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1 Solos de Moçambique e sua aptidão agrícola Julinho Canazache 1. Introdução O presente trabalho tem como tema os solos de Moçambique e sua aptidão agrícola. Os solos constituem a parte superficial da Terra onde assenta toda a actividade humana e que assegura a Vida das plantas e dos animais. A característica fundamental dos solos é a fertilidade, a qual resulta da combinação óptima de minerais, água, ar e seres vivos; por isso, o estudo da sua distribuição e natureza é um auxiliar importante para se verificar qual deve ser a melhor aptidão de uma determinada área geográfica. A classificação de solos está relacionada com a idade do solo, a influência do clima, a natureza geológica e as condições hídricas e morfológicas locais. Existem vários tipos de classificação de solos. Predominam em Moçambique os seguintes solos: Norte do país - solos argilosos com a sua variação de solos franco-argilosos-avermelhados, que são os mais divulgados. Os solos argilosos vermelho-acastanhados profundos são permeáveis e de boa drenagem. Centro do país - solos franco-argilosos e arenosos avermelhados, ricos em calcário; solos franco-argilosos-arenosos acastanhados. No curso médio e inferior do rio Zambeze afloram solos fluviais; Zona sul - solos arenosos pouco férteis e de baixo poder de retenção de água. Ocorrem também solos arenosos brancos, fluviais de alta fertilidade e marinhos; na cadeia dos Libombos distinguem-se solos delgados, pouco profundos, geralmente pouco férteis. Junto do litoral - solos arenosos pouco evoluídos de dunas costeiras, que são solos minerais com horizontes pouco diferenciados. São solos de formação recente. Rocha-mãe – é a rocha que se desagregou para dar origem ao solo. É a formação geológica a partir da qual se forma a componente mineral do solo. Permeabilidade – maior ou menor facilidade com que o solo deixa passar a água. Porosidade do solo – quantidade de espaços existentes entre partículas do solo. 1.1. Contextualização A República de Moçambique faz parte das nações do continente africano, situando-se na sua costa oriental, na qual estende-se desde a foz do rio Rovuma até ao rio Maputo, com uma superfície cerca de 801 590 km2, ela localiza-se: Norte: Tanzânia, da qual esta separada pelo rio Rovuma, Oeste: Malawi, Zâmbia, África de Sul e Suazilândia. Sul: A República de África do Sul, através do rio Maputo. Este: Oceano Indico. O país apresenta uma grande variedade de solos, sob influência marcada das condições geológicas e do tipo de climas característicos do país. Moçambique, com mais de 80 milhões de hectares, possui extensas áreas cobertas pelo bioma Miombo (~ 55 milhões de hectares), cuja cobertura vegetal é característica de savanas tropicais. A maioria das actividades agrícolas nesse bioma concentra-se no período chuvoso que geralmente se inicia no mês de Outubro e possui duração de seis meses. Cerca de 80% da força de trabalho de Moçambique estão envolvidos com agricultura, a maioria com baixo nível tecnológico. 1.2. Objectivos 1. 2.1. Geral: · Compreender os ipos de solos e sua aptidão agrícola. 1.2.2. Específicos · Definir o conceito “solo”; · Identificar os tipos de solos de Moçambique; · Descrever os tipos de solos de Moçambique. 1.3. Metodologia Para a realização deste trabalho só foi possível através da Pesquisa Bibliográfica. Foi através deste método que o autor colocou-se em contacto directo com o que foi escrito a sua disposição sobre os diferentes elementos que corporizam este trabalho. Ainda, através deste que tornou possível a realização deste trabalho, na qual baseou-se na consulta de obras relacionados com o tema em estudo, cujo obras vem mencionados na referência bibliográfica deste trabalho. 2. Literatura 2.1. Conceitos de solo O termo solo origina-se do Latim solum = suporte, superfície, base. A concepção de solo depende do conhecimento adquirido a seu respeito, de acordo com o modelo conceptual que ele representa nas diferentes actividades humanas. A Ciência do Solo desenvolveu-se através da contribuição de profissionais das mais diversas áreas (Química, Física, Geologia, Biologia, Geografia, Agronomia e outras). Mas em função da grande ênfase no estudo do solo para a produção de alimentos, ela passou quase que integralmente ao âmbito das instituições de ensino e pesquisa ligadas ao desenvolvimento agrícola. Como ciência, entretanto, o conhecimento e o estudo do solo transcende o modelo agrícola, sendo de importância à todas as actividades humanas. Além de ser um meio insubstituível para a agricultura, o solo é também um componente vital de processos e ciclos ecológicos, é um depósito para acomodar os nossos resíduos, é um melhorador da qualidade da água, é um meio para a recuperação biológica, é um suporte das infra-estruturas urbanas e é um meio onde os arqueólogos e pedólogos lêem a nossa história cultural (Miller, 1993). 2.1.1. O solo como meio para o desenvolvimento das plantas Este é o conceito mais antigo de solo, provavelmente desenvolvido a partir do momento em que a humanidade passou a cultivar plantas para sua subsistência. Evidências arqueológicas indicam o início da agricultura há cerca de 7000 anos AC na Mesopotâmia e há 6500 anos AP no México. Neste contexto, o objectivo final do solo é a produção de alimentos e fibras, o que geralmente é desenvolvido nas instituições de ensino e pesquisa agrícola. 2.1.2. O solo como rególito O solo compreende a porção superior da crosta terrestre (litosfera), mais precisamente a porção superior do rególito. O rególito é o material solto, constituído de rocha alterada e solo, que ocorre acima da rocha consolidada. A rocha alterada constitui o material de origem do solo. Daí se origina a designação do solo conforme a rocha que lhe deu origem: solo de granito, solo de basalto, solo de arenito, etc. 2.1.3. O solo como corpo natural organizado O reconhecimento de que o solo não é apenas o resultado da alteração das rochas, mas sim o produto das interacções entre a Litosfera, atmosfera, hidrosfera e a biosfera, surgiu no final do século XIX, através dos estudos do geólogo russo V.V. Dokuchaev (1846-1903), 2.2. Solos de Moçambique De acordo com a sua localização geográfica e astronómica, Moçambique possui uma grande variedade de solos típicos das regiões tropicais e subtropicais. De uma maneira geral na composição mineralógica dos solos Moçambicanos predominam materiais ferruginosos e aluminosos, sendo por isso, considerados pedalfericos ou fera líticos. Estas abundâncias de materiais ferruginosos e aluminosos, é fruto da resistência destes elementos aos processos de desagregação das rochas-mãe em condições climáticas de regime tropical. (Muchangos, 1999). 2.3. Tipos de solos de Moçambique Os tipos de solos de Moçambique são: · Solos da região Norte: nesta região verifica-se uma alternância de diferentes tipos de solos, como: Solos franco-argilosos-avermelhados, argilosos vermelhos, castanhos profundos cobrindo uma área considerável da zona. Eles são permeáveis pouco susceptíveis à erosão e no litoral ocorrem solos arenosos dunares expostos à acção eólica. · Solos da região Centro: nota-se solos a ocorrência de solos franco-arenosos avermelhados argilosos e os fluviais cobrindo as bacias hidrográficas e apresentam maior índice de fertilidade. Os chamados solos escuros caracterizam algumas zonas da província de Tete devido à ocorrência do carvão mineral. · \Solos da região Sul: a região apresenta uma predominância de solos arenosos brancos bastante permeáveis, solos fluviais de elevado grau de fertilidade e já são pouco evoluídos e não muito aptos para a prática da agricultura uma vez que são pouco profundos. 2.4. Distribuição dos solos de Moçambique A distribuição dos solos de Moçambique é variável o que faz com que os solos não sejam homogéneo. Segundo Marbut considera apenas a existência de cinco grupos de solos ocorrendo na Colónia de Moçambique, dos quais varias características dou a seguir: a) Aluviões: são solos de origem de deposição sedimentar, formado emmateriais em geral grosseiro, mal rolados, e amais ou menos soltos, transportado por correntes de água. b) Terras negras: solos negros, de textura pesada e estrutura granulosa e com um horizonte de acumulação de carbonates que se encontra por vezes muito próximo da superfície; c) Solos claros: são grupo muito heterogéneo de solos de diversas cores e textura variável, apresentando normalmente proporção apreciável de carbonate de calcário e ocorrendo em geral em regiões de topografia mais acidentada que a das terras negras; d) Solos vermelhos laterícios: são solos com 25 a 90٪ de constituintes lateriticos (óxidos mais ou menos hidratados de alumínio, ferro, titânio e manganés); e) Solos vermelhos: são solos contendo menos de 25٪ de constituintes lateriticos e elevada percentagem de silicato de alumínio, encontrando-se a sílica tanto combinada como sob a forma de quartzo e sendo raras as concreções ferruginosas; 2.5. Classificação dos grupos de solos 2.5.1. Solos pedalféricos. · Solos vermelhos. Solos vermelhos foram classificados como sendo solos de cor vermelha mais ou menos intensa, sujeitos ao processo de laterização Se bem que aceitemos a classificação proposta por Botelho da Costa e Azevedo não me é possível, neste momento, por falta de dados analíticos, fazer a distinção entre laterite e solo lateriuco. Sendo que no Esboço Pedológico não se fez contudo qualquer tentativa para diferenciar os tipos em que os solos vermelhos se podem subdividir:0 a) Solos vermelhos lateriticos., normalmente são solos profundos, de cor vermelha mais ou menos intensa em todo o perfil, com excepção da primeira camada que frequentemente é cor de chocolate, em geral de textura argilosa, friáveis, de pH baixo e diminuído com a profundidade, não se encontrando concreções ferruginosas ou, se essas aparecem, são muito raras e de pequenas dimensões. Predominam nas regiões altas muito chuvosas (de pluviométrica média anual superior a 1:000 mm) e temperatura relativamente baixa (temperatura média anual cerca de 20° C), formando-se a partir de material originário proveniente de rochas ígneas e metamórficas ácidas, tendo já sido identificados em Metónia, lIe, Alto Molócuè, Guruè, Milange e Tacuane, e supomos que os solos da Angónia, Baruè, Manica, Chimoio e Gorongoza se devam incluir também neste» grupo. b) Solos cinzentos lateriticos ferruginosos. São solos muito parecidos com os solos vermelhos lateriticos, mas de textura variável, e apresentam concreções ferruginosas abundantes (as vezes mesmo nos horizontes superficiais), cujo número e tamanho aumentam com a profundidade; a certa profundidade as concreções desaparecem. São muito frequentes estes tipos de solo nos planaltos médios do Niassa e Zambézia e mesmo em zonas mais baixas destas duas províncias, e suponho que ocorram também nas zonas altas de Manica e Sofala. c) Solos cinzentos lateriticos com bancadas. Estes apresentam a profundidade variável uma camada de concreções e cimentadas formando bancada. As bancadas de concreções podem ser do tipo pisolítico ou do tipo celular. d) Outros solos vermelhos. Diante desta designação, refiro-me reunir solos vermelhos, sujeitos ao processo de latinização mas formados a partir de materiais originários provenientes de outras rochas que não são as ígneas e metamórficas ácidas. Estes solos encontram-se em geral em pequenas manchas isoladas e só foram identificados ainda na província do Niassa. · Solos cor de laranja, alaranjados e amarelos. Pode-se distinguir nestes solos, tal como no caso dos solos vermelhos, os seguintes tipos: lateriticos, lateriticos ferruginosos e lateriticos com bancadas. Os solos cor de laranja, alaranjados e amarelos estão relacionados com os solos vermelhos, ocorrendo normalmente em sucessão, formando catenas. Na província da Zambézia e principalmente na do Niassa, já foram definidas catenas com características semelhantes a que atrás referem. · Solos cinzentos. Os solos cinzentos são solos sujeitos ao processo de laterização, mas devido ao facto de se encontrarem geralmente em áreas baixas, de drenagem difícil, verifica-se uma gieysagao mais ou menos intensa, e encontram-se associados aos solos vermelhos, cor de laranja, alaranjados e amarelos, sendo normalmente raro dos últimos solos da sucessão catenária. Os solos cinzentos até agora estudados podem subdividir-se em três tipos Fundamentals: solos cinzentos com horizonte gley, solos cimentos lateriticos ferruginosos e solos cinzentos lateriticos com bancadas. · Solos do Planalto dos Macondes. Encontra-se no extremo nordeste da província do Niassa uma grande mancha de solos que foram designados, a falta de termo mais apropriado, por solos do Planalto dos Macondes, tendo origem a partir de material originário proveniente de grés do Cretácico, sujeitos a uma intensa lavagem (altura pluviométrica anual média superior a 1:000 mm), de cores claras (por vezes cor de chocolate clara e solos vermelhos), textura ligeira (até franca, e argiloso-arenoso), friáveis a firme, muito permeáveis. A marca mais importante destes solos encontra-se no Planalto dos Macondes, aparecendo também solos idênticos a estes na Serra Mapé (Macomia). · Solos vermelhos arenosos dos Urrongas. Os solos vermelhos arenosos dos Urrongas foram já caracterizados na Carta Provisória dos Solos do Sul do Save (3.3.A.2). · Solos de faixa arenosa costeira. Os solos de faixa arenosa costeira estendem-se por uma faixa que vai de Ponta do Ouro a foz do Rovuma, com soluções de continuidade de onde em onde. Estes solos tem sido mais bem estudados no Sul do Save, onde a faixa arenosa. Costeira atinge maior largura, e numa pequena área do Niassa, a península de Fernão Veloso. 2.5.2. Solos pedocalicos. · Terras negras e cinzentas pedocalicas. Os solos nitidamente sujeitos ao processo de calcificação e cuja cor vai desde a cinzenta a negra, foram classificados como terras negras e cinzentas pedocalicas, havendo no entanto pequenas manias de solos pardo-acinzentados ou pardo-anegrados, porem é muito difícil incluir estes solos num esquema geral de classificação, pois as terras negras tropicais estão ainda estudadas. Também, neste Esboço não se faz qualquer tentativa para distinguir os diversos tipos em que subdividimos as terras, negras e cinzentas pedocalicas. As terras negras encontram-se de norte a sul da Colónia em manchas isoladas, tendo sido já identificadas em Macomia, Quissanga, Porto Amélia, Memba, Nacala, Mossuril, Mecanhelas, margens do Lago Ghirua, região de Megaza, Chemba, Maringué, Nova Chupanga, Chibabava, Baixo Mossurize e Maputo. · Solos Barros negros da Moamba. Designa-se por barros negros da Moamba, os solos formados a partir de material originário derivado de basaltos. · b) Terras cinzentas. São solos muito parecidos com as terras negras, não se possuindo ainda elementos que permitam propor qualquer hipótese para explicar a diferença na coloração. Exemplo: Solos cinzentos do Guija, caracterizados na Carta Provisória dos solos do Sul do Save. · -Solos castanhos. Caracteriza-se por ter uma camada superficial de cor castanha ou pardo--acinzentada, argilosa forte, compacta a muito compacta; na qual as camadas inferiores são castanhas, as vezes castanho-avermelhadas, argilosas, de estrutura prismática, compactas e com concreções calcárias, tendo-se verificado, em Porto Amélia e Memba, sobre calcários do Cretácico, onde a altura pluviométrica anual média é cerca de 800 mm e a temperatura anual anda, a volta dos 26°O. 2.5.3. Solos calomórficos. Os solos calomórficos estudados na nossa Colónia- resumem-se aossolos vermelhos calomórficos (fotografia 20, estampa HI), ja descritos na Carta Provisória dos Solos do Sul do Save (3.3.C.). 2.5.4. Solos halomórficos. Encontram-se na nos Sia Colónia dois tipos de solos salgados: solos halo-mórficos continentais [identificados no Sul do Save, ignorando-se ainda a que grupo genético pertencem (S.S.D)] esolos salgados de origem marítima (ao longo da costa, no estuário e curso inferiordos principais rios e nas margens de lagoas. litorais de agua salgada). Em Moma tivemos ocasião de notar que, devido a uma transgressão, os lodos marítimos cobriram bancadas (de antigos solos lateriticos), expostas pela erosão, vendo-se hoje mangais desenvolvendo-se perfeitamente nestas condições. 2.5.5. Solos hidromórficos. São muito variados os tipos de solos hidromórficos que se encontram em Moçambique, tendo alguns deles chamado a atenção de vários autores. Os solos hidromórficos ja estudados foram subdivididos em quatro tipos principals que descrevemos a seguir. · Machongos. De todos os solos hidromórficos, os sao os mais bem estudados, porque ocupam areas relativamente extensas no Sul do Save e têm excepcional interesse sob o ponto de vista do fomento orizícola. . · Solos «vlei». Os solos vlei têm a camada superficial geralmente espessa, parda-ane- . grada, cinzenta escura ou negra, argilosa, estrutura granulosa grosseira, com fendas verticais, compacta, em regra 'com concreções ferruginosas e nódulos calcários; a segunda camada é normalmente parda, argilosa forte, fendilhada, muito compacta e apresenta muitas concreções ferruginosas e nódulos calcários · Solos dos dambos. Os solos dos dambos são solos de camada superficial, parda-acinzentada oti cinzenta, de textura variável mas frequentemente argilosa, firme a compacta»; as camadas inferiores são amarelas ou amareladas, argiloarenosas ou argilosas, com manchas cor de ferrugem e com raras a algumas concreções ferruginosas a certa. Estes solos encontram-se em depressões características, conhecidas pelo nome de dambios, muito frequentes nas províncias do Niassa e da Zambézia. · Solos argilosos das baixas. Os solos argilosos das baixas têm a primeira camada cinzenta muito escura, por vezes negra, fortemente argilosa, assentando sobre camadas de cor cinzenta, pardo-acinzentada ou pardo-amarelada, argilosas fortes, muito compactas, fendilhando quando secas e apresentando manchas cor de ferrugem e concreções ferruginosas. Como o próprio nome indica são solos que ocorrem em áreas baixas, mal drenadas, conhecidas em certas regiões por tandos. 2.5.6. Solos aluvionares. Os solos aluvionares são solos pouco ou nada diferenciados pedo génicamente, com características muito variadas que dependem das aluviões que lhes deram origem 2.6. Importância do solo O solo é importante recurso natural, pois através dele que obtivemos quase todos os nossos alimentos. O solo é essencial para actividades agrícola, e mesma só pode ser produzida num solo fértil. O solo é um recurso básico, constituindo um componente fundamental dos ecossistemas e dos ciclos naturais, reservatório de água, um suporte essencial do sistema agrícola e um espaço para asa actividades humanas e para os resíduos produzidos. É a camada superficial da terra onde habitam os seres vivos e desenvolvem as suas actividades. É dela onde ocorrem os recursos minerais. Ela tem como importância. Actualmente, o principal uso do solo em Moçambique é a agricultura de subsistência (milho, mapira, mandioca, batata reno, batata doce, arroz, coco entre outros produtos) e pequenas pastagens. As machambas (terrenos cultivados fragmentados) são evidentes em todo o país, entre savana lenhosa/arbustiva aberta. É evidente que a subsistência local está dependente do recurso do solo 2.7. Aptidão agrícola dos solos de Moçambique O mapa de solos em ou ambientes resultante de um levantamento não constitui um fim em si o mesmo. Deve ter como propósito geral servir de base a uma interpretação geralmente designada por avaliação de terra, a qual envolve não só as características intrínsecas ao próprio solo, como também envolve outros factores externos de natureza física ambiental ou mesmo aqueles caracteristicamente socioeconómicas. Neste plano de ideias têm sobressaídos tradicionalmente as avaliações das terras para fins de utilização agro-silvi-pastoril, embora elas possam ser executados para uma grande gama de finalidades, produzindo zoneamentos territoriais diversificados. Entre as primeiras destacam-se os sistemas norte-americanos de “capacidade de uso” (LEPSCH et al., 1983), e ainda o denominado sistema FAO/Brasileiro de “aptidão agrícola” (RAMALHO FILHO e BEEK, 1995). Este último, foi desenvolvido no Brasil sob auspícios da FAO a partir da década de 60 do século passado com a publicação nessa época dos primeiros resultados (BEEK, at al., 1964). A última revisão havida já com a existência do SNLCS da EMBRAPA/MA data de 1978 com algumas alterações introduzidas em 1983 e nova edição actualizada em 1995. O sistema contempla três níveis de manejo, a saber: A - pouco desenvolvido; B - semidesenvolvido; C - desenvolvido (saem irrigação) e aptidão de terras é feito considerando separadamente cada um dos níveis de manejo. Os outros factores limitantes considerados são em número de cinco: - deficiência de fertilidade; deficiência de água; deficiência de oxigénio (excesso de água); susceptibilidade à erosão; impedimento a mecanização. Os graus de limitações, ou seja, a intensidade de actuação de cada factor, sã também em número de cinco: nulo; ligeiro; moderado; forte; muito forte. O sistema contempla quatro classes de aptidão: Boa; Regular; Restrita; Inapta. Observe-se que a mesma terra pode e normalmente tem, aptidão de classes diferentes para os vários níveis de manejo. Em sua concepção o siste prevê seis grupos de aptidão: 1,2 e 3 - com aptidão para lavouras em pelo menos um nível de manejo; 4 - aptidão para pastagem plantada; 5 - aptidão para silvicultura / pastagem natural; 6 - sem aptidão agrícola. Subgrupos são os diferentes conjuntos de classes de aptidão dentro de um grupo. Admitem-se dois níveis de viabilidade de melhoramento, isto é, a introdução de procedimentos que permitem reduzir o grau de algum factor limitante. Esta premissa não vale para o factor de deficiência de água, visto não haver irrigação, nem para o nível de manejo A que não dispõe de recursos técnicos e financeiros para implantar o melhoramento. A viabilidade de nível 1 como regra é compatível com o nível de manejo B e a viabilidade 2 com o nível C. O enquadramento das unidades mapeadas se faz mediante: - atribuição de um grau de limitação a cada um dos factores considerados; - estudo comparativo entre aqueles atribuídos às terras e os que são estipulados no quadro-guia, adoptando-se aquele factor de limitação de grau de maior intensidade como referência última. 2.8. Esboço pedológico Em face dos nossos actuais conhecimentos não é possível delimitar perfeitamente as diversas manchas de solos nem definir todos os tipos de solos que ai se encontram. Por isso os limites das manchas indicados no Esboço devem considerar-se apenas aproximados e as manchas representam em geral associações de solos constituindo complexos zonais (complexos de caracter catenário na maior parte dos casos), mas por vezes assim não sucede, indicando a mancha o tipo que ai predomina, como, por exemplo, as manchas de solos vermelhos na Alta Zambézia, certas manchas de terras negras e de solos castanhos, etc. Para certas áreas (Alto Rovuma, grande parte de Tete e outras) não possuímos elementos que permitam indicar que tipos de solos ai se encontram, esperando que o prosseguimento dos trabalhos agora em curso permita em breve preencher estas lacunas. Na faixa litoral entre a Beira e o Zambeze, as informações e os dados de que dispomos levam-nos a considerar a existência nesses locais de solos arenosos adros, pelo que se escreveu esta designação no próprio mapa. Por motivos que facilmentese compreendem, simplificou-se a marcação neste Esboço das manchas que ocorrem no Sul do Save. Assim, por exemplo, não se distinguiram as diversas manchas de solos arenosos, da faixa arenosa costeira, demarcadas na Carta Provisória. Figura 1: Mapa de Esboço Pedológico Fonte: Internet 2.9. Mapa de solos Figura 2: Mapa de solos de Moçambique Fonte: Internet 2.10. Conclusão Neste trabalho, entende-se que solo é o corpo natural da superfície terrestre, constituído de materiais minerais e orgânicos resultantes das interacções dos factores de formação (clima, organismos vivos, material de origem e relevo) através do tempo, contendo matéria viva e em parte modificado pela acção humana, capaz de sustentar plantas, de reter água, de armazenar e transformar resíduos e suportar edificações. De acordo com a sua localização geográfica e astronómica, o nosso país possui uma grande variedade de solos típicos das regiões tropicais e subtropicais. De uma maneira geral na composição mineralógica dos solos Moçambicanos predominam materiais ferruginosos e aluminosos, sendo por isso, considerados pedalfericos ou feraliticos. Estas abundâncias de materiais ferruginosos e aluminosos, é fruto da resistência destes elementos aos processos de desagregação das rochas-mãe em condições climáticas de regime tropical. A aptidão agrícola dos solos de Moçambique agrícola dos solos é definida por uma combinação de factores como a forma do terreno, os tipos de solo, a espessura e os declives associados a um amplo potencial agrícola. Moçambique é um imenso território com enormes potencialidades em recursos naturais, mercê das suas condições físico-geográficas, nomeadamente condições agro-climáticas, pedológicas, de flora e fauna, sistemas hidrográficos e os recursos a eles associados, as formações montanhosas e ecossistemas afins, os centros urbanos e as potencialidades em infra-estruturas, sendo de destacar o importante Delta do Zambeze; a faixa marítima incluindo os ecossistemas costeiros, entre outros recursos naturais. Existe uma grande restrição para agricultura de subsistência que representa a maior parte da força do trabalho a nível do país. As aplicações de fertilizante e a adopção de técnicas de manejo para elevação da produtividade agrícola, devem ser levadas em consideração, desde que as aplicações de fertilizantes sejam precedidas pelas análises de solos de rotina ou resultados de ensaios experimentais, para melhor optimização dos recursos (Embrapa, 1999), por ser o mais bem trabalhado para solos tropicais, além da facilidade do uso da língua portuguesa no meio técnico moçambicano. Bibliografia Miller, F.P. Soil Science: A scope broader than its identity. Soil Sci. Soc. Am. J., 1993. Milne G.; Beckley, V. A.; Jones, G. H. G.; Martin, W. S.; Griffith, G.; Raymond, L. W. - 1936 -A Provisional Soil Map of East Africa (Ke'Yllya, Uganda, Tanganyika and Zanzibar), with explanatory memoir. Amani Memoirs. Empresa Brasileira de Pesquisas Agro-pecuárias (EMBRAPA). Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Rio de Janeiro: CNPS, 1999. Beek, K.J.; Bennema, J.; Camargo, M.N. Soil Survey Interpretathion in Brazil. A System of land capability for Reconaissaince Surveys. Wageningen: DPFS/FAO/STIBOKA.1964. Lepsch, I. et al. Manual para o Levantamento utilitário do meio físico e classifica-ção de terras no sistema de capacidade de Uso. Campinas: SBSC. 1983. Ramalho Filho, A.; Beek, K.J. Sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras. 3 ed. Rio de Janeiro: SUPLAN-EMBRAPA/SNLCS, 1995. https://escola.mmo.co.mz/classificacao-e-distribuicao-dos-solos-em-mocambique/ image1.jpeg image2.jpeg