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VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA: MODOS, INTERFACES E EVIDÊNCIAS DANIEL DA CUNHA RIBEIRO ISABELA DINIZ FARIA ▪ INTRODUÇÃO Com os conhecimentos de fisiopatologia adquiridos nos últimos anos e incorporados à prática clínica, somados ao avanço tecnológico introduzido na ventilação mecânica (VM) por pressão positiva, é possível lançar mão de uma gama de métodos ventilatórios modernos. Entre os métodos de aplicação de pressão positiva nas vias aéreas descritos na literatura, inclui-se a modalidade ventilação não invasiva (VNI) com pressão positiva, que, certamente, é um dos maiores avanços da VM nas últimas décadas. Cada vez mais baseado em evidências, hoje não há dúvidas de que o uso da VNI, em grupos de pacientes agudos ou crônicos, tornou-se o principal responsável pela diminuição da necessidade de intubação e pela redução da mortalidade e dos custos do tratamento, além de promover melhor qualidade de vida e aumento da funcionalidade dos pacientes.1,2 A aplicabilidade da VNI foge à restrição do ambiente de terapia intensiva, e pode ser utilizada no domicílio, em atendimento pré-hospitalar, em ambulatórios, em unidades de emergência e em enfermarias gerais. Ainda que a técnica tenha ganho maior interesse acadêmico e científico ao longo dos últimos anos, o seu uso ainda é subestimado.1 ▪ OBJETIVOS Ao final da leitura deste artigo, o leitor, em relação à VNI, será capaz de: ▪ estabelecer os benefícios do uso; ▪ identificar os diversos modos; ▪ reconhecer as diversas interfaces para sua aplicação; ▪ reconhecer as indicações para uso. ▪ ESQUEMA CONCEITUAL ▪ VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA Para manter parcial ou totalmente a ventilação e a oxigenação, o paciente, quando indicado, pode necessitar do auxílio de um sistema externo (não invasivo) que forneça pressão positiva ao sistema respiratório. O objetivo da VNI inclui a promoção da expansibilidade pulmonar, gerando melhor troca gasosa e diminuição do trabalho respiratório. Sua aplicação é realizada por meio de uma interface externa (máscaras, prongas, bucais, etc.) acoplada ao paciente e conectada a um gerador de pressão positiva (ventilador mecânico).3 APARELHOS E MODOS A utilização dos diversos tipos de aparelhos geradores de pressão positiva depende, muitas vezes, da disponibilidade local. Os aparelhos microprocessados da unidade de terapia intensiva (UTI) são, na maioria das vezes, primeira escolha, pois estão disponíveis em maior quantidade, apesar de serem tradicionalmente projetados para a aplicação de VM invasiva. Esses dispositivos são compostos de dois circuitos acoplados a um sistema de válvulas inspiratórias e expiratórias, com separação dos locais de movimentação de gases. Por não compensar diretamente as perdas aéreas (fato minimizado nos aparelhos com modo específico para VNI), estudos evidenciaram maiores taxas de assincronia, necessitando de correções imediatas e ao longo de todo tempo de aplicação do método.1 Aparelhos específicos para realização de VNI possuem circuito único, e a expiração ocorre por meio de orifício exalatório ou de válvula de exalação ativa. Apesar do potencial aumento dos níveis de dióxido de carbono (CO2), nos sistemas de circuitos de única via que utilizam as portas exalatórias, esse aumento é menos provável nos novos modelos nos quais o design e a geração de fluxo são adequados para “lavar” o CO2 expirado. Um ponto importante desses aparelhos é a presença de compensação de fugas, aumentando a sincronia e melhorando resultados.1 Aparelhos portáteis e de baixo custo vêm sendo amplamente utilizados para aplicação de VNI, principalmente no ambiente domiciliar. Com a evolução tecnológica, esses aparelhos já possuem uma diversidade de modos, favorecendo, assim, melhor interação paciente-ventilador. Os principais modos ventilatórios empregados durante a VNI e a ventilação invasiva são: ▪ ventilação com controle de pressão (PCV); ▪ ventilação com controle de volume (VCV); ▪ dois níveis de pressão em vias aéreas (bilevel ou binível); ▪ pressão de suporte ventilatório (PSV); ▪ pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP). LEMBRAR Modos ventilatórios avançados, como servoventilação, pressão de suporte e com volume corrente médio garantido (AVAPS), ventilação assistida proporcional (PAV) e ventilação assistida com ajuste neural (NAVA), prometem aumentar a sincronia paciente-ventilador.1 Pressão positiva contínua nas vias aéreas O aparelho gerador de CPAP é capaz de fornecer pressão positiva constante, sem assistência inspiratória específica, elevando a pressão durante a respiração espontânea acima da pressão atmosférica. A CPAP é indicada no tratamento e na manutenção de determinadas doenças respiratórias, pois aumenta a capacidade residual funcional, expandindo alvéolos colapsados ou áreas hipoventiladas e favorecendo a redistribuição do líquido acumulado no interior dos alvéolos. Além dos benefícios diretos sobre o sistema respiratório, a CPAP auxilia na diminuição da pressão transmural ventricular esquerda, reduzindo a pós-carga cardíaca e a sobrecarga hídrica e auxiliando na efetividade da contração muscular ventricular esquerda. Outro benefício importante desse modo ventilatório é a manutenção da patência das vias aéreas, reduzindo a obstrução de vias aéreas superiores e permitindo a adequada passagem do ar por meio das vias de condução. Ventilação assistida proporcional Como a modalidade PAV ajusta o ciclo respiratório de acordo com a demanda ventilatória do paciente (estimada a partir do cálculo do trabalho respiratório por meio da medida da impedância do sistema respiratório), alguns estudos mostraram que o uso desse modo, comparado ao uso da PSV, parece melhorar a tolerância dos pacientes durante a VNI. Apesar de as taxas de mortalidade e de intubação serem similares, os pacientes recusaram menos a técnica, tiveram melhora mais rápida da frequência respiratória e menor incidência de complicações.4 Em um estudo envolvendo 42 pacientes, o modo PAV mostrou-se eficaz por facilitar o desmame da VM nos pacientes que não toleraram o teste de respiração espontânea (TRE).5 Ventilação assistida com ajuste neural O modo NAVA tem sido relacionado a aumento da sincronia paciente-ventilador durante a aplicação da VNI. Um estudo com pequeno tamanho amostral mostrou que o emprego do modo NAVA, durante a VNI realizada por meio de ventiladores utilizados na UTI, melhorou a sincronia paciente-ventilador e diminuiu os níveis de escape aéreo quando comparado ao uso do modo PSV.6 LEMBRAR Deve-se considerar a necessidade da implantação de um cateter nasogástrico para utilização do modo NAVA. Esse cateter pode representar um aumento na fuga de gases, promovendo assincronia e falência da técnica, podendo se tornar uma barreira importante para seu uso de forma não invasiva.1 Ventilação com controle de pressão A PCV fornece pressão positiva em dois níveis (pressão inspiratória e pressão expiratória), como na modalidade invasiva, sendo ciclada a tempo, o que permite o ajuste da frequência respiratória e a possibilidade de variação do tamanho dos ciclos ventilatórios. Indicada para pacientes com drive ventilatório instável, em que há necessidade da garantia de uma frequência respiratória mínima. Por se tratar de um modo assistido controlado, é permitido o disparo pelo paciente, caso haja programação de adequada sensibilidade.3 Ventilação com controle de volume A VCV fornece um volume corrente preestabelecido, assim como na modalidade invasiva, com fluxo inspiratório programado, ajuste de frequência respiratória e possibilidade de variação dos ciclos respiratórios. Nos aparelhos modernos de VM domiciliar, já é possível encontrar modo VCV, assim como nos ventiladores próprios da UTI. Uma diferença importante entre a VNI e a modalidade invasiva está no ajuste do volume corrente. Durante a VNI, é indicada a utilização de volumes correntes entre 10 e 15mL/kgde peso predito, na tentativa de compensar a fuga aérea. A VCV é adequada para uso em pacientes com necessidade de VNI contínua, para pacientes com deformidades da caixa torácica ou para pacientes obesos que necessitem de altas pressões de insuflação para garantir um bom volume corrente.3 Ventilação com pressão de suporte O modo PSV difere-se dos modos tradicionais limitados a pressão pelo fato de ser ciclado a fluxo e permitir um tempo inspiratório variável, o que, por sua vez, possibilita melhor sincronia entre o paciente e o ventilador.1 Ajusta-se um nível de PEEP e de pressão inspiratória, em que a diferença entre essas pressões é a pressão de suporte. Vale ressaltar que a necessidade de disparo espontâneo contraindica o emprego desse modo em pacientes com drive ventilatório variável. Níveis de pressão em vias aéreas – bilevel ou binível O modo bilevel requer a manipulação de dois parâmetros: ▪ pressão inspiratória de pico ( IPAP); ▪ pressão expiratória (EPAP). A diferença entre essas duas pressões determina o nível de pressão de suporte. É importante ressaltar que ao se aumentar os níveis de EPAP sem alterar o nível de IPAP, há diminuição do delta de pressão, reduzindo, assim, a pressão de suporte e, possivelmente, o volume corrente.3 Servoventilação Alguns aparelhos modernos têm a capacidade de compensar apneias centrais com ventilação periódica, regulando a pressão inspiratória e expiratória de maneira automática. A servoventilação é utilizada em pacientes com distúrbios do sono e insuficiência cardíaca crônica, que, frequentemente, apresentam apneias centrais e obstrutivas, e em pacientes portadores de apneias complexas, caracterizadas pelo aparecimento de ritmo de Cheyne-Stokes após uso inicial de CPAP.7,8 Pressão de suporte com volume corrente médio garantido Tecnologias vêm sendo desenvolvidas para garantir melhor adaptação e assegurar alguns parâmetros fisiológicos. A tecnologia AVAPS permite a adoção de um volume corrente fixo, com variação dos níveis de pressão para se atingir o volume-alvo. Benefícios em longo prazo foram demonstrados em disfunções, como apneia obstrutiva do sono (AOS), síndrome da hipoventilação alveolar e insuficiência respiratória crônica com predomínio hipercápnico.9 ATIVIDADE 1. Qual é a relevância da VNI? Confira aqui a resposta 2. Observe as afirmativas a seguir sobre os objetivos da VNI. I – Promoção da expansibilidade pulmonar. II – Tratamento do choque. III – Melhora da troca gasosa. IV – Diminuição do trabalho respiratório. Quais estão corretas? A) Apenas a I, a II e a III. B) Apenas a I, a III e a IV. C) Apenas a I, a II e a IV. D) Apenas a II, a III e a IV. Confira aqui a resposta 3. Em relação às características específicas dos aparelhos de VNI, assinale a alternativa correta. A) Os locais para movimentação de gases inspiratórios e expiratórios são diferentes. B) São compostos de dois circuitos acoplados às válvulas inspiratórias e expiratórias. C) Possuem circuito único. D) Não possuem válvula de exalação ativa ou orifício exalatório. Confira aqui a resposta 4. Qual é o aparelho gerador capaz de fornecer pressão positiva constante elevando a pressão durante a respiração espontânea acima da pressão atmosférica? A) CPAP. B) PAV. C) PSV. D) AVAPS. Confira aqui a resposta 5. Sobre a PAV, assinale V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Ajusta o ciclo ventilatório de acordo com a demanda ventilatória do paciente. ( ) Melhora a tolerância do paciente durante a VNI. ( ) Aumenta a sincronia paciente-ventilador durante a aplicação da VNI. ( ) Permite o ajuste da frequência respiratória e tem possibilidade de variação do tamanho dos ciclos ventilatórios. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) F – V – V – F B) V – F – V – F C) V – V – V – F D) V – V – F – F Confira aqui a resposta 6. Sobre os modos ventilatórios, assinale a alternativa correta. A) A CPAP tem influência direta sobre a pós-carga cardíaca esquerda. B) No modo PCV, não é possível o disparo do paciente, mesmo quando há ajuste adequado da sensibilidade. C) No modo bilevel, a soma IPAP + EPAP é considerada pressão de suporte. D) Na PSV, o paciente pode ter drive respiratório variável. Confira aqui a resposta ▪ UMIDIFICAÇÃO E AQUECIMENTO O uso de umidificadores durante a VNI ainda é controverso. Durante a utilização de interfaces nasais, o fluxo unidirecional de ar pelo nariz com vazamento oral pode ressecar as vias aéreas superiores e aumentar a resistência nasal, além de aumentar o desconforto. Altas ou baixas temperaturas podem causar desconforto e afetar diretamente a tolerância à técnica. É preciso ter cuidado ao utilizar filtros trocadores de calor e umidade, pois o aumento do espaço morto adicional pode diminuir a eliminação de CO2, e a presença desse dispositivo pode aumentar a resistência à passagem do fluxo aéreo.1 ▪ INTERFACES O que distingue a ventilação invasiva da VNI é a utilização de interfaces externas. Uma grande variedade de interfaces está disponível para comercialização, com diferentes tamanhos, tecnologias, materiais e preços (Figuras 1 e 2). O uso da interface correta é um dos principais pontos-chave para adaptação e pode definir o prognóstico do uso da VNI. Lesões por pressão facial excessiva podem ser encontradas em 5 a 20% dos pacientes em uso de VNI, e a escolha inadequada da máscara pode permitir maior vazamento de ar ao seu redor ou através da boca, transferindo para o aparelho a necessidade de compensar efetivamente as perdas e otimizar o conforto.3 As principais categorias de interfaces incluem: ▪ máscaras nasais; ▪ almofadas nasais; ▪ máscaras oronasais; ▪ máscaras faciais totais; ▪ capacete; ▪ peça bucal; ▪ máscaras híbridas. A Figura 1, a seguir, apresenta as principais interfaces utilizadas para aplicação de VNI. Figura 1 – Principais interfaces utilizadas para aplicação de VNI. A) Máscara nasal; B) Máscara oronasal; C) Máscara facial total; D) Capacete; E)Almofada nasal; F) Peça bucal. Fonte: Bello e colaboradores (2013).10 A Figura 2 mostra a interface híbrida. Figura 2 – Interface híbrida. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. MÁSCARAS NASAIS As máscaras nasais são amplamente utilizadas por pacientes com necessidade de VNI por longos períodos. Por permitir somente a via de entrada nasal, são pouco toleradas por pacientes críticos, pois eles comumente apresentam padrão oral de ventilação, aumentando o escape de ar através da boca. Essas máscaras permitem falar, tossir e expectorar, além de reduzirem o risco de vômito no seu interior com consequente aspiração. LEMBRAR Um fator importante das máscaras nasais é que elas oferecem menor sensação de claustrofobia, menor ponto de pressão no rosto, além de permitirem aceitação mais fácil.1,3,11 ALMOFADAS NASAIS As almofadas nasais são uma variação das máscaras nasais, e têm como característica a inserção de suas bordas nas narinas. Muito utilizadas em pacientes pediátricos, podem ser desconfortáveis para uma classe de pacientes adultos. Além disso, podem ser utilizadas como estratégia de rotatividade entre interfaces em pacientes que utilizam VNI por longos períodos.11 MÁSCARAS ORONASAIS As máscaras oronasais abrangem o nariz e a boca. Aumentam o volume minuto e reduzem mais efetivamente a pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2) em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). São amplamente utilizadas em UTI para pacientes agudos, podendo ser usadas também para pacientes crônicos com padrão respiratório oral ou misto. Interferem diretamente na fala, na alimentação e na expectoração, sendo necessária maior vigilância pelo risco de vômito seguido de aspiração. Por pressionar uma maior área da face, podem aumentar as chances de úlcera por pressão local, por isso é necessário escolher comcautela o modelo a ser utilizado.1,3,11,12 MÁSCARAS FACIAIS TOTAIS As máscaras faciais totais foram disponibilizadas para comercialização recentemente. Essas máscaras abrangem o nariz e a boca e têm como vantagem, em relação às oronasais, o fato de a vedação ocorrer ao redor do perímetro da face, evitando a pressão direta em estruturas faciais mais sensíveis. Estudos evidenciaram que o uso das máscaras faciais totais pode ser mais confortável quando comparado ao uso de máscaras oronasais. Além disso, as máscaras faciais totais parecem diminuir a reinalação de CO2, e devem ser uma alternativa no momento da escolha da interface, principalmente em pacientes com insuficiência respiratória aguda ( IRpA) que necessitam de longos períodos de VNI.1,3,11,13 CAPACETE O capacete cobre toda a cabeça e uma parte do pescoço. É composto por uma estrutura transparente, um colar que sela no pescoço e duas portas – uma de entrada e outra de saída de gás. Essa interface parece oferecer algumas vantagens quando comparada às demais, como maior tolerância, boa interação com o ambiente e melhor adaptação nos pacientes que possuem alguma situação em que há dificuldade anatômica para aplicação da técnica (pacientes sem dentes e pacientes com trauma facial). Por não fazer contato direto com a face do paciente, não causa lesão por pressão nesse local. Alguns pacientes relatam que o ruído interno do capacete e o ressecamento ocular podem ser complicadores para sua adaptação. Não é recomendado o uso do capacete com ventiladores convencionais de terapia intensiva, já que um fluxo de ar mais intenso (40 a 60Lpm) é necessário para evitar a reinalação de CO2. Estudo recente realizado nos Estados Unidos, comparando o uso de máscara oronasal ao capacete, em pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), evidenciou que o uso do capacete em pacientes que necessitam de VNI por mais de 8 horas resultou em redução da taxa de intubação e da mortalidade em 90 dias.1,3,11,14 PEÇA BUCAL A peça bucal é descrita como uma alternativa para VNI em pacientes que necessitam de suporte ventilatório contínuo desde a década de 1960 (Figura 3). Esse dispositivo apresenta baixo custo e não oferece área de pressão sobre a face. É colocada na boca, entre os lábios e necessita de vedação labial por parte dos pacientes. A técnica torna-se menos efetiva caso o paciente não consiga vedar os lábios, aumentando o vazamento e causando assincronia e desconforto. Dispositivos, como o lip seal, podem fornecer melhor vedamento oral com menor vazamento, possibilitando o uso da peça bucal para pacientes que apresentam déficit de força dos músculos labiais (Figura 4). Vazamentos nasais podem ocorrer, dificultando a adaptação. Caso necessário, pode-se utilizar clipe nasal para facilitar a acomodação. Essa interface pode ser utilizada como estratégia de rotatividade com outras interfaces em pacientes que utilizam VNI por longos períodos. Pode-se adaptar um suporte ao leito, à cadeira de rodas ou à poltrona para que o paciente realize os ciclos ventilatórios com assistência sempre que sentir necessidade. A peça bucal deve ser obrigatoriamente substituída durante o sono, já que a efetiva ventilação demanda colaboração do paciente. Estudos utilizando a peça bucal em pacientes com doenças neuromusculares e em tetraplégicos demonstraram melhor conforto e eficácia do uso da VNI por meio dessa interface.3,11,15-17 A Figura 3, a seguir, mostra uma peça bucal. Figura 3 – Peça bucal. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A Figura 4, a seguir, ilustra o dispositivo lip seal. Figura 4 – Dispositivo lip seal. MÁSCARAS HÍBRIDAS A máscara híbrida combina as vantagens da peça bucal e da almofada nasal. Por não se apoiar sobre a ponte do nariz (área mais comumente lesada quando utiliza-se VNI), pode ser bem tolerada por pacientes que não se adaptaram às máscaras oronasais convencionais. Suas desvantagens são parecidas com as desvantagens das máscaras oronasais, além do desconforto relatado por pacientes que não se adaptam à almofada nasal.18 Para escolha adequada da interface de VNI, são desejáveis os seguintes fatores:18 ▪ possuir pequeno espaço morto; ▪ ser transparente; ▪ ser leve; ▪ permitir fácil adaptação; ▪ possuir boa vedação com necessidade de baixa pressão facial; ▪ ser descartável ou de fácil remoção para limpeza; ▪ não ser irritativa (anti ou hipoalérgica); ▪ possuir bom preço; ▪ apresentar grande variabilidade de tamanhos; ▪ ser adaptável às variações anatômicas faciais; ▪ favorecer fácil e rápida remoção caso seja necessário; ▪ conter mecanismo antiasfixia; ▪ ser compatível com uma larga gama de ventiladores. Um compilado das vantagens e desvantagens das interfaces está descrito no Quadro 1, a seguir. Quadro 1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS INTERFACES DE VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA Interface Vantagens Desvantagens Máscara nasal ▪ Apresenta menor risco de aspiração ▪ Facilita a mobilização de secreção ▪ Provoca menos claustrofobia ▪ Facilita a fonação ▪ Possibilita a alimentação ▪ É de fácil adaptação e segurança ▪ Apresenta menor espaço morto ▪ Ocorre perda de pressão através da boca ▪ Apresenta maior resistência por meio do conduto nasal ▪ É menos efetiva na presença de obstrução nasal ▪ Causa irritação nasal, rinorreia e ressecamento oral Almofada nasal ▪ Apresenta as mesmas vantagens da máscara nasal, porém é mais confortável para alguns pacientes ▪ Apresenta menor risco de lesão por pressão facial excessiva quando comparada às máscaras nasais ▪ Apresenta as mesmas desvantagens da máscara nasal ▪ Pode ser desconfortável para alguns pacientes, principalmente na vigência de altas pressões Máscara oronasal ▪ Apresenta melhor controle do vazamento oral ▪ É efetiva para pacientes com via de entrada de ar predominantemente oral ▪ Apresenta aumento do espaço morto ▪ Provoca maior claustrofobia ▪ Oferece risco aumentado de aspiração ▪ Causa dificuldade de fonação e alimentação ▪ Apresenta risco de asfixia em caso de mau funcionamento do ventilador mecânico Máscara facial total ▪ Pode ser mais confortável para alguns pacientes ▪ É de fácil ajuste ▪ Apresenta menor risco de lesão por pressão facial excessiva ▪ Produz potencial aumento do espaço morto ▪ Pode causar ressecamento ocular ▪ Não pode ser utilizada para administração de medicamentos na forma de aerossóis Capacete ▪ Permite boa interação com o ambiente ▪ Apresenta melhor adaptação em pacientes com deformidades anatômicas faciais ou fratura de face ▪ Não causa lesão por pressão excessiva na face ▪ Pode apresentar ruído intenso, causar ressecamento ocular aumentar o espaço morto Peça bucal ▪ Causa pouca interferência na fala ▪ Apresenta espaço morto muito pequeno ▪ Dispensa fixador cefálico ▪ Não é efetiva se o paciente não consegue realizar o vedamento labial adequado ▪ Requer o uso de interface oral ou nasal durante a noite ▪ Tem potencial lesão ortodôntica ▪ Favorece o ressecamento oral Máscara híbrida ▪ Apresenta vantagens combinadas da peça bucal e do travesseiro nasal ▪ Apresenta as mesmas desvantagens da máscara oronasal ▪ É pouco tolerada por pacientes que não se adaptam à almofada nasal Fonte: Adaptado de Hess (2012).18 ATIVIDADE 7. Sobre a umidificação e o aquecimento do ar inspirado durante a VNI, assinale a alternativa INCORRETA. A) O uso de umidificadores ainda é controverso. B) Filtros trocadores de calor e umidade não aumentam o espaço morto. C) O ressecamento das vias aéreas pode aumentar a resistência nasal. D) Altas ou baixas temperaturas podem causar desconforto. Confira aqui a resposta 8. Analise as afirmativas a seguir sobre as interfaces externas. I – O uso da interface correta é um dos principais pontos-chave para adaptação. II – São utilizadas tanto na ventilação invasiva quanto na VNI. III– As lesões por pressão facial excessiva são muito comuns e afetam mais de 20% dos pacientes. Qual(is) está(ão) correta(s)? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a I. C) Apenas a II e a III. D) Apenas a III. Confira aqui a resposta 9. Sobre a utilização da máscara oronasal, assinale a alternativa INCORRETA. A) Abrange a boca e é associada à almofada nasal. B) Abrange o nariz e a boca; por isso é mais confortável quando comparada com a máscara nasal. C) É ineficaz no controle do vazamento oral. D) É utilizada apenas em pacientes tetraplégicos e indicada para pacientes com via de entrada de ar predominantemente oral. Confira aqui a resposta 10. A afirmativa “podem ser mais confortáveis do que as máscaras oronasais e parecem diminuir a reinalação de CO2” refere-se a que tipo de dispositivo? A) Almofadas nasais. B) Capacete. C) Máscaras faciais totais. D) Máscaras nasais. Confira aqui a resposta 11. Sobre as desvantagens do uso da máscara nasal, assinale a alternativa correta. A) Gera mais sensação de claustrofobia. B) É menos efetiva na presença de obstrução nasal. C) Apresenta risco elevado de aspiração. D) Pode causar ressecamento ocular. Confira aqui a resposta 12. Descreva alguns fatores relacionados à escolha adequada da interface de VNI Confira aqui a resposta ▪ POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA MELHOR ADESÃO E DESFECHO Considerando-se o fato de que alguns pacientes não se adaptam bem à VNI, mesmo com a grande variabilidade de máscaras, possibilidades surgem na tentativa de se melhorar a adesão e o desfecho da técnica. O uso da sonda nasogástrica ou nasoentérica pode ser um dificultador da adaptação pelo vazamento ocasionado entre a máscara, a sonda e a face do paciente. Dispositivos para acomodação da sonda podem melhorar a adaptação, reduzindo o vazamento e melhorando o desfecho clínico. Para possíveis lesões de pressão facial, a utilização de curativos hidrocoloides pode diminuir os pontos de pressão e facilitar o uso prolongado de máscaras, além de diminuir regiões de vazamento. Na disponibilidade de máscara nasal, o uso do suporte mentoniano pode reduzir o índice de vazamentos orais e permitir a aplicação de VNI por essa interface. ▪ EVIDÊNCIAS VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NO EDEMA AGUDO DE PULMÃO CARDIOGÊNICO (NÍVEL DE RECOMENDAÇÃO A) O edema agudo de pulmão cardiogênico é uma condição que ocorre quando há extravasamento de líquido dos capilares pulmonares para o interstício pulmonar e espaços intra-alveolares, secundário à elevação da pressão hidrostática nos capilares pulmonares.19,20 Muitas vezes, há prejuízo nas trocas gasosas, aumento no trabalho respiratório, redução da complacência pulmonar e colapso alveolar por causa do excesso de líquido intersticial. A VNI reduz a necessidade de intubação e a mortalidade nesses casos. Embora o nível de evidência seja maior para o emprego da CPAP, não existem diferenças significativas nos resultados clínicos comparando- se a CPAP à VNI no modo bilevel.1,19,21 Pacientes com insuficiência cardíaca esquerda sistólica ou diastólica podem beneficiar-se do uso da VNI.20 Deve-se utilizar o modo CPAP como terapia de primeira linha nos pacientes com edema agudo pulmonar de origem cardiogênica, com pressão entre 5 e 10cmH2O (recomendação A)1,19-21 Utilizar bilevel (EPAP = 5 a 10cmH2O e IPAP = 15cmH2O) como alternativa para pacientes que não ventilem adequadamente e com presença de hipercapnia (recomendação B).22 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NA EXACERBAÇÃO AGUDA DA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (NÍVEL DE RECOMENDAÇÃO A) De acordo com o II Consenso Brasileiro de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica,23 essa patologia é uma enfermidade respiratória prevenível e tratável, que se caracteriza pela presença de obstrução crônica do fluxo aéreo, que não é totalmente reversível.19,20 A obstrução ao fluxo aéreo é geralmente progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou de gases tóxicos causada primariamente pelo tabagismo. Recomenda-se o uso da VNI no tratamento da DPOC agudizada para diminuir a necessidade de intubação, o tempo de internação hospitalar e a mortalidade. Espera-se sucesso em 75% dos casos de hipercapnia (retenção de CO2 e acidose) e de 50% nos pacientes hipoxêmicos com o uso da VNI.1,20 LEMBRAR Sugere-se o uso da VNI em pacientes com rebaixamento do nível de consciência, secundário à hipercapnia em portadores de DPOC. A melhora da consciência deve ser evidente de 1 a 2 horas após início da VNI.1- 9,11-20,24 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NA EXACERBAÇÃO AGUDA DA ASMA (NÍVEL DE RECOMENDAÇÃO B) A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas caracterizada pela hiperresponsividade brônquica e pela limitação ao fluxo aéreo reversível.20 O curso da asma é pontuado por exacerbações que podem variar de leve a grave. A asma aguda grave é uma exacerbação potencialmente fatal, associada à IRpA, que não responde à terapia convencional e geralmente requer hospitalização. Os objetivos do manejo da asma aguda grave incluem correção de hipoxemia, alívio da obstrução ao fluxo de ar e supressão da inflamação com medicamentos.25 Em um estudo realizado por Gupta e colaboradores,25 foram randomizados 53 indivíduos com asma aguda grave em dois grupos – um utilizando VNI e outro em que foi utilizada apenas a terapia medicamentosa padrão. Como resultado, foram observados melhora significativa da frequência respiratória, do volume expiratório forçado no primeiro segundo e da relação pressão parcial de oxigênio no sangue arterial/fração inspirada de oxigênio (PaO2/FiO2), mas não do potencial hidrogeniônico (pH) e da pressão arterial de gás carbônico (PaCO2) em ambos os grupos. Conclui-se que a VNI, na exacerbação da asma, pode ser utilizada em conjunto com a terapia medicamentosa para melhorar a obstrução ao fluxo aéreo e diminuir o esforço respiratório em pacientes com crise asmática moderada a acentuada.20 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NA SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO (NÍVEL DE RECOMENDAÇÃO B) A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) é uma IRpA decorrente de lesão pulmonar difusa e heterogênea, de natureza inflamatória, da barreira constituída pelo epitélio alveolar e endotélio vascular pulmonar, que determina, entre outras coisas, a formação de edema alveolar rico em proteínas. Pode ser classificada em leve, moderada e grave.20 O uso de VNI em pacientes com SDRA é controverso. Ferrer e colaboradores26 avaliaram 105 indivíduos com insuficiência respiratória hipoxêmica grave, divididos em dois grupos diferentes – um era submetido à VNI, modo bilevel (51 indivíduos); o outro recebia alta concentração de FIO2 (54 indivíduos). As etiologias das falências respiratórias eram principalmente pneumonia e edema pulmonar cardiogênico, mas havia 15 pacientes com SDRA. Concluiu-se que, exceto em pacientes com SDRA, o uso de VNI é eficaz em reduzir a intubação em pacientes com insuficiência respiratória hipoxêmica aguda grave.26 Sugere-se o uso da VNI, especialmente nos casos de SDRA leve, atentando para que as metas de sucesso ocorram entre de 30 minutos e 2 horas de aplicação (nível de recomendação B).20 No caso de insucesso, evitar o retardo da intubação. Deve-se evitar a utilização de VNI na SDRA grave em função da alta taxa de falência respiratória e da necessidade de intubação orotraqueal ( IOT), especialmente em pacientes com PaO2/FIO2 < 140mmHg e Simplified Acute Physiology Score (SAPS) II > 35 (recomendação A).20 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NA PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE GRAVE (NÍVEL DE RECOMENDAÇÃO B) O benefício da VNI em pacientes com pneumonia é controverso por causa da alta taxa de falhas. A maior duração da VNI antes da intubação geralmente está associada com a diminuição da sobrevida hospitalar em indivíduos com IRpA. No caso de insucesso, deve-se evitar retardar a intubação.1-20,24Sugere-se utilizar a VNI na PAC grave com insuficiência respiratória hipoxêmica, especialmente nos portadores concomitantes de DPOC, observando a janela de tempo para as metas de sucesso (30 minutos a 2 horas). Para se considerar sucesso, deve-se observar diminuição da frequência respiratória, aumento do volume corrente, melhora do nível de consciência, diminuição ou cessação de uso de musculatura acessória, aumento da PaO2 e/ou da saturação periférica de oxigênio (SpO2) e diminuição da PaCO2, sem distensão abdominal significativa.20 LEMBRAR Pacientes imunossuprimidos com pneumonia bilateral também podem se beneficiar com a VNI.20 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA PÓS-EXTUBAÇÃO (NÍVEL DE RECOMENDAÇÃO A) O processo de descontinuação da VM deve equilibrar o risco de complicações em função de atrasos desnecessários na extubação, com risco de complicações pela interrupção prematura e necessidade de reintubação.10,20-30 Diretrizes e guidelines recomendam o TRE para determinar, em qualquer paciente, quando a VM pode ser descontinuada com sucesso. Ainda assim, com essa abordagem, documenta-se uma taxa de reintubação entre 13 e 19%.20,27 Após a retirada da via aérea artificial, a VNI pode ser utilizada em três condições: ▪ VNI facilitadora – recomenda-se a utilização da VNI de forma a facilitar, “encurtar”, interromper a VM precocemente em pacientes portadores de DPOC, mesmo naqueles que não passaram no TRE, desde que sob condição clínica adequada. O ideal é que essa modalidade seja aplicada em centros com experiência no manejo dessa estratégia de VNI (Figura 5);20 ▪ VNI preventiva – condição mais utilizada atualmente. Utiliza-se VNI para prevenir falha de extubação imediatamente após retirada da via aérea artificial, em pacientes selecionados, como de maior risco, especialmente nos hipercápnicos (Figura 5 e Quadro 2);20,29 ▪ VNI curativa – emprego da VNI na falência pós-extubação (até 48 horas após retirada da via aérea artificial). Deve-se evitar o uso da VNI após o quadro de insuficiência respiratória instalar-se, evitando “retardar” a reintubação, exceto em pacientes cirúrgicos que apresentem falência no pós-operatório (Figura 5).20 Na Figura 5, pode-se observar a utilização de VNI pós-extubação. Figura 5 – Utilização da VNI após extubação. Fonte: Adaptada das Diretrizes Brasileiras de Ventilação Mecânica (2013).20 Quadro 2 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA PREVENTIVA – FATORES DE RISCO PARA FALÊNCIA RESPIRATÓRIA Hipercapnia após extubação (PaCO2 > 45mmHg) Insuficiência cardíaca Tosse ineficaz Secreções copiosas Mais de uma falência consecutiva no desmame Obstrução de vias aéreas superiores Idade acima de 65 anos Falência cardíaca como causa da intubação Acute Physiology and Chronic Health Evaluation (APACHE) > 12 no dia da extubação Pacientes com mais de 72 horas de VM invasiva Fonte: Barbas e colaboradores (2014).20 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NO PÓS-OPERATÓRIO Recomenda-se a utilização da VNI para o tratamento de IRpA no pós-operatório imediato de cirurgia abdominal e torácica eletivas, nas modalidades preventiva ou curativa, quando associada à melhora da troca gasosa, à redução de atelectasias e à diminuição do trabalho respiratório. Relaciona-se também à redução da necessidade de intubação e, possivelmente, da mortalidade.1,20,30 O modo CPAP tem se mostrado eficiente na melhora dos quadros de atelectasia gerados no pós-operatório de grandes cirurgias abdominais eletivas.1,20 Sugere-se o uso da VNI para se evitar a IRpA após cirurgias esofágicas, desde que mantenham-se pressões mais baixas (EPAP < 8cmH2O e IPAP < 15cmH2O). A mesma sugestão vale para as cirurgias torácica, abdominal, cardíaca e bariátrica.1,20 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NA BRONCOSCOPIA De acordo com as Diretrizes Brasileiras de Ventilação Mecânica,20 sugere-se a utilização da VNI durante e após a broncoscopia, visando diminuir o risco de complicações associadas ao procedimento em pacientes com hipoxemia grave refratária, insuficiência respiratória pós-operatória ou DPOC grave. Cuidados especiais devem ser utilizados após procedimento de biópsia transbrônquica, mantendo-se as pressões de vias aéreas <20cmH2O e realizando radiografia de tórax caso haja descompensação clínica do paciente, e após 6 horas do procedimento para verificação de possível ocorrência de pneumotórax.1,20 ATIVIDADE 13. A respeito das indicações para realização da VNI preventiva, imediatamente após a retirada da via aérea artificial, assinale a alternativa INCORRETA. A) Hipercapnia após extubação (PaCO2 > 45mmHg). B) Falência consecutiva no desmame mais de uma vez. C) Tosse ineficaz. D) Idade acima de 60 anos. Confira aqui a resposta 14. Observe as afirmativas a seguir sobre a indicação de VNI. I – DPOC descompensada. II – Auxílio no desmame da VM. III – Profilaxia de IOT. IV – Infarto agudo do miocárdio com instabilidade hemodinâmica grave. Quais estão corretas? A) Apenas a I, a II e a III. B) Apenas a II e a III. C) Apenas a III e a IV. D) Apenas a II, a III e a IV. Confira aqui a resposta 15. No paciente com DPOC exacerbada, com hipercapnia e hipoxemia, o que o uso da VNI melhora? A) Acidose respiratória, com redução da fadiga muscular e aumento da frequência respiratória. B) Acidose respiratória, com redução da fadiga muscular e da frequência respiratória. C) Alcalose respiratória, com redução da fadiga muscular e aumento da frequência respiratória. D) Alcalose respiratória, com aumento da fadiga muscular e da frequência respiratória. Confira aqui a resposta 16. Em relação às três condições de utilização da VNI após retirada da via aérea artificial, correlacione as colunas. (1) VNI facilitadora (2) VNI preventiva (3) VNI curativa ( ) Utiliza-se VNI para prevenir falha de extubação, imediatamente após retirada da via aérea artificial, em pacientes selecionados, como de maior risco, especialmente nos hipercápnicos. ( ) Deve-se evitar o uso da VNI após o quadro de insuficiência respiratória instalar-se, evitando “retardar” a reintubação, exceto em pacientes cirúrgicos que apresentem falência no pós-operatório. ( ) Utilização da VNI de forma a facilitar, “encurtar”, interromper a VM precocemente em pacientes portadores de DPOC, mesmo naqueles que não passaram no TRE, desde que sob condição clínica adequada. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) 3–2–1 B) 1–3–2 C) 2–3-1 D) 2–1–3 Confira aqui a resposta ▪ CASO CLÍNICO Paciente do sexo masculino, 70 anos de idade, admitido na unidade de urgência com quadro de edema agudo pulmonar cardiogênico, sudorese, taquipneia e tosse produtiva com expectoração de pequena quantidade de secreção rósea. Ausculta respiratória com crepitações bilaterais difusas. Nega patologias pulmonares prévias. Sinais vitais do paciente: ▪ frequência cardíaca = 120bpm; ▪ frequência respiratória = 35irpm; ▪ pressão arterial = 210 x 120mmHg; ▪ SpO2 = 85%. Gasometria arterial: ▪ pH = 7,44; ▪ PaO2 = 60mmHg; ▪ PCO2 = 42mmHg; ▪ HCO3 = 23mmol/L; ▪ SaO2 = 85%; ▪ excesso de base (BE) = +1mmol/L. ATIVIDADE 17. Qual seria a conduta ventilatória inicial adequada para esse paciente? Confira aqui a resposta ▪ CONCLUSÃO A VNI está inserida entre os métodos de aplicação de pressão positiva nas vias aéreas, que é, certamente, um dos maiores avanços da VM nas últimas décadas. Cada vez mais baseado em evidências, hoje não há dúvidas de que o uso da VNI, em grupos de pacientes agudos ou crônicos (edema agudo pulmonar cardiogênico, exacerbação aguda da DPOC e da asma, SDRA, pneumonia adquirida na comunidade, pós- extubação, pós-operatórios, entre outros), tornou-se o principal responsável pela diminuição da necessidade de intubação, redução da mortalidade e dos custos do tratamento, além da promoção de melhor qualidade de vida e aumentoda funcionalidade desses pacientes. É necessária a elaboração de protocolos de utilização e de educação continuada da equipe para que o procedimento seja bem realizado. A disponibilidade dos recursos adequados (ventiladores e interfaces) e o envolvimento de toda a equipe são imprescindíveis para seu sucesso. ▪ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 1 Resposta: A VNI é um dos maiores avanços da VM nas últimas décadas. Cada vez mais baseado em evidências, hoje não há dúvidas de que seu uso, em grupos de pacientes agudos ou crônicos, tornou-se o principal responsável pela diminuição da necessidade de intubação e pela redução da mortalidade e dos custos do tratamento, além de promover melhor qualidade de vida e aumento da funcionalidade dos pacientes. Atividade 2 Resposta: B Comentário: O objetivo da VNI inclui a promoção da expansibilidade pulmonar, gerando melhor troca gasosa e diminuição do trabalho respiratório. Atividade 3 Resposta: C Comentário: Os aparelhos específicos para realização de VNI possuem circuito único, e a expiração ocorre através de orifício exalatório ou válvula de exalação ativa. Atividade 4 Resposta: A Comentário: O aparelho gerador de CPAP é capaz de fornecer pressão positiva constante, sem assistência inspiratória específica, elevando a pressão durante a respiração espontânea acima da pressão atmosférica. A CPAP é indicada no tratamento e na manutenção de determinadas doenças respiratórias, pois aumenta a capacidade residual funcional, expandindo alvéolos colapsados ou áreas hipoventiladas e favorecendo a redistribuição do líquido acumulado no interior dos alvéolos. Atividade 5 Resposta: D Comentário: A NAVA tem sido relacionada ao aumento da sincronia paciente-ventilador durante a aplicação da VNI. Como na modalidade invasiva, a PCV fornece pressão positiva em dois níveis (pressão inspiratória e pressão expiratória), sendo ciclada a tempo, permitindo o ajuste da frequência respiratória e a possibilidade de variação do tamanho dos ciclos ventilatórios. Atividade 6 Resposta: A Comentário: A CPAP auxilia na diminuição da pressão transmural ventricular esquerda, reduzindo a pós- carga cardíaca e a sobrecarga hídrica e auxiliando na efetividade da contração muscular ventricular esquerda. Atividade 7 Resposta: B Comentário: Todo cuidado é requerido ao utilizar filtros trocadores de calor e umidade, pois o aumento do espaço morto pode diminuir a eliminação de CO2. Atividade 8 Resposta: B Comentário: O que distingue a ventilação invasiva da VNI é a utilização de interfaces externas. Lesões por pressão facial excessiva podem ser encontradas em 5 a 20% dos pacientes em uso de VNI, e a escolha inadequada da máscara pode permitir maior vazamento de ar ao seu redor ou pela boca, transferindo para o aparelho a necessidade de compensar efetivamente as perdas e otimizar o conforto. Atividade 9 Resposta: D Comentário: A máscara oronasal é amplamente utilizada em UTI, podendo ser empregada em pacientes crônicos com via de entrada de ar oral ou mista. Atividade 10 Resposta: C Comentário: Estudos evidenciaram que as máscaras faciais totais podem ser mais confortáveis quando comparadas às máscaras oronasais e parecem diminuir a reinalação de CO2, devendo ser uma alternativa no momento da escolha da interface, principalmente em pacientes com IRpA que necessitam de longos períodos de VNI. Atividade 11 Resposta: B Comentário: Entre as desvantagens da máscara nasal, citam-se perda de pressão através da boca, maior resistência por meio do conduto nasal, menos efetividade na presença de obstrução nasal, além de irritação nasal e rinorreia e ressecamento oral. Atividade 12 Resposta: Para a escolha adequada da interface de VNI são desejáveis os seguintes fatores: possuir pequeno espaço morto, ser transparente e leve, permitir fácil adaptação, possuir boa vedação com necessidade de baixa pressão facial, ser descartável ou de fácil remoção para limpeza, não ser irritativa (anti ou hipoalérgica), possuir bom preço, apresentar grande variabilidade de tamanhos, ser adaptável às variações anatômicas faciais, favorecer fácil e rápida remoção caso seja necessário, conter mecanismo antiasfixia e ser compatível com uma larga gama de ventiladores. Atividade 13 Resposta: D Comentário: A idade acima de 65 anos é considerada fator de risco para falência respiratória. Por isso, indica-se VNI preventiva após extubação traqueal. Atividade 14 Resposta: A Comentário: A instabilidade hemodinâmica grave gerada pelo infarto agudo do miocárdio contraindica, de forma absoluta, a utilização da VNI. Os efeitos da pressão positiva intratorácica podem instabilizar ainda mais o paciente, reduzindo o retorno venoso e o débito cardíaco. Atividade 15 Resposta: B Comentário: O uso da VNI, na DPOC, proporciona melhor troca gasosa como consequência do aumento da ventilação alveolar. Dessa forma, acontecerá a “lavagem” do CO2 em excesso, com consequente melhora do pH e redução da fadiga muscular e da frequência respiratória. Atividade 16 Resposta: C Atividade 17 Resposta: O paciente do caso clínico encontra-se com necessidade de melhorar as trocas gasosas e reabsorver o líquido intra-alveolar gerado pelo edema agudo pulmonar cardiogênico. Dessa forma, a indicação para a situação descrita seria VNI, modo CPAP, com pressões de 5 a 10cmH2O. ▪ REFERÊNCIAS 1. Hess DR. 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