Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

APG 10 - Amnésia científica 
 
Objetivos 
Discutir as bases neurobiológicas da memória e os 
tipos de memória (segundo tempo de aquisição e 
estrutura cerebral envolvida). 
 Debater sobre as alterações patológicas da 
memória (qualitativas e quantitativas) 
Memória 
A memória é a capacidade de codificar, armazenar 
e evocar as experiências, impressões e fatos que 
ocorrem em nossas vidas. A capacidade específica 
de memorizar relaciona-se com vários fatores, 
entre eles o nível de consciência e atenção, o 
estado emocional e o interesse motivacional, os 
contextos, como lugar, momento, com que 
pessoas, em que tipo de atividade e em que fase 
da vida a codificação, o armazenamento e a 
evocação das informações ocorrem. 
De forma genérica, podem-se distinguir, para os 
seres humanos, os seguintes tipos de memória: 
1.Memória psicológica (cognitiva ou 
neuropsicológica). É uma atividade altamente 
diferenciada do sistema nervoso, que permite ao 
indivíduo codificar, conservar e evocar, a 
qualquer momento, os dados aprendidos da 
experiência. 
2.Memória genética e epigenética. Esse tipo de 
memória abrange conteúdos de informações 
biológicas adquiridos ao longo da história 
filogenética da espécie e ao longo das vivências do 
indivíduo e de seus ancestrais, contidos no material 
biológico (DNA, RNA, cromossomos, 
mitocôndrias, mudanças epigenéticas) dos seres 
vivos. 
3.Memória imunológica. Esse tipo de memória 
reúne informações registradas e potencialmente 
recuperáveis pelo sistema imune de um ser vivo. 
4.Memória coletiva, social ou cultural. Envolve 
conhecimentos e práticas sociais e culturais 
(costumes, valores, práticas, linguagem, 
habilidades artísticas, conceitos e preconceitos, 
ideologias, estilos de vida, rituais, gesticulações, 
etc.) produzidos, acumulados e mantidos por um 
grupo social. Esse tipo de memória tem 
importância fundamental para as sociedades 
 
humanas. Sem ela, os grupos sociais perdem sua 
identidade básica, a possibilidade de perceber o 
sentido de suas existências, a gratidão e crítica em 
relação ao passado e a esperança e prudência em 
relação ao futuro. 
FASES OU ELEMENTOS BÁSICOS DA 
MEMÓRIA 
• Codificação: captar, adquirir e codificar 
informações. Ex: fase de escrita de um livro 
• Armazenamento: reter as informações de modo 
fidedigno. Ex: Classificação do livro e coloca-
lo em uma prateleira específica. 
• Recuperação ou evocação: também denominada 
de lembranças ou recordações; é fase em que as 
informações são recuperadas para distintos fins. 
Ex: Poder “acessar” o livro nessa “estante”. 
A codificação é o processo inicial da 
memorização. Ela depende muito da atenção. A 
evocação, a capacidade de acessar os dados 
fixados, seria a etapa final do processo de 
memória. Lembrança é a capacidade de acessar 
elementos no banco da memória de longo prazo. 
Reconhecimento é a capacidade de identificar uma 
informação apresentada ao sujeito com 
informações já disponíveis na memória de longo 
prazo. Esquecimento, por sua vez, é a denominação 
que se dá à impossibilidade de evocar e recordar. 
Em relação à evocação, há ainda dois aspectos 
distintos: a disponibilidade e a acessibilidade da 
informação. Basicamente a informação deve estar 
disponível e acessível para que possamos lembrá-
la. 
 Memória segundo o tempo de aquisição, 
armazenamento e evocação 
1.Memória sensorial e depósito sensorial (até 1 
segundo). Aqui, percepção, atenção e memória se 
sobrepõem. As memórias sensoriais são ricas 
(muitos conteúdos), mas muitíssimo breves (os 
conteúdos se apagam rapidamente). Quando 
estímulos visuais (memória icônica) ou auditivos 
(memória ecoica) são expostos ao indivíduo, ele 
capta (não de modo consciente) um número 
relativamente grande de informações, mas pode 
guardá-las apenas por um período muito curto. 
Há um depósito sensorial, que funciona geralmente 
abaixo do limiar da consciência, em apenas 50 
milissegundos, quando se deve “decidir” (quase 
sempre sem consciência) se voltamos a atenção 
para certos estímulos ou se estes serão rapidamente 
apagados. 
2.Memória imediata ou de curtíssimo prazo (de 
poucos segundos até 1 a 3 minutos). Esse tipo de 
memória se confunde conceitualmente também 
com a atenção e com a memória de trabalho. Trata-
se da capacidade de reter o material (palavras, 
números, imagens, etc.) imediatamente após ser 
percebido, como reter um número telefônico para 
logo em seguida discar. A memória imediata tem 
também capacidade limitada e depende da 
concentração, da fatigabilidade e de certo treino. As 
memórias imediata e de trabalho dependem 
sobretudo da integridade das áreas pré-frontais. 
3.Memória recente ou de curto prazo (de poucos 
minutos até 3 a 6 horas). Refere-se à capacidade 
de reter a informação por curto período. Também é 
um tipo de memória de capacidade limitada. 
Muitas vezes, as memórias de curto prazo e de 
curtíssimo prazo são consideradas simplesmente 
como memória de curto prazo. 
A memória recente depende de estruturas cerebrais 
das partes mediais dos lobos temporais, como a 
região CA1 do hipocampo, do córtex entorrinal, 
assim como do córtex parietal posterior 
4.Memória de longo prazo ou remota (de dias, 
meses até muitos anos). É a função relacionada à 
transferência de informações para depósitos de 
longo prazo, tendo capacidade quase ilimitada. Ela 
também se relaciona à evocação de informações e 
acontecimentos ocorridos no passado, geralmente 
após muito tempo do evento (pode durar por toda a 
vida). É um tipo de memória de capacidade bem 
mais ampla em termos de itens a serem guardados 
que a memória imediata e a recente. 
As informações a serem guardadas na memória de 
longo prazo são armazenadas de modo 
organizado, em sistemas que proporcionam uma 
estrutura organizacional. Assim, as informações 
são arquivadas e conservadas de acordo com seu 
significado, em redes semânticas nas quais 
conceitos semelhantes ou semanticamente 
relacionados são armazenados de maneira 
vinculada, próximos uns dos outros. 
Portanto, o significado proporciona organização 
no arquivo de longo prazo. Assim, podemos ouvir 
uma história, com várias frases distintas, e, meses 
depois, sermos incapazes de reproduzir essas frases 
corretamente. Contudo, o significado geral da 
história, tendo sido percebido por nós, foi 
armazenado e poderá ser evocado. 
Acredita-se que a memória remota se relacione 
tanto ao hipocampo, no processo de 
transferência de memórias recentes para 
memórias de longo prazo, como implicando 
também, para o armazenamento de longo, 
amplas e difusas áreas corticais de associação 
em todos os lobos cerebrais. 
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA 
MEMÓRIA 
Para o fenômeno da memorização ou engramação 
mnéstica, ou seja, para a formação das unidades de 
memória, as estruturas límbicas 
temporomediais, principalmente relacionadas 
ao hipocampo, à amígdala e ao córtex 
entorrinal, são fundamentais. Elas atuam, em 
especial, na consolidação dos registros e na 
transferência das unidades de memória de curto 
e médio prazos (intermediária) para a de longo 
prazo (estocagem da memória remota). 
O substrato neural da memória de longo prazo 
(registros bem consolidados) repousa basicamente 
no córtex cerebral, ou seja, nas áreas de 
associação neocorticais, principalmente frontais e 
temporoparietoccipitais. 
Há evidências de que o processo neuronal de 
memorização difere entre memórias recentes 
(minutos a horas) e memórias de longo prazo 
(meses a anos). Nas memórias recentes, há 
mudanças e consolidações de sinapses neuronais 
relacionadas a complexas cascatas de eventos 
moleculares e celulares necessárias para a 
primeira estabilização de informações 
recentemente adquiridas, nas redes neuronais 
coordenadas pelo hipocampo. Em contraste, nas 
memorizações lentas e de longo prazo, a 
consolidaçãodas memórias se baseia em 
processos de nível sistêmico (redes neuronais), 
lentos, tempo-dependentes, que convertem os 
traços lábeis de memória recente em formas 
mais permanentes, estáveis e ampliadas, 
baseadas na reorganização de redes neurais de 
suporte à memória, também coordenadas pelos 
hipocampos. 
A interrupção bilateral do circuito hipocampo-
mamilo-tálamo-cíngulo pode determinar a 
incapacidade de fixação de novos elementos 
mnêmicos, produzindo, assim, a síndrome 
amnéstica, de maior ou menor intensidade. As 
estruturas mais importantes para a memória são, 
certamente, os hipocampos. 
Os hipocampos (direito e esquerdo) são estruturas 
do cérebro, localizadas na parte medial dos lobos 
temporais, de importância central para os processos 
de aprendizagem e memória. Entretanto, de certa 
forma, quase toda a cognição está relacionada a 
eles, pois os hipocampos se conectam a múltiplas 
áreas do córtex cerebral, organizam eventos 
relacionados entre si em uma rede estruturada 
de memórias, além de atuarem na percepção e 
na organização mental, espacial e temporal dos 
eventos. Anatomicamente, o hipocampo dos 
mamíferos tem três grandes regiões: o giro 
denteado (GD), o corno de Ammon (CA, este 
dividido em quatro partes: CA1, CA2, CA3 e 
CA4) e o córtex entorrinal lateral e medial. Essas 
três regiões têm diferentes padrões de 
conectividade, tipos de neurônios e suscetibilidade 
a fatores destrutivos. Funcionalmente, os 
hipocampos são divididos em hipocampo dorsal 
(mais ligado especificamente ao aprendizado e à 
memória) e hipocampo ventral (mais ligado ao 
processamento emocional). Todo o hipocampo 
tem grande capacidade de plasticidade sináptica. 
Os hipocampos foram tradicionalmente 
relacionados à memória explícita consciente, e não 
à implícita. Entretanto, pesquisas têm revelado que 
eles desempenham um papel que vai além dos 
processos conscientes da memória. Estudos 
neuroanatômicos indicam que tanto a memória 
explícita como a implícita usam o hipocampo 
nos mesmos locais, mas com processos 
funcionais diferentes. Em nosso cérebro, é criado 
um modelo do mundo a nossa volta. Experienciar e 
reexperienciar vivamente cenas do passado e poder 
imaginar o futuro são ações que dependem 
intimamente da integridade dos hipocampos. 
Utilizamos as representações do mundo para 
perceber e compreender o que ocorre a cada 
momento. Trabalhos recentes indicam que funções 
como percepção, imaginação e lembrança de 
cenas e eventos estão particularmente ligadas ao 
hipocampo anterior. 
A retirada cirúrgica ou destruição por doença dos 
dois hipocampos causa uma terrível síndrome de 
amnésia anterógrada, na qual o indivíduo fica 
totalmente sem memória para fatos novos e com 
profunda incapacidade para aprender (com exceção 
de funções da memória de procedimentos 
FATORES ASSOCIADOS AO PROCESSO DE 
MEMORIZAÇÃO (CODIFICAÇÃO E 
ARMAZENAMENTO) 
•Nível de consciência e estado geral do 
organismo: o indivíduo deve estar desperto, não 
muito cansado, calmo, em bom estado geral, para 
que a memorização ocorra da melhor maneira 
possível. 
•Atenção focal: diz respeito à capacidade de 
manutenção de atenção concentrada sobre o 
conteúdo novo a ser fixado. Informações novas 
entram na memória de longo prazo principalmente 
quando se presta bastante atenção durante o 
aprendizado. 
•Organização e distribuição temporal: diz 
respeito a distribuir, no processo de aprendizado de 
novas informações, as tentativas de aprendizado ao 
longo de um período de tempo mais longo e 
cadenciado; é melhor praticar “pouco e sempre” do 
que tentar memorizar e aprender tudo 
apressadamente, em um único dia (p. ex., no dia 
antes da prova). 
•Interesse e colorido emocional: relaciona-se às 
informações a serem fixadas, assim como ao 
empenho do indivíduo em aprender (vontade e 
afetividade). 
•Conhecimento anterior: elementos já 
conhecidos ajudam a adquirir elementos novos, 
principalmente quando se articulam os novos 
conhecimentos a informações, classificações e 
esquemas cognitivos já bem assentados, formando 
uma cadeia de elementos mnêmicos. 
•Capacidade de compreensão do significado da 
informação: buscar entender o significado da 
informação ou conhecimento que se está tentando 
aprender é de fundamental ajuda para a 
memorização. Se a informação não tem um 
significado particular (é algo aleatório), então é útil 
atribuir-lhe um significado arbitrário. 
•Estabelecimento de um contexto rico e 
elaborado: o contexto e as circunstâncias 
associadas à informação que se quer memorizar 
têm papel central na eficácia da memorização. 
•Codificação da informação nova em mais de 
uma via: para o armazenamento mais eficaz de 
uma informação nova, quanto maior for o número 
de canais sensoriais e dimensões cognitivas 
distintas, mais eficaz será a fixação. Por exemplo, 
se a informação for uma palavra, deve-se buscar 
associar uma imagem visual; se for visual, deve-se 
buscar associar uma palavra. Com isso, são criados 
mapas mentais, que colaboram para o 
armazenamento eficaz. 
TIPOS ESPECÍFICOS DE MEMÓRIA 
 Tipos dependentes do caráter consciente ou 
não consciente do processo mnêmico 
(memória explícita/declarativa versus 
implícita/não declarativa) 
Segundo o caráter consciente ou não consciente do 
processo mnêmico, têm-se as memórias explícita e 
implícita. 
A memória explícita (memória declarativa) é 
relacionada ao conhecimento consciente, obtido 
geralmente com algum esforço. Esse tipo de 
memória é adquirido e evocado com plena 
intervenção da consciência. Um episódio como ter 
almoçado no último domingo com a avó pode ser 
lembrado com algum esforço e de forma 
consciente. A memória explícita pode ser de 
imagens visuais, palavras, conceitos ou eventos. 
A memória implícita (memória sem consciência ou 
não declarativa) é um tipo de memória que 
adquirimos e utilizamos sem que percebamos, sem 
consciência e, geralmente, sem esforço. É uma 
forma relativamente automática e espontânea. 
Ela pode incluir procedimentos, como muitas 
habilidades motoras (andar de bicicleta, saber 
bordar, saber escovar os dentes), assim como 
conhecimentos gerais ancorados em palavras, que 
adquirimos e utilizamos sem perceber, como 
aprender e falar. 
A partir de pesquisas realizadas nos últimos 40 anos 
sobre a memória humana, descobriu-se que a 
memória implícita influi cotidianamente em 
nossas vidas, de formas mais ou menos sutis. Por 
exemplo, ao dirigir o carro para casa, podemos 
ouvir uma música no rádio e nela “viajar” ou 
submergir em um devaneio relacionado a um 
encontro amoroso, obstante, conseguimos 
continuar a conduzir e chegamos em casa. Mesmo 
sem perceber conscientemente, paramos nos 
semáforos vermelhos e seguimos o trajeto de casa, 
sem errar. É nossa memória implícita que nos 
possibilita isso. 
Esse tipo de memória parece incluir a memória para 
informações mostradas à pessoa durante uma 
anestesia, pois, embora em sono farmacológico, ela 
pode registrar elementos do que é dito no ambiente. 
A memória implícita está envolvida, ainda, com 
as chamadas sensações de familiaridade. Vemos 
uma pessoa no ônibus, sabemos que a conhecemos 
(sensação de familiaridade), mas não localizamos 
de onde e quem exatamente ela é. Geralmente a 
pessoa é conhecida de um contexto diferente do 
ônibus (p. ex., é um antigo funcionário da escola de 
ensino fundamental, que raramente pega 
condução). Em geral, a memória implícita age 
integrada à memória explícita, ampliando seu 
poder. 
O termo priming (a melhor tradução é 
aprimoramento de repetição) se refere a um tipo de 
memória implícita, importante no processo de 
recordação e execução de tarefas cognitivas. 
Estímulos que já foram expostos ao sujeito, de 
forma consciente ou não consciente, são mais bem 
processados do que aqueles que nunca lhe foram 
expostos. 
O priming também se verifica quandoidentificamos uma maçã, em meio a muitas 
imagens de objetos, mais rapidamente quando ela 
nos foi exposta antes (priming perceptivo e item-
específico). Também se verifica quando 
identificamos mais rapidamente a palavra “maçã”, 
em meio a muitas palavras, quando fomos expostos 
previamente à palavra “fruta” (priming semântico 
e categorial). O priming ocorre sem que tenhamos 
a sensação subjetiva de reencontro com o estímulo, 
reforçando a ideia de que ele é um mecanismo da 
memória implícita. 
Efeitos do priming se verificam, ainda, quando 
fragmentos de um conteúdo mnêmico amplo são 
evocados e, a partir deles, todo o resto é 
gradativamente recuperado. Assim, um músico 
toca ou ouve os primeiros dois ou três acordes de 
uma canção aparentemente esquecida e, de forma 
gradativa, a composição toda (e sua sequência de 
acordes e melodias) começa a ressurgir para ele. Do 
ponto de vista anatômico, o priming é um 
fenômeno predominantemente neocortical, 
participando dele as áreas pré-frontais e 
corticais associativas temporoparietoccipitais. 
 Memórias, devaneios e viagem mental no 
tempo 
O fenômeno chamado devaneio (mind wandering) 
tem muito a ver com a memória, tanto explícita 
como implícita. O devaneio ocorre quando 
soltamos a mente e relaxadamente construímos 
histórias e eventos mentais, variando ou 
inventando cenas e episódios, em relação tanto 
ao nosso passado como ao nosso futuro. A 
capacidade de mentalmente reviver o passado e 
imaginar possíveis futuros foi denominada 
viagem mental no tempo. Trata-se de um processo 
essencialmente construtivo. Há ativação de várias 
áreas cerebrais, principalmente dos hipocampos 
e dos lobos frontais. A capacidade de fazer 
“viagens mentais no tempo” tem sido relacionada 
ao surgimento da linguagem no Homo sapiens, 
sendo importante também para formar memórias 
autobiográficas e para o funcionamento da teoria da 
mente. 
 Tipos de memória classificados segundo 
a estrutura cerebral envolvida 
São quatro os principais tipos de memória que 
correspondem a estruturas cerebrais diversas. Esses 
quatro tipos são afetados de forma diferente nas 
doenças e condições que diminuem ou destroem a 
memória (p. ex., demências). 
1.Memória de trabalho 
2.Memória episódica 
3.Memória semântica 
4.Memória de procedimentos 
Memória de trabalho 
A memória de trabalho (working memory) situa-se 
entre os processos e habilidades da atenção e os 
da memória imediata. São exemplos de memória 
de trabalho ouvir um número telefônico e 
guardá-lo na mente para, em seguida, discá-lo, 
assim como, ao dirigir em uma cidade 
desconhecida, perguntar sobre um endereço, 
receber a informação e a sugestão do trajeto e, 
mentalmente, executar o “passo a passo” de 
forma progressivaaté chegar ao destino. 
A memória de trabalho é uma memória explícita, 
consciente, que exige esforço. Para diferenciá-la 
da memória de curto prazo, deve-se realçar que a 
memória de trabalho é plenamente ativa, que 
realiza operações mentais de modo constante 
(por isso, “está trabalhando” constantemente). 
Ela representa um conjunto de habilidades que 
permite manter e manipular informações novas 
(acessando-as em face às antigas). Tais 
informações (verbais ou visuoespaciais) são 
mantidas ativas, em operação (on-line), geralmente 
por curto período (poucos segundos até, no 
máximo, alguns minutos), a fim de serem 
manipuladas, com o objetivo de selecionar um 
plano de ação e realizar determinada tarefa. O 
conteúdo mnêmico deve ser utilizado 
imediatamente sob alguma forma de resposta. 
A memória de trabalho também é vista como 
uma gerenciadora da memória. Seu papel não é 
tanto formar arquivos, mas, antes, o de analisar e 
selecionar as informações que chegam 
constantemente e compará-las com as existentes 
nas demais memórias, de curta e de longa 
duração. Esse processo requer mecanismos 
neurais adequados à seleção de informações 
pertinentes, mantendo-as on-line por breve 
período, até que a decisão e a resposta adequada 
sejam tomadas. 
Investigações têm indicado que a memória de 
trabalho é composta por três componentes: alça 
fonológica, esboço visuoespacial e sistema 
executivo. O esboço visuoespacial realiza 
armazenamento temporário e manipulação das 
imagens. A alça fonológica utiliza códigos 
articulatórios e depósitos fonológicos para 
sintetizar e operacionalizar as informações. O 
sistema executivo faz a mediação da atenção e 
das estratégias para coordenar os recursos 
cognitivos entre a alça fonológica e o esboço 
visuoespacial. 
As regiões corticais pré-frontais são importantes 
para a integridade da memória de trabalho. Nas 
tarefas verbais, há maior envolvimento das 
áreas pré-frontais esquerdas, assim como das 
áreas de Broca (frontal esquerda inferior) e de 
Wernicke (temporal esquerda superior). Nas 
tarefas visuoespaciais (seguir mapas mentalmente, 
sair de labirintos gráficos e montar quebra-
cabeças), há maior implicação das áreas pré-
frontais direitas, assim como de zonas visuais de 
associação do temporoparietoccipital direito. 
Quando o córtex temporal é lesado, há prejuízo 
da memória de trabalho visual (mas a memória 
de trabalho espacial é preservada); quando há 
lesão dos lobos parietais, ocorre o oposto. 
Pacientes com lesões nas áreas cerebrais 
associadas aos conhecimentos semânticos 
(sentido das palavras), como o córtex dos lobos 
temporais laterais e temporoparietais, têm 
prejuízos nos desempenhos da memória de 
trabalho verbal. 
Investigação semiológica da memória de trabalho 
Observa-se inicialmente o grau de habilidade do 
paciente de prestar atenção e se concentrar. 
Particularmente importante é a dificuldade em 
realizar novas tarefas que incluam a execução de 
várias etapas distintas em uma sequência após 
instrução. 
Um teste simples é aquele incluído no Teste 
Minimental, quando se solicita ao paciente que 
realize a tarefa: “Veja esta folha de papel em minha 
mão; quero que pegue este papel com sua mão 
direita, que o dobre no meio e, depois, o coloque no 
chão”. 
Também são formas de testar a memória de 
trabalho solicitar que uma pessoa repita 
números em sequência direta (a pessoa sem 
alterações repete de 5 a 8 dígitos; 4 é resultado 
limítrofe; e 3 ou menos dígitos, resultado alterado) 
e sequência inversa (normal de 4 a 5 dígitos; 3, 
resultado limítrofe; e 2 ou menos dígitos, alterado). 
Pode-se igualmente testar a memória de trabalho de 
natureza visuoespacial, utilizando-se labirintos 
gráficos e quebra-cabeças. 
Valor diagnóstico das alterações da memória de 
trabalho 
De modo geral, todas as condições que afetam as 
regiões pré-frontais causam alteração da 
memória de trabalho. Elas ocorrem em distintas 
condições clínicas, mas sobretudo nas demências, 
como: 
1.demência frontotemporal (DFT), sobretudo na 
variante frontal da DFT 
2.demência de Alzheimer (sobretudo na varitante 
frontal desta demência) 
3.demências vasculares e demência com corpos 
de Lewy 
A memória de trabalho pode também estar 
comprometida na esclerose múltipla e no 
traumatismo craniano. Na demência de 
Alzheimer, o componente “sistema executivo” 
parece ser o que mais está prejudicando na 
memória de trabalho. 
Em quadros psicopatológicos como esquizofrenia, 
transtorno de déficit de atenção/hiperatividade 
e transtorno obsessivo-compulsivo, também se 
verificam alterações da memória de trabalho. 
No envelhecimento normal, ocorrem 
frequentemente dificuldades, de leves a moderadas, 
na memória de trabalho. 
Memória episódica 
Trata-se de memória explícita, de médio e longo 
prazos, relacionada a eventos específicos da 
experiência pessoal do indivíduo, ocorridos em 
determinado contexto. Relatar o que foi feito no 
último fim de semana é um típico exemplo de 
memória episódica. Ela corresponde a eventos 
específicos e concretos, comumente 
autobiográficos, bem circunscritosem 
determinado momento e local. Refere-se, assim, 
à recordação consciente de fatos reais. A perda da 
memória episódica, em geral, se evidencia para 
eventos autobiográficos recentes, mas, com o 
evoluir da doença (p. ex., doença de Alzheimer), 
pode incluir elementos mais antigos. Nesse 
sentido, a perda de memória episódica obedece 
à lei de Ribot (perdem-se primeiro os elementos 
recentemente adquiridos e, depois, os mais 
antigos). 
Esse tipo de memória depende, em essência, de 
mecanismos relacionados às regiões da face 
medial dos lobos temporais, particularmente o 
hipocampo e os córtices entorrinal e perirrinal. 
Quando tais áreas se deterioram, por exemplo, 
com o avançar da demência de Alzheimer, o 
paciente perde totalmente a capacidade de fixar 
e lembrar eventos ocorridos há poucos minutos 
ou horas, inclusive situações marcantes e 
significativas para ele. Os pacientes com 
síndrome de Wernicke-Korsakoff têm déficits 
graves na memória episódica, uma condição 
relacionada a danos no diencéfalo, 
primariamente nos corpos mamilares, no trato 
mamilo-talâmico e no tálamo anterior. 
Respeitando a lei de Ribot, a memória remota 
de eventos antigos permanece mais tempo sem 
alterações. O hipocampo é um depósito 
transitório de memórias, uma estação de 
transferência de elementos recentemente 
registrados para um arquivo mais permanente 
de lembranças, localizado de modo difuso em 
amplas áreas do córtex dos distintos lobos 
cerebrais. A memória episódica interage 
constantemente com a memória semântica (de 
conhecimentos gerais e conceitos), contrastando ou 
se articulando com ela. 
Investigação semiológica da memória episódica 
Suspeita-se de alteração da memória episódica 
quando se nota que o sujeito vai se tornando 
incapaz de reter e lembrar informações e 
experiências recentes de maneira correta e 
acurada. Um modo simples de fazer um primeiro 
rastreamento sobre a memória episódica de uma 
pessoa é contar uma pequena história para ela 
e, alguns minutos depois, pedir que a reconte 
Deve-se entrevistar o paciente investigando a 
evolução temporal das falhas de memória. Nesse 
sentido, o relato de parentes próximos e 
cuidadores é essencial, pois o indivíduo 
geralmente não tem crítica de seu estado 
cognitivo e não costuma perceber suas perdas. 
Um modo prático de inquirir parentes e cuidadores 
é perguntar se, em comparação a alguns anos 
atrás, o paciente tem agora mais dificuldades em 
se lembrar de coisas que acontecem 
recentemente com ele. 
É importante, para avaliar o significado da 
alteração da memória episódica, que sejam 
investigadas outras áreas cognitivas além da 
memória (como linguagem, atenção, habilidades 
visuoespaciais e funções executivas). Por fim, 
devem ser examinados sinais neurológicos focais 
e alterações de possíveis doenças físicas 
sistêmicas. 
Valor diagnóstico das alterações da memória 
episódica 
As perdas de memória episódica ocorrem 
principalmente nos transtornos 
neurocognitivos, sobretudo na demência de 
Alzheimer. Nesses casos, os déficits de memória 
instalam-se de forma lenta e progressiva. Também 
nos transtornos neurocognitivos 
especificamente associados à memória, como na 
síndrome de Wernicke-Korsakoff, ocorre 
prejuízo marcante da memória episódica. 
Na demência com corpos de Lewy, embora se 
verifiquem déficits importantes nas funções 
executivas frontais, há preservação da memória 
episódica. 
Até há pouco tempo, considerava-se que a memória 
episódica estaria relativamente preservada na DFT. 
Entretanto, estudos recentes indicam que ela pode 
estar significativamente prejudicada, sobretudo na 
variante comportamental dessa doença. Também é 
relatado prejuízo da memória episódica em 
condições como esquizofrenia, transtorno 
dissociativo (aqui, a dificuldade é na evocação da 
memória episódica) e doença de Parkinson. 
Memória semântica 
Esse tipo de memória se refere ao aprendizado, à 
conservação e à utilização do arquivo geral de 
conceitos e conhecimentos do indivíduo (os 
chamados conhecimentos gerais sobre o mundo). 
Assim, conhecimentos como a cor do céu (azul) 
ou de um papagaio (verde), ou quantos dias há 
na semana (sete), são de caráter geral e se 
cristalizam por meio da linguagem, ou seja, 
também são de caráter semântico. Assim como a 
episódica, a memória semântica é frequentemente 
explícita (mas pode ser, eventualmente, implícita). 
Ela é, enfim, a representação de longo prazo dos 
conhecimentos que temos sobre o mundo, entre 
eles o significado das palavras, dos objetos e das 
ações. 
Também, cabe assinalar, a memória semântica diz 
respeito ao registro e à retenção de conteúdos em 
função do significado que têm. Ela é um 
componente da memória de longo prazo que 
inclui os conhecimentos de objetos, fatos, 
operações matemáticas, assim como das 
palavras e seu uso. A memória semântica é, de 
modo geral, compartilhada socialmente, 
reaprendida de forma constante, não sendo 
temporalmente específica. 
A contraposição desses dois tipos de memória 
(episódica e semântica) exemplifica-se da seguinte 
forma: lembrar como foi um almoço com os avós, 
em Belo Horizonte, há três semanas, depende do 
sistema de memória episódica. Já o conhecimento 
do significado das palavras “almoço”, “Belo 
Horizonte”, “avós”, etc., depende da memória 
semântica. 
Embora esses dois tipos de memória tenham certa 
independência, eles constantemente interatuam. 
Memórias episódicas são convertidas, ao longo 
do tempo e por exposição repetida, em 
memórias semânticas. 
A memória semântica previamente adquirida é 
muitas vezes preservada em pacientes que 
apresentam graves alterações no sistema de 
memória episódica. Indivíduos com síndrome de 
Wernicke-Korsakoff, por exemplo, têm grave 
déficit de memória episódica, mas podem ter a 
memória semântica preservada. 
A memória semântica, em acepção restrita, 
corresponde às capacidades de nomeação e 
categorização. Depende, de forma estreita, das 
regiões inferiores e laterais dos lobos temporais, 
sobretudo no hemisfério esquerdo (diferentemente 
da memória episódica, que depende das regiões 
mediais desses lobos, sobretudo dos hipocampos). 
Investigação semiológica da memória semântica 
Pesquisam-se alterações de memória semântica 
verificando-se a dificuldade do paciente em 
tarefas como nomear itens cujos nomes ele 
previamente sabia (mostrar um relógio, uma 
caneta e uma régua e pedir que o indivíduo os 
nomeie). Deve-se diferenciar as dificuldades leves 
e benignas, como lembrar o nome de pessoas ou 
outros nomes próprios (muito comuns em adultos 
de meia-idade e idosos), da verdadeira perda da 
capacidade de lidar com informação semântica. 
Pacientes com disfunções leves na memória 
semântica têm capacidade reduzida em testes de 
geração de palavras (p. ex., solicitar ao indivíduo 
que nomeie o maior número possível de animais em 
1 minuto). Aqueles com alterações mais avançadas 
na memória semântica tipicamente revelam déficits 
de duas vias na nomeação, isto é, são incapazes de 
dizer o nome de um item quando este lhes é 
mostrado e de descrever um item cujo nome lhes é 
apresentado. Os pacientes com déficits de 
memória semântica mais avançada também 
apresentam empobrecimento marcante de 
conhecimentos gerais (não são capazes de citar 
algumas cidades do Brasil, dizer quem é o atual 
presidente do País, dizer a cor do papagaio, etc.). 
Valor diagnóstico das alterações da memória 
semântica 
Na demência de Alzheimer, há alterações 
pronunciadas da memória semântica. Isso 
ocorre devido à deterioração das regiões mediais 
e ventrais dos lobos temporais e de regiões 
temporoparietais do hemisfério esquerdo. 
Na DFT, na variante que afeta mais os lobos 
temporais (variante semântica da DFT), ocorre 
significativa perda da memória semântica, o que 
leva a dificuldades nas tarefas de nomeação e 
compreensão de palavrasisoladas, além de 
empobrecimento dos conhecimentos gerais 
(condição descrita por alguns autores como 
demência semântica). Na variante 
comportamental da DFT (que afeta mais os 
lobos frontais), a memória semântica pode estar 
menos comprometida. 
Também na demência com corpos de Lewy, 
embora se verifiquem déficits significativos nas 
funções executivas frontais, há relativa preservação 
da memória semântica. 
Memória de procedimentos 
Trata-se de um tipo de memória automática, não 
consciente. Exemplos desse tipo de memória são 
habilidades motoras e perceptuais mais ou menos 
complexas (andar de bicicleta, digitar no 
computador, tocar um instrumento musical, 
bordar, etc.), habilidades visuoespaciais (como a 
capacidade de aprender soluções de labirintos e 
quebra-cabeças) e habilidades automáticas 
relacionadas ao aprendizado de línguas (regras 
gramaticais incorporadas na fala automaticamente, 
decorar a conjugação de verbos de uma língua 
estrangeira, etc.). 
A memória de procedimentos, de modo geral, é 
implícita e não declarativa, mas, durante a 
aquisição da habilidade, pode ser explícita na fase 
de aprendizado, como quando, por exemplo, se 
aprende a dirigir um carro seguindo orientações 
verbais. Na maioria das vezes, a memória de 
procedimentos é implícita, pois manifesta-se 
tipicamente por ações motoras e desempenho de 
atividades, e não pela expressão de palavras 
(tornando-se consciente apenas com esforço). 
Aqui, a memorização ocorre de forma lenta, por 
meio de repetições e múltiplas tentativas. A 
localização da memória de procedimentos está 
relacionada com o sistema motor e/ou sensorial 
específico envolvido na tarefa. As principais áreas 
envolvidas são a área motora suplementar (lobos 
frontais), os núcleos da base (sobretudo o 
striatum) e o cerebelo 
Investigação semiológica da memória de 
procedimentos 
Suspeita-se da presença de alterações da memória 
de procedimentos quando o indivíduo apresenta 
ou perda de habilidades motoras ou 
visuoespaciais previamente aprendidas, ou 
grande dificuldade em aprender novas 
habilidades. Por exemplo, o paciente pode perder 
a habilidade de escrever à mão ou de digitar em 
um teclado, de tocar um instrumento musical. 
Eventualmente, ele pode reaprender essas 
habilidades, mas, para isso, necessita de ordens 
explícitas (verbais, conscientes) para realizar 
cada etapa da habilidade. Em consequência, um 
paciente com lesão no sistema de memória de 
procedimentos pode nunca mais readquirir as 
habilidades motoras automáticas que pessoas 
saudáveis realizam sem perceber. 
Por fim, aqueles cuja memória episódica foi 
devastada (quadros graves de demência de 
Alzheimer ou síndrome de Wernicke-Korsakoff) 
podem ter ganhos relativos em um processo de 
reabilitação que lance mão do sistema de 
memória de procedimentos preservada e, assim, 
aprender novas habilidades. 
Valor diagnóstico das alterações da memória de 
procedimentos 
A doença de Parkinson (assim como a síndrome 
de Parkinson por causas vasculares, tumorais, 
etc.) é a condição mais frequente em que se 
observa perda da memória de procedimentos. 
Outras doenças que comprometem a memória de 
procedimentos são doença de Huntington, paralisia 
supranuclear progressiva e degeneração 
olivopontocerebelar. Também tumores, acidentes 
vasculares cerebrais (AVCs), hemorragias, 
degenerações e outras lesões nos núcleos da base 
ou no cerebelo (degeneração cerebelar) podem 
prejudicar a memória de procedimentos. 
Pacientes nas fases iniciais da doença de Parkinson 
e da coreia de Huntington (assim como na 
degeneração olivopontocerebelar e na paralisia 
supranuclear progressiva) apresentam desempenho 
quase normal em testes de memória episódica, mas 
revelam acentuada incapacidade de aprender novas 
habilidades motoras, visuoespaciais e linguísticas. 
Para as demências vasculares, inclusive a 
demência após AVC, os tipos de memória 
comprometidos (de trabalho, episódica, 
semântica ou de procedimentos) dependem 
muito de fatores como tipo de AVC, volume, 
número de AVCs e localização das lesões 
vasculares. Portanto, as perdas de memória nas 
demências vasculares são muito heterogêneas. 
De modo geral, esse tipo de memória não fica 
gravemente prejudicado na demência de 
Alzheimer, apresentando-se mais deteriorado em 
outras doenças degenerativas que envolvem 
habilidades psicomotoras. 
ALTERAÇÕES DA MEMÓRIA 
QUANTITATIVAS 
 Quanto ao tempo 
–Amnésia/hipomnésia anterógrada (de fixação): 
perda ou diminuição, respectivamente, da 
capacidade de formar novas memórias de longo 
prazo, ou seja, adquirir novas informações. Por 
exemplo, logo depois de ser apresentado ao 
médico, o paciente não consegue reconhecê-lo ou 
se lembrar do seu nome. 
–Hipermnésia anterógrada (de fixação): 
habilidade acima do normal de formar novas 
memórias de longo prazo. Raras pessoas 
conseguem realmente decorar a íntegra do texto de 
um livro após uma única leitura. 
–Amnésia/hipomnésia retrógrada (de 
evocação): perda ou diminuição, respectivamente, 
da capacidade de recuperar memórias de longo 
prazo, que antes haviam sido normalmente 
fixadas.Por exemplo, o indivíduo, durante muitos 
anos, sabia de cor a senha de acesso à sua conta 
bancária e agora não se lembra mais dela. 
–Hipermnésia retrógrada (de evocação): 
recuperação de um número excessivo de 
recordações em um curto período ou, 
alternativamente, a recuperação de uma lembrança 
específica de forma mais vívida, detalhada e exata 
do que o habitual. Durante um transe hipnótico, por 
exemplo, pode ocorrer a rememoração muito 
intensa e com grande riqueza de detalhes de um 
evento que aparentemente estava esquecido. 
–Amnésia ou hipomnésia retroanterógrada: 
forma mista em que tanto a memória de fixação 
como a de evocação estão prejudicadas. 
 Quanto à extensão e ao conteúdo 
–Amnésia/hipomnésia generalizada: perda ou 
diminuição da capacidade de recordar uma 
grande extensão do passado, eventualmente todo 
o curso da vida. Por exemplo, em quadros de 
amnésia dissociativa, o indivíduo pode, de uma 
hora para outra, se esquecer do seu próprio 
nome e de todos os eventos prévios de sua vida. 
–Amnésia/hipomnésia lacunar (localizada): 
perda ou diminuição da capacidade de recordar 
os eventos ocorridos em um período específico 
de tempo, com limites relativamente bem 
definidos. Por exemplo, após um episódio de 
delirium, o paciente não se lembra de coisa alguma 
do que aconteceu enquanto estava com a 
consciência rebaixada, mas se recorda de tudo 
aquilo que se deu antes e depois desse período. 
–Hipermnésia lacunar (localizada): recordação 
exacerbada de eventos ocorridos em um período 
específico de tempo.Muitos indivíduos que sofrem 
de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) 
recordam-se recorrentemente e com grande riqueza 
de detalhes do evento traumático. 
–Amnésia/hipomnésia seletiva (sistemática): 
perda ou diminuição da capacidade de recordar 
informações relacionadas entre si, não quanto ao 
tempo, mas quanto ao conteúdo e significado 
afetivo. Por exemplo, uma jovem, após brigar com 
seu namorado, se esquece completamente dele e de 
todos os fatos relacionados a ele, ficando 
preservadas todas as demais memórias. 
–Hipermnésia seletiva (sistemática): recordação 
exacerbada de informações relacionadas entre si 
quanto ao conteúdo e significado afetivo. Por 
exemplo, pacientes deprimidos se lembram mais 
facilmente de episódios negativos e de seus 
próprios fracassos ou falhas. 
 
QUALITATIVAS 
Alomnésia: distorção ou deturpação 
involuntária da lembrança de um fato. Por 
exemplo, pacientes em mania eufórica se recordam 
dos eventos de suas vidas como mais grandiosos, 
importantes ou bem-sucedidos do que realmente 
foram. 
Paramnésia: recordação de algo que não 
aconteceu. Por exemplo, um paciente com 
demência se recorda de ter conversado com a 
esposana véspera, embora ela tivesse morrido anos 
antes. 
Criptomnésia: súbita recordação que não é 
reconhecida como tal, parecendo à pessoa uma 
ideia nova, uma criação original. Um exemplo seria 
o de um indivíduo que compõe uma canção, que lhe 
parece inédita, e depois descobre que ela já existia, 
tendo sido anteriormente ouvida por ele, embora 
não se lembrasse disso. 
Ecmnésia: uma recordação tão intensa que faz o 
indivíduo vivenciar uma situação do passado como 
se estivesse ocorrendo agora, no presente. Por 
exemplo, em um estado de transe dissociativo, uma 
senhora idosa se via na casa onde passou a infância 
e ficava brincando como uma criança e chamando 
por seus pais. 
Lembrança obsessiva: A lembrança obsessiva, 
também denominada ideia fixa ou representação 
prevalente, manifesta-se como o surgimento 
espontâneo de imagens da memória ou conteúdos 
ideativos do passado que, uma vez instalados na 
consciência, não podem ser repelidos 
voluntariamente pelo indivíduo. A imagem da 
memória, embora reconhecida como indesejável, 
reaparece de forma constante e permanece, como 
um incômodo, na consciência do paciente. 
Manifesta-se em indivíduos com transtornos do 
espectro obsessivo-compulsivo.

Mais conteúdos dessa disciplina