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Psicanálise e Processos de Subjetivação

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Fabiano Neves

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Subjetivação
Prof.ª Allyne Evellyn Freitas Gomes 
Prof. Bruno Stramandinoli Moreno 
Prof. Reynaldo de Azevedo Gosmão
PSicanáliSe e 
ProceSSoS de
Indaial – 2021
1a Edição
Impresso por:
Elaboração:
Prof.ª Allyne Evellyn Freitas Gomes 
Prof. Bruno Stramandinoli Moreno 
Prof. Reynaldo de Azevedo Gosmão
Copyright © UNIASSELVI 2022
 Revisão, Diagramação e Produção:
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
G633p
Gomes, Allyne Evellyn Freitas
Psicanálise e processos de subjetivação. / Allyne Evellyn Freitas 
Gomes; Bruno Stramandinoli Moreno; Reynaldo de Azevedo Gosmão. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2021
165 p.; il.
ISBN 978-65-5663-874-4
ISBN Digital 978-65-5663-871-3
1. Teorias psicanalíticas. - Brasil. I. Gomes, Allyne Evellyn Freitas. 
II. Moreno, Bruno Stramandinoli. III. Gosmão, Reynaldo de Azevedo. IV. Centro 
Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 150
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Psicanálise e Processos de 
Subjetivação. Convidamos vocês para a leitura, o estudo e a inserção nas teorias psica-
nalíticas referentes ao tema. Serão momentos de conhecimentos e produção de con-
teúdo, discussões de aspectos práticos e casos clínicos que elucidam a intervenção 
da clínica psicanalítica no tratamento das psicopatologias. Teremos a possibilidade de 
abordar diferentes aspectos que constituem a teoria e a técnica psicanalítica. 
 
Na Unidade 1, abordaremos os aspectos epistemológicos e históricos da Psica-
nálise, com o intuito de compreendermos como se deu a emergência desta a partir dos 
estudos de Sigmund Freud e seus colaboradores. Além disso, teremos contato com as 
bases epistemológicas que foram se consolidando no processo histórico e como elas 
influenciaram os estudos e métodos de Freud. Bem como percorreremos por uma breve 
historiografia do pai da psicanálise e a historicidade desta não só no cenário europeu, 
berço de Freud, como no cenário nacional. Iremos também refletir sobre a psicanálise 
no contexto atual e a suposta crise enfrentada por esta quanto à sua adesão teórica e 
metodológica na prática dos consultórios.
 
Em seguida, na Unidade 2, estudaremos a abordagem metapsicológica de 
Freud e como essa se constitui, de que forma ela influencia na teoria e clínica psicana-
lítica desde sua emergência até a atualidade. Iremos identificar como outros teóricos 
pós-freudianos fizeram uso de sua metapsicologia e de referências tanto conceituais 
como metodológicas, conferindo uma outra roupagem para a psicanálise.
 
Por fim, na Unidade 3, aprenderemos como a psicanálise está implicada nos 
modos de subjetivação do sujeito moderno e do sujeito contemporâneo. Poderemos, 
então, identificar melhor e compreender os modos de produção do subjetivo ao olhar da 
psicanálise freudiana e de outros autores contemporâneos. Iremos refletir e problema-
tizar os modos de subjetivação contemporâneos e a influência destes na constituição 
do sujeito e seus sintomas. Acreditamos que serão momentos de muito aprendizado 
pelo universo da psicanálise.
Bons estudos!
Prof.ª Allyne Evellyn Freitas Gomes 
Prof. Bruno Stramandinoli Moreno 
Prof. Reynaldo de Azevedo Gosmão
APRESENTAÇÃO
GIO
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – 
e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR 
Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite 
que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, 
é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
QR CODE
SUMÁRIO
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E EPISTEMOLÓGICOS DA 
PSICANÁLISE ....................................................................................1
TÓPICO 1 — A PSICANÁLISE E SEUS ASPECTOS EPISTEMOLÓGICOS ................ 3 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2 ASPECTOS EPISTEMOLÓGICOS DA PSICANÁLISE ...........................................4
2.1 O QUE É EPISTEMOLOGIA? .................................................................................................5
2.2 AS VERTENTES EPISTEMOLÓGICAS NO CONTEXTO HISTÓRICO ............................6
3 A EPISTEMOLOGIA NA PSICANÁLISE ................................................................ 9
RESUMO DO TÓPICO 1 ...........................................................................................17
AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 18
TÓPICO 2 — FREUD: O PAI DA PSICANÁLISE E SUA HISTÓRIA .......................... 21
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 21
2 FREUD: O PAI DA PSICANÁLISE ........................................................................ 21
2.1 FREUD: UMA BREVE BIOGRAFIA ................................................................................... 22
2.1.1 Alguns fatos sobre Sigmund Freud ......................................................................22
3 A HISTÓRIA DA PSICANÁLISE: O MOVIMENTO PSICANALÍTICO ....................23
3.1 CASOS CLÍNICOS CLÁSSICOS DA EMERGÊNCIA EM PSICANÁLISE ..................... 26
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................... 31
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................32
TÓPICO 3 — A HISTÓRIA DA PSICANÁLISE NO BRASIL ......................................33
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................33
2 O BRASIL E A PSICANÁLISE ..............................................................................33
2.1 A EMERGÊNCIA DA PSICANÁLISE NO BRASIL ........................................................... 33
3 A INSERÇÃO DA PSICANÁLISE NO CONTEXTO NACIONAL ATUAL ................36
3.1 A PSICANÁLISE COMO CIÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE ................................. 36
3.2 HÁ UMA CRISE NA PSICANÁLISE? ..............................................................................38
LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................. 41
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................... 47
AUTOATIVIDADE .................................................................................................. 48
REFERÊNCIAS .......................................................................................................49
UNIDADE 2 — A METAPSICOLOGIA FREUDIANA .................................................53
TÓPICO 1 — A METAPSICOLOGIA: O QUE É? ........................................................55
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................55
2 A METAPSICOLOGIA COMO UMA PSICOLOGIA METAFÍSICA ..........................56
2.1 A PSICOLOGIA A PARTIR DOS FATOS CLÍNICOS ..........................................................57 
2.2 A METAPISCOLOGIA FREUDIANA E SUA CONDIÇÃO DINÂMICA DE ANÁLISE ...... 62
2.3 FREUD E SUA PERSPECTIVA NADA “MECÂNICA” ....................................................64
3 AS VERTENTES DA PSICOLOGIA E A METAPSICOLOGIA ................................66
3.1 LIMITES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA METAPSICOLOGIA FREUDIANA ............68
RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................70
AUTOATIVIDADE ....................................................................................................71
TÓPICO 2 — A METAPSICOLOGIA DA PSICANÁLISE FREUDIANA ..................... 73 
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 73
2 A METAPSICOLOGIA DE FREUD E SUAS IMPLICAÇÕES NA PSICANÁLISE ...... 74
2.1 A NOÇÃO DE QUANTIDADE (Q) ........................................................................................76
2.2 PRINCÍPIO DA INÉRCIA NEURÔNICA E O PRINCÍPIO DA CONSTÂNCIA ................ 78
2.3 OS NEURÔNIOS Φ (phi), Ψ (psi) e ω (ômega) ..............................................................79
2.4 A EXPERIÊNCIA DA SATISFAÇÃO E A EXPERIÊNCIA DA DOR ................................82
3 A METAPSICOLOGIA FREUDIANA E O FUNCIONAMENTO PSÍQUICO .............83
3.1 POR UMA DEFINIÇÃO DE INCONSCIENTE ...................................................................84
3.2 DO PONTO DE VISTA SISTEMÁTICO .............................................................................86
3.3 DO PONTO DE VISTA DINÂMICO ....................................................................................88
3.4 DO PONTO DE VISTA ECONÔMICO ...............................................................................90
3.5 DO PONTO DE VISTA ÉTICO ...........................................................................................90
RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................92
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................93
TÓPICO 3 — CONTRIBUIÇÕES DA METAPSICOLOGIA PSICANALÍTICA 
PARA A CLÍNICA CONTEMPORÂNEA ...............................................95
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................95
2 O MÉTODO FREUDIANO NA CLÍNICA PSICANALÍTICA ....................................95
2.1 TRÊS POLOS DO PRAZER: NECESSIDADE, DESEJO E AMOR .................................98
2.2 A EMERGÊNCIA DO “EGO” ...............................................................................................98
2.3 OS PROCESSOS PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO ............................................................ 100
3 A CLÍNICA PSICANALÍTICA CONTEMPORÂNEA ............................................ 101
3.1 A INTERPRETAÇÂO DOS SONHOS ............................................................................... 103
3.2 O SIMBOLISMO E SIGNIFICANTES NOS SONHOS .................................................... 104
3.3 ALGUMAS CONSIDERAÇÔES SOBRE A METAPSICOLOGIA FREUDIANA ........... 105
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................106
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................108
AUTOATIVIDADE .................................................................................................109
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 111
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO ............................................... 113
TÓPICO 1 — A PSICANÁLISE FREUDIANA E OS PROCESSOS DE 
SUBJETIVAÇÃO ...............................................................................115
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................115
2 A PSICANÁLISE DE FREUD E OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO ..............115
3 O QUE SERIAM PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO? ........................................117
4 OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO NA PSICANÁLISE FREUDIANA .......... 122
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 126
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 127
TÓPICO 2 — OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO NA PSICANÁLISE 
PARA ALÉM DE FREUD ................................................................... 129
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 129
2 OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO NA PSICANÁLISE PÓS-FREUDIANA ..... 129
3 OS DIFERENTES TEÓRICOS DA PSICANÁLISE PÓS FREUD..........................134
4 OS PROCESSOS SUBJETIVOS NAS DIFERENTES VERTENTES DA 
PSICANÁLISE ................................................................................................... 137
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................140
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 141
TÓPICO 3 — OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E O CONTEXTO 
CONTEMPORÂNEO DO TRABALHO DO PSICANALISTA ...............143 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................143
2 OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E O CONTEXTO ATUAL DO 
TRABALHO DO PSICANALISTA .......................................................................143
3 VISÃO CONTEMPORÂNEA DA PSICANÁLISE .................................................149
4 ATUAÇÕES DO PSICANALISTA NO CONTEXTO CLÍNICO E SOCIAL ...............151
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 156
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................160AUTOATIVIDADE ..................................................................................................161
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 163
1
UNIDADE 1 — 
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS 
E EPISTEMOLÓGICOS DA 
PSICANÁLISE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 identificar	a	emergência	da	psicanálise	no	contexto	histórico;
•	 compreender	a	epistemologia	da	teoria	e	clínica	psicanalítica;
•	 reconhecer	a	importância	do	movimento	psicanalítico	no	contexto	mundial	e	nacional;
•	 identificar	os	meios	de	inserção	da	psicanálise	no	contexto	atual	quanto	ao	trabalho	
em	saúde	mental.
	 A	cada	tópico	desta	unidade	você	encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	
reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO 1 – A PSICANÁLISE E SEUS ASPECTOS EPISTEMOLÓGICOS 
TÓPICO 2 – FREUD: O PAI DA PSICANÁLISE E SUA HISTÓRIA
TÓPICO 3 – A HISTÓRIA DA PSICANÁLISE NO BRASIL
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
A PSICANÁLISE E SEUS ASPECTOS 
EPISTEMOLÓGICOS
TÓPICO 1 — UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	neste	momento,	iremos	estudar	a	psicanálise	em	sua	constituição	
como	ciência	e	seu	processo	para	tal.	Isto	é,	como	ocorreu	a	inserção	da	psicanálise	no	
contexto	histórico	da	época	e	quais	são	os	pontos	relevantes	da	emergência	e	do	avanço	
dessa	forma	de	ver	e	intervir	sobre	o	sofrimento	humano,	bem	como	a	constituição	de	
nossa	vida	psíquica	e	subjetiva	dentro	de	um	contexto	sociocultural.	
Para compreendermos a construção de um saber científico, 
também é necessário sabermos quem são os filósofos e autores 
das diversas linhas de pensamento que constituem o arcabouço 
teórico e metodológico da construção do conhecimento de uma 
determinada ciência. 
ATENÇÃO
A	psicanálise	freudiana,	nascida	da	experiência	inaugural	de	Freud	(1856-1939)	
no	atendimento	às	“histéricas”,	por	volta	de	1900,	inaugura	um	novo	modelo	de	prática	
clínica,	no	qual	as	pacientes	têm	voz	sobre	si	mesmas,	sobre	o	que	lhes	angustia.	Assim,	
o	saber	médico	tradicional	passa	a	ser	questionado,	inclusive	o	próprio	Sigmund	Freud	
precisará	vivenciar	uma	revolução	epistemológica,	como	veremos	na	próxima	unidade.
Produto	de	seu	tempo	e	dos	saberes	que	atravessam	sua	época,	a	psicanálise	
freudiana	recebeu	as	mais	diversas	 interferências	das	artes,	da	filosofia,	da	 literatura	e	
da	música.	Temos,	então,	uma	ciência	epistemologicamente	transdisciplinar,	que	por	
meio	do	entrecruzamento	dos	mais	diversos	saberes	buscará	compreender	um	objeto	de	
estudo	até	então	não	estudado	cientificamente:	o	inconsciente	humano.	Não	podemos	
atribuir	a	Sigmund	Freud	o	estatuto	de	descoberta	do	inconsciente,	tal	conceito	já	existia	
anteriormente,	porém,	podemos	afirmar	que	coube	a	ele	estabelecer	uma	metodologia 
de	investigação	e	intervenção	sobre	o	inconsciente	humano.	Tal	metodologia	só	é	possí-
vel	graças	aos	embasamentos epistemológicos que	conheceremos	adiante.
 
4
A	pertinência	de	abordar	os	aspectos	epistemológicos,	desde	o	que	se	configu-
ra	como	epistemologia	enquanto	campo	de	saber	da	filosofia,	nos	ajuda	a	contextualizar	
e	localizar	melhor	o	advento	da	psicanálise	e	seus	objetivos,	sua	visão	de	mundo	e	de	
ser	humano,	seus	métodos	e	técnicas	de	 intervenção	com	a	outra	mente	humana,	a	
saber,	o	inconsciente.
Iremos	introduzir	esse	assunto	para	poder	estabelecer	articulações	e	reflexões	
sobre	a	epistemologia,	a	produção	científica	e	os	novos	métodos	de	investigação	e	in-
tervenção	em	saúde	mental.	Partiremos	do	conceito	básico	de	epistemologia	e	seguir	
em	sua	construção	histórica,	com	as	quebras	de	paradigmas	e	novos	paradigmas	sendo	
criados	e	postos	em	prática	no	mundo	da	ciência	e	da	psicanálise.	Ao	compreendermos	
a	historicidade dos fatos científicos,	poderemos	ter	mais	evidência	sobre	seus	re-
flexos	na	vida	contemporânea.	
2 ASPECTOS EPISTEMOLÓGICOS DA PSICANÁLISE
Para	 que	 possamos	 entender	melhor	 a	 Psicanálise	 e	 sua	 constituição	 como	
ciência	ou	teoria	e	metodologia	em	saúde	mental,	é	notável	a	necessidade	de	olharmos	
para	ela	como	uma	constituição histórica e epistemológica.	
Essa epistemologia que permeia a psicanálise e lhe dá embasamento, tam-
bém lhe confere um olhar crítico e atento, levando em consideração ques-
tões pertinentes em cada etapa histórica, criando, assim, rupturas e novos 
paradigmas. Especialmente as rupturas com o saber médico, do qual o pró-
prio Freud era oriundo em virtude de sua formação em neurologia.
ATENÇÃO
A	psicanálise	freudiana	veio	para	promover	uma	ruptura	de	paradigmas	frente	
ao	tratamento	das	neuroses,	da	histeria	a	priori	e	de	patologias	que	não	tinham	sucesso	
com	 intervenções	 tradicionais	da	medicina.	 Freud,	 enquanto	um	 importante	pesqui-
sador,	além	de	clínico,	conseguiu	perceber	nas	pacientes,	padrões de adoecimento 
psíquico	que	não	havia	explicações	pertinentes.	
Ao	invés	de	desistir	de	tal	tratamento,	do	mesmo	modo	que	outros	colegas	(e	
também	ao	invés	de	acreditar	que	tais	pacientes	estavam	mentindo),	o	espírito	de	cien-
tista	do	jovem	Sigmund	falou	mais	alto	e	ele	se	dedicou	também	a	estudar	os	casos	em	
paralelo	a	prática	clínica,	de	modo	que	a	aprendizagem	por	via	da	prática,	do	empirismo,	
pudesse	prevalecer.	Para	compreendermos	estas	perspectivas,	estudaremos	o	que	é	a	
epistemologia	e	como	ela	se	desenvolveu	até	chegarmos	à	epistemologia	que	direciona	
a	psicanálise.
5
2.1 O QUE É EPISTEMOLOGIA?
A	epistemologia	visa	estudar	o	cerne	das	ciências,	ou	seja,	suas	bases	e	emer-
gências,	além	disso,	estuda	o	modo	como	elas	se	configuram	nas	teorias	e	na	ciência	
em	suas	perspectivas	de	sujeito e de mundo.	
FIGURA 1 – EPISTEMOLOGIA E AS DEMAIS ÁREAS DA FILOSOFIA
FONTE: <https://shutr.bz/3lKGAjH>. Acesso em: 11 ago. 2021.
Sendo	 assim,	 as	 bases	 epistemológicas	 servem	 para	 dar	 embasamento	 às	
produções	 científicas,	 as	 quais	 são	 diferenciadas	 a	 partir	 da	maneira	 como	 se	 dá	 a	
interpretação	ou	não	dos	fenômenos	e	situações	que	se	apresentam	na	realidade.	Com	
isso,	ela	pode	ser	tida	como	a	teoria do conhecimento	(ANDRADE;	SMOLKA,	2009).	
A palavra epistemologia vem das palavras gregas episteme (conheci-
mento) e logia (estudo), trata-se, portanto, de uma área da filosofia 
que tem por objeto de estudo o conhecimento e seus modos de 
produção e validação.
NOTA
6
Sabemos	que	o objetivo principal	da	ciência	é	construir	conhecimentos	para	
promover	melhorias	na	qualidade	de	vida	das	pessoas	e,	que	tais	ciências	se	conver-
tem	ou	divergem	em	como	olham	e	atuam	sobre	os	sujeitos	e	o	mundo.	Sendo	que	
cada	base	epistemológica	está	atrelada	a	seu	tempo	histórico	e	à	demanda	daquele	
momento	em	particular.	Devemos	considerar,	portanto,	que	a	ciência	e	a	epistemologia	
estão	sempre	em	movimento,	com	rupturas	e	novas	construções,	indo	ao	encontro	da	
produção	do	conhecimento	e	do	uso	desse	no	cotidiano,	na	realidade.
É	na	epistemologia	que	procuramos	responder	algumas	questões,	por	exemplo	
“como	se	deu	tal	conhecimento?”.	Segundo	Borges	e	Dalberio	(2007),	a	epistemologia	
justifica	o	lugar	de	origem	do	conhecimento	e	as	ditas	verdades	sobre	os	fenômenos,	
isso	ocorre	a	partir	de	estudos	experimentais	ou	não,	possibilitando	sair	do	senso	co-
mum	sobre	a	compreensão	dos	conflitos	e	da	realidade.	
Existem	 diferentes vertentes epistemológicas,	 tais	 como	 o	 positivismo,	 o	
existencialismo,	o	estruturalismo,	o	pós-estruturalismo,	entre	outras.	Toda	teoria,	para	
ser	considerada	uma	ciência,	precisa	fazer	uso	de	um	método científico que	lhe	con-
figure	veracidade.	Então,	nós	iremos	estudar	algumas	abordagens epistemológicas 
com	o	intuito	de	contextualizar	historicamente	e	diferenciá-las	para	melhor	compreen-
são	da	epistemologia	da	psicanálise.	
2.2 AS VERTENTES EPISTEMOLÓGICAS NO CONTEXTOHISTÓRICO 
As	especulações	para	compreender	o	mundo,	como	o	porquê	estamos	nesse	
lugar,	qual	seria	nosso	propósito,	qual	seria	a	verdade	que	direciona	o	mundo,	são	ques-
tões	que	surgem	desde	os	filósofos	pré-socráticos.	
Cada	teórico	ou	filósofo	acabava	por	criar	suas	ideias	e	métodos	dando	início	
há	um	movimento	científico	que	se	estende	até	a	contemporaneidade	e	está	sempre	se	
atualizando	de	acordo	com	as	demandas	do	tempo	vivido.	
A partir dos estudos epistemológicos conseguimos compreender 
a origem dos saberes, suas bases teóricas, ciências que dialogam 
e que antagonizam, produzindo uma prática científica com possi-
bilidade de replicação, ou seja, em que o objeto de estudo e seus 
métodos possam ser replicados em contextos diferentes, visando 
obter resultados semelhantes.
IMPORTANTE
7
Devemos	observar	que	essas	vertentes	epistemológicas	acabam	por	ser	rom-
pidas,	desconstruídas	e	construídas	a	partir	da	necessidade	da	ciência	em	resolver	as	
questões	que	lhe	implicam,	ou	seja,	a	necessidade	de	encontrar	a	solução	dos	proble-
mas	reais.	
Foi	a	partir	da	 idade	moderna	que	tais	questões	passaram	a	ter	mais	espaço	
e	força,	isto	é,	com	o	advento	do	humanismo.	Este	pode	ser	caracterizado	como	um	
período	no	qual	emergiu	um	movimento	filosófico	fundamentado	no	reconhecimento	
do	valor	do	ser	humano	enquanto	ser	total,	procurando	compreendê-lo	em	seu	mundo	
natural e histórico.	
No	humanismo,	o	ser	humano	é	visto	como	tendo	alma	e	corpo,	sendo	ele	res-
ponsável	por	viver	e	dominar	o	mundo	que	habita.	Assim,	o	paradigma	explicativo	para	o	
mundo	deixa	de	ser	Deus	e	o	teocentrismo,	características	da	idade	média.	Desse	modo,	
passamos	para	a	idade	das	luzes,	em	que	o	ser	humano	é	colocado	no	centro	da	pauta.	
O antropocentrismo	reflete	em	mudanças	de	diversas	áreas,	como	nas	artes,	que	po-
dem	então	representar	figuras	humanas	e	não	mais	apenas	figuras	religiosas,	e	também	
na	medicina,	recebendo	uma	importante	contribuição,	pois,	se	o	corpo	humano	não	é	
mais	um	objeto	apenas	sagrado,	é	possível	estudá-lo.
Outro	ponto	relevante	do	humanismo	está	relacionado	ao	reconhecimento	do	
ser humano e	sua	historicidade,	ou	seja,	toda	a	constituição	de	vida	e	história	do	su-
jeito,	com	seus	vínculos	do	passado	e	a	procura	por	levá-los	a	uma	maior	compreensão	
de	sua	vida.	Foi	nesse	período	que	as	letras	começaram	a	ser	reconhecidas	pelo	seu	
valor	humano,	trazendo	um	aspecto	que	o	diferencia	dos	outros	animais	e	colocando	as	
letras	como	constituintes	da	formação	humana.	
Há	uma	concepção	de	ser	humano	como	ser	natural,	no	qual	o	conhecimen-
to	se	torna	indispensável	para	sua	própria	elevação	como	humano.	O	humanismo	visa	
compreender	o	sujeito	a	partir	de	uma	corrente	filosófica	que	considera	as	diferentes	
possibilidades	humanas,	tanto	de	limitações	quanto	enfrentamento,	ele	procura	tam-
bém	redimensionar	os	problemas	filosóficos.	
Wihelm Wundt (1832-1920) é considerado um dos precursores da 
psicologia científica. Ele utilizou aspectos trabalhados e discutidos 
por Immanuel Kant (1724-1804) que estiveram relacionados a seu 
tempo. Em seus postulados, valorizava a física e a fisiologia, como 
também utilizava a aplicação lógica proposta por Herbart (1776-
1841). Destarte, Wundt salienta a necessidade de nos atermos aos 
estudos da sociedade e da filosofia, uma vez que são essenciais para 
o desenvolvimento da psicologia científica. 
INTERESSANTE
8
Nessa	perspectiva,	a	mente	era	tida	como	consciência	e,	para	além	dessa,	ela	
poderia	conter	algumas	percepções	sutis	do	inconsciente.	Esse	inconsciente	de	Wun-
dt	seria	estudado	para	além	dos	laboratórios,	indo	ao	encontro	social	dos	fenômenos	
psíquicos.
Entre	autores	que	trabalharam	com	o	psiquismo,	em	uma	perspectiva	do	 in-
consciente	científico,	está	Fechner	(1801-1887).	Em	sua	proposta	teórica	ele	utiliza	da	
psicofísica,	com	a	ideia	de	mensurar	os	fenômenos psíquicos:	as	esferas	físicas	e	
mentais	se	tornariam	iguais	quantitativamente	e	diferentes	qualitativamente.	Para	ele,	
o	cérebro	e	a	mente	seriam	sistemas	idênticos,	mas	em	diferentes	localidades,	ou	seja,	
cada	um	funcionando	em	seu	próprio	sistema.
Já	Freud	fez	uso	da	lei da conservação de energia	para	trabalhar	o	conceito	
de constância,	que	promove	as	noções	referentes	ao	prazer-desprazer.	Essa	visão	é	
herdada	da	filosofia	de	Brentano	(1838-1917),	a	qual	via	psicologia	como	uma	ciência	
a	priori	das	outras,	devendo	ser	considerada	como	aquela	da	qual	partiriam	as	outras	
ciências.	Ele	observa	que	a	psicologia	não	necessita	partir	de	uma base fisiológica 
para	se	tornar	ciência.	Foi	esse	filósofo	que	trouxe	a	representação	como	o	ato	de	repre-
sentar,	de	pensar	conscientemente	e,	que	tal	ato	vem	da	referência	a	algum	objeto,	por	
exemplo,	se	observarmos	uma	árvore,	ela	se	torna	consciente	para	nós,	promovendo,	
consequentemente,	o	conceito	de	intencionalidade.	
Em	Brentano,	podemos	 identificar	que	os	fenômenos físicos,	quando	estu-
dados	somente	pela	percepção	do	externo,	iria	propor	uma	verdade	relativa,	sendo	que	
não	levam	em	consideração	as	percepções	internas	do	sujeito.	Tais	percepções	internas	
seriam	as	responsáveis	por	dar	acesso	aos	fenômenos	psíquicos,	conferindo	mais	ve-
racidade	aos	estudos	da	psicologia.	Essa	visão	tinha	como	proposta	superar	a	ideia	da	
psicologia	como	uma	ciência	puramente	natural.
A	psicologia	e	os	estudos	da	psique	sempre	tiveram	ressalvas	epistemológicas,	
visto	até	mesmo	o	que	Comte	(1798-1857)	trouxe	como	uma	crítica	à	ciência	psicológi-
ca,	afirmando	que	os	fenômenos	mentais	só	poderiam	ser	evidenciados	e	estudados	a	
partir	da	fisiologia.	O	que	acaba	por	contrariar	as	ideias	de	Stuart	Mill	(1806-1873),	que	
percebia	tais	fenômenos	mentais	como	muito	além	de	meras	manifestações	fisiológi-
cas,	e	essas	se	dariam	de	forma	sucessiva,	sendo	que	a	psicologia	deveria	se	ater	às	
regras	de	tal	sucessão	dos	fenômenos	psíquicos.
9
FIGURA 2 – IMMANUEL KANT
FONTE: <https://shutr.bz/3FR6MRN>. Acesso em: 12 ago. 2021.
De	acordo	com	Carvalho	e	Monzani	(2015),	Kant	apresentou	a	ideia	de	que	os	
fenômenos	psicológicos	não	seriam	passíveis	de	cientificidade	porque	não	apresenta-
vam	características	essenciais	para	serem	explorados	cientificamente.	Na	sua	visão,	
para	que	algo	fosse	digno	de	cientificidade,	seria	indispensável	a	condição	de	que	os	
dados	empíricos	correspondentes	fossem	passíveis	de	abordagem	pela	matemática.
3 A EPISTEMOLOGIA NA PSICANÁLISE 
Como	já	percebemos,	a	epistemologia	é	a	base	da	qual	provêm	a	ciência,	o	sa-
ber	das	teorias	e	das	práticas,	da	idade	moderna	até	os	dias	atuais.	Para	estudarmos	a	
Psicanálise,	é	pertinente	conhecermos	quais	são	suas	bases epistemológicas,	isto	é,	
de	qual	ponto	Freud	começou	a	questionar	e	propor	uma	nova	visão	sobre	as	patologias	
e,	assim,	romper	com	a	visão	somente	física/orgânica	do	ser	humano,	trazendo	à	tona	a	
importância	da	subjetividade	na	constituição	do	humano	e	suas	doenças.	
FIGURA 3 – O QUE É EPISTEMOLOGIA?
FONTE: <https://shutr.bz/2YQx3ii>. Acesso em: 11 ago. 2021.
10
Sabemos	de	antemão	que	Freud	foi	 o	 “pai”	da	psicanálise.	Ele	desconstruiu	o	
saber	científico	sobre	as	psicopatologias	pautado	no	argumento	de	que	a	doença	não	
deve	ser	explicada	somente	pelo	saber	médico.	Foi	com	a	Psicanálise	que	se	romperam	
paradigmas epistemológicos	importantes	quanto	aos	tratamentos	em	saúde	mental.	
Iremos,	então,	conhecer	um	pouco	mais	dessa	epistemologia	na	qual	Freud	se	pautou	
para	desenvolver	a	Psicanálise	e	seu	método	de	tratamento	dos	transtornos	mentais.
FIGURA 4 – GALILEU GALILEI “PAI DO MÉTODO CIENTÍFICO”
FONTE: <https://bit.ly/3FJjFNI>. Acesso em: 11 ago. 2021.
Foi	 Galileu	 (1564-1642)	 quem	 trouxe,	 na	 idade	moderna,	 o	primeiro rompi-
mento com	método experimental	na	ciência.	Precisamos	considerar	que	há	nos	ex-
perimentos	uma	conversa	entre	a	razão	 e	 a	realidade,	 permeando	novas	possibili-
dades	de	ver	e	intervir	tal	realidade,	conferindo	um	bom	e	positivo	resultado.	A	ciência	
e	a	veracidade,	então,	se	dão	por	meio	do	experimento	e	da	 razão,	desconsiderandosuposições	metafísicas.	
Freud sempre sofreu resistências ao propor a cientificidade da 
psicanálise por ela não se enquadrar nas formalidades científicas 
de seu contexto histórico. E como o seu objeto científico (o incons-
ciente) não era passível de observação ou mensuração, a psicanálise 
provocava rechaço entre os médicos contemporâneos de Freud. 
ATENÇÃO
11
A	teoria	do	inconsciente,	assim	como	a	sede	dos	adoecimentos	psíquicos,	o	uso	
da	hipnose	como	método	terapêutico,	a	questão	da	sexualidade	humana	como	etiologia	
das	neuroses	e	a	interpretação	dos	sonhos	como	método	de	investigação	psicanalítica,	
eram	pontos	que	rompiam	com	qualquer	ideal	de	cientificidade	naturalista	dos	tempos	
de	Freud.	
Contudo,	o	pai	da	psicanálise,	como	um	bom	pesquisador	que	era,	perseguiu	
obstinadamente	o	desejo	de	manter	a	psicanálise como ciência.	Tal	desejo	esteve	
presente	desde	os	primeiros	textos	freudianos,	em	que	percebemos	o	esmero	com	o	
qual	Freud	descreve	detalhadamente	os	estudos	sobre	histeria,	por	exemplo,	os	sin-
tomas	físicos,	e	compõe	o	caso	à	medida	que	vai	analisando	tais	sintomas	com	seu	
correlato	psíquico.	
 
Podemos	considerar	que	a	Psicanálise	é	um	método	de	investigação indutivo 
e	que	teria	por	função	ou	objetivo	o	viés clínico	e	não	a	comprovação	de	algo	ou	algu-
ma	coisa.	Seus	estudos	eram	voltados	para	alterar	situações	e	não	para	prová-las.	Em	
contramão	sempre	existirá	a	necessidade	de	alguns	teóricos	e	métodos	científicos	de	
conferir	à	psicanálise	uma	cientificidade	por	ela	pertencer	às	ciências	naturais.	Sendo	
que	tal	pretensão	não	tem	motivo	para	ser	fundada,	visto	a	proposta	da	própria	Psica-
nálise	sobre	a	constituição	do	sujeito	ter	um	olhar	clínico.
 
Sendo	assim,	não	há	como	olhar	para	a	Psicanálise	como	uma	intervenção	pau-
tada	na	ciência	positiva,	pois	ela	busca	desconstruir	esse	lugar	do	sujeito	do	positivis-
mo.	Aquele	sujeito	mensurável,	verificável	e	imutável.	O	sujeito	da	psicanálise	é	aquele	
que	se	transforma	a	partir	do	processo clínico,	que	é	tido	em	sua	singularidade	e	
com	suas	particularidades	(TOREZAN;	AGUIAR,	2011).
Assista ao professor e pós-doutor Christian Dunker, um dos maiores 
nomes da psicanálise brasileira, apresentar a epistemologia psicanalítica 
e seus fundamentos no vídeo A psicanálise é um conhecimento verificável? 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=s5aLhKTIpaI. 
DICA
A	proposta	de	Freud	trouxe	a	possibilidade	de	dar	espaço	para	o	estudo	da	alma,	
visando	um	estudo	do	aparelho psíquico	do	sujeito,	para	além	dos	aspectos	físicos	
e	orgânicos	desse	sujeito.	Olhar	para	as	singularidades	e	para	além	do	racionalmente	
comprovado	empiricamente,	é	olhar	para	o	ser	humano	e	seu	contexto social,	é	ver	
vida	para	além	das	generalizações.	Podemos,	inclusive,	lembrar	as	discussões	de	Comte,	
quando	 ele	 apresentou	 a	 ciência	vista	 em	 seu	 aspecto	 puro	 e	 aplicado,	 articulando,	
assim,	o	saber	teórico	e	o	prático	para	uma	produção	científica	visando	aplicar	o	que	se	
teoriza	para	obter	resultados.
12
Freud	abriu	 caminhos	para	uma	nova	maneira	de	ver	 e	 fazer	 ciência	quanto	
aos	estudos	e	métodos de intervenção e tratamento	 das	patologias	da	alma,	 as	
psicopatologias.	Ele	considera	a	psicanálise	como	uma	ciência natural.	Sendo	que,	
em	1880	ele	apresentou	a	hipnose	como	método	de	 investigação	e	tratamento	nas	
histerias,	junto	a	Breuer	(1842-1925).	Em	sua	concepção	muitos	dos	sinais	não	podem	
ser	visualizados	ou	materializados,	com	isso	o	trabalho	com	a	subjetividade	humana	e	
suas	várias	nuances	sobre	o	adoecimento	psíquico.
FIGURA 5 – TRATAMENTO POR HIPNOSE
FONTE: <https://shutr.bz/3lHYpQA>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Na	década	de	1890,	a	partir	de	seus	estudos,	Sigmund	Freud	expõe	a	noção	de	
metapsicologia,	na	qual	demonstra	que	não	há	um	local	anatômico	em	que	a	doença	
ou	a	psicopatologia	se	instala,	mas	que	esta	ocorre	em	uma	causalidade	entre	o	psí-
quico	e	a	nossa	consciência.	
A	nova	proposta	de	Freud,	a	partir	de	uma	metapsicologia,	não	foi	de	primeira	
mão	bem	aceita	e	teve	muitos	obstáculos,	os	quais	o	psicanalista	teve	que	se	sobrepor	
para	configurar	sua	psicanálise	como	ciência	e	ter	a	veracidade	e	a	aceitabilidade	de	
comunidade	médica	e	científica	da	época,	pois,	sendo	uma	nova	proposta	de	ciência,	
ela	seguia	a	contramão	da	objetividade,	trazendo	aspectos subjetivos e partes ima-
teriais	do	sujeito,	como	a	própria	alma	e	aspectos	não	palpáveis	ou	visíveis,	ou	seja,	
não	mensuráveis	pela	ciência	tradicional.	
 
Nessa	busca	por	tornar	a	psicanálise	uma	ciência do psiquismo,	podemos	usar	
a	contribuição	de	Kant,	apresentando	a	psicologia	como	uma	abordagem	voltada	para	a	
observação e descrição de fenômenos externos.	Ele	considerava	que	os	objetos	de	
estudo	da	psicologia	não	seriam	palpáveis	e	possíveis	de	análise	e	observação	no	espa-
ço,	estes	estariam	subentendidos	e	em	um	espaço	não	visível,	consequentemente,	não	
acessível	à	cientificidade	positiva.	Os	fenômenos	não	poderiam	ser	estudados,	afinal,	
não	estariam	articulados	com	as	comprovações	matemáticas.
 
Foi	Herbart,	a	partir	dos	estudos	de	Kant,	que	começou	a	estudar	os	fenôme-
nos psíquicos.	Isso	ocorreu	por	meio	da	criação	de	quatro	conceitos:
13
•	 intensidade;	
•	 continuidade;	
•	 variação;
•	 covariação.		
Tais	conceitos	trariam	uma	nova	proposta	de	ciência	para	a	psicologia.	O	con-
ceito	 de	 intensidade	 estava	 relacionado	 ao	 entendimento	 dos	 fenômenos	 psíquicos	
como	dotados	de	força,	e,	assim,	poderiam	ser	medidos	por	meio	de	uma	avaliação 
quantitativa.
O conceito de continuidade diz respeito à constante dos fenômenos 
psíquicos, sendo vistos com uma continuidade quanto às suas so-
breposições e funções em relação à consciência. Ora alguns fenô-
menos se sobressaem, ora diminuem, num constante movimento. 
Quanto ao conceito de variação, podemos observar a variação de 
intensidade dos fenômenos psíquicos no correr do tempo. Por meio 
destes conceitos percebemos que os fenômenos são considerados 
como uma recusa ao acaso, pois teriam sempre uma ligação com algo 
e uma função específica. 
NOTA
A covariação	seria	o	conceito	que	supõe	um	sistema mecânico	dos	fenôme-
nos	psíquicos.	Assim,	Herbart	teria	constituído	a	psicologia matemática,	conferindo	
cientificidade	ao	estudo	dos	fenômenos	psíquicos	na	época.	Para	ele,	as	representa-
ções	eram	inconscientes	e	dotadas	de	uma	força	tal	que	fazia	com	que	chegassem	à	
consciência	do	sujeito.	Dessa	forma,	articulam-se	os	saberes	de	Herbart	e	de	Freud	
quanto	à	presença	e	importância	do	inconsciente	na	vida	subjetiva	dos	sujeitos.	
FIGURA 6 – SISTEMA MECÂNICO DA MENTE
FONTE: <https://shutr.bz/3mWbk0A>. Acesso em: 12 ago. 2021.
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Esses	 teóricos	 também	 compartilham	 a	 ideia	 de	 repressão de conteúdos 
para	que	estes	venham	à	superfície	da	consciência.	Cada	um	à	sua	maneira	apresenta	
a	repressão	como meio de proteção	do	sujeito	frente	ao	desprazer	e	ao	sofrimento.	
Para	Freud,	esse	conflito	vem	de	uma	repressão	sexual,	já	para	Herbart	é	ocasional,	não	
tendo	uma	causa	específica.	
Em	Herbart,	a	representação	psíquica,	mesmo	reprimida,	está	sempre	se	esfor-
çando	para	vir	à	consciência,	enquanto	para	Freud	tal	representação	estaria	agindo	no	
inconsciente	podendo	ocasionar	patologias	e	doenças	mentais.	Essas	representações	
reprimidas	no	inconsciente	acarretariam	possíveis	psicopatologias,	seriam	os	agentes 
etiológicos	de	tais	doenças.	
 
Os	aspectos	epistemológicos	apresentados	são	de	suma	relevância	para	per-
cebermos	como	aconteceu	o	processo de cientificidade	da	psicanálise	e	da	própria	
psicologia,	as	quais	sempre	tiveram	ressalvas	no	campo	da	ciência	tanto	na	sua	apli-
cabilidade	quanto	na	sua	veracidade,	sendo	que,	as	ciências	procuram	ser	generalis-
tas,	 palpáveis	 e	 aplicadas	 em	todas	 as	 situações	e	para	 todos	os	 sujeitos,	 de	 forma	 
indiscriminada.	
Cabe	lembrar	que	ela	foi	tida	como	a	verdade	absoluta	na	época	do	Iluminismo,	
como	a	luz	no	fim	do	túnel	para	todas	e	quaisquer	problemáticas	humanas	e	sociais.	
Uma das questões epistemológicaspertinentes a Freud se referia 
ao uso da interpretação (um de seus métodos) e como ela ficaria 
atrelada às ciências naturais. Sendo que as interpretações têm um 
cunho subjetivo e não mensurável. 
ATENÇÃO
Com	o	pós-freudiano	Jacques	Lacan	(1901-1981),	as bases epistemológicas 
da	psicanálise	se	expandem	para	outras	áreas	de	saber.	Oriundo	da	matemática,	como	
formação	básica,	Lacan	preconizou	o	retorno	a	Freud.	
Isso	ocorreu	porque,	após	a	morte	de	Freud,	os	psicanalistas	estavam	cada	vez	
mais	se	desviando	dos	princípios fundamentais	freudianos	e	orientando	a	psicanáli-
se	para	uma	psicanálise	do	Ego.	
No	entanto,	o	psicanalista	francês	Lacan	propôs	um	retorno	a	Freud,	 retorno	
este	que	ele	apresentou	por	meio	de	seminários	proferidos	oralmente	para	psicanalistas	
vinculados	à	Associação Internacional de Psicanálise,	a	IPA,	com	quem	posteriormente	
rompeu	e	propôs	seminários	abertos	a	todos	os	interessados	nos	estudos	freudianos.
15
FIGURA 7 – LACAN
FONTE: <https://shutr.bz/3FOb3Fz>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Nos	seminários	 lacanianos	existia	uma	verdadeira	transdisciplinaridade	na	
plateia,	 inclusive	 artistas	 surrealistas	 e	 o	 estruturalista	 Lévi-Strauss,	 que	 em	 muito	
contribuiu	 para	 a	 clínica	 lacaniana,	 uma	 vez	 que	 a	 clínica	 Lacan	 ampliou	 a	 noção	
freudiana	 de	 diagnóstico	 a	 partir	 da	 discussão	 estrutural,	 em	 que	 os	 sujeitos	 são	
classificados	 a	 partir	 de	 três	 estruturas	 clínicas:	 neurose,	 psicose	 e	 perversão.	Além	
disso,	na	epistemologia lacaniana temos	como	contribuição	os	importantes	textos	de	
Lévi-Strauss,	como	em	O feiticeiro e sua magia	(1949),	em	que,	a	partir	da	antropologia	
estruturalista,	o	lugar	do	analista	será	comparado	ao	poder	do	pajé	nas	aldeias.
Tanto	o	psicanalista	Lacan	quanto	o	antropólogo	Claude	Lévi-Strauss	pensaram	
os	fenômenos	fundamentais	da	vida	e	da	alma	como	situados	no	âmbito	inconsciente.	
Ambas	as	teorias	são	influenciadas	pela	linguística	de	Saussure	e	Jakobson.	Em	termos	
epistêmicos,	cabe	destacar	a	influência	da	linguística	na	concepção	do	inconsciente	
lacaniano	e	na	antropologia	estrutural,	para	compreendermos	de	quem	é	o	sujeito	in-
consciente	da	psicanálise	lacaniana.	
Desde a sua primeira grande obra – As estruturas elementares do 
parentesco (1955) – o antropólogo belga Lévi-Strauss (1982) elegeu 
Freud como um de seus interlocutores privilegiados na criação 
e no desenvolvimento da sua antropologia estrutural. Alguns 
autores chegam a afirmar que o pai da psicanálise foi o autor que 
gerou maior impacto sobre a obra de Lévi-Strauss. 
INTERESSANTE
16
FIGURA 8 – CONHECIMENTOS
FONTE: <https://shutr.bz/2YUu8VO>. Acesso em: 11 ago. 2021.
Como	pudemos	observar,	a	epistemologia	que	constitui	para	a	psicanálise	vem	
de	diferentes	contextos,	ou	seja,	médico,	neurológico	e	psicológico,	propondo	ser	uma	
ciência	da	clínica,	do	movimento	e	da	transformação.	
17
Neste tópico, você aprendeu:
•	 A	epistemologia	é	de	suma	relevância	para	o	estudo	das	ciências	e	da	psicanálise	
para	que	possamos	compreender	como	a	psicanálise	se	desenvolveu	no	processo	de	
investigação	e	propostas	de	metodologias	científicas.
•	 Estudar	a	psicanálise	implica	conhecer	seus	aportes	epistemológicos	e	sua	história,	
como	constituição	de	um	novo	saber	sobre	o	sujeito,	o	psiquismo	e	as	psicopatologias.
•	 Freud	foi	o	pai	da	psicanálise,	e	suas	investigações	com	novos	métodos	de	interven-
ção	e	tratamento	em	saúde	mental	constituíram	uma	das	maiores	revoluções	teóri-
cas	sobre	o	psiquismo	e	a	sexualidade	humana.
•	 A	psicanálise,	por	mais	“antiga”	que	possa	parecer,	pode	ser	reconfigurada	e	repen-
sada	a	partir	de	teóricos	pós-Freud,	podendo	se	adequar	às	necessidades	sociais	e	
singulares	do	tempo	atual,	na	contemporaneidade	dos	fatos	e	fenômenos	psíquicos.
RESUMO DO TÓPICO 1
18
AUTOATIVIDADE
1	 Ao	 estudar	 a	 epistemologia,	 podemos	 encontrar	 diferentes	 vertentes,	 cada	 qual	
com	 sua	visão	 de	 ser	 humano	 e	 de	mundo.	 Essas	 visões	 vão	 sendo	modificadas	
com	o	passar	 do	 tempo	e	 com	as	demandas	advindas	da	 realidade,	 sendo	que	a	
ciência	tem	por	objetivo	resolver	problemas	e	problematizar	situações.	A	perspectiva	
epistemológica	 que	 vê	 o	 ser	 humano	 como	 dotado	 de	mente	 e	 corpo,	 confere	 o	
reconhecimento	do	valor	humano	enquanto	ser	total,	compreendendo	seu	mundo	
natural	e	histórico.	Aqui,	o	sujeito	é	responsável	por	viver	e	dominar	o	mundo	que	
habita.	Essa	visão	de	homem	está	atrelada	a	qual	base	epistemológica?	Assinale	a	
alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 Humanismo.
b)	 (			)	 Positivismo.
c)	 (			)	 Iluminismo.
d)	 (			)	 Estruturalismo.
2	 No	momento	em	que	surgiu	o	assunto	sobre	a	epistemologia	da	psicanálise,	muitas	
contradições	e	dúvidas	emergiram	frente	a	sua	cientificidade,	ou	seja,	se	a	psicanálise	
seria	ou	não	parte	das	ciências	naturais.	A	partir	dos	estudos	sobre	a	epistemologia	
em	psicanálise	podemos	dizer	que:
I-	 A	Psicanálise	se	afirma	como	ciência	por	meio	do	positivismo	ortodoxo,	e	propõe	
estudos	mensuráveis	dos	processos	psíquicos.
II-	 A	Psicanálise	propõe	uma	nova	perspectiva	de	olhar	e	de	intervir	nas	enfermidades	
psíquicas,	como	o	trabalho	precursor	com	a	histeria,	utilizando	o	método	catártico.
III-	 Na	década	de	 1890,	Sigmund	Freud	apresentou	a	noção	de	metapsicologia,	 de-
monstrando	que	não	há	um	local	anatômico	para	localizar	a	doença	ou	a	psicopato-
logia,	mas	ela	ocorre	em	uma	causalidade	entre	o	psíquico	e	a	nossa	consciência.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 As	sentenças	II	e	III	estão	corretas.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
3	 Na	constituição	da	psicanálise	como	ciência	sempre	houve	a	discussão	se	ela	per-
tenceria	às	ciências	naturais	ou	a	qual	cientificidade	se	dava	essa	nova	perspectiva	
de	olhar	 e	 intervir	 nos	 fenômenos	psíquicos	e	nas	psicopatologias.	Com	 isso,	 po-
demos	apontar	que	a	psicanálise	propôs	constituir	sua	própria	cientificidade.	Desse	
modo,	assinale	a	alternativa	que	compreende	a	perspectiva	psicanalítica:
19
a)	 (			)	 A	Psicanálise	aponta	para	uma	nova	proposta	de	ciência,	indo	na	contramão	da	
objetividade,	trazendo	aspectos	subjetivos	e	partes	 imateriais	do	ser	humano,	
como	a	própria	alma,	além	de	aspectos	não	palpáveis	ou	visíveis,	ou	seja,	não	
mensuráveis	na	ciência	tradicional.	
b)	 (			)	 O	avento	da	Psicanálise	traz	a	articulação	entre	o	positivismo	e	o	humanismo	em	
sua	base	epistemológica.
c)	 (			)	 A	Psicanálise	utiliza	 somente	conceitos	próprios	da	neurologia	 e	da	medicina	
para	descrever	os	fenômenos	psíquicos.
d)	 (			)	 Freud	começou	seus	estudos	na	Psicanálise	pelo	experimento	e	mensuração	
dos	fenômenos	psíquicos.
4	 Sabemos	que	as	ciências	partem	de	pressupostos	epistemológicos,	os	quais	forne-
cem	suporte	para	a	constituição	de	novas	abordagens,	novos	paradigmas	e	meto-
dologias	científicas	que	visam	a	melhoria	da	qualidade	de	vida	dos	sujeitos.	Como	
podemos	compreender	a	base	epistemológica	da	Psicanálise	em	sua	emergência	no	
cenário	científico	da	época?
5	 Qual	é	a	importância	de	estudar	a	epistemologia	ao	tentarmos	compreender	a	psica-
nálise	e	sua	instituição	enquanto	ciência	e	prática	em	saúde	mental?
20
21
FREUD: O PAI DA PSICANÁLISE 
E SUA HISTÓRIA
UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO
Agora,	no	Tópico	2,	abordaremos	um	breve	histórico	de	vida	de	Freud,	além	da	
psicanálise	como	uma	constituição	histórica	e	científica	dentro	de	um	cenário	marcado	
por	uma	cientificidade	positiva	e	palpável.	
Iremos	compreender,	 então,	 como	a	psicanálise	ganhou	espaço	em	um	am-
biente	marcado	pelas	ciências	que	viam	a	subjetividade	com	“maus	olhos”,	com	des-
crença	e	sem	lhe	conferir	veracidade	e	cientificidade.	
Desse	modo,	observaremos	que	o	processo	de	inserção	da	psicanálise	na	ciên-
cia	passou	por	um	desenvolvimento	de	sua	teoria	e	prática	no	decorrer	do	tempo	e	das	
pesquisas	de	Freud.	
2 FREUD: O PAI DA PSICANÁLISE
Quem	 não	 ouviu	 falar	 emFreud	 uma	 vez	 em	 sua	 vida?	 Ou	 mesmo	 aquela	
conhecida	frase	 “Freud	explica”?	No	senso	comum,	podemos	acreditar	que	ele	é	um	
“super-homem”	 da	 subjetividade	 humana,	 sendo	 alguém	 capaz	 de	 explicar	 sobre	
qualquer	 coisa	 ou	 fenômeno.	 Porém,	 o	 que	 podemos	 dizer	 com	 certeza	 é	 que	 ele,	
Sigmund	Freud,	foi	um	grande	entusiasta	dos	estudos	sobre	a	mente,	o	comportamento	
humano,	a	subjetividade	e	seu	espaço	na	ciência.	
FIGURA 9 – FIGURA DE CERA DE SIGMUND FREUD
FONTE: <https://shutr.bz/3DLpNmR>. Acesso em: 11 ago. 2021.
22
Contudo,	assim	como	todo	teórico,	Freud	se	apresenta	para	contextualizar	e	
trazer	questões	pertinentes	de	uma	época,	de	seu	contexto	histórico	e	demandas	so-
ciais	e	culturais.	Seu	trabalho	é	e	sempre	será	reconhecido	como	o	precursor	que	pro-
piciou	o	início	de	novas	descobertas	no	campo	da	subjetividade	e	transtornos	mentais.
Veremos,	então,	um	pouco	mais	sobre	quem	foi	Freud,	sua	biografia	e	a	história	
da	teoria	e	metodologia	por	ele	criada,	ou	seja,	a	história	da	Psicanálise	e	alguns	casos	
clássicos	que	foram	pioneiros	da	psicanálise	como	tratamento	clínico	dos	transtornos	
e	doenças	mentais.	
2.1 FREUD: UMA BREVE BIOGRAFIA
É	sempre	importante	sabermos	sobre	o	autor	de	quem	falamos,	lemos	e	estu-
damos,	pois,	muitas	vezes,	observamos	que	os	teóricos,	e	Freud	é	um	exemplo,	acabam	
por	usarem	a	si	mesmos	como	objetos	de	estudo	e	pesquisas	ou	até	mesmo	parâmetros	
para	algumas	interpretações	e	conclusões,	mesmo	que	de	forma	inconsciente.	Portan-
to,	conhecer	o	autor	é	conhecer	também	os	desejos	que	movem	quem	escreve	e	produz	
ciência.	Então,	vamos	lá?
2.1.1 Alguns fatos sobre Sigmund Freud
Freud,	 tendo	 seu	nome	completo	Sigmund	Schlomo	Freud,	nasceu	em	 1856	
e	faleceu	em	1939.	Nascido	em	Freiberg,	território	que	pertencia	ao	império	austríaco,	
era	filho	de	Jacob	Freud	e	Amalie	Nathanson,	foi	o	primogênito	da	família	com	mais	 
seis	irmãos.	Devido	à	origem	judaica	da	família,	decidiram	se	mudar	para	Viena	quando	
Freud	tinha	quatro	anos,	sendo	que	nessa	nova	cidade	a	descendência	 judaica	seria	
mais	respeitada,	de	modo	que	teriam	melhores	condições	de	vida.
O menino Freud sempre foi um ótimo aluno e com boas perspec-
tivas futuras. Com 17 anos ingressou na faculdade de Medicina de 
Viena. Desde seus primeiros passos na medicina, já se interessava 
pelo sistema nervoso e o estudo das doenças mentais, no que se 
referia aos métodos utilizados para a avaliação e tratamento de tais 
psicopatologias.
ATENÇÃO
23
Foi	em	1884	que	Freud	teve	contato	com	Breuer,	médico	que	já	estava	traba-
lhando	com	a	hipnose	para	curar	doenças	mentais	como	a	histeria.	Seu	método	catártico	
(no	qual	as	pacientes	falavam	tudo	o	que	vinha	à	cabeça,	sendo	um	desabafo	sobre	o	
que	elas	sentiam	e	pensavam),	deu	início	ao	primeiro	método	utilizado	na	psicanálise.	
Foi	com	Estudos sobre as histerias	que	Freud	 iniciou	a	psicanálise,	com	seu	
amplo	campo	de	pesquisa	e	metodologia	em	saúde	mental	na	época.	Construindo,	des-
se	modo,	novos	paradigmas	na	ciência,	até	então	totalmente	objetificada	e	agora	com	
seu	espaço	para	a	subjetividade	e	as	singularidades	humanas.	
FIGURA 10 – ILUSTRAÇAO DE UMA SESSÃO DE PSICANÁLISE
FONTE: <https://shutr.bz/2YRNafk>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Sigmund	Freud	especializou-se	em	neurologia	com	Charcot,	na	cidade	de	Pa-
ris	e,	a	partir	disso,	voltou	para	Viena	a	fim	de	trabalhar	com	Breuer	nos	casos	de	histe-
rias.	Dando	início	a	uma	carreira	e	a	estudos	promissores	sobre	as	patologias	da	alma,	
que	já	não	tinham	cura	por	meio	dos	métodos	tradicionais	da	medicina	positivista.	
Em	suas	premissas	teóricas,	Freud	traz	três	pontos	 relevantes	para	o	trabalho	
analítico:	somos	seres	bissexuais	(ativos	e	passivos);	somos	movidos	pela	libido;	e	a	vida	
psíquica	seria	constituída	por	Eros	(visto	como	a	sexualidade)	e	pelos	instintos	de	morte	
e	agressão.	
3 A HISTÓRIA DA PSICANÁLISE: O MOVIMENTO 
PSICANALÍTICO
Podemos	compreender	a	emergência	da	Psicanálise	em	meados	do	século	XX,	
em	um	cenário	de	desconfianças	sobre	sua	cientificidade,	veracidade	e	aplicabilidade	
quanto	a	uma	intervenção	que	era	constituída	de	aspectos	subjetivos	e	por	assim,	não	
objetificados,	visíveis	e	palpáveis.	Esta	nova	ciência,	ou	proposta	de	uma,	veio	na	con-
tramão	das	ideias	positivistas ortodoxas.			
24
Foi	no	segundo	congresso	de	Psicanálise	que	surgiu	a	ideia	da	fundação	da	IPA.	
Nesse	momento,	Freud	e	os	demais	estudiosos,	seus	parceiros	médicos,	neurologistas	e	
psicanalistas,	deram	início	ao	movimento psicanalítico	e	propagaram	a	psicanálise	en-
quanto	uma	ciência	dita	como	uma	psicologia aplicada,	além	da	aplicação	dela	às	medi-
cinas	e	à	humanidade.	Um	dos	objetivos	da	IPA	era	articular	melhor	os	teóricos	da	psicaná-
lise,	buscando	também	fortalecer	essa	área	e	promover	mais	saberes	e	práticas	científicas	
naquele	contexto	histórico.
Sabemos	que,	desde	o	início	dos	estudos,	Freud	passou	por	provações	em	re-
lação	à	sua	teoria	e	proposta	metodológica	de	fazer	ciência.	Ele	mesmo	não	pretendia	
levar	sua	clínica	a	ter	um	cunho	científico,	pois	se	dizia	muito	mais	preocupado	com	o	
que	sua	intervenção	poderia	promover	enquanto	mudança	de	situações	e	melhora	de	
sintomas	neuróticos.	
Na	sua	concepção,	Freud	apresenta	a	possibilidade	de	ver	e	pensar	o	sujeito	
como	alguém	que	muitas	vezes	não	é	dono	de	sua	própria	consciência.	 “De	fato,	ao	
descentrar	a	sede	do	sujeito	de	sua	consciência,	o	 inconsciente	freudiano	subverteu	
de	modo	radical	o	cogito	cartesiano	e	introduziu	a	dimensão	de	uma	racionalidade	in-
teiramente	nova”	(JORGE,	2008,	p.	17).	Gerando,	assim,	novas	formas	de	olhar	para	o	
sujeito	e	sua	realidade,	seus	sofrimentos	e	enfrentamentos	diários	diante	de	“fantasmas	
inconscientes”.	Esse	inconsciente	está	sempre	presente	nos	discursos,	seja	de	forma	
evidente	ou	como	metáforas	e	outras	manifestações	(até	mesmo	patológicas).	
FIGURA 11 – ILUSTRAÇÃO CONSCIÊNCIA E INCONSCIÊNCIA
FONTE: <https://shutr.bz/3n3F2RA>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Em	seus	estudos,	Freud	também	apresenta	o	conceito	de	pulsão	para	trabalhar	
a	partir	da	sexualidade	humana,	sendo	de	fundamental	importância	para	o	desenvolvi-
mento	do	sujeito.	
25
Na história da psicanálise, devemos sempre lembrar das rupturas, 
de modo que ela foi sendo ampliada e repensada por teóricos que 
vieram depois de Freud, com propostas de novas maneiras de 
olhar e intervir no sujeito. 
ATENÇÃO
Lacan	foi	um	dos	teóricos	que	trouxe	uma	ruptura	por	meio	de	seus	seminários.	
Contudo,	sempre	se	colocou	como	freudiano,	sugerindo	um	retorno	às	obras	e	estudos	
de	Freud,	conforme	estudamos	anteriormente.	Ele	dizia	que	aos	outros	competia	que	
fossem	lacanianos,	não	a	ele.	Lacan	consegue	reavivar	as	obras	e	os	pensamentos	de	
Freud	já	amortecidos,	dando	originalidade	e	movimento	à	psicanálise,	resgatando	con-
ceitos	e	criando	novos	a	partir	dos	preceitos	freudianos,	conferindo	uma	nova	roupa-
gem	que	se	atualiza	nesse	momento	histórico.	
Devemos	salientar	que	os	estudos	em	psicanálise	também	são	provisórios,	sen-
do	constituídos	 e	desconstituídos	 a	partir	 da	demanda atual	 e	 dos	novos olhares 
sobre	o	ser	humano	e	o	mundo.	Assim,	precisamos	atentar-nos	para	as	nuances	que	a	
ciência	propõe	em	sua	contextualização histórica.	A	psicanálise	deu	o	ponto	de	par-
tida	para	os	estudos	da	psique	e	da	subjetividade	humana,	possibilitando	abrir	espaço	
para	novas	teorias	e	metodologias	em	saúde	mental	na	atualidade.	
No	decorrer	da	sua	produção	de	teorias,	Freud	faz	revisões,	renovando-as	sem-
pre	que	necessário.	Podemos	considerar	a	psicanálise,	então,	como	grande	influencia-
dora	dos	campos	de	saberes	sobre	o	funcionamento	das	personalidades,	ou	seja,	como	
elas	se	constituem.	Desse	modo,	Freud	não	só	se	utiliza	de	suas	descobertas	no	campo	
científico	e	do	conhecimento,	como	também	das	intervenções psicoterápicas.
Freud	busca	elucidar	a	constituição	do	aparelho psíquico	ao	beber	anterior-
mente	das	águas	da	física,	da	química,	da	neurofisiologia	e	da	biologia.	Até	mesmo	pelo	
fato	de	asciências	só	serem	consideradas	como	tal	a	partir	de	sua	mensuração	e	ve-
racidade generalizada.	Contudo,	tal	postura	acaba	por	continuar	a	naturalizar	o	hu-
mano	como	um	ser	somente	biológico,	o	que	leva	às	resistências	da	psicanálise	em	sua	
inserção	no	campo	científico.	Sendo	ela	uma	abordagem	totalmente	nova	e	pretensio-
sa	de	conceber	e	trabalhar	com	o	psiquismo	e	suas	nuances	cognitivas,	emocionais	e	
comportamentais.
Tal	pulsão	poderia	ser	considerada	como	impulsos endógenos,	ou	seja,	impulsos	
orgânicos	do	sujeito	em	relação	à	sua	sexualidade.	Ele	traz	esse	tema	à	tona	quando	per-
cebe	em	seus	atendimentos	clínicos	uma	forma	que	poderia	ser	errada	da	vivência	dessa	
sexualidade,	de	certa	forma	reprimida	e	contra	os	instintos	animais.	
26
Foi em 1909 que Freud e seus colaboradores médicos chegaram na 
América do Norte para possibilitar que a teoria psicanalítica fosse 
conhecida e expandida pelo mundo. Assim, Freud publicou a partir 
dessa experiência a obra Cinco lições de psicanálise. Assim, a psicanálise 
ganhou espaço e força para além do continente europeu. 
INTERESSANTE
De	modo	prático,	a	seguir,	veremos	alguns	exemplos	de casos clínicos acom-
panhados	por	Freud	e	seus	colaboradores	no	primeiro	momento	da	Psicanálise	e	sua	
emergência	como	intervenção	nos	fenômenos	psíquicos.	Elucidaremos,	então,	o	que	a	
teoria	estava	propondo	na	época.	
3.1 CASOS CLÍNICOS CLÁSSICOS DA EMERGÊNCIA EM 
PSICANÁLISE 
Alguns	 casos	 clínicos	 acompanhados	 por	 Freud	 acabam	 sendo	 pioneiros	 da	
própria	ciência	psicanalítica.	Podemos	agora	conferir	um	pouco	sobre	tais	casos,	para	
melhor	compreendermos	a	própria	constituição da psicanálise,	isto	é,	sua	historici-
dade	por	meio	da	prática,	da	aplicabilidade.	
 
No	caso	de	Anna	O.,	pode-se	dizer	que	foi	escrito	a	quatro	mãos,	por	ser	esta	
uma	 paciente	 que	 Breuer	 acompanhava,	 tendo	 Freud	 como	 seu	 aliado	 nos	 estudos	
sobre	a	histeria.	Vamos,	então,	ao	caso:	Anna	O.,	cujo	nome	é	Berta	Pappenheim	(1859-
1936),	chegou	até	Breuer	manifestando	sintomas	como	alucinações,	dores	no	corpo,	
esquecimento	da	língua	materna,	dificuldade	para	ingerir	líquidos,	desatenção	e	tosse	
persistente.
FIGURA 12 – ANNA O.
FONTE: <https://shutr.bz/3mXDwAb>. Acesso em: 12 ago. 2021.
27
Foi	por	meio	da	hipnose	que	Breuer	conseguiu	compreender	a	formação de 
alguns	dos	sintomas.	Zimerman	(2004)	nos	auxilia	ao	dizer	que	os	sintomas	de	Ana	eram	
aliviados	na	hipnose	porque,	nos	momentos	de	transe,	a	paciente	conseguia	reviver 
situações	traumáticas	da	infância.	Frente	aos	conflitos,	por	ter	uma	consciência	frágil,	
ela	se	dissociava,	o	que	justifica	a	substituição	dos	sintomas	durante	o	tratamento.	
Contudo,	Freud	começou	a	perceber	que	Ana	poderia	estar	deslocando	seus	
sintomas	pelo	fato	de	estar	enamorada	por	Breuer.	Ela	manifestaria	por	ele,	aos	olhos	
de	Freud,	atitudes	de	amor	e	ódio.	O	que	acaba	por	ter	sentido	quando	ela,	em	aparente	
crise	histérica,	gritou	“o	filho	de	Breuer	está	para	chegar”,	pedindo	que	ele	fizesse	mais	
uma	sessão	de	hipnose.	O	que	causou	muito	constrangimento	em	todos	os	envolvidos	
e	levou	Breuer	a	se	afastar	por	um	tempo,	interrompendo	seu	vínculo	com	Ana.	
O caso de Anna O., como lembra Zimerman (2004), trouxe o 
método catártico para a psicanálise. A própria Ana dizia que era 
curada por meio da palavra, ou seja, pelas conversas com Breuer. 
Aqui também devemos observar que há uma família repressora, a 
qual não deixava que ela vivesse seus desejos “fora do lar”. Seu 
pai era doente e quem cuidava dele era Ana, o que mostra a 
importância da relação familiar para o desenvolvimento do 
psiquismo em qualquer instância. 
ATENÇÃO
Outro	caso	de	extrema	relevância	no	estudo	da	história	da	Psicanálise	é	o	do 
homem dos ratos.	Neste	caso,	o	jovem	chegou	ao	consultório	muito	angustiado,	com	
uma	ideia	obsessiva	relacionada	a	um	castigo	que	ouvira	no	tempo	do	serviço	militar.	
Um	tenente	havia	comentado	sobre	esse	castigo:	tratava-se	do	suplício	chinês,	no	qual	
um	rato	é	introduzido	no	ânus.	Segundo	Nasio	(1997),	podemos	pensar	que	esse	fato	
despertava	no	paciente	uma	angústia	que	gerava	a	formação	de	uma	série	de	sinto-
mas obsessivos,	 trazendo	à	cena	uma	história	de	seu	pai	em	 relação	a	uma	dívida	
antiga	de	jogo.
 
Esses	pensamentos	obsessivos	o	faziam	acreditar	que	se	não	pagasse	a	dívida,	
seu	pai	sofreria	tal	castigo,	além	disso,	algo	de	horrível	poderia	acontecer	à	sua	amada.	
Embora	o	seu	pai	estivesse	morto,	para	ele	tal	ideia	fazia	sentido.	Ele	começou,	então,	
uma	 peregrinação	 angustiante	 atrás	 desse	 tenente	 ao	 qual	 deve,	 antes	 que	 uma	
desgraça	ocorresse.	Em	repetida	busca,	ele	pediu	ajuda	a	um	amigo	que	o	encaminhou	
até	Freud.	
 
Cabe,	sobretudo,	destacar	que	o	pai	do	paciente	se	casou	com	sua	mãe	devido	
a	questões	financeiras,	de	modo	que	ela	era	mais	rica.	
28
O	discurso	 repetido	 e	brincalhão	da	mãe,	 o	 qual	 trazia	 o	 fato	de	 seu	marido	
rejeitar	 a	moça	mais	bonita	 e	pobre,	voltava	 como	um	fantasma	ao	paciente.	Desse	
modo,	podemos	perceber	que	esse	caso	foi	atravessado e constituído	por	questões	
financeiras	e	pelo	medo	em	desapontar	a	família.	
Quando	 Freud	 interpretou,	 procurou	 fazer	 com	 que	 “o	 homem	 dos	 ratos”	
percebesse	que	tudo	não	passava	de	seus	fantasmas inconscientes	 relacionados	
ao	dinheiro	e	ao	que	ele	representa	na	sua	vida.	Bem	como	o	fato	de	ficar	em	dívida	
com	sua	 família	 caso	não	 aceitasse	 se	 casar	 com	a	moça	 rica:	 assim	como	 seu	pai	
aceitou.	Mas	por	que	os	ratos?	Ele	tinha	uma	fixação	por	ratos,	os	quais	foram	vistos	
como	representação fantasiosa	do	próprio	pai.	
 
Para	 elucidar	 a	 emergência	 da	 psicanálise	 no	 trabalho	 com	crianças,	 iremos	
observar	como	ocorreu	o	caso	do	pequeno	Hans,	assim,	teremos	também	um	momento	
de	estudos	sobre	ludoterapia e análise com crianças.
FIGURA 13 – LUDOTERAPIA
FONTE: <https://shutr.bz/3AFjmzS>. Acesso em: 12 ago. 2021.
O	menino	Hans	não	foi	necessariamente	atendido	por	Freud,	mas	 sim	em	par-
ceria	com	o	próprio	pai	de	Hans,	amigo	e	colega	de	Freud.	O	amigo	trazia	nas	conversas	
detalhes	do	comportamento	cotidiano	de	seu	filho,	para	que	 juntos	pudessem	 interpre-
tar	e	amenizar	os	sintomas	que	estariam	se	agravando.	Como	lembra	Zimerman	(2004),	
quem	 analisou	 o	 caso	 do	menino	 foi	 o	 próprio	 pai,	 pois	 ele	 quem	 fez	 a	maioria	 das	 
sessões	com	o	menino.	
 
Os	sintomas	apresentados	por	Hans	estavam	associados	à	fobia por cavalos,	
animais	tão	estimados	pelo	menino	até	então.	 	Ele	começou	a	apresentar	essa	fobia	
dizendo	que	os	cavalos	poderiam	mordê-lo,	o	que	fazia	com	que	o	menino	não	quisesse	
mais	sair	de	casa,	visto	que	o	cenário	da	época	era	povoado	por	muitos	cavalos,	afinal,	
era	um	dos	meios	de	transporte	mais	utilizado	em	Viena.	
 
29
Em	um	dos	encontros	com	Hans,	Freud	pediu	para	que	ele	desenhasse,	e	Hans	
desenhou	um	cavalo,	contudo,	Freud	observou	que	o	cavalo	tinha	um	risco	muito	forte	
abaixo	do	nariz.	Quando	Freud	questionou	se	aquilo	desenhado	era	um	bigode,	o	me-
nino	disse	fantasioso	que	sim,	que	se	tratava	de	um	bigode	no	cavalo,	um	bigode	igual	
ao	de	seu	pai.	
 
Nesse	momento,	Freud	começou	a	perceber	a	relação	da	fobia	com	o	medo	de	
seu	próprio	pai	e	o	que	ele	representava.	Podemos	dizer	que	o	menino	estava	sofrendo	
uma	ameaça	de	castração	quando	sua	sexualidade	começou	a	se	manifestar,	por	meio	
da	curiosidade	sobre	o	seu	corpo	e	o	corpo	dos	outros.	E	como	lhe	diziam	que	era	para	
tomar	cuidado,	pois	o	cavalo	poderia	morder	sua	mão,	ele,	na	sua	fantasia,	a	partir	das	
análises	de	Freud	e	do	próprio	pai	do	menino,	deslocou	sua	mão	para	seu	órgão	genital.	
Começou,	então,	a	imaginar	que	a	castração,	a	mordida	ou	o	corte	poderia	não	ser	na	
sua	mão,	mas	nas	suas	partes	íntimas.
As situações apresentadas retratam brevemente os casos clássicos 
e precursores da psicanálise freudiana. Embora cada caso tenha sua 
especificidade, eles têm a neurose em comum. Assim, podemos ter 
uma compreensão das neuroses: sua diversa manifestação de sinto-
mas e psicopatologiasassociada à estrutura neurótica de personali-
dade proposta por Freud.
ATENÇÃO
Nos	casos	descritos,	podemos	perceber	a	necessidade	de	atenção	à	história	
que	os	pacientes	carregam:	suas	fantasias,	seus	medos,	suas	dúvidas,	a	maneira	como	
cada	um	enxerga	sua	 realidade.	Afinal,	os	sintomas	estão	associados	com	a	história,	
por	vezes	criadas	somente	na	cabeça	dos	neuróticos.	Para	eles,	tudo	o	que	pensam	e	
sentem	possuem	um	sentido	atrelado	aos	conteúdos	inconscientes.
FIGURA 14 – REPRESENTAÇÃO DA NEUROSE
FONTE: <https://shutr.bz/3j5hgDx>. Acesso em: 12 ago. 2021.
30
Quando	pensamos	nos	sintomas	de	Ana,	eles	estariam	relacionados	às	expe-
riências	infantis	dela,	principalmente	no	que	diz	respeito	à	maneira	opressora	de	seus	
pais	sobre	seu	comportamento.	Como	em	momentos	em	que	ela	estava	desatenta	e	o	
pai	a	repreendia	de	forma	opressora,	o	que	desperta	nela	uma	incongruência	de	desejo	
e	ação.	Ela,	então,	convertia	essa	hostilidade	em	sintomas	corporais	e	em	momentos	
que	“saia	do	ar”,	como	se	não	estivesse	presente	nas	conversas.	
 
Não	temos	a	intenção	de	esgotar	o	estudo	sobre	os	casos,	uma	vez	que	eles	
podem	e	devem	ser	olhados	mais	minuciosamente.	Todo	estudo	em	psicanálise	requer	
dedicação,	tempo	e	muita	interpretação.	A	pretensão	maior	aqui	foi	elucidar	como	ocor-
reu	o	processo histórico	da	psicanálise	em	sua	emergência	naquele	cenário,	mos-
trando	por	meio	da	aplicabilidade da ciência psicanalítica,	o	início	de	sua	efetivação	 
como	metodologia	de	trabalho	com	saúde	mental.	
Esperamos	que	tais	exemplos	possam	auxiliar	na	compreensão	da	teoria,	da	
metodologia	e	da	perspectiva	clínica	proposta	por	Freud	com	a	constituição	da	psicaná-
lise.	Lembrando	que	cada	caso	clínico	tem	suas	singularidades,	de	modo	que	devemos	
observar	com	muita	cautela	e	zelo,	pois	estamos	diante	do	sofrimento	e	das	dificulda-
des	de	um	sujeito	que	busca	ajuda	ou	uma	suposta	cura.	Estejamos,	assim,	atentos	e	
abertos	para	compreender	e	intervir	de	forma	ética,	pautados	em	aportes	epistemológi-
cos,	teóricos	e	metodológicos	confiáveis,	que	promovam	saúde	mental.
Para o aprofundamento dos conhecimentos sobre a história de 
Sigmund Freud e seu processo de construção da psicanálise, 
assim como os casos clínicos, indicamos o filme Freud, além da 
alma, dirigido por John Huston, e também o documentário O 
jovem doutor Freud, dirigido por David Grubin.
DICA
31
Neste tópico, você aprendeu:
•	 A	história	de	vida	dos	teóricos	contribui	para	o	próprio	processo	de	instituição	das	
novas	ciências.
•	 A	Psicanálise	se	constitui	como	uma	nova	ciência	pautada	em	descobertas	relevan-
tes	para	os	tratamentos	das	patologias	que	eram	vistas	e	tratadas	como	somente	
orgânicas,	possibilitando	novos	olhares	para	o	sofrimento	psíquico	e	alternativas	de	
cura.	
•	 O	processo	histórico	da	instituição	da	Psicanálise	se	deu	em	um	contexto	marcado	
por	resistências	a	essa	teoria,	não	sendo	considerada,	a	priori,	como	ciência,	pois	não	
se	enquadrava	na	perspectiva	positiva	de	ciência	vigente	na	época.
•	 Foi	 com	 persistência,	 produção	 de	 conhecimento	 e	 muita	 clínica	 que	 Freud,	 por	
meio	de	seus	casos	clássicos	no	tratamento	da	histeria	e	das	neuroses,	se	destacou	
na	sociedade	científica	e	promoveu	uma	nova	teoria	sobre	o	sujeito,	sua	estrutura	
psíquica	e	seu	sofrimento.
RESUMO DO TÓPICO 2
32
AUTOATIVIDADE
1	 Todas	 as	 linhas	 e	metodologias	 da	 ciência	 e	 de	 estudos	 sobre	 o	 ser	 humano	 são	
protagonizadas	 por	 pensadores	 que	 se	 debruçaram	 intensamente	 sobre	 seus	 ex-
perimentos	e	conhecimentos,	promovendo	quebras	de	paradigmas	e	construção	de	
outros.	Uma	das	teorias	precursoras	no	tratamento	das	psicopatologias,	para	além	do	
aspecto	orgânico,	é	a	Psicanálise.	Assinale	a	alternativa	que	corresponde	ao	nome	do	
pai	da	psicanálise:	
a)	 (			)	 Carl	Jung.
b)	 (			)	 Sigmund	Freud.
c)	 (			)	 Charcot.
d)	 (			)	 Breuer.
2	 A	Psicanálise	foi	pioneira	no	que	diz	respeito	à	maneira	de	abordar	e	tratar	a	histeria.	
Junto	com	Breuer,	Freud	trabalhou	com	a	hipnose	em	um	caso	muito	conhecido,	
o	 qual	 apresentava	 sintomas	 histéricos,	 contudo,	 não	 apresentava	melhoras	 com	
métodos	tradicionais	de	intervenção.	Tal	caso	clássico	da	história	da	psicanálise	se	
refere	ao:	
a)	 (			)	 Caso	Anna	O.
b)	 (			)	 Caso	Melanie	K.
c)	 (			)	 Caso	do	homem	dos	ratos.
d)	 (			)	 Caso	do	pequeno	Hans.
3	 Freud,	em	sua	psicanálise,	utilizou	novos	métodos	de	investigação	e	tratamento	das	
patologias	que	acometiam	o	corpo	e	a	“alma”,	ou	seja,	o	subjetivo.	A	respeito	desses	
métodos,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 Dedução,	interpretação	e	modulação	neuronal.
b)	 (			)	 Hipnose,	modulação	neuronal	e	indução.
c)	 (			)	 Hipnose,	associação	livre	e	interpretação.
d)	 (			)	 Catarse	e	modulação	neuronal.
4	 A	instituição	da	psicanálise,	enquanto	ciência	e	método	de	investigação	e	tratamento	
das	patologias,	passou	por	momentos	de	resistência	no	território	europeu	e	também	
fora	dele.	A	partir	de	seus	estudos,	comente	como	a	psicanálise	conseguiu	ganhar	
espaço	como	teoria	e	metodologia	de	tratamento	das	psicopatologias.	
5	 Os	casos	clássicos	de	Freud	possibilitaram,	de	certa	forma,	comprovar	a	eficácia	da	
psicanálise	no	tratamento	das	neuroses,	entre	elas	há	um	destaque	para	o	tratamen-
to	da	histeria.	Comente	brevemente	sobre	o	caso	Anna	O.	e	sua	importância	para	a	
instituição	da	psicanálise.
33
TÓPICO 3 — 
A HISTÓRIA DA PSICANÁLISE NO BRASIL
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste	momento	de	nossos	estudos,	iremos	abordar	a	Psicanálise	e	seu	surgi-
mento	no	Brasil.
Poderemos,	 desse	modo,	 observar	 como	 a	 Psicanálise	 se	 instituiu	 enquanto	
teoria	e	prática	em	saúde	mental	em	nosso	território	nacional.
 
Tal	conhecimento	é	 importante	porque	é	necessário	compreendermos	como	a	
Psicanálise	foi	e	é	trabalhada	enquanto	uma	ciência	da	psique	(ou	da	alma)	em	um	con-
texto	de	tantas	alternativas	que	promovem	uma	cura	rápida	e	sem	maiores	esforços.
2 O BRASIL E A PSICANÁLISE
A	forma	como	a	Psicanálise	se	institui	no	cenário	nacional	é	o	começo	de	uma	
nova	maneira	de	 intervir	na	saúde	mental	e	nos	fenômenos	psíquicos,	gerando	para	
com	outros	países	uma	ruptura	de	paradigmas	e	um	outro	jeito	de	falar	e	trabalhar	com	
o	sofrimento	humano.	
2.1 A EMERGÊNCIA DA PSICANÁLISE NO BRASIL 
Foi	no	início	do	século	XX	que	a	psicanálise	começou	a	se	instituir	no	cenário	
brasileiro,	aliada	aos	saberes	médicos	da	época,	sendo	abraçada	por	diferentes	grupos,	
mas	sempre	na	tentativa	de	resgatar	e	articular	as	necessidades	que	se	instalavam	no	
território	nacional.	
 
Conforme	 estudamos	 no	 tópico	 anterior,	 quando	 Freud	 se	 colocou	 a	 explorar	
os	territórios	fora	da	Europa,	ele	se	 lançou	com	seus	colaboradores	para	a	América	do	
Norte,	isso	ocorreu	em	1909.	Assim,	ele	proferiu	estudos,	pesquisas	e	experiências	que	 
o	 levaram	a	escrever As cinco lições de psicanálise.	Essa	obra	 já	citada	foi	difundida	
pelo	mundo	e	chegou	ao	Brasil	como	precursora	da	Psicanálise,	orientando	essa	nova	
abordagem	de	intervenção	nas	psicopatologias	e	nos	sofrimentos	humanos.
34
Salientamos aqui o momento histórico em que o Brasil se encontrava 
quando a psicanálise começou a se instituir como um campo do saber 
e fazer em saúde mental. Tratava-se da virada do século XX, quando 
nosso país estava abolindo a escravidão e consolidando um estado 
de República. Muitas mudanças políticas ocorreram a partir de tais 
situações sociais, culturais e econômicas. 
ATENÇÃO
O	cenário	nacional,	nesse	período	histórico,	foi	marcado	por	transformações e 
necessidade	de	novas	adequações	devido	ao	processo	de	modernização.	Eram	muitas	
arestas	para	serem	podadas	e	novas	formas	de	viver	e	se	organizar	socialmente	sendo	
instauradas.	As	dificuldades	estavam	relacionadas	à	própria	organização	dos	espaços,	
enquanto	as	questões	de	higiene	estavam	relacionadas	à	falta	de	saneamento	básico	
que	atendesse	toda	a	população.	Como	também	a	vida	dos	imigrantes	europeus	e	suas	
necessidades	de	trabalho	e	moradia.		
Nesse contextode necessidade de reformulações e estratégias 
de melhorias sanitárias, de reorganização social e de emergência 
em pensar soluções para os problemas de saúde da população, 
a intelligentsia nacional passou a articular sobre formas higienistas 
para conter o avanço das mazelas sociais e culturais. A Psicanálise, 
então, começou a ganhar espaço a partir da inserção dessa intelli-
gentsia, junto aos saberes médicos.
ATENÇÃO
É	nessa	perspectiva	que	a	medicina	começou	a	intervir	para	não	somente	regular 
os	corpos	quanto	ao	enfrentamento	das	doenças,	mas	também	numa	tentativa	de	orga-
nizar	o	corpo	social.	Tratava-se	de	uma	ideia	de	normatizar	as	pessoas,	higienizar	aquilo	
que	estava	sendo	intolerável	quanto	às	subjetividades	doentes	e	desviantes	das	normas	
institucionais	da	época,	considerada	a	primeira	república.
Visto que a concepção higienista da medicina se tornara fortemente 
presente no Brasil, a Psicanálise surgiu como método de intervenção 
para tratar os sujeitos que eram considerados como débeis e impo-
tentes frente às demandas da sociedade. Sociedade essa marcada 
pela ideia de homogeneização da espécie, na qual o diferente não era 
aceito e por isso, refutado e excluído da sociedade.
IMPORTANTE
35
Dessa	maneira,	 a	 psicanálise	 seria	 uma	 das	 intervenções	 para	 “corrigir”	 tais	
“anormalidades”	e	garantir	o	equilíbrio	de	uma	sociedade	higienizada,	limpa	de	seres	e	
situações	que	fugissem	a	norma	constituída	por	esse	ideal	absurdo	e	preconceituoso.	
Tal	ideal	seria	pautado	pela	psicanálise,	a	qual	iria	contribuir	com	seus	conhecimentos	e	
práticas	na	higienização,	ou	seja,	numa	limpeza	desses	sujeitos	não	quistos	e/ou	com	
potencial	de	trabalho.
 
Havia	 também	uma	 expectativa	 de	 utilizar	 a	 psicanálise	voltada	 para	 a	 nossa	
realidade	latina,	a	partir	das	demandas	da	nossa	realidade,	sendo	diferente	da	realidade	 
e	dos	problemas	científicos	da	Europa.	
Vale ressaltar que a psicanálise circulava no Brasil antes mesmo 
das intervenções científicas, enquanto leitura assídua de muitos 
psiquiatras e também de artistas, como no caso da literatura.
ATENÇÃO
Sua	 inserção	 ocorreu	 junto	 com	a	 psiquiatria,	 quando	 esta	 reconhece	 que	 as	
neuroses	 manifestam	 sintomas	 que	 não	 podem	 ser	 considerados	 como	 genéticos	 e	
tampouco	 são	 tratados	 com	métodos	 tradicionais	 da	 psiquiatria.	 O	 que	 possibilitou	 à	
psicanálise	intervir	de	forma	a	problematizar,	analisar	e	interpretar	tais	psiconeuroses	e,	
assim,	promover	novos	meios	de	intervenção,	inclusive	nas	demais	patologias	da	mente.	
FIGURA 15 – EGO E SUPEREGO
FONTE: <https://shutr.bz/3BGZKwx>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Foi	 a	 psicanálise	 uma	 das	 responsáveis	 por	 educar	 o	 povo	 e	 o	 normatizar,	
promovendo	uma	psicoeducação moral e ética	na	sociedade	moderna.	Poderíamos	
pensar,	a	partir	de	então,	em	uma	“domesticação”	do	Ego	guiada	por	um	Superego.	
36
O primeiro nome que aparece na história da inclusão da psicanálise 
é de Juliano Moreira (1873-1933). Ele utilizava a psicanálise no 
estado da Bahia, tanto como professor, instigando seus discentes 
a estudar essa nova proposta teórica e metodológica, quanto na 
aplicabilidade da psicanálise em sua própria clínica. 
IMPORTANTE
Sendo	assim,	a	psicanálise	começou	a	se	ramificar	no	território	nacional	como	
uma	possibilidade	de	lidar	com	questões	de	conflito	e	ajudar	a	constituir	o	estado	moder-
no	e	o	ser	humano	em	constante	relação	intra	e	interpessoal.	Ela	poderia	explicar	como	
se	davam	os	processos	mentais	e	também	as	configurações	sociais,	facilitando	as	inter-
venções	mais	eficientes	no	objetivo	de	modernizar	o	país.	
 
A	criação	da	Liga brasileira de Higiene Mental	se	institui	em	1922,	na	cidade	do	
Rio	de	Janeiro,	com	uma	perspectiva	de	trabalho	com	a	saúde	mental	coletiva.	
As	práticas	de	educação	e	normatização	dos	sujeitos	ganhou	mais	força	e	a	psi-
canálise	passou	a	auxiliar	esse	processo,	como	sendo	uma	das	responsáveis	por	avaliar,	
diagnosticar	e	promover	a	manutenção	de	uma	“ordem	social”.
3 A INSERÇÃO DA PSICANÁLISE NO CONTEXTO 
NACIONAL ATUAL 
Abordaremos,	agora,	a	relação	entre	a psicanálise na contemporaneidade e 
sua	contextualização	 frente	aos	desafios	desta	como	ciência do subjetivo.	Diante	
de	uma	suposta	crise	da	psicanálise,	além	de	tantos	métodos	que	prometem	uma	cura	
para	o	sofrimento	mental	de	modo	rápido	e	com	pouca	implicação	pessoal	no	processo,	
podemos	visualizar	os	meios	em	que	a	psicanálise	pode	estar	 inserida	nas	camadas	
sociais	em	diferentes	perspectivas	de	intervenção	em	saúde	mental.
3.1 A PSICANÁLISE COMO CIÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE
Sabemos	que	a	psicanálise,	desde	seu	surgimento	no	século	XIX,	com	as	pri-
meiras	ideias	e	investigações	de	Freud	sobre	o	psiquismo,	sempre	existiram	ressalvas	e	
resistências	pela	comunidade	científica.	
Destarte,	 essa	 teoria	 e	 metodologia	 clínica	 sempre	 tiveram	 espaços	 criados	
nas	fissuras	da	sociedade	médica	e	psiquiátrica.	O	movimento	da	psicanálise	acontece	
também	com	rupturas	e	novos	paradigmas,	os	quais	são	atrelados	a	obras	iniciais	de	
Freud,	mas	muitas	vezes	revisitados	por	seus	contemporâneos.
37
Por	mais	que	a	psicanálise	se	proponha	a	romper	paradigmas	e	criar	outros,	ela	
ultrapassa	esse	status,	pois	a	escuta	(elemento	primário	e	fundamental	da	clínica	psicana-
lítica)	precisa	estar	à	disposição	de	simbolismos	e	do	desejo.	Sendo	necessário	que	ela	se	
dê	de	forma	atenciosa	e	concisa,	com	o	olhar	clínico	mais	integral	sobre	aquele	que	ouvi-
mos,	não	reduzindo	os	sujeitos	a	sintomas	e	queixas,	mas	indo	além	em	sua	compreensão.	
FIGURA 16 – SIMBOLISMO
FONTE: <https://shutr.bz/3j6ajlx>. Acesso em: 12 ago. 2021.
No	entanto,	o	que	se	percebe	na	contemporaneidade	é	a	pressa,	ou	seja,	pressa	
para	diagnosticar,	para	dar	respostas	que	por	vezes	parecem	receitas,	 isto	é,	 iguais	a	
todos	sem	lembrar	das	singularidades	e	dos	contextos.	Há	o	diagnóstico	rápido,	a	clas-
sificação	do	sujeito	e	o	tratamento	adequado	a	partir	da	psicopatologia,	e	não	do	sujeito	
que	adoece	e	fala	sobre	seu	sofrimento.
Sabemos	que	as	tentativas	de	adequar	a	psicanálise	às	ciências	continuam	em	
movimento,	de	modo	que	novas	pesquisas	estão	sempre	sendo	realizadas	com	o	intuito	
de	acompanhar	as	mudanças	do	contexto	sócio-histórico,	assim	como	as	próprias	psi-
copatologias.	Com	novos	transtornos	mentais	surgindo	e,	consequentemente,	a	socie-
dade	adoecendo	cada	vez	mais	com	questões	psíquicas,	torna-se	necessário repensar 
 a psicanálise e	sua	aplicabilidade.
Como a psicanálise propõe uma escuta intensa e genuína, 
atenciosa e, por vezes, mais frequente e demorada, ela acaba 
por ser, além de questionada em seus resultados, refutada pelos 
sujeitos que desejam resolver seus conflitos internos de forma 
rápida e sem muita responsabilidade sobre o processo.
ATENÇÃO
38
Podemos observar o crescente desenvolvimento de novas psicopa-
tologias a partir dos próprios manuais de diagnóstico, em especial 
o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V). 
Para conhecer mais e se atualizar, leia o manual na íntegra: https://
edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5662409/mod_resource/con-
tent/1/DSM-5.pdf. 
DICA
Devemos	 considerar,	 ademais,	 que	 os	 sintomas	 na	 psicanálise	 estão	 funda-
mentados	na	linguagem,	pois	é	por	meio	dela	que	eles	se	manifestam,	seja	de	forma	
oral	ou	corporal,	em	situações	não	evidentes	nem	mesmo	para	o	sujeito,	possibilitan-
do	que	o	processo	da	psicanálise	e	sua	escuta	especializada	traga	à	tona	as	questões	
do	inconsciente.	
FIGURA 17 – LINGUAGEM CORPORAL
FONTE: <https://shutr.bz/3veSeGG>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Existe	uma	necessidade	de	sermos	sensíveis	e	irmos	além	da	linguagem	falada,	
sem	desprezá-la.	Aqui	podemos	lembrar	um	conceito	muito	utilizado	e	trabalhado	por	
Freud,	trata-se	da	transferência	e	da	contratransferência	entre	o	analista	(psicana-
lista)	e	o	analisando	(sujeito	que	fala).	
3.2 HÁ UMA CRISE NA PSICANÁLISE? 
No	cenário	contemporâneo	há	uma	controvérsia	sobre	uma	possível	crise	quea	psicanálise	estaria	enfrentando	em	relação	à	procura	de	atendimentos	e	de	análise	
como	meio	de	resolução	de	seus	conflitos	psíquicos.	Muito	dessa	suposta	crise	acaba	
sendo	um	reflexo	da	pressa contemporânea	em	se	responder	as	questões	de	forma	
imediata	e	resolver	os	conflitos	e	sofrimentos	sem	necessariamente	haver	um	compro-
metimento	de	quem	sofre,	delegando	ao	externo	e	a	outras	práticas	a	busca	por	uma	
cura	e	melhora	psicológica.	
39
FIGURA 18 – PROCESSO TERAPÊUTICO
FONTE: <https://shutr.bz/3BKYp84>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Tal	 crise	 começa	 a	 ser	 percebida	 pelos	 psicanalistas	 quando	 os	 analisados	
acabavam	por	não	se	adequar	com	a	proposta	da	psicanálise,	e	deixavam	o	tratamento	
antes	 mesmo	 de	 qualquer	 melhora	 no	 quadro	 clínico.	 A	 partir	 disso,	 pensaram	 em	
estabelecer	perfis	para	o	atendimento	em	psicanálise,	o	que	também	não	surtiu	efeito,	
por	 serem	 estes,	 ao	 fim,	 sujeitos	 que	 não	 precisariam	 de	 uma	 intervenção	 de	 cura,	
mas	sim	de	um	suporte	para	o	cotidiano.	Além	da	questão	do	tempo	de	um	processo 
analítico,	existem	algumas	questões	de	cunho	social,	uma	vez	que	vivemos	em	uma	
sociedade	marcada	pelo	capital,	pela	pressa	e	pela	pressão	de	produzir	sempre	e	no	
menor	tempo	possível.	
FIGURA 19 – PRESSA
FONTE: <https://shutr.bz/3ALg6my>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Desse	modo,	a	necessidade	que	temos	de	aliviar	o	sofrimento	de	forma	rápida	
faz	com	que	não	pensemos	em	estratégias	mais	genuínas	de	melhora	e	cura,	e	sim	
em	paliativos	que	amenizam	sintomas,	como	as	medicações,	mas	os	sintomas	não	são	
resolvidos	 e	 nem	elaborados,	voltando	 como	 fantasmas	 a	 cada	nova	dificuldade	 em	
relação	aos	nossos	recursos	psíquicos.
Essa	crise	foi	identificada	em	todos	os	territórios	por	ela	contemplados,	e	parece	
marcar,	por	vezes,	uma	crise	do	próprio mercado quanto	aos	tratamentos	em	saúde	
mental.	A	urgência	em	ser	feliz	ou	em	viver	tudo	de	uma	vez	só,	além	da	falta	de	empa-
tia	para	consigo	mesmo,	ou	seja,	não	olhar	para	si	com	mais	respeito	e	honestidade	ao	
buscar	resolver	conflitos,	gera	o	uso	de	uma	“máscara	da	felicidade”	superficial.	
40
FIGURA 20 – MÁSCARAS DA FELICIDADE
FONTE: <https://shutr.bz/3n0tu18>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Permitir-se	entrar	em	contato	com	seus	fantasmas	mais	profundos	pode	dar	
medo	e	representar	muita	responsabilidade	para	enfrentar	tais	fantasmas.	Nesse	caso,	
a	psicanálise	está	à	disposição	para	lidar	com	todos	os	fantasmas	que	criamos	e	nos	
sãos	criados,	em	seu	processo	de	análise	que	vai	compreender	e	ouvir	o	sujeito	em	sua	
singularidade e historicidade,	para	então	promover	a	intervenção clínica	neces-
sária	àquela	situação	em	particular.	O	resultado	do	processo	é	muito	melhor	do	que	a	
sua	negação.
Encontramos	em	Herrmann	(2002)	uma	suposição	sobre	essa	crise	na	psica-
nálise,	sendo	uma	crise	associada	também	aos	próprios	teóricos da psicanálise,	os	
quais	 precisariam	 se	atualizar e modificar	 suas	 formas	 de	ver	 e	 fazer	 psicanálise.	
Para	que	pudessem,	assim,	promover	a	clínica psicanalítica,	buscando	e	construindo	
novos	conceitos	e	métodos	mais	alinhados	com	as	necessidades	sociais	e	individuais.
Por	fim,	podemos	notar	que	as	crises	servem	para	que	possamos	sempre	rea-
valiar	nossos	conhecimentos,	nossas	observações	e	metodologias	de	intervir	na	ciência	
e	com	a	ciência,	em	prol	de	melhorias	que	atinjam	a	maioria da população.	Portanto,	
pensar	a	crise	na	psicanálise	é	possibilitar	a	produção	de	novos	olhares	e	saberes	sobre	
os	fenômenos	psíquicos	e	as	psicopatologias,	seus	diagnósticos	e	tratamentos.	
É muito importante articular a clínica psicanalítica com o momento 
social, econômico e cultural de sua época, sempre se reinventando 
a partir das demandas em saúde mental e psicopatologias. Desse 
modo, devemos rever a teoria e fazer com que ela não morra inte-
lectualmente e muito menos enquanto prática de cuidado em saúde.
ATENÇÃO
41
LEITURA
COMPLEMENTAR
UM EXERCÍCIO RIGOROSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA
Angélica	Bastos
Diante	do	mal-estar	subjetivo,	Freud	assumiu	uma	posição	ativa	que	resultou	
na	criação	de	um	dispositivo	clínico	 inusitado	e	solidário	à	 invenção	do	 inconsciente.	
Assim,	pelo	ato	de	Freud,	surgiu	a	psicanálise	em	descontinuidade	com	o	que	era	até	
então	possível	pensar,	desejar	e,	sobretudo,	fazer.	O	modo	segundo	o	qual	a	investiga-
ção	psicanalítica	se	arquiteta	já	indica	uma	série	de	exigências.	Segundo	Freud,	o	termo	
psicanálise	comporta	três	acepções;	em	primeiro	lugar,	designa	“um	procedimento	para	
a	 investigação	de	processos	mentais	que	são	quase	 inacessíveis	por	qualquer	outro	
modo”	(FREUD,	1923/1966,	p.	287).	
Numa	segunda	acepção,	a	psicanálise	é	um	tratamento	baseado	nessa	inves-
tigação.	Por	último,	“é	uma	coleção	de	informações	psicológicas	obtidas	ao	longo	des-
sas	 linhas,	e	que	gradualmente	se	acumula	numa	nova	disciplina	científica”	 (FREUD,	
1923/1966,	p.	287).	Essas	três	acepções	se	conjugam	e	se	interpenetram,	posto	que	as	
linhas	de	investigação	e	de	tratamento	estão	na	base	da	teoria	psicanalítica	que	só	exis-
te	à	medida	que	pesquisa	e	clínica	para	ela	confluem.	A	experiência	psicanalítica	não	
é	mediada	por	ideias	ou	conceitos	abstratos	e	mesmo	o	conceito	fundamental	(Grun-
dbegriff)	não	está	na	base	(não	é	um	conceito	básico),	mas	no	topo	(FREUD,	1914/1999),	
como	resultado	de	uma	elaboração.
Na	base,	encontra-se	o	trabalho	do	 inconsciente,	trabalho	sob	transferência,	
cuja	sustentação	depende,	como	apontou	Lacan,	do	desejo	do	analista.	Para	conceituar	
a	clínica	e	transmitir	a	psicanálise,	o	analista	se	remete	à	experiência	inaugural	de	Freud	 
e	dirige	indagações	a	seus	textos.
UM PRINCÍPIO DE LEITURA E DUAS ORDENS DE LAÇO
Ao	ler	a	obra	de	Freud,	Cosentino	(1999a,	2004)	não	se	limita	a	tratar	seu	pen-
samento	como	um	fato,	por	isso,	não	recai	numa	história	da	ciência	ou	das	ideias.	Tam-
pouco	toma	o	fato	da	obra	freudiana	para	tratá-lo	como	ideia,	não	realizando,	por	con-
seguinte,	uma	epistemologia	de	seus	conceitos.	
Um	exercício	rigoroso	de	investigação	clínica	história	do	pensamento	e	da	epis-
temologia,	além	do	fato	e	das	ideias	freudianas,	com	a	psicanálise	inaugura-se	um	novo	
campo	de	experiência,	irredutível	a	uma	Weltanschauung	filosófica	ou	ao	campo	do	ex-
perimento	científico.	
42
Nem	concepção	totalizante	do	mundo,	nem	investigação	de	um	campo	objeti-
vável	segundo	um	modelo	de	ciência	exata,	a	psicanálise	se	define	por	uma	práxis	e	o	
objeto	da	teoria	psicanalítica	coincide	com	o	campo	desta	práxis.	Trata-se	do	campo	de	
uma	experiência	mediada	pela	linguagem,	mais	especificamente	mediada	pela	transfe-
rência,	condição	da	clínica	psicanalítica.	O	rigor	na	investigação	psicanalítica	requer	a	
transferência	e	essa	exige	do	analista	que	interrogue	sua	posição.
Sobre	o	campo	da	experiência	analítica,	o	trabalho	de	Cosentino	(1998a,	1998b,	
2001,	2004)	muito	ensina	ao	leitor	que	acompanha	sua	demarcação	na	descoberta	freu-
diana	do	inconsciente,	pontuada	pelas	irrupções	da	dimensão	do	real,	correspondendo	
ao	que	Freud	circunscreveu	como	trauma	e	que	hoje,	após	certos	desenvolvimentos	
teóricos,	abordamos	como	gozo.
Com	as	primeiras	histéricas,	Freud	se	defrontou	com	o	que	chamou	de	contra-
-vontade,	o	sujeito	impelido	a	fazer	algo	apesar	de	si	mesmo	ou	impedido	de	fazê-lo,	
malgrado	sua	vontade.	Se	esta	pode	ser	definida	como	uma	faculdade	através	da	qual	
alguém	é	capaz	de	opor-se	a	si	mesmo,	de	contrapor-se	à	pressão	imperiosa	de	seus	
impulsos,	a	suas	ideias	intrusivas,	descobrimos	na	contra-vontade	a	determinação	pelo	
inconsciente	e	a	debilidade	da	vontade	suplantada	pela	força	da	pulsão.	A	compulsão	à	
repetição	e	a	pulsão	de	morte,	a	satisfação	de	outra	índole,	colocam	mais	e	novas	exi-
gências	a	Freud	e	aos	psicanalistas.	
Lacan	(1962/1998)	reabilita	o	termo	vontade	e	subverte	a	ideia,	introduzindo-o	
no	registro	da	pulsão	de	morte	e	retirando-lhe	toda	temperança,	todo	bom-senso,	todo	
bem,	com	a	expressão	vontade	de	gozo.
A	investigação	de	Cosentino	(2001)	percorre	a	teorização	do	campo	psicanalí-tico	como	campo	da	linguagem	(e	do	Outro)	e	seu	desdobramento	em	campo	do	gozo.	
Este,	à	medida	que	não	se	deixa	absorver	na	significação	do	desejo,	exige	um	trata-
mento,	definindo	uma	clínica	do	real,	que	não	confunde	a	dimensão	fantasmática	com	
a	estrutura	em	que	o	sujeito	se	constitui	pela	inscrição	de	uma	marca	de	gozo.
Seu	livro	Construcción de los conceptos freudianos	(COSENTINO,	1993,	1999a)	
consiste	numa	leitura	conceitual	da	obra	de	Freud,	uma	releitura	que	acompanha,	mui-
to	mais	que	a	cronologia,	o	movimento	do	pensamento	freudiano	 impulsionado	pela	
problemática	clínica.	Do	fato	de	que	a	experiência	de	Freud	nem	sempre	esteve	bem	
correlacionada	à	construção	teórica,	isto	é,	que	a	clínica	não	caminha	pari passu	com	a	
elaboração	conceitual,	mas	adianta-se	a	ela,	Cosentino	(1993,	1999a)	extrai	um	princípio	
de	leitura.
Desde	os	primeiros	textos	estudados,	a	partir	do	núcleo	designado	por	Freud	
de	“patógeno”,	são	formuladas	questões	que	atravessam	e	estruturam	seu	trabalho,	a	
saber,	a	existência	de,	em	primeiro	lugar,	“um	limite	à	recordação:	o	núcleo	como	um	
43
ponto	de	falta	na	própria	cadeia	associativa.	Com	o	dizer,	nem	tudo	pode	se	dizer”	(CO-
SENTINO,	1999a,	p.	38)	e,	em	segundo	lugar,	um	limite	à	significação.	Quanto	a	este,	o	
autor	afirma	que	o	núcleo	antecipa	também	o	“núcleo	genuíno	do	perigo”,	assinalado	por	
Freud	em	Inibição, sintoma e ansiedade	(FREUD,	1926/1976).	
Ele	aplica	Freud	ao	próprio	texto	freudiano	e,	localiza	“um	resto	que	escapa	ao	
dizer,	fora	da	cadeia	associativa	e	da	função	da	palavra.	O	que	excede	a	sobre	determi-
nação	e	introduz	com	a	angústia	o	registro	da	causa”	(COSENTINO,	1999a,	p.	38).	Para	os	
psicanalistas,	define-se,	então,	um	procedimento	de	interpretação	inconfundível	com	
a	hermenêutica	que	buscaria	 o	desdobramento	da	 significação	 sempre	 insaturada	e	
pronta	a	liberar	algo	de	novo	ou	ainda	não	dito.	Assim,	a	linha	de	investigação	do	autor	
segue	o	que	não	se	deixa	capturar	pela	significação,	e	que	irrompe	de	modo	pontual	no	
fenômeno	do	estranho	e	em	várias	dimensões	do	horror.
O	 autor	 percorre	 as	 obras	 de	 Freud	 e	 Lacan,	 endereçando-lhes	 as	 questões	
suscitadas	pela	distinção	de	duas	ordens	de	laço	na	experiência	do	analista:	de	um	lado,	
fantasma,	frase	superegóica,	neurose	de	transferência,	aspecto	metafórico	do	sintoma;	
de	outro,	os	traços	de	caráter,	a	estrutura.	Na	tensão	entre	esses	dois	laços	que	coexis-
tem	e	se	diferenciam,	o	psicanalista	(COSENTINO,	1998b)	vai	dos	estudos	das	fobias	em	
Freud	até	ao	conceito	lacaniano	de	lalangue	(COSENTINO,	2007).
Em	relação	à	servidão,	não	bastam	a	tragédia	de	Édipo,	e	a	neurose	de	transfe-
rência.	Há	outra	dimensão	em	jogo:	a	tragédia	contemporânea.	Ela	opera	sob	transfe-
rência,	mas	não	é	sintomatizável.	Freud	a	denominou	traços	de	caráter:	continuações	
inalteradas	das	pulsões	originárias	ou	formações	reativas	a	elas.	Traços	e	formações	
mais	 inatingíveis	para	a	 análise	que	o	 sintoma-metáfora,	 os	processos	neuróticos,	 a	
neurose	 de	 transferência	 e	 a	 dimensão	 fantasmática	 ou	 superegóica.	 (COSENTINO,	
2001,	p.	18)
Inibição,	sintoma	e	angústia	foram	formas	do	mal-estar	detectadas	como	res-
postas	ao	real,	traduzindo	a	relação	do	sujeito	com	o	gozo.	Da	tríade	de	respostas	re-
pertoriadas	e	teorizadas	por	Freud,	o	autor	dedica-se	intensamente	ao	estudo	da	an-
gústia,	passando	pelas	neuroses,	especialmente	a	fobia,	e	pelos	sonhos	de	angústia	
que	cedo	interrogaram	o	império	do	princípio	do	prazer.	Em	toda	incursão	que	efetua	
na	obra	freudiana,	ele	atende	à	necessidade	de	se	situar	um	ponto	de	exterioridade	ao	
princípio	do	prazer,	ponto	que	distingue	a	prática	psicanalítica	das	clínicas	que	objeti-
vam	a	dimensão	real	do	mal-estar	e	neutralizam	o	sintoma,	reduzindo-o	ao	sofrimento	
erradicável.	
O	 reconhecimento	desse	ponto	exterior	à	homeostase	do	prazer	permite	aos	
analistas	não	somente	abordar	o	gozo,	enquanto	satisfação	pulsional	além	do	princípio	
do	prazer,	como	também	apostar	no	desejo,	cuja	sustentação	requer	uma	ultrapassa-
gem	dos	limites	do	prazer.
44
A	clínica	das	fobias	constitui	o	terreno	privilegiado	em	que	o	psicanalista	 in-
terroga	o	dispositivo:	“as	fobias	estendem	os	limites	do	campo	analítico,	e	por	isso,	as	
operações	possíveis	no	marco	da	transferência,	 ao	não	coincidir	 com	a	estrutura	do	
fantasma”	(COSENTINO,	1998a,	p.	10).	Desde	os	primeiros	artigos	de	Freud,	a	reflexão	
de	Cosentino	visa	estabelecer	o	estatuto	da	angústia	como	afeto	e	como	neurose.	Seu	
minucioso	estudo	sobre	as	fobias	ressalta	o	lugar	peculiar	m	exercício	rigoroso	de	in-
vestigação	clínica	que	esta	neurose	ocupa	em	relação	à	histeria	e	à	neurose	obsessiva	
–	placa	giratória	para	esses	dois	tipos	clínicos	-	além	do	destino	que	ela	dá	à	angústia.	
Uma	vez	que	na	fobia	não	se	detecta	a	representação	recalcada,	a	fobia	escapa	ao	“rei-
no	da	substituição”	de	uma	representação	por	outra.	O	autor	ressalta	momentos	em	que	
a	abordagem	freudiana	prefigura	uma	teorização	ulterior,	recortando	em	artigos	tidos	
por	pré-psicanalíticos	algo	que	será	destacado	em	Inibição, sintoma e angústia,	quando	
esta	assumir	um	lugar	primordial	e	anterior	ao	recalque.
Sua	trajetória	de	 investigação	se	prolonga.	Em	seu	comentário	sobre	Herbert	
Graf	(COSENTINO,	1999b)	-	o	pequeno	Hans,	cujo	caso	ele	retoma	em	vários	trabalhos	–	
localiza	um	déficit	fantasmático,	para	o	qual	o	sujeito	encontra	um	sintoma-	suplência.	
Com	bases	nas	 fobias	graves,	 enfrenta	 “o	 enigmático	problema	de	 saber,	 aquém	do	
fantasmático,	de	onde	vem	a	neurose,	ali	onde	o	sujeito,	determinado	pela	estrutura,	se	
diferencia	do	fantasma”	(COSENTINO,	1998a,	p.	10).
Não	se	trata,	no	entanto,	de	uma	pesquisa	limitada	às	fobias.	Estas	conduzem	
a	outras	regiões	da	experiência,	como	é	próprio	do	inconsciente.	Por	exemplo,	a	partir	
do	falo	imaginário	que	acede	ao	estatuto	simbólico	de	razão	do	desejo,	o	psicanalista	
segue	Lacan	na	afirmação	de	um	resíduo	que	não	pode	ser	subsumido	pelo	significante	
e	que,	tal	como	mostram	os	irracionais,	deixa	um	resto,	o	objeto	a,	o	objeto	da	angústia.	
Desloca-se,	então,	da	razão	à	causa	do	desejo,	concernido	pela	função	que	cabe	a	este	
numa	análise.
 
Por	seu	caráter	incontornável	na	existência	humana,	a	angústia	já	se	convertera	
em	objeto	da	filosofia,	antes	que	Freud	a	situasse	no	seio	da	neurose	e	interrogasse	os	
sonhos	de	angústia.	O	foco	de	seu	interesse	se	concentra,	para	além	do	fenômeno	da	
angústia,	em	seu	lugar	estrutural,	introduzido	pela	situação	traumática	de	desamparo,	
que	institui	a	função	do	objeto.	
Nessa	operação,	o	psicanalista	demarca	o	 “campo	da	angústia”	 (COSENTINO,	
1998a,	p.	132)	e	situa	seu	objeto,	o	objeto	a,	no	fundamento	da	divisão	constitutiva	do	
sujeito.	Daí	a	angústia	ganhar	não	só	o	estatuto	de	lugar	e	função,	mas	também	o	de	
tempo	na	constituição	do	sujeito,	uma	vez	que	sua	função	data	de	um	momento	logi-
camente	anterior	à	cessão	desse	objeto	não	objetivável.
A	angústia	concernia	ao	campo	da	linguagem,	à	medida	que	se	a	interrogava	do	
ponto	de	vista	do	desejo	e	do	campo	do	Outro:	“a	angústia	original,	o	lugar	da	angústia,	
se	situa	no	nível	do	Outro	que	nada	pode	fazer	com	isso	que	lhe	escapa,	nada	o	une	a	
45
esse	grito,	já	que	a	cessão	do	objeto	é	um	entre	dois;	situa-se	entre	o	Outro	e	o	sujeito”	
(COSENTINO,	1995,	p.	117).	A	delimitação	do	campo	da	angústia	culmina	em	sua	relei-
tura	no	campo	do	gozo.	Conforme	Cosentino	em	sua	leitura	de	RSI	(LACAN,	1975-1976,	
seminário	inédito),	assiste-se	a	um	deslocamento	da	angústia	para	o	campo	do	gozo,	à	
medida	que	ela	deixa	de	ser	abordada	a	partir	do	desejo	do	Outro.	Assim,	ela	ultrapassa	
a	dialética	entre	o	sujeito	e	o	Outro	para	se	circunscrever	entre	os	registros	e	requisitar	
o	reconhecimento	do	real	e	do	imaginário	do	corpo	no	mal-estar.
O	ofício	do	analista	o	confronta	com	a	necessidade	de	manejar	a	angústia	que	
sobrevém	no	tratamento,	de	acordo	com	o	que	cada	um	é	capaz	de	suportar.	Mas	a	
experiência	também	 indica	que	ela	pode	faltar,	 e	que	as	defesas	mobilizadascontra	
ela	arrastam	o	sujeito	no	acting-out	e	na	passagem	ao	ato.	Por	isso,	“Na	experiência,	
é	necessário	canalizá-la	e,	 se	ouso	dizer,	dosá-la,	para	não	ser	por	ela	 submerso.	Aí	
está	uma	dificuldade	correlativa	da	que	há	em	conjugar	o	sujeito	com	o	real...”	(LACAN,	
1964/1979,	p.	43).	
O	psicanalista	argentino	enfrenta	essa	dificuldade.	Antes	de	tudo,	preocupa-	se	
em	afinar	o	funcionamento	do	dispositivo	com	essa	dimensão	real	da	experiência	do	
inconsciente.	Uma	análise	não	deixa	 intocado	o	fantasma,	desvela	o	 lugar	de	objeto	
que	o	sujeito	ocupava,	e	abala	a	identificação	com	o	objeto	do	fantasma	como	causa	do	
desejo	do	Outro.	A	opacidade	do	desejo	do	Outro	e	as	lacunas	em	seu	discurso	acionam	
a	angústia	e	confrontam	o	sujeito	com	o	fato	de	que	não	sabe	que	objeto	ele	é	para	o	
Outro.	Nessa	direção,	Cosentino	localiza	uma	dimensão	de	horror	no	tratamento	e	inter-
roga	os	destinos	a	que	está	sujeita	a	neurose	de	transferência,	correlativa	ao	fantasma.
Sob	a	temática	do	despertar,	o	psicanalista	contempla	disjunção	entre	o	real	e	
a	realidade.	Freud	vira	no	sonho	o	guardião	do	sono	e	estabeleceu	que	se	sonha	para	
continuar	a	dormir.	Quando	falha	a	função	do	sonho	e	o	sonhador	acorda,	ele	mergulha	
em	sua	fantasia	que	vela	o	real.	Lacan	assinala	no	próprio	despertar	uma	função	homó-
loga:	a	fim	de	continuar	a	dormir,	ao	invés	de	despertar	para	o	real,	o	sujeito	acorda	para	
a	sua	realidade	de	cada	dia.	
O	 despertar	 assim	 entendido	 desnaturaliza	 o	 desejo	 de	 dormir.	 O	 dispositivo	
analítico	não	promove	o	desejo	de	dormir.	Assim,	o	desejo	do	analista	opera	numa	dire-
ção	que	mobiliza	a	função	mediana	da	angústia	entre	o	gozo	e	o	desejo.
Despertar	para	o	real	é	impossível	porque	o	encontro	com	ele	é	faltoso,	isto	é,	
o	real	se	furta	ao	encontro	no	instante	inapreensível	entre	o	sonho	e	o	despertar.	Mas	
é	 impossível	despertar:	o	despertar	é	o	real.	Só	pode	haver	nessa	borda	uma	escrita.	
Resta	ainda	revisar	a	construção	do	dispositivo	analítico	e	a	posição	do	analista,	pois	o	
que	aí	se	escreve	questiona	a	“natureza”	de	sua	posição	(COSENTINO,	1998a,	p.	11).	No	
terreno	dos	sonhos,	a	profundidade	da	análise	de	Cosentino	(1998a,	2004)	não	pode	
ser	restituída	ao	leitor	sem	o	contato	direto	com	seu	texto.	Ele	evidencia	que	ler	Freud	
não	é	a	mesma	coisa	que	 ler	qualquer	outro	autor,	porque	este	 inaugurou	uma	nova	
46
maneira	de	ler:	a	leitura	do	inconsciente,	na	qual	os	sonhos	desempenham	papel	privi-
legiado.	Essa	outra	leitura	busca	uma	certa	decantação	da	linguagem,	numa	pontua-
ção	que	transgride	as	normas	gramaticais,	segundo	uma	lógica	que	desdenha	a	lógica	
das	proposições,	 tira	 conclusões	de	um	fragmento	de	palavra,	 extrai	 consequências	
do	que	se	diz	nos	pedaços	de	frase,	dando	ao	próprio	ato	de	dizer	seu	valor	máximo.	O	
que	não	pode	ser	lido	no	texto	inconsciente,	na	cadeia	associativa,	Cosentino	encontra	
nos	sonhos	que	recuperam	as	marcas	de	experiências	infantis	impressionantes.	Seus	
trabalhos	 recentes	 (COSENTINO,	 2004,	 2007)	 perscrutam	no	 texto	 freudiano	marcas	
(Eindrücke),	impressões,	experiências	contundentes	que	ele	cuidadosamente	distingue	
dos	trilhamentos	de	traços	mnêmicos	que	se	diferenciam	uns	em	relação	aos	outros.
De	modo	original	e	especialmente	bem	documentado,	ele	ensina	a	ler	no	texto	
freudiano	as	marcas	de	lalangue	e	os	afetos	que	ela	suscita	no	sujeito.	As	marcas	de	
experiências	 impressionantes	correspondem	aos	depósitos	da	fala	do	Outro,	detritos	
do	que	cada	um	ouviu	antes	de	poder	subjetivar	ou	significar.	Essas	escansões	e	sedi-
mentações	dos	fragmentos	da	língua	não	serão	capturadas	pela	intenção	significativa,	
não	ingressarão	nos	desfiladeiros	do	significante,	e	muito	menos	na	comunicação.	Tais	
impressões	 indeléveis,	que	ele	diferencia	dos	 rastros	mnêmicos,	 são	equiparadas	ao	
significante	um	que	não	é	um	significante	como	os	demais	(COSENTINO,	2004).
CONCLUINDO
O	sintoma	especifica	o	campo	psicanalítico	e	constitui	a	forma	especialmente	
qualificada	para	a	operação	analítica,	em	sua	relação	com	a	linguagem	Cosentino	(2001)	
situa	o	móvel	para	a	investigação	psicanalítica.	Não	basta	reformular	a	teoria	e	submeter	
os	conceitos	à	prova	da	experiência.	No	retorno	da	teoria	à	experiência,	cabe	ao	clínico	
rever	sua	prática,	fazendo	do	desejo	do	analista	uma	função.
Nós	analistas	contamos	apenas	com	o	sintoma	e,	além	dele,	com	a	linguagem.	
Questionamos,	justamente,	a	relação	entre	os	dois.	O	saber	atribuído	a	algo	no	real	não	
tem	nada	a	ver	com	o	saber	que	se	articula	pelo	fato	de	que	há	um	ser	que	fala.	Pois	
bem,	por	sua	própria	condição,	procura-se	delimitar	uma	relação	entre	a	perda	própria	a	
esse	campo	–	uma	dimensão	do	horror	na	própria	divisão	do	sujeito	-	e	a	função	desejo	
do	analista	(COSENTINO,	2001,	p.	13).
“Eu	não	procuro,	acho”	são	as	palavras	de	Picasso	subscritas	por	Lacan	(1979,	
p.	14).	O	efeito	de	transmissão	que	o	conjunto	dos	textos	de	Cosentino	são	suscetíveis	
de	provocar,	deve-se	à	dimensão	de	achado	presente	em	sua	investigação,	guiada	não	
pela	busca,	mas	pelo	desejo	na	experiência	do	inconsciente.	Ao	leitor,	deixamos	o	con-
vite	para	acompanhá-lo	em	seus	achados,	dentre	os	quais	salientamos	sua	 refinada	
leitura	da	obra	de	Freud	e	a	concepção	de	duplo	laço	da	experiência	analítica.
FONTE: Adaptada de <https://www.scielo.br/j/rdpsi/a/JtzxgZhZDXJLxgdTZ4NW4Nf/?lang=pt>. Acesso em: 
15 jul. 2021.
47
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Assim	como	em	todo	contexto	mundial,	a	Psicanálise	no	Brasil	também	sofreu	resis-
tências	por	parte	da	comunidade	científica	e	começou	a	ganhar	espaço	por	meio	das	
práticas	dos	médicos	que	utilizavam	a	psicanálise	em	sua	clínica	e	também	como	
método	investigativo.
•	 Como	disciplina,	a	psicanálise	passou	a	direcionar	alguns	estudiosos	das	patologias	
e	psicopatologias	que	 já	não	viam	só	a	questão	orgânica	ou	física	como	causa	de	
doenças,	principalmente	as	doenças	e	os	sofrimentos	mentais.
 
•	 A	crise	da	psicanálise	diz	muito	mais	sobre	a	intolerância	do	sujeito	para	se	envolver	
em	um	processo	de	cura	que	requer	tempo,	disposição	e	implicação	total	com	o	pro-
cesso,	frente	a	uma	atualidade	com	promessas	rápidas	de	cura.	
•	 Existem	muitas	possibilidades	de	trabalhar	com	a	psicanálise	no	Brasil,	desde	que	
estejamos	sempre	atentos	às	demandas	singulares	dos	sujeitos	e	seu	contexto.	
RESUMO DO TÓPICO 3
48
AUTOATIVIDADE
1	 Sabemos	que	a	saúde	mental	é	uma	constante	nos	estudos	de	médicos,	psiquiatras,	
psicólogos	e	demais	interessados	no	ser	humano	e	todas	suas	nuances.	No	mundo,	
assim	como	no	Brasil,	houve	a	inserção	de	uma	nova	teoria	e	prática	de	trabalho	com	
os	sujeitos	que	adoeciam,	ultrapassando	o	aspecto	somente	orgânico,	se	detendo	
também	nas	 singularidades	e	no	emocional	desses	 sujeitos.	Passaram	a	observar	
e	 considerar,	 então,	 os	 aspectos	 psíquicos	na	 elaboração	das	 doenças,	 por	vezes	
somatizadas.	Qual	foi	a	linha	teórica	pioneira	dessa	maneira	de	ver	e	tratar	o	sujeito?		
a)	 (			)	 Psicanálise.
b)	 (			)	 Humanismo.
c)	 (			)	 Positivismo	ortodoxo.
d)	 (			)	 Existencialismo.
2	 A	crise	foi	identificada	em	todos	os	territórios,	marcando	uma	crise	do	próprio	merca-
do	em	relação	aos	tratamentos	em	saúde	mental.	Afinal,	a	urgência	em	obter	felicida-
de	ou	em	viver	todas	as	coisas	de	uma	única	vez,	além	da	ausência	de	empatia	para	
consigo	mesmo,	ocasionou	o	uso	constante	de	uma	“máscara	da	felicidade”.	Sobre	
essa	situação,	assinale	a	alternativa	que	apresenta	tal	crise:	
a)	 (			)	 Crise	social.
b)	 (			)	 Crise	emocional.
c)	 (			)	 Crise	da	psicanálise.
d)	 (			)	 Crise	mundial.
3	 O	primeiro	nome	que	aparece	na	história	da	inserção	psicanálise	no	Brasil	se	utilizava	
da	psicanálise	no	estado	da	Bahia,	tanto	como	professor	quanto	na	aplicabilidade	da	
psicanálise	na	clínica.	Dessa	forma,	a	psicanálise	começou	a	se	ramificar	no	território	
nacional	como	uma	possibilidade	de	lidar	com	questões	de	conflito,	e	assim,	ajudar	a	
constituir	o	estado	moderno.	Este	estudioso	foi:
a)	 (			)	 Pedro	Magalhães.
b)	 ()	 Juliano	Moreira.
c)	 (			)	 Constantino	Peres.
d)	 (			)	 Charcot.
4	 Em	nosso	contexto	atual,	fala-se	sobre	uma	crise	que	a	psicanálise	estaria	enfren-
tando,	tal	crise	está	relacionada	a	quais	aspectos?	Comente	sobre.
5	 Diante	da	suposta	crise	na	psicanálise,	como	podemos	pensar	novas	estratégias	de	
intervenção	em	saúde	mental	com	base	na	psicanálise?	Comente	brevemente.
49
REFERÊNCIAS
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abordagem	didática.	Porto	Alegre:	Artmed,	2004.	
52
53
A METAPSICOLOGIA 
FREUDIANA
UNIDADE 2 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• discutir os fundamentos, pressupostos, conceitos e estratégias metodológicas que 
caracterizam o movimento psicanalítico;
•	 identificar	as	contribuições	dos	principais	nomes	históricos	da	teoria	psicanalítica	e	
seu desenvolvimento recente;
•	 compreender	o	processo	de	subjetivação	a	partir	das	contribuições	
metapsicológicas;
•	 discutir	a	inserção	do	psicanalista	nos	diferentes	contextos	profissionais.
	 A	cada	tópico	desta	unidade	você	encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	
reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO 1 – A METAPSICOLOGIA: O QUE É? 
TÓPICO 2 – A METAPSICOLOGIA DA PSICANÁLISE FREUDIANA 
TÓPICO 3 – CONTRIBUIÇÕES DA METAPSICOLOGIA PSICANALÍTICA PARA A CLÍNICA 
CONTEMPORÂNEA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
54
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 2!
Acesse o 
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55
TÓPICO 1 — 
A METAPSICOLOGIA: O QUE É?
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	estudaremos	aqui	os	aspectos	específicos	das	formulações	freu-
dianas	acerca	da	organização	mental	e	psíquica	humana,	seremos	instigados	com	elu-
cubrações,	a	fim	de	conseguir	compreender	alguns	dos	preceitos	psicanalíticos.	
Desde	que	Freud	introduziu	as	primeiras	discussões	sobre	esta	temática,	mui-
tas	controvérsias	e	inquietações	foram	postuladas,	mas	no	geral	há	sempre	um	ponto	
que	elucida	e	direciona	estes	movimentos:	o	conceito	de	inconsciente.	Mesmo	o	psi-
canalista	Jacques	Lacan,	após	várias	provocações,	acaba	estabelecendo	uma	analogia	
entre	inconsciente	e	psicanálise,	natureza	e	física,	de	modo	a	alinhar	uma	“equivalência	
entre	essas	instâncias”.
Assim	como	existe	uma	série	de	disciplinas	e	ramos	científicos	que	tentam	e	
se	desdobram	para	compreender	e	construir	conhecimentos	sobre	a	natureza	(seja	na	
física,	na	biologia,	na	matemática,	entre	outras),	o	mesmo	ocorre	com	o	inconsciente.	E	
é	aqui	que	a	metapsicologia	freudiana	se	posiciona.
Se pensarmos nos conceitos fundamentais que estruturam a teoria freudiana 
da	psique	humana,fica	evidente	que	a	presença	da	psicanálise,	em	âmbito	sociocul-
tural,	desde	o	fim	do	século	XX,	não	é	das	mais	homogêneas.	Ao	contrário,	mostra-se	
ambígua	ou	mesmo	confusa,	uma	vez	que	o	debate	psicanalítico	suscita	e	demanda	a	
abertura	para	questões	não	muito	ortodoxas.	Em	especial,	quando	em	foco,	a	especifici-
dade	de	sua	experiência,	algo	que	vá	além	do	engessamento	intrincado	de	suas	teorias.	
É	preciso,	então,	pensá-la	na	prática:	da	experiência	clínica,	social	(escola,	lo-
cais	de	trabalho,	vida	privada,	vida	pública,	marketing,	esfera	política	etc.),	ou	seja,	na	
escuta	do	sujeito	por	seus	praticantes	analisados.	E,	nesses	termos,	serão	trabalhadas	
as	premissas	e	fundamentos.	Um	saber	que,	como	destaca	Jorge	(2008),	se	coloca	a	
tratar	sobre	singularidades	subjetivas,	por	meio	da	escuta	do	sujeito	(de	seus	discursos,	
de	suas	práticas	e	comportamentos),	daquilo	que	ele	faz e o que não faz.
56
2 A METAPSICOLOGIA COMO UMA PSICOLOGIA METAFÍSICA
Sigmund	 Schlomo	 Freud,	 ou	 como	 ele	mesmo	 se	 autonomeava,	 a	 partir	 de	
1878,	 apenas	Sigmund	Freud,	 um	proeminente	médico	vienense	 do	 início	 do	 século	
XX	 estabelece	 uma	 prática	 científica	 a	 qual	 ele	 delimitou	psicanálise,	 na	 sua	visão	
uma	“ciência	natural”,	ou	como	ele	mesmo	a	define,	uma	psicologia empírica, pois, ao 
mesmo	tempo,	é	um	método	de	“tratamento	psicológico”.	
Isso implica dizer que as teorias nessa seara têm como premissa resolver 
problemas empíricos específicos,	 ou	 seja,	 para	 Freud,	 enquanto	 ciência,	 o	 corpo	
se	compõe	de	conhecimentos,	e,	assim,	é	constituído	por	teorias	de	diferentes	tipos:	
algumas que de um lado versavam desde aspectos empíricos, e outras em que se 
estabelecem	posicionamentos	mais	especulativos.	
FIGURA 1 – SIGMUND FREUD 
FONTE: <https://shutr.bz/3FT6DNV>. Acesso em: 2 ago. 2021.
Enquanto o primeiro caso corresponde a um conjunto de teorias que surgem 
dos fatos empíricos	(assim	ele	entendida	a	partir	de	fatos	clínicos),	há	um	outro	cabe-
dal	conceitual	que	trabalha	a	partir	de	conceitos especulativos,	sem	que	se	estabe-
leça	um	conteúdo	empírico	definido.	
Autores como Nasio (1997) e Jorge (2008) já sinalizaram que os 
conceitos de pulsão, libido e aparelho psíquico se encontram nesta 
segunda porção. E é justamente a qual Freud denomina como 
metapsicologia.
ATENÇÃO
57
O pensamento freudiano referente à teoria metapsicológica, tem seu desen-
volvimento	e	construção	na	 junção	entre	a	parte empírica e a parte especulativa 
de	suas	teorizações	e	conceituações.	As	quais	unem-se	de	maneira	harmoniosa,	com	
um	modo	muito	particular	de	definir	e	conceber	a	pesquisa científica, algo como uma 
conformação intelectual (concreto	e	abstrato	ao	mesmo	tempo).	
A	partir	desse	tipo	de	compreensão,	é	possível	compreender	certos	questio-
namentos,	 inquietações	e	 abstrair	 conclusões	 sobre	quais	 implicações	e	desafios	 se	
assentam as teorias metapsicológicas no desenvolvimento da psicanálise contem-
porânea.
2.1 A PSICOLOGIA A PARTIR DOS FATOS CLÍNICOS
Enquanto	uma	ciência	natural,	a	psicanálise	tem	como	projeto	freudiano	rela-
cionar-se às atividades médicas	desenvolvidas	por	seu	criador.	Isso	significa	que,	a	
fim	de	erigir	um	método	de	tratamento	para	distúrbios psicopatológicos definidos, 
Freud	precisou	criar	certos	tipos	de	“expedientes”	que	àquela	época	não	estavam	dis-
poníveis	ou	criados.	
A prática freudiana, pelo menos em seus primórdios, se pautou no compro-
misso	com	a	ciência	médica.	
Para	Freud,	um	médico	em	sua	 lide	diária	precisava	assumir	os	dissabores	e	
encargos	não	apenas	para	com	o	paciente,	num	formato	 individual,	mas	 também,	e	
sobretudo,	com	uma	prática científica.	
Obviamente	 este	 não	 era	 o	 único	 compromisso	 fundador	 da	 Psicanálise,	 de	
modo	que	havia	outro,	para	além	do	compromisso	médico.	
Se	havia	a	articulação	da	inserção da psicanálise com práticas consideradas 
científicas,	isto	implicava,	de	forma	agregada,	a	necessidade	de	enfrentar	fundamen-
tos enquanto experiência.	Pense	comigo,	ao	elencar	os	fundamentos	da	Psicanálise,	
Freud,	necessariamente,	não	utiliza	conceitos	especulativos.	Entretanto,	ele	o	faz	de	
modo estritamente empírico.
São	conceitos	que	se	referenciam	diretamente	a	questões	e	fatos	específicos	e	
reconhecíveis,	a	partir	de	sua	experiência	clínica.	Por	exemplo,	para	o	médico	vienense,	
não	é	possível	considerar	a	existência	de	processos mentais inconscientes sem que 
haja	o	reconhecimento	de	uma	teoria da resistência e repressão,	ou	ainda,	conceber	
a	sexualidade	e	o	complexo	de	Édipo	enquanto	sua	importância	no	processo	de	desen-
volvimento	humano.	São	elementos	e	experiências	como	estas	que	constituem	o	tema	
central	da	Psicanálise:	o	inconsciente.
58
Devemos distinguir os aspectos clínicos dos processos incons-
cientes, os quais já haviam sido explorados por outros médicos an-
teriormente, tais como o psiquiatra francês Jean-Martin Charcot ou o 
neurologista francês Hippolyte Bernheim, os quais o próprio Freud 
rende menção. E quanto ao “pensamento inconsciente”, em termos 
metapsicológicos, é preciso estabelecer o que é considerado factual 
e o que é especulativo. Nesse sentido, parece mais salutar consi-
derar como uma “instância psíquica” entrecruzada e produzida no 
encontro de certas forças e energias.
NOTA
Ao longo de seus escritos, Freud posicionou a Psicanálise como um movimento 
que operava um conjunto de conceitos e princípios	a	serem	compartilhados,	tradu-
zidos,	implicados	e	apropriados,	em	termos	de	prática	e	experiência.
FIGURA 2 – ANTAGONISMO RELACIONAL DE FORÇAS NA PSIQUE HUMANA
FONTE: <https://shutr.bz/3aF4czR>. Acesso em: 2 ago. 2021.
Desse	modo,	parece	conveniente	trazer	alguns	destes	desdobramentos,	como	
destaca	Tavares	(2012,	p.	16)	ao	relacionar	alguns	dos	conceitos	concebidos	por	Freud	e	
suas	traduções	em	diferentes	línguas	e	versões:
59
QUADRO 1 – TERMOS E CONCEITOS FREUDIANOS
FONTE: Tavares (2012, p. 16)
Nesse	 conjunto	 de	 conceitos,	 podemos	 depreender	 alguns	 fundamentos	 da	
Psicanálise,	os	quais	aludem	a	estes	grupos	específicos	mencionados	por	Freud,	a	citar	
alguns deles:
•	 a	divisão	do	psíquico	em	consciente	e	inconsciente	(apresentada	em	O ego e o id, de 
1923);
•	 a	teoria	dos	sonhos	(apresentada	em	Novas palestras introdutórias sobre psicanálise, 
de	1933);
•	 o	complexo	de	Édipo	(apresentado	em	Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, de 
1905).	
60
Para	Fulgêncio	(2005),	são	estes	os	fundamentos	que	para	Freud	caracterizam	
a	Psicanálise.	Uma	tentativa	de	delimitar,	descrever,	explicar	e	dimensionar	dois	con-
juntos	de	fatos	incomuns	e	de	difícil	tarefa	observacional:	transferência	e	resistência.	
Algo	que	emerge,	como	descrevem	a	experiência	e	as	práticas	clinicas	de	Freud,	a	todo	
o	instante	que	se	entra	no	“encalço”	dos	sintomas	de	um	neurótico	em	busca	de	suas	
origens,	normalmente	em	sua	vida	passada.	
Segundo	o	autor,	um	profissional	que	utilize	tais	premissas,	ao	fazê-lo,	coloca-
-se	na	condição	de	um	psicanalista.	E	se,	ao	empreender	um	movimento	como	este,	
operar	reconhecendo	tais	fatos,	de	modo	a	torná-los	o	“ponto	de	partida”	de	sua	prática	
cotidiana,	muito	provavelmente	o	fará	de	modo	a	apropriar-se	de	tais	conceitos.	 Isso	
significa	que,	em	termos	práticos,	conceitos	como	os	supracitados,	na	visão	freudia-
na,	expressam-se	em	termos	“descritivos”,	pois,	correspondem	a	um	campo empíri-
co,	do	arcabouço	teórico	da	psicanálise	de	Freud,	ou	seja,	de	sua	psicologia	baseada	
em fatos clínicos.	Mas	esta	é	apenas	uma	porção	do	“caldo”,	existe	outra	relação de 
conceituações	que	não	concretamente	mostra-se	em	termos	de	dados e fatos na 
experiência	humana.	
E	é	nesse	ponto	que	Fulgêncio	(2005)	salienta	a	concepção	de	Freud	sobre	tais	
conceitos, como sendo metapsicológicos,	uma	vez	que	eles	ocorrem	sob	a	forma	de	
sentenças metapsicológicas.	Para	Freud,	o	sonho	opera	sob	a	premissa	da	realiza-
ção de um dado desejo.	Mas	esta	premissa	diz	respeito	apenas	à	uma	“porção	psico-
lógica”	da	solução,	não	a	biológica.	
Uma soluçãometapsicológica	para	o	problema	do	sonho	deveria	permitir	um	
modo de realização de algo insatisfeito.	Uma	força	que	impulsiona	o	sujeito	na	bus-
ca	de	realizar	esta	atenção:	a	causa	ou	essência	dos	desejos.	Isto	é,	o	processo	psíquico	
que	se	estrutura	a	fim	de	realizar	um	dado	desejo	por	meio	da	vivência	de	um	sonho.
Conforme	destaca	Fulgêncio	(2005),	não	se	trata	de	excluir	um	em	função	de	
outro.	Estes	dois	tipos	de	metapsicologia	não	são	e	nem	devem	ser	aplicados	como	se	
os	fatos	clínicos	fossem	identificados	de	modo	independente	de	teorias.	
É interessante notar que a explicação metapsicológica aponta duas 
direções possíveis. Uma voltada para a construção de soluções por 
referência aos processos corporais, obtidas e formuladas em termos 
biológicos, uma vez que o sonho é vivenciado em termos corpóreos. 
E outra via apresentada na tentativa de organizar o que poderia 
“significar” os motivos que mobilizam o sujeito: uma certa causa da 
existência daquele desejo e sua elaboração por meio do sonho. 
Desse modo, seria o processo propriamente psíquico envolvido na 
realização do desejo por meio do sonho. 
ATENÇÃO
61
Devemos	lembrar	que	toda prática científica,	se	explícita,	tem	uma	relação	de	
dependência com uma dada teoria,	afinal,	ela	funcionará	como	bússola	para	orientar	as	
formas de selecionar os fenômenos	a	serem	estudados.
E	é	isso	que	Freud	propõe	ao	ter	que,	diante	uma	multiplicidade de fenômenos 
a	serem	considerados,	escolher	quais	os	elementos	seriam	pertinentes	de	observação.	
E	por	conta	disso,	seriam	capazes	de	possibilitar	o	estabelecimento	de	certos	tipos	de	
relação	a	 serem	empreendidos:	um	movimento	de	vinculação	entre	 fenômenos	e	 seu	 
devido	ordenamento.	
De	acordo	com	Freud,	a	fundação	da	Psicanálise	é	algo	que	se	estabelece	em	
função	de	práticas	de	observação sobre os fatos da vida mental, uma vez que seus 
preceitos	e	procedimentos	buscam	elucidar	conjuntos	de	fatos,	de	modo	gradual	e	ro-
tineiro,	intenso	e	extenuante.	Como	todo	o	método,	há	a	necessidade	de	primeiro,	se-
lecionar e delimitar	o	que	é	relevante	e	orbita	no	campo dos fenômenos a serem 
estudados.	Em	segundo	lugar,	é	preciso	compreender,	em	termos	de	aplicabilidade, 
quais	conjuntos	de	conceitos auxiliares	 serão	úteis	na	solução	para	os	problemas	
identificados,	ou	seja,	é	necessário	estruturar	uma	perspectiva	para	organizar	os	fatos.
Enquanto	homem	da	ciência,	o	médico	vienense	pautou-se	na	utilização	de	um	
método	que	corroborasse	a	prática	de	pesquisa,	e	fez	isso	a	partir	de	construtos es-
peculativos a	serem	empregados	para	auxiliar	associações hipotéticas, ao mesmo 
tempo favorecendo a apreensão e sistematização de	dados	empíricos.	
Tomemos a compreensão freudiana do conceito de funções 
mentais. Para Freud, tratava-se de algo a ser mensurado não de 
forma direta, mas com seus efeitos: aumento, diminuição e des-
locamento, como uma descarga energética pelo corpo. Mesmo 
sendo precisamente especulativo, este é um exemplo de conceito 
auxiliar, haja vista que sua aplicação contribuiu apoiando os mo-
dos explicativos e de organização dos fatos e dados empíricos em 
foco e, por conseguinte, não necessariamente corresponde a um 
elemento crivelmente implicado no fenômeno em estudo. 
NOTA
Segundo	Fulgêncio	 (2005),	 esta	é	uma	especificidade	da	obra	 freudiana,	 em	
especial quando pensados as conceituações metapsicológicas.	Para	o	psicanalis-
ta	brasileiro,	diversos	conceitos	psicanalíticos	têm	no	âmago	de	suas	formulações	um	
hibridismo	que	opera	tanto	em	termos descritivos	(psicológicos)	quanto	especulati-
vos	(metapsicológicos).	
62
Distinguir um do outro, pelo menos no campo psicanalítico, parece ser algo 
pouco	usual	e	produtivo,	pois	é	difícil	 separa	o	 “joio	do	trigo”	quando	um	e	outro	se	
embrenham	na	constituição	um	do	outro.	Afinal,	mesmo	que	os	fatos clínicos	sejam	
agregados	no	manejo	de	 formulações teóricas,	 não	há	como	afirmar,	 indiscutivel-
mente,	o	que	oriunda	da	experiência	em	contraponto	do	que	procede	do	significado	
(percepção)	daquilo	que	foi	experienciando,	pelo	menos	não	em	psicanálise.
2.2 A METAPISCOLOGIA FREUDIANA E SUA CONDIÇÃO 
DINÂMICA DE ANÁLISE
Será	que	a	mera	descrição	de	fatos	se	apresenta	como	prática	suficientemente	
capaz	de	explicar	a	ocorrência	de	fenômenos	psíquicos?	
Para	Freud,	a	descrição	dos	fatos	em	si	não	dava	condições	suficientes	de	ex-
plicar de modo satisfatório como os fenômenos psíquicos operavam, e mesmo no 
nível	consciente,	parece	algo	 interpretativo	para	se	empreender.	A	forma	encontrada	
por Freud para fornecer um caráter descritivo ao inconsciente foi estabelecer e for-
mular a concepção de elementos que	nele	habitavam	e	poderiam	ser	observados	em	
carácter indireto,	por	exemplo,	as	“forças”	e	“energias”	de	“natureza	psíquica”.	
Nesse sentido, ele apresenta algumas formulações auxiliares	 para	 expressar,	
buscando	facilitar	o	manuseio	do	material	a	ser	analisado,	por	meio	da	descrição hipo-
tética	de	“mecanismos”	e	“aparelhos	psíquicos”,	os	quais	operam	e	auxiliam	para	por-
menorizar	as	leis	às	quais	os	fenômenos	psicológicos	se	subjugam,	enquanto	relações	
de	 interdependência.	São	ficções	como	essas,	utilizadas	por	Freud,	que	o	possibilita-
ram manusear o material empírico em caráter explicativo.	Seja	preenchendo	lacunas	
com	compreensões	e	entendimentos	sobre	os	fenômenos	psíquicos,	seja	identificando	
possíveis	sequências	e	perspectivas	para	elucidar	os	nexos	causais.	
Ainda resta entendermos como e com quais tipos de modelos conceituais es-
peculativos	são	estruturadas	e	“maquinadas”	as	“teorias	empíricas”	de	Freud.	O	modelo	
metapsicológico freudiano	pressupunha	a	utilização	dos	mesmos	preceitos	meto-
dológicos	das	chamadas	ciências naturais	da	sua	época:	hipóteses	estabelecidas	por	
aproximação.	
Seu	valor	é	impreciso,	uma	vez	que	um	modelo	busca	ilustrar	o	funcionamento	
e	dinâmica	de	um	dado	 fenômeno.	 Imagine	um	furacão,	 especificamente	 seu	 “olho”,	
como	é	possível	descrever	e	explicar	as	forças	e	energia	ali	implicadas?	É	preciso	fazer	
simulações,	correlações,	comparações	e	estimativas	indiretas,	mesmo	em	caráter	em-
pírico.	Mesmo	se	utilizados	certos	instrumentos	computacionais,	estes	operam	sobre	a	
forma	de	simulações	e	“modelagens	da	realidade”.	
63
FIGURA 3 – OLHO DO FURACÃO
FONTE: <https://shutr.bz/3DC1YxQ>. Acesso em: 2 ago. 2021.
Desse	modo,	 como	 Freud	 acabou	 “modelando	 a	 realidade”	 inconsciente	 dos	 
fenômenos psíquicos	a	que	se	prestou	a	entender?	Fulgêncio	 (2005)	argumenta	que,	
similar	a	essas	ciências,	inicialmente,	Freud	usou	conceitos	e	princípios	básicos	a	se-
rem aplicados, como instinto e energia nervosa, os quais, foram empregados por um 
considerável lapso temporal em	suas	teorizações.
 
Ainda	sob	um	modo	especulativo	de	proceder,	Freud	aplicou	os	conceitos	bá-
sicos.	Consideremos	a	histeria	como	um	exemplo	destes	procedimentos	especulativo:	
enquanto	fenômeno	médico,	a	histeria	já	havia	sido	explorada	por	célebres	e	proemi-
nentes	médicos.	Vejamos	o	Quadro	2:
QUADRO 2 – INFLUENCIADORES DE FREUD 
FONTE: Adaptado de Fulgêncio (2005)
64
Como	é	possível	apreender	estas	explanações	se	elas	têm	um	caráter	notada-
mente	especulativo?	Foi	com	base	em	conjuntos	de	dados	e	hipóteses	desta	ordem	
que Freud foi a um modo procedimental muito próprio da Psicanálise, o processo de 
verificação.	
Partindo	do	princípio	de	que	há	um	“ponto	de	origem”	para	o	estabelecimento	
de	uma	dada	desordem	(uma	situação	traumática,	por	exemplo),	Freud	introduz	a	ideia	
de	que	uma	entidade	patológica	produz	“ideias	inconscientes”	no	interior	do	“psíquico”.	
Um	movimento	que	mobiliza	a	ativação	e	a	atuação	de	determinadas	ideias	no	sujeito	e,	
por desdobramento,	produz	seus	sintomas.
No	entanto,	essa	explicação	ainda	explora	apenas	uma	faceta	da	metapsicolo-
gia freudiana, pois dá apenas o caráter fisiológico,	por	assim	dizer.	Isto	é,	havia	uma	
condição	(pelo	menos	assim	se	pensava)	hereditária ou mesmo inflamatória, que 
incapacitava	os	acometidos	a	tolerar	e	assimilar	eventos,	ocorrênciase	situações	que	
afligiam	uma	carga	emocional	intensa.	
Essa	explicação,	contudo,	não	contemplava	a	parte	psíquica	do	fenômeno,	en-
tendido	como	“histeria”.	Mesmo	com	as	“manobras	hipnóticas”	operadas	por	celebres	
médicos	franceses,	Freud	não	encontrou	elementos	que	evidenciassem	a	ocorrência	
dos fatos psíquicos	em	relação	ao	acometimento	histérico,	tampouco	sua	origem	e	
extensão	de	seu	poder	paralisante.	Sendo	assim,	a	mera	descrição	dos	fatos	realmente	
não	deu	conta,	o	que	demandou	emprego	de	outros	expedientes	capazes	de	preencher	
lacunas	como	estas.
2.3 FREUD E SUA PERSPECTIVA NADA “MECÂNICA” 
Enquanto	médico,	a	formação	de	Freud	seguiu	uma	linha	não	tão	ortodoxa	à	
época,	pois,	sua	perspectiva	 interpretativa	não	seguia	parâmetros	mecânicos	e	 lineares.	
Ao	contrário,	o	ponto	de	vista	por	ele	adotado	guiava-se	em	prol	de	encontrar	explicações	
sobre	os	fenômenos	e	suas	causas,	mas	em	caráter dinâmico,	ou	seja,	as	forças	que	
compõe	e	mobilizam,	movimentam	e	implicam	os	fenômenos psíquicos	pressupõem	
um modelo interativo,	mas	também	conflitivo.	
Alguns autores e comentadores da obra freudiana, como Fulgêncio (2005), 
o psicanalista argentino Juan-David Nazio, o psicanalista brasileiro Marco 
Antônio Coutinho Jorge, ou mesmo a historiadora francesa Élisabeth 
Roudinesco, apontam que fica evidente, com a expressiva presença na 
obra de Freud, conceitualizações em termos de “forças psíquicas”.
ATENÇÃO
65
Sendo	assim,	as	explicações	também	precisavam	ser	abordadas,	produzidas	e	
buscadas	a	partir	dessa	premissa.	Com	isso,	os	fatos	quando	observados	precisavam	
ser organizados	(estruturados	e	formatados)	e	relacionados	(entre	si),	em	função	de	
supostas	forças	e	movimentos	em	caráter	conflitivo.	Cabe	destacar	que	uma	formula-
ção	metodológica	dessa	natureza	tem	como	pressuposto	explicitar um significado.	
O	que,	em	termos	práticos,	designa	a	adoção	de	um	ponto	de	vista	“dinâmico”	sobre	os	
modos	de	práticas	e	investigação	científica.	
Para	Freud,	a	adoção	de	um	modo dinâmico	de	explicações	para	questões 
patológicas,	por	exemplo,	está	diretamente	ligada	à	capacidade	de	descrevê-las	en-
quanto uma interação de forças,	pois,	nessa	mesma	condição,	poderia	ser	operada	
em termos de intenções e propósitos.	Seja	em	situações	de	laboratório,	seja	na	sim-
plicidade	da	vida	cotidiana.	
Mais do que um modo de entender os fatos psíquicos, trata-se de um com-
promisso metodológico,	porque	mais	do	que	descrever	e	classificar	tais	fenômenos,	
existe	a	busca	pela	compreensão	destes	enquanto	sinalizações e indicadores que 
elucidam	o	funcionamento	de	uma	certa	interação	de	forças,	no	âmbito	mental.	Isto	é,	
algo	que	evidencia	uma	manifestação	de	intenções	e	de	propósitos,	e	que	atuam	em	
confronto	ou	não,	entre	si.	
Nesse contexto está o elemento central no arcabouço metodológico 
psicanalítico proposto por Freud: o ponto de vista. A maneira ou a 
perspectiva sob a qual o olhar de quem observa, analisa, significa e 
compreende, assume.
IMPORTANTE
De	 acordo	 com	 Fulgêncio	 (2005),	 esse	 posicionamento	 implica	 alguns	 eixos	
a	serem	considerados	na	teoria	metapsicológica	de	Freud.	As	forças psíquicas, pelo 
menos	as	identificadas	por	Freud,	dotadas,	então,	de	carácter	dinâmico,	são	tidas	como	
análogas às forças físicas que operam na natureza, assim como as ciências naturais 
identificaram	e	dissecaram.	Esta	“chave	de	leitura”	funciona	como	um	alicerce	que	sus-
tenta	e	organiza,	estrutura	e	dá	sentido,	inter-relacionando	os	fatos	psíquicos.	
Enquanto	fundamento,	nas	ciências	psicanalíticas,	essa	operação	(a	observação)	
atribui	valor	à	capacidade de significar a própria experiência	do	sujeito.	Ao	menos	au-
xilia	de	forma	guiada	a	atuação	do	observador.	Mesmo	nas	ciências	mais	rígidas,	existem	
elucubrações	sobre	o	que	pode	ou	não	haver,	ocorrer	e	como	funcionam	os	fenômenos	a	
serem	estudados.	Assim,	as	chamadas	forças de natureza psíquica, ou aquilo que Freud 
denominou de pulsões,	correspondem	a	um	“conceito	auxiliar”,	isto	é,	uma	convenção,	que	
ao	ser	aplicada	a	porção	empírica,	busca	descrever	(ordenando	e	integrando)	certos	fatos,	
em	uma	cadeia	sistemática.
66
Ao descrever a pulsão, o recurso utilizado por Freud é de ordem 
metapsicológica. Afinal, ele busca explicar em termos empíricos 
um elemento abstrato, em caráter auxiliar. E assim, enquanto 
força (digna de materialidade), a pulsão, tal como na natureza, atua 
sobre a porção corpórea humana. 
NOTA
Como	aponta	Fulgêncio	(2005),	mesmo	nas	ciências	naturais,	as	explicações	
de	forças	ainda	se	situam	sob	uma	 lógica	até	certo	ponto	etérea.	Podemos	 retomar,	
inclusive,	o	exemplo	do	“olho	do	furacão”,	pois,	o	modo	de	explicar	seu	carácter	danoso	
faz	alusão	às	paredes	do	olho,	em	que	se	concentram	os	ventos	mais	violentos.	Desse	
modo, é uma construção especulativa	 que	 serve	 apenas	para	 a	 investigação	dos	
fatos.	Trata-se	de	um	movimento	que	busca	tornar	o	 fenômeno,	a	descrição	de	sua	
ocorrência	e	dinâmica	mais	empírica,	inteligível.	
3 AS VERTENTES DA PSICOLOGIA E A METAPSICOLOGIA
Para	abordarmos	as	especulações metapsicológicas de Freud, precisamos 
considerar	não	apenas	um	ou	outro	conceito	por	ele	erigido,	mas	sim	abarcar	toda	uma	
estrutura	conceitual	que	envolve	e	busca	explicar	a	dinâmica	da	psique.	Desse	modo,	
no	 “memorial	descritivo”	da	metapsicológica	de	Freud	estão	conceitos	como	pulsão 
(um	primeiro	fundamento	da	metapsicologia),	ou,	ainda,	a	noção	de	aparelho psíquico, 
no	qual	circula	uma	energia	de	natureza	sexual,	denominada	libido,	também	parte	das	
hipóteses	metapsicológicas.	
São	 esses	 conceitos,	 como	 aponta	 o	 próprio	 Freud,	 que	 subsidiam	 e	 dão	 a	
porção	estrutural	 de	 sua	metapsicologia.	 Sob	 três	 eixos	 estruturantes,	veremos	 os	
aspectos	que	constituem,	operacionalizam	e	mobilizam	o	psiquismo	humano	na	visão	
de Freud:
• aspectos dinâmicos;
•	 aspectos	topográficos;
•	 aspectos	econômicos.
Assim	 como	 aponta	 Fulgêncio	 (2005),	 tais	 estratagemas	 funcionam	 como	
modelos,	ou	conceitos	auxiliares,	 a	fim	de	apoiar	as	explicações	freudianas	sobre	os	
processos	psíquicos.	
Se	a	princípio,	numa	perspectiva	dinâmica	que	supõe	a	existência	de	uma	pulsão 
básica	 (ou	seja,	de	forças	psíquicas)	que	atuam	de	modo	antagônico	 (conflituoso),	
para	Freud,	elas	ocorrem	em	função	e	como	promotoras	de	motivações primárias, 
isto	é,	uma	certa	gênese	do	funcionamento	primário	psíquico.	
67
Então,	 há	 concomitantemente	 uma	 outra	 porção	 desse	aparelho psíquico, 
o	 que	 ele	 chama	 de	econômico.	 Um	 elemento	 quantitativo	 (uma	 suposição	 lógica,	
lembrando	 que	 estamos	 tratando	 de	 conceituações	 auxiliares	 que	 nos	 apoiem	 no	
entendimento	 de	 um	mecanismo),	 para	 a	 energia	 psíquica,	 ao	 que	 será	 investido	 e	
empenhado	em	uma	causa,	provocação,	um	motivo	desencadeado:	objeto	de	desejo,	
medo,	saturação	etc.	Contudo,	existe	ainda	uma	terceira	via	ser	considerada:	o	aspecto	
topográfico.	É	daqui	que	se	empreende	a	noção	de	aparelho psíquico, algo possível 
de	ser	visualizado,	e	como	tal,	passível	de	configuração	e	reconfiguração,	a	pender	da	
perspectiva	utilizada	em	sua	análise.	
Trata-se,	então,	de	algo	semelhante	a	um	telescópio,	microscópio,	ou	qualquer	
outro	aparato	óptico	que	altera	o	modo	e	o	grau	com	que	se	analisa	e	observa,	identi-
fica	e	descreve	o	fenômeno	em	foco.	E	que,	por	conseguinte,	permite	diferenciar as 
partes operadas e operadoras na instância psíquica, compondo-as como partes 
de uma estrutura.	
FIGURA 4 – INSTÂNCIAS PSÍQUICAS METAPSICOLÓGICAS
FONTE: <https://shutr.bz/3pcrA0p>. Acesso em: 2 ago. 2021.
Outro ponto concernente à metapsicologia freudiana, em especial esta primeira 
tratativa do aparelho psíquico, diz respeito ao carácter provisório, uma vez que, como 
explica	Fulgêncio	(2005),	tem	um	carácter	conotativo,	especulativo,	mas	dinâmico.	
Freud	ampliou	esse	ponto	de	vista	com	o	tópico	e	o	econômico,	aos	
quais correspondem respectivamente outros conceitos e modelos 
especulativos,	 cujo	 fim	 é	 sempre	 o	 mesmo:	 completar	 asteorias	
empíricas,	 possibilitando	 um	melhor	 agrupamento	 e	 ordenamento	
dos	fatos	clínicos,	fornecendo	tanto	um	guia	tanto	para	a	obtenção	
de	fatos	quanto	para	a	obtenção	de	novos	dados	(FULGÊNCIO,	2005,	
p.	108).
68
Evidentemente	Freud	não	 inventou	o	modo	especulativo	para	conceber	suas	
teorizações.	De	modo	que	isso	já	havia	sido	empreendido	em	larga	escala	com	filósofos	
e	pensadores,	sejam	eles	contemporâneos	ou	não	de	sua	metapsicologia.	Mesmo	com	
aqueles	oriundos	das	“ciências	naturais”,	isso	já	havia	sido	aplicado	de	modo	exitoso.	
Muitos dos “mestres” ou mesmo de pensadores, alvos da admiração 
de Freud, empreenderam ações investigativas sob a premissa especu-
lativa e ficcional de elementos, aspectos e conjecturas, a fim de abarcar 
questões concernentes e necessárias às próprias teorizações. Como 
destaque, cabe aqui listar alguns: o filósofo, matemático e físico alemão 
Gustav Theodor Fechner; o fisiologista alemão Herman von Helmholtz; 
o médico alemão Ernst Wilhelm von Brücke; o filósofo e psicólogo ale-
mão Franz Clemens Honoratus Hermann Brentano; o filósofo prussiano 
Immanuel Kant; o físico austríaco Ernst Mach. A lista é longa, mas já dá 
podemos ter uma noção da complexidade e da amplitude com que tal 
prática investigativa especulativa foi empregada.
IMPORTANTE
3.1 LIMITES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA METAPSICOLOGIA 
FREUDIANA 
Até agora, vimos que a teoria metapsicológica de Freud foi por ele estruturada 
a	partir	de	dois	conjuntos	de	pressupostos	teóricos:	um	de	ordem	empírica	e	outro	de	
ordem	especulativa.	De	naturezas	diferentes,	 atuam	complementarmente, fomen-
tando	e	propondo	um	modo	muito	particular	de	conceber	o	 fenômeno	colocada	em	
tela:	os	processos	psíquicos.	Especificamente	quando	pensamos	em	como	Freud	utiliza	
conceituações auxiliares,	em	modo	ficcional,	com	o	intuito	de	ilustrar	e	apoiar	seus	
“achados	clínicos”.	Pois,	como	vimos,	trata-se	de	“um	método	coerente	de	investigação	
nas	ciências	empíricas,	que,	por	sua	vez,	é	reconhecível	na	obra	científica	e	filosófica	de	
Freud”	(FULGÊNCIO,	2005,	p.	112).
Para	o	psicanalista	Fulgêncio	(2005),	foram	justamente	as	experimentações 
fisio-filosóficas que	produziram	este	modo	de	interpretar	freudiano.	Algo	que	sinaliza	
e	o	circunscreve,	enquanto	procedimento	metodológico	da	época.	Principalmente	no	
que	tange	às	“ciências	empíricas”	de	sua	época	(fim	do	século	XIX	e	início	do	século	XX).	
No entanto, a metapsicologia freudiana se enquadraria mais como uma superestrutu-
ra especulativa,	no	tocante	às	formulações	ficcionais	sob	as	quais	ela	buscou	narrar	
os	processos	a	serem	compreendidos.	
69
Nesse sentido, precisamos considerar que a metapsicologia freudiana fornece 
valoração aos fenômenos psíquicos, mas sem, necessariamente, diminuir-se quan-
to	a	seus	conceitos:	as	forças,	as	energias	ou	as	instâncias	de	um	aparelho.	Mesmo	a	
prática	clínica	apresenta	um	componente	empírico	a	 suas	definições,	nem	tanto	por	
instrumentalizar	paciente	e	terapeuta	para	atuar	experiecialmente,	porém,	mais	com	o	
intuito de:
[...]	 auxiliar	 na	 organização	 dos	 fatos,	 possibilitando	 estruturá-
los	 e	 relacioná-los;	 é	 uma	 construção	 para	 conectar	 descrições	
e	 um	 guia	 de	 orientação	 para	 buscar	 (observar)	 novos	 dados.	 As	
especulações	metapsicológicas	não	são	nem	fornecem	explicações,	
mas	 estabelecem	 uma	 estrutura	 e	 uma	 direção	 para	 a	 busca	 de	
explicações	factuais	 (empíricas)	 relativas	aos	fenômenos	psíquicos	
(FULGÊNCIO,	2005,	p.	113).
70
Neste tópico, você aprendeu:
•	 O	médico	vienense	Sigmund	Freud	propôs	inicialmente	um	modelo	explicativo	dos	
processos	psíquicos,	com	base	na	díade:	empirismo	e	especulação.
•	 Para	Freud,	na	ciência	existem	teorias	de	diferentes	tipos:	algumas	que	versam	as-
pectos	empíricos	e	outras	em	que	se	estabelecem	posicionamentos	mais	especula-
tivos.
•	 Freud	estruturou	sua	teoria	metapsicológica	sob	três	eixos,	ou	seja,	três	aspectos	
que	constituem,	operacionalizam	e	mobilizam	o	psiquismo	humano:	dinâmicos;	to-
pográficos;	econômicos.
•	 Freud	utilizou	conceituações	teóricas	auxiliares,	ou	seja,	elementos	ficcionais	de	apoio,	
a	fim	de	descrever	suas	questões	e	explicações	acerca	dos	processos	psíquicos.
RESUMO DO TÓPICO 1
71
AUTOATIVIDADE
1	 Para	estabelecer	os	parâmetros	científicos	em	seu	projeto	metapsicológico,	Freud	 
fez	uso	de	certos	“expedientes”	alternativos.	Nesse	sentido,	é	possível	afirmar	que:	
a)	 (			)	 Ao	 elencar	 os	 fundamentos	 da	 Psicanálise,	 Freud,	 necessariamente,	 utilizou	
conceitos	especulativos.	
b)	 (			)	 Se	havia	articulação	da	inserção	da	psicanálise	com	“prática”	considerada	“cien-
tífica”,	isto	implicava,	de	forma	agregada,	a	necessidade	de	enfrentar	fundamen-
tos	enquanto	“experiência”.
c)	 (			)	 Para	 Freud,	 ao	 elencar	 os	 fundamentos	 da	 Psicanálise,	 era	 preciso	 em	 carácter	
secundário,	usar	apenas	elementos	especulativos,	não	necessariamente	empíricos.
d)	 (			)	 Os	conceitos	desenvolvidos	por	Freud	pautam-se	em	questões	e	ideias	gene-
ralizantes	e	incognoscíveis,	pois,	sua	visão	de	mundo	se	dava	apenas	por	uma	
“experiência	clínica”.	
2 Para Freud, a psicanálise se posicionava enquanto um movimento que operava 
um	conjunto	de	 conceitos	 e	princípios.	Com	 isso,	 analise	 as	 sentenças	 sobre	 tais	
conceitos e princípios:
I-	 São	excludentes.	
II-	 São	práticos	e	experienciais.
III-	 Devem	ser	compartilhados,	traduzidos,	implicados	e	apropriados.
Assinale a alternativa CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 As	sentenças	II	e	III	estão	corretas.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
3	 A	 obra	 freudiana	 é	muito	vasta,	 complexa,	 profunda	 e	 controversa.	 O	 que	 amplia	
tais	 características,	 segundo	 Tavares	 (2012),	 é	 a	 quantidade	 de	 traduções	 em	
diferentes	 línguas.	 O	 que	 muitas	 vezes	 produz	 diferenciações	 de	 entendimento	
sobre	um	mesmo	termo.	Um	exemplo	que	causa	confusão	é	o	conceito	denominado	
Trieb.	Originalmente,	 Freud	o	 concebeu	 como	 (instinto),	mas	diferentes	 traduções	
o	posicionaram	como	sendo	pulsão.	Situações	como	estas	 ilustram	o	modo	como	
a	Psicanálise	 se	 caracteriza.	Desse	modo,	 sobre	 as	 características	 da	Psicanálise,	
classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:	
FONTE: TAVARES, P. H. M. N. O vocabulário metapsicológico de Sigmund Freud: da língua alemã às suas 
traduções. Literatura/ Cultura – Pandaemonium ger., São Paulo, v. 15, n. 20, 2012. Disponível em: 
https://www.scielo.br/j/pg/a/pKTCLwfcJL84PTknR95bpRP/?lang=pt. Acesso em: 14 jul. 2021
72
(			)	Uma	tentativa	de	delimitar	e	descrever,	explicar	e	dimensionar	dois	conjuntos	de	
fatos	incomuns	e	de	difícil	lide	observacional:	transferência	e	resistência.
(			)	Algo	que	emerge,	como	descrevem	as	experiências	e	práticas	clínicas	de	Freud,	a	
todo	o	instante	que	se	entra	no	“encalço”	dos	sintomas	de	um	neurótico	em	busca	
de	suas	origens.
(			)	Uma	psicologia	baseada	apenas	em	fatos	clínicos.	
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 V	–	V	–	F.
c)	 (			)	 F	–	V	–	F.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 Freud	estruturou	sua	teoria	metapsicológica	sob	três	eixos,	ou	seja,	três	aspectos	
que	constituem,	operacionalizam	e	mobilizam	o	psiquismo	humano:	dinâmicos;	to-
pográficos;	 econômicos.	 O	 que	 caracteriza	 a	 condição	 metapsicológica	 da	 teoria	
freudiana?
5	 Para	Freud,	a	descrição	dos	fatos	em	si	não	dava	condições	suficientes	de	explicar	
de	modo	 satisfatório	 como	os	 fenômenos	psíquicos	 operavam,	 e	mesmo	no	nível	
consciente,	parece	algo	interpretativo	para	se	empreender.	Como	Freud	estabeleceu	
as	 bases	 da	 realidade	 inconsciente	 dos	 fenômenos	 psíquicos	 a	 que	 se	 buscou	
entender?
73
A METAPSICOLOGIA DA 
PSICANÁLISE FREUDIANA
UNIDADE 2 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	no	Tópico	2,	buscaremos	definir	um	quadro	genealógico	da	metap-
sicologia	de	Freud.	Para	se	estabelecer,	enquanto	projetocientífico,	Freud	precisou	pro-
por	algumas	bases	para	sua	Psicanálise.	Nessa	perspectiva	serão	apresentados	alguns	
conceitos	específicos	que	direcionam	os	entendimentos	da	Psicanálise	suas	reflexões	
acerca	do	funcionamento	psíquico.
Nesse	 sentido,	 para	 elaborar	 uma	 teoria	 do	 funcionamento	 psíquico,	 Freud	
esboçou	algumas	experimentações	conceituais,	 seja	pela	via	da	abordagem quanti-
tativa (algo	 como	 um	 dimensionamento	 da	 força	 psíquica),	 seja	 pela	 via	 do	 signifi-
cado	das	ações,	 com	 interpretações	de	pensamentos,	 sentimentos	e	até	mesmo	de	 
comportamentos.	
Cabe	lembrar	que	Freud	foi	“forjado”,	intelectualmente,	sob	um	clima	cientificis-
ta	e	positivista,	muito	característico	do	século	XIX,	no	qual	a	visão	predominante	enten-
dia	a	ciência	como	uma	“produção	suprema	do	homem	e	a	única	que	pode	conduzi-lo	
ao	conhecimento”	(GARCIA-ROZA,	2009,	p.	44).	
Considerando	que	a	dinâmica	utilizada	por	Freud	buscou	integrar	diferentes	ar-
ticulações,	em	especial	os	aspectos	empíricos	(em	geral	clínicos)	e	especulativos,	ob-
servaremos que isso se reverteu na perspectiva de que Freud, assim como muitos de 
seus	contemporâneos,	partiu	da	premissa	de	que	“os	processos	psíquicos	são	passíveis	
de	serem	expressos	por	leis	científicas”	(GARCIA-ROZA,	2009,	p.	45).	
Desse	modo,	trata-se	de	uma	abordagem	conceitual	que	compreende	a	neces-
sidade	de	quantificar	o	funcionamento	do	sistema	nervoso,	em	termos	de	soma	de	ex-
citações,	canalização	da	excitação	e	função	de	inibição,	porém,	na	mesma	medida	em	
que	se	tem	a	relação	“prazer-desprazer”	e	outros	princípios	reguladores	do	psiquismo.	
Esses	são	elementos	centrais	na	teoria	metapsicológica	de	Freud.	
74
2 A METAPSICOLOGIA DE FREUD E SUAS IMPLICAÇÕES 
NA PSICANÁLISE
Inicialmente,	 estudaremos	a	 respeito	do	aparelho	psíquico,	 de	modo	que	Freud	
concebia	o	psiquismo	humano	como	um	aparelho	no	qual	flui	uma	determinada	energia	
que	vai	sendo	transmitida	e	transformada.	Para	ele,	o	funcionamento	desse	“aparelho”	
tinha	no	âmago	de	seu	funcionamento	duas	premissas:
•	 existe	 uma	 dada	 “quantidade”	 (Q)	 que	 dimensiona	 a	 atividade	 do	 repouso	 das	
partículas materiais; 
•	 tais	partículas	materiais	se	identificam	com	os	neurônios.	
FIGURA 5 – PROPOSTA METAPSICOLÓGICA DE FREUD 
FONTE: <https://shutr.bz/3DHSMrG>. Acesso em: 2 ago. 2021.
São	essas	duas	premissas	que	atuam	regulando	o	“aparelho	psíquico”,	por	meio	
de mecanismos como o Princípio de Inércia Neurônica,	no	qual	os	neurônios	tendem	
a	descarregar	completamente	toda	a	quantidade	(Q)	de	energia	que	a	eles	é	propagada.	
Além do Princípio das Barreiras de Contato, em que, no sentido oposto, atua ofere-
cendo	ações	de	resistência	à	descarga	total.	
Esse	modelo	explicativo,	mais	do	que	fornecer	uma	condição	ontológica,	busca	
apenas	descrever,	por	alusão,	uma	“mecânica”	de	funcionamento.	Como	aponta	Gar-
cia-Roza	 (2009),	 trata-se	de	um	empréstimo	da	 teoria	 termodinâmica	da	 física.	 Isso	
significa	que	o	aparelho psíquico	de	Freud	foi,	enquanto	tal,	concebido	a	partir	de	uma	
referência,	especificamente	do	modelo	“termodinâmico”,	ou	seja,	mesmo	os	neurônios 
não	se	referem	a	elementos	analisados	por	ciências	como	a	histologia	e	neurologia	de	
sua	época.	Devemos	lembrar	que	Freud,	a	todo	o	instante	utiliza	elementos	“fantásti-
cos”,	auxiliares,	como	apoio	para	suas	reflexões	a	respeito	do	aparelho	psíquico.
Sem	dúvidas,	como	destaca	Garcia-Roza	(2009),	Freud	utiliza	muitas	descober-
tas	empreendidas	pelos	cientistas	de	sua	época.	Todavia,	não	lhes	foi	fiel	em	demasia	
para	estruturar	suas	explicações	metapsicológicas
75
Os neurônios aludidos por Freud são constituídos não como os 
que foram descobertos pela histologia do século XIX. Ao contrário, 
são tidos como base material do aparelho psíquico, sim, mas não 
é “uma tentativa de explicação do funcionamento do aparelho 
psíquico em bases anatômicas” (GARCIA-ROZA, 2009, p. 47). 
IMPORTANTE
O	autor	Nasio	(1997)	apresenta	um	exemplo	de	como	o	pensamento	freudiano	
concebe	 elementos	 para	 tentar	 descrever	 o	 funcionamento	 psíquico.	 Na	 Figura	 6,	
teremos o esquema neurológico do arco reflexo	 que	 liga	 dois	 extremos:	 excitação	
externa	 e	 ação	 real.	 Além	 de	 descrever	 a	 trajetória	 da	 energia	 psíquica.	 Vejamos	 a	
descrição	mais	detalhada	apresentada	pelo	autor:
A	 da	 direita,	 extremidade	 motora,	 transforma	 a	 energia	 recebida	
numa	 resposta	 imediata	 do	 corpo	 —	 em	 nosso	 exemplo,	 a	 perna	
reage	prontamente	com	um	movimento	reflexo	de	extensão.	Entre	
os	 dois	 extremos,	 instala-se,	 pois,	 uma	 tensão	 que	 aparece	 com	
a	 excitação	 e	 desaparece	 com	 a	 descarga	 escoada	 pela	 resposta	
motora.	 O	 princípio	 que	 rege	 esse	 trajeto	 em	 forma	 de	 arco	 é	
muito	claro,	 portanto:	 receber	 a	energia,	 transformá-la	em	ação	e,	
consequentemente,	reduzir	a	tensão	do	circuito	(NASIO,	1997,	p.	16).
FIGURA 6 – ARCO REFLEXO 
FONTE: Nasio (1995, p. 16)
Ao	aplicarmos	esse	mesmo	esquema	reflexo	no	funcionamento	do	psiquismo,	
notaremos	que	ele	é	regido	por	um	princípio,	como	destaca	Freud,	que	almeja	promover	
a	absorção	e	excitação,	e,	por	conseguinte,	reduzir	a	tensão.	
Isso	significa	que	a	vida	psíquica	trabalha	entre	esses	polos,	numa	certa	tensão	
que	nunca	se	esgota,	ou	seja,	a	vida,	de	acordo	com	a	metapsicologia	freudiana,	é	uma	
eterna tensão psíquica.	Algo	que	mais	à	frente	será	denominado	por	Freud	como	o	
Princípio de desprazer-prazer.	
76
O modelo freudiano especula que existem duas extremidades do 
arco reflexo. Então, ao pensar no aparelho psíquico, trata-se de 
seus polos, mas o aparelho está imerso, e assim é constituído pela 
realidade externa. Na fronteira desse aparelho existe a separação 
entre um interior psíquico e um exterior que o circunscreve.
ATENÇÃO
2.1 A NOÇÃO DE QUANTIDADE (Q)
Conforme	 verificamos,	 a	 metapsicologia	 freudiana	 concebe	 a	 existência	 de	
duas	hipóteses	fundamentais:	uma	em	que	há	uma	dada	quantidade	(Q)	de	neurônios	
investidos	em	uma	ação;	outra	em	que	que	esses	atuam	de	forma	livre.	
Para Freud, a excitação é sempre interna, uma vez que tudo, interno	(fome	
e	 sono,	 por	 exemplo)	 ou	 externo	 (como	 acidente,	 tropeço	 ou	 pancada)	 deixa	 uma	 
marca psíquica.	
Como	descreve	Nasio	(1997,	p.	18)	“a	fonte	da	excitação	endógena	é	uma	mar-
ca, uma ideia, uma imagem, ou, para empregar o termo apropriado, um representante 
ideativo	carregado	de	energia”,	então,	há	uma	estimulação	“ininterrupta”	que	tende	a	
manter	o	aparelho	psíquico	em	estado	de	tensão constante,	mobilizando	o	sujeito	a	
buscar	permanentemente	descarregar	tal	tensão.	
Ao	abordar	a	modelagem	especulativa,	Freud	estabelece	que	o	princípio do 
desprazer-prazer direciona	o	indivíduo	numa	variação	entre	escoamento efetivo da 
energia e eliminação da tensão (prazer),	e	abolição deste escoamento	(desprazer).	
Se considerarmos que no dia a dia somos quase invariavelmente condicionados 
a	viver	em	estado	de	excitação	incessante,	no	qual	não	dispomos	sempre	(por	inúmeras	
razões)	de	mecanismos	e	“válvulas	de	escape”	para	toda	a	tensão,	notaremos	que	te-
mos	variações	de	prazer	parcial	e	substitutivo,	moderado	e	absoluto	(impossível),	assim	
como	teremos	desprazer.	
Vejamos	uma	representação	dessa	dinâmica:
77
FIGURA 7 – DINÂMICA DE “ESCOAMENTO ENERGÉTICO” 
FONTE: Nasio (1995, p. 20)
Isso	significa	que	no	psiquismo	humano,	o	estado	de	tensão	é	constante e por 
desdobramento.	Enquanto	arco reflexo,	o	aparelho	psíquico	não	atua	sobre	si	direta-
mente.	De	modo	que	ele	faz	uso	de	intervenções mediadas:	pensamentos,	significa-
dos,	sentimentos,	comportamentos	e	emoções.	Representações	da	ação	que	permitem	
a	descarga	parcial,	nunca	completa,	da	energia.	
Como	descreve	Nasio	(1997),	há	uma	dinâmica	de	representação	a	ser	considera-
da.	De	um	lado	uma	representante-excitação e de outro uma representante-ação.	A	
segunda	se	estende	e	se	desdobra	em	uma	rede	de	muitos	outros	representantes,	tecendo	
a	trama	no	aparelho	psíquico.	Será	justamente	por	essavia	que	a	energia	afluirá	e	circulará	
num	fluxo:	esquerda	→	direita;	excitação	→	descarga.	O	fluxo	contempla	o	atravessamen-
to	de	uma	embrenhada	rede intermediária.	Desse	modo,	a	circulação	nunca	ocorre	do	
mesmo	modo	entre	tais	representações,	embora	existam	similaridades,	ocorre	sempre	de	 
modo	variante,	ou	seja,	a	energia	sempre	encontra	caminhos	diferenciados	e	inventivos.
Como	salienta	Garcia-Roza	(2009),	Freud,	ao	analisar	diversos	casos	de	“histe-
ria”	e	“neurose	obsessiva”,	por	exemplo,	sugere	a	existência	de	uma	certa	relação	entre	
a intensidade de certos traumas e a intensidade de certos sintomas produzidos pelos 
primeiros,	ou	seja,	um	modo	de	representação	da	excitação	sob	a	qual	se	envereda	a	
energia	tensionada.	
A	inventividade	de	Freud,	não	foi	necessariamente	estabelecer	tal	vínculo,	mas	
sim	relacionar	a	questão	das	psicopatologias,	pois,	na	questão	da	concepção	Quan-
titativa	(Q)	está	imbricada,	pelo	menos	para	Freud,	a	intensidade	de	carregamento	dos	
78
2.2 PRINCÍPIO DA INÉRCIA NEURÔNICA E O PRINCÍPIO DA 
CONSTÂNCIA
Segundo o princípio de inércia neurônica (PI),	Freud	concebeu	que	os	neurô-
nios	tendem	a	desfazer	Q.	Sendo	justamente	o	princípio	baseado	no	arco reflexo, ou 
seja,	a	quantidade	de	excitação	recebida	pelo	neurônio	sensitivo	tende	a	ser	 inteira-
mente	descarregada	na	extremidade	motora.	Trata-se	de	uma	tendência,	uma	vez	que	
existem	elementos	que	regulam	essa	condição	primordial:	o	princípio	da	inércia.	
neurônicos,	ou	como	mais	tarde	em	psicanálise	se	intitularia	como	investimento.	Esse	
Q	circula	no	sistema	de	neurônios,	desenhado	por	Freud,	na	passagem	de	um	para	o	ou-
tro,	por	meio	de	diferentes	caminhos,	regulados	pelo	princípio de inércia neurônica 
e pelo princípio de constância.
Essa	modelagem	proposta	por	Freud	está	baseada	na	ideia	de	que	o	funciona-
mento do aparelho psíquico	ocorre	buscando	evitar	o	livre escoamento da energia 
(GARCIA-ROZA,	2009),	pois,	há	no	sistema	uma	convergência de diferentes fontes de 
estímulos,	podendo	ser	contempladas	em	dois	tipos:	exteriores	(ambientais)	e	interiores	
(endógenas,	 oriundas	do	próprio	 organismo).	Assim,	 para	Freud,	 nessa	 convergência	
são	criadas	as	demandas,	necessidades	e	mobilizações	no	sujeito:	fome,	frio,	sono,	se-
xualidade,	entre	outras.	
Entretanto,	se	os	estímulos	originados	do	ambiente	podem	ser	evitados,	os	en-
dógenos	não.	Em	geral,	apenas	desaparecem	enquanto	estímulos	quando	há	de	algu-
ma	forma	sua	dissipação,	realização	ou	troca.	Todavia,	o	princípio da inércia atua no 
sistema	justamente	mobilizando	o	escoamento	de	toda	a	quantidade	de	energia	produ-
zida	(transmitida),	o	que	provocaria	um	desequilíbrio	devastador	no	sistema,	porque	o	
sistema	não	disporia	de	energia	para	atuar	em	questões	endógenas,	por	exemplo.	Para	
Freud, é necessário ajustar o sistema	para	manter	alguma	reserva	suficiente	para	sa-
tisfazer	outras	exigências	e	demandas.	
Para essa função há uma outra de ordem secundária, que procura 
não apenas liberar Q, mas, também, tende a conservar as vias de 
descarga, de modo a possibilitar uma condição de manutenção de 
afastamento de fontes de excitação. Algo como equilíbrio = função 
(descarga) mais função (fuga do estímulo), ou seja: eq = f (d) +f (fe).
ATENÇÃO
79
FIGURA 8 – PESOS E CONTRAPESOS NO SISTEMA INCONSCIENTE 
FONTE: <https://shutr.bz/3p7Sre2>. Acesso em: 2 ago. 2021.
O contrapeso	desenhado	por	Freud	foi	denominado	 lei da constância (L. C.).	
Trata-se de uma tendência que contrapõe o princípio da inércia.	Se	no	P.I.	a	tendência	
é	reduzir	Q	a	zero,	o	sistema	psíquico	faz	uso	da	L.C.	a	fim	de	regular,	mantendo	Q	em	
níveis	reduzidos,	a	ponto	de	se	proteger	de	qualquer	oscilação,	numa	constante.	
Como	observa	Garcia-Roza	(2009),	Freud,	em	sua	metapsicologia,	designou	a	
L.C.	como	uma	lei secundária,	não	um	princípio	independente	em	si.	Somente	depois,	
de modo mais consolidado, Freud apresentou elementos mais sólidos para descrever 
um princípio de constância	enquanto	princípio	independente.	Mas	o	que	é	importante	
nessa	 enunciação	 é	 o	 que	 Freud	 sinaliza	 e	 distingue	 como	 processos	primários e 
processos secundários.	Algo	que	estudaremos	mais	adiante.	
Para compreendermos mais obre o princípio da constância, 
recomendamos a leitura da obra Além do Princípio do Prazer, de 
Freud, publicada em 1920. 
DICA
2.3 OS NEURÔNIOS Φ (phi), Ψ (psi) e ω (ômega)
Freud	identificou,	especulativamente	falando,	a	existência	de	dois	tipos	de	mo-
vimentos	no	aparelho	psíquico,	duas tendências básicas: uma de descarga total de 
Q, e outra que tende a armazenar e investir uma certa quantidade de Q para demandas 
endógenas.	Assim,	para	ele,	essas	tendências	operam	por	meio	de	pontos	de	controle,	
ou como ele denominou, barreiras de contatos	entre	os	neurônios,	a	fim	de	regular	o 
que e o quanto	escoa	ou	é	armazenado	e	investido.	
80
Inerente a essa proposta, Freud entendeu que tal dinâmica produz uma classi-
ficação,	uma	tipologia	de	neurônios:	aqueles	que	permitem	a	fruição	de	Q	(os	quais	ele	
denominou permeáveis)	e	aqueles	que	limitam	essa	passagem	(denominados	imper-
meáveis).	Sendo	que	os	primeiros,	por	procederem	a	passagem	de	Q,	tendem	a	retornar	
ao estado anterior, mas os impermeáveis	não,	pois,	a	cada	passagem	há	uma	quanti-
dade	de	Q	diferente	já	armazenada,	podendo	ou	não	ter	sido	investida.	E	aqui	reside	a	
ideia de memória neurônica,	pois,	acaba	sendo	estabelecido	um	histórico	de	excita-
ções	e	de	investimentos	(destinos).	Essa	relação	estrutura	dois	sistemas neurônicos:
• um denominado neurônio Φ (phi),	 constituído	 de	 neurônios	 permeáveis, pois 
não	apresentam	limitação	para	a	passagem	de	Q.	Para	Freud,	esse	sistema	reserva	
neurônios	específicos	para	o	processo	perceptivo;	
• o segundo denominado neurônio Ψ (psi),	constituído	por	neurônios	impermeáveis, 
aqueles que regulam e impedem a passagem livre de Q, e que de algum modo 
estabelecem	uma	memória	do	processo.
É	interessante	notar	que	Freud	elucidou	esse	mecanismo	neurônico,	especial-
mente no que se refere aos neurônios Ψ (psi)	e	sua	condição	de	impermeabilidade.	
Isto	é,	não	há	uma	impermeabilidade	total	de	Q,	ela	é	parcial,	em	que	parte	é	retida	e	
parte	é	liberada.	
Muitas vezes, tal represamento produz marcas psíquicas. De 
modo que fruição, escoamento e descarga passam a seguir 
um mesmo caminho. Regulada pela marca psi que direciona 
e orienta a fim de ser investida. Essa é uma característica 
marcante e inerente dos neurônios Ψ (psi).
IMPORTANTE
Para	Garcia-Roza	(2009),	a	diferenciação	entre	neurônios Φ (phi) e neurônios 
Ψ (psi)	está	mais	relacionada	à	funcionalidade,	exposição	e	aplicação	do	que	à	ordem	
inata.	Os	neurônios	Φ	(phi)	estão	expostos	diretamente	a	fontes	externas	(ambiente),	
atuando	com	os	processos	perceptivos.	
Enquanto	os	neurônios	Ψ	 (psi)	acabam	sendo	estimulados	originalmente	em	
função	de	elementos	endógenos.	Isto	significa	que	o	fluxo	de	Q,	e	consequentemente	
de	carga	impelida	via	neurônios	Φ	(phi)	seja	maior	do	que	a	via	neurônios	Ψ	(psi).	
Para Freud, este volume Q, via Φ (phi),	impede	qualquer	criação	de	barreira de 
contato.	Ao	passo	que	com	o	volume	de	Q,	é	consideravelmente	menor	nos	neurônios	
Ψ	(psi),	havendo	maior	probabilidade	de	se	estabelecer	barreiras	mais	perenes	e,	assim,	 
de	memória.
81
Ambos	os	sistemas	neurônicos,	Φ	 (phi)	e	Ψ	 (psi),	atuam	primordialmente	es-
coando	grandes	quantidades	de	Q,	enquanto	mecanismo	de	evitação	de	dor	(despra-
zer),	em	função	do	acúmulo	excessivo	de	Q,	o	qual,	muitas	vezes	é	formado	em	fun-
ção	da	contenção	seletiva	 imposta	pelos	“neurônios	Ψ	 (psi)”.	O	princípio do prazer, 
descrito	por	Freud,	momentos	mais	adiante	em	sua	obra,	segue	esta	dinâmica.	
Se	o	prazer	é	 identificado	com	a	tensão	decorrente	do	acúmulo	de	Q,	o	prazer	
consiste	na	descarga	desta	Q	excessiva.	O	prazer	é	a	própria	sensação	de	descarga,	sendo	
que	qualquer	manutenção	de	Q	no	sistema	nervoso	é	apenas	tolerada,	o	que	significa	
dizer	que	implica	sempre	uma	terceira	dose	de	desprazer	(GARCIA-ROZA,	2009,	p.	51).Além	das	descrições	até	aqui	empreendidas	a	respeito	dos	sistemas	neurônicos	
que	ilustram	uma	porção	quantitativa,	para	Freud,	há	ainda	que	se	considerar	a	porção 
qualitativa	dessa	sistemática.	Desse	modo,	ele	propõe	uma	terceira	“via	neurônica”,	ou	
seja,	uma	terceira	tipologia	que	se	especializa	quanto	à	“qualidade”	do	aparelho	psíquico.	
Para tal sistema, Freud designou o nome neurônios ω (ômega).	Trata-se	de	
um tipo especializado em significar sensações	 a	 partir	 da	 percepção.	 Segundo	 o	
médico	vienense,	esses	neurônios	são	totalmente permeáveis, uma vez que atuam 
como veículos de consciência	e	implicam	em	uma	condição	de	mutabilidade	da	carga	
Q,	articulando	diferentes	fatos	combinados,	simultaneamente	percebidos	de	maneira	
fácil	e	rápida.	
Aqui não se identifica a função memória, o estado é transitório, 
assim como a percepção. O ponto central da proposição de Freud 
é a condição de transitoriedade dos neurônios ω (ômega). Mais 
do que a carga de Q em si, o que é denotado a esse sistema 
neurônico é o tempo e o período com que recebem estimulação. 
Há exposição a uma carga mínima, suficientemente necessária, 
para a excitação. 
IMPORTANTE
No limite, os três sistemas atuam complementar e mutuamente, em um mo-
vimento	 tripartite:	 transferindo	quantidades	de	Q;	 transferindo	 a	 qualidade	 (tempo	e	
periocidade)	de	Q	entre	si;	exercendo	uma	forma	de	excitação	recíproca	(GARCIA-ROZA,	
2009).	Assim,	os	neurônios ω (ômega)	recebem	uma	excitação indireta, provenien-
te das descargas reguladas nos neurônios Ψ (psi).	Numa	relação	direta,	aumenta-se	
Q em Ψ	(psi),	ω	(ômega)	é	investido,	ou	seja,	os	neurônios	ω	(ômega)	atuam	guiando	a	
descarga	de	Q	represada	nos	neurônios	Ψ	(psi).	
82
2.4 A EXPERIÊNCIA DA SATISFAÇÃO E A EXPERIÊNCIA DA DOR
Na	linha	das	“descargas”	e	dos	“escoamentos”	possíveis	e	exequíveis	pelo	sis-
tema neurônico,	seus	resíduos	atuam	como	experiências	significantes:	de	satisfação	e	
de	dor,	na	perspectiva	metapsicológica	de	Freud.	E	serão	essas	“experiências”	que	pro-
duzirão	e	constituirão	os	chamados	afetos e estados de desejos.	Agora,	tentaremos	
traçar	algumas	considerações	acerca	da	chamada	experiência de satisfação.
Vejamos,	se	o	aparelho psíquico	trabalha	buscando	regular o fluxo de estí-
mulos	por	meio	do	escoamento	de	Q	que	ele	recebe	(sejam	eles	estímulos	endógenos	e/
ou	exógenos),	não	fica	difícil	imaginar	que	é	preciso	alguma	habilidade	para	operaciona-
lizar	a	realização	dessa	“descarga”.	Logo,	quanto	mais	desenvolvido	o	sujeito,	melhores	
chances	de	o	fazer.	Entretanto,	pensemos	em	um	recém-nascido,	em	especial	da	es-
pécie	humana,	o	qual	nasce	totalmente	despreparado	para	sobreviver	no	mundo,	como	
ele	consegue	dar	“vazão”	aos	estímulos	a	ele	e	por	ele	mobilizados?
No	caso,	há	a	necessidade	de	um	outro	externo	que	o	auxilie,	seja	a	mãe,	o	pai	
ou um cuidador para mediar este ”escoamento” e, por conseguinte, promover a supres-
são	da	tensão	criada.	A	essa	troca,	substituição	de	um	estado	por	outro,	de	tensão	por	
alívio, Freud denominou de experiência de satisfação.
É	interessante	notar	que	essa	nova	experiência	se	associa	a	um	objeto:	a	mãe,	
o	pai	ou	o	cuidador,	ou,	como	destaca	Garcia-Roza	 (2009,	p.	54),	associa-se	à	 “ima-
gem	do	objeto	que	proporcionou	a	satisfação,	assim	como	à	 imagem	do	movimento	
que	permitiu	a	descarga”,	desse	modo,	ao	repetir	a	demanda	(fome,	sono,	dor,	frio	ou	
medo),	instala-se	uma	cadeia de ação, um arco reflexo	que	delineia	e	guia	o	“escoa-
mento”	via	o	objeto	que	anteriormente	funcionou	como	canal de supressão da ten-
são criada.	Logo,	o	impulso	psíquico	constituído	seguirá	o	investimento	anteriormen-
te	realizado,	em	função	de	seu	sucesso	prévio,	 isto	é,	uma	imagem	mnemônica que 
se	estabelece	como	referência,	e	assim,	servirá	de	parâmetro	para	a	reprodução	da	 
satisfação	original.	
A grande questão levantada por Freud é que a repetição dessa ex-
periência está mais ligada à imagem registrada sobre o objeto e da 
vivência em si, do que do objeto e situações reais. Imagine, então, 
que um recém-nascido ainda não é capaz de diferenciar uma coi-
sa da outra, para ele tudo é real. Esse circuito é desencadeado, 
havendo a experiência concreta ou não. Mais do que a descarga, 
o foco torna-se a posse do objeto para a repetição da experiência 
de satisfação. O que, na maioria das vezes, acaba gerando frustra-
ção, uma vez que ele não encontra o objeto à disposição a todo 
momento. Esse movimento produz, concomitante, a percepção da 
realidade em função das ausências e presenças a ele disponíveis.
ATENÇÃO
83
No caso da experiência da dor,	a	situação	é	análoga,	pois	uma	das	tendências	
básicas	 do	 funcionamento	 psíquico	 é	 a	 orientação	 para	evitar desprazer,	 ou	 seja,	
escoar	o	aumento	excessivo	nos	níveis	de	Q.	O	sistema	é	ativado	na	medida	em	que	é	
identificado:	ativa-se	uma	dinâmica	de	descarga	acompanhada	da	associação	a	uma	
imagem	do	objeto	que	produz	a	dor.	
De	uma	maneira	invertida,	o	objeto	da	dor	é	aquele	que	produz	o	aumento	dos	
níveis	de	Q,	enquanto	o	da	satisfação	o	elimina.	Dito	de	outra	forma,	à	imagem	do	objeto	
desprazeroso é reinvestida, e para ela surge um canal de escoamento (um	objeto)	que	
regula a energia a ser descarregada.
Para	Freud,	essas	duas	experiências	formam	a	base	da	constituição	de	estados	
de desejos e dos afetos.	Nos	dois	casos,	há	um	aumento	no	nível	de	Q,	ou	seja,	de	
“tensão”	nos	“sistemas	neurônicos”,	em	especial	no	dos	neurônios	Ψ	(psi),	o	que	pro-
duz quando pensamos no afeto,	num	escoamento	rápido,	e	quando	do	desejo,	por	um	
efeito somatório.	
Então,	desejos	e	afetos,	para	Freud,	são	a	base	de mecanismos futuros, que 
ainda em sua teoria metapsicológica,	ele	 identificou	como	recalcamento.	Este	em	
especial	será	trabalhado	no	Tópico	3	desta	unidade.
3 A METAPSICOLOGIA FREUDIANA E O 
FUNCIONAMENTO PSÍQUICO 
Para	Nasio	(1997),	a	metapsicologia	freudiana	concebe	um	elemento	essencial	
para	a	definição	do	funcionamento psíquico:	 os	processos	 inconscientes.	E	nesse	
sentido, segundo o psicanalista argentino, é preciso considerar quatro tempos básicos 
que ilustram tal dinâmica: 
FIGURA 9 – QUATRO TEMPOS NA DINÂMICA INCONSCIENTE 
FONTE: Adaptada de Nasio (1997, p. 24).
Aqui	 cabem	algumas	 definições	 que	 servirão	 de	 apoio	 para	 entendermos	 os	
processos inconscientes:
84
• Prazer:	a	satisfação	parcial	ou	substitutiva	ligada	às	formações	inconscientes	não	
necessariamente	 é	 sentida	 pelo	 sujeito	 como	uma	 sensação	 agradável	 de	 prazer.	
Antes,	em	muitos	casos,	anteveem	uma	sensação	desprazerosa	(uma	tensão	des-
confortável),	a	qual	se	converte	em	prazer	justamente	por	ocasião	de	sua	descarga,	
ou	ainda,	como	aponta	Nasio	(1997),	um	certo	sofrimento	suportado	pelo	sujeito	em	
função	da	possibilidade	de	prazer	futuro.	Isto	é,	para	Freud,	prazer	está	mais	atrela-
do a um sentido econômico,	“descarga	de	tensão”,	ou	melhor,	encontrar	prazer	em	
ações	e	movimentos	de	alívio	da	tensão.	Assim,	o	sofrimento	seria	uma	experiência	
de	prazer	não	sentido.
• Recalcamento:	para	Freud,	o	recalcamento	não	tem	como	foco,	necessariamente,	
evitar	 o	desprazer	 (tensão	acumulada)	 que	prevalece	no	 inconsciente.	Ao	 contrá-
rio,	trata-se	de	um	movimento	que	busca	atenuar	ao	máximo	o	risco	de	o	aparelho	
psíquico,	 em	especial	 uma	de	 suas	 instâncias	 (o	Ego),	 de	 satisfazer	 por	 completo	
(direta	e	 integralmente)	 a	 exigência	de	 satisfação	 (pulsão).	 Isto	pois,	 como	desta-
ca	Nasio	 (1997),	 a	 experiência	de	 satisfação	plena	efetivamente	destruiria	 o	 equi-
líbrio	do	aparelho	psíquico.	Cabe	salientar,	então,	as	duas	maneiras	de	proceder	à	
satisfação,	sendo	que	no	âmbito	do	aparelho	psíquico	uma	é	total, em que o Ego 
busca	(incessantemente)	um	prazer	absoluto,	mas	evita,	pois,	ao	entrar	em	ação,	o	
recalcamento	atua	protegendo	o	sistema	de	um	excesso	destrutivo.	E	uma	outra	em	
carácter parcial, moderada e que ocorre de modo seguro, e que, ao mesmo tempo, 
é	tolerável	pelo	Ego.	
Vejamos	agora	o	que	é,	especificamente,	aquilo	que	Freud	denominoucomo	
Inconsciente.	Nasio	(1997)	nos	auxilia	nesta	delimitação	ao	explorar,	em	especial,	dois	
dos	quatro	tempos	anteriormente	mencionados:	o	Tempo	1	(o	inconsciente,	enquanto	
fonte de excitação)	e	o	Tempo	4	 (referente	às	formações exteriores do incons-
ciente).	Em	ambos	é	possível	encontrar	definições	que	auxiliam	no	entendimento	dos	
processos	inconsciente.
3.1 POR UMA DEFINIÇÃO DE INCONSCIENTE
A	fim	de	melhor	explorar	o	que	vem	a	ser	esse	inconsciente,	vamos	considerá-lo	
a partir de uma perspectiva externa,	como	se	o	observássemos	de	fora	para	dentro,	
ou	seja,	tentando	descrever	suas	manifestações exteriores	ao	sujeito,	seus	produtos,	
ainda	que	entendido	com	um	processo	obscuro	e	incognoscível,	além	de	inacessível.	
Para	tanto,	resta	identificar	seus	produtos.	
Nesta	linha,	Nasio	(1997)	aponta	que	diante	da	infinidade	de	expressões	e	com-
portamentos	humanos,	o	desafio	é	escolher	qual,	ou	melhor,	quais	formações provêm 
do	inconsciente.	
85
Para	ele,	tais	manifestações	surgem	em carácter intempestivo,	“como	atos	
inesperados,	que	surgem	abruptamente	em	nossa	consciência	e	ultrapassam	nossas	
intenções	e	nosso	saber	consciente”	(NASIO,	1997,	p.	26).	
Atos que oscilam desde condutas cotidianas e rotineiras	 (leia-se	aqui	atos	
falhos,	esquecimentos,	sonhos,	ou	alguma	ideia	brilhante,	um	insight	criativo	de	um	po-
ema	ou	da	solução	de	um	problema)	até	manifestações patológicas	(se	alimentar	mal,	
comportamentos	 desconexos	 com	 a	 realidade,	 sintomas	 neuróticos-psicóticos	 etc.).	
“Normais”	ou	“patológicos”	são	produtos inconscientes (abruptos	e	inesperados).	
Em	todo	caso,	são	“enigmáticos”	para	a	racionalidade	consciente	do	sujeito.	
Trata-se de produções psíquicas	que	possibilitam,	em	sua	manifestação,	observar	a	
existência	de	uma	provocação	obscura,	mas	intensamente	ativa,	que	atua	sobre	o	indi-
víduo,	seus	comportamentos,	ações,	escolhas	e	decisões	(até	não	fazer	nada	torna-se	
algo	a	ser	considerado).	
Podemos	imaginar,	por	exemplo,	a	apatia	de	uma	pessoa	que	vê	outra	em	situ-
ação	de	vulnerabilidade,	perigo	ou	necessidade	e	não	faz	nada	(seja	pela	razão	que	for).	
Há	algo	aí	a	ser	considerado	que	foge	da	sua	consciência.	Um	fenômeno	que	opera	a	
despeito da escolha consciente	do	sujeito	e	que,	de	um	modo	ou	de	outro,	acaba	por	
determiná-lo	enquanto	sujeito.	O	psicanalista	argentino	ainda	enfatiza	que	essa	pers-
pectiva considera a ideia de que: 
Na	presença	de	um	ato	não	intencional,	postulamos	a	existência	do	
inconsciente,	não	apenas	como	causa	desse	ato,	mas	também	como	
a qualidade essencial, a essência mesma do psiquismo, o psiquismo 
em	 si.	 O	 consciente,	 portanto,	 seria	 apenas	 um	 epifenômeno,	 um	
efeito	 secundário	 do	 processo	 psíquico	 inconsciente	 (NASIO,	 1997,	
p.	26).	
Assim,	o	funcionamento	psíquico	ganha	outras	nuances	e	delimitações,	pois,	
enquanto processo, refere-se a um movimento contínuo	 de	 energia	 em	busca	de	
efetivação	de	um	“prazer	absoluto”.	
Porém,	sofre	a	ação	de	mecanismos de regulação com o intuito de proteger o 
sistema	de	um	colapso	(recalcamento).	E	que	dessa	forma,	reverte	a	energia	restrita	no	
início	de	uma	nova	excitação,	deixando	a	energia	que	transpõe	a	barreira	se	exteriorizar	
sob	a	forma	de	prazer	parcial	enquanto	formação inconsciente.	
A	Figura	10	ilustra	esse	movimento,	explicitando	alguns	dos	aspectos	citados	
acerca do inconsciente: 
86
FIGURA 10 – RELAÇÃO DENTRO-FORA NO FLUXO ENERGÉTICO 
FONTE: Nasio (1997, p. 25)
Entretanto,	precisamos	considerar	mais	algumas	questões	sobre	o	inconscien-
te.	Nesse	sentido,	como	lembra	Nasio	(1997),	nessa	perspectiva	congregam	pontos	de	
vista	que	se	complementam	e	encorpam	o	entendimento	sobre	o	Inconsciente	enquan-
to instância e corpo	do	aparelho	psíquico:
• ponto de vista sistêmico; 
• ponto de vista dinâmico;
•	 ponto	de	vista	econômico;
•	 ponto	de	vista	ético.
Nessa	miríade	de	perspectivas	sobre	o	fenômeno	dos	processos	inconsciente	
que	Freud	estruturará	sua	metapsicologia	acerca	do	Inconsciente.	Sendo	assim,	vamos,	
uma	a	uma,	construir	uma	definição	do	que	venha	a	ser	o	Inconsciente.	
3.2 DO PONTO DE VISTA SISTEMÁTICO 
O inconsciente como um sistema deve ser compreendido como uma estrutura, 
uma rede de representações.	Na	qual	a	“fonte	de	excitação”	é	denominada	por	Freud	
como sendo representação de coisa,	de	modo	que	produz	“manifestações	deturpa-
das”	do	inconsciente.
Podemos	tomar	como	exemplo	uma	análise	dos	sonhos	que	temos,	muitas	ve-
zes,	“sem	pé	nem	cabeça”.	Eles	mostram	bem	esses	tipos	de	manifestações.	Entretanto,	
enquanto estrutura, apontam para dois tipos de sistemas: um primeiro que contempla 
processos	conscientes,	e	um	segundo,	processos	inconscientes.	
87
O	segundo	grupo,	de	acordo	Nasio	(1997),	objetiva	o	“escoamento”	da	tensão	de	
modo	imediato,	com	o	intuito	de	atingir	o	“prazer	absoluto”,	enquanto	tal	é	caracterizado	
por	“representações	pulsionais”,	multiplicando-se	em	muitos	outros.	Freud	denominou	
isso como representações inconscientes ou representações de coisas.	E	como	
tal,	englobam	todo	o	tipo	de	“imagens	(acústicas,	visuais	ou	tácteis)	de	coisas	ou	de	
pedaços	de	coisa	impressas	no	inconsciente”	(NASIO,	1997,	p.	19).	
Freud	destaca	que	tais	representações	têm	em	sua	natureza	uma	condição	im-
preterivelmente visual,	pois	fornecem	a	matéria-prima	de	sonhos	e,	principalmente,	das	
fantasias.	A	denominação	representações	refere-se	à	outra	condição,	a	de	investimen-
to,	ou	seja,	estão	carregadas	de	energia,	oriunda	de	algum	fragmento	ou	acontecimento	
real,	e	que	é	revisto	enquanto	representação	disso.	
FIGURA 11 – REPRESENTAÇÃO INCONSCIENTE 
FONTE: <https://shutr.bz/3BLQjMd>. Acesso em: 2 ago. 2021.
Diferentemente	de	aspectos	reais	e	materiais	no	âmbito	mais	consciente,	tais	
representações	inconscientes	operam	para	além	dos	limites	da	razão,	da	realidade	ou	
do	 tempo.	É	nesse	 sentido	que	Freud	o	 caracteriza	 como	atemporal.	Uma	vez	que	
seus	parâmetros	se	pautam	pela	busca	instantânea	do	“prazer	absoluto”.	E	é	aqui	que	
o sistema inconsciente tem sua principal característica e funcionamento: mecanismos 
que	regulam	e	fomentam	uma	circulação	fluente	da	energia,	ou	seja,	encontra	pouca	
dificuldade	para	fluir	com	toda	a	mobilidade	na	rede	inconsciente	(NASIO,	1997).
O conceito de pulsão para Freud, como destaca Fulgêncio (2005, p. 
106), pode ser definido como “uma força equivalente às forças físico-
químicas que atuam sobre a matéria”. Lembremos que, no bom estilo 
freudiano de especular, “força”, mesmo nas ciências naturais, não é 
conceito empírico. Trata-se, então, de uma construção especulativa 
teórica, com a intenção de convencionar uma ideia abstrata sem 
conteúdo empírico definido, embora necessário. 
NOTA
88
Agora,	a	 respeito	do	primeiro	grupo	de	processos,	há	um	sistema	que	Freud	
identificou	como	pré-consciente/consciente.	Tal	qual	o	primeiro,	ele	busca	o	prazer,	
no	 entanto,	 ao	 contrário	 do	 primeiro,	 sua	 missão	 é	 redistribuir a energia (aquela	
investida)	de	modo	a	descarregá-la	gradualmente	sob	a	égide	dos	ditames	do	princípio 
de realidade.	 Por	 conseguinte,	 as	 representações	 daí	 oriundas	 são	 denominadas 
representações pré-conscientes e representações conscientes.	
Enquanto	 as	 primeiras	 (pré-conscientes)	 estruturam	 a	 partida	 da	 palavra	
(imagem	acústica,	gráfica,	gestual	e	escrita),	no	caso	das	conscientes, elas operam 
representando	uma	coisa	agregada	a	uma	palavra	que	a	designa.	Há,	nesse	sentido,	
uma	associação	entre	diferentes	imagens.	Por	exemplo,	uma	imagem	acústica	a	uma	
imagem	 mnemônica	 (visual)	 de	 uma	 determinada	 coisa.	 Imaginemos	 o	 sol,	 nós	 o	
faremos	de	duas	formas,	pela	palavra	“sol”	e	pela	visão	(uma	visão,	seja	ela	qual	for)	do	
sol.	Esse	movimento	concederá	um	nome	e	ao	mesmo	tempo	uma	qualidade	específica.
Cabe destacar que ambos os sistemas buscam o escoamento 
de energia (tensão): o prazer. O que os difere é que enquanto o 
sistema “pré-consciente/consciente” opera por meio do alcance 
de prazer moderado/parcial, o sistema inconsciente,por sua vez, 
tem com premissa a obtenção de um prazer absoluto.
ATENÇÃO
3.3 DO PONTO DE VISTA DINÂMICO
Abordar	o	inconsciente	sob	a	perspectiva	de	sua	condição dinâmica é tratar, 
especificamente,	de	um	movimento antagônico	entre	duas	forças:	de	um	lado	aquelas	
que	são	mobilizadas	por	 fontes	de	excitação	 (e	que	ora	são	 recalcadas),	 e	por	outro	
lado	as	produções	finais	que	escapam	à	ação	do	refreamento	do	recalque	(produtos	do	
inconsciente).	Se	os	primeiros	se	mantêm	no	nível	inconsciente,	os	pró-inconscientes,	
com	aponta	Nasio	(1997),	eclodem	(de	forma	velada)	na	superfície	da	consciência.	
89
FIGURA 12 – INSTÂNCIAS DA PSIQUE HUMANA NA METAPSICOLOGIA FREUDIANA 
FONTE: <https://shutr.bz/3lIhC4G>. Acesso em: 2 ago. 2021.
Para	Nasio	 (1997),	o	que	Freud	estabeleceu	como	aparições	conscientes	da-
quilo que outrora fora recalcado, no nível inconsciente, mostram-se em muitos casos 
como	uma	solução	ao	sofrimento,	o	qual	precisa	e	acaba	fruindo	à	consciência,	a	fim	de	
diminuir	uma	tensão	criada.	Ou	seja,	algo	que	produz	uma	mistura	entre	um	elemento	
inconsciente e uma máscara consciente, ou ainda, como destaca o autor:
Em outras palavras, o retorno do recalcado é um disfarce consciente 
do recalcado, porém incapaz, apesar disso, de mascará-lo por com-
pleto.	 [Uma]	 ilustração	dos	 traços	visíveis	 do	 recalcado	no	 retorno	
do recalcado foi-nos proposta por Freud, quando ele comentou uma 
célebre	gravura	de	Félicien	Rops.	Nela,	o	artista	figurou	a	situação	
de	um	asceta	que,	para	rechaçar	a	tentação	da	carne	(o	recalcado),	
refugiou-se	aos	pés	da	Cruz	(recalcamento)	e	viu	surgir,	estupefato,	a	
imagem	de	uma	mulher	nua,	crucificada	(retorno	do	recalcado	como	
solução	de	compromisso)	no	lugar	de	Cristo.	O	retorno	do	recalcado,	
nesse	 caso,	 foi	 um	compromisso	entre	 a	mulher	nua	 (parte	visível	
do	 recalcado)	 e	 a	 cruz	 que	 a	 sustentava	 (recalcamento)	 (NASIO,	 1 
997,	p.	28).
Como	você	 já	se	deu	conta,	o	conceito-chave	para	esta	“perspectiva	econô-
mica”	é	o	de	 “recalcamento”:	 um	 jogo	complexo	de	 forças	que	se	antagonizam	e	 se	
produzem,	ao	mesmo	tempo.	Pois	tanto	acaba	por	conter	e	fixar	no	mais	profundo	do	
inconsciente	aquelas	representações	que	não	podem	vir	à	tona	e	ser	satisfeitas,	quanto	
nortear aquelas que devem, e precisam, ser satisfeitas aos níveis pré-conscientes e 
conscientes.
90
Para Freud, o recalcamento se divide em dois tipos de intervenção: 
uma que captura da carga pré-consciente/consciente uma dada 
energia e a devolve ao nível inconsciente (esquecimentos, chistes 
etc.), a qual denominou de recalcamento primário, e; um outro 
tipo de intervenção no qual, o produto inconsciente é literalmente 
reinventado como um novo “produto inconsciente”, com uma nova 
carga inconsciente.
NOTA
3.4 DO PONTO DE VISTA ECONÔMICO 
Agora,	sob	a	perspectiva econômica,	Freud	definiu	o	inconsciente	do	ponto	
de	vista	de	uma	relação	energética	a	ser	 investida	em	um	dado	objeto.	Subdividindo	
em	dois	polos:	um,	a	fonte	de	excitação,	o	que	ele	denominou	de	representante das 
pulsões,	 e	outro,	as	produções	finais	do	 inconsciente,	as	quais	ele	 identificou	como	
sendo as fantasias,	comportamentos	afetivos	e	escolhas	(amorosas,	desejos,	vontades,	
anseios,	medos	etc.)	inexplicadas,	tendo	como	parâmetro	as	fantasias.	
Isto	significa	que,	a	partir	de	sua	natureza	tópica,	ou	seja,	enquanto	um	dos	
polos,	 as	 fantasias	 não	 surgem	 simplesmente	 ao	 nível	 consciente,	 mas	 enquanto	
produções	inconscientes,	num	mix	entre	o	que	tais	“representações	inconscientes	da	
coisa”	suscitam	e	sua	máscara	consciente	(por	exemplo,	uma	vontade	inexplicável	de	
comer	manga	com	leite,	ou	mesmo	um	afeto	questionável	para	com	uma	dada	pessoa).	
Contudo,	na	maioria	dos	casos,	as	fantasias	acabam	por	atuar	como	uma	espécie	de	
defesa	 do	 “aparelho	 psíquico”	 frente	 a	 alguma	 pressão	 exagerada	 inconsciente,	 em	
função	de	uma	dada	“tensão	produzida”,	uma	“válvula	de	segurança”.	
Dito de outra forma, as fantasias podem se mascarar como um produto pré-
consciente daquilo que foi recalcado,	o	qual	desvia	ou	direciona	(investe)	a	energia	
em	um	objeto	desconectado	com	o	conteúdo	que	o	produziu,	ou	na	outra	ponta,	atuar	
de	modo	a	retirar	o	investimento	de	algo	nocivo	ou	crítico,	agindo	como	uma	“defesa	
recalcante”.	 Esses	 dois	 polos	 são	 exatamente	 o	 que	Nasio	 (1997)	 identificou	 como	 o	
barramento do recalque	 (Tempo	 1)	 e	 a	 intensidade e sua extensão (Tempo	 2	 e	
Tempo	4,	respectivamente).
3.5 DO PONTO DE VISTA ÉTICO 
Agora, a partir de uma perspectiva ética,	 Freud	definiu	o	 inconsciente	en-
quanto desejo.	Como	traduz	Nasio	 (1997),	trata-se	de	um	movimento	com	objetivo 
definido.	Uma	“intenção	inconsciente”	que	anseia	algo:	a	satisfação	absoluta.	
91
Desse	modo,	devemos	compreender	que	as	“produções	finais	do	 inconscien-
te”	não	atuam	de	maneira	a	atender	plenamente	esse	movimento.	Dito	isso,	o	que	são	
operadas	são	realizações parciais do desejo.	Elas	podem	ocorrer	e	satisfazer	parcial-
mente	o	desejo,	ou	ainda,	substituir	o	alvo	ideal	de	satisfação,	e	que	jamais	será	atingido	
por	algo	possível	e	que	não	colapse	o	aparelho,	ou	mesmo	o	funcionamento	psíquico.
FIGURA 13 – SISTEMA ÉTICO
FONTES: <https://shutr.bz/3vktnBA>; <https://shutr.bz/3DKxLwG>; <https://shutr.bz/3DPq1JR>. 
Acesso em: 2 ago. 2021.
Para	Nasio	(1997),	Freud	qualificou	enquanto	ético,	o	inconsciente,	justamente,	
em	função	desse	movimento:
FIGURA 14 – DINÂMICA ENERGÉTICA NO SISTEMA ÉTICO 
FONTE: O autor
Esse movimento, para Freud, é característico do inconsciente, uma vez que se 
refere	à	uma	tendência	de	“fazer	ouvir”	e	se	“fazer	reconhecer”	por	um	outro.	Sua	con-
dição	ética	reside	justamente	no	fato	de	que	enquanto	movimento,	“descarrega”	uma	
dada	energia,	carregada	de	valoração,	a	um	dado	objeto.	Seja	ele	originalmente	o	alvo	
desse	desejo,	seja	ele	um	substituto.	Se	antes,	os	atos	mais	simples	e	banais	passa-
vam	desapercebidos,	quase	anedóticos	(um	sorriso,	uma	face	enrubescida,	um	esque-
cimento	etc.),	com	essa	noção	ética	do	inconsciente,	tudo	passa	a	ser	escrutinado	pelo	
desejo	que	mobiliza	os	comportamentos,	os	pensamentos	e	os	sentimentos.
92
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Freud	concebia	o	psiquismo	humano	como	um	“aparelho”	no	qual	flui	uma	determi-
nada	energia,	 sendo	 transmitida	 e	 transformada.	Seu	 funcionamento	 seguia	duas	
premissas:	a	existência	de	uma	dada	“quantidade”	(Q)	de	energia	que	dimensiona	a	
atividade do repouso das partículas materiais, e que tais partículas materiais seriam 
definidas	como	neurônios.
•	 O	aparelho	psíquico	opera	sob	dois	princípios:	o	princípio	da	 inércia	neurônica	e	o	
princípio	da	constância.
•	 Há	três	sistemas	neurônicos:	os	neurônios	Φ	 (phi)	ou	permeáveis, atuando espe-
cificamente	junto	ao	processo	perceptivo;	os	neurônios	Ψ	 (psi)	ou	 impermeáveis, 
pois	regulam	e	impedem	a	passagem	livre	de	Q	(atuando	como	uma	memória	do	pro-
cesso);	e	os	neurônios	ω	(ômega),	de	excitação	indireta	das	descargas	reguladas	nos	
neurônios	Ψ	(psi),	uma	vez	que	ω	(ômega)	atua	guiando	a	descarga	de	Q	represada	
em Ψ	(psi).
•	 A	metapsicologia	 freudiana	concebe	os	processos	 inconscientes	como	elementos	
essenciais	do	funcionamento	psíquico.	Freud	tentou	definir	a	existência	de	um	“in-
consciente”	a	partir	de	quatro	operações	(características)	que	o	constituem,	sob	di-
ferentes	pontos	de	vista:	um	sistemático	(inconsciente,	pré-consciente/consciente),	
um	dinâmico	(em	que	se	salienta	um	antagonismo	de	forças	mobilizantes	e	recalcan-
tes),	um	econômico	(calcado	no	“investimento”	de	energia)	e	um	ético	(que	opera	sob	
o	império	do	desejo).	
RESUMO DO TÓPICO 2
93
AUTOATIVIDADE
1	 Para	Freud,	há	uma	força	no	âmbito	psíquico,	equivalente	às	forças	físico-químicas	
que	atuam	na	matéria,	mobilizando	a	ação	e	a	atuação	do	sujeito.	Freud	denominou	
essa	força	como:	
a)	 (			)	 Representações	do	pré-consciente.	
b)	 (			)	 Pulsão.
c)	 (			)	 Estados	empíricos	do	sonho.
d)	 (			)	 Experiência	generalizante	da	clínica.	
2	 O	psiquismohumano,	para	Freud,	era	concebido	como	um	aparelho	em	que	flui	uma	
determinada	energia,	de	modo	que	ela	é	transmitida	e	transformada.	Isso	implica	que	
o	funcionamento	desse	aparelho	atendia	algumas	condições.	Sobre	tais	condições,	
analise	as	sentenças:
I-	 Existe	 uma	 dada	 quantidade	 (Q)	 que	 dimensiona	 a	 atividade	 do	 repouso	 das	
partículas	materiais.
II-	 As	partículas	materiais	são	como	os	neurônios.
III-	 A	energia	Q	é	algo	doloroso	e	intenso.
Assinale a alternativa CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
3 O inconsciente, enquanto sistema, deve ser compreendido como uma estrutura, ou 
seja,	uma	“rede	de	representações”.	Nela,	a	“fonte	de	excitação”	é	denominada	por	
Freud	como	“representação	de	coisa”,	e	produz,	assim,	“manifestações	deturpadas”	
do	inconsciente.	Sobre	isso,	analise	as	sentenças	e	classifique	V	para	as	verdadeiras	
e F para as falsas: 
(			)	É	objetivo	dos	“processos	inconscientes”	escoar	a	tensão	de	modo	imediato.
(			)	Os	 “processos	 conscientes”	 são	 caracterizados	 por	 “representações	 pulsionais”,	
multiplicando-se	em	muitos	outros.
(			)	A	expressão	“representação	das	coisas”	faz	alusão	aos	processos	inconscientes.	
94
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 F	–	V	–	F.
c)	 (			)	 V	–	F	–	V.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 Há	 um	 sistema	 identificado	 como	 “pré-consciente/consciente”,	 o	 qual	 abarca	 um	
determinado	 tipo	 de	 processos	 psíquicos.	 Quais	 são	 estes	 processos	 como	 eles	
operam?
5	 Há	um	tipo	de	processo	inconsciente	responsável	pelo	represamento,	uma	espécie	
de	 crivo	 acerca	dos	 conteúdos	 e	 das	 energias	 a	 serem	escoadas.	Qual	 é	 o	 nome	
desse processo e como ele opera?
95
TÓPICO 3 — 
CONTRIBUIÇÕES DA METAPSICOLOGIA 
PSICANALÍTICA PARA A CLÍNICA 
CONTEMPORÂNEA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	no	Tópico	3,	abordaremos	alguns	elementos	essenciais	para	o	pro-
jeto	metapsicológico	de	Freud,	de	modo	que	auxiliarão	conceitos	futuros	desenvolvidos	
na	estruturação	e	proposição	de	uma	“ciência	psicanalítica”.
 
Desse modo, traremos conceitos como sexualidade, processos primários e 
secundários, a emergência do ego e os sonhos.
 
Por	 último,	 compreenderemos	 algumas	 considerações,	 reiterações	 e	 críticas	
sobre	a	teoria	metapsicológica	de	Freud	e	sua	reedição,	em	relação	à	apresentação	de	
uma	segunda	tópica	realizada	pelo	próprio	Freud.	
2 O MÉTODO FREUDIANO NA CLÍNICA PSICANALÍTICA
Discutir a sexualidade em Freud só é possível quando trazemos os elementos 
e	conceitos	anteriormente	discutidos	nessa	unidade.	Para	Nasio	(1997),	são	elementos	
como	esses	que	possibilitam	compreender	como	mais	à	frente	Freud,	em	sua	obra,	for-
mulou as premissas fundadoras	de	sua	psicanálise.	
Retomando	o	nosso	foco,	todo	o	ato	(sentimento,	pensamento,	comportamento	
etc.),	em	especial	quando	se	manifesta	à	surdina	do	recalque,	não	pode	ser	compre-
endido	apenas	como	determinado	somente	por	questões	externas,	por	processos	in-
conscientes.	Eles	são	carregados	de	sentido,	ou	de	algum	sentido,	pois,	eles	“carregam”	
consigo	uma	mensagem,	normalmente	diferente	do	incialmente	manifesto.	
A questão aqui é “qual é o sentido produzido?” ou “por que 
fazemos o que fazemos enquanto ato?”. Dar sentido a um ato 
involuntário está relacionado com a sua condição de substituto 
de um conteúdo idealizado. Um ato que, em suma, opera 
sob uma condição de impossibilidade de se efetivar, ou seja, foi 
produzido, mas não pôde acontecer.
ATENÇÃO
96
Como	transportar	isso	para	a	conotação	sexual	a	qual	Freud	enfatiza?	Todo	ato,	
para Freud, é passível de interpretação,	porque	carrega	consigo	um	significado,	um	
sentido	que	o	direciona	de	modo	substitutivo	ou	não.	Como	mostra	Nasio	(1997),	por-
tanto,	todo	o	ato	(involuntário	ou	não)	tem	um	sentido.	O	problema,	então,	é	qualificá-lo	
enquanto tal: qual teor que nele está atrelado este sentido? 
A	proposta	psicanalítica	para	responder	esse	questionamento	é	o	“pulo	do	gato”,	
tanto	como	teoria	quanto	prática	clínica	ou	mesmo	social.	Para	Freud,	a	significação 
dos	atos	humanos	está	atrelada	a	uma	conotação ou mesmo denotação sexual.	A	
priori,	esse	posicionamento	parece,	no	mínimo,	um	exagero.	Afinal,	tudo	gira	em	torno	
disso?	Por	que	sexual?	Nasio	(1997)	nos	auxilia	nesse	sentido.	Vejamos	que,	conforme	
ilustrado	na	Figura	 15,	é	possível	 identificar que a fonte da tendência pulsional é 
de	natureza	sexual	e,	o	destino	dessa	pulsão	é	de	natureza	impossível	de	se	efetivar.	
Portanto,	há	uma	substituição.	Logo,	os	sentidos	atrelados	aos	atos	associam-se	à	uma	
conotação	sexual,	uma	vez	que	atuam	substituindo o alvo ideal pelo alvo possível 
ao	investimento	e	depósito	do	desejo.	
FIGURA 15 – REPRESENTAÇÃO DA DINÂMICA PULSIONAL NO SISTEMA PSÍQUICO HUMANO 
A PARTIR DA METAPSICOLOGIA FREUDIANA 
FONTE: Nasio (1997, p. 36)
Dito de outra forma:
O	sentido	de	nossos	atos	é	um	sentido	sexual	porque	a	fonte	e	o	alvo	
dessas	tendências	são	sexuais.	A	fonte	é	um	representante	pulsio-
nal	cujo	conteúdo	representativo	corresponde	a	uma	região	do	corpo	
que	é	muito	sensível	e	excitável,	chamada	zona	erógena.	Quanto	ao	
alvo,	sempre	ideal,	ele	é	o	prazer	perfeito	de	uma	ação	perfeita,	de	
uma	perfeita	união	entre	dois	sexos,	cuja	imagem	mítica	e	universal	
seria	encarnada	pelo	incesto	(NASIO,	1997,	p.	37).
97
Nesse sentido, precisamos compreender o conceito psicanalítico	de	sexua-
lidade	sob	a perspectiva do investimento,	pois	nascem	de	uma	representação	vin-
culada à uma zona erógena corpórea,	que	a	mascara	a	nível	consciente,	porém,	sob	
o	efeito	do	barramento	recalcante.	Enquanto	tendência,	Freud	denominou	este	movi-
mento de pulsão sexual.	
Como	ele	mesmo	define,	há	uma	pluralidade	imensa	de	possibilidades	de	“pul-
sões	sexuais”,	uma	vez	que	elas	orbitam	o	inconsciente	esperando	um	canal	para	in-
vestir	e	produzir	um	dado	“escoamento”.	Essa	“dinâmica	incestuosa”	ocorre	justamente	
porque as principais manifestações são	um	investimento no objeto maternal, os 
quais	se	dão	nos	primeiros	cincos	anos	de	vida.	A	figura	materna	é,	então,	o	principal	
objeto	de	desejo	a	ser	investido,	mas	ao	longo	da	vida	é	retirado	ou	impossibilitado	de	
ser	investido.	Contudo,	Freud,	ao	“dissecar”	a	“mecânica”	das	pulsões	sexuais,	identifica	
quatro elementos constituintes: 
•	 fonte	(zona	erógena);
•	 força	mobilizadora;	
•	 objetivo	que	atrai;
•	 objeto	que	veiculará	a	efetivação	do	investimento	(objetivo	ideal).
Enquanto objeto,	pouco	importa	quem	ou	o	que	ele	seja,	pois,	no	limite,	ele	é	
fantasiado	pelo	sujeito,	não	sendo,	necessariamente,	real.	Os	atos	substitutivos,	em	
especial	aqueles	oriundos	de	pulsões	sexuais,	são	forjados	e	exprimem	um	compo-
nente sexual,	produzido	em	uma	dada	fantasia	(ou	várias).	Sua	operacionalidade	é	es-
truturada em torno do objeto fantasiado,	não	de	sua	condição	real.	Mais	do	que	isso,	
o	que	mobiliza	é	a	possibilidade de investimento,	ou	seja,	o	prazer	que	ele,	enquanto	
fantasia-fantasiado,	objetiva	proporcionar.
Conforme	mencionamos	anteriormente,	 não	 se	 trata	de	algo	pleno,	mas	 sim	
parcial.	É	uma	substituição	do	idealizado,	“prazer	parcial,	qualificado	de	sexual”	(NASIO,	
1997,	p.	33).	Assim,	o	conceito	de	sexualidade	para	Freud	vai	além	do	ato	sexual,	ele	é	
um	ato	“fantasiástico”.	Sexualidade,	nesse	sentido,	refere-se	“à	toda	conduta	que,	par-
tindo	de	uma	região	erógena	do	corpo	(boca,	ânus,	olhos,	voz,	pelo	etc.)	e	apoiando-se	
numa	fantasia,	proporciona	um	certo	tipo	de	prazer”	(NASIO,	1997,	p.	34).
Então,	podemos	questionar,	“que	tipo	de	prazer?	”.	A	metapsicologia freudia-
na concebe	o	prazer	da	seguinte	forma:	um	aspecto	não	está	relacionado	ao	alívio	de	
uma	necessidade	fisiológica	(por	exemplo,	a	fome	no	bebê,	a	vontade	aliviada	de	ir	ao	
banheiro	etc.).	O	prazer,	está	relacionado	à	fantasia	criada	pelo	bebê,	por	exemplo,	de	
sugar	o	peito	da	mãe,não	do	leite	em	si.	
Logo, a satisfação	associa-se	a	um	ato	ainda	relacionado	com	uma	condição	
fisiológica,	mas	que	transcende sua condição natural para	ficar	como	uma	fantasia,	
o que Freud denominou de prazer funcional.	Um	outro	aspecto	é	o	prazer sexual 
(não	o	prazer	 funcional),	há	a	emergência	de	um	objeto substituto para assumir o 
98
papel	de	mediador	da	fantasia	pelo	sujeito	(não	é	mais	o	objeto	real	que	opera,	mas	sim	
a	fantasia	do	sujeito	sobre	ele	criado.	Um	abraço,	um	carinho,	uma	provocação	visual,	
entre	outros,	assume	o	poder	promotor	de	prazer,	por	exemplo.	
2.1 TRÊS POLOS DO PRAZER: NECESSIDADE, DESEJO E 
AMOR
Se	temos	o	prazer	funcional	de	um	lado	e	o	prazer	sexual	de	outro,	há	no	meio	
do	caminho	algumas	nuances	que	precisam	ser	delimitadas,	a	fim	de	evidenciar	esse	
caminho	que	oscila	entre	um	aspecto	e	outro.	
A	necessidade	é	a	exigência	de	um	órgão	cuja	satisfação	se	dá,	re-
almente,	com	um	objeto	concreto	(o	alimento,	por	exemplo),	e	não	
com	uma	fantasia.	O	prazer	de	bem-estar	proveniente	daí	nada	tem	
de	sexual.	O	desejo,	em	contrapartida,	é	uma	expressão	da	pulsão	
sexual,	ou	melhor,	é	a	própria	pulsão	sexual,	quando	lhe	atribuímos	
uma	intencionalidade	orientada	para	o	absoluto	do	incesto	e	a	vemos	
contentar-se	com	um	objeto	fantasiado,	encarnado	pela	pessoa	de	
um	outro	desejante.	Diferentemente	da	necessidade,	o	desejo	nasce	
de uma zona erógena do corpo e se satisfaz parcialmente com uma 
fantasia	cujo	objeto	é	um	outro	desejante.	Assim,	o	apego	ao	outro	
equivale	ao	apego	a	um	objeto	fantasiado,	polarizado	em	torno	de	um	
órgão	erógeno	particular.	O	amor,	por	último,	é	também	um	apego	ao	
outro,	mas	de	maneira	global	e	sem	o	suporte	de	uma	zona	erógena	
definida	(NASIO,	1997,	p.	34-35).
Didaticamente,	essa	divisão	apresentada	por	Nasio	 (1997)	descreve	três	estados	
que	se	misturam	e	se	confundem	na	dinâmica	amorosa.	Nesse	sentido,	é	justamente	
sob	essa	dinâmica	que	as	pulsões	 sexuais	 se	 embrenham	buscando	proporcionar	uma	
“satisfação	 possível”.	 Para	 Freud,	 em	 sua	 teoria	metapsicológica,	 há	 uma	condição 
antagônica	entre	aquilo	que	é	idealizado	e	o	que	é	possível.
2.2 A EMERGÊNCIA DO “EGO”
Oriundo do sistema de neurônios Ψ (psi), surge uma estrutura com a mis-
são	de	intermediar	a	relação	entre	diferentes	fluxos	e	processos	sob	os	quais	operam	
a	circulação	da	energia	psíquica.	Estritamente	focado	na	diferenciação	daquilo	que	é	
fantasiado	e	daquilo	que	é	real.	Daquilo	que	é	idealizado	e	daquilo	que	é	possível.	Mas	
buscando	impedir	a	experienciação	de	altos	níveis	de	desprazer,	quando	diante	de	um	
objeto	alucinado	(irreal,	fantasiado),	o	sujeito	não	encontra	escoamento,	ou	pelo	me-
nos	ele	está	vazio.	Para	isso,	o	aparelho	psíquico	cria	o	que	Freud	denominou	de	Ego.	
Uma	formação	que	objetiva	regular	(até	mesmo	dificultar)	o	fluxo	de	energia	(Q),	para	
minimizar	o	sofrimento,	por	não	encontrar	o	objeto	idealizado.
99
É	interessante	notar	que	o	Ego	que	Freud	propõe	em	sua	metapsicologia	não	
está	totalmente	alinhado	com	o	que	ele	vai	propor	na	segunda	tópica	(GARCIA-ROZA,	
2009).	Na	primeira	ele	é	proposto	mais	como	uma	formação oriunda do sistema Ψ 
(psi),	e	que	por	conta	disso,	não	está	relacionado	a	questões	que	envolvam	a	realidade:	
percepção,	consciência	e	desejo.	
O	acesso	à	realidade,	como	alerta	Garcia-Roza	(2009),	na	teoria	metapsicológi-
ca freudiana, ocorre por meio do sistema perceptivo, pelos neurônios ω (ômega)	e	não	
pelos neurônios Ψ (psi).	Nesse	sentido,	o	Ego	conceituado	na	metapsicologia	freudiana	
não	é	um	“ego	entendido	como	um	sujeito,	como	um	indivíduo,	ou	mesmo	com	uma	
totalidade	do	aparelho	psíquico,	mas	como	parte	do	sistema	Ψ	que	possui	uma	função	
essencialmente	inibidora”	(GARCIA-ROZA,	2009,	p.	56).
FIGURA 16 – OBSTÁCULOS E RESISTÊNCIAS NO SISTEMA INCONSCIENTE 
FONTE: <https://shutr.bz/3DK2z0n>. Acesso em: 2 ago. 2021.
Desse	modo,	 a	 formação	 denominada	 Ego,	 na	 primeira	 tópica	 freudiana,	 se	
caracteriza pela dupla função inibidora:	evitar	o	investimento	no	vazio	(na	alucinação)	
e,	por	conseguinte,	inibir	ou	mitigar	ao	máximo	a	decepção.	Isso	significa	que	ela	é	objeto 
e sujeito	ao	mesmo	tempo.	Atuando,	então,	de	modo	ativo e passivo, protegendo a si 
mesmo	e	ao	aparelho	psíquico.	
Quando	o	Ego	não	consegue	inibir	satisfatoriamente	uma	descarga	em	um	“ob-
jeto	fantasiado”,	isso,	segundo	Garcia-Roza	(2009)	provoca	uma	descarga excessiva, 
e,	assim,	gera	desprazer.	Segundo	o	mesmo	autor,	outra	forma	de	sofrimento	é	ocasio-
nada	no	processo	de	descarga	em	um	estado	de	desejo	em	alta	intensidade,	de	difícil	
refreamento,	e	que,	por	conta	disso,	não	há	poder	suficiente	para	 limitar	a	descarga,	
gerando	novamente	um	desprazer.
Nos dois casos de desprazer, a referência inibitória da realidade encontra-se 
ausente, uma vez que o sistema ω	(ômega)	é	incapaz	de	dirimir	o	que	é	real	do	que	é	
imaginário.	
100
2.3 OS PROCESSOS PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO
Freud	estabeleceu	que	o	aparelho psíquico	 tinha	seu	funcionamento	operado	
sob	ação	de	dois	processos:	um	de	ordem	primária	e	outro	de	ordem	secundária.	 Isto	é,	 
dois	modos	em	que	circula	a	energia	psíquica.	
Um modo em que a energia circula livremente, e outro no qual essa energia 
circula	ligada	a	algum	objeto.	Diz-se	que	a	energia	está	livre	para	circular	quando	en-
contra	facilmente	ou	não	encontra	obstáculo	para	ser	descarregada.	Sendo	que	será	
considerada	“ligada”,	quando	seu	“escoamento”	for	regulado	ou	controlado	por	algum	
obstáculo recalcante.
Sendo	assim,	o	papel	que	o	Ego	assume	é	essencial.	Em	uma	dupla	função,	ele	
opera inibindo e defendendo	o	funcionamento	do	aparelho	psíquico.	Assim,	os	pro-
cessos primários,	como	destaca	Garcia-Roza	(2009),	referem-se	aos	processos	que	
têm	como	função	defender	a	integridade	do	aparelho	psíquico.	
Enquanto os processos secundários	têm	como	função	“inibir”	os	fluxos	de	
energia,	de	modo	a	regular	e	empregar	seu	 investimento.	Esses	processos	atuam	de	
modo antagônico	um	ao	outro	(GARCIZ-ROZA,	2009).	
Lembremos	 que	 a	 função perceptiva da realidade é vivenciada pelos 
neurônios	ω	(ômega),	mas	a	função de inibição	é	operada	pelo	Ego.	É	aqui	que	Freud	
entende	a	necessidade	de	propor	uma	teorização	que	explique	tal	dinâmica:	trata-se	
dos	processos	primários	e	secundários.	
Garcia-Roza (2009) alerta que é preciso diferenciar processos primá-
rios e secundários de funções primárias e secundárias. Enquanto 
os primeiros referem-se ao fluxo (livre o regulado) da energia psíquica a 
ser investida em um dado objeto, os segundos, por sua vez, referem-se 
às funções básicas do sistema nervoso: o modelo do arco-reflexo e a 
descarga total de Q (primárias), e a fuga de estímulo (secundária). 
ATENÇÃO
Portanto,	os	processos	primários	se	referem	aos	conteúdos	inconscientes,	e	os	
processos	secundários	aos	conteúdos	pré-conscientes/conscientes.
101
FIGURA 17 – FLUXOS E SENTIDOS
FONTE: <https://shutr.bz/3FTtl8o>. Acesso em: 2 ago. 2021.
Outro	ponto	a	ser	destacado,	o	qual	Freud	enfatiza	em	sua	obra	(GARCIA-ROSA,	
2009),	é	que,	sob	o	prisma	genético, os processos secundários seriam resultados de 
uma	transformação	dos	processos	primários,	visto	que	Freud	entendeu	que	os	proces-
sos	secundários	seriam	uma	etapa	“mais	evoluída”	dos	processos	primários	quanto	ao	
modo de gerir	a	energia	psíquica.	Seja	reprimindo,	seja	buscando	caminhos	alternati-
vos	para	fluir	a	energia	psíquica	e	seu	investimento	possível.	Nesse	sentido,	podemos	
dizer	que	cada	um	corresponde	uma	etapa	de	desenvolvimento	em	relação	ao	outro.
3 A CLÍNICA PSICANALÍTICA CONTEMPORÂNEA
O	sonho	para	Freud	é	o	exemplo	mais	notório	dos	processos	primários.	Ele	é	
acompanhado	de	uma	diminuição da função orgânica (o	que	acarreta	uma	diminuição	
significativa	da	função	secundária	do	ego),	além	de	um	aumento, concomitante, da 
livre circulação	 da	 energia	 psíquica	 Q,	 encontrando	 uma	 “via	 aberta”	 para	 fluir	 e	
encontrar	“objetos	fantásticos”	para	investir.	
Como a queda da carga no sistema Ψ	 (psi),	há	uma	condição	muito	propíciapara	processos	primários	em	descarga	no	Ego.	Já	que	o	contato	com	a	esfera	externa	
é	reduzido	a	nível	quase	zero,	a	um	espaço	livre	para	um	tipo	de	atividade	desenvolvida	
pelo sistema Ψ	(psi)	identificada	por	Freud	como	“sonho”.
102
FIGURA 18 – SONHOS
FONTE: <https://shutr.bz/3lMX6Qu>. Acesso em: 2 ago. 2021.
Para	Freud,	esse	processo	primário	(o	sonho)	é	detentor	de	seis	características	
que o distingue de outros processos, sendo os oníricos	(um	pensamento	de	vigília,	sob	 
o	comado	do	inconsciente,	que	emaranha	em	algum	tipo	de	racionalidade).	Garcia-Roza	
(2009)	elenca	que	os	sonhos	na	metapsicologia	freudiana:
• São realizações de desejos:	enquanto	processo	primários	os	sonhos	reproduzem	
um	modelo	de	experiência	de	satisfação.
• Apresentam-se em carácter alucinatório:	durante	a	vigília	a	corrente	 “Φ	 (phi)”	
impede	 a	 fluidez	 de	 “Φ	 (phi)”	 para	 “Ψ	 (psi)”,	 limitando	 a	 concentração	 da	 energia	
psíquica	 em	 uma	 dada	 representação	 e	 por	 conseguinte	 de	 uma	 memória	 (este	
processo	Freud	denominou	de	catexia).	Entretanto,	no	sono	isso	não	ocorre,	o	que	
faz	com	que	“Φ	(phi)”	seja	catexizado,	(ou	seja	representado).
• Produzem conexões absurdas, contraditórias e “loucas”:	 seja	 porque	mais	 de	
uma	catexia	ocorra	ao	mesmo,	tentando	estabelecer	uma	conexão	entre	si,	seja	por	
que	a	algum	tipo	de	esquecimento	da	experiência	psíquica	vivenciada	nos	sonhos,	tor-
nando	sua	lembrança	fragmentada	e	de	difícil	recordação,	fragmentado	e	desconexo.
• Carecem de carga motora:	há	uma	paralisia	da	motilidade	corporal,	e,	por	conta	
disso,	as	lembranças	tornam-se	fracas	e	insipientes.
• Seguem velhas facilitações:	que	os	tornam	uma	reinvenção	das	próprias	experi-
ências.
• A consciência fornece qualidade ao que é vivido: isso sinaliza para Freud que 
a	consciência	não	está	 restrita	à	figura	do	Ego,	e	menos	ainda,	que	os	processos	
primários	sejam	exclusivamente	inconscientes.
103
3.1 A INTERPRETAÇÂO DOS SONHOS
Em	sua	obra	A interpretação dos sonhos,	de	1900,	Freud,	introduz	uma	grande	
quantidade	de	conceitos,	com	a	intenção	de	formular	sua	primeira teoria do incons-
ciente.	Buscou,	assim,	estabelecer	um	grau	de	amplitude	suficientemente	abrangente,	
a	fim	de	abarcar	uma	função	comum	a	todo	sujeito,	na	figura	do	sonho,	por	exemplo,	
além de mecanismos inconscientes e mesmo conscientes que se estruturam de modo 
neurótico.	Para	ele,	os	sonhos	são	um	exemplo	contundente	das	latências	dos	conteú-
dos inconscientes,	mas	não	daquilo	que	se	torna	manifesto	pela	via	do	sonho.
Desse	 modo,	 para	 Freud,	 mais	 importante	 que	 a	 própria	 manifestação	 do	
inconsciente,	 o	 sonho	 precisa	 ser	 interpretado, comparado e significado.	 Há	 um	
aspecto pictórico,	figurativo,	inerente	ao	sonho.	Algo	como	um	quebra-cabeças	a	ser	
montado	e	que	precisa	ser	decifrado,	significado,	porque	em	seus	mosaicos	há	algo	a	ser	
desvelado,	decifrado	e	significado.	Há	uma	valoração significante, um ordenamento 
simbólico singular	que	conota	uma	condição	pictográfica	ao	conteúdo	onírico	do	sonho.	
Evidentemente,	com	destaca	Garcia-Roza	(2009),	existem	elementos	individuais	
emitidos	nos	pensamentos	que	ocorrem	no	 sonho.	Uma	mensagem	que	precisa	 ser	
codificada,	uma	palavra	uma	frase,	um	número,	que	carrega	em	si	uma	representação	
de	um	“objeto	fantasiado”.	Essa	combinação	a	ser	empreendida	delimitará	uma	dada	
interpretação.	
FIGURA 19 – INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
FONTE: <https://shutr.bz/3n5YL2J>. Acesso em: 2 ago. 2021.
No	entanto,	cabe	destacar	que	“o	sonho	não	quer	dizer	nada	a	ninguém;	não	é	
um	veículo	de	comunicação;	ao	contrário,	se	empenha	em	permanecer	incompreendi-
do”	(FREUD,	1917	apud	JORGE,	2008,	p.	126).	Há,	desse	modo,	a	necessidade	de	esta-
belecer	um	carácter relacional entre	o	sentido	e	a	interpretação	a	ser	estabelecida,	
mas	com	foco	no	inconsciente	e	não	no	sonho	e	suas	figurações	em	si.	Mais	do	que	uma	
dada simbologia, é preciso considerar as motivações individuais,	ou	seja,	aquilo	que	
singularmente	se	restringe	ao	indivíduo	e	não	a	um	simbolismo	universalizante,	segun-
do	Freud,	é	preciso	fugir	disso.
104
3.2 O SIMBOLISMO E SIGNIFICANTES NOS SONHOS
Freud considerava o simbolismo um elemento secundário no processo in-
terpretativo	dos	sonhos.	Contudo,	como	bem	lembra	Garcia-Roza	(2009),	precisamos	
lembrar	que	símbolo,	etimologicamente	falando,	possui	uma	ressalva	 interessante	no	
que	se	refere	à	interpretação.	Mais	do	que	dar	uma	qualidade	a	um	objeto,	o	termo	grego	
symbolon designa duas metades de um objeto partido que se aproximavam.	Isto	é,	
designa	uma	relação	que	se	convenciona	em	termos	de	sentido	e	significado.	
Entretanto,	mais	do	que	representantes	de	um	ado	objeto,	um	símbolo	veicula	
um	significado	sobre	este	objeto.	Tomemos	uma	árvore	como	exemplo,	ao	citá-la,	uma	
série	de	significados	foram	mobilizados	a	nós	e	por	nós.	Uma	árvore	continua	sendo	
árvore,	mas	cada	uma	das	diferentes	aplicações	nas	imagens	anteriormente	apresen-
tadas,	suscitam	diferentes	significados,	logo,	um	mesmo	símbolo	pode	mobilizar	dife-
rentes	significados	para	diferentes	sonhos	do	mesmo	indivíduo.	
FIGURA 20 – ÁRVORES EM DIFERENTES SENTIDOS E SIGNIFICADOS 
FONTES: <https://shutr.bz/3vAmXOV>; <https://shutr.bz/2YWZonv>; <https://bit.ly/3voGoKj>. 
Acesso em: 2 ago. 2021.
Assim,	a	interpretação,	não	está	arraigada	necessariamente	ao	que	o	símbolo	
em si representa, mas sim o significado que ele suscita, mobiliza e produz	(e	mes-
mo	revela)	sobre	quem	o	significa.	Isso	significa	que	é	preciso	estabelecer	uma	linha 
interpretativa,	 gradativa,	 para	 constituir	 um	entendimento,	 significado,	 e,	 por	 con-
seguinte, a interpretação do sonho	a	partir	dos	símbolos	apresentados	e	o	que	eles	
tendem	a	transmitir,	em	função	do	sujeito	que	os	apresenta.	
Dessa	forma,	o	símbolo	é	um constructo individual,	uma	aplicação	muito	par-
ticular	do	indivíduo	que	o	usa,	e	nada	tem	de	universal.	Obviamente,	existem	elementos	
culturais	por	trás	de	todo	o	processo	simbólico.	Porém,	para	estabelecermos	o	signifi-
cado	de	um	dado	símbolo	presente	no	sonho	de	um	sujeito,	devemos	compreender	ou	
pelo	menos	identificar	quais	os	usos	a	que	tais	são	empregados	no	sonho.	Para	Freud,	
como	destaca	Jorge	(2008),	essa	é	a	“chave	de	leitura	interpretativa”	a	ser	empreendida	
no	processo	de	interpretação	dos	sonhos.	E	o	único	que	detém	a	chave	de	leitura	(o	uso)	
é	o	próprio	sujeito	detentor	e	produtor	do	sonho.
105
3.3 ALGUMAS CONSIDERAÇÔES SOBRE A METAPSICOLOGIA 
FREUDIANA
Autores	 como	 Fulgêncio	 (2005),	 Jorge	 (2008),	 Nasio	 (1997)	 e	 Garcia-Roza	
(2009)	entendem	a	teoria metapsicológica	de	Freud	como	uma	bússola,	um	norte	
referencial	de	ação	acerca	das	práticas	estabelecidas	em	psicanálise.	A	 “descoberta”	
dos processos inconscientes revolucionou o modo de pensar em uma série de áreas, 
nuances	e	dimensões	do	cotidiano	das	pessoas.	Suas	relações	interpessoais,	a	política,	
e	a	própria	existência	humana	em	seus	contextos	vivenciais.
FIGURA 21 – FREUD E SUA METAPSICOLOGIA 
FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/sigmund-freud-cartoon-sitting-on-
his-388215331>. Acesso em: 2 ago. 2021.
Por	fim,	as	teorizações	propostas	por	Freud	em	sua	metapsicologia	não	criam	
os	fenômenos	inconscientes,	apenas	os	desmascaram.	Assim	como	outros	fenômenos	
psíquicos	ocultos.	Há,	então,	uma	dinâmica	produtora	de	condições	e	modos	de	existir.	
Uma dinâmica que mobiliza	diferentes	ações	e	regula	fluxos	e	“modos	de	escoamento”	
de	energia	psíquica.	Então,	a	vida	guiada	sob	a	perspectiva	de	um	dado	funcionamento	
psíquico	produz	modos	de	existência,	mas	especialmente	de	significação.
106
LEITURA
COMPLEMENTAR
O QUE É METAPSICOLOGIA CIENTÍFICA?
Carlos Eduardo de Sousa Lyra
QUESTÕES FORMULADAS PELA METAPSICOLOGIA CIENTÍFICA
Tendo	 avaliado	 as	 dimensões	 epistemológica	 e	metodológica,	 bem	 como	 os	
principais	obstáculos	conceituais	à	realização	da	metapsicologia	enquanto	teoria	cien-
tífica,	passemos,	então,	ao	exame	das	questões	mais	fundamentais	que	são	formuladas	
pela	metapsicologiacientífica.
PULSÃO VESUS INSTINTO
A	questão	do	 significado	do	 conceito	 de	Trieb	na	 obra	 de	Freud	 tem	gerado	
algumas	controvérsias.	Como	veremos	mais	adiante,	o	problema	da	tradução	a	partir	
dos	originais	em	alemão	não	raramente	conduz	a	equívocos	na	interpretação	da	obra	
freudiana,	principalmente	no	que	se	refere	aos	conceitos	da	metapsicologia.
A	palavra	Trieb	pode	ser	traduzida	como	pulsão ou instinto.	Outra	palavra	ale-
mã,	Instinkt,	também	é	utilizada	por	Freud	para	se	referir,	neste	caso,	apenas	ao	instinto	
no	seu	sentido	exclusivamente	biológico.	Apesar	de	reconhecer	a	diferença	entre	Trieb	e	
Instinkt,	Andrade	(2003)	propõe	que	se	traduza	Trieb	como	instinto,	pois	acredita,	entre	
outras	coisas,	que	o	termo	é	menos	inadequado,	mais	simples	e	mais	fiel	aos	escritos	de	
Freud.	Por	outro	lado,	boa	parte	dos	psicanalistas	traduz	Trieb	como	pulsão.	Esta	será	
nossa	posição	neste	artigo.
Independentemente,	portanto,	da	tradução	utilizada,	parece	haver	argumentos	
suficientes	para	considerar	o	conceito	de	Trieb	como	distinto	de	Instinkt.	A	pulsão	se	di-
ferencia	do	instinto	biológico	na	medida	em	que	agrega	qualidades	psicológicas	a	este	
último.	Somente	a	pulsão	possui	plasticidade,	é	capaz	de	se	adaptar	a	uma	infinidade	
de	objetos.	A	pulsão	é	aquilo	que	movimenta	um	sujeito	em	direção	a	um	objeto.	Essa	
plasticidade	da	pulsão	está	associada	à	própria	plasticidade	neural.	O	ser	humano	é	o	
único	animal	que	nasce	com	o	cérebro	imaturo.	Os	demais	animais	agem	por	instinto.	A	
influência	do	ambiente	na	maturação	do	cérebro	humano	é	extraordinária,	o	que	o	levou	
a	desenvolver	habilidades	e	capacidades	cognitivas	sem	precedentes	na	cadeia	evolu-
tiva.	Assim,	podemos	dizer	que	a	pulsão	sexual	(libido)	se	diferencia	do	instinto	sexual,	
107
pois,	diferentemente	dos	animais,	a	sexualidade	humana	não	está	apenas	a	serviço	da	
reprodução	e	da	conservação	da	espécie,	mas	é	perversa,	ou	seja,	vai	além	da	genitali-
dade	e	adquire	um	caráter	mais	amplo.	
Da	mesma	forma,	o	instinto	de	autoconservação	é	ampliado	na	pulsão	de	con-
servação	do	indivíduo	biopsíquico,	ou	seja,	no	conceito	de	pulsão	do	ego.	De	uma	ma-
neira	mais	resumida,	podemos	dizer	que	a	pulsão	do	ego	está	para	a	libido	assim	como	
a	conservação	do	indivíduo	biológico	está	para	a	conservação	da	espécie.
REPRESENTAÇÕES E AFETOS
De	acordo	com	a	metapsicologia	freudiana,	a	pulsão	só	se	manifesta,	no	psi-
quismo,	na	forma	de	 representantes	psíquicos,	que	são	de	duas	naturezas	distintas:	
representações	e	quotas	de	afeto.	As	representações	psíquicas	são	inscrições	que	se	
apresentam	como	traços	mnêmicos	e	determinam	apenas	o	fator	qualitativo	referente	
às	ideias	e	pensamentos.	Há	apenas	dois	tipos	de	representações:	as	representações	
de	coisa,	que	são	restritas	ao	sistema	inconsciente,	e	as	representações	de	palavra,	que	
são	componentes	qualitativos	restritos	ao	sistema	pré-consciente/consciente.
As	quotas	de	afeto,	por	sua	vez,	são	os	 representantes	quantitativos	do	psi-
quismo.	As	quantidades	atribuídas	às	quotas	de	afetos	podem	variar	de	acordo	com	
a	 intensidade	da	experiência	 inscrita	na	forma	de	traço	mnêmico,	ou	 representação,	
no	psiquismo.	Apenas	as	quotas	de	afeto,	enquanto	representantes	psíquicos,	podem	
transitar	do	sistema	inconsciente	para	o	sistema	pré-consciente/consciente.	É	impor-
tante ressaltar que 
A quota de afeto se distingue do afeto propriamente dito, uma vez que 
a primeira diz respeito à quantidade de energia psíquica, enquanto 
o	 segundo	 é	 a	 percepção	 de	 uma	 descarga	 desta	 energia,	 que	
atinge	o	somático.	É	por	isso	que	Freud	não	considera	a	existência	
de	afetos	 inconscientes,	uma	vez	que	toda	percepção	deve	passar	
necessariamente	pela	consciência.	Contudo,	podemos	falar	de	quota	
de	afeto	inconsciente	(ANDRADE,	2003,	p.	86).
Freud	expressou	claramente	as	dificuldades	relacionadas	ao	estudo	dos	afetos.	
Assim, o estudo dos afetos parece ter sido, de certa forma, colocado em segundo plano 
pela	psicanálise.	Segundo	Green	(1982,	p.	8),	 isso	se	deve	à	 "ausência	de	uma	teoria	
psicanalítica	do	afeto	satisfatória".	Dentre	os	afetos	estudados	por	Freud,	a	ansiedade	
(Angst)	é,	sem	dúvida,	o	mais	profundamente	investigado.	Freud	ressalta	a	importância	
do afeto para a teoria psicanalítica como um todo e, em particular, para a teoria do 
recalque.	 Por	 outro	 lado,	 não	 desenvolve	 suficientemente	 a	 problemática	 do	 afeto,	
deixando	em	aberto	muitas	questões	a	respeito	dos	conceitos	envolvidos	"nessa	região	
obscura"	(FREUD,	1990,	p.	462).
FONTE: Adaptado de <https://www.scielo.br/j/rprs/a/WY8BwNYxgzzkGbPfywskLKM/?lang=pt>. 
Acesso em: 2 ago. 2021. 
108
Neste tópico, você aprendeu:
•	 O	sonho	se	apresenta	como	exemplo	mais	notório	dos	processos	primários.	Pois,	há	
uma	diminuição	da	 função	orgânica	e	um	aumento	da	 livre	 circulação	da	energia	
psíquica.	
•	 Os	 sonhos	 são	 detentores	 de	 seis	 características	 que	 os	 distinguem	 de	 outros	
processos:	 são	 realizações	 de	 desejos;	 apresentam-se	 em	 carácter	 alucinatórios;	
produzem	conexões	absurdas,	contraditórias	e	“loucas”;	carecem	de	carga	motora;	
seguem	velhas	facilitações;	têm	na	consciência	uma	fonte	de	qualidade	ao	que	é	
nele	vivido.	
•	 Os	sonhos	são	um	exemplo	contundente	das	 latências	dos	conteúdos	 inconscientes,	
mas	não	daquilo	que	se	torna	manifesto	pela	via	do	sonho.
•	 Para	Freud,	mais	 importante	que	a	manifestação	do	inconsciente,	o	sonho	precisa	
ser	interpretado,	comparado	e	significado.
RESUMO DO TÓPICO 3
109
AUTOATIVIDADE
1	 Qualquer	que	seja	a	manifestação	a	nível	consciente,	um	pensamento,	uma	palavra,	
um sentimento ou um comportamento precisa ser compreendido para além de 
questões	externas.	Há	algo	que	lhes	valora,	há	uma	mensagem	por	eles	carregada.	A	
isso	Freud	estabeleceu	como:
a)	 (			)	 Purgação	neurótica.	
b)	 (			)	 Dar	sentido.
c)	 (			)	 Estados	catatônico.
d)	 (			)	 Generalização	evidente.	
2	 Sobre	a	sexualidade,	na	visão	metapsicológica	freudiana,	é	preciso	ponderar	algumas	
questões	que	delimitam	esse	entendimento.	Para	tanto,	analise	as	afirmações	a	seguir:
I-	 O	 sentido	 de	 nossos	 atos	 é	 um	 sentido	 sexual	 porque	 a	 fonte	 e	 o	 alvo	 dessas	
tendências	são	sexuais.
II-	 A	fonte	é	um	representante	pulsional,	cujo	conteúdo	representativo	corresponde	a	
uma	região	do	corpo	que	é	muito	sensível	e	excitável,	chamada	zona	erógena.
III-	 Quanto	ao	alvo,	nuca	ideal,	mas	sempre	real,	ele	é	o	prazer	perfeito	de	uma	ação	
perfeita,	de	uma	perfeita	união	entre	dois	sexos.
Assinale a alternativa CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	incorreta.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	I	está	incorreta.
3	 Para	 Freud,	 é	 preciso	 considerar	 a	 existência	 de	 uma	 pluralidade	 imensa	 de	
possibilidades	 de	 “pulsões	 sexuais”.	As	 quais	 orbitam	 no	 inconsciente	 apenas	 em	
posição	 de	 espera,	 a	 fim	 de	 encontrar	 um	 canal	 de	 investimento	 e	 produção	 de	
um	 dado	 “escoamento”.	 Sobre	 isso,	 analise	 as	 sentenças	 e	 classifique	 V	 para	 as	
verdadeiras e F para as falsas:
(			)	O	prazer,	para	Freud,	está	relacionado	à	fantasia	criada	pelo	sujeito.
(			)	A	satisfação	associa-se	a	um	ato,	ainda	relacionado	à	condição	fisiológica,	mas	que	
a	transcende	para	ficar	como	uma	fantasia.
(			)	No	prazer	funcional,	há	a	emergência	de	um	objeto	substituto	para	assumir	o	papel	
de	mediador	da	fantasia	pelo	sujeito.	
110
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 F	–	V	–	F.
c)	 (			)	 V	–	V	–	F.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 Para	 Freud,	 no	 que	 se	 refere	 à	 sexualidade	 ao	 objeto,	 pouco	 importa	 quem	 ou	
o	que	ele	seja.	 Isso	significa	que	esse	sempre	é	fantasiado	pelo	sujeito,	ele	não	é	
necessariamente	real.	Para	tanto,	ele	sinaliza	a	existência	do	que	ele	denominou	de	
atos	substitutivos.	O	que	seriam	e	como	operam	tais	atos?
5	 Dentre	os	diferentes	processos	psíquicos,	precisamos	diferenciaraqueles	que	elen-
cados	como	processos	primários	e	secundários	de	outros	tipos,	como	as	funções	
primárias	e	secundárias.	Como	eles	podem	ser	diferenciados?
111
REFERÊNCIAS
FULGÊNCIO,	L.	Freud’s	metapsychological	speculations.	Int. J. Psychoanal.,	[s.	l.],	v.	
86,	n.	1,	p.	99-123,	2005.	Disponível	em:	https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1516/
TNY1-6YT7-V37T-16LD?journalCode=ripa20.	Acesso	em:	29	jul.	2021.
GARCIA-ROZA,	L.	A.	Freud e o inconsciente.	24.	ed.	Rio	de	Janeiro:	Zahar,	2009.	
JORGE,	M.	A.	C.	Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan.	5.	ed.	Rio	de	
Janeiro:	Zahar,	2008.
NASIO,	J.	D.	Lições sobre os sete conceitos cruciais da psicanálise.	Rio	de	
Janeiro:	Jorge	Zahar,	1997.
TAVARES,	P.	H.	M.	N.	O	vocabulário	metapsicológico	de	Sigmund	Freud:	da	língua	
alemã	às	suas	traduções.	Literatura/ Cultura – Pandaemonium ger., 
São	Paulo,	v.	15,	n.	20,	2012.	Disponível	em:	https://www.scielo.br/j/pg/a/
pKTCLwfcJL84PTknR95bpRP/?lang=pt.	Acesso	em:	14	jul.	2021	
112
113
PROCESSOS DE 
SUBJETIVAÇÃO
UNIDADE 3 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender o que são os processos de subjetivação na psicanálise;
•	 identificar	na	clínica	freudiana	os	processos	de	subjetivação	e	sua	relação	com	a	
saúde mental;
•	 diferenciar	os	teóricos	da	psicanálise	pós	freudianos;
•	 visualizar	as	diferentes	inserções	do	psicanalista	no	contexto	clínico	e	social	
contemporâneo;
•	 compreender	as	dimensões	políticas	sociais,	políticas	e	culturais	que	interferem	na	
construção das subjetividades.
	 A	cada	tópico	desta	unidade	você	encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	
reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO 1 – A PSICANÁLISE FREUDIANA E OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO
TÓPICO 2 – OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO NA PSICANÁLISE PARA ALÉM DE 
FREUD
TÓPICO 3 – OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E O CONTEXTO CONTEMPORÂNEO 
DO TRABALHO DO PSICANALISTA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
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A TRILHA DA 
UNIDADE 3!
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115
TÓPICO 1 — 
A PSICANÁLISE FREUDIANA 
E OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	no	Tópico	1,	trabalharemos	a	compreensão	acerca	do	processo	de	
subjetivação no interior da psicanálise. 
Devemos	considerar,	 contudo,	que	a	psicanálise	é	muito	mais	ampla	do	que	
uma	teoria,	ela	é	uma	práxis	que	envolve	época,	teóricos,	modos	de	manejar	conceitos,	
percepções	geográficas,	históricas	e	sociais.
Nesse	contexto,	 iremos	conhecer	as	perspectivas	de	subjetivação	como	uma	
maneira	de	compreender	o	sujeito,	sua	forma	de	se	inserir	no	meio	social,	de	dar	sentido	
para	a	vida	e	de	se	relacionar	com	o	Outro.	Por	fim,	retomaremos	o	processo	de	subjeti-
vação	na	psicanálise	freudiana.	
Bons estudos!
2 A PSICANÁLISE DE FREUD E OS PROCESSOS DE 
SUBJETIVAÇÃO
Podemos considerar a psicanálise como uma construção da modernidade? Em 
1900,	quando	Freud	publicou	seu	texto	mais	famoso,	Interpretação dos sonhos,	ele	já	
havia	concluído	o	texto	um	pouco	antes,	mas	pediu	que	datassem	a	publicação	de	1900	
para	que	a	psicanálise	demarcasse	o	surgimento	de	um	novo	século,	o	século	XX.	
Enquanto	um	corpus	de	conhecimentos	sobre	o	humano,	situado	entre	o	psí-
quico	 e	 o	 somático,	 Freud	 rompe	com	o	 estatuto	de	 ciência	 de	 sua	 época	e	decide	
centrar suas pesquisas na escuta empírica	de	seus	pacientes,	fundando	uma	teoria 
da clínica	e	não	uma	clínica	da	teoria.	Tal	postura	epistêmica	colocou	a	clínica	como	
centro	do	processo	de	construção	do	saber,	construindo,	assim,	um	modo	empirista 
de	fazer	ciência	sobre	as	experiências	clínicas	vivenciadas,	o	que	não	era	bem-visto	em	
seu	tempo.	No	entanto,	Freud	sabia	que	seu	reconhecimento	não	seria	entre	os	seus,	
tampouco	em	seu	momento	histórico.	Assim	como	todos	os	bons	filósofos,	poetas	e	
artistas,	o	reconhecimento	da	psicanálise,	imaginava	ele,	seria	póstumo,	embora	nunca	
tenha	deixado	de	trabalhar	para	a	difusão	do	saber	psicanalítico.
116
Visando	contribuir	para	a	ciência	de	seu	tempo,	Freud,	em	seu	primeiro	trabalho	
publicado	juntamente	com	Josef	Breuer	(1842-1925),	Estudos sobre histeria (1895),	cons-
truiu um novo modelo de prática clínica,	em	que	o	saber	não	estava	centrado	na	figura	 
do	médico,	além	disso,	caberia	ao	profissional	produzir	um	discurso	sobre	o	doente.	
A transgressão psicanalítica	 instaura	uma	escuta	diferenciada	às	pacientes	
predominantemente	mulheres,	 as	 quais	 eram	chamadas	 de	 histéricas.	 Coube	 a	 elas	
a	fala	sobre	suas	angústias,	 sintomas	e	possíveis	origens	deles,	 sendo	atribuição	do	
profissional	facilitar	que	a	palavra	acontecesse	de	forma	livre	e	que	fossem	construídas	
associações	sobre	as	palavras,	a	fim	de	chegar	até	a	origem	dos	sintomas	por	meio	
da cura pela palavra.	Essa	técnica	utilizada	por	Freud	e	Breuer	após	a	intervenção	da	
paciente Bertha Pappenheim (1859-1936),	conhecida	na	literatura	psicanalítica	como	
Anna	O.	Assim,	Freud	abandona	a	hipnose	e	estabelece	com	suas	pacientes	a	técnica	
da associação livre,	utilizada	até	os	dias	atuais.	
Trata-se,	portanto,	de	um	conceito	fundado	pela	clínica,	um	avanço	solicitado	
por meio do processo de subjetivação de	 uma	 paciente	 que,	 insatisfeita	 com	 as	
técnicas	que	havia	vivenciado,	cria	um	instrumento	novo,	ou	seja,	a	cura	pela	palavra,	
cura	que	utilizamos	até	hoje,	mesmo	com	todas	as	mudanças	sociais	e	históricas.	
Baseado	nas	construções	empíricas	e	nos	 resultados	dos	 seus	casos,	 Freud	
estabeleceu,	então,	um	novo	modo	de	fazer	a	prática clínica,	especialmente	a	clínica	
dos cuidados em saúde mental.
As primeiras pacientes de Sigmund Freud foram as histéricas. O 
termo “histeria” vem de útero, e acreditava-se que as sintomatolo-
gias da histeria seriam encontradas apenas em mulheres, porém, 
é possível localizar, na teoria psicanalítica, estudos sobre a histeria 
masculina. É importante destacar que a paciente Anna O., atendida 
inicialmente por Breuer e posteriormente por Freud, tem uma enor-
me relevância na teoria psicanalítica. Na relação entre Breuer e Anna 
é possível perceber os primeiros momentos do que, posteriormen-
te, será discutido como o conceito de amor de transferência entre a 
paciente e seu analista. Além disso, é atribuída à Anna a criação da 
técnica da associação livre de palavras, conceito primordial na clínica 
psicanalítica. Apesar das mudanças sociais, temporais e históricas, 
a técnica ainda preserva sua relevância e deve ser estudada com 
afinco por todos os estudantes de psicanálise. 
NOTA
117
Compreenderemos,	adiante,	que	os	modos	de	subjetivação dos sujeitos na 
atualidade	não	são	os	mesmos	do	contexto	de	surgimento	da	teoria	psicanalítica	freu-
diana,	na	sociedade	vienense.	
No	 contemporâneo,	 a	 subjetivação	 acompanha	 os	 caminhos	 pelos	 quais	 os	
sujeitos	constroem	as	experiências	de	interpretação	das	normas	e	condições	sociais,	
bem	como	o	tempo	histórico,	podendo,	assim,	produzir	modos	de	enfrentamento	e/ou	
adaptação	às	questões	socioculturais	de	seu	tempo.	Estudaremos,	portanto,	o	que	são	
os	processos	de	subjetivação,	como	eles	são	compreendidos	na	psicanálise	e	de	que	
forma	atuam	na	formação	do	 indivíduo	contemporâneo,	atualizando,	desse	modo,	os	
conhecimentos	sobre	a	psicanálise	e	suas	configurações	na	clínica	atual.	
Segundo o dicionário de Laplanche e Pontalis (2001, p. 38), a regra 
fundamental da psicanálise, isto é, a associação livre, é tida como um 
"Método que consiste em exprimir indiscriminadamente todos os 
pensamentos que ocorrem ao espírito, quer a partir de um elemento 
dado (palavra, número, imagem de um sonho, qualquer representa-
ção), quer de forma espontânea". 
NOTA
3 O QUE SERIAM PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO?
Um	 termo	 bastante	 presente	 na	 literatura	 de	 psicólogos	 e	 psicanalistas	 é	 a	
expressão	 subjetividade,	 como	 já	 pudemos	 perceber.	 Tal	 análise	 dos	 sujeitos,	 sejano	contexto	clínico,	social	e	ou	organizacional	leva	em	consideração	os	processos	de	
produção	da	subjetividade	e	as	afetações	que	um	determinado	contexto	exerce	sobre	
a	subjetividade	humana.	Seja	de	modo	individual	ou	grupal,	a	subjetivação	diz	respeito	
aos processos de relação	 dos	 sujeitos	 com	 seu	 tempo	 histórico,	 com	 as	 normas	
sociais	 e	 culturais	 circunscritas	 e	 os	modelos	de	 relação	 social,	 cultural,	 econômico,	
biológico	e	psicológico	em	um	dado	período.	
118
FIGURA 1 – SUBJETIVIDADE E CULTUR
FONTE: <https://shutr.bz/3FXxFDK>. Acesso em: 2 out. 2021.
Certamente,	 falar	 da	 dinâmica	 do	 inconsciente	 freudiano	 não	 é	 o	 mesmo	
que	 o	 inconsciente	 pós-moderno,	 pós-pandemia	COVID-19	 e	 suas	 reverberações	na	
humanidade.	Subjetivar	inclui	se	apropriar	do	mundo	em	sua	volta,	com	suas	questões,	
castrações	 e	 limites	 que	 impõe	 ao	 humano	 novos	 modos	 de	 lidar	 com	 a	 angústia,	
inibições	e	sintomas	relacionados	ao	seu	momento	histórico	e	valorização	de	questões	
que	outrora	não	foram	pensadas	na	experiência	humana.	
Dessa	maneira,	cada	tempo	histórico	está	implicado	em	suas	condições.	Mas	
vale	ressaltar	que	a	própria	história	é	cíclica,	pois	existem	fatores	que	se	repetem,	por	
exemplo,	a	pandemia.	Afinal,	não	é	primeira	vez	que	isso	ocorre	na	sociedade	humana,	
mas,	de	certa	forma,	a	cada	vez	que	um	momento	pandêmico	atinge	a	humanidade,	
somos	levados	a	lidar	com	essas	questões	de	uma	determinada	maneira.
Na	 contemporaneidade,	 a	 subjetividade	 tem	 sido	 fortemente	 marcada	 pelo	
negacionismo,	ou	seja,	um	traço	de	negar	o	real,	a	morte,	o	imprevisto,	as	incertezas	e,	
inclusive,	a	finitude,	por	mais	que	tenhamos	provas	por	meio	de	dados	estatísticos	e	da	
própria	ciência	em	relação	à	existência	do	vírus	SARS-CoV-2.	Estamos,	porém,	revivendo	
novas maneiras de encarar a Sociedade do mal-estar (1930),	bem	como	de	subjetivar	o	
que	nos	é	tão	estranho	e	ao	mesmo	tempo	familiar.
FIGURA 2 – O ESTRANHO E O FAMILIAR
FONTE: <https://shutr.bz/3lQQekT>. Acesso em: 2 out. 2021.
119
Cada	novo	momento	histórico	nos	alerta	para novos modos de enfrentamento 
do mal-estar e da angústia,	porém,	questões	como	a	castração,	a	falta	estruturante,	
a	dinâmica	edípica,	o	narcisismo,	entre	outras	 levantadas	pela	teoria	psicanalítica,	se	
repete	independentemente	do	tempo	histórico	e	dos	aspectos	sociais,	obviamente	em	
novas	formatações,	mas	se	repetem	como	o	princípio básico do gozo na repetição.
Sendo	assim,	 iremos	conhecer	do	que	se	tratam	os	processos	de	subjetivação	
à	 luz	 da	 teoria	 psicanalítica	 e	 da	 psicologia,	 assim	 como	quais	 autores	 explanam	 seu	
conceito	e	articulam	a	subjetivação	com	a	formação	do	indivíduo	à	luz	do	referencial	
teórico	da	psicanálise.	Vamos	lá?
De	 acordo	 com	 Mansano	 (2009),	 a	 compreensão	 do	 que	 se	 entende	 por	
subjetivação perpassa os conceitos de subjetividade e sujeito.	É	o	sujeito	que,	para	
construir	sua	subjetividade,	 irá	vivenciar	os	processos	de	subjetivação.	Por	 isso,	para	
discutir	 tal	 conceito,	 seguiremos	 juntamente	com	a	autora	a	 inspiração	dos	 teóricos	
pós	 estruturalistas	 Deleuze,	 Guattari	 e	 Foucault,	 para	 abordarmos	 os	 processos	 de	
subjetivação	do	sujeito	na	pós-modernidade.	A	respeito	do	conceito	de	subjetividade,	
então,	a	autora	afirma	que	"a	subjetividade	não	implica	uma	posse,	mas	uma	produção	
incessante	que	acontece	a	partir	dos	encontros	que	vivemos	com	o	outro"	(MANSANO,	
2009,	p.	111).
Em	vista	disso,	não	podemos	falar	de	algo	estático,	que	se	conclui	e	estaciona,	
mas sim de um processo contínuo que se atualiza por meio dos encontros vivenciados 
com	outros	 indivíduos	 que	 compõem	o	 laço	 social.	 Nossa	 subjetividade	 é,	 portanto,	
assim	 como	o	 inconsciente,	 um	conceito dinâmico	 e	 que	 depende	das	 interações	
com	os	outros	significativos	para	se	constituir.	
A	"subjetividade	é	essencialmente	fabricada	e	modelada	no	registro	do	social”	
(GUATTARI;	RONILK,	1996,	p.	31	apud	MANSANO,	2009,	p.	111).	Esses	registros ou laços 
sociais que	 interferem	na	produção	das	subjetividades	podem	ser	os	outros	com	os	
quais	o	sujeito	interage,	pode	ser	também	a	natureza,	os	acontecimentos,	as	invenções,	
tudo	aquilo	que	produz	efeitos	nos	corpos	e	nas	maneiras	de	viver	(MANSANO,	2009).	
Um	 exemplo	 é	 pensarmos	 a	 produção	 de	 subjetividades	 antes	 e	 depois	 da	
era das redes sociais. Estariam nossas subjetividades marcadas pela relação com 
esses	outros	sociais	com	os	quais	nos	relacionamos	por	intermédio	de	likes?	Todas	as	
subjetividades	podem	e	devem	ser	pensadas	antes	e	depois	da	internet	e	das	mídias	
sociais,	pois	elas	exercem	influências	sobre	os	processos	de	subjetivação	humana	e	em	
relação	à	própria	constituição	das	subjetividades.	
120
FIGURA 3 – ERA DIGITAL E SUBJETIVIDADE 
FONTE: <https://shutr.bz/3lOVfKK>. Acesso em: 2 out. 2021.
Para pensarmos a articulação entre a ideia de subjetividade e a cultura di-
gital,	o	filósofo	Pierre	Lévy	estabeleceu	o	conceito	de	cibercultura	(MIRANDA,	2021).	
Para	Lévy,	as	subjetividades	receberam	impactos	diretos	da	internet.	Segundo	El	Khouri	
e	Miranda	(2015,	p.	137)	“a	cultura	digital	reconfigura	nos	jovens	o	sentido	de	linguagem,	
lazer,	sociabilidade	e,	portanto,	subjetividade”.	
A	pesquisadora	se	detém	em	analisar	os	impactos da cibercultura nos jovens 
da	geração	Y,	a	geração	que	já	nasceu	na	cultura	digital.	Contudo,	podemos	expandir	
as	discussões	provocadas	pela	autora	e	problematizar	os	impactos	que	a	cibercultura	
apresenta	nas	subjetividades	de	mulheres,	homens	e	idosos.	Impactos	esses	que,	in-
clusive,	passam	pela	performance	dos	corpos.	Como	diria	Foucault	sobre	a	 resposta	
à	revolta	do	corpo,	encontramos	um	novo	investimento	que	não	tem	mais	a	forma	do	
controle	da	repressão,	mas	do	controle	estimulação,	“Fique	nu...,	mas	seja	magro,	boni-
to,	bronzeado”	(FOUCAULT,	1997,	p.	147).
Isso	significa	a	ditadura midiática do	corpo	jovem,	belo,	perfeito,	harmônico	que	
sustenta	toda	uma	indústria	de	cosméticos,	cirúrgica,	medicamentos	e	moda.	 Indús-
trias	que	recorrem	à	influência	das	mídias	sociais	por	intermédio	dos	 influencers para 
vender	e	impactar	cada	vez	mais	a	subjetividade	das	pessoas,	propagando	um	ideal	de	
corpo e beleza por vezes irreal. 
É,	então,	na	sociedade	dos	filtros,	das	pessoas,	das	máscaras,	dos	likes	e	dos	
milhões	de	seguidores	que	engendramos	nossos	modos	de	subjetivação.	Quais	cami-
nhos	irão	tomar	os	processos	de	subjetivação	depois	do	período	da	pós-modernidade?	
Não	sabemos,	porém,	com	certeza	as	redes	sociais	e	as	mídias	continuam	tendo	forte	
impacto	na	determinação	dos	corpos,	dos	comportamentos	e	dos	afetos.
121
FIGURA 4 – PADRÃO E SUBJETIVIDADE
FONTE: <https://shutr.bz/30stdwm>. Acesso em: 2 out. 2021.
A	sociedade	pós-moderna	nos	insere	num	contexto	de	exigência	de	adequação	
a	 um	 ideal	 propositalmente	 inatingível,	 o	 qual	 atravessa	 o	 processo	 de	 construção	 e	
manutenção	da	subjetividade	dos	integrantes	de	nossa	sociedade	contemporânea	para	
os	autores,	a	partir	da	premissa	da	construção do eu	sob	a	ótica	da	subjetividade	em	
Freud e em Lacan. 
No ano de 2020, em plena pandemia de COVID-19, período marcado pelo isolamento 
social e por uma grave crise de sanitária em esfera global, foi lançado o filme O dilema 
das redes. O filme nos mostra como os grandes líderes das mídias e da tecnologia 
possuem o controle sobre a maneira de pensarmos, agirmos e vivermos. 
Nele, frequentadores do Vale do Silício revelam como as plataformas de 
mídias sociais estão reprogramando a sociedade e sua forma de enxergar 
a vida. Com relatos sobre neurociência e aspectos psicológicos e sociais 
associados ao uso das redes sociais, o filme faz uma crítica importante 
ao uso abusivo das redes sociais, aos objetivos por trás das plataformas, 
bem como aos prejuízos em nível biopsicossocial aos usuários. Vale a pena 
assistir e refletir sobre os processos de subjetivação que estamos vivendo, 
atravessados fortemente pelos usos das mídias sociais.
DICA
A	resposta	paraa	pergunta	“quem	sou	eu?”	Certamente	está	atravessada	pela	
produção de personalidades virtuais.	Cabe	lembrar	que	personalidade	vem	do	grego	
“persona”,	que	quer	dizer	“máscara”,	se	referindo	ao	teatro	grego	e	às	representações	que	
os	homens	faziam	de	diversos	personagens,	incluindo	personagens	femininos	com	uso	
de	tais	personas	(máscaras).	Porém,	tudo	isso	ocorre	na	subjetividade	e	nos	processos	
conscientes	 de	 construção	 da	 identidade	 dos	 sujeitos.	 Quais	 efeitos	 a	 subjetivação	
pode ter em relação ao sujeito do inconsciente e seus processos de constituição por 
meio do recalque? Vamos entender um pouco mais dos processos de subjetivação para 
chegar	nessa	resposta.
122
Como ocorre a constituição da subjetivação na contemporaneidade? 
Esse processo inconsciente é afetado por nossa relação com a globa-
lização, mídias sociais, internet e fenômenos de forte impacto, como a 
pandemia de 2020? Posteriormente, compreendermos as relações en-
tre subjetivação, psicanálise e pós-modernidade, analisando como o in-
consciente dos sujeitos podem ser afetados por tais fenômenos e quais 
impactos eles exercem no processo de subjetivação de cada sujeito.
ESTUDOS FUTUROS
4 OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO NA PSICANÁLISE 
FREUDIANA 
Para	a	psicanálise,	a	dimensão	da	constituição	do	sujeito	é	uma	dimensão in-
consciente,	a	noção	de	desenvolvimento	em	psicanálise	não	é	a	mesma	que	na	psico-
logia.	Em	psicanálise,	falamos	de	um	desenvolvimento psicossexual (FREUD,	1996b).	
No	texto	Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade,	Freud	irá	nos	apresentar	como	
se dá o desenvolvimento psicossexual	dos	sujeitos	a	partir	da	visão	psicanalítica.	Tal	
desenvolvimento	relaciona	as	dimensões	biológicas	e	psicológicas.
Com o conceito de pulsão,	como	aquilo	que	está	entre	o	somático	e	o	psíquico,	
Freud	inaugura	um	novo	modo	de	pensar	o	ser	humano,	pensar	o	desenvolvimento	à	
luz dos processos de constituição do inconsciente. Analisar a relação do corpo com os 
investimentos	libidinais	e	pulsionais	será	o	caminho	utilizado	pela	psicanálise	Freudiana	
para compreender o sujeito.
Para	Freud,	nosso	desenvolvimento	está	diretamente	relacionado	às	experiên-
cias	de	prazer	obtidas	por	meio	da	satisfação	das	necessidades	fisiológicas.	As	nossas	
necessidades	físicas	funcionam	como	funções de apoio,	nas	quais	nos	apoiaremos	
para	a	conquista	de	momentos	desde	o	prazer	autoerótico	até	o	prazer	genital.	Para	
isso,	conheceremos	as	fases	do	desenvolvimento	psicossexual	e	o	que	elas	represen-
tam	no	processo	de	subjetivação	e	formação	do	indivíduo.	
Na	 teoria	 psicanalítica,	 um	dos	modos	 de	 constituição	 do	 sujeito	 se	 dá	 pela	
linguagem.	Quando	Lacan	afirma	que	o	inconsciente	é	estruturado	como	linguagem,	
ele	 eleva	 a	 linguagem	 a	 um	 conceito	 fundamental	 na	 teoria	 psicanalítica	 para	
compreensão dos modos de ser sujeito no contemporâneo. Não podemos perder de 
vista a complexidade e inventividade	 do	 psiquismo	 humano.	 Dentro	 da	 própria	
teoria	psicanalítica	não	podemos	estabelecer	uma	explicação	única	sobre	o	processo	
de	formação	do	 indivíduo,	diversas	correntes	de	diversas	escolas	psicanalíticas	terão	
ênfases	em	aspectos	divergentes	na	formação	do	sujeito.	
123
Atualmente,	 a	 prática	 clínica	 psicanalítica	 tem	 buscado	 sair	 de	 um	 modelo	
de	compreensão	e	explicações	sobre	as	questões	inconscientes	do	sujeito,	em	que	o	
foco	está	na	origem	das	experiências	traumáticas	que	ocasionam	os	sintomas,	para	se	
dedicar,	agora,	em	compreender	a produção de novos modos de existência (SIMÕES	
et al.,	2011).	
Segundo	a	análise	realizada	por	Simões	et al.	(2011),	a	visão	sobre	o	psiquismo 
e o inconsciente,	alicerçada	apenas	na	lógica	do	indivíduo	e	da	mente,	reforçando	a	
divisão	consciente	e	inconsciente,	não	é	mais	referência	na	clínica	contemporânea.	Na	
atualidade,	 os	 processos	 de	 constituição	 dos	 sujeitos	vencem	o	mentalismo	outrora	
estabelecido	e	as	visões	binárias	sobre	o	humano,	fazendo	confluir	social	e	psíquico	na	
formação	dos	processos	subjetivos,	em	que	o	Eu e o mundo não	se	configuram	como	
instâncias	 separadas,	mas	 sim	complementares na constituição dos processos de 
subjetivação	da	existência	humana.	
 
O	 sujeito	 pós-moderno	 é	 um	 sujeito	 em	 crise.	 Seus	modos	 de	 subjetivação	
são	variados,	 vivemos,	 assim,	 a	 crise	 de	 referência	 das	 instituições	 totalizantes	 que	
normatizam	 os	 discursos	 sobre	 o	 sujeito:	 a	 igreja,	 a	 ciência,	 o	 estado,	 a	 política	 e	
diversos	campos	disciplinares,	bem	como	diversas	instituições	que	eram	de	primordial	
importância para direcionar as subjetividades contemporâneas vem caindo por terra 
e	 instaurando	 o	 que	Jorge	 Forbes	 (2004)	 irá	 nomear	 de	sujeito desbussolado. Tal 
sujeito,	de	acordo	com	o	psicanalista	que	defende	a	clínica do real,	é	resultado	de	um	
tempo	histórico	e	social.
Forbes	(2004)	defende	uma	mudança	no	ato	analítico,	ele	chama	a	atenção	a	
uma	transformação	do	laço	social,	que	exige	uma	mudança	na	forma	de	incidência do 
ato analítico.	Para	o	psicanalista,	estamos	no	contexto	de	uma	psicanálise	não	mais	
orientada	pelo	édipo,	pela	busca	da	origem	inconsciente	dos	sintomas	neuróticos	por	
Desse modo, na teoria freudiana clássica, temos a ênfase no 
desenvolvimento psicossexual por intermédio dos processos de 
deslocamento da libido e dos investimentos pulsionais, com 
destaque na experiência do Complexo de Édipo e sua resolução. 
Na teoria Lacaniana, temos a ênfase na linguagem e nos processos 
de constituição por meio do estágio do espelho. Na visão de 
Melanie Klein, o desenvolvimento do sujeito deve ser pensado 
desde os momentos primitivos da relação com o seio materno, 
entre outros enfoques que as diversas escolas da psicanálise 
irão produzir para compreender os modos de constituição do 
inconsciente e como este orienta e se apresenta na consciência.
ATENÇÃO
124
meio	do	movimento	de	fazer	surgir	os	conteúdos	recalcados,	ou	seja,	na	atualidade,	é	
preciso	propor	uma	psicanálise	para	o	ser	humano	que	não	sabe	o	que	fazer,	nem	es-
colher	entre	os	vários	futuros	que	lhe	são	possíveis:	sem	pai,	sem	direção,	sem	bússola	
(FORBES,	2004).	
Para	pensar	uma	subjetividade	fora	da	mente,	Simões	et al.	 (2011)	propõem,	
tomando	como	 referência	os	pós	estruturalistas	Deleuze	e	Guattari,	 um	diálogo em 
que	a	subjetivação	contemporânea	possa	incluir	não	só	a	dimensão	da	mente,	mas	do	
sujeito	como	um	todo	e	também	como	parte	do	mundo.	
A	 compreensão	 sobre	 o	 corpo	 e	 a	 posição	 a	 que	 ele	 é	 destinado	 também	é	
afetada	pelos	modos	de	subjetivação	na	contemporaneidade.	Não	se	trata	apenas	de	
uma	 questão	 estética,	mas	 também	do	 processo	 de	 construção	 da	 subjetividade.	 É	
possível	concluir,	tomando	como	referência	os	achados	de	Sanches	e	Leite	(2018)	que,	
passando	o	corpo	à	categoria de objeto de consumo,	resta	ao	sujeito	uma	crise	em	
relação	à	sua	subjetividade.
O principal psicanalista brasileiro que discute a relação entre 
subjetivação e psicanálise na contemporaneidade é Joel Birman. 
Assista ao vídeo em que ele apresenta a formulação de que não 
existe separação entre estatuto do indivíduo e sociedade, mos-
trando o que Lacan chama de inconsciente transindividual, 
em que o inconsciente está para além do indivíduo imbricado no 
campo histórico e social. O autor aponta que o texto Mal-estar na 
civilização, de Freud, é um relato de sujeitos pós-modernos que 
se confrontam com as patologias do social. Para assistir, acesse: 
https://vimeo.com/71267710.
DICA
A moda do momento: as cirurgias de harmonização facial 
prometem beleza, juventude e o principal, a harmonia. Mas qual 
harmonia os sujeitos buscam? Considerando que a face é uma 
das partes do corpo humano que estabelece um maior número 
de diferenças individuais e características do sujeito, harmonizar 
é padronizar pessoas a um modelo "harmônico" ou "ideal". Este 
ideal de ego que busca alcançar um padrão de perfeição, um ideal 
narcísico de beleza, tem em cada intervenção estética um ideal 
frustrado,pois a transformação desse Eu está nos mecanismos 
internos de subjetivação de si e não nas performances externas 
de corpo, ou como dizem os lacanianos, o corpo "sintoma". 
IMPORTANTE
125
Pudemos	 notar,	 então,	 que	 os	 processos de subjetivação dizem respeito 
à	 capacidade	 humana	 de	 interagir	 com	 as	 questões	 de	 seu	 tempo,	 as	 demandas	
socioculturais	e	as	normativas,	absorvendo	e	aderindo	apenas	aquelas	que	considera	
pertinente,	ou	seja,	não	sendo	uma	cópia	do	desejo	da	sociedade,	mas	sim	o	produto	de	
uma	elaboração	subjetiva	frente	às	demandas	do	contemporâneo.	
Os modos de subjetivação são variáveis	ao	longo	da	história	da	psicanálise.	Na	
sociedade	vienense,	em	que	ocorreu	o	surgimento	da	teoria	e	da	técnica	psicanalítica	
com	Freud,	a	temática	da	sexualidade	e	da	repressão	sexual	das	mulheres	se	destacava	
como	 tema	 principal,	 e	 por	 isso	 os	 processos	 de	 subjetivação	 frente	 às	 normativas	
sexuais	 de	 seu	 tempo	 produziam	 nas	 mulheres	 adoecimentos	 histéricos,	 para	 lidar	
com	o	mal-estar	da	repressão	sexual.	Em	nossa	geração,	com	a	cultura	da	ausência	
de	referências	hegemônicas,	o	papel	primordial	da	tecnologia	e	as	transformações	dos	
corpos	atendendo	aos	ideais	de	juventude	e	culto	à	beleza,	a	subjetivação	em	consiste	
em	enfrentar	o	culto	ao	narcisismo	e	ao	 ideal	da	sociedade	do	espetáculo	 (DEBORD,	
2000),	em	que	o	ter não mais prevalece sobre o ser.	Atualmente,	o	importante	é	parecer	
ter,	parecer	sustentar	uma	imagem	de	uma	pessoa	feliz,	magra,	jovem,	em	que	o	espaço	
para	aquilo	que	é	do	psíquico	não	está	no	plano	principal,	uma	vez	que	não	se	constitui	
em	imagem.	
Subjetivar	no	contemporâneo,	portanto,	é	encontrar	meios	de	fazer	frente	ao	
“desbussolamento	 contemporâneo”	 (FORBES,	 2004)	 e	 produzir	 formas	 criativas	 de	
construir	e	sustentar	um	espaço	de	segurança	que	favoreça	a	manutenção	da	saúde	
mental	e	a	preservação	dos	vínculos	afetivos.
126
Neste tópico, você aprendeu:
•	 A	psicanálise	ocorreu	por	meio	da	escuta	para	além	de	uma	perspectiva	da	norma	
social.
•	 A	subjetivação	se	dá	pelos	atravessamentos	sociais,	culturais,	históricos	e	políticos	
de	um	tempo,	e	como	os	sujeitos	reagem	a	eles.
•	 A	psicanálise	é	uma	crítica	social.
•	 Na	modernidade,	a	cultura	tecnológica	tem	impacto	na	construção	da	subjetividade.	
RESUMO DO TÓPICO 1
127
AUTOATIVIDADE
1	 Sobre	a	 subjetividade	e	as	marcas	contemporâneas,	é	possível	 analisar	uma	exa-
cerbação	das	relações	com	o	corpo	por	fatores	estéticos	e	necessidade	de	perten-
cimento	com	os	grupos	sociais.	São	fatores	 impulsionados	pelo	fortalecimento	do	
uso	da	internet,	da	ampliação	da	sociedade	do	consumo	na	geração	Y	e	pelo	uso	das	
mídias	sociais	que	exercem	influências	sobre	os	processos	de	subjetivação	humana.	
Sobre	o	desejo	que	corresponde	a	esse	cenário,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 Desejo	de	pertencer.
b)	 (			)	 Desejo	de	diferenciar.
c)	 (			)	 Desejo	de	apropriação.
d)	 (			)	 Desejo	de	vincular.
2	 Considera-se	que	a	psicanálise	é	diferente	de	outras	ciências,	sendo	originada	pela	
escuta	de	Freud	a	partir	das	histéricas,	mulheres	que	tinham	passado	por	médicos	e	
apresentavam	sintomas	que	a	medicina	não	encontrava	a	causalidade.	Diante	disso,	
observou-se	que	as	queixas	histéricas	advinham	de:	
I-	 Conflitos	sexuais.
II-	 Conflitos	familiares	e	sociais.
III-	 Conflitos	inconscientes.
Assinale a alternativa CORRETA:
a)	 (			)	 Todas	as	sentenças	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
3	 “A	 subjetividade	 é	 essencialmente	 fabricada	 e	 modelada	 no	 registro	 do	 social”	
(MANSANO,	2009,	p.	111),	tais	registros	ou	laços	sociais	que	interferem	na	produção	
das	subjetividades	podem	ser	os	outros	com	os	quais	os	sujeitos	interagem,	pode	ser	
também	a	natureza,	os	acontecimentos,	as	invenções,	tudo	aquilo	que	produz	efeitos	
nos	corpos	e	nas	maneiras	de	viver.	De	acordo	com	a	afirmativa	citada,	analise	as	
sentenças	e	classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
FONTE: MANSANO, S. R. V. Sujeito, subjetividade e modos de subjetivação na contemporaneidade. Revista 
de Psicologia da UNESP, Assis, v. 8, n. 2, p. 110-117, 2009. Disponível em: https://seer.assis.unesp.br/
index.php/psicologia/article/view/946. Acesso em: 2 out. 2021.
128
(			)	As	redes	sociais	constituem	um	grande	fator	para	influenciar	no	modo	de	vida	e	na	
construção das subjetividades contemporâneas.
(			)	A	religião,	assim	como	instituições	culturais,	científicas	e	educacionais	influenciam	
na	subjetividade	humana.
(			)	A	subjetividade	tem	um	período	biológico	de	construção.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	V	–	F.
b)	 (			)	 V	–	F	–	V.
c)	 (			)	 F	–	V	–	F.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 Um	termo	bastante	presente	na	literatura	de	psicólogos	e	psicanalistas	é	a	expressão	
subjetividade,	como	 já	pudemos	perceber.	Tal	análise	dos	sujeitos,	seja	no	contexto	
clínico,	social	e	ou	organizacional	leva	em	consideração	os	processos	de	produção	da	
subjetividade	e	as	afetações	que	um	determinado	contexto	exerce	sobre	a	subjetivi-
dade	humana.	Com	base	nos	estudos	do	Tópico	1,	disserte	sobre	o	que	é	subjetivação.
5	 Considerando	 os	 temas	 abordados	 sobre	 a	 subjetivação	 na	 contemporaneidade,	
inclusive	em	relação	ao	conceito	de	cibercultura,	disserte	sobre	a	subjetividade	e	o	
padrão	estético.
129
OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO NA 
PSICANÁLISE PARA ALÉM DE FREUD
UNIDADE 3 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	 no	Tópico	 2,	 abordaremos	 a	 perspectiva	 contemporânea	 da	 psi-
canálise,	do	percurso	pós-freudiano	até	os	dias	atuais.	É	impossível	pensar	a	psicaná-
lise	sem	retomar	Freud,	uma	vez	que	ele	foi	o	inventor,	sistematizador	e	percussor	da	
psicanálise,	mas	com	sua	morte,	houve	outros	teóricos	que	fizeram	outros	avanços	a	
partir	de	sua	teoria,	e	criaram	outras	relações	de	analisar	o	inconsciente	e	até	mesmo	a	
subjetividade e a cultura.
Surgiram,	 ainda,	 problemáticas	que	 se	 apresentaram	na	cultura	 e	que	Freud	
não	vivenciou	de	forma	tão	intensa,	como	a	presentificação	da	globalização,	ascen-
são da cultura capitalista	na	sua	forma	mais	intensa,	a	cibercultura,	como	já	men-
cionamos,	entre	outros	movimentos	políticos,	culturais,	sociais	e	históricos.	Outro	fator	
a	ser	considerado	é	que	a	psicanálise	chegou	a	mais	continentes	e	culturas,	com	mais	
força,	como	ocorreu	na	américa	latina	após	a	morte	de	Freud	e	com	o	avanço	das	esco-
las	de	psicanálise,	com	influência	da	relação	freudolacaniana	e	também,	por	meio	das	
faculdades	de	psicologia.
Trabalharemos,	adiante,	caminhos	possíveis	que	a	sociedade	psicanalítica	as-
sumiu	após	a	morte	do	percussor	da	teoria	psicanalítica.	E	como	se	deram	os	processos	
de	subjetivação	em	diferentes	perspectivas	teóricas.
Bons estudos!
2 OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO NA PSICANÁLISE 
PÓS-FREUDIANA
Antes	 de	 entrar	 nos	 autores	 pós-freudianos,	 vale	 ressaltar	 que	 todos	 eles,	
autores	psicanalíticos,	só	são	possíveis	porque	existiu	Freud,	pois	cada	autor	freudiano	
utiliza	de	uma	parte	da	obra	construída	por	Freud	para	 legitimar	 seus	pressupostos,	
inclusive	utilizam	do	próprio	Freud	para	dizer	que	outros	autores	pós-freudianos	não	
são	legítimos,	querendo	sempre	ter	um	lugar	mais	legítimo	que	o	outro.	
130
FIGURA 5 – FREUD O PÓS-FREUD QUE RESISTE 
FONTE: <https://shutr.bz/3voPCpV>. Acesso em: 2 out. 2021.
Com	 a	 morte	 de	 Freud,	 ocorreram	 dois	 grandes	 fatores	 que	 influenciaram	
diretamente	nos	processos	de	 subjetivação	da	psicanálise	para	 além	de	Freud,	 uma	
delas	é	de	influência cultural e outra de influência geográfica. 
Mezan	(2014,	p.	22-25)	faz	um	destaque	acerca	das	influências	da	dispersão 
geográfica e outras: 
Dispersão	 geográfica:	 da	 cultura	 científica	 centro-europeia	 de	
Belle	Époque	que	lhe	deu	origem,	a	psicanálise	migrou	para	outras	
latitudes,	 aprendeu	 outros	 idiomas,	 mergulhou	 em	 outras	 áreas	
culturais,e,	 massacrada	 em	 seu	 solo	 natal	 pelo	 nazismo,	 quase	
desapareceu	 dos	 países	 de	 língua	 alemã,	 nos	 quais	 somente	 a	
partir	 dos	 anos	60	volta	 a	 se	 configurar	 uma	 reflexão	psicanalítica	
original	[...]	a	dispersão	doutrinária,	diz	respeito,	ao	fato	que	existem	
várias	 escolas	 de	 psicanálise	 [...]	 costuma	 suscitar	 um	 choque	 de	
consideráveis	 proporções,	 pois	 efetivamente	 são	 muito	 diversos	
os	 referenciais	 do	 que	 é	 a	 psicanálise,	 de	 como	 se	 deve	 praticá-
la	 e	 pensá-la	 [...]	 a	 dispersão	 institucional,	 tem	como	 referente	 ao	
movimento	 psicanalítico,	 algo	 intrínseco	 ao	 desenvolvimento	 teórico	
fundado	por	 Freud,	 esta	perspectiva,	 porém,	 esbarra	num	obstáculo:	
a	resistência	dos	psicanalistas	a	admitir	que	outras	formulações,	além	
daquela	à	qual	aderem,	possam	ter	sustentação	teórica	e	prática.
Diante	desses	movimentos	de	dispersão,	a	psicanálise	passa	a	ser	incorpora-
da	por	quatro	grandes	escolas,	as	quais	são	consideradas	as	principais matrizes da 
metapsicologia freudiana,	 sendo	Melaine	 Klein,	 Jacques	 Lacan,	 psicologia	 do	 ego	
por	Hartmann,	Kris	e	Loewenstein	e	os	teóricos	britânicos	Fairbain	e	Winnicott,	assim,	
Renato	Mezan	(2014,	p.	31)	afirma	que:	
[...]	elas	preservam	a	descoberta	básica	de	Freud	–	o	inconsciente-	e	
a	ideia	fundamental	do	conflito	psíquico;	em	sua	teoria	do	desenvol-
vimento,	mantêm	a	ideia	essencial	de	uma	permanência	do	infantil	
no	psiquismo	adulto;	em	sua	teoria	do	funcionamento	normal	e	pa-
tológico,	 operam	 com	a	 categoria	 basilar	 de	 defesa,	 em	 consequ-
ência	da	qual	o	sintoma	se	define	como	compromisso	entre	forças	
psíquicas	opostas;	na	forma	de	conduzir	o	processo	analítico	e	de	
131
refletir	sobre	ele,	trabalham	como	os	processos	e	com	os	conceitos	
de	transferências	e	de	resistência,	em	virtude	do	que	utilizam	como	
meio	privilegiado	de	intervenção	terapêutica	a	interpretação	do	dis-
curso produzido durante a sessão.
Para	Lacan,	o	efeito	da	subjetividade	será	analisado	pelo	estilo	adotado	pelo	
sujeito	 em	 sua	 personalidade,	 ou	 seja,	 uma	 síntese	 que	 representará	 as	 funções	
psíquicas	 e	 sua	 forma	 de	 colocar	 funções	 psíquicas	 no	meio	 social	 dentro	 de	 uma	
estrutura,	seja	ela	neurótica,	perversa	ou	psicótica.	
Já	Melanie	Klein	se	destacou	no	campo	psicanalítico	ao	defender	que	crianças	
eram	passíveis	de	serem	analisadas,	já	que	expressavam	seus	sofrimentos.	De	acordo	
com	Couto	(2017,	p.	6-7),	a	diferença	entre	Lacan	e	Klein	se	dá	pela	seguinte	forma:	
O	termo	“sujeito”	já	era	muito	utilizado	na	tradição	filosófica	francesa,	mas	Lacan	
(1954-55/2010)	o	transformou	em	um	ponto	central	de	seu	ensino,	introduzindo-o	na	
psicanálise	com	uma	acepção	particular:	o	sujeito	não	é	o	indivíduo,	no	sentido	de	uma	
unidade,	mas	um	sujeito	dividido	entre	consciente	e	inconsciente.	Dessa	forma,	haveria	
um	sujeito	do	enunciado,	identificado	como	sujeito	do	significado,	aquele	que	está	cons-
ciente	do	que	diz;	e	o	sujeito	da	enunciação,	identificado	como	sujeito	do	significante,	
aquele	que	está	para	além	do	que	se	diz	(LACAN,	1964/2008).	O	discurso,	portanto,	não	
é	mera	comunicação,	pois	nas	brechas	daquilo	que	foi	enunciado	está	a	enunciação,	a	
presença	do	sujeito	do	inconsciente,	aquele	que	se	manifesta	por	um	lapso,	um	esque-
cimento,	um	sonho,	um	chiste,	um	sintoma,	enfim,	uma	formação	do	inconsciente.	
O	sujeito	do	inconsciente	não	se	relaciona	ao	tempo	cronológico,	mas	a	um	
tempo	lógico,	um	tempo	próprio.	Uma	temporalidade	outra,	pois	é	possível	fazer	de-
correr	uma	noção	de	tempo	do	modo	de	funcionamento	do	inconsciente,	haja	vista	a	
noção	do	a	posteriori.	No	entanto,	isso	implica	uma	temporalidade	não	cronológica	(re-
ferente	à	consciência),	mas	lógica	(referente	à	relação	do	sujeito	do	inconsciente	com	
o	Outro).	Dessa	forma,	Lacan	não	fala	em	desenvolvimento	da	criança	como	Freud,	
nem	mesmo	do	bebê,	como	Klein,	mas	na	emergência	do	sujeito	do	inconsciente.	
Antes	do	advento	do	sujeito	do	inconsciente,	há	a	emergência	de	um	eu	cor-
poral,	que	se	constitui	de	forma	imaginária,	mas	sobre	uma	matriz	simbólica,	como	
exposto	por	Lacan	 (1949/1998)	no	artigo	O	estádio	do	espelho	como	formador	da	
função	do	eu	tal	como	nos	é	revelada	na	experiência	psicanalítica.	É	importante	as-
sinalar	que	esse	“eu”	presente	no	título	se	refere	ao	pronome	francês	je	e	designa	o	
sujeito do inconsciente. 
Já	o	“eu”	corporal	de	que	falamos	anteriormente	se	refere	ao	pronome	fran-
cês	moi.	Assim,	enquanto	o	sujeito	do	inconsciente	se	constitui	no	simbólico,	pela	
mediação	da	 linguagem,	 o	 eu	 (moi)	 se	 constitui	 no	 imaginário,	 pela	mediação	da	
imagem	especular	(i(a)).	Essa	imagem	especular	oferece	uma	síntese	e	se	sobrepõe	
àquela	imagem	do	corpo	fragmentado	pelas	pulsões	parciais.	
132
Para	explicar	o	que	seria	o	estádio	do	espelho,	Lacan	(1949/1998)	nos	leva	
a	imaginar	uma	cena	em	que	um	bebê	se	encontra	diante	de	um	espelho,	susten-
tado	pela	mãe,	já	que	ele	ainda	não	consegue	andar	nem	se	manter	numa	postura	
ereta.	Ao	olhar	para	a	imagem	refletida,	o	bebê	se	reconhece	nela	e	sua	expressão	
se	enche	de	júbilo.	Se	pudesse	falar,	diria:	“Este	sou	eu!”.	O	júbilo	corresponde	à	sa-
tisfação	narcísica	de	ter	representado	um	corpo	não	mais	fragmentado,	mas	unifica-
do.	A	imagem	refletida	no	espelho,	portanto,	corresponderia	à	imagem	da	mãe	–	no	
sentido	da	pessoa	que	exerce	a	função	materna	–	o	que	implica	dizer	que	não	há	a	
necessidade	de	um	espelho	de	fato	para	que	o	eu	do	bebê	possa	se	constituir.	
O	que	é	necessário	é	que	um	outro	possa	fornecer	a	ele	a	possibilidade	de	
adentrar	o	universo	da	linguagem.	Essa	entrada	no	simbólico	se	efetiva	por	meio	dos	
cuidados	que	são	dispensados	ao	bebê	pela	mãe	à	medida	que	ela	interpreta	as	sen-
sações	e	o	choro	dele,	inscrevendo	marcas	em	seu	psiquismo.	O	sujeito	assume	uma	
imagem	que	será	o	esboço	do	seu	eu	(moi).	A	identificação	com	a	imagem	implica	
em	uma	alienação	na	imagem	do	outro,	“[...]a	primeira	de	uma	série	de	alienações:	
ao	procurar	a	si	mesmo,	o	que	o	indivíduo	encontra	é	a	imagem	do	outro.”	(GARCIA-
-ROZA,	2004,	p.	215).	
Sendo	assim,	o	processo	de	constituição	do	sujeito,	do	ponto	de	vista	laca-
niano,	é	efeito	de	duas	operações	fundamentais:	a	alienação	e	a	separação.	Na	alie-
nação,	Lacan	(1964/2008)	distingue	dois	campos:	o	campo	do	Outro	e	o	campo	do	
ser	vivente.	O	campo	do	Outro	se	refere	ao	campo	do	simbólico,	da	linguagem,	essa	
que	já	marca	o	ser	vivente	antes	mesmo	de	seu	nascimento.	Mas,	mesmo	surgindo	
imerso	em	um	mundo	de	linguagem,	o	ser	vivente	ainda	não	adentrou	o	campo	do	
simbólico,	o	que	só	acontece	se	ele	consentir	em	se	assujeitar	ao	Outro.	
Dito	de	outra	forma,	o	campo	do	Outro	é	o	campo	do	sentido	e	o	campo	do	
sujeito	é	o	campo	do	ser.	Para	que	o	sujeito	possa	advir,	faz-se	necessária	uma	es-
colha	entre	o	ser	e	o	sentido.	Se	escolhe	o	ser,	ou	seja,	se	não	se	aliena	no	campo	do	
Outro,	o	sujeito	perde	o	sentido	e	não	se	constitui	como	sujeito	dividido;	se	escolhe	o	
sentido,	ou	seja,	se	se	aliena	no	campo	do	Outro,	perde	o	ser,	mas	se	constitui	como	
sujeito	dividido,	pois	o	sujeito	só	advém	no	campo	do	Outro	e	não	de	si	mesmo.	As-
sujeitando-se	ao	desejo	do	Outro,	a	criança	se	torna	um	sujeito	da	linguagem	e	pode,	
quando	se	instaurar	a	separação,	constituir-se	como	sujeito	desejante.	
Na	separação,	não	há	mais	o	embate	do	sujeito	alienado	com	o	Outro	da	
linguagem,	mas	com	o	Outro	do	desejo.	(FINK,	1998).	O	sujeito	é	causado	pelo	desejo	
do	Outro,	se	aliena	nele	e	assume	a	posição	de	objeto	do	desejo	do	Outro.	Assim,	
se	para	adentrar	a	linguagem	o	sujeito	precisa	se	alienar	ao	campo	do	Outro,	para	
adentrar	o	desejo	ele	precisa	sair	desse	lugar	de	objeto.	O	Outro	da	separação	não	
coincide	com	o	Outro	da	alienação,	porque	esse	Outro	que	encarna	o	desejo	não	é	
completo,	é	faltoso.	Como	isso	pode	ser	explicado?	A	mãe,	por	mais	que	tenha	uma	
grande	dedicação	ao	seu	bebê,	ela	não	está	completamente	disponível	para	satis-
133
fazê-lo.	Qualquer	atividade	da	mãe	realizada	 longedo	bebê	demarca	que	ela	tem	
outros	interesses,	outros	desejos	e	que	o	bebê	não	é	o	único	objeto	do	seu	desejo.	A	
mãe,	portanto,	é	faltosa.	
Fink	(1998)	esclarece	que	o	Outro	da	operação	de	separação	é	barrado	(A),	ou	
seja,	dividido	entre	consciente	e	inconsciente,	porque	nem	sempre	sabe	o	que	de-
seja,	pois	o	desejo	nunca	cessa.	Ao	se	deparar	com	essa	falta	no	Outro,	o	sujeito,	ini-
cialmente,	tenta	tamponá-la,	assumindo	o	lugar	de	objeto	de	desejo	do	Outro.	Mas	a	
mãe	continua	a	dar	provas	de	que	ela	não	está	completa	e	que	seu	desejo	não	é	uma	
continuação	do	desejo	da	criança.	O	fracasso	do	bebê	em	ser	o	objeto	do	desejo	dela	
incita-o	a	deixar	esse	lugar	e	fazer	a	escolha	pelo	desejo.	Para	que	a	separação	se	
concretize	e	haja	o	advento	do	sujeito	é	preciso	que	“[...]o	Outro	materno	[demonstre]	
que	é	um	sujeito	desejante	(e,	dessa	forma,	também	faltante	e	alienado),	que	tam-
bém	se	sujeitou	à	ação	da	divisão	da	linguagem	[...].”	(FINK,	1998,	p.	76).	Sujeito	que	
não	se	encontra	mais	na	posição	de	objeto	do	desejo	do	Outro,	mas	sujeito	dese-
jante,	incompleto	e	que,	por	isso	mesmo,	se	dirige	ao	Outro	para	tamponar	sua	falta.	
Quando	aludimos	que	a	mãe	deseja	algo	além	do	bebê,	identificamos	a	sua	
condição	faltosa.	É	por	seguir	desejando,	por	olhar	para	outras	direções,	que	a	mãe	
introduz	um	terceiro	significante	na	sua	relação	com	o	bebê.
FONTE:	COUTO,	D.	P.	Freud,	Klein,	Lacan	e	a	constituição	do	sujeito.	Psicol. pesq.,	Juiz	de	
Fora,	v.	11,	n.	1,	p.	2-10.	ISSN	1982-1247,	2017.	p.	6-7.	Disponível	em:	http://pepsic.bvsalud.org/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-12472017000100004.	Acesso	em:	2	out.	2021.
Diante	disso,	a	perspectiva	de	subjetivação	se	transforma	a	partir	da	concepção	
tomada	no	ceio	da	teoria	psicanalítica,	principalmente	na	forma	em	que	o	sujeito	se	
aliena	do	outro	 ou	 se	 assujeita	 e	 esse	outro,	 ou	 até	mesmo	como	é	 incorporada	ou	
renegada	a	teoria	do	édipo,	uma	vez	que	não	é	toda	corrente	psicanalítica	que	defende	
da	mesma	forma	a	entrada	e	saída	ou	até	mesmo	se	o	mito	edípico	existe.	
FIGURA 6 – TERRA DE EGOS
FONTE: <https://shutr.bz/3jeMZ53>. Acesso em: 2 out. 2021.
134
Na teoria do ego,	a	defesa	de	um	ego	forte	é	o	que	prepararia	o	sujeito	para	
lidar	com	as	questões	mais	densas	da	vida,	ou	seja,	os	aspectos	subjetivos	partiriam	
de	um	treinamento,	o	que	foge	de	diferentes	perspectivas	que	defendem	o	além	do	
princípio	do	prazer,	do	real	e	do	gozo	defendida	por	Freud.
A psicologia do ego criada por Hartmann, Kris e Loewenstein teve uma 
grande contribuição também na temática da sublimação, incorporando 
aspectos artísticos na psicanálise e sendo considerada por alguns auto-
res como a psicologia da arte. 
ATENÇÃO
Com	isso,	podemos	perceber	que	os	impasses	são	inúmeros	dentro	da	psicanáli-
se,	mas	a	psicanálise	e	seus	conceitos	são	maiores	que	os	próprios	psicanalistas,	o	con-
ceito	de	subjetividade,	por	exemplo,	é	tomado	como	um	camaleão,	tendo	divergências	e	
convergências	estruturais	entre	os	teóricos	da	área.
3 OS DIFERENTES TEÓRICOS DA PSICANÁLISE PÓS 
FREUD
Freud,	em	1914,	em	seu	texto	A história do movimento psicanalítico,	inicia	afir-
mando	que,	enquanto	fundador	da	psicanálise,	passou	cerca	de	dez	anos	defendendo	
sozinho	o	interesse	por	ela,	apenas	posteriormente,	especialmente	após	a	publicação	
de A interpretação dos sonhos	em	1900,	a	obra	Freudiana	começou	a	despertar	interes-
se	da	comunidade	científica.
Na atualidade, o livro A interpretação dos sonhos, publicado em 1900, 
é um dos livros mais traduzidos do precursor da psicanálise. Após 
anos defendendo a psicanálise de forma solitária, Freud fundou o 
que ficou chamado como a sociedade das quartas-feiras. Em 
1902, na sala de recepção do consultório de Sigmund Freud, ele 
e outros interessados em psicanálise, fiéis seguidores da teoria 
psicanalítica, se reuniam às quartas para estudar a teoria e discutir 
seus avanços e questões clínicas, temos, desta forma, a primeira 
sociedade psicanalítica. Segundo Oliveira (2016), eles se reuniam 
na Berggasse 19, semanalmente, após as 21 horas, de modo que 
cada um deveria apresentar considerações teóricas, artísticas, 
literárias que pudessem contribuir para a psicanálise. Todos eram 
obrigados a falar e os debates eram por vezes violentos, inclusive 
Freud precisava intervir. 
INTERESSANTE
135
A	história	da	psicanálise	pós-freudiana	foi	diretamente	 influenciada	pelos	di-
versos	rompimentos	e	divergências	dentro	da	sociedade	psicanalítica	de	Viena,	ou	seja,	
a	primeira	escola	de	psicanálise	formada	pelos	primeiros	seguidores	do	pensamento	
freudiano.	Ao	questionar	os	fundamentos	teóricos	estabelecidos	pelo	“pai	da	psicaná-
lise”	e	propor	novos	meios	de	olhar	para	o	inconsciente,	além	de	novas	técnicas	para	
operar	com	ele,	os	seguidores	percebiam	a	resistência	de	Freud,	pois	ele	não	flexibili-
zava	suas	ideias	originais,	por	isso	começaram	a	acontecer	dissidências	no	movimento	
psicanalítico	freudiano.
Cabe	destacar	que	a	hipótese	defendida	por	Freud	em	toda	sua	obra	é	que	a	
etiologia das neuroses	era	de	origem	sexual,	hipótese	essa	defendida	até	a	sua	mor-
te,	de	maneira	que	ele	avançou	em	suas	obras	e	construiu	saberes	importantíssimos	
sobre	a	sexualidade	infantil,	zonas	erógenas,	bissexualidade	psíquica	e	outras	impor-
tantes	questões	que	ainda	hoje	têm	grande	relevância	social	e	clínica.	
FIGURA 7 – FREUD E A TEORIA SEXUAL 
FONTE: <https://shutr.bz/3FWWXlp>. Acesso em: 2 out. 2021.
Retomando	o	tempo	histórico,	a	psicanálise	surgiu	em	Viena,	no	séc.	XX,	em	
uma	 sociedade	 marcada	 por	 questões,	 como	 uma	 forte	 repressão	 sexual	 feminina,	
machismo	e	o	pensamento	cultural	efervescente.	Todos	esses	aspectos	compuseram	 
o	cenário	de	influências	da	obra	freudiana.	
Além	 dos	 colaboradores	 de	 Viena,	 Freud	 trocou	 cartas	 muito	 importantes	
com	o	Fliess,	bem	como	com	outros	 intelectuais	de	sua	época,	por	 isso	sua	teoria	e	
técnica	pode	ter	contribuições	das	mais	diversas.	Posteriormente,	também	alcançou	
interessados	até	mesmo	no	outro	lado	do	oceano,	como	no	caso	da	apresentação	das	
conferências	que	deram	origem	ao	texto	das	cinco	lições	de	psicanálise.	
136
FIGURA 8 – FREUD E INTERLOCUÇÕES
FONTE: <https://shutr.bz/3jeSOj7>. Acesso em: 2 out. 2021.
As	 reuniões	 da	 sociedade	 das	 quartas-feiras,	 formadas	 inicialmente	 por	 ho-
mens,	não	era	exclusiva	para	médicos.	Desde	o	início	da	psicanálise,	Freud	compreen-
dia	a	importância	de	o	saber	psicanalítico	transitar	em	outros	espaços	e	beber	de	outras	
fontes:	da	mitologia,	literatura,	música,	das	artes	no	geral,	entre	outras	manifestações	
humanas.
FIGURA 9 – INTERDISCIPLINARIDADE 
FONTE: <https://shutr.bz/2Z3T9OE>. Acesso em: 2 out. 2021.
Segundo	Zacharewicz	e	Formigoni	(2015,	p.	309):
O	grupo	pioneiro	não	era	formado	somente	por	médicos,	mas	tam-
bém	por	educadores	e	intelectuais	da	época,	contando	com	um	mú-
sico	e	também	com	escritores.	Participavam	das	“noites	psicológicas	
de	quarta-feira”	Otto	Rank,	responsável	pela	redação	das	atas,	Alfred	
Adler,	Max	Graf,	pai	do	pequeno	Hans,	entre	outros.
137
Já	nessas	 reuniões,	 em	 suas	 atas	 registradas,	 é	 possível	 perceber	 questões	
envolvidas	 na	 elaboração	 de	 algumas	 noções	 ou conceitos próprios	 à	 psicanálise,	
bem	como	o	surgimento	de	questões	importantes	e	válidas	ainda	hoje.	
Cada	um	dos	membros,	assim	como	os	psicanalistas	pós-freudianos,	contribuiu	
para	aprofundar	o	debate	sobre	o	objeto	de	estudo	da	psicanálise,	as	técnicas	psica-
nalíticas	diversas,	sua	fundamentação	teórica	e	aspectos	pertinentes	e/ou	divergentes	
acerca	da	formação	do	psicanalista.
Os	principais	psicanalistas	pós-freudianos	são:
• Carl Gustav Jung:	nascido	em	26	de	julho	de	1875;	morte:	6	de	junho	de	1961.
• Sándor Ferenczi:	nascido	em	16	de	julho	de	1873;	morte:	22	de	maio	de	1933.
• Jacques Marie Émile Lacan: nascido em 13 de abril de 1901; morte: 9 de setembro 
de	1981.
• Wilfred Ruprecht Bion:	nascido	em	de	setembro	de	1897;	morte:	28	de	agosto	de	
1979.
• Melanie Klein:	nascida	em	30	de	marçode	1882;	morte:	22	de	setembro	de	1960.	
• Alfred Adler:	nascido	em	7	de	fevereiro	de	1870;	morte:	28	de	maio	de	1937.
• Alois Alzheimer:	nascido	em	14	de	junho	de	1864;	morte	em	19	de	dezembro	de	1915.
• William James:	nascido	em1	de	janeiro	de	1842;	morte:	26	de	agosto	de	1910.
• Erik Erikson:	nascido	em	15	de	junho	de	1902;	morte:	12	de	maio	de	1994.
• Donald Woods Winnicott:	nascido	em	7	de	abril	de	1896;	morte:	28	de	janeiro,	1971.
• André Green:	nascido	em	2	de	março	de	1927;	morte:	22	de	janeiro	de	2012.
4 OS PROCESSOS SUBJETIVOS NAS DIFERENTES 
VERTENTES DA PSICANÁLISE
Conforme	já	apresentamos,	a	psicanálise	é	muito	ampla,	rica	em	teoria	e	múl-
tipla	na	quantidade	de	 teóricos.	Sendo	assim,	 as	 apropriações	 são	multifacetadas,	
fazendo	 com	 que	 as	 vertentes	 dos	 processos	 subjetivos	 sejam	 compreendidas	 de	 
formas	diferentes.	
No Brasil, a psicanálise chegou por intermédio de Durval Bellegar-
de Marcondes e Francisco Franco da Rocha, da Sociedade Brasi-
leira de Psicanálise – a primeira da América Latina, que renasceu 
como Grupo Psicanalítico de São Paulo, em junho de 1944 –, além 
das importantes psicanalistas Virgínia Bicudo e Lélia Gonzalez, que 
fizeram com que seus movimentos e conhecimentos reverberas-
sem até a contemporaneidade. 
IMPORTANTE
138
Inicialmente,	 é	 importante	 destacar	 que	 Freud	 compreende	 o	 processo	 de	
construção	da	subjetividade	por	meio	do	mito	edípico,	em	que	o	sujeito	se	constitui	
pelas	dimensões	do	 inconsciente,	atravessado	pela	sexualidade,	pelas	questões	sociais,	
familiares	e	culturais.	
 
Essa clivagem	do	sujeito	às	marcas	do	édipo	é	a	sua	subjetividade,	sua	lente	
de	 ler	e	significar	o	mundo.	Lacan,	a	partir	da	teoria	freudiana,	avança	ao	condensar	
esses	 entendimentos	 à	 lógica	 da	 estrutura da linguagem,	 ou	 seja,	 o	 sujeito,	 ao	
subjetivar	outro	sujeito,	elege	significantes	para	operar	no	decorrer	da	vida,	exemplo:	
o abandonado.
FIGURA 10 – SUBJETIVAÇÃO 
FONTE: <https://shutr.bz/3G7AceK>. Acesso em: 2 out. 2021.
Já nas teorias Kleinianas,	considera-se	que	a	subjetivação	se	dá	muito	cedo,	
inclusive,	o	processo	clínico	e	interventivo	é	feito	com	crianças	muito	novas,	sendo	uma	
teoria	pioneira	nesse	aspecto,	uma	diferença	estrutural	em	relação	a	outros	autores	da	
psicanálise. 
139
FIGURA 11 – TERAPIA INFANTIL
FONTE: <https://shutr.bz/3n1s8n3>. Acesso em: 2 out. 2021.
Nas teorias da psicologia do ego,	a	subjetividade	ocorre	pela	construção	de	
um	ego	 forte	que	 seria	 capaz	de	 lidar	 com	as	 adversidades	do	ambiente,	 ou	 seja,	 o	
sujeito seria capaz de lidar com momentos estressores sem tantos danos subjetivos. 
No	entanto,	como	um	ponto	em	comum,	a	psicanálise	sempre	escuta	os	efei-
tos	 sociais	e	culturais	na	constituição	da	subjetividade	do	sujeito,	 sem	generalizar	e	
também	considerando	as	marcas	do	inconsciente,	uma	vez	que	esse	é	o	pressuposto	
fundante	da	teoria.	
140
Neste tópico, você aprendeu:
•	 A	psicanálise	sofreu	dispersão	geográfica,	cultural	e	social,	fazendo	com	que	outros	
pressupostos	teóricos	fossem	incorporados	em	seu	bojo.	
•	 Os	autores	pós-freudianos	foram	fundamentais	para	o	vigor	da	psicanálise,	mas	não	
necessariamente	mantêm	uma	convergência	teórica	entre	si.
•	 A	sexualidade	foi	um	dos	principais	conceitos	de	divergência	entre	os	teóricos	pós-
freudianos.	
•	 O	 conceito	 de	 subjetividade	 varia	 de	 acordo	 com	 a	 escola	 pós-freudiana	 e	 seus	
autores. 
RESUMO DO TÓPICO 2
141
AUTOATIVIDADE
1	 Após	a	morte	de	Freud	e	outros	eventos,	a	psicanálise	tomou	folego	pelo	mundo,	
mas	 principalmente	 pelo	 rigor	 e	 importância	 do	 trabalho	 que	 Freud	 fez	 em	 vida.	
Entretanto,	 ocorreram	movimentos	 que	 influenciaram	 diretamente	 nas	 diferentes	
leituras	da	psicanálise	sobre	o	globo.	A	respeito	da	dispersão	influenciadora,	assinale	
a alternativa CORRETA: 
a)	 (			)	 Dispersão	geográfica	e	cultural.
b)	 (			)	 Dispersão	religiosa	e	judaica.
c)	 (			)	 Dispersão	linguística	e	religiosa.
d)	 (			)	 Dispersão	política	e	linguística.
2	 A	hipótese	defendida	por	Freud	em	toda	sua	obra,	é	que	a	etiologia	das	neuroses	
era	de	origem	sexual.	Essa	hipótese	foi	defendida	até	a	sua	morte,	de	modo	que	ele	
avançou	e	 construiu	 saberes	 importantíssimos	 sobre	 a	 sexualidade	 infantil,	 zonas	
erógenas,	bissexualidade	psíquica	e	outras	importantes	questões	que	ainda	hoje	têm	
grande	relevância	social	e	clínica.	Sobre	essas	ideias,	analise	as	sentenças	a	seguir:	
I-	 Esta	 hipótese	 defendida	 por	 Freud	 permitiu	 avanços	 em	 conceitos	 como	 o	 da	
bissexualidade	psíquica.
II-	 Esse	conceito	fez	com	que	Freud	rompesse	com	grande	parte	dos	psicanalistas	de	
sua	época.
III-	 Freud	abandona	essa	hipótese	em	sua	última	obra.	
Assinale a alternativa CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
3	 Considerando	 quatro	 principais	 escolas	 de	 psicanálise	 pós-freudianas,	 analise	 as	
sentenças	e	classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	Melaine	Klein,	Jacques	Lacan,	psicologia	do	ego	por	Hartmann,	Kris	e	Loewenstein	
e	os	teóricos	britânicos	Fairbain	e	Winnicott.
(			)	Wilfred	Ruprecht,	William	James,	Erik	Erikson.
(			)	Bion,	Klein,	Alzheimer	e	Winnicott.	
142
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 V	–	F	–	V.
c)	 (			)	 F	–	V	–	F.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 Os	psicanalistas	pós-freudianos	contribuíram	para	aprofundar	o	debate	sobre	o	objeto	
de	 estudo	 da	 psicanálise,	 as	 técnicas	 psicanalíticas	 diversas,	 sua	 fundamentação	
teórica	e	aspectos	pertinentes	e/ou	divergentes	acerca	da	formação	do	psicanalista.	
Disserte	sobre	os	diferentes	autores	pós-freudianos.
5	 A	psicanálise	 é	muito	 ampla,	 rica	 em	teoria	 e	múltipla	 na	quantidade	de	 teóricos.	
Sendo	assim,	as	apropriações	são	multifacetadas,	fazendo	com	que	as	vertentes	dos	
processos	subjetivos	sejam	compreendidas	de	formas	diferentes.	Disserte	sobre	e	
subjetivação e a psicanálise. 
143
TÓPICO 3 — 
OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E 
O CONTEXTO CONTEMPORÂNEO DO 
TRABALHO DO PSICANALISTA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	no	Tópico	3,	buscaremos	em	Freud,	especificamente	na	sua	obra	
intitulada Psicologia das massas e análise do Eu,	como	ele	apresenta	a	ideia	de	a	psi-
cologia	individual	ser	social,	enquanto	Lacan	aponta	que	a	psicanálise	precisa	estar	à	
altura	de	sua	época.	Sendo	assim,	a	psicanálise	só	pode	ser	pensada	dentro	da	cultura,	
dentro	de	um	tempo	histórico,	desde	seu	princípio,	foi	assim	com	Freud	ao	escutar	as	
histéricas	e	tem	sido	assim	com	as	demandas	LBGTQIA+,	questões	raciais,	desigualda-
des e outras temáticas.
Mas	cabe	ressaltar	que,	por	mais	que	a	vivência	seja	inédita,	a	história	é	cíclica,	
sempre	 se	 repete	 com	 traços	 de	 ineditismo,	 se	 repete	 de	 outro	modo,	mas	 em	 ter-
mos	psicanalíticos,	estamos	sempre	a	voltas	de	um	estranho	familiar,	ou	seja,	pensar	a	
subjetividade	na	contemporaneidade	não	é	tão	diferente	de	pensar	a	subjetividade	em	
outras	épocas.	
Bons estudos!
2 OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E O CONTEXTO 
ATUAL DO TRABALHO DO PSICANALISTA
Uma	questão	muito	cara	à	psicanálise	envolve	a	sexualidade.	Se	analisarmos	
o	 início	 da	 psicanálise	 e	 o	 tempo	 histórico	 em	 que	 estamos,	 podemos	 dizer	 que	
tivemos	um	grande	avanço,	ou	melhor,	grandes	mudanças	na	questão	da	sexualidade	
humana.	O	livro	Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos escrito 
por	Freud	(1996b)	corrobora	e	tem	grande	impacto	na	compreensão	epistemológica 
e psicanalítica	dos	sujeitos	e	suas	 identidades,	principalmente	na	compreensão	do	
conceito de pulsão	e	no	manejo	singular	ao	édipo.	
No	 livro	 citado,	 Freud	abarca	 a	 compreensão	do	 sujeito	 constituído	por	uma	
pulsão sexual que	organiza	e	rearranja	modos	de	satisfação	para	tal	pulsão.	Para	tanto,	
Freud	 apresenta	 as	 fases	 de	 desenvolvimento	 da	 organizaçãoinfantil,	 mostrando	 a	
tonalidade	da	pulsão	como	essencialmente	autoerótica,	com	destino	e	funcionamento	
direcionados	à	busca	da	satisfação	e	resposta	ao	conflito	edípico.
144
A	principal	 fonte	de	prazer	 sexual	 infantil	 é	a	excitação	apropriada	de	deter-
minadas	partes	do	corpo	particularmente	excitáveis,	além	dos	órgãos	genitais,	como	
os	orifícios	da	boca,	ânus	e	uretra,	além	da	pele	e	outras	superfícies	sensoriais.	Como	
nesta	primeira	fase	da	vida	sexual	 infantil	a	satisfação	é	alcançada	no	próprio	corpo,	
excluído	qualquer	objeto	estranho,	é	denominada,	segundo	o	termo	introduzido	por	Ha-
velock	Ellis,	de	autoerotismo.	Zonas	erógenas	denominam-se	os	lugares	do	corpo	que	
proporcionam	o	prazer	sexual.	O	prazer	de	chupar	o	dedo,	o	gozo	da	sucção,	é	um	bom	
exemplo	de	tal	satisfação	autoerótica	partida	de	uma	zona	erógena	(FREUD,	1996b).
Freud sistematiza diversos pontos que convergem para a proble-
mática da orientação sexual (heterossexual, homossexual e bis-
sexual) e, falando sobre, Freud apresenta que não há um caminho 
único ou verdades únicas e sustentáveis radicalmente comuns aos 
indivíduos, isto desmistifica e empobrece os argumentos que visam 
patologizar as vivências sexuais.
IMPORTANTE
Freud	 (1996b,	 p.	 85),	 ao	 se	 referir	 à	 homossexualidade,	 “esse	 caráter	 pode	
conservar-se	por	toda	a	vida,	ou	ser	temporariamente	suspenso,	ou	ainda	constituir	um	
episódio	no	caminho	para	o	desenvolvimento	normal;	e	pode	até	exteriorizar-se	pela	
primeira	vez	em	época	posterior	da	vida,	após	um	 longo	período	de	atividade	sexual	
normal”.	Esses	pontos	enunciam	o	quanto	as	possibilidades	de	orientação	sexual	são	
paradoxais e plurais,	mesmo	 Freud	 querendo	 demonstrar	 parâmetros	 comuns,	 no	
decorrer	do	texto	ele	aponta	estas	percepções.	
Respondendo	 ao	 título	 da	 discussão,	 a	 partir	 da	 perspectiva	 psicanalítica,	
podemos	dizer	que	Igor	era	e/ou	pode	ser	gay,	as	experenciações	singulares	durante	o	
édipo	deixam	registros	mnêmicos,	e	cada	sujeito	dá	vazão	à	pulsão	de	forma subjetiva. 
O	 sujeito	 psicanalítico	 é	 aquele	 que	 desconhece	 seu	 desejo,	 portanto,	 Igor	 ao	 se	
possibilitar	outras	experiências	e	com	fala	deste	outro	que	não	entende	a	 identidade	
dele,	a	cena	demonstra	o	sujeito	psicanalítico	que	pulsa	entre	as	divisões	edípicas	e	
suas	barragens.	
No	decorrer	do	texto,	é	introduzido	por	Freud	(1996b)	dois	termos,	chamemos	
de objeto sexual e alvo sexual.	 Os	 dois	 conceitos	 nos	 possibilitam	 refletir	 sobre	 o	
investimento pulsional,	 objeto	e	 alvo	 sexual.	 Freud	anuncia	 tipologias	e	 caminhos	
para	as	pulsões.	É	importante	notar	que	Freud	não	expõe	de	forma	evidente,	mas	de	
forma	subentendida,	 portanto,	 neste	 funcionamento	 existem	 representações	 e,	 ao	
mesmo	 tempo,	 demonstra	 ter	 caminhos	 paradoxais	 que	 geram	 (im)possibilidades.	
Freud	(1996b)	propunha	que	a	genitalidade	era	responsável	por	produzir	a	síntese	destes	
objetos	parciais,	dirigindo	a	pulsão	a	um	objeto	total,	alguém	do	outro	sexo.	Em	parte,	o	
significante	fálico	tem	esta	função,	mas	ela	nunca	ocorre	de	modo	completo.
145
Então,	o investimento pulsional por	si	só	depende	de	uma	instância	do	sujeito	
implicada,	por	intermédio	de	suas	fantasias	e	representações.	O	sujeito	é	composto	por	
necessidades	fundamentais	e	elas	fazem	parte	do	aspecto	constitutivo,	uma	pulsão	se-
xual	que	podemos	entender	como	toda	ação	de	investimento	e/ou	busca	de	satisfação.	
FIGURA 12 – SEXUAL COMO CONSTITUTIVO
FONTE: <https://shutr.bz/3aO1nN9>. Acesso em: 2 out. 2021.
Contudo,	 nos	 Três ensaios	 [...]	 (1905)	 é	 possível	 encontramos	 uma	 concep-
ção que prioriza a via do exercício pulsional	e	não	apenas	as	identificações	edípicas.	
Freud,	ao	se	referir	ao	objeto	e	alvo,	relata	instâncias	da	sexualidade	humana,	e	apa-
rentemente	desconsidera	o	 investimento	realizado	pelo	próprio	sujeito	em	suas	refe-
rências	corpóreas	e	fantasmática,	que	são	diretrizes	básicas	e	tecem	o	caminho	para	o	
exercício	e	enredo	singular	para	o	sujeito	de	objeto	e	alvo.	Por	exemplo,	a	experiencia-
ção	do	sujeito	perante	o	feminino	e	masculino	também	é	apresentado	com	dificuldade	
pelo	autor,	os	conceitos	de	passivo	e	ativo	são	questionáveis	e	definem	a	constituição	 
bissexual	humana.	
Freud	apresenta	duas	possibilidades	de	pulsão,	a	passiva	e	a	ativa,	mas	referin-
do-se	às	modalidades	de	vazão pulsional,	homens	e	mulheres	não	são	definidos	pela	
pulsão,	porém	ambos	podem	 "funcionar"	dentro	destas	possibilidades.	Freud	 (1996b)	
aponta	que	a	busca	pela	satisfação	pulsional	que	a	mobiliza	só	pode	ter	o	caráter	de	
atividade.	Mesmo	quando	se	goza	da	posição	passiva	(ao	se	fazer	de	objeto	para	um	
Outro),	trata-se	de	uma	passividade	ativamente	produzida	(FREUD,	1996b).
Ao demonstrar os conceitos da pulsão,	Freud	enuncia	o ponto de partida,	
uma	energia	disposta	e	constituinte	universal	aos	sujeitos	(bissexualidade),	o	masculino	
e	o	feminino,	ou	o	passivo	e	o	ativo,	são	formas	de	destino final das pulsões. 
146
O Caso Dora e os Três ensaios [...]	 (1905)	 têm	grande	 importância	 para	 esta	
compreensão,	porque	no	decorrer	do	Caso	Dora,	e	quando	Freud	apresenta	os	aspectos	
constituintes	da	homossexualidade,	da	sexualidade	infantil	e	zonas	erógenas,	ele	tem	a	
percepção de uma validade universal dos sujeitos,	por	meio	da	bissexualidade	como	
fundamento	orgânico	que	gera	desdobramentos	sintomáticos	devido	à	castração.
A bissexualidade psíquica é um substrato em que se processa o 
édipo, a identificação e castração, além dos modos de satisfação das 
fases erógenas. A bissexualidade, diz Freud (1923 apud DELOUYA, 
2003, p. 208), "ofusca e embaralha nossa visão sobre a natureza das 
escolhas objetais primárias". Os termos utilizados por Freud são subs-
tancialmente consistentes e instigam pensar a sexualidade humana, as 
vivências sexuais e representações, questionando um parâmetro da 
normalidade, uma vez que a bissexualidade psíquica seria a regra e a 
sexualidade seria perversa, polimorfa (FREUD, 1996b). 
ATENÇÃO
O aspecto da perversão	 é	 usado	 por	 Freud	 na	 compreensão	 da	 recusa	 de	
reconhecer	a	falta	no	outro,	tem	como	efeito	a	experiência	sexual	prematura,	que	pode	
ter	 como	 desdobramento	 a	 perversão	 ou	 a	 neurose,	 servindo	 na	 bissexualidade	 de	
todos	os	seres	humanos,	dando	origem	a	um	verdadeiro	estatuto.	
Ao	 final	 dos	 Três ensaios [...]	 (1905),	 Freud	 afirma	 que	 um	 dos	 resultados	
constitutivos a partir da perversão polimorfa da	criança	funciona	em	detrimento	das	
formações reativas,	porque	se	opõem	diretamente	à	realização	do	desejo	e	podem	
ser	evidenciadas,	sobretudo,	na	neurose	obsessiva.	
Neste	livro,	com	a	análise sistêmica	é	possível	perceber	que	não	são	concre-
tos	os	tipos	ideais	para	as	pulsões,	e	Freud	subverte	a	ordem	de	protótipos	de	identi-
dade	ideal.	Por	mais	que	apresente	os	mecanismos	estruturantes,	a	própria	construção	
edípica	demonstrada	por	Freud	é	uma	tentativa	de	desvendar	os	enigmas	que	visam	
sanar	a	diferença	sexual,	mas	nunca	consegue,	o	sintoma	apenas	reduz a combustão 
da	pulsão,	ou	seja,	a	sexualidade	humana	não	é	meramente	um	aspecto	de	reprodução	
ou	de	constructo	relacional,	ela	está	a	serviço	e	faz	suplência	aos	sentidos	singulares	
dos sujeitos. 
147
As marcações binárias não são suficientes para a psicanálise, 
isto é, o aspecto pulsional e o edípico, ser portador ou não do 
falo não caracteriza contingência principal nas escolhas para o 
posicionamento singular do sujeito, não é reducionista a ponto 
de constituir grupos para portadores do falo e para os castrados 
(ou vice-versa). 
ATENÇÃO
Gênero	não	é	correspondente	ao	órgão	sexual,	a	presença	ou	falta	de	pênis	e	
estas	perspectivas	são	entregues	às	crianças	desde	muito	cedo,	como	azul	ou	 rosa,	
carrinho	ou	boneca,	mas	este	efeito	é	ínfimo	no	funcionamento	pulsional.	“Não	é	fácil	
perceber	por	que	qualquer	instinto	humano	profundo	deva	necessitar	ser	reforçado	pela	
lei.	Não	há	lei	que	ordene	aos	homens	comer	e	beber	ou	os	proíba	de	colocar	as	mãos	
no	fogo”	(FREUD,1996c,	p.	129).
FIGURA 13 – FREUD
FONTE: <https://shutr.bz/3DVJJnh>. Acesso em: 2 out. 2021.
Freud,	em	seu	texto	Sobre as teorias sexuais das crianças,	de	1908,	concerne	o	
termo	"Geschlecht"	em	alemão,	que	tem	dupla	significação,	ou	seja,	pode	ser	entendido	
como	gênero	e	como	sexo.	O	paradoxo	do	conceito	amplia	nossa	compreensão,	porque	
nele	existe	a	esfera	da	psicanálise,	que	não	pretende	legislar	a	forma	de	gozo	ideal	para	
os	sujeitos,	que	extrapola	a	compreensão	única	do	fenômeno,	e	também	a	noção	de	
sexo	e	gênero	em	relação	à	posição	individual	e	subjetiva	que	permite	a	cada	um	ou	
cada	uma	desvendar	a	realidade	do	caminho	pulsional,	que	vai	além	da	compreensão	
científica	e	biologicista	do	que	é	dito	de	sexo	e	gênero,	porque	a	instância individual 
é criativa e fura os planos de regulamentação. 
148
	Freud	acrescenta	um	eixo	estrutural	na	compreensão	da	sexualidade	humana,	
isto	 é,	 a	 diferenciação	 da	 sexualidade	 animal	 e	 sexualidade	 humana.	 Ele	 propõe	 a	
desconstrução dos determinismos biológicos e/ou ambientais	 para	 definir	 a	
satisfação	sexual	humana,	embora	possa	ser	 influenciada	pela	expressão	biológica	e	
pelas	experiências	subjetivas.	
Em	nota	acrescentada	em	1915,	discutindo	a	bissexualidade	psíquica,	Freud	não	
desconsidera	o	papel	da	biologia,	mas	afirma	que	os	fatores	que	influenciam	a	escolha	
sexual	são	em	parte	constitucionais	e	em	parte	acidentais	(FREUD,	1996b).	Dizer	que	
há	algo	de	acidental	no	posicionamento	do	sujeito	frente	à	diferença	sexual	aponta	o	
caráter arbitrário em	que	toda	a	subjetividade	se	funda.
Ao	escutar	as	histéricas,	Freud	escutava	também	as	impossibilidades	de	satis-
fação	existentes	naquela	época	impregnada	por	uma	moral	da	civilização.	Na	atualida-
de,	passamos	por	revoluções	feministas,	pela	possibilidade	do	uso	de	anticoncepcionais	
e	pela	elevação	da	pauta	sobre	gênero	e	sexualidade.	
FIGURA 14 – SEXUALIDADE
FONTE: <https://shutr.bz/3FUPe7n>. Acesso em: 2 out. 2021.
No	 entanto,	mediante	 essa	 situação,	 o	 que	 se	 percebeu	 não	 foram	 avanços	
radicais	que	romperam	com	o	machismo	e	com	o	moralismo,	muito	menos	impediram	
ou	construíram	outras	e	novas	formas	de	sofrer.	
Sobre	a	subjetividade	contemporânea,	há	de	se	perguntar	“quais	as	novas	formas	
de	 sofrer?”.	 Porque,	 além	 dos	 impasses	 com	 o	 sexual,	 outras	 questões	 se	 tornaram	
presentes,	como	as	influências	das	mídias	sociais	nas	tendências	de	comportamento	e	
pensamento,	o	abuso	de	substância	psicoativa,	a	baixa	possibilidade	de	tempo	ocioso	e	
o crescimento da demanda de produção por parte das pessoas. 
149
FIGURA 15 – TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
FONTE: <https://shutr.bz/3n4x2j1>. Acesso em: 2 out. 2021.
Em	 cada	 tempo	 histórico	muda-se	 o	modo	 de	viver,	 assim	muda	 o	modo	 do	
sujeito	subjetivar.	Com	isso,	transforma-se	a	forma	de	confiar,	de	sentir,	de	se	relacionar,	
de	interagir,	interpretar,	entre	outras	dimensões.	
FIGURA 16 – SUJEITOS
FONTE: <https://shutr.bz/3lSAzBE>. Acesso em: 2 out. 2021.
O	 trabalho	 do	 psicanalista	 contemporâneo	 é	 questionar	 de	 que	modo	 esses	
sujeitos	têm	se	subjetivado?	Quais	os	efeitos	dessa	cultura,	desse	tempo	histórico,	na	
saúde	mental	dos	sujeitos?	Assim	como	Freud	fez	no	início	de	seus	trabalhos.	
Diante	disso,	podemos	considerar	que	o	processo de subjetivação ocorre de 
maneira	constante,	e	cabe	aos	psicanalistas	questionar	como	os	sujeitos	têm	 lidado	
com	os	efeitos	da	cultura	no	seu	dia	a	dia.
3 VISÃO CONTEMPORÂNEA DA PSICANÁLISE
A	psicanálise,	como	já	mencionamos,	é	uma	práxis,	uma	teoria	que	se	faz	por	
meio	de	uma	prática,	 isto	é,	a	escuta.	Na	contemporaneidade,	a	psicanálise	tem	to-
mado	força	justamente	por	ir	contracorrente,	pois	em	uma	sociedade	medicamentosa,	
em	que	há	tanta	pressa,	soluções	milagrosas	e	pouca	escuta,	a	psicanálise	vem	para	
subverter essa ordem. 
150
Como	apresentado	nos	tópicos	anteriores,	os	efeitos	da	cultura,	da	cibercultura	 
e	da	sociedade	do	consumo	esgotam	mentalmente	a	sociedade,	apressando	a	popula-
ção	de	modo	que	as	relações	se	tornam	automatizadas,	as	conversas	como	“olá,	tudo	
bem?”	são	conversas	 rápidas	que	não	passam	de	três	segundos,	e	se	a	 resposta	for	
diferente	de	“tudo!”,	talvez	o	enunciador	nem	ouça.	
FIGURA 17 – OUVIR
FONTE: <https://shutr.bz/3aLDWnt>. Acesso em: 2 out. 2021.
A	psicanálise	tem	sido,	então,	a	possibilidade	de	colocar	um	farol	para	os	afetos,	
desautomatizar,	dar	espaço	para	as	faltas,	os	restos,	em	termos	psicanalíticos,	para	o	
real,	para	a	castração,	sem	fazer	disso	necessariamente	algo	que	finja	ser	uma	resolução.	
	De	acordo	Giovannetti	(2003,	p.	5):	
Nós,	 psicanalistas,	 temos	 alguma	 experiência	 em	 trabalhar	 com	 a	
provisoreidade	dos	conceitos,	com	o	aqui	e	o	agora,	em	que	nem	o	
aqui	é	necessariamente	o	lugar	onde	estamos	nem	o	agora	é	o	tempo	
marcado	pelo	calendário.	Portanto,	é	mais	do	que	hora	de	sairmos	de	
nossos	consultórios	e	 levarmos	um	pouco	da	experiência	aí	adqui-
rida	para	o	mundo	de	fora.	Não	para	diagnosticá-lo,	nem	tampouco	
tratá-lo. Mas para tentarmos pensá-lo. Juntamente com os demais 
ramos	das	humanidades.	Pois	nunca	ficou	tão	evidente	quanto	agora	
a	estranheza	do	homem	e	do	mundo.
Portanto,	 a	 psicanálise	 tem	 muito	 a	 colaborar	 com	 a	 cultura	 e	 com	 a	
contemporaneidade	com	seu	trabalho	clínico	e	social,	uma	vez	que	é	por	meio	da	escuta	
que as subjetividades e nosso tempo podem ser ouvidos. 
151
4 ATUAÇÕES DO PSICANALISTA NO CONTEXTO CLÍNICO 
E SOCIAL
O	campo	de	atuação	dos	psicanalistas	no	contexto	social	e	clínico	é	indissoci-
ável,	uma	vez	que	a	clínica	é	uma	crítica social	feita	de	outro	modo,	ou	em	palavras	
freudianas,	a	psicologia	individual	é	social.	
Quando	um	sujeito	procura	um	atendimento	psicológico,	uma	análise,	ele	está	
se	queixando	de	algum	sofrimento	também	causado	pelos	impasses	sociais,	afinal,	es-
sas	dimensões	são	inseparáveis.	Como	aponta	Lacan,	o	Eu	e	o	outro	é	transindividual,	
ou	seja,	a	cultura	e	o	Eu	estão	sempre	coexistindo.	
FIGURA 18 – FITA DE MOEBIUS
FONTE: <https://shutr.bz/3DPt2K2>. Acesso em: 2 out. 2021.
Como	 apresentado	 na	 imagem	 anterior,	 Lacan	 usa	 a	fita de Moebius para 
exemplificar	que	o	dentro	e	o	fora	se	atravessam,	ou	seja,	a	dimensão	social	e	a	indi-
vidual.	Por	 isso,	o	trabalho	do	psicanalista	não	pode	ser	fragmentado	em	um	aparato	
apenas,	seja	clínico	ou	social,	ambos	têm	que	conversar.	
Entretanto,	há	uma	tipificação	para	uma	psicanálise	implicada	que,	de	acordo	
com	Dupim	e	Besset	(2014,	1158-1159):
A discussão sobre a psicanálise aplicada tem interessado diversos 
autores. Observam-se cada vez mais demandas que convocam a 
psicanálise	a	dialogar	com	outros	campos	de	saber.	Diversos	são	os	
relatos	da	experiência	de	profissionais	que	atuam	orientados	pelos	
princípios	 psicanalíticos	 em	 hospitais,	 escolas,	 nas	 mais	 diversas	
instituições,	 da	 saúde	 mental	 a	 instituições	 sociais	 ou	 mesmo	
jurídicas	 (DUPIM;	 ESPINOZA;	 BESSET,	 2011;	 GUERRA,	 2011;	 COSTA,	
2011;	 ALBERTI,	 2011;	 VILHENA;	 ROSA,	 2011;	 MILLER,	 2004).	 [...]	 Se	
como	nos	ensina	Brousse	(2003),	o	 inconsciente	é	a	política,	e	ser	
analista	é	dar	crédito	ao	inconsciente,	o	analista	é	responsável	pela	
presença	do	discurso	analítico	no	laço	social.	A	política	da	psicanálise	
não	é	alheia	às	transformações	da	cultura,	uma	vez	que	o	analista-
152
cidadão	se	aproxima	das	questões	referentes	a	polis	marcando	sua	
posição	ética.	Assim,	a	psicanálise	é	cada	vez	mais	convocada	a	atuar	
nos	mais	diversos	campos,	fora	dos	limites	dos	enquadres	clássicos	
e	das	práticas	standard.	Segundo	Vilhena	e	Rosa	(2012,	p.	109),	hoje	
em	dia	a	psicanálise	engendra	diálogos	com	diferentes	campos	de	
saber	e	em	diferentes	espaços	muito	além	do	consultório	particular.	
Tal	fato,	que	se	mostra	uma	tendência	inexorável,	tem	em	Freud	seu	
mais	 sólido	 respaldo,	 pois	 ele	 já	 afirmava	que	 a	 psicanálise	 possui	
uma	essência	que	não	se	perde,	ainda	que	o	trabalho	analítico	ocorra	
em	outras	esferas	que	não	o	setting	convencional.
 
Pormuito	tempo,	a	psicanálise	foi	pensada	apenas	no	espaço	do	consultório,	
no	setting	convencional,	com	cadeira	e	divã.	Na	atualidade,	discussões	têm	avançado	
sobre	o	fazer	psicanalítico,	apontando	que	ele	não	depende	dessas	instrumentalidades,	
pelo	contrário,	mas	da	transferência,	do	desejo	e	da	escuta.
FIGURA 19 – SETTING TRADICIONAL
FONTE: <https://shutr.bz/3BUuryj. Acesso em: 2 out. 2021.
Atualmente,	 existem	 experiências	 de	 atendimentos	 psicanalíticos	 em	praças	
públicas,	por	exemplo.	Com	a	pandemia,	os	atendimentos	por	chamada	de	áudio	de	
vídeo	 também	 estão	 fortemente	 presentes,	 mudando,	 assim,	 toda	 a	 configuração	
tradicional. 
Para	Dupim	e	Besset	(2014,	1159-1160):	
Embora	 as	 questões	 referentes	 à	 aplicabilidade	 da	 psicanálise	
sejam	alvo	de	discussões	frequentes	na	atualidade	(Miller,	2004),	a	
relevância	desse	tema	já	se	mostrava	cara	a	Freud:	“as	aplicações	da	
psicanálise	são	também	uma	confirmação	dela”	(Freud,	1932/2006,	
p.	138).	Consideramos	que	o	mote	das	discussões	outrora	norteadas	
pela	questão	da	legitimidade	da	prática	analítica	deslocou-se	para	os	
153
diferentes	modos	de	operar	das	quais	lança	mão	a	psicanálise.	Não	
se	trata	mais	de	julgar	se	numa	prática	trata-se	ou	não	do	exercício	
da	psicanálise,	mas	sim,	de	se	 interrogar	sobre	os	princípios	que	a	
orientam.	[...]	Ao	abordarmos	a	ação	da	psicanálise	em	sua	relação	
com	 outros	 saberes,	 torna-se	 importante	 especificar	 os	 princípios	
que	 norteiam	 sua	 prática.	 Ferrari	 (2004)	 indica	 que	 a	 psicanálise	
trabalha	 em	 direção	 contrária	 a	 generalização	 e	 vitimização	 do	
sujeito,	 considerando	caso	a	caso	e	buscando	a	 responsabilização	
subjetiva.	 A	 particularidade	 da	 proposta	 psicanalítica	 implica	 em	
contemplar	 o	 sujeito	 a	 partir	 do	 que	 lhe	 é	 particular,	 separando-o	
das	 classificações	 universalizantes	 (Miller	 &	 Milner,	 2006).	 Nessa	
perspectiva,	o	psicanalista	atua	 levando	em	consideração	 isso	que	
sobra,	que	fica	como	 resto	e	que	tem	como	pressuposto	a	própria	
impossibilidade	constituinte	do	sujeito.	Esse	“não-pode,	que	marca	a	
falta,	que	funda	o	sujeito	como	desejante”	(Besset,	1997,	p.	69).
A	respeito	do	que	faz	a	clínica	social,	Araujo	(2019,	p.	305-308)	responde:	
Essa	caminhada	para	pensar	a	clínica	social	a	partir	de	sua	multiplicidade,	
o	pensamento	de	Deleuze	nos	convida	a	ampliar	o	olhar	e	pensar	essa	articulação	
da	prática	clínica	pelo	viés	da	 resistência.	A	primeira	pergunta	que	nos	atravessa	
nesse	 pesquisar	 é:	 o	 que	 faz	 um(a)	 profissional	 atender	 numa	 proposta	 “social”?	
Assistencialismo?	Divulgação	de	seu	trabalho?	Não	acreditamos	que	exista	apenas	
uma	 resposta	 a	 essa	 pergunta,	 nem	 que	 ela	 seja	 simples,	mas	 acreditamos	 que	
algumas	 das	 versões	 possíveis	 para	 essa	 resposta	 envolvem	 a	 dimensão	 de	
encontros	 e	 convocações	 a	 subjetividade	 do	 profissional.	 Não	 uma	 subjetividade	
endurecida,	mas	uma	subjetividade	fluxo,	que	circula,	vagueia,	reage	ao	contexto	de	
um	lugar	e	um	momento,	e	por	isso	também	passa	inevitavelmente	pelos	espaços	de	
criação	que	escapam	à	norma,	ao	instituído,	à	não	reatividade,	ao	esvaziamento	da	
vida,	à	redução	da	vida	à	sobrevivência	biológica,	ao	absoluto	niilismo,	como	Pelbart	
(2016,	p.	35)	menciona:	
Uma	vida	[ênfase	adicionada],	tal	como	Deleuze	a	concebe,	é	a	
vida	 como	 virtualidade,	 diferença,	 invenção	 de	 formas,	 potên-
cia	 impessoal,	 beatitude.	Vida	 nua	 [ênfase	 adicionada],	 contra-
riamente,	do	modo	como	Agamben	a	teorizou,	é	a	vida	 reduzi-
da	a	seu	estado	de	mera	atualidade,	 indiferença,	disformidade,	 
impotência,	banalidade	biológica.	
O	atendimento	clínico	social	também	existe	sob	a	forma	de	instituições	que	
se	propõe	a	tal	prática.	Em	muitos	casos	são	instituições	formadoras	em	psicologia	
clínica,	universidades	e	pós-graduações	que	precisam	oferecer	a	seus	alunos	pes-
soas	que	irão	constituir	o	“objeto”	base	para	o	aprendizado	de	um	fazer	clínico.	No	
entanto,	de	forma	paralela,	pessoa	a	pessoa,	experiência	a	experiência,	essa	forma	
de	atendimento	vai	sendo	articulada	fora	desses	estabelecimentos.	Ela	aparece	em	
brechas	de	histórias	que	são	contadas	entre	parceiros	profissionais,	em	redes	invi-
síveis,	fazendo	surgir	possibilidades,	onde	antes	não	existiam,	por	meio	da	sensibili-
154
zação	diante	de	histórias.	Diante	do	esgotamento	niilista	encontram-se	as	pessoas	
a	serem	atendidas,	mas	também	os	articuladores	dos	encontros	e	os	profissionais,	
o cuidado de si e o cuidado do outro. A movimentos de pessoas em direção a outras 
pessoas	com	impactos	que	só	podem	ser	seguidos,	cartografados,	uma	dimensão	
experiencial	e	política	de	um	fazer.	
Um	exemplo	dessas	articulações	aconteceu	 recentemente,	fim	de	2016	e	
início	de	2017.	Com	a	crise	financeira	do	Estado	do	Rio	de	Janeiro	muitos	servidores	
deixaram	de	receber	seus	salários	de	forma	regular,	previsível,	capaz	de	sustentar	
um	planejamento	orçamentário.	Situação	improvável	até	pouco	tempo	antes,	onde	
ter	um	emprego	público	era	sinônimo	de	estabilidade	e	tranquilidade.	Diante	do	im-
provável	e	de	uma	crise	 jamais	vista	no	estado,	o	funcionalismo	público	estadual	
virou	protagonista	de	notícias	diárias.	As	histórias	de	sofrimento	pelo	atraso	de	dois,	
três	meses	seguidos	de	salários	causou	crise	e	 rupturas	em	muitas	vidas.	Muitos	
servidores	estaduais	haviam	contraído	dívidas,	vendido	bens,	perdido	 imóveis	e	a	
capacidade	de	se	alimentar,	comprar	remédios,	pagar	seus	planos	de	saúde.	Cuida-
dos	básicos	com	a	vida	haviam	sido	comprometidos.	A	situação	se	agravara	ainda	
mais	em	alguns	casos,	começaram	a	ser	noticiados	servidores	com	sequelas	deri-
vadas	de	situações	cardiológicas	e	circulatórias	provocadas	por	intenso	stress,	além	
alguns	suicídios	associados	ao	acentuado	sofrimento	provocado	pela	crise.	Essas	
situações	improváveis	anos	atrás,	compartilhadas	diariamente	nos	noticiários,	pro-
vocaram	reações	em	muitos	psicólogos	clínicos.	Um	movimento,	iniciado	nas	redes	
sociais,	convidava	psicólogos	clínicos	a	atenderem	de	forma	social,	ou	gratuita,	ser-
vidores	do	estado	que	estavam	em	sofrimento	diante	do	não	pagamento	de	salários.	
Surgiram	muitas	vagas	para	atendimento	psicológico	gratuito	ou	a	baixo	custo	em	
todo	o	estado	para	esses	servidores.	Vagas	que	não	existiam,	que	não	foram	abertas	
por	instituições	que	ofereciam	esse	serviço,	mas	através	da	articulação	de	indivídu-
os,	psicólogos	clínicos	que	se	sentiram	convocados	a	agir.	
Esse	movimento/fluxo	da	clínica	nessa	situação	não	deve	ser	lido	de	forma	
simplificada,	pois	nada	tem	de	único	e	vale	sempre	refletir	sobre	o	que	isso	fala	da	
psicologia,	 escapando	à	 ideia	 simplista	da	 solidariedade.	Situações,	 especialmen-
te	as	coletivas	que	envolvem	intenso	sofrimento,	costumam	ser	noticiadas	convo-
cando	a	psicologia	como	saber	e	prática.	Desastres	naturais	(como	deslizamentos,	
enchentes)	e	outros	provocados	pelo	homem	(desastres	com	vítimas	de	armas	de	
fogo,	atiradores,	desabamentos	de	construções	e	barragens...)	mobilizam	psicólogos	
que	se	propõem	a	atender	de	forma	social	ou	mesmo	voluntária,	indivíduos	e	grupos.	
Mais	que	um	conjunto	de	pessoas	que	se	sensibilizam	diante	do	sofrimento	huma-
no,	os	 recursos	que	os	profissionais	de	psicologia	disponibilizam	são	também,	em	
sua	essência,	recursos	políticos.	Falam	de	uma	postura	e	forma	de	ação	no	mundo	
que	podemos	considerar	movimentos	de	resistência.	Tornam	a	clínica	e	a	psicologia	
visíveis	diante	da	sociedade	como	um	fazer	essencial	quando	se	trata	de	sofrimento	
psíquico	e	cuidado.	
155
A	reação	diante	da	impossibilidade	ultrapassa	o	acolhimento	imediato,	arti-
culando	junto	a	um	conjunto	de	outras	pessoas	e	outros	profissionais	a	criação	de	
novos	possíveis.	 O	 trabalho	do	 clínico	 jamais	 escapa	dessa	 articulação,	 quer	 seja	
num	consultório	privado	ou	num	espaço	compartilhado,	numa	clínica	ampliada,	uma	
profunda	 reflexão	sobre	como	situações	se	sustentam.	Lidar	com	os	 impossíveis,	
fazer	 surgir	daí	 articulações	criativas,	diantedo	que	está	 interrompido,	 capturado	
pelo	universo	da	impossibilidade	está	no	fundamento	do	fazer	clínico	(PRESTRELO;	
ARAUJO;	MORAES;	MARQUES,	2016).	
Seguindo	esse	fluxo,	que	se	inicia	na	sensibilização	do	psicólogo	clínico	diante	
do	sofrimento	alheio	e	dos	espaços	criados	para	lidar	com	essa	dimensão	da	dor	de	
forma	compartilhada,	podemos	dar	mais	um	passo	nessa	contextualização.	Se	a	clí-
nica,	e	sua	atuação	ainda	que	individual	possui	uma	dimensão	social,	essa	dimensão	
social	também	dá	contornos	à	psicologia	clínica	como	explorado	de	forma	mais	apro-
fundada	por	Foucault	(1997)	em	“História	da	Loucura”,	onde	conclui	que	a	psicologia	
nunca	possuiria	a	verdade	sobre	a	loucura,	já	que	era	a	loucura	que	detinha	a	verdade	
sobre	a	psicologia.	Se	a	psicologia	se	constitui	como	força	político	social,	ainda	que	
em	sua	dimensão	mais	íntima	de	contato	com	o	ser	humano,	esse	contato	também	dá	
contornos	ao	que	chamamos	de	clínica	e	suas	muitas	peculiaridades.
FONTE: ARAUJO, E. S. A “clínica social” em psicologia e articulações que sustentam esse fazer: uma 
reflexão acerca do cenário brasileiro. Psicol. Conoc. Soc., Montevideo, v. 9, n. 2, p. 298-317, 2019. p. 
305-308. Disponível em: http://dx.doi.org/10.26864/pcs.v9.n2.12. Acesso em: 2 out. 2021.
Podemos	concluir	que	o	trabalho	clínico	possui	um	caráter	social,	pois	essas	
esferas	 são	 intrínsecas,	 indissociáveis e complementares. O que se escuta na 
clínica	e	se	percebe	a	respeito	das	questões	de	dimensões	sociais	são	fatores	que	se	
esbarram,	e	os	trabalhos	são	feitos,	portanto,	de	forma	complementar.
156
LEITURA
COMPLEMENTAR
A PSICANÁLISE DO SUJEITO DESBUSSOLADO
Jorge	Forbes
“O	viajante	surpreendido	pela	noite	pode	cantar	alto	no	escuro	para	negar	seus	
próprios	temores;	mas,	apesar	de	tudo	isto,	não	enxergará	mais	que	um	palmo	adiante	
do	nariz”.
I STANDARDS E PRINCÍPIOS
A	prática	 lacaniana	não	tem	standards,	mas	tem	princípios.	É	o	que	afirma	o	
tema	central	deste	IV	Congresso	da	Associação	Mundial	de	Psicanálise.	Há	controvérsias	
quanto	ao	que	seja	um	princípio.	Restrinjo-me	à	noção	que	prepondera:	princípio	é	algo	
que	engendra,	que	vem	antes,	a	cabeça	primeira.	Na	etimologia,	tem	a	raiz	de	caput,	
cabeça	Standard,	por	sua	vez	–	um	anglicismo	para	o	que	nomeamos,	em	português,	
padrão	–	é	aquilo	que	se	adquire	da	experiência.	O	princípio	antecede	a	experiência,	
enquanto	 o	 standard	 é	 dela	 fruto.	 É	 fato	 que	 alguns	 standards	 podem,	 com	 sua	
consagração,	acabar	por	ter	função	de	princípio,	no	que	antecedem	e	orientam	novas	
experiências.
II NOVO HOMEM. A MUDANÇA CONSEQÜENTE
Parto	do	tema	do	Congresso	para	relatar	o	que	me	cabe	desenvolver:	“A	Psica-
nálise	do	Homem	Desbussolado	–	As	reações	ao	futuro	e	o	seu	tratamento”.	Ao	escolher	
esse	título,	chamo	a	atenção	a	uma	transformação	do	laço	social,	hoje,	que	exige	uma	
mudança	na	forma	de	incidência	do	ato	analítico.	Mudança	que	só	podemos	pensar	por	
que	diferenciamos	princípios	de	standards.	Sem	essa	distinção,	a	psicanálise	arriscaria	
deixar	de	existir,	engessada	em	standards	inaptos	ao	tratamento	das	novas	formas	do	
laço.	 Com	a	 expressão	 “homem	desbussolado”,	 refiro-me	 ao	habitante	 de	 uma	nova	
era:	globalização,	pós-modernidade	–	ainda	nenhum	termo	é	suficientemente	bom	para	
nomeá-la,	sempre	causando	polêmicas	aqui	–	uma	nova	era,	dizia,	diferente	da	anterior	
por	não	ser	prioritariamente	“pai-orientada”.	O	laço	social	na	era	industrial,	na	moder-
nidade,	era	francamente	orientado	por	um	eixo	vertical.	As	pessoas	se	 juntavam	“em	
nome	de”,	“em	torno	a”.	A	família,	a	empresa,	a	nação	eram	estruturas	triangulares,	ou	
piramidais,	com	um	ápice	 ideal	e	aglutinador.	Tínhamos	na	família	o	pátrio	poder;	na	
empresa,	a	carreira	de	office-boy	a	diretor;	na	nação,	o	sentimento	de	Pátria.	O	pai	-	que	
tinha	as	chaves	do	saber	seguro,	e	dava	a	direção	-	ocupava,	ele	e	seus	representantes,	
157
o	ápice	da	pirâmide.	Lembramos,	se	ainda	é	necessário	reforçar	essa	ideia,	que,	quando	
não	sabíamos	alguma	coisa,	éramos	convidados	a	procurar	no	dicionário,	chamado	de	
quê?	“Pai	dos	burros”.
Pois	bem,	na	globalização,	o	saber	consagrado,	desde	os	iluministas,	virou	um	
genérico,	do	mesmo	modo	que	fogões	e	geladeiras	brancos	são	genéricos:	uns	não	têm	
mais	valor	que	outros.	Um	aperto	de	botão,	um	clique,	um	clique	no	rato,	é	tudo	o	que	é	
necessário	para	acessar	o	saber.	O	homem	ficou	desbussolado,	sem	o	norte	da	mão	do	
pai	que,	por	ter	o	saber,	lhe	assegurava	o	caminho	a	seguir.	Freud	teve	a	genialidade	de	
propor	uma	estrutura	capaz	de	esquadrinhar	a	experiência	humana	nesse	mundo	pai-o-
rientado:	o	complexo	de	Édipo.	Um	standard	freudiano,	não	um	princípio.	Durante	quase	
cem	anos,	fomos	capazes	de	entender	muita	coisa	das	relações	humanas	a	partir	dessa	
estrutura,	a	tal	ponto	que	vários	chegaram	a	pensar	que	o	Édipo	fazia	parte	do	homem,	
e	que	fora	dele	só	haveria	psicose.	Foi	Jacques	Lacan	quem	deu	o	alerta	da	intensidade	
de	uma	psicanálise	além	do	Édipo.	Uma	psicanálise	capaz	de	acolher	um	homem	cujo	
problema	não	está	mais	nas	amarras	de	seu	passado,	que	o	impedem	de	atingir	o	objeti-
vo	pretendido,	motivo	que	levou	Freud	a	chamar	a	psicanálise	de	cura	da	memória.	Uma	
psicanálise	para	o	homem	que	não	sabe	o	que	fazer,	nem	escolher,	hoje,	entre	os	vários	
futuros	que	lhe	são	possíveis:	sem	pai,	sem	norte,	sem	bússola.
III QUEIXA, LIBERDADE, ANGÚSTIA
Antes,	as	pessoas	se	queixavam	por	não	conseguirem	atingir	os	objetivos	que	
perseguiam.	Hoje,	quase	ao	avesso,	as	pessoas	se	queixam	ou	nem	se	queixam	ainda,	
mas	se	angustiam	pelas	múltiplas	possibilidades	que	se	oferecem.	Frente	à	responsa-
bilidade	do	querer	o	que	deseja,	o	homem	recua.	Ele	reage	ao	futuro	incerto,	preferindo	
seguranças	passadas.	A	época	pós-moderna,	que	chegou	a	ser	tão	festejada,	de	um	
sonho	de	esperança	transformou-se	num	pesadelo	de	angústia.	A	pós-modernidade,	
para	Gilles	Lipovetsky,	foi	um	período	de	curta	duração,	substituído	pela	atual	hipermo-
dernidade,	que	ele	conceitua.	Hipermodernidade	quer	dizer	uma	modernidade	ilimitada,	
extensa	a	todos	os	domínios	da	experiência	humana,	ancorada	em	três	fatores:	na	tec-
nologia,	na	individualidade	e	na	economia.	Será	que	estamos	fadados	a	sermos	hiper-
modernos	 e	 acompanharmos	passivamente	 as	 loucas,	 senão	 engraçadas,	 tentativas	
localizacionistas	do	id	no	mesencéfalo,	prenúncio	do	próximo	remédio,	possivelmente	
o	“idiota”?
IV TENDÊNCIA: SEREMOS HIPERMODERNOS?
Não	acredito	nesse	destino,	por	duas	 razões:	a	primeira,	porque	embora	ainda	
poucos,	 podemos	 notar	 uma	 série	 de	 pesquisadores	 estudando	 e	 promovendo	 novas	
conceituações	deste	laço	social	que	exige,	para	a	sua	compreensão,	uma	nova	topologia,	
a	borromeana,	na	visão	de	Jacques	Lacan.	Além	do	grupo	que	representamos,	na	psica-
nálise,	acrescentaria	pessoas	além	dela,	como	o	filósofo	francês	Gilles	Lipovetsky,	recém	
citado;	o	 sociólogo	polonês	Zygmunt	Bauman;	o	arquiteto	americano	Ron	Pompei;	no	
Brasil,	os	juristas	Tercio	Sampaio	Ferraz	Junior	e	Miguel	Reale	Junior.	
158
Enfim,	cito	alguns	nomes	só	para	provocar	em	cada	um	a	lembrança	de	outros,	
de	diversas	áreas.	Todos,	como	diria,	profissionais	do	 incompleto,	que	de	forma	oca-
sional	ou	provocada,	além	das	especificidades	de	suas	disciplinas,	em	um	verdadeiro	
movimento	de	desespecialização,	contribuem	reciprocamente,	realizando	o	que	Freud	
preconizava	em	sua	“questão	da	análise	leiga”,	a	saber:	a	compreensão,	pelo	paciente,	
dos	fundamentos	do	tratamento	a	que	se	submete.	A	segunda	razão	é	a	forte	convicção	
de	que	a	essência	desejante	e	incompleta	de	saber	–	ou	seja,	inconsciente	-	do	homem	
é	um	princípio	que	resistirá	a	todos	os	tipos	de	“bushadas”	totalitárias.
V ANGÚSTIA: UM PARÂMETRO
Angústia	é	o	tema	do	momento.	“Sentir	o	que	o	sujeito	pode	suportar	de	angús-
tia	coloca	vocês	-	analistas	–	o	tempo	inteiro	à	prova”,	afirma	Lacan	na	abertura	de	seu	
mais	recente	Seminário	estabelecido	por	Jacques-Alain	Miller.	A	angústia	é	um	parâme-
tro,	por	excelência,	da	direção	do	tratamento.Uma	angústia	do	homem	desbussolado	
vem	sendo	maltratada	e	acomodada	em	neo-religiosidades	e	em	neo-cientificidades.	
Junto	às	neo-religiões	colocaria	os	neo-universitários	que	consagram	e	standardizam	
os	conceitos,	em	um	renovado	mercado	de	títulos,	que	lhes	confere	uma	batina	respei-
tável	para	acalmar	a	suposta	e	temida	amoralidade	consequente	à	queda	do	pai.	
Quanto	aos	neo-cientistas,	empírico-localizacionistas,	eles	não	têm	medo	do	
ridículo,	dada	a	avidez	cúmplice	de	respostas	-	não	importa	que	sejam	absurdas	-	de	
uma	população	a	quem	se	propagandeia	que	para	tudo	nessa	vida	tem	remédio.	O	psi-
canalista	do	homem	desbussolado,	para	manter	vivos	os	princípios	da	psicanálise	la-
caniana,	deverá	mudar	sua	música,	ter	novos	standards.	Pensei	em	alguns	exemplos:
•	 Se	ontem	se	analisava	para	se	compreender	mais,	para	ir	mais	fundo,	hoje	se	dirige	o	
tratamento	ao	limite	do	saber:	é	a	necessidade	da	aposta,	na	precipitação	do	tempo.
•	 Se	ontem	se	fazia	análise	para	obter	uma	ação	garantida,	livre	de	influências	fanta-
siosas,	hoje	nenhuma	ação	é	assegurada	em	um	justo	saber,	toda	ação	é	arriscada	e	
inclui a responsabilidade do sujeito.
•	 Se	ontem	a	psicanálise	falava	em	sofrimento	psíquico,	o	que	a	levou	a	ser	patroci-
nada	por	psicólogos	que	a	reduziram	a	uma	das	disciplinas	de	seu	currículo,	hoje	é	
necessário	separá-la	do	campo	da	saúde	mental,	como	tem	insistido	Jacques-Alain	
Miller.
•	 Se	ontem	queríamos	uma	certeza	verdadeira,	hoje,	na	segunda	clínica	de	Jacques	
Lacan,	separamos	certeza	subjetiva	de	verdade	lógica.	Queremos	uma	certeza	con-
vencida.
•	 Se	ontem	nos	limitávamos	em	nossa	práxis	ao	espaço	cartesiano	do	consultório,	hoje	
haverá	psicanálise	onde	houver	um	analista,	e	ele	é	necessário	nos	mais	diversos	
locais	da	experiência	humana,	muito	além	das	instituições	de	saúde.
159
Existem	várias	opositoras	a	este	caminho,	das	estatísticas	empíricas	às	me-
tanálises,	 dos	 remédios	 salvadores	 -	 recentemente	houve	quem	propusesse	colocar	
antidepressivo	junto	com	o	flúor	na	água	de	São	Paulo	-	aos	livros	de	autoajuda.	E	daí?	
Nada	que	possa	desentusiasmar	aqueles	que	se	beneficiaram	de	um	trabalho	analítico	
e	foram	formados	no	tratamento	da	angústia	pela	invenção	responsável.
VI CONCLUSÃO: PRINCÍPIOS ESTÁVEIS, STANDARDS INCOMPLETOS
Não	tenho	certeza	de	que	não	tenhamos	standards.	Uma	vez	que	os	princípios	
estão	além	dos	enunciados,	sendo	difícil	positivá-los,	caberia	talvez	entendermos	que	
nossos	enunciados	são,	afinal,	standards	com	função	de	princípios.	Porém,	são	stan-
dards	ad	hoc,	usados	a	cada	decisão	analítica.	Assim	como	acontece	com	os	princípios	
do	direito,	na	concepção	de	Tercio	Sampaio	Ferraz	Junior:	na	decisão	jurídica,	eles	têm	
aplicação	como	topoi,	lugares-comuns	de	uma	retórica.	Standards.	A	principal	diferença	
entre	os	standards	ortodoxos	e	os	nossos	está	na	posição	de	quem	os	enuncia:	de	uma	
forma	completa,	ou	de	uma	forma	incompleta.	Frente	à	estabilidade	dos	nossos	prin-
cípios,	nossos	standards	clínicos	serão	leves,	contraditórios,	múltiplos,	circunstanciais:	
sensíveis	à	singularidade	de	cada	momento	da	sua	aplicação.	O	analista	“escolhe”	quais	
usar	a	cada	vez,	a	cada	tempo.	O	analista	pode	querer	o	que	deseja,	não	fica	no	inefável	
do	que	opera	na	clínica.
Concluo,	com	Freud,	mostrando	que	o	que	estamos	debatendo	aqui,	os	princípios	
analíticos,	não	é	novo.	Em	“Inibições,	Sintomas	e	Angústia”,	em	1926,	assim	aconselhava	
Sigmund	Freud:	“Aceitemos	humildemente	o	desprezo	com	que	nos	olham,	sobranceiros,	
do	ponto	de	observação	de	suas	necessidades	superiores.	Mas	visto	que	nós	não	podemos	
também	renunciar	a	nosso	orgulho	narcísico,	ficaremos	reconfortados	com	o	pensamento	
de	que	tais	‘Manuais	para	a	Vida’	ficam	logo	desatualizados,	de	que	é	precisamente	nosso	
trabalho	míope,	tacanho	e	insignificante	que	os	obriga	a	aparecer	em	novas	edições,	e	de	
que	até	mesmo	os	mais	atualizados	deles	nada	mais	são	do	que	tentativas	para	encon-
trar	um	substituto	para	o	antigo,	útil	e	todo-suficiente	catecismo	da	Igreja.	Somente	uma	
pesquisa	paciente	e	perseverante,	na	qual	tudo	esteja	subordinado	à	única	exigência	da	
certeza,	poderá	gradativamente	ocasionar	uma	transformação.	O	viajante	surpreendido	
pela	noite	pode	cantar	alto	no	escuro	para	negar	seus	próprios	temores;	mas,	apesar	de	
tudo	isto,	não	enxergará	mais	que	um	palmo	adiante	do	nariz”.
Comandatuba,	2	de	agosto	de	2004.
FONTE: Adaptado de <http://www.jorgeforbes.com.br/index.php?id=115>. Acesso em: 28 set. 2021.
160
Neste tópico, você aprendeu:
•	 As	 relações	 clínicas	 e	 políticas	 são	 indissociáveis,	 uma	 vez	 que	 as	 condições	 de	
subjetivação,	de	sofrimento	e	condições	de	viver	estão	entrelaçados.
•	 O	trabalho	clínico	e	político	é	defendido	na	psicanálise	desde	o	princípio	por	Freud,	 
ao	dizer	que	o	trabalho	individual	é	social.
•	 O	que	estabelece	o	trabalho	clínico	não	são	as	quatro	paredes	ou	o	setting	tradicio-
nal,	com	divã,	tapete,	cadeiras	etc.,	mas	sim	a	transferência	da	relação	paciente	e	
analisando,	desejo	e	inconsciente.
•	 A	 psicanálise,	 mesmo	 que	 seja	 considerada	 contemporânea,	 é	 indissociável	 dos	
pressupostos	freudianos.	
RESUMO DO TÓPICO 3
161
AUTOATIVIDADE
1	 Quando	um	sujeito	procura	um	atendimento	psicológico,	uma	análise,	 ele	está	 se	
queixando	 de	 algum	 sofrimento	 que	 também	 é	 causado	 pelos	 impasses	 sociais,	
pois	essas	dimensões	são	 inseparáveis.	Marque	o	que	é	CORRETO	afirmar	sobre	o	
entrelace do coletivo e o individual a partir do conceito lacaniano:
a)	 (			)	 Como	aponta	Lacan,	o	Eu	e	o	outro	é	transindividual,	ou	seja,	a	cultura	e	o	Eu	
estão	sempre	coexistindo.
b)	 (			)	 O	sujeito	é	bipartite,	sempre	está	em	uma	escolha	individual	ou	coletiva.
c)	 (			)	 O	sujeito	é	multifacetado,	está	para	além	das	esferas	do	coletivo	e	 individual,	
incorpora	também	os	aspectos	espirituais.
d)	 (			)	 Lacan	foi	um	autor	psicanalista	que	não	considerou	a	esfera	social.
2	 Com	 base	 nas	 definições	 sobre	 a	 sexualidade	 apontadas	 por	 Freud	 na	 teoria	
psicanalítica,	analise	as	sentenças	a	seguir:
I-	 Freud	 acrescenta	 um	 eixo	 estrutural	 na	 compreensão	 da	 sexualidade	 humana,	
a	 diferenciação	 da	 sexualidade	 animal	 e	 sexualidade	 humana.	 Ele	 propõe	 a	
desconstrução	 dos	 determinismos	 biológicos	 e/ou	 ambientais,	 a	 fim	 de	 definir	 a	
satisfação	sexual	humana,	embora	possa	ser	influenciada	pela	expressão	biológica	
e	pelas	experiências	subjetivas.
II-	 Em	nota	acrescentada	em	 1915,	discutindo	a	bissexualidade	psíquica,	Freud	não	
desconsidera	 o	 papel	 da	 biologia,	 mas	 afirma	 que	 os	 fatores	 que	 influenciam	 a	
escolha	sexual	são	em	parte	constitucionais	e	em	parte	acidentais.
III-	 Dizer	 que	 há	 algo	 de	 acidental	 no	 posicionamento	 do	 sujeito	 frente	 à	 diferença	
sexual	aponta	o	caráter	arbitrário	em	que	toda	a	subjetividade	se	funda.
Assinale a alternativa CORRETA:
a)	 (			)	 Todas	as	sentenças	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
3	 Sabemos	que	a	psicanálise	é	uma	práxis,	uma	teoria	que	se	faz	por	meio	de	uma	
prática,	 a	 escuta.	 A	 respeito	 disso,	 analise	 as	 sentenças	 e	 classifique	 V	 para	 as	
sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
162
(			)	A	psicanálise	surgiu	da	escuta	da	histeria.
(			)	A	psicanálise,	na	contemporaneidade,	tem	papel	fundamental	em	fazer	escutar	o	
que a sociedade tenta reprimir.
(			)	A	 psicanálise	 na	 contemporaneidade	 tem	 sido	 mais	 respeitada,	 pois	 está	 mais	
próxima	dos	preceitos	psiquiátricos.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	V	–	F.
b)	 (			)	 V	–	F	–	V.
c)	 (			)	 F	–	V	–	F.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 O	campo	de	atuação	dos	psicanalistas	no	contexto	social	e	clínico	é	indissociável,	uma	
vez	que	a	clínica	é	uma	crítica	social	feita	de	outro	modo,	ou	em	palavras	freudianas,	 
a	psicologia	individual	é	social.	Disserte	sobre	a	mudança	do	setting	na	psicanálise.5	 A	 psicanálise,	 mesmo	 que	 seja	 considerada	 contemporânea,	 é	 indissociável	 dos	
pressupostos	freudianos.	Disserte	sobre	a	compreensão	da	psicanálise	na	contem-
poraneidade.
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