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Bem-vindo, caro aluno (a), nas próximas páginas vamos mergulhar no período medieval e discutir questões importantes que influenciaram as sociedades do mundo moderno e contemporâneo. Através de documentos, imagens e outras fontes históricas faremos uma reflexão sobre esses mil anos de História e o legado deixado para o homem. Antes de iniciar a nossa discussão vamos levantar algumas questões: Muitos conhecem a Idade Média como a Idade das Trevas. Mas será que realmente esse período foi uma época das trevas, de escuridão, onde não houve produção de conhecimento? Outra questão importante, qual era o papel da figura do rei nesse período? Será que esse rei foi tão absoluto como vimos nos filmes de Hollywood? Por último, quando nos lembramos da Idade Média, sempre associamos a Igreja e o cristianismo como os maiores influenciadores desse período, porém o poder estava apenas na mão dessa instituição? Visando responder essas dúvidas, dividimos o nosso material em quatro partes. Na unidade I vamos definir o que foi o termo idade Média e o principal modo de produção desse período, o feudalismo. Na unidade II você irá saber mais sobre o Islamismo e os Impérios Bizantino e Otomano, que marcaram esse período seja com sua forma de expressão, domínio, arte ou religião. Na unidade III focamos na questão da produção do conhecimento e na consolidação do saber, falando sobre movimentos como a “escolástica” e a “patrísticas” e grandes pensadores como Santo Agostinho e São Tomaz de Aquino, por último encerramos as nossas discussões, conhecendo sobre a arte na medieval, desde a românica até a gótica, passando por práticas culturais como as tapeçarias, iluminuras medievais, pinturas e romances. Dessa forma, pretendemos mostrar uma nova vertente da Idade Média e esperamos que esse conhecimento contribua na formação de cada novo historiador. Tenham bons estudos e muito obrigado! Quem inventou o nome Idade Média? Esse termo, assim como outras denominações históricas, foi criado depois que ela ocorreu. Imagina que você está com seus amigos, discutindo a vida e vocês começam a pensar que o momento que vocês estão vivendo é muito mais bacana que o momento em que seus pais viveram. Então você pode dizer que você é um cara moderno e que quem veio antes de você é um mediano, um tempo das trevas. E assim, por muito tempo a Idade Média foi classificada como a idade das trevas! Mas será que esse período foi sempre escuro? Não havia luz? Isso que vamos descobrir nessa unidade. Os humanistas da Renascença observam a Idade Média apoiados em um fator de medo, gerado pela peste, fome e constantes guerras entre os mouros e cristãos. Eles partem desse princípio para homogeneizar a Idade Média em um período obscurecido pelas mazelas produzidas pelas instituições. Tem- se, nesse aspecto, uma clara amostragem do dispositivo. Os renascentistas escrevem a história a partir de seus preceitos morais, condenando ou elogiando os acontecimentos. (BARBOSA e SILVA, 2018, p,5) O termo idade das trevas é discriminatório e preconceituoso, essa visão deturpada deve-se justamente por conta dos homens que viveram posteriormente a Idade Média, principalmente os renascentistas que criticavam a Idade Média como uma época de muita superstição, crença apenas na Igreja e ignorância por parte da sociedade. Qualificações como “Período em que a humanidade não tomou banho” (BESSELAAR, 1970 p. 89-95), “Idade das Trevas” (FRANCO JÚNIOR, 1988, p. 17- 19), “Civilização da Barbárie” (INÁCIO & LUCA, 1988, p.7), foram utilizadas por adeptos do renascimento na tentativa de difamar a Idade Média. Esses intelectuais, acreditavam que o período mais fascinante na história, teria sido a Antiguidade, com sua filosofia, artes plásticas, ciência e também a maneira de produzir História e preservar a memória. Media aetas, medium aevum, em latim, e as expressões equivalentes nas línguas europeias significam a idade do meio, um intervalo que não poderia ser nomeado positivamente, um longo parêntese entre uma Antiguidade prestigiosa e uma época nova, enfim, moderna. (BASCHET, 2006, p. 25 - grifos no original). A Reforma protestante, o surgimento da filosofia Iluminista e a Revolução Francesa são os eventos históricos que caracterizam a modernidade e que fizeram com o que o sentido dos acontecimentos fosse encontrado nas ações humanas e não no divino. É o sujeito que produz a História, foi dito desde então que esse fazer histórico era resultante das ações humanas, da razão, da consciência dos homens, era um fazer-se ao longo do tempo, um processo evolutivo. Por isso, a História tinha que ser governada pela razão, uma razão na qual se acreditava que todos os aspectos da vida caminhavam em direção à perfeição futura. Essa seria obtida por meio da acumulação de conhecimentos sobre o mundo. Os passos para esse modo de compreender as ações humanas e a explicação histórica para esses atos são encontrados no Renascimento, na qual compreende o movimento de renovação cultural ocorrido na Europa entre os séculos XIV e XVI. Os historiadores desse período passaram a discutir o sentido da História e a buscar as razões do ser no mundo, não mais com implicações teológicas, mas em prol do alcance da perfeição moral no mundo profano. Para isso, havia que se encontrar outra lógica explicativa para as ações humanas, diferentes das adotadas durante a Idade Média, constituída em um conhecimento que se defendia antiecológico, ou estabelecida pela razão. A base para esse pensamento foi formulada pelos filósofos Iluministas. Podemos dizer que o pensamento Iluminista se sustenta em três pilares comuns à maioria de seus pensadores, são eles: 1) a fé na razão; 2) a permanência da natureza humana ao longo do tempo; 3) a capacidade racional do homem de realizar na História as metas universais do inexorável progresso (BERLIN, 1997, p. 47). Segundo essas bases, a tradição e a igreja não mais respondiam aos seus anseios de entender e explicar o mundo, havendo que encontrar respostas fundadas na experiência e na observação. Para compreendermos a forma como os renascentistas analisavam o período medieval, precisamos pontuar conceito de história e historicidade, desde a antiguidade até o período moderno, uma vez que as suas transformações foram responsáveis pela forma como o historiador examinou os fatos do passado e como eles criaram o conceito de Idade Média. Um elemento básico do conhecimento histórico é a historicidade, ou seja, o olhar crítico lançado para a História é passado por diversas transformações e retificações de tempos em tempos, o que acarreta uma ampliação do conhecimento teórico metodológico da disciplina. Dessa forma tanto na História como na historiografia existe uma historicidade, o que demonstra que ela ao decorrer dos anos ela se transforma expressando peculiaridades na maneira de conceber o conhecimento do passado. E nesse sentido percebemos que as formas de escritas históricas apresentam características distintas, desde a antiguidade até o renascimento, é o que veremos adiante. Uma característica básica do conhecimento histórico é a sua própria historicidade. A historiografia é compreendida como o conjunto de estudos históricos; o conjunto das variadas formas de escrever e pensar a História. Assim como a História, a historiografia tem uma historicidade. Isso denota que ela muda de tempos em tempos, expressando as diferentes formas de conceber o conhecimento do passado. Quando se olha para os textos históricos produzidos na Antiguidade, constata- se que entre os gregos e os romanos, por exemplo, havia muita semelhança entre a literatura e a História. O que diferenciava ambas (e continua a diferenciar) era a preocupação com a verdade. Para os historiadores desse período, fazer História implicava no trabalho do escritor em usar de seu talento paraelaborar uma oratória que explicasse o passado. O orador era o homem mais capacitado para essa função e cabia a ele esclarecer e dar ‘exemplos’ de vida aos homens públicos e instruir o homem particular (HARTOG, 1998, p. 197). A função do historiador era a de explanar o que ocorria entre os mortais; cabia a ele explicar, traduzir para o outro o ocorrido. A divulgação dos grandes exemplos históricos era considerada um modo de incentivar a imitação e a repetição das ações. A missão do historiador era a de preservar aquilo que deve sua existência aos homens, para que o tempo não o oblitere, e prestar aos extraordinários e gloriosos feitos de gregos e bárbaros, louvor suficiente para assegurar-lhes evocação pela posteridade, fazendo assim sua glória brilhar através dos séculos (ARENDT, 1988, p. 70). Por volta do século XII a.C. A escrita foi baseada nas tradições orais, transmitidas de geração em geração e nela se vê a exaltação das virtudes como a honra, o patriotismo, o heroísmo, o amor, a amizade, a fidelidade e a hospitalidade (DOSSE, 2003). Heródoto de Halicarnasso (485 a.C. e 430 a.c) considerado o ‘pai da História’’ procurou fazer uma escrita sobre o passado com o menor recurso possível aos conteúdos mitológicos presentes, por exemplo, em Ilíada e na Odisseia. Sua narrativa era repleta de oráculos, adivinhações e da interferência de mitos na explicação do acontecimento (REIS, 2006, p. 18). Para os gregos, a vida se movia sempre em repetições, pois tinham um entendimento cíclico do universo. Isso fazia da História um conhecimento necessário, através do qual se retiravam ensinamentos. Eles concebiam a História como uma forma de imortalizar os feitos humanos. A narrativa histórica devia convencer os leitores pela beleza, forma, estruturação e ordenação dos argumentos (FUNARI, 2005). Conhecer os preceitos retóricos e ser dotado de grande erudição eram condições fundamentais para o historiador, o que fazia da historiografia antiga, uma escrita fundamentada na arte da demonstração, por isso o apreço por parte dos Renascentistas e a crítica ao período medieval. A História ensinava como aprender com a desgraça e como ser moderado na prosperidade (REIS, 2006, p. 17). O trabalho dos historiadores nesse período implicava em usar seu talento para elaborar uma oratória que explicasse o passado. E o orador era o homem mais capacitado e incumbido de esclarecer e “dar exemplos” de via vida dos homens públicos e instruir o homem particular (HARTOG, 1998, p. 197, apud ZANIRATO, 2011, p. 31). De acordo com Zanirato (2011), o tempo nesse período era visto de forma circular, sujeito a se repetir de tempos em tempos, e o papel da História, era de elaborar uma narrativa que buscava a explicação dos acontecimentos em um dado período nesse tempo. A História se encarregou de produzir uma narrativa sobre os feitos oriundos da ação do homem, e registar acontecimentos que não eram sujeitos a imortalidade, mas que deveriam ser recordados para ficarem na eternidade. E nesse cenário o historiador era incumbido de explanar o que ocorreria entre os mortais, e assim o historiador, explicava e traduzia para o outro o ocorrido e com essa divulgação dos grandes feitos históricos era visto como uma forma de incentivar a imitação e repetição das ações. Segundo Dosse (2003, p.17, apud Zanirato, 2011, p.36), com a dissolução do mundo romano, a Igreja Católica ganhou força e se tornou a instituição mais poderosa entre os séculos IV e XIV (Idade Média), e ela detinha o controle absoluto do saber. A História nesse cenário torna-se um gênero inferior, a serviço da teologia, que era vista como o verdadeiro saber. Zanirato (2011), discorre que a escrita histórica no mundo medieval passou a ser orientada por normas definidas pela Igreja, e a História humana era vista como sendo resultante da intervenção divina, de forma que todos os fatos acontecidos eram efeitos da relação de Deus com o mundo. Na Idade Média, o tempo e a História eram vistos como uma sucessão iniciada com a Criação e predestinada a terminar com o Juízo Final, o que fez o tempo ser visto como linear e progressivo, seu movimento era direcionado para o fim. Nesse período a História passou a expressar um caráter pessimista, providencialista e apocalíptico. Deus estava no centro de todas as ações humanas, e a providência guiava as ações humanas e o mundo caminhava para o fim, uma vez que os homens iam para o céu ou inferno, dependendo do que faziam na Terra. O estudo da História servia ao cristianismo com uma confirmação da fé (ZANIRATO, 2011). E a tarefa principal do historiador era de decifrar profecias e guiar os diversos relatos históricos ( FONTANA, 1998, p.29, apud ZANIRATO 2011). Ou seja, na Idade Média, com a dissolução do mundo romano, a Igreja Católica adquiriu força que a tornou a mais poderosa instituição entre os séculos IV e XIV. Coube a ela o controle absoluto do saber, aí incluído as diferentes escritas, que passaram a ser controladas pelo poder eclesial constituído. A História, nesse contexto, tornou-se apenas um gênero menor, a serviço da teologia, considerada o grande e verdadeiro saber (DOSSE, 2003, p. 217). Com isso, a escrita histórica passou a ser orientada pelas normas definidas pela Igreja, sempre afirmando que a História humana era resultante da intervenção divina; de forma que os fatos ocorridos eram efeitos das relações de Deus com o mundo. O estudo da História servia ao cristianismo como confirmação da fé. Por um lado, era uma forma de confirmar as profecias anunciadas na Bíblia, ou de explicar porque não se cumpriram os enunciados; por outro, era uma forma de incluir toda a História não cristã, ‘nas pautas marcadas pelo esquema bíblico’. A tarefa do bom historiador era a de ‘decifrar as profecias e coordenar os diversos relatos históricos’ (FONTANA, 1998, p. 29). Santo Agostinho (354 – 430), por exemplo, compreendia o sentido da História que essa não originava dos atos particulares dos homens, mas sim das intenções divinas. Para ele, havia duas ordens históricas: uma História sagrada, que narra os eventos reveladores da presença de Deus e uma História secular, produto da vida dos homens, das ações causadas pelos homens. A História sagrada era obra dos profetas diretamente inspirados por Deus e a História secular era aquela que registrava os atos destinados a conduzir os homens ao paraíso, ou ao inferno, às ações que mostravam a submissão ou a desobediência dos homens às determinações bíblicas (BIGNOTO, 1992, p. 180-182). Mas essa forma de pensar a História mudou. Zanirato (2011), relata que no período que compreende os séculos XIII e XVI, ou seja, no final da Idade Média e início da Idade Moderna, a Europa ocidental viveu a chamada Revolução Cultural, com o surgimento da burguesia constitui-se uma nova ordem política e econômica. Essa mudança acarretou a valorização da riqueza material, dos prazeres terrenos, a defesa do lucro e a possibilidade de salvação. Com a descoberta da América, vieram questionamentos às formas de explicar o mundo, e a religião já não estava dando conta de dar sentidos a todas as esferas do mundo. Nesse período os historiadores passaram a discutir o real sentido da História, e buscar as razões do ser no mundo, sem as implicações teológicas. No Renascimento temos uma mudança na forma de compreender a História. Com isso o homem passa a buscar respostas para suas perguntas, e a entender seu papel no mundo sem a intervenção Divina. E para encontrar as respostas, os homens precisavam de um conhecimento pautado no estabelecimento da razão, diferente da Idade Média, na qual a Igreja determinava essa produção de saber. A escrita da História nesse período, feita por filósofos, buscava abandonar as explicações centradas nos deuses, em mitos e superstições. Essa crítica se estende até o século XIX, quando a partir de 1850,um grupo de pesquisadores ligados ao movimento do Romantismo irão se atentar a elementos, símbolos e signos até então ignorados por historiadores renascentistas. Reconhecendo as belezas do mundo medieval através das suas práticas artísticas e da arquitetura gótica, como veremos nas unidades a seguir. Os historiadores que se dedicaram aos estudos sobre a Idade Média, pontuavam que não houve apenas uma Idade Média, mas sim variáveis, distintas, de múltiplas interpretações e diversas ocorrências. Ele era flutuante, um período movimentado, marcado pelo poder da Igreja, pelas graves epidemias como a Peste Negra na qual assolou grande parte da população e de inúmeras batalhas que cruzaram a Europa. Porém este período nos apresentou além da arquitetura gótica já citada, o surgimento das universidades e do desenvolvimento da agricultura em grande escala. Assim, a Idade Média deve ser pesquisada no seu conjunto, ou cerca no arco de quase mil anos, atentando para suas singularidades, Le Goff, destaca que a Idade Média é “de longa duração na história, mas um período de elaboração, de construção do mundo moderno [...]. A Idade Média é a nossa juventude; talvez a nossa infância” (LE GOFF, 2008, p. 33), além disso o pesquisador pontua que: Eu diria que a Idade Média não é o período dourado que certos românticos quiseram imaginar, mas também não é, apesar das fraquezas e aspectos dos quais não gostamos, uma época obscurantista e triste, imagem que os humanistas e os iluministas queriam propagar. É preciso considerá-la no seu conjunto.” (LE GOFF, 2007, p.18) Antes de adentramos na discussão sobre a Idade Média, cumpre destacar alguns pesquisadores que com seus estudos contribuíram para o entendimento histórico desse período e posteriormente foram objetos de pesquisa de historiadores, como por exemplo: Gregório de Tours (538-594) que escreveu sobre a sociedade cristã franca, em suas obras o autor relata a trajetória desses povos. As narrativas abordaram ações dos reis e dos santos. Outro historiador foi Flodoardo de Reims (894-966) a qual a reconstituição foi feita nos arquivos eclesiásticos pelos Bispos Reims. O objetivo de sua pesquisa era compreender a instituição da Igreja no início da Idade Média. (DOSSE, 2003, p.221). Jacques Bossuet (1627-1704), afirmava que a escrita era a fonte divina e ninguém tinha o direito de banalizá-la, pois toda a explicação histórica ali se encontrava. Compete ao historiador demonstrar, em sua escrita, o desígnio providencial. Por último, lembramos de Giambattista Vico (1668-1744), preocupado em restituir a particularidade da sociedade humana e, ao mesmo tempo, inseri-la no quadro da providência. Seus estudos cruzavam as etapas primitivas do homem à época da ciência e da filosofia, de modo a mostrar que houve uma evolução e essa se explicava pela vontade divina, que ensinará os bárbaros pagãos de épocas primitivas, a fazer uso da razão e compreender assim os ensinamentos de Deus (DOSSE, 2003, p.228). A Idade Média teve início no ano de 476 e se estendeu até o ano de 1453. E por que ela começou justamente nesse ano? A data marca a invasão da parte ocidental de Roma, até então principal centro da Europa, e o fim do Império Romano do Ocidente. O término desse período é marcado pela tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos. Essas duas balizas temporais não são unanimidades entre os pesquisadores. De acordo com Marcelo Candido da Silva: Os historiadores nunca entraram em consenso sobre os marcos precisos do início e do fim da Idade Média: para uns, seria a queda de Roma, em 476, e a queda de Constantinopla, em 1453; para outros, o Edito de Milão, em 313, e a chegada dos espanhóis à América, em 1492. No entanto, esse período é mais do que uma convenção cronológica. Desde o surgimento do termo, no final do século XIV, não apenas eruditos e historiadores, como também historiadores da arte, filósofos e sociólogos, buscaram identificar as características que diferenciariam “os tempos médios” da Idade Antiga e da Idade Moderna. As divergências nesse ponto são ainda maiores do que na escolha das datas que marcariam o início e o fim do período. (CÂNDIDO, 2019, p .8) Além disso, Le Goff reforça que: Da Antiguidade ao século XVIII desenvolveu-se, ao redor do conceito de decadência, uma visão pessimista da história, que voltou a apresentar-se em algumas ideologias da história no século XX. Já com o Iluminismo afirmou-se uma visão otimista da história a partir da ideia de progresso, que agora conhece, na segunda metade do século XX, uma crise. (LE GOFF, 1990, p. 8) De fato, o importante é compreender as transformações que ocorreram na Idade Média, os historiadores que pesquisam esse período, costumam relacioná-lo como a transição entre a Antiguidade para a Idade Moderna. O autor continua: Existe, é verdade, uma Idade Média “má”: os senhores oprimiam os camponeses, a Igreja era intolerante e submetia os espíritos independentes (que eram chamados de hereges) à Inquisição, que praticava a tortura e matava os revoltosos nas fogueiras... Havia muita fome e muitos pobres (...). No entanto, existe também a “bela” Idade Média, presente, principalmente, na admiração das crianças: diante dos cavaleiros, dos castelos fortificados, das catedrais, da arte românica e da arte gótica, das cores (dos vitrais, por exemplo) e da festa. Também esquecemos quase sempre que, na Idade Média, embora as mulheres ainda tivessem um lugar inferior aos dos homens, adquiriram ou conquistaram uma posição mais justa, mais igual, de mais prestígio na sociedade – posição que nunca tinham tido antes, nem mesmo em Atenas, na Antiguidade. (LE GOFF, 2007, p.18-19) Nesses quase mil anos de História, a Europa foi palco de profundas mudanças em toda sua esfera política, econômica, social, cultural e religiosa, como destaca Durkheim na obra “A evolução pedagógica” lançada em 1995. Nada mais inexato, porém, do que essa concepção da Idade Média e, portanto, nada mais impróprio do que a palavra com a qual essa época é designada. Muito longe de ter sido um simples período de transição, sem originalidade, entre duas civilizações originais e brilhantes, é, ao contrário, o momento em que se elaboraram os germes fecundos de uma civilização inteiramente nova. E isso nos é mostrado notadamente pela história do ensino e da pedagogia. A Escola, tal como a encontramos no início da Idade Média, constitui com efeito uma grande e importante novidade; distingue-se por traços cortados de tudo quanto os antigos chamavam com o mesmo nome. É claro, já o dissemos, que ela retira da civilização pagã a matéria do ensino; mas essa matéria foi elaborada de uma maneira totalmente nova, e dessa elaboração nasceu algo inteiramente novo. É o que acabo de mostrar. Mas pode ser dito que nesse momento é que apareceu a Escola, no sentido próprio do termo. Pois uma escola não é apenas um local onde o professor ensina; é um ser moral, um meio moral, impregnado de certas ideias [sic], de certos sentimentos, um meio que envolve tanto o professor quanto os alunos. Ora, a Antiguidade [sic] não conheceu nada semelhante. Teve professores, mas não teve Escolas de verdade. Na pedagogia, pois, a Idade Média foi inovadora. DURKHEIM, Émile. A Evolução Pedagógica. 2ª. reimp. Porto Alegre: Artes Médicas. 1995, p. 37 A Idade Média também pode ser dividida em duas partes, os primeiros 500 anos são conhecidos como Alta Idade Média, na qual as sociedades passaram lentamente a viver um novo modo de vida, uma nova organização social (o feudalismo) e o apogeu da Igreja, a sua grande influência em boa parte da Europa. Já a segunda parte, conhecida como Baixa Idade Média, é marcada pela crise do feudalismo, as cruzadas, a expansão comercial, e o surgimento das cidades e núcleos urbanos. A Alta Idade Média, período que se estende desde a queda do Império Romano,no século V, até aproximadamente o século X, foi marcada por um processo contínuo de declínio urbano e de ruralização do Ocidente europeu. Durante esse período o campo gradativamente se fortaleceu, organizando-se na forma de feudos, que se espalharam por grande parte da Europa. Podemos caracterizar o feudalismo como um modo de produção, na qual o principal polo aglutinador seria o feudo, e desses procedem relações senhores e camponeses e suseranos e vassalos. O pesquisador Pierre Bonnassie destaca como “época arcaica” do feudo o período entre os últimos decênios do século IX e os primeiros do século XI, e o situa na Europa meridional – Languedoc e Catalunha (1999, p. 96). Como veremos a seguir, no regime feudal, o senhor era o detentor de uma grande extensão territorial, onde ele exercia o poder sobre seus servos e escravos. Um senhor feudal poderia ser vassalo de outro; porém, nos limites de suas terras ele tinha poder absoluto: era o senhor, protetor, juiz, chefe de polícia e administrador. Essa primeira fase da Idade Média, marcada pelo processo de ruralização, sofreu alterações significativas a partir do século XI, através do ressurgimento e fortalecimento das cidades. Os novos espaços urbanos que se constituíram desde o início desse século se apresentaram extremamente diferenciados das antigas aglomerações urbanas, sobretudo no seu aspecto econômico. Houve um processo de acentuada migração dos homens do campo para as cidades. A superfície urbana aumentou significativamente, as construções cresceram de forma irregular e a aglomeração passou a exigir, cada vez mais, uma melhor organização e uma forte fiscalização das atividades exercidas em seus domínios. Ao longo dos séculos XI e XII houve um aumento significativo do número de cidades e, consequentemente, da população urbana no Ocidente medieval. Nesta unidade iremos abordar mais as questões conceituais, as características que definem esse período chamado de Alta Idade Média. Se se pode identificar na crise do mundo romano do século 3º o ponto de partida que dará origem ao Ocidente medieval, parece legítimo considerar as invasões bárbaras do século 5º como o acontecimento que precipitou as transformações, dando-lhes um aspecto catastrófico e modificando-lhe profundamente o aspecto. [...] As invasões deixaram chagas mal cicatrizadas – campos destruídos, cidades arruinadas -, precipitou a evolução econômica – declínio da agricultura, recuo urbano -, a retração demográfica e as transformações sociais. Os camponeses viram-se obrigados a se colocar sob dependência cada vez maior dos grandes proprietários, estes passaram também a ser chefes de grupos armados, e a situação do colono tornava-se cada vez mais próxima da do escravo. (LE GOFF, 2005, p. 21-22) Nos nossos estudos as discussões permeiam a Alta Idade Média entre o século V ao X com forte presença do feudalismo e a Baixa Idade Média do século X até o XV, período marcado pela crise desse sistema. Quando pensamos no sistema político vigente durante a Alta Idade Média, denotamos como um conjunto fragmentado e descentralizado, fruto do declínio do Império Romano do ocidente. Paulatinamente deixa de existir a figura de uma entidade reconhecida legitimamente e legalmente como a autoridade de poder, centralizado, ou seja, como uma autoridade dotada de um monopólio do uso da força capaz de se impor sobre autoridades inferiores. Esse tempo marca a ascensão e fortalecimento das autoridades locais, dos chamados poderes locais. Dentro do feudalismo ainda vai existir a figura do rei, mas este enfraquecido. Temos a ausência de uma centralização política devido a uma insuficiência do uso da força militar por parte do rei. Nesse caso, os poderes regionais são muitas vezes mais relevantes do que o poder central, o servo não é considerado um escravo, porém não é um trabalhador livre e vive sob a tutela do senhor. Para Le Goff, o feudalismo se caracteriza como: Um sistema de organização econômica, social e política baseada nos vínculos de homem a homem, no qual uma classe de guerreiros especializados – os senhores – subordinados uns aos outros por uma hierarquia de vínculos de dependência, domina uma massa campesinata que explora a terra e lhes fornece com que viver. (LE GOFF, 1980, p. 82). Esse sistema tinha como consequência a ausência do monopólio do uso da força. Como era durante o Império Romano, o poder estava fragmentado e descentralizado, na mão dos suseranos. Isso não significava que o rei não exercia em momento algum o seu poder de autoridade máxima. Em momentos de crise, de invasão de outros povos, era função do rei comandar os exércitos na defesa dos seus territórios. No início do século VI, verificam-se fenômenos políticos significativos. De um lado, alguns reinos romano-bárbaros já se implantavam firmemente em territórios do Império do Ocidente, onde a única autoridade política autenticamente romana é a Igreja e especialmente o papado; de outro lado, o Império do Oriente conserva ainda a sua unidade e a sua força, o que lhe permitirá tentar a reconquista do Ocidente. Estes três centros de poder, tão diferentes entre si, se enfrentarão numa complexa luta ideológica e militar. (MANACORDA, 2006, p. 111). Portanto a sua autoridade não era uma constante, ela era flutuante. Lembrando que por legitimidade entendemos de forma bem genérica a aceitação de um poder. Nesse âmbito, a nobreza, muitas vezes durante as guerras, emanava uma liderança mais harmonizada e equilibrada. Era comum algum nobre ser mais poderoso e com um exército maior, enfrentar o rei em questão e se colocar contra essa figura, como diversas vezes aconteceu ao longo do feudalismo, como veremos nos outros capítulos. Por isso é importante saber diferenciar e não confundir o rei medieval com o rei absolutista. O rei absoluto é uma outra categoria de monarca com outros atributos de poder que levam este a exercer um poder centralizado e não fragmentado. Já o monarca feudal é diferente daquele exibido nos filmes de Hollywood, em que é representado como uma figura muito poderosa, uma vez que os filmes tendem a transportar o poder do Rei absolutista dos séculos XV e XVIII para a realidade política do rei feudal do século V ao XX. “Seus recursos econômicos provinham quase exclusivamente de seus domínios pessoais enquanto senhor, enquanto de seus vassalos pedia contribuições militares (ANDERSON, 1991, p. 147). Outro fator importante para compreender o contexto histórico da Alta Idade Média, trata-se da produção material e econômica na Europa. Primeiro ponto: a principal atividade era agricultura de subsistência, o feudo era a unidade produtiva do feudalismo. E você, aluno (a) se recorda como era esse feudo? Trata-se de um latifúndio, uma grande propriedade rural e que visava ser autossuficiente. Ele tem como seu objetivo primeiro produzir para o seu próprio sustento, tornando-se uma agricultura de subsistência. Mais do que isso, seria um: Modo de produção no qual as relações sociais de produção estão baseadas na servidão; a propriedade dos meios de produção está dividida entre a classe dominante, a nobreza feudal, e a classe dominada, os servos, cujo objetivo fundamental da produção é o valor de uso. (MONTEIRO, 1987, p. 5) A propriedade territorial era concedida aos indivíduos por um poderoso senhor (membro da alta nobreza) em troca de fidelidade e ajuda militar. O direito feudal é aquele conjunto de costumes (e mais tarde, mas secundariamente, de algumas leis imperiais, sentenças de cúrias feudais, teorizações doutrinais) que pouco a pouco se acumularam durante todo o período medieval e que disciplinam aquele universo de relações entre senhores e vassalos, entre superiores e inferiores, que é a ordem feudal: relações pessoais que consistem em homenagem e fidelidade por parte do vassalo e em proteção por parte do senhor. Um universo jurídico exclusivo, quedesenvolveu suas próprias regras e que tem seus próprios tribunais para aplicá-las; Grossi (2014, p. 275) Esse modo de produção esteve presente principalmente em estados do antigo do Império Carolíngio: França, Bélgica, Suíça, Alemanha, na região da Gália entre os riachos Loire e Reno, como podemos observar no mapa a seguir. Figura 1: Atlas by William R. Shepherd (Shepherd, William. Historical Atlas. New York: Henry Holt and Company, 1911) Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_Franco#/media/Ficheiro:Frankish_Empire_481_to_814-pt.svg https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_Franco#/media/Ficheiro:Frankish_Empire_481_to_814-pt.svg Pierre Anderson, destaca que as bases para o feudalismo foram fundadas na região da Gália e posteriormente difundidas entre os outros centros europeus. Foi entre o Loire e o Reno que apareceu pela primeira vez a servidão, onde se desenvolveu um sistema senhorial, onde a justiça foi mais profunda e, por fim, a subenfeudação foi mais acentuada. Nessa região, as vilas conviviam com numerosas aldeias camponesas, reduto de mão-de-obra em potencial. Entre os séculos VII e IX observa-se a tendência à ampliação da vila através do desbravamento de novas áreas para a exploração agrícola como também a incorporação do vicus, suas terras e seus habitantes. (ANDERSON, 1991, p. 153). Cumpre lembrar que nenhum feudo se originou do nada, mas foram consequências das invasões tardias que culminaram na descentralização do poder do rei e da ascensão da nobreza e do seu arsenal militar, dessa forma o Feudalismo pode ser entendido também como uma forma de sociedade que surge em consequência do colapso do governo central (FRANCO JUNIOR, 1988, p. 87). O feudo era constituído por três espaços: o primeiro tratava-se do Manso Senhorial: que era o local onde ficavam as terras do senhor feudal e os mecanismos de produção como o moinho, além de abrigar o castelo, residência do senhor feudal. Havia outras modalidades de mansos, como a destinada aos servos, Manso Servil, que era o espaço na qual eram produzidos a agricultura de subsistência dos camponeses (servos). E por último, havia as propriedades denominadas de Mansos Comunais: espaço em que os camponeses poderiam coletar matéria prima para a produção de casa, armazém. Esse local ficava próximo aos rios e eram conhecidos como áreas comuns. A estrutura social era composta por três categorias, ou classes: o clero, os nobres e servos, sendo que organização era imutável. Devido a influência e poder da Igreja, o clero desfrutava de posição privilegiada durante o feudalismo, uma vez que a Instituição pregava que o homem já nasce predestinado a viver em uma classe definida por Deus, sendo ela a representação da figura divina na terra. A Igreja possuía uma grande quantidade de terras e ao mesmo tempo que esse número crescia, o seu poder militar aumentava a sua supremacia política e cultural. Outra questão importante, em um primeiro momento, no seu surgimento, os feudos eram de ordem pública, como afirma o historiador Pierre Bonnassie: Bem público, concedido a um agente da autoridade pública, em troca de serviços públicos a serem prestados. Consistia quase sempre em uma terra sobre a qual incidiam direitos fiscais. O outorgante era geralmente um duque ou um conde, e o beneficiário, um alcaide, que deveria, como contrapartida, administrar e defender o território concedido (BONNASSIE, 1999, p. 96). No entanto, ao passar a ser de propriedade da aristocracia, o feudo mudou a sua natureza e deixou de ser um bem público para um bem privado. Assim, podemos definir os feudos como uma propriedade voltada para a autossuficiência na qual emergem autoridades locais como duques e condes que exercem um poder sobre as cidades próximas. Além dessas figuras, temos também a autoridade da Igreja, tema da nossa terceira unidade. Na figura 2 podemos observamos como era a estrutura de um feudo durante a Alta idade Média: Figura 2: O Feudo. Fonte: http://www.apoioescolar24horas.com.br/cf/salaaula/estudos/historia/610_feudo/images/estudo/indice. png A principal mão de obra no feudo era a servidão, como podemos defini-la? Quem seria o servo? Como surgiu essa relação? O servo não teria direito à terra no modo de produção feudal, ou seja, o direito de propriedade, pois o servo está inserido em uma condição de submissão em uma sociedade que é essencialmente agrícola. O apogeu das relações servo e vassalo têm suas origens relacionadas ao crescimento agrícola, que ocasionou em um número alto de terras e títulos para os nobres, aumentando ainda mais as suas riquezas. http://www.apoioescolar24horas.com.br/cf/salaaula/estudos/historia/610_feudo/images/estudo/indice.png http://www.apoioescolar24horas.com.br/cf/salaaula/estudos/historia/610_feudo/images/estudo/indice.png Nesse modo de produção, o servo teria as suas obrigações como o trabalho na terra e o senhor feudal, por outro lado, tinha por obrigação garantir a eles proteção militar. Além do trabalho no campo, os camponeses eram obrigados a cuidarem dos animais, pomares, piscicultura e até a confecção de vinhos para os seus senhores. Ao receber a terra do senhor feudal, o servo deveria pagar uma quantidade razoável de tributações, na qual denominamos de “obrigações”, que seriam variáveis formas de impostos. Os tributos variavam conforme a necessidade do senhor feudal, como por exemplo a corveia, a talha e a banalidade. Exemplificando: a corveia, um dos mais famosos tributos da Idade Média, consistia em uma série de serviços prestados na propriedade agrícola do senhor feudal. Em um número determinado de dias, o servo era obrigado a desempenhar funções como a limpeza do castelo, a construção de muros além de trabalhar nas lavouras durante o período do plantio e da colheita. Observem abaixo um exemplo das obrigações que eram impostas aos camponeses. Walafredus, um colono e sua mulher, uma colona, [...] homens de Saint Germain, têm dois filhos, [...]. Ele detém dois mansos livres com sete bunuaria (um quarto de acre) de terra arável, seis acres de vinha e quatro de prados. Devem por cada manso uma vaca por ano, um porco no ano seguinte, quatro denários pelo direito de utilizar a madeira, dois módios (18 a 26 litros) de vinho pelo direito de usar as pastagens, mais uma ovelha e um cordeiro. Deve ainda lavrar quatro varas para um cereal de inverno e duas varas para um cereal de primavera. Devem corvéias, carretos, trabalho manual, cortes de árvores quando para isso receber ordens. (GUÉNARD e MONTEIRO, 1987, p. 47) Outro imposto conhecido desta época, era a talha, na qual o servo era obrigado a repassar para o senhor feudal, 50% de sua produção, considerando todo o lucro bruto. Havia também as banalidades, impostos em que o servo era forçado a pagar ao senhor feudal caso ele utilizasse de alguns dos serviços ou instalações do castelo. Enfim, tudo que o servo produzia era passivo de tributação. E essa é a grande questão, quando falamos sobre a relação de Servo e senhor feudal, pois o servo ao receber a terra, já começava devendo inúmeras obrigações, que ele dificilmente conseguiria pagar essa dívida. Figura 3: Ilustração medieval de homens colhendo trigo com ganchos, em uma página do calendário. Fonte : Queen Mary’s Psalter (Ms. Royal 2. B. VII) Nesse caso, qual a relação do servo com a escravidão? Ele era escravo? Existiu escravidão durante o feudalismo? A resposta é que de certa forma existiu. Há vários historiadores que mencionam a existência da escravidão em pequeno número nas sociedades feudais. Pois historicamente não houve a abolição da escravidão na Europa durante esse período. Quando o Império Romano tem a sua derrocada no Ocidente, a escravidão não foi proibida. De modo que ela poderia continuar existindo, no entanto, esse sistema não era mais viável, nocaso rentável. Então gradativamente aquele processo do colonato romano foi substituindo a mão de obra escrava pela mão de obra servil, que foi trabalhar nos feudos durante a Alta Idade Média. Essa é uma pergunta muito importante. Pois devido aos altos impostos, o servo acabava vivenciando uma relação de escravidão, no entanto ele não era uma propriedade do Senhor feudal. Este, não poderia vendê-lo, servir como moeda de troca, pois o camponês não era o seu escravo, embora viva uma relação escravista. Para Karl Marx, o feudalismo como “modo de produção” difere do sistema escravista pois nele “o produtor direto se encontra na posse de seus próprios meios de produção, as condições de trabalho objetivas necessárias à realização de seu trabalho e à geração de seus meios de subsistência; ele exerce de modo autônomo sua agricultura, bem como a indústria rural caseira ligada a ela” (1985, p. 251), ao passo que no regime escravista “o escravo trabalha com as condições de produção alheias e não de forma autônoma” (1985, p. 251). Cumpre ressaltar que existem estudos que divergem da narrativa em que o feudo era um espaço onde o senhor impregnava as suas vontades aos seus vassalos, Marc Bloch destaca, que há registros em quem o vassalo concedia ao senhor a sua terra em troca de proteção militar. Muitos proprietários de alódios1 entregavam a sua propriedade a um senhor de condição mais elevada. Esses nobres, depois de terem prestado homenagem ao novo senhor, recebiam seu antigo patrimônio na qualidade de honroso feudo vassálico (BLOCH, 1987, p. 185). Para o historiador Jaime Estevão dos Reis “servidão implica, portanto, que a relação de propriedade deve estabelecer-se como uma relação entre senhores e servos, de forma que o produtor direto não seja livre”. Trata-se de uma ausência de liberdade “que pode variar desde a servidão com trabalho pessoal até a mera obrigação tributária” (MARX, 1985, p. 251). Após essa explanação, pontuamos nesta unidade alguns conceitos e características importantes para compreender o que foi a Idade Média. A primeira de que diferentemente do que ela já foi limitada, não se trata da “idade das trevas”, dos tempos da escuridão. Houve sim um período controlado por ações da Igreja que buscavam sedimentar e ampliar os seus poderes políticos, no entanto nesses quase mil anos de História, assistimos o nascimento e o despertar da arquitetura gótica, das relações comerciais nas cidades, do surgimento das primeiras universidades. O feudalismo trata-se de um tema inesgotável de investigações e possibilidades, a seguir indicaremos uma série de livros e produções cinematográficas que podem instigar novas pesquisas ao campo da história. A influência da Idade Média em nossos dias: cultura, representações e festividades. O período medieval apesar de representar a gestação do mundo moderno, nas identidades sociais, políticas, religiosas e culturais, foi por muito tempo negligenciado e erroneamente chamado de Idade das Trevas. Fonte: VAZ, Angela Omati Aguiar. A influência da Idade Média em nossos dias: cultura, representações e festividades. REVISTA DON DOMÊNICO. 8ª edição. 2016. LIVRO Título: A Idade Média e o Dinheiro – ensaio de antropologia histórica. Autor: Jacques Le Goff Editora: Civilização Brasileira, 2014. Sinopse: Nesta obra, Le Goff revela uma das grandes particularidades da Idade Média, a lida com o dinheiro, as moedas, em uma sociedade dominada pela religião, o cristianismo ensinou aos cristãos a atitude que deveriam adotar ante o dinheiro e quais as consequências para essas atitudes. FILME/VÍDEO Título: Rei Arthur: A lenda da Espada. Ano: 2017 Sinopse: Essa história já recebeu diversas adaptações do cinema, porém em “Rei Arthur - A Lenda da Espada”, Arthur vivido pelo ator Charlie Hunnam é um jovem das ruas que controla os becos de Londinium e desconhece sua predestinação até o momento em que entra em contato pela primeira vez com a lendária espada a Excalibur. Desafiado pela espada, ele precisa tomar difíceis decisões, durante a Idade Média. O Cerco Medieval Através dessa reportagem da revista Super Interessante você será transportado para o mundo medieval e a forma como os feudos arquitetaram os seus castelos na incumbência de se proteger de ataques dos povos invasores. MARTON, Fabio. Cerco Medieval. Super Interessante. 10 abril de 2020. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/cerco-medieval/. Acesso em 17 de agosto de 2020 Nessa unidade convido você caro aluno(a) a mergulhar no mundo Medieval, um mundo não apenas marcado pelo domínio da igreja Católica, mas também com fortes influências do Oriente. Seja ele através do islamismo, da ascensão do Império Otomano, a conquista de Constantinopla e o grande conflito de quase oito séculos entre Mouros e Cristãos que marcaram a reconquista da Península Ibérica. Ao estudar o islamismo existe uma diferença fundamental que muitas pessoas confundem entre o que é ser árabe e o que é ser praticante da religião islâmica. Os árabes trata-se de etnia da antiguidade que habitava inicialmente o que podemos chamar de Península Arábica no Oriente Médio. O Islamismo é atualmente uma religião de mais de 1,4 bilhão de seres humanos, “caracterizada por monoteísmo estrito e síntese entre fé e organização sociopolítica” (HOUAISS, 2001, p.1655), aparentada com o monoteísmo judaico, religião também parente do cristianismo, a partir do século VII. Quais as propostas dessa religião tão importante? Por que nós falamos tanto hoje de muçulmanos e de islamismo? O que pensavam os islâmicos no primeiro século da sua existência. Quem foi o profeta que recebeu uma revelação de Deus Allah e transformou em uma série de preceitos e ensinamentos? Podemos afirmar, que o islamismo, trata-se uma das religiões mais importantes e mais fundamentais do mundo contemporâneo, surgida durante a Idade Média. Islã é o aportuguesamento da palavra em árabe islam. Essa palavra, nesse idioma, significa submissão, assim, “o verdadeiro ‘muçulmano’ é aquele que se declara perfeitamente ‘submisso’ a Deus” (PIAZZA, 1991, p. 384). No século V da Alta Idade Média, na Península Arábica onde hoje há vários países como a Arábia Saudita, os árabes eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários Deuses. Os islâmicos chamam a esse período anterior a revelação do Profeta de “era da ignorância”. Quase todos eram comerciantes, nômades ou seminômades, a Península Arábica não era politicamente importante, não era religiosamente unificada, e os árabes estavam um pouco a parte desse mundo que os cercavam, como o Império Bizantino, o Império Persa e outras unidades contemporâneas deste século VII. Ou seja, não havia ainda nesse período uma unidade religiosa e política no território. Em 570, em um ramo pobre de uma família de Meca, teria nascido aquele que mudaria toda essa história, Maomé Mohamed, profeta que de acordo com o Alcorão, teria receberia no futuro a revelação de Deus, para transformar toda a Península Arábica, para unificar a religião, para ensinar um novo conceito, o verdadeiro conceito de Deus, uma entidade única, que deveria ser espalhado, ser empregado e expandido para todas as pessoas. O futuro profeta trabalhava como líder de caravanas, um mercador que realizava viagens. Durante todo o seu exercício de comércio à longa distância, ele estudava a religião dos judeus o monoteísmo, posteriormente, conhecendo o cristianismo, foi conhecendo monoteísmos que tornavam a judeus e a cristãos tão diferentes dos árabes politeístas. Refletia muito sobre isso, na sua inteligência privilegiada e na sua ética que era conhecida no local. Aos 21 anos, passou a trabalhar para uma viúva rica chamada Khadija e aos 25 anos se casou com ela, com quem teve vários filhos, dosquais somente Fátima sobreviveu (MATOS, 2009, p. 455). Aos 40 anos, retirado em uma caverna no Monte- Hira, isolado e refletindo sobre os conhecimentos e preceitos religiosos, teria recebido a visita do arcanjo, Gabriel, o mesmo que na tradição cristã teria anunciado a vinda de Jesus na terra para Maria. Então o Arcanjo dá a ele a obrigação de recitar e de aprender decorar as revelações sobre Deus que seriam agora a posse de uma nova verdade. Esse acontecimento ficou conhecido como Noite do Destino e deu início às revelações de Allah para Muhammad. Essas palavras serviram como base estrutural para as características do islamismo. De acordo com Piazza (1991, p. 384), O islamismo apresenta-se como uma religião • “sem dogmas, a não ser o seu absoluto monoteísmo, que faz de Alá um deus inteiramente transcendente e solitário...”; • “sem sacramentos, pois o islamismo não reconhece a separação entre Sagrado e Profano...”; • “sem sacerdotes, pois não admite intermediários entre Deus e os homens...”; • “sem liturgia, sem sacrifícios, sem imagens...”; • “sem estrutura eclesial (estrutura hierárquica); no entanto, tem os seus teólogos (ulema: conhecer), os seus pregadores (khatib), os seus mestres de oração (irmã), os seus pregoeiros de oração () (PIAZZA, 1991, p. 384). Retornando a casa, ele teria confessado a seu círculo íntimo o que teria ocorrido, temendo estar louco, o aconselharam a ter paciência e a receber com tranquilidade essa revelação. A partir desse momento o profeta teria sido iluminado, recebendo diretamente do Arcanjo Gabriel, os ideais divinos, o principal era de que só existe um Deus, Alá, aquele que distribuiu misericórdia, aquele que é clemente e misericordioso. Esse Deus não admitiria nenhuma imagem, não permitiria que fosse feita nenhuma representação dele, esse código de conduta, buscava reforçar a submissão do homem a Deus, por isso ser devoto do Islã é ser aquele que se submete apenas a Deus, diferente do cristianismo. Nessa região não era comum a figura de um rei oponente, não havia uma tradição monárquica majestosa como o Império Bizantino ou Persa, portanto, os islâmicos não tinham o costume de se ajoelharem, a partir das revelações a Maomé, foram instruídos a colocar seu rosto no chão cinco vezes ao dia, voltados inicialmente para Jerusalém e depois em um segundo momento voltados para a cidade de Meca, onde o profeta vai continuar sua pregação. Para Regina Teresa e Silva (201), em suas peregrinações não havia a presença de imagens e isso foi desagradando alguns comerciantes da região que viviam comércio, principalmente dos mercadores de Meca, onde havia uma grande pedra composta por diversas representações de Deuses, inclusive uma representação de Nossa Senhora. Essa escultura era muito conhecida na região e para lá afluíam caravanas religiosas. No entanto para Maomé, essa veneração tratava-se de um pecado mortal, sendo uma de suas missões extinguir a idolatria e a veneração desses retratos feitos pelos homens. Outro mandamento advindo do Alcorão seria a abstenção de álcool, além de guardar o jejum em um mês especial chamado Ramadan. O islâmico deveria orar cinco vezes, como já mencionado anteriormente, voltado em direção à Jerusalém, posteriormente a Meca. E doar uma parte daquilo que ganhasse como uma esmola obrigatória, pois a pobreza deveria ser amparada e se puder, uma vez na vida, o islâmico deveria peregrinar a Meca. Essas seriam as obrigações básicas de um islâmico e Maomé começou a difundir essas ideias primeiramente na sua família na cidade de Meca, o movimento passou a ganhar força e naturalmente foi recebendo oposição de grandes comerciantes que temiam essa nova ideia, um ideário de monoteísmo, que afastava as imagens, consequentemente enfraquecia o comércio dessas. As peregrinações de Maomé, também criticavam os altos lucros que Meca obtinha devido aos fiéis que por ali chegavam e isso começou a incomodar ainda mais as autoridades locais. De acordo com Jacques Jomier (2002) em 622 a perseguição a Maomé e aos seus seguidores fizeram com que esses, peregrinassem para a cidade de Medina, localizada no oeste da Arábia Saudita, denominada de Hégira, evento que inaugurou o calendário islâmico. Essa jornada, posteriormente ficou conhecida como “Grande Fuga” e teria sido acompanhada por cerca de duzentos islâmicos. Nesse espaço foi construída a primeira mesquita, o primeiro local de adoração de Allah. A influência do profeta também o transformou em um grande líder militar, uma das conquistas mais marcantes realizadas por seus seguidores foi a “Batalha de Badr”, em 624 d.C na região ocidental da Arábia, contra os seus opositores, conhecidos como coraixitas. Em 630 a cidade de Meca é conquistada pelos mulçumanos, Maomé e seus dez mil seguidores, decidem por purificar o local, retirando todas as imagens, cobrindo-a com pano verde, que mais tarde seria um símbolo do Islã. Dois anos após a conquista de Meca, o grande líder do islamismo acaba falecendo, porém, seus seguidores deram continuidade às suas ideias, formando posteriormente um dos maiores impérios da Idade Média, o Império Otomano, é também após a sua morte que o Alcorão começa ser escrito, através de fragmentos deixados por ele. Em linhas gerais, podemos afirmar que o Império Otomano, ou Império Turco- Otomano, foi um dos mais longos da história, “incluía a maior parte dos territórios do Império Romano Oriental e controlava faixas do Norte dos Bálcãs e da costa norte do mar Negro, regiões que Bizâncio jamais dominara” (QUATAERT, 2008, p.13). Oficialmente o período em atividade vai de 1299, data da sua criação pelo Osman de Segut (1280-1326), também conhecido como Osman I até 1923, após a I Guerra Mundial, na qual os otomanos foram obrigados a assinar o Armistício de Mudros, tratado que concedia aos vencedores da Guerra, direitos políticos e econômicos locais. Segundo Donald Quataert (2008), originário da tribo nômade de Oriundos da tribo de Ghuzz, hoje localizado no Cazaquistão, os otomanos, termo em que os adeptos desse império foram chamados, efetuaram um massivo processo de expansão territorial não somente na Europa, mas também em outros continente como a África e parte da Ásia, como podemos observar no mapa abaixo: Figura 3: O Império Otomano Osman de Segut, uma das principais figuras desse império, pertencia a um grupo de nômades convertidos pelo Islã, ou seja, podemos afirmar que a fundação desse reino foi fruto da expansão árabe, que discutimos no primeiro tópico dessa unidade. Aproveitando da desfragmentação territorial presente na Idade Média, a queda da dinastia Seljúcida e a divisão da Anatólia em distintos territórios, no século XVIII. Ottoman I foi paulatinamente conquistando estados importantes no Ocidente e Oriente. Os primeiros na região da Ásia Menor, até o seu apogeu com a conquista de a queda de Constantinopla em 1453, baliza temporal que muitos historiadores apontam como o final da Idade Média. Após sua morte em 1326, o exército otomano passou a ser liderado pelo seu filho Orkhan, dando início a uma nova era de conquistas, dessa vez englobando as regiões Nicéia (parte da Grécia e Turquia), a Bursa, também conhecida como Prusa e em “1354 a ocupação otomana de uma cidade (Type) situada no lado europeu dos Dardanelos, uma das três vias marítimas que dividem a Europa e a Ásia” (QUATAERT, 2008, p. 28). Além de líder militar, Orkhan também possuía habilidades administrativas que o alçaram à figura de grande Imperador. O êxito obtido pelos Otomanos na formação de um Estado deveu-se sem dúvida à sua excepcional flexibilidade, à rapidez e a uma pragmática capacidade de adaptação a condições variáveis. Na dinastia fundada, de ascendência turca, a descendência fazia-se pela linha masculina; ela nasceu numa zona profundamente heterogêneahabitada por cristãos e muçulmanos e por povos que falavam grego e turco. (QUATAERT, 2008, p. 27). Pautados pelo Alcorão, os Otamanos foram responsáveis pela criação de um exército conhecido como “janízaros”, esses eram frutos das conquistas feitas pelo grupo de Orkhan, que passava a doutriná-los e educá-los conforme os mandamentos ditados por Maomé. Muitos desses, eram compostos por crianças e jovens, que ao serem capturados, tornavam-se propriedades do Império Otomano. Os líderes do Império Otomano, foram em sua maioria sultões, quando esses chegavam ao poder, era necessário que afirmassem a sua liderança, era preciso demonstrar a sua aptidão e designo de estar no comando e uma dessas formas, era através da conquista de territórios, de povos e da conversão desses em islâmicos. Nesse âmbito, o principal feito dos Otomanos foi a conquista de Constantinopla, em 29 de maio de 1453, até então centro do Império Bizantino. Assim, quando Mehmed, o Conquistador, ou Maomé II, chegou ao poder em 1541, detinha de um forte alicerce militar e ideológico em se espelhar. “Passados apenas dois anos, em 1453, concretizou o maior sonho otomano e muçulmano de sempre: a conquista da milenar Constantinopla, a cidade dos césares” (QUATAERT, 2008, p. 27). O domínio sobre Constantinopla foi veloz e intenso. Em um rápido período, Mehmed, o Conquistador tratou de transformar a igreja de Santa Sofia em Mesquita. Posteriormente, o imperador dos otomanos adotou uma série de medidas como forma de expandir ainda mais a influência social, religiosa e cultural. Mehmed encarregou-se de imediato de devolver à cidade as antigas glórias; em 1478, o número de habitantes duplicou, passando dos 30.000 que povoavam as aldeias dispersas cercadas por sólidas fortificações para 70.000. Um século mais tarde, esta grande capital vangloriar-se dos seus 400.000 habitantes. As conquistas deste sultão prosseguiram; entre 1459 e 1461 os derradeiros fragmentos bizantinos na Moreia (Grécia Meridional) e em Trebizonda, no Mar Negro, ficaram sob dominação otomana; Mehmed também anexou o Sul da Crimeia e estabeleceu laços duradouros com os khans da Crimeia, sucessores dos Mongóis que outrora se haviam apossado da região. QUATAERT, Donald. The Ottoman Empire, 1700-1922: new approaches to European history. Cambridge: Cambridge University Press. 2008, p. 27 Na primeira unidade do nosso livro, destacamos o marco temporal para o início da Idade Média, muitos historiadores definem como o fim do Império Romano do Ocidente o começo do período medieval. No ano 476, quando esse império tem sua ruína, uma nova ordem ganhou destaque, dividido em duas partes, o lado oriental do Império Romano se tornou uma das supremacias do mundo. Mas por que o Império Romano do Oriente sobreviveu e o do Ocidente não? A resposta para essa pergunta deve-se a forma como essa sociedade estava organizada politicamente, socialmente e principalmente economicamente, uma vez que as despesas e necessidades desse grupo eram diferentes. O Império Romano do Oriente recebeu o nome de Império Bizantino durante a Idade Média, pelo fato de sua capital ser a cidade de Bizâncio, que posteriormente teve o nome alterado para Constantinopla, aquela mesma que falamos no primeiro capítulo e que também foi tema dessa unidade ao retratar o Império Otomano. A mudança de nome deveu-se também a uma forma de homenagear seu patrono, Constantino. A região foi fundada pelo Imperador romano Constantino, ainda no ano de 330 depois de Cristo, “Constantino tratou também de acautelar a segurança da nova cidade, ao edificar uma primeira muralha que cobria uma área de cerca de 750 hectares” (MONTEIRO, 1987, p.17). No ano de 395, depois de Cristo, o Imperador Romano Teodósio dividiu o império entre ocidente e oriente, como forma de aliviar as tensões políticas locais e salvaguarda dos territórios da região. E por que estudar o Império Bizantino é tão importante? Por quase mil anos, esse governo foi o eixo de ligação entre a Europa e Ásia, através do Estreito de Bósforo. Exemplificando, você já ouviu falar que na Turquia, existe a parte asiática e a parte europeia? Ela é considerada geograficamente um país transcontinental. Localizada no Estreito de Bósforo, trata-se de um ponto estratégico, um ponto de passagem entre Europa e Ásia, na qual nos próximos séculos foram palcos de sociedades diferentes, principalmente no âmbito religioso, com o apogeu do Cristianismo e posteriormente do Islamismo. Construída numa encruzilhada de importantes rotas marítimas e terrestres (via marítima entre o mar Negro e o mar Mediterrâneo, vias terrestres da Europa Continental ao Índico e do vale do Danúbio ao do Eufrates), estava fadada a tornar-se simultaneamente um centro político e econômico de primeira grandeza. Em virtude de sua situação geográfica, Constantinopla seria ao mesmo tempo potência marítima e continental. (GIORDANI, 1968, p. 38). Em relação a parte ocidental, a localização privilegiada da parte oriental ajudou no combate contra as invasões de outros povos durante a Idade Média, no mapa abaixo podemos observar a extensão territorial do Império Bizantino durante o seu apogeu, no século XI Figura 2: extensão do Império Bizantino no ano 1025 Fonte: Cplakidas / Wikimedia Commons / CC-BY 3.0 A sua etnia era composta por povos gregos, egípcios e por moradores do leste europeu. Por conta disso, o idioma desse império foi o grego e os países dessa região foram fortemente influenciados pela cultura grega. E como funcionava a política durante o Império Bizantino? Ela era centralizada nas mãos do Imperador, que governava através do Cesaropapismo. Ou seja, ele detinha influência política e religiosa. O imperador recebia o título de basileu, Ao contato do Oriente, ele se tornou o auto crator, e, a partir do início do século VII, o basileus, isto é, o imperador por excelência, o senhor que dispõe de autoridade absoluta. Enfim, o cristianismo fez dele o eleito de Deus, o ungido do Senhor, o representante de Deus sobre a terra, seu lugar-tenente à frente dos exércitos, e, como se diziam em Bizâncio, o príncipe igual aos apóstolos. (DIEHL, 1961, p. 82) Os historiadores apontam que o mais influente desse governo foi Justiniano, que governou entre os anos de 527 e 565. Ele foi responsável por criar um código de leis, chamado “código Justiniano”, que até os dias de hoje influencia o direito atual. Trata-se de um código de leis, inspirado no código Romano, aquele que definia o que era público e o que era privado, além da lei das doze tábuas, O trabalho foi dirigido por Triboniano, um funcionário da corte de Justiniano. Sobre o processo de criação do código, Lyvia Vasconcelos Baptista (2019) destaca: Logo nos primeiros anos de governo, Justiniano, que havia assumido o trono depois da morte do seu tio, Justino, em 527, iniciou a elaboração do material jurídico, ressaltando a importância da composição frente à situação caótica em que se encontravam as leis, jurisconsultos e constituições imperiais emitidas até aquele momento. Intenta-se, desta forma, produzir uma obra compreensiva e sistematizada, baseada na herança legal do período clássico, que, certamente, conseguiu se transformar numa autorizada fonte de informação do Direito Romano (BAPTISTA, 2019, p. 90). O código Justiniano foi dividido em quatro partes essenciais, a primeira denominada de Codex, que determinava o que pertencia ao estado, leis imperiais, que visavam substituir o Código Teodosiano, até então em vigor. A segunda parte, chamada de Digesto, seria as ramificações desta lei. Como por exemplo, hoje temos leis para a saúde, para a educação, para a cultura. Então o “digesto” seria a fragmentação desta lei, composta por mais de 1500 livros escritos por jurisconsultos da época clássica. A terceira parte, conhecemos como Institutasno qual professores de direito dentro do Império Bizantino vão reescrever as leis de forma didática para população ter acesso. E por fim e não menos importante, temos as Novelas que seriam a possibilidade de se criar novas leis de acordo com a necessidade política, econômica e social do império. No entanto, quanto mais centralizado é o poder, maior a chance de insatisfação da população, uma vez que não existia uma democracia neste império, o poder emanava apenas das mãos do imperador. No ano de 532 vai ocorrer uma grande manifestação contrária ao governo, a “Revolta de Nika”. Se no Império Romano, ainda no período da Antiguidade, os eventos foram realizados no Coliseu, no Império Bizantino, a grande diversão eram as corridas de cavalos, no hipódromo da cidade. Existia uma grande rivalidade entre dois grupos a “verde” e a “äzul”, sobre esses grupos, Na tentativa de explicar a separação entre os Verdes e Azuis no Império Bizantino muitos historiadores criaram teorias de diferenciação destas duas facções. Manojlović aponta para a separação entre duas classes sociais: sendo os aristocratas a cor azul, e o povo verde45. Manojlović também aponta para uma separação de cunho religioso, vinculado à própria questão social. Assim, propõe que os Azuis seriam aristocratas, de Constantinopla, de províncias europeias, da elite intelectual de províncias da Ásia ou do Egito, sendo ortodoxos, enquanto os Verdes seriam o povo de classe mais baixa, dos fellahin do Egito, dos estrangeiros da Síria ou Antioquia, sendo monofisitas (NETE, 2012, p. 82). Havia muita violência entre esses dois grupos, e na tentativa de reduzir essa rixa, Justiniano decidiu punir os líderes de ambas, condenando-os à morte. A decisão do então imperador desagradou os dois grupos e durante uma das corridas, eles se uniram e levantaram um motim contra Justiniano. Esse conflito foi apenas o estopim da insatisfação dos moradores da região contra o imperador. O levante durou cerca de três dias, aconselhado por sua esposa a Imperatriz Teodora, Justiniano resistiu aos ataques. Resultando no total de 30 mil mortos dentro do hipódromo. E quais as consequências da “Revolta de Nika”? Justiniano tornou-se ainda mais forte e as pessoas passaram a temê-lo, além disso o Império Bizantino começou a se expandir, aumentando as suas fronteiras para áreas da Ásia e Europa. Esse crescimento teve uma queda com a morte de Justiniano em 14 de novembro de 565 aos 83 anos. Sobre a economia do Império Bizantino, ela era pautada no comércio do Mar Mediterrâneo, era uma economia baseada na produção de tecidos, na agricultura realizada pelos camponeses e pelo domínio das rotas comerciais do mar já citado. Existia uma gama de manufaturas, compostas por servos que trabalhavam nesse império e nessas rotas comerciais, eram negociados produtos como trigo, o ouro e alguns condimentos e temperos. A existência milenar do Império Bizantino em boa parte foi resultado de uma economia estável, que lhe dava os recursos necessários para enfrentar os inúmeros inimigos externos e para sustentar os imensos gastos exigidos pela corte e pela Igreja. Quando as vigas mestras de sua economia foram enfraquecidas, todo o império oscilou: a decadência econômica preparou o desaparecimento político de Bizâncio (JUNIOR, 1977, p. 23). De acordo com Giordani (1998), a religião do Império Bizantino era predominante cristã, no entanto devido às distintas diferenças culturais e sociais, existiam vertentes que pensavam o cristianismo de maneiras diferentes. Como por exemplo o “movimento iconoclasta” que eram aqueles que não aceitavam a adoração de imagens sagradas. Eles tinham o costume de invadir igrejas, templos religiosos e quebrar imagens, pois acreditavam que aquilo não representava a verdadeira fé. Afirmavam que você não poderia orar por aquela imagem e sim somente ter uma ligação direta com Deus. Os imperadores tentavam reprimir esse movimento, porém era muito difícil, pois agiam sempre às escondidas, na madrugada. Outro movimento de grande influência no Império Bizantino, eram os “monofisistas”, que acreditavam que Jesus não era formado pelo corpo e alma, ou seja, pelo divino e humano mas sim apenas pela parte sacra, nesta visão, Jesus teria apenas uma natureza e não duas como defendido pelo cristianismo. Sobre essa ordem, Maria Regina da Cunha Rodrigues (1963) destaca que: O Monofisismo, heresia cristológica do V século provocada pelo arquimandrita Eutíquio, ao ensinar que em Cristo havia uma só natureza, foi condenado no Concílio Ecumênico de Calcedônia em 451. As decisões dogmáticas deste Concílio — dualidade das naturezas divina e humana unidas pelo mistério da união hipostática na pessoa de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, — foram pacificamente recebidas no Ocidente Cristão; recusadas, desvirtuadas, criticadas, entretanto o foram no Oriente, com a cumplicidade dos Patriarcas do Egito e Constantinopla. ( RODRIGUES, 1963, p. 1). E haviam os opositores a esse grupo, os chamados “arianos” que negavam a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus, ou seja, eram contra o dogma da Santíssima Trindade (Deus seria ao mesmo tempo o pai, filho e o espírito santo). O “arianismo” foi um movimento presente desde os primórdios da Igreja Católica, ainda no ano de 319, defendido por Ário, em Alexandria e acreditavam que a única natureza de Jesus era corporal. Então existiam diversas correntes do cristianismo na Europa oriental, e a Igreja Católica de Roma sempre procurou reprimir esses movimentos, ela julgava que todos aqueles que seguiam essas vertentes eram infiéis, hereges. Assim, as disputas de caráter teológicos e eclesiásticas culminaram nos desgastes entre as duas igrejas e na separação de poderes religiosos da capital do berço do cristianismo no ocidente (Roma) e do Império Romano do Oriente (Constantinopla). Ao longo dos séculos, os conflitos de ordem política entre as duas aumentaram, e a Igreja de Constantinopla deixou de ser subordinada a Roma, em 867. No início do século XI, a crítica dos romanos centrava-se no “Cesaropapismo” e em outros usos de objetos e símbolos durante as celebrações, como o pão não fermentado. Sobre a crítica da figura patriarcal na Igreja, Maria Leonor Ferreira (2019) ressalta que: Em Bizâncio exercia-se ainda o cesaropapismo, um “sistema político em que se encontram fundidos o poder civil e o religioso” (Moderna Enciclopédia Universal, 1985), ou seja, o soberano político, o imperador, tinha poder sobre a Igreja, escolhendo os patriarcas e demais cargos eclesiásticos dentro dos seus favoritos, dentro da sua livre vontade, tendo também o poder de depor quem havia sido eleito por si. Em Roma a situação não era idêntica. No Ocidente, o Papa ganha maiores poderes e lutava por uma cada vez maior teocracia Papal, ou seja, um sistema em que o Papa estava acima dos reis, podendo destituí-los, coroá-los imperadores ou excomunga-los. Assim, a diferenciação entre o exercer do poder era ainda considerável, na medida em que, a Oriente o Patriarca se havia tornado num peão do imperador, e a Ocidente o Papa podia tornar os imperadores seus peões. (FERREIRA, 2019, p. 4) Portanto, a relação cada vez mais irregular culminou no rompimento entre as duas instituições, chegando ao ponto do Papa Leão IX e o Patriarca Miguel I Cerulário se excomungarem mutuamente. Esse evento, ficou conhecido como o Cisma do Oriente, ou Grande Cisma e tornou-se um marco importante nos estudos das Histórias das Religiões pois data o rompimento e a divisão da Igreja Católica, entre a Igreja comandada pelo pontífice de Roma, e a Igreja chefiada pelo patriarca, em Constantinopla no ano de 1054. Essa ruptura, originou a Igreja Católica Ortodoxa, assim, o cristianismo passou a se constituir em dois centros, os Ortodoxos e a Igreja Católica Apostólica Romana, com sede em Roma. Existem diferenças substanciaisentre as duas Igrejas, a de rito ortodoxo acredita que a salvação é resultado apenas da fé, já a de Roma além da fé, o fiel necessita realizar obras em prol da instituição. Outro aspecto que distingue as duas Igrejas, é a crença no purgatório, uma vez que este foi instituído por Roma no “Segundo Concílio de Lyon” no ano 1274, quando Constantinopla não reconhecia a supremacia papal. Além disso, podemos considerar que no que tange a natureza dos seus ritos litúrgicos, a Igreja Ortodoxa é estática, diferente da Igreja Católica de Roma, onde houve uma série de reuniões entre o papa e os bispos da Europa, concílios que transformaram as cerimônias religiosas, na instituição de Constantinopla os ritos sofreram poucas mudanças. Outra diferença entre as duas igrejas é o idioma oficial, enquanto em Roma temos o latim, em Constantinopla temos o grego, reforçando mais uma vez a influência dessa cultura no Império Bizantino. É nesse período que temos a construção da basílica de Santa Sofia, a mesma que foi invadida pelo exército Otamano em 1453 e transformada em mesquita. Ao estudar esses fatos históricos, notamos como a História e os acontecimentos estão conectados, sendo grande parte a sucessão de eventos que ocasionaram mudanças substanciais na forma de viver e se organizar socialmente. Além do surgimento da igreja Ortodoxa, outras vertentes cristãs, todas de origem católica, emergiram nesse período, como por exemplo a Igreja Cristã Ucraniana, que passou a ser administrada pelo patriarcado de Constantinopla. Se no começo desse tópico destacamos a posição geográfica privilegiada do Império Bizantino, podemos considerar que ela também acarretou sua ruína, em 1453. A localização próxima ao continente da Ásia, possibilitava o ataque de diversos grupos rivais, entre eles os próprios romanos, através das Cruzadas e o islamismo, ataques oriundos do mundo Árabe. Em 1204, através do processo de cruzadas, os cristãos romanos promovem uma série de saques para amedrontar a população, eles não chegam a dominar politicamente a região, mas enfraquecem Constantinopla, tornando-a cada vez fragmentada, até a sua ruptura em 1453. A conquista de Constantinopla, mais do que um feito do Império Otomano, foi também consequência dessa descentralização de poder de um Império que vigorou por mais de mil anos e influência até os dias de hoje a sociedade, seja ela através da sua língua, dos seus dogmas cristãos ou de sua arte e expressão cultural. Pouquíssimas histórias são tão arrepiantes e inspiradas no puro heroísmo como foi o lento processo de retomada cristã dos territórios que haviam sido conquistados pelos mouros na Península Ibérica. Foram quase oito séculos de forte presença islâmica nos territórios que hoje correspondem a Portugal e a Espanha (711 a 1492). Como já dito anteriormente, a História é resultado de processos contínuos interligados, Eric Wolf (1999) destaca que é dever do historiador, compreender que a sociedade possui um total de processos múltiplos que são interconectados, e se forem compreendidos isoladamente empobrecem o entendimento histórico. Por muitos anos, permaneceu a ideia de que a História ocidental era o centro, e de que esta poderia ser compreendida por si só, no entanto, ela só é compreendida de uma maneira ampla se percebermos as conexões existentes entre as culturas. O tema desse tópico e resultado desses processos, é decorrência da rivalidade entre cristãos e mulçumanos que levaram a conquista de Constantinopla na parte oriental e a forte influência da Igreja Católica na parte ocidental. É durante esse contexto que acontece o processo de “Reconquista da Península Ibérica” ou também denominada a “Retomada Cristã”. A Península Ibérica está localizada no continente europeu, e está dividida por dois territórios, a Espanha e Portugal, além disso, há também outras regiões como o principado de Andorra e a Gibraltar, pertencente à ordem britânica. O conflito opôs cristãos e mulçumanos em uma disputa que perdurou por séculos e modificou parte da estrutura política, econômica e social dessa região. Mas por que esse território foi alvo de disputas entre esses dois povos? O que havia de tão importante na Península Ibérica? Para responder essas perguntas, precisamos realizar uma breve reflexão sobre a origem dessa região. Estudiosos afirmam que a Península Ibérica chegou a ser povoada até 10 mil anos atrás, os nômades que viviam nesse espaço compartilhavam da agricultura de subsistência, além da domesticação de animais. No entanto, é a partir do século III a.c, que o poderoso Império Romano invade a região e domina os povos celtas e iberos presentes. De acordo com Nilsa Areán García (2006). No ano de 210 a. C., iniciou-se a colonização da Península Ibérica como empreendimento da expansão do Império Romano, que inicialmente, se deteve no litoral mediterrâneo principalmente visando a estabelecer o domínio de cidades de colonização grega e fenícia. Posteriormente, de 197 a 133 a. C., durante o Império de Augusto, houve uma grande investida em direção ao interior da Península com sua quase total incorporação ao Império, ficando apenas o extremo norte povoado pelos bascos e cántabros, e extremo noroeste, povoado pelos galaicos à margem imperial. Segundo Bassetto (2001, p. 102), somente em 19 d.C. os povos do norte e noroeste foram romanizados, ainda que Estrabão, em sua Geografia (29 a. C.), afirme que estes povos caracterizavam-se pela “brutalidade e selvageria”. (GARCÍA, 2009, p. 26). Os romanos controlaram as fronteiras da Península Ibérica por quase sete séculos e as práticas fundidas nesse território influenciaram grande parte da economia do mundo Medieval e Moderno, como por exemplo a rota marítima e o comércio local, a construção de estradas, vias e alamedas que ligavam os territórios, além da fusão do latim nas regiões da Espanha e Portugal. Como já discutido no primeiro tópico dessa unidade, a partir do século VIII, os mulçumanos estavam empenhados cada vez mais em expandir os seus domínios políticos e econômicos na Europa. Após a morte de Maomé, os Árabes focaram seus esforços no norte da África, continente próximo a Península Ibérica, em 711 o líder do Império Islâmico Tarik ibn-Zyiad, junto com o seu exército marchou até o estreito de Gibraltar e invadiu a Península. O exército cristão, que naquele período era formado por povos germânicos convertidos, foi derrotado e a partir desse momento, por longos oito séculos, uma série de conflitos e guerras de ordem religiosa e política aconteceram. No entanto a resposta dos Visigodos (os povos germânicos que viviam no local) foi de certa forma rápida, sete anos após a derrota dos cristãos, Pelágio, chefe dos Visigodos, reuniu parte do exército que se encontrava isolados nas montanhas, dando início a uma nova empreitada em busca da conquista de parte das terras que foram conquistadas pelos mouros. Essa disputa ficou conhecida como “Batalha de Covadonga” e quase vinte anos após o conflito, o território próximo ao rio Douro, voltou a pertencer mais uma vez aos cristãos. Para compreender melhor o quadro desses conflitos, listamos um quadro com os acontecimentos mais marcantes desse processo de reconquista da Península Ibérica: Quadro 1: Linha temporal da Reconquista Ibérica Ano Acontecimento Histórico 711 Os mulçumanos invadem a Península Ibérica. 718 Pelágio, chefe dos Visigodos, avança sobre o exército dos Mouros dando início ao processo de reconquista da Península 750 Afonso I lidera o ataque à região da Galiza, antes pertencente aos Árabes. 791 Acontece a “Batalha de Burbia”, onde os mouros conquistaram parte da região da Galiza. O conflito foi liderado por Emir Hixam I. 930-950 Mais um conflito, dessa vez, vitória dos povos cristãos. A “Batalha de Simancas”, é marcada pela presença do imperador Ramiro II, que vence o líder árabe Abdal- Rahman III 981 O filho do Imperador Ramiro II, é derrotado pelos mouros na “Batalha de Rueda” e o reino é obrigado a pagar tributos ao Califado de Córdova, localizado no norte da África. 1118 Afonso I do reino de Aragão, conquista o território de Saragoça, atualmente um município da Espanha. 1147 Com apoio da Segunda Cruzada, o rei D. Afonso Henrique reconquista a cidade de Lisboa no episódio chamado “Cerco de Lisboa”. 1212 Acontece a “Batalha de Navas de Tolosa”, conflito que reuniu líderes da igreja católica e os reinos de Portugal, Leão e Espanha derrotando o Califado Almóada. 1252 A cidade de Sevilha, até então uma das poucas províncias ainda sob domínio dos Mouros é reconquistada pelos espanhóis sob a liderança de Fernando III de Castela. 1340 Após um longo período de conflitos, portugueses e espanhóis voltam a controlar parte do reino de Granada. A disputa ficou conhecida como “Batalha do Salado”. 1469 Início da criação do estado moderno da Espanha, com o casamento de Isabel, de Castela, e o príncipe Fernando, de Aragão. 1482-1492 Conquista total do reino de Granada. 1493 Inicia-se o período das Grandes navegações e descobertas marítimas por parte de Portugal e Espanha. Fonte: adaptado pelo autor. Podemos observar, que o processo de reconquista da Península Ibérica foi motivado por dois pontos centrais: o primeiro de cunho religioso e o segundo político. Quanto mais terras, mais riquezas, mais poder e maior a influência religiosa. Outro fato que merece destaque, após a “Reconquista Cristã” os povos de outras religiões, tiveram duas opções: ou aceitavam a fé católica ou eram expulsos da região. Como dito na introdução desta unidade, discutimos uma série de aspectos da Idade Média que estão conectados historicamente. É preciso compreender que cada território, por mais que apresentasse a sua própria cultura, ao entrar em contato com outros povos também absorveu essas características desses. Temos como exemplo a expansão do islamismo, que ao passar do tempo foi agregando cada vez mais fiéis e as cidades que por ora foram de domínios dos cristãos e depois dos mouros. AS GRANDES RELIGIÕES DO MUNDO. Nesse livro os autores contextualizam historicamente as varias religiões do mundo, como o cristianismo e o islamismo pelo viés de categorias de diferentes disciplinas( sociologia, antropologia, literatura) . Compreendendo esses fenômenos religiosos através da luz de alguns conceitos desenvolvidos por cientistas da religião. Fonte: MARCHON, B.; KIEFFER, J.-F.As grandes religiões do mundo.São Paulo: Paulinas, 1995. Disponível em: http://ensinoreligiosonreapucarana.pbworks.com/w/file/fetch/82875070/E.R%20As% 20grandes%20religi%C3%B5es%20do%20mundo.pdf LIVRO Título: História Do Império Bizantino Autor: Mario Curtis Giordani Editora: Vozes, 2001 Sinopse: Nessa obra de grande importância para os estudos da história Medieval, Mario Curtis Giordani, o autor apresenta as principais características do Império Bizantino e a influência que ele exerce até os dias de hoje, principalmente aos povos do leste europeu. Destaque para a análise do Código Justiniano e do processo de conquista da cidade de Constantinopla. FILME/VÍDEO Título: Cruzada Ano: 2005 Sinopse: O épico protagonizado por Orlando Bloom narra as aventuras do ferreiro Balian e seu pai Baron Godfrey, na primeira cruzada organizada pela Igreja Católica, entre os séculos XI e XII. A conquista da cidade de Jerusalém é retratada nesse conflito que conta com elenco de peso, como os atores Eva Green, Liam Neeson, Jeremy Irons e David Thewlis. O que você precisa saber sobre o Império otomano. Nessa reportagem da revista Galileu do grupo Globo, o Império Otomano é apresentado desde a sua origem no século XIII e suas conquistas territoriais, até a sua derrocada no pós Primeira Guerra Mundial. Fonte: PETERSEM Tomas. O que você precisa saber sobre o Império Otomano. Revista Galileu. Novembro de 2019. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2019/11/o-que-voce- precisa- -saber-sobre-o-imperio-otomano.html Acesso em: 25 de agosto de 2020. Caro aluno e aluna, neste capítulo veremos que as grandes universidades surgiram na Europa durante a Idade Média. Discutiremos um dos aspectos mais importantes da Idade Média, que derruba por terra o mito de que esse período foi uma “Idade das trevas. As universidades na Idade Média foram em parte, uma marca da Igreja e foi à base do conhecimento e do ensino que temos até o dia de hoje. A Idade Média foi à época das grandes construções, das catedrais e das cruzadas. As Catedrais eram construídas para o louvor a Deus, as cruzadas para o combate em favor de Deus e a universidade era a busca do saber e ensinamentos de Cristo. Em meio uma agitação intelectual, no seio da Igreja Católica, por volta do século XII, nasceu uma das primeiras universidades do mundo, As instituições que a Idade Média nos legou são de um valor maior e mais imperecível do que suas catedrais. E a universidade é nitidamente uma instituição medieval – tanto quanto a monarquia constitucional, ou os parlamentos, ou o julgamento por meio do júri. As universidades e os produtos imediatos das suas atividades podem ser afirmados, constituem a grande realização da Idade Média na esfera intelectual. Sua organização, suas tradições, seus estudos e seus exercícios influenciaram o progresso e o desenvolvimento intelectual da Europa mais poderosamente, ou (talvez devesse ser dito) mais exclusivamente, do que qualquer escola, com toda a probabilidade, jamais fará novamente. (RASHDALL, 1952, p.3) De acordo com Le Goff (1977) elas nasceram próximas das catedrais e dos mosteiros. Em cada um desses tinha ao lado um colégio, e esses com o passar dos anos foram se transformando em pequenos centros de estudos, recebendo o apoio de autoridades locais. A exemplo, a Universidade de Montpellier na França que fica ao lado da fachada da Catedral. A primeira universidade foi a de Bolonha, fundada em 1158 na Itália, que teve a sua origem da fusão da escola episcopal com a escola monacal camaldulense de São Félix, onde estudavam profundamente o direito. No mesmo ano também foi fundada a Universidade de Sorbonne em Paris. No século XIII o número de estudantes matriculados na universidade italiana já passava de dez mil e reunia grupos étnicos distintos, como além dos italianos, os mouros e espanhóis. “Em Bolonha, o sistema de organização e de ensino dos Estudos Gerais segue outros moldes para atender anseios municipais, carente de juristas e de administradores” (BOHER, 2012, p.3). Já na universidade francesa formaram grandes pesquisadores, como Tomás de Aquino, responsável pela “escolástica” no qual veremos a seguir. No século XII, as escolas em Paris já alcançavam um extraordinário desenvolvimento. As Escolas de Artes Liberais e as de Teologia se agruparam às Escolas de Direito e de Medicina na região da Île de la Cité, nascendo assim a Universidade de Paris na França (1150), com seus renomados mestres (Guillaume de Champeaux, Abélard, Gilbert de la Porrée, Petrus Lombardus e muitos outros), que atraíam estudantes de todas as partes do país e das regiões próximas. Nesse mesmo século, surgiu, ainda, a universidade de Modena (1175) na Itália. (SIMÕES. 2013, p. 136). Na Inglaterra, a conceituada Universidade de Oxford teve sua gênese sob os olhos do Papa Inocêncio IV, ainda no século XII. Os alunos ingleses frequentavam a Universidade de Paris, contrário dessa ideia, o rei Henrique II da Inglaterra os proibiu. O núcleo de pesquisa de Oxford rapidamente se expandiu e em 1167 estava estabelecida como um grande centro de conhecimento. O primeiro sentimento que se experimenta quando se visita Oxford é um respeito involuntário pela antiguidade que fundou estabelecimentostão imensos a fim de facilitar o desenvolvimento do espírito humano, e pelas instituições políticas do povo que as preservou intactas através dos tempos. (...) As faculdades, cujo conjunto constitui a Universidade de Oxford, foram fundadas originalmente para que nelas se pudesse adquirir toda a instrução que comportavam os séculos que as viram nascer. Foram ricamente dotadas no objetivo de nelas fixar os melhores mestres e oferecer gratuitamente a melhor educação possível. Tal é, evidentemente, o objetivo e o espírito dessas funções, várias das quais remontam aos séculos XIII e XIV. Segundo o costume dessa época, que tinha poucos conhecimentos e prezava apenas a riqueza territorial, uma imensa extensão de terreno foi concedida às faculdades como propriedade inalienável (TOCQUEVILE, 2000, p. 51). Posteriormente inicia-se um processo de expansão dessas universidades para o leste europeu, onde são criadas as universidades de: Lérida (1300) na Espanha, a de Roma (1303) na Itália, a de Avignon (1303) e a de Orléans (1305) na França, a de Perugia (1308) em Portugal, a de Cambridge (1318) na Inglaterra, a de Florença (1321) na Itália, a de Grenoble na França (1339), a de Pisa (1343) na Itália, a de Praga (1348) na República Tcheca, a de Pávia (1361) na Itália, a de Jagiellonian (1364) na Cracóvia na Polônia, a de Viena (1365) na Áustria, a de Heidelberg (1367) na Alemanha, a de Ferrara (1391) na Itália (SIMÕES, 2013, p 137). Thomas Ransom Giles destaca que: É nas universidades que o acervo dos conhecimentos se organiza, se conserva e se transmite. A universidade é o verdadeiro centro da atividade intelectual onde o processo educativo progride mais do que em qualquer outra instituição. A função da universidade como casa de liberdade intelectual, numa época altamente desconfiada de qualquer suspeita de heresia, é de máxima importância. É o único lugar onde assuntos proibidos ou suspeitos podem ser discutidos com certa impunidade. (GILES, 1987, p.63). No século seguinte, o desenvolvimento universitário continuou com a criação das universidades alemãs nas cidades de Wurzburg (1402) de Leipzig (1409) e Rostock (1419), ainda na Itália, criando a universidade de Turim e na Escócia o centro de estudos de St. Andrews e de Glasgow. Desde a Idade Média, as universidades eram tidas como locais de grandes prestígios, “a universidade era uma escola de fundação pontifícia cujos membros, organizados em corporações ou não, gozavam de certos privilégios eclesiásticos” (ROSSATO, 2005, p.19). Giles (1987) ressalta que para ingressar ao campo universitário o aluno deveria passar por um processo rigoroso e atender algumas necessidades, como por exemplo, ser maior de 21 anos, ter no mínimo seis anos dedicados a estudos e por último ser aprovado em um debate que julgaria se o aluno estava apto para cursar bacharelado e ou licenciatura. Com o passar dos anos as universidades vão lentamente se afastando dos muros teológicos da Igreja. Esse foi um processo lento, findado apenas na Idade Moderna. A França foi umas das primeiras a dar indícios dessas mudanças. Quando a colação de grau passa a funcionar como uma licença para lecionar, a universidade passa a ter maior autonomia, visto que isso anteriormente só era cedido pela Igreja. Quanto à forma como o ensino era transmitido, no princípio era através da fala e reprodução, os livros eram lidos pelos professores e os alunos os reproduziam, uma vez que o custo desses eram muito altos. A educação universitária, a princípio, era totalmente livresca, feita por uma seleção muito limitada de livros em cada campo, livros que eram aceitos como se suas palavras fossem a absoluta e última verdade. Era dirigida muito mais para o domínio do poder dos discursos formais, especialmente argumentação, do que para a aquisição de conhecimento ou para a busca da verdade no sentido mais amplo, ou mesmo para familiarizar o estudante com aquelas fontes literárias do saber que, embora ao seu alcance, estavam fora da aprovação eclesiástica ortodoxa (MONROE, 1939, p. 133). Nas aulas do curso de direito, havia espaço para debate. Professor e aluno se organizavam e apresentavam posicionamentos ideológicos de natureza jurídica, na qual era fundamental dominar a arte da retórica. “O importante nesse processo de materialização de suas ideias é que elas foram tão reais e corresponderam, significativamente, aos interesses dos homens e que muitas prevalecem ainda hoje” (OLIVEIRA, 2007, 118). Outro fator que merece atenção no que tange às universidades na Idade Média foram os conflitos de ordem política entre realeza e papado que vão interferir diretamente nos campos universitários. No século XIII, na Baixa Idade Média, essas instituições enxergavam as universidades como centros essenciais de apoio político e cultural, como já dito anteriormente, existiam uma fermentação artística e científica que acabava se disseminando por grande parte da sociedade. Assim, eram publicadas leis e bulas papais na finalidade de deliberar sobre o funcionamento e organização das mesmas. Temos como exemplo a Authentica Habita, de Frederico Barba Roxa, de 1158, e a bula de Gregório IX intitulada Parens scientiarum universitas, de 1231. “Ambas foram promulgadas para proteger a vida e os interesses dos estudantes e mestres e para organizar a vida acadêmica” (OLIVEIRA, 2007, 118). Enquanto as universidades estiveram atreladas aos pensamentos católicos, surgiu nesses centros de pesquisa uma corrente filosófica responsável por um método de pensamento crítico. A “escolástica”. Tanto a ciência moderna, quanto os postulados filosóficos que hoje permeiam a sociedade são heranças que nós temos da Idade Média e do pensamento dos escolásticos. O que foi a Escolástica? Em linhas gerais, chamava-se de Escolástica todo método de pensamento crítico e os trabalhos feitos nas universidades medievais da Europa fundadas pela Igreja, em que eram conjunto do pensamento e do saber dos intelectuais da época. Acima de tudo o uso da razão como ferramenta indispensável no que tange tanto a teologia como a filosofia. A escolástica foi um método de pensamento e de ensino que surgiu e se formou nas escolas medievais e se plasmou de modo inexcedível nas universidades do século XIII, máxime através do magistério e das obras de Santo Tomás de Aquino. O termo escolástica, porém, significa ainda o conjunto das doutrinas literárias, filosóficas, jurídicas, médicas e teológicas, e mais outras científicas, que se elaboraram e corporificam no ensino das escolas universitárias do século XII ao século XV, pois não nos cabe considerar a Segunda Escolástica que floresceu na época do Renascimento (NUNES, 1979, p. 244). Pode-se dizer que a Escolástica foi basicamente o movimento nas universidades europeias medievais que buscavam racionalizar a fé. Para entendermos bem essa questão, temos que mergulhar na História e entender que desde a era da “Patrística”, ou seja, os pais da igreja que fundamentaram toda a teologia cristã nos primeiros séculos, e que teve como maior expoente Santo Agostinho, sempre houve no ambiente católico uma divergência muito grande entre questões teológicas e os debates sobre como fundamentar a doutrina cristã. De acordo com Dario Antiseri (2003) o principal objetivo que estabeleceu a “Escolástica” nas universidades de toda a Europa era justamente provar a existência de Deus e os dogmas da Igreja através da síntese, ou seja, a união entre a Filosofia ou razão e a Teologia ou o estudo da fé. Neste cenário de disputas intelectuais se insere também Santo Anselmo da Cantuária, um monge Agostiniano que é considerado o primeiro grande pensador escolástico no final do século XI, com a sua tentativa de provar Deus através do argumento ontológico, que diz que a mera possibilidade de conseguirmos conceber um ser tão perfeito, quanto Deus isso por si só já é a prova de que ele existana realidade. Posteriormente, no século XII, a Europa começa a vivenciar um impacto cultural muito grande com a introdução das obras de Aristóteles traduzidas por árabes instalados na Península Ibérica, como já discutido no capítulo dois. Assim que a filosofia platônica aliada aos escritos de Agostinho deixa de ser a centralidade de todo o pensamento cristão a filosofia aristotélica passa a ser a nova fonte de fundamentação diante da teologia católica. Essa união da fé e da razão (a fé a serviço da razão e a razão a serviço da fé) e nesse caso centrada nas obras de Aristóteles, foi o que deu início ao que nós podemos chamar de o auge da tradição “Escolástica” no século XIII, principalmente com São Tomás de Aquino, que sem dúvidas foi o maior expoente de toda essa metodologia. Uma dupla condição domina o desenvolvimento da filosofia tomista: a distinção entre razão e fé, e a necessidade de sua concordância. Todo o domínio da filosofia pertence exclusivamente à razão; isso significa que a filosofia deve admitir apenas o que é acessível à luz natural e demonstrável apenas por seus recursos. A teologia baseia-se, ao contrário, na revelação, isto é, afinal de contas, na autoridade de Deus (GILSON, 1995, p. 655). Sua influência é tamanha, que dividimos os escolásticos em pré e pós-tomista. São Tomás é considerado o maior pensador escolástico, pois interpretou as noções aristotélicas que haviam acabado de chegar à Europa e com isso criou uma metodologia a serviço da fé cristã. Para Aquino, basta olharmos a criação para vermos que Deus existe e que o mundo e o homem são imagens de Deus. Porque, ao observarmos o mundo, vemos todos os tipos de efeitos para os quais devemos supor que haja uma causa. E essa causa supõe, necessariamente, uma “causa primeira”, começo e fim de todo o movimento. É um universo finito, limitado e ordenado pela “causa primeira”, pois sua ausência levaria a uma proliferação infinita de causas, à desordem, ao caos. (ALMEIDA, 2005, p. 25). A grande contribuição de São Tomás de Aquino foi justamente ter conseguido se utilizar a refinada filosofia grega em Aristóteles para fazer da doutrina católica uma doutrina racional, uma doutrina fundamentada não somente na fé, mas também na razão, para aquele período. A Igreja precisava de alguém que compreendesse a filosofia de Aristóteles e mostrasse que ela não estava em desacordo com a fé cristã, com a doutrina católica, mas sim que o aristotelismo era um importante instrumento para que as pessoas pudessem entender ainda mais a fé e com isso se tornarem um instrumento para que pudessem compreender a revelação de Deus que está no evangelho, nas sagradas escrituras. A Suma teológica de Tomás de Aquino, texto de fins pedagógicos, um manual para as novas universidades, marca profundamente até hoje a concepção de conhecimento, e a pedagogia curricular de nossas universidades, principalmente o campo da educação, herdeira direta e persistente da educação cristã. A Suma é perfeito exemplo do pensamento e da dialética escolásticos: não admite contradição, é um sistema de argumentação que parte de verdades indemonstráveis, princípios, e por intermédio de perguntas e respostas divide os argumentos por meio da distinção de oposições, e, como conclusão, afirma uma unidade, uma resposta única e inequívoca. (ALMEIDA, 2005, p.25) Através da “Suma teológica”, obra escrita entre 1265 e 1273 em que Aquino dialoga com questões referentes a Deus, natureza, filosofia e o ser humano os escritos de Tomás de Aquino “são indiciários tanto de um rompimento de uma tradição agostiniana na Idade Média central quanto de uma aproximação com os escritos de Aristóteles” (FONTOURA, 2016, p.72). Em sua dissertação de mestrado, Lucia Sant’Anna elucida a importância desse conjunto de obras com a necessidade de uma nova formação acadêmica. Sto. Tomás percebe a necessidade de escrever uma Suma de Teologia quando, em Orvieto, ocupa a função de leitor conventual. O leitor conventual era responsável pela formação dos frades que não haviam tido oportunidade de estudar na universidade. Essa formação tinha como objetivo preparar melhor os frades para as suas duas principais tarefas: pregar e ouvir confissões. Os leitores conventuais usavam para a instrução dos frades uma série de manuais de pastoral do Santo. (SANT’ANNA, 2008, p. 20). Aquino se torna não apenas o grande nome da “Escolástica”, mas também uma referência da filosofia e teologia na Idade Média. Pautada em parâmetros criados para o agir, para o pensar e como compreender a sociedade naquele tempo em forma de diálogos. E como que se dá a relação entre fé e razão, entre filosofia e teologia no pensamento de São Tomás de Aquino? O teólogo, ao valorizar a razão, equilibra a filosofia junto com a teologia. Assim, para entender o homem e o mundo, é necessário se ater a Deus. O ser divino seja na filosofia ou na teologia deve ser o principal de observação, na qual o homem encontraria as respostas na sagrada escritura. A razão nesse pensamento funcionaria como um mecanismo para preparar as pessoas, para sim elas terem fé e crer em Deus. Nesse âmbito, filosofia e teologia têm as suas diferenças, pois, enquanto a primeira vai nos conceder um conhecimento imperfeito sobre as coisas, a segunda será responsável por revelar, esclarecer esse conhecimento. Para São Tomás de Aquino, a fé qualifica a razão, essa poderia até possuir conhecimento sobre as coisas sobre o homem, mas é uma noção imperfeita na qual é aperfeiçoada pela fé, pelo dom divino, através da graça. Assim, a natureza racional do homem agiria de certa forma mais equilibrada se a fé conduzisse a sua vida. Aquino defendia que o ponto de partida para esse diálogo entre fé e razão, seria por meio das “verdades racionais” uma vez que seria ele o elo que ligaria os cristãos e os pagãos que deveriam ser convertidos, a razão seria o ponto comum entre esses dois grupos. Figura 1: São Thomaz de Aquino, retratado por Gentile da Fabriano Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gentile_da_Fabriano_052.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gentile_da_Fabriano_052.jpg Outros grandes pensadores do movimento escolásticos foram Alberto Magno, professor de São Tomás de Aquino, Roger Bacon um dos maiores cientistas de todos os tempos, São Boaventura, Pedro Abelardo, Duns Escoto, grande parte destes que viveram no século XIII, que com suas obras revolucionaram a filosofia e a teologia no mundo ocidental, de uma forma nunca vista até então. Quanto ao método utilizado pelos “escolásticos” como era sua forma de produção de conhecimento? O que os diferenciava? Na Idade Média se seguia um padrão “dialético” a fim de se obter conhecimento, era então colocada uma questão a ser tratada e o autor, ou aquela pessoa que iria debater, criava uma consideração, um argumento que deveria ser confrontado, por último o professor escolástico fazia uma síntese do que analisava como verdadeiro, como correto, ao contrastar argumentos contrários debatidos. O que traz uma verdadeira unidade à Escolástica é o seu método: o mestre escolástico deve extrair do texto canônico – que traz a Escolástica o princípio de Autoridade – a matéria para um problema, e a partir daí desenvolvê-lo em relação a um interlocutor imaginário pronto a lhe opor objeções. A base do método é o desejo de explicitar tudo, esgotando sistematicamente todas as possibilidades. O método escolástico desenvolve-se em torno de alguns pontos essenciais, entre eles a ‘precisão vocabular’ e a ‘Dialética’ – conjunto de operações que fazem do objeto de saber um problema que será exposto e sustentado contra o interlocutor real ou imaginário (BARROS, 2012, p. 233). Esse era o método escolástico de aprendizagem, na qual as conclusões eram retiradas sempre através do debate de ideias, que nas escolas medievais eram sempre regidas pelo bomuso da lógica formal através de um mestre que ministrava os debates dos seus alunos. A Escolástica fundamenta-se, neste aspecto em particular, no ‘princípio de autoridade’: será uma ciência do comentário, e, por mais magistrais e criativas que sejam as elaborações produzidas por seus mestres, existirá sempre uma série de textos canônicos dos quais os mestres escolásticos deverão extrair toda a exposição de seus pensamentos (BARROS, 2012, p. 233) Valemos lembrar que há quase mil anos atrás nós não tínhamos os mesmos recursos de ensino que nós temos hoje, então temos que levar em conta a dificuldade de cada época, nesse período, o estudo era voltado para a oratória, da dialética, e da retórica. A diferenciação que geralmente se faz entre a filosofia patrística, ou seja, dos padres dos primeiros séculos do cristianismo que veremos a seguir, pela tradição Escolástica, que começou pelo século X está marcada, principalmente, na forma como os dois lidaram com a filosofia grega. Os “Patrísticos” e os primeiros escolásticos anteriores a São Tomás de Aquino cujo pensamento pertence a uma divisão majoritariamente platônica, especialmente se consideramos a figura de Agostinho o maior expoente da patrística, não admitiam que sob nenhuma hipótese a ciência fosse separada da teologia, pois na visão deles, razão e fé estavam sempre atreladas a outra, em alguns casos, os “Patrísticos”, preferiam dar valor somente à fé em detrimento da razão. Já com a introdução das obras de Aristóteles nas universidades europeias no final do século XII os escolásticos começaram a adotar a concepção de teologia independente da filosofia, embora eles concebessem que a filosofia estivesse a serviço da teologia, os escolásticos afirmavam que a fé e a razão possuíam papéis distintos, porém complementares, uma vez que levam a um só objetivo: compreender a Deus e a realidade por ele criada. São Tomás de Aquino entende que o papel da razão, nesse caso é justamente de demonstrar e explicar os mistérios revelados pela fé, e esse debate acerca da autonomia ou não da fé sobre a razão se dá até o século XIV, quando o teólogo Guilherme de Ockham, também do pensamento escolástico é considerado o precursor do racionalismo, do cartesianismo e do empirismo moderno concebe a separação entre razão e fé, adjunto com as novas descobertas da Ciência Moderna. Guilherme de Ockham (1290-1349) – franciscano que inicia seus estudos em Oxford – representará a segunda força do pensamento escolástico no século XIV. Na verdade, tal como observa Chaunu, ele “só penetra no interior do aristotelismo para melhor o desmantelar” (CHAUNU, 1993, p.103). O nominalismo que será introduzido por Ockham no pensamento escolástico, na verdade destruindo-o ou desmantelando-o, traduz de certo modo a consciência de um fracasso do antigo pensamento escolástico diante de um novo mundo para o qual já não fornece as respostas. (BARROS, 2012, p. 238). De acordo com Le Goff (1977), entre os séculos XIV e XV, a “Escolástica” começou a perder espaço e consequentemente seguidores, pois esse período marcou as renovações culturais na Europa, principalmente com advento do Renascentismo e o fim da Idade Média. Até o presente momento, procuramos refletir sobre como o conhecimento e a produção do saber se desenvolveu durante a Idade Média. Na primeira unidade focamos nos séculos XI até o século XV, período que compreende a Baixa Idade Média, nessa época como já exposto, a principal metodologia e produção de ensino foi influenciada pela “Escolástica”. No entanto antes dela, havia outras ramificações dentro da Igreja que afirmavam a importância da fé para compreensão do mundo. Nesse período temos o surgimento dos “patrícios”, movimento filosófico empreendido pelos padres, que tinham a finalidade de evangelizar os pagãos e converter aqueles que a Igreja considerava infiéis para a fé cristã. Mas o que foi a “Patrística”? No que esses padres se fundamentavam? A “patrística” foi um movimento de transição da Antiguidade Clássica para a Idade Média e não é marcada por característica nem pertencente do período antigo, nem do medievo, ao menos da Alta Idade Média. A Patrística, gênese da literatura cristã, representa a expressão da fé dos denominados Santos Padres da Igreja, teólogos de excepcional saber e de reconhecida santidade. Construtores da teologia católica e mestres da doutrina cristã floresceram entre os séculos 11 e VIII. Melchior Cano (2) assim os caracteriza: 1. Ortodoxia doutrinária; 2. Santidade de vida; 3. Reconhecimento, ao menos indireto, por parte da Igreja; 4. Antiguidade. (SOUZA e FILHO, 1988, p.202). Os adeptos a “patrística” tinham como finalidade dar continuidade as palavras de Cristo presente na bíblia, ou seja, levar a palavra de Deus aos homens e nessa empreitada eles utilizavam as escrituras sagradas como um instrumento muito poderoso, principalmente as epístolas de Paulo e o evangelho de João. Quando o cristianismo passou a ser a religião oficial do Império Romano ainda no século IV com o decreto do Imperador Teodósio I, os cristãos ainda eram alvos de perseguições e como era uma prática que estava crescendo, não havia seguidores em alguns territórios europeus. Vencido o paganismo (Edito de Constantino, 313) a Igreja concentra a sua atividade nas próprias doutrinas. As heresias surgidas então, como o arianismo, o maniqueísmo, o pelagianismo, o donatismo, o nestorianismo e outras, ensejaram o despontar dos apologistas da fé no campo filosófico quanto no teológico. Conquanto a filosofia patrística não tenha alcançado um corpo e uno, desenvolveu-se amplamente no que concerne ao dogma, às questões morais, ao fim do homem, às virtudes, à existência, à natureza e atributos de Deus, sua relação com o mundo, à graça, à natureza da alma e suas faculdades. (SOUZA e FILHO, 1988, p. 203). A principal dificuldade encontrada entre os patrísticos foi difundir a fé católica entre os povos que já estavam acostumados com a filosofia e a cultura grega. Estes já possuíam uma visão de mundo pautada na racionalidade. Então os padres equacionaram, ou seja, delimitaram a relação entre fé e razão, para assim poder converter essas sociedades. Eles inseriram o evangelho, as escrituras bíblicas nesses grupos que para eles eram totalmente novos, desconhecidas e por muitos visto como absurdas. Entre os princípios introduzidos pelos patrísticos está à criação do mundo, o pecado original, o juízo final, a santíssima Trindade e a ressureição de Jesus. Todas essas passagens tinham como principal fio condutor a figura de Deus, elas eram explicadas através da fé, afastando-se da racionalidade e isso para os gregos principalmente, era algo inaceitável. Havia então uma incompatibilidade de ideias, de visões de mundo, da maneira como esses grupos enxergavam o papel do homem na sociedade. De acordo com Claudio Moreschini (2008) a primeira fase da “Patrística” foi formada por padres apologistas, ou seja, aqueles que eram pagãos e se converteram ao cristianismo e escreviam apologias, ou seja, defendia a fé de Cristo através de elogios e exaltação. Nessa fase, a obra de Justino, mártir, vai ser de grande importância a esses padres, uma vez que ele narrava sua trajetória de vida e afirmava que a busca pela verdade só seria alcançada após a sua conversão. S. Justino (166), nascido em Naplusa na Galiléia, mártir. Escritor leigo, autor de duas Apologias e do Diálogo com o judeu Trifão, é o mais destacado apologista do século li. ‘“‘ “O cristianismo para ele não é, antes de tudo, uma doutrina, porém, uma pessoa: o Verbo encarnado e crucificado em Jesus” (SOUZA e FILHO, 1988, p. 205). A segunda corrente afirmava que fé e razão eram conciliáveis e que cada uma teria o seu campo de atuação. Por último, a terceira corrente afirmava que a fé traz as verdades e a razão auxilia o seu entendimento. Importante destacarque os embates entre fé e razão nunca cessaram durante a Idade Média, houve conflitos entre os dois, por isso os patrísticos vão se apoiar na filosofia de Platão para desvelar a relação entre religião e racionalidade. Os patrísticos mergulharam nas filosofias do “Neoplatonismo”, escola fundada no século III em Alexandria que no seu cerne era composto por argumentos metafísicos e epistemológicos. Essa teoria era fundamentada nos escritos de Platão. Os principais pensadores desse período foram Plotino e seu discípulo Porfírio, ambos no século III. Eles também exploraram a figura da Virgem Maria, para os seus devotos, ela era a protetora, a mãe bondosa, a justiceira e defensora das minorias. Apesar de existirem poucas passagens de sua vida na Bíblia, Maria, ao longo do tempo tornou- se um personagem extremamente familiar e habituado na Igreja Católica. (RODRIGUES, 2012, p. 12). O documento biográfico de santos “Legenda Áurea”, escrito no século XIII pelo frade Jacopo de Varazze (2003), revela que Maria foi gerada da união de Joaquim, fazendeiro e criador de ovelhas, natural de Nazaré, e Ana, filha de Nathan, um sacerdote que vivia em Belém e tinha outras duas irmãs. Casaram-se prematuramente, o documento menciona que constituíam um casal “justo” e seguidor dos mandamentos do Senhor, no entanto, não conseguiam dar à luz a nenhum filho. Após 20 anos de amargura e pedidos, Ana engravidou e deu à luz a uma filha, que recebeu o nome de Maria. Ao completar três anos, a menina foi levada ao templo, onde, de acordo com a promessa dos pais, viveria a serviço do divino. A Virgem foi ali educada e só retornou à casa dos pais aos 14 anos para se casar com José. Segundo a historiadora Edilece Souza Couto (2004), até esse período são pouquíssimos os registros sobre a vida de Maria. Sua biografia torna-se mais completa após o nascimento de Jesus Cristo, nas passagens bíblicas. O historiador Oscar Calavia Saez (2008) ressalta a existência de diversos fatores que contribuíram para transformar a figura de Nossa Senhora de uma vaga referência evangélica a um personagem eximiamente familiar e divino de modo equivalente ao seu filho como, por exemplo, o dogma da Maternidade Divina, proclamado pela Igreja Católica no Concílio de Éfeso em 431 considerando Maria a “Mãe de Deus”. Os cristãos acreditam que Maria era pura quando concebeu Jesus, mas apenas a Igreja Católica e os ortodoxos creem que ela ficou eternamente virgem. Alguns setores do catolicismo ligam a ideia da sua pureza na tese do nascimento de Cristo pela profecia de Isaías, presente no capítulo 7 da Bíblia Sagrada “Pois saibam que Javé lhes dará um sinal: A jovem concebeu e dará à luz um filho, e o chamará pelo nome de Emanuel”. O terceiro dogma refere-se à Imaculada Conceição, em 8 de dezembro de 1854, publicada pelo Papa Pio IX Que a doutrina que defende que a beatíssima Virgem Maria foi preservada de toda a mancha do pecado original desde o primeiro instante da sua concepção, por singular graça de privilégio de Deus omnipotente e em atenção aos merecimentos de Jesus Cristo salvador do gênero humano, foi revelada por Deus e que, por isso deve ser admitida com fé firme e constante por todos os fiéis “1. Por meio dessas bulas dogmáticas, Maria paulatinamente passa da condição de Serva do Senhor conforme é mencionada em Lucas, capítulo 1 versículo 38-48, para Mãe de Deus e Mãe da Igreja. Assim, consideramos que por quase sete séculos, os patrísticos foram responsáveis por firmar a fé católica, fortalecer os ritos cristãos e difundir os dogmas do cristianismo pela Europa. É nesse contexto, que vamos ter o desenvolvimento do maior expoente da patrística, Santo Agostinho. Agostinho de Hipona, nascido em Tagaste, no norte da África no ano de 354 é considerado o maior dos patrísticos e responsável por refletir sobre a história do homem e a sua relação com a Igreja. Le Goff (1977) aponta que Agostinho era um homem inquieto e estava sempre em busca de um conforto para a alma, de uma verdade que ele pudesse abraçar e que pudesse mostrar o caminho certo para um caminho de uma vida tranquila. E através dessa jornada, nesse caminho que ele percorre, encontra Cristo. Agostinho iniciou seus estudos na própria Tagaste e, posteriormente, foi a Madauro cursar gramática, com a intenção de formar-se em retórica, estudo que poderia garantir a profissão de advogado ou seguir carreira burocrática, mas devido à falta de dinheiro retornou à sua casa. Somente iria concluir sua formação em Cartago, com a ajuda financeira de um amigo da família, Romaniano. Sua formação cultural se deu pelos autores latinos, estudando 1 Disponível em: http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=documentos&subsecao=decretos&artigo=20060220& lang=bra. Acesso no dia 27/08/2020. principalmente Virgílio e Cícero, assim como os demais clássicos. (PIRATELI, 2003, p. 329) Por longos anos, Agostinho se dedicou a estudar outras doutrinas, só que o seu espírito inquieto teria feito com que ele questionasse todas esses dogmas, até a sua conversão. Para isso, inicialmente nós temos os esforços da sua mãe da Mônica ao tentar converter o Agostinho ao cristianismo, Mônica era uma pessoa humilde, não era letrada, simplesmente uma dona de casa trabalhadora que não tinha instrução, mas que tinha a fé fervorosa de uma verdadeira serva de Deus. Isso não foi suficiente para converter Agostinho à fé cristã, pois o mesmo não simpatizava com cristianismo. A princípio, começou a flertar com a filosofia quando descobriu as obras do Cícero, principalmente o “Hortênsio” mostrou uma filosofia como uma arte de viver típica do período Helenístico. Após ter lido Hortênsio, de Cícero, - livro escrito em forma de diálogos, no qual o pensador latino respondeu às dificuldades de Hortênsio com a filosofia - o estudante Agostinho considerou ter passado por sua primeira “conversão”: à Filosofia, despertando em sua alma, segundo seu próprio testemunho, o “amor da sabedoria”. (PIRATELI, 2003, p. 329). Posteriormente Santo Agostinho, foi se dedicando aos estudos do maniqueísmo, que era uma doutrina em que afirmava que o bem e o mal são as únicas coisas existem nesse mundo e que não apenas existem, elas constitui o nosso mundo, são princípios ontológicos, estão no fundamento de todas as coisas. O amadurecimento do próprio pensamento do autor, tanto em nível intelectual como espiritual, através de sua maior compreensão do cristianismo, mostra como em seu pensamento a ontologia e a ética se relacionam profundamente. A compreensão do “ser” tanto da natureza humana como da realidade do mundo fazem parte de uma mesma interrogação do pensar que redundam diretamente na forma como o homem se comporta frente a seu mundo. A interrogação ontológica e a interrogação ética em Agostinho estão absolutamente implicadas, logo, a fundamentação do agir não pode ser reduzida a um aspecto da realidade humana, precisa partir da relação do ser humano com a totalidade desta realidade (VAHL, 2016, p.15). Assim, na concepção Agostiniana, o pecado não seria fruto de um erro da vontade humana, mas sim fruto do mal que é constitutivo desse nosso próprio mundo. Se o mal assim como o bem, constitui o mundo e está presente em toda a nossa essência, então o pecado faz parte do homem, ele estaria intrínseco na sociedade. De acordo com Agostinho: A defectibilidade da alma vem de seus atos e da pena que padece pelas dificuldades - consequência dessa defectibilidade. Todo o mal se reduz a isso. Ora, o agir ou o padecer não são substâncias. Portanto, a substância não é um mal. [...] Por exemplo, [...] se alguém, repentinamente, fixasse de frente o sol de meio-dia, seus olhos feridos pelos raios se ofuscariam. Serão por acaso maus, por isso, o sol ou os olhos? De modo algum, porque eles são substâncias. O mal está em mirar imprudentemente e no incômodo que se segue. Esse desaparecerá,porém, depois de os olhos terem descansado e se dirigido a uma luz conveniente (AGOSTINHO, 1992: 70-71). Posteriormente, Agostinho encontra o Bispo Ambrósio, que naquele período era um grande orador, e ao presenciar um dos sermões, durante a vigília da Páscoa, na cidade de Milão, se converte à fé cristã no ano de 387. Agostinho narra esse episódio na obra “Confissões”: Chegando a Milão, fui visitar o bispo Ambrósio, conhecido pelas suas qualidades em toda a terra e vosso piedoso servidor, cuja eloquência zelosamente servia ao vosso povo “a fina flor do vosso trigo, a alegria do azeite de oliveira e a sóbria embriaguez do vinho” (AGOSTINHO, 1999, p. 140). Esse cristianismo é reverenciado nas epístolas de Paulo, quando Agostinho percebe que a conversão não é sim um ato íntimo, mas sim um olhar para dentro de si, uma forma de encontrar Jesus Cristo e as suas verdades. Milão foi o ponto decisivo da conversão do futuro bispo de Hipona, o local que, segundo o filósofo-teólogo, o “levou” a Deus. Sua conversão se deu a partir de três situações: o encontro com o bispo Ambrósio; a adoção da filosofia neoplatônica e a preferência pela leitura das cartas de São Paulo. (PIRATELI, 2003, p. 330). Assim como outros patrísticos Santo Agostinho foi influenciado pelo Neoplatonismo, pela forma que as ideias platônicas coincidem com as do Evangelho, da cristandade. Quando este começa a harmonizar as ideias filosóficas com as verdades da Bíblia dá-se início ao que podemos denominar de filosofar na fé. É nesse momento, que apesar dos esforços dos primeiros padres do movimento patrísticos a Igreja Católica apresenta uma filosofia Cristã. Uma vez que para ele a fé é uma substância de vida e de pensamento, ela não seria apenas um apetrecho que a pessoa deveria usar quando convém, mas sim a fé seria a substância da vida do homem. Santo Agostinho afirmava que era necessário crer para entender e entender para crer. Assim a razão e fé são sim conciliáveis e dessa forma era possível vivenciar o mundo e Deus. Nesse quadro, a razão continuava submissa à fé, ela seria um instrumento, que vai servir para entender as verdades que foram reveladas no Evangelho. Em sua vida, Agostinho publicou mais de cem obras, que versavam sobre as heresias dos arianos (aqueles mencionados no capítulo II), dos maniqueístas e dos povos pagãos. Uma de suas produções mais conhecidas, se chama “Confissões” na qual ele narrou os primeiros anos de vida, quando ainda era pagão, até o momento em que é convertido. É considerada uma autobiografia, mesmo que conte apenas uma parte dos acontecimentos vividos por Agostinho. Outra obra de grande relevância foi “Cidade de Deus”, na qual o autor descreveu o mundo em duas partes: a dos homens e a dos céus, ou o mundo terreno e o mundo espiritual. No ano de 391, foi ordenado padre na cidade de Hipona, posteriormente Bispo da mesma em 397, onde permaneceu até 430 quando faleceu. Quase um milênio depois, foi proclamado Santo pelo papa Bonifácio VIII em 1298. Nessa unidade realizamos uma reflexão sobre a forma que a produção do saber e o conhecimento foram praticados durante a Idade Média. No final da Antiguidade observamos o surgimento dos “Patrísticos”, liderados pelos padres da Igreja, esse movimento perdurou por sete séculos e teve como principal pensador Santo Agostinho, posteriormente, outra organização metodológica ganhou força: os “escolásticos” que apresentaram ao mundo a filosofia medieval, pautada na racionalização da fé, tendo como maior expoente São Thomaz de Aquino. As virtudes no pensamento de Santo Tomás de Aquino. Nesse artigo, o autor discute sobre o tratado das virtudes de Tomás de Aquino, tendo como base a ética de Aristóteles como objetivo esclarecer qual a finalidade do homem em suas ações. No tratado das virtudes, Tomás faz uma distinção entre virtudes morais e virtudes intelectuais. Disponível em: http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/as_virtudes_no_pensamento_de_s anto_tomas_de_aquino.pdf http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/as_virtudes_no_pensamento_de_santo_tomas_de_aquino.pdf http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/as_virtudes_no_pensamento_de_santo_tomas_de_aquino.pdf LIVRO Título: Confissões Autor: Santo Agostinho Editora: Vozes, 2001 Sinopse: Penguin; 1ª Edição (12 abril 2017) A obra que narra a vida de Santo Agostinho, desde os primeiros anos de vida no norte da África, até o processo de conversão ao cristianismo em 387 na cidade de Milão. FILME/VÍDEO Título: O Nome da Rosa Ano: 1986 Sinopse: O longa narra a história de William de Baskerville, monge franciscano interpretado pelo autor Sean Connery, que ao chegar a um mosteiro na Itália em 1327 presencia uma série de assassinatos. Seus pares vão afirmar que se tratava de obra do Diabo, porém o Monge questiona a natureza dos crimes e passa a investigá-los. Santo Tomás de Aquino - Razão a serviço da fé. Matéria produzida pelo portal de educação do UOL, na qual apresenta a influência do filósofo Aristóteles na obra de São Tomás de Aquino. Fonte: SALATIEL, José Renato. Santo Tomás de Aquino - Razão a serviço da fé. UOL Educação. 28 de novembro de 2012. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/santo-tomas-de-aquino-razao-a servico-da-fe.htm Acesso em 29 de agosto de 2020V https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/santo-tomas-de-aquino-razao-a Até o momento discutimos vários aspectos da Idade Média, sua organização política, econômica, social e religiosa. Nesta última unidade vamos refletir um pouco sobre o legado cultural desse período. Na primeira parte, uma discussão sobre a arte Românica e arte Gótica, as duas mais expoentes do período medieval. Em seguida, uma síntese sobre algumas práticas e costumes culturais desses povos, como as pinturas, iluminuras e tapeçarias e por último uma discussão literária, sobre as “Novelas” ou Romances Medievais. Antes de iniciar as nossas observações sobre a História da Arte na Idade Média, é importante salientar, que podemos considerar o termo Arte como um reflexo social. Nesse período dominado pelas instituições religiosas, por boa parte, as construções, símbolos e signos estiveram ligados e sob domínio da Igreja Católica. Podemos considerar que grande parte da arte na Idade Média foi expressa principalmente por meio da arquitetura. Foi nessa época que os arquitetos avançaram nos padrões de construção, tornando possível construir edifícios mais altos, mais pesados e mais fortes. O progresso dessas construções deveu-se ao contexto de grande abundância agrícola trazida pelo regime feudal, como vimos na primeira unidade. A arte da Idade Média transmite-nos um conceito alargado do homem e da sua relação com o mundo e constitui a própria essência desta época. Dá-nos a justa medida das misérias e grandezas do seu espírito. Mostra-o em todas as etapas e vicissitudes da sua vida. Deus está no centro do Universo mas, através do seu filho encarnado, Jesus Cristo, dá ao homem e å humanidade uma dimensão divina.( MARQUES, 2007, p. 3). Para Marcelo Cândido da Silva (2019), nesse meio duas correntes firmaram- se. A partir do século X tivemos o desenvolvimento da arte românica, seus princípios arquitetônicos dominaram as novas construções até o século XII. Foi neste ponto que a arte gótica gradualmente tomou o lugar. No entanto, essa substituição não foi feita da noite para o dia: esses dois gêneros estiveram em contato por um breve período transitório. Podemos definir a arte românica como um estilo arquitetônico, pictórico e decorativo ao mesmo tempo. As decorações (pinturas, esculturas) da arte românica estão diretamente ligadas à arquitetura, uma vez que nela estão integradas. As influências da arte românica são numerosas: este movimentofoi influenciado pelas ideias do Renascimento Carolíngio, da Antiguidade, do Império Bizantino, dos Orientais e dos Celtas. De acordo Marisa Marques (2007), originária do norte da Itália a arte românica surgiu em meados do século X, período em que foram construídas as primeiras igrejas românicas. Elas eram caracterizadas por abóbadas, variavam entre dois tipos: as de berço e as de arestas. Esta forma também inspirou o nome de nave, designando a parte principal da igreja. Gradualmente, o estilo românico se espalhou pela Europa. Naquela época, várias igrejas haviam sido destruídas durante as invasões bárbaras ou por incêndios. É por esta razão que se realizou uma vasta obra de reconstrução e os arquitetos aproveitaram para melhorar os métodos construtivos e materiais. As construções de pedra foram substituindo gradativamente as de madeira, mais suscetíveis a incêndios. Grandes edifícios religiosos como abadias, mosteiros e igrejas foram praticamente as únicas construções que exibiam a arquitetura românica. A arte esteve então ao serviço da religião e da fé, principalmente pelo que a maioria dos edifícios românicos se caracterizam pelo rigor e pela austeridade arquitetônica. A forma exterior era maciça, construída com grandes abóbadas de pedra. No geral, a altura dos edifícios também era limitada. Todas as aberturas nas paredes possuíam uma forma arredondada, as torres geralmente quadradas (ou poligonais) e não muito pontiagudas. As paredes decoradas com inúmeras esculturas e pinturas. Se na arquitetura romana a ordem a que pertenciam os capitéis era a definição primordial. já no Românico esses capitéis serão um dos fatores de inovação da arte cristã e é neles que a escultura românica mais se afirma. “É no período Românico que se reinventa o uso da escultura, colocando-a ao serviço da arquitetura, da ilustração religiosa e da devoção “ Não obstante o significado dessas figuras poder ser múltiplo, as iconografias remetem-nos para tempos ancestrais em que esses seres imaginários passaram da tradição oral às imagens dos manuscritos e finalmente å pedra. (MARQUES, 2007, p. 36). Na arquitetura românica, geralmente, a porta da igreja era colocada sob três arcos e estes arcos acima, por uma abertura circular. Entre a porta e os arcos encontrava-se o lintel, geralmente ornamentado ou gravado, e o tímpano que era o espaço semicircular entre o arco e o lintel. A abóbada também era desenhada com o mesmo espírito do semicírculo, visto que geralmente formava-se um semicilindro. Por diversas vezes, a igreja possuía duas naves, uma principal e outra transversal. É esta nave transversal que dá a forma de cruz a várias igrejas românicas. As igrejas românicas também tinham criptas acessíveis a todos. As criptas eram pequenas cavidades recuadas que continham relíquias de um santo. Todas essas novas características puderam se desenvolver graças às inovações técnicas na construção. Embora os trabalhadores não usassem muitos equipamentos de elevação, eles ainda conseguiram erguer essas igrejas de tamanho impressionante e sofisticação técnica. Além disso, a pedra passou a ser extraída diretamente das pedreiras, o que aumentou sua qualidade. Os pisos dos edifícios eram geralmente de terra batida. No entanto, em alguns lugares, o chão era coberto por um enorme mosaico colorido ou calçada de pedra. Figura 1: Basílica de Saint-Sernin em Toulouse. Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Bas%C3%ADlica_de_SaintSernin_de_Toulouse#/media/Ficheiro:Ba silique_Saint-Sernin_de_Toulouse_-_exposition_ouest-1-.jpg Os escultores do período românico eram muito criativos, e fizeram várias esculturas de um mundo imaginário ou onírico, muitas vezes inspirado em mitos e folclore. É por isso que muitas dessas esculturas representavam bestas imaginárias (dragões, grifos). As esculturas eram integradas, adornam paredes e colunas, decoram criptas, claustros e igrejas. Na verdade, cada espaço livre costumava ser ocupado por uma escultura. Os monstros nos capitéis fizeram parte dos programas escatológicos, delimitando as possibilidades do homem face ao desconhecido, tanto no plano terreno como no plano místico. Para o homem da Idade Média não existe fronteira entre o visível e o invisível, entre o real e o sobrenatural, entre este mundo e o outro. Essas estranhas criaturas simbolizam uma reflexão sobre o mundo físico e seus limites perante o mundo espiritual, atestando assim os objetivos didáticos dos programas iconográficos (MARQUES, 2007 p. 38). Além de decorar as instalações, as esculturas também desempenharam um papel de transmissão de conhecimento. Os escultores frequentemente ilustravam assuntos bíblicos, incluindo conexões entre o Antigo e o Novo Testamentos. Os episódios cristãos representados por essas esculturas permitiriam, assim, aumentar a fé cristã. Esculturas representavam cenas de vários personagens, sejam da vida cotidiana ou bíblicas. Outras esculturas apresentavam bestas fantásticas, plantas imaginárias ou padrões geométricos. A tinta também foi usada como ornamento em edifícios religiosos. Várias igrejas foram decoradas com grandes afrescos. Geralmente, estas eram realizadas com a argamassa da parede ainda molhada. Essa prática também favoreceu a conservação desses afrescos. Os artistas embelezaram suas pinturas com muitos detalhes e deram um estilo realista às suas obras. Os temas das pinturas foram retirados de manuscritos populares, referências diárias ou folclóricas ou mesmo temas sagrados importantes. Quase todas as superfícies disponíveis foram pintadas ou cobertas com mosaicos. Por outro lado, o uso do mosaico para fins decorativos diminuiu durante o período românico, uma vez que esta técnica era bastante cara. Os pintores usaram cores vivas, como amarelo, vermelho, verde, branco e preto. Outras artes praticadas durante o período românico incluíam esmaltação (prática ornamental) e iluminação (manuscritos de imagem) capitulares (adornando as primeiras letras de um manuscrito), vitrais (várias aberturas foram decoradas com vitrais coloridos, embora estes não fossem tão grandes ou tão numerosos como os vitrais do período gótico). “Se na igreja românica a luz contrasta com a substância pesada e sombria das paredes, na igreja gótica a luz é filtrada através dos vitrais. absorvendo e transfigurando essas mesmas paredes” (MARQUES, 2007 p.38). Posterior a arte românica, tivemos no século XII o surgimento de uma nova vertente na história das Artes. O gótico nasceu na região de Paris, e dissipou-se depois pela Europa. A arte gótica foi um fenómeno europeu de características muito complexas e variadas, que influenciou todos os setores da produção artística, conduzindo a grandes desenvolvimentos também nas chamadas artes menores: como a ourivesaria, miniatura, talha em marfim, vitral e tecidos. Em meados do século XII, o prestígio dos grandes mosteiros era incontestável. Os religiosos e intelectuais mais influentes eram monges, como o abade beneditino Surger e o organizador da Ordem Cisterciense, São Bernardo de Clairvaux. Os empreendimentos artísticos eram totalmente dominados e controlados pelos principais hierarcas monásticos, e era nos mosteiros que se encontravam as melhores oportunidades de trabalho. (WILLIAMSON, 1998, introdução). O nascimento oficial do estilo é identificado na arquitetura, com a construção do coro da Abadia de Saint-Denis em Paris, consagrado em 1144. Da França a notícia se espalhou de diferentes maneiras e tempos na Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália, Áustria, Boêmia, Hungria, Escandinávia, Polônia, Transilvânia, Moldávia, diversificando-se e adaptando-se a muitos clientes e finalidades diferentes. Por exemplo, na Espanha e na Inglaterra, o gótico marca o nascimento de monarquias nacionais, enquanto em outras áreas foi uma expressão de poderes feudais, ou de comunas livres dominadaspela nova rica burguesia urbana. No período gótico existia uma estreita relação entre arte e fé cristã, mas foi também o período em que renasceu a arte secular e profana. Se em algumas áreas buscavam-se expressivos efeitos antinaturalíssimos, em outras (como na escultura renascentista) assistimos ao resgate do estudo do corpo humano e de outros elementos do cotidiano. Devido à sua origem francesa, a arquitetura gótica foi chamada de “opus francigenum” na Idade Média. Em Veneza, porém, era conhecida como uma forma de construção “ao estilo alemão”. O termo “gótico”, propriamente “dos godos”, um antigo povo germânico, foi usado pela primeira vez para indicar este estilo artístico e arquitetônico por Giorgio Vasari no século XVI como sinônimo de nórdico, bárbaro, caprichoso, oposto ao renascimento da linguagem clássica Renascença. Era o aparecimento do estilo gótico. [...] Era principalmente uma invenção técnica; contudo, em seus efeitos, tornou-se muito mais do que isso, foi descoberta de que o método de abobadar uma igreja por meio de arcos transversais podia ser desenvolvido de maneira [...] sistemática e com objetivos mais ambiciosos do que arquitetos normandos sequer chegaram a imaginar. [...] era possível erigir uma espécie de estrutura de pedra para manter o edifício coeso. Bastava empregar pilares leves e costelas estreitas nas arestas da abóbada. [...] Não havia necessidade alguma de pesadas paredes de pedra, pelo contrário, nas paredes podiam ser abertas grandes janelas. Essa era a ideia dominante das catedrais góticas desenvolvidas no norte da França [...]. O princípio de cruzamento de “nervuras” não era bastante, por si só, para esse estilo revolucionário de construção gótica foi necessário um número de outras invenções técnicas para tornar possível o milagre. (GOMBRICH, 1993, p. 137). A perda da conotação negativa do termo remonta à segunda metade do século XVIII quando, primeiro na Inglaterra e na Alemanha, houve uma reavaliação desse período da história da arte, que resultou também em um verdadeiro renascimento, o Neo-Gótico, que gradualmente se enraizou também na França, Itália e parte dos países anglo-saxões. A originalidade da arquitetura gótica deu-se pelo desaparecimento das grossas paredes típicas do românico. O peso da estrutura não era mais absorvido pelas paredes, mas distribuído em pilares e uma série de estruturas secundárias colocadas fora dos edifícios. Assim nasceram as paredes de luz, cobertas por janelas, que correspondiam ao exterior, uma complexa rede de elementos para a liberação das forças. Os arcobotantes, os pináculos, os arcos de descarga eram todos elementos estruturais, que continham e dirigiam os impulsos laterais da cobertura ao solo, enquanto as paredes de enchimento perderam importância, substituídas pelas janelas. Além disso, a arquitetura gótica não se esgotava na estrutura estática: os edifícios, libertados do limite das paredes de alvenaria, desenvolveram-se com impulso vertical. Na Inglaterra houve um novo desenvolvimento da abóbada cruzada com uma abóbada de seis segmentos e depois uma abóbada radial ou em forma de leque: essas foram soluções que permitiram uma distribuição de peso ainda melhor. A catedral gótica foi concebida como uma metáfora do Paraíso, por isso o Juízo Final, passagem da bíblia, costumava ser esculpido em sua entrada. Nos séculos XIV e XV, o gótico desenvolveu-se em novas direções em comparação com as formas dos dois séculos anteriores. A construção dos séculos XIV e XV caracterizou-se por uma nave central de altura considerável e duas naves muito mais baixas. Isso significava que a luz se concentrava sobretudo no nível do clerestório (parte superior da nave, transeptos e coro de uma igreja, com uma série de janelas ou vitrôs, acima dos telhados das naves laterais e que formavam a fonte principal de luz para a parte central do prédio). Dentro da conjuntura filosófico-teológica do século XII, na qual se enquadra o nascimento da arte gótica, encontram-se três vertentes fundamentais – as ideias do abade Suger de Saint-Denis, principal responsável pela recuperação dos escritos do Pseudo Dionísio é habitualmente considerado o “criador” de uma “arquitetura de luz”; o pensamento escolástico derivado das escolas de Paris e arredores; e, por fim, o ideário cisterciense de despojamento e ascetismo preconizada por São Bernardo de Claraval (VILLAMARIZ, 2012, p. 18). Já no gótico tardio, o arranjo interno mais comum seguiu o modelo da igreja salão, ou seja, com corredores laterais de igual altura em relação ao central. Isso significava que a luz não vinha mais de cima, mas sim das paredes laterais, iluminando todo o ambiente de forma homogênea. A direcionalidade tradicional também foi modificada, perdendo a conotação forte para os eixos anteriores, em favor de uma espacialidade policêntrica. Essa nova visão do espaço também estava relacionada à religiosidade mais terrena e mundana do século XV. A arte gótica e românica influenciou todo um contexto de artistas da Idade Média, não foram apenas Igrejas e monumentos construídos, mas também pinturas, objetos, que refletiam a importância dessas duas vertentes. A arte medieval cobre um período de aproximadamente 1000 anos, em um contexto espacial extremamente vasto e variado. Estudar as cores usadas pelos pintores da Idade Média é entender como eram usadas e percebidas naquele período. Os requisitos mais importantes eram dois: brilho e intensidade. As cores, portanto, foram aplicadas com forte saturação, sem matizes e meios-tons, para sublinhar a força expressiva, necessária para trazer à tona o significado simbólico. Tratando principalmente de temas religiosos, observou-se uma tendência à procura de luz, ouro e pedras preciosas, as próprias metáforas de valor artístico. Era a “metafísica da luz” que via o mundo como uma emanação de Deus - luz suprema - atribuindo à luz um valor não apenas místico e espiritual, mas também estético. Nessa época, as cores também passaram a ter um significado simbólico. Ainda hoje, a Igreja, por exemplo, prescreve cores litúrgicas para as vestes do altar e as vestes do celebrante, peculiares a cada época do ano e às várias ocasiões rituais. No espaço divino, a cor revelava a presença de Deus, as cores são, de fato, fruto da interação entre a luz e as trevas. Na Idade Média, acreditava-se até que a luz que filtrava pelos vitrais das igrejas tinha propriedades curativas, nesse segmento, a arte bizantina, manteve forte influência na Itália, pelo menos até o período mais significativo da iconoclastia (730-843). Ravenna, que herdou de Milão o que restou da ideia imperial no século V, foi (principalmente com seus mosaicos) um dos mais importantes centros de difusão dessa arte, que permaneceu um modelo de requinte e equilíbrio técnico. A pintura do período gótico desenvolveu-se posteriormente a outras técnicas de pintura na Europa. Somente na segunda metade do século XIII, a pintura veio a se renovar plenamente, graças à obra de Giotto. Artesãos de imagens trabalhavam em pequenos ateliês, com um único aprendiz. As regulamentações incluíam [...] regras para o aprendizado dos iniciantes na profissão, (por exemplo, que devia durar no mínimo sete anos) e davam conselhos sobre o procedimento corretos para se esculpirem imagens e crucifixos: ninguém pode e nem deve trabalhar em dia santo [...] nem à noite [...] nem deve fazer imagens ou crucifixo [...] se não com material apropriado [...] se para outra pessoa que não seja um clérigo, ou homem da igreja ou cavaleiro, ou nobre para seu uso. [...] imagem que não seja esculpida numa única peça[...]. Nenhum pintor de imagens pode ou deve vender um trabalho no qual o ouro [...] tenha sido aplicado ao estanho [...]o trabalho lhe é imperfeito (WILLIAMSON, 1998, p. 18). As razões deste atraso estiveram provavelmente relacionadas com os diferentesmodelos que a pintura e a escultura possuíam: no período românico a escultura já tinha sido renovada, em alguns casos redescobrindo as obras clássicas ainda existentes, enquanto para a pintura o principal modelo de referência era em todo o caso a Escola Bizantina. Com a conquista de Constantinopla durante a quarta cruzada (1204) e com a formação dos Reinos Latinos do Oriente, o fluxo de pinturas e mosaicos bizantinos se tornou ainda mais denso. Na segunda metade do século XIII, na época de Nicola Pisano, a desconexão entre vivacidade narrativa naturalista e força expressiva entre escultura e pintura atingiu seu auge, com os pintores diante das extraordinárias inovações introduzidas pelos escultores. Em duas gerações, porém, os pintores foram capazes de avançar, renovando modelos e linguagens, até nas artes pictóricas para recuperar o espaço, a vivacidade narrativa, as figuras credíveis e as configurações arquitetônicas e paisagísticas plausíveis. A pintura também foi beneficiada na renovação por ter uma clientela maior, devido aos custos mais baratos. Do românico, a pintura, sobretudo na Itália central, herdou a difusão das mesas pintadas, amparada pelas encomendas mendicantes pela sua portabilidade prática. Os assuntos principais versavam sobre: crucifixos em forma, muitas vezes pendurados nas extremidades dos corredores da igreja para despertar a emoção dos fiéis. Virgem Maria com o seu filho, símbolos da Eclésia e de uma relação mãe / filho que humanizava a religião e também representações de santos, entre as quais se destacam as novas iconografias ligadas à figura de São Francisco de Assis. Entre os mestres italianos do século XIII destacamos Berlinghiero Berlinghieri e Margaritone d’Arezzo, ambos ainda totalmente bizantinos, mas começando a mostrar alguns personagens tipicamente ocidentais. Além da escola de Giotto (Taddeo Gaddi, Giottino, o Mestre de Santa Cecília, Maso di Banco, etc.), a escola de Siena também teve grande importância depois com mestres como Duccio di Buoninsegna, Pietro e Ambrogio Lorenzetti e Simone Martini. Figura 2: Tríptico (interior), por Taddeo Gaddi Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%ADptico#/media/Ficheiro:Jan_van_dornicke_6.jpg Podemos definir como iluminuras medievais, os manuscritos decorados com ouro ou prata, mas tanto no uso comum quanto na terminologia adotada por estudiosos modernos, o termo é usado para se referir a qualquer manuscrito ilustre do comércio. Os primeiros manuscritos iluminados datam do período 400-600, produzidos inicialmente na Itália e no Império Romano do Oriente. Artefatos semelhantes do Extremo Oriente são sempre descritos como pinturas, assim como as obras da América Central. Os manuscritos islâmicos podem ser referidos como comentados, ilustrados ou pintados, embora sejam essencialmente feitos com as técnicas das obras ocidentais. No centro da concepção medieval do mundo e do homem: ela remete não somente aos objetos figurados (retábulos, esculturas, vitrais, miniaturas, etc.), mas também às “imagens” da linguagem, metáforas, alegorias, similitudes, das obras literárias ou da pregação. Ela se refere também , às “imagens mentais” da meditação e da memória, dos sonhos e das visões (SCHMITT, 2006, p. 593) A maioria desses manuscritos eram de natureza religiosa. No entanto, especialmente a partir do século XIII em diante, um número cada vez maior de textos seculares foi ilustrado. A maioria das iluminuras foram criadas como códices, que substituíram os rolos de pergaminho. Poucos fragmentos de manuscritos iluminados em papiro chegaram até nós, pois este suporte não possuía a força de pergaminho. A https://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%ADptico#/media/Ficheiro:Jan_van_dornicke_6.jpg maioria dos manuscritos medievais, ilustrados ou não, foram escritos em pergaminho (mais comumente pele de bezerro, ovelha ou cabra), já as mais importantes eram escritas em um tecido chamado de “velino. “ A partir do final da Idade Média, os manuscritos começaram a ser produzidos no papel. Os primeiros livros impressos às vezes eram produzidos com espaços livres deixados em branco para permitir a inserção de miniaturas, ou tinham capitulares iluminados ou decorações marginais, mas a introdução da impressão rapidamente levou ao declínio da ilustração. As iluminuras continuaram a ser produzidas até o início do século XVI, mas em pequenas quantidades, especialmente para os mais ricos. Elas podem ser consideradas como fontes importantes para compreender a cultura medieval, uma vez que muitas dessas foram conservadas. Os historiadores das artes as classificam de acordo com os períodos históricos em que foram criados (mas não se limitando a isso): Antiguidade Tardia, Insular, Iluminuras Carolíngios, Iluminuras Otomanas, Manuscritos Românicos e Manuscritos Góticos, embora existam alguns exemplos de períodos posteriores. No período de expansão do cristianismo, elas estavam presentes no evangelho. O período românico viu a criação de muitas Bíblias, amplamente ilustradas tanto neste período quanto no gótico. Folhas soltas ou pôsteres de pergaminho, couro ou papel circulavam com histórias ou lendas sobre a vida de santos, cavaleiros ou outras figuras mitológicas, assim como narrativas de eventos sociais ou milagrosos, eventos populares Não há imagem na Idade Média que seja uma pura representação. Na maioria das vezes trata-se de um objeto, dando lugar a usos, manipulações, ritos; um objeto que se esconde ou se desvela; que se veste ou se despe, que se beija ou se come (BASCHET, 1996, p. 9). O “Livro das Horas”, também conhecido como livro devocional pessoal de um leigo rico, era frequentemente ilustrado no período gótico. Outros livros, litúrgicos e não litúrgicos, continuaram a ser ilustrados em toda época medieval. O mundo bizantino continuou a produzir Iluminuras em seu próprio estilo, versões dos quais se espalharam para outras áreas ortodoxas e cristãs orientais. A reutilização de pergaminhos, raspando a superfície escrita e pintada, era uma prática comum, e muitas vezes os traços deixados pelo texto original eram conhecidos como palimpsestos. O mundo muçulmano e em particular a Península Ibérica, com as suas tradições literárias, não interrompidas pela Idade Média, foram fundamentais na transmissão das obras clássicas antigas aos círculos intelectuais e universidades da Europa Ocidental ao longo do século XII, durante o qual surgiram livros de papel pela primeira vez na Europa e, com eles, abrangentes tratados de ciências, especialmente astrologia e medicina, nos quais havia a presença de ilustrações para apoiar o texto. O período gótico assistiu a um aumento na produção desses artefatos, o que também levou à proliferação de obras seculares, como notícias e literatura. A nobreza passou a criar bibliotecas pessoais; Filipe, o Ousado, provavelmente teve uma das maiores coleções. Em seu acervo, mais de 600 Iluminuras foram catalogadas. Joachin Gaehde (2002) revela que até o século XII, a maioria das Iluminuras eram produzidas em mosteiros, para serem colocados na biblioteca ou serviam de encomendas. Os grandes mosteiros costumavam ter áreas separadas para monges que se especializaram na produção de manuscritos, chamadas “scriptorium”. Dentro das paredes de um “scriptorium” havia áreas individuais onde um monge poderia sentar-se e trabalhar em um manuscrito sem ser incomodado por seus irmãos. A separação desses monges do resto do claustro indicava o quanto eles eram importantes na comunidade. No século XIV, o claustro dos monges que escreviam no “scriptorium” tornou- se um lugar comercial urbano, especialmente em Paris, Roma e Holanda. Embora o processo de criação de uma Iluminuras não tenha se alterado muito, a mudança dos mosteiros para ambientes comerciais foi uma etapa radical. A demanda por manuscritoshavia crescido a tal ponto que as bibliotecas monásticas não eram mais capazes de satisfazê-la, tanto que começaram a fazer experiências com o pessoas que não eram monges. Esses indivíduos muitas vezes viviam perto do mosteiro e, em alguns casos, disfarçavam-se de monges sempre que entravam no mosteiro, do qual poderiam sair no final do dia. Na verdade, os ilustradores eram frequentemente muito conhecidos e aclamados e muitos deles são bem conhecidos até hoje. Nesse processo, o artista era enviado ao rubricador, que acrescentava os títulos (em vermelho ou não), as tampas dos capítulos, as notas e assim por diante, e então era enviado ao ilustrador, esse utilizava uma vasta paleta de cores, como podemos observar: Um pigmento muito usado era o verde, que podia ser obtido a partir das pétalas de plantas como salsa, erva-moura, arruda e madressilva. A planta era esmagada e misturada a um gante, um tipo de cola, que, em geral, era a clara de ovo. Essa mistura definia o tom de verde que seria obtido, quanto mais planta, mais saturado, fazendo a cor ficar mais forte e o líquido mais denso. (VISALLI, 2016, p.139). Outra prática cultural importante no período medieval foram os tapetes. Pendurados nas paredes de pedra dos castelos, em grandes salas e difíceis de aquecer, combinavam a função decorativa com a de isolamento térmico durante o inverno. O grande sucesso das tapeçarias ao longo dos séculos deve-se provavelmente à sua portabilidade. Reis e nobres poderiam enrolá-los e levá-los consigo ao viajar entre uma residência e outra, além de auxiliá-los em caso de incêndio ou saque. De acordo com Jack Tresidder (2003) na obra “Os símbolos e os significados”, os tapetes foram produzidos desde a antiguidade, ainda que a dificuldade de preservação dos materiais que os compõem, fibras têxteis naturais como a lã, o algodão ou o linho, tenha influenciado fortemente a quantidade e a qualidade. As tapeçarias mais antigas que chegaram até nós, datam do antigo Egito e da Grécia helênica tardia, mas estavam espalhadas por todo o mundo, do Japão à América pré- colombiana. Para Florido Vasconcellos, as tapeçarias coptas, vindas do Egito nos primeiros séculos da era cristã, já apresentavam grande habilidade técnica aliada a desenhos muito complexos. Em um vaso descoberto em Chiusi do século 4 aC. Penélope e seu tear eram representados; a diferença com o tear de hoje usado para a produção de tapeçarias, o tear de meia altura, é o método de tensionar a urdidura (conjunto de fios de mesmo comprimento reunidos paralelamente no tear por entre os quais se faz a trama) e a posição em que o tecido era confeccionado, batido e enrolado para cima. No tear de Penélope, os fios da urdidura eram mantidos esticados por pesos de tear; nos teares modernos, a tensão era mantida por uma viga parada por uma engrenagem. O desenvolvimento da tapeçaria na Europa remonta ao início do século XIV, primeiro na Alemanha e na Suíça, depois na França e na Holanda. O pico de produção foi alcançado no Renascimento, em particular nos Flandres e na França, em Arras, Paris, Aubusson, Tournai, Bruxelas, Audenarde, Grammont, Enghien, Beauvais. A Royal Gobelins Manufactory, fundada em Paris em 1662, continua a produzir até hoje. Também importantes são as tapeçarias flamengas do primeiro quartel do século XVI, preservadas na Galeria de Arte Cívica de Forlì: Crucificação com figuras e Crucificação com cenas da Paixão, para a qual foi apoiada a atribuição à manufatura por Pieter van Aelst. O ciclo do período barroco preservado no Museu Nacional do Palazzo Mansi em Lucca também é notável. Os maiores artistas da tapeçaria foram Raphael, Pieter Paul Rubens, Simon Vouet, Charles Le Brun, François Boucher, Francisco Goya, William Morris, até Pablo Picasso, Joan Miró. De acordo com Jacques Le Goff em “O Homem Medieval”, o Papa Leão X teria encomendado a Rafael um ciclo sobre os “Atos dos Apóstolos”, feito na Flandres e repetido várias vezes: trata-se de duas séries completas, uma no Vaticano, outra em Mântua no Palácio Ducal, e uma série incompleta, em Urbino. Atualmente, essas artes estão no Museu de Victoria e Albert Museum, em Londres. Outro famoso ciclo de tapeçarias do século XVI é aquele encomendado pelo grão- -duque Cosimo de ‘Medici a Pontormo e Bronzino, um dos maiores mestres do maneirismo florentino. O ciclo é dedicado às histórias do patriarca Giuseppe, mas tem como subtexto alegórico o bom governo de Cosimo e a indissociabilidade do destino de Florença dos da família Médici. Figura 4: A dama e o unicórnio. Museu de Cluny, Paris Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Dama_e_o_Unic%C3%B3rnio#/media/Ficheiro:(Toulouse)_Mon_ seul_d%C3%A9sir_(La_Dame_%C3%A0_la_licorne)__Mus%C3%A9e_de_Cluny_Paris.jpg Para sua realização, o governo Médici estabeleceu uma fábrica específica, inicialmente confiada a mestres fabricantes de tapeçaria dos Alpes. O ciclo, constituído por vinte tapeçarias, foi restaurado e está alojado entre Florença, no Palazzo Vecchio, sua localização original, onde são guardadas dez tapeçarias, e Roma, no palácio do Quirinal, onde as outras dez chegaram em 1882. A partir do final do século XVIII, com a transição para a produção industrial e o aumento do custo do trabalho (os tempos de processamento muito longos determinam custos proibitivos), a moda das tapeçarias começou a declinar como manifestação externa do prestígio da aristocracia e foi afetada por fortes mudanças sociais do momento: durante a Revolução Francesa, a multidão os queimou não só para recuperar os fios de ouro tecidos nas tapeçarias, mas também para destruir as bandeiras da classe derrotada. A arte medieval corresponde a um gênero que englobou distintas categorias, na literatura, a mais famosa foram os “Romances” ou “Novelas” de Cavalaria. Originárias de poemas épicos, narravam as aventuras de cavaleiros e reinos escritas em formas de prosa. De acordo com Le Goff em “O homem medieval”, o cavaleiro da Idade Média nasceu como um simples guerreiro, um homem armado que ia para a batalha a cavalo, lutando com lança e espada. Mas, à medida que a literatura de romance medieval começou a florescer no século XII, uma cultura sofisticada de comportamento cortês nas relações entre homens e mulheres começou a mudar a imagem idealizada do cavaleiro. O longo poema de Wace, Brut (por volta de 1155), apresentou a nobreza de língua francesa ao lendário Rei Arthur, cuja corte era a maior de todas. Nos reinados do rei Henrique II (1154-89) e de Ricardo Coração de Leão (1189-99), guerreiros que tinham cortes suntuosas foram celebrados. Cada cavaleiro deveria estar pronto para lutar pelo amor de sua amada, com suas vitórias ele ganharia seu amor e defenderia sua honra. Nessas linhas, os cavaleiros eram absolutamente leais a ela e cumpriam todas as ordens, seja enviá-lo em uma missão impossível, expulsá-lo de sua companhia ou acusá-lo de algum crime terrível, em um pedido desesperado de ajuda. Nesse caso, temos a imersão de um elemento importante, a tragédia. O amor de Lancelot por Guinevere nunca terá um final feliz, porque ela é a esposa do Rei Arthur. Isso representava o modelo do amor cortês: uma dedicação que une os amantes até a morte, mas que nunca resultará em uma união feliz. A devoção de Lancelot por Guinevere é perigosa e acabará por destruir a corte: fofocas e calúnias revelarão sua relação com o rei e Arthur será forçado a usar suas armas contra seu melhor cavaleiro. De acordo com José D’Assunção Barros na obra “A arenas dos trovadores – as representações das tensões sociais no cancioneiro medieval ibérico (séculos XIII- XIV)”o amor trágico e idealizado de Lancelot e Guinevere não poderia culminar em casamento; pelo contrário, termina com a morte. A tragédia dos amantes é um modelo criado na Idade Média e repetido ao longo do tempo. Tristãoe Isolda, Lancelot e Guinevere, Romeu e Julieta: cada casal está ligado por um amor impossível, os amantes estão condenados pelas circunstâncias. Por que o amor está tão intimamente relacionado à morte na literatura? A resposta para esses literários é simples. Todos os amores acabam, porque os amantes se separam e porque morrem. Portanto, o amor para ser perfeito - contanto que seja perfeito e não termine em frieza ou termine em traição - então deve terminar em morte. Para Xosé Ramón Pena em “Literatura Galega Medieval”, a literatura medieval não ilustrou o amor apenas em sua forma trágica, as convenções do amor cortês não visavam, encorajar os amantes a abraçar a morte; em vez disso, prescreviam regras de conduta para os homens e mulheres da aristocracia, por meio da qual o namoro poderia levar ao casamento. Para a nobreza, quase todos os casamentos eram arranjados pelas famílias dos casais, muitas vezes quando a esposa e o marido eram pouco mais que filhos. Mas a Igreja insistia em que o sacramento do matrimônio só fosse válido na presença do consentimento pleno e voluntário do casal. Assim, podemos perceber outro propósito dessa literatura, cheia de amor à primeira vista, amor pretendido como reconhecimento da beleza e status sempre combinado com virtudes e lealdade. Essa literatura mostra ao seu público uma versão estética da realidade econômica, tornando lindas as transações de casamentos aristocráticos arranjados. Assim, podemos perceber outro propósito dessa literatura, cheia de amor à primeira vista, amor pretendido como reconhecimento da beleza e status sempre combinado com virtudes e lealdade. Esta literatura mostra ao seu público uma versão estética da realidade econômica, narrando histórias de casamentos aristocráticos arranjados. Nessas poesias, dois amantes são nobres, belos, corteses e virtuosos: ele é um grande cavalheiro e ela uma dama perfeita. Este é o ideal de amor medieval que culmina no casamento. Mas o interessante sobre esse romance com final feliz é que não se trata de desejo individual. O ideal é feito para ser adaptável, maleável; pode caber qualquer pessoa apropriada. Quando o herói se reúne com sua amante perdida, ele não consegue reconhecê-la, observando que “Todas as mulheres parecem iguais”. O amor cortês é um ideal de devoção à senhora mais bela e cortês. Em cada história de amor haverá um novo cavalheiro que é o maior de todos e que amará e será amado por uma nova dama que também é a mais bela. Nesta unidade buscamos mergulhar nos aspectos culturais da Idade Média, reforçando o que foi exposto desde a primeira unidade, esse período não deve ser contextualizado como a idade das trevas, mas sim do florescimento das práticas culturais, mesmo que muitas dessas estavam sob domínio da igreja, como observamos nas edificações góticas e românicas. Título: O patrimônio artístico e as representações discursivas e estéticas do sagrado e do fantástico em obras sacras. Esse artigo investiga os sentidos do patrimônio e da arte sacra no Brasil e busca compreender os efeitos das construções discursivas apoiadas na “negação” das identidades culturais e religiosas, distintas das ocidentais, pautando como alguns exemplos de representações do fantástico nas artes visuais na Europa e na América espanhola e portuguesa. PELEGRINI. Sandra. O patrimônio artístico e as representações discursivas e estéticas do sagrado e do fantástico em obras sacras. Revista Brasileira de História das Religiões – Ano I, no. 1 – Dossiê Identidades Religiosas e História. 2007 Disponível em: Disponível em : http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf/02%20Sandra%20Pelegrini.pdf http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf/02%20Sandra%20Pelegrini.pdf LIVRO Título: O tempo das Catedrais a arte e a sociedade 980 – 1420 Autor: Georges Duby Editora: Estampa, 1798 Sinopse: Essa obra de Georges Duby retrata o apogeu das construções religiosas durante o período medieval. Com uma vasta bibliografia e imagens, o leitor é convidado a conhecer um pouco da história desses grandes prédios arquitetônicos que marcaram a história da humanidade. FILME/VÍDEO Título: O sétimo selo Ano: 1956 Sinopse: O drama sueco dirigido por Ingmar Bergman foi baseado em uma peça de teatro do mesmo autor. No filme, um cavaleiro medieval é desafiado em uma partida de xadrez, o seu adversário é a morte. A história se passa por meio de uma Europa em crise com a peste negra e forte influência e domínio da Igreja católica. O tema principal é o medo da morte. O que são as gárgulas? Nessa reportagem, é retratada a história e como um dos objetos da arquitetura gótica se tornou presente nas igrejas e fortalezas. As gárgulas eram uma espécie de pássaros monstruosos que tinham a finalidade de teatralizar ainda mais as grandes edificações. Fonte: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-sao-as-gargulas/ https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-sao-as-gargulas/ Nesta unidade buscamos mergulhar nos aspectos culturais da Idade Média, reforçando o que foi exposto desde a primeira unidade, esse período não deve ser contextualizado como a idade das trevas, mas sim do florescimento das práticas culturais, mesmo que muitas dessas estavam sob domínio da igreja, como observamos nas edificações góticas e românicas. Na apresentação desse material, foram feitos alguns questionamentos. Apresentado todo conteúdo, vamos a eles! A Idade Média foi mesmo o período das Trevas? A resposta é não! Esse termo foi citado pelos pensadores renascentistas em uma tentativa de denegrir o período medieval. Porém durante a Idade Média muitas coisas no que tange ao conhecimento, as questões de fé e domínio político sucederam. É fato que por muitos séculos o conhecimento esteve atrelado a Igreja, mas isso não significa que esse período foi estático. A Idade Média foi uma era dinâmica, do surgimento de novas culturas. Outra questão levantada na nossa apresentação foi sobre a figura do rei. Será mesmo que o rei medieval foi aquele apresentado em filmes, com poder sob domínio e centralizador? A resposta também é não, nesse período o rei perdeu parte do seu poder, as invasões bárbaras e tantas outras invasões resultaram na descentralização dos domínios dos reis e o surgimento de um novo modo de produção, o feudalismo, como vimos na primeira unidade. Por último retomamos a questão do conhecimento e das universidades. Elas estiveram atreladas apenas a Igreja? Esse é outro mito que derrubamos nessas unidades, pois apesar de muitas universidades nasceram ao lado das Igrejas, dos mosteiros. O conhecimento não se ateve apenas a Igreja Católica, temos como exemplo grandes pensadores da filosofia como os mouro Avicena, Averróis, Alfarabi e Algazáli. Por meio dessas questões levantadas e dos temas trabalhados nas quatro unidades, espero ter propiciado a você aluno um momento de reflexão e análise do que foi a Idade Média e como essa foi tratada por muito tempo de forma inconsistente por parte de historiadores e outros pesquisadores. Há ainda muitas outras questões a serem debatidas e que merecem nossa atenção, afinal a História é uma ciência que nunca se esgota, o seu campo de pesquisa é cheio de possibilidades e isso faz com que nós profissionais se dediquemos cada vez mais! AGOSTINHO, Santo. Contra os acadêmicos: diálogo em três livros. Coimbra: Editorial Atlântida, 1957. AGOSTINHO, Santo. O mestre. São Paulo: Landy, 2000 AGOSTINHO, Santo. O sermão da montanha. São Paulo: Paulinas, 1992. (Col. Espiritualidade). AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e A vida feliz. 2. ed. 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