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Cassio Augusto – 3º semestre - 253 Anatomia dos Sistemas II: o coração Cassio Augusto – 3º semestre - 253 I. Mediastino Compartimento torácico central que abriga todas as vísceras (exceto os pulmões) e que se estende da abertura superior do tórax até o diafragma (crânio- caudal) e dos corpos vertebrais ao esterno e cartilagens costais (anteroposterior). É uma região dotada de alta mobilidade em pessoas vivas que permite alterações de volume e variações de pressão pelo movimento do coração, expansão dos pulmões aliada ao movimento diafragmático, etc. É dividido em mediastino superior e mediastino inferior a partir da articulação manubrioesternal ou ângulo do esterno anteriormente e a junção das vértebras TIV e TV (plano transverso do tórax) posteriormente. O mediastino inferior ainda é subdivido em mediastino anterior (entre o corpo do esterno e o pericárdio), mediastino médio (pericárdio) e mediastino posterior (entre o pericárdio e os corpos vertebrais). II. Pericárdio O pericárdio é uma membrana fibrosserosa que cobre a entrada dos grandes vasos e o coração. É um saco fechado formado por duas camadas, a saber: Pericárdio fibroso: camada externa e resistente; Pericárdio seroso: recobre a face externa do coração; O pericárdio fibroso é constituído de tecido conjuntivo que reveste totalmente o coração sem estar aderido ao mesmo. Outro fato interessante é que, devido à origem embriológica (advindo da cavidade pleural secundária), o pericárdio fibroso é coberto externamente pela parte mediastinal da pleura parietal. O pericárdio seroso é formado por duas lâminas: a lâmina/folheto visceral do pericárdio seroso (aderido ao coração, formando o epicárdio) e a lâmina/folheto parietal do pericárdio seroso que reveste a face interna do pericárdio fibroso. Além disso, se relaciona com as seguintes estruturas: Superior: contínuo com a túnica adventícia dos grandes vasos da base do coração e, também, com a lâmina pré-traqueal da fáscia cervical; Anterior: unido à face posterior do esterno pelos ligamentos esternopericárdicos (superior/inferior); Posterior: unido às estruturas do mediastino posterior; Inferior: unido ao centro tendíneo do diafragma; Lateral: em contato com a face mediastinal da pleura parietal; A cavidade do pericárdio é um espaço virtual entre as lâminas visceral e parietal do pericárdio seroso. Normalmente é preenchido com uma fina película de líquido que permite ao coração bater e movimentar-se sem ocorrência de atrito. As lâminas do pericárdio seroso tornam-se contínuas em duas regiões do coração: no local de emergência da aorta e tronco pulmonar e no local de penetração das veias cava superior, inferior e pulmonares no coração. a. Seios do pericárdio O seio transverso do pericárdio ocorre na cavidade pericárdica entre os dois grupos de vasos destacados anteriormente. O seio oblíquo do pericárdio é um saco cego que surge durante o desenvolvimento e expansão das veias que penetram o coração e localiza-se posterior ao átrio esquerdo. MOORE – BOX AZUL Tamponamento cardíaco: causado por um aumento de líquido na cavidade pericárdica (sangue → hemopericárdio) que reduz a expansão total do coração durante seu ciclo e, consequentemente, reduz o débito cardíaco. Essa condição pode ser fatal e pode ser causada por perfuração de uma região enfraquecida do miocárdio por IAM ou PAF, por exemplo. Cassio Augusto – 3º semestre - 253 b. Vascularização do pericárdio Irrigação arterial: feita pelas aa. pericardicofrênica e musculofrênica, que são ramos da a. torácica interna; as aa. coronárias irrigam apenas a lâmina visceral do pericárdio seroso. Drenagem venosa: as veias pericardicofrênicas são tributárias das veias braquiocefálicas, enquanto ramos menores drenam o sangue no sistema ázigo. Inervação: nn. frênicos (C3-C5), cuja nocicepção é geralmente referida nos mesmos dermátomos (i.e. C3-C5) na região supraclavicular homolateral, nn. vagos (NC X) e troncos simpáticos (função vasomotora). III. Coração Esse órgão é uma bomba complexa organizada em dois conjuntos autorregulados cuja função principal é a distribuição de sangue para todo o corpo. O átrio direito e átrio esquerdo são as câmaras responsáveis pela recepção do sangue venoso e arterial, respectivamente. Após a recepção, os átrios bombeiam o sangue para o ventrículo direito e ventrículo esquerdo e tais câmaras são responsáveis pela ejeção do sangue para os pulmões e o restante do corpo, respectivamente. Por isso, os ventrículos possuem uma contratilidade maior que os átrios. O coração direito (AD + VD) recebe sangue pouco oxigenado (sangue venoso) advindo da veia cava superior (VCS), da veia cava inferior (VCI) e do seio coronário (SC) que logo é destinado, através da tronco pulmonar (TP) e artérias pulmonares (AP) para os pulmões, sendo essa circulação denominada pequena circulação ou circulação pulmonar. Após o processo de hematose, o sangue retorna oxigenado (sangue arterial) ao coração através das veias pulmonares (VP) no coração esquerdo (AE + VE) que bombeará seu conteúdo, através da artéria aorta, sendo essa circulação denominada grande circulação ou circulação sistêmica. a. Localização O coração localiza-se no mediastino médio e tem um formato similar a uma “pirâmide de base triangular”, cuja maior parte de sua massa encontra-se à esquerda da linha mediana. O coração apresenta três faces, a saber: Face esternocostal: é a face anterior do coração e é formada principalmente pelo VD; Face diafragmática: é a face inferior do coração e formada tanto pelo VD quanto pelo VE; relacionada principalmente com o centro tendíneo do diafragma; Face pulmonar esquerda: formada principalmente pelo VE, é quem forma a impressão cardíaca do pulmão esquerdo; OBS: Telma considera apenas 3 faces, enquanto o Moore adiciona mais 1: a face pulmonar direita. No entanto, para fins de avaliação, considerar apenas três faces (para Telma é margem pulmonar direita). b. Margens do coração O coração dispõe de quatro margens, a saber: Margem direita: convexa, constituída pelo AD e se estende entre a VCS e a VCI; Margem esquerda: oblíqua, constituída principalmente pelo VE e aurícula esquerda; Margem inferior: horizontal, constituída pelo VD e parcialmente pelo VE; Margem superior: constituída pelos átrios e aurículas direita e esquerda anteriormente; OBS: a aorta ascendente e tronco pulmonar emergem dessa margem; : a VCS desemboca em seu lado direito; : essa margem forma o limite inferior do seio transverso do pericárdio; c. Ápice e base do coração Devido ao formato “piramidal”, o coração apresenta um ápice e uma base. O ápice do coração é voltado para baixo, para esquerda e para frente; a base do coração é voltada para trás e para direita. O ápice possui uma incisura do ápice do coração, local de convergência dos vasos interventriculares (IV) anteriores/posteriores situados no sulco interventricular anterior com o sulco interventricular posterior, respectivamente. Situa-se posteriormente ao 5º EIC esquerdo e a nove centímetros da linha mediana (anatomia de superfície = ictus cordis). É formado pela parede inferolateral do VE e permanece imóvel durante todo o ciclo cardíaco; ao mesmo tempo, é o local de intensidade máxima dos sons de fechamento da valva bicúspide/mitral. A base é a face posterior do coração; formada principalmente pelo AE e um pouco do AD, é voltada posteriormente em direção aos corpos das vértebras TVI- TIX e estende-se superiormente até a região de bifurcação Cassio Augusto – 3º semestre - 253 do TP e inferiormente até o sulco coronário. A base é separada das vértebras pelo esôfago, aorta, pericárdio e veias pulmonares direitas. d. Configuração externa: sulcos do coraçãoO coração dispõe de alguns sulcos, a saber: sulco coronário, sulco terminal, sulco interatrial e sulco interventricular anterior/posterior. O sulco coronário separa os átrios dos ventrículos e contém o seio coronário, veia responsável pela drenagem do miocárdio e desemboca no AD. O sulco terminal é uma estrutura exclusiva do coração direito, sendo a delimitação externa entre a parte venosa (seio venoso) e o AD. O sulco interatrial separa os dois átrios. Os sulcos interventriculares são as impressões das margens murais do septo interventricular, estrutura interna que separa os ventrículos. O anterior é quase paralelo à margem ventricular esquerda, enquanto o posterior relaciona-se com o diafragma. e. Aurículas direita e esquerda As aurículas são massas expansíveis pertencentes aos átrios. Durante o ciclo cardíaco, pode ser necessária uma expansão do volume atrial para comportar o volume sanguíneo que chega da circulação sistêmica ou pulmonar. É justamente atendendo essa função que temos as aurículas, fornecendo um volume extra em caso de necessidade. A aurícula direita é maior que a aurícula esquerda. Isso é explicado pela necessidade de maior contratilidade do AD para deslocar sangue advindo de todo o corpo para o VD, que ejeta o sangue venoso para os pulmões. As aurículas apresentam uma característica especial em relação aos átrios: a presença dos músculos pectíneos. A parede atrial é composta de musculatura lisa enquanto a parede das aurículas possui essa musculatura que garante a contratilidade extra para os átrios se necessário. IV. Átrio direito (AD) Conforme dito anteriormente, a aurícula direita é composta de músculos pectíneos, diferenciando-a do AD. Se externamente vemos o sulco terminal entre o AD e a aurícula direita, internamente notamos uma estrutura denominada crista terminal, local de origem dos mm. pectíneos que se estendem à aurícula e formam diversas trabéculas. O AD apresenta óstios para as veias cavas: o óstio da veia cava superior e o óstio da veia cava inferior. O óstio da VCI ainda apresenta uma peculiaridade: a presença da válvula da veia cava inferior (necessária devido ao maior aporte sanguíneo trazido pela VCI em relação à VCS) que ainda apresenta o tendão da válvula da veia cava inferior (tendão de Todaro). A VCS se abre a nível da 3ª cartilagem costal direita, na parte superior do AD, enquanto a VCI se abre quase que alinhada com a VCS mas no nível da 5ª cartilagem costal direita, na parte inferior do AD. Há também o óstio do seio coronário e a válvula do seio coronário, situado entre o óstio da VCI e o óstio atrioventricular direito. O seio coronário é o maior canal de retorno venoso do coração, apesar de haver várias veias menores que também apresentam óstios ao longo da parede septal. No septo interatrial há uma depressão oval denominada fossa oval, remanescente embriológico do forame oval, e o limbo da fossa oval. Na região anteroinferior do AD encontramos o septo atrioventricular direito que apresenta uma descontinuidade, o óstio atrioventricular direito. Esse óstio apresenta um mecanismo de controle para evitar o refluxo do sangue entre o AD e VD: a valva atrioventricular direita ou valva tricúspide. Essa valva é constituída por três válvulas: válvulas anterior, posterior e septal. Conhecendo essas estruturas é possível delimitar o triangulo de Koch. Esse triângulo possui como “arestas”: Óstio do seio coronário; Tendão da válvula da VCI; Inserção da válvula septal da valva tricúspide; No ápice do triângulo de Koch encontramos o nó atrioventricular (nó AV). V. Ventrículo direito (VD) O VD é separado do AD por um septo atrioventricular (AV) direito que possui uma descontinuidade: o óstio AV Cassio Augusto – 3º semestre - 253 direito que permite a passagem do sangue e, portanto, é a via de entrada do VD. Preenchendo o óstio AV direito temos a valva atrioventricular direita (ou tricúspide) com suas válvulas anterior, posterior e septal. A base das válvulas está fixada ao anel fibroso direito do esqueleto fibroso do coração, fazendo com que elas se toquem simultaneamente ao fechamento da valva AV (sístole ventricular) No VD há músculos papilares anterior, posterior e septal que servem de pontos de origem para as cordas tendíneas que estão fixadas a cada válvula atrioventricular correspondente. A tensão dos músculos papilares que ocorre antes da contração ventricular causa uma tensão das cordas tendíneas, aproximando as válvulas. A função das cordas tendíneas evita o prolapso das válvulas para dentro do AD na sístole ventricular quando a pressão dessa câmara aumenta. Dessa forma, não é possível ocorrer um fluxo retrógrado (VD → AD) em condições normais. Internamente, pode-se ver no VD a crista supraventricular que separa a parede muscular rugosa da entrada do VD da parede muscular lisa do cone arterial na saída da câmara. Sua face posterolateral concede fixação à válvula anterior da valva tricúspide. Por toda parede ventricular observamos trabéculas cárneas que podem ser do tipo crista (elevação) ou ponte (elevação que permite a circulação do sangue por baixo). Os músculos papilares também são tipos de trabéculas cárneas. Constituinte da maior parte da face esternocostal do coração, o VD apresenta uma dilatação externa e interna imediatamente antes do surgimento da artéria TP: o cone arterial. A via de saída do VD é a artéria tronco pulmonar que também apresenta uma valva da tronco pulmonar presente no óstio da tronco pulmonar. As válvulas que compõem essa valva são denominadas válvulas semilunares e como na posição anatômica a TP é anterior à aorta, apresenta válvulas semilunares anterior, direita e esquerda. Durante a diástole ventricular, a valva da tronco pulmonar encontra-se fechada e está aberta passivamente durante a sístole ventricular e fecha-se rapidamente. Cada válvula apresenta uma saliência: o nódulo da válvula semilunar e uma aresta: a lúnula da válvula semilunar e existe um pequeno compartimento denominado seio da válvula pulmonar. Importante ressaltar que esse padrão das válvulas semilunares se repete para a artéria aorta que será exposta mais tarde. O septo interventricular é composto pela parte membranácea (porção do anel fivroso do coração encontrado posterossuperiormente; a válvula septal da valva AV direita encontra-se fixada ao meio desta parte) e parte muscular (de mesma espessura do miocárdio do VE que se volta para a cavidade do VD). A trabécula septomarginal localiza-se próxima ao ápice do coração e atravessa o VD da parte inferior do septo interventricular até a base do músculo papilar anterior. Conduz uma porção do ramo direito do fascículo AV (condução do impulso elétrico). VI. Átrio esquerdo (AE) O AE apresenta poucas diferenças ao AD. Por exemplo, enquanto o coração direito recebe sangue pelas veias cavas, o coração esquerdo recebe o sangue pelas veias pulmonares. Por isso, os óstios das veias pulmonares aparecem no AE e trazem o sangue oxigenado dos pulmões. Outra similaridade é a presença de músculos pectíneos na aurícula esquerda (menor que a direita). Algumas veias menores que drenam o miocárdio também apresentam óstios na parede do átrio esquerdo. VII. Ventrículo esquerdo (VE) Mais longo e estreito que o VD, o VE também apresenta uma parede muscular muito mais espessa ao se comparar com a parede muscular direita. Tal Cassio Augusto – 3º semestre - 253 adaptação é necessária para ejetar o sangue oxigenado pelos pulmões Separando o AE do VE temos o septo atrioventricular esquerdo que apresenta uma descontinuidade: o óstio atrioventricular esquerdo. Preenchendo o óstio há a valva atrioventricular esquerda (ou bicúspide ou ainda mitral). Assim, esse óstio é a via de entrada do VE durante a diástole. Essa valva apresenta as seguintes válvulas: anterior e posterior. Similar ao VD, cada válvula está conectadaa cordas tendíneas que se originam dos músculos papilares anterior e posterior. A via de saída do VE é formada pela valva da aorta. Antes da valva da aorta há o vestíbulo da aorta, de forma análoga ao cone arterial do VD. A valva da aorta apresenta três válvulas semilunares: posterior, direita e esquerda. Da mesma forma que as válvulas da valva do TP, essas apresentam lúnulas, nódulos e seios também. Importante ressaltar que a abertura da a. coronária esquerda ocorre no seio da aorta esquerdo; da a. coronária direita ocorre no seio da aorta direito; o seio da aorta posterior NÃO apresenta nenhuma abertura e por isso é chamada também de seio não-coronário. VIII. Esqueleto fibroso do coração Um arranjo estrutural composto de tecido conjuntivo denso rico em fibras colágenas, o esqueleto fibroso circunda os óstios das quatro valvas cardíacas: os óstios AV direito/esquerdo, o óstio da tronco pulmonar e o óstio da aorta. Há dois trígonos fibrosos: trígono fibroso direito e trígono fibroso esquerdo. O direito encontra-se entre os óstios AV, enquanto o esquerdo está entre a válvula semilunar esquerda da valva da aorta e o óstio AV esquerdo. Ao redor de cada valva cardíaca apresenta-se um anel fibroso: direito/esquerdo (da valva AV dir/esq), da aorta e da tronco pulmonar. Outros constituintes: tendão do infundíbulo (responsável pela união dos anéis fibrosos da aorta e da tronco pulmonar, apresentando uma forma de “S”), tendão da válvula da veia cava inferior (tendão de Todaro) e parte membranácea do septo interventricular. Cassio Augusto – 3º semestre - 253 IX. Vascularização do coração a. Irrigação arterial As artérias coronárias, primeiros ramos da aorta, irrigam o miocárdio e epicárdio. Cada uma das coronárias surge a partir do respectivo seio da aorta e nutrem os átrios e ventrículos. A artéria coronária direita (ACD) surge a partir do seio da aorta direito e passa para o lado direito da tronco pulmonar e segue pelo sulco coronário. Um dos primeiros ramos da ACD são os ramos atriais da ACD. Próximo à origem da ACD também surge o ramo do nó SA e, após isso, desce pelo sulco coronário e emite o ramo marginal direito que supre a margem direita do coração sem alcançar o ápice. Após a emissão do ramo, a ACD curva-se para a esquerda e continua no SC até a face posterior e, na face anterior da cruz do coração (junção dos septos interatrial e interventricular entre as quatro câmaras), dá origem ao ramo do nó AV. Na maioria das pessoas o mais comum é que a ACD dê origem ao grande ramo IV posterior que desce o sulco IV posterior em direção ao ápice. Ao mesmo tempo, esse ramo envia ramos IV septais perfurantes para o septo IV. O ramo terminal da ACD continua mais um pouco no sulco coronário antes de ser interrompido. Em resumo, os ramos da ACD são: A artéria coronária esquerda (ACE) surge do seio da aorta esquerdo e passa entre a aurícula esquerda e o lado esquerdo da tronco pulmonar e segue através do sulco coronário. Ao entrar no sulco coronário, na extremidade superior do sulco IV anterior, a ACE divide-se em ramo interventricular anterior (ou artéria descendente esquerda) e ramo circunflexo. O primeiro ramo segue ao longo do sulco IV anterior até o ápice do coração. Costuma anastomosar-se com o ramo IV posterior advindo da ACD e, através de ramos septais, nutre os dois terços anteriores do septo IV. É comum originar um ramo (ramo lateral – ou artéria diagonal) que irriga a face anterior do coração. O próximo ramo é menor e acompanha o sulco coronário ao redor da margem esquerda até a face posterior. Além disso, o ramo marginal esquerdo do ramo circunflexo nutre o ventrículo esquerdo. Em resumo, os ramos da ACE são: b. Variações das coronárias Um conceito importante da irrigação arterial do coração é o domínio do sistema arterial. O domínio pode ser tanto da coronária direita quanto da coronária esquerda a depender de qual delas dá origem ao ramo interventricular posterior ou artéria descendente posterior. Na maior parte da população, o domínio arterial é direito (i.e. o ramo IV posterior é derivado da ACD). No entanto, quando esse ramo advém do ramo circunflexo da ACE, o domínio arterial é esquerdo. Há ainda uma porcentagem de pessoas onde ambas as coronárias formam o ramo IV posterior (codominância). c. Drenagem venosa A principal veia do coração é o seio coronário. Esse vaso segue através do sulco coronário na sua porção posterior e tem como principais tributárias a veia cardíaca magna pela extremidade esquerda e a veia cardíaca parva e veia interventricular posterior pela extremidade direita. Outros vasos que se abrem no seio coronário: veia posterior do VE e veia marginal esquerda. A v. cardíaca magna drena as áreas do coração nutridas pela ACE e sua principal tributária é a veia IV anterior que ascende a partir do ápice do coração em conjunto com o ramo IV anterior da ACE. No sulco coronário, vira-se para a esquerda e segue ao redor do lado esquerdo do coração em conjunto com o ramo circunflexo da ACE até chegar ao seio coronário (observa-se nessa situação uma situação incomum onde o sangue tanto da veia quanto da artéria segue o mesmo sentido). A v. IV posterior acompanha o ramo IV posterior no sulco IV posterior e a v. cardíaca parva acompanha o ramo marginal direito da ACD. Por isso, ambas drenam a região nutrida pela coronária direita. Outras veias não se abrem no seio coronário, a exemplo das veias anteriores do VD que são tributárias da v. cardíaca parva ou, geralmente, abrem no AD. d. Drenagem linfática A drenagem da linfa do miocárdio e do tecido subendocárdico segue até o plexo linfático subendocárdico, cujos vasos acompanham as coronárias. A drenagem final leva o conteúdo aos linfonodos traqueobronquiais inferiores. Ramos atriais Ramo marginal direito ACD Ramo interventricular posterior Ramo do nó SA Ramo do nó AV Ramo interventricular anterior → Ramo lateral ACE Ramo circunflexo → ramo marginal esquerdo Cassio Augusto – 3º semestre - 253 X. Sistema de condução do coração Em condições fisiológicas, o impulso elétrico cardíaco é gerado pelo nó sinoatrial (SA), localizado abaixo do epicárdio e próximo ao local de junção da veia cava superior com o AD (i.e. perto da extremidade superior do sulco terminal). Esse nó recebe aferências simpáticas (estímulo à aceleração dos batimentos) e parassimpáticas (estímulo à desaceleração dos batimentos) e é irrigada pela artéria do nó SA, originada do ramo atrial da a. coronária direita na maioria dos casos (mas pode se originar da a. coronária esquerda também). A partir do nó SA, ocorre a emissão de feixes intermodais (anterior, médio e posterior) que seguem em direção ao nó AV. Para conduzir o impulso ao átrio esquerdo existe o feixe de Bachmann. O nó atrioventricular (AV) localiza-se no ápice do triângulo de Koch conforme discutido anteriormente e é responsável pelo retardo do impulso elétrico, garantindo que a contração atrial ocorra enquanto o ventrículo está relaxado e o sangue seja ejetado para esta câmara. A irrigação arterial do nó AV é garantida pela artéria do nó AV que se origina do primeiro ramo interventricular septal da a. interventricular posterior que por sua vez é derivada da a. coronária direita. A partir do nó AV surge o fascículo/feixe atrioventricular que distribui o impulso para o miocárdio ventricular. Esse feixe segue através do esqueleto fibroso do coração. Na junção das partes membranácea e muscular do septo interventricular, o fascículo AV se divide em ramo direito e ramo esquerdo. Cada um prossegue profundamente dentro do septo IV para se ramificar nos ramos subendocárdicos ou fibras de Purkinje que estimulam os músculos papilarese as paredes ventriculares. Cassio Augusto – 3º semestre - 253 XI. Inervação do coração A estimulação simpática do coração causa aumento da contratilidade cardíaca (efeito inotrópico +), aumenta a frequência cardíaca, a condução do impulso e o fluxo sanguíneo pelas coronárias. Tanto o estímulo direito pelas fibras quanto o indireto pela medula adrenal causam o mesmo efeito. No tecido especializado de condução, as fibras adrenérgicas causam um aumento da frequência de despolarização das células marca-passo. A maioria dos receptores adrenérgicos do coração são receptores β2. Quando ativos, causam relaxamento do músculo liso dos vasos e a consequente dilatação das artérias (efeito vasodilatador) e, portanto, ofertando mais oxigênio e nutrientes para o miocárdio. A estimulação parassimpática advém de fibras pré- ganglionares vagais. Seus efeitos são antagônicos ao estímulo adrenérgico, ocasionando diminuição da contratilidade cardíaca (efeito inotrópico -), diminuição da frequência cardíaca e constricção das coronárias. A acetilcolina, neurotransmissor parassimpático, liga-se a receptores muscarínicos para reduzir a frequência de disparo das células marca-passo e reduzindo a condução do impulso elétrico. MOORE – BOX AZUL 1. Comunicações interatriais (CIA): quando clinicamente importantes, as CIA ocasionam passagem de sangue do AE para o AD e leva a uma hipertrofia do coração direito como um todo, além das artérias pulmonares também. 2. Comunicações interventriculares (CIV): o local mais comum de CIV é na parte membranácea do septo interventricular, que se forma separadamente da parte muscular. Quando ocorre, leva a um desvio de sangue do VE para o VD e, como consequência, causa hipertensão pulmonar e até mesmo insuficiência cardíaca. 3. Coronariopatias: a DAC (doença da artéria coronária) tem diversas etiologias onde todas causam uma redução da oferta de sangue para o miocárdio. a. Infarto agudo do miocárdio (IAM): cessação da oferta sanguínea com posterior morte tecidual do miocárdio, onde uma determinada artéria coronária ou seu ramo é ocluída e o sangue não segue o fluxo. A oclusão é mais prevalente nos seguintes vasos: ramo IV anterior da ACE, ACD e ramo circunflexo da ACE. b. Aterosclerose coronariana: o depósito de lipídios na túnica íntima das artérias coronárias causa progressiva estenose dos lúmens desses vasos. A repercussão clínica da aterosclerose pode demorar a aparecer graças à capacidade de formar circulação colateral e permitir uma perfusão adequada em situações de repouso. No entanto, a progressiva isquemia miocárdica causada pelo ateroma pode resultar num IAM.