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LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Pré-Modernismo: entre o conservador e o moderno304 Exercícios propostos 1 Enem 2014 Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância… Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme – este operário das ruínas – Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! ANJOS, Augusto dos. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como pré- -modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identicam-se marcas dessa literatura de transição, como A a forma do soneto, os versos metrificados, a pre- sença de rimas, o vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vi- gentes no Modernismo. B o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia sim- bolista, manifesta em metáforas como “Monstro de escuridão e rutilância” e “influência má dos signos do zodíaco”. c a seleção lexical emprestada do cientificismo, como se lê em “carbono e amoníaco”, “epigênese da infância”, “frialdade inorgânica”, que restitui a vi- são naturalista do homem. d a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo, dimen- sionada pela inovação na expressividade poética e o desconcerto existencial. E a ênfase no processo de construção de uma poe- sia descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que incorpora valores morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas. Texto para as questões 2 e 3. Versos a um coveiro Numerar sepulturas e carneiros, Reduzir carnes podres a algarismos, Tal é, sem complicados silogismos, A aritmética hedionda dos coveiros! Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros, Na progressão dos números inteiros A gênese de todos os abismos! Oh! Pitágoras da última aritmética, Continua a contar na paz ascética Dos tábidos carneiros sepulcrais Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros, Porque, infinita como os próprios números A tua conta não acaba mais! Vocabulário: Carneiros - criptas, subterrâneos sepulcrais Fúlgidos - brilhantes Ascética - próprio do asceta, de quem se entrega a práticas espirituais, levando vida contemplativa Tábidos - pobres, corruptos Tíbias - ossos que constituem a perna Rádios - ossos que constituem o antebraço 2 Mackenzie 2016 (Adapt.) É correto afirmar que em “Ver- sos a um coveiro”: A a construção do soneto com léxico das áreas da Biologia e da Matemática reduz o impacto poético da composição. B a composição textual estruturada na função fática e no uso de terminologia científica ampliam o valor literário do soneto. c o racionalismo científico e a opção pela com- posição em forma de soneto vinculam o poema selecionado aos ideais do movimento Naturalista. d a exploração de caracteres patológicos, mórbidos e pútridos afastam a possibilidade de o presente soneto ser considerado relevante para o universo da literatura brasileira. E o emprego de terminologia técnica, das áreas da Biologia e da Matemática, concede tom de raciona- lidade à morte, tratada de forma quantificável. 3 Mackenzie 2016 (Adapt.) Assinale a alternativa que NÃO pode ser considerada como afirmação válida so- bre a obra poética de Augusto dos Anjos. A As suas imagens são tomadas à ciência e à técnica, cravando-se na sonoridade agressiva de um verso que incorpora a ênfase retórica e o mau gosto com tamanho destemor, que a aparente vulgaridade tor- na-se grandiosa e a oratória sai da banalidade para gerar uma espécie de mensagem apocalíptica. (An- tônio Candido) B [...] inferior, banalizada pela repetição de situações desprovidas de surpresas, pouco imaginativas e repletas de clichês [...]. Uma literatura sem so- bressaltos, que responde às expectativas do leitor médio, estabelecendo com ele um pacto onde a função recreativa domina. (Nelly Novaes Coelho) F R E N T E 2 305 c Trata-se de um poeta poderoso, que deve ser men- surado por um critério estético aberto que possa reconhecer, além do “mau gosto” do vocabulário rebuscado e científico, a dimensão cósmica e a an- gústia moral de sua poesia. (Alfredo Bosi) d Limita-se às formas convencionais, de versos, é cer- to, mas uma aspereza toda sua, uma angulosidade de expressão servida pelo seu conhecimento de palavras duramente científicas, dá aos seus poe- mas um audacioso sabor mais para os olhos do que para os ouvidos. (Gilberto Freyre) E [...] mais do que qualquer parnasiano [...], sendo também, mais do que qualquer simbolista, o rei da aliteração. Raramente encontramos um hiato sobrevivente à sua metrificação impiedosa. (Otto Maria Carpeaux) 4 UFRGS 2015 Leia o soneto de Augusto dos Anjos e o poema de Manuel Bandeira. Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme – este operário das ruínas – Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! ANJOS, Augusto dos. Pneumotórax Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. — Trinta e três… trinta e três… trinta e três… — Respire. — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango ar- gentino. BANDEIRA, Manuel. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes armações sobre os poemas. J Os dois poemas tratam do problema da finitude do corpo, corroído por doenças, utilizando um vocabu- lário técnico, pouco comum à poesia. J O soneto de Augusto dos Anjos apresenta as ener- gias do universo, que se associam para formar o “Eu”, e não conseguem evitar a decomposição do corpo. J O poema de Manuel Bandeira mostra a fragilidade do corpo, encarada de forma irônica, sem o tom grave de conspiração encontrado em Augusto dos Anjos. J Os dois poemas evidenciam o destino implacável da destruição do homem desde que nasce, marca- do pela presença dos vermes. A V – F – V – V. B F – V – F – F. c V – V – V – F. d F – F – V – V. E V – F – F – V. 5 PUC-Rio Versos a um coveiro Numerar sepulturas e carneiros, Reduzir carnes podres a algarismos, Tal é, sem complicados silogismos, A aritmética hedionda dos coveiros! Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros, Na progressão dos números inteiros A gênese de todos os abismos! Oh! Pitágoras da última aritmética, Continua a contar na paz ascética Dos tábidos carneiros sepulcrais Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros, Porque, infinita como os próprios números, A tua conta não acaba mais! ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. a) Os versos de Augusto dos Anjos (1884-1914) já foram considerados “exatos como fórmulas ma- temáticas” (ROSENFELD, Anatol. A costeleta de prata de A. dos Anjos. Texto/contexto. São Paulo: Perspectiva, 1969. p. 268). Justifique essa afirmati- va, destacando aspectos formais do texto. b) Transcreva de “Versos a um coveiro” palavras e expressões científicas, estabelecendo um con- traste entre o poema de Augusto dos Anjos e a tradição romântica, no que se refere à abordagem da temática da morte. 6 Enem – Cancelado Texto 1 O Morcego Meia-noite. Ao meu quartome recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. “Vou mandar levantar outra parede...” Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Circularmente sobre a minha rede! LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Pré-Modernismo: entre o conservador e o moderno306 Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh’alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?! A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto! ANJOS, Augusto dos. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994. Texto 2 O lugar-comum em que se converteu a imagem de um poeta doentio, com o gosto do macabro e do horro- roso, dificulta que se veja, na obra de Augusto dos Anjos, o olhar clínico, o comportamento analítico, até mesmo certa frieza, certa impessoalidade científica. CUNHA, F. Romantismo e modernidade na poesia. Rio de Janeiro: Cátedra, 1988. (Adapt.). Em consonância com os comentários do Texto 2 acerca da poética de Augusto dos Anjos, o poema “O mor- cego” apresenta-se, enquanto percepção do mundo, como forma estética capaz de: A reencantar a vida pelo mistério com que os fatos banais são revestidos na poesia. B expressar o caráter doentio da sociedade moderna por meio do gosto pelo macabro. c (representar realisticamente as dificuldades do coti- diano sem associá-lo a reflexões de cunho existencial. d abordar dilemas humanos universais a partir de um ponto de vista distanciado e analítico acerca do cotidiano. E conseguir a atenção do leitor pela inclusão de elementos das histórias de horror e suspense na es- trutura lírica da poesia. 7 Unisc 2016 Assinale a alternativa que preenche corre- tamente as lacunas do texto a seguir. O início do chamado Pré-modernismo na Literatura bra- sileira data de 1902, com a publicação de . Além dessa obra relevante, de autoria de , merece destaque o romance , publicado por em 1915. Já na poesia, o principal nome deste período foi , autor de . A Urupês/Graça Aranha/Macunaíma/Domingos Olím- pio/Mário de Andrade/Cinza das horas. B Canaã/Euclides da Cunha/Triste fim de Policarpo Quaresma/Monteiro Lobato/Manuel Bandeira/Eu e outras poesias. c Os Sertões/Euclides da Cunha/Triste fim dePolicarpo Quaresma/Lima Barreto/Augusto dos Anjos/Eu e outras poesias. d Urupês/Monteiro Lobato/Macunaíma/Mário de An- drade/Manuel Bandeira/Cinza das horas. E Canaã/Monteiro Lobato/Luzia-Homem/Mário de An- drade/Manuel Bandeira/Broquéis. 8 UEM 2015 Assinale o quer for correto sobre a obra Eu e outras poesias e sobre seu autor, Augusto dos Anjos. 01 Em Eu e outras poesias podem ser encontrados al- guns dos temas mais presentes na obra de Augusto dos Anjos, tais como o amor ingênuo e platônico (fruto da influência da segunda geração romântica) e a exaltação de elementos nacionais que, não obs- tante, é feita de maneira crítica e mordaz. 02 Um dos aspectos mais chamativos nos poemas de Augusto dos Anjos – verificável em Eu e outras poesias – é sua negação da ciência, que é vista como um elemento capaz de reduzir as possibili- dades de aprimoramento humano presentes na intuição de cunho sentimental. 04 Apesar do título, o volume Eu e outras poesias apresenta exemplos de produções pouco recor- rentes na obra de Augusto dos Anjos: o conto “O alienista”, que se configura como uma narrativa poética, e a tragédia “Profissão de fé”, fortemente marcada pelo Simbolismo. 08 A produção literária de Augusto dos Anjos, embora habitualmente situada no contexto do Pré- -Modernismo brasileiro, representa um problema de classificação estética, de modo que sua obra – na qual se encontram influências do Naturalismo e do Simbolismo – constitui fenômeno particular e original. 16 No poema “Psicologia de um vencido”, os versos “Eu, filho do carbono e do amoníaco,/Monstro de escuridão e rutilância,/Sofro, desde a epigênesis da infância,/A influência má dos signos do zodíaco” revelam uma visão sofredora do mundo, da vida. O “eu” lírico angustia-se diante da previsão da própria morte e do destino reservado ao cadáver, confor- me o verso “Na frialdade inorgânica da terra” (ANJOS, Augusto. Eu e outras poesias. São Paulo: Martin Claret, 2002, p. 38). Soma:JJ 9 Uern 2015 Considere o texto e a imagem a seguir. O decênio de 1930 teve como característica própria um grande surto do romance, tão brilhante quanto o que se verificou entre 1880 e 1910, e que apenas em pequena parte dependeu da estética modernista. CANDIDO, Antônio e CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira: Modernismo. São Paulo/Rio de Janeiro: Difel, 1979. Seca: Bahia tem pelo menos 140 cidades em situação de emergência. 28 de agosto de 2014. Disponível em: <http://visaonacional.com.br>. Acesso em: 8 de jan. 2018.