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1ª Edição |Maio| 2014 Impressão em São Paulo/SP ERGONOMIA Roger Valentim Abdala Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 Coordenação Geral Nelson Boni Professor Responsável Roger Valentim Abdala Coordenadora Peda- gógica de Curso- EAD Roseli Lopes de Macedo Leal Coordenação de Projetos Leandro Lousada Revisão Ortográfica Vanessa Almeida Projeto Gráfico, Dia- gramação e Capa Ana Flávia Marcheti 1º Edição: Maio de 2014 Impressão em São Paulo/SP ERGONOMIA Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 A135e Abdala, Roger Valentim.. Ergonomia. / Roger Valentim Abdala – São Paulo : Know How, 2013. 156p. : 21 cm. Inclui bibliografia ISBN : 978-85-8065-257-4 1. Ergonomia. 2. Ergonomia física. 3. Ergonomia cognitiva. 4. Ergonomia organizacional. I. Título. CDD – 620.82 Introdução Unidade 1 Princípios e história da ergonomia 1.1 Disciplinas da ergonomia 1.2 Objetivos da ergonomia 1.3 Tarefa e Atividade 1.4 Observações diretas e indiretas 1.5 Verbalizações 1.6 Metodologia em ergonomia Unidade 2 Ergonomia física 2.1 Músculos Esqueléticos 2.2 Trabalho Muscular 2.2.1 Trabalho muscular dinâmico 2.2.2 Trabalho muscular estático 2.2.3 Prevenção de sobrecarga muscular 2.3 Discos Intervertebrais 2.4 Antropometria 2.5 Biomecânica Ocupacional .7 .11 .55 SUMÁRIO 2.5.1 Planos cardinais de referência 2.5.2 Movimentos realizados pelos músculos Unidade 3 Ergonomia cognitiva 3.1 Sensação e percepção 3.2 Memória 3.3 Tomada de decisão 3.4 Modelos cognitivos 3.5 Carga Mental 3.6 Erro humano Unidade 4 Ergonomia organizacional 4.1 Estresse 4.2 Estrutura organizacional 4.3 Trabalho flexível 4.4 Rotação de trabalhadores 4.5 Seleção e treinamento Gabarito Referências .120 .138 .147 .88 Introdução O estudo da ergonomia é abrangente e requer dos estudiosos uma análise profunda de questões re- lacionadas ao ser humano e suas interações com o ambiente. Destacam-se as questões físicas, cogniti- vas e organizacionais que interagem com o trabalha- dor, suas potencialidades e capacidades ao realizar uma tarefa e as limitações de um sistema. Em vista disso, as organizações têm se esfor- çado para aumentar a qualidade e produtividade de seus produtos e serviços levando-se em considera- ção a saúde, segurança e conforto do ser humano no ambiente de trabalho. Dores e sobrecargas de trabalho são riscos à saúde do trabalhador, causam redução da produtividade e diminuição de qualida- de de produtos e serviços, ou seja, o custo humano impacta diretamente nos objetivos organizacionais. Ao se empregar os princípios da ergonomia para a redução de não conformidades de trabalho, os profissionais de saúde e segurança do trabalho, ges- tores e diretores buscam estudar as possíveis situa- ções que podem sobrecarregar o trabalhador no que tange ao seu corpo físico e sua cognição, bem como as relações de trabalho que possam causar estresse, monotonia, agressividade, dentre outras consequên- cias maléficas de ordem psicossocial. A ergonomia pode contribuir na definição de métodos de trabalho que permitam uma interação homem – máquina - sistema saudável, equilibrada e de acordo com os limites e capacidades de cada um destes, considerando os aspectos biológicos do ser humano, tecnológicos das máquinas e ferramentas e de cultura e política organizacional. Neste trabalho, abordaremos princípios da ergonomia, seja ela de correção ou de concepção, analisaremos também os tipos de ergonomia (física, cognitiva e organizacional) e por fim abordaremos assuntos relacionados a Norma Regulamentadora – 17, a norma brasileira de Ergonomia. Unidade 1 11 1. Princípios e história da ergonomia O polonês Wojciech Jastrzebowski é conside- rado o primeiro estudioso moderno de ergonomia ao escrever um artigo intitulado “The Science of Work” (A Ciência do Trabalho). A saber: “(...) um enfoque científico que nos permitirá conhecer, em benefício próprio e dos demais, os melhores frutos do trabalho de toda a vida com o mínimo de esforço e a máxima satisfação.” (JASTRZEBOWSKI, 1857). Etimologicamente, o termo “ergonomia” tem origem das palavras gregas “nomos”, que significa “norma”, e “ergo”, que significa “trabalho”. Pode- -se dizer que ergonomia é a “ciência do trabalho”, ou que desenvolve regras e normas para conceber um sistema de trabalho. Neste contexto, o termo tra- balho significa uma atividade no qual um operador humano busca alcançar um objetivo. O ser humano é, portanto, o centro do estudo, ou seja, a ergonomia é uma ciência antropocêntrica, 12 na qual o trabalho deve ser adequado ao ser huma- no e não o contrário. Esta é uma das bases da er- gonomia. Apesar de o ser humano ser adaptável às condições impostas a ele, ainda assim, há limites a serem respeitados, pois esta adaptação não é infinita. “Adaptar o trabalho ao homem” é, portanto, um dos princípios da ergonomia. Há pouco mais de um século, as condições de trabalho eram intoleráveis para a saúde e segurança dos trabalhadores. Doenças e epidemias, muitas ve- zes oriundas das condições de saneamento básico das cidades, potencializadas pelas condições precárias de higiene no ambiente laboral, obrigaram governos a criarem leis com foco na proteção ao trabalhador. Através de leis que estabeleciam limites de ho- ras diárias de trabalho, restrição do trabalho infantil, condições sanitárias de trabalho, foram algumas das bases quanto ao início da atenção aos aspectos de adaptar o trabalho ao trabalhador, ou seja, pode-se dizer que à partir daí teve início a ergonomia moder- na que atualmente conhecemos. Até a II Guerra Mundial, o desenvolvimento e aplicação destas leis de proteção ao trabalhador foram lentos. Isto porque este importante evento acelerou o desenvolvimento da tecnologia militar, através da criação e aperfeiçoamento das armas de guerra, como, por exemplo, os veículos de combate, aviões, dispositivos de navegação e detecção. 13 Concomitantemente a estas invenções e me- lhorias nas armas de guerra, estudiosos, engenhei- ros, médicos, psicólogos, físicos e sociólogos perce- beram a importância de adaptar estes instrumentos tecnológicos às condições de trabalho, aos limites do usuário militar, levando-se em consideração aspectos físicos, cognitivos e psicológicos que objetivavam a redução do erro, a tomada de decisão rápida e eficaz, ou seja, a confiabilidade de máquinas e pessoas. O sucesso militar dependia, portanto, não ape- nas de quem dominasse a melhor tecnologia, levaria vantagem nos combates as nações que conseguis- sem adaptar melhor seus instrumentos de guerras aos seus usuários, os militares pilotos de aviões e de carros de combate, os soldados e seus fuzis, os co- mandantes e suas informações de guerra. A II Guerra Mundial foi impulso para o desen- volvimento da ergonomia no pós-guerra. A partir de 1950, com o foco e alta demanda das indústrias na produção (foco na produtividade), a ergonomia teve um terreno fértil para se desenvolver. Novas leis de proteção à saúde e segurança do trabalhador foram criadas principalmente na Europa e Estados Unidos e posteriormente no Japão e Canadá. Dez anos depois, a partir de 1960, a energia me- cânica, de maneira gradual, foi tomando lugar do em- prego da energia proveniente do esforço muscular do ser humano para a execução das atividades ocupacio- 14 nais. Na época, verificou-se que a ocorrência de aci- dentes de trabalho estava relacionada com o emprego do trabalho manual, a aplicação de força muscular na resolução de tarefas laborais e as questões temporais, como, por exemplo, as demandas temporais relacio- nadas à busca de alta produtividade. Esta relação entre os objetivos exclusivamente de produção industrial e o consequente índice de aci- dentes de trabalho, somada ao início de preocupações com a saúde e segurança do trabalhador, exemplifica- do pelas leis nesta área, fizeram com que os objetivosda ergonomia gradualmente se voltassem mais para a segurança do trabalho em vez da produtividade a qualquer preço. Esta época foi por volta dos anos 60 e o início dos anos 70 nos países desenvolvidos. No início da evolução histórica da ergonomia, seus estudos estavam relacionados à ergonomia físi- ca, ou seja, estudos antropométricos, estudos rela- cionados à biomecânica, gasto energético, fisiologia humana, temperatura corporal versus temperatura ambiente e carga física de trabalho, frequência car- díaca e respiratória, e outros estudos relacionados às questões físicas limítrofes do ser humano testadas em laboratório e em campo. O foco dos estudos era a contração muscular e sua relação com as capacidades do ser humano in- teragindo com um ambiente de trabalho qualquer. Falando mais especificadamente, os estudos relacio- 15 navam-se com o esforço muscular realizado, diversi- dade e amplitudes de movimentos articulares e seus limites toleráveis. Todos estes estudos num contexto de busca da produtividade, mas que, gradualmente, foram mudando para foco em saúde, segurança e conforto do trabalhador, estes três objetivos últimos como atualmente a ergonomia se configura quando se fala em seus objetivos e escopo. Atualmente, os princípios científicos da ergo- nomia física são muito bem conhecidos pelos pro- fissionais da área, como por exemplo, desenhos de postos de trabalho, estudos antropométricos, ergo- nomia no uso de computadores e terminais de vídeo, ergonomia em trabalhos pesados, etc. Sem dúvida alguma o pós-guerra contribuiu muito para o avanço da ergonomia física. Outras áreas em que a ergono- mia também se desenvolveu daquela época até os tempos atuais foram as áreas da ergonomia cogni- tiva e organizacional. Estas últimas, porém, ainda requerem de estudos bem mais aprofundados pelos pesquisadores e profissionais de saúde e segurança do trabalho. A ergonomia física sem dúvida alguma serve de base para a maioria dos trabalhos atuais de consul- torias em ergonomia, seus princípios são bem acei- tos e claramente suas mudanças e intervenções são identificadas. Configura-se, contudo como um vasto campo de trabalho estudos ligados à ergonomia cog- 16 nitiva e ergonomia organizacional, não porque seus avanços históricos foram nulos, mas porque seu rit- mo de desenvolvimento foi mais lento comparando- -se com a ergonomia física. “ Ergonomia é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres huma- nos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema." Fontem: International ergonomics association - iea (www.iea.cc) Além disso, os processos mentais e as relações sociais no trabalho, muitas vezes, possuem suas ba- ses em constructos qualitativos, nem sempre de fácil domínio para validações de achados científicos por parte da equipe de pesquisa ou pelos profissionais da área. Somado a isso, como foi informado ante- riormente, as principais demandas de trabalho da ergonomia atual no Brasil e no mundo ainda se ba- seiam em demandas relacionadas aos princípios da ergonomia física. Desta maneira, entendem-se as razões que fazem com que a ergonomia cognitiva e organizacional esteja no palco da maioria das atuais pesquisas científicas em ergonomia. 17 1.1 Disciplinas da ergonomia Não entraremos no mérito dos debates que de- fendem que a ergonomia é ou não uma ciência e/ ou uma técnica que emprega princípios científicos de outras disciplinas para uso em seu escopo de tra- balho, ou seja, o ser humano desempenhando uma atividade num ambiente qualquer de trabalho. Basta no momento dizermos que a ergonomia desenvolve suas técnicas dentro de bases científicas num ponto que permeia disciplinas relacionadas à engenharia (físicas e exatas), à medicina, psicologia e sociolo- gia (humanas e sociais), por exemplo, a solução de problemas de iluminação, temperatura, ruído e vi- brações, anatomia, fisiologia, psicologia. A Figura 1 ilustra os domínios da ergonomia quanto a algumas das disciplinas que a compõe. 18 A ergonomia é uma disciplina autônoma, mas não pode viver sem se nutrir das aquisições de várias disciplinas, aquisições dinâmicas e assimiladas em um espírito interdisciplinar (WISNER, 2004, .p. 35). Na Europa, os primeiros pesquisadores tiveram como foco de estudo as ciências humanas, conce- dendo à ergonomia uma relação mais forte com a fisiologia e a psicologia. A importância de uma abor- dagem nesta área está em estudos que relacionam a ergonomia aos problemas de consumo energético do trabalhador, as posturas de trabalho, aplicação de forças musculares, levantamento de cargas, trabalho repetitivo, etc. Em relação à psicologia, os estudos relacionam-se com interações do trabalhador com os terminais de vídeo, usabilidade de computadores e equipamentos de forte apelo tecnológico, moti- vação no trabalho, relações sociais de trabalho etc. Cabe aqui ressaltar que não se faz intervenções er- gonômicas sem dar enfoque misto às disciplinas que compõem a ergonomia, assim dizemos que a ergo- nomia é uma ciência multidisciplinar. Nos Estados Unidos os pioneiros em estudos ergonômicos despenderam seus esforços em assun- tos relacionados ao campo da psicologia experimen- tal e engenharia. O termo “engenharia humana” e “engenharia de fatores humanos” são termos usados até hoje naquele país e também no Canadá. A natureza de interdisciplinaridade da ergonomia 19 é resultado de outra característica importante: a ergo- nomia é uma ciência antropocêntrica, ou seja, o ser hu- mano é o centro de atenção de seus estudos e esforços. E como definir o ser humano? Como medi-lo? Como elaborar ambiente de trabalho que o comportem com a máxima de segurança, saúde e conforto? A amplitude vasta de respostas e de opções de propostas para as perguntas acima parecem não ter fim. Em vista disso, parece claro que a ergonomia se agrega a outras disciplinas para compor e elaborar respostas para estas e outras perguntas. O desafio da ergonomia é adaptar o trabalho às pessoas. Como fazer isso? Primeiramente temos que definir quem é o ser humano, quem é o traba- lhador. A partir daí, o ambiente precisa ser definido. Disciplinas que compõe aspectos biopsicossociais são ferramentas para fornecer respostas para nossos questionamentos enquanto profissionais e pesqui- sadores de saúde e segurança do trabalho, a grande área da qual a ergonomia faz parte. Segundo Abrahão et al. (2009), três pressupos- tos são necessários para compreensão da ação ergo- nômica e suas metodologias: a interdisciplinaridade, a análise de situações reais e o envolvimento dos su- jeitos, conforme Figura 2. 20 Ainda, segundo os autores, a interdisciplinarida- de da qual serve de base para a ergonomia, resulta da importância de se analisar o fenômeno do trabalho humano sobre diferentes perspectivas (ABRAHÃO et al, 2009). Esta relação da ergonomia com outras discipli- nas e profissionais (médicos, engenheiros, fisiote- rapeutas, administradores, terapeutas ocupacionais, psicólogos, enfermeiros, etc.) exige a elaboração de novos conceitos ao integrar conhecimentos destes diversos profissionais (CURIE, 2004). 21 1.2 Objetivos da ergonomia Antes de discutir os objetivos da ergonomia, é importante que façamos uma reflexão sobre como a ergonomia poderá favorecer empregados e empre- gadores, trabalhadores e organizações empresariais. Algumas destas vantagens estão relacionadas com a produtividade e na qualidade do trabalho executado. Outras vantagens estão relacionadas à saúde e a con- fiabilidade humana e a satisfação no trabalho. “ Objetivo da ergonomia [ transformar o trabalhador de forma a adaptá-lo às caracteristicas e variabilida- de do homem e do processo produtivo ] Fonte: Abrahão [et al.] (2009) Desta forma, a relação de contribuiçãoque a ergonomia oferece para empresas e empregados, é a eficiência no alcance de resultados, a redução de desperdícios de tempo e de recursos, a prevenção de erros e a proteção a pessoa humana no trabalho. Falzon (2007) complementa sobre os objetivos da ergonomia da seguinte maneira: A especificidade da ergonomia reside em sua tensão entre dois objetivos. De um lado, um objetivo cen- trado nas organizações e no seu desempenho. Esse desempenho pode ser apreendido sobre diferentes 22 aspectos: eficiência, produtividade, confiabilidade, qualidade, durabilidade etc. De outro, um objetivo centrado nas pessoas, este também se desdobrando em diferentes dimensões: segurança, saúde, confor- to, facilidade de uso, satisfação, interesse do trabalho, prazer etc. (FALZON, 2009, p.8). Para a ergonomia não é aceitável que haja des- perdícios de energia de maquinários ou humana, ou de tempo devido, por exemplo, a não conformidade de layout ergonômico, problemas relacionados aos espaços de trabalho ou não conformidades relacio- nadas a sobrecargas cognitivas e assuntos relaciona- dos à organização do trabalho. As bases científicas da ergonomia têm como escopo a adaptação do trabalho ao ser humano com vistas à sua saúde, segurança e conforto. Apesar do antropocentrismo da ergonomia é comum que estes esforços, em contrapartida, gerem benefícios não apenas ao ser humano no trabalho, mas há uma ten- dência também de que eles proporcionem à organi- zação um trabalho mais eficaz, redução de custos e ganho de produtividade. Estudos ergonômicos, no meio acadêmico, mas principalmente no campo da prestação de serviços de profissionais da área, buscam esta relação de efi- ciência e ganho mútuo entre empresa e empregados. 23 Por um lado, o trabalhador se beneficia com a ergonomia no sentido que poderá exercer suas ativi- dades laborais com maior segurança, num ambiente salutar e confortável, ou seja, com um equilíbrio entre as demandas de trabalho e suas capacidades labora- tivas. De outro lado, as organizações empresariais se beneficiam da ergonomia no sentido que ofertam um ambiente propício para o desempenho, consequente- mente reduzindo custos relacionados a não confor- midades na área de saúde e segurança do trabalho. Os custos diretos e indiretos relacionados com o gerenciamento de trabalhadores afastados por do- enças ou acidentes de trabalho e não afastados, mas com sua capacidade ocupacional reduzida, como no caso de trabalhadores acometidos de distúrbios os- teomusculares relacionados ao trabalho (DORT) são exemplos de situações nas quais ações ergonômicas visam eliminar. A relevância da ergonomia está no fato de que ela melhora situações de trabalho, não apenas com benefícios para o trabalhador, mas também para as organizações empresariais. Através de estudos siste- máticos, como por exemplo, a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), os profissionais de ergonomia conseguem fornecer dados das características da po- pulação envolvida, no caso os trabalhadores, bem como do ambiente nos quais eles desempenham suas funções. De posse destas informações sistemá- 24 ticas os profissionais da área de ergonomia elaboram propostas técnicas, conceitos, diretrizes e procedi- mentos que à medida que são seguidos e defendidos a partir da alta direção da organização, gestores ge- renciais e trabalhadores de nível operacional, contri- buem para a redução de custos e o desenvolvimento da eficácia no trabalho. A ergonomia pode ser dividida em três segmen- tos distintos: • Ergonomia de correção: atua de maneira restrita, modificando elementos parciais do posto de traba- lho, tais como dimensões, iluminação, ruído, dispo- sição de salas de trabalho, entre outros (IIDA, 2003); • Ergonomia de concepção: Ao contrário, inter- fere amplamente no projeto do posto de trabalho, dos instrumentos, da máquina ou do sistema de pro- dução, organização do trabalho, e formação pessoal (IIDA, 2003); • Ergonomia de conscientização: Surgiu da ne- cessidade de orientar os profissionais de diversas áreas de atuação, com o objetivo de transmitir os conhecimentos já existentes e fazer com que estes profissionais os utilizem (IIDA, 2003). 25 1.3 Tarefa e Atividade O conhecimento sobre a tarefa e a atividade, suas definições teóricas, classificações e diferencia- ções resultam em pressupostos básicos e importan- tes para ações em ergonomia e o desenvolvimento de análises ergonômicas do trabalho (AET). Podemos definir tarefa como o trabalho pres- crito e a atividade como o trabalho real. A tarefa se define, portanto, por seus objetivos, suas demandas e as condições tecnológicas que a empresa disponi- biliza para a execução das atividades. Algumas perguntas nos ajudam a ponderar so- bre o que se deve levar em consideração ao se anali- sar uma tarefa, ou um trabalho prescrito; • O que deve ser feito (função, objetivos)? • Como deve ser feito (procedimentos de trabalho, instruções, padrões, operações admissíveis, exigên- cias, segurança)? • Quais os recursos (tecnologia disponível caracte- rísticas do posto de trabalho, ambiente de trabalho, documentação, máquinas, materiais)? • Qual o tempo disponível (ritmos, prazos)? • Quais as características do ambiente físico (am- biente de trabalho)? • Quais as características do ambiente cognitivo (fer- ramentas de apoio) e coletivo (presença ou ausência 26 de colegas, parceiros, da hierarquia, modalidades de comunicação etc.) (FALZON, 2009)? • Quais as características sociais do trabalho (modo de remuneração, controle, sanção etc.) (FALZON, 2009)? • Quem executa a tarefa (características da po- pulação trabalhadora, como por exemplo, idade, gênero, tempo na função, experiências, requisitos para a função)? A tarefa (trabalho prescrito) se diferencia da ati- vidade (trabalho real), por várias razões, entre elas estão as estratégias dos operadores, as quais variam de indivíduo para indivíduo, as flutuações do am- biente de trabalho, ocorrências não programadas, etc. Além disso, a tarefa é planejada por gestores que nem sempre possuem um conhecimento adequado das condições de execução das atividades. A atividade é definida como um conjunto de condutas que o trabalhador assume para desem- penhar um trabalho. Por exemplo, as posturas que assume, os processos mentais que utiliza para to- mar uma decisão, os movimentos que executa para transformar um produto ou realizar um processo. A forma como pega uma ferramenta, a força e a fre- quência de contrações musculares que imprime para realizar uma tarefa. Em vista disso, é comum que haja adaptações em tempo real por parte dos operadores. É a máqui- 27 na que quebrada a ferramenta que falta, ou que está desgastada, a planilha que está incompleta, a deman- da de trabalho que foi alterada ou aumentada, etc. Quando a discrepância entre tarefa e atividade aumenta, em geral, aumentam também as sobrecar- gas de ordem física, cognitiva e organizacional dos trabalhadores, que, muitas vezes, têm que se adaptar rapidamente às novas condições de trabalho ao exe- cutar suas atividades. Por exemplo, um trabalhador necessita fixar um quadro numa parede de madeira. Para tal, a tarefa é programada para que ele execute esta atividade com o uso de um martelo e pregos. Ele é treinado para tal, possui um tempo disponível bem dimensiona- do e possui experiência na função. Porém, ao iniciar sua atividade lhe é informado que não há martelos disponíveis. Como ele irá realizar este trabalho? As adaptações que ele realizar poderão gerar mudanças nas aplicações de forças musculares, mudanças de posturas, aumento de risco de acidentes, redução da qualidade do trabalho e outras consequências noci- vas ao trabalhador e o recebedor do serviço. O que aconteceria se o trabalhador tivesse que realizar esta atividade durante toda a sua jornada diá- ria de 08 horas? E se a falta do martelo se mantivesse durantetoda a semana ou durante todo o mês? Apesar de ilustrarmos de maneira hipotética este exemplo, é comum ocorrerem situações reais de 28 trabalho nas quais faltam materiais para a execução das tarefas, ou não há tempo hábil disponível, ou o trabalhador não é treinado para tal. A consequên- cia quando estas situações ocorrem são o que cha- mamos de não conformidades. Abismos formados pela discrepância entre tarefa e atividade são uma das principais causas de custos humanos que, conse- quentemente, resultam em custos financeiros para as organizações empresariais e toda a sociedade. 1.4 Observações diretas e indiretas “A atividade não se reduz ao comportamento. O comportamento é a parte observável, manifesta, da atividade. A atividade inclui o observável e o não ob- servável: a atividade intelectual ou mental. A ativida- de gera o comportamento.” (FALZON, 2009, p. 9). Para se analisar uma atividade é necessário que se façam observações. Faverge (1972) elaborou uma forma de observação na qual há quatro tipos de aná- lise da atividade. São elas: • Gestos e posturas: neste tipo de observação é dada atenção às ações realizadas pelo do trabalhador, sua frequência e duração. Medidas de frequência cardía- ca e gasto energético são exemplos de dados quan- 29 titativos a serem levados em consideração neste tipo de análise. Na atual ergonomia, a análise dos gestos e posturas é realizada por vídeos e fotografias, associados à aplica- ção de ferramentas ergonômicas, programas de compu- tador e outras ferramentas e instrumentos tecnológicos. • Aquisição da Informação: neste tipo de obser- vação realiza-se registro dos movimentos oculares do trabalhador através de filmagem. Através dis- so, verificam-se os sinais que o trabalhador utiliza para buscar informações do ambiente como recurso para realizar uma tarefa. Pode-se dizer que a análise da aquisição da informação é um complemento da análise dos gestos e posturas, pois em geral os mo- vimentos e as posturas assumidas são respostas de processos cognitivos. • Regulação: neste tipo de análise o profissional que realiza a observação busca identificar os ajustes que o trabalhador necessita fazer para compensar flutua- ções do ambiente e de suas próprias condições com a finalidade de executar e completar o trabalho. A regulação é um mecanismo de controle que compara os resultados de um processo com uma produção desejada e ajusta esse processo em relação à diferença constatada (FALZON, 2009, p. 10). 30 • Processos mentais: este tipo de observação é reali- zado principalmente em postos automatizados e de inteligência artificial. Requerem do observador um entendimento profundo da forma de raciocinar do trabalhador na resolução de problemas. Os processos mentais levam em consideração o planejamento do trabalho, a antecipação de ações e diagnóstico. Neste tipo de análise, não é possível realizar uma observação direta, mas sim inferência e respostas verbais. 1.5 Verbalizações Ressaltamos a importância das verbalizações dos trabalhadores para a realização de uma análise ergonômica. As verbalizações podem ser classifica- das em “verbalizações espontâneas” e “verbaliza- ções provocadas”. As primeiras ocorrem esponta- neamente, sem que haja pedido do profissional de ergonomia. Quando há um pedido do observador para que o trabalhador “pense alto”, chamamos de verbalização provocada. As verbalizações contribuem em muito para a comprovação de achados ergonômicos ou confir- mação de diagnóstico ergonômico, principalmente em aspectos cognitivos de análise. Em geral, deve-se incentivar que as verbalizações sejam feitas em tem- po real de trabalho. Outro fato importante sobre as verbalizações 31 diz respeito ao nível de confiança que o trabalhador o qual é o interlocutor possui em relação ao pesqui- sador, ou o ergonomista observador. Verbalizações poderão ser mascaradas caso o trabalhador não se sinta seguro sobre os propósitos reais de uma análise ergonômica, ou dos resultados que suas verbaliza- ções poderão gerar para ele mesmo. A sinceridade dos trabalhadores nas verbaliza- ções é primordial para que o diagnóstico ergonômi- co seja claro, confiável e real. Caberá ao ergonomis- ta observador conquistar esta confiança, a qual em geral é desenvolvida pela frequência e duração das observações, além das características organizacio- nais da instituição empresarial local da observação. Em suma, o observador tem que “entrar na tribo” antes de buscar informações do trabalho através de verbalizações dos trabalhadores. 1.6 Metodologia em ergonomia Como vimos anteriormente, a ergonomia sur- giu da necessidade de melhoria do desempenho no trabalho e respostas socioeconômicas a questões re- lacionadas a situações de trabalho não satisfatórias. Desta maneira, a ergonomia foi experimentando, assinalando fortemente uma atitude científica, dis- tinguindo-se claramente dos que formulavam reco- mendações com base em preconceitos sociológicos 32 (WISNER, 1994. p. 87). Há cerca de 70 anos, os métodos experimentais de pesquisa em ergonomia permitiram progressos e melhorias de situações de trabalho que proporciona- ram avanços tecnológicos e redução de perdas hu- manas, de tempo e de materiais. A abordagem metodológica da ergonomia gra- dativamente foi migrando dos objetivos militares para os industriais, firmando-se numa abordagem que demandava fatos, dados quantitativos, conse- lhos precisos, resultados claramente demonstráveis. Tudo isso num tempo curto, ou seja, sem atrapalhar o trabalho industrial (WISNER, 1994). Esta propos- ta metodológica estende-se até os dias atuais. A experimentação utilizada para o estudo do ser humano seguia as mesmas regras para a física e quí- mica, contribuindo para elucidar fatos indiscutíveis e permitindo dar conselhos precisos. Porém, este tipo de abordagem não pertencia nem pertence à pesquisa, e, sim, a estudos experimentais, ou seja, assim como nos primórdios da ergonomia, pois, os critérios in- dustriais não possuíam, tampouco possuem uma base puramente científica (WISNER, 1994). Apesar de existirem certas lacunas científicas de abordagem industrial da ergonomia, ainda assim esta metodologia possui certos benefícios, os quais de maneira resumida serão citados. São eles: 33 • Custo: a contribuição ergonômica é de baixo cus- to, pois basta recorrer ao saber do especialista, aju- dado por alguns tratados e por experiências simples e rápidas (quick and dirty); • Tempo: o trabalho na indústria não foi pertur- bado, visto que o ergonomista se contentou com a descrição do problema feita por seu interlocutor da direção e eventualmente com uma rápida visita aos lugares, ou com uma análise sumária da situação (WISNER, 1994. p. 91). Alguns profissionais atuam em ergonomia mes- mo sem possuir o conhecimento necessário para exe- cutar atividades e serviços nesta área. Estes podem até obter sucesso mesmo ao executar intervenções insuficientes e frágeis, pois comumente os recebe- dores dos serviços desconhecem quase que comple- tamente sobre o funcionamento do corpo humano, questões relacionadas à biomecânica e a antropome- tria e outros assuntos de saúde do trabalhador. (...) muitos ergonomistas, no mundo, prestam servi- ços agindo dessas maneiras. A razão desse sucesso se deve ao fato de que a ignorância do funcionamento do homem é tão profunda na maioria dos planejado- res que algumas contribuições ergonômicas, mesmo modestas e desajeitadas, têm um efeito muito positi- vo. (WISNER, 1994, p. 91). 34 Um dos pontos mais importantes a serem le- vados em consideração é a variabilidade do homem ao longo do dia (ciclo circadiano) e também a va- riabilidade de capacidades e competências de pessoa para pessoa e entre períodos. Alguns exemplos desta diversidade são: • Força muscular; • Idade; • Estatura; • Massa corporal; • Antecedentes de traumas e patologias; • Nível e graude instrução; • Experiência profissional; • Gênero; • Etc. É comum que planejadores de trabalho tenham fracassado ao tentar projetar demandas de trabalho para o ser humano, levando em consideração experiên- cias puramente tecnológicas, ou seja, não se pode com- parar a variabilidade do homem com a variabilidade de uma máquina. Há 50 anos este era um erro frequente. Apesar de variabilidade do homem e também da tarefa e atividade, há ainda administradores, en- genheiros de produção e outros gestores fabris que insistem em se basear no sistema homem-máquina ao elaborar e dimensionar a produção, ou seja, com- 35 parar o homem a uma máquina. 1.6.1 Análise Ergonômica do Trabalho A primeira vez que a Análise Ergonômica do Trabalho foi proposta foi em 1955, através do livro “A Análise do Trabalho”, de autoria de Faverge e Om- bredane. O desenvolvimento desta metodologia pros- seguiu através dos ergonomistas Güerín, Montmollin, Wisner, Leplat, e Laville, os quais aprofundaram suas bases teóricas e diversificaram suas aplicações. A Análise Ergonômica do Trabalho é definida como um conjunto estruturado e intercomplemen- tar de análises situadas, de natureza global e sistemá- tica, sobre os determinantes da atividade das pessoas numa organização (GÜERÍN, 2001). A Análise Ergonômica do Trabalho centra seus objetivos, métodos e desenvolvimentos teóricos so- bre a atividade de trabalho, suas dificuldades físicas e/ou cognitivas e sobre as condições de trabalho en- contradas nas empresas (GÜERÍN, 2001). Nas ações ergonômicas demandadas pelas or- ganizações é importante que o profissional de ergo- nomia dê atenção não só para as bases científicas desta disciplina, mas também para os resultados eco- nômicos que a organização empresarial conseguirá com esta ação. Güerín et al (2001) intitula um de seus livros 36 com a seguinte expressão: “Compreender o Traba- lho para Transformá-lo” e defende que os objetivos da ação ergonômica têm estes dois enfoques, um voltado para os trabalhadores, sua saúde e valoriza- ção e outro voltado para os objetivos econômicos da empresa. A metodologia de Análise Ergonômica do Tra- balho – AET leva em conta estes dois objetivos ma- cros e através da AET busca-se resolver problemas relacionados a situações de adaptação ou concepção de sistemas de produção nos quais o foco foi pu- ramente financeiro, técnico ou organizacional, não favorecendo uma reflexão sobre o a influência dos meios de trabalho e cuja concepção não leva sufi- cientemente em consideração as variabilidades dos trabalhadores e do ambiente (GÜERÍN, 2001). Segundo Güerín (2001), o objetivo da AET é: a) Conhecer e explicar as relações entre a saúde dos trabalhadores e as condições de realização do trabalho; b) Compreender o trabalho para uma posterior trans- formação ou concepção de novas situações laborais; c) Melhorar a organização dos sistemas sociotécni- cos, a gestão dos recursos humanos e, em consequ- ência, o desempenho da empresa como um todo. A Análise Ergonômica do Trabalho - AET pos- 37 sui cinco componentes estruturais, os quais se confi- guram como etapas metodológicas introdutórias, de desenvolvimento e de recomendações. Esta estruturação da AET promove uma base crescente de conhecimentos sobre o estudo em questão. Estas etapas metodológicas são a análise da demanda (1), a análise da tarefa (2), a análise da ati- vidade (3), o diagnóstico ergonômico (4) e as reco- mendações ergonômicas (5). Cada etapa possui suas características e especificidades e, como tal, reque- rem uma abordagem específica. A análise da demanda é a primeira das 05 eta- pas. Ela é apresentada ao ergonomista pelo dirigente da empresa ou por um de seus representantes legais, ou seja, quando o ergonomista é solicitado, em geral, já se conhece algumas das não conformidades ergo- nômicas da organização, ou tentativas de tratamento técnico (FALZON, 2007). Segundo Falzon (2007), a análise da demanda tem os objetivos de: a) Identificar a história da demanda e seu contex- to, a população envolvida, além do demandante que entrou em contato, e as tentativas de respos- ta já realizadas; b) Identificar os desafios propostos pela demanda, os quais podem ser diversos, como desafios econô- micos, de saúde e segurança ocupacional e gestão. 38 Identificar também os responsáveis pela permissão para início da intervenção ergonômica; c) Recolher informações que permitam realizar os estudos dos problemas demandados, como por exemplo, consulta ao Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), Programa de Controle de Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO), esta- tística de acidentes, etc. d) Identificar as representações e expectativas que os responsáveis da organização empresarial possuem do ergonomista; e) Identificar a cultura organizacional da empre- sa, os limites de intervenção (sociais, econômi- cos, temporais); f) Permitir ao ergonomista verificar sua competência e pertinência de sua intervenção e possível reformu- lação dos objetivos e modalidades de ação. É recomendado que antes da contratação de um serviço de ergonomia seja possível que o ergo- nomista realize uma visita para a empresa deman- dante do serviço. Neste momento, o ergonomista poderá tomar conhecimento da demanda, caracte- rísticas do trabalho e da empresa, prazos etc. Um projeto ou contrato deverá contemplar os seguintes características e aspectos (FALZON, 2007): • A demanda reformulada; 39 • Os prazos; • A natureza das contribuições que se esperam do ergonomista, seus prazos e grau de precisão; • As condições de sucesso da intervenção, como por exemplo, o acesso às situações de trabalho, do- cumentos e pessoas, regras da intervenção, recursos técnicos, modalidades de difusão dos resultados. Enfim, a análise da demanda visa compreender bem a natureza e o objetivo do pedido (WISNER, 1994) a qual servirá de base para a sequência do tra- balho a ser realizado pelo ergonomista. A análise da tarefa, como discutido anterior- mente, é parte da prescrição do trabalho, das nor- mas e dos recursos disponibilizados pela empresa. A tarefa diz respeito ao que o trabalhador tem que fazer, segundo determinadas normas e padrões de qualidade e de quantidade. A tarefa, portanto, abran- ge as condições de trabalho, pois influenciam as pos- sibilidades de ação (ABRAHÃO et al, 2009). A tarefa de maneira geral compõe-se dos se- guintes elementos a serem analisados: • Pessoas • Ações • Informações • Entradas e saídas • Máquinas 40 • Ambiente • Condições organizacionais Em relação às pessoas os elementos de análise da tarefa são: Em relação ao ambiente os elementos de análi- se da tarefa são: Ainda outros elementos ambientais que devem ser levado em consideração para a análise da tarefa são: • Materiais; 41 • Ferramentas; • Cargas; • Dimensões; • Mobiliário; • EPI / EPC; • Dispositivos de informações; • Controles; • Substâncias químicas. Em relação às questões organizacionais os ele- mentos de análise da tarefa são: • Jornada; • Turnos; • Hora-extra; • Salário; • Plano de carreira; • Relações de trabalho; • Valorização social do trabalho; • Trabalho em grupo; • Rodízios; • Estilos gerenciais. A análise da tarefa aborda um conjunto de ob- jetivos e prescrições dados aos operadores, definida pelos seus modos operatórios, as instruções, as nor- mas de segurança e os recursos da empresa dispo- nibilizados aos operadores para a realização de suas 42 atividades (GUERIN, 2001). A análise da tarefa também é considerada como um princípio que impõe um modo de definição do trabalho em relação ao tempo. A característica prin- cipal da tarefa é sua exterioridade em relação ao tra- balhador envolvido (GUERIN, 2001). A exterioridade diz respeito ao planejamento do trabalho por um engenheiro de produção, um ad- ministrador ou gestor que não participa ativamente in loco da produção por ele planejada. Frequente- mente, estesgestores não levam em conta as particu- laridades dos operadores e muito menos o que eles pensam sobre as escolhas feitas e impostas (GUE- RIN, 2001). Após a abordagem da análise da tarefa a qual diz respeito às prescrições e regulamentos do traba- lho, iremos agora discorrer sobre a análise da ativi- dade, sua natureza e características, seus elementos de estudo, conceitos e definições. De maneira introdutória, vimos que a atividade difere da tarefa da mesma forma que o trabalho real difere do trabalho prescrito. Variabilidades decor- rentes da tecnologia, das pessoas e da organização constituem estas diferenças entre o que é real e o que é prescrito. Outro fator que contribui para esta dis- crepância é limitações e fragilidades do planejamen- to da produção, dificuldades de recursos ofertados pela empresa e restrições temporais para a produção. 43 De maneira geral, podemos dizer que a ativida- de consiste naquilo que o trabalhador faz, suas ações, suas decisões para atingir os objetivos definidos na tarefa ou redefinidos de acordo com o trabalho real (ABRAHÃO et al., 2009). Há ainda uma dimensão importante da atividade: a forma como o trabalhador executa para atingir os ob- jetivos propostos para a tarefa. Esta dimensão contem- pla o trabalho muscular (força, flexibilidade, controlo motor, posturas assumidas, etc.), e as atividades cogni- tivas do trabalhador (ABRAHÃO et al., 2009). A análise da atividade se faz através da observa- ção dos comportamentos dos trabalhadores, sua fala, a direção do olhar, os gestos, os movimentos, desloca- mentos, etc. A atividade pode ser analisada também a partir das estratégias operatórias adotadas pelo traba- lhador para cumprir as metas com as condições for- necidas pela empresa (ABRAHÃO et al., 2009). Os elementos analisados devem ser quantificá- veis através de registros estatísticos, fotografias, ví- deos, planilhas, softwares, entrevistas, questionários etc. De maneira resumida, os aspectos a serem defi- nidos e analisados são: • Realização do trabalho; • Percepção do trabalho; • Gestos e movimentos; • Posturas e vícios; 44 • Ritmo de trabalho; • Pausas e repousos; • Fatores sociais; • Técnicas de análise. As características de resultado em uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET) constam de: A Figura 5 ilustra as relações entre tarefa e ativi- dade, suas diferenças e particularidades. Nota-se que a tarefa está relacionada às condições predetermina- das e a resultados antecipados e a atividade de traba- 45 lho às condições reais de trabalho e ao resultado real. O diagnóstico ergonômico, parte integrante de uma Análise Ergonômica do Trabalho é resultado de uma reflexão e avaliação das etapas pregressas ante- riormente conduzidas. Não se pode identificar um diagnóstico ergonô- mico sem antes ter abordado o assunto ou tema em questão. Por exemplo, não se pode no diagnóstico identificar uma postura incorreta de um trabalhador que realiza uma atividade qualquer sem ter registra- do esta postura por meio de fotografias ou vídeos na análise da atividade, ser ter registrado a frequência que o trabalhador assume tal postura. Além disso, não se pode diagnosticar que a postura “x” assumida gera riscos de doenças oste- omusculares sem corroborar esta informação nas 46 estatísticas de afastamentos ou registros de entrada no serviço médico da empresa por conta de dores ou qualquer distúrbio igual ou similar ao identifica- do, seja pelo trabalhador em questão ou por outros trabalhadores que realizam o mesmo tipo de tarefa. O diagnóstico ergonômico resulta da articula- ção dos dados resultantes das hipóteses iniciais de pesquisa levantadas durante a análise da demanda, das observações livres do ergonomista, da comple- xidade e da variabilidade das situações de trabalho, das questões relacionadas à organização do trabalho ou a cultura organizacional e dos conhecimentos do ergonomista (ABRAHÃO et al., 2009) A formulação do diagnóstico ergonômico tem como objetivo a reformulação das questões iniciais e hipóteses de base, contribuir para desvendar as es- tratégias usadas pelos operadores para realizar uma atividade e contribuir para uma mudança das repre- sentações sobre o trabalho (ABRAHÃO et al., 2009). Segundo Guerín (2001), o diagnóstico ergonômico também contribui para a resolução de problemas micro e macro e identificar sintomas relacionados a não conformidades, como por exemplo: • Erros humanos; • Incidentes críticos; • Afastamentos; • Falta de qualidade nos serviços. 47 Por fim, as recomendações ergonômicas são o produto do esforço metodológico realizado nas etapas iniciais e finais de uma AET. Por isso, a er- gonomia é uma ciência e uma técnica, uma ciência porque requer uma abordagem de pesquisa científica e também porque demanda ações transformadoras de cunho socioeconômico. Não existe uma ação ergonômica sem a busca pela transformação do trabalho, a melhoria dos pro- cessos produtivos, da valorização do profissional na empresa e sua proteção contra doenças ocupacio- nais e acidentes de trabalho. É importante que haja envolvimento de vários profissionais e representantes da empresa para que as recomendações ergonômicas sejam mais comple- tas, menos restritivas e alcancem as expectativas de todos envolvidos. Não se faz ergonomia sem envol- vimento dos trabalhadores. Segundo Guerín (2001), as recomendações er- gonômicas contemplam uma apresentação do es- tudo, objetivo, e resultados, o modelo operativo de ação e os custos das modificações e perspectivas. Al- guns exemplos de melhorias são: • Projeto de novos sistemas de trabalho; • Análise de tempos e movimentos; • Antropometria; • Enriquecimento das tarefas; 48 • Controle do ritmo de trabalho; • Rodízio das tarefas; • Pausas energéticas; • Relaxamento muscular; • Pequenas melhorias; • Correção dos vícios. A Figura 6 ilustra a relação entre as etapas de uma Análise Ergonômica do Trabalho com a tipo- logia de recursos de investigação em pesquisa que devem ser realizados para levantamento de dados, reflexões analíticas e alcance dos objetivos. Finalizamos este capítulo ressaltando que o foco da Análise Ergonômica do Trabalho é contri- buir para o cumprimento do item 17.1 da NR 17, o qual informa: 49 Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer pa- râmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos tra- balhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Para que se possa atingir o objetivo supracitado, a NR 17 informa os requisitos mínimos de interven- ção e análise para o desenvolvimento de uma AET. Estes requisitos são: • Levantamento, transporte e descarga individual de materiais; • Mobiliário dos postos de trabalho; • Equipamentos dos postos de trabalho; • Condições ambientais de trabalho: • Organização do trabalho: o As normas de produção; o O modo operatório; o A exigência de tempo; o A determinação do conteúdo de tempo; o O ritmo de trabalho; o O conteúdo das tarefas. 50 A AET trata-se de um documento dinâmico e por isso deve estar baseado em ações mediatas e imediatas, ou seja, é necessário que se gerencie os achados obtidos durante o levantamento das infor- mações para a melhoria do trabalho. 51 Exercícios 1) Explique a relação do desenvolvimento da ergo- nomia com o pós II Guerra Mundial. 2) Explique por que atualmente as principais pesqui- sas científicas possuem foco na ergonomia cognitiva e organizacional. 3) Explique por que a ergonomia possui natureza interdisciplinar. 4) Segundo Abrahão et al. (2009), há três pressupos- tos para uma compreensão da ação ergonômica e de suas metodologias 5) Por que empregadores e empregados se benefi- ciam da ergonomia? Unidade 2 55 2. ERGONOMIA FÍSICA Os distúrbios musculoesqueléticos encontram- -se como uma das principais causas de afastamento do trabalho, tanto nos países desenvolvidosquanto nos países em desenvolvimento. A ergonomia física configura-se, portanto, numa ferramenta fundamen- tal de saúde e segurança do trabalho. Veremos neste capítulo as características da ergonomia física, os te- mas que aborda, e natureza de atuação profissional. Neste tipo de ergonomia são abordadas as ca- racterísticas anatômicas, antropométricas, fisiológi- cas e biomecânicas do homem em sua relação com a atividade física. A repetitividade, as cargas e postu- ras de trabalho, o levantamento e o carregamento de objetos, as LER/DORT, o layout do posto de traba- lho, a segurança e a saúde são os aspectos abordados na ergonomia física (IEA, 2000). Visto que para compreender as diferenças cor- porais é necessário conhecer as características ana- tômicas e fisiológicas básicas do sistema musculoes- quelético, para iniciar nossos estudos em ergonomia física iremos abordar assuntos básicos sobre o fun- 56 cionamento do corpo humano, como por exemplo, os músculos, tendões e articulações. Em seguida abordaremos sobre o trabalho muscular, biomecâni- ca, e gasto energético. 2.1 Músculos Esqueléticos Através da atividade motora os músculos se desenvolvem, aumentam de volume e força muscu- lar, independentemente se esta atividade muscular ocorre dentro ou fora de empresas. Entretanto, o desenvolvimento muscular segue padrões fisiológi- cos de treinamento e requer períodos de descanso e recuperação. Por exemplo, para aumento da força muscular o indivíduo deve realizar treinamento ativo de aplicação de forças intensas com o objetivo de au- mentar o número de filamentos de actina e miosina (miofibrilas) e o volume do retículo sarcoplasmático. O exercício de alta intensidade aumenta também a atividade enzimática dos músculos estriados. Por outro lado, a inatividade muscular causa a atrofia do tecido muscular e a sobrecarga de exercícios causam dores, in- flamações e lesões das fibras do tecido muscular. A sobrecarga muscular resultante do excesso de exercícios e de falta de tempo de descanso e recupe- ração resulta em degeneração muscular, que depen- dendo do tempo de ação do estímulo nocivo poderá gerar doenças músculo tendinosas crônicas. 57 Em atividades laborais as ações motoras em geral requerem padrões de controle muscular como precisão, aplicação de força, manutenção de ritmos ativos de contração, podendo ser contrações estáti- cas e dinâmicas, frequência e duração da ação mo- tora. Quaisquer sobrecargas destas ações musculares podem resultar em danos físicos aos trabalhadores, como fadiga, dores e lesão tecidual. A Figura 7 ilustra esquematicamente as estruturas da fibras musculares. Os principais fatores de risco para o desencade- amento de transtornos musculares relacionados ao trabalho são: • Repetição da contração muscular; • Necessidade de aplicação de força ao exercer uma atividade; 58 • Permanência de contração muscular estática; • Manutenção de posturas estáticas e assimétricas; • Necessidade de trabalhar com contrações muscula- res precisas (movimentos finos); • Alta demanda visual no trabalho; • Vibrações de membros superiores e de corpo inteiro. Estes riscos são potencializados caso não haja períodos suficientes de recuperação fisiológica antes do próximo período ou jornada de trabalho. Fatores ambientais, socioculturais ou pessoais também po- dem potencializar os riscos de lesões ou distúrbios nos tecidos musculares. A experiência e os dados estatísticos demons- tram que os principais locais de acometimento de dores musculares são nas articulações dos membros superiores: ombros, cotovelos e punhos, algumas ve- zes irradiadas para braços e antebraços e também na região da coluna vertebral, principalmente na região lombar. Alguns exemplos das enfermidades muscu- lares relacionadas ao trabalho são: a) Reumatismo muscular; b) Fibrose c) Miosite; d) Mialgia; e) Fibromialgia; f) Síndrome miofascial; 59 g) Dores e lesões do maguito rotador; h) Epicondilites; i) Bursites; j) Etc. 2.2 Trabalho Muscular Apesar dos avanços tecnológicos, e da redu- ção dos trabalhos pesados, muitas atividades in- dustriais ainda são realizadas através de aplicação de esforços musculares estáticos e dinâmicos por parte dos trabalhadores. Neste item veremos como o trabalho muscular pode influenciar a saúde dos trabalhadores e como a ergonomia pode contribuir na prevenção de distúr- bios osteomusculares relacionados ao trabalho. Para começar nosso estudo vamos dividir o tra- balho muscular em dois principais grupos: a) Trabalho muscular dinâmico; b) Trabalho muscular estático. Sendo estes tipos de trabalhos musculares de- sempenhados na manipulação de materiais (elevação e carregamento) ou em trabalhos repetitivos. 2.2.1 Trabalho muscular dinâmico 60 No trabalho muscular dinâmico, os músculos esqueléticos estão constantemente se contraindo e se relaxando, desta forma, o fluxo sanguíneo local aumenta, irrigando o músculo esquelético e permi- tindo sua nutrição e metabolismo. Este aumento do aporte sanguíneo muscular ocorre devido ao bom- beamento do sangue pelo coração, que em geral re- duz o fluxo sanguíneo que iria para outras áreas do corpo e aumentando o número de vasos sanguíneos abertos na musculatura que está em trabalho. A frequência cardíaca, a pressão sanguínea e o consumo de oxigênio dos músculos aumentam de acordo com a intensidade do trabalho muscular. Em conjunto, aumenta-se também a ventilação pulmo- nar e a frequência respiratória. O sistema cardiorrespiratório fica mais ativado para promover um maior aporte de oxigênio que é levado pelo sangue arterial até os músculos que es- tão desenvolvendo o trabalho dinâmico. Quanto maior for o consumo de oxigênio pe- los músculos, maior será a intensidade do trabalho muscular dinâmico. Ou seja, o consumo máximo de oxigênio (VO2max) indica a capacidade máxima que uma pessoa possui para o trabalho aeróbico. Além disso, os valores do consumo de oxigênio indicam também o gasto energético do indivíduo, por exem- plo, 1 litro de O2/min = 5 kcal/min. Quanto maior o volume e a massa do tecido 61 muscular maior será a capacidade de trabalho dinâ- mico do músculo. Proporcionalmente, o trabalho dinâmico realizado por músculos pequenos (ex.: bí- ceps braquial) gera uma maior resposta cardiorres- piratória (aumento da frequência cardíaca e pressão sanguínea) do que o trabalho de músculos grandes (ex.: quadríceps). “ Saiba mais Quando a contração muscular estiver entre 15 a 20% de sua força máxima, a circulação sanguínea continua normalmente. Porém quando essa contração chega a 60% o sangue deixa de circu- lar no interior do músculo. Em consequência disso o músculo entra em fadiga rapidamente, não sen- do possível mantê-lo contraído por mais de 1 ou 2 minutos. Em seguida ocorre uma dor muscular que provoca uma interrupção obrigatória do trabalho. (texto extraído do livro Ergonomia – Projeto e Pro- dução do autor Itiro Iida – 2005, págs. 161 e 162). 2.2.2 Trabalho muscular estático O trabalho muscular estático é o tipo de con- tração de maior risco para a gênese de distúrbios dolorosos e lesões. Isto ocorre porque durante a contração muscular não há movimento articular e o 62 fluxo de sangue para a região fica restrito devido ao espasmo do tecido muscular, favorecendo a fadiga mais facilmente do que em trabalhos dinâmicos. O aumento da pressão sanguínea é a princi- pal característica da contração muscular estática. A frequência cardíaca e o gasto cardíaco não sofrem grandes variações. A Figura 8 ilustra o músculo ope- rando em condições desfavoráveis de aporte san- guíneo quando em contração estática, favorecendo o acometimento de fadiga muscular e lesões ao se comparar com o trabalho muscular dinâmico. A carga estática não deve superar 8% da força máxima muscular, quando estes esforços precisam ser realizados diariamente, durante várias horas. Se essa carga estática chegar de 15 a 20%da força máxi- ma muscular e se for executada durante dias e sema- nas sem intervalos, a consequência será a incidência 63 de fadiga, dores e doenças osteomusculares (IIDA, 2005, p. 162). 2.2.3 Prevenção de sobrecarga muscular A sobrecarga muscular ocorre quando a capaci- dade de trabalho de um músculo ou grupo de mús- culos é superada pela demanda imposta durante uma atividade. Em geral, a fadiga é o primeiro sinal de sobrecarga muscular, reduzindo a capacidade para o trabalho, a produtividade e a qualidade do trabalho. Para a prevenção da sobrecarga muscular é ne- cessário verificar o conteúdo do trabalho e o am- biente no qual o trabalhador está inserido. A subs- tituição da aplicação de força muscular por meios técnicos de levantamento e carregamento de cargas é um dos principais recursos para a prevenção de sobrecargas musculares. Outra maneira de prevenção é flexibilizar as atividades, rodízios de tarefas, pausas e redesenho do trabalho de acordo com as capacidades do tra- balhador e a demanda. O foco é reduzir ao máximo o trabalho muscular estático e o trabalho repetitivo. Importante também que o trabalhador seja trei- nado, possua condição física de acordo com a deman- da, controle o sobrepeso e não seja sedentário. Isto porque os esforços em ergonomia podem ser insufi- cientes se não tiverem a contribuição do trabalhador. 64 2.3 Discos Intervertebrais Os discos intervertebrais são estruturas que se localizam na coluna vertebral. Eles permitem o movimento e a flexibilidade do tronco, realizam as transmissões de cargas e redução de impactos. Os distúrbios em coluna vertebral ocorrem devido a alguma alteração morfológica dos discos interverte- brais, como alteração de seu formato ou da sua lo- calização entre as vértebras, ou ainda do seu núcleo, redução de espessura, ou distúrbios em suas fibras. As hérnias de disco são um exemplo destes casos. A coluna vertebral é composta por 24 discos intervertebrais que se situam entre as vértebras. O volume dos discos intervertebrais aumenta à medi- da que se posicionam na coluna na direção superior para inferior. Os discos intervertebrais são formados por um tecido cartilaginoso. Em sua região interna contém o núcleo pulposo, que é uma massa gelatinosa que permite a redução de cargas na coluna vertebral. No perímetro externo do disco intervertebral há o anel fibroso, que é uma estrutura muito firme, como se fosse uma rede trançada. Este anel fibroso tenta im- pedir que o núcleo pulposo sofra herniações quando o disco intervertebral é submetido a cargas axiais ou laterais de compressão. 65 Como informado anteriormente, o disco inter- vertebral transmite e distribui as cargas mecânicas ao longo da coluna vertebral. O disco permite também que o ser humano permaneça em postura bípede e use concomitantemente seus membros superiores em diversos tipos de atividades. Permite ainda fazer o tronco curvar-se, torcer-se e se inclinar. Durante as atividades laborais os discos inter- vertebrais podem ser submetidos a cargas mecânicas complexas, principalmente se a natureza das ativi- dades seja física, como no levantamento e carrega- mento de cargas, trabalhos manuais, trabalhos que exijam a aplicação de forças etc. Por exemplo, a extensão e a flexão de tronco produzem forças de tração e compressão nos dis- cos intervertebrais. Já a rotação da coluna produz tensões transversais de cisalhamento. Em geral, con- 66 tudo, não há movimentos puramente de flexão, ex- tensão, inclinação lateral ou de rotação. Na prática os movimentos corpóreos, incluindo no tronco são compostos de dois ou mais tipos de movimentos. A Figura 10 ilustra os níveis de pressão do 3º disco intervertebral lombar nas diferentes posturas. Percebam que a pressão é maior na postura sentada do que na posição ortostática (em pé). Permanecer na postura sentada por longos períodos é um risco ocupacional para lesões em coluna vertebral, princi- palmente na região lombar. Medições de cargas mecânicas realizadas nos discos intervertebrais demonstram que a posição sentada gera uma pressão cinco vezes maior do que na posição deitada. O levantamento de cargas au- menta ainda mais as cargas na coluna. Se esta carga for elevada longe do eixo axial do corpo as pressões 67 nos discos intervertebrais crescem muito. Este é o principal risco de lesões em coluna vertebral: elevar cargas a partir do solo e longe do eixo axial do corpo. Outros riscos importantes são a elevação e o transporte repetitivo de cargas pesadas ou a perma- nência do trabalhador em posturas de flexão, hipe- rextensão, inclinação e torção. Os riscos aumentam quando estas posturas são compostas. Os riscos de lesões lombares estão associados também à vibra- ção, principalmente na frequência de 5 a 10 Hz e ca- racterísticas pessoais do indivíduo, como por exem- plo, o sobrepeso, o sedentarismo, lesões prévias e encurtamento muscular. A prevenção de distúrbios em coluna vertebral é baseada em três parâmetros de conduta: a) O desenho (layout) e os espaços de trabalho; b) Educação e formação; c) Seleção do trabalhador1. O Quadro 2 expõe de maneira sistemática e su- cinta exemplos de parâmetros de melhoria para re- dução de riscos de lesões em coluna vertebral lom- bar (HALPERN, 1992). 1 A seleção de trabalhador não faz parte da ergonomia, pois fere os princípios antropocêntricos da disciplina de “adaptar o trabalho ao homem”, porém pode fazer parte de ações práticas de proteção ao trabalhador por períodos pré- -determinados e quando todos os outros recursos falharem. 68 A maioria das ações ergonômicas de prevenção de distúrbios em coluna vertebral lombar focalizam seus esforços na redução da frequência de levanta- mento de cargas, localização inicial para seu levanta- mento para inibir a necessidade de flexão, inclinação e torção de tronco, adequação das pegas (alças) e na adaptação dos espaços de trabalho. Parte das melhorias nesta área envolve a tecno- 69 logia, como a substituição do esforço muscular pela ação de forças de máquinas e equipamentos, princi- palmente se há uma dificuldade em adaptações con- forme descritas no parágrafo anterior. A manipulação de pacientes no leito (banhos, medicações), sobretudo os pacientes obesos e de- pendentes (em leitos de UTI, por exemplo), a in- serção de mecanismos para elevação como o Jack, Viking (lifts) é mais eficaz do que tentar seguir as prescrições contidas no parágrafo anterior, visto que a carga a ser manipulada pelo trabalhador é um ser humano e ainda que haja tecnologia envolvida as al- turas e dimensões à serem trabalhadas possuem res- trições impostas pelo leito hospitalar. Outro ponto importante é a educação e forma- ção dos trabalhadores. Não se pode permitir que os trabalhadores sejam alocados em tarefas que requei- ram a manipulação de cargas sem que eles recebam treinamento adequado e periódico sobre as formas corretas de desempenhar suas atividades. Além dis- so, a NR-17 exige que seja feita uma capacitação so- bre o assunto para os trabalhadores que manipulem cargas em seu trabalho. Estes treinamentos deverão ser documentados e cada trabalhador deverá assinar uma lista de pre- sença para comprovar sua participação. Uma avalia- ção do treinamento deverá ser feita por eles com o objetivo de melhoria da qualidade do evento. 70 A seleção do trabalhador como exposto ante- riormente deve ser feita em última instância, pois o que deve ser adaptado é o trabalho e não o indiví- duo. Entretanto, temos que convir que há trabalhos de natureza pesada os quais uma seleção pode ser a forma mais adequada de prevenção de dores lomba- res (bombeiros, policiais, pedreiros etc.). 2.4 Antropometria A antropometria é um conjunto de teorias e práticas dedicadas a definir os métodos e variáveis para medir o ser humano com o objetivo de assegu- rar seu conforto, segurança e saúde ao executar suas atividades. A antropometria é um importanteramo de estudo da ergonomia física. A antropometria se relaciona com a estrutura do corpo, sua composição, massa, estatura, dimen- sões, constituição corporal e os espaços de trabalho, as máquinas e o ambiente como um todo. Para o estudo da antropometria padronizam-se algumas variáveis antropométricas de medida, que expressam uma dimensão padrão do corpo ou um segmento corporal. São definidos pontos de referên- cia precisos do corpo, como por exemplo, medidas realizadas a partir de proeminências ósseas ou extre- midades de um membro. As medidas antropométricas podem ser lineares, 71 como a altura ou a distância entre pontos de referên- cia corporais, angulares, como por exemplo, o ângulo formado pela flexão máxima do tronco ou do punho de um indivíduo. Pode ser ainda um perímetro, como o perímetro do braço na altura média do músculo bí- ceps, ou a medida da cintura pélvica etc. Os instrumentos mais comuns utilizados na antropometria são a fita métrica, o goniômetro e o estadiômetro. Entretanto, atualmente muitas das me- didas antropométricas são resultados de instrumentos complexos automatizados, utilizados principalmente em laboratórios de biomecânica e antropometria (dis- ciplinas complementares) e softwares diversos. A Figura 11 ilustra as principais variáveis antro- pométricas, como por exemplo, a estatura, as distân- cias dos membros superiores e inferiores, as dimen- sões da cabeça, os alcances horizontes na postura em pé e sentado. “ Saiba mais Eletromiografia (EMG): é o estudo da ativi- dade elétrica do músculo. O estudo do músculo a partir dessa perspectiva pode ser muito válido por proporcionar informa- ção concernente ao controle dos movimentos voluntários e/ ou reflexos. O estudo da atividade muscular durante determi- nada tarefa pode revelar quais músculos iniciam e cessam sua atividade. Além disso, é possível quantificar a magnitude da resposta elétrica dos músculos durante a tarefa. 72 Eletromiograma é o perfil do sinal elétrico detectado por um eletrodo num músculo, ou seja, é a medida do potencial de ação do sarcolema. Sinal de EMG é registrado usando um eletrodo, que funciona como uma antena, podendo estar interno ou superficialmente sobre a pele. O eletrodo interno é uma agulha que é aplicada diretamente sobre o músculo. Este tipo de eletrodo é utilizado para músculos profundos ou pequenos. Eletrodos de superfí- cies são aplicados sobre a pele, por cima de um músculo, de modo que são utilizados principalmente para músculos super- ficiais (é o mais utilizado em estudos biomecânicos). (Texto extraído do livro “Fundamentos do Movi- mento Humano” de Joseph Hamill, p. 85 e 86). 73 A antropometria é uma ferramenta que auxilia na definição das distâncias de trabalho, como por exemplo, a altura ideal de uma bancada, de uma mesa para uso de computadores etc., o diâmetro de uma alça, de um assento para uso em escritórios ou para veículos, ou ainda para determinar o tamanho exato do uniforme dos trabalhadores. Como exposto anteriormente, nos dias atuais, softwares diversos auxiliam no dimensionamento antropométrico, sendo na prática as medidas seg- mentares individuais ficarem quase que restritas para trabalhos de cunho científico, ou seja, laboratórios principalmente de universidades ou em indústrias multinacionais, como montadoras de veículos para a resolução de problemas bem específicos. 2.5 Biomecânica Ocupacional A biomecânica é uma disciplina que une dois ra- dicais: “bio” (sistema vivo) + “mecânica” (análise de forças e seus efeitos) para estudar os movimentos cor- porais e forças relacionadas ao trabalho. Ela estuda a forma que o organismo exerce força e gera movimento. A biomecânica une as ciências físicas, ciências biológicas e ciências comportamentais para compre- ender a carga física de trabalho. Ela utiliza leis da física e conceitos de engenharia para descrever mo- vimentos realizados por vários segmentos corpóreos 74 e forças que agem sobre estas partes do corpo du- rante atividades normais de vida diária (CHAFFIN et al, 2001, p.1) A biomecânica estuda as interações do ser hu- mano com os materiais, ferramentas, posto de traba- lho e máquinas com o objetivo de reduzir os distúr- bios músculo esqueléticos. Segundo Hall (2007), os movimentos humanos podem ser analisados de maneira quantitativa ou qualitativa. A análise quantitativa, como o próprio nome diz, inclui informações numéricas, enquanto a análise qualitativa requer descrições de caracte- rísticas relacionadas às qualidades, ou seja, sem ne- cessidade de números. Por exemplo, ao se analisar um trabalhador pegando um documento numa im- pressora o observador poderia dizer: o trabalhador inclinou-se pouco para tal (ao descrever o movimen- to de maneira qualitativa). De maneira quantitativa, o observador poderia dizer, o trabalhador flexionou seu tronco em 15 graus para alcançar o documento. O corpo humano assemelha-se a um sistema de alavancas movido pela contração muscular. Vejamos como o corpo humano trabalha como alavancas. A Figura 12 ilustra o tipo de alavanca interfixa, na qual o ponto de apoio encontra-se entre a carga e o ponto de aplicação da força. 75 A Figura 13 ilustra o tipo de alavanca interresis- tente, na qual a resistência (carga) permanece entre o ponto de apoio e o local de aplicação da força. Segundo Couto (2002), o ser humano possui pouca capacidade de aplicação de forças físicas no tra- balho, pois suas alavancas fisiológicas possuem carac- terísticas que habilitam a realização de movimentos de alta velocidade e grande amplitude de movimento, porém com baixa capacidade de força e aplicação de resistências. Isto ocorre pela predominância no corpo 76 humano de alavanca do tipo interpotente A Figura 14 ilustra o tipo de alavanca interpo- tente, na qual o local de aplicação da força perma- nece entre o ponto de apoio e a resistência (carga). O movimento humano é composto por dois tipos de movimentos: o movimento linear e o mo- vimento angular. Geralmente atuam simultaneamen- te numa combinação complexa a qual chamamos de movimentação geral. O movimento linear também é denominado de movimento de translação ou translacional (HAMILL, 2008). Este tipo de movimento ocorre ao longo de uma trajetória retilínea, ou ainda, de maneira curva em que todos os pontos num corpo ou objeto se movi- mentam numa mesma direção e num mesmo interva- lo de tempo. Alguns autores classificam o movimento linear de duas maneiras: se o movimento ocorrer em linha reta o movimento é retilíneo e se a linha for cur- va, o movimento é curvilíneo (HALL, 2007). O movimento angular é o movimento em torno 77 de algum ponto ou a rotação ao redor de uma linha central imaginária, conhecida como eixo de rotação (HALL, 2007; HAMILL, 2008). Nos estudos biome- cânicos em geral primeiramente analisa-se as caracte- rísticas do movimento linear de uma atividade e, em seguida, examina-se os movimentos angulares (HA- MILL, 2008). 2.5.1 Planos cardinais de referência Segundo Hall (2007), os planos cardinais são planos anatômicos de referência os quais dividem o corpo em três dimensões: • Plano sagital (ântero-posterior): divide o corpo ver- ticalmente, em metade direita e esquerda. Neste plano ocorrem os movimentos para frente e para trás do corpo e dos segmentos corporais; • Plano frontal (frontal): divide o corpo verticalmente em metades anterior e posterior. Neste plano ocor- rem os movimentos laterais do corpo e dos segmen- tos corporais; • Plano transverso (horizontal): divide o corpo nas metades superior e inferior. Neste plano ocorrem os movimentos horizontais do corpo e de seus segmen- tos (quando o corpo está na vertical). 78 “ Saiba mais Terminologia dos Movimentos Articulares “Quando o corpo humano se encontra na posição anatômica de referência, considera-se que todos os segmentos corporaisestão posicionados a 0° ou em posição neutra. A rotação de um segmento corporal na direção oposta à posição anatômica é denomina- da de acordo com a direção do movimento e men- surada como o ângulo formado entre a posição do segmento corporal e a posição anatômica”. (texto extraído do livro Biomecânica Básica (p. 37) de Susan Hall (2007). 79 No plano sagital os três movimentos principais são a flexão, a extensão e a hiperextensão. Os movimentos principais no plano frontal são chamados de abdução (afastamento da linha média do corpo) e a adução (aproxima-se da linha média do corpo). As inclinações laterais do tronco também ocorrem no plano frontal, bem como a elevação e depressão da escápula. No caso da mão ocorrem o desvio radial (movimento do punho em direção ao osso rádio) e o desvio ulnar (movimento do punho em direção ao osso ulna), também chamados de ab- dução e adução do punho. No caso dos pés a rota- ção lateral da planta do pé é denominada eversão 80 e a rotação medial é chamada de inversão (HALL, 2007), conforme Figura 17. Os movimentos no plano transverso são as rotações mediais e laterais (membros superiores e inferiores), supinação (palma da mão voltada para frente/cima) e pronação (palma da mão voltada para trás/baixo) para o antebraço. No caso da cabeça, pescoço e ombro os movimentos são chamados de rotação para a esquerda e rotação para a direita. 81 2.5.2 Movimentos realizados pelos músculos Os músculos são os principais responsáveis pelos movimentos corporais. Devido às contrações musculares conseguimos manter uma postura, le- vantar uma carga, e movimentar o corpo. Pode ain- da retardar um segmento que está se movimentando numa determinada velocidade e acelerar o corpo ou um objeto. 82 Os músculos possuem uma tensão a qual é apli- cada nas articulações em forma de compressão, o que favorece a estabilidade articular. Quando as tensões musculares provocam afastamento dos segmentos corporais em membros superiores e inferiores ocorre o contrário, a tração, o que pode causar instabilidade articular e consequentemente riscos de lesões. Os músculos são classificados em estriados (músculos esqueléticos e do miocárdio/cardíaco) e lisos (músculos viscerais, como por exemplo, do in- testino). Os músculos esqueléticos são de controle voluntário e o do miocárdio e lisos estão sob contro- le do sistema autônomo. Os músculos esqueléticos são responsáveis pela locomoção, movimento dos membros, postura e es- tabilidade articular (HAMILL, 2008). As quatro características do tecido muscular es- quelético são (HAMILL, 2008): • Irritabilidade: capacidade de responder à estímulos; • Contratilidade: capacidade do músculo de encurtar ao receber estímulos; • Extensibilidade: capacidade do músculo de alongar ou esticar além do comprimento em repouso. Este alongamento só pode ser realizado através da ação de outro músculo ou de uma força externa; • Elasticidade: capacidade da fibra muscular em re- tornar ao seu comprimento de repouso. 83 Em relação à tensão muscular usam-se as se- guintes classificações: •Concêntrico: músculo que realiza tensão provocan- do encurtamento no seu comprimento, ou seja, o trabalho é positivo; • Excêntrico: músculo que mesmo realizando tensão o músculo se alonga, ou seja, o trabalho é negativo; • Isométrico: músculo que realiza tensão, mas não há mudança visível ou externa na posição articular, ou seja, não há trabalho externo. Em relação ao músculo motor do movimento usam- -se as seguintes classificações: •Agonista: músculo responsável pela produção de um movimento específico por meio de ação muscu- lar concêntrica; • Antagonista: músculo responsável pela oposição à ação muscular concêntrica do músculo agonista. Em relação ao tipo de exercício muscular usam-se as seguintes classificações: • Exercício isocinético: exercício em que a ação muscular é realizada numa mesma velocidade. Ge- ralmente ocorre num aparelho de velocidade con- trolada. O indivíduo desenvolve tensão máxima ao longo da amplitude total de movimento na veloci- dade especificada do movimento (HAMILL, 2008); • Exercício isométrico: exercício que se aplica carga ao músculo em uma mesma posição articular (HA- 84 “ Saiba mais Propriedades dos Músculos Força: é a potência máxima que pode ser exercida numa única contração voluntária. Resistência: é a capacidade de persistir. Definida e medida como a capacidade de repetição de con- trações submáximas ou o tempo de sustentação de esforço submáximo. Flexibilidade: é a amplitude de movimento através da qual os membros são capazes de mover-se. Velocidade: inclui o tempo de reação e o tempo de movimento. Potência: é a combinação de força e velocidade (é a distância percorrida pelo músculo em determinada carga em determinado tempo). Agilidade: é a capacidade de mudar de direção e posição rapidamente, com precisão e sem perda do equilíbrio. Equilíbrio: é a capacidade de manter o posicionamen- to correto do corpo durante movimentos vigorosos. Coordenação: é a relação harmoniosa entre os mo- vimentos repetidos e de alta velocidade. (texto extraído do livro “Ergonomia Aplicada ao Trabalho em 18 Lições”, de Hudson Couto, p. 25-26). MILL, 2008); • Exercício isotônico: exercício em que uma ação muscular (excêntrica ou concêntrica) é realizada para mobilizar uma carga específica ao longo de uma am- plitude de movimento (HAMILL, 2008). 85 Como já vimos os movimentos são realizados através da contração muscular. Estas contrações pos- suem características de velocidade, precisão e forma específica de movimento, dependendo do segmen- to corporal e consequentemente dos músculos que agem como agonistas e antagonistas no trabalho muscular. As características dos movimentos são: • Precisão: Os movimentos são realizados através das extremidades mais distais do corpo humano, neste caso, as pontas dos dedos das mãos; • Ritmo: Os movimentos devem ser suaves, curtos e rítmicos. Acelerações ou desacelerações bruscas, ou mudanças rápidas de direção causam fadiga, pois exigem neste caso maior contração muscular (IIDA, 2005, p. 175); • Movimentos retos: São mais difíceis de serem rea- lizados, pois exigem integração complexa de movi- mentação de outras articulações (IIDA, 2005); • Terminações: São movimentos que exigem posi- cionamentos precisos. Demandam atenção visual importante, e podem ser difíceis e demorados. Con- troles e anteparos são importantes para a execução destes movimentos (IIDA, 2005). Exercícios 1) Cite exemplos de aspectos abordados pela ergo- nomia física. 2) Quais as consequências para os trabalhadores de sobrecargas musculares? 3) Quais os principais fatores de risco para o desen- cadeamento de transtornos musculares relacionados ao trabalho? 4) Cite formas de prevenção de sobrecargas musculares. 5) A prevenção de distúrbios em coluna vertebral é ba- seada em três parâmetros de conduta. Quais são eles? Unidade 3 89 3. ERGONOMIA COGNITIVA A ergonomia cognitiva contempla os processos mentais dos trabalhadores em situação de trabalho. Os itens mais importantes neste tipo de ergono- mia são: a percepção, a memória, o raciocínio e as respostas motoras, a relação das interações entre pessoas e outros componentes de um sistema, etc. Os temas centrais são a carga mental de trabalho, a tomada de decisão, a interação homem-máquina, a confiabilidade e o estresse (IEA, 2000). A Ergonomia Cognitiva é uma especialidade da Ergonomia - ciência do trabalho que estuda as repercussões da organização e dos processos de tra- balho (ambientes, artefatos, métodos) sobre o con- forto, segurança, saúde e na eficácia do trabalho. É uma disciplina científica que tem por obje- tivo descrever e explicar os aspectos cognitivos da relação entre a ação humana e os elementos físicos e materiais do ambiente, mediados pelo uso de artefa- tos (CRUZ, 2006). Para iniciar nosso estudo sobrea ergonomia cognitiva vamos definir o termo cognição. Segundo 90 Cruz (2001), cognição é um termo psicológico que designa o processo de conhecer a realidade, ou mais especificamente, a capacidade humana para adqui- rir, manter e utilizar informações, conhecimentos ou aprendizagens. É a partir dos processos cognitivos que o ser humano adquire e produz conhecimentos. Os processos cognitivos básicos são: • Ater-se a estímulos ambientais • Perceber propriedades ou características desses es- tímulos e as relações entre eles • Tomar decisões com base em conhecimentos e ra- ciocínios derivados dessas percepções • Executar ações coordenadas de ativação, manuten- ção e controle de comportamentos (regulações) Para tais usam-se a memória, a atenção e cons- ciência, o reconhecimento de padrões, a resolução de problemas e a tomada de decisões. O trabalhador, portanto captam as informações através dos sentidos (visão, audição, tato, paladar, ol- fato, cinestesia e propriocepção) e tentam interpretar e organizar estas informações para então tomar suas decisões. E o que é a percepção? Percepção é um conjunto de processos pelos quais recebemos, reco- nhecemos, organizamos e entendemos as sensações recebidas dos estímulos ambientais (ABRAHÃO et al 2009). 91 3.1 Sensação e percepção Segundo Iida (2005), sensação é o processo bio- lógico de captação de energia ambiental e a percepção é o resultado do processamento do estímulo senso- rial, dando-lhe um significado, ou seja, os estímulos recebidos são organizados e integrados para que seja significativo para o indivíduo. A memória faz parte deste processo de significância das sensações. Ainda segundo o autor a sensação é um fenô- meno biológico, ao passo que a percepção envolve um processamento, ou seja, para que ocorra necessi- ta que o indivíduo compare a informação com outra previamente armazenada na memória, ou seja, de- pende de suas experiências e de fatores individuais, como por exemplo, a personalidade, o nível de aten- ção e as expectativas (IIDA, 2005). A percepção pode ser alterada pelo nosso co- nhecimento, por nossa motivação, pelo estado emo- cional e por outras condições fisiológicas. Estes es- tados influenciam a sensibilidade dos objetos como também as propriedades percebidas neles. Os estágios da percepção são a pré-atenção e a atenção. Na pré-atenção há a percepção de “algo” diferente no ambiente e são identificadas caracterís- ticas globais do objeto. Já na atenção há a focalização dos sentidos em aspectos interessantes do objeto ou estímulo e o reconhecimento das informações. 92 “ Saiba mais Sensação X Percepção Letras impressas em um papel são convertidas em sensações pelas células fotossensíveis dos olhos. Es- ses estímulos são conduzidos pelo nervo óptico até o lobo occipital do cérebro. Neste local são decodi- ficados através da atuação da memória. A percepção das letras está ligada à identificação de suas formas e o seu reconhecimento, em comparação com um padrão armazenado na memória. Uma pessoa analfabeta não possui esta memória e, por isso, não consegue fazer esta decodificação, ou seja, não consegue transformar alguns traços do papel em significados. Outro exemplo ocorre com usuários de computadores que não reconhecem os ícones presentes em interfaces de programas, desta forma, em alguns casos, estes usuários não conse- guem decifrar o significado desses ícones e, então, há um bloqueio da percepção. (Texto extraído de “Ergonomia – Projeto e Produção” de au- toria de Itiro Iida, 2ª. Edição p. 259). . 93 A manutenção da atenção é modulada pelos se- guintes fatores: • Fator fisiológico - depende das condições neuroló- gicas e da situação física de trabalho; • Fator motivacional - depende da forma como o estímulo se apresenta e provoca interesse; • Concentração - depende do grau de solicitação e de atuação do estímulo. Para o estudo da percepção, memória e tomada de decisões a ergonomia faz uso dos conhecimentos das ciências cognitivas. A diferença está nas especifici- dades da ergonomia, que faz o uso destas disciplinas com o foco do indivíduo no ambiente de trabalho. As ciências cognitivas distinguem cinco gran- des áreas, as quais são: a psicologia cognitiva, a inte- ligência artificial, a linguística cognitiva, as neuroci- ências e a filosofia da mente (LEPLAT & MONT- MOLLIN, in FALZON, 2007). Na Figura 20 podemos identificar que os estí- mulos provenientes do meio ambiente apresentam uma série de características que são captadas pelos nossos sentidos, neste caso a visão. Tais informações captadas pela visão são transformadas em estímulos eletroquímicos, transmitidos dos olhos para as regi- ões de processamento do cérebro e interpretadas, organizadas, armazenadas e evocadas. Neste proces- 94 so são utilizados a memória, a categorização, aten- ção, resolução de problemas e processos decisórios, que servem de base para a ação do indivíduo. Fica, portanto, claro que a rosa da figura é apenas uma rosa após a informação sensorial é traduzida pelo sistema nervoso central, mas especificadamente no córtex cerebral. Podemos resumir os assuntos abordados neste subitem da seguinte maneira: a sensação é um fe- nômeno essencialmente biológico enquanto que a percepção envolve processamento, reconhecimento de uma informação, comparação (memória). Vimos que a percepção também depende de experiências anteriores do indivíduo, bem como de fatores indivi- 95 duais, tais como: a personalidade, o nível de atenção e as expectativas do indivíduo. Desta maneira, as atividades cognitivas são constituídas por conceitos ou símbolos. É sobre esses símbolos que reagimos ao meio ambiente ou agimos sobre ele, modificando-o e nos modificando nesse processo. 3.2 Memória Como a memória humana é parte importante para que estímulos sensoriais se transformem em per- cepções, ou seja, que tenham significância ao indiví- duo, o estudo da memória é importante para estudio- sos em ergonomia. Além disso, veremos que a memó- ria serve também de base para a tomada de decisões. “ Saiba mais Diferenças entre MCD e MLD A MCD relaciona-se mais com os aspectos formais do que aqueles conceituais da informação. Ela tende a confundir palavras que têm sons semelhantes en- tre si (ex.: tom, bom, som, são), mas não as palavras diferentes que têm significados semelhantes (ex.: ne- gro, preto, escuro). Na MLD o inverso acontece, ou seja, se relaciona mais com os aspectos semânticos ou conceituais, podendo se confundir informações de conceitos parecidos (ex.: diagrama / gráfico). Por exemplo, pode-se confundir Pedro com João, porque 96 são irmãos ou porque ambos têm a mesma profissão (Texto extraído de Ergonomia Projeto e Produção – Itiro Iida, 2005, p. 261). A memória é um conceito que expressa uma condição de reflexo ou “estocagem” das represen- tações e dos conhecimentos. Através da memória é possível utilizar as capacidades mnésicas como uma competência cognitiva essencial à organização e fun- cionamento do pensamento e da linguagem. Dentre os processos cognitivos, a memória é o processo pelo qual as experiências levam à alteração do comportamento. Através da memória é possível que o indivíduo tenha capacidade de reter, recuperar, armazenar e evocar informações disponíveis, gerar novas ideias e, finalmente, a memória ajuda na toma- da de decisões. No processo de memorização, as informações ambientais são captadas, interpretadas, filtradas e ar- mazenadas em 03 níveis de processamento: 1. Registro sensorial - sensação/percepção; 2. A memória de curta duração (MCD) 3. A memória de longa duração (MLD) • A Memória de Curta Duração (MCD), também cha- mada de memória de trabalho, designa o conjunto dos processos que permitem conservar uma informação durante o tempo necessário para a execução de uma ação. Por exemplo, é utilizada quando alguém dita 97 o númerode um telefone: este número é retido na memória, podendo ser transcrito no papel e, se esse processo demorar mais de 30 segundos, não seremos mais capazes de lembrá-lo (IIDA, 2005). A MCD ou de trabalho tem capacidade de esto- cagem limitada. O número de unidades retidas, assim como o seu tempo de conservação, depende, por um lado, da significação das unidades a memorizar e, por outro lado, de uma atividade de auto-repetição que permite conservar as informações. É uma memória específica à realização de uma tarefa particular, ela tem uma duração de vida transitória ligada à duração desta tarefa. A Memória de Longa Duração (MLD) designa o conjunto dos processos que permitem conservar o conjunto de acontecimentos e conhecimentos que uma pessoa acumulou ao longo da sua vida. A MLD tem caráter associativo, ou seja, as novas informa- ções são melhor fixadas quando se conectam com a rede neural já existente no cérebro (IIDA, 2005). A Tabela 1 ilustra as diferenças entre a Memó- ria de Curta Duração (MCD) e a Memória de Longa Duração (MLD): 98 Há ainda autores que classificam em 05 ti- pos as memórias: • Memória declarativa; • Memória imediata; • Memória de curta duração; • Memória de longa duração; • Memória de procedimento. Memória declarativa refere-se à retenção de ex- periências sobre fatos e eventos do passado. Ela tem a capacidade de verbalizar um fato. Memória imediata é a memória que dura de frações a poucos segundos, como por exemplo, ca- pacidade de repetir imediatamente um número de telefone que é dito, estes fatos são, após um tempo, completamente esquecidos. Memória de curto prazo tem duração de algu- mas horas e existe a formação de traços de memória, por exemplo, a capacidade de lembrar-se do que se 99 vestiu no dia anterior, ou com quem se encontrou. Memória de longa duração é a memória com duração de meses a anos, como por exemplo, a capa- cidade de aprendizado de uma nova língua. Memória de procedimento é revelada quando a experiência facilita o desempenho numa tarefa que não requer evocação consciente ou intencional daquela ex- periência, ou seja, é a capacidade de reter e processar informações que não podem ser verbalizadas, como tocar um instrumento ou andar de bicicleta. 3.3 Tomada de decisão Segundo Iida (2005) a decisão é a escolha de uma entre diversas alternativas, cursos de ação ou opções possíveis. A tomada de decisões é uma das atividades cognitivas mais comuns no ser humano. De maneira resumida pode-se dizer que a tomada de decisões consiste na seleção entre escolhas e oportu- nidades possíveis. É uma abordagem sistemática de um conjun- to de processos mentais usados para determinar com firmeza o melhor curso de ação em resposta a um dado conjunto de circunstâncias. O processo de tomada de decisões faz uso tanto da memória de curta duração quanto da memória de longa duração. A principal causa da dificuldade de tomar decisões complexas está na capacidade limitada da memória 100 de curta duração, desta maneira, algumas opções podem ser esquecidas ou omitidas. Esta limitação é responsável por grande parte dos acidentes ocorri- dos por falha humana. Aspectos cognitivos (pensa- mentos) e afetivos (sentimentos) estão relacionados à tomada de decisão no contexto da ocorrência de acidentes de trabalho. É comum que trabalhadores tenham que ser obrigados a tomar decisões sem conhecer todas as alternativas possíveis, ou seja, erros e acidentes po- dem acabar ocorrendo como resultado de uma de- cisão tomada de forma incorreta, ou quando opta por uma alternativa na qual o resultado não será o esperado pelo indivíduo (Iida, 2005). Há vários fatores que influenciam a tomada de decisões. As perguntas à seguir servem para que ponderemos sobre alguns deles: • ...há intervenção de fatores externos? • ...há pressões no trabalho? • ...há restrições tecnológicas? • ...há restrições de tempo? • ...a comunicação é insuficiente? • ... há motivação no trabalho? As classes de tomada de decisões são: • Rotina; 101 • Estratégica; • Operacional; • Emergência. Alguns condicionantes para a tomada de deci- sões são: • Aspectos cognitivos: o Percepção; o Atenção; o Memória; o Tomada de decisão; • Estados mentais: o Desejo; o Motivação; o Crenças; o Valores. As consequências de uma decisão são os resul- tados, os quais são associados a uma significância ou um valor subjetivo de utilidade. Como cada indivíduo possui seus valores e motivações, as pessoas tomam decisões diferentes mesmo estando na mesma situa- ção. Os modelos mais recentes de análise de um pro- cesso decisório consideram 03 etapas, as quais são: coleta de informações, avaliação e seleção (Iida, 2005). A coleta de informações no sentido que em que é importante que antes da tomada de decisões 102 as pessoas busquem informações. Quanto melhor a qualidade destas informações é mais provável que da mesma maneira as decisões sejam de melhor qua- lidade. Quando as informações não são completas ou são de difícil interpretação as decisões podem ser tomadas em suposições ou probabilidades. O con- trário, ou seja, o excesso de informações também dificulta uma tomada de decisão de qualidade. Se o indivíduo tiver condições de filtrar as informações, a chance de utilizar aquelas que são relevantes para a tomada de decisões pode contribuir para a qualidade das mesmas num processo decisório. Existem, ainda, indivíduos que possuem uma visão parcial do problema e tomam decisões de su- botimização das informações, o que também contri- bui para que decisões sejam tomadas sem uma base de análise adequada. A avaliação ocorre quando as informações re- cebidas pelo indivíduo são úteis para avaliar uma si- tuação, comparando-as com experiências e conheci- mentos prévios do indivíduo (Iida, 2005). Quando o indivíduo coleta estas informações e as processa é necessário que esta interpretação do seu significado componha um modelo cognitivo. Quanto mais fidedigno este modelo cognitivo es- tiver em relação à realidade, maior será o grau de acertos no que se refere à tomada de decisão. Além disso, o modelo mental servirá de base para prever a 103 evolução futura do ambiente, desta forma, o proces- so decisório deve se adaptar a dinâmica do trabalho. A seleção das opções é a última etapa do pro- cesso decisório. Uma vez escolhida uma opção, é im- portante descrevê-la minuciosamente e providenciar condições compatíveis para implementá-la. Para tal, há necessidade de definições de atribuições de res- ponsabilidades e provisão de recursos (Iida, 2005). 3.4 Modelos cognitivos A investigação dos níveis de marco teórico de referência, como o estudado anteriormente (sistema sensório-motor, percepção e processamento das in- formações) é sustentada pela psicologia cognitiva. Nos últimos 40 anos, o estudo dos processos cogni- tivos humanos tem proporcionado teorias explicati- vas e dados empíricos que nos permitem conhecer como as pessoas sentem, percebem e armazenam in- formações, e, por outro lado, como a recuperam e a utilizam para a tomada de decisões (CAÑAS, 2000). Os modelos cognitivos que serão propostos tentam explicar a interação de uma pessoa com um artefato. Em geral, este é o esquema de processa- mento de informações tal como hoje é utilizado em psicologia cognitiva. 104 O modelo ilustrado na Figura 21 considera que o ser humano possui um sistema cognitivo compos- to por sistemas sensoriais encarregados de extrair as informações do ambiente. Estas informações são analisadas pelos processos perceptivos e armazena- das pela memória, para poder ser recuperada e utili- zada anteriormente. Em ergonomia cognitiva este modelo de siste- ma cognitivo humano está presente de uma ou outra maneira, ou seja, em todas as investigações. Deve-se ressaltar que a investigação não está dirigida a por a prova hipóteses sobre o modelo cognitivo, e sim de tratar de utilizá-lo paraexplicar a interação entre uma pessoa e um artefato. Por isso, os modelos de ergono- mia cognitiva consideram ser fundamental conhecer 105 quais são as atividades que uma pessoa realiza, assim como estabelecer princípios baseados nos conheci- mentos da psicologia cognitiva que podem ser aplica- dos no desenho de interfaces (CAÑAS, 2000). Agora que estudamos sobre a sensação, percep- ção, memória, atenção, processamento das informa- ções e tomada de decisão, iremos analisar as figu- ras a seguir, as quais ilustram exemplos de modelos cognitivos explicativos (de Gagné e de Richard) para processos mentais. Verifica-se que as entradas ocorrem no sistema sensorial humano (visão, audição, tato, paladar, ol- fato, propriocepção, cinestesia), estes estímulos são processados cognitivamente e em seguida tem-se uma resposta, a qual pode ser um simples pensa- mento até uma resposta motora. 106 Segundo Cruz (2006) as estratégias cognitivas são empregadas para resolver problemas que depen- dem dos seguintes condicionantes cognitivos: • Representações - construídas em relação à situ- ação presente; • Conhecimentos - adquiridos ao longo da vida; • Raciocínios - empregados por juízos previamente validados (pautas de raciocínio). 3.5 Carga Mental A carga mental é um termo utilizado quando referirmos uma porção de recursos de processamen- to que uma pessoa necessita para realizar uma tarefa. 107 Se os recursos que uma tarefa requer são excessivos para a execução, como consequência, o trabalhador será afetado, podendo causar erros, estresse e outras consequências nocivas a ele. A carga mental de uma tarefa é um fator impor- tante a se levar em conta quando uma pessoa tem que realizar várias tarefas simultaneamente. Nesta situa- ção, os recursos de processamento devem dividir-se entre as tarefas e podem se produzir efeitos de inter- ferência. Por esta razão, durante o desenho de interfa- ces, é necessário conhecer os recursos atencionais que cada tarefa requer e desenhá-las de tal maneira que não se produzam fenômenos de interferência. Wickens (1992) propôs um modelo para expli- car como os recursos de processamento são distri- buídos em várias tarefas que se realizam simultane- amente. Este modelo defende que os recursos que uma tarefa requer dependem de três características ou dimensões de uma tarefa. Em primeiro lugar, uma tarefa pode requerer que se dediquem recursos ao sistema de maneira perceptível ao processador central ou ao sistema de resposta. Em segundo lu- gar, as tarefas podem requerer que a pessoa processe diferentes tipos de informação em diferentes códi- gos, verbal ou espacial. Finalmente, a informação processada em uma tarefa pode ser apresentada e requerida da pessoa em duas modalidades, auditiva ou visual. 108 109 Dentre os métodos de construção de medidas de cargas de trabalho, como por exemplo, o NASA TLX, é importante que o método leve em conside- ração os seguintes aspectos: • Caracterizar dimensões (física, sensório-atencional, perceptiva, temporal, afetiva-emocional, cognitiva- -reacional), e: • Decompor comportamentos que expressam per- cepções sobre as condições psicológicas para res- ponder as exigências do trabalho. • Dimensão Física: o Carregar peso; o Fazer força com as mãos; o Deslocar-se a pé; o Trabalhar parado numa só posição; o Mudar de postura para acomodar-se melhor. • Dimensão Sensória–Atencional o Diferenciar estímulos visuais; o Diferenciar sons; o Diferenciar cheiros; o Diferenciar vibrações; o Orientar-se no espaço de trabalho; o Prestar atenção em diferentes estímulos visuais; o Prestar atenção em diferentes estímulos auditivos; o Manter-se concentrado. • Dimensão Perceptiva o Identificar problemas mecânicos nos equipa- 110 mentos durante o trabalho; o Intervir em conflitos no trabalho; o Identificar problemas na maneira de executar o trabalho; o Discriminar informações em código; o Identificar riscos à segurança pessoal; o Identificar riscos a outras pessoas. • Dimensão Temporal o Trabalhar sem controle do tempo de execução; o Trabalhar com ritmo imposto por máquinas ou equipamentos; o Trabalhar com prazos e metas para cumprir; o Trabalhar sob controle de terceiros (che- fes, supervisores); • Dimensão Afetiva-Emocional o Identificar-se com o trabalho; o Dedicar-se o maior tempo possível ao trabalho; o Ser reconhecido pelo trabalho que faz; o Manter-se no emprego; o Sentir-se seguro na realização das tarefas de trabalho; o Sentir-se capaz para realizar as tarefas no trabalho; o Controlar o sentimento de frustração no trabalho; o Controlar a ansiedade no trabalho. • Dimensão Cognitiva-Reacional o Memorizar informações; o Usar informações memorizadas recentemente; o Usar informações memorizadas não recentemente; o Calcular; 111 o Falar; o Usar código para se expressar verbalmente ou por escrito; o Responder com movimentos corporais (bra- ços, pernas); o Tomar decisões frequentemente; o Tomar decisões rapidamente; o Resolver problemas que possam ocorrer du- rante o trabalho; o Avaliar diferentes alternativas para fazer o trabalho; o Aprender tarefas novas no trabalho; o Evitar riscos no trabalho. Uma das principais formas de análise do tra- balho consiste em caracterizar as relações entre as exigências no trabalho (metas, tarefas, meios de exe- cução, tempo, etc.) e as competências geradas ou de- mandadas por essas exigências (aptidões, interesses, graus de engajamento, habilidades). 112 3.6 Erro humano O erro humano está relacionado com a confiabi- lidade. Ele difere da falha humana da seguinte maneira: • Erro: o Ação ou efeito de errar; o Qualquer desacerto, praticado por desconhe- cimento, inaptidão ou ignorância. • Falha: o Ausência de alguma coisa sem a qual não se julga perfeita pessoa ou coisa; o Defeito; o Falta; 113 o Equívoco. Segundo Reason (1997), o erro humano é a fa- lha das ações planejadas para atingir determinado objetivo desejado, sem a intervenção de algum even- to inesperado. Observação: a menção ao inesperado é importante, pois exclui a sorte. O erro humano pode ser classificado em 03 níveis: • Nível da habilidade (skill-based - SBB): o Condução de tarefas rotineiras de modo automático. o Este é o modo em que as pessoas costumam trabalhar na maior parte do tempo; • Nível das regras (rule-based - RBB): o Aplicação de rotinas memorizadas ou escritas de modo consciente, com o propósito de verificar se a solução é ou não adequada; • Nível do conhecimento (knowledge-based - KBB): o É um nível em que as pessoas entram relu- tantemente, só em último caso, em situações novas, nas quais não se aplicam nem a rotina, nem as regras. 114 A prevenção de erros em sistemas complexos consiste em prever o erro humano e violações exi- gindo que se entenda a relação entre 03 fatores: • O ambiente que levou ao erro; • As características dos eventos que podem promo- ver um comportamento adverso; • A tendência que o ser humano tem de cometer erros e violações. O “erro humano” vem sendo a explicação para as falhas dos sistemas porque, geralmente, o julga- mento é social. A frequência do erro pode ser redu- 115 zida através do equilíbrio entre demanda da tarefa e capacidade humana (GUIMARÃES, 2011). Na visão da engenharia, automatizar todas as funções que são tecnicamente viáveis de serem con- troladas por sistemas automáticos seria uma saída para a redução de erros humanos. Entretanto, esta tese possui o ponto fraco de que continuariam pro- blemas na confiabilidade dos controladores destes sistemas automatizados, pois estes sistemas reque- rem monitoramento do operador que, em algumas situações, deve assumir o controle. Entretanto, as habilidades manuais se deterioram quando não são utilizadas regularmente. Essas habilidades cognitivas, como tomada de decisão, solução de problemas, necessitam ser pra- ticadas regularmente para manter o conhecimento na memória.Os melhores métodos para se desenvolver a ca- pacidade cognitiva são através da experiência e não através de métodos tradicionais de ensino de sala de aula. Não existem pessoas à prova de falhas, ou seja, todos nós falhamos (muito ou pouco) no cumpri- mento de uma tarefa (Pallerosi, 2008). A confiabilidade humana pode ser definida como a probabilidade de que uma pessoa não falhe no cumprimento de uma tarefa quando exigida, em um determinado período de tempo, em condições ambientais apropriadas e com recursos disponíveis 116 para executá-la (Pallerosi, 2008). Outra definição de confiabilidade humana é a probabilidade que um trabalho ou tarefa será com- pletada com sucesso pelo indivíduo em qualquer es- tágio operacional do sistema dentro de um tempo mínimo requerido (Meister, 1966). As principais variáveis que influenciam a con- fiabilidade humana são: • Perfil psicológico; • Capacidade física; • Capacidade cognitiva; • Capacidade de aprendizado; • Competências; • Habilidades; • Experiências; • Motivações; • Confiança. Exercícios 11) Quais são os processos cognitivos básicos? 2) A manutenção da atenção é modulada por alguns fatores. Quais são eles? 3) Quais os 05 tipos de memórias? 4) Quais as classes de tomada de decisões? 5) O que carga mental? Unidade 4 121 4. ERGONOMIA ORGANIZACIONAL A ergonomia organizacional aborda a otimiza- ção dos sistemas sociotécnicos, ou seja, a estrutura organizacional, regras e processos de uma empresa, missão, política, etc. Os temas mais comuns com- preendem a comunicação entre os colaboradores, a gestão dos processos industriais, a concepção do tra- balho, os horários e a jornada de trabalho, o trabalho em equipe, o trabalho participativo e sua gestão, as novas formas de trabalho, a cultura organizacional, organizações virtuais e o tele-trabalho (IEA, 2000). Segundo Vidal (2002), a Ergonomia Organiza- cional é uma especialidade da ergonomia que atua na otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, corporativas e pro- cesso de produção e negócio. Suas dimensões de atuação são: • Comunicação; • Gestão do Trabalho; • Trabalho em grupo; • Organização temporal do trabalho; 122 • Teletrabalho; • Projeto participativo e cooperativo; • Novos paradigmas de trabalho; • Organizações virtuais. Segundo Vidal (2002), os fatores organizacio- nais são importantes para a saúde mental do tra- balhador. Estes fatores interagem diretamente nas questões relacionadas ao comportamento humano e nas relações de trabalho. Algumas das perguntas investigativas de um ergonomista podem ser: • Como um líder trata o seu subordinado no am- biente de trabalho? • Qual a cultura organizacional da empresa? • É permitido comunicações entre colegas de um setor? • Há confiança entre os trabalhadores? • Qual o estilo de liderança adotado pela empresa? • Quais as regras e procedimentos organizacionais da organização? • O trabalhador se sente valorizado por seus pares e seus superiores? 4.1 Estresse Existem várias causas para o estresse. Uma das mais comuns está relacionada aos conflitos no ambiente de trabalho. O estresse pode ser definido 123 como uma condição física e mental que resulta de uma ameaça percebida pelo trabalhador, a qual não se pode lidar imediatamente. O estresse é uma con- sequência de um fator ambiental percebido interna- mente ou mediante a percepção do indivíduo. A pessoa estressada é física e mentalmente esti- mulada. O estresse ocorre, geralmente, em uma situ- ação ameaçadora ou negativa, como a preocupação sobre a perda do emprego ou ser repreendido, ou, ainda, por dificuldades em relação às demandas de trabalho, a relação interpessoal no ambiente de tra- balho ou por inexperiência. Algumas formas de reduzir o estresse no tra- balho são: • Redesenho do posto de trabalho – o redesenho do posto de trabalho deve objetivar uma melhor postura do trabalhador durante a execução de suas atividades. Deve-se adaptar o posto de trabalho ao trabalhador, ou seja, às suas dimensões antropomé- tricas e, com isso, facilitando a realização dos movi- mentos corporais. Além disso, deve-se verificar se o ambiente físico está dentro dos valores recomenda- dos, abrangendo a temperatura, umidade, velocidade do ar, ruídos, vibrações, iluminação, uso de cores e outros (IIDA, 2005). • Contatos sociais - os trabalhadores não devem tra- balhar isolados, ou seja, não devem ser impedidos de 124 terem contatos sociais entre eles. O convívio social combate o estresse e também a monotonia. • Treinamento – trabalhadores novatos em geral en- frentam situações de trabalho estressantes, por não conhecerem as pessoas e não dominarem suas ativi- dades de trabalho. Para reduzir a insegurança de traba- lhadores novatos, é importante que a empresa dispo- nibilize treinamentos sistematizados, promovendo o desenvolvimento de habilidades específicas do cargo. Além disso, deve haver uma apresentação formal dos novatos aos veteranos, para que eles se sintam aceitos no ambiente de trabalho (IIDA, 2005). 125 Os sintomas do estresse incluem o aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial sanguínea, da frequência respiratória, do tamanho da pupila e transpiração. Pode ocorrer, ainda, entupimento dos vasos sanguíneos, o que aumenta as possibilidades de infartos e acidentes vasculares cerebrais. Além dos sintomas descritos anteriormente, outras doenças que poderão surgir com o estresse são: a hipertensão, a enxaqueca, úlceras, colites ou 126 alergia. Pessoas estressadas são mais comumente atingidas por doenças, pois o sistema imunológico fica também afetado. Outros sintomas relacionados ao estresse são de cunho emocional, como a ansiedade, tensão, de- pressão, desânimo, aborrecimento, fadiga prolonga- da, etc. Aborrecimentos, hábitos nervosos, diminui- ções do desempenho no trabalho, erros de concen- tração e julgamento são alguns exemplos de outros sintomas do estresse. Algumas outras causas de estresse são (DU- BLIN, 2006): • Sobrecarga de trabalho (física ou mental); • Falta de autonomia e flexibilidade no trabalho (falta de controle sobre o próprio trabalho e monotonia); • Falta de recompensa por uma contribuição de al- guém (baixos salários, falta de reconhecimento); • Isolamento social; • Falta de tratamento justo (ausência de afirmação de valor próprio ou aplicação desigual das regras, particularmente quanto à avaliação de desempenho e promoção); • Conflitos de valores entre as exigências do cargo e o código de ética de uma pessoa. 127 4.2 Estrutura organizacional As organizações são complexas, possuem mui- tas variáveis que diferem entre si. Para tentar descre- ver estas variáveis, em geral, os autores definem 06 conceitos-chave: mecanística versus orgânica; formal versus informal; grau de formalização; grau de cen- tralização; complexidade; e união (DUBLIN, 2006). Uma organização mecanística é aquela em que se baseia principalmente nas questões hierárquicas, ou seja, há ênfase na especialização e no controle, na comunicação vertical e na grande confiança nos regulamentos, políticas e procedimentos. Este termo é sinônimo do termo anterior burocracia. Uma estrutura orgânica desenvolve como uma rede, ou seja, dá ênfase à especialização horizontal, ao intenso uso da coordenação pessoal, à ampla comu- nicação entre os membros e a regras, políticas e pro- cedimentos flexíveis. O conhecimento reside onde ele for mais útil para a organização (DUBLIN, 2006). A estrutura formal de uma organização é uma declaração oficial para estabelecer relacionamentos, regras e regulamentações. As regras e regulamen- tações são criadas para reduzir todos os eventos e transações em que haja possibilidades de ocorrer dentro da organização. Por exemplo, a estrutura for- mal da organização determina como os gerentes de- vem responder quando um trabalhador pede licença 128 por motivo educacional,ou ainda, o que fazer com partes danificadas de um produto na pós-vendas (DUBLIN, 2006). Por outro lado, uma estrutura informal é ca- racterizada como um conjunto de relacionamentos de trabalho, as quais são não oficiais e que surgem em decorrência de eventos e transações que não são previstas pela estrutura formal da organização. A es- trutura informal complementa uma estrutura formal e dá flexibilidade e velocidade a organização (DU- BLIN, 2006). A formalização é caracterizada pelo grau para o qual as expectativas quanto aos métodos de traba- lho são especificadas, registradas e aplicadas. Quan- to maior a quantidade de políticas, regras e procedi- mentos, mais formal será uma organização. Quanto mais formalizada for a empresa, mais mecanística e burocrática ela será (DUBLIN, 2006). A centralização refere-se aos limites que os exe- cutivos delegam autoridade para as unidades organi- zacionais inferiores. A relação é que quanto menor o volume de delegação, mais centralizada é uma orga- nização (DUBLIN, 2006). A complexidade é caracterizada pelo número de diferentes cargos e unidades organizacionais. As grandes organizações em geral possuem centenas de departamentos e milhares de títulos de cargos. Quanto mais complexa for uma organização, mais 129 difícil será gerenciá-la (DUBLIN, 2006). Uma organização diferenciada (diferenciação) horizontalmente tem muitos títulos de cargos di- ferentes, enquanto uma organização diferenciada verticalmente tem muitos níveis hierárquicos (DU- BLIN, 2006). 4.3 Trabalho flexível As empresas têm buscado a redução de siste- mas de produção rígidos, ou baseados em princípios tayloristas. Para tal, surgiram novas propostas para o alargamento e o enriquecimento do trabalho nas organizações e linhas de produção. Décadas atrás os produtos eram todos padro- nizados, produzidos em grande escala. Alguns fica- vam, inclusive, na linha de produção durante vários anos e até mesmo décadas. Atualmente, isso ocorre cada vez em menor escala, pois as séries de produ- ção estão cada vez menores. Em contrapartida, essas séries são constituídas por uma única peça, ou seja, cada peça produzida é diferente uma da outra, apro- ximando a similaridade entre a produção industrial com a produção artesanal. O alargamento e o enriquecimento do trabalho aparecem como propostas para a redução de agentes estressores dos trabalhos altamente repetitivos, au- mentando com isso, tanto o ciclo de trabalho, como 130 também as responsabilidades dos trabalhadores. O alargamento do trabalho é também chamado de enriquecimento horizontal. Neste tipo de traba- lho há um acréscimo a cada trabalhador de outras tarefas de complexidades similares, ou seja, não há mudanças significativas em relação à natureza do trabalho inicial. Por exemplo, o caixa de bancos, an- teriormente, só fazia pagamentos de cheques, cujos saldos e as assinaturas eram conferidos por outros funcionários. Hoje, o próprio caixa incorporou esta atividade adicional, aumentando o ciclo de trabalho e reduzindo a monotonia (IIDA, 2005). O enriquecimento do trabalho ocorre quando se propõe inserir mudanças qualitativas das ativi- dades (alargamento vertical), ou seja, aumentando as responsabilidades do trabalhador, gerando auto- -realização e as chances de crescer na organização (IIDA, 2005). Segundo Iida (2005), alguns exemplos de enri- quecimento do trabalho são: • Remover os controles diretos sobre a tarefa, fa- zendo com que o próprio trabalhador passe a se res- ponsabilizar pelo seu desempenho. Desta maneira, os controles são transferidos para os aspectos mais gerais ou globais de desempenho; • Atribuir novas tarefas de maior grau de dificuldade e que exijam maiores conhecimentos e habilidades 131 do trabalhador, como a programação da produção diária, a preparação da máquina que o trabalhador usará, a manutenção e o controle de qualidade; • Criação de postos de trabalhos mais integrados, nos quais as pessoas ou uma equipe se responsabi- lize pela realização de um ciclo completo de produ- ção, sem a necessidade de controles intermediários. É interessante ressaltar que antes de se implemen- tar um programa de enriquecimento do trabalho em um cargo, os gestores precisam realizar um estudo no ambiente de trabalho e, sobretudo, perguntas aos tra- balhadores se eles gostariam de receber mais responsa- bilidades, variedade e crescimento, pois, alguns cargos, já são suficientemente enriquecidos e realizar uma ação deste tipo poderá sobrecarregar os trabalhadores. O brainstorming poderá ser útil para a identifi- cação de mudanças de enriquecimento do trabalho. O grupo de brainstorming pode ser composto pelos encarregados, supervisores e engenheiro industrial, por exemplo. A participação dos trabalhadores no planejamento é útil, pois eles poderão dar sugestões de ações de enriquecimento do trabalho. A Tabela 5 ilustra cinco características mensu- ráveis de um cargo que melhoram a motivação, a sa- tisfação e o desempenho dos trabalhadores. Essas características são: 132 • Variedade de habilidades – o grau pelo qual exis- tem muitas habilidades a desempenhar; • Identidade de tarefas – o grau pelo qual um traba- lhador é capaz de realizar uma tarefa do começo ao fim com resultado tangível e possível; • Autonomia – o grau pelo qual um trabalho oferece liberdade, independência e discrição na programa- ção e na determinação de procedimentos envolvidos em sua implementação; • Feedback – o grau pelo qual um cargo proporciona informações diretas sobre o desempenho. 4.4 Rotação de trabalhadores A rotação de trabalhadores é uma das formas mais comuns de organização na qual os trabalhado- res são transferidos de maneira periódica para outro 133 cargo ou função. A rotação de trabalhadores, também comu- mente chamada de rodízios de trabalhadores, ajuda na redução de monotonia e de sobrecargas músculo- -esquelética. Importante ressaltar que para que tenha efeito positivo é importante que haja uma diferença entre os padrões musculares exigidos entre os pos- tos e as funções nas quais fazem parte da rotação. Também é comum em algumas organizações a figura do trabalhador multifuncional, ou seja, um trabalhador treinado para assumir qualquer um dos postos de trabalho de uma linha de produção, ou seja, desta forma, poderá substituir qualquer colega que falte ao trabalho ou simplesmente queira se afas- tar por alguns minutos para ir ao banheiro ou tomar um lanche (IIDA, 2005). Outra vantagem da rotação de trabalhadores, além da redução da monotonia e do combate à fadi- ga, se deve ao fato da melhor relação entre trabalha- dores, tanto antigos quanto novatos, tanto supervi- sores quanto operários. 4.5 Seleção e treinamento Um dos principais fundamentos da ergonomia reside no fato de que é uma ciência antropocêntrica, e, por isso, as máquinas e o ambiente de trabalho devem se adaptar às características psicofisiológicas 134 do homem. Isso quer dizer que as máquinas e o am- biente são as variáveis e que o homem é o seu parâ- metro. Estas afirmações estão corretas, a ergonomia realmente possui este princípio. Entretanto, ressalta- -se que em todos os trabalhos de ergonomia deve também haver orientação aos trabalhadores das me- lhorias que serão ou foram realizadas. Além disso, o homem não é considerado como uma parte rígida de um sistema, imutável. Devido às grandes diferenças físicas e psicológicas entre as pessoas, elas podem ser adequadamente selecionadas e podem, ainda, ser aperfeiçoadas pelo treinamento. Por fim, existe tam- bém certa adaptabilidade das pessoas ou dos traba- lhadores, a qual poderá ser aproveitada para melho- rar o desempenho em um sistema produtivo. Exercícios 1) O que é ergonomia organizacional? 2) Quais os sintomas do estresse? 3) Cite algumas causas de estresse: 4) Defina e explique o que é uma “estrutura formal” de uma organização? 5) Defina, explique e cite exemplo dealargamento e enriquecimento do trabalho. Gabarito 139 Unidade I 1. A II Guerra Mundial foi impulso para o desenvol- vimento da ergonomia no pós-guerra porque a partir de 1950 as economias dos países estavam focalizadas na produção e possuíam uma alta demanda industrial para tal. Com os conhecimentos prévios desenvolvi- dos das interações do ser humano com o ambiente de guerra e seus respectivos equipamentos, a ergonomia teve, portanto, um terreno fértil para se desenvolver. 2. Porque os processos mentais e as relações sociais no trabalho muitas vezes possuem suas bases em constructos qualitativos, nem sempre de fácil domínio para validações de achados científicos. Além disso, as principais demandas de trabalho da ergonomia atual no Brasil e no mundo ainda se baseiam em demandas relacionadas aos princípios da ergonomia física. 3. A natureza de interdisciplinaridade da ergonomia é resultado de uma característica importante: a ergono- mia é uma ciência antropocêntrica, ou seja, o ser hu- mano é o centro de atenção de seus estudos e esforços. 140 E devido à complexidade do ser humano para defini- -lo, medi-lo, e como elaborar um ambiente de trabalho para que o comportem com a máxima de segurança, saúde e conforto requerem estudos interdisciplinares. 4. A interdisciplinaridade, a análise de situações reais e o envolvimento dos sujeitos. 5. Os empregadores e empregados se beneficiam da ergonomia porque de um lado o trabalhador poderá exercer suas atividades laborais com maior seguran- ça, num ambiente salutar e confortável e de outro, as organizações empresariais poderão ofertar um am- biente propício para o desempenho, consequente- mente reduzindo custos relacionados a não confor- midades na área de saúde e segurança do trabalho. Unidade 2 1. Características anatômicas, antropométricas, fisio- lógicas e biomecânicas do homem, a repetitividade, as cargas, posturas de trabalho, o levantamento e o carregamento de cargas etc. 2. Danos físicos, fadiga, dores, lesão tecidual e doen- ças osteomusculares. 141 3. Repetição da contração muscular, necessidade de aplicação de força ao exercer uma atividade, perma- nência de contração muscular estática, manutenção de posturas estáticas e assimétricas, necessidade de trabalhar com contrações musculares precisas (mo- vimentos finos), alta demanda visual no trabalho, vi- brações de membros superiores e de corpo inteiro. 4. Para a prevenção da sobrecarga muscular é neces- sário verificar o conteúdo do trabalho, o ambiente no qual o trabalhador está inserido e a substituição da aplicação de força muscular por meios técnicos de levantamento e carregamento de cargas. Flexibi- lizar as atividades, rodízios de tarefas, pausas e re- desenho do trabalho de acordo com as capacidades do trabalhador e a demanda. O foco é reduzir ao máximo o trabalho muscular estático e o trabalho re- petitivo. Treinar o trabalhador para que desenvolva condição física de acordo com a demanda, controle do sobrepeso e que não seja sedentário. 5. O desenho (layout) e os espaços de trabalho (1), a edu- cação e a formação (2) e a seleção do trabalhador (3). Unidade 3 1. Os processos cognitivos básicos são: ater-se a es- 142 tímulos ambientais, perceber propriedades ou carac- terísticas desses estímulos e as relações entre eles, tomar decisões com base em conhecimentos e racio- cínios derivados dessas percepções, executar ações coordenadas de ativação, manutenção e controle de comportamentos (regulações). 2. fator fisiológico (depende das condições neuroló- gicas e da situação física de trabalho), fator motiva- cional (depende da forma como o estímulo se apre- senta e provoca interesse) e concentração (depende do grau de solicitação e de atuação do estímulo). 3. memória declarativa; memória imediata; memória de curta duração; memória de longa duração; me- mória de procedimento. 4. rotina; estratégica; operacional e de emergência. 5. A carga mental é um termo utilizado quando re- ferirmos uma porção de recursos de processamento que uma pessoa necessita para realizar uma tarefa. Ela representa o conjunto de esforços desenvolvi- dos para atender às exigências das tarefas. Esse con- ceito abrange os esforços físicos, os cognitivos e os psicoafetivos (emocionais). 143 Unidade 4 1. É uma especialidade da ergonomia que atua na oti- mização dos sistemas sócio-técnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, corporativas e processo de produção e negócio. 2. Os sintomas do estresse incluem o aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial sanguínea, da frequência respiratória, do tamanho da pupila e trans- piração. Pode ocorrer ainda entupimento dos vasos sanguíneos, o que aumenta as possibilidades de enfar- tos cardíacos e acidentes vasculares cerebrais. 3. Algumas outras causas de estresse são (DU- BLIN, 2006): • Sobrecarga de trabalho (física ou mental); • Falta de autonomia e flexibilidade no trabalho (falta de controle sobre o próprio trabalho e monotonia); • Falta de recompensa por uma contribuição de al- guém (baixos salários, falta de reconhecimento); • Isolamento social; • Falta de tratamento justo (ausência de afirmação de valor próprio ou aplicação desigual das regras, particularmente quanto à avaliação de desempenho e promoção); • Conflitos de valores entre as exigências do cargo e 144 o código de ética de uma pessoa. 4.: É uma declaração oficial para estabelecer rela- cionamentos, regras e regulamentações. As regras e regulamentações são criadas para reduzir todos os eventos e transações em que haja possibilidades de ocorrer dentro da organização. Por exemplo, a es- trutura formal da organização determina como os gerentes devem responder quando um trabalhador pede licença por motivo educacional, ou ainda, o que fazer com partes danificadas de um produto na pós-vendas (DUBLIN, 2006). 5. O alargamento do trabalho é também chamado de enriquecimento horizontal. Este tipo de trabalho há um acréscimo a cada trabalhador de outras tarefas de complexidades similares, ou seja, não há mudanças significativas em relação à natureza do trabalho ini- cial. Por exemplo, o caixa de bancos, anteriormente só fazia pagamentos de cheques, cujos saldos e as assinaturas eram conferidos por outros funcionários. Hoje o próprio caixa incorporou esta atividade adi- cional, aumentando o ciclo de trabalho e reduzindo a monotonia (IIDA, 2005). O enriquecimento do trabalho ocorre quando se propõe inserir mudanças qualitativas das atividades (alargamento vertical), ou seja, aumentando as responsabilidades do trabalha- dor, gerando auto-realização e as chances de crescer na organização (IIDA, 2005). REFERÊNCIAS AMADIO, A. (1996). Fundamentos Biomecânicos para a Análise do Movimento Humano. Edição da Universidade de São Paulo. São Paulo. ALBERTON, Anete. Uma Metodologia Para Auxi- liar No Gerenciamento De Riscos E Na Seleção De Alternativas De Investimentos Em Segurança. Pro- grama de Pós-Graduação em Engenharia de Produ- ção. Mestrado. Ano de defesa 1996. UFSC. ASSOCIATION FRANÇAISE DE NORMALI- SATION – AFNOR. Ergonomie. 2 ed. Paris: 1.986. 211 p. ANDERSSON B.J.G, e SVENSSON H. O, ODEN, A. Quantitative studies of back loads in lifting. Spi- ne, 1.976. CASTRO, S. (1976). Anatomia Fundamental. Mc- Graw-Hill. São Paulo. CENTRO NACIONAL DE CONDICIONES DE TRABAJO (ESPANHA). 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