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ESPAÇO GEOGRÁFICO BRASILEIRO AULA 6 Prof. Gustavo Felipe Olesko 2 CONVERSA INICIAL Nesta etapa de nossos estudos, buscaremos compreender problemas gerais que ultrapassam as regiões brasileiras. O Brasil é um país de dimensões continentais e acaba por, normalmente, ter questões que diferem muito de uma porção do território para outra. Contudo, algumas dessas dificuldades são de escala nacional, não podendo ficar presas a interpretações segmentadas. Pensando nisso, faremos reflexões sobre uma seleção dos principais temas de estudo e análises do Brasil, cuja resolução ainda exigirá uma longa caminhada. O primeiro ponto é um debate acerca da região concentrada e a industrialização nacional, questão central para um melhor distribuição de renda e desenvolvimento no país; a segunda é a urbanização brasileira, a qual, além de tardia, é até hoje problemática tanto no sentido ambiental quanto social; depois, abordaremos o agronegócio em suas múltiplas faces, do mais atrasado ao mais moderno; em seguida, ainda em relação ao tópico anterior, falaremos a estrutura fundiária, a qual nunca foi modificada no país; por fim, traremos a questão da desigualdade social, marca do desenvolvimento brasileiro. TEMA 1 – REGIÃO CONCENTRADA E A DISTRIBUIÇÃO INDUSTRIAL NO TERRITÓRIO Tema bastante tratado ao longo de nossos estudos, a questão da desindustrialização tem sido, nos últimos anos, uma centralidade na sociedade brasileira, nos círculos acadêmicos, fóruns de entidades industriais, economistas e investidores e governantes em todas as esferas. Esse ponto é central, porém, existe ainda uma questão geral que merece atenção, que é a concentração do poder decisório no país, seja político, seja econômico. Milton Santos e Maria Laura da Silveira (2001), após suas análises, definiram que no Brasil há uma região que centraliza o poderio econômico e decisório, na qual há maior quantidade populacional, densidade técnica e econômica, além de um maior desenvolvimento do meio técnico-científico- informacional, que está mais inserido na globalização. Essa região corresponde à junção das regiões Sul e Sudeste, na regionalização oficial do IBGE. Essa concentração é tanto dinâmica para o desenrolar da economia nacional quanto um peso que puxa para trás o avanço, ou seja, é contraditória em essência. 3 O processo de concentração de produção e consumo, de elementos materiais e imateriais, para Santos e Silveira (2001), está concentrado nas regiões Sul e Sudeste do país e modifica por completo a paisagem nacional, produzindo o espaço geográfico de acordo com os anseios e interesses da elite presente na região concentrada. Como os autores mencionam, apesar de não haver uma fluidez igualmente distribuída de capitais, com porções dessa região onde a pobreza predomina, as principais cidades têm dentro de si as elites que produzem o espaço. Ainda segundo Santos e Silveira (2001), essa configuração foi sendo construída a partir dos anos 1970 em conjunto com o que ambos definem como a construção do meio técnico-científico-informacional, em que esses três elementos atuam em conjunto. No entanto, podemos retornar a Fausto (1970), que demonstra como a Revolução de 1930 foi, na realidade, um conflito interno entre as oligarquias, que travam uma batalha pelo domínio do Estado nacional, uma disputa que, para o autor, dinamiza a economia nacional e também insere novos atores na política nacional. Se antes o poder era concentrado na elite do Sudeste, em especial a do Rio de Janeiro com a de São Paulo e Minas Gerais, após 1930, com a tomada do poder por Getúlio Vargas, há maior participação de outras oligarquias. Sendo assim, com Vargas fomentando o processo industrializante no país, passa a existir o gérmen da concentração de poder no Brasil, ficando ainda as elites do Sudeste no poder, mas compartilhando com a elite gaúcha. Paraná e Santa Catarina entram nessa jogada como extensão dos poderios paulista e gaúcho, com suas elites conectadas a um ou outro estado. Isso produziu a configuração do Brasil moderno, o qual tem no Rio Grande do Sul o berço da agricultura capitalista moderna – agronegócio – já nos anos 1940 e que se expande rumo ao Norte nas décadas subsequentes; e tem no Sudeste o core da industrialização, com São Paulo liderando o processo, mas também com Minas Gerais e Rio de Janeiro seguindo a mesma trilha. Assim, o capital financeiro e humano concentra-se em duas regiões do país, esvaziando a possibilidade de modernização nordestina e também do Norte e Centro-Oeste, ainda que essas últimas regiões tivessem no período uma população muito menor. Concentrando os capitais em suas diversas formas, surge um problema: o motor do desenvolvimento brasileiro criou uma hipertrofia industrial em São 4 Paulo e adjacências e um excesso de capitais no campo sulino. Sua expansão era necessária para não resultar em uma desvalorização, contudo, se o nascente capital no campo conseguiu se expandir, a indústria não tomou o mesmo rumo, como já vimos. Além de toda a conjuntura da globalização, a qual reestruturou a indústria em escala mundial, houve também uma concentração de capitais que não conseguiu buscar dentro do próprio país caminhos para seguir sua valorização. A concentração, que foi tão importante para a industrialização brasileira, foi uma das responsáveis pelo processo inverso. Ainda assim, mesmo com esses problemas, é a região concentrada que serve de guia para o país. O centro decisório econômico, político, cultural e social se encontra ali. O agronegócio brasileiro, ainda que comumente ligado ao Centro-Oeste, é em grande parte controlado pelas elites do Rio Grande do Sul, Norte do Paraná e interior de São Paulo; a indústria é centrada em São Paulo e tem na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) o maior e mais poderoso organismo do tipo no país. A Fiesp é responsável tanto pela economia quanto pela política, mas a cultura ainda é comandada pelo Rio de Janeiro, com a produção cultural em suas várias esferas (musical, teatral, cinematográfica, telenovelas e esportes), sendo gerenciada pela elite e por políticos daquele estado ou que tem ali seus investimentos. Desse modo, ainda que existam centros mais robustos em outras regiões do país, é na região concentrada que se encontram suas lideranças e os guias para seu desenvolvimento. São questões pontuais nacionais resolvidas por lideranças de outras regiões de modo autônomo, a grande maioria centrada na porção dominante que Santos e Silveira (2001) elencaram. TEMA 2 – URBANIZAÇÃO E REDE URBANA NACIONAL Entre as décadas de 1940 e 1980, o Brasil dá um salto em sua urbanização. Ocorre uma mudança profunda no padrão de vida, em que o campo é deixado de lado em detrimento da vida na cidade. Como Santos nos ensina, entre essas décadas, o país passa de uma taxa de urbanização de cerca de 25% para 70% já no final da década de 1970, fato extremamente rápido e pouco observado no restante do globo. Isso cria uma configuração urbana muito peculiar, com gigantes manchas urbanas e uma rede complexa de cidades. Passamos de um país arquipélago para um país integrado, com menos fraturas internas. Esse é o processo no qual a urbanização do Brasil está 5 inserida. Esse desenvolvimento se dá devido a dois fatores que estão conectados: em primeiro lugar, a ausência de reforma agrária no país, a qual não produziu segurança social, econômica, política e legalidade para o campesinato se manter na terra; segundo, é a industrialização rápida pela qual passava o país no mesmo período, em que a necessidade de mão de obra farta e barata era indispensável. Em conjunto, ambas situações levaram ao chamado êxodo rural, o qual lançou massas de camponeses nas grandes cidades brasileiras. A contradição central desse processoé que, enquanto ele diminuía o isolamento de certas porções do território, criava a chamada região concentrada, da qual já tratamos, e também produzia cidades com concentrações populacionais grandes em demasia. O mapa a seguir consegue elencar essa integração. Figura 1 – Brasil 1890, 1940 e 1990 Crédito: João Miguel. Com o processo da urbanização brasileira, surge a famosa hipertrofia urbana. Davis (2006) foi quem melhor trabalhou com a análise dessa temática. Para esse autor, o processo de expansão geográfica do capital produziu em países periféricos – ou subdesenvolvidos, dependendo da vertente teórica – uma ânsia de as populações camponesas em migrarem para as cidades. Esse processo foi rápido e muitas vezes caótico, criando cidades grandes demais, com um excesso populacional. 6 Longe de cairmos em um malthusianismo social, em que a culpa das mazelas do povo se daria pelo excesso de população, o que Davis ensina é que há uma hipertrofia de certas manchas urbanas, sendo São Paulo e Rio de Janeiro exemplos sul-americanos para esse acontecimento. Essa hipertrofia criou diversos problemas urbanos, seja do ponto de vista ambiental, seja social. A violência é produto justamente da falta de trabalho para a massa populacional e da falta de ação do Estado em porções do espaço urbano, em especial no que tange ao planejamento urbano e às garantias básicas para as populações situadas na margem das manchas urbanas. É o problema brasileiro mais evidente para todos: cidades grandes demais, com algumas áreas extremamente ricas e outras miseráveis, com frações da população vivendo em opulência em detrimento de um número grande de pessoas vivendo em condições precárias. Ainda segundo Davis (2006), esse problema pode ser encontrado em diversas partes do mundo subdesenvolvido, sendo o problema brasileiro menor se comparado ao africano, porém, no conjunto da desindustrialização, nasce o problema de um desemprego estrutural, causando uma concentração produtiva. O mapa a seguir consegue mostrar bem essa questão e ilustra como existe no país uma enorme centralização de pessoas em pequena porção territorial, gerando problemas que deixam de ser de ordem local e se tornam nacionais, como é o caso da violência, pobreza e desemprego em São Paulo, ou ainda a falta crônica de habitações e a destruição ambiental existente no Rio de Janeiro, produto e produtor das favelas nos morros daquela cidade. 7 Figura 2 – Concentração de pessoas no território brasileiro Fonte: IBGE, [S.d.]. TEMA 3 – AGRONEGÓCIO EM SUAS VÁRIAS FACETAS O agronegócio brasileiro é conhecido por ser um importante setor da economia. É mostrado como aquele que consegue trazer dólares para o país por meio da venda de commodities para o exterior, especialmente para China, União Europeia e países mulçumanos, com a soja e a proteína animal produzida. É necessário acrescentar também que o agronegócio brasileiro não está restrito à região Centro-Oeste, mas está presente em todo o território, produzindo o espaço geográfico à sua maneira e de acordo com seus interesses econômicos e sociais e isso tem consequências. 8 Um problema central é que Há, [...] sérios limites para que a dimensão ambiental deixe de ser vista como um constrangimento para ser vista como uma oportunidade[...]. Não que a dimensão ambiental seja um constrangimento às ações humanas enquanto tais. O contrário é que estaria bem mais perto da verdade, na medida que a sociedade capitalista, ao expressar a riqueza em termos quantitativos, introduz uma lógica que tende para o ilimitado diante da materialidade da physis com seus limites (leis da termodinâmica, produtividade biológica primária líquida, entre outras). Afinal, embora não haja limites para os números, os recursos naturais têm limites, assim como tem limite a resiliência dos diversos ecossistemas. (Porto-Gonçalves, 2004, p. 32) Existe um limite ambiental claro para o aumento produtivo do setor primário no país, ainda muito ignorado por aqueles que dele vivem. Como Porto- Gonçalves (2004) trabalha, a centralidade do debate acerca do agronegócio não é uma defesa de um mundo sem a relação com a natureza, um retorno a um primitivismo idílico, mas sim um questionamento claro sobre os limites ambientais reais que são hoje ignorados. Apesar de os ganhos monetários – ainda que concentrados ao extremo – serem importantes para o balanço de contas do país, é igualmente importante pensar nos ganhos ambientais, os quais são cada vez mais urgentes. O agronegócio em escala nacional ainda está conectado à devastação ambiental e isso é uma herança histórica. Foi assim com a Mata Atlântica durante do café; com o pampa com o gado e soja; a erva- mate e as madeireiras nas matas de araucárias; o açúcar na zona da mata nordestina; a borracha no processo inicial de boom econômico na Amazônia; assim como foi a soja nos tempos recentes no Cerrado e o gado atualmente cercando a Amazônia. Hoje, é justamente o gado o motor do avanço da fronteira agrícola sobre a Floresta Amazônica, como podemos ver no mapa a seguir. 9 Figura 3 – Desmatamento no Brasil Crédito: João Miguel. Como já trabalhado, existe a urgência de superar o modelo destruidor da natureza tão incrustado no processo de avanço do agronegócio, além de sua essência ser também concentradora de terras e renda. No entanto, o problema não fica restrito ao Centro-Oeste: a agricultura capitalista está espalhada pelo território nacional e é praticamente unânime que ela não é passível de críticas, o que é um erro crasso. Qualquer unanimidade esconde as possibilidades de melhora, e o agronegócio nacional tem esse problema. Não se questiona seu caráter concentrador de terras e se tenta encobrir que são justamente os empresários do agro os que mais destroem a natureza no Brasil. Urge a necessidade de se regrar melhor o setor, melhorar a fiscalização de terras, de impacto ambiental, melhorar também a cadeia produtiva, uma vez que a exportação de commodities sem sua transformação é uma falha grande na produção dentro do país, uma vez que se perde a chance de agregar valor a produtos que muitas vezes são o carro-chefe da produção nacional, como a soja, a proteína animal, milho, algodão e outros. Como Calixtre, Biancarelli e Cintra (2014) bem analisaram, a necessidade global por proteína animal e proteína 10 vegetal (especialmente a soja) seguirá crescendo em conjunto com a melhoria do acesso da população a melhores salários, que então passarão a consumir mais calorias. Logo, haverá em escala global uma necessidade de industrializar tais commodities, e o Brasil, como grande produtor, tem uma oportunidade de ouro de conseguir melhor desenvolver seu setor alimentício. Por fim, deve-se lembrar que há nas grandes propriedades brasileiras um elevado percentual de terras improdutivas, logo, há uma emergência em tornar essas terras produtivas. O índice de produtividade não é alterado há anos e este leva também a uma expansão e consequente devastação ambiental das fazendas no país. TEMA 4 – ESTRUTURA FUNDIÁRIA: O PROBLEMA PERMANENTE DO BRASIL No Brasil, uma reforma agrária de grande envergadura nunca foi realizada. Outros países realizaram esse feito, buscando democratizar o acesso à terra e ampliar a produção de alimentos e mercado consumidor dentro de suas fronteiras (Oliveira, 2007), porém, boa parte do mundo subdesenvolvido não produziu a mesma reforma, a qual é, para muitos, um fator decisivo para aumentar as possibilidades de desenvolvimento por parte de uma país. Como Martins (2015) ensina, o Brasil possui uma condição que lhe é particular, no caso a fusão do proprietário fundiário e do capitalista na mesma pessoa. Esse fato acabou por engessar o desenrolar das forças produtivas, as quais seguem até os dias atuais presas em um modelo que não produzriquezas de maneira disseminada pela sociedade, ficando os ganhos extremamente concentrados nas mãos de poucos. Cabe aqui destacar uma temática já há muito tempo debatida: a urgência de uma ruptura entre a produção de commodities e a reprodução ampliada do capital, que Amin e Vergopoulos (1977) muito bem trataram. Os países desenvolvidos fizeram, normalmente de maneira sangrenta e/ou turbulenta, uma divisão de suas terras. Amin e Vergopoulos (1977) nos ensinam que foi assim no Estados Unidos com o Homestead Act de Abraham Lincoln, ainda em 1862; foi assim também na Alemanha e Japão, os quais não haviam completado suas reformas agrárias e produziram elites reacionárias e dependentes do Estado, sendo somente a derrota de ambas na Segunda Guerra Mundial que permite a efetivação da partilha das terras; Coreia do Sul seguiu o 11 mesmo caminho, sendo sua divisão de terras sido feita pelo exército dos EUA logo após o fim da Segunda Guerra; Itália seguiu o mesmo caminho; China, com sua revolução em 1949; Reino Unido após a Primeira Guerra e outras nações europeias realizando tal processo ou para conter revoluções internas (como a primavera dos povos em 1848) ou após grandes guerras. Isso não ocorreu em boa parte do mundo subdesenvolvido. Trazendo um pouco de didatismo, devemos pensar que, para o grande latifundiário, é relativamente confortável ficar produzindo e colocando no mercado produtos primários, os quais possuem concorrência, mas têm sua venda relativamente garantida. Os países que citamos produziram suas reformas agrárias não para melhorar a condição da população ou conter protestos, mas também – e para Amin e Vergopoulos (1977) principalmente – para desenvolver suas forças produtivas. Era retirar seu capital da camisa de força em que a grande propriedade os colocava e lançá-lo em setores da economia com maior risco e competitividade, mas também com maiores ganhos, no caso a indústria. Nunca tendo feito isso e ainda mantendo um padrão concentrador de terras, o Brasil acaba por travar o desenrolar de suas forças produtivas. Em vez de possuir um grande mercado consumidor não centrado somente nas cidades hipertrofiadas, ele existe também no campo em grande número, dinamizando o próprio mercado. É necessário que aquele que busca melhores ganhos de investimento em áreas de risco invista em produção, em manufaturar seu produto primário. Como no Brasil existe em escala nacional um pequeno número de produtos de soja, por exemplo, eles angariam com suas vendas um elevado montante de dinheiro, não criando o anseio de aumentar o valor agregado em seus produtos. Comparando, os EUA, segundo os dados do Censo de 2020, possuem 57 milhões de pessoas vivendo no campo, com propriedades majoritariamente médias e familiares, enquanto o Brasil possui um espaço rural centrado na grande propriedade empresarial, com trabalho contratado e cuja diferença de possibilidades de investimento é enorme. O mapa a seguir nos auxilia a pensar na concentração de terras como uma questão ainda central no país. 12 Figura 4 – Concentração de terras no Brasil Crédito: João Miguel. TEMA 5 – DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL MODERNO: CRISE E CAPITAL A desigualdade social no Brasil é um tema central de discussão. Todos os problemas aqui tratados são produtores e produto da desigualdade social, desde a estrutura fundiária concentrada, a qual produziu e produz massas populacionais nas periferias urbanas, que se tornam violentas justamente pela falta de empregos, estando isso relacionado à hipertrofia urbana; ou ainda a desindustrialização ou a não inovação do agronegócio, ambos os processos tendo origem na falta de competitividade e concorrência dentre a elite que domina a política e a economia nacional, ou seja, a desigualdade social é a face dos problemas estruturais do país em suas mais distintas regiões. Podemos tratar essas questões levando em conta o relatório da Oxfam Brasil de 2021, que versa sobre desigualdade. Ele auxilia a entender o que é, afinal, desigualdade social. Podemos perguntar: “ela está restrita à renda, à moradia?”. A resposta é não, pois desigualdade é a péssima distribuição de renda do país, em que os 10% mais ricos possuem 43% da renda total gerada (Oxfam Brasil, 2022). Está relacionada também ao acesso à educação de 13 qualidade, que possui discrepâncias tanto para aqueles com diferenças de renda – a famosa dicotomia entre ensino básico público e o privado – quanto para as diferenças regionais; à administração caótica dos recursos públicos, os quais muitas vezes são investidos de modo autoritário, de cima para baixo, sem realmente atender aos interesses da população; à falta de verbas públicas para investimento, que nos últimos anos cresceu no Brasil, faltando verbas essenciais para uma saúde pública de qualidade, ensino, pesquisa e extensão sérios e robustos, infraestrutura e também fomento para dinamizar a economia; à não garantia de serviços básicos, afetando profundamente nos índices de desenvolvimento humano do país (IDH); além das diferenças abissais nas oportunidades de trabalho e vida para negros, indígenas, parcelas LGBTQIA+ e mulheres, se comparados aos homens. Isso tudo é o que forma a desigualdade social. Na tabela a seguir, podemos ver a disparidade entre as regiões, sendo possível ver como o país perdeu renda. Tabela 1 – Rendimento domiciliar per capita Grandes Regiões Rendimento domici l iar per capita das pessoas (R$) Variação 2021/2020 (%) Variação acumulada 2021/2012 (%) 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Médio Brasil 1417 1464 1505 1458 1439 1445 1498 1520 1454 1353 (-) 6,9 (-) 4,5 Norte 968 971 984 964 893 927 1002 945 966 871 (-) 9,8 (-) 10,0 Nordeste 870 908 955 948 906 922 915 955 963 843 (-) 12,5 (-) 3,1 Sudeste 1742 1765 1818 1746 1761 1724 1830 1852 1742 1645 (-) 5,6 (-) 5,6 Sul 1734 1795 1826 1768 1733 1792 1810 1856 1738 1565 (-) 4,7 (-) 4,5 Centro- Oeste 1663 1734 1737 1665 1628 1701 1721 1714 1626 1534 (-) 5,7 (-) 7,8 Mediano Brasil 842 888 929 904 862 872 894 919 903 810 (-) 10,3 (-) 3,8 Norte 552 564 598 579 536 559 870 561 632 539 (-) 14,7 (-) 2,4 Nordeste 511 540 571 563 542 555 551 557 594 506 (-) 14,8 (-) 1,0 Sudeste 1042 1075 1098 1072 1071 1074 1100 1112 1084 1019 (-) 6,0 (-) 2,2 Sul 1139 1206 1235 1227 1776 1207 1184 1249 1199 1139 (-) 5,0 0,0 Centro- Oeste 976 1048 1067 1028 1009 1042 1084 1103 1062 957 (-) 9,9 (-) 1,9 Fonte: IBGE, 2022. Em outras palavras, devemos pensar como ainda há um longo caminho até a melhor situação da população do país. As desigualdades são muitas e há 14 uma urgência na necessidade de oportunizar a todas as pessoas chances de desenvolvimento individual, familiar, comunitário para só assim alcançarmos um desenvolvimento verdadeiro para toda a nação. NA PRÁTICA Em relação à temática que acabamos de trabalhar, recomendamos entrar no site do IBGE e buscar pesquisas recentes sobre rendimentos, despesas e consumo. • IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rendimento, despesa e consumo. IBGE, [S.d.]. Disponível em: < https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/rendimento-despesa-e- consumo.html >. Acesso em: 6 jun. 2023. No site, você deverá buscar informações de modo escalar, ou seja, analisar os dados do país, de seu estado e, por fim, se estiver disponível, de seu município. Depois disso, uma pergunta norteadora deve ser respondida: como é a renda e os gastos em seu país, estado e município? Ela é muito concentrada? É possível ver isso nas ruas ou não há esse problema? FINALIZANDO A maioria dos problemas nacionais é, na realidade, um emaranhado de difícil compreensão. A hipertrofia urbana está relacionada à distribuição de terras, que, por sua vez, está relacionada ao agronegócio, o qual contribui para a concentração de terras e renda,que tem como resultado a não produção de empregos em grande quantidade e destrói a natureza. Tudo isso levou, durante anos, à concentração de riquezas em parte do território, a região concentrada, a qual emana muitas vezes dinamismo, mas também crises. Tudo isso constrói um país com desigualdades sociais enormes, que ainda carecem de uma solução. 15 REFERÊNCIAS AMIN, S.; VERGOPOULOS, K. A questão agrária e o capitalismo. Trad. Beatriz Resende. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. CALIXTRE, A. B.; BIANCARELLI, A. M.; CINTRA, M. A. M. Presente e futuro do desenvolvimento brasileiro. Brasília: IPEA, 2014. DAVIS, M. Planeta favela. São Paulo: Boitempo Editorial, 2006. FAUSTO, B. A Revolução de 1930: História e Historiografia. São Paulo: Brasiliense, 1970. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico. Rio de Janeiro: IBGE, 2022. MARTINS, J. S. O cativeiro da terra. 9. ed., 2. reimp. São Paulo: Contexto, 2015. OLIVEIRA, A. U. de. Modo de produção capitalista, agricultura e reforma agrária. São Paulo: FFLCH, 2007. OXFAM BRASIL. Nós e as desigualdades – Pesquisa Oxfam Brasil/Datafolha – Percepções sobre a desigualdade brasileira. São Paulo: Oxfam Brasil, 2022. Disponível em: <https://www.oxfam.org.br/download/14488/>. Acesso em: 6 jun. 2023. PORTO GONÇALVES, C. W.; WALTER, C. O campo no século XXI. São Paulo: Casa Amarela e Editora Paz e Terra, 2004. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. São Paulo: Record, 2001. THÉRY, H.; MELLO-THÉRY, N. A. Atlas do Brasil – Disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp, 2015 CALIXTRE, A. B.; BIANCARELLI, A. M.; CINTRA, M. A. M. Presente e futuro do desenvolvimento brasileiro. Brasília: IPEA, 2014. DAVIS, M. Planeta favela. São Paulo: Boitempo Editorial, 2006. FAUSTO, B. A Revolução de 1930: História e Historiografia. São Paulo: Brasiliense, 1970. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico. Rio de Janeiro: IBGE, 2022. PORTO GONÇALVES, C. W.; WALTER, C. O campo no século XXI. São Paulo: Casa Amarela e Editora Paz e Terra, 2004. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. São Paulo: Record, 2001. THÉRY, H.; MELLO-THÉRY, N. A. Atlas do Brasil – Disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp, 2015