Prévia do material em texto
Vírus Microbiologia Profa. Fernanda Dias Universidade Federal do ABC Mayer, Ivanofsky e Beijerinck, cada qual contribuiu para o desenvolvimento de um novo conceito: um agente filtrável demasiado pequeno para ser observado no microscópio de luz, mas capaz de causar a doença através da multiplicação em células vivas. Vírus • Não são considerados células. • Possuem ácidos nucleicos (DNA ou RNA) que codificam para as suas funções de replicação. • Vírion ou partícula viral: nome dado ao vírus quando está fora da célula. Incapaz de se replicar, a não ser que encontre uma célula hospedeira. https://www.nih.gov/news-events/nih-research-matters/novel-coronavirus-structure-reveals-targets-vaccines-treatments Podem infectar os mais variados hospedeiros Diferentes tipos de vírus • Em geral, partículas virais são menores que as células procarióticas (20-300 nm). 28 nm 200 nm https://courses.lumenlearning.com/microbiology/chapter/viruses/ 1 nm = 10-9 m Estrutura viral Capsídeo: envoltório proteico que contém o genoma viral Envelope: camada externa ao capsídeo formada por proteína e lipídeos, comum em vírus de células animais. Vírus de bactérias costumam ser nus. Não envelopados Envelopados • O capsídeo é formado por proteínas (capsômeros) que envolvem a molécula de ácido nucleico de forma repetitiva e altamente organizada; • A sequência do capsômero é determinada pelo genoma viral e pode ocorrer espontaneamente (auto-montagem) ou depender de proteínas de dobramento da célula hospedeira. Fonte: https://en.w ik ipedia.org/w ik i/C apsid Vírus envelopados • Composto de membrana citoplasmática da célula hospedeira que contém proteínas vírus específicas embebidas; • Mais comuns em células animais – o envelope auxilia na fusão com a membrana da célula hospedeira e liberação do mesmo da célula; • O envelope é o componente do vírion que interage com a superfície da célula hospedeira, suas proteínas são responsáveis pela ligação e liberação do vírion após a replicação. Fonte: http://virologydownunder.com/influenza-virus-haemagglutination-a-sticky-technique-that-does-a-lot-of-lifting/ Envelope do vírus Influenza • A estrutura do vírus protege o seu genoma quando este está fora da célula hospedeira; • Também pode conter enzimas específicas importantes para a infecção e replicação na célula hospedeira. Vírus Influenza A - Subtipo H1N1 https://www.cdc.gov/h1n1flu/images.htm Vírus de planta Vírus de animal Vírus de bactéria Diferentes estruturas virais Estrutura geral dos coronavírus https://covid19sc.github.io/coronavirus.html Proteína Spike é responsável pelo aspecto de "coroa solar" do vírus. ● Responsável pela interação com as células do hospedeiro; ● Induz resposta imune no hospedeiro; ● Importante alvo para tratamentos e vacinas. Genomas virais Madgan et al., Brock Biology of Microrganisms (13a ed.) Coronavírus - genomas com 26.000 e 32.000 pb. Entre os maiores genomas de RNA Genomas virais https://en.wikipedia.org/wiki/Archaeal_transcription htt ps :// pt .k ha na ca de m y. or g/ sc ie nc e/ bi ol og y/ ge ne -e xp re ss io n- ce nt ra l-d og m a/ tr an sc rip tio n -o f- dn a- in to - rn a/ a/ st ag es -o f- tr an sc rip tio n Para entender vírus e a função de seus genomas, é importante lembrar o Dogma Central da Biologia Molecular... RNA polimerase: enzima que cataliza a síntese de RNAm a partir de uma fita molde de DNA - processo de transcrição. Também não podemos esquecer que esse RNAm será traduzido na célula apenas se houver ribossomos (proteínas + RNAr), RNAt e aminoácidos... Funções do genoma viral • A função inicial do genoma viral dentro da célula é codificar proteínas virais. ➔Os vírus não codificam a maquinaria de síntese proteica; ➔ Todas as proteínas virais são produzidas no sistema de tradução da célula. ➔ Logo: todos os vírus devem fornecer um RNAm para que suas proteínas sejam traduzidas. • O genoma viral também serve de molde para a síntese de genomas virais que serão incorporados na partícula viral. Para vírus de DNA… ➔ As células possuem genomas de DNA e enzimas necessárias para sua replicação → maioria dos vírus de DNA usam estas enzimas. Para vírus de RNA é mais complicado… ➔ Não existe um mecanismo na célula para produzir RNAm a partir de moldes de RNA → os vírus de RNA devem codificar suas próprias RNA polimerases (RNA polimerase dependente de RNA). Vírus de DNA dupla fita (dsDNA): adenovírus, herpesvírus, poxvírus (varíola) dsDNA mRNA proteína dsDNA Montagem da partícula viral Estratégias de replicação do genoma viral de DNA Estratégias de replicação do genoma viral de DNA mRNA proteína ssDNA Vírus de DNA fita simples (ssDNA): parvovírus ssDNA Montagem da partícula viral dsDNA Estratégias de replicação do genoma viral de RNA RNA polimerase dependente de RNA Há diferenças quando o genoma é de RNA fita simples + ou - RNA polimerase viral resfriado rubéola febre amarela Quando a fita é positiva (sense), o RNA genômico do vírus está no mesmo sentido que o RNAm, o genoma é traduzido diretamente Há diferenças quando o genoma é de RNA fita simples + ou - RNA polimerase viral raiva caxumba Ebola Influenza A Gripe aviária Quando a fita é negativa (RNA antisense), o RNA genômico do vírus é complementar ao seu RNAm. O virus precisa de uma RNA polimerase dependente de RNA para copiar uma fita positiva (RNAm sense). Os retrovírus são diferentes dos outros vírus de RNA fita simples... DNA polimerase dependente de RNA HIV Classificação Viral ➔Variou muito ao longo dos anos ➔Diferentes critérios foram utilizados (aspectos clínicos, área geográfica de ocorrência, sorotipos) Vírus da febre amarela https://jornal.usp.br/universidade/cientistas-da-usp-explicam- em-video-os-ciclos-da-febre-amarela/ https://revistapesquisa.fapesp.br/virus-da- febre-do-nilo-ocidental-isolado-no-brasil/ Por muito tempo... ➔ Imunologistas classificaram os vírus por sorotipos; ➔ Clínicos deram nomes aos vírus pelas doenças e aspectos de relevância clínica. Ex: vírus da febre amarela. ➔ Também alguns nomes de vírus se originaram a partir de áreas geográficas em que foram identificados. Ex: St. Louis encephalitis virus; West Nile virus. • Em 1962, A. Lwoff, R. W. Horne e P. Tournier criaram um sistema de classificação viral baseado no sistema lineano: Filo, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie. Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1965 Estudou os mecanismos de lisogenia dos bacteriófagos. Comitê internacional para taxonomia dos vírus ➔ 1966: Formado pela divisão de virologia da União Internacional de Sociedades de Microbiologia. ➔ Autoriza e organiza a classificação taxonômica dos vírus. https://talk.ictvonline.org/ ➔ Classificação baseada na morfologia, tipo de ácido nucleico, tipo de hospedeiro, entre outras características. Classificação de Baltimore David Baltimore Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1975 Estudos sobre a relação entre câncer e vírus Baseado na enorme diversidade dos genomas virais e suas estratégias de replicação Antes considerava-se o tipo de ácido nucleico dos vírus (DNA ou RNA); simetria e forma do capsídeo; presença ou ausência de envelope; dimensões da partícula viral e do capsídeo - não refletia história evolutiva. Atualmente, dá-se ênfase às análises comparativas entre sequências de genes e proteínas virais, filogenia dos genes, genes conservados e conteúdo gênico compartilhado - reflete história evolutiva. Ciclo de infecção viral➔Síntese de componentes essenciais utilizando maquinaria metabólica da célula. ➔Na célula, os vírus bloqueiam síntese de proteínas da célula: inibem expressão de genes, bloqueiam transcrição ou tradução em andamento. Etapas de uma infecção viral Liberação Vírus de bactérias (bacteriófagos ou fagos) Ciclo de replicação está entre os modelos mais estudados https://escoladigital.org.br/odas/etapas-da-replicacao-viral-50004Ciclo lítico de replicação viral - resulta em lise da bactéria e liberação de novos bacteriófagos (ou fagos). Proteínas precoces Proteínas intermediárias Proteínas tardias • Enzimas para síntese e glicosilação da base incomum 5-hidroximetil citosina; • Enzimas do replissomo de T4; • Proteínas modificadoras da RNA polimerase do hospedeiro, uma vez que o vírus não possui sua própria RNA pol. Replicação do bacteriófago T4 Proteínas precoces Proteínas intermediárias Proteínas tardias • Proteínas adicionais que modificam a RNA pol do hospedeiro, fazendo com que ela reconheça apenas os promotores do fago; • Proteínas estruturais do vírion (da cabeça e da cauda) e relacionadas à sua liberação (enzimas) • As modificações da RNA polimerase do hospedeiro incluem a síntese de um fator anti-sigma codificado pelo fago, que prejudica o reconhecimento dos promotores do hospedeiro pela RNA pol; • Síntese de novos fatores sigma que direcionam a RNA pol do hospedeiro para os promotores do fago. Montagem e liberação • O empacotamento do genoma requer energia e é dividido em três fases: 1. Precursores da cabeça do bacteriófago são montados – Prohead; 2. Um motor de empacotamento é acoplado à abertura do Prohead. Fonte: https://www.semanticscholar.org/paper/Structure-and-function-of-bacteriophage-T4.-Yap-Rossmann/6a56da3560b583c3c3ba8611d875aebbbf36b8dc Montagem e liberação 3. O DNA dupla-fita do fago T4 é bombeado para dentro do prohead, usando ATP como força-motriz; •O prohead se expande com a entrada do DNA, o motor de empacotamento é descartado e o capsídeo é selado. A cauda e as fibras são adicionadas por auto-montagem. Montagem e liberação • Entre as proteínas tardias são sintetizadas enzimas que lisam a membrana e o peptideoglicano, a célula rompe-se e os novos vírions são liberados. Vias lítica e lisogênica de vírus temperados https://courses.lumenlearning.com/microbiology/chapter/the-viral-life-cycle/ Ciclo lisogênico Ciclo lítico Profago Vírus de célula animal ➔ Maioria das doenças virais humanas é causada por vírus com genomas pequenos de RNA fita simples. ➔ Alguns grupos de vírus de RNA: picornavírus (resfriado comum), togavírus (arboviroses transmitidas por artrópodes), rabdovírus (inclui o vírus da raiva), reovírus (vírus que infecta células dos tratos respiratório e intestinal) e retrovírus (HIV e vírus que causam câncer), coronavírus. ➔ Ao contrários dos bacteriófagos, o vírus de célula animal entra inteiro na célula. Ciclo de replicação do vírus Influenza H1N1 Mecanismos de penetração (entrada) de vírus de célula animal Endocitose mediada por transportador Fusão entre o envelope e a membrana ciroplasmática do hospedeiro https://www.antibodies-online.com/resources/18/5410/sars-cov-2-life-cycle-stages-and-inhibition-targets/ Replicação do Sars-Cov-2 - novo coronavírus https://www.kuadro.com.br/posts/caracteristicas-gerais-dos-virus/ Vírus também infectam plantas • Morfologicamente semelhantes aos vírus de animais; • Economicamente importantes, pois causam doenças em culturas de grãos como feijão, milho, cana-de-açúcar e batata; • A parede celular é uma proteção para as plantas, mas a infecção viral pode ocorrer através dos parasitas de plantas (fungos, nematódeos e insetos). Agentes subvirais • Agentes infecciosos que se assemelham aos vírus mas que não possuem ácidos nucleicos ou proteínas. Viroides Príons Viroides • Moléculas de RNA infeccioso desprovido de capsídeo (RNA nu); • Sãomoléculas pequenas de RNA fita simples e circular; • Infectam plantas, com impacto na agricultura; • Não foram descritos viroides que infectam animais ou microrganismos; • Estrutura secundária torna a molécula estável. Fonte: https://w w w .the-scientist.com /research/bare-naked-viro ids-49645 Estrutura secundária de alguns viroides • O viroide entra na planta através de lesões mecânicas ou causadas por insetos; • Não codifica proteínas e depende totalmente de seu hospedeiro para se replicar; • Possui atividade catalítica (ribozima). Príons • Agentes infecciosos de natureza proteica (sem DNA ou RNA); • Responsáveis por várias doenças neurológicas como a encefalopatia espongiforme no gado bovino (mal da vaca louca) entre outras que afetam seres humanos, ovinos, cervos e alces – encefalopatias espongiformes transmissíveis; • Além de mamíferos, podem ser encontrados peixes, anfíbios e fungos, mas não causam danos ao hospedeiro; • Sem registro em plantas. • A própria célula hospedeira codifica a proteína do príon, através de um gene que é expresso em neurônios de animais sadios - proteína celular do príon (PrPc), uma glicoproteína de membrana; • PrPsc (proteína priônica do scrapie): forma patogênica da proteína, conformação difere de PrPc. Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Normal-and-disease-causing-prions-structures-20_fig1_258045114 • Sequência de aminoácidos pode determinar especificidade do príon. • A forma PrPsc penetra nas células cerebrais e converte a proteína normal PrPc em proteína patogênica, que acumula-se no citoplasma e forma agregados insolúveis. • Parasitas intracelulares obrigatórios; • Genoma viral é composto de DNA ou RNA; • O genoma viral dirige a síntese de componentes virais usando a maquinaria metabólica da célula hospedeira, incluindo os ribossomos; • Os componentes virais são montados dentro da célula e formam novas partículas virais; • Partículas virais recém formadas são veículos de transmissão de genomas para novas células ou organismos. Em síntese, o que caracteriza os vírus? Pode-se dizer que os vírus replicam seu genoma e evoluem ao longo do tempo... Podemos dizer que os vírus são vivos? • Vírus não possui metabolismo próprio, não gera ATP e não possui maquinaria própria para tradução – logo, não é vivo! Como encaixá-los na árvore da vida? 1990- Carl Woese = Os três domínios da vida • Os vírus podem ser considerados como uma outra categoria de vida! Na Biologia, nem todos concordam com essa definição! 3 Hipóteses: ➔Hipótese do "vírus primeiro" ➔Hipótese "regressiva" ➔Hipótese "progressiva ou do escape de genes" Qual a origem dos vírus? Hipótese do "vírus primeiro" Os vírus teriam sido a primeira forma de vida surgida da sopa pré- biótica. ➔ Forma de vida pré-celular. ➔ Ligação entre os mundos não-vivo e vivo. ➔ Evoluíram para formas mais organizadas e tornaram-se parasitas de células procariotas e posteriormente de células eucariotas. ➔Os vírus de RNA podem ser uma expansão do "mundo de RNA"primordial; ➔O surgimento de um gene para transcriptase reversa pode ter favorecido a transição do "mundo do RNA" para o "mundo do DNA". De acordo com a hipótese do "vírus primeiro": vírus seria anterior ao ancestral comum de todas as formas celulares (LUCA - Last Universal Cellular Ancestor). Hipótese "regressiva" Os vírus são remanescentes de organismos celulares primitivos (protocélulas). Mimivirus (maior vírus existente) pode ser resquício de um parasita intracelular. Possui o maior repertório de proteínas entre os vírus, pouca dependência da célula. Fonte: https://viralzone.expasy.org/580?outline=all_by_species Fonte: https://www.zdnet.com/article/found- largest-virus-ever/ Problema: mimivírus (vírus gigante) são vírus de DNA. Como explicar a origem dos vírus de RNA? Vírus surgiram de elementos genéticos que ganharam a habilidade de migrar entre uma célula e outra – semelhança entre retrovírus e elementos genéticos móveis. Hipótese "progressiva ou do escape de genes" 42% do genoma humano é composto por elementos genéticos móveis Retrovírus e elementos genéticos móveis: enzimas transcriptase reversa e integrase