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APG 10 - Amnésia científica Objetivos Discutir as bases neurobiológicas da memória e os tipos de memória (segundo tempo de aquisição e estrutura cerebral envolvida). Debater sobre as alterações patológicas da memória (qualitativas e quantitativas) Memória A memória é a capacidade de codificar, armazenar e evocar as experiências, impressões e fatos que ocorrem em nossas vidas. A capacidade específica de memorizar relaciona-se com vários fatores, entre eles o nível de consciência e atenção, o estado emocional e o interesse motivacional, os contextos, como lugar, momento, com que pessoas, em que tipo de atividade e em que fase da vida a codificação, o armazenamento e a evocação das informações ocorrem. De forma genérica, podem-se distinguir, para os seres humanos, os seguintes tipos de memória: 1.Memória psicológica (cognitiva ou neuropsicológica). É uma atividade altamente diferenciada do sistema nervoso, que permite ao indivíduo codificar, conservar e evocar, a qualquer momento, os dados aprendidos da experiência. 2.Memória genética e epigenética. Esse tipo de memória abrange conteúdos de informações biológicas adquiridos ao longo da história filogenética da espécie e ao longo das vivências do indivíduo e de seus ancestrais, contidos no material biológico (DNA, RNA, cromossomos, mitocôndrias, mudanças epigenéticas) dos seres vivos. 3.Memória imunológica. Esse tipo de memória reúne informações registradas e potencialmente recuperáveis pelo sistema imune de um ser vivo. 4.Memória coletiva, social ou cultural. Envolve conhecimentos e práticas sociais e culturais (costumes, valores, práticas, linguagem, habilidades artísticas, conceitos e preconceitos, ideologias, estilos de vida, rituais, gesticulações, etc.) produzidos, acumulados e mantidos por um grupo social. Esse tipo de memória tem importância fundamental para as sociedades humanas. Sem ela, os grupos sociais perdem sua identidade básica, a possibilidade de perceber o sentido de suas existências, a gratidão e crítica em relação ao passado e a esperança e prudência em relação ao futuro. FASES OU ELEMENTOS BÁSICOS DA MEMÓRIA • Codificação: captar, adquirir e codificar informações. Ex: fase de escrita de um livro • Armazenamento: reter as informações de modo fidedigno. Ex: Classificação do livro e coloca- lo em uma prateleira específica. • Recuperação ou evocação: também denominada de lembranças ou recordações; é fase em que as informações são recuperadas para distintos fins. Ex: Poder “acessar” o livro nessa “estante”. A codificação é o processo inicial da memorização. Ela depende muito da atenção. A evocação, a capacidade de acessar os dados fixados, seria a etapa final do processo de memória. Lembrança é a capacidade de acessar elementos no banco da memória de longo prazo. Reconhecimento é a capacidade de identificar uma informação apresentada ao sujeito com informações já disponíveis na memória de longo prazo. Esquecimento, por sua vez, é a denominação que se dá à impossibilidade de evocar e recordar. Em relação à evocação, há ainda dois aspectos distintos: a disponibilidade e a acessibilidade da informação. Basicamente a informação deve estar disponível e acessível para que possamos lembrá- la. Memória segundo o tempo de aquisição, armazenamento e evocação 1.Memória sensorial e depósito sensorial (até 1 segundo). Aqui, percepção, atenção e memória se sobrepõem. As memórias sensoriais são ricas (muitos conteúdos), mas muitíssimo breves (os conteúdos se apagam rapidamente). Quando estímulos visuais (memória icônica) ou auditivos (memória ecoica) são expostos ao indivíduo, ele capta (não de modo consciente) um número relativamente grande de informações, mas pode guardá-las apenas por um período muito curto. Há um depósito sensorial, que funciona geralmente abaixo do limiar da consciência, em apenas 50 milissegundos, quando se deve “decidir” (quase sempre sem consciência) se voltamos a atenção para certos estímulos ou se estes serão rapidamente apagados. 2.Memória imediata ou de curtíssimo prazo (de poucos segundos até 1 a 3 minutos). Esse tipo de memória se confunde conceitualmente também com a atenção e com a memória de trabalho. Trata- se da capacidade de reter o material (palavras, números, imagens, etc.) imediatamente após ser percebido, como reter um número telefônico para logo em seguida discar. A memória imediata tem também capacidade limitada e depende da concentração, da fatigabilidade e de certo treino. As memórias imediata e de trabalho dependem sobretudo da integridade das áreas pré-frontais. 3.Memória recente ou de curto prazo (de poucos minutos até 3 a 6 horas). Refere-se à capacidade de reter a informação por curto período. Também é um tipo de memória de capacidade limitada. Muitas vezes, as memórias de curto prazo e de curtíssimo prazo são consideradas simplesmente como memória de curto prazo. A memória recente depende de estruturas cerebrais das partes mediais dos lobos temporais, como a região CA1 do hipocampo, do córtex entorrinal, assim como do córtex parietal posterior 4.Memória de longo prazo ou remota (de dias, meses até muitos anos). É a função relacionada à transferência de informações para depósitos de longo prazo, tendo capacidade quase ilimitada. Ela também se relaciona à evocação de informações e acontecimentos ocorridos no passado, geralmente após muito tempo do evento (pode durar por toda a vida). É um tipo de memória de capacidade bem mais ampla em termos de itens a serem guardados que a memória imediata e a recente. As informações a serem guardadas na memória de longo prazo são armazenadas de modo organizado, em sistemas que proporcionam uma estrutura organizacional. Assim, as informações são arquivadas e conservadas de acordo com seu significado, em redes semânticas nas quais conceitos semelhantes ou semanticamente relacionados são armazenados de maneira vinculada, próximos uns dos outros. Portanto, o significado proporciona organização no arquivo de longo prazo. Assim, podemos ouvir uma história, com várias frases distintas, e, meses depois, sermos incapazes de reproduzir essas frases corretamente. Contudo, o significado geral da história, tendo sido percebido por nós, foi armazenado e poderá ser evocado. Acredita-se que a memória remota se relacione tanto ao hipocampo, no processo de transferência de memórias recentes para memórias de longo prazo, como implicando também, para o armazenamento de longo, amplas e difusas áreas corticais de associação em todos os lobos cerebrais. BASES NEUROBIOLÓGICAS DA MEMÓRIA Para o fenômeno da memorização ou engramação mnéstica, ou seja, para a formação das unidades de memória, as estruturas límbicas temporomediais, principalmente relacionadas ao hipocampo, à amígdala e ao córtex entorrinal, são fundamentais. Elas atuam, em especial, na consolidação dos registros e na transferência das unidades de memória de curto e médio prazos (intermediária) para a de longo prazo (estocagem da memória remota). O substrato neural da memória de longo prazo (registros bem consolidados) repousa basicamente no córtex cerebral, ou seja, nas áreas de associação neocorticais, principalmente frontais e temporoparietoccipitais. Há evidências de que o processo neuronal de memorização difere entre memórias recentes (minutos a horas) e memórias de longo prazo (meses a anos). Nas memórias recentes, há mudanças e consolidações de sinapses neuronais relacionadas a complexas cascatas de eventos moleculares e celulares necessárias para a primeira estabilização de informações recentemente adquiridas, nas redes neuronais coordenadas pelo hipocampo. Em contraste, nas memorizações lentas e de longo prazo, a consolidaçãodas memórias se baseia em processos de nível sistêmico (redes neuronais), lentos, tempo-dependentes, que convertem os traços lábeis de memória recente em formas mais permanentes, estáveis e ampliadas, baseadas na reorganização de redes neurais de suporte à memória, também coordenadas pelos hipocampos. A interrupção bilateral do circuito hipocampo- mamilo-tálamo-cíngulo pode determinar a incapacidade de fixação de novos elementos mnêmicos, produzindo, assim, a síndrome amnéstica, de maior ou menor intensidade. As estruturas mais importantes para a memória são, certamente, os hipocampos. Os hipocampos (direito e esquerdo) são estruturas do cérebro, localizadas na parte medial dos lobos temporais, de importância central para os processos de aprendizagem e memória. Entretanto, de certa forma, quase toda a cognição está relacionada a eles, pois os hipocampos se conectam a múltiplas áreas do córtex cerebral, organizam eventos relacionados entre si em uma rede estruturada de memórias, além de atuarem na percepção e na organização mental, espacial e temporal dos eventos. Anatomicamente, o hipocampo dos mamíferos tem três grandes regiões: o giro denteado (GD), o corno de Ammon (CA, este dividido em quatro partes: CA1, CA2, CA3 e CA4) e o córtex entorrinal lateral e medial. Essas três regiões têm diferentes padrões de conectividade, tipos de neurônios e suscetibilidade a fatores destrutivos. Funcionalmente, os hipocampos são divididos em hipocampo dorsal (mais ligado especificamente ao aprendizado e à memória) e hipocampo ventral (mais ligado ao processamento emocional). Todo o hipocampo tem grande capacidade de plasticidade sináptica. Os hipocampos foram tradicionalmente relacionados à memória explícita consciente, e não à implícita. Entretanto, pesquisas têm revelado que eles desempenham um papel que vai além dos processos conscientes da memória. Estudos neuroanatômicos indicam que tanto a memória explícita como a implícita usam o hipocampo nos mesmos locais, mas com processos funcionais diferentes. Em nosso cérebro, é criado um modelo do mundo a nossa volta. Experienciar e reexperienciar vivamente cenas do passado e poder imaginar o futuro são ações que dependem intimamente da integridade dos hipocampos. Utilizamos as representações do mundo para perceber e compreender o que ocorre a cada momento. Trabalhos recentes indicam que funções como percepção, imaginação e lembrança de cenas e eventos estão particularmente ligadas ao hipocampo anterior. A retirada cirúrgica ou destruição por doença dos dois hipocampos causa uma terrível síndrome de amnésia anterógrada, na qual o indivíduo fica totalmente sem memória para fatos novos e com profunda incapacidade para aprender (com exceção de funções da memória de procedimentos FATORES ASSOCIADOS AO PROCESSO DE MEMORIZAÇÃO (CODIFICAÇÃO E ARMAZENAMENTO) •Nível de consciência e estado geral do organismo: o indivíduo deve estar desperto, não muito cansado, calmo, em bom estado geral, para que a memorização ocorra da melhor maneira possível. •Atenção focal: diz respeito à capacidade de manutenção de atenção concentrada sobre o conteúdo novo a ser fixado. Informações novas entram na memória de longo prazo principalmente quando se presta bastante atenção durante o aprendizado. •Organização e distribuição temporal: diz respeito a distribuir, no processo de aprendizado de novas informações, as tentativas de aprendizado ao longo de um período de tempo mais longo e cadenciado; é melhor praticar “pouco e sempre” do que tentar memorizar e aprender tudo apressadamente, em um único dia (p. ex., no dia antes da prova). •Interesse e colorido emocional: relaciona-se às informações a serem fixadas, assim como ao empenho do indivíduo em aprender (vontade e afetividade). •Conhecimento anterior: elementos já conhecidos ajudam a adquirir elementos novos, principalmente quando se articulam os novos conhecimentos a informações, classificações e esquemas cognitivos já bem assentados, formando uma cadeia de elementos mnêmicos. •Capacidade de compreensão do significado da informação: buscar entender o significado da informação ou conhecimento que se está tentando aprender é de fundamental ajuda para a memorização. Se a informação não tem um significado particular (é algo aleatório), então é útil atribuir-lhe um significado arbitrário. •Estabelecimento de um contexto rico e elaborado: o contexto e as circunstâncias associadas à informação que se quer memorizar têm papel central na eficácia da memorização. •Codificação da informação nova em mais de uma via: para o armazenamento mais eficaz de uma informação nova, quanto maior for o número de canais sensoriais e dimensões cognitivas distintas, mais eficaz será a fixação. Por exemplo, se a informação for uma palavra, deve-se buscar associar uma imagem visual; se for visual, deve-se buscar associar uma palavra. Com isso, são criados mapas mentais, que colaboram para o armazenamento eficaz. TIPOS ESPECÍFICOS DE MEMÓRIA Tipos dependentes do caráter consciente ou não consciente do processo mnêmico (memória explícita/declarativa versus implícita/não declarativa) Segundo o caráter consciente ou não consciente do processo mnêmico, têm-se as memórias explícita e implícita. A memória explícita (memória declarativa) é relacionada ao conhecimento consciente, obtido geralmente com algum esforço. Esse tipo de memória é adquirido e evocado com plena intervenção da consciência. Um episódio como ter almoçado no último domingo com a avó pode ser lembrado com algum esforço e de forma consciente. A memória explícita pode ser de imagens visuais, palavras, conceitos ou eventos. A memória implícita (memória sem consciência ou não declarativa) é um tipo de memória que adquirimos e utilizamos sem que percebamos, sem consciência e, geralmente, sem esforço. É uma forma relativamente automática e espontânea. Ela pode incluir procedimentos, como muitas habilidades motoras (andar de bicicleta, saber bordar, saber escovar os dentes), assim como conhecimentos gerais ancorados em palavras, que adquirimos e utilizamos sem perceber, como aprender e falar. A partir de pesquisas realizadas nos últimos 40 anos sobre a memória humana, descobriu-se que a memória implícita influi cotidianamente em nossas vidas, de formas mais ou menos sutis. Por exemplo, ao dirigir o carro para casa, podemos ouvir uma música no rádio e nela “viajar” ou submergir em um devaneio relacionado a um encontro amoroso, obstante, conseguimos continuar a conduzir e chegamos em casa. Mesmo sem perceber conscientemente, paramos nos semáforos vermelhos e seguimos o trajeto de casa, sem errar. É nossa memória implícita que nos possibilita isso. Esse tipo de memória parece incluir a memória para informações mostradas à pessoa durante uma anestesia, pois, embora em sono farmacológico, ela pode registrar elementos do que é dito no ambiente. A memória implícita está envolvida, ainda, com as chamadas sensações de familiaridade. Vemos uma pessoa no ônibus, sabemos que a conhecemos (sensação de familiaridade), mas não localizamos de onde e quem exatamente ela é. Geralmente a pessoa é conhecida de um contexto diferente do ônibus (p. ex., é um antigo funcionário da escola de ensino fundamental, que raramente pega condução). Em geral, a memória implícita age integrada à memória explícita, ampliando seu poder. O termo priming (a melhor tradução é aprimoramento de repetição) se refere a um tipo de memória implícita, importante no processo de recordação e execução de tarefas cognitivas. Estímulos que já foram expostos ao sujeito, de forma consciente ou não consciente, são mais bem processados do que aqueles que nunca lhe foram expostos. O priming também se verifica quandoidentificamos uma maçã, em meio a muitas imagens de objetos, mais rapidamente quando ela nos foi exposta antes (priming perceptivo e item- específico). Também se verifica quando identificamos mais rapidamente a palavra “maçã”, em meio a muitas palavras, quando fomos expostos previamente à palavra “fruta” (priming semântico e categorial). O priming ocorre sem que tenhamos a sensação subjetiva de reencontro com o estímulo, reforçando a ideia de que ele é um mecanismo da memória implícita. Efeitos do priming se verificam, ainda, quando fragmentos de um conteúdo mnêmico amplo são evocados e, a partir deles, todo o resto é gradativamente recuperado. Assim, um músico toca ou ouve os primeiros dois ou três acordes de uma canção aparentemente esquecida e, de forma gradativa, a composição toda (e sua sequência de acordes e melodias) começa a ressurgir para ele. Do ponto de vista anatômico, o priming é um fenômeno predominantemente neocortical, participando dele as áreas pré-frontais e corticais associativas temporoparietoccipitais. Memórias, devaneios e viagem mental no tempo O fenômeno chamado devaneio (mind wandering) tem muito a ver com a memória, tanto explícita como implícita. O devaneio ocorre quando soltamos a mente e relaxadamente construímos histórias e eventos mentais, variando ou inventando cenas e episódios, em relação tanto ao nosso passado como ao nosso futuro. A capacidade de mentalmente reviver o passado e imaginar possíveis futuros foi denominada viagem mental no tempo. Trata-se de um processo essencialmente construtivo. Há ativação de várias áreas cerebrais, principalmente dos hipocampos e dos lobos frontais. A capacidade de fazer “viagens mentais no tempo” tem sido relacionada ao surgimento da linguagem no Homo sapiens, sendo importante também para formar memórias autobiográficas e para o funcionamento da teoria da mente. Tipos de memória classificados segundo a estrutura cerebral envolvida São quatro os principais tipos de memória que correspondem a estruturas cerebrais diversas. Esses quatro tipos são afetados de forma diferente nas doenças e condições que diminuem ou destroem a memória (p. ex., demências). 1.Memória de trabalho 2.Memória episódica 3.Memória semântica 4.Memória de procedimentos Memória de trabalho A memória de trabalho (working memory) situa-se entre os processos e habilidades da atenção e os da memória imediata. São exemplos de memória de trabalho ouvir um número telefônico e guardá-lo na mente para, em seguida, discá-lo, assim como, ao dirigir em uma cidade desconhecida, perguntar sobre um endereço, receber a informação e a sugestão do trajeto e, mentalmente, executar o “passo a passo” de forma progressivaaté chegar ao destino. A memória de trabalho é uma memória explícita, consciente, que exige esforço. Para diferenciá-la da memória de curto prazo, deve-se realçar que a memória de trabalho é plenamente ativa, que realiza operações mentais de modo constante (por isso, “está trabalhando” constantemente). Ela representa um conjunto de habilidades que permite manter e manipular informações novas (acessando-as em face às antigas). Tais informações (verbais ou visuoespaciais) são mantidas ativas, em operação (on-line), geralmente por curto período (poucos segundos até, no máximo, alguns minutos), a fim de serem manipuladas, com o objetivo de selecionar um plano de ação e realizar determinada tarefa. O conteúdo mnêmico deve ser utilizado imediatamente sob alguma forma de resposta. A memória de trabalho também é vista como uma gerenciadora da memória. Seu papel não é tanto formar arquivos, mas, antes, o de analisar e selecionar as informações que chegam constantemente e compará-las com as existentes nas demais memórias, de curta e de longa duração. Esse processo requer mecanismos neurais adequados à seleção de informações pertinentes, mantendo-as on-line por breve período, até que a decisão e a resposta adequada sejam tomadas. Investigações têm indicado que a memória de trabalho é composta por três componentes: alça fonológica, esboço visuoespacial e sistema executivo. O esboço visuoespacial realiza armazenamento temporário e manipulação das imagens. A alça fonológica utiliza códigos articulatórios e depósitos fonológicos para sintetizar e operacionalizar as informações. O sistema executivo faz a mediação da atenção e das estratégias para coordenar os recursos cognitivos entre a alça fonológica e o esboço visuoespacial. As regiões corticais pré-frontais são importantes para a integridade da memória de trabalho. Nas tarefas verbais, há maior envolvimento das áreas pré-frontais esquerdas, assim como das áreas de Broca (frontal esquerda inferior) e de Wernicke (temporal esquerda superior). Nas tarefas visuoespaciais (seguir mapas mentalmente, sair de labirintos gráficos e montar quebra- cabeças), há maior implicação das áreas pré- frontais direitas, assim como de zonas visuais de associação do temporoparietoccipital direito. Quando o córtex temporal é lesado, há prejuízo da memória de trabalho visual (mas a memória de trabalho espacial é preservada); quando há lesão dos lobos parietais, ocorre o oposto. Pacientes com lesões nas áreas cerebrais associadas aos conhecimentos semânticos (sentido das palavras), como o córtex dos lobos temporais laterais e temporoparietais, têm prejuízos nos desempenhos da memória de trabalho verbal. Investigação semiológica da memória de trabalho Observa-se inicialmente o grau de habilidade do paciente de prestar atenção e se concentrar. Particularmente importante é a dificuldade em realizar novas tarefas que incluam a execução de várias etapas distintas em uma sequência após instrução. Um teste simples é aquele incluído no Teste Minimental, quando se solicita ao paciente que realize a tarefa: “Veja esta folha de papel em minha mão; quero que pegue este papel com sua mão direita, que o dobre no meio e, depois, o coloque no chão”. Também são formas de testar a memória de trabalho solicitar que uma pessoa repita números em sequência direta (a pessoa sem alterações repete de 5 a 8 dígitos; 4 é resultado limítrofe; e 3 ou menos dígitos, resultado alterado) e sequência inversa (normal de 4 a 5 dígitos; 3, resultado limítrofe; e 2 ou menos dígitos, alterado). Pode-se igualmente testar a memória de trabalho de natureza visuoespacial, utilizando-se labirintos gráficos e quebra-cabeças. Valor diagnóstico das alterações da memória de trabalho De modo geral, todas as condições que afetam as regiões pré-frontais causam alteração da memória de trabalho. Elas ocorrem em distintas condições clínicas, mas sobretudo nas demências, como: 1.demência frontotemporal (DFT), sobretudo na variante frontal da DFT 2.demência de Alzheimer (sobretudo na varitante frontal desta demência) 3.demências vasculares e demência com corpos de Lewy A memória de trabalho pode também estar comprometida na esclerose múltipla e no traumatismo craniano. Na demência de Alzheimer, o componente “sistema executivo” parece ser o que mais está prejudicando na memória de trabalho. Em quadros psicopatológicos como esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e transtorno obsessivo-compulsivo, também se verificam alterações da memória de trabalho. No envelhecimento normal, ocorrem frequentemente dificuldades, de leves a moderadas, na memória de trabalho. Memória episódica Trata-se de memória explícita, de médio e longo prazos, relacionada a eventos específicos da experiência pessoal do indivíduo, ocorridos em determinado contexto. Relatar o que foi feito no último fim de semana é um típico exemplo de memória episódica. Ela corresponde a eventos específicos e concretos, comumente autobiográficos, bem circunscritosem determinado momento e local. Refere-se, assim, à recordação consciente de fatos reais. A perda da memória episódica, em geral, se evidencia para eventos autobiográficos recentes, mas, com o evoluir da doença (p. ex., doença de Alzheimer), pode incluir elementos mais antigos. Nesse sentido, a perda de memória episódica obedece à lei de Ribot (perdem-se primeiro os elementos recentemente adquiridos e, depois, os mais antigos). Esse tipo de memória depende, em essência, de mecanismos relacionados às regiões da face medial dos lobos temporais, particularmente o hipocampo e os córtices entorrinal e perirrinal. Quando tais áreas se deterioram, por exemplo, com o avançar da demência de Alzheimer, o paciente perde totalmente a capacidade de fixar e lembrar eventos ocorridos há poucos minutos ou horas, inclusive situações marcantes e significativas para ele. Os pacientes com síndrome de Wernicke-Korsakoff têm déficits graves na memória episódica, uma condição relacionada a danos no diencéfalo, primariamente nos corpos mamilares, no trato mamilo-talâmico e no tálamo anterior. Respeitando a lei de Ribot, a memória remota de eventos antigos permanece mais tempo sem alterações. O hipocampo é um depósito transitório de memórias, uma estação de transferência de elementos recentemente registrados para um arquivo mais permanente de lembranças, localizado de modo difuso em amplas áreas do córtex dos distintos lobos cerebrais. A memória episódica interage constantemente com a memória semântica (de conhecimentos gerais e conceitos), contrastando ou se articulando com ela. Investigação semiológica da memória episódica Suspeita-se de alteração da memória episódica quando se nota que o sujeito vai se tornando incapaz de reter e lembrar informações e experiências recentes de maneira correta e acurada. Um modo simples de fazer um primeiro rastreamento sobre a memória episódica de uma pessoa é contar uma pequena história para ela e, alguns minutos depois, pedir que a reconte Deve-se entrevistar o paciente investigando a evolução temporal das falhas de memória. Nesse sentido, o relato de parentes próximos e cuidadores é essencial, pois o indivíduo geralmente não tem crítica de seu estado cognitivo e não costuma perceber suas perdas. Um modo prático de inquirir parentes e cuidadores é perguntar se, em comparação a alguns anos atrás, o paciente tem agora mais dificuldades em se lembrar de coisas que acontecem recentemente com ele. É importante, para avaliar o significado da alteração da memória episódica, que sejam investigadas outras áreas cognitivas além da memória (como linguagem, atenção, habilidades visuoespaciais e funções executivas). Por fim, devem ser examinados sinais neurológicos focais e alterações de possíveis doenças físicas sistêmicas. Valor diagnóstico das alterações da memória episódica As perdas de memória episódica ocorrem principalmente nos transtornos neurocognitivos, sobretudo na demência de Alzheimer. Nesses casos, os déficits de memória instalam-se de forma lenta e progressiva. Também nos transtornos neurocognitivos especificamente associados à memória, como na síndrome de Wernicke-Korsakoff, ocorre prejuízo marcante da memória episódica. Na demência com corpos de Lewy, embora se verifiquem déficits importantes nas funções executivas frontais, há preservação da memória episódica. Até há pouco tempo, considerava-se que a memória episódica estaria relativamente preservada na DFT. Entretanto, estudos recentes indicam que ela pode estar significativamente prejudicada, sobretudo na variante comportamental dessa doença. Também é relatado prejuízo da memória episódica em condições como esquizofrenia, transtorno dissociativo (aqui, a dificuldade é na evocação da memória episódica) e doença de Parkinson. Memória semântica Esse tipo de memória se refere ao aprendizado, à conservação e à utilização do arquivo geral de conceitos e conhecimentos do indivíduo (os chamados conhecimentos gerais sobre o mundo). Assim, conhecimentos como a cor do céu (azul) ou de um papagaio (verde), ou quantos dias há na semana (sete), são de caráter geral e se cristalizam por meio da linguagem, ou seja, também são de caráter semântico. Assim como a episódica, a memória semântica é frequentemente explícita (mas pode ser, eventualmente, implícita). Ela é, enfim, a representação de longo prazo dos conhecimentos que temos sobre o mundo, entre eles o significado das palavras, dos objetos e das ações. Também, cabe assinalar, a memória semântica diz respeito ao registro e à retenção de conteúdos em função do significado que têm. Ela é um componente da memória de longo prazo que inclui os conhecimentos de objetos, fatos, operações matemáticas, assim como das palavras e seu uso. A memória semântica é, de modo geral, compartilhada socialmente, reaprendida de forma constante, não sendo temporalmente específica. A contraposição desses dois tipos de memória (episódica e semântica) exemplifica-se da seguinte forma: lembrar como foi um almoço com os avós, em Belo Horizonte, há três semanas, depende do sistema de memória episódica. Já o conhecimento do significado das palavras “almoço”, “Belo Horizonte”, “avós”, etc., depende da memória semântica. Embora esses dois tipos de memória tenham certa independência, eles constantemente interatuam. Memórias episódicas são convertidas, ao longo do tempo e por exposição repetida, em memórias semânticas. A memória semântica previamente adquirida é muitas vezes preservada em pacientes que apresentam graves alterações no sistema de memória episódica. Indivíduos com síndrome de Wernicke-Korsakoff, por exemplo, têm grave déficit de memória episódica, mas podem ter a memória semântica preservada. A memória semântica, em acepção restrita, corresponde às capacidades de nomeação e categorização. Depende, de forma estreita, das regiões inferiores e laterais dos lobos temporais, sobretudo no hemisfério esquerdo (diferentemente da memória episódica, que depende das regiões mediais desses lobos, sobretudo dos hipocampos). Investigação semiológica da memória semântica Pesquisam-se alterações de memória semântica verificando-se a dificuldade do paciente em tarefas como nomear itens cujos nomes ele previamente sabia (mostrar um relógio, uma caneta e uma régua e pedir que o indivíduo os nomeie). Deve-se diferenciar as dificuldades leves e benignas, como lembrar o nome de pessoas ou outros nomes próprios (muito comuns em adultos de meia-idade e idosos), da verdadeira perda da capacidade de lidar com informação semântica. Pacientes com disfunções leves na memória semântica têm capacidade reduzida em testes de geração de palavras (p. ex., solicitar ao indivíduo que nomeie o maior número possível de animais em 1 minuto). Aqueles com alterações mais avançadas na memória semântica tipicamente revelam déficits de duas vias na nomeação, isto é, são incapazes de dizer o nome de um item quando este lhes é mostrado e de descrever um item cujo nome lhes é apresentado. Os pacientes com déficits de memória semântica mais avançada também apresentam empobrecimento marcante de conhecimentos gerais (não são capazes de citar algumas cidades do Brasil, dizer quem é o atual presidente do País, dizer a cor do papagaio, etc.). Valor diagnóstico das alterações da memória semântica Na demência de Alzheimer, há alterações pronunciadas da memória semântica. Isso ocorre devido à deterioração das regiões mediais e ventrais dos lobos temporais e de regiões temporoparietais do hemisfério esquerdo. Na DFT, na variante que afeta mais os lobos temporais (variante semântica da DFT), ocorre significativa perda da memória semântica, o que leva a dificuldades nas tarefas de nomeação e compreensão de palavrasisoladas, além de empobrecimento dos conhecimentos gerais (condição descrita por alguns autores como demência semântica). Na variante comportamental da DFT (que afeta mais os lobos frontais), a memória semântica pode estar menos comprometida. Também na demência com corpos de Lewy, embora se verifiquem déficits significativos nas funções executivas frontais, há relativa preservação da memória semântica. Memória de procedimentos Trata-se de um tipo de memória automática, não consciente. Exemplos desse tipo de memória são habilidades motoras e perceptuais mais ou menos complexas (andar de bicicleta, digitar no computador, tocar um instrumento musical, bordar, etc.), habilidades visuoespaciais (como a capacidade de aprender soluções de labirintos e quebra-cabeças) e habilidades automáticas relacionadas ao aprendizado de línguas (regras gramaticais incorporadas na fala automaticamente, decorar a conjugação de verbos de uma língua estrangeira, etc.). A memória de procedimentos, de modo geral, é implícita e não declarativa, mas, durante a aquisição da habilidade, pode ser explícita na fase de aprendizado, como quando, por exemplo, se aprende a dirigir um carro seguindo orientações verbais. Na maioria das vezes, a memória de procedimentos é implícita, pois manifesta-se tipicamente por ações motoras e desempenho de atividades, e não pela expressão de palavras (tornando-se consciente apenas com esforço). Aqui, a memorização ocorre de forma lenta, por meio de repetições e múltiplas tentativas. A localização da memória de procedimentos está relacionada com o sistema motor e/ou sensorial específico envolvido na tarefa. As principais áreas envolvidas são a área motora suplementar (lobos frontais), os núcleos da base (sobretudo o striatum) e o cerebelo Investigação semiológica da memória de procedimentos Suspeita-se da presença de alterações da memória de procedimentos quando o indivíduo apresenta ou perda de habilidades motoras ou visuoespaciais previamente aprendidas, ou grande dificuldade em aprender novas habilidades. Por exemplo, o paciente pode perder a habilidade de escrever à mão ou de digitar em um teclado, de tocar um instrumento musical. Eventualmente, ele pode reaprender essas habilidades, mas, para isso, necessita de ordens explícitas (verbais, conscientes) para realizar cada etapa da habilidade. Em consequência, um paciente com lesão no sistema de memória de procedimentos pode nunca mais readquirir as habilidades motoras automáticas que pessoas saudáveis realizam sem perceber. Por fim, aqueles cuja memória episódica foi devastada (quadros graves de demência de Alzheimer ou síndrome de Wernicke-Korsakoff) podem ter ganhos relativos em um processo de reabilitação que lance mão do sistema de memória de procedimentos preservada e, assim, aprender novas habilidades. Valor diagnóstico das alterações da memória de procedimentos A doença de Parkinson (assim como a síndrome de Parkinson por causas vasculares, tumorais, etc.) é a condição mais frequente em que se observa perda da memória de procedimentos. Outras doenças que comprometem a memória de procedimentos são doença de Huntington, paralisia supranuclear progressiva e degeneração olivopontocerebelar. Também tumores, acidentes vasculares cerebrais (AVCs), hemorragias, degenerações e outras lesões nos núcleos da base ou no cerebelo (degeneração cerebelar) podem prejudicar a memória de procedimentos. Pacientes nas fases iniciais da doença de Parkinson e da coreia de Huntington (assim como na degeneração olivopontocerebelar e na paralisia supranuclear progressiva) apresentam desempenho quase normal em testes de memória episódica, mas revelam acentuada incapacidade de aprender novas habilidades motoras, visuoespaciais e linguísticas. Para as demências vasculares, inclusive a demência após AVC, os tipos de memória comprometidos (de trabalho, episódica, semântica ou de procedimentos) dependem muito de fatores como tipo de AVC, volume, número de AVCs e localização das lesões vasculares. Portanto, as perdas de memória nas demências vasculares são muito heterogêneas. De modo geral, esse tipo de memória não fica gravemente prejudicado na demência de Alzheimer, apresentando-se mais deteriorado em outras doenças degenerativas que envolvem habilidades psicomotoras. ALTERAÇÕES DA MEMÓRIA QUANTITATIVAS Quanto ao tempo –Amnésia/hipomnésia anterógrada (de fixação): perda ou diminuição, respectivamente, da capacidade de formar novas memórias de longo prazo, ou seja, adquirir novas informações. Por exemplo, logo depois de ser apresentado ao médico, o paciente não consegue reconhecê-lo ou se lembrar do seu nome. –Hipermnésia anterógrada (de fixação): habilidade acima do normal de formar novas memórias de longo prazo. Raras pessoas conseguem realmente decorar a íntegra do texto de um livro após uma única leitura. –Amnésia/hipomnésia retrógrada (de evocação): perda ou diminuição, respectivamente, da capacidade de recuperar memórias de longo prazo, que antes haviam sido normalmente fixadas.Por exemplo, o indivíduo, durante muitos anos, sabia de cor a senha de acesso à sua conta bancária e agora não se lembra mais dela. –Hipermnésia retrógrada (de evocação): recuperação de um número excessivo de recordações em um curto período ou, alternativamente, a recuperação de uma lembrança específica de forma mais vívida, detalhada e exata do que o habitual. Durante um transe hipnótico, por exemplo, pode ocorrer a rememoração muito intensa e com grande riqueza de detalhes de um evento que aparentemente estava esquecido. –Amnésia ou hipomnésia retroanterógrada: forma mista em que tanto a memória de fixação como a de evocação estão prejudicadas. Quanto à extensão e ao conteúdo –Amnésia/hipomnésia generalizada: perda ou diminuição da capacidade de recordar uma grande extensão do passado, eventualmente todo o curso da vida. Por exemplo, em quadros de amnésia dissociativa, o indivíduo pode, de uma hora para outra, se esquecer do seu próprio nome e de todos os eventos prévios de sua vida. –Amnésia/hipomnésia lacunar (localizada): perda ou diminuição da capacidade de recordar os eventos ocorridos em um período específico de tempo, com limites relativamente bem definidos. Por exemplo, após um episódio de delirium, o paciente não se lembra de coisa alguma do que aconteceu enquanto estava com a consciência rebaixada, mas se recorda de tudo aquilo que se deu antes e depois desse período. –Hipermnésia lacunar (localizada): recordação exacerbada de eventos ocorridos em um período específico de tempo.Muitos indivíduos que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) recordam-se recorrentemente e com grande riqueza de detalhes do evento traumático. –Amnésia/hipomnésia seletiva (sistemática): perda ou diminuição da capacidade de recordar informações relacionadas entre si, não quanto ao tempo, mas quanto ao conteúdo e significado afetivo. Por exemplo, uma jovem, após brigar com seu namorado, se esquece completamente dele e de todos os fatos relacionados a ele, ficando preservadas todas as demais memórias. –Hipermnésia seletiva (sistemática): recordação exacerbada de informações relacionadas entre si quanto ao conteúdo e significado afetivo. Por exemplo, pacientes deprimidos se lembram mais facilmente de episódios negativos e de seus próprios fracassos ou falhas. QUALITATIVAS Alomnésia: distorção ou deturpação involuntária da lembrança de um fato. Por exemplo, pacientes em mania eufórica se recordam dos eventos de suas vidas como mais grandiosos, importantes ou bem-sucedidos do que realmente foram. Paramnésia: recordação de algo que não aconteceu. Por exemplo, um paciente com demência se recorda de ter conversado com a esposana véspera, embora ela tivesse morrido anos antes. Criptomnésia: súbita recordação que não é reconhecida como tal, parecendo à pessoa uma ideia nova, uma criação original. Um exemplo seria o de um indivíduo que compõe uma canção, que lhe parece inédita, e depois descobre que ela já existia, tendo sido anteriormente ouvida por ele, embora não se lembrasse disso. Ecmnésia: uma recordação tão intensa que faz o indivíduo vivenciar uma situação do passado como se estivesse ocorrendo agora, no presente. Por exemplo, em um estado de transe dissociativo, uma senhora idosa se via na casa onde passou a infância e ficava brincando como uma criança e chamando por seus pais. Lembrança obsessiva: A lembrança obsessiva, também denominada ideia fixa ou representação prevalente, manifesta-se como o surgimento espontâneo de imagens da memória ou conteúdos ideativos do passado que, uma vez instalados na consciência, não podem ser repelidos voluntariamente pelo indivíduo. A imagem da memória, embora reconhecida como indesejável, reaparece de forma constante e permanece, como um incômodo, na consciência do paciente. Manifesta-se em indivíduos com transtornos do espectro obsessivo-compulsivo.