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Trauma Torácico Bom pessoal, o tema principal da aula é trauma torácico. É causa comum de lesões graves potencialmente fatais. Em pacientes politraumatizados é um problema com alta letalidade. Uma vez instaurado uma lesão aórtica, medular, cardíaca, laceração de grandes vasos… ela possui dois grandes picos de mortalidade, um na hora do trauma e outro no hospital. Uma outra característica do trauma torácico é que essas lesões, geralmente, são facilmente identificáveis e tratáveis. O trauma torácico é 8 ou 80, ele pode matar o paciente no local do trauma, mas se ele chega vivo ao hospital, há uma grande chance de salvá-lo. Diferentemente do trauma abdominal, o qual possui uma propedêutica mais difícil, possui vários outros fatores como peritonite, instabilidade hemodinâmica, geralmente precisa de algum exame complementar… já o trauma torácico é identificável apenas com o exame físico e quando precisa de exame complementar é apenas uma radiografia. Apenas 10-15% precisa de toracotomia. Como eu falei, a maior parte desses pacientes com lesões gravíssimas, não chega nem ao hospital, mas dentre esses que chegam, uma boa parte a gente trata apenas com a drenagem torácica sem precisar fazer a toracotomia. Se vocês se lembrarem da aula do quinto período, a toracotomia tem alta morbidade, por isso deve-se evitá-la ao máximo. O paciente pode ter um sangramento, mas a toracotomia pode ter uma morbidade ainda maior que o quadro do paciente. Frequentemente está relacionada a outros traumas e isso justifica a sua alta letalidade, pois ele pode sobreviver do trauma torácico e complicar devido a um trauma abdominal, um TCE, trauma pélvico. Bom, para a gente relembrar, o trauma torácico se inclui, principalmente, nos três primeiros tópicos. Importante salientar a gravidade desse trauma, o qual pode levar a óbito dentro de minutos se não identificado e tratado, porém ambos (diagnóstico e tratamento) são relativamente fáceis. A identificação, apenas com o exame físico, já é bem discernida e o tratamento é feito, geralmente, apenas com a drenagem torácica e uma punção, a gente consegue resolver. Como eu disse, apenas 10% precisa de toracotomia. A- é raro ter lesões de via aérea em trauma torácico. As lesões de via aérea costumam ocorrer em TCE e trauma cervical. Quando há lesão de via aérea intratorácica (geralmente traqueia ou brônquios), geralmente ela é manifestada com pneumotórax. Professor citou um exemplo que o paciente foi internado no HUT devido um trauma torácico com pneumotórax com a suspeita de lesão da via aérea. Então eu vou pular o A porque não é muito comum. Para eu suspeitar de lesão de via aérea, há dois critérios presentes. Eu diferencio quando eu trato drenando e há um vazamento de ar muito importante! Há um borbulhamento importante na inspiração e na expiração. O outro sinal é que o pulmão não expande mesmo com o paciente drenado, porque o ar que sai do pulmão pelo brônquio é igual ao que sai pelo dreno, então a quantidade de ar na pleura não diminui. Qual o princípio da drenagem torácica? Você vaza um pouco do pulmão e esse pouquinho sai pelo dreno, então acaba que o que fica entre a pleura visceral e a parietal fica proporcionalmente menor até acabar, então quando vazar muito ar, por lesão de traquéia ou brônquio,o volume que se perde é muito grande e o pulmão não expande por conta disso. Então são esses dois achados que nos fazem suspeitar de lesão de via aérea, com o pneumotórax, a gente faz o diagnóstico normal, tem uma fístula aérea muito importante, ou seja vaza muito ar pelo dreno e o pulmão pode ter uma expansão parcial mesmo o paciente estando bem drenado. B - Lembrando do ATLS, há, basicamente, quatro lesões descritas no slide e tem uma quinta que seria o TCE grave, que são lesões que você precisa identificar logo na avaliação inicial. São lesões potencialmente graves que podem levar ao óbito no segundo pico de mortalidade que seria na primeira hora após chegada no hospital. São elas o pneumotórax hipertensivo, pneumotórax aberto com ferida torácica aspirativa, tórax instável com contusão pulmonar e o hemotórax maciço. Dessa forma, das cinco principais lesões, quatro são de trauma torácico, validando a importância desse tipo de trauma no paciente politraumatizado. Então vamos falar um pouco deles. Então o que é o pneumotórax? Tema da outra parte da aula… quem pode ajudar? Presença de ar na cavidade pleural, ou seja, ar na cavidade torácica fora do pulmão. E o que isso acarreta? Não ocorre uma oxigenação adequada. Pensando em uma situação de perfuração do parênquima, toda vez que o paciente respirar o ar vaza para a cavidade pleural e não volta, então vaza, não volta, vaza, não volta fazendo com que aumente a pressão na cavidade pleural promovendo um pneumotórax hipertensivo. Quais são as demais consequências, além do pneumotórax, que já foi dito? Desvio do mediastino, traquéia, diminuição do retorno venoso… isso! Então, como o aluno falou, ao olhar a imagem, o pulmão colapsa, ele murcha por conta do ar na cavidade pleural, então o paciente já não ventila com um pulmão e como a pressão vai aumentando, vai se tornando hipertensivo e há uma tendência do mediastino se desviar para o outro lado, no caso, iria para a esquerda, como indica a seta. Ao desviar o mediastino contralateralmente, as primeiras estruturas que sofrem são as de paredes mais finas, ou seja, as veias. Dessa forma, ocorre uma compressão da veia cava inferior, por isso que clinicamente o paciente apresenta turgência jugular, redução do retorno venoso diminuindo a pré-carga e consequentemente a pós-carga promovendo um quadro de choque distributivo, obstrutivo no caso. (professor citou dessa forma “distributivo... obstrutivo no caso”. Além disso, o pulmão esquerdo acaba sendo comprimido pelo mediastino, dessa forma ambos os pulmões não ventilam adequadamente. Então, pela sua fisiopatologia, o pneumotórax hipertensivo é algo grave, podendo levar o paciente a óbito em poucos minutos. Lembrando que o desvio do mediastino, além de comprimir o pulmão não acometido, comprime a veia cava, diminuindo a pré-carga levando-o a hipotensão. Dessa maneira, há o choque respiratório e circulatório. Que exames a gente precisa lançar mão para diagnosticar um pneumotórax hipertensivo? No exame físico a gente vê o hipertimpanismo, o murmúrio vesicular diminuído e uma radiografia de tórax. A ausculta também pode estar diminuída no lado acometido. Em relação a inspeção, o paciente vai estar dispneico, expansibilidade diminuída e provavelmente irá ocorrer utilização de musculatura acessória. Em relação a expansibilidade, a qual estará diminuída, pode ser analisado uma característica que diferencia, por exemplo, uma atelectasia de um pneumotórax hipertensivo. Alguém sabe qual é? Assimetria? Ambos estarão assimétricos. No pneumotórax hipertensivo e na atelectasia a expansibilidade vai estar diminuída. Há outra característica que, no pneumotórax hipertensivo, o hemitórax acometido vai estar com uma pressão mais alta e tem também um aumento do seu tamanho, fazendo com que um lado fique maior do que o outro. Já o lado não acometido vai se igualar ao tamanho do outro hemitórax e retrair ao tamanho original no ciclo respiratório (o lado acometido fica como se estivesse em inspiração máxima devido ao ar na pleura). Entretanto, na atelectasia, o hemitórax acometido vai estar murcho (como se tivesse em expiração) e o lado normal vai expandir e igualar ao tamanho original. E na palpação? O que vou avaliar de diferente? Ausência ou redução do frêmito toracovocal. E na ausculta? No pneumotórax hipertensivo o murmúrio vesicular vai estar necessariamente abolido. Em outros casos não hipertensivos ele pode estar apenas diminuído. Pode haver turgência jugular e hipotensão, devido a dificuldade no retorno venoso. Então, resumindo, se o paciente tem turgência jugular,diminuição do MV, hipertimpanismo, diminuição do frêmito toracovocal, diminuição da expansibilidade e tem hipotensão eu não preciso fazer nenhum exame de imagem. É considerado erro médico fazer imagens como essa aqui e está ficando ainda mais frequente devido à pandemia. Bom, o achado na imagem é esse pneumotórax hipertensivo na direita, o diafragma está sendo empurrado para baixo do lado direito. Caso você avalie o lado esquerdo, nota-se que a cúpula diafragmática está normal, mas no lado direito está mais para baixo. O coração e os vasos da base estão desviados contralateralmente. As costelas estão afastadas entre si, no lado direito, e é difícil ver pelo ar na frente. Dessa forma, pode-se fazer o diagnóstico de pneumotórax hipertensivo. Porém, na maioria das vezes você não precisa disso, apenas um estetoscópio é o suficiente. Esse caso é uma emergência, diagnosticando o pneumotórax hipertensivo, com ou sem imagem, você já pode puncionar e fazer a drenagem. O tratamento na emergência é a punção de alívio (foto da esquerda). Como ela é feita? No quinto espaço intercostal. Isso. Na verdade, já que o ar tende a ir para cima e para frente, a gente costumava fazer, como demonstrado na imagem, no segundo EIC (espaço intercostal) na linha hemiclavicular do lado acometido. A gente vai na borda superior da costela, acoplado a uma seringa, e quando vier ar, a gente tira a seringa e deixa apenas o jelco, que deve ser calibroso, 14 ou 16. Vai resolver o pneumotórax? Não, mas deixa de ser hipertensivo, o que é importante porque o que mata não é o pneumotórax é o pneumo hipertensivo, então tirando esse excesso de ar e pressão, continua tendo pneumotórax, mas passa a ser um quadro não hipertensivo e o paciente deixa de correr risco imediato de morte. Isso é comumente feito no ambiente pré-hospitalar. O pessoal do SAMU já punciona e, dessa maneira, há tempo para levar o paciente para o hospital. Na UTI, isso também ocorre com certa frequência. Após acesso central ou barotrauma devido à ventilação mecânica. Como é feito o tratamento definitivo? Com drenagem de tórax (foto da direita), a toracostomia com drenagem pleural fechada, ou seja, vamos abrir a cavidade torácica e deixar aberto (toracostomia) e esse dreno fica mergulhado no selo d'água, por isso é chamado de drenagem fechada. Dessa forma, o ar não volta, ele borbulha na água e não volta. Caso eu não me sinta seguro para drenar, não tem problema, porém a punção inicial é um procedimento médico e deve ser realizado. Voltando a localidade da punção, existe uma atualização do ATLS que sugere a punção no quinto EIC na região anterior, por que? Qual o motivo de fazer na frente? Porque a gravidade faz com que o ar vá para cima e para frente, entretanto no pneumotórax hipertensivo, o ar vai se localizar em todo o hemitórax, portanto qualquer lugar que eu colocar a agulha vai dar certo. Os dois problemas que ocorrem comumente é da pessoa ir logo no primeiro espaço, em vez do segundo, e às vezes, até em cima da primeira costela, então muitas vezes a gente acaba não colocando no lugar adequado. “Professor, eu vi também que a espessura da parede torácica na linha axilar média seria menor que no segundo espaço intercostal”. Exatamente, esse que é o ponto, por exemplo em mulheres fica em cima da mama, em pessoas com o peitoral mais desenvolvido ou com obesidade fica mais difícil, com uma distância um pouco maior e essa punção pode não ser eficaz, por isso a recomendação, hoje, é de se fazer no quinto espaço intercostal. Então, assim, o lugar teoricamente ideal continua sendo no segundo EIC, mas existe essa nova recomendação, principalmente nesses casos citados, paciente que tem uma parede torácica mais espessa, ou por uma mama, peitoral ou subcutâneo mais volumoso, você pode fazer no 5 EIC que você desvia entre as linhas axilares anterior e média, desviando do músculo peitoral e da mama, além da espessura da parede torácica ser um pouco menor e aumenta nossa chance de ser eficaz. Então, resumindo, a nova atualização indica no quinto ou quarto espaço intercostal entre as linhas axilares anterior e média. Professor, pelo protocolo, deve ser feito na borda superior da costela inferior, mas, na prática, quando a gente faz a palpação, principalmente em pacientes obesos, a gente sente dificuldade para deferir essa borda. O risco de lesão vasculo-nervosa é grande se eu puncionar no local errado? Sim. Lembrar que a artéria intercostal posterior é ramo direto da aorta, então sangra muito. A recomendação é não tentar palpar a borda e sim a costela. Palpando a costela, eu vou introduzir a agulha na costela mesmo e ao tocar a costela você usa ela como referência, colocando para cima e introduzindo nos outros planos. Professor, em relação a como localizar esse quinto espaço intercostal, qual seria o ponto de referência? Bom, lembrar que o objetivo não é pegar o quinto EIC, você também pode pegar o quarto, o objetivo é apenas fugir do peitoral. Então eu posso usar a altura do mamilo em paciente do sexo masculino e no feminino, a borda mamária inferior, você não pode ir muito baixo para não pegar o diafragma, mas saindo do peitoral já é o suficiente, não é importa muito se é o quarto, quinto ou sexto EIC, não vai fazer muita diferença. Lógico que eu não posso fazer lá na axila no terceiro EIC porque vai ser muito alto, mas do quarto ao sexto vai dar certo e o sétimo fica perigoso porque é o diafragma. Inclusive, existe uma recomendação do ATLS para no treinamento ensinar os residentes a fazer no quarto, porque se ele errar pode pegar o quinto. Caso treinassem no quinto e acertasse o sexto, seria mais perigoso de lesar o diafragma. Resumindo, não faz diferença no quarto ou quinto espaço, quanto mais baixo melhor, porque a drenagem fica mais eficaz, só que ao mesmo tempo fica arriscado. Existe também o trígono de segurança, a gente pega na altura do apêndice xifóide, traça uma linha reta horizontal, dessa linha para baixo, jamais! A outra linha é na altura do mamilo (lembrar que só serve para paciente do sexo masculino) entao da altura do mamilo pra cima é a parte de segurança, e entre a linha do mamilo e a do apêndice xifoide é a área do talvez, é a zona de alerta, onde a drenagem é mais eficaz, mas o risco de lesões é maior. Dúvidas? Professor, quanto tempo eu deixo o paciente puncionado? O mínimo possível, a gente funciona e entra em contato com o cirurgião para ele fazer a drenagem, mas, uma vez que você faz a punção e o cateter está pérvio, o pneumotórax deixa de ser hipertensivo e o paciente deixa de ter risco de morte. Como a gente usa um jelco, um dispositivo de plástico, às vezes o próprio músculo ou a parede torácica faz com que ele colabe, às vezes a própria borda da costela faz com que ele colabe, então sai o ar na hora da punção e depois ele acaba fechando. Professor, pode ser qualquer número de jelco? O mais calibroso possível, a recomendação é 14 ou 16. Então é isso, não é um tempo estipulado, mas é o mais rápido possível, primeiro que o esse não é o tratamento definitivo, é só para tirar da emergência, e, segundo, porque mesmo com o paciente puncionado o jelco pode colabar e o paciente pode voltar a ter o pneumotórax hipertensivo. Bom, o outro tópico é o pneumotórax aberto (ferida torácica aspirativa). Alguém sabe me dizer o que é uma ferida torácica aspirativa? É uma ferida que tenha ⅔ do tamanho da traqueia. (aluno também falou sobre o tratamento ser o curativo de 3 pontos, o professor disse que estava certo, mas para voltar para fisiopatologia) Mas qual é a fisiopatologia? Qual é o problema de ter uma ferida, uma abertura na parede torácica com o diâmetro próximo ou maior que o da traqueia? Por pressão o ar vai entrar por aquele espaço e não pelo o da traqueia! Pode causar colapso pulmonar. Exatamente, não só isso, pode causar algo pior ainda, porque o próprio pneumotórax,em si, pode causar um colapso pulmonar, seja ele aberto, fechado, hipertensivo ou não, mas lembrando da mecânica respiratória, que a cavidade torácica trabalha com pressão negativa, o diafragma abaixa fazendo com que a pressão dentro do tórax fique negativa, isso faz com que puxe o ar pela via aérea, como o aluno falou, se eu tenho uma abertura na parede torácica o efeito do espaço morto é bem menor, pois é só a parede torácica. Não tem traqueia, fossa nasal, laringe para o ar passar, então é mais fácil o ar entrar pela ferida do que entrar pela via aérea, só que, a partir do momento que o ar entra pela ferida ele deixa de entrar pela via aérea, então, ambos os pulmões deixam de ventilar, por isso é um quadro potencialmente fatal e pode matar muito rápido. Paciente evolui com insuficiência respiratória muito rápido, mas o pneumotórax aberto não fica hipertensivo porque o ferimento torácico é grande, o ar entra e sai na expiração também, mas tem uma situação que ele pode ficar hipertensivo sim. Como a gente trata o pneumotórax aberto? Como foi dito, a princípio, é o curativo de 3 pontos, mas há atualizações do ATLS que mostram curativos com 4 pontos que são tão eficientes quanto os curativos de 3. Eles possuem uma válvula que fecha no momento na inspiração e abre na expiração com um fluxo unidirecional. É, esse é o tratamento de urgência. A gente cobre o ferimento com um curativo de 3 pontos e fecha somente 3 das 4 laterais do curativo. Meu objetivo é fazer a fisiopatologia inversa da ferida torácica aspirativa. Na expiração eu permito que o ar saia e na inspiração o curativo colaba e não deixa o ar entrar, mas isso não é o tratamento definitivo. O tratamento definitivo é drenar e fechar o tórax. Como o aluno falou, o ATLS mostra que o curativo oclusivo é tão eficaz quanto, mas qual o perigo dele? É isso que ele falou mais cedo, se eu tampo a ferida ela pode virar hipertensiva, por isso a gente fazia o de 3 pontos, para permitir que o ar saia, porque se o ar entrou e fechou, todo o ar que estiver dentro não vai ter como sair, tudo bem que não entra, mas não vai ter como sair, por isso a recomendação por muito tempo foi o de 3 pontos, mas os trabalhos mostraram que o risco de isso acontecer é baixo e a mortalidade é a mesma. Porém se fosse em mim, se vocês me encontrarem com uma facada no tórax, utilizem o de 3 pontos, mas se cair na prova, tanto faz, pode ser tanto um quanto o outro. Lembrar de deixar a parte aberta sempre para baixo, como paciente fica deitado, deixa para o lado posterior, porque se tiver muito sangue pode vedar e não ser um curativo eficiente. Por que eu digo isso, porque o curativo de 3 pontos é muito simples e o risco de evoluir para um pneumotórax hipertensivo é muito baixo, não é significativo, a ponto de o ATLS recomendar tanto um quanto o outro, então não vejo necessidade de fazer o oclusivo de 4 pontos. A outra patologia é o tórax instável/contusão pulmonar. Alguém pode explicar o que é um tórax instável? Professor, é quando há fratura de dois pontos de três arcos costais seguidos causando instabilidade na inspiração, ao invés de o tórax expandir ele colaba na inspiração. Bom, o princípio que eu quero que vocês se lembrem é “uma parte da parede torácica que está solta”, ok? Quando normalmente isso acontece? Quando ocorre o que a aluna descreveu, quando tem fratura de 3 ou mais arcos costais em, pelo menos, 2 pontos diferentes, porque fica aquele pedaço solto do restante da parede. Caso eu tenha apenas dois arcos costais consecutivos, a costela de cima estabiliza o arco lesionado superior e a costela de baixo estabiliza o arco lesionado inferior, dessa forma, não sintetiza um tórax instável. Na condição de uma fratura em apenas um ponto da costela, o esterno vai estabilizar a parte da frente e a coluna estabiliza a parte de trás. Porém, se eu tenho uma fratura em dois pontos diferentes em 3 ou mais costelas consecutivas, aquele pedaço vai ficar solto. Mas, mesmo assim, se os dois pontos de fratura forem bem próximos, também não dá instabilidade. E também já aconteceu, por exemplo, de não ter nenhuma fratura e mesmo assim o paciente ter tórax instável. Nesse caso, o paciente, após massagem cardíaca, fraturou as cartilagens instabilizando o esterno. É raro, mas pode acontecer. O que eu quero que vocês guardem como princípio: é quando existe parte da parede torácica desconectada. O mais comum é o que foi descrito, fratura de três ou mais costelas consecutivas em dois pontos diferentes. A consequência disso é que, na inspiração normal a parede torácica aumenta, principalmente o diafragma, fazendo com que a pressão intrapleural diminua e, dessa maneira, o ar entra. Na expiração, por elasticidade, a parede normal volta ao seu volume inicial e isso faz com que a pressão intratorácica aumente e force o ar para fora. Então se eu tenho um pedaço da parede solto, no início da mecânica ventilatória a parede expande, o diafragma abaixa, e a pressão intrapleural fica negativa, dessa forma, ela vai puxar esse pedaço da parede solto para dentro, então a parede vai toda para fora, mas aquele pedaço instável vai para dentro. Já na expiração, quando toda a parede está voltando, a pressão aumenta, então aquele pedaço que está solto vai para fora, produzindo um movimento paradoxal, pois enquanto “toda a parede está indo, o pedaço está voltando e quando toda a parede está voltando, o pedaço está indo” e isso se chama respiração paradoxal. Por muito tempo acreditava-se que isso provocava insuficiência respiratória e os pacientes evoluem mesmo com insuficiência respiratória e, antigamente, o tratamento era colocar sacos de areia em cima da parte que estava se movendo. Hoje a gente sabe que não é o tórax instável que mata o paciente, são as consecutivas lesões pulmonares que o “pedaço solto” provoca na mecânica respiratória provocando várias contusões no parênquima pulmonar, sangramento alveolar e isso evolui para insuficiência respiratória. Também podemos ter contusão pulmonar sem tórax instável e isso é muito comum. Como é o tratamento da contusão pulmonar com ou sem tórax instável? Antigamente, o pessoal usava muito colete, mas ele é pior do que deixar sem nada, porque o colete restringe a respiração, isso acaba piorando a insuficiência respiratória, então a conduta é suporte ventilatório fazendo ventilação com pressão positiva, porque na ventilação normal, com pressão negativa, o pulmão e o diafragma abaixa e puxam aquele pedaço da parede torácica para dentro. Então vai ter que ter suporte mecânico? Isso, suporte mecânico sim, mas não necessariamente invasivo. Então, na pressão positiva, o ar é jogado sob pressão na via aérea empurrando toda a parede torácica, tanto a normal quanto a patológica, isso quando tem tórax instável. Quando temos apenas contusão pulmonar, eu posso fazer somente aporte de O2, mas se tem tórax instável associado, a conduta é justamente essa, ventilação por pressão positiva. Até um passado recente era feito intubação, mas na intubação, vocês devem saber, existem efeitos colaterais como: o paciente ter que estar sedado; o risco de pneumonia associada à ventilação mecânica; paciente fica imobilizado aumentando risco de trombose; broncoaspiração; entre vários outros problemas. Então, sempre que possível, ventilação por pressão positiva não invasiva, porque você ventila o paciente com pressão positiva e evita os efeitos de uma IOT e, caso não resolva, a indicação é para intubar o paciente. Professor, quanto tempo fica em ventilação por pressão positiva? Em média 7 dias. Não é o suficiente para cicatrizar, mas os tecidos ao redor vão fibrosando então vai diminuindo a respiração paradoxal, então o músculo que está na frente e a pleura atrás acabam segurando naquela posição nova e diminui a respiração paradoxal, mesmo que a costela não esteja cicatrizada, mas o paciente consegue ter uma vida normal.Bom, como o aluno falou, há algumas situações que a gente acaba fixando as fraturas, mas é muito raro, por um motivo simples, a gente não consegue. A gente usava, muito antigamente, fio metálico e a costela quebrava, usava prótese de titânio ou platina e a costela quebrava. Isso ocorre porque, não sei se vocês lembram da fisiologia, mas quais os dois movimentos das costelas? Tem muito estresse em cima da prótese né? Não só o estresse, há outro detalhe. Como são os movimentos das costelas? Alça de balde em um sentido e braço de bomba em outro sentido, mas isso é didático, na vida real os dois acontecem ao mesmo tempo, então se eu coloco algo rígido para ficar naquela posição, ela quebra com o tempo após o desgaste e, com um ou dois meses, ela quebra. Hoje em dia nós temos prótese própria para a costela e o segredo dela é seguir a curvatura daquela costela e, assim, ela fica na posição sem quebrar seguindo o movimento sem o estresse anteriormente descrito, tanto que há prótese exclusiva para cada costela. O lado negativo é o preço dessas próteses, as quais não estão disponíveis no SUS e a baixa disponibilidade. Dessa forma, a prótese só é indicada quando o paciente tem tórax instável e tem insuficiência respiratória refratária, ou seja, se eu coloco a ventilação não invasiva, IOT e não melhorou aí você indica. Lembrar também que fratura da costela dói muito necessitando de uma analgesia adequada e essa dor atrapalha na respiração, fazendo com que a respiração fique mais superficial e isso agrava ainda mais o quadro de insuficiência respiratória alimentando esse ciclo. A outra patologia é o hemotórax maciço. Saindo do B e indo pro C, é, mas ainda na avaliação primária pode levar o paciente a óbito ainda nos primeiros minutos. O que é um hemotórax maciço? É um hemotórax muito grande chegando a 1.500 mL. Bom, a gente usa esse número, mas a definição é o tamanho suficiente para provocar um choque, provocar hipotensão. Se a gente lembrar das gradações do choque, gradação 1 e 2 paciente já está em choque, mas não está com alteração de pressão arterial, já no grau 3 o paciente apresenta hipotensão. Um adulto de porte médio de 70kg seria por volta de 1500ml de sangue, lembrando que mulheres tem menor volemia, então podem entrar em hemotórax maciço com menor volume. HEMOTÓRAX MACIÇO: hemotórax suficiente para provocar alteração circulatória, que no adulto médio seria de 1500ml. Qual o tratamento do hemotórax maciço? Drenagem, reposição volêmica e reposição de hemácias! Aqui, diferentemente do pneumotórax, não adianta puncionar, o sangue é viscoso demais para o procedimento ter sucesso efetivo. ➢ Pneumotórax hipertensivo: presença de hipertimpanismo, a conduta é punção de alívio (visando diminuir a pressão) e depois drenagem. ➢ Hemotórax: se apresenta maciço a percussão (principalmente na base) e MV diminuído à AP, a conduta é apenas a drenagem. Se o volume que sai é muito grande tem indicação de abordagem cirúrgica. Critérios para toracotomia: drenagem maior que 1500ml ou 250ml/h em 3h após drenagem. Avaliar também se o sangramento continua ou não! Literatura varia de 1500-2000ml. Abaixo de 1500 não se deve fazer toracotomia, entre 1500- 2000 avaliamos o caso, maior que 2000ml fazemos a toracotomia. Por que a drenagem tem que ser em selo d'água? Porque na expiração o sangue sairia, mas na inspiração o ar entraria, causando pneumotórax. A via de acesso deve ser anterolateral, uma toracotomia anterolateral, pois garante acesso tanto ao coração quanto ao pulmão, então você resolve desde um hemotórax maciço a um tamponamento cardíaco, apesar dessa via não ser a preferencial para nenhum dos dois órgãos. Curiosidade que perguntaram: faz fechamento de pleura? Não, deixa aberto, igual peritônio. O que precisamos reconstruir na pleura é a mecânica, e isso seria por meio do dreno torácico, por voltar a ter pressão positiva. Agora vamos para a outra alteração de circulação: Tamponamento cardíaco. Potencialmente fatal e deve ser identificado na avaliação primária. Consiste na presença de sangue no saco pericárdico, e como este é de tecido conjuntivo denso, o acúmulo agudo de líquido comprime as câmaras cardíacas, principalmente os átrios, reduzindo o retorno venoso e a pós carga, cursando com hipotensão. Como diagnosticamos clinicamente o Tamponamento Cardíaco? Pela tríade de Beck: turgência jugular, bulhas hipofonéticas e hipotensão. Mas o diagnóstico clínico é difícil, principalmente quando os sinais da tríade não são claros, tendo a tríade apenas em 1/3 dos pacientes. Pelo ATLS, só temos duas patologias com turgência jugular: pneumotórax hipertensivo e tamponamento cardíaco; o pneumotórax hipertensivo tem fácil diagnóstico, logo, se não for, é tamponamento cardíaco até que se prove o contrário! Como é sangue e agudo, dificilmente teremos distensão de pericárdio para compensar, então não é de grande necessidade realizar monitorização cardíaca (nessa parte o aluno perguntou especificamente sobre achatamento do QRS, mas o professor respondeu isso de ser agudo e também que o importante era tu saber diagnosticar, devido ser altamente fatal não devemos perder tempo com certas coisas). Eu, como clínico geral, faço pericardiocentese? Professor fala que nem ele como cirurgião torácico faz rs. Então como trata? Antigamente era pela pericardiocentese (ele explica o procedimento), professor relata que já viu pericardiocentese guiada e mesmo assim teve lesão cardíaca do procedimento, diz que é muito arriscado e hoje que em dia é PROSCRITO! Então o que fazemos? Pericardiotomia, abre por meio de toracotomia, drena e confere a hemostasia. Fazemos pericardiocentese hoje em dia? Só em momentos heroicos, paciente morrendo e sem acesso ao CC. Não fechamos o pericárdio, deixamos aberto necessariamente; em cirurgias cardíacas de rotina, deixam os pontos beeeem espaçados, pra não tamponar no pós-operatório. Situação que fazemos toracotomia na sala de emergência? Lesão penetrante que evolui com PCR em AESP, deve-se abrir pois há necessidade de massagem cardíaca interna, direto no coração, além de procurar a origem do sangramento e tratar lesões. Massagem cardíaca externa faria vazar mais sangue. Agora vamos para o exame secundário, onde o paciente não tem risco iminente de morte. ➢ Ferimento de parede: quando é na parede abdominal, a conduta é botar o dedo, não precisa de exame de imagem agora; se eu coloco o dedo e ele para logo no comecinho, sabemos que não que não profundo, lava e sutura, já se você coloca e entra, vai fundo, entra a mão e etc, no caso penetrou a cavidade. Cervical pode colocar o dedo pra ver se passou do platismo (acho que foi isso que ele falou). Já na parede torácica não! Não coloque o dedo porque pode perfurar a pleura e fazer um pneumotórax, faz radiografia pra ver. ➢ Pneumotórax simples: toracotomia com drenagem pleural fechada após RX, não faço RX quando hipertensivo. ➢ Hemotórax: chocado, com alteração da ventilação, MV diminuído, maciço à percussão, já dreno logo, não faço RX, direto pra drenagem. ➢ Ferimento transfixante do tórax: é um ferimento que o orifício de entrada tá em um hemitórax e o de saída tá em outro, geralmente por arma de fogo. Se tiver pegado o coração ou lesão mais grave, veríamos lá no exame primário. Não posso liberar sem fazer: TC de tórax com contraste (o ideal seria uma arteriografia, mas é muito pouco disponível; o objetivo é ver o coração e os vasos da base, se tem dissecação e afins) + broncoscopia (avaliar traqueia e brônquios principais) + EDA (avaliar esôfago), mesmo que o paciente esteja estável. Sarah fala sobre a EDA ser contraindicada pra DUP perfurada, devido a insuflação do procedimento, se também não seria o mesmo caso agora. Professor fala que é uma contraindicaçãorelativa e que por isso devemos explicar bem o motivo de estarmos pedindo tal exame, também fala das diferenças clínicas das duas situações. ➢ Fratura de costela: se eu tenho só a fratura de costela, não há necessidade de ventilação positiva, só haveria necessidade se fosse fratura de costela associada à tórax instável e contusão pulmonar. Fratura simples faz só analgesia, não se engessa ou fixa essas fraturas, a intervenção cirúrgica teria maiores riscos do que só analgesia. Se espículas da fratura perfurarem o pulmão, fazendo hemotórax ou pneumotórax? Aí eu trato o hemo/pneumotórax, não é a fratura que vamos tratar. Se tiver tórax instável e insuficiência respiratória, aí tratamos a fratura de costela. Lembrem da analgesia, paciente nem consegue ir pra casa sem, analgesia a longo prazo, porque vai demorar a consolidar. ➢ Contusão miocárdica: geralmente por trauma contuso, o mecanismo mais simples seria o motorista sem cinto, se manifesta clinicamente como arritmia (mais como taquiarritmias), você trata a arritmia, não tem um tratamento específico pra contusão. ➢ Lesões de diafragma: bem difíceis de diagnosticar, gera suspeita quando tenho trauma toracoabdominal. Na fase aguda, a conduta de escolha é laparotomia (mais fácil). Apresenta incidência igual entre os lados direito e esquerdo, mas o esquerdo é mais diagnosticado porque hernia pro tórax (no lado direito tem o fígado dificultando). Se herniar conteúdo abdominal pro tórax (meses ou anos após a lesão): toracotomia. ➢ Lesões do esôfago: difícil de diagnosticar, suspeita quando tiver lesão trasfixante de tórax, clinicamente não apresenta quase nada, só se tiver lesão de outra estrutura; pode provocar mediastinite devido vazamento de saliva, infecção potencialmente grave, mortalidade em torno de 50%. A conduta é exame contrastado ou EDA: se diagnosticada com 6 a 12 horas deve-se fazer rafia primária, caso passadas mais de 12 horas, já tem contaminação, então não fecha, apenas cobre com pleura, pericárdio ou músculo intercostal e drena o mediastino. Pneumotórax espontâneo: pneumotórax sem trauma prévio, podendo ser: primário (bleb congênita, geralmente no sexo masculino, em adultos jovens, longelíneos) ou secundário (doença pulmonar que justifica o pneumotórax: tabagista importante, tuberculose). A conduta é drenar! Só não drena de tiver menos de 15% do diâmetro do hemitorax, intubado ou vai ser transferido, ai é tratamento conservador. Recorrência de 50% pra ter um segundo (nos 2 primeiros anos após do primeiro evento), 80% para o terceiro e 90% para o quarto. Tratamento conservador nas recorrências e na fase aguda. Exercício físico não tem impacto importante na doença; mas variações bruscas de pressão predispõem. A cirurgia para tratar é a bulectomia ou bulhectomia, ressecar as bolhas, depois faz pleurodese física ou química, pra pleura parietal colar na visceral e evitar novas bolhas.