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CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E ENVELHECIMENTO HUMANO ORGANIZADORES DANIEL VICENTINI DE OLIVEIRA CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E ENVELHECIMENTO HUMANO (Desenvolvimento Humano: Infância e Adolescência) ORGANIZADOR: DANIEL VICENTINI DE OLIVEIRA Crescim ento, desenvolvim ento e envelhecim ento hum ano GRUPO SER EDUCACIONAL Fundamental para entender o funcionamento do corpo humano do indiví- duo nas fases de crescimento, desenvolvimento e envelhecimento, este livro abrangente vai apresentar as peculiaridades e características dos aspectos envolvidos nas fases da vida do ser humano. A obra se divide em quatro unidades que tratará dos seguintes temas: introdução ao cresci- mento, desenvolvimento e envelhecimento do ser humano; concebendo uma nova vida, tipos de nascimento e a importância do pré-natal; desen- volvimento motor, cognitivo e psicossocial na infância; e, por �m, desen- volvimento físico, cognitivo e psicossocial no adolescente, no adulto jovem e no idoso. Bem ilustrada e com linguagem clara, este livro é um rico instrumento de estudo para os estudantes de Educação Física e áreas correlatas. Bons estudos! gente criando futuro I SBN 9786555581430 9 786555 581430 > C M Y CM MY CY CMY K CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E ENVELHECIMENTO HUMANO Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Diretor de EAD: Enzo Moreira Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes Coordenadora educacional: Pamela Marques Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi Oliveira, Daniel Vicentini de. Crescimento, desenvolvimento e envelhecimento humano / Daniel Vicentini de Oliveira. – São Paulo: Cengage, 2020. Bibliografia. ISBN 9786555581430 1. Educação Física. 2. Biologia. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com “É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no contexto da sociedade.” Janguiê Diniz PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL Autoria Daniel Vicentini de Oliveira Possui graduação em Educação Física (2008) e Fisioterapia (2011) pelo Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR), e em Gerontologia pelo Claretiano Centro Universitário (2020). Título de especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (2017 - SBGG)) e de Fisioterapia em Gerotologia pela Associação Brasileira de Fisioterapia em Gerontologia (2019 - ABRAFIGE). Especialização em Anatomia Funcional (2010 - UNICESUMAR), em Gerontologia (2012 - UENP), em Saúde Pública (2017 - UCAM), em Psicogerontologia (2018 - UNYLEYA) e em Bases Morfofuncionais do Corpo Humano (2019 - UEM). Mestrado em Promoção da Saúde na linha de pesquisa Envelhecimento ativo (2013 - UNICESUMAR). Doutorado em Gerontologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (2018 - UNICAMP). Pós-doutorando no programa de Pós- graduação Stricto Sensu em Promoção da Saúde (2019-2020 - UNICESUMAR). Docente (T-40) no Centro Universitário Metropolitano de Maringá (UNIFAMMA) no Departamento de Educação física (bacharelado) e Fisioterapia. Tutor e coordenador de cursos de pós-graduação lato sensu, modalidade a distância, da Faculdade Unyleya. Membro do Grupo de pesquisa Atividade física e envelhecimento (GEPAF/UNICESUMAR/CNPq), do Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte e do Exercício (GEPEEX/ UNIVASF/CNPq) e do Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte e Desempenho Humano (GEPEDH/ UEM/CNPq). Editor associado da Cadernos de Saúde Coletiva, e Conselheiro Científico Nacional da Revista Fisioterapia em Movimento. Membro da Comissão Científica de Fisioterapia da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ). Possui experiência na área de Gerontologia, Ciências morfológicas, Educação física e Fisioterapia, com ênfase em morfologia do aparelho locomotor, educação física e fisioterapia em gerontologia, doença de Alzheimer e Parkinson, promoção da saúde no envelhecimento, epidemiologia e saúde coletiva, funcionalidade no envelhecimento, e psicologia do esporte e do exercício. Membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO). SUMÁRIO Prefácio .................................................................................................................................................8 UNIDADE 1 - Introdução ao crescimento, desenvolvimento e envelhecimento do ser humano ........9 Introdução.............................................................................................................................................10 1 Conceitos e Teorias do Crescimento e Desenvolvimento Humano ...................................................11 2 Compreendendo o Desenvolvimento Motor ..................................................................................... 19 3 Termos e Conceitos Usados pelo Desenvolvimento Motor ...............................................................22 4 O Envelhecimento Humano ............................................................................................................... 24 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................30 UNIDADE 2 - Concebendo uma nova vida, tipos de nascimento e a importância do pré-natal ........31 Introdução.............................................................................................................................................32 1 Concebendo uma Nova Vida .............................................................................................................. 33 2 Tipos de Nascimento .......................................................................................................................... 45 3 A importância do Pré-Natal ................................................................................................................ 51 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................57 UNIDADE 3 - Desenvolvimento motor, cognitivo e psicossocial na infância.....................................59 Introdução.............................................................................................................................................601 Crescimento e Desenvolvimento Humano na Infância ..................................................................61 2 Primeira Infância ................................................................................................................................ 64 3 Segunda Infância ................................................................................................................................ 70 4 Terceira Infância ................................................................................................................................. 74 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................77 UNIDADE 4 - Desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial no adolescente, no adulto jovem e no idoso ............................................................................................................79 Introdução.............................................................................................................................................80 1 Crescimento e Desenvolvimento Humano na Adolescência ..............................................................81 2 O Crescimento e Desenvolvimento Humano no Adulto Jovem .........................................................87 3 Desenvolvimento Humano e Alterações no Idoso ............................................................................ 88 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................95 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................96 Neste livro vamos tratar das fases pelas quais o ser humano passa: crescimento, desenvolvimento e envelhecimento. A obra está estruturada em quatro unidades que abordarão os aspectos biológicos, psicológicos e sociais dos indivíduos em todas as fases da vida. Na primeira unidade, será apresentada uma introdução ao crescimento, desenvolvimento e envelhecimento do ser humano, com a descrição dos principais conceitos e teorias a respeito do desenvolvimento humano e as etapas que envolvem cada processo. Explicaremos também os fatores intrínsecos e extrínsecos que impactam no crescimento e desenvolvimento do ser humano. A unidade 2, concebendo uma nova vida, tipos de nascimento e a importância do pré- natal, trará alguns dos aspectos importantes acerca da gestação e do parto. Abordaremos este que é um período muito importante na vida da mulher, cercado de expectativas, anseios, medos, desinformações, crendices, etc., apresentando informações baseadas na ciência desde o momento em que ocorre a fecundação, ou seja, o encontro dos gametas sexuais masculino (espermatozoide) com o feminino (óvulo) até a formação do embrião, desenvolvimento do feto e nascimento do bebê. Discutiremos, por fim, a importância do pré-natal e os tipos de nascimento: cesária e normal. A primeira, segunda e terceira infâncias será o assunto da terceira unidade, onde serão discutidos o desenvolvimento motor, cognitivo e psicossocial na infância. Você entenderá quais alterações motoras, psicológicas e cognitivas acontecem nas fases da infância. Aqui, aprofundaremos o estudo sobre o crescimento e desenvolvimento da criança, abordando as aproximações e as diferenças pontuais para que sua atuação profissional tenha ações assertivas no seu dia a dia de trabalho. Discutiremos, portanto, sobre o crescimento e seus períodos durante o ciclo de vida da criança, desde o seu nascimento. Assim, esta unidade o levará a uma compreensão do desenvolvimento do indivíduo na infância. Na quarta unidade, os aspectos do desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial no adolescente, no adulto jovem e no idoso serão discutidos, abordando as alterações que ocorrem em cada uma dessas fases, com suas características, peculiaridades, no que diz respeito aos aspectos biológico, social e psicológico. Este é um livro abrangente para estudar o desenvolvimento humano nos aspectos biológicos, sociais e psicológicos! Bons estudos! PREFÁCIO UNIDADE 1 Introdução ao crescimento, desen- volvimento e envelhecimento do ser humano Você está na unidade Introdução ao Crescimento, Desenvolvimento e Envelhecimento do Ser Humano. Conheça aqui conceitos e principais teorias do desenvolvimento humano. Entenda os fatores intrínsecos e extrínsecos que impactam no crescimento e desenvolvimento do ser humano. E, ainda, conheça as etapas do processo de crescimento, desenvolvimento e envelhecimento humano. Bons estudos! Introdução 11 1 CONCEITOS E TEORIAS DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO Para iniciarmos essa unidade, alguns pontos devem ser esclarecidos sobre crescimento e desenvolvimento. Isso é imperativo para seus estudos, devido à frequência com que esses termos são utilizados de forma semelhante. De forma direta e inicial – crescimento, ou crescimento físico é como interpretamos o tamanho do corpo de um indivíduo na maturação. Melhor explicando, o crescimento deve ser considerado como uma forma de se ver um aumento da estrutura do corpo. É sabido que o crescimento físico, é um processo biológico que nos fornece o aumento quantitativo do tamanho físico. Portanto, temos uma leitura do aumento de massa corporal total no sentido longitudinal e transversal. E a verificação desse crescimento pode ser feita pela medição de peso, altura, perímetros e diâmetros e dobras cutâneas. De forma geral, essas alterações ocorrem do nascimento até os 20 anos de idade (BEE, 2003; HAYWOOD; GETCHELL, 2016; GALLAHUE; OZMUN, 2005). Figura 1 - Crescimento humano Fonte: Brian A Jackson, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: a imagem mostra uma criança usando óculos e um casaco de lã azul. Ela está com um regador de plantas na mão, como se regasse a própria cabeça. Atrás da criança, é possível ver medidas de altura, como uma régua. 12 Já o desenvolvimento refere-se à forma de se ver as alterações no nível de funcionamento de um indivíduo ao longo da vida. Isto posto, o desenvolvimento nos fornece informações sobre o que e como ocorrem as mudanças de desenvolvimento no organismo durante o ciclo da vida a favor da maturidade. Podemos, dessa forma, ver o desenvolvimento e a importância de estudá- lo, como aponta Gallahue e Ozmun (2005, p.15): “o desenvolvimento é um processo contínuo, incluindo todas as dimensões inter-relacionadas de nossa existência”. É a psicologia do desenvolvimento a responsável por estudar o ser humano ao longo de todas as fases de vida. Esta área da psicologia estuda como se desenvolve a cognição, e como o comportamento muda durante a fase de crescimento, citada anteriormente. A psicologia explica o desenvolvimento humano por meio de seis teorias: Gestalt, psicanálise, behaviorismo, psicologia cognitiva, Piaget e Vygotsky. 1.1 Gestalt Foi uma das primeiras correntes científicas oriundas da psicologia, e defende que o aprendizado depende de diversas estruturas com uma base física, e impõe as suas qualidades no que diz respeito ao desenvolvimento do ser humano. Para esta teoria, o desenvolvimento humano baseia-se em estruturas de origem biológica, que são aprendidas à medida que crescemos. Há a descoberta progressiva das capacidades do cérebro. 1.2 Psicanálise O pai da psicanálise é Sigmund Freud. A psicanálise traz informações sobre impulsos inconscientes e os seus efeitos sobre o comportamento humano. Esta teoria teve impacto positivo no estudo do desenvolvimento humano, assim como suas teorias revolucionaram à concepção que a psicologia tinha a respeito das fases da infância e da adolescência. Ela considera que o desenvolvimento humano ocorre devido à necessidade da criança de satisfazer uma série de necessidades em cada estágioevolutivo. Esta teoria classifica o desenvolvimento em uma série de etapas, de acordo com a forma como a satisfação dessa série de necessidades é estabelecida. A psicanálise colocou grande ênfase na importância da sexualidade em todas as etapas do nosso desenvolvimento, incluindo as primeiras fases. 13 Figura 2 - Sigmund Freud Fonte: Everett Historical, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra o rosto de Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, em preto e branco. 1.3 Behaviorismo Nasceu em resposta à reduzida atitude científica da psicanálise. O behaviorismo é extremamente positivista, tudo o que diretamente não pode ser medido está fora do estudo da psicologia. Eles estudavam apenas a relação entre os estímulos percebidos e os comportamentos que provocavam, ignorando qualquer variável intermediária que não pudesse ser medida. Para esta teoria, o desenvolvimento humano é entendido somente com os diferentes tipos de aprendizagem que são considerados neste contexto. A criança nasce com uma série de respostas incondicionais e inatas, que, por meio da experiência, vão associando a outros estímulos. Crianças geram uma multiplicidade de comportamentos complexos, por meio de processos muito simples. 1.4 Psicologia Cognitiva Surgiu como uma reação ao behaviorismo, e se preocupa com o estudo dos processos internos que podem acontecer entre um certo estímulo e um comportamento determinado. Estuda processos mentais que estão por trás do comportamento, dando início às perspectivas computacionais e conexionistas do cérebro humano. A psicologia cognitiva sugere que o indivíduo é um produtor de informação que constrói representações internas de como é o mundo. 14 1.5 Jean Piaget Jean Piaget é um dos grandes nomes nas teorias sobre o desenvolvimento humano, sendo considerado um dos pais do construtivismo. Sua teoria parte da ideia de que a criança constrói o seu mundo, e a sua maneira de construi-lo é baseada nos problemas que surgem; a teoria se concentra na formação dos conhecimentos. Figura 3 - Jean Piaget Fonte: EQRoy, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra uma estátua, com o busto de Jean Piaget. Esta estátua está em um jardim. Ele elaborou uma teoria que dividiu o desenvolvimento em uma série de etapas. Essas etapas são universais e todos os indivíduos passariam por elas em idades semelhantes. 15 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 1.6 Lev Vygotski Por fim, temos a teoria de Lev Vygotski, referência nas teorias sobre o desenvolvimento humano, propondo o desenvolvimento de uma perspectiva construtivista. Ele se concentrou nos efeitos culturais e sociais que influenciavam o desenvolvimento. Figura 4 - Lev Vygotski Fonte: Natata, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer:A imagem mostra a ilustração do rosto de Lev Vygotski. Para Vygotsky, o desenvolvimento humano era inseparável do ambiente social, já que a cultura e a sociedade transmitem formas de comportamento e de organização do conhecimento. Isto foi conhecido como socioconstrutivismo. Voltamos agora a falar do desenvolvimento humano em geral. Caro estudante, quando entramos no universo do desenvolvimento humano, torna-se necessário passarmos por etapas de compreensão do desenvolvimento humano. Para tanto, convido você a iniciar uma empreitada 16 nos estudos sobre o quanto nosso desenvolvimento perpassa pela interação dos fatores naturais (biologia, maturação, hereditariedade, genética) com os fatores ambientais (experiência, aprendizado, meio externo ao corpo, educação, sociedade, e etc.). Bee (2003, p.30) aponta que a discussão sobre “natureza versus meio ambiente, também conhecido como hereditariedade versus ambiente ou nativismo versus empirismo, é uma das questões teóricas mais antigas e mais centrais na filosofia, assim como na psicologia”. O desenvolvimento humano pode ser caracterizado pela necessidade de considerar e observar as mudanças e constâncias que o nosso organismo passa durante o ciclo da vida. Para Bee (2003), o desenvolvimento de qualquer pessoa se dá considerando a interação entre dois grandes fatores o natural e o ambiental. Explicar os dois fatores citados acima, o auxiliará a se aprofundar na dinâmica do desenvolvimento do indivíduo. Para tanto, parte-se da compreensão de que o fator natural está relacionado à biologia do indivíduo, a sua hereditariedade, à maturação (conteúdo que será mais aprofundamento em um tópico posterior). Ainda contextualizando melhor os fatores naturais, podemos exemplificar que a biologia do indivíduo, dá a ela uma individualidade que atenderá a mudanças e constância decorrentes de sua genética (BEE, 2003). Para essa etapa inicial de nossos estudos, torna-se imperativo sua postura crítica em relação a essa temática. Por exemplo, sabe-se que a hereditariedade é considerada como a carga genética do indivíduo. No entanto, ao saber que esta carga pode ou não potencializar alguns aspectos do desenvolvimento de um indivíduo faz de você responsável em considerar a individualidade, mas sem deixar de considerar o quanto esse indivíduo interage com as experiências que o mesmo enfrentou, enfrenta e enfrentará. Isto posto, seguimos para o segundo grande fator do desenvolvimento humano, o fator ambiental, que inclui: • experiências, • fatores externos ao corpo, • situações do cotidiano, • educação, • sociedade, • o brincar, • aprendizado e etc. 17 O fator ambiental consiste nos aspectos do meio em que o indivíduo interage. Assim, podemos mencionar, por exemplo, a influência que pais têm sobre a educação dos filhos. Porém, essa influência não se restringe ao contato humano, abrange o local, a residência, a rotina dos pais, da família para os afazeres da casa. Outro exemplo: podemos considerar como fator ambiental, uma aula de educação física na escola ou mesmo em uma escolinha de futebol. A aula, a intervenção do profissional, os materiais utilizados, a comunicação do professor, são fatores ambientais que podem ou não influenciar no desenvolvimento do público envolvido. Ao tratar de maturação, é importante deixar bem claro que nossa linguagem estará fundada na concepção desenvolvimentista do conceito de maturação. Assim, para seus estudos se tornarem efetivos, não convém confrontar, nesse momento, o conceito maturação com outras áreas de fundamentação. A maturação, já mencionada no tópico anterior, faz parte dos fatores naturais do desenvolvimento humano. Ela consiste no quanto a natureza pode moldar o desenvolvimento humano após o nascimento, esse processo pode ser explicado pela programação genética, essa que determinará sequências inteiras do desenvolvimento do indivíduo. Segundo Gallahue e Ozmun (2005, p. 15), a maturação compreende “alterações qualitativas que capacitam o indivíduo a progredir para níveis mais altos de funcionamento”. Já Bee (2003) defende que a maturação pode ser considerada um termo utilizado para descrever os padrões sequenciais geneticamente programados. A maturação biológica deve ser vista como o processo que proporcionará ao organismo um estado completo de desenvolvimento morfológico, fisiológico e psicológico e que necessariamente tem controle genético, e pode ter o ambiental. A maturação está alicerçada na relação entre o tempo biológico e o tempo cronológico. Essa última citação nos mostra que, mesmo a maturação sendo um fator biológico, dotado de uma programação, a individualidade deve ser considerada para uma análise mais crítica do desenvolvimento, por exemplo, de uma criança. Mesmo considerando essa criança pelo tempo cronológico ou tempo biológico, o nível de maturidade atingida pode ser determinado em diferentes momentos do ciclo da vida. Podemos afirmar que a maturação se enquadra às mudanças e constâncias que o desenvolvimento humano apresenta. Se maturação remete às alterações decorrentes de uma programação genética, e essas alterações geram um melhor funcionamento do organismo, corrobora-se que o indivíduo passa por mudanças(qualitativas) mas que seguem, de certo modo, uma certa constância, as mudanças tendem a seguir uma sequência e progressivamente 18 acontecem, mas não deixando de considerar as características da individualidade da pessoa. Um aspecto importante da maturação é que o padrão maturacional é marcado por três qualidades (BEE, 2003): • é universal - aparecendo em todas os indivíduos, atravessando fronteiras culturais; • é sequencial – envolvendo algum padrão de habilidade ou alguma característica que se desenvolve com certa progressão e sequência de aparecimento; • é relativamente impenetrável à influência ambiental – o momento no qual se atinge um desenvolvimento maturacional pode ou não sofrer influência ambiental. Isso nos mostra que, mesmo um fator do desenvolvimento considerado como fator natural, não pode ser considerado como fator único no processo do desenvolvimento humano. Diante disso, discutir os fatores ambientais e como esses podem interferir no desenvolvimento de uma pessoa pode ser visto como uma forma de buscar sempre uma análise crítica do desenvolvimento, e muitas vezes ajudar na explicação das diferenças e semelhanças de desenvolvimento entre os indivíduos. Conforme apresentado no tópico anterior, a influência ambiental deve ser considerada para conceituar e explicar o desenvolvimento humano. Para tanto, a partir de agora, inclinaremos nossas análises para como o ambiente interage com a natureza. Para tanto, começamos a estudar o quanto o momento de uma experiência pode ou não interferir no desenvolvimento de uma pessoa. Fala-se do timing da experiência, e considera-se quando e por que essa experiência é significativa. Bee (2003 p.36 e 37) apresenta um exemplo que corrobora com esse nosso momento de estudo, veja a seguir: Assim como a importância da natureza pode variar de um momento para outro no desenvolvimento, o timing de experiências específicas também é significativo. O impacto da creche sobre um bebê pode ser muito diferente aos 6 e aos 16 meses; mudar de escola pode ter efeitos diferentes quando ocorre na puberdade e quando ocorre em algum outro estágio. Ao interpretar o trecho acima, como também, o que já estudamos até esse momento, podemos defender que a ideia-chave é a de que a influência das experiências, além de ser uma atividade ambiental, será contextualizada pela forma como o indivíduo a interpreta. Para tanto, esse indivíduo é dotado de um desenvolvimento maturacional que lhe oferece condições ou não de lidar com esses fatores ambientais. 19 Diante do discutido nesse tópico sobre desenvolvimento humano, podemos apontar alguns caminhos que podem ser seguidos por você para a sua futura atuação profissional. A natureza e o meio ambiente não agem de forma independente, a fim de compor o desenvolvimento humano. Precisamos ver e analisar essa interação de forma complexa e, por que não, fascinante, e, assim, é evidente a importância e necessidade de interpretar o desenvolvimento humano considerando as características biológicas e a interação com o ambiente, bem como as experiências que o indivíduo vivencia. 2 COMPREENDENDO O DESENVOLVIMENTO MOTOR Após iniciarmos nossos estudos sobre Crescimento e Desenvolvimento Humano, começaremos a traçar nosso trajeto para o Desenvolvimento Motor. Para tanto, convido você nesse tópico a compreender o desenvolvimento motor e o quanto essa área está atrelada à leitura do comportamento motor do indivíduo. Assim, podemos trazer como abertura desse tópico o conceito de desenvolvimento motor defendido por Gallahue e Ozmun (2005, p. 03), esses autores apontam que o “desenvolvimento motor é a contínua alteração no comportamento motor ao longo da vida, proporcionada pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente”. Diante essa citação, torna-se preponderante explicar esse conceito, como também compreender o desenvolvimento motor e sua contribuição para a área da saúde. Podemos ressaltar que o desenvolvimento motor é definido por algumas características, segundo Haywood e Getchell (2016), é: um processo contínuo de mudanças de capacidade funcional; o desenvolvimento está relacionado à idade apesar de não depender dela; o desenvolvimento envolve mudança sequencial de maneira irreversível e ordenada, resultado de interações dentro do indivíduo e de interações entre indivíduos e o ambiente. Segundo Tani (2016, p. 34), o desenvolvimento motor “é visto como um processo que envolve emergência, aquisição e aperfeiçoamento de funções e habilidades a partir de um script que vai sendo escrito ao longo da experiência”. Haywood e Getchell (2016) apresentam o desenvolvimento motor como uma forma de nos referirmos ao desenvolvimento do movimento. Para tanto, aqueles que fazem uso do desenvolvimento motor exploram as mudanças desenvolvimentais do corpo em movimento. Ainda segundo esses autores, o desenvolvimento motor pode ser utilizado como uma ferramenta de estudo, pois consiste em explicar o desenvolvimento do movimento (motor) como um processo sequencial e contínuo, no qual o indivíduo progride de um movimento simples, reflexos ou com pouco controle, para movimentos complexos e organizados, como as habilidades motoras fundamentais e especializadas. 20 Pensando no desenvolvimento motor como instrumento de intervenção profissional, ou considerando uma fundamentação para construção, elaboração e estruturação de uma intervenção motora. Isto se consolida quando se compreende que qualquer processo de melhora das performances de movimentos deve estar fundada nas características dos movimentos do indivíduo. Conforme apresentado anteriormente, entende-se o desenvolvimento motor como uma contínua alteração no comportamento ao longo do ciclo da vida. E essas alterações são provocadas por três fatores: • o indivíduo, • o ambiente, • e a tarefa. Isto posto, trago agora para você um estudo mais aprofundado a respeito desses três fatores. Para tanto, para sua melhor compreensão é preponderante o exercício de entender o desenvolvimento motor como uma forma de ver as alterações dos movimentos ao longo da vida do indivíduo, e buscar sempre querer saber o que provoca essas alterações. Assim, podemos categorizar em duas grandes áreas - a biológica e a ambiental -, para melhor esclarecer os fatores influenciadores do desenvolvimento motor. Essa contextualização com o desenvolvimento humano é possível para você, pois é sabido que o desenvolvimento é entendido como uma interação entre as características biológicas individuais (crescimento e maturação) com o meio ambiente ao qual o sujeito é exposto durante a vida (BEE, 2003). Diante disso, os nossos estudos a respeito do desenvolvimento motor não podem se afastar da constante compreensão dos fatores naturais e ambientais e suas interações. É válido lembrar que o desenvolvimento motor é considerado como contínuas alterações no comportamento motor ao longo da vida, e essas modificações acontecem devido à influência das características biológicas, correlacionadas com os fatores ambientais das experiências vividas e dos tipos de tarefas durante esse processo. Isto significa que interpretar o desenvolvimento motor é contextualizá-lo desde o momento da concepção até a morte do indivíduo (GALLAHUE; OZMUN, 2005; HAYWOOD; GETCHELL, 2016). Assim, o desenvolvimento motor pode oferecer instrumentos referenciais que ajudarão a entender três fatores imprescindíveis, segundo essa teoria, para o processo de construção de uma intervenção motora. Considerando o exposto, podemos compreender e melhor explicar a importância da interação dos três fatores (Individual; Tarefa; Ambiente). O termo indissociável passa a fazer mais sentido, pois estamos falando de um modelo que preza pela relação entre os fatores envolvidos. 21 E o mais importante, justifica-se o quanto há interação entre os três aspectos. Porém, para seu aprofundamento no estudo do desenvolvimento motor é imperativo oentendimento destes três fatores mais profundamente. No Individual é considerado todos os aspectos que estão relacionados à biologia do indivíduo. Assim, a hereditariedade, a própria biologia, a natureza e os fatores intrínsecos são formas de você, compreender o quanto esses itens biológicos devem ser considerados para defender a individualidade biológica de indivíduo (GALLAHUE; OZMUN, 2005, HAYWOOD; GETCHELL, 2016). Nesse momento, é bem visível a importância de pensar no desenvolvimento maturacional do indivíduo, para tanto, você como futuro profissional pode explorar de forma crítica o estudo do desenvolvimento biológico do indivíduo que participará da sua intervenção motora. Nota-se então que os aspectos externos, os fatores ambientais também devem ser considerados para interpretar o desenvolvimento motor de um indivíduo. Existem dois outros fatores, além do individual, a tarefa e o ambiente. É imperativo compreender que esses dois fatores pertencem à grande área Ambiental do desenvolvimento. Assim, vamos conversar um pouco mais sobre a importância da influência ambiental no desenvolvimento motor de uma pessoa. Na esfera Ambiente, você encontra fatores como experiência, aprendizado, encorajamento e fatores extrínsecos. Para melhor compreensão, podemos visualizar esses aspectos em diferentes situações e momentos ambientais, como locais, a forma como o profissional responsável conduz uma aula, a maneira como a motivação é mantida durante a intervenção motora, e o mais importante, deve-se ter como referência a maneira como o indivíduo interpretará esse ambiente. Para falar de experiência, nesse momento do nosso estudo, é pertinente tratá-la de forma objetiva como fatores ambientais que podem ou não influenciar no desenvolvimento do indivíduo, como também no processo de aprendizado (GALLAHUE; OZMUN, 2005). Por último, explicar o fator Tarefa, vincula a compreensão do desenvolvimento motor e o quanto as características dos tipos de estímulos que um indivíduo experiencia têm e terão durante o seu ciclo de vida. Portanto, a tarefa está relacionada aos fatores físicos e mecânicos. Explicitando esses fatores, falamos de: • exercício propriamente dito, • dos estímulos motores, • das atividades em aulas, • das habilidades motoras a serem trabalhadas. 22 Diante do que foi apresentado nesse tópico, podemos afirmar o quanto o conhecimento sobre desenvolvimento motor está começando a ficar mais denso. Isso resultará num constante aprofundamento a respeito da importância de considerar o gradual desenvolvimento das características dos movimentos de um indivíduo. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 3 TERMOS E CONCEITOS USADOS PELO DESENVOLVIMENTO MOTOR Nos tópicos apresentados até esse momento, muito conceitos e termos foram utilizados para melhor exemplificar e contextualizar o desenvolvimento motor. Diante disso, nesse momento, nos ocuparemos em melhor explicar alguns dos principais termos e conceitos utilizados por essa área de estudo das alterações do comportamento motor ao longo do ciclo da vida. O comportamento motor pode ser considerado uma área que estuda em demasia o movimento humano. Porém, esse estudo, se localiza sob o ponto de vista de sua produção e controle, forma de aprendizado, alterações pelas quais passam, ao longo do ciclo da vida, como resultado de aspectos intrínsecos e extrínsecos. O comportamento motor nos ajuda a compreender os processos subjacentes à performance motora ao longo da vida. Go Tani (2016) explica de forma mais ampla o comportamento motor de um indivíduo, argumentando que é uma área composta pelos campos de investigação denominados de Aprendizagem Motora, Controle Motor e Desenvolvimento Motor. É importante a compreensão de que, apesar de a Aprendizagem Motora, o Controle Motor e o Desenvolvimento Motor terem identidades próprias como campos de investigação, os fenômenos por eles estudados devem ser vistos como fortemente conectados. Em outras 23 palavras, deve-se prestar mais atenção às suas relações do que às diferenças, especialmente no campo da intervenção profissional. Encontra-se em Gallahue e Ozmun (2005) que o comportamento motor engloba alterações no aprendizado e no desenvolvimento. Isto posto, inclui-se nessa análise os processos maturacionais vinculados ao desempenho motor. Esse último termo, o desempenho motor, é frequentemente usado para agrupar os diferentes componentes da aptidão física relacionada à saúde, e ao desempenho, como: velocidade de movimento, agilidade, coordenação, equilíbrio. Por fim, o desempenho motor pode ser visto como capacidade de realizar tarefas motoras e como essas são realizadas. É sabido que o desenvolvimento motor é um processo permanente, e que se inicia na concepção e só cessa na morte. A análise e ,or meio do desenvolvimento motor, permite a quem faz uso dessa área encontrar algumas formas de analisar o desempenho humano, nesse caso, o desempenho motor, o controle motor e a aprendizagem motora, chegando à possível compreensão do comportamento motor da pessoa estudada. Sendo assim, o desenvolvimento motor passa a ser altamente específico, pois cada pessoa possui capacidades específicas em cada uma das muitas áreas de desempenho. Podemos analisar isso, quando interpretamos que as habilidades motoras e desempenho físico interagem de maneira complexa com o desenvolvimento cognitivo e afetivo do próprio sujeito, não podendo deixar de considerar a ampla variedade de exigências biológicas, ambientais, como também as tarefas específicas. Diante disso, torna-se imperativo considerar o desenvolvimento motor de cada pessoa como um objeto de estudo e de aprofundamento. Isso é defendido por Gallahue e Ozmun (2005, p.5 e 6): O processo de desenvolvimento e, mais especificamente, o processo de desenvolvimento motor, deveria lembrar-nos constantemente da individualidade do aprendiz. Cada indivíduo tem um tempo peculiar para a aquisição e para o desenvolvimento de habilidade motoras. Embora o relógio biológico seja bastante específico quando se trata da sequência de aquisição de habilidade motoras, o nível e a extensão do desenvolvimento são determinados individual e dramaticamente pelas exigências da tarefa em si. 3.1 A Relação da Idade com o Desenvolvimento Motor Para um maior esclarecimento, é sabido que a idade cronológica corresponde ao tempo, o período correspondente desde a data de nascimento do indivíduo, e, assim, nos fornece idade em anos, meses e dias. Já a idade biológica nos fornece um registro do índice de progresso em direção à maturidade, nesse parâmetro, temos condições de medir a idade biológica por meio da idade morfológica, idade óssea, idade dental, e a idade sexual (BEE, 2003; GALLAHUES; OZMUN, 2005). Porém, para o seu processo formativo ser assertivo é imperativo contextualizar esses dois parâmetros que podem ser utilizados pelo desenvolvimento motor. 24 Segundo Gallahue e Ozmun (2005, p. 06), “O desenvolvimento é relacionado a idade, mas não depende dela”. O excesso de confiança no período de tempo, a idade, pode custar em falha, pois negaria de forma sistemática os conceitos de continuidade, especificidade e individualidade do processo desenvolvimentista. E o desenvolvimento motor se inclui nessa análise. Diante disso, devemos saber que o desenvolvimento motor tem na idade um parâmetro para ajudar na análise das características do movimento do indivíduo. E também usar a idade para uma análise estimada sobre a progressão do desenvolvimento desses movimentos. Porém, por tudo que já fora mencionado, não podemos depender da idade para chegar a uma análise crítica do desenvolvimento do indivíduo. O desenvolvimento motor, como conceito, é uma área de estudo das contínuas alterações no comportamento motor ao longo do ciclo da vida, mas o que provoca, o que influencia, o que é responsável por essas alterações, está diretamente relacionado aos três fatores indissociáveis do desenvolvimento motor, a biologia,as experiências, e as tarefas (GALLAHUE; OZMUN, 2005). 4 O ENVELHECIMENTO HUMANO A população idosa, em âmbito mundial, vem apresentando um crescimento bastante expressivo nas últimas décadas, principalmente em virtude do aumento da sua expectativa de vida. A implantação de políticas de saúde pública e da medicina preventiva, bem como a descoberta de novos medicamentos possibilitou um amplo controle e tratamento eficiente de doenças infectocontagiosas e crônico-degenerativas, o que acabou por proporcionar essa elevação da vida média da população. A OMS (Organização Mundial de Saúde) considera, do ponto de vista cronológico, um indivíduo idoso aquele com 60 anos ou mais, em países em desenvolvimento e com 65 anos ou mais em países desenvolvidos. Esta diferença relaciona-se à maior expectativa de vida nos países desenvolvidos, uma vez que a população possui maior acesso aos serviços de saúde e melhores condições de vida. Para chegar à condição de idoso, o indivíduo passa pela etapa do envelhecimento, quando ocorrem diversas transformações em todos os aspectos da sua vida. O envelhecimento não é um estado, mas um processo de degradação, que se caracteriza por ser progressivo, irreversível e universal, levando a diversas alterações no organismo, que se repercutem em âmbito biológico (morfológico, funcional e bioquímico), social e psicológico. Esse processo contribui para o aumento da vulnerabilidade e incidência dos processos patológicos, que influenciados pela estrutura genética do indivíduo, estilo de vida e o meio ambiente, tendem a resultar na morte seja de uma célula, de um tecido, de um órgão ou mesmo do indivíduo. No âmbito biológico, as modificações morfológicas são caracterizadas pelo aparecimento de 25 rugas, redução na estatura; cabelos brancos e outras; as modificações fisiológicas relacionam-se com as alterações das funções orgânicas; as bioquímicas estão ligadas às transformações das reações químicas que ocorrem no organismo. No âmbito social, as modificações referem-se ao papel, aos estatutos e aos hábitos da pessoa, relativamente aos outros membros da sociedade. No âmbito psicológico, a modificação ocorre mediante a adaptação imposta ao indivíduo durante o envelhecimento, incluindo a inteligência, a memória e a motivação O envelhecimento humano pode sofrer influências tanto intrínsecas, como extrínsecas, a primeira caracterizada pelo componente genético individual, determinando a longevidade máxima; e a segunda representada pelos fatores ambientais e hábitos de vida (poluentes, alimentação, atividades sociais, ambiente familiar, entre outros), que influenciam de forma diferente cada indivíduo, dependendo da velocidade e da gravidade com que ocorrem (PAPALÉO NETTO; BORGONOVI, 2002). Assim, podemos dizer que o envelhecimento ocorre de forma bastante heterogênea e que, em muitos casos, as idades biológica, social e psicológica podem ser muito diferentes da idade cronológica. Os termos envelhecimento e senescência são usados como sinônimos, porque ambos se referem ao processo de envelhecimento normal que ocorre com o passar dos anos, diminuindo a reserva funcional (sem distúrbios de conduta, amnésias, entre outros), quando o envelhecimento ocorre de forma patológica, ou seja, quando surgem alterações que acometem a saúde do idoso ou doenças crônicas (perda da capacidade de memorizar, desorientação, desatenção, entre outros), é denominado de senilidade. O dinamismo do processo de envelhecimento da população mundial refletiu na busca de soluções que visem a minimizar ou retardar os efeitos desse processo, fato que vem proporcionando nos últimos anos o aumento de pesquisas voltadas para esse tema, cada qual com um conjunto de conceitos, fatos e indicadores, surgindo várias teorias com o propósito de explicar as causas desse fenômeno complexo. No entanto, ainda existe muita controvérsia, uma vez que muitas teorias formuladas apoiam-se somente numa alteração biológica isolada, sem considerar as alterações sociais e psicológicas que também caracterizam o envelhecimento. Como já estudado, o processo de envelhecimento envolve inúmeras alterações nos diversos sistemas que compõem o corpo humano. Diante disso, muitas foram as tentativas de explicar esse fenômeno e, portanto, muitas são as teorias criadas com base nelas. No entanto, como o processo de envelhecimento é multidisciplinar, ou seja, envolve inúmeras áreas do conhecimento, as teorias divergem entre si em muitos aspectos, mas principalmente no enfoque de cada área do conhecimento. Assim, para explicar esse processo, temos teorias que partem dos princípios biológicos, sistêmicos, sociológicos e psicológicos. Para cada uma dessas vertentes, ainda existem diversas teorias que diferem entre si, mas apresentam pontos em comum. 26 As teorias biológicas apoiam-se na ideia de que ocorre uma degradação estrutural e funcional dos sistemas orgânicos (FARINATTI, 2002). As teorias sistêmicas defendem que o envelhecimento ocorre devido a um tipo de cascata sistêmica em que ocorre a interação do processo genético e o meio ambiente. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: As teorias sociológicas abordam o envelhecimento a partir dos seus aspectos sociais, e o enfoque da sociedade nesse processo. Já as teorias psicológicas apontam que os aspectos psicológicos influenciam a capacidade dos indivíduos de enfrentarem as mudanças que advêm do envelhecimento e do processo de doença. O envelhecimento é um processo gradual e inevitável. Como você viu, várias teorias discutem atualmente de que maneira o organismo envelhece; a mais defendida está relacionada a um encurtamento de telômeros progressivo, conforme as células passam pelas sucessivas mitoses, associado a uma lesão cumulativa causada por radicais livres e também processos de oxidação. Diante disso, o envelhecimento fisiológico é linear e não obrigatoriamente semelhante em todos os sistemas do nosso corpo; cada um começa seu envelhecimento a um dado momento e perde a sua função em seu próprio ritmo, mas linear. O idoso não sofre apenas com as perdas das capacidades funcionais biologicamente e fisicamente falando, a velhice vem acompanhada de mudanças psicológicas e sociais, as quais resultam na dificuldade destes idosos de se adaptarem a novos papéis sociais que levam a baixa autoestima, isolamento social solidão e depressão, inclusive potencializando o declínio cognitivo destes indivíduos. O estado psicológico dos idosos está diretamente influenciado pelo domínio motor, desta forma, a redução da força muscular proporcionada pelo envelhecimento e a inaptidão da 27 realização de atividade doméstica prejudicam significantes as interações sociais e psicológicas dos idosos. Neste sentido, é possível relacionar a diminuição das funções cognitivas do envelhecimento com o desuso, aliado ao isolamento social e às mudanças psicológicas providas pelo envelhecimento, podendo ocasionar doenças emocionais, como a depressão. O envelhecimento social é responsável pela alteração do status do idoso, desta forma alterando a relação destes indivíduos com as demais pessoas de sua comunidade, sendo estas alterações relacionadas com a crise de identidade (ausência do papel social, causando baixa estima). Outras alterações destacam-se, como: • as mudanças de papéis (deixa de ser provedor de sua família, sendo obrigado a aceitar novas missões); • aposentadoria (afastamento das atividades funcionais, deixa); • perdas diversas (perdas financeira, perda de poder de decisão, perdas afetivas com a morte de amigos e familiares); • e diminuição dos contatos sociais (ocasionada em virtude das outras alterações). A senescência está associada a prejuízos na capacidade cognitiva decorrentes de alterações estruturais e funcionais. A perda da capacidade cognitiva impacta diretamente na independência e autonomia, e, consequentemente, na qualidade de vida dos idosos. É importante estimular atividades que promovem a cognição dos idosos.O desempenho cognitivo sofre declínio com a senescência. Alguns determinantes interferem na cognição, a idade é o principal. No entanto, o sexo e a exposição a diversos fatores ambientais, como níveis inferiores de renda e educação, sintomas de depressão, inatividade física e alimentação também são fatores determinantes. A prática de consumo de vegetais, frutas e peixes apresenta efeitos positivos pela presença de nutrientes, antioxidantes e vitaminas; por outro lado, o impacto negativo na saúde cognitiva está associado ao consumo de carnes gordas e fontes de ácidos graxos poli-insaturados. Além disso, as alterações biopsicossociais acompanham o processo de envelhecimento e, deste modo, inicia-se o decréscimo dos processos funcionais e cognitivos. Ao envelhecer, o indivíduo relata dificuldade de memorizar fatos do cotidiano, e este declínio das funções cognitivas pode estar adjunto à idade e/ou ao estilo de vida. 28 Algumas funções cognitivas são de suma importância, como o tempo de reação para uma resposta a um estímulo, memória de atenção – que planeja a realização das atividades diárias – e memória de curto prazo – que recorda informações recentes. Já as capacidades verbais permanecem preservadas com o envelhecimento normal, porém, ao avançar da idade, observa-se que há uma dificuldade na realização de atividades que relacionam a memória com a linguagem. Os idosos que apresentam comorbidades de saúde ou dependência necessitam de assistência integral para atender as suas diversas necessidades. Dessa maneira, a atividade física é capaz de promover inúmeros benefícios à saúde, até mesmo nas funções cognitivas. Além disso, indivíduos praticantes de exercícios físicos regularmente apresentam menores riscos de serem acometidos por desordens cognitivas em relação aos sedentários. Diante dessa situação, cerca de 40% dos países desenvolvem políticas de saúde mental. Atitude para promoção e prevenção de comprometimento cognitivo trata-se de condições de estilo de vida saudáveis, autonomia, apoio social e familiar. 29 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • compreender conceitos e teorias do crescimento e desenvolvimento humano; • entender o desenvolvimento motor; • estudar o processo de envelhecimento humano e algumas de suas teorias. PARA RESUMIR BEE, H. A criança em desenvolvimento. São Paulo: Artmed, 2003. FARINATTI, P.T. Teorias biológicas do envelhecimento: do genético ao estocástico. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.8, n.4, p.129-138, 2002. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor. Bebês, crian- ças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005. HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. Porto Alegre: Artmed, 2016. PAPALÉO NETTO, M; BORGONOVI, N. Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo: Atheneu, 1999. TANI, G. Comportamento motor: conceitos, estudos e aplicações. Rio de Janeiro: Guana- bara Koogan, 2016. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UNIDADE 2 Concebendo uma nova vida, tipos de nascimento e a importância do pré-natal Você está na unidade Concebendo uma nova vida, tipos de nascimento e a importância do Pré-Natal. Conheça aqui aspectos importantes acerca da gestação e do parto. A gravidez é um período da vida da mulher muito importante e cercado de expectativas, anseios, medos, desinformações, crendices, entre outros. Entretanto, o que todas as gestantes desejam é ter uma gestação tranquila, sem intercorrências para a mãe e o nascimento de um bebê saudável. Antes da gestação, ocorre a fecundação, ou seja, o encontro dos gametas sexuais masculino (espermatozoide) com o feminino (óvulo). Depois, inicia-se a formação do embrião, desenvolvimento do feto, e nascimento do bebê. Antes do nascimento, é muito importante as consultas e exames pré-natais, feitos, geralmente, pelo (a) obstetra e sua equipe de saúde. O pré-natal é muito importante para identificar possíveis deficiências da mãe e do feto, assim como prevenir e manter a saúde de ambos. Neste material, primeiramente, você estudará como ocorre a concepção de um novo ser, de uma nova vida, da fecundação ao desenvolvimento do feto. Em seguida, estudará sobre os tipos de nascimento (normal e cesárea). Por fim, o foco será na importância do pré-natal. Bons estudos! Introdução 33 1 CONCEBENDO UMA NOVA VIDA Primeiramente, precisamos responder à seguinte questão: como ocorre a concepção? Quais são as fases do desenvolvimento embrionário? A concepção tem início após a fecundação do óvulo da mãe pelo espermatozoide do pai. Isso ocorrerá durante o período fértil da mulher, que corresponde à ovulação entre o 14º dia após o 1º dia da menstruação. Importante que você saiba que são eliminados na ejaculação, aproximadamente, 300 milhões de espermatozoides, mas apenas 200, em média, atingem a tuba uterina, e apenas um fecunda o ovócito II. Figura 1 - Fecundação Fonte: 3d_hokage, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração de um espermatozóide entrando no óvulo, ou seja, o ato de fecundação. Após liberado pelo ovário, o ovócito encontra-se envolvido na zona pelúcida, formada por uma camada de filamentos glicoprotéicos. Há, externamente à zona pelúcida, a corona radiata, formadas por células foliculares, derivadas do ovário. FIQUE DE OLHO Aprenda, de um jeito divertido e didático, o processo de fecundação humana, assistindo ao vídeo “Um jeito divertido de entender a fecundação” (DW BRASIL, 2020). 34 Figura 2 - Gametas sexuais e a fecundação Fonte: SVETLANA VERBINSKAYA, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração de um óvulo e suas partes, assim como um espermatozoide e suas partes. No processo de fecundação, o espermatozoide passará pela corona radiata. Quando atingir a zona pelúcida, sofrerá algumas alterações, formando o que chamamos de membrana de fecundação, que tem a função de impedir a penetração de outros espermatozoides no ovócito. E, ao mesmo tempo, ocorrerá a finalização da meiose, originando o óvulo e formando-se o segundo corpúsculo polar. Figura 3 - Fases da Fecundação. Fonte: Designua, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração das fases da fecundação, desde o oócito até a formação do zigoto. 35 O espermatozoide fornece o núcleo e o centríolo para o zigoto. As mitocôndrias dos espermatozoides irão se desintegrar no citoplasma do óvulo. Diante disso, todas as mitocôndrias do corpo do novo ser são de origem materna. O núcleo do espermatozoide e o núcleo haploide do óvulo recebem os nomes pró-núcleo masculino e pró-núcleo feminino, respectivamente. Com a união desses núcleos, teremos a formação da célula-ovo ou zigoto e o início do desenvolvimento embrionário. Resumindo, após a fecundação, o óvulo começará a se dividir, formando um grupo de células que, durante seis a oito dias, é nutrido pelas secreções da tuba uterina. Neste período, o óvulo fecundado está sendo impulsionado pela tuba uterina em direção ao útero, onde se fixará e permanecerá até o final da gestação. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Figura 4 - Tuba uterina e Ovário. Fonte: Magic mine, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração de um útero, com destaque para tuba uterina e ovário. 36 Ao longo do crescimento do embrião, alguns genes são ativados e outros desativados, surgindo, então, a diferenciação celular. Exemplificando, tipos de células com funções e formas distintas, que organizam os tecidos diversos e formarão os órgãos, posteriormente. E quais são as fases desse desenvolvimento do embrião? Na espécie humana as fases são: • clivagem, • gastrulação, • e organogênese 1.1 Clivagem Nesta fase, são rápidas as divisões mitóticas, que dão origem aos blastômeros. O embrião apresenta aumento do número delas, mas não de tamanho, devido à velocidade com que as células se dividem. Figura 5 - Estágio de Zigoto Fonte: Toor Khan, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer:A imagem mostra a ilustração da fase de clivagem, do desenvolvimento embrionário: um zigoto no estágio embrionário. 37 Figura 6 - Estágio de 4 células Fonte: Toor Khan, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração da fase de clivagem, do desenvolvimento embrionário: um zigoto com quatro células no estágio embrionário. A primeira fase da clivagem é a formação da mórula, que é envolvida por uma camada externa (denominada trofoblasto) que, desde o primeiro dia da concepção, é responsável pela produção do primeiro hormônio gestacional, chamado Gonadotrofina Coriônica Humana (GCH ou HCG). Este hormônio apresenta um importante papel na manutenção da gestação, pois ele tem a função de impedir o fluxo menstrual e a involução do óvulo. Até a próxima fase, blástula, as células do embrião são chamadas de células-tronco, podendo originar todos os diferentes tipos de célula do corpo. Figura 7 - Mórula Fonte: nobeastsofierce, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração de uma mórula, que é o primeiro estágio da embriogênese humana. 38 Figura 8 - Mórula e Trofoblasto Fonte: Kateryna Kon, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração de uma mórula, revestida pelo trofoblasto. Na segunda e última etapa, ocorre a blastulação, na qual as células irão delimitar uma cavidade interna chamada blastocele, cheia de um líquido produzido pelas próprias células. Por volta do quarto dia de fecundação, a mórula atinge o útero e começa a receber fluidos uterinos que se acumulam no interior do trofoblasto, com isso, as células da mórula migram para um polo, formando um aglomerado de célula em formato de botão que é chamado de blastocisto. Figura 9 - Blastocisto Fonte: Designua, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração de um blastocisto, ou seja, estágio de desenvolvimento da blástula, que é formado por uma camada interna de células que origina o embrião propriamente dito e uma dupla camada de células, o trofoblasto. 39 Por volta do 5º dia, o blastocisto se fixa na decídua (epitélio do endométrio) por meio de vilos, esta fase recebe o nome de nidação. Figura 10 - Estrutura do útero Fonte: Timonina, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração de um útero e suas partes anatômicas, como o endométrio, o miométrio, o perimétrio, a vagina, a cérvix, o corpo do útero, o fundo do útero e as tubas uterinas. 1.2 Gastrulação A partir da blástula, terá início a fase de gastrulação, na qual o embrião aumenta de tamanho, surgindo o intestino primitivo e diferenciação dos folhetos germinativos ou embrionários. Estes folhetos darão origem aos diversos tecidos do corpo e se dividirão em: • ectoderme, • endoderme, • e mesoderme. 40 Figura 11 - Gastrulação Fonte: Betty Ray, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração da fase da gastrulação. A primeira ilustração mostra apenas a blástula e a indicação da localização da blastoderme e do blastocisto. Na segunda ilustração temos a invaginação da gástrula, formação da ectoderme, endoderme e mesoderme. Na terceira ilustração temos a gástrula, com a ectoderme e endoderme formadas. A ectoderme dará origem à epiderme, pelos, unhas, cartilagem, córnea, ossos da face, tecidos conjuntivos das glândulas salivares, timo, lacrimais, tireóide e hipófise, sistema nervoso, entre outros. A endoderme originará o sistema respiratório (com exceção das cavidades nasais), o fígado, o pâncreas, os pulmões, o epitélio da bexiga urinária, entre outros. Por fim, a mesoderme irá originar os músculos, derme da pele, ossos (exceto da face) e cartilagens, medula óssea, útero, rim, sangue, coração, entre outros. Ao final da gastrulação, o embrião é chamado de gástrula. 1.3 Organogênese Esta é a fase final do desenvolvimento do embrião. Nela, ocorrerá a diferenciação dos tecidos e órgãos. A neurulação, quando há formação do tubo neural, que depois se diferenciará em sistema nervoso central, é o primeiro estágio. Durante a neurulação, o embrião recebe o nome de nêurula. 41 Figura 12 - Neurulação Fonte: Betty Ray, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração da fase da neurulação. Esta fase (organogênese) termina até a 8ª semana de gestação, lá por volta do 56º dia. Nesse período, o embrião está medindo, aproximadamente, três cm de comprimento. Depois da 9ª semana de gestação, até o nascimento, o indivíduo em formação passa a ser chamado de feto. O nascimento ocorrerá em média durante a 38ª semana de gestação. 1.4 Feto Agora, voltemos a falar sobre o desenvolvimento do indivíduo, sem focar na embriologia. Por volta da 8ª semana gestacional, origina-se a placenta. FIQUE DE OLHO O professor e biólogo Paulo Jubilut ensina, no vídeo “Desenvolvimento Embrionário – Embriologia” (JUBILUT, 2012), sobre a embriologia humana, ou seja, o desenvolvimento embrionário. Assista o vídeo para ter uma visão mais ilustrada do processo. 42 Figura 13 - Placenta Humana (imagem real) Fonte: ravipat, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a foto de uma placenta humana real, recém retirada de uma gestante. Figura 14 - Placenta Humana (ilustração) Fonte: Sakurra, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra uma ilustração de um feto dentro do saco amniótico e ao seu lado, a placenta, ligada a ele pelo cordão umbilical. Da 6ª até a 8ª semana gestacional, a produção dos hormônios progesterona, relaxina e estrogênio é realizada pelo corpo lúteo e, após a 8ª semana, os hormônios passam a ser produzidos pela placenta que já está formada. A placenta tem um formato de disco que cresce durante toda a gestação, chegando a medir 20cm de diâmetro, 3cm de espessura e pesando de 500 a 700g. Ela é responsável pela manutenção das funções vitais do bebê: troca respiratória, absorção de nutrientes e excreção; é como se fosse o pulmão e o intestino do bebê. 43 Durante a gestação, o feto se desenvolve dentro de um saco fino e semitransparente chamado saco amniótico e é banhado pelo líquido amniótico e anexado à placenta pelo cordão umbilical. Figura 15 - Saco Amniótico Fonte: Medical Art Inc, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a ilustração de um feto dentro do saco amniótico, dentro do útero, pronto para o parto. Figura 16 - Cordão Umbilical Fonte: Sopotnicki, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a foto do parto de um bebê. O bebê está sendo segurando pela mão de um profissional da saúde. Ao lado do bebê, estea o cordão umbilical. O líquido amniótico é secretado pela placenta, âmnio e cordão, e é substituído a cada três horas. O líquido amniótico contém uma série de substâncias, que incluem: 44 • proteínas, • açúcares, • estrogênio, • progesterona, • prostaglandinas, • e células da pele fetal. Durante a gestação, o feto ingere este líquido amniótico e excreta como urina. A gestação humana normal tem duração de 280 dias, dividida em meses de quatro semanas (sete dias por semana), resultando em 10 meses completos. Entretanto, como o nosso calendário tem meses que duram 28 dias, outros com 30 e 31 dias, a gestação baseada nos meses do nosso calendário dura nove meses. É importante ressaltar que a contagem da gestação não é realizada em meses, mas sim em semanas, porque desta forma se chega a uma data mais precisa para estimar o nascimento do bebê que é a DPP (Data Provável do Parto). Este método foi criado na primeira metade do século XIX pelo obstetra alemão Franz Karl Naegele (1778-1851) e até hoje é chamado de fórmula (ou regra) de Naegele, que é utilizado pelos médicos de todo o mundo para definir a DPP. Veja abaixo esta fórmula: Data da Última Menstruação (DUM) + 1 ano – 3 meses + 7 dias = DPP Entretanto, o bebê é considerado completo (bebê termo) com uma idade gestacional maior que 37 semanas e com peso maior que 2500g. O bebê apresenta uma boa sobrevivência quando o nascimento ocorre após a 34ª semana e uma baixa sobrevivência por volta da 28ª semana,devido aos pulmões e ao centro respiratório não estarem completamente desenvolvidos, imaturidade do fígado, baixa ou nenhuma imunidade à infecção. O profissional que trabalha com obstetrícia tem que saber utilizar os termos adequados: Embrião: o nome que o bebê recebe até a 8ª semana. Feto: nome que o bebê recebe com mais de oito semanas de gestação. 45 Gestante: nome que a mulher recebe durante a gestação. Parturiente: denominação recebida pela mulher durante o trabalho de parto e parto. Puérpera: corresponde à mulher no puerpério. Lembre-se que depois do nascimento do feto, a mãe não é mais gestante. 2 TIPOS DE NASCIMENTO A classificação dos tipos de parto é recente e surgiu após a maioria dos partos serem realizados no ambiente hospitalar, exclusivamente por médicos em macas horizontais e na posição ginecológica. A partir deste momento iniciou a classificação em parto normal ou cesárea. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 2.1 Parto normal O parto normal passou a ser realizado em hospitais, em salas de trabalho de parto coletivas, sem privacidade, sem acompanhante e permaneciam restritas ao leito. Nessas gestantes, eram administradas drogas e realizadas intervenções com o objetivo de acelerar o trabalho de parto, e, no período expulsivo, a parturiente permanecia em decúbito dorsal, com as pernas amarradas na perneira e profissionais pressionando sua barriga e dando comandos para fazer força, além de realizar procedimentos como a episiotomia e o uso de fórceps alto. 46 Após a 2ª Guerra Mundial, a comunidade hippie iniciou um movimento revolucionário em que questionava a necessidade de todas as intervenções e exigia melhores condições para dar à luz, com o objetivo de tornar o parto normal um procedimento mais familiar, afetivo e fisiológico. Após pouco tempo, este movimento recebeu o apoio de alguns médicos e mulheres que estavam insatisfeitos com os partos que eram realizados e, a partir de então, surgiram as diferentes formas de nascer: • parto na água, • parto Leboyer, • parto sem dor, • parto humanizado, • parto de cócoras. O parto Leboyer foi criado na França, pelo obstetra Frédérick Leboyer. Este método defende uma forma menos violenta de nascer, e foi o primeiro método a considerar a importância do vínculo mãe-recém-nascido no momento do nascimento. Este tipo de parto é feito em ambiente com pouca luz, em silêncio, com massagem nas costas do bebê. Espera-se o cordão parar de pulsar para o bebê fazer a transição respiratória de forma mais suave. Faz-se o banho do bebê perto da mãe, e a amamentação é precoce. O foco é o bebê, e não a mãe, que geralmente está deitada de costas, com as pernas em estribos e utiliza-se episiotomia Já o parto de cócoras foi criado por Janet Balaska, em Londres, na década de 80. Ela trabalhava com gestantes por meio de aulas yoga, preparando-as para uma postura mais ativa no parto. O método defende a liberdade para movimentação das mulheres, fazendo com que elas possam seguir seus instintos e a lógica fisiológica do corpo durante o parto. Como o nome diz, o parto é realizado na posição vertical ou de cócoras, durante a fase expulsiva, sendo mais rápido e cômodo para a mulher, além de mais saudável para o bebê. O parto na água foi criado pelo médico obstetra francês Michel Odent, em Pithiviers, o qual começou a usar banheira com água quente para o conforto e alívio da dor das gestantes. Ele é feito em banheiras especiais ou improvisadas, e tem o objetivo de combater a tensão e a dor, ajudando significativamente na dilatação do colo de útero. O nascimento para o bebê é mais suave e o períneo da mãe ganha maior flexibilidade com a água quente. Na década de 1980, surge um novo movimento chamado Parto Ativo, que é um parto instintivo que se baseia em dar à luz de modo natural e espontâneo, em que as mulheres têm total controle do seu corpo durante todo o processo do parto. Este parto está frequentemente relacionado ao não uso de medicamentos, intervenções desnecessárias, anestesia e muitas vezes são realizados em casa. 47 Figura 17 - Parto Normal Fonte: udaix, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra seis ilustrações, com o passo a passo das etapas do parto normal. O termo parto humanizado, atualmente, tem sido usado de forma indiscriminada e sem uma definição real do mesmo. Para o Ministério da Saúde, significa o direito que toda gestante tem de passar por pelo menos seis consultas de pré-natal, ter sua vaga garantida em um hospital na hora do parto e agora ter o direito a um acompanhante de escolha. Para alguns hospitais, o parto humanizado significa a presença de um acompanhante, música na sala de parto e a permissão de ficar alguns minutos com o bebê antes dele ser levado para o berçário. Para a Rede Brasileira pela Humanização do Nascimento, o parto humanizado é devolver o papel principal do parto à mulher e promover uma atenção ao parto centrado nas escolhas e necessidades individuais de cada mulher. Por exemplo: se a mulher vai escolher dar à luz de cócoras ou na água; quanto tempo ela vai querer ficar com o bebê no colo após seu nascimento; quem vai estar em sua companhia; se ela vai querer se alimentar e beber líquidos. Essas são decisões que deverão ser tomadas por ela, a mãe. Aqui, o médico e a equipe de saúde deve oferecer apoio e respeitar a fisiologia do parto, interferindo apenas se houver real necessidade e não rotineiramente. 2.2 Parto Cesariana A cesariana recebe o nome de laparotraquelotomia, que se refere a uma cirurgia abdominal com uma incisão uterina para a retirada do bebê. Os primeiros relatos de cesariana surgiram na Roma por volta de 715 a 672 a.C., e foi um grande marco, pois diminuiu muito a mortalidade 48 materna durante o parto. Até 1960, este procedimento só era realizado quando a mãe estava morrendo, mas atualmente esta técnica é amplamente utilizada, até mesmo em casos em que não haveria necessidade. Existem duas técnicas principais de cesariana: » Incisão clássica: é realizada uma incisão longitudinal na parede anterior do útero. Esta cesariana é indicada para parto prematuro, placenta prévia, bebê na posição transversa. Nesta cirurgia, é realizada uma incisão na pele e musculatura da região abdominal e são afastados a bexiga e os vasos sanguíneos para evitar lesão durante o aprofundamento da incisão. Ao realizar a incisão na parede uterina ocorre o extravasamento do líquido amniótico, que é contido com o uso de compressas estéreis. Em seguida o obstetra coloca os dedos entre a parede uterina e a cabeça fetal e o bebê é retirado da cavidade uterina. Figura 18 - Incisão realizada no parto cesárea Fonte: VP Photo Studio, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra o abdome de uma mulher, com uma cicatriz longitudinal, anterior ao útero, consequência de um parto cesárea. A mulher está segurando a barriga. » Incisão transversa: é a técnica mais utilizada. A incisão é realizada no peritônio sobre o segmento uterino inferior e a cicatriz se aprofunda. Ao chegar próximo da bexiga, o obstetra realiza a dissecação da bexiga e a separa do segmento inferior do útero, onde é realizada a incisão. Após a incisão, ocorre a saída do bebê, devido à compressão que a cabeça fetal exerce na porção inferior do útero. 49 Figura 19 - Incisão transversa Fonte: Katsiuba Volha, Shutterstock, 2020 #ParaCegoVer: A imagem mostra apenas a região abdominal e do quadril de uma mulher, e a cicatriz na região inferior do abdome. Esta cicatriz é longitudinal, consequência do parto cesárea do tipo incisão transversal. Figura 20 - Cesáre Fonte: Natthawon Chaosakun, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a foto de um parto do tipo cesárea. O bebê está sendo retirado do útero, por dois profissionais da saúde. Após qualquer tipo de cesariana, os bebês são posicionados de cabeça para baixo, para evitar que ocorra a aspiração, facilitando a saída de líquido amniótico pela boca e nariz. Seu nariz e boca são aspirados.São colocados dois clampes no cordão umbilical, para que ele seja cortado. Em seguida, vem uma fase semelhante à dequitação, em que o obstetra remove a placenta e todo o saco amniótico, e após este procedimento são suturadas as camadas do útero e as paredes abdominais da puérpera. 50 As indicações para cesariana, de acordo com o Ministério da Saúde, são: » Indicações absolutas: desproporção céfalo-pélvica; hemorragias no final da gestação; doença hipertensiva gestacional; bebê transverso; sofrimento fetal, HIV. » Indicações relativas: diabete gestacional, ruptura prematura do saco amniótico com trabalho de parto prolongado; hipertensão arterial controlada. Alguns obstetras indicam a cesariana para mulheres que já tiveram um parto cesariano prévio, ou seja, após fazer uma cesariana a única possibilidade de parto que a mulher terá é realizar outra cesariana, mas isso não é aceito em todas as culturas. A principal preocupação dos obstetras é uma possível ruptura de útero durante as contrações do trabalho de parto e parto, pois a cicatriz uterina realizada na cesariana não seria capaz de suportar as contrações uterinas. A cicatriz clássica da cesariana apresenta maior risco de ruptura, quando comparada à cicatriz transversa. Entretanto, verificaram que, quando o parto normal é bem conduzido, o risco de ruptura uterina é de 0,7% e que o bebê não irá apresentar nenhum problema caso o parto seja realizado em até 17 minutos após a ruptura. Este tempo é suficiente para encaminhar a parturiente para a sala de parto e realizar uma cesariana. Por esses motivos, alguns obstetras realizam o parto vaginal quando a puérpera já teve uma cesariana; as puérperas são assistidas cuidadosamente pela equipe médica e, caso apresentem sinal e sintoma de ruptura uterina, como dor abdominal repentina, seguida por perda de sangue pelo canal vaginal, o obstetra avalia se houve ruptura uterina e, caso seja confirmado este diagnóstico, ele realiza uma cesariana. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 51 3 A IMPORTÂNCIA DO PRÉ-NATAL Durante o pré-natal, são realizadas diversas consultas médicas e com a equipe de enfermagem, em que é avaliada se a gestação está bem ou apresenta sinais e sintomas de alguma complicação gestacional. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o número ideal de consultas realizadas durante o pré-natal é igual ou superior a seis consultas, sendo que, até a 28ª semana gestacional, as consultas deverão ser mensais, e a partir da 28ª semana, semanais. Na primeira consulta pré-natal, é avaliado: • a data precisa da última menstruação; • regularidade dos ciclos; • uso de anticoncepcionais; • sinais e sintomas de gravidez (náuseas, vômitos, dor abdominal, constipação, ce- faleia, síncope, sangramento ou corrimento vaginal, disúria, polaciúria e edemas); • paridade; • intercorrências clínicas, obstétricas e cirúrgicas; • detalhes de gestações prévias; • hospitalizações anteriores; • uso de medicações; • história prévia de doença sexualmente transmissível; • exposição a riscos ambientais ou ocupacionais; • reações alérgicas; • história pessoal ou familiar de doenças hereditárias/malformações; • gemelaridade anterior; • fatores socioeconômicos; • atividade sexual; uso de tabaco, álcool ou outras drogas lícitas ou ilícitas; • história infecciosa prévia; • vacinações prévias; • história de violências. 52 Também é avaliada a probabilidade de o bebê desenvolver alguma doença genética. A gestante é questionada sobre história pessoal ou familiar de criança com: • abertura do tubo neural, • doença cardíaca congênita, • hemofilia, • distrofia muscular, • fibrose cística, • coreia de Huntington, • acondroplasia, • síndrome de Marfan, • deficiência de G6PD, • fenilcetonúria, • retardo mental ou desenvolvimento anormal e de anormalidades cromossômicas prévia à gestação; • história de abortamento habitual; • exposição a drogas teratogênicas, agentes químicos e radiação na gestação. Durante o exame físico, são avaliados: • peso, altura e pressão arterial, • avaliação de mucosas, da tireoide, das mamas, pulmões, coração, região abdominal e extremidades. No exame ginecológico/obstétrico, avalia-se: • a genitália externa, • vagina, • colo uterino, • e, no toque bidigital, é avaliado o útero. Após a 12ª semana gestacional, é realizada a medida da altura do fundo uterino na região abdominal. A ausculta fetal será possível após a 10ª ou 12ª semana com o sonar doppler. 53 Exames Laboratoriais no Primeiro Trimestre • Colpocitologia oncótica, conhecido popularmente como papanicolau. • Gonorrhea e C. Trachomatous, para avaliar se a gestante apresenta gonorreia e clamídia. Essas patologias quando não são tratadas podem provocar trabalho de parto prematuro. • Hematócrito e hemoglobina. • É realizado Coombs indireto em pacientes Rh negativas com fator de risco para doença hemolítica perinatal. Repetir o teste entre a 24ª e a 28ª semana se anteriormente nega- tivo. • Glicemia de jejum. • Urina e urocultura. • Sorologia para sífilis por meio do exame VDRL. • Sorologia para rubéola, citomegalovírus e toxoplasmose. • HbsAg, exame utilizado para verificar se a gestante já teve contato com a Hepatite B. • Elisa anti-HIV. Em gestantes que o teste é negativo para HIV, o teste é repetido após seis meses. Quando o teste é positivo, é realizado outro Teste Elisa, para confirmar o resulta- do e iniciar o tratamento. Figura 21 - Consequências da Sífilis não tratada. Fonte: enuengneng, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra a foto de uma mão com manchas e feridas provenientes de sífilis não tratada. 54 Exames Laboratoriais no Segundo Trimestre • Teste oral de tolerância à glicose com 50 gramas de glicose. • Glicemia de jejum. • Curva glicêmica de 2 horas com 75 gramas de glicose. • Teste sérico tríplice materno: utilizado para rastreio dos defeitos de abertura do • Tubo neural e trissomias, especialmente a trissomia do cromossomo 21. • Análise cromossômica fetal por amniocentese em situações especiais. Exames Laboratoriais no Terceiro Trimestre • Hematócrito e hemoglobina.Cultura cervical para Estreptococos do Grupo B. Ultrassonografia no Primeiro Trimestre • Identificar ou confirmar a idade gestacional: entre a 7ª e a 13ª semana gestacional é realizada uma medida craniocaudal que determina com precisão a idade gestacional. • Verificar se é uma gestação múltipla. É usada quando a gestante realizou inseminação artificial ou quando o médico desconfia de uma gestação gemelar. • Descartar um aborto espontâneo, no caso de gestantes que apresentam sangramento vaginal. Neste caso é realizado um ultrassom para verificar a imagem do embrião e após a 10ª semana gestacional pode-se escutar os batimentos cardíacos fetais. • Descartar uma gravidez ectópica ou molar (placenta cresce de forma anormal e não permite o desenvolvimento fetal). Ultrassonografia no Segundo Trimestre • Translucência nucal: O ideal é que este exame seja realizado na 12ª semana gestacional e serve para avaliar se o feto apresenta sinais de algum problema genético, como, por exemplo, a Síndrome de Down, Trissomia do 13 (Síndrome de Patau) e do 18 (Síndrome de Edwards), Síndrome de Turner etc. Neste examerealiza-se a medida da distância en- tre a pele do bebê e a coluna cervical. O ideal é que este valor seja menor que 3,0 cm. • Quando o médico desconfia de algum problema genético é, então, realizada a biópsia do vilo corial (biópsia da placenta) ou a amniocentese (extração de uma pequena quan- tidade de líquidoamniótico, por meio de uma agulha que é inserida na região abdomi- nal da gestante). • Ultrassom morfológico: é realizado por volta da 20ª semana gestacional, e é o exame de ultrassom mais demorado e detalhado realizado pela gestante. No ultrassom é pos- sível verificar coração, cérebro, órgãos digestivos, sexo do feto e avaliar o crescimento 55 do bebê medindo a distância da cabeça ao fêmur do feto. Além disso,avaliar a localiza- ção da nidação da placenta, descartando ou diagnosticando uma placenta prévia; ava- liar o fluxo sanguíneo no útero, na placenta e no bebê, por meio do ultrassom doppler. Quando o médico encontra alguma anormalidade é realizado um ultrassom de três ou quatro dimensões, e, se houver suspeita de algum problema cardíaco no feto, é realizada uma ecocardiografia fetal. Ultrassonografia no terceiro trimestre Neste período o obstetra pode pedir um ultrassom para avaliar: • Causa de sangramentos vaginais; • Acompanhar o crescimento do bebê; • Verificar o nível do líquido amniótico; • Determinar a posição do bebê e da placenta. • Pré-natal do Pai Nova conduta do sistema de saúde que estimula os futuros pais a fazerem exames preventivos e acompanhar as consultas do pré-natal junto com a gestante, esta medida tem sido chamada de prénatal masculino e é muito importante para aumentar o vínculo entre o pai, o bebê e a gestante, além de evitar que a gestante se contamine com doenças sexualmente transmissíveis. Os futuros pais são submetidos a exames de: • sífilis; • HIV; • hepatites virais B e C; • diabetes mellitus; • colesterol; • hipertensão arterial sistêmica. 56 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • entender como se concebe uma nova vida, ou seja, o processo de fecundação; • conhecer as fases do desenvolvimento embrionário; • conhecer os tipos de parto; • compreender o pré-natal. PARA RESUMIR ARTAL, R. et al. Exercícios na Gravidez. São Paulo: Manole, 1999. BALASKA, J. Parto Ativo: guia prático para o parto natural. São Paulo: Graund, 1993. BARACHO, E. Fisioterapia aplicada à Obstetrícia, Uroginecologia e Aspectos de Mastologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. BARROS, S. M. Enfermagem Obstétrica e Ginecológica. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico. Brasília, 2005. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/caderno5_saude_mulher.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2020. DW BRASIL. Um jeito divertido de entender a fecundação. 2020 (3m02s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mhmcTP_rz2M. Acesso em: 14 abr. 2020. JUBILUT, P. Desenvolvimento Embrionário – Embriologia. 2012 (22m21s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TmFoWf_wYwg. Acesso em: 14 de abr. 2020. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UNIDADE 3 Desenvolvimento motor, cognitivo e psicossocial na infância Introdução Você está na unidade Desenvolvimento Motor, Cognitivo e Psicossocial na Infância. Conheça aqui algumas informações relacionadas a estes parâmetros do desenvolvimento na primeira, segunda e terceira infância. Vamos estudar as alterações motoras, psicológicas e cognitivas das fases da infância (1ª, 2ª e 3ª). Passaremos a estudar de forma mais detalhada o crescimento e desenvolvimento da criança. O crescimento e desenvolvimento será discutido de forma que você entenda tanto as aproximações, como também as diferenças pontuais para que sua atuação profissional tenha ações assertivas no seu dia a dia de trabalho. Para tanto, discutiremos o crescimento e seus períodos durante o ciclo de vida da criança, desde o seu nascimento. Assim, a unidade o levará para uma compreensão do desenvolvimento do indivíduo na infância. Bons estudos! 61 1 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO NA INFÂNCIA O ser humano, durante o processo de desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial, passa por fases distintas, classificadas pela idade. O estágio pré-natal compreende da concepção até nascimento; a primeira infância compreende do nascimento até os dois anos de idade; a segunda infância, dos três aos cinco anos de idade; a terceira infância, dos seis aos 12 anos de idade; a adolescência, dos 13 aos 19 anos de idade; o adulto jovem compreende aquele de 20 a 39 anos; a meia idade, dos 40 aos 59 anos em países em desenvolvimento, e até 64 nos desenvolvidos; e a terceira idade, dos 60 anos em diante em países em desenvolvimento, pois nos desenvolvidos é de 65 em diante. Desde a concepção no útero materno, como você estudou na unidade anterior, até ao momento em que morre, o ser humano vive em um processo com mudanças constantes, que são resultados da interação entre as características biológicas de cada indivíduo e os fatores contextuais (social e cultural), nos quais o indivíduo se encontra inserido. Isso é o desenvolvimento humano. O desenvolvimento humano ocorre ao longo da vida, e é um processo holístico e contextualizado, que acarreta mudanças contínuas, progressivas, e cumulativas, e que provoca, no indivíduo, constantes reorganizações físicas, psicológicas e sociais, que evoluem num contínuo faseado e integrativo. Nesta unidade, o foco será na infância. As fases da infância precisam ser compreendidas como uma etapa da vida em si, e não apenas preparação para o futuro. Mesmo dependente, a criança sem o domínio completo de uma linguagem formal, sem a coordenação motora aperfeiçoada, construindo seus saberes, é um completo sujeito e tem tantos direitos, e deveres, quanto um adulto. 62 Figura 1 - Crianças Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra sete crianças de etnias diferentes abraçadas uma ao lado da outra em um gramado. Os direitos da criança resultam de lutas dos movimentos internacionais de direitos humanos. Adotada em 1989 pelas Nações Unidas, a Convenção sobre os Direitos da Criança foi um dos tratados mais endossados pela comunidade internacional da história da humanidade, servindo como base para a elaboração, em 1990, da Declaração Mundial sobre da Sobrevivência, Proteção e Desenvolvimento da Criança. Essa declaração foi assinada por 159 países, inclusive o Brasil, durante a Reunião da Cúpula Mundial em Favor da Infância (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Além dos direitos fundamentais de saúde, educação e bem-estar, a criança tem direito de brincar livremente, aprendendo a movimentar-se, explorando os espaços com seu corpo. A criança tem o direito de conhecer os territórios ao seu redor, a sociedade, para além da família, além de participar das decisões e ser ouvida. É um ser que deve se desenvolver integralmente. 63 Figura 2 - Crianças brincando Fonte: Robert Kneschke, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra uma foto de quatro crianças brincando. A ilustração mostra apenas um lado de uma corda, com estas quatro crianças puxando-a. As crianças estão sorrindo e estão em um espaço aberto, em um gramado. Em relação ao desenvolvimento, não há verdadeiramente padrões que sejam iguais para todos nós, seres humanos. Portanto, as crianças são semelhantes às outras crianças em alguns aspectos, mas sempre serão únicas em outros. O desenvolvimento do indivíduo leva em consideração as singularidades humanas, as especificidades do indivíduo, hereditárias, resultantes da sua experiência de interação com a realidade física e social. O processo de desenvolvimento da criança é: • único, • pessoal, • e situado num contexto histórico e cultural que o influencia A criança se desenvolve em diferentes ambientes, sendo estes mais ou menos familiares, que lhe oferecem as suas primeiras experiências de vida. FIQUE DE OLHO O canal de Youtube “Boa Vontade” traz uma reportagem interessante, sobre os estágios do desenvolvimento infantil (BOA VONTADE, 2018). Sugerimos que o vídeo seja assistido para uma visão mais ampla sobre o assunto. 64 Tenha muita atenção quanto aos distúrbios do crescimento. Em alguns casos, distúrbios do crescimento podem ser identificados já no nascimento, quando analisados peso ou altura anormais. Outras formas são encontradas ao longo da infância pelos próprios pais, quando comparadas ao crescimento e desenvolvimento de outras crianças da mesma idade. Porém, o mais importante é acompanhar o ganho gradual dessas duas formas de medir o crescimento. Crianças de inteligência e funcionamento físico normais tendema avançar para o estágio seguinte de desenvolvimento, principalmente por meio do processo de maturação. Porém, mesmo com essa explicação, não se deve excluir da análise do desenvolvimento de uma criança a interação que esse corpo (indivíduo) tem com as tarefas e as experiências do ambiente. 2 PRIMEIRA INFÂNCIA Sabemos que o desenvolvimento na primeira infância é muito importante, ou seja, entre os zero e os dois anos de idade, pois é, nessa fase da infância, que se iniciam as bases do desenvolvimento humano, nos aspectos: • físicos, • sociais, • motores, • cognitivos, • emocionais, • comunicacionais, • e linguísticos. Por isso, os educadores na infância tornam-se essenciais, promovendo o desenvolvimento equilibrado da criança, o que permite a ela mostrar o seu potencial, enquanto ser humano. A infância e as primeiras experiências da vida do ser humano, da criança, irão determinar aquilo que ele será enquanto adulto, visto que é nesse período que o sujeito aprenderá sobre o mundo, sobre os outros e, principalmente, sobre si. Diante disso, nesta etapa da vida, o conhecimento da criança de vida é essencial para os profissionais da saúde e educação que com ela desenvolvem uma ação. Mudanças são provadas pelas transformações do ser humano, que o influenciam no seu todo. Por exemplo, uma nova competência cognitiva para criança, como ser capaz de usar a linguagem oral, irá permitir novas possibilidades de interação com o mundo, além de novas possibilidades de 65 interação com os outros, e isso irá auxiliar no seu desenvolvimento social. Esta e outras situações fazem com que tenhamos de assumir que o desenvolvimento do ser humano é um processo holístico e que todos os processos ocorridos se influenciam e se provocam mutuamente. Figura 3 - Criança aprendendo a falar Fonte: kate_sept2004, istock, 2020 #ParaCegoVer: A imagem mostra uma foto de uma mãe sentada com seu filho no colo, ela está sorrindo, e ele está manipulando cubos de madeira, com letras desenhadas, em uma mesa. 2.1 Desenvolvimento Motor na 1ª Infância O período que compreende do nascimento até os dois anos é considerado o momento mais espantoso do desenvolvimento do indivíduo, quando o parâmetro é o crescimento. Vê-se um período em que o bebê passa por mudanças mais observáveis em todo o ciclo do desenvolvimento motor. FIQUE DE OLHO O canal de Youtube “Criar e Crescer” traz informações importantes sobre marcos do desenvolvimento na primeira infância. O vídeo “Marcos do desenvolvimento na primeira infância” (CRIAR E CRESCER, 2019) pode ser acessado para uma visão geral sobre a questão dos Marcos na infância. 66 Figura 4 - Crescimento na 1ª infância. Fonte: Syda Productions, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra um bebê de pé, aprendendo a andar, com uma mulher adulta segurando suas duas mãos em uma sala de estar. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Um indivíduo, quando nasce, tem poucas condições de autonomia, e poucas condições de sobreviver sozinho, em poucos meses, se torna uma criança consideravelmente maior, que passa a ver o mundo de forma vertical (consegue ficar de pé, e consequentemente andar), explorando de forma mais ativa o ambiente que o cerca. Para sua melhor compreensão desse período, abaixo temos uma descrição das características do crescimento do indivíduo do nascimento até os dois anos, baseado em Gallahue e Ozmun (2005, p. 138 – 144). 67 Do nascimento até quatro semanas * considerando uma criança típica, o recém-nascido a termo tem 48 a 53 cm de comprimento em média; * a cabeça representa ¼ desse comprimento; * devido ao tamanho da cabeça, torna-se difícil para o bebê obter e manter o equilíbrio; * o restante do comprimento do corpo é ocupado a uma razão de quatro para três do tronco até o comprimento dos membros inferiores; * os olhos têm cerca da metade de seu tamanho adulto; * o corpo possui cerca de um vigésimo de sua dimensão adulta final. De quatro semanas a um ano * no primeiro ano, há rápidos ganhos de peso e comprimento; * nos primeiros seis meses, o crescimento é principalmente um processo de preenchimento, há somente leves alterações nas proporções do corpo; * por volta do quinto mês, o peso já é o dobro do peso ao nascer, no final do primeiro ano, é praticamente o quádruplo; * o comprimento aumenta cerca de 76 cm no primeiro aniversário; * depois de seis meses, a região torácica é maior do que a cabeça. De um a dois anos * crescimento físico continua em ritmo rápido, porém mais lento do que no primeiro ano; * normalmente, no final de dois anos, a menina tem 86 cm, o menino 89 cm; * evidências de aumento no tamanho, mas de forma desigual ao se ver as partes do corpo; * o crescimento do braço precede o crescimento do antebraço e o crescimento das mãos; * o crescimento da cabeça torna-se lento da infância em diante, o crescimento do tronco ocorre a um ritmo moderado, o crescimento dos membros é mais rápido, e o crescimento das mãos e dos pés é mais rápido ainda. 68 Nota-se a importância de considerar sempre os fatores ambientais e individuais que influenciam no ritmo do aparecimento das características apontadas acima em relação ao crescimento. 2.2 Desenvolvimento Cognitivo na 1ª Infância Do nascimento até os primeiros três anos de vida, a criança desenvolverá capacidades cognitivas, que vão ao encontro do interesse que manifesta pelo mundo que a rodeia, assim como da sua necessidade de comunicação. Em média, aos quatro meses, a criança já tem a capacidade de se concentrar no que toca, vê, e escuta, sem perder o controle. Alguns bebês sorriem e balbuciam naturalmente, absorvendo os sons e imagens, dormindo regularmente e comendo sem problemas. Nesta fase, rapidamente a criança aprende a usar e compreender os sinais que são expressos por meio da expressão corporal, do comportamento, e da postura corporal. Desde o nascimento, a criança detecta e reage aos ruídos, orientando a cabeça e olhando em direção à fonte que produziu os mesmos. É capaz também de discriminar características melódicas e rítmicas em diferentes tipos de sequências sonoras, o que revela alterações nas suas respostas. Com dois anos, a criança consegue: • guardar objetos pessoais, • dar ordens, • brincar com objetos de cubos (por exemplo), • identificar poucos desenhos, • examinar e agarrar pequenos objetos. O egocentrismo de Piaget é uma das características presentes na criança da primeira infância, já que não tem capacidade para se colocar no ponto de vista do outro e não entende a sua visão. Sua compreensão está centrada apenas em si mesma. No entanto, a criança consegue mostrar alguma capacidade de empatia. Começam a surgir as primeiras palavras e, depois, as primeiras frases. Esta capacidade linguística crescente traz implicações diversas ao nível da comunicação com os outros. A criança começa a questionar, conversar, a querer saber sempre mais, tentando compreender o mundo a sua volta. Com um ano de idade, a criança já pronuncia algumas palavras perceptíveis, iniciando a articulação das primeiras palavras com significado, embora fale muitas outras que não se consegue compreender. 69 Entre os 10 e os 14 meses, surge a primeira palavra, iniciando o que chamamos de fala linguística. Aproximadamente a partir dos 18 meses, a criança utiliza a pré-frase, que é constituída por dois ou vários termos que estão dispostos de acordo com a importância afetiva que a criança lhe atribui. Ao longo desse período, da pré-frase, a criança encontra-se na idade de perguntar (o que é isto?, como?, quando?, por que?), sempre demonstrando a sua curiosidade e desejo de conhecer. Por volta dos dois anos, a criança irá se entusiasmar com a sua própria linguagem. Gosta de aprender palavras novas, mesmo que pronunciadas incorretamente, muitas vezes, e de inventar palavras novas. A criança nomeia objetos familiares e é capaz de conversar sozinha com um brinquedo. Ainda nesta idade, surgem as primeirasfrases, mesmo que rudimentares, e a criança apresenta um incremento forte da linguagem. É este o período em que se verifica o maior enriquecimento do vocabulário. 2.3 Desenvolvimento Psicossocial na 1ª Infância A criança se desenvolve em diversos e diferentes contextos, com características específicas, ou seja, com atitudes, regras, valores e modos de estar e ser concretos. Desde o primeiro dia em que vem ao mundo, a criança inicia o processo de consciência de que existe um mundo externo a si, e aprende sobre si, a estar e a comunicar-se com os outros. Desta forma, a primeira infância compreende uma fase de mudanças significativas no que diz respeito ao desenvolvimento social. Uma criança entre as seis e as oito semanas irá utilizar o sorriso como um meio de captação da atenção dos seus pais. Chamamos isso de linguagem não verbal. Para além do sorriso, o choro é uma das principais formas da criança contatar com o que a rodeia. Nos primeiros meses de vida, a criança tem grandes oscilações de humor. Próximo aos três anos, que é a transição para a segunda infância, a criança torna-se, aos poucos, mais organizada, obediente e amável, reconhecendo e conhecendo nas fotografias e vídeos, as pessoas mais próximas, demonstrando sentimentos de compaixão, afeto e culpabilidade. A capacidade de ser confiante, terna e estabelecer intimidade com adultos, principalmente, aumenta entre os quatro e os seis meses. Já com um ano de idade, a criança manifesta, ainda, um apego excessivo com a mãe ou de quem cuida dela e ainda a perturba a separação ou ausência materna. Porém, começa a tomar consciência que é alguém distinto da mãe e com vontade própria. Aos dois anos, surgem alguns conflitos, visto que a criança vive entre a necessidade de independência e afeto. Esta é uma fase da necessidade de autonomia, ocasionando um período de oposição em duas áreas fundamentais: nas brincadeiras, por exemplo demolir e construir; e na alimentação, por exemplo repugnância e preferências por alimentos. Ainda aos dois anos, a criança demonstra dificuldade em partilhar, fazendo com que 70 normalmente brinque sozinha. A criança brinca com outras crianças, mesmo que em paralelo. E, por vezes, acontece de se entusiasmar e morder outras crianças. Isso revela o início da socialização. Aos dois anos, a criança gosta da companhia de outras crianças, porém, tem dificuldade em se relacionar com elas. Mesmo havendo especificidades que são próprias de cada dimensão do desenvolvimento de uma criança, mudanças em uma dimensão irão provocar muitas outras nos outros domínios. Por exemplo, observar um bebê que ainda engatinha e observá-lo um mês depois, permite espantarmo-nos, visto que são notórias as conquistas alcançadas. Esta capacidade de se deslocar mais autonomamente permite ver o mundo de uma outra perspectiva, assim como ter acesso a realidades até então desconhecidas. Isso desperta, na criança, o desejo por novas formas de interação com os objetos e com as pessoas que fazem parte da sua vida. 3 SEGUNDA INFÂNCIA Nesse período o aumento de tamanho e peso não é tão rápido quanto nos períodos anteriores (tópico anterior). Em média, a taxa de crescimento passa por um processo de desaceleração, por volta dos quatro anos o tamanho já duplicou desde o nascimento. O peso ganho entre três e cinco anos, é menor que a quantidade ganha no primeiro ano de nascido. O cérebro atinge 75% de seu peso adulto por volta dos 3 anos de idade e quase 90% aos seis anos. O mesencéfalo está quase totalmente desenvolvido no nascimento, porém apenas aos quatro anos de idade o córtex cerebral está completamente desenvolvido. O desenvolvimento da mielina ao redor dos neurônios (mielinização), que permite a transmissão dos impulsos nervosos, não está completo por ocasião do nascimento. Muitos nervos ainda não têm mielina, que será depositada em maior quantidade ao longo das fibras nervosas, à mielinização está em sua maior parte completa no final do período inicial da infância, permitindo a completa transferência de impulsos nervosos através do sistema nervoso. Os padrões motores da criança ganham crescente complexidade após a mielinização do cerebelo (GALLAHUE; OZMUN, 2005, p. 202). FIQUE DE OLHO O canal de Youtube da TV Senado traz informações importantes sobre a primeira infância, uma fase decisiva para o desenvolvimento da criança, sugerimos que assista ao vídeo “Primeira infância: fase decisiva para o desenvolvimento da criança” (TV SENADO, 2018). 71 3.1 Desenvolvimento Motor na 2ª Infância Perceba que é nessa fase que o indivíduo apresenta um crescente controle de movimento, isso o permite explorar mais ativamente o ambiente em expansão. Há um melhor controle de movimento, e este está associado diretamente ao desenvolvimento maturacional do sistema nervoso, principalmente a mielinização e o córtex cerebral. Em decorrência dessa crescente alteração das características motoras, é prepotente fazer essa relação de informações com o desenvolvimento físico e motor do indivíduo. Abaixo temos características do desenvolvimento físico e motor de crianças entre três e cinco anos. Essas são baseadas em Gallahue e Ozmun (2005): Desenvolvimento físico e motor de crianças entre três e cinco anos * A altura de meninos e meninas variam de 83,8 a 119,4 cm. O peso de 11,3 a 24 kg. * Habilidades perceptivos-motoras desenvolve-se rápido, no entanto, há frequente confusão na consciência corporal, direcional, temporal e especial. * Bom controle da bexiga e dos intestinos. Mas ainda há “pequenos” desajustes. * Há um rápido desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais. * Crianças ativas e enérgicas. Maior inclinação e desejo em correr do que andar. Porém, por estar em aumento crescente de controle de movimento, apresentam movimentos geralmente incipientes, mas que, próximo aos 5 anos, começam a se mostrar mais maduros. * Maior autonomia em atividades diárias, como se vestir sozinha. Entretanto, ainda precisam ser observadas e ajudadas quando necessário. * As funções e os processos corporais regulam-se bem. Um estado de homeostasia fisiológica (estabilidade) fica estabelecido. * A estrutura corporal tanto de meninos, quanto de meninas é bem similar. * Sobre o controle motor, podemos afirmar que, por estar no início da fase fundamental, e até aproximadamente ao final dessa fase, esse controle apresenta-se gradualmente refinando-se. * Deve-se tomar um ligeiro cuidado quanto a exigências por trabalhos minuciosos. Devido aos movimentos ainda estarem em gradual refinamento. Nas informações acima, pode-se observar a importância de entender o que chamamos de fase motora fundamental, principalmente nos dois primeiros estágios dessa fase, o estágio inicial e o elementar. Como também, iniciar a interpretação do último estágio, o maduro. 72 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 3.2 Desenvolvimento Cognitivo na 2ª Infância Conforme as crianças aplicam sua inteligência, tentando resolver problemas na escola e em casa, as diferenças individuais tornam-se mais mensuráveis e evidentes. Na 2ª infância, linguagem e as ideias fluem com mais facilidade, ajudando a formar a visão de mundo. As crianças, assim, formam e usam conceitos e partilham dos mesmos com os adultos. Com três anos, as crianças usam plurais e o tempo passado, e já sabem a diferença entre você, eu e nós. Aos quatro e cinco anos, usam frases com média de quatro a cinco palavras, e preposições como: sob, sobre, atrás e em. Porém, pode ser imatura a capacidade de compreensão. A criança é capaz de processar a palavra na ordem em que ouviu. Em geral, aos quatro anos, são capazes de classificar forma e cor. Aos cinco anos, utilizam frases mais complexas e longas, e podem compreendem mais de 20 mil palavras, tendo aprendido em média nove palavras novas por dia, aproximadamente, desde um ano e meio de idade. Em relação à capacidade numérica, aos três anos aprendem a contar de um até 10. Aos quatro e cinco anos ainda contampor unidades entre 11 e 20. FIQUE DE OLHO A vídeo aula que lhe indico traz um resumo interessante sobre o desenvolvimento na 2ª infância. O vídeo “Desenvolvimento na Segunda Infância” (FÔLEGO, 2019) é uma boa oportunidade para revisar este conteúdo. 73 Na 2ª infância, a fala social pode ser compreendida pelo ouvinte. E existe aqui o que chamamos de fala privada, onde criança conversa em voz alta consigo mesma. Aqui, parecem ajudar as crianças a adquirirem controle sobre suas ações. O atraso no desenvolvimento da linguagem pode envolver problemas no rápido mapeamento (incorporação de novas palavras ao vocabulário) e, se não tratado, pode ter consequências cognitivas, sociais e emocionais graves. 3.3 Desenvolvimento Psicossocial na 2ª Infância Nesta fase, há o desenvolvimento do eu, o autoconceito da imagem de si mesmo; é o que a criança acredita em relação ao que ela é; o quadro integral de seus traços e capacidades; é uma estrutura cognitiva com indícios emocionais e consequências comportamentais. Na 2ª infância, a autoestima (que é o julgamento de nosso próprio valor), tende a ser global – a criança se acha boa ou ruim – e depende da aprovação dos adultos. Uma importante fonte de autoestima na segunda infância é o suporte social de pais, professores e colegas. Brincar é o trabalho da segunda infância. As crianças, aqui, crescem, estimulam os sentidos, aprendem a usar os músculos, coordenam o que veem com o que fazem, e adquirem domínio sobre seus corpos. Exploram o mundo e a si mesmas. Jogos imaginativos tornam-se cada vez mais comuns e ajudam as crianças a desenvolver habilidades sociais e cognitivas. As diferenças entre o modo de meninos e meninas brincarem aparecem na segunda infância. Ambos brincam de modo diferente. Meninos tendem a brincar na rua e outros espaços públicos, gostam de brincar de luta em grupos grandes. Já as meninas concentram-se em suas casas, brincam mais tranquilas com apenas uma outra criança. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 74 4 TERCEIRA INFÂNCIA É um período em que o crescimento se apresenta de forma lenta, porém estável, tanto na altura quanto no peso. Outro fator importante é que é um período onde há uma maior organização dos sistemas sensorial e motor. Podemos também interpretar alguns pontos já discutidos, como o final da fase motora fundamental, em que o indivíduo, por volta dos seis, sete anos, possui condições de atingir o estágio maduro. 4.1 Desenvolvimento Motor na 3ª Infância Ao falar do crescimento no final da infância, temos algumas características do desenvolvimento físico e motor que devem ser consideradas, segundo Haywood e Getchell (2016) e Gallahue e Ozmun (2005). Desenvolvimento físico e motor de crianças entre 6 e 12 anos * Meninos e meninas variam em cerca de 111,8 - 152,4 cm na altura, e 20 – 40,8 kg no peso. * Crescimento relativamente demorado. Mais visível essa “demora” entre oito e 10 anos. * Ganho anual de 5,1 – 7,6 na altura e 1,4 – 2,7 kg de peso. * São aparentes os princípios céfalo-caudal e próximo-distal de desenvolvimento, onde os músculos grandes do corpo são mais desenvolvidos, consideravelmente, do que os pequenos. * Quanto ao desenvolvimento fisiológico, geralmente as meninas estão um ano a frente dos meninos. * Há geralmente uma consolidação da preferência manual. * O tempo de reação da criança ainda é lento, o que pode causar dificuldades com a coordenação olho e mão, assim como a coordenação olho e pé no início desse período. Entretanto, no final desse período, essas coordenações estão geralmente bem estabelecidas. * A criança se apresenta com “bastante” energia, no entanto, com pouca resistência. Apresentam boas respostas quanto ao treinamento. * Os sistemas perceptivos-visuais estão totalmente estabelecidos ao final desse período. * Ainda deve-se tomar cuidado com atividades que exijam trabalho minuciosos, ainda um baixo desempenho (visual). * No início desse período as habilidades motoras possuem potencial para estarem bem 75 desenvolvidas. As especializadas, começam a ser desenvolvidas. * Essencial que atividades que envolvem os olhos e os membros superiores e inferiores, desenvolvam-se lentamente. Atividades atingir ou rebater bolas arremessadas, assim como arremessar bolas, requerem prática considerável para seu domínio. * Período marcado pela transição do refinamento das habilidades motoras fundamentais para o estabelecimento de habilidades motoras em jogos de liderança e habilidades atléticas. Notamos o quanto o crescimento, no período de seis a 12 anos, está muito associado com o desenvolvimento e consolidação dos movimentos fundamentais e início dos movimentos especializados. 4.2 Desenvolvimento Cognitivo na 3ª Infância A memória se aperfeiçoa muito na terceira infância, primeiro porque as crianças aqui são capazes de prestar mais atenção; podem se concentrar por mais tempo e podem focalizar a informação que precisam e desejam, deixando de lado as informações irrelevantes. A quantidade de informações que podem manter em mente num determinado momento aumenta. As habilidades de linguagem continuam a crescer durante a terceira infância. As crianças são então mais capazes de compreender e interpretar as comunicações com os outros, tanto orais quanto escritas, e são mais capazes de se fazerem entender. Por fim, adotam a capacidade de ler e escrever. A aquisição de habilidades de escrita ocorre em paralelo ao desenvolvimento da leitura. 4.3 Desenvolvimento Psicossocial na 3ª Infância O crescimento cognitivo, relatado acima, que ocorre durante a terceira infância, permite às crianças desenvolver conceitos mais realistas e mais complexos de si mesmos e de sua capacidade de sobreviver, e ter êxito em sua cultura, aprimorando o desenvolvimento psicossocial. A autoestima se desenvolve à medida que as crianças começam a ver a si mesmas como integrantes valiosos da sociedade. Liga os aspectos cognitivos, emocionais e sociais da personalidade. Embora crianças em idade escolar gastem menos tempo com os pais do que com os colegas, os relacionamentos com os pais continuam a ser os mais importantes. As crianças buscam, em seus pais, afeto, orientação, laços seguros e duradouros, além de afirmação de competência ou valor pessoal. 76 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • aprender sobre as fases da infância; • compreender as alterações motoras, cognitivas e psicossociais da 1ª infância; • estudar as alterações motoras, cognitivas e psicossociais da 2ª infância; • entender as alterações motoras, cognitivas e psicossociais da 3ª infância. PARA RESUMIR BEE, H. A criança em desenvolvimento. São Paulo: Artmed, 2003. BOA VONTADE. Estágios do Desenvolvimento Infantil. 16 Mai. 2018 (30 m. 19s.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Va1fKkMxO4A. Acesso em: 20 abr. 2020. CRIAR E CRESCER. Marcos do desenvolvimento na primeira infância. 3 Jul. 2019 (5m.31s.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rIQhqLHTNh4. Acesso em: 20 abr. 2020. FÔLEGO, J. Desenvolvimento na Segunda Infância. 31 Mar. 2019 (4m. 10s.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qlqw9KUTANY. Acesso em: 20 abr. 2020. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor - Bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005. HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. Porto Alegre: Artmed, 2016. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança – Orientações para Implementação. Brasília, 2018. Disponível em: http://bvsms.saude. gov.br/bvs/saudelegis/gm/2015/prt1130_05_08_2015.html. Acesso em: 20 abr. 2020. TANI, G. Comportamento motor: conceitos, estudos e aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. TV SENADO. Primeira infância: fase decisiva para o desenvolvimento da criança. 16 Abr. 2018 (29m.56s.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HR9bR_y2JXs. Acesso em: 20 abr. 2020. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UNIDADE4 Desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial no adolescente, no adulto jovem e no idoso Você está na unidade Desenvolvimento Físico, Cognitivo e Psicossocial no Adolescente, no Adulto Jovem e no Idoso. Conheça aqui as alterações no desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial que ocorrem na adolescência, na idade adulta e no idoso. A adolescência marca exatamente a passagem da infância para a fase adulta. Durante esse período, o corpo muda e as ideias também, e é normal que aconteçam conflitos externos e internos. A faixa etária que compreende esta fase é muito variável, conforme a literatura estudada. Iremos utilizar, para esta unidade, dos 13 aos 19 anos. A fase adulta jovem compreende o período da vida dos 20 aos 39 anos de idade, e se caracteriza como uma etapa de muita força e vitalidade do indivíduo. O indivíduo adulto jovem encontra-se em processo de afirmação e testagem de seu potencial, diante dos enfrentamentos sociais e pessoais da vida. Já o idoso, no Brasil e em países em desenvolvimento, são aquelas pessoas com 60 anos ou mais. Os idosos, geralmente, apresentam decrescentes capacidades regenerativas, por isso não tratamos a fase da velhice como desenvolvimento. Porém, além de diversas alterações (decrescentes), é uma fase de finalização da vida, de aplicação total de conhecimentos e lições de vida. Fase de se entregar a tudo que não foi possível, quando mais jovem. Esta unidade irá mergulhar em conhecimentos sobre estas fases. Bons estudos! Introdução 81 1 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO NA ADOLESCÊNCIA Iniciamos um período no qual você deve voltar o seu olhar para a compreensão e utilização do desenvolvimento humano e motor para melhor interpretação de informações acerca do crescimento do indivíduo no período do final da infância e no início da adolescência. A transição da infância para a adolescência é marcada por uma série de eventos físicos e cultuais significativos, que contribuem notavelmente para o crescimento e para o desenvolvimento motor (GALLAHUE; OZMUN 2005). A adolescência é a fase que marca a transição/passagem entre a infância e a fase adulta; e, como informado anteriormente, trataremos o adolescente como aquele entre 13 a 19 anos de idade. Nesta fase, há alterações nos níveis: Isso representa um indivíduo em processo de distanciamento de formas de privilégios e comportamento os típicos da infância. O adolescente adquire competências e características que o capacitam a assumir os papéis sociais e deveres do adulto. • físico, • cognitivo, • psicológico, • e social. Figura 1 - Adolescentes Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2020 #ParaCegoVer: A imagem mostra seis adolescentes. Em pé, estão três meninos, com três meninas agarradas nas suas costas. Todos estão sorrindo. 82 A adolescência inicia-se com mudanças no corpo, provenientes da puberdade, e finaliza com a estabilização do crescimento e personalidade do indivíduo, progressivamente, obtendo sua independência, principalmente econômica, além da integração a um grupo social. É na adolescência que ocorre a maioridade. Do ponto de vista legal, na maioria dos países, o conceito de maioridade é estabelecido aos 18 anos. O Estatuto Brasileiro da Criança e do Adolescente, conforme a Lei 8.069 (BRASIL, 1990), do ano de 1990, considera a pessoa de até 12 anos de idade incompletos como criança, e adolescente a pessoa de 12 a 18 anos de idade. Vale lembrar que o adolescente, a partir dos 16 anos, tem voto opcional como eleitor e cidadão. Nesta fase, há o que chamamos de assincronia de maturação, que são as características de diversidade e variabilidade de parâmetros psicossociais e biológicos que acontecem nesta época da vida. A idade cronológica, assim como acontece com o idoso, não é, muitas vezes, o melhor critério de descrever a pessoa. E o que vem a ser puberdade, que ocorre justamente nessa fase da vida? Caracteriza-se como um fenômeno biológico, com mudanças fisiológicas e morfológicas, que resultam da reativação de mecanismos neurológicos e hormonais do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal-gonadal. As mudanças que aqui ocorrem são conhecidas como os dois fenômenos: a adrenarca ou pubarca, e gonadarca. Estes fenômenos partem de um dinâmico e contínuo processo que tem início durante o desenvolvimento fetal, e finaliza com: • o crescimento completo do indivíduo e com a total fusão das epífises dos ossos, • desenvolvimento das características sexuais secundárias, • completa maturação do homem e da mulher, • assim como da capacidade de fecundação, por meio da espermatogênese e ovulação. Interessante você observar que ocorre uma grande variabilidade no tempo de início, progressão e duração da puberdade, com diferenças marcantes e específicas entre os sexos e entre os grupos étnicos e sociais, que são diversos em uma população, e também de acordo com estado nutricional e fatores ambientais, familiares e contextuais. A menarca é caracterizada como a primeira menstruação da menina adolescente que, em média, ocorre aos 12,8 anos de idade. 1.1 Desenvolvimento Físico na Adolescência Podemos afirmar que o crescimento na adolescência, em especial, é marcado por período de aumento acelerado no peso e na estatura. O aparecimento, a intensidade e a duração desse surto de aumento de peso e estatura possui base genética e irá variar significativamente entre as pessoas. Pode-se também associar esse surto de crescimento com o primeiro indicador visual do aparecimento da puberdade. Vale lembrar que a adolescência é iniciada aos 13 anos. Porém, 83 alguns autores consideram aos 11, e outros, aos 12. Abaixo tem-se as principais mudanças decorrentes do crescimento e desenvolvimento nesse período, segundo Gallahue e Ozmun (2005). Desenvolvimento físico e motor de adolescentes * A duração, aparecimento, e a intensidade do surto de crescimento é controlado pelo genótipo do indivíduo. Já o fenótipo influenciará o potencial desse crescimento. * Os meninos iniciam seus surtos por volta dos 11 anos, e atingem a estabilidade por volta dos 15 anos. As meninas estão em média dois anos à frente, por volta dos nove anos, e atingem a estabilidade em torno dos 13 anos. * O crescimento continua, posteriormente, no entanto, em um ritmo bem mais lento. Em média, os meninos alcançam suas alturas maduras por volta dos 18 anos e as meninas em torno de 16 anos. * O peso, apesar de acompanhar as curvas de crescimento (altura), podem sofrer influência do ambiente de forma pontual. * Importante – a puberdade é regulada pela hereditariedade, mas pode ser influenciada por fatores ambientais como nutrição, doenças, clima e estresse emocional, como outros. * O desenvolvimento dos movimentos especializados necessita do treinamento ou mesmo das experiências do cotidiano. Fala-se de características de movimentos que passam a ser mais dependentes dos fatores ambientais do que os aspectos naturais (biologia). * Período de combinação de categorias de movimentos (estabilização, locomoção e manipulação) como meios de garantir a autonomia de movimentos do indivíduo. Importante saber que a puberdade é regulada pela hereditariedade, mas pode ser influenciada por fatores ambientais como nutrição, doenças, clima e estresse emocional, como outros. A adolescência possui um grande marco no desenvolvimento humano, a puberdade, esse fenômeno é o resultado de uma série de modificações biológicas / fisiológicas, uma delas é o chamado estirão de crescimento. Esse estirão resulta na aceleração e desaceleração do crescimento do esqueleto e dos órgãos. Outra mudança importante é decorrente das modificações na composição corporal, principalmente no que se refere à distribuição de massa muscular e gordura. Ao chegarmos nesse período, percebe-se que as informações sobre o crescimento, como também sobre o desenvolvimento do indivíduo, se tornam mais complexas. E o desenvolvimento 84 motor não é diferente. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:1.2 Desenvolvimento Cognitivo na Adolescência Na adolescência, é construído o que chamamos de raciocínio hipotético-dedutivo, o qual trabalha com as hipóteses e deduções; ou seja, o adolescente tem a capacidade de formular hipóteses sobre tudo, e principalmente pensar sobre elas sem a necessidade de uma ajuda concreta e de referência. O adolescente consegue fazer planos e os executá-los, avaliando os resultados e replanejando-os. Em relação a cálculos e matemática, nesta fase o indivíduo já pode trabalhar com equações e outras operações. É capaz de antecipar consequências de seus atos e escolhas, e as analisa, tornando o seu pensamento livre de limitações concretas da realidade. O adolescente também já consegue entender doutrinas filosóficas e abstrair conceitos, dogmas religiosos e teorias científicas. Em seu pensamento, tudo agora é possível. Em suma, é a preparação do raciocínio que terão quando adultos. Essas, e outras modificações a nível cognitivo, são extremamente importantes durante a adolescência, pois, nessa etapa, a inteligência alcança sua última forma, com o pensamento abstrato ou normal. Estas alterações influenciam no entendimento de leis, regras, e normas da vida, ajustando o adolescente ao cotidiano e ao seu papel real mundo, proporcionando uma grande aptidão para formular ideias e teorias. Nessa fase, o adolescente se torna hábil para raciocinar de forma correta a respeito de proposições em que não acredita, ou que não acredita ainda, ou seja, reflete e pensa de forma hipotética, adquirindo, desta forma, grande capacidade de ultrapassar, pelo menos pela convicção, situações que vive e a projetar ideias para o seu futuro. 85 Figura 2 - Adolescente pensando #ParaCegoVer: A imagem mostra uma menina adolescente sentada em uma cadeira, lendo um livro que está em uma mesa. O fundo da imagem é uma estante cheia de livros, como em uma biblioteca. Na adolescência, o indivíduo desenvolve capacidade para pensar sobre a sua própria convicção e pensamento, assim como sobre o a convicção e pensamento de outras pessoas. Isso é chamado de metacognição, ou seja, ter consciência de que as pessoas têm pensamentos diferentes da mesma situação ou ideia, havendo uma gama de pontos de vistas diferentes. Ao contrário das crianças que tendem a pensar que todas as pessoas encaram as situações da mesma forma que elas (pensamento egocêntrico). Permitindo um amplo aumento da imaginação, temos aqui a autorreflexão. Os adolescentes, geralmente, tomam consciência da forma como conhecem para além daquilo que conhecem. Diante disso, as oportunidades de autocorreção são maiores, em nível de resolver problemas diários. Adolescentes são capazes de ter diálogo interno, ou seja, falar consigo mesmos, chegando a novas formas de compreensão, sem estarem presos a concretas experiências. Os estímulos externos e as influências são importantes, para um desenvolvimento intelectual melhor. Estes são modelos para os adolescentes. Como poderosas formas de estimular o pensamento abstrato, temos o visionamento de vídeos ou filmes, e a participação em atividades recreativas, esportivas e artísticas, tais como a dança, a música, o drama, a pintura. 86 Figura 3 - Adolescentes dançando Fonte: Kzenon, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra adolescentes dançando em uma sala com piso de madeira. São três meninos e duas meninas, com roupas esportivas. Os três estão na mesma posição. 1.3 Desenvolvimento Psicossocial na Adolescência Em relação ao desenvolvimento sociomoral, Piaget (1975; 1998) acredita que a moral do adolescente reflete, de certo modo, a do adulto, e que os jogos da infância são admiráveis instituições sociais que podem possibilitar o contato com uma série de regras que irão compor parte do futuro adulto. Moral compreende um conjunto de regras a serem seguidas. A essência da moralidade está no respeito que os indivíduos adquirem por essas regras. Primeiro, o adolescente age, e em seguida compreende as razões destas suas ações. O adolescente pratica a construção de regras, aplicando-as, testando-as e as muda no grupo, criando, assim, novas regras para, futuramente, descobrir que elas não são imutáveis e eternas. Ao falar de desenvolvimento psicossocial, não podemos deixar de relacionar a teoria de Erik Erikson (ERIKSON, 1972). Essa teoria foca-se no período da adolescência, visto que é a transição entre a infância e a idade adulta, em que acontecimentos relevantes ocorrem para a o desenvolvimento da personalidade adulta. A teoria defende que a ativadora energia do comportamento possui natureza puramente psicossocial, e integra fatores pulsionais biológicos e inatos, mas também a libido, fatores sociais, que são aprendidos em contextos histórico-culturais específicos. Conforme essa teoria, o adolescente procura sempre algo mais; está sempre indeciso, passando por crises existenciais e por situações conflituosas que têm de ser resolvidas. 87 2 O CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO NO ADULTO JOVEM Iremos considerar que a fase adulta jovem inicia-se aos 20 anos de idade. Neste período, mudanças ocorridas na adolescência, se estabilizam e a responsabilidade social, principalmente, aumenta. Em muitos dos casos, o indivíduo já está independente financeiramente, parcialmente ou completamente, e já ingressou no mercado de trabalho, mas essa não é a realidade de todos. O adulto jovem tende a traçar metas e objetivos de vida, se casa, tem filhos (ou não), planejando o futuro a partir das experiências vivenciadas, assim como das expectativas de desejos a serem alcançados. São várias as transformações físicas que ocorrem do início ao final da vida adulta. Porém, elas são mais palpáveis e significativas no final dessa fase e início da velhice (60 anos ou mais). As capacidades físicas (aptidão física) são um exemplo disso, as quais poderão se reverter do físico ao psicológico na fase adulta, e, consequentemente, nas relações intra e interpessoais. Os aspectos psicológicos e fisiológicos são os que irão impulsionar a conduta do ser humano adulto. Sendo uma das etapas mais longas do ciclo de vida do ser humano, é necessária atenção relacionada à diversidade de desafios a que estão sujeitos os indivíduos adultos. Diante disso, faz- se também necessário compreender as interações que permeiam a vida adulta, além de entender o processo de desenvolvimento, com suas singularidades e aprendizados. O adulto, geralmente, visa a firmar o seu papel na sociedade, diante de direitos, deveres, responsabilidades, desejos e necessidades de novas conquistas. Na passagem da adolescência para a etapa adulta, ocorrem mudanças, no desenvolvimento, realização, e solidificação de uma identidade social e pessoal do indivíduo. Estas transições resultarão na aquisição do estado social do indivíduo adulto, sustentado pelo alcance de uma posição social relacionada com o desempenho de papéis profissionais e familiares, que sinalizam o fim da adolescência e caracterizam a idade adulta. As mudanças sociais atuais dão novas características à passagem da adolescência para a fase adulta, alterando os papéis do adulto por parte dos adolescentes. Aqui surge, então, a instabilidade profissional, o prolongamento dos estudos. Tudo isso marcado pela dificuldade da inserção do jovem no mercado de trabalho. Tendem a ocorrer mais tarde os processos relacionados à família, repercutindo na idade para constituir uma família própria. Nesse caso, o papel de pai e mãe, também parece ser adiado. Na fase do adulto jovem, o que mais causa impacto são as mudanças sociais, já que elas colocam novos desafios ao modo como os indivíduos irão viver dali para frente. É muito comum que os adultos jovens sejam incentivados pelos mais velhos a investir na educação, prosseguindo com seus projetos vocacionais, visando a uma profissão futura, que 88 lhes possibilite a realização pessoal e a obtenção de autonomia e independência econômica. Isto implica na entrada no mercadode trabalho de forma mais tardia. 3 DESENVOLVIMENTO HUMANO E ALTERAÇÕES NO IDOSO O envelhecimento é um evento natural para todo ser humano, e tem como características ser: • dinâmico, • progressivo, • e universal. Além disso, ele está caracterizado por alterações: • fisiológicas, • morfológicas, • psicológicas, • bioquímicas, • e físicas. Estas alterações podem, na grande maioria, refletir nas condições de vida e na vulnerabilidade do idoso. O envelhecimento pode ser bem-sucedido, quando há baixa suscetibilidade a doenças e considerável capacidade funcional; ou com fragilidade, quando há maior vulnerabilidade em geral às doenças. Podemos subdividir o envelhecimento em: envelhecimento primário; envelhecimento secundário; envelhecimento terciário. Envelhecimento Primário: ele é conhecido também senescência. É o dito envelhecimento natural, pois atinge todos os humanos, sendo uma característica genética da espécie humana. Este envelhecimento atinge progressivamente e gradualmente o organismo humano, tendo efeito cumulativo. Nesta fase, o indivíduo está sujeito à influência de diversos fatores que determinarão o envelhecimento, como, por exemplo, a prática de atividades e exercícios físicos, a nutrição, o estilo de vida adotado, a exposição a eventos e ambiente, a educação e posição na sociedade. Este tipo de envelhecimento determina-se geneticamente (pré-programado), estando presente em todas as pessoas, ou seja, 89 é universal. Você está envelhecendo, e continuará envelhecendo. Aqui, ocorrem mudanças universais independentemente de influências ambientais e doença. Envelhecimento Secundário: também chamado de envelhecimento patológico ou senilidade, e se refere a um conjunto de doenças que não estão relacionadas com o processo natural de envelhecimento. Estas doenças e disfunções incluem, por exemplo, lesões cardiovasculares e cerebrais, câncer, doenças neurológicas, demências, dentre muitas outras. Este tipo de envelhecimento compreende sintomas e sinais clínicos, incluídos os efeitos das doenças e do ambiente. Envelhecimento Terciário: ou terminal, caracteriza-se por perdas cognitivas e físicas profundas, como consequência do acúmulo dos efeitos do envelhecimento, como também por patologias dependentes da idade (SPIRDUSO, 2005). Vamos agora falar sobre as diferentes formas de idade. A idade cronológica ou do tempo de vida é a que ordena as pessoas de acordo com sua data de nascimento. O envelhecimento cronológico é iniciado na infância, e facilmente mensurável, enquanto as mudanças biológicas associadas à idade são de aferição difícil (SPIRDUSO, 2005). A idade biológica ou individual é demonstrada pelo organismo, baseando-se nas suas condições teciduais, orgânicas, quando comparados a valores de normalidade. A idade psicológica evidencia-se por aspectos como maturação mental, desempenho, e soma de experiências durante a vida. Já a idade social, ou sociológica, é indicada por estruturas organizadas de cada sociedade. Cada pessoa pode variar de jovem a velho em diferentes sociedades. Resumindo, o envelhecimento pode ser biológico, no qual há alterações biológicas, assim como o envelhecimento psicossocial, o qual apresenta alterações sociais e psicológicas. O envelhecimento biológico, em especial, está diretamente ligado ao declínio das funções orgânicas do ser humano, sendo um processo paulatino, desenvolvido conforme eventos fisiológicos degenerativos que ultrapassam os regenerativos. Nesse sentido, o envelhecimento biológico é um processo que se inicia no nascimento e continua até que ocorra a morte. O envelhecimento biológico é o processo que determina o potencial de cada indivíduo para permanecer vivo, e que diminui com o passar dos anos. O processo de envelhecimento biológico é ininterrupto no decorrer da vida, e apresenta diferenciações de um ser humano para outro, havendo, inclusive diferenciações no mesmo indivíduo, haja vista que alguns órgãos envelhecem mais rápido que outros. 90 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 3.1 Alterações Orgânicas no Envelhecimento Vamos agora apresentar algumas das alterações orgânicas que ocorrem com o processo de envelhecimento. Informo a você que são inúmeras, e o objetivo aqui é apresentar apenas algumas delas. Durante o envelhecimento, no sistema nervoso, há perda lenta e gradual das células nervosas e de alterações químicas, que, somadas, levam a distúrbios característicos: • hipotrofia neuronal e diminuição na substância branca, no hipocampo, responsável pela memória e aprendizado; • perda celular de 5,4% por década, a partir da meia idade; • diminuição no número de sinapses, também observada no córtex pré-motor. É importante ressaltar que a mielina cerebral, começa a sofrer diminuição a partir de 20 anos de idade, e juntamente com as alterações já mencionadas, mais as alterações em neurotransmissores, resulta na diminuição da velocidade de condução em vias aferentes e eferentes, afetando também o processamento em regiões do córtex. Essa velocidade de condução neuronal chega a ser de 10-15% mais lenta no idoso, o que talvez explique a maior tendência dos idosos em sofrer quedas, certamente por apresentarem uma resposta motora mais lenta, e/ou alterações nas respostas sensoriais. No sistema cardiovascular, há um espessamento principalmente nas cavidades esquerdas do coração, podendo também ter o aumento na taxa de gordura epicárdica, no entanto, tais mudanças são causadas por um desgaste progressivo natural. No endocárdio, há espessamento, principalmente no lado esquerdo do coração, com aumento 91 no número de fibras colágenas e elásticas. Além disso, o átrio esquerdo pode sofrer infiltração lipídica e esclerose. O miocárdio sofre as alterações mais relevantes, há substituição de tecido muscular por tecido fibroso, acúmulo de gordura nos átrios e septo interventricular e paredes dos ventrículos, o que pode dar início às arritmias atriais. No sistema respiratório, há a diminuição na elasticidade do tecido pulmonar, e também diminuição na elasticidade dos tecidos que envolvem os alvéolos e dutos alveolares. No pulmão do idosos, as células mucociliares brônquicas encontram-se reduzidas e com baixa atividade, dificultando o clareamento das vias aéreas, levando a uma maior propensão de infecções. É importante ressaltar que a alteração na elasticidade do tecido pulmonar, juntamente com as alterações anatômicas características do processo de envelhecimento, levam a modificações importantes na biomecânica do pulmão, como: • perda da capacidade elástica do pulmão; • aumento na complacência pulmonar; • diminuição na difusão de oxigênio; • obstrução de vias aéreas; • diminuição nos fluxos expiratórios. Após os 40 anos, a média entre produção e absorção de tecido ósseo passa a ser negativa, e é estimado que haja em média uma perda de 1% de tecido ósseo por ano. Isso ocorre, porque os osteoclastos passam a realizar maior reabsorção de osso, já os osteoblastos têm sua função diminuída, o que gera um balanço negativo entre o processo de reabsorção e formação óssea, e consequentemente há uma perda acentuada de cálcio e tecido ósseo. Após a menopausa, a perda óssea se acentua e, aos 65 anos, essa perda pode atingir aproximadamente 25%. Com o passar dos anos, há uma perda na massa muscular que é substituída por conteúdo não contrátil (tecido conjuntivo e adiposo). A diminuição da massa muscular, que ocorre entre os 50 anos até aproximadamente 90 anos de idade, pode atingir até 50%, e o número de fibras musculares também sofre uma diminuição de aproximadamente 20% em relação ao adulto. Este processo de diminuição de massa muscular é caracterizado como sarcopenia. 92 Figura 4 - Envelhecimento Fonte: gpointstudio, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra uma mulher idosa. Ela tem cabelos curtos e grisalhos, está sorrindo com o rosto apoiado em uma das mãos e usa uma roupa branca. 3.2 Alterações Cognitivas e Psicossociaisno Envelhecimento O entendimento sobre o envelhecimento no aspecto psicossocial é de suma importância para entender este complexo processo. O idoso não sofre apenas com a perda das capacidades funcionais biológicas, como citado anteriormente. A velhice vem acompanhada de mudanças psicológicas e sociais que resultam na dificuldade desses idosos de se adaptarem a novos papéis sociais que levam à baixa autoestima, isolamento social, solidão e depressão, inclusive potencializando o declínio cognitivo desses indivíduos. O estado psicológico dos idosos está diretamente influenciado pelo domínio motor; assim, a redução da força muscular devido ao envelhecimento e a inaptidão da realização de atividade doméstica prejudicam significativamente as interações sociais e psicológicas dos idosos. Nesse sentido, é possível relacionar a diminuição das funções cognitivas do envelhecimento, com desuso aliado ao isolamento social e às mudanças psicológicas advindas do envelhecimento, podendo ocasionar doenças emocionais, como a depressão. O processo de envelhecimento é representado pela consequência da passagem do tempo no organismo humano e seus efeitos Todas as variáveis da vida são importantes e auxiliares para a promover a manutenção da estabilidade psíquica e somática do indivíduo. Elas são indispensáveis para o idoso poder cumprir a sua meta de ser feliz. Outra meta do idoso é buscar sua liberdade e paz de espírito. 93 A grande dificuldade que envolve o envelhecimento é saber limitar alterações cognitivas patogênicas das normais. Entenda que algumas habilidades cognitivas irão se alterar em relação ao tempo, porém outras permanecem inalteradas. Por exemplo, alterações do envelhecimento natural do sistema nervoso, central e periférico, não afetam significativamente a cognição. É observado redução do fluxo sanguíneo do cérebro, redução da quantidade de neurônios, redução do peso do encéfalo como um todo, e redução do volume dos ventrículos cerebrais. Sendo assim, é comum surgirem formação de placas senis, degeneração dos neurônios, e lentidão da velocidade da condução nervosa. Estas alterações são normais, e podem ou não afetar a capacidade cognitiva do idoso. Das capacidades cognitivas, uma das que mais é comprometida é a atenção e a capacidade de resgatar informações armazenadas previamente, além de tarefas que dependem da memória de trabalho. Também se altera a capacidade de consolidar informações mais recentes. Além disso, parece que não existe alteração da memória semântica. Essas mudanças, na maioria das vezes, não trazem significativo prejuízo na execução das atividades de vida diária, nem restrição da participação na sociedade. A capacidade dos longevos em reconhecerem objetos, formas, dimensões e a distância não é prejudicada quando avaliada de forma simples. Os longevos, quando avaliados em testes mais complexos, contudo, apresentam habilidades visuo-espaciais e visuo-perceptivas menores de que às dos de jovens. Tendem a permanecer estáveis os conhecimentos e as experiências adquiridas na vida ao longo do processo de socialização, mas tendem a diminuir as capacidades fluidas que estão envolvidas na solução de novos problemas. O envelhecimento social é responsável pela alteração do status do idoso, alterando, assim, a relação desses indivíduos com as demais pessoas de sua comunidade. Essas alterações são relacionadas com a crise de identidade (ausência do papel social, causando baixa autoestima). Outras alterações destacam-se, entre elas, a mudança de papéis (deixa de ser provedor de sua família, sendo obrigado a aceitar novas missões); aposentadoria (afastamento das atividades funcionais); perdas diversas (financeira, de poder de decisão, afetivas, com a morte de amigos e familiares) e diminuição dos contatos sociais (ocasionada em virtude das outras alterações). 94 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 95 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • compreender as alterações físicas, cognitivas e psicossociais da adolescência; • conhecer as alterações físicas, cognitivas e psicossociais do adulto jovem; • entender as alterações físicas, cognitivas e psicossociais do idoso. PARA RESUMIR BRASIL. Lei N. 8.069, de 13 de Julho de 1990. Brasília, 1990. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 29 abr. 2020. ERIKSON, E. Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972. FREITAS, E.V.; PY, L. 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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fundamental para entender o funcionamento do corpo humano do indivíduo nas fases de crescimento, desenvolvimento e envelhecimento, este livro abrangente vai apresentar as peculiaridades e características dos aspectos envolvidos nas fases da vida do ser humano. A obra se divide em quatro unidades que tratará dos seguintes temas: introdução ao crescimento, desenvolvimento e envelhecimento do ser humano; concebendo uma nova vida, tipos de nascimento e a importância do pré-natal; desenvolvimento motor, cognitivo e psicossocial na infância; e, por fim, desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial no adolescente, no adulto jovem e no idoso. Bem ilustrada e com linguagem clara, este livro é um rico instrumento de estudo para os estudantes de Educação Física e áreas correlatas. Bons estudos! Capa E-Book_Crescimento, Desenvolvimento e Envelhecimento Humano_CENGAGE_V2 E-Book Completo_Crescimento, Desenvolvimento e Envelhecimento Humano_CENGAGE_V2