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Disciplinas
Para a Vida
Cristã
D o n a l d S. W h i t n e y
D is c ip lin a s 
E s p ir i tu a is 
P a r a a 
V i d a 
C R I S T Ã
Donald S. Whitney
EDITORA BATISTA REGULAR
* “ CO N STRU IN D O V IDAS NA PALAVRA D E D EU S”
Rua Kansas, 770 - Brooklin - CEP 04558-002 - São Paulo - SP
DISCIPLINAS ESPIRITUAIS 
PARA A VIDA CRISTÃ
© 1991 por Donald S. Whitney
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, armazenada em sistema de 
processamento de dados ou transmitida em qualquer forma ou por qualquer meio - 
eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou qualquer outro - exceto para citações 
resumidas com o propósito de rever ou comentar, sem prévia autorização dos Editores.
Todas as citações bíblicas, são extraídas da Bíblia Sagrada, traduzida por João Ferreira 
de Almeida, versão Revista e Atualizada no Brasil, 2a edição, São Paulo: Sociedade 
Bíblica do Brasil, 1993; e Nova Versão Internacional (NVI) (traduzida pela Comissão 
de Tradução da Sociedade Bíblica Internacional), São Paulo, Editora Vida, 2000. 
Utilizada com permissão. Todos os direitos reservados.
Título original: Spiritual Disciplines For The Christian Life 
Tradução: Talita Rose Baulé 
Supervisão de produção: Edimilson Lima dos Santos 
Diagrantação/Capa: Edvaldo Matos
Primeira edição em português: 2009
ISBN 978-85-7414-024-7
Publicado no Brasil com a devida autorização 
e com todos os direitos reservados pela:
EDITORA BATISTA REGULAR DO BRASIL 
Rua Kansas, 770 - Brooklin - CEP 04558-002 - São Paulo - SP 
Telefone: (011) 5561-3239 - Site: www.editorabatistaregular.com.br
http://www.editorabatistaregular.com.br
C onteúdo
PREFÁCIO 5 
Capítulo Um 
AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS...
COM O OBJETIVO DE ALCANÇAR A PIEDADE 
Capítulo Dois 
ABSORÇÃO BÍBLICA (PARTE 1) 27
Capítulo Três 
ABSORÇÃO BÍBLICA (PARTE 2) 46
Capítulo Quatro 
ORAÇÃO 80 
Capítulo Cinco 
ADORAÇÃO 105 
Capítulo Seis 
EVANGELISMO 124 
Capítulo Sete 
SERVIÇO 148 
Capítulo Oito 
MORDOMIA 169 
Capítulo Nove 
JEJUM 209 
Capítulo Dez 
SILÊNCIO E SOLIDÃO 240 
Capítulo Onze 
DIÁRIO (ANOTAÇÕES) 272 
Capítulo Doze 
APRENDIZADO 296 
Capítulo Treze 
PERSEVERANÇA NAS DISCIPLINAS 313
Para a glória de meu Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
A semelhança com Ele é o objetivo das Disciplinas Espirituais
Para Don e Dollie Whitney, 
que primeiro me ensinaram sobre Cristo e sobre muitas 
Disciplinas Espirituais
e para Caffy,
que sempre me encoraja nas Disciplinas Espirituais
Prefácio
❖ ❖ ❖
Pediram-me para escrever um prefácio para este livro antes 
mesmo que eu o visse. Agora, porém, que já o li, constato que 
teria me voluntariado para fazê-lo de qualquer maneira, para 
poder oficialmente conclamar todos os cristãos a lerem o que 
Don Whitney escreveu; na verdade, ao ler esta obra três vezes, 
observando um intervalo de um mês (certamente não mais e, 
idealmente, creio que não mais) entre cada leitura. Isto não só 
fará com que o livro seja absorvido, como também dará a você 
uma idéia realista de sua seriedade, ou da falta dela, como 
discípulo de Jesus. A primeira leitura mostrará várias coisas 
específicas que você deve começar a fazer. Na segunda e na 
terceira leituras (para cada uma delas, deve-se escolher uma 
data para concluir a leitura anterior), você irá rever o que tem 
feito e como tem se saído. Isto será muito bom para você, mesmo 
que a descoberta seja um pouco chocante no início.
Desde que Richard Foster nos despertou com a obra 
"Celebration of Discipline" (1978), discutir as várias disciplinas 
espirituais tem se tornado o principal elemento das discussões 
cristãs conservadoras na América do Norte, o que é de fato 
muito bom. A doutrina das Disciplinas (do latim disciplinae, que 
significa cursos de aprendizado e treinamento) é realmente uma 
reafirmação e uma extensão do ensino protestante clássico sobre 
os meios da graça (a Palavra de Deus, oração, comunhão e Ceia 
do Senhor). Com pés espirituais abençoadamente cimentados 
na sabedoria bíblica, conforme muito bem exposto pelos mestres 
evangélicos puritanos e mais antigos, ele traça o caminho da 
disciplina com um toque certeiro. Os fundamentos por ele
6 Prefácio
lançados são evangélicos, e não legalistas. Em outras palavras, 
ele nos chama a buscar a Piedade por meio da prática das 
Disciplinas em gratidão pela graça que nos salvou, não como 
esforço de autojustificação ou de autopromoção. O que ele 
edifica sobre tais fundamentos é tão benéfico quanto sólido. 
Ele, na verdade, nos mostra o caminho da vida."
Assim, se como cristão você deseja ser realmente verdadeiro 
com o seu Deus, ir além do estágio de ser evasivo consigo 
mesmo e com Ele, este livro fornece um auxílio prático. Um 
século e meio atrás, o professor escocês "Rabbi" Duncan iniciou 
os seus alunos na leitura de John Owen, o Puritano, sobre o 
pecado que habita em nós, com a advertência: "Mas, 
cavalheiros, estejam preparados para a faca". Ao conduzir você, 
leitor, a Don Whitney, eu diria: "Agora, amigo, esteja preparado 
para o ex ercíc ioE achará saúde para a sua alma.
-J.I. PACKER
A gradecim ento s
A o vencer os 100 metros rasos nas Olimpíadas de Moscou, 
em 1980, o escocês Allan Wells disse: "Dedico esta vitória a 
Eric Liddel". Ao fazê-lo, ele reconheceu a inspiração e a 
influência que Liddel havia sido para ele e para todos os 
escoceses desde as Olimpíadas de Paris, em 1924. Foi quando 
Liddel abriu mão de uma grande chance de vencer a prestigiosa 
competição dos 100 metros porque o dia escolhido para a 
corrida conflitava com as suas convicções cristãs, mas acabou 
por bater um recorde em outro dia, ao ganhar a medalha de 
ouro nos 400 metros.
Assim como Wells reconheceu a influência de alguém morto 
havia quase quarenta anos, desejo reconhecer a influência dos 
homens a quem nunca conheci, senão por meio de seus escritos 
e biografias. Foram homens cujos pensamentos e vidas têm 
mudado profundamente a minha forma de viver.
Agradeço aos Puritanos. Nos dias de hoje, eles são 
freqüentemente difamados tanto por cristãos quanto por não- 
cristãos, que muitas vezes pouco ou nada sabem sobre eles. As 
percepções estereotipadas que temos deles revelam falta de 
consciência de suas profundas contribuições à vida espiritual 
e piedosa. Eles são gigantes espirituais em cujos ombros me 
apóio.
Agradeço a Jonathan Edwards, C. H. Spurgeon e Martyn 
Lloyd-Jones. Minha vida e ministério são imensuravelmente 
melhores por causa dos deles.
Também quero demonstrar gratidão àqueles que têm, no 
presente, enriquecido minha vida de maneiras que
8 Agradecimentos
influenciaram este livro diretamente.
Agradeço a Emie Reisinger por sua visão sobre reforma e 
reavivamento, por sua disposição em ajudar um jovem pastor 
a quem não conhece, e pelos livros.
Agradeço a John Armstrong, Jim Elliff e Tom Nettles, pela 
amizade e por me desafiarem a pensar.
Agradeço a J. I. Packer por escrever sobre teologia de forma 
tão clara e por comunicar tão cativantemente o fruto de tantos 
anos de estudo sobre os Puritanos.
Agradeço a Jim Rahtjen por seu entusiasmo genuíno e 
altruísta em relação ao livro e pela grande alegria que é tê-lo 
como companheiro de trabalho.
Agradeço a Beth Mullins pela ajuda na inserção de dados e 
pela assistência em relação a tantos detalhes.
Agradeço a David Larsen pelo seminário doutoral que 
primeiro me impeliu a organizar grande parte deste material.
Agradeço a Roger e Jean Fleming pela amizade e 
encorajamento sem os quais este livro provavelmente não teria 
sido escrito e publicado.
Agradeço a Traci Mullins por ser um editor tão positivo, 
do começo ao fim.
Agradeço à Igreja Batista de Glenfield por orar por mim e 
por me apoiar com amor extra durante todo o processo de 
escrita deste livro.
Agradeço a Caffy, que resistiu pacientemente a tantas coisas 
para que este livro pudesse ser escrito.
Sobreo o A utor
Desde 1995, Don Whitney tem sido professor assistente de 
formação espiritual no Midwestern Baptist Theological 
Seminary em Kansas City, Missouri. Estaé uma posição pio­
neira em um dos seis Seminários Batistas do Sul.
Don cresceu em Osceola, Arkansas, onde veio a crer em 
Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Foi atuante nos esportes 
durante todo ensino médio e faculdade e trabalhou na estação 
de rádio que seu pai gerenciava. Após formar-se na Universi­
dade do Estado do Arkansas, Don planejou terminar a facul­
dade de direito e fazer carreira em locução esportiva. Na Uni­
versidade de Arkansas, durante o curso de Direito, ele sentiu o 
chamado de Deus para o ministério cristão vocacional. Então, 
matriculou-se no Seminário Teológico Batista em Fort Worth, 
Texas, obtendo o grau de Mestre em Divindade, em 1979. Em 
1987, Don concluiu o curso de Doutorado em Ministério na 
Trinity Evangelical Divinity School, em Deerfield, Illinois. An­
tes de ir para a Midwestern, Don foi pastor em na Igreja Batista 
de Glenfield, em Glen Ellyn, Illinois (subúrbio de Chicago) por 
quase quinze anos. Ele é autor de Spiritual Disciplines for the 
Christian Life (Disciplinas Espirituais para a Vida Cristã) e do 
guia de discussão que acompanha a obra (NavPress, 1991), How 
Can I Be Sure I'm a Christian (Como Ter Certeza de que Sou Cris­
tão) (NavPress, 1994) e Spiritual Disciplines Within the Church 
(Disciplinas Espirituais dentro da Igreja) (Moody Press, 1996).
A esposa de Don, Caffy, ministra de seu lar em Kansas City 
como artista e ilustradora freelance. O casal Whitney tem uma 
filha: Laurelen Christiana.
A Vida N unca 
F o i Tranquila
Disciplina é uma daquelas coisas que parecem maravilho­
sas no papel. A idéia de progredir, especialmente na área de 
seu relacionamento com Deus, é altamente motivadora. O pro­
blema é que aplicar a disciplina é difícil. Envolve esforço. A 
disciplina nunca parece se encaixar naturalmente numa agen­
da.
Muitas vezes nos pegamos pensando: "Quando minha vida 
ficar um pouco mais tranqüila, eu vou..." Mas, a esta altura, já 
era para termos aprendido que a vida nunca fica tranqüila. 
Aquilo que desejamos realizar, devemos fazê-lo com a vida 
agitada. Da mesma forma, se pretendemos disciplinar a nós 
mesmos com vistas à piedade, temos de fazê-lo com a vida as­
sim como ela se encontra no momento.
Quer você já tenha tentado, sem conseguir, aplicar as Dis­
ciplinas, quer esteja apenas em busca de um curso de reciclagem 
que traga nova vitalidade a seu relacionamento com Deus, Dis­
ciplinas Espirituais para a Vida Cristã fornecerá a inspiração e a 
orientação de que você irá precisar, bem como o meio e o dese­
jo de prosseguir com êxito.
Após tomar claro o propósito por trás das Disciplinas Es­
pirituais: crescer em piedade, Whitney simplifica o objetivo, 
dividindo-o em partes. "Disciplina sem direção é servidão", 
diz ele. Mas, ao começar a experimentar os frutos da discipli­
na, você se descobrirá apaixonadamente vivo. E ávido por con­
tinuar.
Exercite-se na piedade. 
I Timtóteo 4:7
C A P Í T U L O U M
A s D isciplinas Espirituais... 
Com o Propósito de 
A lcançar a P iedade
♦♦♦
Nossa era é uma era de indisciplina. As disciplinas de outrora 
entraram em colapso... Sobretudo, a disciplina da graça divina, 
tratada como legalismo ou desconhecida por inteiro de uma geração 
que ignora grandemente as Escrituras. Precisamos da austera força 
do caráter cristão que só pode advir da disciplina.
V. Raymond Edman
As Disciplinas da Vida
D isciplina sem direção é servidão.
Imagine Kevin, um menino de seis anos matriculado pelos 
pais numa escola de música. Todas as tardes, depois da escola, 
ele se senta na sala de estar e dedilha sem vontade 1 "Home on 
the range" no violão, enquanto observa seus colegas jogando 
baseball no parque, do outro lado da rua. Isso é disciplina sem 
direção. É servidão.
Agora imagine que, numa tarde, ao estudar violão, Kevin 
receba a visita de um anjo. Na visão, ele é levado ao Camegie 
Hall, onde aparece como um grande concertista. Normalmente 
enfadado com a música clássica, Kevin fica maravilhado com o 
que vê e ouve. Os dedos dos músicos dançam animadamente 
sobre as cordas, com fluidez e graça. Kevin pensa no quanto as 
suas próprias mãos parecem bobas e desajeitadas quando 
tocam, vacilando e tropeçando nas cordas. O concertista
/Is Disciplinas Espirituais 13
combina notas perfeitas, sublimes, em um aroma musical que 
flui de seu violão. Kevin se lembra do som áspero, inexpressivo 
e irritante que, tropegamente, ele produz.
Mas Kevin fica encantado. Sua cabeça pende ligeiramente 
para o lado enquanto ouve e ele absorve tudo com deleite. 
Jamais imaginara que alguém pudesse tocar violão daquela 
forma.
"O que você acha, Kevin?" pergunta o anjo.
A resposta é um brando e lento "U-A-U!", típico de uma 
criança de seis anos.
A visão se dissipa e o anjo se põe novamente diante de Kevin 
em sua sala de estar. "Kevin", diz o anjo, "o músico maravilhoso 
que você viu é você daqui a alguns anos". Então, apontando 
para o violão, o anjo declara: "Mas você tem que estudar!"
De repente, o anjo desaparece e Kevin fica sozinho com 
seu violão. Você acha que a atitude dele em relação à prática 
do instrumento será diferente agora? Contanto que se lembre 
daquilo que ele irá se tomar, a disciplina de Kevin terá direção, 
um objetivo que o conduza ao futuro. Sim, isso envolverá 
esforço, mas certamente não será servidão.
Ao falarem sobre disciplina na vida cristã, muitos crentes 
se sentem como Kevin em relação à prática do violão: é 
disciplina sem direção. A oração pode se tornar servidão. O 
valor prático da meditação nas Escrituras parece incerto. O 
verdadeiro propósito de uma Disciplina como o jejum muitas 
vezes não é claro.
Primeiro, devemos entender o que havemos de ser. Sobre 
os eleitos de Deus, Romanos 8:29 diz: "Pois aqueles que de antemão 
conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de 
seu Filho". O plano eterno de Deus garante que, ao final, todo 
cristão será conformado à semelhança com Cristo. Seremos
14 /4s Disciplinas Espirituais
transformados "quando ele se manifestar" para que "[sejamos] 
semelhantes a ele" (1 João 3:2). Não se trata de uma visão; trata- 
se de você, cristão, daqui a alguns anos.
Assim, por que tanta discussão sobre a disciplina? Se Deus 
predestinou nossa conformidade com Cristo, onde a disciplina 
se encaixa?
Embora Deus vá nos tomar semelhantes a Cristo quando 
Jesus voltar, até lá, Ele pretende que nós desenvolvamos a busca 
de tal semelhança. Não devemos simplesmente esperar pela 
santidade, devemos buscá-la. "Esforcem-se para viver em paz com 
todos e para serem santos", ordena-nos Hebreus 12:14, pois "sem 
santidade ninguém verá o Senhor".
Isso nos leva a fazer a pergunta que deveria ser feita por 
todo cristão: "Como buscar a santidade? Como ser semelhante 
a Jesus Cristo, o Filho de Deus?"
Encontramos uma resposta clara em 1 Timóteo 4:7: 
"Exercite-se na piedade".
O versículo é o tema de todo este livro. Neste capítulo, o 
autor tenta extrair o seu significado e o restante do livro é um 
esforço para aplicá-lo de forma prática. O autor denominará 
"Disciplinas Espirituais" as maneiras escriturísticas de os 
cristãos disciplinarem a si mesmos em obediência ao versículo 
acima. O autor sustenta que o único caminho para a maturidade 
cristã e a Piedade (termo bíblico sinônimo de semelhança com 
Cristo e santidade) passa pela prática das Disciplinas 
Espirituais. Enfatiza que a Piedade é o objetivo das Disciplinas, 
e quando nos lembramos disso, as Disciplinas Espirituais se 
tomam um deleite, e não servidão.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 15
DISCIPLINAS ESPIRITUAIS:
O CAMINHO PARA A PIEDADE
Disciplinas Espirituais são as disciplinas pessoais e 
corporativas que promovem crescimento espiritual. São hábitos 
de devoção e cristianismo experimental que têm sido praticados 
pelo povo de Deus desde os tempos bíblicos.
Este livro examina as seguintes Disciplinas Espirituais: 
absorção bíblica, oração, adoração, evangelismo, serviço, 
mordomia, jejum, silêncio e solidão, anotações (diário) e 
aprendizado.Esta não é, de forma alguma, contudo, uma lista 
exaustiva das Disciplinas da vida cristã. Uma pesquisa feita 
em outra literatura sobre este assunto revelaria que confissão, 
responsabilidade (prestação de contas), simplicidade, 
submissão, direção espiritual, celebração, confirmação, 
sacrifício, "observação" e outras também poderiam ser 
qualificadas como Disciplinas Espirituais.
Qualquer que seja a Disciplina, sua característica mais 
importante será o propósito. Assim como há pouco valor em 
praticar escalas no violão ou no piano separadamente do 
propósito de tocar músicas, há pouco valor na prática das 
Disciplinas Espirituais aparte do único propósito que as une 
(Colossenses 2:20-23, 1 Timóteo 4:8). O propósito é a piedade. 
Portanto, a ordem de 1 Timóteo 4:7 é que nos exercitemos 
(disciplinemos) na "piedade", ou com o propósito de alcançar a 
piedade.
As Disciplinas Espirituais são o meio provido por Deus para 
usarmos em nossa busca, plena do Espírito, da Piedade.
Povo piedoso é povo disciplinado. Sempre foi assim. 
Recorde-se de alguns heróis da história da igreja, como 
Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, John Bunyan,
16 /4s Disciplinas Espirituais
Susanna Wesley, George Whitefield, Lady Huntingdon, 
Jonathan e Sarah Edwards, Charles Spurgeon e George Muller 
- todos eles eram pessoas disciplinadas. Em minha própria 
experiência cristã pastoral e pessoal, posso dizer que nunca 
conheci alguém que tenha chegado à maturidade espiritual sem 
disciplina. A piedade vem pela disciplina.
Na verdade, Deus usa três catalisadores básicos para nos 
mudar e nos conformar à semelhança de Cristo, mas somente 
um pode ser amplamente controlado por nós. Um catalisador 
que o Senhor usa para nos mudar são as pessoas. "Assim como 
o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro" (Provérbios 
27:17). As vezes, Deus usa nossos amigos para tornar-nos 
"afiados" num viver mais semelhante a Cristo, e, às vezes, Ele 
usa nossos inimigos para aparar nossas ásperas e ímpias arestas. 
Pais, filhos, cônjuges, colegas de trabalho, clientes, professores, 
vizinhos, pastores - Deus nos molda por meio deles.
Outro agente de mudança usado por Deus em nossas vidas 
são as circunstâncias. O texto clássico referente a isso é Romanos 
8:28: "Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles 
que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito". 
Pressões financeiras, condições físicas, e até o tempo são usados 
nas mãos da Divina Providência para estimular os Seus eleitos 
à santidade.
Depois vem o catalisador das Disciplinas Espirituais. Este 
catalisador difere dos dois primeiros porque, ao usar as 
Disciplinas, Deus opera de dentro para fora. Quando Ele nos 
muda por meio das pessoas e das circunstâncias, o processo se 
dá de fora para dentro. As Disciplinas Espirituais também 
diferem dos outros dois métodos de mudança porque Deus nos 
concede uma medida de escolha a respeito do envolvimento 
com elas. Nós muitas vezes temos pouca escolha em relação às
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 17
pessoas e circunstâncias que Deus traz a nossas vidas, mas 
podemos decidir, por exemplo, se iremos ler a Bíblia ou jejuar 
hoje.
Assim, por um lado, reconhecemos que mesmo a 
autodisciplina mais ferrenha não nos fará mais santos, pois o 
crescimento em santidade é dom de Deus (João 17:17; 1 
Tessalonicenses 5:23; Hebreus 2:11). Por outro lado, podemos 
fazer algo para favorecer o processo. Deus nos deu as 
Disciplinas Espirituais como meio de receber a Suã» graça e 
crescer em Piedade. Por elas, colocamo-nos diante de Deus para 
que Ele opere em nós.
O Novo Testamento foi escrito originalmente em grego. A 
palavra traduzida por "disciplina" na versão New American 
Standard da Bíblia em inglês é a palavra grega gumnasia, da 
qual derivam as palavras ginásio e ginástica.
Pense nas Disciplinas Espirituais como exercícios 
espirituais. Ir a seu lugar favorito para orar ou tomar notas, 
por exemplo, é como ir à academia e se exercitar em um 
aparelho com pesos. Assim como as disciplinas físicas desse 
tipo promovem a força, as Disciplinas Espirituais também 
promovem a Piedade.
Há duas histórias bíblicas que ilustram outra maneira de 
pensar a respeito do papel das Disciplinas Espirituais. Lucas 
18:35-43 nos conta a história de um mendigo cego chamado 
Bartimeu e seu encontro com Jesus. Sentado à beira da estrada 
próxima a Jericó, Bartimeu percebeu aproximar-se uma 
multidão de número e agitação incomuns. Quando perguntou 
o que estava acontecendo, disseram-lhe que Jesus de Nazaré 
passava por ali. Até mesmo um homem socialmente 
marginalizado como Bartimeu tinha ouvido as incríveis 
histórias de Jesus vindas de todo o Israel durante os últimos
18 As Disciplinas Espirituais
dois ou três anos. Imediatamente, ele começou a gritar: "Jesus, 
filho de Davi, tem misericórdia de mim!" Aqueles que iam à 
frente da procissão, possivelmente homens de elevada posição 
naquele local, sentiram vergonha do comportamento 
perturbador do mendigo e, duramente, mandaram que se 
calasse. Mas ele gritou ainda mais alto: "Filho de Davi, tem 
misericórdia de mim!" Para surpresa de todos, Jesus parou e 
pediu que lhe trouxessem aquele que O chamava. Em resposta 
à fé daquele pobre homem, Jesus, milagrosamente, curou 
Bartimeu de sua cegueira.
A segunda história bíblica encontra-se no parágrafo 
seguinte das Escrituras, Lucas 19:1-10. Trata-se do conhecido 
relato da conversão de Zaqueu, o cobrador de impostos. Talvez 
o fato tenha ocorrido somente alguns minutos após a cura de 
Bartimeu. Por ser de estatura muito baixa, Zaqueu não 
conseguiria ver Jesus em meio à multidão. Então, ele correu 
adiante e subiu em uma figueira brava para poder ver Jesus 
quando Ele passasse por ali. Chegando ao local, Jesus olhou 
para cima, chamou Zaqueu pelo nome e disse a ele que descesse 
da árvore. Os dois seguiram para a casa do cobrador de 
impostos, onde este creu em Cristo para a salvação e decidiu 
doar metade de seus bens aos pobres e devolver com juros todo 
o dinheiro de impostos que, indevidamente, havia tomado para 
si.
Pense nas Disciplinas Espirituais como maneiras de 
podermos nos colocar no caminho da graça de Deus e buscá- 
Lo, assim como Bartimeu e Zaqueu se colocaram no caminho 
de Jesus e O buscaram. Da mesma forma que eles, nós O 
encontraremos disposto a mostrar misericórdia por nós e a ter 
comunhão conosco. Com o passar do tempo, nós seremos 
transformados por Ele de um nível a outro de semelhança com
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 19
Cristo (2 Coríntios 3:18).
As Disciplinas Espirituais também são, portanto, como 
canais da graça transformadora de Deus. Quando nos firmamos 
nelas para buscar comunhão com Cristo, a Sua graça flui até 
nós e somos transformados. É por isso que as Disciplinas devem 
se tomar prioridade para nós se pretendemos ser Piedosos.
Charles Spurgeon, o grande pregador britânico batista do 
século XIX, enfatizou a importância das Disciplinas da seguinte 
maneira: "Devo cuidar, acima de tudo, de cultivar a comunhão com 
Cristo, pois embora ela não possa jamais ser a base de minha paz, 
observe, ainda assim, ela será o canal pelo qual a paz irá fluir".2 As 
Disciplinas Espirituais são os canais da paz e de tudo aquilo 
que Cristo nos concede, que nos leva à santidade.
Tom Landry, treinador do time de futebol americano Dallas 
Cowboys por quase três décadas, disse: "A tarefa de um treinador 
de futebol é fazer com que os jogadores façam aquilo que não desejam 
fazer para alcançar o que sempre quiseram ser".3 Da mesma forma, 
os cristãos são chamados a fazer algo que naturalmente não 
fariam: buscar as Disciplinas Espirituais, a fim de se tomarem 
o que sempre desejaram ser, isto é, semelhantes a Jesus Cristo. 
"Exercite-se", dizem as Escrituras, "na piedade".
AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS - O SENHOR 
ESPERA QUE AS PRATIQUEMOS
A linguagem original das palavras "exercite-se na piedade" 
torna evidente que este é um mandamento de Deus, e não 
simplesmenteuma sugestão. A santidade não é uma opção para 
aqueles que se dizem filhos do Santo (1 Pedro 1:15-16), assim 
como o meio para se atingir a santidade, ou as Disciplinas 
Espirituais, não são uma opção.
20 As Disciplinas Espirituais
O conselho inspirado de Salomão em Provérbios 23:12 é: 
"[Aplique] Dedique à disciplina o seu coração, e os seus ouvidos às 
palavras que dão conhecimento" (NVI). (Embora a disciplina em 
Provérbios normalmente se refira à correção do Senhor, 
versículos como esse se aplicam às Disciplinas Espirituais 
quando percebemos que o Senhor nos disciplina para fazer com 
que disciplinemos a nós mesmos). A idéia relacionada à palavra 
aplicar é a de aplicar um decalque ou adesivo ao pára-brisa ou 
ao pára-choque de um carro. Em outras palavras, o Senhor 
espera que nós adiramos permanentemente às práticas 
devocionais que promovem a Piedade.
A expectativa da espiritualidade disciplinada está implícita 
no convite de Jesus em Mateus 11:29: "Tomai sobre vós o meu 
jugo e aprendei de mim". O mesmo é verdadeiro em seu convite 
ao discipulado: "Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si 
mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me" (Lucas 9:23). 
Esses versículos nos dizem que ser discípulo de Jesus significa 
nada menos do que aprender Dele e segui-Lo. Aprender e seguir 
envolve disciplina, pois pessoas que só aprendem 
acidentalmente e seguem incidentalmente não são verdadeiros 
discípulos. Gálatas 5:22-23, diz que a auto-disciplina espiritual 
(ou "auto-controle") é uma das marcas mais evidentes do que 
é controlado pelo Espírito, confirma que a disciplina está no 
coração do discipulado.
O Senhor Jesus não só espera que pratiquemos as 
Disciplinas, como foi exemplo delas para nós. Ele aplicou Seu 
coração à disciplina e disciplinou-Se com o propósito de 
alcançar a Piedade. Portanto, se pretendemos ser como Cristo, 
devemos viver como Ele viveu.
Esta é a mensagem do livro O Espírito das Disciplinas, de 
Dallas Willard:
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 21
Minha principal alegação é que nós podemos ser como Cristo ao 
fazermos uma coisa: seguindo-O de acordo com o estilo geral de 
vida que ele escolheu para si mesmo. Se temos fé em Cristo, 
devemos crer que ele sabia como viver. Podemos, por fé e graça, 
tornar-mos como Cristo pela prática dos tipos de atividades em 
que ele se envolvia, organizando nossas vidas inteiramente 
conforme as atividades que ele mesmo praticava, a fim de 
perm anecer constantem ente acostum ados / natural na / à 
comunhão de seu P a i.4
Assim, muitos cristãos professos são tão indisciplinados 
espiritualmente, que parecem ter pouco fruto e poder em suas 
vidas. Tenho visto homens e mulheres que se disciplinam com 
o propósito de se destacarem em suas profissões, mas 
disciplinarem-se muito pouco com o propósito de alcançar a 
piedade. Tenho visto cristãos fiéis à igreja de Deus, que 
freqüentemente demonstram entusiasmo genuíno pelas coisas 
de Deus e que amam verdadeiramente a Palavra de Deus, 
banalizarem a sua eficácia para o Reino de Deus por falta de 
disciplina. Espiritualmente, eles são enormes em comprimento, 
mas rasos em profundidade. Não há canais profundos ou muito 
habituais de disciplina de comunhão entre eles e Deus. Eles se 
envolvem em tudo, mas não se disciplinam em nada.
Pense nas pessoas que se esforçam muito para aprender a 
tocar um instrumento, sabendo que adquirir habilidades leva 
anos, que praticam muito para se dar bem no golfe ou para 
melhorar seu desempenho nos esportes, sabendo que tornar- 
se proficiente leva anos, que se disciplinam por toda a carreira 
porque sabem que o sucesso exige sacrifício. As mesmas pessoas 
desistem rapidamente quando descobrem que praticar as 
Disciplinas Espirituais não é fácil, como se tomar-se semelhante 
a Jesus fosse algo que não deveria exigir tanto esforço.
22 /4s Disciplinas Espirituais
Os indisciplinados são como o autor de peças teatrais 
George Kaufman, que estava assistindo pacientemente a uma 
apresentação de um promotor de vendas de uma mina de ouro. 
O vendedor estava elogiando a produtividade da mina com 
esperanças de persuadir Kaufman a comprar ações dela. "Ora, 
a mina é tão rica que é dá para pegar pedaços de ouro no chão".
"Você quer dizer", perguntou Kaufman, "que eu vou ter 
que me abaixar?" 5
O ouro da Piedade não é encontrado na superfície do 
cristianismo. É necessário escavá-lo nas profundezas, com as 
ferramentas das Disciplinas. Mas para aqueles que perseveram, 
os tesouros são mais do que compensadores.
MAIS APLICAÇÃO
Negligenciar as Disciplinas Espirituais é perigoso. Uma 
famosa seleção dos escritos de William Barclay ilustra 
poderosamente o perigo. Tecendo comentários sobre a 
diferença entre a disciplina e a indisciplina, ele escreveu:
Nada jamais foi alcançado sem disciplina; e muitos atletas e 
homens têm sido arruinados por abandonar a disciplina e relaxar. 
Coleridge é a suprema tragédia da indisciplina. Nunca uma mente 
tão grande produziu tão pouco. Ele saiu da Universidade de 
Cambridge para ingressar no exército; mas deixou o exército 
porque, apesar de toda a sua erudição, não conseguia tratar de 
cavalos; ele voltou a Oxford e saiu sem se graduar. Ele lançou um 
jornal chamado The Watchman (O Observador), que sobreviveu a 
dez números e depois foi extinto. Sobre ele disseram: "Ele se 
p erdeu em visões de trabalhos a execu tar, que sem pre 
permaneciam por ser realizados. Coleridge tinha todos os dons 
poéticos, exceto um: o dom do esforço constante e concentrado". 
Em sua cabeça e em sua mente, ele tinha todos os tipos de livros,
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 23
com o ele m esm o dizia, "com pletam ente g u ard ad os para 
transcrição". "Estou prestes a", disse ele, "enviar aos editores dois 
volumes em oitavo". Mas os livros nunca foram compostos fora 
da mente de Coleridge, porque ele não se sujeitava à disciplina 
de sentar-se para escrevê-los. Ninguém jamais atingiu a eminência 
e ninguém que a atingiu conseguiu mantê-la sem disciplina.6
Ao negligenciar as Disciplinas Espirituais, enfrentamos o 
perigo de produzir pouco fruto espiritual. Apenas alguns de 
nós têm o intelecto e os dons poéticos de Coleridge, mas a todos 
os crentes foram dados dons espirituais (1 Coríntios 12:4-7). A 
simples presença dos dons espirituais, porém, não garante uma 
produção abundante de frutos mais do que os dons mentais de 
Coleridge garantiram a produção de poesia. Assim como os 
dons naturais, os dons espirituais precisam ser desenvolvidos 
pela disciplina para que haja produção de frutos espirituais.
Há liberdade no engajamento nas Disciplinas Espirituais. 
A obra Celebration of Discipline (Celebração da Disciplina), de 
Richard Foster, foi o livro mais popular sobre Disciplinas 
Espirituais na última metade do século XX. A grande 
contribuição dessa obra é o lembrete de que as Disciplinas 
Espirituais, a que muitos vêem como restritivas e impositivas, 
são, na verdade, o caminho para a liberdade espiritual. Ele 
chama corretamente as Disciplinas de "Porta da Liberação".
Podemos ilustrar este princípio observando a liberdade que 
vem pelo domínio de qualquer disciplina. Quando vemos os 
violonistas Christopher Parkening ou Chet Atkins tocando, 
temos a impressão de que o instrumento já fazia parte de seus 
corpos quando nasceram. Eles têm tamanha intimidade e 
liberdade com o violão que fazem parecer fácil tocar. Qualquer 
pessoa que já tenha tentado tocar violão percebe que a liberdade 
musical desses mestres resulta de décadas de prática
24 As Disciplinas Espirituais
disciplinada. A liberdade por meio da disciplina é vista não 
somente em músicos proficientes, mas também em atletas bem 
treinados, especialistas em carpintaria, executivos de sucesso, 
estudantes com bom preparo e mães que tão bem administram 
o lar e a família todos os dias.
Elton Trueblood demonstra o relacionamento entre 
disciplina e liberdade ao afirmar:
Não teremos avançado muito em nossas vidas espirituais se aindanão encontramos o paradoxo básico da liberdade...que somos mais 
livres quando estamos sob imposição. Mas nem toda forma de 
imposição será suficiente; o que importa é o caráter do que nos é 
imposto. Aquele que poderia ser um atleta, mas que não está 
disposto a disciplinar o seu corpo com exercícios regulares e 
abstinência, não está livre para se destacar no campo ou na pista. 
A falta de treino nega rigorosamente a ele a liberdade de correr 
com a velocidade e a resistência desejadas. Com vozes em 
uníssono, os gigantes da vida devocional aplicam o mesmo 
princípio à vida como um todo: Disciplina é o preço da liberdade.7
Enquanto Trueblood está certo em chamar a disciplina "o 
preço" da liberdade, Elisabeth Elliot nos lembra que "liberdade 
e disciplina passaram a ser consideradas mutuamente exclusivas, 
quando na verdade a liberdade não é deforma alguma o oposto, mas a 
recompensa final, da disciplina".8 Ao enfatizarmos que a disciplina 
é o preço da liberdade, não nos esqueçamos de que a liberdade 
é a recompensa da disciplina.
O que é a liberdade da Piedade? Pense novamente em 
nossas ilustrações. Por exemplo, um virtuoso do violão, é "livre" 
para tocar um arranjo difícil de Segovia, ao passo que eu não 
sou. Por quê? Por causa dos anos de prática disciplinada que 
ele teve. Semelhantemente, as pessoas que são "livres" para
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 25
citar as Escrituras decoradas são aquelas que disciplinaram a 
si mesmas para memorizar a Palavra de Deus. Nós podemos 
experimentar uma medida de liberdade da insensibilidade 
espiritual por meio da Disciplina do jejum. Uma liberdade do 
egoísmo é encontrada em Disciplinas como adoração, serviço 
e evangelismo. A liberdade da Piedade é a liberdade de fazer o 
que Deus nos chama para fazer por meio das Escrituras e a 
liberdade de expressar as qualidades do caráter de Cristo por 
meio de nossa própria personalidade. Este tipo de liberdade é 
a "recompensa" ou o resultado da bênção de Deus sobre nosso 
engajamento nas Disciplinas Espirituais.
Mas nós temos que nos lembrar que as liberdades totais da 
Piedade nutrida pela disciplina não se desenvolvem da noite 
para o dia ou durante um seminário de fim de semana. A Bíblia 
nos lembra que o autocontrole, tal como aquele expresso por 
meio das Disciplinas Espirituais, deve perseverar antes que o 
fruto maduro da Piedade amadureça. Observe a seqüência de 
desenvolvimento em 2 Pedro 1:6: "ao domínio próprio a 
perseverança; à perseverança a piedade". A Piedade é uma 
busca permanente.
Há um convite para que todos os cristãos desfrutem as 
Disciplinas Espirituais. Todos em quem o Espírito de Deus 
habita são convidados a experimentar a alegria do estilo de 
vida nas Disciplinas Espirituais.
Lembra-se de Kevin e seu violão? Sua prática diária 
assumiria um espírito totalmente novo se ele percebesse aonde 
isso o levaria. A disciplina da prática gradualmente se tomaria 
o caminho para um dos grandes prazeres de sua vida.
Disciplina sem direção é servidão. Mas as Disciplinas 
Espirituais nunca irão significar servidão se nós as praticarmos 
com o objetivo da Piedade em mente. Se sua idéia de cristão
26 As Disciplinas Espirituais
disciplinado é a de um ser robotizado, carrancudo, sisudo e 
sem alegria, então você não entendeu bem o ponto. Jesus foi o 
Homem mais disciplinado que já existiu e, ao mesmo tempo, o 
mais alegre e apaixonadamente vivo. Ele é o nosso Exemplo 
de disciplina. Sigamo-Lo para obter alegria por meio das 
Disciplinas Espirituais.
1 Nota da Tradutora: "Home on the Range" é o hino, em ritmo country, do estado 
norte-americano do Kansas e também um longa-metragem de animação dos 
estúdios Disney.
2 C.H. Spurgeon, "Peace By Believing", em Metropolitan Tabernacle Pulpit 
(Londres: Passmore and Alabaster, 1864; reimpressão, Pasadena, TX: Pilgrim 
Publications, 1970), vol. 9, página 283.
3 Tom Landry, citação de Ray Stedman em Preaching Today (Carol Stream, IL: 
Christianity Today, n.d.), fita número 25.
4 Dallas Willard, O Espírito das Disciplinas (São Francisco, CA: Harper and Row, 
1988), página ix.
5 George Kaufman, citação em The Little, Brown Book of Anecdotes (Boston, M A: Little, 
Brown and Company, 1985, página 321.
6 William Barclay, The Gospel of Matthew (O Evangelho de Mateus) (Filadélfia, PA: 
Westminster, 1958), vol. 1, página 284.
7 Elton Trueblood, citado em Leadership (Liderança), vol. 10, n° 3, verão de 1989, 
página 60.
8 Elisabeth Elliot, citada em Christianity Today (Cristianismo Hoje), 4 de novembro 
de 1988, página 33, ênfase do autor.
C A P Í T U L O D O I S
A b so rçã o B íb lica a* partek. 
Com o P ro p ó sito d e 
A lc a n ç a r a P ied a d e 
♦♦♦ ♦♦♦ ♦♦♦
A alternativa à disciplina é o desastre.
Vance Havner
Citação em John Balnchard, compilador,
"More Gathered Gold" (Juntando Mais Ouro)
E m agosto de 1989, tive o privilégio de participar de uma 
viagem missionária para o sertão do leste africano. Éramos 
quatro, eu e três membros da igreja que pastoreio, dormindo 
em tendas em frente ao prédio da minúscula igreja inacabada, 
de pau-a-pique, a quase dez quilômetros do acampamento mais 
próximo.
Eu já havia estado em outros países o suficiente para saber 
que muitos hábitos que passei a identificar com o cristianismo 
conflitam em alguns pontos com a cultura de nossos anfitriões. 
Minha experiência me ensinou a prever ter que engolir com 
dificuldade algumas de minhas expectativas americanas (isso 
sem falar em algumas outras coisinhas!) sobre como os cristãos 
devem viver. Mas eu estava despreparado para alguns dos 
encontros que tive com muitos cristãos professos daquele 
cenário equatorial. Mentira, roubo e imoralidade eram práticas 
comuns e normalmente aceitas, até entre a liderança da igreja. 
Ali, o conhecimento teológico era escasso como a água e a 
doença do erro doutrinário, tão comum quanto a malária.
28 Absorção Bíblica (Parte 1)
Logo descobri uma das principais razões para aquela igreja 
parecer ter sido fundada por missionários de Corinto. Ninguém 
tinha Bíblia, nem o pastor, nem o diácono, ninguém. O pastor 
possuía apenas uma meia dúzia de sermões, todos meio- 
preparados sobre as brasas de algumas recordações de histórias 
bíblicas. A cada seis semanas, o mesmo sermão se repetia. O 
único verdadeiro contato com as Escrituras acontecia com a 
visita ocasional de um missionário (o mais próximo ficava a 
mais de cem quilômetros dali) ou quando algum obreiro 
denominacional da área pregasse. Para quase todos da igreja, 
essas pinceladas infreqüentes e substitutivas da Bíblia eram 
tudo o que sabiam. Somente um homem apresentava alguma 
medida de maturidade espiritual, e isso porque ele havia 
morado a maior parte de sua vida em outros lugares e 
freqüentado uma igreja que ensinava a Bíblia.
Nós quatro reunimos os recursos que tínhamos e 
compramos Bíblias baratas para vários membros da igreja. Após 
visitas evangelísticas a cada dia, conduzíamos estudos bíblicos 
para a igreja à tarde e novamente à noite, à luz de lanternas. 
Saímos dali orando para que o Espírito Santo fizesse com que a 
Palavra de Deus criasse profundas raízes naquele ajuntamento 
árido e sertanejo.
A maioria de nós chacoalha a cabeça de dó diante de 
condições tristes assim. E difícil imaginar que há mais Bíblias 
nos lares de muitos de nós do que em certas igrejas inteiras do 
Terceiro-Mundo. Mas uma coisa é desconhecer as Escrituras 
por não possuir a Bíblia; outra é desconhecê-la quando se tem 
uma estante cheia delas.
Nenhuma Disciplina Espiritual é mais importante do que 
a absorção da Palavra de Deus. Nada pode substituí-la. 
Simplesmente não pode haver cristão saudável aparte de uma
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 29
dieta de leite e came das Escrituras, e as razões para isso são 
óbvias. Na Bíblia, Deus nos fala sobre Si mesmo, e especialmente 
sobre Jesus Cristo, a encarnação de Deus. A Bíblia revela a Lei 
de Deus para nós e mostra como todos a infringimos. Nela, 
descobrimos como Cristo morreu comoSubstituto, voluntário 
e sem pecado, daqueles que infringem a Lei de Deus, e como 
devemos nos arrepender e crer Nele para sermos justos diante 
de Deus. Na Bíblia, aprendemos os caminhos e a vontade do 
Senhor. Nas Escrituras, descobrimos como viver de maneira 
agradável a Deus e também melhor e mais satisfatória para 
nós mesmos. Nenhuma dessas informações eternamente 
essenciais pode ser encontrada em qualquer outro lugar, exceto 
na Bíblia. Portanto, se pretendemos conhecer a Deus e ser 
Piedosos, devemos conhecer a Palavra de Deus intimamente.
Contudo, muitos que já o sabem muito bem e fazem sinal 
afirmativo com a cabeça em concordância com essas declarações 
não gastam mais tempo com a Palavra de Deus num dia típico, 
do que aqueles que nem possuem a Bíblia. Minha experiência 
pastoral é testemunha da validade de pesquisas que 
freqüentemente revelam que um grande número de cristãos 
professos conhece pouco mais da Bíblia do que cristãos do 
Terceiro-Mundo, os quais não possuem nem mesmo uma 
pequena parte das Escrituras.
Alguém comentou que a pior tempestade de poeira da 
história aconteceria se todos os membros da igreja que 
estivessem negligenciando suas Bíblias tirassem a poeira delas 
ao mesmo tempo.
Assim, mesmo que honremos a Palavra de Deus com nossos 
lábios, devemos confessar que nossos corações, bem como 
nossas mãos, ouvidos, olhos e mentes, muitas vezes estão longe 
dela. Independentemente de quão ocupados nos tornemos com
30 Absorção Bíblica (Parte 1)
tantas coisas, cristão, devemos nos lembrar de que a prática 
mais transformadora disponível a nós é a absorção disciplinada 
das Escrituras.
A absorção bíblica não só é a Disciplina Espiritual mais 
importante, como também a mais ampla. Na verdade, ela 
consiste em várias subdisciplinas. Seria como uma 
universidade, que é composta de muitas faculdades, cada qual 
especializada em uma disciplina diferente, porém, todas unidas 
sob o nome geral da universidade.
Examinemos as "faculdades", ou subdisciplinas, da 
absorção bíblica, desde a menos até a mais difícil.
OUVINDO A PALAVRA DE DEUS
A mais fácil das Disciplinas relacionadas à absorção da 
Palavra de Deus é simplesmente ouvi-la. Por que considerar 
esta uma Disciplina? Porque se não disciplinarmos a nós mesmo 
para ouvir a Palavra de Deus regularmente, poderemos ouvi- 
la apenas acidentalmente, só quando tivermos vontade de ouvir, 
ou podemos jamais ouvi-la. Para a maioria de nós, disciplinar- 
se a si mesmo para ouvir a Palavra de Deus significa 
desenvolver a prática de freqüentar firmemente uma igreja neo- 
testamentária onde a Palavra de Deus seja pregada com 
fidelidade.
Jesus disse uma vez: "Antes, bem-aventurados são os que ouvem 
a palavra de Deus e a guardam!" (Lucas 11:28). Não se trata 
simplesmente de ouvir as palavras inspiradas por Deus. O 
propósito de todos os métodos de absorção da Bíblia é a 
obediência ao que Deus diz e o desenvolvimento de semelhança 
com Cristo. Mas o método que Jesus encoraja neste versículo é 
ouvir a Palavra de Deus.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 31
Outra passagem que enfatiza a importância de ouvir é 
Romanos 10:17: "E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela 
palavra de Cristo". Isso não significa que alguém possa vir a ter 
fé em Cristo tão-somente por ouvir as Escrituras, pois multidões 
de pessoas têm se tornado crentes como Jonathan Edwards, 
por meio da leitura da Bíblia. Mas este versículo fala sobre ouvir. 
Podemos acrescentar, contudo, que a maioria que, como 
Edwards, foi convertida ao ler as Escrituras, também são como 
ele, pois ouviram a proclamação da Palavra de Deus antes da 
conversão. Além disso, enquanto esta passagem ensina que a 
fé inicial em Cristo vem de ouvir a Palavra inspirada sobre Jesus 
Cristo, também é verdade para os cristãos que muito da fé que 
precisamos para a vida diária vem de ouvir a mensagem bíblica. 
De uma palavra escriturística sobre a provisão de Deus pode 
vir a fé que uma família com problemas financeiros precisa. 
Ouvir um sermão baseado na Bíblia sobre o amor de Cristo 
pode ser o meio de Deus para conceder segurança de fé a um 
crente abatido. Recentemente, ouvi uma mensagem gravada 
em fita que o Senhor usou para me conceder a fé para perseverar 
em determinado assunto. Dons de fé são muitas vezes 
concedidos àqueles que se disciplinam em ouvir a Palavra de 
Deus.
Há outras formas de nos disciplinarmos para ouvir a 
Palavra de Deus, além da mais importante que é ouvi-la pregada 
como parte do ministério de uma igreja local. (Digo isto 
percebendo que alguns não têm oportunidade de ouvir a 
Palavra de Deus por meio do ministério de uma igreja local.) A 
mais óbvia delas é por rádios e fitas cristãos. Tais recursos 
podem ser usados de modo criativo, enquanto nos vestimos, 
cozinhamos, viajamos etc. Se nenhum desses meios estiver 
disponível em sua área, considere os rádios de ondas curtas e
32 Absorção Bíblica (Parte 1)
as bibliotecas de empréstimo de fitas por pedido postal. Embora 
o rádio de ondas curtas seja comum fora dos Estados Unidos, a 
maioria dos americanos não tem um e raramente pensam nesse 
meio. Mas a maioria dos melhores professores da Bíblia das 
estações tradicionais de AM e FM dos Estados Unidos também 
pode ser ouvida praticamente em qualquer lugar do mundo 
(inclusive nos Estados Unidos) nas poderosas, sem sinal de 
qualidade inferior, estações de ondas curtas. E há várias 
bibliotecas de empréstimos de fitas em todo o país, cada qual 
com milhares de sermões gravados. Normalmente, elas exigem 
pagamento somente para cobrir despesas com frete ou uma 
taxa de aluguel nominal por fita. Verifique os anúncios 
classificados de publicações cristãs, entre em contato com o 
escritório de ministérios que distribui fitas-cassete, ou verifique, 
junto às várias igrejas locais, os nomes e endereços de algumas 
dessas bibliotecas de fitas.
Um outro texto digno de nota sobre o assunto é 1 Timóteo 
4:13, onde o Apóstolo Paulo instrui a seu jovem amigo no 
ministério: "Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da 
Escritura, à exortação e ao ensino". Embora muitas outras 
explicações pudessem ser dadas, é suficiente dizer que era 
importante para o ministério de Paulo e importante para o 
Senhor, que inspirou tais palavras, para o povo de Deus ouvir 
a Palavra de Deus. Já que é assim, deve se tornar uma 
prioridade disciplinada para nós ouvi-la. Se alguém diz: "Não 
preciso ir à igreja para adorar a Deus; posso adorá-Lo 
igualmente ou até melhor do que na igreja estando no campo 
de golfe ou no lago", podemos concordar que Deus pode ser 
adorado nesses locais. Mas a adoração contínua de Deus não 
pode se dar aparte da Palavra de Deus. Devemos nos disciplinar 
para ir e ouvir a Palavra de Deus.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 33
Um comentário se faz apropriado aqui sobre nos 
prepararmos para ouvir a Palavra de Deus. Se você entrar numa 
igreja evangélica típica dois minutos antes de o culto começar, 
vai parecer que você entrou num estádio dois minutos antes 
do jogo de futebol. Parte de meu coração pastoral aprecia as 
boas coisas representadas pelas pessoas que ficam felizes em 
ver e falar umas com as outras. Há um espírito de reunião de 
família no ar quando a família de Deus se reúne. Contudo, acho 
que uma parte maior de meu coração anseia por reverência e 
espírito de busca de Deus dentre aqueles que vêm para ouvir a 
Sua Palavra.
Por um tempo, uma congregação de cristãos coreanos usou 
o prédio de nossa igreja para realizar os cultos do meio da 
semana. Eu ficava impressionado com a maneira como eles 
entravam no centro de adoração. Quer fossem os primeiros a 
chegar ou chegassem após o culto já ter começado, eles 
imediatamente se prostravam em oração por vários momentos 
antes de ajeitar seus pertences, desabotoar o casaco ou 
reconhecer a presença de qualquer outra pessoa. Isso servia 
como um efetivo lembrete a seus próprios corações e a todos 
os demais, sobre o principal propósito daquele tempo. A maioriadas igrejas que conheço bem poderia ter mais momentos assim.
Em 1648, Jeremiah Burroughs, um puritano inglês, escreveu 
as seguintes palavras de conselho a respeito da preparação para 
a disciplina de ouvir a Palavra de Deus:
Primeiro, quando se ouve a Palavra, para santificar o nome de 
Deus, você deve possuir/encher sua alma com o que vai ouvir. 
Isto é, o que você vai ouvir é a Palavra de D eus...A ssim , 
percebemos que o Apóstolo, ao escrever para os Tessalonicenses, 
fornece o motivo pelo qual a Palavra fazia tanto bem a eles: é que 
eles realmente a ouviam como a Palavra de Deus. "Também
34 Absorção Bíblica (Parte 1)
agradecemos a Deus sem cessar o fato de que, ao receberem de nossa 
parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram, não como palavra de homens, 
mas conforme ela verdadeiramente é, como palavra de Deus" (1 
Tessalonicenses 2:13). 1
Assim, ouvir a Palavra de Deus não é apenas ouvir 
passivamente, mas sim, uma Disciplina a ser cultivada.
LENDO A PALAVRA DE DEUS
Se você ainda duvida que os cristãos precisam ser exortados 
a se disciplinarem para ler a Bíblia, considere o seguinte: "Uma 
pesquisa do jornal USA Today revelou, apenas três meses antes deste 
livro ser publicado, que somente 11% dos americanos lêem a Bíblia 
todos os dias. Mais de metade a lê menos de uma vez por mês ou 
simplesmente não a lê" .2
Evidentemente, tentamos nos consolar observando que a 
pesquisa inclui todos os americanos, não somente cristãos 
professos. Lamentavelmente, pode-se encontrar pouco consolo. 
Uma pesquisa realizada menos de um ano antes pelo grupo de 
pesquisa Barna, dentre aqueles que se diziam ser "cristãos 
nascidos de novo" revelou os seguintes números 
desalentadores: somente 18%, menos de dois a cada dez, lê a 
Bíblia diariamente. Pior de tudo, 23%, quase um entre quatro 
cristãos professos, diz que nunca lê a Palavra de Deus.3 
Considere estas estatísticas à luz de 1 Timóteo 4:7: "Exercite-se 
na piedade" (NVI).
Jesus muitas vezes fazia perguntas a respeito do 
entendimento do povo sobre as Escrituras, começando com as 
palavras: "Vocês não leram...?" Ele presumia que aqueles que 
diziam ser o povo de Deus tinham lido a Palavra de Deus. E há 
boas razões para se dizer que esta pergunta implica
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 35
familiaridade com toda a Palavra de Deus.
Quando Jesus disse: "Nem só de pão viverá o homem, mas de 
toda palavra que procede da boca de Deus " (Mateus 4:4), certamente 
Ele pretendia, no mínimo, que lêssemos "cada palavra".
Uma vez que "toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para 
o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na 
justiça" (2 Timóteo 3:16), não é certo que deveríamos lê-la?
Apocalipse 1:3 nos diz: "Feliz aquele que lê as palavras desta 
profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela está escrito, 
porque o tempo está próximo". Deus promete que aqueles que 
lêem e observam a Sua Palavra serão abençoados. Mas apenas 
aqueles que se disciplinam a fazê-lo receberão tais bênçãos.
A principal razão, lembre-se, para nos disciplinarmos é a 
Piedade. Aprendemos que as Disciplinas Espirituais são 
caminhos escriturísticos em que podemos esperar encontrar a 
graça transformadora de Deus. A Disciplina mais crucial é a 
absorção da Palavra de Deus. Uma pesquisa realizada em 1980 
por Christianity Today e Gallup Poli confirmou isto ao concluir 
que nenhum fator influencia mais a formação do 
comportamento moral e social de uma pessoa do que a leitura 
regular da Bíblia.4 Se você deseja ser mudado, se você quer se 
tomar mais semelhante a Jesus Cristo, discipline-se na leitura 
da Bíblia.
Com que freqüência nós a lemos? O pregador britânico John 
Blanchard, em seu livro How to Enjoy Your Bible ("Como 
Desfrutar Sua Bíblia"), escreveu:
Certamente nós só temos que ser realistas e honestos conosco 
mesmos em saber com que regularidade precisamos nos voltar 
para a Bíblia. Com que freqüência enfrentamos problemas, 
tentações e pressão? Todos os dias! Assim , quantas vezes 
precisamos de instrução, orientação e mais encorajamento? Todos
36 Absorção Bíblica (Parte 1)
os dias! Reunindo todas essas necessidades em algo ainda maior, 
quantas vezes precisamos ver a face de Deus, ouvir a sua voz, 
conhecer o seu poder? A resposta a todas essas perguntas é a 
mesma: todos os dias! Como colocou o evangelista americano D. 
L. Moody: "Assim como um homem não consegue comer o 
suficiente para seis meses, ou inspirar de uma vez ar bastante 
para encher seus pulmões e mantê-lo vivo por uma semana, ele 
também não consegue armazenar graça para o futuro". Devemos 
fazer uso do suprimento ilimitado de graça um dia após o outro, 
conforme necessitamos dela.5
A seguir, são mencionadas as três sugestões mais práticas 
para se obter sucesso consistente na leitura da Bíblia. Primeira: 
encontre tempo. Talvez uma das principais razões pelas quais 
os cristãos nunca lêem a Bíblia toda seja o desânimo. A maioria 
das pessoas nunca leu um livro de mil páginas antes e desanima 
só de ver o volume da Bíblia. Você notou que as gravações de 
leitura bíblica nunca provaram que é possível ler a Bíblia toda 
em setenta e uma horas? Em média, os americanos gastam esse 
mesmo tempo vendo televisão em menos de duas semanas. 
Em quinze minutos por dia, não mais, é possível ler a Bíblia 
toda em menos de um ano. Somente cinco minutos por dia é o 
suficiente para você ler toda a Bíblia em menos de três anos. 
Contudo, a maioria dos cristãos nunca leu a Bíblia inteira em 
suas vidas. Assim, voltamos à idéia de que é essencialmente 
uma questão de disciplina e motivação.
Discipline-se para encontrar tempo. Tente reservar sempre 
o mesmo período todos os dias. Procure separar um tempo que 
não seja apenas aquele antes de dormir. É válido ler a Bíblia 
antes de adormecer, mas se este for o único tempo em que você 
lê as Escrituras, você deverá encontrar outro. Há ao menos duas 
razões para isso. Primeira, você irá reter muito pouco do que
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 37
leu estando tão cansado e sonolento. Segunda, se for como eu, 
você provavelmente fará muito pouco mal durante seu sono. 
Você precisa encontrar Cristo nas Escrituras quando isso ainda 
possa ter um impacto em seu dia.
A segunda sugestão prática é ter um plano de leitura bíblica. 
Não é de admirar que as pessoas que simplesmente abrem a 
Bíblia ao acaso todos os dias logo deixem a disciplina. Há planos 
de leitura bíblica baratos disponíveis em todas as livrarias 
cristãs. Muitas Bíblias de estudo contêm um programa de leitura 
em algum lugar entre as suas páginas. A maioria das igrejas 
locais também fornece guias de leitura diária.
Aparte de um plano específico, ao ler três capítulos todos 
os dias e cinco aos domingos, você cobrirá toda a Bíblia em um 
ano. Leia três do Antigo Testamento e três do Novo Testamento 
todos os dias, e terá lido o Antigo Testamento uma vez e o Novo 
Testamento quatro vezes num período de doze meses.
Meu plano favorito envolve a leitura diária de cinco partes 
diferentes da Bíblia. Começo em Gênesis (a Lei), Josué 
(História), Jó (Poesia), Isaías (Profetas) e Mateus (Novo 
Testamento) e leio um número igual de capítulos de cada seção. 
Uma variação deste plano é a leitura diária de três partes, 
começando em Gênesis, Jó e Mateus, respectivamente. As três 
seções têm extensão praticamente igual, assim, pode-se terminá- 
las ao mesmo tempo. A grande vantagem desse tipo de plano é 
a variedade. Muitas pessoas que pretendem ler a Bíblia toda 
em sua seqüência ficam confusas em Levítico, desanimam em 
Números e desistem completamente em Deuteronômio. Mas 
quando lemos partes variadas todos os dias, fica mais fácil 
manter o ritmo.
Mesmo que você não leia a Bíblia toda em um ano, 
mantenha um registro de quais livros foram lidos. Ponha uma
38 Absorção Bíblica (Parte í)
marca ao lado do capítulo que ler ou do título do livro, no índice, 
ao concluir sua leitura. Assim, independentemente de quanto 
tempo leve, ou da ordem em queeles forem lidos, você saberá 
quando leu todos os livros da Bíblia.
A terceira sugestão é escolher ao menos uma palavra, frase 
ou versículo para meditar todas as vezes que você ler. Falaremos 
mais sobre meditação no próximo capítulo, mas você deve 
admitir agora que sem meditação você pode fechar a Bíblia e 
não ser capaz de se lembrar de uma única coisa que leu. E se 
isso acontecer, é provável que a sua leitura bíblica não produza 
mudança em você. Até com um bom plano, ela pode se tomar 
um afazer mundano em vez de uma Disciplina de alegria. 
Considere ao menos uma coisa que você leu e pense 
profundamente sobre ela por alguns momentos. Sua visão nas 
Escrituras irá se aprofundar e você entenderá melhor como elas 
se aplicam à sua vida. E quanto mais você aplicar a verdade 
das Escrituras, mais você se tomará semelhante a Jesus.
Todos nós devemos ter a mesma paixão pela leitura da 
Palavra de Deus que o homem da história a seguir. O evangelista 
Robert L. Sumner, em seu livro The Wonder of the Word of God 
("A Maravilha da Palavra de Deus"), fala sobre um homem na 
cidade de Kansas que foi gravemente ferido em uma explosão. 
Seu rosto ficou bastante desfigurado e ele perdeu a visão e 
ambas as mãos. Ele acabara de se tornar cristão quando o 
acidente aconteceu, e uma de suas maiores decepções foi que 
ele não mais poderia ler a Bíblia. Então, ele soube de uma 
senhora na Inglaterra que lia braile com os lábios. Esperando 
poder fazer o mesmo que ela, ele encomendou alguns livros da 
Bíblia em braile. Mas descobriu que os terminais nervosos de 
seus lábios haviam sido lesados demais para distinguirem os 
caracteres. Um dia, ao levar uma das páginas em braile aos
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 39
lábios, sua língua tocou alguns caracteres em relevo e ele pôde 
senti-los. Como um flash, ele pensou: "Consigo ler a Bíblia com 
a língua". Na época em que o livro de Robert Sumner foi escrito, 
o homem havia lido a Bíblia toda por quatro vezes.6 Se ele foi 
capaz disso, será que você consegue se disciplinar para ler a 
Bíblia?
ESTUDANDO A PALAVRA DE DEUS
Se ler a Bíblia pode ser comparado a cruzar um lago límpido 
e brilhante em um barco a motor, estudar a Bíblia é como cruzar 
lentamente o mesmo lago em um barco com fundo de vidro.
A travessia no barco a motor fornece uma visão geral do 
lago e uma percepção rápida e passageira de sua profundidade. 
O barco com fundo de vidro do estudo, entretanto, o leva abaixo 
da superfície das Escrituras para uma observação serena da 
clareza e dos detalhes que normalmente aqueles que 
simplesmente lêem o texto deixam de perceber. Como o autor 
Jerry Bridges coloca: "A leitura nos dá amplitude de vista, mas o 
estudo nos dá profundidade".7
Vejamos três exemplos do coração voltado ao estudo da 
palavra de Deus. O primeiro é Esdras, personagem do Antigo 
Testamento: "Porque Esdras tinha disposto o coração para buscar a 
Lei do SENHOR, e para a cumprir, e para ensinar em Israel os seus 
estatutos e os seus juízos" (Esdras 7:10). Há um significado 
instrutivo na seqüência deste versículo. Esdras (1) "tinha 
decidido dedicar-se", (2) "a estudar a Lei do SENHOR", (3) "e 
a praticá-la", (4) " e a ensinar os seus decretos e mandamentos 
aos israelitas". Antes de ensinar a Palavra de Deus ao povo de 
Deus, ele praticou o que aprendeu. Mas o aprendizado de 
Esdras veio do estudo das Escrituras. Antes de estudar, contudo,
40 Absorção Bíblica (Parte 1)
ele primeiro "tinha decidido dedicar-se" ao estudo. Em outras 
palavras, Esdras disciplinou-se no estudo da Palavra de Deus.
Um segundo exemplo é encontrado em Atos 17:11. Os 
missionários Paulo e Silas mal haviam escapado vivos de 
Tessalônica após obterem êxito no trabalho evangelístico que 
provocara ciúmes nos judeus do local. Quando eles repetiram 
o mesmo curso de ação em Beréia, os judeus dali reagiram de 
forma diferente: "Os bereanos eram mais nobres do que os 
tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, 
examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim 
mesmo". De acordo com o versículo seguinte, o resultado foi: 
"E creram muitos dentre os judeus". Aqui, a disposição de 
examinar as Escrituras é considerada como caráter nobre.
Meu exemplo favorito de coração voltado ao estudo da 
verdade de Deus está em 2 Timóteo 4:13. Da prisão, o Apóstolo 
Paulo escreve o capítulo final de sua última epístola do Novo 
Testamento. Antecipando a vinda de seu amigo mais jovem 
Timóteo, ele escreve: "Quando vieres, traze a capa que deixei em 
Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os 
pergam inhosE quase certo que os pergaminhos e livros que 
Paulo pede incluíam cópias das Escrituras. Naquele 
confinamento frio e miserável, o piedoso apóstolo pedia duas 
coisas: a capa para usar, a fim de que seu corpo pudesse ser 
aquecido, e a Palavra de Deus para estudar, a fim de que sua 
mente e coração pudessem ser aquecidos. Paulo havia visto os 
Céus (2 Coríntios 12:1-6) e o Cristo ressurreto (Atos 9:5), havia 
experimentado o poder do Espírito Santo em milagres (Atos 
14:10) e até para escrever as Sagradas Escrituras (2 Pedro 3:16); 
entretanto, continuou a estudar a Palavra de Deus até morrer. 
Se Paulo precisava, certamente você e eu precisamos e devemos 
nos disciplinar para fazer isso.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 41
Então, por que não o fazemos? Por que tantos cristãos 
negligenciam o estudo da Palavra de Deus? R. C. Sproul o disse 
dolorosamente bem: "Eis, então, o verdadeiro problema de 
nossa negligência. Não cumprimos nossa obrigação de estudar 
a Palavra de Deus nem tanto por ela ser difícil de entender e 
nem tanto porque estudá-la seja tedioso e enfadonho, mas 
porque dá trabalho. O problema é que somos preguiçosos".8
Além de preguiça, parte do problema para alguns pode 
ser insegurança em relação a como estudar a Bíblia ou mesmo 
por onde começar. Na verdade, começar não é tão difícil. A 
diferença básica entre leitura bíblica e estudo bíblico é 
simplesmente um lápis e um pedaço de papel. Ao ler, escreva 
observações sobre o texto e registre as perguntas que vêm a 
sua mente. Se sua Bíblia tiver referências cruzadas, procure 
aquelas que se relacionam com os versículos que instigam suas 
perguntas, depois registre suas idéias. (Se você não souber bem 
o que são referências cruzadas ou como usá-las, pergunte a seu 
pastor ou a outro cristão maduro.) Encontre uma palavra-chave 
em sua leitura e use a concordância que se encontra no final da 
maioria das Bíblias para rever as outras referências onde a 
palavra é usada e observe novamente suas descobertas. Outra 
maneira de começar é resumir um capítulo, parágrafo por 
parágrafo. Quando terminar o capítulo, vá para o próximo até 
que tenha resumido o livro todo. Em pouco tempo, seu 
entendimento de uma determinada parte das Escrituras será 
muito mais profundo do que o que você obteve somente pela 
leitura.
Ao avançar no estudo do Livro de Deus, você perceberá o 
valor dos vários estudos em profundidade, como o de palavras, 
de personagens, tópicos e de livros. Você descobrirá uma nova 
riqueza nas Escrituras ao entender melhor como a gramática, a
42 Absorção Bíblica (Parte 1)
história, a cultura e a geografia que cercam um texto afetam a 
sua interpretação.
Não deixe que o senso de impropriedade o prive do prazer 
de aprender a Bíblia por si mesmo. Há livros, grossos e finos, 
em abundância sobre como estudar a Bíblia. Eles podem 
fornecer mais orientação sobre métodos e recursos do que eu 
neste capítulo. Não se contente apenas com o alimento espiritual 
que foi "pré-digerido" por outras pessoas. Experimente a 
alegria de descobrir as visões bíblicas em primeira mão por 
meio de seu próprio estudo bíblico!
MAIS APLICAÇÃO
Se seu crescimento em Piedade fosse medido pela qualidade 
de sua absorção bíblica, qual seria o resultado? Essa é uma 
pergunta importante, pois a verdade é que seu crescimento em 
Piedade é grandemente afetado pela qualidade de sua absorção 
bíblica. EmSua magnificente oração Sacerdotal de João 17, Jesus 
pediu isto ao Pai por nós: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é 
a verdade" (João 17:17). O plano de Deus para nos santificar, 
isto é, para nos tomar santos e Piedosos, é realizado por meio 
da "verdade": a Sua Palavra. Se nós nos contentamos com uma 
absorção de baixa qualidade ouvindo, lendo e estudando a 
Palavra de Deus, restringimos gravemente o principal fluxo da 
graça santificadora de Deus a nós.
Como eu digo, percebo que seria fácil causar sentimento 
de culpa em todos nós (inclusive em mim) pelas falhas do 
passado a respeito da absorção da Palavra de Deus. Sobretudo, 
lembre-se de que a porta do Céu está aberta para nós não pelas 
obras que praticamos (como a absorção da Palavra de Deus), 
mas pela obra de Deus em Jesus Cristo. Além disso, apliquemos
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 43
a mensagem de Filipenses 3:13 a qualquer inconsistência 
anterior com a absorção bíblica, "esquecendo das coisas que ficaram 
para trás e avançando para as que estão adiante" nesta área.
Isso nos leva a uma pergunta final de aplicação.
O que você pode fazer para melhorar sua absorção da 
Palavra de Deus? Amenos que providencialmente impedido a 
tal, unir-se a um grupo de crentes com quem você se identifique 
para ouvir a Palavra de Deus pregada todas as semanas deve 
ser o mínimo.
Muitas igrejas que crêem na Bíblia oferecem mais de uma 
oportunidade semanal para se ouvir a Palavra de Deus. Pode 
ser que você deseje considerar a aquisição de gravações da 
Bíblia, sermões ou exposição bíblica no rádio como opções para 
ouvir mais da Palavra de Deus. Estabeleça objetivos de tentar 
honestamente ler a Bíblia todos os dias e concluir o Livro todo. 
Também há livros de atividades e guias de estudo sobre todos 
os livros da Bíblia e centenas de tópicos disponíveis nas livrarias 
cristãs. Além de começar individualmente, junte-se a um grupo 
de estudo bíblico em sua igreja ou comunidade ou até mesmo 
comece um estudo em grupo.
Independentemente do meio escolhido, discipline-se na 
Piedade comprometendo-se com pelo menos uma maneira de 
melhorar sua absorção da santa Palavra de Deus. Pois aqueles 
que usam pouco suas Bíblias na verdade não se saem muito 
melhor do que aqueles que não a usam nunca.
Finalizaremos este capítulo com uma substancial palavra 
de encorajamento, extraída do útil livreto chamado Reading the 
Bible ("Lendo a Bíblia"), de um pastor galês chamado Geoffrey 
Thomas. No texto abaixo, sempre que a expressão ler a Bíblia 
for mencionada, pense também em ouvir e estudar.
44 Absorção Bíblica (Parte 1)
Não espere dominar a Bíblia em um dia, um mês ou um ano. 
Espere, sim, ficar muitas vezes confuso com seu conteúdo, que 
não é todo igualm ente claro. G randes hom ens de D eus 
freqüentemente se sentem absolutamente novatos ao lerem a 
Palavra. O apóstolo Pedro disse que havia algumas coisas difíceis 
de se entender nas epístolas de Paulo (2 Pedro 3:16). Fico feliz 
que ele tenha escrito essas palavras porque eu pensei o mesmo 
várias vezes. Assim , não espere obter sem pre um a carga 
emocional ou sentir paz alentadora ao ler a Bíblia. Pela graça de 
Deus, você pode esperar que isso seja uma experiência freqüente, 
mas muitas vezes você não obterá reação emocional alguma. Deixe 
a Palavra transbordar em seu coração e mente vez após vez 
enquanto os anos passam, e imperceptivelmente, virão grandes 
m udanças em sua atitude, ponto de vista e conduta. Você 
provavelmente será o último a reconhecê-las. Muitas vezes você 
se sentirá tão pequeno, minúsculo, porque cada vez mais o Deus 
da Bíblia se tomará maravilhosamente grande para você. Assim, 
continue a lê-la até não poder mais, e daí você não precisará mais 
da Bíblia, porque quando seus olhos se fecharem pela última vez, 
em sua m orte, e nunca mais lerem a Palavra de Deus nas 
Escrituras, você irá abri-los para a Palavra de Deus em carne, o 
mesmo Jesus da Bíblia, a quem você conheceu por tanto tempo, 
bem diante de você para levá-lo para sempre a Seu lar eternal.9
1 Peter Lewis, The Genius of Puritanism ("O Caráter do Puritanismo") (Haywards 
Heath, Sussex, Inglaterra: Carey Publications, 1979), página 54.
2 Princeton Religious Research Center, 100 Questions and Answers: Religion in America 
("Cem perguntas: A Religião nos Estados Unidos") (1989), citação em USA Today, 
I o de fevereiro de 1990.
3 Bookstore journal, citação em Discipleship Journal ("Jornal do Discipulado"), edição 
52, página 10.
4 Harold O.J. Brown, "What's the Connection Between Faith and and Works?" ("Qual 
é a Relação entre a Fé e as Obras?") Christianity Today ("Cristianismo Hoje"), 24 de 
outubro, 1980, página 26.
5 John Blanchard, How to Enjoy Your Bible ("Como Desfrutar Sua Bíblia") (Colchester, 
Inglaterra: Evangelical Press, 1984), página 104.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 45
6 Robert L. Sumner, citado em "Treasuring God's Word" ("Apreciando a Palavra de 
Deus"), Our Daily Bread ("Pão Diário"), 5 de outubro de 1988.
7 Jerry Bridges, Tlte Practice of Godliness (A Prática da Piedade") (Colorado Springs, 
CO: NavPress, 1983), p. 51.
8 R. C. Sproul, Knowing Scripture ("Conhecendo as Escrituras") (Downers Grove, IL: 
InterVarsity Press, 1977), página 17.
9 Geoffrey Thomas, Reading the Bible (Lendo a Bíblia) (Edimburgo, Escócia: The Banner
of Truth Trust, 1980), página 22.
C A P Í T U L O T R Ê S
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O crescimento cristão envolve disciplina.
A rapidez com que um homem cresce espiritualmente 
e a medida até onde ele cresce depende desta disciplina.
E a disciplina do caminho.
Richard Halverson 
Em D.G. Kehl
"Controle a si mesmo! Praticando a Arte da Autodisciplina"
D o is irmãos andavam pelas terras extensas e cobertas de 
bosques de seu pai, quando encontraram uma jovem árvore 
carregada de frutos. Ambos se deliciaram com aqueles frutos 
tanto quanto desejaram. Quando decidiram voltar, um homem 
juntou todos os frutos restantes e levou-os consigo para casa. 
Seu irmão, contudo, levou a árvore toda e plantou-a em sua 
propriedade. A árvore floresceu, produzindo regularmente 
fartas colheitas, de modo que o segundo irmão sempre tinha 
frutas quando o primeiro não tinha nenhuma.
A Bíblia é como a árvore que produz fruto desta história. 
Simplesmente ouvir a Palavra de Deus é ser como o primeiro 
irmão. Você pode colher muito fruto daquilo que ouviu e até 
levar para casa o suficiente para alimentá-lo por alguns dias, 
mas no longo prazo, isso não se compara a ter sua própria 
árvore. Por meio das Disciplinas de ler e estudar, a árvore toma-
Absorção Bíblica (Parte 2) 47
se nossa e aproveitamos os seus frutos. Dentre as Disciplinas 
Espirituais, também encontramos os recursos de memorização, 
meditação e aplicação, que aumentam abundantemente nossa 
colheita dos frutos da árvore.
BENEFÍCIOS E MÉTODOS DA MEMORIZAÇÃO 
DA PALAVRA DE DEUS
Muitos cristãos vêem a Disciplina Espiritual da 
memorização da Palavra de Deus como algo equivalente a 
martírio da modernidade. Peça que memorizem versículos 
bíblicos, e eles reagirão com tanta avidez quanto a um pedido 
de voluntários para encarar os leões de Nero. Por quê? Talvez 
porque muitos associem todo tipo de memorização aos esforços 
de memória exigidos deles nos tempos de escola. Dava trabalho 
e a maior parte era sobre algo que não despertava interesse e 
tinha valor limitado. Também freqüentemente ouvida é a 
desculpa de se ter memória ruim. Mas, e se eu oferecesse a 
você mil dólares por versículo memorizado durante os 
próximos sete dias? Você acha que sua atitude em relação à 
memorização das Escrituras e sua habilidade de memorizar 
melhorariam? Qualquer recompensa financeira seria mínima 
quando comparada ao acúmulo de valor do tesouro da Palavra 
de Deus depositado no interior de sua mente.
A Memorização Produz Poder Espiritual
Quando armazenadas na mente, as Escrituras ficam 
disponíveis ao Espírito Santo para que Ele as tragaà sua atenção 
quando você mais precisar. É por isso que o autor do Salmo 119 
escreveu: "Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra 
ti", (versículo 11). Uma coisa é, por exemplo, assistir ou pensar
48 Absorção Bíblica (Parte 2)
em algo quando se sabe que não se deveria, mas há mais poder 
contra a tentação quando um versículo específico é trazido à 
sua mente, como Colossenses 3:2: "Mantenham o pensamento nas 
coisas do alto, e não nas coisas terrenas".
Quando o Espírito Santo traz um versículo específico à 
mente dessa forma, isso ilustra o que Efésios 6:17 pode significar 
quando se refere à "espada do Espírito, que é a palavra de 
Deus". Uma verdade escriturística pertinente, trazida a seu 
conhecimento pelo Espírito Santo no momento exato, pode ser 
a arma que faz a diferença em uma batalha espiritual.
Não há ilustração melhor do que a confrontação de Jesus 
com Satanás no deserto solitário da Judéia (Mateus 4:1-11). Toda 
vez que o Inimigo impunha uma tentação a Jesus, Ele se 
defendia com a espada do Espírito. Ela ajudava Jesus a 
experimentar vitória. Uma das maneiras pelas quais podemos 
obter mais vitórias espirituais é fazer como Jesus fez: memorizar 
as Escrituras para que ela fique disponível ao Espírito Santo 
para que Ele a acenda dentro de nós quando for necessário.
A Memorização Fortalece a nossa Fé
Você deseja que sua fé seja fortalecida? Que cristão não 
desejaria? Uma coisa que você pode fazer para fortalecê-la é 
disciplinar-se na memorização das Escrituras. Vejamos 
Provérbios 22:17-19, que diz: "Preste atenção e ouça os ditados dos 
sábios, e aplique o coração ao meu ensino. Será uma satisfação guardá- 
los no íntimo e tê-los todos na ponta da língua. Para que você confie 
no SENHOR, a você hoje ensinarei" (NVI). As expressões "Aplique 
o coração" aos "ditados dos sábios" e "guardá-los no íntimo" 
certamente se referem à memorização das Escrituras. Observe 
a razão dada aqui para guardar as palavras sábias das Escrituras 
em seu íntimo e "na ponta da língua". É "para que você confie
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 49
no Senhor". Memorizar as Escrituras fortalece a sua fé porque 
elas reforçam a verdade repetidamente, muitas vezes 
exatamente quando você precisa ouvi-la.
Nossa igreja está construindo um novo centro de 
adoração. Sentimos que honraríamos mais a Deus se 
construíssemos um prédio sem contrair dívidas. Houve vezes 
em que minha fé na provisão do Senhor começou a afundar. 
Muito freqüentemente, o que renovava a minha fé era o 
lembrete da promessa de Deus em 1 Samuel 2:30: "Honrarei 
aqueles que me honram". Memorizar as Escrituras funciona como 
aço de reforço para uma fé esmorecida.
Memorização, Testemunho e Aconselhamento
No Dia de Pentecostes (a festa judaica celebrada quando o 
Espírito Santo veio pela primeira vez para habitar nos cristãos), 
o Apóstolo Pedro foi repentinamente inspirado por Deus a le­
vantar-se e pregar à multidão sobre Jesus. Muito do que ele 
disse consistiu de citações do Antigo Testamento (veja Atos 2:14­
40). Embora haja uma diferença qualitativa entre o sermão es­
pecialmente inspirado de Pedro e as nossas conversações guia­
das pelo Espírito, a experiência ilustra como memorizar as Es­
crituras pode nos preparar para as oportunidades inesperadas 
de testemunhar ou aconselhar que aparecem em nossas vidas.
Recentemente, ao apresentar a mensagem de Cristo a um 
homem, ele disse algo que me trouxe à mente um versículo 
memorizado. Citei o verso e isso foi decisivo para a conversa, 
que culminou com a profissão de fé em Cristo por parte da­
quele homem. O mesmo tipo de coisa acontece freqüentemente 
em conversas de aconselhamento. Mas até que sejam guarda­
dos no coração, os versículos não estarão disponíveis para uso 
com a boca.
50 Absorção Bíblica (Parte 2)
O Caminho da Orientação de Deus
O salmista escreveu: "Os teus testemunhos são o meu prazer, 
eles são os meus conselheiros" (Salmo 119:24). Assim como o 
Espírito Santo traz a verdade escriturística de nossos bancos 
de memória para usarmos no aconselhamento a outras pessoas, 
assim também Ele a trará a nossas próprias mentes, provendo 
orientação oportuna a nós mesmos.
Muitas vezes, ao tentar decidir se digo ou não aquilo que 
estou pensando em uma situação específica, o Senhor traz 
Efésios 4:29 a minha mente: "Não saia da vossa boca nenhuma 
palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme 
a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem". Estou certo 
de que às vezes entendo mal a voz do Espírito Santo, mas a Sua 
orientação dificilmente poderia ser mais clara do que quando 
Ele traz à mente um versículo como esse! Mas isso é resultado 
de memorização disciplinada das Escrituras.
A Memorização Estimula a Meditação
Um dos benefícios mais subestimado da memorização das 
Escrituras é que ele provê combustível para a meditação. 
Quando memorizou um versículo das Escrituras, você pode 
meditar nele em qualquer lugar e a qualquer hora do dia ou da 
noite. Se você ama a Palavra de Deus o suficiente para 
memorizá-la, você pode se tomar como o escritor do Salmo 
119:97, que exclamou: "Como eu amo a tua lei! Medito nela o dia 
inteiro". Quer esteja dirigindo no trânsito, andando de metrô, 
esperando no aeroporto, na fila, ninando um bebê ou fazendo 
uma refeição, você poderá se beneficiar da Disciplina Espiritual 
da meditação se tiver feito os depósitos da memorização.
A Palavra de Deus é a "espada do Espírito", mas o Espírito 
Santo não pode lhe dar uma arma que não foi armazenada no
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 51
arsenal de sua mente. Imagine-se em meio a uma decisão e 
precisando de orientação ou em luta com uma tentação difícil 
e carecendo de vitória. O espírito Santo corre para seu arsenal 
mental, abre impetuosamente a porta, mas tudo o que encontra 
é João 3:16, Gênesis 1:1 e a Grande Comissão. Essas são grandes 
espadas, mas não foram feitas para todo tipo de batalha. Como 
começar a encher nosso próprio arsenal espiritual com um 
suprimento de espadas para o Espírito Santo usar?
Você pode Memorizar as Escrituras
A maioria das pessoas acha que tem má memória, mas não 
é verdade. Como já descobrimos, na maior parte das vezes, 
memorizar é essencialmente um problema de motivação. Se 
você sabe a data de seu aniversário, seu número de telefone e 
endereço e consegue se lembrar dos nomes de seus amigos, 
então é capaz de memorizar as Escrituras. A questão passa a 
ser se você está disposto a se disciplinar para tal.
Quando Dawson Trotman, fundador da organização cristã 
chamada The Navigators ("Os Navegantes"), se converteu à fé 
em Cristo em 1926, começou a memorizar um versículo bíblico 
por dia. Ele trabalhava como motorista de caminhão para um 
depósito de madeiras em Los Angeles na época. Enquanto 
dirigia pela cidade, ele pensava no versículo daquele dia. 
Durante seus três primeiros anos de vida cristã, memorizou 
mil versículos. Se ele conseguiu memorizar mais de trezentos 
versículos por ano dirigindo, certamente nós podemos 
encontrar maneiras de memorizar alguns versos.
Estabeleça um Plano
Nas livrarias cristãs, podem ser encontrados muitos planos 
bons de memorização das Escrituras já prontos. Mas você pode
52 Absorção Bíblica (Parte 2)
preferir selecionar versículos sobre um tópico específico onde 
o Senhor esteja trabalhando em sua vida neste momento. Se 
sua fé for fraca, memorize versículos sobre fé. Se estiver em 
conflito com um hábito, encontre versículos que o ajudem a 
obter vitória sobre ele. Um homem contou a Dawson Trotman 
que tinha medo de que seguir o seu exemplo de memorização 
das Escrituras pudesse deixá-lo arrogante. Trotman respondeu: 
"Então, que seus primeiros dez versículos sejam sobre 
humildade!" Outra opção é memorizar uma parte das 
Escrituras, como um salmo, em vez de versículos isolados.
Escreva os Versículos
Faça uma lista dos versículos em uma folha de papel ou 
escreva cada um deles em um cartão separado.
Desenhe Lembretes em Forma de FigurasNão precisa ser nada sofisticado, apenas umas poucas 
linhas ou figuras adesivas ao lado de cada verso. Isso torna o 
versículo "visual" e faz com que o princípio figura que vale mil 
palavras funcione para você. Uma mera figura pode fazer você 
se lembrar de dúzias de palavras. Isso acontece especialmente 
se o desenho ilustrar uma ação descrita no versículo. Por 
exemplo, para o Salmo 119:11, você pode fazer o desenho 
grosseiro de um coração com uma Bíblia dentro para lembrá- 
lo de entesourar a Palavra de Deus no coração. Para Efésios 
6:17, um esboço de espada é lembrete óbvio. Você descobrirá 
que este método é especialmente útil quando memorizar uma 
seção de versículos consecutivos. Admito que, assim como eu, 
você provavelmente não é um artista, mas ninguém mais precisa 
ver suas figuras e elas podem facilitar a memorização das 
Escrituras.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 53
Memorize os Versículos Palavra por Palavra
Há uma grande tentação, especialmente logo que se 
aprende um versículo, de se baixar o seu padrão. Não se 
contente com o sentido aproximado ou com a "idéia principal". 
Memorize palavra por palavra e aprenda a referência também. 
Sem um padrão objetivo de medida, o objetivo não fica claro e 
é possível que você tenda a continuar baixando o padrão até 
desistir totalmente. Além disso, se o versículo não for 
memorizado exatamente como é, você perderá a confiança em 
usá-lo ao conversar e testemunhar. Assim, embora memorizar 
"tintim por tintim" seja mais difícil no começo, é mais fácil e 
mais produtivo no longo prazo. A propósito, versículos que 
você conhece tintim por tintim são mais fáceis de rememorar 
do que aqueles que você não conhece tão precisamente.
Adote um Método de Prestação de Contas
Por causa de nossa tendência à preguiça, é necessário que 
a maioria de nós preste mais contas na memorização das 
Escrituras do que em outras Disciplinas. E quanto mais 
ocupados somos, maior é a tendência a nos escusarmos desse 
compromisso. Alguns, como Dawson Trotman, desenvolveram 
meios personalizados de prestar contas em relação à Disciplina 
que os mantém fiéis. A maioria dos cristãos, contudo, é mais 
consistente quando encontra ou conversa com outra pessoa, 
nem sempre outro cristão, com quem rememoram os versículos.
Rememore e Medite Diariamente
Nenhum princípio de memorização das Escrituras é mais 
importante do que o princípio da rememoração. Se não houver 
uma rememoração adequada, você eventualmente irá perder a 
maior parte do que memorizou. Porém, uma vez que realmente
54 Absorção Bíblica (Parte 2)
tenha aprendido um versículo, você pode rememorá-lo 
mentalmente em uma fração do tempo que levaria para dizê- 
lo. E quando souber o versículo bem, você não precisa 
rememorá-lo senão uma vez por semana, uma vez por mês ou 
mesmo uma vez a cada seis meses para mantê-lo afiado. Não é 
incomum, contudo, atingir um ponto em que se gaste 80% do 
tempo de memorização rememorando. Não se ressinta em 
devotar tanto tempo ao polimento de suas espadas. Mas alegre- 
se por ter tantas!
Um ótimo horário para se rememorar os versículos mais 
conhecidos é antes de dormir. Já que não precisa ter uma cópia 
escrita dos versículos diante de si, você poderá repeti-los e 
meditar neles enquanto cochilar ou mesmo quando tiver 
problemas para dormir. E se você não conseguir ficar acordado, 
tudo bem, já que, de qualquer modo, você deveria estar 
dormindo. Se não conseguir dormir, você estará preenchendo 
sua mente com as informações mais proveitosas e pacíficas 
possíveis, além de estar fazendo bom uso do tempo.
Ao concluirmos esta parte sobre a Disciplina de 
memorização das Escrituras, lembre-se de que memorizar 
versículos não é um fim em si mesmo. O objetivo não é ver 
quantos versículos você consegue memorizar, o objetivo é a 
Piedade. O objetivo é memorizar a Palavra de Deus para que 
ela possa transformar nossas mentes e nossas vidas.
Sobre este assunto, Dallas Willard disse: "Como pastor, 
professor e conselheiro, tenho visto repetidamente a 
transformação de vida, exterior e interior, que resulta da simples 
memorização e meditação nas Escrituras. Pessoalmente, eu 
jamais me incumbiria de pastorear uma igreja ou de orientar 
um programa de educação cristã que não incluísse um plano 
contínuo de memorização das maravilhosas passagens das
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 55
Escrituras para pessoas de todas as idades".1
BENEFÍCIOS E MÉTODOS DE MEDITAÇÃO 
NA PALAVRA DE DEUS
Uma característica ruim de nossa cultura moderna é que a 
meditação passou a ser mais identificada com sistemas não 
cristãos de pensamento do que com o cristianismo bíblico. 
Mesmo dentre os crentes, a prática da meditação é muitas vezes 
mais associada com yoga, meditação transcendental, terapia 
de relaxamento ou Movimento Nova Era. Por ser tão 
proeminente em muitos grupos e movimentos espiritualmente 
enganosos, alguns cristãos se sentem desconfortáveis com 
respeito à meditação e desconfiados daqueles que se envolvem 
nela. Mas devemos nos lembrar que a meditação é tanto 
ordenada por Deus quanto exemplificada por homens Piedosos 
nas Escrituras. Só porque uma seita usa a cruz como símbolo, 
isso não significa que a Igreja deva parar de usá-la. Da mesma 
forma, não devemos descartar ou ter medo da meditação 
escriturística simplesmente porque o mundo a adaptou para 
seus próprios propósitos.
O tipo de meditação encorajado na Bíblia difere de muitas 
maneiras dos outros tipos de meditação. Enquanto alguns 
defendem um tipo de meditação em que se faz de tudo para 
esvaziar a mente, a meditação cristã envolve o preenchimento 
da mente com Deus e a verdade. Para alguns, a meditação é 
uma tentativa de alcançar completa passividade mental, mas a 
meditação bíblica requer atividade mental construtiva. A 
meditação do mundo emprega técnicas de visualização com 
intenção de se "criar a própria realidade". Embora a história 
cristã sempre tenha dado espaço ao uso santificado da
56 Absorção Bíblica (Parte 2)
imaginação concedida por Deus na meditação, a imaginação é 
nossa serva, ajudando-nos a meditar nas coisas que são 
verdadeiras (Filipenses 4:8). Além disso, em vez de "criar nossa 
própria realidade" por meio da visualização, nós unimos a 
meditação à oração a Deus e à ação humana responsável e cheia 
do Espírito, para realizar mudanças.
Além das diferenças mencionadas, vamos definir meditação 
como o pensamento profundo nas verdades e realidades 
espirituais reveladas nas Escrituras visando ao entendimento, 
aplicação e oração. A meditação vai além de ouvir, ler, estudar 
e até memorizar como meio de assimilar a Palavra de Deus. 
Uma simples analogia seria uma xícara de chá. Você é a xícara 
com água quente e a absorção das Escrituras é representada 
pelo saquinho de chá. Parte do sabor do chá é absorvido pela 
água, mas não tanto como ocorre quando o saquinho é 
totalmente embebido. Nesta analogia, ler, estudar e memorizar 
a Palavra de Deus são representados por imersões adicionais 
do saquinho de chá na xícara. Quanto mais o chá mergulha na 
água, mais efeito ele tem. Meditação, contudo, é como imergir 
o saquinho completamente e deixá-lo encharcar até que todo o 
rico sabor do chá tenha sido extraído e a água quente fique 
totalmente tingida de marrom avermelhado.
Josué 1:8 e a Promessa de Êxito
As Escrituras fazem uma conexão específica entre o êxito e 
a prática da meditação na Palavra de Deus em Josué 1:8. Ao 
comissionar Josué para suceder a Moisés como líder de Seu 
povo, o Senhor disse a ele: "Não cesses de falar deste Livro da Lei; 
antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo 
tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e 
serás bem-sucedido".
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 57
Devemos nos lembrar de que a prosperidade e o êxito de 
que o Senhor fala aqui é a prosperidade e o êxito aos Seus olhos, 
e não necessariamente aos do mundo. De uma perspectiva do 
Novo Testamento, sabemos que a principalaplicação desta 
promessa seria à prosperidade da alma e ao êxito espiritual 
(embora também ocorra alguma medida de êxito em nossos 
esforços humanos quando vivemos de acordo a sabedoria de 
Deus). Tendo feito tal qualificação, entretanto, não percamos 
de vista o relacionamento entre a meditação na Palavra de Deus 
e o êxito.
O verdadeiro êxito é prometido àqueles que meditam na 
Palavra de Deus, que pensam profundamente nas Escrituras, 
não apenas uma vez ao dia, mas em momentos no decorrer do 
dia e da noite. Eles meditam tanto, que suas conversas são 
saturadas das Escrituras. O fruto da meditação deles é a ação. 
Eles fazem o que encontram escrito na Palavra de Deus e, como 
resultado, Deus prospera o caminho deles e lhes concede êxito.
Como a Disciplina da meditação nos modifica e nos coloca 
no caminho da bênção de Deus? No Salmo 39:3, Davi disse: 
"Meu coração ardia-me no peito e, enquanto eu meditava, o fogo 
aum entavaA palavra hebraica traduzida aqui por "meditava" 
está intimamente relacionada à traduzida por "meditar" em 
Josué 1:8. Quando ouvimos, lemos, estudamos ou 
memorizamos o fogo (Jeremias 23:29) da Palavra de Deus, a 
adição da meditação se toma como um fole sobre aquilo que 
absorvemos. Ao chamejar mais resplandecente, o fogo emite 
tanto mais luz (visão e entendimento) quanto calor (paixão pela 
ação obediente). "Então", diz o Senhor, "os seus caminhos 
prosperarão e você será bem-sucedido".
Por que a absorção da Palavra de Deus muitas vezes nos 
deixa frios e por que não temos mais êxito em nossa vida
58 Absorção Bíblica (Parte 2)
espiritual? O pastor puritano Thomas Watson tem a resposta: 
"A razão de sairmos tão frios da leitura da palavra é que não 
nos aquecemos no fogo da meditação".2
Salmo 1:1-3 - As Promessas
As promessas de Deus em Salmo 1:1-3 a respeito da 
meditação são iguais às de Josué 1:8:
Bem-aventurado é o homem
que não anda no conselho dos ímpios, 
não se detém no caminho dos pecadores.
Antes, o seu prazer está 
Na lei do SENHOR,
e na sua lei medita de dia e de noite.
Ele é como árvore plantada
junto a corrente de águas,
Que no devido tempo, dá o seu fruto, 
e cuja folhagem não murcha;
E tudo quanto ele faz será bem sucedido.
Pensamos naquilo de que gostamos. O casal que encontrou 
prazer romântico um no outro pensa um no outro o dia todo. E 
quando nos deleitamos na Palavra de Deus, pensamos nela, 
isto é, meditamos nela, às vezes durante todo o dia e toda a 
noite. O resultado de tal meditação é estabilidade, produção 
de fruto, perseverança e prosperidade. Um escritor o disse 
claramente: "Normalmente quem se dá melhor é quem medita 
mais".3
A árvore de sua vida espiritual se desenvolve melhor com 
meditação porque ela ajuda você a absorver a água da Palavra 
de Deus (Efésios 5:26). Simplesmente ouvir ou ler a Bíblia, por
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 59
exemplo, pode ser como uma breve chuva sobre o chão duro. 
Independentemente da quantidade ou intensidade da chuva, 
a maior parte escoa e pouco penetra o solo. A meditação abre o 
solo da alma e permite que a água da Palavra de Deus se infiltre 
profundamente. O resultado é uma produção extraordinária 
de frutos e prosperidade espiritual.
O autor do Salmo 119 estava confiante de que era mais sábio 
do que todos os seus inimigos (versículo 98). Além disso, ele 
disse: "Tenho mais discernimento que todos os meus mestres, 
pois medito nos teus testemunhos" (versículo 99). Seria porque 
ele ouvia, lia, estudava ou memorizava a Palavra de Deus mais 
do que cada um de seus inimigos e seus mestres? 
Provavelmente não. O salmista era mais sábio, não 
necessariamente porque tivesse uma maior absorção, mas 
porque tinha mais visão. Mas como ele adquiriu mais sabedoria 
e visão do que qualquer outro? Sua explicação foi:
Os teus mandamentos me tornam mais sábio que os meus 
inimigos,
porquanto estão sempre comigo.
Tenho mais discernimento
Que todos os meus mestres,
Pois medito nos teus testemunhos. (Salmo 119:98-99)
É possível encontrar uma quantidade torrencial de 
verdades divinas, mas sem absorção você ficará pouco melhor 
para a experiência. Meditação é absorção.
Creio que, em nossos dias, a meditação seja até mais 
importante para a produção de frutos e a prosperidade 
espirituais do que foi no Israel antigo. Mesmo que o inserir da 
Palavra de Deus fosse igual, nós somos atingidos por uma
60 Absorção Bíblica (Parte 2)
avalanche de informações que o salmista jamais poderia ter 
imaginado. Associe isso a mais algumas de nossas 
responsabilidades modernas e o resultado será uma distração 
e uma dissipação mentais que sufocam nossa absorção das 
Escrituras. Dizem que, devido à explosão de informações, que 
dobra a soma total de conhecimento humano a cada poucos 
anos, nós agora atingimos um ponto em que uma edição média 
do New York Times em um dia de semana contém mais 
informações do que Jonathan Edwards teria obtido em sua vida 
inteira no século XVIII. É certo que ele tinha muitas 
responsabilidades que consumiam tempo (como cuidar de seu 
cavalo) com que nós não temos que nos preocupar. Por outro 
lado, ele não teve que atender a um só telefonema em toda a 
sua vida! Apesar de suas inconveniências, sua mente, assim 
como a do salmista, não ficava tão distraída com notícias 
mundiais instantâneas, televisão e rádio, telefones celulares e 
de carros, estéreos pessoais, transportes rápidos, 
correspondências inúteis e assim por diante. Por causa dessas 
coisas, é mais difícil para nós hoje concentrarmos nossos 
pensamentos, especialmente em Deus e nas Escrituras, do que 
jamais foi.
Isso é parte de um antigo mistério que começa a se 
esclarecer para mim. Muitas vezes me pergunto como os 
homens que viveram centenas de anos atrás sempre foram 
capazes de produzir mais à caneta do que a maioria dos homens 
modernos é, com máquinas de escrever e computadores. 
Recentemente, recebi uma cópia de Christian Directory 
("Catálogo Cristão") de Richard Baxter, um guia prático 
relacionado a simplesmente todo aspecto imaginável da vida 
cristã. Este admirável livro consiste em quase mil páginas de 
impressão em letras miúdas e contém 1.250.000 palavras. Se
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 61
isso não é suficiente para impressioná-lo, pense que Baxter 
pesquisou e escreveu, à mão, a maior parte do livro em menos 
de dois anos (1664-1665). E isso sem ajuda de luzes elétricas, 
menos ainda de máquinas de escrever elétricas ou de 
processadores de textos. Admito que ele não tinha outras 
responsabilidades exceto sua família durante esse período de 
dois anos, mas ainda assim, essa foi uma realização 
maravilhosa. Já imaginei a mim mesmo, sem ter 
responsabilidade alguma exceto pesquisar e escrever por dois 
anos, mas ainda não sei se eu conseguiria chegar a um resultado 
próximo do de Baxter. Além disso, não estou certo se conheço 
outra pessoa que consiga. Como ele o fez? As pessoas nascidas 
à época têm mais capacidade mental do que todas as gerações 
posteriores? Não acho que isso seja verdade.
O que realmente acho é que homens como Baxter foram 
exceções mesmo em seu próprio tempo. E creio que a unção do 
Senhor estava sobre ele para realizar esta longa tarefa, assim 
como esteve com Handel quando este compôs o Messias em 
menos de um mês. Mas também creio que haja uma diferença 
prática entre pessoas como Baxter e nós. Sua mente não tinha 
tantas distrações quanto a nossa, sendo exposta a menos 
informações gerais e menos fatos para desordenar seu 
pensamento.
O que fazer, então? Não podemos voltar à época de Richard 
Baxter a menos que nos mudemos para as selvas de Papua Nova 
Guiné. E mesmo assim nós já teremos vivido tempo demais na 
era da informação para escapar de sua influência. Mas podemos 
restaurar a ordem a nosso pensamento e recapturar um pouco 
da habilidade de nos concentrarmos - especialmente na 
verdade espiritual - por meio da meditação bíblica.
Na verdade, é exatamente assim que homens como Baxter
62 Absorção Bíblica (Parte 2)
e Edwards disciplinarama si mesmos. Em sua cativante 
biografia de Sara Edwards, Elisabeth Dodds disse o seguinte 
sobre Jonathan:
Quando mais jovem, Edwards havia refletido sobre com o 
aproveitar o tempo durante suas viagens. Depois de mudar-se 
para Northampton, ele traçou o plano de prender um pequeno 
pedaço de papel a uma certa parte de seu casaco, atribuindo ao 
papel um número e fazendo sua mente associar um assunto àquele 
pedaço de papel. Após três horas de viagem, retornando de 
Boston, ele chegava cheio de papéis. De volta a seu estúdio, ele 
tirava os papéis m etodicam ente, e escrevia a sucessão de 
pensamentos que cada papelzinho trazia à sua memória.4
Não temos que andar por aí cheios de papeizinhos, mas 
podemos ser transformados pela renovação de nossas mentes 
(Romanos 12:2) por meio da meditação disciplinada nas 
Escrituras. Podemos não produzir de forma tão frutífera quanto 
Richard Baxter ou não ser tão bem-sucedidos espiritualmente 
quanto Jonathan Edwards, mas podemos ser mais sábios do 
que nossos inimigos, ter mais visão do que nossos mestres, 
experimentar todas as promessas de Josué 1:8 e Salmo 1, e ser 
mais Piedosos se meditarmos biblicamente.
Como, então, meditar de maneira cristã?
Selecione uma Passagem Adequada
A maneira mais fácil de decidir sobre o que meditar é 
escolher o(s) versículo(s), a frase ou a palavra que mais tocar 
você durante seu encontro com as Escrituras. Obviamente, este 
é um método subjetivo, mas qualquer método será um pouco 
subjetivo. Além disso, a meditação é essencialmente uma 
atividade subjetiva, um fato que enfatiza a importância de
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 63
baseá-la nas Escrituras, o recurso perfeitamente objetivo.5
Nossa visão do ministério do Espírito Santo também nos 
leva a crer que muitas vezes Ele, como Autor do Livro, nos faz 
ficar tocados com certo trecho das Escrituras por ser exatamente 
a parte em que Ele deseja que meditemos naquele dia. Sem 
dúvida este método pode ser usado incorretamente ou levado 
ao extremo. Devemos usar de sabedoria e nos certificar de que 
não deixaremos de meditar freqüentemente na Pessoa e na obra 
de Jesus Cristo e nos grandes temas da Bíblia.
Versículos visivelmente relacionados com seus interesses 
e necessidades pessoais são claramente alvos de meditação. 
Embora não devamos abordar a Bíblia simplesmente como um 
sumário de conselhos sábios, uma coleção de promessas ou um 
"livro de respostas", é vontade de Deus que prestemos atenção 
àquelas coisas que Ele escreveu que dizem respeito diretamente 
a nossas circunstâncias. Se você tem conflitos com sua vida de 
pensamentos e ler Filipenses, então você provavelmente 
precisará meditar em 4:8: "Finalmente, irmãos, tudo o que é 
verdadeiro, tudo o que respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é 
puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude 
há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento". 
Você tem se preocupado com a salvação de um amigo ou 
membro da família? Se ler João 4, o que deve fazer é meditar na 
forma de comunicação de Jesus ali e traçar paralelos a sua 
própria situação. Você sente distância de Deus ou sequidão em 
sua condição espiritual? Buscar indícios do caráter de Deus e 
basear-se neles é uma boa escolha.
Uma das formas mais consistentes de se selecionar uma 
passagem para meditação é discernir a mensagem principal de 
uma parte específica de seu encontro com as Escrituras e 
meditar em seu significado e aplicação. Por exemplo,
64 Absorção Bíblica (Parte 2)
recentemente eu li Lucas 11. Esse capítulo tem dez parágrafos 
na versão que eu usei. Escolhi uma parte, os versículos de 5 a 
13, cujo tema principal é a persistência na oração. Refleti nessa 
idéia, especialmente em como ela é exposta nos versículos 9 e 
10, que falam sobre pedir, buscar e bater. Isso é mais difícil de 
fazer em livros como Provérbios, onde um versículo individual 
é muitas vezes um conceito em si mesmo e não parte de um 
parágrafo. Em trechos assim, você deve adotar um dos métodos 
mencionados acima para selecionar seu texto para meditação.
Repetir de Diferentes Modos
Neste método, "vira-se" o versículo ou frase das Escrituras, 
que é examinado em cada faceta, como um diamante.
Uma meditação nas palavras de Jesus no começo de João 
11:25 pareceria assim:
"Eu sou a ressurreição e a vida."
"Eu sou a ressurreição e a vida."
"Eu sou a ressurreição e a vida."
"Eu sou a ressurreição e a vida."
"Eu sou a ressurreição e a vida."
"Eu sou a ressurreição e a vida."
"Eu sou a ressurreição e a vida."
Evidentemente, o ponto não é simplesmente repetir cada 
palavra do versículo de forma vã, até que todas elas tenham 
sido enfatizadas. O propósito é pensar profundamente na luz 
(verdade) que cintila em sua mente cada vez que o versículo é 
"virado". É simples, mas eficiente. Considero-o especialmente 
útil quando tenho problemas para me concentrar em uma 
passagem ou quando as idéias vêm vagarosamente dela.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 65
Reescrever em suas Próprias Palavras
Desde seus primeiros dias de educação em casa, o pai de 
Jonathan Edwards o ensinou a pensar com a caneta na mão, 
um hábito que ele manteve por toda a sua vida. Esta prática 
ajuda você a focar a atenção no que importa no momento, 
enquanto estimula seu fluxo de pensamento. Parafrasear o(s) 
versículo(s) que está considerando é também uma boa forma 
de garantir o entendimento de seu significado. Tenho um amigo 
que diz que parafrasear versículos à maneira da Bíblia Ampliada 
é o método mais produtivo de abrir um texto para ele. O próprio 
ato de pensar em sinônimos e outras formas de reformular o 
significado inspirado de uma parte da Palavra de Deus é uma 
forma de meditação em si.
Procure Aplicações para o Texto
Pergunte a si mesmo: "Como irei reagir a este texto? Como 
Deus quer que eu aja como resultado de meu encontro com 
esta parte de Sua Palavra?"
O resultado da meditação deve ser a aplicação. Assim como 
mastigar sem engolir, a meditação fica incompleta se não houver 
algum tipo de aplicação. Ela é tão importante, que a próxima 
parte deste livro é inteiramente dedicada à aplicação da Palavra 
de Deus.
Ore a Respeito do Texto
Este é o espírito de Salmo 119:18: "Abre os meus olhos para 
que eu veja as maravilhas da tua lei". O Espírito Santo é o Grande 
Guia para a verdade (João 14:26). A meditação é mais do que 
mera fixação da concentração humana ou energia mental 
criativa. Orar durante o meditar em um versículo das Escrituras 
submete a mente à iluminação do texto pelo Espírito Santo e
66 Absorção Bíblica (Parte 2)
intensifica a sua percepção espiritual. A Bíblia foi escrita sob 
inspiração do Espírito Santo; ore por Sua iluminação quando 
meditar.
Recentemente, meditei em Salmo 119:50: "Este é o meu 
consolo no meu sofrimento: a tua promessa dá-me vida". Orei pelo 
texto destas linhas:
Senhor, Tu sabes a aflição que estou passando neste exato 
momento. A Tua Palavra promete me confortar na aflição. A Tua 
Palavra pode me restaurar em minha aflição. Eu realmente creio 
que isso é verdade. A Tua Palavra me restaurou na aflição no 
passado, e eu confesso minha fé em Ti que ela me restaurará nesta 
experiência. Oro para que o Senhor me restaure agora por meio 
do conforto de Tua Palavra.
Enquanto orava a respeito do texto, o Espírito Santo 
começou a trazer a minha mente verdades das Escrituras a 
respeito da soberania de Deus sobre Sua Igreja, da Sua 
providência sobre as circunstâncias em minha vida, do Seu 
poder, da Sua presença e amor constantes e assim por diante. 
Naquele tempo prolongado de meditação e oração, minha alma 
foi restaurada e senti-me confortado pelo Consolador.
A meditação deve sempre envolver duas pessoas: o cristão 
e o Espírito Santo. Orar a respeito de um texto é convidar o 
Espírito Santo a manter Sua luz divina sobre as palavras das 
Escrituras para mostrar a você aquilo que você não consegue 
ver sem Ele.
Não tenha pressa, gaste tempo!
Que valor há em ler um, três oumais capítulos da Bíblia, se 
depois você não conseguir se lembrar de uma só coisa que leu? 
E melhor ler uma pequena porção das Escrituras e meditar nela
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 67
do que ler uma parte extensa sem meditar.
Em 1990, da Escócia, Maurice Roberts escreveu as 
seguintes palavras:
Tristemente, nossa era tem sido deficiente no que pode ser 
chamado grandeza espiritual. Na raiz disso está a doença moderna 
da superficialidade. Somos impacientes demais para meditar na 
fé que proferimos... Não é o diligente exame superficial de livros 
religiosos ou a descuidada presteza nos deveres religiosos que 
faz uma forte fé cristã, mas é a meditação sem pressa nas verdades 
do evangelho e a exposição de nossas mentes a essas verdades 
que produz o fruto do caráter santificado.6
Leia menos (se necessário) para meditar mais. Embora 
muitos cristãos precisem encontrar tempo para ler mais a Bíblia, 
é possível que haja alguns que estejam gastando todo o tempo 
que podem ou devem lendo a Bíblia. Se não for viável 
acrescentar mais tempo a sua programação devocional para 
meditar na leitura das Escrituras, leia menos para que possa 
dedicar à meditação algum tempo sem pressa. Mesmo que 
possa encontrar momentos ao longo do dia quando você medita 
na Palavra de Deus (leia o Salmo 119:97), a melhor meditação 
geralmente ocorre como parte de seu principal encontro diário 
com a Bíblia.
Que sua experiência na meditação escriturística seja tão feliz 
e produtiva quanto a de Jonathan Edwards, que registrou estas 
linhas em seu diário logo após converter-se. "Eu parecia ver 
sempre tanta luz em cada sentença e receber alimento tão 
revigorante, que não conseguia ir adiante na leitura; muitas 
vezes permanecendo por longo tempo em uma frase para ver 
as maravilhas contidas nela, e quase todas as sentenças 
pareciam estar cheia de maravilhas".7
68 Absorção Bíblica (Parte 2)
APLICANDO A PALAVRA DE DEUS - 
BENEFÍCIOS E MÉTODOS
Em um estudo patrocinado por Holman Bibles, adultos 
foram questionados sobre sua principal dificuldade em ler a 
Bíblia. A resposta foi: "aplicar as Escrituras a situações 
concretas".8 Apesar de lutarmos ocasionalmente para entender 
algumas partes das Escrituras, entendê-las não é nosso 
problema mais importante. A maior parte das Escrituras é 
abundantemente clara. Nossa dificuldade reside muito mais 
em saber como aplicar as partes claramente entendidas da 
Palavra de Deus à vida diária. O que ela diz sobre a educação 
de meus filhos? Como as Escrituras devem influenciar minhas 
decisões e relacionamentos no trabalho? Qual é a perspectiva 
bíblica sobre a escolha que estou prestes a fazer? Como posso 
saber qual é o melhor de Deus? Esses são os tipos de perguntas 
que os leitores da Bíblia fazem freqüentemente; eles comprovam 
a urgência de se aprender a Disciplina da aplicação da Palavra 
de Deus.
O Valor da Aplicação da Palavra de Deus
A Bíblia promete a bênção de Deus sobre aqueles que 
aplicam a Palavra de Deus a suas vidas. A clássica declaração 
da Nova Aliança sobre o valor de integrar o espiritual com o 
concreto é Tiago 1:22-25: "Tornai-vos, pois, praticantes da palavra 
e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se 
alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem 
que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se 
contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua 
aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei 
da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 69
operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar". 
Substancial e poderosa é a declaração semelhante de Jesus: "Ora, 
se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes" (João 
13:17).
Esses versículos nos dizem que pode haver engano em 
ouvir a Palavra de Deus. Sem minimizar a suficiência das 
Escrituras nem o poder do Espírito Santo para trabalhar até 
por meio da mais casual "pincelada" da Bíblia, podemos ser 
freqüentemente iludidos quanto ao impacto das Escrituras 
sobre nossas vidas. De acordo com Tiago, podemos 
experimentar a verdade de Deus tão poderosamente, que o que 
o Senhor deseja que façamos toma-se tão evidente quanto a 
nossa face no espelho. Mas se nós não aplicamos a verdade 
como a encontramos, enganamo-nos pensando que ganhamos 
valor prático, independentemente de quão maravilhosa foi a 
experiência da descoberta da verdade. Aquele que "será feliz 
naquilo que fizer" é aquele que faz o que as Escrituras dizem.
Ser "feliz naquilo que fizer" equivale às promessas de 
bênção, sucesso e prosperidade dadas em Josué 1:8 e Salmo 
1:1-3 àqueles que meditam na Palavra de Deus. E por isso que 
a meditação deve definitivamente levar à aplicação. Quando 
Deus instruiu Josué a meditar em Seu Livro de dia e de noite, 
disse que o propósito da meditação era "para que você cumpra 
fielmente tudo o que nele está escrito". A promessa "os seus 
caminhos prosperarão e você será bem-sucedido" seria 
cumprida, não como resultado da meditação apenas, mas como 
bênção de Deus sobre a aplicação moldada pela meditação.
Espere Descobrir uma Aplicação
Por ser desejo de Deus que sejamos praticantes da Sua 
Palavra, você pode confiar que Ele quer que você encontre uma
70 Absorção Bíblica (Parte 2)
aplicação sempre que se aproximar das Escrituras. Pela mesma 
razão, você pode crer que o Espírito Santo está disposto a ajudá- 
lo a discernir uma forma de desenvolver suas idéias. Portanto, 
abra o Livro com expectativa. Anteveja a descoberta de uma 
resposta prática à verdade de Deus. E muito diferente abrir a 
Bíblia com fé de encontrar uma aplicação e abri-la crendo que 
isso não ocorrerá.
O ministro e escritor puritano Thomas Watson, cuja 
influência foi tão grande a ponto de ele ser chamado "a mãe 
adotiva de gigantes teólogos evangélicos", encorajou a 
expectativa da aplicação ao dizer:
Considerem toda palavra como dita a si mesmos. Quando a 
palavra "trovejar" contra o pecado, pense assim: "Deus está se 
referindo a meus pecados"; quando ela insistir em algum dever: 
"Deus quer que eu faça isso". Muitos se esquivam das Escrituras, 
como se elas se referissem somente àqueles que viveram à época 
em que foram escritas; mas se você pretende tirar proveito da 
palavra, traga-a para perto de si: um remédio não faz bem algum 
a menos que seja aplicado.9
Porque as Escrituras foram inspiradas por Deus, creia que 
o que está lendo também foi escrito para você, além de para os 
primeiros destinatários da mensagem. Sem tal atitude, você 
raramente perceberá a aplicação de uma passagem das 
Escrituras a sua situação pessoal.
Entenda o Texto
Um mal entendido a respeito do significado de um versículo 
leva a aplicações errôneas. Por exemplo, algumas pessoas têm 
aplicado a injunção de Colossenses 2:21: "Não manuseie!, Não 
prove!, Não toque!" para proibir quase tudo o que se possa
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 71
imaginar. Embora possa haver boas razões para nos abstermos 
de algumas das coisas contra as quais este versículo tem sido 
usado, o texto é mal aplicado quando usado de tal forma porque 
seu significado não é bem entendido. Quando considerado o 
contexto, fica claro que essas palavras na verdade eram o slogan 
de um grupo ascético que o Apóstolo Paulo estava denunciando 
como inimigo do evangelho. Assim, se você leu o versículo e 
pensou que ele poderia se aplicar a sua necessidade de perder 
peso, pode ficar tranqüilo em saber que tal aplicação é inválida 
porque parte de uma interpretação incorreta. (Contudo, uma 
dieta diferente pode ser a aplicação pessoal a que o Espírito 
Santo o levaria a partir de 1 Coríntios 9:27.)
Watson estava certo quando disse: "Considere toda palavra 
como se fosse dita a si mesmos". Porém, não podemos fazer 
isso até que entendamos o que ela quis dizer àqueles que a 
ouviram primeiro. Se você considerar todas as palavras do 
chamado de Deus a Abraão em Gênesis 12:1-7como ditas a 
você, logo estará se mudando para Israel. Mas se você entender 
aquele chamado específico como exclusivo a Abraão, você pode 
ainda descobrir as verdades eternas dentro dele e aplicar cada 
palavra a si mesmo. Você seguiu o chamado de Deus para vir a 
Cristo? Está disposto a obedecer à voz de Deus e ir para onde 
quer que Ele o envie - um novo emprego, novo local, campo 
missionário etc.?
Temos que entender como uma passagem se aplicava 
quando foi primeiramente proferida antes de podermos 
entender como ela se aplica hoje. Quando Jesus disse: "Em 
verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lucas 23:43), a 
aplicação foi para o ladrão na cruz. Porque essas palavras fazem 
parte das Escrituras, contudo, e já que "toda a Escritura é 
inspirada por Deus e útil", o Senhor quis que elas tivessem
72 Absorção Bíblica (Parte 2)
aplicação a todos os crentes. Obviamente, a aplicação 
contemporânea não é que todo cristão morrerá hoje e estará 
com Jesus no Paraíso. Uma maneira de aplicarmos este texto é 
em termos de preparação para a morte. Percebemos que é 
possível que a morte chegue hoje e depois examinamos a nós 
mesmos quanto à nossa prontidão para ela. Também podemos 
aplicá-la com relação à presença de Cristo. Como cristãos, Cristo 
está sempre presente dentro de nós, então Ele está conosco hoje, 
mesmo que ainda não estejamos no Paraíso. Como uma 
consciência renovada da presença de Cristo afeta as nossas 
orações ou o nosso panorama do resto do dia?
A promessa de Jesus ao ladrão é um exemplo de como nem 
toda promessa foi proferida para ser aplicada hoje exatamente 
da mesma maneira que foi originalmente. Por outro lado, muitas 
outras promessas são genéricas, universais e perpétuas em sua 
aplicação. Um exemplo óbvio é João 3:16. Outro é 1 João 1:9. 
Como podemos saber quais passagens devem ser aplicadas de 
modo diferente do que quando foram primeiramente 
colocadas? E neste ponto que um conhecimento crescente das 
Escrituras, adquirido por ouvir, ler e, especialmente, estudar a 
Bíblia rende dividendo. Quanto mais entendemos a Bíblia, mais 
equipados ficamos para aplicá-la.
Tendo dito tudo isto, ainda defendo que muito das 
Escrituras é simples e direto em seu significado. Nosso 
problema continua a ser mais falta de ação do que de 
compreensão. As palavras das Escrituras devem ser entendidas 
para serem aplicadas, mas até que as apliquemos, nós na 
verdade não as entendemos.
Meditar para Discernir a Aplicação
Já percebemos que a meditação não é um fim em si mesmo.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 73
Pensar profundamente nas verdades e realidades espirituais 
das Escrituras é a chave para colocá-las em prática. É por meio 
da meditação que os fatos das informações bíblicas se 
transformam em aplicação prática.
Se lemos, ouvimos ou estudamos a Palavra de Deus sem 
meditar nela, não surpreende que "aplicar as Escrituras a 
situações concretas" seja tão difícil. Talvez possamos até treinar 
um pássaro a memorizar todos os versículos das Escrituras que 
nós memorizamos, mas se não os aplicarmos à vida, eles não 
terão para nós valor muito mais duradouro do que para o 
pássaro. Como a Palavra memorizada se toma Palavra aplicada? 
Por meio da meditação.
A maior parte das informações, até mesmo as informações 
bíblicas, flui por nossa mente como água por uma peneira. 
Normalmente são tantas informações novas a cada dia, e elas 
entram tão rapidamente, que nós retemos muito pouco. Mas 
quando meditamos, a verdade permanece e se infiltra. Podemos 
sentir mais plenamente o seu aroma e degustá-la melhor. 
Enquanto ela fermenta em nosso cérebro, as idéias surgem. O 
coração é aquecido pela meditação e a verdade fria é fundida 
em ação passional.
Salmo 119:15 o coloca da seguinte forma: "Meditarei nos teus 
preceitos e darei atenção às tuas veredas". Foi por meio da meditação 
na Palavra de Deus que o salmista discerniu como considerar 
os caminhos de Deus para a vida, isto é, como ser praticante 
deles. Não é diferente conosco. A maneira de se determinar 
como um texto das Escrituras se aplica a situações concretas da 
vida é a meditação naquele texto.
Faça Perguntas ao Texto com Vistas à Aplicação
Fazer perguntas ao texto é uma das melhores maneiras de
74 Absorção Bíblica (Parte 2)
meditar. Quanto mais perguntas você fizer e responder sobre 
um versículo das Escrituras, mais o entenderá e com mais 
clareza verá como aplicá-lo.
Eis alguns exemplos de perguntas dirigidas à aplicação que 
podem ajudá-lo a se tornar praticante da Palavra de Deus:
® Este texto revela algo que eu deva crer a respeito de Deus?
® Este texto revela algo por que eu deva louvar, agradecer ou 
confiar em Deus?
o Este texto revela algo por que eu deva orar para mim mesmo 
ou outras pessoas?
o Este texto revela algo por que eu deva tomar uma nova atitude?
o Este texto revela algo por que eu deva tomar uma decisão?
• Este texto revela algo que eu deva fazer por causa de Cristo, 
de outros ou de mim mesmo?
Algumas vezes um versículo das Escrituras terá aplicação 
tão evidente a sua vida, que irá virtualmente saltar da página e 
implorar a você que pratique o que está escrito. Na maioria das 
vezes, porém, você terá que entrevistar o versículo, fazendo 
perguntas a ele pacientemente até que uma resposta realista se 
tome clara.
R eaja Esp ecificam en te
O encontro com Deus por meio de Sua Palavra deve resultar 
em ao menos uma reação específica. Em outras palavras, após 
concluir o tempo de absorção bíblica, você deverá ser capaz de 
mencionar ao menos uma reação que teve ou terá àquilo que 
absorveu. Tal reação pode ser um ato explícito de fé, adoração, 
louvor, gratidão ou oração. Pode tomar a forma de pedido de 
perdão a alguém ou de proferimento de uma palavra de 
encorajamento. A reação pode envolver o abandono de um
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 75
pecado ou a demonstração de um ato de amor. 
Independentemente da natureza da reação, comprometa-se 
conscientemente a realizar ao menos uma ação seguindo a 
absorção da Palavra de Deus.
Qual a importância disso? Quantas vezes você tem fechado 
a Bíblia e percebido, de repente, que não consegue lembrar-se 
de uma só coisa que leu? De quantos estudos bíblicos você tem 
participado e quantos sermões tem ouvido, dos quais não ficou 
marca alguma das Escrituras sobre sua vida? Conheci pessoas 
que faziam seis estudos bíblicos por semana e que cresceram 
apenas em conhecimento, e não em semelhança com Cristo, 
por não aplicarem o aprendido. A vida de oração delas não era 
forte, elas não influenciavam as pessoas perdidas com o 
evangelho, a vida familiar delas era tensa. Se começarmos a 
nos disciplinar para determinar ao menos uma reação específica 
ao texto antes de nos afastarmos dele, cresceremos muito mais 
rapidamente em graça. Sem este tipo de aplicação, não somos 
praticantes da Palavra de Deus.
MAIS APLICAÇÃO
Você vai iniciar um plano de memorização da Palavra de 
Deus? Se for cristão há muito tempo, você provavelmente já 
terá memorizado muito mais versículos do que imagina. Um 
dos versículos que talvez saiba é Filipenses 4:13: "Tudo posso 
naquele que me fortalece". Você crê que esse versículo é 
verdadeiro? Crê que a palavra "tudo" do versículo engloba a 
memorização das Escrituras? Uma vez que você pode 
memorizar, você irá memorizar? Quando irá começar?
Você vai cultivar a Disciplina da Meditação na Palavra de 
Deus? Pensamentos ocasionais sobre Deus não são meditação.
76 Absorção Bíblica (Parte 2)
"Um homem pode pensar em Deus todos os dias", disse 
William Bridge, "e não meditar em Deus dia algum".10 Deus 
nos chama por meio das Escrituras para desenvolver a prática 
de vivermos Nele em nossos pensamentos.
Agora tenho certeza de que você entende que cultivar a 
Disciplina da meditação envolve um comprometimento de 
tempo. Bridge, um dos mais antigos, porém o melhor escritor 
evangélico sobre meditação de todos os tempos, previu o 
problema de se separar tempo para a meditação.
"O ", disse alguém,"eu pensaria em Deus de todo o meu coração, 
mas meditação é uma tarefa que requer tempo, e custa tempo. 
Eu não disponho de tempo, minhas mãos estão tão 
atarefadas, e tão cheias de afazeres, eu não tenho tempo para tal 
tarefa. Meditação não é um pensamento momentâneo, mas é uma 
tarefa que requer tempo e irá demandar tempo, e eu não disponho 
de tempo". Atente, portanto, para o que [o salmista] diz no Salmo 
119: "Inclina o meu coração aos teus testemunhos", mas como? "desvia 
os meus olhos de contemplarem a vaidade". O caminho para ter o 
coração inclinado para os testemunhos de Deus é desviar os olhos 
dessas vaidades exteriores. Você meditaria, portanto, em Deus e 
nas coisas de Deus, e depois teria o cuidado de que seu coração 
e mãos não estivessem cheios demais do mundo e das atividades 
dele... Am igos, há um a arte, e um a habilidade divina da 
meditação, que ninguém a não ser Deus pode ensinar. Você a 
deseja, então vá a Deus e implore essas coisas a Ele.11
Eis a questão que naturalmente tendemos a fazer neste 
ponto: "A Disciplina da meditação compensará o 
comprometimento de meu tempo?" Minha resposta não é 
melhor do que a de Bridge.
É uma ajuda ao conhecimento, por meio dela seu conhecimento 
aumenta. Por meio dela sua memória é fortalecida. Por meio dela
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 77
seu coração é aquecido. Por meio dela você será libertado de 
pensamentos pecaminosos. Por meio dela seu coração estará em 
sintonia com toda responsabilidade. Por meio dela você crescerá 
em graça. Por meio dela você preencherá todas as frestas e fendas 
de sua vida, e saberá como gastar seu tempo livre e aproveitá-lo 
para Deus. Por meio dela você extrairá o bem do mal. Por meio 
dela você irá conversar com Deus, ter comunhão com Ele e 
desfrutar Dele. E me diga, isso não é benefício suficiente para 
adocicar a viagem de seus pensamentos em meditação?12
Quando você considera o que as Escrituras dizem sobre a 
meditação e quando pesa os testemunhos de alguns dos homens 
e mulheres mais piedosos da história da Igreja, a importância e 
o valor da meditação cristã para o progresso no crescimento 
cristão é inegável.
Reflita em mais uma citação sobre o assunto. Ela apresenta 
um desafio sobre a meditação. É de Richard Baxter, o mais 
prático de todos os escritores puritanos. Uno-me a ele em 
desafiar você quanto ao cultivo da Disciplina da meditação.
Se, por este meio, tu não encontrares aumento de todas as tuas 
graças e não cresceres além da estatura dos cristãos comuns e 
não te fizeres mais útil em teu lugar e mais precioso aos olhos de 
todas as pessoas de discernimento; se a tua alma não desfrutar 
maior comunhão com Deus e a tua vida não for mais cheia de 
conforto e não te fizer mais preparado na hora da morte: então, 
lança fora estas orientações e chama-me para sempre enganador.13
Você irá provar que é “aplicador" da Palavra? Você leu 
muitos versículos da Palavra de Deus neste capítulo. O que 
fará em resposta a essas passagens das Escrituras?
A maioria de nós nos consideramos praticantes da Palavra 
e não meros ouvintes. Mas lembre-se de que Tiago 1:22 começa
78 Absorção Bíblica (Parte 2)
dizendo "Sejam". O verso diz a nós: "Sejam praticantes da palavra" 
(NVI). Como você vai demonstrar ser praticante da Palavra de 
Deus conforme ela foi apresentada a você aqui?
A Disciplina da absorção bíblica, especialmente a Disciplina 
da aplicação da Palavra de Deus sempre será difícil por muitas 
razões, e a menor delas não será oposição espiritual. J. I. Packer 
o afirmou da seguinte maneira:
Se eu fosse o demônio, um de meus primeiros alvos seria impedir 
as pessoas de vasculharem a Bíblia. Sabendo que ela é a Palavra 
de Deus, ensinando homens a conhecer, amar e servir o Deus da 
Palavra, eu faria tudo o que pudesse para cercá-la de equivalente 
espiritual de fossos, rebordo de espinhos e armadilhas de homens, 
para amedrontar as pessoas...A todo custo, eu desejaria impedi- 
las de usar suas mentes de forma disciplinada para obter a medida 
de sua mensagem.14
Apesar da dificuldade e da oposição espirituais, você está 
disposto, a todo custo, a começar a usar sua mente "de forma 
disciplinada" para se alimentar da Palavra de Deus com o fim 
de alcançar a Piedade?
1 Dallas Willard, The Spirit of the Disciplines (O Espírito das Disciplinas) (São 
Francisco, CA: Harper and Row, 1988), página 150.
2 Thomas Watson, "How We May Read the Scriptures with Most Spiritual Profit" 
(Como Podemos Obter o Máximo Benefício Espiritual da Leitura das Escrituras), 
em Puritan Sermons (Sermões Puritanos) (1674; reimpressão, Wheaton, IL: Richard 
Owen Roberts, 1981), vol. 2, página 62.
3 Thomas Brooks, conforme citação em The Banner of Truth (A Bandeira da Verdade), 
fevereiro de 1989, página 26.
4 Elisabeth D. Dodds, Marriage to a Difficult Man (Casada com um Homem Difícil) 
(Filadélfia, PA: Westminster Press, 1971), páginas 67-68.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 79
5 A Bíblia menciona quatro objetos gerais de meditação. O objeto mais mencionado 
é a meditação no conteúdo da própria Escritura. Um segundo objeto de meditação 
é a criação de Deus. E nós até nem temos que ter uma Bíblia nas mãos para parar 
para pensar na glória de Deus em um pôr-de-sol ou na habilidade criativa de 
Deus em um girassol, nossa meditação na criação deve sempre ser informada pelas 
Escrituras. A Bíblia também fala da meditação na providência de Deus e em Seu 
caráter. Ambos podem ser observados nas circunstâncias, mas são revelados 
infalivelmente apenas nas Escrituras. Com isso, desejo mostrar que a Bíblia não 
limita a meditação somente a princípios bíblicos. Entretanto, toda meditação deve 
ter seu foco ou naquilo que está revelado nas Escrituras ou ser informada pelas 
Escrituras. O quadro a seguir exibe todos os versículos bíblicos que mencionam 
explicitamente os objetos de meditação:
Palavra de Deus: Josué 1:8: "nele"
Salmo 1:2: "na lei do SENHOR" 
Salmo 119:15: "nos teus preceitos" 
Salmo 119:15: "tuas veredas"
Salmo 119:23: "nos teus decretos" 
Salmo 119:48: "nos teus decretos" 
Salmo 119:78: "nos teus preceitos" 
Salmo 119:97: "tua lei"
Salmo 119:99: "teus testemunhos" 
Salmo 119:148: "nas tuas promessas"
Criação de Deus: 
Providência de Deus:
Salmo 143:5: "o que tuas mãos têm feito" 
Salmo 77:12: "todos os teus feitos"
Salmo 77:12: "em todas as tuas obras" 
Salmo 119:27: "nas tuas maravilhas" 
Salmo 143:5: "em todas as tuas obras"
Salmo 145:5: "nas maravilhas que fazes"
Caráter de Deus: Salmo 63:6: "em ti"
Salmo 145:5 "o glorioso esplendor da tua majestade"
6 Maurice Roberts, "O the Depth!" (Ó Profundidade!) The Banner of Truth, julho de 
1990, página 2.
7 Jonathan Edwards, The Works of Jonathan Edwards (As Obras de Jonathan Edwards), 
rev. Edward Hickman (1834; reimpressão, Edinburgh, Escócia: The Banner of Truth 
Trust, 1974), vol. 1, página xiv.
8 Conforme citado por Philip Yancey em "Breaking the Bible Barrier" (Quebrando 
a Barreira da Bíblia), Moody, julho/agosto de 1986, página 30.
9 Watson, página 65.
10 William Bridge, The Works of the Reverend William Bridge (As Obras do Reverendo 
William Bridge) (reimpressão, 1845; reimpressão, Beaver Falls, PA: Soli Deo Gloria, 
1989), vol. 3, página 126.
11 Bridge, página 152.
12 Bridge, página 135.
13 Richard Baxter, The Practical Works of Richard Baxter: Select Treatises (Obras Práticas 
de Richard Baxter: tratados selecionados) (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 
1981), página 90.
14 J. I. Packer, prefácio a R. C. Sproul, Knowing Scripture (Conhecendo as Escrituras) 
(Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1979), páginas 9-10.
C A P Í T U L O Q U A T R O
Oração ...
Com o Propósito de 
A lcançar a Piedade
Nós, protestantes, somos um povo indisciplinado.
Eis a razão, em grande parte, da falta de discernimento 
espiritual e da grave falta de poder moral.
Albert Edward Day
Citação em How to Keep a Spiritual Journal 
(Como Manter um Diário Espiritual), de Ronald Klug
A maior receptora de rádio da terra estáno Novo México. 
Os pilotos a chamam "campo de cogumelos", mas seu 
verdadeiro nome é Very Large Array (Formação Muito Grande). 
O "VLA" é uma série de enormes discos de satélites em trinta 
e oito milhas de estradas de ferro. Juntos, os discos imitam um 
único telescópio do tamanho de Washington D.C. Os 
astrônomos vêm de todas as partes do mundo para analisar as 
imagens ópticas do céu compostas pela VLA a partir dos sinais 
de rádio que recebe do espaço. Por que um aparato tão 
gigantesco é necessário? Porque as ondas de rádio, muitas vezes 
emitidas de fontes a milhões de anos luz de distância, são muito 
fracas. A energia total de todas as ondas de rádio já registrada 
mal se iguala à força de um único floco de neve ao cair no chão.1
Que imensas distâncias as pessoas percorrem em busca de 
uma débil mensagem do espaço, quando Deus já falou tão
Oração 81
claramente por Seu Filho e pela Sua Palavra! Esforçando-se por 
meio dos olhos de telescópios e dos ouvidos eletrônicos do VLA, 
elas vasculham a escuridão infinita do universo a procura de 
uma palavra. E o tempo todo: "Temos, assim, tanto mais confirmada 
a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia 
que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva 
nasça em vosso coração" (2 Pedro 1:19).
Mas Deus não só tem falado clara e poderosamente a nós 
por meio de Cristo e das Escrituras, como também tem um 
Ouvido Muito Grande continuamente aberto para nós. Ele ouve 
toda oração de Seus filhos, até quando nossas orações são mais 
fracas do que um floco de neve. É por isso que, de todas as 
Disciplinas escriturísticas, a oração ocupa somente o segundo 
lugar em importância seguindo a absorção da Palavra de Deus.
O relacionamento dinâmico da oração com a absorção da 
Palavra de Deus e sua proeminência sobre todas as outras 
Disciplinas Espirituais é ilustrada a partir da história cristã por 
Cari Lundquist:
A igreja do Novo Testamento acrescentou duas outras disciplinas 
à oração e ao estudo bíblico: a Ceia do Senhor e os pequenos 
grupos de células. John Wesley enfatizou cinco obras de piedade 
ao acrescentar o jejum. Os místicos medievais escreveram sobre 
nove disciplinas agrupadas a três experiências: purgação do 
pecado, iluminação do espírito e união com Deus. Mais tarde, a 
abordagem da Convenção Keswick à santidade prática girou em 
torno de cinco exercícios religiosos diferentes. Hoje, o livro 
Celebration of Discipline (Celebração da Disciplina), de Richard 
Foster, relaciona doze disciplinas, todas elas relevantes para o 
cristão contemporâneo. Mas sejam quais forem os variados 
exercícios religiosos que pratiquemos, sem os dois básicos de 
Emaús - oração e leitura da Bíblia - os outros são vazios e 
ineficazes.2
82 Oração
Se Lundquist estiver certo, como eu creio que esteja, então 
uma das principais razões para a falta de Piedade é a falta de 
oração.
Durante a década de 1980, enquanto freqüentavam 
seminários sobre oração por despertamento espiritual, mais de 
dezessete mil membros de uma importante denominação 
evangélica foram entrevistados a respeito de seus hábitos de 
oração. Por freqüentarem tal tipo de seminário, podemos 
presumir que essas pessoas tinham um interesse acima da 
média pela oração. Entretanto, as pesquisas revelaram que elas 
oravam em média menos de cinco minutos por dia. Havia dois 
mil pastores e esposas nos mesmos seminários que, conforme 
eles próprios admitiram, oravam menos de sete minutos por 
dia. É muito fácil fazer as pessoas se sentirem culpadas com 
relação à falta de oração, e esta não é a intenção deste capítulo. 
Mas é preciso aceitar o fato de que, para sermos como Jesus, 
temos que orar.
É PRECISO ORAR
Dizer que é preciso orar pode mexer um pouco com os filhos 
de uma era não conformista e anti-autoridade. Aqueles que têm 
se colocado sob a autoridade de Cristo e da Bíblia, contudo, 
sabem que a vontade de Deus é que oremos. Mas também 
cremos que a vontade Dele é perfeita.
Jesus Espera que Oremos
Não pense na oração como uma necessidade impessoal. 
Observe que ela é uma Pessoa, o Senhor Jesus Cristo, com toda 
autoridade e com todo amor, que espera que nós oremos. Esses 
excertos de Suas palavras mostram que Ele mesmo espera que
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 83
oremos:
o Mateus 6:5: "E quando vocês orarem..."
o Mateus 6:6: "Mas quando você orar..."
© Mateus 6:7: "E quando orarem..."
© Mateus 6:9: "Vocês, orem assim..."
© Lucas 11:9: "Por isso lhes digo: Peçam...; busquem...; batam..."
0 Lucas 18:1: "Então Jesus contou aos seus discípulos...que eles deviatn 
orar sempre..."
Suponha que Jesus aparecesse a você pessoalmente, assim 
como Ele fez ao Apóstolo João na Ilha de Patmos em Apocalipse 
1, e dissesse que espera que você ore. Você não se tomaria mais 
fiel na oração sabendo especificamente que Jesus espera isso 
de você? Bem, as palavras de Jesus citadas acima são a Sua 
vontade para você tanto quanto se Ele falasse seu nome e as 
dissesse a você face a face.
A Palavra de Deus o Toma Claro
Além das palavras de Jesus, a inequívoca expectativa de 
Deus no restante do Novo Testamento é que oremos.
Colossenses 4:2: "Dediquem-se à o r a ç ã o Todos nós nos 
dedicamos a algo. A maioria de nós, a muitas coisas. Sabemos a 
que somos dedicados quando para algo damos prioridade, 
dispomo-nos a fazer sacrifícios e a dedicar tempo. Deus espera 
que os cristãos sejam dedicados à oração.
1 Tessalonicenses 5:17: "Orem continuamente." Enquanto 
"Dediquem-se à oração" enfatiza a oração como atividade, 
"Orem continuamente" nos traz à mente que a oração é também 
um relacionamento com o Pai.
Assim, este versículo, não significa que nada façamos senão 
orar, pois a Bíblia espera muitas outras coisas de nós além da
84 Oração
oração, inclusive períodos de descanso quando não podemos 
orar conscientemente. Significa, na verdade, que, se falar e 
pensar em Deus não é algo que possa estar na parte dianteira 
de sua mente, deve sempre estar à espreita para tomar o lugar 
daquilo em que você está se concentrando. Você pode entender 
que orar sem cessar é comunicar-se com Deus em uma linha 
enquanto também recebe chamadas em outra. Ainda que esteja 
falando na outra linha, você nunca perde a consciência da 
necessidade de voltar a atenção para o Senhor. Assim, orar sem 
cessar significa que você nunca pára realmente de conversar 
com Deus; mas simplesmente é interrompido com freqüência.
Eu poderia ter escolhido outras passagens da Nova Aliança 
que indicassem que Deus espera que nós oremos, mas essas 
duas são especialmente significativas por serem ordens diretas. 
Isto significa que ter pouco tempo, muitas responsabilidades, 
muitos filhos, trabalho demais, pouco desejo, pouca experiência 
etc., não nos isenta da expectativa de orar. Deus espera que 
todo cristão seja dedicado à oração e ore sem cessar.
Martinho Lutero, um homem de oração bem como 
reformador da igreja, expressou a expectativa divina em relação 
à oração da seguinte forma: "Assim como a tarefa dos alfaiates 
é fazer roupas e a dos sapateiros, consertar sapatos, a tarefa 
dos cristãos é orar".3
Mas devemos ver a expectativa de orar não só como um 
chamado divino, mas também como convite excelente. Como 
o escritor de Hebreus nos diz, "Assim, aproximemo-nos do trono 
da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e 
encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade" (4:16). 
Podemos ser pessimistas em relação à oração e ver a expectativa 
de orar meramente como obrigação, ou podemos ser otimistas 
que vêem a ordem de orar como oportunidade de receber
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 85
misericórdia e graça de Deus.
Minha esposa Caffy espera que eu telefone para ela quando 
viajo. Mas essa expectativa é uma expectativa de amor. Ela pede 
que eu ligue porque ela quer saber como estou. A expectativa 
de Deus para que oremos é assim também. A Sua ordem de 
orar é de amor. Em Seu amor, Ele deseja comunicar-se conosco 
e nos abençoar.Deus também espera que oremos assim como um general 
espera ouvir notícias de seus soldados na batalha. Um escritor 
nos lembra de que "a oração é um walkietalkie para a luta 
armada, e não um interfone doméstico para aumentar nossas 
conveniências". 4 Deus espera que usemos o walkietalkie da 
oração porque esse é o meio que Ele ordenou não só para a 
Piedade, mas também para a batalha espiritual entre o Seu 
Reino e o reino de Seu inimigo. Abandonar a oração é, na melhor 
das hipóteses, lutar com nossos próprios recursos, e na pior, é 
perder interesse pela batalha.
O que sabemos é que Jesus orou. Lucas nos diz: "Mas Jesus 
retirava-se para lugares solitários, e orava" (Lucas 5:16). Se Jesus 
precisou orar, quanto mais nós precisamos? A oração é esperada 
de nós porque nós precisamos dela. Sem ela, não seremos como 
Jesus.
Por que, então, tantos crentes confessam que não oram 
como deveriam? Às vezes o problema é basicamente falta de 
disciplina. Nunca se planeja orar; nunca se reserva tempo 
somente para a oração. Enquanto externamente se ressalta a 
prioridade da oração, na realidade, ela sempre parece ser 
sufocada por coisas mais urgentes.
Muitas vezes nós não oramos porque duvidamos que algo 
realmente irá acontecer se orarmos. Obviamente, não 
admitimos isso publicamente. Mas se tivéssemos certeza de
86 Oração
resultados visíveis no período de sessenta segundos de cada 
oração, as calças de todo cristão no mundo teria furos nos 
joelhos! Evidentemente, a Bíblia nunca promete isso, ainda que 
seja promessa de Deus responder as orações. A oração envolve 
comunicação no reino espiritual. Muitas orações são 
respondidas de formas que não podem ser vistas no reino 
material. Muitas orações são respondidas de formas diferentes 
daquilo que pedimos. Por várias razões, após abrirmos nossos 
olhos, nem sempre vemos evidências tangíveis de nossas 
orações. Quando não vigiamos, isso nos tenta a duvidar do 
poder de Deus na oração.
A falta de senso de proximidade de Deus também pode 
desencorajar a oração. Há aqueles momentos maravilhosos 
quando o Senhor parece tão próximo que quase esperamos 
ouvir uma voz audível. Ninguém precisa ser incitado a orar 
nesses tempos de preciosa intimidade com Deus. Normalmente, 
porém, não nos sentimos assim. Na verdade, às vezes nem 
conseguimos sentir a presença de Deus! Embora seja verdade 
que a oração (bem como todos os aspectos de nossa vida cristã) 
deva ser governada pela verdade das Escrituras e não por 
nossos sentimentos, a fragilidade de nossas emoções 
freqüentemente corrói o nosso desejo de orar. Quando o desejo 
de orar enfraquece, podemos encontrar muitas outras coisas 
para fazer.
Quando há pouca consciência da real necessidade, há pouca 
oração verdadeira. Algumas circunstâncias nos levam a dobrar 
os joelhos. Mas há períodos em que a vida parece bastante 
controlável. Embora Jesus tenha dito: "Sem mim vocês não podem 
fazer coisa alguma" (João 15:5), esta verdade é mais eficazmente 
absorvida em algumas épocas do que em outras. Em orgulho e 
auto-suficiência, podemos viver por dias como se a oração fosse
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 87
necessária apenas quando acontece algo grande demais para 
enfrentarmos sozinhos. Até que vejamos o perigo e a tolice desta 
atitude, a expectativa de Deus de que oremos pode parecer 
irrelevante.
Quando nossa consciência da grandeza de Deus e do 
evangelho é vaga, nossa vida de oração também será pequena. 
Quanto menos pensamos na natureza e no caráter de Deus, e 
quanto menos nos lembramos do que Jesus Cristo fez por nós 
na Cruz, menor é nosso desejo de orar. Dirigindo meu carro 
hoje, ouvi um programa de rádio onde o convidado, um 
astrofísico, falou sobre os bilhões de galáxias do universo. Em 
apenas um momento de meditação nisso, automaticamente 
passei a louvar e orar. Por quê? Eu adquiri uma nova consciência 
de quão grandioso Deus realmente é. E quando penso naquilo 
de que Cristo me salvou, quando relembro a vergonha que Ele 
passou tão voluntariamente por minha causa, quando me 
lembro de tudo o que a salvação significa, a oração não é penosa. 
Quando este tipo de pensamento é infreqüente, a oração 
significativa também se torna infreqüente.
Outra razão porque muitos cristãos oram tão pouco é que 
eles não aprenderam sobre a oração.
ORAR É ALGO QUE SE APRENDE
Se você estiver desanimado com a ordem de orar porque 
sente que não sabe como orar bem, o fato de a oração ser 
aprendida deve dar-lhe esperanças. Isso significa que não há 
problemas em se iniciar a vida cristã sem qualquer 
conhecimento ou experiência em oração. Não importa quão 
fraca ou forte sua vida de oração esteja neste momento, você 
pode aprender a fortalecê-la ainda mais.
88 Oração
Existe um entendimento de que a oração não precisa ser 
ensinada a um filho de Deus mais do que um bebê precisa ser 
ensinado a chorar. Mas chorar por necessidades básicas é 
comunicação mínima, e nós logo temos que passar dessa 
infância. A Bíblia diz que devemos orar para a glória de Deus, 
em Sua vontade, em fé, no nome de Jesus, com persistência e 
mais. Um filho de Deus aprende gradualmente a orar dessa 
forma assim como uma criança em crescimento aprende a falar. 
Para orar como é esperado, para orar como cristão maduro e 
para orar efetivamente, devemos dizer como os discípulos em 
Lucas 11:1: “Senhor, ensina-nos a orar".
Orando
Se você já aprendeu uma língua estrangeira, sabe que 
aprender é melhor quando você realmente tem que falar o 
idioma. O mesmo é verdadeiro com a "língua estrangeira" da 
oração. Há muitos bons recursos para se aprender a orar, mas 
o melhor jeito de aprender a orar é orando.
Andrew Murray, ministro sul-africano e autor de With 
Christ in the School ofPrayer ("Com Cristo na Escola da Oração"), 
escreveu: "Ler um livro sobre oração, ouvir palestras e falar 
sobre o assunto é muito bom, mas não vai ensinar você a orar. 
Não se adquire nada exceto exercício sem prática. Posso ouvir 
um professor de música tocar a música mais bonita por um 
ano, mas isso não irá me ensinar a tocar um instrumento".5
O Espírito Santo ensina as pessoas de oração a como orar 
melhor. Essa é uma das aplicações de João 16:13, onde Jesus 
diz: "Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a 
verdade". Assim como um avião é guiado mais facilmente 
quando está no ar do que no chão, com seu motor desligado, o 
Espírito Santo nos guia em oração melhor quando estamos na
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 89
prática da oração do que quando não estamos.
Meditando nas Escrituras
Este é um dos conceitos de oração mais convincentes que 
já aprendi. A meditação é o elo perdido entre a absorção bíblica 
e a oração. Os dois são freqüentemente separados, quando 
deveriam ser unidos. Lemos a Bíblia, fechamo-la, e depois 
tentamos mudar a marcha para entrar em oração. Mas muitas 
vezes, parece que a marcha entre as duas não engrena. Na 
verdade, após algum avanço em nosso tempo na Palavra, mudar 
para a oração às vezes é como voltar repentinamente para 
ponto-morto ou até mesmo dar marcha à ré. Em vez disso, 
deveria haver uma transição suave, quase imperceptível, entre 
a absorção das Escrituras e a produção de oração, para que nos 
aproximássemos ainda mais de Deus naqueles momentos. Isso 
acontece quando há o link da meditação as une.
Ao menos dois textos das Escrituras ensinam isso por 
exemplo. Davi orou em Salmo 5:1: "Escuta, SENHOR, as minhas 
palavras, considera o meu gemer". A palavra hebraica traduzida 
por "gemer" pode também ser traduzida por "meditação". Na 
verdade, a mesma palavra é usada com esse significado em 
outra passagem, Salmo 19:14: "Que as palavras dos meus lábios e a 
meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, SENHOR, minha 
Rocha e meu Resgatador". Observe que os dois versículos são 
orações e ambos se referem a outras "palavras" faladas em 
oração. Contudo, em cada caso, a meditação foi um catalisador 
que catapultou Davi da verdade de Deus para o falar com Deus. 
Em 5:1 ele estavameditando e agora ele pede que o Senhor dê 
ouvidos e o considere. Em Salmo 19, encontramos uma das 
declarações mais conhecidas já escritas sobre as Escrituras, 
começando com as famosas palavras do versículo 7: "A lei do
90 Oração
SENHOR é perfeita, e revigora a alma". O texto continua até o 
versículo 11 e depois Davi ora no versículo 14, como resultado 
dessas palavras e de sua meditação.
O processo funciona da seguinte maneira: Após a absorção 
de uma passagem das Escrituras, a meditação permite que 
pensemos profundamente naquilo que Deus nos disse, o 
digiramos e depois falemos com Deus em expressiva oração 
sobre o que foi mostrado. Como resultado, oramos sobre o que 
encontramos na Bíblia, agora personalizado por meio da 
meditação. E não somente temos algo substancial a dizer em 
oração, e a confiança de que estamos orando os pensamentos 
de Deus a Ele, mas fazemos suavemente a transição à oração 
com paixão por aquilo que estamos orando. Então, ao 
continuarmos orando, não cambaleamos porque já tivemos uma 
parte de nosso momento espiritual.
Parece que aqueles que melhor conheceram este segredo 
foram os Puritanos Ingleses que viveram de 1550 a 1700. 
Permita-me citar vários escritores puritanos, não apenas para 
mostrar quão notavelmente comum era esta agora incomum 
conexão entre meditação e oração dentre eles, mas também para 
prender a sua verdade firmemente em sua vida de oração. Há 
muito a ser retido desta coleção de pregos bem fixados.
Richard Baxter, pastor e autor do clássico ainda impresso 
The Reformed Pastor (O Pastor Reformado), escreveu:
Assim, em nossas meditações, entremear monólogo e oração; às 
vezes falando a nossos próprios corações, e às vezes, a Deus, é, 
eu reconheço, o degrau mais alto que podemos alcançar nesta 
tarefa celestial. Nem devemos imaginar que isso será também 
apegar-se à oração somente, e deixar de lado a meditação; pois 
elas são incumbências distintas, e ambas devem ser cumpridas. 
Precisamos de uma tanto quanto da outra, portanto, causaremos
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 91
males a nós mesmos se negligenciarmos alguma delas. Além disso, 
a mistura delas, assim como a música, será mais atraente; já que 
uma serve para dar vida à outra. E nosso falar conosco mesmos 
em meditação deve ocorrer antes de nosso falar com Deus em 
oração.6
John Owen, capelão de Oliver Cromwell e o maior teólogo 
dos Puritanos, disse: "Ore ao pensar. Abrace conscientemente 
com o seu coração todo vislumbre de luz e verdade que vier a 
sua mente. Agradeça a Deus e ore sobre tudo o que causar 
impacto forte em você".7
Pastor puritano e comentarista da Bíblia, Matthew Henry 
advertiu sobre Salmo 19:14: "As orações de Davi não foram suas 
palavras apenas, mas suas meditações; como a meditação é a melhor 
preparação para a oração, assim a oração é a melhor fonte da meditação. 
Meditação e oração andam juntas".8
Um dos mais prolíficos escritores-pregadores puritanos foi 
Thomas Manton. Em uma mensagem sobre a meditação de 
Isaque no campo (em Gênesis 24:63), ele aponta diretamente a 
meditação como o elo entre a absorção bíblica e a oração. Ele 
escreveu:
A meditação é um tipo intermediário de incumbência entre a 
palavra e a oração, e diz respeito a ambas. A palavra alimenta a 
meditação e a meditação alimenta a oração. Tais incumbências 
devem estar sempre intimamente relacionadas; a meditação deve 
seguir o ouvir e anteceder a oração. Ouvir e não m editar é 
improdutivo. Podemos ouvir e ouvir muitas vezes, mas será como 
colocar algo em um saco furado...E temerário orar e não meditar. 
O que absorvemos pela palavra digerimos pela meditação e 
liberamos pela oração. Essas três incumbências devem ser 
ordenadas para que uma não atropele a outra. Os homens ficam 
estéreis, áridos e desvigorados em suas orações por não se 
exercitarem em pensamentos santos.9
92 Oração
William Bates, chamado "o mais clássico e culto dos últimos 
pregadores puritanos", disse: "Por qual razão nossos desejos, 
assim como uma flecha arremessada por um arco fraco, não 
atingem o alvo? simplesmente esta: não meditamos antes de 
orar...A maior razão por que nossas orações são ineficazes é 
que não meditamos antes fazê-las".10
Dentre os melhores dos escritos práticos puritanos está o 
de William Bridge, que fez a seguinte declaração sobre a 
meditação:
Tal como a irmã da leitura, assim é a mãe da oração. Embora o 
coração do homem seja muito indisposto a orar, se tão-somente 
ele puder entrar em meditação sobre Deus e as coisas de Deus, 
seu coração logo começará a orar...Comece lendo ou ouvindo. 
Prossiga meditando; termine em oração...Ler sem meditar é 
improdutivo; meditar sem ler é lesivo; meditar e ler sem orar em 
ambos é deixar de ser abençoado.11
Em seu livro From Mind to Heart (Da Mente para o Coração), 
Peter Toon, um escritor britânico moderno, resume o ensino 
dos puritanos sobre essas coisas:
Ler a Bíblia e não meditar foi visto como um exercício infrutífero: 
melhor é ler um capítulo e meditar após a leitura do que ler vários 
capítulos e não meditar. Semelhantemente, meditar e não orar 
foi como se preparar para uma corrida e nunca sair da linha de 
largada. As três incumbências de ler as Escrituras, meditar e orar 
estão ligadas e, em bora cada um a possa ser realizad a 
ocasionalmente em separado, como incumbências formais a Deus 
elas foram melhor realizadas juntas.12
Aproximadamente duzentos anos depois dos puritanos, 
destacou-se o homem reconhecido como um dos homens de
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 93
oração mais ungidos por Deus que o mundo já viu: George 
Muller. Por dois-terços do último século, ele dirigiu um orfanato 
em Bristol, Inglaterra. Unicamente em oração e fé, sem anunciar 
sua necessidade ou entrar em dívida, ele cuidou de dois mil 
órfãos de uma só vez e apoiou a obra missionária em todo o 
mundo. Milhões de dólares vieram por suas mãos 
espontaneamente, e são conhecidas as suas dezenas de milhares 
de respostas de oração de que se tem registro.
Qualquer pessoa que tenha ouvido a história de George 
Muller irá ponderar sobre o segredo de sua eficácia na oração. 
Embora alguns argumentem que o "segredo" de Muller seja 
uma coisa, e outros argumentam que é outra, creio que devamos 
definitivamente atribuir sua incomum e bem-sucedida vida de 
oração à soberania de Deus. Mas se procurarmos algo a 
transferir de sua vida para a nossa, meu voto vai para algo que 
nunca ouvi ser considerado como seu "segredo".
Na primavera de 1841, George Muller fez uma descoberta 
sobre o relacionamento entre a meditação e a oração que 
transformou a sua vida espiritual. Ele descreveu sua nova visão 
da seguinte maneira:
Minha prática foi, por ao menos dez anos, colocar-me em 
oração depois de me vestir pela manhã. Porém, vi que o mais 
importante era dedicar-me à leitura da Palavra de Deus, e à 
meditação nela, para que então meu co ração pudesse ser 
confortado, encorajado, aquecido, reprovado, instruído; e para 
que, assim, por meio da Palavra de Deus, ao meditar nela, meu 
coração pudesse ser trazido à comunhão experimental com o 
Senhor.
Comecei, portanto, a meditar no Novo Testamento desde o 
início, logo pela manhã. A primeira coisa que fazia, após ter pedido 
em poucas palavras a bênção do Senhor sobre Sua preciosa 
Palavra, era começar a meditar na Palavra de Deus, buscando obter
94 Oração
bênção em cada versículo; não por causa do ministério público 
da Palavra, nem para pregar sobre aquilo que havia meditado, 
mas a fim de obter alimento para minha própria alma.
O resultado obtido era que, quase invariavelmente, após 
alguns minutos, minha alma era levada à confissão, ou à ação de 
graças, ou à intercessão, ou à súplica, de forma que, embora eu 
não, por assim dizer, me colocasse em oração, mas em meditação, 
isso resultava quase imediatamente em algum grau de oração. 
Depois, então, de ter estado por um tempo em confissão ou 
intercessão ou súplica, ou dado graças, vou para as próximas 
palavras ou versículo, levandotudo, ao prosseguir, em oração 
por mim mesmo ou por outros, conforme a Palavra conduza a 
isso, mas ainda continuamente mantendo ante mim que o 
alimento para minha própria alma é o objeto de minha meditação. 
O resultado é que há sempre uma boa parte de confissão, agradecimento, 
súplica ou intercessão associada a minha meditação, e meu homem 
interior quase que invariavelmente é até nutrido e fortalecido de 
forma perceptível, e, antes do café da manhã, com raras exceções, 
estou em um estado pacífico, senão feliz, de coração.
A diferença, então, entre a prática anterior e a atual é o 
seguinte: antigamente, quando me levantava, eu começava a orar 
logo que possível e geralmente passava em oração todo o tempo 
que tinha, ou quase, até o café da manhã. Acontecesse o que 
acon tecesse, eu quase invariavelm ente com eçava com 
oração...Mas qual era o resultado? Muitas vezes eu passava de 
quinze minutos a meia hora, chegando até a uma hora, de joelhos 
antes de estar consciente de ter obtido consolo, encorajamento, 
humilhação de alma etc.; e muitas vezes, somente depois de sofrer 
bastante vaguear de mente, após os primeiros dez ou quinze 
minutos, ou até meia hora, é que eu realmente começava a orar.
Quase nunca sofro assim hoje em dia. A razão é que, meu 
coração estando nutrido pela verdade e sendo trazido à comunhão 
experimental com Deus, falo com meu Pai e com meu Amigo 
(embora indigno eu seja, e não merecedor dele) sobre as coisas 
que Ele tem trazido diante de mim, em Sua preciosa Palavra. Hoje
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 95
fico abismado por não ter percebido esse ponto antes...Agora, 
desde que Deus me ensinou este ponto, ficou muito evidente para 
mim que a primeira coisa que o filho de Deus tem que fazer manhã 
após manhã é alimentar o seu espírito interior.
Mas, o que seria alimento para o espírito? Não a oração, mas a 
Palavra de Deus; e digo novamente, não a mera leitura da Palavra de 
Deus, para que apenas passe por nossas mentes, assim como a água 
passa por um cano, mas considerando o que lemos, ponderando e 
aplicando a nossos corações.
Quando oramos, falamos com Deus. Agora a oração, para 
ser continuada por qualquer período de tempo de qualquer 
maneira que não seja formal, requer, falando em termos gerais, 
uma medida de força ou desejo piedoso, e a momento, portanto, 
em que tal exercício da alma pode ser mais efetivamente realizado 
é após o espírito ter sido nutrido pela meditação na Palavra de Deus, 
onde encontramos nosso Pai falando a nós, para nos encorajar, 
consolar, instruir, humilhar, reprovar. Podemos, assim, meditar 
proveitosamente com a bênção de Deus, embora sejamos tão 
fracos espiritualmente; ou antes, quanto mais fracos somos, mais 
necessitamos da meditação para fortalecimento do nosso espírito 
interior Assim, há muito menos a se temer em relação ao vaguear 
da mente do que se nos dedicamos à oração sem ter tido tempo 
para meditação antes.
Estendo-me tão especificamente neste ponto por causa do 
imenso proveito e revigoramento espiritual que estou consciente 
de ter particularmente obtido dele e gentil e solenemente rogo a 
todos os meus companheiros crentes que ponderar sobre este 
assunto. Pela bênção de Deus, eu atribuo a esta fórmula a ajuda e 
a força que eu tenho obtido de Deus para passar em paz pelas 
provações mais profundas, de várias maneiras, do que eu jamais 
obtive antes, e tendo eu, agora por mais de quatorze anos, posto 
em prática este método, posso mais plenamente, no temor de 
Deus, recomendá-lo.13
Como aprendemos a orar? Como aprendemos a orar como
96 Oração
Davi, como os puritanos e como George Muller? Aprendemos 
a orar meditando nas Escrituras, pois a meditação é o elo 
perdido entre a absorção bíblica e a oração.
Orando com outras Pessoas
Os discípulos aprenderam a orar não somente ouvindo 
Jesus ensinar sobre a oração, mas também estando com Ele 
quando Ele orava. Não nos esqueçamos de que as palavras: 
"Senhor, ensina-nos a orar" não foram proferidas simplesmente 
como idéia casual. O pedido seguiu um período em que os 
discípulos acompanharam Jesus em oração (Lucas 11:1). 
Semelhantemente, podemos aprender a orar orando com outras 
pessoas que podem servir de exemplo de oração verdadeira 
para nós.
Com isso, não quero dizer simplesmente escolher novas 
palavras e frases para usar em oração. Assim como acontece 
com todo aprendizado por exemplos, podemos adquirir maus 
hábitos tanto quanto bons hábitos. Certas pessoas parecem 
nunca ter uma oração original. Toda vez que oram dizem as 
mesmas coisas. E fica óbvio que elas estão meramente usando 
frases empoladas, colhidas das orações de outras pessoas aqui 
e ali ao longo dos anos. Jesus disse: "E, orando, não useis de vãs 
repetições" (Mateus 6:7). Esses tipos de orações raramente fluem 
do coração. Não é a Deus que a oração é dirigida. Na realidade, 
tais orações são feitas para impressionar as pessoas que as 
ouvem.
Há sempre outros crentes que podem nos ensinar muito 
quando oramos com eles. Mas devemos orar com eles para 
aprender princípios da oração, e não frases para nossas orações. 
Um cristão pode dar razões bíblicas ao Senhor porque uma 
oração deva ser respondida. Outro pode nos mostrar como orar
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 97
baseados em passagens das Escrituras. Ao orarmos com um 
intercessor fiel, podemos aprender a orar por missões. Orar 
regularmente com outros pode ser uma das aventuras mais 
enriquecedoras de sua vida cristã. A maioria dos grandes 
movimentos de Deus teve início com um pequeno grupo de 
pessoas a quem Ele reuniu para começar a orar.
Lendo sobre a Oração
Ler sobre a oração em vez de orar simplesmente não resolve. 
Mas ler sobre a oração além de orar pode ser uma forma valiosa 
de aprender. "Assim como o ferro afia o ferro", como diz Provérbios 
27:17, "o homem afia o seu companheiro". Leia as lições aprendidas 
pelos veteranos das trincheiras da oração e deixe que eles afiem 
suas armas da guerra da oração. "Aquele que anda com os sábios 
será cada vez mais sábio" é o ensino de Provérbios 13:20. Ler os 
livros dos sábios da oração nos dá o privilégio de "andar" com 
eles e de aprender o que Deus revelou a eles sobre como orar.
Aprendemos por experiência como as outras pessoas 
conseguem ver coisas em uma passagem das Escrituras que 
nós não conseguimos, ou como elas são capazes de explicar 
uma doutrina conhecida de uma nova maneira, que aprofunda 
nosso entendimento. Da mesma forma, ler o que outros 
aprenderam sobre a oração com base no que estudaram das 
Escrituras e em sua peregrinação na graça pode ser o 
instrumento de Deus para nos ensinar o que de outra forma 
não aprenderíamos. Quem não aprendeu sobre a oração de fé 
depois de ler sobre a vida de oração de George Muller, ou quem 
não ficou motivado a orar após ler a biografia de David 
Brainerd? Espero que a leitura deste capítulo sobre a Disciplina 
da oração o convença de que é possível aprender a orar lendo 
sobre oração!
98 Oração
Permita-me acrescentar uma palavra de encorajamento. 
Não importa o quanto você ache difícil orar no momento, se 
perseverar em aprender a orar, você sempre terá a esperança 
de uma vida de oração até mais forte e mais produtiva pela 
frente.
ORAÇÕES SÃO ATENDIDAS
Gosto muito da forma como Davi se refere ao Senhor em 
Salmo 65:2: "Ó tu que ouves a oração".
Talvez nenhum princípio de oração seja mais tomado como 
certo do que este: de que a oração é atendida. Tente ler esta 
promessa de Jesus como se fosse pela primeira vez: "Pedi, e 
dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que 
pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á." 
(Mateus 7:7-8).
Andrew Murray comenta ousadamente, mas penso eu, de 
forma certa, a promessa de Cristo.
"Peçam e lhes será dado; todo aquele que pede, recebe." Esta é a lei 
etema estabelecida do reino: se você pedir e não receber, deve 
ser porque há algo errado ou faltando na oração. Espere; deixe a 
Palavra e o Espírito ensinaremvocê a orar corretamente, mas não 
abandone a confiança que Ele busca despertar: Todo o que pede 
recebe... Que cada aprendiz da escola de Cristo, portanto, receba 
a palavra do Mestre em toda simplicidade... Que tomemos 
cuidado para não enfraquecermos a Palavra com nossa sabedoria 
humana.14
Já que Deus responde as orações, quando nós "pedimos 
e não recebemos", devemos considerar a possibilidade de haver 
"algo errado ou faltando" em nossa oração. Pode ser, lembre- 
se, que Deus tenha de fato respondido, mas de uma forma não
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 99
tão óbvia para nós. E é possível que nada esteja errado em nossa 
oração, mas que ainda não tenhamos visto a resposta só porque 
Deus pretende que perseveremos um pouco mais em oração 
sobre o assunto. Mas temos também que aprender a examinar 
nossas orações. Estamos pedindo coisas que estejam fora da 
vontade de Deus ou que não O glorificam? Estamos orando 
com motivação egoísta? Estamos deixando de lidar com o tipo 
de pecado ruidoso que faz com que Deus coloque todas as 
nossas orações em espera? Apesar do que vemos em resposta a 
nossas orações, contudo, não devemos ficar tão acostumados a 
nossas falhas na oração e à percepção de pedir sem receber, a 
ponto de nossa fé na força da promessa de Jesus ser diminuída. 
Orações são respondidas.
Minha esposa, Caffy, ministra como artista e ilustradora 
free-lancer em um pequeno estúdio de nossa casa. Embora ela 
tenha produzido centenas de ilustrações para várias 
organizações cristãs, todos os seus trabalhos são ocasionais. 
Freqüentemente oramos para que o Senhor abra portas de 
oportunidade para seu trabalho artístico. Como ela não tinha 
nada em sua mesa de desenho, eu recentemente disse que 
começaríamos a orar por novos projetos. Antes do almoço na 
manhã seguinte, Caffy me chamou e disse: "Por favor, pare de 
orar para que o Senhor me dê mais trabalhos! Tive tantos 
pedidos esta manhã, que vou levar meses para concluir tudo!" 
Ela nunca teve tanto trabalho entrando tão depressa. Havia 
várias coisas pelas quais eu estava orando (não apenas por mim 
mesmo, mas pela igreja e outros) que o Senhor poderia ter 
escolhido responder. Não sei por que a Ele agradou responder 
aquele pedido específico. Aquelas oportunidades múltiplas 
eram realmente respostas de oração ou apenas uma coleção de 
coincidências providenciais? Somente Deus sabe ao certo. Mas
100 Oração
eu concordo com o homem que disse: "Se for coincidência, 
certamente acontecem mais coincidências quando oro do que 
quando não oro".
Deus não zomba de nós com Suas promessas de responder 
orações. C. H. Spurgeon disse:
N ão consigo im aginar uma pessoa atorm entando o filho, 
estimulando-o a um desejo que não se pretende gratificar. Seria 
muito mesquinho oferecer esmola aos pobres e depois, quando 
eles estendessem as mãos para apanhá-la, zombar de sua pobreza 
com uma negativa. Seria um acréscimo cruel às misérias dos 
enfermos se eles fossem levados ao hospital e deixados lá para 
morrer, sem atendimento ou cuidado. Se Deus leva você a orar 
por algo, Ele pretende que você o receba.15
Pelos textos sobre oração contidos nas Escrituras e por Seu 
Espírito, Deus realmente nos leva a orar. Ele não nos conduz à 
oração a fim de nos frustrar, batendo a porta dos céus em nossa 
face. Disciplinemo-nos em orar e em aprender sobre a oração 
para que possamos ser mais parecidos com Jesus ao 
experimentar a alegria da oração respondida.
MAIS APLICAÇÃO
Já que a oração é algo que se espera, você irá orar? Desafio 
você a isso diretamente porque acho que precisamos tomar 
decisões conscientes sobre a nossa vida de oração. Já é tempo 
de as intenções gerais relativas à oração se tomarem planos 
específicos. Um pastor que concorda com isso escreveu o 
seguinte:
A menos que eu esteja muito enganado, uma das principais razões 
porque tantos filhos de Deus deixam de ter uma vida de oração
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 101
significativa não é tanto a falta de vontade de tê-la, mas a falta de 
planejamento. Quem deseja tirar um mês de férias não se levanta 
uma bela manhã de verão e diz: "Hei, vamos viajar hoje!" Você 
não tem nada pronto. Você não saberá para onde ir. Nada foi 
planejado. Mas é assim que muitos de nós tratamos a oração. 
Levantam o-nos dia após dia e percebem os que períodos 
relevantes de oração deveriam fazer parte de nossas vidas, mas 
nada nunca está pronto. Não sabem os aonde ir. N ada foi 
planejado. Nem o tempo. Nem o lugar. Nem o procedimento. E 
todos sabemos que o oposto do planejamento não é um fluxo 
maravilhoso de experiências de oração profundas e espontâneas. 
O oposto do planejamento é uma enfadonha rotina. Se não 
planejar suas férias, você provavelmente ficará em casa vendo 
TV. O fluxo natural não planejado de vida espiritual afunda ao 
nível mais baixo de vitalidade. Há uma corrida a ser corrida e 
uma luta a ser travada. Se você deseja renovar sua vida de oração, 
deve planejar para ver resultados.16
Com o propósito de alcançar a Piedade, você irá orar? Hoje? 
Você planejará orar amanhã? E nos dias seguintes?
Já que a oração pode ser aprendida, você irá aprender a 
orar? Aprender mais sobre como orar sempre ajuda a melhorar 
sua vida de oração. Mas assim como a prática da oração, 
aprender sobre oração também requer um pouco de 
planejamento. Você irá aprender a orar interligando a leitura 
bíblica à oração via meditação? Você planeja orar com outras 
pessoas? Está disposto a aprender mais sobre oração lendo 
sobre o assunto? O que você irá ler? Há livros sobre o tema, 
bem como biografias de grandes guerreiros da oração, em 
abundância. Além de considerar algumas das fontes citadas 
neste capítulo, peça recomendações ao seu pastor ou a 
funcionários de uma livraria cristã. Agora, quando você irá 
começar?
102 Oração
Já que as orações são respondidas, você irá orar 
persistentemente? Lembre-se de que, na língua original do texto, 
as palavras pedir, buscar e bater de Mateus 7:7-8 estão no presente, 
tempo contínuo. Isso significa que nós devemos orar sempre 
com persistência antes de recebermos respostas. Começando 
em Lucas 18:1, Jesus conta uma parábola toda "para mostrar [a 
nós] que [nós] devemos orar sempre e nunca desanimar". Às vezes, 
deixar de persistir em oração prova que, em primeiro lugar, 
não levamos o nosso pedido a sério. Outras vezes, Deus quer 
que persistamos em oração a fim de fortalecer a nossa fé Nele. 
A fé jamais cresceria se todas as orações fossem respondidas 
imediatamente. A oração persistente tende a desenvolver uma 
gratidão mais profunda também. Como a alegria do nascimento 
de um bebê é maior por causa dos meses que o antecedem, 
assim também é alegria de uma resposta de oração após oração 
persistente. E tanto quanto uma geração que mede o tempo e 
em segundos odeia admitir sua necessidade de tê-la, Deus 
molda em nós a paciência semelhante a de Cristo quando requer 
persistência na oração.
George Muller observou:
O grande erro dos filhos de Deus é que eles não continuam a orar; 
eles não prosseguem em oração; eles não perseveram. Se desejam algo 
para a glória de Deus, devem orar até conseguir. O, quão bom, 
quão suave e quão gracioso e condescendente é Aquele com quem 
temos de lidar! Ele me deu, mesmo em minha indignidade, 
infinitamente mais do que tudo o que pedi ou pensei.17
Talvez a razão de tais testemunhos serem incomuns seja 
por tão poucos perseverarem em oração. Mas buscar a Deus 
em oração vale a pena. Vale a pena qualquer parcela de 
frustração e desânimo com oração. Não deixe o Inimigo tentar
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 103
você a se tomar silenciosamente cínico a respeito da disposição 
e da habilidade de Deus em responder. Deixe o amor por Deus 
fazer com que você prevaleça em oração a Ele, que o ama, 
mesmo quando os Seus juízos forem insondáveis e Seus 
caminhos, inescrutáveis (Romanos 11:33).
Façamos uma pausa e verifiquemos nossas conexões. Por 
que tamanho apelo a nos disciplinarmos a orar?Por causa do 
"propósito de alcançar a piedade". Onde há Piedade, há oração. 
Tipicamente pitoresco, Spurgeon o disse da seguinte forma: 
"Como a lua influencia as marés, assim a oração...influencia as 
marés de piedade".18
Homens e mulheres de Deus são sempre homens e 
mulheres de oração. Considerando minha experiência pastoral, 
concordo com as palavras de J. C. Ryle: "Qual é a razão para 
alguns crentes serem tão mais vivazes e santos do que outros? 
Creio que a diferença, dezenove entre vinte casos, surge de 
diferentes hábitos de oração particular. Creio que aqueles que 
não são eminentemente santos oram pouco e aqueles que são 
eminentemente santos oram muito".19
Você seria como Cristo? Então, faça como Ele fez: discipline- 
se para ser uma pessoa de oração.
104 Oração
1 De um programa de janeiro de 1990, "Infinite Voyage" (Viagem Infinita), 
transmissão da WTTW, estação de televisão pública em Chicago.
2 Cari Lundquist, boletim The Burning Heart (O Coração em Chamas) (St. Paul, 
MN: Evangelical Order of the Burning Heart, novembro de 1984), página 2.
3 John Blanchard, comp.. Gathered Gold (Ouro Ajuntado) (Welwyn, Hertfordshire, 
Inglaterra: Evangelical Press, 1984), página 227.
4 Do livro Desiring Gold: Meditations of a Christian Hedonist (Desejo por Ouro: 
M editações de um Cristão Hedonista), de John Piper, copyright 1986 por 
Multnomah Press, Publicado por Multnomah Press, Portland, Oregon 97266. Usado 
com permissão, página 147.
5 Andrew Murray, conforme citação em Christianity Today (Cristianismo Hoje), 5 de 
fevereiro de 1990, página 38.
6 Richard Baxter, The Practical Works of Richard Baxter: Select Treatises (Obras Práticas 
de Richard Baxter: Tratados Selecionados) (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 
1981), página 103.
7 John Owen, conforme citado em The Banner of Truth (O Estandarte da Verdade), 
agosto-setembro de 1986, p. 58.
8 Matthew Henry, Commentary on the Whole Bible (Comentário de Toda a Bíblia) Old 
Tappan, NJ: Revell, n.d.), vol. 3, página 255.
9 Thomas Manton, The Works of Thomas Manton (As Obras de Thomas Manton) 
(reimpressão, Worthington, PA: Maranatha Publications, n.d.), páginas 272*273.
10 William Bates, The Whole Works of the Rev. W. Bates (Obras Completas do Rev. W. 
Bates), arr. e ver. W. Farmer (reimpressão, Beaver Falls, PA: Soli Deo Gloria, 1989), 
vol. 3, página 130.
11 William Bridge, The Works of the Reverend William Bridge (Obras do Reverendo 
William Bridge) (reimpressão, 1845; reimpressão, Beaver Falls, PA: Soli Deo Gloria, 
1989), vol. 3, páginas 132, 154.
12 Peter Toon, From Mind to Heart: Christian Meditation Today (Da Mente para o 
Coração: Meditação Cristã Hoje) (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1987), 
página 93.
13 Extraído de Spiritual Secrets of George Muller (Segredos Espirituais de George 
Muller), © 1985, de Roger Steer. Direitos americanos concedidos por Harold Shaw 
Publishers, Wheaton, IL 60189. Páginas 60-62, ênfase do autor.
14 Andrew Murray, With Christ in the School of Prayer (Com Cristo na Escola da Oração) 
(Old Tappan, NJ: Spire Books, 1975), página 33.
15 C. H. Spurgeon, "Thought-Reading Extraordinary" "Leitura de Pensamentos 
Extraordinários", Metropolitan Tabernacle Pulpit (London: Passmore and Alabaster, 
1885; reimpressão, Pasadena, TX: Pilgrim Publications, 1973), vol. 30, páginas 539­
540.
16 Piper, páginas 150-151, usado com permissão.
17 Roger Steer, George Muller: Delighted in God! (George Muller: Deleitado em Deus!) 
(Wheaton, IL: Harold Shaw, 1975), p. 310.
18 C. H. Spurgeon, "Prayer - The Forerunner of Mercy" (Oração: Precursora da 
Misericórdia), em New Park Street Pulpit (London: Passmore and Alabaster, 1858; 
reimpressão, Pasadena, TX: Pilgrim Publications, 1981), vol. 3, página 251.
19 J. C. Ryle, A Call to Prayer (Chamado à Oração) (Grand Rapids, MI: Baker Book 
House, 1979), página 35.
C A P Í T U L O C I N C O
A do ração ... 
C om o Propósito d e 
A lcançar a P iedade
A verdadeira autodisciplina espiritual estabelece 
limites aos crentes, mas nunca os acorrenta; 
seu efeito é ampliar, expandir e liberar.
D.G. Kehl
Controle a si mesmo! Praticando a Arte da Autodisciplina
U r n a das experiências mais tristes de minha infância ocorreu 
durante meu aniversário de dez anos. Os convites para a festa 
haviam sido enviados a oito amigos dias antes. Aquele seria o 
melhor de meus aniversários. Todos vieram a minha casa direto 
da escola. Jogamos futebol e basquete no quintal até escurecer. 
Meu pai fez cachorro-quente e hambúrguer enquanto minha 
mãe dava os toques finais no bolo de aniversário. Após termos 
comido toda a cobertura, o sorvete e a maior parte do bolo, 
chegou a hora dos presentes. Honestamente, hoje não consigo 
me lembrar de um só daqueles presentes, mas com certeza 
lembro-me do quanto estava me divertindo com os meninos 
que os haviam dado a mim. Já que eu não tinha irmãos, a melhor 
parte de todo o evento foi simplesmente estar com outros 
meninos.
O clímax daquela grande celebração foi um presente meu 
a eles. Nada era bom demais para meus amigos. O custo era
106 Adoração
imaterial. Eu ia pagar para que eles fossem ao evento mais 
contagiante da cidade: o jogo de basquete do colégio. Ainda 
posso ver-nos saltando do carro de meus pais, rindo, naquela 
noite fresca, e correndo até o ginásio. Em pé na bilheteria, 
pagando pelos nove tickets de 25 centavos e cercado de amigos: 
foi um daqueles momentos simples, mas impagáveis, da vida. 
A cena em minha mente era o final perfeito do aniversário 
perfeito de um menino de dez anos. Quatro amigos de um lado 
e quatro de outro, eu me sentaria no meio deles, comeríamos 
pipoca barulhentamente e ficaríamos cutucando uns aos outros 
e torcendo por nossos heróis do colégio. Ao entrarmos, lembro- 
me de ter me sentido mais feliz do que Jimmy Stewart na cena 
final do filme "A Felicidade não se Compra".
Foi então que meu mundo caiu. Chegando ao ginásio, todos 
os meus amigos se dispersaram e eu não os vi mais pelo resto 
da noite. Ninguém me agradeceu pelo divertimento, pela 
comida ou pelos tickets. Nenhum deles disse: "Desejo a você 
um feliz aniversário, mas vou me sentar com outra pessoa". 
Sem uma só palavra de gratidão ou adeus, todos eles saíram 
sem olhar para trás. Assim, passei o resto de meu décimo 
aniversário sozinho na arquibancada, passando, solitário, para 
a próxima idade. Em minha mente, ficou a lembrança de que 
aquele foi um jogo deplorável.
Conto essa história não com o intuito de ganhar 
comiseração por uma memória de infância dolorosa, mas 
porque ela me faz lembrar a forma como muitas vezes tratamos 
Deus na adoração. Embora compareçamos a um evento onde 
Ele é o Convidado de Honra, é possível dar a Ele presentes de 
rotina, cantar algumas canções costumeiras para Ele e depois 
negligenciá-Lo totalmente enquanto focamos em outros e 
desfrutamos a performance daqueles que estão à nossa frente.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 107
Assim como os meus amigos de dez anos, podemos sair sem a 
mínima dor na consciência e sem qualquer percepção de nossa 
insensibilidade, convencidos de que cumprimos uma obrigação 
bem.
O próprio Jesus reenfatizou e obedeceu à ordem do Antigo 
Testamento "Adore o Senhor, o seu Deus" (Mateus 4:10). É 
obrigação (e privilégio) de todas as pessoas adorar seu Criador. 
"Venham! Adoremos prostrados", diz Salmo 95:6, "e ajoelhemos 
diante do SENHOR, o nosso Criador". Deus claramente espera 
que nós adoremos. E o nosso propósito! Piedade sem a adoração 
a Deus é impensável. Mas aqueles que buscam a Piedade devem 
perceber que é possível adorar a Deus em vão. Jesus citou outra 
passagem do Antigo Testamento para advertir sobre a adoração 
vã: "Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe 
de mim. Em vão me adoram" (Mateus 15:8-9).
Como podemos adorar a Deus sem adorar em vão? 
Devemos aprender algo que é essencial ao aprendizado da 
semelhança com Jesus: a Disciplina Espiritual da adoração.
ADORAR É...FOCAR EM DEUS E RESPONDER 
POSITIVAMENTEA ELE
É difícil definir bem a adoração. Primeiro, vamos observar. 
Em João 20:28, quando o Jesus ressurreto aparece a Tomé e 
mostra as cicatrizes em Suas mãos e lado, ocorre adoração 
quando Tomé diz: "Senhor meu e Deus meu!" Em Apocalipse 
4:8, é-nos dito que quatro criaturas ao redor do trono adoram a 
Deus dia e noite sem cessar dizendo: "Santo, santo, santo é o 
Senhor Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir". Depois, 
no versículo 11, somos informados que os vinte e quatro anciãos 
ao redor do trono de Deus nos Céus O adoram lançando suas
108 Adoração
coroas a Seus pés e prostrando-se diante Dele e dizendo: "Tu, 
Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, 
porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram 
c r ia d a s No capítulo seguinte, milhares e milhares de anjos, 
anciãos e criaturas viventes ao redor do trono celestial de Jesus 
Cristo, o Cordeiro de Deus, adorando, clamam em alta voz: 
"Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, 
força, honra, glória e louvor!" (5:12). Imediatamente a seguir vem 
a adoração de toda criatura, dizendo: "Àquele que está assentado 
no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para 
todo o sempre!" (5:13).
Agora, vamos descrever o que vimos. A palavra worship 
(adoração em inglês) vem da palavra saxônica weorthscype, que 
depois se tomou worthship. Adorar a Deus é atribuir a Ele o 
devido valor, magnificar a Sua dignidade de louvor, ou melhor, 
aproximar-se e referir-se a Deus porque Ele é digno. Como Deus 
Santo e Todo-poderoso, o Criador e Sustentador do Universo, 
o Juiz Soberano a quem devemos dar contas, Ele é digno de 
todo o mérito e honra que possamos dar a Ele e infinitamente 
mais. Observe, por exemplo, como aqueles ao redor do trono 
de Deus em Apocalipse 4:11 e 5:12 se referiram a Deus como 
"digno" de tantas coisas.
Quanto mais focamos em Deus, mais entendemos e 
apreciamos a Sua dignidade. Quando a entendemos e 
apreciamos, torna-se inevitável reagir a Ele. Assim como um 
indescritível pôr-do-sol ou uma estonteante vista do topo de 
uma montanha evoca uma reação espontânea, nós não podemos 
descobrir a dignidade de Deus sem reagir em adoração. Se 
pudesse ver Deus neste momento, você entenderia tão 
plenamente quão digno Ele é de adoração, que instintivamente 
se prostraria e O adoraria. E por isso que lemos em Apocalipse
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 109
que quando aqueles que se colocam ao redor do trono O vêem, 
prostram-se em adoração e aquelas criaturas mais próximas 
Dele ficam tão maravilhadas com Sua dignidade, que por toda 
eternidade O adoram sem cessar, respondendo com: "Santo, 
santo, santo". Assim, adorar é focar em Deus e reagir a Ele.
Mas ainda não estamos no Céu para ver o Senhor desta 
forma. Como Deus é revelado a nós aqui para que nós possamos 
focalizar Nele? Ele tem Se revelado pela Criação (Romanos 1:20), 
assim, a reação certa diante do estonteante pôr-do-sol ou da 
espetacular vista da montanha é a adoração ao Criador. Mais 
especificamente, Deus tem revelado a Si mesmo perfeitamente 
por Sua Palavra, a Bíblia (2 Timóteo 3:16,2 Pedro 1:20-21) e Sua 
Palavra, Jesus Cristo (João 1:1, 14; Hebreus 1:1-2). Portanto, 
nossa responsabilidade é buscar a Deus por meio de Cristo e 
da Bíblia. Quando o Espírito Santo abre os olhos de nosso 
entendimento, vemos Deus revelado nas Escrituras e reagimos. 
Por exemplo, suponha que acabamos de ler na Bíblia que Deus 
é santo. Quando meditamos nisso e começamos a descobrir mais 
do que o fato de Deus ser santo significa, o desejo de adorá-Lo 
nos domina. Mas Deus é mais claramente revelado em Jesus 
Cristo, pois Jesus é Deus. Se por meio da meditação, nós 
focalizarmos a Pessoa e a obra de Cristo conforme reveladas 
na Bíblia, entenderemos a Deus, pois Jesus "o tornou 
conhecido" (João 1:18). E à medida que verdadeiramente 
compreendemos a Deus, nossa reação passa a ser adorá-Lo.
É por isso que a adoração a Deus, tanto pública quanto 
privada, deve ter como base e incluir muito da Bíblia. A Bíblia 
revela Deus a nós para que possamos adorá-Lo. A leitura e a 
pregação da Bíblia são centrais na adoração pública por serem 
a apresentação mais clara, mais direta e mais extensa de Deus 
na reunião. Pelas mesmas razões, a absorção e a meditação
110 Adoração
bíblica são o coração da adoração privada. Os salmos e hinos e 
cânticos espirituais são cantados ou para expressar verdades 
sobre Deus ou em reação de adoração a Deus. A oração é uma 
reação a Deus como Ele é revelado nas Escrituras, assim como 
ofertar.
Já que adorar é focar e reagir a Deus, independentemente 
do que mais estejamos fazendo, não estaremos adorando se 
não estivermos pensando em Deus. Você pode estar ouvindo 
um sermão, mas sem pensar em como a verdade de Deus se 
aplica a sua vida e afeta o seu relacionamento com Ele, você 
não estará adorando. Você pode estar cantando: "Santo, santo, 
santo", mas se não estiver pensando em Deus enquanto canta, 
você não estará adorando. Você pode estar ouvindo alguém 
orar, mas se não estiver pensando em Deus e orando com a 
pessoa, você não estará adorando. Considera-se que todas as 
coisas feitas em obediência ao Senhor, mesmo as coisas do dia- 
a-dia no trabalho e no lar, sejam atos de adoração. Mas essas 
coisas não substituem a adoração direta a Deus.
A adoração inclui sempre palavras e ações, mas as 
ultrapassa, chegando ao foco da mente e coração. A adoração é 
o foco e a reação do homem interior centrados em Deus; é ter 
Deus como ocupação principal. Assim, não importa o que esteja 
dizendo, cantando ou fazendo a qualquer momento, você estará 
adorando a Deus somente quando estiver focado Nele e 
pensando Nele. Mas quando estiver realmente focado no valor 
infinito de Deus, sua reação será adorar tão certo quanto a lua 
reflete o sol. Este tipo de adoração não é em vão. O mesmo 
acontece quando...
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 111
ADORAÇÃO É...FEITA EM ESPÍRITO E EM VERDADE
A passagem mais profunda sobre adoração no Novo 
Testamento é João 4:23-24. Ali, Jesus diz: "No entanto, está 
chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores 
adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o 
Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o 
adorem em espírito e em verdade".
Antes de podermos adorar em espírito e em verdade, 
devemos ter dentro de nós Aquele cujo nome é Espírito Santo 
e o "Espírito da verdade" (João 14:17). Ele vive somente dentro 
daqueles que se voltaram para Cristo em arrependimento e fé. 
Sem Ele, não ocorre adoração verdadeira. Em 1 Coríntios 12:3, 
lemos que "ninguém pode dizer: 'Jesus é Senhor', a não ser pelo 
Espírito Santo". Isso não significa que ninguém seja capaz de 
dizer tais palavras sem o Espírito Santo, mas que ninguém pode 
dizê-las como ato de verdadeira adoração, a menos que 
motivado pelo Espírito Santo. É Ele quem revela Deus a nós e 
torna Cristo irresistível, quem nos ensina a verdade das 
Escrituras, quem toma vivos corações que estavam mortos em 
relação a Deus. Ele é quem faz corações que eram frios quanto 
à adoração se inflamarem de paixão por Cristo.
Ter o Espírito Santo habitando em nosso interior não 
garante que sempre adoraremos em espírito e em verdade, mas 
sim que isso pode acontecer. Adorar a Deus em espírito é adorar 
de dentro para fora. Significa ser sincero nos atos de adoração. 
Não importa quão espiritual seja a música que você canta, e 
independentemente de quão poética seja a oração que você faz, 
se não for de coração sincero, não será adoração, mas hipocrisia.
O equilíbrio da adoração em espírito é adorar em verdade. 
Devemos adorar de acordo com a verdade das Escrituras. Nós
112 Adoração
adoramos a Deus segundo Ele é revelado na Bíblia, e não como 
talvez desejemos que Ele seja. Nós O adoramos como Deus tanto 
de misericórdia quanto de justiça, de amor tanto quanto de ira, 
um Deus que tanto recebe nosCéus quanto condena ao inferno. 
Devemos adorar em resposta à verdade. Se não o fizermos, 
nossa adoração será vã.
Tendo argumentado anteriormente sobre a adoração a Deus 
em resposta à verdade das Escrituras, desejo dizer mais aqui 
sobre adoração em espírito. Quer estejamos considerando a 
adoração pública ou privada, precisamos perceber que, a menos 
que o coração esteja conectado, não haverá energia para a 
adoração. Um pastor e escritor contemporâneo é direto em dizê- 
lo: "Onde os sentimentos por Deus estão mortos, a adoração é 
morta".1
Ele ilustra isso efetivamente da seguinte forma:
A adoração é uma maneira de refletir com alegria de volta 
para Deus a radiação de Seu valor. Isso não pode ser feito pela 
mera realização de obrigações. Isso pode ser feito apenas quando 
um amor espontâneo desperta no coração.
Considere a analogia de um aniversário de casamento. O meu 
é 21 de dezembro. Suponha que nesse dia eu traga uma dúzia de 
rosas de galho longo para Noël. Quando ela me encontra à porta, 
eu ofereço as rosas e ela diz: "Johnny, que lindas! Obrigada", e 
me dê um grande abraço. Depois suponha que eu sustente minha 
mão e diga simplesmente: "De nada; é minha obrigação".
O que acontece? O exercício de uma obrigação não é algo 
nobre? Não honramos aqueles que servem zelosamente? Não 
muito. Não se o coração não estiver nisso. Rosas zelosas são uma 
contradição em termos. Se eu não for motivado por um amor 
espontâneo por ela como pessoa, as rosas não a honrarão. Na 
verdade, elas a depreciam. Elas são uma cobertura muito fina do 
fato de que ela não tem o valor ou a beleza aos meus olhos para
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 113
despertar afeição. Tudo o que posso exibir é uma expressão 
calculada de obrigação marital.
A verdadeira obrigação da adoração não é a obrigação 
exterior de dizer ou fazer a liturgia. É a obrigação interior, o 
mandamento: "Deleite-se no Senhor!" (Salmo 37:4).
A razão porque essa é a verdadeira obrigação da adoração é 
que isso honra a Deus, enquanto o desempenho vazio do ritual 
não o faz. Se eu levar minha esposa para sair à noite em nosso 
aniversário de casamento e ela me perguntar: "Por que você faz 
isso?" a resposta que mais a honrará será: "Porque nada me fará 
mais feliz hoje à noite do que estar com você".
"É minha obrigação" é uma desonra para ela.
"E minha alegria" é uma honra.
Como nós honraremos a Deus em adoração? Dizendo: "É 
minha obrigação?" Ou dizendo: "E minha alegria"?2
Assim, devemos adorar tanto em espírito quanto em 
verdade, tanto com o coração quanto com a mente, tanto com 
as emoções quanto com os pensamentos. Se adorarmos demais 
somente pelo espírito, ficaremos muito sentimentais na 
verdade, adorando de acordo com os sentimentos. Isso pode 
levar a tudo, de uma tolerância letárgica a qualquer coisa na 
adoração em um extremo, a uma labareda espiritual 
incontrolável no outro. Mas se adorarmos pela verdade sem 
espírito, então nossa adoração será tensa, penosa e gelidamente 
previsível.
Na realidade, essas verdades sobre o equilíbrio na adoração 
em espírito e em verdade são complementares. E importante 
perceber isso porque, francamente, às vezes todos nós tentamos 
nos envolver na adoração pública ou privada sem encontrar 
fogo algum no altar de nossos corações. Inversamente, o tipo 
certo de coração por Deus anseia ser guiado pela verdade. 
Devemos ter ambos. Jesus disse que o maior de todos os
114 Adoração
mandamentos envolve amar a Deus de todo o coração e de todo o 
entendimento (Marcos 12:30). Se assim não for, nossa adoração é 
vã.
Devemos parar de participar da adoração ou interromper 
nossos devocionais diários se parecer que não somos capazes 
de manter o devido equilíbrio entre espírito e verdade? E se 
estivermos passando por a um longo período de sequidão 
espiritual onde na prática cada experiência de suposta adoração 
pareça ser pouco mais do que um exercício de hipocrisia? Por 
que continuar se estamos simplesmente adorando em vão?
Não, não devemos parar de nos envolver em formas de 
adoração mesmo que não tenhamos sentimentos de adoração. 
Há algumas coisas em que devemos perseverar até quando não 
temos vontade, simplesmente porque é a coisa certa a se fazer. 
Lembre-se de que até nossa "melhor" adoração é imperfeita 
de certa forma, apesar de as imperfeições poderem ser 
minúsculas. Entretanto, não defendemos a cessação da adoração 
nessas ocasiões por ela ser, de alguma forma, falha. E, mais 
importante, é provável que a "grande descoberta" na 
restauração da alegria e da liberdade da adoração aconteça no 
contexto da adoração. As pessoas muitas vezes me dizem que 
não sentiam vontade de ir à igreja em determinada ocasião, 
mas algo aconteceu durante o culto, que os renovou e restaurou 
sua perspectiva espiritual.
Todo crente deve cruzar alguns desertos espirituais em sua 
peregrinação à Cidade Celestial. Alguns lugares áridos podem 
ser atravessados em uma hora ou em alguns dias. 
Ocasionalmente, contudo, você pode ter que viajar por semanas 
com uma alma quase definhada. Insista na adoração. Clame a 
Deus por uma consciência renovada dos "rios de água viva" 
(referência ao Espírito Santo) que Jesus prometeu em João 7:38
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 115
que fluiriam em cada crente. Mas não pare de adorar. Nunca 
desista no deserto. Você não sabe quão grande ele é, e pode ser 
que já esteja bem no fim da travessia.
A ADORAÇÃO, TANTO PÚBLICA QUANTO 
PRIVADA, É...ESPERADA DO CRISTÃO
Encontramos a ordem que os crentes devem participar 
regularmente da adoração corporativa em Hebreus 10:25: "Não 
deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns 
O primeiro exercício da Disciplina da adoração é desenvolver 
o hábito de fielmente se reunir com outros crentes em reuniões 
onde o principal propósito seja adorar a Deus.
O cristianismo não é uma religião isolacionista. O Novo 
Testamento descreve a Igreja com metáforas como corpo (1 
Coríntios 12:12), edifício (Efésios 2:21) e família (Hebreus 2:19), 
cada uma fala do relacionamento entre unidades individuais e 
um todo maior. Expressar e experimentar o cristianismo quase 
sempre no nível individual (isto é, à exclusão do nível grupai), 
significa que você irá desnecessariamente e pecaminosamente 
perder muito da bênção e do poder de Deus. Este versículo 
ensina que aqueles que "desistem" do "hábito" disciplinado 
de se reunir com outros crentes desenvolveram um hábito que 
não é cristão.
E inegável que nos "reunirmos como igreja" significa adorar 
a Deus na presença física de outros crentes. As próprias palavras 
não só impedem qualquer outra interpretação, mas quando a 
carta foi escrita aos hebreus, não havia outra forma pela qual 
elas pudessem ser explicadas. Assim, não podemos nos 
persuadir de que estamos "reunidos como igreja" com outros 
cristãos ao os assistirmos adorando na televisão. Há bons
116 Adoração
motivos para se transmitir e gravar a adoração congregacional, 
mas nenhum inclui a idéia de substituir o ministério da mídia 
pela freqüência à igreja por aqueles que são habilitados.
Também é verdade que a qualidade de sua vida devocional 
privada não o isenta de adorar com outros crentes. Você pode 
ter a vida devocional de George Muller, mas precisa da adoração 
corporativa tanto quanto ele e aqueles hebreus precisavam. Há 
um elemento da adoração e do cristianismo que não podem 
ser experimentados na adoração privada ou pelo assistir à 
adoração. Há algumas graças e bênçãos que Deus dá somente 
na "reunião como igreja" com outros crentes.
O pregador puritano David Clarkson explica isso no sermão 
instrutivo: "A Adoração Pública Prestada Antes da Privada".
As coisas mais maravilhosas que agora são feitas na terra 
acontecem nas ordenações públicas, embora a simplicidade e 
a e sp iritu a lid a d e delas as faça p a re ce r m enos 
maravilhosas...Aqui o Senhor ordena que haja vida nos ossos 
secos e levanta as almas m ortas do túmulo e sepulcro do 
pecado,...Aqui os mortos ouvem a vozdo Filho de Deus e Seus 
mensageiros, e aqueles que ouvem vivem. Aqui Ele faz ver os 
que nasceram cegos; é o efeito do evangelho pregado para abrir 
os olhos dos pecadores, e para transportá-los das trevas para a 
luz. Aqui Ele cura as almas enfermas com uma palavra, aquelas 
que não se pode curar pela máxima ajuda de homens. Aqui 
Ele esconjura Satanás e expulsa espíritos imundos das almas 
de pecadores há muito possuídos por eles. Aqui Ele abate 
principados e potestades, subjuga o poder das trevas e faz com 
que Satanás caia dos céus como raio. Aqui Ele muda todo o 
curso da natureza nas almas dos pecadores, faz passar as coisas 
antigas, e todas as coisas se tornam novas. São maravilhas essas 
coisas e seriam assim consideradas, não fossem obra comum 
do ministério público. E realmente fato, o Senhor não se limitou 
a operar tais maravilhas somente em público; mas o ministério
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 117
público é o único meio comum pelo qual Ele as opera.3
Por outro lado, não importa quão satisfatória ou suficiente 
nossa celebração de adoração pública pareça ser, há 
experiências com Deus que Ele concede somente em nossa 
adoração privada. Jesus participava fielmente da adoração 
pública a Deus na sinagoga todos os sábados e nos ajuntamentos 
solenes de Israel no Templo em Jerusalém. Além disso, contudo, 
Lucas observou que "Jesus retirava-se para lugares solitários, e 
orava" (5:16). Como coloca o conhecido comentarista Matthew 
Henry, "A adoração pública não nos exime da adoração 
secreta".4
Como é possível adorar a Deus publicamente uma vez por 
semana quando não O adoramos em particular durante toda a 
semana? Podemos esperar que as chamas de nossa adoração a 
Deus queimem reluzentes em público no Dia do Senhor, quando 
elas mal tremulam por Ele em secreto nos outros dias? Não é 
porque não adoramos bem em secreto que nossa experiência 
de adoração corporativa muitas vezes não nos satisfaz? "De 
forma alguma", diz o batista galês Geoffrey Thomas, "aqueles 
que negligenciam a adoração secreta poderão ter comunhão 
com Deus nos cultos públicos do Dia do Senhor".5
Não devemos nos esquecer, contudo, de que Deus espera 
que adoremos em secreto para que Ele possa nos abençoar. 
Minimizamos nossa alegria quando negligenciamos a adoração 
diária a Deus em particular. É uma das grandes bênçãos da 
vida que Deus não limite a um dia por semana o nosso acesso a 
Ele e o desfrute de Sua presença! A força, a orientação e o 
encorajamento diários estão disponíveis a nós. Um convite ao 
crescimento em intimidade com o próprio Jesus Cristo está 
aberto todos os dias.
118 Adoração
Pense nisto: O Senhor Jesus Cristo está disposto a 
encontrar-Se com você em secreto sempre que você quiser, e 
Ele está disposto, e até ansioso, por encontrar você todos os 
dias! Suponha que você tivesse sido um dos milhares que 
seguiram a Jesus durante boa parte dos últimos três anos de 
Sua vida terrena. Pode imaginar quão entusiasmado você teria 
ficado se um de Seus discípulos dissesse: "O Mestre quer que 
nós digamos a você que Ele está disposto a ficar sozinho com 
você todas as vezes que você quiser, e por todo o tempo que 
você desejar, e Ele estará à sua espera todos os dias"? Que 
privilégio! Quem se queixaria desta expectativa? Bem, tal 
privilégio e expectativa são sempre seus. Exerça o privilégio e 
satisfaça a expectativa para a glória e o deleite de Deus para 
sempre.
ADORAÇÃO É...UMA DISCIPLINA A SER CULTIVADA
Jesus disse: "Adore o Senhor, o seu Deus" (Mateus 4:10). 
Adorar a Deus por toda a vida requer disciplina. Sem disciplina, 
nossa adoração a Deus será pobre e inconsistente.
Quando digo que adorar é focar e reagir a Deus, espero 
comunicar minha convicção de que a verdadeira adoração vem 
sempre coberta com as marcas do coração. A adoração não pode 
ser diagramada ou calculada, pois é resposta de um coração 
apaixonado por Deus. Entretanto, nós também temos que ser 
capazes de pensar na adoração como uma Disciplina, uma 
Disciplina que deve ser cultivada assim como todos os 
relacionamentos devem ser para permanecerem saudáveis e 
crescer.
A adoração é uma Disciplina Espiritual na medida em que 
é tanto um fim quanto um meio. A adoração a Deus é um fim
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 119
em si mesma porque adoração, como a temos definido, é focar 
em e reagir a Deus. Não há objetivo mais elevado do que focar 
e reagir a Deus. Mas a adoração é também um meio no sentido 
de que é um meio para se alcançar a Piedade. Quanto mais 
verdadeiramente adoramos a Deus, mais nos tornamos como 
Ele.
As pessoas tomam-se como os seus focos. Esforçamo-nos 
por igualar ou exceder aquilo em que pensamos. As crianças 
fingem que são os heróis com quem sonham. Os adolescentes 
se vestem como os astros dos esportes ou como os músicos de 
sucesso a quem devotam tanta atenção. Mas tais tendências 
não desaparecem com a idade adulta. Aqueles que se 
concentram em "chegar ao topo" lêem os livros daqueles que 
estão "no topo", depois copiam seu estilo nos negócios e hábitos 
pessoais. Para ilustrar o ponto num nível mais tosco, aqueles 
que focam na pornografia imitam o que vêem. Focar no mundo 
mais do que no Senhor nos torna mais mundanos do que 
Piedosos. Mas se pretendemos ser Piedosos, devemos focar em 
Deus. A Piedade requer adoração disciplinada.
"Mas, eu tentei", podem exclamar alguns, frustrados, "e 
não funciona comigo! Eu freqüento fielmente a igreja e 
experimentei uma rotina diária de leitura bíblica e oração, mas 
não obtive os resultados que esperava. Apesar de tudo que estou 
fazendo, não pareço estar crescendo muito em Piedade." Passar 
por uma rotina não é o mesmo que praticar corretamente uma 
Disciplina Espiritual. Ler a Bíblia todos os dias não me toma 
automaticamente Piedoso, assim como ler o caderno de 
negócios dos jornais não me toma automaticamente um homem 
de negócios. E deixar de experimentar o que desejamos quando 
o desejamos não prova que os meios de Deus para a semelhança 
com Cristo sejam ineficientes. Aconselhe-se com quem está
120 Adoração
crescendo em Piedade por meio da adoração pública e privada. 
Fale com um cristão maduro que tenha uma vida devocional 
significativa. Revise alguns dos capítulos anteriores deste livro, 
especialmente aqueles sobre meditação e oração. O 
desenvolvimento de qualquer disciplina, desde a prática de um 
esporte até tocar piano, muitas vezes requer auxílio externo de 
pessoas mais experientes. Assim, não se surpreenda pelo fato 
de precisar de ajuda durante o desenvolvimento das Disciplinas 
que levam à semelhança com Cristo, e não tenha medo de pedir 
auxílio.
Descrevendo o homem moderno, alguém escreveu: "Ele 
venera o seu trabalho, trabalha durante o lazer e brinca com a 
adoração". A despeito disso, você irá cultivar a Disciplina da 
adoração?
MAIS APLICAÇÃO
Você se comprometerá com a Disciplina da adoração diária? 
Se você não adora a Deus os sete dias da semana", disse A. W. 
Tozer, "você não O adora um dia por semana." 6 Não nos 
enganemos. A adoração não é um evento que ocorra uma vez 
por semana. Não podemos esperar que a adoração flua de 
nossos lábios no Dia do Senhor se a mantemos encerrada em 
nossos corações durante toda a semana. As águas da adoração 
nunca devem parar de fluir de nosso coração, pois Deus é 
sempre Deus e sempre digno de adoração. Mas o fluxo da 
adoração deve ser canalizado e destilado ao menos uma vez 
todos os dias para uma experiência diferenciada de adoração.
Existem aqueles que desejam considerar as Disciplinas 
Espirituais e praticamente se isolar de outros crentes. Eles crêem 
que sua vida devocional pessoal seja superior a tudo o que
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 121
experimentam na adoração corporativa, e então desconsideram 
o ministério público da Palavra de Deus. Devemos estar alertas 
para o perigo de nos tomarmos desequilibrados nesse ponto. 
Em meu ministério pastoral, contudo, tenho encontrado muito 
mais cristãos professos que caem no extremo oposto.Eles se 
disciplinam fielmente na freqüência à adoração corporativa, 
mas negligenciam a prática regular da adoração a Deus em 
secreto. Essa é uma das armadilhas mais comuns do caminho 
para a Piedade. Muitos progridem pouco na semelhança com 
Cristo porque deixam de se disciplinar exatamente nessa parte. 
Não deixe que isso aconteça com você.
Você incluirá adoração verdadeira em seus a tos de 
adoração? O que David Clarkson diz sobre adoração pública 
se aplica a todos os atos de adoração, tanto pública quanto 
privada.
O que você faz na adoração pública, faça com toda a sua força. 
Sacuda aquela índole preguiçosa, indiferente e morna, que é tão 
odiosa a Deus. ...Pense não ser suficiente apresentar seus corpos 
perante o Senhor. ...A adoração do corpo não é senão a carcaça da 
adoração; a adoração da alma é que constitui a alma da adoração. 
Aqueles que se aproximam somente com lábios encontrarão Deus 
longe; não apenas lábios, boca e língua, mas mente, coração e 
emoções; não apenas joelho, mão e olho, mas coração, consciência 
e memória devem ser compelidos a se dispor a Deus na adoração 
pública. Davi diz, não somente "minha carne anseia por Ti", mas 
"minha alma anseia por Ti". Então o Senhor Se aproximará, 
quando nosso homem inteiro esperar por Ele; depois o Senhor 
será encontrado, quando O buscarmos de todo o nosso coração.7
O ato de adorar que não inclui a verdadeira adoração é 
lastimoso. Assim, se a adoração o fatiga, você não está realmente 
adorando. Imagine uma das criaturas adorando ao redor do
122 Adoração
trono de Deus e dizendo: "Estou cansado disso!" É um 
pensamento que nunca passou pela cabeça Delas por toda a 
eternidade passada, e que jamais passará em toda eternidade 
por vir. Em vez disso, lemos que elas são tão infinitamente 
dominadas pela glória de Deus, que O adoram "dia e noite...sem 
cessar" (Apocalipse 4:8). Obviamente, não podemos ainda ver 
e experimentar na adoração tudo o que elas têm o privilégio de 
gozar, mas podemos aprender com elas que a adoração 
inexpressiva é uma contradição em termos. Já que o objeto de 
nossa adoração é o glorioso e majestoso Deus dos Céus, quando 
a adoração se torna vazia, o problema está com o sujeito (nós), 
não com o objeto (Deus). Ele é digno de toda adoração, a melhor 
e mais sincera adoração, que você possa dar a Ele.
A Disciplina Espiritual da adoração pública e privada a 
Deus é um dos meios que Ele nos deu para recebermos a graça 
de crescer em semelhança com Cristo. Quando nos fortalecemos 
na adoração a Deus, nos fortalecemos também na semelhança 
com Cristo. Talvez o Presidente Calvin Coolidge tenha dito 
muito mais do que pôde perceber quando afirmou: "É somente 
quando os homens começam a adorar que eles começam a 
crescer". 8
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 123
1 Do livro Desiring God: Meditations of a Christian Hedonist (Desejando Deus: 
M editações de um Hedonista Cristão), de John Piper, copyright 1986 por 
Multnomah Press. Publicado por Multnomah Press, Portland, Oregon 97266. Usado 
sob permissão, página 70.
2 Piper, páginas 72-73, usado sob permissão.
3 David Clarkson, The Works of David Clarkson (As Obras de David Clarkson) 
(Londres: James Nichol, 1864; reimpressão, Edinburgh, Escócia: The Banner of 
Truth Trust, 1988), vol. 3, páginas 193-194.
4 John Blanchard, comp., Gathered Gold (Juntando Ouro) (Welwyn, Hertfordshire, 
Inglaterra: Evangelical Press, 1984), página 342.
5 Geoffrey Thomas, "Worship in Spirit" (Adoração em Espírito), The Banner of Truth, 
agosto-setembro 19878, página 8.
6 John Blanchard, comp., More Gathered Gold (Juntando Mais Ouro) (Welwyn, 
Hertfordshire, Inglaterra: Evangelical Press, 1984), página 344.
7 Clarkson, página 209.
8 Lewis C. Henry, Ed., 5000 Quotations for All Occasions (5000 Citações para Todas 
as Ocasiões (Filadélfia, PA: The Blakinston Company, 1945), página 319.
C A P Í T U L O S E I S
E vangelismo ... 
Com o Propósito de 
A lcançar a Piedade
O benefício presente da disciplina espiritual é uma vida plena, 
abençoada por Deus, produtiva e útil. Se você se envolver na 
ginástica espiritual, as bênçãos da piedade prosseguirão até a 
eternidade. Embora muitos gastem muito mais tempo exercitando 
seus corpos do que suas almas, o servo excelente de Jesus Cristo 
percebe que a disciplina espiritual é uma prioridade.
John MacArthur, Jr.
Qualidades do Servo Excelente
5 omente o puro deleite de estar absorto em adoração a Deus 
é tão estimulante e inebriante quanto falar de Jesus Cristo a 
alguém.
Alguns dos períodos mais recompensadores de minha vida 
têm sido durante as viagens missionárias quando nada faço 
senão falar de Cristo nas ruas e nos lares, a uma pessoa ou 
grupo após outro, o dia inteiro. O mesmo acontece em meu 
próprio ambiente - nada me anima tanto quanto uma conversa 
sobre Cristo com alguém que não O conheça. Esta pode ser 
uma experiência igualmente compensadora para qualquer 
crente.
Por outro lado, nada causa uma desconfortante e 
desconcertante ansiedade mais rapidamente dentre um grupo
Evangelismo 125
de cristãos, no qual me incluo, do que falar sobre nossa 
responsabilidade de evangelizar. Conheço muitos crentes que 
se sentem confiantes de serem obedientes ao Senhor quando 
se trata de sua absorção das Escrituras ou do ato de dar ou 
servir, mas tenho certeza de que não conheço um único cristão 
que possa dizer ousadamente: "Sou tão evangelista quanto 
deveria ser".
Evangelismo é um assunto amplo, e há muitas coisas 
relacionadas a ele que não serão abordadas neste capítulo. A 
idéia principal que desejo comunicar aqui é que a Piedade 
requer que nos disciplinemos na prática do evangelismo. Dentre 
as razões porque não falamos mais de Cristo está o medo. 
Refletiremos juntos sobre isso mais tarde. Mas estou convencido 
de que a principal razão porque muitos de nós não 
testemunhamos de Cristo de forma eficiente e relativamente 
isenta de medo seja simplesmente o fato de não nos 
disciplinarmos para tal.
O EVANGELISMO É ALGO QUE SE ESPERA DO CRISTÃO
A maioria dos leitores deste livro não precisará se convencer 
de que o evangelismo é esperado de todo cristão. Não se espera 
que todos os cristãos usem os mesmos métodos de evangelismo, 
mas sim que todos os cristãos evangelizem.
Antes de prosseguirmos, definiremos alguns termos. O que 
é evangelismo? Se quisermos definir o termo de forma 
abrangente, podemos dizer que evangelizar é apresentar Jesus 
Cristo no poder do Espírito Santo às pessoas pecadoras, para 
que elas possam vir a depositar sua confiança em Deus por 
meio Dele, a recebê-Lo como seu Salvador e a servi-Lo como 
seu Rei na comunhão de Sua Igreja.1 Se desejarmos definir o
126 Evangelismo
termo de maneira simplificada, podemos dizer que o 
evangelismo do Novo Testamento é a comunicação do 
evangelho. Qualquer pessoa que relata fielmente os elementos 
essenciais da salvação de Deus por meio de Jesus Cristo está 
evangelizando. Isto é verdadeiro quer suas palavras sejam 
faladas, escritas ou gravadas, e quer sejam ditas a uma pessoa 
ou a uma multidão.
Por que o evangelismo é esperado de nós? O Próprio Senhor 
Jesus Cristo ordenou que testemunhássemos. Considere a Sua 
autoridade nos textos a seguir:
"Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando- 
os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a 
obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, 
até o fim dos tempos" (Mateus 28:19-20).
"E disse-lhes: 'Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a 
todas as pessoas'" (Marcos 16:15).
"e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão 
de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém" (Lucas 24:47).
"Novamente Jesus disse: 'Paz seja com vocês! Assim como o Pai 
me enviou, eu os envio" (João 20:21).
"Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, 
e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, 
e até os confins da terra" (Atos 1:8).
Esses mandamentos não foram dados somente aosapóstolos. Por exemplo, os apóstolos nunca vieram a esta nação. 
Para que a ordem de Jesus fosse cumprida e para que este País 
ouvisse sobre Jesus, o evangelho teve que chegar aqui por 
intermédio de outros cristãos. E os apóstolos nunca irão à sua 
casa, a seu bairro ou ao lugar onde você trabalha. Para que a 
Grande Comissão seja cumprida ali, para que Cristo tenha um 
testemunho nos "confins da terra", um cristão como você tem
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 127
que se disciplinar a fazê-lo.
Alguns cristãos crêem que o evangelismo seja um dom, 
responsabilidade apenas daqueles que o possuem. Eles alegam 
ter apoio em Efésios 4:11: "E ele designou alguns para apóstolos, 
outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores 
e mestres". Embora seja verdade que Deus dote alguns para o 
ministério como evangelistas, Ele chama todos os crentes a 
serem Suas testemunhas e fornece a eles tanto o poder para 
testemunhar quanto uma poderosa mensagem. Todo 
evangelista é chamado a ser uma testemunha, mas somente 
algumas poucas testemunhas são chamadas para o ministério 
vocacional de um evangelista. Assim como todo cristão, 
independentemente de dom espiritual ou ministério, deve amar 
aos outros, assim, cada crente deve evangelizar quer tenha ou 
não o dom de evangel/sta.
Pense em nossa responsabilidade de evangelismo pessoal 
da perspectiva de 1 Pedro 2:9: "Vocês, porém, são geração eleita, 
sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus". Muitos cristãos 
que conhecem esta parte do versículo não têm noção do que 
diz o restante dele. O versículo prossegue dizendo que tais 
privilégios são seus, cristão, "para anunciar as grandezas 
daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz". 
Normalmente pensamos neste versículo como estabelecendo a 
doutrina do sacerdócio de todos os crentes. Mas é igualmente 
apropriado dizer que ele também nos exorta a um tipo de 
ministério de profeta de todos os crentes. Deus espera que cada 
um de nós "[anunciemos] as grandezas" de Jesus Cristo.
O EVANGELISMO É REVESTIDO DE PODER
Se é tão óbvio para quase todos os cristãos que devemos
128 Evangelismo
evangelizar, por que quase todos os cristãos parecem 
desobedecer a esse mandamento com tanta freqüência?
Alguns crêem que precisam de muito treinamento 
especializado para testemunhar efetivamente. Receiam falar 
sobre Cristo até que se sintam confiantes de que têm 
conhecimento bíblico adequado e até que possam lidar com 
quaisquer potenciais perguntas ou objeções. O problema é que 
a confiança nunca chega. E se o homem cego que Jesus curou 
em João 9 tivesse pensado dessa maneira? Será que ele teria se 
sentido pronto para testemunhar aos fariseus eruditos e 
críticos? No entanto, algumas horas, talvez minutos, depois do 
encontro com Jesus, ele contou bravamente o que sabia sobre 
Jesus.
As vezes ficamos incapacitados de falar de Cristo por 
temermos que as pessoas pensem que somos estranhos e nos 
rejeitem. Quando estava cursando Direito, fiz amizade com um 
colega em minha classe de propriedade. Logo percebendo que 
ele não era cristão, conscientizei-me de minha responsabilidade 
de compartilhar o evangelho com ele. Fiz o melhor que pude 
para ser exemplo do caráter de Cristo à sua volta e orei por 
oportunidades de testemunhar. Um dia, próximo ao fim do ano 
escolar, bem quando o primeiro sinal tocou, ele me surpreendeu 
ao perguntar: "Por que você está sempre tão feliz?" Embora a 
aula estivesse para começar, eu poderia ter dado a meu amigo 
um testemunho claro, mesmo que fosse apenas uma frase. Eu 
poderia ter respondido: "Por causa de Jesus Cristo". Ou poderia 
ter dito: "Gostaria de responder isso a você depois da aula". 
Mas quando a oportunidade pela qual orei finalmente veio, 
fiquei paralisado de medo de que ele pudesse me menosprezar 
por causa de minha fé e disse: "Eu não sei".
Em alguns casos, o método de testemunhar requerido de
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 129
nós nos causa evangelhofobia. Se o método exigir que nos 
aproximemos de alguém a quem nunca vimos antes e iniciemos 
uma conversa sobre Cristo, a maioria das pessoas ficará 
terrificada e a ausência delas indicará isso. Embora alguns o 
apreciem, a maioria treme só de pensar em levar o evangelho 
de porta em porta. Até métodos que requeiram testemunhar a 
amigos ou familiares, se envolver em uma aproximação forçada, 
que inclua confronto ou meios antinaturais, nos enchem de 
medo de compartilhar as melhores novas do mundo com as 
pessoas a quem mais amamos.
Nunca ouvi isso expresso antes, mas acho que a seriedade 
do evangelismo é a principal razão pela qual ele nos assusta. 
Percebemos que, quando conversamos com alguém sobre 
Cristo, o Céu e o inferno estão em jogo. Trata-se do destino 
eterno da pessoa. E até quando nós corretamente cremos que 
os resultados do encontro estão nas mãos de Deus e que não 
somos responsáveis pela reação da pessoa ao evangelho, ainda 
assim sentimos uma obrigação solene de comunicar a 
mensagem fielmente unida a um temor santo de dizer ou fazer 
qualquer coisa que seria uma pedra de tropeço à salvação da 
pessoa. Muitos cristãos se sentem despreparados demais para 
este tipo de desafio, ou simplesmente têm fé pequena demais e 
ficam terrificados de entrar numa situação assim, de 
importância eterna.
O pesquisador George Barna explica o temor do cristão em 
relação ao evangelismo de outra forma:
Uma razão dominante por trás da crescente relutância dos cristãos 
em compartilhar sua fé com não cristãos tem a ver com a própria 
experiência de compartilhar a fé. Ao inquirirmos os cristãos sobre 
suas atividades em relação ao testemunho, descobrimos que nove 
entre dez pessoas que tentam explicar sua fé e teologia a outras
130 Evangelismo
pessoas saem da experiência sentindo como se tivessem falhado. 
A realidade do comportamento humano é que a maioria das 
pessoas evita tais atividades nas quais que se consideram falhas. 
Como criaturas que buscam prazer e conforto, enfatizamos as 
dimensões e atividades em que somos mais capazes e seguros. 
Assim, apesar da ordem divina de propagar a Palavra, muitos 
cristãos redirecionam suas energias às áreas de atividade 
espiritual que são m ais satisfatórias e em que há m aior 
probabilidade de que se saiam bem.2
O que é o êxito no evangelismo? É quando a pessoa a quem 
se testemunha vem a Cristo? Isso certamente é o que desejamos 
que aconteça. Mas se é assim, isso significa que fracassamos 
quando compartilhamos o evangelho e as pessoas se recusam 
a crer? Jesus era um "fracassado no evangelismo" quando 
pessoas como o jovem rico davam as costas a Ele e à Sua 
mensagem? É óbvio que não. Então nós também não o somos 
quando apresentamos Cristo e a Sua mensagem e as pessoas se 
afastam, incrédulas. Precisamos aprender que compartilhar o 
evangelho é obter êxito no evangelismo. Devemos ter obsessão 
por almas e suplicar sentidamente a Deus que vejamos mais 
pessoas convertidas, mas conversões são frutos que somente 
Deus pode dar.
Neste aspecto, somos como o serviço postal. O êxito é 
medido pela entrega cuidadosa e precisa da mensagem, e não 
pela resposta do destinatário. Sempre que compartilhamos o 
evangelho, (que inclui o chamado ao arrependimento e à fé), 
temos êxito. No sentido mais verdadeiro, todo evangelismo 
bíblico é bem-sucedido, independentemente dos resultados.
O poder do evangelismo é o Espírito Santo. No instante em 
que Ele passa a habitar em nós, Ele nos dá o poder de 
testemunhar. Jesus enfatizou isso em Atos 1:8 quando disse:
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 131
"Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e 
serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, 
e até os confins da terra". Espera-se que todo cristão evangelize 
porque todo cristão está habilitado a evangelizar. Contudo, o 
poder de testemunhar que Jesus prometeu em Atos 1:8 é muitas 
vezes mal entendido. Não estamos todos habilitados a 
evangelizar da mesma maneira, mastodos os crentes receberam 
o poder de serem testemunhas de Jesus Cristo. A evidência de 
que você recebeu o poder para testemunhar é a mudança de 
vida. O poder do Espírito Santo que mudou a sua vida para 
Cristo é o mesmo poder de testemunhar por Cristo. Assim, se 
Deus por Seu Espírito mudou a sua vida, esteja confiante disso: 
Deus deu a você o poder de Atos 1:8. Isso significa que, de 
formas e métodos que sejam compatíveis com sua 
personalidade, temperamento, dom espiritual, oportunidades 
etc., você realmente tem o poder de compartilhar o evangelho 
com as pessoas. Ter o poder de Atos 1:8 também significa que 
Deus habilitará a sua vida e as suas palavras no compartilhar 
do evangelho de modo que você muitas vezes não perceberá. 
Em outras palavras, o Espírito Santo pode conceder muito poder 
a seu testemunho em um encontro evangelístico sem dar a você 
qualquer sentimento ou sensação de poder.
O evangelho que compartilhamos tem em si o poder do 
Espírito Santo de Deus também. "Não me envergonho do 
evangelho", diz o Apóstolo Paulo em Romanos 1:16: "porque é o 
poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do 
judeu, depois do grego". E por isso que as pessoas podem se 
converter quer ouçam o evangelho por um professor 
adolescente de uma classe de escola bíblica de férias, quer de 
um mestre evangelista formado em seminário, quer o leiam 
em um livro de algum erudito de Oxford, como C. S. Lewis,
132 Evangelismo
quer em um simples folheto. É o evangelho que Deus abençoa 
como nenhuma outra palavra.
Isso não significa que o evangelho seja um tipo de vara 
mágica que podemos ondular sobre os descrentes e o poder de 
Deus se lança e converte automaticamente a todos eles. Você é 
provavelmente como eu, que ouvi o evangelho muitas vezes 
antes de ser salvo. Você sem dúvida conhece várias pessoas 
que ouviram o evangelho repetidamente e não experimentaram 
o novo nascimento. Deus tem que conceder também a fé (Efésios 
2:8-9) com o ouvir do evangelho "porque é o poder de Deus 
para a salvação de todo aquele que crê". Mas é por meio do 
evangelho que Deus dá o poder de crer. Este é o significado de 
Romanos 10:17: "Conseqüentemente, a fé vem por se ouvir a 
mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo
Ao pregar o evangelho, você está compartilhando "o poder 
de Deus para a salvação de todo aquele que crê". Pregar o 
evangelho é como andar por aí durante um temporal 
distribuindo pára-raios. Não se sabe quando o raio vai cair ou 
quem ele atingirá, mas sabe-se o que ele vai atingir: o pára- 
raios do evangelho. E quando o fizer, o pára-raios da pessoa 
vai estar carregado com o poder de Deus e ele ou ela vai crer.
É por isso que nós podemos estar confiantes de que alguns 
crerão se nós formos fiéis e tenazmente pregarmos o evangelho. 
O evangelho é que é o poder de Deus para a salvação, e não o 
nosso próprio poder de eloqüência ou persuasão. Deus tem os 
Seus eleitos, a quem Ele chamará e a quem Ele escolheu para 
chamar por meio do evangelho (Romanos 8:29-30,10:17). De outra 
forma, nos desesperaríamos por aqueles que rejeitam o 
evangelho e os veríamos como razões para não mais 
evangelizar. Entretanto, o poder para que as pessoas sejam feitas 
justas com Deus vem por meio da mensagem de Seu Filho. Se
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 133
nós a propagarmos, podemos estar certos de que alguns 
responderão.
Também há um poder para o evangelismo nas pessoas que 
vivem uma vida cristã sincera. Tal poder, por mais estranho 
que pareça, pode ser ilustrado por uma churrascaria de beira 
de estrada, cuja melhor propaganda não é a variedade de mídia 
típica focada na visão ou na audição. Sua melhor propaganda 
é direcionada ao olfato. A carne de vaca e de porco temperada é 
assada onde o vento possa levar a sua fumaça fortemente 
aromática por toda a rodovia de quatro pistas. Todos os dias, 
as pessoas que por ali trafegam, as quais nem estão 
considerando estar com fome, ficam interessadas na 
"mensagem" do restaurante por causa de seu fragrante aroma.
Paulo descreve o poder da Piedade da seguinte forma em 2 
Coríntios 2:14-17: "Mas a graça de Deus, que sempre nos conduz 
vitoriosamente em Cristo e por nosso intermédio exala em todo lugar 
a fragrância do seu conhecimento; porque para Deus somos o aroma 
de Cristo entre os que estão sendo salvos e os que estão perecendo. 
Para estes somos cheiro de morte; para aqueles, fragrância de vida. 
Mas quem está capacitado para tanto? Ao contrário de muitos, não 
negociamos a palavra de Deus visando lucro; antes, em Cristo falamos 
diante de Deus com sinceridade, como homens enviados por Deus". 
O Senhor habilita a vida (versículos 14-16) e as palavras 
(versículo 17) do crente fiel com um poder de atração espiritual. 
É o poder de um aroma fragrante que Deus usa para atrair as 
pessoas à mensagem sobre Seu Filho.
O mais poderoso testemunho cristão contínuo sempre foi 
a pregação da Palavra de Deus por quem vive a Palavra de 
Deus. Em meados dos anos 80, Caffy iniciou um grupo de 
estudos bíblicos para mulheres em nossa casa, incentivada por 
duas novas crentes. Ao segundo encontro, elas trouxeram Janet,
134 Evangelismo
uma amiga em comum que era muito cínica com relação a tudo. 
Em uma música sobre sua peregrinação espiritual, ela escreveu 
mais tarde: "Sexo, drogas e rock-and-roll (eram) minha 
trindade". Seu pensamento fora mais obscurecido ainda pelo 
envolvimento no culto est.3 Entretanto, algo começou a 
acontecer naquela noite que por muito tempo somente Janet 
sabia. Meses depois, ela disse que desde o primeiro encontro 
ali, um aroma da vida cristã de Caffy, especialmente em seu 
próprio lar, combinado com o alimento da Palavra de Deus no 
estudo bíblico, a fez querer mais. Ela desejava cada vez mais 
aquela mensagem aromática que havia mudado as vidas 
daquelas pessoas de forma tão bela. Hoje, Janet é um novo e 
vivo "aroma de Cristo entre os que estão sendo salvos e os que 
estão perecendo".
Por causa da natureza do Espírito Santo e das Santas 
Escrituras, o evangelismo é revestido de poder.
O EVANGELISMO É UMA DISCIPLINA
O evangelismo é o transbordar natural da vida cristã. Todos 
nós devemos ser capazes de falar sobre o que o Senhor fez por 
nós e o que Ele significa para nós. Mas o evangelismo também 
é uma Disciplina, pois devemos nos disciplinar para entrar no 
contexto do evangelismo, isto é, não devemos simplesmente 
esperar que as oportunidades de testemunhar ocorram.
Em Mateus 5:16, Jesus disse: "Assim brilhe a luz de vocês diante 
dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de 
vocês, que está nos céus". Fazer brilhar a sua luz perante as outras 
pessoas significa mais do que simplesmente "Não fazer nada 
que impeça que sua luz brilhe". Pense em Sua exortação como: 
"Que a luz das boas obras brilhe em sua vida, que haja evidência
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 135
de mudança que honra a Deus radiando de você. Que isso 
aconteça! Dê ocasião a isso!"
Por que nós não testemunhamos mais ativamente? 
Conforme mencionado anteriormente, alguns dizem que é 
principalmente porque muitos cristãos não são adequadamente 
treinados para compartilharem sua fé. Há um pouco de verdade 
nisso. Há vantagens em se obter orientação sobre aspectos 
específicos da pregação do evangelho. Mas quando pensamos 
novamente no homem cego a quem Jesus curou em João 9:25, 
deve ficar evidente que não podemos atribuir nossa falha em 
testemunhar à falta de treinamento. Embora fosse crente em 
Jesus há apenas alguns minutos e não tivesse, obviamente, 
treinamento algum em evangelismo, ele estava disposto a contar 
aos outros o que Jesus havia feito por ele ("Uma coisa sei: eu 
era cego e agora vejo!"). Além disso, qualquer cristão que tenha 
ouvido pregações bíblicas, participado de estudos bíblicos ou 
lido as Escrituras e literatura cristã por qualquer período de 
tempo terá ao menos entendimento da mensagem básica do 
cristianismo que baste para compartilhá-la com outra pessoa.É certo que, se nós mesmos já entendemos o evangelho bem o 
suficiente para nos convertermos, também devemos conhecê- 
lo bem o suficiente (mesmo que até o momento não saibamos 
nada mais sobre a fé) para dizer a outro alguém como se 
converter.
Devemos também reconhecer a comum objeção da falta de 
tempo. Entre trabalho, família e responsabilidades da igreja, 
simplesmente não há tempo suficiente para "sair 
testemunhando". Antes de adotarmos esta objeção ao 
evangelismo, pensemos no seguinte: Nós realmente queremos 
dizer que estamos ocupados demais para cumprir a Grande 
Comissão de Jesus Cristo de fazer dos descrentes discípulos
136 Evangelismo
(Mateus 28:19-20)? Esperamos que no Julgamento Jesus nos 
desculpe por dizermos que "não tivemos tempo" para realizar 
a única e mais importante responsabilidade que Ele nos deu?
Partamos do pressuposto de que a maioria, ou mesmo todas 
as responsabilidades que nós crentes temos e que demandem 
tempo sejam instituídas por Deus. E, por hipótese, aceitemos a 
explicação de que não temos tempo para uma atividade 
programada com mais regularidade em nossa agenda. Mas se 
Deus é o Autor de tudo isso, Ele também é o Autor da Grande 
Comissão; e ainda pretende que cada um de Seus seguidores 
encontre maneiras de compartilhar o evangelho com os 
descrentes. Qualquer que seja o contexto em que o Senhor nos 
inseriu para vivermos nossas vidas, Deus nos chama para 
encontrarmos formas de cumprirmos a Grande Comissão 
naquele contexto, mesmo que com limitações. Educar filhos 
"segundo a instrução e o conselho do Senhor" (Efésios 6:4) é um 
modo de cumprirmos a Grande Comissão. Sustentar o trabalho 
de uma igreja e seus missionários financeiramente é outro. Mas 
e os descrentes fora de nossas famílias? E quem vai realizar o 
ministério evangelístico de uma igreja, senão as pessoas como 
você, que compõem a membresia da igreja?
A principal razão de não testemunharmos não seria a falta 
de nos disciplinarmos para fazê-lo? Sim, existem aquelas 
oportunidades maravilhosas e não planejadas de "responder a 
qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês" 
(1 Pedro 3:15), que Deus traz inesperadamente. Mas eu sustento 
que há uma razão para que a maioria dos cristãos torne o 
evangelismo uma Disciplina Espiritual.
Como pastor, posso gastar as vinte e quatro horas do dia e 
os sete dias da semana com cristãos, sem jamais terminar meu 
trabalho. No preparo de pregações, em aconselhamento, em
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 137
reuniões de liderança, em estudos bíblicos, em visitas a hospitais 
e em outras atividades, eu poderia gastar todo o meu tempo 
ministrando somente a crentes (exceto por ambientes de grupos 
grandes ou em casos onde descrentes pedem para me encontrar 
em particular). E, uma vez que meu ministério com o povo de 
Deus nunca está concluído, eu poderia "justificar" tão 
facilmente com qualquer pessoa a minha falta de contato 
individual com não cristãos. Mas qual é o meu potencial para 
evangelismo pessoal se nunca estou com descrentes? Nenhum. 
Quando irei pregar o evangelho a uma pessoa perdida, exceto 
se for parte de meu trabalho? Nunca. Isso não está certo.
A dona de casa cristã que raramente está com alguém senão 
seus filhos e amigos da igreja está na mesma situação.
"Isso não é problema meu\" alguém dirá. "No trabalho, fico 
cercado o dia inteiro pelos pagãos mais mundanos que se possa 
imaginar". Presumindo que você não tente pregar o evangelho 
a eles durante o expediente, quando o fará? O ponto não está 
tanto em quantos descrentes você vê todos os dias, mas na 
freqüência com que você está com eles em contexto apropriado 
para pregar o evangelho. A despeito das importantes conversas 
relacionadas ao trabalho ao longo de todo o dia, quantas vezes 
você tem tipos de conversas significativas com seus colegas de 
trabalho onde questões espirituais possam ser levantadas? Se 
você nunca tem oportunidade de falar sobre Cristo, não importa 
quantos não cristãos estejam à sua volta, seu potencial para 
evangelismo não será melhor do que o meu poderia ser.
É por isso que digo que o evangelismo é uma Disciplina 
Espiritual. A menos que nos disciplinemos para evangelizar, é 
muito fácil nos justificarmos por nunca pregarmos o evangelho 
a ninguém.
Observe em Colossenses 4:5-6 a terminologia que indica
138 Evangelismo
que deve haver pensamento e planejamento disciplinados no 
evangelismo: "Sejam sábios no procedimento para com os de fora; 
aproveitem ao máximo todas as oportunidades. O seu falar seja sempre 
agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a 
cada um" (ênfase do autor). Devemos pensar no evangelismo 
sempre que falarmos com os que são de fora, sabiamente 
aproveitando ao máximo toda oportunidade. Saber como 
responder às pessoas como indivíduos implica reflexão e 
preparo. Estes princípios podem ser aplicados de tantas formas 
específicas quanto há oportunidades de testemunhar. Mas em 
geral eles suportam a idéia de que em adição a seu elemento 
espontâneo, o evangelismo é uma Disciplina Espiritual.
Para mim, isso significa que disciplino a mim mesmo para 
estar com descrentes. Às vezes Caffy e eu programamos uma 
refeição com vizinhos que não conhecem a Cristo. Certificamo- 
nos de levar algum alimento ou presente para a casa de uma 
nova família da rua e gastamos tempo tentando conhecê-la. 
Procuro me voltar para os que são de fora em eventos sociais 
de nossa igreja, mesmo que eu tenha mais em comum com os 
cristãos presentes e normalmente obtenha mais conversando 
com eles. Novamente, a chave não é simplesmente socializar 
com os descrentes, mas dialogar com eles de forma que seus 
corações e mentes possam se abrir para o evangelho.
O evangelismo disciplinado também pode envolver 
almoçar privativa e periodicamente com vizinhos ou colegas 
de trabalho e aprender a fazer boas perguntas sobre o lado 
pessoal de suas vidas. Os mesmos tipos de oportunidades 
surgem em eventos esportivos ou sociais patrocinados por 
empresas ou durante os períodos de informalidade das viagens 
a negócios. Conversando e ouvindo atentamente, você 
descobrirá as necessidades deles e, esperançosamente,
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 139
explorará com eles a mais profunda delas: a necessidade de 
Cristo.
Quer esteja com alguém que você sempre vê, ou com 
alguém que acaba de conhecer, a melhor maneira que encontrei 
para fazer a conversa convergir para assuntos espirituais é 
perguntar à pessoa por que motivo você poderia orar por ela. 
Embora seja quase rotina para o cristão, a maioria dos não 
cristãos não sabe de ninguém que esteja orando por eles. 
Descobri que muitas vezes os descrentes são profundamente 
tocados por essa incomum expressão de consideração. Tive um 
vizinho por mais de sete anos com quem minhas tentativas de 
discutir sobre as coisas de Deus haviam sido altamente 
infrutíferas. Mas na primeira vez que eu disse que orava por 
ele com freqüência e gostaria de saber como poderia orar mais 
especificamente, ele começou a revelar alguns problemas 
familiares que eu nunca soube que existiam. Uma vez, eu 
percorri meu bairro perguntando quais eram as necessidades 
pelas quais nossa igreja poderia orar naquela noite em um culto 
especial. Em quase toda casa eu fiquei surpreso com a reação 
das pessoas e a abertura sem precedentes demonstrada por elas 
para conversar sobre assuntos espirituais.
Mas o importante em todas essas possibilidades é que você 
terá de se disciplinar para fazê-las acontecer. Elas não 
acontecerão por acaso. Você terá que se disciplinar para 
perguntar a seus vizinhos como poderá orar por eles ou quando 
poderá compartilhar uma refeição com eles. Você terá que se 
disciplinar para se juntar a seus colegas de trabalho durante as 
horas de inatividade. Muitas dessas oportunidades de 
evangelismo nunca virão se você esperar que elas ocorram 
espontaneamente. O mundo, a carne e o Diabo farão tudo o 
que puderem para impedi-las. Você, todavia, suportado pelo140 Evangelismo
poder invencível do Espírito Santo, pode se certificar de que 
tais inimigos do evangelho não vençam.
Como mencionei anteriormente, não desejo deixar a 
impressão de que a Disciplina do evangelismo requeira que 
todos nós preguemos o evangelho exatamente da mesma 
maneira. Neste capítulo todo, você pode ter tido uma visão de 
certos métodos de evangelismo que lhe pareçam aterradores. 
Mas o estilo preconcebido de evangelismo que talvez você tema 
não é necessariamente o melhor modo de você ajudar a fazer 
discípulos para Cristo.
Em uma de suas cartas, o Apóstolo Paulo divide todos os 
dons espirituais em duas amplas categorias de dons de serviço 
e dons de línguas (1 Pedro 4:10-11). Algumas pessoas acham 
que evangelizam mais por meio do serviço, outras, mais pela 
língua. O serviço evangelístico pode envolver convidar pessoas 
para uma refeição e viver o evangelho na frente dos convidados. 
Ao verem as diferenças em seu lar e vida familiar, 
oportunidades imediatas ou eventuais de verbalizar o 
evangelho podem surgir. Talvez você mesmo possa preparar 
uma refeição a fim de abrir as portas para que seu cônjuge 
compartilhe a sua fé. Dizem que toda família passa por uma 
"crise" a cada seis meses. Durante esse tempo de doença, perda 
de emprego, dificuldades financeiras, nascimento, morte etc., 
ser um servo semelhante a Jesus para aquela família 
freqüentemente demonstra a realidade de sua fé de maneira 
que desperte interesse. Servindo, você pode ter oportunidades 
de oferecer literatura evangelística ou cumprir a Grande 
Comissão de formas mais imaginativas.
Nos últimos anos, as pessoas de minha igreja têm aberto 
seus lares para reuniões de evangelismo. Convidam vizinhos, 
colegas de trabalho e amigos para virem a suas casas com o
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 141
propósito expresso de ouvir um convidado falar sobre Jesus 
Cristo e responder suas perguntas sobre o cristianismo e a 
Bíblia. Os anfitriões podem não se sentir confiantes quanto a 
sua habilidade de articular o evangelho, especialmente para 
grupos de pessoas, mas ao servir pela hospitalidade, fornecem 
uma oportunidade de evangelismo por alguém cujo forte seja 
apresentar verbalmente o evangelho. Ao abrirem seus lares e 
trabalharem com outro crente, ocorre um evangelismo que de 
outra forma não aconteceria. Mas este tipo de serviço 
evangelístico ainda requer tanta disciplina quanto qualquer 
outro. E preciso ter disciplina para marcar uma data, para 
convidar as pessoas, para preparar a refeição, para orar pelo 
encontro e assim por diante. Sem tal disciplina, o serviço 
evangelístico nunca acontece.
Por outro lado, alguns são mais adeptos da comunicação 
direta do evangelho. Como já destaquei, se você se sai melhor 
falando do que servindo, talvez possa trabalhar com alguém 
especializado em serviço evangelístico de formas que 
propiciarão mais oportunidades de testemunhar do que você 
jamais teve. Contudo, assim como servos podem precisar servir 
a fim de abrir portas para falar do evangelho, aqueles cujo forte 
seja falar podem precisar se disciplinar para servir mais a fim 
de terem oportunidades de falar. Em resumo, quem fala muitas 
vezes precisa servir para poder falar do evangelho e os servos 
evangelísticos devem eventualmente falar do evangelho. 
Independentemente de quão tímidos ou inábeis possamos nos 
sentir quanto ao evangelismo, não devemos nos convencer de 
que não podemos ou não iremos compartilhar verbalmente o 
evangelho sob quaisquer circunstâncias.
Ouvi a história de um homem que se tomou cristão durante 
um programa de ênfase evangelística em uma cidade no
142 Evangelismo
noroeste do Pacífico. Quando contou ao seu chefe sobre a 
conversão, o empregador disse: "Que bom! Eu sou cristão e 
tenho orado por você há anos!"
Mas o novo crente ficou desconcertado. "Por que você 
nunca me disse?" perguntou. "Você foi exatamente a razão pela 
qual não me interessei pelo evangelho antes".
"Como isso é possível?" o chefe perguntou. "Fiz tudo o 
que pude para viver a vida cristã perto de você".
"Aí é que está", explicou o empregado. "Você vivia uma 
vida exemplar, mas nunca me disse que era Cristo que fazia a 
diferença. Então eu me convenci de que se você podia viver 
uma vida tão boa e feliz sem Cristo, eu também poderia".
A Bíblia diz em 1 Coríntios 1:21 que: "Agradou a Deus salvar 
aqueles que crêem por meio da loucura da pregação". Muitas vezes é 
a mensagem da Cruz vivida e demonstrada que Deus usa para 
abrir um coração ao evangelho, mas é pela mensagem da Cruz 
proclamada (por palavra ou página) que Deus salva aqueles que 
crêem em seu conteúdo. Não importa quão bem vivamos o 
evangelho (e devemos vivê-lo bem, ou impediremos que seja 
recebido), mais cedo ou mais tarde devemos comunicar o 
conteúdo do evangelho para que a pessoa possa se tomar um 
discípulo de Jesus.
Antes de encerrar esta parte, quero enfatizar que a 
Disciplina do evangelismo também se aplica ao sustento de 
missões. Pelas mesmas razões que devemos nos disciplinar para 
pregar a mensagem de Cristo àqueles que estão ao nosso redor, 
também devemos nos disciplinar para ajudar aqueles que estão 
cumprindo a Grande Comissão em lugares distantes. 
Disciplinar-mos para sustentar missões ofertando, orando, nos 
informando e estando abertos para ir se Deus nos chamar (ou 
deixando nossos filhos irem se Deus os chamar) são ações que
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 143
Jesus certamente praticaria.
MAIS APLICAÇÃO
Já que se espera que o crente evangelize, você obedecerá ao 
Senhor e testemunhará? Em certo sentido, claro, todo cristão 
está sempre testemunhando. Por nossas palavras e vidas, a todo 
momento somos um testemunho - bom ou ruim - do poder de 
Jesus Cristo. Mas estou falando agora de testemunhar 
intencionalmente, não por omissão.
Você está disposto a obedecer a Jesus Cristo e a começar a 
testemunhar intencionalmente? O evangelismo intencional 
necessariamente será personalizado por seu dom espiritual, 
talentos, personalidade, agenda, situação familiar, localização 
etc. Mas tendo levado tudo isso em consideração, todo crente 
deve perceber que há pecado em não buscar maneiras de 
propagar a mensagem sobre nosso Senhor Jesus.
Por favor, não fique com a impressão de que, por ter escrito 
este capítulo e compartilhar algumas experiências, eu seja uma 
super-testemunha. Envergonho-me de dizer que houve muitas 
vezes em que eu deveria ter falado de Cristo e não falei, em 
geral, por medo. Mas creio que possamos encontrar uma 
solução de longo prazo para nossas falhas e freqüente omissão 
em testemunhar se nos disciplinarmos para evangelizar.
Já que o evangelismo é revestido do poder de Deus, você 
crerá que Deus pode usar suas palavras na salvação de outras 
pessoas? Deus abençoa as palavras, as palavras do evangelho. 
Foram as palavras do Senhor Jesus, as palavras de Pedro e as 
palavras de Paulo que Deus abençoou na conversão das pessoas 
nos tempos do Novo Testamento, e ainda abençoa hoje. Ele 
abençoará as suas palavras quando elas forem as palavras do
144 Evangelismo
Seu poderoso evangelho.
Alguns temem testemunhar porque não se sentem 
confiantes o suficiente em seus poderes persuasivos ou em sua 
habilidade de responder a todas as objeções imagináveis ao 
evangelho. Contudo, o poder para evangelizar não está em 
nossa habilidade; mas em Seu evangelho. Você pode nunca ter 
imaginado que um descrente pudesse realmente nascer de novo 
ao ouvir de Cristo por seus lábios. Mas isso não é humildade. E 
dúvida, uma recusa da bênção de Deus sobre o Seu evangelho 
simplesmente porque ele é falado por você. Não duvide do 
poder de Deus de derramar a Sua bênção sobre as suas palavras 
quando você falar de Cristo.
Por toda a sua vida, John Bunyan, autor de O Peregrino, 
ressaltou que a conversa de algumas mulheres pobres, sobre 
as coisas de Deus, sentadas em um portal iluminado pelo sol, 
foi fundamental para a sua vinda a Cristo. Creia que o Senhor 
pode usar o que você diz como catalisadorem uma conversão.
Eu argumento que muitos cristãos desejam falar aos outros 
sobre o Senhor, mas não o fazem por temerem que o pecado 
observável e diário de suas vidas seja contraditório demais para 
eles testemunharem. "Como posso testemunhar a meu chefe", 
o pensamento segue, "depois de me irar tanto contra ele?" Ou, 
"Jamais serei capaz de contar a minha vizinha sobre o poder 
de Cristo agora que ela me viu gritar com meus filhos".
Se Deus não usa pessoas como essas - como nósl- para Suas 
testemunhas, não haverá testemunhas humanas. Já que não há 
pessoas perfeitas, não há testemunhas perfeitas. Isso não muda 
o fato de que quanto mais semelhantes a Cristo forem as nossas 
vidas, mais convincentes serão as nossas palavras sobre Cristo. 
Precisamos fazer todo o possível para eliminar qualquer pecado 
que faça nossas palavras parecerem inconsistentes. Mas
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 145
enquanto tentamos fazer isso, temos que estar convencidos de 
que não podemos esperar até atingirmos a pura perfeição a 
fim de dar testemunho. De outra forma, jamais falaremos do 
evangelho! Parte da beleza de nossa mensagem é que Deus salva 
os pecadores, pecadores como nós. Na verdade, o Espírito Santo 
pode transformar uma ocasião de pecado em oportunidade de 
falar sobre o Salvador. Conheci cristãos que procuraram as 
pessoas que viram ou que foram vítimas de seu pecado e, ao 
confessarem e pedirem perdão, puderam dar um poderoso 
testemunho. Esta é a evidência de uma vida transformada que 
chama a atenção do descrente. Há muitas pessoas iradas contra 
aquele chefe e aquela vizinha vê muitas mulheres gritarem com 
seus filhos, mas quando você se humilha e reconhece o erro, a 
diferença é demonstrada. Você percebe? A prática de uma vida 
cristã consistente de fato reveste o evangelismo de poder, mas 
o cristão que se recupera de seu próprio estilo de vida não- 
cristão fortalece o seu testemunho de outra maneira, muito 
crível. Por meio de suas falhas e fraquezas, pessoas podem ser 
fortalecidas.
Já que o evangelismo é uma Disciplina, você planejará 
evangelizar? Ao pregar para sua congregação em Londres em 
1869 sobre a responsabilidade do evangelismo, C. H. Spurgeon 
disse:
Se eu nunca tivesse ganhado almas, anelaria por elas até ganhá- 
las. Meu coração se quebrantaria se não pudesse fazer com que 
seus corações fossem quebrantados. Embora eu consiga entender 
a possibilidade de um semeador cuidadoso ficar contente em não 
ceifar, não compreendo nenhum de vocês, povo cristão, que tente 
ganhar almas sem obter retomo, e fique satisfeito sem resultados.4
Se não estiver contente com sua colheita de almas por amor
146 Evangelismo
de Cristo, você planejará uma semeadura mais disciplinada? 
Marcará uma data que será devotada ao evangelismo? Você 
agendará um almoço com colegas no trabalho ou com um 
vizinho? E quanto a programar uma reunião evangelística em 
casa? Onde você poderá adquirir literatura evangelística para 
distribuição? A quem você poderá se oferecer para orar? Você 
se comprometerá com ao menos uma maneira de evangelizar 
intencionalmente no futuro próximo?
O parágrafo a seguir é uma paráfrase de 1 Coríntios 13 
escrita por Dr. Joseph Clark, citada em Today's Evangelism 
(Evangelismo Hoje) por Emie Reisinger.
Ainda que eu fale as línguas do conhecimento, e ainda que 
use métodos aprovados de educação, mas deixe de ganhar outros 
para Cristo ou de edificá-los no caráter cristão, tomo-me como o 
gemido do vento em um deserto sírio.
E ainda que eu tenha o melhor dos métodos e entenda todos 
os mistérios da psicologia religiosa, e ainda que eu tenha todo 
conhecimento bíblico, mas não me envolva demais na tarefa de 
ganhar outros para Cristo, tomo-me como uma nuvem em meio 
ao mar aberto.
E ainda que eu leia toda a literatura da Escola Dominical e 
freqüente as suas convenções, institutos e escola de férias, mas 
esteja satisfeito com menos do que ganhar almas para Cristo e 
estabelecer outras pessoas no caráter e no serviço cristão, de nada 
me valerá.
O servo ganhador de almas, o servo que edifica caráter, é 
longânimo e gentil; não tem inveja de outros que sejam livres da 
tarefa de servos e não se vangloria, nem fica envaidecido de 
orgulho intelectual.
Tal servo não se comporta inconvenientemente nos períodos 
entre domingos, não busca seu próprio bem -estar e não é 
facilmente provocado. Suporta todas as coisas, crê em todas as 
coisas e espera todas as coisas.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 14 7
E agora subsistem o conhecim ento, os m étod os e a 
Mensagem, essas três coisas: mas a maior delas é a Mensagem.5
Quanto mais semelhantes a Cristo formos, mais falaremos 
de Cristo e de Sua mensagem. Mas devemos nos disciplinar 
para fazê-lo. Que nos disciplinemos para viver de forma que 
possamos dizer com o Apóstolo Paulo: "Faço tudo isso por causa 
do evangelho, para ser co-participante dele" (1 Coríntios 9:23).
1 Veja J. I. Packer, Evangelism and the Sovereignty of God (O Evangelismo e a Soberania 
de Deus) (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1979), páginas 37-57.
2 Conforme citação em Discipleship Journal (Diário do Discipulado), edição 49, página 
40.
3 Nota da Tradutora: Erhard Seminars Training (ou apenas "est", normalmente grafado 
com letras minúsculas), um sistema de filosofia experimental desenvolvido por 
Wemer Erhardé e mundialmente conhecido nos anos 70-80 (fonte: Answers.com).
4 C. H. Spurgeon, "Tearful Sowing and Joyful Reaping" ("Semeando com Lágrimas 
e Colhendo com Alegria") em Metropolitan Tabernacle Pulpit (London: Passmore 
and Alabaster, 1869; reimpressão, Pasadena, TX: Pilgrim Publications, 1970), vol. 
15, página 237.
5 Conforme citação em Ernest C. Reisinger, Today's Evangelism: Its Message and 
Methods (Evangelismo Hoje: Sua Mensagem e Seus Métodos) (Phillipsburg, NJ: 
Craig Press, 1982), páginas 142-143.
C A P Í T U L O S E T E
Serviço ... 
Com o Propósito de 
A lcançar a Piedade
❖ ❖ ❖
As disciplinas espirituais não devem ser vistas como pretexto 
para separação e isolamento do mundo. Antes, devem ser 
consideradas um meio de vencer o mundo. Não a renúncia ao 
mundo, mas o serviço no mundo: esse é o propósito 
das disciplinas do espirito conforme a visão bíblica.
Donald G. Bloesch
A Crise da Piedade
A empresa já não existe há mais de um século. Mesmo assim, 
não fossem os comerciais de TV, a Pony Express provavelmente 
seria mais conhecida entre as pessoas do que a Federal Express.
A Pony Express era uma empresa privada de transportes 
rápidos que utilizava um organizado revezamento de homens 
a cavalo para entregar correspondências. O extremo leste era 
St. Joseph, Missouri, e o terminal oeste, Sacramento, na 
Califórnia. O custo do envio de uma carta pela Pony Express 
era de US$2,50 por 28g. Se o tempo permitisse, os cavalos 
agüentassem e os índios se mantivessem à distância, a carta 
completaria toda a viagem de 3200 quilômetros em rápidos dez 
dias, assim como foi com o relatório do Discurso Inaugural do 
Presidente Lincoln.
Pode surpreender que a Pony Express somente tenha se
Serviço 149
mantido operante de 3 de abril de 1860 até 18 de novembro de 
1861 - apenas dezessete meses. Quando a linha de telégrafo 
entre duas cidades foi concluída, o serviço tornou-se 
desnecessário.
Trabalhar para a Pony Express era uma tarefa árdua. 
Esperava-se que o cavaleiro percorresse de cento e vinte a cento 
e sessenta quilômetros por dia, trocando de cavalo a cada 24 a 
40 quilômetros. Além da correspondência, a única bagagem 
permitida incluía alguns suprimentos como farinha, fubá e 
bacon. Em caso de perigo, também se levava uma bolsa de 
socorros médicos com terebintina, bórax e creme de tártaro. 
Para viajar sem muito peso e aumentar a velocidade da 
mobilidade durante os ataques dos índios, os homens sempre 
cavalgavam vestindo apenas camisa, mesmo durante o rigoroso 
inverno.
Como era possível recrutar voluntários para tarefa tão 
arriscada? Em 1860, um jornal de São Francisco publicou o 
seguinteanúncio para a Pony Express: "PROCURAMOS: 
Rapazes jovens, magros e resistentes, de até dezoito anos. 
Devem ser peritos cavalgadores, e de preferência órfãos."
Essa era a honesta verdade relacionada ao serviço 
solicitado, mas a Pony Express nunca teve falta de funcionários.
Precisamos ser honestos com as verdades da Disciplina do 
serviço a Deus. Assim como ocorria com a Pony Express, servir 
a Deus não é tarefa para os casualmente interessados. E um 
serviço custoso. Deus pede a sua vida. Deus pede que o serviço 
a Ele se tome prioridade e não passatempo. Ele não quer servos 
que Lhe dêem as sobras dos compromissos de suas vidas. Servir 
a Deus também não é responsabilidade de curto prazo. Ao 
contrário da Pony Express, o Seu Reino nunca sucumbe, 
independentemente dos avanços tecnológicos de nosso mundo.
150 Serviço
O quadro mental que temos da Pony Express é 
provavelmente muito parecido com o imaginado pelos jovens 
de 1860 que leram o anúncio daquele jornal. Cenas de alvoroço, 
camaradagem e a emoção da aventura preenchiam suas mentes 
ao entrarem orgulhosamente no escritório da Express para se 
inscrever. Contudo, poucos deles anteviam que tal excitação 
pontuaria apenas ocasionalmente a rotina das longas, difíceis 
e solitárias horas de trabalho.
A Disciplina de servir é assim. Embora o chamado de Cristo 
ao serviço seja a forma espiritualmente mais grandiosa e nobre 
de viver a vida, ele é tipicamente tão corriqueiro quanto lavar 
os pés de alguém. Richard Foster coloca tal verdade aridamente: 
"Até certo ponto, seria preferível ouvir o chamado de Jesus para 
negar pai e mãe, casas e terras por causa do evangelho, do que 
a Sua palavra para lavar os pés. A autonegação radical dá a 
sensação de aventura. Se abandonarmos tudo, até teremos a 
chance do martírio glorioso. No serviço, entretanto, somos 
banidos para o mundano, o ordinário, o trivial". 1
O ministério de serviço pode ser tão público quanto o da 
pregação ou ensino, mas na maioria das vezes, será tão isolado 
quanto cuidar do berçário. Pode ser tão visível quanto cantar 
um solo, mas normalmente passará tão despercebido quanto 
operar o equipamento de som para amplificar o solo. Servir 
pode ser tão apreciado quanto um bom testemunho em um 
culto de adoração, mas tipicamente é tão ingrato quanto lavar 
os pratos depois da programação social na igreja. A maioria 
dos serviços, até aquele que parece mais glamoroso, é como 
um iceberg. Somente os olhos de Deus vêem a parte maior e 
oculta dele.
Além das paredes da igreja, servir é tomar conta das 
crianças dos vizinhos, levar refeições para famílias em processo
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 151
de transição, realizar tarefas externas para pessoas impedidas 
de saírem de casa, fornecer transporte para alguém cujo carro 
quebrou, alimentar animais domésticos e regar plantas daqueles 
que estão em férias e, - o mais difícil de tudo - ter um coração 
de servo no lar. O ato de servir é tão trivial quanto as 
necessidades práticas que procura suprir.
É por isso que servir deve se tornar uma Disciplina 
Espiritual. A carne conspira contra a falta de notoriedade e a 
mesmice de servir. Dois dos nossos pecados mais mortais - a 
preguiça e o orgulho - são totalmente antagônicos ao serviço. 
Eles embaçam nossos olhos e colocam correntes em nossas mãos 
e pés para que não sirvamos da forma como sabemos que 
devemos, ou até como queremos, servir. Se não nos 
disciplinarmos para servir por causa de Cristo e de Seu Reino 
(e para alcançar a Piedade), "serviremos" ocasionalmente, 
quando for conveniente ou quando se tratar de um "auto- 
serviço". O resultado será uma quantidade e uma qualidade 
de serviço de que nos arrependeremos quando chegar o Dia 
da Prestação de Contas.
Em The Spirit ofthe Disciplines (O Espírito das Disciplinas), 
Dallas Willard acertadamente diz que nem todo serviço é, nem 
mesmo deve ser, serviço disciplinado. Contudo, aqueles que 
desejam ser treinados na espiritualidade em semelhança com 
Cristo descobrirão que este é o meio mais certo e mais prático 
de crescer na graça.
Nem todo ato que pode ser realizado como disciplina precisa ser 
realizado como disciplina. Muitas vezes é possível servir aos 
outros simplesmente como ato de amor e justiça, sem considerar 
como isso poderá aumentar minhas habilidades de servir a Cristo. 
Certamente não há nada de errado em fazê-lo, e isso pode, de 
modo incidental, me fortalecer também espiritualmente. Mas eu
152 Serviço
posso servir aos outros como exercício para me afastar da 
arrogância, da possessividade, da inveja, do ressentimento ou da 
cobiça. Nesse caso, meu serviço é assumido como disciplina para 
a vida espiritual.2
Mas a fim de não começarmos a pensar que servir é 
meramente uma opção, vamos talhar isso na pedra angular de 
nossa vida cristã:
ESPERA-SE QUE TODO CRISTÃO SIRVA
Ao chamar os Seus eleitos para Si, Deus não chama 
ninguém à ociosidade. Quando nascemos de novo e nossos 
pecados são perdoados, o sangue de Cristo purifica a nossa 
consciência, de acordo com Hebreus 9:14, para que "sirvamos 
ao Deus vivo!" "Prestem culto ao SENHOR com alegria" (Salmo 
100:2) é a comissão de todo cristão. Não existe desemprego ou 
aposentadoria espiritual no Reino de Deus.
Obviamente, as razões importam no serviço que oferecemos 
a Deus. A Bíblia menciona ao menos seis razões para servirmos.
Motivados pela Obediência
Em Deuteronômio 13:4, Moisés escreveu: "Sigam somente o 
SENHOR, o seu Deus, e temam a ele somente. Cumpram os seus 
mandamentos e obedeçam-lhe; sirvam-no e apeguem-se a ele". Tudo 
neste versículo se refere à obediência a Deus. Em meio a este 
conjunto de mandamentos sobre obediência encontra-se a 
ordem "sirvam-no". Devemos servir ao Senhor porque 
queremos obedecer a Ele.
John Newton, o mercador de escravos que se tomou pastor 
depois de sua conversão a Cristo e escreveu hinos como 
"Amazing Grace", ilustra o serviço obediente da seguinte
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 153
maneira:
Se dois anjos fossem receber ao mesmo tempo uma comissão de 
Deus, um para descer e governar sobre o maior império da terra, 
o outro para ir varrer as ruas de seu mais insignificante vilarejo, 
seria uma questão de indiferença total para eles qual serviço lhes 
fosse atribuído, o cargo de governante ou o cargo de gari, porque 
a alegria dos anjos está somente na obediência à vontade de Deus.3
Você pode imaginar um daqueles anjos recusando-se a 
servir? É impensável. Foi a indisposição para servir a Deus que 
fez alguns anjos se transformarem em demônios. Então, como 
pode qualquer cristão professo pensar que é correto sentar-se 
nos "bancos de reserva" espirituais e observar outros fazerem 
o trabalho do Reino? Qualquer cristão verdadeiro diz que deseja 
obedecer a Deus. Mas desobedecemos a Deus quando não O 
estamos servindo. Deixar de servir a Deus é pecaminoso.
Motivados pela Gratidão
O profeta Samuel exortou o povo de Deus a servir com as 
palavras: "Tão-somente, pois, temei ao Senhor e servi-o 
fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas 
coisas vos fez". (1 Samuel 12:24). Não é pesado servir a Deus 
quando consideramos que grandes coisas Ele tem feito por nós.
Você está lembrado do que é não conhecer a Cristo e estar 
sem Deus e sem esperança? Lembra-se do que é encontrar-se 
culpado diante de Deus e sem perdão? Lembra o que é ter 
ofendido a Deus e ter a Sua ira queimando em relação a você? 
Lembra-se do que é estar a apenas um passo do inferno? Agora, 
você se lembra do que é ver Jesus Cristo com os olhos da fé e 
entender pela primeira vez quem Ele realmente é e o que Ele 
fez por meio de Sua morte e ressurreição? Lembra-se do que é
154 Serviço
experimentar perdão e libertação do juízo e do inferno? Lembra- 
se de como foi ter pela primeira vez a certeza do Céu e da vida 
eterna? Quando o fogo do serviço a Deus esfriar, considere que 
grandes coisas o Senhor fez por você.
Ele jamais fez algo maior por alguém, nem poderia fazer 
algo maior por você, anão ser trazê-lo para Si. Suponha que 
Ele colocasse dez milhões de dólares em sua conta bancária 
todas as manhãs pelo resto de sua vida, mas não salvasse você. 
Suponha que Ele desse a você o corpo e o rosto mais bonitos de 
toda humanidade, um corpo que não envelhecesse por mil anos, 
mas então, quando morresse, Ele impedisse você de entrar no 
céu, confinando-o ao inferno pela eternidade? O que Deus já 
deu a alguém que possa ser comparado à salvação que Ele lhe 
deu como crente? Você percebe que não há nada que Deus possa 
fazer ou dar a você que seja mais do que Ele mesmo? Se não 
podemos ser servos gratos a Ele, que é tudo e em quem temos 
tudo, o que nos fará ser gratos?
Motivados pela Alegria
A ordem inspirada de Salmo 100:2 é: "Prestem culto ao 
SENHOR com alegria". Não devemos servir a Deus de má 
vontade ou carrancudamente, mas com alegria.
Nas cortes dos antigos reis, servos eram executados pelo 
simples fato de parecerem tristes ao servirem ao rei. Neemias, 
em 2:2 do livro que leva seu nome, se entristeceu por causa das 
notícias que ouvira, de que Jerusalém ainda estava em ruínas 
apesar do retomo de muitos judeus do exílio babilónico. Ao 
servir uma refeição ao rei Artaxerxes certo dia, o rei disse a ele: 
"Por que seu rosto parece tão triste, se você não está doente? Essa 
tristeza só pode ser do coração!" Por causa do que isso poderia 
significar para ele, Neemias diz estar: "Com muito medo". Não
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 155
se age com desânimo nem se fica amuado ao servir a um rei. 
Isso não apenas dá a impressão de que você não deseja servir 
ao rei, mas é uma declaração de insatisfação com a forma com 
que ele está administrando as coisas.
Algo vai mal se você não consegue servir ao Senhor com 
alegria. Posso entender por que a pessoa que serve a Deus só 
por obrigação não serve com alegria. Posso entender por que a 
pessoa que serve a Deus tentando ganhar o céu não serve com 
alegria. Mas o cristão que gratamente reconhece o que Deus 
tem feito por ele pe!a eternidade deve ser capaz de servir a 
Deus com alegria e ânimo.
Para o crente, servir a Deus não é um peso, mas um 
privilégio. Suponha que Deus perm ita que você sirva em 
qualquer posição política ou comercial do mundo, mas não o 
deixe servir em Seu Reino, Suponha que Ele o deixe escolher 
qualquer pessoa do mundo para servir e conhecer intimamente, 
mas não deixe que você O sirva. Ou suponha que Ele deixasse 
você servir a si mesmo, fazendo de sua vida tudo o que 
desejasse, sem necessidades ou preocupações, mas você jamais 
pudesse conhecer a Deus. Até a m elhor dessas coisas é 
escravidão miserável em comparação com o grato privilégio 
de servir a Deus. E por isso que o salmista pôde dizer: "Melhor 
ó lun dia nos teus átrios do que mil noutro lugar; prefiro ficar à porta 
da casa do meu Deus a habitar nas tendas dos ímpios" (Salmo 84:10).
Você serve na igreja com alegria ou com desânimo? Você 
serve a seus vizinhos de boa vontade ou com relutância? A 
impressão que seus filhos têm é que você realmente gosta de 
servir a Deus ou simplesmente tolera?
Motivados pelo Perdão, não pela Culpa
Na conhecida visão que Isaías teve de Deus, observe a sua
156 Serviço
reação uma vez que Deus o perdoa: "Então, um dos serafins voou 
para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com 
uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou 
os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado. 
Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e 
quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim" (Isaías 
6:6-8). Assim como um cão na coleira, Isaías se esforçava ao 
máximo para servir a Deus de alguma forma, de qualquer forma. 
Porque se sentia culpado? Não! Porque Deus havia tirado a sua 
culpa!
C. H. Spurgeon, o leão londrino dos púlpitos, tocado com a 
emoção de Isaías, disse em um sermão em 8 de setembro de 
1867:
O herdeiro dos céus serve a seu Senhor movido simplesmente 
por gratid ão ; ele não tem salvação a ganhar, nem céu a 
perder;...agora, por amor ao Deus que o escolheu e que pagou 
preço tão alto por sua redenção, ele deseja dispor-se inteiramente 
a serviço de seu Mestre. Você, que busca a salvação pelas obras 
da lei, que vida miserável deve ser a sua! ... você a terá se 
diligentemente perseverar em obediência, você poderá quem sabe 
obter vida eterna, contudo, ai de mim! Nenhum de vocês ousa 
fingir que a obteve. Você labuta, labuta, labuta, mas nunca obtém 
aquilo por que labuta, e jamais obterá, pois: "ninguém é justificado 
pela prática da L ei" ...O filho de Deus não se empenha para ganhar 
a vida, mas porque tem a vida; não se empenha para ser salvo, mas 
porque é salvo.4
Nós, o povo de Deus, não O servimos a fim de sermos 
perdoados, mas porque somos perdoados. Quando crentes 
servem somente porque se sentem culpados se não o fizerem, 
é como se servissem com uma bola e corrente presa a seus 
tornozelos. Não há amor nesse tipo de serviço, apenas trabalho.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 15 7
Não há alegria, apenas obrigação e servidão. Mas os cristãos 
não são prisioneiros que devem servir no Reino de Deus de má 
vontade por causa da culpa. Podemos servir de boa vontade 
porque a morte de Cristo nos libertou da culpa.
Motivados pela Humildade
Jesus foi o Servo perfeito. Sua grandiosidade é vista na 
"baixeza" que Ele estava disposto a experimentar a fim de servir 
às necessidades mais básicas de Seus doze amigos.
Quando terminou de lavar-lhes os pés, Jesus tomou a vestir sua 
capa e voltou ao seu lugar. Então lhes perguntou: "Vocês entendem 
o que lhes fiz? Vocês me chamam 'Mestre' e 'Senhor', e com razão, pois 
eu o sou. Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os 
pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o 
exemplo, para que vocês façam como lhes fiz. Digo-lhes verdadeiramente 
que nenhum escravo é maior do que o seu senhor, como também nenhum 
mensageiro é maior do que aquele que o enviou." (João 13:12-16)
Com espantosa humildade, Jesus, o seu Senhor e Mestre, 
lavou os pés de Seus discípulos, dando exemplo de como todos 
os Seus seguidores deveriam servir com humildade.
Nesta vida, sempre haverá uma parte de nós (que a Bíblia 
chama de carne) que dirá: "Se tenho que servir, quero conseguir 
algo em troca. Se posso ser recompensado, ou ganhar reputação 
pela humildade, ou de alguma forma obter vantagem com isso, 
então darei a impressão de humildade e servirei". Mas este 
serviço não expressa semelhança com Cristo. E hipocrisia. 
Richard Foster o chama de "serviço farisaico".
O serviço farisaico requer recompensas externas. Ele precisa saber 
que as pessoas vêem e apreciam o esforço. Busca o aplauso 
humano, com a devida modéstia religiosa, é claro. O serviço
158 Serviço
farisaico se preocupa muitíssimo com os resultados, e deseja 
avidamente ver se a pessoa servida irá retribuir da mesma forma. 
A carne se queixa contra o serviço, mas grita contra o serviço feito 
às ocultas. Ela faz de tudo para obter honra e reconhecimento. 
Ela irá tramar meios sutis e religiosamente aceitos de chamar a 
atenção para o serviço prestado.5
Pelo poder do Espírito Santo devemos rejeitar o serviço 
farisaico como motivação pecaminosa, e servir 
"humildemente", considerando "os outros superiores" a nós 
mesmos (Filipenses 2:3).
Você consegue servir a seu chefe e a outros no trabalho, 
ajudando-os a serem bem-sucedidos e felizes, mesmo quando 
eles são promovidos e você passa despercebido? Consegue 
trabalhar para fazer os outros parecerem bem sem que a inveja 
ocupe seu coração? Consegue ministrar às necessidades 
daqueles que Deus exalta e os homens honram quando você 
mesmo é negligenciado? Consegue orar para que o ministério 
de outros prospere quando isso poderia lançar o seu nas 
sombras?
Na Disciplina do serviço, a questão nem sempre é quão 
bem você serve, pois até o mundo serve bem quando isso leva 
ao lucro. Mas o cristão serve com humildade porqueisso leva à 
semelhança com Cristo.
Motivados por Amor
No coração do serviço, de acordo com Gálatas 5:13, deve 
haver amor: "Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas 
não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, 
sirvam uns aos outros mediante o amor".
Não há melhor combustível para o serviço que queime por 
mais tempo e forneça mais energia do que o amor. Há coisas
Com o Propósito de Alcnnçnr n Piedade 159
que faço no serviço de Deus que não faria por dinheiro, mas 
disponho-me a fazê-las por amor a Deus e aos outros. Li sobre 
um m issionário na Á frica a quem foi perguntado se ele 
realmente gostava do que estava fazendo. Sua resposta foi 
chocante: "Se gosto deste trabalho?" disse ele. "Não. Minha 
esposa e eu não gostamos de sujeira. Temos sensibilidades 
razoavelmente refinadas. Não gostamos de rastejar até cabanas 
imundas em meio a refugo de bode". ...Mas um homem não 
deve fazer nada do que não goste para Cristo? Deus tenha 
misericórdia dele, se não. Gostar ou não gostar não tem nada a 
ver com isso. Temos ordens para 'Ir ' e vamos. O amor nos 
constrange a isso".
Quando o am or de Cristo controla ou constrange os 
homens, o resultado é que eles "já não [vivem] mais para si 
mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" 
(2 Coríntios 5:14-15), Eles servem a Deus e aos outros, mas o 
serviço é motivado pelo amor. Jesus disse em Marcos 12:28-31 
que o maior mandamento era amar a Deus com todo o seu ser 
e o segundo mandamento mais importante era amar ao próximo 
como a si mesmo. A luz destas palavras, certamente quanto 
mais amarmos a Deus, mais viveremos para Ele e O serviremos, 
e quanto mais amarmos aos outros, mais os serviremos.
TODO CRISTÃO TEM O DOM DE SERVIR
Dons Espirituais
No momento da salvação, o Espírito Santo, quando passa a 
habitar em seu interior, traz Consigo um dom. Em 1 Coríntios 
12:4, 11, somos informados de que há muitas variedades de 
dons, e o Espírito Santo determina, por Sua soberana vontade, 
que dom é dado a cada crente. "Há diferentes tipos de dons, mas o
160 Serviço
Espírito é o mesmo...Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo 
mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada 
um, como quer". Até mais específico é 1 Pedro 4:10, que certifica 
que cada cristão é especialmente dotado e que o propósito do 
dom é o serviço: "Cada um exerça o dom que recebeu para servir os 
outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas 
formas".
Talvez você já saiba que os dons espirituais têm sido alvo 
de contínua controvérsia em muitas partes da Igreja. Minha 
convicção particular é que todo cristão tem um dos sete dons 
espirituais relacionados em Romanos 12:4-8. Os próprios 
ministérios que Deus nos dá são dons de Deus (1 Coríntios 12:5, 
Efésios 4:7-13) e, ao ministrarmos com nosso dom espiritual, 
os efeitos benéficos que o Espírito Santo opera nas vidas de 
outros são para eles outro tipo de dom espiritual (1 Coríntios 
12:6-11). Outras passagens importantes sobre dons espirituais 
são 1 Coríntios 12:27-31,1 Coríntios 14 e 1 Pedro 4:11. Encorajo 
você a lê-las em espírito de oração.
Independentemente de sua teologia sobre dons espirituais, 
os dois pontos mais relevantes sobre eles continuam sendo 
aqueles revelados em 1 Pedro 4;10, a saber, (1) se você é cristão, 
tem definitivamente um dom espiritual, e (2) o propósito de 
Deus ao dar a você o dom é que com ele você sirva para o Seu 
Reino.
Se você estiver apenas começando a aprender sobre dons 
espirituais, provavelmente não terá idéia de qual seja o seu dom. 
Relaxe. Muitos cristãos servem a Deus fiel e produtivamente 
por toda uma vida sem determinar o seu dom específico. Não 
estou sugerindo que você não deva tentar identificar seu dom; 
estou dizendo que você não é relegado ao status de esquentador 
de banco no Reino de Deus até que possa definir seu dom.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 161
Estude o material bíblico sobre dons espirituais e escolha 
cuidadosamente alguns dos melhores livros da torrente de 
tomos escritos sobre o assunto. Mas de forma alguma se deixe 
desanimar em servir, pois é possível servir bem mesmo sem 
saber nomear o seu dom. J. I. Packer nos lembra: "Os dons mais 
significativos na vida da igreja de todas as eras são habilidades 
naturais corriqueiras santificadas".6
Permaneça equilibrado. Deus deu a você um dom espiritual 
e este não é o mesmo que uma habilidade natural. Aquele 
talento natural, adequadamente santificado para o uso de Deus, 
sempre aponta em direção à identidade de seu dom espiritual. 
Contudo, você deve descobrir que dom especial Deus lhe deu 
servindo tão diligentemente quanto possível sem aquelas 
informações definitivas. Na verdade, além do estudo das 
Escrituras, a melhor forma de descobrir e confirmar que dom 
espiritual é o seu será por meio do serviço. Se você tem 
inclinação para ensinar, pode nunca vir a saber que seu dom é 
ensino até que assuma uma classe e tente. Você pode descobrir, 
por um ministério de pessoas em sofrimento, que o seu dom é 
misericórdia. Por outro lado, ao se envolver em um ministério 
específico, você pode confirmar qual não é o seu dom. Há alguns 
anos, eu pensei que tivesse um dom até que, servindo, ficou 
dolorosamente claro que eu tinha um dom inteiramente 
diferente.
Encorajo você a se disciplinar para servir em um ministério 
regular e contínuo de sua igreja local. Não necessariamente em 
uma posição reconhecida ou escolhida. Encontre uma maneira 
de derrotar a tentação de servir somente quando for 
conveniente ou estimulante. Isso não é serviço disciplinado. 
Aqueles que têm coração e olhos de servo serão compelidos 
pelo amor a servir de formas e tempos que ultrapassem os
162 Serviço
limites de seu ministério oficial, mas não negligenciarão o 
ministério contínuo do Corpo de Cristo local.
Você pode se sentir ignorado, talvez esteja limitado por ter 
uma agenda incomum, ou pode estar fisicamente incapacitado, 
mas ainda assim existirá um modo de você servir. Aqueles que 
têm agendas incomuns ou limitações físicas muitas vezes se 
tomam poderosos intercessores em um ministério de oração. 
Apesar de suas limitações, os que têm o coração no serviço 
sempre encontram uma maneira de servir.
Uma comissária de bordo de nossa igreja trabalha em rotas 
internacionais e quando está em serviço, passa vários dias fora. 
Ela não tem uma agenda normal de segunda a sexta, mas 
sempre escreveu cartas de encorajamento e doou livros como 
ministério. Contudo, ao se unir a nossa comunhão, buscou uma 
forma disciplinada de servir com outros crentes ao invés de 
apenas individualmente. Mas como fazer isso com a sua 
agenda? Logo ficou claro que seu dom espiritual era servir, isto 
é, suprir necessidades práticas. Ela também se sobressai na 
hospitalidade. Agora ela faz parte de uma equipe ministerial 
de nossa igreja que é especializada em hospitalidade. Por ser 
um ministério de grupo, ela não tem que estar presente todas 
as vezes que servem. Quando ela não está fora, ela faz a sua 
parte.
Dons espirituais devem ser usados para servir. Se Deus não 
pretendesse que seu dom fosse usado, não haveria mais 
propósito para sua vida. Por que Deus permitiria que 
vivêssemos senão para sermos úteis a Ele? Em Sua sabedoria e 
providência, Ele dotou cada crente para servir e manteve cada 
um de nós vivo para servir.
O intuito deste capítulo, contudo, é despertar os crentes 
para o serviço disciplinado, com o objetivo de podermos ser mais
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 163
semelhantes a Jesus. Alguns dons espirituais pendem em 
direção a ministérios que estão fora dos holofotes e muitas vezes 
não são apreciados pelas massas. Entretanto, como Jesus, não 
importa quanto reconhecimento público ganhemos no 
ministério, somos chamados igualmente para tempos de serviço 
"nos bastidores". "Alguns têm o dom do auxílio, e essas ações 
vêm mais naturalmente", escreve Jerry White. "Para a maioria 
dos cristãos, servir requer um esforçoconsciente".7 Ele poderia 
ter dito isso da seguinte maneira: "servir requer disciplina".
Servir Sempre é Trabalho Árduo
Alguns ensinam que uma vez descoberto e empregado o 
dom espiritual, servir se torna nada mais do que alegria passiva. 
Mas isto não é o cristianismo do Novo Testamento. Em Efésios 
4:12, o Apóstolo Paulo escreveu sobre "preparar os santos para 
a obra do ministério" (ênfase do autor). As vezes, servir a Deus 
e aos outros nada mais é do que trabalho árduo.
Nas Escrituras, os cristãos são chamados não apenas de 
filhos de Deus, mas também de servos de Deus. Recorde como 
Paulo normalmente inicia as suas cartas, referindo-se a si 
mesmo como servo de Deus (como em Romanos 1:1). Todo 
cristão é servo de Deus, e servos trabalham.
Paulo descreve o seu serviço a Deus com estas palavras em 
Colossenses 1:29: "Para isso eu me esforço, lutando conforme a sua 
força, que atua poderosamente em mim". A palavra esforço significa 
trabalho ao ponto de exaustão, enquanto a palavra grega 
traduzida por "lutando" vem da palavra "agonizar". Assim, para 
Paulo, servir a Deus era "agonizar ao ponto de exaustão". Isso 
não significa que era uma labuta infeliz; na verdade, a razão 
porque Paulo trabalhava tanto era que a única coisa a que ele 
amava mais do que servir a Deus era o próprio Deus. Deus nos
164 Serviço
fomece o poder de servi-Lo. Nós lutamos em serviço "conforme 
a sua força, que atua poderosamente" em nós. O verdadeiro 
ministério nunca é movido pela carne. Mas o resultado de Seu 
poder operando poderosamente em nós é "esforço".
Isso significa que servir ao Senhor em uma igreja local ou 
em qualquer tipo de ministério sempre será difícil. Se você for 
como Paulo, às vezes será agonizante e exaustivo. Levará tempo. 
Sempre haverá coisas mais divertidas que você poderia estar 
fazendo. E, se não houver outra razão, servir a Deus é trabalho 
árduo porque significa servir as pessoas.
Entretanto, lembre-se de que o serviço que nada custa 
também nada produz. E mesmo que servir a Deus possa ser 
trabalho agonizante e exaustivo, é também o tipo de trabalho 
que mais realiza e recompensa. Em João 4:34, lemos a passagem 
em que Jesus fala com a mulher de Samaria. Ele andara o dia 
todo. Estava cansado, com sede e fome. E tudo isso porque Ele 
estava servindo a Seu Pai. Enquanto Ele descansa perto do poço 
próximo a Sicar, a mulher samaritana chega ao poço. Eles 
conversam e a vida dela é transformada para sempre. Quando 
ela volta a Sicar para contar aos outros sobre Jesus, Seus 
discípulos voltam da cidade, onde haviam ido comprar 
alimento. Quando oferecem comida a Jesus, Ele diz: "A minha 
comida é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a 
sua obra" (ênfase do autor).
A obra de servir a Deus produzia tanta satisfação e 
realização em Jesus, que Ele a chamava de comida. Servir a 
Deus muitas vezes O deixava tão cansado que Ele pegava no 
sono durante a tempestade em um barco aberto. Certa vez, a 
tarefa implicou quarenta dias sem comer. Serviço para Jesus 
significava dormir fora e no chão. Significava levantar-se antes 
do dia clarear para ter algum tempo para si mesmo. Mas em
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 165
meio de toda exaustão, fome, sede, dor e inconveniência, Jesus 
disse que a obra de servir a Deus era tão importante que era 
como comidal Ela O nutria, O fortalecia, O satisfazia e Ele a 
devorava!
Servir a Deus é trabalho, mas não há trabalho mais 
recompensador.
O serviço disciplinado é também o tipo mais duradouro de 
trabalho. Diferentemente de algumas coisas que possamos 
fazer, o serviço para Deus nunca é feito em vão. O mesmo Paulo 
que agonizou o ponto de exaustão ao servir a Deus nos lembra: 
"Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre 
abundantes na obra do Senhor; sabendo que, no Senhor; o vosso 
trabalho não é vão". (1 Coríntios 15:58).
Não será preciso servir a Deus por muito tempo para ser 
tentado a pensar que seu trabalho é vão. Pensamentos virão 
que o serviço que você presta é uma perda de tempo. Resultados 
são difíceis de ser encontrados. Independentemente do que você 
pense e veja, Deus promete que seu trabalho nunca será em 
vão. Isso não significa que um dia você irá ver todo o fruto de 
seu trabalho que esperaria ver, ou que não irá sentir muitas 
vezes que nada se aproveitou de todo o seu esforço. Mas 
significa que mesmo que você não consiga ver a prova, o seu 
serviço para Deus nunca é em vão.
Deus vê e sabe de seu serviço para Ele e jamais Se esquecerá 
dele. Ele irá recompensar você no Céu porque é um Deus fiel e 
justo. Gosto muito de Hebreus 6:10: "Porque Deus não é injusto 
para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes 
para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos".
O serviço disciplinado a Deus é trabalho, e às vezes esforço 
árduo e custoso, mas irá durar por toda eternidade.
166 Serviço
MAIS APLICAÇÃO
A adoração habilita o serviço; o serviço expressa adoração. 
A Piedade requer um equilíbrio disciplinado entre as duas 
coisas. Aqueles que podem manter o serviço sem adoração 
regular pessoal e conjunta estão servindo na carne. Não importa 
quanto tempo eles estejam servindo dessa forma ou quão bem 
outros achem que eles sirvam, eles não estarão se empenhando 
de acordo com o poder de Deus, como Paulo fez, mas em seu 
próprio poder.
Na adoração renovamos os motivos e o desejo de servir. 
Isaías não diz: "Eis-me aqui. Envia-me" até ter uma visão de 
Deus. Esta é a ordem: adoração, depois o serviço movido pela 
adoração. Como A. W. Tozer coloca, "a comunhão com Deus 
leva diretamente a obediência e boas obras. Esta é a ordem 
divina e ela nunca pode ser invertida".8 O trabalho requerido 
pelo serviço fica árduo demais sem o poder que recebemos para 
realizá-lo por meio da adoração.
Ao mesmo tempo, uma medida de autenticidade da 
adoração (novamente, tanto pessoal como conjunta) é se ela 
resulta em desejo de servir. Isaías é o exemplo clássico aqui 
também. Tozer mais uma vez o diz da melhor forma: "Ninguém 
pode desejar adorar a Deus em espírito e em verdade antes 
que a obrigação com o serviço santo se tome forte demais para 
que se resista a ela".9
Assim, devemos asseverar que para sermos Piedosos, temos 
que nos disciplinar tanto para a adoração quanto para o serviço. 
O emprego de um sem o outro, na realidade, significa não 
experimentar nenhum deles.
Espera-se que você sirva e você é dotado para servir; mas 
está disposto a servir? Os israelitas não tinham dúvida de que
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 167
Deus esperava que eles O servissem, mas Josué uma vez olhou 
para eles nos olhos e os desafiou quanto à disposição que tinham 
para servir: "Se, porém, não lhes agrada servir ao SENHOR, 
escolham hoje a quem irão servir... Mas, eu e a minha família 
serviremos ao SENHOR" (Josué 24:15).
Quando penso em disposição fiel para servir, lembro-me 
de um homem quieto e pequeno de uma igreja da qual fiz parte 
da diretoria. Aos domingos, ele chegava sempre 
despercebidamente, pois vinha muito antes de qualquer outra 
pessoa. Contudo, ele enrustia seu velho carro em algum canto 
obscuro do estacionamento para deixar os melhores lugares 
para os outros. Ele destravava todas as portas, pegava os 
boletins e depois esperava do lado de fora. Quando alguém se 
aproximava, ele oferecia um boletim e um grande sorriso. Mas 
ele não falava e ficava envergonhado quando visitantes lhe 
faziam perguntas. Algo havia acontecido a sua voz há muitos 
anos. Quando o conheci, ele tinha sessenta e poucos anos e 
morava sozinho. Quando o carro dele tinha algum problema, o 
que muitas vezes acontecia, ele nunca contava nada a ninguém 
e então andava mais de um quilômetro e meio até a igreja. Por 
causa de sua vulnerabilidade, ele tinha sido assaltado e 
espancado várias vezes, ao menos duas vezes durante os três 
anos em que estive naquela igreja. Alguns membros antigos da 
igreja me contaram que suspeitavam que ele tivesse perdido a 
voz após ter sido espancadoalguns anos antes. Uma artrite 
extensiva curvara seus ombros e impedia que ele virasse o 
pescoço. Já era muito esforço destravar as portas e entregar 
boletins. Mas ele estava sempre ali, sorrindo, mesmo que não 
pudesse dizer uma única palavra. Tudo em sua vida cooperava 
para mantê-lo na obscuridade e em segundo plano, até seu 
nome: Jimmy Small. Contudo, apesar de suas desvantagens,
168 Serviço
reveses, deficiências e uma pletora de potenciais desculpas, ele 
servia a Deus de boa vontade. E servia de forma disciplinada, 
o que aos olhos de Deus, não era nem pequena, nem em vão.
O Senhor Jesus sempre foi o servo, o servo de todos, o servo 
dos servos, o Servo. Ele disse: "Mas eu estou entre vocês como 
quem serve" (Lucas 22:27). Se pretendemos ser semelhantes a 
Cristo, temos que nos disciplinar para servir como Jesus serviu.
PROCURADOS: Voluntários dotados para o serviço difícil na 
expressão local do Reino de Deus. A motivação para servir deve 
ser obediência a Deus, gratidão, alegria, perdão, humildade e 
amor. O serviço raramente será glorioso. A tentação de abandonar 
o posto de serviço às vezes será forte. Os voluntários deverão ser 
fiéis apesar das longas horas dedicadas ao trabalho, da obtenção 
de poucos ou de nenhum resultado visível e, possivelmente, de 
nenhum reconhecimento exceto por parte de Deus na eternidade.
' Richard Foster, Celebration of Discipline (Celebração da Disciplina) (São Francisco, 
CA: Harper and Row, 1978), página 110.
2 Dallas Willard, The Spirit of the Disciplines (O Espírito das Disciplinas) (São 
Francisco, CA: Harper and Row, 1989), página 182.
3 E. M. Bounds, The Essentials of Prayer (Elementos Essenciais da Oração) (Grand 
Rapids, MI: Baker Book House, 1979), página 19.
4 C. H. Spurgeon, "Serving the Lord with Gladness", em Metropolitan Tabernacle 
Pulpit (Servindo ao Senhor com Alegria) (Londres: Passmore and Alabaster, 1868; 
reimpressão, Pasadena, TX: Pilgrim Publications, 1989), volume 13, páginas 495­
496.
5 Foster, páginas 112, 114.
6 John Blanchard, comp., More Gathered Gold (Juntando Mais Ouro) (Welwyn, 
Hertfordshire, Inglaterra: Evangelical Press, 1986), página 291.
7 Jerry White, Choosing Plan A in a Plan B World (Escolhendo o Plano A em um 
Mundo de Plano B) (Colorado Springs, CO: NavPress, 1986), página 97.
8 Harry Verploegh, comp., Signposts: A Collection of Sayings from A. W. Tozer (Postes- 
letreiros: Coleção de Ditos de A. W. Tozer) (Wheaton, IL: Victor Books, 1988), página 
183.
9 Verploegh, página 183.
C A P Í T U L O O I T O
M ordom ia ... 
C om o Propósito d e 
A lcançar a P ied ad e
❖ ❖ ❖
Quantas vezes ouvimos sobre a disciplina da vida cristã nos dias de 
hoje? Quantas vezes falamos sobre ela? Quantas vezes ela pode 
realmente ser encontrada no coração de nossa vida evangélica?
Houve uma época em que ela esteve bem no âmago 
da igreja cristã, e creio profundamente ser por causa de nossa 
negligência dela que a igreja esteja em sua presente posição. Na 
verdade, não vejo esperança alguma de haver qualquer 
reavivamento verdadeiro e novo despertar até que voltemos a ela.
D. Martyn Lloyd-Jones
Fé: Experimentada e Triunfante
P ense por um momento. Que eventos produziram o maior 
estresse em sua vida hoje? E na semana passada? Eles não 
fizeram você se sentir sobrecarregado de responsabilidades no 
lar, no trabalho, na escola, na igreja ou em tudo isso junto? O 
pagamento de contas? O atraso para um compromisso? O 
balanço do talão de cheques? A espera no congestionamento 
da cidade ou de uma estrada? O enfrentamento de coisas 
inesperadas como o conserto de um carro ou despesas médicas? 
O descanso insuficiente? O dinheiro, que acabou antes do dia 
do pagamento?
Cada um desses causadores de ansiedade tem a ver com
170 Mordomia
tempo ou dinheiro. Pense agora em quantas questões do dia-a- 
dia envolvem o uso de uma destas duas coisas. O relógio e o 
real são fatores substanciais demais em tantas partes da vida, 
que o papel deles deve ser considerado em qualquer discussão 
séria sobre a vida Piedosa.
O USO DISCIPLINADO DO TEMPO
Piedade é resultado de uma vida espiritual disciplinada. 
Mas no coração de uma vida espiritual disciplinada está a 
Disciplina do tempo.
Se pretendemos ser como Jesus, temos que ver o uso de 
nosso tempo como uma Disciplina Espiritual. Tendo ordenado 
os Seus momentos e Seus dias tão perfeitamente, no final de 
Sua vida terrena, Jesus pôde orar ao pai: "Eu te glorifiquei na 
terra, completando a obra que me deste para fazer" (João 17:4). Assim 
como foi com Jesus, Deus nos dá tanto o dom do tempo quanto 
a obra a ser realizada durante este tempo. Quanto mais 
semelhantes a Cristo formos, mais entenderemos por que o uso 
disciplinado do tempo que Deus nos dá é tão importante. Dez 
razões bíblicas serão mencionadas abaixo (muitas das quais 
foram esclarecidas a mim com a leitura do sermão de Jonathan 
Edwards sobre "A Preciosidade do Tempo e a Importância de 
Remi-lo").1
Use o Tempo Sabiamente "Porque os Dias São Maus"
Usar o tempo sabiamente porque os dias são maus é uma 
frase curiosa incrustada na linguagem inspirada do Apóstolo 
Paulo em Efésios 5:15-16: "Portanto, vede prudentemente como 
andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque 
os dias são maus". Paulo pode ter exortado os cristãos de Éfeso a
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 171
aproveitar ao máximo o tempo deles porque ele e/ou os efésios 
estavam enfrentando perseguição ou oposição (assim como em 
Atos 19:23-20:1). De qualquer forma, precisamos usar cada 
momento com sabedoria "porque os dias são maus" ainda.
Até sem o tipo de perseguição ou oposição conhecidas pelos 
cristãos dos dias de Paulo, o mundo em que vivemos não tem a 
tendência de usar o tempo de maneira sábia, especialmente com 
propósitos de espiritualidade e Piedade. Na verdade, nossos 
dias são dias de mal ativo. Há grandes ladrões de tempo que 
são os favoritos do mundo, da carne, e do Diabo. Eles podem 
ser classificados em forma de preocupações de alta tecnologia, 
socialmente aceitáveis, a conversas simples e ociosas ou 
pensamentos desgovernados. Mas o curso natural de nossas 
mentes, nossos corpos, nosso mundo ou nossos dias nos leva 
em direção ao mal, não em direção à semelhança com Cristo.
Os pensamentos devem ser disciplinados, senão, como água, 
eles tenderão a fluir para baixo ou a permanecer estagnados. E 
por isso que em Colossenses 3:2 a ordem a nós é que 
"Mantenham[os] o pensamento nas coisas do alto". Sem este 
conjunto de direção consciente, ativa e disciplinada de nossos 
pensamentos, eles serão improdutivos, na melhor das hipóteses, 
e maus, na pior. Nossos corpos são inclinados a comodidade, 
prazer, glutonaria e preguiça. A menos que pratiquemos o 
autocontrole, nossos corpos tenderão a servir mais ao mal do 
que a Deus. Devemos nos disciplinar cuidadosamente em como 
"andamos" neste mundo, ou nos conformaremos com os 
caminhos dele e não com os de Cristo. Por fim, nossos dias são 
dias de mal ativo porque toda tentação e força maligna é ativa 
em si. O uso do tempo é importante porque é de tempo que os 
dias são feitos. Se não disciplinarmos a nossa forma de usarmos 
o tempo com o propósito de alcançar a Piedade nestes dias
172 Mordomia
maus, estes dias maus nos impedirão de nos tornarmos 
Piedosos.
O Uso Sábio do Tempo é a Preparação para a Eternidade
Você deve se preparar para a eternidade a tempo. Essa 
declaração pode ser entendida de duas maneiras, ambas são 
verdadeiras. Ela significa que durante o tempo (isto é, nesta 
vida), você deve se preparar para a eternidade, pois não haverá 
segunda chance para se preparar uma vez que você tenha 
cruzado a porta de entrada infinita da eternidade.
Recentemente, tive um sonho inesquecível que me fez 
lembrar seriamente desta realidade. (Eu não atribuo ao sonho 
grande peso ou valor profético; menciono-o somente porque 
ele ilustra o meu ponto.) Juntamente com alguns outros cristãos, 
eu estava num local de perseguição. Após um julgamento,fomos conduzidos a uma sala onde nossos perseguidores 
estavam levando cada crente à morte por injeção letal. Enquanto 
esperava minha vez, fui tomado pela consciência de que em 
alguns momentos eu estaria para entrar na eternidade, e toda 
a minha preparação para aquele evento agora havia terminado. 
Caí de joelhos e comecei a fazer minhas últimas orações desta 
vida, entregando meu espírito ao Senhor Jesus Cristo. Naquele 
ponto do sonho, eu acordei sobressaltado e com o nível de 
adrenalina de um homem prestes a ser executado. Meu primeiro 
pensamento consciente após perceber que aquilo era apenas 
um sonho foi que um dia isso não seria sonho. Há um dia 
específico no calendário, quando toda a minha preparação para 
a eternidade estará encerrada. E já que aquele dia pode ser 
qualquer dia, devo usar meu tempo de maneira sábia, pois é 
todo o tempo que tenho para me preparar para onde estarei 
perpetuamente além do sepulcro.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 173
Você percebe que, o experimentar alegria infinita ou agonia 
eterna depende daquilo que acontece em momentos da vida 
tais como este? O que, então, será mais precioso do que o tempo? 
Pois como um pequeno leme determina a direção de um grande 
navio oceânico, assim aquilo que é feito no tempo influencia a 
eternidade.
Isto nos leva a outro significado de preparar para eternidade 
a tempo, isto é, preparar para ela antes que seja tarde demais. 
O alerta escriturístico clássico é: "Agora é o tempo favorável, agora 
é o dia da salvação" (2 Coríntios 6:2). Agora mesmo é o tempo 
certo de se preparar para onde você irá passar a eternidade. Se 
esta é uma questão incerta ou indefinida para você, agora é 
tempo de defini-la. Você não tem garantia de que terá qualquer 
outro tempo para se preparar para a eternidade, nem deve 
deixar de responder Àquele que o fez e que lhe dá o tempo. 
Prepare-se para a eternidade indo em fé ao Filho Eterno de 
Deus, Jesus Cristo. Vá a Ele a tempo, e Ele o trará para Si mesmo 
na eternidade.
O Tempo é Curto
Quanto mais escasso algo é, mais valioso. Ouro e diamantes 
nada valeriam se pudessem ser encontrados tão facilmente 
quanto pedras ao longo de uma estrada. O tempo não seria tão 
precioso se nunca morrêssemos. Mas já que nunca estamos mais 
distantes do que um passinho da eternidade, a maneira como 
usamos o tempo tem significado eterno.
Mas até se você tem décadas de vida pela frente, o fato é: 
"Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, 
apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa" (Tiago 
4:14). Mesmo a vida mais longa é breve em comparação com a 
eternidade. Apesar de todo tempo que passou, você
174 Mordomia
provavelmente conseguirá se lembrar de eventos felizes ou 
trágicos de sua infância ou adolescência tão vividamente quanto 
se eles tivessem acontecido ontem. A razão não é simplesmente 
a força de sua memória, mas também porque na verdade não 
aconteceram há tanto tempo assim. Quando se pensa em uma 
década toda como 120 meses, uma grande fatia de vida de 
repente parece curta. Até quando chega a seu máximo alcance, 
a vida nunca é longa. Assim, independentemente de quanto 
tempo você tenha reservado para desenvolver mais semelhança 
com Cristo, não será muito. Use-o bem.
O Tempo está Passando
Não só o tempo é curto, mas o que realmente resta dele é 
fugaz. O restante de sua vida não é como um pequeno cubo de 
gelo que você pode tirar do freezer e usar quando quiser. Ao 
contrário, o tempo é muito parecido com a areia em uma 
ampulheta; o que resta está passando rapidamente. O Apóstolo 
João o coloca claramente: "O mundo e a sua cobiça passam" (1 
João 2:17).
Falamos de poupar tempo, comprar tempo, fazer tempo e 
assim por diante, mas é tudo ilusão, pois o tempo está sempre 
passando. Devemos usar nosso tempo sabiamente, mas até o 
melhor uso do tempo não pode colocar de volta as folhas de 
um calendário.
Quando eu era criança, o tempo parecia se arrastar. Agora, 
cada vez mais me pego dizendo aquilo que me lembro que meus 
pais diziam: "Não acredito que mais um ano acabou! Para onde 
o tempo foi?" Quanto mais envelheço, mais sinto como se 
estivesse remando no Niágara: quanto mais me aproximo do 
fim, mais rápido ele vem. Se não disciplinar meu uso do tempo 
com o propósito de alcançar a Piedade agora, não será mais
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 175
fácil fazê-lo depois.
O Tempo Restante é Incerto
O tempo não somente é curto e está passando, mas nós 
nem mesmo sabemos quão curto ele realmente é ou quão 
rapidamente passará. É por isso que a sabedoria de Provérbios 
27:1 é: "Não se gabe do dia de amanhã, pois você não sabe o que este 
ou aquele dia poderá trazer". Há milhares de pessoas que entraram 
na eternidade hoje, inclusive milhares que eram mais jovens 
do que você, e que ontem não tinham idéia de que hoje seria o 
seu último dia. Se soubessem, o uso do tempo teria sido muito 
mais importante para elas.
A morte repentina de um promissor jogador novato do time 
de futebol americano Chicago Bears chocou o mundo reluzente 
dos esportes profissionais esta semana. No mês passado, os 
alunos dos últimos anos do ensino fundamental de nossa igreja 
foram sacudidos pela incerteza do tempo de vida com a morte 
de um amigo próximo. Nem juventude nem força, estrelato ou 
tamanho obrigam Deus a nos dar mais uma hora. 
Independentemente de quanto tempo desejamos viver ou 
esperamos viver, nosso tempo está em Suas mãos (Salmo 31:15).
Obviamente, devemos fazer certos tipos de planos como 
se fôssemos viver por muitos e muitos anos. Mas há um 
entendimento muito real de que devemos usar nosso tempo 
com o propósito de alcançar a piedade como se fosse incerto 
que viveremos até amanhã, pois esta é uma incerteza muito 
certa.
O Tempo Perdido não Pode ser Recuperado •
Há muitas coisas que são perdidas, mas recuperadas depois. 
Muitas pessoas que declararam falência acabam acumulando
176 Mordomia
uma fortuna ainda maior posteriormente. Com o tempo é 
diferente. Uma vez passado, ele se vai para sempre e nunca 
pode ser recuperado. Se você mobilizasse todas as pessoas da 
terra para o propósito, nem os esforços, a riqueza e a tecnologia 
do mundo todo conseguiriam trazer um minuto sequer de volta.
Deus ofereceu a você este tempo para se disciplinar com o 
propósito de alcançar a Piedade. Jesus disse, em João 9:4: 
"Enquanto é dia, precisamos fazer realizar a obra daquele que me 
enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar". O 
tempo para as obras de Deus, isto é, a vida piedosa, é agora, 
enquanto é "dia". Para cada um de nós "a noite se aproxima", 
e nenhum de nós é Josué, que possa parar o sol e prolongar 
seus dias (Josué 10:12-14). Se você usa mal o tempo que Deus 
lhe oferece, Ele nunca oferece o mesmo tempo novamente.
Muitos, ao lerem estas linhas, podem estar lamentando ter 
desperdiçado alguns anos. Embora possa ter feito mau uso do 
tempo no passado, você pode melhorar o tempo que ainda resta. 
A vontade de Deus para você agora é encontrada nas palavras 
do Apóstolo Paulo: "Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo 
alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para 
trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para 
o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" 
(Filipenses 3:13-14). Por meio da obra de Cristo aos crentes 
arrependidos, Deus está disposto a perdoar cada milésimo de 
segundo de tempo mal usado no passado. E é agradável a Ele 
que você discipline o equilíbrio de seu tempo com o propósito 
de alcançar a Piedade.
Você Tem que Prestar Contas a Deus pela Forma Como Usa o 
Tempo
Creio que não há declaração que produza mais sobriedade
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 177
nas Escrituras do que Romanos 14:12: "Assim, cada um de nós 
prestará contas de si mesmo a Deus". As palavras "cada um de 
nós" aplicam-se a cristãos e a não cristãos, semelhantemente. E 
embora crentes sejam salvos pela graça e não por obras, uma 
vez no Céu, nossarecompensa lá será determinada com base 
em obras. O Senhor "provará a qualidade da obra de cada um", 
e para cada um será ou que "esse receberá recompensa" ou 
"esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que 
escapa através do fogo" (1 Coríntios 3:13-15). Assim, não só 
teremos que prestar contas pelo uso do tempo, mas nossa 
recompensa eterna estará diretamente relacionada ao uso 
terreno que fizemos de nosso tempo.
O fato de Deus, no Julgamento, nos considerar responsáveis 
por nosso uso do tempo ao nos disciplinarmos com o propósito 
de alcançar a Piedade pode ser ilustrado em Hebreus 5:12. Nesta 
passagem, Deus castiga aqueles cristãos judeus por deixarem 
de usar o tempo de maneira que teria levado à maturidade 
espiritual: "Embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês 
precisam de alguém que lhes ensine novamente os princípios 
elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e não de 
alimento sólido!" Se Ele considera os crentes responsáveis na 
terra por não disciplinarem o seu tempo com o propósito de 
alcançar a Piedade, Ele sem dúvida irá fazê-lo no Julgamento 
no Céu.
Jesus disse: "Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem 
os homens, dela darão conta no Dia do Juízo" (Mateus 12:36). Se 
devemos prestar contas a Deus por cada palavra falada, 
certamente devemos prestar contas por cada hora gasta 
descuidadamente (isto é, com desperdício, negligentemente). 
E Ele disse em Mateus 25:14-30 que temos que prestar contas 
por todos os talentos que recebemos e pela maneira como os
178 Mordomia
usamos por amor a nosso Mestre. Se Deus nos considera 
responsáveis pelos talentos que nos deu, então certamente Ele 
nos considerará responsáveis pelo uso de um talento tão 
precioso quanto o tempo.
Responder sabiamente a esta verdade é avaliar o seu uso 
do tempo agora e gastá-lo conforme o que você gostaria de ouvir 
no Julgamento. E se você não puder responder à sua consciência 
a respeito de como usa seu tempo no crescimento da semelhança 
com Cristo agora, como poderá responder a Deus naquele dia? 
Jonathan Edwards sugeriu viver cada dia como se ao final do 
dia você tivesse que prestar contas a Deus de como usou o 
tempo.
Decidir se disciplinar a usar seu tempo com o propósito de 
alcançar a Piedade não é uma questão para demora e 
deliberação. Cada hora que passa é outra pela qual você deverá 
prestar contas.
É tão Fácil Perder Tempo
Exceto pelo "tolo", nenhum outro personagem do livro de 
Provérbios é objeto de tanto desprezo nas Escrituras quanto o 
"preguiçoso". A razão? Seu uso vagaroso e desperdiçador do 
tempo. Quando se trata de encontrar desculpas para evitar suas 
responsabilidades e deixar de aprimorar seu tempo, o 
brilhantismo criativo do preguiçoso é insuperável: "O 
preguiçoso diz: 'Lá está um leão no caminho, um leão feroz 
rugindo nas ruas! Como a porta gira em suas dobradiças, assim 
o preguiçoso se revira em sua cama". O preguiçoso moderno é 
a pessoa que não vai ao trabalho ou à igreja, dizendo: "Milhares 
de pessoas são mortas nas estradas todos os dias, eu poderia 
ser morto se fosse até lá!" Ou ele pode dizer: "Se eu disciplinar 
meu tempo com o propósito de alcançar a Piedade, posso perder
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 179
coisas interessantes na TV ou ficar tão ocupado, que não poderei 
descansar o suficiente!" E ele rola na cama.
O preguiçoso nunca parece ter tempo para as coisas que 
realmente importam, especialmente as coisas que requerem 
disciplina. Mas antes que ele o perceba, seu tempo e 
oportunidades são perdidos. Como Provérbios 24:33-34 
observa: "'Vou dormir um pouco', você diz. "Vou cochilar um 
momento; vou cruzar os braços e descansar mais um pouco', mas a 
pobreza lhe sobrevirá como um assaltante, e a sua miséria como um 
homem armado". Note que foi o dormir "um pouco", o cochilar 
"um momento" o cruzar os braços e descansar "mais um pouco" 
que trouxe a ruína da perda de tempo e de oportunidade. É tão 
fácil perder tanto. Você não tem que fazer nada para perder 
tempo.
Muitas pessoas valorizam o tempo como a prata era 
apreciada nos dias de Salomão. Dele é dito em 1 Reis 10:27: "O 
rei tornou a prata tão comum em Jerusalém quanto as pedras". O 
tempo parece ser tão abundante, que perder muito dele parece 
não ter conseqüências. Mas o dinheiro é facilmente 
desperdiçado também. E se as pessoas jogassem dinheiro fora 
tão irrefletidamente quanto jogam o tempo, pensaríamos que 
são insanas. Contudo, o tempo é infinitamente mais precioso 
do que o dinheiro porque dinheiro não pode comprar tempo. 
Mas você pode minimizar a perda e o gasto de tempo 
disciplinando-se com o propósito de alcançar a Piedade.
Valorizamos o Tempo na Morte
Assim como a pessoa que está sem dinheiro o valoriza mais 
quando o perde, também nós, na morte, valorizamos mais o 
tempo quando ele já passou.
Esta avaliação vem mais tragicamente para alguns do que
180 Mordomia
para outros, especialmente no caso daqueles que rejeitaram a 
Cristo. Em suas últimas palavras, o famoso francês descrente 
Voltaire disse a seu médico: "Darei a você metade daquilo que 
valho se você me der mais seis meses de vida". Seus gritos foram 
tão desesperados quando sua hora chegou, que a enfermeira 
que o atendeu disse: "Nem por toda riqueza da Europa eu veria 
outro descrente morrer". 2 Semelhantemente, as últimas 
palavras do cético inglês Thomas Hobbes foram: "Se eu tivesse 
o mundo todo, eu o daria para viver mais um dia".3
O mais importante a se aprender com cenas de morte como 
estas, segundo foi mencionado anteriormente, é vir a Cristo 
enquanto ainda há tempo. Mas para aqueles que já deram suas 
vidas a Cristo, devemos entender o seguinte: Se mais alguns 
anos nos fossem adicionados em nossa morte, eles de nada 
valeriam a menos que mudássemos a forma como usamos o 
tempo. Assim, o momento de valorizar o tempo é agora, e não 
somente na morte. O tempo de buscar a Piedade é agora, e o 
caminho que Deus proveu para aqueles que estão perdoados 
pela graça é o da diligência nas Disciplinas Espirituais.
A Bíblia adverte aos crentes que buscam um rumo baseado 
mais em prazer do que na alegria encontrada no caminho das 
Disciplinas de Deus, que eles terão remorso quando seu tempo 
findar. Imagine a angústia de morrer assim: "No final da vida 
você gemerá, com sua carne e seu corpo desgastados. Você dirá: 
'Como odiei a disciplina! Como o meu coração rejeitou a 
repreensão! Não ouvi os meus mestres nem escutei os que me 
ensinavam'" (Provérbios 5:11-13). Se percebesse de repente que 
não tem mais tempo, você se arrependeria de como gastou seu 
tempo no passado? Como você o gastaria agora? A maneira 
como usou o tempo pode ser um grande conforto para você em 
sua última hora. Você pode não estar contente com o modo
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 181
como algumas vezes usou seu tempo, mas não ficará feliz então, 
por todos os momentos em que viveu cheio do Espírito, por 
todas as ocasiões em que obedeceu a Cristo? Não ficará alegre 
por aqueles tempos de sua vida que você passou nas Escrituras, 
em oração, adoração, evangelismo, serviço, jejum etc., com o 
propósito de se tomar mais semelhante Aquele perante Quem 
você irá se colocar no julgamento (João 5:22-29)? Que grande 
sabedoria há em viver assim como Jonathan Edwards resolveu 
viver: "Resolvido, Que vou viver assim, da forma como hei de 
desejar que tivesse feito quando vier a morrer".4
Por que não fazer algo a respeito enquanto você ainda tem 
tempo?
O Valor do Tempo na Eternidade
Se houver arrependimentos no Céu, serão apenas por não 
termos usado o tempo terreno mais para a glória de Deus e 
para o crescimento em Sua graça. Se for assim, esta pode ser a 
única semelhança entre o Céu e o inferno, que será alimentada 
com lamentos agonizantes pelo tempo tão tolamente esbanjado.
Em Lucas 16:25, a Bíblia retrata esta angústia pelo 
desperdício de tempo de uma vida na história do rico que foi 
ao Hades e de Lázaro, que foi para o "seio de Abraão". Jesus 
conta como o rico,estando em tormento, ergueu os olhos e viu 
Lázaro à distância, vivendo em alegria com Abraão. O rico pede 
a Abraão que Lázaro seja enviado com água, "Mas Abraão 
respondeu: 'Filho, lembre-se de que durante a sua vida você 
recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. 
Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em 
sofrimento".
Que valor aqueles semelhantes a este homem, que 
perderam toda oportunidade de vida eterna, colocam no tempo
182 Mordomia
que agora temos? Richard Baxter, pastor e teólogo inglês, 
perguntou: "Não corta seus próprios corações para sempre 
pensar quão loucamente consumiram suas vidas, e perderam 
o único tempo que foi dado a eles para se prepararem para a 
salvação? Aqueles que estão no Inferno agora consideram sábios 
os que vadeiam ou desperdiçam seu tempo na terra?" 5 Se 
aqueles do lado sem misericórdia da eternidade possuíssem 
mil mundos, eles os dariam todos (se pudessem) por um de 
nossos dias. Eles aprenderam o valor do tempo por experiência. 
Aprendamos por encontrar a verdade, e disciplinemos nosso 
tempo com o propósito de alcançarmos a Piedade.
O USO DISCIPLINADO DO DINHEIRO
A Bíblia relata não apenas o uso do tempo, mas também o 
uso do dinheiro para nossa condição espiritual. O uso 
disciplinado do dinheiro requer que o administremos de tal 
forma que nossas necessidades e as de nossa família sejam 
supridas. Na verdade, a Bíblia denuncia qualquer cristão 
professo que deixe de cuidar das necessidades físicas de sua 
família por irresponsabilidade financeira, má administração 
indolente, ou gasto hipócrita. "Ora, se alguém não tem cuidado 
dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior 
do que o descrente", 1 Timóteo 5:8 diz firmemente, "negou a fé e 
é pior que um descrente". Assim, como usamos o dinheiro para 
nós mesmos, para outros e especialmente por amor ao Reino 
de Deus é totalmente uma questão espiritual.
Por que o uso bíblico de nosso dinheiro e recursos é tão 
crucial a nosso crescimento em Piedade? Primeiro, é uma 
questão de pura obediência. Uma surpreendente quantidade 
de textos escriturísticos se refere ao uso da riqueza e dos bens.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 183
Se ignorarmos ou não dermos a eles a devida importância, nossa 
"Piedade" será uma ficção. Mas tanto quanto qualquer outra 
coisa, a razão pela qual o uso do dinheiro e das coisas que ele 
compra é um dos melhores indicadores de maturidade 
espiritual e Piedade é que nós trocamos parte tão grande de 
nossas vidas por ele. Porque investimos a maioria de nossos 
dias trabalhando em troca de dinheiro, há um entendimento 
muito real de que nosso dinheiro nos representa. Portanto, a 
forma como o usamos expressa quem somos, quais são nossas 
prioridades e o que ocupa os nossos corações. Ao usarmos o 
dinheiro e os recursos que possuímos de modo cristão, 
provamos nosso crescimento em semelhança com Cristo.
Tudo o que tem sido dito sobre o uso disciplinado do tempo 
também se aplica ao uso do dinheiro e dos bens (com a exceção 
de que, diferentemente do tempo, essas coisas quando perdidas 
podem ser substituídas). Rever cada uma das verdades sobre o 
tempo e mencioná-las aqui em referência ao uso geral do 
dinheiro seria redundante. Em vez disso, vamos considerar 
como as Escrituras nos levariam a nos disciplinarmos "com o 
propósito de alcançarmos a piedade" na área específica de dar 
nosso dinheiro para a causa de Cristo e Seu Reino.
O crescimento em Piedade se expressará em um 
entendimento crescente destes dez princípios neo- 
testamentários sobre contribuição.
Tudo o que Possuímos Pertence a Deus
Em 1 Coríntios 10:26, o Apóstolo Paulo cita Salmo 24:1, que 
diz: "Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe". Tudo pertence a 
Deus, inclusive tudo o que você tem, porque Ele criou todas as 
coisas. "Embora toda a terra seja minha...", o Senhor diz em Êxodo 
19:5, e o afirma novamente em Jó 41:11: "Tudo o que há debaixo
184 Mordomia
dos céus me pertence".
Isto significa que somos administradores ou, para usar o 
termo bíblico, somos mordomos das coisas que Deus nos deu. 
Quando escravo, José foi colocado como mordomo da casa de 
Potifar. Ele não possuía nada, pois era escravo, mas 
administrava em benefício de Potifar tudo o que este possuía. 
A administração dos recursos de Potifar incluía o uso destes 
para suprir suas próprias necessidades, mas a principal 
responsabilidade de José era usá-los para os interesses de 
Potifar. E é isso que devemos fazer. Deus quer que usemos e 
desfrutemos as coisas que Ele permitiu que tivéssemos, mas 
como mordomos delas devemos lembrar que elas pertencem a 
Ele e devem ser usadas primeiramente para o Seu Reino.
Assim, a casa ou apartamento em que você mora é a casa 
ou o apartamento de Deus. As árvores de seu quintal pertencem 
a Deus. A grama que você apara é de Deus. O jardim que você 
plantou é o jardim de Deus. O carro que você dirige é de Deus. 
As roupas que você está vestindo agora, bem como aquelas 
que estão penduradas em seu armário pertencem a Deus. A 
comida de sua despensa pertence a Deus. Os livros em sua 
estante são livros de Deus. Toda a sua mobília e tudo o mais 
que houver no interior de sua casa pertence a Deus.
Nós nada temos, tudo pertence a Deus; nós somos os Seus 
administradores. No caso da maioria de nós, a casa que agora é 
chamada de "minha casa" já foi chamada de "minha casa" por 
outra pessoa no passado. E daqui a alguns anos, outro alguém 
chamará a mesma casa de "minha casa". Você possui terras? 
Daqui a alguns anos, alguém irá chamá-las de "minhas terras". 
Somos apenas mordomos temporários das coisas que 
pertencem a Deus. Você provavelmente já crê nisso em teoria, 
mas seu ato de contribuir será um reflexo de quão
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 185
genuinamente você crê nisso.
Deus disse especificamente que Ele possui não apenas as 
coisas que são nossas, mas até o dinheiro que temos no banco e 
o dinheiro de nossas carteiras. Ele disse em Ageu 2:8: "Tanto a 
prata quanto o ouro me pertencem', declara o SENHOR dos 
Exércitos".
Portanto, a pergunta não é: "Quanto do meu dinheiro devo 
dar a Deus?", mas "Quanto do dinheiro de Deus devo guardar 
para mim mesmo?"
Quando colocamos um cheque ou dinheiro no gazofilácio, 
devemos dá-lo crendo que tudo o que temos pertence a Deus e 
com o compromisso de que usaremos tudo conforme Ele desejar.
Contribuir é um Ato de Adoração
Em Filipenses 4:18, o Apóstolo Paulo agradece aos cristãos 
da cidade grega de Filipos pela oferta financeira que deram 
em apoio a seu ministério missionário. Ele escreve: "Recebi tudo 
e tenho abundância; estou suprido, desde que Epadrodito me passou 
às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício 
aceitável e aprazível a Deus". Ele chama o dinheiro doado de 
"oferta de aroma suave, um sacrifício aceitável e agradável a 
Deus", comparando-o a um sacrifício que as pessoas do Antigo 
Testamento faziam em adoração a Deus. Em outras palavras, 
Paulo diz que seu ato de doar para a obra de Deus foi um ato 
de adoração a Deus.
Você já pensou em dar como uma forma de adoração? Você 
sabe que cantar louvores a Deus, orar, dar graças e ouvi-Lo 
falar por meio de Sua Palavra são todos atos de adoração, mas 
você pensa em contribuir financeiramente como uma das maneiras 
bíblicas e tangíveis de cultuar e adorar a Deus?
Em seu livro The Gift of Giving (O Dom da Contribuição),
186 Mordomia
Wayne Watts escreve:
Ao pesquisar os princípios bíblicos da contribuição, considerei o 
assunto da adoração. Honestamente, nunca havia estudado a 
adoração em detalhes para descobrir o ponto de vista de Deus. 
Cheguei à conclusão de que contribuir, juntamente com ação de 
graças e louvor, é adoração. No passado, fiz compromissos 
financeiros com minha igreja a serem pagos anualmente. Uma 
vez por mês, eu fazia um cheque enquanto estava na igreja e o 
colocava no gazofilácio. As vezes eu colocava o cheque no correio, 
de meu escritório. Meu objetivoera que a igreja cumprisse o 
compromisso total antes do final do ano. Embora eu já tivesse 
experimentado a alegria de contribuir, o ato de dar tinha pouca 
relação com a adoração. Enquanto eu escrevia este livro, Deus 
me convenceu a começar a contribuir todas as vezes que fosse à 
igreja. O versículo que falou a mim sobre isso foi Deuteronômio 
16:16: “...Porém não aparecerá de mãos vazias perante o Senhor". 
Quando comecei a fazer isso, se um cheque não estivesse à mão, 
eu contribuía em dinheiro. No começo, pensei em manter a 
quantia doada. Então Deus me convenceu novamente. Ele parecia 
dizer: "Você não precisa manter a mesma quantia. Dê a Mim 
simplesmente com um coração de amor e veja o quanto você 
desfruta do culto". Fiz esta mudança nos hábitos de contribuição 
e isso aumentou grandemente minha alegria nos cultos de 
adoração.6
É comum em minha tradição que as pessoas que 
freqüentam um pequeno grupo de estudo bíblico antes do culto 
de adoração dêem durante o estudo em vez de na hora da 
adoração. Se este tem sido o seu padrão, você poderá descobrir, 
como eu, que sua contribuição parece ser mais adoração quando 
feita durante o culto de adoração.
A maioria das pessoas contribui tantas vezes por mês 
quanto é paga. Em outras palavras, se recebem seus salários no
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 187
primeiro dia do mês, contribuem uma vez por mês, no primeiro 
domingo do mês. Se são pagas no dia primeiro e no dia quinze, 
elas contribuem duas vezes por mês. Em consideração à palavra 
do Senhor quanto a não aparecer diante Dele de mãos vazias, 
talvez você queira dar uma parte de sua oferta por semana, e 
não a oferta toda apenas no domingo imediatamente posterior 
ao recebimento de seu salário. Evidentemente, o perigo em não 
dar tudo de uma só vez é gastar parte do dinheiro que você 
pretendia dar no próximo domingo. Algumas pessoas evitam 
isso fazendo de uma única vez todos os cheques de que 
precisarão para aquele período de pagamento e colocando-os 
em suas Bíblias ou carteiras até o domingo em que serão 
entregues. Depois, todos os domingos, elas têm algo tangível 
nas mãos para dar como parte de sua adoração ao Senhor.
Contribuir é muito mais do que um dever ou obrigação, é 
um ato de adoração ao Senhor.
Contribuir Reflete Fé na Provisão de Deus
A proporção de sua renda que você devolve a Deus é uma 
indicação clara do quanto você confia que Ele irá suprir as suas 
necessidades.
Em Marcos 12:41-44, lemos a história da contribuição e da 
fé incomum de uma senhora pobre e bastante simples.
"Assentado diante do gazofilácio, observava Jesus como o povo 
lançava ali o dinheiro. Ora, muitos ricos depositavam grandes quantias. 
Vindo, porém, uma viúva pobre, depositou duas pequenas moedas 
correspondentes a um quadrante.
E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo 
que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram 
todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, 
porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento".
188 Mordomia
Aquela pobre viúva estava disposta a dar "tudo o que 
possuía para viver" porque cria que Deus proveria para ela.
Daremos na proporção em que crermos que Deus proverá 
para nós. Quanto mais cremos que Deus proverá por nossas 
necessidades, mais estaremos dispostos a arriscar dar a Ele. E 
quanto menos confiarmos em Deus, menos daremos a Ele.
Certo mês, um amigo meu, que é pastor, e sua esposa 
decidiram dar todo o salário de ambos ao Senhor e confiar que 
Ele supriria as suas necessidades. Eles estavam quase sem 
comida quando uma mulher apareceu com vários pacotes de 
alimentos. "Como você soube?" eles perguntaram, já que não 
haviam contado a ninguém. Mas ela não sabia de nada. Ela 
simplesmente sentiu que o Senhor queria que ela levasse 
aquelas compras a seu pastor.
Sua contribuição pode ser e é uma indicação tangível de 
quanta fé você tem que Deus irá suprir as suas necessidades.
Contribuir Deve ser um Ato de Sacrifício e Generosidade
A viúva que Jesus elogiou ilustra que contribuir para a 
obra de Deus não é simplesmente para pessoas que, como o 
mundo colocaria, "podem". O Apóstolo Paulo dá outra 
ilustração em 2 Coríntios 8:1-5 quando fala sobre como os 
cristãos pobres da Macedônia se sacrificaram para dar 
generosamente a ele:
"Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às 
igrejas da Macedônia; porque, no meio de muita prova de tribulação, 
manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles 
superabundou em grande riqueza da sua generosidade. Porque eles, 
testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se 
mostraram voluntários, pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de 
participarem da assistência aos santos. E não somente fizeram como nós
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 189
esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, 
depois a nós, pela vontade de Deus".
Estes macedônios eram pessoas que Paulo descreveu como 
vivendo em "extrema pobreza". E contudo, "...e a extrema 
pobreza deles transbordaram em rica generosidade". Eles 
deram não apenas "tudo quanto podiam", mas "até além do 
que podiam". Assim como essas pessoas, a nossa contribuição 
deve ser sacrificial e generosa.
Mas deixe-me lembrá-lo que contribuir não é sacrificial a 
menos que seja um sacrifício. Muitos cristãos professos dão 
apenas quantias simbólicas à obra do Reino de Deus. Um 
número bem menor contribui bem, enquanto talvez somente 
alguns verdadeiramente contribuem de maneira sacrificial.
Uma pesquisa Gallup de outubro de 1988 revela que quanto 
mais dinheiro os americanos ganham, menos sacrificiais as suas 
contribuições se tomam. Aqueles que ganham menos de US$ 
10.000 ao ano dão em média 2,8% de sua renda anual às igrejas, 
instituições de caridade e outras organizações sem fins 
lucrativos. Aqueles que ganham de US$ 10.000 a US$30.000 dão 
em média 2,5%, os que ganham de US$ 30.000 a US$ 50.000 dão 
2,0%, e aqueles que ganham de US$ 50.000 a US$ 75.000 dão 
um total de apenas 1,5% de sua renda a suas igrejas e todos os 
outros grupos sem fins lucrativos.7
Você não concorda que, se estivermos ganhando mais 
dinheiro do que nunca, porém contribuindo com uma quantia 
menor ou até com a mesma porcentagem de antes, não 
estaremos contribuindo sacrificialmente? Podemos estar 
contribuindo com quantias maiores do que nunca, mas na 
verdade, estaremos sacrificando menos financeiramente para 
o Reino de Deus.
190 Mordomia
Jamais conheci alguém que tenha contribuído 
sacrificialmente - quer por meio de uma oferta sacrificial única, 
quer por meio de ofertas sacrificiais consistentes - que tenha 
se arrependido. Certamente, eles perderam algumas das coisas 
que poderiam ter tido se tivessem gasto o dinheiro consigo 
mesmos, mas a alegria e a realização que ganharam 
contribuindo com algo que definitivamente não poderiam reter 
foram mais do que compensadoras. Estes são os tipos de pessoas 
que dizem: "Nunca fiz sacrifício. Sempre obtive algo maior do 
que dei".
Imagine uma mãe ou pai vendo seu filho se formar no 
ensino médio ou na faculdade, ou se casando com um cônjuge 
piedoso, ou assistindo ao filho realizando algo que faz os olhos 
marejarem com lágrimas de alegria. Se você disser àquela mãe 
ou pai: "Ei, pense em todas as noites em claro que você passou 
com esse filho, todas as fraldas sujas, as dezenas de milhares 
de reais que esse filho lhe custou quando você poderia ter 
gastado com o que queria, todo o tempo que o filho lhe custou 
quando você poderia ter feito o que desejasse", ela ou ele diria 
a você: "Cada suposto sacrifício que fiz valeu a pena, porque o 
que obtive em troca compensa tudo". Também é assim quando 
você contribui sacrificial e generosamente. Você nunca se 
arrepende.
Contribuir Reflete Fidedignidade Espiritual
Esta é uma percepção surpreendente dos caminhos do 
Reino de Deus que Jesus revela a nós em Lucas 16:10-13:
"Quem é fiel no pouco também é fiel no muito;e quem é injusto no 
pouco também é injusto no muito. Se, pois, não vos tornastes fiéis na 
aplicação das riquezas de origem injusta, quem vos confiará a verdadeira 
riqueza? Se não vos tornastes fiéis na aplicação do alheio, quem vos
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 191
dará o que é vosso?
Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se 
de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro".
Observe novamente o versículo 11, que diz que a sua 
contribuição reflete sua fidedignidade espiritual: "Se, pois, não 
vos tornastes fiéis na aplicação das riquezas de origem injusta, quem 
vos confiará a verdadeira riqueza?"
Se não formos fiéis no uso de nosso dinheiro, e certamente 
isso inclui dar do nosso dinheiro para o Reino de Cristo, a Bíblia 
diz que Deus determinará que não somos fidedignos para 
lidarmos com as riquezas espirituais.
A idéia é a seguinte: o desejo do proprietário de uma 
empresa madeireira é que, um dia, um empregado específico 
assuma a direção de seu negócio. Evidentemente, o proprietário 
vai querer descobrir se seu empregado é capaz de lidar com o 
negócio da forma correta. Então, ele dá uma parte do negócio 
para que o empregado administre: o pedido e a inspeção de 
novos materiais, para ver se ele consegue tomá-lo lucrativo. 
Ele observa bem de perto a maneira como o empregado 
administra aquela parte do negócio por vários meses, não 
exatamente por causa do dinheiro, mas para determinar sua 
fidedignidade e habilidades. Se ele não provar ser fidedigno 
com esta pequena parte da empresa, o proprietário não lhe 
confiará a empresa toda. Mas se ele provar que é fidedigno em 
relação à parte, o proprietário confiará a ele as verdadeiras 
riquezas da propriedade da empresa.
A forma como você usa e dá o seu dinheiro é um dos 
melhores meios de avaliar seu relacionamento com Cristo e 
sua fidedignidade espiritual. Se você ama a Cristo de todo o 
coração, sua contribuição refletirá isso. Se você ama a Cristo e a
192 Mordomia
obra de Seu Reino mais do que qualquer outra coisa, sua 
contribuição mostrará isso. Se você for verdadeiramente 
submisso ao senhorio de Cristo, se estiver disposto a obedecer- 
Lhe completamente em todas as áreas de sua vida, sua 
contribuição revelará isso. Faremos muitas coisas antes de 
concedermos a alguém, até mesmo a Cristo, os direitos sobre 
cada dólar que temos e que venhamos a ter. Mas se você já fez 
isso, sua contribuição o expressará.
É por isso que diz-se que seu talão de cheques fala sobre 
você quase mais do que qualquer outra coisa. Se após sua morte, 
um biógrafo ou seus filhos fossem verificar seus cheques 
cancelados para obter uma noção de que tipo de cristão você 
foi, a que conclusão eles chegariam? O que os cheques 
revelariam sobre a sua vida com Cristo? Eles seriam uma 
evidência tangível de sua fidedignidade espiritual?
Contribuir: Ato de Amor, e não Legalismo
Deus não manda a conta para você. A igreja não envia a 
conta para você. Não se dá a Deus e em apoio à obra de Seu 
Reino em cumprimento de um "décimo primeiro 
mandamento". A contribuição deve ser motivada por seu amor 
a Deus. Quanto você dá daquilo que possui deve ser reflexo de 
quanto você ama a Deus.
Em 2 Coríntios 8, o Apóstolo Paulo conta aos primeiros 
destinatários de sua carta, o povo de Corinto, sobre como alguns 
de seus companheiros gregos na Macedônia haviam sido 
contribuintes tão bons e fiéis. No versículo 7, ele diz aos 
coríntios: "Como, porém, em tudo, manifestais superabundância, 
tanto na fé e na palavra como no saber, e em todo cuidado, e em nosso 
amor para convosco, assim também abundeis nesta graça". Em outras 
palavras, "destaquem-se neste privilégio de contribuir assim
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 193
como os macedônios fizeram". Mas observe o que ele diz no 
versículo 8: "Não vos falo na forma de mandamento, mas para provar, 
pela diligência de outros, a sinceridade do vosso amor". Ele não usou 
sua autoridade como apóstolo (mensageiro especial) de Jesus 
para ordenar que os coríntios contribuíssem. Em vez de impor 
uma lei de contribuição, ele disse que contribuir deveria ser 
uma forma de provar o amor que se tem a Deus.
Ele tornou este princípio ainda mais claro no capítulo 
seguinte. Observe que não há exigência religiosa como razão 
para contribuir na primeira parte de 2 Coríntios 9:7 quando 
Paulo diz: "Cada um contribua segundo tiver proposto no coração".
Ele disse praticamente o mesmo a eles em 1 Coríntios 16:2 
ao dizer a eles que cada pessoa deve dar "conforme a sua 
prosperidade".
Paulo nunca forneceu um padrão externo, mensurável de 
contribuição. Paulo disse a eles que a contribuição a Deus 
deveria ser medida no coração e o padrão era o amor deles a 
Deus.
Permita-me adaptar uma ilustração usada anteriormente e 
aplicá-la desta vez para nossa motivação em contribuir. 
Suponha que eu me aproxime de Caffy no Dia dos Namorados 
e a surpreenda com uma dúzia de suas rosas amarelas favoritas, 
dizendo: "Feliz Dia dos Namorados!" E ela responda: "Ó, que 
lindas! Obrigada! Você não deveria ter gastado tanto dinheiro". 
Então eu reajo neutramente a sua alegria, dizendo: "Imagine! 
Hoje é Dia dos Namorados e, como seu marido, é minha 
obrigação dar-lhe um presente". Como ela se sentiria? 
Provavelmente teria vontade de enfiar cada rosa no meu nariz, 
com espinhos e tudo! Agora, suponha que eu procedesse da 
mesma forma, mas dissesse: "Não há nada que eu goste mais 
de fazer com meu dinheiro do que usá-lo com você porque eu
194 Mordomia
a amo muito". O mesmo dinheiro, o mesmo presente. Mas um 
presente é motivado pela lei, o outro, pelo amor. E isso faz toda 
a diferença do mundo.
Deus é como nós nesta parte. Ele deseja que sua 
contribuição seja uma expressão do amor que você tem por 
Ele, e não de legalismo.
Contribuir de Boa Vontade, com Gratidão e Alegria
Novamente, cito 2 Coríntios 9:7: "Cada um contribua segundo 
tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque 
Deus ama a quem dá com alegria".
Deus não quer que você contribua de má vontade, isto é, 
que você dê sem desejar dar, com ressentimento, com atitude 
de coração incorreta, não importando quanto você dê. Ele não 
é um proprietário celestial de mãos estendidas, ganancioso, 
exigindo o Seu pagamento. Deus não quer que você dê a Ele de 
má vontade, só porque sabe que, de qualquer forma, Ele é 
mesmo o dono de tudo. Ele quer que você dê porque deseja dar.
Um homem disse: "Há três tipos de contribuição: de má 
vontade, por obrigação e com gratidão. Quem dá de má vontade 
diz: 'Eu tenho que dar'; por obrigação diz: 'Eu sou obrigado a 
dar' e com gratidão diz: 'Eu quero dar"'.8
Deus quer que você goste de contribuir.
Algumas pessoas dão a Deus assim como dão ao Imposto 
de Renda depois de uma auditoria. Outras dão a Deus como à 
companhia de energia elétrica. Mas poucas pessoas dão a Deus 
da mesma forma como dariam um anel de noivado à noiva ou 
como dariam ao filho extasiado de quatro anos de idade em 
uma manhã de Natal.
Alguns dão porque dizem que não podem reter. Outros 
dão porque dizem ser devedores. Mas há sempre aqueles que
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 195
dão porque dizem que não podem evitarl
Percebo que precisamos de uma razão para dar com 
gratidão e alegria. Caso contrário, isto soará como uma pessoa 
que chega quando você está triste e diz: "Vamos, alegre-se!" 
Bem, quando está triste, você precisa de um motivo para se 
alegrar. Mas você não deve ter que pensar por muito tempo ou 
se esforçar muito para achar razões para contribuir com 
gratidão e alegria. Quando pensa que Deus deu a você o maior 
presente possível em Seu Filho, Jesus Cristo, quando pensa na 
misericórdia e graça que Ele lhe deu, quando pensa que Ele 
proveu tudo o que você tem, e quando pensa que está dando a 
Deus, você deve ser capaz de dar com gratidão e alegria.
Se, numa manhã de domingo, na igreja, o pastor anunciar: 
"O chefe de um dos maiores cartéis de drogas está aqui hoje e 
vamoslevantar uma oferta para o seu exército", você 
provavelmente não daria de boa vontade nem com alegria. Mas 
se você ouvisse: "O Senhor Jesus Cristo está lá fora, no átrio, e 
tudo o que você der hoje será apresentado a Ele e usado por 
Ele para o Seu Reino", provavelmente a única coisa mais leve 
do que seu coração depois disso será a sua carteira, porque 
você perceberia que está dando a Deus.
Você não dá de má vontade ou por compulsão quando 
percebe que está dando a Deus. Ao contrário, você dá de boa 
vontade, com gratidão e alegria.
Contribuir: Reação Correta às Necessidades Reais
Há vezes em que é correto que necessidades genuínas sejam 
conhecidas por meio da igreja e que os membros da igreja dêem 
espontaneamente em resposta a essas necessidades.
Existem ao menos três exemplos no livro de Atos onde os 
cristãos dão por meio da igreja em resposta a necessidades
196 Mordomia
específicas.
O primeiro aconteceu nos dias logo após o surgimento da 
igreja. Em Atos 2:43-45, lemos: "Em cada alma havia temor; e muitos 
prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os 
que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as 
suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida 
que alguém tinha necessidade".
No Dia de Pentecoste, quando o Espírito Santo desceu sobre 
os crentes em Cristo e a Igreja surgiu de repente, milhares de 
pessoas se encontravam em Jerusalém, de todas as partes do 
Império Romano, para celebrar aquela festa judaica. Três mil 
pessoas, muitas delas visitantes na cidade, tomaram-se cristãs 
no Domingo de Pentecoste. Logo outros milhares de pessoas 
foram acrescentados à Igreja. Muitos desses visitantes ficaram 
inesperadamente em Jerusalém por causa de sua nova fé em 
Cristo. Eles não tinham casa ou trabalho em Jerusalém, e nem 
meios de prover suas necessidades. Então, para suprir aquela 
carência especial e imediata, todos os que creram reuniram seus 
recursos, venderam propriedades e supriram as necessidades. 
A situação é semelhante em Atos 4:32-35.
"Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém 
considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, 
porém, lhes era comum. Com grande poder, os apóstolos davam 
testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia 
abundante graça. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto 
os que possuíam terras ou casas, venvendo-as, traziam os valores 
correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía 
a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade".
Era a reação correta as pessoas da Igreja contribuírem para 
suprir aquelas reais necessidades.
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 197
Há outro exemplo em Atos, mas desta vez a necessidade 
não é local. Desta vez, os que deram na verdade não podiam 
ver as pessoas necessitadas. Leia Atos 11:27-30: "Naqueles dias, 
desceram alguns profetas de Jerusalém para Antioquia, e, 
apresentando-se um deles, chamado Ágabo, dava a entender, pelo 
Espírito, que estava para vir grande fome por todo o mundo, a qual 
sobreveio nos dias de Cláudio. Os discípulos, cada um conforme as 
suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na 
Judéia; o que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por 
intermédio de Barnabé e de Saído". Os cristãos de Antioquia, 
quatrocentos e oitenta quilômetros ao norte de Jerusalém, 
contribuíram para ajudar a alimentar e a suprir outras 
necessidades de seus companheiros cristãos desconhecidos em 
Jerusalém.
Eis uma base bíblica para o levantamento de ofertas na 
igreja, como ofertas para missões internacionais e nacionais, 
pela fome no mundo e assim por diante, para o levantamento 
de ofertas espontâneas para qualquer necessidade pertinente. 
Observe que em nenhum desses casos, as pessoas foram 
compelidas a contribuir nem contribuíram de acordo com 
porcentagens ou quantias estipuladas.
Há outras orientações para a contribuição em resposta a 
necessidades especiais que não teremos tempo para discutir 
aqui, como conhecer realmente os fatos, saber até que ponto o 
dinheiro será usado de modo responsável e assim por diante. 
Ainda que esta contribuição espontânea seja legítima, a maior 
parte de nossa contribuição talvez não devesse ser desse tipo.
Contribuir Deve ser Algo Planejado e Sistemático
Observe como o Apóstolo Paulo orienta os cristão a 
contribuir em 1 Coríntios 16:1-2: "Quanto à coleta para os santos,
198 Mordomia
fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia 
da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua 
prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu 
for".
Esta "coleta para o povo de Deus" era uma oferta especial 
para os cristãos pobres que estavam sofrendo em Jerusalém 
por causa da fome. Mas embora a oferta fosse para uma 
necessidade específica, Paulo disse para eles contribuírem para 
aquela necessidade semanalmente por bastante tempo antes 
de sua chegada. Ele sabia que era melhor contribuir de forma 
planejada e sistemática do que casualmente, quando alguma 
necessidade surgisse. Já que muitas necessidades são contínuas, 
como as referentes a missões, aos que sofrem fome e à 
manutenção do ministério de uma igreja local, é melhor dar 
sistematicamente e ter ofertas especiais ocasionalmente do que 
sempre ter ofertas especiais.
Observe rapidamente três coisas sobre a contribuição 
planejada e sistemática. Paulo disse para eles darem "no primeiro 
dia da semana". Aquelas pessoas eram pagas provavelmente por 
dia, não por semana. A maioria de nós recebe salários 
semanalmente, ou a cada duas semanas, ou uma vez ao mês. 
Mas não poderia ser que aqui houvesse uma justificativa bíblica 
para todos nós contribuirmos "no primeiro dia da semana" a 
fim de que não apareçamos de mãos vazias diante do Senhor 
quando formos adorá-Lo? Isto poderia significar dividir 
sistematicamente a sua contribuição pelo número de domingos 
por período de pagamento e contribuir em quantias iguais a 
cada domingo, ou contribuir com uma pequena quantia de 
dinheiro aos domingos quando você não estiver fazendo a sua 
principal contribuição.
Segunda, observe que ele diz: "cada um de vocês separe uma
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 199
quantia". Todos os que se dizem crentes devem expressar a 
mordomia do dinheiro de Deus desta forma. Isto significa que 
não podemos nos justificar por darmos nosso tempo ou talentos. 
Fazê-lo indica uma boa e certa mordomia dessas coisas, mas 
isso não ensina a mordomia do dinheiro. Isto significa que não 
nos justifica o fato de estarmos vivendo um período de 
dificuldade financeira, de sermos aposentados, de sermos 
adolescentes ou de trabalhamos somente meio-período. 
Lembre-se: Deus é dono de tudo o que possuímos, mesmo que 
Ele não nos tenha dado muito para administrarmos, e Ele é 
quem nos diz como fazer uso do que temos. E lembre-se 
também: Seremos mais felizes quando usarmos o que temos à 
maneira de Deus. E a maneira de Deus é que contribuamos de 
forma planejada e sistemática.
Terceira, ele diz que cada um deve dar "de acordo com a 
sua renda", ou "conforme tiver prosperado"9 Quanto mais você 
prospera, mais alta deve ser a proporção de sua contribuição. 
Não há meta de porcentagem na contribuição. Dar 10% de sua 
renda bruta não significa necessariamente que você cumpriu a 
vontade de Deus. Este não é um teto máximo de contribuição, 
mas a base de onde se deve partir.
Nunca vejo o que as pessoas dão, mas por conversas 
pessoais, sei de uma família de nossa igreja que dá quase 20% 
de sua renda bruta ao Senhor, e de outra que dá regularmente 
entre 20 e 25%. Nenhuma dessas famílias seria considerada 
abastada por seus vizinhos ou outras pessoas da igreja. Eu diria 
que há alguns outros membros que também contribuem nessa 
faixa. Eles têm filhos, pagam as prestações de sua casa e todas 
as contas comuns à maioria de nós. Nem sempre contribuíram 
com o valor atual, contudo. Mas com o passardos anos, 
determinaram aumentar sistematicamente a porcentagem de
200 Mordomia
sua contribuição ao prosperarem.
Uma tia de Caffy não possuía muitos bens, mas também 
não tinha muitas contas a pagar; assim, ela eventualmente 
passou a viver com 10% de sua renda e a dar 90%. R. G. 
LeTourneau, um cristão de Peoria, Illinois, prosperou muito 
negociando e fabricando equipamentos de terraplenagem. Mas 
enquanto o Senhor continuava a prosperá-lo, ele foi 
contribuindo até chegar a dar 90% de sua renda para a obra do 
Reino de Deus. Você pensa que algum deles, lá no Céu, se 
arrepende de ter feito isso?
George Muller perguntou:
Você tem contribuído sistematicamente para a obra do Senhor, ou 
está deixando isso por conta de um sentimento, de uma impressão 
causada em você por meio de circunstâncias específicas ou apelos 
extraordinários? Se nós não contribuirmos desde o princípio de 
forma sistemática, haveremos de descobrir que nossa única e breve 
vida se foi antes que tivéssemos consciência, e que, em troca, 
fizemos pouco para Aquele que é digno de adoração, que nos 
comprou com o Seu precioso sangue, e a quem pertence tudo o 
que temos e somos.10
Quando receber um aumento salarial, a menos que sob 
circunstâncias excepcionais, planeje contribuir com uma 
porcentagem maior do que a que você dá hoje. O aumento 
percentual pode ser pouco ou pode ser muito, mas você deve 
ter como objetivo dar sistematicamente mais para Deus toda 
vez que sua renda aumentar.
Eu era pequeno quando meus pais me ensinaram a 
contribuir por porcentagem, quando passaram a me dar uma 
quantia semanal de quinze centavos. Eles me deram três caixas: 
uma com os dizeres: "contribuir", outro com os dizeres:
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 201
"economizar" e na terceira estava escrito: "gastar". Toda 
semana uma moeda ia para a caixa "economizar", uma para a 
caixa "contribuir", onde ficava até que eu a levasse para a igreja, 
e a outra moeda nunca ia para a caixa "gastar". Eu 
imediatamente pegava minha bicicleta e ia até a loja Sterling, 
no centro da cidade, e comprava um pacote de cartões de 
baseball! Mas eu aprendi a contribuir sistematicamente.
Ouça o que Muller diz novamente:
Portanto, eu posso ternamente implorar e suplicar a meus amados 
amigos cristãos que levem isso a sério e considerem que até agora 
eles têm privado a si mesmos de numerosas bênçãos espirituais 
porque não têm seguido o princípio de con trib u ir 
sistematicamente, e de dar quando Deus os faz prosperar, e de 
acordo com um plano; não simplesmente por impulso, não 
quando são tocados por um serm ão m issionário ou sobre 
caridade, mas sistem ática e habitualm ente contribuir por 
princípio, na proporção em que Deus os capacita. Se ele confia a 
eles um real, dar uma proporção adequada; se a eles é deixada 
uma herança de mil reais, dar de acordo com ela; se ele confia a 
eles dez mil reais, ou o quanto quer que seja, dar 
proporcionalmente. O, meus irmãos, creio que se percebêssemos 
a bênção, então daríamos por princípio; e, se assim fosse, daríamos 
cem vezes mais do que agora.11
Contribuir Generosamente Resulta em Bênção Abundante
Nosso Senhor Jesus disse em Lucas 6:38: "Dai, e dar-se-vos- 
á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos 
darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão 
também".
Esta não é uma idéia isolada no Novo Testamento. Volte 
para 2 Coríntios 9:6-8. A promessa de Deus ali é: "E isto afirmo: 
aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com
202 Mordomia
fartura com abundância também ceifará. Cada um contribua segundo 
tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque 
Deus ama a quem dá com alegria. Deus pode fazer-vos abundar em 
toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, 
superabundeis em toda boa obra".
Se você der a Deus, Deus dará a você. Se você der 
abundantemente a Ele, Ele dará abundantemente a você.
Considero a "teologia da prosperidade" atual uma heresia. 
Não creio que se você der muito para Deus Ele o fará 
financeiramente rico aqui na terra. Mas creio que essas 
passagens e outras indiquem que bênçãos terrenas de natureza 
não especificada serão dadas àqueles que forem mordomos fiéis 
do dinheiro de Deus. O fim do versículo 8 fala diz: tendo sempre, 
em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra". Isto 
fala claramente de bênção terrena. Deus nunca afirma que se 
você contribuir fielmente Ele dará a você muito dinheiro ou 
alguma outra bênção terrena específica. Mas Ele diz de fato 
que irá abençoá-lo nesta vida se você O amar o suficiente e 
confiar Nele o suficiente para ser generoso em suas 
contribuições.
Se Deus realmente nos ama como diz amar (e Ele 
demonstrou na Cruz a profundidade de Seu amor), então temos 
que crer que Ele irá nos dizer como usar nosso dinheiro de 
forma que definitivamente nos beneficie ao máximo e nos traga 
alegria maior do que a que receberíamos usando o dinheiro à 
nossa maneira. Mas o mundo quer o dinheiro de Deus. Os 
comerciais deixam isso claro. Nós também temos o mesmo 
desejo que todo mundo tem - a Bíblia o chama de desejo da 
carne - de gastar dinheiro de forma egoísta. E o Diabo nos fará 
gastar dinheiro porque ele é nosso Inimigo e Inimigo do Reino 
de Deus; ele quer arruinar a nossa vida e a obra de Deus. Mas
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 203
Deus nos diz como administrar o Seu dinheiro de forma que 
definitivamente nos beneficiará ao máximo e nos trará alegria 
maior do que se usarmos o dinheiro à nossa moda.
A maior parte das bênçãos de Deus referentes a nossa 
contribuição, contudo, não virá nesta vida. E é preciso ter fé 
para crer que dar dinheiro aqui na terra armazena tesouro no 
Céu. É preciso ter fé para crer que Jesus disse corretamente: 
"Mais bem-aventurado é dar que receber" (Atos 20:35). Mas se essas 
passagens são verdadeiras (e são!), podemos crer que virá um 
tempo definido em um lugar real em que Deus irá de fato nos 
recompensar abundantemente por aquilo que demos generosa 
e alegremente.
Independentemente de sua interpretação dessas passagens, 
independentemente de quanto Deus o recompense aqui e no 
Céu por sua contribuição, o essencial é claro: Deus irá abençoá- 
lo abundantemente se você der generosamente.
MAIS APLICAÇÃO
Você está preparado para o fim dos tempos? Jim Croce foi 
um compositor e músico popular no início dos anos 70. Uma 
de suas gravações mais conhecidas era "Time in a Bottle" 
(Tempo em uma Garrafa), uma canção de amor sobre o seu 
desejo de guardar tempo em uma garrafa para gastá-lo mais 
tarde com alguém que amava. O fato estranho em relação à 
composição foi que na época em que ela chegou às paradas, 
Jim Croce já estava morto. Se ele tivesse conseguido guardar 
tempo em uma garrafa, tenho certeza de que ele o teria usado 
para prolongar sua vida. Mas é claro que ele não conseguiu 
fazê-lo. E, de qualquer forma, mesmo que tivesse conseguido, 
ele teria sido usado há muito tempo.
204 Mordomia
Há um número finito de grãos de areia na ampulheta de 
todo o mundo e mais cedo ou mais tarde todos eles acabam. 
Até ao escrever este capítulo eu fui chamado à casa de alguém 
cujo pai havia acabado de falecer. Se Cristo não vier antes, um 
dia seu tempo virá e irá também, e você irá com ele.
Você está preparado? Você pode ter feito o seu testamento, 
planejado e pago pelo seu funeral e ter muitos seguros, mas 
você não estará preparado a menos que a conta de seus pecados 
diante de Deus tenha sido acertada. Você não está preparado, 
na verdade você não pode estar preparado, para prestar contas 
pelo tempo que perdeu vivendo para si mesmo e não para Deus, 
pelo tempo que gastou em desobediência a Deus, pelo tempo 
que desperdiçou buscando coisas mundanas que estão 
destinadas a perecer com o próprio mundo, pelo tempo que 
você poderia ter gasto investindo na obra do Reino de Deus.
Você não está preparado para se apresentar diante de Deus 
a menos que tenha tomado tempopara ir a Cristo e confessado 
o mau uso que fez de toda a sua vida. Você não está preparado 
para a morte até que tenha pedido que Deus o perdoe com 
base na morte de Cristo. Você não está preparado para que o 
tempo pare a menos que tenha entregado o controle do resto 
de seu tempo ao Cristo ressurreto.
"Hoje, se ouvirdes a sua voz", diz Hebreus 4:7, "não endureçais 
o vosso coração". O inferno está repleto de pessoas que 
endureceram seus corações enquanto ainda tinham tempo para 
se arrepender e crer em Cristo. O inferno está repleto de pessoas 
que endureceram seus corações porque pensaram que ainda 
tinham muito tempo ou porque pensaram que poderiam ir a 
Cristo em outra época. O inferno está repleto de pessoas que 
não endureceriam seus corações se tão somente tivessem tido 
a oportunidade que você tem agora mesmo. O inferno está
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 205
repleto de pessoas que dariam o mundo se pudessem ter mais 
uma oportunidade como você, de aceitar o evangelho. O inferno 
está repleto de pessoas que clamam em concordância com 
Hebreus 4:7 àqueles que estão longe de Cristo: "Hoje, se ouvirdes 
a sua voz, não endureçais o vosso coração".
Você está usando o tempo como Deus gostaria que você o 
usasse? Avalie o uso que você faz do tempo em cada área e 
pergunte a si mesmo se está dedicando a elas o tempo que Deus 
gostaria (lembre-se de que há extremos em ambos os lados): 
trabalho, serviço doméstico, passatempos, TV, esportes, Dia do 
Senhor, família, exercícios físicos, recreação, sono, absorção 
bíblica, oração, banho e vestimenta diária.
Talvez o seu uso do tempo requeira alguns pequenos 
ajustes. Talvez Deus esteja exigindo para uma grande mudança. 
Mas, lembre-se de que uma vida disciplinada é impossível sem 
a Disciplina do tempo. Não perca as implicações positivas 
dessas questões. Uma vida disciplinada é possível por meio da 
Disciplina do tempo.
Permita-me inserir uma palavra aqui para corrigir alguns 
possíveis equívocos. O uso disciplinado do tempo descrito 
nestas páginas não deve ser entendido como a promoção de 
um estilo de vida implacável, de inquietude e tendência à 
exaustão. Após ler a biografia de Jonathan Edwards, estou 
convencido de que ele viveu consistentemente de acordo com 
os princípios bíblicos em relação ao uso do tempo descrito neste 
capítulo. Entretanto, seu biógrafo nunca o retrata como homem 
perturbado e esbaforido, correndo agitado no decorrer de seu 
dia, sempre atrasado para alguma atividade. Tampouco era ele 
homem indiferente e calculista, menos preocupado com as 
pessoas do que com a "produção". Seu hábito na maioria dos 
dias era fazer longos passeios com Sarah e também sozinho,
206 Mordomia
toda noite até a mata para orar. Ele passava tempo com seus 
muitos filhos e sabia como se divertir com eles. Fazia todas 
essas coisas porque eram corretas e agradava a Deus que ele as 
fizesse.
No âmago da Disciplina bíblica do tempo está fazer a 
vontade de Deus quando ela precisa ser feita. "Para tudo há 
uma ocasião certa", diz Eclesiastes 3:1, "há um tempo certo para 
cada propósito debaixo do céu". Há um tempo para os tipos 
específicos de Disciplinas mencionados neste livro, mas 
também há um tempo para nos disciplinarmos para descansar, 
para reabastecer nossos recursos físicos e emocionais por meio 
dos tipos certos de recreação e para cultivar relacionamentos. 
Jesus muitas vezes ministrou por longas horas e freqüentemente 
sob condições que demandavam grandemente Dele, contudo, 
era um Homem que descansava, se divertia (talvez enquanto 
andava por todos os lugares aonde ia) e cultivava 
relacionamentos. Ele nunca gastou uma hora inutilmente e não 
há textos que o revelem agindo apressadamente. Ele é nosso 
Modelo no uso disciplinado do tempo.
É possível ter uma vida mais semelhante a Cristo por meio 
de uma Disciplina do tempo plena do Espírito. Deus não balança 
o crescimento em graça diante de você como um chamariz 
espiritual que sempre atrai, mas nunca é desfrutado. Ele disse 
que o verdadeiro progresso na Piedade é possível e as 
Disciplinas Espirituais são o meio. E o passo prático por trás de 
cada uma das Disciplinas Espirituais é a Disciplina do tempo.
Você está disposto a aceitar os princípios divinos da 
contribuição? Você leu e pensou sobre eles, mas crê neles e os 
aceita como vontade de Deus para você?
Você está contribuindo como pretende? O uso que você faz 
do dinheiro - aquele pelo qual você dedica tanto de sua vida -
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 207
deixa claro que você está seguindo a Cristo ou buscando a 
Piedade? Você decidirá que de hoje em diante sua contribuição 
irá mostrar que Jesus Cristo está no centro de sua vida?
Na Edição Centenária do The Wall Street Journal (de 23 de 
junho de 1989) foi publicada a matéria "A Galeria dos Maiores". 
Era sobre vários homens que o Journal considerava grandes 
sucessos nos negócios e nas finanças, nomes como Andrew 
Camegie, Henry Ford, J. P. Morgan e outros. Apesar de seus 
múltiplos milhões, e apesar de todos os usos benevolentes e 
filantrópicos que fizeram de seu dinheiro, a maioria dos homens 
citados no artigo não usou o dinheiro como Deus queria. Mas 
você pode fazê-lo. É tarde demais para eles, mas não para você. 
Não importa se tem muito ou pouco, como crente, você pode 
se disciplinar para usar seu dinheiro para os maiores propósitos 
da terra: para a glória de Deus e "com o propósito de alcançar 
a piedade".
208 Mordomia
1 Jonathan Edwards, The Works of Jonathan Edivards (As Obras de Jonathan Edwards), 
rev. Edward Hickman (1834; reimpressão, Edimburgo, Escócia: The Banner of Truth 
Trust, 1974), vol. 2, páginas 233-236.
2 Herbert Lockyer, Last Words of Saints and Sinners (As Últimas Palavras de Santos e 
Pecadores) (Grand Rapids, MI: Kregel, 1969), página 132.
3 Lockyer, página 132.
4 Edwards, vol. 1, página xxi.
5 Richard Baxter, The Practical Works of Richard Baxter in Four Volumes, A Christian 
Directory (Obras Práticas de Richard Baxter em Quatro Volumes, Um Guia Cristão) 
(1673; reimpressão, Ligonier, PA: Soli Deo Gloria Publications, 1990), vol. 1, página 
237.
6 Wayne Watts, The Gift of Giving (O Dom da Contribuição) (Colorado Springs, CO: 
NavPress, 1982), páginas 35-36.
7 "Plain Talk" ("Conversa Simples"), USy4 Today, 23 de dezembro de 1988.
8 Robert Rodenmeyer, conforme citação em John Blanchard, comp., Gathered Gold 
(Ouro Ajuntado) (Welwyn, Hertfordshire, Inglaterra: Evangelical Press, 1984) 
página 113.
9 Nota da Tradutora: tradução livre do versículo na versão NASB (New American 
Standard Bible) da Bíblia em inglês.
10 Roger Steer, Ed., The George Muller Treasury (O Tesouro de George Muller) 
(Westchester, IL: Crossway Books, 1987), página 183.
11 Roger Steer, Ed., Spiritual Secrets of George Muller (Segredos Espirituais de George 
Muller) (Wheaton, IL: Harold Shaw; and Robesonia, PA: OMF Books, 1985) página 
103.
C A P Í T U L O N O V E
J ejum ... 
Com o P ropósito de 
A lcançar a P iedade
♦♦♦ a ^
A auto-indulgência é inimiga da gratidão, e a autodisciplina, 
normalmente sua amiga e geradora. E por isso que a 
glutonaria é um pecado mortal. Os antigos pais do deserto 
criam que os apetites de uma pessoa estão ligados: 
estômagos cheios e palatos muito usados enfraquecem 
nossa fome e sede de justiça. Eles estragam o apetite por Deus.
Comellius Plantinga Jr.
Citação em The Reformed Journal (Novembro de 1988)
F ale rápido, como são as pessoas que jejuam? Que tipos de 
pessoas vêm a sua mente? Elas parecem um tanto estranhas? 
São do tipo João Batista? Legalistas? Malucas por saúde?
Jesus vem a sua mente quando você pensa em jejum e nos 
"jejuadores"? Jesus tanto praticou quanto ensinou o jejum, você 
sabe. E mesmo assim, o jejum é a mais temida e incompreendida 
de todas as Disciplinas Espirituais.
Uma razão pela qual o jejum é temido é que muitos crêem 
que ele nos transforma em algo que não queremos ser e faz 
acontecer coisas que não queremos que aconteçam. Tememos 
que o jejum nostorne fanáticos de olhos encovados ou 
excêntricos por Deus. Temos medo de que ele nos faça sofrer 
horrivelmente e nos proporcione uma experiência, em geral,
210 Jejum
negativa. Para alguns cristãos, o jejum com propósitos 
espirituais é tão impensável quanto raspar todo o cabelo da 
cabeça ou andar descalço por um fosso de fogo.
O motivo pelo qual o jejum é tão incompreendido está 
relacionado à falta de consciência contemporânea dele. Mesmo 
que exista mais interesse no jejum hoje do que durante a última 
metade do século XIX e primeira metade do século XX, quantas 
pessoas você conhece que praticam o jejum regularmente? 
Quantos sermões você tem ouvido sobre o assunto? Na maioria 
dos círculos cristãos, raramente se ouve a palavra jejum, e 
poucos terão lido algo a respeito. Entretanto, ele é mencionado 
nas Escrituras mais vezes até do que algo tão importante quanto 
o batismo (aproximadamente setenta e sete vezes para jejum e 
setenta e cinco para batismo).
Cristãos em uma sociedade glutona, auto-indulgente, onde 
ninguém se nega nada, podem ter dificuldade para aceitar e 
começar a praticar o jejum. Poucas disciplinas são tão radicais 
contra a carne e a corrente de pensamento prevalecente da 
cultura quanto esta. Mas não podemos menosprezar o seu 
significado bíblico. Evidentemente, algumas pessoas, por razões 
médicas, não podem jejuar. Mas a maioria de nós não ousa 
menosprezar os benefícios do jejum na busca disciplinada de 
uma vida semelhante a Cristo.
EXPLICAÇÃO DO JEJUM
Uma definição bíblica de jejum é a abstinência voluntária 
de alimentos, pelo cristão, com propósitos espirituais. Pelo 
cristão, pois o jejum feito pelo não-cristão não tem valor eterno 
algum porque os motivos e propósitos da Disciplina são centrar- 
se em Deus. É voluntário porque o jejum não é coercivo. O jejum
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 211
é mais do que simplesmente a dieta radical definitiva para o 
corpo; é a abstinência de alimentos com propósitos espirituais.
Há uma visão mais ampla do jejum que é freqüentemente 
ignorada. Esta é a abordagem adotada por Richard Foster ao 
definir jejum como "negação voluntária de uma função normal 
devido a intensa atividade espiritual".1 Assim, então, o jejum 
nem sempre lida com abstinência de alimentos. Às vezes 
podemos precisar jejuar de algum envolvimento com outras 
pessoas, da mídia, do telefone, de conversas, de sono etc., a fim 
de nos tornar mais absortos em um período de atividade 
espiritual.
Martyn Lloyd-Jones concorda com esta definição mais 
ampla de jejum:
Para concluir o assunto, adicionaríam os que o jejum , se 
verdadeiramente o concebemos, não deve apenas estar confinado 
à questão da comida e da bebida; o jejum deve realmente incluir 
a abstinência de qualquer coisa que seja legítima em si e de si 
mesma por causa de algum propósito espiritual especial. Há 
m uitas funções orgân icas que são co rre tas , n orm ais e 
perfeitamente legítimas, mas que, por razões peculiares especiais, 
em certas circunstâncias, devem ser controladas. Isto é jejum. Este, 
sugiro, é um tipo de definição geral do que o jejum deve ser.2
Estritamente falando, contudo, a Bíblia só se refere ao jejum 
em termos de seu sentido primário, isto é, abstinência de 
alimentos. Neste capítulo, limitarei minhas observações a tal 
tipo de jejum.
A Bíblia distingue entre vários tipos de jejuns. Embora não 
use os rótulos que freqüentemente empregamos hoje para 
descrever esses jejuns, podem ser encontrados os seguintes:
O jejum normal envolve abstinência de todos os alimentos,
212 Jejum
mas não de água. Mateus 4:2 nos diz: "Depois de jejuar quarenta 
dias e quarenta noites, [Jesus] teve fome". Nada é mencionado sobre 
Ele ter tido sede. Além disso, Lucas 4:2 revela que Ele "não comeu 
nada durante esses dias", mas nada diz sobre Ele ter bebido 
alguma coisa. Uma vez que o nosso corpo funcione 
normalmente por não mais do que três dias sem água, 
presumimos que Ele tenha bebido água durante esse período. 
Abster-se de alimentos, mas beber água, ou talvez suco de 
frutas, é o tipo mais comum de jejum cristão.
O jejum parcial é uma limitação da dieta, mas não abstenção 
de todos os alimentos. Por dez dias Daniel e os três outros jovens 
judeus tiveram apenas "vegetais para comer e água para beber" 
(Daniel 1:12). Diz-se do rústico profeta João Batista, que "seu 
alimento era gafanhotos e mel silvestre" (Mateus 3:4). 
Historicamente, os cristãos têm observado jejuns parciais 
ingerindo porções de comida muito menores do que as 
habituais por um certo período e/ou comendo apenas alguns 
alimentos simples.
O jejum absoluto é a abstinência de todos os alimentos e 
líquidos, até de água. Esdras nos conta que: "não comeu nem 
bebeu nada, lamentando a infidelidade dos exilados" (Esdras 10:6). 
Ao pedir aos judeus que jejuassem e orassem por ela, Ester 
disse: "Vá reunir todos os judeus que estão em Susã, e jejuem em 
meu favor. Não comam nem bebam durante três dias e três noites" 
(Ester 4:16). Após a conversão do Apóstolo Paulo na estrada de 
Damasco, Atos 9:9 nos diz: "Por três dias ele esteve cego, não comeu 
nem bebeu".
A Bíblia também descreve um jejum sobrenatural. Há duas 
ocasiões em que ele ocorreu. Ao escrever sobre seu encontro 
com Deus no Monte Sinai, Moisés diz: "fiquei no monte quarenta 
dias e quarenta noites; não comi pão, nem bebi água" (Deuteronômio
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 213
9:9). Primeiro Reis 19:8 pode estar dizendo que Elias fez o 
mesmo quando foi ao local do jejum milagroso de Moisés: 
"Então ele se levantou, comeu e bebeu. Fortalecido com aquela comida, 
viajou quarenta dias e quarenta noite, até chegar a Horebe, o monte de 
Deus". Esses jejuns requerem a intervenção sobrenatural de 
Deus nos processos orgânicos e não são repetidos aparte do 
chamado específico e da provisão milagrosa do Senhor.
O jejum particular é aquele que será mencionado na maioria 
das vezes neste capítulo e é a ele que Jesus se refere em Mateus 
6:16-18, quando diz que nós devemos jejuar de forma que outras 
pessoas não o percebam.
Os jejuns congregacionais são do tipo encontrado em Joel 2:15­
16: "Tocai a trombeta em Sião, promulgai um santo jejum, proclamai 
uma assembléia solene". Ao menos uma parte da congregação da 
igreja de Antioquia estava jejuando juntamente em Atos 13:2, 
como evidenciam as palavras de Lucas: "Enquanto adoravam o 
Senhor e jejuavam ".
A Bíblia também fala de jejuns nacionais. Em resposta a uma 
invasão, em 2 Crônicas 20:3, o Rei Josafá conclama um jejum 
nacional: "Alarmado, Josafá decidiu consultar o SENHOR e 
proclamou um jejum em todo o reino de Judá". Os judeus são 
chamados a um jejum nacional em Neemias 9:1 e Ester 4:16, e o 
rei de Nínive proclamou um jejum em resposta à pregação de 
Jonas (3:5-8). A propósito, durante os primórdios da nação, o 
Congresso dos Estados Unidos proclamou três jejuns nacionais. 
Os presidentes John Adams e James Madison conclamaram 
todos os americanos a jejuar, e Abraão Lincoln o fez em três 
diferentes ocasiões durante a Guerra Entre os Estados.3
Havia um jejum regular que Deus ordenou sob a Antiga 
Aliança. Todo judeu deveria jejuar no Dia da Expiação (Levítico 
16:29-31). Enquanto eles estavam na Babilônia, os líderes dos
214 jejum
judeus instituíram quatro outros jejuns anuais (Zacarias 8:19), 
o fariseu de Lucas 18:12 se congratula em oração por manter a 
tradição dos fariseus quando diz: "Jejuo duas vezes por semana". 
Embora sem respaldo bíblico, sabe-se bem que John Wesley 
não ordenava um homem ao ministério metodista se ele não 
jejuasse toda quarta e sexta-feira.
Por fim, a Bíblia menciona os jejuns ocasionais. Estes ocorrem 
em ocasiões especiais conforme surge a necessidade. Este era o 
tipo de jejum que Josafá, assim como Ester, conclamaram. Este 
é o tipo de jejum que Jesus deixa implícito em Mateus 9:15: 
"Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto 
o noivo está com eles? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o 
noivo, enesses dias hão de jejuar".
O jejum mais comum dentre os cristãos atualmente seriam 
os das categorias normal (abstendo-se de alimentos, mas 
bebendo água), particular e ocasional.
ESPERA-SE QUE O CRISTÃO JEJUE
Para aqueles que não têm familiaridade com o jejum, a parte 
mais surpreendente deste capítulo pode ser a descoberta de 
que Jesus esperava que Seus seguidores jejuassem.
Atente para as palavras de Jesus no início de Mateus 6:16­
17: "Quando jejuarem. ...Ao jejuar...". Ao nos instruir sobre o que 
fazer e o que não fazer quando jejuamos, Jesus presume que 
nós jejuemos.
Esta expectativa fica até mais óbvia quando comparamos 
tais palavras com as Suas declarações sobre contribuição na 
mesma passagem, Mateus 6:2-3:"Quando você der.... Mas quando 
você der. ..." Compare também as Suas palavras sobre oração 
na mesma parte, Mateus 6:5-7: "E quando vocês orarem. ...Mas
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 215
quando você orar. ... E quando orarem." Ninguém duvida que nós 
devamos contribuir e orar. Na verdade, é bastante comum usar 
esta passagem para ensinar os princípios de Jesus sobre 
contribuição e oração. E já que não há nada aqui ou em qualquer 
outro lugar das Escrituras indicando que não precisemos mais 
jejuar, e já que sabemos que os cristãos do livro de Atos jejuaram 
(9:9,13:2,14:23), podemos concluir que Jesus ainda espera que 
os Seus seguidores jejuem hoje.
Mais claras ainda são as palavras de Jesus em Mateus 9:14­
15. Imediatamente após chamar Mateus, o coletor de impostos, 
para segui-Lo, Jesus fez uma refeição na casa dele como 
convidado. Os fariseus vieram e perguntaram como Jesus podia 
comer com tamanho pecador. Os discípulos de João tinham 
problemas com isso também. Assim como João, eles eram 
homens de firme propósito, com dietas simples e rústicas. Eles 
compartilhavam um ministério que chamava as pessoas ao 
arrependimento, e o jejum fazia parte dele. Se eles deviam 
direcionar pessoas a Jesus como João fazia, confundia-os como 
Ele podia banquetear quando eles deveriam jejuar. Então, eles 
se aproximaram Dele e perguntaram: "Por que nós e os fariseus 
jejuamos, mas os teus discípulos não?'Jesus respondeu: 'Como podem 
os convidados do noivo ficar de luto enquanto o noivo está com eles? 
Virão dias quando o noivo lhes será tirado; então jejuarão'" (ênfase 
do autor).
Jesus disse que chegará a hora em que Seus discípulos 
"jejuarão". E a hora é agora. Até Jesus, o Noivo da Igreja 
retomar, Ele espera que jejuemos.
As únicas instruções que Ele deixou além das já 
mencionadas estão em Mateus 6:16-18, onde Jesus nos dá uma 
ordem negativa, uma positiva e uma promessa. A ordem 
negativa vem primeiro: "Quando jejuarem, não mostrem uma
216 Jejum
aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do 
rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando. Eu lhes 
digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa". 
Ao jejuar, você não deve parecer que jejua. Não demonstre estar 
fraco. Não cause impressão de sofrimento. E não negligencie a 
sua aparência.
A ordem positiva vem em seguida: "Ao jejuar, arrume o cabelo 
e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, 
mas apenas a seu Pai, que vê em secreto". Em vez de parecer um 
animal faminto, apresente-se tão bem que ninguém desconfie, 
por sua aparência, que você está jejuando. O único Observador 
de seu jejum deve ser aquele que é o Secreto. Ninguém mais 
deve saber que você está jejuando a menos que seja 
absolutamente inevitável ou necessário.
A seguir, Jesus faz uma promessa sobre o jejum: "E vosso 
Pai, que vê em secreto, o recompensará". Tão segura e tão certa 
quanto qualquer promessa das Escrituras é a promessa de que 
Deus o abençoará e recompensará o seu jejum quando este for 
feito de acordo com a Sua Palavra.
É interessante que Jesus não nos dá nenhuma ordem sobre 
a freqüência ou a duração do jejum. Assim como todas as outras 
Disciplinas Espirituais, o jejum não deve ser uma rotina 
legalista. É um privilégio e uma oportunidade de buscar a graça 
de Deus que está aberta a nós tantas vezes quanto desejarmos.
Por quanto tempo devemos jejuar? Depende de você e da 
liderança do Espírito Santo. Na Bíblia há exemplos de jejuns 
que duraram um dia ou parte de um dia (Juizes 20:26; 1 Samuel 
7:6; 2 Samuel 1:12, 3:35; Neemias 9:1; Jeremias 36:6), um jejum 
de uma noite (Daniel 6:18-24), jejuns de três dias (Ester 4:16, 
Atos 9:9), jejuns de sete dias (1 Samuel 31:13, 2 Samuel 12:16­
23), um jejum de quatorze dias (Atos 27:33-34), um jejum de
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 217
vinte e um dias (Daniel 10:3-13), jejuns de quarenta dias 
(Deuteronômio 9:9,1 Reis 19:8, Mateus 4:2) e jejuns de duração 
não especificada (Mateus 9:14; Lucas 2:37; Atos 13:2, 14:2-3).
O JEJUM DEVE TER UM PROPÓSITO
O jejum bíblico á mais do que abstenção de alimentos. Sem 
um propósito espiritual, seu jejum será apenas jejum de perda 
de peso. Você será tal como o homem que contou a um escritor:
Jejuei em várias ocasiões e nada aconteceu . Só passei fom e. 
...Muitos anos atrás, ouvi alguns pastores conversando sobre o 
jejum. Por recom endação deles, tentei jejuar pela primeira vez. 
Eles disseram que era uma ordem bíblica e deveria ser praticada 
por todo cristão. Sendo cristão, decidi tentar. Depois de adiá-lo 
por vários dias, reuni forças suficientes para com eçar. N ão pude 
sentar-m e à mesa de café da manhã com minha família porque 
achei que não teria força de vontade suficiente para m e abster de 
comer, então fui para o trabalho. A pausa para o café foi quase 
intolerável, e eu contei uma pequena m entira branca sobre por 
que não me juntei ao grupo. Tudo o que conseguia pensar era o 
quanto estava faminto. Disse a mim m esm o: "Se eu resistir até ao 
fim do dia, nunca mais tentarei novamente". A tarde foi pior ainda. 
Tentei me concentrar no trabalho, mas tudo o que ouvia era o 
meu estôm ago roncar. Minha esposa preparou um a refeição para 
si mesma e nossos filhos, e o arom a da com ida foi tudo o que eu 
pude suportar. Imaginei que se conseguisse chegar à meia-noite, 
teria jejuado o dia todo. E consegui — m as assim que deu meia- 
noite, avancei na comida. Acho que aquele dia de jejum não me 
ajudou nem um pouco .-1
É claro, ele provavelmente estava certo. Aquele homem não 
estabeleceu um propósito para o jejum. E sem propósito, o jejum 
pode ser uma experiência infeliz e egocêntrica.
218 Jejum
Há muitos propósitos para o jejum nas Escrituras. 
Condensei-os em dez principais categorias. Quando jejua, você 
deve fazê-lo por ao menos um destes propósitos. (Observe que 
nenhum dos propósitos é ganhar favor de Deus. Não podemos 
usar o jejum como forma de impactar Deus e de ganhar a Sua 
aceitação. Tornamo-nos aceitáveis a Deus por meio da obra de 
Cristo Jesus, não pela nossa. O jejum não terá benefício eterno 
para nós até que nos aproximemos de Deus em arrependimento 
e fé. Veja Efésios 2:1-10 e Tito 3:5-7.)
Para Fortalecer a Oração
"Quando os homens tiverem de orar a Deus a respeito de 
alguma grande questão", escreveu João Calvino, "seria 
conveniente indicar o jejum juntamente com a oração." 5
Há algo no jejum que aguça as nossas intercessões e dá 
paixão a nossas súplicas. Assim ele tem sido muitas vezes usado 
pelo povo de Deus quando há alguma urgência especial sobre 
os assuntos que eles elevam ante o Pai.
Quando estava para conduzir um grupo de exilados de 
volta a Jerusalém, Esdras proclamou um jejum a fim de que o 
povo buscasse fervorosamente ao Senhor para ter uma 
passagem segura. Eles iriam enfrentar muitos perigos sem 
proteção militar durante a jornada de quase 1500 quilômetros. 
Este não era um assunto comum para ser levado a Deus em 
oração. "Por isso jejuamos e suplicamos essa bênção ao nosso Deus", 
diz Esdras 8:23, "e ele nos atendeu".
A Bíblia não ensina que jejum é um tipo de greve de fome 
espiritual que compele Deus a cumprir a nossa ordem. Se nós 
pedirmos algo fora da vontade de Deus, o jejum nãoO fará 
reconsiderar. O jejum não altera a audição de Deus tanto quanto 
muda a nossa oração. Em seu livro God's Chosen Fast (O Jejum
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 219
Escolhido por Deus), Arthur Wallis observa:
O jejum é talhado para trazer um toque de urgência e insistência 
à nossa oração, e para dar força à nossa petição no tribunal do 
céu. O homem que ora com jejum está notificando ao céu de que 
é verdadeiramente resoluto. ...Não somente isso, mas ele está 
expressando sua seriedade de uma maneira divinamente dirigida. 
Ele está usando um meio que Deus escolheu para fazer sua voz 
ser ouvida no alto.6
Deus sempre Se agrada de ouvir as orações de Seu povo. 
Mas Ele também Se agrada quando escolhemos fortalecer 
nossas orações de um modo que Ele ordenou.
Neemias (em 1:4) "jejulou] e or[ou] ao Deus dos céus". Daniel 
(em 9:3) devotou-se a instar com Deus "com orações e súplicas, 
em jejum". Em uma ordem direta por meio do profeta Joel, Israel 
ouviu: "Agora, porém', declara o SENHOR, 'voltem-se para mim de 
todo o coração, com jejum, lamento e pranto"' (Joel 2:12). Não foi 
senão depois de "jejuar e orar", que os crentes da igreja em 
Antioquia "impuseram-lhes as mãos" (sobre Bamabé e Saulo de 
Tarso) e "os enviaram " a sua primeira viagem missionária (Atos 
13:3).
O aspecto mais importante desta Disciplina é a sua 
influência sobre a oração. Você notará que de uma forma ou de 
outra, todos os outros propósitos bíblicos do jejum estão 
relacionados à oração. O jejum é um dos melhores amigos que 
podemos introduzir em nossa vida de oração. Apesar de seu 
potencial poder, contudo, parece que pouquíssimos crentes 
estão dispostos a desfrutar seus benefícios. Citando Wallis 
novamente:
Ao dar-nos o privilégio de jejuar, assim como de orar, Deus
220 Jejum
acrescentou uma poderosa arma ao nosso arsenal espiritual. Em 
sua insensatez e ignorância, a Igreja, em grande parte, o tem 
considerado obsoleto. Ela o jogou em algum canto escuro para 
enferrujar, e ele tem jazido ali, esquecido por séculos. Uma hora 
de crise iminente para a Igreja e o mundo exige a sua volta.7
Para Buscar a Orientação de Deus
Existe precedente bíblico para jejuar com o propósito de 
discernir mais claramente a vontade de Deus.
Em Juizes 20, as outras onze tribos de Israel se prepararam 
para guerrear contra a tribo de Benjamim. Os soldados se 
reuniram em Gibeá por causa de um chocante pecado cometido 
pelos homens daquela cidade benjamita. Eles buscaram ao 
Senhor antes de ir para a batalha, e mesmo que fossem em maior 
número do que os benjamitas, a quinze por um, eles perderam 
a batalha e vinte e dois mil homens. No dia seguinte, eles 
buscaram ao Senhor com oraçãò e lágrimas, mas novamente, 
tinham perdido a batalha e com milhares de perdas. Confusos, 
da terceira vez eles não só buscaram orientação do Senhor em 
oração e com lágrimas, mas também "jejuaram até a tarde" 
(versículo 26). "Sairemos de novo ou não, para lutar contra os nossos 
irmãos benjamitas?" perguntaram. Então o Senhor tornou a Sua 
vontade clara: "Vão, pois amanhã eu os entregarei nas suas mãos" 
(versículo 28). Somente depois de O buscarem com jejum o 
Senhor deu a Israel a vitória.
De acordo com Atos 14:23, antes de Paulo e Barnabé serem 
designados presbíteros nas igrejas que fundaram, eles primeiro 
oraram com jejum para receber a orientação de Deus.
David Brainerd orou com jejum pela liderança do Senhor a 
respeito de seu ingresso no ministério. Na segunda-feira, 19 de 
abril de 1742, ele registrou em seu diário: "Separei este dia para 
jejuar e orar a Deus por Sua graça; especialmente para me
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 221
preparar para a obra do ministério, para me prover auxílio 
divino e direção em meus preparativos para a grande obra, e 
em Seu devido tempo me enviar a Sua colheita".8 Sobre a sua 
experiência durante aquele dia, ele disse:
Senti o poder da intercessão por almas preciosas imortais; pelo 
avanço do reino de meu querido Senhor e Salvador no mundo e 
ademais, a mais doce resignação e até consolação e alegria nos 
pensamentos relativos ao sofrimento de dificuldades, aflições e 
até a própria morte, na promoção dele.... Minha alma se estendeu 
muito para o mundo, para multidões de almas. Eu pensei ter mais 
abrangência por pecadores do que pelos filhos de Deus, embora 
sentisse como se pudesse passar minha vida em clamores por 
ambos. Desfrutei grande doçura em comunhão com meu querido 
Salvador. Creio que nunca em minha vida senti desapego tão 
completo deste mundo e conformidade tão grande com Deus em 
tudo.9
O jejum não garante o recebimento de orientação clara de 
Deus. Uma vez praticado de modo correto, porém, ele 
realmente nos torna mais receptivos Àquele que tem prazer 
em nos orientar.
Para Expressar Tristeza
Três das quatro referências bíblicas a jejum o associam a 
uma expressão de tristeza. De acordo com Juizes 20:26, uma 
das razões por que os israelitas choraram e jejuaram diante do 
Senhor foi - não apenas para buscar Sua orientação - mas para 
expressar tristeza pelos quarenta mil irmãos que eles haviam 
perdido na batalha. Quando o Rei Saul foi morto pelos filisteus, 
os homens de Jabes-Gileade andaram a noite toda para 
recuperar os corpos do rei e de seus filhos. Após o enterro, 1 
Samuel 31:13 diz que eles prantearam quando "jejuaram durante
222 Jejum
sete dias". O capítulo seguinte dá a resposta de Davi e de seus 
homens quando ouviram a notícia: "Então Davi rasgou suas 
vestes; e os homens que estavam com ele fizeram o mesmo. E se 
lamentaram, chorando e jejuando até o fim da tarde, por Saul e por 
seu filho Jonatas, pelo exército do SENHOR e pelo povo de Israel, 
porque muitos haviam sido mortos à espada" (2 Samuel 1:11-12).
A tristeza causada por eventos que não sejam a morte 
também podem ser expressos pelo jejum. Cristãos têm jejuado 
de tristeza por causa de seus pecados. Não temos que pagar 
por nossos pecados, porque não temos capacidade de fazê-lo e 
porque Cristo já o fez uma vez por todas (1 Pedro 3:18). Deus 
prometeu que "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo 
para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 
João 1:9). Mas isso não significa que a confissão seja algo leve e 
fácil, um simples declamar de palavras, um ritual verbal. A mera 
admissão não é confissão. Cristo é desonrado pela visão frívola 
da confissão que não reconhece o quanto o nosso pecado custou 
a Ele. Embora não seja autoflagelação, a confissão bíblica 
envolve de fato ao menos algum grau de tristeza pelo pecado 
cometido. E, visto que o jejum pode ser uma expressão de 
tristeza, nunca será inapropriado que ele seja uma parte 
voluntária e profundamente sentida da confissão. Houve 
algumas ocasiões em que eu fiquei tão triste por causa de meu 
pecado, que as palavras, somente, pareciam ser incapazes de 
transmitir a Deus o que eu queria. E embora isso não tenha me 
tomado mais digno de perdão, o jejum comunicou a tristeza e 
a confissão que minhas palavras não puderam comunicar.
O jejum também pode ser um meio de expressar tristeza 
pelos pecados de outras pessoas, como pelos pecados de pessoas 
de sua igreja ou pelos pecados de seu país. Quando o invejoso 
Rei Saul estava tentando injustamente matar Davi, a resposta
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 223
de seu filho Jonatas, segundo 1 Samuel 20:34, foi que "naquele 
segundo dia da festa da lua nova ele não comeu, entristecido porque 
seu pai havia humilhado Davi".
Caffy e eu temos uma amiga, é cristã há apenas alguns anos. 
Quando ela se desviou de sua profissão de fé, expressamos 
nossa tristeza e oramos por ela por meio de um jejum mútuo 
de vários dias. Embora nós a tivéssemos confrontado quanto à 
sua situação por várias vezes, ela disse, após ter sido restaurada, 
que saber que jejuamos por ela foi uma dos principais motivos 
para sua volta à comunhão. Nossa igreja tem observado alguns 
jejuns ocasionais, em parte para expressar tristeza ao Senhor 
pelos pecados de nossanação.
Já que o jejum é muitas vezes um meio de expressar a Deus 
a profundidade de nossos sentimentos, é apropriado que as 
orações acometidas de tristeza sejam acompanhadas por jejum, 
bem como por lágrimas.
Para Buscar Libertação ou Proteção
Um dos jejuns mais comuns dos tempos bíblicos era o jejum 
para buscar a salvação dos inimigos ou circunstâncias.
Depois de ser notificado que um vasto exército estava vindo 
contra ele, o Rei Josafá temeu e "decidiu consultar o SENHOR e 
proclamou um jejum em todo o reino de Judá. Reuniu-se, pois, o povo, 
vindo de todas as cidades de Judá para buscar a ajuda do SENHOR" 
(2 Crônicas 20:3-4).
Nós já lemos sobre o jejum proclamado por Esdras quando 
este conduzia um grupo de exilados de volta a Jerusalém. No 
texto, notamos que eles jejuaram a fim de fortalecer a sua oração. 
Mas observe, a partir do contexto mais amplo de Esdras 8:21­
23, que a razão porque eles oraram com jejum foi a proteção de 
Deus:
224 Jejum
Então, apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos 
perante o nosso Deus, para lhe pedirmos jornada feliz para nós, para 
nossos filhos e para tudo o que era nosso. Porque tive vergonha de pedir 
ao rei exército e cavaleiros para nos defenderem do inimigo no caminho, 
porquanto já lhe havíamos dito: “A boa mão do nosso Deus é sobre todos 
os que o buscam, para o bem deles; mas a sua força e a sua ira, contra 
todos os que o abandonam ". Nós, pois, jejuamos e pedimos isto ao nosso 
Deus, e ele nos atendeu.
O jejum cooperativo mais conhecido das Escrituras é 
provavelmente o de Ester 4:16. Ele foi proclamado pela Rainha 
Ester como parte de seu apelo a Deus por proteção da ira do 
rei. Ela planejou entrar na corte do Rei Xerxes sem ser convidada 
a fim de apelar a ele pela proteção dos judeus do extermínio 
em massa. Ela disse a seu tio Mardoqueu: "'Vá reunir todos os 
judeus que estão em Susã, e jejuem em meu favor. Não comam nem 
bebam durante três dias e três noites. Eu e minhas criadas jejuaremos 
como vocês. Depois disso irei ao rei, ainda que seja contra a lei. Se eu 
tiver que morrer, morrerei"'.
Quando nossa igreja institui um dia de jejum em tristeza 
pelos pecados do país, também incluímos orações pedindo ao 
Senhor que nos proteja e liberte dos inimigos que podem 
resultar de nossos pecados. Observamos que Ele disciplinava 
Israel por seus pecados com freqüência, permitindo que 
inimigos nacionais ganhassem vantagem sobre a nação militar 
e economicamente. Talvez não pensemos na realidade do 
pecado nacional tanto quanto deveríamos, nem em como os 
cristãos irão experimentar parte de qualquer julgamento 
nacional que venha, mesmo que não tenhamos contribuído 
diretamente para ele.
Mas nem todos os jejuns que buscam libertação ou proteção 
divinas são jejuns corporativos. Davi escreveu o Salmo 109 como
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 225
apelo para obter alívio pessoal de um grupo de inimigos e, 
particularmente, do líder deles. Um jejum particular 
acompanhava a sua oração, conforme indica o versículo 24: "De 
tanto jejuar os meus joelhos fraquejam e o meu corpo definha de 
magreza". Aparentemente, aquele foi um jejum 
excepcionalmente longo.
O jejum, e não esforços carnais, deve ser um de nossas 
primeiras defesas contra a "perseguição" de familiares, colegas 
de escola ou vizinhos ou equipe de trabalho, por causa de nossa 
fé. Em geral, somos tentados a revidar com ira, abuso verbal, 
contra-acusações e até processando-os. Mas em vez de articular 
manobras políticas, fofocar e imitar as táticas mundanas de 
nossos inimigos, devemos clamar a Deus com jejum por 
proteção e libertação.
Para Expressar Arrependimento e Retomo a Deus
Jejuar com este propósito assemelha-se a jejuar com o 
propósito de expressar tristeza pelo pecado. Mas como o 
arrependimento é uma mudança de mente resultante em 
mudança de ação, o jejum pode representar mais do que 
simplesmente tristeza pelo pecado. Ele também pode ser um 
sinal de comprometimento à obediência e a uma nova direção.
Os israelitas expressaram arrependimento por meio do 
jejum em 1 Samuel 7:6, quando "eles...tiraram água e a derramaram 
perante o SENHOR. Naquele dia jejuaram e ali disseram: 'Temos 
pecado contra o SENHOR'".
Em Joel 2:12, o Senhor ordenou especificamente a Seu povo 
que indicasse arrependimento e volta a Ele por meio do jejum: 
"'Agora, porém', declara o SENHOR, 'voltem-se para mim de todo o 
coração, com jejum, lamento e pranto"'.
Certamente o jejum mais completo registrado é o de Jonas
226 Jejum
3:5-8; um jejum para expressar arrependimento. Depois que 
Deus abençoou a pregação de Jonas com um grande 
despertamento espiritual,
Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram um jejum, e todos 
eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco. Quando as 
notícias chegaram ao rei de Nínive, ele se levantou do trono, tirou 
o manto real, vestiu-se de pano de saco e sentou-se sobre cinza. 
Então fez uma proclamação em Nínive; "Por decreto do rei e de seus 
nobres: Não é permitido a nenhum homem ou animal, bois ou ovelhas, 
provar coisa alguma; não comam nem bebam! Cubram-se de pano de 
saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. 
Deixem os maus caminhos e a violência".
O jejum não só pode expressar arrependimento, como 
também pode ser em vão sem arrependimento. Assim como 
com todas as Disciplinas Espirituais, o jejum pode ser pouco 
mais do que uma "obra morta" se tivermos endurecido 
persistentemente o coração ao chamado de Deus para lidarmos 
com um pecado específico de nossas vidas. Jamais devemos 
tentar imergir em uma Disciplina Espiritual como tentativa de 
abafar a voz de Deus quanto ao abandono de um pecado. É 
uma perversão do jejum tentar usá-lo para equilibrar a 
autopunição por uma parte pecaminosa da vida que queremos 
continuar a alimentar. Thomas Boston, um dos intrépidos 
pastores-escritores puritanos, disse:
Em vão jejuareis, e fingireis ser humilhados por nossos pecados, 
e fareis confissão deles, se nosso amor ao pecado não for 
transformado em aversão; o nosso gosto por ele, em abominação; 
e nosso apego a ele, em desejo de livrarmo-nos dele; com pleno 
propósito de resistir aos impulsos dele em nosso coração, e às 
insurreições dele em nossas vidas; e se não nos voltarmos para
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 227
Deus como nosso justo Senhor e Mestre e retomarmos aos nossos 
deveres novamente.10
Para Humilhar-se Diante de Deus
O jejum, quando praticado pelos motivos corretos, é uma 
expressão física de humildade perante Deus, assim como 
ajoelhar-se ou prostrar-se em oração também pode refletir 
humildade diante Dele. E assim como há vezes em que você 
sente a necessidade de expressar humildade orando de joelhos 
ou com o rosto em terra diante do Senhor, há vezes em que 
você pode desejar expressar senso de humildade perante o 
Senhor em todas as atividades ao longo do dia, jejuando.
Muitos que estão acostumados a expressar humildade em 
oração ajoelhando-se podem perguntar por que desejaríamos 
expressar humildade o dia todo jejuando. Inversamente, João 
Calvino fez uma pergunta melhor: Por que não? "Pois já que 
isto [o jejum] é um exercício santo tanto para a humilhação 
quanto para confissão de humildade dos homens, por que 
devemos usá-lo menos do que os antigos usaram em 
necessidade semelhante? ...Que razão há por que não devamos 
fazer o mesmo?"11
Um dos homens mais iníquos da história judaica, o Rei Acabe, 
eventualmente se humilhou diante de Deus e o demonstrou por 
meio de jejum: "Quando Acabe ouviu essas palavras, rasgou as suas 
vestes, vestiu-se de pano de saco e jejuou. Passou a dormir sobre panos de 
saco e agia com mansidão. Então a palavra do SENHOR veio ao tesbita 
Elias: 'Você notou como Acabe se humilhou diante de mim? Visto que se 
humilhou, não trarei essa desgraça durante o seu reinado, mas durante o 
reinado de seu filho"' (1 Reis 21:27-29).
Por outro lado, um dos homens mais piedosos de Israel se 
humilhou diante do Senhor exatamente da mesmamaneira. O
228 Jejum
Rei Davi escreveu: "Contudo, quando estavam doentes, usei vestes 
de lamento, humilhei-me com jejum e recolhi-me em oração" (Salmo 
35:13).
Lembre-se de que o jejum em si mesmo não é humildade 
diante de Deus, mas deve ser uma expressão de humildade. Não 
houve humildade no fariseu de Lucas 18:12, que se vangloriou 
a Deus em oração que jejuava duas vezes por semana. O escritor 
David Smith nos faz lembrar, em Fasting: Uma Disciplina 
Negligenciada:
Com isto, não devemos concluir que o ato de jejuar tenha algum 
poder virtuoso, e que nós nos tornamos mais humildes; não há 
virtude no homem decaído por meio da qual ele possa tomar a si 
m esm o m ais piedoso; há, contudo, virtu d e no cam inho 
divinamente estabelecido da graça. Se nós, pelo poder do Espírito 
Santo, mortificarmos as obras da carne (pelo jejum), cresceremos 
em graça, mas a glória de tal mudança será somente de Deus.12
Para Expressar Preocupação com Obra de Deus
Assim como um pai ou mãe pode jejuar e orar pela obra de 
Deus na vida de um filho, os cristãos podem jejuar e orar porque 
se sensibilizam pela obra de Deus em uma esfera mais ampla.
O cristão pode se sentir compelido a jejuar e orar pela obra 
de Deus em uma área em que tenha experimentado tragédia, 
decepção ou aparente derrota. Este era o propósito do jejum de 
Neemias quando ele ouviu que apesar do retomo de muitos 
exilados judeus a Jerusalém, a cidade ainda não tinha muro 
para defendê-la. "E eles me responderam: 'Aqueles que sobreviveram 
ao cativeiro e estão lá na província passam por grande sofrimento e 
humilhação. O muro de Jerusalém foi derrubado, e suas portas foram 
destruídas pelo fogo'. Quando ouvi essas coisas, sentei-me e chorei. 
Passei dias lamentando-me, jejuando e orando ao Deus dos céus"
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 229
(Neemias 1:3-4). Depois de jejuar, Neemias foi fazer algo 
tangível e público a fim de fortalecer aquela obra de Deus.
Daniel também foi sensibilizado com relação ao retomo dos 
judeus do exílio e à restauração de Jerusalém e expressou isso 
jejuando: "Por isso me voltei para o Senhor Deus com orações e 
súplicas, em jejum, em pano de saco e coberto de cinza" (Daniel 9:3).
Crente devotado nesta Disciplina, a preocupação de David 
Brainerd com a obra de Deus freqüentemente encontrava 
expressão no jejum e na oração. O registro do dia 14 de junho 
de 1742 de seu diário revela a preocupação que tinha com a 
obra que ele cria que Deus o tinha chamado para fazer.
Separei este dia para jejuar e orar em secreto, para rogar que Deus 
me oriente e abençoe com relação à grande obra que tenho em 
vista, de pregar o evangelho. ...Deus me capacitou a lutar 
ardentemente em intercessão por amigos ausentes. ...O Senhor 
me visitou de forma maravilhosa em oração; creio que minha alma 
nunca esteve em tamanha agonia antes. Não senti reserva alguma, 
pois os tesouros da divina graça foram abertos para mim. Lutei 
por amigos ausentes, pela colheita de almas, por multidões de 
pobres almas e por muitos que pensei serem filhos de Deus, 
pessoalmente, em muitos lugares distantes.13
Obviamente, não podemos jejuar continuamente, mas que 
o Senhor ao menos ocasionalmente nos faça ter preocupação 
tão grande com a Sua obra, que a nossa preocupação normal 
com a comida pareça ser secundária.
Para Ministrar às Necessidades de Outras Pessoas
Aqueles que pensam nas Disciplinas Espirituais promovem 
tendências à introspecção ou independência devem considerar 
Isaías 58:6-7. Na passagem mais extensa das Escrituras que lida
230 Jejum
exclusivamente com jejum, Deus enfatiza o jejum com o 
propósito de suprir as necessidades de outros. As pessoas 
originalmente mencionadas no texto reclamavam ao Senhor que 
tinham jejuado e se humilhado diante Dele, mas que Ele não 
havia respondido. Porém, a razão por que Ele não as havia 
ouvido era a desobediência. Suas vidas estavam em contraste 
com o jejum e oração. "Contudo, no dia do seu jejum " diz o Senhor 
nos versículos 3-4, "cuidais dos vossos próprios interesses e exigis 
que se faça todo o vosso trabalho. Eis que jejuais para contendas e 
rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, 
não se fará ouvir a vossa voz do alto". O jejum não pode ser 
"compartimentalizado" do restante de nossas vidas. As 
Disciplinas Espirituais não subsistem sozinhas. Deus não 
abençoa a prática de qualquer Disciplina, inclusive do jejum, 
quando rejeitamos a Sua Palavra quanto a nossos 
relacionamentos com os outros.
O que devemos fazer? Como Deus quer que jejuemos? O 
Senhor pergunta nos versículos 6-7: "Porventura, não é este o 
jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as 
ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo 
jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, 
e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e 
não te escondas do teu semelhante?" Em outras palavras, o tipo de 
jejum que agrada a Deus é aquele que resulta em preocupação 
com os outros e não apenas consigo mesmo.
"Mas", alguém poderia objetar, "estou tão ocupado 
suprindo minhas necessidades e as de minha família, que não 
tenho tempo para ministrar a outras pessoas". É aí que você 
pode jejuar com o propósito de ministrar às necessidades de 
outros. Jejuar por uma refeição ou por um dia e usar esse tempo 
para o ministério. Assim você não perderá nenhuma parte do
Com o Propósito de Alcançar a Piedade 231
tempo que diz que deve dedicar a seus outros compromissos. 
Vários meses atrás, comecei a programar um jejum regular por 
semana e a dedicar o período de uma refeição durante aquele 
dia a reuniões de aconselhamento ou discipulado. Fiquei 
admirado com o fato de o período do fim da tarde ser tão 
conveniente e preferível para muitas pessoas. O resultado é 
que esse tempo de jejum se tornou minha única brecha mais 
produtiva e provedora de necessidades de ministério homem- 
a-homem a semana toda.
Há outras maneiras de jejuar para suprir necessidades de 
outros. Muitos jejuam para que possam dar aos pobres ou a 
algum ministério o dinheiro que teriam gasto em alimentos 
durante aquele período. Como você poderia ministrar às 
necessidades de outros com o tempo ou o dinheiro extra que o 
jejum poderia prover?
Para Vencer a Tentação e Dedicar-se a Deus
Peça aos cristãos que citem o jejum de algum personagem 
bíblico, e a maioria provavelmente pensará primeiro no jejum 
sobrenatural de Jesus antes de Sua tentação em Mateus 4:1-11. 
O versículo dois desta conhecida passagem nos diz que Jesus 
jejuou "quarenta dias e quarenta noites". Na força espiritual 
daquele jejum prolongado, Ele foi preparado para vencer uma 
investida direta de tentação do próprio Satanás, a mais forte 
que Ele enfrentaria até o Getsêmani. Também foi durante aquele 
jejum que Ele dedicou-Se particularmente ao Pai para o 
ministério público que começaria logo depois disso.
Não há, em nenhum lugar das Escrituras, uma ordem para 
jejuarmos por quarenta dias ou por qualquer período específico 
de tempo. Mas isso não quer dizer que não haja nada da 
experiência singular de Jesus para nós aplicarmos a nós
232 Jejum
mesmos. Um princípio que aprendemos do exemplo de Jesus é 
o seguinte: Jejuar é uma maneira de vencer a tentação e de 
renovarmos nossa dedicação ao Pai.
Há vezes em que lutamos com a tentação, ou prevemos 
batalhar com ela, quando precisamos de força espiritual extra 
para vencê-la. Talvez nós (ou nossos cônjuges) estejamos 
viajando e as tentações à infidelidade mental e sensual sejam 
muitas. Quando começamos as aulas ou um novo emprego ou 
ministério, pode haver novas tentações, ou talvez seja 
recomendável dedicarmo-nos ao Senhor novamente. 
Freqüentemente, enfrentamos decisões que colocam tentações 
incomuns diante de nós. Aceitamos um novo emprego que 
significará ganhar muito mais dinheiro, mas passar menos 
tempo com a família? Aceitamos a promoção que inclui uma 
transferência que colocaria fim a um importanteministério de 
nossa igreja local ou quando isso significa ir aonde o 
crescimento espiritual de nossa família possa sofrer dano? Em 
tempos de tentação excepcional, medidas excepcionais se fazem 
necessárias. O jejum com o propósito de vencer a tentação e de 
renovação da nossa dedicação a Deus é uma resposta que revela 
semelhança com Cristo.
Para Expressar Amor e Adoração a Deus
Neste momento, você pode ter associado o jejum somente 
a circunstâncias extremas e grandes problemas. Mas a Bíblia 
também diz que o jejum pode ser um ato de pura devoção a 
Deus.
Em Lucas 2 há uma inesquecível mulher cujos oitenta e 
quatro anos são totalmente exibidos diante de nós em apenas 
três rápidos versículos. Seu nome é Ana. O resumo de sua vida 
encontra-se em Lucas 2:37: "Nunca deixava o templo: adorava a
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Deus jejuando e orando dia e noite". Embora a história de Ana 
tenha seu significado primário no contexto de Maria e José 
apresentando o recém-nascido Jesus no Templo, a forma como 
ela viveu dia após dia é o que nos interessa aqui. Ana havia 
estado casada por apenas sete anos antes de enviuvar. 
Presumindo que ela tenha se casado jovem, essa mulher piedosa 
devotou ao menos meio século, dia e noite, a uma adoração a 
Deus caracterizada por "jejum e oração".
O jejum pode ser uma expressão de se encontrar em Deus 
o maior prazer e satisfação na vida. Este é o caso quando 
disciplinar a si mesmo para jejuar significa que você ama mais 
a Deus do que a comida, que buscá-Lo é mais importante para 
você do que comer. Isto honra a Deus e é uma forma de adorá- 
Lo como Deus. Significa que seu estômago não é o seu deus 
como o é para alguns (veja Filipenses 3:19). Em vez disso, ele é 
servo de Deus, e o jejum o prova porque você está disposto a 
sublimar seus desejos aos do Espírito.
Os cristãos de toda história têm jejuado com este propósito 
na preparação para a Ceia do Senhor. Além dos elementos de 
arrependimento e humildade diante de Deus neste tipo de 
jejum, ele também tem o intuito de ajudar a pessoa a se 
concentrar na adoração Daquele que é representado na Ceia.
Outra forma de jejuar para expressar amor e adoração a 
Deus é gastar o tempo de sua refeição em louvor e adoração. 
Uma variação disso é demorar a fazer uma refeição específica 
até que você tenha concluído seu tempo diário de absorção 
bíblica e oração. Apenas lembre-se de que seu jejum é um 
privilégio, e não uma obrigação. É a aceitação de um convite 
divino para experimentar a Sua graça de modo especial. Se você 
não puder jejuar tendo a fé de que irá obter mais satisfação e 
alegria naquele momento do que em atrasar uma refeição, então
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coma livremente em fé primeiro (Romanos 14:22-23). Mas que 
possamos ansiar por dias em que Deus nos fará almejar o 
banquete espiritual da adoração mais do que qualquer 
smorgasbord.
Para que o Senhor abençoe o nosso jejum, este deve sempre 
ter um propósito espiritual - um propósito centrado em Deus, 
e não na própria pessoa. Os pensamentos em alimentos devem 
levar a pensamentos para Deus. Eles não devem nos distrair, 
mas nos trazer à mente o nosso propósito. Em vez de nos 
concentrarmos na comida, devemos usar o desejo de comer 
como lembrete para orar e reconsiderar nosso propósito.
Não há dúvidas de que Deus tem muitas vezes coroado o 
jejum com bênçãos extraordinárias. Testemunhos bíblicos, 
históricos e contemporâneos comprovam o deleite de Deus em 
prover bênçãos incomuns àqueles que jejuam. Mas devemos 
tomar cuidado para não termos o que Martyn Lloyd-Jones 
chamou de visão mecânica do jejum. Não podemos manipular 
Deus para atender a nossa solicitação ao jejuar, tanto quanto 
não podemos fazê-lo por qualquer outro meio. Assim como a 
oração, jejuamos na esperança de que, por Sua graça, Deus irá 
nos abençoar como desejamos. Quando nosso jejum tem a 
motivação correta, podemos estar certos de que Deus nos 
abençoará, mas talvez não da forma que desejávamos.
Mais uma vez, David Smith o coloca da maneira certa:
Qualquer bênção que seja conferida pelo Pai a Seus filhos indignos 
deve ser considerada um ato de graça. Deixamos de apreciar a 
misericórdia do Senhor se achamos que, por fazermos alguma coisa, 
forçamos (ou coagimos) Deus a conceder a bênção que pedimos. 
...Todo o nosso jejum, portanto, deve se basear nisso; devemos 
usá-lo como meio escriturístico pelo qual nosso ser se integra 
numa constatação mais plena dos propósitos do Senhor em nossa
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vida, igreja, comunidade e nação.14
Ao jejuar recentemente devido à preocupação com a obra 
de Deus na igreja que pastoreio, comecei a orar sobre vários 
assuntos importantes. De repente, percebi que embora eu 
achasse que estava orando na vontade de Deus, talvez meu 
entendimento das coisas precisasse ser reajustado. Então pedi 
ao Senhor que me mostrasse como orar de acordo com a Sua 
vontade sobre aqueles assuntos e que me concedesse 
contentamento com as Suas providências. Isso, acho, é o que 
Smith quis dizer com o jejum sendo um " meio escriturístico 
pelo qual nosso ser se integra numa constatação mais plena 
dos propósitos do Senhor". O jejum deve sempre ter um 
propósito, e nós devemos aprender a elevar os Seus propósitos 
sobre os nossos.
O jejum centrado em Deus é ensinado em Zacarias 7:5. Uma 
delegação foi enviada de Betei a Jerusalém para inquirir acerca 
do Senhor. O assunto era a continuação de dois jejuns que os 
judeus haviam realizado por causa da destruição do Templo. 
Por setenta dias, eles haviam mantido aqueles jejuns no quinto 
e no sétimo meses, mas agora queriam saber se Deus queria 
que eles continuassem os jejuns, já que tinham sido restaurados 
à sua terra e estavam construindo um novo templo. A resposta 
do Senhor foi: "Pergunte a todo o povo e aos sacerdotes: Quando 
vocês jejuaram no quinto e no sétimo meses durante os últimos setenta 
anos, foi de fato para mim que jejuaram?" Na verdade, aqueles 
jejuns haviam se tornado rituais vazios, não experiências 
centradas em Deus. Os comentários de Matthew Henry sobre 
a passagem são úteis para nosso próprio jejum.
Que todos eles observem que, embora pensassem que haviam 
tomado Deus muito devedor a eles por causa daqueles jejuns,
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estavam bastante equivocados, pois os jejuns não eram aceitáveis 
a Ele, a menos que tivessem sido observados de uma maneira 
melhor, e com um propósito melhor. ...Eles não seriam acusados 
de omissão ou negligência da obrigação. ...mas não a haviam 
conduzido corretamente. ... Eles não haviam mantido os olhos 
em Deus ao jejuar. ...Quando isto faltava, todo jejum não era senão 
zombaria. Jejuar e não jejuar para Deus, era escarnecer Dele e 
provocá-Lo, e não poderia ser agradável a Ele. ...Se as solenidades 
de nosso jejum, embora freqüentes, longas e rigorosas, não servem 
para aguçar o fervor, para reanimar a oração, aumentar a contrição 
piedosa e para alterar a disposição de nossas mentes e o curso de 
nossas vidas, para melhor, eles não respondem absolutamente a 
intenção e Deus não as aceitará como realizadas para Ele.15
Antes de jejuarmos, devemos ter um propósito, um 
propósito centrado em Deus. Mas mesmo em nossa melhor 
forma, não merecemos o que desejamos, nem podemos forçar 
a mão de Deus. Tendo dito isto, contudo, equilibremos essa 
verdade com a promessa incontestável de Jesus em Mateus 6:17­
18: "Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o 
fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; 
e teu Pai, que vêem secreto, te recompensará". Deus abençoa o jejum 
bíblico feito por um filho Seu. E se você vai ou não receber a 
bênção que espera, uma coisa é certa: Se você soubesse o que 
Deus sabe, daria a você mesmo bênção idêntica à que Ele dá. E 
nenhuma de Suas recompensas é desprezível.
MAIS APLICAÇÃO
Você irá confessar e se arrepender de qualquer medo de 
jejuar? Por algum motivo, dizer: "Não vou comer hoje" causa 
ansiedade em muitos cristãos. Parece que

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