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CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 1 DIREITO PROCESSUAL PENAL Ponto 1 – Sistemas Processuais e Princípios – Aplicação da Lei Processual Penal CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 2 MENSAGEM DO MEGE Olá Delta! Hoje damos início ao nosso Clube Delta 2023.1. Matéria? Direito Processual Penal. Que te seguirá da primeira fase até a última, sendo relevante no dia a dia da autoridade policial em vários momentos, sobretudo no que diz respeito ao inquérito policial e às provas. Você será o PRESIDENTE do Inquérito Policial. Por isso, é necessário que você domine muito o conteúdo que se segue nas próximas rodadas. Hoje vamos partir de uma lugar mais conceitual, contudo não deixe de entender e memorizar bem os conceitos aqui apresentados. Bons estudos e abs., CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 3 SUMÁRIO 1. DOUTRINA (RESUMO) ................................................................................................... 4 1.1. PRINCÍPIOS ................................................................................................................. 4 1.2. SISTEMAS PROCESSUAIS .......................................................................................... 13 1.3. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL ................................................................... 15 2. LEGISLAÇÃO, SÚMULAS E JURISPRUDÊNCIA ............................................................... 19 3. QUESTÕES CONCURSOS JURÍDICOS ...................................................................... 24 4. GABARITO COMENTADO............................................................................................. 30 CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 4 1. DOUTRINA (RESUMO) 1.1. PRINCÍPIOS 1.1.1. CONCEITO E FUNÇÕES Os princípios são mandamentos nucleares de um sistema. São postulados que se irradiam por todo o sistema de normas. Os princípios têm duas funções principais: normativa e interpretativa. Com efeito, os princípios são normas jurídicas, possuindo força coercitiva, podendo ser invocados para a solução de casos concretos. Além disso, na hipótese de dúvida na interpretação de certa norma, esta pode ser esclarecida por meio do conteúdo do princípio. 1.1.2. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS E CONSTITUCIONAIS A. Princípio da busca da verdade real Também chamado de princípio da verdade material ou da verdade substancial, significa que, no processo penal, devem ser realizadas as diligências necessárias e adotadas todas as providências cabíveis para tentar descobrir como os fatos realmente se passaram, de forma que o jus puniendi seja exercido com efetividade em relação àquele que praticou ou concorreu para a infração penal. Não obstante, é necessário ter em vista que a procura da verdade real não pode implicar violação de direitos e garantias estabelecidos na legislação. Assim, temos como exemplos de exceções à verdade real: - A inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI, da CF); - Descabimento da revisão criminal contra a sentença absolutória transitada em julgado, mesmo diante do surgimento de novas provas contra o réu; - Vedação ao testemunho das pessoas que tiverem conhecimento do fato em razão de sua profissão, função, ofício ou ministério, salvo se, desobrigadas, quiserem depor (art. 207 do CPP). B. Princípio ne procedat judex ex officio Também chamado de princípio da ação ou princípio da demanda ou princípio da iniciativa das partes, concretiza a regra da inércia da jurisdição e produz consequências práticas importantes em relação ao desencadeamento da ação penal, ao desenvolvimento válido do processo e à fase recursal. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 5 O princípio em exame justifica a Súmula 160 do STF quando esta proíbe os tribunais de reconhecerem, contra o réu, nulidades não arguidas no recurso da acusação. C. Princípio do devido processo legal (art. 5º, LIV, CF) Art. 5º. Caput. (...) LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; O exame deste princípio, originário da cláusula do due process of law do Direito anglo-americano, permite nele identificar alguns elementos essenciais à sua configuração como expressiva garantia da ordem constitucional, destacando-se, dentre eles, por sua inquestionável importância, as seguintes prerrogativas: - O direito ao processo (garantia de acesso ao Poder Judiciário); - O direito à citação e ao conhecimento prévio do teor da acusação; - O direito a um julgamento público e célere, sem dilações indevidas; - O direito ao contraditório e à plenitude de defesa (direito à autodefesa e à defesa técnica); - O direito de não ser processado e julgado com base em leis ex post facto; - O direito à igualdade entre as partes; - O direito de não ser processado com fundamento em provas revestidas de ilicitude; - O direito ao benefício da gratuidade; - O direito à observância do princípio do juiz natural; - O direito ao silêncio (privilégio contra a autoincriminação); - O direito à prova; e - O direito de presença e de participação ativa nos atos de interrogatório judicial dos demais litisconsortes penais passivos, quando existentes. D. Princípio da vedação das provas ilícitas (art. 5º, LVI, CF) Art. 5º. Caput. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 6 (...) LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; Provas ilícitas são aquelas obtidas por meios que afrontam direta ou indiretamente garantias constitucionais e legais. OBSERVAÇÃO: A doutrina processual penal faz uma distinção conceitual entre a prova ilícita e a prova ilegítima, sendo aquela a obtida com violação ao direito substantivo (material), e esta a obtida com violação ao direito adjetivo (processual). A vedação constitucional da prova ilícita não é absoluta no processo penal, já que é possível ser afastada em favor do acusado, quando tiver por fim a prova da inocência com fundamento no princípio da proporcionalidade. E. Princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF) Art. 5º. Caput. (...) LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; Também chamado de princípio do estado de inocência ou da situação jurídica de inocência ou da não culpabilidade, este princípio deve ser considerado em três momentos distintos: na instrução processual,como presunção legal relativa de não culpabilidade, invertendo-se o ônus da prova; na avaliação da prova, impondo-se a valoração das provas em favor do acusado quando houver dúvidas sobre a existência de responsabilidade pelo fato imputado; e, no curso do processo penal, como parâmetro de tratamento ao acusado, em especial no que concerne à análise quanto à necessidade ou não de sua segregação provisória. Sobre o princípio da presunção de inocência, não podemos deixar de tecer breves considerações sobre a posição do STF acerca da execução provisória da pena, tema que, ao longo do tempo, sofreu constantes mutações pela corte máxima. Até 2009, o STF entendia ser possível a execução provisória da pena desde a prolação da sentença condenatória em primeiro grau. Depois, em 05/02/09 (HC 84.078), o STF passou a entender que a execução provisória da pena era inconstitucional, devendo ser aguardado o trânsito em julgado em razão do princípio da presunção de inocência. Esse entendimento prevaleceu até 2016, quando no HC 126.292 o STF decidiu que era possível a execução provisória da pena, desde que proferido acórdão condenatória em 2º grau (em sede de recurso ou em ações penais originárias). Revisando seu entendimento sobre o tema, o STF decidiu na ADC 43/DF, ADC 44/DF e CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 7 ADC 54/DF, em 07/11/19, por maioria (6x5), que a execução provisória da pena ofende o princípio da presunção de inocência. Este é o entendimento atual e que deve ser utilizado para a sua prova. No que se refere ao tribunal do júri, a Lei nº 13.964/19 (Lei Anticrime) trouxe uma importante previsão acerca das apelações oriundas dos julgamentos plenários. Atualmente, admite-se a execução provisória da pena nos casos de condenação no tribunal do júri apenas no caso de ter sido aplicada uma pena igual ou superior a 15 anos de reclusão. O art. 492, § 4º, afirma que a referida apelação não terá efeito suspensivo, salvo nos casos excepcionados pelo § 5º. Vale lembrar que o STF, até então, tinha entendimento divergente sobre o tema entre as suas turmas. De um lado, a 1ª Turma do STF entendia que “a prisão de réu condenado por decisão do Tribunal do Júri, ainda que sujeita a recurso, não viola o princípio constitucional da presunção de inocência ou não-culpabilidade.” (STF. 1ª Turma. HC 118.770, Relator p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 07/03/2017). Essa decisão, no entanto, foi publicada antes do julgamento das ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, em 7/11/2019, por meio das quais o STF, por 6x5, decidiu que é inconstitucional a execução provisória da pena. A 2ª Turma do STF, por sua vez, entendia que não era possível a execução provisória da pena mesmo em caso de condenações pelo Tribunal do Júri. Agora, com a novel legislação, devemos esperar a posição das cortes superiores sobre o tema. Para efeito de prova objetiva, no entanto, o candidato deverá seguir os ditames da legislação. Confira: Art. 492. § 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do Tribunal do Júri a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito suspensivo. § 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito suspensivo à apelação de que trata o § 4º deste artigo, quando verificado cumulativamente que o recurso: I - não tem propósito meramente protelatório; e II - levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão. § 6º O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser feito incidentemente na apelação ou por meio de petição em separado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da sentença condenatória, das razões da apelação e de prova da tempestividade, das contrarrazões e das demais peças necessárias à compreensão da controvérsia.” (NR) Quanto à possibilidade de execução provisória das Penas Restritivas de Direitos, existia uma divergência jurisprudencial. O STJ e a 2ª Turma do STF entendiam CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 8 pela impossibilidade, pois a LEP possui regra específica que não foi analisada pela corte suprema, a qual apenas autorizou a execução provisória da pena privativa de liberdade. Noutro giro, a 1ª Turma do STF entendia pela possibilidade, pelas mesmas razões as quais é possível a execução provisória da pena privativa de liberdade. Ocorre que, com o julgamento das ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, em 7/11/2019, em que o STF, por 6x5, decidiu que é inconstitucional a execução provisória da pena, esse mesmo entendimento também deve ser aplicado para as penas restritivas de direitos. F. Princípio da obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais A exigência de motivação das decisões judiciais, inscrita no art. 93, IX, da CF e no art. 381 do CPP, é atributo constitucional-processual que possibilita às partes a impugnação das decisões tomadas no âmbito do Poder Judiciário, conferindo, ainda, à sociedade a garantia de que essas deliberações não resultam de posturas arbitrárias, mas, sim, de um julgamento imparcial, realizado de acordo com a lei. No tribunal do júri há mitigação da obrigatoriedade de motivação, pois o Conselho de Sentença, formado por juízes leigos, não pode motivar nem fundamentar o seu entendimento, até porque vigoram o princípio da incomunicabilidade dos jurados e o princípio da íntima convicção. Na esteira desse tema, a Lei nº 13.964/19 (Lei Anticrime) trouxe a imperiosidade de que decisões que decretem a prisão preventiva ou outras medidas cautelares diversas da prisão deverão ser justificadas e fundamentadas. É o que diz, por exemplo, o art. 282, § 3º: “Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional.” Essa linha é reforçada pelo legislador no art. 312, § 2º, do CPP, quando diz: “A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.” Para não deixar dúvidas para o intérprete, o legislador chegou ao ponto de dizer, inclusive, o que não representa uma motivação idônea. Confira: CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 9 Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada. § 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada. § 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados,sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. G. Princípio da publicidade O princípio da publicidade, previsto expressamente no art. 93, IX, primeira parte, da CF, e no art. 792, caput, do CPP, representa o dever que assiste ao Estado de atribuir transparência a seus atos, reforçando, com isso, as garantias da independência, imparcialidade e responsabilidade do juiz. Além disso, consagra-se como uma garantia para o acusado, que, em público, estará menos suscetível a eventuais pressões, violências ou arbitrariedades. H. Princípio da imparcialidade do juiz Significa que o magistrado, situando-se no vértice da relação processual triangulada entre ele, a acusação e a defesa, deve possuir capacidade objetiva e subjetiva para solucionar a demanda, vale dizer, julgar de forma absolutamente CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 10 equidistante das partes, vinculando-se apenas às regras legais e ao resultado da análise das provas do processo. Para evitar a contaminação da parcialidade do juiz que atua na fase da investigação, a Lei nº 13.964 (Lei Anticrime) trouxe a figura do juiz das garantias, que, em suma, é o juiz que atua da fase das investigações até o recebimento da denúncia/queixa, quando então dá lugar ao juiz da instrução e julgamento. A ideia é que este último magistrado não se contamine com o conhecimento e a tomada de medidas durante a fase investigativa. Esse assunto será explorado com minúcias no material sobre os sujeitos processuais. No entanto, vale lembrar que o STF, por meio de medida cautelar proferida monocraticamente pelo Min. Luiz Fux, no bojo da ADI 6.300 6.305 6.299 6.298, decidiu suspender, até o julgamento do mérito da ação penal, todos os dispositivos da novel legislação que versam sobre o juiz das garantias. O fundamento principal é que o STF precisa discutir a constitucionalidade desses dispositivos antes que se implemente a sua efetivação. Vamos aguardar... I. Princípio da igualdade processual (art. 5º, caput, CF) Também chamado de princípio da paridade de armas (par conditio), significa que as partes, em juízo, devem contar com as mesmas oportunidades e ser tratadas de forma igualitária. Os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com a Constituição Federal quando verificada a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional ao fim visado. J. Princípio do contraditório (art. 5º, LV, CF) Trata-se do direito assegurado às partes de serem cientificadas de todos os atos e fatos havidos no curso do processo, podendo manifestar-se e produzir as provas necessárias antes de ser proferida a decisão jurisdicional. OBSERVAÇÃO: Este princípio é mitigado em determinados casos, como ocorre no chamado contraditório diferido ou postergado, que consiste em relegar a momento posterior a ciência e a impugnação do investigado ou do acusado quanto a determinados pronunciamentos judiciais. Em tais casos, a urgência da medida ou a sua natureza exige um provimento imediato e inaudita altera parte, sob pena de prejuízo ao processo ou, no mínimo, de ineficácia da determinação judicial. Um contraditório com qualidade prevê a observância do seguinte trinômio: - a intimação da parte sobre o ato processual praticado; CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 11 - a possibilidade de manifestação a seu respeito; - e que tenha a possibilidade de influência na decisão do juiz. Destaca-se, por fim, que a Constituição Federal garante o contraditório aos litigantes e aos acusados em processo judicial ou administrativo; todavia, o inquérito policial, como será visto adiante, não é verdadeiro processo, mas procedimento administrativo, de forma que não há que se falar na garantia do contraditório perante a fase policial de investigações. Além do mais, não há, no inquérito, litigante ou acusado, mas mero investigado (até porque o delegado de polícia não acusa, mas investiga apenas, colhendo provas sobre o fato criminoso, sem interesse acusatório ou absolutório). K. Princípio da ampla defesa (art. 5º, LV, CF) A ampla defesa traduz o dever que assiste ao Estado de facultar ao acusado toda a defesa possível quanto à imputação que lhe foi realizada. A concepção moderna da garantia da ampla defesa reclama, para a sua verificação, seja qual for o objeto do processo, a conjugação de três realidades procedimentais, genericamente consideradas, a saber: a) o direito à informação (nemo inauditus damnari potest); b) a bilateralidade da audiência (contraditoriedade); c) o direito à prova legalmente obtida ou produzida (comprovação da inculpabilidade). A ampla defesa pode ser exercida de duas formas: 1. Autodefesa: realizada facultativamente pelo próprio agente, sendo permitido calar-se ou trazer qualquer elemento de convicção, ainda que não jurídico, o que pode ser bastante útil perante os jurados no tribunal do júri, que decidem de acordo com a íntima convicção; 2. Defesa técnica: realizada obrigatoriamente por advogado habilitado (art. 261 do CPP), não podendo o réu se autorrepresentar no processo penal, a não ser que seja advogado (art. 263 do CPP). Além do mais, a correta defesa do réu é de interesse da sociedade, sendo ela irrenunciável. A falta de defesa técnica, no processo penal, nos termos da Súmula 523 do STF, constitui nulidade absoluta, mas, se for deficiente apenas, só anulará o processo caso exista prova do prejuízo do réu. Ainda em se tratando de autodefesa, a doutrina entende que o réu possui o direito de ser ouvido (audiência) e o direito de presença. O primeiro se expressa principalmente por meio do interrogatório judicial. Já o segundo se reflete na possibilidade de acompanhar todos os atos do processo. É, pois, uma faculdade. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 12 L. Princípio do duplo grau de jurisdição Este princípio assegura a possibilidade de revisão das decisões judiciais, por meio do sistema recursal, em que as decisões do juízo a quo podem ser reapreciadas pelos tribunais. É uma decorrência da própria estrutura do Judiciário, vazada na Carta Magna, que, em vários dispositivos, atribui competência recursal aos diversos tribunais do país. M. Princípio do juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII, CF) O princípio do juiz natural consagra o direito de ser processado pelo magistrado competente (art. 5º, inc. LIII, da CF) e a vedação constitucional à criação de juízos ou tribunais de exceção (art. 5º, inc. XXXVII, da CF). Em outras palavras, tal princípio impede a criação casuística de tribunais pós-fato, para apreciar um determinado caso. N. Princípio do promotor natural e imparcial Este princípio veda a designação arbitrária,pela Chefia da Instituição, de promotor para patrocinar caso específico, vale dizer, o promotor natural há de ser, sempre, aquele previamente estatuído em lei. Como ensina Hugo Nigro Mazzilli, o princípio do promotor natural é decorrência do princípio da independência funcional. Consiste na existência de um órgão do Ministério Público investido nas suas atribuições por critérios legais prévios. OBSERVAÇÃO: A abrangência de aplicação desse princípio é limitada ao processo criminal, excluído, portanto, o inquérito policial. Deste modo, eventuais diligências realizadas na fase das investigações policiais a partir de determinação (requisição) de promotor distinto daquele que seja quem deva atuar não desnaturam o princípio. O. Princípio do in dubio pro reo (art. 5º, LVII, CF) Também chamado de princípio da prevalência do interesse do réu ou “favor rei” ou “favor libertatis” ou “favor inocente”, este princípio privilegia a garantia da liberdade em detrimento da pretensão punitiva do Estado. A dúvida deve militar em favor do acusado. Em verdade, na ponderação entre o direito de punir do Estado e o status libertatis do imputado, este último deve prevalecer. OBSERVAÇÃO: Este princípio é mitigado quando se trata de decisão do Conselho de Sentença por ocasião dos julgamentos pelo júri. É que, em casos tais, os jurados decidem por sua íntima convicção. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 13 É de se ressaltar que, na pronúncia, não se exige a certeza da autoria do crime, mas apenas a existência de indícios suficientes e prova da materialidade, imperando, nessa fase final da formação da culpa, o brocardo “in dubio pro societate” (e não o princípio “in dubio pro reo”). (STJ, AgRg. no AREsp. 405.488/SC) P. Princípio ne bis in idem Consiste na proibição de que o réu seja julgado novamente por fato que já foi apreciado pelo Poder Judiciário. 1.2. SISTEMAS PROCESSUAIS Existem três espécies de sistemas processuais penais: inquisitivo, acusatório e misto. 1.2.1. SISTEMA INQUISITIVO Nesse sistema, cabe a um só órgão acusar e julgar. O juiz dá início à ação penal e, ao final, ele mesmo profere a sentença. O acusado é mero objeto do processo, não sendo considerado sujeito de direitos. Antes do advento da CF/88, era admitido em nossa legislação em relação à apuração de todas as contravenções penais e dos crimes de homicídio e de lesões corporais culposos. Era o chamado processo judicialiforme, que foi banido de nossa legislação pelo art. 129, I, da CF, que conferiu ao MP a iniciativa exclusiva da ação pública. 1.2.2. SISTEMA ACUSATÓRIO No sistema acusatório, existe separação entre os órgãos incumbidos de realizar a acusação e o julgamento, o que garante a imparcialidade do julgador e, por conseguinte, assegura a plenitude de defesa e o tratamento igualitário das partes. 1.2.3. SISTEMA MISTO OU ACUSATÓRIO FORMAL Este sistema é caracterizado pela existência do Juizado de Instrução, fase investigatória e persecutória preliminar conduzida por um juiz, que não se confunde com o inquérito policial, seguida de uma fase acusatória em que são assegurados todos os direitos do acusado e a independência entre acusação, defesa e juiz. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 14 1.2.4. SISTEMA ADOTADO NO BRASIL. No Brasil, é adotado o sistema acusatório, pois há clara separação entre a função acusatória — do Ministério Público nos crimes de ação pública — e a julgadora. Contudo, não se trata do sistema acusatório puro, uma vez que, apesar de a regra ser a de que as partes devam produzir suas provas, admitem-se exceções em que o próprio juiz pode determinar, de ofício, sua produção de forma suplementar. Esse sistema foi reforçado pela Lei nº 13.964/19 (Lei Anticrime), que proibiu expressamente o juiz de decretar prisão preventiva e outras medidas cautelares de ofício. Confira: Art. 282. § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. Esse dispositivo difere da redação anterior, que dizia: § 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). ANTES DA LEI ANTICRIME APÓS A LEI ANTICRIME No curso do processo o juiz poderia, de ofício ou a requerimento das partes, decretar medidas cautelares. Já na fase da investigação criminal o juiz só poderia decretar medidas cautelares mediante representação do Delegado de Polícia ou requerimento do MP. O juiz não pode, nem na fase de investigações nem no curso do processo, decretar medidas cautelares de ofício. Esse mesmo entendimento, que foi previsto para as medidas cautelares em geral, foi repetido pelo legislador da Lei Anticrime no caso da prisão preventiva Confira: CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 15 Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. A redação anterior do dispositivo dizia: Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Porém, a Lei nº 13.964/19 trouxe a previsão de que é possível que o juiz, de ofício, revogue a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem (art. 316, caput). Esse tema será tratado com mais minúcias no material sobre prisões! 1.3. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL 1.3.1. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo o Território Brasileiro, por este Código, ressalvados: I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional; II – as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do STF, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100); III – os processos da competência da Justiça Militar; IV – os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, nº 17); V – os processos por crimes da imprensa. O processo penal, em todo o território nacional, rege-se pelo Código de Processo Penal. Tal regra encontra-se em seu art. 1º, caput, que adotou, quanto ao alcance de suas normas, o princípio da territorialidade, segundo o qual seus dispositivos aplicam-se a todas as ações penais que tramitem pelo território brasileiro. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização,sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 16 OBSERVAÇÃO: O CPP adota o princípio da territorialidade absoluta (locus regit actum), no sentido de que, no Brasil, não se admite a aplicação de direito processual estrangeiro, apesar de admitir a aplicação de regras de direito internacional. Adota, também, o princípio da territorialidade estrita, no sentido de que a lei processual brasileira, ao contrário do que ocorre com a lei penal, não tem extraterritorialidade. Contudo, isto não quer dizer que ela não será aplicada a crimes cometidos fora do território nacional, pois, se este crime for aqui julgado, a lei processual brasileira será aplicada. 1.3.1.1. Exceções à incidência do CPP O art. 1º do CPP elenca hipóteses em que este não terá aplicação, ainda que o fato tenha ocorrido no território nacional. Vejamos: - Os tratados, as convenções e regras de direito internacional (art. 1º, I, CPP); Os tratados, as convenções e as regras de direito internacional, firmados pelo Brasil, mediante aprovação por decreto legislativo e promulgação por decreto presidencial, afastam a jurisdição brasileira, ainda que o fato tenha ocorrido no território nacional, de modo que o infrator será julgado em seu país de origem. É o que ocorre, por exemplo, com agentes diplomáticos aqui acreditados, como embaixadores, secretários de embaixadas, bem como seus familiares, além dos funcionários de organizações internacionais, tal qual a ONU. A Convenção de Viena, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 103/64, prevê imunidade diplomática a esses agentes, de forma que não estão sujeitos à lei processual penal brasileira, pois terão a aplicação da lei material do seu respectivo país, e, por via de consequência, o processo lá tramitará. - As prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do STF, nos crimes de responsabilidade (art. 1º, II, CPP); Esse dispositivo refere-se aos crimes de natureza político-administrativa, e não aos delitos comuns. O julgamento dessas infrações não é feito pelo Poder Judiciário, e sim pelo Legislativo. - Os processos da competência da Justiça Militar (art. 1º, III, CPP); CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 17 Os processos de competência da Justiça Militar, isto é, os crimes militares, seguem os ditames do Código de Processo Penal Militar (Decreto-lei n. 1.002/69), e não da legislação processual comum. OBSERVAÇÃO: Não se deve olvidar que a Justiça Eleitoral, também especializada, tem competência para apreciação dos crimes eleitorais e conexos, possuindo codificação própria (Lei nº 4.737/65 – Código Eleitoral), mas o CPP é aplicado subsidiariamente. - Os processos da competência do tribunal especial (art. 1º, IV, CPP); O tribunal especial a que faz menção o inc. IV do art. 1º é o antigo Tribunal de Segurança Nacional, que não existe mais. Hoje, os crimes contra a segurança nacional estão previstos na Lei nº 7.170/83, sendo afetos à Justiça Federal (art. 109, IV, CF). - Os processos por crimes da imprensa (art. 1º, V, CPP). O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 130-7/DF), declarou que a referida lei não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, de modo que, atualmente, os antigos crimes da Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67) deverão ser enquadrados, quando possível, na legislação comum, e a apuração dar-se-á nos termos do Código de Processo Penal. 1.3.1.2. Exceções decorrentes de leis especiais Algumas leis especiais excepcionam a aplicação do CPP em relação à apuração a determinados crimes, como, por exemplo, os relacionados a drogas, cujo rito é integralmente regulado pela Lei nº 11.343/2006; os crimes falimentares, cujo rito encontra-se na Lei nº 11.101/2005; as infrações de menor potencial ofensivo, tratadas em sua totalidade na Lei .099/95. 1.3.1.3. Tribunal penal internacional O art. 5º, § 4º, da CF, prevê que “o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. Assim, ainda que um delito seja cometido no território brasileiro, havendo denúncia ao TPI, o agente poderá ser entregue à jurisdição estrangeira. 1.3.2. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 18 1.3.2.1. Regra geral – Princípio do efeito imediato ou princípio da aplicação imediata ou sistema do isolamento dos atos processuais. Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. O art. 2º do CPP adotou o princípio da imediata aplicação da lei processual penal, também chamado de princípio tempus regit actum. De acordo com esse princípio, os novos dispositivos processuais podem ser aplicados a crimes praticados antes de sua entrada em vigor. O que se leva em conta, portanto, é a data da realização do ato (tempus regit actum), e não a da infração penal. OBSERVAÇÃO: A lei processual aplicar-se-á desde logo, mesmo que seja prejudicial ao réu. E não se pode dizer que há violação ao art. 5º, XL, da CF, pois a vedação incorporada neste dispositivo constitucional não se refere às normas puramente processuais penais, mas, sim, às normas de natureza penal. 1.3.2.2. Exceção O art. 3º da Lei de Introdução ao CPP dispõe que “o prazo já iniciado, inclusive o estabelecido para a interposição de recurso, será regulado pela lei anterior, se esta não prescrever prazo menor do que o fixado no CPP”. Assim, se um determinado prazo já estiver em andamento, incluindo prazo recursal, valerá o prazo da lei anterior se o prazo da nova lei for menor do que aquele outro. Trata-se, portanto, de uma hipótese de ultratividade da lei processual penal. 1.3.2.3. Normas processuais heterotópicas e normas processuais mistas ou híbridas Normas processuais são aquelas que regulamentam aspectos relacionados ao procedimento ou à forma dos atos processuais, possuindo aplicação imediata. Já as normas materiais são aquelas que objetivam assegurar direitos ou garantias, possuindo efeitos retroativos nos aspectos que visam a beneficiar o réu, mas jamais retroagem para prejudicá-lo. A. Normas heterotópicas Existem determinadas regras que, apesar de inseridas em diplomas processuais penais, possuem conteúdo material, retroagindo para beneficiar o réu. Outras, ao revés, incorporadas a leis materiais, apresentam um conteúdo processual, regendo-se pelo critério tempus regit actum. Surge, nesses casos, o fenômeno da heterotopia. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 19 B. Normas mistas ou híbridas Norma híbrida é aquela que possui preceitos de direito material e de direito processual. Como não pode haver cisão, deve prevalecer o aspecto material. Assim, se a parte penal for benéfica, a nova lei será aplicada às infrações ocorridas antes da sua vigência. O aspecto penal retroage, e o processual terá aplicação imediata, preservando- se, contudo, os atos praticados quando da vigência da norma anterior. Já, se a parte penal for maléfica, a norma híbrida não terá nenhuma incidência aos crimes ocorridosantes de sua vigência e o processo iniciado, todo ele, será regido pelos preceitos processuais previstos na lei antiga. 2. LEGISLAÇÃO, SÚMULAS E JURISPRUDÊNCIA CONSTITUIÇÃO FEDERAL Princípio da Isonomia em seu aspecto formal e Princípio da Igualdade Processual ou Paridade de Armas Art. 5º.Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: * STF: Os direitos e garantias fundamentais também alcançam os estrangeiros não residentes no Brasil. Alcançam, também, as pessoas jurídicas, no que for compatível. Princípio do Juiz Natural XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; * Súmula 704 do STF. Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados. * STF/STJ: Não viola o princípio do juiz natural o julgamento de recurso por órgãos fracionários de tribunais compostos majoritariamente por juízes convocados (RE 597.133, em 05/04/2011; HC 298.182, em 19/12/2014). * STF: A criação de novas varas, modificando competências preexistentes e que acaba por redistribuir os feitos, não viola o princípio do juiz natural (STJ, RHC nº 283.173, em 24/03/15). * STF: O envio de ação penal a uma Vara Especializada recém-criada não ofende o princípio do juiz natural, até porque se está diante de competência absoluta. Princípio - expresso - do juiz natural e Princípio - implícito - do promotor natural LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 20 * O princípio do juiz natural pressupõe a existência de um órgão julgador técnico e isento, com competência estabelecida na própria Constituição e nas leis de organização judiciária de modo a impedir que ocorra julgamento arbitrário ou de exceção. * Súmula 704 do STF. Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados. * STF/STJ: Não viola o princípio do juiz natural o julgamento de recurso por órgãos fracionários de tribunais compostos majoritariamente por juízes convocados (RE 597.133, em 05/04/2011; HC 298.182, em 19/12/2014). * STF/STJ: A redistribuição do feito decorrente da criação de vara com idêntica competência com a finalidade de igualar os acervos dos juízos e dentro da estrita norma legal não viola o princípio do juiz natural, uma vez que a garantia constitucional permite posteriores alterações de competência (HC 91.253, 14/11/2007; HC 102.193, em 02/02/2010). * STF: O princípio do promotor natural consagra uma garantia de ordem jurídica, destinada tanto a proteger o membro do MP, na medida em que lhe assegura o exercício pleno e independentemente do seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem se reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o Promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e pré-determinados, estabelecidos em lei (1ª T, HC 95.447, em 19/10/2010; 2º T, HC 103.038, em 11/10/2011). Princípio do devido processo legal (due process of Law e substantive due process) LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; * STF: O Princípio do Devido Processo Legal não se limita a assegurar a observância do processo na forma descrita na lei (procedural due process), mas impede também a permanência no ordenamento de leis desprovidas de razoabilidade (substantive due process). * STF: Os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade têm sua sede material no princípio do devido processo legal, em sua acepção substantiva (substantive due process of Law). Princípio do contraditório e da ampla defesa LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; * STF: O postulado do contraditório e da ampla defesa inclui: I – direito das partes obterem informação de todos os atos praticados no processo; II – direito de manifestação, oral ou escrita, das partes acerca dos elementos fáticos e jurídicos constantes do processo; e III – direito das partes de ver seus argumentos considerados. * Súmula 701 do STF. No mandado de segurança impetrado pelo MP contra decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação do réu como litisconsorte passivo. * Súmula 704 do STF. Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 21 * Súmula 705 do STF. A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta. * Súmula 707 do STF. Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo. * Súmula 712 do STF. É nula a decisão que determina o desaforamento de processo da competência do júri sem audiência da defesa. * Súmula Vinculante 14. É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. STF: Nos casos de processo administrativo de natureza penal, que pode gerar interferência no estado de liberdade da pessoa, é obrigatória a presença de advogado (2ª T, RE 398.269, em 15/12/2009). Ex.: regressão de regime. Princípio da vedação à utilização de provas ilícitas LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; * STF: Aplica-se a teoria dos frutos da árvore envenenada, de origem na Suprema Corte norte-americana, segundo a qual a prova ilícita produzida tem o condão de contaminar todas as provas dela decorrentes. * STF: É lícita a prova obtida por meio de gravação de conversa própria, feita por um dos interlocutores, se quem está gravando está sendo vítima de proposta criminosa de outro. * STF: É lícita a gravação de conversa realizada por terceiro, com autorização de um dos interlocutores, sem o consentimento do outro, desde que para ser utilizada em legítima defesa. * STF: É lícita a prova obtida mediante gravação de diálogo transcorrido em local público. * Serendipidade (encontro fortuito) e conexão: o Pleno do STF tem precedente afirmando que “se, durante a interceptação telefônica autorizada para um crime punido com reclusão, for apurada a prática de um crime punido com detenção, o MP poderá fazer a denúncia deste desde que os crimes sejam conexos” (HC 83.515, em 16/09/2004). Contudo, a Corte Especial do STJ decidiu que, “havendo encontro fortuito de notícia da prática de conduta delituosa, durante a realização de interceptação telefônica, não se deve exigir a demonstração da conexão entre o fato investigado e aquele descoberto” (AP 510, em 17/03/2014). * STF: A confissão sob prisão ilegal é prova ilícita e, portanto, invalida a condenação nela fundada. * STF: É ilícita a prova obtida por meio deconversa informal do indiciado com policiais, por constituir interrogatório sub-reptício, sem as formalidades legais do interrogatório no inquérito policial e sem que o indiciado seja advertido do seu direito ao silêncio. Princípio da presunção da não culpabilidade ou de inocência ou do estado de inocência e Princípio do In dubio pro reo CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 22 LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; * STF: O princípio da não culpabilidade não afasta a legitimidade das diversas espécies de prisões cautelares. * Súmula 444 do STJ. É vedada a utilização de IP e ações penais em curso para agravar a pena-base. * STF: Enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória, a culpa não se estabelece. Ainda assim, o STF, nas Súmulas 716 e 717, admite a aplicação dos benefícios da LEP, como a progressão de regime, àqueles que ainda não estejam definitivamente condenados, mas estejam cumprindo prisão preventiva. Princípio da Publicidade LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; (...) Art. 93. (...) Princípio da Publicidade e da Motivação das Decisões IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; * Recebimento da denúncia e desnecessidade de fundamentação: o STF entende que não se exige que o ato de recebimento da denúncia seja fundamentado, pois tal ato não se qualifica nem se equipara, para os fins a que se refere o art. 93, inciso IX, da CF, a ato de caráter decisório, razão pela qual não reclama a motivação como condicionante de sua validade (HC 93.056, em 15.05.09). Na mesma linha, o STJ afirma que é desnecessária a fundamentação extensa ou complexa no despacho de recebimento da denúncia, pois este ostenta natureza interlocutória, dispensando, assim, aqueles requisitos próprios de uma decisão judicial (RHC 43.490, em 12.12.14). Contra o recebimento, não cabe recurso, mas apenas HC. * STF/STJ: A técnica de motivação por referência ou por remissão (fundamentação per relationem) é compatível com o que dispõe o art. 93, IX, da CF (AI 738.982, 29.05.12; EREsp. 1.021.851, 28.06.12). * STJ: A jurisprudência admite a chamada fundamentação per relationem, mas desde que o julgado faça referência concreta às peças que pretende encampar, transcrevendo delas partes que julgar interessantes para legitimar o raciocínio lógico que embasa a conclusão a que se quer chegar (6ª T, HC 214.049, em 05/02/2015). * Súmula 123 do STJ. A decisão que admite, ou não, o REsp. deve ser fundamentada, com o exame dos seus pressupostos gerais e constitucionais. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL Título I Disposições Preliminares CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 23 Princípio da territorialidade Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo o Território Brasileiro, por este Código, ressalvados: I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional; * STF: Os agentes consulares só têm direito a imunidade se os fatos delitivos decorrem do desempenho de suas funções (1ª T, RHC 50.155). II – as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do STF, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100); III – os processos da competência da Justiça Militar; IV – os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, nº 17); V – os processos por crimes da imprensa. Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. Princípio da imediatidade (ou do efeito imediato ou da aplicação imediata) e Princípio do tempus regit actum e Sistema do isolamento dos atos processuais Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. * STJ: A exclusão do ordenamento jurídico do protesto por novo júri, nos termos da redação conferida pela Lei nº 11.689/08, tem aplicação imediata aos processos pendentes em consonância com o princípio tempus regit actum, previsto no art. 2º do CPP (RHC 31.585, 22.03.12). * STJ: O fato de a lei nova ter suprimido o recurso de protesto por novo júri não afasta o direito à recorribilidade subsistente pela lei anterior (ultratividade da lei processual), quando o julgamento ocorreu antes da entrada em vigor da Lei nº 11.689/2008, que, em seu art. 4º, revogou expressamente o Capítulo IV do Título II do Livro III, do CPP, extinguindo o protesto por novo júri (5ª T, REsp. 1.046.429, em 09/10/12). Título XII Da Sentença Art. 381. A sentença conterá: (...) III – a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; * STF/STJ: A reprodução dos fundamentos declinados pelas partes ou pelo MP ou mesmo de outras decisões proferidas nos autos da demanda (fundamentação per relationem) atende ao comando do art. 93, IX, da CF. O que não se admite é a ausência de fundamentação (1ª T, HC 94.384, em 02/02/2010; 2ª T, AI 738.982, em 29/05/2012; CE, EREsp. 1.021.851, em 28/06/2012), mas desde que o julgado faça referência concreta às peças que pretende encampar, transcrevendo delas partes que julgar interessantes para legitimar o raciocínio lógico que embasa a conclusão a que se quer chegar (6ª T, HC 214.049, em 05/02/2015). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 24 Livro VI Disposições Gerais Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados. 3. QUESTÕES CONCURSOS JURÍDICOS 1. (2016 – VUNESP) A respeito dos princípios processuais penais, é correto afirmar: a) a ausência de previsão de atividade instrutória do juiz em nosso ordenamento processual penal brasileiro decorre do princípio da imparcialidade do julgador. b) o direito ao silêncio, que está previsto na Constituição da República, em conformidade com a interpretação sedimentada, só se aplica ao acusado preso. c) o princípio da motivação das decisões e das sentenças penais se aplica a todas as decisões proferidas em sede de direito processual penal, inclusive no procedimento do Tribunal de Júri. d) o princípio do contraditório restará violado se entre a acusação e a sentença inexistir correlação. e) o princípio da verdade real constitui princípio supremo no processo penal, tendo valor absoluto, inclusive para conhecimento e para valoração das provas ilícitas. 2. (2016 – FAURGS) Sobre os princípios do processo penal, assinale a alternativa correta. a) A lei processual penal mais nova aplica-se retroativamente, determinando a necessidade de repetição de todos os atos instrutóriosjá realizados sob a vigência da legislação revogada. b) As provas obtidas ilicitamente, segundo a atual jurisprudência dominante no Supremo Tribunal Federal, poderão ser valoradas em prejuízo do acusado quando da prolação da sentença, haja vista a supremacia do interesse público em face dos direitos e garantias fundamentais. c) O princípio do duplo grau de jurisdição estabelece a obrigatoriedade de que todas as decisões de mérito sejam submetidas à apreciação de corte de hierarquia imediatamente superior, devendo o juiz, de ofício, remeter os autos do processo à segunda instância ainda que as partes não interponham qualquer recurso contra a decisão proferida. d) O princípio da obrigatoriedade da ação penal pública incondicionada estabelece que ao Ministério Público é vedado qualquer juízo discricionário quanto à pertinência ou conveniência da iniciativa penal, sendo, todavia, o instituto da delação premiada uma hipótese de exceção ao referido princípio no ordenamento jurídico brasileiro. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 25 e) A interposição de um recurso incabível em lugar daquele legalmente previsto para impugnar determinada decisão, ainda que protocolizado tempestivamente, segundo a atual jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, tem como consequência prática o não conhecimento da irresignação da parte em decorrência do princípio da unirrecorribilidade. 3. (2016 – CESPE) Relativamente aos sistemas e princípios fundamentais do processo penal, assinale a opção correta. a) A proibição de revisão pro societate foi expressamente integrada ao ordenamento jurídico brasileiro pela CF, sendo fruto da necessidade de segurança jurídica a vedação que impede que alguém possa ser julgado mais de uma vez por fato do qual já tenha sido absolvido por decisão passada em julgado, exceto se por juiz absolutamente incompetente. b) O direito ao silêncio ou garantia contra a autoincriminação derrubou um dos pilares do processo penal tradicional: o dogma da verdade real, permitindo que o acusado permaneça em silêncio durante a investigação ou em juízo, bem como impedindo de forma absoluta que ele seja compelido a produzir ou contribuir com a formação da prova ou identificação pessoal contrária ao seu interesse, revogando as previsões legais nesse sentido. c) A elaboração tradicional do princípio do contraditório garantia a paridade de armas como forma de igualdade processual. A doutrina moderna propõe a reforma do instituto, priorizando a participação do acusado no processo como meio de permitir a contribuição das partes para a formação do convencimento do juiz, sendo requisito de eficácia do processo. d) O princípio do juiz natural tem origem no direito anglo-saxão, construído inicialmente com base na ideia da vedação do tribunal de exceção. Posteriormente, por obra do direito norte-americano, acrescentou-se a exigência da regra de competência previamente estabelecida ao fato, fruto, provavelmente, do federalismo adotado por aquele país. O direito brasileiro adota tal princípio nessas duas vertentes fundamentais. e) A defesa técnica é o corolário do princípio da ampla defesa, exigindo a participação de um advogado em todos os atos da persecução penal. Segundo o STF, atende integralmente a esse princípio o pedido de condenação ao mínimo legal, ainda que seja a única manifestação jurídica da defesa, patrocinada por DP ou dativo. 4. (2016 – VUNESP) Em 09 de abril de 2009, em uma festa de aniversário, A, maior, relatou ter sido estuprada por B, irmão da aniversariante. Foi oferecida queixa-crime aos 08 de outubro de 2009, a qual foi recebida em 03 de novembro do mesmo ano, tendo o Juiz determinado, de ofício, a realização de exame de sangue de B, para comparar com os vestígios de sêmen encontrados na vítima. O acusado recusou-se a fazer o exame, suscitando seu direito ao silêncio. Ao final, B acabou condenado, sob o fundamento de que, ao se recusar a fornecer material genético, houve inversão do ônus da prova, não tendo provado sua inocência. A respeito do caso, assinale a alternativa correta. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 26 a) O processo não é nulo, pois, ainda que ao tempo da propositura da inicial, a ação penal fosse condicionada à representação, ao tempo do crime, a ação era de iniciativa privada, não se aplicando a Lei nº 12.015/2009, de 07 de agosto de 2009, nesta parte. b) O juiz, em sede penal, não pode ordenar a realização de provas, pois não há mais espaço para poderes instrutórios, reminiscência do sistema inquisitorial. c) O processo é nulo, pois a ação penal é de iniciativa privada, e o recebimento da queixa deu-se após o prazo decadencial, de seis meses. d) O processo é nulo, por ilegitimidade de parte, pois o crime de estupro, com as alterações advindas da Lei nº 12.015/2009, de 07 de agosto de 2009, passou a ser processável mediante ação penal pública, condicionada à representação da vítima. e) Acertada a condenação proferida, haja vista que a recusa em oferecer material genético acarreta inversão do ônus da prova. 5. (2015 – FCC) Em relação às garantias constitucionais do processo penal, é correto afirmar que: a) a defesa da intimidade não é motivo para restrição da publicidade dos atos processuais. b) é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurada a competência para o julgamento, exclusivamente, dos crimes dolosos contra a vida. c) a garantia do juiz natural é contemplada, mas não só, na previsão de que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. d) a garantia da duração razoável e os meios que garantam a celeridade da tramitação aplicam-se exclusivamente ao processo judicial. e) o civilmente identificado não será submetido, em nenhuma hipótese, a identificação criminal. 6. (2015 – FCC) A lei processual penal: a) não admite aplicação analógica, salvo para beneficiar o réu. b) não admite aplicação analógica, mas admite interpretação extensiva. c) somente pode ser aplicada a processos iniciados sob sua vigência. d) admite o suplemento dos princípios gerais de direito. e) admite interpretação extensiva, mas não o suplemento dos princípios gerais de direito. 7. (2015 – VUNESP) Com relação ao Princípio Constitucional da Publicidade, com correspondência no Código de Processo Penal, é correto afirmar que: a) a publicidade ampla e a publicidade restrita não constituem regras de maior ou menor valor no processo penal, cabendo ao poder discricionário do juiz a preservação da intimidade dos sujeitos processuais. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 27 b) a publicidade restrita tem regramento pela legislação infraconstitucional e não foi recepcionada pela Constituição Federal, que normatiza a publicidade ampla dos atos processuais como garantia absoluta do indivíduo. c) de acordo com o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, com nova redação dada pela EC 45/2004, os atos processuais serão públicos, sob pena de nulidade, cabendo ao juiz limitar a presença, nas audiências, de partes e advogados. d) a publicidade restrita é regra geral dos atos processuais, ao passo que a publicidade ampla é exceção e ocorre nas situações expressas em lei, dependendo de decisão judicialno caso concreto. e) a publicidade ampla é regra geral dos atos processuais, ao passo que a publicidade restrita é exceção e ocorre nas situações expressas em lei, dependendo de decisão judicial no caso concreto. 8. (2015 – FCC) A lei processual penal brasileira: a) admite interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. b) aplica-se desde logo, em prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. c) retroage no tempo para obrigar a refeitura dos atos processuais, caso seja mais benéfica ao réu. d) não admite definição de prazo de vacatio legis. e) será aplicada nos atos processuais praticados em outro território que não o brasileiro, em casos de extraterritorialidade da lei penal. 9. (2015 – FCC) Antônio está sendo processado pela prática do delito de furto qualificado. É correto dizer que, caso haja mudança nas normas que regulamentam o procedimento comum ordinário: a) a nova lei se aplica ao processo no estágio em que se encontra, se concluída a fase de instrução. b) a nova lei apenas se aplica se benéfica ao acusado. c) os atos praticados sob a vigência da lei anterior são válidos. d) a nova lei se aplica ao processo no estágio em que se encontra, apenas se ainda não recebida a denúncia contra Antônio. e) os atos praticados sob a vigência da lei anterior precisam ser ratificados, caso contrário não serão considerados válidos. 10. (2018 – CESPE) Acerca dos princípios penais constitucionais e dos direitos fundamentais do cidadão à luz da CF, julgue os itens a seguir. I - São princípios processuais penais expressos na CF a presunção de não culpabilidade, o devido processo legal e o direito do suspeito ou indiciado ao silêncio. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 28 II - O direito processual penal compreende o conjunto de normas jurídicas destinadas a regular o modo, os meios e os órgãos do Estado encarregados do exercício do jus puniendi. III - A CF determina que o Brasil se submeta à jurisdição do Tribunal Penal Internacional, porém veda absolutamente a entrega de brasileiro naturalizado a jurisdição estrangeira. IV - De acordo com o princípio da irretroatividade da lei processual penal, a regra nova não pode retroagir, mesmo quando eventualmente beneficiar o réu. Estão certos apenas os itens: a) I e II. b) I e IV. c) II e III. d) I, III e IV. e) II, III e IV. 11. (2018 – VUNESP) São princípios constitucionais processuais penais explícitos e implícitos, respectivamente: a) dignidade da pessoa humana e juiz natural; e insignificância e identidade física do juiz. b) intranscendência das penas e motivação das decisões; e intervenção mínima (ou ultima ratio) e duplo grau de jurisdição. c) contraditório e impulso oficial; e adequação social e favor rei (ou in dubio pro reo). d) não culpabilidade (ou presunção de inocência) e duração razoável do processo; e não autoacusação (ou nemo tenetur se detegere) e paridade de armas. 12. (2021 – VUNESP) Em apuração de falta disciplinar atribuída a recluso no interior do estabelecimento penal, instaurada sindicância para esse fim, em observância aos termos do Regimento Interno Padrão dos Estabelecimentos Penais, é correto afirmar que: a) garantida a defesa ao sentenciado, em observância à norma que regulamenta a matéria, válido é o procedimento. b) a presença do advogado na oitiva do sindicado, quando o sentenciado tem defensor constituído, é obrigatória. c) é nulo o procedimento se o sentenciado não teve a assistência de defensor durante a sua oitiva. d) o procedimento disciplinar tem caráter inquisitivo e, por isso, não é exigida a atuação do defensor. 13. (2021 – FCC) No tocante às garantias constitucionais aplicáveis ao processo penal: CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 29 a) todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, mas não somente a estes. b) o civilmente identificado jamais pode ser submetido a identificação criminal, sob pena de caracterização de constrangimento ilegal. c) o preso tem direito à identificação do responsável por sua prisão, mas nem sempre por seu interrogatório policial. d) a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação são garantias exclusivamente aplicáveis à ação penal. e) a garantia do juiz natural é contemplada, mas não só, na previsão de proibição de juízo ou tribunal de exceção. 14. (2022 – FAURGS) Considerando a legislação processual penal, a abranger as garantias consagradas nos diplomas internacionais incorporados pelo Brasil, assinale a afirmativa INCORRETA. a) O acusado possui o direito a um processo sem dilações indevidas. b) O acusado possui o direito ao tempo adequado à preparação de sua defesa. c) O acusado possui o direito aos meios adequados à preparação de sua defesa. d) O acusado possui o direito de ser comunicado, de modo genérico, da acusação formulada, sem necessidade de que essa comunicação seja pormenorizada. e) O acusado, por meio de sua defesa, tem o direito de inquirir as testemunhas de acusação e de obter o comparecimento e a inquirição das testemunhas de defesa nas mesmas condições das testemunhas de acusação. 15. (2022 – CESPE) Em relação aos sistemas processuais penais e aos seus princípios reitores, assinale a opção correta. a) A efetividade da repressão criminal do sistema acusatório cabe especialmente ao órgão julgador, responsável pela aplicação da pena no caso concreto. b) No sistema acusatório, o legislador admite que a imparcialidade judicial esteja comprometida com um objetivo considerado mais importante. c) O modelo ideal de sistema acusatório é previsto em instrumento normativo internacional, a partir de critérios uniformes definidos pela doutrina processual. d) A crítica ao sistema inquisitivo está relacionada à sua falta de rigor quanto à certeza de repressão dos fatos contrários à ordem social. e) A decisão sobre o sistema que deverá ser implantado em determinado país pressupõe uma definição prévia, por parte do legislador, de alguns critérios de política criminal, entre os quais está o grau de eficiência da repressão. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 30 4. GABARITO COMENTADO 1. D. ALTERNATIVA A: INCORRETA. Há hipóteses de atividade instrutória do juiz no atual ordenamento. Por exemplo, o art. 156 do CPP prevê que é facultado ao juiz de ofício ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida. ALTERNATIVA B: INCORRETA. O investigado ou acusado tem direito ao silêncio em todas as fases da persecução penal, independentemente de estar preso ou solto. ALTERNATIVA C: INCORRETA. No procedimento do Tribunal do Júri se aplica o sistema da convicção íntima. ALTERNATIVA D: CORRETA. Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró afirma que “toda violação da regra de correlação entre acusação e sentença implica em um desrespeito ao princípio do contraditório. O desrespeitoao contraditório poderá trazer a violação do direito de defesa, quando prejudique as posições processuais do acusado, ou estará ferindo a inércia da jurisdição, com a correlativa exclusividade da ação penal conferida ao Ministério Público, quando o juiz age de ofício. Em suma, sempre haverá violação do contraditório, sejam suas implicações com a defesa ou com a acusação”. ALTERNATIVA E: INCORRETA. O princípio da verdade real não é supremo e absoluto, inclusive porque, em regra, não se admite a valoração das provas ilícitas. 2. D. ALTERNATIVA A: INCORRETA. De acordo com o art. 2º do CPP. ALTERNATIVA B: INCORRETA. Em regra, aplica-se o princípio da vedação à utilização de provas ilícitas. Excepcionalmente, a prova ilícita é admitida para beneficiar o acusado. ALTERNATIVA C: INCORRETA. A alternativa descreve o recurso necessário, que não se confunde com o princípio do duplo grau de jurisdição. ALTERNATIVA D: CORRETA. De acordo com o art. 4º, § 4º, da Lei nº 12.850/2013. ALTERNATIVA E: INCORRETA. De acordo com o STJ, aplica-se o princípio da fungibilidade quando preenchidos os seguintes requisitos: a) dúvida objetiva quanto ao recurso a ser interposto; b) CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 31 inexistência de erro grosseiro; e c) que o recurso interposto erroneamente tenha sido apresentado no prazo daquele que seria o correto (AREsp 616.226, em 21/05/2015). 3. D. ALTERNATIVA A: INCORRETA. A incompetência absoluta do juiz não é exceção ao princípio do ne bis in idem. ALTERNATIVA B: INCORRETA. O direito ao silêncio não impede de forma absoluta que o acusado colabore com a formação da prova. Por exemplo, o art. 4º, § 14, da Lei nº 12.850/2013, dispõe que nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade. ALTERNATIVA C: INCORRETA. A elaboração tradicional do princípio do contraditório não garantia a paridade de armas como forma de igualdade processual. ALTERNATIVA D: CORRETA. ALTERNATIVA E: INCORRETA. O inquérito policial é inquisitorial, de forma que nesta fase da persecução penal não é obrigatória a participação de advogado. 4. A. ALTERNATIVA A: CORRETA. A Lei nº 12.015/2009 é uma norma híbrida cuja parte material é prejudicial ao réu, de forma que não deve retroagir. No caso, deve ser aplicado o regramento anterior, em que a ação penal é privada. ALTERNATIVA B: INCORRETA. Há previsão de casos em que o juiz pode determinar a produção de provas, inclusive de ofício. Ex.: art. 156 do CPP. ALTERNATIVA C: INCORRETA. O que interrompe o prazo decadencial é o oferecimento da queixa-crime. Portanto, no caso, não houve decadência. ALTERNATIVA D: INCORRETA. Não há ilegitimidade de parte, pois a ação penal é privada, não se aplicando a Lei nº 12.015/2009 ao caso. ALTERNATIVA E: INCORRETA. No processo penal, a culpa não se presume. Cabe àquele que faz a alegação o ônus de prová-la. Além disso, o acusado está acobertado pelo princípio nemo tenetur se detegere. 5. C. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 32 ALTERNATIVA A: INCORRETA. De acordo com o art. 5º, LX, da CF, a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. ALTERNATIVA B: INCORRETA. Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes dolosos contra a vida e os que lhes são conexos (art. 5º, XXXVIII, ‘d’, da CF c/c art. 78, I, do CPP). ALTERNATIVA C: CORRETA. Além de consagrar a garantia de que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5º, LIII, da CF), o princípio do juiz natural veda a criação de juízos ou tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII, da CF). ALTERNATIVA D: INCORRETA. De acordo com o art. 5º, LXXVIII, da CF, a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. ALTERNATIVA E: INCORRETA. De acordo com o art. 5º, LXXVIII, da CF, o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. 6. D. ALTERNATIVAS A, B, E: INCORRETAS. De acordo com o art. 3º do CPP, a lei processual penal admite interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. ALTERNATIVA C: INCORRETA. De acordo com o art. 2º do CPP, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. ALTERNATIVA D: CORRETA. De acordo com o art. 3º do CPP. 7. E. ALTERNATIVA A: INCORRETA. A publicidade, seja ela ampla ou restrita, tem fundamental importância para o processo penal, tanto que constitui princípio constitucional (art. 93, IX, CF). ALTERNATIVA B: INCORRETA. De acordo com o art. 93, IX, da CF, a lei pode prever casos de publicidade restrita. ALTERNATIVA C: INCORRETA. De acordo com o art. 93, IX, da CF, cabe à lei, e não ao juiz, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 33 ALTERNATIVA D: INCORRETA. ALTERNATIVA E: CORRETA. De acordo com o art. 93, IX, da CF, a regra é a publicidade ampla, sendo exceção a publicidade restrita. 8. A. ALTERNATIVA A: CORRETA. De acordo com o art. 3º do CPP. ALTERNATIVAS B e C: INCORRETAS. De acordo com o art. 2º do CPP, não há prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. ALTERNATIVA D: INCORRETA. A previsão de aplicação imediata não impossibilita que novas leis processuais passem por vacatio legis. ALTERNATIVA E: INCORRETA. Adota-se o princípio da territorialidade estrita, no sentido de que a lei processual brasileira, ao contrário do que ocorre com a lei penal, não tem extraterritorialidade. 9. C. ALTERNATIVA A: INCORRETA. ALTERNATIVA B: INCORRETA. ALTERNATIVA C: CORRETA. De acordo com o art. 2º do CPP, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. ALTERNATIVA D: INCORRETA. ALTERNATIVA E: INCORRETA. 10. A. ALTERNATIVA CORRETA: A ITEM I: CORRETO. O item está correto, pois os três princípios elencados possuem berço constitucional: Art. 5º. Caput. (...) LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 34 LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; ITEM II: CORRETO. O item está correto, pois se trata de um conceito doutrinário aceito na comunidade jurídica, não havendo nada a reparar. ITEM III: INCORRETO. A assertivacomeça correta quanto à submissão do Brasil ao Tribunal Penal Internacional, mas termina incorreta quanto à impossibilidade absoluta de extradição do brasileiro naturalizado. Confira: Art. 5º. Caput. (...) LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) ITEM IV: INCORRETO. O item confunde o candidato com o princípio da irretroatividade da lei penal. No caso da lei processual, nos termos do art. 2º do CPP, não há que se falar em irretroatividade. Perceba que esse dispositivo foi cobrado duas vezes na prova! Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. 11. D. ALTERNATIVA A: INCORRETA. O princípio da identidade física do juiz está expresso no CPP: Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). § 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). ALTERNATIVA B: INCORRETA. O princípio da intervenção mínima (ou ultima ratio) é de Direito Penal, e não de Direito Processual Penal. ALTERNATIVA C: INCORRETA. O princípio do impulso oficial não está expresso no CPP, mas sim no CPC (art. 2º). Em que pese possa haver discussão se esta previsão supre o enunciado, entende-se que o princípio do in dubio pro reo está expresso no seguinte dispositivo: Art. 5º, LVII, da CF - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 35 ALTERNATIVA D: CORRETA. Os princípios da presunção de inocência e duração razoável do processo têm expresso assento constitucional, conforme se confere a seguir: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Segundo a doutrina, o princípio da não autoacusação é implícito na CF quando esta afirma que é direito do preso permanecer calado. É o mesmo caso do princípio da paridade de armas, que também é implícito na CF e decorre do contraditório e da ampla defesa. Confira: Art. 5º. LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; Art. 5º. LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 12. A. Entendemos que a referida questão deveria ter sido anulada, mas não foi. Seguem os comentários. (A) CORRETA. A assertiva está extremamente mal formulada e incompreensível. A norma que regulamenta a matéria de falta disciplina a matéria é a LEP (Lei nº 7.210/84). Um dos pressupostos de validade deste procedimento é, realmente, a garantia de defesa ao sentenciado. Mas não é a única hipótese que garante a sua higidez, uma vez que, por exemplo, ainda que assistido por defesa técnica, se o procedimento for conduzido com desvio de finalidade ele também poder ser invalidado. Além disso, esta assertiva traz afirmação similar à letra “C”, o que leva a duas respostas corretas. (B) INCORRETA. Outra assertiva com péssima redação, e que não deixa claro o qual conhecimento se está querendo abordar do candidato. Se o sindicado tem defensor constituído, ele não é o seu advogado? Não existe uma compreensão mínima para se analisar a assertiva. (C) INCORRETA. Incorreta, segundo o gabarito preliminar, mas, ao nosso ver, está correta, devendo a questão ser anulada. Vejamos: Súmula 533-STJ: Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 36 diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado. Vale lembrar que o entendimento da referida súmula foi relativizado pelo STF tão apenas quanto à necessidade de instauração de PAD quando substituída por uma audiência judicial, mas a Suprema Corte em nada alterou o entendimento quanto à obrigatoriedade do respeito à ampla defesa. (...) 2. A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação realizada na presença do defensor e do Ministério Público, afasta a necessidade de prévio Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), assim como supre eventual ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para apurar a prática de falta grave durante o cumprimento da pena (RE 972.598/RS, Relator Min. ROBERTO BARROSO Tema 941, Plenário, Sessão Virtual de 24/4/2020 a 30/4/2020). 3. Diante dessa nova orientação traçada pelo Supremo Tribunal Federal, esta Corte tem entendido que a Súmula n. 533 do STJ, que reputa obrigatória a prévia realização de procedimento administrativo disciplinar para o reconhecimento de falta praticada pelo condenado durante a execução penal, deve ser relativizada, sobretudo em casos nos quais o reeducando pratica falta grave durante o cumprimento de pena extra muros, ocasiões em que a realização de audiência de justificação em juízo, com a presença da defesa técnica e do Parquet, é suficiente para a homologação da falta, não havendo que se falar em prejuízo para o executado, visto que atendidas as exigências do contraditório e da ampla defesa, assim como os princípios da celeridade e da instrumentalidade das formas. Isso porque a sindicância realizada por meio do PAD somente se revelaria útil e justificável para averiguar fatos vinculados à casa prisional, praticados no interior da cadeia ou sujeitos ao conhecimento e à supervisão administrativa da autoridade penitenciária. Precedentes: HC 581.854/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, DJe de 19/6/2020; HC 585.769/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, DJe de 30/06/2020; HC 582.486/PR, Rel. Ministro ROGÉRIO SCHIETTI, DJe de 28/05/2020; HC 577.233/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Quinta Turma do STJ, unânime, julgado em 18/08/2020, DJe de 24/08/2020. 4. A relativização do verbete sumular n. 533/STJ não desprestigia o disposto nos arts. 47, 48 e 59 da LEP, pois, como se sabe, o executado que cumpre pena em regime aberto, semiaberto harmonizado (com tornozeleira eletrônica ou em prisão domiciliar sem tornozeleira) ou em livramento condicional deixa de se reportar à direção do presídio e passa a se reportar diretamente ao Juízo de Execução Criminal, responsável pelo estabelecimento e fiscalização das condições a serem observadas durante o cumprimento da pena extra muros, não havendo como se afirmar que nessa etapa da execuçãopenal o executado remanesce sob o poder disciplinar da autoridade administrativa penitenciária. (...) STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 579.647/PR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/09/2020. (D) INCORRETA. Ver ITEM “C”. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 37 13. E. (A) INCORRETA. Art. 93, IX, da CF/88, dispõe que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação (B) INCORRETA. Art. 5º, LVIII, da CF/88 - o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. (C) INCORRETA. Art. 5º, LXIV, da CF/88 - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; (D) INCORRETA. Art. 5º, LXXVIII, da CF/88 - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (E) CORRETA. Art. 5º, LIII, da CF/88 - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; 14. D (A) CORRETA. PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS Artigo 14 3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: (...) c) a ser julgada sem dilações indevidas; (B) CORRETA. DECRETO No 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992 - Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) ARTIGO 8 Garantias Judiciais 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: c) concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparação de sua defesa; (C) CORRETA. Ver ITEM “B”. (D) INCORRETA. DECRETO Nº 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992 - Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) ARTIGO 8 CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 38 Garantias Judiciais 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada; (E) INCORRETA. DECRETO Nº 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992 - Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) ARTIGO 8 Garantias Judiciais 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presente no tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos. 15. E (A) INCORRETA. Trata-se de uma característica do sistema inquisitivo, e não do acusatório, segundo Mauro Fonseca Andrade. (B) INCORRETA. Trata-se de uma característica do sistema inquisitivo, e não do acusatório, segundo Mauro Fonseca Andrade. (C) INCORRETA. Segundo Mauro Fonseca Andrade, inexiste um modelo ideal e uniforme dos sistemas processuais penais definidos pela doutrina processual, e esse é justamente um dos problemas no estudo do assunto. Cada autor acaba por criar seus próprios tipos ideias pessoais e decidir, de acordo com seus próprios critérios, o que é bom e o que é ruim em âmbito processual, reunindo, em um tipo ideal, somente as características que supõem ser positivas ou negativas, relacionadas ao objeto por eles analisado. (D) INCORRETA. Trata-se de uma característica do sistema inquisitivo, e não do acusatório, segundo Mauro Fonseca Andrade. (E) CORRETA. Segundo Mauro Fonseca Andrade (2008, p. 437-439): Por outro lado, quando o legislador se decide por definir o sistema de processo penal a implantar em seu país, três critérios de política criminal são por ele considerados, a saber: a) o grau de imparcialidade que se atribuirá aos juízes criminais; b) o grau de eficiência de sua repressão criminal; e c) o grau de tecnicidade de sua repressão CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. PAGE \* MERGEF ORMAT 2 39 criminal, de modo a ajustá-la aos postulados da ciência processualista atual2. (grifo nosso).