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ESPAÇO GEOGRÁFICO 
BRASILEIRO 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Gustavo Felipe Olesko 
 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta etapa de nossos estudos, buscaremos compreender problemas 
gerais que ultrapassam as regiões brasileiras. O Brasil é um país de dimensões 
continentais e acaba por, normalmente, ter questões que diferem muito de uma 
porção do território para outra. Contudo, algumas dessas dificuldades são de 
escala nacional, não podendo ficar presas a interpretações segmentadas. 
Pensando nisso, faremos reflexões sobre uma seleção dos principais 
temas de estudo e análises do Brasil, cuja resolução ainda exigirá uma longa 
caminhada. O primeiro ponto é um debate acerca da região concentrada e a 
industrialização nacional, questão central para um melhor distribuição de renda 
e desenvolvimento no país; a segunda é a urbanização brasileira, a qual, além 
de tardia, é até hoje problemática tanto no sentido ambiental quanto social; 
depois, abordaremos o agronegócio em suas múltiplas faces, do mais atrasado 
ao mais moderno; em seguida, ainda em relação ao tópico anterior, falaremos a 
estrutura fundiária, a qual nunca foi modificada no país; por fim, traremos a 
questão da desigualdade social, marca do desenvolvimento brasileiro. 
TEMA 1 – REGIÃO CONCENTRADA E A DISTRIBUIÇÃO INDUSTRIAL NO 
TERRITÓRIO 
Tema bastante tratado ao longo de nossos estudos, a questão da 
desindustrialização tem sido, nos últimos anos, uma centralidade na sociedade 
brasileira, nos círculos acadêmicos, fóruns de entidades industriais, economistas 
e investidores e governantes em todas as esferas. Esse ponto é central, porém, 
existe ainda uma questão geral que merece atenção, que é a concentração do 
poder decisório no país, seja político, seja econômico. 
Milton Santos e Maria Laura da Silveira (2001), após suas análises, 
definiram que no Brasil há uma região que centraliza o poderio econômico e 
decisório, na qual há maior quantidade populacional, densidade técnica e 
econômica, além de um maior desenvolvimento do meio técnico-científico-
informacional, que está mais inserido na globalização. Essa região corresponde 
à junção das regiões Sul e Sudeste, na regionalização oficial do IBGE. Essa 
concentração é tanto dinâmica para o desenrolar da economia nacional quanto 
um peso que puxa para trás o avanço, ou seja, é contraditória em essência. 
 
 
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O processo de concentração de produção e consumo, de elementos 
materiais e imateriais, para Santos e Silveira (2001), está concentrado nas 
regiões Sul e Sudeste do país e modifica por completo a paisagem nacional, 
produzindo o espaço geográfico de acordo com os anseios e interesses da elite 
presente na região concentrada. Como os autores mencionam, apesar de não 
haver uma fluidez igualmente distribuída de capitais, com porções dessa região 
onde a pobreza predomina, as principais cidades têm dentro de si as elites que 
produzem o espaço. 
Ainda segundo Santos e Silveira (2001), essa configuração foi sendo 
construída a partir dos anos 1970 em conjunto com o que ambos definem como 
a construção do meio técnico-científico-informacional, em que esses três 
elementos atuam em conjunto. No entanto, podemos retornar a Fausto (1970), 
que demonstra como a Revolução de 1930 foi, na realidade, um conflito interno 
entre as oligarquias, que travam uma batalha pelo domínio do Estado nacional, 
uma disputa que, para o autor, dinamiza a economia nacional e também insere 
novos atores na política nacional. Se antes o poder era concentrado na elite do 
Sudeste, em especial a do Rio de Janeiro com a de São Paulo e Minas Gerais, 
após 1930, com a tomada do poder por Getúlio Vargas, há maior participação de 
outras oligarquias. 
Sendo assim, com Vargas fomentando o processo industrializante no 
país, passa a existir o gérmen da concentração de poder no Brasil, ficando ainda 
as elites do Sudeste no poder, mas compartilhando com a elite gaúcha. Paraná 
e Santa Catarina entram nessa jogada como extensão dos poderios paulista e 
gaúcho, com suas elites conectadas a um ou outro estado. 
Isso produziu a configuração do Brasil moderno, o qual tem no Rio Grande 
do Sul o berço da agricultura capitalista moderna – agronegócio – já nos anos 
1940 e que se expande rumo ao Norte nas décadas subsequentes; e tem no 
Sudeste o core da industrialização, com São Paulo liderando o processo, mas 
também com Minas Gerais e Rio de Janeiro seguindo a mesma trilha. Assim, o 
capital financeiro e humano concentra-se em duas regiões do país, esvaziando 
a possibilidade de modernização nordestina e também do Norte e Centro-Oeste, 
ainda que essas últimas regiões tivessem no período uma população muito 
menor. 
Concentrando os capitais em suas diversas formas, surge um problema: 
o motor do desenvolvimento brasileiro criou uma hipertrofia industrial em São 
 
 
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Paulo e adjacências e um excesso de capitais no campo sulino. Sua expansão 
era necessária para não resultar em uma desvalorização, contudo, se o nascente 
capital no campo conseguiu se expandir, a indústria não tomou o mesmo rumo, 
como já vimos. Além de toda a conjuntura da globalização, a qual reestruturou a 
indústria em escala mundial, houve também uma concentração de capitais que 
não conseguiu buscar dentro do próprio país caminhos para seguir sua 
valorização. A concentração, que foi tão importante para a industrialização 
brasileira, foi uma das responsáveis pelo processo inverso. 
Ainda assim, mesmo com esses problemas, é a região concentrada que 
serve de guia para o país. O centro decisório econômico, político, cultural e social 
se encontra ali. O agronegócio brasileiro, ainda que comumente ligado ao 
Centro-Oeste, é em grande parte controlado pelas elites do Rio Grande do Sul, 
Norte do Paraná e interior de São Paulo; a indústria é centrada em São Paulo e 
tem na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) o maior e mais 
poderoso organismo do tipo no país. A Fiesp é responsável tanto pela economia 
quanto pela política, mas a cultura ainda é comandada pelo Rio de Janeiro, com 
a produção cultural em suas várias esferas (musical, teatral, cinematográfica, 
telenovelas e esportes), sendo gerenciada pela elite e por políticos daquele 
estado ou que tem ali seus investimentos. 
Desse modo, ainda que existam centros mais robustos em outras regiões 
do país, é na região concentrada que se encontram suas lideranças e os guias 
para seu desenvolvimento. São questões pontuais nacionais resolvidas por 
lideranças de outras regiões de modo autônomo, a grande maioria centrada na 
porção dominante que Santos e Silveira (2001) elencaram. 
TEMA 2 – URBANIZAÇÃO E REDE URBANA NACIONAL 
Entre as décadas de 1940 e 1980, o Brasil dá um salto em sua 
urbanização. Ocorre uma mudança profunda no padrão de vida, em que o campo 
é deixado de lado em detrimento da vida na cidade. Como Santos nos ensina, 
entre essas décadas, o país passa de uma taxa de urbanização de cerca de 25% 
para 70% já no final da década de 1970, fato extremamente rápido e pouco 
observado no restante do globo. Isso cria uma configuração urbana muito 
peculiar, com gigantes manchas urbanas e uma rede complexa de cidades. 
Passamos de um país arquipélago para um país integrado, com menos 
fraturas internas. Esse é o processo no qual a urbanização do Brasil está 
 
 
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inserida. Esse desenvolvimento se dá devido a dois fatores que estão 
conectados: em primeiro lugar, a ausência de reforma agrária no país, a qual 
não produziu segurança social, econômica, política e legalidade para o 
campesinato se manter na terra; segundo, é a industrialização rápida pela qual 
passava o país no mesmo período, em que a necessidade de mão de obra farta 
e barata era indispensável. Em conjunto, ambas situações levaram ao chamado 
êxodo rural, o qual lançou massas de camponeses nas grandes cidades 
brasileiras. A contradição central desse processoé que, enquanto ele diminuía 
o isolamento de certas porções do território, criava a chamada região 
concentrada, da qual já tratamos, e também produzia cidades com 
concentrações populacionais grandes em demasia. O mapa a seguir consegue 
elencar essa integração. 
Figura 1 – Brasil 1890, 1940 e 1990 
 
Crédito: João Miguel. 
Com o processo da urbanização brasileira, surge a famosa hipertrofia 
urbana. Davis (2006) foi quem melhor trabalhou com a análise dessa temática. 
Para esse autor, o processo de expansão geográfica do capital produziu em 
países periféricos – ou subdesenvolvidos, dependendo da vertente teórica – uma 
ânsia de as populações camponesas em migrarem para as cidades. Esse 
processo foi rápido e muitas vezes caótico, criando cidades grandes demais, 
com um excesso populacional. 
 
 
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Longe de cairmos em um malthusianismo social, em que a culpa das 
mazelas do povo se daria pelo excesso de população, o que Davis ensina é que 
há uma hipertrofia de certas manchas urbanas, sendo São Paulo e Rio de 
Janeiro exemplos sul-americanos para esse acontecimento. Essa hipertrofia 
criou diversos problemas urbanos, seja do ponto de vista ambiental, seja social. 
A violência é produto justamente da falta de trabalho para a massa populacional 
e da falta de ação do Estado em porções do espaço urbano, em especial no que 
tange ao planejamento urbano e às garantias básicas para as populações 
situadas na margem das manchas urbanas. 
É o problema brasileiro mais evidente para todos: cidades grandes 
demais, com algumas áreas extremamente ricas e outras miseráveis, com 
frações da população vivendo em opulência em detrimento de um número 
grande de pessoas vivendo em condições precárias. Ainda segundo Davis 
(2006), esse problema pode ser encontrado em diversas partes do mundo 
subdesenvolvido, sendo o problema brasileiro menor se comparado ao africano, 
porém, no conjunto da desindustrialização, nasce o problema de um 
desemprego estrutural, causando uma concentração produtiva. O mapa a seguir 
consegue mostrar bem essa questão e ilustra como existe no país uma enorme 
centralização de pessoas em pequena porção territorial, gerando problemas que 
deixam de ser de ordem local e se tornam nacionais, como é o caso da violência, 
pobreza e desemprego em São Paulo, ou ainda a falta crônica de habitações e 
a destruição ambiental existente no Rio de Janeiro, produto e produtor das 
favelas nos morros daquela cidade. 
 
 
 
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Figura 2 – Concentração de pessoas no território brasileiro 
 
Fonte: IBGE, [S.d.]. 
TEMA 3 – AGRONEGÓCIO EM SUAS VÁRIAS FACETAS 
O agronegócio brasileiro é conhecido por ser um importante setor da 
economia. É mostrado como aquele que consegue trazer dólares para o país por 
meio da venda de commodities para o exterior, especialmente para China, União 
Europeia e países mulçumanos, com a soja e a proteína animal produzida. É 
necessário acrescentar também que o agronegócio brasileiro não está restrito à 
região Centro-Oeste, mas está presente em todo o território, produzindo o 
espaço geográfico à sua maneira e de acordo com seus interesses econômicos 
e sociais e isso tem consequências. 
 
 
 
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Um problema central é que 
Há, [...] sérios limites para que a dimensão ambiental deixe de ser vista 
como um constrangimento para ser vista como uma oportunidade[...]. 
Não que a dimensão ambiental seja um constrangimento às ações 
humanas enquanto tais. O contrário é que estaria bem mais perto da 
verdade, na medida que a sociedade capitalista, ao expressar a 
riqueza em termos quantitativos, introduz uma lógica que tende para o 
ilimitado diante da materialidade da physis com seus limites (leis da 
termodinâmica, produtividade biológica primária líquida, entre outras). 
Afinal, embora não haja limites para os números, os recursos naturais 
têm limites, assim como tem limite a resiliência dos diversos 
ecossistemas. (Porto-Gonçalves, 2004, p. 32) 
 Existe um limite ambiental claro para o aumento produtivo do setor 
primário no país, ainda muito ignorado por aqueles que dele vivem. Como Porto-
Gonçalves (2004) trabalha, a centralidade do debate acerca do agronegócio não 
é uma defesa de um mundo sem a relação com a natureza, um retorno a um 
primitivismo idílico, mas sim um questionamento claro sobre os limites 
ambientais reais que são hoje ignorados. Apesar de os ganhos monetários – 
ainda que concentrados ao extremo – serem importantes para o balanço de 
contas do país, é igualmente importante pensar nos ganhos ambientais, os quais 
são cada vez mais urgentes. O agronegócio em escala nacional ainda está 
conectado à devastação ambiental e isso é uma herança histórica. Foi assim 
com a Mata Atlântica durante do café; com o pampa com o gado e soja; a erva-
mate e as madeireiras nas matas de araucárias; o açúcar na zona da mata 
nordestina; a borracha no processo inicial de boom econômico na Amazônia; 
assim como foi a soja nos tempos recentes no Cerrado e o gado atualmente 
cercando a Amazônia. Hoje, é justamente o gado o motor do avanço da fronteira 
agrícola sobre a Floresta Amazônica, como podemos ver no mapa a seguir. 
 
 
 
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Figura 3 – Desmatamento no Brasil 
 
Crédito: João Miguel. 
 Como já trabalhado, existe a urgência de superar o modelo destruidor da 
natureza tão incrustado no processo de avanço do agronegócio, além de sua 
essência ser também concentradora de terras e renda. No entanto, o problema 
não fica restrito ao Centro-Oeste: a agricultura capitalista está espalhada pelo 
território nacional e é praticamente unânime que ela não é passível de críticas, 
o que é um erro crasso. Qualquer unanimidade esconde as possibilidades de 
melhora, e o agronegócio nacional tem esse problema. Não se questiona seu 
caráter concentrador de terras e se tenta encobrir que são justamente os 
empresários do agro os que mais destroem a natureza no Brasil. 
 Urge a necessidade de se regrar melhor o setor, melhorar a fiscalização 
de terras, de impacto ambiental, melhorar também a cadeia produtiva, uma vez 
que a exportação de commodities sem sua transformação é uma falha grande 
na produção dentro do país, uma vez que se perde a chance de agregar valor a 
produtos que muitas vezes são o carro-chefe da produção nacional, como a soja, 
a proteína animal, milho, algodão e outros. Como Calixtre, Biancarelli e Cintra 
(2014) bem analisaram, a necessidade global por proteína animal e proteína 
 
 
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vegetal (especialmente a soja) seguirá crescendo em conjunto com a melhoria 
do acesso da população a melhores salários, que então passarão a consumir 
mais calorias. Logo, haverá em escala global uma necessidade de industrializar 
tais commodities, e o Brasil, como grande produtor, tem uma oportunidade de 
ouro de conseguir melhor desenvolver seu setor alimentício. 
 Por fim, deve-se lembrar que há nas grandes propriedades brasileiras um 
elevado percentual de terras improdutivas, logo, há uma emergência em tornar 
essas terras produtivas. O índice de produtividade não é alterado há anos e este 
leva também a uma expansão e consequente devastação ambiental das 
fazendas no país. 
TEMA 4 – ESTRUTURA FUNDIÁRIA: O PROBLEMA PERMANENTE DO 
BRASIL 
No Brasil, uma reforma agrária de grande envergadura nunca foi 
realizada. Outros países realizaram esse feito, buscando democratizar o acesso 
à terra e ampliar a produção de alimentos e mercado consumidor dentro de suas 
fronteiras (Oliveira, 2007), porém, boa parte do mundo subdesenvolvido não 
produziu a mesma reforma, a qual é, para muitos, um fator decisivo para 
aumentar as possibilidades de desenvolvimento por parte de uma país. 
Como Martins (2015) ensina, o Brasil possui uma condição que lhe é 
particular, no caso a fusão do proprietário fundiário e do capitalista na mesma 
pessoa. Esse fato acabou por engessar o desenrolar das forças produtivas, as 
quais seguem até os dias atuais presas em um modelo que não produzriquezas 
de maneira disseminada pela sociedade, ficando os ganhos extremamente 
concentrados nas mãos de poucos. Cabe aqui destacar uma temática já há muito 
tempo debatida: a urgência de uma ruptura entre a produção de commodities e 
a reprodução ampliada do capital, que Amin e Vergopoulos (1977) muito bem 
trataram. 
Os países desenvolvidos fizeram, normalmente de maneira sangrenta 
e/ou turbulenta, uma divisão de suas terras. Amin e Vergopoulos (1977) nos 
ensinam que foi assim no Estados Unidos com o Homestead Act de Abraham 
Lincoln, ainda em 1862; foi assim também na Alemanha e Japão, os quais não 
haviam completado suas reformas agrárias e produziram elites reacionárias e 
dependentes do Estado, sendo somente a derrota de ambas na Segunda Guerra 
Mundial que permite a efetivação da partilha das terras; Coreia do Sul seguiu o 
 
 
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mesmo caminho, sendo sua divisão de terras sido feita pelo exército dos EUA 
logo após o fim da Segunda Guerra; Itália seguiu o mesmo caminho; China, com 
sua revolução em 1949; Reino Unido após a Primeira Guerra e outras nações 
europeias realizando tal processo ou para conter revoluções internas (como a 
primavera dos povos em 1848) ou após grandes guerras. Isso não ocorreu em 
boa parte do mundo subdesenvolvido. 
Trazendo um pouco de didatismo, devemos pensar que, para o grande 
latifundiário, é relativamente confortável ficar produzindo e colocando no 
mercado produtos primários, os quais possuem concorrência, mas têm sua 
venda relativamente garantida. Os países que citamos produziram suas 
reformas agrárias não para melhorar a condição da população ou conter 
protestos, mas também – e para Amin e Vergopoulos (1977) principalmente – 
para desenvolver suas forças produtivas. Era retirar seu capital da camisa de 
força em que a grande propriedade os colocava e lançá-lo em setores da 
economia com maior risco e competitividade, mas também com maiores ganhos, 
no caso a indústria. 
Nunca tendo feito isso e ainda mantendo um padrão concentrador de 
terras, o Brasil acaba por travar o desenrolar de suas forças produtivas. Em vez 
de possuir um grande mercado consumidor não centrado somente nas cidades 
hipertrofiadas, ele existe também no campo em grande número, dinamizando o 
próprio mercado. É necessário que aquele que busca melhores ganhos de 
investimento em áreas de risco invista em produção, em manufaturar seu 
produto primário. Como no Brasil existe em escala nacional um pequeno número 
de produtos de soja, por exemplo, eles angariam com suas vendas um elevado 
montante de dinheiro, não criando o anseio de aumentar o valor agregado em 
seus produtos. Comparando, os EUA, segundo os dados do Censo de 2020, 
possuem 57 milhões de pessoas vivendo no campo, com propriedades 
majoritariamente médias e familiares, enquanto o Brasil possui um espaço rural 
centrado na grande propriedade empresarial, com trabalho contratado e cuja 
diferença de possibilidades de investimento é enorme. O mapa a seguir nos 
auxilia a pensar na concentração de terras como uma questão ainda central no 
país. 
 
 
 
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Figura 4 – Concentração de terras no Brasil 
 
Crédito: João Miguel. 
TEMA 5 – DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL MODERNO: CRISE E CAPITAL 
A desigualdade social no Brasil é um tema central de discussão. Todos 
os problemas aqui tratados são produtores e produto da desigualdade social, 
desde a estrutura fundiária concentrada, a qual produziu e produz massas 
populacionais nas periferias urbanas, que se tornam violentas justamente pela 
falta de empregos, estando isso relacionado à hipertrofia urbana; ou ainda a 
desindustrialização ou a não inovação do agronegócio, ambos os processos 
tendo origem na falta de competitividade e concorrência dentre a elite que 
domina a política e a economia nacional, ou seja, a desigualdade social é a face 
dos problemas estruturais do país em suas mais distintas regiões. 
Podemos tratar essas questões levando em conta o relatório da Oxfam 
Brasil de 2021, que versa sobre desigualdade. Ele auxilia a entender o que é, 
afinal, desigualdade social. Podemos perguntar: “ela está restrita à renda, à 
moradia?”. A resposta é não, pois desigualdade é a péssima distribuição de 
renda do país, em que os 10% mais ricos possuem 43% da renda total gerada 
(Oxfam Brasil, 2022). Está relacionada também ao acesso à educação de 
 
 
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qualidade, que possui discrepâncias tanto para aqueles com diferenças de renda 
– a famosa dicotomia entre ensino básico público e o privado – quanto para as 
diferenças regionais; à administração caótica dos recursos públicos, os quais 
muitas vezes são investidos de modo autoritário, de cima para baixo, sem 
realmente atender aos interesses da população; à falta de verbas públicas para 
investimento, que nos últimos anos cresceu no Brasil, faltando verbas essenciais 
para uma saúde pública de qualidade, ensino, pesquisa e extensão sérios e 
robustos, infraestrutura e também fomento para dinamizar a economia; à não 
garantia de serviços básicos, afetando profundamente nos índices de 
desenvolvimento humano do país (IDH); além das diferenças abissais nas 
oportunidades de trabalho e vida para negros, indígenas, parcelas LGBTQIA+ e 
mulheres, se comparados aos homens. Isso tudo é o que forma a desigualdade 
social. Na tabela a seguir, podemos ver a disparidade entre as regiões, sendo 
possível ver como o país perdeu renda. 
Tabela 1 – Rendimento domiciliar per capita 
Grandes 
Regiões 
Rendimento domici l iar per capita das pessoas (R$) Variação 
2021/2020 
(%) 
Variação 
acumulada 
2021/2012 
(%) 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 
Médio 
Brasil 1417 1464 1505 1458 1439 1445 1498 1520 1454 1353 (-) 6,9 (-) 4,5 
Norte 968 971 984 964 893 927 1002 945 966 871 (-) 9,8 (-) 10,0 
Nordeste 870 908 955 948 906 922 915 955 963 843 (-) 12,5 (-) 3,1 
Sudeste 1742 1765 1818 1746 1761 1724 1830 1852 1742 1645 (-) 5,6 (-) 5,6 
Sul 1734 1795 1826 1768 1733 1792 1810 1856 1738 1565 (-) 4,7 (-) 4,5 
Centro-
Oeste 1663 1734 1737 1665 1628 1701 1721 1714 1626 1534 (-) 5,7 (-) 7,8 
Mediano 
Brasil 842 888 929 904 862 872 894 919 903 810 (-) 10,3 (-) 3,8 
Norte 552 564 598 579 536 559 870 561 632 539 (-) 14,7 (-) 2,4 
Nordeste 511 540 571 563 542 555 551 557 594 506 (-) 14,8 (-) 1,0 
Sudeste 1042 1075 1098 1072 1071 1074 1100 1112 1084 1019 (-) 6,0 (-) 2,2 
Sul 1139 1206 1235 1227 1776 1207 1184 1249 1199 1139 (-) 5,0 0,0 
Centro-
Oeste 976 1048 1067 1028 1009 1042 1084 1103 1062 957 (-) 9,9 (-) 1,9 
 
Fonte: IBGE, 2022. 
Em outras palavras, devemos pensar como ainda há um longo caminho 
até a melhor situação da população do país. As desigualdades são muitas e há 
 
 
14 
uma urgência na necessidade de oportunizar a todas as pessoas chances de 
desenvolvimento individual, familiar, comunitário para só assim alcançarmos um 
desenvolvimento verdadeiro para toda a nação. 
NA PRÁTICA 
 Em relação à temática que acabamos de trabalhar, recomendamos entrar 
no site do IBGE e buscar pesquisas recentes sobre rendimentos, despesas e 
consumo. 
• IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rendimento, 
despesa e consumo. IBGE, [S.d.]. Disponível em: < 
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/rendimento-despesa-e-
consumo.html >. Acesso em: 6 jun. 2023. 
No site, você deverá buscar informações de modo escalar, ou seja, 
analisar os dados do país, de seu estado e, por fim, se estiver disponível, de seu 
município. Depois disso, uma pergunta norteadora deve ser respondida: como é 
a renda e os gastos em seu país, estado e município? Ela é muito concentrada? 
É possível ver isso nas ruas ou não há esse problema? 
FINALIZANDO 
 A maioria dos problemas nacionais é, na realidade, um emaranhado de 
difícil compreensão. A hipertrofia urbana está relacionada à distribuição de 
terras, que, por sua vez, está relacionada ao agronegócio, o qual contribui para 
a concentração de terras e renda,que tem como resultado a não produção de 
empregos em grande quantidade e destrói a natureza. Tudo isso levou, durante 
anos, à concentração de riquezas em parte do território, a região concentrada, a 
qual emana muitas vezes dinamismo, mas também crises. Tudo isso constrói um 
país com desigualdades sociais enormes, que ainda carecem de uma solução. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
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