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7.1 7.2 7.3 7.4 7.5 7.6 7.7 • • • • • • J Modelo em computador do DNA. (Kenneth Eward/Science Source/Getty Images.) TÓPICOS DNA | O material genético Estrutura do DNA Replicação semiconservativa Visão geral da replicação do DNA Replissomo | Uma máquina de replicação notável Replicação em organismos eucariotos Telômeros e telomerase | Término da replicação RESULTADOS DE APRENDIZAGEM Após ler este capítulo, você será capaz de: Avaliar os tipos de evidências (históricas e modernas) que podem ser utilizadas para demonstrar que o DNA é o material genético Avaliar os dados utilizados para construir o modelo de dupla-hélice do DNA Explicar por que a estrutura helicoidal dupla sugere um mecanismo específico de replicação do DNA Ilustrar as características da replicação do DNA que contribuem para a sua velocidade e a sua precisão Explicar por que as extremidades dos cromossomos necessitam de replicação especial Prever as possíveis consequências para a saúde humana se a replicação da extremidade for defeituosa. ames Watson (um geneticista microbiano americano) e Francis Crick (um físico inglês) solucionaram a estrutura do DNA em 1953. Seu modelo da estrutura do DNA foi revolucionário. Eles propuseram uma definição para o gene em termos químicos e, ao fazer isso, propiciaram a compreensão da ação gênica e da hereditariedade no nível molecular. Uma medida da importância da sua descoberta é que a estrutura em dupla-hélice se tornou um ícone cultural, que é observado com cada vez mais frequência em pinturas, em esculturas e até mesmo em playgrounds (Figura 7.1). A história tem início na primeira metade do século 20, quando os resultados de diversos experimentos levaram os cientistas a concluírem que o DNA é o material genético, não outra molécula biológica, tal como um carboidrato, uma proteína ou um lipídio. O DNA é uma molécula simples, composta por apenas quatro diferentes elementos estruturais (as quatro bases de nucleotídios). Portanto, era necessário compreender como essa molécula tão simples podia ser responsável pela incrível diversidade de organismos sobre a Terra. O modelo da dupla-hélice proposto por Watson e Crick foi construído com base nos resultados de cientistas antes deles. Eles se basearam nas descobertas anteriores da composição química do DNA e das proporções de suas bases. Além disso, imagens de difração de raios X do DNA revelaram ao olho treinado que o DNA é uma hélice de dimensões precisas. Watson e Crick concluíram que o DNA é uma dupla-hélice composta por dois filamentos de bases de nucleotídios ligados, que se enrolam um ao redor do outro. A estrutura do material hereditário proposta imediatamente sugeriu como ela poderia atuar como um molde e como poderia ser transmitida entre as gerações. Primeiramente, a informação para a formação de um organismo está codificada na sequência de bases nucleotídicas que compõem os dois filamentos da hélice de DNA. Em segundo lugar, em virtude das regras da complementaridade de bases descobertas por Watson e Crick, a sequência de um filamento dita a sequência do outro filamento. Assim, as informações genéticas na sequência do DNA podem ser transmitidas de uma geração para a próxima quando cada um dos filamentos de DNA em separado atua como molde para a produção de novas cópias da molécula. 7.1 FIGURA 7.1 (Neil Grant/Alamy.) Neste capítulo, enfocamos o DNA, sua estrutura e a produção de cópias do DNA em um processo denominado replicação. Precisamente como o DNA é replicado ainda é uma área ativa de pesquisas, mais de 50 anos após a descoberta da dupla-hélice. Nossa atual compreensão sobre o mecanismo da replicação confere um papel central para uma estrutura proteica, denominada replissomo. Esse complexo de proteínas coordena as diversas reações que são necessárias para a replicação rápida e precisa do DNA. DNA | O material genético Antes de verificarmos como Watson e Crick solucionaram a estrutura do DNA, revisaremos o que era conhecido a respeito dos genes e do DNA na ocasião em 1. 2. 3. 4. 5. que eles iniciaram a sua colaboração histórica: Os genes — os “fatores” hereditários descritos por Mendel — sabidamente estavam associados a traços específicos, mas a sua natureza física não era compreendida. De modo semelhante, as mutações sabidamente alteravam a função dos genes, mas a natureza química precisa de uma mutação não era compreendida. A hipótese um gene—um polipeptídio (descrita no Capítulo 6) postulava que os genes determinam a estrutura das proteínas e de outros polipeptídios. Sabidamente os genes eram carreados nos cromossomos. Observou-se que os cromossomos são compostos por DNA e proteínas. Os resultados de uma série de experimentos com início na década de 1920 revelaram que o DNA é o material genético. Esses experimentos, descritos em seguida, demonstraram que as células bacterianas que expressam um fenótipo podem ser transformadas em células que expressam um fenótipo diferente e que o agente transformante é o DNA. Descoberta da transformação Frederick Griffith fez uma observação enigmática durante os experimentos realizados em 1928 com a bactéria Streptococcus pneumoniae. Essa bactéria, que causa pneumonia em seres humanos, normalmente é letal em camundongos. Entretanto, algumas linhagens dessa espécie bacteriana evoluíram para serem menos virulentas (menos capazes de causar doença ou morte). Os experimentos de Griffith estão resumidos na Figura 7.2. Nesses experimentos, Griffith utilizou duas linhagens que são distinguíveis pelo aspecto de suas colônias quando cultivadas em culturas de laboratório. Uma linhagem era um tipo virulento normal, mortal para a maior parte dos animais de laboratório. As células dessa linhagem estão envoltas por uma cápsula de polissacarídios, o que proporciona às colônias um aspecto liso; portanto, essa linhagem é identificada como S. A outra linhagem de Griffith era um tipo não virulento mutante, que cresce em camundongos, mas que não é letal. Nessa linhagem, revestimento de polissacarídios não existe, proporcionando às colônias um aspecto rugoso; essa linhagem é denominada R. FIGURA 7.2 A presença de células S mortas pelo calor transforma as células R vivas em células S vivas. A. O camundongo morre após a injeção da linhagem S virulenta. B. O camundongo sobrevive após a injeção da linhagem R. C. O camundongo sobrevive após a injeção da linhagem S morta pelo calor. D. O camundongo morre após a injeção de uma mistura da linhagem S morta pelo calor e da linhagem R viva. Células S vivas foram isoladas do camundongo morto, indicando que a linhagem S morta pelo calor de algum modo transforma a linhagem R na linhagem S virulenta. Griffith matou algumas células virulentas por meio de fervura. Em seguida, ele injetou as células mortas pelo calor em camundongos. Os camundongos sobreviveram, demonstrando que os restos das células não causam a morte. Entretanto, camundongos injetados com uma mistura de células virulentas mortas pelo calor e células não virulentas vivas morreram. Além disso, células vivas puderam ser recuperadas dos camundongos mortos; essas células formaram colônias lisas e eram virulentas na injeção subsequente. De algum modo, os restos celulares das células S fervidas haviam convertido as células R vivas em células S vivas. O processo, já discutido no Capítulo 5, é denominado transformação. A etapa seguinte foi determinar qual componente químico das células doadoras mortas havia causado essa transformação. Essa substância modificou o genótipo da linhagem receptora e, portanto, podia ser uma candidata para o material hereditário. Esse problema foi solucionado por experimentos conduzidos em 1944 por Oswald Avery e dois colegas, Colin MacLeod e Maclyn McCarty (Figura 7.3). Sua abordagem para o problema foi destruir quimicamente todas as principais categorias de substâncias químicas em um extrato de células mortas, uma por vez, e descobrir se o extrato havia perdido a capacidade de transformação. As células virulentas apresentavam um revestimento liso de polissacarídios,enquanto as células não virulentas não apresentavam; portanto, os polissacarídios eram candidatos óbvios a serem o agente transformante. Entretanto, quando os polissacarídios foram destruídos, a mistura ainda podia ser transformada. Proteínas, lipídios e ácidos ribonucleicos (RNA) demonstraram, todos, de modo semelhante, não serem o agente transformante. A mistura perdeu a sua capacidade de transformação apenas quando a mistura doadora foi tratada com a enzima desoxirribonuclease (DNase), que fragmenta o DNA. Esses resultados implicam fortemente o DNA como o material genético. Agora se sabe que os fragmentos do DNA transformante que conferem virulência entram no cromossomo bacteriano e substituem seus correspondentes que conferem não virulência. CONCEITO-CHAVE A demonstração de que o DNA é o princípio transformante foi a primeira demonstração de que os genes (o material hereditário) são compostos por DNA. FIGURA 7.3 O DNA é o agente que transforma a linhagem R em virulenta. Se o DNA em um extrato de células da linhagem S mortas pelo calor for destruído, os camundongos sobrevivem quando injetados com uma mistura das células mortas pelo calor e as células da linhagem R não virulenta vivas. Experimento de Hershey-Chase Os experimentos conduzidos por Avery e seus colegas foram definitivos, mas muitos cientistas estavam relutantes em aceitar o DNA (em vez das proteínas) como o material genético. Afinal, como uma molécula de tal baixa complexidade como o DNA poderia codificar a diversidade da vida sobre este planeta? Alfred Hershey e Martha Chase forneceram evidências adicionais em 1952 em um experimento que fez uso do fago T2, um vírus que infecta bactérias. Eles ponderaram que o fago infectante obrigatoriamente injetavam na bactéria as informações específicas que ditam a reprodução de novas partículas virais. Se eles pudessem descobrir qual material o fago estava injetando na hospedeira bacteriana, eles teriam determinado o material genético dos fagos. O fago é relativamente simples em constituição molecular. A estrutura do T2 é similar à do T4 demonstrada nas Figuras 5.22 a 5.24. A maior parte de sua estrutura é de proteínas, com o DNA contido dentro da bainha proteica de sua “cabeça”. Hershey e Chase decidiram marcar diferencialmente o DNA e a proteína por meio da utilização de radioisótopos, de modo que eles pudessem seguir os dois materiais durante a infecção. O fósforo não é observado nos aminoácidos que formam os blocos de proteínas, mas é uma parte integrante do DNA; contrariamente, o enxofre está presente nas proteínas, mas nunca no DNA. Hershey e Chase incorporaram o radioisótopo do fósforo (32P) no DNA do fago e aquele do enxofre (35S) nas proteínas de uma cultura de fagos em separado. Conforme demonstrado na Figura 7.4, em seguida eles infectaram duas culturas de E. coli com muitas partículas virais por célula: uma cultura de E. coli recebeu o fago marcado com 32P e a outra recebeu o fago marcado com 35S. Após possibilitar tempo suficiente para a ocorrência da infecção, eles fragmentaram as carcaças vazias dos fagos (denominadas fantasmas) das células bacterianas por meio de agitação em um liquidificador de cozinha. Eles separaram as células bacterianas dos fantasmas dos fagos em uma centrífuga e em seguida mediram a radioatividade nas duas frações. Quando os fagos marcados com 32P foram utilizados para infectar E. coli, a maior parte da radioatividade estava dentro das células bacterianas, indicando que o DNA do fago entrava nas células. Quando os fagos marcados com 35S foram utilizados, a maior parte do material radioativo estava nos fantasmas dos fagos, indicando que a proteína do fago nunca entrava na célula bacteriana. A conclusão é inevitável: o DNA é o material hereditário. As proteínas dos fagos são meros envoltórios estruturais, que são descartados após a penetração do DNA viral na célula bacteriana. 7.2 1. FIGURA 7.4 O experimento de Hershey-Chase demonstrou que o material genético dos fagos é o DNA, não a proteína. O experimento utiliza dois conjuntos de bacteriófagos T2. Em um conjunto, o revestimento proteico é marcado com enxofre radioativo (35S), não observado no DNA. No outro conjunto, o DNA é marcado com fósforo radioativo (32P), não observado em aminoácidos. Apenas 32P é recuperado da E. coli, indicando que o DNA é o agente necessário para a produção de novos fagos. Estrutura do DNA Até mesmo antes de a estrutura do DNA ter sido elucidada, estudos genéticos indicavam que o material hereditário tinha necessariamente três propriedades- chave: Tendo em vista que essencialmente todas as células no corpo de um organismo apresentam a mesma constituição genética, a replicação fiel do material genético a cada divisão celular é crucial. Portanto, as características estruturais do DNA precisam assegurar a replicação fiel. Essas características estruturais serão consideradas posteriormente neste 2. 3. capítulo. Tendo em vista que ele precisa codificar a constelação de proteínas expressas por um organismo, o material genético precisa ter um conteúdo informativo. Como as informações codificadas no DNA são decifradas para produzir proteínas será o assunto dos Capítulos 8 e 9. Tendo em vista que alterações hereditárias, denominadas mutações, fornecem a matéria-prima para a seleção evolutiva, o material genético tem de ser capaz de mudar em ocasiões raras. Não obstante, a estrutura do DNA deve ser estável, de modo que os organismos possam “confiar” em sua informação codificada. Consideraremos os mecanismos de mutação no Capítulo 16. Estrutura do DNA antes de Watson e Crick Considere a descoberta da estrutura da dupla-hélice do DNA por Watson e Crick como a solução para um quebra-cabeça tridimensional complicado. Para solucionar esse quebra-cabeça, Watson e Crick utilizaram um processo denominado “construção de modelo”, no qual eles reuniram os resultados de experimentos anteriores e em andamento (as peças do quebra-cabeça) para formar o quebra-cabeça tridimensional (o modelo da dupla-hélice). Para compreender como eles fizeram isso, primeiramente precisamos saber quais peças do quebra- cabeça estavam disponíveis para Watson e Crick em 1953. Elementos estruturais do DNA. A primeira peça do quebra-cabeça era o conhecimento sobre as estruturas básicas do DNA. Como uma substância química, o DNA é consideravelmente simples. Ele contém três tipos de componentes químicos: (1) fosfato, (2) um açúcar denominado desoxirribose e (3) quatro bases nitrogenadas — adenina, guanina, citosina e timina. O açúcar no DNA é denominado “desoxirribose”, tendo em vista que ele apresenta apenas um átomo de hidrogênio (H) no átomo de carbono 2′, contrariamente à ribose (um componente do RNA), que apresenta um grupo hidroxila (OH) naquela posição. Duas das bases, adenina e guanina, apresentam uma estrutura de anel duplo característica de um tipo de substância química denominado purina. As outras 1. 2. duas bases, citosina e timina, apresentam uma estrutura de anel único de um tipo denominado pirimidina. São atribuídos números aos átomos de carbono nas bases para facilidade de referência. Também são atribuídos números aos átomos de carbono no grupo açúcar — nesse caso, o número é seguido por apóstrofo reto (1′, 2′ e assim por diante). Os componentes químicos do DNA estão dispostos em grupos denominados nucleotídios, cada um composto por um grupo fosfato, uma molécula de açúcar desoxirribose e qualquer uma das quatro bases (Figura 7.5). É uma convenção fazer referência a cada nucleotídio pela primeira letra da denominação de sua base: A, G, C ou T. O nucleotídio com a base adenina é denominado desoxiadenosina 5′-monofosfato, em que 5′ faz referência à posição do átomo de carbono no anel de açúcar ao qual o único grupo fosfato (mono) está ligado. Regras de Chargaff da composição de bases. A segunda peça do quebra-cabeça utilizada por Watson e Crick teve origem em um trabalho realizado muitos anos antes por Erwin Chargaff. Estudando uma grande seleção de DNA de diferentes organismos(Tabela 7.1), Chargaff estabeleceu determinadas regras empíricas a respeito das quantidades de cada tipo de nucleotídio observado no DNA: A quantidade total de nucleotídios pirimidínicos (T + C) sempre é igual à quantidade total de nucleotídios purínicos (A + G). A quantidade de T sempre é igual à quantidade de A e a quantidade de C sempre é igual à quantidade de G. Mas a quantidade de A + T não é necessariamente igual à quantidade de G + C, conforme pode ser observado na coluna à direita da Tabela 7.1. Essa proporção varia entre os diferentes organismos, mas é virtualmente a mesma em diferentes tecidos do mesmo organismo. Análise do DNA por difração de raios X. A terceira e mais controversa peça do quebra-cabeça teve origem nos dados de difração de raios X sobre a estrutura do DNA que foram coletados por Rosalind Franklin quando ela estava no laboratório de Maurice Wilkins (Figura 7.6). Nos referidos experimentos, foram disparados raios X nas fibras de DNA e a dispersão dos raios a partir das fibras é observada por meio da captação dos raios em filme fotográfico, sobre o qual os raios X produzem pontos. O ângulo da dispersão representado por cada ponto no filme fornece informações a respeito da posição de um átomo ou de determinados grupos de átomos na molécula de DNA. Esse procedimento não é de fácil realização (ou explicação) e a interpretação dos padrões de pontos exige tratamento matemático complexo, que está além do escopo deste texto. Os dados disponíveis sugeriam que o DNA é longo e fino e que apresenta duas partes semelhantes, que são paralelas entre si e que estão localizadas ao longo do comprimento da molécula. Os dados dos raios X demonstraram que a molécula é helicoidal (semelhante a uma espiral). Sem o conhecimento de Rosalind Franklin, sua melhor radiografia foi mostrada a Watson e Crick por Maurice Wilkins e foi essa peça crucial do quebra-cabeça que possibilitou que eles deduzissem a estrutura tridimensional que poderia explicar os padrões de pontos dos raios X. FIGURA 7.5 Estes nucleotídios, dois com bases purina e dois com bases pirimidina, são os elementos estruturais fundamentais do DNA. O açúcar é denominado desoxirribose, tendo em vista que é uma variação de um açúcar comum, a ribose, que contém mais um átomo de oxigênio (posição indicada pela seta vermelha). Tabela 7.1 Propriedades molares das bases* em DNA de diversas fontes. Organismo Tecido Adenina Timina Guanina Cito Escherichia coli (K12) — 26,0 23,9 24,9 25,2 Diplococcus pneumoniae — 29,8 31,6 20,5 18,0 Mycobacterium tuberculosis — 15,1 14,6 34,9 35,4 Levedura — 31,3 32,9 18,7 17,1 Paracentrotus lividus (ouriço-do- mar) Espermatozoide 32,8 32,1 17,7 18,4 Arenque Espermatozoide 27,8 27,5 22,2 22,6 Rato Medula óssea 28,6 28,4 21,4 21,5 Ser humano Timo 30,9 29,4 19,9 19,8 Ser humano Fígado 30,3 30,3 19,5 19,9 Ser humano Espermatozoide 30,7 31,2 19,3 18,8 *Definidas em moles de constituintes nitrogenados por 100 g átomos de fosfato em hidrolisado. Fonte: Dados de E. Chargaff e J. Davidson, eds., The Nucleic Acids. Academic Press, 1955. Dupla-hélice Um artigo de 1953 de Watson e Crick no periódico Nature foi iniciado com duas sentenças que conduziram a uma nova era da biologia: “Desejamos sugerir uma estrutura para o sal do ácido nucleico desoxirribose (D.N.A.). Essa estrutura apresenta características novas que são de interesse biológico considerável.”1 A estrutura do DNA havia sido tema de grande debate desde os experimentos de Avery e colaboradores em 1944. Conforme observamos, a composição geral do DNA era conhecida, mas não se sabia como as partes se encaixavam. A estrutura precisava atender as principais exigências em relação a uma molécula hereditária: a capacidade de armazenar informações, a capacidade de ser replicada e a capacidade de sofrer mutação. A estrutura tridimensional derivada por Watson e Crick é composta por duas cadeias de nucleotídios (“filamentos”), uma ao lado da outra, torcidas no formato de uma dupla-hélice (Figura 7.7). Os dois filamentos de nucleotídios são mantidos unidos por ligações de hidrogênio entre as bases de cada filamento, formando uma estrutura semelhante a uma escada em espiral (Figura 7.8 A). O arcabouço de cada filamento é formado por unidades de fosfato e açúcar desoxirribose alternadas, que estão conectadas por ligações fosfodiéster (Figura 7.8 B). Podemos utilizar essas ligações para descrever como uma cadeia de nucleotídios é organizada. Conforme mencionado anteriormente, os átomos de carbono dos grupos de açúcar são numerados 1′ a 5′. Uma ligação fosfodiéster conecta o átomo de carbono 5′ de uma desoxirribose ao átomo de carbono 3′ da desoxirribose adjacente. Portanto, diz-se que cada filamento de açúcar e fosfato apresenta uma polaridade, ou sentido, de 5′ para 3′ e a compreensão dessa polaridade é essencial para compreender como o DNA atua. Na molécula de DNA bifilamentar, os dois filamentos têm orientação oposta, ou antiparalela (ver Figura 7.8 B). FIGURA 7.6 Rosalind Franklin (esquerda) e seu padrão de difração de raios X do DNA (direita). (Esquerda, Science Source; direita, Rosalind Franklin/Science Source.) FIGURA 7.7 James Watson e Francis Crick com seu modelo do DNA. (A. Barrington Brown/Science Source.) Cada base está ligada ao átomo de carbono 1′ de um açúcar desoxirribose no arcabouço de cada filamento e está voltada para dentro e em direção a uma base no outro filamento. Ligações de hidrogênio entre os pares de bases mantêm os dois filamentos da molécula de DNA unidos. As ligações de hidrogênio estão indicadas pelas linhas tracejadas na Figura 7.8 B. FIGURA 7.8 A. Modelo simplificado demonstrando a estrutura helicoidal do DNA. Os bastões representam os pares de bases e as fitas representam o arcabouço de açúcar e fosfato das duas cadeias antiparalelas. B. Diagrama químico preciso da dupla-hélice do DNA, desenrolada para demonstrar as espinhas dorsais açúcar- fosfato (azul) e os degraus de pares de bases (roxo, laranja). As espinhas dorsais correm em direções opostas; as extremidades 5′ e 3′ são denominadas em virtude da orientação dos átomos de carbono 5′ e 3′ dos anéis de açúcar. Cada par de bases apresenta uma base purina, adenina (A) ou guanina (G) e uma base pirimidina, timina (T) ou citosina (C), conectadas por ligações de hidrogênio (linhas tracejadas vermelhas). Dois filamentos de nucleotídios complementares pareados de modo antiparalelo assumem automaticamente uma conformação de dupla-hélice (Figura 7.9), principalmente por meio da interação dos pares de bases. Os pares de bases, que são estruturas planares achatadas, ficam “empilhados” uns sobre os outros no centro da dupla-hélice (ver Figura 7.9 A). O empilhamento aumenta a estabilidade da molécula de DNA ao excluir as moléculas de água dos espaços entre os pares de bases. A forma mais estável que resulta do empilhamento de bases é uma dupla-hélice com dois tamanhos distintos de sulcos que ocorrem em uma espiral: o sulco maior e o sulco menor, que podem ser observados em ambos os modelos da fita e do preenchimento dos espaços da Figura 7.9 A e 7.9 B. A maior parte das associações DNA-proteína ocorre nos sulcos maiores. Um filamento de nucleotídios único não apresenta estrutura helicoidal; o formato helicoidal do DNA depende totalmente do pareamento e do empilhamento das bases nos filamentos antiparalelos. O DNA é uma hélice com giro para a direita; em outras palavras, ele apresenta a mesma estrutura de um parafuso que seria parafusado em um local por meio de um movimento em sentido horário. A dupla-hélice corresponde bem aos dados de difração dos raios X e às regras de Chargaff. Ao estudar os modelos da estrutura que eles produziram, Watson e Crick perceberam que o raio observado da dupla-hélice (conhecido a partir dos dados de raios X) seria explicado se uma base purina sempre pareasse (por meio de ligações de hidrogênio) com uma base pirimidina (Figura 7.10). O referido pareamento explicaria a regularidade de (A + G) = (T + C) observada por Chargaff, maspreveria quatro pareamentos possíveis: T A, T G, C A e C G. Os dados de Chargaff, entretanto, indicam que T pareia apenas com A e que C pareia apenas com G. Watson e Crick concluíram que cada par de bases é composto por uma base purina e uma base pirimidina, pareadas de acordo com a regra a seguir: G pareia com C e A pareia com T. Observe que o par G-C apresenta três ligações de hidrogênio, enquanto o par A-T apresenta apenas duas (ver Figura 7.8 B). Preveríamos que o DNA que contém muitos pares G-C seria mais estável do que o DNA que contém muitos pares A-T. De fato, essa previsão é confirmada. O calor causa a separação dos dois filamentos da dupla-hélice do DNA (um processo denominado dissociação do DNA ou desnaturação do DNA); DNA com mais alto conteúdo de G + C necessita de temperaturas mais altas para se dissociar, em virtude da maior atração do pareamento G-C. CONCEITO-CHAVE O DNA é uma dupla-hélice composta por duas cadeias de nucleotídios unidas por meio do pareamento complementar de A com T e de G com C. FIGURA 7.9 O diagrama do filamento (A) destaca o empilhamento dos pares de bases, enquanto o modelo de preenchimento de espaços (B) demonstra os sulcos maior e menor. 1. 2. 3. FIGURA 7.10 O pareamento das purinas com as pirimidinas explica exatamente o diâmetro da dupla-hélice de DNA determinado a partir dos dados de raios X. Aquele diâmetro é indicado pelas linhas verticais tracejadas. A descoberta da estrutura do DNA por Watson e Crick é considerada por algumas pessoas a descoberta biológica mais importante do século 20 e isso fez com que eles recebessem o Prêmio Nobel com Maurice Wilkins em 1962 (Rosalind Franklin morreu de câncer em 1958 e o prêmio não é concedido postumamente). O motivo para essa descoberta ser considerada tão importante é que o modelo da dupla-hélice, além de ser consistente com os dados anteriores a respeito da estrutura do DNA, preencheu os três requisitos em relação a uma substância hereditária: A estrutura da dupla-hélice sugeriu como o material genético poderia determinar a estrutura das proteínas. Talvez a sequência de pares de nucleotídios no DNA dite a sequência de aminoácidos na proteína especificada por aquele gene. Em outras palavras, algum tipo de código genético pode escrever as informações no DNA como uma sequência de nucleotídios e em seguida traduzi-las em uma linguagem diferente de sequências de aminoácidos na proteína. Como isso é realizado é o assunto do Capítulo 9. Se a sequência de bases do DNA especifica a sequência de aminoácidos, então é possível a mutação por meio da substituição de um tipo de base por outro em uma ou mais posições. As mutações serão discutidas no Capítulo 16. Na medida em que Watson e Crick declararam nas palavras da conclusão de seu artigo de 1953 na Nature que relatava a estrutura da dupla-hélice do DNA: “Não escapou da nossa atenção que o pareamento específico que postulamos sugere imediatamente um possível mecanismo de cópia em relação ao material genético.”2 Para os geneticistas da época, o significado dessa declaração estava claro, conforme veremos na próxima seção. 7.3 Replicação semiconservativa O mecanismo de cópia ao qual Watson e Crick fizeram referência é denominado replicação semiconservativa e está diagramado na Figura 7.11. Os arcabouços de açúcar e fosfato são representados por fitas espessas e a sequência de pares de bases é aleatória. Imaginemos que a dupla-hélice é análoga a um zíper que se abre, com início em uma extremidade. Podemos observar que, se essa analogia com o zíper é válida, a deselicoidização dos dois filamentos exporá bases únicas em cada filamento. Cada base exposta apresenta o potencial de parear com nucleotídios livres em uma solução. Tendo em vista que a estrutura do DNA impõe estritas exigências de pareamento, cada base exposta irá parear apenas com a sua base complementar, A com T e G com C. Portanto, cada um dos dois filamentos únicos atuará como um modelo, ou molde, para direcionar a montagem das bases complementares para formar novamente uma dupla-hélice idêntica à original. Presume-se que os nucleotídios recentemente adicionados advenham de um conjunto de nucleotídios livres que deve estar presente na célula. Se esse modelo estiver correto, então cada molécula-filha deve conter uma cadeia de nucleotídios parental e uma cadeia de nucleotídios recentemente sintetizada. Entretanto, um pouco de ponderação demonstra que existem no mínimo três modos diferentes nos quais uma molécula de DNA parental pode estar relacionada com as moléculas-filhas. Esses modos hipotéticos de replicação são denominados semiconservativo (o modelo de Watson-Crick), conservativo e dispersivo (Figura 7.12). Na replicação semiconservativa, a dupla-hélice de cada molécula-filha de DNA contém um filamento da molécula de DNA original e um filamento recém-sintetizado. Na replicação conservativa, a molécula de DNA do genitor é conservada e uma única dupla hélice-filha é produzida, composta por dois filamentos recém-sintetizados. Na replicação dispersiva, cada uma das moléculas-filhas é composta por filamentos que contêm segmentos de ambos os DNA parentais e do DNA recém-sintetizado. Experimento de Meselson-Stahl O primeiro problema na compreensão da replicação do DNA foi descobrir se o mecanismo da replicação era semiconservativo, conservativo ou dispersivo. Em 1958, dois jovens cientistas, Matthew Meselson e Franklin Stahl, decidiram descobrir quais dessas possibilidades descrevia corretamente a replicação do DNA. A ideia deles era possibilitar que moléculas de DNA parental contendo nucleotídios de uma densidade replicassem em um meio contendo nucleotídios de densidade diferente. Se o DNA fosse replicado de modo semiconservativo, as moléculas-filhas seriam metade antigas e metade novas e, portanto, de densidade intermediária. Para realizar o seu experimento, Meselson e Stahl cultivaram E. coli em um meio contendo o isótopo pesado de nitrogênio (15N), em vez do tipo leve (14N) normal. Esse isótopo foi inserido nas bases nitrogenadas, que em seguida foram incorporadas em filamentos de DNA recém-sintetizados. Após muitas divisões celulares em 15N, o DNA das células estava bem-marcado com o isótopo pesado. Em seguida as células foram removidas do meio com 15N e colocadas em um meio com 14N; após uma e duas divisões celulares, foram coletadas amostras e o DNA foi isolado de cada amostra. FIGURA 7.11 O modelo semiconservativo da replicação do DNA proposto por Watson e Crick tem por base a especificidade dos pares de bases ligados por pontes de hidrogênio. Os filamentos parentais, demonstrados em azul, atuam como moldes para a polimerização. Os filamentos recém-polimerizados, demonstrados em amarelo, apresentam as sequências de bases que são complementares aos seus respectivos moldes. FIGURA 7.12 Dos três modelos alternativos para a replicação do DNA, o modelo da estrutura do DNA de Watson-Crick produziria o primeiro modelo (semiconservativo). As linhas amarelas representam os filamentos recém-sintetizados. Meselson e Stahl foram capazes de distinguir o DNA de diferentes densidades porque as moléculas podem ser separadas umas das outras por meio de um procedimento denominado centrifugação em gradiente de cloreto de césio. Se o cloreto de césio (CsCl) for centrifugado em velocidades tremendamente altas (50.000 rpm) durante muitas horas, os íons césio e cloreto tendem a ser empurrados pela força centrífuga para o fundo do tubo. Finalmente, é estabelecido um gradiente de íons no tubo, com a mais alta concentração de íons, ou densidade, no fundo. O DNA centrifugado com o cloreto de césio forma uma banda em uma posição idêntica à sua densidade no gradiente (Figura 7.13). O DNA de diferentes densidades formará bandas em locais diferentes. As células inicialmente cultivadas no isótopo pesado 15N demonstraram DNA de alta densidade. Esse DNA está demonstrado em azul à esquerda da Figura 7.13 A. Após o cultivo dessas células no isótopo leve 14N por uma geração, os pesquisadores observaram que o DNAera de densidade intermediária, demonstrando uma metade azul (15N) e uma metade dourada (14N) na parte intermediária da Figura 7.13 A. Observe que Meselson e Stahl continuaram o experimento durante duas gerações de E. coli, de modo que puderam distinguir a replicação semiconservativa da dispersiva. Após duas gerações, foram observados tanto DNA de densidade intermediária quanto de densidade baixa (à direita da Figura 7.13 A), precisamente como previsto pelo modelo de replicação semiconservativa de Watson e Crick. CONCEITO-CHAVE O DNA é replicado por meio da deselicoidização dos dois filamentos da dupla-hélice e da construção de um novo filamento complementar em cada um dos filamentos separados da dupla-hélice original. Forquilha de replicação Outra previsão do modelo de replicação do DNA de Watson-Crick é que um zíper de replicação, ou forquilha, será observado na molécula de DNA durante a replicação. Essa forquilha é o local no qual a dupla-hélice é desenrolada para produzir os dois filamentos únicos que atuam como moldes para a cópia. Em 1963, John Cairns testou essa previsão ao possibilitar a replicação do DNA em células bacterianas para incorporar a timidina tritiada ([3H]timidina) — o nucleotídio da timidina marcado com um isótopo de hidrogênio radioativo denominado trítio. Teoricamente, cada molécula-filha recentemente sintetizada deve conter um filamento radioativo (“quente”) (com 3H) e outro filamento não radioativo (“frio”). Após intervalos variados e quantidades variadas de ciclos de replicação em um meio “quente”, Cairns lisou cuidadosamente as bactérias e possibilitou que os conteúdos celulares assentassem em lâminas de microscopia eletrônica. Finalmente, Cairns cobriu as lâminas com emulsão fotográfica e a expôs ao escuro durante 2 meses. Esse procedimento, denominado autorradiografia, possibilitou que Cairns desenvolvesse uma imagem da localização de 3H no material celular. Na medida em que o 3H decai, ele emite uma partícula beta (um elétron energético). A emulsão fotográfica detecta uma reação química que ocorre sempre que uma partícula beta atinge a emulsão. Em seguida, a emulsão pode ser revelada como uma impressão fotográfica, de modo que o rastro de emissão de partículas beta aparece como pontos ou grãos pretos. Após um ciclo de replicação em [3H]timidina, apareceu um anel de pontos na autorradiografia. Cairns interpretou esse anel como um filamento radioativo recentemente formado em uma molécula-filha de DNA circular, conforme demonstrado na Figura 7.14 A. Portanto, estava aparente que o cromossomo bacteriano é circular — um fato que também surgiu a partir da análise genética descrita anteriormente (Capítulo 5). No segundo ciclo de replicação, as forquilhas previstas pelo modelo de fato foram observadas. Além disso, a densidade dos grãos nos três segmentos foi tal que a interpretação demonstrada na Figura 7.14 B pode ser realizada: a curva espessa de pontos que corta o interior do círculo de DNA seria o filamento-filho recém-sintetizado, dessa vez composto por dois filamentos radioativos. Cairns observou todos os tamanhos desses padrões autorradiográficos em formato de lua, correspondendo à movimentação progressiva das forquilhas de replicação, ao redor do anel. FIGURA 7.13 O experimento de Meselson-Stahl demonstra que o DNA é copiado por meio da replicação semiconservativa. O DNA centrifugado em um gradiente de cloreto de césio (CsCl) formará bandas de acordo com a sua densidade. A. Quando as células cultivadas em 15N são transferidas para um meio com 14N, a primeira geração produz uma única banda de DNA intermediária e a segunda geração produz duas bandas: uma intermediária e uma leve. Este resultado corresponde às previsões do modelo semiconservativo de replicação do DNA. B e C. Os resultados previstos em relação à replicação conservativa e replicação dispersiva, demonstrados aqui, não foram observados. FIGURA 7.14 Um cromossomo bacteriano replicando apresenta duas forquilhas de replicação. A. Esquerda: autorradiografia de um cromossomo bacteriano após uma replicação em timidina tritiada. De acordo com o modelo de replicação semiconservativa, um dos dois filamentos deve ser radioativo. Direita: interpretação da autorradiografia. A hélice amarela representa o filamento tritiado. B. Esquerda: autorradiografia de um cromossomo bacteriano na segunda rodada da replicação em timidina tritiada (3H). Nesta molécula, a dupla- hélice recentemente replicada que cruza o círculo pode ser composta por dois filamentos radioativos (se o filamento parental for o filamento radioativo). Direita: a espessura dupla do traçado radioativo no autorradiograma aparenta confirmar a interpretação demonstrada aqui. DNA polimerases Um problema confrontado pelos cientistas era compreender justamente como as bases são trazidas até o molde da dupla-hélice. Embora os cientistas suspeitassem que enzimas desempenhassem um papel, essa possibilidade não foi comprovada até 1959, quando Arthur Kornberg isolou a DNA polimerase de E. coli e demonstrou sua atividade enzimática in vitro. Essa enzima adiciona desoxirribonucleotídios na extremidade 3′ de uma cadeia de nucleotídios em 1. 2. 3. crescimento, utilizando como molde um filamento único de DNA que foi exposto pela deselicoidização localizada da dupla-hélice (Figura 7.15). Os substratos para a DNA polimerase são as formas trifosfato dos desoxirribonucleotídios, dATP, dGTP, dCTP e dTTP. A adição de cada base ao polímero em crescimento é acompanhada pela remoção de dois dos três fosfatos na forma de pirofosfato (PPi). A energia produzida pela clivagem dessa ligação de alta energia e a subsequente hidrólise do pirofosfato em duas moléculas de fosfato inorgânico auxiliam no direcionamento do processo endergônico de construção de um polímero de DNA. Atualmente sabe-se que existem cinco DNA polimerases na E. coli. A primeira enzima que Kornberg purificou atualmente é denominada DNA polimerase I, ou pol I. Essa enzima apresenta três atividades, que aparentam estar localizadas em diferentes partes da molécula: Uma atividade de polimerase, que catalisa o crescimento da cadeia no sentido 5′ para 3′. Uma atividade de exonuclease 3′ para 5′, que remove bases incorretamente pareadas. Uma atividade de exonuclease 5′ para 3′, que degrada filamentos únicos de DNA ou RNA. Retornaremos à significância das duas atividades de exonuclease posteriormente neste capítulo. Embora a pol I atue na replicação do DNA (ver próxima seção), alguns cientistas suspeitavam de que ela não fosse responsável pela maior parte da síntese do DNA, tendo em vista que ela era muito lenta (aproximadamente 20 nucleotídios/s) e muito abundante (aproximadamente 400 moléculas/célula), além de se dissociar do DNA após a incorporação de apenas 20 a 50 nucleotídios. Em 1969, John Cairns e Paula DeLucia resolveram essa questão quando demonstraram que uma linhagem de E. coli com uma mutação no gene que codifica a DNA pol I ainda era capaz de crescer normalmente e replicar o seu DNA. Eles concluíram que outra DNA polimerase, atualmente denominada pol III, 7.4 catalisa a síntese de DNA na forquilha de replicação. FIGURA 7.15 A DNA polimerase catalisa a reação de alongamento da cadeia. A energia para a reação advém da quebra da ligação fosfato de alta energia do substrato trifosfato. Visão geral da replicação do DNA Na medida em que a DNA pol III avança, a dupla-hélice é continuamente desenrolada à frente da enzima para expor comprimentos adicionais de filamentos de DNA simples que atuarão como moldes (Figura 7.16). A DNA pol III atua como a forquilha de replicação, a zona na qual a dupla-hélice está desenrolando. Entretanto, tendo em vista que a DNA polimerase sempre adiciona nucleotídios na extremidade 3′ em crescimento, apenas um dos dois filamentos antiparalelos pode atuar como molde para a replicação na direção da forquilha de replicação. Em relação a esse filamento, a síntese pode ocorrer de modo contínuo e suave na direção da forquilha; o novo filamento no sentido líder, é denominadofilamento contínuo (no sentido líder, leading). A síntese do outro filamento também ocorre na extremidade em crescimento 3′, mas essa síntese ocorre no sentido “errado”, tendo em vista que, em relação a esse filamento, o sentido 5′ para 3′ da síntese está longe da forquilha de replicação (ver Figura 7.16). Conforme veremos, a natureza do maquinário de replicação requer que a síntese de ambos os filamentos ocorra na região da forquilha de replicação. Portanto, a síntese que se afasta da forquilha de crescimento não pode prosseguir por muito tempo. Ela tem de ocorrer em segmentos curtos: a polimerase sintetiza um segmento, em seguida se movimenta de volta para a extremidade 5′ do segmento, onde a forquilha em crescimento expôs o novo molde e inicia o processo novamente. Esses trechos curtos (1.000 a 2.000 nucleotídios) de DNA recém-sintetizado são denominados fragmentos de Okazaki. FIGURA 7.16 A forquilha de replicação se movimenta na síntese de DNA na medida em que a dupla-hélice é continuamente desenrolada. A síntese do filamento contínuo (leading) pode prosseguir suavemente sem interrupções na direção do movimento da forquilha de replicação, mas a síntese do filamento descontínuo (lagging) deve prosseguir na direção oposta, para longe da forquilha de replicação. Outro problema na replicação do DNA surge em virtude de a DNA polimerase conseguir estender uma cadeia, mas não iniciar uma cadeia. Portanto, a síntese do filamento contínuo e de cada fragmento de Okazaki tem de ser iniciada por um primer, ou uma cadeia curta de nucleotídios, que se liga ao filamento-molde para formar um segmento de ácido nucleico dúplex. O primer na replicação do DNA pode ser observado na Figura 7.17. Os primers são sintetizados por um conjunto de proteínas denominado primossomo, do qual um componente central é uma enzima denominada primase, um tipo de RNA polimerase. A primase sintetiza um trecho curto (aproximadamente 8 a 12 nucleotídios) de RNA complementar a uma região específica do cromossomo. No filamento contínuo, é necessário apenas um primer inicial, tendo em vista que, após a ação do primer inicial, o filamento de DNA em crescimento atua como primer para a adição contínua. Entretanto, no filamento descontínuo, cada fragmento de Okazaki necessita de seu próprio primer. A cadeia de RNA que compõe o primer em seguida é estendida como uma cadeia de DNA pela DNA pol III. Uma DNA polimerase diferente, pol I, remove os primers de RNA com sua atividade de exonuclease 5′ para 3′ e preenche as lacunas com sua atividade de polimerase 3′ para 5′. Conforme mencionado anteriormente, a pol I é a enzima originalmente purificada por Kornberg. Outra enzima, a DNA ligase, une a extremidade 3′ do DNA que preencheu a lacuna à extremidade 5′ do fragmento de Okazaki dowstream. O novo filamento assim formado é denominado filamento descontínuo (lagging). A DNA ligase une os fragmentos do DNA ao catalisar a formação de uma ligação fosfodiéster entre a extremidade 5′-fosfato de um fragmento e o grupo 3′-OH adjacente de outro fragmento. Um marco da replicação do DNA é a sua precisão, também denominada fidelidade: em geral, é inserido menos de um erro por 1010 nucleotídios. Parte do motivo da precisão da replicação do DNA é que ambas a DNA pol I e a DNA pol III possuem atividade de exonuclease 3′ para 5′, que atua como uma função de “revisão” por meio da excisão de bases incorretamente inseridas. Em virtude da importância da revisão, veremos mais de perto como ela atua. Um par de bases incorretamente pareado ocorre quando a atividade da polimerase 5′ para 3′ insere, por exemplo, uma A em vez de uma G para parear com uma C. A adição de uma base incorreta com frequência ocorre em virtude de um processo denominado tautomerização. Cada uma das bases no DNA pode se apresentar em uma de diversas formas, denominadas tautômeros, que são isômeros que diferem nas posições de seus átomos e nas ligações entre os átomos. As formas estão em equilíbrio. A forma ceto de cada base normalmente está presente no DNA, mas em casos raros, uma base pode ser alterada para a forma imino ou enol. As formas imino e enol podem parear com a base errada, formando um par errôneo (Figura 7.18). Quando uma C é alterada para a sua forma rara imino, a polimerase adiciona uma A em vez de uma G (Figura 7.19). Felizmente, tal erro normalmente é detectado e removido pela atividade de exonuclease 3′ para 5′. Após a remoção da base incorreta, a polimerase tem outra chance de adicionar a base G complementar correta. Conforme seria esperado, linhagens mutantes sem uma exonuclease 3′ para 5′ funcional apresentam uma taxa mais alta de mutação. Além disso, tendo em vista que a primase não apresenta uma função de revisão, o primer de RNA apresenta maior probabilidade de conter erros do que o DNA. A necessidade de manter a alta fidelidade da replicação é um motivo pelo qual os primers de RNA nas extremidades dos fragmentos de Okazaki precisam ser removidos e substituídos por DNA. Apenas após a remoção do primer de RNA a DNA pol I catalisa a síntese do DNA para substituir o primer. O assunto do reparo do DNA será comentado em detalhes no Capítulo 16. FIGURA 7.17 Etapas na síntese do filamento descontínuo (lagging). A síntese de DNA prossegue por meio da síntese contínua no filamento leading e da síntese descontínua no filamento lagging. FIGURA 7.18 Pareamento de bases normal, em comparação com o de bases incorretamente pareadas. A. Pareamento entre as formas normais (ceto) das bases. B. Formas tautoméricas raras de bases resultam em pareamentos incorretos. CONCEITO-CHAVE A replicação do DNA ocorre na forquilha de replicação, onde a dupla-hélice está desenrolando e os dois filamentos estão se separando. A replicação do DNA prossegue continuamente na direção da forquilha de replicação em deselicoidização no filamento contínuo. O DNA é sintetizado em segmentos curtos, na direção para longe da forquilha de replicação, no filamento descontínuo. A DNA polimerase necessita que um primer, ou uma cadeia curta de nucleotídios, já esteja posicionado para iniciar a síntese. 7.5 FIGURA 7.19 A DNA polimerase remove o pareamento incorreto A-C com a utilização da sua atividade de exonuclease 3′ para 5′. Replissomo | Uma máquina de replicação notável Outro marco da replicação do DNA é a velocidade. O tempo necessário para que a E. coli replique o seu cromossomo é tão breve quanto 40 min. Portanto, seu genoma de aproximadamente 5 milhões de pares de bases deve ser copiado a uma velocidade de aproximadamente 2.000 nucleotídios por segundo. A partir do experimento de Cairns, sabemos que a E. coli utiliza apenas duas forquilhas de replicação para copiar o seu genoma inteiro. Portanto, cada forquilha tem de ser capaz de se movimentar a uma velocidade de até 1.000 nucleotídios por segundo. O que é notável a respeito de todo o processo de replicação do DNA é que ele não sacrifica a velocidade pela precisão. Como ele consegue manter ambas, a velocidade e a precisão, tendo em vista a complexidade das reações na forquilha de replicação? A resposta é que a DNA polimerase é parte de um grande complexo “nucleoproteico” que coordena as atividades na forquilha de replicação. Esse complexo, denominado replissomo, é um exemplo de uma “máquina molecular”. Você encontrará outros exemplos nos capítulos posteriores. A descoberta de que as principais funções da célula — replicação, transcrição e tradução, por exemplo — são realizadas por grandes complexos de multissubunidades alterou o modo como pensamos a respeito das células. Para começar a compreender o motivo, vejamos o replissomo mais de perto. Alguns dos componentes do replissomo na E. coli em interação estão demonstrados na Figura 7.20. Na forquilha de replicação, o centro catalítico da DNA pol III for parte de um complexo muito maior, denominado holoenzima pol III, que é composto por dois centros catalíticos e muitas proteínas acessórias. Um dos centros catalíticos lida com a síntese do filamento contínuo, enquanto o outro lida com a síntesedo filamento descontínuo. Algumas das proteínas acessórias (não visíveis na Figura 7.20) formam uma conexão entre os dois centros catalíticos, coordenando, assim, a síntese dos filamentos contínuo e descontínuo. O filamento descontínuo está demonstrado fazendo uma alça, de modo que o replissomo consegue coordenar a síntese de ambos os filamentos e se movimentar para a forquilha de replicação. Uma proteína acessória importante, denominada grampo β, circunda o DNA como uma rosquinha e mantém a pol III ligada à molécula de DNA. Portanto, a pol III é transformada de uma enzima que pode adicionar apenas 10 nucleotídios antes de sair do molde (denominada enzima distributiva) em uma enzima que permanece na forquilha em movimento e que adiciona dezenas de milhares de nucleotídios (uma enzima processiva). Resumidamente, por meio da ação de proteínas acessórias, a síntese de ambos os filamentos contínuo e descontínuo é rápida e altamente coordenada. FIGURA 7.20 O replissomo e as proteínas acessórias realizam uma diversidade de etapas na forquilha de replicação. A topoisomerase e a helicase desenrolam e abrem a dupla-hélice na preparação para a replicação do DNA. Quando a dupla-hélice foi desenrolada, proteínas de ligação a filamento simples evitam que a dupla- hélice se forme novamente. A ilustração é uma representação do assim denominado modelo em trombone (denominado em virtude da sua semelhança com um trombone em virtude da alça do filamento descontínuo), demonstrando como se imagina que os dois centros catalíticos do replissomo interajam para coordenar os diversos eventos de replicação dos filamentos contínuo e descontínuo. Observe que a primase, a enzima que sintetiza o primer de RNA, não está tocando na proteína grampo. Portanto, a primase atua como uma enzima distributiva — ela adiciona apenas alguns ribonucleotídios antes de se dissociar do molde. Esse modo de ação faz sentido, tendo em vista que o primer precisa ser apenas longo o suficiente para formar um ponto inicial dúplex adequado para a DNA pol III. Deselicoidização da dupla-hélice Quando a dupla-hélice foi proposta em 1953, uma objeção importante era que a replicação de uma referida estrutura exigiria a deselicoidização da dupla-hélice na forquilha de replicação e a quebra das ligações de hidrogênio que mantêm os filamentos unidos. Como o DNA poderia ser desenrolado tão rapidamente e, ainda que pudesse, como não helicoidizar excessivamente o DNA atrás da forquilha e o tornar extremamente emaranhado? Atualmente sabemos que o replissomo contém duas classes de proteínas que abrem a hélice e evitam a helicoidização excessiva: elas são as helicases e as topoisomerases, respectivamente. As helicases são enzimas que rompem as ligações de hidrogênio que mantêm os dois filamentos da dupla-hélice juntos. Assim como a proteína grampo, a helicase se adéqua como uma rosquinha ao redor do DNA; a partir dessa posição, ela rapidamente desenrola a dupla-hélice à frente da síntese do DNA. O DNA desenrolado é estabilizado por meio de proteínas de ligação a filamento simples (SSB, do inglês, single-strand-binding), que se ligam ao DNA unifilamentar e evitam a reestruturação do dúplex. O DNA circular pode ser torcido e espiralado, de modo muito semelhante às espirais extras que podem ser introduzidas em um elástico torcido. O desenrolar da forquilha de replicação pelas helicases causa torção extra em outras regiões e são formadas superespirais para liberar a tensão da torção extra. Tanto as torções quanto as superespirais têm de ser removidas para possibilitar que a replicação continue. Essa super-helicoidização pode ser criada ou relaxada por enzimas denominadas topoisomerases, das quais um exemplo é a DNA girase (Figura 7.21). As topoisomerases relaxam o DNA super-helicoidizado por meio da quebra de um único filamento de DNA ou de ambos os filamentos, o que possibilita que o DNA gire tornando-se uma molécula relaxada. As topoisomerases encerram reunindo os filamentos da molécula de DNA agora relaxada. CONCEITO-CHAVE Uma máquina molecular denominada replissomo realiza a síntese do DNA. Ela inclui duas unidades de DNA polimerase para lidar com a síntese em cada filamento e coordena a atividade das proteínas acessórias necessárias para o priming, a deselicoidização da dupla-hélice e a estabilização dos filamentos separados. FIGURA 7.21 A DNA girase, uma topoisomerase, remove torções extras durante a replicação. A. Regiões extratorcidas (positivamente super-helicoidizadas) se acumulam à frente da forquilha na medida em que os filamentos parentais se separam para a replicação. B. Uma topoisomerase, tal como a DNA girase, remove estas regiões por meio de corte nos filamentos de DNA, possibilitando que eles girem, e, em seguida, reúne os filamentos. Montagem do replissomo | Início da replicação A montagem do replissomo é um processo ordenado que tem início em locais precisos no cromossomo (denominados origens) e que ocorre apenas em determinadas ocasiões na vida da célula. A replicação da E. coli tem início a partir de uma origem fixa (um locus denominado oriC) e em seguida prossegue em ambas as direções (com forquilhas movendo-se em ambas as extremidades, conforme demonstrado na Figura 7.14), até que as forquilhas se fundam. A Figura 7.22 demonstra o processo de montagem do replissomo. A primeira etapa é a ligação de uma proteína denominada DnaA a uma sequência de 13 pares de bases (pb) específica (denominada “DnaA box”), que é repetida cinco vezes em oriC. Em resposta à ligação da DnaA, a origem é deselicoidizada em um grupo de nucleotídios A e T. Relembre que os pares de bases AT são mantidos juntos por apenas duas ligações de hidrogênio, enquanto os pares de bases GC são mantidos juntos por três. Portanto, é mais fácil separar (dissociar) a dupla-hélice em trechos de DNA que são enriquecidos com bases A e T. 7.6 FIGURA 7.22 A síntese de DNA é iniciada nas origens de replicação em procariotos. As proteínas se ligam à origem (oriC), onde separam os dois filamentos da dupla-hélice e recrutam componentes do replissomo para as duas forquilhas de replicação. Após o início da deselicoidização, proteínas DnaA adicionais se ligam às regiões de filamentos simples recém-deselicoidizadas. Com a DnaA revestindo a origem, duas helicases (proteína DnaB) agora se ligam e deslizam de 5′ para 3′ a fim de iniciar a abertura da hélice na forquilha de replicação. A primase e a holoenzima DNA pol III são recrutadas para a forquilha de replicação por meio de interações proteína-proteína e a síntese do DNA tem início. Você pode estar pensando o motivo de a DnaA não estar presente na Figura 7.20, que demonstra o replissomo. A resposta é que, embora ela seja necessária para a montagem do replissomo, ela não é parte da máquina de replicação. Em vez disso, sua função é posicionar o replissomo no local correto no cromossomo circular para a iniciação da replicação. Replicação em organismos eucariotos A replicação do DNA em procariotos e eucariotos utiliza um mecanismo semiconservativo e emprega a síntese de filamentos contínuo e descontínuo. Por esse motivo, não deve ser uma surpresa que os componentes do replissomo procariótico e aqueles do replissomo eucariótico sejam bastante semelhantes. Entretanto, na medida em que os organismos aumentam em complexidade, o número de componentes do replissomo também aumenta. Origens da replicação eucariótica Bactérias tais como E. coli normalmente completam um ciclo de replicação e divisão em 20 a 40 minutos, mas, em eucariotos, o ciclo pode variar de 1,4 hora em leveduras a 24 horas em células animais cultivadas e pode durar de 100 a 200 horas em algumas células. Os eucariotos têm de resolver o problema da coordenação da replicação de mais de um cromossomo. Para compreender as origens da replicação eucariótica, primeiramente voltaremos a nossa atenção para a levedura, um eucarioto simples. Muitas proteínas eucarióticas que atuam nas origens de replicação foram identificadas pela primeira vez em leveduras, em virtudeda facilidade da análise genética em pesquisas com leveduras (ver Organismo-modelo, Levedura, no Capítulo 12). As origens de replicação em leveduras são muito semelhantes à oriC em E. coli. As origens de 100 a 200 pb apresentam uma sequência de DNA conservada que inclui uma região rica em AT que se dissocia quando uma proteína iniciadora se liga aos sítios de ligação adjacentes. Contrariamente aos cromossomos procarióticos, cada cromossomo eucariótico apresenta muitas origens de replicação para replicar rapidamente os genomas eucarióticos muito maiores. Aproximadamente 400 origens de replicação estão dispersas pelos 16 cromossomos de levedura e estima-se que existam milhares de forquilhas de replicação nos 23 cromossomos dos seres humanos. Portanto, em eucariotos, a replicação prossegue em ambos os sentidos a partir de múltiplos pontos de origem (Figura 7.23). As duplas-hélices que estão sendo produzidas em cada origem da replicação alongam e finalmente se unem umas às outras. Quando a replicação dos dois filamentos está completa, resultam duas moléculas-filhas de DNA idênticas. CONCEITO-CHAVE Onde e quando ocorre a replicação são cuidadosamente controlados pela montagem ordenada do replissomo em um local preciso, denominado origem. A replicação prossegue em ambos os sentidos a partir de uma única origem no cromossomo procariótico circular. A replicação prossegue em ambos os sentidos a partir de centenas de milhares de origens em cada um dos cromossomos eucarióticos lineares. FIGURA 7.23 A replicação do DNA prossegue em ambos os sentidos a partir de uma origem de replicação. As setas pretas indicam o sentido do crescimento das moléculas-filhas de DNA. A. Começando na origem, as DNA polimerases se movimentam para o exterior em ambos os sentidos. As setas amarelas longas representam os filamentos contínuos e as setas amarelas curtas unidas representam os filamentos descontínuos. B. Como a replicação prossegue no nível cromossômico. Três origens de replicação estão demonstradas neste exemplo. Replicação do DNA e ciclo celular de levedura A síntese do DNA ocorre na fase S (síntese) do ciclo celular eucariótico (Figura 7.24). Como o início da síntese do DNA está limitado a esse estágio único? Em leveduras, o método de controle é ligar a montagem do replissomo ao ciclo celular. A Figura 7.25 demonstra o processo. Em leveduras, são necessárias três proteínas para iniciar a montagem do replissomo. O complexo de reconhecimento da origem (ORC) se liga primeiramente às sequências nas origens de leveduras, de modo muito semelhante como a proteína DnaA o faz em E. coli. A presença de ORC na origem atua para recrutar duas outras proteínas, Cdc6 e Cdt1. Ambas as proteínas mais o ORC em seguida recrutam a helicase, denominada complexo MCM, e os outros componentes do replissomo. A replicação está ligada ao ciclo celular por meio da disponibilidade de Cdc6 e Cdt1. Em leveduras, essas proteínas são sintetizadas durante o final da mitose e o intervalo 1 (G1) e são destruídas por proteólise após o início da síntese. Desse modo, o replissomo pode ser montado apenas antes da fase S. Quando a replicação tem início, não pode haver formação de novos replissomos nas origens, tendo em vista que Cdc6 e Cdt1 são degradadas durante a fase S e deixam de estar disponíveis. FIGURA 7.24 O DNA é replicado durante a fase S do ciclo celular. FIGURA 7.25 Este exemplo de levedura demonstra a iniciação da síntese de DNA em uma origem de replicação em um eucarioto. Assim como na iniciação da replicação procariótica (ver Figura 7.20), as proteínas do complexo de reconhecimento da origem (ORC) se ligam à origem, onde separam os dois filamentos da dupla-hélice e recrutam os componentes do replissomo nas duas forquilhas de replicação. A replicação está ligada ao ciclo celular por meio da disponibilidade de duas proteínas: Cdc6 e Cdt1. Origens de replicação em eucariotos superiores Conforme já declarado, a maior parte das aproximadamente 400 origens de replicação em leveduras é composta por sequências de DNA motifs semelhantes (100 a 200 pb de comprimento), que são reconhecidas pelas subunidades de ORC. Curiosamente, embora todos os eucariotos caracterizados apresentem proteínas ORC semelhantes, as origens de replicação em eucariotos superiores são muito mais longas, possivelmente de até dezenas de milhares ou centenas de milhares de nucleotídios. Significativamente, os eucariotos apresentam semelhança limitada de sequências. Portanto, embora o ORC de levedura reconheça se-quências de DNA específicas em cromossomos de levedura, o que os ORC correlatos de eucariotos superiores reconhecem não está claro nesse momento, mas a característica reconhecida provavelmente não é uma sequência de DNA específica. O que essa incerteza significa em termos práticos é que é muito mais difícil isolar origens de replicação de seres humanos e outros eucariotos superiores, tendo em vista que os cientistas não conseguem utilizar uma sequência de DNA isolada de uma origem humana, por exemplo, para realizar uma pesquisa computadorizada de toda a sequência do genoma humano para encontrar outras origens. Se os ORC de eucariotos superiores são interagem com uma sequência específica dispersa pelos cromossomos, então como eles encontram as origens de replicação? Acredita-se que esses ORC interajam indiretamente com as origens por meio da associação com outros complexos proteicos que estão ligados aos cromossomos. Um referido mecanismo de reconhecimento pode ter evoluído de modo que os eucariotos superiores possam regular o momento da replicação do DNA durante a fase S (ver Capítulo 12 para mais a respeito da eucromatina e da heterocromatina). Há algum tempo sabe-se que as regiões cromossômicas ricas 7.7 em genes (a eucromatina) são replicadas inicialmente na fase S, enquanto as regiões pobres em genes, incluindo a heterocromatina condensada, são replicadas tardiamente na fase S. A replicação do DNA não poderia ser programada por região se os ORC estivessem ligados às sequências relacionadas dispersas pelos cromossomos. Em vez disso, os ORC, por exemplo, apresentam uma afinidade maior por origens na cromatina aberta e se ligar a essas origens primeiro e posteriormente se ligar à cromatina condensada apenas após as regiões ricas em genes terem sido replicadas. CONCEITO-CHAVE A origem da replicação de levedura, assim como a origem em procariotos, contém uma sequência de DNA conservada que é reconhecida pelo ORC e outras proteínas necessárias para montar o replissomo. Em contrapartida, as origens de eucariotos superiores têm sido difíceis de isolar e estudar, tendo em vista que são longas e complexas e não contêm uma sequência de DNA conservada. Telômeros e telomerase | Término da replicação A replicação da molécula de DNA linear em um cromossomo eucariótico prossegue em ambos os sentidos a partir de diversas origens de replicação, conforme demonstrado na Figura 7.23. Esse processo replica a maior parte do DNA cromossômico, mas existe um problema inerente na replicação das duas extremidades das moléculas de DNA lineares, as regiões denominadas telômeros. A síntese contínua no filamento leading pode prosseguir até a ponta do molde. Entretanto, a síntese do filamento descontínuo necessita de primers à frente do processo; assim, quando o último primer é removido, faltam sequências no final daquele filamento. Consequentemente, uma ponta unifilamentar permanece em uma das moléculas-filhas de DNA (Figura 7.26). Se o cromossomo-filho com essa molécula de DNA fosse replicado novamente, o filamento com sequências ausentes na extremidade se tornaria uma molécula bifilamentar encurtada após a replicação. A cada ciclo de replicação subsequente, o telômero continuaria a encurtar, até que finalmente seriam perdidas informações codificantes essenciais. FIGURA 7.26 (Parte superior) A replicação de cada fragmento de Okazaki no filamento descontínuo tem início com a inserção de um primer. (Parte inferior) O destino do filamento inferior na bolha de transcrição. Quandoo primer do último fragmento de Okazaki do filamento descontínuo é removido, não há como preencher a lacuna por meio da replicação convencional. Resultaria um cromossomo encurtado quando o cromossomo que contém a lacuna fosse replicado. As células desenvolveram um sistema especializado para evitar essa perda. A solução envolve a adição de múltiplas cópias de uma sequência não codificadora simples ao DNA nas pontas do cromossomo. Portanto, cada vez que um cromossomo é duplicado, ele fica mais curto e apenas essas sequências repetidas, que não contêm informações, são perdidas. As repetições perdidas são, em seguida, adicionadas novamente às extremidades do cromossomo. A descoberta de que as extremidades dos cromossomos são compostas por sequências repetidas em tandem foi feita em 1978 por Elizabeth Blackburn e Joe Gall, que estavam estudando o DNA no macronúcleo incomum do ciliado unicelular Tetrahymena. Assim como outros ciliados, o Tetrahymena apresenta um micronúcleo convencional e um macronúcleo incomum, no qual os cromossomos são fragmentados em milhares de pedaços do tamanho de um gene com novas extremidades adicionadas a cada pedaço. Com tantas extremidades cromossômicas, Tetrahymena apresenta aproximadamente 40.000 telômeros e, como tal, era a escolha perfeita para determinar a composição do telômero. Blackburn e Gall foram capazes de isolar os fragmentos que continham os genes para RNA ribossômico (fragmentos denominados rDNA; ver Capítulo 9 para mais sobre os ribossomos) por meio da utilização da centrifugação em gradiente de CsCl, a técnica desenvolvida por Meselson e Stahl para isolar DNA de E. coli recém-replicado (ver anteriormente). As extremidades dos fragmentos de rDNA continham arranjos em tandem da sequência TTGGGG. Atualmente sabemos que virtualmente todos os eucariotos apresentam repetições curtas em tandem nas extremidades de seus cromossomos; entretanto, a sequência não é exatamente a mesma. Os cromossomos humanos, por exemplo, terminam em aproximadamente 10 a 15 kb de repetições em tandem da sequência TTAGGG. A questão sobre como essas repetições de fato são adicionadas às extremidades dos cromossomos após cada rodada de replicação foi abordada por Elizabeth Blackburn e Carol Grieder. Elas formularam a hipótese de que uma enzima catalisava o processo. Novamente trabalhando com extratos do macronúcleo de Tetrahymena, elas identificaram uma enzima, que denominaram telomerase, que adiciona repetições curtas às extremidades 3′ das moléculas de DNA. Curiosamente, a proteína telomerase carrega uma pequena molécula de RNA, parte da qual atua como um molde para a síntese da unidade de repetição telomérica. Em todos os vertebrados, incluindo seres humanos, a sequência de RNA 3′-AAUCCC-5′ atua como o molde para a unidade de repetição 5′- TTAGGG-3′ por meio de um mecanismo demonstrado na Figura 7.27. Brevemente, a RNA telomerase primeiro se liga ao prolongamento 3′ do DNA, que em seguida é estendido com a utilização dos dois componentes da telomerase: o pequeno RNA (como molde) e a proteína (como atividade de polimerase). Após a adição de alguns nucleotídios ao prolongamento 3′, a RNA telomerase se movimenta ao longo do DNA, de modo que a extremidade 3′ possa ser adicionalmente estendida por meio da sua atividade de polimerase. A extremidade 3′ continua a ser estendida pela movimentação repetida da RNA telomerase. A primase e a DNA polimerase em seguida utilizam o prolongamento 3′ muito longo como molde para preencher a extremidade do outro filamento de DNA. Trabalhando com Elizabeth Blackburn, um terceiro pesquisador, Jack Szostak, prosseguiu até demonstrar que também existem telômeros na levedura. Pela contribuição para a descoberta de como os telômeros protegem os cromossomos do encurtamento, Blackburn, Grieder e Szostak receberam o Prêmio Nobel em Medicina ou Fisiologia de 2009. FIGURA 7.27 A telomerase carreia uma molécula de RNA curta (letras vermelhas), que atua como um molde para a adição de uma sequência de DNA complementar, que é adicionada ao prolongamento 3′ (letras azuis). Para adicionar outra repetição, a telomerase transloca-se para a extremidade da repetição que acabou de adicionar. O prolongamento 3′ estendido em seguida pode atuar como um molde para a replicação do DNA convencional. Uma característica notável dessa reação é que o RNA serve como o molde para a síntese de DNA. Conforme você verificou no Capítulo 1 (e revisará no Capítulo 8), o DNA normalmente atua como molde para a síntese de RNA no processo denominado transcrição. É por esse motivo que se diz que a polimerase da telomerase apresenta atividade de transcriptase reversa. Revisaremos a transcriptase reversa nos Capítulos 10 e 15. Além de prevenir a erosão do material genético após cada rodada de replicação, os telômeros preservam a integridade cromossômica por meio da associação com proteínas para formar capuzes protetores. Esses capuzes isolam o prolongamento unifilamentar 3′, que pode ter até 100 nucleotídios de comprimento (Figura 7.28). Sem esse capuz, as extremidades bifilamentares dos cromossomos seriam confundidas pela célula com quebras bifilamentares e seriam tratadas de acordo. Conforme você verá posteriormente, no Capítulo 16, quebras bifilamentares são possivelmente muito perigosas, tendo em vista que podem resultar em instabilidade cromossômica que pode levar ao câncer e a uma diversidade de fenótipos associados ao envelhecimento. Por esse motivo, quando uma quebra bifilamentar é detectada, a célula responde de vários modos, dependendo, em parte, do tipo celular e da extensão da lesão. Por exemplo, a quebra bifilamentar pode fundir-se com outra quebra ou a célula pode limitar o dano para o organismo interrompendo a divisão celular (denominada senescência) ou iniciando uma via de morte celular (denominada apoptose). CONCEITO-CHAVE Os telômeros são estruturas especializadas nas extremidades dos cromossomos que contêm repetições em tandem de uma sequência curta de DNA, que é adicionada à extremidade 3’ pela enzima telomerase. Os telômeros estabilizam os cromossomos ao prevenir a perda de informação genômica após cada rodada de replicação do DNA e por meio da associação com proteínas para formar um capuz que “esconde” as extremidades dos cromossomos do maquinário de reparo do DNA da célula. Surpreendentemente, embora a maior parte das células germinativas apresente telomerase em abundância, as células somáticas produzem muito pouca ou nenhuma telomerase. Por esse motivo, os cromossomos de células somáticas proliferativas se tornam progressivamente mais curtos a cada divisão celular, até que a célula interrompe todas as divisões e entra em uma fase de senescência. Essa observação levou muitos investigadores a suspeitarem que havia uma ligação entre o encurtamento dos telômeros e o envelhecimento. Geneticistas que estudam doenças humanas que levam ao fenótipo de envelhecimento precoce recentemente revelaram evidências que amparam essa conexão. Pessoas com síndrome de Werner apresentam manifestação precoce de muitos eventos relacionados com a idade, incluindo enrugamento da pele, catarata, osteoporose, branqueamento dos cabelos e doença cardiovascular (Figura 7.29). Estudos genéticos e bioquímicos observaram que pessoas afetadas apresentam telômeros mais curtos do que aqueles de pessoas normais em virtude de uma mutação em um gene denominado WRN, que codifica uma proteína (uma helicase) que está associada a proteínas que formam a estrutura de revestimento do telômero (TRF2, ver Figura 7.28). Formula-se a hipótese de que essa mutação rompe o telômero normal, resultando em instabilidade cromossômica e no fenótipo de envelhecimento precoce. Pacientes com outra síndrome de envelhecimento precoce denominada disqueratose congênita também apresentam telômeros mais curtos do que aqueles de pessoas saudáveis da mesma idade e também apresentam mutações em genes necessários para a atividade da telomerase. FIGURA 7.28 Um “capuz” protege o telômero na extremidade de um cromossomo. O prolongamento3′ é “escondido” quando desloca um filamento de DNA em uma região na qual as repetições teloméricas são bifilamentares. As proteínas TRF1 e TRF2 se ligam às repetições teloméricas e outras proteínas, incluindo WRN, ligam-se a TRF1 e TRF2, formando, assim, o capuz protetor do telômero. Os geneticistas também estão muito interessados em conexões entre telômeros e câncer. Contrariamente às células somáticas normais, a maior parte das células cancerosas apresenta atividade de telomerase. A capacidade de manter telômeros funcionais pode ser um motivo pelo qual as células cancerosas, mas não as células normais, conseguem crescer em culturas celulares durante décadas e são consideradas imortais. Como tal, muitas empresas farmacêuticas estão buscando capitalizar essa diferença entre as células cancerosas e normais com o desenvolvimento de fármacos que têm por alvo seletivo as células cancerosas por meio da inibição da atividade da telomerase. FIGURA 7.29 Uma mulher com síndrome de Werner aos 15 e aos 48 anos de idade. (International Registry of Werner Syndrome, www.wernersyndrome.org.) RESUMO Trabalhos experimentais sobre a natureza molecular do material hereditário demonstraram conclusivamente que o DNA (e não proteínas, lipídios ou carboidratos) é de fato o material genético. Com a utilização de dados obtidos por outros pesquisadores, Watson e Crick deduziram um modelo de dupla-hélice com dois filamentos de DNA, enrolados um ao redor do outro, de modo antiparalelo. A ligação dos dois filamentos tem por base o pareamento da adenina (A) com a timina (T) e da guanina (G) com a citosina (C). O primeiro par é unido por duas ligações de hidrogênio; o segundo, por três. O modelo de Watson-Crick demonstra como o DNA pode ser replicado de modo ordenado — requisito indispensável para o material genético. A replicação é realizada de modo semiconservativo tanto em procariotos quanto em eucariotos. Uma dupla-hélice é replicada para formar duas hélices idênticas, cada uma com seus nucleotídios na ordem linear idêntica; cada uma das duas novas duplas- hélices é composta por um filamento antigo e um filamento recém-polimerizado de DNA. A dupla-hélice de DNA é desenrolada em uma forquilha de replicação e os dois filamentos únicos assim produzidos atuam como moldes para a polimerização de nucleotídios livres. Os nucleotídios são polimerizados pela enzima DNA polimerase, que adiciona novos nucleotídios apenas à extremidade 3′ de uma cadeia de DNA em crescimento. Tendo em vista que a adição é apenas nas extremidades 3′, a polimerização em um molde é contínua, produzindo o filamento contínuo (leading) e, no outro, é descontínua em trechos curtos (fragmentos de Okazaki), produzindo o filamento descontínuo (lagging). A síntese do filamento contínuo e de cada fragmento de Okazaki é iniciada por um primer de RNA curto (sintetizado pela primase) que fornece uma extremidade 3′ para a adição de desoxirribonucleotídios. Os eventos múltiplos que têm de ocorrer com precisão e rapidez na forquilha de replicação são realizados por uma máquina biológica denominada replissomo. Esse complexo proteico inclui duas unidades de DNA polimerase, uma para atuar no filamento contínuo e uma para atuar no filamento descontínuo. Desse modo, a síntese é mais demorada e a união dos fragmentos de Okazaki em um filamento contínuo pode ser temporalmente coordenada com a síntese menos complicada do filamento contínuo. Onde e quando a replicação ocorre é cuidadosamente controlado pela montagem ordenada do replissomo em determinados locais nos cromossomos, denominados origens. Os genomas eucarióticos podem apresentar dezenas de milhares de origens. A montagem dos replissomos nessas origens ocorre apenas em uma fase específica no ciclo celular. As extremidades dos cromossomos lineares (telômeros) apresentam um problema para o sistema de replicação, tendo em vista que sempre há um trecho curto em um filamento que não pode ser iniciado. A enzima telomerase adiciona várias sequências curtas e repetitivas para manter o comprimento. A telomerase carrega um RNA curto que atua como o molde para a síntese das repetições teloméricas. Essas repetições teloméricas não codificadoras associam-se a proteínas para formar um revestimento telomérico. Os telômeros encurtam com a idade nas células somáticas, tendo em vista que a telomerase não é produzida naquelas células. Indivíduos que apresentam telômeros defeituosos sofrem envelhecimento precoce. TERMOS-CHAVE antiparalela base base complementar ceto código genético desoxirribose DNA ligase dupla-hélice enol enzima distributiva enzima processiva filamento contínuo (líder, leading) filamento descontínuo (lento, lagging) forquilha de replicação fosfato fragmento de Okazaki helicase holoenzima polimerase III (pol III) imino modelo ou molde molécula-filha nucleotídio origem pirimidina primase primer primossomo