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TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE MARCEL AUREO FARIAS MOREIRA Referencias: Compendio de Psiquiatria 2017 – Cap. 22- Transtornos de personalidade; Transtornso da personalidade (Rev. Bras. Psiquiatria. Sept. 2011) Personalidade refere-se a todas as características de adaptação de formas únicas a ambientes internos e externos em constante modificação. Transtornos da personalidade ocorrem em 10 a 20% da população. Aproximadamente 50% de todos os pacientes psiquiátricos apresentam um transtorno da personalidade. Pessoas com transtorno da personalidade têm uma propensão muito maior a recusar auxílio psiquiátrico e a negar seus problemas. De modo geral, os sintomas de transtorno da personalidade são egossintônicos (i.e., aceitáveis ao ego, em contraste com egodistônicos) e aloplásticos (i.e., adaptam-se ao tentar alterar o ambiente externo em vez de a si mesmos). Uma vez que normalmente não identificam dor a partir do que os outros percebem como seus sintomas, eles costumam não estar interessados em tratamento e são resistentes a recuperação. A 5a edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) define um transtorno da personalidade geral como um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo; o padrão é inflexível; começa na adolescência ou no início da idade adulta; é estável ao longo do tempo; leva a sofrimento ou prejuízo; e se manifesta em pelos menos duas das quatro áreas seguintes: cognição, afetividade, funcionamento interpessoal ou controle de impulsos. Quando os traços de personalidade são rígidos e mal-adaptativos e produzem prejuízo funcional, ou sofrimento subjetivo, é possível diagnosticar um transtorno da personalidade. Os subtipos de transtorno da personalidade classificados no DSM-5 são Grupo A: Esquizotípico, esquizoide, e paranoide: Inclui características estranhas ou de afastamento. Podem possuir parentes biológicos com esquizofrenia. Grupo B: Narcisista, borderline, antissocial e histriônico. Inclui características dramáticas, impulsivas ou erráticas. Podem possui antecedentes com depressão. O Transtorno Antissocial pode ter relação com o uso de álcool. Geralmente, tem uma base genética. Grupo C: Obsessivo-compulsivo, dependente e evitativo. Inclui características de ansiedade e medo. São comuns em gêmeos monozogiticos. Tem uma relação com depressão e latência reduzida do REM. Tem base genética. - Há concordância maior entre gêmeos monozigóticos do que dizigoticos, mesmo se criados separados. Fatores biológicos: Traços impulsivos relacionados a níveis elevados de testosterona (em não humanos aumentam a agressividade e comportamento sexual, mas não está claro no humano), 17-estradiol e estrona. Estudantes universitários com baixos níveis plaquetários de MAO relatam passar mais tempo em atividades sociais do que aqueles com níveis plaquetários elevados de MAO. Identificaram-se também baixos níveis plaquetários de MAO em alguns pacientes com transtornos esquizotípicos. Indivíduos que tentam suicídio ou são impulsos e agressivos =Menor nível de ácido 5-didróxi-indolacético. (5-HIAA) Mudanças na condução elétrica no eletrencefalograma (EEG), em ondas lentas, ocorrem em alguns pacientes com Transt. Personalidae (Antissocial e Borderline). Sigmund Freud sugeriu que os traços de personalidade estão relacionados a uma fixação em um dos estágios psicossexuais de desenvolvimento. - Fase Oral: São passivos e dependentes. A dependência nessa fase é proeminente. - Fase anal: Teimosos, parcimoniosos e altamente escrupulosos. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE PARANOIDE - Suspeita e desconfiança arraigadas em relação a pessoas em geral. - Ele recusa a responsabilidade por seus próprios sentimentos e a atribui a outros. - Costuma ser hostil, irritável e irascível. - Intolerantes, colecionadores de injustiças, cônjuges patologicamente ciumentos e mal-humorados, litigiosos com frequência têm transtorno da personalidade paranoide. Epidemiologia: - 2 a 4% da população em geral. - Parentes de pacientes com esquizofrenia (incidência elevada) - Homem > Mulher; Grupos de minorias, imigrantes e surdos. Diagnóstico: - Paciente se mostra com modos formais e agir perplexo por terem que buscar ajuda. - Apresentam durante a consulta, tensão muscular, incapacidade de relaxar e necessidade de vasculhar o ambiente por pistas e se apresenta sério e sem humor. Algumas bases de seus argumentos podem ser falsas, sua fala é dirigida a objetivos e lógica. Características clínicas: - Suspeita e desconfiança excessivas em relação a outras pessoas expressas como uma tendência global de interpretar os atos dos outros como deliberadamente aviltantes, malévolos, ameaçadores, exploradores ou enganadores. - Essa tendência começa no início da vida adulta. - Indivíduos com o transtorno esperam ser explorados ou lesados pelos outros de alguma forma. Questionam, sem qualquer justificativa, a lealdade ou integridade de caráter de amigos ou sócios. - Costumam ser patologicamente ciumentas e, sem algum motivo, questionam a fidelidade de seus cônjuges ou parceiros sexuais. - Exteriorizam suas próprias emoções e usam o mecanismo de defesa de projeção; atribuem a outros os impulsos e pensamentos que não podem aceitar em si mesmos. - Afeto restrito e parecem frias, sem emoção. - Orgulham-se de sua racionalidade e objetividade, mas isso não corresponde à realidade. - Prestam bastante atenção a poder e nível hierárquico. Expressam indiferença em relação a indivíduos que percebam como fracos, doentios, debilitados ou deficientes de alguma forma. - Em situações sociais, essas pessoas podem transmitir uma ideia de profissionalismo e eficiência, mas costumam gerar medo e conflito em outras pessoas. Diagnóstico diferencial: Transtorno delirante (ausência de delírios fixos), Esquizofrenia Paranoide (Não tem alucinações, nem transtorno manifesto do pensamento). Borderline (São incapaxes de desenvolver um envolvimento excessivo ou relacionamentos tumultuosos). Pacientes com paranoia não têm a longa história de comportamento antissocial das pessoas com caráter antissocial. Indivíduos com transtorno da personalidade esquizoide são retraídos e indiferentes e não apresentam ideação paranoide. Curso e prognóstico: O transtorno é vitalício; em outros, um prenúncio de esquizofrenia. E, ainda em outros, traços paranoides cedem espaço para formação reativa, preocupação adequada com moralidade e preocupações altruísticas quando amadurecem ou quando há redução do estresse. De modo geral, contudo, indivíduos afetados têm problemas vitalícios de trabalho e convivência com outras pessoas. Problemas profissionais e conjugais são comuns. Tratamento - Psicoterapia: Indivíduos paranoides não se saem bem em psicoterapia de grupo, embora ela possa ser útil para melhorar habilidades sociais e reduzir suspeitas por meio de psicodrama. Muitos não conseguem tolerar a intromissão da terapia comportamental, também usada para treinamento de habilidades sociais. Acusações delirantes devem ser abordadas de forma realista, mas delicada, e sem humilhar os pacientes. O indivíduo paranoide fica profundamente assustado quando sente que as pessoas que tentam ajudá-lo são fracas e desamparadas; - Farmacoterapia. Lidar com agitação e ansiedade. Agente ansiolítico (diazepam) é o suficiente. Se agitação grave ou pensamento quase delirante = Antipsicotico (haloperidol). O fármaco antipsicótico pimozida reduziu a crise de paranoia. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIZOIDE - Retraimento social - São vistos como excêntricos, isolados ou solitários. - Desconforto com a relação humana, introversão e afeito frio e constrito. - Tendem a se direcionar para trabalhos solitários que envolvam pouco ou nenhum contato com os outros. Muitos preferem trabalhar à noite, ao invés de turnos diurnos,para que não precisem lidar com muitas pessoas. Epidemiologia - 5% da população. - Por gênero, é desconhecida. (alguns estudos apontam H2:M1) Diagnóstico: - Pouco a vontade no exame psiquiátrico inicial, ansioso para que a entrevista acabe. - Não suporta contato visual - Seu afeto pode ser constrito, distante ou inadequadamente sério, mas, por trás da indiferença, o clínico sensível pode identificar medo. - Acham difícil não levar as coisas a sério: seus esforços para serem engraçados podem parecer adolescentes e fora de contexto. - Sua fala é dirigida a objetivos, mas são propensos a fornecer respostas curtas às perguntas e evitar conversas espontâneas. Algumas vezes, podem usar figuras de linguagem incomuns, como uma metáfora estranha, e podem ficar fascinados por objetos inanimados ou construtos metafísicos. - Seu conteúdo mental pode revelar um senso injustificado de intimidade com pessoas que não conhecem bem ou que passaram um longo tempo sem encontrar. Seu sensório é intacto, a memória funciona bem, e suas interpretações de provérbios são abstratas. Características clínicas: - Frias e indiferentes. - Retraimento distante e falta de envolvimento com eventos diários e preocupações de terceiros. - Caladas, distantes, isoladas e insociáveis. -Podem viver suas vidas com extraordinariamente pouca necessidade ou vontade de formar laços afetivos e são as últimas a perceber mudanças na moda popular. As histórias de vida dessas pessoas refletem interesses solitários e sucesso em empregos solitários e não competitivos que outras pessoas acham difíceis de tolerar. - Sua vida sexual pode existir apenas na fantasia, e podem adiar indefinidamente o amadurecimento da sexualidade. Homens podem não se casar porque são incapazes de atingir intimidade; mulheres podem concordar de forma passiva a se casar com um homem agressivo que deseje o casamento. - Costumam revelar uma incapacidade vitalícia de expressar diretamente a raiva. Eles podem investir quantidades enormes de energia afetiva a interesses não humanos, como matemática e astronomia, e podem ser muito ligados a animais. Modismos de saúde e alimentação, correntes filosóficas e esquemas de melhora social, em especial os que não exigem envolvimento pessoal, costumam absorver sua atenção. - Embora pareçam pensar apenas em si mesmas e estar perdidas em devaneios, pessoas com transtorno da personalidade esquizoide apresentam capacidade normal de reconhecer a realidade. - Uma vez que atos agressivos raras vezes são incluídos em seu repertório de reações habituais, elas lidam com a maioria das ameaças, reais ou imaginadas, por meio de fantasias de onipotência ou resignação. - Costumam ser vistas como indiferentes, mas às vezes conseguem conceber, desenvolver e proporcionar ao mundo ideias genuinamente originais e criativas. Diagnóstico diferencial: Esquizofrenia, transtorno delirante e transtorno afetivo (características psicóticas com base em períodos com sintomas psicóticos positivos, como delírios e alucinações, nestes últimos.). Embora indivíduos com transtorno da personalidade paranoide compartilhem diversos traços com os da personalidade esquizoide, os primeiros exibem maior envolvimento social, uma história de comportamento verbal agressivo e uma maior tendência a projetar seus sentimentos nos outros. Mesmo que também apresentem o mesmo grau de constrição emocional, indivíduos com transtornos das personalidades obsessivo-compulsiva e evitativa experimentam a solidão como disfórica, têm uma história mais rica de relações objetais anteriores e não se entregam com a mesma frequência a devaneios autistas. Teoricamente, a principal distinção entre um paciente com transtorno da personalidade esquizotípica e um com transtorno da personalidade esquizoide é que o primeiro se assemelha mais a um paciente com esquizofrenia no que se refere a estranhezas de percepção, pensamento, comportamento e comunicação. Aqueles com transtorno da personalidade evitativa são isolados, mas têm um forte desejo de participar de atividades, uma característica ausente em indivíduos com transtorno da personalidade esquizoide. Distingue-se, ainda, do transtorno autista e da síndrome de Asperger por apresentar interações sociais prejudicadas e comportamentos e interesses estereotipados com ainda mais gravidade do que nesses dois transtornos. Curso e prognóstico O início ocorre no começo da infância ou na adolescência, tem longa duração, mas não é necessariamente vitalício. A proporção da incidência de esquizofrenia nesses pacientes é desconhecida. Tratamento: Psicoterapia. Com o desenvolvimento de confiança, o paciente esquizoide pode, com bastante apreensão, revelar uma abundância de fantasias, amigos imaginários e temores de dependência insuportáveis – até mesmo de se fundir ao terapeuta. No contexto de terapia grupal, pacientes com transtorno da personalidade esquizoide podem ficar calados durante longos períodos; ainda assim, ficam envolvidos. Esses pacientes devem ser protegidos contra ataques agressivos de outros membros do grupo devido a sua inclinação a permanecerem quietos. Com o tempo, os membros do grupo assumem importância para o indivíduo com o transtorno e podem proporcionar o único contato social em sua existência, que, de outra forma, é isolada. Farmacoterapia. Pequenas doses de antipsicóticos, antidepressivos e psicoestimulantes beneficia alguns pacientes. Agentes serotonérgicos podem deixar o paciente menos sensível a rejeição. Benzodiazepínicos podem ajudar a diminuir a ansiedade interpessoal. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIZOTÍPICA - Exibem características estranhas ou excêntricas. - Pensamentos mágico, noções peculiares, ideias de referências, ilusões e desrealização são parte do mundo cotidiano de uma pessoa com o transtorno. Epidemiologia: - 3% da população. - A proporção entre gêneros é desconhecida (diagnosticado com frequência em mulheres com síndrome do X frágil). DSM 5: Mais comum no sexo masculino. - Parentes biológicos com esquizofrenia - Gêmeos monozigoticos (33% em contrapartida a 4%, em um estudo). Etiologia: Genética. Diagnóstico: - Peculiaridades de pensamento, comportamento e aparência do paciente. - Obter a história pode ser uma tarefa difícil devido a sua forma incomum de comunicação. Características clínicas: - Perturbação de pensamento e comunicação. - Alguns estão envolvidos em cultos, estranhas práticas religiosas e o ocultismo - Sua fala é distinta ou peculiar, pode fazer sentido apenas para eles mesmos e com necessita de interpretação. - Pode desconhecer seus próprios sentimentos e ainda assim ter extrema sensibilidade e consciência a respeito dos sentimentos dos outros, sobretudo os negativos, como de raiva. - Esses indivíduos podem ser supersticiosos ou alegar poderes de clarividência e acreditar ser dotados de poderes especiais de pensamento e insight. Seu mundo interior pode estar cheio de relacionamentos imaginários vívidos e temores e fantasias infantis. - Eles podem admitir ilusões da percepção ou macropsia e confessar que outras pessoas parecem ser feitas de madeira e todas iguais. - Visto terem poucos relacionamentos interpessoais e poderem agir de forma inadequada, indivíduos com transtorno da personalidade esquizotípica são isolados e têm poucos ou nenhum amigo. - O paciente pode exibir características de transtorno da personalidade borderline, e, de fato, ambos os diagnósticos podem ser estabelecidos. - Sob estresse, pacientes com transtorno da personalidade esquizotípica podem sofrer descompensação e apresentar sintomas psicóticos, mas que costumam ser breves. Aqueles com casos graves do transtorno podem apresentar anedonia e depressão grave. Diagnóstico diferencial: pessoas com transtorno da personalidade esquizotípica podem ser diferenciadas daquelas com transtornos de personalidades esquizoidee evitativa devido à presença de excentricidades em seu comportamento e pensamento, sua percepção e comunicação e, talvez, por uma história familiar evidente de esquizofrenia. Pacientes com o transtorno da personalidade esquizotípica podem ser distinguidos daqueles com esquizofrenia em razão da ausência de psicose. Caso surjam sintomas psicóticos, eles são breves e fragmentados. Alguns pacientes satisfazem os critérios para ambos os transtornos da personalidade, esquizotípica e borderline. Os que apresentam transtorno da personalidade paranoide se caracterizam por suspeita, mas não exibem o comportamento estranho daqueles com o subtipo esquizotípico. Curso e prognóstico - De acordo com o pensamento clínico atual, a personalidade pré-mórbida do paciente com esquizofrenia é a esquizotípica. Alguns, no entanto, mantêm uma personalidade esquizotípica durante toda a vida e se casam e trabalham, apesar de suas excentricidades. - Um estudo de longo prazo realizado por Thomas McGlashan relatou que 10% dos indivíduos com transtorno da personalidade esquizotípica acabaram cometendo suicídio. Tratamento: Psicoterapia: Igual ao tratamento da esquizoide. O clinico deve lidar com o mais sensível. - O terapeuta não deve ridicularizar essas peculiaridades nem criticar essas crenças ou atividades. Farmacoterapia. Medicamentos antipsicóticos (ideias de referencia, ilusões) e conjunto com a psicoterapia. Antidepressivos são válidos quando houver um componente depressivo da personalidade. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL - Incapacidade de se adequar as regras sociais que governam diversos aspectos do comportamento adolescente e adulto do individuo. - Se caracteriza por atos contínuos de natureza antissocial ou criminosa. Todavia, não é sinônimo de criminalidade. Epidemiologia: - Índices de prevalências de 12 meses encontram-se entre 0,2 e 0,3%, de acordo com o DSM-5. - Comum em áreas urbanas pobres e entre residentes eventuais dessas áreas. - É encontrada em amostras mais graves em homens com transtorno do uso de álcool (acima de 70%) e na população carcerária (75%). - Mais comum em homens do que mulheres. - O inicio do transtorno inicia antes dos 15 anos. Meninas iniciam sintomas antes da puberdades. Meninos mais cedo. - O transtorno é cinco vezes mais comum entre parentes em primeiro grau de homens com o transtorno do que entre participantes do grupo-controle. Diagnóstico: - Podem enganar até o clínico mais experiente. (Durante a entrevista, podem parecer calmas e confiáveis, mas escondem a tensão, hostilidade, irritabilidade e a fúria) - É interessante a entrevista de estresse (confronto com suas incoerências em sua historia). - Exames diagnósticos: testes neurológicos. Resultados de EEG anormais e leves sinais neurológicos (dano cerebral mínimo na infância). Características clínicas - Podem parecer normais e até mesmo simpáticos. - Suas historias revelam perturbação do funcionamento ou várias áreas da vida. (Mentira, vadiagem, fuga de casa, roubos, brigas, abuso de substancia e atividades ilegais) - Costumam impressionar clínicos do sexo oposto com os aspectos sedutores e pitorescos de sua personalidade, mas clínicos do mesmo sexo podem vê-los como manipuladores e exigentes. - Não exibem ansiedade nem depressão, uma ausência que pode parecer amplamente incongruente com suas situações, embora ameaças de suicídio e preocupações somáticas possam ser comuns. - Suas próprias explicações para seu comportamento antissocial fazem-no parecer gratuito, mas seu conteúdo mental revela a completa ausência de delírios e de outros sinais de pensamento irracional. - Senso de realidade aguçado e boa inteligência verbal. - Autênticas representantes dos vigaristas. Extremamente manipuladoras e com frequência podem convencer os outros a participar de esquemas para obter dinheiro fácil ou para alcançar fama ou notoriedade - Indivíduos com esse transtorno não falam a verdade, e não se pode confiar neles para executar qualquer tipo de tarefa ou aderir a qualquer padrão convencional de moralidade. - Promiscuidade, abuso conjugal, abuso infantil e condução de veículos em estado de embriaguez são eventos comuns em suas vidas. Um achado de destaque é a ausência de remorso por tais atos; ou seja, eles parecem não ter uma consciência. Diagnóstico diferencial: - Personalidade Antissocial: envolve varias áreas da vida. Comportamento ilegal: Areas especificas. - Quando o comportamento ilegal visa apenas a ganhos e não está acompanhado pelos traços de personalidade rígidos, mal-adaptativos e persistentes de um transtorno da personalidade, ele é classificado pelo DSM-5 como comportamento criminoso não associado a um transtorno da personalidade. Dorothy Lewis descobriu que muitas dessas pessoas apresentam um transtorno neurológico ou mental que passou despercebido ou que não foi diagnosticado. - A diferenciação mais difícil de ser estabelecida é entre transtorno da personalidade antissocial e abuso de substância. Quando ambos se iniciam na infância e continuam na vida adulta, os dois transtornos devem ser diagnosticados. Quando, no entanto, o comportamento antissocial é evidentemente secundário a abuso pré- mórbido de álcool ou de outra substância, o diagnóstico de transtorno da personalidade antissocial não se justifica. - Ao diagnosticar transtorno da personalidade antissocial, o clínico deve compensar a distorção causada pelo nível socioeconômico, antecedentes culturais e sexo. Ademais, esse diagnóstico não se justifica quando deficiência intelectual, esquizofrenia ou mania podem explicar os sintomas. Curso e prognóstico: Quando um transtorno da personalidade antissocial se desenvolve, segue um curso ininterrupto, sendo que o auge do comportamento antissocial normalmente ocorre no fim da adolescência. - Há relatos que indicam a redução dos sintomas com a idade. Tratamento - Psicoterapia. Caso sejam confinados (p. ex., internados em um hospital), pacientes com transtorno da personalidade antissocial frequentemente se tornam receptivos a psicoterapia. Quando o indivíduo sente que está entre pares, sua falta de motivação para mudança desaparece. Talvez, por esse motivo, grupos de mútua ajuda são mais úteis do que o cárcere para atenuar o transtorno. - Farmacoterapia: A farmacoterapia é usada para lidar com sintomas incapacitantes como ansiedade, raiva e depressão, mas, como os pacientes com frequência abusam de substâncias, os fármacos devem ser usados de forma criteriosa. Caso um paciente mostre evidências de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, psicoestimulantes como metilfenidato podem ser úteis. Foram realizadas tentativas de alterar o metabolismo de catecolamina com fármacos e de controlar o comportamento impulsivo com antiepilépticos, como carbamazepina ou valproato, por exemplo, especialmente quando foram identificadas formas de onda anormais no EEG. Antagonistas dos receptores β-adrenérgicos foram usados para reduzir agressividade. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE - Limiar entre neurose e psicose - Afeto, humor, comportamento, relações objetais e autoimagem extraordinariamente instáveis. - O transtorno também foi chamado de esquizofrenia ambulatorial, personalidade “como se” (expressão cunhada por Helene Deutsch), esquizofrenia pseudoneurótica (descrita por Paul Hoch e Phillip Politan) e transtorno de caráter psicótico (descrito por John Frosch). - CID 10: usa a denominação de transtorno de personalidade emocionalmente instável. Epidemiologia - 1 a 2% da população e seja duas vezes mais comum em mulheres do que em homens. - Um aumento de prevalência do transtorno depressivo maior, de transtornos por uso de álcool e de abuso de substância é encontrado em parentes em primeiro grau de indivíduos com transtorno da personalidade borderline. Diagnóstico - Estabelecido no início da idade adultaquando o paciente exibe pelo menos cinco dos critérios listados na Tabela 22-5. - Estudos biológicos podem auxiliar o diagnóstico; alguns pacientes com transtorno da personalidade borderline mostram redução da latência REM e perturbações na continuidade do sono, resultados anormais no TSD e no teste de hormônio liberador de tireotrofina. Essas alterações, no entanto, também são observadas em algumas pessoas com transtornos depressivos. Características clínicas - Quase sempre parecem estar em crise. Mudanças de humor são comuns. - A pessoa pode estar inclinada a discussões em um momento, deprimida no momento seguinte e, mais tarde, se queixar de não ter sentimentos. - Pode apresentar episódios psicóticos de curta duração (denominados episódios micropsicóticos) em vez de crises psicóticas totalmente manifestas, e seus sintomas psicóticos quase sempre são limitados, fugazes ou questionáveis. - O comportamento do paciente com transtorno da personalidade borderline é de extrema imprevisibilidade, e é raro suas realizações estarem no mesmo nível de suas capacidades. - A natureza dolorosa de sua vida reflete-se em atos autodestrutivos repetidos. Esse tipo de paciente pode cortar os pulsos e executar outras formas de automutilação para obter ajuda dos outros, para exprimir raiva ou para se anestesiar do afeto que o consome. - Uma vez que se sentem tanto dependentes quanto hostis, as pessoas com esse transtorno têm relacionamentos interpessoais tumultuosos. Elas podem ser dependentes das pessoas com quem têm intimidade e, quando se frustram, expressar uma grande raiva dirigida aos amigos mais íntimos. Essas pessoas não conseguem tolerar a ideia de ficar sozinhas e preferem uma busca frenética por companhia, sem importar o quanto ela lhe seja insatisfatória. Para mitigar a solidão, mesmo que por breves períodos, aceitam um estranho como amigo ou se comportam de forma promíscua. - Costumam se queixar de sentimentos crônicos de vazio e tédio e da falta de um senso de identidade coerente (difusão de identidade); quando pressionadas, frequentemente reclamam de como se sentem sempre deprimidas, apesar do turbilhão de outros afetos. - Otto Kernberg descreveu o mecanismo de defesa de identificação projetiva que ocorre em pacientes com transtorno da personalidade borderline. Nesse mecanismo de defesa primitivo, aspectos intoleráveis do self são projetados no outro; a outra pessoa é induzida a desempenhar o papel projetado, e as duas pessoas agem em uníssono. - Do ponto de vista funcional, pacientes com transtorno da personalidade borderline distorcem seus relacionamentos caracterizando cada pessoa como totalmente boa ou totalmente má. Eles enxergam as pessoas ou como figuras de ligação afetuosas, ou como figuras sádicas odiosas que os privam de suas necessidades de segurança e ameaçam abandoná-los sempre que se sentem dependentes. - Como resultado dessa cisão, a pessoa boa é idealizada, e a pessoa má, desvalorizada. - - - Deslocamentos de fidelidade de uma pessoa ou um grupo para outros são frequentes. Alguns clínicos usam os conceitos de panfobia, pan-ansiedade, pan-ambivalência e sexualidade caótica para delinear as características desses pacientes. Diagnóstico diferencial O transtorno diferencia-se de esquizofrenia com base no fato de o paciente com personalidade borderline não apresentar episódios psicóticos prolongados, transtorno do pensamento e outros sinais clássicos de esquizofrenia. - Pacientes com transtorno da personalidade esquizotípica exibem peculiaridades acentuadas de pensamento, ideação estranha e ideias de referência recorrentes. Aqueles com transtorno da personalidade paranoide caracterizam-se por suspeita extrema. Pacientes com transtorno da personalidade borderline em geral apresentam sentimentos crônicos de vazio e episódios psicóticos de curta duração; eles agem impulsivamente e buscam relacionamentos extraordinários; podem se mutilar e fazer tentativas de suicídio manipulativas. Curso e prognóstico O transtorno da personalidade borderline é razoavelmente estável; o paciente sofre pouca mudança ao longo do tempo. Estudos longitudinais mostram que não há progressão para esquizofrenia, mas os pacientes têm uma incidência elevada de episódios de transtorno depressivo maior. O diagnóstico costuma ser estabelecido antes dos 40 anos, quando as pessoas tentam fazer escolhas profissionais, conjugais, entre outras, e são incapazes de lidar com os estágios normais do ciclo da vida. Tratamento: - Psicoterapia. O paciente regride com facilidade, age por impulso e demonstra transferências positivas ou negativas lábeis ou fixas, as quais são difíceis de analisar. Identificação projetiva também pode causar problemas de contratransferência quando o terapeuta não tem a percepção de que o paciente está inconscientemente tentando coagi-lo a desempenhar um comportamento específico. O mecanismo de defesa de cisão faz o paciente amar ou odiar o terapeuta de forma alternada, assim como as outras pessoas em seu ambiente. Uma abordagem voltada para a realidade é mais eficaz do que interpretações profundas do inconsciente. Terapeutas usaram terapia comportamental para controlar os impulsos e as explosões de raiva dos pacientes e para reduzir sua sensibilidade a críticas e rejeição. O treinamento de habilidades sociais, sobretudo com reprodução de gravações em vídeo, permite ao paciente ver como suas ações afetam outras pessoas e, assim, melhorar seu comportamento interpessoal. Indivíduos com transtorno da personalidade borderline costumam se sair bem em instalações hospitalares, onde recebem psicoterapia intensiva tanto individual quanto em grupo. Em um hospital, também podem interagir com membros treinados da equipe de diversas disciplinas, em que se proporcionam terapias ocupacionais, recreativas e vocacionais. Tais programas são particularmente úteis quando o ambiente em casa prejudica a reabilitação do paciente devido a conflitos intrafamiliares ou a outros estressores, como abuso dos pais. No ambiente protegido do hospital, pacientes que são impulsivos, autodestrutivos ou automutiladores em excesso podem receber limites, e seus atos podem ser observados. Sob circunstâncias ideais, eles permanecem no hospital até demonstrar melhora acentuada, em alguns casos podendo chegar a um ano. Os pacientes, então, podem ser encaminhados para sistemas especiais de apoio, como hospitais-dia, clínicas noturnas e casas de passagem (reabilitação). Uma forma específica de psicoterapia, denominada terapia comportamental dialética (TCD), foi usada em pacientes com transtorno da personalidade borderline, especialmente nos casos de comportamento parassuicida, como cortes frequentes; Outro tipo de psicoterapia para transtorno da personalidade borderline é chamado de terapia baseada na mentalização (TBM). A mentalização é um construto social que permite a uma pessoa estar atenta a seus estados mentais e aos dos outros; ela se origina da consciência do indivíduo dos processos mentais e dos estados subjetivos que surgem nas interações interpessoais. O TBM se baseia em uma teoria de que os sintomas da personalidade borderline, como dificuldade de regular emoções e de lidar com impulsividade, são resultado das capacidades reduzidas de mentalização do paciente. Portanto, acredita-se que a recuperação da mentalização o ajude a construir habilidades de relacionamento ao aprender a regular melhor seus pensamentos e sentimentos. Comprovou-se a eficácia do TBM para transtorno da personalidade borderline em vários experimentos de pesquisa randomizados e controlados. A psicoterapia focada na transferência (PFT) é uma forma modificada de psicoterapia psicodinâmica usada para o tratamento do transtorno da personalidade borderline com base na teoria de relações objetais de Otto Kernberg. O terapeuta vale-se de dois processos principais ao trabalhar com o paciente: oprimeiro é clarificação, na qual a transferência é analisada de forma mais direta do que na psicoterapia tradicional, de modo que o paciente se torne rapidamente consciente de suas distorções com relação ao terapeuta. O segundo é a confrontação, na qual o terapeuta indica como essas distorções de transferência interferem nas relações interpessoais com outros (objetos). O mecanismo de cisão usado pelo paciente borderline caracteriza-se pela existência de um objeto bom e um objeto mau e é utilizado como defesa contra a ansiedade. Caso a terapia tenha sucesso, a necessidade de cisão se reduz, as relações objetais melhoram, e um nível de funcionamento mais normal é alcançado. Estudos que compararam PFT, TCD, psicoterapia psicodinâmica e psicoterapia de apoio mostraram que todas são úteis e todas exibem graus variados de sucesso. Até o momento, não se chegou a um consenso sobre qual terapia é superior às outras. - Farmacoterapia. É útil para lidar com características específicas da personalidade que interferem no funcionamento geral do paciente. Usaram-se antipsicóticos para controlar raiva, hostilidade e episódios psicóticos breves. Antidepressivos melhoram o humor deprimido comum em indivíduos com transtorno da personalidade borderline. Inibidores da MAO (IMAOs) modularam com sucesso o comportamento impulsivo em alguns pacientes. Benzodiazepínicos, especialmente alprazolam, ajudam com ansiedade e depressão, mas alguns pacientes exibem desinibição com essa classe de fármacos. Anticonvulsivantes, como carbamazepina, podem melhorar o funcionamento global de algumas pessoas. Agentes serotonérgicos, como inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), foram úteis em alguns casos. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA - Excitáveis e emotivas e comportam-se de forma dramática, florida e extrovertida. - Incapacidade de manter ligações profundas e duradouras. Epidemiologia - 1 a 3%. Índices em torno de 10 a 15% foram relatados em instalações de saúde ambulatoriais e de internação quando se usa uma avaliação estruturada. O transtorno é diagnosticado com maior frequência em mulheres do que em homens. Alguns estudos revelaram uma associação com transtorno de sintomas somáticos e transtornos por uso de álcool. Diagnóstico: Em entrevistas, pacientes com transtorno da personalidade histriônica costumam ser cooperativos e ávidos por fornecer uma história detalhada. Gesticulações e exclamações dramáticas em seu discurso são comuns; eles cometem deslizes frequentes, e sua linguagem é pitoresca. Exibição afetiva é comum, mas, quando pressionados a reconhecer determinados sentimentos (p. ex., raiva, tristeza e desejos sexuais), podem reagir com surpresa, indignação ou negação. Os resultados do exame cognitivo costumam ser normais, embora uma falta de perseverança possa ser evidenciada em tarefas aritméticas ou de concentração, e o esquecimento do paciente de material com carga afetiva pode ser impressionante. Características clínicas: - Busca por atenção. - Elas tendem a exagerar seus pensamentos e sentimentos e fazem tudo soar mais importante do que realmente é. - Exibem ataques de raiva, choro e acusações quando não são o centro das atenções ou não estão recebendo elogios ou aprovação. - O comportamento sedutor é comum nos dois sexos. Fantasias sexuais envolvendo pessoas com as quais o paciente esteja envolvido são comuns, mas ele demonstra incoerência ao verbalizar essas fantasias e pode se comportar de forma tímida ou flertar em vez de ser sexualmente agressivo. - Na realidade, pacientes histriônicos podem apresentar uma disfunção psicossexual; mulheres podem ser anorgásmicas, e homens podem ser impotentes. - O paciente pode ceder a seus impulsos sexuais para se sentir seguro de ser atraente ao sexo oposto. Contudo, seus relacionamentos têm propensão a ser superficiais, e ele pode ser vaidoso, egocêntrico e volúvel. - Sua forte necessidade de dependência torna-o crédulo e ingênuo. - As principais defesas de pacientes com transtorno da personalidade histriônica são repressão e dissociação. - Em conformidade com essa característica, esses indivíduos não estão cientes de seus verdadeiros sentimentos e não conseguem explicar suas motivações. Sob estresse, o teste de realidade fica facilmente prejudicado. Diagnóstico diferencial A distinção entre transtorno da personalidade histriônica e transtorno da personalidade borderline é difícil, mas, neste último, tentativas de suicídio, difusão de identidade e episódios psicóticos breves são mais prováveis. Embora ambas as condições possam ser diagnosticadas no mesmo paciente, o clínico deve separá- las. O transtorno de sintomas somáticos (síndrome de Briquet) pode ocorrer em conjunto com o da personalidade histriônica. Pacientes com transtornos psicótico breve e dissociativos podem justificar um diagnóstico coexistente de transtorno da personalidade histriônica. Curso e prognóstico Com a idade, pessoas com transtorno da personalidade histriônica mostram menos sintomas, mas, como não têm a energia de anos anteriores, a diferença na quantidade de sintomas pode ser mais aparente do que real. Indivíduos com esse transtorno buscam sensações e podem ter problemas legais, fazer abuso de substâncias e agir de forma promíscua. Tratamento - Psicoterapia. Pacientes com transtorno da personalidade histriônica costumam não estar cientes de seus próprios sentimentos reais; a clarificação de seus sentimentos interiores é um processo terapêutico importante. Psicoterapia e orientação psicanalítica, em grupo ou individual, provavelmente seja o tratamento mais indicado para essas pessoas. Farmacoterapia: pode funcionar como tratamento adjunto quando direcionada aos sintomas (p. ex., uso de antidepressivos para depressão e queixas somáticas, agentes ansiolíticos para ansiedade, e antipsicóticos para desrealização e ilusões). TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NARCISISTA - Senso aguçado de autoimportância, ausência de empatia e sentimentos grandiosos de serem únicas. Contudo, por trás dessas características, existe uma autoestima frágil e vulnerável às menores críticas. Epidemiologia - menos de 1 a 6% em amostras da comunidade. - Pessoas afetadas podem transmitir uma ideia irrealista de onipotência, grandiosidade, beleza e talento a seus filhos e, assim, os filhos, de pais com essas características podem apresentar um risco acima do normal de desenvolver, eles próprios, o transtorno. Características clínicas: - Pessoas com transtorno da personalidade narcisista têm um sentimento de autoimportância grandioso; consideram-se especiais e esperam tratamento especial. - Elas lidam mal com críticas e podem ficar com raiva quando alguém ousa criticá-las, ou podem parecer completamente indiferentes a críticas. Querem que as coisas sejam do seu jeito e com frequência têm ambição de obter fama e fortuna. - Seus relacionamentos são pouco importantes, e podem deixar os outros furiosos por sua recusa em obedecer às regras convencionais de comportamento. - Não conseguem demonstrar empatia e fingem simpatia apenas para atingir seus próprios objetivos egoístas. Devido a sua frágil autoestima, são suscetíveis a depressão. Diagnóstico diferencial: Pacientes narcisistas têm menos ansiedade do que aqueles com transtorno da personalidade borderline e são menos propensos a uma vida caótica e a tentativas de suicídio. Pacientes com transtorno da personalidade antissocial têm uma história de comportamento impulsivo muitas vezes associado a álcool ou a outra substância de abuso, o que gera problemas legais. Aqueles com transtorno da personalidade histriônica demonstram características de exibicionismo e manipulação interpessoal que se assemelham àquelas dos pacientes com transtorno da personalidade narcisista. Curso e prognóstico O transtorno da personalidade narcisista é crônico e difícil de tratar. Eles lidammal com o processo de envelhecimento, já que valorizam beleza, força e atributos da juventude, à qual se apegam de forma inadequada. Tratamento - Psicoterapia: Terapia de grupo para que seus pacientes aprendam a compartilhar e, sob circunstâncias ideais, possam desenvolver uma reação empática com os outros. - Farmacoterapia. Usou-se lítio em pacientes cujo quadro clínico incluía mudanças de humor. Uma vez que os pacientes com transtorno da personalidade narcisista têm baixa tolerância a rejeição e são suscetíveis a depressão, antidepressivos, especialmente fármacos serotonérgicos, também podem ser úteis. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE EVITATIVA - Exibem sensibilidade extrema a rejeição e podem levar vidas socialmente retraídas. Embora sejam tímidos, não são associais e demonstram um grande desejo por companhia, mas precisam de garantias muito fortes de aceitação não crítica. Essas pessoas em geral são descritas com um complexo de inferioridade. Epidemiologia - 2 a 3% da população em geral, de acordo com o DSM-5. Não há informações disponíveis sobre a proporção entre sexos ou sobre o padrão familiar. Crianças pequenas que foram classificadas com um temperamento tímido podem ser mais suscetíveis ao transtorno do que as que recebem uma pontuação elevada em escalas de abordagem de atividades. Diagnóstico Em entrevistas clínicas, a característica mais evidente do paciente é a ansiedade acerca de falar com um entrevistador. - Parece vulnerável aos comentários e às sugestões do entrevistador e pode encarar uma clarificação ou interpretação como crítica. Características clínicas - A hipersensibilidade à rejeição por outros é a característica clínica fundamental do transtorno da personalidade evitativa, e o traço principal da personalidade é a timidez. Essas pessoas desejam o afeto e a segurança da companhia humana, mas justificam sua esquiva a relacionamentos por meio de seu suposto medo de rejeição. Ao conversar com alguém, elas expressam incerteza, demonstram falta de autoconfiança e podem falar de modo discreto. Visto serem hipervigilantes quanto a rejeição, temem falar em público ou fazer pedidos a outras pessoas. Têm inclinação a interpretar mal os comentários dos outros como depreciativos ou ridicularizadores. A recusa de qualquer pedido as leva ao retraimento e se sentirem magoados. Na esfera profissional, pacientes com transtorno da personalidade evitativa costumam assumir empregos que recebem pouca atenção. Eles raramente alcançam muito avanço pessoal ou exercem muita autoridade, mas parecem tímidos e ansiosos por agradar. Essas pessoas, em geral, não estão dispostas a começar relacionamentos a menos que recebam uma forte garantia de aceitação sem críticas. Por consequência, costumam não ter amigos íntimos nem confidentes. Diagnóstico diferencial Pacientes com transtorno da personalidade evitativa desejam interação social, ao contrário daqueles com transtorno da personalidade esquizoide, que desejam ficar sozinhos. Os evitativos não são tão exigentes, irritáveis ou imprevisíveis como indivíduos com personalidades borderline e histriônica. O transtorno da personalidade evitativa e o da personalidade dependente são semelhantes. Supõe-se que aqueles com o da personalidade dependente apresentem um temor maior de serem abandonados ou não amados do que aqueles com cuja personalidade é evitativa, mas o quadro clínico pode ser indistinguível. Curso e prognóstico Muitas pessoas com transtorno da personalidade evitativa são capazes de funcionar em um ambiente protegido. Algumas se casam, têm filhos e vivem suas vidas rodeadas apenas por membros da família. Caso seu sistema de apoio falhe, no entanto, ficam sujeitas a depressão, ansiedade e raiva. Esquivas fóbicas são comuns, e pacientes com o transtorno podem fornecer histórias de fobia social ou incorrer em fobia social durante o curso da doença. Tratamento - Psicoterapia. O terapeuta encoraja-o a sair para o mundo e assumir o que parecem ser riscos enormes de humilhação, rejeição e fracasso. Cuidado! O fracasso pode reforçar uma autoestima já fraca. A terapia de grupo pode ajudar o paciente a compreender como sua sensibilidade a rejeição o afeta e atinge os outros. Treinamento de assertividade é uma forma de terapia comportamental que pode ensiná-lo a expressar abertamente suas necessidades e aumentar sua autoestima. - Farmacoterapia. Usa-se farmacoterapia para o manejo de ansiedade e depressão quando são associadas ao transtorno. Alguns pacientes se beneficiam de antagonistas de receptores β-adrenérgicos, como atenolol, para o manejo de hiperatividade do sistema nervoso autônomo, propensa a ser elevada em indivíduos com transtorno da personalidade evitativa, em especial quando lidam com situações que lhes inspiram temor. Agentes serotonérgicos podem ajudar com a sensibilidade a rejeição. Em teoria, fármacos dopaminérgicos podem gerar comportamento de busca por novidades; entretanto, o indivíduo deve estar psicologicamente preparado para os possíveis resultados de novas experiências. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE DEPENDENTE - Subordinam suas próprias necessidades às necessidades de outros, fazem outra pessoas assumir responsabilidade por áreas importantes de suas vidas, não têm autoconfiança e podem experimentar desconforto intenso ao ficar sozinhas por mais do que breves períodos. - O transtorno já foi denominado personalidade passivo-dependente. - Freud descreveu uma dimensão oral de personalidade dependente caracterizada por dependência, pessimismo, medo de sexualidade, insegurança, passividade, sugestionabilidade e falta de perseverança. Epidemiologia - Mais comum em mulheres do que em homens. - 0,6% DSM V. Um estudo diagnosticou 2,5% de todos os transtornos da personalidade como pertencendo a essa categoria. - Ele é mais comum em crianças pequenas do que nas mais velhas. Pessoas com doenças físicas crônicas na infância podem ser mais suscetíveis ao transtorno. Características clínicas: Padrão global de comportamento dependente e submisso. Pessoas com o transtorno não conseguem tomar decisões sem uma quantidade excessiva de aconselhamento e tranquilização dos outros. Elas evitam posições de responsabilidade e ficam ansiosas se precisam assumir um papel de liderança. Preferem ser submissas. Quando deixadas sozinhas, encontram dificuldades de perseverar em tarefas, mas podem achar fácil executá-las para outra pessoa. Visto que não gostam de ficar sozinhos, indivíduos com esse transtorno buscam outras pessoas de quem possam depender; seus relacionamentos, portanto, são distorcidos por sua necessidade de estar apegados à outra pessoa. Na folie à deux (transtorno psicótico compartilhado), um membro da dupla normalmente tem transtorno da personalidade dependente; o parceiro submisso assume o sistema delirantedo parceiro mais agressivo e com maior autoafirmação, de quem depende. - Pessimismo, insegurança, passividade, temor de expressar sentimentos sexuais e agressivos tipificam o comportamento de indivíduos com transtorno da personalidade dependente. Um cônjuge abusivo, infiel ou alcoolista pode ser tolerado durante longos períodos de tempo para evitar a perturbação da sensação de apego. Diagnóstico diferencial: Dependência é um fator proeminente em pacientes com transtornos das personalidades histriônica e borderline, mas indivíduos com transtorno da personalidade dependente costumam ter um relacionamento duradouro com outra pessoa, em vez de uma série de pessoas de quem dependam, e não são propensos a ser abertamente manipuladores. O comportamento dependente também pode ocorrer em pessoas com agorafobia, mas estas tendem a apresentar um nível elevado de ansiedade manifesta ou até mesmo pânico. Curso e prognóstico: O funcionamento ocupacional tende a ser comprometido Relacionamentos sociais são limitados às pessoas de quem dependem, e muitos sofremabuso físico ou mental porque não conseguem se impor. Eles correm risco de desenvolver transtorno depressivo se perderem a pessoa de quem dependem, mas, com tratamento, o prognóstico é favorável. Tratamento: - Psicoterapia. O tratamento do transtorno da personalidade dependente costuma ser bem-sucedido. Terapias voltadas para o insight possibilitam ao paciente compreender os antecedentes de seu comportamento e, com o apoio de um terapeuta, ele pode se tornar mais independente, assertivo e autossuficiente. - Terapia comportamental, treinamento de assertividade, terapia de família e terapia de grupo foram todas usadas com resultados bem-sucedidos em diversos casos. - Farmacoterapia. Tem-se usado farmacoterapia para lidar com sintomas específicos, como ansiedade e depressão, que são características comumente associadas a esse transtorno. Pacientes que experimentam ataques de pânico ou que têm níveis elevados de ansiedade de separação podem ser beneficiados do uso de imipramina. Benzodiazepínicos e agentes serotonérgicos também foram úteis. Caso a depressão de um paciente ou os sintomas de abstinência reajam a psicoestimulantes, eles podem ser usados. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE OBSESSIVO-COMPULSIVA - Caracterizado por constrição emocional, organização, perseverança, teimosia e indecisão. A característica essencial do transtorno é um padrão global de perfeccionismo e inflexibilidade. Epidemiologia: Prevalência estimada de 2 a 8%. O transtorno é mais comum em homens do que em mulheres e é diagnosticado com maior frequência em irmãos mais velhos. Também é mais observado em parentes biológicos em primeiro grau de pessoas com o transtorno do que na população em geral. Pacientes costumam ter antecedentes caracterizados por disciplina rígida. Freud postulou que o transtorno está associado a dificuldades no estágio anal do desenvolvimento psicossexual, geralmente por volta dos 2 anos, mas vários estudos não conseguiram validar essa teoria. Diagnóstico Em entrevistas, pacientes com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva podem ter uma atitude formal, rígida, distante. Seu afeto não é embotado nem plano, mas pode ser descrito como constrito. Não demonstram espontaneidade, e seu humor costuma ser sério. Esses pacientes podem ficar ansiosos por não estarem no controle da entrevista. Suas respostas a perguntas apresentam detalhamento incomum. Os mecanismos de defesa que usam são racionalização, isolamento, intelectualização, formação reativa e anulação. Diagnóstico diferencial Quando obsessões ou compulsões recorrentes estão presentes, o diagnóstico de transtorno obssessivo-compulsivo deve ser considerado. Talvez a distinção mais difícil seja entre pacientes ambulatoriais com alguns traços obsessivo-compulsivos e aqueles com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva. O diagnóstico de transtorno da personalidade é reservado para indivíduos com prejuízos significativos em seu desempenho profissional ou social. Em alguns casos, transtorno delirante coexiste com transtornos da personalidade e deve ser considerado. Curso e prognóstico O curso da personalidade obsessivo-compulsiva é variável e imprevisível. De tempos em tempos, o indivíduo pode desenvolver obsessões ou compulsões no curso do transtorno. Alguns adolescentes se tornam adultos afetuosos, abertos e simpáticos; em outros, o transtorno pode ser o prenúncio tanto de esquizofrenia quanto – décadas mais tarde e exacerbado pelo processo de envelhecimento – de transtorno depressivo maior. Indivíduos com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva podem prosperar em cargos que exijam trabalho metódico, dedutivo ou detalhado, mas são vulneráveis a mudanças inesperadas, e sua vida pessoal pode permanecer estéril. Transtornos depressivos, especialmente com início tardio, são comuns. Tratamento: Psicoterapia. Diferentemente de pacientes com outros transtornos da personalidade, indivíduos com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva costumam estar cientes de seu sofrimento e buscam tratamento sozinhos. Com bastante treinamento e socialização, esses pacientes valorizam associação livre e terapia sem diretrizes. O tratamento, no entanto, costuma ser prolongado e complexo, e problemas de contratransferência são frequentes. Terapia de grupo e terapia comportamental eventualmente oferecem certas vantagens. Nos dois contextos, é fácil interromper os pacientes no meio de suas explicações ou interações mal-adaptativas. Impedir que seu comportamento habitual se complete eleva sua ansiedade e os deixa suscetíveis a aprender novas estratégias de enfrentamento. Os pacientes também podem receber recompensas diretas para mudanças em terapia de grupo, algo possível com menos frequência em psicoterapias individuais. Farmacoterapia: Clonazepam, um benzodiazepínico com uso anticonvulsivante, reduziu os sintomas em pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo. Desconhece-se sua utilidade para transtornos da personalidade. Clomipramina e agentes serotonérgicos como fluoxetina, normalmente em dosagens de 60 a 80 mg ao dia, podem ser úteis se sinais e sintomas obsessivo-compulsivos se manifestarem. A nefazodona pode beneficiar alguns pacientes. Personalidade passivo-agressiva: - Elas se caracterizam por obstrucionismo velado, procrastinação, teimosia e ineficácia. Tal comportamento é uma manifestação de agressividade subjacente expressa passivamente. - Não há dados disponíveis sobre epidemiologia. Proporção entre gêneros, padrões familiares e prevalência não foram estudados de maneira adequada. Características clínicas. -Pacientes com personalidade passivo-agressiva costumam procrastinar, resistir a solicitações para desempenho adequado, encontram desculpas para atrasos e defeitos nas pessoas de quem dependem, mas ainda assim se recusam a se desvencilhar dos relacionamentos dependentes. Eles normalmente não têm assertividade e não são diretos quanto a suas próprias necessidades e seus desejos - Em relacionamentos interpessoais, essas pessoas tentam manipular para assumir uma posição de dependência, mas outras costumam experimentar esse comportamento passivo autoprejudicial como punitivo e manipulativo. - Pessoas com esse tipo de personalidade esperam que outros façam suas tarefas e executem suas responsabilidades de rotina. Amigos e clínicos podem ficar enredados ao tentar apaziguar as várias reclamações de tratamento injusto. - Os relacionamentos íntimos de indivíduos com personalidade passivo-agressiva, no entanto, raras vezes são tranquilos ou felizes. Como estão ligados a seu ressentimento mais prontamente do que a sua satisfação, eles podem jamais elaborar objetivos para encontrar divertimento na vida. Essas pessoas são destituídas de autoconfiança e em geral têm uma visão pessimista do futuro. Diagnóstico diferencial. A personalidade passivo-agressiva deve ser diferenciada das personalidades histriônica e borderline. Pacientes passivo-agressivos, no entanto, são menos exagerados, dramáticos, afetivos e abertamente agressivos do que os que apresentam transtornos das personalidades histriônica e borderline. Curso e prognóstico. Embora negligência de responsabilidade e tentativas de suicídio fossem comuns, apenas um indivíduo cometeu suicídio nesse ínterim. Houve readmissão hospitalar no caso de 28 indivíduos (38%), mas apenas 3 receberam diagnóstico de esquizofrenia. Tratamento. Pessoas com personalidade passivo-agressiva que recebem psicoterapia de apoio apresentam bons resultados, mas, para essas pessoas, ela é repleta de armadilhas. Satisfazer suas demandas, com frequência, reitera a patologia, mas recusá-las condena-as à rejeição. Sessões de terapia, portanto, podem se tornar um campo de batalha no qual o paciente deseja se tornar dependente. Com esses pacientes, o clínico precisa tratar atos suicidas como uma expressão velada de raiva, e não como perda objetal emtranstorno depressivo maior. O terapeuta deve indicar as prováveis consequências de comportamentos passivo- agressivos conforme eles ocorrem. Esses confrontos podem ser mais úteis do que uma interpretação correta para a alteração do comportamento do paciente. Antidepressivos devem ser receitados apenas quando há indicações clínicas de depressão e a possibilidade de suicídio. Caso contrário, não é indicado medicação. Personalidade depressiva: Pessoas com personalidade depressiva são caracterizadas por traços vitalícios que se encaixam no espectro depressivo. Elas são pessimistas, anedônicas, presas ao dever, inseguras e cronicamente infelizes. Epidemiologia. Não existem, hoje, dados epidemiológicos disponíveis; contudo, o tipo de personalidade depressiva parece ser comum, ocorrer igualmente em homens e mulheres e em famílias nas quais se encontram transtornos depressivos. Etiologia. A causa da personalidade depressiva é desconhecida, mas os mesmos fatores envolvidos nos transtornos distímico e depressivo maior podem contribuir. - As teorias psicológicas envolvem perda precoce, maus cuidados dos pais, superegos punitivos e sentimentos extremos de culpa. - Teorias biológicas envolvem o eixo hipotalâmico-hipofisário-suprrenal-tireoide, incluindo os sistemas de amina noradrenérgicos e serotonérgicos. Características clínicas. O paciente com personalidade depressiva sente pouco do prazer normal de viver e tem a inclinação a ser solitário e solene, triste, submisso, pessimista e autodepreciativo. Ele é propenso a exprimir arrependimentos e sentimentos de inadequação e desesperança. Costuma ser meticuloso, perfeccionista, extremamente zeloso e obcecado com o trabalho e ter sentimentos agudos de responsabilidade e se desencoraja com facilidade sob novas condições. Ele tem medo de desaprovação; tende a sofrer em silêncio e talvez a chorar facilmente, embora em geral não na presença dos outros. Uma tendência a hesitação, indecisão e cautela revela um sentimento inerente de insegurança. Mais recentemente, Hagop Akiskal descreveu sete grupos de traços depressivos: (1) calado, introvertido, passivo e não assertivo; (2) triste, pessimista, sério e incapaz de se divertir; (3) dotado de autocrítica, autocensura e autodepreciação; (4) cético, crítico aos outros e difícil de agradar; (5) consciencioso, responsável e autodisciplinado; (6) taciturno e dado a preocupações; e (7) obcecado com eventos negativos, sentimentos de inadequação e falhas pessoais. Pacientes com personalidade depressiva queixam-se de sentimentos crônicos de infelicidade. Admitem ter baixa autoestima e dificuldade de encontrar algo em sua vida que lhes traga alegria, esperança ou otimismo. Autocríticos e depreciativos, são propensos a denegrirem-se, detratar seu trabalhos e seus relacionamentos com os outros. Sua fisionomia frequentemente reflete seu humor – má postura, expressão facial deprimida, voz rouca e retardo psicomotor. Diagnóstico diferencial. O transtorno distímico é um transtorno do humor caracterizado por maiores flutuações no humor do que ocorre na personalidade depressiva. O transtorno distímico é episódico, pode ocorrer a qualquer momento e normalmente apresenta um estressor precipitante. A personalidade depressiva pode ser conceitualizada como parte de um espectro de condições afetivas nas quais os transtornos distímico e depressivo maior são variantes mais graves. Indivíduos com transtorno da personalidade evitativa são introvertidos e dependentes, mas são propensos a apresentar mais ansiedade do que depressão, comparados àqueles com personalidade depressiva. Curso e prognóstico. Pacientes com personalidade depressiva podem correr grande risco de transtornos distímico e depressivo maior. Em um estudo realizado por Donald Klein e Gregory Mills, sujeitos com personalidade depressiva exibiram índices significativamente mais elevados de transtorno do humor atual, transtorno do humor vitalício, depressão maior e distimia do que sujeitos sem essa personalidade. Tratamento. A psicoterapia é o tratamento mais indicado para personalidade depressiva. Os pacientes respondem a psicoterapia voltada para o insight e, como seu teste de realidade é bom, podem obter insight da psicodinâmica de sua doença e entender seus efeitos sobre seus relacionamentos interpessoais. É provável que o tratamento seja de longo prazo. A terapia cognitiva ajuda o paciente a compreender as manifestações cognitivas de sua baixa autoestima e seu pessimismo. Psicoterapia de grupo e terapia interpessoal também são úteis. Algumas pessoas respondem a medidas de mútua ajuda. Abordagens psicofarmacológicas incluem o uso de antidepressivos, sobretudo agentes serotonérgicos como sertralina, 50 mg ao dia. Alguns pacientes reagem a pequenas dosagens de psicoestimulantes, como anfetamina, 5 a 15 mg ao dia. Em todos os casos, agentes psicofarmacológicos devem ser combinados com psicoterapia para atingir o máximo efeito. Personalidade sadomasoquista Alguns tipos de personalidade caracterizam-se por elementos de sadismo ou masoquismo, ou por uma combinação de ambos. A personalidade sadomasoquista está listada aqui porque é de grande interesse clínico e histórico na psiquiatria. Ela não constitui uma categoria diagnóstica oficial no DSM-5, mas pode ser diagnosticada como transtorno da personalidade sem outra classificação. Sadismo é o desejo de causar dor a outros, seja por meio de abuso sexual, seja por meio de abuso físico ou psicológico geral. A denominação origina-se do Marquês de Sade, escritor de contos eróticos do fim do século XVIII que descreveu pessoas que sentiam prazer sexual ao infligir dor a outros. Freud acreditava que sádicos repelem ansiedade de castração e são capazes de alcançar prazer sexual apenas quando podem fazer em outros o que temem que seja feito a eles. Masoquismo, expressão inspirada no novelista alemão do século XIX Leopold von Sacher-Masoch, é a obtenção de gratificação sexual ao infligir dor a si mesmo. Os masoquistas morais geralmente buscam humilhação e fracasso em vez de dor física. Freud acreditava que a capacidade do masoquista de atingir o orgasmo é perturbada pela ansiedade e por sentimentos de culpa com relação ao sexo, que são mitigados por sofrimento e punição. Observações clínicas indicam que elementos tanto do comportamento sádico quanto do masoquista costumam estar presentes na mesma pessoa. O tratamento com psicoterapia voltada para o insight, incluindo psicanálise, foi eficaz em alguns casos. Como resultado da terapia, o paciente fica ciente da necessidade de autopunição secundária a culpa inconsciente e excessiva e identifica seus impulsos agressivos reprimidos, os quais se originaram no início da infância. Personalidade sádica: A personalidade sádica não está inclusa no DSM-5, mas ainda aparece em livros especializados e pode ter uso descritivo. No início da idade adulta, pessoas com personalidade sádica exibem um padrão global de comportamento cruel, depreciativo e agressivo em relação aos outros. Crueldade física ou violência são usadas para causar dor às outras pessoas, sem outros objetivos, como agredir alguém para roubá-lo. Indivíduos com personalidade sádica gostam de humilhar ou depreciar pessoas na frente dos outros e, em geral, já trataram ou castigaram pessoas com uma dureza incomum, especialmente crianças. De modo geral, indivíduos sádicos são fascinados por violência, armas, ferimentos ou tortura. Para ser incluído nessa categoria, o indivíduo não pode ser motivado unicamente pelo desejo de obter excitação sexual com seu comportamento; caso seja essa a motivação, deve-se diagnosticar a parafilia de sadismo sexual. MUDANÇA DE PERSONALIDADE DEVIDO A OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA Mudança de personalidade devido a outra condição médica é uma ocorrência relevante. A CID-10 inclui a categoria de transtornos da personalidade e comportamentais devido a doença, lesão edisfunção cerebrais, a qual abrange transtorno orgânico da personalidade, síndrome pós-encefalítica e síndrome pós-concussão. A mudança de personalidade devido a outra condição médica caracteriza-se por uma alteração acentuada no estilo da personalidade e em seus traços a partir de um nível de funcionamento anterior. Pacientes devem mostrar evidências de um fator causativo de origem orgânica anterior ao início da mudança de personalidade. Etiologia Dano estrutural ao cérebro normalmente é o motivo da mudança de personalidade, e traumatismo craniano provavelmente seja a causa mais comum. Neoplasias cerebrais e acidentes vasculares, sobretudo dos lobos temporais e frontais, também são causas comuns. Diagnóstico e características clínicas: Uma mudança de personalidade a partir de padrões anteriores de comportamento ou uma exacerbação das características anteriores da personalidade é perceptível. Também associada ao dano aos lobos frontais, a chamada síndrome dos lobos frontais consiste em indiferença proeminente e apática, caracterizada por ausência de preocupação com eventos no ambiente imediato. Explosões de raiva, que podem ocorrer com pouca ou nenhuma provocação, em especial após a ingestão de álcool, podem resultar em comportamento violento. A expressão de impulsos pode ser manifestada por meio de piadas inadequadas; modos rudes; avanços sexuais impróprios; e conduta antissocial, resultando em conflitos com a lei, tais como agressão a terceiros, contravenções sexuais e furtos em lojas. A habilidade de prever as consequências legais dos atos futuros é reduzida. Pessoas com epilepsia do lobo temporal em geral demonstram falta de senso de humor, hipergrafia, hiper-religiosidade e agressividade acentuada durante convulsões. Indivíduos com mudança de personalidade devido a outra condição médica apresentam um sensório claro. Transtornos leves da função cognitiva com frequência são concomitantes, mas não levam a deterioração intelectual. Os pacientes podem ser desatentos, o que pode ser explicado por transtornos na memória recente. Contudo, com um pouco de estímulo, provavelmente lembrarão do que alegam ter esquecido. O diagnóstico deve ser suspeitado em pessoas que exibem mudanças acentuadas no comportamento ou na personalidade envolvendo labilidade emocional e prejuízo no controle de impulsos que não apresentam história de transtorno mental e cujas alterações na personalidade ocorram de forma súbita ou ao longo de um período de tempo relativamente curto. Esteroides anabolizantes. Uma quantidade crescente de atletas de escolas e universidades e de fisiculturistas usa esteroides anabolizantes como um atalho para potencializar seu desenvolvimento físico. Esteroides anabolizantes incluem oximetolona, somatropina estanozolol e testosterona. Não está claro se uma mudança de personalidade causada por abuso de esteroides seria mais bem diagnosticada como mudança de personalidade devido a outra condição médica ou como um dos transtornos por uso de outra substância (ou substância desconhecida). Menciona-se o caso aqui porque esteroides anabolizantes podem causar alterações persistentes de personalidade e comportamento. Diagnóstico diferencial A demência envolve deterioração global nas capacidades intelectuais e de comportamento, das quais a mudança de personalidade é apenas uma categoria. Uma mudança de personalidade pode anunciar um transtorno cognitivo que, no fim irá evoluir para um quadro de demência. Nesses casos, assim que a deterioração começa a abranger memória significativa e déficits cognitivos, o diagnóstico do transtorno deixa de ser mudança de personalidade causada por outra condição médica e passa a ser demência. Ao diferenciar a síndrome específica de outros transtornos nos quais pode ocorrer mudança de personalidade – como esquizofrenia, transtornos delirante, do humor e do controle de impulsos –, o clínico deve considerar o mais importante, a presença de um fator causativo orgânico específico no transtorno da mudança de personalidade. Curso e prognóstico Tanto o curso quanto o prognóstico da mudança de personalidade devido a outra condição médica dependem de sua causa. Caso resulte de uma lesão estrutural no cérebro, o transtorno tende a ser persistente. Ele pode seguir um período de coma e delirium em casos de traumatismo craniano ou acidente vascular e pode ser permanente. A mudança de personalidade pode evoluir para demência em casos de tumor cerebral, esclerose múltipla e doença de Huntington. Mudanças de personalidade produzidas por intoxicação crônica, doença clínica ou terapia farmacológica (como levodopa para parkinsonismo) podem ser revertidas se a causa subjacente for tratada. Alguns pacientes precisam de cuidados assistenciais ou pelo menos supervisão intensa para satisfazer suas necessidades básicas, evitar conflitos repetidos com a lei e se protegerem e resguardar suas famílias da hostilidade de outros e das privações resultantes de atos impulsivos e malconsiderados. Tratamento O manejo do transtorno de mudança de personalidade envolve o tratamento da condição orgânica subjacente, quando possível. O tratamento psicofarmacológico de sintomas específicos pode ser indicado em alguns casos, como imipramina ou fluoxetina para depressão. Pacientes com prejuízo cognitivo grave ou baixo controle comportamental podem precisar de orientação para evitar dificuldades no trabalho ou impedir constrangimento social. Via de regra, a família do paciente precisa de apoio emocional e de orientação concreta sobre como ajudar a reduzir a conduta indesejável do paciente. Deve-se evitar álcool, e compromissos sociais devem ser restringidos quando ele fica propenso a agir de maneira extremamente rude. Condições médicas associadas a mudança de personalidade Traumatismo craniano, Doenças cerebrovasculares, Tumores cerebrais, Epilepsia (particularmente epilepsia parcial complexa), Doença de Huntington, Esclerose múltipla, Distúrbios endócrinos, Envenenamento por metais pesados (manganês, mercúrio), Neurossífilis, Síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) Temperamento refere-se às propensões do corpo na modulação de respostas comportamentais condicionadas a estímulos físicos prescritivos A evitação de danos envolve uma propensão hereditária na inibição de comportamento em resposta a sinais de punição e não recompensa. Observa-se a evitação de danos como medo de incerteza, inibição social, timidez para com estranhos, tendência a cansar-se facilmente e preocupação pessimista em antecipação de problemas mesmo em situações que não preocupam outras pessoas. A busca por novidade reflete uma propensão hereditária de iniciação ou ativação de uma abordagem apetitiva em reação a novidades, abordagem a sinais de recompensa, evitação ativa de sinais condicionados de punição e fuga de uma punição incondicionada (todas as quais, postula-se, apresentam covariação como parte de um sistema de aprendizado hereditário). A busca por novidade é observada como uma atividade exploratória em reação a novidade, impulsividade, extravagância ao lidar com indícios de recompensa e evitação ativa de frustração. Indivíduos com pontuação elevada em busca por novidade irritam-se e entediam-se facilmente, são curiosos, impulsivos, extravagantes e indisciplinados. Projeções dopaminérgicas têm um papel fundamental na busca por novidades. Esta envolve aumento da recaptação de dopamina nos terminais pré-sinápticos e, assim, exige estimulação frequente para manter níveis ideais de estimulação dopaminérgica pós-sináptica. A busca por novidade leva a diversos comportamentos de busca por prazer, incluindo tabagismo; isso pode explicar a frequente observação de baixa atividade de MAO tipo B (MAOB) plaquetária, porque o tabagismo inibe a atividade plaquetária e encefálica da MAOB. Estudos com genes envolvidos na neurotransmissão de dopamina, como o gene transportador de dopamina(DAT1) e o gene receptor de dopamina tipo 4 (DRD4), forneceram evidências da associação com busca de novidade ou comportamento de assumir riscos A dependência de recompensa reflete a manutenção de comportamento em reação a indícios de recompensa social. Indivíduos com pontuação elevada nesse item são bondosos, sensíveis, socialmente dependentes e sociáveis. Acredita-se que projeções noradrenérgicas a partir do locus ceruleus e projeções serotonérgicas a partir da rafe mediana influenciem esse condicionamento a recompensa. Dependência de recompensa elevada está associada a aumento de atividade no tálamo. A concentração de 3-metóxi-4-hidroxifenilglicol (MHPG) é baixa em pessoas com dependência de recompensa elevada A persistência reflete a manutenção do comportamento apesar de frustração, fadiga e reforço intermitente. Pessoas altamente persistentes são trabalhadoras, perseverantes e ambiciosas, superam suas capacidades e tendem a intensificar seus esforços em antecipação a recompensas e encaram frustração e fadiga como desafios pessoais. Uma pesquisa recente com roedores relacionou a integridade do efeito de extinção do reforço parcial a conexões hipocampais e ao metabolismo do glutamato. A persistência pode ser intensificada por meio de psicoestimulantes)