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Professor(a) Esp. Verônica Graciela Rapcinski NUTRIÇÃO CLÍNICA E DIETOTERAPIA I REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Me. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EAD Profa. Ma. Sônia Maria Crivelli Mataruco COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Marcelino Fernando Rodrigues Santos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos Hugo Batalhoti Morangueira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira Carlos Henrique Moraes dos Anjos Kauê Berto Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP R216n Rapicinski, Verônica Graciela Nutrição clínica e dietoterapia I / Verônica Graciela Rapicinski. Paranavaí: EduFatecie, 2024. 90 p.: il. Color. 1. Dietoterapia. 2. Obesidade - Nutrição. 3. Dieta na doença. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23. ed. 615.854 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock e Freepik. 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ https://www.freepik.com/ 3 Professor(a) Esp. Verônica Graciela Rapcinski • Bacharel em Nutrição (UNIPAR). • Especialista em Nutrição Clínica Ambulatorial e Hospitalar (UNOPAR). • Especialista em Modulação Intestinal. • Docente do curso de Nutrição da Unifatecie. • Docente conteudista - EAD Unifatecie • Coordenadora do Núcleo da Saúde -EAD da Unifatecie. • Atuação em Atendimento Clínico e Domiciliar de Idosos. • Atuação em Nutrição Hospitalar e Oncologia por 10 anos. • Atuação em cuidados de idosos em Lisboa, Portugal. • Atuação na ONG Tenho Fome-Aldeia Nissi em Kuito-Bié/Angola. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/3002735943031079 AUTOR http://lattes.cnpq.br/3002735943031079 4 Bem-vindo(a) à nossa unidade de Nutrição Clínica e Dietoterapia I, uma fonte abran- gente e essencial para compreender os princípios fundamentais que norteiam a interseção entre a nutrição e a saúde clínica e a aplicação da Dietoterapia. Neste material, exploraremos a aplicação prática dos conhecimentos nutricionais na abordagem clínica, visando promover a saúde integral dos indivíduos. Desde a com- preensão das necessidades nutricionais específicas em diferentes condições clínicas até a formulação de estratégias dietéticas personalizadas, cada seção desta unidade é cuidado- samente elaborada para fornecer uma base sólida de conhecimentos. Na unidade I, exploraremos as bases fundamentais da Dietoterapia, abordando não apenas conceitos essenciais, mas também a aplicação prática das dietas hospitalares, além de aprofundarmos o entendimento sobre Nutrição Enteral e Parenteral. Ao avançarmos para a unidade II, o foco se volta para a Dietoterapia em pacientes específicos, começando pelo Paciente Obeso. Nesse contexto, examinaremos a relação entre a dieta, a Síndrome Metabólica e a aplicação da dietoterapia no manejo do paciente Diabético. Na sequência, na unidade III, exploraremos a Dietoterapia em Doenças Cardiovas- culares, destacando condições como Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Dislipidemias, Infarto Agudo do Miocárdio e Aterosclerose. Essa seção fornecerá uma compreensão abrangente das estratégias nutricionais para enfrentar essas patologias. Na última unidade, a IV, encerraremos nosso estudo abordando a Dietoterapia em Doenças da Cavidade Oral, Esôfago e Intestino. Aqui, incluiremos tópicos como Disfagia, Doenças Gástricas e Intestinais, e as Doenças Tireoidianas. Este módulo proporcionará uma visão abrangente da aplicação prática da Dietoterapia em diversas condições relacio- nadas a essas áreas específicas do corpo. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL 5 UNIDADE 4 Dietoterapia nas Doenças da Cavidade Oral, Esôfago e Intestino Dietoterapia nas Doenças Cardiovasculares UNIDADE 3 Dietoterapia na Obesidade UNIDADE 2 Bases da Dietoterapia UNIDADE 1 SUMÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Bases da Dietoterapia • Dietas Hospitalares • Terapia Nutricional Enteral e Parenteral Objetivos da Aprendizagem • Conhecer as principais dietas aplicadas ao processo saúde/ doença. • Compreender e intervir no processo de saúde/doença. • Estabelecer a importância do conhecimento para ofertar ao organismo debilitado nutrientes adequados e específicos para cada patologia, conseguindo adaptar o estado nutricional, favorecendo a recuperação e promovendo melhora e adequação de seu estado nutricional. Professor(a) Esp. Verônica Graciela Rapcinski BASES DA BASES DA DIETOTERAPIADIETOTERAPIA1UNIDADEUNIDADE INTRODUÇÃO 7BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 Olá, querido (a) aluno (a), você acaba de iniciar uma etapa de conhecimento muito importante na sua jornada acadêmica enquanto um futuro Nutricionista. Nessa etapa, você contará com uma ferramenta de saúde muito especial do profissional de nutrição, onde utilizaremos os alimentos paraprevenção de enfermidades, assim como para tratá-lo a fim de obter os nutrientes necessários para melhorar o estado nutricional. Nessa unidade, trataremos indivíduos portadores de uma ou mais doenças por meio de uma alimentação adequada e específica para a patologia. Eu, como nutricionista hospitalar e oncológica por mais de dez anos, sou uma profissional apaixonada pela ciência da Dietoterapia e por como ela aplica a dieta como um princípio terapêutico. Já vivenciei inúmeras histórias em que a dietoterapia trouxe qualidade de vida ao paciente. Espero contribuir muito para sua formação acadêmica através dessa disciplina tão especial e apaixonante. Bons estudos! BASES DA DIETOTERAPIA1 TÓPICO 8BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 Sabemos que o alimento é o nosso combustível, e sem ele não há vida. Através de uma alimentação adequada, teremos saúde, enquanto uma alimentação inadequada pode causar prejuízos e até nos sujeitar a doenças. A alimentação e seus padrões têm muitas influências como preceitos religiosos, familiares, hábitos alimentares, tabus, e fa- tores culturais os quais nos são incutidos desde nossa infância e assim passamos a ter nossas preferências alimentares. Seja na saúde ou doença existe a importância de uma alimentação adequada às necessidades individuais de cada um. Define-se a dietoterapia como a ciência que promove a manutenção da saúde, prevenção e tratamento de doenças. Através da dieta e de uma alimentação adequada, a dieta entra como um princípio terapêutico. A palavra dieta vem do termo grego diaita, que significa cuidar da vida, estilo de vida, ou modo de vida. A dietoterapia é uma ferramenta da saúde e do profissional nutricionista, que utiliza os alimentos para prevenção e tratamento de doenças. Oferecendo nutrientes específicos e adequados ao tipo de doença, condições físicas, nutricionais e psicológicas, à medida que busca a manutenção e/ou recuperação do estado nutricional. Devemos entender que o cuidado nutricional do paciente doente ou até mesmo hospitalizado é mais complexo. Dietoterapia é uma área da nutrição que se concentra no uso terapêutico de uma alimentação adequada e equilibrada para o tratamento de diferentes condições de saúde. Envolve o estudo das propriedades dos alimentos, nutrientes e seus efeitos no organismo, bem como a aplicação desse conhecimento no tratamento de doenças específicas. Ela utili- za a alimentação como forma de tratamento de doenças e promoção da saúde, se baseando 9BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 em princípios científicos e diretrizes nutricionais na elaboração de planos alimentares espe- cíficos que atendam às necessidades individuais dos pacientes (SAMPAIO, 2012). A resolução do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN ) n° 304, de fevereiro de 2003, nos traz que a prescrição dietética é uma atividade privativa do nutricionista, e este deve utilizar estratégias e técnicas terapêuticas específicas para realizar esta prescrição. Lembrando que a prescrição dietética deve constar no prontuário do paciente, esta deverá conter consistência da dieta, os macros e micronutrientes mais importantes de acordo com o caso clínico, fracionamento, Valor Energético Total (VET), data, assinatura seguida de carimbo, número e região da inscrição no Conselho Regional de Nutricionistas (CRN) do nutricionista que esteja responsável pela prescrição. 1.1 Princípios da Dietoterapia • Compreender a ação que o nutriente tem no organismo. • Conhecer o diagnóstico e fisiopatologia predominante ao paciente. • Compreender a evolução da doença. 1.2 Prescrição Dietoterápica Se torna necessário conhecer a história clínica do paciente, assim como a patologia que o acomete, alterações e sintomas gastrointestinais, seus hábitos de alimentação aos quais se incluem hábitos culturais e religiosos que possam estar presentes em sua alimen- tação, a escolaridade e capacidade de interpretação e entendimento das orientações e mudanças da dieta. Seu estado físico também, como dentição, alterações na cavidade oral, como por exemplo presença de mucosites, mastigação. Uso de medicamentos, ou se está em tratamento quimioterápico e radioterapia. Entre outros. È possível dividir essa prescrição dietoterápica em alguns passos: 01. Entrevista e anamnese com o paciente; 02. Avaliação do Estado Nutricional; 03. Hipótese Diagnóstica Nutricional; 04. Conduta Alimentar; 05. Avaliação da aceitação da dieta ofertada; 06. Intervenção Nutricional. Em vista disso, compreende-se que a avaliação nutricional é o ponto de partida da dietoterapia, pois permite identificar as necessidades nutricionais individuais, bem como possíveis deficiências ou excessos de nutrientes. Ela engloba a análise de dados clínicos, 10BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 antropométricos, bioquímicos e dietéticos do paciente. A avaliação nutricional é um proces- so sistemático e contínuo, fundamental para o diagnóstico nutricional e o estabelecimento de um plano terapêutico adequado (SAMPAIO, 2012). Já a prescrição dietética, consiste na elaboração de um plano alimentar individua- lizado, considerando as necessidades nutricionais específicas do paciente e a adequação aos seus objetivos terapêuticos. É importante levar em conta fatores como idade, sexo, composição corporal, atividade física e condições clínicas. Deverá ser personalizada, le- vando em consideração as características individuais do paciente e as recomendações nutricionais estabelecidas (PHILIPPI, 2018). O monitoramento e acompanhamento do paciente são essenciais na dietoterapia, permitindo avaliar a eficácia do plano alimentar, realizar ajustes quando necessário e garan- tir a adesão do paciente às recomendações nutricionais. É fundamental o monitoramento e acompanhamento contínuos na dietoterapia, visando assim avaliar a evolução do paciente e promover intervenções adequadas para alcançar os objetivos propostos (SILVA, 2020). A dietoterapia deve ser embasada em evidências científicas atualizadas, as quais são obtidas a partir de estudos clínicos, revisões sistemáticas e diretrizes nutricionais. A utilização de informações confiáveis é fundamental para garantir a eficácia e a segurança dos planos alimentares, à medida que permite oferecer tratamentos nutricionais efetivos, seguros e de qualidade (BRASPEN, 2019). Não podemos esquecer o papel fundamental que a educação alimentar desem- penha na dietoterapia, pois visa promover mudanças de hábitos alimentares e comporta- mentais que contribuam para a melhoria do estado nutricional e a manutenção da saúde. É necessário fornecer orientações claras e individualizadas ao paciente, visando a adoção de uma alimentação adequada e equilibrada. A educação alimentar leva o paciente a tomar decisões conscientes sobre sua alimentação, adotando assim hábitos saudáveis a longo prazo (PEREIRA, 2020). Além disso, também analisa a integridade do trato gastrointestinal, para indicar a melhor via para ofertar a dieta. Avaliando também como está a condição da aceitação e ingestão da dieta ofertada, a digestão e absorção do paciente. Lembre-se, o ambiente hospitalar é difícil e hostil, tornando-se impessoal, e tudo isso contribui para a diminuição da ingestão alimentar, redução de peso e inadequação do estado nutricional do paciente, aumentando a morbimortalidade. Em vista disso, cabe ressaltar que existem algumas vias de suporte nutricional, tais como o oral, enteral e parenteral. DIETAS HOSPITALARES2 TÓPICO 11BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 Para atender às necessidades individuais de cada paciente no ambiente hospitalar, as dietas recebem algumas classificações, as quais serão descritas ao longo deste capítulo. As dietas podem ser divididas como: • Dietas de Rotina. • Dietas Terapêuticas. • Dietas Especiais para Exames. Dietas de Rotina: As dietas de rotina são utilizadas em pacientes hospitalizados que não apresentam necessidades nutricionais especiais ou restriçõesalimentares específicas. Elas são proje- tadas para fornecer uma alimentação balanceada e adequada, considerando as necessida- des nutricionais básicas do paciente. Não há restrição de nutrientes, porém a modificação na consistência da comida, como pastosas, líquidas, mas o alimento em si não sofre modificações. Dietas Terapêuticas: São destinados a tratamentos, ocorrendo alterações nos nutrientes presentes, podendo ser reduzidos ou aumentados conforme o tratamento indicado. Por exemplo, hipoproteicas, normoproteicas ou hiperproteicas. No entanto, sempre estão associadas a uma dieta de rotina, como o exemplo de uma dieta pastosa hiperproteica. Dietas Especiais para Exames: Acontecem por períodos curtos, apenas para preparo do paciente para a realização de algum tipo de exame. 12BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 Quando falamos em mudanças nas modificações da dieta encontraremos mudan- ças na consistência, temperatura, volume, fracionamento, características químicas como hiper ou hipoproteica, e exclusão de algum alimento ou nutriente específico. 2.1 Dietas normais/ rotina Geral: dieta indicada ao paciente que não tem restrições a nenhum tipo de alimen- to, ou necessidade de mudança na consistência. Todos os alimentos são permitidos, não há exclusão. Possuem característica normoglícida, normoproteica e normolipídica, geralmente são distribuídas em 5 a 6 refeições diárias. Branda: parecida com a dieta geral, porém tem a consistência mudada, abrandada pela cocção, são excluídos desse tipo de dieta os condimentos, frituras, embutidos, bebidas gaseificadas, alimentos crus, hortaliças, frutas com casca. Composta por alimentos macios. É uma dieta de transição para dieta geral, utilizada em pacientes com algum problema mecânico, ou para facilitar a digestão. Tem característica, normoglícida, normoproteica e normolipídica, geralmente são distribuídas em 5 a 6 refeições diárias. Pastosa: também possui consistência macia, abrandada pela cocção, porém os ali- mentos são moídos, triturados, em forma de purês, para facilitar a mastigação e deglutição, de forma a produzir pouco esforço. É necessário a exclusão dos alimentos presentes na dieta branda, carnes inteiras ou em pedaços, pão francês, pão de forma integral, hortaliças cozidas em pedaços e frutas inteiras. Tem característica normoglicídica, normoproteica e normolipídica e é distribuída em 5 a 6 refeições por dia. Dieta Leve: essa dieta tem consistência semilíquida, também abrandada pela cocção, onde são ofertados sopa no almoço e no jantar, para que os alimentos para que os alimentos tenham mastigação e deglutição com pouco esforço e em situações onde a função gastrointestinal esteja moderadamente alterada. Deverão ser excluídos todos os alimentos da dieta branda e pastosa, exceto biscoitos e frutas cruas e macias. Sua carac- terística hiperglicídica, normoproteica e hipolipídica, distribuída em 5 a 6 refeições por dia. Essa dieta tem característica de baixa caloria, dessa forma a utilização por longos períodos deve ser monitorada, pois há a carência de nutrientes, podendo comprometer o estado nutricional do paciente. Dieta Líquida: Como o próprio nome já diz sua consistência é líquida. Deve ser utilizada em períodos curtos, na presença de restrição da função digestiva, problemas me- cânicos do trato digestivo superior, preparo de exames e também no pré e pós-operatório. Serão permitidos apenas os alimentos líquidos ou que se liquefazem na boca, como sopa líquida coada, caldo, suco de fruta coado, gelatina, chá, leite, iogurte e mingau ralo. Tem 13BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 característica hiperglicídica, normoproteica e hipolipídica, com distribuição de 5 a 6 refei- ções por dia. Em uso prolongado, é necessário o acompanhamento contínuo do paciente verificando a necessidade de suplementação nutricional. 2.2 Dietas modificadas Branda sem Resíduos: mesma característica da dieta branda, porém com a ex- clusão do leite e alimentos crus. Utilizada em casos de diarreia ou preparo de exames, que necessitem manter o controle peristáltico. Pastosa sem Resíduos: Mantêm a característica da dieta pastosa, porém com a exclusão do leite e alimentos crus. Sua indicação acontece quando é necessário repouso gastrintestinal e para facilitar ingestão e deglutição. Leve sem Resíduos: apresenta consistência semi-líquida, hipocalórica, com isen- ção de celulose, tecido conectivo e leite. Sua indicação se dá em casos que seja necessário repouso intestinal, no preparo de exames, pré e pós-operatório. Indicado uso por curtos períodos, caso contrário necessita monitoramento, para que não haja comprometimento do estado nutricional. Líquida sem Resíduos: mantém consistência líquida, sem leite, hipocalórica. Sua indicação se dá em situações clínicas que seja necessário manter o “ intestino limpo”, como em alguns exames, pré ou pós-operatório imediato. Indicada como uma hidratação por pe- ríodos curtos, eventualmente, em casos de períodos maiores é necessário a suplementação. Independente da consistência das dietas modificadas, todas são indicadas para manter o repouso intestinal. 2.3 Dietas especiais As dietas especiais são aquelas que precisam de alguma alteração de nutriente ou até mesmo na forma do preparo. Elas podem ser prescritas em diferentes consistências, como por exemplo dieta pastosa hipossódica, ou dieta geral hipossódica. Hipocalórica: apresenta redução em seu valor calórico e também na quantidade dos alimentos ofertados. Sua indicação se dá para redução de peso pós-operatório da cirurgia bariátrica. Hipercalórica: diferente da dieta hipocalórica, essa dieta apresenta aumento do seu valor calórico e da quantidade de alimentos ofertados. Tem indicação em casos de recuperação e ganho de peso em estados catabólicos de doenças, desnutrição, queimadu- ras, câncer e AIDS. 14BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 Hipoproteica: dieta indicada principalmente para pacientes renais, com restrição a proteína de origem animal. Hiperproteica: apresenta aumento na quantidade de proteínas, principalmente as de origem animal. Sua indicação se dá em casos infecciosos, desnutrição, queimaduras, câncer, AIDS ou em outras situações que seja necessário o aumento da oferta proteica. Hipogordurosa: apresenta isenção de alimentos gordurosos, como manteiga, óleo, azeite, embutidos, oleaginosas, frituras, carnes gordurosas, leite e derivados integrais. Sua indicação se dá para hepatopatias, doenças pancreáticas e vesículas biliares. Hipossódica: Deve apresentar baixo teor de sódio tanto nos alimentos quanto nas preparações, não deve conter adição de sal no preparo da dieta, fazer uso apenas de tem- peros naturais. Evitar alimentos enlatados, embutidos, conservas, carnes secas, temperos e molhos industrializados. Indicada na hipertensão, doenças renais, edemas e doenças cardíacas. É uma dieta que apresenta baixa adesão devido a palatabilidade da dieta, sendo muito importante utilizar recursos nas preparações para melhorar a aceitação. Hipocalêmica: Dieta pobre em potássio, restringe-se alimentos ricos em potássio, ou pode-se utilizar da cocção para redução dos níveis de potássio. Dieta indicada nos casos de dificuldade de excreção do Potássio. Pobre em Vitamina K: Indicada em casos de problemas com coagulação, em pacientes que fazem uso de medicação anticoagulante, restringindo então alimentos que possam favorecer a coagulação sanguínea, como brócolis, repolho, couve, espinafre, nabo, alface, leite, ovo, fígado, óleo de canola e soja. Laxativa: dieta indicada em casos de obstipação intestinal, rica em alimentos que aumentem o volume fecal, e peristaltismo intestinal. Inclui-se alimentos ricos em fibras insolúveis, como os cereais integrais, farelo de trigo, hortaliças cruas, frutas com casca. Para Diabéticos: Restringe-se os carboidratos simples e acrescenta-se os carboi- dratos complexos, dieta isenta de açúcar, indicada para controleglicêmico de pacientes diabéticos ou em caso de hiperglicemia. Todas as dietas aqui apresentadas fazem parte da rotina hospitalar, por isso é de suma importância que você como um futuro nutricionista conheça cada consistência, fisio- patologias e diagnósticos nutricionais para entender qual a melhor indicação, consistência e a evolução da dieta em cada caso. DIETA ENTERAL E PARENTERAL3 TÓPICO 15BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 Já entendemos a importância e o papel dos nutrientes, tanto no fornecimento diário de energia requerida como na manutenção da homeostase metabólica e função fisiológica. Em eventos onde a quantidade de proteínas e calorias se torna insuficiente para suprir a necessi- dade requerida, o organismo começa então a entrar em processo de desnutrição (LIMA, 2018). E, na nutrição clínica, acontece o estudo das vias alternativas para a administração de nutrientes, utilizada naqueles pacientes que se encontram em processo de desnutrição os quais são incapazes de ingerir ou digerir, através da alimentação via oral, os alimentos em quantidade suficiente para suprir as suas necessidades, garantindo a manutenção e adequação do estado nutricional (LIMA, 2018). A Terapia Nutricional então se caracteriza como o conjunto de procedimentos tera- pêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio de nutrição parenteral e/ou nutrição enteral. 3.1 Nutrição enteral O suporte nutricional enteral é o procedimento onde acontece o fornecimento de nutrientes ao trato gastrintestinal (TGI), para suprir a demanda corporal. De acordo com a Resolução 63 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, de 6/7/2000, a Nutrição Enteral é caracterizada como: alimento para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes na forma isolada ou combinada, de composição química definida ou estimada, espe- cialmente elaborada para uso por sondas ou Via Oral, industrializados ou não, utilizado exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme a suas necessi- dades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção de tecidos, órgãos ou sistemas (BRASIL, 2000). 16BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 A dieta enteral é um tipo de terapia nutricional que consiste na administração de nutrientes através do trato digestivo, utilizando uma sonda nasogástrica, nasoenteral, gastrostomia ou jejunostomia. Essa forma de alimentação é indicada para pacientes que não conseguem ingerir alimentos de forma adequada ou têm dificuldades de absorção de nutrientes pelo trato gastrointestinal (WAITZBERG, 2019). Nesse contexto, a dieta enteral é formulada de acordo com as necessidades nutri- cionais individuais do paciente, considerando seu estado clínico, idade, peso, metabolismo e objetivos terapêuticos. Ela é composta por fórmulas específicas, que podem ser poliméri- cas, oligoméricas ou modulares, contendo uma combinação de macronutrientes (proteínas, carboidratos e gorduras), micronutrientes (vitaminas e minerais) e fibras. Essas fórmulas são desenvolvidas para fornecer a quantidade adequada de calorias, proteínas e nutrientes necessários para a manutenção ou recuperação da saúde do paciente (BRASPEN, 2019). As fórmulas enterais são formuladas com base em evidências científicas e dire- trizes nutricionais. É importante ressaltar que a prescrição e o acompanhamento da dieta enteral devem ser realizados por profissionais de saúde qualificados, como nutricionistas ou médicos especializados em terapia nutricional, garantindo assim uma adequada seleção da fórmula e monitoramento do paciente. A dieta enteral possui indicações específicas para diferentes condições clínicas, tais como desnutrição, ou quando a ingesta oral estiver inadequada e não possa prover a necessida- de calórica de 2/3 a 3/ 4 das necessidades diárias nutricionais, no câncer, doenças neurológicas, doenças inflamatórias intestinais, quando o trato gastrointestinal estiver total ou parcialmente funcionante, entre outras. Seu objetivo principal é fornecer nutrientes essenciais para suprir as necessidades do paciente, mantendo ou melhorando seu estado nutricional (CUPPARI, 2014). TABELA 1: INDICAÇÕES DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM ADULTOS PACIENTES QUE NÃO PODEM SE ALIMENTAR ● Inconsciência ● Anorexia Nervosa ● Lesões Orais ● Acidentes vasculares cerebrais ( AVC) ● Neoplasias ● Doenças desmielinizantes PACIENTES COM INGESTÃO ORAL INSUFICIENTE ● Trauma ● Septicemia ● Alcoolismo Crônico ● Depressão Grave ● Queimaduras PACIENTES NOS QUAIS A ALIMENTAÇÃO COMUM PRODUZ DOR E/OU DESCONFORTO ● Doença de Crohn ● Colite Ulcerativa ● Carcinoma do trato gastrintestinal ● Pancreatite ● Quimioterapia ● Radioterapia PACIENTES COM DISFUNÇÃO DO TRATO GASTRINTESTINAL ● Síndrome de má absorção ● Fístula ● Síndrome do intestino curto Fonte: CUPPARI, 2014 A dieta enteral contribui para melhora da resposta imune, prevenção de atrofia intestinal, impedindo a translocação bacteriana, diminuindo a resposta inflamatória, fortale- cendo assim sua indicação (CUPPARI, 2014). 17BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 TABELA 2: INDICAÇÕES DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM CRIANÇAS → Anorexia/perda de peso → Crescimento deficiente → Ingestão via oral inadequada → Desnutrição: aguda, crônica e hipoproteinemia → Estados hipercatabólicos: queimaduras, sepse, → trauma, doenças cardiológicas e respiratórias → Doenças neurológicas → Coma por tempo prolongado → Anomalias congênitas: fissura do palato, atresia do → esôfago, fístula traqueoesofágica, outras anomalias → do trato gastrointestinal (TGI) → Doença ou obstrução esofágica → Cirurgia do trato gastrointestinal (TGI) → Diarréia crônica não-específica → Síndrome do intestino curto → Fibrose cística → Câncer associado a quimioterapia, radioterapia → e/ou cirurgia Fonte: CUPPARI, 2014 As contraindicações na terapia enteral normalmente são mais temporárias que absolutas. Podemos observar algumas destas contraindicações citadas na tabela 3. TABELA 3: CONTRAINDICAÇÕES DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL → Disfunção do TGI ou condições que requerem repouso intestinal → Obstrução mecânica do TGI → Refluxo gastroesofágico intenso → Íleo paralítico → Hemorragia GI severa → Vômitos e diarreia severa → Fístula do TGI de alto débito ( >500mL/dia ) → Enterocolite severa → Pancreatite aguda grave → Doença terminal → Expectativa de utilizar a TNE em período inferior a 5 e 7 dias para pacientes desnutridos ou 7 a 9 dias para pacientes bem nutridos Fonte: CUPPARI, 2014 VIAS DE ACESSO: A administração da dieta enteral pode ser realizada de diferentes formas, depen- dendo da via de acesso escolhida. Podem ser localizadas no estômago, duodeno ou jejuno, de acordo com as alterações orgânicas estabelecidas, ou até mesmo rotinas de adminis- tração utilizadas. Aos pacientes que necessitarão de nutrição enteral por um período de tempo que seja inferior a 6 semanas, a via indicada é a sonda nasoenteral, sendo esta a mais utilizada devido a seu baixo custo, fácil colocação. Por outro lado, se a terapia 18BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 nutricional terá um período de duração maior que 6 semanas é indicado a gastrostomia e a jejunotosmia (CUPPARI, 2014). O local de administração é um dos fatores que se deve analisar para escolha da via de acesso, seja ela intragástrica ou pós-pilórica. Fonte: CUPPARI, 2014 pg 532 As principais vias de administração incluem: Sonda nasogástrica (SNG): A sonda é inserida através do nariz e alcança o estô- mago. É a via mais comum de administração da dieta enteral e pode ser temporária ou de longa duração, dependendo das necessidades do paciente. Sonda nasoenteral (SNE): A sonda também é inserida através do nariz, passan- do pelo estômago e alcançando o intestino delgado (duodeno ou jejuno). Sendo utilizada quando há contraindicação para a passagem da sonda pelo estômago ou quando anutrição precisa ser administrada diretamente no intestino. Gastrostomia ou jejunostomia: São procedimentos cirúrgicos que envolvem a in- serção de uma sonda diretamente no estômago (gastrostomia) ou no jejuno (jejunostomia), por meio de uma abertura no abdômen. Essas vias são utilizadas quando a alimentação enteral é necessária por um período prolongado (WAITZBERG, 2019). TABELA 4: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA LOCALIZAÇÃO GÁSTRICA E DUODENAL/JEJUNAL LOCALIZAÇÃO GÁSTRICA LOCALIZAÇÃO DUODENAL E JEJUNAL VANTAGENS Maior tolerância a fórmulas variadas (proteínas in- tactas, proteínas isoladas, aminoácidos cristalinos) Menor risco de aspiração Boa aceitação de fórmulas hiperosmóticas Maior dificuldade de saída acidental da sonda Permite a progressão mais rápida para alcançar o valor calórico total ideal Permite a nutrição enteral quando a alimentação gástrica é inconveniente e inoportuna Em razão da dilatação receptiva gástrica, possibilita a introdução de grandes volumes em curto tempo *** Fácil posicionamento da sonda LOCALIZAÇÃO GÁSTRICA LOCALIZAÇÃO DUODENAL E JEJUNAL DESVANTAGENS Alto risco de aspiração em paciente com dificul- dades neuromotoras de deglutição Risco de aspiração em pacientes que têm mobili- dade gástrica alterada ou são alimentados à noite A ocorrência de tosse, náuseas ou vômitos favore- ce a saída acidental da sonda nasoenteral Desalojamento acidental, podendo causar refluxo gástrico Requer dietas normo ou hiperosmolares Fonte: Adaptado de CUPPARI (2014). 19BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 A escolha da via de administração depende das características clínicas e das necessi- dades individuais de cada paciente, bem como das restrições e da capacidade do trato digestivo. Ao prescrever uma dieta enteral, é fundamental considerar as necessidades nutri- cionais específicas do paciente. Isso inclui a determinação das necessidades energéticas, proteicas, de carboidratos, gorduras, vitaminas, minerais e fibras, com base na condição clínica, na composição corporal e nas metas terapêuticas. As fórmulas enterais disponíveis no mercado são projetadas para atender a diferen- tes necessidades clínicas e nutricionais. Elas podem ser poliméricas, contendo nutrientes completos na forma de proteínas intactas, carboidratos complexos e lipídios; ou oligoméri- cas, contendo nutrientes parcialmente hidrolisados e de fácil digestão. É importante mencionar que a prescrição e o acompanhamento da dieta enteral devem ser feitos por profissionais de saúde capacitados, como nutricionistas, médicos e enfermeiros, com base em diretrizes e protocolos clínicos estabelecidos. Métodos de Administração da Dieta Enteral: Administração em bolo: Administrar a dieta com uso de uma seringa, 100 a 350 ml de dieta no estômago, de 2 a 6 horas, em seguida irrigando a sonda enteral com 20 a 30 ml de água potável. Administração intermitente: É utilizada a força da gravidade, administrando volu- me de 50 a 500 mL de dieta por gotejamento, de 3 a 6 horas, em seguida irrigando a sonda enteral com 20 a 30 ml de água potável. Administração contínua: Utilizada bomba de infusão, 25 a 150 mL/hora por 24 horas, administrada no estômago, jejuno e duodeno, pausa de 6 a 8 horas para irrigação da sonda enteral com 20 a 30 ml de água potável. Características Físicas das fórmulas: Osmolalidade: A osmolalidade é uma medida da concentração de partículas os- moticamente ativas em uma solução, expressa em miliosmoles por quilograma de água. Na dieta enteral, a osmolalidade pode variar de acordo com a composição da fórmula e a concentração de nutrientes e aditivos presentes. É a função do tamanho e quantidade de partículas iônicas e moleculares (proteína, carboidratos, eletrólitos e minerais) em determi- nado volume (CUPPARI, 2019). A osmolalidade da dieta enteral é um aspecto relevante a ser considerado, pois pode influenciar a absorção e a tolerância do paciente, especialmente em casos de com- prometimento gastrointestinal. Portanto, é importante que a osmolalidade da dieta enteral seja monitorada e ajustada de acordo com as necessidades e a condição clínica de cada 20BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 paciente, sempre sob a supervisão de um profissional de saúde qualificado. A osmolalidade é a medida mais precisa da concentração de partículas osmoticamente ativas em uma solução, pois é baseada na massa de solvente (água) em vez do volume total da solução (AGUILAR, 2019). Densidade calórica: A densidade calórica das fórmulas enterais se refere à quanti- dade de calorias fornecidas por unidade de volume da solução nutricional. É um parâmetro importante a ser considerado na prescrição e administração da dieta enteral, pois auxilia na determinação do aporte energético adequado para cada paciente. Ela varia de acordo com a composição nutricional da fórmula, incluindo a concentração de macronutrientes como proteínas, carboidratos e lipídios, bem como a presença de outros componentes calóricos, como fibras e aditivos (BRASPEN, 2016). Classificação das fórmulas: As fórmulas enterais são classificadas de acordo com sua composição nutricional e características específicas. A classificação pode variar de acordo com diferentes sistemas adotados, mas geralmente considera fatores como o teor de macronutrientes (proteínas, carboidratos e lipídios), a presença de fibras, os perfis de aminoácidos, o tipo de gordura utilizada e outros aditivos. Fórmulas poliméricas: são constituídas por proteínas intactas, carboidratos, lipí- dios e fibras alimentares, comumente é a mais utilizada (BRASPEN, 2016). Fórmulas oligoméricas: contêm proteínas parcialmente hidrolisadas e carboidra- tos de cadeia curta. Indicadas a pacientes que estejam com a capacidade digestiva e até absortiva parcial (CUPPARI, 2014). Fórmulas especializadas: são feitas e utilizadas em situações específicas de disfunções orgânicas e estresse metabólico (CUPPARI, 2014). Fórmulas modulares: compostas por nutrientes isolados, como aminoácidos, carboidratos simples e lipídios emulsionados (BRASPEN, 2016). As dietas caseiras ou artesanais são aquelas que tem o preparo à base de alimentos in natura, podendo utilizar juntamente industrializados como por exemplo os módulos ali- mentares, essas dietas são liquidificadas e preparadas de forma artesanal seja em cozinha doméstica ou hospitalar (CUPPARI, 2014). Complicações da Terapia Nutricional Enteral: Gastrintestinais: Náuseas, vômitos, estase gástrica, refluxo gastroesofágico, distensão abdominal, cólicas, flatulência, diarreia/obstipação. 21BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 Metabólicas: Hiperidratação ou desidratação, hiperglicemia ou hipoglicemia, alte- rações da função hepática, anormalidades de eletrólitos. Mecânicas: Erosão nasal, necrose, abscesso septonasal, sinusite aguda, roquidão, otite, faringite, esofagite, ulceração esofágica, estenose, fistúla traqueoesofágica, ruptura de varizes esofágicas, obstrução da sonda, saída ou migração acidental da sonda. Infecciosas: Gastroenterocolites por contaminação microbiana no preparo, utensí- lios e administração da dieta. Respiratórias: Aspiração pulmonar com síndrome de Mendelson (pneumonia química) ou pneumonia infecciosa. Psicológicas: Ansiedade, depressão, falta de estímulo ao paladar, monotonia alimentar, insociabilidade e inatividade (CUPPARI, 2014). 3.2 Nutrição Parenteral A nutrição parenteral (NP) consiste em uma solução estéril de nutrientes a qual é infundida através de via intravenosa, seja por meio do acesso venoso periférico ou central, o trato digestivo é totalmente excluído nesse processo (CUPPARI, 2014). A nutrição parenteral é uma forma de terapia nutricional que consiste na administra- ção de nutrientes diretamente na corrente sanguínea, contornando o trato gastrointestinal. Ela é utilizada quando o trato digestivo não pode ser utilizado ou quando a absorção de nutrientes é prejudicada devido a condições clínicas graves (WAITZBERG, 2019).É indicada para pacientes que não podem receber alimentação oral ou enteral adequada. Composta por uma solução que contém nutrientes essenciais, como aminoá- cidos, glicose, lipídios, eletrólitos, vitaminas e minerais, que são administrados através de uma via venosa central (cateter venoso central) ou periférica (cateter venoso periférico) (WAITZBERG, 2019). A prescrição da nutrição parenteral é individualizada, levando em consideração as necessidades nutricionais específicas do paciente, sua condição clínica, estado metabólico, composição corporal e objetivos terapêuticos. A composição da solução é determinada de acordo com essas necessidades, visando suprir as deficiências nutricionais e promover o estado nutricional adequado (WAITZBERG, 2019). Tipos: Nutrição parenteral periférica (NPP): é uma forma de terapia nutricional que envolve a administração de nutrientes por via intravenosa numa veia periférica, geralmente em membros superiores, como braços ou mãos. A NPP é utilizada quando não é possível ou recomendado o acesso a veias centrais, como a veia subclávia ou jugular. Consiste na 22BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 administração de nutrientes, vitaminas e minerais diretamente em uma veia periférica. Essa forma de terapia nutricional é utilizada quando o acesso a veias centrais não é possível ou não é recomendado, proporcionando uma fonte de nutrientes essenciais para pacientes com necessidades nutricionais elevadas ou insuficiência de ingestão oral (CURY, 2016). A nutrição parenteral periférica é uma opção terapêutica limitada, pois a adminis- tração de soluções nutricionais por veias periféricas possui algumas restrições em termos de concentração de nutrientes e volume total administrado. Geralmente, a NPP é utilizada em situações de curto prazo e quando não é possível a inserção de um cateter central. Sua indicação usual se dá para períodos curtos (7 a 10 dias), pois geralmente não atinge as necessidades nutricionais do paciente (CUPPARI, 2014). Nutrição parenteral total (NPT): consiste na administração de todos os nutrientes essenciais, incluindo carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas e minerais, diretamente em uma veia central. Essa forma de terapia nutricional é indicada para pacientes que não po- dem receber nutrição adequada por via oral ou enteral, proporcionando suporte nutricional completo para atender às necessidades do paciente (ROCHA, 2015). Sua indicação se dá quando o uso e tem indicação superior a 7 a 10 dias e oferece aporte energético e protéico total, a um paciente que não consiga tolerar uma ingestão via oral ou enteral. Geralmente sua indicação se dá quando o trato digestivo não está funcionando, obstruído ou inacessível (CUPPARI, 2014). Contra Indicações: É contraindicada a nutrição parenteral em pacientes que estejam hemodinami- camente instáveis, incluindo os que estejam com hipovolemia, choque cardiogênico ou séptico, edema agudo de pulmão, anúria em diálise ou aqueles que apresentem distúrbios metabólicos e eletrolíticos (CUPPARI, 2014). Monitoramento: O monitoramento adequado dos pacientes em uso de nutrição pa- renteral é essencial para garantir a eficácia e a segurança dessa forma de terapia nutricional. O acompanhamento regular permite avaliar a resposta do paciente à nutrição parenteral, iden- tificar possíveis complicações e fazer ajustes necessários para otimizar o suporte nutricional. No monitoramento clínico deve ser realizada uma avaliação clínica periódica, incluin- do o estado nutricional, sinais de infecção, integridade da pele, função hepática, função renal, equilíbrio hidroeletrolítico e glicemia. Esse monitoramento clínico é importante para identificar complicações associadas à nutrição parenteral e ajustar a terapia nutricional conforme neces- sário. O monitoramento clínico inclui avaliação de sinais vitais, estado nutricional, equilíbrio hidroeletrolítico, glicemia e função hepática, entre outros parâmetros (BRASPEN, 2016). 23BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 Já o monitoramento metabólico deve ser realizado a princípio diariamente, depois de 1 a 2 vezes na semana, os pacientes com TNP devem ter controle diário de eletrólitos e semanalmente do perfil parenteral, para a realização da adequação da terapia e monitora- ção de complicações.:(CUPPARI, 2014). Para avaliação nutricional é necessário avaliar o peso diariamente. A albumina e/ ou pré-albumina podem ser solicitadas semanalmente. Pacientes em estado febril com cateteres centrais que estejam recebendo nutrição parenteral podem necessitar de hemo- culturas do cateter e sistêmicas. Avaliar diariamente tanto o local da inserção quanto sinais de inflamação e até mesmo infecciosos (CUPPARI, 2014). Complicações: Mecânicas: infecção relacionada ao cateter, é uma das complicações mais comuns associadas ao uso de cateteres venosos centrais para a administração de nutrição paren- teral. Essas infecções podem estar localizadas no ponto de inserção do cateter (infecção local) ou podem se espalhar pelo sangue, causando uma infecção sistêmica (infecção re- lacionada ao cateter). Incluem pneumotórax, hidrotórax e lesão vascular (CUPPARI, 2014). Trombose venosa: é outra complicação que pode ocorrer em pacientes em uso de nutrição parenteral, especialmente quando cateteres venosos centrais são utilizados. A trombose venosa pode levar à obstrução do vaso e interferir no fluxo sanguíneo adequado. É uma complicação comum em pacientes submetidos à nutrição parenteral, ocorrendo em até 60% dos casos (BRASPEN, 2016). Metabólicas: hiperglicemia, balanço ácido-básico, disfunção hepática, síndrome da realimentação (CUPPARI, 2014). 24BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 Durante muito tempo o nutricionista foi visto como um profissional procurado apenas para quem buscava o emagrecimento, hoje, com o crescimento da profissão e atuação efetiva desse profissional, conseguimos entender que sua atuação vai muito além de apenas prescrever dietas. O profissional consegue avaliar cada impacto da alimentação na saúde dos indivíduos, proporcionar melhor qualidade de vida significativa e bem-estar a seus pacientes. Um dos lugares de atuação efetiva do nutricionista é na nutrição hospitalar, onde atuamos diretamente nas doenças, através da alimentação e nutrição efetiva. Através dos conhecimentos e condutas assertivas contribuímos para melhoria da qualidade de vida desses pacientes, minimizando o tempo de hospitalizações entre outros. Fonte: A autora (2024) A Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN) é uma importante referência na área e possui diretrizes atualizadas sobre a terapia nutricional parenteral. O Guia Brasileiro de Terapia Nutricional no paciente grave (2023) é uma publicação da BRASPEN que aborda os princípios e recomendações de Terapia Nutricional no paciente grave parenteral. A Diretriz da BRASPEN é baseada em evidências e foi preparada por um grupo de especialistas, apresen- tando 56 questões específicas, de relevância para a prática da terapia nutricional no paciente grave. As respostas agregam um conjunto de recomendações desenvolvidas para ajudar os profissionais de saúde na tomada de decisões, indicando os níveis de evidência seguindo as condutas do sistema GRADE. A Di- retriz aborda questões que vão desde a triagem e diagnóstico nutricional no paciente grave até a terapia nutricional em situações específicas, como cirúrgicos, queimados ou pancreatite, por exemplo. Ela também apresenta um quadro com a lista das recomendações. Fonte: https://www.braspen.org/_files/ugd/6ae90a_3e47ce9b0a7844999c5e402c04aae2f4.pdf https://www.braspen.org/_files/ugd/6ae90a_3e47ce9b0a7844999c5e402c04aae2f4.pdf 25BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 A dietoterapia desempenha um papel fundamental no tratamento e recuperação de pacientes hospitalizados. A compreensão de cada uma dessas bases da dietoterapia se torna essencial para garantir a oferta adequada de nutrientes e a promoçãoda saúde do paciente. Tanto as dietas hospitalares quanto a terapia enteral e parenteral desempenham um papel importante nesse contexto. As dietas hospitalares são planejadas de acordo com as necessidades individuais do paciente, considerando sua condição clínica, estado nutricional e possíveis restrições alimentares. Essas dietas podem variar desde a oferta de dieta oral regular até a utilização de dietas especiais, como a dieta líquida, dieta pastosa, dieta restrita em sódio, entre ou- tras. A adequação e o equilíbrio dos nutrientes nessas dietas são essenciais para suprir as necessidades do paciente, auxiliar na recuperação e evitar complicações nutricionais. Nesse sentido, não podemos esquecer que a terapia enteral é uma modalidade de nutrição que envolve a administração de nutrientes diretamente no trato gastrointestinal, seja por via oral ou por sondas nasogástricas, nasoenterais ou gastrostomias. A escolha da formulação enteral adequada, levando em consideração as necessidades nutricionais específicas, é fundamental para garantir a eficácia dessa terapia. E por último, nessa unidade tão importante, você também aprendeu sobre a terapia parenteral, a qual é utilizada quando o trato gastrointestinal está comprometido ou quando a ingestão oral ou enteral não é possível ou suficiente para atender às necessidades nutri- cionais do paciente. Fascinante não é mesmo?! A riqueza que a nutrição nos proporciona através da Dietoterapia. Em resumo, a dietoterapia é uma ferramenta essencial no cuidado hospitalar, buscando suprir as necessidades nutricionais dos pacientes. A escolha adequada das die- tas hospitalares, a utilização adequada da terapia enteral e parenteral, e o monitoramento regular dos pacientes são aspectos cruciais para o sucesso da terapia nutricional e contri- buem para a melhoria do estado nutricional e a recuperação dos pacientes. Espero vocês na próxima unidade!!!! CONSIDERAÇÕES FINAIS MATERIAL COMPLEMENTAR 26BASES DA DIETOTERAPIAUNIDADE 1 FILME/VÍDEO • Título: Nutrição Humana - e o estado metabólico │ Um Docu- mentário Sobre Dieta Cetogênica • Ano: 2018 • Sinopse: Você não pode se esconder do câncer. Ela toca cada um de nós de uma forma ou de outra. Enquanto a marcha contínua para encontrar uma cura, mais de 4.600 pessoas por dia - só nos EUA - recebem um diagnóstico de câncer. E se você ou um ente querido se tornar uma estatística? E se você descobrisse que há algo que você pode fazer - agora mesmo - para retomar o controle? Entre na dieta cetogênica. O conceito de comida como remédio não é novidade. O que é diferente agora é que a pesquisa do câncer nos deu uma apreciação mais profunda das mudanças que impulsionam o câncer no nível celular. Esta informação dá a cada um de nós a oportunidade de moldar a indiferença à dieta em um novo paradig- ma para o tratamento do câncer que se estende além das paredes da clínica. Miriam Kalamian é consultora de nutrição, educadora e autora especializada na implementação de terapias cetogênicas. Ela obteve seu mestrado em educação (EdM) pelo Smith College e seu mestrado em nutrição humana (MS) pela Eastern Michigan University. Ela é certificada em nutrição (CNS) pelo Conselho de Certificação de Especialistas em Nutrição. Esta palestra foi dada em um evento TEDx usando o formato de conferência TED, mas organizado de forma independente por uma comunidade local. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=h-9_VAOh4sQ LIVRO • Título: Nutrição Oral Enteral e Paraenteral na Prática Clinica • Autor: Dan Waitzberg • Editora: Atheneu • Sinopse: Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica tem uma didática marcada pela sua integração dos cuidados nu- tricionais na prevenção e manutenção da saúde sob a ótica da equipe multiprofissional. Essa edição em especial tem um enfoque muito especial em idosos, terapia nutricional do câncer e terapia nutricional em cirurgia. Das novas disciplinas, deu-se ênfase à par- te de prebióticos e probióticos. Casos clínicos ilustrativos também foram acrescentados. Assinala-se, ainda, a produção de capítulos muito particulares e que exprimem pontos de vista de eminentes autoridades mundiais nesses temas. https://www.youtube.com/watch?v=h-9_VAOh4sQ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Dietoterapia no paciente obeso • Síndrome Metabólica • Dietoterapia do paciente diabético Objetivos da Aprendizagem • Compreender os princípios da dietoterapia no tratamento da obesidade; • Identificar as recomendações nutricionais específicas para o paciente obeso; • Reconhecer os principais critérios diagnósticos e componentes da síndrome metabólica; • Conhecer as estratégias de intervenção dietética para o manejo da síndrome metabólica; • Entender os princípios básicos da dietoterapia no manejo do diabetes mellitus. • Conhecer as recomendações nutricionais específicas para o paciente diabético. • Aprender sobre o controle da glicemia por meio da alimentação adequada, considerando a contagem de carboidratos, o índice glicêmico e a distribuição adequada dos macronutrientes.. Professor(a) Esp. Verônica Graciela Rapcinski DIETOTERAPIA DIETOTERAPIA NA OBESIDADENA OBESIDADE2UNIDADEUNIDADE INTRODUÇÃO 28DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 Olá, caro (a), aluno (a). Seja bem-vindo à segunda unidade da disciplina. Nesta unidade, você aprenderá que a Dietoterapia desempenha um papel fun- damental no manejo de condições de saúde como a obesidade, síndrome metabólica e diabetes mellitus. Essas condições estão cada vez mais presentes na sociedade moderna e apresentam um desafio significativo para a saúde pública. A Dietoterapia no paciente obeso é voltada para a redução do excesso de peso corporal e a promoção de um estilo de vida saudável. A abordagem terapêutica baseia-se na modificação dos hábitos alimentares, incluindo a redução do consumo calórico, a esco- lha de alimentos com qualidade nutricional adequada e a prática regular de atividade física. Já na Síndrome Metabólica, observamos um conjunto de fatores de risco que au- mentam a probabilidade de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. Nesse contexto, a dietoterapia desempenha um papel importante no controle desses fatores de risco, através da adoção de uma alimentação balanceada, rica em fibras, com baixo teor de gorduras saturadas e açúcares, e a promoção de um estilo de vida saudável. Também veremos a dietoterapia do Paciente Diabético, que tem como objetivo principal o controle da glicemia e a prevenção de complicações relacionadas ao diabetes mellitus. A alimentação adequada é fundamental para o manejo dessa condição, envolven- do o controle da quantidade e distribuição dos carboidratos, além do monitoramento dos níveis de glicose no sangue. A educação alimentar, aliada a uma alimentação equilibrada e à prática de atividade física, são estratégias fundamentais para o controle do diabetes e a melhora da qualidade de vida dos pacientes. Bons Estudos!!!!! 29DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 DIETOTERAPIA NO PACIENTE OBESO1 TÓPICO A obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo excessivode gordura corporal, que pode levar a complicações sérias, como diabetes, doenças car- diovasculares e problemas articulares. Também é necessário considerar a distribuição dessa gordura corporal, pois o acúmulo na região abdominal é um fator de maior risco de morbidade (CUPPARI, 2014). Atualmente, a prevalência de excesso de peso e obesidade tem aumentado de forma alarmante em diversos países. Na esfera mundial, entre 1980 e 2014, o número de obesos mais que duplicou. Com esse aumento da prevalência de obesidade, é pos- sível comprovar uma enorme mudança comportamental que tem ocorrido nas últimas décadas, principalmente em fatores como alimentação inadequada e sedentarismo (ROSSI, 2019). Existem diferentes maneiras de mensuração da obesidade, sendo o índice de massa corporal (IMC) o principal indicador na avaliação do estado nutricional em adul- tos. Segundo a classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), proposta em 1995, valores maiores ou iguais a 25 kg/m2 indicam excesso de peso e valores maiores ou iguais a 30,0 kg/m2 caracterizam obesidade. 30DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 FIGURA 1: ETIOLOGIA DA OBESIDADE Fonte: ROSSI (2019). Além disso, outros fatores são relevantes como gênero, idade, predisposição ge- nética e alterações hormonais que influenciam na propensão em armazenar gordura no compartimento visceral (ROSSI, 2019). 1.1 Formas Clínicas da Obesidade: A obesidade é uma condição complexa que pode se apresentar em diferentes formas clínicas. Essas formas clínicas da obesidade são baseadas em características específicas relacionadas ao padrão de distribuição de gordura ou segmento corpóreo que predomina, assim como ao metabolismo e às comorbidades associadas. Aqui estão algu- mas das formas clínicas mais comuns da obesidade: Obesidade Andróide (troncular ou central): o acúmulo de gordura ocorre princi- palmente na região abdominal, conferindo ao indivíduo uma aparência de “maçã”. Esse tipo de obesidade está associado a um maior risco de desenvolvimento de doenças cardiovas- culares, diabetes tipo 2 e dislipidemia (CUPPARI, 2014). Obesidade Ginóide (periférica): a gordura tende a se acumular nas coxas, qua- dris e nádegas, conferindo ao indivíduo uma aparência de “pera”. A obesidade ginecoide está associada a um menor risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em comparação com a obesidade andróide. Apresenta um risco maior de artroses e varizes (CUPPARI, 2014). Generalizada: Nessa forma clínica, o excesso de gordura corporal está distribuí- do de forma mais uniforme pelo corpo, sem uma predominância em regiões específicas. Embora não haja uma concentração excessiva de gordura em uma área específica, a 31DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 obesidade generalizada ainda está associada a riscos para a saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e outras comorbidades relacionadas à obesidade. 1.2 Pregas cutâneas: Essas medidas são úteis para determinar os depósitos de gordura subcutânea. Os locais que mostram melhor a adiposidade são: triciptal, bicipital, subescapular, supra-ilíaca e parte superior da coxa (CUPPARI, 2014). 1.3 Comorbidades: A obesidade é uma condição de saúde complexa que está associada a várias comorbidades, ou seja, doenças ou condições médicas adicionais que podem ocorrer em conjunto com a obesidade. Essas comorbidades podem ser tanto cau- sadas pela obesidade como contribuir para o desenvolvimento e agravamento dela. Entre as mais comuns estão: • Risco Cardiovascular; • Dislipidemia; • Diabetes; • Resistência à Insulina e Hipertensão arterial; • Síndrome Metabólica. 1.4 Tratamento Nutricional: O tratamento da obesidade é complexo, multiprofissional, envolve mudança comportamental, intervenção dietética e exercício físico. Tendo a redução do conteúdo de gordura corporal como propósito de melhorar a saúde e reduzir o risco de complicações associadas à doença (ROSSI, 2019). O tratamento dietoterápico desempenha um papel fundamental na gestão da obesidade, visando a redução do peso corporal de forma saudável e sustentável. Esta abordagem inclui estratégias dietéticas específicas, que podem variar de acordo com as necessidades e características de cada indivíduo. Um estudo conduzido por Carneiro et al. (2018) avaliou a eficácia de diferentes abordagens dietoterápicas no tratamento da obesidade. Os resultados indicaram que dietas com restrição energética, baseadas em uma redução moderada no consumo de calorias, têm demonstrado ser eficazes na promoção da perda de peso e na melhoria dos fatores de risco associados à obesidade. A escolha adequada dos macronutrientes também desempenha um papel impor- tante no tratamento dietoterápico da obesidade. Estudos tem demonstrado que dietas com um maior teor de proteínas foram mais eficazes na redução do peso corporal e na preser- 32DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 vação da massa magra, quando comparadas a dietas com proporções convencionais de macronutrientes (MOREIRA, 2017). Assim como a inclusão de alimentos ricos em fibras, como frutas, legumes e cereais integrais, tem sido associada a uma maior saciedade e controle do apetite. Estudos tem destacado os benefícios das fibras dietéticas na gestão do peso corporal, enfatizando sua capacidade de promover a perda de peso e melhorar os fatores de risco cardiometabólicos em indivíduos obesos (PEREIRA, 2015). 1.5 Princípios de atenção nutricional do obeso A atenção nutricional e dietética abrange: • Avaliação do estado nutricional, para determinação de diagnóstico nutricional e das necessidades calóricas e nutricionais do paciente; • Desenvolver o plano nutricional; • Trabalhar com educação nutricional que associam saúde e alimentação; • Avaliar a eficiência da intervenção aplicada (CUPPARI, 2014). Durante a avaliação nutricional é necessário identificar riscos nutricionais, buscar intercorrências clínicas, realizar a antropometria, avaliação clínica e dos dados bioquímicos. Verificar se o paciente apresenta comorbidades, determinar o grau de obesidade, o tipo de distribuição da gordura corporal. Assim como mudanças recentes no peso, intolerâncias alimentares, interação droga-nutriente, se existe a presença de transtornos alimentares, outros sintomas como dispepsia, constipação intestinal entre outros (CUPPARI, 2014). Nesse contexto, ao desenvolver o plano nutricional é importante definir metas e objetivos no tratamento aplicado. Lembrando que o objetivo é reduzir gordura corporal a um nível que traga melhora no estado de saúde, que tenha redução de riscos e melhora na qualidade de vida. Trabalhar com pequenas metas ponderais, como reduzir de 5 a 10% do peso atual. Sempre considerar a realidade individual de cada paciente, a atividade ocu- pacional, rotinas diárias, a disponibilidade financeira, para assim obter uma boa adesão ao tratamento (CUPPARI, 2014). 1.5.1 Plano de restrição energética moderada Realizar o cálculo do valor energético e reduzir progressivamente a ingestão entre 500 kcal e 1000 kcal/dia em relação ao valor que foi obtido durante a anamnese alimentar. Existe também a regra de bolso onde se fornece de 15 a 20 kcal/kg de peso atual/dia, que não seja inferior ao gasto energético basal (CUPPARI, 2014). 33DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 QUADRO 1: SUGESTÕES DE DISTRIBUIÇÃO ENERGÉTICA CHO 55 a 60% (sendo 20% de absorção simples) PTN 15 a 20% (não menos que 0,8g/kg de peso desejável) LIP 20 a 25, sendo 7% de gorduras saturadas, 10% de gorduras poli- -insaturadas e 13% de gorduras monoinsaturadas FIBRAS 20 a 30g/dia ÁLCOOL Não é aconselhável COLESTEROL Não mais que 300 mg/dia LÍQUIDOS 0,30mL x kg de peso SUGERIDO DISTRIBUIR EM PELO MENOS 6 REFEIÇÕES/DIA. 1.5.2 Outros planos alimentares De baixo valor energético trabalhando com 800 e 1200 kcal ou 10 e 19kcal/kg de peso desejável. É indicado quando após um determinado período utilizando um plano moderadonão houve redução de peso. De muito baixo valor calórico, utilizando 800 kcal/dia ou menos de 10 kcal/kg de peso desejável/dia. Indicado em obesidades maciças, diabetes descompensada, neces- sidade de rápida perda de peso, devendo aplicar por períodos curtos de 3 a 4 semanas (CUPPARI, 2014). 34DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 SÍNDROME METABÓLICA2 TÓPICO A síndrome metabólica é uma condição médica complexa caracterizada pela pre- sença simultânea de diversos fatores de risco metabólicos, como obesidade abdominal, resistência à insulina, hipertensão arterial, dislipidemia e alterações nos níveis de glicose no sangue. Esses fatores de risco aumentam o risco de desenvolvimento de doenças car- diovasculares, diabetes tipo 2 e outras complicações relacionadas à saúde. A Síndrome metabólica também conhecida como Síndrome “X”, apresenta: • Resistência à insulina; • Intolerância à glicose; • Hiperinsulinemia; • Aumento da lipoproteína de muito baixa densidade; • Diminuição de lipoproteína de alta densidade e hipertensão arterial. Sendo um aspecto comum desta síndrome a resistência à insulina, a obesidade central com acúmulo de gordura tanto visceral quanto abdominal e sua relação com a re- sistência à insulina, acaba sendo um fator importante para o desenvolvimento do diabetes tipo 2 e outras comorbidades associadas (CUPPARI, 2014). A definição e os critérios diagnósticos da síndrome metabólica podem variar depen- dendo das diretrizes e consensos adotados, o mais utilizado é considerar a presença de pelo menos três dos critérios acima citados. Recomendações dietéticas: o objetivo no tratamento dietético é melhorar a resis- tência insulínica (RI) junto a diminuição dos fatores de risco para doenças cardiovasculares. 35DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 A ingestão energética deve ser realizada visando a um peso corporal saudável, o qual seja em acordo com as necessidades diárias do indivíduo, lembrando de garantir o fornecimento dos macros e micronutrientes necessários em quantidades suficientes, que propicie uma perda de 5 a 10% do peso e previna sua recuperação, buscando sempre limitar o consumo de alimentos de alta densidade energética (ROSSI, 2019). Nesse contexto, é indicado a ingestão de carboidrato de 50 a 55% das calorias totais de forma a prevenir o diabetes, com ingestão de sacarose < 10% do VET. A quantidade total de carboidrato ingerida é importante, porém não podemos esquecer de avaliar a qualidade desse carboidrato, o qual terá associação com a resposta glicêmica (ROSSI, 2019). As dietas ricas em proteínas estão associadas a uma maior saciedade e, conse- quentemente, maior perda de peso, assim como menor concentração de triglicerídeos no plasma, e maior concentração de massa magra se comparada a dietas ricas em carboi- dratos. A recomendação é de uma ingestão proteica de 0,8 g a 1,0 g/kg peso atual/dia ou 15% das calorias totais, a qual corresponderá a duas porções pequenas de carne magra/ dia, que podem ser substituídas por leguminosas (soja, grão-de-bico, feijões, lentilha etc.) e duas a três porções diárias de leite desnatado ou queijo magro. É recomendado também o consumo de peixes, como a sardinha, devido à presença do ômega-3. (ROSSI, 2019). Lembrando que ao contrário dos ácidos graxos saturados, os ácidos graxos po- li-insaturados ômega-3 podem ser benéficos na Síndrome Metabólica, principalmente no tratamento da hipertrigliceridemia grave em pessoas com DM2. Os ácidos graxos monoin- saturados estão associados a melhor controle glicêmico e melhora nos fatores de risco para complicações diabéticas. A ingestão de gordura não deve ser superior a 30% do VET, devendo ser 10% ácidos graxos saturados, 10% ácidos graxos poli-insaturados e 10% ácidos graxos monoinsaturados (ROSSI, 2019). Recomenda-se a ingestão de 20 a 30g/dia de fibras. Manter níveis adequados de vitamina D, por que sua deficiência está associada ao aumento da síndrome metabólica e hipertensão. O uso de alguns polifenóis como resvera- trol traz a melhora da resistência insulínica e a epigalocatequina-3-galato encontrada nas uvas e chá verde melhora a tolerância à glicose. A alimentação é um fator muito importante na mudança, auxílio e prevenção do desenvolvimento da Síndrome Metabólica, onde a recomendação dietética adequada garante inúmeros benefícios ao paciente, tanto no trata- mento quanto na prevenção da Síndrome Metabólica (ROSSI, 2019). 36DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 DIETOTERAPIA DO PACIENTE DIABÉTICO3 TÓPICO O diabetes mellitus é uma doença crônica caracterizada pela elevação persistente dos níveis de glicose no sangue, devido à falta de produção ou à ação inadequada da insulina, um hormônio responsável pela regulação dos níveis de glicose no organismo. Existem diferentes tipos de diabetes, incluindo o diabetes tipo 1, o diabetes tipo 2 e o diabetes gestacional. Diabetes tipo 1: É uma forma de diabetes autoimune, na qual o sistema imunoló- gico ataca e destrói as células produtoras de insulina no pâncreas. Esse tipo de diabetes geralmente se desenvolve na infância ou na adolescência, e os pacientes dependem da administração diária de insulina para controlar os níveis de glicose no sangue. Diabetes tipo 2: É a forma mais comum de diabetes, responsável pela maioria dos casos. Nesse tipo, o corpo não consegue utilizar adequadamente a insulina produzida ou não produz insulina suficiente para atender às necessidades do organismo. O diabetes tipo 2 está fortemente associado ao excesso de peso, sedentarismo e maus hábitos alimenta- res. Pode ser controlado por meio de mudanças no estilo de vida, incluindo dieta adequada, atividade física regular e, em alguns casos, medicação oral ou insulina. Objetivos do Tratamento Dietético • Manter a glicemia mais próximo possível dos níveis de normalidade, balan- ceando a ingestão de alimentos com a insulina (endógena e exógena) ou hipo- glicemiantes orais; • Garantir que os níveis de lipídeos séricos estejam adequados; • Fornecer quantidade de energia suficiente para alcançar peso corporal ideal, o crescimento e desenvolvimento ideal de crianças e adolescentes; • Procurar prevenir e também tratar complicações como hipoglicemia, e outras doenças, assim como problemas que estejam relacionados ao exercício físico; 37DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 • Garantir a melhora da saúde através de nutrição equilibrada (CUPPARI, 2014). Terapia Nutricional O principal objetivo da terapia nutricional é auxiliar indivíduos com diabetes a manter a glicemia mais próxima possível da normalidade, dieta balanceada. É claro que a constân- cia é um dos fatores mais relevantes de um plano alimentar com controle glicêmico, sendo de extrema importância os horários das refeições, os alimentos ingeridos principalmente em relação a ingestão de carboidratos. No diabetes tipo 1: Integrar o plano alimentar com a terapia com insulina. Os pacientes que fazem uso de insulina devem realizar suas refeições em horários definidos, mantendo a consistência e que o tempo de ação da insulina tenha sincronia. Sendo possível fazer ajustes para compensar a quantidade de carboidratos e alterações nas quantidades alimentares. No diabetes tipo 2: Manter níveis normais de glicemia, lipídios séricos e pressão arterial. Geralmente, dietas hipocalóricas associadas com perda de peso trazem melhora no controle metabólico a longo prazo. Sugere-se a redução de 250 a 500 kcal/dia a menos que a dieta usual, um plano nutricionalmente adequado, com redução de gordura principalmente a saturada e claro aumento da atividade física. Lembrando que dietas hipocalóricas estão associadas ao aumento da sensibilidade à insulina junto da melhora de níveis de glicose san- guínea. O fracionamento da dieta é outra estratégia que deve ser utilizada (CUPPARI, 2014). Proteínas: 10 a 20% em relação ao valor energético total da dieta. Se acontecer o aparecimento de nefropatia a ingestão deve ser analisada, porém não inferiora 0,8 g/kg de peso. As proteínas podem ajudar a promover a saciedade e manter a massa muscular, mas é importante fazer escolhas saudáveis. Recomenda-se incluir fontes magras de proteínas, como carnes magras, peixes, aves, leguminosas e laticínios com baixo teor de gordura. Gorduras: Menos de 10% de gordura saturada, 10% ou menos de gordura poliin- saturada e o restante gordura monoinsaturada Carboidratos e adoçantes: Depende dos hábitos alimentares e objetivos quanto a glicemia e lipídios séricos. Cuidar na constância e quantidade de carboidrato durante o dia. Fibras: 25 a 30g tanto solúveis quanto insolúveis contribuem para o tratamento e prevenção (CUPPARI, 2014). Os carboidratos têm o maior impacto nos níveis de glicose no sangue. Recomen- da-se distribuir os carboidratos ao longo do dia, optando por fontes de carboidratos comple- xos, como grãos integrais, legumes, frutas e vegetais, em vez de carboidratos refinados. O monitoramento dos carboidratos consumidos e o controle das porções são essenciais para manter a glicemia dentro da faixa desejada. As fibras alimentares podem ajudar a controlar a glicemia, reduzir os níveis de colesterol e promover a saciedade. Recomenda-se incluir alimentos ricos em fibras, como grãos integrais, legumes, frutas, verduras e sementes. 38DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 Você sabia que a privação de sono pode causar aumento de peso (0.9 kg) em apenas uma semana? Fonte: Megacurioso, 2018 ( https://www.megacurioso.com.br/ciencia/110430-13-fatos-sobre-obesidade.htm) 10 FATOS QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A OBESIDADE A partir de 2013, a obesidade passou a ser considerada uma doença pela organização médica mais influen- te do mundo, a American Medical Association. Desde então, passou a ser listada na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10 – E66). A decisão causou controvérsia, pois parte da sociedade acredita que tratar a obesidade como doença au- menta o estigma associado aos indivíduos que convivem com essa condição. O objetivo desse reconheci- mento, no entanto, foi fortalecer o enfrentamento da obesidade como uma questão mundial de saúde. Independentemente de sua classificação, é consenso que a obesidade é uma condição de alta complexi- dade multicausal, influenciada por fatores biológicos, saúde mental, propensão genética, ambiente social, econômico, cultural e familiar, consumo de alimentos ultraprocessados e acesso aos cuidados em saúde. Fonte: https://blog.allcare.com.br/fatos-sobre-obesidade/ https://www.megacurioso.com.br/ciencia/110430-13-fatos-sobre-obesidade.htm https://blog.allcare.com.br/fatos-sobre-obesidade/ 39DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 Através da unidade estudada concluímos que a obesidade é uma condição de saúde preocupante, cuja prevalência tem aumentado significativamente em todo o mundo. Está associada a uma série de complicações e comorbidades, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica. O tratamento da obesidade requer uma abordagem multidisciplinar, com destaque para a dieta, atividade física, modificação comportamental e, em alguns casos, intervenções médicas adicionais. Nesse contexto, a dietoterapia desempenha um papel fundamental no tratamento nutricional da obesidade, visando à perda de peso, melhora da composição corporal e controle dos fatores de risco associados. Uma dieta balanceada e saudável para o tratamento da obesidade deve incluir a redução do consumo de calorias, o controle adequado de macronutrientes, como carboi- dratos, gorduras e proteínas, o aumento do consumo de alimentos ricos em fibras, além de promover mudanças nos hábitos alimentares e estilos de vida. É importante ressaltar que cada indivíduo é único e a abordagem dietética deve ser personalizada, levando em consideração as características individuais, preferências alimentares e condições de saúde específicas. Em suma, o tratamento dietoterápico da obesidade desempenha um papel essen- cial na abordagem global dessa condição de saúde, auxiliando na perda de peso, melhora dos parâmetros metabólicos e na prevenção de complicações associadas. A adoção de hábitos alimentares saudáveis e a promoção de um estilo de vida ativo são fundamentais para alcançar resultados positivos no tratamento da obesidade. Até logo!!!!! CONSIDERAÇÕES FINAIS 40DIETOTERAPIA NA OBESIDADEUNIDADE 2 MATERIAL COMPLEMENTAR FILME/VÍDEO • Título: A Baleia • Ano: 2022 • Sinopse: Em A Baleia, seguimos um professor de inglês e seu relacionamento fragilizado com sua filha, Ellie. Charlie (Brendan Fraser) é um professor de inglês recluso, que vive com obesidade severa e luta contra um transtorno de compulsão alimentar. Ele dá aulas online, mas sempre deixa a webcam desligada, com medo de sua aparência. Apesar de viver sozinho, ele é cuidado pela sua ami- ga e enfermeira, Liz (Hong Chau). Mesmo assim, ele está sozinho, convivendo diariamente apenas com a culpa, por ter abandonado Ellie (Sadie Sink), sua filha hoje adolescente que ele deixou junto com a mãe Mary (Samantha Morton), ao se apaixonar por um ho- mem. Agora, ele irá buscar se reconectar com a filha adolescente e reparar seus erros do passado. Para isso, ele pede para que Ellie vá visitá-lo sem avisar sua mãe e ela aceita, com a única condição de que ele a ajude a reescrever uma redação para a escola. LIVRO • Título: Nutrição Comportamental • Autor: Alvarenga/ Figueiredo • Editora: Manole • Sinopse: Embora os temas nutrição e alimentação estejam cada vez mais em pauta, persiste uma visão restrita e dicotômica do “saudável e não saudável”, dos alimentos “bons ou ruins”, na qual o prazer em comer é muitas vezes associado à culpa. Esse contexto não promove a mudança de comportamento e não torna as pessoas mais saudáveis (como pode ser comprovado pelo aumento dos índices de doenças crônicas, transtornos alimentares e obesidade). A Nutrição Comportamental propõe que a Nutrição possa ser praticada de maneira mais holística, humana, inclusiva; que o ser humano seja sempre mais importante que o corpo huma- no, que a comida seja sempre valorizada antes do nutriente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) • Dislipidemias • Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) • Insuficiência Cardíaca (IC) Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar as diferentes patologias cardiovasculares e a dietoterapia que contribui para evolução e melhora do quadro. • Compreender as bases fisiopatológicas através do estudo da dietoterapia em doenças cardiovasculares, incluindo os mecanismos subjacentes às doenças do coração e dos vasos sanguíneos. • Identificar os fatores de risco associados às doenças cardiovasculares, como o colesterol elevado, a hipertensão arterial, a obesidade, o diabetes e o tabagismo. • Permitir uma compreensão mais completa de como a dieta e alimentação podem influenciar o desenvolvimento e a progressão dessas doenças. Professor(a) Esp. Verônica Graciela Rapcinski DIETOTERAPIANAS DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIO-DOENÇAS CARDIO- VASCULARESVASCULARES UNIDADEUNIDADE3 42DIETOTERAPIANASDOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 INTRODUÇÃO Caro acadêmico de nutrição, seja muito bem-vindo à fascinante jornada de desco- berta da dietoterapia nas doenças cardiovasculares! Se você está se aventurando nesse campo da nutrição, provavelmente já viu o quanto emocionante e desafiador que ele pode ser. Imagine-se como um explorador, mas em vez de desbravar terras desconhecidas, vamos navegar pelos intrincados caminhos do sistema cardiovascular e desvendar os segredos de como a alimentação pode influenciar positivamente a saúde do coração e dos vasos sanguíneos. Embora possa parecer um terreno desconhecido agora, ao longo deste percurso, você terá a oportunidade de adquirir habilidades e conhecimentos essenciais que o aju- darão a se tornar um nutricionista especializado em cuidados cardíacos. Mas, antes de mergulharmos de cabeça nesse mundo de ácidos graxos, fibras, triglicerídeos e pressão arterial, vamos dar um passo atrás e entender por que essa jornada é tão importante. As doenças cardiovasculares são como uma sombra persistente que paira sobre a saúde global. Elas representam um desafio de grande magnitude, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, aqui está a boa notícia: a dieta desempenha um papel vital na prevenção e no manejo dessas condições. E é exatamente aí que você, futuro nutricionista, entra em cena. Você será uma pessoa que ajudará a guiar indivíduos na busca de uma vida mais saudável, repleta de escolhas alimentares, sábias e corações mais felizes. Nesta jornada, vamos explorar os segredos das gorduras boas e mais, entender como os antioxidantes podem ser nossos aliados, como se comunicar com seus pacientes para inspirá-los a adotar hábitos alimentares mais saudáveis. Então, prepare-se para mer- gulhar nesse mundo fascinante, onde a ciência se encontra com o senso comum, e onde o seu conhecimento terá um impacto direto na qualidade de vida das pessoas. Portanto, sem demorar mais, prepare-se para se aprofundar nos estudos de dieto- terapia nas doenças cardiovasculares, pois essa jornada promete ser empolgante e repleta de descobertas que irão moldar a construção da sua futura carreira e, acima de tudo, fazer a diferença na saúde das pessoas. Vamos embarcar juntos nessa aventura nutricional! HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS)1 TÓPICO 43DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 As doenças cardiovasculares representam um conjunto de condições que afetam o coração e os vasos sanguíneos, constituindo um dos maiores desafios de saúde pública em escala global. Entre essas doenças, destacam-se a doença arterial coronariana, a hiperten- são arterial, a insuficiência cardíaca e a doença vascular periférica, entre outras. Além disso, as doenças cardiovasculares são responsáveis por uma parcela signifi- cativa da morbidade e mortalidade em todo o mundo, resultando em um impacto substancial na qualidade de vida das pessoas e no sistema de saúde. Sabe-se que as doenças cardiovasculares (DCV) caracterizam a principal causa de morbimortalidade nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, chegando a 30% das mortes globais, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Brasil tem taxa semelhante, perfazendo 31,2%, e está em primeiro lugar entre as causas de morte (CUPPARI, 2019). Existem alguns fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovascu- lares, como: • Características Genéticas; • Características Ambientais; • Alteração de Perfil de Lipídico Sérico (aumento do colesterol e triglicérides); • Tabagismo; • HAS; • DM; 44DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 • Acúmulo de gordura na região abdominal; • Sedentarismo; • Baixo consumo de frutas, vegetais e hortaliças; • Alto consumo de álcool. A relação entre a nutrição e as doenças cardiovasculares é um campo de estudo de grande relevância e interesse, uma vez que a dieta desempenha um papel crucial no de- senvolvimento, prevenção e tratamento dessas condições. A ingestão de certos nutrientes e alimentos têm um impacto direto na saúde cardiovascular, influenciando fatores de risco como o colesterol, a pressão arterial, a obesidade e a inflamação. Existem fatores de risco associados às doenças cardiovasculares, como o coleste- rol elevado, a hipertensão arterial, a obesidade, o diabetes e o tabagismo. A identificação precoce desses fatores de risco é crucial para a prevenção e o tratamento eficaz. 1.1 Hipertensão Arterial (HAS) A hipertensão arterial sistêmica (HAS), conhecida como hipertensão, trata-se de uma condição clínica multicausal que tem por característica níveis elevados de pressão arterial (PA)≥ 140 mmHg (sistólica) e/ou 90 mmHg (diastólica). Geralmente encontra-se associada a distúrbios metabólicos, assim como alterações funcionais, estruturais de órgãos-alvo (rins, coração, encéfalo e vasos sanguíneos), existindo fatores que podem agravar esta condição, como dislipidemias, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito (DM). Fatores como aspectos ambientais, comportamentais e genéticos, inatividade físi- ca e hábitos alimentares inadequados, como a ingestão de bebidas alcoólicas, o consumo excessivo de sal, gorduras e alimentos industrializados, predispõem ao desenvolvimento da hipertensão arterial. Além da mesma manter associação com eventos como acidente vascular encefálico (AVE), morte súbita, infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), doença arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC), fatal e não fatal (ROSSI, 2019). A hipertensão arterial sistêmica, comumente conhecida como pressão alta, é uma condição médica crônica caracterizada pelo aumento anormal e persistente da pressão sanguínea nas artérias. Essa condição é um dos principais fatores de risco para o de- senvolvimento de doenças cardiovasculares, como doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca, doença renal e outros problemas de saúde. 45DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 A pressão arterial é a força que o sangue exerce sobre as paredes das artérias enquanto é bombeado pelo coração e circula pelo corpo. Ela é medida em milímetros de mercúrio (mmHg) e é representada por dois valores: a pressão sistólica (o valor superior) e a pressão diastólica (o valor inferior). A pressão sistólica representa a pressão nas artérias quando o coração se contrai (batimento cardíaco) e a pressão diastólica representa a pres- são quando o coração está relaxado (entre os corações cardíacos). Cerca de 32,5% (36 milhões) de indivíduos adultos, mais de 60% dos idosos, pos- suem a HAS, a qual irá contribuir direta ou indiretamente para 50% das mortes por Doença Cardiovascular (DCV) (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2016). Um fator importante é o aumento de peso que está diretamente ligado ao aumento da pressão e acarretando no desenvolvimento da HAS, seja em adultos ou crianças, assim como o aumento de gordura abdominal. Vale ressaltar que a nutrição tem um papel funda- mental na contribuição da diminuição da pressão arterial, através de mudança de hábitos alimentares, pois uma redução de apenas 5% no peso corporal e redução da circunferência abdominal contribuirá para melhora nesses resultados, tanto na redução da pressão arterial como do risco do desenvolvimento de doenças crônicas. É claro que a dietoterapia desempenha um papel fundamental no controle da hi- pertensão arterial sistêmica, tendo em vista que uma dieta adequada pode ajudar a reduzir a pressão arterial, minimizar os riscos associados à doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Nesse contexto, é importante conhecer e compreender as diretrizes dietéticas específicas para Hipertensão Arterial Sistêmica. Aqui estão algumas diretrizes gerais para a dietoterapia na hipertensão arterial sistêmica: Redução do sódio: A redução do consumo de sódio é essencial. O sódio é um dos principais contribuintespara a pressão arterial elevada. Recomenda-se limitar a ingestão de sal a menos de 2 gramas por dia. Dieta rica em potássio: Alimentos ricos em potássio ajudam a regular a pressão arterial, os alimentos incluem bananas, laranjas, abacates, espinafre, feijões e batatas. Alimentação rica em frutas e vegetais: Consumir uma variedade de frutas e ve- getais frescos pode fornecer nutrientes benéficos, como fibras, antioxidantes e fitoquímicos, que ajudam a manter a pressão arterial sob controle. Controle de gorduras saturadas e trans: Reduzir o consumo de gorduras sa- turadas e gorduras trans, as quais podem contribuir para o desenvolvimento de doenças 46DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 cardiovasculares. Evite alimentos ricos em gorduras saturadas, como carnes gordurosas e laticínios integrais, e evite alimentos processados que contenham gorduras trans. Preferir o consumo de proteínas magras: Opte por fontes magras de proteína, como peixes, frango sem pele, feijões, lentilhas e tofu, em vez de carnes vermelhas gordurosas. Limitação de álcool: O consumo excessivo de álcool pode aumentar a pressão arterial. Se você optar por beber, faça-o com moderação. Controle do tamanho das porções: Controlar o tamanho das porções pode aju- dar a evitar o excesso de calorias e manter um peso saudável, o que é importante para o controle da pressão arterial. Alimentos com baixo índice glicêmico (IG): Algumas evidências sugerem que alimentos com baixo índice glicêmico (que liberam glicose no sangue de forma mais lenta) podem ser benéficos para a pressão arterial. Estes incluem grãos integrais, legumes e frutas frescas. Evitar bebidas achocolatadas, refrigerantes e cafeína. Utilizar Probióticos: como o alho por exemplo, que possui diversos componentes bioativos, dentre eles a alicina (encontrada no alho cru) e a s-alilcisteína (encontrada no alho processado). Estudos têm observado discreta redução na pressão arterial com a su- plementação do alho em suas várias formas. Lembrando que as necessidades dietéticas podem variar de pessoa para pessoa, isso mostra a importância de desenvolver um plano personalizado de dietoterapia para a hipertensão arterial sistêmica. Além disso, a dieta deve ser combinada com outras práticas saudáveis, como a prática regular de exercícios e o controle do estresse, para um tratamen- to eficaz da hipertensão. A Dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), dieta do Mediterrâneo e as dietas vegetarianas, são as mais indicadas na dietaterapia da HAS. A Dieta DASH se baseia no consumo de frutas, hortaliças, laticínios com baixo teor de gordura, cereais integrais, frango, peixe, oleaginosas, redução do consumo de carne vermelha, doces e bebidas açucaradas. Ela é uma dieta rica em potássio, cálcio, magnésio e fibras, e contém quantidades baixas de colesterol, gordura total e saturada, e a adoção desta dieta auxilia no controle da pressão arterial. Já a Dieta do Mediterrâneo é rica em frutas, hortaliças e cereais integrais, possui grandes quantidades de azeite de oliva (fonte ω-9), consumo de peixes e oleaginosas, e a ingestão moderada de vinho. Além do controle de risco cardiovascular, estudos mostram que a adoção deste padrão alimentar parece ter efeito hipotensor. 47DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 Por outro lado, as Dietas vegetarianas são baseadas no consumo de alimentos de origem vegetal. Algumas variações das dietas vegetarianas consomem leite e seus derivados e/ou ovos, outras, excluem totalmente os alimentos de origem animal. Através desse padrão alimentar acaba-se por ter um menor consumo de gorduras saturadas e um maior consumo de gorduras insaturadas. Essas dietas têm sido associadas com valores mais baixos de pressão arterial, lipídios séricos e um melhor controle do peso corporal. A dietoterapia na HAS tem por objetivo: • Redução dos níveis pressóricos; • Normalizar o estado nutricional do paciente; • Minimizar os efeitos da interação droga-nutriente. As necessidades energéticas devem ser adequadas e ajustadas de acordo com as necessidades do paciente, no obeso trabalharemos com a dieta hipocalórica. A proteína 1g/kg/dia, porém se o paciente apresenta função renal alterada é necessário reavaliar a necessidade proteica de acordo com as taxas de ureia e creatinina séricas. Avaliando a filtração glomerular do paciente. Os carboidratos podem ser normo a hiperglicídicos , avaliando intolerância à glicose e Diabetes mellitus, e sempre dar preferência a carboidratos complexos. Em relação aos lipídios, iremos trabalhar com um percentual de 25 a 30% do valor energético total (VET) para uma dieta hipolipídica. Recomenda-se aumentar o consumo de ácidos graxos monoin- saturados, como o óleo de oliva. Também é importante manter o controle da ingestão de colesterol dietético (300 – 500 mg/dia). Trabalhar com vitaminas antioxidantes (A, C,E), pois elas diminuem o risco cardiovascular. O sódio terá restrição de leve a grave dependendo dos níveis pressóricos observados. Sendo assim, em relação ao HAS leve, deve-se restringir alimentos ricos em sódio, como os embutidos por exemplo, enlatados, alguns tipos de queijos e temperos prontos. Já para diagnósticos de HAS Moderada a Grave é necessário excluir o Sal de adição e controlar o Sal utilizado no preparo de alimentos. TABELA 1- QUANTIDADE DE NACL E NA DE ACORDO COM A GRAVIDADE DA HAS E DA PAD( PRESSÃO ARTERIAL DIASTÓLICA) Tipo de HAS PAD (mmHg) NaCl Na Leve 90 - 110 6 g 2,5 g Moderada 110 -120 3 g 1,2 g Grave > 120 1,5g 500 mg Fonte: CUPPARI, 2019 48DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 ATENÇÃO: NaCl é diferente de Na Sendo assim, 1g de Nacl= 0,4 g de Na, por exemplo para converter 8 g de NaCl multiplica-se por 0,40= 3,2g de Na. Orientações dietoterápicas: POTÁSSIO/MAGNÉSIO/CÁLCIO: 3 micronutrientes que precisam ser suplemen- tados no hipertenso, principalmente naqueles que utilizam diuréticos não poupadores de potássio, sempre atendendo as RDAs, que são as recomendações diárias. Utilize alimentos fontes destes minerais para aumentar sua quantidade na dieta. FIBRAS: 30g/dia Diminuir volume e aumentar o fracionamento para evitar distensão abdominal. LÍQUIDOS: no mínimo 2L/dia, sempre observar a necessidade de reposição hí- drica nos pacientes em uso de diuréticos. Sempre observar os efeitos dos medicamentos utilizados, para considerar na aplicação e conduta dietoterápica. DISLIPIDEMIAS2 TÓPICO 49DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 São caracterizadas como dislipidemias as alterações dos níveis sanguíneos dos lipídios circulantes, esses níveis tornam-se elevados e são denominados de hiperlipidemias podem ser classificados como hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia (CUPPARI, 2019). As dislipidemias, também conhecidas como distúrbios do perfil lipídico, englobam uma série de condições em que os níveis de lipídios no sangue, como o colesterol e os triglicerídeos, estão desregulados. Esses distúrbios metabólicos representam um fator de risco significativo para doenças cardiovasculares, incluindo a aterosclerose, que pode levar a eventos graves, como infartos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). As dislipidemias são definidas com base em exames laboratoriais que avaliam os níveis sanguíneos de lipídios, incluindo o colesterol total, colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade), colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade) e triglicerídeos. Existem vários tipos de dislipidemias, e cada uma está associada a padrões específicos de alte- rações nos níveis de lipídios. Os principais tipos de dislipidemias com base em exames laboratoriais incluem: Hipercolesterolemia isolada: aumento isolado do colesterol sérico. Hipertrigliceridemia isolada: A hipertrigliceridemia é caracterizada por níveis elevados de triglicerídeos no sangue. Altos níveis de triglicerídeos estão relacionados ao risco de pancreatiteaguda e doenças cardiovasculares. Hiperlipidemia mista: aumento nos níveis de colesterol e triglicerídeos. 50DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 Hipoproteinemia: A hipolipoproteinemia é uma condição em que os níveis de co- lesterol HDL são anormalmente baixos. O HDL é benéfico, pois está associado à remoção do colesterol das artérias, ajudando a prevenir a formação de placas de aterosclerose. Disbetalipoproteinemia: Nesse tipo de dislipidemia, os níveis de colesterol VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade) são elevados, o que pode resultar em triglicerídeos aumentados. É importante destacar que as dislipidemias podem ocorrer isoladamente ou em combinação. Além disso, a genética desempenha um papel significativo em muitos casos de dislipidemia, mas as escolhas de estilo de vida, incluindo dieta e exercícios, também são fatores importantes no controle dos níveis lipídicos. Nesse contexto, a dietoterapia desempenha um papel crucial no tratamento e na prevenção das dislipidemias. Uma abordagem dietética adequada pode ajudar a reduzir os níveis sanguíneos de lipídios, minimizando assim o risco de doenças cardiovasculares. Através de escolhas alimentares estratégicas, é possível controlar os níveis de colesterol LDL e triglicerídeos, enquanto promove o aumento do colesterol HDL. A dietoterapia no tratamento das dislipidemias, inclui abordagens como: • Reduzir níveis elevados de colesterol total, LDL- colesterol e triglicerídeos; • Diminuir a ingesta de gorduras saturadas: Evite ou reduza o consumo de alimen- tos ricos em gorduras saturadas, como carnes gordurosas, laticínios integrais, manteiga, bacon e alimentos fritos; • Eliminação de gorduras trans; • Aumento de ômega 3; • Aumentar consumo da fibra alimentar: A ação das fibras na redução do coles- terol está relacionada ao consumo de fibras solúveis, que aumentam a excreção de colesterol pelas fezes e reduzem a reabsorção de ácidos biliares no intestino. Como o colesterol é usado na síntese hepática de ácidos biliares, há uma maior mobilização do colesterol em nível hepático para que ocorra esta síntese. Já o consumo de fibras insolúveis não mostra efeitos na redução do colesterol e do risco cardiovascular. • Controle de açúcares e carboidratos simples: Reduza o consumo de açúcares adicionados e carboidratos simples, de preferência para carboidratos complexos; • Incentivo ao consumo de colesterol HDL: Alimentos como azeite de oliva, aba- cate; • Controle do tamanho das porções e calorias totais; • Manter um peso corporal saudável; 51DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 • Redução do consumo excessivo de álcool; • Individualização do plano dietético. A terapia nutricional indicada para a hipertrigliceridemia primária grave, baseia-se na redução importante da gordura total na dieta, que deve atingir, no máximo, 10% do valor calórico total. Na hipertrigliceridemia primária moderada, recomendam-se aproximadamente 25 a 35% das calorias na forma de gorduras totais e controle da ingestão de açúcares. Já na hipertrigliceridemia de causa secundária, obesidade e diabetes, mantêm-se o controle de gorduras totais (30 a 35% das calorias) e a adequação no consumo de carboi- dratos, com ênfase na restrição de açúcares simples. O consumo de bebida alcoólica não é recomendado para indivíduos com hipertri- gliceridemia. A combinação de um consumo excessivo de álcool e ácidos graxos saturados potencializa o aumento da trigliceridemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar, a partir de 2015, o consumo máximo de 5% em calorias do valor energético da dieta na forma de açúcares de adição, nos quais se incluem a sacarose e o xarope de milho. Sempre se atentar na abordagem terapêutica do paciente dislipidêmicos, analisando o tipo de prevenção cardiológica, os níveis de LDL- colesterol e triglicerídeos encontrados e a presença de fatores de risco que o paciente possa apresentar (CUPPARI, 2019). INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM)3 TÓPICO 52DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), também conhecido como ataque cardíaco, é uma condição em que ocorre morte de parte do músculo cardíaco devido à falta de suprimento sanguíneo adequado. Isso geralmente acontece devido à obstrução de uma das artérias coronárias, que fornece sangue rico em oxigênio ao músculo cardíaco. Em países industrializados o IAM é a principal causa de morte, chegando a mais de 60% dos óbitos, cerca de 1 hora após o evento (CUPPARI, 2019). Abaixo, descrevo os principais passos na fisiopatologia do IAM: Aterosclerose: O processo começa com a aterosclerose, que é a formação de pla- cas de gordura, colesterol, células inflamatórias e outros materiais nas paredes das artérias coronárias. Essas placas podem estreitar as artérias, restringindo o fluxo sanguíneo. Ruptura de placa: Em muitos casos, as placas ateroscleróticas podem romper ou fissurar devido a fatores como inflamação, estresse hemodinâmico ou outros eventos. Quando isso ocorre, o conteúdo lipídico da placa fica exposto à corrente sanguínea. Formação de trombo: A exposição do conteúdo da placa à corrente sanguínea desencadeia uma resposta de coagulação. Isso leva à formação de um coágulo sanguíneo (trombo) sobre uma área lesionada da placa. Obstrução das artérias coronárias: O coágulo sanguíneo pode crescer rapida- mente, obstruindo parcial ou totalmente o vaso sanguíneo. Isso impede o fluxo sanguíneo adequado para a parte do músculo cardíaco suprida por essas artérias. 53DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 Isquemia: A interferência nas artérias coronárias resulta na falta de suprimento de oxigênio e nutrientes para as células do músculo cardíaco, causando isquemia. A isquemia induzida por dor no peito (angina), que pode ser um sinal precursor de um infarto. Infarto: Se o fluxo sanguíneo não for restaurado em um curto período de tempo, as células cardíacas começam a morrer devido à falta de oxigênio. Esse processo é chamado de necrose e é o que define o infarto agudo do miocárdio. Cicatrização: Após o infarto, o corpo inicia um processo de cicatrização, em que o tecido morto é gradualmente substituído por tecido cicatricial. Essa cicatrização não é capaz de contrair, e isso pode afetar a função cardíaca. A rapidez com que o tratamento é iniciado é fundamental para minimizar o dano ao músculo cardíaco e melhorar as chances de recuperação. O tratamento envolve a restau- ração do fluxo sanguíneo nas artérias obstruídas, muitas vezes por meio de procedimentos como angioplastia coronária com stent ou trombólise. O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) pode ser desencadeado por uma série de fa- tores de risco, que aumentam a probabilidade de uma pessoa desenvolver essa condição grave. Alguns dos principais fatores de risco incluem: • Idade, maior de 45 anos para homens e maior de 55 anos para mulheres. Os homens têm um risco maior de IAM em comparação com as mulheres. No entan- to, o risco nas mulheres aumenta após a menopausa. • Histórico familiar: ter parentes de primeiro grau (pais, irmãos) com histórico de doenças cardíacas aumenta o risco de IAM. • Tabagismo: o tabagismo é um dos fatores de risco mais significativos para o IAM. O uso de tabaco aumenta a formação de placas de aterosclerose nas arté- rias e provoca inflamação. • Hipertensão arterial: a pressão arterial elevada danifica as paredes das artérias coronárias, aumentando o risco de formação de placas ateroscleróticas. • Colesterol elevado: níveis elevados de colesterol total, especialmente o co- lesterol LDL (colesterol ruim), estimado para o acúmulo de placas nas artérias coronárias. • Diabetes: o diabetes mal controlado aumenta o risco de IAM, uma vez que afeta a saúde vascular e pode causar danos às artérias. • Obesidade e sobrepeso: o excesso de peso está associado ao aumento da pressão arterial, resistência à insulina e dislipidemia, contribuindopara o risco de IAM. • Inatividade física; 54DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 • Estresse: pode contribuir para o risco de IAM, pois pode levar a hábitos de vida um pouco saudáveis, como alimentação consumida e consumo excessivo de álcool ou tabaco. • Consumo de álcool: o consumo excessivo de álcool pode aumentar a pressão arterial, elevar os níveis de triglicerídeos e levar a hábitos um pouco saudáveis, como melhor alimentação. • Histórico de doenças cardíacas: pessoas que já tiveram um IAM ou outras doenças cardíacas têm um risco de sofrer outro ataque. • Uso de drogas ilícitas: como a cocaína e a metanfetamina, podem causar va- soespasmo coronariano e aumentar o risco de IAM. Nesse contexto, a dietoterapia no Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é uma parte fun- damental do tratamento e da reabilitação após um evento cardíaco. A alimentação desem- penha um papel significativo na prevenção de futuros episódios cardíacos e na promoção da saúde cardiovascular. Abaixo estão algumas diretrizes gerais para a dietoterapia no IAM: Redução de sódio: A redução do consumo de sódio contribui no controle da pressão arterial. Limite o uso de sal de mesa e evite alimentos processados ricos em sódio, como enlatados, alimentos fast-food e produtos industrializados. Controle de gorduras saturadas e gorduras trans: Reduzir a ingestão de gorduras saturadas, que podem aumentar o colesterol LDL (co- lesterol ruim). Evitar gorduras trans, encontradas em alimentos processados. Optar por fontes mais saudáveis de gorduras, como as encontradas em peixes, abacate e azeite de oliva. Aumento de ácidos graxos ômega-3: Incluir alimentos ricos em ácidos graxos ômega-3 na dieta, como peixes gordurosos (salmão, sardinha, atum), nozes e sementes de chia. Esses ácidos graxos ajudam a reduzir a inflamação e a melhorar a saúde cardiovascular. Aumento de fibras: Alimentos ricos em fibras solúveis, como aveia, leguminosas, frutas, vegetais e cereais integrais, podem ajudar a reduzir os níveis de colesterol LDL e promover a saúde cardiovascular. A conduta dietoterápica tem por objetivo diminuir a sobrecarga cardíaca, através do fornecimento de hábitos alimentares seguros e saudáveis, um plano alimentar equilibrado e individualizado, de maneira que promova a recuperação e manutenção do estado nutri- cional do paciente (CUPPARI, 2019). 55DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 Utilize como instrumentos para sua conduta dietoterápica os registros alimentares os quais trarão informações importantes sobre os hábitos, consumo e frequência. Não se esqueça da avaliação antropométrica, as dobras cutâneas, circunferências, índice de massa corpórea, o percentual de perda de peso e patologias associadas. Pode ser utilizado a fórmula de Harris Benedict para calcular as necessidades nutricionais. Fracionar a dieta de 4 a 6 vezes ao dia, com volumes menores, para não causar so- brecarga do trabalho cardíaco no processo de digestão. A consistência também é importante. A necessidade hídrica deve ser estabelecida de acordo com o quadro clínico, não se esquecendo que em alguns casos faz-se necessário a restrição hídrica. Em geral 30 a 35 ml/kg/dia, idosos acima de 65 anos no mínimo 1,7L/dia. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA (IC)4 TÓPICO 56DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 A Insuficiência Cardíaca (IC) é uma condição médica crônica em que o coração não consegue bombear sangue de forma eficiente para atender às necessidades do corpo. Isso ocorre porque o músculo cardíaco enfraquecido torna-se rígido ou não consegue se contrair com força suficiente. Em condições normais, o coração age como uma bomba que força o sangue a circular pelo corpo, fornece oxigênio e nutrientes essenciais para todas as células e órgãos. Na insuficiência cardíaca, o coração não consegue realizar essa tarefa com êxito, resul- tando em uma série de sintomas, como falta de ar, inchaço nos tornozelos, fadiga, tosse, ganho de peso repentino, entre outros. A dispnéia, o edema periférico e a fadiga são as manifestações mais comuns, o que pode ser de difícil interpretação em idosos e obesos, pneumopatas e mulheres. A dispneia progressiva é o sintoma mais importante dessa síndrome, a qual pode evoluir para dispneia em repouso e ortopneia (CUPPARI, 2019). É uma doença silenciosa, de progressão lenta, a qual fica compensada por muitos anos, a principal causa é a miocardiopatia isquêmica, depois as miocardiopatias idiopáticas e hipertensivas, e ainda existe uma prevalência da miocardiopatia chagásica no Brasil. Essa insuficiência cardíaca acontece devido a incapacidade dos ventrículos de bombear quantidade sanguínea adequada para manutenção das necessidades periféricas do orga- nismo (CUPPARI, 2019). Devido às manifestações e distúrbios hemodinâmicos, ocorre a diminuição do débi- to cardíaco, o que leva a um baixo fluxo renal, que ocasionará retenção de sódio e água, e 57DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 assim o surgimento dos edemas periférico e pulmonar. Atualmente a IC tem sido apontada como uma doença circulatória e não apenas do coração. Infelizmente devido a esse baixo débito cardíaco outros sintomas podem se manifestar como: isquemia cerebral, alteração da memória, do comportamento do sono, pré-síncope, sudorese, cianose e oligúria. É extremamente comum casos de DESNUTRIÇÃO em pacientes com IC, a pre- sença de perda ponderal progressiva se torna comum devido a uma ingestão alimentar insuficiente e um menor aproveitamento dos nutrientes. Quando a perda de peso chega a 6% de perda da massa muscular em seis meses, denominamos caquexia cardíaca. A caquexia é frequentemente definida como uma perda de peso corporal de pelo menos 5%, excluindo o ganho de peso relacionado ao edema, ocorrida nos últimos 12 meses ou como um índice de massa corporal inferior a 20 kg/m² em pacientes com doenças crônicas. Além disso, pelo menos três dos seguintes critérios clínicos e laboratoriais devem estar presentes: • Fraqueza muscular; • Fadiga; • Perda de apetite; • Baixo índice de massa livre de gordura e anormalidades bioquímica; • descrições pelo aumento dos marcadores inflamatórios, como proteína C-rea- tiva e interleucina -6; • Anemia (hemoglobina inferior a 12 g/dL) ou níveis baixos de albumina sérica (menos de 3,2 g/dL) (OKOSSHI, 2017). É importante destacar que a caquexia é uma condição distinta da desnutrição ou da anorexia, que pode ser revertida com a nutrição adequada. Recomenda-se apoio nutricional com o objetivo de alcançar e manter um peso corporal que fique dentro da faixa normal, ou um pouco abaixo dela, evitando o desen- volvimento de edema. Evidências indicam que uma ingestão calórica de cerca de 35 kcal por quilograma de peso corporal por dia tem se mostrado segura e eficaz na promoção do aumento da massa magra em pacientes com insuficiência cardíaca. Recomenda-se iniciar o suporte nutricional com quantidades mínimas e aumentar gradualmente a ingestão até que o peso corporal desejado seja alcançado (OKOSHI, 2017). A dietoterapia do paciente com Insuficiência Cardíaca tem como objetivo fornecer energia e nutrientes adequados para minimizar a perda de peso e recuperar o estado nutri- cional dos pacientes, além de evitar a sobrecarga cardíaca. Para o cálculo do gasto energético, podemos usar fórmulas preditivas, como a fór- mula de Harris Benedict ou as fórmulas de bolso. Para o cálculo do gasto energético total, 58DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 usando a fórmula Harris Benedict devemos usar o fator injúria e também o fator atividade. Usar o fator injúria de 1,3 a 1,5 e para o fator atividade usamos 1,2 para acamados; 1,25 para acamado-móvel e 1,3 para pacientes que deambulam. Para a fórmula de bolso a recomendação é utilizar para os cálculos 28 kcal/kg/dia para pacientes com estado nutricional adequado e 32 kcal/kg/dia para pacientes nutricio- nalmente depletados.Para o cálculo das necessidades nutricionais dos pacientes com IC, usamos o peso atual. Como é comum que estes pacientes apresentam edema, isso é pode mascarar seu peso real e consequentemente seu estado nutricional. Sendo assim, se o paciente com IC apresentar edema, temos duas alternativas: ou usamos o peso ideal ou usamos um peso habitual recente e sem edema. Na presença de edema devemos usar parâmetros para a avaliação do estado nutri- cional que não sofram interferência do edema. Por exemplo, para um paciente com edema de membros inferiores podemos usar circunferência do braço e prega cutânea tricipital como parâmetros. Não podemos esquecer de todas as ferramentas de avaliação nutricional que temos. É importante sempre usar tudo o que temos disponível, visando chegar num diagnóstico nutricional mais fidedigno. Recomenda-se oferecer alimentos com maior densidade calórica, adotar uma es- tratégia de fracionamento das refeições e servir porções menores em cada ocasião. Isso pode resultar em um aumento no número de refeições diárias, chegando a um total de 8 a 10 pequenas refeições ao longo do dia. Uma vez que a falta de ar é comum, é importante avaliar se o paciente se beneficia de alimentos que exigem menos esforço de mastigação, minimizando o cansaço. Se for o caso, a consistência da dieta pode ser ajustada. Opções como dietas pastosas, leves ou líquidas podem reduzir o cansaço do paciente durante as refeições e proporcionar maior conforto durante a alimentação. Distribuição dos MACROS: CARBOIDRATOS: 50 a 60% LIPÍDIOS: 25 a 30%, sempre dando prioridade às gorduras poli-insaturadas e mo- noinsaturadas, e reduzindo as gorduras trans e saturadas. PROTEÍNAS: 15 a 20% do valor energético total. Em pacientes com desnutrição avançada recomenda-se 2g de proteína/kg/dia. Em pacientes com eutrofia recomenda-se 1g/kg/dia não se fazendo necessário suporte proteico. Quando houver a diminuição da fun- ção renal, deve-se restringir a proteína de 0,8g/kg/dia, restrições maiores que isso poderá ocasionar em catabolismo proteico (CUPPARI, 2019). Alguns pacientes com IC podem necessitar de restrição hídrica, para estes é preci- so considerar todo o líquido ofertado na dieta para garantir que a restrição está seguindo o que é recomendado para o paciente. 59DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 A hipertensão arterial é uma doença muito frequente no nosso país e é responsável por uma série de complicações. O sódio é um importante fator no desenvolvimento e intensidade da HA. Ele eleva a pressão por aumento da volemia e, por consequência, do DC, aumenta a resistência vascular periférica. Além deste efeito isolado, ativam outros mecanismos pressóricos. O sódio é componente do sal refinado (cloreto de sódio – NaCl) e 40% do sal de cozinha é sódio. Ou seja, em 1000 mg de sal encontramos 400 mg de sódio. Outra unidade de medida para o sódio é o mEq, em que 23 mg de sódio correspondem a 1 mEq de sódio. Sabemos que o consumo excessivo de sódio está relacionado ao aumento da pressão arterial. A informação sobre a quantidade de sódio nos alimentos é apresentada em miligramas, no entanto, podemos encon- trar algumas prescrições médicas com informação de sódio a ser ofertada em mEq. Quando isso ocorre, devemos transformar a prescrição que está em mEq para miligramas, para que seja possível traduzir esta informação em alimentos. Fonte: BRASIL (2014). Grande coração, cabeça Mil conhecimentos, sentimento Tudo no melhor padrão Cardiologista de mão cheia Pega artéria, solta veia Volta e meia faz o morto ficar são É que o cabra acredita em milagre Com uma gota de vinagre Já curou pra mais de cem ‘Tô falando sério, pode procurar no Sírio Que o seu tratamento não tem pra ninguém Fonte: Gilberto Gil (2018). 60DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 Chegamos ao final dessa unidade, discutindo sobre um tema muito importante, a dietoterapia nas doenças cardiovasculares, enfatizando sempre a importância da abor- dagem nutricional no manejo e na prevenção dessas condições. Sendo essencial ter um estilo de vida saudável, no qual a dieta desempenha um papel fundamental na promoção da saúde cardiovascular. Adotando um estilo de vida saudável, que inclua uma alimentação equilibrada, rica em alimentos naturais e integrais. Assim, é possível reduzir os fatores de risco e melhorar a saúde do coração. Além disso, falamos de individualização na conduta dietoterápica, onde cada in- divíduo é único, e a dietoterapia deve ser adaptada às necessidades específicas de cada pessoa, uma vez que por meio da dietoterapia é possível reduzir fatores de risco para doenças cardiovasculares, como hipertensão, colesterol elevado, diabetes e obesidade. Uma alimentação saudável pode ajudar a controlar esses fatores de risco. Não nos esquecendo de dar ênfase na qualidade dos alimentos: ao invés de contar apenas calorias, é importante focar na qualidade dos alimentos. Escolher alimentos ricos em nutrientes, como frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudá- veis, é essencial. Nesta unidade, você aprendeu a importância da redução do consumo de sódio, o qual é fundamental para controlar a pressão arterial. Evitando alimentos processados ricos em sal e preferir temperos naturais pode ajudar a reduzir a ingestão de sódio. Nesse contexto, o acompanhamento regular da dieta e dos níveis de colesterol, pres- são arterial e glicose é fundamental para avaliar o progresso e fazer os ajustes necessários. Em resumo, a dietoterapia desempenha um papel fundamental na prevenção e no tratamento das doenças cardiovasculares. Uma abordagem planejada, personalizada e focada na qualidade dos alimentos é essencial para promover a saúde do coração e melhorar a qualidade de vida. Espero vocês na próxima unidade! CONSIDERAÇÕES FINAIS 61DIETOTERAPIANAS DOENÇAS CARDIOVASCULARESUNIDADE 3 MATERIAL COMPLEMENTAR FILME/VÍDEO • Título: Quase Deuses • Ano: 2004 • Sinopse: Vivien Thomas, um negro na década de 30, é contra- tado como faxineiro mas acaba ajudando o Dr. Alfred Blalock em uma investigação médica. O problema é que o racismo não permite a entrada de Thomas na universidade, mas como ele é indispen- sável para o êxito do projeto, sua entrada é permitida contanto que somente Blalock receba as honras. LIVRO • Título: Nutrição nas doenças cardiovasculares. Baseada em Evidências • Autor: Glorimar Rosa • Editora: Atheneu • Sinopse: O livro apresenta didática consistente e o seu conteúdo contempla as melhores evidências clínicas. Portanto, é livro atual e do momento, sobretudo ao se considerar a incidência expressiva das doenças cardiovasculares como a principal causa de óbito em nosso país. Como se sabe, a qualidade e a quantidade de ali- mentos ingeridos podem favorecer o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como distúrbios das lipoproteínas, a hipertensão arterial sistêmica, a doença arterial coronariana, e as síndromes metabólica e cardiorrenal metabólica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Disfagia • Doenças Gástricas • Doenças Intestinais • Doenças Tireoidianas Objetivos da Aprendizagem • Conceituare contextualizar e também personalizar os cuidados alimentares, capacitando os alunos a adaptar a dieta de acordo com as necessidades individuais de cada paciente. • Compreender os tipos de manejos nutricionais aplicados através da dietoterapia para pacientes com patologias clínicas da cavidade oral, em esôfago e intestinos. Professor(a) Esp. Verônica Graciela Rapcinski DIETOTERAPIA DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS NAS DOENÇAS DA CAVIDADE DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOE INTESTINO UNIDADEUNIDADE4 63DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 INTRODUÇÃO A dietoterapia nas doenças da cavidade oral, esôfago e intestino é uma disciplina fundamental para você acadêmico de nutrição, que deseja compreender como a alimenta- ção pode desempenhar um papel crucial no tratamento e na recuperação de pacientes com problemas nesses sistemas do corpo. Essas áreas do sistema digestivo são essenciais para a nossa saúde, e quando afetadas por doenças, como úlceras, câncer, refluxo gas- troesofágico, disfagia e colite, a dieta desempenha um papel importante na melhoria da qualidade de vida e no apoio ao tratamento médico. Nesta disciplina, você irá aprender a adaptar a dieta de acordo com as necessida- des individuais de cada paciente, levando em consideração as restrições alimentares, os sintomas e a gravidade da doença. Além disso, estudaremos como os nutrientes podem afetar a saúde desses órgãos e como uma alimentação equilibrada pode promover a recu- peração e minimizar desconfortos. Ao compreender os princípios da dietoterapia nas doenças da cavidade oral, esôfago e intestino, os futuros nutricionistas estarão preparados para desenvolver planos alimentares personalizados e promover a saúde gastrointestinal de seus pacientes, contri- buindo significativamente para o tratamento e a qualidade de vida daqueles que enfrentam desafios nessas áreas do sistema digestivo. Vamos lá? DISFAGIA1 TÓPICO 64DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 A deglutição é o ato de conduzir o alimento e líquidos da boca para o estômago, passando pela cavidade oral, faringe e esôfago a uma velocidade significativa. Esse é um processo altamente complexo que combina componentes voluntários e reflexos. Envolve de forma cooperativa cinco nervos cranianos e a ativação de mais de 50 músculos na região da cabeça e do pescoço. Quando ocorre qualquer disfunção nesse processo, surge uma condição conhecida como disfagia (ROSSI, 2019). A disfagia é uma condição que envolve dificuldade na deglutição, ou ato de engolir. A fisiopatologia da disfagia pode ser complexa e varia dependendo da causa subjacente. Além disso, a disfagia compromete a habilidade alimentar e pode resultar em con- sequências graves, como pneumonia por aspiração, perda de peso, desidratação e risco de obstrução das vias respiratórias. plicações aumentam a morbidade e a mortalidade, levando a períodos prolongados de hospitalização e à necessidade de cuidados especiali- zados (ROSSI, 2019). Trata-se de um problema prevalente, afetando uma parcela específica da população, onde estima-se que 1 em cada 17 pessoas desenvolverá disfagia em algum momento da vida. Em torno de 40 a 70% dos pacientes após um acidente vascular cerebral, de 60 a 80% dos pacientes com doenças neurodegenerativas, e cerca de 13% dos idosos com idade a partir de 65 anos. Além disso, mais da metade (51%) dos idosos que sofrem de disfagia se encontram em instituições de cuidados de longa duração, além de atingir de 60 a 75% dos pacientes submetidos à radioterapia para câncer de cabeça e pescoço (ROSSI, 2019). 65DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 As complicações mais relacionadas à disfagia incluem a desidratação devido à dificuldade na ingestão de líquidos e a deficiência do estado nutricional devido às limitações na alimentação. Nos casos de disfagia orofaríngea, existe o perigo de aspiração, que pode levar ao desenvolvimento de pneumonia (CUPPARI, 2019). A disfagia orofaríngea resulta de anormalidades que afetam o mecanismo neuro- muscular responsável pelo controle dos movimentos do palato, da faringe e do esfíncter esofágico superior. A dificuldade é iniciar o ato de deglutição, podendo manifestar-se por meio de engasgos. No entanto, muitas vezes ocorre de forma silenciosa, ou seja, sem engasgos perceptíveis, sendo necessário por meio da avaliação de um fonoaudiólogo para identificar. Pode estar relacionada a problemas no sistema nervoso central, como acidente vascular cerebral, doença de Parkinson, esclerose múltipla e neoplasias, ou distúrbios neuromusculares, tais como miastenia grave e poliomielite bulbar (CUPPARI, 2019). Existem três graus de Disfagia: Leve: quando a deglutição é lenta, resultando em episódios de engasgos, sendo aconselhável dividir a alimentação em porções menores e acompanhar atentamente o ato de engolir líquidos. Moderada: há uma dificuldade inicial na fase de deglutição, aumentando o risco de aspiração laringotraqueal, com sintomas como tosse, engasgos, pigarros e voz enchar- cada. Para auxiliar nesse quadro, recomenda-se a aplicação de manobras facilitadoras e posturais, bem como a ingestão via oral de líquidos espessados. Grave: necessário suplementação via oral, devido à grande dificuldade de ingerir líquidos e alimentos, com risco alto de aspiração, inclusive a saliva. Recomendado gastros- tomia para dieta via enteral (CUPPARI, 2019). A Terapia Nutricional na Disfagia tem por objetivo determinar a abordagem nutricio- nal mais segura, estabelecendo via de administração, realizar adaptação da alimentação via oral de acordo com o grau de disfagia apresentado, e buscar a manutenção do estado nutricional, e promoção da recuperação nutricional do paciente. Na presença de ocorrências mais graves, busca-se prevenir a aspiração, desidra- tação e desnutrição, pode ser indicada via enteral exclusiva (CUPPARI, 2019). Deve acontecer de maneira gradativa a introdução via oral, e o mesmo deve ser feito com acompanhamento fonoaudiológico. A avaliação realizada irá definir então a consistência em que os alimentos deverão ser ofertados. Normalmente se inicia com preparações cremo- sas, como sopas, cremes, mingaus entre outras, sempre definindo se há o risco de aspiração, e se é possível ofertar líquidos ralos e finos. Sempre o grau de disfagia determinará a con- sistência e textura dos alimentos, assim como a viscosidade dos líquidos (CUPPARI, 2019). 66DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 Para aumentar a consistência de uma substância, existem diversas opções dis- poníveis. Pode-se recorrer a farinhas à base de amido, como o amido de milho, o creme de arroz, entre outros, as quais frequentemente ocorrem de aquecimento para atingir a especificidade desejada. Outra alternativa é o uso de gomas fabricadas a partir de fibras solúveis, como a goma guar, ou o ágar-ágar, um produto derivado de algas amplamente utilizado na culinária japonesa. Além disso, no mercado, você pode encontrar produtos industrializados especial- mente desenvolvidos para espessar substâncias sem comprometer o sabor. Esses produ- tos geralmente disponíveis estão em formato de pó, seja em latas ou sachês. Ao serem adicionados a líquidos ou a diversas especialidades, como sucos, chá, caldos de vegetais ou lácteos orgânicos, eles promovem o espessamento desejado sem a necessidade de aquecimento (CUPPARI, 2019). Tipos de viscosidade: Néctar: líquido levemente espessado podendo ser consumido aos goles como mingau ralo; Mel: líquido espesso, sendo necessário uso de colher para consumo, como visco- sidade tipo mingau grosso; Pudim: aspecto sólido, também precisa de colher para consumo, porém como um flan, ele se desfaz na boca. A dieta nacional para disfagia, foi definida nos Estados Unidos da América e propõe três níveis especificandoa consistência dos alimentos sendo sólidos e semissólidos, são eles: Nível I: purês homogêneos e com baixa adesividade; Nível II: alimentos úmidos com densidade macia, como vegetais bem cozidos, fru- tas macias e maduras, alimentos que necessitam de mínima mastigação, sendo excluídos alimentos como pães, bolo seco, queijo em cubos, milho e ervilhas; Nível III: alimentos com textura bem próxima do normal, claro com exclusão de alimentos muito duros e crocantes, nesse nível alimentos como pães, arroz bolos macios, alface, carnes macias são permitidas, evita-se frutas, vegetais duros, castanhas e sementes (CUPPARI, 2019). A disfagia esofágica consiste em um distúrbio que afeta a capacidade de engolir de forma adequada, causando dificuldades e desconforto ao passageiro dos alimentos ou líquidos pelo esôfago, o tubo muscular que conecta a boca ao estômago. Essa condição pode ser causada por vários motivos, incluindo problemas anatômicos, neuromusculares, inflamatórios ou estruturais no esôfago. Os sintomas comuns da disfagia esofágica incluem: 67DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 Sensação de interferência: Pode parecer que os alimentos ou líquidos ficam presos no esôfago, causando desconforto ou dor ao engolir. Engasgos ou vômitos durante a alimentação: A dificuldade em engolir pode levar a episódios de engasgos e vômitos enquanto se tenta engolir. Dor ao engolir: A disfagia pode ser acompanhada de dor no peito ao engolir, conhe- cida como odinofagia. Regurgitação: Às vezes, os alimentos ou líquidos podem voltar para a boca após a deglutição devido a problemas de esvaziamento do esôfago. A disfagia esofágica pode ser causada por diversas condições, como estenose esofá- gica (estreitamento do esôfago), câncer esofágico, doença do refluxo gastroesofágico grave, espasmo esofágico, divertículos esofágicos, acalasia (um distúrbio neuromuscular), entre outras. Para recuperação do estado nutricional o manejo dietoterápico utilizado será através de dieta hipercalórica e hiperproteica. Na presença de inflamação da mucosa esofágica por atrito com os alimentos não deglutidos, é necessário evitar sucos e frutas ácidas, condimentos e especiarias picantes e irritantes que possam causar dor, assim como temperaturas elevadas (CUPPARI, 2019). Sugere-se para aumento da oferta energética e proteica, adicionar: No Leite: adicionar alimentos como mel, leite em pó, creme de leite e sorvete. Em Sopas: adicionar azeite ou óleo vegetal, margarina, queijo ralado ou picado. Na Carne: adicionar queijo, ovos, molhos à base de leite. Nas Frutas: adicionar farinhas, Leite Condensado, mel, aveia, leite em pó, choco- late, sorvete. Nos pães e cereais: adicionar geléia, mel, manteiga ou margarina derretida, queijo, complementos em pó ou líquidos incluir nos intervalos entre as refeições. A dietoterapia para pacientes com disfagia visa garantir que a alimentação seja segu- ra e eficiente, minimizando o risco de aspiração de alimentos ou líquidos para os pulmões e garantindo que o paciente receba uma nutrição adequada. A abordagem dietética dependerá da gravidade e da causa subjacente da disfagia, mas algumas diretrizes gerais incluem: Consistência alimentar: A dieta deve ser adaptada com base na consistência dos alimentos e líquidos que o paciente pode ingerir de forma segura. Isso geralmente envolve a classificação dos alimentos em três categorias principais: consistência líquida, pastosa e sólida. A escolha dos alimentos deve ser feita de acordo com a capacidade do paciente de degluti-los sem dificuldade. 68DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 Consistência líquida: Pode incluir água, sucos espessados, sopas espessas e bebidas com textura adequada. Consistência pastosa: Envolve alimentos que são facilmente moldados, como pu- rês, mingaus, iogurte, e outros alimentos que são amassados e liquidificados facilmente. Consistência sólida: Neste caso, os alimentos sólidos devem ser preparados de forma que sejam fáceis de mastigar e engolir, como carne moída, legumes bem cozidos e outros alimentos amolecidos. Tamanho das porções: As porções devem ser pequenas e gerenciáveis para evitar a sobrecarga do sistema de deglutição e minimizar o risco de engasgamento. Textura adequada: A textura dos alimentos e líquidos deve ser adequada à capa- cidade de deglutição do paciente. Alimentos que se desintegram facilmente na boca e não desativam muita mastigação são preferíveis. Evite alimentos duros, secos, pegajosos ou fibrosos: Alimentos como carnes gre- lhadas, pães secos e frutas com casca dura devem ser evitados, pois podem ser difíceis de engolir. Alimentos bem cozidos e macios: Cozinhar alimentos até que sejam macios e fáceis de mastigar pode facilitar a deglutição. Espessamento de líquidos: Para pacientes com disfagia que têm dificuldade em engolir líquidos finos, os líquidos podem ser espessados para torná-los mais simples de controlar ao engolir. Monitoramento: É essencial monitorar o paciente durante as refeições para garantir que eles estejam engolindo com segurança e não apresentem sinais de aspiração, como jogar ou engasgar. Em casos graves de disfagia, quando a alimentação oral não é segura, pode ser necessário recorrer à alimentação enteral para garantir uma nutrição adequada. A avalia- ção e o acompanhamento médico são essenciais para determinar a melhor abordagem dietética para cada paciente com disfagia. DOENÇAS GÁSTRICAS2 TÓPICO 69DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 As doenças gástricas são um grupo de condições que afetam o estômago, um órgão vital do sistema digestivo. As condições podem variar em gravidade e sintomas, mas todas têm um impacto significativo na saúde e no bem-estar das pessoas. O estômago desempenha um papel fundamental na digestão, sendo responsável por desdobrar os alimentos, misturá-los com ácidos graxos e enzimas digestivas, e, em seguida, enviá-los ao intestino delgado para a absorção de nutrientes. 2.1 Gastrite e Úlceras Gastrintestinais A gastrite é uma inflamação da mucosa gástrica que pode ser aguda ou crônica. Pode ser causado por infecções, estresse, uso de álcool, AINEs (anti-inflamatórios não esteroides) ou outras causas. Medicamentos como ácido acetilsalicílico, ingestão de bebidas alcoólicas, fumo, situações de estresse (queimaduras graves, politrauma etc.) também podem causar a gastrite. Já a gastrite crônica se define histologicamente pela atrofia crônica progressiva da mucosa gástrica (CUPPARI, 2019). As úlceras são feridas que se formam na mucosa do estômago e podem causar dor abdominal, desconforto e sangramento. São caracterizadas por perda localizada de tecido nas áreas do tubo digestório que entram em contato com a secreção ácido péptico do estômago. Elas são frequentemente associadas à infecção por Helicobacter pylori ou ao uso prolongado de medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs). 70DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 Tanto na gastrite quanto na úlcera gástrica, a cerne da questão reside na desar- monia entre os agentes agressores que prejudicam a mucosa gástrica, tais como ácido clorídrico, pepsina, bile e medicamentos ulcerogênicos, e os mecanismos de defesa que os resguardam, como barreira mucosa, prostaglandinas e a disfunção do muco. Esse desequi- líbrio culmina na lesão da mucosa gástrica (CUPPARI, 2019). Em casos onde tenha presença de estenose, pode acontecer a desnutrição, pois a mesma impede a ingestão normal de alimentos. Investigar possíveis deficiências nutricio- nais, as mais comuns são de energia, proteína e ferro, já na gastrite crônica a deficiência comum é de vitamina B12 (CUPPARI, 2019). A Gastrite Aguda, está associada a doenças agudas graves como em grandes cirurgias, insuficiência hepática, renal ou respiratória, queimaduras graves, traumas,septicemia, choque, radioterapia, neoplasia. Podendo também estar relacionada ao uso de MAINE (medicamentos inflamatórios não esteroides) como exemplo a aspirina e uso abusivo de álcool e fumo. A mucosa gástrica tem em sua constituição o Bicabornato e secreção de muco, os quais tem ação protetora contra agentes irritantes da mucosa. Ocorre renovação epitelial a cada 3 dias, porém ao acontecer descamação excessiva como no uso de MAINE essa capacidade regenerativa do estômago não é suficiente. O fluxo sanguíneo da mucosa gás- trica que também protege através do fornecimento adequado de O2 e nutrientes. Além de formar juntamente com o bicarbonato um mecanismo de tampão. A Dietoterapia na Gastrite Aguda é manter repouso alimentar por 24/48 horas, em caso de sangramento, fazer lavagem nasogástrica com água gelada (realizada por enfermei- ros e médicos) e manutenção das necessidades hídricas por via endovenosa. Na realimen- tação, aumentar o fracionamento (2/2h – 3/3h), diminuir o volume das refeições, ser isenta de álcool, condimentos, alimentos flatulentos pois são de difícil digestibilidade, restrição de purinas, alimentos ácidos e irritantes da mucosa gástrica (chá, café, chocolate). Ir evoluindo a consistência de acordo com a aceitação, partindo da consistência líquida até a dieta geral. Por outro lado, a Gastrite Crônica é caracterizada por grande filtração da mucosa gástrica, sem erosões ou lesões hemorrágicas. O principal agente etiológico é o microrga- nismo Helicobacter pylori, um bacilo gram negativo que coloniza o estômago, fica localizado na camada de gel da mucosa gástrica, o qual ocasiona inflamação das células epiteliais na mucosa. A dietoterapia da gastrite crônica deve ser adequada em calorias e nutrientes, além de ter o fracionamento aumentado com volumes diminuídos, manter horários regu- lares para as refeições, mastigação lenta e evitar alimentos ácidos irritantes. Evitar ingerir líquidos nas refeições. 71DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 O objetivo da terapia nutricional é promover a recuperação e proteger a mucosa gastrintestinal, auxiliar a digestão, aliviar a dor, e promover um bom estado nutricional. No passado indicavam o leite para alívio da dor e queimação, porém na atualidade não é indi- cado, pois o embora possa levar ao alívio instantâneo quando ingerido, o leite, sendo um alimento rico em cálcio e proteínas, resultará em rebote ácido, ou seja, estimulará a produção ácida gástrica, aumentando a produção de HCl o que intensifica a dor (CUPPARI, 2019). Caso haja presença de sangramento, será necessário jejum e observar a evolução clínica. Quando iniciar a introdução de alimentos, torna-se importante iniciar com líquidos via oral, evoluindo a consistência de acordo com a evolução do paciente. O manejo nutricional para gastrite tem como objetivos: • Redução de sintomas; • Evitar distensão promovida por grandes refeições; • Diluir o conteúdo gástrico e providenciar ação de tamponamento; • Combater a anemia, caso presente; • Corrigir o estado nutricional da vitamina B12. • Diminua o volume de refeições e aumente a frequência (5 a 6 refeições diárias); • Mastigar bem os alimentos (reduzindo assim o esforço gástrico); • Elimine o consumo de estimulantes gástricos: cafeína, álcool, hortelã-pimenta, pimenta-do-reino, alho, cravo-da-índia; • Evite: condimentos (pimenta-do-reino, mostarda, orégano, ketchup, vinagre); molhos à base de tomate; alimentos excessivamente gelados ou quentes; perío- dos de jejum ou de excesso de alimentação; alimentos ricos em enxofre (cebola, repolho, brócolis, feijão, quiabo, couve-flor, espinafre, agrião, ovo cozido, pimen- tão); frituras e alimentos gordurosos; bebidas gaseificadas; frutas cítricas; beber líquidos durante as refeições; • Dar preferência a carnes magras; • Diminua o consumo de gordura saturada e aumente o consumo de gordura poli-insaturada (ROSSI, 2019). O manejo dietoterápico utilizado para úlcera gástrica também pode ser adotado para úlceras duodenais, tendo como objetivos: diminuir a produção de ácido clorídrico, normalizar o estado nutricional do paciente e promover a cicatrização. Tendo alguns nu- trientes uma atenção especial nesses pacientes, como proteínas, zinco, selênio e vitamina A (ROSSI, 2019). 72DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 2.2 Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) A DRGE ocorre quando o conteúdo ácido do estômago reflui para o esôfago, cau- sando sintomas como pirose, regurgitação ácida e retorno do esôfago. A fisiopatologia da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) está relacionada ao mau funcionamento do esfíncter esofágico inferior (EEI) e ao refluxo ácido do conteúdo gástrico para o esôfago. A DRGE ocorre quando o EEI, uma estrutura muscular específica entre o esôfago e o estômago, não fecha especificamente, ou se relaxa de maneira anormal, permitindo que o ácido gástrico e outros conteúdos do estômago reflua para o esôfago. Os sintomas da DRGE podem variar, sendo os mais comuns a pirose (uma sensa- ção de queimação no peito) e a regurgitação (retorno do conteúdo gástrico para a boca). No entanto, a DRGE também pode causar sintomas como tosse crônica, rouquidão, dor no peito, dificuldade para engolir (disfagia), sensação de aperto na garganta e aspiração de ácido gástrico para os pulmões, o que pode levar a problemas respiratórios. Além dos sintomas, a DRGE pode causar complicações a longo prazo, incluindo: Esofagite: Inflamação do esôfago devido ao dano causado pelo ácido gástrico. Estreitamento do esôfago (estenose): Cicatrização repetida do esôfago devido à inflamação, pode levar ao estreitamento do órgão, dificultando a deglutição. Úlceras esofágicas: O ácido gástrico pode causar úlceras no revestimento do esô- fago. Barrett esofágico: Em casos mais graves, a crônica DRGE pode levar à metaplasia de Barrett, uma condição em que as células do revestimento do esôfago se transformam em células semelhantes às descobertas no intestino. Isso está associado a um risco au- mentado de câncer de esôfago. O tratamento medicamentoso mais comum consiste no uso de inibidores da bomba de prótons, sendo os bloqueadores do receptor H2 de histamina uma alternativa, escolhida con- forme a gravidade da esofagite. De acordo com as diretrizes para Diagnóstico e Tratamento da DRGE um IMC acima de 25 kg/altura já se torna um fator de risco para doença (LIMA, 2018). O manejo nutricional para a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) consiste em: • Diminuir o consumo de gordura, evitar alimentos industrializados; • Diminuir o volume das refeições e aumentar a frequência; • Evitar beber líquidos durante as refeições; • Aumentar o consumo de alimentos ricos em fibra para aumentar a peristalse do sistema digestivo (constipação pode piorar os sintomas); • Garantir a hidratação; 73DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 • Diminuir o consumo de carboidratos simples (aumenta fermentação e eructa- ções); • Reduzir o peso corporal; • Evitar chocolate, álcool, excesso de café e menta; • Não se deitar após as refeições (aguarde de 2 a 3 h para se deitar após comer); • Evite alimentos ácidos: cítricos, produtos à base de tomate, farinhas de mandio- ca e de milho, bebidas gaseificadas, cebola crua e excesso de alho; • Evitar condimentos picantes; • Evite alimentos e bebidas com temperaturas muito altas (ROSSI, 2019). 2.3 Hérnia de Hiato Consiste na dilatação de uma parte do estômago pelo diafragma. O constante refluxo de ácido pode ocasionar irritação do revestimento interno do esôfago e causar complicações, entre elas a hérnia de hiato. Assim como a presença da hérnia de hiato pode contribuir para o desenvolvimento do refluxo (LIMA, 2018). Em outras palavras podemos dizer que a hérnia de hiato acontece quando ocorre a migração de uma parte do estômago em direção ao tórax. Ela podeacontecer no enfraque- cimento do diafragma, ou quando o indivíduo já nasce com hiato largo, por um traumatismo torácico ou abdominal, ou por pressão excessiva dos músculos adjacentes (tosse, espirro, levantamento de peso), pessoas que apresentam sobrepeso ou obesidade, têm maior risco de desenvolver hérnia de hiato (LIMA, 2018). Principais sintomas: dor na região anterior do tórax do tipo ardor ou queimadura, disfagia. Os medicamentos (bloqueadores de hidrogênio, agentes procinéticos e inibidores de bomba de próton) demonstram eficácia a longo prazo no controle da doença em aproxi- madamente 80 a 90% dos pacientes. Para o restante (10 a 20%), a opção pelo tratamento cirúrgico é viável, sendo, no entanto, necessário que a hérnia tenha um tamanho superior a 2 cm. Além disso, é crucial que os hábitos alimentares sejam adequados para auxiliar no tratamento desta condição (LIMA, 2018). Conduta Dietoterápica: • Diminuir o tabagismo; • Reduzir o peso corporal; • Não fazer esforços com o estômago cheio; • Aumentar o fracionamento das refeições; 74DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 • Não fazer a ingestão de grandes quantidades de alimentos próximo ao horário de dormir; • Não fazer uso de roupas nem acessórios apertados; • Realizar as refeições com calma e mastigar bem os alimentos, facilitando assim a digestão; • Evitar alimentos que dificultam a digestão e aumentam o refluxo (alimentos ricos em gorduras, com cafeína, temperos fortes, bebidas alcoólicas e gaseifica- das esse tio de bebida aumenta a pressão dentro do estômago, e carboidratos simples, pois estes diminuem a força do esfíncter que fecha a passagem entre o estômago e o esôfago) (LIMA, 2018). 2.4 Câncer de Estômago O câncer de estômago, também conhecido como câncer gástrico, refere-se ao crescimento descontrolado de células malignas no revestimento interno do estômago. Este tipo de câncer pode se desenvolver em qualquer parte do estômago e pode se espalhar para órgãos adjacentes ou para outras partes do corpo, tornando-se uma condição grave. A fisiopatologia do câncer de estômago é complexa e envolve uma série de altera- ções genéticas e moleculares. Alguns dos principais fatores contribuintes incluem: Infecção por H. pylori: A bactéria Helicobacter pylori é um importante fator de risco para o desenvolvimento do câncer de estômago. Essa infecção crônica pode levar à inflamação crônica da mucosa gástrica, aumentando o risco de mutações genéticas que favorecem o crescimento celular descontrolado. Genética: Alterações genéticas, como mutações em genes supressores de tumo- res (por exemplo, TP53) e genes promotores de crescimento celular (por exemplo, HER2), desempenham um papel crucial na fisiopatologia do câncer gástrico. Essas lesões podem levar à perda do controle normal do ciclo celular. Inflamação Crônica: A inflamação crônica do revestimento do estômago, seja devido à infecção por H. pylori ou a outros fatores, contribui para a supervisão constante das células e pode facilitar a transformação maligna. Estilo de Vida e Fatores Ambientais: Hábitos alimentares, como o consumo ex- cessivo de alimentos salgados, defumados e em conserva, bem como o tabagismo, podem aumentar o risco de câncer gástrico. O risco de desenvolver câncer de estômago é 60% maior entre homens que fumam e 20% maior entre mulheres que fazem uso do tabaco. Obesidade: indivíduos que apresentam IMC entre 30 e 35 kg/m2 têm duas vezes mais chances de ter câncer de estômago; já os que apresentam IMC maior que 40 kg/m2, 75DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 o risco é três vezes maior. Devido a gordura ocorre um aumento da pressão abdominal, o que causa refluxo e crescimento celular no tecido adiposo, alterando o ciclo celular em células pré-tumorais. Baixa ingestão de frutas, verduras e legumes: são alimentos fonte de vitamina C, folato, carotenóides, fitoquímicos e antioxidantes, que impedem a carcinogênese (LIMA, 2018). Lesões Prévias: Como úlceras gástricas ou pólipos, podem aumentar o risco de desenvolvimento de câncer de estômago. O câncer de estômago muitas vezes não apresenta sintomas específicos em seus estágios iniciais, o que dificulta a detecção precoce. As manifestações clínicas mais comuns são: dor epigástrica, perda de peso, plenitude gástrica, desconforto epigástrico, perda de apetite, náuseas e vômitos. Os tipos de tumores mais comuns incluem o adenocarcinoma, o linfoma e o leiomios- sarcoma. O câncer gástrico é menos comum em indivíduos jovens, sendo mais prevalente em pessoas com idades entre 55 e 80 anos. Além disso, a incidência é aproximadamente duas vezes maior em homens do que em mulheres (LIMA, 2018). O câncer de estômago é diagnosticado por meio de exames de imagem, como a endoscopia digestiva alta e o exame radiológico contrastado do estômago. A endoscopia possibilita, além disso, a realização de biópsias e a avaliação citológica do tumor. A desnutrição no câncer de estômago é maior do que as pessoas em ambiente hospitalar, ocorre em cerca de 80% devido às alterações de ingesta alimentar e tratamento, a perda de peso é bem recorrente e comum, o que irá variar de acordo com o tipo do tumor. Aproximadamente 15% dos indivíduos com esse tipo de câncer experimentam uma perda de peso superior a 10% nos seis meses anteriores ao diagnóstico (LIMA, 2018). Sintomas que se manifestam na região gastrointestinal, tais como náuseas, vômitos, anorexia, diarreia e, em determinadas situações, disfagia e má absorção intestinal, podem ser ocasionados tanto pelo tumor em si quanto pelos efeitos colaterais da quimioterapia. Além da síndrome da caquexia/anorexia, pois a mesma já causa uma grande diminuição na ingesta alimentar, hipoalbuminemia, perda de peso e redução de massa magra, os quais estão associados à morbimortalidade (LIMA, 2018). As informações essenciais para a elaboração da terapia nutricional incluem: neces- sidades nutricionais, estado nutricional, condição clínica, restrições dietéticas, tolerâncias, função gastrointestinal, e efeitos colaterais atuais e esperados durante o curso do tratamento. Estes dados são cruciais para que o nutricionista e o profissional responsável possam atender de maneira abrangente às necessidades específicas desse indivíduo (SANTOS, 2023). 76DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 Pesquisas indicam que a incorporação de alimentos ricos em minerais, como mag- nésio, zinco e cobre, desempenha um papel na proteção do DNA e na modulação do siste- ma imunológico, promovendo uma melhoria no seu funcionamento. Além disso, a ingestão de micronutrientes, como as vitaminas C e E, que possuem propriedades antioxidantes, desempenham um papel significativo. A vitamina C atua na neutralização de substâncias cancerígenas, enquanto a vitamina E protege os substratos oxidáveis das células. Por outro lado, o cálcio e a vitamina D desempenham um papel crucial na regulação do crescimento e diferenciação celular. Lembrando que no estômago a vitamina C atua inibindo o processo da carcinogênese (SANTOS, 2023). Nesse contexto, as fontes de vitamina C são alimentos como: mamão, morango, manga, melancia, acerola, caju, goiaba e frutas citricas e os vegetais como brócolis, couve, couve-flor e tomate (SANTOS, 2023). O cuidado nutricional no câncer gástrico requer dieta hipercalórica sendo maior que 40kcal/kg/dia, hiperglicídica e hiperproteica 1,5g/kg/dia, para garantir maior aporte calórico, melhora da imunidade e cicatrização e hiperlipídica. É preciso reposição de vitaminas e minerais como: Vitamina K (sangramento), Vit.C (imunidade e cicatrização), Vit. A e Zinco (regeneração celular e cicatrização). Nos casos de preparo para cirurgia normalmente acontece o jejum pré-operatório de 21 horas, e 2 a 3 dias antes da cirurgia dieta sem resíduos - líquida restrita. Se necessário, utilizara nutrição enteral como via de acesso principalmente nos casos de vômitos, anorexia e náuseas. O objetivo é de minimizar o trabalho gástrico e a sobrecarga intestinal. Restaurando o estado nutricional. DOENÇAS INTESTINAIS3 TÓPICO 77DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 O intestino, parte crucial do sistema digestivo, desempenha um papel fundamen- tal na absorção de nutrientes e na eliminação de resíduos do corpo humano. Composto pelo intestino delgado e grosso, esse órgão é responsável por processos complexos que transformam os alimentos consumidos em nutrientes essenciais para a sobrevivência. Além disso, o intestino desempenha um papel vital no sistema imunológico e na manutenção do equilíbrio microbiota intestinal, influenciando diretamente a saúde geral do organismo. Ao longo deste processo intrincado, o intestino delgado realiza a absorção de nutrientes, enquanto o intestino grosso concentra-se na absorção de água e na formação das fezes. A integridade funcional do intestino é crucial para o bem-estar, e distúrbios nes- te órgão podem resultar em uma variedade de problemas de saúde, incluindo distúrbios gastrointestinais, síndrome do intestino irritável, doenças inflamatórias intestinais e outros. Entenda como ocorre a absorção de nutrientes: DUODENO: Vitamina A, tiamina, Ferro e Cálcio. Mono e dissacarídeos, aminoáci- dos e dipeptídeos, glicerol, ácidos graxos, monoacilglicerídeos. JEJUNO INTEIRO (a maior parte da absorção dos nutrientes ocorre no jejuno pro- ximal): Vitamina C, D, E, K, B1, B2, B3, B6, ácido pantotênico, ácido fólico, biotina, cobre, zinco, potássio, iodo, cálcio, magnésio, fósforo. Monossacarídeos (glicose, galactose), aminoácidos, glicerol e ácidos graxos, colesterol. JEJUNO PROXIMAL E JEJUNO DISTAL: vitamina A, ácido fólico, ferro, monoacil- glicerídeos, dissacarídeos (lactose, sacarose, maltose) dipeptídeos 78DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 ÍLEO: (local de absorção de sais biliares): vitamina B12, cloro, sódio e potássio. Dissacarídeos. CÓLON: biotina, sódio. Água, ácidos graxos de cadeia curta. 3.1 Diarreia Distúrbio nos mecanismos de secreção e absorção de água e eletrólitos, o que resulta na perda excessiva nas fezes. Ocorrendo na maioria das vezes alteração na consis- tência fecal e aumento no número de evacuações (4-5 evacuações líquidas já caracterizam diarreia). Pode ser de caráter agudo ou crônico. Na diarreia aguda, normalmente é por causa infecciosa com duração de até 14 dias, podendo ser prolongada 14-21 dias e a crônica dura mais de 21 dias ou com recidivas a cada 60 dias. Na diarreia aquosa, ocorre principalmente a perda de água e eletrólitos. Na disenteria (diarreia aguda com perda de sangue e muco nas fezes, geralmente associada a alterações inflamatórias intestinais, com aumento da frequência e volume fecal reduzido) e na estea- torreia (forma crônica de diarreia, com coloração amarelada, fezes volumosas, espumosas, fétidas e flutuantes, presença de gordura nas fezes, associada à perda de peso). A dietoterapia consiste em repor os líquidos e eletrólitos, aumentar a absorção de nutrientes e recuperar o estado nutricional. • Manter repouso intestinal, dieta zero por 24 horas, hidratação venosa ou oral. • Redução de volume e fracionamento aumentado. Consistência líquida a branda. • Aumentar a ingestão hídrica (2-3 litros/dia). As necessidades energéticas de acordo com estado nutricional e doenças que possam estar associadas. • Manter dieta normoglicídica, normoproteica e normolipídica. • Diminuir o aporte de fibras insolúveis e aumentar de fibras solúveis. • Restringir alimentos que aumentem a peristalse e também alimentos flatulentos. • Avaliar possíveis carências e deficiências nutricionais nos casos de diarreias crônicas (potássio, ferro, vitaminas e proteínas). 3.2 Doença Celíaca Também conhecida como, enteropatia do glúten, glúten sensível, espru não tropical. Definida como a incapacidade de tolerância ao glúten, o que causa sinais e sintomas de má absorção intestinal, mucosa jejunal com diminuição na altura das vilosidades e hipertrofia das criptas (aspecto celíaco), pois fere as microvilosidades as quais ficam lisas. O agente etiológico é o glúten do trigo, centeio, cevada e aveia o que gera lesão na mucosa intestinal. A doença acomete o intestino delgado proximal, afetando, portanto, 79DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 locais importantes de absorção. Ocorre diminuição na área absortiva e também alterações nos mecanismos de digestão e transporte. O quadro clínico varia de acordo com a época da vida e tempo de exposição ao glúten. Tendo por sintomatologia principal a diarreia, distensão abdominal, emagrecimento, alterações emocionais, palidez da mucosa, fraqueza, vômitos e anorexia. A dietoterapia tem objetivo de prover a retirada do glúten da dieta reduzindo os sintomas e promovendo a recuperação das vilosidades intestinais em 2-3 meses. O cuidado nutricional pode ser dividido em 3 fases: FASE 1: dieta isenta de glúten (aveia, centeio, cevada, trigo e malte) com subs- tituição por fubá, amido de milho, creme de arroz, fécula de batata, polvilho, farinhas de mandioca e milho. Dieta isenta de lactose, restrita em sacarose (substituída por dextrinas e maltose), legumes e frutas com pouco resíduo. Utilizar proteínas animais e vegetais e gorduras vegetais, assim como gordura de coco, óleo de babaçu que contém TCM (trigli- cerídeos de cadeia média). É recomendado nesta fase suplementar, vitaminas, minerais e proteínas. Normalmente deve-se suplementar ferro, ácido fólico e B12, vitamina K, cálcio, vitamina D, vitamina A e E. FASE 2: a alimentação vai sendo mais abrangente, reintroduzindo lentamente a sacarose e lactose, mantendo a restrição do glúten. FASE 3: Manutenção da dieta sem glúten. Normalmente tende a ser uma dieta normoglicícida, hiperproteica e hipolipídica. É de extrema importância que os pacientes celíacos estejam atentos aos rótulos dos produtos. 3.3 Doença Inflamatória Intestinal (DII) As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) representam um grupo de condições crônicas que afetam o trato gastrointestinal, sendo caracterizadas por intensidade persis- tente e recorrente. As duas principais formas de DII são a doença de Crohn e a colite ulcerativa, ambas marcadas por períodos de atividade e remissão. A apresentação clínica do DII pode variar amplamente, abrangendo sintomas como dor abdominal, diarreia, sangramento retal, perda de peso e fadiga. O diagnóstico preciso requer avaliação clínica, exames laboratoriais, endoscopia e, em alguns casos, estudos de imagem. O gerenciamento do DII visa controlar a inflamação, aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Envolve abordagens medicamentosas, modificações na dieta, terapias biológicas e, em alguns casos, procedimentos cirúrgicos. 80DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 Doença de Crohn: processo inflamatório crônico e progressivo, podendo ocorrer em qualquer segmento do TGI, mas o intestino delgado é o segmento mais acometido. As causas podem ser de origem infecciosa, imunológica, genética e por fatores dietéticos (adição de substâncias químicas aos alimentos, dietas ricas em carboidratos e pobres em fibras). No quadro clínico é comum apresentarem diarreia moderada (4-6 evacuações/dia), dor abdominal, perda de peso, náuseas, vômito, distensão abdominal e febre. Pode ocorrer incontinência fecal. A dor abdominal pode ser exacerbada pela ingestão de alimentos, con- tribuindo assim para a inapetência devido ao medo de se alimentar, a desnutrição então se torna muito comum no Crohn. A dietoterapia irá consistir em manter ou melhorar o estado nutricional e procurar tratar perdas nutricionais específicas. Como: • Aumentar o fracionamento e reduzir o volume das refeições. • Dietahipercalórica (40-50 kcal/kg/dia), hiperproteica (1,5 kcal/kg/dia), normogli- cídica e hipolipídica (menor ou igual a 25% do VET). • Avaliar esteatorreia, se necessário utilizar TCM, reduzir as fibras dando prefe- rência a pectina. • Reduzir alimentos ricos em resíduos, restringir a lactose da dieta. • Evitar açúcares simples. • Aumentar aporte de ferro, ácido fólico, B12, vitamina C e vitaminas lipossolú- veis, cálcio, sódio, potássio, magnésio e zinco, de acordo com as deficiências que o paciente possa apresentar. • Restringir alimentos ricos em ácido oxálico (espinafre, tomate, cacau, choco- late, gérmen de trigo, nozes, feijão, acelga, chicória, couve, maçã, figo, abacaxi e morango) pois causam irritação abdominal. Manter aporte hídrico adequado. Síndrome do Intestino Curto (SII): Refere-se aos efeitos clínicos da extensa ressecção do intestino delgado (ID). A sintomatologia inclui diarreia, distúrbios hidroele- trolíticos, má absorção e má digestão e por consequência a desnutrição. Ocorre aumento da motilidade gástrica devido a ressecção do ID. Na ressecção duodenal, acontece má absorção de ferro, folato e cálcio. Já na ressecção jejunal, temos a diarreia osmótica que consiste na presença de solutos pouco absorvidos na luz intestinal, devido a menor ativida- de da lactase. Na ressecção ileal abaixo de 100 cm, acontece a presença de diarreia devido à má absorção de sais biliares no cólon, ocorre menor absorção de vitaminas lipossolúveis e dificuldade de manutenção da nutrição adequada por via oral. A dietoterapia irá consistir em um volume reduzido e fracionamento aumentado. Monitoramento da ingestão via oral, possíveis deficiências nutricionais específicas como B12, lipossolúveis, zinco, cobre, selênio, magnésio, cálcio e ferro. DOENÇAS TIREOIDEANAS4 TÓPICO 81DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 As doenças tireoidianas representam um grupo abrangente de condições que afe- tam a glândula tireoide, uma estrutura em forma de borboleta localizada na parte frontal do pescoço. A tireoide desempenha um papel crucial na regulação do metabolismo, produzindo os hormônios tireoidianos triiodotironina (T3) e tiroxina (T4). Alterações no funcionamento da tireoide podem resultar em uma ampla variedade de distúrbios, impactando significati- vamente a saúde e o bem-estar dos indivíduos. As doenças tireoidianas podem ser categorizadas em dois grupos principais: hipo- tireoidismo, caracterizado pela produção insuficiente de hormônios tireoidianos, e hiperti- reoidismo, marcado pela produção excessiva. O hipotireoidismo está associado a sintomas como fadiga, ganho de peso, pele seca e sensibilidade ao frio, enquanto o hipertireoidismo pode se manifestar por meio de sintomas como perda de peso não intencional, nervosismo, palpitações e intolerância ao calor. A glândula tireoide é reconhecida como um dos maiores órgãos endócrinos do corpo humano, proporcionando um peso médio de 20 a 25 gramas em adultos. Desempenha um papel endócrino de grande importância ao sintetizar hormônios essenciais para diversas funções corporais fundamentais, tais como: • Desenvolvimento do sistema nervoso central; • Regulação da temperatura corporal e da frequência cardíaca; • Controle do metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios; • Modulação da ingestão alimentar e do peso corporal; 82DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 • Síntese e manipulação de fatores de crescimento e hormônios (ROSSI, 2019). Diversos distúrbios podem afetar a tireoide, incluindo a doença de Hashimoto, uma forma comum de hipotireoidismo autoimune, e a doença de Graves, um distúrbio autoimune que leva ao hipertireoidismo. Além disso, nódulos tireoidianos e o câncer de tireoide são condições específicas que requerem atenção clínica especializada. HIPERTIREOIDISMO: secreção excessiva de tiroxina e triiodotironina (hormônios da tireóide), ocorre aumento da taxa metabólica basal, depleção muscular, tremor, sudo- rese, taquicardia, apetite aumentado entre outros. O objetivo da dietoterapia é prevenir ou tratar as complicações associadas ao hipermetabolismo, como o emagrecimento, desmine- ralização óssea, anemia. Monitoramento da intolerância à gordura e esteatorréia. Manter dieta hipercalórica 30-40 kcal/kg/dia, hiperproteica (1 a 1,75gkg/dia), au- mentar aporte hídrico para reposição por perdas por sudorese e diarreia, dar preferência a alimentos ricos em cálcio, ferro e vitamina D, A, C, B1 e fibras solúveis. Evitar o excesso de sal, cafeína, fibras insolúveis, bebidas alcoólicas (promovem hipoglicemia), bolos, tortas balas, caramelos (evitar aumento de triglicerídeos). HIPOTIREOIDISMO: A atividade da glândula tireoide apresenta redução. Tem como principais sintomas: pele seca, letargia, fala lenta, edema palpebral, sensação de frio, pele fria, língua grossa, edema facial, perda de memória, constipação intestinal e ganho de peso. Apresenta como principais causas: autoimune; tireoidectomia; radioterapia de cabeça e pes- coço ou radioiodoterapia; malformação; carência ou excesso de iodo; disfunção hipofisária com baixa produção de TSH; infecção bacteriana; fatores nutricionais (ROSSI, 2019). A dietoterapia para o hipotireoidismo visa fornecer suporte nutricional para melho- rar a função da tireoide e minimizar os sintomas associados à condição. Nesse sentido, a dietoterapia deverá controlar o ganho de peso devido a redução da taxa metabólica basal (reduz de 15 a 40%), dando ênfase em alimentos integrais. Uma dieta balanceada, rica em alimentos integrais como frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis, pode promover a saúde geral e auxiliar no controle do peso, algo importante para indivíduos com hipotireoidismo. Incluir o iodo, que é um componente essencial na síntese dos hormônios tireoidia- nos. Alimentos ricos em iodo, como algas marinhas, peixes de água salgada, laticínios e ovos, podem ser incorporados à dieta para garantir um transporte adequado desse mineral. No entanto, é crucial não exagerar, uma vez que o consumo excessivo de iodo pode preju- dicar a função tireoidiana em alguns casos. Alguns alimentos, como a soja e crucíferas (re- polho, couve-flor, brócolis), contêm substâncias estranhas como bociogênicos, que podem 83DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 interferir na absorção de iodo e, potencialmente, agravar o hipotireoidismo. Recomenda-se o consumo desses alimentos com moderação, especialmente se consumidos crus. Outro mineral é o Selênio, um mineral importante para a conversão dos hormônios tireoidianos T4 em T3, de forma ativa. Alimentos como castanhas do Brasil, peixes, carnes, ovos e grãos integrais são boas fontes de selênio e podem ser incorporados na dieta. Monitoramento de Ferro e Zinco, pois a deficiência desses micronutrientes podem ser comuns em pessoas com hipotireoidismo. Incluir alimentos ricos nesses minerais, como carne vermelha magra, leguminosas, nozes e sementes. Evitar o excesso de soja, pois embora a soja seja uma fonte de proteína, seu consumo excessivo pode interferir na absorção de hormônios tireoidianos. Portanto, é aconselhável moderar o consumo de produtos à base de soja. 84DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 A sincronização corpo e mente também se faz pela boa alimentação, pois é ela que ajuda a manter as bactérias do intestino, que se comunicam com o cérebro. Fonte: Webert, 2021 (https://www.theowebert.com.br/post/cérebro-intestino-a-conexão-que-está- revolucionando-a-medicina-e-a-ciência) v A palavra tireoide vem do grego. É uma aglutinação dos termos thyreós (escudo) e oidés (forma de). O nome veio do fato da glândula ter uma forma semelhante à de um escudo. A descoberta da tireoide ocorreu em 1656, por Thomas Warton, que realizava uma pesquisa sobre glân- dulas. Na época, ele acreditava que a funçãoda tireoide era apenas estética, servindo simplesmente para modelar o pescoço. Somente no século XIX, foi possível confirmar sua importância. O termo hormônio foi usado pela primeira vez em 1905 pelo professor Ernest H. Starling, no Royal College of Physicians. Leonardo Da Vinci foi o primeiro a desenhar a tireoide. Em 2.700 A.C os chineses utilizavam algas marinhas para o tratamento de bócio (inchaço no pescoço cau- sado pela deficiência de iodo). Em 1909 Emil Theodor Kocher, fisiologista alemão, conquistou o Prêmio Nobel de Medicina devido às des- cobertas sobre a glândula. Fonte: https://www.tireoide.org.br/para-o-publico/historia-e-curiosidades/ https://www.theowebert.com.br/post/cerebro-intestino-a-conex%C3%A3o-que-est%C3%A1-revolucionando-a-medicina-e-a-ci%C3%AAncia https://www.theowebert.com.br/post/cerebro-intestino-a-conex%C3%A3o-que-est%C3%A1-revolucionando-a-medicina-e-a-ci%C3%AAncia https://www.tireoide.org.br/para-o-publico/historia-e-curiosidades/ 85DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 Chegamos ao final dos estudos dessa unidade. O aprendizado da dietoterapia nas doenças da cavidade oral, esôfago e intestino é de suma importância para o acadêmico de nutrição, pois, através do conhecimento, ele atuará diretamente no impacto na qualidade de vida do paciente. As condições relacionadas à cárie oral, esôfago e intestino podem comprometer a ingestão, a digestão e a absorção dos alimentos. Nesse contexto, a adaptação nutricional às condições de saúde é primordial, pois em doenças como refluxo gastroesofágico, síndrome do intestino irritável, doença celíaca, entre outras, se torna necessário uma abordagem nutricional específica. Você, acadêmico, ao compreender uma dietoterapia adequada para cada condição, estará preparado para propor planos alimentares que auxiliam no controle dos sintomas e na promoção da saúde gastrointestinal. Atuará também na prevenção e tratamento de complicações, pois a dieta desempenha um papel crucial na prevenção e tratamento de complicações associadas a condições gastrointestinais, como desnutrição, deficiências nutricionais e perda de peso não intencional. Nessa unidade, você compreendeu as necessidades nutricionais específicas dessas condições, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades clínicas. Isso inclui a avalia- ção do estado nutricional, a prescrição de dietas terapêuticas, a monitorização de parâmetros clínicos e a adaptação contínua do plano alimentar de acordo com a evolução do paciente. Portanto, a aprendizagem da dietoterapia nas doenças da cavidade oral, esôfago e intestino não apenas enriquece o conhecimento acadêmico, mas também prepara o futuro nutricionista para desafios práticos, melhorando a capacidade de fornecer cuidados nutri- cionais personalizados e eficazes. Até a próxima! CONSIDERAÇÕES FINAIS 86DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DA CAVIDADE ORAL, ESÔFAGO E INTESTINOUNIDADE 4 MATERIAL COMPLEMENTAR FILME/VÍDEO • Título: Milagres do Paraíso • Ano: 2016 • Sinopse: Milagres Do Paraíso é baseado na incrível história ver- dadeira da família Beam. Quando Christy (Jennifer Garner) desco- bre que sua filha de 10 anos, Anna (Kylie Rogers), tem uma doença rara e incurável, ela busca incessantemente a cura da sua filha. Após Anna sofrer um acidente inesperado, um milagre acontece quando ela está prestes a ser salva, surpreendendo especialistas, restaurando sua família e inspirando sua comunidade. LIVRO • Título: Dietoterapia nas Doenças Gastrointestinais do Adulto • Autor: Oliveira/ Silva/ Dall • Editora: Rubio • Sinopse: As doenças gastrintestinais afetam parcela significativa da população, e a Nutrição tem importante papel no tratamento de tais enfermidades. Assim, Dietoterapia nas Doenças Gastrintestinais do Adulto” é uma obra didática, atualizada e dinâmica que reúne as mais relevantes informações acerca do assunto, bem como os procedimentos específicos de avaliação. Fisiologia do sistema di- gestório, digestão, absorção e metabolismo de nutrientes, nutrição em nível molecular, prebióticos e probióticos, alimentos funcionais, microbiota intestinal e interação fármaco-nutriente nas doenças gastrintestinais são alguns dos temas estudados nesta publicação. 87 Chegamos ao final desta apostila de Nutrição Clínica e Dietoterapia, e ao longo deste percurso, exploramos a complexidade e a importância dessa interseção crucial entre a nutrição e a prática clínica. Este material foi elaborado com o compromisso de propor- cionar a você, estudante, uma visão abrangente e prática dos fundamentos essenciais necessários para uma prática nutricional aprimorada e centrada no paciente. Aprendemos que a nutrição clínica vai além de simplesmente fornecer orientações alimentares; envolve uma compreensão holística do paciente, considerando suas condições clínicas, histórico médico e fatores socioeconômicos. Reconhecemos a importância da individualidade na formulação de estratégias dietéticas. Cada paciente é único, e a persona- lização é a chave para o sucesso na promoção da saúde e no manejo de condições clínicas. Concluímos que, embora a nutrição clínica e a dietoterapia ofereçam soluções vitais para a promoção da saúde, enfrentamos desafios em um cenário dinâmico e multifa- cetado. No entanto, com cada desafio surge uma oportunidade de crescimento, inovação e contribuição significativa para o bem-estar dos nossos pacientes. Esta apostila é apenas um ponto de partida. A jornada na nutrição clínica e dieto- terapia é contínua, exigindo dedicação constante ao aprendizado, atualização e aprimora- mento de habilidades práticas. À medida que você avança nesta área, encorajamos você a buscar oportunidades de aprendizado contínuo, participação em eventos científicos e o compartilhamento de experiências com colegas. Agradeço por embarcar comigo nesta exploração da Nutrição Clínica e Dietotera- pia. Que as lições aprendidas aqui se traduzam em prática clínica qualificada, promovendo saúde e bem-estar em cada passo da sua jornada profissional. Sucesso na sua prática nutricional! CONCLUSÃO GERAL 88 AGUILAR-NASCIMENTO, J. E. et al. Diretrizes para Terapia Nutricional Enteral e Parente- ral. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, v. 34, Supl. 1, p. 1-117, 2019. BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Guia Alimentar para a População Brasileira Brasília: MS; 2014. BRASPEN. Guia Brasileiro de Terapia Nutricional Enteral e Parenteral. 3ª ed. São Paulo: BRASPEN, 2016. CARNEIRO, G. et al. Eficácia das dietas de restrição energética na perda de peso e parâme- tros bioquímicos associados à obesidade: revisão sistemática. (2018). Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, 12 (69), 166-175. CUPPARI, Lilian. Guia de Nutrição Clínica no Adulto. São Paulo: Editora Manole, 2014. 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