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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA THALIA PEREIRA MONTEIRO A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS POR DANOS CAUSADOS AOS PACIENTES EM HOSPITAIS PARTICULARES Florianópolis 2021 THALIA PEREIRA MONTEIRO A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS POR DANOS CAUSADOS AOS PACIENTES EM HOSPITAIS PARTICULARES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Deisi Cristini Schveitzer, MSc. Florianópolis 2021 THALIA PEREIRA MONTEIRO A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS POR DANOS CAUSADOS AOS PACIENTES EM HOSPITAIS PARTICULARES Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina. Florianópolis, (dia) de dezembro de 2021. ______________________________________________________ Professor e orientador Nome do Professor, titulação Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, titulação Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, titulação Universidade do Sul de Santa Catarina TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS POR DANOS CAUSADOS AOS PACIENTES EM HOSPITAIS PARTICULARES Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de Conclusão de Curso. Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico. Florianópolis, dia de mês de 2021. THALIA PEREIRA MONTEIRO Dedico este trabalho, primeiramente, à Deus, à minha família, que sempre esteve do meu lado e foi fundamental para eu ter realizado esse sonho, ao meu namorado, que me motivou cada dia, durante todo o curso, a minha orientadora, e aos professores e colaboradores desta instituição, que de alguma forma contribuíram para minha formação. AGRADECIMENTOS À Deus, por ter me guiado durante toda minha Vida, especialmente durante estes últimos cinco anos, me concedendo em demasia, sabedoria, persistência, fé e motivação nessa caminhada. Por me possibilitar a realização desse sonho, e permitir minha continua evolução pessoal e profissional. À minha família, e em especial, aos meus pais, minha eterna gratidão, por todo ensinamento, carinho, amor incondicional e por acreditar em mim sempre. Presentes em todos momentos, sem os quais eu não teria me tornado a pessoa que sou. Ao meu namorado e amigo, pelo incentivo e paciência durante toda caminhada, especificamente nas últimas semanas, e por não me deixar desistir, mesmo diante de momentos difíceis. À minha orientadora Deisi Cristini Schveizer, pela dedicação, paciência, comprometimento e zelo com esta monografia, por sempre estar disposta a esclarecer dúvidas. Por fim, dedico este trabalho a todo o corpo docente do curso de Direito desta Instituição, da qual me orgulho de fazer parte, por todos os ensinamentos, conselhos profissionais e pessoais, vocês foram parte fundamental desta jornada. “A justiça sustenta numa das mãos a balança que pesa o direito, e na outra, a espada de que se serve para o defender. A espada sem a balança é a força brutal; a balança sem a espada é a impotência do direito” (Rudolf von Ihering). RESUMO O presente trabalho tem como objetivo verificar a responsabilidade civil atribuída aos profissionais médicos por danos causados aos pacientes em hospitais particulares. Para alcançar o propósito da pesquisa, utiliza-se o método de abordagem dedutivo, com método de procedimento monográfico e a técnica de pesquisa bibliográfica e documental, com a pretensão de analisar os aspectos gerais e específicos do tema, por meio de pesquisas em doutrinas, na legislação, bem como de jurisprudência. São abordados inicialmente os aspectos introdutórios do instituto da responsabilidade civil, como sua origem e os conceitos atrelados. São apresentados igualmente, os pressupostos da responsabilidade civil, no tocante aos elementos da conduta humana, culpa latu sensu, nexo de causalidade e danos. São abordadas também, as espécies da responsabilidade civil, sendo, as responsabilidades contratual e extracontratual, e responsabilidades subjetiva e objetiva. Ademais, o trabalho discorre sobre os aspectos norteadores da atividade médica, tratando os direitos dos médicos, deveres médicos, danos frequentes na atividade médica e ainda da ética médica. Por fim, o trabalho disserta acerca da responsabilidade civil médica, abordando, a natureza jurídica e pressupostos, bem como, a responsabilidade civil do médico e a responsabilidade civil do hospital particular, articulando nesta premissa. Concluiu-se, à luz do ordenamento jurídico brasileiro, especialmente do Código Civil de 2002, que a responsabilidade civil dos médicos por danos ocorridos em hospitais particulares é subjetiva, sendo necessária a verificação da culpa do responsável, além, da demonstração da conduta, nexo de causalidade e dano. Com relação a responsabilidade civil dos hospitais particulares, em regra se aplica a responsabilidade objetiva prescindindo a existência de culpa, na hipótese de os danos decorrerem da má prestação dos serviços médicos, serviços auxiliares, ou de aparelhos, equipamentos, instalações e alimentação, não abrangendo, contudo, os serviços exercidos pelos médicos que ali atuam. Pode ainda ser aplicada a responsabilidade solidária entre os hospitais particulares e médicos, por danos causados aos pacientes por estes profissionais nas dependências do estabelecimento. Palavras-chave: Responsabilidade Civil. Médico. Hospitais particulares. Danos. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................9 2 RESPONSABILIDADE CIVIL NO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO11 2.1 ORIGEM E CONCEITO .................................................................................................11 2.2 OS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ...........................................13 2.2.1 Conduta Humana ........................................................................................................14 2.2.2 Culpa Lato Sensu.........................................................................................................17 2.2.3 Nexo de Causalidade ...................................................................................................18 2.2.4 Danos............................................................................................................................21 2.3 AS ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL .......................................................23 2.3.1 Responsabilidade Contratual e Extracontratual......................................................24 2.3.2 Responsabilidade Civil Subjetiva ..............................................................................26 2.3.3 Responsabilidade Civil Objetiva................................................................................26 3 ASPECTOS NORTEADORES DA ATIVIDADE MÉDICA.......................................30 3.1 DIREITOS DOS MÉDICOS ...........................................................................................30 3.2 DEVERES DOS MÉDICOS............................................................................................32 3.3 DANOS CAUSADOS À PACIENTES DECORRENTES DE ERROS MÉDICOS......36 3.4 ÉTICA MÉDICA.............................................................................................................39 4 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS EM HOSPITAIS PARTICULARES...................................................................................................................444.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO HOSPITAL PARTICULAR .................................44 4.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS EM HOPITAIS PARTICULARES..48 5 CONCLUSÃO...................................................................................................................61 REFERÊNCIA........................................................................................................................63 9 1 INTRODUÇÃO A presente monografia tem por objetivo verificar a responsabilidade civil dos médicos por danos causados aos pacientes em hospitais particulares. O instituto da responsabilidade civil, engloba uma temática instigante e de suma importância para o âmbito jurídico, visto que reflete as condutas e relações humanas no direito contemporâneo e sociedade, representando de um lado, uma recompensa pecuniária ao lesado, e de outro, a punição do agente causador do dano. Frequente é a ocorrência de erros cometidos por profissionais da saúde em hospitais particulares, no exercício da profissão, resultando em danos graves, irreversíveis, e não raro fatais aos pacientes. A temática da pesquisa se demonstra relevante em diversos aspectos, especialmente na esfera jurídica, tanto para os profissionais do direito, quanto para a comunidade acadêmica, posto que o entendimento aprofundado da responsabilidade civil, possibilita mais segurança jurídica no julgamento desses casos, tanto para quem aplica a lei nos casos concretos – juízo – quanto para quem defende o direito dos pacientes lesados – advogado – propiciando identificar a espécie de responsabilidade civil a ser atribuída aos médicos e hospital. Nesta perspectiva, para o desenvolvimento da presente monografia pretende-se responder o seguinte questionamento: qual a responsabilidade civil atribuída aos médicos diante de danos causados à pacientes em hospitais particulares? Por meio da análise exploratória e cientifica, pretende-se tornar mais compreensível o instituto da responsabilidade civil do médico diante dos danos causados a pacientes nos hospitais particulares, assim como, resolver a questão proposta, alvo de dúvidas constante no meio acadêmico e profissional. Além disso, a pesquisa fará o uso da abordagem qualitativa, objetivando conhecer as diversas percepções firmadas no meio jurídico, quanto a responsabilidade civil aplicada aos médicos diante dos danos causados a pacientes no âmbito de hospitais particulares, tanto doutrinariamente, quanto jurisprudencialmente. Dessa forma, para alcançar o propósito do trabalho, a monografia se desenvolverá através do Método de Abordagem Dedutivo, definido como uma linha de raciocínio que procura fornecer uma explicação mais detalhada do que foi expresso em uma premissa maior. Assim, partindo de uma premissa geral, o debate se iniciará em torno do instituto da responsabilidade civil, suas espécies, e pressupostos, abordando também os aspectos norteadores da atividade médica, como, os direitos dos médicos, deveres médicos, danos frequentes e ética médica, 10 sucedendo-se ao final para uma premissa mais específica, com a análise da responsabilidade civil dos hospitais particulares e dos médicos nestes estabelecimentos. Para desenvolver as respostas à problemática central desta monografia, o presente estudo baseia-se na pesquisa documental e bibliográfica, buscando amparo e fundamento em doutrinas jurídicas, artigos científicos, jurisprudências e dispositivos legais do ordenamento jurídico brasileiro, especialmente, o Código Civil. Destaca-se, a existência de diversos materiais bibliográficos para desenvolver a temática, em torno da responsabilidade civil. O presente trabalho se desenvolverá outrossim, a partir do método de procedimento monográfico, amparado no estudo da responsabilidade civil dos médicos, contextualizando os assuntos debatidos por meio de capítulos, sendo esta introdução, o primeiro deles. O segundo capítulo tratará da responsabilidade civil, abordando o conceito e origem do instituto, e os pressupostos e suas espécies. O terceiro capítulo abordará os aspectos norteadores da atividade médica, analisando os direitos médicos, os deveres médicos, danos causados a pacientes pela inobservância desses preceitos éticos e legais, bem como, a ética médica imposta aos profissionais da saúde. O quarto capitulo, esclarecerá e distingue a responsabilidade civil dos hospitais particulares, e a responsabilidade civil aplicável aos médicos a partir dos danos suportados por pacientes em hospitais particulares. Por fim, o quinto e último capítulo, como parte estruturante dessa monografia, marca a conclusão e desfecho do todo, dissertando a resposta ao problema central e objetivos iniciais da pesquisa. 11 2 RESPONSABILIDADE CIVIL NO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO Neste capítulo serão abordadas as noções gerais da responsabilidade civil, como os conceitos, os pressupostos – conduta humana, culpa latu senso, nexo de causalidade, dano e por fim, as espécies de responsabilidade civil. 2.1 ORIGEM E CONCEITO De acordo com Stoco (2004, p. 118) a “noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém por seus atos danosos”. Neste ponto, a responsabilidade surge quando decorre a inobservância de determinado dever, de sorte que se torna necessária e adequada, a imposição de sanções para o agente que descumpriu a ordem (TARTUCE, 2019, p. 43). Isto posto, a responsabilidade civil é um instituto consolidado no ordenamento jurídico, especialmente no Código Civil Brasileiro de 2002, que retrata, como elucidado por Flavio Tartuce (2019, p. 64), “o dever de indenizar ou compensar os danos sofridos pela vítima”. Álvaro Villaça Azevedo (2018, p. 223), no mesmo sentido, define o instituto da responsabilidade civil como “o dever de indenizar o dano”. Para Humberto Theodoro Junior (2020) a responsabilidade civil compreende a “obrigação de indenizar decorrente da prática de um ilícito danoso, na esfera civil”. Segundo Sergio Cavalieri Filho (2007, p.2) a responsabilidade civil pode ser entendida como: (...) um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. Só se cogita, destarte, de responsabilidade civil onde houver violação de um dever jurídico e dano. Em outras palavras, responsável é a pessoa que deve ressarcir o prejuízo decorrente da violação de um precedente dever jurídico. Pode ser compreendida de igual modo, como “a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda, ou, ainda, de simples imposição legal” (DINIZ, 2007, p. 34). Verifica-se em análise as definições expostas acima, que, predomina a ideia de responsabilidade civil a partir do dever violado. 12 Nesta perspectiva, o art. 186 do CC/2002, que traz o conceito de ato ilícito, prevê a responsabilização daquele “que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral”. No mesmo segmento, o art. 187 do CC/2002, dispõe que também será considerado ato ilícito quando o titular de um direito, ao exercê-lo, exceder manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Introduzido pelo Código Civil Brasileiro, especificamente, no art. 927, o ato ilícito é considerado como um dos elementos da Responsabilidade Civil, de modo que “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo (BRASIL, 2002). Para Flávio Tartuce (2019, p. 470), “o ato ilícito é a conduta humana que fere direitos subjetivos privados, estando em desacordo com a ordem jurídica e causando danos a alguém”. Constata-se em análise ao art. 186 do CC/2002, que subsiste a responsabilidade civilobjetiva, ou seja, “obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa”, em casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”, conforme parágrafo único, art. 927, Código Civil/2002). Por outro lado, a responsabilidade civil contratual, prevista no artigo 389 do Código Civil, regula aquela proveniente do descumprimento de determinada obrigação: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado” (BRASIL, 2002). Dessarte, destaca-se ainda a responsabilidade extracontratual ou delitual, também conhecida por responsabilidade aquiliana com fundamento nos artigos 186, 187, 188 em conjunto com os artigos 927 a 954, do mesmo diploma. Crucial frisar outrossim, que a Constituição Federal de 1988, garante em seu art. 5°, inciso V, o direito fundamental, “à resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”. No mesmo sentido, o inciso X, art. 5º da Carta Magna dispõe que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Infere-se, especialmente, a partir dos ensinamentos de Silvio de Salvo Venosa (2012, p. 02), que a responsabilidade civil visa em suma, a restauração do estado quo ante, em outras palavras, do estado anterior ao dano, in verbis: Os princípios da responsabilidade civil buscam restaurar um equilíbrio patrimonial ou moral violado. Um prejuízo ou dano não reparado é um fator de inquietação social. Os ordenamentos contemporâneos buscam alargar cada vez mais o dever de 13 indenização, alcançando novos horizontes, a fim de que cada vez menos restem danos irressarcidos. É claro que esse é um desiderato ideal que a complexidade da vida contemporânea coloca sempre em xeque. Os danos que devem ser reparados são aqueles de índole jurídica, embora possam ter conteúdo também de cunho moral, religioso, social, ético etc., somente merecendo a reparação do dano as transgressões dentro dos princípios obrigacionais. É incontroverso, nessa lógica, o amplo reflexo do instituto da responsabilidade civil, em todas as esferas da vida humana e relações na sociedade, inclusive, no cotidiano dos hospitais, e profissionais da saúde, uma vez frequente os erros frequentes cometidos por profissionais da saúde, que ocasionam danos graves, irreversíveis, e muitas vezes, fatais aos pacientes. Desse modo, verifica-se que a responsabilidade civil possui duas ordens de deveres: a primeira, de natureza primária, “em que se exige do agente o cumprimento de determinado dever”, e a segunda, de natureza secundária, encontrada na hipótese em que “quando o agente descumpre o dever, gerando com a sua conduta uma lesão, ao patrimônio ou à pessoa, a ser reparada mediante indenização pecuniária” (NADER, 2016, p. 35). Neste cenário, insere-se a responsabilização civil, com vistas a “restabelecer o equilíbrio moral ou econômico que a vítima sofreu em decorrência do dano que lhe foi causado” (PRETO; BENTO; GARCIA; LIMA; TRINDADE; 2014, p. 3), isto posto, em outras palavras, atribuir ao responsável pelo dano, o dever de indenizar o lesado, seja a título de dano moral ou patrimonial, com vistas a restabelecer a situação que a vítima se encontrava antes de lhe ocorrer o dano. 2.2 OS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL No que se refere aos elementos estruturais da responsabilidade civil, Flávio Tartuce (2019, p.515) ressalta a inexistência de unanimidade doutrinária em relação a quais são os elementos ou pressupostos do dever de indenizar. Maria Helena Diniz (2007, p.11) no mesmo sentido, assevera a complexidade de definir precisamente os pressupostos necessários à configuração da responsabilidade civil: Bastante difícil é a caracterização dos pressupostos necessários à configuração da responsabilidade civil, ante a grande imprecisão doutrinária a respeito. Deveras, díspares são as conclusões dos juristas sobre os elementos imprescindíveis à caracterização da responsabilidade civil, pois, p.ex., Marty e Raynaud apontam o ‘fato danoso’, o ‘prejuízo’ e o ‘liame entre eles’ com a “estrutura comum” da responsabilidade; Savatier apresenta a culpa e a imputabilidade como seus pressupostos; Trabucchi exige o fato danoso, o dano e a antijuridicidade ou culpabilidade. 14 Não obstante, Maria Helena Diniz (2005, p. 42) menciona a existência de três elementos: a) ação comissiva ou omissiva, qualificada juridicamente, isto é, que se apresenta como ato ilícito ou lícito, pois ao lado da culpa como fundamento da responsabilidade civil há o risco; b) ocorrência de dano moral ou patrimonial à vítima; c) nexo de causalidade entre o dano e a ação, o que constitui o fato gerador da responsabilidade. Carlos Roberto Gonçalves (2005, p. 32), no mesmo sentido, aponta que a responsabilidade civil é constituída a partir de quatro pressupostos: a) ação ou omissão; b) culpa ou dolo do agente; c) relação de causalidade; d) dano. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 36), da mesma forma, apresentam os pressupostos tradicionais da responsabilidade civil: a) o dano, cuja indenização passa a ser medida exclusivamente pela repercussão da lesão na vítima, a despeito de qualquer consideração acerca da pessoa ou do patrimônio do ofensor; b) o nexo causal, que é flexibilizado pelo conceito de fortuito interno, permitindo a reparação da vítima que, de outra forma, restaria irressarcida; e c) a culpa, cuja concepção subjetiva clássica é abandonada em favor de conceito normativo, vinculado à ideia de erro de conduta, afastando-se o viés moralizador de comportamentos que tradicionalmente lhe era atribuído. Em suma, a responsabilidade civil se caracteriza a partir da presença dos elementos dispostos inicialmente, no art. 1.382 do Código Napoleônico, adotados pelo Direito Civil pátrio de 2002, sendo: (a) A conduta do agente (comissiva ou omissiva); (b) A culpa em sentido amplo (englobando o dolo e a culpa stricto sensu), (c) O nexo de causalidade e; (d) O dano causado. (TARTUCE, 2019, p 450). 2.2.1 Conduta Humana Nas palavras de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p.72), “a responsabilidade civil é a expressão obrigacional mais visível da atividade humana”. À vista disso, a conduta humana é o primeiro pressuposto necessário para a configuração da responsabilidade civil, como bem destacam os ilustres doutrinadores: Trata-se, em outras palavras, da conduta humana, positiva ou negativa (omissão), guiada pela vontade do agente, que desemboca no dano ou prejuízo. Assim, em nosso entendimento, até por um imperativo de precedência lógica, cuida-se do primeiro elemento da responsabilidade civil a ser estudado, seguido do dano e do nexo de causalidade. Isto posto, a conduta humana compreende “uma ação (conduta positiva) ou omissão (conduta negativa) voluntária ou por negligência, imprudência ou imperícia, modelos jurídicos que caracterizam o dolo e a culpa, respectivamente” (TARTUCE, 2019, p. 516). 15 Para Sergio Cavalieri Filho (2012, p. 36) a conduta pode ser entendida como “o comportamento humano voluntário que se exterioriza por meio de uma ação ou omissão, produzindo consequências jurídicas”. É ainda, “um ato de vontade, o qual deve ser ilícito, traduzido em “um comportamento voluntário que transgrede um dever” (VENOSA, 2012, p. 24). Maria Helena Diniz (2007, p. 38-39) descreve a conduta humana como sendo: O ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado. A ação, fato gerador da responsabilidade, poderá ser lícita ou ilícita.A responsabilidade decorrente de ato ilícito baseiase na ideia de culpa, e a responsabilidade sem culpa funda-se no risco, que se vem impondo na atualidade, principalmente ante a insuficiência da culpa para solucionar todos os danos. O comportamento do agente poderá ser uma comissão ou uma omissão. A comissão vem a ser a prática de um ato que não se deveria efetivar, e a omissão, a não observância de um dever de agir ou da prática de certo ato que deveria realizar-se. [...]. Deverá ser voluntária no sentido de ser controlável pela vontade á qual se imputa o fato, de sorte que excluídos estarão os atos praticados sob coação absoluta; em estado de inconsciência, sob efeito de hipnose, delírio febril, ataque epilético, sonambulismo, ou por provação de fatos invencíveis como tempestades, incêndios desencadeados por raios, naufrágios, terremotos, inundações etc. Em que pese grande parte dos doutrinadores, apontem a ilicitude como elemento necessário para caracterizar o dever de indenizar, há quem considere que a responsabilidade civil poderá existir, ainda que ausente a antijuricidade na conduta humana. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho entendem nesse sentido, que (2019, p. 78): (...)a imposição do dever de indenizar poderá existir mesmo quando o sujeito atua licitamente. Em outras palavras: poderá haver responsabilidade civil sem necessariamente haver antijuridicidade, ainda que excepcionalmente, por força de norma legal. Flávio Tartuce (2019, p. 516), esclarece em sua obra, a distinção da conduta positiva e negativa, destacando esta última (ação) como sendo regra para a caracterização da responsabilidade civil, uma vez que não necessita da existência de um dever jurídico: Percebe-se que a regra é a ação ou conduta positiva; já para a configuração da omissão, é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado ato (omissão genérica), bem como a prova de que a conduta não foi praticada (omissão específica). Em reforço, para a omissão é necessária ainda a demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado. Carlos Roberto Gonçalves (2010, p. 71) no mesmo sentido, distingue o ato humano comissivo e omissivo, lecionando que: 16 Para que se configure a responsabilidade por omissão é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado fato (de não se omitir) e que se demonstre que, com a sua prática, o dano poderia ter sido evitado. O dever jurídico de agir (de não se omitir) pode ser imposto por lei (dever de prestar socorro às vítimas de acidente imposto a todo condutor de veículo pelo art. 176, I, do Código de Trânsito Brasileiro) ou resultar de convenção (dever de guarda, de vigilância, de custódia) e até a criação de alguma situação especial de perigo. Convém apontar, que a conduta deverá ser voluntária, conforme ressaltado por Diniz (p. 44, 2002), no sentido de ser controlável pela vontade à qual o fato é imputável. Denota-se, portanto, que “sem o condão da voluntariedade não há que se falar em ação humana, e, muito menos, em responsabilidade civil” (GAGLIANO, FILHO, 2019, p. 73). Nesta perspectiva, constata-se que a conduta do agente, positiva ou negativa, ocasiona sua responsabilização civil, devendo o mesmo responder pelos seus atos e danos causados, com o seu próprio patrimônio, consoante prescreve o art. 942 do Código Civil: “os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e se a ofensa tiver mais de um autor, todos respondem solidariamente pela reparação” (BRASIL, 2002). Dessarte, Cavalieri Filho (2012, p. 26) frisa que a responsabilidade civil pode ser por fato próprio, por fato de terceiro ou da coisa. A responsabilidade civil por fato próprio, como retratado, compreende aquela em que há a responsabilização do agente, por dano causado diretamente (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 26). Isto posto, em que pese a responsabilidade civil por ato próprio constitua regra, o atual Código Civil prevê que a pessoa pode responder por ato praticado por terceiro, como nas hipóteses dos artigos 932. Por outro lado, a responsabilidade civil pela coisa, como bem leciona Cavalieri Filho (2012, p. 26) se refere aquela que responsabiliza alguém pelo prejuízo que alguma coisa ou animal, igualmente sob a sua guarda, tenha causado a outrem: Pode, ainda, alguém ser responsabilizado por dano causado por animal ou coisa que estava sob sua guarda (fato da coisa), conforme previsto nos arts. 936, 937 e 938 do Código Civil. Quando melhor analisarmos esses casos, veremos que a lei responsabiliza as pessoas neles indicadas porque tinham um dever de guarda, vigilância ou cuidado em relação a certas pessoas, animais ou coisas e se omitiram no cumprimento desse dever. Em suma, conforme leciona Flávio Tartuce (2019, p. 518), a conduta humana ocasiona a ilicitude e desta forma o correspondente dever de indenizar” 17 2.2.2 Culpa Lato Sensu De acordo com os ensinamentos de Flávio Tartuce (2019, p. 519), o elemento “culpa” presente na responsabilidade civil, subdivide-se em sentido amplo, denominada culpa genérica (culpa lato sensu), que engloba o dolo e a culpa estrita (stricto sensu). No que se refere ao dolo, Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 55) o define como o propósito de causar dano a outrem, ou ainda, a infração consciente do dever preexistente. O dolo pode ser considerado ainda, como “uma violação intencional do dever jurídico com o objetivo de prejudicar outrem”. O doutrinador destaca ainda, que o dolo pode ser manifestado através de uma ação ou omissão voluntária, consoante dispõe o art. 186 do CC (TARTUCE, 2019, p. 519). Deste modo, “se a atuação desastrosa do agente é deliberadamente procurada e voluntariamente alcançada, diz-se que houve culpa lato sensu (dolo)” (GONÇALVES, 2018, p. 55). Com relação a indenização, convém mencionar que esta “deve ser fixada de acordo com o grau de culpa dos envolvidos, ou seja, segundo a sua contribuição causal” (TARTUCE, 2019, p. 521). Assim dispõe o Código Civil, especificamente nos artigos 944 e 945: Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. (BRASIL, 2002). Dessarte, a culpa em seu sentido estrito, por outro lado, pode ser definida como “o desrespeito a um dever preexistente, não havendo propriamente uma intenção de violar o dever jurídico, que acaba sendo violado por outro tipo de conduta.” (TARTUCE, 2019, p. 521). A culpa é interpretada outrossim, como uma “ideia de desvio de conduta, vale dizer, de inadequação da conduta do agente ao padrão de comportamento esperado em concreto” (TEPEDINO; TERRA; GUEDES; 2021, p. 44). Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 43), ressaltam que uma vez presente a culpa decorrente de determinado desvio de conduta do agente, é prescindível a comprovação da intenção do responsável pelo dano para caracterizar a responsabilidade civil: Uma vez demonstrado o desvio da conduta caracterizada pela boa-fé objetiva e pela diligência média, resta configurada a culpa. A culpa normativa dispensa, em 18 definitivo, investigações concernentes à intenção do agente, divorciando-se de qualquer imputação de ordem moral. O doutrinador Sergio Cavalieri Filho (2009, p. 37), divide o elemento em “culpa leve, levíssima e grave”, de acordo com a gravidade. Retrata em suma, que a culpa leve pode ser identificada, quando a conduta puder ser evitada com atenção. Em contrapartida, a culpa levíssima caracteriza-se pela ausência de habilidade especial ou conhecimento singular. A culpa grave, por fim, compreende aquela, na qual o agente age com grosseirafalta de cautela (CAVALIERI FILHO, 2009, p. 37). Sergio Cavalieri Filho (2009, p. 35) destaca a existência de três elementos imprescindíveis na caracterização da culpa: a) a conduta voluntária com resultado involuntário; b) a previsão ou previsibilidade; e c) a falta de cuidado, cautela, diligência e atenção. Cavalieri distingue que, “enquanto no dolo o agente quer a conduta e o resultado, a causa e a consequência, na culpa a vontade não vai além da ação ou omissão”. Gonçalves (2018, p. 55), elucida que agir com culpa “significa atuar o agente em termos de, pessoalmente, merecer a censura ou reprovação do direito – o que só pode ocorrer quando, em face das circunstâncias concretas da situação, caiba afirmar que ele podia e devia ter agido de outro modo”. Salutar destacar que “para o Direito Civil não importa se o autor agiu com dolo ou culpa, sendo a consequência inicial a mesma, qual seja a imputação do dever de reparação do dano ou indenização dos prejuízos” (TARTUCE, 2019, p. 521). 2.2.3 Nexo de Causalidade O nexo causal constitui igualmente, um dos pressupostos da responsabilidade civil, sendo sua presença indispensável para caracterizar a relação de causalidade entre o fato ilícito e o dano, e por consequência a obrigação de indenizar (GONÇALVES, 2018, p. 68). Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 45), no mesmo segmento lógico, apontam que o nexo de causalidade se traduz como um elemento de ligação entre a conduta humana ilícita e o dano, determinando a quem se deve atribuir o resultado danoso. Os doutrinadores destacam, a vista disso, que “o dever de reparar não há de ser admitido sem a presença efetiva do dano e do nexo de causalidade entre a atividade e o evento danoso, tendo por escopo o ressarcimento da vítima.” (2021, p. 45). Para Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 43), a relação de causalidade pode ser definida como a relação de causa e efeito existente entre a ação ou omissão do agente e o dano: 19 É a relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do agente e o dano verificado. Vem expressa no verbo “causar”, utilizado no art. 186. Sem ela, não existe a obrigação de indenizar. Se houve o dano, mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade e também a obrigação de indenizar. Flávio Tartuce (2019, p. 213) define nexo de causalidade, como “o elemento imaterial da responsabilidade civil”, ou ainda, “a relação de causa e efeito existente entre a conduta do agente e o dano causado”. Paulo Nader (2016, p. 310) aponta, que para que se caracterize a responsabilidade civil, é necessário “que os prejuízos sofridos por alguém decorram da ação ou omissão do agente contrária ao seu dever jurídico”, posto que, existindo a conduta, seguida de danos, mas não sendo estes decorrentes daquela, não haverá ato ilícito. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p. 145) mencionam a existência de 3 teorias explicativas do nexo de causalidade: a) a teoria da equivalência de condições; b) a teoria da causalidade adequada; e c) a teoria da causalidade direta ou imediata (interrupção do nexo causal). A teoria da equivalência de condições, desenvolvida pelo jurista alemão Von Buri no século XIX, não diferencia os antecedentes do resultado danoso, de forma que tudo aquilo que concorra para o evento será considerado causa (GAGLIANO; FILHO, 2019, p. 145). Paulo Nader (2016, p. 317) ressalta, que nesta teoria, todas condutas ocasionam o prejuízo: Para a teoria, adaptada por Von Buri para o Direito Penal e assimilada pelos civilistas, todas as condutas conduzem ao prejuízo, de vez que, na cadeia causal, suprimido um dos antecedentes, não se verifica o resultado danoso. Em consequência, a causa do dano seria constituída, individualmente, por qualquer uma das condutas. As diversas causas se equivaleriam. É definida ainda, como de espectro amplo, considerando o elemento causal “todo o antecedente que haja participado da cadeia de fatos que desembocaram no dano” (GAGLIANO; FILHO, 2019, p. 145). Esta teoria, é a adotada pelo Código Penal brasileiro, consoante dispõe o art. 13: “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se a causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido” (BRASIL, 1942). Assim, como destaca Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p. 147) considera-se causa, sob a perspectiva da teoria da equivalência de condições, “todo o antecedente que contribua para o desfecho danoso”. 20 Por outro lado, na teoria da causalidade adequada, desenvolvida pelo filósofo alemão Von Kries, predomina a ideia de que, para se reconhecer uma causa como “adequada”, deve esta ser apta à efetivação do resultado, ou, ser o antecedente abstratamente idôneo à produção do efeito danoso, (GAGLIANO; FILHO, 2019, p. 148). Isto posto, denota-se que a respectiva teoria, considera uma maior probabilidade de produzir o resultado, quando a causa determinante do dano for indicada. (NADER, 2016, p. 321). Em síntese, segundo a teoria da causalidade, para que a causa, como elemento fundamental da responsabilidade civil, seja considerada adequada, “deverá, abstratamente, e segundo uma apreciação probabilística, ser apta à efetivação do resultado” (GAGLIANO; FILHO, 2019, p. 148). Por fim, a teoria da causalidade direta ou imediata, também denominada de teoria da interrupção do nexo causal ou teoria da causalidade necessária, e desenvolvida no Brasil por Agostinho Alvim, considera causa, aquele “antecedente fático que, ligado por um vínculo de necessariedade ao resultado danoso, determinasse este último como uma consequência sua, direta e imediata” (GAGLIANO; FILHO, 2019, p. 150). Paulo Nader (2016, p. 321), pontua que, segundo a teoria do dano direto e imediato, denominada também, de “teoria da causa próxima”, considera-se responsável pelos danos, o ultimo agente da cadeia causal, ou, seja, o agente responsável pela última conduta. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p. 153) consideram que, apesar de inexistir unanimidade na doutrina, uma parcela dos doutrinadores, adotam a teoria da causalidade adequada como regra, por se afigurar, “a mais satisfatória para a responsabilidade civil” na vertente da causalidade necessária. Assim, conforme explicado por Paulo Nader (2016, p. 335), “para que a responsabilidade por um dano possa ser imputada a alguém, é imprescindível que haja o nexo de causalidade, ligando a conduta do agente ao dano sofrido pela vítima. Em outras palavras, não houvesse a conduta inexistiria o dano”. Em suma, conclui-se no ponto, que o dano somente ocasiona a responsabilidade do agente, quando existir um nexo causal entre ele e autor responsável, em outras palavras, quando “se esteja diante de uma relação necessária entre o fato incriminado e o prejuízo”. (GONÇALVES, 2018, p. 65). 21 2.2.4 Danos O termo dano provém do latim damnum, que significa, como lecionado por Paulo Nader (2016, p. 217), uma “lesão de natureza patrimonial ou moral”. Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 283), elucida que indenizar “significa reparar o dano causado à vítima, integralmente”, com vistas a restaurar o statu quo ante, devolvendo-a ao estado em que se encontrava antes da ocorrência do ato ilícito. O doutrinador pondera, entretanto, que não sendo possível a restituição da situação anterior aos danos, “busca-se uma compensação em forma de pagamento de uma indenização monetária”. O elemento “dano” é frequentemente reconhecido entre os doutrinadores, como crucial para caracterização do ato ilícito, visto que, como ressalta Gonçalves (2018, p. 23), ausente a prova do dano, não é possível que alguém possa ser responsabilizado civilmente. Paulo Nader (2016, p. 217) aponta neste sentido, que somente haverá ato ilícito e dano, quando existir dano material ou moral, independente da sua extensão. Assim, “tanto os prejuízos de pequeno portecomo os de grande expressão são suscetíveis de reparação. (NADER, 2016, p.217). Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 23) ressalta, a necessidade de se verificar o prejuízo, para que seja possível apurar a indenização devida pelo agente responsável: Mesmo que haja violação de um dever jurídico, e que tenha existido culpa e até mesmo dolo por parte do infrator, nenhuma indenização será devida sem que se tenha verificado prejuízo. A inexistência de dano torna sem objeto a pretensão a sua reparação. Às vezes a lei presume o dano, como acontece em casos de ofensas aos direitos da personalidade. Ademais, para que se caracterize a responsabilidade civil do agente, e a indenização devida ao lesado, é necessário que o dano seja atual e certo, ou seja, que exista no momento da conduta de responsabilidade e se fundamente sobre fato preciso (GONÇALVES, 2018, p. 284). O dano, apontado como o “elemento central da responsabilidade civil”, é dividido pelo ordenamento jurídico brasileiro, em duas categorias: (a) o patrimonial e (b) o moral. (TEPEDINO; TERRA; GUEDES, 2021, p. 44). Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 284) igualmente, aponta a existência de danos patrimoniais (ou materiais) e danos extrapatrimoniais (ou morais). Flávio Tartuce (2019, p. 272) neste segmento, aponta que os danos materiais ou patrimoniais, constituem prejuízos ou perdas que atingem o patrimônio corpóreo de uma pessoa natural, pessoa jurídica ou ente despersonalizado. 22 Paulo Nader (2016, p. 239) leciona que o dano é considerado patrimonial, quando “provoca a diminuição do acervo de bens materiais da vítima ou, então, impede o seu aumento”. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 44), apontam outrossim, que os danos patrimoniais podem ainda, ser divididos em (a) danos emergentes, considerando o que efetivamente se perdeu, em razão da diminuição do ativo ou do aumento do passivo; e (b) lucros cessantes, definido como aquilo que razoavelmente se deixou de ganhar. O dano moral, por sua vez, é a lesão a qualquer aspecto da dignidade da pessoa humana. Neste ponto, o art. 402 do Código Civil regula o critério para o ressarcimento do dano material, qual seja, as perdas e danos, incluindo-se, o dano emergente e o lucro cessante: “Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”. Carlos Roberto Gonçalves, (2018, p. 287) abordando as perdas e danos, distingue o dano emergente e o lucro cessante: Dano emergente é o efetivo prejuízo, a diminuição patrimonial sofrida pela vítima. É, por exemplo, o que o dono do veículo danificado por outrem desembolsa para consertá-lo. Representa, pois, a diferença entre o patrimônio que a vítima tinha antes do ato ilícito e o que passou a ter depois. Lucro cessante é a frustração da expectativa de lucro. É a perda de um ganho esperado. Há casos em que a indenização já vem estimada no contrato, como acontece quando se pactua a cláusula penal compensatória. No que se refere aos danos morais, também denominados de imateriais ou extrapatrimoniais, a sua tutela e reparabilidade no Brasil, tiveram marco inicial consolidado na Constituição Federal, especificamente no art. 5º incisos V e X (TARTUCE, 2019, p. 291). Para Flávio Tartuce (2019, p. 292), os danos morais podem ser relacionados às lesões os direitos de personalidade, entendimento este, associado à Escola de Direito Natural. Maria Helena Diniz (2011, p. 109) sintetiza, que “o dano moral é, na verdade, lesão ao direito da personalidade”. Para Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 299) o dano moral “não é propriamente a dor, a angústia, o desgosto, a aflição espiritual, a humilhação, o complexo que sofre a vítima do evento danoso, pois esses estados de espírito constituem o conteúdo, ou melhor, a consequência do dano.” Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2018, p. 106) consideram que o dano moral “figura a lesão de direitos, cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro”. É neste ponto, em consonância com o disposto no texto constitucional (art. 5º, X, 23 CRFB/1988) uma violação a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, de modo a ser assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Flávio Tartuce (2019, p. 603) disserta que é possível dividir o dano moral, em direto e indireto, explicando que, o primeiro compreende “aquele que atinge a própria pessoa, a sua honra subjetiva (autoestima) ou objetiva (repercussão social da honra)”, e o segundo, “aquele que atinge a pessoa de forma reflexa, como nos casos de morte de uma pessoa da família ou de perda de um objeto de estima (coisa com valor afetivo)”. Em suma, “Material é o dano que afeta somente o patrimônio do ofendido. Moral é o que só ofende o devedor como ser humano, não lhe atingindo o patrimônio” (GONÇALVES, 2018, p. 248). 2.3 AS ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL Como estudado nos tópicos anteriores, ocorrendo dano injusto, material ou moral, a ordem jurídica visa imputar ao agente responsável a obrigação de repara-lo. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 38) frisam a existência de relevante controvérsias no âmbito da responsabilidade civil, especificamente, no que toca a identificação de seu fundamento: de um lado, a doutrina subjetiva ou teoria da culpa, e, de outro, a doutrina objetiva, também designada teoria do risco (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 38). A responsabilidade civil se fundamenta, portanto, em duas espécies distintas: (i). responsabilidade civil contratual e (ii) responsabilidade civil extracontratual – aquiliana. Surgem dessa forma, a partir de dois momentos específicos, respectivamente: I. quando há o descumprimento obrigacional pela violação à determinada regra estabelecida em um contrato, ou II. Pela inobservância de “preceito normativo que regula a vida” (TARTUCE, 2019, p. 449). Assim, verifica-se que “o comportamento que contraria o disposto em norma jurídica estatal ou negocial faz nascer para o agente o dever de reparar os danos causados” (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 49). 24 2.3.1 Responsabilidade Contratual e Extracontratual A responsabilidade civil contratual decorre do inadimplemento contratual, de modo que se impõe em face do inadimplente, o dever de indenizar as perdas e danos respectivas (art. 389 do Código Civil). Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 26) aponta que todo inadimplemento se presume culposo, uma vez que o lesado “só está obrigado a demonstrar que a prestação foi descumprida”. Para Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 50), temos figurada a responsabilidade contratual, quando danos são oriundos da violação de deveres impostos no âmbito de relação estabelecida por um contrato ou outra espécie de negócio jurídico. Os doutrinadores ressaltam ainda, que para a caracterização desta espécie de responsabilidade, é imprescindível que o dano seja resultado de inadimplemento absoluto ou relativo da prestação assumida em determinado negócio jurídico: Em definitivo, para a configuração da responsabilidade contratual, mostra-se mais e mais reduzida a importância da origem do dever violado, vale dizer, se se trata de dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva imposto pela sistemática obrigacional, ou de dever de prestação estabelecido a partir da autonomia privada dos contratantes. O que releva é que o dano resulte do inadimplemento absoluto ou relativo da prestação, independentemente da classificação do dever cuja inexecução conduziu ao resultado danoso. Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 36) apresenta em sua obra, um exemplo desta espécie de responsabilidade, presente no cotidiano da sociedade: Quem toma um ônibus tacitamente celebra um contrato, chamado contrato de adesão, com a empresa de transporte. Esta, implicitamente,assume a obrigação de conduzir o passageiro ao seu destino, são e salvo. Se, no trajeto, ocorre um acidente e o passageiro fica ferido, dá-se o inadimplemento contratual, que acarreta a responsabilidade de indenizar as perdas e danos, nos termos do art. 389 do Código Civil. Em suma, quando se está diante de um inadimplemento contratual, tem-se a violação do dever jurídico atrelado ao objeto convencionado, cabendo dessa forma, a responsabilização civil do agente, com base na culpa contratual (GONÇALVES, 2018, p. 26). A responsabilidade civil extracontratual, também denominada de aquiliana, compreende por outro lado, aquela que deriva da violação do dever legal de conduta imposto no art. 186 do CC: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002). Denota-se a partir da leitura do dispositivo supra, que será responsabilizado civilmente aquele que cometer ato ilícito, violando direito de outrem, seja em razão de uma conduta 25 voluntária comissiva ou omissiva, por negligência ou imprudência, que causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. Percebe-se que, enquanto na responsabilidade contratual o simples descumprimento da obrigação gera a presunção de responsabilidade do devedor – e incumbe a este o ônus de provar ausência de culpa – na responsabilidade extracontratual, incumbe ao lesado a demonstração de culpa (negligência, imperícia ou imprudência) do agente responsável pelo dano (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 51). Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 260), menciona que na responsabilidade aquiliana, incumbe ao lesado o ônus de provar a culpa ou dolo do agente causador do dano. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 49) distinguem neste ponto, responsabilidade extracontratual e contratual: “Dir-se-ia extracontratual ou aquiliana – por remontar à Lex Aquilia –, a responsabilidade decorrente da inobservância de deveres gerais impostos pelo Estado, e contratual aquela proveniente de infração à auto-regulamentação.” Os doutrinadores salientam, que apesar de o termo responsabilidade contratual, ser comumente interpretado para contratos, não é necessário que o descumprimento decorra de obrigação precisamente contratual, podendo residir em outros negócios jurídicos. Flavio Tartuce (2019, p. 449), sintetiza desta forma, que a responsabilidade civil surge em dois momentos distintos: (a) a partir do descumprimento obrigacional ou desobediência de uma regra estabelecida em um contrato – denominada responsabilidade civil contratual ou negocial; ou (b) por deixar determinada pessoa de observar um preceito normativo que regula a vida - responsabilidade civil extracontratual, ou denominada responsabilidade aquiliana, diante da Lex Aquilia de Damno, do final do século III a.C. e que segundo Venosa (2005, p. 27) fixou os parâmetros da responsabilidade civil extracontratual, “(...) ao conferir à vítima de um dano injusto o direito de obter o pagamento de uma penalidade em dinheiro do seu causador (e não mais a retribuição do mesmo mal causado), independentemente de relação obrigacional preexistente”. Em síntese, a responsabilidade contratual se caracteriza com a violação de dever preexistente específico, estipulado por convenção entre as partes, e em contrapartida, a responsabilidade extracontratual, decorre da violação à lei ou a princípio geral de direito. (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 50) 26 2.3.2 Responsabilidade Civil Subjetiva Salutar destacar inicialmente, que a responsabilidade civil subjetiva possui como norma geral, o art. 186 do Código Civil, que considera elemento crucial o ato ilícito, assim como ocorre na responsabilidade extracontratual. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 38) lecionam que, o sistema de responsabilidade baseado na teoria subjetiva, teve influência do Código Napoleão, e marco inicial no Brasil, a partir do Código Civil de 1916, centrada na ideia do ato ilícito, que tem a culpa lato sensu como elemento nuclear. Desse modo, para que “fizesse jus à indenização pelos danos sofridos, requeria-se da vítima a dificílima prova da culpa, que, fortemente contaminada por caráter moral, revelava-se na conduta negligente, imprudente ou imperita” (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 38). A responsabilidade subjetiva, como considerado por diversos doutrinadores, constitui regra no ordenamento jurídico brasileiro, uma vez baseada na teoria da culpa. Dessa forma, para que o agente seja responsabilizado civilmente por meio da indenização, é necessária a comprovação da sua culpa genérica, que inclui o dolo (intenção de prejudicar) e a culpa em sentido restrito (imprudência, negligência ou imperícia). (TARTUCE, 2019, p. 717). Para Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 24), a responsabilidade subjetiva, compreende aquela que se fundamenta na ideia de culpa, como pressuposto necessário para caracterizar o dano indenizável. Dessa forma, segundo o doutrinador, incumbe à vítima do dano, o ônus dessa prova, uma vez que inexistindo a culpa, não há responsabilidade. Dessarte, em que pese no Código Civil brasileiro a responsabilidade subjetiva seja a regra (art. 186), não há prejuízo da adoção da responsabilidade objetiva em outras hipóteses, conforme previsto em diversos dispositivos da lei civil (art. 927, parágrafo único, p. ex.). (GONÇALVES, 2018, p. 24). 2.3.3 Responsabilidade Civil Objetiva Conforme doutrinado por Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 41), o Código Civil Brasileiro de 2002, em consonância máxime com o texto constitucional, implementou alterações significativas na seara da responsabilidade civil, estabelecendo objetiva a responsabilidade em diversas situações antes regidas pela culpa presumida. 27 A responsabilidade civil objetiva, possui como clausula geral, § único do art. 927, do Código Civil: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 41) destacam neste sentido, que a “mais expressiva inovação, encontra-se no parágrafo único do art. 927, que instituiu a cláusula geral de responsabilidade objetiva para atividades de risco, conferindo ao Poder Judiciário discricionariedade na avaliação das hipóteses de incidência da responsabilidade sem culpa.”. Em que pese o parágrafo único do art. 927 do CC constitua clausula geral desta espécie de responsabilidade baseada na teoria do risco, algumas hipóteses em que se configurará a responsabilidade e o dever de indenizar, independente de culpa, estão expressas nos arts. 936, 937 e 938, que regulam, respectivamente, a responsabilidade do dono do animal, do dono do prédio em ruína e do habitante da casa da qual caírem coisas. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 41) ressaltam ainda, outras hipóteses legais, previstas no Código Civil Brasileiro: E, ainda, os arts. 929 e 930, que preveem a responsabilidade por ato lícito (estado de necessidade); os arts. 939 e 940, sobre a responsabilidade do credor que demanda o devedor antes de vencida a dívida ou por dívidas já pagas; o art. 933, pelo qual os pais, tutores, curadores, empregadores, donos de hotéis e de escolas respondem, independentemente de culpa, pelos atos danosos causados por seus filhos, pupilos, curatelados, prepostos, empregados, hóspedes, moradores e educandos; o parágrafo único do art. 927, que trata da obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ouquando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 39) menciona a teoria do risco como fundamento histórico para adoção da responsabilidade civil objetiva: Uma das teorias que procuram justificar a responsabilidade objetiva é a teoria do risco. Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. A responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa para a ideia de risco, ora encarada como “risco-proveito”, que se funda no princípio segundo o qual é reparável o dano causado a outrem em consequência de uma atividade realizada em benefício do responsável (ubi emolumentum, ibi onus); ora mais genericamente como “risco criado”, a que se subordina todo aquele que, sem indagação de culpa, expuser alguém a suportá-lo. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 39) da mesma forma, aludem as transformações sociais ocorridas baseadas sobretudo na teoria 28 do risco, quando se demonstrou a necessidade de a sociedade aderir à responsabilidade objetiva, abandonando a tradicional responsabilidade subjetiva em casos específicos, uma vez revelada sua insuficiente para a tutela das relações jurídicas na sociedade de massa. Neste passo, “o legislador, mediante expressa disposição legislativa, passou a impor o dever de indenizar independentemente da identificação da conduta culposa do ofensor, associando a reparação não pelo seu comportamento, mas ao risco da atividade da qual resultou o dano” (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 39). O doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 57) apresenta em sua obra, uma síntese das fases da teoria da responsabilidade civil, tendo por marco inicial, a exigência da comprovação de culpa do agente, ascendendo à teoria do risco, como última etapa evolutiva da teoria: a) primeiro, procurou-se proporcionar maior facilidade à prova da culpa. Os tribunais, em muitos casos, passaram a examinar com benignidade a prova de culpa produzida pela vítima, extraindo-a de circunstâncias do fato e de outros elementos favoráveis; b) admissão da teoria do abuso de direito como ato ilícito (v. n. 11, retro); c) estabelecimento de casos de presunção de culpa (Código de Menores de 1927, art. 68, § 4º; Súmula 341 do STF; a lei sobre a responsabilidade das estradas de ferro etc.), casos estes que invertem sempre o ônus da prova, melhorando muito a situação da vítima. Para livrar-se da presunção de culpa, o causador da lesão patrimonial ou moral é que terá de produzir prova de inexistência de culpa, ou de ocorrência de caso fortuito. Quando, porém, se foi à frente, e, no direito francês, acabou por se admitir, na responsabilidade complexa por fato das coisas, a chamada teoria da culpa na guarda, com presunção juris et de jure, irrefragável, então, sim, foi que se começou a pisar, de maneira efetiva, no terreno firme do risco; d) admissão de maior número de casos de responsabilidade contratual (transportes em geral), que oferecem vantagem para a vítima no tocante à prova, visto que esta precisa provar apenas que não chegou incólume ao seu destino, e que houve, pois, inadimplemento contratual; e) adoção da teoria do risco, pela qual não há falar em culpa. Basta a prova da relação de causalidade entre a conduta e o dano. A responsabilidade objetiva, assenta-se, portanto, no princípio de equidade existente desde o direito romano. Desse modo, aquele que obtém lucro com determinada situação, deve ser responsável pelo risco ou pelas desvantagens dela resultantes. Assim, “Quem aufere os cômodos (ou lucros) deve suportar os incômodos (ou riscos)”. (GONÇALVES, 2018, p. 14) Carlos Roberto Gonçalves (2018, P. 24) explica que na responsabilidade civil objetiva, a culpa é prescindível, sendo suficiente a demonstração do dano e do nexo de causalidade. Assim, esta espécie de responsabilidade, também denominada de responsabilidade civil do risco, “tem como postulado que todo dano é indenizável, e deve ser reparado por quem a ele se liga por um nexo de causalidade, independentemente de culpa”. Em síntese, constata-se que, na responsabilidade independente de culpa, denominada objetiva, o elemento “culpa” é irrelevante para a configuração do dever de indenizar, sendo, 29 todavia, indispensável a relação de causalidade entre a ação e o dano, “uma vez que, mesmo no caso de responsabilidade objetiva, não se pode acusar quem não tenha dado causa ao evento”. (GONÇALVES, 2018, p. 39). Assim, no presente capítulo, foram exploradas as noções gerais do instituto da responsabilidade civil, desde a origem e conceitos atrelados a temática, até os pressupostos necessários para a caracterização e, suas espécies. Serão abordado no capítulo seguinte, os aspectos norteadores da atividade médica, especificamente, os direitos dos médicos, os deveres médicos, os danos causados à pacientes decorrentes de erro médico e a ética médica. 30 3 ASPECTOS NORTEADORES DA ATIVIDADE MÉDICA O presente capítulo tem por finalidade abordar os aspectos gerais norteadores da atividade médica. Assim, em primeiro momento, tratar-se-á dos direitos garantidos aos médicos bem como, dos deveres impostos a estes profissionais no exercício da atividade médica. Posteriormente, serão abordados os danos causados à pacientes decorrentes do exercício profissional nos hospitais. E ao final, será debatido acerca da ética médica. 3.1 DIREITOS DOS MÉDICOS A Resolução do CFM nº 2.217, de 27 de setembro de 2018, atual Código de Ética Médica, regula em seu capítulo II, os direitos dos médicos, apresentando um amplo rol de garantias destinadas aos profissionais da saúde, no exercício da profissão (CFM, 2018). Destaca-se, que o Código de Ética Médica garante ao médico, “exercer a medicina sem ser discriminado por questões de religião, etnia, cor, sexo, orientação sexual, nacionalidade, idade, condição social, opinião política, deficiência ou de qualquer outra natureza”, conforme expresso no inciso I do capítulo II (CFM, 2018). Ainda, no que tange a garantia de isonomia de tratamento entre os profissionais, “XI - É direito do médico com deficiência ou com doença, nos limites de suas capacidades e da segurança dos pacientes, exercer a profissão sem ser discriminado”, podendo inclusive recusar se a qualquer exercício da medicina em hospitais sem condições dignas de trabalho, que possam prejudicar a saúde do médico, do paciente, ou dos demais profissionais, nos termos do inciso IV, capitulo 2 (CFM, 2018). Ademais, no que se refere a ausência de condições adequadas para o exercício profissional ou de remuneração digna e justa, poderá o médico: III - Apontar falhas em normas, contratos e práticas internas das instituições em que trabalhe quando as julgar indignas do exercício da profissão ou prejudiciais a si mesmo, ao paciente ou a terceiros, devendo comunicá-las ao Conselho Regional de Medicina de sua jurisdição e à Comissão de Ética da instituição, quando houver. V - Suspender suas atividades, individualmente ou coletivamente, quando a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições adequadas para o exercício profissional ou não o remunerar digna e justamente, ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar imediatamente sua decisão ao Conselho Regional de Medicina. VII - Requerer desagravo público ao Conselho Regional de Medicina quando atingido no exercício de sua profissão. X - Estabelecer seus honorários de forma justa e digna (CFM, 2018). 31 Ruy Rosado de Aguiar Júnior, (2000) destacando o direito do médico previsto no capítulo II do Código de ética Médica, que assegura ao profissional “Internar e assistir seus pacientes em hospitais privados e públicos com caráter filantrópico ou não, ainda que não faça parte do seu corpo clínico, respeitadasas normas técnicas aprovadas pelo Conselho Regional de Medicina da pertinente jurisdição”, ressalta que tal hipótese, interfere na responsabilidade civil do médico, da seguinte forma: (...) em relação aos médicos que integram o quadro clinico da instituição, não sendo assalariados, é preciso distinguir: se o paciente procurou o hospital e ali foi atendido por integrante do corpo clinico, ainda que não empregado, responde o hospital pelo ato culposo do médico, em solidariedade com este; se o doente procura o médico, e este o encaminha à baixa do hospital, o contrato é com o médico e o hospital não responde pela culpa deste, embora do seu quadro, mas apenas pela má prestação dos serviços hospitalares que lhe são a fetos Trata-se no caso, de um direito significativo para a atuação do médico, uma vez que preserva sua independência no exercício da profissão, com a possibilidade de internar pacientes particulares no hospital, observando as normas internas da instituição. João Monteiro de Castro (2005, p. 169) explica que esta garantia abrange duplo fundamento: o primeiro, no direito social constitucionalmente garantido (art. 6º da CF) de o paciente tratar de sua saúde escolhendo livremente o profissional de sua confiança; o segundo, no igualmente garantido 9art. 5º, XII da CF) direito do médico de trabalhar, exercendo licitamente a profissão para a qual está habilitado. É direito do médico outrossim, de acordo com o Código de Ética Médica, no que tange a sua autonomia no exercício da profissão e relação com os pacientes: II - Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação vigente. VIII - Decidir, em qualquer circunstância, levando em consideração sua experiência e capacidade profissional, o tempo a ser dedicado ao paciente sem permitir que o acúmulo de encargos ou de consultas venha prejudicar seu trabalho. IX - Recusar-se a realizar atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência (CFM, 2018). Constata-se, portanto, em análise ao expressivo rol disposto no Capítulo 2 do código de ética médica, que os direitos garantidos aos médicos, visam dignificar o exercício profissional do médico, assegurando sua autonomia, condições adequadas para o exercício da profissão, remuneração digna e justa, vedada qualquer discriminação. 32 3.2 DEVERES DOS MÉDICOS Nas palavras de José de Aguiar Dias, (1994, p. 254), “o médico é, ao mesmo tempo que conselheiro, protetor e guarda do enfermo que lhe reclama os cuidados profissionais”. Nesta égide, imperioso destacar, a existência de deveres médicos, dispostos no Código de Ética Médica, instituído através da Resolução do Conselho Federal de Medicina, nº 2.217/2018, que norteiam de modo geral, o exercício da atividade médica. Dessa forma, ao regular a conduta do médico e impor direitos, deveres e normas a serem observados no exercício da respectiva profissão, o Código de Ética Médica representa uma garantia de qualidade, segurança e respeito para a sociedade, no trabalho realizado por médicos de todo o país, tanto da rede pública como privada. (NOVO, 2019). Ruy Rosado de Júnior Aguiar (2000, p. 7) leciona que o médico tem o dever de agir com diligência e cuidado no exercício da sua profissão, de acordo com o estado da ciência e as regras consagradas pela prática médica. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 331), destacam que para a análise da culpa do profissional da saúde, é necessária a caracterização de deveres de que é cometido, os quais podem ser divididos em três classes: “a) o dever de fornecer ampla informação quanto ao diagnóstico e ao prognóstico; b) o emprego de todas as técnicas disponíveis para a recuperação do paciente, aprovadas pela comunidade científica e legalmente permitidas; c) a tutela do melhor interesse do enfermo em favor de sua dignidade e integridade física e psíquica.” José de Aguiar Dias (1997, p. 116) no mesmo segmento, disserta que as obrigações implícitas no contrato médico podem ser divididas em: (a) deveres de conselhos, (b) deveres de cuidados e (c) deveres de abstenção de abuso ou desvio de poder. Nesta esteira, o doutrinador aponta que o dever de conselho corresponde ao dever de informação, disposto no próprio Código de Ética Médica em seu Art. 34, que veda ao médico “Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar danos, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal (CFM, 2018). O Código de Defesa do Consumidor em sentido semelhante, prevê, no art. 6, inc. III, o Princípio da Transparência, dispondo o direito do consumidor de ser informado sobre todos os aspectos do serviço ou produto adquirido: São direitos básicos do consumidor: […] 33 III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. (BRASIL, 1990) Da mesma forma, como pontificado por Paulo Nader (2016, p. 881), os médicos em geral e, em especial, os pediatras, possuem o dever de informar aos órgãos competentes a constatação, no atendimento à vítima, de violência contra menores. Para Eduardo Dantas e Marcos Vinicius Coltri (2010, p. 105) a adequação no exercício da atividade médica, está atrelada ao direito de informações devido pelos médicos, a qual pode ser compreendida como: a prestação das informações sobre o quadro do paciente, quais são as opções de procedimento, quais as consequências de cada um dos procedimentos, possíveis benefícios dos procedimentos e, principalmente, quais os riscos envolvidos em cada um dos procedimentos. Ainda o paciente deve ser informado sobre as consequências e os riscos inerentes a não adoção de procedimentos. Como pontifica Tamires Toledo (2021), “o livre consentimento informado é expressão do princípio da autonomia privada e da dignidade da pessoa humana”. Frisa-se outrossim, que as informações relacionadas ao procedimento ou circunstâncias médicas, a qual o paciente encontre-se submetido, devem ser repassadas em termos compreensíveis e esclarecedores ao leigo, com vistas a atingir sua finalidade, uma vez que “se destinam a deixar o paciente em condições de se conduzir diante da doença e de decidir sobre o tratamento recomendado ou sobre a cirurgia proposta” (JUNIOR, 2000, p. 8). Crucial salientar, que o dever de informação do médico não é absoluto. Assim, excepcionalmente, em casos de risco de dano ao paciente, o Código de Ética Médica permite que o médico deixe de prestar ao paciente determinadas informações, como por exemplo, quando a informação causar abalo ao seu estado emocional ou psíquico: Art. 34, Código de Ética Médica. É vedado ao médico: Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal (CFM, 2018). Todavia, nessas situações, cabe ao médico prestar as informações ao representante legal do paciente, como sedimentado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no julgamento de Recurso Especial: O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal (STJ, 2018). 34 Não obstante, destaca-se igualmente, o dever do médico de obter o consentimento do paciente para realizar qualquer tipo de conduta ou procedimento. Assim, o art. 56 do Código de Ética Médica preconizaser direito do paciente “decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo de vida” (2019). O doutrinador Ruy Rosado de Aguiar Junior (2000, p. 133), explica nesse ponto, a importância do consentimento do paciente para indicações terapêuticas e cirurgias: Toda vez que houver um risco a correr, é preciso contar com o consentimento esclarecido, só dispensável em casos de urgência que não possa ser de outro modo superada, ou de atuação compulsória. É que cabe ao paciente decidir sobre a sua saúde, avaliar sobre o risco a que estará submetido com o tratamento ou a cirurgia e aceitar ou não a solução preconizada pelo galeno. Da mesma forma, o Código de Ética Médica dispõe, consoante art. 22, que é vedado ao médico “deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte”, bem como, nos termos do art. 24, “Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo (CFM, 2018). Constitui infração médica ainda, conforme prevê o Código de Ética médica, artigos 26 e 31 respectivamente, ‘Deixar de respeitar a vontade de qualquer pessoa, considerada capaz física e mentalmente, em greve de fome, ou alimentá-la compulsoriamente, devendo cientificá la das prováveis complicações do jejum prolongado e, na hipótese de risco iminente de morte, tratá-la.” e “Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte (CFM, 2018). Nesta perspectiva, oportuno citar, o art. 15 do atual Código Civil, que assegura como direitos da personalidade, que: “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”. Observa-se no ponto, que a lei impõe aos médicos o dever de não submeterem paciente sem prévia autorização a qualquer tratamento perigoso (BRASIL, 2002). Dessarte, Ruy Rosado de Aguiar Junior (2000, p. 9) assevera, que em determinadas situações o consentimento será inexistente, como durante o procedimento de uma cirurgia, com o desenvolvimento de um fato novo que exponha o paciente a riscos, de modo que não sendo possível suspender o ato, para obter o assentimento do paciente, a intervenção médica prosseguirá. 35 Trata-se neste caso, de uma exceção ao dever do paciente de exercer seu livre consentimento, de modo que, o Código de ética Médica, possibilita o exercício dos procedimentos médicos sem o consentimento do paciente ou seu representante legal, quando em risco iminente de morte: “Art. 22, Código de Ética Médica. É vedado ao médico: Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte” (2018). Da mesma forma, expressa o art. 31 do código supra: “Art. 31, Código de Ética Médica. É vedado ao médico: Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte (CFM, 2018). Ainda no que se refere aos deveres dos médicos em relação a paciente, destaca-se outros preceitos importantes a serem observados no exercício da atividade médica hospitalar: Além dos deveres de informação, obtenção de consentimento e de cuidado, tem o médico os deveres de: a) sigilo, previsto no artigo 102 do Código de Ética; b) não abusar do poder, submetendo o paciente a experiências, vexames ou tratamento incompatíveis com a situação; c) não abandonar paciente sob seus cuidados, salvo caso de renúncia ao atendimento, por motivos justificáveis, assegurada a continuidade do tratamento (art. 61, Código de Ética); d) no impedimento eventual, garantir sua substituição por profissional habilitado; e) não recusar o atendimento de paciente que procure seus cuidados em caso de urgência, quando não haja outro em condições de fazê-lo. (JUNIOR, 2000, p. 12). O atual Código de Ética Médica, prevê entre os princípios fundamentais da medicina, a saúde do ser humano, “como alvo de toda a atenção do médico” em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional (CFM, 2018). O capítulo III do código em comento, trata da reponsabilidade profissional, dispondo um amplo rol de vedações impostas a atuação do médico, como no artigo 1º, que expressa a vedação de “Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência”, frisando no parágrafo único, que “a responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida (CFM, 2018). O art. 7º, impõe ao médico ainda, a vedação de “deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando for de sua obrigação fazê-lo, expondo a risco a vida de pacientes, mesmo respaldado por decisão majoritária da categoria” (CFM, 2018). No mesmo sentido, o art. 2º da lei nº 12.842/2013 orienta que, a atuação do médico deve ser voltada para a “saúde do ser humano e das coletividades humanas, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo, com o melhor de sua capacidade profissional e sem discriminação de qualquer natureza.” (BRASIL, 2013). 36 Assim, impõe-se ao médico como tal especialista, que possui conhecimento e habilidade especiais, o dever de desempenhar diante do paciente, “não meramente o grau normal de habilidade possuído pelos praticantes em geral, mas aquele grau especial de habilidade e cuidado que os médicos de igual posição”, de modo a dedicar especial estudo e atenção ao tratamento adequado para o caso. (HOLDER, apud PANASCO, 1979, p. 21.) Como salientado por Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 204), os médicos se comprometem “a tratar o cliente com zelo, utilizando-se dos recursos adequados”, sendo, todavia, responsabilizados civilmente, quando ficar provada qualquer modalidade de culpa: imprudência, negligência ou imperícia. Em síntese, o médico deve atuar em conformidade com as normas e éticas e princípios médicos, aplicando todos seus esforços, e os meios que dispõe, para alcançar a cura do paciente, com prudência e dedicação, evitando prejuízos e danos aos pacientes (NOVO, 2019). 3.3 DANOS CAUSADOS À PACIENTES DECORRENTES DE ERROS MÉDICOS Ao médico incumbe a realização do tratamento observando todas condições éticas, coma utilização de todos os meios disponíveis para alcançar a cura do paciente. De modo geral, o médico tem a obrigação de exercer a medicina com vistas a elevar e dignificar a vida humana, “acima de tudo respeitando os valores éticos, morais, religiosos e os costumes e princípios fundamentais da humanidade, bem como o direito indisponível do homem - a vida como um bem maior”. (NOVO, 2018) Frisa-se, todavia, que as atividades exercidas pelos profissionais da saúde, são via de regra, suscetíveis a danos morais e materiais, atentando frequentemente contra os direitos da personalidade ou os patrimoniais de pacientes (NADER, 2016, p. 981). In casu, ocorrendo o dano provocado pelo médico, decorrente de atos extracontratuais inerentes à atividade médica, como ausência de socorro, atestados falsos, lições equivocadas proferidas em conferências ou em obras escritas, entre outras, verifica-se a responsabilidade civil do médico (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 327). Dessa forma, a violação aos deveres médicos legais dispostos sobretudo, no Código de Ética Médica, importa na responsabilidade civil do agente, no caso, do profissional médico que praticou determinada conduta. Dessarte, o fundamento legal da responsabilidade do médico por danos causados aos pacientes no exercício profissional, encontra-se previsto no art. 951 do Código Civil de 2002, que prevê a “indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional,por 37 negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho” (BRASIL, 2002). Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p. 298) definem o erro médico, como uma “falha profissional imputada ao exercente da medicina”. Os doutrinadores frisam ainda, que na caracterização do erro atua o elemento culpa, “especialmente sob a roupagem da imperícia ou da negligência”. Para Paulo Nader (2016, p. 983), danos à saúde consiste na produção de qualquer doença, agravamento desta ou lesão corporal Em suma, duas espécies de danos podem decorrer da atividade médica: (...) no que tange aos danos causados pelos serviços hospitalares, no âmbito do chamado contrato de hospedagem, atinentes aos exames, à enfermaria, aos aparelhos e à estrutura de apoio ambulatorial, a responsabilidade é objetiva, tanto pelo funcionamento defeituoso de equipamentos quanto pela falha dos prepostos (pessoal paramédico). Neste caso, poderá o hospital ou clínica responsabilizada exercer o direito de regresso contra o encarregado que tenha culposamente causado o dano (art. 13, parágrafo único, Código de Defesa do Consumidor). Incluem-se ainda nesta categoria as hipóteses de infecção hospitalar associadas a serviço de assepsia defeituoso, ou seja, as infecções que não provêm de caso fortuito, derivadas do alarmante desenvolvimento de novos vírus e bactérias (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 327). Aguiar Dias (1997, p. 11) enumera alguns casos frequentes de erro ou culpa do médico: “exposição a riscos inúteis; manutenção de aparelho que provoca reações anormais; omissão de normas de higiene e assepsia; receita com letra ilegível, permitindo o engano; receita de remédio tóxico sem investigar incompatibilidade e intolerância, etc.” Gerges Boyer Chammard e Paul Monzein apud Ruy Rosado de Aguiar Junior (2000, p. 27) com relação ao erro no diagnóstico, apontam que em regra não gera responsabilidade, exceto se o diagnostico for realizado sem a devida atenção e precauções, apresentando-se como erro manifesto e grosseiro. Ocorre por exemplo, quando o médico “deixa de recorrer a outro meio de investigação ao seu alcance ou profere um juízo contra princípios elementares de patologia”. Aguiar Dias (1997) destaca em sentido semelhante, que “o prognóstico dificilmente acarretará prejuízo”, podendo acontecer em caso de perícia médica de o paciente possuir uma doença rara, até então latente, e que foi desencadeada pelo tratamento de uma doença simples, como uma gripe, e acabou gerando danos irreversíveis ao paciente. Dessarte, nessas hipóteses, não haverá responsabilidade civil do médico pelos danos, tendo em vista que a doença rara era até aquele momento, desconhecida, não sendo possível que o médico soubesse que a pessoa a possuía, muito menos que pudessem ocorrer com danos com o tratamento desta. 38 Outro dano comum, decorrente do erro médico, consiste na iatrogenia, definida como “um estado de doença, efeitos adversos ou alterações patológicas causados ou resultantes de um tratamento de saúde correto e realizado dentro do recomendável, que são previsíveis, esperados ou inesperados, controláveis ou não, e algumas vezes inevitáveis” (GIOVANINI, 2014). Não obstante, salutar destacar, nem toda conduta do médico que ocasiona resultado diverso do pretendido constituirá erro médico ou consequente dano médico. Dessa forma, quando o médico não obtém a cura do doente, ou quando os recursos empregados são insatisfatórios, trata-se de inexecução de uma obrigação, e neste caso, a culpa do médico não é presumível, uma vez que o profissional “não se compromete a curar, mas a proceder de acordo com as regras e os métodos da profissão”. (GONÇALVES, 2018, p. 204). Ana Elisa Pretto Pereira Giovanini (2014) no mesmo sentido, destaca que nem sempre o dano será proveniente do erro médico, uma vez que para sua configuração é necessário que “a conduta do profissional tenha sido causadora direta do dano ao paciente”, bem como, que o dano decorra de ato negligente, imprudente ou imperito do profissional. Dessa forma, em se tratando de danos sofridos pelo paciente no âmbito hospitalar, mas decorrente de doença anterior desconhecida pelo paciente e não diagnosticável, todavia, agravada pelo tratamento médico de uma doença simples, não há que se falar em erro médico, restando afastada a responsabilidade civil do médico. Nesta perspectiva, como leciona Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 204) o fato de não obter a cura do paciente, não significa que o médico foi inadimplente, mormente, porque tais profissionais assumem uma obrigação de “meio”, e não de “resultado”. Flavio Tartuce (2019, p. 877) define a obrigação de meio, como aquela em que “o devedor só é obrigado a empenhar-se para perseguir um resultado, mesmo que este não seja alcançado”, ao contrário, da obrigação de resultado, onde a prestação somente é “cumprida com a obtenção de um resultado, geralmente oferecido pelo devedor previamente”. Logo, no atendimento médico, cuidando-se, no comum dos casos, de obrigações de meio (o profissional não se obriga a curar o paciente, mas a empregar diligência, cautela e conhecimento técnico postos ao alcance da ciência médica com vistas a curá-lo), o ônus probatório sempre incumbirá ao prejudicado. Da mesma forma, considerando-se a culpa extracontratual, a regra geral é atribuir à vítima o ônus da prova. (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 329). 39 Frisa-se, a atividade exercida pelo médico não pretende diretamente a cura, mas sim, a “prestação de cuidados conscienciosos, atentos, e, salvo circunstâncias excepcionais, de acordo com as aquisições da ciência” (GONÇALVES, 2018, p. 204). Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p. 298) aludem no mesmo sentido, que diante da natureza de obrigação de meio na prestação de serviços médicos, não há possibilidade de o profissional afirmar de forma peremptória, que curará o indivíduo. Dessarte, nas hipóteses que o dano for provocado por médico, consequente de sua imperícia, desconhecimento da arte médica, ou falta de diligência ou de prudência, verifica-se a responsabilidade civil por violação consciente de um dever ou de uma falta objetiva do dever de cuidado, impondo ao médico a obrigação de reparar o dano causado. (GONÇALVES, 2018, p. 208). Maria Helena Diniz, assim leciona (2018, p. 347): Assim, se o paciente vier a falecer, sem que tenha havido negligência, imprudência ou imperícia na atividade do profissional da saúde, não haverá inadimplemento contratual, pois o médico não assumiu o dever de curá--lo, mas de tratá-lo adequadamente. É preciso lembrar que não haverá presunção de culpa para haver condenação do médico (código de Ética Médica, art. 1.º, parágrafo único); ele (CDC, art. 6.º, VIII) é que deverá provar que não houve inexecução culposa (RT, 785:237) da sua obrigação profissional, demonstrando que o dano não resultou de imperícia, negligência (AASP, 2.093:180 e 1.º TACSP, Ap. 684.076-6, j. 9-3-1998) ou imprudência sua (RT, 407:174, 357, 196; JSTJ, 8:294). Tal prova poderá ser feita por testemunhas, se não houver questão técnica a ser esclarecida, sendo necessário que haja liame de causalidade entre o dano e a falta do médico de que resulta a responsabilidade civil. Portanto, a responsabilidade civil dos médicos somente decorre de culpa provada, constituindo uma espécie particular de culpa. Não resultando provadas a imprudência ou imperícia ou negligência (RT, 784:237), nem o erro grosseiro, fica afastada a responsabilidade dos doutores em medicina, em virtude mesmo da presunção de capacidade constituída pelo diploma obtido após as provas regulamentares (TJRJ, ADCOAS, 1982, n. 84.019) (2007, p. 257). A ocorrência do dano moral e material decorrente de ação desvirtuada do profissional, por negligência, imperícia ou imprudência, gera a responsabilização civil deste, de modo a garantir o status quo ante do pacientelesionado e “tornar menos dolorosa sua existência indevidamente marcada pelo dano causado pelo profissional da medicina” (NOVO, 2018). 3.4 ÉTICA MÉDICA A ética profissional é integrada por princípios da conduta humana que “definem diretrizes para o exercício de uma profissão”, exigindo sobretudo, que todos médicos atuem submetidos “a algum controle moral” normalmente baseado em um código de ética. (NOVO, 2018). 40 Como destacam Adamo Lui Netto e Milton Ruiz Alves (2010), o Código de Ética Médica normatiza a responsabilidade ético-disciplinar, zelando pelo cumprimento irrestrito da boa prática médica, e os Conselhos Regionais de Medicina têm a responsabilidade pela fiscalização do exercício da profissão. O presente Código de Ética Médica contém as normas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício de sua profissão, inclusive nas atividades relativas a ensino, pesquisa e administração de serviços de saúde, bem como em quaisquer outras que utilizem o conhecimento advindo do estudo da medicina. Dessa forma, o Código de Ética Médica (Código de Ética Médica) é composto de 26 princípios fundamentais do exercício da medicina, 11 normas diceológicas, 117 normas deontológicas e quatro disposições gerais, conforme expressa a Resolução do CFM nº 2.222/2018, de modo que a transgressão das normas deontológicas sujeitará os infratores às penas disciplinares previstas em lei. O médico deve agir sempre para não causar ou causar o menor dano possível ao seu paciente, e tomar as condutas possíveis e notoriamente indicadas que possam minorar o seu sofrimento ou curá-lo. Ao médico cabe, obrigatoriamente, obedecer ao princípio da não maleficência, ou seja, de não causar mal ou dano ao seu paciente, de não lesar ou danificar as pessoas, podendo-se dizer que "não causar prejuízo ou dano foi a primeira grande norma da conduta eticamente correta para os profissionais da Medicina e do cuidado da saúde". (NOVO, 2018). Nesta vertente, o código de ética médica, em seu art. 29, veda o erro médico. Salutar destacar, os dispositivos contidos no Código de Ética Médica, que regulam a conduta do médico, voltada sobretudo, conforme dispõe art. 2º, para a “saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional”: V - Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente e da sociedade. VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício, mesmo depois da morte. Jamais utilizará seus conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativas contra sua dignidade e integridade. VII - O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente. XII - O médico empenhar-se-á pela melhor adequação do trabalho ao ser humano, pela eliminação e pelo controle dos riscos à saúde inerentes às atividades laborais. XIII - O médico comunicará às autoridades competentes quaisquer formas de deterioração do ecossistema, prejudiciais à saúde e à vida. 41 XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas. XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados. XXIV - Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou qualquer animal, o médico respeitará as normas éticas nacionais, bem como protegerá a vulnerabilidade dos sujeitos da pesquisa. (CFM, 2018) Infere-se, que o Conselho Federal Medicina passou a regular o direito de morte digna dos pacientes terminais, visto que ao abordar os princípios fundamentais, o Código de Ética Médica especifica em seu item XXII, o dever médico de “evitar a realização de tratamentos terapêuticos desnecessários” quando estiver diante de pacientes em estado terminal, assegurando, todavia todos os cuidados paliativos ao paciente. Dessa forma, verifica-se a possibilidade e legalidade da ortotanásia no Brasil, com vistas sobretudo, à assegurar a dignidade do paciente e o seu direito a não ser submetido a tratamento desumano ou degradante que visem prolongar sua existência. Luciana de Lima e Joyceane Bezerra de Menezes, (2015, p. 107-122) ressaltam que a ortanásia corresponde a “uma alternativa a distanásia, obstinação terapêutica que apenas intensifica a dor e o sofrimento do paciente e de seus familiares”. Frisam as autoras contudo, que se difere da eutanásia, tendo em vista que a conduta não intenta alcançar a morte, e sim, aguardar a morte em seu tempo natural, de forma morte digna. Dessarte, a violação pelo médico da diretiva antecipativa de vontade, constitui infração ética, consoante o que dispõe o art. 31 do Código de Ética Médica., posto que busca meios para manter vivo paciente que já possui diagnóstico de morte, sem possibilidade de cura. Ademais, como pontificado por Adamo Lui Netto e Milton Ruiz Alves (2010), sendo a obrigação do médico de meio e não de resultado, “o objetivo de um tratamento é o de comportar dentro de uma condição ética, utilizando em sua disponibilidade todos os meios para alcançar a cura do paciente”. Alguns fatores na atividade médica, contribuem para o erro médico, como a falta de percepção da gravidade do erro e a dificuldade em administrá-lo. Nesta vertente, para Júlio Cezar Meirelles Gomes, José Geraldo de Freitas Drumond e Genival Veloso de França (2002), os médicos erram porque são ensinados desde a faculdade a serem infalíveis, que por consequência não aceitam o erro, acobertando o fato, tanto pelo medo do constrangimento perante os colegas, como pela punição do Conselho Federal de Medicina e eventual processo judicial. 42 Convém analisar, que o Código de Ética Médica, impõe vedações ao médico, como: Participar de qualquer tipo de experiência no ser humano com fins bélicos, políticos, raciais ou endêmicos; a pesquisa sem consentimento esclarecido por escrito; o uso de terapêutica não liberada, sem autorização dos órgãos competentes e sem o consentimento do paciente; promover pesquisa na comunidade sem o conhecimento da coletividade e sem que o objetivo seja a proteção da saúde pública; obter vantagens pessoais ou renunciar à sua independência em relação aos financiadores; realizar pesquisa médica em ser humano sem aprovação e acompanhamento de comissão isenta; utilizar-se de voluntários dependentes ou subordinados ao pesquisador; realizar pesquisa com suspensão ou não uso de terapêutica consagrada, em prejuízo do paciente; realizar experiências com novos tratamentos em paciente incurável ou terminal sem esperança razoável de utilidade (artigos 122 a 130). (JUNIOR, 2000, p. 48) Outrossim, no que se refere as disposições legais acerca da ética na área da saúde, cabível mencionar a Resolução n. 1, de 13.06.1988 editada pelo Conselho Nacional de Saúde em 1988, dispondo normas gerais de pesquisa em saúde, aspectos éticos, entre outros: (...)pesquisa de novos recursos profiláticos - diagnósticos terapêuticos e de reabilitação; pesquisa em menores de idade inferior a 18 anos completos e em indivíduos sem condições de dar conscientemente seu consentimento em participar; pesquisa em mulheres em idade fértil, mulheres grávidas; pesquisa em conceptos - pesquisa durante o trabalho de parto, no puerpério e na lactação - pesquisa em óbito fetal; pesquisa em órgãos,tecidos e seus derivados, cadáveres e parte de seres humanos; pesquisa farmacológica; pesquisa de outros recursos novos; pesquisa com microorganismos patogênicos ou material biológico que possa contê-los; pesquisas que impliquem construção e manejo de ácidos nucleicos recombinantes; pesquisa com isótopos radioativos, dispositivos e geradores de radiações ionizantes e eletromagnéticas; comitês internos das instituições de saúde; execução da pesquisa nas instituições de saúde (CHAVES, apud JUNIOR AGUIAR, 2000, p. 11) Os doutrinadores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p. 293), abordando sobre a transfusão de sangue em pacientes que se recusam, comumente por razões religiosas, mencionam que a vida se sobressai sob a liberdade religiosa, “uma vez que a vida é o pressuposto da aquisição de todos os outros direitos”. Os doutrinadores ressaltam ainda, a hipótese excepcional de responsabilidade civil do médico, quando nesses casos se tratar de pacientes maiores e capazes no momento da concessão do consentimento, e ausente o perigo de perda da vida: No caso de pacientes maiores e capazes no momento da concessão do consentimento, entendemos que, ausente o perigo de perda da vida, mas, só e somente só, a recomendação do tratamento, o médico não deve ministrá-lo, sob pena de estar constrangendo ilegalmente o paciente. Assim, caso não observe essa determinação, o médico corre o risco de ser responsabilizado civilmente. Havendo, porém, a situação de perigo de vida, a realização do tratamento, ainda que sem êxito, com o eventual falecimento do paciente, não deve impor uma responsabilização civil do profissional, pois este estará seguindo o seu dever, por força da interpretação das regras próprias do vigente Código de Ética Médica. (GAGLIANO; FILHO, 2019, p. 293) 43 Logo, no caso de recusa do paciente para transfusão de sangue, o médico, em conformidade com o Código de Ética Médica, deverá observar: 1.º Se não houver iminente perigo de vida, o médico respeitará a vontade do paciente ou de seus responsáveis. 2.º Se houver iminente perigo de vida, o médico praticará a transfusão de sangue, independentemente de consentimento do paciente ou de seus responsáveis. (CFM, 2018). Como observado, o médico deve cumprir o disposto em uma diretiva antecipada de vontade para o fim de assegurar a dignidade e autonomia da vontade do paciente, por meio do consentimento livre e esclarecido, conforme o disposto no art. 22 do Código de Ética Médica. O descumprimento, importa na reponsabilidade civil subjetiva do médico, conforme preconiza o art. 1º, parágrafo único do Código de Ética Médica: “Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência. Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida.” Em suma, cabe ao médico exercer a profissão com vistas a tornar digna a vida humana, cumprindo com valores éticos, morais, religiosos e os costumes e princípios fundamentais da humanidade. (NOVO, 2018). Assim, neste capítulo, foram abordados os aspectos norteadores da atividade médica, tratando sobre os direitos dos médicos, os deveres médicos, danos frequentes decorrentes de erros médicos e da ética médica. Será retratado no capítulo seguinte, a responsabilidade civil dos médicos em hospitais particulares, discorrendo especificamente, sobre a responsabilidade civil do hospital particular, e responsabilidade civil dos médicos por danos ocorridos em hospitais particulares 44 4 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS EM HOSPITAIS PARTICULARES O presente capitulo tem por escopo abordar o tema central da presente monografia, qual seja, a responsabilidade civil dos médicos por danos causados aos pacientes em hospitais particulares. Dessa forma, em primeiro momento tratar-se-á da responsabilidade civil do hospital particular, diante de danos suportados por pacientes. Ao final, será tratada a responsabilidade civil dos médicos em hospitais particulares. 4.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO HOSPITAL PARTICULAR A relação entre o médico e paciente é classificada como de consumo, e, portanto, regulada pelas disposições do Código de Defesa do Consumidor. O CDC dispõe, no caput do art. 14, que “o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”. Considera-se serviço defeituoso nos termos do §1º, art. 14 do CDC, aquele que “não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido”. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p. 299) mencionam que a responsabilidade objetiva aplicada aos hospitais particulares, encontra-se regulada outrossim, pelo disposto no art. 932, III, do CC/2002: “Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele (...).” Denota-se no caso, que a responsabilidade civil dos hospitais e clínicas privadas, será, em regra, objetiva, de modo que respondem independentemente de culpa, na hipótese de danos causados aos pacientes, relativos à prestação dos serviços médicos. Abordando acerca do atendimento nas estruturas privadas de saúde, Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 331) mencionam a 45 existência de três tipos de relações instauradas simultaneamente nos contratos de prestação de serviços médicos, cuja análise é imprescindível para a caracterização da responsabilidade civil: a) o contrato entre o paciente e o médico direcionado ao tratamento de saúde; b) o contrato entre o paciente e a clínica médica, que visa à sua hospedagem em condições adequadas para que o tratamento possa ser realizado; c) o contrato entre o médico e a clínica médica para a realização do tratamento. Os doutrinadores apontam, que há nesta relação de prestação de serviços, “um contrato de hospedagem peculiar”, respondendo o hospital por sua ineficiência, de forma objetiva, sem prejuízos de eventual responsabilidade solidaria pelos danos causados no tratamento médico. No tocante aos atos praticados pelos auxiliares e enfermeiros nos hospitais, Carlos Roberto Gonçalves, (2018, p. 125) aponta a necessidade de distinguir os danos cometidos por aqueles que estão diretamente sob as ordens do cirurgião, daqueles cometidos por funcionários do hospital: No primeiro caso, o cirurgião responderá. No segundo, a culpa deverá ser imputada ao hospital, a menos que a ordem tenha sido mal dada ou que tenha sido executada sob a fiscalização do médico-chefe, como, por exemplo, injeção aplicada diante do médico. Se o médico tem vínculo empregatício com o hospital, integrando sua equipe médica, responde objetivamente a casa de saúde, como prestadora de serviços, nos termos do art. 14, caput, do Código do Consumidor. No entanto, se o profissional apenas utiliza o hospital para internar seus pacientes particulares, responde com exclusividade por seus erros, afastada a responsabilidade do estabelecimento. Já se decidiu que “a empresa locadora direta de serviços médico-hospitalares, credenciando médicos e nosocômios para suprir as deficiências de seus próprios serviços, compartilha da responsabilidade civil dos profissionais e hospitais que seleciona”. Na hipótese, reconheceu-se a responsabilidade solidária da operadora de plano de saúde e do hospital credenciado (TJSP, Ap. 67.929- 4-SP, j. 16-3-1999). (GONÇALVES, 2018, p. 125) Paulo Nader (2016, p. 1015) leciona, que a responsabilidade objetiva do prestador de serviços, neste caso, do hospital particular, limita-seaos serviços exclusivamente relacionados com o próprio estabelecimento, como, aqueles que correspondentes “à estadia do paciente (internação), instalações, equipamentos, serviços auxiliares (enfermagem, exames, radiologia) etc.”, não abrangendo os serviços exercidos pelos médicos que ali atuam e respondem subjetivamente (culpa). Da mesma forma, haverá responsabilidade do hospital quando o paciente internado, sofrer danos decorrentes da má qualidade do serviço, aparelhos, equipamentos ou alimentação. Neste sentido, foi o entendimento proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, em acórdão prolatado pelo Min. Fernando Gonçalves: CIVIL. INDENIZAÇÃO. MORTE. CULPA. MÉDICOS. AFASTAMENTO. CONDENAÇÃO. HOSPITAL. RESPONSABILIDADE. OBJETIVA. 46 IMPOSSIBILIDADE. 1 - A responsabilidade dos hospitais, no que tange à atuação técnico-profissional dos médicos que neles atuam ou a eles sejam ligados por convênio, é subjetiva, ou seja, dependente da comprovação de culpa dos prepostos, presumindo-se a dos preponentes. Nesse sentido são as normas dos arts. 159, 1521, III, e 1545 do Código Civil de 1916 e, atualmente, as dos arts. 186 e 951 do novo Código Civil, bem com a súmula 341 - STF (É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto.). 2 - Em razão disso, não se pode dar guarida à tese do acórdão de, arrimado nas provas colhidas, excluir, de modo expresso, a culpa dos médicos e, ao mesmo tempo, admitir a responsabilidade objetiva do hospital, para condená-lo a pagar indenização por morte de paciente. 3 - O art. 14 do CDC, conforme melhor doutrina, não conflita com essa conclusão, dado que a responsabilidade objetiva, nele prevista para o prestador de serviços, no presente caso, o hospital, circunscreve-se apenas aos serviços única e exclusivamente relacionados com o estabelecimento empresarial propriamente dito, ou seja, aqueles que digam respeito à estadia do paciente (internação), instalações, equipamentos, serviços auxiliares (enfermagem, exames, radiologia), etc e não aos serviços técnicos profissionais dos médicos que ali atuam, permanecendo estes na relação subjetiva de preposição (culpa). 4 - Recurso especial conhecido e provido para julgar improcedente o pedido. (STJ – Resp: 258389 SP 2000/0044523-1, REL. Min. Fernando Gonçalves. DJe: 22/06/2005). Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 331) neste seguimento, argumentam que aos danos causados pelos serviços hospitalares, no âmbito do “contrato de hospedagem” correspondentes à exames, enfermaria, aparelhos e à estrutura de apoio ambulatorial, é aplicada a responsabilidade objetiva, tanto pelo funcionamento defeituoso de equipamentos quanto pela falha dos prepostos (pessoal paramédico). Os doutrinadores observam, todavia, a possibilidade consubstanciada no art. 13, parágrafo único do CDC, de o hospital ou clínica exercer o direito de regresso contra o responsável direto pelo dano, como na hipótese de infecção hospitalar associadas a serviço de assepsia defeituoso, derivadas de vírus e bactérias. Em qualquer caso, o laudo pericial será fundamental nas ações que pretendem o ressarcimento de vítimas de danos ocorridos em hospital, para o fim de identificar se a responsabilidade será atribuída ao estabelecimento ou profissional (NADER, 2016, p. 1043). Destaca-se no ponto, entendimento do STJ quanto ao direito de regresso nas ações indenizatórias: Responsabilidade civil. Atendimento hospitalar. 1. Quando o paciente procura o hospital para tratamento, principalmente naqueles casos de emergência, e recebe atendimento do médico que se encontra em serviço no local, a responsabilidade em razão das consequências danosas da terapia pertence ao hospital. Em tal situação, pouco releva a circunstância de ser o médico empregado do hospital, porquanto ele se encontrava vinculado ao serviço de emergência oferecido. Se o profissional estava de serviço no plantão, tanto que cuidou do paciente, o mínimo que se pode admitir é que estava credenciado para assim proceder. O fato de não ser assalariado nesse cenário não repercute na identificação da responsabilidade do hospital. 2. Recurso especial conhecido e provido.” (REsp. nº 400.843/RS, STJ. 3ª Turma, rel. Min. Carlos Alberto Menezes. Julg. em 17.02.2005, pub. em 18.04.2005, DJ, p. 304). 47 Verifica-se desta forma, que quando a atividade e procedimento médico forem realizados por hospitais, respondem estes objetivamente na ocorrência de danos, cabendo-lhes conquanto, o direito de regresso contra o profissional responsável, que responderá subjetivamente. Não obstante, insta mencionar, que ao hospital ou clínica particular poderá ser atribuída a responsabilidade solidária, sobretudo, quando o médico integrar o seu corpo médico, como funcionário ou prestador de serviços. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 333) trazem como exemplo, a hipótese do paciente que procura diretamente a clínica, recorrendo a um dos profissionais que fazem parte da equipe, e não a médico determinado. Os doutrinadores aludem, todavia, que: (...) na hipótese em que o ato lesivo não se relaciona com os demais serviços prestados pela clínica, jungindo-se a erro profissional típico, seria difícil vislumbrar qualquer defeito, pressuposto da responsabilidade objetiva nos termos do art. 14, § 3o, diverso da conduta subjetiva do médico – a atividade defeituosa –, não se podendo negar, nesta perspectiva, que somente a demonstração da culpa é que poderá desencadear a responsabilidade do profissional e, em consequência, do hospital, solidariamente. De outra parte, a clínica não será chamada a responder pelo dano causado por médico estranho a seus quadros, no caso em que o hospital apenas serve de estrutura por ele utilizada para o exercício de suas atividades profissionais. Flávio Tartuce (2019, p. 803) ressalta outrossim, que verificada a ausência de culpa do médico por danos causados aos pacientes no interior dos hospitais, não há que se falar em responsabilidade indireta do hospital, consoante entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça: (...). A responsabilidade das sociedades empresárias hospitalares por dano causado ao paciente consumidor pode ser assim sintetizada: (i) as obrigações assumidas diretamente pelo complexo hospitalar limitam-se ao fornecimento de recursos materiais e humanos auxiliares adequados à prestação dos serviços médicos e à supervisão do paciente, hipótese em que a responsabilidade objetiva da instituição (por ato próprio) exsurge somente em decorrência de defeito no serviço prestado (art. 14, caput, do CDC); (ii) os atos técnicos praticados pelos médicos sem vínculo de emprego ou subordinação com o hospital são imputados ao profissional pessoalmente, eximindo-se a entidade hospitalar de qualquer responsabilidade (art. 14, § 4.º, do CDC), se não concorreu para a ocorrência do dano; (iii) quanto aos atos técnicos praticados de forma defeituosa pelos profissionais da saúde vinculados de alguma forma ao hospital, respondem solidariamente a instituição hospitalar e o profissional responsável, apurada a sua culpa profissional. Nesse caso, o hospital é responsabilizado indiretamente por ato de terceiro, cuja culpa deve ser comprovada pela vítima de modo a fazer emergir o dever de indenizar da instituição, de natureza absoluta (arts. 932 e 933 do CC), sendo cabível ao juiz, demonstrada a hipossuficiência do paciente, determinar a inversão do ônus da prova (art. 6.º, VIII, do CDC). (...)” (STJ, REsp 1.145.728/MG, 4.ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. p/ Acórdão Min. Luis Felipe Salomão, j. 28.06.2011, DJe 08.09.2011). O autor Paulo Nader (2016, p. 1015), destaca que para a existência de responsabilidade do hospital, é necessária a prova de que houve dano e que este decorreu de falhas no 48 atendimento e serviço, em outras palavras, que decorreu da periculosidadeou risco inerente ao serviço prestado, não sendo suficiente a não obtenção dos resultados esperados do tratamento. Assim, enquanto o médico responde pessoalmente por atos ou procedimentos praticados quando comprovada a culpa, a clínica responde objetivamente, independente da culpa, podendo não raras vezes ser responsável solidariamente por danos causados pelos médicos nas dependências do hospital. 4.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS EM HOPITAIS PARTICULARES Crucial destacar inicialmente, que o dever de indenizar pacientes lesados por atos dos médicos, cirurgiões, farmacêuticos e dentistas no exercício da profissão, encontra-se disposto no art. 951 do Código Civil, que prevê a “indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho”. Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra, (2021, p. 327) mencionam que a hipótese retratada no dispositivo supra é considerada de modo prevalente, como responsabilidade contratual. Assim, para os autores: Tal orientação indica tendência doutrinária e jurisprudencial de maior favorecimento das vítimas de danos, contrariamente ao pensamento dominante no final do século XIX, quando foi redigido o Código Civil de 1916, que disciplinava a matéria no âmbito da responsabilidade extracontratual. A natureza jurídica da relação formulada entre o médico e seu paciente, ainda que inexistente unanimidade doutrinária, é considerada locação de serviços sui generis, inserindo um núcleo de deveres extrapatrimoniais à prestação remunerada dos serviços médicos (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 327). Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p. 63), tanto a responsabilidade civil quanto a responsabilidade penal decorrem da prática de um ato ilícito, ou seja, “de uma violação da ordem jurídica, gerando desequilíbrio social, ressalvando-se como exceção, por rigor técnico, a possibilidade de a responsabilidade civil decorrer, também, de uma imposição legal, seja em atividades lícitas, seja em função do risco da atividade exercida”. Entendem estes doutrinadores, que a natureza jurídica da responsabilidade será sempre sancionadora, independentemente de se materializar como pena, indenização ou compensação pecuniária. 49 No que se refere aos aspectos históricos da natureza jurídica da responsabilidade civil, salienta-se que anteriormente a função do médico era atrelada a religião, de modo que sua atuação era dependente da vontade divina, como um “ritual”. (AGUIAR JÚNIOR, 2000, p. 2). Miguel Reale (1977, p 47) ressalta que o médico era reconhecido como um profissional cujo exercício lhe garantia prestigio, qualidade de saber divino e conhecimento pleno sobre todas as coisas, sendo frequentemente titulado como médico da família, amigo e conselheiro, visto que seus serviços eram inquestionáveis. O autor considera, que “o ato médico se resumia na relação entre uma confiança (a do cliente) e uma consciência1 (a do médico)”. Aguiar Júnior (2000, p. 2) leciona, que atualmente a relação dos médicos com os pacientes se modificou, distanciando por completo ambos, tratando-se agora, sob a ótica de uma sociedade consumerista, de uma relação de consumo, onde de um lado há o prestador de serviço e do outro, o usuário. Reconhece o autor, todavia, que essa modificação desencadeou avanços significativos na seara médica, como o aumento dos recursos à disposição do médico, e consequente crescimento das oportunidades de ação e riscos. Jean Penneau apud Ruy Rosado de Aguiar Junior (2000, p. 26) dissertando acerca da eficácia da medicina moderna, menciona a amplitude da atuação do médico: A eficácia é o que caracteriza a Medicina moderna, a tal ponto que o médico e o biologista contemporâneos não se contentam somente em prevenir ou tratar as doenças, mas se propõem a superar a deficiência de uma função natural, substituir esta função ou modificar características naturais do sujeito. Essa eficácia, entretanto, é inseparável de três outros elementos, comumente desconhecidos do leigo: agressividade, perigosidade e complexidade. No que se refere a função do contrato firmado entre o médico e paciente, Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 327), destacam que esta consiste no atendimento aos deveres médicos tutelados na prestação do serviço hospitalar aos pacientes: Tais deveres, ao lado da intervenção técnica, prestação dirigida à cura propriamente dita, definem a função jurídica do contrato, oferecendo conotação peculiar à causa contratual, que o faz negócio atípico, diverso da locação de serviços convencionalmente disciplinada pelo Código Civil. O contrato depende do consenso do paciente que, no entanto, poderá ser expresso ou tácito, manifestado diretamente pelo interessado ou por seus familiares, sem que a ausência de instrumento escrito possa ser interpretada como inexistência de negócio jurídico entre as partes. Salienta-se nessa perspectiva, que a responsabilidade civil do médico é subjetiva, regulada pelo artigo 951 do Código civil, uma vez que o dano decorre das hipóteses de imprudência, imperícia ou negligência, e regulada pelo Código de Defesa do Consumidor, dispondo no art. 14, § 4º, em exceção à regra geral da responsabilidade objetiva, que “a 50 responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa” (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 328). Dissertando no tocante a responsabilidade civil especifica do profissional médico, “isto é, daquele que tem habilitação universitária e exerce a Medicina com habitualidade, vivendo do seu trabalho” Aguiar Junior (2000, p. 4) menciona que o instituto “tem como pressuposto o ato médico, praticado com violação a um dever médico, imposto pela lei, pelo costume ou pelo contrato, imputável a título de culpa, causador de um dano injusto, patrimonial ou extrapatrimonial”. In casu, cumpre pontificar que a responsabilidade extracontratual (subjetiva), aplicada aos profissionais da saúde, se distingue da responsabilidade contratual (objetiva). Em síntese, na primeira, a responsabilidade pressupõe a comprovação de culpa, como fundamento para existência do dano indenização, enquanto que na segunda, a responsabilidade é pautada na teoria do risco, de modo que a reparação do dano prescinde de culpa, verificada a existência do dano e nexo de causalidade (GONÇALVES, 2018, p.18). Dessa forma, Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 328) ponderam que na responsabilidade extracontratual (subjetiva) cabe à vítima a demonstração de culpa do agente causador do dano, e na responsabilidade negocial, por outro lado, o descumprimento da obrigação é suficiente para presumir a responsabilidade do devedor, “a quem (diante da mera existência da relação contratual descumprida, fato que opera a favor do credor) cabe o ônus de provar a ausência de culpa”. No que se refere ainda, a distinção entre as duas modalidades de obrigação, Aguiar Junior 2000, p. 6) destaca: A diferença fundamental entre essas duas modalidades de responsabilidade está na carga da prova atribuída às partes; na responsabilidade contratual, ao autor da ação, lesado pelo descumprimento, basta provar a existência do contrato, o fato do inadimplemento e o dano, com o nexo de causalidade, incumbindo ao réu demonstrar que o dano decorreu de uma causa estranha a ele; na responsabilidade extracontratual ou delitual, o autor da ação deve provar, ainda, a imprudência, negligência ou imperícia do causador do dano (culpa), isentando-se o réu de responder pela indenização se o autor não se desincumbir desse ônus. Na prática, isso só tem significado com a outra distinção que se faz entre obrigação de resultado e obrigação de meios. Em que pese o entendimento quase unânime, acerca da natureza da responsabilidadecivil médica, como sendo subjetiva, Aguiar Júnior (2000, p. 7) argumenta que a responsabilidade deste profissional poderá ser contratual ou extracontratual. O doutrinador aponta neste segmento, hipóteses em que a responsabilidade do médico será extracontratual: Será igualmente extracontratual a relação da qual participa o médico servidor público, que atende em instituição obrigada a receber os segurados dos institutos de saúde 51 pública, e também o médico contratado pela empresa para prestar assistência a seus empregados. Nesses últimos casos, o atendimento é obrigatório, pressupondo uma relação primária de Direito Administrativo ou de Direito Civil entre o médico e a empresa ou o hospital público, e uma outra entre o empregado e a empresa, ou entre o segurado e a instituição de seguridade, mas não há contrato entre o médico e o paciente. Flávio Tartuce (2019, p. 877) tratando acerca da obrigação de meio e resultado, assumida pelos profissionais da saúde, infere que estes em regra, assumem obrigação de meio, caracterizando-se de resultado, somente quando envolver a atividade do médico-cirurgião plástico estético. Neste sentido, o autor retrata, que enquanto que a “obrigação de meio ou de diligência é aquela em que o devedor só é obrigado a empenhar-se para perseguir um resultado, mesmo que este não seja alcançado”, a obrigação de resultado, consiste naquela em que, “a prestação só é cumprida com a obtenção de um resultado, geralmente oferecido pelo devedor previamente”. Assim sendo, no atendimento médico, cuidando-se, no comum dos casos, de obrigações de meio (o profissional não se obriga a curar o paciente, mas a empregar diligência, cautela e conhecimento técnico postos ao alcance da ciência médica com vistas a curá-lo), o ônus probatório sempre incumbirá ao prejudicado. Da mesma forma, considerando-se a culpa extracontratual, a regra geral é atribuir à vítima o ônus da prova. (TEPEDINO, TERRA E GUEDES, 2021, p. 329). Em raciocínio similar, Aguiar Júnior (2000, p. 6) comenta a distinção entre as obrigações de meio e resultado: A obrigação é de meios quando o profissional assume prestar um serviço ao qual dedicará atenção, cuidado e diligência exigidos pelas circunstâncias, de acordo com o seu título, com os recursos de que dispõe e com o desenvolvimento atual da ciência, sem se comprometer com a obtenção de um certo resultado. O médico, normalmente, assume uma obrigação de meios. A obrigação será de resultado quando o devedor se comprometer a realizar um certo fim, como, por exemplo, transportar uma carga de um lugar a outro, ou consertar e pôr em funcionamento uma certa máquina (será de garantia se, além disso, ainda afirmar que o maquinário atingirá uma determinada produtividade). O médico a assume, por exemplo, quando se compromete a efetuar uma transfusão de sangue ou a realizar certa visita. Com relação aos pressupostos necessários para caracterização da Responsabilidade Civil extracontratual (subjetiva), e respectivo dever de indenizar, aplicável nas relações entre médico e paciente, Flavio Tartuce (2019, p. 515) frisa a inexistência de unanimidade doutrinária, apontando sob seu entendimento, quatro pressupostos essenciais: a conduta humana, a culpa genérica ou lato sensu, o nexo de causalidade e o dano ou prejuízo. 52 Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 44) entendem a existência de três elementos: ato culposo ou atividade objetivamente considerada, dano e nexo de causalidade. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p. 69) em sentido semelhante, apontam como pressupostos gerais da responsabilidade civil: “a) conduta humana (positiva ou negativa); b) dano ou prejuízo; c) o nexo de causalidade”, desconsiderando, todavia, a culpa como pressuposto geral, uma vez que é essencial tão somente no que tange a responsabilidade objetiva. No que toca ao elemento conduta humana, esta decorre de uma ação (conduta positiva) ou omissão (conduta negativa) voluntárias, por imprudência, negligência ou imperícia, caracterizada por dolo e culpa (TARTUCE, 2019, p. 516). O dano, imprescindível à configuração da responsabilidade civil, tanto objetiva ou subjetiva, é definido como “a lesão a um interesse jurídico tutelado — patrimonial ou não —, causado por ação ou omissão do sujeito infrator” (GAGLIANO, FILHO, 2019, p. 82). Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 23) define a relação de causalidade como o nexo causal entre a ação ou omissão do agente e o dano, de modo que, sem sua presença, inexiste a obrigação de indenizar. A culpa, é o elemento subjetivo da conduta dolosa ou culposa, essencial à formação do ato ilícito na responsabilidade subjetiva. Paulo Nader (2016, p. 277) leciona neste sentido, que o elemento culpa é essencial para a caracterização da responsabilidade civil, de modo que, não sendo a conduta do agente voluntária ou oriunda de negligência, imprudência ou imperícia, “não há de se falar em ato ilícito e, conseguintemente, em reparação de danos”. In casu, tanto na responsabilidade delitual, quanto na responsabilidade contratual derivada de uma obrigação de meios, cabe ao paciente o dever de demonstrar a existência de culpa do médico, por ato de imprudência, negligência ou imperícia. Em conclusão, havendo dano ao paciente, o médico responde subjetivamente, isto é, para ser responsabilizado civilmente sua culpa precisa ser comprovada. Além disso, em regra o médico possui obrigação de meio, pois sua atividade apenas exige que sejam empregados todos os recursos e técnicas possíveis em certa circunstância, sem que haja, entretanto, o compromisso com o alcance de determinado resultado. O termo médico, consoante o que dispõe o art. 6º, lei nº 12.842/2013, é a “denominação privativa do graduado em curso superior de Medicina reconhecido”. (BRASIL, 2013). 53 Como mencionado nos capítulos anteriores, os médicos são suscetíveis a erros no exercício da profissão, e, portanto, à ocorrência de danos à pacientes, podendo dessa forma, atingir tanto os direitos da personalidade, quanto os direitos de ordem patrimonial destes. O aumento dos litígios envolvendo o profissional e o paciente, se justifica pelo incremento de especialidades de risco e pela maior conscientização desses direitos da personalidade, de modo que, ocorrendo insucesso no tratamento ou intervenções cirúrgicas, e consequentemente danos ao paciente, procede este com o ajuizamento de ação indenizatória (NADER, 2016, p. 665). Paulo Nader (2016, p. 665 e 983) considera que a responsabilidade civil do médico com vistas a indenização por danos causados à saúde do paciente, é uma das que têm maior destaque em ações judiciais, apontando um conjunto de causas para o crescente número dessas ações de responsabilidade movidas contra médicos e hospitais: a) é inegável que os indivíduos, na atualidade, estão mais conscientes de seus direitos; b) a mídia, cumprindo o seu papel de informação, contribui para este fato; c) o acesso ao conhecimento especializado favorece a atitude crítica do paciente quanto aos métodos desenvolvidos pelo profissional; d) a deficiência do ensino nessa área é apontada como um dos fatores responsáveis por erros na atividade profissional; e) a massificação dos serviços, prestados muitas vezes por planos de saúde que não valorizam os profissionais, contribui para a prática de danos em pacientes; f) a facilidade de ingresso no judiciário, pelas portas amplas dos juizados especiais, é um estímulo adicional. In casu, a responsabilidade civil do médico é citada por grande parte dos doutrinadores, como sendo subjetiva, ou extracontratual. Dessarte, destaca-se, há autores que manifestam entendimento diverso. Como Aguiar Júnior (2000, p. 5), que defende que “a responsabilidade médica não obedece a um sistema unitário”, uma vez que poderia ser tanto contratual, quanto extracontratual. O autor argumenta nesta perspectiva, que a responsabilidade será contratual, quandohouver contrato estabelecido livremente entre paciente e profissional, ainda que de forma tácita, como ocorre nas relações da Medicina privada, em que o profissional que é escolhido, contratado e pago pelo cliente. Por outro lado, será extracontratual quando inexistir contrato, mas as “circunstâncias da vida” colocarem de frente médico e doente, “incumbindo àquele o dever de prestar assistência, como acontece no encontro de um ferido em plena via pública, ou na emergência de intervenção em favor de incapaz por idade ou doença mental” (AGUIAR JÚNIOR, 2000, p. 5). No que se refere aos elementos estruturantes da responsabilidade civil extracontratual, Maria Helena Diniz (2005, p. 42) aponta a imprescindibilidade de três elementos: a) existência 54 de uma ação, comissiva ou omissiva, qualificada juridicamente, isto é, que se apresenta como ato ilícito ou lícito, pois ao lado da culpa como fundamento da responsabilidade civil há o risco; b) ocorrência de um dano moral ou patrimonial causado à vítima; c) nexo de causalidade entre o dano e a ação, o que constitui o fato gerador da responsabilidade. Nesta perspectiva, Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra (2021, p. 241) mencionam que para configurar a responsabilidade do médico, é necessário investigar a existência de nexo causal entre o procedimento adotado pelo profissional (ato danoso), e o próprio dano suportado pelo paciente, sobretudo, tendo em vista, a existência de um prejuízo efetivo e presente, e ser a culpa elemento imprescindível para a responsabilização em análise. Abordando acerca da necessidade de prova na responsabilidade extracontratual ou delitual, Aguiar Júnior (2000, p. 6) ressalta que o autor da ação deve provar, além do dano e nexo de causalidade, a imprudência, negligência ou imperícia do agente (culpa), isentando-se o réu de responder pela indenização se o autor não se desincumbir desse ônus. In casu, o elemento culpa se caracteriza quando o agente causador do dano, neste caso o médico, pratica determinado ato ou procedimento de forma negligente, imprudente, ou imperita, nos termos do art. 186 do Código Civil de 2002. Assim, a conduta danosa do médico com relação ao paciente, constitui ato ilícito, o que por si só, garante a obrigação de indenizar ou reparar o dano conforme expressa o art. 927 do código civil. Como bem destaca Humberto Theodoro Júnior (2000, p. 119): Quando se trata de ação indenizatória fundada em erro médico, 'nenhum tipo de presunção é de admitir-se, cumprindo ao autor, ao contrário, o ônus de comprovar, de forma idônea e convincente, o nexo causal entre uma falha técnica, demonstrada in concreto, e o resultado danoso queixado pelo promovente da ação indenizatória. Este foi o entendimento adotado pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina, durante julgamento do recurso de apelação n. 0006057-33.2007.8.24.0135, que desproveu o apelo após verificar-se a ausência de conduta culposa dos médicos envolvidos: APELAÇÃO CÍVEL. ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS, ESTÉTICOS E PAGAMENTO DE PENSÃO MENSAL VITALÍCIA DECORRENTES DE SUPOSTO ERRO MÉDICO. LAUDO PERICIAL QUE NÃO DETECTOU ERRO NO PROCEDIMENTO ADOTADO PELO PROFISSIONAL E PELA EQUIPE MÉDICA DO HOSPITAL FLORIANÓPOLIS QUE REALIZOU PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS PARA TARTAMENTO DA SAÚDE DA PACIENTE. CONJUNTO PROBATÓRIO QUE DEMONSTRA A INOCORRÊNCIA DE ERRO MÉDICO OU FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO HOSPITALAR. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO 55 DE CONDUTA CULPOSA DOS REQUERIDOS. PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL NÃO CONFIGURADOS. NEXO CAUSAL NÃO DEMONSTRADO. AUSÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. "Quando se trata de ação indenizatória fundada em erro médico, 'nenhum tipo de presunção é de admitir-se, cumprindo ao autor, ao contrário, o ônus de comprovar, de forma idônea e convincente, o nexo causal entre uma falha técnica, demonstrada in concreto, e o resultado danoso queixado pelo promovente da ação indenizatória' (Humberto Theodoro Júnior, Direito e Medicina, Aspectos Jurídicos da Medicina, Ed. Del Rey, 2000, p.119/120)." (TJSC, Apelação Cível n. 0006324-24.2007.8.24.0064, de São José, rel. Des. Paulo Ricardo Bruschi). (TJSC, Apelação n. 0006057- 33.2007.8.24.0135, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Jaime Ramos, Terceira Câmara de Direito Público, j. 02-03-2021). No mesmo raciocino, destaca-se o recurso de apelação n 0300675-29.2014.8.24.0009, julgado pela Egrégia corte de Justiça Catarinense, o qual foi desprovido, diante da ausência de provas da conduta culposa do profissional da saúde: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS DECORRENTES DE ERRO MÉDICO. AUTORA QUE FOI SUBMETIDA A INTERVENÇÃO CIRÚRGICA PARA REMOÇÃO DE ESPORÃO NO PÉ ESQUERDO. ALEGAÇÃO DE QUE HOUVE CORTE DO TENDÃO FIBULAR CURTO, QUE RESULTOU EM LESÃO DEFINITIVA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. RECURSO DA AUTORA. ALEGAÇÃO DE QUE FICOU COMPROVADO O NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE O PROCEDIMENTO CIRÚRGICO E AS SEQUELAS QUE POSSUI. INCONSISTÊNCIA. PROVAS AMEALHADAS QUE NÃO INDICAM UMA RELAÇÃO CAUSAL ENTRE OS PROCEDIMENTOS E O ESTADO DE SAÚDE DA AUTORA. REALIZAÇÃO DE PERÍCIA MÉDICA. LAUDO PERICIAL CLARO E CONCLUSIVO NO SENTIDO DE QUE AS LESÕES NO PÉ ESQUERDO DA AUTORA PODEM SER DECORRENTES DE DIVERSOS FATORES. AUSÊNCIA DE PROVAS DE NEGLIGÊNCIA IMPRUDÊNCIA OU IMPERÍCIA DA PARTE DO PROFISSIONAL DA SAÚDE. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. Sem a demonstração do nexo causal entre a conduta do médico e o alegado dano, não fica configurada a responsabilidade civil e, portanto, não existe dever de indenizar. (TJSC, Apelação n. 0300675-29.2014.8.24.0009, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Saul Steil, Terceira Câmara de Direito Civil, j. 10-11-2020). No que se refere a responsabilidade civil objetiva, o Código de Defesa do Consumidor regula no art. 14, que os fornecedores de serviços respondem por danos independente de culpa. Todavia, com relação aos médicos, e serviços prestados por outros profissionais liberais, o §4º, do art. 14 do CDC, adota a responsabilidade subjetiva, tendo em vista o caráter intuitu personae dos serviços prestados pelos profissionais liberais. Paulo Nader (2019, p. 983) argumenta no ponto, que na relação entre o médico e paciente, estes ao procurá-los, já os conhecem e neles depositam a confiança, cabendo a estes a responsabilidade civil por eventuais danos. Nesse sentido foi o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que confirmou a sentença procedente em 1ª instancia, para condenar o médico réu ao pagamento de indenização por danos materiais, morais e estéticos, visto que demonstrada a obrigação de 56 resultado assumida pelo profissional, bem como a negligência e imperícia (culpa) no procedimento: APELAÇÕES. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA DECORRENTE DE ERRO MÉDICO. CIRURGIA ESTÉTICA NA REGIÃO DOS SUPERCÍLIOS. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. NEGLIGÊNCIA E IMPERÍCIA MÉDICA. FALHA NO DEVER DE INFORMAÇÃO. CICATRIZES APARENTES. DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS. AÇÃO PARCIALMENTE PROCEDENTE. SENTENÇA CONFIRMADA. 1. O Juiz não fica adstrito ao laudo pericial, devendo indicar na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do expert. Eventual contrariedade aos apontamentos do perito não enseja nulidade da decisão, desde que fundamentada, de forma suficiente, em outros elementos de convicção coligidos ao feito. Artigos 370, 371 e 479 do CPC. 2. Pretensão indenizatória pelos prejuízos sofridos em decorrência de falha na prestação de serviço médico em procedimento estético realizado pela demandada na autora, a saber: cirurgia na região dos supercílios para levantamento dos mesmos e consequentemente resolução da queixa de “pálpebras caídas”. 3. A responsabilidade civil do médico,na condição de profissional liberal, é regida pelo art. 14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor, ou seja, apurada mediante a verificação de culpa. Em se tratando de cirurgia estética, prevalece o entendimento no sentido de que a obrigação é de resultado, sendo a responsabilidade subjetiva, com culpa presumida, e com esta premissa deve ser examinada. 4. Hipótese em que o conjunto probatório carreado ao feito, além de não elidir a presunção de culpa na atuação da profissional médica, a confirma, inclusive com falha no dever de informação, a ensejar a responsabilidade da demandada pelo resultado insatisfatório reclamado pela autora. 5. Sentença que fixou indenização a título de danos materiais, morais e estéticos confirmada em grau recursal, inclusive nos montantes estabelecidos na origem. 6. Os juros moratórios sobre a indenização por danos morais, por se tratar de responsabilidade contratual, fluem da data da citação. RECURSOS DESPROVIDOS. UNÂNIME. (Apelação Cível, Nº 70083934158, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo Kraemer, Julgado em: 16-12- 2020). Data de Julgamento: 16-12-2020) Ademais, tocante a responsabilidade de resultado assumida por médicos em procedimentos cirúrgicos para fins estéticos, insta mencionar julgado do STJ, onde firmou-se que, ainda que a obrigação seja de resultado, não se permite a responsabilidade objetiva do profissional pelo insucesso da cirurgia, “mas mera presunção de culpa médica”: DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO. CIRURGIA PLÁSTICA. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. SUPERVENIÊNCIA DE PROCESSO ALÉRGICO. CASO FORTUITO. ROMPIMENTO DO NEXO DE CAUSALIDADE. 1. O requisito do prequestionamento é indispensável, por isso inviável a apreciação, em sede de recurso especial, de matéria sobre a qual não se pronunciou o Tribunal de origem, incidindo, por analogia, o óbice das Súmulas 282 e 356 do STF. 2. Em procedimento cirúrgico para fins estéticos, conquanto a obrigação seja de resultado, não se vislumbra responsabilidade objetiva pelo insucesso da cirurgia, mas mera presunção de culpa médica, o que importa a inversão do ônus da prova, cabendo ao profissional elidi-la de modo a exonerar-se da responsabilidade contratual pelos danos causados ao paciente, em razão do ato cirúrgico. 3. No caso, o Tribunal a quo concluiu que não houve advertência a paciente quanto aos riscos da cirurgia, e também que o médico não provou a ocorrência de caso fortuito, tudo a ensejar a aplicação da súmula 7/STJ, porque inviável a análise dos fatos e provas produzidas no âmbito do recurso especial. 4. Recurso especial não conhecido. 57 (REsp 985.888/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 16/02/2012, DJe 13/03/2012) Isto posto, apesar da responsabilidade subjetiva do médico, como prestador de serviço, no caso de danos causados à pacientes, o profissional sujeita-se outrossim ao disposto no art. 6º, VIII do Código de Defesa do Consumidor, que possibilita ao juiz a inversão do ônus da prova para facilitação da defesa do consumidor na hipótese de hipossuficiência deste. Salutar trazer à baila no ponto, entendimento consolidado no STJ, e adotado pelos tribunais de justiça: Em relação à aplicação do Código de Defesa do Consumidor e à inversão do ônus probatório, embora não tenha sido expressamente contemplada no CPC, uma interpretação sistemática da nossa legislação, inclusive do Código de Defesa do Consumidor (art. 6º, VIII) e da Constituição Federal, confere ampla legitimidade à aplicação da teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova, segundo a qual esse ônus recai sobre quem tiver melhores condições de produzir a prova, conforme as circunstâncias fáticas de cada caso, tudo nos termos de consolidado entendimento do STJ [...]. A inversão do ônus da prova não é regra estática de julgamento, mas norma dinâmica de procedimento/instrução" (STJ, REsp 1806813/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Data de Julgamento:15/08/2019, T2 – SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/09/2019). Assim decidiu o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, ao desprover agravo de instrumento interposto contra decisão que inverteu o ônus da prova, com fulcro no art. 6º, VIII do CDC: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO FUNDADA EM RESPONSABILIDADE CIVIL HOSPITALAR POR ERRO DE DIAGNÓSTICO DE PACIENTE ACOMETIDO POR MENINGITE. DEMANDA AJUIZADA CONTRA O ESTABELECIMENTO EM QUE SE DEU A INTERNAÇÃO E O PROFISSIONAL RESPONSÁVEL PELO PRIMEIRO ATENDIMENTO. DECISÃO QUE INVERTEU O ÔNUS DA PROVA EM RELAÇÃO AO NOSOCÔMIO DEMANDADO. IRRESIGNAÇÃO DO HOSPITAL. ALEGAÇÃO DE QUE A DECISÃO IMPUGNADA ESTABELECEU, EQUIVOCADAMENTE, COMO PREMISSA EXCLUSIVA, A RESPONSABILIDADE OBJETIVA, DESPREZANDO A NECESSIDADE DE ANÁLISE DA CULPA DO MÉDICO ASSISTENTE. INTERLOCUTÓRIO QUE NITIDAMENTE DISTINGUE A RESPONSABILIDADE HOSPITALAR POR DEFEITOS DE SERVIÇO E DECORRENTE DE ATO MÉDICO CULPOSO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CABIMENTO NA ESPÉCIE. ART. 6º, INCISO VIII, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES E HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA DO AUTOR, EM RELAÇÃO AO RECORRENTE, BEM DEMONSTRADAS. DECISÃO MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC, Agravo de Instrumento n. 4017790- 90.2017.8.24.0000, de Itá, rel. Stanley da Silva Braga, Sexta Câmara de Direito Civil, j. 08-10-2019). Importa mencionar, todavia, que nem todo serviço executado na área médica é realizado por profissionais liberais, que desenvolvem sua profissão sem subordinação ou ordem de terceiros. 58 Há dessa forma, hipóteses em que o médico prestará o serviço dentro de hospitais ou clinicas particulares, conquanto, subordinados à terceiros, como exceção ao disposto no referido § 4º do art. 14 do CDC. Os doutrinadores Gustavo Tepedino, Gisela Sampaio da Cruz Guedes, Aline de Miranda Terra, (2021, p. 328), consideram neste caso, que a responsabilidade contratual do médico no atendimento privado, não exclui, a responsabilidade extracontratual do profissional, quando o dano por ele provocado decorrer de “atos extracontratuais inerentes à atividade médica”, “como ausência de socorro, atestados falsos, lições equivocadas proferidas em conferências ou em obras escritas etc.” Destaca-se, neste caso, julgado do TJSC APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS CUMULADA COM PENSÃO VITALÍCIA. COMPENSAÇÃO DECORRENTE DE ERRO MÉDICO. RUPTURA UTERINA DURANTE TRABALHO DE PARTO. ÓBITO DA PARTURIENTE E DO RECÉM-NASCIDO. AÇÃO AJUIZADA CONTRA O MÉDICO, QUE PRESTOU ATENDIMENTO, E O HOSPITAL. PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO. RECURSO DO NOSOCÔMIO. PROVA TESTEMUNHAL QUE ATESTA A DEMORA NA REALIZAÇÃO DA CESÁRIA APÓS A INTERCORRÊNCIA DE RUPTURA UTERINA. PARTURIENTE QUE ESPEROU POR 20 MINUTOS PELA ABERTURA DO CENTRO CIRÚRGICO. HOSPITAL QUE MANTINHA TRANCADA A SALA DE CIRURGIA. ESPERA QUE SE MOSTROU DETERMINANTE PARA O DESFECHO TRÁGICO. LAUDO PERICIAL QUE CORROBORA A AFIRMAÇÃO DE QUE A DEMORA NA REALIZAÇÃO DA CESARIANA COLABOROU PARA O INSUCESSO DO PROCEDIMENTO E ÓBITO DA PARTURIENTE. CONJUNTO PROBATÓRIO QUE DENOTA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO PELO HOSPITAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO NOSOCÔMIO. DEVER DE INDENIZAR. PRETENSÃO DE REDUÇÃO DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS FIXADA EM R$ 75.000,00 (SETENTA E CINCO MIL REAIS) PARA CADA UM DOS TRÊS AUTORES, ESPOSO E FILHOS DA PARTURIENTE. INDENIZAÇÃO FIXADA DE ACORDO COM OS CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE DA PROPORCIONALIDADE. PENSÃO MENSAL. VERBA DEVIDA AOS FILHOS DA PARTURIENTE, MENORES À ÉPOCA DOS FATOS. PENSIONAMENTO FIXADO EM 2/3 DO SALÁRIO MÍNIMO. TERMO FINAL 25 ANOS DE IDADE. [...] (TJSC, Apelação n. 0004319-45.2011.8.24.0078, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Saul Steil, Terceira Câmara de Direito Civil, j. 24-11-2020). Observa-se, todavia, que a jurisprudência reconhece a hipótese de responsabilidade subjetiva aplicada tanto ao profissional médico responsável pelo dano, quanto à clínica, à luz do §4º doart. 14 do CDC: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS DECORRENTES DE SUPOSTO ERRO MÉDICO. DEMANDA PROPOSTA CONTRA O MÉDICO E A CLÍNICA. PROCEDIMENTO ENDOSCÓPICO PARA RESOLUÇÃO DE DIVERTÍCULO DE ZENKER NO ESÔFAGO. OCORRÊNCIA DE PERTUITO (MICROPERFURAÇÃO). REALIZAÇÃO POSTERIOR DE CIRURGIA ABERTA, POR MÉDICO E HOSPITAL DISTINTOS, QUE RESULTOU EM FÍSTULA. [...]. APLICABILIDADE DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA. 59 VULNERABILIDADE TÉCNICA DA AUTORA PERANTE O PROFISSIONAL DE MEDICINA E A CLÍNICA. INTELIGÊNCIA DO ART. 6º, VIII, DO CDC. MÉRITO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA, TANTO DO MÉDICO QUANTO DA CLÍNICA, À ÓTICA DO ART. 14, § 4º, CDC. "A responsabilidade dos hospitais, no que tange à atuação dos médicos que neles trabalham ou são ligados por convênio, é subjetiva, dependendo da demonstração da culpa. Não se pode excluir a culpa do médico e responsabilizar objetivamente o hospital. A responsabilidade objetiva para o prestador do serviço prevista no art. 14 do CDC, no caso o hospital, limita-se aos serviços relacionados ao estabelecimento empresarial, tais como à estadia do paciente (internação), instalações, equipamentos e serviços auxiliares (enfermagem, exames, radiologia)". (AgRgREsp n. 1.385.734, Min. Luis Felipe Salomão; AgRgAgREsp n. 805.129, Min. João Otávio de Noronha) [...] (TJSC, Apelação Cível n. 0000646-35.2003.8.24.0010, de Braco do Norte, rel. Selso de Oliveira, Quarta Câmara de Direito Civil, j. 19-11-2018). In casu, destaca-se entendimento do STJ, quanto a responsabilidade civil dos médicos por danos aos pacientes, dentro de hospitais: A responsabilidade dos hospitais, no que tange à atuação dos médicos que neles trabalham ou são ligados por convênio, é subjetiva, dependendo da demonstração da culpa. Não se pode excluir a culpa do médico e responsabilizar objetivamente o hospital. A responsabilidade objetiva para o prestador do serviço prevista no art. 14 do CDC, no caso o hospital, limita-se aos serviços relacionados ao estabelecimento empresarial, tais como à estadia do paciente (internação), instalações, equipamentos e serviços auxiliares (enfermagem, exames, radiologia)". (AgRgREsp n. 1.385.734 SC, Min. Luis Felipe Salomão; AgRgAgREsp n. 805.129, Min. João Otávio de Noronha. DJe: 23/04/2021). No tocante a hipótese envolvendo pacientes que se recusem à intervenção cirúrgica por convicções religiosas, como no caso de risco de vida e necessidade de transfusão de sangue, há de ser feita uma ponderação para análise da responsabilidade civil, posto que a questão confronta de um lado, o direito à vida garantido no art. 1.º, inc. III, da CF/1988, e de outro, o direito à liberdade de crença disposto no art. 5.º, inc. VI da Constituição Federal. Dessarte, nestes casos, entende-se que o direito à vida prevalece sobre a liberdade religiosa, de forma a permitir ao médico que realize os procedimentos necessários para proteção da vida do paciente, ainda que contrários a determinada crença pessoal, excluindo-se conquanto, qualquer possibilidade de responsabilidade civil do médico, e eventual ação indenização proposta (TARTUCE, 2019, p. 43). Crucial apontar neste passo, entendimento consolidados na jurisprudência brasileira: Indenizatória. Reparação de danos. Testemunha de Jeová. Recebimento de transfusão de sangue quando de sua internação. Convicções religiosas que não podem prevalecer perante o bem maior tutelado pela Constituição Federal que é a vida. Conduta dos médicos, por outro lado, que se pautou dentro da Lei e ética profissional, posto que somente efetuaram as transfusões sanguíneas após esgotados todos os tratamentos alternativos. Inexistência, ademais, de recusa expressa a receber transfusão de sangue quando da internação da autora. Ressarcimento, por outro lado, de despesas efetuadas com exames médicos, entre outras, que não merece acolhida, posto não terem sido os valores despendidos pela apelante. Recurso não provido” (TJSP, Acórdão 123.430- 4/Sorocaba, 3.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Flavio Pinheiro, j. 07.05.2002). 60 No tocante a reparação do dano causado pelo agente, Carlos Alberto Bittar (1990, p. 3) observa que: (...) a reparação representa meio indireto de devolver-se o equilíbrio às relações privadas, obrigando-se o responsável a agir, ou a dispor de seu patrimônio para a satisfação dos direitos do prejudicado. Já a pena corresponde à submissão pessoal e física do agente, para restauração da normalidade social violada com o delito. Dessa forma, se o médico atua culposamente em determinado procedimento ou conduta, contribuindo para o resultado danoso ao cliente, responderá pelo ilícito causado, sem prejuízo da responsabilidade de todos aqueles que tenham concorrido para o dano. Em suma, considerando-se que em caso de danos sofridos por pacientes, decorrente da conduta médica, a responsabilidade civil aplicável é de natureza extracontratual (subjetiva), deve-se proceder a verificação da culpa do profissional, ou seja, investigar se o dano decorreu diretamente da conduta dolosa ou culposa do médico, ou se a mesma contribuiu de alguma forma para o resultado danoso. 61 5 CONCLUSÃO A presente monografia pretendeu verificar a responsabilidade civil dos médicos por danos causados aos pacientes em hospitais particulares. Para tanto, buscou primeiramente compreender o instituto da responsabilidade civil, abordando o conceito, pressupostos e espécies da responsabilidade civil. Continuamente, foi necessário debater os aspectos norteadores da atividade médica, como os direitos médicos, deveres médicos, danos decorrentes da atividade médica e ética médica. Por fim, foi abordada a responsabilidade civil dos médicos e hospitais particulares por danos causados aos pacientes, apresentando outrossim a natureza jurídica e pressupostos da responsabilidade civil médica. In casu, inicialmente foi possível compreender que a responsabilidade civil pretende de modo geral restabelecer o estado moral ou econômico, que a vítima possuía antes do dano, através da indenização pecuniária devida pelo agente responsável. Da mesma forma, verificou se, que para a caracterização do dever de indenizar é necessário a presença da conduta do agente (comissiva ou omissiva), do nexo de causalidade, do dano causado e ainda da culpa – quando se tratar de responsabilidade subjetiva. Igualmente, esclareceu-se a distinção entre responsabilidade civil contratual (objetiva) e extracontratual (subjetiva), possibilitando entender que enquanto a primeira decorre da violação de deveres impostos no âmbito de contrato ou outra espécie de negócio jurídico, a segunda surge com a violação de lei ou princípio jurídico. Não obstante, aos médicos incumbe tratar o paciente com zelo, utilizando-se dos recursos adequados e disponíveis para o tratamento e cura do paciente, em observância a todas condições éticas, morais, religiosas e princípios fundamentais da humanidade. Nesta perspectiva, o médico deve ter sua conduta voltada para o Código de Ética médica, cumprindo assim com todos deveres e princípios inerentes a atuação profissional. Isto posto, no que se refere a questão central do trabalho, é possível concluir que a responsabilidade civil atribuída aos médicos por danos causados em hospitais particulares é de natureza extracontratual (subjetiva), sendo imprescindível a verificação da culpa do profissional, de modo a investigar se o dano decorreu diretamente da conduta dolosa ou culposa do médico. Nesta acepção, atuando o médico culposamente, seja de forma imprudente, negligente ou imperita em determinado procedimento ou conduta, e ocorrendo por consequência qualquer dano ao paciente, será o profissional responsabilizado pelo ilícito causado. 62 Por outro lado, no que se refere a responsabilidade civil do hospital, observou-se que esta será em regra objetiva, conquanto os danos sofridos por pacientes nas dependências do estabelecimento estiverem atrelados a estruturada clínica, equipamentos e serviços como internação, de modo que, prescinde de comprovação de culpa, sendo necessária, todavia, a demonstração do nexo de causalidade entre o dano e a conduta da instituição médica. Conclui-se com este trabalho realizado, que enquanto o médico responde por atos ou procedimentos praticados somente quando comprovada a culpa, no caso subjetivamente, o hospital particular responde independente da culpa, isto é, objetivamente, podendo da mesma forma ser responsável solidariamente por danos causados pelos médicos nas dependências do estabelecimento. Convém destacar a importância do tema debatido ao longo do trabalho, sobretudo porque a responsabilidade civil médica tem se revelado cada vez mais presente na sociedade, nos litígios modernos e debates entre operadores do direito, sendo cada vez mais incluída nas áreas de atuação de diversos escritórios de advocacia, e, grades de especialização. Percebeu-se neste contexto, em analise às jurisprudências brasileiras, doutrinas e artigos jurídicos, infelizmente, um expressivo número de casos de erros médicos e danos sofridos por pacientes em hospitais particulares. Demonstra-se, portanto, fundamental entender de que forma se opera o instituto da responsabilidade civil, diante dos danos decorrentes da atividade médica. Verifica-se, por fim, que a presente pesquisa foi conclusiva, permitindo encontrar a resposta para o questionamento central, e esclarecer a responsabilidade civil dos médicos e hospitais particulares diante de danos causados à pacientes decorrentes de procedimentos e serviços médicos. 63 REFERÊNCIA AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do médico. In: Direito e medicina: aspectos jurídicos da Medicina, Belo Horizonte: Del Rey, 2000. AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso de direito civil: teoria geral das obrigações e responsabilidade civil. 13. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 02 mar. 2021. BRASIL. 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