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Protozoários, Espozoários e Flagelados Parasitologia Clínica Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria EDINÉIA BONIN AUTORIA Edinéia Bonin Olá! Sou analista de Alimentos, mestre em Ciência de Alimentos e doutoranda em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com experiência técnico-profissional de mais de cinco anos na área de Microbiologia. Passei por empresas multinacionais nas quais desenvolvi experiência em análise de laboratório físico-química e microbiológica. Sou apaixonada pela leitura e pelo que faço, e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora TeleSapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Protozoários Parasitos do Homem ....................................................... 10 Principais Grupos de Protozoários e Metazoários Parasitas do Homem e seus Vetores ........................................................................................................................................ 16 Amebas Parasitas do Homem ............................................................................................... 21 Entamoeba Histolytica e Amebíase: Parasita .............................................................23 Entamoeba Histolytica e Amebíase: a Doença .........................................................24 Os Esporozoários Toxoplasma Gondii .................................................29 Formas Infectivas ........................................................................................................................... 30 Transmissão .........................................................................................................................................34 Toxoplasmose: A Doença ..........................................................................................................35 Protozoários Parasitários do Gênero Plasmodium ....................... 41 Plasmódios e a Malária: Os Parasitas ...............................................................................42 Plasmódios e a Malária: a Doença ......................................................................................47 Plasmódios e a Malária: Ecologia e Epidemiologia............................................... 48 Controle da Malária....................................................................................................................... 49 Flagelados Parasitas do Sangue e dos Tecidos: Trypanosomatidae ..................................................................................... 52 Tripanossomíase por Trypanosoma cruzi (Doença de Chagas): O Parasita e a Doença ...........................................................................................................................................53 Tripanossomíase por Trypanosoma Cruzi: Ecologia, Epidemiologia e Controle ..................................................................................................................................................57 Tripanossomíase por Trypanosoma Brucei e Doença do Sono ................... 59 7 UNIDADE 02 Parasitologia Clínica 8 INTRODUÇÃO Estímulo vem da vontade de aprender coisas novas, de buscar um material que auxilie e ajude a compreender com mais facilidade os desafios do estudo. E o estudo do reino Protozoa é bastante estimulante. O reino Protozoa compreende os protozoários e metazoários que parasitam o homem e seus vetores de contágio, a diferença em organelas de locomoção, ciclo biológico sexuado e assexuado, muitas vezes ocorre no hospedeiro, o homem, para potencializar a doença, quais os principais grupos que são responsáveis por epidemias no Brasil e no mundo. Entender o ciclo biológico da Entamoeba histolytica responsável pela amebíase no homem, bem como o protozoário intracelular obrigatório Toxoplasma gondii, que é o agente causador da toxoplasmose e tem o felino como hospedeiro definitivo. Aprender sobre a infecção número 1 em casos epidêmicos no Brasil e no mundo e qual sua forma de transmissão, a doença malária ou doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários do gênero Plasmodium, transmitidos pelo mosquito fêmea do gênero Anopheles e, por fim, a doença de Chagas, descoberta pela primeira vez no Brasil pelo cientista e médico Carlos Chagas, é transmitida pelo Trypanosoma cruzi denominado barbeiro, protozoários que transmitem a infecção pelas fezes e urina e a doença do sono, transmitida pelo Trypanosoma brucei que infecta pela saliva. Aos futuros profissionais e estudantes, sejam bem-vindos a conhecer e entender os protozoários que infectam o homem, e seus graves riscos na Saúde Pública, sejam multiplicadores de boas ações o conhecimento. Parasitologia Clínica 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2 – Protozoários, espozoários e flagelados. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Apontar as características gerais do reino Protista. 2. Identificar os principais grupos de protozoários e metazoários e sua organela como meio de locomoção. 3. Analisar o gênero de Plasmodium quanto ao parasita, doença e epidemiologia. 4. Reconhecer os flagelados que infectam o sangue e tecidos. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Parasitologia Clínica 10 Protozoários Parasitos do Homem OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de diferenciar os grupos dentro do reino protozoa que compreende os protozoários e metazoários parasitas do homem, quanto ao meio de locomoção, nutrição, morfológico, ciclo biológico, bem como os vetores e principais grupos que são responsáveis por epidemias no Brasil e no mundo. Vamos aos estudos?. Dentro do grupo da Parasitologia, ciência que estuda os parasitas e associações com seu hospedeiro, temos o reino Protista (Protozoa), platelmintos e nematelmintos (Platyhelminthes) e artrópodes (Arthropoda). O conceito de protozoário foi abordado no século XIX por pesquisadores, a partir deste século, o número de espécies aumentou e novas abordagens de classificação e organização foram necessárias para entendimento dos organismos. Nos dias de hoje, existem mais de 60.000 espécies de protozoários, uma parte ainda são fósseis, o restante é encontrado em todos os tipos de ambientes aquáticos e nos solos, cerca de 10.000 espécies são parasitas de animais, e 100 espécies parasitam o homem. Cerca de 25.000 espécies têm vida livre, mas podem viverem associações harmônica ou desarmônica com outros seres, em alguns casos, são encontrados aderidos em rocha, algas, plantas aquáticas, rizosfera de plantas, biofilmes em locais com alimento disponível. Esta única célula realiza todas as funções de locomoção, morfológica, fisiológica, excreção, respiração, nutrição e reprodutiva, com facilidade de adaptações em diferentes ambientes. Estes seres, embora tão pequenos em tamanho (2 a 100 µm), com ciclo biológico de curta duração, têm alta reprodução assexuada e sexuada. Quando comparados com microrganismos que induzem infecção bacteriana de curta duração, os parasitas desenvolveram mecanismo de escape que permite longo período de parasitismo. Parasitologia Clínica 11 Os protozoários não possuem grande formação celular, são organismos unicelulares eucariotos, com importância biológica e parasitária. Possuem uma única célula, porém alguns têm organelas de alta complexidade, sendo comparada com órgãos de organismos multicelulares. Quando comparamos a complexidade fisiológica e funcional, estes seres são mais semelhantes com animais do que com células isoladas. As células podem ter morfológicas variadas em formatos ovais, alongados e esféricos, para identificação, os estudiosos precisaram usar várias técnicas como o auxílio de microscópio eletrônico, estudos bioquímicos e fisiológicos. A condição fisiológica faz com que espécies de protozoários tenham etapas definidas: a forma ativa de alimentação e reprodução denominada trofozoíto. A forma de resistência ou inativa é uma parede cística que o parasita produz para envolver a célula e proteger quando está em meio externo. Os cistos podem ser encontrados em tecidos ou fezes do hospedeiro, já os derivados da reprodução sexuada podem ser encontrados nas fezes do hospedeiro, em que suas formas de reprodução sexuada podem ser por gameta de algumas espécies, como o Plasmodium, denominado microgameta masculino e macrogameta feminino. A estrutura dos protozoários é constituída basicamente de membrana, citoplasma e núcleo bem definidos. A membrana plasmática apresenta função e estrutura similar à célula dos animais, funciona como barreira seletiva entre o citoplasma e o meio externo, tem importante associação com a nutrição por ingestão de partículas sólidas e líquidas (fagocitose e pinocitose), motilidade, excreção, descarte de produtos produzidos pela célula e regulação osmótica. Giardia lamblia e tripanossomas são exemplos de protozoários que apresentam membrana celular, chamadas de cutículas, possuem uma rigidez para manter a proteção do interior da célula (formato e integridade), porém esta rigidez não interfere no movimento em seu habitat. A membrana plasmática é composta por uma mistura delicada de lipídeos e proteínas, controla o que entra e sai da célula. Já os lipídios são denominados de fosfolipídios, são formados por uma dupla camada, com cabeça hidrofílica, atraem a água, e cauda hidrofóbica não há atração de água. A bicamada lipídica é composta de pequenos poros, que selecionam as moléculas para passarem por meio da membrana. As proteínas têm funções diferentes, podem ser canais ou receptores de sinais ou apenas um conexo da membrana. Parasitologia Clínica 12 Nos protozoários, temos o citoplasma, que inclui organelas envoltas por membranas, com característica de uma massa gelatinosa denominada de citosol (solução à base de água que contém íons, pequenas moléculas orgânicas, e macromoléculas), muitas vezes diferenciado em ectoplasma (camada externa e transparente) e endoplasma (camada interna contendo as organelas). A estrutura do citoplasma é mais facilmente vista em amebas, pelo prolongamento do externo do citoplasma denominado de pseudópodes, responsável pelo movimento. Observe essa estrutura na Figura 1. Figura 1 – Prolongamento do citoplasma – Pseudópodes em ameba Nucléo Membrana celular Pseudópodes Endoplasma Ectoplasma Vacúolo contrátil Vacúolos Digestivos Fonte: Wikimedia Commons. No citoplasma, estão presentes as organelas como mitocôndria, vacúolos, lisossoma, corpúsculo basal, complexo de Golgi, microtúbulos e retículo endoplasmático, cada organela tem função específica. Algumas espécies de protozoários não possuem mitocôndrias e complexo de Golgi, possuem estruturas especiais. As organelas das diferentes espécies são praticamente semelhantes, o que difere é o tamanho, algumas precisam ser observadas em microscópio eletrônico. Parasitologia Clínica 13 Agora, vamos falar resumidamente sobre cada funcionalidade das diferentes organelas: o retículo endoplasmático tem duas finalidades lisossíntese de esteroides (liso) e síntese de proteínas (grosso), já o complexo de Golgi, que fica junto com o retículo, tem a finalidade de condensar a secreção das proteínas e síntese dos carboidratos, os protozoários flagelados, ciliados e amebas (Giardia), tem essas organelas desenvolvida, reduzida e ausente. As mitocôndrias são responsáveis pela respiração dos protozoários, possuem DNA, RNA e ribossomos com propriedades parecida com a dos procariotos, alguns parasitas, como tripanossoma, possuem mitocôndria única, com região rica em proteína, os Giardia lamblia, Trichomonas vaginalis e Entamoeba não contém mitocôndria. O meio de nutrição dos protozoários ocorre por predação de microrganismos ou protozoários mesmo, ou por ingestão de partículas do meio. Os tipos de nutrição podem ser por autotróficos, heterotróficos, saprozoicos, mixotróficos e síntese de proteínas e transporte. Acompanhe pelo Quadro 1. Quadro 1 – Tipos de nutrição que ocorre nos protozoários em geral Autotróficos Sintetizam a luz solar, exercendo fotossíntese. Heterotróficos Ingestão de partículas orgânicas que são quebradas por enzimas, e o resíduo é eliminado. Saprozoicos Absorção de substâncias inorgânicas, em decomposição. Mixotróficos Excreção de resíduos, substâncias solúveis e insolúveis. (Tróficos) mais que uma nutrição. Síntese de proteínas e transporte Organelas especializadas de estrutura simples e complexas. Fonte: Neves (2003). Ao ingerir essa partícula, forma um vacúolo digestivo, ocorrendo a digestão do alimento e os restos são eliminados para fora da célula. O conjunto de reações químicas que ocorrem no interior das células produzem substâncias tóxicas, que precisam ser eliminadas por excreção ou pelo vacúolo contrátil. Parasitologia Clínica 14 Como os protozoários são seres de ambiente aquático, para regular o conteúdo de água no interior da célula e evitar que ocorra o rompimento desta, apresentam vacúolos contráteis, que são responsáveis pelo equilibro osmótico da célula. Essas vesículas são como bexigas, acumulam a água e liberam para fora do protozoário. Os alimentos são ingeridos pelos protozoários e enzimas são responsáveis pela quebra deles, essas são produzidas pelo vacúolo digestivo. O citoesqueleto formado por proteínas estruturais que se encontram no interior da célula dos protozoários, são responsáveis pela formação dos flagelos e cílios meios de locomoção. Os meios de deslocamento dos protozoários são o flagelo, cílio, pseudópodes e microtúbulos. Os flagelos são estruturas finas e permanentes de locomoção dos flagelados, compostas por microtúbulos formados por proteína tubulina, as espécies possuem números variados de flagelos, por exemplo, o gênero Trypanosoma tem um único flagelo e as Giardia lamblia quatro ou mais. Os protozoários ciliados possuem cílios para deslocamento, sua composição funcional e morfológica é parecida com a dos flagelos, a diferença é a membrana ondulante formada pelos cílios, são rápidos no meio aquático, pois possuem grande número de cílios na superfície celular. Os pseudópodes são como pés, gerados por alongamento do externo do citoplasma, o movimento é por meio de deslizamento, e com isso vai ingerindo partículas de alimentos, são organelas temporárias. Já asestruturas denominadas de microtúbulos, são meios específicos de Toxoplasma e Sarcocystis, não perceptíveis em microscópios comuns, possibilitam os deslizamento e ondulações, flexões, contrações e deslocamento. Parasitologia Clínica 15 Figura 2 – Protozoários e suas diferentes organelas de deslocamento C í lio s Pseudópodes Flagelos Fonte: Wikimedia Commons. Os núcleos das células dos protozoários geralmente são esféricos ou alongados, situado no endoplasma, separado pela membrana nuclear, constituído de inúmeros canais que transporta material entre o nucleoplasma e o citoplasma. O material genético está no cromossomo que contém filamentos de DNA (um ou mais núcleos). A síntese proteica é produzida por diferentes tipos de RNA no núcleo, a quantidade de núcleo é diferente entre as espécies de protozoários. Os macronúcleos e micronúcleos são dois tipos de núcleos dos ciliados, são responsáveis pelo controle da atividade vegetativa e reprodução. Esta organela está presente nos protozoários de água doce e também possui a função de regulação osmótica (controle hídrico) da célula. Os protozoários de água doce são hipertônicos em relação ao meio em que se encontram e por isso, ocorre, por osmose, uma entrada contínua de água no seu interior. Para evitar que o protozoário inche e estoure, o vacúolo contrátil bombeia continuamente o excesso de água para fora do protozoário. Parasitologia Clínica 16 A respiração dos protozoários é feita por meio aeróbico, necessitam do oxigênio para sobrevivência, absorvido pela membrana citoplasmática. E o meio anaeróbico não sobrevive em contato com o oxigênio, não têm membrana. Principais Grupos de Protozoários e Metazoários Parasitas do Homem e seus Vetores Os protozoários podem causar doenças graves nos seres humanos, infectam tecidos e órgãos do corpo como: células do sangue, sistema nervoso central (SNC), as células de defesa do organismo que atuam no sistema imunológico (macrófagos), intestino, sistema reprodutor, cérebro, músculo e pele. Observe o Quadro 2. Quadro 2 - Locais do corpo humano que os Protozoários infectam causando doença Cabeça (SNC) Ameba, malária, Toxoplasma e tripanossomas Sistema reprodutor Trichomonas Pele Leishmania Sangue Malária, tripanossomas Oragos (fígado) Leishmania, Entamoeba Intestino Cryptosporidium, Entamoeba, Giardia, Cyclospora Fonte: Fonseca (2005). Estes protozoários desenvolverem estratégias para bloquear as repostas do organismo do hospedeiro, e utilizam uma variedade de rotas para infectar os seres humanos. Os principais grupos de protozoários ou reino protozoa são classificados conforme o meio de locomoção em Sarcomastigophora, os quais estudamos as amebas, que se movimentam por pseudópodes, os flagelados por longos flagelos, apicomplexa é o estudo dos esporozoários, não possuem estrutura de locomoção e Ciliophora que estuda os organismos ciliados, movimento por cílios curtos. Parasitologia Clínica 17 O deslocamento da Mastigophora ou flagelados é por batimento dos flagelos, semelhantes a chicotes, auxiliam na captura de alimentos e estímulos ambientais, a maioria são heterotróficos, forma oval, alongada ou esférica, reproduzem por bipartição, alguns grupos são de vida livre, nutrição de animais e plantas em decomposição, ou membrana ondulares como os tripanossomos. Nesse grupo, incluem também os flagelados intestinais, que causam doenças graves como a doença do sono e de Chagas, infecções do trato urinário e giardíase (Giardia, Trichmonas, Trypanosoma), doenças causadas no sangue e tecido (Leishmania e Trypanosoma). Sarcodina são grupos de protozoários ameboides, que causam doenças no ser humano, usam pseudópodes para locomoção e capturar alimentos, vida livre e habitat variado na natureza, como as Entamoeba, Endolimax, Iodamoeba, alguns grupos têm o trato digestivo do homem como habitat, por exemplo: Entamoeba dispar, Entamoeba coli, Iodamoeba butschilii e Entamoeba nana, essas espécies não são patogênicas ao homem, como descrito na evolução do parasitismo no capítulo I, a única espécie patogênica é a Entamoeba histolytica. Sporozoa ou esporozoários, denominados de apicomplexa, são parasitas de ciclo de vida complexo, podem ter dois tipos de reprodução sexuada ou assexuada rotativas, geralmente são dois tipos de hospedeiros definitivos: pode ser artrópode, vermes, inseto e vertebrados. Podem ser divididos em duas classes: Coccidio, que parasitam o homem, Toxoplasma, Isospora e Cryptospidium (causa diarreia no homem e nos animais). E a classe dos Haematozoa, que incluem os Plasmodium, nesse grupo encontra-se o parasita da malária. Parasitologia Clínica 18 Figura 3 – Anatomia dos esporozoários denominados de apicomplexa Fonte: Wikimedia Commons. Ciliophora são grupos de protozoários constituídos pelos ciliados, possuem dois tipos de núcleos em cada organismo, são heterotróficos, com diferentes formas corpóreas, de vida solitária, por ter cílios distribuídos na superfície de todo corpo, são muito rápidos, acredita-se que os cílios auxiliam no movimento da água impulsionando-os para frente, o que ajuda a fugir dos predadores. O Balantidium coli é o único parasita que infecta o intestino do homem e diferentes animais. Parasitologia Clínica 19 SAIBA MAIS: Para melhorar o entendimento sobre o B. coli, sugiro a leitura deste artigo de Barbosa et al. (2016), Avaliação da frequência de Balantidium coli em suínos, tratadores de suínos e primatas não humanos no estado do Rio de Janeiro. Acesse aqui. Os metazoários parasitas do homem são compreendidos por dois grupos de vermes helmintos que se dividem em platelmintos e nematelmintos, são seres que desenvolveram ao longo do tempo, passando de protozoários para metazoários. Os platelmintos são vermes de corpo achatado, subdividem-se em duas classes: cestoda e trematoda. Os cestodas têm o corpo semelhante a uma fita, infectam tecidos e intestino dos seres humanos como as Taenia, Spirometra, Echinoccus, Hymenolepis e Dipylidium, já os trematódeos apresentam-se em forma de folha, e os esquistossomos são alongados e estreitos, isso facilita seu habitat nos pequenos vasos sanguíneos. Os gêneros que infectam os homens incluem Schistosoma, Paragonimus, Clonorchis, Metagonimus, Fasciolopsis e Fasciola. Nematelmintos são nomeados como parasitas intestinais, pela forma de infectação que ocorre por falta de saneamento básico, falta de higiene e índice socioeconômico. Possuem um corpo cilíndrico arredondado, várias cavidades naturais, sistema nervoso complexo e sexo separado. O procedimento usual para diagnóstico nos seres humanos é análise de fezes, urina, sangue e tecidos, para verificar a presença de ovos ou larvas. Os gêneros dos nematelmintos que infectam o homem: Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura e Enterobius Vermicularis. Observe o Quadro 3. Parasitologia Clínica http://bit.ly/38gAIpc 20 Quadro 3 – Metazoários: helmintos – espécies e importância para o homem Platelmintas- Cestodes Taenia solium e saginata Echinococcus granulosus Diphilobotrium latium Hymenolepis nana e diminuta Intestino Platelmintas- Trematodes Fascíola hepática Paragonimus vestermani Fasciolopsis buski Schistosoma mansoni, japonicum, haematobium Fígado e pulmão, intestino e sangue Nematelmintas Ascaris lumbricoides Trichuri trichiura Enterobius vermicularis Intestino Fonte: Doughty (1996). Alguns vetores podem transmitir essas doenças de protozoários para o homem ou animais, na classe dos flagelados, temos a Leishmania brasiliensis, Mexicana e Donovani, são transmitidos por vetores como Flebotomíneos, subfamília de insetos que tem como habitat as florestas, nas ruas são considerados como endemias, tendo com reservatórios roedores ou cães. Os mosquitos Aedes são considerados vetores das doenças como a dengue, Chikungunya, febre amarela e zika,já pernilongo Anopheles, da malária, o mosquito culex: Encefalite janonesa, febre do Nilo e ocidental, por fim, o Filaríase linfática vetor de elefantíase. Os triatomíneos são insetos hematófagos obrigatórios conhecidos como barbeiros Triatoma reduviid que causa a doença de Chagas (tripanossomíase africana), a mosca Tsé-Tsé é vetor da doença do sono e os caracóis de água doce causam esquistossomose ou barriga d´água. E, ainda, os considerados vermes helmintos: mosca Simulium causa a doença humana denominada de Oncocercose e a mosca Chrysops: doença Loaiasis. Parasitologia Clínica 21 CURIOSIDADE: A Filariose linfática doença parasitária crônica, causada pelo verme nematoide Wuchereria Bancrofti e replicada pela picada do mosquito Culex, está sendo erradicada no Brasil, a área endêmica está concentrada na região do Recife/Pernambuco. Amebas Parasitas do Homem Neste tópico, vamos falar sobre o grupo de protozoários que possuem espécies patogênicas para o ser humano, espécies facultativas de vida livre e aquelas que vivem harmonicamente simbióticas. As amebas, com habitat no ser humano, são da família Entamoebidae e do gênero Entamoeba, Iodamoeba e Endolimax. Curiosidade: A primeira Entamoeba descrita foi encontrada em barata (Blatta oientalis), por Butschli em 1878, até então era desconhecido que a espécie vivia em contato com hospedeiro, eram denominadas de Amoeba por ter vida livre. O significado da palavra Amoeba se refere aquilo que não tem forma. As Entamoebas podem ser classificadas em: aquelas que têm vida livre, mas podem ter patogenicidade (facultativa) Acanthamoeba sp, Balamuthia sp., Naegleria sp; as que vivem no homem, mas não causam nenhum dano aparente a saúde (simbiótica): Entameba dispar, E. coli, E. gingivalis, Endolimax nana, Iodamoeba butschilii; e a espécie considerada patogênica, Entamoeba Histolytica. Todas as espécies do gênero Entamoeba têm o intestino do homem e dos animais como habitat, menos a E. moshkovskii, por viver livremente, são classificadas conforme número de núcleos de cisto. As E. coli, E. muri e E. gallinarum possuem oito núcleos em seu cisto, E. histolytica, E. dispar, E. hartmani, E. moskovskii apresentam quatro núcleos contendo um núcleo no cisto são denominadas de E. polectki, E. suis e a que não possui cisto E. gingivalis. Parasitologia Clínica 22 Figura 4 – Cistos contendo os núcleos de diferentes gêneros de Entamoeba histolytica, E. hartmenni, E. coli, E. nana, E. butschlli e. fragillis Fonte: Wikimedia Commons. O ciclo biológico do protozoário apresenta dois estágios básicos e bem definidos: trofozoítos e cistos. As amebas descritas diferenciam uma das outras pelo tamanho do cisto e trofozoíto, pela estrutura e número de núcleos nos cistos, porém a diferenciação entre as espécies é bastante complexa, em cada fase do ciclo da vida, o parasita apresenta uma característica celular, com morfologia e bioquímica diferentes, essa diferenciação só é possível observando várias estruturas como trofozoíto nas fezes, intestino, cistos maduros e imaturos em fezes normais. Os trofozoítos é a forma ativa do protozoário, capaz de alimentar, movimentar e reproduzir, geralmente invadem a luz do intestino grosso, podendo invadir mucosas quando patogênicos. Os cistos são formas resistentes multinucleadas ou sem núcleo que são eliminados junto com as fezes. CURIOSIDADE: Os indivíduos assintomáticos, que eliminam cistos, são a principal fonte de contaminação, ocasionando epidemia em regiões que não possuem saneamento básico, contaminando água utilizada. Parasitologia Clínica 23 Entamoeba Histolytica e Amebíase: Parasita A E. histolytica é o agente etiológico da doença infecciosa do ser humano amebíase, considerada um importante problema de Saúde Pública, gerando número elevado de óbitos todos os anos. São parasitas do intestino grosso dos seres humanos, primatas e alguns outros animais, em alguns casos são assintomáticos, desenvolvendo em momento de estresse ou sistema imunológico comprometido. E. histolytica encontra-se distribuída amplamente em todo o mundo. Sua prevalência é maior nos países das zonas tropicais e subtropicais, com populações carentes e sem saneamento básico. Com o aumento da migração de pessoas de países em desenvolvimento para países desenvolvidos, o contágio é favorecido. Áreas com alta incidência de infecção amebiana incluem Índia, África, México e partes da América Central e do Sul. Há grande quantidade de pessoas infectadas em regiões frias, como o Canadá, norte dos Estados Unidos e Europa. Segundo dados dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a cada ano, essa doença se desenvolve em todo o mundo em 40-50 milhões de pessoas e causa 40.000 mortes, o que a torna a segunda principal causa morte por infecção provocada por protozoário parasita. No ano de 1990, por meio de vários estudos foi possível separar, amebas idênticas em duas espécies, E. dispar (não patogênica) e E. histolytica (patogênica). A E. dispar não causa nenhuma forma de doença, mesmo em pacientes imunocomprometidos. Porém, a E. histolytica é responsável pela colite amebiana, infecta todos os gêneros em ser humano. Parasitologia Clínica 24 SAIBA MAIS: Busque entender mais a diferença entre as Entamoeba lendo o artigo de Tomé e Tavares (2007): Diferenciação entre Entamoeba histolytica e Entamoeba dispar por meio de ensaio imunoenzimático para pesquisa de antígenos em amostras fecais. Acesse clicando aqui. Quanto a identificação, podemos encontrar a ameba ativa, o cisto inativo, o trofozoíto, que pode ser encontrado nos tecidos, e fezes aquosas causadas pela amebíase, o tamanho é entre 15 a 30 µm, os trofozooides podem ser encontrados por meio de diagnóstico do material fresco, possuem movimentos rápidos. Os cistos de amebas patogênicas medem de 10 a 20 µm, podem ser encontrados em fezes pastosas. Atualmente, as espécies patogênicas são diferentes da não patogênicas, os cistos são maiores em tamanho decorrente da diferença de nutrição ou da presença da espécie não patogênica que é menor. Entamoeba Histolytica e Amebíase: a Doença A amebíase é a infecção do homem pela Entamoeba Histolytica com ou sem manifestação clínica. O homem se infecta ingerindo os cistos maduros, juntamente com alimentos, água ou contato fecal-oral, falta de higiene domiciliar disseminando entre a família toda. Ocorre a ingestão dos cistos, passando pelo estômago, resistem ao suco gástrico, chegando ao intestino grosso, acontece o desencistamento no intestino delgado, formando o metacisto, o qual se divide em quatro, oito trofozoítos aderem a mucosa do intestino e a nutrição é detritos de alimento e bactérias. Depreendem-se da parede do intestino no cólon, transformam em pré- cisto e, posteriormente, em cisto, saindo com as fezes. O ciclo patogênico pode instalar no fígado, cérebro, pulmão, pele e cérebro. Os cistos podem sobreviver até semanas no ambiente, pela proteção da parede, ocasionando novo contágio. Parasitologia Clínica http://bit.ly/38jqfJK 25 Figura 5 – Infecção por Entamoeba histolytica Fonte: Wikimedia Commons. O fator virulência da E. histolytica é um evento multifatorial influenciado por diferentes fatores, pouco compreendido pela variabilidade e potencial patogênico e diferença de virulência, esses protozoários têm a capacidade de mudar de um tipo harmônico para virulento, agressivo e invasor, isso pode ser explicado por um rompimento do equilíbrio parasita-hospedeiro, favorecendo o parasita. Entre o meio que amebas vivem, podemos relatar a presença de bactérias, principalmente anaeróbicas, capazes de potencializar a virulência da E. histolytica, que pode ser deduzida, porque as bactérias que vivem no trato intestinal são patogênicas, como Escherichia coli, Salmonella sp. Shigela, entre outras, elas transferem o gene de virulência para outrasespécies. A E. histolytica se instala na célula com uma forte adesão, estando mediada pela proteína lectina e por fagocitose, faz a destruição da parede epitelial, liberando enzimas proteolíticas, as quais favorecem o aumento da destruição dos tecidos. Posteriormente, penetrando na mucosa intestinal, formando úlceras, que podem ter diferentes tamanhos e formas, induzindo a inflamações espalhadas facilmente, formando abscessos e necrose. Parasitologia Clínica 26 Os pacientes com amebíase desenvolvem diarreia sanguinolenta e dor abdominal, febre seguida de anorexia e perda de peso. Mulheres grávidas, indivíduos imunocomprometidos desenvolvem diarreia sanguinolenta, e perfuração do intestino, denominado de amebiana fulminante. Outro diagnóstico, considerado mais grave e menos comum, é a forma invasiva que causa maior número de morte: a amebíase hepática, não é identificado cistos ou trofozoítos nas fezes, porém os sintomas são agudos e agressivos com menos de 10 dias de duração, os homens e as crianças são os pacientes mais comuns. A infecção do cérebro causando abscesso encefálico é rara, seus sintomas são imprevistos, acompanhado de vômito, tontura e confusão menta, os pacientes raramente sobrevivem. Em casos muito raros, a amebíase pode infectar órgãos como o sistema urinário, genital, osso e pele. Figura 6 – Água pode ser um veículo de contaminação da amebíase Fonte: Pixabay. O diagnóstico da amebíase é feito por análises por microscópio das fezes e mucosa do cólon de pacientes com diarreia, esse método tem sido utilizado há muitos anos, pode gerar resultado falso positivo, dependendo da experiência do analista. Parasitologia Clínica 27 RESUMINDO: Aprendemos que cerca de 25.000 espécies de protozoários têm vida livre, mas podem viver em associações harmônica ou desarmônica com outros seres. Esta única célula realiza todas as funções de locomoção, morfológica, fisiológica, excreção, respiração, nutrição e reprodutiva, com facilidade de adaptações em diferentes ambientes. Os protozoários não possuem grande formação celular, são organismos unicelulares eucariotos, com importância biológica e parasitária. Possuem uma única célula, porém alguns têm organelas de alta complexidade, podendo ser comparada com órgãos de organismos multicelulares. No citoplasma, estão presentes as organelas como mitocôndria, vacúolos, lisossoma, corpúsculo basal, complexo de Golgi, microtúbulos e retículo endoplasmático, cada organela tem função específica. O retículo endoplasmático tem duas finalidades: lisossíntese de esteroides (liso) e síntese de proteínas (grosso). As mitocôndrias são responsáveis pela respiração dos protozoários. O meio de nutrição dos protozoários ocorre por predação de microrganismos ou protozoários mesmo, ou por ingestão de partículas do meio. Os meios de deslocamento dos protozoários são o flagelo, cílio, pseudópodes e microtúbulos. Os principais grupos de protozoários ou reino protozoa são classificados conforme o meio de locomoção em: Sarcomastigophora, os quais estudamos as amebas que se movimentam por pseudópodes, e os flagelados por longos flagelos. Além disso, a apicomplexa é o estudo dos esporozoários que não possuem estrutura de locomoção e Ciliophora que estuda os organismos ciliados, movimento por cílios curtos. Os platelmintos são vermes de corpo achatado, subdivide em Parasitologia Clínica 28 duas classes: cestoda e trematoda. Nematelmintos são nomeados como parasitas intestinais, pela forma de infectação que ocorre por falta de saneamento básico, falta de higiene e índice socioeconômico. Na classe dos flagelados, temos a Leishmania brasiliensis, Mexicana e Donovani. Os mosquitos Aedes são considerados vetores das doenças como a dengue, Chikungunya, febre amarela e zika. Já os são insetos hematófagos são conhecidos como barbeiros, vetores da doença de Chagas, a mosca Tsé- Tsé é vetor da doença do sono e, os caracóis de água doce, que causam esquistossomose ou barriga d´água. E os considerados vermes helmintos: mosca Simulium, causa a doença humana denominada de Oncocercose, mosca Chrysops: doença Loaiasis. As amebas, que têm como habitat o ser humano, são da família Entamoebidae e do gênero Entamoeba, Iodamoeba e Endolimax. A E. histolytica é o agente etiológico da doença infecciosa do ser humano, a amebíase. Parasitologia Clínica 29 Os Esporozoários Toxoplasma Gondii OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você terá compreendido as formas infectivas e o meio de transmissão, os grupos de risco e os casos clínicos mais graves, e as consequências da toxoplasmose congênita e pós-nascimento. Toxoplasma gondii é um protozoário do subfilo apicomplexa da subclasse Coccidia. É composto por duas famílias: a família Eimeridae, com os gêneros Eimeria eisospora, e a família Sarcocystidae, com os gêneros Toxoplasma e Sarcocystis. O T. gondii provavelmente deriva do coccidio intestinal monoxênico de um gato, que, durante sua evolução, produziu formas de tecido nesse animal e, posteriormente, em outros animais. O gato e outros gatos selvagens são os únicos animais nos quais o parasita se multiplica, tanto no intestino quanto nos tecidos. Portanto, o gato se distingue como hospedeiro completo ou definitivo. Além disso, outros mamíferos(incluindo o homem) e as aves, são considerados hospedeiros incompletos (eles apenas observam o ciclo de multiplicação de tecidos) ou intermediários (o parasita é multiplicado apenas por fechamentos assexuais ou esquizogônicos). O protozoário intracelular obrigatório Toxoplasma gondii, de distribuição mundial, é o agente causador da toxoplasmose, doença importante na área médica e veterinária, pode causar aborto nos hospedeiros intermediários mamíferos e hospedeiro definitivo no qual ocorre o ciclo sexuado produtor do oocisto do parasita, animais da família Felidae. O parasita é capaz de infectar e se replicar em qualquer célula nucleada de aves e mamíferos, incluindo o homem. Estima-se que a sua soroprevalência em humanos pode ser de 30 a 70%, dependendo da região mundial. Parasitologia Clínica 30 Formas Infectivas Durante o desenvolvimento, o T. gondii passa por diferentes fases infecciosas, responsáveis pela transmissão: taquizoíto ou forma livre. Refere-se ao estágio de rápida multiplicação em células nucleadas dos hospedeiros intermediários e em células não epiteliais intestinais dos hospedeiros definitivos. Tem formato de arco, com uma extremidade afinada e a outra arredondada (2 a 4 µm largura e 4 a 8 µm de comprimento), possui diversas organelas e revestimento de película com triplas membranas, não possuem meio de locomoção, movimenta-se por deslizamento, ondulações e rotações. Invade as células saudáveis por penetração, mas não resiste a ação do suco gástrico. Figura 7 – Ilustração do taquizoíto forma infectiva Fonte: Wikimedia Commons. Bradizoíto ou cisto tem a forma de pequeno taquizoíto, encontra- se em diversos tecidos durante a fase de latência, replicação lenta. É resistente a medicamentos e ao suco gástrico por possuir uma parede resistente, podem desenvolver a forma de reprodução sexuada nos felinos. Esporozoítos são as formas infectivas de T. gondii presentes no interior de oocistos. Os hospedeiros definitivos felinos podem disseminar Parasitologia Clínica 31 oocistos depois de qualquer um dos três estágios infecciosos, além disso, a reprodução sexuada ocorre no intestino dos felinos. Esses oocistos infectam vários tipos de tecido, inclusive o tecido nervoso. Durante a fase aguda da infecção, milhões de oocistos são eliminados nas fezes dos felídeos por 7-21 dias. No ambiente, sob diferentes condições de umidade, aeração e temperatura quente, os oocistos eliminados esporulam tornando-se infecciosos, possuem resistência a diferentes temperaturas, frio ou calor, apresentam-se viáveis durante um ano ou mais,sua ingestão é pela água ou por alimento contaminado. Figura 8 – Oocisto forma infectante do T. gondii Fonte: Wikimedia Commons Sobre o ciclo intestinal, se o gato for infectado pelo carnívoro com cistos de T. gondii, os parasitas penetram no epitélio das vilosidades da porção inferior do intestino delgado e um ovo dentro das células cresce adquirindo um aspecto amebóide, o trofozoíto, que logo divide seu núcleo Parasitologia Clínica 32 e cada porção nuclear é cercada por uma parte citoplasmática. Assim, constitui-se o esquizonte imaturo, que amadurece para formar numerosos merozoítos, sendo provável que essa fase esquizogônica seja precedida por outros mecanismos de reprodução assexuada, como endodiogênese e endopoligenia. A célula hospedeira explode e libera os merozoítos, que dependem da magnitude do inóculo. Após três, cinco ou mais dias, alguns números evoluem para formas sexuadas ou gametas. O microgametócito masculino amadurece para produzir entre 12 e 32 microgametas. A fertilização do macrogameto ocorre dentro da célula hospedeira e o zigoto resultante sai para o testículo coberto por um envelope translúcido, o oocisto, que é expelido para fora com as fezes do gato. O gato começa a eliminar oocistos três a cinco dias após a infecção. Se a infecção pelo gato ocorre com taquizoítos (ingestão de animais com infecção aguda) ou com esporozoítos (ingestão de oocistos), ocorre primeiro uma infecção tecidual por taquizoítos, seguida pela produção de bradizoítas capazes de iniciar o ciclo intestinal, com um período preponderante de 21 a 40 dias. Os oocistos de T. gondii são eliminados em estado imaturo e, em condições adequadas, continuam seu desenvolvimento no ambiente externo, formando-se dentro de dois esporocistos com quatro esporozoítos cada. Sobre o ciclo do tecido, nos tecidos de mamíferos e aves, T. gondii pode ser observado como zoito livre ou na multiplicação endocelular (endozoítos) e formas císticas (quistozoitos). Os zoitos livres têm o aspecto semilunar ou arco típico (daí o nome de toxoplasma: toxinas = arco), com um pólo anterior mais nítido, uma face convexa e o outro geralmente côncavo, medindo 4 a 6 µm de comprimento e 2 a 4 de largura, isto é, eles são aproximadamente do tamanho de um eritrócito. Tingidos com Giemsa podem ser distinguidos o núcleo rosa, localização no centro e o citoplasma de cor azul. Quando você os assiste no microscópio eletrônico, apresentam uma ultraestrutura complexa. No citoplasma, observa-se um anel polar e uma formação cônica oca em seu polo anterior, cuja base é direcionada para o interior do parasita. Nesse caso, representam uma organela apropriada para perfurar a membrana da Parasitologia Clínica 33 célula hospedeira. Além disso, mitocôndrias, granulações, fibras finas e o aparelho de Golgi são diferenciados no citoplasma. O núcleo, redondo ou oval, e semicentral e é um pouco deslocado em direção ao polo posterior, possui membrana dupla e nucléolo. Os toxoplasmas, para se multiplicarem, devem entrar na célula obrigatoriamente. Eles são capazes de parasitar qualquer célula nucleada, mas são, preferencialmente, encontrados nas células do sistema retículo endotelial, naquelas do sistema nervoso central e nas células musculares. A penetração celular pode ocorrer devido a movimentos do parasita ou por fagocitose. A multiplicação intracelular é complexa. É um processo assexuado no qual as crianças são formadas dentro da célula materna, antes de se tornarem livres. Essa multiplicação ocorre em fóruns parasitados por vacúolos da célula hospedeira e é iniciada por um processo de surto interno ou endogenia, que termina com a formação de dois indivíduos filhos (endodiogênese), que continuam sua proliferação sucessivamente, por esse mesmo mecanismo. A multiplicação intracelular acelerada de toxoplasmas (taquizoíto) termina com a formação de pseudoquistes, isto é, células hospedeiras cheias de parasitas. O processo culmina com a destruição dessas células parasitadas e com a liberação de novos taquizoíto, que se localizam no mesmo tecido, ou remotamente, por via sanguínea ou linfática, espalham- se por todo o corpo, invadindo novas células. Se o ritmo de reprodução for mais acentuado, o processo terminará com a formação de cistos. Multiplicando lentamente parasitas, pseudoquistes e os merozoítos secretam precipitados granulares que estão ligados à membrana vacuolar circundante. Essa membrana se expande lentamente, à medida que os quistozoítos se multiplicam por dentro. Finalmente, quando as granulações são fundidas, forma-se uma membrana sólida, a membrana cística. Nesse caso, são cistos verdadeiros cuja membrana do envelope é derivada de componentes do parasita e da célula hospedeira. Os cistos são de tamanho variável, de alguns µm e contêm dezenas, centenas ou milhares de quistozoítos. O quistozoíto é morfologicamente semelhante ao endozoíto. Para enfatizar a velocidade de reprodução de T. gondii nos tecidos, Frenkel propôs chamar parasitas de reprodução rápida nos taquizoítos do Parasitologia Clínica 34 pseudocisto e bradizoites de reprodução lenta nos cistos. Assim, taquizoita é sinônimo de endozoito e bradizoita é sinônimo de chistozoita. Em resumo, em mamíferos e aves, pode-se observar toxoplasma cornozoitolibra, endozoito ou taquizoito, e como cistozoíto ou bradizoíto (cistos). Transmissão Em humanos, as formas de transmissão mais frequentes são: ingestão de carne crua ou mal passada de ovino, suíno e bovinos contendo cisto, ou tropozoíto pelo leite cru de cabra ou vaca. Ingestão de oocisto presentes em caixa de areia, parque e jardins, ou veiculados por mosca, minhoca e ar. Também por meio da placenta para o feto, em casos de gestantes que estão no estágio crônico da doença. Durante a fase proliferativa o T. godii, mudanças são causadas na imunidade do paciente alterando humoral e celular. Na imunidade humoral, ocorre o aumento IgG (imunoglobina), a qual pode ser medida durante a infecção nos testes sorológicos. A imunidade celular é ativada pelo fator necrose-tumoral que protege os macrófagos, mantendo a fase de latência, é um conjunto de séries que mantém o paciente na fase crônica da doença. Parasitologia Clínica 35 Figura 9 – Ciclo de transmissão da toxoplasmose Fonte: Wikimedia Commons. Toxoplasmose: A Doença Toxoplasmose é a doença causada pelo Toxoplasma gondii. Os casos clínicos mais graves são os de criança recém-nascida, caracteriza por edema muscular, miocardite, encefalite, pneumonia, urticária, hidrocefalia, micro ou macrocefalia, coriorretinite, retardo mental, calcificação cerebrais (as quatros últimas formas chamadas de tétrade de Sabin), com altas taxas de morbidade e mortalidade. Também os casos mais graves são de indivíduos com o sistema imunológico comprometido, causando renite, encefalite ou doença difundidas em vários estados. Entre as doenças consideradas congênitas, a toxoplasmose é considerada um dos casos mais graves, pelas sequelas irreversíveis ocasionadas no feto. Só ocorre a transmissão para o feto, se mãe estiver na fase crônica da doença ou ocorrer de voltar ao estágio inicial da doença. As consequências da doença toxoplasmose para o feto dependem da exposição, virulência da cepa, sistema de proteção da mãe e período da Parasitologia Clínica 36 gestação, em fases agudas da doença, pode ocorrer aborto, partos antes de completar 9 meses ou apresentar anomalias graves, 40 a 50% das infecções pré-natal podem ocasionar aborto ou morte. Figura 10 – Ciclo da Toxoplasmose Fonte: Wikimedia Commons. Toxoplasmose pós-nascimento é a forma de contágio após o parto ou na fase adulta. São casos subclínicos, principalmente em pacientes com a saúde comprometida, podendo a infecção ser confundida com gripe, pelos sintomas de febre. Porém, a toxoplasmose tem casos clínicos: a forma febril é considera a fase aguda, acompanhada demuita febre (41°C para mais), mal-estar, fadiga e aumento do volume dos gânglios linfáticos. Quanto à forma ocular, 30 a 40% dos diagnósticos oftalmológicos indicam infecção toxoplasmática. Essa forma pode se desenvolver na fase aguda da doença, os sintomas iniciais podem ser identificados como perda parcial ou total da visão, dor ocular, conjuntivite e fotofobia. Na forma meningoencefálica, pode apresentar uma inflamação aguda no cérebro, mielite inflamação da espinha dorsal, e casos mais agravados podem levar à morte. Já na forma cutânea: lesões generalizadas na pele. Parasitologia Clínica 37 EXPLICANDO MELHOR: Pode ser considerada a doença mais difundida no mundo, em qualquer clima, variedade de solo e condições sociais. Infecta mamíferos e aves, sendo domésticos ou não, 75% dos felinos hospedeiro-definitivos podem apresentar toxoplasmose. As principais formas de transmissão são o consumo de carne crua ou malpassada, leite de cabra (adulto), congênita (feto) e caixa de areia (crianças). A toxoplasmose é a zoonose parasitária mais difundida na natureza, pois foi demonstrado em todas as latitudes, tanto em populações humanas, em torno de mais de trezentas espécies de mamíferos domésticos e selvagens, quanto em cerca de trinta espécies de aves selvagens. Pesquisas sorológicas realizadas em diferentes países indicam uma infecção de 40 a 50% dos adultos saudáveis entre 30 e 40 anos. Esses números variam de um local para outro, o que é atribuído a fatores geográficos e climáticos, hábitos alimentares, tipo de trabalho, higiene ambiental e presença de gatos infectados. A taxa de prevalência é relativamente baixa em crianças pequenas e aumenta gradualmente com a idade. O gato e outros felinos são eliminadores de oocistos, formas infecciosas para outras espécies de animais e até para o mesmo gato. Além disso, esses felinos são infectados por cistos por meio do carnivorismo e, ocasionalmente, por taquizoítos devorando pequenos animais com infecção aguda. Um gato infectado remove oocistos por uma a duas semanas e uma única injeção pode conter milhões deles. Se esses elementos atenderem às condições favoráveis no ambiente externo (água, terreno úmido, temperaturas em torno de 25 °C e oxigênio suficiente), atingem seu estado desinfetante em um a três dias. Oocistos esporulados são extremamente resistentes a desinfetantes comuns e podem permanecer viáveis por períodos muito longos em um ambiente favorável. A sobrevivência de até dois anos em água e mais de seis meses em solo úmido foi comprovada. Parasitologia Clínica 38 O oocisto é o elo mais importante na cadeia epidemiológica de T. gondii. No entanto, o risco de infecção humana por contato direto com o gato não deve ser superestimado, pois esses animais eliminam oocistos imaturos por um período limitado e sua reinfecção seria excepcional. O risco seria atribuído pela contaminação do ambiente por oocistos, fatores climáticos que permitem a sobrevivência prolongada de formas infecciosas e condições de vida que favorecem infecções fecais. Isso explica por que a transmissão do T. gondii ocorre preferencialmente em populações de baixo nível socioeconômico, em que as crianças são infectadas desde tenra idade, como foi demonstrado nos países em desenvolvimento. A infecção humana por oocistos seria mediada pelo solo, água potável, alimentos higienizados, e o risco de disseminação pode aumentar por artrópodes coprofílicos. Por outro lado, foi demonstrado que alguns roedores que ingerem oocistos, além de infectados, poderiam eliminar alguns deles intactos com suas fezes, o que aumentaria a fonte de infecção. Recentemente, uma vacina antitoxoplasma para gatos foi desenvolvida, o que impediria a produção de oocistos, o que diminuiria a fonte de infecção para o homem e outros animais. Hospedeiros intermediários, aqueles nos quais a toxoplasma realiza apenas o ciclo tecidual, podem adquirir infecção por oocistos disseminados em pradarias, estábulos, adegas e celeiros; por meio dos cistos contidos nas carnes e miudezas; e ocasionalmente, por taquizoíto, na ingestão de animais doentes e por transmissão congênita. Os cistos contidos na carne e nas vísceras são uma importante fonte de infecção carnívora para um grande número de animais. Essas formas do parasita mantêm sua ineficácia na geladeira (+ 4ºC) por três a quatro semanas, mas são destruídas por congelamento e cozimento prolongados. O homem também pode ser infectado pela ingestão de carne crua ou sernicocida, e esse risco está relacionado à taxa de infecção de animais na região, principalmente porcos e ovelhas, e aos hábitos culinários da população humana. A transmissão de T. gondii por carnivorismo é muito frequente em países desenvolvidos, a primeira infecção ocorre preferencialmente em adolescentes e adultos jovens. Em Paris, onde é costume comer carne semicrua, 80 e até 90% da população Parasitologia Clínica 39 está infectada com toxoplasma. A alta porcentagem de infecção observada em operadores que trabalham em fábricas de carne seca e a maior prevalência de infecção em mulheres são atribuídas ao hábito de provar carnes cruas. A infecção por formas livres ou taquizoítos é acidental e pouco frequente, mas geralmente é a mais grave. Esses estágios do parasita são muito sensíveis às influências do ambiente externo, para desinfetantes comuns e ação do suco gástrico. A infecção pode ocorrer por meio do sangue, via transplacentária ou por transfusões repetidas, principalmente de leucócitos, em indivíduos imunocomprometidos. Além disso, a infecção pode ser contraída pelo contato direto com animais intensamente infectados na fase aguda. De acordo com o que foi observado experimentalmente e em infecções acidentais de laboratório, a penetração do parasita pode ocorrer por meio das membranas mucosas, vias digestivas, respiratórias e conjuntivas e lesões ou mordidas na pele. Toxoplasmose endêmica, com morbimortalidade aparentemente baixo, não representaria um problema de Saúde Pública, se não fosse a transmissão transplacentária, o fenômeno em larga escala e as infecções oportunistas em pacientes com câncer de ovário normal. Parasitologia Clínica 40 RESUMINDO: Aprendemos que o protozoário intracelular obrigatório Toxoplasma gondii, de distribuição mundial, é o agente causador da toxoplasmose, doença importante na área médica e veterinária, pode causar aborto nos hospedeiros intermediários mamíferos e hospedeiro definitivo no qual ocorre o ciclo sexuado produtor do oocisto do parasita, animais da família Felidae. T. gondii passa por diferentes fases infecciosas. Os responsáveis pela transmissão podem ser taquizoíto ou forma livre. Em humanos, as formas de transmissão mais frequentes são: ingestão de carne crua ou malpassada, de ovino, suíno e bovinos contendo cisto, ou tropozoíto pelo leite cru de cabra ou vaca. Ingestão de oocisto presentes em caixa de areia, parque e jardins, ou veiculados por mosca, minhoca e ar. E também por meio da placenta para o feto, em casos de gestantes que estão no estágio crônico da doença. Os casos clínicos mais graves são os de criança recém-nascida, caracterizada por edema muscular, miocardite, encefalite, pneumonia, urticária, hidrocefalia, micro ou macrocefalia, coriorretinite, retardo mental, calcificação cerebrais. Entre as doenças consideradas congênitas, a toxoplasmose é considerada um dos casos mais graves pelas sequelas irreversíveis ocasionada no feto. Toxoplasmose pós-nascimento é a forma de contágio após o parto ou na fase adulta. Parasitologia Clínica 41 Protozoários Parasitários do Gênero Plasmodium OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você terá entendido as diferentes espécies do gênero Plasmodium, compreender o ciclo biológico, bem como seu meio de contágio, e assimilar que esta é a doença de origem parasitária que mais tem casos endêmicos e que leva a óbito, no Brasil e no mundo.A malária é uma doença de ocorrência primária parasitária por esporozoários do gênero Plasmodium, transmitida pela picada de mosquitos do gênero Anopheles. Clinicamente caracterizada de denominação malária (calafrios, febre e sudorese). É uma doença antiga popularmente conhecida, que ainda representa problema de Saúde Pública a nível mundial, o termo malária tem origem italiana, a qual era indicado que o contágio pela respiração do mau ar, ou ar contaminado. O parasita que causa essa infecção no homem é do gênero Plasmodium, o qual possui quatro espécies P. vivax (GRACI; FELETTI, 1890), P. falciparum (WELCH, 1897), P. malariae (LAVERAN, 1891), estas espécies são registrados casos em todo mundo, e P. ovale (STEPHENS, 1992), tem registro de casos somente na África central. Essa infecção é transmitida pela picada do mosquito do gênero Anopheles, mas também, o homem pode ser infectado durante a transfusão de sangue com materiais contaminados e contágio durante o parto. No século XX, foram registrados mais de 270 milhões de casos e milhões de óbitos em todo mundo, posteriormente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) iniciou um programa de combate da malária em todo mundo, isso contribuiu para a diminuição dos casos, mas não a erradicação. No final da década de 60, ocorreu o surgimento da malária, com milhões de casos novamente. Atualmente, mais de 300 milhões de casos são registrado todo o ano, e, na África, os registros são ainda mais graves, a cada 30 segundos morre uma criança, vítima da infecção. Parasitologia Clínica 42 O Brasil é o país que concentra o maior número de casos da América, estimando-se a ocorrência de mais de 300.000 casos anuais. A predominância é na região da Amazônia (99% dos casos) e nos estados do Acre, Amapá, Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso. É uma doença de notificação obrigatória, sendo também conhecida como paludismo, febre terçã (benigna ou maligna), febre quartã, tremedeira, batedeira ou, simplesmente, febre. Essa infecção pode ser frente em turistas ao visitar locais de transmissão, por não ter imunidade suficiente, e não sendo diagnosticada ao retornar para casa, pode levar aos estados mais graves e até o óbito, entre as doenças infecciosas oriundas de parasitas, a malária é a número 1° em infecção entre viajantes ou denominada de febre pós- viagem. Figura 11 – Mapa dos países com risco de Malária em vermelho em todo o mundo Fonte: Wikimedia Commons. Plasmódios e a Malária: Os Parasitas O complexo ciclo biológico do Plasmodium ocorre no hospedeiro definitivo, o mosquito (ciclo sexuado) e o homem como hospedeiro intermediário, em que o mosquito desenvolve o ciclo assexuado. Na reprodução sexuada ou ciclo esporogônico, o ciclo ocorre no mosquito e dura aproximadamente de sete a quatorze dias. Essa reprodução é esporogônica, porque o mosquito origina os esporozoítos, inicia-se com a ingestão de sangue de uma pessoa infectada que contém as formas sexuais do parasita, os gametócitos. Parasitologia Clínica 43 Os gametócitos masculinos e gametas são macrogametócitos que possuem um núcleo compacto de cromatina e o citoplasma, estendido por todo os glóbulos vermelhos, contendo em seu interior o pigmento malárico de cor marrom escura. O microgametócito (gametócitos masculino) possui um núcleo relaxado, citoplasma semelhante ao macrogametócito. Ambos os gametócitos amadurecem os gametas. O microgametócito sofre um processo de exflagelação, três mitoses, divididas em oito células que contém parte da cromatina na qual o núcleo foi dividido. Cada flagelo constitui um microgameto (masculino), que vai em busca do elemento macrogameto (feminino) que se tornou o macrogametócito (elemento sexuado feminino), quando maduro dentro do estômago do mosquito. O microgameta, no momento da fecundação, penetra no macrogameto e funde suas cromatinas nucleares, dando origem ao zigoto, célula com cerca de 20 µm de comprimento. O zigoto adquire movimento e instala na parede do estômago do mosquito, penetrando em sua membrana externa, dando origem ao oocisto, elemento arredondado que aumenta de tamanho, podendo atingir cerca de 50 µm, envolto por uma membrana cística e contém dentro dele oocineto, cujo citoplasma e núcleo são divididos em 71 elementos alongados de 10 a 12 µm, denominado de esporozoítos. Quando a quantidade de esporozoítos for grande, ocorre o rompimento dos oocistos que são liberados ao sair do estômago que está todo tomado pelo mosquito, passa pela hemolinfa, é distribuído pelo sistema circulatório por todo o corpo do mosquito para as glândulas salivares, acumulando-se e passando para o homem quando ocorrer a picada. Esse é o termino da fase sexuada, passando para a reprodução assexuada que ocorre no homem. A reprodução assexuada tem dois ciclos ou fases: exoeritrócito (hepático) e eritrócito (sangue). A fase hepática ou exoeritrócita compreende o esquizonte do tecido e o criptozoíto. A fase eritrócito inclui o trofozoíto, o esquizônio, merozoítos e gametócitos. A reprodução assexuada é denominada de esquizogônico porque leva à produção de esquizontes. Parasitologia Clínica 44 Começa com a penetração do esporozoíto no homem, no momento que o mosquito picar, e termina com a produção de estrabismo e gametócitos maduros. O esporozoítos inoculados são distribuídos pela corrente sanguínea para o organismo, no entanto, eles penetram nas células hepáticas, levando a formação de tecido esquizonte, nessa etapa, a fase se chama pré-eritrocítico. Acompanhe: • Fase pré-eritrocítica – esquizonte de tecidos: o esporozoíto penetra no hepatócito, para reprodução por fissão binária, dando lugar a formas globulares ou irregulares, os esquizontes de tecidos contêm um grande número de merozoítos, elementos mais redondos que os esporozoítos, que após alguns dias, entre 6 e 14 dias, rompem o hepatócito e na forma de criptozoicos de 2 a 4 µm parasitaram os glóbulos vermelhos circulantes. No entanto, no caso de P. vivax e P. malariae, alguns elementos parasitas permanecem no hepatócito e continuam o ciclo esquizogônico do tecido muito lentamente, chamado de hipnozoítos, que serão responsáveis pelas recaídas. No caso do Plasmodium falcipanim, existe apenas um ciclo esquizogônico de tecido no início da infecção, desaparecendo, no curso da infecção. • Fase eritrocitária – o trofozoíto: é o primeiro estágio eritrocitário do parasita, é uma célula que ao apresentar um vacúolo grande, dá a aparência de um conjunto de anel frisado, com núcleo vermelho- violeta com colorações derivadas de Romanowsky, e citoplasma de cor azul. Os trofozoários jovens e adultos são geralmente diferenciados. No primeiro caso, a forma anular é característica e, no segundo, há uma invasão do parasita em todo o parênquima do glóbulo vermelho, adotando uma forma ameboide. Observa- se, geralmente, na superfície dos glóbulos vermelhos parasitados, granulações das espécies de plasmódio em questão. O Plasmodium vivax modifica a morfologia dos glóbulos vermelhos, que é aumentada e, em sua superfície, aparecem as granulações chamadas Schuffner. O P. malariae não altera o tamanho do glóbulo, o parasita pega uma banda na superfície e as granulações de Ziemann, geralmente, são observadas na superfície. O Plasmodium falciparum não Parasitologia Clínica 45 altera o tamanho dos glóbulos vermelhos, e, geralmente, mais de um anel é visto para cada glóbulo vermelho e estes adotam uma posição muito superficial para os glóbulos vermelhos; os grânulos de Maurer são geralmente vistos na superfície dos glóbulos vermelhos. O merozoíto, quando cada esquizonte maduro é rompido, libera os merozoítos. Estes são muito pequenos 2 a 4 µm e abandonam os esquizontes maduros para parasitar novos eritrócitos, e dão origem aos trofozoítos que seguiram o ciclo esquizogônico ou eritrocitário. O período da faseeritrocítica e rompimento dos esquizontes com a liberação de merozoítos é diferente para cada espécie de Plasmodium, no caso de P. vivax, 48 horas, P. malariae, 72 horas e P. falciparum, 48 horas. A ruptura dos esquizontes maduro significa a quebra de glóbulos vermelhos parasitados, liberação de proteínas heterólogas, pigmento da malária e detritos da membrana dos eritrócitos. Aparentemente, todos eles, ou alguns componentes, atuam como alérgenos capazes de desencadear o choque anafilático que constitui acesso à malária e, além disso, a periodicidade desses ataques indica as espécies envolvidas de perto, o que é útil para o diagnóstico clínico. Os gametócitos, após vários ciclos eritrocitários, alguns merozoítos, tornam-se sexados, elementos masculinos (microgametócitos) e femininos (macrogametócitos), diferenciados pelas características da cromatina nuclear, densos no feminino e relaxados no masculino. Os gametócitos devem ser ingeridos pelos mosquitos no momento da sucção do sangue, para continuar o ciclo evolutivo. Eles não produzem danos e sobrevivem nos glóbulos vermelhos durante todo o período de sua vida, ou seja, 120 dias. Os gametócitos de P. vivax e P. malariae são arredondados e ocupam todos os glóbulos vermelhos, em contraste, os gametócitos de P. falcipanim têm uma forma crescente, o que os torna inconfundíveis. Isso conclui o ciclo de formação esquizogônico e gametócito, para dar origem ao ciclo sexuado ou esporogônico no Anopheles e continuar o ciclo de vida do parasita. A transmissão da doença para seres humanos ocorre com a picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles e o ciclo do Plasmodium Parasitologia Clínica 46 inicia com a inoculação dos esporozoítos (forma infecciosa móvel), na corrente sanguínea, ele percorre até as células hepáticas e inicia a reprodução assexuada, produzindo milhares de merozoítos que infectam os globos vermelhos e se multiplicam assexuadamente, este ciclo dura em média 16 dias, dependendo da espécie do Plasmodium. Cada merozoítos infecta cada hemácia e se transforma em trofozoíto jovem, maduro, esquizonte, rosácea, em seguida, rompe a hemácia e libera os merozoítos que reiniciam um novo ciclo infeccioso. Alguns merozoítos tornam-se gametócitos imaturos, formando gametas femininos e masculinos, o mosquito ao picar um ser infectado, transposta os gametócitos e instalam-se no sistema digestório do mosquito tornando maduros. Posteriormente, é formado um zigoto móvel, pela reprodução entre macho e fêmea denominado de oocineto, ele forma novos esporozoítos e, por meio da glândula salivar do inseto, quando infectam novos seres, inserem na pele os esporozoítos. Os ciclos ocorrem em intervalos regulados para cada espécie: P. vivax agente da febre (48 horas) terçã benigna, porém tem ampla contribuição nas regiões epidêmicas, não é encontrado no continente africano. P. falciparum febre de 36 a 48 horas terçã maligna, causa a morte quando não diagnosticado a tempo, o ciclo do P. ovale, 72 horas de febre benigna, mas somente é encontrado na África e o P. malariae causa o ciclo da febre quartã de 72 horas, distribuição no mundo todo, o ciclo ocorre durante vários meses. Na espécie do mosquito Anopheles, os machos alimentam-se de néctar de flores e as fêmeas, consideradas o vetor da doença, alimentam-se de sangue e gostam de picar no crepúsculo da noite até ao amanhecer. Parasitologia Clínica 47 Figura 12 – Mosquito do gênero Anopheles fêmea alimenta de sangue Fonte: Pixabay. Plasmódios e a Malária: a Doença Os sintomas da malária são parecidas com os sintomas da gripe, e de outras doenças virais como septicemia e gastroenterite, em todas as espécies do mosquito. Entre os sinais, incluem-se dores de cabeça, febre, calafrios, dores nas articulações, vômitos, anemia hemolítica, icterícia, hemoglobina na urina, lesões na retina e convulsões. Os sintomas mais comuns são: calafrios, febre alta (início contínuo e depois a cada três), dores de cabeça e musculares, taquicardia, aumento do baço e confusões mentais. No caso mais grave produzido pelo P. falciparum, 80% dos casos levam à morte, por desenvolver malária cerebral. Além dos sintomas correntes, aparece ligeira rigidez na nuca, perturbações sensoriais, desorientação, sonolência ou excitação, convulsões, vômitos e dores de cabeça, podendo o paciente chegar ao coma. Parasitologia Clínica 48 Figura 13 – Sintomas da malária Fonte: Wikimedia Commons. Plasmódios e a Malária: Ecologia e Epidemiologia A malária constitui grave problema de Saúde Pública no mundo. Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou a ocorrência de 219.000.000 de novos casos e 435.000 mortes em todo o mundo, principalmente em crianças menores de cinco anos e grávidas. No Brasil, há dois cenários epidemiológicos: o de alta endemicidade na região da Amazônia e o de hipoendemicidade na região extra- amazônica, foram notificados 129.246 novos casos de malária e 35 óbitos. Sendo na região da Amazônia 128.747 notificações, 1.568 internações e 20 óbitos, já na região extra-amazônica, que compreende os outros estados, foram registrados 499 casos, sendo as espécies P. falciparum e P. vivax, responsáveis pela infecção. Uma das principais causas de morte por malária, fora a região endêmica da Amazônia, é falta de profissionais qualificados para realizar um diagnóstico preciso. Parasitologia Clínica 49 Fatores biológicos estão relacionados com a transmissão na Amazônia como alta densidade de mosquitos vetores e população suscetível, fatores geográficos como coberturas vegetais, alto índice de chuvas, fatores ecológicos: desmatamento, construções de hidroelétricas, estradas e fatores sociais: condições de moradia precária sem proteção e trabalho próximo das matas. Controle da Malária As medidas de prevenção consistem no uso de mosquiteiro, repelente, roupas que protejam pernas e braços, principalmente no período de infectação pelo mosquito, telas e proteção em janelas, evitar acúmulo de água que são usados como criadouros do mosquito, no período de ovoposição, melhoria da moradia e das condições de trabalho, controle da vegetação aquática. SAIBA MAIS: Sobre a vacina contra malária, busque a leitura do artigo de Sousa, Machado e Revoredo (2015), ele vai ajudar você a compreender mais a importância da vacina. Acesse clicando aqui. O tratamento pode ser feito por meio do uso de fármacos orais e vacinas antimalárica, logo após o diagnóstico, para evitar complicações. Não compartilhar seringas ou ter máxima atenção na manipulação de equipamento contaminado com sangue infectado. O Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM) auxilia populações em situações de risco endêmico. Parasitologia Clínica http://bit.ly/31I13ds 50 Figura 14 – Ação da vacina contra a malária - antimalárica Fonte: Wikimedia Commons. Parasitologia Clínica 51 RESUMINDO: A malária é uma doença antiga popularmente conhecida, que ainda representa problema de Saúde Pública a nível mundial. A transmissão da doença para seres humanos ocorre com a picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles e o ciclo do Plasmodium inicia. O Brasil é o país que concentra o maior número de casos no continente americano, estimando-se a ocorrência de mais de 300.000 casos anuais. A predominância é na região da Amazônia (99% dos casos). Os ciclos ocorrem em intervalos regulados para cada espécie: P. vivax agente da febre (48 horas) terçã benigna, P. falciparum febre de 36 a 48 horas terçã maligna, causa a morte quando não diagnosticado a tempo, o ciclo do P. ovale, 72 horas de febre benigna, P. malariae causa o ciclo da febre quartã de 72 horas.. Os sintomas da malária são parecidas com os sintomas da gripe, e a de outras doenças virais como septicemia e gastroenterite, em todas as espécies do mosquito. O tratamento pode ser feito por meio do uso de fármacos orais e vacinas antimalárica,logo após o diagnóstico para evitar complicações. Parasitologia Clínica 52 Flagelados Parasitas do Sangue e dos Tecidos: Trypanosomatidae OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de observar melhor a doença de Chagas, o comportamento ecológico e relação com homem, as principais espécies do mosquito barbeiro que infecta o homem, e a diferença da doença do sono, que é transmitida no continente africano. Nas Américas Central e do Sul, a doença é denominada de tripanossomíase americana (por infectar animais) e doença de Chagas (por infectar o homem), denominada assim pelo médico e cientista Carlos Chagas descrita em 1909, o primeiro registro da doença de Chagas no Brasil foi de uma criança de 9 meses, denominada Berenice, apresentava febre alta, a face e o corpo com edemas e comprometimento do sistema nervoso, por meio de exames do sangue, Carlos encontrou o T. cruzi, e mais tarde foi denominada de doença de Chagas. Figura 15 – Pesquisador e cientista da doença de Chagas – Carlos Chagas Fonte: Wikimedia Commons. Parasitologia Clínica 53 O gênero Trypanosoma possui centenas de espécies em todo o mundo, infecta diferentes espécies de hospedeiros vertebrados como mamíferos, aves, répteis, peixes e anfíbios e, diferentes hospedeiros invertebrados: mosca, mosquito, pulga e carrapato. O T. cruzi adaptou-se a diferentes mudanças físico-químicas para passar de um hospedeiro a outro, constituindo uma forma de sobrevivência. Os hemoflagelados do gênero Trypanosoma são encontrados no sangue de mamíferos, em forma de tripomastigotas alongados e maduros. Têm como agente etiológico o Trypanosoma cruzi, inseto hemíptero hematófago, vetor denominado de barbeiro, procotó (sertão da Paraíba), vum-vum (Bahia), chupança (Mato Grosso), vinchucas (países andinos), chincha voladora (México), Kissing bugs (Estados Unidos), é o hospedeiro intermediário da replicação dos tripomastigotas, em todas as espécies de tripanossomas que infectam o homem. Tripanossomíase por Trypanosoma cruzi (Doença de Chagas): O Parasita e a Doença O protozoário T. cruzi desenvolveu várias formas durante o seu ciclo biológico. As tripomastigotas são as formas responsáveis pela transmissão natural pelo vetor barbeiro do parasita, possui dois formatos: fina, em aspecto de “S”, e larga, em formato de “C”, as formas finas são consideradas mais patogênicas, a forma de adesão no protozoário é por meio do flagelo, que não se reproduze e pode ser isolado dos barbeiros, denominado de tripomastigotas metacíclicos, estes são responsáveis pela infecção nos mamíferos, quando são liberados pelas fezes e urina do inseto barbeiro, os triatomíneos são capazes de infectar novos hospedeiros. A transmissão para o hospedeiro é por meio da mucosa ou tecidos da pele com lesão. Parasitologia Clínica 54 Figura 16 – Trypanosoma cruzi forma tripomastigotas Fonte: Wikimedia Commons. A replicação das amastígotas é por forma intracelulares nos hospedeiros invertebrados, enquanto as outras formas são livres no sangue ou tubo digestivo, não apresenta flagelo, forma ovoide. Epimastigotas são as formas responsáveis pela reprodução do parasita no tubo digestivo do vetor – o hospedeiro invertebrado. Formato fusiforme com longo flagelo, passa parte do tempo aderido e outra parte de forma livre. Quanto ao ciclo do T. cruzi que causa a doença de Chagas no homem, ao ser picado pelo inseto infectado, triatomíneo, posteriormente, as formas tripomastigotas metacíclicas, presente nas fezes e urina, entram em contato com a pele quando é arranhada pelo homem ou consegue perfurar a mucosa com seu aparelho bucal. Após entrar, o tripomastigotas faz a fagocitose e adere a célula, esta engloba formando o vacúolo digestivo, inserido no vacúolo, após passar pela ação lítica, transforma- se em amastigota, perde o flagelo, toma forma arredondada e diminui o tamanho. Parasitologia Clínica 55 Figura 17 – Ciclo biológico do T. cruzi Fonte: Wikimedia Commons. Aproximadamente 36 horas, a penetração da amastigota é iniciada e ocorre a reprodução por divisão binária, quando a célula está repleta de amastigotas, ocorre a formação das tripomastigotas, completando o ciclo e liberando no sangue, iniciando novamente o ciclo celular e tecidual de contaminação. SAIBA MAIS: O T. cruzi desenvolve todo seu ciclo biológico no mamífero denominado gambá, o ciclo acontece no interior dos vasos sanguíneos e também em fibras do coração e plexos neurais, porém no ponto de vista epidemiológico o gambá não apresenta números elevados de infectados. Parasitologia Clínica 56 Os Trypanosoma são classificados em dois grupos de transmissão, os protozoários, que transmitem a infecção pelas fezes e urina, exemplo T. cruzi, e os que transmitem pela saliva, T. brucei. A forma de contágio do T. cruzi pode se dar pela transmissão vetorial, em que transmite pelas fezes e urina, os babeiros vetores são Triatomas infestans e o Rhodnius prolixus. A transfusão sanguínea é uma forma de contágio negligenciada, pois ocorre quando a seleção dos doadores de sangue for feita sem exames sorológicos adequados. Sobre as transmissões ocasionais, o contágio ocorre por meio de acidentes laboratoriais, dos transplantes de órgão de pacientes contendo a doença. Acompanhe pelo Quadro 4. Quadro 4 – Espécies de importância médica T. cruzi HUMANA T. brucei gambiense e rhodesiense T. rangeli T. brucei brucei VETERINÁRIA T. evansi T. vivax T. congolense Fonte: Pérez (2012). A doença de Chagas passa pelas fases aguda e crônica assintomática. A fase aguda, com 10 dias de incubação, aparece a parasitemia elevada, com sintomas de perda de peso constante, febre prolonga, miocardite, fraqueza, mal-estar, ruptura cutânea e problemas oculares, estes são um grande problema de áreas endêmicas, pois a população não procura recursos, pois associa com outros problemas de saúde. Na fase crônica, o indivíduo permanece assintomático, ou nas manifestações, ocorre o aumento do tamanho do coração, pela destruição das suas fibras, edema biplapebral. Ocorre um processo inflamatório das pálpebras, aumento do volume da derme e hipoderme pelo processo de Parasitologia Clínica 57 inflamação causado pela penetração do Trypanosoma, podem aparecer alterações gerais como meningoencefalite, hepatomegalite entre outras. Tripanossomíase por Trypanosoma Cruzi: Ecologia, Epidemiologia e Controle Ecologia é o estudo do comportamento ecológico e relação com homem e os mamíferos domésticos, pode ser divido em grupos: ambiente silvestre, não teve modificação do homem, natural, pouco modificado pelo homem, e artificial, completamente modificado pelo homem. Triatomíneos silvestres, espécies só encontradas na natureza, por exemplo Psammolestes coreodes, Triatoma dispar, Cavernicola pilosa, e muitas outras espécies que são desconhecidas ainda. Triatomíneos, que são silvestres, transmitem T. cruzi para animais silvestres, mas os adultos invadem casas, e infectam homens e animais domésticos, como Panstrongylus geniculatus, entre muitos outros. Triatomíneos silvestres, que migram para habitat artificial, formam pequenas colônias e no próprio habitat do homem, Rhodnius neglectus, Triatoma vitticeps e Triatoma platensis. Triatomíneos que vivem em ambiente naturais ou artificias, estão presentes nas moradias do homem, infectando no ciclo silvestre bem como no domiciliar. Ex.: Triatoma brasiliensis, Panstrongylus megistus, Rhodnius prolixus, Rhodnius pallenscens, Triatoma sórdida, entre outros. Triatomíneos que se adaptaram ao meio artificial, embora possam ser encontrados em focos naturais, Triatoma infestans. E triatomíneos estritamente domiciliado, porém vivem em contato com ratos, e alguns casos infectam o homem, Triatoma rubrofasciata. Parasitologia Clínica 58 Figura 18 – Vetor da doença de Chagas denominado barbeiro Fonte: Wikimedia Commons.A epidemiologia dessa doença teve origem silvestre adaptada a péssimas condições sociais dos moradores da área rural, os mamíferos que vivem em ambientes rurais, silvestre e urbano, como ratos, tatu, gambá, cães, gatos e o ser humano, são reservatórios para o T. cruzi. Os métodos de controle são por meio de inseticidas, melhoria na habitação, educação sanitária e vacina. Parasitologia Clínica 59 Tripanossomíase por Trypanosoma Brucei e Doença do Sono A doença do sono é um grave problema de saúde de 36 países do deserto do Saara e África, são milhões de pessoas expostas com 100 mil mortes anuais. O vetor da transmissão da doença, entre humanos e animais, é a mosca Tsé-Tsé. O Trypanosoma brucei é o agente causal da doença do sono, pode ser divido em diferentes espécies: T. brucei gambiense responsável pela doença crônica, T. brucei rhodesiense aguda, T. brucei brucei, infecta animais domésticos, T. brucei evansi, agente transmissor da mosca mutuca que infecta camelo e cavalos e T. brucei equiperdum que causa a doença durina em equídeos, que é passada durante o acasalamento. As moscas Tsé-Tsé têm sua infectação ao se alimentarem sobre mamíferos, as formas tripomastígotas migram para o intestino médio do inseto e se multiplicam, por meio de migrações, chegam até as glândulas salivares. Após a picada, liberam a forma tripomastígosta metacíclicas, ocasionando uma lesão inflamatória no local da picada e, posteriormente, migrando para o sangue. Os primeiros sintomas da doença são febre, dores musculares, mal-estar, dor de cabeça, evoluindo para um quadro mais crônico, com lesões graves no sistema nervoso central. Os reservatórios da forma crônica são: homem, cães, porco e bovino, na forma aguda são os humanos e os antílopes silvestre. Parasitologia Clínica 60 RESUMINDO: E então? Gostou do que estudamos até aqui? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, a doença de Chagas, denominada assim pelo médico e cientista Carlos Chagas, descrita em 1909, teve seu primeiro registro no Brasil por uma criança de 9 meses, denominada Berenice. O gênero Trypanosoma possui centenas de espécies em todo o mundo, infecta diferentes espécies de hospedeiros vertebrados e invertebrados. O protozoário T. cruzi desenvolveu várias formas durante o seu ciclo biológico, tripomastigotas, amastígotas, epimastigotas. Os Trypanosomas são classificados em dois grupos de transmissão: os protozoários, que transmitem a infecção pelas fezes e urina, exemplo T. cruzi e os que transmitem pela saliva, T. brucei. O Trypanosoma brucei é o agente causal da doença do sono, em que a mosca Tsé-Tsé tem sua infectação ao se alimentar sobre mamíferos, as formas tripomastígotas migram para o intestino médio do inseto e se multiplicam, por meio de migrações chegam até as glândulas salivares. Parasitologia Clínica 61 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia Prático para o Controle das Geo-helmintíases – Brasília: Ministério da Saúde, 2018. JAWETZ, M. Microbiologia Médica: um livro médico. 24. ed. Rio de Janeiro: Geo. F. Brooks, 2009. MELLO, D. A. et al. Helmintoses intestinais. Conhecimentos, atitudes e percepção da população. Rev. Saúde Públ., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 140-149, 1988. Disponível em: http://bit.ly/3b8oL75. Acesso em: 10 jan. 2020. MUNÕZ, S. S.; FERNANDES, A.P.M. Principais doenças infecciosas e parasitárias e seus condicionantes em populações humanas. USP, [s. d.]. Disponível em: http://bit.ly/2Uw68UP. Acesso em: 10 jan. 2020. NEVES, D. Parasitologia Dinâmica. São Paulo: Atheneu, 2003. NEVES, D. Parasitologia Humana. 10. ed. São Paulo: Atheneu, 2002. Parasitologia Clínica http://bit.ly/3b8oL75 http://bit.ly/2Uw68UP Citoplasma Mitocôndrias Vacúolos_contráteis _Hlk31332578 _Hlk31332919 _Hlk31332989 _Hlk31332649 _Hlk31332866 _Hlk31332880 _Hlk31332955 _Hlk31333184 _Hlk31753469 _Hlk31729127 _Hlk31333677 _Hlk31729034 _Hlk31333078 _Hlk31340981 _Hlk31326204 _Hlk31334024 _Hlk31326270 _Hlk31326237 _Hlk31334092 _Hlk31334345 _Hlk31326288 _Hlk31334371 _Hlk31334481 _Hlk31341230 _Hlk31326318 _Hlk31326342 _Hlk31335575 _Hlk31326377 _Hlk31334812 _Hlk31326393 _Hlk31335340 _Hlk31335137 _Hlk31335255 _Hlk31335841 _Hlk31326945 _Hlk31336213 _Hlk31336173 _Hlk31336668 _Hlk31336445 _Hlk31336509 _Hlk31336499 _Hlk31336522 _Hlk31326998 _Hlk31336772 _Hlk31327046 _Hlk31337013 _Hlk31337271 _Hlk31336990 _Hlk31337123 _Hlk31728398 _Hlk31337151 _Hlk31337221 _Hlk31337237 _Hlk31337184 _Hlk31327074 _Hlk31337974 _Hlk31338705 _Hlk31338510 _Hlk31327090 _Hlk31338471 _Hlk31338562 _Hlk31338090 _Hlk31327112 _Hlk31338591 _Hlk31338147 _Hlk31337626 _Hlk31337373 _Hlk31327128 _Hlk31338829 _Hlk31327160 _Hlk31339821 _Hlk31339676 _Hlk31339358 _Hlk31339959 _Hlk31339986 _Hlk31339929 _Hlk31339863 _Hlk31339916 _Hlk31340001 _Hlk31339942 _Hlk31340499 _Hlk31340522 _Hlk31340460 _Hlk31340318 _Hlk31340546 _Hlk31340439 _Hlk31340473 _Hlk30365209 _Hlk31340611 _Hlk31340709 _Hlk31340661 _Hlk31340745 _Hlk31341865 Protozoários Parasitos do Homem Principais Grupos de Protozoários e Metazoários Parasitas do Homem e seus Vetores Amebas Parasitas do Homem Entamoeba Histolytica e Amebíase: Parasita Entamoeba Histolytica e Amebíase: a Doença Os Esporozoários Toxoplasma Gondii Formas Infectivas Transmissão Toxoplasmose: A Doença Protozoários Parasitários do Gênero Plasmodium Plasmódios e a Malária: Os Parasitas Plasmódios e a Malária: a Doença Plasmódios e a Malária: Ecologia e Epidemiologia Controle da Malária Flagelados Parasitas do Sangue e dos Tecidos: Trypanosomatidae Tripanossomíase por Trypanosoma cruzi (Doença de Chagas): O Parasita e a Doença Tripanossomíase por Trypanosoma Cruzi: Ecologia, Epidemiologia e Controle Tripanossomíase por Trypanosoma Brucei e Doença do Sono