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PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS PROFESSORA Esp. Érica Fernanda Lopes Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Acesse o seu livro também disponível na versão digital. Google Play App Store https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/823 2 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; LOPES, Érica Fernanda. Práticas Corporais Alternativas. Érica Fernanda Lopes. Maringá - PR.:Unicesumar, 2019. Reimpresso em 2024. 132 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Educação Física. 2. Yoga. 3. Tai Chi Chuan. 4. Meditação. 5. Biodança. EaD. I. Título. CDD - 22ª Ed. 613.7 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-85-459-1925-4 Impresso por: Ficha Catalográfica Elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo. Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti, Fotos Shutterstock. Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência autora Esp. Érica Fernanda Lopes Pós-graduada em Naturopatia pela Faculdade de Tecnologia em Saúde e Centro Integrado de Estudos e Pesquisas do Homem (Cieph) em Florianópolise Pós-gra- duada em Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura pela Escola Brasileira de Medicina Chinesa (Ebramec) de São Paulo. Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Atualmente, é Terapeuta Naturalista com experiência nas seguintes áreas: sociedade e construção social, lazer e recreação, brinquedo e brincar, educação física, holismo, integração holística entre o desenvolvimento físico, intelectual, espiritual e artístico na Educação Física escolar. http://lattes.cnpq.br/4259272002321663 apresentação do material PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Érica Fernanda Lopes Querido(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) às Práticas Corporais Alternativa e Com- plementares (PACs)! Preparamos este material com o intuito de tecer um diálogo sobre o contexto das PACs no atual cenário da Educação Física e as contribuição delas para o desenvolvimento das potencialidades dos interagentes. A Educação Física oferece uma gama de experiências que enriquecem a capa- cidade de criação, de expressão e de conhecimento do próprio corpo, o influencia a interação com o meio onde vivemos. Abordaremos as PACs como recurso es- sencial nesse diálogo e nesse objetivo, contemplando a integralidade entre mente, espírito e materialidade. Aqui, ao ampliar os seus olhares para a concepção diferenciada do corpo, pro- pomos diferentes possibilidades de trabalho que podem ser desenvolvidas nessa área, para que, diante das necessidades da atual sociedade, possamos construir sujeitos com melhor domínio da inteligência emocional na inter-relação entre si. Dividimos o livro em cinco unidades e, em cada uma, estabeleceremos um diálogo sobre a configuração atual das práticas selecionadas: Yoga, Tai Chi Chuan, Meditação e Biodança. Você encontrará um leque de possibilidades de criação, pois dialogamos com a concepção de corpo sob a visão oriental, trazendo novos elementos para o nosso trabalho. As práticas citadas são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPICs), possibilitando ampliar o nosso campo de atuação. Convidamos você a expandir a sua visão para além das práticas convencionais, a angariar valiosos conhecimentos sobre a corporeidade e a cultura corporal, além de conhecer outras formas de trabalho e enriquecer a sua intervenção. Vamos construir, juntos, uma Educação Física que vise o desenvolvimento do ser como um todo. Contamos com você! Faça bons estudos e tenha um ótimo curso, aproveite! sumário UNIDADE I AS PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA 14 As Práticas Corporais Alternativas e a sua Configuração no Atual Cenário da Educação Física 18 As Práticas Corporais Convencionais e as Práticas Alternativas: Diálogo e Integração 22 O Corpo na Visão Oriental: Ampliando Conceitos 26 O Entrelaçamento entre a Cultura Oriental e Ocidental 28 Considerações Finais 34 Referências 34 Gabarito UNIDADE II YOGA 40 Os Princípios do Yoga 46 Yoga: Filosofia ou Ginástica? 50 O Yoga na Educação Física 57 Considerações Finais 62 Referências 64 Gabarito UNIDADE III TAI CHI CHUAN - A ARTE MILENAR 70 Tai Chi Chuan: História e Filosofia 74 Tai Chi Chuan: Arte Marcial, Meditação e Saúde 78 A Prática do Tai Chi Chuan 83 Considerações Finais 88 Referências 88 Gabarito UNIDADE IV A MEDITAÇÃO 94 A Meditação: os Caminhos para uma Prática Integral no Campo da Educação Física 100 O Corpo e a Mente: o Desafio da Integralidade 102 Como Meditar? O Desafio da Prática 104 Considerações Finais 109 Referências 109 Gabarito UNIDADE V BIODANÇA 114 Biodança: Origem e História 118 Definição e Prática da Biodança 122 Biodança e Educação Física: Aproximações e Complementaridades 124 Considerações Finais 130 Referências 131 Gabarito 132 CONCLUSÃO GERAL Professora Esp. Érica Fernanda Lopes Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • As Práticas Corporais Alternativas e a sua configuração no atual cenário da Educação Física • As Práticas Corporais Alternativas e as Práticas Convencionais: diálogo e integração • O corpo na visão oriental: ampliando conceitos • O entrelaçamento entre as culturas oriental e ocidental Objetivos de Aprendizagem • Definir o conceito das Práticas Corporais Alternativas na Educação Física e dialogar sobre as abordagens atuais. • Identificar as diferenças entre as PACs e as práticas convencionais. • Dialogar sobre as diferenças entre as visões oriental e ocidental na construção do conceito de corpo e de movimento, bem como o reflexo desse conceito na construção do sujeito social mediante os seus aspectos culturais. • Discutir sobre a popularização das Práticas Corporais Alternativas no Brasil e a sua expansão no campo da Educação Física. AS PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA unidade I INTRODUÇÃO Olá! Seja bem-vindo(a), aluno(a)! Nesta unidade, falaremos sobre o conceito das Práticas Corporais Alternativas (PACs) e a sua configuração na Educação Física, tendo em vista que essa disciplina encontra as suas origens na concepção higienista médica, a qual visava a educação do corpo, o que promoveu uma visão dualista do sujeito, dividindo-o entre corpo e mente. Vivemos, porém, em tempos em que essa visão já não mais se susten- ta, ela necessita ser ampliada para moldes que acompanhem a evolução social, que contribuam com a vivência além dos moldes tradicionais e potencializem as capacidades inatas humanas em todos os seus aspectos. Para tanto, qual o papel da Educação Física nesse contexto? Como nós, profissionais da área, podemos contribuir nesta tão importante forma- ção? Estando ela intimamente associada aos conceitos de corpo e movi- mento, tornam-se essenciais determinados questionamentos, tais como: Qual a concepção de corpo? Como se dá a sua caracterização diante do meio onde vivemos? Sendo esse corpo físico dotado de sentimentos e emoções, seria possível uma prática que desvincule tais conceitos? As Práticas Corporais Alternativas buscam embasamentos nas filoso- fias orientais, as quais possuem um aparato milenar e profundo que nos ajuda a elucidar esses questionamentos de forma diferenciada. Assim, buscamos vivências que evidenciem a capacidade de criação, de autodo- mínio, de autopercepção, de compreensão das suas sensações corpóreas e o diálogo destas com as suas emoções e os seus sentimentos, expandindo tais aspectos para o convívio social. Além do que, o entrelaçar de culturas tão distintas, a oriental e a oci- dental, pode apontar diferentes paradigmas na autoconstrução e na for- mação de nossos alunos, de modo a enriquecer a sua cultura corporal. Por que não ousar, transformar a sua aula e enriquecer a vivência dos alunos e praticantes? Por que não buscar novas soluções para antigos pro- blemas que abarcam a Educação Física e a sociedade em geral? Vamos dialogar sobre o assunto? 14 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Olá, querido(a) aluno(a)! Iniciaremos este tópico examinando como as Práticas Corporais Alternativas se inserem no con- texto da Educação Física. Tendo em vista que esse termo é utilizado por várias áreas do conhecimento, como a Antropologia, a Sociologia e a Saúde, isto volta os nossos olhares para a complexidade dele, também pela possibilidade de diálogo que ele ense- ja, uma vez que a Educação Física se insere tanto no campo da educação quanto no da saúde, o que nos dá a possibilidade de amplo e complexo diálogo. De acordo com Lazzarotti Filho et al. (2010, p. 6): No campo da Educação Física, o termo “prá- ticas corporais” vem sendo valorizado pelos pesquisadores que estabelecem relação com as ciências humanas e sociais, pois aqueles que dialogam com as ciências biológicas e exatas, operam com o conceito de atividade física. A Educação Física, por ter o corpo humano como objeto de estudo, apropria-se desses conteúdos como complemento que enriquece as práticas con- vencionais, tais elementosbuscam levar as aulas e vivências para além de sua utilidade pragmática, As Práticas Corporais Alternativas e a sua Configuração no Atual Cenário da Educação Física EDUCAÇÃO FÍSICA 15 integralizando e agrupando as suas dimensões bá- sicas (pensamento, sentimento, emoção, movimen- to), que são parte da completude do ser, atribuindo sentido para o cotidiano dos praticantes, levando-os à reflexão sobre o seu modo de vida e os desdobra- mentos dele em próprio corpo. Diante dessa possibilidade, abrimos o campo para a construção da sensibilidade do corpo como um todo, que interprete o sujeito na sua completu- de, dotado de emoções, sentimentos e sensações. Ao aguçar os sentidos, estabelecemos uma relação mais humanizada e proporcionamos experiências mais ampliadas de autopercepção e de conexão com o meio. A experiência que prima por esses aspectos visa quebrar os paradigmas sociais dos relacio- namentos humanos, do indivíduo com si e com o próximo de modo que o autoconhecimento leva à construção de um novo padrão mental de aceita- ção, autorrespeito e amor próprio. Tais virtudes se estendem à convivência em sociedade, de modo que os sujeitos com maior potencial de autodomí- nio têm mais empatia e tolerância com o próximo, interferindo na construção de ambientes mais sau- dáveis ao seu redor. Nesse contexto, Freire (2003, p. 35) aponta-nos que o “desenvolvimento dos aspectos puramente intelec- tuais é muito pouco para uma sociedade que, além de raciocínios lógicos, deveria se alimentar de soli- dariedade, de cooperação e de amor”. É importante verificarmos que tais práticas não se contrapõem àquelas convencionais, mas pro- põem diferentes objetivos, como o relaxamento, o autoconhecimento, a sensibilização, o contato con- sigo e a sua natureza individual. Para isso, tivemos, no século XX, o Movimento da Contracultura, que serviu de parâmetro para questionarmos o modo de vida mecanicista desenvolvido pelo Ocidente com o alavanque tecnológico. A esse respeito, Coldebella (apud IMPOLCETTO et al., 2013, p. 271) “indica que o movimento da con- tracultura reivindica a liberdade e autonomia dos indivíduos, defendendo a espontaneidade, o resgate do habitat rústico, a vida em comunidade e a recon- ciliação com o corpo”. O termo alternativo leva-nos a refletir sobre uma prática fora dos moldes preestabelecidos e nos faz observar aspectos mais complexos da nossa existên- cia e do nosso papel na sociedade e nos coloca dian- te de novas possibilidades de experiências e diálogos com culturas diferentes. Estamos convidados a sair do pensamento linear e a explorar novos campos. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000, p. 1) “para viver de- mocraticamente em uma sociedade plural é pre- ciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem”, fato que possibilita a ampliação e a construção de novos conhecimentos e, assim, transformar as experiências com a prática da Edu- cação Física, no decorrer da história, de acordo com a necessidade de cada tempo. Como podemos trabalhar o desenvolvimento da autopercepção e do autoconhecimento para auxiliar no nosso crescimento e na nossa atuação consciente no mundo? REFLITA 16 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Reflita comigo, querido(a) aluno(a): Se tais teorias indicam que há a necessidade de resgate da autonomia do corpo/indivíduo, é porque, em algum momento, ela foi sobrepujada. Desse modo, a Educação Física, em suas diferentes competências de atuação sobre o corpo, se configura como elemento de grande relevân- cia na formação social dos indivíduos. Portanto, tais questionamentos se tornam fundamentais nesse meio. Sendo a Educação Física a área de estudo responsá- vel por tratar do movimento e da Cultura Corporal nos seus diferentes campos de atuação, considera- mos que: [...] a área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruí- dos pela sociedade a respeito do corpo e do mo- vimento. Entre eles, se consideram fundamen- tais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de pro- moção, recuperação e manutenção da saúde (BRASIL, 1997, p. 23). EDUCAÇÃO FÍSICA 17 Diante disso, temos em nossas mãos grandes possibilidades de traba- lho em um vasto campo de atuação, não é mesmo? 18 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Neste tópico, convidamos você à seguinte reflexão: Diante do escopo teórico/prático nas diferentes áre- as de atuação que a Educação Física propõe-nos, de acordo com as bases nas quais ela foi fundada, como conciliaremos uma proposta nova e tão abrangente com um conhecimento há tanto tempo difundido, mas que necessita de reformulação condizente com o nosso contexto sociocultural? Primeiramente, consideramos que a Educação Física, dentre as suas atuações, tem a possibilida- de explorar as diferentes manifestações da Cultura Corporal, sendo o termo cultura “entendido como produto da sociedade, da coletividade à qual os in- divíduos pertencem, antecedendo-os e transcenden- do-os” (BRASIL, 1997, p. 23). Isso implica no fato de que a cultura está em constante transformação e construção no fazer diá- rio da sociedade, na manutenção da vida e dos hábi- tos por ela desenvolvidos, o que nos leva a crer que a prática educacional que prima pela seleção de con- As Práticas Corporais Convencionais e as Práticas Alternativas: Diálogo e Integração EDUCAÇÃO FÍSICA 19 teúdos relevantes e coerentes deve estar em conso- nância com o dinamismo desse processo. De acordo com Soares et al. (1992, p. 33): Educação Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de ativida- des expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos cha- mar de cultura corporal. Desse modo, podemos, então, admitir que o corpo é um meio de manifestação e expressão da nossa cul- tura, ao passo que adquire também, na sua indivi- dualidade, aspectos peculiares que interagem com a cultura de modo geral. Podemos, também, defini-la por sua interven- ção nas práticas relacionadas à manutenção da saú- de e à melhora da qualidade de vida, bem como nas atividades vinculadas ao lazer, ao tempo livre e à ludicidade. No que compete à saúde, o profissional da Educação Física tem a possibilidade de dialogar com demais áreas afins trabalhando na complemen- taridade que abrange o conceito de saúde, dado pela OMS como “o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença” (BRASIL, 1993, p. 65). Segundo esse conceito de saúde, podemos refle- tir sobre a gama de atuação da Educação Física nesse contexto, tendo em vista que o profissional da área pode levar tais conhecimentos para diversas áreas, desde a formação educacional de base até a manu- tenção e a promoção da saúde, do lazer e da qualida- de de vida, sendo um importante interventor nesse processo. Cada vez mais nos deparamos com espaços de lazer e práticas de atividades voltadas para a manu- tenção e a promoção da saúde, diante disso, o pro- fessor e profissional da Educação Física destaca-se ao se deparar com maiores campos de atuação devi- do à busca crescente por hábitos mais saudáveis, que incluem a prática de esportes, as ginásticas, as dan- ças e uma gama de novas possibilidades que surgem em espaços privados ou públicos. Nesse contexto, pelo aprimoramento e pela bus- ca por atividades diferenciadas, as PACs encontram forte campo de atuação, tendo em vista o crescente número de adeptos de atividades até pouco tempo desconhecidas. Diante do avanço da comunicação do mundo globalizado, é de fundamental importân- cia considerar que as diferentes culturas dos dife- rentes povos do globo estão em constante interação, que este fazer social e cultural ultrapassou as barrei- ras geográficas e estabeleceu um constante e valioso diálogo entre as diferentescivilizações. Tal diálogo estabelecido trouxe nova visão do corpo e do modo de se expressar e interagir com o mundo, oportunizando o avanço em conteúdos além dos convencionais, avanço esse necessário para a evolução do ensino e para a construção de uma nova realidade educacional, de uma nova forma de se relacionar com o corpo e os seus meandros, e de práticas que abranjam aspectos além daqueles pura- mente biológicos e que atendam às necessidades do momento atual. Soares et al. (1992) apontam que os exercícios físicos na forma cultural de jogos, ginástica, dança e equitação surgem na Europa, no final do século XVIII e início do século XIX. Este é o tempo e o es- paço de formação dos sistemas nacionais de ensino, marcando a consolidação da Educação Física como disciplina obrigatória, seguindo os moldes sociais da época e as características da sociedade burguesa daquele período. Deve-se ter em vista que, de início, a Educação Física se fazia nos moldes higienistas: 20 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS utilizada como ferramenta para a obtenção de um corpo saudável e forte para o trabalho no momento da Revolução Industrial. Com isso, observamos que, desde o princípio, essa disciplina surge pela necessidade social vigen- te no momento histórico em que ela está inserida, a “construção” de um novo indivíduo para nova socie- dade que surgia, com novas necessidades e deman- das sociais, econômicas e morais. Querido(a) aluno(a), desde então, muito se pas- sou, grandes transformações ocorreram em nossa sociedade. A Educação Física vem se transformando sob a influência de áreas do conhecimento, como a Antropologia, a Sociologia e a Psicologia, ampliando as suas possibilidades de atuação numa visão mais integralizada do ser, na tentativa de romper com a dicotomia corpo-mente até então estabelecida. Desde então, os novos rumos que a Educação Física tem buscado perpassam o âmbito da Cultu- ra Corporal para, assim, encontrar uma definição que amplia a visão do corpo para além do desen- volvimento exclusivo das habilidades físicas. Busca a visão integral do ser no âmbito psicológico-men- tal, social, moral e também biológico, mas não so- mente. Partimos do princípio de que o aprendizado é um fator inerente a cada indivíduo, assim como di- fere para cada um as vivências corpóreo-sensoriais, o tempo de se apropriar do conhecimento e de de- senvolver as potencialidades. Estamos de acordo que, de modo geral, o nosso corpo possui desenvolvimento semelhante na cone- xão entre neurônios e formação de sinapses, porém, no trato de suas relações, o indivíduo se coloca à prova diante de suas emoções, e isso influencia di- retamente a sua forma de aprender, de valorar, de se apropriar dos conteúdos adquiridos, de se expressar no mundo e de se relacionar com a sua saúde e o seu bem-estar, características estas que nos diferem e nos tornam únicos. Com isso, termos como cooperação, autoper- cepção, autoconhecimento, autonomia física e mental, valorização das diferenças, liberdade, cria- tividade, aceitação, holismo, visão global de saúde e bem-estar, serão comuns na literatura que abran- ge essa nova prática, que tira a ênfase antes dada à competitividade, ao enaltecimento da técnica, ao higienismo, à racionalização e à instrumentali- zação do movimento, uma vez que, quando pen- samos no corpo, pensamos, simultaneamente, no indivíduo em si. De certo modo, as PACs provocam a descons- trução de um movimento pré-moldado, racionali- zado, em que não existem ideais de perfeição nas performances, em que o fazer se encerra por si mesmo no sentido de não haver comparativos de resultados. O movimento torna-se a consequência da expressão da individualidade de cada corpo, dentro de suas proporções e possibilidades, de seus sentimentos e emoções, segundo os seus costumes, crenças e objetivos, na busca pelo prazer na execu- ção, no relaxamento e na integralização do corpo e da mente. A exemplo disso, temos práticas como a Yoga e o Tai Chi Chuan, que produzem movimentos com lentidão, leveza e introspecção, em que não há es- tímulos competitivos ou comparativos, mas sim, expressões de si mesmo, do corpo e da mente fundi- dos, formando o contexto único de cada praticante cujo grande desafio dá-se consigo mesmo. EDUCAÇÃO FÍSICA 21 Nessas técnicas, temos a observação contínua de si mesmo, em que se mesclam os aspectos puramente físicos e emocionais, partindo do princípio de que o pensamento é a origem de tudo que nos acontece, assim, tais práticas direcionam-se para o controle da mente. De acordo com esses princípios, a mente si- lenciosa é capaz de ouvir, perceber, captar a realida- de de maneira mais eficiente e de nos ajudar a sentir de maneira mais precisa e a interagir com o meio de maneira mais equânime. A esse respeito, Marin (2010, p. 210) aponta que: Quando acalmamos nossa mente, liberamos mais energia para nossa vida emocional. Por mente entendo a mente racional, que resol- ve problemas, justifica e julga, em oposição à mente como um todo, que abrange não somen- te pensamentos, mas também sentimentos, in- tuição, praticidade e sonhos. Assim, a visão do corpo estende-se para outras di- mensões, a prática física ganha finalidades diferen- ciadas e peculiares. A performance torna-se a resul- tante, e não a causa primária da atividade, e a união entre esses dois aspectos pode resultar no maior aproveitamento do trabalho realizado, na autossatis- fação e na realização pessoal. 22 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Para compreender a visão da cultura oriental so- bre o corpo, é necessário compreender que este conhecimento e toda a sua filosofia derivam do modo de vida desenvolvido por essa cultura de acordo com a necessidade de cada geração. Nos primórdios das civilizações, segundo a visão oriental, a filosofia, a religião e a ciência provi- nham da mesma fonte, não existindo separação entre elas de maneira holística. Era hábito dos antepassados orientais a cons- tante observação da natureza, de maneira que as suas teorias provêm da interação com ela. É muito comum, principalmente na cultura chinesa, que os processos fisiológicos sejam comparados e equipa- rados a fenômenos naturais. De acordo com as suas tradições, há uma ener- gia que é fonte primária de todos os elementos e criações, tudo no universo está permeado de uma substância vital denominada Qi ou Prana, ou como é chamado no Ocidente, de Energia Vital. Segundo as tradições, essa substância é a causa primária de toda a vida. Sionneau (2014, p. 201) diz que O Corpo na Visão Oriental: Ampliando Conceitos Fonte: Thomas Barrat / Shutterstock EDUCAÇÃO FÍSICA 23 na China Antiga, o Qi é o sopro da vida, o dina- mismo fundamental que dirige todas as mani- festações do universo, incluindo os seres vivos. É ele que está na origem de todas as coisas, de todos os seres. É a força primordial que anima a criação. O Qi é dinâmico e se transforma para dar forma aos diferentes estados da matéria. Sionneau (2014, p. 202) aponta que “ao se concentrar, ele se consti- tui em matéria e gera a multiplicidade dos homens e das coisas”. em que vive, o corpo influencia e sofre influência desse meio a todo momento, a interação com a na- tureza, com os demais e consigo mesmo mesclam-se em um único ser. Por isso, temos uma gama de atividades nessa área que primam pela auto-observação e pelo auto- conhecimento, que buscam mais a superação de si mesmo do que a competição. A ideia é a de que se somos capazes de vencer os nossos próprios desa- fios, podemos lidar melhor com os aspectos exterio- res que nos cercam. As suas práticas corporais utilizam a respiração como forma de concentração e tomada de consciên- cia, fazem o uso correto da postura, do foco e da au- topercepção, partindo do interior para o exterior. Os movimentos são mais lentos e ritmados, com foco na consciência de si mesmo, traçando, desse modo, a interação com o meio. Aqui, caro(a) aluno(a),temos uma visão holista do corpo, que nos traz grandes reflexões sobre o tra- balho de revalorizar conceitos e de reelaborar a vi- são fragmentária que ainda nos marca. Para Ribeiro (apud CREMA; BRANDÃO, 1991, p. 137): A ideia holística é aquela da integração harmo- niosa parte-todo-parte. Quando se sai da ideia para a prática, da prática para a ideia, a educa- ção acontece, porque parte e todo, todo e parte se integram e convergem dialeticamente na sín- tese, na totalidade existencial. Esse conceito holístico traz ao indivíduo uma visão mais harmoniosa do próprio corpo, levando em consideração a sua individualidade ao trabalhar a despadronização imposta pela mídia e pelo merca- do, trazendo à luz da reflexão esse conceito de corpo materializado e objetificado em performances e for- mas perfeitas. Temos, pois, nesses moldes, que o nosso corpo é formado e composto por Qi, em uma das diferen- tes manifestações de sua forma, o que ultrapassa o conceito apenas médico do corpo, sendo também filosófico, sociológico e espiritual. Dentro da cultura oriental, o corpo humano é visto como parte integrante e atuante com o meio 24 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Ao contrário disso, a prática das PACs, dentro dessa visão, propõe vivências que ampliam a criatividade e a expressividade de sentimentos e emoções, res- significando o conceito de saúde ao abranger o ser como o todo que o compõe, tirando o foco do cará- ter puramente estético e competitivo. Devemos ter como objetivo, aqui, trabalhar a ideia de que o nosso corpo é a “casa” onde habita- mos, casa esta que alimentamos, cuidados, intera- gimos, porém essa habitação repleta de potenciali- dades também tem limitações dentro das diferentes particularidades que abrangem cada indivíduo, e estas, por sua vez, devem ser tratadas naturalmente, como parte da nossa humanidade, superando as ne- gações e rejeições. EDUCAÇÃO FÍSICA 25 26 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS O Entrelaçamento Entre a Cultura Oriental e Ocidental Fonte: atiger/Shutterstock EDUCAÇÃO FÍSICA 27 Por outro lado, temos a sociedade ocidental, com método científico desenvolvido e pautado no prin- cípio racionalista, em que o pensamento cartesia- no teve grande influência ao dividir mente e corpo, atribuindo valores diferentes ao trabalho mental e ao trabalho manual, após a Idade Média. Em essência, a sociedade ocidental e a oriental são construções socioculturais de regiões diferentes do globo, porém isso não impede o diálogo e a inte- ração entre elas, ao contrário, abre campo para a in- tegração de conceitos e ideias, enriquecendo ambos os lados. As diferenças entre elas se encerram em as- pectos religiosos, filosóficos e científicos, os quais de- terminam as suas características sociais e vice-versa. Nesse sentido, nós o(a) convidamos a trazer o termo construção cultural para um movimento di- nâmico entre o “fazer-se” e o “construir-se”, coletiva e individualmente, elaborado por suas experiências pessoais e/ou compartilhadas. “Afinal de contas, cul- tura é - ou era - um valor considerado recomendável para todos os seres humanos, e ser culto significa exatamente ser cultivado” (SOUZA, 1998, p. 227). Pensamentos diferentes, porém ambos dentro das necessidades sociais do seu contexto e que, quando se inserem, hoje, em nossa realidade social, nos dão a possibilidade de utilizarmos ambos os conheci- mentos para engendrar experiências significativas para o seu campo de atuação, caro(a) aluno(a). Diante de tantas proposições diferentes, podemos nos perguntar: Como trazemos para a minha re- alidade atividades tão diferenciadas em grau de complexidade e execução, bem como em princípios culturais? Devemos ter em mente que nenhuma prática, seja ela educacional seja social, deve se contrapor. Ela faz parte do escopo de nossa construção cultural como um todo. Dessa forma, propomos, aqui, ca- ro(a) aluno(a), a leitura atenta dessa proposta: captar os princípios e os direcionar para a nossa realidade. De um lado, temos a sociedade oriental e, aqui, neste material, enfatizamos o extremo Oriente, uma das mais antigas civilizações do globo, que possui medicina milenar. Os seus estudos foram, basica- mente, postulados pelo método intuitivo, ligado às tradições da época e que perduram até os dias de hoje, por meio da observação da relação do indi- víduo com o meio e a sua influência mútua. Nesse contexto, o corpo e a mente são indivisíveis no pen- samento holístico. Qi é um termo bastante utilizado na expres- são das práticas orientais, ele é a base de toda contextualização feita em Medicina Oriental. Porém o seu real conceito diverge: alguns textos antigos dizem que a definição do conceito do que é o Qi ainda está longe do nosso entendimento, que ele não pode ser definido, mas apenas sentido, em sua expressão mais pura, nas interações e cria- ções da vida. Curioso, não? Como o termo mais utilizado pode não ter uma descrição devidamente definida? Vamos procurar sa- ber mais sobre esse tal de Qi? Fonte: a autora. SAIBA MAIS 28 considerações finais Nesta unidade, tivemos o breve relato sobre as PACs, o seu conceito no âmbito da Educação Física, a diferença entre os seus objetivos e os das práticas conven- cionais, bem como a visão oriental sobre corpo e movimento mediante os seus aspectos culturais, correlacionando-os com os aspectos ocidentais. Diante de tal discussão, lembre-se de que não estamos conferindo menor im- portância aos conteúdos e às práticas convencionais, que são parte do currículo da Educação Física e das intervenções em saúde e lazer e têm extrema relevância. O que elas propõem é a ampliação das possibilidades das vivências do corpo e do movimento, sob outra perspectiva, devidamente correlacionada e adequada ao meio de atuação, segundo determinadas necessidades e especificidades. Não podemos nos esquecer da miscigenação que compõe a nossa sociedade e a nossa capacidade de criação e adaptação. Vivemos num país com grande diver- sidade, fruto da combinação de várias etnias, isto nos dá grandes possibilidades de ampliar o nosso campo investigativo, enriquecendo, assim, nossas vivências. Lembre-se sempre dessa diversidade e da potencialidade que ela pode pro- mover. Quantos alunos diferentes podem se apresentar em uma mesma turma, com capacidades físicas e personalidades diferenciadas? Assim como pessoas com vivências e origens diferentes, com dimensões e potencialidades peculiares, enfim, cada um se torna um universo, com construções próprias. Objetivamos, nesta unidade, apresentar uma proposta de trabalho diferen- ciada, que incite a busca de novos conhecimentos e vivências que enriqueçam as práticas, que permitam o desenvolvimento de cada um dentro do seu tempo, de modo que todos encontrem o prazer e o autoconhecimento em atividades enriquecedoras. Buscamos apresentar um breve relato sobre a possibilidade de buscar saúde física e mental em uma única atividade, que vise a desenvolver o bem-estar de modo geral, sem fragmentações, levando em conta a ludicidade, a auto-observação e o autocontrole físico e emocional. 29 atividades de estudo 1. De acordo com a discussão apresentada nesta unidade, vimos que a Educação Física possui um direcionamento para a sua prática. Direcio- namento esse que a norteia, a caracteriza e a configura tal como ela se apresenta hoje. Dessa maneira, qual dos temas a seguir você identifica como o objeto central de estudo da Educação Física? a) Cultura Corporal. b) Corpo humano. c) Corpo humano e movimento. d) Cultura corporal e corpo humano. e) Corpo e mente. 2. De acordo com a proposta das PACs, leia as afir- mativas a seguir: I - As PACs contrapõem-se às práticas con- vencionais à medida em que estabelecem objetivos diferentes de trabalho. II - Dentre os objetivos que as PACs propõem, destacam-se relaxamento, autopercep- ção, autoconhecimento, competitividade, liberdade e criação. III - As PACs não devemse misturar às práti- cas convencionais, tendo em vista que a concepção de corpo entre ambas são di- ferentes. IV - As PACs provocam a desconstrução de um corpo pré-moldado, em que não exis- tem ideais de perfeição nas performan- ces, em que o fazer encerra por si mesmo, no sentido de não haver comparativos de resultados. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas IV. d) Apenas II, III e IV. e) I, II, III e IV. 3. Em relação à cultura oriental e à sua concepção sobre o corpo e a mente, assinale verdadeiro (V) ou falso (F): ( ) Era de hábito dos antepassados orientais a constante observação da natureza, de modo que as suas teorias provêm da interação com ela. É muito comum, principalmente na cultu- ra chinesa, que os processos fisiológicos se- jam comparados e equiparados a fenômenos naturais. ( ) De acordo com as tradições orientais, há uma energia que é fonte primária de todos os elementos e todas as criações, tudo no uni- verso está permeado de uma substância vital denominada Qi, Prana, ou como é chamada no Ocidente, Energia Vital. ( ) Os movimentos, nas atividades propostas pela cultura oriental, são mais lentos e ritma- dos, com foco na consciência de si mesmo, tra- çando, desse modo, a interação com o meio. A sequência correta é: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 30 atividades de estudo 4. Sobre o pensamento holístico que compõe as PACs, assinale verdadeiro (V) ou falso (F): ( ) Essa visão holística pode trazer ao indiví- duo uma visão mais harmoniosa do próprio corpo, levando em consideração a sua indivi- dualidade ao trabalhar a despadronização do corpo cuja padronização é imposta pela mídia e pelo mercado. ( ) Essa visão traz uma análise concreta, que difere os indivíduos em suas habilidades e po- tencializa o pensamento em detrimento do corpo. ( ) O holismo propõe uma visão unilateral, que prima pelo desenvolvimento do corpo em detrimento das habilidades mentais, emocio- nais e comportamentais. ( ) Essa visão traz um conceito mais harmo- nioso do próprio corpo, levando em consi- deração a sua individualidade ao trabalhar a despadronização do corpo cuja padronização é imposta pela mídia e pelo mercado e, con- sequentemente, coloca o foco nas performan- ces perfeitas. A sequência correta é: a) V; V; F; F. b) F; V; V; V. c) V; F; F; F. d) V; F; F; V. e) F; V; F; V. 5. Reflita sobre tudo o que estudamos nesta uni- dade e faça um breve relato sobre como você, professor(a) de Educação Física, poderia utilizar os princípios das PACs em sua aula, utilizando, como base, uma atividade convencional, alteran- do-a de acordo com tais princípios. 31 LEITURA COMPLEMENTAR O pensamento oriental parte do princípio básico da uni- dade entre o homem, natureza e divindade, sendo um, expresso no comportamento do outro. Por meio de uma filosofia milenar, tomamos como base as tradições chinesas que retratam esses princípios dentro de uma lógica própria. Segundo os chineses o homem vive entre o céu e a terra, mas o que isso quer dizer? De acordo com suas teorias, o céu significa aquilo que ainda não foi manifestado, tudo o que está em harmonia, é o Yang absoluto, enquanto que a terra é o Yin absoluto, ambos são puros e estão em equilíbrio dinâmico e interação constante. Entre essas trocas e modificações incessantes surge o homem, fruto das transformações entre o céu e a terra surgindo, assim, a tríade que compõe a vida que conhe- cemos. Para Sionneau (2014, p. 19): “Céu, Terra e Homem constituem um conjunto chamado “as três potências”. Nesse contexto, temos talvez a expressão chinesa mais conhecida no ocidente e mais propagada pelo mundo, a teoria do Yin e do Yang, que desenvolveu e embasou toda a Medicina e Filosofia daquele povo. Baseada na interação das forças contrárias que geram forças resultantes como a alternância entre o Sol e a Lua gerando a luz e a escu- ridão, o ciclo das estações e sua ação sobre o ambiente, o alto e baixo, o grande e o pequeno e assim por diante. Temos o Yin representando a força mais densa, escura, condensada, que age em movimento de introversão, de natureza feminina, a resultante dessas forças geram a noite, a chuva, a escuridão, a lua, os sentimentos e emo- ções mais introspectivos e internalizados. Em oposição temos o Yang que é uma força de movimento, centrífuga, dilatada, de natureza masculina, que resulta no dia, no sol e claridade, potencializando as emoções mais explo- sivas e expansivas. Dentro da tradição Chinesa, entender a teoria do Yin e do Yang é compreender toda a manifestação da vida, seus ciclos de transformação e interdependência em que a manifestação de uma dessas forças é potência para a geração da outra, incluindo o homem. Enquanto uma condensa a outra expande, uma acelera a outra lentifi- ca e, assim, todas as forças da natureza se colocam em equilíbrio. Para os Chineses, no nosso corpo, o Yin e Yang mani- festam-se em menor escala, na expressão de nossas emoções e nossos sentimentos, no desenvolver de nos- sa personalidade e, também, nos processos fisiológicos como o ciclo circadiano, a entrada e saída de ar nos pul- mões, o movimento de sístole e diástole dos batimentos cardíacos, que representam a contrariedade das forças agindo entre si, respectivamente, no estado de repouso e alerta, entrada e saída, contração e relaxamento. Dentro desta cosmogonia, os chineses conseguem classi- ficar todos fenômenos conhecidos no universo, por meio da ação contrária das forças que têm como resultante a manifestação da vida. Toda essa filosofia vem da cons- tante observação da natureza e de seus movimentos, para Sionneau (2014, p. 61) o chinês “observa o universo, tira suas conclusões e tenta se adaptar da melhor forma.” Essa observação constante das forças inerentes à natureza inclui também a observação de si mesmo, como parte inte- grante que se inter relaciona com o meio já que o homem é fruto da interação das forças entre o céu e a terra. Daí surgem as atividades de meditação e das artes marciais, que visam à busca do equilíbrio em si mesmo, da saúde orgânica e mental como um todo indissociável, observan- do, compreendendo e se adaptando ao contexto que está inserido ao passo que também o modifica e constrói. Fonte: Sionneau (2014). 32 material complementar A Educação Física cuida do corpo e… “Mente” João Paulo S. Medina Editora: Papirus Sinopse: nesta obra, o autor procura refletir sobre as questões que envolvem o corpo, os interesses das pessoas acerca do corpo e a crise social brasileira, ao passo que aponta para novas possibilidades de compreender o corpo e as suas práticas numa perspectiva ampla, denominada, por esse autor, de conscientiza- ção (pedagogia revolucionária), cujo referencial fora extraído do pensamento re- volucionário de Paulo Freire. Comentário: esta obra de Medina gerou grande impacto e fervilhou discussões acerca da Educação Física, mas ela é importante para todos nós, profissionais da área, no sentido de ampliar os nossos horizontes no que tange a levá-la para ou- tros ambientes da prática social. Indicação para Ler Tao Te Ching: o livro que revela Deus Lao-Tsé Editora: Martin Claret Sinopse: o Tao Te Ching, de Lao Tsé, é um clássico da literatura Taoísta da China antiga, foi escrito por volta do século VI a. C. e é composto por 81 poemas ou capítulos que transcrevem a essência da filosofia oriental. Inspirou vários líderes políticos e religiosos ao longo dos séculos, assim como diversas correntes filosó- ficas e religiosas. Comentário: mergulhar na leitura do Tao Te Ching é iniciar uma imersão em si mesmo, é olhar com mais profundidade para o exercício de nossa existência. Indicação para Ler 33 material complementar “O Mistério do Chi” é um episódio da série Healing and the Mind, organizada pelo jornalista premiado Bill Moyers, que explora diversasquestões no campo da medicina alternativa. A série é dividida em sete partes, que explica o Qi, ou Chi, o nome chinês para a “força vital” que afeta e anima todos os seres. O episódio também explica as práticas corporais desenvolvidas pelos chineses mediante as suas teorias. Web: https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=FQwVyKl7F7w Indicação para Acessar Esta é uma entrevista com a Dra. Denise Benucci de Santana, doutora em His- tória pela Universidade de Paris, autora do livro História da Beleza no Brasil. Ela relata a temática de sua obra, contextualizando os diferentes padrões de beleza adotados ao longo do tempo e as suas influências sociais e culturais. Web: https://www.youtube.com/watch?v=-r5BoCXPHuM Indicação para Acessar Artigo publicado na revista da FAEEBA, que nos traz reflexões sobre como a fi- losofia ocidental vem desenvolvendo o conceito do autocuidado ao longo da nossa história. Web: http://www.uneb.br/revistadafaeeba/files/2011/05/numero10.pdf Indicação para Acessar 34 referências gabarito BRANDÃO, D.; CREMA, R. Visão Holística em Psi- cologia e Educação. Brasília: Summus, 1991. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâme- tros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC; SEF, 1993. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Pa- râmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC; SEF, 1997. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: apre- sentação dos temas transversais e ética. Rio de Janei- ro: DO&A, 2000. LAZZAROTTI FILHO, A. et al. O termo práticas corporais na literatura científica brasileira e sua re- percussão no campo da Educação Física. Movimen- to, Porto Alegre, v. 16, n. 1, p. 11-29, jan./mar. 2010. FREIRE, J. B. et al. Educação como Prática Corpo- ral. São Paulo: Scipione, 2003. IMPOLCETTO, F. et al. As práticas corporais alter- nativas como conteúdo da Educação Física escolar. Pensar a Prática, Goiânia, v. 16, n. 1, p. 268-281, jan./mar. 2013. MARIN, G. Os cinco elementos e as seis condi- ções: uma abordagem Taoísta à cura emocional, à psicologia e à alquimia interna. São Paulo: Cultrix, 2010. SIONNEAU, P. A Essência da Medicina Chinesa: retorno às origens. São Paulo: Editora Brasileira de Medicina Chinesa, 2014. Livro I. SOARES, C. L. et al. Metodologia do Ensino da Edu- cação Física. São Paulo: Cortez, 1992. SOUZA, J. C de. “Cuidado de si” e as virtudes: o pa- radigma “terapêutico” da Filosofia. Revista da FAE- EBA, Salvador, n. 10, jul./dez.1998. 1. B. 2. C. 3. E. 4. C. 5. Procure absorver em seu relato a ideia central da proposição das PACs, que é o foco na autopercepção, no autoconhecimento e na criação de novas pos- sibilidades, respeitando sempre a individualidade de cada praticante, sem comparações de resultados e/ou foco na competitividade. UNIDADE II Professora Esp. Érica Fernanda Lopes Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Os princípios do Yoga • Yoga: Filosofia ou Ginástica? • O Yoga na Educação Física Objetivos de Aprendizagem • Apresentar os princípios fundadores do Yoga. • Conceitualizar os aspectos filosóficos e práticos do Yoga, discutir o entrelaçamento dos conceitos. • Discutir os métodos da prática do Yoga na Educação Física. YOGA unidade II INTRODUÇÃO Olá, querido(a) aluno(a)! Nesta unidade, dialogaremos um pouco sobre uma prática da cultura oriental bastante difundida no Ocidente, o Yoga. Essa prática, que surgiu na Índia, inseriu-se na cultura ocidental e se in- corporou ao seu modo de vida. Ela traz consigo aspectos religiosos, filo- sóficos e corporais, solidificando o princípio das terapias holísticas, que partem da ideia de que nós somos o fruto da interação do todo, ou seja, o corpo, o pensamento e as ideias do indivíduo são o próprio indivíduo, e ele está em contato com a natureza a todo o momento, interagindo e atuando sobre ela, ao passo que ela interage e atua sobre ele. Na prática do Yoga, verificamos a possibilidade de domínio sobre a mente e de contato com a divindade, segundo as teorias, por meio de mo- vimentos pré-determinados, os Ásanas, que são posturas próprias de cada estilo. Em conjunto com os Ásanas, são executados diferentes tipos de res- piração que: ou acompanham o movimento ou são executados separada- mente, e também os mantras, que são cantos pronunciados no idioma raiz do Yoga, o sânscrito, além de práticas de aprimoramento da conduta moral. A vinda do Yoga para o Ocidente trouxe-nos possibilidades de co- nhecer uma nova visão sobre nós mesmos. Os seus praticantes dizem que ele se torna um estilo de vida, que engloba desde a alimentação até a maneira de observar os fatos ao nosso redor. A resposta positiva manifesta-se no número crescente de praticantes a cada ano, no Brasil, de acordo com a Revista Exame (BAGDADI, 2011). Temos em torno de 500 mil praticantes dessa modalidade, que buscam, principalmente, o alívio do estresse, a melhora na qualidade de vida e a conexão entre o corpo e a mente. Nesse contexto, como nós poderemos inserir o Yoga em nossas ati- vidades? Quais os benefícios que ela nos traz? Convido você a refletir conosco sobre isso e a pensar em possibilidades de ampliar e enriquecer a prática do dia a dia na Educação Física. 40 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Olá, querido(a) aluno(a)! Vamos iniciar os nos- sos estudos sobre o Yoga? Esta é uma prática que surgiu na Índia antiga a cerca de 5 mil anos e se desenvolveu ao longo dos séculos, criando uma tradição extensa e complexa, sendo um ramo das vertentes espirituais do Hinduísmo. O seu sur- gimento deu-se junto com a cultura dos povos Védicos, que possuem as escrituras sagradas mais antigas já descobertas, os Vedas. Inicialmente, a prática surge como técnica de controle mental e de respiração, incluindo o canto dos mantras com o objetivo de adoração e contato com as suas divindades. Com o passar dos tem- pos, surgiram os Ásanas, que compõem a prática corporal do Yoga. Segundo os seus princípios, a união desses elementos promove a elevação espi- ritual do ser, colocando-o em contato com as di- vindades por meio da disciplina da prática. Os Princípios do Yoga EDUCAÇÃO FÍSICA 41 Existem vários estilos diferentes de Yoga de- pendendo da cultura espiritual em que ele se inse- re, sendo dividido, segundo Feuerstein (2005), em três grandes formas: o Yoga Hindú, o Yoga Budista e o Yoga Jaina, e dentro de cada uma dessas culturas espirituais, a prática assumiu sete principais estilos, definidos por sua finalidade: 1. Raja-Yoga Também chamado de Pâtanjala- -Yoga ou Yoga Clássico (Yoga Real). 2. Hatha-Yoga (Yoga da força). 3. Karma-Yoga (Yoga da ação). 4. Jnâna-Yoga (Yoga da sabedoria). 5. Bhakti-Yoga (Yoga da devoção). 6. Mantra-Yoga (Yoga dos sons poderosos). 7. Tantra-Yoga (Yoga da continuidade) que in- clui o Kundalinî-Yoga (Yoga do poder da ser- pente) e o Laya-Yoga (Yoga da dissolução). No transcorrer dos séculos, contudo, o Yoga foi se de- senvolvendo em teoria e prática, seguindo a evolução de seus mestres. Segundo Barros et al. (2014), Patan- jali, um dos principais mestres yogues, sistematizou, no século II a. C., os oitos passos seguidos até hoje: 1. Yama, as abstinências (não violência, vera- cidade, honestidade, não perversão do sexo, desapego). 2. Niyama, as regras de vida (pureza, harmonia, serenidade, alegria, estudo). 3. Ásanas, as posições do corpo. 4. Pranayama, o controle da respiração. 5. Pratyahara, o controle das percepções senso- riais orgânicas. 6. Dharana, a concentração. 7. Dhyana, a meditação. 8. Samadhi, a identificação. 42 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS do Yoga é recente se comparado aos seus 5 mil anos de história documentada. No Ocidente, ele surge em 1983, com a chegada do Swami Vivekananda aos Estados Unidos, quando ele proclamou os méritos do Yoga no Parlamento do Mundo das Religiões, em Chicago, Illinois. Desde então, grandes nomes do Yoga começaram a chegar e a se destacar nesse país, trazendo assuas técnicas e os seus ensinamentos. Também podemos citar Pa- ramhansa Yogananda, em Boston, nos anos 20, e a “primeira dama do Yoga” das Américas, Indra Devi, na Califórnia, em 1947 (SIEGEL; BARROS, 2013). No Brasil, a chegada do Yoga deu-se oficialmen- te em 1936, com a vinda do francês Swami Asuri Ka- pila a Porto Alegre. Desde então, a prática caminha a passos largos, se adequando e se refazendo na cul- tura ocidental. A formação de um yogue, na Índia, dá-se por meio de um mestre, com anos de estudos/ prática, transmitindo os ensinamentos para o seu discípulo, que também, após anos de formação, está apto a se tornar mestre. Figura 1 - Swami Asuri Kapila Fonte: Escuela Internacional de Yoga ([2019], on-line)2. Todas essas vertentes têm como princípio a discipli- na da prática e o conceito de que o indivíduo pos- sui mais do que um corpo, mas também tem uma consciência infinita capaz de realizar grandes ações, desde que ela seja submetida à disciplina do autoco- nhecimento. As práticas são as ferramentas para que esta transcendência ocorra. Atualmente, o Hatha-Yoga é o estilo mais difun- dido no Ocidente e abrange a prática dos Ásanas, que é a parte física do Yoga. A grande crítica dos yogues tradicionais em torno deste fato é a de que o Yoga passa a ser puramente um método de ginás- tica, não adentrando a sua dimensão espiritual, que abrange o ser como um todo. A esse respeito Feuers- tein (2005, p. 19), ainda nos aponta que: O mais importante é que as posturas são so- mente a “pele” do Yoga. Por trás dela se ocultam a “carne e o sangue” do controle da respiração e das técnicas mentais, que são ainda mais difí- ceis de se aprender, além de práticas morais que exigem toda uma vida de perseverante aplica- ção e correspondem ao esqueleto do corpo. As práticas superiores da concentração da medita- ção e do êxtase unitivo (Samâdhi) são análogas ao sistema circulatório e nervoso. Dentro desse contexto, podemos compreender o Yoga como um sistema complexo que perpassa, em sua proposta, as condições físicas para um estilo de vida, integralizando o conceito holístico que tanto citamos nesta obra. Porém devemos compreender que vivemos em uma sociedade com hábitos cultu- rais diferentes, os quais não dão, em maior parte, as condições de dedicar uma vida ao Yoga, como fazem os mestres hindus. Por essa razão citada anteriormente, podemos adequar os benefícios dessa prática ao nosso cotidia- no, até porque, em nossa civilização, o surgimento EDUCAÇÃO FÍSICA 43 Aqui no Brasil, e no Ocidente como um todo, esse processo foi acelerado com o surgimento das escolas de Yoga que ministram cursos para a formação de professores ou instrutores. Hoje existem federações e associações que regulamentam e norteiam a práti- ca pelo país. Na literatura, temos como pioneiros o professor José Hermógenes de Andrade Filho e o ge- neral Caio Miranda, ambos de vertente militar, que iniciaram a produção literária no país. Desde então, o número de adeptos cresce cada vez mais. Diante desse crescimento expressivo, podemos nos questionar: O que as pessoas têm buscado com a prática do Yoga? A provável resposta a essa pergunta pode estar nos hábitos de vida desenvolvidos com a modernidade que, apesar de nos proporcionarem maior conforto, trazem consigo problemas, como: o aumento do índice de estresse e de ansiedade, de- vido ao ritmo de vida mais intenso e ao excesso de ocupações que nos são impostas. Nesse sentido, deparamos-nos, no Yoga, com uma filosofia avessa a essa vivida por nós. A filoso- fia yogue prega a mudança de hábitos insalubres e de estilo de vida, desde a alimentação até condutas morais. De acordo com o livro sagrado Bhagavad Gita (2009, p. 47), “aquilo que se chama renúncia é o mesmo que yoga, ou união com o Supremo, pois somente pode tornar-se um yogi quem renuncia ao desejo do gozo dos sentidos”. Aqui, vemos que, dentre os seus princípios, o domínio da mente é o agente principal, pois, aprendendo a controlá-la, dominamos as nossas paixões e conquistamos o equilíbrio em nossa existência. De acordo com o mestre yogue Pra- bhupada (2012, p. 35), “Enquanto a pessoa não puder controlar a mente, fica afastada qualquer hipótese de elevação. O corpo é como uma carru- agem, a mente é o cocheiro”. Assim, o sistema yogue destina-se ao controle dos sentidos: se a mente está acima deles, ela está controlada, e todo o restante também estará. O ver- dadeiro yogue controla as suas atividades sensuais e as coloca a seu favor, de modo a potencializar as suas atividades essenciais, pois consegue limpar a mente das distrações. Figura 2 - José Hermógenes de Andrade Filho Fonte: Alimento e você (2015, on-line)3. Figura 3 - General Caio Miranda Fonte: Skoob ([2019], on-line)4. 44 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS O domínio da mente, segundo os princípios da filo- sofia yogue, liberta-nos do controle das necessida- des físicas, em que somos dominados pelos nossos ímpetos, pelas vontades e emoções desregradas, como a raiva e a euforia, que nos tornam reféns de nossos próprios impulsos, afastando-nos do nosso verdadeiro propósito de evolução. O mestre Prabhupada (2012, p. 107) ainda nos aponta que “a pessoa sóbria que pode tolerar a von- tade de falar, as exigências da mente, as ações da ira e as exigências da língua, do estômago e dos órgãos genitais está qualificada para fazer discípulos no mundo inteiro”. EDUCAÇÃO FÍSICA 45 Dessa maneira, estamos diante de uma tradição mi- lenar que se espraia para as dimensões físicas, no sentido de manutenção e desenvolvimento do cor- po, a dimensão mental, no sentido de dominar a mente e as paixões que nos desviam do verdadeiro propósito de vida, e a dimensão espiritual, que nos conecta com a divindade, ao passo que ganhamos autonomia do materialismo que nos prende. O Yoga torna-se uma ferramenta importante dentro das PACs, pois ele traz arraigado, em sua fi- losofia, os conceitos mencionados na unidade ante- rior: o holismo na visão do meio e do ser como um todo integrado. 46 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Yoga: Filosofia ou Ginástica? EDUCAÇÃO FÍSICA 47 Atualmente, no Ocidente, deparamos-nos com a crescente procura pela prática do Yoga, assim como o considerável aumento no número de escolas de formação de professores e/ou instrutores e também o intercâmbio entre os dois hemisférios. Quando trazido ao Ocidente, inicialmente, nos Estados Unidos, o sistema yogue teve que passar por transformações para se adequar à realidade cultu- ral aqui existente. A sua complexidade em relação à prática física foi bem assimilada, porém, no tocante às questões espirituais, há algumas diferenças con- sideráveis. Definir o que é o Yoga pode ser uma tarefa difícil para nós, ocidentais, em razão da diferença cultural, tendo em vista que a Índia antiga tem o misticismo espiritual como princípio norteador de suas condu- tas morais desde os primórdios da formação de sua civilização. A palavra Yoga, que se origina do sânscrito an- tigo, significa “união”, referindo-se à união entre a consciência individual e a suprema. Dessa forma, a prática, na visão hinduísta, é o caminho para que essa união se concretize. Todos aqueles que desejam buscar a união com o supremo devem integrar-se à prática, vivenciando todos os seus aspectos. É im- portante, nesse sentido, considerar a complexidade religiosa que aquela região possui. Em sua origem, o Yoga torna-se uma filosofia de vida, em que o praticante se reconhece como par- te integrante de um Ser (energia) supremo, com o objetivo da satisfação do todo completo. De acordo com os seus escritos, estamos separados de nossa origem divina, pois a nossa mente está ocupada de- mais nos afazeres, como a aquisição de conforto e bens materiais. Seria, então, necessário nos libertar das falsas necessidades que possuímos e nos alinhar com a verdadeira potencialidade do ser, revelada pe- las escrituras sagradas. Em suaorigem, o Yoga tornou-se um caminho para esse encontro transcendental para libertar a mente de todo o obscurecimento na busca da reali- zação de si mesmo, por meio da união com o todo (espiritualidade). Os seus caminhos denotam a forte conotação espiritual, filosófica e terapêutica, pois o equilíbrio da mente manifesta-se também no corpo físico, equilibrando-o igualmente. No Ocidente, porém, encontramos fins diferen- ciados para a prática. A sua finalidade principal está atrelada à melhora na qualidade de vida, promo- vendo a união da filosofia com a saúde, relacionada tanto a fatores físicos como psíquicos. Estes aspectos são amparados por inúmeras pesquisas na área da saúde em que se comprovam a melhora de doenças por meio da prática. 48 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Um estudo realizado por Siegel e Barros (2013) revelou-nos os diversos benefícios que a prática regular do Yoga pode trazer, benefícios esses que perpassam os aspectos bio-psico-sociais, a saber: Contribuições sociais: associadas à constru- ção de uma nova so- ciabilidade. Contribuições filosóficas: o desenvolvi- mento da capacidade contemplativa e a expansão da percepção da totalidade, que constituem a base do movimento holístico, assim como a noção do cuida- do integral (dimensões biológica, psico- lógica, sociológica e espiritual). Contribuições físicas: o enco- rajamento a dietas mais sau- dáveis e o estímulo à consci- ência corporal, especialmente em relação ao envelhecimento e às doenças crônicas. Reeducação de hábitos associa- dos aos vícios legais (medicação, alimento, álcool, tabaco, traba- lho, sexo etc.) e ilegais (drogas ilícitas, jogo etc.). Desenvolvimento de cultu- ra de paz (prática da não violência) e de estilos de vida e valores que promo- vem a maior tolerância en- tre grupos étnicos, gêneros e classes sociais. EDUCAÇÃO FÍSICA 49 Assim, a prática dos Ásanas, no Hatha Yoga, o estilo mais difundido no Ocidente, ganha especial desta- que no meio terapêutico em função dos inúmeros benefícios que ela traz. Além de seus fundamentos morais que, por sua vez, norteiam, filosoficamente, a vida do praticante. Estamos diante de um sistema milenar que se ade- quou às necessidades sociais de cada época e que é de grande valia nos dias atuais, assim como foi nos seus primórdios. Os seus ensinamentos atravessa- ram o tempo, oportunizando a harmonia entre o corpo e a mente. Ele serve tanto para aqueles que o praticam como método ginástico quanto para aque- les que buscam a influência espiritual mais profunda em diferentes tempos da história e em diferentes lo- cais do globo. 50 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Caro(a) aluno(a), diante dos aspectos já discutidos sobre a Educação Física em seu cenário atual, refle- tiremos um pouco sobre como podemos entrelaçar aos seus conteúdos um sistema milenar com carac- terísticas e princípios próprios, os quais antecedem, em termos de história, a nossa disciplina em pauta. Iniciaremos pelas semelhanças entre ambas. O sistema Yogue, como dito anteriormente, propõe, em sua essência primária, a busca pela transcendên- cia da consciência puramente material, unindo-nos ao divino que há em nós e nos levando ao encontro da divindade suprema, tendo os componentes espi- ritual e filosófico fortemente presentes. O caminho para essa transcendência, contudo, tem como veículo principal o corpo e, consequen- temente, as suas manifestações. Inserido na cultura ocidental, este caráter religioso do Yoga perde um pouco a sua força, tendo em vista o modus operandi de nossa sociedade. Aqui, o Yoga modifica-se na sua forma de se apresentar diante de novas necessidades, porém, a sua essência espiritual deve ser mantida para não haver descaracterização. O corpo, aqui, é a ferramenta para essa busca, o “instrumento” pelo qual o indivíduo dá abrigo à sua consciência que, por sua vez, alberga a nossa mente, e ela, por sua vez, se manifesta segundo cada indivi- O Yoga na Educação Física EDUCAÇÃO FÍSICA 51 dualidade. A mente em questão tem uma ação direta sobre o nosso corpo, que responde a seus estímulos, executando as emoções manifestadas por ela. Para Dethlefsen e Dahlke (2007, p. 17, grifos dos autores): A doença é um estado do ser humano que indi- ca que, na sua consciência, ela não está mais em ordem, ou seja, na consciência, registra que não há harmonia. Essa perda de equilíbrio interior se manifesta no corpo como um sintoma. Sen- do assim, o sintoma é um sinal e um transmis- sor de informação, pois, com seu aparecimento, ele interrompe o fluxo de nossa vida e nos obri- ga a prestar-lhe atenção. Dentro dessa perspectiva, o corpo é a ferramenta pela qual nos manifestamos e interagimos com o mundo material. Dessa forma, corpo e mente estão contidos um no outro, sob mútua influência, o cor- po somatiza em si os desequilíbrios da mente, e esta responde às necessidades biológicas do corpo, e toda essa teia complexa de relações formam o indivíduo. Esse indivíduo, por mais que possua característi- cas semelhantes oriundas de hábitos e aspectos bio- lógicos, faz-se também um ser único e diferenciado no que tange às questões íntimas de sua personalida- de e de sua mente. Os seus desejos, emoções, anseios e reações diante de determinadas circunstâncias, os seus apegos e relações com os demais são próprios do desenvolvimento de cada um. Esse desenvolvimento tem origens em questões sociais, familiares, hereditárias e educacionais, assim como na sua personalidade. É desse aspecto pessoal e íntimo que o Yoga e as demais práticas alternativas tratam, desse aspecto único de cada um e que não pode ser ignorado na formação dos indivíduos. Na formação de valores individuais e coletivos, no desenvolver da relação do indivíduo consigo mes- mo por meio do autoconhecimento, na relação com meio no qual ele está inserido e na sua manifestação com esse meio, bem como o encontro da satisfação pessoal, fazem parte dessa busca que essas práticas tanto preconizam. Na harmonia interna e no equilí- brio de suas paixões é que encontramos a verdadeira paz manifesta, de acordo com tal filosofia. Assim, a Educação Física, que também tem o corpo como objeto de estudo, possui a possibilida- de de espraiar a sua atuação. Ao longo dos últimos anos, ampliou-se a discussão, dentro desse campo, sobre as limitações de tratar um corpo puramente orgânico. É crescente a busca pela ampliação desse conceito, considerando todos os aspectos que per- meiam o indivíduo ao tratar de seu corpo. A visão holística tem ganhado espaço dentro da Educação Física, ao passo que verificamos a força desse movimento na área da saúde. Hoje, o conceito de ampliar os olhares sobre o indivíduo é forte nesse campo, pois percebemos a necessidade de integrali- zar os aspectos mentais, sociais e biológicos na bus- ca da desfragmentação e da construção de uma nova visão sobre o todo que permeia a vida do indivíduo. Atualmente, o Yoga é aceito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e está incluso na Política Nacional de Práticas Alternativas e Complementa- res (PNPIC). Este fato tem popularizado cada vez 52 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS mais a prática e levado os seus benefícios para uma vasta gama de pessoas em toda a sociedade. No Brasil, temos políticas públicas que adotam a prática no Sistema Único de Saúde (SUS), obtendo satisfatórios resultados na prevenção de doenças e na melhora da qualidade de vida, por meio da redu- ção do estresse e da ansiedade em seus pacientes. No âmbito educacional, tem sido comum, nas escolas, a adoção da prática da Yoga como estratégia de atu- ação, principalmente no trato de questões compor- tamentais. A esse respeito, Moraes e Balga (2007, p. 60) apontam que: A Yoga, nesse sentido, não vem resolver todo o problema da indisciplina e relacionamento interpessoal, e sim, buscar a integração corpo- -mente como forma de harmonizar seus senti- mentos, buscando uma transformaçãoem seu comportamento, a fim de ser menos agressivo, ansioso, mais consciente de si, de sua impor- tância no mundo, aumentando sua auto-estima e tornando o indivíduo um ser mais sereno e estruturado. vida agitada e à carência de afetividade em meio aos problemas sociais em todas as classes, aspectos esses que nos colocam em derrocada. O Yoga, nesse caso, não deve ser pontuado como uma visão salvacionista para tais questões, mas sim, como um recurso de forte influência, que tem al- cançando resultados cada vez mais satisfatórios ao promover a melhora no controle emocional e no co- nhecimento de si mesmo, e que também promove transformações internas nos indivíduos, fato que se reflete, consequentemente, na vida em conjunto. COMO INSERIR O YOGA NA PRÁTICA DIÁRIA? Desse modo, vemos que a integralização entre as questões psíquicas e físicas é uma boa ferramenta para alcançarmos os nossos objetivos de vida. Depa- ramos-nos cada vez mais com problemas relaciona- dos à conduta emocional, ao estresse do dia a dia, à Neste momento, você deve estar se perguntando: Como inserir toda essa gama de conteúdos e con- ceitos na minha prática diária? Primeiramente, devemos pensar que, no ambiente de intervenção onde estamos, seja ele na escola, no clube, nos even- tos, nas academias, nas praias, nos parques, dentre outros, independentemente de qual seja o local, os conteúdos devem ser selecionados de acordo com o nível de maturidade e de preparação do público-alvo para que, dessa forma, os seus benefícios sejam me- lhor aproveitados. EDUCAÇÃO FÍSICA 53 Nesse contexto, que tal iniciar com uma boa con- versa, explorando o conhecimento que eles já pos- suem sobre o tema, ao passo que expõe aquilo que eles verão de novo? As curiosidades e particularida- des da prática? Obviamente, nos aprofundaremos no assunto de acordo com o interesse e o grau de com- preensão do grupo. Podemos iniciar com a realização de posturas básicas, com Ásanas de fácil execução. A seguir, ci- tamos alguns exemplos dentre tantas possibilidades que podemos encontrar, de acordo com cada estilo e com o objetivo pretendido com a prática. 1. Tadasana ou Postura da Montanha: o praticante se coloca em pé, ajustando a sua postura, distribuindo o peso igualmente sobre ambos os membros, sem for- çar, buscando a naturalidade da disposição do corpo, ao passo que inicia a respiração fluída e suave, com entrada e saída de ar pelas narinas. Os braços ficam paralelos ao corpo, a coluna alongada, os ombros rela- xados, e pode-se fechar os olhos. É uma ótima postura para trabalhar o equilíbrio físico e mental e observar o fluir da energia pelo corpo. 2. Ardha Uttanasana ou Postura de Meia Flexão para a Frente: nesta posição, recomenda-se manter o abdome em contração para proteger a coluna lombar, flexionar o tronco para frente, levando ambas as mãos em dire- ção ao solo, recuando os ombros para trás e mantendo a tração na musculatura das pernas, o olhar se volta para o chão e leva o foco para a respiração. Aqui se bus- ca a resignação por meio da flexibilidade para se curvar diante da vida. 54 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS 5. Virâsana ou Postura do Herói: nesta postura, o pratican- te senta-se sobre os calcanhares, mantendo a extensão das pernas na parte anterior, e o tronco ereto, apoiando o dorso dos pés no chão, as mãos são sobrepostas aos jo- elhos, mantendo os ombros relaxados. Ela alonga a parte frontal das pernas, fortalece o abdome inferior e trabalha a tranquilidade e o equilíbrio. 3. Adho Mukha Svanasana ou Postura do Cachorro de Ca- beça para Baixo: esta é uma postura bem tradicional na prática do Yoga, considerada uma postura de transição, é executada várias vezes durante a prática do modo Vinya- sa. Neste Ásana, o peso do corpo deve ficar bem distribu- ído ao longo das mãos e do pé, com os dedos afastados, os calcanhares podem, ou não, tocar o solo. O pescoço deve estar relaxado, e o olhar direcionado para a região do umbigo. Esta postura permite concentrar maior flu- xo de energia (Qi ou Prana) para a cabeça, acalmando e trazendo serenidade, além de fortalecer e alongar toda a musculatura da região posterior do corpo. 4. Ardha Bhujangasana ou Meia Postura da Cobra: esta posição deve ser executada em decúbito ventral, com os braços flexionados, os antebraços apoiados no chão e paralelos ao corpo. Eleva-se o tórax do chão, promoven- do a flexão posterior do tronco, enquanto os glúteos se mantêm contraídos, e as pernas, ligeiramente afastadas, mantendo os pés em flexão plantar. Esta postura abre a região da garganta, abrindo a comunicação e liberando o fluxo de energia da região, ao passo que alonga o peitoral e fortalece a região lombar. EDUCAÇÃO FÍSICA 55 Para a execução da prática, o uso de tapete de Yoga ou de colchonetes e almofadas adequadas também é recomendado. Porém cada professor/instrutor deve- rá adequar a sua prática de acordo com o espaço e o material que possui, pois o elemento mais importan- te para a prática é o próprio praticante. Na prática do Yoga, observamos que cada Ásana trabalha aspectos físicos, emocionais e mentais ao mesmo tempo. Existem gru- pos de Ásanas que, quando praticados em conjunto, formam sequências com nomes e funções específicas, por exemplo, a Saudação ao Sol ou Surya Namaskara, que se refere ao simbolismo entre o sol e a alma, celebrando o nascer de cada dia. Fonte: a autora. SAIBA MAIS Muitos associam as posturas do Yoga a movimen- tos de animais, como o alongamento do cachorro, o andar do crocodilo, a respiração do gato e assim por diante, tudo o que a imaginação possibilitar. O ambiente também deve ser pensado, de preferência, um local limpo, tranquilo e bem ventilado e, além disso, os alunos devem estar à vontade, com roupas confortáveis para não inibirem o movimento e com os pés descalços. Deste modo, outro aspecto a ser considerado é que, ao abordar, principalmente crianças ou adoles- centes, o elemento lúdico deve se fazer presente a todo momento, principalmente na primeira infân- cia. Ele torna a aula mais atrativa e divertida, pois, por meio dele, expressamos os valores contidos em nosso modo de vida. Para Laville e Dionne (1999, p. 94), as atividades lúdicas “são representações men- tais, representações do que é bom, desejável, ideal, de como as coisas deveriam ser ou procurar ser, são preferências, inclinações, disposições, para um esta- do considerado desejável”. Não se deve cobrar a perfeição na execução dos mo- vimentos, o praticante deve estar à vontade dentro do Ásana, respeitando os seus limites físicos e men- tais. A complexidade deve ser inserida ao longo da prática segundo as limitações de cada um. Os exercícios respiratórios ou Pranayamas são de grande importância, já que o contato com a res- piração acalma, desacelera a pulsação cardíaca e melhora a concentração, reconectando-nos conos- co. Técnicas meditativas de visualização também são bastante utilizadas, esse meio explora a capacidade imaginativa e de criação, além de facilitar a condu- ção da mente para o relaxamento mais profundo. 56 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Existem diferentes maneiras de abordar o Yoga e manter a fidelidade ao método é de grande impor- tância para que a sua essência não se perca, porém cabe a cada profissional orientar de acordo com a realidade apresentada e direcionar a prática para a finalidade útil aos participantes, lembrando sempre que o Yoga é uma importante ferramenta de autoco- nhecimento e de descobertas das novas potenciali- dades. Utilize-a com sabedoria! Para Marin (2010, p. 88): “Nossa respiração é a ponte interna que conecta todos os ní- veis da consciência em nosso interior.” Isto nos estimula a refletir sobre a importância da respiração na prática do Yoga e de outras modalidades. Fonte: a autora. SAIBA MAIS 57 considerações finais Nesta unidade, discutimos brevemente sobre o Yoga, tendo em vista que este é um assuntoextenso, com um apanhado bibliográfico amplo. A sua história de 5 mil anos permite-nos uma gama de literatura, porém os textos clássicos ainda são a base que devem nortear os estudos de um yogue. Aqui, trouxemos uma breve descrição desse sistema milenar, oriundo de uma cultura que possui forte ligação com as suas insígnias religiosas, e o fato é que não conseguimos distinguir o Yoga da espiritualidade presente no meio onde ele nasceu. Os Estados Unidos adquiriram, com o passar do tempo, características dife- renciadas do Yoga tradicional ensinado na Índia, pois os ensinamentos, aqui no Ocidente, começaram a acontecer por meio das escolas, e não mais entre mestres e discípulos diretamente. Aqui, ele ganhou uma roupagem de acordo com as ne- cessidades da sociedade moderna ocidental onde está inserido. Temos visto o Yoga como uma crescente ferramenta de promoção da saúde psicofísica e, no Brasil, vemos o sistema inserido nos programas de saúde pú- blica, com resultados satisfatórios na prevenção e no auxílio no tratamento de doenças diferenciadas. A prática vem se tornando cada vez mais comum entre os brasileiros, nos clubes, nos estúdios e nas academias que abarcam praticantes na busca de melho- ra da sua qualidade de vida. Assim, a Educação Física tem papel preponderante nessa difusão, visto que o sistema yogue cabe dentro de seu escopo, tendo em vista que o principal objeto de estudo da área são o corpo e as suas manifestações. O autoconhecimento pode despertar no praticante potencialidades até então inibidas pelos processos mentais equivocados e insalubres que desenvolvemos, devido ao nosso modo de vida moderno. Sendo assim, esperamos ter apresentado o Yoga de maneira coerente, mesmo que de forma reduzida, se comparada à grandiosidade de conhecimento contido no sistema yogue. Desejamos que esse método enriqueça o seu trabalho, e que a busca pelo conhecimento apresentado não se limite a esta breve apresentação. 58 atividades de estudo 1. O Yoga divide-se em diferentes estilos segundo as suas origens e as tradições do grupo onde ele está engendrado, e sabemos que existem três grandes métodos de prática de Yoga desenvolvi- dos ao longo dos séculos. De acordo com o que foi apontado nesta unidade, assinale a alternati- va que indica quais são esses três estilos. a) Tantra-Yoga, Yoga Budista e Yoga Hindu. b) Yoga Hindu, Yoga Jaina e Hatha-Yoga. c) Janâna-Yoga, Yoga Budista e Hatha-Yoga. d) Yoga Hindu, Yoga Budista e Yoga Jaina. e) Yoga Jaina, Mantra-Yoga e Hatha-Yoga. 2. No século II a. C., o mestre Patanjali sistemati- zou o Yoga em oito passos que são seguidos até hoje. Sobre esses oito passos, leia as afirmativas a seguir: I - Yama é a prática física do Yoga, está re- lacionada com as posturas chamadas Ásanas. II - Niyama são as regras de vida que in- cluem pureza, harmonia, seriedade, ale- gria e estudo. III - Pranayama está relacionado ao controle da respiração. IV - Pratyahara relaciona-se ao controle das percepções sensoriais orgânicas e da con- centração. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas I. d) Apenas II, III e IV. e) I, II, III e IV. 3. Sobre a prática do Yoga no Ocidente, assinale verdadeiro (V) ou falso (F): ( ) O estilo de Yoga mais praticado no Oci- dente é o Hatha-Yoga. ( ) No Ocidente, a prática do Yoga segue exa- tamente os preceitos trazidos da Índia antiga. ( ) No Ocidente, a formação em Yoga dá-se pela passagem dos ensinamentos de mestre para discípulo, após muitos anos de ensino. É correto o que se afirma em: a) V; V; F. b) V; F; F. c) F; V; V. d) F; V; F. e) V; V; V. 4. O Yoga é um sistema complexo que envolve prá- ticas físicas e mentais. Sobre esse assunto, anali- se as alternativas a seguir: I - O sistema yogue destina-se ao controle dos sentidos, e a mente está acima deles. II - No sistema yogue, a prática dos Ásanas e a realização perfeita deles denota mais conhecimento e transformação moral do praticante. III - O domínio da mente, seguindo os princí- pios da filosofia yogue, liberta-nos do con- trole das necessidades físicas. IV - O verdadeiro yogue controla as suas ativi- dades sensuais, e as coloca em seu favor, de modo a potencializar as suas ativida- des essenciais, pois ele consegue limpar a mente das distrações. É correto o que se afirma em: a) Apenas I. b) Apenas II, III e IV. c) Apenas I, III e IV. d) Apenas I, II e IV. e) I, II, III e IV. 5. Sobre os princípios do Yoga, faça um texto sobre como você os abrangeria em sua aula. 59 LEITURA COMPLEMENTAR Yoga e a cultura da paz Ao buscarmos o significado do termo paz nos dicionários tradicionais, deparamos-nos com definições abrangen- tes, como: quietação do ânimo, sossego, tranquilidade, ausência de guerras e dissensões, boa harmonia, con- córdia e reconciliação. Mas o que tem o Yoga com isso? Há 5 mil anos, na sua origem, o principal objetivo do Yogue era se reconectar com a divindade interior como ponte para a divindade superior e, assim, transcender a materialidade e encontrar o verdadeiro caminho do apri- moramento moral e espiritual, a chamada libertação e transcendência da matéria. A vida moral firme e sadia é preponderante na sua prá- tica. Dentro de seus preceitos, a conduta moral é regida pelo princípio do Dhama, que significa moralidade, lei, ordem ou virtude. De acordo com Feuerstein (2005), esse princípio incorpora ações como a não violência, a vera- cidade, o não furto, a castidade, a compaixão e a benig- nidade. Segundo esse autor (2005, p. 31), “sem a firme observância desses princípios morais, o Yoga não pode conduzir-nos à meta final da libertação”. Hoje, criou-se o estereótipo de que o praticante de Yoga é alguém “zen”, tranquilo e livre de estresse. Esta rotula- gem afasta da prática as pessoas que acreditam não se encaixar nesse perfil, pois elas creem que, para iniciar as aulas, devemos ter tais características. Porém é justa- mente o contrário. Segundo as teorias yogues, tais habilidades de nossa conduta moral devem ser desenvolvidas e potencializa- das pela prática no treino diário. Por essa razão, muitos mestres dizem que a prática do Yoga vai muito além da execução dos Ásanas. Quando os seus preceitos morais são vinculados à prática física, ele se torna uma valiosa medida de higiene mental e moral. Dessa forma, os preceitos do Dhama são como um cami- nho a ser trilhado para alcançar um fim, e este se vincula ao benefício próprio e comum. Considerando a ligação dos yogues com as deidades, na sua visão espiritual, o professor Hermógenes Filho, na clássica obra Yoga para Nervosos (1996), descreve que: A moral yogui começa com vivência e sabe- doria filosófica, com o conhecimento do Uni- verso, e do indivíduo em suas relações com o Universo, consigo e com Deus. O fundamental não é a noção do bem e do mal. As ações que o yoguin evita, são as que o afastam de seu sâ- dhana, isto é, de seu caminhar para a Meta ou Realização Espiritual. Sua natureza essencial de ser humano e chispa divina o predestina ao Encontro redentor (Yoga). Quando ele vive em harmonia com as leis próprias de sua nature- za, isto é, quando cumpre seu dharma, goza o bem, a saúde e a felicidade. Ao contrário, todos seus desvios (adharma) representam o mal, o sofrimento, a servidão e a doença (FILHO, 1996, p. 98). 60 LEITURA COMPLEMENTAR Assim, a ideia preconizada de que o autoajuste e o au- toconhecimento precedem a prática física, torna-se um incentivo aos praticantes para transformarem a sua con- duta moral, pois, na essência yogue, teoria e prática são unidades indissociáveis. De acordo com os seus princí- pios, toda reforma interna é projetada para o meio exter- no, perante a transformação pessoal, o meio é também influenciado pelo bom comportamento dos indivíduos que o compõem. É essa a ideia de paz que o Yoga preconiza, o conceito de que, ao nos transformarmosinternamente, conseguire- mos estabelecer melhores relações com os demais, por meio da exemplificação das atitudes benéficas, desen- volvendo virtudes como a compreensão, a tolerância e a paciência, tornando o convívio mais pacífico e harmo- nioso. A cultura de paz depende, essencialmente, de muitos fa- tores para ser construído, contudo essa pode ser uma ferramenta para pequenas transformações em nosso dia a dia, o que pode levar a mudanças maiores, quan- do potencializadas. Vamos pensar no assunto e refletir sobre o mundo que queremos, qual a sociedade que al- mejamos para um futuro próximo, tendo em vista que a sociedade é feita por cada um de nós. Fonte: a autora. 61 material complementar Autobiografia de um Yogue Paramahansa Yogananda Editora: Sextante Sinopse: em Autobiografia de um Yogue, Yogananda descreve a trajetória de seu caminho espiritual, desde a sua infância na Índia, na busca por um mestre, até o seu trabalho de propagação do Yoga nos Estados Unidos. Ele se tornou uma das mais proeminentes personalidades do cenário espiritual do século XX, o seu livro foi traduzido para 18 idiomas e está entre as 100 obras espirituais mais importan- tes do século passado. Comentário: para aqueles que desejam se aprofundar mais na filosofia yogue, esta obra é de fundamental importância. Ela possui grande riqueza de detalhes sobre a cultura indiana, além de ser uma narrativa prazerosa e de fácil compreen- são. Boa leitura! Indicação para Ler On Yoga: Arquitetura da Paz Ano: 2017 Sinopse: Heitor Dhalia registra a busca de uma década do fotógrafo Michael O’Neill para conhecer melhor os principais gurus e mestres de Yoga em atividade, incluin- do encontros com pensadores, médicos e yogues, além de passagens pelo Festival Internacional de Yoga, em Rishikesh, e o Mela Festival Kumbha, em Haridwar. Indicação para Assistir O projeto Yoga dos Bichos ensina, de forma lúdica e divertida, a prática dos Ása- nas para crianças, com referência ao movimento de animais. O repertório surgiu a partir de movimentos de animais já ensinados pelo Hatha Yoga tradicional. Web: http://yogadosbichos.art.br. Indicação para Acessar http://yogadosbichos.art.br http://yogadosbichos.art.br http://yogadosbichos.art.br http://yogadosbichos.art.br http://yogadosbichos.art.br http://yogadosbichos.art.br http://yogadosbichos.art.br 62 referências BARROS, N. F. de et al. Yoga e promoção de saúde. Ciência e Saúde Coletiva, v. 19, n. 4, p. 1305-1314, abr. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ csc/v19n4/1413-8123-csc-19-04-01305.pdf. Acesso em: 22 maio 2019. DETHLEFSEN, T.; DAHLKE, R. A doença como ca- minho. Cultrix: São Paulo, 2007. FEUERSTEIN, G. Uma visão profunda do Yoga: Te- oria e Prática. São Paulo: Pensamento, 2005. FILHO, J. H. de A. Yoga para nervosos: Aprenda a administrar seu estresse. Rio de Janeiro: Nova Era, 1996. LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: Manual de Metodologia de Pesquisa em Ciências Humanas. Porto Alegre: Artes Médicas; Belo Hori- zonte: UFMG, 1999. MARIN, G. 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Acesso em: 22 maio 2019. 2 Em: http://www.escuelainternacionaldeyoga.biz/ fundador.html. Acesso em: 22 maio 2019. 3 Em: http://www.alimentoevoce.com.br/2015/03/ deus-me-livre-de-ser-normal.html. Acesso em: 22 maio 2019. 4 Em: https://www.skoob.com.br/autor/9635-caio- -miranda. Acesso em: 22 maio 2019. http://www.escuelainternacionaldeyoga.biz/fundador.html http://www.escuelainternacionaldeyoga.biz/fundador.html http://www.alimentoevoce.com.br/2015/03/deus-me-livre-de-ser-normal.html http://www.alimentoevoce.com.br/2015/03/deus-me-livre-de-ser-normal.html https://www.skoob.com.br/autor/9635-caio-miranda https://www.skoob.com.br/autor/9635-caio-miranda 64 gabarito 1. D. 2. B. 3. B. 4. D. 5. Com base no que foi exposto, explanar de maneira objetiva e clara como você utilizaria os princípios do Yoga na sua prática de intervenção, em que ele contribuiria para a sua prática? Como você irá abordá-lo de acordo com o seu contexto? Reflita e disserte sobre. UNIDADEIII Professora Esp. Érica Fernanda Lopes Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Tai Chi Chuan: história e filosofia • Tai Chi Chuan: arte marcial, meditação e saúde • A prática do Tai Chi Chuan Objetivos de Aprendizagem • Descrever os aspectos históricos e filosóficos do Tai Chi Chuan. • Apresentar as possibilidades que a prática do Tai Chi Chuan pode trazer para a melhora da saúde física e mental. • Discutir as possibilidades de prática do Tai Chi Chuan no campo da Educação Física. TAI CHI CHUAN - A ARTE MILENAR unidade III INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Nesta unidade, discutiremos os aspectos que en- globam a prática do Tai Chi Chuan, uma arte marcial chinesa que desen- volve, nos praticantes, atributos físicos e mentais, por meio da leveza, da lentidão e da harmonia dos movimentos. Iniciaremos a discussão sobre os seus princípios filosóficos, tendo em vista que eles fazem parte da cosmogonia do Yoga e o representam genui- namente. A sua teoria traz consigo a essência do pensamento da civiliza- ção chinesa, tanto filosófico como científico. O pensamento chinês apresenta-nos uma das filosofias mais antigas de nossa história e nos traz grandes conhecimentos, fato comprovado pelo uso de sua Medicina até os dias de hoje, como a Acupuntura, ciência que cresce a cada dia no Ocidente por seus resultados comprovados. Veremos também que, para os chineses, a prática do Tai Chi Chuan é uma ferramenta para a harmonia da saúde física e o equilíbrio da mente. Por meio dele se movimentam as energias do corpo, proporcionando mais saúde. Essa técnica, embutida na cultura oriental até hoje, ganhou notoriedade no Ocidente. Os praticantes relatam melhora da sua qualidade de vida, a prática é de simples execução e indicada para todas as idades. Assim, temos, no Tai Chi Chuan, uma ferramenta de grande valia dentro das PráticasAlternativas e Complementares (PACs). Ele, ao se in- serir nesse contexto, nos proporciona novas possibilidades de ação nos diferentes campos de atuação da Educação Física. É comum vermos grupos de pessoas das mais variadas idades dedi- cando-se à prática em parques, praças e clubes de muitas cidades. No Brasil, o Tai Chi Chuan faz parte das terapias incluídas no Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPICs), auxiliando na prevenção e no combate das mais diversas enfermidades. Vamos mergulhar nos conteúdos dessa prática e vivenciá-la em nosso cotidiano? Traremos, aqui, alguns apontamentos que introduzirão o as- sunto a fim de enriquecer seus conteúdos. 70 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Iniciaremos os nossos estudos sobre o Tai Chi Chuan fazendo um breve relato da sua história, suas origens e bases, bem como de sua filosofia, o que ele abran- ge e em que contexto está inserido. Discutiremos a sua importância na cultura do povo oriental, afinal, a prática ainda é muito comum na China, sendo cada vez mais propagada pelo mundo. Tai Chi Chuan: História e Filosofia EDUCAÇÃO FÍSICA 71 A tão difundida Medicina Tradicional Chinesa (MTC) possui bases filosóficas e científicas de acor- do com tradições e costumes milenares. Os seus primeiros registros datam de pouco menos de 3 mil anos entre 770 e 476 a. C. Também conhecida como medicina “Yi”, foi a primeira a se afastar das corren- tes espiritualistas e xamânicas por ganhar um cará- ter mais científico e se tornou, oficialmente, a medi- cina dos imperadores e do Estado. Para falarmos de determinada prática, devemos compreender o contexto em que ela se insere, as suas raízes e as tradições da sociedade onde ela se desenvolve. Assim, tomamos mais intimidade com o seu contexto, lembrando que devemos também con- siderar o contexto onde ela será aplicada, mas sem a perda de seus princípios. Vamos explorar mais esse universo do conhecimento que as Práticas Alterna- tivas e Complementares englobam? As origens do Tai Chi Chuan são, diretamente, relacionadas com a filosofia Taoísta, que é a base fi- losófico-religiosa da cultura chinesa e está transcrita no I Ching, o livro das mutações, uma das obras de referência do pensamento chinês, a qual transmite o conhecimento por meio de 64 ideogramas. Estes explicam, segundo os seus preceitos, a relação dos opostos que compõem o universo. A saber, na tra- dução, Tai quer dizer supremo, infinito, Chi corres- ponde à energia, e Chuan, punho em movimento. Dentro desse contexto, o pensamento chinês é desenvolvido em dois aspectos essenciais: um vol- tado para os valores morais e governamentais, que são muito bem desenvolvidos em suas civilizações, e para as relações sociais e humanas, o outro aspecto é voltado ao lado místico, por meio da busca pela transcendência da vida cotidiana materializada, transcendência essa que faz o indivíduo alcançar ní- veis maiores de consciência no plano da sabedoria filosófico/religiosa. A linguagem enigmática do Tai Chi Chuan, transcrita nos símbolos do mandarim, língua oficial, foi, por muito tempo, uma barreira para os estran- geiros que tinham o interesse em explorar os seus conhecimentos. Na sua escrita, não há letras, mas ideogramas que transmitem, cada um, significados próprios, os quais, por sua vez, expressam ideias, e não palavras específicas, como em nosso alfabeto. Na sua origem, existem inúmeros dialetos com a mesma escrita, com ideogramas iguais que variam de significado de acordo com a entonação fonética que recebem. Para facilitar o acesso ao idioma, em 1958, o governo aprovou a lei de romanização dos caracteres por meio de um sistema de transcrição fonética chamado Piniyn, que auxilia na pronúncia e escrita, mas não substitui os caracteres originais. Sobre a importância do idioma, o sinólogo francês Philippe Sionneau (2014, p. 3), aponta que “Em chi- nês, a palavra é uma porta que se abre para um mun- do de significados ou descreve um universo inteiro, enquanto que, nas línguas ocidentais, as palavras são caixas nas quais pretendemos um significado”. Figura 1 - Escrita tradicional chinesa Fonte: Ivan Pigozzo ([2019]). 72 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS O marco da Medicina moderna chinesa Nei Jing (Clássico da Medicina Interna) só foi finalizado e re- visado sob a Dinastia Han (206 a. C. a 220 d. C.). “[...] o Sistema Médico Chinês perfeitamente orga- nizado e ‘finalizado’ não tem mais de 2.000 anos de existência” (SIONNEAU, 2014, p. 9). No decorrer de todos esses anos, com a moder- nização e a chegada ao Ocidente, ocorreram diver- sas transformações e influências na Medicina Tradi- cional Chinesa, porém toda a sua teoria se manteve em constante reestruturação e movimento, aprimo- rando-se ao longo da história, unindo a tradição à modernidade, garantindo o seu espaço em meio a tecnologia que se desenvolveu a passos largos no país, nos últimos tempos. Em sua essência, a filosofia e a ciência chinesa entendem a doença e a cura como processos natu- rais do corpo, de equilíbrio e desequilíbrio decor- rentes das constantes transformações que sofremos a todo momento. De acordo com elas, se conhecer- mos as energias que nos configuram, podemos in- terferir nesse processo a fim de equilibrar a própria saúde, utilizando as energias do próprio corpo e do ambiente que nos cerca. Assim como a Medicina Tradicional Chinesa, o Tai Chi Chuan (que também é uma parte dela), tem por base a tão difundida teoria do Yin e do Yang, a teoria dos opostos complementares que se inter-relacionam na formação de todas as energias do universo, chamadas alegoricamente, de As 10 mil Coisas, e também a Teoria dos Cinco Elemen- tos. Segundo Marin (2010, p. 97), “As 10 mil Coi- sas são as infinitas possibilidades de todas as ma- nifestações da vida colocadas na perspectivas das oito tendências formadas pelos cinco Elementos da vida”. Segundo os costumes da época, os conhecimentos eram transmitidos, oralmente, entre as famílias e os clãs, ao longo das dinastias e, por isso, há pouco ma- terial escrito sobre o assunto. Dessa forma, surgiram os diferentes estilos de Tai Chi Chuan, levando a as- sinatura de seus predecessores. Figura 2 - Yin e Yang Tai Chi: é o símbolo que representa a Teoria do Yin e do Yang. Os opostos são mostrados pelas cores branco e preto, porém, há a ideia de complementariedade, a qual é representa- da pelo ponto preto no branco e pelo ponto branco no preto, a fim de demonstrar que, apesar de contrários, um está contido no ou- tro. O círculo é a representação da fluência da vida, onde nada tem fim, apenas transfor- mações. O círculo é a força que os mantêm juntos, repare que onde um termina, o outro começa, dando a ideia dessa transformação, de transição, de complementariedade e de fluência da energia que rege o universo. Fonte: a autora. SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 73 Sobre os registros históricos, o documento mais antigo a usar o nome Tai Chi Chuan é um texto clássico chamado de “Método para se Alcançar o Esclarecimento através da Observação da Escritura” (Guan Jing Wu Hui Fa), escrito por Cheng Lang Xi, que viveu durante o período da dinastia Liang (907 d. C. a 932 d. C.) (KIT, 1996, p. 33). A história mais comum sobre o seu surgimento, relatada pelas tradições chinesas, é a de que o monge Chang San Feng, em torno de 700 a 800 anos atrás, observou uma garça e uma serpente em luta, interpre- tou cada movimento, ora abrupto, ora suave, lento ou rápido, flexível ou rígido, de espera e de ataque, além dos olhos que seguiam os movimentos do adversário, como em uma dança na busca pela sobrevivência. Nessa luta entre os animais, Feng observou a minu- ciosidade de cada movimento, e como as suas tradições tinham, como costume, a observação da natureza, ele uniu tal experiência ao conhecimento Taoísta e criou uma sequência baseada na flexibilidade, na simplicida- de,na agilidade e perspicácia, desenvolvendo uma téc- nica de autodefesa que exige concentração para manter a precisão e a harmonia dos movimentos. Para Capra (2011, p. 114, grifo do autor), o sábio chinês: Unifica em si mesmo os dois opostos comple- mentares da natureza humana - a sabedoria in- tuitiva e o conhecimento prático, a contempla- ção e a ação social - que os chineses associaram às imagens do sábio e do rei. Seres humanos plenamente realizados, nas palavras de Chuang Tsé “tornam-se sábios por sua tranquilidade, reais por seus movimentos”. Nessa prática, que une movimentos simples, minucio- sos, ritmados e belos, há vários benefícios físicos, como o fortalecimento do corpo, o estímulo da circulação sanguínea, a prevenção de doenças osteomusculares, o combate ao estresse e a melhora da pressão arterial, reforçando o cuidado com a saúde interna do corpo, trazendo benefícios também para mente e o espírito. É sempre indicado ao praticante do Tai Chi Chuan a realização de estudos sobre a sua filosofia, ampliando as dimensões de atuação, visando a com- preensão do todo que a atividade abrange. A prática e o conhecimento teórico caminham juntos na bus- ca de um nível de saúde mais satisfatório. Durante a execução dos movimentos, a mente deve estar em harmonia com o corpo, acompanhan- do a respiração, inspirando e expirando, controlan- do o Chi e a maneira como ele se propaga, tal qual uma meditação em movimento, em que o praticante coloca-se inteiramente na observação de si mesmo, sob a fluência dos movimentos que requerem a força física e mental em conjunto. Dessa forma, quem busca a prática do Tai Chi Chuan vai se deparar com a possibilidade de expan- dir a sua visão de saúde, ampliando o conceito de bem-estar até então restrito ao biológico e partindo para uma concepção que abranja as dimensões emo- cionais, psicológicas e mentais, as quais também nos compõem. Tudo isso por meio da auto-observação, do foco em si mesmo, da equalização e quietude da mente, o que estimula a mudança do nosso olhar e, consequentemente, da nossa postura diante de de- terminadas circunstâncias. Fonte: cowardlion 74 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS O Tai Chi Chuan inicia-se como uma luta de auto- defesa e de ataque que buscava, por meio de mo- vimentos elaborados, ora mais rápidos, ora mais lentos, vencer os adversários nas antigas guerras. Nesse tempo, os chineses eram invencíveis nas lu- tas corporais e dominavam com precisão as suas artes marciais. As artes marciais, na China, ocupam um espaço de grande relevância cultural, pois é a partir delas que os códigos morais e sociais daquela civilização são propagados, tanto que, com o passar do tempo, tal prática foi inserida nos mosteiros, fazendo parte das atividades diárias dos monges, como os conhe- cidos monges dos templos Shaolin. Tai Chi Chuan: Arte Marcial, Meditação e Saúde Fonte: Fotokon EDUCAÇÃO FÍSICA 75 Um aspecto interessante e inerente às artes mar- ciais chinesas é que, hoje, elas se configuram como técnicas profiláticas, ou seja, previnem a violência em vez de propagá-las. Tal prevenção inicia-se pelo próprio praticante que, durante o aprendizado, deve procurar o autoequilíbrio e a autocorreção moral, por meio da disciplina que as artes marciais implicam. Os movimentos lentos do Tai Chi Chuan se- guem as teorias que embasam o pensamento filo- sófico chinês, principalmente aqueles da famosa teoria do Yin e do Yang, em que todos os elementos estão unidos e em constante interação entre si, cujo movimento de determinado fenômeno dá origem a outro. É a inter-relação de todas as coisas no uni- verso, na qual o indivíduo não se encontra à mar- gem, mas sim, como parte integrante e interativa de tudo que o cerca. Os movimentos fluidos e circulares do Tai Chi Chuan são executados sem interrupção, de modo que é impossível distinguir o início e o término de cada um, obedecendo a um ritmo único e caden- ciado, seguindo as alternâncias entre o Yin e Yang, em que a mente é parte atuante por estar presente em cada gesto realizado, mantendo a disciplina e o foco na execução. A respiração é também ritmada e entra em consonância com a fluência do exercício, desse modo, “os movimentos se executam como se desenrola um fio de seda de um casulo” (DES- PEUX, 1981, p. 53). Essa conexão entre movimento, respiração e pensamento amplia capacidades físicas e psíquicas dos praticantes, uma vez que eles alcançam um esta- do meditativo profundo e intenso ao longo do tem- po de prática. Segundo os Taoístas, conectar esses elementos ao mesmo tempo faz com que consiga- mos renovar as energias do nosso corpo e angariar mais qualidade de vida. Com o foco da atenção na execução dos movi- mentos e na confluência com a respiração, busca-se um estado de maior calma e organização interna, como se naquele momento, o praticante se desli- gasse de todo o estresse e tensões do dia, reorgani- zando o corpo e a mente no fortalecimento de suas energias. A respiração e a sincronicidade dos movimen- tos são algumas das características essenciais da prática do Tai Chi Chuan. A simplicidade das sequências permite que ele seja praticado por todas as idades, no mesmo ritmo e na mesma sequência gestual. REFLITA Os benefícios da prática têm sido comprovados por meio de estudos que apontam melhora nas va- riáveis físicas, como força muscular, potência ae- róbica, controle do corpo e do equilíbrio, além de melhora dos padrões psíquicos, na memória e na concentração. A prática do Tai Chi Chuan vem ganhando es- paço entre os mais idosos, pois os seus movimentos lentos e de baixo impacto facilitam a adesão a essa modalidade. Blair et al. (1996 apud OLIVEIRA et al., 2001, p. 16) apontam que existem, no mínimo, três componentes da ap- tidão física que são importantes para a preser- vação das funções em indivíduos idosos: força muscular, potência aeróbica e equilíbrio, sendo estas algumas das variáveis que o treinamento de Tai Chi Chuan desenvolve. 76 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Apesar da forte adesão pela população de idosos, o Tai Chi Chuan pode ser praticado por todas as idades, por todos aqueles que buscam os bene- fícios que ele pode trazer. Mas você pode ques- tionar: Como exercícios executados de maneira tão lenta e gradual podem promover tamanhos benefícios? A explicação da teoria Taoísta para tais benefí- cios dá-se pelo fato de que os movimentos alonga- dos e conscientes, acompanhados pela respiração ritmada, promovem o desbloqueio dos canais no nosso corpo por onde a energia ou o Qi percorre: os Meridianos, liberando o livre fluxo, ou seja, melhora o fluxo de Chi. Sobre a sensação de bem-estar que o Tai Chi Chuan nos promove, Oliveira (2009, p. 37) relata que, durante a prática, a sensação é: [...] Como se fechassem todas as comportas mentais, só existindo uma janela para um pensamento, um foco: a realização de cada movimento. Nesse nível de relaxamento, os meridianos são alongados, os bloqueios ener- géticos vão lentamente se dissipando. Entra- -se, literalmente, num estágio de meditação, porque meditamos exclusivamente no mo- vimento, na construção de cada forma, cada gestual, tão intimamente abstraídos no silên- cio que os ruídos externos quase passam des- percebidos. Esse relato mais parece um convite à prática, o que você acha? A fluência do movimento, da respiração e do pensamento seguem em uma única direção, le- vando ao estado profundo de concentração e medi- tação. Vale a pena experimentar, não acha? EDUCAÇÃO FÍSICA 77 78 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Como vimos anteriormente, o Tai Chi Chuan pode ser praticado por pessoas de todas as idades, ele é elaborado por sequências de movimentos lentos e de fácil execução, que exigem concentração e acom- panhamento da respiração durante o processo. A sua prática não possui grandes exigências, ela pode acontecer ao ar livre ou em espaços fechados, pra- ças, parques ou salas,desde que comporte todos os praticantes, já que pode ser praticado em grupos ou sozinho. As roupas devem ser leves e flexíveis, pode- -se ter acompanhamento de música suave, ou não, a gosto dos praticantes. Pode-se iniciar com a centralização do corpo, já que o equilíbrio é uma habilidade bastante re- quisitada, distribuindo o peso sobre ambas as per- nas, equitativamente. Em seguida, deve-se buscar o foco na respiração, puxando o ar para os pulmões e soltando, gradativamente, e, nesse momento, a mente deve se voltar para todo esse processo, ini- ciando a concentração. A Prática do Tai Chi Chuan EDUCAÇÃO FÍSICA 79 A essa simples sequência já se atribuem grandes benefícios, por exemplo, a atenção para cada parte do nosso corpo, o equilíbrio dos batimentos cardía- cos, os exercícios mentais de concentração, o relaxa- mento do corpo e da mente. Existem treze movimentos básicos utilizados nos diferentes estilos, são eles: Desviar, Rolar para trás, Pressionar, Empurrar, Puxar para baixo, Ra- char, Golpe de ombro, Golpe de cotovelo, Avançar, Recuar, Olhar à esquerda, Olhar à direita e Equilí- brio central. Dentro desses movimentos, são explorados os diferentes planos e dimensões do corpo, no alto, no baixo, lateralizado ou central, dando a possibilidade de desenvolvimento da consciência corporal e es- pacial. A fluência dos movimentos segue de acordo com cada estilo. Destes, existem cinco mais conhe- cidos, são eles: 1. Estilo Chen: movimentos rápidos e len- tos, combinados com pulos e movimentos bruscos. 2. Estilo Yang: os movimentos são lentos, contí- nuos, suaves, grandes e abertos. 3. Estilo Wu/Hao: o primeiro estilo, o Wu, veio dos estilos Yang e Chen, é lento, plano e pe- queno, e as posturas são altas. 4. Estilo Wu: aqui, os movimentos de inclina- ção são os mais explorados. 5. Estilo Sun: neste caso, os seus movimentos combinam três estilos: Tai Chi Chuan Wu/ Hao, Hsing I Chuan e Bagua Chuan. Existem também os estilos com armas, que são a Espada e o Sabre, caracterizados como armas cur- tas, e a lança, que hoje foi substituída pelo bastão, considerado arma longa, e a mais recente forma, o leque, que, aparentemente, não é uma arma, mas, na cultura antiga, era confeccionado com lâminas de metal e chegava a pesar mais de três quilos. Ele era utilizado para distrair os adversários como uma arma de corte. Hoje, as apresentações com as armas possuem sen- tido mais estético e também têm características te- rapêuticas no manuseio delas, ao trabalhar habili- dades, como coordenação motora e concentração. Todos estes estilos foram passados de geração a geração entre as famílias, razão pela qual cada um deles possuem as suas peculiaridades, segundo as tradições e os locais onde tais clãs viviam. 80 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Independentemente de qual estilo se adote, exis- tem dez princípios fundamentais que são a base para a prática de qualquer um dos estilos do Tai Chi Chuan, são eles: 1. Suspender a cabeça pelo topo com leveza e sensibilidade. 2. Esvaziar o peito e alongar as costas. 3. Relaxar a cintura. 4. Distinguir entre o cheio e o vazio. 5. Relaxar os ombros e soltar os cotovelos. 6. Usar a mente, e não a força muscular. 7. Interligar os movimentos da parte superior e inferior do corpo. 8. Unir o interior e exterior. 9. Mover-se com continuidade, sem rupturas. 10. Buscar a quietude dentro do movimento. EDUCAÇÃO FÍSICA 81 Dessa forma, vemos que os seus princípios não dife- rem, em essência, do que concerne à leveza e à tran- quilidade na execução dos movimentos, à respiração ativa, à fluência, ao relaxamento, ao controle do cor- po e à harmonia dos pensamentos. A prática do Tai Chi Chuan movimenta-se em direção à busca do desenvolvimento pleno do ser, ao fazer com que ele atinja o máximo de suas po- tencialidades, por meio da suavidade e da sincronia entre o indivíduo e o movimento universal que o origina, e também por meio dessa fluência ener- gética que é capaz de nos harmonizar em todas as suas dimensões. Os benefícios das vivências do Tai Chi Chuan são inúmeros e podem contribuir com todo o tipo de público. Dessa forma, que tal nos desafiarmos nessa atividade? Para os mais idosos, podemos buscar o fortale- cimento do seu corpo, a melhora da flexibilidade e do alongamento, além do aumento na capacidade respiratória. Para os mais jovens, podemos pensar na melhora da concentração, do foco e da atenção, bem como a diminuição do estresse, e para ambos, a melhora na qualidade de vida. Essa prática milenar nos traz grandes ensina- mentos, e nos ater a eles pode nos auxiliar em vários setores de nossa vida. Há um velho provérbio chinês que diz: “não se pode ensinar uma habilidade, só se pode ensinar o caminho”. Desse modo, a prática tor- na-se imprescindível para o aperfeiçoamento da téc- nica e, com isso, para a aquisição de seus benefícios. Fonte: Katoosha 82 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Vídeo dos Movimentos do Thai Chi. Para acessar, use o seu leitor de QR Code. TAI CHI CHUAN NA PRÁTICA Caro(a) aluno(a), vimos que o Tai Chi Chuan é de fácil execução e pode ser realizado por qualquer pessoa de qualquer idade, porém existem diferen- tes estilos que adotam centenas de movimentos diferentes com propósitos e objetivos distintos. Citaremos, aqui, alguns exemplos de movimen- tos básicos que contemplam a base inicial de uma prática, porém não nos ateremos a um estilo em si, mas em movimentos que auxiliem na experiência básica para que você tenha o primeiro contato com a modalidade. Para uma prática básica de Tai Chi Chuan, po- demos realizar os seguintes movimentos: 1. Posição inicial e respiração Com os pés afastados na largura dos ombros, deixe as mãos e os braços posicionados ao lado do corpo, com os ombros relaxados e a cabeça centralizada, com o olhar voltado à sua frente. Inspire, expire le- vemente pelo nariz, inflando o abdômen, e perceba o movimento de entrada e saída do ar por alguns minutos. 2. Movimento e respiração: a. Afaste um pouco mais as pernas e, à medi- da que inspira, eleve os braços, lentamente, com os cotovelos semiflexionados, manten- do punhos e dedos relaxados à frente do corpo até a altura dos ombros e, à medida que você expira, desça os braços até a posi- ção inicial. Repita o movimento duas vezes. b. Em seguida, inspire, vire as palmas das mãos para frente e inicie a subida dos braços na la- teral do corpo, estendidos até as palmas se to- carem no alto da cabeça. À medida que você expira, os braços voltam à posição inicial com as palmas das mãos agora voltadas para baixo. Ao completar o movimento, repita a subida e, ao descer, traga os braços na parte anterior do corpo, na altura do peito, com as palmas voltadas para si. c. Com as mãos na frente do peito, inspire e, ao expirar, vire as mãos para fora e estenda len- tamente os braços à frente, como se estivesse empurrando algo. Ao final da exalação, inale e traga os braços de volta ao peito. Repita isso duas vezes. Na segunda vez, abaixe os braços, lentamente, ao longo do corpo, como na po- sição inicial. 3. Feche os olhos e apenas observe o fluxo de ener- gia percorrendo o corpo Com esses simples movimentos, você perceberá a agradável sensação de bem-estar, os seus ombros es- tarão mais relaxados, a sua postura estará melhor e você sentirá a sua mente mais focada, com sensação de leveza. Vamos experimentar? A seguir, veja o QR- Code para saber como fazer os movimentos. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/868 83 considerações finais Nesta unidade, discutimos alguns conceitos sobre o Tai Chi Chuan, abordamos um pouco de sua história e de suas origens bem como o seu desenrolar ao longo dos tempos. Deparamo-nos com a sua concretização em meio às emblemáticas tradições desenvolvidas pela cultura chinesa. Dentre elas, destaca-se o idioma que, por tempos, foi um obstáculo para a aproximação de outros povos, porém com a modernização do mundo, esseidioma foi romanizado, transcrito de ma- neira a facilitar a pronúncia e a compreensão dos ideogramas, porém, sem perder a essência. Vimos que, em sua origem, o Tai Chi Chuan recebe maior influência do Tao- ísmo, e os seus movimentos baseiam-se no modelo de interação entre o Yin e o Yang cujas forças contrárias que nos regem se interpõem na fluência dos movi- mentos, de modo que não é possível distinguir onde começa um e onde termina o outro. Discutimos, também, o quanto essa prática é meditativa, à medida em que ela promove a interação entre os movimentos do corpo, a respiração e a coordenação dos pensamentos, trabalhando o foco e a concentração em cada passagem, a qual é executada na alternância de mãos e pernas. É uma prática milenar que pode ser desenvolvida por todas as idades e que encontra maior adesão entre indivíduos idosos, uma vez que a leveza e a lentidão na execução dos movimentos a tornam acessível, os benefícios são inúmeros e se estendem dos aspectos mentais aos físicos, fato que tem popularizado a prática no Ocidente como combate ao estresse e à ansiedade. Em sua história, vários estilos foram desenvolvidos, porém a essência de to- dos eles se faz numa mesma base, na busca pelo equilíbrio e pela harmonia do corpo e da mente, de acordo com o princípio Taoísta no qual o Tai Chi Chuan foi fundado. Temos nas mãos uma grande ferramenta de trabalho, que pode ser aplicada a diferentes públicos de diferentes idades. Desde que o esforço no aprimoramento e na busca do autocontrole seja mantido por meio da disciplina na prática diária, os seus benefícios podem ser adquiridos por qualquer indivíduo. 84 atividades de estudo 1. Na sua tradução aproximada, como podemos transcrever o termo Tai Chi Chuan? Assinale a al- ternativa correta. a) Tai - Supremo, Chi - Energia e Chuan - Cor- po em movimento. b) Tai - Energia, Chi - Universo e Chuan – Saúde. c) Tai - Supremo, Chi - Energia e Chuan - Saú- de em movimento. d) Tai - Corpo, Chi - Energia e Chuan - Punho em movimento. e) Tai - Supremo, Chi - Energia e Chuan - Pu- nho em movimento. 2. Sobre a história e a filosofia do pensamento chi- nês, analise as afirmações a seguir: I - O pensamento chinês é desenvolvido dentro de um único aspecto essencial, voltado para o lado místico, por meio da busca pela ampliação da consciência com o objetivo de desenvolvimento da sabedo- ria filosófico/religiosa. II - Em 1958, o governo chinês aprovou a lei de romanização dos caracteres do Mandarim antigo para facilitar o acesso ao idioma, por meio de um sistema de transcrição fonética chamado Piniyn cuja consequência foi a mudança radical na língua oficial. III - A filosofia e a ciência chinesas entendem a doença e a cura como processos naturais do corpo, de equilíbrio e desequilíbrio de- corrente, das constantes transformações que sofremos a todo momento. IV - O Tai Chi Chuan tem por base a teoria do Yin e do Yang e a teoria dos opostos, que se divergem e se confrontam na formação de todas as energias do universo, chama- das, alegoricamente, de as 10 Mil Coisas. É correto o que se afirma em: a) Apenas I. b) Apenas II e IV. c) Apenas III. d) Apenas III e IV. e) I, II, III e IV. 3. O Tai Chi Chuan, além de ser uma arte marcial, faz parte do grupo de práticas de reequilíbrio da saúde que compõem a Medicina Tradicional Chinesa. Sobre os registros históricos de ambos, assinale verdadeiro (V) ou falso (F): ( ) A Medicina Tradicional Chinesa, possui os seus primeiros registros datados de pouco menos de 3 mil anos de idade, entre 770 a 476 a. C., a chamada medicina Yi, tornando-se, ofi- cialmente, a medicina dos Imperadores e do Estado. ( ) O marco da Medicina moderna chinesa Nei Jing (Clássico da Medicina Interna) só foi finalizado e revisado sob a Dinastia Han, entre os anos de 206 a. C. a 220 d. C. ( ) O registro histórico mais antigo a usar o nome Tai Chi Chuan é um texto clássico cha- mado “Método para se Alcançar o Esclareci- mento através da Observação da Escritura,” datado de 907 d. C. a 932 d. C. ( ) A história mais comum relatada pelas tra- dições chinesas sobre o seu surgimento diz que o monge Chang San Feng, 700 a 800 anos atrás, observou uma garça e uma serpente em luta. A sequência correta para a resposta da questão é: a) V; F; F; V. b) F; V; F; V. c) V; V; V; F. d) F; F; F; F. e) V; V; V; V. 85 atividades de estudo 4. As artes marciais, na China, apresentam-se como um elemento de grande relevância no contexto sociocultural do país, e o Tai Chi Chuan é uma delas, pois traz características de autode- fesa que buscam o autocontrole e a harmonia do corpo. De acordo com representatividade das artes marciais para esse país, analise as afir- mativas a seguir: I - A partir das artes marciais, os códigos morais e sociais da civilização chinesa são propagados pelas diferentes gerações. II - As técnicas das artes marciais chinesas são técnicas de luta objetivando apenas o ataque e a defesa nos conflitos com os adversários. III - O Tai Chi Chuan possui movimentos cir- culares executados sem interrupção, possuem também início e término bem demarcados, obedecendo a um ritmo úni- co e cadenciado, seguindo as alternâncias entre a Teoria do Cinco elementos. IV - Na prática do Tai Chi Chuan, é imprescin- dível a conexão entre movimento, respira- ção e pensamento, o que leva a um esta- do meditativo profundo e intenso. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e III. b) Apenas II e IV. c) Apenas III. d) Apenas I e IV. e) Apenas II. 5. Sobre os dez princípios que a prática do Tai Chi Chuan propõe, disserte sobre como podemos desenvolvê-los em nosso ambiente de trabalho, analisando os benefícios que ele propõe dentro do nosso contexto ocidental. 86 LEITURA COMPLEMENTAR O Tai Chi Chuan e o Sistema de Meridianos A fisiologia energética do nosso corpo configura-se de maneira diferente daquela que conhecemos atualmente. Quando os chineses, há quase 3 mil anos, começaram a estu- dar o corpo e a elaborar as suas teorias médicas, a visão geral do organismo abrangia outros aspectos. Dentro de seus conhecimentos da época, os chineses elaboraram teo- rias de tamanha complexidade e eficiência que são utilizadas até o presente momento, em sua Medicina Tradicional. Para eles, o Chi, a energia vital que permeia todos os se- res do universo, percorre o nosso corpo por meio de canais chamados de Meridianos, espalhados em todas as suas dimensões. De acordo com tais teorias, a saúde e a doença variam de acordo com o livre fluxo de energia que percorrem esses canais e irrigam nossos órgãos e vísceras, nutrindo-os com o Chi necessário para o funcionamento. A obstrução do fluxo do Chi pelos Meridia- nos caracteriza a doença, quanto mais livre o fluxo, melhor a condição de saúde. Para garantir o livre fluxo de Chi pelos Meridianos, dentro do sistema da Medicina chi- nesa, foram desenvolvidas várias técnicas, como Acupuntura, Do-In, Shiatsu, Ventosas, o Tai Chi Chuan, dentre outras, que restabelecem esse fluxo ora interrompido por fato- res externos, como os climáticos, ou internos, como os emocionais. Nesse contexto, caro(a) aluno(a), o Tai Chi Chuan, por meio de seus movimentos su- aves e lentos, atua no desbloqueio dos canais. Acompanhado pela respiração e pelo controle mental, a prática auxilia no equilíbrio interrompido. Cada posicionamento do corpo funciona como um comando, liberando esse fluxo como as águas de um rio. O controle da mente, juntamente com a respiração e a alternância dos movimentos, ora alongados, ora mais retraídos, nas diferentes direções, fazem a movimentação do Chi por esses canais, levando a vitalidade que o corpo necessita. A prática diária aprimora a técnica, quanto maior a concentração, mais energia é direcionada para esses canais, equilibrando, fortalecendo e regenerando o corpo de acordo com as suas necessidades. Para as teorias chinesas, o movimento é vida: tãoimportante quanto comer e dormir, é se movimentar de maneira equilibrada e harmoniosa. Os movimentos do Tai Chi Chuan colocam o corpo em interação com a natureza e trazem a natureza para dentro dele. 87 material complementar I Ching - O Livro das Mutações Richard Wilhelm Editora: Pensamento Sinopse: o I Ching é uma das mais antigas obras da filosofia chinesa, ele é trans- crito num sistema de símbolos arquetípicos denominados hexagramas que con- tinuamente se transformam um no outro, representando as transmutações da natureza e do universo. O princípio organizador dos ideogramas é a interação entre Yin e Yang, entre linhas retas e duplas que se interpelam, formando, no total, 64 hexagramas. Existem várias traduções para a obra, esta é a do sinólogo Richard Wilhelm, que transcreveu diretamente do mandarim para o alemão. Comentário: para quem deseja compreender o pensamento chinês, o I Ching se torna a obra básica, é um livro enigmático, ora filosófico, ora tido como oráculo, porém, carregado de grandes ensinamentos. Indicação para Ler Healing and the Mind Ano: 1993 Sinopse: “Healing and the Mind” é uma série do premiado jornalista Bill Moyers, que aborda e explora várias questões no campo das Medicinas Alternativas. Dentro da série, há um episódio chamado “Os mistérios do Chi”, que explica, segundo a visão chinesa, o fluxo do Chi no nosso organismo. Indicação para Assistir 88 referências gabarito CAPRA, F. O Tao da Física: uma análise dos parale- los entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental. São Paulo: Cultrix, 2011. DESPEUX, C. Tai Chi Chuan: arte marcial, técnica da longa vida. São Paulo: Pensamento, 1981. KIT, W. K. O livro completo do Tai Chi Chuan: um manual pormenorizado de seus princípios e práticas. São Paulo: Pensamento, 1996. MARIN, G. Os Cinco Elementos e as Seis Condi- ções. São Paulo: Cultrix, 2010. OLIVEIRA, J. M. de. Tai Chi: Saúde do ser. [S. n.]: Brasília, 2009. OLIVEIRA, R. F. de et al. Efeitos do treinamento de Tai Chi Chuan na aptidão física de mulheres adultas e sedentárias. Revista Brasileira de Ciência e Movi- mento, Brasília, v. 9, n. 3, jul. 2001. SIONNEAU, P. A Essência da Medicina Chinesa: retorno às origens. São Paulo: EBMC, 2014. Livro 1. 1. E. 2. D. 3. E. 4. D. 5. Faça uma breve análise sobre os dez princípios que o Tai Chi Chuan propõe e interprete quais os benefícios que essa prática pode trazer para os praticantes no cenário atual de nossa qualidade de vida. UNIDADEIV Professora Esp. Érica Fernanda Lopes Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • A meditação: os caminhos para uma prática integral no campo da Educação Física • O corpo e a mente: o desafio da integralidade • Como meditar? O desafio da prática Objetivos de Aprendizagem • Descrever o conceito de meditação bem como oferecer a sua visão geral nas diferentes culturas, as suas concepções atuais e no campo da Educação Física. • Apontar quais os benefícios da meditação e a sua influência na melhora da potencialização das faculdades mentais e da saúde como um todo. • Discutir as possibilidades de adequação da prática às atividades cotidianas. A MEDITAÇÃO unidade IV INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Discutiremos, nesta unidade, acerca de uma práti- ca pouco mencionada nos conteúdos convencionais da Educação Física, a Meditação. Você pode se perguntar: Qual a relação dela com os conte- údos de nossa área? Talvez você se surpreenda com essa relação, pois, ao partirmos dos princípios até então relatados, estamos a construir uma visão diferenciada do corpo e da saúde no campo da Educação Física. É este o trabalho que as PACs propõem-se a realizar. Estamos desconstruindo conceitos e visões que foram cristalizados na história, ao longo de anos, e ampliando os nossos olhares para outra abrangência, sempre lembrando que os conteúdos convencionais são tão importantes quanto qualquer outro conteúdo apresentado. A Meditação, aqui, foge à regra, pois o objeto de observação, neste momento, não é o corpo e as suas habilidades motoras somente, mas a mente. As condições psicológicas determinam muitos de nossos aspectos físicos, visto que já se sabe que as condições emocionais podem influen- ciar diretamente o corpo. A Educação Física, atuante no campo da educação e da promoção da saúde, tem grande influência no bem-estar do praticante, o qual está presente em diversos locais de atuação e, ao ampliar o seu olhar para a in- tegralidade do indivíduo, a Educação Física pode ampliar tais benefícios. Meditar torna-se parte fundamental da prática, pois potencializamos a efetividade das atividades aplicadas. O controle da mente pode pro- duzir efeitos benéficos, atuando na saúde física, no foco e no alcance de nossos objetivos, otimizando as nossas capacidades. A medicina ocidental, por meio da Neurofisiologia, já constata, atu- almente, grandes resultados com a prática da meditação, auxiliando no tratamento de doenças, como a depressão e a ansiedade, que invalidam a obtenção de uma vida satisfatória e produtiva. Vamos debater este tema e descobrir, juntos, como os seus benefícios podem se estender ao campo da Educação Física? 94 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Olá, caro(a) aluno(a)! Ao iniciar o nosso breve apa- nhado sobre a Meditação, estabeleceremos alguns conceitos sobre as suas origens e a sua prática nas principais tradições, a sua visão geral nas diferentes culturas e como a atividade é, nos últimos anos, alvo de pesquisas no Ocidente, visto que, no Oriente, ela faz parte das diferentes tradições religiosas, pois, em muitos lugares, a Meditação é arraigada à cultura, e também veremos como ela pode se integrar às ativi- dades no campo da Educação Física. A prática da Meditação remonta a tempos anti- gos, ela se origina nas manifestações religiosas e es- pirituais que buscavam a conexão com as divinda- des que cada crença seguia. O seu desenvolvimento mais notório deu-se no Oriente, principalmente em meio ao budismo e às tradições yogues, contu- do. Também a encontramos em meio ao Taoísmo, ao Islamismo e ao Xamanismo, assim como no pró- prio Cristianismo. A Meditação: os Caminhos para uma Prática Integral no Campo da Educação Física EDUCAÇÃO FÍSICA 95 Dentro desse conceito religioso, a Meditação é utilizada como meio para entrar em uma espécie de transe, em que se desloca a consciência do mundo externo para o interno na busca dessa conexão espi- ritual. Nas antigas tradições orientais, como prática espiritual, ela nos levava a conhecer o nosso mundo interior, conectava-se com um nível de consciência mais elevado a fim de evoluir nessa direção, trans- cendendo as sensações puramente materiais ligadas aos nossos sentidos. Nessas experiências, as percepções sensoriais dão lugar à expansão de si mesmo ao estabelecer a cone- xão com a divindade, o nosso verdadeiro “eu”, como dito em algumas tradições. Dessa forma, os descon- fortos materiais são sobrepujados, e a relação com o meio externo é modificada, uma vez que o material se torna secundário diante da possibilidade de algo su- premo e superior que delimita a nossa condição aqui. Para algumas dessas tradições, somos compostos por uma dimensão físico/material que conseguimos captar pelos nossos sentidos, e uma outra, mental, condicionada por nossos sentimentos e emoções, entretanto, diante da materialidade onde estamos embutidos, não conseguimos reconhecê-la ou domi- ná-la, sendo assim, enfatizamos uma em detrimento da outra. Há, também, outra dimensão espiritual: ela transcende as outras duas e nos eleva à condição di- vina, que seria o caminho da nossa evolução. Para os sábios antigos, conhecer a si mesmo é a chave para eliminar o sofrimento dentro de nós, identificar os nossos condicionamentos, é saber so- bre nós mesmos, examinar a própria natureza e cor- rigir as imperfeições que nos afligem. Desse modo, a Meditação e as suas diversas técnicas são apontadascomo o caminho para explorar a realidade interna e vencer os nossos próprios desafios íntimos, a origem de nossas limitações, segundo esses sábios. A esse respeito, Hart (1987, p. 35, grifo do autor) afirma que “Conhece-te a ti mesmo, todos os sábios já aconselharam. Precisamos começar por conhecer a nossa natureza; caso contrário, nunca seremos ca- pazes de resolver nem os nossos próprios problemas nem os problemas do mundo”. Vemos que a Meditação, no Oriente, está arrai- gada a seus costumes e às suas tradições religiosas na busca pelo aprimoramento espiritual e moral, po- rém ela é, tão somente, uma prática religiosa? Esse método tão antigo, a partir da década de 60, vem chamando a atenção dos cientistas ocidentais e, des- de então, diferentes técnicas meditativas surgiram. O conceito de Meditação, no Ocidente, difere no sentido de se delimitar como uma prática alternativa autorregulatória entre corpo e mente, é o controle das constantes flutuação e oscilação mentais que ad- quirimos pelo excesso de informações e tarefas ao qual somos expostos. A Meditação serve como fer- ramenta para treinar a mente a estar no momento presente, a focar a atenção na necessidade desse ins- tante e, assim, organizar os pensamentos. 96 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Os resultados desse processo são vários, dentre eles, podemos citar benefícios, como: diminuição dos pensamentos repetitivos e, por conseguinte, diminuição das pré-ocupações do espaço mental, aumento do foco e da capacidade de concentração, redução da ansiedade e do autocontrole diante de situações de estresse, aumento do potencial de me- morização e da clareza mental. Em estudo realizado por Menezes e Dell’Aglio (2009b), elas afirmam que, de acordo com a litera- tura, existem dois tipos de meditação: a Concentra- tiva, que consiste em focalizar a atenção em algum ponto de referência, como a respiração, retornando a atenção a esse ponto a cada momento de distra- ção, e a Mindfulness cujo foco é a consciência no momento presente, sem traçar julgamentos sobre os pensamentos, numa atitude de observação e acei- tação dos estímulos que possam surgir, sendo estes internos ou externos. Caro(a) aluno(a), embora existam diferentes ti- pos de técnicas meditativas, devemos observar que todas elas convergem para um objetivo, que é man- ter o foco de atenção e controlar os pensamentos, fortalecer a conexão entre o corpo e a mente, agu- çando as percepções internas e externas, num trei- namento de força mental para estarmos atentos ao momento. O fato de nos mantermos atentos ao que está acontecendo no presente permite-nos captar mais informações e tirar mais proveito das situações que nos rodeiam, absorvendo, assim, mais conhecimen- to e, pelo fato de a mente se manter focada, conse- guimos, desse modo, fixar tais conhecimentos de maneira mais efetiva, livre das distrações que temos por ora. Nesse sentido, podemos encarar a Meditação como uma “ginástica” para a mente, na busca de aumentar o nosso poder cognitivo e autoperceptivo. A partir de então, se acentua o domínio sobre nós mesmos e sobre as impulsividades de nossas emoções que nos levam a tomar decisões equivocadas, nos mantendo atentos e autodisciplinados. Quando meditamos, entramos em contato com uma parte da nossa mente que, até en- tão, não estamos habituados a entrar. Se- gundo as filosofias religiosas, podemos, por meio da Meditação, entrar em contato com o divino, com o supremo da criação. Fonte: a autora. SAIBA MAIS Atualmente, as pesquisas na área da saúde já re- velaram tais benefícios, ampliando cada vez mais o campo de exploração. O conceito de Meditação, neste meio, pode ser definido como “a utilização de alguma técnica específica e claramente definida, EDUCAÇÃO FÍSICA 97 com a qual se alcança algum relaxamento muscu- lar e mental durante o processo, sendo um estado exclusivamente auto-induzido através da utilização de um foco (âncora)” (MENEZES; DELL’AGLIO, 2009a, p. 279). A melhor utilização do foco estreita a relação en- tre a cognição e o campo emocional, pois, a partir do momento em que se consegue controlar a atenção, é possível, também, controlar a intensidade e a quali- dade dos pensamentos. A observação do que se pen- sa leva à conclusão sobre o tipo de pensamento que reiteramos em nossa mente, fato que torna possível o reforço de pensamentos positivos em detrimento dos negativos, o que aumenta as nossas potencialidades. A partir desse ponto, podemos compreender como a prática da Meditação tem atuado nos tra- tamentos para depressão e ansiedade, partindo do princípio de que o controle dos pensamentos esten- de os seus benefícios ao corpo. A proposta, aqui, não se delimita a mudar o contexto, mas sim, a mudar as crenças e limitações que se criam em torno dele, mo- dificando a forma de olhar e interpretar a realidade ao redor, com o objetivo de aprender a lidar com as situações que causam aflição e, por isso, se diz que a Meditação provoca a mudança de dentro para fora. No âmbito da Educação Física, temos o predomí- nio dos aspectos motores nas práticas, porém com- preendemos que o corpo vai além das suas valências físicas. Entendemos que a influência dessa área de estudo entende-se ao campo da qualidade de vida dos sujeitos, uma vez que a Educação Física abrange desde o cultivo da saúde até o campo educacional. As práticas que a Educação Física propõe se es- tender ao cuidado de si mesmo, como os exercícios para a manutenção da saúde e a aquisição dos co- nhecimentos da cultura corporal no âmbito educa- cional. É uma área de grande integralidade e abran- gência com efeito direto na melhora da qualidade de vida das pessoas. Dentro de tal abrangência, temos, nas mãos, uma prática que pode, de forma satisfatória, atender à complexidade que abrange a natureza humana, a qual envolve questões físicas, emocionais, mentais e espirituais. As práticas alternativas fazem-se dentro desse campo quando buscam a integração dessas di- mensões, integralizando cada vez mais o ser huma- no em todos os aspectos. Sobre esse assunto, Ober- teuffer e Ulrich (1977, p. 4) tecem um conceito que atende tal perspectiva sobre a atuação da Educação Física. Vale a pena refletirmos sobre ele: A educação do “físico” isolado não é possível; e o termo Educação Física significa educação por meio de experiências que envolvem não apenas atividades e movimentos, mas também compo- nentes emocionais, comportamentais e intelec- tuais. E a Educação Física moderna é uma parte do processo de educação e deve ser julgado por seu impacto no homem inteiro e não somente em algumas de suas partes. Dentro desse contexto, o que você pensa a respeito do assunto? Reflita sobre a sua resposta enquanto prosseguimos com a temática. Ao analisarmos o fato de que o indivíduo é for- mado por diversas dimensões, vemos que algumas delas são mais desenvolvidas do que outras, as di- mensões físicas e intelectuais se sobressaem diante das necessidades da nossa sociedade, em que se fir- mou a visão mecanicista do corpo. Tais práticas nos trazem a possibilidade de reformular essa visão e de ampliar as nossas potencialidades. 98 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Essa nova visão pode ser construída a partir da refle- xão sobre a intenção do trabalho corporal que esta- mos realizando: em que ela está pautada? No movi- mento por si mesmo? Ou pensando no ser humano que executa esse movimento? Qual a sua concepção sobre isso? Tal reflexão não é assim tão fácil de ser realiza- da, tendo em vista o pensamento cristalizado so- bre o assunto, porém, as Práticas Complementares e Alternativas, nesse caso, a Meditação, nos trazem a possibilidade de mergulharmos em novas dimen- sões até então não exploradas por nós, professores e profissionais da Educação Física. Tratamos, aqui, da possibilidade de conscienti- zação do indivíduo sobre a sua existência por meio do corpo em movimento, ou pelo simples ato de ob-servação dele por meio da Meditação, pela explora- ção das suas sensações e percepções para além do fí- sico, aumentando a capacidade de autopercepção e, consequentemente, o autoconhecimento, o que pos- sibilita um olhar mais abrangente acerca de si mes- mo e do meio o qual esse indivíduo está inserido, possibilitando a reflexão sobre o seu estilo de vida, bem como a mudança de valores e atitudes pessoais. Tal prática pode ser incorporada dentro das práticas convencionais, o que amplia a efetividade delas. Podemos, com isso, repensar a nossa atuação enquanto profissionais do campo da saúde e da edu- cação. Nesse sentido, qual a visão que nós, profis- sionais, possuímos sobre o ser humano que recebe a nossa influência? Qual olhar direcionamos ao corpo que possuímos? Qual é a nossa visão perante as dife- rentes dimensões que compõem a complexidade do corpo e da vida? São tantas perguntas, não é mesmo? Pois bem, reflitamos sobre elas, busquemos respostas no arse- nal literário que possuímos, mas também as busca- remos em nós mesmos, no sentido de repensarmos os rumos que damos, atualmente, à nossa prática profissional, tendo em vista que atuamos diretamen- te sobre seres humanos e suas vidas. EDUCAÇÃO FÍSICA 99 100 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Como citado anteriormente, temos, no campo da Educação Física, forte influência da visão mecani- cista do corpo, da reprodução mecânica dos movi- mentos, a chamada dicotomia entre ambos, corpo e movimento, o que não cabe a uma prática que visa o bem-estar dos seus praticantes, esteja ela em qualquer campo de atuação dessa ampla área do conhecimento. Essa visão mecanicista já não se sustenta nos dias de hoje, visto que a visão holística, tanto no campo educacional como na área da saúde, ganha cada vez mais espaço diante da necessidade imposta pelo estilo de vida moderno, pautado cada vez mais por tarefas intelectuais, ou que exigem pouca movi- mentação do corpo, mas intensa atividade mental. Ademais as pesquisas no campo da Neurociência mostram a interligação entre a mente e os compo- nentes biológicos, nos revelando o quanto todos os nossos aspectos são interligados. Se partirmos do princípio de que o indivíduo é formado pelo todo de suas diferentes dimensões, veremos que o corpo que se exercita é o mesmo que pensa, sente e interage com o meio, não existem dois seres em um só, o nosso corpo e a nossa mente com- O Corpo e a Mente: O Desafio da Integralidade EDUCAÇÃO FÍSICA 101 põem um único ser, e as atividades de um estão di- retamente relacionadas às do outro. Todo e qualquer estímulo que chega até nós, seja ele físico, mental seja emocional, atinge-nos como um todo. Essa premissa parte da concepção holística que visualiza o ser integralmente. Castro et al. (2006, p. 41) informam que A concepção holística foi reforçada com uma base fisiológica a partir do conceito de home- ostase, desenvolvido, em 1929, por Cannon, o qual afirmava que qualquer estímulo, inclusi- ve o psicossocial, que perturba o organismo, o perturba em sua totalidade. Na atualidade, vemos o crescente número de doen- ças físicas e emocionais associadas ao estresse que o nosso estilo de vida, muitas vezes, nos impõe. Po- demos considerar como estresse tudo aquilo que agride o organismo de forma intensa, gerando so- brecarga e perturbações, sendo assim, tanto as ques- tões externas quanto as internas podem nos causar desajustes psicológicos e orgânicos. Diante disso, como podemos considerar que o corpo e a mente são entidades separadas? Na visão da Psicossomática, “todos os conteúdos psicológicos têm suas contrapartidas corporais e vice-versa” (DETHLEFSEN; DAHLKE, 2007, p. 78). Dessa forma, vemos que estamos presente, integralmente, em todas atividades que desempenhamos em nossa vida. Diante da pesquisa e do desenvolvimento cres- centes da ciência, essa base dualista pela qual nos pautávamos vem perdendo força. Cada vez mais as ligações entre os campos mental, emocional e físico se estabelecem, abrindo espaço para novas possibili- dades de atuação. Diante de novos estudos, surgem novos conceitos, por exemplo, o citado por Castro et al. (2006, p. 41), que nos fala da doença sociossomá- tica, ou seja, “a visão da doença como uma conjuga- ção de fatores originados do corpo, da mente, da sua interação e da interação também com o ambiente e o meio social.” Se a doença pode ser considerada uma somatória de fatores advindos desse sistema global onde estamos imersos, a saúde também é. Nós, professores e profis- sionais da Educação Física, que atuamos sobre a saúde e a conscientização da cultura corporal, devemos tam- bém nos ater a esse contexto, no sentido de nos intei- rarmos sobre esse novo olhar em direção ao corpo. Devemos considerar, contudo, que a Educação Física por si só não conseguirá abarcar todos os pro- blemas que envolvem a complexidade do ser huma- no, porém, dentro do seu campo de ação, quanto mais amplo for o seu olhar, mais completa e signi- ficativa essa prática torna-se na vida das pessoas. A integralidade da prática diz respeito a ampliar os olhares outrora seccionados. 102 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Caro(a) aluno(a), diante dos diferentes estilos de meditação que encontramos, como poderemos ini- ciar uma prática meditativa que seja coerente com a rotina diária e que traga benefícios condizentes com as necessidades no nosso ambiente de trabalho? Quando falamos em meditar, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de alguém sério e sisudo, com as sobrancelhas cerradas, as pernas cruzadas, os braços caídos sobre elas ou com as mãos unidas ao peito, a respiração compassada e forte, emitindo o som de um mantra, certo? Pode parecer, a princí- pio, algo monótono e sem vida, ficar parado pode ser o grande desafio de muitos iniciantes. Manter a atenção focada, então? Outra grande barreira. Nesse sentido, devemos considerar que, diante dos diferentes estilos, cabe a cada um buscar aquele que mais agrade. Temos aqueles da cultura oriental, mais pautados nas questões filosóficas/religiosas, que buscam o autoconhecimento, a evolução moral e espiritual ou os estilos ocidentalizados, que visam a melhora das capacidades mentais e cognitivas. Em ambos os estilos e seus subtipos, encontrare- mos os seus benefícios, pois não devemos esquecer que o princípio é o mesmo para todos eles, manter o foco no momento presente, expandir capacidades e potencialidades. Independentemente do objetivo individual de cada praticante, o efeitos da Medita- ção estendem-se aos aspectos físicos, emocionais e mentais e podem ser sentidos por pessoas de todas as idades. Cada técnica possui as suas especificidades e di- retrizes que, por sua vez, desenvolverão diferentes tipos de habilidades de acordo com a proposta do profissional e com os objetivos de quem está bus- cando. Dentro do mesmo estilo, podemos encontrar diferentes resultados, visto que estes estão de acordo com as necessidades do praticante. As diversas formas de praticar a Meditação va- riam da posição sentada, ao som de música calma, ou em silêncio, em pé, executando movimentos rá- pidos ou lentos, ou em posição parada, com foco na respiração, ou com o olhar em algum ponto fixo, Como Meditar? O Desafio da Prática EDUCAÇÃO FÍSICA 103 com a atenção voltada para si ou para a expansão da consciência em direção a alguma divindade. Todas elas nos dão as possibilidades do aprimoramento pessoal por meio do autoconhecimento. O ideal é que a prática se repita, diariamente, por um tempo predeterminado, para que seja criado o hábito da meditação. Esse tempo varia de acordo com as possibilidades dos praticantes e deve aumen- tar conforme a capacidade de concentração de cada um. Se a prática é em grupo, o tempo deve ser de- finido, coletivamente. Quanto mais regular for essa prática, mais benefícios serão alcançados. Em todas as formas de Meditação menciona- das, é possível alcançar o relaxamentodo corpo e da mente, aliviando o estresse e desenvolvendo, assim, as nossas potencialidades mentais. O maior desafio é, talvez, a resistência inicial em incorpo- rar a prática nas atividades já definidas. Contudo temos exemplos de professores que utilizam a Me- ditação na escola e obtêm consideráveis benefícios na aprendizagem das crianças e na redução de con- flitos entre elas. do essa organização, é possível estabelecer um am- biente mais saudável na escola, estendendo-o para o círculo de convívio do praticante. Segundo dados da Mente Viva, no ano de 2008, foi desenvolvido um projeto chamado “Meditação da Compaixão”, realizado, diariamente, durante oito semanas, com alunos do quinto ano do Ensino Fun- damental, em Gramado-RS. Tal projeto trouxe os seguintes resultados: a redução da impulsividade, a melhora da memória de trabalho e o aumento da empatia. Em nosso cotidiano, a Meditação pode ser uti- lizada em momentos estratégicos, por exemplo, na ginástica laboral, o que melhoraria o foco e a aten- ção no retorno ao trabalho e auxiliaria a acalmar os alunos da escola ou das aulas de ginástica, ao abaixar o ritmo e a frequência cardíaca, ao passo que po- demos trabalhar a percepção dos sentidos do corpo após uma atividade física. Outros momentos impor- tantes em que a Meditação pode ser utilizada são o pré e o pós-treino, em que podemos desenvolver um trabalho direcionado à redução da ansiedade e do nervosismo nas competições. Se pensarmos que, para realizar a prática me- ditativa, não necessitamos de muito tempo, nem de muitos materiais ou de amplo espaço, mas que precisamos apenas do direcionamento focado no objetivo da prática, teremos, em nossas mãos, uma ferramenta a mais de atuação, a qual pode, em nossa intervenção, render grandes resultados. Em relação a como realizar a Meditação, isto de- penderá do conhecimento e do entendimento que o profissional adquirirá bem como do direcionamento que ele imporá à prática, ao se questionar sobre o objetivo do trabalho por ele aplicado e como a Medi- tação, diante de todos os benefícios apontados, pode melhorar o contexto de seu ambiente de atuação. A prática meditativa pode ser utilizada em vários momentos de nossa intervenção, nas aulas de ginástica ou na escola, na ginástica laboral ou nos treinos. Vamos refletir onde mais podemos intervir com ela? REFLITA Como exemplo, temos a ONG Mente Viva, que atua junto a crianças e adolescentes em idade escolar, uti- lizando a meditação como ferramenta para a criação do que a ONG denomina de “cultura de paz”. Segun- 104 considerações finais P ois bem, caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade sobre as Práticas Alternativas Complementares (PACs). Aqui, abordamos o tema Meditação. Vimos como a Educação Física pode se apropriar dela e, assim, enriquecer a prática diária, trazendo mais benefícios para as pessoas que recebem a nossa interferência profissional. Vimos, também, que as origens da Meditação remontam a tempos antigos, no interior das tradições religiosas do Oriente, contudo, a Meditação não se res- tringe somente a uma prática espiritual. A partir da década de 60, o interesse por pesquisas na área crescerau, consideravelmente, revelando-nos grandes benefí- cios da prática meditativa para a saúde como um todo. Discutimos a dicotomia entre o corpo e a mente, assim como a mecanização do movimento. Avançamos em relação às discussões, no sentido de buscarmos soluções para a integralização do indivíduo, numa visão holística que busca a totalidade, na qual o físico e a mente são parte do mesmo ser que pensa, sente e interage. Vimos que somos um ser integral, influenciados por nossos sentimentos, emoções e pensamentos bem como pelo meio onde vivemos. Somos complexos de tal modo que esta complexidade não pode ser dividida e abordada como par- tes isoladas, mas como um todo que se inter-relaciona. A Meditação, nesse sentido, oferece-nos condições para avançarmos em re- lação a essa busca pela integralidade do ser, por meio do autoconhecimento que a prática proporciona e dos benefícios orgânicos que ela traz, pois a Meditação atua na melhora da condição mental, refletindo, diretamente, em nossa condição orgânica como um todo. Este foi um breve apanhado sobre o assunto, ainda há muito a se explorar. Desejamos que os conteúdos aqui apresentados tenham aguçado em você a von- tade de ampliar as suas possibilidades de trabalho com a Educação Física e a explorar essa área dentro da abrangência que ela possibilita. 105 atividades de estudo 1. A prática da Meditação tem como berço as tra- dições orientais vinculadas às manifestações re- ligiosas, contudo ela vem ganhando espaço na cultura ocidental. Neste sentido, podemos afir- mar que: a) As práticas meditativas são, unicamente, vinculadas às tradições religiosas orientais. b) As práticas meditativas foram esquecidas ao longo dos tempos. c) A Meditação está inserida também nas reli- giões ocidentais, de forma que ficou restri- ta apenas a elas. d) A Meditação, na cultura ocidental, é cada vez mais explorada pela ciência, que com- prova os seus benefícios para o corpo como um todo. e) Nenhuma das afirmativas anteriores está correta. 2. De acordo com as tradições orientais, o indivíduo é composto por diferentes dimensões que se inter-relacionam e o compõem como ser com- plexo, em constante evolução. Em relação a este assunto, leia as afirmativas a seguir: I - Para essas tradições, somos compostos por três dimensões: uma física, uma men- tal e outra espiritual. II - Somos compostos por duas dimensões, uma espiritual e outra mental. III - Possuímos, também, uma dimensão espi- ritual, que transcende as outras três e nos eleva à condição divina. IV - Segundo tais tradições, a dimensão física é a que conseguimos captar pelos nossos órgãos do sentido, sendo mais restrita a dimensão mental, composta por nossos sentimentos e emoções. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e IV. c) Apenas III. d) Apenas I e IV. e) I, II, III e IV. 3. Sobre o conceito de Meditação no Ocidente, as- sinale verdadeiro (V) ou falso (F): ( ) A Meditação é vista como uma ferramenta de elevação espiritual. ( ) Ela se delimita como prática alternativa autorregulatória entre corpo e mente. ( ) A Meditação auxilia no controle das cons- tantes flutuação e oscilação mentais. ( ) Ela serve como ferramenta para manter o foco e a atenção nas necessidades do mo- mento presente, potencializando as nossas capacidades cognitivas e mentais. A sequência correta para a resposta da questão é: a) F; F; V; V. b) F; V; V; V. c) V; V; F; V. d) V; V; V; V. e) F; F; F; F. 4. Como discutido nesta unidade, nós somos se- res integrais e indissociáveis. Os nossos proces- sos mentais e emocionais podem desencadear problemas de ordem física e vice-versa. Cabe à Educação Física, na sua prática, expandir os olhares sobre as novas concepções que nos cercam. Sobre estes aspectos, analise as afir- mações a seguir: 106 atividades de estudo I - O nosso estado de saúde ou de doença pode ser considerado a somatória de fa- tores do sistema global onde estamos imersos. II - Integralizar a prática da Educação Física diz respeito a ampliar os nossos olhares sobre os sujeitos que sofrem a intervenção pro- fissional, expandindo esse olhar para além dos aspectos puramente biológicos. III - Para integralizar novos conceitos à sua prática, cabe à Educação Física romper com os padrões tradicionais e desconsi- derar os seus conteúdos. IV - As práticas alternativas podem ser incor- poradas às convencionais, ampliando a efetividade delas, levando os profissionais a refletirem sobre a própria atuação tanto no campo do bacharelado como no da li- cenciatura. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e IV. b) Apenas II, III e IV. c) Apenas I, II e IV. d) I, II, III e IV. e) Apenas II e III. 5. Disserte sobre o conceito de Meditação no Oci- dentee o inter-relacione com os conhecimentos da Educação Física. 107 LEITURA COMPLEMENTAR A Educação Física e o corpo: tecendo novos olhares Diante da discussão sobre as Práticas Alternativas e Complementares na Educação Física (PACs), deparamos- -nos com novos conceitos, alguns deles se inter-relacio- nam com os tradicionais desenvolvidos até então, outros encerram novas discussões e possibilidades de constru- ção de novos conteúdos e experiências. Como quebrar os paradigmas seguidos até então? Fa- lamos, aqui, de uma nova visão sobre o corpo, a visão holística, que se estende não apenas à Educação Física, especificamente, mas à área da saúde como um todo. Em que consiste essa visão holística do corpo? Em am- pliar os olhares não apenas para os aspectos orgânicos do ser, mas defini-lo em sua totalidade. No decorrer dos séculos, a ciência e a filosofia trazem essa discussão, e as diferentes conclusões sobre ela nos afetam na maneira como seremos vistos e abordados dentro da educação, da medicina e das demais áreas do conhecimento. O nosso modo de ver e pensar em relação ao nosso cor- po condiciona o nosso modo de sermos e sentirmos, pois elaboramos contextos em torno de nós mesmos, baseados em tais preceitos. Na antiga Grécia, Platão con- siderava o indivíduo como detentor de uma alma pree- xistente a ele e que sobrevivia após a morte. Em seguida, deparamos-nos com os concepções de Aristóteles, que limitava o corpo unicamente à forma e à matéria. Essas diferentes formas de pensar condicionam a filo- sofia e a ciência de modo geral e, consequentemente, o modo como a sociedade se autodetermina. Esse corpo, ao longo da história, ora visto como criação divina, ora como matéria puramente orgânica, traz consigo os estig- mas dessas discussões. Na Era Moderna, temos a total cisão entre corpo e men- te por causa dos crescentes interesse e desenvolvimento das ciências naturais. Descartes atribui os estudos dos aspectos mentais do ser humano à filosofia e à religião, e os do corpo, à medicina. A partir de então, todas as ciên- cias relacionadas à saúde tratam de um corpo orgânico dotado de funções e partes seccionadas para melhor se- rem estudadas. A Educação Física surge nesse contexto, apropriando-se das valências físicas/motoras do indivíduo e, nesse sen- tido, temos, a princípio, a visão de um corpo puramente motor. Mas como todos os conteúdos dentro de todas as áreas do conhecimento encontram-se inacabados e devem estar intimamente relacionados às nossas neces- sidades, esse conceito vem sofrendo transformações. Somos seres inacabados em constante transformação e evolução, diante das novas necessidades que criamos, é preciso pensar adiante para que a nossa prática vali- de-se de acordo com tais necessidades. Dialogar com as demais áreas do conhecimento, por exemplo, é de fun- damental importância, em nossa atuação, para a cons- trução do saber científico. Os conhecimentos trazidos pelas culturas orientais pos- sibilitam, dentro das PACs, a abertura para novos con- ceitos e a construção de nova visão científica/filosófica. Mas, para tanto, se faz necessário que nós, professores e profissionais, adentremos tais discussões e busquemos nos apropriar dessa necessidade de expansão, tendo em vista a importância dela na construção de uma prática que seja relevante para a sociedade de modo geral, se- gundo as suas necessidades reais. 108 material complementar Meditação Taoísta Wu Juh Cherng Editora: Mauad Sinopse: esta é uma autêntica obra Taoísta, que porta um trabalho minucioso de fidelidade aos textos clássicos, pois é traduzida diretamente do chinês para o português. Nesta obra, o mestre Cherng apresenta, segundo as suas origens, as diretrizes e as posturas físicas e mentais para a prática da meditação Taoísta, o que facilita a compreensão do pensamento oriental. Comentário: é uma ótima obra para quem deseja compreender o pensamento oriental e também uma das culturas que principiaram a prática da Meditação. Indicação para Ler Samsara Ano: 2011 Sinopse: “Samsara” é um enigmático documentário que sucede “Baraka” (1992). Produzido ao longo de cinco anos e passando por 25 países, este filme mostra imagens intrigantes que abordam desde as nossas atitudes mais mundanas até as mais divinas. Ele é considerado uma “meditação guiada não-verbal” pela sua capacidade de prender a atenção apenas pelas imagens e pela sonoridade, sem dizer uma única palavra. Comentário: assistir a esse documentário é uma experiência meditativa sem igual, alguns dizem que ele deve ser visto com os olhos bem abertos e os ouvi- dos bem limpos. Indicação para Assistir Este é o site oficial da ONG Mente Viva, dedicada ao trabalho de atenção à infân- cia e à adolescência, possibilitando um desenvolvimento pessoal com mais afeto e dignidade, estimulando a paz nas escolas por meio da Meditação. Web: https://www.menteviva.org. Indicação para Acessar https://www.menteviva.org https://www.menteviva.org https://www.menteviva.org https://www.menteviva.org https://www.menteviva.org https://www.menteviva.org https://www.menteviva.org 109 referências gabarito CASTRO, M. da G. et al. Conceito mente e corpo através da história. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 1, p. 39-43, jan./abr. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf. Acesso em: 29 maio 2019. DETHLEFSEN, T.; DAHLKE, R. A doença como ca- minho. São Paulo: Cultrix, 2007. HART, W. Meditação Vipassana: a arte de viver segun- do S. N. Goenka. Rio de Janeiro: Dhama Livros, 1987. MENEZES, C. B.; DELL’AGLIO, D. D. Os Efeitos da Meditação à Luz da Investigação Científica em Psicologia: Revisão de Literatura. Psicologia Ci- ência e Profissão, v. 29, n. 2, p. 276-289, 2009a. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pcp/ v29n2/v29n2a06.pdf. Acesso em: 29 maio 2019. MENEZES, C. B.; DELL’AGLIO, D. D. Por que medi- tar? A experiência subjetiva da prática de meditação. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 14, n. 3, p. 565- 573, jul./set. 2009b. OBERTEUFFER, D.; ULRICH, C. Princípios de Educação Física. São Paulo: Edusp, 1977. 1. D. 2. D. 3. B. 4. C. 5. Diante das descobertas científicas realizadas em torno da Meditação, ela tem ganhado espaço como uma prática alternativa autorregulatória entre o corpo e a mente, sendo uma importante ferramenta no equilíbrio de nossas emoções. Temos, hoje, o crescente aumento no número de pessoas com diagnósticos de doenças de origem emocional, e uma das principais reco- mendações médicas para esses problemas é a atividade física. Dessa forma, aliar a Educação Física à prática meditativa pode potencializar os benefícios da atividade corporal. Além do mais, nas atividades de alto rendimento, em que são necessários altos níveis de concentração e foco, a Meditação se faz de grande valia por causa de todos os seus efeitos sobre o cérebro. Em rela- ção ao relaxamento, ela pode trazer grandes resultados também, ajudando a acalmar os alunos nas atividades escolares, na academia e nos desportos diversos. Por ser de fácil aplicação e direcionamento, pois não precisa do uso de materiais ou de grandes espaços, a prática meditativa pode ser apli- cada em toda e qualquer modalidade que se desejar, e a encontramos na Educação Física a fim de integralizar o desenvolvimento do corpo como um todo, nas suas particularidades físicas, mentais e emocionais. http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdfhttp://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a05.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v29n2/v29n2a06.pdf Professora Esp. Érica Fernanda Lopes Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Biodança: origem e história • Definição e prática da Biodança • Biodança e Educação Física: aproximações e complementaridades Objetivos de Aprendizagem • Apresentar a origem e a história da Biodança. • Discutir a sua prática e os seus benefícios para a saúde de modo geral. • Apresentar a prática da Biodança e o seu entrelaçamento com a Educação Física. BIODANÇA unidade V INTRODUÇÃO Olá, querido(a) aluno(a)! Nesta unidade, fugimos um pouquinho do Oriente e viemos para as Américas com o objetivo de lhe apresentar a Biodança. Teremos uma breve exposição sobre o seu conceito histórico e as suas origens filosóficas e científicas. Neste breve estudo, você perceberá que a Biodança vem exatamente ao encontro do modelo de trabalho proposto pelas PACs (Práticas Alter- nativas e Complementares) e que também faz parte do escopo das teorias oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pois ela tem, em sua base, a teoria holística da totalidade do indivíduo entre corpo, mente e espírito. A escolha do tema partiu do interesse deste estudo de buscar práticas corporais que visam ao ser humano na totalidade de sua existência, teoria essa que, filosoficamente, tem as mesmas bases das concepções orientais discutidas nesta obra. A Biodança faz uso de duas das práticas culturais mais antigas da civilização humana, a dança e a música, para criar uma intervenção que busque a sensibilização dos sentidos, a exploração das sensações e a ex- ternalização dos sentimentos, possibilitando o contato consigo de manei- ra integral e espontânea. Aqui, a liberdade do movimento é direcionada para um fim, ritmado pela música e atrelado a uma intenção, incentivando a expressão de si mesmo, como que materializando sentimentos e emoções até então apri- sionados dentro de cada um. Essa prática, aliada aos conhecimentos que a Educação Física anga- riou sobre o corpo e o movimento ao longo de sua história, pode trazer grandes benefícios para os praticantes. Convidamos você a conhecer um pouco dessa ferramenta de desenvolvimento e de crescimento, a qual nos envolve e nos convida ao movimento pela dança. Vamos lá? 114 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Caro(a) aluno(a), nesta unidade, traremos os conhe- cimentos até então discutidos quanto-o Oriente para a reflexão sobre um conteúdo desenvolvido aqui per- tinho, na América do Sul, mas cuja fundação ocor- re nos mesmos princípios É com grande prazer que iniciamos esta unidade sobre a Biodança. Você já deve ter se perguntado em que consiste essa modali- dade, mas, se ainda não a conhece, convidamos você a enriquecer ainda mais os seus conteúdos sobre o tema. Se já a conhece, fazemos o mesmo convite. O nome Biodança remete-nos, automaticamen- te, ao movimento ritmado e musicalizado da dança, porém, qual o significado do radical “bio”, que an- tecede o termo e ajuda a compô-lo? Em seu sentido etimológico, ao dividirmos a palavra, veremos que “bio” provém do grego e remete à palavra “vida” e, assim, esse radical compõe palavras que dizem res- peito ao ser vivo. Portanto, podemos concluir que a Biodança é a dança da vida? Se esta também é a sua pergunta, a resposta é: sim! Biodança: Origem e História EDUCAÇÃO FÍSICA 115 A Biodança é a dança da autodescoberta. Ela possibilita romper as couraças que nos envolvem em emoções e sentimentos reprimidos em nós, e limitam ou até impedem a expressão de nossas ca- pacidades e potencialidades. Ela se utiliza do movi- mento integrado e integrativo na prática coletiva ou individual da dança. O termo “couraça”, por sua vez, refere-se à teoria Reichiana, a qual define esse termo como “a capacidade de se fechar contra o desprazer e evitar a angústia mediante o enrijecimento da pe- riferia” (REICH, 1987, p. 321). A origem da Biodança parte da Psicologia e da Antropologia e foi criada por Rolando Toro Arane- da, psicólogo, professor e antropólogo chileno. No ano de 1964, enquanto atuava no Hospital Psiquiátri- co da Universidade Católica do Chile, Toro, na busca por humanizar os atendimentos médicos destinados aos pacientes com transtornos mentais, inicia o seu trabalho em conjunto com a equipe médica do local. lacionados a alucinações e a delírios, piorando os sintomas de determinados perfis de internos e, em outra situação, músicas mais agitadas e alegres leva- va-os à euforia e à agitação, o que diminuiu os sinto- mas anteriormente apresentados. De forma empírica, Toro iniciou o seu trabalho com o que, inicialmente, ele denominou Psicodança e, desde então, adequou os diferentes estilos às di- ferentes necessidades de cada caso. Freitas (2009, p. 31), baseado em seus estudos na Escola de Biodança de Belo Horizonte, afirma que: Com o avanço da pesquisa em outros grupos sociais, Rolando Toro percebeu que a combi- nação apropriada de tais exercícios se mostra- va eficiente para modificar comportamentos e intuiu que tinha efeitos terapêuticos sobre a condição generalizada de pessoas aprisionadas em egos encapsulados, incapazes de transcen- der a própria pele e que sofrem continuamente ali dentro, sentindo excesso de ânsia, culpa e medo, em identidades fragmentadas, enfra- quecidas e confusas. Constatou também que o enfoque no potencial saudável da pessoa, ao invés da ênfase nos distúrbios, parecia produzir efeitos reparadores mais consistentes. As suas constatações ganharam corpo e, em pou- co tempo, a influência dos efeitos da Biodança era visível nos internos do hospital. Por meio da inte- ração com a música e de movimentos espontâneos com o corpo, Toro desenvolveu um método em que as pessoas conseguem, por meio da expressão cor- poral, entrar em contato com os seus sentimentos e emoções aprisionados, revelando e externalizando sensações até então incrustadas no inconsciente. Partindo do princípio de que o bloqueio do de- senvolvimento de nossas potencialidades provém daquilo que não acessamos em nossas mentes, Reich (1987, p. 42) nos questiona: Figura 1 - Rolando Mario Toro Araneda Fonte: Alma d’Alma ([2019], on-line)1. Ele elabora uma série de experiências com seus pa- cientes, em que utiliza a música em diferentes rit- mos e intensidades, observando as reações que elas provocavam. Ele observou que músicas mais lentas emelodiosas causavam, nos pacientes, sintomas re- 116 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Você pensa que determina livremente suas pró- prias ações? Longe disso: sua ação conscien- te é apenas uma gota na superfície de um mar de processos inconscientes, do qual você nada pode saber - e sobre o qual, na verdade, tem medo de saber algo. Esse medo de ir a fundo naquilo que somos, de nos conhecermos, verdadeiramente, faz com que criemos resistência às expressões de nossa própria natureza e, consequentemente, o impacto de tais bloqueios se manifesta no corpo, provocando dores e dificuldade de nos expressarmos. Desse modo, a Biodança nos propõe o caminho inverso, ou seja, por meio do movimento corporal, da dança, nos li- bertar das nossas amarras mentais. A Biodança é uma prática recente e, mesmo que os trabalhos tenham sido iniciados em meados da década de 60, a sua estruturação completa deu- -se apenas no início da década de 80. Embora tão jovem, a Biodança utiliza elementos presentes na cultura humana desde os seus primórdios, como a dança e a música, fato que facilita a adesão a ela, pois tais práticas estão incutidas em nosso DNA ancestral e cultural. Desde então, outras pesquisas foram desenvolvidas na área, e o trabalho de Rolando Toro, na formação de facilitadores em Biodança, ganha campo, a cada dia espalhando-se pelo mundo. Hoje, ela está pre- sente em diversos países, como Brasil, Argentina, Peru, Colômbia, Venezuela, Chile, Itália, Canadá, Suíça e Espanha. No Brasil, a sua difusão cresceu desde que a técnica foi incorporada ao SUS (Siste- ma Único de Saúde) pela Política Nacional de Prá- ticas Integrativas e Complementares (PNPICs) no ano de 2017, assim como em diversas escolas na Educação Básica. A Biodança foi agregada como Prática Com- plementar a tratamentos de transtornos mentais e emocionais uma vez que a música, o toque, a dança e os movimentos leves e soltos estimulam a esponta- neidade, a livre expressão, a consciência corporal e a integração social, melhorando os níveis de estresse, o que influi, diretamente, no comportamento dos praticantes. Na cidade de Joinville-SC, encontramos rela- tos de trabalhos com a Biodança cujos resultados mostraram-se muito impactantes no tratamento. A enfermeira Célia Diefenbach (2017), da Unidade Básica de Saúde e especialista em Saúde da Família, relata que o vínculo afetivo entre os participantes é um componente importante para o processo do Cuidado, de humanização e qualidade de vida. “Essas relações são fortalecidas pela for- mação do grupo, tornando a biodança uma terapia com resultados transformadores e valorizados pela comunidade”, [...] (BRASIL, 2017, on-line)2. Figura 2 - Obra La Danse, de Henri Matisse (1909-1910) EDUCAÇÃO FÍSICA 117 Com base em muitos relatos como esse, a prática tem ganhado cada vez mais espaço e importância na manutenção da saúde e na promoção da quali- dade de vida, especialmente por sua simplicidade na aplicação e pelos excelentes resultados. Esse foi um breve relato sobre a história da Biodança, mas você, querido(a) aluno(a), curioso(a) e comprometido(a) com a aprendizagem, pode buscar outras informa- ções a respeito. Ao longo da unidade, traremos ou- tros elementos que contribuirão para o despertar de sua curiosidade. Vamos continuar? 118 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS A Biodança parte do Princípio Biocêntrico, que colo- ca a vida como o centro de todas as manifestações do universo, pois, na criação dela, movimenta-se a todo o momento, portanto, segundo essa teoria, a vida deve ser o foco das ciências humanas. O Princípio Biocên- trico aponta que as manifestações orgânicas instintivas do ser humano têm papel fundamental em seu de- senvolvimento e que não devemos reprimir as nossas emoções ancestrais, mas sim, manifestá-las e refiná-las. Definição e Prática da Biodança Para tanto, o eixo central do estudo pauta-se na afetividade, na construção e evolução dos sen- timentos humanos, e destes partem todo o nosso potencial de criação, porque a afetividade está pre- sente em todos os processos do desenvolvimento humano e envolve tudo aquilo que criamos nas di- ferentes fases de nossa vida. Vecchia (2013, p. 48) explica-nos que EDUCAÇÃO FÍSICA 119 A complexidade teórico-epistemológica da Biodan- ça faz-se dentro dos campos da Psicologia, da Antro- pologia e da Biologia, integrando, respectivamente, os aspectos orgânicos do desenvolvimento humano (como vitalidade e sexualidade) e os aspectos psi- cossociais (comportamentos inerentes) às relações O Princípio Biocêntrico diz que a afetividade permeia o indivíduo em todas as suas rela- ções. Sendo assim, um bom desenvolvimento afetivo/emocional pode potencializar o desen- volvimento de novas habilidades? REFLITA A afetividade é a força viva geradora de todas as dimensões, inclusive do padrão de organização das relações humanas. Ela se configura no có- digo genético. Essa cognição em rede permeia os sentidos do olfato, da visão, da audição, do paladar, da sensibilidade da pele; permeia as emoções, a vivência do contato e do vínculo; permeia os sentimentos e a razão. Quando o ser humano age, sente e pensa de forma integrada pela afetividade, em todos esses elementos ele está agindo, sentindo, vivendo e pensando por uma inteligência afetiva, a mesma que permeia e rege todo o cosmo. O Princípio Biocêntrico defende o desenvolvimento do ser criativo por meio da conexão com a vida, na expressão de nossos potenciais genéticos (instintos e vivências), na liberdade de expressão e na criação para o bem individual, mas, principalmente, para o bem coletivo, pautado no conhecimento, na intera- ção com o meio ambiente e as pessoas à nossa volta, contribuindo com o processo de transformação e evolução humanas. antropológicas da vida em comunidade, formando as bases para a construção da vida humana. Segun- do Toro (2002, p. 33), “a Biodanza é um sistema de integração humana, de renovação orgânica, de re- educação afetiva e de reaprendizagem das funções originais da vida”. Para atingir tais objetivos, a Biodança utiliza, em sua metodologia, a dança e a música, práticas an- cestrais que nos acompanham desde os primórdios de nossa existência. A integração desses elementos, conduzidos para tais finalidades permite que o corpo se expresse totalmente, deixando fluir as suas expres- sões, manifestando tudo aquilo que, por inúmeros fatores, aprisionamos em nossa mente inconsciente. O conceito de dança adotado por Toro refere-se àquele relacionado com a dança ancestral dos rituais primitivos Xamânicos e africanos, em que há a li- berdade e a livre expressão do corpo no movimento, sem marcações e delineamentos, fugindo do estilo tradicional europeu. Aqui, todos os sentimentos são transmitidos por meio do corpo, sem padrões de movimentos predeterminados. Todo esse trabalho é realizado em grupo, partin- do do princípio da interação por meio da vivência, da livre movimentação, do toque, da troca de olha- res, da observação, do sentir, do ouvir e do conviver com as próprias manifestações e com as dos demais. Esta é a base da prática da Biodança, a vivência e as experiências que nos permitem explorar os nossos potenciais e observar a nós mesmos nesse processo, aprimorando a nossa capacidade de autoconheci- mento e criação. Você pode se perguntar, nesse momento: Se o objetivo é o autoaprimoramento, porque as ativi- dades são realizadas em grupo? A resposta para a pergunta baseia-se na ideia de que as nossas relações afetivas construídas coletivamente, à medida que in- 120 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Sendo assim, podemos observar que os efeitos da Biodança interagem com as sensações físicas e as respostas neuroquímicas e comportamentais daque- les que a praticam. Tais efeitos são captados pelos sentidos e decodificados pelo cérebro, alterando padrões de comportamentos traumáticos e nega- tivos, caracterizando o princípio da interaçãoque, segundo Freitas (2009, p. 34), é “a capacidade de se vincular integralmente em suas dimensões pessoal, social e espiritual, no sentido de ser inteiro consigo mesmo, com o outro semelhante e com o mundo, sentindo-se pertencente ao devir”. Os termos “se vincular integralmente” e “ser in- teiro consigo mesmo” são comprovados por essa in- teração do próprio indivíduo tão acentuada na técni- ca. Interação que vai do comportamental ao orgânico e alcança as relações externas com o meio que nos cerca e, dentro dessa integralidade, nos é permitida a autorregulação física, emocional e social. Assim, vemos que a Biodança utiliza as diferen- tes frequências musicais para atingir os seus obje- tivos. Nas músicas suaves, temos a diminuição do ritmo cardíaco e a indução a estados de introspec- ção e reflexão, já aquelas mais agitadas têm o efeito contrário, pois aumentam os batimentos cardíacos e levam a estados de euforia. Nas suas experiências, Rolando Toro buscava nos pacientes uma espécie de ressonância com os ritmos musicais, com o objetivo de atingir o equi- líbrio das sensações e das emoções de acordo com o tipo de música executada e segundo a finalidade de cada prática. No decorrer da execução dos mo- vimentos, conforme ocorrem a harmonia e a sin- tonia deles com a música, há a alteração do estado de consciência, o chamado transe musical, em que as alterações biológicas e psicológicas começam a acontecer. teragimos com os demais seres humanos e com o meio ambiente à nossa volta. Em nosso habitat, formamos uma teia de rela- ções que nos permite exprimir aquilo que possuí- mos, ao passo que reagimos aos estímulos externos circundantes, os quais nos chegam a todo momento. Para isso, o nosso corpo é dotado de cinco senti- dos, que são o canal básico de comunicação com o mundo exterior, em que vemos, sentimos e ouvimos para, então, interagirmos. Esta cadeia de sensações é decodificada e transformada em sentimentos e emoções que sentimos e expressamos com mais ou menos intensidade, compondo a complexidade da nossa mente consciente e inconsciente. A Biodança parte do princípio da interação di- nâmica entre o indivíduo e o meio. Portanto, biolo- gicamente, para Toro (2002), a partir do momento que interagimos dessa forma, estimulamos uma ca- deia de reações químicas no nosso corpo por meio de respostas neurovegetativas que atuam diretamen- te sobre o sistema límbico, a estrutura do nosso cé- rebro responsável pela decodificação de emoções e comportamentos sociais. Os efeitos orgânicos das vivências com a Bio- dança são, perfeitamente, descritos no trabalho de Freitas (2009, p. 32), ao apontar que Toro Percebeu que a mobilização do sistema neu- rovegetativo, primeiro com a ativação do sis- tema simpático – através de descargas do neu- rotransmissor Noradrenalina induzidas por música euforizante –, seguida da ativação do sistema parassimpático – através de descargas do neurotransmissor Acetilcolina induzidas por música regressiva, mediadas por músicas e exercícios que estimulam uma pulsação suave entre as duas polaridades, funciona como um padrão sinérgico capaz de promover integra- ção, renovação e reaprendizagem instintiva. EDUCAÇÃO FÍSICA 121 riamente, com seres integrais que sentem, pensam, interagem e se emocionam, que vivenciam experiên- cias pela doação de si e pela absorção do meio. So- mos completos e inteiros, de modo que fragmentar o indivíduo é limitar as suas potencialidades inatas. A Biodança, na prática, acontece em grupos, ge- ralmente, em círculos. Inicia-se com a explanação do método e a observação do padrão do grupo. Os exercícios são propostos de acordo com a necessi- dade dos participantes, em que cada movimento e posição, cada ritmo musical e intensidade respirató- ria são estimulados com finalidades específicas, de acordo com os Princípios Biocêntricos discutidos anteriormente, e tais princípios são canalizados para o grupo. No decorrer do processo, pode-se enfatizar o trabalho de cada parte do corpo em especial, com direções, sentidos, níveis e intensidades diferentes. Os movimentos podem ser feitos, individualmente, em pares ou em grupos, onde se trabalha a troca de olhares, os toques nas mãos e os abraços, por exem- plo. Os temas de cada vivência são estipulados, as- sim como as músicas que serão trabalhadas. Ao final, pode haver a partilha da experiência entre os praticantes. A entrega à prática acontece aos poucos, no decorrer de cada aula. Quanto mais se pratica, maior é o envolvimento com a técnica e maior é a capacidade de imersão e envolvimento com ela, com o grupo e consigo. Praticar a Biodança é abrir um canal de comu- nicação com a sua própria mente, aguçar as percep- ções do espaço e do meio que nos envolvem. É um passo no sentido da liberdade do corpo e da mente, ritmadas pela música e expressas pelo movimento livre de padrões. O estado de transe que envolve os praticantes da Biodança durante a prática assemelha-se a um estado meditativo, em que há a descone- xão parcial com o ambiente externo e a forte conexão do indivíduo consigo, com as suas percepções, os seus sentimentos e emoções. Curioso(a)? Experimente! Fonte: a autora. SAIBA MAIS No transe musical, ocorrem alterações cinestésicas e neurovegetativas, em que predomina a diminuição do estado de vigília por meio da ativação do sistema parassimpático, levando à alteração momentânea de consciência. É como se o movimento fosse induzi- do pelas emoções que se manifestam de acordo com cada praticante. Tais alterações, em nível cerebral, criam uma ca- deia de reações psicofísicas, de sensações e percep- ções reais que outrora não podiam ser alcançados, pois estavam alojadas em nosso inconsciente e que, por esta razão, determinam padrões de comporta- mento até então incompreendidos. Tais experiências provocam reações químicas no corpo pela secreção de hormônios vinculados ao prazer e ao bem-estar, por meio da integração entre a manifestação da mente e as emoções produzidas no movimento. Esta prática aponta a ideia que de- fendemos nas práticas complementares, a de inte- gralidade do ser em todas as suas dimensões. O método de Toro comprova-nos que somos seres integrais e codependentes, pois, quando atua- mos sobre o corpo humano, atuamos, concomitan- temente, no ser humano, abordamos e lidamos, dia- 122 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Biodança e Educação Física: Aproximações e Complementaridades EDUCAÇÃO FÍSICA 123 No início desta obra, enfatizamos que o papel da Educação Física, em todos os seus espaços de inter- venção, vai muito além da movimentação do corpo, do preparo e da manutenção da forma física para finalidades competitivas, desportivas ou estéticas. Aproximamos os nossos olhares em direção à inte- gralização da visão do ser que desenvolve a atividade. Buscamos uma prática que explore a Cultura Corporal em todos os seus meandros e que, por fim, vise ao ser integral que a desenvolve. Observamos que, independentemente da finalidade a qual a prá- tica se aplica, o Ser que a realiza não é fragmentado, mas sim dotado de bagagens físicas, mentais e emo- cionais indissociáveis entre si. Ao propormos uma atividade dentro dessa área, faz-se necessária a visão dessa integralidade e tota- lidade, a fim de humanizar o trato e a própria vi- vência em si, para que não tornemos mecânicas as relações que, enfim, são humanas. Toda a forma de intervenção deixa agregado, naquele que a recebe, algum conhecimento desencadeador de sensações e significâncias. O professor e profissional da Educação Física tem como instrumento de trabalho o movimento, o corpo e toda a gama de complexidade que envolve esse último, de modo que a sua intervenção sempre terá algum significado positivo (ou não) em qual- quer âmbito de atuação. Geremia e Borella (2016, p. 7) explicam-nos que Sabemos que a Educação Física desenvolvida de forma consciente respeita as diferenças, ou seja, as individualidadesde cada um e não divi- de o ser humano, não separando o corpo físico do mental, entendendo que ambos funcionam de modo integral. Desse modo, temos em mãos uma prática que vai ao encontro do nosso objetivo primordial, o desen- volvimento humano dentro de todo seu potencial de crescimento. Esta é uma forma diferenciada de atuação que nos proporciona a possibilidade de nos superarmos por meio do autoconhecimento e das novas descobertas sobre nós mesmos e sobre o meio onde estamos inseridos. Temos em vista que, segundo os Princípios Bio- cêntricos, a afetividade permeia tudo aquilo que desenvolvemos na nossa existência. Desse modo, uma atividade proporcionadora de novas desco- bertas e do desenvolvimento delas pode aperfeiço- ar tudo aquilo que nos propomos a fazer. Ser me- diador desse processo é algo diferenciado e pode trazer muito mais significado, efetividade, apro- veitamento e eficiência para o seu trabalho como professor da Educação Física, em qualquer âmbito de atuação. Quando nos propomos a intervir, de qualquer forma, no espaço mais íntimo de alguém, ou seja, no seu corpo, assumimos uma grande responsabilida- de. Sendo assim, é a nossa obrigação tornar essa in- tervenção o mais humanizada possível. Diante disso, caro(a) aluno(a), propomos que você reflita sobre o tema e faça a diferença na vida daquele que se bene- ficia do seu trabalho. Caro(a) aluno(a), esperamos ter elucidado as suas dúvidas e aguçado a sua curiosidade em torno da Biodança. Até breve! 124 considerações finais Caro(a) aluno(a), nesta unidade, procuramos enriquecer ainda mais os seus co- nhecimentos sobre as PACs, propondo uma atividade de grande potencialidade de trabalho em todo e qualquer espaço de atuação que você, profissional da Edu- cação Física, esteja. Observamos que a prática da Biodança, embora não seja originária do Orien- te, tem as suas bases pautadas nos mesmos princípios e vai ao encontro do que as práticas complementares propõem, que é a visão do indivíduo como um todo por meio da exploração de suas capacidades físicas, mentais e emocionais, proporcio- nando o autoconhecimento e o autodesenvolvimento, assim como a potenciali- zação de suas capacidades, valorizando-nos como o todo indivisível que somos. Vimos que Rolando Toro, ao propor a Biodança, observou o quanto os nossos estados mentais e emocionais influenciam nos aspectos gerais, e a dança pode ser uma ponte para a exteriorização de sentimentos aprisionados em nosso incons- ciente, fato que desencadeia, em nós, atitudes até então incompreendidas. A Biodança possui efeitos físicos, químicos e neurológicos em nosso corpo. De acordo com estudos apresentados, a sua prática estimula a produção de deter- minados hormônios que desencadeiam uma série de reações sensoriais em nível cerebral, o que corrobora com a teoria de que as experiências físicas afetam dire- tamente o nosso estado emocional e vice-versa. Os efeitos de todo o processo são observados na melhora dos pacientes com desordens mentais, na ressocialização, no processo de autoconhecimento, na redução do estresse, da ansiedade e até da depressão. Os efeitos do movimento, do toque e da música são, profundamente, experimentados pelos praticantes. Para o(a) professor e profissional da Educação Física, que tem o corpo e o movimento como ferramentas de atuação, a Biodança torna-se uma prática de grande valia em direção à construção da intervenção que vise ao ser humano por completo, que não fragmente as suas potencialidades, tratando o ser como o todo que ele é, o todo que somos. 125 atividades de estudo 1. Sobre o Princípio Biocêntrico, assinale a alterna- tiva correta: a) A Biodança origina o Princípio Biocêntrico. b) Esse princípio concebe o indivíduo apenas sob o foco das ciências humanas. c) Esse princípio tem a vida como o foco das ciências humanas. d) O Princípio Biocêntrico fragmenta o indiví- duo nas suas diferentes potencialidades. e) Esse princípio trata o indivíduo apenas nas suas particularidades emocionais. 2. Sobre a criação, a definição e a função da Biodan- ça, analise as afirmações a seguir: I - A Biodança é a dança da autodescoberta e possibilita o rompimento das couraças que nos envolvem em emoções e senti- mentos reprimidos. II - A sua origem parte da Psicologia e da An- tropologia. A Biodança foi criada por Ro- lando Toro Araneda, psicólogo, professor e antropólogo chileno. III - Ela utiliza o movimento integrado e inte- grativo, na prática coletiva ou individual da dança. IV - Ela rompe com as couraças que limitam ou impedem a expressão de nossas capa- cidades e potencialidades. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas I. d) Apenas II, III e IV. e) I, II, III e IV. 3. No eixo central de atuação da Biodança, pode- mos destacar a afetividade e as manifestações instintivas. De acordo com o Princípio Biocêntri- co, analise as afirmações a seguir e assinale ver- dadeiro (V) ou falso (F): ( ) As manifestações orgânicas instintivas do ser humano têm papel fundamental no de- senvolvimento dele e não devemos reprimir as nossas emoções mais ancestrais, e sim, manifestá-las e refiná-las. ( ) As nossas manifestações ancestrais são tra- ços da nosso animalidade, portanto, devemos suprimi-las e desenvolver novas habilidades. ( ) A afetividade está presente em todos os processos do desenvolvimento humano, e en- volve tudo aquilo que criamos nas diferentes fases de nossas vidas. A sequência correta para a resposta da questão é: a) V; F; V. b) F; F; V. c) V; V; F. d) F; V; F. e) F; V; V. 4. No decorrer da execução dos movimentos, con- forme a harmonia e a sintonia deles com a músi- ca, há a alteração do estado de consciência, em que as alterações biológicas e psicológicas come- çam a acontecer. Ocorrem alterações cinestési- cas e neurovegetativas e a ativação do sistema parassimpático, que leva à alteração momentâ- nea de consciência. Também são percebidas al- terações a nível cerebral, que criam uma cadeia de reações psicofísicas de sensações e percep- ções reais antes inalcançáveis, pois elas estavam alojadas em nosso inconsciente. 126 atividades de estudo Com base nas afirmações descritas, a qual processo da Biodança todas elas se referem? Assinale a alter- nativa correta. a) Ativação do sistema límbico. b) Manifestação da mente inconsciente. c) Ativação do sistema parassimpático. d) Transe musical. e) Êxtase musical. 5. “O Princípio Biocêntrico defende o desenvolvi- mento do ser criativo por meio da conexão com a vida, na expressão de nossos potenciais gené- ticos (instintos e vivências), na liberdade de ex- pressão e na criação para o bem individual, mas, principalmente, para o bem coletivo, pautado no conhecimento, na interação com o meio ambien- te e as pessoas à nossa volta, contribuindo com o processo de transformação e evolução huma- nas.” De acordo com essa afirmação, descreva como seria, por meio da Biodança, a sua inter- venção em seu meio de atuação. 127 LEITURA COMPLEMENTAR As vivências, na Biodança, que empregam a afetividade têm como objetivo integrar, reforçar e desenvolver o nú- cleo afetivo. Como resultado aumenta a intensidade de energia amorosa e a capacidade de expressá-la, verbal e corporalmente, com total sinceridade. Segundo Ribeiro et al. (2005), o conceito de afetividade é amplo e pode ser abordado por diferentes perspectivas, entre elas a psíquica, a pedagógica e a filosófica. Existe uma pluralidade de vocábulos para definir a afe- tividade, tais como: ternura, inter-relação, empatia, sen- timentos, emoções, atitudes e valores, amor, carinho, compreensão, respeito, afeto, atenção, companheirismo, comportamento moral e ético, entre outros. De modo geral, “a afetividade é impulsionada pela expressão dos sentimentos e das emoções e pode desenvolver-se por meio da formação” (RIBEIRO et al., 2005, p. 32). A Biodança atua, principalmente, sobre as perspec-tivas psíquicas e pedagógicas da afetividade. “É por meio do contato com o próprio sentimento, da des- coberta das próprias emoções, que cada um pode chegar mais próximo daquilo que realmente é, abrir o coração, preparar-se para os vínculos com as pessoas” (VIOTTI, 1997, p. 64). Por isto, damos grande ênfase à afetividade, visto que to- das as relações humanas são atravessadas pela mesma, em todos os tempos e espaços. Segundo Santos (1996), a linha da afetividade propõe-se a despertar e desenvolver o amor, a ternura e a solidariedade. Na linha da afetividade, utiliza-se, principalmente, a fun- ção terapêutica do toque e das carícias para obter estes e outros resultados. Toro s.d., mostra que a função do contato e da carícia, como via terapêutica, possui uma origem histórico-antropológica, clínica e experimental. Na clínica psicológica, Winnicotti, Piaget, Melaine Klein, Carl Rogers, Erick Fromm e Freud, entre outros, demons- tram a importância do contato e dos laços afetivos na vida do ser humano e em seu desenvolvimento. Na clíni- ca médica, várias investigações nos transtornos derma- tológicos (eczema, psoríase, rosácea, vitiligo, erisipela, entre outros) associam essas doenças a conteúdos emo- cionais e afetivos. Experimentalmente, alguns autores, entre eles, Spitz (1983) e Montagu (1988) realizaram minuciosas pesqui- sas científicas a respeito dos efeitos do toque humano e demonstraram a necessidade deste para o desenvolvi- mento do ser. Os resultados destes experimentos mos- tram que o toque afetivo é responsável pela adaptação do ser humano ao ambiente que o cerca, o desenvolvi- mento psíquico da criança, o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo, da linguagem, de comportamentos saudáveis e de uma boa socialização. Além destes estudiosos, Toro (2002) mostra-nos os efei- tos reguladores das carícias e dos contatos afetivos, explicitando porque essas são tão importantes para o ser humano. As carícias dão-nos a dimensão de quem somos. Harmonizam a balança do nosso sistema sim- pático-parassimpático e do sistema cardio-respiratório, ativam nossas funções sexuais, dissolvem nossas ten- sões motoras crônicas de defesa e elevam nosso humor (TORO, 2002). Tudo isto são exemplos dos benefícios que podemos receber nas sessões de Biodança. Segundo Montagu (1988), nossa pele serve para conter nossos órgãos e nos dar o limite corporal, porém suas funções vão mui- 128 LEITURA COMPLEMENTAR to além. Pela pele, estabelecemos diferentes níveis de permeabilidade com o meio e também com as pesso- as. Ao mesmo tempo, nossa pele tem a função de nos separar e de nos unir aos outros. A pele possui várias funções integradoras, entre elas, fisiológicas, sensoriais, expressivas, eróticas e psíquicas. É responsável pela nos- sa termoregulação, equilíbrio hídrico, tato, sensibilidade, temperatura, pressão e dor. Além disto, as emoções se expressam através da pele e nos dá nosso referencial de identidade, por exemplo, ficamos “vermelhos” quando sentimos vergonha. Entre as diversas formas de carícias e toque, utilizamos na Biodança vários exercícios de abraços. O abraço é um dos toques mais universais e contribui fundamentalmen- te para a cura e a saúde. É uma das vivências da linha da afetividade amplamente utilizada nas sessões de Bio- dança, é um ato recíproco de dar e receber afeto, de sus- tentar o outro em toda sua humanidade. Ao abraçar encontro comigo e com o outro simultanea- mente. Kathleen Keating (1997), criadora da “terapia do abraço”, nos diz que o abraço além de confortar, torna mais saudável quem já é saudável, mais feliz, quem já é feliz, mais segura quem já é segura. O simples ato de abraçar diminui a pressão sanguínea, o batimento cardíaco e o nível de hormônios ligados ao es- tresse. Por isso, abraço significa saúde e pode aumentar a longevidade. Os níveis de cortisol e de norepinefrina, hormônios do estresse, são reduzidos após um abraço, enquanto a oxitocina, um importante hormônio ligado à fidelidade, aumenta (GREWEN, 2005). Quando praticamos a Biodança ampliamos, inconscien- temente, nossa abertura para o abraço e passamos a abraçar com mais facilidade. Consequentemente inten- sificamos a qualidade e a quantidade de nossos abraços e ampliamos nossa capacidade de fazer vínculos. A Biodança propõe por meio de seu modelo teórico e do princípio biocêntrico, não só alertar as pessoas quanto ao mundo vivido em sociedade, mas também fazer com que elas sintam e vivam o seu valor como humanos. A linha da afetividade em muito contribui neste processo, pois é através dela que acreditamos ser possível resgatar no ser humano o instinto gregário. Em suma, os exercí- cios da linha da afetividade facilitam os encontros, a en- trega e a formação de vínculos afetivos promovendo a comunicação afetiva entre as pessoas. Como efeito, geram amor, solidariedade, confiança em si mesmo e segurança. Todas estas características re- forçam a identidade e autoestima, além de aumentar a livre expressão do afeto e a expressão autêntica do ser. Portanto, as carícias são importantes para o ser humano, elas nos dão a dimensão de quem somos. Fonte: Noronha (s. d.). 129 material complementar Biodanza Rolando Toro Editora: Olavobrás Sinopse: a obra relata o trabalho de Toro com a Biodança, a sua teoria e a sua for- ma de execução bem como os seus benefícios. Uma obra básica sobre a criação, desenvolvimento e repercussão da técnica. Indicação para Ler 130 referências FREITAS, F. Consciência e Biodanza: Epistemologia e consciência para o ser universal. Belo Horizonte: Escola de Biodanza do Sistema Rolando Toro, 2009. GEREMIA, N. N. M.; BORELLA, D. R. Práticas Corporais na Educação Física Escolar: A Biodança nas aulas de ensino Fundamental. In: HASPER, R.; BARROS, G. C.; MULLER, C. C. org. Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do profes- sor PDE. Curitiba: Governo do Estado do Paraná; Secretaria de Estado da Educação, 2016. (Programa de Desenvolvimento Educacional). NORONHA, S. Linha da afetividade. [S. l.]: [s. d.]. Disponível em: http://www.biodanzabh.com/arqui- vos/linhadaafetividade.pdf. Acesso em: 29 maio 2019. REICH, W. A função do orgasmo. São Paulo: Brasi- liense, 1987. TORO, R. Biodanza. São Paulo: Olavobrás, 2002. VECCHIA, A. M. D. Uma Abordagem da Inteligên- cia Afetiva: Supostos Epistemológicos da Pesquisa Científica e da Educação Biocêntrica. Revista Pen- samento Biocêntrico, Pelotas, n. 20, p. 1-134, jul./ dez. 2013. Referências on-line: 1 Em: https://almadalma.com.br/rolando-mario-toro. Acesso em: 29 maio 2019. 2 Em: http://aps.saude.gov.br/noticia/2397. Acesso em: 29 maio 2019. http://www.biodanzabh.com/arquivos/linhadaafetividade.pdf http://www.biodanzabh.com/arquivos/linhadaafetividade.pdf https://almadalma.com.br/rolando-mario-toro 131 gabarito 1. C. 2. E. 3. A. 4. D. 5. Pense em quais valores você incluiria como foco central do seu trabalho de acordo com o público específico, pense quais as necessidades que esse grupo possuiria e direcione uma vivência de Biodança para atendê-las. Por exemplo, em uma sala de aula com alunos muito tímidos, a Biodança poderia ajudá-los com a desenvoltura e, consequentemente, auxiliaria a vencer a timidez. conclusão geral Estimado(a) aluno(a), chegamos ao final de nossas discussões sobre as Práticas Alternativas e Comple- mentares (PACs). Desejamos que você tenha encon- trado subsídios para o enriquecimento de sua for- mação profissional, os quais possam ter contribuído para ampliar o seu cabedal de conhecimentos. Na primeira unidade, falamos sobre as PACs e o seu conceito na Educação Física, dialogamos sobre as suas abordagens atuais, identificamos as princi- pais diferenças entre elas e as práticas convencionais, dialogamos a respeito das diferenças entre as visões oriental e ocidental na construção do conceito de cor- po, assim como oconceito de movimento na constru- ção do sujeito social em seus aspectos culturais. Em seguida, na Unidade 2, entramos em contato com o universo do Yoga, conceitualizamos os seus aspectos filosóficos e práticos, entrelaçando os seus conceitos com a nossa prática e, por fim, discutimos o método da prática no contexto da Educação Física. Seguimos para o Tai Chi Chuan, em que descre- vemos os seus aspectos históricos e filosóficos, apre- sentando como as possibilidades dessa prática tra- zem benefícios à saúde como um todo, inclusive, a prática em nossa área de atuação. Abordamos, também, a prática da Meditação, que difere por trabalhar a mente, não somente o cor- po. Descrevemos os seus conceitos, os benefícios e as possibilidades de atuação nas aulas dos mais diversos campos de intervenção. Finalizamos os nossos estudos com a prática da Biodança que, embora não venha do Oriente como as demais práticas, traz consigo princípios que se as- semelham e que vêm ao encontro da proposta das PACs no campo da Educação Física. Esperamos, com esta obra, esclarecer um pouco os conhecimentos que as PACs nos trazem, lembran- do que esta é apenas uma introdução ao assunto, ain- da há muito o que buscar. Cabe a nós a tarefa de am- pliar as nossas possibilidades de atuação. Continue se aperfeiçoando para ser o(a) melhor, lembrando que uma profissão exercida com conhecimento e amor terá sempre sucesso. Foi um prazer estar com você! Botão 1: