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Capas de diversas edições, em diferentes idiomas, de Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. DE VOLTA AO QUARTO DE DESPEJO E ÀS CIÊNCIAS HUMANAS A publicação de Quarto de despejo foi pioneira no mercado editorial, ampliando a inspiração na vida cotidiana de pessoas comuns também para a área da lingua- gem. Até então, havia publicações biográ- ficas com atualização ou correção segundo a norma-padrão, bem como biografias em que o biografado contava sua história a um escritor contratado. O texto de Carolina de Jesus contém erros gramaticais e ortográficos, quando se leva em conta a norma-padrão da língua portuguesa, e foi um sucesso de crítica por sua qualidade literária e veracidade, sendo traduzido para diversos idiomas. A autora publicou outros livros, mas nenhum teve o mesmo sucesso, embora sejam importantes e contribuam nas análises em Ciências Humanas. L I T ERATURA COMO FONTE DE PESQUISA C I ENT Í F ICA Como vimos, a literatura pode ser fonte de pesquisa científica nas diversas áreas das Ciências Humanas, por ser uma das manifestações mais antigas e centrais da experiência humana e em sociedade. Na Antiguidade e em sociedades ágrafas era por meio de aedos e griots, por exemplo, que mitos, tradições e experiências eram passados de geração em geração. Tais manifestações, em muitos aspectos consideradas literárias, são fontes ricas para pesquisa na área de Antropologia e para a compreensão das relações entre os grupos. Além disso, ao retratar costumes e paisagens naturais de determinadas regiões, como as obras de José Lins do Rego e Érico Veríssimo, temos um para- lelo para o estudo da Geografia física e humana, já que dados importantes sobre relevo, ocupação espacial e distribuição populacional podem ser analisados. A literatura também é a expressão articulada das visões de mundo de diver- sas classes e grupos sociais, servindo de terreno fértil para sua expressão e disseminação. Foi por meio dela, por exemplo, que as classes dirigentes traba- lharam na formação de um conceito de nação, com ideias, costumes e língua comuns, o que, como se sabe, difere da realidade, já que há diversas línguas e costumes indígenas em nosso território, por exemplo. Com base em suas características, temas e assuntos, a literatura de um país for- nece material rico para o estudo da História, por meio de relatos de acontecimentos importantes, como guerras, migrações forçadas, violência, etc. Além disso, a litera- tura também fornece material à Sociologia, por dar pistas da organização social de determinado grupo, suas estruturas, tipos de interação e formas de poder. No entanto, ao analisarmos uma obra como expressão literária, não devemos dar um caráter histórico ou buscar uma lógica social em sua composição. Cada área deve ocupar seu lugar. Reprodução/Arquivo da editora 127 V1_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap5_108a129_LA.indd 127V1_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap5_108a129_LA.indd 127 9/18/20 2:39 PM9/18/20 2:39 PM R O T E I R O D E E S T U D O S 1 Apesar da importância das obras Ilíada e Odisseia para a literatura ocidental, não há um consenso em relação à época de criação delas nem se Homero, considerado o autor de ambas, existiu de fato ou se os poemas foram compilados por vários autores. Além disso, não se tem certeza se essas obras são prove- nientes do universo oral ou escrito. Leia o texto, com alguns argumentos que buscam justificar por que os poemas homéricos foram inicial- mente criados dentro da tradição oral. Homero como poesia oral tradicional A trajetória dos estudos homéricos foi redefinida [...] com os trabalhos de Milman Parry e Albert Lord. A partir do final dos anos 20 do século XX, Parry começa a publicar seus estudos sobre o estilo de Homero, primeiramente, com uma investigação sobre a estrutura métrica e o uso de adje- tivos qualificando nomes de heróis e deuses, os epítetos que classificava como “ornamentais”. [...] A unidade básica da técnica de composição oral tradicional é a fórmula, definida como “um grupo de palavras usado regularmente sob as mesmas condições métricas para expressar uma dada ideia essencial”. [...] FRADE, Gustavo. Homero e a questão homérica. Em Tese. Belo Horizonte, v. 23, n. 3, set.-dez. 2017. Com base no texto e no que você estudou sobre a tradição oral, responda: a) Qual a importância da tradição oral para as sociedades sem escrita? Além dos gregos antigos, que outros povos se utilizaram ou ainda se utilizam da oralidade? b) Como a tradição oral contribui para o trabalho dos historiadores? 2 Leia o texto a seguir e observe a pintura de Pedro Américo, artista do Romantismo. Romantismo, na verdade, não produziu um estilo de arte definido, uma vez que os românticos valo- rizavam uma expressão pessoal [...]. Este é o momento em que o artista passa a poder escolher e a definir seu tema. Poderia ser desde um poema, a um fato histórico, uma paisagem, ou ainda algo que somente ele visualizava em sua imagina- ção, onírico, fantástico, não tendo ainda correspondência no mundo real. FERREIRA, Walquíria Fortunato. Romantismo: possíveis reverberações na arte contemporânea. Universidade de Brasília, 2014. Independência ou morte!, de Pedro Américo, 1888 (óleo sobre tela, 415 cm 3 760 cm). Reprodução/Museu Paulista da USP, São Paulo, SP a) Analise a imagem e indique qual fato histórico ela representa. b) Com base no texto e em seus conhecimentos, explique por que é possível caracterizar essa pintura dentro do estilo romântico. 128 V1_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap5_108a129_LA.indd 128V1_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap5_108a129_LA.indd 128 9/18/20 2:39 PM9/18/20 2:39 PM