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1 CURSO VIRTUAL Cidadania e democracia desde a escola Instituto Auschwitz para a Prevenção do Genocídio e Atrocidades Massivas Módulo 4 DEMOCRACIA, COMUNICAÇÃO E DIREITO À INFORMAÇÃO 4.1 INTRODUÇÃO Este módulo está desenhado para trabalhar o significado da democracia e as condições que são necessárias para sua manutenção, considerando o papel do direito à informação como fundamental para o exercício da cidadania democrática e a importância do diálogo no espaço público como forma de chegar a acordos em sociedades plurais. Com este tema o objetivo é que os/as estudantes: o Adquiram conhecimento do conceito e da história da democracia; o Aprendam a identificar os valores e pressupostos democráticos; o Compreendam o papel do direito à informação e comunicação como direito fundamental para o exercício da cidadania; o Desenvolvam habilidades para gerar argumentos baseados em fatos e participar de um diálogo plural e respeitoso. 4.2 A democracia A palavra “democracia” vem das palavras gregas “demos”, que significa pessoas, e “kratos”, que significa poder. Assim, a democracia pode ser pensada como “poder do povo”: uma maneira de governar que depende da vontade do povo. Já no século XIX, o político estadunidense Abraham Lincoln, definiu a democracia como “o governo do povo, pelo povo, para o povo.” No vídeo a seguir, o professor Thiago Trindade explicará brevemente o conceito e a história da democracia. Na última parte da aula, partindo do reconhecimento do sistema representativo como a base da democracia moderna, o Professor Trindade apresentará duas propostas teóricas, a democracia semidireta e a democracia participativa, que foram desenvolvidas para tentar resolver alguns problemas que surgem nas democracias representativas atuais, como por exemplo, em relação a distância que às vezes há entre os/as cidadãos/ãs e as instituições políticas ou entre os/as representados/as e os/as representantes. Assistir Além do ideal democrático, hoje existem tantas formas diferentes de democracia quanto existem nações democráticas no mundo. Não há dois sistemas exatamente iguais e nenhum deles pode ser considerado um modelo. Há democracias presidencialistas e parlamentares, democracias que são federais ou unitárias, democracias que usam um sistema de votação proporcional, e aquelas que usam um sistema majoritário, democracias que também são monarquias, e assim por diante. 2 Um aspecto que une os sistemas modernos de democracia, e que também os distingue do modelo antigo, é o uso de representantes do povo. Em vez de participar diretamente do processo legislativo, as democracias modernas usam as eleições para selecionar representantes que são enviados pelo povo para governar em seu nome. Tal sistema é conhecido como democracia representativa. Há tantos modelos diferentes de governo democrático em todo o mundo que, às vezes, é mais fácil entender a ideia de democracia em termos do que ela definitivamente não é: a democracia não é autocracia ou ditadura, onde uma pessoa governa; e não é oligarquia, onde um pequeno segmento da sociedade governa. Corretamente entendida, a democracia tampouco deve ser definida como “regra da maioria” se isso significar que os interesses das minorias são completamente ignorados. Uma democracia, pelo menos em teoria, é o governo em nome de todas as pessoas, de acordo com sua “vontade.” Os problemas surgem quando consideramos como esses princípios podem ser colocados em prática, na medida em que precisamos de um mecanismo para decidir como lidar com os diversos pontos de vista. Por oferecer um mecanismo simples, a democracia tende a ser entendida como “regra da maioria”; mas a regra da maioria pode significar que os interesses de algumas pessoas nunca são representados. Uma maneira mais genuína de representar os interesses de todos é usar a tomada de decisão por consenso depois de uma deliberação, onde o objetivo é encontrar pontos de interesse comuns. Neste sentido, a democracia é um trabalho em construção. Está se formando todos os dias pelas decisões que as pessoas comuns fazem em relação a si mesmas e aos demais. Embora essas decisões possam parecer irrelevantes no começo, pouco a pouco elas definem o indivíduo, constituem uma comunidade e, finalmente, forjam um país. A sociedade civilizada, e a sociedade democrática em particular, deve ser trabalhada se quisermos preservá-la. A participação social em uma democracia é importante para a criação e efetividade de políticas públicas que representam a vontade e as necessidades da população, não só de uns poucos. Para isso, devemos entender o nosso relacionamento com os eventos que nos cercam e a responsabilidade que temos com eles. A democracia exige o compromisso ativo de seus cidadãos. Fornecer aos/às jovens as habilidades, disposições e conhecimentos necessários para o envolvimento dos cidadãos é fundamental para essa tarefa. Você sabia? A educação desenvolve um papel importantíssimo no mantimento da democracia por ser um dos responsáveis pela construção do sujeito no exercício da cidadania, pois é por meio dela que o ser humano toma conhecimento de seus direitos e deveres e da importância da busca por sua efetivação. Ao atuar como um ser que participa como agente transformador, o sujeito passa a ser um importante instrumento para consolidar a democracia dentro da sociedade civil. No Brasil, a Constituição ressalta o papel da educação no Art. 205. “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” A Lei de Diretrizes e Bases Da Educação Nacional (Lei nº 9.394 de 1996) reforça o papel formador da educação, ao dispor que os conteúdos curriculares da educação básica observarão as diretrizes de difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática. 3 Do mesmo modo, os Parâmetros Curriculares Nacionais, elaborados pela Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação, em 1998, ressaltam o papel da educação na formação cidadã ao estabelecer dentre os objetivos do Ensino Fundamental que os/as estudantes sejam capazes de compreender a cidadania como participação social e política, assim como o exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia a dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas. Para saber mais sobre o tema NICOLI DE MATTOS, Alessandro: O que é democracia? Politize! 5 de janeiro de 2017. Disponível em:<https://www.politize.com.br/democracia-o-que-e/>. Baixe aqui CABRAL NETO, Antônio. Democracia. Velhas e novas controvérsias. Estudos de Psicologia, 1977, 2(2) p. 872-381. Baixe aqui GARCIA, Alexandre Navarro. Democracia semidireta. Referendo, plebiscito, iniciativa popular e legislação participativa. Revista de Informação Legislativa, 2005, v. 42, n. 166, p. 9-22. Baixe aqui 4.3 A qualidade da democracia As pessoas costumam dizer que os países “se tornam” democráticos quando começam a ter eleições relativamente livres e abertas. Mas a democracia é muito mais do que apenas eleições, e realmente faz mais sentido pensar sobre a ideia da vontade do povo em vez de estruturas institucionais ou de votação quando estamos tentando avaliar o quão democrático é um país. A democracia é melhor entendida como algo que sempre podemos ter mais — ou menos — do que algo que é ou não é. Os sistemas democráticos quase sempre podem ser mais inclusivos, refletir mais os desejos das pessoas e responder melhor à sua influência. Em outras palavras, há espaçopara melhorar a parte “popular” da democracia, incluindo mais pessoas na tomada de decisões; também há espaço para melhorar o “poder” ou a “vontade” da democracia, dando ao povo mais poder real. As lutas pela democracia ao longo da história, normalmente, se concentram em um ou outro desses elementos. Portanto, em um sentido mais abrangente, levar em conta a qualidade de uma democracia envolve um sentido cultural, como crenças, valores morais e comportamentos da sociedade, que devem se exercer em diferentes esferas para além das instituições do governo, mas também em qualquer espaço comum. 4 CHECKLIST de uma democracia saudável: Abaixo, há uma lista proposta por Dan Sigward,1 um professor de história estadunidense, levantando alguns questionamentos para refletir sobre a qualidade da democracia: R A cultura do país valoriza e protege a livre expressão de ideias? Tolera a discordância e o dissenso? Tolera os protestos? R Os diversos segmentos da sociedade são capazes de confiar uns nos outros o suficiente para se unificar atrás das causas com as quais concordam ainda que sobre outras pensem diferente? R Os cidadãos e grupos cívicos trabalham ativamente para responsabilizar o governo e seus líderes? R Os governos locais, municipais e estaduais são eficazes, confiáveis e responsivos aos eleitores? R Os cidadãos priorizam a democracia? Ou estão dispostos a trocar democracia por outros resultados, como uma economia melhor? R As escolas ensinam os/as estudantes a valorizar a democracia e como participar do governo nos níveis local, estadual e nacional? R Existe uma imprensa livre e aberta? O governo permite o livre fluxo de informações de várias fontes de mídia? Os jornalistas têm acesso para cobrir o governo e as autoridades eleitas? R Os líderes democraticamente eleitos estão comprometidos em preservar os processos democráticos? Eles valorizam a democracia por si mesma, não apenas como meio de promulgar uma agenda preferida? R A corrupção é devidamente investigada e punida? Aqueles políticos que têm casos de corrupção provados assumem as suas responsabilidades? R Os ramos do governo e as instituições primárias dentro da sociedade civil são saudáveis e equilibram eficazmente o poder de cada um? R Os índices de desigualdade são muito grandes? A sociedade oferece oportunidades a todas as pessoas para que possam desenvolver os seus projetos de vida? Embora essa lista não seja abrangente, as perguntas podem desencadear uma conversa vital entre nossos/as estudantes e em nós mesmos sobre o estado da democracia. Eles podem nos ajudar a lembrar que a democracia é mais do que o governo e que mantê-la vital exige mais de nós do que apenas votar. Isso requer que cada um de nós cuide de nossa cultura, nossas instituições e uns aos outros para nutrir o “espírito de liberdade” no qual a democracia repousa. 1 SIGWARD, Dan. How to assess the strength of a democracy. Facing Today, 18 janeiro 2017. Disponível em: <http://facingtoday.facinghistory.org/how-to-assess-the- strength-of-a-democracy>. 5 Para saber mais Para saber mais sobre a qualidade da democracia, você pode ler o texto de Mariana Brito, Índices de democracia, Politize! 19 de fevereiro de 2018. Baixe aqui Nesta atividade lhe convidamos a participar de um fórum autorregulado com os/as outros/as participantes do curso para aprofundar na questão da qualidade da democracia no Brasil. A partir da lista que que introduzimos mais acima, reflita e compare junto aos/às outros/as participantes do curso as fragilidades e problemáticas envolventes na democracia brasileira comparada a outras democracias do mundo. Assim, pensando no estado da democracia brasileira, responda pelo menos a uma pergunta da lista, explicando sua posição, ou, se preferir, responda ao comentário de algum/a colega. 4.4 A democracia no Brasil Após 21 anos de ditadura civil-militar, em 1984 o Brasil por fim voltou a ser um país democrático. O processo de redemocratização do Brasil teve início em 1979, colocando fim ao bipartidarismo e a relativa permissão para a criação de partidos políticos e eleições diretas para governadores. Em 1983 surgiu o movimento civil “Diretas Já” que encabeçou uma série de manifestações pedindo por eleições diretas para presidente, que desde 1964, início do regime ditatorial, vinha sendo escolhido de forma indireta, ou seja, não era o povo que votava e decidia seu representante. Este movimento, ainda que não tenha tido sucesso na sua principal demanda de imediato, marcou o momento de abertura democrática no país e pautou a valorização da garantia do direito ao voto, característica tão importante em uma democracia. Na cidade de São Paulo, o Memorial da Resistência foi inaugurado em 2009. O espaço está dedicado a preservar as memórias da resistência democrática e da repressão política do Brasil republicano. Situado no antigo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), o Memorial hoje é um lugar de memória e aprendizado, sobre as consequências do autoritarismo e a importância da democracia para garantir o respeito aos direitos humanos. No vídeo a seguir, feito pela Aureli Alves, Coordenadora da Ação Educativa do Memorial da Resistência de São Paulo, você irá conhecer um pouco sobre este espaço e as opções educativas que ele oferece. Assistir No Brasil existem outros lugares de memória, tanto da ditadura como de períodos históricos anteriores, que se constituem como lugares de aprendizado sobre as consequências da negação da dignidade humana, que você e seus/suas estudantes podem explorar. 6 A Constituição Federal de 1988 No momento de redemocratização do país foi aberto espaço para a construção de uma Assembleia Nacional Constituinte, que, através de representantes, daria vazão à vontade popular para criar a Constituição Federal Brasileira, que em 1988 se tornaria o grande marco da democracia no Brasil. Esta carta magna rege as normas e os princípios do Estado brasileiro e define o Brasil como um Estado Democrático de Direito, que possui dentre suas principais características: 1. a soberania popular; 2. uma democracia representativa e participativa; 3. uma constituição que emana do povo; e por fim, 4. um estado que possui um sistema de garantia aos direitos humanos. Dentre as suas funções, a Constituição Federal de 1988 define e limita os poderes e funções das entidades políticas. Antes de entender as funções e as limitações de algumas dessas entidades políticas, devemos compreender que o Brasil é uma república federativa, e que isso significa que, os estados-membros do Brasil, cedem parte de sua autonomia para criar a União. A União portanto, tem o poder para agir em determinados assuntos em nome de seus estados-membros. Voltando as limitações e divisões de poderes, a Constituição Federal, mais precisamente no seu artigo 2º, estabelece os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário como independentes e harmônicos entre si. É a partir desta divisão de poderes que a democracia fica mais fortalecida, uma vez que impede a concentração e o abuso de poder. No entanto, apesar de independentes, por vezes, os poderes e funções se relacionam entre si. A administração pública, conjunto de órgãos e entidades do estado que têm por função atender as necessidades da população, é dividida em três níveis, também independentes, sendo eles, Federal, Estadual e Municipal. Portanto, há funções que competem ao governo federal, outras que competem ao governo estadual e outras que competem aos municípios. Os cargos nos três poderes e nos três níveis de administração2 Nível / Poder Executivo Legislativo Judiciário Federal Presidente Senadores e Deputados Federais Ministro dos Tribunais Superiores e Juízes Federais Estadual Governadores Deputados Estaduais e Deputados Distritais Juízes de Direitos Estaduais Municipal Prefeitos Vereadores Inexistente 2 MATTOS, Alessandro Nicoli de. O livro urgente da políticabrasileira um guia para entender a política e o Estado no Brasil. 2020. Disponível em: http://biblioteca.politize.com.br/curadoria-livro-urgente-politica. 7 Os três poderes O poder Executivo é exercido pelo presidente, governadores de estados e pelos prefeitos. Os representantes desses poderes, vinculados a partidos políticos, são eleitos em eleições diretas a cada 4 anos. Dentre as atribuições do poder executivo estão a promulgação e sanção de leis, realização de decretos e regulamentos e também a tomada de decisões sobre a construção de equipamentos públicos. O poder Legislativo, em nível Federal, compete ao Congresso Nacional, composto pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados. O Senado Federal é composto por 81 senadores e a Câmara dos Deputados é composta por 513 deputados federais. Dentre as principais responsabilidades do poder legislativo está a de elaborar e aprovar leis, e fiscalizar o funcionamento do Estado brasileiro. O poder Judiciário é o único dos três poderes que não possui representantes eleitos pelo povo, seus representantes são eleitos por concursos públicos ou nomeados pelo presidente, após aprovação dos senadores, em nível federal. O poder Judiciário é o responsável por administrar a justiça e garantir o cumprimento das leis e da Constituição Federal. O Judiciário brasileiro é composto por diversos tribunais, como por exemplo, Supremo Tribunal Federal (STF) e Superior Tribunal de Justiça (STJ). Compreender a organização e as responsabilidades das entidades políticas e seus representantes é um grande passo para fortalecer a democracia brasileira. Afinal, parte do exercício democrático consiste em acompanhar e realizar cobranças dos representantes eleitos para atuar de acordo com a vontade do povo. É válido ressaltar que, apesar do direito ao voto ser algo de grande valor em uma democracia, há outras formas que podemos participar da política, como por exemplo, participando de fóruns e conselhos institucionais, apoiar e ou ajudar na formulação de leis e também na construção de políticas públicas. Para finalizar este tema, o professor Thiago Trindade reflete no vídeo a seguir sobre a democracia no Brasil. Assistir Para saber mais BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. SILVEIRA, Matheus. Estado Democrático de Direito: entenda o que é esse termo, Politize! 16 de dezembro de 2019. Disponível em <https://www.politize.com.br/estado-democratico-de-direito>. 4.5 Diálogo e direito à comunicação Comunicação e linguagem fazem parte da natureza humana. Os processos comunicativos estão presentes no cotidiano das mais diversas sociedades e surgem a partir da necessidade de se transmitir informações. Sem comunicação não há interação com o outro, e sem interação não nos reconhecemos como sujeitos de direitos. A comunicação antecede os meios de comunicação, pois, antes de qualquer coisa, é um processo de entendimento entre os sujeitos. 8 Assim como os direitos sociais, econômicos e culturais significaram um avanço da liberdade rumo à igualdade, o reconhecimento do direito à comunicação, como um direito fundamental e condição de possibilidade no funcionamento de uma democracia, se faz necessário. Possui como fundamentação a ideia de liberdade de expressão, que, por sua vez, tem origem filosófica na liberdade de pensamento. Igualmente, o diálogo se converte numa prática fundamental para aprender a conviver com o outro em um contexto democrático plural e inclusivo. O diálogo é, por excelência, o processo pelo qual identificamos e questionamos nossas ideias e posições; ou seja, os pressupostos sobre os quais se apoiam os nossos julgamentos, escolhas, preferências, ações. O diálogo é mais do que uma técnica: é uma maneira de conduzir conversações que traz uma nova visão de mundo e de relacionamentos. Ao longo das décadas, a consolidação do direito à liberdade de expressão foi sendo acompanhada pelo surgimento de outros princípios aplicáveis como o direito à informação (que inclui o direito de cada indivíduo em informar, se informar, e ser informado) e a liberdade de imprensa (liberdade de dizer, escrever, documentar e veicular aquilo que é de interesse público). Assim, a ampliação dos direitos no âmbito da liberdade de expressão abriu caminhos para o entendimento da própria comunicação como um direito de forma progressiva, por atores sociais que atuam em diversos campos dos direitos humanos, como a educação, a saúde, os direitos de igualdade de gênero e racial, o direito à terra, entre outros. Embora alguns autores qualifiquem o direito humano à comunicação como “direito de acesso” ao espaço público, julga-se que a melhor forma de definir o direito humano à comunicação seja qualificá-lo como o direito à participação, em condições de igualdade formal e material, na esfera pública mediada pelas comunicações sociais e eletrônicas. Numa democracia, os cidadãos podem escolher livremente quem os governa e votar na pessoa que acham que será a melhor candidata, sem sentir pressão ou medo de votar em um grupo ou partido em particular. Para fazer boas escolhas, as pessoas precisam ser informadas sobre como funciona o governo e o que estão dizendo os partidos políticos e candidatos. Para que isso aconteça, é essencial ter uma mídia livre e plural, que possa fornecer informações e fazer perguntas. Para que a mídia seja eficaz, precisa ser livre para criticar e investigar - e não apenas dizer às pessoas o que o governo quer que elas saibam. Com o advento da tecnologia, principalmente nos meios de comunicação em que a internet, por exemplo, vem desempenhando um papel relevante, temos um maior acesso à informação. Além disso, com o surgimento das redes sociais, as crianças e os jovens estão se expondo cada vez mais no ambiente cibernético. O uso da internet e das redes sociais possui aspectos muito positivos: podemos acessar rapidamente informações, saber o que está acontecendo em qualquer lugar do mundo, aprender coisas novas, além de podermos compartilhar nossas opiniões, fotos, nos expressarmos, conectar com amigos que estão distantes e nos divertir. No entanto, apesar dos ganhos positivos que a internet e as mídias sociais oferecem, há também alguns riscos. Como o cyberbullying, questões de privacidade, disseminação de fake news, propagação de discursos de ódio, e até mesmo o uso excessivo das redes sociais, que podem impactar o desempenho dos/as estudantes na escola e nos convívios social e familiar. Por isso, é importante que os/as nativos/as da era digital estejam preparados/as para utilizar essas ferramentas da melhor forma possível, desempenhando uma atitude crítica e responsável. É neste contexto que, nos últimos anos, surge uma nova proposta de ação educativa conhecida como educomunicação. A Educomunicação é entendida pela Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom) como “um paradigma orientador de práticas sócio-educativo-comunicacionais que têm como meta a criação e fortalecimento de ecossistemas comunicativos abertos e democráticos nos espaços educativos, mediante a gestão compartilhada e solidária dos recursos da comunicação, suas linguagens e tecnologias, levando ao fortalecimento do protagonismo dos sujeitos sociais e ao consequente exercício prático do direito universal à expressão.” 3 9 A educomunicação busca a valorização do repertório dos/as estudantes e o uso das novas tecnologias capazes de despertar motivações e perspectivas de cidadania, preocupando-se com o processo de diálogo e cooperação. Para saber mais sobre a educomunicação, assista a vídeo aula do Professor Claviano Souza. Assistir Assista o documentário A origem da Educomunicação, produzido por Grácia Lopes Lima em 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LaCMGKUINB8 Para sabermais Acesse ao site de publicações para download da ABPEducom: https://abpeducom.org.br/publicacoes/index.php/portal 3 ABPEducom, Conceito. Disponível em: https://www.abpeducom.org.br/educom/conceito/.