Prévia do material em texto
13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 1/82 Ventilação mecânica II Prof. Caio Vinícius Villalón e Tramont Descrição Estudo teórico sobre a insuficiência respiratória aguda, a síndrome do desconforto respiratório agudo e o desmame da ventilação mecânica. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 2/82 Propósito O conhecimento sobre os temas insuficiência respiratória aguda, síndrome do desconforto respiratório agudo e desmame da ventilação mecânica é indispensável para a prática da fisioterapia em terapia intensiva. Objetivos Módulo 1 Insu�ciência respiratória aguda (IRpA) Distinguir os tipos de insuficiência respiratória aguda. Módulo 2 Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) Classificar a síndrome do desconforto respiratório agudo de acordo com a causa e o prognóstico. Módulo 3 Desmame ventilatório Analisar os fatores relacionados com o sucesso do processo de desmame. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 3/82 Introdução A insuficiência respiratória aguda é uma condição clínica desafiadora e recorrente na assistência hospitalar. Suas causas (pulmonares e extrapulmonares) levam a distúrbios ventilatórios que podem ser fatais caso não sejam prontamente abordados tanto de forma invasiva quanto de forma não invasiva. O tipo mais grave de insuficiência respiratória aguda é a síndrome do desconforto respiratório agudo, que requer especial atenção do fisioterapeuta, no que se refere ao restabelecimento das trocas gasosas e à proteção das vias aéreas durante a assistência ventilatória invasiva, para possibilitar a recuperação do paciente. Quando essa recuperação é alcançada, tem início o processo de desmame da ventilação mecânica, que deve ser acompanhado cuidadosamente por meio de testes e índices preditivos, a fim de assegurar o retorno bem-sucedido à ventilação espontânea e autônoma. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 4/82 1 - Insu�ciência respiratória aguda (IRpA) Ao �nal deste módulo, você será capaz de distinguir os tipos de insu�ciência respiratória aguda. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 5/82 Introdução e aspectos epidemiológicos A ventilação espontânea requer a capacidade de mobilizar o ar para o interior da caixa torácica e realizar as trocas gasosas na membrana alvéolo-capilar, mantendo pH normal e níveis sanguíneos de oxigênio (PaO2) e gás carbônico (PaCO2) nos níveis fisiológicos, ou seja, o pH oscila entre 7,35 e 7,45, a PaO2 tem valores acima de 60 mmHg e a faixa de normalidade da PaCO2 fica compreendida entre 35 e 45 mmHg. A autossuficiência respiratória também depende da normalidade de outros parâmetros, tais como a frequência respiratória, cujos valores normais se encontram entre 12 e 20 incursões respiratórias por minuto (IRPM), e o volume minuto que, normalmente, não excede os 4,2 litros por minuto (L/min). O espaço morto, ou seja, a parte do sistema respiratório na qual as trocas gasosas não são realizadas, deve ser mantido constante. O espaço morto se divide em anatômico, fisiológico e alveolar. A divisão alveolar aumenta quando o alvéolo é ventilado, mas não é perfundido. O aumento do espaço morto diminui a oxigenação sanguínea e, com isso, possibilita a ocorrência da IRpA. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 6/82 A incapacidade de realizar as trocas gasosas de maneira espontânea e sem esforço é definida como insuficiência respiratória aguda (IRpA). Essa entidade clínica engloba a disfunção de um ou mais componentes essenciais do sistema respiratório. Bastante comum na prática clínica da terapia intensiva, a IRpA é um quadro gravíssimo que requer assistência ventilatória, dependendo do caso do paciente. A IRpA pode ser invasiva ou não invasiva e resultar na transferência do paciente das unidades de emergência (pronto-socorro ou pronto atendimento) ou de enfermarias para o CTI. Comentário Antes de prosseguirmos, é importante que você saiba que começar com os aspectos epidemiológicos é estratégico. As noções epidemiológicas fornecem informações que lhe permitem conhecer os fatores de risco ligados à IRpA e desenvolver intervenções preventivas ou terapêuticas para a melhora da evolução clínica. Permite, ainda, que você identifique os pacientes com maior risco de morte durante a internação, ajuda a interpretar as estatísticas de mortalidade e a compreender a magnitude do problema. A IRpA é causa frequente de admissão no CTI e de retorno para essa unidade. Cerca de 30% a 40% dos pacientes admitidos no CTI permanecem por mais de 12 horas em ventilação mecânica (VM). Além disso, a IRpA é associada a mau prognóstico. Cabe acrescentar que, mesmo com todo o suporte tecnológico disponível, a taxa de mortalidade da IRpA no paciente crítico pode oscilar entre 40% e 65%. Sua incidência e sua taxa de mortalidade aumentam exponencialmente conforme a idade e a presença de comorbidades. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 7/82 Atenção! Atualmente, no Brasil, cerca de 31% dos pacientes admitidos em CTI são idosos. Note que o progredir da idade torna o organismo mais vulnerável a desfechos adversos, tais como apresentar múltiplas comorbidades e aumento da probabilidade de internação hospitalar, com destaque para a admissão em CTI. Fisiopatologia da IRpA A hipoxemia resulta da incapacidade de oxigenar adequadamente o sangue e pode ser causada por déficits de difusão, hipoventilação ou shunt (sangue que entra no leito arterial sistêmico e não é oxigenado nos pulmões), ou seja, é um desequilíbrio na relação ventilação/perfusão (causa mais importante), incluindo fluxo sanguíneo pelo pulmão não ventilado. Na hipoxemia, o paciente pode apresentar respiração superficial com ou sem aumento da PaCO2. Geralmente, essa forma de IRpA resulta de lesões pulmonares agudas, como a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), que é o tipo mais severo de IRpA, infiltrados pneumônicos graves e edema pulmonar cardiogênico. Já a hipercapnia pode ser causada por um, ou mais, dos seguintes determinantes: Falência muscular 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 8/82 Pode resultar em acidose respiratória aguda devido à hipoventilação, que leva à hipoxemia e ao aumento do gradiente alvéolo-arterial de O2, ou P(A-a)O2. São causas de hipoventilação: Afecções da medula espinhal, como a esclerose lateral amiotrófica (ELA), o traumatismo raquimedular, a poliomielite e o tétano; Doenças neuromusculares, como a síndrome de Guillain-Barré, a miastenia grave, a esclerose múltipla, a polineuropatia do paciente crítico e a lesão bilateral do nervo frênico; Deformidades torácicas; Intoxicação exógena; Aumento da produção de CO2, observada em pacientes com agitação, febre, sepse, aumento do consumo de carboidratos, associada à limitada capacidade ventilatória. Causado por entidades clínicas, tais como fibrose cística, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e asma grave. Aumento do espaço morto 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 9/82 Ocorre devido à DPOC, doença intersticial crônica e uso imprudente da oxigenoterapia. Algumas dessas anormalidades são: cifoescoliose grave, espondilite anquilosante, distrofia muscular, polimiosite, obesidade mórbida, fadiga da musculatura respiratória e obstrução das vias aéreas superiores (causadas por epiglotite, tumores, pós-extubação, traqueomalácia e paralisia bilateral das cordas vocais). Diagnóstico da IRpA Desequilíbriona relação ventilação/perfusão Anormalidades musculares e/ou da parede torácica 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 10/82 A IRpA é causada por doenças pulmonares e causas extrapulmonares, podendo ser dividida nos tipos I e II, de acordo com os níveis gasométricos de PaO2 e PaCO2. Veja: Tipo I PaO2 abaixo de 60 mmHg e PaCO2 abaixo de 50 mmHg. Tipo II PaO2 abaixo de 60 mmHg e PaCO2 acima de 50 mmHg. Essa classificação é importante para o diagnóstico e o acompanhamento da IRpA. IRpA Tipo I A IRpA tipo I, ou predominantemente hipoxêmica, ocorre por falha dos mecanismos de oxigenação. Consequentemente, a PaO2 atinge níveis inferiores a 60 mmHg. É o tipo mais frequente de IRpA e resulta de doenças que afetam as unidades alveolares. Atenção! A atelectasia (ou colabamento alveolar) também pode causar IRpA tipo I. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 11/82 IRpA Tipo II Também chamada de hipercápnica, a IRpA tipo II envolve falência respiratória e níveis de PaCO2 acima de 50 mmHg. A regulação do pH pelos íons bicarbonato depende da duração da hipercapnia. Comumente, a IRpA tipo II é causada pela falência dos mecanismos relacionados à ventilação, ou seja, desde o comando central, pelo sistema nervoso central, até os mecanismos periféricos, ou musculares. Classi�cação da IRpA de acordo com as causas Outra forma de classificar a IRpA é de acordo com a sua causa: pulmonar ou extrapulmonar, conforme podemos notar na tabela: Causas da IRpA 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 12/82 Pulmonares Extrapulmonares Aumento da resistência das vias aéreas Alterações do drive ventilatório: Intoxicação exógena Lesões anatômicas do centro respiratório DPOC agudizada Crise de asma brônquica Pneumonia Alcalose metabólica Fibrose pulmonar agudizada Alterações neuromusculares e torácicas: Polirradiculoneurite aguda Hemorragia pulmonar 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 13/82 Lesão do nervo frênico Edema agudo de pulmão cardiogênico Atelectasia Miastenia Gravis Síndrome do desconforto respiratório do adulto (SDRA) Pneumotórax espontâneo ou traumático Bronquiectasia infectada Fraturas costais Câncer pulmonar terminal Falência de múltiplos órgãos – sepse grave Esclerose lateral amiotrófica (ELA) 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 14/82 Síndrome de Guillain- Barré Tabela: Causas da IRpA. BEPPU, 2014, pp. 847-60. Quadro clínico Hipoxemia O paciente pode apresentar sinais sugestivos de hipoxemia à inspeção, tais como taquicardia, cianose e alterações do estado mental. Outro sinal indicativo de hipoxemia é a saturação periférica de O2 (SpO2), que cai abaixo dos 90%. Atenção! Hipoxemia prolongada resulta em hipóxia tissular. Há maior vulnerabilidade nos tecidos cardíaco e nervoso. O sistema nervoso central (SNC) sofre perda funcional entre 4 e 6 segundos de hipoxemia. O rebaixamento do nível de consciência leva entre 10 e 20 segundos para ocorrer e, entre 3 e 5 minutos, as alterações sofridas se tornam irreversíveis. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 15/82 A diminuição da PaO2 para níveis inferiores aos críticos, desencadeia a interrupção da oxidação aeróbica e sua substituição pela oxidação anaeróbica. Consequentemente, os níveis séricos de lactato aumentam. Essa substituição é importante para manter os tecidos viáveis durante a IRpA. Entretanto, com o tempo, a deposição de ácido lático causa acidose metabólica. A sua reconversão para glicose, pelo fígado, só ocorre se a oxigenação sanguínea melhorar. Quando a PaO2 cai para níveis inferiores a 40 – 50 mmHg, o paciente pode apresentar cefaleia, sonolência, desorientação, convulsões, hemorragias na retina, bradicardia, hipotensão, parada cardiorrespiratória (PCR), déficit da função renal, retenção de sódio, proteinúria e hipertensão pulmonar. Hipercapnia A hipercapnia é prejudicial para o paciente. Seus efeitos no organismo envolvem a cefaleia, que decorre do aumento do fluxo sanguíneo cerebral, agitação, tremor, fala arrastada e flutuações do humor. A hipercapnia acarreta acidose respiratória (aumento dos íons H+ devido à combinação do CO2 com H2O, resultando em queda do pH), na qual o aumento da PaCO2 resulta em queda do pH e é acentuada quando associada à hipoxemia severa e à hipóxia. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 16/82 A resposta imediata à acidose respiratória é o aumento de 1 mEq/L de bicarbonato ( ) conforme a PaCO2 aumenta em 10 mmHg. Leva de 3 a 5 dias para que o aumente 3,8 mEq/L para cada 10 mmHg de PaCO2. Como você pode perceber, o mecanismo de compensação renal é lento. As relações entre a acidose respiratória e o tempo de compensação auxiliam no diagnóstico diferencial no que se refere a causas mistas de desequilíbrio acidobásico e compensações que ocorram fisiologicamente. Atenção! A acidose respiratória não é compensada pela alcalose metabólica! Quando ocorre queda do pH pelo aumento da PaCO2 seguida de sua normalização pelo aumento de íons bicarbonato , dizemos que a acidose respiratória foi compensada. Tratamento da IRpA O tratamento da IRpA visa, inicialmente, corrigir a hipoxemia e a hipercapnia (quando presente) para possibilitar intervenções que possam corrigir o máximo possível as causas da IRpA. Entretanto, cada causa de IRpA tem uma estratégia terapêutica específica. HCO− 3 HCO− 3 HCO− 3 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 17/82 IRpA hipoxêmica Desequilíbrio da relação ventilação/perfusão Quando o shunt intrapulmonar não é significativo, a terapêutica a ser adotada é a suplementação não invasiva de oxigênio por meio da cânula nasal do sistema venturi. Edema agudo de pulmão (EAP) cardiogênico A terapêutica a ser implementada é a ventilação não invasiva (VNI) com pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) e interface com o paciente via máscara facial. Você pode instituir de 5 a 10 cmH2O de CPAP para realizar o tratamento. Lesão pulmonar difusa em fase aguda Nesse caso, a terapêutica a ser adotada é a intubação orotraqueal (IOT) com acoplamento do paciente à ventilação mecânica (VM). A estratégia ventilatória é o uso do modo ventilatório assistido/controlado, ou seja, PCV (pressão controlada), PRVC (pressão regulada com volume controlado) e VCV (volume controlado). Lembre-se de que a seleção do modo ventilatório dependerá do quadro clínico do paciente. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 18/82 Em relação aos parâmetros ventilatórios iniciais, a fração inspirada de oxigênio (FiO2) deve ser ajustada em torno de 60%. Você deve evitar ajustar em 100% devido à maior possibilidade de efeitos tóxicos do O2. O ideal é manter a saturação periférica de O2 (SpO2) igual ou superior a 93%. O ajuste da PEEP (pressão positiva expiratória final) visa maximizar a oxigenação sanguínea. Porém, evite hipotensão, redução da função de bomba cardíaca e pressões de platô acima de 35 cmH2O. Lembre-se de ajustar, também, a relação inspiração/expiração (I:E). Você pode instituir uma relação de 1:1 ou inverter a relação inspiração/expiração (ou seja, estabelecer 2:1 ou mais). Quanto à frequência respiratória (FR), considere os parâmetros gasométricos para o estabelecimento da FR mais adequada para o paciente. IRpA hipercápnica A conduta mais apropriada é a IOT (intubação orotraqueal) com VM para a melhora da ventilação alveolar. No caso, o modo ventilatório de escolha é oVCV, volume corrente inicial de 5 a 7 ml/kg de peso corporal. A FiO2 pode ser, inicialmente, ajustada em 100%. Porém, é preciso monitorar a gasometria arterial decorridos de dez a vinte minutos a fim de verificar se ocorreu hipercorreção da hipercapnia, que pode resultar em alcalose secundária, condição que pode ser letal para o paciente. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 19/82 Vamos falar um pouco sobre a VNI na IRpA? O uso da VNI tem dois objetivos em relação à IRpA: o primeiro é ser uma alternativa à IOT e o segundo é prevenir a IOT. A utilização da VNI pode beneficiar o paciente aumentando as suas chances de sobrevivência e reduzindo as complicações da IRpA. Suas principais indicações são DPOC descompensada, EAP (Edema Agudo de Pulmão) cardiogênico e infiltrados pulmonares em pacientes imunossuprimidos. Note que a VNI tem vantagens bem interessantes! Pode ser utilizada de maneira intermitente, reduzir o trabalho respiratório, manter os mecanismos de defesa das vias aéreas e a deglutição, além de permitir que o paciente permaneça acordado e podendo beber, comer, falar e participar das decisões sobre os seus tratamentos. Outra vantagem é a prevenção de traumas laríngeos e traqueais, bem como da pneumonia associada à ventilação mecânica. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 20/82 VNI. Por outro lado, a VNI apresenta como limitações a necessidade de cooperação do paciente, impossibilidade de liberação (ou clearance) das secreções e a possibilidade de ser desconfortável para o paciente, podendo, potencialmente, diminuir a sua tolerância a essa conduta terapêutica. O uso da VNI também pode ter complicações, tais como: lesões cutâneas na face e no nariz, incidência de distensão gástrica, risco de aspiração, alterações no sono e conjuntivite. Esteja atento às contraindicações da VNI. Esse procedimento não deve ser realizado em pacientes que apresentem trauma de face, anastomose e/ou sutura de esôfago; que tenham sido submetidos a cirurgias faciais e neurológicas; que apresentem parada cardiorrespiratória, choque, instabilidade hemodinâmica e arritmias complexas; agitação, rebaixamento do nível de consciência, alto risco de 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 21/82 broncoaspiração, secreção abundante, incapacidade de proteção das vias aéreas, obstrução da via aérea superior e vômito ou sangramento digestivo agudo. Antes de prescrever a VNI, considere as suas indicações, as vantagens, as desvantagens, as contraindicações e as possíveis complicações, para que obtenha resultados melhores com o seu paciente. Monitorização da IRpA durante a VM Para um bom acompanhamento da evolução do paciente durante a sua permanência em VM, é importante monitorar os parâmetros ventilatórios. Isso porque a monitorização ventilatória oferece informações importantes para o ajuste de parâmetros ventilatórios de acordo com as necessidades do paciente, a tomada de decisões quanto à adoção de medidas terapêuticas e o início (ou não) do processo de desmame. Os parâmetros de interesse são a frequência respiratória (FR), que é influenciada por diversos fatores. Seu aumento traz informações relevantes quando avaliado em conjunto com outros parâmetros: Gasometria arterial, na qual você vai verificar pH, PaO2, PaCO2, (íons bicarbonato); BE (base excess, ou excesso de bases); SpO2; HCO− 3 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 22/82 FiO2. Com esses parâmetros, verificam-se a ventilação alveolar por meio da análise da PaCO2 gasométrica, que é inversamente proporcional à ventilação alveolar, e a oxigenação, pela análise da PaO2 e da SpO2. Além disso, também é possível quantificar as trocas gasosas pelo cálculo da diferença alvéolo-arterial de O2, ou e do índice de oxigenação: . Não se esqueça de analisar a mecânica respiratória do paciente, complacências dinâmica e estática, bem como a resistência do sistema respiratório. Aspectos principais da IRpA Veja os aspectos principais sobre a IRpA: epidemiologia, etiologia, diagnóstico e tratamento, no contexto da atuação do fisioterapeuta na UTI. D(A-a)O2 PaO2/FiO2 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 23/82 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 24/82 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Qual das alternativas corresponde à condição clínica que apresenta, como alteração gasométrica, a hipoxemia? A ELA (esclerose lateral amiotrófica). B Tétano. C EAP (edema agudo de pulmão). 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 25/82 Parabéns! A alternativa C está correta. A alteração gasométrica observada no EAP é a hipoxemia. As demais alternativas estão erradas porque o tétano, a ELA, o traumatismo raquimedular e a poliomielite apresentam, como alteração gasométrica, a hipercapnia. Questão 2 Assinale a alternativa que apresenta corretamente as características da IRpA tipo II: D Traumatismo raquimedular. E Poliomielite. A PaO2 abaixo de 60 mmHg e PaCO2 acima de 50 mmHg. B PaO2 acima de 60 mmHg e PaCO2 acima de 50 mmHg. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 26/82 Parabéns! A alternativa A está correta. A IRpA tipo II é caracterizada pela hipoxemia, ou seja, PaO2 abaixo de 60 mmHg e hipercapnia, e PaCO2 acima de 50 mmHg. As demais alternativas estão erradas porque a PaO2 acima de 60 mmHg não indica IRpA e PaO2 abaixo de 60 mmHg com PaCO2 abaixo de 50 mmHg são sinais de IRpA tipo I. C PaO2 abaixo de 60 mmHg e PaCO2 abaixo de 50 mmHg. D PaO2 acima de 60 mmHg e PaCO2 abaixo de 50 mmHg. E PaO2 acima de 60 mmHg e PaCO2 igual a 50 mmHg. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 27/82 2 - Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) Ao �nal deste módulo, você será capaz de classi�car a síndrome do desconforto respiratório agudo de acordo com a causa e o prognóstico. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 28/82 Introdução e aspectos epidemiológicos Você sabia que a SDRA, por impossibilitar as trocas gasosas e resultar em importante queda da complacência do sistema respiratório, é considerada o tipo de IRpA mais grave? Neste módulo, vamos aprender sobre a epidemiologia, a fisiopatologia, o diagnóstico e o tratamento da SDRA. A SDRA foi descrita pela primeira vez em 1967 por Ashbaugh e colaboradores. Desde então, numerosos estudos têm delineado seus principais aspectos epidemiológicos, clínicos e terapêuticos. Essa condição é considerada o tipo mais grave de IRpA. De acordo com o Consenso de Berlim, promovido por uma junta de especialistas denominada The ARDS Definition Task Force (Força Tarefa para a Definição da SDRA), em 2012, com o intuito de atualizar as definições da SDRA, essa condição clínica é um tipo de lesão pulmonar aguda, difusa, inflamatória e que ocasiona aumento da permeabilidade vascular e do peso pulmonar, além de perda de tecido pulmonar aerado. Vamos conhecer com mais detalhes a fisiopatologia da SDRA adiante. Epidemiologia 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 29/82 Nos EUA, a previsão de incidência populacional está estimada entre 33,8 e 58,7 casos para 100.000 habitantes/ano. Sua incidência tem diminuído nos últimos anos devido ao desenvolvimento de estratégias de ventilação mecânica protetora, protocolos de sepse e melhorias na monitorização ventilatóriae nos cuidados em CTI. O surgimento da SDRA ocorre por lesão primária do endotélio capilar e intersticial, quando a causa é extrapulmonar, e do epitélio alveolar, quando a causa é pulmonar. Os fatores de risco mais frequentes são a pneumonia e o choque. Fatores de risco menos evidentes, tais como alcoolismo crônico e questões genéticas que possam se relacionar a respostas inflamatórias mais intensas, também podem ser considerados. Veja a seguir os fatores de risco pulmonares e extrapulmonares da SDRA. Fatores de risco pulmonares Pneumonia; Aspiração de conteúdo gástrico; Trauma torácico; Fatores de risco extrapulmonares Choque; Sepse extrapulmonar; Traumatismo craniano*; 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 30/82 Lesão inalatória e quase afogamento; Hipertensão arterial; Lesão de alto volume decorrente de VM. Hemorragia subaracnoide*; Insulto isquêmico cerebral*; TRALI: lesão pulmonar aguda relacionada à hemotransfusão; Pancreatite aguda. Os fatores de risco extrapulmonares sinalizados com * representam lesões cerebrais agudas. Fisiopatologia da SDRA O marco inicial da SDRA é a lesão direta ou indireta, que ocorrem, respectivamente, no epitélio alveolar (SDRA pulmonar) ou no endotélio vascular (SDRA extrapulmonar). Em linhas gerais, a SDRA é secundária a um edema pulmonar não cardiogênico, inflamatório e decorrente de aumento da permeabilidade da membrana alvéolo-capilar. A lesão endotelial ocorre em curto espaço de tempo, podendo levar de minutos a horas. Veja, a seguir, o seu mecanismo: 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 31/82 A função e a integridade da barreira endotelial, na SDRA, ficam comprometidas. Consequentemente, transitam com facilidade para o espaço alveolar macromoléculas e líquido rico em proteínas. Os infiltrados difusos, as alterações nas trocas gasosas e na mecânica respiratória (diminuição da complacência pulmonar), característicos da SDRA, não podem ser Alargamento dos espaços intercelulares endoteliais. Aumento da permeabilidade. Edema (intersticial e alveolar). Shunt intrapulmonar. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 32/82 atribuídos somente a forças hidrostáticas. SDRA intrapulmonar A SDRA intrapulmonar é o tipo mais grave de SDRA. Também é conhecida como SDRA primária, pois as lesões incidem diretamente sobre o parênquima pulmonar, levando à lesão generalizada das células epiteliais alveolares, com relativa preservação do endotélio pulmonar. Assim, a lesão do epitélio alveolar leva ao seguinte processo: Consolidação dos espaços aéreos. Edema alveolar. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 33/82 O final do processo descrito é a fibrose pulmonar, que ocorre devido à proliferação de fibroblastos, que secretam matriz conjuntiva. Essa repercussão da SDRA pode ser minimizada caso a reparação do epitélio alveolar seja eficiente. Veja, a seguir, como a Diminuição das trocas gasosas. Aumento do volume do líquido localizado na luz alveolar. Diminuição da produção e no turnover do líquido surfactante. Diminuição da complacência pulmonar. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 34/82 eficiência dos mecanismos de reparo epitelial é inversamente proporcional ao acúmulo de fibroblastos. Mecanismos de reparo epitelial O reparo epitelial envolve mecanismos moleculares, interações entre pneumócitos tipo II, células mesenquimais, células endoteliais e matriz extracelular. Acúmulo de �broblastos Os fibroblastos proliferam no parênquima pulmonar e depositam matriz conjuntiva, resultando em fibrose pulmonar. SDRA extrapulmonar Também conhecida como SDRA secundária, pois as lesões pulmonares resultam da resposta inflamatória sistêmica desencadeada pelos mediadores inflamatórios que são liberados pelo foco extrapulmonar para a circulação sanguínea. Ocorre edema intersticial e infiltração neutrofílica induzidos pelo dano ao endotélio microvascular. Na SDRA extrapulmonar, as células epiteliais alveolares são preservadas, com edema intersticial. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 35/82 Comentário Os dois tipos de SDRA, intrapulmonar e extrapulmonar, diferem discretamente em relação a sinais radiológicos, à mecânica respiratória e à resposta a recursos terapêuticos, tais como PEEP e pronação, ou decúbito ventral. No caso da SDRA, a pronação é utilizada como uma medida terapêutica que visa melhorar a oxigenação sanguínea, podendo, eventualmente, diminuir a PaCO2 e, inclusive, a mortalidade dos pacientes. Diagnóstico São achados essenciais para o diagnóstico da SDRA infiltrados pulmonares bilaterais e difusos, ausência de evidência clínica de edema pulmonar hidrostático ou cardiogênico e hipoxemia refratária, mesmo com alta suplementação de O2. O quadro clínico da SDRA se inicia no prazo de uma semana após uma lesão conhecida ou devido a sintomas respiratórios, que podem ser agudos ou terem sido agravados. O edema pulmonar não cardiogênico que resulta na SDRA apresenta, na fase aguda, os seguintes sinais: dispneia, taquipneia e shunt, independentemente da suplementação de O2, que resulta em rápida evolução para IRpA. É importante saber distinguir o edema pulmonar cardiogênico do não cardiogênico que desencadeia a SDRA. Leia com atenção as diferenças entre ambos: 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 36/82 Cardiogênico Cardiopatia prévia; Terceira bulha audível; Cardiomegalia; Infiltrados centrais; Alargamento do pedículo vascular; Balanço hídrico positivo. Não cardiogênico (SDRA) Ausência de cardiopatia; Ausência de terceira bulha; Coração de tamanho normal; Infiltrados periféricos; Pedículo vascular inalterado. As análises laboratoriais são de grande ajuda para o diagnóstico da SDRA. Materiais colhidos em biópsias e necrópsias pulmonares revelam aspectos clínico-patológicos importantes, tais como: dano alveolar difuso evidenciado pelas membranas hialinas, edema, necrose alveolar e das células endoteliais, e proliferação das células tipo II, com fibrose organizada, ocorrendo na fase avançada da SDRA. Veja, a seguir, os pontos observados no diagnóstico diferencial de SDRA, de acordo com Gillon et al. (2016, p. 40): Edema pulmonar cardiogênico; Pneumonia eosinofílica aguda; Pneumonia organizativa criptogênica; Hemorragia alveolar difusa. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 37/82 Diagnóstico por imagem A radiografia tópica da SDRA envolve opacidades bilaterais à radiografia torácica sem congestão vascular evidente, não explicada completamente por insuficiência cardíaca e nódulos ou colapso pulmonar. Radiografia torácica típica de paciente com SDRA. Confira, a seguir, a classificação da SDRA, que ocorre de acordo com o nível de gravidade: 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 38/82 Classificação do grau de SDRA Leve 200 < Pa02 / Fi02 < 300 Moderada 100 < Pa02 / Fi02 < 200 Severa Pa02 / Fi02 < 100 Tabela: Classificação da SDRA conforme o grau de severidade, considerando a relação PaO2/FiO2 e a PEEP. Saguil et al, 2020, p. 730-738. Prognóstico 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 39/82 Embora a SDRA seja uma condição grave, o prognóstico dos pacientes com essa síndrome pode ser influenciado por outros fatores, como idade, outras disfunções orgânicas e condições prévias de saúde do paciente. A SDRA pode acarretar diminuiçãodas expectativas de vida em 6 meses, comparando- se com outras doenças graves. Pode haver ainda significativa diminuição da qualidade de vida dos pacientes sobreviventes, com diversas complicações em decorrência da imobilidade prolongada, tais como miopatia e polineuropatia do paciente crítico, ombro congelado e contratura dos quirodáctilos. A mortalidade pela SDRA é, geralmente, atribuída a causas não pulmonares, quando cerca de dois terços dos pacientes vêm a óbito devido a disfunções de múltiplos órgãos. Geralmente, a maioria desses pacientes que falecem apresentam sepse como comorbidade. Nos dias atuais, somente 15% dos pacientes com SDRA falecem devido à hipoxemia refratária. Para que a hipoxemia seja refratária, é necessário que apresente , Platô > 30 cmH2O com volume corrente (VC) equivalente a 4ml/Kg de peso corporal, barotrauma e índice de oxigenação (IO) > 30. A fórmula para calcular o IO é a seguinte: Valor desejado: abaixo de 19. PaO2 / (FiO2) < 100 FiO2(expressa em decimais) × Pressão Média das Vias aéreas × 100 PaO2 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 40/82 A pressão média das vias aéreas pode ser visualizada na tela do ventilador, conforme destacado a seguir: Parâmetros ventilatórios do modo VCV no monitor do ventilador Extend XT. O melhor índice prognóstico da SDRA é a driving pressure (Platô – PEEP) 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 41/82 Ventilação mecânica na SDRA A ventilação mecânica na SDRA visa restaurar as trocas gasosas e proteger as vias aéreas. As lesões causadas pela ventilação mecânica, conhecidas como VILI (do inglês ventilation induced lung injury), podem resultar em falência de outros órgãos e aumento da mortalidade. Não há consenso sobre o uso de PCV ou de VCV na SDRA. Entretanto, na prática, muitos profissionais preferem ventilar o paciente com SDRA com o modo PCV, considerando que, em VCV, a driving pressure (ou pressão de distensão) e as pressões de pico e de platô tendem a ser mais elevadas. Ventilação protetora na SDRA Objetivo Conduta Diminuir a mortalidade Volume corrente entre 4 e 8 ml/Kg de peso corporal 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 42/82 Driving Pressure < 15 cmH2O Evitar atelectrauma Titular a PEEP Evitar toxicidade pelo O2 FiO2 suficiente para assegurar SpO2 > 92% Diminuição de risco de barotrauma Pressão de platô inferior a 30 cmH2O Tabela: Estratégias de proteção das vias aéreas. Barbas; Ísola; Farias, 2013, p. 69-76. O ajuste da PEEP em relação à FiO2 visa manter a PaO2 entre 55 e 80 mmHg. Veja os ajustes de ambos os parâmetros nesta tabela: FiO2 (%) PEEP (cmH2O) 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 43/82 0,3-0,4 5 0,4 8 0,5 8, 10 0,6 10 0,7 10, 12, 14 0,8 14 0,9 16, 18 1,0 18, 20, 22, 24 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 44/82 Tabela: Ajuste de PEEP em relação à FiO2. Sue; Vintch, 2008, p. 304. Entretanto, para maior precisão, é necessário titular a PEEP de acordo com o caso do paciente. Vejamos! Titulação da PEEP Realizada por meio do método decremental. Neste método, você deverá seguir alguns passos: Passo 1 Iniciar a mensuração da complacência estática com PEEP entre 23 e 26 cmH2O. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 45/82 Passo 2 Diminuir a PEEP de 2 a 3 cmH2O a cada 4 minutos até 8 a 12 cmH2O. Passo 3 Lembre-se de calcular a complacência estática a cada diminuição e identificar a PEEP que produz a melhor complacência, ou de dois ou mais valores de PEEP que resultem em complacências semelhantes. Passo 4 Em seguida, você irá selecionar a PEEP entre 2 e 3 cmH2O acima desse valor. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 46/82 Pronação A pronação do paciente tem sido utilizada para manobras de recrutamento alveolar. É utilizada em casos de SDRA grave, ou seja, com relação PaO2/FiO2 < 150. Sua duração poderá exceder o período de 12 horas. Porém, a pronação não deverá ser repetida após a relação PaO2/FiO2 ultrapassar 150 e a PEEP for igual ou inferior a 10 cmH2O com o paciente na posição supina. Posição supina. Recrutamento alveolar 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 47/82 O recrutamento alveolar visa à proteção das vias aéreas pela diminuição da driving pressure (pressão motriz) e deve ser usado após a titulação da PEEP. Em modo PCV, com driving pressure de 15 cmH2O, inicie com PEEP de 10 cmH2O e aumente a PEEP de 5 em 5 cmH2O a cada 2 minutos. Ao atingir os 25 cmH2O, aumente a PEEP de 10 em 10 cmH2O até chegar, no máximo, a 45 cmH2O. Em seguida, diminua a PEEP para 25 cmH2O e inicie a titulação da PEEP pelo modo decremental. O recrutamento alveolar é indicado quando a hipoxemia refratária não for responsiva à pronação. Ventilação não invasiva (VNI) A ventilação não invasiva é utilizada para prevenir a intubação e suas complicações nos pacientes com SDRA. Entretanto, antes de utilizar a VNI, lembre-se de que o seu sucesso depende da severidade da hipoxemia: o risco de falha duplica nos casos de moderado a severo em relação aos casos leves. Além disso, a falha na VNI resulta em pior prognóstico, devido à demora na intubação e à ineficiência na melhora da relação PaO2/FiO2, com evolução para choque. A boa utilização da VNI envolve a identificação precoce dos sinais iniciais de IRpA. Desse modo, evita-se a demora na intubação e aplicação em pacientes com quadro entre leve e moderado, ou seja, com relação PaO2/FiO2 > 150. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 48/82 Antes de encerrarmos esta parte, é importante conhecermos as recomendações terapêuticas na SDRA segundo o nível de evidência. Confira: Forte recomendação Ventilação mecânica com baixo volume corrente (4 a 8 ml/kg do peso corporal presumido) e pronação, que pode durar mais de 12 horas se a SDRA for grave. Recomendação condicional PEEP elevada em pacientes com SDRA de moderada a severa e manobras de recrutamento em SDRA de moderada a severa. Em caso de manobras, é necessário considerar o seguinte: Contraindicação: Uso de ventilação oscilatória de alta frequência em paciente com SDRA de moderada a severa; Necessidade de mais evidências: Uso de membrana extracorpórea para a oxigenação sanguínea em pacientes com SDRA grave e ventilação com liberação de pressão das vias aéreas (APRV). Aspectos principais da SDRA 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 49/82 Veja os aspectos principais sobre a SDRA: quais são suas causas, diagnóstico e tratamento, no contexto da atuação do fisioterapeuta na UTI. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 50/82 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Marque a alternativa correta sobre a SDRA primária: A É o tipo de SDRA de menor gravidade, já que é extrapulmonar. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 51/82 Parabéns! A alternativa D está correta. O tipo mais grave de SDRA é a primária, cujas lesões afetam o epitélio alveolar. As demais alternativas estão erradas porque a SDRA primária é pulmonar, lesa o epitélio alveolar e preserva, relativamente, o endotélio pulmonar. Além disso, quanto mais eficiente forem os mecanismos de reparação, menor será o acúmulo de fibroblastos e, consequentemente, haverá menor impactoda fibrose sobre o parênquima pulmonar. B Não há lesão do epitélio alveolar. C A eficiência dos mecanismos de reparação epitelial não influi na fibrose pulmonar. D É o tipo de SDRA mais grave e suas lesões incidem diretamente sobre o parênquima pulmonar. E O endotélio pulmonar é a estrutura mais afetada na SDRA primária. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 52/82 Questão 2 Quais os objetivos da ventilação mecânica na SDRA? Marque a alternativa correta. Parabéns! A alternativa E está correta. A Restaurar as trocas gasosas e lesionar as vias aéreas. B Proteger as vias aéreas e elevar a driving pressure. C Manter a pressão de platô acima de 30 cmH2O e proteger as vias aéreas. D Aumentar a driving pressure e restaurar as vias aéreas. E Restaurar as trocas gasosas e proteger as vias aéreas. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 53/82 Na SDRA, ocorre deterioração de trocas gasosas e riscos de lesões das vias aéreas. Portanto, os objetivos da ventilação mecânica são a proteção das vias aéreas e a restauração das trocas gasosas. As demais alternativas estão erradas porque lesionar as vias aéreas pode se referir à VILI (ventilation induced lung injury), prevenida pelas estratégias de proteção das vias aéreas; a elevação da driving pressure e a manutenção da pressão de platô acima de 30 cmH2O são lesivas para as vias aéreas, indo contra os objetivos da ventilação mecânica. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 54/82 3 - Desmame ventilatório Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar os fatores relacionados com o sucesso do processo de desmame. Critérios para o desmame Agora, você vai aprender sobre uma das etapas mais importantes da ventilação mecânica: o desmame. Você lerá sobre os critérios necessários para iniciar esse processo e como evolui-lo, bem como calcular os índices preditivos e como realizar o teste de ventilação espontânea. O desmame ventilatório é o processo de retirada da ventilação mecânica, no qual o paciente se torna, gradualmente, mais responsável pela sua ventilação até, por fim, respirar sem assistência. O desmame inicia quando o motivo da IOT e da ventilação mecânica for resolvido e o despertar diário for bem-sucedido. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 55/82 Em geral, o processo de desmame dura, aproximadamente, 42% do tempo total de ventilação mecânica. Para que esse processo seja completo, é necessário que o paciente passe por duas etapas: 1. Retirada da pressão positiva do ventilador; 2. Remoção da via aérea artificial. Entretanto, para que se inicie o processo de desmame, é necessário que o paciente apresente estabilidade hemodinâmica independentemente de aminas vasotensoras, como dopamina, dobutamina e noradrenalina. Lembre-se de que o diafragma depende de bom débito cardíaco e oferta de O2 suficiente para um funcionamento adequado; exames laboratoriais na faixa de normalidade, ou seja, correção dos distúrbios metabólicos; e eletrolíticos, drive ventilatório e nível de consciência normais. Na avaliação do nível de consciência do paciente, podem ser utilizadas duas escalas: RASS (Richmond agitation-sedation scale) e RAMSAY. Veja nas tabelas informações sobre cada uma dessas escalas: Escala de RASS +4 Combativo Claramente combativo, violento, representando 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 56/82 risco para a equipe. +3 Muito agitado Puxa ou remove tubos ou cateteres. Agressivo verbalmente. +2 Agitado Movimentos despropositados frequentes. Briga com o ventilador. +1 Inquieto Apresenta movimentos que não são agressivos ou vigorosos. 0 Alerta e calmo -1 Sonolento Adormecido, mas acorda ao ser chamado (estímulo verbal) e mantém os 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 57/82 olhos abertos por mais de 10 segundos. -2 Sedação leve Despertar precoce ao estímulo verbal. Mantém contato visual por menos de 10 segundos. -3 Sedação moderada Movimentação ou abertura ocular ao estímulo verbal (mas sem contato visual). -4 Sedação profunda Sem resposta ao ser chamado pelo nome, mas apresenta movimentação ou abertura ocular ao toque (estímulo físico). 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 58/82 -5 Coma Sem resposta ao estímulo verbal ou físico. Tabela: Escala de RASS: Richmond’s agitation sedation scale, ou escala de agitação e sedação de Richmond. Knobel, 2016, p. 2320. Escala de RAMSAY Paciente acordado 1 Ansioso, agitado. 2 Cooperativo, orientado e tranquilo. 3 Dormindo, sonolento e respondendo facilmente a comandos verbais. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 59/82 Paciente dormindo 4 Dormindo e respondendo a estímulo na glabela ou a estímulo sonoro auditivo. 5 Dormindo e respondendo lentamente à pressão na glabela ou a estímulo sonoro auditivo. 6 Dormindo e não respondendo à pressão na glabela ou a estímulo sonoro auditivo. Tabela: Escala de RAMSAY. Knobel, 2016, p. 2319. Você também deve analisar outros parâmetros antes de decidir iniciar ou progredir o processo de desmame. Um desses parâmetros é a gasometria arterial, na qual é preciso considerar os seguintes pontos: pH > 7,3; PaO2 > 60 mmHg; 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 60/82 PaCO2 > 30 mmHg e < 45 mmHg; entre 22 e 26 mEq/L; BE entre -2 e +2; SpO2 > 90%. Outro parâmetro importante é a radiografia torácica. Para iniciar ou prosseguir com o desmame, não deverão ser constatados sinais de congestão. Para o desmame, os parâmetros ventilatórios do paciente também são muito importantes e encontram-se sumarizados na seguinte tabela: Parâmetros ventilatórios de interesse para o processo de desmame Modo PSV (Ventilação com Pressão de Suporte). Frequência respiratória > 6 e < 35 IRPM. PEEP inferior a 10 cmH2O. Volume corrente entre 4 e 8 ml/Kg. Volume minuto abaixo de 10 l/min. Complacência estática > 33 ml/cmH2O. HCO− 3 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 61/82 Complacência dinâmica > 22 ml/cmH2O. Tabela: Parâmetros ventilatórios. Caio Tramont. A relação PaO2/FiO2, que mensura o grau de lesão pulmonar e é fácil de calcular, deve ser superior a 200 para se iniciar ou progredir o processo de desmame. Outro parâmetro de extrema importância para o sucesso do desmame é a força da musculatura respiratória. Sua avaliação é realizada por meio do manovacuômetro, composto por um manômetro, que afere a pressão positiva, ou pressão expiratória máxima (PeMáx), e um vacuômetro, que afere a pressão negativa, vácuo ou pressão inspiratória máxima (PiMáx). Ao realizar a manovacuometria, verifique se a PiMáx se encontra, pelo menos, entre -15 cmH2O a -30 cmH2O, que são os limites inferiores de normalidade para a força muscular inspiratória. É importante verificar ainda se a PeMáx é superior a 40 cmH2O, que é o limite inferior da força muscular expiratória, sendo o mínimo para assegurar a eficácia do mecanismo de tosse, que é fundamental para determinar a capacidade de proteção das vias aéreas. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 62/82 Procedimentos envolvidos Para dar início ao processo de desmame, é necessário que a sedação seja diminuída ou retirada. O modo ventilatório deverá ser alterado de assistido/controlado para PSV, que deverá ser diminuída gradativamente de acordo com a tolerância do paciente,e a FiO2 deverá ser reduzida conforme avaliação da gasometria arterial. Quando a PSV estiver bastante reduzida, geralmente, em 10 cmH2O ou menos, é preciso verificar a relação PaO2/FiO2 antes de progredir para o teste de respiração espontânea (TRE). Caso a relação PaO2/FiO2 seja superior a 200, você poderá iniciar o TRE. O TRE tem duração de 30 minutos e pode ser realizado de duas maneiras: Primeira maneira O paciente é desacoplado da ventilação mecânica e acoplado à macronebulização contínua via peça T. Segunda maneira O TRE pode ser realizado com PSV baixa (5 a 7 cmH2O), PEEP igual a 5 cmH2O e FiO2 até 40%. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 63/82 Alguns profissionais preferem realizar o TRE em ventilação mecânica devido às seguintes vantagens: obtenção dos parâmetros da ventilometria sem a necessidade do ventilômetro; transição da ventilação assistida para a espontânea ocorre de maneira mais gradual, que pode beneficiar ainda mais os pacientes cardiopatas; a PSV pode ser diminuída de acordo com a tolerância do paciente, alguns ventiladores já fornecem o IRRS; e valores de PSV entre 5 e 8 cmH2O simulam com perfeição a ventilação espontânea após a extubação, dispensando o uso da peça T. A ventilomentria é necessária quando o TRE é realizado com a peça T. Utilize o ventilômetro para obter a frequência respiratória e o volume minuto. Para realizar a ventilometria, siga este passo a passo: Passo 1 Com o ventilômetro, obtenha o volume minuto (VM) e a FR. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 64/82 Passo 2 Calcule VC, dividindo o VM pela FR: VM/FR Passo 3 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 65/82 Calcule o IRRS dividindo a FR pelo VC em litros. FR/VC(l) Embora amplamente difundido, devido à sua simplicidade, o TRE com a peça T tem algumas desvantagens, tais como: Sobrecarga hemodinâmica, que pode não ser tolerada por pacientes cardiopatas; Associação ao colapso alveolar devido à ausência da pressão expiratória residual; Aumento do trabalho respiratório imposto pelo tubo orotraqueal; Falta de controle da FiO2 e dependência do ventilômetro, cuja ausência impossibilita a monitorização ventilatória, uma vez que o paciente estará desconectado do ventilador. Além disso, mesmo com o uso do ventilômetro, os alarmes ficam desativados devido à desconexão. O uso de índices preditivos no desmame tem sido defendido por muitos profissionais. Isso porque esses índices são importantes para indicar o prognóstico da extubação ou da retirada da ventilação mecânica. Todavia, alguns autores recomendam o uso de índices preditivos nos casos em que houver dificuldade de decidir pela retirada da ventilação mecânica. Os índices preditivos mais utilizados são o índice de respiração rápida e superficial (IRRS) ou índice de Tobin, e o integrative weaning index (IWI) ou índice integrativo de 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 66/82 desmame, também conhecido como índice de Nemer. Conheça agora as fórmulas para calcular esses índices e suas pontuações de corte: Os critérios que definem o sucesso do desmame são o bom desempenho do TRE (mesmo em ventilação mecânica) e a extubação bem-sucedida, sem necessidade de reintubação nas 48 horas seguintes. Comentário Geralmente, o sucesso do desmame, em sua primeira tentativa, acontece em 70% a 85% dos casos. Para se obter sucesso nesse processo, é necessário que o paciente mantenha adequados o padrão respiratório, as trocas gasosas e a estabilidade hemodinâmica. Além disso, não deve apresentar aumento do trabalho respiratório. Depois de constatar que o TRE foi bem-sucedido, você deve avaliar se as vias aéreas estão pérvias e se o paciente tem capacidade de protegê-las. Para a avaliação da permeabilidade das vias aéreas, utilize o teste cuff leak (significam balonete e escapamento, respectivamente) nos pacientes intubados. Esse teste é utilizado para predizer os riscos de obstrução das vias aéreas após a extubação e o edema laríngeo antes da extubação. IRRS = FR VClitros , extubar se IRRS ≤ 105IWI = CStat × SpO2 IRRS , extubar se IWI > 25. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 67/82 Para constatar o sucesso do teste cuff leak, deverá haver escape de ar após a desinsuflação do cuff (balonete). A falha no teste ocorrerá caso haja pouco ou nenhum escape de ar após desinsuflar o cuff. Consequentemente, o paciente apresentará estridor (ou cornagem) após a extubação. Quer saber como se realiza o teste cuff leak? É simples! Veja a seguir as etapas de realização:: Etapa 1 Aspire as secreções traqueais e orais do paciente antes de realizar o teste. Etapa 2 Altere o modo ventilatório de PSV para VCV. Etapa 3 C ff i d i fl d i t l t i i tó i i tó i 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 68/82 Com o cuff ainda inflado, registre os volumes correntes inspiratório e expiratório, verificando se esses são iguais. Etapa 4 Desinsufle o cuff. Etapa 5 Registre o volume corrente expirado por seis ciclos respiratórios. Veja que o volume corrente expirado atingirá um dado platô após poucos ciclos. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 69/82 O teste cuff leak é recomendado nos casos de alto risco para estridor laríngeo e edema laríngeo. Para ter a capacidade de proteção das vias aéreas, o paciente deverá apresentar capacidade de interagir e executar comandos verbais, tosse eficaz e secreção traqueal em pequena quantidade, ou seja, sem necessidade de aspiração a cada uma ou duas horas. Falha no desmame A falha no desmame ocorre quando o paciente não passa pelo TRE e pode resultar em desmame difícil, em que ocorre falha do TRE, sendo necessárias três novas tentativas; ou quando o desmame leva até sete dias após o primeiro TRE; ou em desmame prolongado, no qual ocorre falha em 3 ou mais TREs consecutivos; ou quando são necessários mais de 7 dias de desmame após a primeira tentativa. Etapa 6 Verifique se o volume corrente expirado será menor que o inspirado em mais de 10%. Se a diferença for superior a 10%, então o paciente não apresenta obstrução. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 70/82 Os pacientes em que a ventilação mecânica é interrompida após a falha da primeira tentativa são aqueles que apresentam pneumopatias prévias, cardiopatias, grandes cirurgias (torácicas ou abdominais) e doenças neurológicas e debilitantes A falha no desmame pode ser associada a causas específicas, como: drive ventilatório insuficiente, devido a alterações do sistema nervoso central ou à depressão da atividade do sistema respiratório; alterações da oxigenação sanguínea e das trocas gasosas, devido à rápida diminuição da SpO2 decorrente de reduções da PEEP e da FiO2; redução do transporte de oxigênio por anemia, insuficiência cardiovascular, hipotensão e insuficiência coronariana. A diminuição da SpO2 também pode ser atribuída à falência muscular que ocorre devido à sobrecarga muscular causada por alterações na mecânica respiratória, diminuição da força muscular, com maior fatigabilidade e desnutrição. O tubo orotraqueal é substituído pela cânula de traqueostomia em cerca de 14 dias. Quando o desmame é prolongado, há a probabilidade de que seja realizado com o paciente traqueostomizado. Nesse caso, ao invés da extubação, o paciente, após a retirada da ventilação mecânica, permanecerá em Macronebulização contínua até a decanulação (retirada da cânula). O sucesso do desmame será alcançado se o paciente traqueostomizado permanecerdesconectado do ventilador e em macronebulização contínua por mais de 48 horas. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 71/82 Falha da extubação O risco de falha da extubação, ou seja, reintubação nas primeiras 48 horas após a extubação, é de 15%, mesmo em pacientes que apresentem os critérios para extubação bem-sucedida. Além disso, a falha da extubação está associada a riscos de aumento da mortalidade, maior permanência em ventilação mecânica, maior duração do período de internação no CTI e piora do prognóstico. O risco de falha de extubação é maior nos pacientes que permaneçam por mais tempo em ventilação mecânica e que apresentem DPOC e insuficiência cardíaca congestiva, ou ICC. VNI pro�lática O risco de insuficiência respiratória pós-extubação motivou alguns profissionais a utilizar a VNI imediatamente após a retirada do tubo orotraqueal. Esses profissionais defendem a utilização da VNI como medida de prevenção, ou profilática, da insuficiência respiratória e, consequentemente, da reintubação do paciente. Todavia, deve-se tomar cuidado na aplicação da VNI profilática, pois, na prática clínica, a seleção dos pacientes elegíveis pode ser desafiadora. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 72/82 A VNI profilática tem demonstrado sucesso nos casos de pacientes de maior risco, tais como DPOC, ICC, obesidade, doenças neuromusculares e permanência em ventilação mecânica por períodos superiores a 72 horas. Nesses casos, especialmente nos pacientes com DPOC, há algumas vantagens, tais como diminuições no tempo de internação hospitalar, na necessidade de reintubação e na mortalidade hospitalar. Entretanto, nos demais pacientes, essa prática tem de ser desencorajada devido aos seus resultados desanimadores. O uso indiscriminado da VNI profilática aumenta as possibilidades tanto de não beneficiar quanto de prejudicar esses pacientes, pois atrasa a reintubação e, com isso, piora o prognóstico desses pacientes. Desmame ventilatório Entenda a importância do conhecimento dos parâmetros ventilatórios na decisão do desmame ventilatório. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 73/82 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 74/82 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Para se iniciar o processo de desmame, é necessário que: A o paciente esteja sedado e em uso de aminas vasotensoras. B os exames laboratoriais estejam alterados. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 75/82 Parabéns! A alternativa C está correta. A resolução do quadro que motivou a intubação é uma das principais condições para que o desmame possa ser iniciado. As demais alternativas estão erradas porque, em exames laboratoriais, alterações indicam que o paciente não tem estabilidade clínica para evoluir para o desmame. A sedação e o uso de aminas vasotensoras são evidências de condição grave, nas quais o paciente não tem autonomia para ventilar espontaneamente; a relação PaO2/FiO2 inferior a 100 indica lesão pulmonar grave, como a SDRA; a fraqueza da musculatura respiratória indica que o paciente pode ter falha no desmame. Questão 2 C o quadro que levou à intubação tenha sido resolvido. D a relação PaO2/FiO2 seja inferior a 100. E o paciente apresente fraqueza da musculatura respiratória. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 76/82 Qual das alternativas abaixo é considerada um sucesso no desmame do paciente na primeira tentativa? Parabéns! A alternativa A está correta. A Quando tem sucesso no teste de respiração espontânea e não há necessidade de reintubação nas 48 horas seguintes à extubação. B Quando o paciente tem complacência dinâmica acima de 33 ml/cmH2O e complacência estática acima de 22 ml/cmH2O. C Quando a reintubação é iminente. D Quando o desmame do paciente é concluído no prazo de sete dias após o primeiro teste de respiração espontânea. E Quando o índice de Nemer for inferior a 25, e o índice de Tobin superior a 105. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 77/82 O sucesso no teste de respiração espontânea e a ausência de reintubação dentro de 48 horas indicam que o paciente recuperou a capacidade de ventilar espontaneamente sem uso de ventilação mecânica, o que indica o sucesso do desmame. As demais alternativas estão erradas. A complacência estática acima de 22 ml/cmH2O e a complacência dinâmica acima de 33 ml/cmH2O fazem parte das indicações para o desmame; a reintubação iminente é falha do desmame; a conclusão do desmame em até sete dias após o primeiro teste de respiração espontânea corresponde ao desmame difícil, indicando que ocorreu após a falha da primeira tentativa; índice de Nemer inferior a 25 e índice de Tobin acima de 105 indicam que o processo de desmame vai falhar. Considerações �nais Como aprendemos, a IRpA e a SDRA são condições vistas com frequência na prática da fisioterapia em terapia intensiva. Ambas as condições têm causas pulmonares e extrapulmonares, sendo a SDRA o tipo mais grave de IRpA. As lesões induzidas pela ventilação mecânica são frequentes em pacientes com SDRA. Portanto, medidas de proteção das vias aéreas são de vital importância para 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 78/82 garantir a sobrevivência desses pacientes, bem como propiciar tempo para que a causa da SDRA seja tratada. Quando a causa da intubação é tratada e o paciente obtém estabilidade clínica, tem início o desmame, que é a interrupção do suporte ventilatório. Seu sucesso depende de o paciente passar pelo teste de respiração espontânea e ter índices preditivos (IWI e IRRS) favoráveis. Podcast Para encerrar, ouça sobre a importância da Fisioterapia no ambiente de terapia intensiva, e como é realizado o desmame ventilatório. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 79/82 Explore + Confira as indicações que separamos especialmente para você! Leia o artigo Fatores associados à síndrome respiratória aguda grave em uma região central do Brasil, de Kamilla Lelis Rodrigues de Araujo, Érika Carvalho de Aquino, Lara Lívia Santos da Silva e Yves Mauro Fernandes Ternes, publicado na revista Ciência & saúde coletiva, n. 25 (supl. 2), em 2020. Referências ASHBAUGH, D. G.; BIGELOW, B. D.; PETTY, T. L.; LEVINE, B. E. Acute respiratory distress in adults. Lancet – The Lancet. v. 12, n. 2, p. 319-23, 1967. BARBAS, C. S. V.; ÍSOLA, A. M.; FARIAS, A. M. C. (org) Diretrizes brasileiras de ventilação mecânica - 2013. I fórum de diretrizes em ventilação mecânica AMIB e SBPT, 2013. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 80/82 BARBAS, C. S. V.; DE MATOS, G. F. J.; ESTENSSORO, E. Síndrome do desconforto respiratório agudo. In: KNOBEL, E. Condutas no paciente grave. São Paulo: Atheneu, 2016. BARBAS, C. V. S.; DE MATOS, G. F. J.; SCHULTZ, M. J. Insuficiência respiratória aguda: diagnóstico, monitorização e tratamento. In: KNOBEL, E. Condutas no paciente grave. São Paulo: Atheneu, 2016. BARBAS, C. S. V.; SCHETTINO, G.; MATOS, G. F. J. Retirada do suporte ventilatório invasivo. In: KNOBEL, E. Condutas no paciente grave. São Paulo: Atheneu, 2016. BEPPU, O. S. Insuficiência respiratória. In: FARESIN, S. M.; SANTORO, I. L.; LLARGES, C. M.; PERFEITO, J. A. J.; SCHOR, M. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar EPM- UNIFESP – Pneumologia. São Paulo: Manole, 2014. EXTEND. Manual de uso Versión del programa V2.4.x,2011. Consultado na internet em: 01 jun. 2022. FRANCA, S. A. F.; TOUFEN, C.; HOVNANIAN, A. L. D.; ALBUQUERQUE, A. L. P.; BORGES, E. R.; PIZZO, V. R. P.; CARVALHO, C. R. R. The epidemiology of acute respiratory failure in hospitalized patients: a brazilian prospective cohort study. J. Crit. Care. Journal of Critical Care. v. 26, n. 3, nov., 2010. GILLON, S.; WRIGHT, C.; KNOTT, K.; MCPHAIL, M.; CAMPOROTA, L. Revision notes in intensive care medicine. Oxford Speciality Training. Oxford University Press, 2016. HASAN, A. Understanding mechanical ventilation – a practical handbook. India: Springer, 2010. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 81/82 MARON-GUTIERREZ, T.; ARAÚJO, I.; MORALES, M. M.; GARCIA, C. S. N. B.; ROCCO, P. R. M. Terapia com células-tronco na síndrome do desconforto respiratório agudo. Rev Bras Ter Intensiva – Revista Brasileira de Terapia Intensiva. v. 21, n. 1, p. 51-7, mar., 2009. RANIERI, V. M.; RUBENFELD, G. D.; THOMPSON, B. T.; FERGUSON, N. D.; CALDWELL, E.; FAN, E.; CAMPOROTA, L.; SLUTSKY, A. S. Acute respiratory distress syndrome: the Berlin Definition. JAMA – The Journal of the American Medical Association. v. 307, n. 23, p. 2526-33, jun. 2012. SAGUIL, A.; FARGO, M. V. Acute respiratory distress syndrome: diagnosis and management. Am Fam Physician – American Family Physician. v. 101, n. 12, p. 730- 738, jun., 2020. SUE, D. Y.; VINTCH, J. R. E. Respiratory failure. In: BONGARD, F. S.; SUE, D. Y.; VINTCH, J. R. E. Current diagnosis and tratment – critical medicine. USA: McGraw-Hill, 2008. SUMMERS, C., TODD, R. S.; VERCRUYSSE, G. A.; MOORE, F. A. Acute respiratory failure. In: Newman, M. F.; Fleisher, L. A.; Ko, C.; Mythen. M. Perioperative medicine: manging to outcome. Philadelphia: Elsevier, 2021. XU, X. P.; ZHANG, X. C.; HU, S. L.; XU, J. Y.; XIE, J. F.; LIU, S. Q.; LIU, L.; HUANG, Y. Z.; GUO, F. M.; YANG, Y.; QIU, H. B. Noninvasive ventilation in acute hypoxemic nonhypercapnic respiratory failure: A Systematic Review and Meta-Analysis. Crit Care Med. Critical Care Medicine. v. 45, n. 7, jul., 2017. 13/01/24, 19:25 Ventilação mecânica II https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03777/index.html# 82/82 Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()