uma cabra ou um touro, era oferecido em sa- 
crifício a Cibele para lembrar a fertilidade da deusa. Eram-lhe 
consagrado o buxo e o pinheiro em memória do desafortunado 
Atis. Seus sacerdotes eram os Cabiros, os Conbantes, os Curetes, 
os Dáctilos do monte Ida, os Semíviros e os Telquinos, quase 
todos eunucos, trazendo à memória a sorte de Atis.
Estes sacerdotes, chamados também de Gálos, se castra- 
vam ou emasculavam-se, retirando os testículos com um pe- 
daço de cerâmica. Neste caso seria como se o apóstolo afir- 
masse: “Se para ser salvo e consagrar-se à Divindade é neces- 
sário circuncidar־se, porque não fazem eles como os sacerdo- 
tes de Cibele?”.
N o contexto veterotestamentário, a castração era um impedi- 
m ento à participação das assembléias santas (D t 23.1). 
A invectiva de Paulo à luz destes contextos torna-se mais veemente.
“Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos con- 
duz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a 
fragrância do seu conhecimento” (2 Co 2 .I4 -A R A \
Paulo, na função de mestre e pedagogo, exacerba no uso 
de imagens visuais para interiorizar o seu ensino nos discípu- 
los. Apela aos estímulos de seus ouvintes, projetando uma 
imagem dos conquistadores romanos sobre um ensino parti- 
cular das Escrituras.
190
H e rm e n êu t ica C ontextual
O texto, sem dúvida, refere-se à exposição dos vencidos 
ao escárnio por parte da soldadesca romana e do populacho, 
que concorriam para essas cerimônias. Socorramo-nos com 
um fato histórico, que provavelmente lançará luz ao contexto 
histórico do texto.
N o ano 51 d.C., quando os rom anos derro ta ram 
Caratacus, eles bem que poderiam tê-lo matado imediatamente 
e contar a história do massacre depois. Porém, não o fizeram. 
Levaram o líder subjugado e o arrastaram pelas ruas de Roma, 
fazendo uma exibição nacional de que os romanos mais uma 
vez haviam triunfado sobre seus inimigos.
A marcha triunfal exibia publicamente Caratacus e su- 
bordmados ao escárnio; quanto mais humilhado era o cativo, 
mais aumentava a glória dos conquistadores. Estes, arrastados 
pelos calcanhares atrás das carruagens, contrastavam com a 
fumaça adocicada do incenso que se seguia adiante deles.
Os templos com suas portas escancaradas, adornados de 
perfumadas flores; sobre os altares era queimado incenso à 
divindade. A fragrância dos conquistadores inebriava os pul- 
mões dos vencidos.
N ão havia necessidade de posicionar-se em praça públi- 
ca e, à vista de todos, proclamar como foi a vitória sobre os 
vencidos. Caratacus, como um troféu, estava lá para que to- 
dos o vissem.
Nossas traduções assinalam que Deus é o agente da vi- 
tória do crente, “Ele nos faz triunfar através de Cristo”. O 
texto não se refere só à vitória do crente, mas antes, à vitória 
de Deus sobre o crente — onde uma aporia é demonstrada: 
vencendo Deus ao crente, este se torna vitorioso por sua 
submissão a Deus, Jacó é um exemplo dessa verdade. Assim,
191
H e rm e n êu t ic a fácil e descompliccida
o crente cativo é exibido por Cristo. Por empréstimo, 
Champlín comenta:
“Portanto, o sentido dessas palavras é que os próprios 
apóstolos sejam vistos aqui como os cativos de Deus, aqueles 
sobre quem o Senhor obtivera total vitória, e a quem exibia 
como troféus de sua missão remidora, em Cristo Jesus. Essa 
exibição, pois, seria feita para benefício do resto do mundo, 
perante quem os apóstolos passariam em marcha, a fim de que 
outros pudessem unir-se à parada triunfal, deixando-se sujei- 
tar ao mesmo poder divino. Porém, ceder ao poder divino é 
uma vitória humana. Dessa forma é que os homens verdadei- 
ramente triunfam”.37
C O N T E X T O LITERÁRIO
Os escritores estavam familiarizados não somente com a 
cultura contemporânea à sua época, mas também com a lite- 
ratura poética e filosófica.
Chama-se de contexto literário (no âmbito bíblico) o con- 
texto que é próprio à literatura e publicações correntes no perí- 
odo vetero ou neotestamentário, e que servem como fundo lite- 
rário para a compreensão dos matizes literários das Escrituras.
Segundo Tenney:
“N o tempo de Augusto, Roma acomodou um grande 
avivamento literário, do qual o poeta Virgílio era um dos prin- 
cipais. Sua opus mais conhecida, Eneida, glorifica a Roma de 
Augusto. A época de Augusto foi o período áureo da poesia e 
literatura latina. Foi adornada por Horácio, que escrevia suas 
poesias nos moldes gregos, e por Ovídio, cujas histórias da 
mitologia grega e romana revelam as atitudes morais contem- 
porâneas do povo romano — moralidade esta capaz de es­
192
H e rm e n êu t ica Contex tual
pantar qualquer habitante de Sodoma! Mais tarde, Sêneca, o 
estóico, e tutor de Nero, produziu ensaios filosóficos e tragé- 
dias dramáticas. Petrônio compôs uma novela, que ainda hoje 
é uma das melhores fontes de conhecimentos da vida comum 
dos seus tempos. N ão muito depois destes, surgiram Plínio, o 
Velho, com sua História Natural, os historiadores Tácito e 
Suetômo e, depois destes, o satirista Juvenal ”.38
Ao contexto literário alia-se o estudo das formas literári- 
as. Esse método combina a crítica dos gêneros literários com a 
investigação de sua história. A crítica dos gêneros literários 
investiga-os com base em determinados critérios. A história 
dos gêneros é a história de seu uso no quadro da história do 
Oriente Médio, do Oriente Próximo e da Europa.39
Qualquer um desses autores sempre apresenta, em suas 
literaturas, várias fontes de pensamentos que se encontram 
relacionadas com a composição e coerção literária de vários 
textos neotestamentários.
O apóstolo Paulo foi o escritor sacro que mais se utilizou 
do contexto literário e cultural de sua época, provavelmente 
devido sua c idadan ia tam b ém ro m an a e a sua vasta 
intelectualidade, usando aqui e acolá vários recursos oratórios, 
tais como o “traductio” e a “diatribe”.
• traductio era uma técnica retórica usada pelos escritores 
latinos em que o escritor repetia insistentemente um vocábulo.
• Em 2 Coríntios 3, por exemplo, Paulo repete o termo 
kanoi (capazes) por três vezes ( ikanoi, ikanotes e ikanosem, vs.5,6);
• gramma (letra) por seis vezes Çengegrammene — 2 vezes; 
grammatos, gramma c grammasin, vv. 2, 3, 6 (2 vezes);
• diakonetheisa (ministrada), diakonous, diakonia (3, 6-9), e doksa 
por oito vezes (7,8,9,10,11).
193
He rm e n êu t ica fácil e descomplicada
• Em Efésios 1.3, eulogetos (bendito), eulogesas (abençoou), 
eulogia (bênçãos).
O Novo Testamento mostra que este era um recurso usa- 
do por outros escritores.
Tiago, no capítulo 1.22-26 repete poietai (fazer) por qua- 
tro vezes, e nos versículos 26, 27 repete threskeia (religião) por 
três vezes.
O propósito do traductío era reforçar o sentido imediato 
do texto através da repetição.
O principal propósito da d i a t r ib e grega é fazer com que 
o escritor entre logo em contato com os seus leitores, como 
um orador com seus ouvintes, daí, o termo significar coló- 
quio, sendo definido como uma forma literária com elemen- 
tos de tratado e de diálogo.
Paulo usando o recurso da diatribe aos seus leitores:
• apostrofa-os, faz perguntas (Rm 3.13; G1 3.19),
• introduz um adversário fictício (Rm 9.19; I I . 19)
. faz objeções (Rm 2.1,3; 9.20; 14.4,20,22)
• e gosta de contrastes (D eus/m undo; justiça/pecado; 
esp írito /carne/; espírito/letra; fé/lei; velho hom em /novo 
homem; longe/perto).41
N os escritos paulmos ocorrem certas alusões aos poetas 
e escritores gregos e latinos como Píndaro, Aristófanes, 
Epimênedes, Sêneca e muitos outros.
Em Atos dos Apóstolos (17.28), Paulo faz citação de um 
texto poético familiar aos atenienses: “... como também alguns 
dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração”.
O uso do pronome na segunda pessoa plural mdica que 
mais de um poeta havia se expressado nesses termos. Nesse 
texto, Paulo cita a poesia “F enôm enos/P hainótnena” de Arato
194
(315-240 a.C.), poeta, astrônomo e filósofo estóico, origina- 
rio da Cilícia, onde o apóstolo nascera, e também, a poesia 
“Hino a Zeus”, de Cleantos (331-232 a.C.), filósofo, disci- 
pulo e sucessor de Zenão, o fundador da escola estóica.
“Enche ele (Zeus) também o mar, todo o ribeiro e baía; 
E todos, em tudo, precisamos da ajuda de Zeus,
Pois também somos sua geração”
(Fenômenos, 1-5).42
O contexto histórico e o literário, às vezes, convergem si- 
multaneamente esclarecendo o sentido de determinados textos.
E o que ocorre em Romanos 7.24: “Miserável homem 
que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?”
O sentido literal é que o corpo, por meio da alma pecami- 
nosa, é controlado pelo princípio do pecado-morte. Mas o sen- 
tido histórico pode também facilitar o entendimento da mensa- 
gem. N o mundo antigo, costumava-se castigar um assassino por 
seu crime, amarrando-o membro a membro com a sua vítima. 
N a medida em que o cadáver se decompunha, o criminoso sen- 
tia todo o horror sufocante desse estado. E provável que o 
versículo 24 seja o próprio grito do condenado: “talaiporos ego 
anthropos! tis me husetai ek tou thanatos toutou”.
O contexto literário também pode auxiliar a interpretação 
desse versículo. Virgílio (Eneida) escreve sobre essa prática tam- 
bém como uma forma bárbara de tratar prisioneiros de guerra: 
“Que língua pode descrever tais barbaridades,
Ou enumerar os massacres da espada implacável dele. 
N ão foi bastante que os bons, os inocentes sangrassem; 
Ainda pior, ele amarrou os mortos aos vivos;
Estes, membro a membro, rosto a rosto, ele fixou;
O crime monstruoso! crime sem precedente.
H e rm e n êu t ica C on tex tua l
195
H e rm en êu t ica fácil e de$compl1c<i*H;i
Os vivos, sufocados com fedor, miseráveis deitado lá;
E, neste abraço repugnante, aos poucos, morreram!” 4׳' 
Em I Coríntios 15.32, “comamos e bebamos, porque 
amanhã morreremos” é a mesma expressão que se encontra em 
Isaías 22.13. Escavações arqueológicas descobriram numa al- 
deia vizinha aTarso, Anquiale, uma estátua de Sardanapalo Tun- 
dador da cidade de Tarso) com a seguinte inscrição: “Come, 
bebe, desfruta a vida. O resto nada significa”. E bem provável 
que além da citação de Isaías, Paulo tivesse consciência dessa 
declaração, tendo visto a estátua por mais de uma vez.44
Devemos considerar que Paulo, ao fazer citação de um 
trecho de qualquer fonte literária, está usando um recurso 
retórico comum em seus dias. O filósofo e escritor Sêneca fez 
largo uso deste método, e em Cartas a Lucilío faz citação de 
Virgílio quando diz:
“N o coração de cada homem de bem ‘habita um deus’. 
Qual é ele' N ão sabemos; mas é um deus” (grifo nosso).4:1
Ainda na mesma obra, Sêneca orienta ao seu aluno para 
que depure a sua idéia da divindade. Segundo o filósofo, Deus 
desce entre os homens. Escreve:
“Os deuses não têm por nós nem desprezo, nem inveja; 
eles nos querem junto de si e nos estendem a mão para nos 
ajudar em nossa ascensão. Admiraste que um homem possa 
chegar junto dos deuses: E Deus que vem entre os homens. 
Além disso, ele se faz próximo, desce neles. Sem Deus, não 
existe alma sábia”.46
Ao lermos este texto, somos capazes de estatuir que o 
mundo do Novo Testamento anelava pela presença real de Deus 
entre eles. Qual não foi o impacto da mensagem de João I .I - 
14,16-18 e Marcos I .IO -I I no mundo de então?
196
H e rm e n êu t ica Contex tua l
Em Tito 1.12, o apóstolo afirma: “U m deles, seu pró- 
prio profeta, disse: Os cretenses são sempre mentirosos, bes- 
tas ruins, ventres preguiçosos”.
O apóstolo Paulo faz citação, nesse texto, de um precon- 
ceito já existente no ambiente helenista contra os cretenses. 
Esse hexâmetro é atribuído a Epimênides de Cnossos, poeta 
do século VI a.C., escritor dos poemas Minos, Teogonia e 
uma coleção de oráculos. A tradição grega chamava-o de pro- 
feta, outros consideravam-no poeta, e até mesmo reformador 
religioso. Champlin afirma que alguns o tem como um dos 
sete homens mais sábios da cultura grega. E a citação de que 
os cretenses são mentirosos é porque, veja só, eles gabavam-se 
de guardar a tumba de Zeus! O apóstolo Paulo conhecia tanto 
a cultura e caráter dos habitantes de Creta que confirmou o 
poema no versículo 13: “Esse testemunho é verdadeiro”.
Os escritores sagrados usaram vez por outra, não somen- 
te a poesia e filosofia do seu tempo, mais também provérbios 
e textos apócrifos.
Em 2 Pedro 2.22, o apóstolo cita provérbios 26.1 Ia e 
complementa: “e a porca lavada volta a revolver-se no lama- 
çal”. A segunda parte desse provérbio combinado é de fonte 
não bíblica e desconhecida. Entretanto, os dois animais (cão 
e porco) já haviam sido usados por Cristo em Mateus 7.6, e 
devido aos seus hábitos imundos, serviram para os filósofos 
e poetas ilustrarem os vícios morais — um indivíduo era 
chamado de cão por causa do desregramento moral vivido 
por essa pessoa. E o caso por exemplo, do pai da filosofia 
cínica (cinismo), Diógenes de Smope, que foi chamado de 
kúmkos, isto é, “parecido com um cão” (daí cinismo), por 
satisfazer seus desejos publicamente. Certa ocasião mastur­
197
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
bou-se em público a fim de mostrar como é fácil axpessoa 
satisfazer seus desejos libidinosos.
O texto de Judas 9, desde Origenes, é considerado cita- 
ção do livro pseudepígrafo chamado “Assunção de Moisés”. 
Neste livro consta que “o Diabo não queria permitir que 
Miguel sepultasse a Moisés porque o corpo de Moisés per- 
tencia à ordem material, acusando-o de homicida e, por isso, 
não merecia um sepultamento digno. Miguel retruca, afirman- 
do que o Senhor é o criador e governador do mundo material, 
pelo que Satanás não possuía qualquer direito de se declarar 
sobre o assunto...”.4'
Sem mencionar as diversas figuras apocalípticas usadas 
no livro das Revelações que eram comuns a livros congêneres. 
Muitas dessas declarações literárias e outras semelhantes eram 
ouvidas com freqüência entre os filósofos estóicos, poetas la- 
tinos e do conhecimento do povo.
Esses conceitos refletem o panteísmo estóico e os ensi- 
nos das religiões de mistérios, pois derivavam de autores pa- 
gãos, honrando deuses pagãos. Entretanto, Paulo empregou 
trechos dos poemas destes, direcionando certas verdades 
distorcidas para a adoração do único Deus.
N o Antigo Testamento, a combinação entre cultura e 11- 
teratura não deixa de ser menosinteressante. Existia forte m- 
fluência egípcia na terra de Canaã antes da chegada dos hebreus. 
Isto quer dizer que os hebreus foram atingidos não somente 
pela cultura canamta, mas também pela influência que a cul- 
tura egípcia mantinha em Canaã. Semelhantemente ocorre no 
domínio literário; basta observar a influência do hino de 
Akhenáton (Amenófis IV ) com o Salmo 104, ou ainda o pa- 
rentesco de Provérbios 22.17-23 com algumas passagens do
198
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
Ensinamento de Amen-em-opet. O mesmo ocorre quando 
comparamos o “Cântico dos Cânticos” e alguns cânticos de 
amor egípcio.40
SINOPSE
O contexto é o nexo recíproco dos vários elementos duma 
oração, sejam próximos (contexto imediato), sejam distantes 
(contexto remoto).
O exame do contexto é extremamente importante por- 
que as palavras, as locuções e as frases podem assumir senti- 
dos múltiplos, os pensamentos normalmente são expressos 
por seqüência de palavras ou de frases, e desconsiderar o con- 
texto acarreta interpretações falsas.
Contexto inicial é a própria frase ou versículo em que o 
termo foi usado. Antes mesmo de recorrer ao contexto imedi- 
ato e remoto, é extremamente necessário entender o texto (frase) 
onde o termo aparece em seu conjunto.
N o contexto inicial, saber se o vocábulo está sendo usado 
em sentido denotativo ou conotativo é imprescindível.
O contexto conseqüente é aquele que procede imediata- 
mente ao texto.
O macrocontexto de uma palavra ou de um versículo é 
um contexto maior que a palavra ou o versículo que precede 
ou segue o versículo considerado.
N o contexto amplo, o importante é verificar o tema ex- 
posto pelo versículo, parágrafo e capítulo e como ele se relaci- 
ona com o esboço geral do livro, e com temas semelhantes em 
outros livros.
Chama-se contexto literário (no sentido bíblico) ao con- 
texto que é próprio a literatura e publicações correntes no
199
H e rm en êu t ica lacil e descomplicada
período vetero ou neotestamentário, e que serverfi como fun- 
do literário para se compreender os matizes literários das Es- 
crituras.
Ao que parece, o contexto remoto de um texto nas pági- 
nas do Novo Testamento, se encontra aduzido nas próprias 
citações que prendem uma situação histórica presente 
(sincrônica) a um fato ou profecia pretérita.
O contexto gramatical e lógico unem-se naturalmente no 
discurso literário, cada um emprestando ao outro suas normas.
Util ao estudante é o emprego do método lingüístico- 
gramatical também chamado de léxico-smtático. Esse método 
combina o estudo etimológico do vocábulo e a relação desse 
termo com as partes frasais que o acompanha.
O uso do contexto remoto por Cristo e mais tarde pelos 
apóstolos, inaugurou uma nova fase mterpretativa das Sagra- 
das Escrituras: A interpretação cristológica, tendo as profeci- 
as do Antigo Testamento como pilar, mas sendo explorada de 
seu contexto maior e geral para um particular e especial.
TR A BA L H A N D O CO M T E X T O S 
ESCRITURAS E CRÍTICAS
“(...) como as traduções são remodeladas à medida que 
são ultrapassadas, depois de algum tempo poderemos estar 
afastados da palavra de Deus, mas ainda assim insistindo em 
que todas nossas opiniões teológicas são bíblicas e, portanto, 
verdadeiras. Quando isso acontece, se estudarmos a Bíblia de 
uma forma que não seja crítica, é mais do que provável que 
iremos simplesmente reforçar nossos erros. Se a Bíblia deve 
cumprir sua obra de reforma contínua — reforma de nossas
200
H erm e n êu r ica Contex tua l
vidas e de nossas doutrina — devemos fazer tudo o que pu- 
dermos para ouvi-la novamente e utilizar os melhores recur- 
sos que se encontram à nossa disposição. A importância desse 
tipo de estudo não pode ser superestimada se pretendermos 
alcançar unanimidade nas questões de interpretação que ain- 
da nos dividem. Dirijo-me àqueles que têm uma visão das 
Escrituras: é muito angustiante perceber quantas diferenças 
existem entre nós com relação ao que a Bíblia realmente diz. 
As verdades supremas e unificadoras logicamente não devem 
ser minimizada, mas o fato é que, em meio aos que crêem que 
os sessenta e seis livros canônicos são nada menos que a Pala- 
vra de Deus escrita, há uma incômoda lista de opiniões teoló- 
gica mutuamente incompatíveis. [O fato de] os evangélicos, 
todos reivindicando uma norma bíblica, chegarem a formula- 
ções teológicas contraditórias em muitas questões abordadas, 
sugere a natureza problemática de sua atual concepção de in- 
terpretação teológica. Argumentar que a Bíblia tem autorida- 
de, mas ser incapaz de chegar algum tipo de acordo sobre o 
que ela diz (mesmo com aqueles que compartilham do mes- 
mo compromisso evangélico) é autofrustrante.
Por que será que, entre aqueles que têm conceitos eleva- 
dos acerca da autoridade das Escrituras, há alguns que acham 
que as línguas são o sinal definitivo do batismo do Espírito, 
outros que acreditam que o dom de línguas é opcional e ou- 
tros ainda que pensam que isso não existe mais como dom 
genuíno? O u por que existe tal superabundância de opiniões 
com relação à escatologia? Por um lado, claro, os motivos nem 
sempre sao racionais ou podem ser corrigidos apenas com 
maior rigor exegético. Muitos professores e pregadores bíbli-
201
H e rm e n êu t ica fácil e d escom phcada
cos locais foram obrigados a confrontar de maneira profunda 
as interpretações alternativas.
D. A. C A RSO N - A Exegese e Suas Falácias.
EXERCÍCIOS
1. Quais são os tipos comuns de contexto?
2. O que é contexto imediato?
3. Qual a importância do contexto para a interpretação 
bíblica?
4. Escolha um capítulo da Bíblia, divida-o em parágrafos 
e dê um tema para cada parágrafo de acordo com o assunto.
Bibli-Holmes
Ajude nosso detetive a investigar as diferenças estruturais 
dos parágrafos em cada versão bíblica conhecida.
LIVROS E LEITURAS PARA APROFUNDAMENTO
VIRKLER. Η . A. Hermenêutica Avançada — Principio e Proces- 
sos de Interpretação Bíblica, Vida (p. 59-67).
BEEKMAN, J. & C A L L O W , J. A Arte de Interpretar e Co- 
municar a Palavra Escrita — Técnicas de Tradução da Bíblia, Vida Nova
(p. 43-59).
W E G N E R , Uwe, Exegese do Novo Testamento — Manual de 
Metodologia, Paulos e Sinodal (p. 84-89).
EGGER, Wilhelm, Metodologia do Novo Testamento, Bíblica 
Loyola 12, 1994, p. 71-142; 155-179;
SIM IAN-YOFRE, Horácio (coord.) Metodologia do Antigo 
Testamento, Bíblica Loyola 28, 2000, p. 73s.; 123-144.
202
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
NOTAS
1Sobre a conexão entre vocábulos e frases e sobre os fato- 
res de coesão e falta de coesão, ver Wilhelm Egger, Metodologia 
do Novo Testamento, Bíblica Loyola 12, 1994, p. 7681.
2 Cf. Charles F. Pfeiffer & Everett F. Harrison, Comentário 
Bíblico Moody, V1.2: Josué a Cantares, 1995, p. 473. Ver também 
Documents from Old Testament Times (Documentos dos Tempos 
do Antigo Testamento), D. W. Thom as (ed.), 1958, p. 179. 
Veja Também, A. Barucq, et alii. Escritos do Oriente Antigo e Tontes 
Bíblicas, Biblioteca de Ciências Bíblicas, Edições Paulinas, 1992.
3 Paschoalm & Spadoto, Literatura,Gramática e Redação, 
1986, p. 15.
4 John Beekman & John Callow, A Arte de Interpretar e Comu- 
nicar a Palavra Escrita: Técnicas de Tradução da Bíblia, 1992, p. 97.
 .Este exemplo, com ligeiras modificações, devo ao Dr נ
Estevan F. Kirschner, quando cursava Hermenêutica Avança- 
da no CETEO L.
6 Juan Mateos & Fernando Camacho, Evangelho Figuras & 
Símbolos, p. 15-17.
.lindem ־
ô Ibidem.
9 Pontifícia Comissão Bíblica, A Interpretação da Bíblia na 
Igreja, p. 96.
10 Wittenstein, Op.cit., p. 188, considera: ״Digo uma fra- 
se: O tempo está bonito”; mas as palavras de fato são signos 
arbitrários — em seu lugar coloquemos esses: ‘a b c d ’. Mas 
agora se os leio, não posso sem mais vmcular-lhes o sentido 
acima. — Eu diria que não estou habituado a dizer “a” ao invés 
de ‘o’, ‘b ’ no lugar de ‘tempo’, etc. ( ״ .)”.
2 0 3
H e r m e n ê u t i c a faci l e d e s c o m p l i ca d a
11 A partir de um exemplo apresentado por Pedro Gilhuis 
é que desenvolvemos o assunto. Ver Gilhuis, In: Como Interpre- 
tar a Bíblia: Introdução à Hermenêutica, p. 109.
12 Charles F. Pfeiffer & Everett F. Harrison, Comentário 
Bíblico Moody, Isaías a Malaquias, vl. 3, p. 8. Consulte também 
Epsztem, A Justiça Social no Antigo Oriente Médio e 0 Povo da Bíblia, 
Edições Paulinas, p. 53; Barucq Çet alii), Escritos do Oriente Antigo 
e Fontes Bíblicas, Edições Paulinas.
13 Ibid.
14 Isto é, uma condição ou exigência que não se pode 
dispensar.
13 Cf. Victor Goldshimit, Tempo Histórico e Tempo Lógico na 
Interpretação dos Sistemas Tilosóficos, In: A Religião de Platão, p. 140.
16 Escrito em pergaminho fino de excelente qualidade, 
contém em 347 folhas boa parte do Antigo Testamento e todo 
o Novo Testamento arranjados em cadernos de oito folhas.
17 Escrito em duas colunas por página, num pergaminho 
muito fino, consiste em 773 folhas de praticamente todo o 
Antigo e Novo Testamento, mais as duas epístolas de Cie- 
mente de Roma.
18 Escrito em pergaminho de excelente qualidade, consis- 
te em 759 folhas de um códice que continha originalmente 
cerca de 820.
19 Ballarme, op.cit., p. 184.
20 Crítica Textual do Novo Testamento, p. 112.
21 A Bíblia Sagrada, traduzida em Português por João Ferreira 
de Almeida, Edição Revista e Atualizada no Brasil, Sociedade 
Bíblica do Brasil, 1969, Brasília, p. 5.
22 J. Sidlow Baxter, Examinai as Escrituras, p. I3 0 -I .
204
H e rm e n êu t ica C ontextual
 Sobre a delimitação e constituição do texto confira '־2
Horácio Simian-Yofre (coord.), Metodologia do Antigo Testamento, 
Bíblica Loyola 28, 2000, p. 79-84. Ver ainda Wilhelm Egger, 
Metodologia do Novo Testamento, Bíblica Loyola 12, 1994, p. 52-58.
24 P. M. Beaude, De acordo com as Escrituras, Cadernos Bíbli- 
cos, p. 39, pensa de modo distinto. Para ele, Mateus não se 
interessa pelo contexto dos oráculos que cita; podendo 
transplantá-los e misturá-los, cita por exemplo, o uso combi- 
nado de M q 5.1 com 2 Sm 5.2 citado em M t 2.6.
2' Para uma visão geral das preposições, conjunções e in- 
terjeições importantes no NT, f . Carlos Osvaldo Pinto & Bruce 
M. Metzger, Estudos do Vocabulário do Novo Eestamento, 1996, SP, 
Vida Nova, p. 27-31. Veja Barbara Friberg & Timothy Friberg 
(ed.), Novo Eestamento Grego Analítico, 1987, SP, Vida Nova, p. 
833-40. Cf. D IT N T .
Os casos apresentados não são exaustivos. Dependendo 
da tradução adotada pelo leitor, um conectivo pode ser muda- 
do por outro. Por isso, caso o estudante deseje um estudo 
mais adiantado deve ler as bibliografias recomendadas.
־י( Consulte, por exemplo, Roy B. Zuck, A Interpretação B í- 
blica. p. 129-41. Ver também, Augusto Gotardelo, Português para 
Pregadores Evangélicos, SP, Vida Nova.
2 Sobre a diacronia e sincronia ver W ilhelm Egger, 
Metodologia do Novo Testamento, Bíblica Loyola 12, 1994, p. 71- 
142; 155-179; cf. Florácio Simian-Yofre (Coord.), Metodologia 
do Antigo Testamento, Bíblica Lovola28, 2000, p. 73s.; 123-144;
20 C f C. O. Cardoso Pinto & Bruce M. Metzger, op.cit, 
p.107-136.
~9 D. A. Carson, A Exegese e Suas Falácias - Perigos na Interpre- 
tação da Bíblia.
205
H erm en êu t ica fácil e descomplicâda.
30 Cf. p. 180-98.
31 Op.cit., p. 194.
32 Ibidem.
33 Princípios de Interpretação Bíblica, p. 75.
34 Hermenêutica Bíblica, p. 142.
.”Literalmente “folha em branco ב3
36 Prócoro VELASQUES FILHO, In: O nascimento do 
“Racismo” confessional: raízes do conservadorismo protes- 
tante e do fundamentalismo, Introdução ao Protestantismo 
no Brasil, p. 115.
3/ Champlin, O Novo Testamento Versículo por Versículo, 1995, 
vl. IV, p. 308.
38 M erril C. Tenney, O Novo Testamento, Sua Origem e Análise, 
p. 81.
39 Para uma compreensão adequada das formas literárias 
do Novo Testamento recomendamos a obra de Klaus Berger, 
A s Formas literárias do Novo Testamento, São Paulo, Edições 
Loyola: 1998.
40 Diatribe (δ ια τρ ιβ ή ), é um colóquio - uma forma lite- 
rária com elementos de diálogo. Cf. A. Van Den Bom, Dicio- 
nário Enciclopédico da Bíblia)l 9 8 5 , p.397.
41 Cf. A . Van Den Bom, Dicionário Enciclopédico da Bíblia, 
p. 397. O autor faz uma sinopse histórica do uso da diatribe 
a partir de Sócrates, passando pelos círculos dos sofistas e sua 
sistematização pela filosofia cínico-estóica. Menciona ainda, 
os mais antigos fragmentos que constam esse recurso retórico. 
Divide a diatribe em dois pólos principais: uma forma popu- 
lar e outra erudita ou literária. Cita entre outras obras de refe- 
rência a tese de Bultmann quando este encerrava o curso de 
Licenciatura em Teologia em 1910: D er Stil der paulinischen Predigt
206
H e rm e n êu t ica C ontex tua l
und kunischstoische Diatribe. C f também Klaus Berger, As Formas 
Literárias do Novo Testamento, 1998, p. 104-5.
42 Champlin, 1995, op.cit., vl. Ill, Atos a Romanos, p. 377.
43 Op. cit., p. 698.
44 Op.cit., vl IV, p. 258.
-J. Comby, J., P. Lemonon, Vida e Religiões no Império Roma י~4 
no, p. 30.
46 Ibid., p . 29
4' Champlin, 1995, op.cit., vl. VI, p. 336. U m resumo cri- 
tico do livro pseudepígrafo “Assunção de Moisés” e referênci- 
as bibliográficas (não disponíveis em português) pode ser en- 
contrado em L. Rost, Introdução aos Livros Apócrifos e Pseudepígrafos 
do Antigo Testamento e aos Manuscritos de Qumran, p . 149-152, Edi- 
ções Paulinas.
48 Cf. A. Barucq (et ahi), Escritos do Oriente Antigo e Fontes 
Bíblicas, São Paulo, Edições Paulinas: 1992.
CAPÍTULO 7
<f־[e()taísn\o$
Um dos percalços extremamente sérios com que se tem 
defrontado a Hermenêutica Bíblica, desde a 
antigü1dade} é ofato da variabilidade da língua e da 
cultura hebraica. Sua formação, composição gramatical 
e histórico cultural cobrem períodos abissais que, 
não raras vezes, só épossível uma correta interpretação, 
através do estudo sincrônico da linguagem.
Para que haja uma compreensão adequada das Escrituras, 
é necessário uma compenetração e empatia com a cultura 
hebraica. Os hagiógrafos deixaram registrados nas Escrituras 
os matizes culturais e formas próprias de expressão semita 
que nos causam estranheza à primeira vista. São frases rechea- 
das de figuras selváticas e campestres, todas retiradas da ob- 
servação do ambiente que cercava os escritores sacros.
Se na cultura ocidental hodierna, chamar a outros de 
jumento ou de gazela ofende ao gosto estético, e por vezes 
moral, não era o mesmo na cultura hebréia daqueles dias. 
Issacar foi chamado de jumento de fortes ossos; Naftali, de
H e rm e n êu t ica írácil e descomplicada
uma gazela solta; Benjamim, lobo que despedaça; Dã, ser- 
pente junto ao caminho, sem que eles se sentissem ofendi- 
dos pela metáfora (Gn 49).
Pouco adianta ao intérprete o conhecimento da filologia 
sacra, se não for acompanhado da compenetração com o gê- 
nio característico da cultura hebraica. O conhecimento 
filológico e sintático é extremamente essencial; mesmo assim, 
a interpretação pode continuar cálida, estática, sem qualquer 
dinamismo. O que cria mobilização na interpretação do texto 
é justamente essa congenialidade com a cultura e a dicção 
semita. Daí a necessidade de se estudar smcrônicamente as 
Escrituras, isto é, mergulhar no ambiente histórico-cultural 
do hagiógrafo. Não podemos divorciar a análise sintática da 
análise cultural.
O que pretendemos, neste caso, é verificar smcrônicamente 
a linguagem dos hagiógrafos. Sincronia é o estudo da língua- 
gem, sem levar em consideração sua evolução histórica 
(diacronia), considerando, portanto, o mecanismo pelo qual 
uma língua funciona num dado momento. E evidente que não 
visamos fazer tais análises técnicas, mas lembrar que o méto- 
do é científico.
Principais Características de Pensamentos 
e Linguagem dos Hagiógrafos
Hebraísmos
Hebraísmos são determinadas expressões idiomáticas en- 
contradas nas Escrituras, que registram a forma de comunica- 
ção específica dos judeus. São idiotismos familiares à cultura 
hebraicade então, desconhecida do exegeta e que não podem
2 1 0
H ebra ísm os
ser determinadas a priori, mas somente através de um estudo 
consciencioso.
Quando estudamos os hebraísmos, estamos analisando 
as Escrituras smcromcamente. Geralmente as estruturas lin- 
güísticas chamadas de hebraísmos são aplicadas a um com- 
portamento social, que por suas características culturais não 
são perceptíveis ao leitor hodierno. Estabelecida tal premissa, 
busquemos socorro em C. Charlier:
“O conhecimento mesmo das línguas originais se torna 
inútil, se não é vivificado por uma comunhão simpática e in- 
tuitiva com o gênio próprio da civilização à qual pertencia o 
escritor. E preciso aprender a ler entre as linhas e procurar 
penetrar aos poucos no ambiente de vida em que se movia o 
autor sagrado, ambiente que transparece no texto bíblico”.1
As atuais traduções vernáculas preocupam-se em não ex- 
pressar alguns idiomatismos da língua hebraica, tal qual se 
encontram nos originais, pois apresentaria grande dificuldade 
de interpretação, embora ainda conste inúmeros deles em nossas 
Bíblias, que, por vezes, trai ao leitor desatento. Outro nome 
pelo qual os hebraísmos são conhecidos é semitismos.
Analisemos alguns dos hebraísmos ou semitismos mais 
comuns, que transparecem através do gênio semita nas Escri- 
turas (Lc 24.27). A guisa de exemplo, citaremos alguns hebra- 
ísmos e suas peculiaridades.
I) Hebraísmo de Posse e Poder:
“Sobre Edom lançarei a minha sandália, sobre a terra dos 
filisteus cantarei o meu triunfo” (SI 108.9; 60.8, cf. Gn 14.23).
Nesse texto, “lançar a sandália” refere-se ao ato de tomar 
posse de alguma coisa ou dommar sobre algo. A luz de Rute
211
H e r m e n ê u t i c a ta ci l e d e s c o m p l i c a d a
4.7,8, compreendemos que o ato de descalçar os sapatos fazia 
parte das transações comerciais da época, indicando o direito 
legal sobre alguma coisa. Quando o remidor não desejava ad- 
quirir aquilo que estivesse em permuta, dava o direito ao pa- 
rente que estivesse na vez, após ele. O ato era oficializado quan- 
do o remidor tirava o sapato e entregava ao parente mais 
próximo. Isto era símbolo de que ele estava passando a ou- 
trem o direito sobre aquela propriedade (veja D t 25 .5-11 so- 
bre a lei do levirato).
Além disso, devemos acrescentar que o pé, para os anti- 
gos hebreus, era símbolo de poder (SI 36 .11). O símbolo de- 
riva-se do ato de o vencedor colocar o pé na nuca do vencido: 
“Chegai, ponde os vossos pés sobre o pescoço destes reis. E 
chegaram e puseram os seus pés sobre os pescoços deles” (Js 
10.24; SI IIO .I). Em Mateus 18.29 o súdito prostra-se aos 
pés de seu senhor, demonstrando a sua dependência e auton- 
dade do senhor sobre ele (Mc 5.22). Desde então, para o ju- 
deu, “colocar alguma coisa aos pés de alguém” significa 
submetê-la ao seu poder: “Deste-lhe domínio sobre as obras 
da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste” (SI 8.6 ARA).
E com essa compenetração cultural que devemos enten- 
der os hebraísmos cristológicos de I Coríntios 15.25-27, 
Efésios 1.22, Hebreus 2.8 e a promessa cristã de Romanos 
16.20. Além disso, o pé também representava a posse: “Todo 
o lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso” (D t 11.24). 
Daí, “lançar a sandália” é uma extensão do hebraísmo “pé”, 
que conotava o poder e domínio sobre alguma coisa.
2) Hebraísmo de Felicidade e Suficiência:
“A minha alma se farta, como de tutano e de gordura; e a 
minha boca te louva com alegres lábios” (SI 63.5).
212
H e b r a í s m o s
A escolha desse texto, justifica-se porque ele descreve dois 
aspectos do mesmo hebraísmo: suficiência e sentimento. Já 
em Gênesis 41 aprendemos que as vacas gordas representam 
prosperidade, suficiência, abundância e, conseqüentemente, a 
felicidade (vv.26,29), enquanto as magras, necessidade, escas- 
sez, fome e tristeza (vv.27,30).
Imagens como essas eram freqüentes no Crescente Fértil. 
Nos períodos áureos, o gado sempre gordo refletia a prosper!- 
dade da terra, trazendo alegria a seus donos, enquanto o reba- 
nho magro refletia a miséria e infortúnio. Desde então, os ju- 
deus, nada afeitos a termos abstratos, preferiam referir-se sobre 
a suficiência e prosperidade, utilizando-se de imagens como gor- 
dura, vacas gordas e tutanos (gordura do interior dos ossos).
A bênção de Isaque sobre seu filho incluía a “gordura da 
terra”, conotativamente representando as “riquezas e prospe- 
ridades advindas da produtividade agrícola”:
“Assim, pois, Deus te dê do orvalho do céu, da gordura da 
terra, e da abundância de trigo e de mosto” (Gn 27.28 ECA).
N a tradução, a ARA omite o hebraísmo “da gordura da 
terra”, traduzindo por “exuberância da terra”. Ao seu outro 
filho, Isaque diz:
“Longe dos lugares férteis da terra será a tua habitação, e 
sem orvalho que cai do alto” (v.39).
A ARA traduz por “longe dos lugares férteis da terra 
será a tua habitação”.
A prosperidade sobre Israel restaurado incluía a prospen- 
dade e riqueza dos sacerdotes: “Saciarei de gordura a alma dos 
sacerdotes” (Jr 31.14 ECA), o que quer dizer que os sacerdo- 
tes terão uma vida próspera e afortunada.
213
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
N o que diz respeito ao aspecto sentimental, é que a gor- 
dura era considerada pelos judeus de então, a sede dos senti- 
mentos por estar mtrinsecamente relacionada com as entra- 
nhas, enquanto o sangue, com a sede da vida. Daí, usar-se 
quase sempre no cenmomalismo levítico a junção entre san- 
gue e gordura. Enquanto o sangue representa a expiação, a 
gordura representa uma celebração pelas riquezas ministradas 
ao ofertante.
Em Gênesis 4.4, a gordura é separada para ser oferecida 
para a divindade. A gordura por certo, representava os mo- 
mentos festivos e alegres vividos pelo ofertante (Ex 23.18).
N ão sabemos ao certo se a gordura passou a representar 
os sentimentos devido a prescrição de Levíticos 3.3, ou vice- 
versa. Certo é, que o texto de Levítico 3.3 projeta luz sobre o 
sentido de “gordura” representando os sentimentos, pois, a 
restrição é que se ofereça nos sacrifícios pacíficos “a gordura 
que esta sobre (ou cobre) as entranhas” — ARA (adendo 
nosso). As entranhas (vísceras contidas no abdômen), por se- 
rem internas e ocultas, muitas vezes pela gordura, representa- 
vam os sentimentos. E assim que é dito que a ternura, o afeto 
e a compaixão brotam das entranhas, o que significa da alma, 
do íntimo (Is 63.15; 2 Co 7.15; Fp 1.8; 2.1).
Portanto, é provável que a gordura, ao representar os “sen- 
timentos”, seja uma metonímia de uma figura já considerada.
Conseqüentemente, a gordura representava a felicidade, a 
alegria. Daí, os hagiógrafos, substituírem o substantivo abstrato 
“alegria” pela expressão gordura, porque esta representava a far- 
tura e a suficiência, é por isso que o salmista assim se expressa:
“Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás beber 
da corrente das tuas delícias” (SI 36.8).
2 1 4
H ebra ísm os
“Tu coroas o ano da tua bondade, e as tuas veredas desti- 
lam gordura” (SI 65.11)
Entendemos, pois, que os escritores sagrados procura- 
vam expressar-se utilizando-se do dinamismo de sua língua- 
cultura, em vez de confinar no sentido dos termos aos valores 
estáticos da língua. Por isso, os substantivos abstratos alegria, 
felicidade, poder e domínio eram substituídos por termos 
concretos tais como gordura, tutano, sandália e pé.
3) Hebraísmo de Contraste ou Antítese
Os judeus usaram constantemente a antítese para desig- 
nar a virtude em contraste com a fraqueza, a sabedoria em 
oposição à loucura, a prudência contrapondo-se à ingenuida- 
de, o amor ao ódio, e assim respectivamente. Esses contrastes 
ilustram uma realidade através da enunciação do oposto, es- 
pecificamente quando se trata de questões de conduta, seja ela 
moral, ou religiosa. N a poética hebraica chama-se “paralelismo 
antitético”, pois a primeira linha poética entra em franca opo- 
sição com a segunda. O segundo verso faz agudo contraste 
com o primeiro.
“O filho sábioalegrará a seu pai, mas o homem insensato 
despreza a sua mãe” (Pv 15.20).
“Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela 
manhã” (Sl 30.5).
Em cada um desses dísticos (estrofes com dois versos) 
verifica-se o uso proposital da antítese: pai/mãe; filho sáb io / 
homem insensato; alegra/despreza; anoitecer/manhã; choro / 
alegria.
I) Amar e Odiar: Noutras ocasiões usava-se o contraste 
para designar a preferência entre duas pessoas, com o contras-
2 1 5
H e rm e n êu t ica tácil e descomplicada
te dos termos amar e aborrecer ou odiar. Quando se amava 
mais um indivíduo do que a outro costumava-se usar esse 
paralelismo antitético a fim de que evidenciasse claramente a 
distinção ou preferência de um pelo outro.
“Amei a Jacó e aborreci a Esaú” (M l 1.2,3; Rrn 9.13).
O u seja: “Preferi Jacó a Esaú”.
“Se alguém vier a mim e não aborrecer a seu pai, e mãe, e 
mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua pró- 
pria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14.26; cf M t 10.37).
Isto é: “Se alguém ama ou prefere os seus, em vez de 
mim, não pode ser meu discípulo”.
“Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo 
odeia a sua vida, guarda-la-á para a vida eterna” (Jo 12.25).
Bettencourt assinala que essa antítese: “amar-odiar” sig- 
nifica satisfazer desregradamente e coibir devidamente as ten- 
dências da alma, podendo a coibição ou renúncia levar até à 
morte de martírio”.2
Muitos outros hebraísmos poderiam ser acrescentados: 
misericórdia/sacrifício; ju s to / ímpio; entrar/sair; assentar/ 
levantar, etc.
Observe, por exemplo, 2 Coríntios 5.1:
“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo 
se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita 
por mãos, eterna, nos céus”.
O grau de contraste desse versículo é um dos mais elevados 
de todo o Novo Testamento. A transitonedade da matéria orgâ- 
nica, especificamente do corpo, é contrastada com a eternidade 
que o aguarda. Se por um lado o apóstolo usou imagens transi- 
tórias como a do tabernáculo, por outro contrastou essa ima- 
gem com a figura do edifício, que reflete a estabilidade e perma­
216
H ebra ísm os
nência. O corpo mortal contrastado com o glorioso. Paulo dei- 
xa subentendido (sentido implícito) de que recebemos da parte 
de nossos pais terrestres um corpo corruptível, enquanto do 
nosso Celestial um incorruptível. Para tanto, o apóstolo não 
economizou paralelos antitéticos, vejamos:
Corpo M ortal Corpo Glorioso
casa (feita por mãos) 
terrestre 
tabernáculo 
desfizer
parte dos genitores
casa (não feita por mãos)
céus
edifício
eterna
parte de Deus
4) Hebraísmo de Poder e Força
Um dos fatos interessantes no gênio semita que dão azo 
a diversas proposições poéticas é a equivalência de significa- 
dos que um objeto concreto empresta a um termo ou expres- 
são abstrativa. O hagiógrafo, ao contemplar a multicolorida 
criação divina, se inebriava com a variedade das obras de Deus: 
“Ó SE N H O R , quão variadas são as tuas obras!” (SI 104.24 a). 
Esta visão cosmogônica da criação adubava a criatividade poéti- 
ca do escritor sacro, servindo de fulcro para o seu estilo literário 
e apoio para a comunicação da mensagem: ״.(״) a minha língua 
é a pena de um destro escritor” (SI 45b). Assim, usaram cons- 
tantemente exemplos extraídos dos hábitos dos animais, da 
praticidade da vida cotidiana e assim por diante. E sob esta 
ótica que devemos entender os hebraísmos que conotavam for- 
ça e poder. Estes conceitos eram expressos pelos termos roche- 
do, lugar forte, fortaleza, escudo, chifre.
217
H e rm e n êu t ic a fácil e descomplicada
O S E N H O R é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o 
meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem con- 
fio; meu escudo, a força (literalmente chifre) da minha salva- 
ção e o meu alto refúgio” (SI 18.2).
Interessante é a expressão do Salmo 75.10:
Έ quebrantarei todas as forças (lit. “todos os chifres”) 
dos ímpios, mas as forças dos justos serão exaltadas”.
Bettencourt assinala que:
“Os israelitas usavam freqüentes comparações e imagens, 
visando também, por esta via, impressionar mais profunda- 
mente os ouvintes, já que os hebreus tendiam a considerar o 
aspecto dinâmico e vital de cada ser. Sabiam aproveitar-se lar- 
gamente dos objetos materiais que os cercavam para ilustrar 
verdades abstratas ou sobrenaturais. Isto justifica o constante 
uso de símbolos nas Escrituras. Estes constituem, sem dúvida, 
um artifício muito apto a traduzir o sentido concreto e o va- 
lor que para a vida têm as proposições religiosas”.3
E com este tipo de compenetração e empatia que nossos 
olhos devem voltar-se para o texto sagrado. Conhecer as 
nuanças culturais e a variedade de expressões retiradas do ce- 
nário da criação, torna a empresa de interpretar não somente 
austera e conscienciosa, mas também necessária e plausível. E 
dentro desta perspectiva que devemos considerar os símbolos 
e tipos das Escrituras.
Sím bolos e T ipos
Símbolos e tipos fazem parte do mesmo contexto dos he- 
braísmos. O símbolo é uma figura, objeto, número ou emble- 
ma, cuja imagem representa, de modo sensível, uma verdade 
moral, ou religiosa. Através do símbolo, uma certa coisa, objeto
218
H ebra ísm os
ou verdade é substituído por um sinal. N o símbolo um concei- 
to abstrato recebe uma correspondência material e concreta pela 
relação existente entre o conceito e o objeto ou símbolo por ele 
representado. Assim, o cajado do pastor, um bastão encurvado, 
é símbolo de regência; o cetro, de senhorio, de poder, de domí- 
mo; o casamento, da união entre Deus e Israel, e Cristo e a 
Igreja, e assim conseqüentemente.
Os simbolismos usados pelos escritores sagrados eram 
recursos literários contrários ao significado próprio ou verbal. 
As realidades sobrenaturais da religião judaica eram expressas 
através de objetos concretos. Também se compraziam em usar 
símbolos para designarem as ações e o caráter dos homens.
Relação entre Sím bolos e T ipos
Dentro deste conceito é que devemos entender também 
os tipos. Enquanto o símbolo e os recursos poéticos são prá- 
ticas universais a todas as religiões e livros, quer sagrados ou 
não, o tipo é um recurso puramente bíblico, pois é proposital- 
mente intencionado por Deus nas Escrituras.
Os símbolos e os tipos respiram no mesmo campo de 
atuação, de forma que podemos afirmar que todo tipo é um 
símbolo, mas nem todo símbolo é um tipo. Isto porque, para 
que um tipo seja mensurado, é necessário que este possua cer- 
ta validação textual posterior, pois se trata de um ato, fato ou 
objeto que tenciona uma mensagem profética, e até mesmo 
enigmático. O símbolo, porém, não reclama a mesma valida- 
ção, seja ela profética ou neotestamentária. Acrescente-se a 
esta proposição o fato de que o tipo não é variável em sua 
forma ou estrutura posterior, enquanto os símbolos podem
219
H e rm e n e u n c a tacil e descomrl ic . id .
receber diversos significados. G. R. Osborne faz a seguinte 
distinção entre tipos, símbolos alegorias:
“E importante fazer distinção entre tipos, símbolos e ale- 
gonas. O símbolo tem seu significado à parte do seu campo 
semântico normal, e vai além dele para representar um concei- 
to abstrato, e.g., cruz = vida; fogo = julgamento. A alegoria é 
uma série de metáforas em que cada uma destas acrescenta um 
elemento para formar um quadro composto da mensagem, 
e.g., na alegoria do Bom Pastor (Jo 10} cada parte transmite 
algum significado. A tipologia, no entanto, lida com o princí- 
pio do cumprimento análogo. Uma alegoria compara dois ele- 
mentos distintos e envolve uma história ou um desenvolvi- 
mento prolongado de expressões figuradas, ao passo que um 
tipo é um paralelo entre duas entidades históricas; a alegoria é 
indireta e implícita, o tipo é direto e explícito”.4
Interpretação dos Símbolos
N ão somos escusados de frisar que tanto os símbolos 
quanto os tipos devem ser interpretados dentro de seu con- 
texto de origem, respeitando o sentido intencionado peloau- 
tor, além é claro, de respeitar as diversas significações que um 
mesmo símbolo pode possuir em diferentes épocas, e inseri- 
dos no escrito de um mesmo autor sacro (e.g., o fogo(.
Deve-se portanto:
I) Considerar os diversos contextos em que o símbolo é 
usado, antes de afirmar que este ou aquele sentido é o preten- 
dido pelo autor.
O fogo pode representar a presença do Senhor (Êx 3.2; 
19.18; D t 5.24); o juízo de Deus (SI 50.3; H b 12.29;); a ira 
de Deus (SI 79.5; 83.14,15); como também a purificação
2 2 0
H ebra ísm os
(Is 6.6,7); o símbolo pode ainda representar o perigo (SI 66.12; 
Is 43.2); a palavra de Deus que a tudo penetra (Jr 5.14; 20.9); 
a força do ministério de Cristo (M t 3.1), etc. Vimos que o 
fogo tanto representa o ser e agir da divindade, quanto sua 
justiça e juízo sobre o que é injusto e perverso.
Por empréstimo, afirma Martinez:
“Outros fatores que devem ser considerados ao interpretar 
um símbolo são a situação vivencial do escritor, sua perspectiva 
histórica, o essencial de sua mensagem e o significado claro do 
mesmo símbolo usados em outras passagens do livro...”.3
2) Considerar o símbolo focalizado com as utilidades 
representadas pela própria coisa ou objeto, pelas significações 
gerais do símbolo em contextos diferente, e limitá-lo ao senti- 
do pretendido pelo autor.
O símbolo do fogo está relacionado às principais ativida- 
des do fogo — iluminar, aquecer, purificar e destruir. O termo 
grego pyr (fogo) e o latino purns provêm da mesma raiz lingüís- 
tica; o fogo é puro e purificador.6 O intérprete deverá, entre os 
vários sentidos que um símbolo possa possuir, aceitar apenas o 
sentido pretendido pelo hagiógrafo. Como afirmou Martinez:
“(...) por, conseguinte a analogia entre o símbolo e o sim- 
bolizado deve ser simples; não se deve buscar multíplice pon- 
tos de semelhança ou correspondência entre ambos”.'
3) Será esclarecedor, ao mesmo tempo em que interes- 
sante, fazer uma varredura no significado do símbolo em con- 
textos diferentes do cenário judaico.8
Como o ambiente sócio-cultural bíblico não estava imu- 
ne às crenças das civilizações e povos aos arredores de Israel, 
deve-se entender o caráter pagão de alguns símbolos. Por exem- 
pio, na mesopotâmia, Gibil, o deus sumério do fogo, era consi­
2 2 1
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
derado o portador da luz e, em virtude da força purificadora 
da chama, os sumérios acreditavam que ele podia livrar a alma 
da impureza. N a antiga Pérsia, parte importante do culto cons- 
tituia na adoração ao fogo. O fogo era designado como o filho 
de Aura Mazda, tido como sinal visível da presença de Deus. 
N a antiga Roma, a chama que se movimenta indica o rumo 
do céu, é símbolo da vida e da energia do sol. Esta chama 
guardada pelas sacerdotisas vestais9, garantia a permanência 
do estado romano.10
Q U A D R O BÁSICO D O S SÍM BO L O S BÍBLIC O S11
ELEMENTOS
r
Agua R egeneração , Palavra de D eus (jo 3 .5 ; 
4.10,11; E f 5.26).
Luz Verdade, sabedoria, gozo, glória e pureza de
Deus, felicidade (SI 104.2; Jo 12.35; IT m 6 .I6 ;
2 Co 4.6; 2 Pe I . I 9 \1 /
Trevas M en tira , ignorância, cegueira esp ir itua l 
(M t 6.23; I Jo 1.6).
Montanha Grandeza e estabilidade ÍIs 2.2; Dn 2.35 \
V י y
Pó Fragilidade, fraqueza e fmitude dos homens (Gn 
2.7; Jó 30.19; Ec 3.20).
Rocha F orta leza , abrigo, refúgio, D eus, C ris to 
(D t 32 .31;I Sm 2.2; SI 2.3; 61.2; M t 7.24; 
Rm 9.33; I Pe 2.8).
2 2 2
H ebra ísm os
BOTÂNICA
Arvores Altas {governantes} Baixas {povo}
(Ez 31.5-9; Ap 7.1).
Espinhos e Abrolhos Más influências (M t 13.22; H b 6.7,8)
Frutos Manifestações das atividades do homem 
(M t 7.16).
Frutos maduros de Verão: Aproximação do fim. Frutos 
Bons: Atos piedosos, justos. Frutos 
M aus: C o n d u ta in íqua (Sl 72 .1 ; 
Pv 11.30; 12.14; 18.20; Is 3.10; 
M t 3.8; 7.17,18).
Vinha G ran d e fecu n d id ad e . V ind im ar: 
Destruição (Jr 22-1 ;Os 14.7; Ap 14.18,19) 
Sega, Messe.
Ceifa Tempo de destruição; M undo como 
cam po de traba lho para a Igreja 
(Is 17.5; M t 9.37; Ap 14.18).
Videira Cristo, Israel. Sentar-se sobre a própria 
Videira: paz e prosperidade (Jo 15.1,2; 
Sl 80.8; Is 5.2-7; I Rs 4.25; M q 4.4; 
Zc 3.10) Ramos.
Rebentos Filhos, Descendentes. Ramo Frutífero: 
os santos. Ramo Infrutífero: os maus 
educadores, maus discípulos (Is I I . I ; 
Jo 15.2,5) Palmeiras.
Palmas Realeza, vitória, prosperidade (Sl 92.12; 
Ap 7.9).
H e rm e n êu t ica tácil e descomplicada
Figos Obras, atividades. Figos bons e maduros: as obras 
dos santos. Figos maus e fora do tempo: ímpios 
maduros para o julgamento de Deus :Jr 24.2-5,8; 
Is 34.3).
METAIS E PEDRAS
Ferro Severidade, força, resistência (D t 4.20; 
Jó 40.18; Sl 107.10; Ap 9.9).
Bronze F orça e f irm eza (Is 4 8 .4 ;J r 6 .28 ; 
Sl 107.16).
Prata Resgate, redenção (Ex 26.21).
Ouro Glória de Deus, realeza e poder (Gn 4 1.42; 
Êx 28.36; 25 .17 ,18;Ap 3.18) "
Pedras Preciosas Magnificência e formosura (Êx 28.17-21;
Ap 4.3; 2 1 .I I ) .
ANIMAIS
Boi Submissão, força, serviço. O ato de trilhar grão 
sem ter atada a boca: o direito que tem o obreiro 
do seu sustento (Is 30.24; I Co 9.9,10).
Bode Reis macedônios, especialmente Alexandre; ímpios
e falsos p as to res (D n 8 .5 ,7 ,2 1 ; Z c I 0 .3 ;
M t 25.32,33).
Cabras Os maus (M t 25.32,33).
224
H ebra ísm os
Cão Impureza, apostasia, falsos mestres e ministros
infiéis (Pv 26.11; Fp 3.2; Ap 22.15).
Raposa Engano, astúcia, falsos p rofetas (E z 13.4; 
Lc 13.32).
Lobo Satanás, egoísmo, avidez, ímpios e governantes 
ímpios, falsos mestres (Ez 22.27; M t 7.15; M t 
10.16; Lc 10.3; Jo 10.12).
Urso Inimigo feroz e temerário; governantes ímpios; 
juízo de Deus contra os ímpios (Pv I7 .I2 ;2 8 .I5 ; 
Lm 3.10; Os 13.8; Ap 13.2).
Dragão Reis cruéis; perseguidores; inimigos da Igreja; os 
ímpios; o Diabo (Ez 29.3; Sl 44.19; Ap 13.2; 20.2).
Leão Majestade, força, ferocidade, poder enérgico e 
dominador; realeza soberana do Messias (D n 7.4; 
Am 3.8; Ap 5.5).
Touro Inimigo forte e furioso (Sl 22.12).
Cavalo Equipamento de Guerra e de conquista; rapidez; 
domínio (J1 2.4; D t 32.13; Is 58.14).
Cordeiro Simplicidade e mansidão; pureza de Cristo; Cristo 
como sacrifício; o povo do Senhor; crentes fracos
(Is 53.7; 5.17; 40.11; Jo 1.19; 21.15; Ap 5.6).
Besta Poder tirano e usurpador; poder temporal qualquer 
(Dn 7.3-17; Ez 34.28).
225
H e rm e n êu t ic a fácil e descomplicada
Jumento Selvagem, os ismaelitas, a instabilidade
do homem natural, os ímpios em busca 
do pecado; Israel e seu amor pelos ídolos; 
Jumentinho simboliza paz: Cnsto entrando 
em Jerusalém como Rei da Paz (Zc 9.9; 
M t 21.5,7; Gn 16.12; Jó I I . 12).
Leopardo - Tigre Inimigo cruel e enganoso )Ir 5.6; Dn 7.6; 
H b 1.8; Ap 13.2).
Crocodilo-Dragão Egito e, em geral, o poder anticristão (Sl 
4 4 .19; Is 27 .1; 51.9; Ez 29.3; Ap 12.13),
Carne, Poeira e Cinza Fraqueza humana, moral e física 
(Gn 18.27; Is 31.3).
Ouro, Mármore, Marfim
e Cedros do Líbano A beleza, o encanto (Ct 5.11,14 ,15).
TIPOS
O termo grego typos, da qual se deriva a palavra “tipo”, 
aparece com diversos significados nos vários textos do Novo 
Testamento12: smal (Jo 20.25), modelo (H b 8.5; At 7.44; 
Rm 5 .I4 ;I Pe 5.3), modelo (At 7.44), nestes termos [deste 
tipo] (At 23.25), forma [t1po](Rm 6.17), exemplo | modelo] 
( I Co 10.6; I Ts 1.7; I Pe 5.3), padrão ( I Tm 4.12; T t 2.7). 
Literalmente o termo significa uma marca visível deixada por 
algum objeto. Daí a marca deixada na história ou natureza 
pelo antítipo.13
2 2 6
H ebra ísm os
A idéia comum em todos os casos é a de alguma coisa 
que se assemelha ou corresponde a outra. O termo por si não 
indica que haja uma relação formal entre coisas, seres, pessoas 
ou objetos, mas ocorre sem qualquer matiz teológico. Entre- 
tanto, Paulo ao escrever a epístola aos Romanos (5.14) refere- 
se ao sentido profético do tipo: “N o entanto, a morte reinou 
desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não peca- 
ram, à semelhança datransgressão de Adão, o qual é figura 
daquele que havia de vir”. O termo typos é traduzido neste 
versículo por figura na A R C/TEB , prefigurava na ARA, e por 
tipo (tradução literal) na N V I. O sentido típico neste texto é 
facilmente verificável na tradução da ARA, “prefigurava”, ou 
seja, representação de coisa futura; representar antecipadamen- 
te. Neste texto o tipo ou figura apontava para o futuro, mas a 
relação entre Adão e Cristo, neste versículo, não é de seme- 
lhança, e sim de contraste. A antítese é facilmente detectável 
nas linhas mestras dos versículo 12 a 21. Os pontos seme- 
lhantes entre Adão e Cristo estão associados na representação 
de ambos numa nova raça — Adão cabeça federal da raça hu- 
mana, e Cristo dos redimidos - mesmo assim, ao comparar o 
efeito dessas duas representatividades, persiste a antítese.
O escritor aos Hebreus 8.5 usa o termo hypódeigma para 
referir-se aos sacerdotes aarônicos, no sentido de que eles mi- 
ms travam segundo a cópia ou imitação das coisas celestiais: 
“os quais servem de exemplar (hypódeigma) e sombra (skia) das 
coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estan- 
do já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze 
tudo conforme o modelo ( typon) que, no monte, se te mos- 
trou”. O tabernáculo era apenas uma representação ou figura 
que não incluía a natureza real do santuário celestial, é o que
2 2 7
H e rm e n êu t ica íacil e d escom ri icada
se depreende quando o autor usa o vocábulo skia, ou seja, uma 
sombra projetada por qualquer objeto. Esta cópia representa- 
va com exatidão o arquétipo original, mas não deixava de ser 
uma cópia. Os rabinos costumavam explorar estes fatos levan- 
do a questão dos tipos e símbolos bíblicos ao absurdo. Procu- 
ravam em cada utensílio, detalhe ou faceta do tabernáculo 
terrenal, alguma característica espiritual do celestial1 ’ . Este 
texto deixa claro que o tabernáculo e as cerimônias nele mi- 
nistradas são um tipo ou modelo profético do que Cristo, 
verdadeiro sacerdote, faria nas regiões celestiais, onde consta- 
va o verdadeiro santuário (H b 8.1,2 cf. At 7.44(.
O doutor dos gentios faz uso de um termo sinônimo txpikôs, 
traduzido pelo vocábulo “exemplo”: “Ora, tudo isto lhes acon- 
tecia como exemplo lyp/X\V, e foi escrito para aviso nosso, para 
quem já são chegados os fins dos séculos” (I Co I 0 . I I \ Este 
advérbio aparece somente neste versículo em todo o NovoTes- 
tamento, e pode ser traduzido por “tipologicamente”, “como 
um exemplo ou advertência”13, tal como faz a maioria das ver- 
sões. Entretanto, preferimos a tradução de Barbaglio, que não 
apenas trad u z , mas tam bém in te rp re ta o te rm o p o r 
“prefiguração”, assim como faz a ARA em Romanos 5.14:
“Ora, esses acontecimentos ocorreram como prefiguração, 
e foram colocados por escrito como advertência a nós: a nós 
que nos encontramos no fim dos tempos”.16
Segundo Barbaglio:
Paulo, após traçar a história do êxodo de Israel, esclarece 
logo o seu significado para o presente da comunidade cristã 
(vv. 6-13). Como fundamento, Paulo põe o princípio da in- 
terpretação tipológica: a história de Israel prefigura a da Igreja 
(vv.6-I I); os exemplos passados são um exemplo admoestador
228
H ebra ísm os
para os fiéis (v .IIb). Os termos typos e typihôs, traduzidos no 
sentido de prefiguração, assumem um significado claramente 
moral. Prova disso é o caráter exortativo do trecho e, mais 
ainda, o paralelismo das duas proposições do v.I I: “Ora, es- 
ses acontecimentos ocorreram como prefiguração / e foram 
colocados por escrito como advertência a nós”. Todavia, no 
conjunto parece que se pode dizer que a dimensão exemplar 
do Êxodo se baseia na continuidade histórico-salvífica exis- 
tente entre a proeza israelita e a experiência cristã (cj. sobretu- 
do os vv. 1-5). Temos, pois, um duplo significado de typos: 
história antecipadora e história-advertência (por isso preferi- 
mos traduzi-lo por “prefiguração” e não por “exemplo”) . 17
Esses três trechos analisados, Romanos 5.14, Hebreus 8.5 
e I Coríntios 10.I I , salientam dois aspectos importantes dos 
tipos bíblicos: primeiro o da antítese, e depois da semelhança. 
Tanto o contexto de Romanos 5.14 quanto o de Hebreus 8.5 
usam o termo tipo com ênfase mais antitética do que seme- 
lhante. O capítulo 8 de Hebreus pode ser subdividido em 
duas seções: a primeira que é uma documentada declaração a 
respeito da inadequação da liturgia terrena, exercida por sa- 
cerdotes hebreus conforme as prescrições legais mosaicas (8.3- 
6). Em seguida se destaca que essa insuficiência está ligada á 
ineficácia ou esterilidade da “primeira” aliança, mediante uma 
longa citação do profeta Jeremias (31.31-34). Essa estrutura 
emerge literanamente do uso estratégico de dois vocábulos, 
postos no mício e no fim das respectivas subseções: “Liturgia 
(8.2 λειτουργός ; 8.6 λειτουργίας j) e “primeira aliança” 
(8.7,13 πρώτη €Κ£ΐη). A ponte entre as duas subdivisões é 
constituída pelo versículo 6, que retoma o tema da “mais ex- 
celente liturgia” e do sumo sacerdote celeste, conectando-o
229
H e rm e n ê u t ic a fácii e descomplicada
com a aliança melhor, já acenada em 7.22 e que será ampla- 
mente ilustrada, primeiro de forma negativa (8.7-13} e depois 
de forma positiva (9 .11-23).10
O paralelo antitético entre Adão e Cristo é facilmente 
observável na assertiva de Paulo (Rm 5.12). O capítulo está 
repleto de símile ou dos conectivos de comparação “assim 
como” nos versículos 12, 18, 19, 21, acrescente a estes o 
conectivo de adversidade “mas” nos versículos 13, 16, 20.
Já no texto de I Coríntios 10.11, a relação está mais na 
semelhança do que no contraste. Recorrendo à história do Exodo 
de Israel, utiliza-se dos eventos pretéritos para admoestar a co- 
munidade cristã de Corinto, afirmando que os fatos narrados 
dos versículos I ao 5 foram “exemplos (jxpo í/prefigurações) 
para nós a fim de que não cobicemos as cousas más, como eles 
cobiçaram”, segue-se então uma série de assertivas de caráter 
prático-moral que se inicia no versículo 7 e culmina no versículo 
10, completando com um intermezzo1g a partir do versículo I I , 
onde Paulo retoma o vocábulo estratégico desta seção Çtypíkôs'), 
encerrando assim, com uma palavra exortativa, para retomar a 
partir do versículo 14, as considerações acerca da idolatria ini- 
ciada no capítulo 8 e versículo I. Sumariando, “a tipologia bí- 
blica, portanto, envolve uma correspondência analógica em que 
eventos, pessoas e lugares anteriores na história da salvação tor- 
nam-se em padrões por meio dos quais eventos posteriores, pes- 
soas, etc. são interpretados”.20
A Legitim idade dos T ipos
A semelhança básica entre os dois Testamentos e o uso 
que o segundo faz do primeiro explicam a validez da tipologia. 
A tipologia expressa a forma básica de hermenêutica. O senti-
2 3 0
H ebra ísm os
do típico contém traços de predição e de simbolismo, repre- 
sentado pela palavra. Temos em Exodo 12.8, um claro exem- 
pio. O pão da Páscoa devia ser sem levedura. Literalmente 
designa aquele alimento sem fermento que acompanha a re- 
feição da Páscoa. Em sentido típico, designa que a libertação 
do crente em Cristo implica sua purificação moral, isto é, a 
ausência de fermentos pecaminosos ( I Co 5.6-8). Por esta 
razão, é chamado típico ou figurativo, porque aquela tal coisa 
ou pessoa é figura de uma outra. O sentido típico pode ser:
a) Real: porque é expresso imediatamente por uma coisa.
b) Profético: porque pronuncia realidades futuras.
c) Espiritual: porque transmuta o sentido que a palavra 
pode exprimir.
d) Enigmático: porque a realidade profética ou espiritual 
está escondida sob realidade indicada pela palavra, ou ainda 
porque sem a revelação do Novo Testamento, o homem não 
pode identificá-lo.21 Para termos uma idéia correta desta par- 
te da hermenêutica e para fazer uso adequado da mesma, é 
fundamental levar em conta suas características essenciais.
O utro termo característicono estudo do sentido típico é 
o antitypo, que representa ou corresponde a um modelo. Em I 
Pedro 3.21 diz que o batismo nas águas é um antítipo do 
dilúvio. O dilúvio foi um tipo ou figura do batismo, no senti- 
do de que nos dois casos a palavra simbolizava julgamento. O 
dilúvio significou a morte para os perversos, e o batismo nas 
águas retrata a morte de Cristo e a identificação do crente 
com ela. Mais uma vez a idéia de semelhança está presente. O 
termo “antítipo”, segundo o texto de Hebreus 9.24, também 
significa literalmente “corresponder ao tipo” e sugere um cor- 
respondente. Paulo, escrevendo acerca de Adão, afirma que ele
231
H e rm e n êu t ica tácii e descomplicada
é “figura {typos') daquele que havia de vir” (Rm 5.4), e das 
experiências de Israel no deserto afirma que “essas coisas fo- 
ram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas 
más, como eles cobiçaram” (I Co 10.6). O sentido típico ou 
a tipologia pode ser definido como o estabelecimento de co- 
nexões históricas entre determinados atos, pessoas ou coisas 
(tipos) do Antigo Testamento e pessoas ou objetos do Novo 
Testamento (antítipos).
Vejamos as bases do sentido típico ou tipologia:
a) Tanto o tipo como o antítipo são realidades históricas 
que se correspondem.
As personagens, os fatos ou elementos do Antigo Testa- 
mento que são tipos de coisas nas páginas do NovoTestamen- 
to possuem correspondência histórica. N ão se trata de uma 
mera alegorização ou ilustração de uma passagem do Antigo 
Testamento; isto já faz a escola alegonsta. N ão podemos acei- 
tar como tipo a vitória de Davi sobre Golias, correspondendo 
a vitória do cristianismo contra Satanás. N o entanto, se falta 
elementos que ratifiquem a vitória de Davi sobre Golias como 
um tipo, não falta à “serpente levantada” no deserto, como 
tipo de Cristo (N m 21.9; Jo 3 .I4 ) .22
b) Entre o tipo e o antítipo deve haver algum ponto ím- 
portante de analogia.
A principal característica de um tipo é sua semelhança, 
similaridade ou correspondência com o antítipo. N ão pense 
que essa semelhança é algo superficial; ao contrário, é 
consubstanciai, autêntica. Por exemplo, Jonas é tipo de Cristo 
mais pela semelhança dos três dias no ventre do peixe e sua 
liberação deste, do que pelo seu ministério (M t 12.40). A 
relação tipológica clara entre um e outro se estabelece unica­
232
H ebra ísm os
mente pela permanência do profeta “três dias e três noites”, 
seguida de sua liberação, e sepultura de Jesus seguida de sua 
ressurreição. O tipo é perfeitamente válido, apesar de que em 
tantos outros aspectos o rebelde, racista e irascível Jonas nada 
teve em comum com aquEle que foi “manso e humilde de 
coração” e “amigo de pecadores”.23
c) O tipo sempre apresenta um caráter preditivo e descritivo.
Especificamente os sacrifícios mosaicos, que são “som-
bra dos bens futuros” (H b IO.I; Cl 2.17). O tipo contém 
traços de predição, descrição e simbolismo. Ele antevê e cha- 
ma a atenção para o antítipo. O tipo é uma sombra que indica 
outra realidade (Cl 2.17). Os tipos são uma forma de profe- 
cia. A profecia consiste numa predição verbal, ao passo que a 
tipologia é a predição feita pela correspondência entre duas 
realidades — o tipo e o antítipo. Limitando-nos aos sacrifíci- 
os mosaicos, observamos que estes não são somente o pre- 
núncio dos sacrifícios mosaicos e o sacrifício de Cristo, mas 
também ensinam algumas qualidades essenciais, como o seu 
caráter purificador (H b 9.13,14) e sua eficácia para a remis- 
são dos pecados (H b 9.15). O tipo é determinado também 
pelo próprio Deus. Melquisedeque, o Cordeiro de Deus, e 
muitos outros foram tipos preditivos (Sl I I0 .4 ; H b 6.20).24
d) O tipo é determinado pelo próprio Deus.
O tipo não é fantasia humana; ao contrário, responde ao 
programa da revelação estabelecida por Deus desde o princí- 
pio, com visão global de toda história da salvação. Neste caso, 
o sentido típico só pode ser tencionado por Deus. O elemen- 
to ou coisa significadora (tipo) tem em si mesmo a sua plena 
razão de ser, e ao mesmo tempo significa amda uma ulterior 
realidade (a n tí t ip o ) o rd inariam en te desconhecida do
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
hagiógrafo; por exemplo, Adão é tipo de Jesus Cristo (Rm
5.12). Este sentido é exclusivamente próprio das Escrituras 
porque está intimamente conexo à inspiração, de modo que, 
sendo Deus o autor das Escrituras, só ela pode ter um sentido 
intencionado pelo próprio Deus. E impossível que o hagiógrafo 
conhecesse o sentido típico, a não ser que para isto tenha uma 
revelação especial de Deus, revelação distinta da inspiração. O 
tabernáculo, por exemplo, é riquíssimo do ponto de vista 
tipológico, porque todo ele estava desenhado segundo o pia- 
no divino (Êx 25.9; H b נ2.(8.5 
e) U m verdadeiro tipo apresenta bases neotestamentárias26.
N o sentido típico destacam-se três elementos: os dois 
termos contrapostos que se chamam de tipo (ou figura) o 
primeiro termo, e o segundo antítipo (ou figurado), por exem- 
pio, Melquisedeque e Cristo, e sua mútua relação (tipologia). 
Essa relação é o elemento essencial do sentido típico, e é o 
próprio Deus que a estabelece, enquanto Ele determina que o 
primeiro signifique o segundo.2. Isto posto, como sabermos 
que Deus através de um ato, personagem ou coisa prefigure, 
outra personagem, acontecimento ou fato real? Sem qualquer 
dúvida, o Novo Testamento deve ser o parâmetro para filtrar 
qualquer tipo. O caráter tipológico de Melquisedeque e o da 
Páscoa israelita é indiscutível como tipo (H b 7.1-3, 15-17; 
Lc 22.14-20). N o entanto, verifica-se que muitos persona- 
gens e coisas no Antigo Testamento são usados por certos 
pregadores e professores como tipo, sem qualquer referência 
neotestamentária. E o caso, por exemplo, de José e Moisés. 
N o primeiro personagem, Habershon, segundo Roy Zuck, fez 
uma relação de 131 comparações, uma das quais, curiosamen- 
te, é que ambos (José e Cristo) foram até Siquém! Ela também
2 3 4
H e bra ísm os
vê Moisés como uma prefiguração de Cristo, fundamentada 
em 69 comparações.28 E necessário que se distinga o tipo inato 
do tipo inferido. O inato é explicitamente declarado nas páginas 
do N ovo T estam ento enquan to o tipo inferido não é 
explicitado, mas estabelecido pelo tom geral do ensino do Novo 
Testamento, como por exemplo, a Epístola aos Hebreus cuja 
metodologia hermenêutica é o uso da tipologia. Entretanto, 
muitos teólogos negam o tipo inferido por causa do perigo da 
exegese fantasiosa que torce subjetivamente o texto.29 Se usar- 
mos cada personagem, eventos ou coisas, como tipo de Cris- 
to, apenas devido às comparações existentes entre ambos sem 
qualquer base escriturística que a ratifique, como então dis- 
tinguir o tipo verdadeiro da mera ilustração ou comparação 
(elevada a um tipo verídico)? N em tudo que é semelhante 
deve ser considerado um tipo. Deve ser apresentado como uma 
ilustração, ao sermão e ao ensino, e não como um tipo válido, 
pois deixaria de ser ilustrativo para ser alegorização.30
Interpretação dos T ipos
1) Descobrir o sentido literal do tipo.
Aspecto fundamental na interpretação dos tipos é a apu- 
ração do sentido literal do texto. A exegese, deve preceder qual- 
quer afirmação dogmática ou heurística. Ao fazer o confronto 
entre os dois termos do sentido típico, é necessário restringir- 
se estritamente ao ponto intencionado por Deus, para evitar 
que se entre em detalhes estranhos à tipologia, ainda que pare- 
ça haver algum fundamento analógico.31
2) Reparar no ponto ou nos pontos de correspondência ou 
semelhança entre o tipo e o antítipo, delimitando adequadamen- 
te a fim de não atribuir ao tipo mais do que realmente prefigura.32
23 5
H e r m e n e u t i c .1 tÃc: 1 e aescon11?11cada
Por exemplo, Melquisedeque era rei e sacerdote, e era su- 
perior a Aarão. Pelo menos nesses dois aspectos ele represen- 
tava Cristo, pois Cristo é Rei e Sacerdote, e seu sacerdócio é 
superiorao de Aarão. Deve-se procurar as semelhanças prin- 
cipais, não as secundárias e insignificantes.
3) Reparar nos elementos de contraste ou de diferenças, 
para evitar caracterizá-los como aspectos do tipo.
Melquisedeque era humano, mas Cristo era Deus e ho- 
mem. Aarão tmha de oferecer sacrifícios por seus próprios 
pecados, enquanto Cristo não precisava fazê-lo por causa da 
natureza santa que possuía como Deus encarnado. Na Pás- 
coa, os israelitas sacrificavam animais, mas Cristo, nossa Pás- 
coa, sacrificou-se a si mesmo. Os sacrifícios que retratavam 
vários aspectos de Cristo eram repetidos, ao passo que a mor- 
te do Senhor na cruz foi um evento definitivo.
4) Atentar para as afirmações explícitas no Novo Testa- 
mento que atestem a correspondência tipológica/־'
A Páscoa judaica no Antigo testamento possui diversas 
referências tipológicas nas páginas do Novo Testamento, as 
quais asseguram ser esta antiga festa judaica um perfeito exem- 
pio de tipos válidos, isto é, confirmáveis pelas Escrituras 
neotestamentánas.
5) O tipo deve possuir fundamento histórico.
Esta norma possibilitará decidir nos casos aparentes e 
duvidosos: se a relação que se acredita encontrar destrói o 
sentido histórico, a tipologia certamente não existe; se o res- 
peita, é possível que exista. “Tanto o tipo quanto o antítipo 
devem basear-se em paralelos históricos genuínos ao invés de 
paralelos mitológicos mtemporais. A tipologia não deve 
redefinir o significado do texto nem sugerir uma correspon- 
dência artificial, que não seja genuína.”34
236
H ebra ísm os
A ntropom orfism o
Etimologia
A palavra antropomorfismo é derivada de dois vocábulos 
gregos: anthropos, que significa homem, e morphé, que significa 
“forma”. Literalmente é a forma de homem ou forma humana.
Nas Escrituras verifica-se que os escritores sacros não 
hesitaram em conceber o mundo irracional com caracteristi- 
cas humanas (prosopopéia), e nem de atribuir a Deus essas 
características. E certo que essa forma, algumas vezes rústica, 
não agrada a consciência estética do homem moderno, pois, 
descrever a Deus com o nariz fumegando e com a boca rubra 
pelas brasas ardentes que dela saem (Sl 18.8), talvez careça de 
um retoque poético. Dificilmente em nossa época, alguém 
descreveria o Eterno com esta linguagem. Entretanto, essas 
imagens antropomórficas estão carregadas de significados con- 
eretos e devem ser entendidos segundo os matizes e gênio 
peculiar dos hagiógrafos. Subentendida esta realidade, deve- 
mos concluir que os antropomorfismos são, na realidade, me- 
táforas pelas quais os escritores sagrados procuraram descre- 
ver os atributos da divindade, ou clarear, com o uso de signos 
concretos, certas realidades espirituais.
Os antropomorfismos são recursos simbólicos, figurados 
e poéticos, presentes em todas as religiões, pois são inevitáveis 
à natureza humana, onde o conhecimento preliminar das coi- 
sas processa-se através dos sentidos.
Razão do Uso de Antropomorfismo
Os israelitas, como já observamos, não gostavam da abs- 
tração. Eram circunlóquios, e estavam mais interessados em 
descrever as características essenciais de Deus através de lon­
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
gas descrições do que usar a síntese. Partiam do concreto para 
o abstrato, isto é, preferiam descrever as coisas sensíveis e abs- 
tratas através de atos ou gestos concretos. E assim que no 
Salmo 18.8, o salmista poderia ter usado o conceito abstrato 
de ira, indignação, mas preferiu exprimir esse sentido através 
da expressão facial de quem se mostra irritado ou irado — 
exalação nasal ofegante, além é claro de palavras mais agressi- 
vas, firmes e intimidadoras. Tudo isto para descrever a indig- 
nação de Deus quando o justo é perseguido (v. 16).
Apesar disto, não devemos imaginar que eles concebiam a 
divindade como um ser mortal. Estavam cônscios de que o 
Criador não era homem (N m 23.19; Os 11.7; M l 3.6; Jo 
4.23-24; D t 4.1), mas percebiam que o fato de Deus ser Deus, 
e não homem, implicava uma existência e inacessibilidade im- 
possível à compreensão humana ( I Tm 6.16). Daí, não se 
omitiram em atribuir ao Criador características humanas.
N ão somos escusados de frisar que, em nossa experiência 
cristã, encontramos muitos irmãos queridos que rejeitam a 
realidade dos antropomorfismos, atribuindo mesmo a Deus, 
as características corpóreas dos hom ens.33 C onfundem 
corporeidade com personalidade, e espírito com a matéria. 
Quando afirmamos que Deus é espírito, dizemos que Ele é 
real, apesar de ser invisível aos olhos humanos. Ninguém ja- 
mais viu a Deus em Sua glória (Cl I .1 5; IT m 6.16; Jo I .I8 ; I 
Jo 3.2). A afirmação de que Deus é espírito leva-nos a con- 
cluir que Ele é incorpóreo, mas pessoal. U m espírito não pos- 
sui carne e osso (Lc 24.39; N m 23.19; Os I I .9 ; Jo 5.37). 
Contudo, consideramos ser necessário observar mais atenta- 
mente a proposição de que Deus não possui corpo humano:
2 3 8
H ebra ísm os
• Por não possuir partes corporais, Deus não está sujeito 
às limitações a que estão sujeitos os seres humanos;
• Por ser mcorpóreo, não possui faculdades sensoriais como 
um homem e, por isso, não está sujeito às paixões humanas;
• Por ser mcorpóreo, não se compõe de nenhum elemen- 
to material, e não está sujeito às condições naturais;
• Por ser incorpóreo, subentende-se que Ele deve ser ado- 
rado de modo não corpóreo, e sim espiritual (Jo 4.24), pelas 
faculdades da alma, vivificadas e iluminadas pelo Espírito Santo 
(I Co 2.14; Cl 1.15-17).
Isto posto, Deus não pode ser visto com olhos naturais e 
nem apreendido pelos sentidos físicos. Com essas declarações 
não estamos afirmando que:
• Deus seja um hálito, vento ou algo amorfo, irreal, som- 
brio, pois Jesus referiu-se a forma de Deus (Jo 5.37);
• Deus seja impessoal, desprovido de atributos de perso- 
nalidade, pois entendemos que corporeidade não eqüivale à 
personalidade.
Aplicações Escriturísticas dos Antropomorfismos
Os escritores sagrados não se intimidavam no momento 
de conceber as realidades abstratas e sensíveis do Criador e da 
criação natural em termos puramente humanos. Para tanto, 
aplicavam desmesuradamente os antropomorfismos a fim de 
realçar certas características tanto afetuosas quanto metafísicas 
que não poderiam ser facilmente perceptíveis Assim, aplica- 
ram os antropomorfismos à natureza (Gn 4 .10 ,11; Is 44.23;
55.12), e ao Criador. Do Criador é dito ter:
• Face (Êx 33.14)
.M ã o s (Sl 10.12; Êx 33.23)
2 3 9
H erm e n êu t ica írácil e descom phcada
. Ouvidos ( I Sm 8.21; Sl 17.6)
. Lábios (Jó I I . 5; Is 30.27)
• Língua (Is 30.27)
• Pálpebras (Sl 1 1.4)
.O lh o s (Sl 11.4; D t I I . 12; I Sm 15.19)
• Dedos (Êx 31.18)
.P é s (Sl 18.9; N a 1.3)
• Costas (Êx 33.23)
.V oz (Gn 3.8; I Sm 15.19)
·N arinas (Êx 15.8; Sl 18.8-16)
. Asas e penas sob as quais protege os justos (Sl 91.4);
. U m belo manto, cujas orlas enchem o templo (Is 6.1). 
Além dessas características antropomórficas, o Senhor:
. Ruge (Am 1.2);
. Assovia (Is 7.18);
. Dorm e (Sl 44.23);
. Desperta-se como dum sono (Sl 78.65);
. Cavalga sobre um querubim (Sl 18.IO).''6
O Significado de Alguns Antropomorfismos
Estevão Bettencourt oferece uma clara explicação sobre 
alguns antropomorfismos, vejamos a definição deste mestre:
O Senhor Tem Nariz e Narinas
O termo hebraico ‘af, que significa nariz, pode também 
significar ira, cólera. Com objetivo fundamento: o furor cos- 
tuma-se exprimir por respiração mais veemente, exalação na- 
sal mais intensa. Facilmente, pois, se entende a menção do 
nariz fumegante do Senhor nas Escrituras veterotestamentárias, 
devendo ser interpretado como a expressão da justiça de Deus 
que pune os homens maus (cf. Ex 15.8; Sl 18.9-6).
240
H ebra ísm os
O Senhor Tem Braços e Mãos
Com a idéia de braço se associa naturalmente a de força,
/
poder. E o que claramente dá a entender o texto de Jeremias 17.5: 
“Maldito o varão que confia no homem, e faz da carne o 
seu braço, e apartao seu coração do Senhor!”
A luz deste texto, torna-se claro o antropomorfismo cor- 
respondente, usado por exemplo em Lucas 1.49-52:
“O Poderoso... com o seu braço agiu valorosamente; dis- 
sipou os soberbos... depôs dos tronos os poderosos e elevou 
os humildes” (cf. Ex 15.6).
O Senhor Tem Face ou Rosto
Sendo a face ou o rosto a sede dos órgãos que exprimem 
o íntimo do indivíduo, significa freqüentemente na Bíblia, a 
personalidade. Verifica-se a tendência espontânea de um indi- 
víduo de ocultar ou recobrir o rosto, a fim de ocultar a cons- 
ciência ou o seu íntimo... a sua personalidade.
Por conseguinte, nas páginas sagradas: ...ver a face, é não 
raro, sinônimo de comparecer perante; ...fugir da face de, é 
fu gir de tal pessoa ou ainda esquivar-se à influência de. As- 
sim, por exemplo, fala Jacó:
“Aplacá-lo-ei com o presente que vai adiante de mim, e 
depois verei a sua face; porventura aceitará a minha face” (Gn
( / 32.20־
A luz destes dizeres hão de se entender os antropomorfismos: 
“N ão me escondas, Senhor, a tua face” (Sl 27.9a). 
Conforme Êxodo 33 .11, o Senhor falava face a face com 
Moisés. Neste versículo o antropomorfismo é logo explicado 
pelo aposto: “Como um amigo fala ao amigo”.38
241
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
Vejamos outros recursos da linguagem hebraica.
Antropopatismo
N a m e n ta lid ad e p r im itiv a dos h ag ióg ra fos , os 
antropopatismos registravam os afetos humanos que marcam 
a figura do Senhor.
Etimologia
O termo “antropopatismo” é de origem grega, provem- 
ente de dois verbetes antbropos, “homem” e pathos, que significa 
“afeto” ou “paixão”. Literalmente é paixão ou afeto humano.
Principais Sentimentos Atribuídos a Deus:
• O desgosto (Lv 20.23);
. Aversão (SI 106.39-40);
.Z e lo (Êx 20.5; 34.14);
·Vingança (Êx 32.34; D t 32.35; Is 1.24);
.C ó le ra (Êx 15.7; Is 9.19);
• Complacência (Jr 9.23);
. Alegria (D t 28.63; SI 104.31; Sf 3.17);
. Arrependimento (Gn 6.6; I Sm 15.35; Jr 26.13).
N om e
N a concepção dos semitas o nome é nitidamente a essên- 
cia e o destino do portador ( nomen este omen). N ão se tratava 
apenas de algo que distinguia uma cousa ou pessoa da outra, 
mas uma parte essencial da natureza e personalidade da pes- 
soa. A leitura em profundidade pressupõe que o nome 
corresponde, ou pelo menos, deveria corresponder, a uma 
qualidade da pessoa. E isso que se subentende nas palavras da 
sábia Abigail: “N ão se importe o meu senhor com este ho- 
mem de Belial, a saber, com Nabal; porque o que significa o
242
H ebra ísm os
seu nome ele é. Nabal é o seu nome, e a loucura está com ele; 
eu, porém, tua serva, não vi os moços de meu senhor, que 
enviaste” (I Sm 25.25 A R A )/9
Etimologia
O vocábulo “nome” (do hebraico sem, e do grego onoma, 
aparece mais de mil vezes nas Escrituras Sagradas. Literal- 
mente significa, “nome”, “chamar”. O próprio fato da pala- 
vra aparecer 1770 vezes na Bíblia, na maioria das vezes desig- 
nando o caráter do portador, a característica de uma cidade 
ou povo, e a descrição de um evento, testifica a sua importân- 
cia hermenêutica e teológica.40 E não são poucos os pregado- 
res que têm feito uso deste recurso hermenêutico. Certa vez, 
ouvi uma mensagem baseada em dois nomes encontrados em 
Gênesis 12.8, “Ai e Betei”, traduzidos pelo pregador por “Casa 
de Deus e monte de lixo”. Bem, por isso, a metodologia que 
norteia este manual apóia-se em bases bíblicas sólidas. Assim 
sendo, tanto um estudo orientado segundo os textos bíblicos 
como aquele de orientação histórica e sociológica convergem 
para sistematizar e ordenar a análise.
Acepções
a) N o grego, língua em que foi escrito o NovoTestamen- 
to, o termo onoma é traduzido corretamente como “pessoas” 
em Ap 3.4.
b) Freqüentemente significa reputação (M c 6.14; Ap 3.1), 
autoridade/poder (M t 7.22; At 4.7), caráter (M t 6.9).
c) N o Antigo Testamento é, repetidas vezes, achado em 
paralelismo com memória, lembrança, renome: “... este é meu 
nome eternamente,e este é meu memorial de geração em gera- 
ção” (Êx 3.115; Jó 18.7; SI 135.13).
24 3
H e rm en êu t ica fácil e descomplicacU
A Filosofia por trás do Nome
Os israelitas tinham consciência clara da sigmficância dos 
nomes pessoais e próprios. A maneira como os autores bíbli- 
cos se referem ao nome, seja de Deus, seja das criaturas, chama 
a atenção e só pode se explicar à luz do gênio semítico, que o 
Espírito Santo houve por bem respeitar. Observemos os me- 
andros dessa linguagem!
O Caráter Intrínseco do Nome
O nome não era apenas um apelativo, para distinguir uma 
pessoa das outras, mas para mostrar o caráter e a índole do 
indivíduo, designava neste caso, o íntimo do portador: “Rogo- 
te meu senhor, que não faças caso deste homem de Belial, a 
saber Nabal; porque tal é ele qual é o seu nome. Nabal é o seu 
nome, e a loucura está com ele...” ( I Sm 25.25); “Depois saiu 
o seu irmão, agarrada sua mão ao calcanhar de Esaú; por isso 
se chamou o seu nome Jacó (suplantado!־)...” (Gn 25.26).
A este contexto pertencem também as numerosas inter- 
pretações etimológicas que se oferecem quando as pessoas e 
os lugares recebem nomes: Eva: “A mãe de todos os seres hu- 
manos” (Gn 3.20); Caim (gerei): “Alcancei do Senhor um 
varão” (Gn 4.1); Babel (confundir): “Porquanto ali confun- 
diu o Senhor a língua de toda terra” (Gn 1 1.9).41
Mudar o Nome
M udar o nome de alguém significa assinalar-lhe uma nova 
função, um novo destino de vida. O caráter meritório do nome, 
então, fica exposto pela mentalidade do hagiógrafo. Assim 
sendo, o Senhor muda o nome de alguém quando a este dirige 
novo futuro ou destino: Abrão “Pai elevado”, torna-se Abraão
244
H ebra ísm os
“Pai de multidão” (Gn 17.5); Jacó, “suplantador”, torna-se 
Israel, “aquele que luta com Deus” (Gn 32.28; 35.10); Benôni, 
“Filho da minha tristeza”, torna-se Benjamim, “Filho da mi- 
nha destra, ou direita” (Gn 35.18); José torna-se “Tsaphnath- 
Paneach” que significa “provedor da vida” (Gn 4 I.45 ) .42
O Nome E a Própria Pessoa
O nome é identificado com a própria pessoa e existência 
do respectivo portador, istõ eqüivale para o hagiógrafo ao ca- 
ráter pessoal do nome. E isto o que pretende afirmar o texto 
de Apocalipse 3.4: “Mas também tens em Sardes algumas 
pessoas (literalmente uns poucos nomes) que não contamina- 
ram suas vestes e comigo andarão de branco, porquanto são 
dignas disso”. Ter o nome apagado, riscado, é sinônimo de 
morte, repúdio e desprezo, “Agora, pois, perdoa o seu pecado; 
se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito” 
(Ex 32.32); “Os meus inimigos falam mal de mim, dizendo: 
quando morrerá ele e perecerá o seu nome” (Sl 4 I .5 ) .43 En- 
quanto conhecer o nome de um indivíduo revela intimidade, 
comunhão e conhecimento do caráter do tal. O nome neste 
caso é como um sósia da pessoa. Jeremias I4 .9b afirma: “(.״) 
Mas tu estás em nosso meio, e somos chamados pelo teu nome; 
não nos desampares”. E neste contexto que devemos entender 
Mateus 18.20: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos 
em meu nome, ali estou no meio deles” (cf. Jo 10.3-I I ) .
O Nome Eqüivale à Propriedade
Quando o nome de alguém é pronunciado sobre alguma 
coisa, objeto ou cidade, então esse torna-se intimamente ligado 
à pessoa nomeada, ou torna-se sua propriedade. E assim que 
devemos entender o texto de 2 Samuel 12.28. Se Joabe pronun­
245
H e rm e n ê u t ic a fácil e descomplicada
ciasse o seu nome sobre a cidade de Rabá essa Lhe pertenceria. 
Em Isaías 4.1 sete mulheres pedem que o nome de um homem 
seja proclamado sobre elas, isto é, que sete delas pertençam a 
um homem somente. Se há dúvidas concernentes a este tópico, 
o texto de Isaías 44.5, esclarecerá o que se pretende afirmar: 
“U m dirá: Eu sou do Senhor: outro se chamará do nome de 
Jacó; outro ainda escreverá na própria mão: Eu sou do Senhor, e 
por sobrenome tomará o nome de Israel (ARA)”.44 Em 2 Reis 
23.34 e 24.17, o monarca vencedor muda o nome dos homens 
subjugados, a fim de significarque a partir daquele ato estariam 
sujeitos ao poder do novo soberano.
O Nome Garante Proteção
É o que ocorre quando alguém pronuncia sobre outrem o 
nome de um soberano, garantindo-lhe a proteção do monar- 
ca. E assim que se compreende a bênção sacerdotal de Núme- 
ros 6.27: “Assim, porão o meu nome sobre os filhos de Israel, 
e eu os abençoarei”. Ter o nome do Senhor sobre si, é obter a 
segurança do próprio Deus: “... o nome do Deus de Jacó te 
proteja” (Sl 20.1).
O Nome da Divindade
N a mentalidade primitiva dos semitas conhecer o nome 
de uma divindade, conferia ao adorador certa autoridade para 
obrigar o divo a fazer a vontade do adorador. Isto torna-se 
claro quando em 2 Reis 18.26-28, os adoradores de Baal evo- 
cam o seu nome a fim de que esta divindade cananita se obri- 
gue a realizar o desejo do ofertante. Em Gênesis 32.29 e Juizes 
13.6,17-18, os nomes das personagens são ocultados, pois, 
conforme a mentalidade vigente, a entrega do nome seria a 
consignação do poder próprio. E neste contexto que devemos
2 4 6
H ebra ísm os
entender tam bém o ato de invocar o nom e do Senhor
(Gn 4.26; 12.8).
Estas características culturais dos antigos semitas deram 
origem a incontáveis expressões bíblicas. A priori, devemos 
estudar cada destes textos segundo o contexto em particular.
Números
Os números, tal como as características semíticas anterio- 
res, estão arrolados no processo de desenvolvimento e transmis- 
são do texto sagrado, constitumdo-se uma forma típica, idio- 
mática e simbólica de transmitir a verdade por meio escrito.
Nas Escrituras veterotestamentárias os números não são 
representados por numerais ou letras, mas por expressões numé- 
ricas escritas por extenso.
Os Usos dos Números 
Quantidade
N o Antigo e Novo Testamento os números são usados 
para expressar diversos conceitos relacionados com quantidade, 
de maneira bem semelhante ao uso em outros livros, exemplo:
a) “medida” (Sl 39.5);
b) “soma”, “total” (N m 1.49);
c) “em números pequenos” (D t 26.5);
d) “incontável” (Gn 41.49; Is 2.7);
e) “ser muitíssimo numeroso” (Sl 40.5).
Qualidades
Os números, muitas vezes, nas Escrituras, não figuram 
como indicações de quantidade, mas como enunciação de 
qualidades. Neste caso são a expressão de um juízo que o
247
H e rm e n êu t ica tacil e descom rl icaà .
hagiógrafo form ula a respeito de de term inado sujeito 
(Ap 13.17,18).
Números Bíblicos Significativos4 י
1. Unidade e caráter ímpar
a) O Senhor Deus é o único Senhor (D t 6.4);
b) A raça humana provém de um único progenitor, don- 
de se deriva a unidade da raça (At 17.25);
c) O pecado entrou no mundo por um homem, como 
também a justiça (Rm 5.12,15);
d) O sacrifício único de Cristo é suficiente para todos e 
para todas as épocas (H b 7.27);
e) O Pai e o Filho são um (Jo 10.30);
f) O homem e a mulher dentro do casamento, tornam-se 
uma só carne (M t 19.6).
2. Unidade e Divisão
a) Dois é a expressão mínima da pluralidade, e natural- 
mente indica alternativas e contraste (M t 6.24; 21.28).
b) Dois também pode indicar alguma força separadora 
(Jr 18.21), como duas opiniões que apresentam um dilema, 
ou como duas maneiras diferentes de apresentar algo (M t
7.13,14).
c) Hom em e mulher são um só (Gn 1.27; M t 19.6);
d) Duas pessoas trabalham juntas em cooperação (Js 2.1);
e) Os apóstolos foram enviados de dois em dois (Mc 6.7);
f) N o Sinai, foram dadas as duas tábuas da lei.
3. Unidade na Multiplicidade
Três é um número retórico muito comum e natural, e 
ocorre freqüentemente a repetição ou agrupamento tríplice
248
H ebra ísm os
onde não se menciona número propriamente dito. Muitos 
conceitos básicos se formalizam através de um padrão tríplice: 
começo, meio e fim; passado, presente e futuro; espírito, alma 
e corpo. São numerosos os exemplos diferentes: há três dons 
duradouros em I Coríntios 13.13; três testemunhas em I João 
5.8; títulos tríplice de Cristo e Deus em Apocalipse 1.4 e 4.8.
a) Esse é o número da Trindade: três pessoas, mas uma só 
substância (M t 28.19; Jo 14.26);
b) Três dias marcaram um ponto terminal;
c)Três discípulos especiais eram íntimos do Senhor Jesus 
(M c 9.2);
d) A doxologia tríplice de Isaías 6.3 indica a perfeita san- 
tidade de Deus;
e) Em Números 6.23-26, a bênção tríplice.
4. A Totalidade da Terra e do Universo
E indicativo de amplitude ilimitada no sentido de espaço 
e tempo aplicado ao Universo visível.
a) O tetragrama divino YaHW eH (Y H W H );
b) Quatro nos fluíam do Edem (Gn 2.10);
c) Os quatros cantos da terra (Ap 7.1);
d) Os quatros ventos (Jr 49.36; Ez 37).
5. Exprime Algo Incompleto
O número do homem, que fica aquém do número sete, o 
número divino.
a) Deus criou o homem no sexto dia da criação (Gn 1.27);
b) O homem deve trabalhar por seis dias (Ex 20.9);
c) O Anticristo, o homem terrível, é representado por 
um tríplice seis “666” (Ap 13.18). O uso das letras de uma 
palavra para expressar através da combinação de seus valores
249
H e rm e n êu t ic a fácil e descomplicada
numéricos um nome ou uma frase engenhosa é chamado de 
gematria. Esse é o método usado principalmente pelos rabi- 
nos judeus, e seus adeptos têm alcançado combinações ím- 
prováveis. O livro O Código da Bíblia, de Michael Drosnm, é 
baseado nessa técnica bastante heterodoxa.
6. Número da Perfeição e da Divindade, Integridade,
Intensidade
a) Sete maldições contra quem matar Caim (Gn 4.15);
b) A palavra do Senhor é depurada sete vezes (Sl 12.6);
c) Sete vezes ao dia, o salmista louvava ao Senhor
(Sl 119.164);
d) Sete estrelas, sete igrejas, sete anjos (Ap 1.10,12,20; 2.1);
e) A proeminência desse número se observa:
• Em ordenanças rituais (santificação do sétimo dia, as 
festas dos pães sem fermento, a festa dos tabernáculos, o ano 
sabático, as sete aspersões com sangue no dia da expiação; 
Êx 34.18; Lv 23.24; Êx 21.2; Lv 16.14,19);
• Em atos históricos (sete anos de servidão de Jacó, sete 
mergulhos de Naamã, sete subidas do servo de Elias ao Car-
melo; Gn 29.20,27; 2 Rs 5.10; I Rs 18.43,44);
• Em passagens didáticas (sete abommações que há no co- 
ração de quem odeia, ou em o Novo Testamento concernentes 
às ofensas e ao perdão; Pv 26.25; Lc 17.4; M t 18.21);
• Em textos apocalípticos (a visão de João sobre as sete 
igrejas, as sete lâmpadas, os sete selos, os sete chifres, os sete 
olhos do cordeiro, as sete pragas finais (Ap 1.4,16;4.5;5.1,6;15.1).
• Sobre os seus múltiplos:
14 - Catorze (Ex 12.6; N m 29.13,15) Chama a atenção 
especialmente para a divisão das gerações de Abraão até Cristo em 
três grupos de catorze cada um (M t I.17);
2 5 0
H ebra ísm os
49 - Quarenta e nove — 7x7. Aparece em uma das prin- 
cipais prescrições rituais: regulamento da festa das primícias 
(Lv 23.15), os quarenta e nove anos de intervalo que deveria 
haver entre um ano de jubileu e outro (Lv 25.8);
70 - Setenta. Os mais importantes são: descendentes de 
Jacó (Êx 1.5; D t 10.22), os anciãos de Israel (Êx 24.1,9; N m
11.16,24), os filhos de Acabe (2 Rs 10.1), os anciãos idóla- 
tras vistos por Ezequiel (Ez 8.1), as setenta semanas de Daniel 
(D n 9.24), os anos da vida humana (Sl 90.10), os setenta 
discípulos (Lc 10.1,17).
7. Todo Completo, Fechado em si
O número dez tornou-se importante entre os semíticos 
pelo fato de que o homem primitivo, ao contar, recorria aos 
dedos de suas mãos; desta praxe se originou o sistema deci- 
mal. Em tais circunstâncias, foi tido como símbolo de um 
“todo completo, fechado em si”. E certamente esse o signifi- 
cado que lhe compete nas genealogias dos setitas (Gn 5.1- 
32), e dos semitas (Gn I I . 10-32).
a) Os dez servos (um grupo completo), as dez dracmas (nú- 
mero redondo), as dez virgens (todos os cristãos) (Lc 19 .13; 15.8;
M t 25.1);
b) O catálogo taxativo de dez adversários que não conse- 
guem arrebatar ao cristão o amor de Cristo (Rm 8.38s);
c) Dez vícios taxativos, que excluem do remo de Deus 
(I Co 6.9s);
d) Dez milagres narrados sucessivamente para compro- 
var a autoridade de Jesus apóso importantíssimo sermão so- 
bre a montanha (M t 8s);
e) As dez prescrições dirigidas a quem queira subir a 
montanha do Senhor (Sl 14).
251
8. O Número Doze — 12
E um número básico para a história do povo de Deus em 
sua totalidade, unidade, grandeza e glória a que está destina- 
do. Era número predileto dos judeus. Estes constavam de doze 
tribos, portadoras da fé e da esperança messiânicas; em conse- 
qüência o remo messiânico é freqüentemente assinalado pelo 
número doze.
a) Os doze filhos de Jacó — as doze tribos de Israel;
b )O s doze apóstolos (M t 10.12; I Co 15.5);
c) Os doze mil selados de cada tribo de Israel (Ap 7.4-8);
d) As doze estrelas sobre a cabeça da mulher vestida de 
sol (Ap I2 .I);
e) A Nova Jerusalém tem doze portas, guardadas por doze 
anjos (Ap 2 1.12), ornada cada qual com uma pérola e o nome 
de uma das tribos de Israel; sobre cada qual das pedras da base 
acha-se o nome de um dos apóstolos (Ap 21.14); suas dimen- 
sões são múltiplos de doze (Ap 21.19,20), e os doze frutos da 
árvore da vida (Ap 22.2). Tais indicações significam o caráter 
de plenitude e consumação, que toca à Nova Jerusalém ou à 
Igreja. Esta constitui o remo teocrático por excelência, em que 
os bens outrora outorgados às tribos de Israel se acham multi-
O
plicados e oferecidos a todos os homens.
9. O Número Quarenta — 40
a) Quarenta anos os judeus comeram o maná no deserto 
(Êx 16.35);
b) Quarenta dias Moisés esteve orando, jejuando e falan- 
do com Deus (Êx 24.18);
c) Quarenta dias Elias \iajou alimentado pela comida que 
o anjo trouxe ( I Rs 19.8);
d) Quarenta dias Jesus ficou no deserto jejuando e oran-
do (M t 4.2).
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
252
H ebra ísm os
SIN O PSE
U m símbolo procura transmitir a idéia abstrata ou real, 
utilizando-se de elementos concretos e experienciais.
A palavra “antropom orfism o” é derivada de dois vocá- 
bulos gregos anthropos, que significa “hom em ”, e morphe, que 
significa “form a”. Literalmente significa forma de homem 
ou forma humana.
As aplicações escriturísticas dos antropom orfism os 
objetivam personificar a natureza e referir-se ao Senhor
O termo “antropopatismo” é de origem grega, proveni- 
ente de dois verbetes: anthropos, “homem” e pathos, que significa 
“afeto” ou “paixão”. Literalmente é paixão ou afeto humano.
O termo “onoma” é traduzido corretamente como pes- 
soas, frequentemente significa reputação, autoridade/poder, 
caráter, memória, lembrança, renome.
O nome mostrava o caráter e a índole do indivíduo; desig- 
nava, neste caso, o íntimo do portador. M udar o nome de al- 
guém significa assinalar-lhe nova função, novo destino de vida. 
Ter o nome apagado ou riscado era sinônimo de morte, repúdio 
e desprezo, enquanto que conhecer o nome de um indivíduo 
revela intimidade, comunhão e conhecimento do caráter do tal.
O termo “número” é a tradução do grego arithmos e do 
hebraico mispãr, que significam respectivamente “aquilo que 
foi juntado, quantidade, medida, número, total, extensão”.
Trabalhando com Textos
Crítica Textual baseia-se no testemunho dos mais antigos 
e melhores manuscritos, assim como dos papiros, das tradu- 
ções antigas e da patrística, ela procura, segundo regras de­
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
terminadas, estabelecer um texto bíblico que seja tão próximo 
quanto possível do texto original.
Os Gêneros procuram determinar os gêneros literários, 
ambiente de origem, traços específicos e evolução desses tex- 
tos. O texto é em seguida submetido a uma análise lingüística 
(morfologia e sintaxe) e semântica, que utiliza os conheci- 
mentos obtidos graças aos estudos de filologia histórica.
A Critica Literária esforça-se, então, em discernir o início 
e o fim das unidades textuais, grandes e pequenas, e em verifi- 
car a coerência interna dos textos.
A Crítica dos Gêneros procura determinar os gêneros 11- 
terários, ambiente de origem, traços específicos e evolução 
desses textos.
Enquanto as etapas precedentes procuraram explicar o 
texto pela sua gênese, em uma perspectiva diacrônica, esta úl- 
tima etapa termina com um estudo sincrônico: explica-se aqui 
o texto em si, graças às relações mútuas de seus diversos ele- 
mentos e considerando-o sob seu aspecto de mensagem 
comunicada pelo autor a seus contemporâneos.
A Interpretação da Bíblia na Igreja (p. 41-42), Pontifícia 
Comissão Bíblia — Paulinas.
EXERCÍCIOS
L Conceitue o termo símbolo.
2. O que é antropomorfismo?
3. Como devem ser interpretados os números bíblicos?
4. O que é Gematria?
5. O que representava o nome para os hebreus?
2 5 4
H ebra ísm os
Bibli-Holmes
Ajude nosso detetive “Bibli-Holmes” a pesquisar o sig- 
mficado simbólico e metafórico dos termos: cinto, chifre, co- 
ração, fermento, fogo, Oola e Ooliba.
LEITURAS E LIVROS PARA APROFUNDAMENTO
BETTEN C O U RT, Estêvão. Para Entender 0 Antigo Testa- 
mento. Editora Santuário (p. 84-91).
M A R T IN EZ , José M. Hermenêutica Bíblica. Editorial Clie 
(p. 181-91).
Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Vozes (p. 1050-53). 
SC H O K E L , Alonso L. A Palavra Inspirada - Loyola 
(p. 1 10-I I 8).
NOTAS
1La lecture chretiène de la Bible, Mavedsores, 5° ed., p. 150, apud., 
Estêvão Bettencourt, Para Entender 0 Antigo Testamento, p. 48.
2 Bettencourt, op.cit., p. 51.
3 Op.cit., 52.
4 Tipo, Tipologia. In: Enciclopédia Histórico~Teológka da Igreja Cristã, 
Walter A. Elwell (ed.), vl. I l l (N -Z ), p. 535.
 ,Hermenêutica Bíblica — Como interpretar las Sagradas Escrituras נ
p. 182.
6 Manfred Lurker, Dicionário de Figuras e Símbolos Bíblicos, p. 105. 
' Idem.
8 N enhum intérprete sério das Escrituras ignora o valor 
paralelo dos escritos do Oriente Antigo e a cultura religiosa 
destes povos. E assim que os textos e a cultura social e religio­
255
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicacLí
sa destes povos projetaram luz em muitas passagens das Escri- 
turas. Cf. A. Barucq, et. alli, Escritos do Oriente Antigo e Fontes Bíblicas, 
Edições Paulinas, Klaus W EN G ST, Pax Romana — Pretensão e 
realidade, Edições Paulinas; Leon Epsztem, A Justiça Social no Antigo 
Oriente Médio e 0 Povo da Bíblia, Edições Paulinas; J. I. Packer, 
et alii, O Mundo do Antigo Testamento, Vida; J. Comby & Lemonon, 
Roma em face a Jerusalém, edições Paulinas; Santos Benetti, Sexu- 
alidade e Erotismo na Bíblia, Paulinas.
9 Estas sacerdotisas eram encarregadas de manter o fogo 
da cidade, personificado pela deusa Vesta. Cf. Combv & 
Lemonon, op.cit., p. 10.
10 Lurker, op.cit., p. 105.
11 Além das observações pessoais as fontes para este grá- 
fico foram: A. Van D E N BORN, Dicionário Enciclopédico da B í- 
blía, Vozes; Estevão Bettencourt, Para Entender 0 Antigo Testamento, 
Editora Santuário; Manfred Lurker, Dicionário de Figuras e Sím- 
bolos Bíblicos, Paulus; José M. Martinez, Hermenêutica Bíblica; CTTE; 
Atônieto Grangeiro Sobrinho, Hermenêutica Bíblica, CPAD; E. 
Lund & P. C. Nelson; Hermenêutica, Vida.
12 Cf. F. W. Gmgrich & F. W. Danker, Téxüo do Novo Testa- 
mento Grego / Português, p. 210.
13 F. Rienecker & C. Rogers; Chave Lingüística do Novo Testa- 
mento Grego, p. 264. Para uma visão completa do sentido do 
termo e suas ênfases principais, confira o Dicionário Internacional 
de Teologia do Novo Testamento, vl IV (R-Z), p. 623-6.
14 Champlm, op.cit., vl V, p. 568.
.Gingrich & Danker, op.cit., p. 210 נ1
16 As Cartas de Paulo (I), p. 287.
17 Op.cit., p. 289.
18 Rinaldo Fabris, As Cartas de Paulo (III), p. 441.
256
H e bra ísm os
19 Pequeno trecho que liga as divisões principais do texto.
20 Osborn, op.cit., p. 535.
21 Teodorico Ballarini, Introdução à Bíblia, p. 210.
22 Martinez, p.cit., p. 176.
23 Ibidem.
24 Ibidem.
 ,Ballarine, op.cit., p. 221. Confira também Martinez ג2
op.cit., p. 177.
26 Martinez, op.cit., p. 177.
2/ Ballarine, idem.
28 A Interpretação Bíblica — meios de descobrir a verdade da Bíblia, 
p. 205.
29 Osborne, op.cit., p. 536.
30Seria melhor entender essas ilustrações como “acomo- 
dação bíblica”.Acomodação bíblica é a aplicação de um texto 
bíblico a pessoas ou coisas inteiramente diversas daquelas que 
o autor mtencionou, por uma certa semelhança. Em princípio 
é lícita: justifica-se pelo uso ilustrativo no sermão ou no ensi- 
no, entretanto, não é lícito ensiná-la como Palavra de Deus ou 
como um sentido intencionado por Deus ou pelo hagiógrafo. 
Esta distinção temos feito constantemente em sala de aula.
Jl Ballarine, op.cit., p. 223.
32 Martinez, op.cit., p. 180.
.”Ver as “bases neotestamentárias do tipo '־'־
''4 Osborne, op.cit., p. 536.
Em boa parte das igrejas evangélicas no Brasil, os crentes 
possuem um conceito e visão equivocada de Deus. Para alguns 
deles crer que Deus possui forma corpórea, tal qual o homem, é 
proposição de fé. Geralmente, essa forma de compreensão não 
está baseada na má compreensão dos textos que atribuem a Deus
32
34
257
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
certas características corpóreas, mas bem investigado, veremos 
que se trata de uma suposta revelação divina. Reafirmamos que 
Deus continua a revelar-se nos dias hodiernos, mas a pretensão 
de afirmar que alguém viu a Deus, e que Ele possui esta ou 
aquela forma corpórea, cheira ao politeísmo grego. Até as 
teofanias visíveis no Antigo Testamento não foram similares (Ex 
3.2-6; 19.18-20; Dn 7.9-14). As vezes foram manifestações 
angélicas (Jz2 .I; 6.11,14), humanas (Gn 18.1-2,13,14), e não 
humanas (Gn 15.17; Ex 19.18-20). Outras vezes apenas audí- 
veis (I Rs 19.12-13; M t 3.17).
36 Bettencourt, op. cit., p. 62.
37 Op. cit., p. 62.
38 Op. cit., p. 68.
39 O texto daTEB é mais contundente: “Que o meu se- 
nhor não dê atenção a esse idiota, a Nabal, porque ele merece 
o nome que tem: ele se chama Infame, e a infâmia gruda nele. 
Eu, porém, tua serva, não tinha visto os moços que meu se- 
nhor enviara”.
40 Cf. R. Youngblood, Nomes nos Tempos Bíblicos; significados 
dos. In: Enciclopédia Histórtco-Teológica da Igreja Cristã, 
vl. I ll (N -Z), Walter A. Elwell, ed., p. 25.
41 C f Bettencourt, op.cit., p. 71-76.
42 Idem.
43 Idem.
44 C f A. Van Den Born, op.cit., p. 1048.
4i Cf. Martinez, op. cit., p. 186-189; Bettencourt, op.cit, 
76-91, A. V Den Born, op.cit., p. 1050-3; Grangeiro Sobrinho, 
op.cit., p. 75-8; Lurker, op.cit., p. 160-2. Enciclopédia Histórico-Teo~ 
lógica da Igreja Cristã,vl. I l l (N -Z ), p. 34-35. Dicionário Internaci-
2 5 8
H e bra ísm os
onal de Teologia do Novo Testamento, vl.III (L-Q), p. 290-308. Esses 
manuais serviram de base para o desenvolvimento do tema, o 
leitor deve consultá-los para uma apreciação melhor e mais 
profunda. Consulte, John H . Stek, Aspectos da Poética do Antigo 
Testamento e uma introdução a: Salmos, Provérbios e Tclesiastes, editora 
Luz Para o Caminho, 1985, p. 22-5 — Apostila. Ver ainda 
Christian Chen, 05 números na Bíblia — Moisés; os números e nós vl.I, 
Editora Betânia.
259
CA PÍT U L O 8
p o é tica éi.^alccí
A poesia das Sagradas E scrituras não está lim itada 
apenas aos cinco livros poéticos.
E ncon tram os no conteúdo dos livros históricos\ 
proféticos, evangelhos e das epístolas vários fra g m en to s 
da poesia hebraica Ç D t 3 2 ; I s 1 .2 - 3 ) . O acervo 
de literatura poética dos hebreus não se lim itava apenas 
às contidas no A n tig o Testamento; pois ex istia m outras 
produções literárias-poéticas que eram populares 
em Israel ( N m 2 1 . 1 4 ; Z S m 1 . 1 8 ) .
Definições
Poeta
E aquele que tem faculdades poéticas e se consagra à po- 
esia; aquele que faz versos.
N o grego, a palavra poeta é expressa pelo vocábulo poietés. 
Logo, a definição etimológica de poeta seria “fazedor”, “rea- 
lizador”, “ator”, “agente”. A palavra poeta aparece na Bíblia 
em Atos 17.28, onde o apóstolo Paulo cita um trecho de Arato 
de Mísia: “... como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque 
dele também somos geração” (ARA). N ão obstante, o termo
H e rm e n ê u t ic a fácil e descom plicada
grego aparece em Romanos 2.13 e Tiago 1.22, com o sentido 
distinto daquele que faz poesia.
O poeta é um “realizador” ou “agente da poesia”. Poesia 
é a realização do labor do poeta. Tanto um como o outro 
pode ser distinguido, ao mesmo tempo em que são indivisíveis: 
não existe poeta sem poesia e não existe poesia sem poeta. Um 
é o criador, o outro a criatura. As Escrituras afirmam que 
Deus é o poeta por excelência, e os salvos e a criação, a sua 
maior poesia! Aleluia! “Porque somos feitura sua, criados em 
Cristo Jesus para as boas obras...” (E f 2.10). O u ainda, como 
afirma Paulo aos Romanos: “... desde a criação do mundo... se 
entendem e claramente se vêem pelas coisas que foram cria- 
das...” (1.20). O grego do Novo Testamento diferencia tanto 
o poeta quanto a poesia, nos termos acima descritos.
N o sentido literário, um poeta é alguém que exprime suas 
idéias mediante imagens verbais, metáforas e outros artifícios 
literários.
A Poesia e os Livros Poéticos
A partir do momento que entendemos o que vem a ser 
poesia e poeta, torna-se fácil a definição de livros poéticos.
Livros poéticos são aqueles nos quais o seu conteúdo é 
escrito numa linguagem caracterizada pela emoção, ritmo e 
linguagem metafórica.
Isto não significa que tais livros sejam mero fruto da ima- 
ginação humana. Poesia é um discurso emotivo marcado pela 
emoção, rima, ritmo e pelo uso da linguagem figurada. Dife- 
re-se da prosa, pois enquanto esta é essencialmente descritiva 
e dissertativa, a poesia, apesar de usar a descrição e a disserta- 
ção em alguns casos, concentra-se peculiarmente no uso da 
linguagem figurada.
262
Poética H ebra ica
Texto em Prosa Texto Poético
“O p a rd a l e n co n tro u 
casa, e a andorinha, ninho 
para si, onde acolha os 
seus filhotes; eu, os teus 
altares, Senhor dos Exér- 
citos, Rei meu e Deus 
meu! ” (SI 84.3 ARA)
“N o ano terceiro de Ciro, rei 
da Pérsia, foi revelada uma pa- 
lavra a Daniel, cujo nome é 
Beltessazar; e a palavra é ver- 
dadeira e trata de uma guerra 
prolongada; e ele entendeu 
essa palavra e teve entendimen- 
to da visão”. (D n IO.I)
O s C om ponentes de uma Poesia
Linguagem Poética
Qualquer poeta trabalha com uma matéria-prima chama- 
da palavra. Porém, um termo em si não é suficiente para al- 
cançar a excelência poética; é necessário que ele seja trabalha- 
do num processo de seleção e arrumação vocabular, cuja ex- 
ploração de significados irá caracterizá-lo como linguagem 
poética, ou seja, o sentido conotativo das palavras (figuras de 
linguagem). Facilmente encontramos esse elemento na poesia 
bíblica.
Rima
A rima é um jogo sonoro cujas sílabas apresentam sons 
semelhantes ou mesmo idênticos no final de seus versos. E a 
uniformidade de sons no final de dois ou mais versos. Veja- 
mos, por exemplo, alguns versos de “Rondó do Capitão”, de 
Manuel Bandeira:
263
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
“Bão, balalão; 
senhor capitão;
tirai esse peso do meu cora cão; 
não é de tristeza, não é de aflição 
é só de alegria, senhor capitão...”
Ao final de cada uma das linhas poéticas desse verso, nota- 
se a repetição proposital de “ão”, a fim de rimar com a linha 
anterior e posterior. A isto chamamos de “paralelismo sono- 
ro” ou rima.
U m outro exemplo na poética brasileira encontramos em 
Vinícius de Morais em seu famoso “Soneto de fidelidade”:
De tudo, ao meu amor serei atento - A 
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto - B 
Que mesmo em face do maior encanto - B 
Dele se encante mais meu pensamento - A
Ainda que não seja comum nas traduções de nossas Bíbli- 
as o uso de paralelismo sonoro, contudo, algumas formas de 
assonância podem ser encontradas nos textos originais das 
Escrituras, como por exemplo, Jo 1.9
Hv το φως τό άληθι-νον,
(en tô fõs tô alethi-nôn)
Era a verdadeira luz
ô φοτίζει πάντα άνθρω-πον,
(hô fotízei panta ânthõ-pon)
que ilumina todo 0 homem
ερχόμενον εις τον κόσ-μον׳
(erkhomenon êis tôn kos-mon)
vindo ao mundo
264
Poética H ebra ica
Métrica
Métrica é a ciência que ensina a mediros versos poéticos 
ou sílabas poéticas. Isto quer dizer que a m edição ou 
metrificação de um verso é feito a partir das sílabas, isto é, das 
emissões sonoras. N ão devemos confundir sílaba poética com 
sílaba gramatical. E que a sílaba gramatical é pronunciada numa 
única emissão sonora, enquanto a sílaba poética, permite a 
junção sonora, isto é, duas sílabas gramaticais pronunciadas 
numa única emissão sonora. Esta forma estrutural da poesia 
encontramos largamente nas Escrituras Sagradas. Vejamos:
Sílaba gramatical do SI 92.12
O / ju s / t o / f io / re s / c e / r á / c o / m o / a / p a l / m e i/ ra,
I- 2- 3- 4- 5- 6- 7- 8- 9- 10- I I - 12- 13
Sílaba Poética do SI 92.12
Leia atenta e corretamente, em voz alta. N ote a junção 
sonora que ocorre:
O / ju s / t o / f io / re s / c e / r á / c o / mo a / p a l / m e i/ ra1
I- 2- 3- 4- 5- 6- 7- 8- 9- 10- I I
Além da junção sonora, as sílabas que aparecem depois 
da última sílaba tônica do verso são pronunciadas muito fra- 
camente, o que faz com que sejam desprezadas na contagem 
de sílabas poéticas:
pal / mei / ra
Ultima sílaba A sílaba pós-tônica
tônica do verso. é desprezada.
265
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
Fica claro que a contagem de sílabas poéticas obedece a 
duas regras básicas:
• A junção sonora de algumas vogais no interior do verso.
• A contagem somente até a última sílaba tônica do verso. 
Deve-se observar, contudo, que a estrutura dos versos po-
éticos obedecem padrões rítmicos variados, que se denomi- 
nam como versos livres, muito comum nos poetas modernis- 
tas, como Manuel Bandeira.
Estrofe
Uma estrofe é um conjunto de versos em que os poetas 
dividem seus textos. Interessante é o modo como o Salmo 
139 está dividido. Possui 24 versos, divididos em 4 estrofes 
(quaternário), contendo cada uma 6 versos (sextilha). Veja- 
mos a estrutura deste maravilhoso poema:
I a estrofe: 1-6: A onisciência divina
2 a estrofe: 7-12: A onipresença divina 
3a estrofe: 13-18: A onipotência divina 
4 a estrofe: 19-24: O problema do mal
Ritmo Poético
Os dois elementos que contribuem para a obtenção do 
ritmo poético são a rima e a métrica. Porém, o ritmo não 
resulta apenas desses dois elementos, mas é elaborado através 
do jogo das sílabas tônicas, dos fonem as vocálicos e 
consonantais, da pontuação, e outros recursos poéticos. O largo 
uso da estrutura paralelística propicia ao verso hebraico o con- 
trole do ritmo através das sílabas fortes.
Estrutura da Poesia Hebraica
Paralelismo
Enquanto grande parte de nossa poesia moderna apóia- 
se na rima e no paralelismo sonoro, a hebraica enfatiza o rit­
2 6 6
Poética H e bra ica
mo e o paralelismo de idéias ou pensamentos. E raro ou quase 
impossível encontrar na poesia bíblica o paralelismo de sons 
(rima) ao final de cada linha poética. Contudo, o paralelismo 
de idéias abunda em toda a Bíblia. Robert Lowth foi o princi- 
pal estudioso do paralelismo bíblico.
O paralelismo poético hebraico é um ritmo equilibrado do 
pensamento e das idéias, mais do que das palavras e dos sons.
Vejamos:
“O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o 
cedro do Líbano” (SI 92.12).
Nesta parelha de versos não se verifica o paralelismo so- 
noro, mas o paralelismo de idéias. Além disto, o ritmo acom- 
panha esse paralelismo. Observe a cadência ou a regularidade 
de repetição de sons, ou ainda a ordem que percebemos na 
sucessão de elementos, tanto sonoros como significativos. Esta 
forma de ritmo de idéias chama-se de ritmo de sentido ou 
ritmo paralelístico:
“O - jus-to / flo-res-ce-rá / como a / pal-mei-ra, cres-ce- 
rá / como o / cedro do / Lí-ba-no”.
A idéia da segunda linha poética coincide com a idéia da 
primeira (florescer/crescer/palmeira/cedro), porém desenvol- 
ve o pensamento até um ponto pretendido, passando-o a um 
nível mais elevado. Essa forma de paralelismo é chamada de 
paralelismo completivo. Vejamos apenas uns exemplos da es- 
trutura da poesia do Salmo 92.12
Q uanto à estrutura poética, é:
a) U m dístico (verso com duas linhas poéticas);
b) U m paralelismo completivo;
c) Usa a figura de linguagem conhecida como símile.
Devemos observar que o uso figurado utilizado pelo po­
2 6 7
H e rm e n êu t ica tácil e descomplicada
eta nas frases “florescer como a palmeira” e “crescer como o 
cedro do Líbano”, refere-se ao justo. Se desejarmos então sa- 
ber a m ensagem do poeta acerca do justo, precisamos 
decodificar o significado oculto no símile, isto é, na língua- 
gem figurada. Fica claro que o poeta, ao mesmo tempo em 
que ensina através do poema, brinca de “esconde-esconde” 
com o leitor.
Estrutura das Estrofes
A estrutura da estrofe hebraica é composta por:
• Dístico, Bicola ou Bimembre: Estrofe de dois versos.
“O justo florescerá como a palmeira, ( I a linha ροέίκ3λ 
crescerá como o cedro do Líbano.” (2a linha poética)
(SI 92.12)
“Ensina-nos a contar os nossos dias,
de tal maneira que alcancemos coração sábio” (SI 90.12)
“A luz semeia-se para o justo, 
e a alegria, para os retos de coração” (SI 97 .11)
• Trístico, tricola ou trimembre: Estrofe de três versos.
“Levantam os rios, ó Senhor, ( I a linha poética) 
Levantam os rios o seu bramido (2a linha poética)
Levantam os rios as suas ondas.” (3a linha poética)
(SI 93.3)
“Ele é que cobre o céu de nuvens,
que prepara a chuva para a terra,
que faz produzir ervas sobre os montes” (SI 147.8)
268
PoériCci H e b r a i c a
“Levantam os rios, ó Senhor, 
levantam os rios o seu bramido, 
levantam os rios o seu fragor” (SI 93.3)
“Faze resplandecer o teu rosto 
sobre o teu servo
e ensma-me os teus estatutos״ (SI 119.135)
• Quarteto: Estrofe de quatro versos.
“A lei do Senhor é perfeita, ( I a linha poética) 
e refrigera a alma; (2a linha poética)
O testemunho do Senhor é fiel (3a linha poética) 
e dá sabedoria aos simplices.” (4a lmha poética)
(SI 19.7)
“Rios de águas 
correm dos meus olhos, 
porque os homens
não guardam a tua lei.” (SI 1 19.136)
“Ele faz cessar as guerras
até o fim da terra,
quebra o arco e corta a lança;
queima os carros no fogo.” (SI 46.9)
• Qumtilha: Estrofe de cinco versos.
“Mas eu,
sou como a oliveira verde,
na casa de Deus;
confio na misericórdia de Deus
para sempre, eternamente” (SI 52.8)
269
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
“Assim nós, teu povo
e ovelhas de teu pasto,
te louvaremos eternamente;
de geração em geração
cantaremos os teus louvores.” (SI 79.13)
• Sextilha: Estrofe com seis versos:
Estas simplesmente com binam alguns versos, sejam 
dísticos ou trísticos, com os anteriores.
“... Eis que os meus servos comerão, ( I a lmha poética) 
mas vós padecereis fome; (2a linha poética)
Eis que os meus servos beberão, (3a linha poética) 
mas vós tereis sede; (4a lmha poética)
Eis que os meus servos se alegrarão, (5a linha poética) 
mas vós vos envergonhareis” ()6a linha poética)
(Is 65.13).
As estrofes, segundo a sua estrutura podem ser:2
• Alternadas ou cruzadas: o primeiro verso combma com o 
terceiro, e o segundo com o quarto ( A B A B).
“ A lei do Senhor é perfeita - A 
e restaura a alma - B 
O testemunho do Senhor é fiel - A 
e dá sabedoria aos símplices - B
(SI 19.7)
• Estruturas emparelhadas: elas sucedem-se duas a duas (AA BB).
“Pois quanto o céu está elevado acima da terra, - A 
assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem. - A 
Quanto está longe o Oriente do Ocidente, - B 
assim afasta de nós as nossas transgressões. - B (Sl 103.11-I3)
2 7 0
Poética H ebra ica
• Estrofes interpoladas ou opostas: o primeiro verso rima com 
o quarto e o segundo com o terceiro (A B B A).
“N ão deis aos cães as coisas - A 
nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, - B 
para que não as pisem com os pés, - B 
e, voltando-se, vos despedacem. - A (M t 7.6)3
Principais Tipos de Paralelismo Hebraico
Paralelismo Sinonímico ou Sinônimo:
O paralelismo sinonímico ou sinônimo consiste em re- 
petir na segunda parte do verso, com algumas variações de 
forma, o que fora enunciado na primeira.
“Porque se amotinam as nações ( I a linha poética) 
e os povos imaginam coisas vãs?” (2a linha poética)
(SI 2.1)
“Rompamos as suas ataduras 
e sacudamos de nós as suas cordas” (SI 2.3)
“Agora, pois, ó reis, sede prudentes; 
deixai-vos instruir, juizes da terra” (SI 2.10)
“E a sua terra está cheia de prata e ouro, 
e não têm fim os seus tesouros.
Também está cheia de cavalos a sua terra, 
e os seus carros não têm fim” (Is 2.7)
“Que é o homem mortal que te lembres dele? 
e o filho do homem, para que o visites?” (SI 8.4)
“Em Deus louvarei a sua palavra, 
no Senhor louvarei a sua palavra” (SI 56.10)
271
H e rm e n êu t ica fácil e descomplicada
O paralelismo sinonímico, segundo John H. Wolton, elas- 
sifica-se em quatro tipos:4
1) Sinonímicos Idênticos: em que cada elemento é sinônimo, 
“D o Senhor é a terra
e toda a sua plenitude,
o mundo e aqueles que nele habitam” (SI 24.1)
2 ) Sinonímicos Idênticos: em que cada elemento é 
semelhante:
“U m dia faz declaração a outro dia, 
e uma noite mostra sabedoria a outra noite” (SI 19.2)
3) Sinonímicos Incompletos: em que o segundo elemen- 
to da linha anterior é repetido:
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, 
e perverso; quem o conhecerá?” (Jr 17.9)
4) Sinonímicos Contínuos: em que o segundo elemento 
é repetido e usado como alicerce:
“Este receberá a bênção do Senhor 
e a justiça do Deus da sua salvação?” (SI 24.5)
Paralelismo A ntitético ou Contrastante
O paralelismo antitético ou contrastante tende a ilustrar uma 
realidade ou qualidade mediante a evocação do seu oposto, espe- 
cialmente no âmbito da conduta religiosa e moral. O segundo 
verso faz agudo contraste com o primeiro. São os tipos mais 
comuns de paralelismo, principalmente no livro de Provérbios. 
“O filho sábio alegrará a seu pai,
mas o homem insensato despreza a sua mãe” (Pv 15.20)
272
Poética H ebra ica
Paralelismo Climático
O paralelismo climático é o que retoma do membro pre- 
cedente um termo ou expressão, acrescentando-lhe algum ele- 
mento complementar ou determinativo, que contribui para 
sublinhar o sentido de realce que já está na própria repetição. 
A segunda linha completa a primeira, levando o seu pensa- 
mento ao clímax.
“O Senhor será também um alto REFÚGIO para o oprimido, 
um alto r e f ú g i o em tempos de angústia” (SI 9.9 cf. 3.1,2; 
10.8; 93.3; 29.1,2)
Paralelismo Quiástico ou Cruzado
E um esquema bimembre (duas linhas poéticas) no qual 
dois termos são invertidos, de tal sorte que o primeiro se tor- 
ne segundo e o segundo primeiro. Pode ocorrer com mais de 
dois versos. O nome provém da letra grega “chi” (c). Através 
desse mecanismo retórico, duas partes de um texto são ima- 
gens paralelas uma da outra.
“... Efraim não invejará Judá
e Judá não oprimirá a Efraim” (Is 11.13b)
Nesse paralelismo bimembre, Efraim aparece no início 
da primeira linha poética, mas torna-se o último na segunda 
linha, enquanto Judá é último na primeira e primeiro na últi- 
ma, fazendo ímagmariamente um “X ”.
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
ץ
(a ) “N ão deis aos cães as coisas santas,
(b) nem deiteis aos porcos as vossas pérolas,
(bb) para que não as pisem,
(a a ) e, voltando-se, vos despedacem” (M t 7.6)
(A ) /(B B )
x f
(P) ^ ( A A )
As linhas fA ̂ e ( a a ) fazem referência aos cães e as lmhasv
vBj e (bb) aos porcos.
Paralelismo Completivo ou Emblemático
Os assim chamados de paralelos completivos são aqueles 
em que o segundo constituinte coincide com o primeiro e o 
desenvolve até um ponto pretendido, elevando-o a um nível mais 
alto ou usando uma símile (daí alguns chamarem de parabóli- 
co). São introduzidos, quase sempre, por uma comparação. 
Costuma-se confundi-lo com o paralelismo climático, no en- 
tanto, preferimos distingui-lo pelo uso associado do símile.
“O justo florescerá como a palmeira, 
crescerá como o cedro do Líbano” (SI 92.12).
“Como o cervo brama pelas correntes das águas, 
assim suspira a minha alma por ti, ó Deus” (SI 42.1).
“N ão são assim os ímpios; 
mas são como a momha 
que o vento espalha”. (SI 1.4)
2 7 4
Poética H ebra ica
“Pois quanto o céu está elevado acima da terra,
assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem.
Quanto está longe o Oriente do Ocidente, 
assim afasta de nós as nossas transgressões.
Como um pai se compadece de seus filhos, 
assim o Senhor se compadece daqueles que o temem” 
(SI I 0 3 . I I - I 3 , ver M t 7.3-5, 7 -1 1, 19-22).
Paralelismo Sintético ou Construtivo
O paralelismo sintético ou construtivo é aquele em que 
sucessivos paralelos unem-se de forma estrutural até expressa- 
rem conjuntamente uma idéia completa — é edificado sobre 
um pensamento. O pensamento do(s) primeiro(s) verso(s) 
serve(m) de base para o verso seguinte. A segunda linha com- 
pleta a primeira, suplementando o pensamento original.
“Os olhos que zombam do pai, 
ou desprezam a obediência da mãe, 
corvos no ribeiro os arrancarão 
e os pmtãos da águia os comerão” (Pv 30.17)
Nesses quatro versos o tema central é “olhos”, e cada par 
de versos faz-se necessário para expressar a idéia central: os 
quatro versos apresentam-se em dois pares — dois paralelos 
completivos.
(a ) “A lei do Senhor é perfeita,
(b) e refrigera a alma;
(a a ) O testemunho do Senhor é fiel
27 5
H e rm e n êu t ica taci! e de>compl:c.adA
(bb) e dá sabedoria aos símplices.
(a) O s preceitos do Senhor são retos,
(b) alegram o coração;
(a a )o mandamento do Senhor é puro 
(bb) e ilumina os olhos”6 (SI 19.7,8(
Em todas essas parelhas de versos, vê-se imediatamente 
que o sentido do segundo seguimento do paralelismo tem 
estrita semelhança com o do primeiro.
E fácil constatar como em ambos os casos (a ) e (b), (a a n 
e (bb) formam paralelismo sintético, e o conjunto (a ), (b) e 
(a a ), bb) constituem paralelismo sinonímico.
Diversos Procedimentos Poéticos
Repetição:
São alguns expedientes baseados na repetição poética de 
algumas palavras ou refrãos propositalmente:
Anáfora:
Repetição de uma palavra ou de um conjunto no início 
de um ou mais versos ou membros, como no Salmo I3 .I,2s 
( “Até quando”):
“Até quando te esquecerás de mim, Senhor?
Até quando esconderás de mim o teu rosto?
Até quando consultarei com a minha alma...
Até quando se exaltará sobre mim o meu inimigo?”
Outros exemplos podem ser identificados:
1) N o Salmo 3.2s: “muitos”;
2) N o Salmo 124.1,2: “N ão fora o Senhor”;
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Poética Hebra ica
3) N o Salmo 118.2,3,4: “diga/digam ”;
4) N o Salmo 127.1: “Se o Senhor não”;
5) N o Salmo 129.1: “desde a minha” (ver Oséias 3.19,20).
Epífora:
Repetição do fim ou da segunda parte do verso. N o Salmo 
118.1-4 (ARA) verificamos o uso da anáfora; entretanto, cons- 
tata-se também o uso da epífora onde a expressão “misericódia 
dura para sempre” é repetida (nos versos 8 -11, 15-16):
“Rendei graças ao Senhor, 
porque ele é bom, 
porque a sua misericórdia 
dura para sempre.”
N os versos 8 e 9 (ARA) dois paralelismos bimembres se 
intercalam expressando uma epífora:
“M elhor é buscar refúgio no Senhor 
do que confiar no homem.
“M elhor é buscar refúgio no Senhor 
do que confiar em príncipes”
N os versos 10,11,12 (ARA) temos um paralelismo 
completivo formado por uma bicola (v. 10), uma tricola ( I I ) 
e um quarteto (12) todos expressando uma epífora no final: 
“em nome do Senhor as destruí”:
“Todas as nações me cercaram, 
mas em nome do Senhor as destruí.
Cercaram-me,
cercaram-me de todos os lados; 
mas em nome do Senhor as destruí.
H e rm e n êu t ica fácil e descom plicada
Como abelhas me cercaram, 
porém como fogo em espinhos 
foram queimadas;
em nome do Senkor as destruí’.
N os versos 15 e 16 a epífora é repetida com a expressão 
“a destra do Senhor faz proezas”.
Da combinação da anáfora e da epífora tem-se a símploce, 
isto é, a combinação ou fusão destes. O Salmo II8 .2 s apre- 
senta essa fusão, isto é, entre a epífora, “sua misericórdia dura 
para sempre” e a anáfora “diga/digam”.
Artifícios Sonoros:
São alguns expedientes poéticos baseados

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