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P á g i n a | 1 URGÊNCIA E EMÊRGENCIA I DISPNEIA é definida como a percepção da inabilidade de respirar sem desconforto. O termo geralmente é usado para explicar a sensação de falta de fôlego. A sensação, como já mencionado, é subjetiva e por esse motivo pode ser percebida de diferentes maneiras, como sensação de aperto no peito, sufocamento, falta de ar, incapacidade de encher o pulmão de ar, entre outras. Tem o pico de incidência entre os 55-69 anos de idade. Sendo considerada crônica quando a queixa permanece por mais de 1 mês. CLASSIFICAÇÃO: ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA: A sensação de dispneia pode ocorrer devido à demanda excessiva de ventilação ou por distúrbio ventilatório. A origem parece estar relacionada com a ativação dos sistemas sensórios envolvidos com a respiração, com o processamento dessa informação pelos centros nervosos superiores e a influência de outros fatores que incluem alterações comportamentais e cognitivas. ACHADOS CLÍNICOS: • A ortopneia é a dispneia que apresenta piora com o decúbito, aparece minutos após deitar, ocorre quase sempre com o paciente ainda acordado, e apesar de sugestivo de IC o sintoma não é específico para o diagnóstico. • A dispneia paroxística noturna ocorre costumeiramente horas após o paciente deitar-se, ocorre tardiamente na evolução do paciente com cardiopatia e é relativamente específica para o diagnóstico de IC. • A trepopneia é a dispneia que ocorre ao deitar em decúbito lateral, mas que não aparece ao deitar-se no decúbito lateral contralateral. Ocorre devido a alteração na relação ventilação/perfusão no pulmão acometido. Exemplos de doenças associadas são o derrame pleural unilateral e a doença parenquimatosa unilateral. • A platipneia, por sua vez, é a dispneia que aparece ao se sentar e melhora ao deitar, e ocorre em pacientes com shunts causados por doenças cardíacas congênitas, embora seja também descrita em associação com shunts intrapulmonares como na doença de Osler-Weber-Rendu ou na cirrose hepática • Acometimento de vias aéreas superiores: Pode ocorrer por corpos estranhos, angioedema, anafilaxia, trauma e infecções. Nesse caso, os pacientes apresentam com frequência estridor e ausculta similiar a sibilos localizados em região de vias aéreas superiores. Em pacientes com angioedema são comuns lesões eritematosas na pele, mas em geral não são pruriginosas. • Asma: É caracterizada por tríade clínica composta por sensação de dispneia, opressão torácica e sibilância, sendo pelo menos um destes sintomas relatados em 90% dos pacientes. Tosse é outro sintoma particularmente comum acompanhando o quadro dos pacientes. • DPOC: Os achados cardinais para o diagnóstico são a presença de tosse crônica produtiva, dispneia ao esforço e progressiva e exposição aos fatores de risco. • IC: Dispneia ao esforço usualmente é o primeiro sintoma de insuficiência cardíaca, mas a presença de dispneia paroxística noturna é mais específica. A presença de galope com B3, ictus globoso e distensão venosa jugular aumentam a chance do diagnóstico. P á g i n a | 2 • Doença intersticial pulmonar: Dispneia ao esforço está presente na maioria dos pacientes, mas o achado é inespecífico. O achado diagnóstico de maior utilidade é a presença de estertores inspiratórios que ocorre em mais de 80% dos pacientes. • Dispneia psicogênica: A maioria dos pacientes descreve a dispneia como sensação de sufocamento. Os pacientes muitas vezes descrevem sintomas semelhantes aos de obstrução de vias aéreas superiores; presença de parestesias, sensação de bolo na garganta também são comumente associadas. • Embolia pulmonar (EP): A dispneia costuma ser súbita, e sintomas como taquicardia e dor torácica podem acompanhar. Existem alguns critérios clínicos definidores da probabilidade diagnóstica de EP, dos quais os mais utilizados são os critérios de Wells • Doenças neuromusculares: As mais comuns associadas com o sintoma incluem esclerose múltipla, síndrome de Guillain-Barré e miastenia gravis. EXAMES COMPLEMENTARES: Em alguns pacientes a história e o exame físico não conseguem ser suficientes para realizar hipótese diagnóstica sólida e exames complementares e triagem podem auxiliar o diagnóstico. A radiografia de tórax em particular é um exame que será utilizado na enorme maioria dos casos e seus achados serão dependentes da etiologia da dispneia, e se alterada a mensuração da oximetria de pulso e a gasometria arterial são obrigatórias • Asma: O diagnóstico de asma é realizado principalmente através de dados clínicos, principalmente em pacientes com dispneia aguda. O uso de espirometria ou peak flow em unidades de emergência é de extrema importância, tendo importância prognóstica e auxiliando o manejo desses pacientes. • DPOC: O diagnóstico de DPOC é baseado na demonstração de obstrução de fluxo e embora possa ser realizado de maneira confiável com base em dados clínicos é definido pela relação VEF1/ CVF < 0,70 ou VEF1 < 80% do predito. Em unidades de emergência a prova de função pulmonar não tem papel definido. P á g i n a | 3 • Doenças intersticiais pulmonares: Pacientes apresentam padrão restritivo em prova de função pulmonar, e exames de imagem como radiografias de tórax e tomografia de tórax com cortes finos apresentam diversos padrões de infiltrados intersticiais. • Doenças vasculares pulmonares: Hipertensão pulmonar primária e doença tromboembólica pulmonar são causas de dispneia crônica. Ecocardiograma, cintilografia de ventilação/perfusão e tomografia helicoidal podem ajudar no diagnóstico. • Insuficiência cardíaca: A radiografia de tórax pode ser útil no diagnóstico da IC. Os pacientes podem apresentar congestão pulmonar e cardiomegalia. A presença de índice cardiotorácico maior que 0,5 é sensível para o diagnóstico, mas quando é maior que 0,6 a especificidade diagnóstica é maior. Em pacientes com dispneia aguda no pronto-socorro, atualmente o uso de marcadores hormonais tem demonstrado utilidade para a avaliação. A concentração de peptídeo atrial natriurético e peptídeo natriurético cerebral (BNP) aumenta em formas mais avançadas ou crônicas de IC e o uso em particular do BNP foi estudado para diferenciar quadros cardíacos de pulmonares em unidades de emergência. EXAMES DE PRIMEIRA LINHA:Incluem ECG, RX de tórax, espirometria, oximetria de pulso, hemograma completo e perfil metabólico. Atualmente, o BNP é considerado exame de primeira linha em alguns centros com disponibilidade do método. • ECG: Pode revelar arritmias cardíacas, distúrbios de condução, hipertrofia ventricular e alterações isquêmicas e doença pericárdica. • RX de tórax: Pode revelar alterações pulmonares, de parede torácica e cardíacas, auxiliando o diagnóstico. • Hemograma e perfil metabólico: Anemia pode ser causa de dispneia e policitemia pode ocorrer em pacientes com DPOC. Acidose respiratória pode ocorrer em DPOC e doenças neuromus culares, assim como acidose metabólica pode ocorrer em uremia, cetoacidose diabética e IC com baixo débito. • Espirometria: Pode fazer diagnóstico de doença obstrutiva ou doença intersticial. • Oximetria de pulso: Importante para avaliação da gravidade dos doentes e, se anormal, pode ser útil a realização de gasometria arterial. TRATAMENTO: O tratamento é dependente da etiologia da dispneia. Pacientes com asma e DPOC, por exemplo, têm como tratamento o uso de broncodilatadores, e IC, por exemplo, é tratada com diuréticos e vasodilatadores. Todos os pacientes com dispneia devem ser encaminhados para a sala de emergência e receber oxigênio suplementar se necessário. Na avaliação desses pacientes, alguns achados sugerem parada respiratória eminente, como rebaixamento do nível de consciência, inabilidade de manter o esforo respiratório e cianose. O tratamento inclui: oxigênio suplementar, suporte clínico, hemodinâmico e correção da causa de base. O uso de opioides está indicado em pacientes com dispneia e doença terminal,particularmente em pacientes com dor.